Sunteți pe pagina 1din 10

CARREIRA JURÍDICA 2014

Processo Civil
Maurício Cunha

JURISDIÇÃO voluntária, pois não há substituição da


vontade das partes. Para Carnelutti,
Conceito e características porém, jurisdição consiste na justa
composição da lide (conflito de interesses
• Como ensina Ovídio Baptista, a ideia de qualificado por uma pretensão resistida),
direito, no Estado Moderno, suscita, desde mediante sentença de natureza declarativa,
logo, a ideia de jurisdição. O jurista por meio da qual o juiz dicit ius, daí porque,
contemporâneo tende a equiparar o direito para ele, não haveria jurisdição no
à norma jurídica editada pelo Estado, cuja processo executivo.
inobservância dá lugar a uma sanção. Fredie Didier Jr somente não adota a ideia
de Chiovenda de que a jurisdição é
• Jurisdição é atividade meramente declaratória, mas,
(a) função atribuída a terceiro imparcial sim, criativa.
(substitutividade) Juiz não deve ter interesse no litígio, mas
(b) de realizar o Direito de modo imperativo. tratar as partes com igualdade
(imperatividade) (equidistante, na posição de Ada Pellegrini
(c) manifestação de soberania Grinover), garantindo o contraditório em
(d) reconhecendo/efetivando/protegendo paridade de armas (isso é imparcialidade,
situações jurídicas daí porque se mostra importante também
(e) concretamente deduzidas estudar as garantias e vedações
(f) em decisão insuscetível de controle constitucionais dos magistrados previstas
externo no art. 95, CPC).
(f) e com aptidão para tornar-se indiscutível
(ânimo de definitividade) (b) manifestação de um poder que se
(h) enfim, poder do Estado de dirimir os impõe de forma imperativa
conflitos. (imperatividade), mas o Estado pode
autorizar o exercício da função jurisdicional
O conceito em questão está de acordo com por agentes privados (arbitragem). Há
as transformações pelas quais passou o estudo específico sobre a arbitragem nos
Estado nos últimos tempos (criação de tópicos seguintes.
agências reguladoras e executivas;
valorização e reconhecimento da força (c) a tutela dos direitos dá-se ou pelo seu
normativa da CF a exigir do PJ postura reconhecimento judicial (conhecimento), ou
mais ativa e criativa para a solução dos pela sua efetivação (execução) ou pela sua
problemas; desenvolvimento da teoria dos proteção (tutela de segurança, cautelar ou
direitos fundamentais e aplicação direta das inibitória).
normas; alteração da técnica legislativa
com a utilização da técnica das cláusulas (d) a atuação jurisdicional se dá sempre
gerais, deixando o sistema normativo mais sobre uma situação concreta (não se pode
aberto; evolução do controle de restringir a jurisdição a um tipo de situação
constitucionalidade difuso que produziu a concreta, como a lide, pois a situação pode
possibilidade de enunciado vinculante da ser de ameaça de lesão a direitos, por
súmula do STF). exemplo), um determinado problema que é
levado ao seu conhecimento. A atuação é
(a) técnica de solução de conflitos por sempre tópica.
heterocomposição, ou seja, um terceiro
imparcial (e desinteressado – filho é (e) aplica-se o direito a uma situação
terceiro em um conflito do pai contra outra concreta, sem que se possa submeter essa
pessoa, mas não é desinteressado) decisão ao controle de nenhum outro
substitui (ideia de Chiovenda) a vontade poder. A jurisdição somente é controlada
das partes pela vontade da lei e determina pela própria jurisdição.
a solução do problema apresentado
(substitutividade), exceção na jurisdição

