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Jeje Brasil
Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e
estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos
conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram
avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan,
djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!). Quando os primeiros daomeanos
chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo
e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no
Brasil “nação Jeje”. Dentre os daomeanos escravizados, uma mulher chamada Ludovina
Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para fundar três
templos na Bahia. Ela fundou: um templo para Dan; “Ceja Hundê”, mais conhecido como
o “terreiro do Ventura” ou “Axé Pó Zehen” (pó zerrêm) em Cachoeira de São Felix; um
templo para Hevioso “Zoogodo Bogun Male Hundô” em Salvador e um templo para
Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi do povo
Fon. O templo de Ajunsun/Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiacu Satu, em
Cachoeira de São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais conhecido por Corcunda
de Ayá. São os Jejes Savalu ou Savaluno. Sakpata era rei da cidade Savalu/África, segundo
alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que preferiu o exílio a se render aos
conquistadores de Dahomey. O dialeto dos savalus também é o Fon. No Maranhão
encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação de
Sergio Ferreti. Creio que esta casa dispensa comentários, pois é com certeza a mais
conhecida casa de jeje do Brasil. Esse é o segmento do povo Jeje-Mina.
Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashanti fundada por Euclides Menezes
Ferreira. Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana.
No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rosena, natural de Allada, o “Terreiro
do Pó Dabá” no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espírito Santo,
mais conhecida como Mejitó que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da
Rocha. Depois veio Antonio.Pinto de Oliveira. “Tata Fomutinho” que fundou o Ceja
Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela,
depois para São João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba. Dizem
os mais velhos, que Mejitó, ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de
santo aqui no Rio de Janeiro. Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e
bisnetos. Dentre esses, meu pai Jorge de Yemanja que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai
Zezinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia
Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô que é aquele tio que está
sempre disposto a nos atender e nos ajudar com suas memórias e conhecimentos.
Vodum
Vodou – Vodoun – Vodum – Voodoo – Voudun – Vodu – Vudu – Hoodoo - etc. A palavra
vodou é de origem Ewe/Fon e significa força divina, espírito, força espiritual. É usada
pelo povo do oeste da África para designar os deuses e ancestrais divinizados. No século
XVIII o rei Agajá consolidou as crenças de vários clãs e aldeias, formando um “sistema
espiritual dos Voduns”. Isso gerou uma enorme variação do termo, devido a quantidade
de dialetos usados por esses clãs e aldeias, que somado a influência francesa, passaram
a falar como entendiam. Essa diversificação fonética dá-se também por conta dos
idiomas de pesquisadores que “invadiram” a África, em busca de conhecimento sobre o
Vodou. No Brasil, por exemplo, usamos o fonema Vodum. A palavra Hoodoo não é uma
variante de Vodou. O Hoodoo é uma sociedade haitiana similar as que existem no Benin
(Sociedade do Bo) e Ghana (Sociedade Jou-Jou), onde pessoas são preparadas para ler
oráculos e fazer fórmulas mágicas usando elementos da flora, da fauna e do mineral.
Como sou brasileira usarei daqui por diante o termo “Vodum”. Quando foi estabelecido
o grande reino de Dahomey, lá não existia o culto de Voduns. Nessa época, o atual rei
sentia a necessidade de uma assistência espiritual que o ajudasse a combater os
problemas que o atormentava. Mandou chamar um bokono (adivinho) e pediu que esse
consultasse os oráculos. A conselho dos oráculos mandou vir de diversas regiões os
Voduns e construiu seus templos. Com isso Dahomey passou a sitiar diversos clãs e
aldeias de Voduns. Anos mais tarde, o rei Agajá fez a consolidação, como já foi dito. No
período da escravidão, muitos daomeanos foram levados para o novo mundo e com eles
a cultura e o culto dos Voduns. Os Voduns cultuados no Brasil são originário da África,
sua práticas e tradições se mantiveram intacta como era no Dahomey (atual Benin)
desde o começo dos tempos. A nação Jeje sofreu por alguns anos uma queda em seus
cultos, devido a falta de informações. Os mais antigos preferiram levar para o túmulo
seus conhecimentos a passá-los aos que poderiam perpetuar os Voduns no Brasil. Dos
filhos de Jeje que ficaram perdidos, sem conhecimento sobre Voduns, uns mudaram de
nação e outros resolveram investigar, buscar, pesquisar suas origens e levantar a
bandeira da nação. Hoje, graças a essas pessoas, a nação Jeje voltou a crescer e a seguir
a cultura que foi deixada pelos escravos. Hoje, encontramos kwes e pessoas que
realmente sabem o Culto dos Voduns, esses aprenderam na “própria carne” a passar
seus conhecimentos e não deixar que nossa nação venha a sofrer novos abalos ou
quedas. Com a proliferação de estudos e pesquisas sobre os Voduns, alguns dos mais
velhos que ainda estão vivos resolveram colaborar e nos passar alguns conhecimentos.
