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1) Histórico
As raízes da Ecologia recaem nos estudos ligados à História Natural algo que, em essência,
é tão antigo quanto o homem. Os Egípcios e babilônicos aplicaram métodos ecológicos
para combater as pragas que assolavam suas culturas de cereais no vale do rio Nilo bem
como na Mesopotâmia (Odum, 1977). Os gregos (Hipócrates, Aristóteles) produziram
textos claramente ecológicos (Allan, 1970).
Passada a idade média, período caracterizado pelo domínio da Igreja que adotou uma visão
aristotélica da natureza, ou seja, que tudo foi criação divina e como objeto de Sua perfeição
não havia necessidade de mudança nos sistemas naturais que estariam eternamente em
equilíbrio. Após o renascimento houve um gradual abandono dessa visão e surgem novas
contribuições ao estudo ecológico. Antonie Van Leeuwenhoek (1632-1723), naturalista
holandês, mais conhecido por ter inventado o microscópio, também estudou e evidenciou a
importância das cadeias alimentares e a regulação de populações (Dubois et al., 1988).
Gaunt (sec. XVI) foi o pioneiro da demografia. Ele trabalhou em censos da população
humana na cidade de Londres e reconheceu a importância da determinação quantitativa das
taxas de nascimentos, mortalidade, da determinação da razão sexual e da estrutura de idade
das populações. Outro naturalista, Buffon (1756) assinalou que existem "forças" capazes de
contrabalançar o crescimento populacional, ou seja, o princípio básico da regulação
ecológica das populações.
Na realidade, Darwin (1859) e Malthus (opt. cit.) mudaram a idéia platônica de que a
natureza sempre esteve em 'equilíbrio perfeito' (visão aristotélica) e a base para esta
mudança de pensamento está nos seguintes fatos:
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Enquanto isto, na Alemanha, Ernst Haeckel, em 1869, propôs pela primeira vez o termo
Ecologia (Ökologie). Literalmente este termo significa "oikos" (grego): casa; logie: estudo
(Begon et al.1990). Möbius (1877) introduziu a noção de biocenose, estudando uma
comunidade de organismos existentes num banco de ostras. Forbes (1887), estudando
ambientes aquáticos em Illinois, EUA propôs o lago como um sistema ecológico
independente ('microcosmo'). É considerado juntamente com Forel (1892, 1904), que
estudou o Genfersee (Lac Léman) na Suíça, e o alemão Thienemann (1926), um dos
pioneiros do da ecologia aquática, a limnologia.
Um nome ligado ao Brasil merece destaque especial. Os estudos realizados por Warming
(1895, 1909) no cerrado foram muito importantes para o desenvolvimento da ecologia
moderna. Os seus estudos fitossociológicos em comunidades de cerrado em Lagoa Santa
(MG) foram um dos primeiros estudos sobre ecologia terrestre de que se tem notícia
mundialmente.
No entanto, foi nos Estados Unidos que a ecologia recebeu um impulso definitivo para o
estabelecimento de seu status quo atual. Cowles (1899): descreve a sucessão ecológica nas
dunas ao sul do lago Michigan. Clements (1916, 1935) desenvolveu o conceito de evolução
de comunidade. A partir de seus trabalhos, a Ecologia desenvolve-se como ciência própria.
A principal unidade ecológica, o ecossistema, foi proposta por Tansley (1935).
Apesar de seu desenvolvimento rápido, a ecologia ainda pode ser considerada uma soft
science, assim como a economia, onde ainda não existe uma fundamentação teórica rígida.
A maioria dos princípios elementares da ecologia tais como a noção de equilíbrio
ecológico, da sucessão ecológica, ou as formas de regulação das populações são
fundamentadas em modelos empíricos ou com sustentação experimental ainda muito
deficiente. Não é de se estranhar, portanto, que a ecologia seja definida de diferentes
formas segundo diferentes autores. Abaixo são fornecidas algumas destas definições:
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De um modo geral todas a definições acima deixam claro que uma das funções básicas da
ecologia esta relacionada a três tipos de perguntas muito simples:
Como toda soft science, a Ecologia necessita do uso intenso de conhecimentos que provem
de outras ciências. O ecólogo muitas vezes tem que assimilar e gerenciar uma grande
quantidade de informações que extrapolam o conteúdo básico da disciplina. O esquema
abaixo nos da uma idéia das interações e limites da ecologia com outras ciências do meio
ambiente.
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Figura 1 - Interacões entre a Ecologia e outras ciências. Em destaque, acima, as ciências
contribuem para o estabelcimento do corpo teórico da disciplina. Abaixo, algumas das
especialidades que fornecem as “ferramentas” para o estudo ecológico. A direita, outras
áreas onde a teoria ecológica vem sendo aplicada com freqüência cada vez maior.
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b) uso de ferramentas de trabalho ou novas abordagens metodológicas que são fornecidas
por outras ciências ou especialidades. Nesta categoria, incluem-se a informática, a
estatística, as geo-ciências (sistemas de informações geográficas, p. ex.) e a demografia.
c) ciências aplicadas onde o conhecimento ecológico pode vir a ser aplicado: medicina,
direito ou as engenharias.
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Dado o pouco conhecimento acumulado nos maiores níveis de integração biológicos
(populações, comunidades e ecossistemas) não é de se estranhar que as 'leis' (princípios
universais) já existentes em outras ciências (física, química) inexistam ainda em ecologia.
Isto é típico das chamadas soft sciences quando contrapostas às chamadas hard sciences
(ecologia versus física, economia versus matemática). O estágio atual da ecologia pode
talvez ser comparável ao da química do século XVIII.
4) Unidades ecológicas
Como toda a ciência, a ecologia necessita de uma visão de seu objeto de estudo (a natureza)
em partes. Para isto ela faz uso da teoria dos sistemas. Um sistema é um conjunto cujos
elementos se unem através de propriedades calcadas na interação, na interdependência e na
sensibilidade a certos mecanismos reguladores de tal modo que eles formam um todo
unificado (Odum, 1963).
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Figura 2 – Níveis de organização em biologia. A ecologia ocupa-se dos níveis hierárquicos
iguais ou superiores a de populações.
A ecologia ocupa-se dos níveis iguais ou superiores ao das populações. Entretanto, alguns
conceitos são essenciais para que as unidades ecológicas possam ser melhor entendidas.
Estes conceitos são: espécie, raça, ecótipo, habitat e nicho ecológico.
4.1) Espécie: conjunto de indivíduos capazes de se reproduzirem e dar prole fértil (pelo
menos potencialmente). Exemplo: Homo sapiens, Entamoeba coli.
4.2) Ecótipo (raças ecológicas): são populações de uma mesma espécie que apresentam
grande dispersão geográfica, mas que estão fisicamente separadas. Seus limites de
tolerância ecológica, ou também chamados de “limites de Shelford”, variam segundo a
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população considerada. Quando estas variações têm base genética, as populações são
chamadas de raças genéticas. Quando estas variações tem uma base puramente fisiológica,
as populações são chamadas de raças fisiológicas (fenômeno da aclimatação).
A medusa Aurelia aurita apresenta os seguintes ecótipos: Aurelia aurita var. Halifax que
possui um ótimo de contração a 14 C (temperatura da água) e o ecotipo Aurelia aurita (var.
Tortugas mais adaptado as condições tropicais com um ótimo de contração a 29 C. A
macrófita Typha sp (Taboa) exibe várias raças adaptadas a diferentes regiões climáticas
(trópicos, sub-trópicos, z. temperada).
4.3) População: trata-se de um conjunto de indivíduos da mesma espécie que vive num
território cujos limites são geralmente delimitados pelo ecossistema no qual esta população
está presente. As populações são entidades 'reais' cujos atributos: distribuição espacial,
densidade, estrutura etária, taxas de crescimento (produto líquido entre taxas de natalidade,
mortalidade e migração) que podem ser estimados quantitativamente em condições naturais
ou experimentais. Exemplos de populações seriam: (a) Myrmecophaga t. tridactyla (bicho-
preguiça) no Parque Florestal do Rio Doce, Minas Gerais. (b) a população do molusco
planorbideo Byomphalaria straminea habitante de um lago tal como a Lagoa Santa, MG.
(c) o barbeiro hematófago Panstrongylus megistrus var. Sta. Catarina que pode ser
encontrado nas matas da Ilha de Florianópolis, SC (habitat natural).
4.4) Habitat: lugar onde uma espécie (ou mais de uma) vive. Neste local, os organismos
encontrarão, além do abrigo das intempéries do meio físico e de eventuais ameaças
biológicas (predação), alimento e poderão se reproduzir. Muitas vezes, o termo
microhabitat é utilizado para designar o local onde uma determinada espécie poderá ser
encontrada. O termo biótopo é entendido como o substrato físico enquanto que o habitat
poderá ter uma conotação desvinculada do senso geográfico (ex: tronco caído como habitat
de certos insetos coleópteros, tubo intestinal de vertebrados como habitat de nematóides
parasitas).
4.5) Nicho ecológico: unidade mais 'íntima' da distribuição de uma espécie. Pode ser
definido considerando vários aspectos abaixo relacionados:
4.5.1) nicho espacial (microhabitat): proposto por Grinnel (1917) como sendo o espaço
físico ocupado por uma determinada espécie. Exemplo: pele humana como microhabitat de
certos ácaros.
4.5.2) nicho trófico: o termo foi proposto por Elton (1927). É a posição do organismo
dentro de uma cadeia alimentar: produtor, herbívoro, carnívoro. O conceito apresenta
algumas limitações tais como nos casos de organismos que promovem o canibalismo, típico
de várias espécies de copépodes zooplanctônicos. Outra limitação seria a aplicação do
conceiro aos organismos essencialmente onívoros tais como o homem, por exemplo. Um
exemplo interessante para a diferenciação do nicho trofico é constituído pelos hemípteros
neustônicos Notonecta e Corixa. Eles têm o mesmo microhabitat, ou seja, vivem sobre a
película de água em áreas alagadas, mas têm nichos tróficos diferentes: Notonecta é
carnívoro e Corixa é herbívoro.
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O exemplo a seguir, extraído de Krebs, 1994 pag. 281), ilustra as respostas de densidade e
crescimento do inseto predados Notonecta hoffmanii em laboratório. A taxa de predação é
expressa pelo número de larvas de mosquito consumido por dia. O gráfico, abaixo, ilustra
que sob condições de muita comida, Notonecta cresce mais rápido.
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4.5.3.1) nicho fundamental (ou máximo) ou nicho reduzido (ou realizado). Entende-se por
nicho fundamental como sendo o conjunto de todas as faixas de variações potencialmente
exploráveis por uma certa espécie.
4.5.3.2) nicho realizado refere-se à faixa ambiental na qual efetivamente pode ser
encontrada uma espécie num dado ambiente. Muitas vezes, o nicho realizado é
significativamente mais restrito que o nicho fundamental devido às interações com outras
espécies principalmente a predação e a competição. Exemplo desse termo seriam as
espécies do ciliado Paramecium caudata e P. aurélia. : Esses protozoários possuem o
mesmo nicho espacial e trófico. P. caudatum é eliminado porquê tem menor taxa intrínseca
de crescimento (max).
O conceito de nicho pode ser muito importante para o estudo teórico e comparativo da
evolução de ecossistemas. A teoria do nicho pode explicar os padrões de diversidade
encontrados nos diferentes ecossistemas. Ecossistemas similares por sua vez podem ter
diferentes padrões de ocupação de nicho podendo existir ambientes nos quais vários nichos
ecológicos estejam vagos.
Fundamentos em Ecologia
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Ecologia de Populações (parte 1)
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Densidade: Refere-se ao número de indivíduos por unidade de área ou volume.
Em alguns casos, não é possível determinar a densidade absoluta de uma população, como
é o caso de se contar somente amostras não quantitativas (ex: plâncton coletado por uma
rede, onde não foi possível a correta determinação do volume filtrado). Ainda assim, é
possível a determinação da densidade relativa da população. Conta-se um número arbitrário
de indivíduos e determina-se o percentual de cada espécie em relação ao total.
2.3.1) Natalidade: É um termo que descreve a produção de novos indivíduos por unidade de
tempo. Esta produção pode ser quantificada por nascimentos, postura de ovos, germinação
ou fissão celular (índices mitóticos). Dois aspectos devem ser diferenciados em relação à
produção: a) fertilidade e b) fecundidade.
2.3.2) Fertilidade refere-se à performance real de uma população, e está baseada no número
de nascimentos bem sucedidos. A fecundidade refere-se ao potencial fisiológico de
reprodução atribuído a uma dada população. A população humana apresenta uma
fecundidade igual a 1 nascimento/11 meses.fêmea em idade reprodutiva e uma fertilidade
média de 1 nascimento/8 anos.fêmea em idade reprodutiva. Naturalmente estas estimativas
irão depender do organismo a ser considerado. Uma ostra pode produzir de 55 a 114
milhões de ovos, os peixes irão produzir milhares deles, os anfíbios centenas e os pássaros
de 1 a 20 ovos. Já os mamíferos poderão produzir de 1 a 10 indivíduos/ciclo reprodutivo.
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insetos habitantes da várzea. A longevidade da população humana sofreu grandes variações
ao longo do último milênio: na Roma antiga as mulheres viviam em média 21 anos; na
Inglaterra do final do século XVIII elas viviam cerca de 39 anos e nos Estados Unidos ao
início dos anos sessenta elas viviam em média 73 anos (Rabinovich, 1978). A taxa de
mortalidade pode ser estimada diretamente no campo pela técnica de marcação e recaptura
ou por tabelas de vida do tipo horizontal e no laboratório pelas tabelas de vida do tipo
vertical (vide abaixo).
2.3.4) Imigração e emigração: A dispersão (emi e imigração) muitas vezes não tem sido
levada em conta em censos populacionais. Em estudos de marcação e recaptura é comum
trabalhar com a taxa de diminuição que seria a resultante de mortalidade e emigração e taxa
de incremento que seria a resultante de nascimentos mais imigração.
A 1 4 1 4
B 2 8 4 2
0.15 = m + e
0.20 = m + 2e
0.05 = 0 + e
logo:
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Usando o mesmo processo acima pode-se separar a taxa de nascimento da taxa de
imigração, usando o número de indivíduos não marcados na amostra.
A relação entre os atributos acima descritos pode ser sumarizada na figura 2 acima. O
conhecimento da biologia de migração de uma espécie é, portanto, de grande importância
para o estudo de uma população. A seguir, fornecemos dois exemplos de migrações de aves
de longo curso, extraído de Ricklefs (1990)
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Figura 3 – Rotas migratórias de duas espécies de pássaros (golden plover e blackburnian
warbler) que migram entre as Américas. Exemplo extratido de Ricklefs (1990).
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2.4) Crescimento de População
Lotka (1922) demonstrou que uma população cuja distribuição em classes etárias não se
altere deverá crescer segundo a relação:
O modelo de crescimento exponencial é caracterizado por uma curva típica que é ilustrada
pela figura 4.
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onde
Se temos a taxa líquida de crescimento (Ro) podemos facilmente calcular a taxa instantânea
de crescimento (r) observando a fórmula:
onde:
T é o tempo de geração.
Qual é a diferença entre estas duas taxas? A taxa finita Ro tem uma lógica fácil de ser
compreendida em termos demográficos ao passo que a taxa instantânea de crescimento é
mais fácil de se trabalhar matematicamente. Ro pode ser estimada a partir de tabelas de vida
(como se verá abaixo) e pode ser definida como sendo o somatório do produto entre o
número de sobreviventes (lx) e de nascimentos (mx) em cada classe etária dentro de uma
população.
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Raramente, na natureza, as populações obedecem ao modelo exponencial de crescimento
por longos períodos. Elas normalemte têm uma taxa de crescimento real menor do que max
(* ou potencial biótico), uma vez que várias perdas podem ocorrer. A taxa de crescimento
real de uma população, que pode em alguns casos ser até negativa.
A população humana tem tido um crescimento que pode ser descrito pelo modelo
exponencial. Observe, no entanto, que a taxa r vem crescendo também ao longo do tempo
(crescimento super-exponencial).
A tabela a seguir, resume os dados sobre o crescimento populacional nos últimos 450 anos:
1650 0.5
1750 0.75
1830 1.0
1900 1.6
1950 2.5
1960 2.8
1970 3.6
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Se uma população segue o modelo geométrico, é possível estimar o seu tempo de
duplicação (t) apenas conhecendo sua taxa de crescimento populacional (r). Imaginemos
que no instante t a população deverá ter o dobro do seu tamanho inicial que seria No.
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2.4.2) Modelo de crescimento Logístico (Verhulst, 1838)
Este modelo caracteriza-se por uma associação entre a densidade de uma população e sua
taxa de crescimento. Por esta razão, é também chamado de modelo densidade-dependente.
A população pára de crescer ao atingir uma densidade máxima (K), definida como sendo a
capacidade de suporte do meio. Em baixas densidades (K tende a 0), o crescimento é
aproximadamente exponencial e em altas densidades (N tende para K) o crescimento tende
a ser zero. O modelo logístico pode ser definido pelas seguintes fórmulas:
onde:
a: constante de integração.
Esta curva pode ser facilmente ajustada a partir de dados de laboratório (N, K e t). Para o
cálculo da curva logística, utiliza-se uma análise regressão linear dada pela equação abaixo.
A inclinação da reta é a taxa de crescimento per capta (r) é a interseção em y e (a) é a
constante de integração.
A forma integrada da curva logística pode ser observada na equação abaixo onde a é uma
constante de integração e é a base dos números naturais (e = 2.71827).
20
onde:
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Há várias evidências experimentais suportando esse modelo. A mais famosa delas foi
publicada por Gauss (1934), onde é feito um estudo sobre a dinâmica populacional de dois
Paramecium: P. aurelia e P. caudatum. Pearl (1927) observou que leveduras
(Saccharomices) podem crescer segundo um modelo logístico. Jacobs (1947) cultivou
Escherichia coli em meio aeróbico sob temperatura (35 C) e pH constantes e contínuo
aporte de comida e obteve como resposta o crescimento logístico. Chapman (1928)
observou que colônias do coleóptero Tribolium crescem segundo um modelo logístico. Park
et al.(1964) observou, entretanto, que culturas de Tribolium, embora cresçam segundo uma
curva logística, não se estabilizam em torno de K. Há um lento e contínuo decréscimo (800
dias). Birch (1953) observou a ausência de estabilização em K para o coleópetro Calandra.
A figura acima demonstra a grande aderência ao modelo que é obtida cultivando cladóceros
no laboratório (Macedo, 1999).