www.cers.com.br 1
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

(f) somente uma decisão judicial pode objetivo ao caso concreto. Não mais se
tornar-se indiscutível e imutável pela coisa compreende que o poder jurisdicional não
julgada material (consequência de um se limita a “dizer” o direito, mas também de
princípio maior que é o da segurança “impor” o direito.
jurídica, evitando-se a eternização dos Como função, a jurisdição é o encargo
litígios). Só os atos jurisdicionais podem atribuído pela CF, em regra ao Poder
adquirir essa definitividade, que recebe o Judiciário (função típica), e
nome de coisa julgada (art. 5º, XXXVI, CF). excepcionalmente, a outros Poderes
(função atípica) de exercer concretamente
• Em suma, jurisdição é função estatal para o poder jurisdicional.
prevenir e compor conflitos, aplicando o A função jurisdicional não é privativa do
direito ao caso concreto, em última Poder Judiciário, como se constata nos
instância, resguardando a ordem jurídica e processos de impeachment do Presidente
a paz social, sendo exercida em todo o da República, realizados pelo Poder
território nacional (art. 1°, CPC). Legislativo (art. 49, IX e art. 52, I, ambos
da CF), ou nas sindicâncias e processos
• Ainda nas palavras de Chiovenda, pode se administrativos conduzidos pelo Poder
definir jurisdição como “a função do Estado Executivo (art. 41, § 1º, II, CF), ainda que
que tem como escopo a atuação da nestes casos não haja definitividade.
vontade concreta da lei por meio da Também o Poder Judiciário exerce de
substituição, pela atividade de órgãos forma atípica função administrativa (p.e.,
públicos, da atividade de particulares ou de organização de concursos públicos) e
outros órgãos públicos”. Enfim, dito de legislativa (elaboração de regimentos
outra forma, limita-se o Estado, ao exercer a internos dos tribunais).
função jurisdicional, a declarar direitos Como atividade, a jurisdição é o complexo
preexistentes e atuar na prática os comandos de atos praticados, no processo, pelo
da lei. Tal atividade caracterizar-se-ia, agente estatal investido de jurisdição.
essencialmente, pelo seu caráter substitutivo,
já enunciado. Equivalentes jurisdicionais

• Para o exercício da função jurisdicional é • São formas não-jurisdicionais de solução


que o Estado Democrático de Direito se de conflitos, daí porque chamadas de
utiliza do processo, verdadeiro método que equivalentes (formas alternativas de
deve garantir o atingimento de seus solução dos conflitos). Não são definitivas,
devidos fins pelos devidos meios. pois podem ser submetidas ao controle
Jurisdição, portanto, somente pode ser jurisdicional. Equivalem, porém, à jurisdição
compreendida a partir do instrumento de porque servem para resolver conflitos. São
sua manifestação, que é o processo. os seguintes:

• AÇÃO > JURISDIÇÃO > PROCESSO (não • Autotutela – forma mais antiga de solução
esquecer da RESPOSTA). dos conflitos, constituindo-se,
fundamentalmente, pelo sacrifício integral
• Não esquecer, também, que há doutrina do interesse de uma das partes envolvida
(Dinamarco) que prefere analisar a no conflito em razão do exercício da força
jurisdição sob 3 aspectos distintos: poder, pela parte vencedora. São exemplos:
função e atividade. O poder jurisdicional é legítima defesa (art. 188, I, CC), desforço
o que permite o exercício da função imediato (art. 1210, § 1º, CC), direito de
jurisdicional que se materializa no caso greve, direito de retenção, estado de
concreto por meio da atividade jurisdicional. necessidade, guerra etc. Trata-se de
Como poder, a jurisdição representa o solução vedada, como regra, nos
poder estatal de interferir na esfera jurídica ordenamentos jurídicos civilizados,
dos jurisdicionados, aplicando o direito podendo ser amplamente revista pelo
Poder Judiciário.

