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Pni r995
Autor: Jamescn, Fredric.
Tíhrlo: Marcàs.do vidivel .
133400108
60371
MARCAS DO VISÍVEL
3
?
MARCAS DO \TISÍ\TEL
Fnnonrc JaursoN
,j
gff,Úl
coRTEslÂ
O Fredric Jameson
Coardenaçao Eclitortal: Maria Elisa Cevasco
Preparaçào e reuisâo: PluÍal Assessoria
Produção gr,áJica, Katia Halbe
Diagra naç ào. Pluràl Assessoriâ
CqPa: Etlorc Bottni
Jameson, Fredric
Marcas do visível / Fredric Jamesoni ltraduçãor Âna Lúcia de Âlmetda Gazolla, I
João RobeÍto MaÍtins Filho, Klauss Brandini Gerhardt, Marcos Soares, Neide
ÂpaÍecida Silvâ, Regina Thompson, Roneide Venancio Majerl,
Rio de Janeiror Graal, 1995,.
95-2714 cDD-791.43
1995
Impresso no Btasll / PrilxÍed in Brazil
Para Peter Fitting
Introdução 1
Tradução de Roneide Venancio Majer
Parte I
1. Reificação e utopiâ na crrltura de masst (1979) I
Tradução de Joaa Roberto Martins Filbo
2. Classe e alegoria na cultura de massa contemporánea:
Um Dia de Cão como filme polírico (1977) 36
Tradução de Klauss Brandini Gerberdt
3. Diua. e o socialismo francês (1982) 57
Trad.uçâo de Marcos Soares
Parte tr
8. A existência da Itália 759
Tradução de Reginz Thompson
Notas 235
Índice 257
Referências
por assim dizer, e são uma tentativa de extrair uma dimensâo histó-
rl'ca, Íalvez antes de mais nada uma dimensão histórico-cinematográ-
fica dessa experiência inicial. Também posso dizer que esse tipo de
análise é parecido com a de Freud, principalmente no modo pelo
qual, quando bem-sucedida, liquida as experiências em quesrâo e as
dissolve sem deixar nenhum trâço; descubro que nâo tenho vontade
de rever um filme sobre o qual escrevi bem.
Haverá oportunidade de se observar que na concepção de cine-
mâ pressuposta aqui o meio mais próximo continua sendo o romence
(em vez dos outros meios mais obviamente afins, como â peça de
teâtro ou o vídeo experimental ou comercial). Mas talvezvalha a pena
mostrer as diferenças, que ficam mais visíveis quando se coflsidera o
papel de crítica social que o romance tem desempenhado em muitas
tradições nacionais, e nào apenas no Ocidente. Pensamos aqui nos
grandes ensaios russos do século XIX, em que â censura czarista com
certeza nào é o único motivo paÍa a escolha do romance e seus pro-
blemas como veículo de comentário social; mas tambrém se pensa na
BrieJHistory of Chinese Fiction(7923-1924), de Lu Xun, e aré em casos
ânteriores, como os de De Sanctis, Brandes, Sainte-Beuve ou Taine, A
bem da verdade, quando se fala sobre personagens de ficção, pode-
se usar uma linguagem que seria mais perigosa se utilizada sobre
figuras reais (Íicando para nossos próprios contemporâneos â ocasião
de reverter o processo e argumentâr ou descobrir que falar
-
sobre personagens reais e sitr:ações históricas, - maneira,
de qualquer
não ê muito diferente do que falar sobre personagens fictícias). Áo
mesmo tempo, em certâs culfuras, a exístência de um texto fundacional
(ou a transformação deste ou daquele romance nesse texto, conferin-
do-lhe uma espécie de staíus bíblico) abre a possibilidade de um tipo
diferente de interuenção na forma de comentário, como confirmam as
inumeráveis meditaçôes espanholas sohre o Quixote ou o uso alegô-
rico que Norinaga faz de Genji, sem falar no valor diagnóstico de
livros como Le Bouarysmg de Jules de Gaultier. É significarivo obser-
var que esses comentários estâo ostensivamente ausentes da tradiçâo
anglo-americana, com â importante exceção da obra Studies in Classic
American riterature, de D. H. Lawrence (associada a uma cultura dife-
rente da sue e, por isso, como muitos dos trabalhos desse escritor,
uma espécie de documentário metafísico sobre suas viagens a lugares
exóticos). Em outras tradições, no entanto, de Mensonge roffiantique
et uerite rotnanesquq de René Girard, a Origins of Modern Japanese
Liter4ture, de Karatani Kojin, o gênero da "teoría do romance,, tem
sido capaz de uma ressonância que transcende em muito a mera críti-
ca cultural. O trabalho fi.:ndamenral nesse paradigma A leoria do
ronnance, de Lukács 66ls6a a realização ou fracassos- determinados
de formas do romance - como o sintoma mais indicativo das possibili-
ItltroduçAo / 5
___]
Parte I
I
Reificação e utopia na cultura de massa
'Termo empregado nos Estãdos Unidos pele designeÍ os esqueÍdistâs militantes (N. T.).
tO / ReiÍicaÇào e ulapia ü.t cullura de mqssa
acabam por aplajn Í ?..tê mesmo a história das formas, quanto mais a
história social, e por proietar uma espécie de visão cíclica da mudança.
Mâs são sintomas úteis para detectar as formas sob as quais os vários
modernismos foram forçados, a despeito de si mesmos, e na própria
carne e osso de sua forma, a responder à realidade objetiva da repeti-
ção em si mesma. Em nosso tempo, a concepção pós-modernista de
um "texto" e o ideal da escrita esquizoftênica demonstram abertamen-
te a vocaçâo da estética modernista para produzir sentençâs que sào
Íadicâlmente desconúnuas e que desafiam a repetição, não apenas no
nível da ruptura com antigas formas ou anügos modelos formais, mas
agora no seio do microcosmo do texto em si próprio. Enquanto isso,
os tipos de repetição dos quais, de Genrude Stein a Robbe-Grillet, o
projeto modernista se apropriou, tornando-os seus, podem seÍ vistos
como uma espécie de estratégia homeopática, por meio da qual o
escandaloso e intolerável irritante externo é atraido para o próprio
pÍocesso estético e, desse modo, sistematicamente derrotado, "repre-
sentado" e simbolicamente neutralizado.
Fica claro, poÍém, que a influência da repetição na cultura de
massa foi nâo menos decisiva. Com efeito, observou-se amiúde que os
antigos discursos de gênero estigmatizados pelas várias revoluções
-
modernistas, que repudiaram sucesiívamente as velhas formas fixas
de lírica, fiagêdía, e comédia, e, poÍ fim, mesmo o próprio "romance",
agoÍa substituído pelo inclassificável liure ov "texto" detêm uma
poderosa sobrevida no Íeino da culrura de massa. -
drugstores qúe
vendem brochuras ou as bancâs de aeroporto reforçam ^s todas as atuais
distinções de subgêneros entre góüco, best-seller, suspense, ficçâo
científica, biografia ou pornografia, como o fazem a classificaçâo con-
vencional das minisséries da TV e a produçâ o e o marketing dos filmes
de Hollywood (com ceneza, o sistema geral em açâo no cinemâ co-
mercial contempoÍâneo é totâlÍnente distinto do padrâo tradicional de
produçâo dos anos 30 e 40, e teve de responder à concorrência da
televisâo, inventando noyas formas metagenéricas ou muhiutilitárias,
as quais, entÍetanto, tomam-se de imediato novos "gêneros" em si
mesmos e se dobram de volta sobre a reproduçào e os estereótipos
genéÍicos usuais como ocorreu recentemente, com o cinema de
-
desastre ou de ocultismo).
Devern65, no entanto, especificar esse processo historicamente:
os ântigos gêneros pÍé-capitâlistas eram signos de algo como um "con-
trato" estético entre o produtor cultural e um ceÍto público homogê-
neo de classe ou grupo; eles extraíam sua vitalidade do status social e
coletivo (que, por ceÍto, variava amplamente de acordo com o modo
de produçâo em questâo) da situação da produçâo e do consumo
estéticos vale dizer, do fato de que a relação entre artista e público
-
era ainda, de um modo ou de outro, uma instituiçào social e uma
Reificaçào e LLtopia na cultLia de ntassa / 19
'Em inglês, sírfle, termo que significr tamÉm únic_o, singulaÍ (N. T ),
Re1rtcaÇão e utopia 1u culrura de fiassa / 21
(1979)
T'
2
Classe e alegoria na cultura
de massa contemporânea:
Um Dia de Cão como filme político
'Bowery é umâ pãÍe de Manhâttan onde há um número muito grande de mendigos (N. T).
Classe e alegoria na cultura de flassa contefiporâflea / 49
t
uma das mais alarmantes conquistas da indústria cinematográfica nor-
te-americana de nossos dias, e pode-se dizer que incorpora algo pare-
I cido com a verdade de um gênero bem diferente, mas iguâlmente real,
o tbriller de espionagem, em que tende a permanecer ofuscada pelo
intrincado apararo teológico de uma dialética do Bem e do Mal.
Enquanto isso, as visôes mais existenciais e trágico-particulares
desse tipo de figuÍa penso a respeito d{t r€p,Íeseútãntr da lei (Derrver
Pyle) no filme Uma - Rajada de Eizlas (tsonnie and Cfixte, 1967), de
ÂÍthur Penn projetam um tip,o de puniÇào Inevitável, que é ain<lr
alimentada ptra- uma relutância extÍema ao perdão, de modo que <;
t pÍoceirso de sÊgulÍ 05 pessos da vítima conserya uma forma de paixão
x
ainda reconhecÍ',.e1 cómo humana; o tÍabalho mais recente de penn,
Duelo de Gtgdnter( fltd,llí(soflrÍ Eredllr, tg?6), rÊF,Íescffou umâ r€nrâ.
I
tiva de avanço neisâ dÍnnráIjtaçào person ierda da implacabüidatle
das insütuições sscleis, proveÍrdô sÉu erticulador dr uma paranó,ia
generalizada (e, incidütHlmente, presenteando Marlon Erando com a
opoÍtunidade de realízar uma de suas soberbas interpretações de grande
ator); não se trata, poÍém, verdadeiramente de um aperfeiçoamenro, e
essâ visão permanece enclâusuÍada noparros de uma visão da história
individualista e cheia de autopiedade,
Em Ufi, Dia de CAo, no entanto, o repÍesentante da ordem não se
mostra Íelutante em perdoar, tampouco é paranóico; nesse sentido!
está muito além do melodrama convencional e inacessível a qualquer
um dos esteÍeótipos psicologizantes peÍmissíveis na maioria das re-
presentaçÕes comerciais do poder das instituiçôes; as caracteÍísticas
anônimas da personagem assinalam a inserção inusitada e assustadora
do real na estrutura Íelativamente previsível do filme de ficçâo e
isso, conforme mencionamos anteriormente, não por meio de técnicas -
de montagem ou de documentáÍios tradicionais, mas antes através de
um tipo de dialética de conotações no estilo de atuação, um tipo de
silêncio ou de ausência marcada em um sistema de signos onde as
outÍas formas de atuaçâo nos pÍogramaram para um tipo diferente de
expressividade,O contraste básico, aquele entre o chefe de polícia e o
agente do FBI, é a dramatizaç^o de uma mudança histórica e social
que já foi um tema importante de nossa literatura, e paÍa a qual, por já
estaÍmos muito acostumados, perdemos a sensibilidade; diversamen-
te, os romances de John O'Hara e as investigações sociológicas de C.
r§(/right Mills documentaram
a erosão gradual, porém irreversível, das
estrutuÍas de poder, Iiderança ou esquemas de autoridade de âmbito
local e estadual pelo poder nacional e, atualmente, multinacional. Bas-
ta lembrâr a hierarquia social de Gibbsville tomando contato
decepcionanre com a nova riqueza e as novas hierarquias políticas da
era do New Deal; basta lembrar e, nesse caso, um exemplo ainda
-
mais relevante para nossos propósitos a crise de figuraçâo implícita
-
52 / Classe e alegoia n,l cttltu.ra de massa cantempoÍâneca
tui
Sônn
lmediação interna]
REPRESENTAÇÃO
personagen§
sccundlhiâs
Iilusão de
reflexão ou de ANALOGON
representaçãol
cstrela de Hollywood
Imedjação externa]
CLÂSSE
Jrd+lEo rãs,ântlE6Í'iEâJ
uurltioai:iorai-r h.rEEEdr ntdffiátr
IrElâÇEê fftlEÊoic,trI
pequena burguesia
06
t-
56 / Chsse e alqoria no cultuía de nasso colrtemporânea
POSFÁCIO
(7977)
t
3
Diva e o socialismo francês
57
58 / Diva e o sociaksmo ÍÍaflcAs
çâo nas vigas do hangar abandonado, bem acima do vilão, sua voz
ampliada eletronicamente e seu corPo aumentado por próteses
tecnológicas que levantam e abalxam obietos no vazio, A tÍansforma-
ção dessa personagem secundária no deus dentro da máquina, no
anjo guardião âo estilo de Cocteau, no salvador cuio poder supremo é
sua habilidade, seu knou-bou.t, seu conhecimento dessa floresta (seria
ainda uma floresta, â despeito de seus vilôes e de sua violência?), seu
comando do próprio espaço urbano pós-moderno e seu equipamento
tecnológico essa transformação formal determina uma imensa mu-
dança genérica - na direção do filme e, no processo, abre-o para os usos
mais aleatórios e heterogêneos, trabalhando efeúvamente contra qual-
quer reunificaçâo trivial em mâis um filme bem-feito (do tipo dos fil-
mes de Brian De Palma).