A primeira coisa que os adeptos do Jeje devem aprender é a diferença entre Voduns e
Orixás, (esse assunto vocês encontram no tópico Jeje África). Vodum é Vodum, Orixá é
Orixá; Oya não é Vodum Jô. Aziri não é Oxum, Naetê não é Yemanja, etc. Assim como na
África, também fazemos Orixás dentro dos templos de Vodum, mas isso não os
transforma em Voduns, eles são considerados deuses estrangeiros, aceitos em nossos
templos. Esses Orixás são tão respeitados e venerados quanto os Voduns. Não existe
discriminação nenhuma em relação aos dois deuses (Voduns/Orixás). Em templos de
Orixás, também encontramos Voduns feitos, a única diferença é que no Jeje, não
mudamos os nomes dos Orixás. Para nós Oya, Yansã são conhecida exatamente como
Oya, Yansã. Já os Voduns em templos de Orixás mudam de nome, por exemplo, Vodum
Dan/Bessen recebe o nome de Oxumarê, Sakpata recebe o nome de Omolu, etc. Esse
diferença também é registrada na Nigéria, então, não é “coisa de brasileiro”. Falar sobre
os Voduns é uma tarefa de muita responsabilidade. No meu caso é o resultado de 30
anos vividos dentro do culto, somado as minhas pesquisas e estudos. Os Voduns são
agrupados por famílias; Savaluno, Dambirá, Davice, Hevioso; que se subdividem em
linhagens. A sociedade daomeana é patrilinear e polígena, isto é, dá-se por linha
paterna; o homem é casado com diversas mulheres. A sociedade organiza-se em sibs,
grupos de irmãos que têm a mesma mãe e o mesmo pai, sem base territorial própria e
subdividem-se em famílias. No Brasil, as casas de santo cultuam todas as famílias, porém,
os Voduns são interligados entre si com comportamentos, costumes, gostos e atitudes
sempre gerados pelo ancestre ou chefe de da casa. Em minhas pesquisas encontrei mais
de 450 Voduns; alguns cultuados no Brasil outros não. Acredito que com esse resgate
poderemos ampliar nossos cultos e voltar a reverenciar Voduns, que tinham
desaparecido devido a falta de informações, assim como admitir em nossos templos
esses Voduns encontrados. O Brasil herdou vastos panteões de divindades que ficaram
regionalizados de maneira que somente alguns Voduns tiveram domínio nacional A
cultura dos Voduns é belíssima; penso que todos nós, filhos da nação Jeje, devemos
procurar aprender cada dia mais. Afirmo que, os maiores fundamentos de Voduns estão
embutidos nessa cultura. Comprovem!...
DAN
YEWA FA
TOGUN TOHOSSOU NOHÊ AIKUNGUMAN
TOBOSSI SAKPATA VODUNS DA RIQUEZA
HEVIOSO AVEJI DA NANÃ
NAES DAS AGUAS OCEANICAS NAES DAS AGUAS DOCES EKU E AVUN
VODUM DAN/BESSEN
Aido Wedo(aidô uêdô) e Dambala são para o povo Jeje os maiores deuses.
Aido Wedo é o arco-íris e Dambala a sua imagem refletida nas águas oceânicas.
O Dangbé é a serpente sagrada que representa o espírito de Vodum Dan.
Na África esse Vodum é conhecido como DA.
Dada - Termo pelo qual o Vodum Dan é louvado. A coroa de Dan é chamada de Coroa de
Dada.
Dan tanto pode ser um Vodum masculino quanto pode ser um Vodum feminino, porém
para tratá-lo, fazê-lo ou assentá-lo temos que cuidar sempre do casal. Como dizem os
antigos "cobra não anda sozinha, seu parceiro esta sempre por perto".
Dambala também é conhecida como Daidah (daídar) – A "Cobra–Mãe". Essa Vodum não
pode ser feita em mais de duas pessoas num mesmo país. Os velhos vodunos contam
que ela é originária da Palestina. Em uma outra versão, encontramos Daidah como Lilith,
a primeira mulher de Adão.
No Brasil encontramos cerca de 48 Voduns Dans, na África encontramos muito mais que
isso. Essa família é muito grande.
Dan é um Vodum muito exigente em seus preceitos, muito orgulhoso e teimoso. Quando
tratado corretamente, dá tudo aos seus filhos e a casa de santo, mas se tratado de
maneira errada ou se for esquecido castiga severamente. Vodum Dan é muito fiel a casa
e a mãe/pai de santo que o fez.
Os símbolos de Dan, são: o arco-íris, a serpente pithon, o traken ou draka, patokwe, o
dahun , a ..takara. e o ason (assôm). Seu principal atinsa (atinsá) dentro de uma casa de
Santo é denominado Dan-gbi , que é onde o arco-íris se encontra com a terra ("panela
lendária do tesouro!"). Dan usa muitos brajás feitos de búzios. As aighy (aigri), são
importantissimas em seus assetamentos e atinsas.
Para nós, Vodum Aido Wedo é o verdadeiro deus da vidência, é ele junto com Vodum Fa,
quem dá aos bakonos o poder do oráculo, assim como deu a Yewa e a Legba.
Aido Wedo e Dambala são quem sustentam o mundo e quando eles se agitam provocam
catástrofes como os terremotos. Eles fazem parte da criação do mundo, pois vieram
ajudar Nana Buluku nessa tarefa.
Nos arcos-íris da lua e do sol também encontramos Voduns Dan.
Ao se iniciar um filho de Dan, preceitos são feitos para que esse Vodum venha sempre
em forma humana e nunca em forma de serpente, pois entendemos que na forma
humana ele é menos perigoso e entende melhor os homens, podendo assim atender
suas necessidades e suprí-las. Na forma de serpente torna-se muito perigoso.
