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Resumo
Metamorfose, mudança, transformação, alteração, inovação. O termo mutação vem
sendo usado, no campo do jornalismo, como sinônimo de uma evolução que tem
correspondência em todos esses termos e está sendo sentida na organização do trabalho,
na cultura profissional dos jornalistas, no produto oferecido ao público e no próprio
público. O conceito de mutação que aqui trazemos – derivado das ciências biológicas,
principalmente da Genética – e as duas hipóteses a ele relacionadas pretendem unificar
o uso desse vocábulo e compreender de que maneira as mudanças históricas vêm
conformando um novo jornalismo, ajudadas pela tecnologia e pela internet. A mutação
no jornalismo é fenômeno provocado por agentes humanos, que acontece de maneira
súbita e requer um elemento de explosão para se manifestar, causando alterações em
espectro amplo. Este artigo identifica pontos de mutação na trajetória do jornalismo,
levando em conta os vestígios que a história nos deixou. Apontamos algumas categorias
de mutação: a) mutação gênica – quando muda o suporte; b) supressora – ruptura entre
notícia e comentário; c) somática – criação dos gêneros entrevista e reportagem; d)
pontual – invenção da pirâmide invertida.
Palavras-chave: história do jornalismo, mutação, imprensa, notícia, internet.
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Poderemos usar aqui também o termo cibermeio como “o meio eletrônico que difunde seus conteúdos
através da internet” (Meso & Alonso, 2007).
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tentaremos apontar quais são os principais pontos de mudança – que preferimos chamar
pontos de mutação – na linha do tempo que as notícias vêm seguindo. Sob uma
perspectiva positivista não poderíamos interpretar os fatos de outra maneira que em
seqüência linear e diante de documentos. No entanto, fazemos aqui uma reflexão para
além do fato real comprovado pelos documentos e livros (Alves & Guarnieri, 2007),
certos de que, numa visão marxista, cabe ao pesquisador o papel de intérprete. A
história sobre a qual nos basearemos tem sido fartamente estudada.
O que é mutação
Como sabemos, cada espécie de animal ou vegetal possui um número constante
de cromossomos, responsáveis pela transmissão dos caracteres hereditários,
constituindo unidades definidas na formação de um novo ser. A teoria da célula como
unidade da estrutura dos seres vivos foi conformada apenas no século XIX, apesar de a
célula ter sido descoberta no século XVII. Já os estudos sobre o Ácido
Desoxiribonucléico (DNA) são recentes. Todas as células usam o ácido
desoxiribonucléico como material genético. As primeiras células datam de 3,5 bilhões
de anos. Não existem registros fósseis das primeiras células, assim como não existem
registros das primeiras notícias da história da humanidade. Os desenhos nas cavernas,
estampando fatos da vida primitiva, talvez sejam as primeiras informações que os seres
humanos tiveram a preocupação em anotar e divulgar.
Segundo Piaget (1997), a organização do conhecimento humano constitui um
desenvolvimento original da organização biológica. Isso quer dizer que nos
desenvolvemos à medida que estruturamos nosso pensamento. Começaríamos, pois, a
estabelecer as primeiras analogias da biologia com a notícia a partir do entendimento
desta como forma de conhecimento. Os métodos de aquisição do saber mudam
conforme a sociedade e obedecem à sua organização biológica. A notícia é uma das
formas de organização e difusão do conhecimento. Motta (2005: 8-15) assegura que “as
notícias tornam o complexo e desordenado mundo no qual vivemos menos caótico para
cada um de nós”, cabendo a elas o papel de ajudar “a selecionar, priorizar, organizar,
compreender e ordenar os acontecimentos de nossa realidade imediata”.
Lemos, ouvimos e vemos as notícias diariamente porque elas orientam
primordialmente a nossa vida prática, os nossos comportamentos, as nossas
preferências, os nossos gostos, as nossas decisões de todo tipo. As notícias
são, assim, experiências diárias de conhecimento prático primordial e
essencial para os indivíduos nas sociedades contemporâneas.
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mutação somática Alteração restrita, visível, pode ser transmitida aos Gêneros jornalísticos
descendentes e provocar outros tipos de
desenvolvimento
mutação pontual Incide sobre o código do sistema, causando mudanças Pirâmide invertida
de âmbito restrito
ciências biológicas que procura responder ao anseio de explicar a história das mudanças
no Jornalismo.
A identificação de uma mutação deve ser expressa pela leitura de suas
manifestações na mídia e estará balizada pelo comportamento deste ser vivo em
correlação com os produtores-jornalistas e o contexto em que se apresentam, além do
fator público. No momento, o ambiente ideal para se estudar a mutação no jornalismo é
o ciberespaço – os portais noticiosos, com vários tipos de produção informativa, vídeos,
áudios, infográficos e ciberentrevistas, os blogs e chats e as comunidades informativas.
O conceito de mutação não é um conceito fechado. Tampouco ignora as
dimensões do processo político e de constituição do contexto dos mídia. O que
pretendemos foi: a) esclarecer, jogar um pouco de luz sobre o terreno onde as mudanças
se processam; b) concentrar, numa mesma moldura teórica, várias sugestões,
observações e intuições relacionadas às alterações no jornalismo; e c) oferecer uma
possível interpretação para o panorama de mudanças. Todavia, se pode haver
controvérsias sobre o(s) processo(s) de câmbio no jornalismo, parece não pairar
nenhuma dúvida a respeito da existência e concretude dessa realidade.
A freqüência com que os termos mutação e mutações vêm sendo tratados, em
estudos teóricos ou trabalhos leigos, demonstram que existe unanimidade quanto ao
cenário de transformações provocadas pela internet. Mas isso requer ainda atenção para
que muitos aspectos deixem de ser misteriosos e intangíveis. Infelizmente, por falta de
espaço, não podemos alinhar aqui todos os conceitos correspondentes a cada etapa de
mutação, registrados na Tabela 1. Uma mutação é melhor observada quando tomamos
distância dela. No presente momento, em que o novo suporte tecnológico nos faz
imaginar uma mutação gênica na notícia, a única coisa que podemos afirmar é que
estamos em meio a um processo e todos nós somos cobaias.
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