O anjo guardiâo nunca mata; ele elimina ülôes simplesmente
através de truques ópticos, perceptuais e "repÍesentacionais", de modo
que sâo seus hábitos espaciais tÍadicionâis que os destroem. E ele o
faz por dinbeiro: junto com a glamourização (pós-industrial, é claro)
da tecnologia (veja Daniel Bell), os impulsos âquisitivos dessa elite de
novos-ricos, privilegiados porém ainda marginalizados que pÍocu-
ram sua fortuna nos intersúcios peculiares da mídia e do -entretenimen-
to do capital tardio não sâo considerados negativos ou destrutivos,
-, Nessa alegoria, enÍão, ê t isso que os anos
muito menos "alienados".
60 chegaram o surgimento inesperado nâo dos conhecidos "novos
-
suieitos da históÍia" (estudantes, negros, marginais, mulheres), mas
sim de um novo e avançado homem de negócios da contracultura,
que nos quer bem, que nos ama (mas teme que isso possa explodir
nossa cabeça, como o Starman de David Bowie).
O "herói" oficial do filme oão teÍn nâda dessa originalidade histó-
rica: Jules (Frédéric Andrei) é, ao contrário, uma alusão historicista, a
reinvenção de uma figura extÍemamente tradicional nâ ârte populista
francesa: o naif, o inocente (nâo precisamos voltar ao Candide de
Voltaire ou ao PuziÍal, mas certamente à Frente Popular, a Raymond
Queneau e ao "Monsieur Iange" de Renoir), com todo o bom humor
do "povo" em seu sentido mais antigo, o garoto da cidade grande cuja
formação urbana é ainda a do "bairro" popular, o funcionário do go-
verno (ele é um carteiro) cuios instintos nâo são os da "burocracia"
(em seu ameaçador senúdo pós-contemporâneo) mas sim do "servi-
ço", no sentido do favor ou troca de favores. Àté mesmo sua mobilette
é um sinal que veicula em si tr-ansforma@es (ou recodificações) histó-
ricas: como o bfue jeans, o antigo emblema da modéstia financeira
pós-guerra â motoneta em üâ de adquirir um prestígio bem
-
diferente, libidinal e de alta -tecnologia, da motocicleta e do jet set. Os
olhos grandes de Jules são o espaço da recepção perceptual, da aber-
tura parâ a qual fluirá o extraordinário som da diva a "melodia
-
Diy^ eo sociallstfloÍÍafl.ês ,/ 59
E,
62 / DivÀ e o socialsfio lratlcês
(7982)
.l
4
"Imergir no elemento destrutivo":
Hans-Jtirgen Syberberg
e a revolução cultural
65
,I
t
68 / "Imer4ir fio elerneflto destnttit)o"
seus. Num certo ponto, ele pergunta a uma menina se ela sabe o que
é revoluçào (ela não sabe). Se existe algo de obsceno em exibir uma
coisa â luta de classes a uma criança que a descobrirá no seu
- -
próprio tempo, há também algo por certo obsceno na criança de
Syberberg (sua filha) que vaga pelas sete horas de Hitler c ffegando
bonecos dos líderes nazistas e outros brinquedos do passado alemâo,
Essas criançâs, porém, nâo podem mais ser imagens de inocência. Em
vez disso, elas indicam o frrtuÍo e os possíveis limites do projeto poli
tico desses cineastas, cadâ um dos quais inscreve sua obra em uma
concepçâo pârticular de revolução cultural- Assim, em Syberberg, uma
posteridade mítica, uma futura Alemanha exoÍcizada, seu passâdo san-
guinário reduzido à sala de recreio ou à caixa de brinquedos; em
Godard, o evanescente "sujeito da história", o público outrora politizado
que nâo mais responde.
As técnicas de documentário e entrevisra de Syberberg sâo de-
senvolvidas atrayês da pÍ^Íica prepaÍatória complexa que precede seus
filmes mais importantes, do antigo documentário sobre os métodos de
ensâio de Brecht, passando pelas entrevistas com Fritz Konner e Romy
Schneider (inclusive uma entrevista íll:rag1nfuia com o cozinheiro de
Ludwig II, Theodor Hierneis), até o "estudo" de cinco horas sobre
'§finifred \7agner.
O fundo de cena da entrevis[a de Syberberg, tipica-
mente diverso do nàoJugar do muro godardiano (com suas coÍes âde-
quadamente utópicâs, como notou Stanley CavelP), é geralmente uma
casa ou um solar, cujos traços monumenAis do passado, empilhados
gradualmente, absoryem o trabalho da câmera de tal forma que aquilo
que começou como uma entrevista torna-se uma ,,yisita orientada,,.
Essa emergência formal imprevista é uma solução surpreendente para
o dilema do apârâto essencialmente nârrâtivo do filme, na medida em
que este confronta as lacunas do passado e a taÍefa de ,'atravessar,, o
que iá está findo e acabado. Assim, no documentário sobre rWagner,
t
70 / "Ifier+ir no eletuenlo destnttíuo '
'ÔiutoÍ rÊfÇÍ.-tE tqui { ÊidEdç hi,/ar]l quqvhru dois mo enros rJe gÉfllE irÍEdiêçÉq çultu,
rll: Ít+ ié 10 XTIII, quzadE Í!r t ((htúlÍvttflr c Õperâ, CasretE l{qvÇ E n úÍfih.*EÊ, Ê EI
úldElequadn do !éorb xI]( cusfldorFÇ! tnkHtlvr de vagner e rErm tr aFÍ}jo de IudçÍI* ]1.
fql knu8ufJdê EEt IS?6 Ê tEJlÍo moJclo, crn d lpÍesenrâÇào dE O i{4cÍ d'rr lütHuq8Íú
De3de 1842, BayÍeuth passou â ser o centÍo inrernacional da ripera wagnenana, com seu
fesdval anual (N. T.).
74 / "I?flelgi flo elemeflto destruliro"
podem ainda ser vistos como duas variântes de uma cultura da bur
guesiâ mais elevada, ou, talvez, da alta burguesia* e da âristocracia,
mas somente sob a condiçâo de que o esülo "residencial" aristocÍático
de Ludwig seja visto como já infectado pelo kitscb do gosto da classe
média oitocentista.
O diagnóstico do filme úanscende claramente o escÍitor indivi
dual e pode ser estendido a todas as variantes nacionais da literatura
popular do imperialismo nascente, do mistério desses últimos "lugares
sombrios da terra" (Conrad), que subitamente se totnam PercePtíveis
no momento de sua penemação e abolição como nos romances de
Verne ou, de uma outÍâ maneira, de Rider - Haggard (e mesmo do
próprio Conrad), nos quais o encerramento dâ fronteira global do capi-
talismo ressoa atravês da forma como sua condição de possibilidade e
seu limite avançado.
t
78 / "ln\ergir 1p elemeflto deslrutit o
segredo do passado não seria afinal que não há mais nenhum segredo
e que as repÍesentações coletivas de Vagner, Karl May e mesmo de
Hirler podem ser nada mais do que simples construçôes da mídia (peÍ-
penradas e reinventadas por Hans-Jürgen Syberberg, enúe outros).
Mas isso deve ser agom reformulado em teÍmos do sisteme cine-
matográfico de Syberberg e do que descrevemos como seu pÍoieto
político, sua revolução cultural, ou psicanálise coletiva. Â fim de que
seu método funcione, esses filmes devem ser de algum modo "toma-
82 / 'Iflereir to elenenlo dettrutioo"
(1981)
5
Historicismo em O lluminado
54
HLrtorTcisfio em O Iluminado / 85
derepentesrersuedcrríbd"..-.,lHfl l**,oTJH1i,Tffi##:
drscrrlpa de qur +suva ''lubrificando as Íolhas de sua pl*nn de borra-
châ"i ou o xerife da cidadezinha cm fq;,rcáo (Fsic+seJ, que sardonfca-
mente silatra âIrêvÉs dfl fuma.ça do seu charuto o no*u ào detetlve da
cidade grande desaparecido (,,Arbo-gast,,); ou, no final do mesmo fi[-
me, o psiquiatra penal cujo dedo indicador erguido corrige pÍetensio_
samente as primeiras impressÕes ingênuas do seu público provinciano
legalista ("Travestido? Não exatamente!,,),
Nada de semelhante em Kubrick: essas pessoas superficiais, quer
a caminho da Lua ou se aproximando do término de uma outra esta-
çâo no maravilhoso hotel no meio do nada, são padronizadas e sem
interesse, seus sorrisos Ííúnicos tâo constantes quanto a fÍeqüente re-
tomada de fôlego de um locutor de rádio. Se Kubrick se áilrerte ao
orgâniisr ufi1 cênIãponto ffrtÍe essa benevolênd* facial obdgató,rla e
inexFÍÉssiva e a hÍsrÕria ho,rrenda, que o gereÍrte é finalmenre obriga-
do a revtlar, ttata-sc ai de um eÍrüelÉÍ:imento bem pessoel que, em
últlrnâ lrrsÍância, nâo beneficia nlnguem, Eflquânro isso, os grandes
ácÕrdes de Erahms agitem o ar fresco flâs imege'ns erctemas de 0
Ihtminado x reforçam a senseso iá familiar de.asfutla cultural.
É possível, naturalmenre, que essâs distensôes áridas e tÍiviais
sejam características básicas do gênero do próprio filme de terror, que
(a exemplo da pornografia) acaba por se reduzir à alternância estéril
do choque e da sua ausência. Tal colotáçào desáieÍtad.a se deve ao
fato de que o momento que se a.ttema a merâ ausftcia do choque
-
é hoje despojado aré mesmô drqudc conterÍdo e significado ine-
-
rente ao que costumava ser descrito como tédio. Considere, por exem-
plo, as primeiras ondas de filmes de terror e ficção científicá dos anos
50, cujo "tempo de paz" ou contexto "civil'' geÍalmente a pequena
-
cidade americana, numâ remotâ paisagem do Oeste significava um
-
provincianismo que não mais existe na sociedade de consumo atual.
Aquelâ Georgetown de O Exorcista (The Exorcist, 1973) de Friedkin
nâo é mais desinteressante naquele sentido socialmente cattegado,
mas simplesmente tÍivial: o vácuo de sua vida diária torna-se o
90 / Historlclsfi?o er?r O Iluminado
Hisloiêkfio em O ÍlúÍninado / 97
(1981)
Alegorizando Hitchcock
I
lmagina-se que todo ato de interpÍetação significativo neste
caso, o livro de r/r'illiam Rothman Hitcbcock: Tlce Murderous Gazel -
nos diga algo a respeito do assunto que aborda; mas pode-se também -
interrogáJo (como faremos aqui) sobre o que ele pode dizer a Íespei-
lo do ato lnterpretatiuo em si, as condições que o tornaÍam possível, o
que ele tem que ignorar para poder incluir aquilo que deseja, assim
como a relação disso tudo com o modo pelo qual a operação
interpretativa constitui um certo objeto de estudo, como também um
certo "campo" (institucionálizavel) de estudo, o qual sou inclinado a
ver de maneira um pouco diferente, pois observo-o do meu próprio
campo (cujo "objeto" é a naÍÍativa verbal), Portanto, não tenho ne-
nhum interesse velado nesse campo em paÍticular, embora às vezes
observe com uma ceÍta inveja o que ele produz, como se fosse mais
fácil ser materialista quando se pode trabalhaÍ com um objeto "real-
mente" material. No entanto, quando se pensa sobre a críticâ cinema-
tográfica, a "materialidade" não é um conceito ião útil quanto o de
tradução o\ transcodiÍi.açAo, pois estes últimos nos permitem avaliar
102
Alegaizattdo Hilchcock / 1o3
ii
106 / Alegoizdltílo Hitcbcock
tenho que dar a volta pelos carros estacionados faz aqui uma diferença
que nào existiria em outra cidade?
Nào se tratâ apenas do fato de que o que é casual num outro
lugaÍ é, por algum motivo, costumeiro aqui; úata-se também do fato
de que esse desvio me traz em conteto quando consiSo passaÍ!
