O livro de Mark Granovetter.é um estudo sobre como pessoas encontram empregos. Esta temática suscitou inúmeros estudos de sociólogos e economistas, afinal a grave questão do desemprego afeta todas as regiões do planeta e se configura como um dos maiores desafios do século XXI. Porém, o autor busca olhar este tema de um ângulo raramente observado. Parte do princípio que um indivíduo precisa, pra adquirir um trabalho, estar informado da sua existência. A informação é o elo que liga o trabalhador ao emprego e será o tema central do desenvolvido no livro: “a transmissão de informações sobre as oportunidades de trabalho tornou-se a mais imediata condição para a mobilidade” de trabalhadores. (1974:06). O estudo foi realizado através de entrevistas individuais e questionários enviados por correio para homens norte americanos que trabalhavam em áreas urbanas do país e estavam empregados a pelo menos cinco anos, se concentrando em três categorias: profissionais, técnicos e gerentes, identificados com a sigla PTM . Cada uma dessas escolhas é justificada ainda na introdução do livro a fim de apresentar o desenho metodológico da pesquisa. Granovetter, sustenta que esses trabalhadores buscam informações de empregos de três formas básicas, os meios formais, os contatos pessoais e as aplicações diretas. Segundo o autor os indivíduos dependem fortemente do seu conjunto de “contatos pessoais” para obter informações sobre oportunidades de empregos. Tais contatos, chamados de “informais”, são mais promissores que os meios de comunicação de massa para garantir uma colocação no mercado de trabalho. Além disso, os empregos obtidos através de contatos pessoais são aqueles que proporcionam os melhores salários, mais prestígio e mais altos níveis de trabalhadores satisfeitos com suas ocupações. Isso ocorre a despeito de fatores como competência ou mérito. Mesmo indivíduos “competentes e meritórios, se não tiverem contatos serão penalizados”.(1974:100). Mas em que circunstâncias os trabalhadores estabelecem esses contatos? Segundo o autor esse é o maior foco do estudo. Avançando nessa investigação Granovetter afirma, a partir de sua amostra, que religião, condição étnica e nível de educação não são relevantes para explicar a escolha por diferentes métodos de busca de informações sobre emprego. Fatores estruturais assumem grande importância, a idade é apontada como importante para determinar a escolha, os maiores de 34 anos tendem a usar mais os contatos pessoais. Os tipos de ocupações, também se revelam significativos na determinação de escolha dos métodos para se obter informações sobre trabalho. Gerentes são, entre os PTM, os que mais utilizam os contatos pessoais, mesmo por que a atividade que exercem implica no estabelecimento de contato com um grande número de pessoas. No primeiro capitulo do livro o autor procura diferenciar seu estudo das abordagens de economistas que tratam as questões de trabalho a partir da lógica do mercado, segundo estes estudos o emprego é uma mercadoria, e como as demais, regulada pelas leis do mercado, que se encarregaria de regular os preços de salários a partir da oferta e procura. Assim as questões do emprego estariam circunscritas dentro da ordem estritamente econômica. Granovetter, se opõe a essa interpretação e inclui em sua análise elementos que vão além do mercado. Relevantes fatores sociais compelem e determinam os comportamentos dos trabalhadores. Para ele, a idéia de um perfeito mercado de trabalho é equivocada, pois só poderia ser concebida se houvesse uma completa informação dos seus integrantes. A idéia matriz desse argumento é que informações sobre trabalho não são perfeitas, ou seja, não estão eqüitativamente distribuídas entre os trabalhadores. Por exemplo, poucos trabalhadores tem informações claras sobre as condições de trabalho existentes em outras empresas. O custo de busca de um novo emprego não é o mesmo para as diferentes categorias.Trabalhadores de produção, por exemplo, teriam menos condições de gastar tempo em busca de um novo emprego. Ademais, a motivação para uma troca de emprego pode não ser uma recompensa salarial e sim a busca de prestígio. Fatores como o tempo de permanência em um trabalho, nível salarial e tipo de função desempenhada também influem no comportamento de busca do trabalho. Na última anotação do livro lê-se que “buscar trabalho é um processo social” (1973:138). A defesa deste ponto de vista leva o autor a realizar uma análise detalhada nos dados coletados em sua pesquisa a fim de desvendar os caminhos percorridos pela informação. Ou seja, a análise enfatiza aspectos do cotidiano dos entrevistados, por exemplo, a identificação das formas de relacionamento entre os entrevistados e seus informantes realizada no capítulo dois. Onde também são apresentados os diferentes tipos de contatos e os ambientes onde os informantes – “contatos pessoais” – adquirirem as informações que forneceram. Um argumento apresentado é que os diferentes tipos de trabalho e condições dos trabalhadores exercem influência sobre o tipo de contato que é utilizado. Jovens que trabalham nas mesmas cidades em que nasceram tendem a usar mais as informações de trabalho fornecidas por contatos familiares. Interessado em compreender os movimentos da informação, o autor se vale do conceito de redes sociais para estabelecer um mapeamento dos seus caminhos. Segundo Granovetter, os laços pessoais fracos tendem a proporcionar melhores acessos a informação do trabalho. É a força dos laços fracos, ou seja, os contatos estabelecidos além das pessoas mais próximas e que influenciam a obtenção de informação sobre trabalho. O tamanho da cadeia de informação também produz efeitos sobre os resultados da informação obtida. A maioria dos trabalhadores que se empregaram a partir do uso de informações conseguidas em grandes cadeias apresentavam os mais baixos índices de satisfação com o emprego e menores