Uma população que obedeça ao modelo logístico deve obedecer aos seguintes critérios
(Rabinovich, 1978):
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A taxa de crescimento rm pode ser interpretada como sendo a capacidade inata para crescer
em números. É um parâmetro característico para cada espécie e pode variar segundo o
ambiente ou as condições experimentais. A taxa rm é uma capacidade inata sendo atingida
por uma particular combinação de condições do meio em conjunto, definidas como sendo
ótimas. O termo "ótimo" deve ser encarado com reservas. Na realidade condições ótimas
podem significar condições controladas e especificáveis. A importância deste parâmetro
está em sua utilidade para simulações e modelizações.
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Módulo 1 - Ecologia de Populações
a) tabela estática ou vertical: É baseada num 'transecto' de uma população num tempo
definido. É produzida por um levantamento censitário;
Estas tabelas se diferem apenas na maneira na qual são coletados os dados que servirão de
partida para os cálculos. Elas serão idênticas se o ambiente não mudar e se a população
estiver em equilíbrio.
x: intervalo de idade
Tx: número total de dias que restam de vida aos sobreviventes que tenham alcançado a
idade x.
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A tabela 1 sumariza a forma convencional de se representar os diversos parâmetros
necessários para a montagem de uma tabela de vida. Ela foi construída com dados de uma
população de insetos (afídeos), onde o valor de lx inicial foi de 1000 e o intervalo de idade
de apenas 1 dia. Após 6.5 diaæ, todos os indivíduos estavam mortos.
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Tabela 1 Tabela de vida das fêmas do afídeo Aphis fabae construída a partir dos dados de
Dixon & Walther (1971) in Rabinovich (1978).
x lx dx qx Lx Tx Ex
0.5 1000 0 0 1.000 4.185 4.185
1.5 1000 0 0.000 0.995 3.190 3.190
2.5 990 10 0.010 0.910 2.195 2.210
3.5 830 160 0.192 0.670 1.285 1.548
4.5 510 320 0.627 0.435 0.615 1.205
5.5 360 150 0.417 0.180 0.180 0.500
6.5 0 360 1.000 0.000 0.000 0.000
Passaremos, a seguir, ao cálculo das taxas de crescimento populacional a partir dos dados
de uma tabela de vida.
Parâmetros necessários:
Ro: taxa líquida de reprodução, ou seja o número de fêmeas que é produzido por uma fêmea
em seu tempo de geração
T: tempo de geração, ou seja, é o tempo médio de geração entre duas gerações sucessivas
Fórmulas:
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Exemplo: tomemos a tabela de vida de Aphis fabae (Rabinovich, 1978) e recalculemos
algumas colunas.
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A determinação de Ro é também de fundamental importância em muitos estudos sobre
produção secundária já que a quantidade de biomassa produzida por unidade de tempo em
uma população por unidade de tempo pode ser calculada a partir dos dados de abundância,
da taxa líquida de crescimento (Ro) e do peso dos indivíduos.
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Figura 1 – Pirâmides de idade hipotéticas ilustrnado três estruturas etárias possíveis de
serem encontradas em uma população.
Tipo I: As mortes massivas ocorrem apenas nas etapas finais. A proporção de sobreviventes
é constante durante quase todas as etapas do ciclo vital. Ex: população humana.
Tipo II: Há um número constante de indivíduos morrem durante todas as fases do ciclo vital
Ex: certas populações de insetos e aves.
Tipo III: O número de indivíduos que morrem a medida que a população envelhece é cada
vez menor e é sempre uma fração constante da população. Ex: vários invertebrados.
Tipo IV: A mortalidade afeta sobretudo os jovens. Ex: espécies com estágio larval tais como
peixes e moluscos.
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Figura 2 – Tipos de curvas de sobrevivência encontradas nas populações.
O tipo de curva pode variar dentro de uma mesma espécie dependendo das condições
ambientais, sexo e genótipo dos indivíduos. Pearl (1928) demonstrou que moscas de fruta
com asas vestigiais tinham uma curva de sobrevivência do tipo II enquanto que aquelas de
asas normais apresentavam uma curva do tipo I.
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3.4) Regulação de Populações
Ainda no velho testamento há relatos sobre flutuações de populações principalmente relatos
sobre pragas de gafanhotos e de roedores. Cole (1951) fez uma revisão na literatura sobre
flutuações populacionais e chegou a formular alguns tipos mais freqüentes de flutuações
(tabela 3):
Na realidade, Cole observou que existem muitos organismos (mamíferos) que fazem um
ciclo de 3 a 4 anos e outros que sofrem oscilações periódicas entre 9 e 11 anos. Mas quais
são as verdadeiras causas destas flutuações? Este tem sido um dos temas centrais em
Ecologia já que trata-se de um fenômeno de ocorrência generalizada, porém, de causas
pouco conhecidas.
A seguir, fornecemos um exemplo extraído de Ricklefs (1990, pg. 363), sobre um estudo
clássico de laboratório demonstrando, de modo inequívoco, a existência de ciclos
endógenos nas populações. Trata-se de um estudo realizado com a mosca berne de
carneiros, Lucilla cuprina, publicado por Nicholson em 1958. No gráfico superior, temos os
ciclos propriamente ditos e, no gráfico inferior, está representata a distribuição de idades
(ecofases) da população, obtida a partir de uma tabela de vida como a vista na primeira
parte desse capítulo. As linhas verticais, no gráfico superior, referem-se aos números de
adultos que emergiram dos ovos.
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Figura 4 - Ciclos endógenos em uma população de inseto parasita, a mosca berne de
carneiros, Lucilla cuprina. Exemplo extraído de Ricklefs (1990, pg. 363).
Existem "escolas" em Ecologia que são certas linhas de pensamento originadas por um ou
mais pesquisadores com idéias similares e com 'longa' história de publicações interligadas.
Em relação às teorias que procuram explicar as flutuaçoes de populações, podemos citar
pelo menos três grandes escolas do pensamento ecológico:
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3) Escola de Wynne Edwards ou da autoregulação: baseada em fatores endógenos
(genéticos, fisiológicos ou comportamentais).
Price (1975) fez uma revisão sobre as teorias sobre controle de populações. Um resumo
sobre estas teorias é dado no quadro a seguir:
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Tabela IV – Fatores intrinsecos (denso-dependentes) e extrínsecos capazes de regular as
densidades das populações, segundo Price (1975).
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Módulo 1 - Ecologia de Populações
1) Introdução
As interações entre as espécies podem tanto ser classificadas com base no mecanismos de
interação quanto nos efeitos que estas interações causam reciprocamente. Uma
classificação dos principais tipos de interação, com base nos mecanismos de atuação destas
interações, é dada a seguir:
1.1) Competição: duas espécies usam um recurso limitante (alimento, luz, água) causando
prejuízos recíprocos
1.3) Herbivoria: um animal consome um vegetal inteiro ou alguma de suas partes (caule,
folhas, frutos, flores e sementes)
1.6) Mutualismo: Associação entre duas espécies onde pode haver ou não benefícios
mútuos
1.7) Simbiose: Associação entre duas espécies mutualísticas onde exista um claro benefício
recíproco.
Alguns autores não separam parasitas e doenças bem como não reconhecem as diferenças
entre o mutualismo e a simbiose. Outros autores restrigem a simbiose quando além de
benéfica é obrigatória para a sobrevivência de um dos parceiros.
As micorrizas fúngicas são muito comuns nas florestas tropicais e são também conhecidas
como exemplos de mutualismos muitas vezes mutualismos que envolve uma relação de
simbiose obrigatória. No caso das endomicorrizas, os micélios que são massas de finos
filamentos de fungos, invadem as raízes das plantas e formam uma rede chamada de
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arbúsculo. Essas estruturas funcionam como raízes extendidas e são capazes de captar
nitrogênio e fósforo a distâncias e concentrações que não seriam captadas pelo vegetal
superior. As ectomicorrizas formam uma estrutura em forma de chapéu que envolve as
raízes da planta. De um modo geral, as micorrizas obtem das plantas hospedeiras a matéria
orgânica necessária para o seu metabolismo e, em troca, imobilizam nutrientes limitantes
em solos muito pobres, produzem reguladores do crescimento, diminuem a susceptibilidade
da planta a doenças uma vez que estimulam as plantas hospedeiras a produzirem uma
miríade de inidores químicos.
Figura 1 - Três tipos de micorrizas fungicas encontradas nas plantas superiores (extraído de
Smith and Smith, 1998, pag. 218). Trata-se de uma relação tipicamente simbiótica, pois as
micorrizas obtém das plantas hospedeiras a matéria orgânica necessária para o seu
metabolismo e, em troca, facilitam a retenção nas plantas de nutrientes limitantes em solos
muito pobres
2) Competição
A competição e a predação são as interações que mais tem atraído a atenção dos ecólogos
talvez pelo fato de ser frequentemente observáveis na natureza.
A competição por sua vez pode ser subdividida nos seguintes tipos
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2.1) Competição intraespecífica: quando ocorre entre os membros de uma mesma espécie
ou mais precisamente entre os membros de uma dada população vivendo numa área
geográfica definida.
2.2) Competição interespecífica: quando ela ocorre entre organismos pertencentes a duas
espécies diferentes.
Nem sempre é fácil estabelecer se duas espécies estão ou não competindo por um
determinado recurso. Wiens (1989) estabeleceu alguns critérios que estabelecem uma
escala gradual de certeza para se afirmar se duas espécies estão em competição:
d) O uso do recurso por uma espécie dificulta o seu uso pela outra.
A competição pode ainda ser subdividida de acordo com a forma em que se manifesta nos
organismos:
Existe ainda um outro tipo de competição. Em 1972, MacArthur sugeriu que a competição
poderia ocorrer simultaneamente entre várias espécies que ele definiu como competição
difusa. Este seria o caso de uma espécie exercer seus efeitos sobre várias outras.
A natureza do recurso limitante numa interação competitiva pode variar muito. Em plantas
ele pode ser a luz, o espaço e nutrientes (freqüentemente o fósforo ou nitrogênio). Mas
pode haver competição por polinizadores ou agentes dispersores, por exemplo. Entre os
animais, o recurso limitante pode ser alimento, sítio de oviposição ou nidificação ou abrigo
para eventuais predadores.
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A competição para se manifestar não exige a presença física e simultânea dos eventuais
competidores. Um animal que se alimente de uma planta durante o dia pode competir com
outro que seja ativo somente à noite. Outro ponto relevante refere-se a presença da
competição. A maioria dos animais que vivem ao redor de um dado organismo não são seus
competidores. Assim, a competição se manifesta precisamente somente nos casos
assinalados acima. Num recife de coral, existem dezenas ou mesmo centenas de espécies de
peixes vivendo lado a lado. Estes organismos são em geral muito especializados nos
recursos que exploram e a maioria deles não estão em competição entre si.
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2.1) O modelo de Lotka-Volterra
Diversos modelos tem sido propostos para explicar a competição entre os organismos. Um
modelo considerado clássico foi proposto por Lotka (1925) nos Estados Unidos quase que
simultaneamente por Volterra (1926) na Itália. Tal modelo ficou reconhecido como sendo o
modelo de Lotka-Volterra.
onde:
t: tempo
As duas espécies têm diferentes necessidades de recursos e para crescerem usam diferentes
quantidades dos recursos disponíveis. Deste modo, uma dada quantidade de alimento que
seja limitante irá proporcionar o crescimento de diferentes densidades finais das duas
espécies acima consideradas. É isto o que quer dizer os diferentes K's nas equações acima.
onde
39
alfa é o fator de conversão para expressar uma dada quantidade de indivíduos da espécie 2
em indivíduos equivalentes da espécie 1.
Desta maneira as equações que expressam as interações competitivas entre duas espécies
pelo modelo de Lotka Volterra são as seguintes:
onde:
Os demais termos são os mesmos da equação do modelo logístico para duas espécies 1 e 2.
40
Estas equações podem ser graficamente expressas graficamente (Figura 1).
As diagonais nestes gráficos indicam isóclinas onde o crescimento é nulo. Estas diagonais
juntamente com as coordenadas definem espaços de crescimento positivo e negativo.
Abaixo das diagonais temos crescimento positivo e acima delas crescimento negativo,
ambos representados por setas.
41
2.2) O modelo de Tilman
Uma das maiores críticas ao modelo de Lotka-Volterra refere-se ao fato de que, embora
sendo um modelo confortável do ponto de vista matemático, ele não trata biologicamente a
questão da competição. É um modelo do tipo caixa-preta onde não existe qualquer ênfase
aos possíveis mecanismos da competição.
Tilman (1977, 1982) apresentou um modelo baseado no uso de recurso pelas espécies
potencialmente competidoras. Uma das maiores vantagens do modelo refere-se a
capacidade de interpretação gráfica das interações entre as espécies. Esta interpretação
gráfica baseia-se nas isóclinas de crescimento nulo vistas acima que são plotadas em
relação aos recursos considerados para cada uma das espécies envolvidas.
Figura 3 – Isoclinas de crescimento nulo para uma espécie considerando dois recursos r1 e
r2 potencialmente limitantes para o seu crescimento. Os eixos 1 e 2 representam gradientes
de concentração dos recursos 1 e 2, respectivamente.
A determinação destas isóclinas baseia-se no Modelo de Monod que por sua vez está
alicerçado na cinética de Michaelis Menten. Trata-se de uma curva de saturação que
relaciona a disponibilidade de um certo recurso à taxa de crescimento per capta das
espécies (vide módulo sobre ecologia de processos). Quando temos dois recursos (r1 e r2)
são definidas duas isóclinas que por sua vez definen no gráfico r1 versus r2 duas regiões
distintas: a) uma região onde existe o crescimento da espécie (dN/dt > 0) e b) outra região
onde o crescimento da espécie é negativo (dN/dt < 0). O crescimento é mulo sobre as linhas
das isóclinas (Figura 3).
42
Figura 4 – Resultados de interações competitivas segundo o modelo de Tilman entre duas
espécies a e b, considerando os recursos potencialmente limitantes 1 e 2. Os eixos ca e cb
representam, respectivamente, os vetores de consumo de recursos (determinados pelas taxas
de consumo) pelas espécies consideradas (Pinto-Coelho, 2000).
O resultado da interação competitiva entre duas espécies pelo modelo de Tilman baseia-se
na posição relativa das isóclinas das espécies para os recursos considerados (Figura 4). A
figura acima ilustra as diferentes possibilidades da interação competitiva entre duas
espécies para dois diferentes recursos. As diferentes regiões do gráfico estão numeradas e
significam o seguinte:
O tipo de equilíbrio na região (4) poderá ser estável ou instável. Isto irá depender
basicamente dos vetores indicando as taxas de consumo dos recursos para as espécies (Ca e
Cb).
43
O modelo de Tilman reúne algumas importantes características. Em primeiro lugar ele
opera sob condições de equilíbrio dinâmico; em segundo lugar ele apresenta uma boa
fundamentação biológica o que não é o caso do modelo de Lotka-Volterra e, em
consequência, ele já foi verificando experimentalmente (Lampert & Sommer, 1993).
3) Predação
A predação pode ser genericamente definida como sendo o ato de um animal consumir
outro organismo para dele se alimentar. Este ato envolve na maioria dos casos a morte da
presa.
44
3) Herbívoros: podem consumir uma planta inteira ou partes dela tais como sementes,
frutos, flores ou raízes.
A predação é um dos fatores ecológicos mais importantes pois afeta não somente as
populações mas também toda a comunidade. Neste capítulo trataremos dos efeitos da
predação sobre as populações individualizadas já que os efeitos da predação sobre a
comunidade serão discutidos no módulo seguinte.
onde:
t: tempo de geração
Zt: (Nt - Neq): desvio presente observado na população em relação à densidade de equilíbrio.
Esta equação receberá um termo de subtração na presença de predadores. Isto pode ser feito
observando o modo como atuam os predadores. Eles podem consumir as presas segundo
uma taxa constante ou então podem apenas consumir as presas quando elas superam um
determinado número. Mas se a densidade do predador depender da densidade da presa, isto
vai implicar numa flexibilidade da densidade do predador que irá depender da densidade da
presa. Neste caso, a equação acima passaria a ser escrita da seguinte forma:
onde:
45
Nt+1: tamanho da população de presas na geração t+1
onde:
O próximo passo seria estimar a taxa máxima de reprodução tanto de presas quanto de
predadores. Para a população de presas, isto pode ser feito considerando o número de
predadores muito baixo, próximo de zero. neste caso, a taxa de reprodução poderia ser
definida da seguinte forma:
onde:
46
onde
Este modelo pode ser visualizado com um exemplo hipotético fornecido por Krebs, 1994.
Considere R= 1.5 e Neq= 100. Neste caso o valor absoluto da inclinação da curva
reprodutiva será 0.005. O valor da eficiência do predador seria C= 0.5 e o valor da
eficiência do uso das presas pelos predadores seria de Q= 0.02.
47
Figura 6 – Modelo simulando um sistema presa versus predador, com gerações discretas
Pinto-Coelho, 2000).
Um modelo com boa aceitação na literatura para populações que apresentam gerações
contínuas foi proposto por Rosenzweig & MacArthur (1963). Este é um modelo gráfico
baseado em isóclinas representadas por linhas onde a taxa de crescimento da população de
presas é zero. A população de presas tende a permanecer em algum ponto desta linha.
b) Na região B, existem poucos predadores a tal ponto de não impedir um controle via
predação do crescimento da população de presas.
48
Figura 7 – Isoclinas de crescimento nulo para uma população de presa (H) com gerações
continuas (Pinto-Coelho, 2000).
Figura 8 – Isóclinas de crescimento nulo para uma população de predadores (P) com
gerações contínuas (Pinto-Coelho, 2000).
Agora considere uma população de predadores com alta seletividade de presas e que esteja
com limitação de alimento sob baixa densidade de presas. Quando o número de predadores
for alto, a população deles sofrerá decréscimo. A fronteira entre as zonas de crescimento
positivo e negativo será a isóclina da população de predadores. Note que esta isóclina
assume uma forma bem diferente da isóclina das presas (Figura 7).
49
Figura 9 – Modelo de interação presa versus predador ambos com gerações continuas. O
sistema estaria em equilíbrio no ponto C (Pinto-Coelho, 2000).
Figura 10 – Sistema presa versus predador, onde o predador é apenas limitado pela
disponibilidade de presas (Pinto-Coelho, 2000).
50
Considere uma situação extrema onde o predador é apenas limitado pela disponibilidade de
comida, ou seja, de presas. Neste caso, a isóclina dos predadores seria uma reta vertical,
sem dobras uma vez que não há qualquer autolimitação (Figura 9). Este é um sistema
estável que se disturbado do equilíbrio tenderá voltar através de oscilações convergentes ao
ponto de equilíbrio C. O equilíbrio não será mais estável se o predador for muito eficiente.
Neste caso, significaria dizer que a linha vertical da isóclina dos predadores seria deslocada
para à esquerda.
Figura 11 – Sistema presa versus predador como ilustrado na figura anterior, exceto que o
predador e mais eficente, causando a instabilidade do sistema (Pinto-Coelho, 2000). Esse
tipo de interação foi muito bem descrito por Paine (1966) estudando os efeitos da remocao
de predadores em um costao rochoso no litoral do oceano Pacifico (EUA).
