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EDITAL DE 2018
PROJETO DE PESQUISA
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promoção de ideias. Faziam muito sucesso entre os leitores, e também entre os não
leitores, as revolucionárias caricaturas e charges que ocupavam metade das oito páginas
deste periódico, e mais passaram a fazer após a conflagração da Guerra do Paraguai, em
1865.
Esse conflito externo, conhecido pelos paraguaios como La Guerra Grande,
acabou por promover o encontro entre identidades e alteridades regionais brasileiras,
produzidas e reconfiguradas em processos estanques de modernidade cujos espaços de
experiência apontavam mais para trajetórias coletivas singulares do que para uma
unidade histórica. Em outras palavras, os brasis se encontraram nas contingências da
guerra, pondo em relevo uma percepção fragmentada que apenas ratificava a existência
de uma nação possível em detrimento de uma identidade única que compartilhava
estruturas simbólicas nacionais. Nestes termos, a busca que aqui propomos recai nas
seguintes questões. Qual nação se projetava dos traços da Semana Ilustrada? Manteve
essa publicação, do início ao fim do conflito, a mesma representação de nação que
muito alimentava o registro simbólico na esfera pública de debate?
E por que investigar tais representações na imprensa? Acreditamos ser a
república das letras um espaço público privilegiado de análise, constituindo-se como um
mediador de debates e legitimador de práticas políticas.
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II – JUSTIFICATIVA
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III – OBJETIVOS
Objetivo Geral
• Analisar as representações sobre a nação brasileira publicadas na imprensa do
Rio de Janeiro, em especial na revista Semana Ilustrada, no contexto da Guerra
do Paraguai (1865-1870).
Objetivos Específicos
• Investigar o conflito platino sob o arcabouço conceitual de nação, regionalismo,
raça e identidade coletiva.
• Realizar uma revisão historiográfica sobre a Guerra do Paraguai, levando-se em
consideração o contexto de produção de cada tempo narrativo.
• Investigar os usos e apropriações da Guerra do Paraguai nas construções
discursivas dos projetos de poder do Império.
• Analisar o papel da imprensa no processo de construção da nação brasileira.
• Cotejar as representações da nação brasileira produzidas pela imprensa
fluminense com as realizadas por periódicos do Prata, nominalmente o El
Centinela, periodico serio y jocoso, publicado no Paraguai no ano de 1867.
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IV – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA
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cotidiano, da vida privada e do poder nas relações de gênero. Já no segundo, ganharam
destaque os trabalhos sobre os regimes populistas, bem como os referentes à construção
do Estado e da nação, sendo que esse último constitui um dos temas de História Política
onde a historiografia latino-americana apresenta significativa distinção.
Estando então sob a cobertura desta Nova História Política, e guiados pelos
referenciais teóricos de Reinhart Koselleck (2006), Peter Burke (2002), René Rémond
(1996), Pierre Bourdieu (2011) e Norbert Elias (2011), buscaremos dialogar com
autores que, em obras relativamente recentes, abordaram a nação brasileira no contexto
da Guerra do Paraguai, com destaque para Francisco Doratioto (2002), Vitor Izecksohn
(2002) e Ricardo Salles (2002), que procuraram enxergar o conflito como elemento
restante da política colonial. Além disso, percebem a guerra como ponto de virada do
Império brasileiro, no momento em que o reconhecimento da negritude brasileira
começava a criar constrangimentos nos projetos de construção identitária.
A hipótese aqui levantada é de que a Guerra do Paraguai está inscrita em um
complexo de relações fundamentais para a constituição da nacionalidade brasileira. Não
obstante, nossa intenção é comprovar que a nacionalidade brasileira, se projetada no
início do conflito a partir da unidade, rapidamente assumiu uma característica, uma
quase-essência fragmentária. Além disso, acreditamos ser possível encontrar nas
páginas impressas do Rio de Janeiro, em especial nas ilustrações da revista Semana
Ilustrada, representações que delineavam negativamente a questão da nacionalidade
brasileira, havendo então um prenúncio do bovarismo brasileiro já apontado por Sérgio
Buarque de Holanda e Maria Rita Kell (Holanda, 1995; Kell, 2018).