-
com painéis que sâo, pelo menos inconscientemente, -
mâis alaÍmantes
do que a alvenaria sólida da parede de um prédio comum. Tem-se a
impÍessâo (estamos de volta a elas, afinal?) de que, se uma dessas
portas de garagem comepsse a se abrir por qualquer motivo, o pedes-
tre inocente correria o risco de ser pÍeso entÍe o caÍro e a poÍÍa dr
Earagem vazia. Na verdade, nosso inconsciente está mâl-informado a
e$5€ Íespeito, e nos parece nzoável xtedita:r que essâs poÍtas sâo
colocadas de modo a nunca invadir o espaço da calçada: como lsso
seria possÍvel pode scr (supostamente) erplicado pelá iflstaLâção frr-
crrliar do braço de n:eurl ao qual elr é pÍesâ, um dequcles mistÉríos d:r
engenharia no qual a pÍessão numa direção gera um ziguezague de
uma alavanca móvel em outÍâ, numa forma geométrica semelhante a
um cotovelo que desconhecemos. Esse quebÍa-cabeça é então englo-
bado pelo enigma mais acessível do mecanismo de operaçâo a longa
disrância, cujo controle portátil nos permite mudar os canais da televi-
sâo ou desligar tudo sem sair da cama, Só que o botâo do mecanismo
da pona da garagem não é apenas semelhante; ele ocupa o mesmo
espâço tipológico (conhecemos apenas dois exemplos!) no inconsci-
enle que o controle renrolô dâ televisâo com a diferença de que ele
p(rde táÍnbeff gôveÍnar o espâço de fora, - como quando encena uma
harmonie majestosa entre o Csdillac entrando na Íua e a porta da
gâÍagem levantando-se vagarosamente a disúncia: nào tão elegânte
quanto um transatlântico ancorando ou um Concorde em vôo, mas
talvez mais profundamente caracteÍístico da Terceira Era da Máquina;
e, mais do que isso, mais repÍesentativo das formas do espaço urbano,
pois trâta-se de relacionar dois pequenos dispositivos mecânicos atÍa-
vés desse espâço, enceftrndo assim um evento multidimensional, em
vez de determinar o estilo de tm único objeto em movimento atÍavés
do vAzio. Esse seria portânto o modo de percepção da porta da gaa-
gem por via do "sublime", em que o medo do pedestÍe de que a pona
se abra sobre ele corresponderia ou a uma farsa ou a um ííl?n noir,
Tracei todas essâs conexões e urdi todos esses fios complicados
para afimar uma pÍoposição escandalosa (ou talvez grotesca): a "vida
cotidiana em São FÍancisco" é em primeiÍo lugar e principalmente lsso
o dispositivo que abre a porta da Ea:agem e a calçada íngreme,
-além de uma casa nobre de madeira com três andares erguendo-se
verticalmente e o tráfego de automóveis descendo e subindo Íápido.
E, antes de mais nada, importante ressaltar a naureza impessoal e
reificada do que constirui apenas secundariamente uma experiência
112 / AlegoÍAando Hitcbcock
u
A abordagem de Rothman tende a reificar seu objeto no plano do
auteur de gênio, de tal modo que jamais atingimos o ponto em que a
genialidade é concebida como a capacidade de regisuar e processar
ceÍtos tipos de materiais com uma, raru, vaiedade ótica e sonora, de tal
modo que nossa discussâo da forma possa passar, sem nenhuma mu-
dança desajeitâda, para uma discussâo de conteúdo. As cinco esplên-
didas leituras de filmes de Hitchcock que ele nos dá e que nos faz
-
114 / Alegoizando Hitchcoch
t
AlêEonzafldo Hitcbcock / 119
Á
r
Seria essa luz apenas um encantamento que faz com que o que
seja jnanimado ganhe vida, no qual se produz uma ilusão mágica?
Á. tomada seguinte, a últimâ da seqüência, é uma repetiçâo do
rosto sorridente da morLe mâs com o enquadramento
alternadamente claro e escuro -e divorciado do ponto de visca de
Lila [...1. Retrospectivamente, nossa visâo d^ làmpada que balança
revela-se igualmenLe como uma representação do olhar que ema-
na daqueles olhos vazios- "4 Sra. Bates", como Marjon, como Lila,
como nós, é uma especradora, que se acha como que encaoÍada
por um filme. De fato, o que a Sra. Bates vê é o mesmo que Dos
fascina- O filme que o cadáver assiste e o filme que nos encântâ
nào podem ser separados. Esse cadáver é uma das representaçôes
definiüvas de Hitchcock dos espectedores de seus filmes- Nós so-
mos essa Ínãe que comanda a morte no mundo de .Psrcose e que é
possuída pela mone. (p. 330)
III
Âgora É hora de avaliar esse esquema interpretativo elaborado e
engenhoso, o que não implicâ a questão frívola de "decidir" sE a inter-
pretaçâo e verdadeira ou falsa. O que deve ser dito, ânres de mais
nada, É que se trata de urna interpretação afegó,l,ca, algo que É obser-
vado de passagÊffi, porÉrn explicitamente, por Rothman: "Psrrü.se É
urrla alegoria sobre o apetite nahrral da câmera" (p. 255); " Os 39 De.
gli#u.s são uma fantasia ou alegoria sobre a condição de sÊr Êspecta-
dor" (p. 117). Já obsÊrl/amos algurrras das vantagens dessa alegorização
de fÉruífers, quÊ os eleva de sua apârente redução imediata effr alívio
ou suspense e os promove a uma dignidade rnais filosófica de sÍgníÉ-
tados. Por outro lado, não se pode afirrnâr corn ceÍtÊzâ que o mÉtodo
alegórico tenha sído oficialmente reabilitado e que tenha recuperado
sua dignidade rnedieval, emborâ na prática parece em todo lugar estar
cada vez rnais ern uso. Precisarnos saber, poflanto, por que a intelpre-
tação alegórica não deveria ser considerada simplesmente como um
modo fácil e prÊguiçoso de "aplicar" significados fr, um texto; e tam*
bém, no presente contexto, porque, tendo disponíveis um grupo de
diferentes tipos de significados ou códigos alegóricos, Rothrnan sen-
tiu-se autorizado a selecionar este em particulaç que descrevi em ter-
mos de auto-reflexividade (isto É, o conteúdo de um filme É umâ
alegoria de sua forma, ou, para ser mais precíso, os evÊntos dentro de
urn filme são urna alegoria do seu consurno efir vez de sua produ-
Ção, Que nâo parece interessâr muito a -
Rothman), O problema É, pois,
tanto objetivo quanto subjetivo: há a questão histórica que diz respeito
ao cinÊma como um rneio e por quc ele deveria lidar com as intrincadas
formas secundárias de autodesignação que são comurnentÊ associadas
ao alto modernismo. Á, outra questão refere-se âo rnÉtodo alegórico
ern si e seu possível valor sintornático como substituto, no lugar de
alguma ou tra prática impossível ou indese jável do processo
interpretativo.
A possibilidade de urTra leirura alegórica do filme é dada de irne-
díato e ''objetivamenfe" pela funçâo dual da própria cârnera, uma
dualidade menos óbvia er no mínirno, merros facilrnente articulável em
outro meio:
toÍ que cna e anima esse mundo e que preside seus "acidentes"
que detém poder de vida ou morre sobÍe os objetos da cãmeÍ^
(p. 102)
131
1j2 / SobÍe o realisrno núgico no cinefi*
por isso, esse terceiÍo filme parece teÍ pouco em comurn tanto com o
lirismo de ta (hsa de ÁButt quanto com a brutalidade atoÍmentadâ,
sádica mas indiferentc de Condores,
.APcsar dessas dllercnças esltlÍsticas, cntreurnto, Ínantcnho a int-
pÍessào de caraclcristicas comuns, das quais isrolarei trÉs pefà discus-
são. Treu-se de filmes bistóriÍos, a ptiprla coloraçào diíeÍenclada dc
cada um deles constinri um suplemento singuler e a fontc em si mes-
ma de urn peo.rliar prnzer, ou fascínlo, ou /ouisçaflce; em cada um
deles, íinalrnente, a dlnâml-'a da nanatizn foi de algum modo rÊduzi-
da, concenrada e siÍnpliÍicadâ, pelo foco na viôlêncie e, em Íneoor
gÍ:ru, na sgxualidade. Gosteria de explicar o morivô pclo qual, em
contraste com a concepçâo latino-emericana mais tradiclonel delineada
acima, essas três caracteúticas me parecem sêr constituüras de um
ceÍto tipo de realismo mágico, Com cfeito, todas e[a§, d€ maneiÍas
diferentes, iÍnpõem um encantamento visual, uma fasclnaçâo pela ima-
Bem em seu presenle temporal. Isso se distingue hastante tanto do
desdobramento subordinado ou secundáÍio do olhar em outros siste-
mas narrâilvos qurnto dâ concepção onrológica de Bazin sobre a to-
mada, considerada por ele um desvendamenro do Ser (o que eu tendo
â aüar Ínâis peninente no caso de certos sistemas de fotografia em
prao-e-branco).
I
Já sugeri que, como obras no gênero hisórico, essÉs fdmes podern
ser clsramente disünguidos dc seus análo8os no pós-modemirmo, que
acabamos por chamar dc clnema nostálgia, bem como d.â eíéúca ê dá
concepçãô de históriá que cÍ-ácteÍizâvâJl urná repÍes€ âÉo mals anrlga
de história âssociâde ao Íomance hisr4lrico mãis ãntigo, no seniido
dássico de Ltrkács. Em outro trabalho, descrevl o cinema nosalgia
cgmo um subsüluüvo daquele sistcma anterior de repÍesentaçâo hist&
ricá, e áÉ mesÍno como uma vlrn:al Íormação de um sintoma, uma
coÍnp€nsaçao formal pelo eníraquecimcflto dã historicidade em nossa
época, como se fossc um íetiche cintilânte â seÍviço daquele descjo
insatisfeitoÊ. No cinema no$algiâ, e lmagem o brllho superficial da
rcalidade de moda de uma Época -
ê consumidâ, tcndo sido traníor-
-
mada em uma mercedoriâ visual. ÁpcsâÍ do praz€Í intcÍlsameÍrte vií$l
do gue eu chamaria agora de filmes do rcalismo mágtco, nio é e-!tan-
mentc dessa forma, acredlto, quc o suj€ito espcfladoÍ os rome.
O que á tomado é ceíamentc e Hi$ória, más nesse caso rau-se
dc unrâ história com brerhas, perfurada, o que lndui vazios neo visí.
vci6 d€ ifiediato peÍa nós, devido à proximldãde de nossô olhrÍ â scu§
obieros de peÍcep{ào. Essas brechas podem seÍ inicialmente cãrâfleri-
zedás como vâeios de informaçào, mâs em uma sucessio dc situaçóes
134 / Sobre o reallsfio ?ruigico ng chrcn7.t
t
142 / Sobrc o realistno fiógico ??o cinetna
II
Torna-se necessário, porém, interromper temporariamente a dis-
cussão da questão dâ história para retornar à função peculiar e
constitutiva da cor nesses filmes. Nossos comentários anteriores sobre
esse assunto deixam claro de que forma, nesse senüdo técnico novo e
intensificado, a "cor" é radicalmente incompâtível com a lógica da ima-
gem ou do simulacro visual que associamos ao pós-modernismo
lógica essa para a qual a experiência de imagens cromáticas não paÍe- -
ceÍiâ estÍanha. Gostaria de tentâr enfocaÍ essa distinção fundamental
através da diferenciação de cor e brilho, que realmente me parece ser
a câtegoria mais relevante para o cinema nostalgia.
Da maneira como entendemos â cor neste caso, ela distingue os
objetos uns dos outros em um certo êxtase hipnótico de cores sólidas
diferentes cujos matizes individuais separados se dirigem a diferentes
zonas de vibração no olho, assim destacando cada objeto como o
locus de uma gratificaçào visual singular e incomparável. O brilho, por
outro lado, caÍacteÍíza a estampâ como um todo, cobrindo seus vários
conteúdos conjuntamente, como em uma exibição unificada, e transfe-
Sobre o realhmo máEico no cire n4 / 14j
\
148 / Sobre o realismo rnágico no c#terfl,a
UI
\
152 / Sobre o realisflto ,náEico no cirlevú,
159
160 / A eristê ia da luilitl
t
162 / Á e*isrê'n ia da lLilia
I
O "realismo" é, no entanto, um conceito singularmente instável
devido às suas pretensôes estéücas e epistemológicas, que são simul-
tâneas ainda que incompatíveis, como sugerem os dois termos do
sLogan: " represenlaçào da realidade". Essas duas pretensóes parecem
entâo contraditórias: a ênfase em um conteúdo verdadeiro será com
cefieza solapada por qualquer percepção íntensificada dos meios téc-
nicos ou artifícios de representaÉo da prôprít obÍâ. Enquanto isso, a
tentativa de reforçar e sustentaÍ â vocação epistemológica da obra ge-
ralmente envolve a supressâo das propriedades formeis do "texto"
Íealista e promove uma concepção cada vez mais íngênua e nâo me-
diada ou refletida da construção e recepção estéticas. Dessa maneira, a
pretensão epistemológica fÍacassa iustâmente onde é bem-sucedida; e
se o realismo confirma sua pÍetensão de ser uma Íepresentação do
mundo correta ou verdadeira, ele, assim, deixa de ser um modo esté-
tico de repÍesentação e fica fora da esfera da arte. PoÍ outro lado, se
exploramos, enfatizamos ou colocamos em primeiÍo plano os aÍtefatos
aÍtÍsticos com a captura da verdade do mundo, o "realismo" é desmas-
carado como um meÍo eÍeirlde-ÍealisÍno ou eÍeito-de-realidade, e o
real que ele pÍetendeu desvelar se transforma de imediato na mais
completa representaçâo e ilusão. Ainda assim, nenhuma concepçâo
viável de Íealismo é possível a menos que ambas essas exigências e
pÍetensÕes seiam atendidas ao mesmo tempo, prolongando e preseÍ-
vando mâis do que "Íesolvendo" essa tensâo e incomen-
- constitutivas.
surabilidade -
Desse modo, a quesÉo pÍeliminar que se apresenta é, portanto,
se realmente pÍecisamos de um conceito de realismo. Na minha opi-
flião, é exâtamente â instâbilidâde do conceito que lhe confere interes-
se e valor históricos: porque nenhuma outÍa estética qualquer que
- da afte
seja seu modo de jusúficar a função social ou psicológica
inclui de foÍma tão centÍ l À função epistemológica (por mais que -os
relatos da vocação do realismo revelem-se filosoficamente incoeren-
tes). Seia qual for o conteúdo de verdade, ou "momento de verdade",
do modernismo ou pós-modemismo, ou as reivindicações das con-
cepções moralizantes e didáticas pré capitalistas da estética, essas ver-
sões da Yerdade estética nâo implicam, exceto de maneira bastante
indireta, suplementar ou mediada, a possibilidade do conhecirnento,
como o faz o "realismo" com tanta ênfase- Pode-se, portanto, prever
que o momento em que surge essa conyicçâo da possibilidade do
conhecimento estético (como quer que decidamos avaliá-lo) tem algo
significativo e sintomático paÍa nos dizer sobre suâ abertura e situação
histórica únicas, que não são mais, evidentemente, as nossas. Como
J
Á edstência da ltdlil / 163
estão mais disponíveis, essa conclusâo nos leva a crer não que estamos
ainda no moderno, mas que a cultura como tal es!á terminada: o "fim
da ane" de Hegel levado. enfim, às últimas conseqüências. Neste pon-
to, é preciso sempre afirmar uma verdade que me parece tâo óbvia
quanto é axiomátice: nenhuma cultura genuína ou radicalmente dife-
rente pode surgir sem uma modificação radical do sistema social de
onde a própria cultura emana. Em um mundo onde existem hoje, em
formas embrionáÍias e emergentes (ou residuais), sistemas sociais dife-
rentes do nosso, essa afirmaçâo nào necessita teÍ a aÍidez do anti8o
pessimismo cultural, inspirado pelo sentido do fechamento sistêmico.