De modo geral os filhos de Dan são muito chegado a doenças, principalmente de olhos.
São pessoas vaidosas, ambiciosas, "perigosas", espertas e inteligentes. São muito
dedicados ao santo e dificilmente saem da casa onde foram feitos.
Vestem branco em sua grande maioria. Alguns usam cores verde bem clarinho, prateado,
ou tecido liso com o arco-íris estampado. Seus fios de conta variam de acordo com cada
Vodum, não existe um modelo padrão.
Sua louvação principal é: A Hho bo boy = "Salve o rei cobra" ( Hho = rei, bo boy = Dans,
serpentes, cobras).
Abaixo citarei alguns Voduns Dans.
Aido Wedo
- (encontramos várias formas de escrever o nome dele) - Deus do Arco-íris
Dambala - esposa de Aido-Wedo, seu reflexo nas águas.
Dan-Ko - muito ligada e, por vezes confundida, como Oxalá. Conhecida no Brasil como
Dan Inkó.
Ojiku - masculino, mora junto com Yewa na parte branca do arco-íris e reina no arco-íris
da lua, também junto com Yewa.
Frekwen - feminina, guardiã do arco-íris em volta do sol. Também conhecida como
Frekenda.
Bosalabe - toqüeno, feminina, irmã gêmea de Bosuko, irmã de Yewa. Muito alegre e
faceira, mora nas águas doce. Muito confundida com Oxum. também conhecida como
Vodum Bosa (bôssá).
Ijykun - feminina, mora nas enseadas. Muito confundida com Yewa.
Bosuko - masculino, toqueno, gêmeo com Bosa
Akotokwen - masculino, considerado o pai de muitos Dans.
Afronotoy - masculino, mora no rio.
Vocabulário
traken ou draka
- ferramenta pequena que Dan tras nas mãos
dahun - conjunto de 3 tambores brancos paramentados com rafia lilás
takara - arma que Dan tras nas mãos, parecendo um pequena espada, com feitio próprio.
ason (assôm) - chocalho feito com uma cabaça e com as vertebras de cobra
aigry (aigri) - pedras que representam o excremento de Dan e são deixadas por ele no
chão, à sua passagem; dizem que elas valem peso de ouro. Um mito nos conta que os
excrementos de Dan transformam os grãos de milho em búzios.
1 - Dan no Benin - Ouidah
O culto de Dangbé conheceu seu apogeu em Ouidah, onde está seu templo até os dias
de hoje. Os Dadas, seus adeptos, anualmente, faziam sacrifícios de bois, cabritos e
frangos para a python. Atualmente, devido à escassez de animais para sacrifício, os
adeptos arriscam-se caçando roedores
Logo que um não adepto descobre uma Dangbé em sua casa, previne o sacerdote
Dangbénon ou a uma pessoa que conheça os costumes deste réptil. Eles pegam a cobra
como um fetiche em sua mãos ou ao redor do pescoço e levam-na, silencioso e
concentrado, até o templo. Eles acreditam que a picada da python traz imunidade contra
qualquer veneno
Dan é, freqüentemente, representado por uma serprente (python) ou um arco-íris.
A primeira vista, alguns historiadores comentam tratar-se de ofiolatria. Mas a serpente
de que se trata aqui é um espírito que habita o espaço e cujo deslocação determina os
ciclones. Dan apreende-se do princípio vital do qual depende os seres humanos para
manterem-se vivos e a terra em equilíbrio.
Para escapar de Dan, basta friccionar o corpo com boldos de cebola ou xingá-lo com
palavras bem grosseiras. Ainda sob a forma humana, Dan pode entrar em casas. Os que
o acolhem são recompensados com tesouros mas, quem o afasta, é amaldiçoado.
Dan é muito guloso, grande apreciador de bananas e óleo de palma. Recebe estas
oferendas na frente de um pequeno par de assentamentos que representam Dan macho
e Dan fêmea
-
Sua morada é o firmamento, onde se encontra sob a forma de arco-íris (Aido Wedo). Não
se mostra nunca sem sua fêmea. Conta-se que há dois arco-íris, mesmo que só
consigamos ver um, e que antes de sua ascensão, teria vivido 41 anos no nosso mundo.
A configuração dos países, o lugar das cidades, os acidentes geográficos (montes, vales),
são os vestígios de sua estada prévia em nosso mundo e o arco-íris, vestígios de sua
estada remota.
Os homens (sobretudo os caçadores) que Dan quer enriquecer, conduzem-no por uma
força invisível ao local onde é chamado o rabo do arco-íris e são induzidos a tocarem na
terra. Os homens têm como efeito desta força invisível, um desejo de fazerem uma
profunda escavação no que acham ouro, pérolas, toda sorte de tesouros.
Dan protege nomeadamente o Danson, o Dansi e o Dannou. A pessoa consagrada ao
Dangbé é um Dangbési.
2 - A Floresta Sagrada
A floresta foi consagrada pelo rei Kpassé, Ouidah, onde fizeram um círculo mágico,
silencioso, transparente ao ar. Os grandes deuses fixam seus duros olhos. Heviosso, Dan,
Sakpata. E também os Voduns reais como Dâguessou, protetor do rei Ghézo, com seus
poderes contidos em pequenas cabaças, fetiches em forma de bracelete.