Quando a isóclina dos predadores estiver à esquerda do ponto mais alto da isóclina das
presas, inexiste equilíbrio estável (Figura 10) e, em caso de distúrbios, as oscilações irão
girar indefinidamente em torno do ponto de equilíbrio C. A amplitude destas oscilações
dependerá basicamente da amplitude do distúrbio. O modelo de Rosenzweig-MacArthur,
como vimos, pode prever uma vasta gama de situações, incluindo desde o equilíbrio estável
até violentas oscilações que podem levar à extinção de presas e predadores. Este modelo
possui, portanto, importantes aplicações na gestão e conservação de ecossistemas na
medida que pode auxiliar a compreensão dos efeitos de distúrbios ambientais na dinâmica
de animais ameaçados de extinção.
51
Módulo 1 - Ecologia de Populações
Aula 5 - Metapopulações
O exemplo a seguir, extraído de Smith & Smith (1999) , pág. 287, ilustra bem a questão da
fragmentação dos habitats e a relação entre espécies de borda e de interior. Os quatro
gráficos ilustram as probabilidades de ocorrência de quatro espécies de pássaros duas sendo
de borda (Dumetella carolinensis e Turdus migratorius) e duas sendo de interior
(Helmintheros vermivorus e Seiurus aurocapillus). Tratam-se de espécies de pássaros
existentes na América do Norte (Estados Unidos e Canadá, principalmente). As
probabilidades de ocorrência para cada uma dessas espécies variam de forma não linear
com o tamanho do fragmento sendo claramente visível que as duas espécies de interior
apresentam maiores probabilidades de ocorrências em fragmentos de área maior ou igual a
32 hectares.
52
Figura 1 - Metapopulações que surgem com a fragmentação dos habitats. Probabilidades
de ocorrência de quatro espécies de pássaros duas sendo de borda (Dumetella carolinensis e
Turdus migratorius) e duas sendo de interior (Helmintheros vermivorus e Seiurus
aurocapillus). As probabilidades de ocorrência são maiores para as duas espécies de
interior em fragmentos de área maior ou igual a 32 hectares. Extraído de Smith & Smith
(1999) , pág. 287.
Em uma metapopulação, populações podem ser ganhas por colonização de manchas vazias
de habitat, e são perdidas por extinção local. Levins (1969) formulou o primeiro e mais
simples modelo para lidar com a variação no tempo do número de populações em uma
metapopulação (representação gráfica na figura 1):
Onde dp/dt é a proporção de manchas ocupadas pela espécie num determinado tempo t; e é
a taxa de extinção local e m é a taxa de colonização de manchas vazias. Observando a
equação, percebe-se a analogia com modelos de dinâmica populacional. Uma
metapopulação é uma população de populações, sendo que m é um análogo da natalidade
e/ou imigração, e é um análogo da mortalidade e/ou emigração.
53
Figura 1 - Uma metapopulação como proposta por Levins. Círculos representam as
manchas de habitat. (escuros são manchas ocupadas pela espécie). Linhas indicam
movimentos de dispersão. Linhas pontilhadas são os limites das populações. Pagilia e
Fernandez in Pinto-Coelho (2000).
Em uma revisão de estudos empíricos sobre metapopulações, Harrison (1991) propôs que o
conceito clássico raramente se aplica na Natureza. Na visão clássica de Levins, uma
metapopulação era composta de conjunto de populações mais ou menos equivalentes em
suas probabilidades de colonização e de extinção. Além disso, o modelo de Levins assume
que as manchas de habitat são similares em tamanho e fisionomia. Harrison verificou que a
maioria das metapopulações encontradas na Natureza se encaixa melhor em um de quatro
modelos alternativos (Figura 2):
54
3) Metapopulação em desequilíbrio ("non-equilibrium metapopulation"): onde não há fluxo
de indivíduos entre os fragmentos; populações são apenas perdidas pouco a pouco por
extinção a qual não pode ser compensada por recolonização. (Figura 2C).
55
.
A outra diferença é que a extinção das populações "sink" ocorre de forma determinística, na
ausência de imigração da "source". No modelo original de metapopulações todas as
populações são equivalentes, e a extinção ocorre principalmente devido à fatores
estocásticos.
Apenas as taxas de nascimento e morte não são suficientes para determinar se uma
população é fonte ou escoadouro (Watkinson & Sutherland, 1995) além do que essas taxas
não são fáceis de serem estimadas no campo. Por exemplo, uma população que vive em um
ambiente escoadouro pode ser considerada como fonte se ela for amostrada em um período
subsequente a uma catástrofe natural. Essa população pode estar experimentando um
crescimento exponencial, já que foi reduzida para níveis inferiores à capacidade de suporte.
Um outro problema é que não é fácil determinar o que é um habitat "bom" para uma
determinada espécie (Dias, 1996). Outros parâmetros populacionais, como variação da
densidade populacional e taxas de reposição da população devem ser utilizados.
56
Ecologia de Comunidades
Comunidades e Ecossistemas
1) Introdução
Möbius (1877) foi um dos primeiros a tentar caracterizar uma comunidade. Ele estudou
bancos de ostras em regioes literâneas e notou que existe uma interdependência entre os
organismos presentes no que ele designou por biocenose.
A Comunidade pode ser também definida como o conjunto de todas as populações de uma
dada área geográfica (Odum, 1963) ou como a parte viva do ecossistems (Clark, 1954). É
comum o uso do termo biocenose por ecólogos europeus em lugar ao de comunidade.
2.3) Comunidade: É uma reunião de populações numa determinada área ou habitat físico
definidos. É uma unidade ecológica pouco definda. (Odum, 1977).
57
2) Taxocenose: A caracterização de comunidade varia segundo os objetivos pretendidos.
Essa caracterização pode obedecer a critérios taxonômicos, funcionais e morfo-
fisionômicos. A taxocenose é um grupo com identidade taxonômica que pode ou não
possuir similaridade em suas distribuições geográficas ou papéis ecológicos. Exemplos:
copépodes do Lago Dom Helvécio, Parque Estadual do Rio Dioce, ácaros no solo do
cerrado em Lagoa Santa, orquidáceas na Serra da Piedade, hemípteros da Serra do Cipó que
incluem tanto sugadores de seiva vegetal como alguns predadores vorazes.
3) Guilda: grupos de organismos que têm maneiras semelhantes para sobreviver. Segundo
Root (1967), guildas são compostas exclusivamente por organismos que exploram a mesma
classe de recursos de maneira similar. Uma guilda não pressupõe identidade taxonômica
entre seus componentes. Esta semelhança é basicamente ecológica, normalmente em termos
de alimentação. Exemplo: pássaros insetívoros, insetos fitófagos em crucíferas ou roedores
e formigas granívoros.
Os zoólogos tendem a usar o termo comunidade tanto num sentido genérico (vide
definiçoes acima) quanto no sentido de associação ou guildas. Os estudos sobre ecologia
animal tenderam a enfocar aspectos dinâmicos das comunidades (i.e: fluxo de energia,
cadeias alimentares).
Assim como a população, a comunidade pode ter vários de seus atributos mensuráveis no
campo:
58
4.2) formas de crescimento
Esses atributos tentam conferir um aspecto mais concreto ao conceito de comunidade sendo
portanto usados para a sua própria caracterização. A seguir, vamos nos ater em alguns
desses atributos:
Tais formas incluem tanto categorias maiores de crescimento: árvores, arbustos, ervas,
epífitas lianas e musgos bem como categorias detalhadas: folhas largas (latifolidas), folhas
aciculiformes, perenifólia, decídua, etc. A estrutura pode enfocar tanto a dimensão vertical,
ou seja, a estratificação ou disposição fisionômica vertical bem como a zonação ou arranjo
horizontal dos elementos componentes da comunidade ('patch').
Uma das classificações de formas de vidas mais conhecidas na literatura foi proposta pelo
botânico dinamarquês C. Raunkier em 1903. Ele dividiu as plantas segundo qual o tipo de
tecido embrionário ou de meristema que fica inativo em períodos de estresse climático
(inverno ou seca), ou chamados tecidos pereniais tais como os bulbos, tubérculos, certos
tipos de raízes e sementes. Ele reconheceu seis tipos principais de formas de vida,
representados na figura abaixo (modificada de Smith e Smith, 1999, pág. 273): (a) as
fanerófitas com estruturas perenes expostas ao ar; (b) as quemófitas que apresentam suas
estruturas perenesa até 25 cm do solo; (c) as hemicriptófitas que possuem as estruturas
59
perenes junto à superfície do solo; (d) as criptófitas que apresentam as pereniais no solo,
sob a forma de rizomas ou outras estruturas que as protegem contra o frio ou a seca; (e) as
terófitas que são as plantas anuais tendo todo o seu ciclo vital (semente a semente)
realizado em uma única estação de crescimento e as (d) epífitas que possuem raízes aéreas
vivendo sobre outras plantas.
60
Abundância Relativa:
São as proporções relativas das diferentes espécies dentro da comunidade. Estas proporções
são fundamentais, por exemplo, para o cálculos dos índices de diversidade, equitatividade,
dominância.
61
teoricamente possível de ligações tróficas para um determinado número de espécies
presentes.
Exemplos:
5) A Natureza da Comunidade
É a comunidade algo mais do que uma mera abstração feita por ecólogos a partir de uma
vegetação que está mudando continuamente? A partir desta questão, três escolas se
desenvolveram:
62
consequência da resposta em termos de limites de tolerância de cada espécie às variações
do meio;
Um dos pontos que mais debates tem causado refere-se sobre as evidências da real
existência das comunidades. Ao contrário das populações, as comunidades muitas vezes são
vistas como meras abstrações utilizadas pelos ecólogos. É a comunidade uma unidade real?
A existência das comunidades pode talvez ser comprovada pelo uso dos seguintes critérios:
6.1) similaridade/dissimilaridade
6.2) continuidade/descontinuidade
6.1) Similaridade/Dissimilaridade:
6.2) Continuidade/Descontinuidade
63
6.3) Relações de distribuição
Se os "stands" que compõem uma comunidade são similares, todas ou muitas de suas
espécies têm distribuições similares. Existem vários índices de similaridade literatura.
A presença e o grau dessas associações estão ligados aos fatores limitantes da distribuição e
abundância das diferentes populaçoes. Estes fatores podem ser bióticos (i.e: predação) ou
abióticos (i.e: clima). Alguns autores discordam deste tipo de afirmação. Whittaker (1962)
sugeriu que o somatório das interações (vide tabela abaixo) de uma comunidade obedeceria
uma distribuição normal. Isto implicaria numa independência entre estrutura de uma
comunidade e o grau de interrelações ali existentes e, por conseguinte, uma comunidade
não poderia existir baseada apenas nestas interações.
Deve-se observar, contudo, que grande parte dos estudos sobre a natureza das comunidades
foram realizados em florestas temperadas e que nos trópicos esta situação pode ser
diferente.
Qual é o grau mínimo de interações entre as espécies necessário para que tenhammos uma
comunidade? Infelizmente esta é uma questão ainda em aberto... A noção mais atualizada
da natureza da comundade aproxima-se daquela visão de Gleason (escola individualista):
64
- as espécies estão distribuídas individualisticamente, de acordo com suas próprias
características genéticas e ecológicas
- a maioria das espécies não estão em associações obrigatórias com outras espécies. Logo a
combinação de espécies variará continuamente no tempo e no espaço.
- a classificação e ordenação das comunidades naturais é uma um tanto artificial, mas serve
à ciência ecológica dentro de uma perspectiva de dividir e classificar para entender e
conhecer a aperente complexidade caótica de um ecossistema. No entanto, esta
classificação não corresponde necessariamente à estrutura formal de uma comunidade,
podendo inclusive estar "contagiada" pela metodologia/objetivos do
pesquisador.Adicionalmente, estudos paleobotâncos reforçam a idéia do continuum na
vegetação.
4) Ecossistema
Termo proposto por Tansley (1935) para designar a reunião entre todos os organismos e o
meio físico onde vivem. Hoje em dia, uma definição de ecossistema muito usada em
Ecologia seria a seguinte: qualquer unidade que inclua a totalidade dos organismos
(comunidades) de uma área determinada, que atuam em reciprocidade com o meio físico de
modo que uma corrente de energia conduza a uma estrutura trófica, a uma diversidade
biótica e a ciclos biogeoquímicos (Odum, 1977).
65
Aspectos estruturais do ecossistema:
- Componentes bióticos:
- Produtores
- Consumidores
- Predadores
- Desintegradores
- Regeneradores
- Clima.
- Fluxo de energia.
66
- Ciclos de nutrientes.
- Sucessão e evolução.
- Controle (cibernética).
67
Fundamentos em Ecologia - Ecologia de Comunidades
1) Classificação de comunidades
No capítulo anterior, foi ilustrado como podem ser estudados o tipo e o grau de associação
existente entre um par de espécies. No entanto, ao considerar mais de três espécies, a
situação torna-se bem mais complexa. A análise multiespecífica envolvendo toda a estrutura
da comunidade tem sido muito criticada na literatura. No entanto, mesmo os críticos mais
consistentes admitem que este tipo de abordagem pelo menos possui uma grande
conveniência metodológica. Neste tipo de abordagem não é importante o fato de que as
comunidades comunidades podem ser vistas como unidades discretas ou não. O ponto de
partida deste tipo de análise são os modelos multidimensionais (geométricos ou não), que
sintetizam os dados em uma escala bi- ou tridimensional.
68
Figura 1 – Duas formas de classificação de comunidades: classificação hierárquica e
reticulada (Pinto-Coelho, 2000).
69
2) Análise de gradientes
A ecologia tem como definição central o entendimento dos padrões de distribuição das
espécies seja no espaço seja no tempo. As comunidades terrestres e aquáticas apresentam
padrões de distribuição espacial de suas espécies que muitas vezes são nítidos e outras
vezes são difusos. Nesse capítulo, iremos tratar de uma das primeiras abordagens sistêmicas
no estudo da estrutura das comunidades: a análise de gradientes. O gráfico a seguir ilustra a
distribuição das províncias biogeográficas no Canadá.
Figura 2 – Biomas e ecorregioes da América do Norte (Canadá). Esses biomas foram a base
de estudos fitossociologicos muito importantes que estabeleceram os patamares dessa área
em Ecologia na primeira metade do século XX.
Nessa região, existe um gradiente de comunidades muito nítido, em escala quase que
continental, com predomínio de tundra ao norte, passando por vários tipos de formações de
florestas boreais (coníferas) que são substituídas por florestas decíduas (laurencianas ao
leste e diversas províncias no oeste (British Columbia ) que finalmente cedem espaço às
grandes pradarias no centro-oeste do país. Nesse mesma região, em um estado limítrofe ao
70
Canadá, o estado de Wisconsin (EUA) foram realizados os mais famosos estudos de
análises de gradientes que passamos a detalhar a seguir.
Feito isso, determina-se o valor de importância (VI) para cada espécie (i) dentro o "stand"
considerado:
Neste caso o valor de importância irá variar de 0 a 300 (0 <= VI <= 300).
Iremos tratar aqui de uma amostra de 05 espécies que apresentam distribuições muito
diferentes dentro da área estudada. A tabela a segur, apresenta os números de clímax para
essas espécies, extraídos de Krebs (1994), pág. 440.
71
Espécie Número de
Clímax
Pinus banksiana (jck pine) 1
Pinus resinosa 3
Pinus strobus 5
Tsuga canadensis 8
Acer saccarum (sugar maple) 10
Estes números são, na realidade, uma escala arbitrariamente estabelecida pelo pesquisador
com base em uma ou mais características ambientais tais como higrofilia, xeromorfismo,
defesa a predadores, etc. A próxima etapa refere-se à determinação do índice de
continuidade (IC) para cada "stand".
onde:
i: i-ésima espécies
IC: Índice de continuidade. Ele é uma medida subjetiva do gradiente ambiental, sendo
calculado para cada "stand".
A seguir plota-se o valor de IC para cada stand contra o valor de VI de cada espécie dentro
de cada "stand".
72
As críticas da escola individualística em relação à análise de gradientes baseiam-se em três
pontos básicos (Daubenmire, 1966):
b) os "stands" que estão sujeitos a um forte gradiente ambiental não estariam em equilíbrio
estável (steady state). A questão do equilíbrio ecológico é aqui mais uma vez invocada.
Como se verá ao longo deste curso saber se uma comunidade está ou não em equilíbrio
estável é essencial não só para a sua descrição ecológica, mas sobretudo pelos aspectos
aplicados tais como a conservação e recuperação ambiental.
73
a) escola européia (fundada por Braun-Blanquet): Esta escola é baseada na identificação e
classificação das comunidades a partir de espécies-chaves (ou espécies diagnóstico).
onde:
Exemplo:
74
Cálculo do índice de similaridade entre as associações:
75
Ecologia de Comunidades
1) Introdução
76
Os diferentes modelos de curvas de espécie-abundância são consequências das inúmeras
tentativas de isolar padrões nesses números acima, independentemente do tipo de
comunidade considerado. O objetivo central destes modelos é achar uma distribuição de
probabilidades com um pequeno número de parâmetros (1-3) que variam de uma
comunidade para outra.
77
Suponha que os habitats encontrados nas regiões A e B possam suportar no máximo 10
espécies. Na região A as 10 espécies são generalistas e podem habitar todos os cinco
habitats disponíveis. Na região B, as espécies são generalistas e só podem habitar num
único habitat. Por conseguinte, toda a região poderá conter 50 espécies já que em cada
habitat uma comunidade específica será encontrada.
A diversidade biológica pode ser acessada usando diferentes índices e modelos estatísticos.
O uso destes índices, contudo, é limitado uma vez que todos eles apresentam limitações que
impõem um
A medida mais simples é o número de espécies encontradas numa comunidade. Devem ser
excluídas as espécies acidentais, exóticas e eventuais imigrantes ocasionais. Embora seja a
maneira mais usual de se iniciar estudo da estrutura de uma comunidade, tal critério tem a
limitação básica de não levar em consideração os padrões de abundância das espécies.
78
A comunidade II é intuitivamente mais diversa. Lembrar que o número de espécies pode
variar com o esforço amostral.
A série logarítmica de Fisher é um modelo que tem sido aplicado com sucesso em
comunidades relativamente simples, governadas por um único recurso. Ela é definida pelas
equações abaixo:
79
que corresponde basicamente ao desenvolvimento da série a seguir: série: alfa.x,
alfa.x²/2, ..., alfa.x3/n
onde:
80
N: número de indivíduos por amostra
X: incógnita.