Contudo, também pode haver disponíveis , dentro do fechamen-
to da cultura contemporânea, combinaçoes formais e ideológicas que
ainda valem a pena explorar, A tensão no realismo tradicíonal entÍe o
epi-stemológico e o e.üéúco sugerr, de fato, uma tâl recombinaçâo ou
rendÊncia, que ainda nâô ênconüou seü nome, mas quÉ sê torna visí-
vel quando se nrapeia o espÀç., ideológico cr-rbcrto pelas polêmicas e
po$iÇões que acrbaram de ser.ilâdas, O mÇdo mais cúnvencional de
identificar esse quaío caminho ou quarta possibilidâde seria certa-
mente sugerir algo como um retoÍno a concepçÕes do "denotarivô" ou
de rlgumn "lingulgem literal" clnematográÍica ou nào da qual as
-
ilusÔes do estétlco tivcs5€Ín sidq climirLadas, de modo que - a vocâgJo
do episternológico ou do conhecimemô nâo possa ser exerclda de
fornu pura e nío mediada, [sso nio é rnais ã .estéúcâ" dos váÍios
realismos (que ainda se proclamam como arte), mas com ceÍteza tem
sido com freqüência a linguagem dâs várias teorias do documentá.rio
(incluindo seus equivalentes na "literatura" tais como no proletkult,
-
notoriamente hostil ao "reâlismo" literário convencional e na pintu-
ra, com suas várias formas de collage social, igualmeffe - hostil âos
modernismos pictóricosto).
Hoje, porém, em plena era do significânte, o espaço do
documentário pÍecisa ser pensado e proietado de uma nova maneiÍa
(ver atraixo a seçâo vü); e os extÍaoÍdinários reüiuab de tendências do
documentário fotográfico (no cinema e em vídeo, na forma de ,es-
timoniolt, e em um grande número de outras manifestações menos
óbvias) não são mais acompanhados pelas velhas doutrinas de lingua-
gem denotativa ou literal. Podemos especular que poÍ detrás de todas
essâs coisas encontra-se um teÍreno mais fundamental e misterioso, ou
sejâ, o da "mensâgem sem código"r2 de Barthes ou a fotografia pro-
priamente dita, cuia prática formal hoj e,nâo menos que sua crescente
fascinação teórica, sinâlizâ na eÍa dA reprodução mecânica e da
sociedade da imagem ou do-simulacro o lugar do Nouum e eolou-
-
quece todos os medidores Geiger do emergente. À grânde questâo de
Ponge como escapar da "arboridade" com os mejos disponÍveis
para as-árvoÍes que iá nos pareceu oferecer a veÍdadeira formu-
-,
\
166 / A eristêtrcia da Lalid
., REALISMO .
§ -s
MODERNISMO
\-s s
Antiarte representação
'!.
ús.MoDERNISMo
I
A eÍktêÍEia d.a ltália / 167
III
Essa descrição do realismo em função do não dito ou do aíndâ
nào dito uma descrição que inclui o social, üsto que implica neces-
- a presença origi,nâria de um grupo cuja experiência tinha
saÍiamente
sido até então lingüisticamente "Íeprimida" e "maÍginalízada" (termos
não muito apropriados pâra um tipo de experiência que nâo havia
ainda encontrado expressão) pode talvez ser reformulada, modifi-
-
cada e enriquecida de maneira interessante pela analogiâ com tipos de
línguagem e, em particulat com a teoÍia de códigos "resrritos" e "ela-
borados", de Basil Bernstein'zl. Essa distinçâo foi pensada pan expri-
mir a distância estrunrral entÍe uma linguagem de urna situaçâo espe-
cífica de gn:pos exdusivos, na qual os iniciados *
eÍrterrdem à derni
not, e aquela estÍutura lingüística mais complicada, "elaborada" no
decorrer dâ história para a comunicação entÍe grupos, üsando con-
quistâÍ certa medida do que com freqüência chamamos abstração e
omitiÍ Íelações "dêiticas" com um mundo obieto imediato, assim como
para incorporar e disfarçar, através da generalização de valores ou de
conhecimentos específicos de um grupo, os aspectos que poderiam
ser percebidos como produtos de um contexto específico e por isso
limitadores de sua "universalidâde", isto é, de suas pretensões de legi-
timidade, autoridâde e yeÍdade. O social como ial esú, evidentemente,
de modo inextricável, incluído nesta teoÍia linglüística, onde a noção
de um código "elaborado" só faz sentido (como Gouldner observoua)
172 / A existêtcta da lüll4
de família do paciente? -
Ainda assim, as microscopias do cinema contempoÍâneo
oposicional são sociais, mais do que físicas, mesmo onde parecem
mais obstinâdâmeÍrte ligadas a elementos m€rsmentc espaciais, Em
Neux from Hol'rt (197), por exemplq à cimeÍa de.{,kerman parece
obseftzr sem intervir; apenas seus deslo{âürentos abruptos parecem
capazes de exarnlnar, no sentido de Beniamin, e eles mapeiam
Menhattan de maneire mecâÍricz e não cognitiva, seguindo o plano da
cidade quadra por quadra, em ordem, e sem nenhuma das distensões
e contÍaçôes imaginárias ou das projeções espaciais salienres ou
atrofiadas daquelas "imagens interioÍes da cidade" e que nos apÍesen-
tou Keyin Lyncha. Fixada no fim de umâ rua vzzia, de armazêns da
baixa Manhattan, de manhã bem cedo, a càmera recebe os poucos
veículos soliúrios que tentam vencer a paümentaçào irregular; sem
transição, percorre o metrô de noÍte a sul, móvel em sua imobilidade,
indiferente âos passageiros que pâssam por ela; vai entâo paÍa frente e
paÍa lÍas nas pdncipais ruas do centro da cidade, registrando sem
inteÍesse, mas também sem discrÍminaçâo, as vitÍines das [o,as; amplia
então seu repeÍtóÍio rítmico em meio às grandes avenidas a noÍte e
sul; e, por fim, com um floreio conclusiyo, cula formalidade estética
como um segmento rítmico ou musical surpreende ainda mais pela-
omissão persistente de intenção ou de-estilo, retira-se de barco pela
baÍa, de modo que a cidade perfiladà finalmente se toÍna visível como
uma imagem cintilante, ao anoitecer, uma totalidade teimosamente fe-
chada prra nós, sobre a qual as duas horas ânteÍioÍes de observação
forçosa não terâo nos dito nada. Isso esá mufto longe de ser uma
evocação de lugar em qualquer sentído convencional o sentido,
por exemplo, em que alguns dos primeiros filmes net toaue - Íêm sido
descritos como "cârtas de amor a Paris" (as cartas no filme de Âkerman
as Ínotícias' do tÍtulo vêm da Europa paraManhattan; elas deta-
- -
L
176 / A ulstêtcia da ltáltq
I
A e.&stêrlcia do ltálta / 177
TV
úvos que também indicam a presença simbólica, ainda que mais dis-
Ente, do u)estern, cor.;L seu espaço feminino-especular da tâverna e
com o papel de vilão do dono dô fiightclub (Joseph Callea, cuja
canalhice não desempenha nenhum papel nesse mistério, sendo fun-
cional no outro gênero que está aí ausente); e o filme de gângster, aqui
"degradado" ao nível das figuras cômicas comuns do imitativo baixo
da vida marginal estereotipada, que são os vestígios da "olutra" vida, a
vida pregressa de William Powell como detetive; ao mesmo tempo, a
farsa famíliar (drauing-roonl comedy) e a farsa aristocrática âcentuam
a dimensâo do rico e da higb life; enquânto vários pares, incluindo os
próprios Nick e Nora, projetam uma série de comédias românticas
potenciais e histórias romanescas; o todo sendo então ancorado nova-
mente no expressionismo do filnz noir através da seqüência do assas-
sinato no nevoeiro e a evocação final de desequilíbrio mental. Mas
esse texto agoÍa transformado em uma coletânea que desfila os
vários gêneros diante de nós como em um show de -variedades ou em
um music ball(ver a seçâo X) não guaÍda nada em comum, na sua
- dos gêneÍos que iremos observar no
estrutura, coI]:. a transcendêncra
modernismo nascente do cinema faLado; ao contrário, ele permanece
um texto especificamente genérico, algo que reforça o sistema dos
gêneros como um todo, como se o compromisso formal com qualquer
gênero específfco tenha por fim obrigado o texto cinemato gráfíco a
interagir com todos eles, algo como uma inversão do que posterior-
mente será conhecido como teoria do auteur. Ai, o auteur passov do
gênero ao estilo, pÍaticando lodos os diferentes gêneros, um de cada vez
aqui, o texto de sistemâs de gênero combina todos eles em uma única
-produçâo, deixando seu auteur (W. S. Van Dyke Il) no anonimâto.
Conrudo, a dissolução do realismo cinematográfico, o "fim" do
gênero ou de Holll.wood já está implícito na relaçào constitutiva tensa,
históricâ e estruturalmente instável entre o gênero e suas conyençôes
ou, em out-as palavras, entre o gênero individual e o sistema como tal.
A convenção da resoluçâo ou do "final feliz", por exemplo (que em
vários gêneros não demanda obviamente que o protagonista sobrevi-
va e pode, muitas vezes, ter uma aparência propriamente "trâgíca"), ê
melhor avaliada quando comparada com as discussões da Escola de
Frankfurt sobre a mercantilízação da literaturâ do século )CX, onde o
sucesso ainda minímamente toleÍado ou "autêntico" no mundo
- do mercado emeÍgente torna-se inevitavelmente
balzaquiano
inautêntico no transcorer do século. O -herói bem-sucedido agora
- de
sempre do sexo masculino e geralmente um executivo (o Octave
Au bonheur des dames, o protagonisra de Bel AmD pode somente
confirmar seu "final feliz" através do dinheiro e, desse- modo, deixa de
fazer parte da "alta literatura", anunciando a estrutura de satisfaçâo dos
desejos do best-seller e da cultura de massa posterior. O oposto do
182 / A e-Lstêficto da àliq
v
Á introduçâo dos fatos tecnológicos assim como a explicação
tecnológicâ e do determinismo tecnológico- no discurso teórico cria
formações lingüísticas peculiares, bastante-diferentes das operações
de transcodificaçâo carâcterísticas da "teoria" nas quâis múltiplos dis-
cursos puramente teóricos são combinados. Mas a nova formação, o
nor,o discuÍso lúbrido com que a teoÍia tenta âssimilaÍ a tecnologia
nâÕ é rigororamente compacável àquelas obras de aÍe que procuram
absorver, ou pelo menos incorporar ou registrar, o fato bruto da con-
tingência, faltz de senüdo da matéria e da existência. Isso porque a
tecnologia^nâo é contingente ou sem sentido e sua "absorção" ou
incorporação está relacionada mais de peno com aquelas obras de arte
visual que an€xaÍam urna máquinã em fuÉcionamento à sue composi-
ção- Â máqutne está lon8c de ser sem sentido, mas seu $ignificado é
de náturezâ radicalmente difere"nte da do obieto estéücoi e pane da
estranheza eau-sada por Êssâs obrÀs vem dos sahos que a mente é
forçada e fÂzcÍ enú€ essas ordcns ou dlmensÕcs.