À entrada, o grande Legba figura numa expressão profana sob os irokos centenários,
Tokougagba conta com os irmãos e todo o panteão dos Voduns.
E toda a rota dos escravos é demarcada por esculturas de pedra, limite de uma memória
fascinante e triste.
Meus comentários: (Yatemi Jurema de Yansã)
Alguns segmentos Jeje no Brasil, não concordam que se deva tratar do casal de Dans.
Outros usam esse procedimento somente para alguns Dans.
Pelo que aprendi e pelo que lemos sobre o culto de Dan no Benin, podemos constatar
que o correto é tratar do casal realmente.
Vodum Dan (Haiti) O Haiti pertenceu ao índios de Taino, antes do encontro com
Columbus. Muito da cultura (filosofia e prática) do povo Taino, foram absorvidos, mas
tarde, à Vodou, como mostra o retrato místico do panteão da serpente, realizado como
um deus Afro-Taino. Para os haitianos, Danbala, a divina serpente patriarcal, é um
espírito antigo da água associado com a chuva, a sabedoria e a fertilidade. Aprece
entrelaçado, geralmente, com sua esposa Ayida Wedo, o arco-íris. Danbala é sincretizada
com St. Patrick (quem dominou as serpentes), outras vezes com Moisés, o patriarca dos
dez mandamentos cristão. Em muitos templos, uma bacia com água é
permanentemente mantida para este Lwa. Muitas representações desta divindade
incluem o principal alimento sacrificial de Danbala - um ovo. As bonecas de Voodoo Um
objeto simpático, foram usadas em muitas culturas, desde os primórdios tempos. O
homem pré-histórico foi conhecido criando bonecas que representavam sua caça, para
enfraquecê-las antes de saírem para caça-las. Os reis e antigos guerreiros também
usavam a "força" destas bonecas antes de irem ao encontro de seus inimigos, nas
grandes batalhas. Hoje, os praticantes de Voodoo e as bruxas utilizam este objeto mágico
e obtêm resultados rápidos e eficazes para uma variedade de finalidades. Entretanto, as
bonecas Voodoo não possuem nenhuma mágica, elas são usadas como uma ferramenta
para canalizar energias pessoais para um objetivo específico. Danbala O espírito de
Danbala é a serpente e o arco-íris, uma força de vida. Aido Hwedo, um macho, é descrito
às vezes, como uma criatura, serpente e arco-íris, que engole sua própria cauda. No Haiti,
onde os ritos ancestrais e os cultos público se fundiram, Danbala Hwedo e seu marido
se fundiram e foram consagrados um deus superior na hierarquia espiritual.
Transformou-se no mais velho e respeitado de todos os Lwas. Juntos, formam o grande
arco-íris que cobre o oceano. Alternadamente, o arco-íris e seu reflexo na água, que
fazem o movimento de giro em um círculo. Alguns dizem que Danbala tem um pé
firmado no fim do arco-íris, na umidade da água, e o outro pé plantado firmemente nas
montanhas do Haiti. Danbala move-se assim, entre os opostos da terra e da água, como
as serpentes, unido-os em sua rotação, movimentos urobóricos, gerando a vida. Danbala
cava túneis também através da terra, como as serpentes, conectando a terra acima com
as águas abaixo. Antes de se casarem, seus seguidores oferecem-lhe sacrifícios. textos
traduzidos de Sites do Haiti. Se você souber os endereços basta enviar-me um e-mail que
colocarei aqui.
TOGUM
Togum, veio do orum para fazer a ligação com o aiye através do mistério do ferro. Desta
forma, pode criar cidades na selva, a evolução com o desenvolvimento da tecnologia do
metal
Há um estudo científico que diz que a oxidação do ferro no fundo do oceano, gerou
bactérias de onde surgiram os primeiros seres no começo da evolução. Não se pode
afirmar que tenha sido o ferro o gerador desse fenômeno, mas algum tipo de mineral
simbolizado pelos pontos de ferro.
Togum/Gum/Gu, é um ToVodum masculino guerreiro que usa um pó vermelho extraído
de uma árvore que simboliza a procriação primordial para a sobrevivência e essa é uma
das razões dele não gostar que, em seus assentamentos, hajam ahuinhas. É dono de
todos os metais, principalmente o ferro e o aço além de todos os objetos cortantes:
akiriké, farim, magoge, etc.
Por ser um guerreiro muito afoito, Togum não tem fronteiras, entra em qualquer lugar
em busca do inimigo e da vitória. Nessas investidas, Togum conta sempre com Legbá,
seu companheiro e amigo incansável, que o ajuda nos combates mas que se diverte com
a fúria de Togum.
Ao mesmo tempo que é gentil, Togum é muito impaciente e quer tudo a tempo e a hora.
Tem, em sua natureza, um sentido de competição, de vigor, de expansão e de
agressividade, sempre pela sobrevivência. É muito severo com seus filhos no
cumprimento de suas obrigações.
Quando Togum chega, anda por todo o kwe e se encontrar alguma coisa fora do lugar,
fica bravo e chama a atenção, exigindo que tudo esteja corretamente em seus lugares.
Algumas vezes, ele mesmo faz tudo, colocando as coisas em ordem
Togum toma para si a guarda do kwe onde mora, disputando com Legba a segurança.
