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A CONTRIBUIÇÃO HISTÓRIA DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO


SOCIAL NO HOSPITAL DIA DR. WILSON FREITAS

FERNANDA COSTA FERREIRA*

INTRODUÇÃO

Este trabalho é fruto da experiência de estágio obrigatório realizado no Hospital Dia


Dr. Wilson Freitas e posterior trabalho de conclusão de curso sobre a história da instituição. O
Hospital Dia (HD) foi criado em 1968, nascendo como um serviço alternativo para diminuir
as pressões por internações integrais em um contexto de crescente demanda pelas mesmas. É
regido pela portaria SNAS nº 224 de 19 de janeiro de 1992, mas é considerado um serviço em
processo de extinção, haja vista ser orientado por autorização de internação hospitalar e na
realidade piauiense ser atrelado a um hospital psiquiátrico.

Tem por objetivo prestar serviços de semi-internação a pacientes com transtornos


mentais, desenvolver programas de atenção de cuidados intensivos, além de encaminhar a
pessoa com transtorno mental à rede de atenção psicossocial no momento de sua alta
contando com o trabalho de uma equipe interdisciplinar. No entanto, as novas orientações da
Reforma Psiquiátrica, corroboram a idéia desse tipo de tratamento de outra forma, através dos
Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Segundo as normas do Ministério da Saúde, todos
os Hospitais Dias do país deveriam, até 2010, tramitar para CAPS.

Seguindo as orientações do Ministério da Saúde, nos últimos anos, intensificou-se o


debate acerca do processo de mudança do HD Dr. Wilson Freitas para CAPS. Nesse sentido,
salienta-se a importância da nossa pesquisa na valorização da memória do Serviço Social na
instituição e, conseqüentemente, a memória da própria instituição.

Para atingir nosso objetivo realizamos entrevistas com seis dos sete assistentes sociais
que passaram pelo Hospital Dia. A não abordagem da totalidade dos profissionais de Serviço
Social que trabalharam na instituição se deve ao falecimento de um deles.

O Serviço Social compõe a equipe multiprofissional do HD, juntamente com a


Psicologia, a Terapia Ocupacional, a Enfermagem e a Medicina. Nosso trabalho pretendeu
salientar a importância da contribuição do profissional de Serviço Social na atenção à pessoa

*
Bacharel em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí (2011)
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com transtorno mental, sem desmerecer as demais profissões, mas focalizando as


particularidades do Serviço Social neste contexto.

A prática profissional do assistente social se dá de forma institucionalizada, portanto


tratar da história de uma profissão em um serviço é também tratar da história do próprio
serviço. Este trabalho pretende ser um registro da colaboração do primeiro serviço aberto de
atenção psicossocial instalado no Piauí desde 1985, ano de sua criação, aos dias de hoje.

FAZENDO HISTÓRIA

Há uma série de autores que poderiam nos auxiliar no caminho do estudo da ciência
histórica, mas a escolha por Jacques Le Goff se deu devido à concepção de tempo (não-linear,
entrecortado por múltiplas experiências simultâneas) exposta pelo autor. A partir da leitura de
sua obra História e memória, percebemos as possibilidades apontadas por Le Goff, em
meados do século XX, de construir uma história que se reconhece incompleta, incapaz de
absorver a totalidade do passado, mas que consegue compreender e considerar diversos
fatores num dado tempo, ampliando nossas perspectivas. Ao fazermos contato com as
filiações teóricas e a história de vida do autor nos foi possível compreender melhor algumas
mudanças na ciência histórica quanto ao método, problemas e abordagens sofridos no último
século. Optamos pela perspectiva apontada por Le Goff por ir ao encontro das necessidades
de nossa pesquisa acerca de um conceito de história adequado ao problema da contribuição da
prática profissional do Serviço Social no Hospital Dia – Dr. Wilson Freitas.