www.cers.com.br 2
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

capazes para solucionar problemas


• Autocomposição – consentimento relacionados a direitos disponíveis.
espontâneo de um dos contendores em
sacrificar o interesse próprio, no todo ou em • Para a maioria doutrinária, é equivalente
parte, em favor do interesse alheio. É jurisdicional (Humberto Theodoro Jr,
gênero do qual são espécies a transação Vicente Greco Filho, Luiz Guilherme
(concessões mútuas) é a mais tradicional, Marinoni, Cassio Scarpinella Bueno). Há,
na qual a solução é dada pelas partes, porém, quem entenda que não se trata de
sendo que cada uma delas faz concessões equivalente jurisdicional, sendo jurisdição
recíprocas; a renúncia em que não há propriamente dita, exercida por particulares,
concessões recíprocas, mas apenas com autorização do Estado (Fredie Didier
unilateral por parte do autor que abdica de Jr, Carlos Alberto Carmona e Joel Dias
sua pretensão; e, por fim, a submissão Figueira Jr). Há confusão nesse tocante,
(reconhecimento da procedência do mas com pouca importância prática, já
pedido) onde não se vislumbram tendo, o STJ, tratado a arbitragem ora
concessões recíprocas, mas apenas como equivalente jurisdicional e ora como
unilateral, por parte do réu que reconhece a espécie de jurisdição privada (MS
razão do autor. Aqui há uma certa hibridez: 11.308/DF, rel. Min. Luiz Fux, j. 9.4.2008).
substancialmente, o conflito foi resolvido
por autocomposição, mas, formalmente, em • Regulamentação pela Lei Federal 9.307/96,
razão da sentença judicial homologatória, não afrontando o princípio da
há o exercício de jurisdição. inafastabilidade da jurisdição (5º, XXXV,
CF).
• Mediação – um terceiro (profissional
devidamente preparado) se coloca entre os • Com relação à abrangência da Lei de
contendores e tenta conduzi-los (não Arbitragem, o STJ editou a Súmula 485
propõe soluções do conflito) à descoberta que tem como redação o seguinte: “a lei de
das causas de forma a possibilitar sua arbitragem aplica-se aos contratos que
remoção e assim chegarem à solução do contenham cláusulas, ainda que celebradas
conflito. antes da sua edição”. Pacificou dessa
forma, a discussão gerada em torno de sua
• Julgamento de conflitos por tribunais efetividade frente aos contratos celebrados
administrativos – Tribunal Marítimo, que possuíam, por sua vez, cláusulas de
Tribunal de Contas, Agências Reguladoras, previsão de arbitragem, porém, celebrados
CADE. antes de sua vigência.

• Arbitragem – é o equivalente jurisdicional • A convenção de arbitragem (art. 3º)


mais polêmico no que tange à sua compreende tanto a cláusula
natureza. Alguns entendem que a compromissória como o compromisso
arbitragem é jurisdição privada e não arbitral.
equivalente jurisdicional. Já outros, afirmam A cláusula compromissória (art. 4º) é
não ser nem mesmo uma jurisdição porque aquela que designa a intenção das partes
não é estatal. Nela tem-se um terceiro que de resolver disputas futuras por meio da
decide e impõe sua decisão. arbitragem, celebrada, assim, previamente.
É também chamada de cláusula
Arbitragem compromissória “cheia”.
• Técnica de solução de conflitos mediante a Já o compromisso arbitral (art. 9º) é o ato,
qual os conflitantes buscam em uma formal e escrito, que, efetivamente, dá
terceira pessoa, de sua confiança, a início ao processo de arbitragem (regras
solução amigável e imparcial do litígio. É deverão constar expressamente neste
heterocomposição, não é compulsória e sentido). Pode ser estabelecido
constitui-se em opção conferida a pessoas independentemente da existência de
cláusula compromissória, até mesmo no