Sou tentado a dizer que a [unçâo principal ou 'uso apropriado"
de toda explicação tÊcnológica é a desmistificaçao, guase sempre a
serviço de uma posiçào filoófica mâterialistíi ou seiã, sua função é a
de des-idealizar ou des-espiritualizrÍ, em todos ôs senüdos e contex-
tos; porém é preciso entendeÍ que ,?Ao se trâtâ de fato de uma posi-
A etistêtrcia da ltália / 183
VI
\
188 / A eÍistêncid da ltália
.l
A a(istência d6 ltalia / 189
vu
A discussão anterior não se referiu à teoria mais notável (se nâo a
mais influente) do realismo cinematogÉfico, que é aquela associada
âo nome de Ândré Bazin ou à concepção da "redenção cinematográfi-
ca da realidade fisica" relacionada com Kraczuer{8. O termo esplendi-
damente corretivo de Kracauer ÍepÍesenta uma distânciâ fundamental
entre essâ concepção e qualquer estereóüpo que envolva a "reflexào"
passiva da Íealidade e âo mesmo tempo intÍoduz uma ressonância
Íeligiosa ou, melhor ainda, ontológica que requer explicação. (À
-
posição ideológica de B.z:zín era também-,"Íeligiosa" no sentido mais
geral, já que ele surgiu do movimento Bprit e do catolicismo de es-
querda bastante ativo do pós-guerra-) No entanto, fica bem claro que
nenhuma dessas concepçôes do "realismo" Ieva em conta'o papel
constitutivo da narrativa; ou melhor, que pera ambas a temporalidade
da naÍÍ tiva é reduzida à siruação e ao pretexto que possibilitâm o
aparecimento dâ verdade não como conhecimento, mâs como Evento.
 ênfase de Kracauer na "realidade fisica" não pode ser considerada
propriamente materialista; mas, pelo menos, é tão não-idealista ou
antiideâliste quanto âs várias concepções cÍistâs de carnalidade ou
encarna@o (como a noção de Âuerbach do "pertinente às criaturas"
os limites consütutivos do corpo e dâ finiude).e.
- Esse realismo, portanto, nâo é exatâmente um "naturalismo': apesar
de o segundo climax a segunda gÍa,nde rcalização da realidade
-
lingüística, âpós o momento de Dânte na Mimesis de Àuerbach
coincidir significativamente com a obra de - Zola; e apesar de uma certa
ideologia do naturalismo no cinema um naturalismo assimilado, por
exemplo, emJean Renot a um üpo -de populismo e vitalismo pare-
cer paÍticularmente propícia ao emprego de efeitos de realidade - bus-
cados e valorizados por esses teóricos do cinema. Vem daÍ a adequa-
çâo da palavra "ontológico" como um modo de atÍavessar e oposiçâo
entre o mateÍialismo e o idealismo e de enfatizar particularmente
em Heidegger - fisico (o ôntico)
a distinçâo Íadical entre o meramenre
e aquele momento- ou Evento no qual o mundo físico coincide mo-
mentâneâ e intermitentemente com o próprio Ser: a tomada em pÍo-
fundidade, a textuÍâ do reboco dos muros e das pedras do quintal
Íiscâdas pela chuva (como é tão comum nesses momentos do cine-
ma), revelando o inteÍior da França, não somente como Ser, mas tam-
A e.Íistêtlcia da ltália / 191
vIII
A fotografia ê a coÍ\cÍetizaçào aÍquetípica desse processo e de
seus paradoxos: até mesmo a "fotografia de ficção" (a tnise-en-scàne
do século XIX e âs Íoupas e poses de época) pode ser vista, em última
instância, como "realista", considerando-se que é um fato históÍico
que a burguesia do século )flX realmente vestiâ âqueles tipos de traje
paÍa posar paÍa esses tableaux. Porém, sou também tentado a dizer
que em certo sentido não existe realismo fotográfico como tal todâ
fotografia é desde sempre "modernista" porque necessaÍiamente cha- -
ma a atenÇâo (através do enquadramento e da composição) para o alo
no qual seu conteúdo é "dotado de uma forma", como costumávamos
dizer no período modeÍnista.
O "realismo", nesse sentido, se daria apenas no espaço da foto-
grafia de famÍlia e na ''semelhança" com algu.ma associação e reconhe-
cimento meÍamente Pessoai6'6i ao passo que o surgimento da autono-
mia formal da imagem em fotos que não âs de família explica os para-
doxos que enfrentamos na seçâo anterioÍ, como a idéia de que as
fotografias social-realistas de Lewis Hines da década de 30 também
devem ser consideradas exemplos de art üco, isto é, de um tipo de
modernismo popularizado.
O evento Íegistrado pela câmera inclui a história na forma da
morte (ou da passagem do tempo)r a fotografia já é então, do ponto de
vista filosófico, um meio "existencialista", no qual a história está sujeita
a se confundir com a finitude e com o tempo biológico dos indivíduos,
cujos dramas de época e ÍegistÍos históricos estão, poÍÉnto, sempÍe
muito próximos da linha divisória entÍe â histoÍicidade e a nostalgia. A
existência do re8istro da cãmera deixa seus tÍaços não apenas nas
propriedades formais e de composição mencionadas acima (em que
não é o conteúdo de qualquer forma particular que conta, e sim a
violência admirável da conquistâ momentânea de um conjunto pârti-
cular de relações formais) mas, principalmente, na revelação em
- ,Jma tradução da luz em uma lingua-
pÍeto-e-branco, tão obviâmente
gem específica: uma "seqüência ininteÍruputâ das gradações infinita-
mente sutis entre o preto e o branco" celebrada por Edward lweston'7.
O filme colorido, evidentemente, não é menos uma tradução, nem
menos um registÍo e uma inscÍição em um outro meio: tende a nào se
colocar em primeiro plano como um sistema de representaçâo ou a
chamar a atenção pan sua distância da "realidade", como faz a revela-
ção em preto-e-branco, Esquecemos as diferenças entre os yários sis-
A e:Eistên tad6 lltilia / 197
quâis vivc. No pãÍque ele encontÍc "olgo" que foge dessas duas catc-
gortas estilísricas; mas seus elemenlos constitutivos iá haviem sido pÍÊ-
parados no trebalho anterloÍ dc Ântonior:i. especialmesrte em O EcItpse,
cuia famosa seqüência Íinal de dez mlnutos pode ser entendida como
uÍna inversão dr experiêncla €spsciâl dc BIou-UF No fllme aflterior, e
csquinr rzzia (no disbiro de E,U.R.) espcÍou em váo pelos amantes
durante as lo,ngas horas dc unr Íim de tarde e começo do anoltecer; a
câmere, negligente poÉm anslosà, peÍcoÍÍe as âvcnidss compridas e
ÊnconaÍâ apünas p€desües anônimos (pare nós), pesoas esperando
pclo ônibus c monúonos evcntos ÍotineiÍos (o mais extrâordináÍiô
sendo o cavalo e í caÍroça salndo para seu galope norumo iá haví-
-
aÍnos visto o galopc maünd), O cnrzamento ê rnarcado pelas faixas
brancas de pedcstres convencionals (mas multo exterrsas) ("Vou le
beijar quando chegarmos ao fim") e, do outro lado, pelos rcmanescert-
tas de alguns loct afioe na paisagem ellenedâ do modeÍnismo de
Mussolinir um poço sagrado (gue nào pàssá de urn taÍhboÍ de água de
úuva, no qual um pcdaço de papel, logado por um clos amÂntes,
ainda insiste em flutuar), um bosque sagrado -1ue náo passa de um
monte de íolhagem ao vento e: finalmen(e, umâ ceÍcil de madeira.
-
Conhrdo, o monte de folbagcm é uma palawr. um significanter Antonioíri
iâ o tinhâ inserido no Íllme, crn umâ observação visuâl gÍatuila, moti-
vada apenas poÍ csse Íçtomo. Má5 e Íascinaçâo prr folhas e srra rela-
çâo com o movimeflto meÍco{r a fotografia (e o cinema) desde suas
origens "folhas lquel sussurram e reluzem aos raiôs de sol" (Cook e
-
Bonelli, I860)i os priÍneiros cunas alumente elogiados dos irmâos
Luurlêre sobre "o movimento clÍcular das íolhas agludas pelo vento";
a denúncia dê D, q/. Grifllú contre a degredaçào de Hollywood e sua
íalta de interessc pela "beteza do vento em movimÉírto nas ánrores"ü,
FilosoÍlcamenre, quendo a questâo crucial do moümcnlo aParcce nas
mcdiraÇóes onrolóBicÁs de Á náuea, de Saruc, ela o faz sob a forma
do vcnto que st môve entre as folhas e gue as movimenta. A folhagcm
volumosa de Q 6r,ltse nâo passa de um epiúdio: eÍn SrotL'tP, nô
entÂnto, âs diveÍsâs áÍvoÍes do Maryon Park são balançadas pelo vcrto
c,om uÍna vlolêociâ peÍmaÍrente, dia e nolte sem parâÍi é como se nessc
local, no alto da cidede, o Deus do vento Íelnesse gara semprc. Esse
som é táo imponante que no momento mah mâÍcant€ do Íilme, quando
Dâvld Hemmings contempla assustado sra últiírâ emPliâÉo, o vento
retorna à trilha sonora, como se íosse pâ? assegueÍ sua autenticidade.
Mâs a ceÍca nào ê menos essencial; e as ÍiPas comuns de O
Ecllpse voltam a8ora côm um íormato únlco, talhadas à núo. Es§a
ceÍc:r, que agora circunda o €5pâço gramado, a cena razia, toma'se
um obicto formal por si só, scgundo o çal medimos a transformaçâo
da "realidade" d: cor cinematográÍica no pÍeto-e-bÍânco (no caso'
azulado) da fotograÍia. Na [nguagem da psicologie Gesalt, é como se
2o2 / A exístência. da ltália
D(
narrÀtiva
nãGficçÃq ficcão
DOCUMENTARIO HOLLYWOOD
o Evento esereótipo -..-
./' históriâ conveDçoes
hegemonia
antiüt arte
Àntinârrativâ
x
A exposição ânterioÍ é, no entanto, menos uma teoÍia do môder-
nismo do que seus prolegômenos: tzl teoÍiâ (que será âqui apenas
esboçada) começa poÍ formular as conseqüências formâis da situação
descÍitâ, em paÍticulâÍ o modo pelo qual os vários tipos de "autono-
Íni^" agora se inscrevem na estrutura intrínseca das obras individuais.
Portanto, o que queremos identificar são os tÍaços de "autonomia" no
pÍocesso estrutural, algo que é mais bem enfatizado com a violência
do neologismo autonomização desse modo, também trâçamos uma
linha conceitual entre a situação - histórica e as precondições do alto
modernismo e uma análise de suas estruturas formais. A autonomizaçào
pode inicialmente ser observada em dois níveis gerais da obra moder-
nistâ, ou de dois pontos de vista distintos, de duas posiçÔes
assimetricamente distantes da obra como um todo, Uma dessas distân-
cias a mais longa revela o processo em andamento na forma pela
qual-os episódios se - tornam autônomos, enquanto â distânciâ mais
próxima o capturâ na dinâmica das sentenças indMduais (ou da equi
valente unidade "autônoma" definitiva da sintaxe formal).
A tensâo ou incompatibilidade entre esses dois níveis, todavia,
ocoÍÍe com menos freqüência do que se pode imâginaÍr a pÍoçÍama-
ção da mente que lê para uma lógica episódica ajusta-se ao exagero
ocasional da prôpria sentença episódica ou autônoma, como acontece
quando Nabokov escreve sobre a geladeira de Humbert Humbert: "ela
rugia maligna enquanto eu tirava o gelo de seu coração"z. Mas com o
decorrer do tempo um pÍeço alegórico tende a ser pago por essas
indulgências, a menos que, como no "Un Coup de dés" de Mallarmé,
a sentença autônomâ coincidâ com a obÍa inteiÍa. O perigo não é tanto
aquele da merâ coleção, â despeito do narrador do sotie de Gide que,
como se fosse algo de que já se ia esquecendo, ao final daquela obra
nos convida a fazer uma Iista de nossas "sentenças favoriÍas das Palu-
del': poLs, quando a sentença ou o significante mateÍial atingem uma
âutonomia genuína em relaçâo às semi-autonomias da obra modernis-
ta, estamos entâo em pleno pós-modeÍnismo. Contudo, aquelas
sentenças semi-autônomas tendem a pÍovocaÍ suas próprias mini-
interpretâções, ao menos para documentâr seus diÍeitos e sua câpaci-
dade de existir por si mesmas no vácuo, A sentença entào se transfor-
ma na pureza de um não-eventot "Zwei Vochen spâter war Bonadea
A exXtêncid da Llálta / 211
Bll,t
216 / A existência da hália
i,
A eukÍêrxc1a da llálid / 217
XI
Oshottt de variedades nos peÍmite fazer uma últimâ conexâo
histórica e anedótica entre o processo de autonomização no modemis-
Í1o e a concepçào ineugural dê "mo$tâBêm* arevfu da práüca e da
têôria de S, M. Elrenstein: desde que ela zurge especificamtnte da
trpÊriênciâ do nr&.§ic hall e fot pela pÍimelÍâ veE teoÍirâda nãô ne
lhguagÊm tÉcÍricã das tomadas c da edição, mâs cômo uÍna "moÍrtí-
gert de arreçÕesÉ, bem na lirüa dc uma alternação memrnentc Íor-
mal, na qual a dlfercnça redlcal entÍt um drdo contcúdo e o quc o.
precede e lhe dá continuidade ê mais lmportante do que a naureza do
próprio conteúdo. ('^dlguma côisa pâra comer e btber em cada pági-
na", foi como Flaubcn desqevzu zua dlnâmicr, que pode seÍ enlendi-
d.r pelo público contÉmporãfto s€nsihilizado pelâ televisâo em ter-
mos de rorte.c rápidos e perÍodos de ât€nçào cada vca rnais curtos.)
teoriâ de Ei.senstein quÊ, nesse sêntido, propôs algo como
^
um -cáIculo -
iustaposiçoes
de permirc conünuâr ã discuiir o
proccsso de "âulÕnomi?açâo" ou de 'episodizâçãÕ" de outro ângulo,
comc, se estivesse no moÍÍleÍltÕ dc seu suÍ8imento. .4sô1m. â concep-
ção de'montagenl" de Eiseníeln irá exigiç em primeiÍo lugar, a rcdu-
ção de cada tomadâ à suâ mãioÍ intensidade tonal para realçar a lin-
guagÊm de contÍastrs e o choque de seu confrito com a lomàda seguintc.