Segundo May (1975) esta série pode ser dada aproximadamente pela fórmula:
A figura 1 ilustra três comunidades com alfas variando entre 1.5 e 8.5. Observe que o
número final de espécies é dependente do valor de alfa. X não é afetado pelo esforço
amostral. O parâmetro alfa também não é afetado pelo esforço amostral e é propriedade
intrínseca da comunidade sendo proporcional a S. Na realidade, o parâmetro alfa pode ser
tratado como um índice de diversidade.
onde:
O modelo de Fisher não funcionou para todas as comunidades por ele testadas. Com esta
distribuição, é possível estimar S*, ou seja, o número real de espécies da comunidade.
Preston sugeriu expressar o eixo das abscissas (onde estão as abundâncias específicas)
numa escala geométrica. Quando esta conversão é feita, a abundância relativa leva a forma
de "sino", típica da distribuição normal. Pelo fato do eixo dos x ser expresso em escala
logarítmica (por convenção na base 2, mas outras bases numéricas podem igualmente
serem usadas), a distribuição passa a ser chamada log-normal. Esta distribuição pode ser
definida pela fórmula:
81
onde:
e = 2.71828
As oitavas nada mais são do que a expressão geométrica das abundâncias dos indivíduos
(dados logaritimizados):
R = 0 log2 (N/N)
R = 1 log2 (2N/N)
R = 2 log2 (4N/N)
R = 3 log2 (8N/N)
R = 4 log2 (16N/N)
A oitava Rn refere-se à oitava da classe modal, isto é aquela classe onde ocorre o maior
número de espécies.
82
A curva log-normal permite estimar o total de espécies, incluindo as espécies ainda não
coletadas.
onde:
83
Há muitas evidências de campo indicando que o modelo log-normal se aplica em várias
situações:
a) mariposas na Inglaterra
c) serpentes do Panamá
O esquema a seguir ilustra uma partição aleatória de um recurso (uma dimensão ilustrada
pelo segmento ou bastão horizontal) onde foram realizadas cinco partições aleatórias,
gerando segmentos ocupados por seis diferentes espécies. Cada segmento corresponderia
ao nicho explorado por cada espécie ao longo do recurso (bastão) considerado.
84
O comprimento dos seguimentos é proporcional à abundância relativa das espécies. Se os
segmentos são arranjados proporcionalmente numa escala logarítmica decrescente, então a
distribuição dos segmentos será aproximadamente linear.
onde:
a: a-ésima espécie
85
A figura 3 ilustra o modelo de MacArthur para três comunidades hipotéticas. Observe que o
número de espécies de cada comunidade é um parâmetro deste modelo e não uma
consequência deste como nos modelos da série logarítmica e log-normal. Observar que a
medida que cresce o número de organismos a curva se torna proporcionalmente mais
inclinada.
Segundo May (1975) o modelo do Broken-Stick pode ser dado pela equação:
- Todos os recursos disponíveis são utilizados e não há sobreposição de recursos (em inglês
resource overlap ).
86
- O número de espécies é uma premissa do modelo e não uma consequência dele (como na
distribuição log-normal).
- A comunidade deve estar em equilíbrio (steady state ) e deve ser saturada em espécies, ou
seja, não deve haver nichos ecológicos vagos.
- As abundâncias relativas são determinadas por partição ao acaso dos recursos entre as
espécies.
A maioria das previsões feitas pelo modelo do "broken-stick" podem ser feitas por outros
modelos. O modelo de MacArthur é muito enfraquecido ao se considerar que os outros
modelos, que não incluem competição interespecífica, chegam as mesmas conclusões. Um
exemplo seria o modelo exponencial proposto por Cohen (1968): As populações das
diferentes espécies variam ao acaso com o tempo e a frequência cumulativa seria dada pela
equação
87
No modelo exponencial de Cohen, as abundâncias das espécies não são determinadas pela
competição como modelo de Mac Arthur (broken stick ). Muitos modelos de distribuição de
espécies como o exponencial de Cohen ou o modelo de comunidade aberta visto na figura 4
são suportados por inúmeras observações de campo e não se baseiam em interações
competitivas.
88
89
2.3 Índices de diversidade
a) número de espécies
Podemos prever qual será a próxima espécie a ser capturada? Há uma função que mede esta
incerteza (Shannon-Wiener).
onde
s: número de espécies
90
Estes valores suportam a idéia de que a comunidade 2 é mais diversa. Esta função só pode
ser usada em amostras tomadas ao acaso em um comunidade muito grande. A função de
Shannon-Wiener reflete dois atributos básicos:
número de espécies
equitabilidade
H max parte do pressuposto que todas as espécies têm a mesma abundância. Neste caso pi =
1/S.
Por convenção usa-se o logaritmo na base 2 para o cálculo dos índices de diversidade. Isto
é porque o logaritmo na base 2 expressa os resultados em unidades binárias que são as
preferidas na teoria da informação. No entanto, não há qualquer restrição para o uso de
outras bases (e, 10). Para obter o logaritmo na base 2 pode-se usar as seguintes relações:
observação:
ln 2 = 0.69314
log10 2 = 0.30103
91
onde a somatória dos quadrados das abundâncias relativas indica a probabilidade de que os
organismos sejam da mesma espécie enquanto que a subtração deste somátorio de 1 indica
a probabilidade de que os organismos sejam de espécies diferentes, ou seja, ela mede a
diversidade.
D1 = 1 - [(0.99)²+(0.01)²] = 0.02
D2 = 1 - [(0.50)²+(0.50)²] = 0.50
92
Ecologia de Comunidades
1) Diversidade e Latitude
93
A ictiofauna de ambientes limnéticos parece também obedecer ao padrão de aumento do
número de espécies em direção aos trópicos:
a) topografia (altitude);
94
b) leste oeste (longitude);
Várias teorias têm procurado explicar o aumento da riqueza em espécies observado nos
ecossistemas situados a baixas latitudes. Abaixo são apresentadas algumas delas:
Existem inúmeras evidências indicando que os ambientes tropicais são os mais antigos da
biosfera e, portanto, as espécies vivendo nestes locais teriam tido simplesmente mais tempo
para evoluir. Além disso, a taxa de evolução seria maior em temperaturas maiores, uma vez
que as populações de climas mais quentes apresentam em geral menor tempo de renovação
(turn over time). Os exemplos abaixo ilustram este ponto:
a) Lago Baikal (muito antigo) está situado na Rússia (Sibéria) e apresenta 580 espécies
invertebrados de bentônicos;
b) Great Slave Lake (recente) está situado no Canadá e conta com apenas 4 espécies de
invertebrados bentônicos.
Ambos os lagos acima estão situados na mesma faixa latitudinal e apresentam grandes
dimensões.
Esta hipótese prediz que nos trópicos haveria maior competição entre os organismos o que
induziria uma crescente especialização no uso dos recursos disponíveis e, por conseguinte,
um maior número de nichos. Maiores chances de interações coevolutivas "sensu strictu"
95
(gene a gene) e muitas adaptações específicas, como por exemplo os insetos fitófagos. A
riqueza de insetos fitófagos com alta especialização é uma das principais características
estruturais de muitas comunidades tropicais.
Ambientes tropicais foram menos pertubados nas diferentes eras geológicas. Sofreram
menos glaciações.
Ambientes tropicais têm em princípio maior produção biológica. Esta regra apresenta
muitas contradições, como por exemplo, os crustáceos quidorídeos em lagos dos Estados
Unidos e da Dinamarca onde a maior diversidade ocorre no ecossistema menos produtivo..
Darwin foi um dos primeiros naturalistas a constatar que as ilhas apresentam diferenças
notáveis em relação à estrutura das comunidades se comparadas com os continentes mais
próximos. As ilhas podem ser vistas como armadilhas onde algumas espécies são capazes
de chegar e colonizar.
96
Pode-se dizer que a visita de Darwin no HMS Beagle ao arquipélago de Galápagos a cerca
de 600 milhas da costa ocidental da América do Sul equatorial foi fundamental para tudo o
que Darwin escreveria a partir de então (Fig. 1).
97
O arquipélago de Galápagos, com sua exuberante e exótica fauna e flora, não exerceu
somente grande fascínio ao jovem cientista. Suas acuradas e metódicas observações o
levaram a descobrir importantes padrões biogeográficos e ecológicos. O caso dos tentilhões
é emblemático. Existem várias espécies dessas aves no arquipélago evoluídas
provavelmente de um ancestral comum que provavelmente imigrou da América do Sul em
algum ponto do passado. Nas ilhas do arquipélago, as diferentes populações dessa espécie
primitiva, ao encontrar toda uma série de nichos vagos, foram selecionadas de tal modo que
as barreiras geográficas (ilhas) logo induziram ao aparecimento de espécies bem
dierenciadas morfologicamente. Em algumas ilhas, pode aparecer apenas uma espécie,
como é o caso da ilha de Crossman onde apenas G. fuliginosa está presente. Em outras
ilhas, tais como na ilha James, ocorrem três espécies: G. fuliginosa, G. fortis e G.
magnirostris. O fato interessante é que onde as espécies cohabitam, elas apresentam forte
diferenciação morfológica tal como pode ser observado pela morfologia diferenciada dos
bicos em G. fuliginosa e G. fortis em um grande número de ilhas (Fig. 2). Mas onde tais
98
espécies ocorrem isoladamente, tal diferenciação morfológica é reduzida ou mesmo
ausente.
As ilhas podem ser vistas como um microcosmo num senso evolucionário. De um modo
geral, o número de espécies em uma ilha depende de dois fatores básicos: a) o seu tamanho
e b) a distância do continente mais próximo. Ilhas grandes e próximas aos continentes
possuem mais espécies do que ilhas pequenas e localizadas em posição mais afastada dos
continentes.
O número de espécies numa ilha está relacionado à sua área da seguinte forma:
onde:
S: número de espécies;
c: constante (esp/Km²);
Para anfíbios no arquipélago das Índias Ocidentais (West Indies ), no Caribe temos:
99
Preston (1962) notou que z tende a ser 0.3 para várias comunidades insulares. Nos
continentes, z tende a ser menor (0.15<z<0.24). O acréscimo de novas espécies é menor a
medida que a área aumenta nos continentes.
100
Do modelo temos que:
101
a) distância ao continente mais próximo (fonte de espécies): afeta basicamente a taxa de
imigração;
Tendo em vista esses fatores, a colinização de espécies em uma ilha deveria seguir a
seguinte ordem:
a) rápida colonização inicial com espécies que não se interagem entre si;
A teoria da biogeografia de MacArthur e Wilson se tornou muito popular não só porque ela
conseguia explicar os diferentes padrões biogeográficos encontrados em ilhas espalhadas
por todos os oceanos mas também porque ela poderia ser aplicada em áreas continentais
que tivessem sofrido os efeitos de algum tipo de isolamento. Uma recente aplicação, pode
ser vista nos fragmentos florestais originados durante o desmate de grandes florestas. Esses
fragmentos se comportam em muitos aspectos como "ilhas". A teoria da biogeografia de
ilhas - como toda teoria - gera , no entanto, algumas questões abertas ainda instigam os
ecólogos:
a) Porquê mais espécies não podem ser acomodadas numa ilha "x"?
102
premissa de que a comunidade planctônica estaria sendo continuadamente disturbada por
forças físicas e químicas e os gradientes seriam insuficientes para o estabelecimento de um
equilíbrio dinâmico estável. Desta maneira, a ausência de equilíbrio seria o fator
responsável pela manutenção de uma alta diversidade na comunidade planctônica. Na
realidade, sabe-se hoje que a comunidade planctônica pode atingir, pelo menos
teoricamente, uma alta diversidade mesmo sob condições de equilíbrio dinâmico. Mas o
ponto levantado por Hutchinson permanece, ou seja, a existência de condições de equilíbrio
dinâmico nem sempre é garantida nos ecossistemas.
O equilíbrio ecológico, muitas vezes, tem sido definido em termos muito subjetivos em
Ecologia. Recentemente, Pimm (1984) propôs formas bem objetivas para se medir tanto o
equilíbrio quanto a complexidade das comunidades. Estas formas estão sumarizadas no
quadro a seguir:
103
abundância de um o somatório das densidades de um dado nível
nível trófico trófico
104
Módulo 2 - Ecologia de Comunidades
1- Introdução
Outro aspecto relevante é que, por definição, a competição não pode ser muito importante
uma vez que, neste caso, levaria a extinção de espécies deixando então de existir. A
predação, por outro lado, a medida que se intensifica tende a desencadear uma série de
mecanismos retroalimentadores de tal modo que ela se afrouxe novamente, porém a
predação permanecer no cenário ecológico.
Em outra revisão publicada no mesmo ano, Connel (1983) inventariou 527 experimentos
realizados com 215 diferentes espécies agrupados em 72 trabalhos científicos publicados
em 6 periódicos de grande renome. Ele conclui que a competição interespecífica foi
importante em pelo menos 40% dos experimentos científicos o que corresponderia a cerca
de 50 dos trabalhos analizados. Já a competição intraespecífica seria importante em apenas
17% dos trabalhos considerados nesta revisão. Connel também demonstrou que a
competição interespecífica era mais relevante em organismos marinhos e em organismo de
maior tamanho.
105
Outra importante conclusão no trabalho de Connel é a de que sempre que há uma
diferenciação do nicho, a competição intraespecífica torna-se bem mais intensa o que não
quer dizer que a competição interespecífica não seja importante, mas por outro lado, seria
mais provável encontrar indícios de competição dentro de guildas funcionais do que fora ou
entre elas.
Segundo Begon et al. (1990), estas revisões, entretanto, não revelam certos bias
(tendências) e tendem a exagerar a importância relativa da competição uma vez que:
a) muitos jornais podem ter uma tendência editorial a publicar trabalhos que cheguem a
certos tipos de conclusões (tais como aqueles que colocariam a competição como algo
muito importante);
b) os revisores podem ter um bias no sentido de terem escolhido apenas os papers (artigos)
mais 'interessantes';
c) muitos autores que chegaram a conclusão em suas pesquisas de que a competição não
seria importante, podem ter ficado frustrados e não terem publicado os seus trabalhos.
Além disso, há comunidades muito importantes onde não foram encontradas muitas
evidências de que a competição seja, de fato, muito importante. Uma destas comunidades
seria composta pelos insetos fitófagos, que constituem o grupo mais diversificado de
organismos de toda a biosfera. Este organismos correspondem a cerca de 25% de todos os
organismos vivos (Southwood, 1978). Schoener (1983) notou que havia poucos trabalhos
sobre competição com insetos fitófagos.
Strong et al. (1984) revisaram a literatura sobre insetos fitófagos. Eles encontraram
evidências de que a competição esteja presente em apenas 44% dos trabalhos sendo que
destes, em apenas 20% dos casos, a competição intra-específica foi realmente importante.
Além disto, há muitos casos de nichos vagos em comunidades de insetos fitófagos.
Lawton (1984) estudou os sítios de alimentação e os diversos tipos de herbivoria que são
observados na pteridófita Pteridium aquilum em três continentes diferentes. Na América do
Norte (Novo México), por exemplo, os herbívoros atacam principalmente as folhas
enquanto que na Inglaterra os herbívoros atacam os caules (rachis, costa e costulas), além
das folhas. No Novo México não existem insetos galhadores, enquanto que eles estão
presentes em plantas da Inglaterra e da Nova Guiné (Papua). Os insetos mastigadores são
os predominantes na Inglaterra, enquanto que os insetos minadores são os principais em
Papua. Tal exemplo, ilustra que podem existir nichos vagos ma comunidade de insetos que
exploram os recursos em Pteridium, mesmo considerando que esta é uma planta muito
antiga e euritópica. Este é um exemplo de que nem todos os nichos ecológicos estão
ocupados nos ecossistemas, exatamente o contrário de que seria de se esperar caso a
competição (ainda) fosse a força delimitante na sua estruturação.
De maneira mais geral, os herbívoros são raramente limitados por comida e deste modo não
devem estar competindo seriamente por recursos (Slobodkin, 1967). Por outro lado, seu
alimento tem baixa qualidade nutricional e, em muitos casos, está protegido quimicamente
106
ou morfologicamente. Além disto, os insetos fitófagos sofrem muito com a ação de
predadores e parasitóides. Este dois últimos fatores podem, na realidade, estar limitando
muito mais seriamente os insetos fitófagos do que a competição.
107
Não há fortes evidências de que a competição imediata possa ter um poder de organizar
estruturalmente as comunidades. A pergunta que se coloca neste ponto é: como seria a
comunidade se a competição fosse realmente importante? Segundo Begon et al. (1990), três
critérios básicos devem ser observados:
2- Diferenciação de nicho
As abelhas do gênero Bombus estudadas por Pyke (1982) no Colorado USA constituem um
bom exemplo de comunidade moldada com base em diferenciação de nicho a partir da
competição. Elas se constituem em uma guilda uma vez que formam um grupo de espécies
que exploram a mesma classe de recursos de maneira similar (Root, 1967). As abelhas
foram divididas em quatro grupos caracterizados em termos da dimensão da probóscide e
do comprimento da corola das plantas visitadas. As abelhas com probóscide longa, tais
como B. appositus, preferiam as plantas com corola também longa especialmente
Delphinium barbeyi (figura 2). As abelhas de probóscide curta, tais como B. sylvicolla, de
maneira análoga, preferiam plantas com corola extremamente curta tais como certas
compositae e Epibolium angustifolium. Abelhas com probóscides medianas, tais como B.
flavifrons, visitavam plantas com corola de tamanho variável. Havia também uma abelha,
B. occidentalis, de probóscide curta que conseguia se alimentar em plantas de corola longa,
já que era capaz de cortar, com suas mandíbulas potentes, a base da corola destas plantas.
Pyke encontrou uma tendência caracterizada por domínio de sempre uma espécie de
probóscide longa, uma espécie de probóscide média e uma espécie com probóscide curta
em cada localidade estudada ao longo de um gradiente altitudinal (2900-3700 m). Este seria
exatamente o padrão a ser esperado se a comunidade fosse moldada pela competição
interespecífica.
108
A competição interespecífica deve ocorrer prioritariamente dentro das guildas, mas isto não
significa necesariamente que os membros de uma guilda estejam sob competição.
Adicionalmente, nem sempre é fácil decidir se organismos explorando a mesma classe de
recursos pertencem a uma guilda ou não. Considere por exemplo, associações de formigas e
109
roedores do deserto que se alimentam de sementes estudadas por Brown e Davidson (1977).
A remoção experimental de uma destas comunidade implica em aumento em termos de
biomassa da outra. Formariam estas duas associações uma única guilda? Elas usam o
mesmo recurso porém com algumas diferenças. As formigas predam sementes de vários
tamanhos de acordo com a frequência de ocorrência das sementes no solo. Já os roedores
preferem as sementes maiores e são especialmente eficientes em explorar densas
agregações de sementes enterradas no solo. Estas diferenças põem em dúvida a inclusão
destas duas associações numa única guilda.