Para estudar a contribuição histórica de uma profissão (através das concepções e


práticas dos profissionais de uma determinada profissão) em uma instituição, é necessário que
o pesquisador adquira forma de historiador, de pesquisador do tempo passado. Fazer história
é também retratar a realidade social de uma época, é preservar a memória político-social de
um povo. Como afirma Certeau apud Le Goff “Há uma historicidade da história que implica o
movimento que liga uma prática interpretativa a uma práxis social”. (LE GOFF, 2003, p.14)

Le Goff afirma que nas línguas românicas o termo “história” exprime três outros
conceitos diferentes:

1) Esta “procura das ações realizadas pelos homens” (Heródoto) que se


esforça por se constituir em ciência, a ciência histórica;
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2) O objeto de procura é o que os homens realizaram. Como diz Paul Veyne, “a


história é quer uma série de acontecimentos, quer a narração desta série de
acontecimentos” (1968, p. 423)
3) A história pode ter ainda um terceiro sentido, o de narração. Uma história é
uma narração, verdadeira ou falsa, com base na “realidade histórica” ou
puramente imaginária (LE GOFF, 2003, p.13)

Preservar a memória dos assistentes sociais e da sua contribuição para o Hospital Dia
nesses mais de 25 anos é também narrar a contribuição do próprio Hospital para a sociedade
piauiense. A idéia de tentar escrever uma história da profissão na instituição também é a idéia
de escrever uma história do Hospital Dia, considerando que estas narrativas estão imbricadas,
pois a profissão está inserida no serviço desde o início de seu funcionamento e a práxis de
seus profissionais são historicamente datadas e situadas no que acontece com a própria
instituição, com a política da saúde mental e com as condições objetivas e subjetivamente
dadas em cada momento histórico-conjuntural.
Nossa incursão pelo universo da história se dará pela valorização da memória de vida
dos profissionais que passaram pelo Hospital, valorizando cada informação prestada,
interpretando subjetividades e analisando criticamente as condições históricas de cada época
de atuação destes profissionais. É necessário, portanto, estabelecendo um diálogo com a
ciência histórica, recorrer ao método de investigação historiográfico, amparando-nos,
sobretudo, na metodologia da história oral.

METODOLOGIAS

A metodologia constitui o caminho trilhado pelo pesquisador no decorrer do processo


de construção do conhecimento do objeto de estudo até chegar aos resultados obtidos no
desenvolvimento da pesquisa e na analise e interpretação do conjunto do que foi consignado.
Segundo MINAYO “a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto
de técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo
do investigador” (MINAYO, 1993, p.16)
Nosso objetivo se constituiu em realizar uma pesquisa sobre a contribuição do Serviço
Social na atenção à pessoa com transtorno mental do Hospital Dia – Dr. Wilson Freitas,
analisando de forma critica a atuação do profissional na instituição, identificando os
elementos que permaneceram e os pontos de ruptura no percurso histórico da profissão no
interior de uma instituição que passou por percalços e por várias mudanças que exigiram que
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o assistente social acompanhasse cada nova conjuntura institucional. Para tanto, as técnicas
de pesquisa utilizadas para alcançar tal objetivo foram: observação, pesquisa documental,
pesquisa bibliográfica, pesquisa qualitativa, entrevista semi-estruturada, história oral e
analise e interpretação dos dados.
Para tanto, realizamos leituras de obras de autores como: BAPTISTA (2009),
BISNETO (2007), GUIMARÃES (2009), IAMAMOTO (2008), LE GOFF (2003), ROSA
(2008), REIS (2009), MARTINELLI (2009), VASCONCELOS (2008), além das legislações
que também embasaram o desenvolvimento da pesquisa: Código de Ética do Assistente
Social, Lei nº 10.216, Portaria nº 224, Parâmetros de Atuação do Serviço Social na Saúde,
Portaria nº 336 e Lei nº 8.080.

O método qualitativo foi escolhido por se tratar de uma pesquisa que teve como base o
ponto de vista e a memória dos atores envolvidos na prática profissional do Serviço Social no
Hospital Dia, buscando dar maior profundidade aos fatos e enriquecê-los interpretativamente,
compreendendo as subjetividades dos sujeitos envolvidos, os significados conferidos, as
relações sociais e o contexto histórico dos fatos.