No entanto, o que é Ínáis inteÍessante nesse proc.esso é o modo pelo
qual equilo que cÕmeçou como ufir,â iustâpôsiçáo enlrc duas tomadas
â8oÍâ tênde a se tcÍÍúr um segmenlo autÕnoÍno único (a monmgtm
pÍopriamente dita); é como se o fato da simples rclaçâo ou a açio
meÍrtel de perceber a iustaposiçâo e a forma binárias ,sE expâidisse e
$e trànsfoÍÍnnss€ em uma forma nova e maior, que nâo pode ser redu-
zida s nenhuÍn de seus componentes pÍimáÍiôs. Que esse proccsso!
no entanlo, nio pfua por equi fica provado pele obra pos:terioÍ dc
Eiscníein: Em umâ des.Íi$ o a PoÊaeriori dc uma das seqüênclas de
Alaander Nexky (rg3e)B. âguele lnrerualo ou ttnsâo entÍe âs duas
tomadas, qu€ âtÉ esÉ€ Fronto sÊ çonsúuíe em monta8ern, agoÍâ sc
expande e adquirc o slaÍrÂr de um4 ima8eÍfl por si me-5m4, uma teÍcei-
ra enÍidade que passe a existir paÍâ lÍgar as oufras duas e cui: conteú-
do, nes§e câso, nào é indiferente, poÍquc é cârâct€rizado como §lên-
.rio contido ou o "começo da espera angusriada' (as forças russas à
espera dos czv-aleiros teutônicos). A montâgern as-§ume entâo à exis-
tÊÍrciâ do tempô enüe as lomedas, o processo de cÉ?erâ pÍüpriâ-ÍnÉnte
di!o, coníorme se volu para rás e inclui os dois pólos da sua dirúmica
enterior, dessa manelra se materiallzando como um vÀzio Íomado vlsÊ
vel a fileira de BuerÍelÍos russos a disúncia, ou, em um Ínomeflio de
-
maior climax, o horlzonte de gelo vazlo no qual oscrvaleiros tcutônicos,
ainda não presentesr estão píestes â apaÍectr.
218 / A existêücta da ltlilia
)flr
Por outro lado, podemos expressar tudo isso de uma outÍa ma-
neira, celebrando o retorno da aura benjaminiana à tela do cinema,
quando o olhar recupera um tipo de esplendor e autenticidade em
meio aos hábitos perceptivos do vídeo e da televisão: a "côpia ninda
do filme" torna-se entâo uma espécie de novo "oríginal". Na fotogÍafia,
no entanto, como apontou Susan SontaS, o pÍocesso é um pouco
diferente: as ÍTrarcas do ternpo a perda da cor, o amârelado, etc-
aumentâm o valor de uma cópia - em pÍeto-e-branco e também o nosso -
inteÍesse por ela como objeto&. Já a fotografia colorida simplesmente
deteÍiora com o tempo: apenâs a cor tecém-revelada tem valor, de
sorte que, em ceÍto sentido, a capacidade da fotograÍia, no que diz
respeito tanto à metonímia quanto à ÍepÍesentação, de servir de marco
do passado é, no caso dos vários sistemas coloridos, perdida e esque-
cida daÍ a afinidade entre a reprodução colorida e o presente pei-
péruo- do pós-modemismo&. Essa distinção ê dramatizada de maneira
admirâvel no filme cubano Un Hombre de Extto (Tbe Opport nist,
HumbeÍto Solas, 1986), que começa com um desbotado e riscado
cinejornal em preto-e-bÍanco, do rerorno da figura do chefe de polícia
paÍa }J,avana em 7932, transmutado prodigiosamente paÍa cor enquan-
to a câmeÍa se detém no monumental interior do palácio. Esse truque
A e*stência da lhllia / 223
'Fabricaote de câmeres de cinemâ poÍáteis e leves. O modelo laoçâdo no final dos anos ,0 foi
fundâmental paÍâ a técnicz do cinema neu uaDe e parâ o estilo cinematogÍáfico seguinte dos
anos 60 (N. T.).
À ea*têilcio da 1táli4 / 225
xIII
Na verdade, o conteúdo histórico privilegiado desses filmes pare-
ce ter sido constituído em grande parte nos anos 20 e 30 décadas
-
que abrigam um tipo de oposiçâo binária semiótica em nossos estere-
ótipos referentes à história ameÍicana: a dêcada de 20 oferece uma
riqueza de imagens de estilo e modas, de nightclubs, de música dan-
çante, de carros conversíveis, de art déco; jâ a dêcada de 30 conota de
maneira convencional o lado desagradável do rcal a Grande Depres-
são, os gângsteres e suâ sagâ e todo o material Íesultante desses fâ-
tos*. Mas essa oposição deve sua aÍticulação às "peculiaridades" da
históÍia dos Estados Unidos, já que tanto a Itália quanto Cuba nos
mostram a coexistência de ambos os conjuntos de signos durante todo
o período entÍegueffas signos que considerados em conjunto for-
-
mam um sistema de classe coerente e dicotômico: alta uersus baixa,
privilegiado uentu úabalhador, cultura uersus violência'. O segundo
nível ou linguagem desse sistema articulado associado com os anos
30 e a "realidade social" -
pode ser deslocado no tempo com uma
certa liberdade limiuda em- ambas as direções: provendo o conteúdo
"étnico" das repÍesentações pré-Primeira Guerra Mundial, da mesma
forma que pode prolongar a dêcada de 30 aÍê um ponto além dâ
Segunda Guerra Mundial. No entanto, o componente de classe alta
desse sistema ê fixado com muito mais rigidez no tempo e associado
com o período entreguerras. EIe representa, portanto, uma nostalgia e
uma aspiração genuÍnas pelo conteúdo de classe e também pelos pri-
Á erislêr1ci? da luilia / 231
I
234 / A qclslàEl4 da ltdlia
Introdução
1. '^ rÊdição populü pÍevine contre sonhar de estômago vazio Nessc estedo,
emborit açordade, a pessoa fica sob a influêÍrcia do sonho' ({(tlter B€n À-
rtin, 'Onc.Way Súee[", em Oie-Va! Srcet ànd Oúer tlãdrrrl8J, LôÍrdlcs,
1979, p 15).
Capítulo I
1. Vet pal'a as Íontes teóricas dessa oposiçâo, meu ensaio sobre Mar vbber,
"The Vanishiog Mediatot" , em Ihe ldeolog)/ oÍTheory(Minnesota, UniveÍsiry
of Minnesota PÍess, 1988, v. ll, p. 3-34).
4. 'Íos hebiuntes buÍgueses d2 cidedel vagam pelos bosques como pelo solo
rcffo e úmido da ciiaoça que outÍoÍa foram; Êtam os choupos e as planeÍâs
plantados ao longo da estrada, oade têm a dizer sobre eles pois nz.da fazea
com eles, e se enchem de espanto diante da qualidade aterradora desse
silêncio" etc, (1.-P. Saíre, satnt Geflê4 Paris, callimaÍd, 7952, p.249-ro).
,. Guy DeboÍ4 Tbe Socie1l oÍ tbe Spectacle (Detroit, Black and Red PÍess,
197r.
235
236 / Notas
6. Â reificação por meio do ,ableau lâ eta nrt ÍecuÍso teatÍal no século X\r1ll
(repÍoduzido em Viridiana, de Buõuel, mas a relevância dâ ilustração foi
antecipada no livro pele descrição que SartÍe fez dos "momentos perfeitos"
e das "situâções privíle9iadas" eúAfláÁea (as ilustrações na edição infantil
de Ànnie da Histório d4 Fflnçq de Michelet)-
8. EscÍito em 1976. Um trecho como esse não pode ser adequadamente ava-
liado, a meoos que se entenda teÍ sido escrito antes da elaboração de uma
teoriâ do que agora chefi4mos És-modeÍno (cuja emeígência pode tam-
bém ser observada oestes ensaios)-
10- Meu próprio rrabalho de campo foi assim seÍiamente retardado pelo colap-
so de dois rádios de carro: tanto mâior é miohâ suÍpresa quando os carros
alugados de hoje (que provavelmente nâo úo máquinas do tempo) trazem
as mesmas músicas de sarcesso que eu escutavâ no começo dos anos 70,
repetidas veze§ e vezes a fio!
14. Ver minha resenha sobÍe vright em TbeoDl and Socteq), v. 4, p. 543-59,
1977.
Nntas / 237
Câpítulo 2
4, Ver Richard J. BameÍ e Ronald E. M\llei Global Reocá (Nova York, Simon
and Schuster, 1974, p. 68).
Capítulo 4
1- Ver, eÍn particular, os dois livros de SybetLret$ Hltler, eln Fllm aLs Deutscbl.dnd
(tlamburgo, Rowohlt, 1978) e gberbergs F'llmbuch (Fraokfurt, Fischer, 1979).
7. Ver o capítulo sobre Bloch em ííe:o Matx{sfi and Form. Num ensaio semi-
nal, cu)a difusào na Alemanha por ceÍto produziu efeito na pÍópria estética
de Syberbelg ou na recepção de seus Íilmes, Jürgen HabeÍmas atribui um
método similar a r§(,,alter Benjamin; ver "Consciousness-Raising oÍ Redemptive
CÍiticlsm The Contemporaneity of lvalreÍ Benjamln", em New Gerfian
-
Ctl que, n. 17, p. 30-59, primâveÍa 1979.
8. A triloSia consiste em: Lutttlg Réquiem pala um Ret Casto (Requtem Íor
a Vtrgtn Ktng, 1972), Kad Mat - Em Busca do paraíso perdido (h Searcb
of Paladtse Lost, 197 4) e Hitlet -un Filme do Alerranba (Ht er, a Fttmfrom
Gerttany/Our Httler, 1977>.
lZ. E isso, §uponho, o que Susân Sontag quer enfa zar com sua ceÍac,leÍizaçZo
da estética essencialmente simbolista de Syberberg.
15, Roland BAíheq Wriring Degrce Zeto (LoodÍes, Cape, 1X)7, p.39).
16. Erik Erikson, Younq Ma\ Luther (Nova York, Norton, 1958).
Capítulo 5
C.pítulo 6
8. Robin §íood. Húcúco{*l flllai (Nosâ York, Castle Books, 1969, p 71) Seus
julgamentos e reíçõeÉ aüo pÍDvâYelmente, de toda a crÍtica sobre Hitchcock
que iá li, os maic ÊÍóximÍÉ eos fteus.
9. VeÍ Stepheo Heati, "On SutuÍe", em Qll estiorls oÍCirvma (londÍeq MacMillan,
1981), bem como os Lextos de J. A. Miller e Jean-PierÍe OudÀíÍ em Screen
(v. 18, n. 4, ifvetto 7977-7978) e também aqueles de Daniel Dayan a o
próprio Rothman em Bill Nichols, Moures qnd Metbods, v. 1 (Berkeley,
University of California Press, 1976).
No pÍtsÊflte {Í) cÉo, gosÊáriá de uss, €Ésí ldêia para aÍgumentar que o
p<)§icionâmrÍrb 'lrôoicc' (ou do aho modeÍnismô) da fi8ura de stewart em
Jqneta ,ídftciei.a ê tambÉÍfl dissolvldr tEle euôluçào da fo.ma dos quatro
filmes dÊ §tewúr,
Capítulo 7
1 . rr'eÍ An8el Flores, "Magical Realism in SpaDish American Fictíon" , ern Hisp..nl4
StânfoÍd, n. 38, p. 187-92, maio 1955.
6. Ia Casa de Agua, escriro poÍ Tornás Eloy Meninez e dirlgldo pslo pinto! e
crí[ico de cinema venezuelano Jacobo Penzo em 1984 (paÍs mâioÍes dcte.
lhes, ver Uariety, Nova York, 29 ago. 1984); Corldores io se Entiefl.at TotlK
,os D!i2s, diÍi8ido por Francisco Norden, baseado em um romance de Gustavo
AlvaÍez Gerdearzabel, 1984 (para maiores deulhes, veÍ Vat-tet!, Nove yoÍk,
16 maio 1984). Tive a soÍte de ver esses filmes oo Sexto Festival Anual de
ClneEr:l Lãtino-Arnêri(aÍIo em H3vgnâ, em dezembro de f984. Que o pre-
Enlc erisaio seie um slmbolo modcsro de minha BÍâtidão a meus anfirriões,
dedico-o i Revoluflo cuhana.