No que tange à revisão bibliográfica, há uma literatura abrangente que incide
diretamente sobre a questão aqui levantada. São vários os autores contemporâneos que
apontaram suas penas para os assuntos correlatos à nacionalidade e à Guerra do
Paraguai. Vale salientar que boa parte das obras selecionadas no presente projeto foram
escritas por pesquisadores que ainda estão em ritmo de produção acadêmica, ou seja,
que ainda podem rever suas posições, o que demonstra a atualidade da investigação
pretendida.
O revisionismo da historiografia brasileira contemporânea sobre a Guerra do
Paraguai está muito ligado à obra Maldita Guerra, de Francisco Doratioto (2002).
Questionando a visão consagrada da culpabilidade inglesa na dimensão da tragédia
paraguaia, este autor pondera que questões continentais fronteiriças, principalmente
aquelas de interesse imperial brasileiro, é que causaram e postergaram o conflito para
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além do ponderável. Para ele, foram o orgulho ultrajado do imperador e as correlações
de forças na tríplice fronteira, e não as práticas do imperialismo britânico, as reais
causas do massacre. Também tem importância nesse revisionismo a obra O Cerne da
Discórdia: Guerra do Paraguai e o núcleo profissional do Exército, de Vitor Isecksohn
(2002). Nela, o autor argumenta que muito embora o exército brasileiro tenha emergido
de fato deste conflito, manteve ele ainda um certo grau de distanciamento político e de
fragilidade institucional. Não só o exército, mas também todo o império saiu, embora
vencedor nos campos de batalha, enfraquecido na arena política. Para ele, a Guerra do
Paraguai representou o enlace final da nação, embora condenasse de morte o império,
mesmo que uma morte lenta. Por sua vez, Ricardo Salles chama a atenção para as
questões de recrutamento e racialidade no livro Guerra do Paraguai: escravidão e
cidadania na formação do exército (Salles, 2002). Para ele, a escravidão passou a ser
encarada como um problema do Estado e não mais como um assunto doméstico. Isso
porque a formação das tropas imperiais deixou em descoberto, segundo Ricardo Salles,
o peso do componente negro na constituição populacional do país, provocando assim
inúmeras questões e contradições. Pode um escravo ser soldado da pátria? Pode se
confiar a segurança do Estado a braços não-libertos? É possível equalizar os desejos de
liberdade com os interesses privados dos proprietários da força de trabalho? Como
manter a invisibilidade da negritude nas projeções de nação no pós-guerra? O mesmo
autor aponta que, não por acaso, a primeira norma legal que versava pelo fim da
escravidão, a lei do ventre livre, foi discutida e aprovada no contexto da guerra.
Sobre nação, cidadania e cultura política no Prata, apontamos para a obra
Ciudadanía política y formación de las naciones: perspectivas históricas de América
Latina, coordenada por Hilda Sábato (1999). Neste livro, encontramos a tese de que a
dissolução da ordem colonial na América espanhola implicou na instauração de normas
e mecanismos concretos de vinculação entre o conjunto da população e quem exercia o
poder em seu nome. Haveria assim um espaço de convergência, ainda pouco estudado,
onde a problemática da cidadania ganhava forma. As perguntas agora deveriam girar em
torno das formas de soberania, de participação e representação, da atuação na esfera
pública e em suas instituições. E amparada por renovadas ferramentas teórico-
metodológicas, uma outra geração deu atenção a essas novas possibilidades de
investigação, como Raúl Fradkin (2008) ao se debruçar sobre cultura política e ação
coletiva em Buenos Aires entre 1806 a 1829 e Pilar Gonzáles Bernaldo de Quirós
(2008) e seus estudos sobre as sociabilidades nessa mesma cidade.