110
Há ainda outros bons trabalhos demonstrando a ausência de competição interespecífica em
locais onde ela era em princípio esperada. Strong (1982) estudando abelhas tropicais
chrysomelidae que se alimentam em Heliconia não encontrou qualquer evidência de que
esta guilda estivesse limitada por competição. Elas parecem estar sendo controladas
prioritariamente por predação ou parasitismo. Outras contribuições nesta direção podem ser
vistas em: Lawton e Strong (1982) e Strong et al. (1984).
Uma das teorias mais aceitas que procura explicar os padrões de competição em plantas foi
propostas recentemente por Tilman (1982). A competição por recursos (resource
competition ) seria definida com base numa análise gráfica a partir das isóclinas de
crescimento nulo (ZNGI : zero net growth isoclines ). O crescimento das espécies seguiria o
modelo da cinética de Michaelis Menthen que é definido pela fórmula:
onde:
S: concentração do substrato
111
Tilman demonstrou que toda espécie tem um ponto de crescimento nulo: se a taxa de
reprodução r for igual a taxa de mortalidade m para uma dada concentração do substrato R*
então esta concentração definirá o crescimento nulo para esta espécie. Tilman observou que
cada espécie tem um ponto R* específico (equilibrium resource requirement ).
Quando se considera dois recursos, r1 e r2, haverá dois R*. Ao se variar r1 mantendo r2
constante R*1 se transforma nas Zero Net Growth Isoclines (ZNGI) vistas acima, o mesmo
acontece com R*2 quando r2 varia tendo r1 como constante. As isóclinas ZNGIr1 e ZNGIr2
geram um plano no espaço r1 versus r2. Cada espécie, portanto, tem o seu plano no espaço
r1 versus r2. Assim, as posições relativas destes planos específicos definirão o resultado da
interação competitiva entre suas espécies quaisquer:
112
Cyclotella e Asterionella são duas algas diatomáceas importantes em certos lagos
oligotróficos. Asterionella ganhará a competição toda vez que as concentrações de fósforo
da água reduzirem a um nível que não suporta crescimento algum em Cyclotella, mas esta
alga por sua vez ganha a competição quando os teores de sílica forem tão baixos a ponto de
não comportarem mais qualquer crescimento de Asterionella.
113
114
A coexistência de muitas plantas com exigências diferentes de recursos pode ser explicada
através da teoria de Tilman se levarmos em conta a existência de uma variabilidade
ambiental. Isto foi demonstrado para plantas terrestres tais como gramíneas e leguminosas
(Turkington et al. 1977) em pastagens canadenses, onde a competição estaria regulando a
estrutura destas comunidades herbáceas. Eles notaram que as espécies positivamente
associadas podem não competir, ao passo que as espécies negativamente associadas
competiam entre si, ou seja, as espécies com requerimentos similares de solo tendiam a ser
negativamente associadas. No entanto, nem tudo foi explicado pelos autores:
b) poderia haver outros recursos além daqueles que foram considerados no estudo;
Begon et al. (1990) sumarizam o status quo das evidências sobre a importância da
competição na estruturação das comunidades:
c) a competição passada ou fantasma (ghost competition ) pode ser sempre invocada para
explicar padrões presentemente isolados nas comunidades;
d) as comunidades escolhidas pelos ecólogos, embora interessantes, podem não ser típicas.
Muitos estudos onde a competição foi rejeitada deixaram de ser publicados;
f) espécies na natureza tem nichos realizados normalmente menores que os seus respectivos
nichos fundamentais;
115
g) a hipótese recorrente para o caso da competição não ser importante na estruturação das
comunidades é a hipótese nula ou randômica.
Simberloff, Strong e outros ecólogos têm criticado o exagero das tentativas de explicar os
padrões nas comunidades baseadas puramente na competição. A teoria moderna da
competição prediz que deve haver um limite de similaridade entre as espécies competidoras
que induz a seus nichos estarem dispostos regularmente ao invés de randomicamente (ao
acaso) no espaço hipervolumétrico. Além disso, as espécies ecologicamente muito similares
deveriam ter distribuições geográficas diferentes. Mesmo no caso de existir evidências da
competição, deve-se questionar: como seria a comunidade caso não houvesse a
competição? Neste sentido foram propostos os modelos neutralistas que têm as seguintes
características:
c) estes modelos são muito úteis porquê permitem ao seu usuário raciocinar da seguinte
maneira: pode-se provar algo que seja estatisticamente diferente, mas é impossível provar
algo que seja estatisticamente similar a outro objeto.
Em outros casos, no entanto, foi demonstrado que as informações fornecidas por modelos
neutralistas não diferem significativamente dos dados empíricos. Strong et al. (1979)
examinaram dados sobre a avifauna de três áreas geográficas distintas:
3) Arquipélago de Galápagos.
116
Em todos estes arquipélagos, cada ilha possuía apenas uma pequena fração do número total
do 'pool' de espécies. Estas comunidades naturais foram comparadas com 100 comunidades
simuladas no computador arrajadas ao acaso. Havia comunidades 'nulas' que continham o
mesmo número de espécies de cada família como continham as ilhas estudadas, mas
composição específica de cada comunidade nula era estabelecida por sorteio ao acaso a
partir de um pool inicial que sempre correspondia a um dos pools de cada arquipélago
considerado. Várias medidas lineares do tipo: razão de comprimento entre pares de espécies
contíguas foram usadas. A competição interespecífica seria aceita caso estas razões
alométricas fosse significativamente maiores nas comunidades reais do que aquelas
encontradas nas comunidades nulas. Se a competição fosse importante seria de se esperar
uma diferença maior do que o acaso nestas variáveis alométricas. Strong et al. (1979)
observaram que, na realidade, estas razões não eram suficientemente maiores nas
comunidades naturais e que, portanto, a competição não deveria ser uma força muito
importante para manter a estrutura destas comunidades. É contudo interessante notar que
estas conclusões levantaram uma grande controvérsia na literatura (Grant and Abott, 1980;
Hendrickson, 1981; Simberloff and Boeklen, 1981; Strong and Simberloff, 1981; Schoner,
1984 e Simberloff, 1984). Segundo Begon et al. (1990) os principais pontos em que se
basearam os críticos foram:
c) as conclusões foram tiradas com base na fauna total o que tenderia a diluir os padrões
eventualmente assinalados para grupos menores;
117
Ecologia de Comunidades
a) Se a competição é uma força realmente importante isto implica que os recursos são
limitantes. No entanto, há várias situações nas quais certos distúrbios sejam eles biológicos
(predação) ou não (tempestades, fogo) mantêm as densidades populacionais em um nível
muito abaixo (em termos de exploração dos recursos disponíveis) daquele que seria
necessário para levar uma espécie a extinção.
Neste ponto, deve ser feita a distinção entre teorias de equilíbrio e de não equilíbrio. Uma
teoria de equilíbrio, tal como a da diferenciação de nicho, ajuda-nos a fixar atenção em
certas propriedades do sistema no ponto de equilíbrio. O tempo e a variabilidade espaço-
temporal não são essenciais a priori. Uma teoria do não-equilíbrio concentra-se no
comportamento do sistema fora de seus pontos de equilíbrio e especialmente, concentra-se
no estudo da variabilidade temporal e espacial observada nos ecossistemas.
A predação pode ser vista como um distúrbio uma vez que as atividades dos predadores
levam a um distúrbio no curso normal de uma dada sucessão. Neste sentido, a predação
pode ser comparada a ação de patógenos. Assim a predação, doenças e tempestades podem
ser vistas como mecanismos pelos quais novos 'espaços' são criados no ecossistema.
118
Neste contexto, os herbívoros podem ser considerados como predadores de plantas. Darwin
já tinha notado os efeitos da herbivoria sobre as pastagens. Ele notou, por exemplo, que os
efeitos de predadores generalistas sobre a estrutura da comunidade podem ser muito
diferentes daqueles causados por predadores especialistas. Os ecólogos podem usar estes
'distúrbios' como uma ferramenta experimental no sentido de usá-los como agentes no
processo de se investigar como uma comunidade realmente está funcionando.
Uma interessante comparação pode ser feita observando, por exemplo, os efeitos da
pastagem de lebres e a ação de cortadores mecânicos de ervas. As lebres são mais seletivas
do que as máquinas que aparam o gramado e isto pode ser evidenciado pela ocorrência ao
redor das suas tocas de certas plantas que lhe são inaceitáveis: Atropa belladonna, Urtica
dioica e Solanun dulcamara e Sambuca nigra. No entanto, em muitas localidades os efeitos
de pastejo das lebres assemelha-se ao produzido pelas máquinas de cortar grama. As lebres
não são nativas nas ilhas britânicas e foram lá introduzidas provavelmente no século doze.
Os efeitos iniciais das lebres sobre a vegetação das ilhas devem ter sido enormes. Mas com
o passar do tempo atingiu-se um novo equilíbrio na vegetação e este equilíbrio pode ser
disturbado se as lebres forem experimentalmente excluídas do ambiente. Isto foi o que
fizeram Tansley & Adamson (1925) em South Downs (Inglaterra). Os efeitos desta
intervenção logo se fizeram notar no sentido de que poucas espécies de ervas logo se
tornaram dominantes. Em 1954 a virose myxomatose foi introduzida na Inglaterra e esta
doença dizimou consideravelmente as populações de lebres. A vegetação respondeu
inicialmente com um aumento no número de plantas de flores perenes seguido por
sucessivos decréscimos no número de espécies de gramíneas tal como observado no
experimento de Tansley & Adamson (figura 1). Níveis normais de populações de lebres
aparentemente mantêm certas gramíneas com tendência a tornarem-se dominantes sob
controle. No entanto, ao se aumentar exageradamente a pressão de pastejo, a diversidade
diminui uma vez que os roedores tendem a modificar seus hábito alimentares incluindo
espécies que normalmente não são consumidas e levando-as provavelmente à extinção. Isto
foi o que demonstraram Zeevalking & Fresco (1977) em dunas arenosas.
119
Mesmo um herbívoro totalmente não seletivo, tal como um cortador de grama, poderá ter
uma ação diferenciada sobre a vegetação. Espécies mais altas serão afetadas com mais
intensidade. Espécies com raízes muito desenvolvidas ou estruturas de estoque de energia
localizadas sob o solo poderão ser beneficiadas. Assim os efeitos de um predador não
seletivo sobre a estrutura da comunidade serão diferenciados, e o grau de diferenciação
dependerá do grau com que cada presa consegue suportar o seu efeito. Se as plantas que
mais sofrem com a herbivoria são as plantas dominantes então a herbivoria causará um
aumento de diversidade.
Ao longo dos costões rochosos de Nova Inglaterra (USA), o herbívoro mais abundante é o
molusco Littorina littorea. Este organismo se alimenta de uma gama variada de algas
porém exibe uma forte preferência por espécies de pequeno porte de com tecidos tenros,
particularmente pela alga verde Enteromorpha. As algas menos preferidas são algas
vermelhas tais como Chondrus crispus e algas amarelas do gênero Fucus spp.
Lubchenko (1978) notou que a composição específica de poças d'água localizadas na faixa
das marés (tide pools ) em costões rochosos variava de modo drástico. Havia locais com
120
uma dominância quase que exclusiva de Enteromorpha e outros que por sua vez eram
dominados por Condrus. Para testar se o pastejo de Littorina era responsável por estas
diferenças, a pesquisadora removeu todos os moluscos de um stand (entenda-se por stand
uma área amostral de tamanho e forma definidos, contendo uma amostra da comunidade
em estudo) dominado por Condrus. Havia um stand-controle no qual os moluscos não
haviam sido retirados. Lubchenko observou que nos stands nos quais as populações de
Littorina haviam sido retiradas, Enteromorpha e outras algas efêmeras imediatamente
tornaram-se abundantes. Ela não notou nenhuma alteração significativa nos stands controle.
Ficou claro que a presença de Littorina era a responsável pela dominância de Chondrus
(figura 2). Em outro experimento, foi demonstrado que a adição de Littorina a unidades
amostrais de espaço ( stands ) onde predominava a alga Enteromorpha, em um ano, causou
uma redução de percentagem de cobertura de 100% para 5%. Esta demora é devida ao lento
crescimento, algo que é típico da alga vermelha. Uma pergunta que ficaria seria a seguinte:
Porquê então existem stands nos quais Littorina está ausente. Este animal exibe uma fase
larvar planctônica e, por conseguinte, tem um alto poder de dispersão. No entanto, nos
stands dominados por Enteromorpha existe o carangueijo Carcinus maenas que é um voraz
predador de indivíduos jovens de Littorina. O elo final desta teia alimentar é representado
por gaivotas ( 'gulls' ) que são predadores dos carangueijos. As aves (gulls ) são
especialmente eficazes em eliminar os crustáceos onde a cobertura das algas verdes está
reduzida, ou seja, nos stands dominados por Chondrus. Assim, existem melhores chances
para o recrutamento das populações de Littorina nos stands dominados pela alga vermelha,
exatamente aqueles onde a qualidade do seu alimento é pior.
121
De uma maneira geral, a predação seletiva pode levar a um aumento de diversidade se a
presa preferida for dominante. No entanto, se a presa preferida for subdominante, a
predação levará a uma diminuição da diversidade. Isto é exatamente o que ocorre nos
stands emergentes de algas (que ficam expostos a atmosfera por longos períodos). Nestas
condições, Lubchenko observou que a alga verde era inferior competidora em relação as
algas vermelhas e marrons. Littorina, nestas áreas, pode facilmente extinguir as populações
das algas verdes, causando então um abaixamento da diversidade.
A zona intertidal das costas do Pacífico nos USA foi o palco dos estudos pioneiros
publicados por Paine (1966) enfocando a influência de um carnívoro, a estrela do mar
Pisaster (Heliaster), que se alimenta de organismos sésseis tais como mexilhões (Mytilus )
e cracas (Acorn ). Paine removeu, experimentalmente, todas as estrelas-do-mar de certo
número de stands, no caso um retângulo 2x8m e repetiu periodicamente este procedimento
ao longo de alguns anos. Em intervalos regulares a densidade de invertebrados bem como o
percentual de cobertura de algas foi inventariado. Havia ainda uma área adjacente que
permaneceu intocada e que era também regularmente monitorada. A remoção da estrela-do-
mar (P. orchraceus ) provocou mudanças dramáticas na estrutura da comunidade. A craca
Balanus glandula se estabeleceu inicialmente muito bem. A seguir, cedeu lugar para
Mytilus californicus que finalmente tornou-se dominante. De todas as algas originalmente
122
presentes, apenas uma permaneceu no stand. No geral, a remoção da estrela causou a
extinção de 7 espécies na área experimental (figura 3).
Mesmo predadores generalistas tendem a ter um efeito positivo sobre a diversidade. Isto
porque a taxa de predação será maior sobre as espécies mais abundantes que por sua vez
seriam aquelas superiores em termos de competição.
123
Densidades intermediárias de predação seriam mais benéficas para a manutenção da
diversidade uma vez que predadores com abundâncias muito reduzidas podem não evitar
que haja a exclusão competitiva entre presas. Por outro lado, um excesso de predadores
poderá levar a espécie de presa preferida a extinção.
Os efeitos dos animais sobre as comunidades onde vivem vão muito mais além do que a
mera retirada de animais. Organismos cavadores ou que fazem edificações tais como
térmitas ou formigas causam uma heterogeneidade local permitindo novas colonizações e
causando microsucessões. Grandes herbívoros podem aumentar o 'patchiness' de nutrientes
em uma comunidade através de suas fezes e urina que são depositadas de maneira irregular
no solo.
Existem vários modelos sobre otimização na escolha das presas: Emlen (1966), MacArthur
e Pianka (1966), Schoener (1969 a e b), Rapport (1971), Cody (1974), Pyke et al. (1977). O
grau de especialização reflete a largura ótima na escolha de presas.
Normalmente a busca de uma presa envolve diferentes fases que demandam um certo
tempo. Dentre elas podemos citar o tempo de procura, perseguição, manipulação, ingestão e
assimilação de uma presa. Se é verdade que um predador deve maximizar os seus ganhos
energéticos na obtenção de uma dada presa, isto significa em assumir que esses tempos
definidos acima devem ser minimizados. Quando a soma:
124
Em sistemas mais produtivos, é de se esperar que o tempo de procura por um determinado
tipo de presa seja menor. O modelo de MacArthur e Pianka (1966) prevê um aumento da
especialização com um aumento da produção biológica (Figura 4).
Outra teoria interessante ligada aos possíveis efeitos dos predadores na estruturação das
comunidades foi desenvoldida a partir dos estudos de Janzen sobre predadores de sementes
de árvores em florestas tropicais (Janzen, 1970). Esse modelo talvez possa ajudar a
entender a alta diversidade de plantas existentes nas florestas tropicais (Figura 5).
125
Janzen observou que a taxa de sobrevivência de plântulas era maior em distâncias
intermediárias da planta-mãe. Próximo à planta mãe todas as sementes eram facilmente
consumidas pro predadores de sementes. A medida que a distância da planta mãe crescia,
crescia também a probabilidade de sobrevivência da semente e eram maiores as chances de
desenvolvimento da plântula. Embora o número total de sementes por área decresça
rapidamente com o aumento da distância, a taxa de recrutamento é máxima em uma
distância intermediária da planta adulta. No entanto, um ponto aberto na teoria de Janzen
refere-se ao fato de que a sua teoria não explica porque existem tantos predadores de
sementes especializados nos trópicos.
7) Teoria do tamanho-eficiência
As interações entre peixes planctófagos e o zooplâncton foi o ponto de partida de uma das
mais importantes teorias sobre os efeitos da predação na estruturação das comunidades.
126
Brooks e Dodson (1965) publicaram um estudo sobre os efeitos da introdução de um peixe
clupeídeo planctófago no lago Cristal, EUA (Figura 6).
127
A introdução de Alosa causou uma dramática modificação no zooplâncton que passou a ser
dominado por espécies de pequeno porte tais como Bosmina e Ceriodaphnia. Os grandes
microcrustáceos tais como Daphnia e Heterocope desapareceram do lago. Na ausência do
predador, esses grandes microcrustáceos, principalmente Daphnia, dominam o
zooplâncton, já que são filtradores mais eficientes. No entanto, os peixes planctófagos
predam visualmente, consumindo preferencialmente os maiores organismos. Essa teoria
demonstrou como o zooplâncton pode ser estruturado pela predação e como organismos
competitivamente inferiores podem se estabelecer de forma estável em um dado
ecossistema.
A teoria clássica supunha que a dinâmica do ecossistema seria controlada, em princípio, por
fatores físico-químicos, principalmente a disponibilidade de nutrientes. Esses fatores
abióticos regulariam e ditariam a ordem de magnitude do fluxo de energia a partir dos
produtores primários. A essa visão convencionou-se chamar de concieito bottom up, ou
seja, de baixo para cima.