B. Ver nota 4.
to 'Exise uma palâvra lâlinr p{ra desitnâr esse ÍcddÍrto, egse ni(adÍ, cssr
maÍca dclxade pôr um inÉtrum€níó pôÍrtudo: À palâ1Ír me serve
peÍf€ltâfiÊmte F)ftluê êlâ se refeÍe taínb+m à ooção de poflruâçâô, c por.
que rs fôlo8raÍlls âs qulis estou me Ícferlrldo são efeüvamentc Fonruadaí
dgutnas vezes âtê Ínc6Íno selpicadas cüÍn Éíics po,ÍltG sÊnsivciÉi prEcis{.
mente, essas maÍcas, essas feÍidas sâo poruros- A esse segundo elemento que
vem peÍtuÍbâÍ o sr dium en ctl€:fiz.eí poÍÍ^Íúo de punct*nt"..r.JÍn punctuTk
ê aquele acidente que me pica (rnas lamMm me machuca, que é lancioante
paÍa mim)'. (Roland Baíhes, Camera hEida TÍad. para o ioglês por Richard
242 / Notos
HowaÍd. Nova YoÍk, Hill and Vang, 1981, p. 2G7). o conceito analitico de
BaÍthes coÍrstitui um ponlo de PaÍtida nece§ário, mâs nadâ mais do que
isso; ele está para a investiSação da imagem fotográfica mais ou menos
no nível do concelto de "Pacadoxo" do New Critici§m pata o da linguagem
poética há uns t.inla anos.
11. ver Jean-Paul saͧe, Tbe Flt6 (L6 Mouabes) and h, Camcrq (Huis Clo)
Ttad, pzra o inglês PoÍ stuaÍt Gilbert (Nova York, vintage Books, 1949,
p. 17).
16. O emblema alegóÍico de tal estética pode entâo s€Í visto em §eu§ llmites,
bem como em seu poder na cena do assassinato eà -o ConÍormhla, nÀ
-
iaoela levantada do carro trancado auás da qual o Prota8onista pÍesencia o
apeto desesperado e ulúajado de sua amante, enquanto ela Solpeia o vid.o
18. Pablo ÁIrrlando Fetnândez, Los nlfios se desptfut(Havana, Casa de las Âmé-
ricas, 1968, p. 118).
20- :r'ai eu longtemps devadt ÍDa fenêtrc un cabaret mi-perti de vert et de rouge
crus, qui éraient pouÍ mes yeux une douleur délicieuse". ["Tive por multo
tempo, dia e de minha ianeta, um cabaré, metade veÍde, melade verme-
lho, cores cÍuas, que constiuíem pam meus olhos uma doÍ deliciosa"l.
(Charles Baudelaire, "on couleuÍ", em fulons 1846. oe uÍes complé|as, P4-
ris, Gatlimard, 1976, p. 425. Série Bibliotêque de Iá Pléíade).
21- stanley cz,ell, Tbe world Vleued: Reiectlons on ,be ontoloS)/ oÍ Film
(Cambridge, Harverd Universiry Press, 1979, p.89,91). Ele conclui assim o
aÍguÍleoto:
23. Ver a veÍsão ampliade de meu ensaio "ldeology of the Text" em Ihe ldeoloqies
oÍ meoD/ (Mlnnesota, University oí Minnesota PÍess, 1988, v. 1, p, 17-71).
24. Ver, em especial, Julio García Esplnosa, thld tfi.agen recoffe el mundo (Ha-
vana, Editorial l€tras Cubanas, 1982); e Tomás GutiérÍez Àlea, Di4léc ca
del egectador (H^vana, Unión de Escritores y ÂÍtistes de Cuba, 1982).
2r. veÍ o ensaio "Reificaçâo e utopia Íra cultuÍa de massa", neste volume.
26. "Espaclalidade", oo sentido utilizado por Joseph Fraú em seu famoso en-
ialo,6e aproxima mais de um rrrâEp rlflcrônko com obÊtivos mnemônicos
(o quc é coúpárâ\'el ao igudrnente conhBcldo Aú of f,nefirw, de Frances
YâtÉ6) do que daE consideríções fencrÍlçnolôBlcaã, edruturrh ou dialéticas
do espaço, dc Grdon Bachehrd á Henri têícbvÍe
Câpítulo t
l. fflr cxcmpfo, lúrl M lkhâi lovich Í(À ÍÍlan, Tbe k ntotic$ oÍ Rttssian CultuÍe
\,IeÍ,
(lrh.a(a, CGrÍÉll tlniversitl' PÍess. l98n- o pÍograma de spengleÍ pode seÍ
apreÉUdo cam suâ.E próp as píhvÉsi
3. Em conespondência.
b
246 / Notas
10. Beniamin H. D. Buchloh escÍeveu com muita propriedâde sobre essas for-
Ínas oposicionais, por exemplo, em "FÍom FaktuÍa to Factography", em
Ánneüe Michelson et al. (eds.), Octofut: The Fhst Decale (Cambridge, MIT
Press, 1987, p. 17-71i. Ver tzmbém, parâ consideraçôes ousadas sobre al-
guns equivalentes literáriôs, BaÍbara Foley, Telling tbe Trutb (Ithaca, Comeil
UniveÍsity PÍess, 1986).
11- Ver, por exemplo, "Ânatomia del testimonio", em John Beverley , Del Lazarillo
4l Sandinísno (Minne polis, Ideologd and Llterature, 1987 , p. 153-68).
14- Ver, por exemplo, "The Realist Floor-Plan", em Marshall Blonsky (ed.), O,2
Srgzr (Baltimore, Johns Hopkins University PÍess, 1985, p. 373-83). A funda-
mentação filosófica para ume nova abordagem sobre a análise do espaço foi
elaborada poÍ HenÍi l-eíebwe efi Ia Í\úuction de I'ewce (P ais, AnÍhrcpos,
797 4).
Natas ,/ 247
li. Para minha avâliação sob.e essas exposiçÕes, ver o prefácio a Á. J. cÍeimas,
virio;
Oí;treafli,r8 (Minneap,olis, UmlErshy of Minncsotz Prêss, 198/, p.
e sobrc exemplos de minha pÍópÍL pÍarica em üilise Í!âf.tiva vEÍ Íhe
Venishing Mediator", eÍn ldeologtes oÍ Tbeory (Minne pc,lis, University of
Minne§ota Press, 1988, v. 2, p. 3-34); ver temÉm Fabl6, of Awí*tbn
(Berketey, UmveÍsity of CaliíoÍnia P.ess, 1979).
16. Ver "ldeological Srate Ápparatuses" , em Lel n and Philos@7 (l.Iova York,
Monüly Review, 1971, p. 127-86).
17. VeÍ Âlain Robbe-Gtlllet, For a Neu Nouel (Nova York, Grove PÍess, 1966),
2r. veÍ, por exemplo, Michael McKeon, 7áe Oílgtn oftbe EflElisb^bú€r(BúiErore,
Johns Hopkins University Press, 1987, cap, 1); que pode "ser di§anciado'
pelâ iustaposiçeo ao trabalho,caiivante de Jane FeueÍ sobre os recursos de
distanciamento nos musicais, Tbe Hollruood Mttslcal (Bloomington, Indía-
ne UniveÍsity PÍess, 1982).
21, ver "Social Class, Lânguage and Socialization", em Basil Bernstein, C/a.§,
Codes ah.d, Cert,tol (LDndÍes, noutledge and Kegan Paul, 197r, v. 1, p. 17G
89). Ver também Elaine Showalter, "Feminist CriticGm in úe Vildemess',
em E. Shoq,alreÍ (ed.), The Neu Femtntst Crüiclsm (1,{w^ YoÍlq Panúreon,
1985), principalmente p.2)91Á, p.ra obs€rvar urna díscussào diíerente so-
bre o que ela chama de "Íegüo selva8em" dz linguageÍn fore do espaço
he8emônico.
22, Em Âlún vr. Gouldner, The Dlalecttc of l&ologt a4d T@blolq)/ (l'{.Jva
York, Seabury, 1976, p. 58-66)
23- rwilliam Lat ov, Lofl.Buage ln tbe Inner Ctb, (Fl,zdêlFtt, UniveÍsity of
Pennsylvaniâ Press, 1972, especialmen(e cap 5)
E.
248 / Notaç
21, Karl Madq IntÍoduçao [1857] Gntndisse. Trad. pan o inglês de M. Nice
^o 1973, p 101). ver taflbém a discussào
laus (Harmondswonh, Penguin,
iDstlgante de SartÍe sobÍe a relação entre os mdos de pÍodução e os
modos de peDsamento em Antl-serniD afld Jeu (Nova York, Schocken,
1948, p. 34-4).
25. \íalter Benjami\ llluminotiofls. Trad. paÍa o inglês de H. Zohn (Nova York,
Schocken, 1969, p. 23r.
29. Rem Kohlhaas, Deliriotls Neü yolá (Nova YoÍk, Oxford Universiry PÍess,
1978, p. 13-O.
31. Gilles Deleuze e Félix Guattari, Kalhu: Pour une ltttérature ,nlneure (Pais,
Minuit, 1975).
37, vale a pena observar que o modelo do sistema dos gêneros aquÍ exigido
nio É exelaÍÍêntt setiEfelto pelo esquema combinatónio concêbido F'l]Í 6ille§
Deleuzc (em e nôÉvel obra. Cinéua, em dois volumes), porquc ô quc
aqui denominamos reallsmô nârrativo, ou o que n4!ímâlmcnle é ch:rÍntdo
de filme clássico (entendendo-se que a fantasia, as seqüências do sonho, o
exprcssionismo ciflemttogÍáfito e outÍEs Espectos sc clhBntrs asleiem peÍ-
feiBme c çEreoles csm um pirídiErDa rEallsta domtÉnre). Dslcuze ePÍ€-
ende as tredlçõcs na[ionais contemporâncâs de Hollyw@d como variíçoes
de uÍrâ eslrutuja leibflirianâ mais gcral. em que uÍfle rÍúnEdt cÍÍabetel- e
conexâo entre o parriculaÍ a imagem ou tomada, o presente do tÍabalho
-
e sua totaltdade Dtr mundo sob a forma de umr sôlução esrilÍsúa 5,1fl8u-
-lar. Assim, à 'formâ orBânice" de Âmêrlca do NoÍlE ou dc Hollywood. Íe§-
ponde a "formr dialérlta" do§ 6ÊulêtL(ús; enquírto i tr1dlÉo lmpÍt§{lônlíá
francesa do quantitedvo (água ctrrenre, umr ltEme d€ loÍri de cinuãs. o
'sublime matemátrco") responde a tradrção expÍessionista alemã do intensi-
vo (a "vida não orgâDica das coisas", o "dinâmico sublime" de KanD. O
segundo par de opostos relaciona-se com o primeiro na medida em que, no
impÍessionismo, o paniculeÍ contribul para a totalidade de uÍna nova forna
(que nào é orgânica, tampouco dlaléiica, mas sim mecânica), ao passo gue
no expressionismo a totâlidade, de algum modo, tentâ submergir o particu-
lar em inr€nslÍicaçôes amorfas de luz e sombra. (Gilles Deleuze, "Montage",
em Cl4éma l,L'lmaee-mouuement, PaÍl$, Minuit, 1983, cap 3; ou:
Minneepolis, Universidade de Minnesota Press, 1986, p. 29-55.) Kai/âtanL
Kojin observa que o retomo de Deleuze a Lelbniz e ao modelo de simulta-
neidade das mônadas reÍlete as necessidades ideolóBicas dos velhos Esta-
dos-nação assrm que confrontam â iminêncla do supeÍesurdo tÍansnacional
europeu pôs-l992.
l\
25O / Nolos
41. VeÍ pÍincipalmente seu livro sobre fotogtaÍia, Un Art mo?en (PaÍis, Minvi|
1965).
44. Eva Weber Àrt Deco (No,la YoÍk, Exetet 1985, p. 4r. Ver também Bevis
HillieÍ, Art Deco of tbe Tuvnties Tliitlies (l,.í:,dÍes, Studio Vista, 1968);
B- Hillier, "Introdução" a Art Deco^nd
(Minneapolis, Minneapolis Institute ofthe
ÁÍs, 1971, p. 13-48); Reyner Banh^m, Tbeory 6nd Design in tbe First Machine
-4ge (Londres, ArchitectuÍal Press, 1960); e também, AlexandeÍ Cockburn,
"Àssault on Miami s Virtues", em Corru.plions oÍ Emptre (IondÍes, Verso,
1981 , p. 136-41).
45. Charles Benelheim, Class Stflg4le ln tbe Souiet Union 1917-1923 (No\t^
yoÍk, Monlbb) Reuieu, 1976); e ÂlexandeÍ Rabinowitch, TI)e Bolsbeuiks
Cone to Po Er (Nova York, Nonon, 1976).
46, Ver Geoffrey Baúaclough, "The Great Disturbing Element", em Neú Yolk
Redeu oÍ Boohs, p. 14-6,24 out. 1968, p.14-6; e David Schoenbaum, Ilir,íer s
Social Reu)lution (Nova York, Doubleday, 1966).
48. O subtítulo de Siegfried Kt'Àc Det, Tbeary oÍ Film (Noya York, OxfoÍd
University Press, 1965). Ver também os dois volumes traduzidos de André
Bazi,i, Wbqt is Cinema?(Berkeley, Universtty of CalifoÍnia Press,1967,1972)
Notas / 251
49. ver par cularmente "Figura", de Erich Auerbach, em Scenes Írom the Dra?na
oÍ Eutoryn Lizlatule (Minoeapolis, University of Minnesota Press, 1984,
p. 11-76), e tãínbém,rvlnesrs(Princeton, University of Princeton PÍess, f953)
53 Tone Bella (1977), di(igido por Thomas Harlan. Agradeço a Jim Kavanagh
teÍ chemâdo minha atenção paÍa esse filme, bem como poÍ teÍ me contado
o depoimenlo do pÍóprio diretor sobÍe a produçào do Írlme, retomado mais
adiante no textô, Há uma hGtórie perecida de Marvin SuÍkin e Dan Georgakis
eín Detrolt I Do Mind Djnne (Nova YoÍk, St, MaÍtins, 1975).