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No Brasil, o campo conceitual foi repensado por István Yancsó (2000). Em
artigo publicado juntamente com João Paulo Pimenta, esse professor da USP procurou
apontar para a diferenciação semântica dos termos pátria, país e nação. Tal estudo
mostrou, com propriedade, um distanciamento entre Estado e Nação, essa última sendo
resultado da consolidação posterior do primeiro, processo no qual não faltaram
conflitos. Evaldo Cabral de Mello (2004), nesse sentido, trará a luz uma “outra
independência”, onde 1817 e 1824 ganham ares mais dramáticos de contestadores da
ordem emanada da Corte, inaugurando assim uma versão alternativa de nação brasileira.
E é José Murilo de Carvalho (2002) quem irá se ocupar mais decisivamente com
questões relativas à cidadania. Para ele, a ausência de um campo de convergência como
pontuado por Hilda Sábado seria o fator responsável por uma cidadania negativa, pois
esta existiria somente como reação contra a imposição de um sistema político-
burocrático que afetava as relações tradicionais, além da sombra constante de uma
realidade escravista e excludente. Outros tentaram colocar em evidência a existência de
forças até então renegadas, como o mundo negro de João José Reis (1991) ou as
práticas sociais em torno dos símbolos e festividades cívicas de Iara Lins Schiavinatto
Souza (1999).
No campo da imprensa da Corte, continua imbatível a obra História da Imprensa
no Brasil, de Nelson Werneck Sodré (1999). Utilizando um arcabouço teórico e
conceitual marxista, Sodré enfatiza as conexões superestruturais dos meios de
comunicação no Brasil com o domínio da infraestrutura pelas forças locais, associadas
ao mercado internacional. Para ele, já na primeira metade do século XIX operou-se um
controle político sobre a imprensa, retirando em muito seu caráter combativo e
questionador da ordem. A formatação de verdadeiras estruturas industriais ainda não
estava totalmente sedimentada nos tempos da guerra, segundo ele, mas já se apresentava
enquanto elemento embrionário. E sobre as possibilidades investigativas no que diz
respeito à inventividade e criatividade no selecionar das fontes, apontamos para o
trabalho de André Toral, Imagens em desordem: a iconografia da Guerra do Paraguai
(Toral, 2001). Nele, o autor procura entender o impacto do conflito no Prata a partir das
fotografia tiradas nos campos de batalha e envidadas para os centros urbanos brasileiros,
alimentando assim as projeções imagéticas das caricaturas impressas. Ou seja, para
André Toral, as representações produzidas pelos periódicos do império tinham por base
registros fotográficos que foram dando sentido real ao que se passava tanto na guerra
quando na percepção de irmandade nacional.
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Diante desse quadro, cabem duas indagações. Primeiro, há a possibilidade de
promover o cotejamento com as representações da nação brasileira produzidas tanto no
Rio de Janeiro quanto em Assunção? Parece exeqüível essa pretensão, já que tanto no
Paraguai quanto no Brasil os autores do Político usam as mesmas referências, de E. P.
Thompson, Quentin Skinner, Roger Chartier e Pierre Rosanvallon a Eric Hobsbaw,
Benedict Anderson, Jürgen Habermas e Hannah Arendt. Além disso, já ocorre uma
sinergia entre os historiadores brasileiros e paraguaios, além de argentinos e uruguaios,
com influências recíprocas e trabalhos realizados de maneira conjunta, ou pelo menos
coletiva.
Segundo, o que esperar de tal aproximação? Mesmo percebendo que não são
incipientes os trabalhos sobre a temática nacional, principalmente no Brasil, é possível
projetar caminhos que destoam do distanciamento secular entre as partes. Talvez, com
um processo de retorno ao trauma menos ufanista, seja possível estabelecer novas
considerações a respeito da construção da nação brasileira.