www.cers.com.br 3
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

curso do procedimento arbitral, mas sempre celebração da convenção de arbitragem


antes da audiência de tentativa de não é causa impeditiva da deflagração do
conciliação. processo de falência perante o Judiciário,
A convenção de arbitragem não é eis que “a executividade de um título de
pressuposto processual de por ser matéria crédito não é afetada pela convenção de
de direito dispositivo que, para ser arbitragem”.
examinada, não dispensa a iniciativa do
réu. Caso o réu não a alegue, o processo Princípios
prossegue e é julgado perante a jurisdição • Investidura: exercício somente por aquele
estatal. A ausência de alegação do réu que tenha sido regularmente investido na
torna a justiça estatal competente para autoridade de juiz mediante concurso
julgar a lide e, por inexistir qualquer público (art. 93, I, CF) e indicação pelo
invalidade, o processo não será extinto. Poder Executivo, por meio do quinto
constitucional (art. 94, CF). É considerado
• Características: escolha da norma de direito pressuposto processual de existência.
material a ser aplicada; árbitro;
desnecessidade de homologação judicial • Territorialidade (aderência ao território):
da sentença arbitral (art. 18); sentença todo juiz terá jurisdição em todo o território
arbitral é título executivo judicial (arts. 31 e nacional. Entretanto, por uma questão de
475-N, IV, CPC); possibilidade de funcionalidade, considerando-se o elevado
reconhecimento e execução de sentenças número de juízes e a extensão do território
arbitrais produzidas no exterior. nacional, normas jurídicas limitam o
A decisão arbitral faz coisa julgada material, exercício legítimo da jurisdição a um
podendo ser invalidada (vícios formais) pela determinado território.
via judicial no prazo de 90 (noventa) dias As regras de competência territorial
após o recebimento da intimação da definirão um determinado território, e pelo
sentença arbitral (art. 33, § 1º). princípio da aderência ao território, a
atuação jurisdicional somente será legítima
• Existência de conflito de competência entre dentro desses limites territoriais.
um órgão jurisdicional do Estado e uma É com base neste princípio que surge a
Câmara Arbitral: STJ é competente para a necessidade de as autoridades
apreciação, porque a arbitragem teria judiciárias cooperarem entre si, cada
natureza jurisdicional (CC 111230/DF, 2ª uma ajudando a outra no exercício da
Seção da Corte, rel. Min. Nancy Andrighi, atividade jurisdicional em seu território
j. 8.5.2013). Entendeu-se, ainda, que é de (surgem as cartas precatória e
competência do tribunal de arbitragem, e rogatória).
não do Judiciário, analisar pedidos de Mitigação em 2 oportunidades: art. 107,
indicação de bens para garantir execuções CPC (imóvel localizado em mais de
de dívidas, antes mesmo da instauração de uma comarca) e art. 230, CPC (atos de
procedimento arbitral. Foi a primeira vez simples comunicação processual –
que a Corte analisou a questão, mas o citação e intimação – em comarcas
placar apertado do julgamento - cinco votos contíguas ou da mesma região
a quatro - indica, segundo advogados, que metropolitana, independentemente de
a discussão ainda está longe de terminar. carta precatória).
Importante: o lugar onde a decisão tem
• A 3ª Turma do STJ, REsp 1277725/AM, 3ª de ser proferida não se confunde com o
Turma, j. 12.3.2013, estabeleceu que, lugar em que ela deve produzir efeitos
ainda que conste de contrato inadimplido a (decisão brasileira produzir efeitos no
previsão de resolução de conflitos por meio Japão, divórcio feito numa determinada
da arbitragem, é possível ao credor ajuizar comarca e mudança do ex-casal para
pedido de falência do devedor ou mesmo outras comarcas etc.).
execução sem a prévia realização de juízo
arbitral. Asseverou o referido acórdão que a

www.cers.com.br 4
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

• Indelegabilidade: o exercício da função exceção: art. 67, CPC (nomeação à


jurisdicional não pode ser delegado e autoria).
somente podem atuar
jurisdicionalmente aqueles que a CF • Inafastabilidade: previsão legal no art.
cria e autoriza. 5°, XXXV, CF, constituindo-se na
Importante: a vedação se aplica consagração, em sede constitucional,
integralmente no caso de poder do direito fundamental de ação, de
decisório, mas não em relação a outros acesso ao Poder Judiciário. Conquista
poderes judiciais, como o instrutório, o que surgiu a partir do momento em que,
diretivo do processo e de execução das proibida a autotutela privada, assumiu o
decisões. A carta de ordem, expedida Estado o monopólio da jurisdição. Ação
pelos tribunais no sentido de delegar, (criou-se o direito, abstrato) e
ao juízo de primeiro grau, a produção jurisdição (dever do Estado) são
de provas orais e periciais, é um institutos que nasceram um para o
exemplo, justificando-se por faltar outro, segundo Fredie Didier Jr. Não
estrutura aos tribunais para a prática de há, portanto, matéria que possa ser
tais atos. excluída da apreciação pelo Poder
Nas cartas precatórias não há Judiciário, ressalvadas raríssimas
delegação, pois não há delegação de exceções, como a do processamento e
competência, apenas um pedido de julgamento de certas autoridades em
cooperação. O juiz deprecante não certas hipóteses (art. 52, I e II, CF).
pode praticar o ato deprecado, daí A ameaça a que faz referência o
porque não poderia delegá-lo (Fredie dispositivo constitucional consagra a
Didier Jr e Daniel Assumpção). tutela preventiva, a tutela de urgência e
A CF, no art. 93, XI, autoriza a a tutela contra o perigo.
delegação da competência do Tribunal A única imposição constitucional de
Pleno (todos os membros do tribunal) esgotamento das vias extrajudiciais é
para o órgão especial deste mesmo em relação às questões desportivas
tribunal (mínimo de 11 e máximo de (art. 217, p. 1º, CF).
25). Conforme entendimento pacificado no
A CF, no art. 93, XIV, ainda, autoriza a STJ, o habeas data só é cabível se
delegação, a serventuário da justiça, do houver recusa de informações por parte
poder de praticar atos de administração da autoridade administrativa (Súmula 2,
(não autoriza a delegação de poder de STJ). Aqui, a exigência de recusa é
polícia, como a presidência de uma indispensável para o surgimento da lide,
audiência de instrução) e de mero sem o que na há interesse de agir, não
expediente sem caráter decisório. O representando espécie de
CPC, no art. 162, p. 4º, autoriza a abrandamento do princípio.
prática, de ofício, dos chamados atos A nossa jurisdição é una (não há
meramente ordinatórios (juntada e vista jurisdição administrativa, como ocorre
obrigatória) que podem ser revistos pelo em países como Itália, Portugal,
juiz quando necessários. Espanha, França e Argentina),
imposição que advém da CF de 1891.
• Inevitabilidade: as partes hão de Importante: leis que limitam ou
submeter ao quanto decidido pelo órgão proíbem a concessão de medidas de
jurisdicional. Situação das partes é de urgência, notadamente, em face do
sujeição perante o Estado-juiz, Poder Público (4.348/64, 5.021/66,
independentemente de sua vontade, o 8.437/92 e 9.494/97) foram
que também reforça a ideia de consideradas pelo STF, neste aspecto
imperatividade. “Vinculação restritivo, constitucionais (ADIN 223-
obrigatória” e “estado de sujeição” dos DF). Nada impede, porém, que o Juiz,
sujeitos processuais. Há uma única se o caso, aprecie a