Em uma ahuan(guerra), Togum mostra toda a sua fúria e poder de luta. Dificilmente um
kwe de Jeje perde uma ahuan, pois Togum, com todo o seu humpayme, garantem a
vitória.
Todos os narrunos são regidos por Togum. Na África, somente os vodunos de Togum
podem oficiar o ritual de narruno. No Brasil, apenas algumas casas tradicionais seguem
o modelo africano.
O número três está intimamente ligado à Togum. É um número fudamental
universalmente. Exprime uma ordem intelectual e espiritual, em AvieVodum, no cosmo
ou no homem. Sintetiza a triunidade do ser vivo ou resulta da conjunção de um e de
dois, produzindo, neste caso, a união do orum e do aiye. A cólera e a irritação de um
guerreiro, no seio de uma guerra, manifestam-se através de três rugas que se formam
na testa: então, ninguém ousa aproximar-se ou falar.
Existem vários Voduns pertencentes a linhagem de Togum. O mais velho deles é o Vodum
Guyugu que, como os demais Voduns, participou de várias batalhas, saindo-se sempre
vitorioso.
As cores das contas de Togum, variam de acordo com o Vodum. Podem ser: azulão,
azulão e branco, vermelho, verde e branco, podendo sofrer mudanças se o Vodum feito
assim desejar.
Suas vestimentas podem ser: branca, azul, dourada ou estampada, que é a sua
preferencia.
Seus dias de culto são: segunda ou terça-feira, dependendo do Vodum. Sua folha
predileta é a abre-caminho, sendo que existem muitas folhas para Togum.
Togum é quem abre o portal para o desenvolvimento da nossa verdade.
AS TOBOSSIS
As Tobossis são Voduns infantis, femininas, de energia mais pura que os demais Voduns.
Pertenciam à nobreza africana, do antigo Dahome, atual Benin. Eram cultuadas na Casa
das Minas, em S.Luiz/Maranhão, até a década de 60.
As Tobossis gostavam de brincar como todas crianças e falavam em dialeto africano,
diferente dos Voduns adultos, o que dificultava muito entendê-los. Sem contar que,
muitas das palavras elas falavam pela metade.
Elas vinham três vezes por ano, quando tinha festas grandes, que duravam vários dias.
A chefe das Tobossis é Nochê Naé, a grande matriarca da família Davice,ancestral da
família real de Dahome, é considerada a mãe de TODOS os Voduns.
As Tobossis têm cânticos próprios,dançavam na sala grande ou no quintal, sem os
tambores e, como todas as crianças, adoravam ganhar presentes e brincarem com
bonecas e panelinhas.
Comiam comidas igual às nossas, junto com todos e tinham o costume de dar doces e
comidas às pessoas. Sentavam-se em esteiras.
Pela manhã, tomavam banho, comiam e depois dançavam. Gostavam de dançar no
quintal, em volta do pá de ginja delas.
Por serem crianças puras, tinham mais afinidade com o corpo permitindo assim, uma
ligação mais direta que os Voduns, que são adultos. Não tinham falhas, não se irritavam.
Seu papel no culto era só "brincadeira". Eram espíritos perfeitos e mais elevados. Os
Voduns podem ter falhas, as meninas não.
Passavam até nove dias incorporadas em suas gonjaí, diferente dos Voduns que
deixavam as filhas muito cansadas.
Tinham um tratamento melhor do que o dos Voduns por serem mais delicadas, porém
os Voduns são mais importantes por terem mais obrigações.
Podemos observar similaridade entre as Tobossis do Mina Jeje e os Erês dos Candomblés
da Bahia e dos Xangôs de Pernambuco, pelo comportamento infantil. No entanto, os
Erês apresentam-se tanto com características femininas quanto masculinas e as Tobossis
são, exclusivamente, femininas, dengosas e mimadas.
FEITURA DAS TOBOSSIS
O processo de feitura das Tobossis inicia-se, normalmente, com o Vodum principal da
Casa apontando um grupo de filhas, já iniciadas anteriormente, as voduncirrês, para a
feitura de Tobossi.
As voduncirrês passam por uma fase de iniciação que tem a duração de quinze dias, nos
quais há algumas festas. É uma feitura própria, um novo rito de passagem na graduação
da iniciada no Mina Jeje.
O barco composto dessas voduncirrês é chamado de Barco das Novidades, Barco das
Meninas ou Rama.
Essas voduncirrês tornam-se noviches, prontas para receberem suas Tobossis, passando
a serem chamadas gonjaí. As Tobossis só são recebidas pelas voduncirrês gonjaí.
O último barco que se tem conhecimento foi realizado em 1913-1914.
No processo de iniciação, as Tobossis eram chamadas de sinhazinhas e, somente ao fim
das feituras, é que davam seus nomes africanos. Também eram por nomes africanos que
elas chamavam as filhas da Casa. Esses nomes eram escolhidos pelas Tobossis junto com
os Voduns e esses nomes eram divulgados no dia da "Festa de dar o Nome".
Cada Tobossi só vinha em uma gonjaí e, quando esta morria, elas não vinham mais, sua
missão ali se encerrava.
Desde a morte das últimas gonjaí, por volta dos anos 70, as Tobossis não vieram mais.