salários. Isso por que cadeias menores produzem mais confiança na informação, ou seja, quanto menor a cadeia, menor o número de pessoas envolvidas no trânsito da informação e por conseqüência contatos mais próximos entre os indivíduos que fornecem e recebem a informação. Permitindo maior precisão e maior o nível de satisfação dos empregados. O fluxo da informação é visto como um tipo de causa de curta duração para mobilidade do trabalhador. Da mesma forma é apresentada a dinâmica de vacância de postos de trabalhos. A dimensão é referente ao tempo, as causas de curta duração seriam aquelas que afetam a informação de modo mais recente e as motivações de longa duração seriam de natureza mais remota. As “causas de longa duração” que são desenvolvidas nos capítulos cinco e seis, podem ser vistas como meio de identificar as opções teóricas do autor. Ao dar ênfase a elementos de longa duração que influenciam a mobilidade de trabalhadores, fica mais uma vez evidenciada a crítica ao modelo dos economistas clássicos que desejam explicar tais mobilizações a partir das pressões exercidas pelos mecanismos de mercado. O autor se inscreve entre os sociólogos da economia que estudam a sociedade a partir da investigação dos seus processos sociais marcadamente caracterizados pela existência de redes sociais que afetam decisivamente as chances de mobilidade no emprego. O autor nota, por exemplo, que jovens dificilmente encontram empregos sozinhos, na maioria dos casos são seus pais ou adultos próximos que realizam a mediação necessária para alcançar um posto de trabalho.(1974:78). Na mesma linha de raciocínio são apresentados estudos realizados em cidades norte americanas que apontam para o ganho de informação obtido por indivíduos que realizam poucas mudanças de residência e assim podem solidificar seus laços sociais. Ainda dentro dessa noção de causas de longa duração para a mobilidade no trabalho o autor analisa detalhadamente os aspectos relativos as informações obtidas nos locais de trabalho e afirma: “...Carreiras não são feitas através de saltos aleatórios de um emprego para outro, mas através de contatos confiáveis que são adquiridos em vários estágios da vida do trabalhador ... a mobilidade parece ser auto gerada... e mediada por um largo volume de contatos pessoais... isso por que laços de trabalhos anteriores são freqüentemente usados e tem efeito cumulativo, como se os indivíduos estocassem seus contatos.”(1974:85). Diversos fatores relativos às condições de trabalho dos contatos afetam o fornecimento de informações. O tempo de permanência em um emprego pode afetar o fluxo de informações produzidas. Longo tempo em um emprego poderia limitar a acumulação de contatos pessoais e por conseqüência a capacidade de adquirir informações. O tipo de trabalho também pode afetar a mobilidade, gerentes necessitam de mais tempo para demonstrar suas qualidades e precisam de maior envolvimento com a organização das empresas, ao contrário de técnicos e profissionais que podem demonstrar rapidamente suas habilidades e assim adquirir condições de mover-se em direção a outro trabalho. A leitura dos seis primeiros capítulos do livro revela um trabalho cuidadosamente preocupado com o rigor metodológico, cada dado apresentado é detalhadamente descrito e seus limites são logo apresentados. Em diversos pontos do texto é reconhecida a necessidade de novas pesquisas pra permitir maiores inferências. Quando opta por descrever vários casos particulares da história cotidiana dos indivíduos o autor reconhece a necessidade de se realizar a análise sociológica a partir de investigações diretas da realidade social. Segundo o autor: “As categorias abstratas da teoria social dissuadem a percepção de muitas importantes situações que contém informações sobre alternativas não padronizadas.” (1974:97). Analisando as mobilidades entre organizações o autor sustenta que a rotina de relações entre diferentes organizações pode induzir mobilidade na medida que permite que indivíduos possam estabelecer contatos e trocar experiências. Essa forma de fluxo da informação é dividida em quatro tipos diferentes e analisada, vários exemplos de casos são apresentados para delinear suas diferenças. A mobilização entre companhias é descrita como um movimento que pode estabelecer ligações entre essas redes de trabalho e estreitar suas diferenças dando possibilidade ao senso de comunidade. Em uma perspectiva comparativa o autor pondera sobre diferentes sistemas de trabalho objetivando encontrar a influência de traços da estrutura econômica, social e cultural de vários países sobre os comportamentos de busca do trabalho. Analisando as economias industriais e pré-industriais o autor conclui que há consideráveis semelhanças entre as duas formas de recrutamento e afirma que a existência de relações de trabalho “contratuais” não significa que sejam impessoais, contatos pessoais podem perfeitamente se enquadrar em ambientes regulados por mercados e instituições.(1974:125). No último capitulo do livro o autor reafirma a importância dos contatos pessoais na mobilidade de trabalhadores e esboça algumas considerações sobre as aplicações práticas de suas idéias, embora reconheça que são “extremamente experimentais”. Por fim é relevante acentuar alguns aspectos relativos ao modelo de pesquisa realizado para a composição do livro. O autor apresenta uma pesquisa qualitativa que entrevistou cerca de 282 nos EUA e a partir dessa base de dados e de outros trabalhos relacionados apresentando um conjunto de argumentos que assumem, em diversos momentos. conclusões de tonalidades mais abrangentes mas que estão informadas pela teoria social. No apêndice “A” o autor apresenta a defesa de suas escolhas metodológicas, argumentando que escolheu aplicar sua pesquisa na região de “Newton” em virtude da heterogeneidade ali existente permitindo analisar diferentes grupos sociais que habitavam aquela localidade.