www.cers.com.br 5
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

constitucionalidade/razoabilidade da provocada pela parte ou pelo


restrição. interessado. Tal princípio trabalha com
É preciso garantir a efetiva a função de também, preservar a
concretização do direito de ação e do imparcialidade do julgador. Dentro da
juiz natural através de uma tutela codificação processual, o art. 262,
jurisdicional rápida, efetiva e adequada. CPC, ratifica essa assertiva quando diz
Significa dizer, então, que a adequação que “o processo civil começa por
compreende a garantia do iniciativa da parte, mas se desenvolve
procedimento, a espécie de cognição, a por impulso oficial”. Contudo, como toda
natureza do provimento e os meios regra tem sua exceção, tal postulado
executórios adequados às também possui as suas. Dessa forma,
peculiaridades da situação de direito ele é mitigado na jurisdição voluntária
material (é daí que se extrai a garantia (arts. 1.129, 1.142 e 1.160, CPC).
do devido processo legal). Outras exceções se apresentam com
relação ao inventário de ofício (art. 989,
• Juiz natural: garantia decorrente da CPC), as medidas cautelares “ex officio”
cláusula do devido processo legal, sem (art. 797, CPC – medidas, mas não
previsão expressa, mas que resulta da processos), a decretação da falência no
conjugação de dois dispositivos curso da recuperação judicial (Lei n.
constitucionais, quais sejam, o que 11.101/05, arts. 53, 56, § 4°, 61, § 1°,
proíbe juízo ou tribunal de exceção (art. 72, § único, e 73), além do habeas
5º, XXXVII, CF) e o que determina que corpus de ofício (art. 654, § 2°, CPP) e
ninguém será processado senão pela a execução trabalhista (art. 114, VIII,
autoridade competente (art. 5º, LIII, CF).
CF).
Juiz natural é o juiz competente de • Promotor natural: indicado por parcela
acordo com as regras gerais e abstratas da doutrina e consistindo no
previamente estabelecidas (aspecto impedimento de que o Procurador-Geral
formal), bem como aquele que seja de Justiça faça designações
imparcial e independente (aspecto discricionárias de promotores ad hoc, o
substancial). que elimina a figura do acusador
As regras de distribuição dos feitos público de encomenda, que poderia, em
servem exatamente para fazer valer a tese, tanto ser indicado para perseguir o
garantia do juiz natural (impossibilidade acusado como para assegurar a
de escolha pelo juiz), sendo que o impunidade de alguém.
desrespeito às regras de distribuição Há decisões dos tribunais superiores
por dependência implica incompetência que delimitam de forma interessante a
absoluta. abrangência do referido princípio. A
O legislador tenta evitar a escolha do indicação de “promotor assistente”, para
juiz pelo autor com a previsão do art. atuar em conjunto com o promotor da
253, II, CPC, ao criar uma regra de causa, não ofende o princípio em
competência absoluta do juízo que questão (Informativo 390, STJ, 6ª
extingue o processo sem resolução do Turma, HC 40.394/MG, rel. Min. Og
mérito (art. 267, CPC) quando essa Fernandes, j. 14.4.2009), o mesmo
demanda é novamente proposta. ocorrendo com as “equipes
• Inércia: presente no art. 2°, CPC, que especializadas de promotores de
assim dispõe: “nenhum juiz prestará a justiça” ou “formação de forças-tarefas”
tutela jurisdicional senão quando a para determinada área de atividade
parte ou o interessado a requerer, nos (STF, 2ª Turma, HC 96700/PE, rel.
casos e forma legais”. Dito isso, o Min. Eros Grau, j. 17.3.2009). A
princípio da inércia é aquele que orienta designação de promotor para atuar em
no sentido de que a jurisdição somente determinada sessão do tribunal do júri,
poderá ser exercida caso seja desde que previamente feita, e