A pesquisa baseia-se principalmente na memória de seis profissionais de Serviço


Social sobre a sua prática profissional no Hospital Dia. Do ponto de vista historiográfico, a
metodologia mais adequada para se trabalhar com a memória de pessoas vivas é a da história
oral. Um dos motivos de estarmos fazendo esse trabalho de pesquisa é exatamente a parca
quantidade de documentos escritos sobre o serviço social da instituição. Por isso, a ênfase na
História Oral. Alice Beatriz da Silva G. Lang no livro (Re)introduzindo a História Oral no
Brasil afirma sobre o conceito de História Oral:

Há segundo me parece, um consenso em que a História Oral é um trabalho de


pesquisa, que tem por base um projeto e que se baseia em fontes orais, coletadas em
uma situação de entrevista. (...) Segundo Maria Isaura Pereira de Queiroz, História
Oral seria um termo amplo, que recobre tipos variados de relatos obtidos através de
fontes orais, a respeito de fatos não registrados por outro tipo de documentos, de
fatos cuja documentação se quer completar, ou que se quer abordar por um ângulo
diverso. A história oral registra a experiência vivida ou o depoimento de um
indivíduo ou de vários indivíduos de uma mesma coletividade. (LANG,1996, p.34)

A metodologia da história oral vai ao encontro das nossas necessidades por recuperar
uma memória que não está em documentos escritos e valorizar a contribuição do entrevistado
no decorrer do processo de pesquisa. Para viabilizar o nosso trabalho, optamos pela entrevista
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para dar um direcionamento ao processo de pesquisa. No campo da ciência histórica, os


trabalhos de pesquisa tendem a contar com entrevistas não estruturadas ou semi estruturadas
para dar mais voz ao sujeito, haja vista a ciência histórica ser uma ciência humana, portanto,
leva em consideração as subjetividades e as reflexões teóricas sobre os sujeitos da pesquisa.

O roteiro de entrevista elaborado para o profissional que atua no serviço desde a sua
inauguração contém perguntas relativas aos dados pessoais, à formação acadêmica, à visão do
profissional acerca da política de saúde mental, sua percepção sobre o papel exercido pelo
Serviço Social no atendimento a usuários com transtorno mental e seus familiares e a relação
dos assistentes sociais com os demais membros da equipe multiprofissional. O período da
coleta de informações se deu entre os meses de março e maio de 2011 e o período da análise e
interpretação de dados se deu entre os meses de maio e junho do mesmo ano.

SUJEITOS DA PESQUISA

A primeira assistente social a trabalhar no Hospital Dia foi Rosemeire dos Santos
Feitosa, que trabalhou durante muitos anos no Hospital Psiquiátrico Meduna e há 29 anos
trabalha no Hospital Areolino de Abreu. Graduou-se em Serviço Social pela Universidade
Católica de Pernambuco, exerce a profissão há trinta anos e é pós-graduada em saúde mental
pela Universidade Federal do Piauí.

A entrevista da assistente social Rosemeire Feitosa conteve uma série de informações


relevantes para a nossa pesquisa pelo fato da mesma ter sido gestora do serviço e também
assistente social. Ela afirma ter trabalhado no Hospital Dia por vinte anos e por isso mesmo
acompanhou a sua gênese e boa parte da história do Hospital.

A segunda profissional de Serviço Social a trabalhar no Hospital Dia foi a assistente


social e psicóloga Mariane Barguil Macedo, graduada em Serviço Social pela Universidade
Federal do Piauí no ano de 1993 e graduada em Psicologia pela Faculdade Santo Agostinho
em 2008. Pós graduada em Psicanálise, Psicopedagogia e Psicologia Clínica. Atualmente
exerce apenas a profissão de psicóloga atendendo pacientes em um consultório próprio.

A assistente social Mariane Macedo afirma ter passado apenas alguns meses
trabalhando no Hospital Dia, entre os anos de 1994-1995. Assim como outras entrevistadas,
também foi estagiária do Hospital Areolino de Abreu e desde que se formou teve vontade de
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trabalhar no pavilhão feminino do Hospital. Foi transferida para o Hospital Dia contra a sua
vontade para cobrir a licença e as férias da assistente social Rosemeire. Mariane relatou
durante a entrevista que o Hospital Dia teve outro assistente social, chamado Adroaldo, que
faleceu há alguns anos.

Em seguida, a assistente social Josélia Macêdo de Carvalho Costa, que atualmente


encontra-se trabalhando no Serviço Social do Hospital de Urgência de Teresina e na urgência
do Hospital Areolino de Abreu, assume o Serviço Social do HD. Foi estagiária do HAA entre
os anos de 1993 e 1995 e graduou-se em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí
no ano de 1995. No mesmo ano começou a trabalhar como assistente social do HD, exercendo
o cargo durante dez anos.