Carpenter et al. (1985) demonstraram que, em muitos lagos, os peixes piscívoros podiam
efetivamente controlar as populações dos peixes planctógfagos. A diminuição da predação
sobre o zooplâncton, acarretava uma maior taxa de herbivoria sobre o fitoplâncton que em
conseqüência diminuía a sua biomassa total (Figura 7). Esse novo enfoque deu origem a
uma série de estudos com o emprego de mesocosmos (enclosures ) ou limnocurrais, onde
foram feitos experimentos de manipulação de peixes na tentativa de comprovar a teoria. Em
uma revisão desses estudos, De Melo (1992) ressalta que a maioria dos estudos falhou em
comprovar a teoria da cascata trófica e que os efeitos top down nem sempre se soprepõem
aqueles que vem da base da cadeia (bottom up ).
128
129
Módulo 2 - Ecologia de Comunidades
Sucessão Ecológica
1) - Introdução
Uma das mais interessantes características observadas nas comunidades refere-se ao fato de
que elas mudam continuamente o seu estado. Isto é muito evidente quando há um distúrbio
externo tal como o fogo ou uma enchente. Mas mesmo se as comunidades estiverem em
equilíbrio, tal estado é dinâmico. Há uma constante troca de espécies que estão
continuamente saindo e entrando no sistema.
A base conceitual para a sucessão foi estabelecida por Clements (1916 e 1936). Ele
estabeleceu alguns dos conceitos mais importantes:
a) sucessão primária: seria aquela que ocorre em substratos recém formados. Ela envolve
modificações substanciais do ambiente causadas direta ou indiretamente pelos organismos
pioneiros.
A foto a seguir, ilustra esse tipo de sucessão, em uma pequena clareira aberta pela queda de
uma árvore em uma floresta. A queda da árvores abre espaço no dossel para a penetração de
luz o que permite o broto de plântulas. O tronco, por sua vez, oferece rico substrato para o
desenvolvimento de uma microflórula (líquens, musgos, etc) que dá nutrição a uma variada
gama de invertebrados e pequenos mamíferos. A foto foi tirada pelo autor, no Parque
Montremblant, província do Quebéc, a cerca de 170 km ao norte de Montreal.
130
c) estágio seral: toda seqüência sucessional envolve a existência de estágios mais ou menos
definidos ao que se convencionou chamar de estágio seral. O ponto de convergência seria o
estágio final ou clímax. Cada região tem um clímax defnido basicamente pelas condições
climáticas regionais, ou o clímax climático. Variações locais podem ocorrer muitas vezes
como reflexo de mosaicos pedológicos (afloramentos de calcário). Neste caso, fala-se em
clímax edáfico.
Uma das sínteses mais usadas no estudo da sucessão foi proposta por Odum (1969). O autor
faz uma comparação entre estágios serais pioneiros e fases mais maduras da sucessão
usando diferentes atributos dos ecossistemas. Esta comparação pode ser sumarizada na
tabela abaixo:
131
5 Cadeias alimentares
Estrutura
6 Matéria orgânica total pequena grande
7 Nutrientes inorgânicos fora da biomassa intrabiotizados
8 diversidade (riqueza) baixa alta
9 diversidade (equitatividade) baixa alta
10 diversidade bioquímica baixa alta
11 zonação e estratificação baixa bem organizada
História de Vida
12 Especialização de nicho ampla estreita
13 Tamanho dos organismos pequeno grande
14 Ciclos de vida curtos/simples longas/complexas
Ciclagem de nutrientes
15 Ciclos mineirais abertos fechados
16 Trocas entre meio abiótico e os organismos rápidas lentas
17 Papel dos detritos pequeno grande
Pressão de seleção
18 Forma de crescimento seleção r seleção K
19 Produção quantidade qualidade
Homeostasia
20 simbioses internas não desenvolvida desenvolvida
21 Conservação de nutrientes pobre boa
22 Estabilidade (resistência) pobre boa
23 Entropia alta baixa
24 Informação baixa alta
Umas das características desta tabela refere-se ao uso tanto de atributos estruturais
(diversidade, zonação e estratificação, por exemplo) quanto de atributos dinâmicos
relacionados à produção, ciclagem e homeostasia do sistema.
Connel & Slatyer (1977) propuseram três modelos descrevendo diferentes mecanismos que
poderiam explicar as mudanças ocorridas ao longo de um processo sucessório. Estes
modelos são os seguintes:
132
a) Modelo Facilitador
Este modelo assume que apenas certas espécies pioneiras seriam capazes de colonizar uma
área livre de organismos originada após um distúrbio. Estas espécies teriam a capacidade de
modificar o ambiente tornando-o apto a receber novas espécies com maiores exigências
ambientais.
Crocker & Major (1955) estudaram a sucessão numa geleira do Alaska, a Glacier Bay que
vem sofrendo uma retração desde o pleistoceno. O modelo facilitador foi evidenciado neste
estudo. As espécie pioneiras, principalmente Alnus crispa, enriquecem o solo com
nitrogênio e modificam o pH, tornando-o mais ácido. Estas modificações possivelmente
possibilitaram a invasão de novas espécies. De um modo geral, este modelo pode ser
aplicado a processos de sucessão primária que ocorrem em substratos recém criados natural
ou artificialmente.
a) Modelo de Tolerância
Neste modelo, as espécies pioneiras não estariam preparando o terreno para futuros
colonizadores. As espécies tardias poderiam chegar e se estabelecer logo no sistema porém
a dispersão de seus propágulos e o seu crescimento seriam muito mais lentos do que
aqueles das pioneiras. As espécies tardias neste modelo seriam capazes de sobreviver de
fórma saudável e vigorosa em qualquer estágio seral. O modelo da tolerância presta-se bem
para explicar a sucessão secundária observada em campos abandonados.
c) Modelo Inibidor
A sucessão de espécies se daria com a morte das espécies pioneiras. O modelo não prevê o
melhoramento do ambiente por espécies pioneiras nem redução de recursos (vide adiante).
Neste modelo, as espécies tardias somente invadem uma área quando as pioneiras morrem,
mas por outro lado não exigem qualquer melhoramento do ambiente que tenha sido levado
a cabo pelas pioneiras. Neste modelo, as espécies tardias ou secundárias apresentam maior
resistência, baixa taxa metabólica, alta resistência ao sombreamento e a extremos físicos e
químicos bem como estariam bem protegidas contra a herbivoria.
A sucessão pode ser convenientemente modelada com o uso de matrizes de transição. Estas
matrizes são formadas a partir das probabilidades de ocupação do espaço disponível pelas
espécies presentes numa dada comunidade. Para que se possa entender o seu
funcionamento tomemos um exemplo muito simples, constituído por um ecossistema
hipotético composto por duas espécies.
133
Num processo sucessório em um ecossistema constituído por duas espécies um dado ponto
poderia sofrer as seguintes mudanças:
1:o ponto não tem nenhuma espécie no instante t e continua vago no instante t+1
2:o ponto está vazio em t e passa a estar ocupado pela espécie A em t+1
5: o ponto está ocupado por A em t e continua estar ocupado por A no instante t+1
8: o ponto está ocupado por B em t e passa a estar ocupado por A no instante t+1
0 A B
0 P00 PA0 PB0
A P0A PAA PBA
B P0B PAB PBB
Esta matriz representa todas as nove possibilidades acima. Em caso do ecossistema ser
composto por muitas espécies bastaria adicionar mais linhas e colunas englobando as
espécies presentes.
Facilitação
No caso da facilitação a espécie pioneira A "abre" o caminho para que a espécie mais
exigente B possa colonizar um determinado ponto. Desta maneira não haveria a
possibilidade de que B ocupasse espaço vago ou que perdesse um determinado ponto para a
espécie ª
134
0 A B
0 + + +
A + + 0
B 0 + +
Inibição
Se a sucessão estiver sendo regida pela inibição, ambas as espécies não cederão espaços
previamente ocupados para a sua competidora. Neste caso não haveria chance para que as
probabilidades PAB e PBA fossem diferentes de zero.
0 A B
0 + + +
A + + 0
B + 0 +
Tolerância
No caso da tolerância ser a forma predominante numa dada interação, a espécie tardia num
processo sucessório deixaria as espécies pioneiras nos locais em que já se encontra e deste
modo a probabilidade PBA seria igual a zero.
0 A B
0 + + +
A + + 0
B + + +
Cíclico
0 A B
0 + + +
A + 0 +
B + + 0
135
Módulo 3 - Ecologia de Processos
1) Introdução
Para que nos possamos entender um pouco sobre o fluxo de energia nos ecossistemas,
devemos apresentar inicialmente alguns conceitos básicos:
Energia: É a capacidade de realizar trabalho. Esta capacidade pode-se manifestar sob várias
formas: radiação eletromagnética, energia potencial ou incorporada, energia cinética,
energia química (dos alimentos) e calor.
136
A respiração "expulsa" a desordem obedecendo entretanto as limitações termodinâmicas. A
razão R/B (razão entre manutenção da estrutura e a respiração) foi cunhada por Schrödinger
como sendo a razão de ordem termodinâmica ou taxa de reposição ecológica.
Pesquisa: buscar na literatura valores de R/B ou R/P e discutí-los. (veja por exemplo o
quadro 3-5 em Odum, Pg 49).
Quase toda a energia que incide na biosfera é eletromagnética. Essa forma de energia tem
natureza dualística sendo uma pequena porção de natureza corpuscular e a outra, a maior
parte, de natureza ondulatória. A energia radiante compõe-se de dois campos: o campo
elétrico e o campo eletromagnético e é capaz de propagar-se no vácuo. A energia radiante
pode ser tipificada segundo sua quantidade (unidades de energia) e sua qualidade
(frequência/comprimento de onda).
O sol emite energia eletromagnética cujo comprimento de onda vai de centenas de metros
até valores inferiores a 10-10 metros. No entanto, cerca de 99% desta energia concentra-se
num espectro limitado a 0.15-4.0 m. A luz visível restringe-se entre 0.40-0.70 m (4000-
7000 Å).
A luz violeta tem um comprimento de onda (lambda) igual a 0.43 m e a radiação na faixa
do infravermelho tem 0.76 m de comprimento de onda. Radiações com comprimentos de
onda abaixo do ultravioleta são designadas por raios: raio gama, raio X e raios cósmicos.
Radiações de comprimentos de onda superiores ao infra-vermelho são tradicionalmente
designadas por ondas: ondas de radar, ondas de rádio e ondas hertzianas. Estas ondas
possuem a capacidade de serem refletidas pela atmosfera. A vista humana é sobretudo
sensível ao amarelo e ao verde.
137
Em 1900, Max Planck enunciou a teoria quântica, ou dos quantas, que propõe que a luz
também tem uma natureza corpuscular, segundo a qual a emissão de energia radiante se faz
de forma descontínua, implicando numa estrutura "granular" de energia ou os quanta.
lambda.nu = c
E (fóton) = h.nu
E = 4.42 x 10-19 j
(1 cal = 4.18 j)
A luz solar que atinge o topo da biosfera iluminada terrestre chega a uma taxa constante, a
chamada constante solar (1.94 cal/cm2.min ou 135.3 mW/cm2). Um máximo de 67% da
constante solar (~ 1.34 cal/cm².min) pode atingir a superfície terrestre. O esquema abaixo
ilustra que a radiação infra-vermelha é aquela que sofre as maiores transformações ao
passar pela atmosfera. Isso deve-se basicamente à absorção exercida nessa faixa espectral
pela água, gás carbônico e outros gases presentes na atmosfera.
138
A radiação solar sofre consideráveis modificações qualitativas e quantitativas ao atravessar
a atmosfera terrestre. Tais modificações são influenciadas por vários fatores dentre eles a
topografia, a latitude, o clima bem como composição gasosa da atmosfera. A água e o gás
carbônico absorvem ativamente a radiação na faixa do infra-vermelho. O esquema abaixo
ilustra as principais modificações que a luz solar sofre ao atravessar a atmosfera terrestre:
139
Faça um rápido exercício para treinar as mudanças de unidades: expressar a constante solar
em mW. A resposta é :E = (1.94 x 4.18) x 1000 / 60 = 135.3 mW/cm² .
Ozônio absorve quase toda a radiação de ondas curtas (UV<0.3 m) ainda nas camadas altas
da atmosfera (h>25 Km). Esta radiação é letal para os seres vivos. A radiação que chega à
superfície num dia típico ensolarado poderia ser assim distribuída:
140
A luz visível é aquela menos afetada quando atravessa a atmosfera. A dissipação energética
da radiação solar em termos relativos (%) em relação àquela que chega ao topo da biosfera
poderia ser descrita da seguinte maneira:
141
pelágicas de oceanos tropicais), ao contrário, a luz pode penetrar dezenas de metros
principalmente aquela de menor comprimento de onda (cor azul).
Um ponto importante nessa fase de nosso estudo é realmente fixar a questão das
transformações de unidades. Dessa forma, faça o seguinte exercício: Expressar 800 cal.cm-
2
.dia-1 em Kcal.m-2.dia-1
800 cal.cm-2.dia-1
8000 Kcal.m-2.dia
Não considerando os extremos da biosfera (regiões polares e trópicos áridos) valores entre
3000 e 4000 Kcal.m-2.dia ou 1.1 a 1.5 x 106 Kcal.m-2.ano podem ser considerados
representativos para a maioria dos ecossistemas.
A radiação líquida é resultante da relação: Rliq = Fluxo p/ baixo - Fluxo p/ cima . A radiação
líquida, Rliq na maior parte da biosfera, ou seja, entre os paralelos 40N-40S fica geralmente
142
na faixa dos 1.0 x 106 Kcal.m-2.ano (oceanos). Nos continentes, esse total é geralmente um
pouco menor, ou seja, 0.6 x 106 Kcal.m-2.ano (continentes). Rliq é responsável por
evaporação da água, geração de ventos térmicos, correntes oceânicas e calor. Qualquer fator
que diminua a saída desta energia provocará um aumento nas temperaturas da biosfera.
A clorofila absorve em especial a luz azul (0.4 m) e a vermelha (0.6 m). A vegetação
absorve fortemente o azul, vermelho e o IR-longo. O verde e o IR-próximo são mais
refletidos e isto possibilita o seu emprego no sensoriamento remoto para mapear a
vegetação. No IR-próximo concentra-se a maior parte da energia térmica solar concentra-se
no IR-próximo, sendo assim a planta ao refletí-lo está adaptando-se a evitar temperaturas
altas que poderiam ser letais. Mais adiante mostraremos como o sensoriamento remoto
pode monitorar zonas de maior produção biológica no planeta a partir da análise da
distribuição espacial da clorofila-a.
Os absorventes gasosos mais importantes da atmosfera são O2, O3, CO2, H2O, N2O e CH4. A
quantidade de radiação é quase constante no equador (7900-8200 cal.cm-2.dia-1). Nos pólos,
ela pode variar de zero a 1100 cal.cm-2.dia-1. O hemisfério sul recebe em média mais
energia que o do norte uma vez que a Terra está no perihélio durante o verão austral. O
fluxo diário de energia na maioria dos ecossistemas terrestres situa-se entre 100 e 800
cal.cm-2.dia-1.
143
Essas diferenças latitudinais, na incidência de energia solar, também podem serem vistas
sobre os continentes. O mapa, a seguir, fornecido pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, INPE, mostra os valores diários médios de radiação solar incidente no nordeste
do Brasil.
144
4) Unidades energéticas de radiação
145
ao ecólogo se familiarizar com as unidades comumente usadas quando se quer medir o
fluxo de energia em diferentes compartimentos biológicos.
1 cal = 4.18 J
Kcal.m-2.dia
cal.cm-2.dia-1
Watt.m-2
1 pé-vela = 1 lúmen.pé-2
Embora não seja possível uma conversão acurada devido a variações no brilho de várias
regiões espectrais, uma equivalência aproximada seria:
146
Ecologia de Processos
Ecologia Trófica
1) Introdução
O estudo das interações tróficas é essencial para o entendimento do que se passa dentro de
um ecossistema. Este tipo de estudo demonstra de modo inequívoco o grau de interrelações
existente entre os organismos e aponta os principais elementos na manutenção da estrutura
do ecossistema.
Uma das formas mais tradicionais de se estudar a ecologia trófica está na identificação das
rotas alimentares dentro dos ecossistemas. Neste sentido a literatura ecológica demonstra
que existem basicamente quatro formas de se representar estas interações: a) cadeias
alimentares; b) teias tróficas; c) pirâmides energéticas e d) matrizes tróficas.
2) Cadeias Alimentares
Exemplos:
c) geral: plantas --> herbívoros --> carnívoro 1º --> carnívoro 2º ---> carnívoro 3º
a) dieta variada
b) onívoros
c) canibalismo
147
3) Tipos de Cadeias alimentares
a) cadeia de pastoreio
b) cadeia de detritos
Nas áreas úmidas os produtors primários mais importantes são as macrófitas que formam
uma grande quantidade de detritos que são consumidos por uma vasta gama de organismos
detritívoros (insetos, moluscos, fungos, etc). Esses organismos podem ser predados por
anfíbios que são o principal item alimentar de aves de rapina (falconiformes).
Nas florestas tropicais os principais produtores primários são as árvores que geram o
acumulo de matéria vegetal na serapilheira (´litter'). Esse importante recurso serve de
alimento para milhares de organismos do solo (colêmbolos, ácaros, anelídeos, nematóides,
coleópteros, etc). Pequenos mamíferos e aves insetívoras são especializados em consumir
essa fauna de invertebrados da serapilheira. Finalmente, as serpentes e as aves de rapina são
os predadores de topo.
4) Redes alimentares
Na natureza as relações tróficas geralmente não são tão simplificadas. Há carnívoros que
podem ter um amplo espectro de presas em potencial, que por sua vez alimentam-se de uma
variada gama de plantas. Embora estas redes possam ter uma razoável complexidade em
termos de expansão horizontal, como se verá adiante, há no entanto um limite vertical (ou
do número de níveis tróficos) para estas relaçoes tróficas. A existência de redes tróficas
complexas já foi reconhecida há muitas décadas. Um exemplo pode ser visto no mar do
norte (Fig. 1), mais específicamente nas relações alimentares do arenque adulto (Hardy,
1959).
148
Figura 1 – Teia alimentar do arenque no Atlântico Norte. As relações troficas do arenque
adulto foram descritas pela primeira vez por _______ (Hardy, 1959).
149
dentre muitas ligações possíveis, cadeias relativamente simples podem ser isoladas dentro
de uma rede alimentar muito complexa. Isto ocorre, por exemplo, quando um herbívoro
monopoliza os recursos disponíveis tal como seria o caso de certos organismos do
zooplâncton lacustre (Daphnia) que são capazes de consumir a grande maioria das algas
palatáveis (nanoplâncton) num curto espaço de tempo. Estes organismos causam o estágio
das águas claras (clear water phase) ao eliminarem grande parte da turbidez biogênica
causada pelas algas em suspensão na coluna d'água. Quando uma espécie é capaz de
monopolizar a disponibilidade de certos recursos essenciais ao meio, ela é chamada de
espécie-chave (keystone species).