As Tobossis só incorporam em suas gonjaí após os Voduns terem "subido". Elas
chegavam alegres, batendo palmas e acordando a Casa.
No Peji, há um lugar para as obrigações das Tobossis, que é uma feitura muito fina e
especial.
VESTIMENTAS E APETRECHOS DAS TOBOSSIS
Os trajes e apetrechos das Tobossis são muito elaborados.
As Tobossis vestiam-se com saias coloridas, usavam pulseiras chamadas dalsas, feitas
com búzios e coral, pano-da-costa colorido, o agadome, sobre os seios, deixando o colo
e os ombros livres para o ahungelê, uma manta de miçangas coloridas, presa no pescoço,
objeto de grande valor e significado. O ahungelê também era chamado de tarrafa de
contas, gola das Tobossis ou manta das Tobossis, sendo considerado um distintivo étnico-
cultural do Jeje. Ele conta a história particular da Tobossi vinculada ao Vodum, sua família
e a iniciada, gonjaí.
As Tobossis usavam ainda, vários rosários, fios-de-contas e o cocre, colar de miçangas
curto, junto ao pescoço como uma gargantilha, usado pelas Tobossis e pelas gonjaí
durante o ano de feitura, cuja cores variam de acordo com seus Voduns, semelhante ao
quelê dos terreiros de Candomblé.
No Carnaval, as Tobossis vestem-se com saias muito vistosas, aparecendo o agadome
que envolve o colo nu e os pés são calçados em sandálias finas.
Os trajes das Tobossis são muito elaborados, de uma construção artesanal, que segue
com rigor uma linguagem cromática, própria e do domínio das Tobossis.
A PARTICIPAÇÃO DAS TOBOSSIS NAS FESTAS
Quando apareciam publicamente, as Tobossis vinham cumprir certas obrigações,
destacando-se a festa do Carnaval.
As Tobossis vinham três vezes por ano:
- Nas festas de Nochê Naé - em junho e no fim do ano
- No Carnaval
As grandes festas duravam vários dias.
O Carnaval é uma comemoração da qual participavam os membros do Barracão e
visitantes. No Carnaval, elas ficavam desde a noite do domingo até as 14 hs da quarta-
feira de cinzas. Na segunda-feira, alguns Voduns vinham visitá-las. Eram recebidos pelas
outras filhas da Casa, as voduncirrês.
Era das Tobossis a tarefa de tomarem conta das frutas do arrambam, obrigação também
conhecida como bancada, lembra a quitanda dos terreiros de Candomblé. As frutas
ficavam no Peji para serem distribuídas na quarta-feira de cinzas.
Durante o Carnaval, as Tobossis brincavam com pó e confete mas tinham medo de
bêbados e mascarados.
Na terça-feira à tarde, dançavam na grande sala e na quarta, pela manhã, dançavam em
volta da cajuazeira. Distribuiam acarajé em folhas de "cuinha" e depois despachadas.
Durante as grandes festas de Nochê Naé, elas vinham durante nove dias, entre os dias
de dança, nos intervalos de descanso. Ficavam durante o dia, cantavam suas cantigas
próprias, dançavam na sala grande e no quintal e brincavam com seus brinquedos.
O reconhecimento de cada festa/obrigação está no vestuário e nos alimentos. O
alimento é uma marca identificadora, compõe a divindade, seu papel, suas
características no contexto da ligação com os deuses e estabelecendo, ainda com o
alimento, uma forma de comunicação com os iniciados, visitantes e amigos do Barracão.
Fontes de consulta:
O Povo Do Santo - Raul Lody
Querebentam de Zomadonu - Sérgio Ferretti
Hevioso
Yewa
Yewa é um vodum feminino da família Dambirá. Filha de Toy Azonze e Dambala, irmã de
Boçalabê nasceu para ser o símbolo da pureza e da beleza dos deuses. Do nascimento a
fase adulta Yewa viveu na família de Dan onde representava a faixa branca do arco-íris
onde também mora Ojiku. Recebeu de Dan Wedo o poder da vidência, da riqueza, e
todos os corais que existiam no mar que ela pegava com seu arpão.
A beleza física de Yewa encantava a todos que olhassem em seus olhos, mas essa nunca
se encantava com ninguém pois era o símbolo da virgindade e da pureza. Muitos homens
se apaixonaram por ela e todos foram punidos pelos deuses pois sabiam que era
proibido amar a grande Virgem.
Yewa adorava ver o por do sol e sempre saía a passear pelos campos floridos
acompanhada por dois bravos guardiões que não permitiam que ninguém se
aproximasse dela. Era um casal de gansos branco, lindos e majestosos. Certo dia, estava
Yewa a apreciar o por do sol, quando uma galinha, se aproveitando da distração dos
gansos, aproximou-se e ciscou muita terra sobre as vestes brancas de Yewa, essa se
enfureceu e amaldiçoou a galinha e daí para frente nunca mais quis ver uma em sua
frente como também resolveu mudar suas roupas para as cores do por do sol.
Certo dia, Yewa avistou um belo homem, um guerreiro e se encantou por ele.
Yewa enfrentou e desafiou todos os deuses por amor a esse homem e teve como castigo
o exílio. Foi expulsa da família de Dan e considerada a cobra má. Durante seu exílio, Yewa
teve que fugir e esconder-se da fúrias dos deuses.