Em 2005 a assistente social Ana Lúcia Barbosa assume o Serviço Social do HD.
Graduou-se em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí no ano de 1997. Assim
como algumas das outras entrevistadas, também foi estagiária do Hospital Areolino de Abreu
e passou apenas alguns meses como assistente social do Hospital Dia.

A quinta profissional de Serviço Social a trabalhar no Hospital Dia foi a assistente


social Maria de Jesus Alves dos Santos Costa, graduada em Serviço Social pela Universidade
Federal do Piauí em 1988. Trabalha na área da saúde mental desde a época em que começou
como estagiária do Hospital Areolino de Abreu em 1986. No Hospital Dia não soube precisar
quanto tempo exatamente exerceu a função de assistente social, relatando ter trabalhado lá
entre os anos de 2006 e 2008. Atualmente Maria de Jesus é assistente social do Hospital do
Mocambinho que no ano de 2010 foi reinaugurado como Serviço Hospitalar de Referência em
álcool e outras drogas (SHR-ad).

Também entrevistamos a profissional que atualmente exerce a função de assistente


social do Hospital Dia, Lúcia de Fátima Pereira de Meneses, graduada em Serviço Social pela
Universidade Federal do Piauí em 1996, dentre as suas pós graduações constam:
Especialização em Políticas Públicas e em Saúde Pública. É também técnica em enfermagem
com larga experiência na área e foi estagiária de Serviço Social no Hospital Dia.

Os sujeitos da pesquisa são mulheres na faixa etária dos 40 aos 60 anos de idade, a sua
maioria graduadas pela Universidade Federal do Piauí com pós graduação na área de saúde
mental. Todas elas ainda se encontram de alguma forma ligadas ao trabalho na área da saúde
mental.
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SOBRE O SERVIÇO SOCIAL NO HOSPITAL DIA

O Hospital foi inaugurado oficialmente no ano de 1985, entretanto, sabe-se que antes
de ganhar estrutura física própria o Hospital Dia funcionava nas dependências do ambulatório
do HAA. Desde o início do HD é possível perceber o seu atrelamento ao Areolino de Abreu
tanto em sua estrutura física como em relação aos recursos humanos e financeiros.

O Hospital Dia ele começou com o doutor Wilson Freitas... O doutor Wilson veio
fundou o Hospital Dia, nessa estrutura tipo ligada ao ambulatório do Areolino de
Abreu, ele usava uma das salas do ambulatório, que era tipo um refeitoriozinho. E
usava uma sala que hoje é um consultório odontológico antes daqui ser um
consultório médico. Então o doutor Wilson usava essas dependências do
ambulatório para se fazer o Hospital Dia. (Entrevistada 04)

A inauguração da atual estrutura física do HD se deu em 1985, e segundo a


Entrevistada 04, toda a estrutura do prédio foi pensada e discutida conjuntamente com
profissionais, familiares e pacientes. Buscou-se manter os vínculos estruturais entre o HD e o
HAA de forma a facilitar o trânsito entre essas duas instituições, até porque a forma de
financiamento do serviço era a mesma do Hospital Areolino de Abreu, orientada pelas
Autorizações de Internações Hospitalares, conhecidas como AIHs,

Aquela reforma, aquela quadra, aquela quadra foi idéia nossa, minha junto com os
pacientes. Quando fez a estrutura física que levantou eles tinha um vínculo muito
grande com aquela área externa que tem lá, aquele canteiro... Aquela escada que
tem junto com aquela passarela que dá acesso pra casa, tudo idéia dos pacientes
junto comigo pra gente viver em comunhão com a amizade no Hospital Areolino de
Abreu, entendeu? Então tudo que a gente via que era obstáculo para caminhar no
Areolino de Abreu, refeitório e tudo, a gente foi abrindo as passarelas.
(Entrevistada 04)