A existência de padrões recorrentes em diferentes teias alimentares pode ser observada pela
comparação das diversas teias já publicadas na literatura, que, em 1988, já somava 113 teias
publicadas (Lawton, 1989). Sugihara et al. (1989) ainda adicionam dados de mais 60 teias
alimentares dominadas por invertebrados.
a) Número de espécies na rede (S): é o número total de espécies presente numa dada rede.
d) Predador de topo: espécie que não é predada por nenhum predador na rede onde se
alimenta.
f) Ciclos: Ocorre quando um organismo A se alimenta do organismo B que por sua vez se
alimenta do organismo C que se alimenta de A.
h) Nível trófico: número de ligações tróficas entre uma dada espécie na rede e a espécie
basal a ele associada. Pode haver uma espécie que ocupe simultâneamente mais de um
nível trófico.
150
h) Compartimentos: ocorre quando existe um grupo com fortes interações tróficas. Em uma
dada rede pode haver certo paralelismo trófico, ou seja, a existência de vários
compartimentos relativamente indenpendentes entre si.
151
A figura 2 demonstra como se pode calcular alguns dos atributos em uma rede ou teia
alimentar.
152
153
7) Pirâmides ecológicas
Mesmo as representações mais simplificadas de uma rede ou teia alimentar podem tornar
muito complexas. Em virtude disto, tem se buscado esquemas mais simplificados para
representar estas interações. As pirâmides ecológicas podem em certos casos ser de grande
utilidade para sintetizar estas interaçoes tróficas.
154
a) pirâmide de números: considera-se apenas a densidade (nº ind/área ou volume) em
diferentes níveis tróficos. Este tipo de representação não distingue a diferença de biomassa
entre as diferentes espécies que compõem o ecossitema.
155
b) pirâmide de biomassa: considera-se a biomassa (unidade de massa/área ou volume). Não
leva em conta entretanto a taxa de renovação/acúmulo desta biomassa ao longo do tempo.
c) pirâmide de energia: supera as limitaçoes citadas nos ítens a e b uma vez que elas
indicam a magnitude enerrgética das interações tróficas dentro dentro de uma comunidade
bem como as razoes de acúmulo de biomassa dentro do ecossistema. Demanda entretanto
grande quantidade de informações (produçao primária e secundária). Revela também a
importância da energia como um conceito unificador que permite comparar ecossistemas
completamente diferentes entre si.
8) Modelos trófico-dinâmicos
Um dos estudos mais importantes (e mais citados) em ecologia refere-se ao modelo trófico-
dinâmico de Cedar Bog Lake em Minnesota, EUA (publicado por Lindemann na revista
Ecology, 23:399-418, 1942). Trata-se de uma represantação de uma comunidade através do
fluxo de energia que ocorre entre os diferentes compartimentos desta comunidade.
Observações:
b) A relaçao entre energia utilizada / não utilizada é diferenciada entre produtores primários
e secundários
156
Módulo 3 Ecologia de Processos
Eficiências Ecológicas
1) Introdução
As proporções (ou razões) entre os fluxos de energia em diversos pontos ao longo da cadeia
de alimentos, quando expressas em percentuais sao designadas de eficiências ecológicas. O
fluxo de energia em um dado nível trófico pode ser desmembrado em diferentes modos.
Parte do alimento ingerido não é absorvida, sendo excretada sob a forma de fezes. Do total
assimilado, uma parte é destinada à manutenção do metabolismo basal (respiração). A parte
de energia assimilada restante, isto é, aquela não usada no metabolismo basal, é a produção
secundária. O esquema a seguir (Figura 1) ilustra as relações entre essas variáveis. Todas
elas, na realidade, podem ser usadas como estimadores do fluxo de energia entre dois níveis
tróficos diferentes.
Existem dois tipos de eficiências ecológicas: eficiências calculadas dentro e entre níveis
tróficos. O quadro a seguir resume os principais tipos de eficiências:
157
Explicação
Tipo de eficiência
A. Entre níveis tróficos
158
onde:
As eficiências ecológicas dos produtores são geralmente muito menores do que aquelas
observadas em níveis tróficos superiores, exceção feita aos detritívoros que também
possuem eficiências muito baixas. Em termos genéricos, pode-se afirmar que as plantas têm
uma eficiência de assimilação entre 3 e 8 %. As plantas de metabolismo C4 possuem, em
geral maior eficiência de assimilação se comparadas às plantas C3. O quadro a seguir nos
dá uma idéia sobre essas diferenças:
Irradiação Produção
conversão
Planta Local (j.cm –2.dia- (g.m -2.dia-
1 1 (%)
) )
Metabolismo C3
1 Solanum tuberosa
Holanda 1670 23 5.4
(batata)
2 Solanum tuberosa
EUA 2850 37 5.1
(batata)
5 Gossypium hirsutum
EUA 2300 27 4.6
(algod.)
Metabolismo C4
3 Pennisetum purpureum
El Salvador 1674 39 9.3
(forrag.)
159
3) Eficiências de fluxo de energia ao nível dos produtores secundários
Ao contrário das plantas, que apresentam uma grande uniformidade em seu metabolismo
energético (fotossíntese), os animais apresentam grande diversidade metabólica. Uma
maneira de quanticar estas diferenças é dada pelo cálculo das eficiências tróficas. Em
ecologia trófica existem vários tipos de eficiências.
- Eficiência de crescimento
Este tipo de eficiência é maior nos carnívoros e normalmente segue a seguinte tendência: E
(carnívoros) > E (herbívoros > E (detritívoros). A eficiência dos carnívoros gira ao redor
dos 10%.
- Eficiência de digestão
- Eficiência ecológica
160
Quadro 2: Eficiências ecológicas de alguns tipos de organismos (modificado de Margalef,
1977)
Em um estudo clássico em Ecologia, Heal e McLean (apud Begon et al. 1990), estudaram
os padrões de tranferência trófica em uma comunidade teórica de pradaria. Os resultados
dessas simulações podem ser vistos na figura abaixo. De cada 100 joules of produção
primária líquida, temos os percentuais que foram observados em cada compartimento
(herbívoros, carnívoros, micrófagos e detritivoros). É feita ainda uma comparação das
eficiências segundo o metabolismo predominante (invertebrados e vertebrados ecto e
endotérmicos). As menores eficiências de assimilação (A/I) foram em geral observadas para
os detritívoros (20%), seguidos dos micrófagos e herbívoros. Os vertebrados possuem em
geral uma eficiência de produção (P/A) muito menor do que os invertebrados para um
mesmo nível trófico. E a eficiência de assimilação foi sempre maior nos carnívoros
independente do tipo de metabolismo.
161
É possível multiplicar as eficiências, gerando uma terceira modalidade de eficiência:
4) Tendências evolucionárias:
162
A seguir, são fornecidos alguns exemplos de respiração em invertegrados (vermes) de
diferentes estágios de evolução filogenética:
Esses dados ilustram que organismos mais evoluídos possuem um metabolismo basal mais
elevado produto de uma maior complexidade biológica. O aumento do metabolismo basal
(respiração) causa a diminuição de vários tipos de eficiências tróficas.
e) No sentido ecológico, uma eficiência que tende a ser maximizada pela seleção é:
163
Módulo 3 - Ecologia Energética
No capítulo sobre comunidades, foi visto que um dos padrões mais notáveis refere-se à
mudanças na diversidade biológica em relação aos gradientes latitudinais bem como
aquelas ligadas aos efeitos do tamanho e distância das ilhas aos continentes.
- padrões temporais;
- padrões biogeográficos.
Existe ainda um interessante padrão ligado ao aumento da produção nas áreas de contato
entre ecossistemas aquáticos e terrestres: matas ripárias, manguezais, brejos e áreas
alagáveis em geral.
164
2) Oscilações diurnas
165
aumento normalmente coincide com o máximo anual. O aumento da produção primaveril
(spring bloom é devido a um intenso crescimento das populações de pequenas algas tais
como diatomáceas centrales (Stephanodiscus) e fitoflagelados (Rhodomonas minuta) . Este
bloom, no entanto, é efêmero já que o desenvolvimento de algas pequenas e palatáveis é
rapidamente consumido pelos herbívoros planctônicos, especialmente Daphnia. O consumo
de algas é de tal monta que, em muitos lagos, está associado a um abrupto aumento da
transparência
da água, clear water phase. No verão, a produção se estabiliza em torno de valores que
dependem, em grande parte, do grau de limitação por nutrientes, principalmente o fósforo.
Neste período irão dominar algas de crescimento mais lento
Lagos tropicais
166
Existem poucos estudos sobre os padrões de produção primária em lagos e reservatórios
tropicais se comparados ao montante desses estudos realizados na faixa de climas mais
frios. No Brasil, os sistemas mais bem estudados são os reservatórios da região sudeste.
A produção primária na biosfera pode ser descrita pela ocorrência de três padrões básicos.
Nos oceanos, temos um aumento da produção aquática nos oceanos com o aumento da
latitude. Desta maneira, os mares frios são muito mais produtivos do que os tropicais, salvo
algumas pequenas exceções (vide figura, abaixo).
167
Tendência inversa ocorre com os ecossistemas epicontinentais que possuem, em geral,
maiores produções nos trópicos e na zona equatorial, principalmente nas florestas pluviais
dessas regiões. De um modo geral, a produção primária nos continentes é maior próximo
aos oceanos ou ao longo dos grandes rios. A figura abaixo, traz um mapa das produção
primária nos principais ecossistemas terrestres (modificada de Smith & Smith, 1998, pág.
319).
168
Nos oceanos a limitação por nutrientes parece ser muito mais importante do que a
temperatura no contexto da produção biológica. A tabela a seguir, modificada de Whittaker
(1972), resume os valores de produção primária nos principais ecossistemas terrestres e
aquáticos.
169
Padrão (2): Transição e pulsos
Um segundo padrão pode ser observado. Ele refere-se ao aumento dos valores de produção
nos ecossistemas que sofrem pulsos ou estão em zonas de transição água-terra. Desta
maneira, os estuários, as matas galerias, os brejos, as lagunas e os manguezais estão dentre
os ecossistemas com grande produção biológica. A figura, a seguir, ilustra o gradiente de
produção primária do fitoplâncton a partir das regiões costeiras (estuários) em direção ao
mar aberto. A figura foi modificada de Begon et al. (1990), pág. 666.
170
Na zona epicontinental, os ecossistemas de transição tais como os ecótonos (zonas ripárias,
planícies de alagamento) são em geral muito produtivos.
171
vulcâncias onde predomina uma comunidade bem produtiva, baseada em bactérias
quimiolitotróficas que utilizam o H2S como fonte de energia para a redução do carbono
inorgânico.
Produção Secundaria
1) Tipos de alimentação
Evolução trófica:
a) evolução mecânica;
b) evolução bioquímica.
a) fitófagos ou vegetarianos;
b) zoófagos ou carnívoros;
c) detritívoros ou saprófita.
a) micrófagos;
b) macrófagos.
172
b) fagotrofia: compostos sólidos e insolúveis.
- Micrófagos
- anelídeos marinhos;
- lamelibrânqios;
- tunicados;
- equinodermos;
- quironomídeos;
- tricópteros;
- ciliados (Loxodes );
- esponjas;
- rotíferos ( Brachionus );
- anfípodes;
- peixes clupeídeos;
- peixes ciclídeos;
- aves (patos);
- cetáceos.
173
- anelídeos poliquetas ( Arenicola, Ophilia );
- peixes iliófagos.
- ostrácodes;
- harpaticóides;
- anfípodes ( Gammarus );
- pulmonados (Biomphalaria );
- equinodermata (Acanthaster );
Cerca de 90% de todas as espécies animais são fitófagos e a maior parte delas pode ser
encarada como sendo micrófagos de superfície. Exemplos: xilófagos, sugadores de seiva,
larvas minadoras, coleópteros da madeira e predadores de flores, frutos e sementes. Os
ruminantes podem também ser considerados micrófagos de superfície.
- Suctoria (protozoários)
- heteróteros
- vespas e abelhas
174
Os macrófagos ou predadores exigem maior integração e desenvolvimento do sistema
nervoso. As presas estão dispersas de modo irregular. A evolução tende a seguir um
gradiente de microfagia a macrofagia, sendo complexa e unidirecional. Há uma tendência à
macrofagia nos níveis tróficos superiores. Os macrófagos podem ser alimentar de presas
cujos tamanhos se aproximam ou são até mesmo maior do que o seu próprio tamanho. A
macrofagia represanta uma grande força evolutiva. Exemplos de macrófagos:
- rotíferos (Asplancha );
- celenterados;
- poliquetos marinhos;
- crustáceos:
- cladóceros ( Leptodora );
- misidáceos;
- decápodes;
- aracnídeos:
- escorpionídeos;
- aracnídeos;
- opiliões;
- insetos:
- heterópteros;
- mantídeos;
- libéluloas (Odonata);
- vespas;
175
- moluscos:
- cefalópodes;
- pulmonados;
- peixes:
- tubarões;
- atum;
- surumbim;
- dourado.
- aves:
- gaviões;
- corujas;
- andorinhas;
- mamíferos:
- carnivora.
176
Módulo 3 - Ecologia Energética
1.1) Introdução
177
1.2) Taxas de filtração e ingestão
178
As taxas de filtração são expressas um função do volume de água filtrado por unidade de
tempo enquanto que a taxas de ingestão dependem da concentração de partículas nutritivas,
sendo expressas em função desta variável por unidade de volume. Um dos métodos mais
usados para determinar essas taxas consiste no uso de partículas marcadas com
radioisótopos. Burns e Rigler (1967) foram um dos primeiros limnologistas a usar tal
método para estudar o comportamento alimentar de Daphnia rosea. A levedura usada,
Rhodotorula glutinis, foi isolada a partir da água do lago, foi oferecida como partícula
alimentar nos experimentos de curta duração. Um meio de cultura contendo fósforo
radioativo (32P) foi preparado e nele inoculado o fermento que, assim, ficou radioativo.
onde:
As taxas de filtração são afetadas por vários fatores: espécie, tamanho, estágio de
desenvolvimento do animal.
179
As taxas de filtração nem sempre são afetadas pelo tamanho de forma exponencial. Em
copépodes, há importantes variações neste padrão. Os ciclopóides apresentam geralmente
uma mudança de seu nicho trófico com o avançar do seu desenvolvimento ontogenético.
Eles são filtradores de algas nos estágios de nauplius e, quando atingem as formas mais
maduras de copepoditos, vão gradualmente deixando de ser filtradores exlusivos para serem
onívoros ou carnívoros.
180
Alguns estudos recentes indicam que os organismos zooplanctônicos são capazes de
diferenciar as partículas usando outros critérios além do tamanho, como por exemplo,
presença ou ausência de flagelos ou a forma da partícula. Alguns copépodes possuem
quimioreceptores em suas antenas e aparentemente podem selecionar o alimento tendo por
base suas características químicas, ou seja o seu "gosto" (De Mott, 1986).
As relações entre as taxas de filtração e ingestão nem sempre são diretas e positivas. Burns
e Rgler (1967) observaram que as taxas de filtração decresciam quase exponencialmente a
medida que as concentrações de leveduras aumentavam. Elas passaram de cerca 1.5-2.0
ml.hr-1, sob concentrações de partícula da ordem de 25.000 cel.ml-1, para cerca de 0.2 ml.hr-
1
sob maiores concentrações de partículas nutritivas (500.000 cel/ml).
De uma maneira geral, pode-se afirmar que as taxas de ingestão crescem em resposta a
aumentos na concentração de partículas nutritivas até um limite definido, o chamado
threshold level (ILL) que, no caso das leveduras, está ao redor de 10.0000 cel.ml-1. As taxas
de filtração ou permanecem constantes ou aumentam até que o limite ILL seja atingido. A
181
partir daí, essas taxas sempre diminuem ao passo que as taxas de ingestão permanecem
constantes. Na próxima figura, três modelos que procuram explicar a relação FR, IR e C
são ilustrados.
Todo alimento ingerido não é necessariamente digerido e assimilado. Mesmo algas cujo
percentual de assimilação é comparável podem induzir diferentes respostas em termos de
crescimento somático e esforço reprodutivo (Giani, 1991). O material que não é assimilado
é rejeitado como fezes, que também contém produtos de secreção das paredes do intestino.
Estes produtos resultantes da atividade secretora intestinal podem causar uma
superavaliação do conteúdo energético e bioquímico das fezes. Estimativas corretas da
produção de fezes ao lado das taxas de ingestão são requisitos fundamental para se estimar
a taxa de assimilação. Os animais são colocados numa suspensão contendo partículas
marcadas com radioisótopos por uns dois ou três minutos. A seguir, são colocados
182
brevemente numa suspensão contendo as mesmas partículas, porém não marcadas com
radioatividade. O tempo de exposição nesta segunda solução deve ser curto o suficiente
para que as perdas de radioisótopos devidas à excreção (urina) e respiração sejam mantidas
em um mínimo. Por outro lado este intervalo de tempo deve assegurar que o conteúdo de
partículas radioativas não assimiladas dentro do intestino seja expulso. A assimilação é
então medida através da quantidade de radioatividade presente no animal após esta segunda
incubação (Lampert, 1977).
1.3) Excreção
Experimentos têm demonstrando que Daphnia rosea excreta uma mistura de cerca de 90%
de fosfato inorgânico (ortofosfato) e 10% de fósforo orgânico de baixo peso molecular
(Peters e Lean, 1973). Em poucos minutos, o fósforo solúvel é reabsorvido pelas bactérias
associadas aos animais.
Peters & Rigler (1973) estimaram que 27.4% da matéria orgânica particulada do epilimnion
no Hart Lake, Ontario são ingeridas diariamente pelo zooplâncton durante o verão (base de
cálculo: conteúdo em fósforo). Deste total 54% é assimilado e uma quantidade equivalente
é excretada. Então 0.54 X 27.4 = 14.8% do fósforo total do lago é regenerado diariamente
183
pela excreção do zooplâncton do Hart Lake. Outros 12.6% (0.46 X 27.4) são transformados
em fezes que são incorporadas aos detritos e de onde o fósforo será liberado através da
atividade microbiana. Temos aí um belo exemplo do uso de um elemento, o fósforo
empregado para se avaliar a importância ecológica de uma comunidade, no caso o
zooplâncton, em um dado ecossistema.