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VI – FONTES E METODOLOGIA
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um objeto ou situação a partir do outro, além de iluminação recíproca. Também
enumera riscos e armadilhas a se evitar em História Comparada. O ‘anacronismo’, ou
seja, o transporte de um elemento de uma sociedade a outra sem o devido encaixe, a
‘leitura forçada’, isto é, a insistência em ajustar as realidades examinadas em modelos
inadequados, e a ‘ilusão sincrônica’, ideia equívoca de que todas as sociedades são
comparáveis quando em estágios similares de desenvolvimento, estariam à espreita do
investigador menos atento.
Outros problemas também aparecem nas considerações de Flávio Heinz (2009),
para o qual a suposição da eficácia dos estudos comparados em História é mais visível
do que os resultados alcançados, fazendo com que o método comparativo atraia
simpatias de um público que apenas realiza o comparativismo histórico, comum a todos
na Disciplina, nos moldes apresentados por Paul Veyne (1998). Para eles, a ausência de
um rol claro de procedimentos a serem seguidos e a exigência de maturidade intelectual
e erudição dariam o tom da complexidade da empresa comparativista, ainda com um
ritmo lento de crescimento.
Mas mesmo diante dos desafios apresentados, o horizonte para os estudos
comparados em História é promissor, já que o modelo de interpretação genuinamente
nacional – comum nos tempos de Bloch – tende a ceder espaço para os estudos que
transitam impunemente pelas fronteiras regionais e nacionais, tal como o gaúcho nas
páginas de Jorge Luis Borges.
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VII – PLANO DE TRABALHO E CRONOGRAMA
Levantamento * *
bibliográfico
Contextualização * *
histórica
Elaboração do *
relatório parcial
Leitura-fichamento * * *
das fontes
Análise das fontes * * *
Elaboração do *
relatório parcial
Elaboração do * *
relatório final
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Plano de Trabalho
Aluno pesquisador: Cleudon Paulo Carvalho Junior
Agosto-Setembro 2018
• Levantamento historiográfico sobre o processo de construção do Estado e da
nação no Brasil.
• Contextualização histórica.
• Relatórios mensais.
Outubro-Novembro 2018
• Levantamento historiográfico sobre a Guerra do Paraguai.
• Contextualização histórica.
• Relatórios mensais.
• Relatório parcial.
Fevereiro-Março 2019
• Análise das fontes.
• Relatórios mensais.
• Relatório parcial.
Abril-Maio 2019
• Análise das fontes.
• Elaboração do relatório final.
Junho-Julho 2019
• Relatório final.
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VIII – ORÇAMENTO
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IX – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2002.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania, tipos e percurso. In: Estudos Históricos:
Justiça e Cidadania. Vol. 9, nº 18. Rio de Janeiro: CPDOC-FGV, 1996.
FRADKIN, Raúl. (Ed.) ¿Y el pueblo donde está? Contribuiciones para una historia
popular de la revolución de independencia en el Río de la Plata. Buenos Aires:
Prometeu, 2008.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
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JANCSÓ, István: PIMENTA, João Paulo G. Peças de um mosaico, ou apontamentos
para o estudo da emergência da identidade nacional brasileira. In MOTA, Carlos
Guilherme. Viagem Incompleta: a experiência brasileira, 1500-2000. Formação:
Histórias. São Paulo: SENAC, 2000.
QUIRÓS, Pilar González Bernaldo de. Civilidad y política en los orígenes de la Nación
Argentina. Las sociabilidades en Buenos Aires (1829-1862). Buenos Aires: FCE, 2008.
REIS, João José Reis. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil
do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
RÉMOND, René. (Org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
SÁBATO, Hilda. La política argentina en el siglo XIX: notas sobre una historia
renovada. In: PALACIOS, Guillermo. (Coor.). Ensayos sobre la nueva historia política
de América Latina, siglo XIX. México, D.F: Centro de Estúdios Históricos, 2007.
SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria coroada: o Brasil como corpo político autônomo
(1780-1831). São Paulo: Unesp, 1999.
VARELLA, Flávia Florentino. [et al.]. (Org.). Tempo presente & usos do passado. Rio
de Janeiro: FGV, 2012.
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