Nos primeiros anos de funcionamento do Hospital Dia o Brasil passava por uma série
de transformações relativas às políticas públicas de um modo geral. A Saúde mental da época
foi marcada pela organização do movimento dos trabalhadores da Saúde Mental e o começo
das discussões sobre a saúde pública na Assembléia Constituinte. Em 1987 com os
desdobramentos da VIII Conferência Nacional de Saúde surge a I Conferência Nacional de
Saúde Mental, com orientações sobre o atendimento psicossocial junto à família,
regulamentação dos direitos da pessoa com transtorno mental, indicação de atendimento em
espaços abertos e comunitários e substituição gradativa dos leitos em hospitais psiquiátricos
para hospitais gerais.
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Nesse sentido, as ações da equipe do HD na época, iam à direção dessas novas


orientações, no entanto, a prática profissional se dava de acordo com as vivencias e com as
demandas que surgiam no cotidiano institucional, pois de acordo com a entrevistada 04, os
profissionais não seguiam rigorosamente as orientações sobre a reforma psiquiátrica em vigor.

(...) A gente não tava muito seguindo o que tava dizendo as normas não, a gente
tava fazendo acontecer, ninguém esperava dizer, entendeu? Ninguém esperava dizer
que tinha que sair de dentro dos hospitais psiquiátricos pra ir pra comunidade, nós
saíamos, entendeu? A política já existia, mas essa política nesse tempo, eu gosto
muito de dizer, era mais guardada, a que recebia.... ai guardada, engavetada....
independente das normas e rotinas a gente fazia pelo nosso profissionalismo, como
a gente sabia, não foram as normas, não foram as leis que fizeram a gente
fazer.”(entrevistada 04)

Outro trabalho realizado pelo Serviço Social da época refere-se à tentativa de atender
o paciente para além dos muros da instituição, levando a comunidade a se tornar parceira no
tratamento realizado pelo Hospital. Nesse sentido, eram realizadas visitas semanais às
comunidades com maior número de pacientes em tratamento a fim de esclarecer às pessoas
sobre o que é o transtorno mental, o tratamento, a importância da vida em comunidade e da
família, as estratégias que a comunidade poderia dispor para auxiliar a família e os moradores
com transtorno mental e fortalecer o vínculo entre Hospital – Família – Comunidade –
PCTM.

Nós passamos a trabalhar fora do Hospital Dia, como que a gente fazia isso? A
gente percebeu que tinha determinado número de pacientes, por exemplo, o bairro
Vermelha, tinha muitos pacientes, como que a gente fazia pra gente manter um elo
com esses familiares e com esses pacientes? Depois da alta(...) a gente queria que a
comunidade, que a igreja, que aquele povo do bairro, participassem com a gente
não só a família, porque a família muitas vezes estava cansada de pedir pra tomar o
remédio, porque geralmente o paciente quando tem alta ele acha que ta bom “eu to
bom, tive alta, então eu não preciso mais tomar remédio.” (...) pra que isso? Para
evitar uma crise mais grave e eles virem para a internação integral. Nosso trabalho
era centralizado para que esse paciente tivesse um tratamento correto, bem
acompanhado lá fora e que a gente dava o suporte sempre que entrasse em crise? aí
alguém da comunidade mandava um bilhetinho pra gente. (Entrevistada 04)

Dentre as principais atribuições do Serviço Social citadas pela entrevistada 04, nos
seus primeiros anos de atividade no Hospital Dia destacam-se: os atendimentos individuais ao
paciente e à família, visitas domiciliares, alfabetização de pacientes e familiares, grupos de
relaxamento, reuniões de família e oficinas em parceria com a comunidade.
Com o afastamento da Assistente Social anterior, o Serviço Social do Hospital Dia foi
assumido durante alguns dias pelo assistente social Adroaldo, “cobrindo” um período de
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férias. Em seguida a Entrevistada 06 assume por alguns meses. Ela afirma ser uma
profissional de transição e estar assumindo o serviço social do HD enquanto a direção geral
do HAA encaminha um novo profissional. No que tange à reforma psiquiátrica, o clima é de
intensa discussão acerca da abertura de leitos psiquiátricos em hospitais gerais e Centros de
Atenção Psicossocial (CAPS) em todo o país.