www.cers.com.br 6
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

motivada, não afronta o referido de generalidade. Aquilo que não cabe à


princípio (STF, HC, 103038/PA, 2ª jurisdição penal ou especial, a ela
Turma, rel. Min. Joaquim Barbosa, j. pertencerá. Ela pode ser ainda
11.10.2011). contenciosa ou voluntária, sendo essa,
apenas homologatória de acordos feitos
Espécies de jurisdição entre as partes, e aquela é presumida
• A jurisdição é una e indivisível, razão de haver um litígio que origina um
pela qual a única forma de conceber a processo que produz a coisa julgada.
“divisão” da jurisdição em diferentes
espécies é adotando-se determinados Jurisdição Voluntária (1.103/1.210, CPC)
critérios com a finalidade meramente Tema doutrinariamente polêmico, já tendo sido
acadêmica. dito, inclusive, que não se trataria nem de
jurisdição, tampouco de voluntariedade. Não
• Pelo critério que a exercem: tem relação com a chamada jurisdição
Jurisdição comum e especial: esta administrativa de países como Itália, Portugal,
última é exercida pelas chamadas Espanha, França e Argentina.
“justiças especiais”, que tem fixação
constitucional de sua competência em • As características gerais, porém, são
virtude da matéria que será objeto da aceitas, pela doutrina, em sua maioria:
demanda judicial. A CF reconhece a
Justiça do Trabalho (arts. 111/116), a a) atividade estatal de integração (da
Justiça Eleitoral (arts. 118/121) e a vontade do interessado) e fiscalização,
Justiça Militar (arts. 122/125). Já a pois os efeitos jurídicos almejados
jurisdição comum é residual, ou seja, somente poderão ser obtidos após a
tudo que não for de competência atuação do Estado-juiz, que o faz
dessas justiças especiais, englobando a quando, de plano, fiscaliza os requisitos
Justiça Estadual e a Justiça Federal. legais (é por isso que se diz que não
haveria voluntariedade alguma, mas,
• Pela posição hierárquica: sim, obrigatoriedade). A obrigatoriedade
Jurisdição superior ou inferior: a é decorrência exclusiva da previsão
inferior é exercida pelo órgão legal, significando uma opção do
jurisdicional que enfrenta o processo legislador de condicionar o efeito
desde o início, ou seja, aquele que tem jurídico de determinadas relações
competência originária para a demanda, jurídicas, em razão de seu objeto e/ou
enquanto a jurisdição superior é de seus sujeitos, à intervenção do juiz,
exercida em hipótese de atuação provavelmente em razão do status de
recursal dos tribunais. Os tribunais imparcialidade retidão de conduta e
podem tanto exercer jurisdição superior compromisso coma justiça que
como inferior. supostamente todos os juízes deveriam
ter;
• Podem ser ainda:
Jurisdição penal ou civil: critério que b) aplicam-se as garantias
leva em conta a natureza do objeto da fundamentais do processo e as
demanda judicial. Sendo matéria penal, garantias da magistratura (quanto aos
naturalmente haverá jurisdição penal, e, poderes processuais, a doutrina aponta
de forma subsidiária, não sendo o a característica da inquisitoriedade – o
direito material discutido na demanda juiz pode tomar decisões contra a
de natureza penal, a jurisdição será vontade dos interessados e ter a
civil. A jurisdição civil é bastante ampla, iniciativa do procedimento, como nos
pois abrange, ao menos em tese, todas arts. 1.129, 1.142, 1.160 e 1.171, CPC
as matérias que não sejam penais. A – e a característica da possibilidade de
jurisdição civil é delineada por exclusão, decisão fundada em equidade – não
ela se apresenta com a característica observar a legalidade estrita e usar de

