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Débora Pastana, “Cultura do Medo e Democracia: um Paradoxo Brasileiro”

A cultura do medo é tomada pela autora como a “somatória dos valores,


comportamentos e do senso comum que, associados à questão da criminalidade,
reproduz a ideia hegemônica de insegurança e, com isso, perpetua uma forma de
dominação marcada pelo autoritarismo e pela rejeição aos princípios democráticos”.

Isto posto, de acordo com ideais do historiador Jean Delumeau, a necessidade


de segurança mostra-se fundamental em qualquer sociedade, situando-se na base das
relações afetivas e morais. No Brasil, o medo está atrelado, em grande medida, à
violência criminal. Para sua análise, é preciso, em primeiro lugar, inseri-lo nas
transformações políticas e sociais mais recentes.

Para a autora, o medo estaria incorporado à rotina dos brasileiros, tendo mais
visibilidade que a própria violência urbana. Diante disso, as cidades e o modo de viver
estariam sendo tomados pela chamada “arquitetura do medo”, visível em sistemas de
segurança e monitoramento, prédios murados e etc. Ainda nesse sentido, os espaços
urbanos tornam-se cada vez menos democráticos, já que fortificações e separações
tendem a prevalecer.

Outro papel importante para o fomento da cultura do medo é desempenhado


pela mídia, que confere ao crime lugar de protagonismo nas notícias. Especificamente
no plano da violência criminal, o processo de produção das informações não reflete a
realidade da punição como deveria. Além disso, sempre se situa na concepção de
violência e de sujeitos violentos conforme a concepção dominante, que perpetua
estigmas de raça e classe.

Ainda nessa ordem de ideias, a autora cita estudos do ILANUD (Instituto Latino-
americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do
Delinquente) sobre as distorções midiáticas no campo da violência criminal. A despeito
da incidência muito mais significativa de pequenos furtos e lesões corporais, a mídia
realiza uma cobertura muito maior de delitos menos frequentes, como estupros,
sequestros e homicídios. Com isso, há uma superestimação dos crimes violentos, o que
potencializa a sensação de insegurança. Essas distorções também são apropriadas com
frequência por políticos e membros das forças armadas, que não raro se refletem em
políticas públicas de recrudescimento penal.
É importante precisar, então, o papel da ideologia na construção da cultura.
Esta é compreendida como “a expressão das necessidades historicamente
condicionadas de um grupo social e de seus indivíduos”, ao passo que a ideologia é
concebida enquanto “sistema de representações, normas e valores da classe
dominante que ocultam sua particularidade numa universalidade abstrata”.

Assim, em sociedades marcadas pela desigualdade, a dominação é exercida


também pela difusão de valores que permitam seu reconhecimento e legitimidade.
Nesse sentido, uma das formas de exercício da hegemonia é a projeção desses valores
na classe oprimida, de forma a convence-la da necessidade do autoritarismo que a
oprime para a manutenção da segurança.

Paradoxalmente, a resposta mais frequente do Estado é a produção de mais


violência, através do autoritarismo e do recrudescimento penal. Cria-se, com isso, um
imaginário de ordem, alcançada pela punição crescente, que institucionaliza a
violência e se sustenta a partir do medo.

Contribuem para todo esse movimento as singularidades da transição


democrática do Brasil, em que as elites garantiram sua continuidade no poder através
da negociação da abertura política. Não houve, portanto, nenhuma alteração nas
relações de poder, e o processo de democratização contou com uma participação
popular bastante restrita.

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