54. Cabru Marcado ttara Moftel'<1984), dirigido por Eduardo cou(rnho, Para
maiores detalhes, veÍ uariety,9 i^ít 1984, p. 317-8, e J. Hoberman, "Once
More with Feeling , em The v lage Voke, !4 ín :a 1985, p. 60. A8radeço
aos organizadoÍes do Sexto Festival InteÍnacional de Cinema de Havana
pela oportunidade de assistir a esse filme e também a Robert stam pelas
informaçôes que me foÍneceu a respeito
55. Ver Paul de Man, Blitdness O lns4á, (Nova YoÍk, OxfoÍd University Press,
t)76, p. t42-6)i Adomol Aesthettc TbeoD, (Londres, Rourledge end KeSan
Paul, 1984, passirn); e também, paÍa comentáÍios sobÍe este último, meu
estudo sobre a estéticâ de Àdorno (nota 40, acima)
56. ver PieÍre Boutdieu, Ur, Árt mrneur, cit.: é pÍecisamenle contra a foloBÍa-
fra de Íamília que os váÍios arnateurs de Bordieu reagem, e é em oposição
a ela que seus diversos "estilos" e "estéticas" têm um sentido socialmente
simbólicô.
t
252 / No,os
62. ver minhas observações sobÍe Hilchcock neste volume (cap. 6), como tam-
bém em meu ensaio "On Raymond Chandler", eú Southern Reüieu,6,
p. 624-50, 1970.
64. Roland Blrlhes, Cafiera Luclda (La Chatnbre Claire, Paris, callimard, 1980,
p 77).
6ó. Ess É a fundâmenuçàô toffreta pat-t tÍEusenrar qúe Hitchfi(* ciú pÍE§-
Íes r ser cotoÊtdo entrE os '?hos ftôdeÍniEt .c', algo que serâ pÍessuposlo r
peÍit dâí, Ás cofl§1dÊÍ*çôes dE Sirnon FÍlth sôbÍe o esrrelâto rlo ro6*Épre-
serüarn lnalogias lÍseres,sarücs <on o autpurdot dos diÍEtoresr o novo
sisrcme peÍmit um contlole Ínuitô maioÍ de parte da estrela dô rocÉ ou do
dlÍetor "O .rÍ.rÍ girrem Ê o pano dc fundo parr e isceníào do 'pnrjtr do
-
músico' [.,,] foi quando tElil-sÍâm-ss .rrJpeârafir guÊ os EstÍos do rqcÉ pude-
Íam definir os tftm(x comeÍciáls dil (ompoElÇào dr música' Mss taÍrüÉm o
estrelato está plenamente de acordo com a mercantilização: "os Jr4rs facili-
mm a promoção dos discos [...]- À impoÍãntie dos stars para lodar as ven-
das significa que os iornais farlo o míramo de crmperha publicitáne possÍ.
vel, as estaçôes de rádio irào to!:lr scus últifirôs sj(Êsos úIô logo e tánto
quanto possível e as revistas trrrÀo ís páElÍrzs rÉpl(lís de seus Íclmtos"
Noías / 253
(Sound Effects, r.\ova YoÍk, Pantheon, 1981, p, 135). Pode-se aÍriscar a su-
posrção de que, Desse sentido, as grandes estrelas dos cinemas mudo e
firlado -.Io is prccursoras do É$trel4!o dos diretores em um pÉriodE porre-
rioÍ (em quq o pre§lígio dos Frirnrüo6 llÂi d€calndo à medida que cÍÉs.re o
dos sqpndos)-
70 Ver meu Postfioderntsm, O/, The Cultural logic oÍ Late CapltqlLsfi, cit., e
tarDbém "PeÍiodizing rhe Süries", em Tbe ldeolog'les oí lbeory, ciÍ.
L
254 / Notas
83. Cf. o âÍtigo não publicado de 1924 com o mesmo tÍulo, em Jay Leyda e zin
yoyÍ],ow, Eisensteln at vy'ork (Nova York, Pantheon, 1982, p. 17-20). O tem-
po "do t tusic br.ll é por definição interrompido; é tempo imediâto. E é esse,
precisamente, o signific do do shou de aariedadzsi para que o temPo céni-
co seia exâlo, Íeal, cósmico, o tempo da prÓpria cena, e nào de sua pré-
visão (tragédia) ou revisào (épico). À vanlagem desse tempo literal reside
oo modo como coloca em pÍimeiÍo plano o gestual, pois é evidente que o
gestual só pode existir como espeLáculo quando o tempo é inleÍrompido
[..-l para exprimir o gestual como espetáculo e não como significado: é essa
a estética original do nusic hall' (Roland Barthes, "Au Music-hall", em
Mythologies, PaÍis, Seuil, 7951, p. 19», o esboço brilhânte de Banhes
(não traduzido na versão inglesa) combina o gestual com o trabalho huma-
no e pode ser justaposto, de forma bastante instÍutiva, à evocação nacional_
populista (e explicitamente anticinematográfica) de "Marie-Lloyd", eín Selected
,.ssa).,s (Novâ YoÍk, HarcouÍt Brace, 1950, p. 405-8).
84. 5. M. tisenstein, Tbe Filrn Sense (Nova YoÍk, Meridian. 1951 , p. l'5-2'16),.
85 Ibid., p 21.
86- Yvor vinters, "The Experimental School in Ámerican P oetry ," eíÍ\ DeÍense oÍ
Reason (Chicago, UniveÍsity of Chicago Ptess, 1947, p. 3047).
88. Susan Sontag, on Pbotograph! (Nova York, FarraÍ Strauss and Giroux, 1977,
p.740-1).
91. JuliD Grrcia Espinosz., (hta lfiagên rsaurre el mundoçHavam, Fllnnrecr d<
la UNAM, l98z), e parílculrrm€Írte 'Po. un cln€ imp!Ífecro'. p. JGjz, d:rri-
do de 1969.
93, Â obÍa-prima da últim.c lasÊ dc CodaÍ{ Pasttol (1982), pode ser con-sidr-
rade como a chegada à auocorL..Énclâ desÉ rÉço formll do prslchc ou
alusão pós-modeÍnc. pols se ctncentra no Plorero de uÍnr cquipe de te.le-
visão que pÍoduz simulecíos dÊ filmcs, cnceÍladoc poÍ rtoÍÊs ÍEais. drs
grandes 'ohras de mestres d-a pintura ocidental, de Rembrandt a Manet, de
Rubens a Ingres.
95. 'The Conformisr", em Alberto MoÍaviÀ, Three Norels (Nova York, New
Âmerican Library, 1961, p 6r.
96, A leiruÍa de Tbe Sbfnflg, republicada no pres€nte volume (cap. 5), exerce
uma influência evidente sobre essa história e suas funç-o€s imaginárias.
I
256 ,/ l{otas
99, veÍ Jonathan AÍ^c, Citical Genealogie (Nova York, Columbia University
Press, 1987, p. 286).
100. Trara-se de uma pÍoposição que discuti de modo mais testÍito em favor de
Mex vebeÍ em "The Vanishin8 Mediaror", nota 15, acima, PâÍa esse caso,
posso dar apenas mais dois exemplos alea[órios, ambos extÍaídos da histó-
ria da tecnologia: a.ssim, Tbe Prlntíng Press as 4n Agent oÍ Change
(Cambridge, 1979), de Elizâbeth Eisen§ein, sugere, segundo a "dialélica"
clássica webeÍiana, que em um pÍrmeiÍo momento a impÍeflsa não traz o
iluminismo, mas reforça a superstição (porque uma série de menuais po-
pulares de ciências ocultas são agora impÍessos e diÍundidos pela primeira
vez). De modo semelhante, no aíi8o supÍacirado (nota 39), PereÍ wollen
também apÍeende a mudança como um tipo de regresso, antes que se
supere em uma progressào dialética (cuja história não precisa ser contada,
uma vez que aconteceu durante o periodo intermediário). Assim, lê-se o
desenvolvimento do filme colorido como "um evanço que acabou provao-
do ser um ÍegÍesso", rürs que, poÍ assim dizeÍ, Sera lateralmente o "pÍo-
gresso'mais tan8ível do cinema experimental: 'o campo inteimmente novo
do cinemâ independente começou a aparecer entÍe o cinema domêstico e
a indústria cinematográffca". Mais recentemente, tenho encontrado materi-
ais bastante elucidativos sobÍe miDhâ Íeação a Hitchcock em Le CbarnP
awugle (PaÍts, Gallimard, 1982), de Pascal BonitzeÍ, bem como no notável
Tbe wo%en vho Kneu Too Much (Nova York, Methuen, 1988), de Tania
Modleski, e rambém nos comentários lacanianos altamente sugestivos de
Slavoi Zizek e seus colaboÍadoÍes, ern Tout ce que uous auez toujours
ooulu saooiÍ sul Locan sans JornoLt 6er l2 demofldet à Hitcbcoch (PaÍis,
NavaÍin, 1988).
Índice
257
258 /
Finnegans V/ake <)oyce), 20, 209 Hirchcock, Alfred, 6, 15, 78, 85, 89-91,
Flaubert, Gusrave, 48,94, zt2, zl7 lM{A, tt2-14,116-25, 164, m3, ?o5,
Flores, Àngel, 111 209, 211, 213-16, 219-22
Poley, Barbara, 246 Hltcbcock: The Murderous Gaze (Roth,-
Fontane, Theodor, 94, 242 man), 102-30 passim
Ford, John, 6, 15, 204 Hitler, Adolf, 65, @-n, 75, 76, 80-82,
Forman, Milos. 41 150, r89
Foucâulr, Michel, 62, 129 Hltler Um Fílfie da Alenqnha (Our
Four ín Atneríca (Stei\), 76 -
Hitler, Syherberg), 67
F r a fl c e/Ta ur/ Dé t ou t/ D e u r/ EnÍants Hlelmslev, Louis, 141
(codard),67 Holland, Agnuszka, 132
F.ank, Joseph, I51,244 Holland, Norman, 2i
Frears, Stepheo, 173 Holm, Eric, 237
Frenest (Frenzl, Hirchcock), 113, 214 Hombre de Frtto, Un(Solzs), 222-24, 226
Freud, Sigrnund, 4, 20,38, 1O3, 146,14j, Homefi .lue Calu na Tefta, O (Tbe Man
li1, 218 Vho Fe to Eafib, RocE>, 86
Ffled, Mtchael, 240 HorneTn. que SablaDenais, O (The Man
FrLedkin, rvrlliam, 89 lYho Kneu Too Mucb, Hitchcock,
Frirh, Simon, 252 193q, r11, 215, 211
Frye, NoÍrhrop, 28, 70 Hanem que Sabla Demok, O (Tlre Man
wbg Kneu Too Much, Hilchcock,
Gance, Àbel, 81 1916), 113,214,215
GaÍcia Márquez, ca,htiel, 131, 132, 142 Huston, John, 149
Gide, Ândré, 210
CiÍard, Reoé, 4 Ilumhado, (Shintng, Tbe, Kng),93
O
Gtass, Phrlip, l4 Ilumtnado, O (Shinlng, IDe, Kubrjck),
Global Reacb (BaÍner e Muller), 54 86, 88, 89, 91-92,95-101
O[ória ltttt úe Sa:l.gqa Ub?bs oÍ Gtüty, Inte údto (Natorlous Hirchcock), 220
KubntX), 86 Inrdga Internaclonal <Nortb h)) Norrb-
Godard, Jean-Luc, 6, tt, 11,60,6649, u,s§r, Hitchcock), 111, 114, 220
77, AO, 704, r92, r93,224, 238, 255 Inuerno de Sangue efi Veneza (Don't
González Echeverría, Roberto, 241 Look Nou, RoeE), 86
Gouldner, Àlvin, 171 Iran Drean, Tbe (Spintad), 7Z
GÍamsÕ, Anronio, 185
Grdnde colpe, O (Tbe Killtng, K!lrrirc]r.'), Jakobson, Rom n, 247
86 James, Henry, 9, 76, 11r, 152
criffirh, D ut.,104, tz6,161, z}t,2oa Janelq Indíscreta (Rear Wtndou, Hitch.-
cuattari, IélLx, 103, 171 , 178 cock), 72r,220
JaÍmusch, Jim, 173
Habermas, Jürgeo, 207, 238,253 laus (Betrchley), 27
Hansen, Duane, 59 laus (spielbery), 9, 27
Hawks, Howard, 150 leanne Dtelrnan (AkeÍman), 173
'15,10, 84, 176, 21z, 213,
Heath, Stephen, 26, 236 Joyce, James,
Hegel, G. \üí. F,20,7A, 165, 184, 186, 216, 218
r92, 2OA, 238, 248, 253
Heidegger, Manin, 11, 43, 191, 198, 2OO KahleÍ, Gert, 250
Herrmann, Bernard, 214 Kant, Immanuel, 1, '17, 82,206, 212
Hillier, Bevis, 250 KaÍarani Koiin, 4, 2r0
Hines, Lev,'is, 188, 196 Karl Muy Ern Busca do Paraíso
História da sexüahdade (FoücÀult), 62 -
Perdido lKarl May In Searcb of
Hísrôria e consclência de classe (Lr- -
Paft4drse Lost, Syberber$, 73
KaCS), r / ) Keaton, Buster,216
260 / irldice