Em sua primeira fuga, Yewa contou com a ajuda de um grande caçador e guerreiro, Odé,
que a escondeu nas profundeza das matas escuras, em terras yorubanas.
Vendo-se em um lugar sombrio e sem recursos de sobrevivência a sua disposição, Yewa
aceitou um ofá que Odé ofereceu-lhe. Aprendeu a caçar junto com ele e com os demais
caçadores.
A beleza de Yewa encantava e perturbava Odé e aos demais que viviam nas matas, pois
eles sabiam que não podiam se apaixonar por ela, temiam a fúrias dos deuses. Odé
então, fez para Yewa uma coroa de dans e folhas de palmeiras desfiadas. Mandou que
ela a coloca-se, assim ninguém se aproximaria dela com medo das dans e as folhas
desfiadas da palmeira esconderiam sua beleza contagiante. Yewa gostou do presente
pois viu nesse, a possibilidade de esconder-se dos deuses e livrar-se de sua fúria.
Com o uso dessa coroa Yewa pode sair da escuridão das matas e ir apreciar o que mais
ela amava e representava ... o por do sol. Faltava-lhe seus guardiões, pediu ajuda a Odé
e esse caçou para ela um casal de gansos negros, pois foram os únicos que encontrara.
E assim, Yewa passou a ver e a viver o por do sol novamente em seu exílio.
Passado um tempo, Toy Azonze foi aos deuses pedir por sua filha Yewa que já tinha sido
por demais castigada. Depois de muitos pedidos e oferendas aos deuses, esses
concederam a Azonze a guarda de Yewa que deveria morar com ele. Azonze embrenhou-
se nas matas a procura de sua filha e a encontrou junto a Odé.
Como agradecimento por tudo que fez por Yewa, Toy Azonze deu a Odé um par de chifres
e o poder de chamá-lo e aos espíritos da caça quando assim precisasse.
Yewa foi morar no reino dos mortos junto com Azonze e com esse passou a exigir o
cumprimento da moral e dos bons costumes. Em sua nova morada Yewa recebeu o
caracolo/aracolê onde guarda os segredos dos ancestrais e os invoca quando é
necessário, e o eruxim com o qual espanta os egum para o caminho de Oya. Sempre que
possível, Yewa engana Eku e salva uma vida.
Yewa é um Vodum raríssimo de ser encontrado no TA (cabeça) de alguém. A feitura de
Yewa deve ser sempre em TA de virgens e nunca em TA de homens.
Por ter o poder da vidência, Yewa tem o poder de nos livrar do "olho grande" e das
invejas. Quem sabe cuidar desse Vodum, se livra facilmente dos invejosos.
Encontramos Yewa tanto nas águas quanto nas matas e mundos subterrâneos (aquático
e terrestre), mas seu local preferido é sempre o horizonte, onde o por do sol faz o
encontro dos dois mundos e o céu se encontra com a terra, "Isso é Yewa" dizem os
antigos.
Ojiku é um Vodum Dam que sempre é muito confundido com Yewa, assim como
Boçalabê que é sua irmã. Ojiku é considerado a Cobra branca e Boçalabê é uma Vodum
das água doces, muito confundida com Oxum. Em muitas pesquisas e entrevistas que
fizemos pudemos constatar a confusão e controvérsias que as pessoas fazem em relação
a Yewa e esses dois Voduns.
Tohossou:
Vodum Protetor dos Deficientes Físicos e Mentais
Sakpatá
Para o povo Jeje, Sakpatá foi trazido para o Dahomey, por Agajá, no século XVIII, vindo
da cidade de Dassa Zoumé, mais precisamente, da aldeia de Pingine Vedji.
Todos os Voduns, pertencentes ao panteão de Sakpatá, são da família Dambirá.
Nesse panteão temos vários Voduns. O mais velho que se tem notícia é Toy Akossu, no
transe, ele se mantém deitado na azan (esteira). Dizem os mais velhos, que Toy Akossu
é o patrono dos cientistas, ele dá à eles inspirações para a descoberta das fórmulas
mágicas que curarão as doenças e as pestes. Ele é a própria "doença e cura", como
também um excelente conselheiro.
Toy Azonce é um outro Vodum velho, porém mais novo que Toy Akossu. Seu
assentamento fica em local bem isolado do Kwe, sendo proibido tocá-lo. Somente UMA
pessoa designada por ele mesmo pode tratar desse assentamento. É Toy Azonce quem
sempre faz todas as honras para seu irmão Toy Akossu, quando ele está em terra.
Toy Abrogevi é um Vodum velho, filho de Toy Akossu, que gosta de comer quiabo com
dendê, paçoca de gergelim e fumar cachimbo de barro. Toy Abrogevi gosta muito de
Badé e se tornou muito amigo dele. Foi com Badé que aprendeu a comer e a gostar de
quiabo.
São tantos Voduns desse panteão que seria praticamente impossível descrever cada um
aqui.
Esses Voduns são rigorosos no que tange a moral e os bons costumes. Nunca admitem
falhas morais dentro dos kwes e, quem faz essa fiscalização para eles é Ewá, filha de Toy
Azonce.
As cores de contas e roupas usadas por esses Voduns podem variar de acordo com o
gosto de cada um. Todos usam roupas feitas de palha da costa sendo umas mais curtas
e outras mais compridas. Sakpatá usa todas as cores e o estampado, sempre com a
presença das cores escuras.