Estudos recentes conduzidos na região tropical têm demonstrado que a taxa de excreção de
nutrientes pelo zooplâncton é, via de regra, mais elevada do que em regiões temperadas
(Pinto-Coelho et al. 1997). Em conseqüência, essas taxas possibilitam ao zooplâncton de
lagos e reservatórios tropicais tornar-se um dos principais agentes remineralizadores (Pinto-
Coelho e Greco, 1999). No reservatório da Pampulha, um estudo foi conduzido durante os
anos de 1994 e 1995 na tentativa de quantificar as possíveis contribuições em termos de
liberação de ortofosfato a partir de duas comunidades importantes: as macrófitas (
Eichhornia crassipes ) e o zooplâncton.
184
Figura 5 Taxas de retorno de ortofosfato devidas a macrofita Eichhornia crassipes e ao
zooplancton no reservatório da Pampulha durante os anos de 1994 e 1995 (Pinto-Coelho &
Greco, 1999).
185
Figura 6 – Variação nictemeral das taxas de excreção de nitrogênio e fosforo e da respiração
do zoopâncton na represa da Pampulha (Macedo & Pinto-Coelho, 2000).
186
2) Produção
187
Se um monitoramento regular e constante (onde os intervalos de tempo não podem ser
superiores taxa de reciclagem da biomassa, turn over rate, desta espécie) for realizado, o
valor de r poderá ser calculado a partir de dois censos consecutivos da seguinte maneira:
onde:
N: tamanho da população;
188
(*) estimativas médias.
Este método se aplica às populações que exibem um ciclo de geração por ano que seja
claramente identificável. A produção pode ser então calculada pela seguinte relação
(fórmula de Boysen-Jensen):
onde:
Parte-se do princípio de que o peso de um indivíduo é ligado à sua idade ou ecofase. Seja
N1, N2,..., Nn o número de indivíduos de cada ecofase e D1, D2,..., Dn a duração de cada
ecofase e delta W1, delta W2, ..., delta Wn o ganho em peso diário de cada ecofase. Então a
produção pode ser dada pela seguinte relação:
O método da análise de coortes foi aplicado recentemente por um orientando meu, José
Fernandes B. Neto, para estimar a produção de diferentes instares (ecofases) de Chaoborus
189
brasiliensis em um pequeno reservatório situado na região norte de Belo Horizonte, a
Lagoa do Nado. Os resultados podem serem vistos a seguir:
Método da respiração
190
onde:
R: taxa de respiração;
exp: Ep= 0,25 (cyclopoida), Ep= 0,20 calanoida, Ep= 0,35 cladocera;
onde:
191
Figura 7 – Variação sazonal da produção primária do fitoplâncton e assimialação do
zooplâncton no reservatório da Pampulha, Belo Horizonte, Minas Gerais (Araújo e Pinto-
Coelho, 1998).
Este método pode também ser aplicado a distintas ecofases ou coortes dentro de uma dada
população. O método foi usado para estimar a produção secundária do zooplâncton em um
estudo comparativo entre a produção primária e secundária no reservatório da Pampulha
(Araújo & Pinto-Coelho, 1998). O dados indicam que a produção primária do fitoplâncton
é insuficiente para cobrir a demanda energética (assimilação do zooplâncton) durante a
maior parte do ano. O reservatório da Pampulha é um ambiente hipereutrófico que recebe
grandes quantidades de matéria orgânica alóctone que possibilita o desenvolvimento de
uma comunidade microbiana que possivelmente é o maior recurso alimentar do
zooplâncton nesse ambiente.
Outro método fisiológico baseia-se na aplicação das razões N:P para o cálculo da produção
secundária. As razões N:P devem ser conhecidas nos animais (a3), em seu alimento (a1) e
em seus excretas (a2). A produção pode ser calculada da seguinte maneira:
192
onde:
Este método evita censos demográficos, muitas vezes tediosos, e com altos percentuais de
erro, principalmente nas contagens e na identificação e triagem das ecofases. É um método
genérico uma vez que engloba toda uma classe de recursos alimentares utilizáveis por um
grupo de organismos (guilda). O principal problema refere-se à seleção de organismos de
níveis tróficos diferentes através de filtragem não seletivas ou também ao agrupar partículas
que não são ingeridas entre aquelas que efetivamente o são.
193
biomassa produção
Comunidades
mgC.m-2 mgC.m-2.ano-1
Vertebrados
Elefante 550 30
194
Módulo 3 - Ecologia de Processos (Ciclos)
1) Introdução
Dos 103 elementos químicos conhecidos, sabe-se que 30 a 40 são necessários à vida. Eles
podem ser classificados em micro, meso e macronutrientes de acordo com as quantidades
requeridas pelo seres vivos (vide capítulo sobre produção primária).Os elementos circulam
na biosfera entre os compartimentos (pools) abióticos e a biomassa animal e vegetal (Figura
1).
195
Figura 1 Esquema genérico da ciclagem de nutrientes na biosfera indicando os principais
compartimentos e os processos ecológicos envolvidos (original).
Todos os ciclos possuem reservatórios (pools) abióticos que podem ser dos seguintes tipos:
O pool biológico pode ser de natureza muito variada e pode englobar substâncias orgânicas
não-vivas. Húmus, excretas, sedimentos orgânicos, turfeiras, etc. constituem importantes
exemplos de sub-compartimentos deste pool nos diversos ecossitemas. O pool biológico
normalmente é muito mais restrito que o abiótico, porém é muito dinâmico (a taxa de
renovação dele é muito alta).
196
O controle e monitoramento de poluição ou o estabelecimento de técnicas de manejo
sustentado de ecossitemas são exemplos práticos do uso aplicado do estudo quantitativo dos
ciclos biogeoquímicos. Outros campos interessantes de aplicação deste enfoque referem-se
à determinação e controle da perda de fertilizantes na agricultura, uso racional de recursos
hídricos e de minerais não renováveis, agricultura 'biológica', controle do aumento de CO2
na atmosfera e aquicultura.
2) Tipos de Ciclos
- ciclos gasosos: possuem o depósito abiótico na atmosfera. Graças à grande dinâmica deste
meio, possuem eficazes mecanismos de autoregulação; exemplos:ciclo do nitrogênio e ciclo
do oxigênio;
- ciclos sedimentares: o depósito abiótico está na crosta terrestre em rochas; estes ciclos são
mais vulneráveis a pertubações externas, pelo fato deste depósito ter um tempo muito
elevado de recirculação; exemplos: ciclo do cálcio e ciclo do fósforo;
3) Ciclo da água
A água é uma substância vital para a biosfera. É solvente universal graças a sua estrutura
atômica com elevada constante dielétrica. Ela forma soluções iônicas e colóides com
miscelas de carga eletrostática com grande facilidade. Além disso, suas pontes de
hidrogênio permitem a estabilidade da fase líquida numa amplitude térmica muito grande (0
197
a 100 C). A estrutura química da água também possibilita a formação de soluções não
eletrolíticas. A água ainda apresenta grande capacidade em dissolver gases tais como o
oxigênio e o gás carbônico. Esta capacidade é no entanto muito influenciável pela
temperatura, pressão e tipo do gás. Outra característica fundamental à vida da água refere-
se ao seu comportamento anômalo em relação à densidade. Ela expande quando é resfriada
de 4 C a 0 C. A densidade da água a 4 C é 1,0 e a O C é de 0.92. Assim a água congela-se
de cima para baixo. Este fato explica porque é possível a vida aquática (aliás intensa) nas
zonas polares. A água apresenta maiores variações de densidade a um mesmo delta t a
maiores temperaturas. Este fato explica porque pequenas variações térmicas em mares e
lagos tropicais podem causar estratificação térmicas relativamente resistentes à ação do
vento (Figura 2). Cerca de 70% da superfície da Terra é coberta por água.
As grandes massas de água estão nos oceanos onde acham-se em contínuo movimento. As
correntes marítimas são cruciais para o estabelecimento dos padrões globais de circulação
atmosférica e do clima (Figura 3).
198
Figura 2 - Simulação (falsa cor) dos dados de temperatura da água da superfície dos
oceanos a partir dos dados de sensoriamento remoto (satélite meteorológico NOAA, EUA).
A água está em contínuo movimento nos continentes. As fontes de água nos continentes são
alimentadas pela água das chuvas que volta ao mar via escoamento superficial ou
subterrâneo. Os rios exercem considerável influência sobre a paisagem terrestre. A foto, a
seguir, ilustra o Córrego Carioca, município de Itabirito, onde pode-se ver claramente a
199
formação vegetal mais densa junto à uma das margens. Na outra margem (lado esquerdo),
vê-se a influência antrópica, através de pastos destinados a pecuária.
A água tem ainda uma alta viscosidade, que decresce com o aumento da temperatura. Esta
viscosidade possibilita a existência de uma comunidade biológica que vive acima e abaixo
da zona ar-água. Os detergentes ateram drasticamente a tensão superficial da água.
Outra importante característica da água são os seus elevados calores latentes de evaporação
(Lv = 590 cal.g-1) e fusão (Lf = 80 cal.g-1). Deste modo a água 'exige' o aporte de grandes
quantidades de energia para trocar o seu estado físico, conferindo-lhe uma elevada inércia
térmica que resulta numa 'demora' em aquecimento e resfriamento. Estas propriedades são
200
extremamente importantes no estabelecimento das características climáticas. Diferenças de
temperaturas causam diferenças na densidade da água que aliada à ação dos ventos geram
as correntes oceânicas (Figura 3). Existem tanto correntes frias quanto correntes quentes.
As correntes frias trazem águas ricas de nutrientes incrementando a produção biológica nas
áreas sob a sua influência. No entanto, essas correntes causam também grande aridez nas
faixas continentais que são por elas banhadas, graças a pouca evaporação associada às
correntes frias. As correntes quentes, ao contrário, mantém a estratificação da coluna d'água
e, com isto, impede a fertilização continuada das águas superficiais. Deste modo, suas
águas são pobres em termos de produção biológica. As correntes quentes, por outro lado,
amenizam o clima na faixa continental sob sua influência trazendo chuvas e amenizando o
inverno nas altas latitudes. O clima da Inglaterra, por exemplo, é muito amenizado pela
corrente quente Gulf Stream (Corrente do Golfo).
201
A água pura exibe uma absorção diferencial da luz. Ondas menos energéticas de
comprimento longo (vermelho) são absorvidas nos primeiros metros abaixo da superfície.
Outros fatores que intervém no processo são a turbidez (sol. em suspensão) e a cor (subst.
dissolvidas) que também diminuem a penetração de luz. Deste modo algas verdes
Segundo Leonardo da Vinci "a água é o condutor da natureza". A Biosfera pode ser definida
em termos de disponibilidade de água: é a região do planeta onde há um suprimento de
energia externa e água no estado líquido. O ciclo da água é caracterizado por um depósito
atmosférico pequeno porém extremamente dinâmico, sendo inclusive responsável pela
caracterização dos diversos climas terrestrres. As reservas de água nos continentes são
alimentadas pela precipitação atmosférica (chuvas, neves e granizos), uma vez que chove
proporcionalmente mais nos continentes se comparados às áreas oceânicas. Grandes regiões
do planeta tais como o vale do Mississipi (USA), Europa e Amazônia oriental recebem a
maior parte de precipitações através de massas de ar oriundas dos oceânos.
O volume total de água da biosfera é de cerca de 1,5 bilhões de quilômetros cúbicos. Esta
água está distribuída de modo muito desigual pela superfície da Terra cuja superfície total é
de 512 milhões de Km² . A maior parte da água está no mar (97%). Os 3% restantes são
constituídos por água doce (a maior parte em geleiras). O depósito de águas subterrâneas é
muito maior do que o de águas superficiais. Rios e lagos contribuem muito pouco para o
total de água doce existente (Figura 4) mas eles são essenciais para a renovação do ciclo já
que o tempo de renovação médio das águas superficiais é pequeno (ao redor de 1 ano).
Outro fator que influencia a distribuição mundial das águas é a latitude principalmente
alterando os totais pluviométricos.
202
203
Módulo 3 - Ecologia de Processos
1) Ciclo do Carbono
O ciclo do carbono tem uma renovação mais lenta e um tempo de residência maior do que o
ciclo do água. A maior parte do carbono da biosfera encontra-se sob a forma de carbonatos
dissolvidos na água dos mares profundos (Figura 1). Desse modo, para se entender o
funcionamento do ciclo do carbono é necessário conhecer as principais vias desse ciclo nos
oceanos. Além dos carbonatos dissolvidos, o carbono pode estar estocado em grandes
quantidades nos sedimentos marinhos que formam os precurssores do petróleo
(querogênio). Existem ainda consideráveis quantidades de carbono orgânico (dissolvido
COD) e particulado nas águas dos mares. Todo esse carbono é continuamente reciclado
dentro da caceia planctônica (fitoplâncton, zooplâncton e nécton). que o devolve ao
compartimento inorgânico via respiração. Os carbonatos podem ainda serem direcionados à
atmosfera e vice versa.
204
O ciclo do carbono é um dos ciclos mais influenciados por atividades antrópicas. As
principais formas dessa interferência são através da queima de matéria orgânica:
combustíveis fósseis e pela queima de florestas (Figura 2). Nos países de clima temperado e
205
frio, são alocadas grandes quantidades de gás natural e óleo para a produção de calor
destinado ao aquecimento. Adicionalmente, os países industrializados, ao privilegiarem de
forma indiscriminada o transporte individual em veículos equipados com motores à
explosão, também contribuem de forma expressiva para a liberação de CO2 para a
atmosfera. Os países com grandes extensões florestais, principalmente na faixa tropical,
tem gerado um impacto adicional nessa emissão de gás carbônico. Muitas vezes, no
entanto, os países situados na região tropical tem sido injustamente acusados pela
comunidades dos países industrializados como sendo os maiores responsáveis pela
crescente emissão de CO2.
206
O ciclo do carbono é um ciclo misto, e também possui um pequeno depósito atmosférico. O
CO2 é responsável por cerca de 0.033 % da composição gasosa total da atmosfera terrestre.
Neste século, este conteúdo de CO2 (g) vem sendo afetado pelas atividades humanas,
principalmente pela queima de combustíveis fósseis e por incêndios florestais (Figura 3).
Em 1970, foram liberados por esta via cerca de 8 bilhões de toneladas de CO2. Esta
molécula é capaz de absorver relativamente mais radiação infravermelho proveniente do sol
do que as moléculas de nitrogênio e oxigênio. Deste modo, apesar de sua pequena
dimensão, o depósito atmosférico do carbono tem a capacidade de influenciar o clima da
terra, pois um pequeno aumento nas concentrações de CO2 atmosférico pode estar
associado a um aumento da temperatura média da Terra. A este fenômeno dá-se o nome de
"efeito estufa". Outras moléculas gasosas monocarbônicas, tais como o metano (CH4),
também podem contribuir para o agravamento deste fenômeno. O metano é originário nas
207
zonas da biosfera onde predomina o metabolismo anaeróbico. Nesta região irão proliferar
várias bactérias anaeróbicas, dentre elas as bactérias metanogênicas que produzem o
metano. Salinas de evaporação da água do mar, arrozais e demais áreas alagadas rasas com
elevados teores de matéria orgânica em geral são os ambientes onde existem as maiores
emissões de metano.
2) Ciclo do Nitrogênio
É um ciclo tipicamente gasoso. O depósito abiótico encontra-se sob a forma de N2(g), que
compõe cerca de 79% (p/p) da atmosfera. O nitrogênio atmosférico pode ser fixado com
aporte de energia seja por via orgânica seja por via inorgânica. A forma usual de
incorporação do nitrogênio pelas plantas é sob a forma de nitrato ou de amônia. Na
biomassa, o nitrogênio desempenha um papel fundamental como elemento estrututal de
praticamente todas as classes de compostos bioquímicos (proteínas, ácidos nucleicos,
lipídeos, etc). O nitrogênio volta ao pool abiótico via excreção de uréia, amônia ou ácido
úrico ou então por decomposição bacteriana e fúngica de cadáveres. Por ação bacteriana,
ele é rapidamente oxidado de nitrogênio albuminóide a amônia, nitrito e nitrato
208
A fixação biológica do nitrogênio atmosférico é muito importante sob o aspecto ecológico e
é feita graças a ação de certas bactérias e algas. Ela ocorre em meio anaeróbico e requer
aporte de energia. Ambas condições estão presentes nos nódulos das raízes de leguminosas
209
e nos heterocistos das algas azuis. O cobalto e o molibdênio são importantes uma vez que
estão nas enzimas que catalizam do processo. Várias bactérias sejam elas de vida livre ou
não são capazes de fixar o nitrogênio (Tabela 1).
Várias plantas possuem simbioses com bactérias fixadoras. Dentre elas podemos citar:
várias leguminosas (soja e feijão), Arauacaria, Casuarina e algumas gramíneas. As
gramíneas Digitaria decumbens e Zea mays apresentam simbioses com a bactéria Spirillum
lipoferum sendo que no caso do milho estas bactérias são encontradas no córtex.
3) Ciclo do Fósforo
210
heterótrofos mais abundantes e d) taxa de remineralização de fósforo pelos
microorganismos decompositores (bactérias, fungos e leveduras).
211
Certos organismos que passariam quase desapercebidos num ecossistema tais como o
molusco Modiolus demissus, podem ser fundamentais para a circulação de um elemento no
ecossistema. Este mexilhão põe em circulação a cada 2.5 dias uma quantidade de fósforo
equivalente a concentração deste elemento na água em que vive. Os organismos, por sua
vez, necessitam de quantidades mínimas de fósforo bastante diferentes: Nitzschia palea e
Botryococcus braunni são duas algas que necessitam de 18 e 89 g/l de fósforo (P5) para
crescer em condições ótimas, respectivamente.
4) Ciclo do Enxofre
212
Muitas vezes certos processos que ocorrem em um ciclo podem influenciar a ciclagem de
outro elemento. Em condições redutoras (meio anaeróbico) o enxofre apresenta-se
normalmente sob a forma de H2S. Nestas condições, o sulfeto normalmente combina-se
com o ferro liberando o fósforo:
213
Desta forma, a formação de zonas anóxicas em lagos eutróficos causada pela crescente
decomposição anaeróbica de matéria orgânica pode levar a um ulterior agravamento da
eutrofização, graças à liberação do fósforo retido nos sedimentos anaeróbicos, como visto
na reação acima.
Uma característica distintiva dos ciclos de materais nas zonas tropicais é o fato de que uma
maior porcentagem dos elementos está assimilada na biomassa, ou seja, maiores porções do
elemento estão intrabiotizadas. Isto é particularmente verdadeiro para certos nutrientes
essenciais tais como o fósforo e o potássio (Figura 7).
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Há simbioses entre autótrofos e heterótrofos que facilitam a volta dos elementos contidos
no corpo de organismos em decomposição para a biomassa vegetal, tais como as micorrizas
em florestas tropicais ou as associações entre corais e algas em recifes, as zooxantelas. As
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micorrizas fúngicas que atacem a serapilheira nas florestas tropicais podem se associar às
raízes ou até mesmo nelas penetrar. Em casos especiais, as hifas podem inclusive penetrar
nas próprias células das raízes.
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