Já existiam alguns CAPS, mas muito pouco no Piauí, então a moda era HD na
época. Então tinha o HD daqui de Teresina, de Picos, Parnaíba só eram 3. Então já
se falava de reforma com certeza, a Lucia chega com todo gás de mestrado e a
gente começa a trabalhar. Mas assim fomos trabalhando não nessa perspectiva...
claro pensando e querendo que essa reforma acontecesse, mas era algo também que
era natural. (Entrevistada 06)

Em relação às atividades realizadas pelo Serviço Social, a Entrevistada 06, cita, dentre
elas, as visitas domiciliares, sendo muitas delas realizadas em conjunto com outros
profissionais; grupos sócio-operativos e atendimento a família e aos usuários.

Ao tratar da prática profissional do Serviço Social, a Entrevistada 06 faz uma análise


sobre as dificuldades de se trabalhar em um universo tão contraditório e repleto de desafios
como o cotidiano de um assistente social na área da saúde mental. Ao mesmo tempo em que
deve atender as demandas da instituição e dos profissionais nos cargos de direção, também
deve atender as reivindicações do público usuário do seu serviço, entretanto, essas demandas
muitas vezes são conflitantes entre si, o que exige do profissional competência técnica
suficiente pra criar estratégias para a solução de tais conflitos.
Ao ser questionada sobre quais seriam as principais conquistas do Serviço Social na
instituição a Entrevista 06 encerra afirmando que houve um retrocesso em relação à
valorização do assistente social devido à centralidade na figura médica e o desgaste acarretado
pelos conflitos entre gestão e o serviço social dentro da Instituição.
A reforma psiquiátrica orienta a substituição gradativa dos Hospitais Dia em todo o
país por centros de atenção psicossocial. Por causa disso, os profissionais que trabalhavam no
HD Dr. Wilson Freitas passaram a se preocupar sobre o seu futuro profissional e institucional.

(...) a pergunta era “o Hospital vai fechar? Eu vou ficar desempregado? O quê que
vai acontecer? Eu vou pra onde se eu só sei fazer isso?” então a nível institucional
existiam muitos questionamentos, quando veio a tona mesmo se trabalhar a reforma
psiquiátrica, mas todo mundo muito livre. Nos nunca tivemos nenhuma pressão e
também não tinha aquela coisa de “vamos pegar a reforma e fechar o Hospital” era
uma coisa mais de mediação mesmo, como trabalhar isso. Até hoje o hospital
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continua e é necessário, alguns casos, não tem como fechar mesmo o Hospital, mas
avançou muito.(Entrevistada 02)

Devido à expansão das idéias da reforma psiquiátrica no Estado, as famílias e as


pessoas com transtorno mental estão mais informadas acerca dos seus direitos e por isso
mesmo procuram mais o serviço social para obter informações sobre benefícios e outros
direitos sociais. A família está cada vez mais presente durante o tratamento e essa presença
além de contribuir no processo de melhora do paciente também acarreta o empoderamento
dos sujeitos envolvidos no processo.
Nesse sentido, o trabalho do Serviço Social com as famílias era intenso, a fim de
fortalecer os usuários em relação aos seus direitos no exercício da cidadania.

no caso das reuniões de família a gente trabalhava muito a questão da


informação, a gente trazia outros profissionais pra trabalhar informações
que a gente não tava... não tinha conhecimento total, então a gente chamava
psicólogo pra trabalhar a questão da auto-estima, muitas vezes a gente
também trabalhava a questão da auto-estima, trabalhava informações com
as famílias no caso os direitos dos pacientes, direitos dos familiares,
trabalhava a própria integração dos pacientes, dos familiares. A questão
terapêutica, troca de identidades, muitas vezes a família tinha um problema,
a outra tinha um problema parecido... então essa troca de experiência
ajudava muito, questão mesmo terapêutica. Então eu acho que enfatizava
mais essa questão terapêutica mesmo, mas dentro dessas reuniões a gente
variava muito, chamava outros profissionais.(Entrevistada 05)

Como orienta a reforma psiquiátrica, o Serviço Social procurava viabilizar o


atendimento para além dos muros da instituição, estimulando o convívio social na tentativa de
desestigmatizar a figura da pessoa com transtorno mental e contribuir no fortalecimento de
sua cidadania. Para a realização dessa atividade muitas vezes os recursos provinham dos
próprios profissionais, devido às barreiras institucionais para sua operacionalização.