www.cers.com.br 7
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

discricionariedade, decidindo de acordo o arrendamento ou oneração de


com os critérios de conveniência e bens de incapazes, a locação de
oportunidade, como afirma o art. 1.109, coisa comum, o alvará para a venda
CPC, ainda que contrariamente à lei, de bens de incapazes;
situação que, para a época, era bem e) Executórios (Estado-juiz exerce
interessante, mas que, hoje, somente atividade prática que modifica o
diz o que já se sabe) ; mundo exterior), como a alienação
de coisas, a administração de coisa
c) procedimentalmente falando, há comum, a arrecadação de herança
regras comuns (arts. 1.103/1.112, jacente etc.;
CPC) e especiais (arts. 1.113 e f) Tutelares (envolve a proteção de
seguintes, CPC); determinadas pessoas que se
encontram em situação de
d) em todos os procedimentos de desamparo), como a nomeação ou
jurisdição voluntária, por força do art. remoção de tutores/curadores, a
1.105, CPC, o MP deve ser intimado exibição de testamento.
pessoalmente (art. 236, p. 2º, CPC). • Para José Frederico Marques trata de
Verificar que o legislador usa a jurisdição voluntária da seguinte forma:
expressão citação de forma errônea. O “é atividade resultante de negócio
STJ tem entendido que a intervenção jurídico que se exige um ato do Estado,
do MP não deve se dar nos para que o negócio se realize ou
procedimentos de alienação, locação e complete”. Acrescenta que, como
administração da coisa comum e função, ela tem natureza administrativa,
alienação de quinhão em coisa comum, do ponto de vista material, e é ato
mas, tão-somente, nas questões que judiciário, do ponto de vista subjetivo ou
envolvam os direitos indisponíveis, orgânico; em relação às suas
comprovando, concretamente, uma das finalidades, é função preventiva e
causas do art. 82, CPC. também constitutiva. Na jurisdição
voluntária não há lide, mas somente
• Classificação dos procedimentos de administração pública de interesses
jurisdição voluntária (Leonardo Greco): privados. É uma das funções do Estado,
a) Receptícios (registrar, documentar confiada ao Poder Judiciário, em virtude
ou comunicar manifestação de da idoneidade, responsabilidade e
vontade), como as notificações, independência dos juízes perante a
interpelações e protestos; sociedade, visando evitar litígios
b) Probatórios (produção de prova é o futuros, ou irregularidades e deficiências
limite), como a justificação. A na formação do ato ou negócio jurídico.
produção antecipada de prova é Quanto ao conceito da jurisdição
discutível se voluntária ou voluntária, está muito longe de ser
contenciosa; pacificado na doutrina pátria, existindo
c) Declaratórios (limita-se a declarar a correntes que procuram explicar sua
existência ou inexistência de uma natureza sobre 3 (três) atividades: a
situação jurídica), como na extinção administrativa, a jurisdicional e a
de usufruto, da posse em nome do autônoma. Entretanto, nenhuma possui
nascituro e na confirmação do unanimidade.
testamento particular; • A jurisdição voluntária como
d) Constitutivos (a criação, a administração pública de interesses
modificação ou extinção de uma privados (natureza administrativa) é
situação jurídica dependem da a primeira corrente e ideia que
concorrência da vontade do juiz, por prevalece na doutrina brasileira,
meio de autorizações, conforme concepção de José
homologações, aprovações etc.), Frederico Marques. Os principais
como a interdição, a emancipação, argumentos, segundo Ovídio Baptista,