A atividade extra-hospitalar que a gente fazia o Serviço Social fazia (...) para poder
ver a questão da reintegração social, como eles se comportavam fora do Hospital,
mostrar que é possível viver com transtorno mental fora da unidade hospitalar, sem
ter problema nenhum era possível essa convivência, geralmente a gente levava eles
com convênio da Universidade Federal, a gente levava eles pra um sítio, ou
qualquer outro local passava o dia interagindo com os funcionários. (Entrevistada
03)

De acordo com as entrevistadas, a estrutura física atual é a mesma da época de sua


inauguração, e que por causa dos recursos do HD serem administrados pela direção geral do
HAA da sua inauguração até os dias de hoje, reformas estruturais tornam-se prescindíveis.
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Eles verbalizam que o Serviço Social é imprescindível, que é muito importante, mas
a gente sente na hora de acatar as solicitações, de apoiar as iniciativas, que na
verdade esse apoio não é tão efetivo assim, que esse respeito não é tão concreto
assim. È na hora que se precisa do Serviço Social para se resolver problemas, então
o Serviço Social é importantíssimo, mas na hora que a gente solicita que a gente
pede apoio colaboração, estrutura melhor pra trabalhar ai a gente não conta com
esse apoio tão grande, nem com essa importância tão grande que a gente deveria
ter. (Entrevistada 03)

Com relação ao Serviço Social e sua contribuição histórica no HD, percebemos que,
apesar da grande rotatividade de profissionais no decorrer dos seus 26 anos, a profissão
legitimou a sua importância dentro da equipe multiprofissional e colaborou demasiadamente
para a evolução no atendimento ofertado pelo Hospital, principalmente no que tange as
questões políticas, administrativas e relacionadas à humanização.

Ao se analisar a prática profissional das assistentes sociais do HD deve-se levar em


conta as condições históricas vivenciadas por cada uma há seu tempo. Apesar das diferentes
vivencias entre as profissionais, percebe-se em comum um engajamento na luta pelos direitos
das pessoas com transtorno mental, a valorização da família no decorrer do tratamento, o
controle social e a importância da comunidade para a reinserção dos usuários do HD.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Hospital Dia o Serviço Social trabalha para o fortalecimento dos vínculos entre
profissionais, instituição, usuários e comunidade, tornando-se o elo entre esses atores sociais e
a principal referencia de profissional articulador de demandas e mediador de conflitos.

O Serviço Social se consolidou no Hospital Dia como a referencia no que diz respeito
à capacidade de criar vínculos entre as múltiplas áreas de conhecimento. Nas atividades
desenvolvidas historicamente pelo Serviço Social na instituição houve sempre uma
preocupação em trazer as demais áreas de conhecimento para construírem conjuntamente os
serviços sócio-educativos, possibilitando aos usuários acesso a informações úteis ao
tratamento e a vida em sociedade. Além disso, o assistente social é o profissional que mais
estimula as atividades extra-institucionais vendo no atendimento além-muro uma
possibilidade de desestigmatização da pessoa com transtorno mental e sua inserção na
sociedade.
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Em relação às principais demandas apresentadas ao Serviço Social nesses mais de 25


anos de HD, destacamos a busca por orientações sobre o Benefício da Prestação Continuada
(BPC) como a demanda mais expressiva. Menos expressivo, mas não menos importante,
outro fator diz respeito à busca por orientações de como lidar com a PCTM na família e na
comunidade, evidenciando assim a importância do Serviço Social no fortalecimento da
relação família-paciente.

Entretanto, o trabalho com a família possui muitos empecilhos, principalmente no que


se refere à resistência e as dificuldades enfrentadas por alguns familiares para se fazerem
presentes durante o período de tratamento na instituição, exigindo do profissional de Serviço
Social a criatividade de buscar sempre novas formas de convencer a família acerca da
importância da sua participação no tratamento.

Com a realização deste trabalho esperamos ter contribuído para a preservação da


memória do Serviço Social, sobretudo, em uma instituição que, segundo a reforma
psiquiátrica, já deveria ter sido extinta, mas que contribuiu sobremaneira para o
fortalecimento de uma assistência psiquiátrica aberta, não asilar, balizada nos princípios da
convivência comunitária e no atendimento interdisciplinar no tratamento de pessoas com
transtorno mental no Estado do Piauí.

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Assistentes Sociais. Resolução CFESS nº 273, de 13 de março de 1993 com alterações
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_______________________________________. Lei de Regulamentação da Profissão do


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