www.cers.com.br 8
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

de que se valem os juristas para b) a única definição possível de


demonstrar a natureza administrativa jurisdição se baseia em seu aspecto
dos atos de jurisdição voluntária, são: subjetivo : jurisdição é atividade
a) a jurisdição contenciosa tem caráter exercida por juízes. A jurisdição
repressivo e a jurisdição voluntária voluntária é, assim, inevitável;
tem caráter preventivo do litígio; c) processo é categoria que pertence à
b) aquela tem função meramente teoria geral do direito e é por isso
declaratória enquanto esta tem que se fala em processo
função constitutiva, haja vista que legislativos, administrativo, negocial
se destina à formação de atos e e jurisdicional. Não se pode negar,
negócio jurídicos; portanto, a existência de um
c) a jurisdição voluntária não comporta processo na jurisdição voluntária
o princípio do contraditório, não (que se exerce por meio das formas
existindo, portanto, partes, mas processuais conhecidas, como a
simples interessados; petição inicial, sentença, apelação
d) os atos de jurisdição voluntária não etc.), ainda que um processo
produzem coisa julgada, enquanto a administrativo. É, também,
sentença proferida em processo de procedimento em contraditório;
jurisdição contenciosa produz coisa d) o juiz atua para atender interesse
julgada; privado, como terceiro imparcial. A
e) jurisdição contenciosa corresponde administração, por sua vez, age no
a uma forma de atuação do direito seu próprio interesse, no interesse
objetivo, enquanto a jurisdição do Estado, da coletividade como um
voluntária visa realizar certos todo;
interesses públicos subordinados ao e) se há processo e jurisdição, então
direito. há ação;
f) há partes, com todos os direitos e
• A jurisdição voluntária como atividade deveres dela decorrentes. Dizer que
jurisdicional (natureza jurisdicional) porque não há litígio não há partes é
é a segunda corrente, minoritária por desconhecer comezinha distinção
acaso, mas que vem ganhando dogmática. Parte em sentido
adeptos, como Calmon de Passos, substancial é a parte do litígio,
Ovídio Baptista e Leonardo Greco. A enquanto que parte no sentido
corrente doutrinária que entende que a processual é o sujeito da relação
jurisdição voluntária tem natureza jurídica processual;
jurisdicional justifica-se ao afirmar que g) a redação do art. 1.111, CPC,
toda atividade jurisdicional depende da ratifica a existência de coisa julgada
iniciativa da parte interessada, sendo quando afirma que tais decisões
feita mediante o ajuizamento de uma somente poderão ser modificadas
ação. Ora, existindo ação, existirá por fato superveniente. Exemplo é o
processo e consequentemente pedido de alteração de nome que
jurisdição. São suas premissas: pode, inicialmente, ser negado,
a) não se pode dizer que não há lide, mas, posteriormente, ser
bastando, para tanto, os exemplos apresentado com base em fatos
da interdição e da retificação de supervenientes. Assim, se há
registro. A lide não precisa vir indiscutibilidade, para dentro e para
afirmada em petição inicial. Os fora do processo, há coisa julgada;
casos de jurisdição voluntária são h) outro argumento de que a decisão
potencialmente conflituosos e é por proferida em jurisdição voluntária se
isso que são submetidos à submete à coisa julgada material
apreciação do Poder Judiciário e advém, por exemplo, da
que se impõe a citação dos possibilidade de homologação de
possíveis interessados; divórcio ou arrolamento consensuais

www.cers.com.br 9
CARREIRA JURÍDICA 2014
Processo Civil
Maurício Cunha

em sede extrajudicial, desde que


não haja interesse de incapazes
(11.441/2007), pois o CNJ entendeu
que a via extrajudicial é opcional
(Resolução 35/2007). Assim, a
homologação judicial confere às
partes a indiscutibilidade da
decisão, a coisa julgada, algo além
do que oferece o extrajudicial.
• A jurisdição voluntária como atividade
autônoma (natureza autônoma) é a
menos aceita na doutrina. Trata da ideia
de que a jurisdição voluntária não se
enquadra nem como voluntária, nem
como contenciosa, configurando como
categoria autônoma. Comunga dessa
ideia Alcalá-Zamora, destacando que a
jurisdição voluntária nem é jurisdição,
nem é voluntária, eis que não
representa atividade de um órgão
público para declarar o direito de uma
parte em face de outra, e porque muitas
vezes o interessado é obrigado a
obedecer à decisão de autoridade.

www.cers.com.br 10

S-ar putea să vă placă și