Símbolo fortemente ligado a Sakpatá, a palha da costa é a fibra da ráfia, obtida de palmas
novas, extraídas de uma palmeira cujo nome científico é raphia vinifera. No Brasil, recebe
o nome de Jupati. A palmeira é considerada a "esteira da Terra".
A palha da costa, tendo sua origem na palmeira, ganha o simbolismo universal de
ascensão, de regenerescência e da certeza da imortalidade da alma e da ressurreição
dos mortos. Um símbolo da alma. Além de proteger a vulnerabilidade do iniciado, sua
utilização também é reservada aos deuses ancestrais, numa reafirmação de sua
ancestralidade, eternização e transcendência.
Os Sakpatás podem trazer nas mãos o xaxará, ou o bastão, a lança, o illewo ou ainda,
uma pequena espada. A maioria deles gostam de manter o rosto coberto pela palha da
costa, outros gostam de mostrar o rosto. Todos gostam muito de usar búzios e chaorôs
(guizos).
O búzio, simboliza a origem da manifestação, o que é confirmado pela sua relação com
as águas e seu desenvolvimento espiralóide a partir de um ponto central. Simboliza as
grandes viagens, as grandes evoluções, interiores e exteriores.
É associado as divindades ctonianas, deuses do interior da terra. Por extensão, o búzio
simboliza o mundo subterrâneo e suas divindades.
O chaorô (guizo), tem simbologia aproximada a do sino, sobretudo pela percepção do
som. Simboliza o ouvido e aquilo que o ouvido percebe, o som, que é reflexo da vibração
primordial. A repercussão do chaorô é o som sutil da revelação, a repercussão do Poder
divino na existência. Muitas vezes têm por objetivo fazer perceber o som das leis a serem
cumpridas.
Universalmente, tem um poder de exorcismo e de purificação, afasta as influências
malignas ou, pelo menos, adverte da sua aproximação. Sem dúvida, simboliza o apelo
divino ao estudo da lei, a obediência à palavra divina, sempre uma comunicação entre o
céu e a terra, tendo também o poder de entrar em relação com o mundo subterrâneo.
O lakidibá, fio de conta de Sakpatá, é feito do chifre do búfalo. Tem o sentido de
eminência, de elevação, símbolo de poder, um emblema divino. Ele evoca o prestígio da
força vital, da criação periódica, da vida inesgotável, da fecundidade. Devemos lembrar
que chifre, em hebraico "querem", quer dizer, ao mesmo tempo, chifre, poder e força.
O lakidibá não sugere apenas a potência, é a própria imagem do poder que Sakpatá tem
sobre a vida e a morte. Na conjunção do lakidibá e do deus Sakpatá, descobrimos um
processo de anexação da potência, da exaltação, da força, das quatro direções do
espaço, da ambivalência.
Encontramos o lakidibá em duas cores: preto e branco. Ele também contém a bondade,
a calma, a força, a capacidade de trabalho e de sacrifício pacífica do chifre do búfalo, de
onde origina-se. Rústico, pesado e selvagem, o búfalo é também considerado divindade
da morte, um significado de ordem espiritual, um animal sagrado.
Na África, o búfalo (assim como o boi), é considerado um animal sagrado, oferecido em
sacrifício, ligado a todos os ritos de lavoura e fecundação da terra.
O lakidibá é entregue ao adepto somente na obrigação de sete anos.
Presença certa em tudo ligado a Sakpatá, o duburu (pipoca) representaria as doenças de
pele eruptivas, cujo aspecto lembra os grãos se abrindo. Jogar o duburu assumi o valor
e o aspecto de uma oferenda, destreza e resistência. O ato de jogar se mostra sempre ,
de modo consciente ou inconsciente, como uma das formas de diálogo do homem com
o invisível. Tem por alvo firmar uma atmosfera sagrada e restabelecer a ordem habitual
das coisas, é fundamentalmente um símbolo de luta, contra a morte, contra os
elementos hostis, contra si mesmo.
Os narrunos para esses Voduns devem sempre ser feitos com o sol forte e cada um deles
especifica o que querem comer. Isso quer dizer que, não existe uma única maneira de
agradá-los. Eles não gostam de barulho de fogos de artifícios.
Uma vez por ano, os Kwes fazem um banquete para as Divindades do Panteão de
Sakpatá, onde devemos comer, dançar e cantar junto com os Voduns.
Os demais Voduns do panteão da terra, sempre são convidados a compartilhar desse
banquete. Os jejes acreditam que, com essa cerimônia oferecida a essas divindades,
todas as doenças são despachadas do caminho do Kwe e de seus filhos.
Esse banquete é colocado dentro do peji ou do quarto onde mora Sakpatá e os demais
Voduns de seu panteão. Toda a comunidade vêm saudar o Deus da varíola e seus
descendentes, comer e dançar junto com eles e, ali mesmo, é servido o banquete para
todos os presentes.
Após essa cerimônia, Sakpatá e os demais Voduns, vestem suas roupas de festa e vão
para a Sala (barracão) comemorarem seu grande dia, junto com a comunidade que os
aguardam. Quando entram na Sala, todos gritam louvores à eles, dançam e cantam,
louvando o Deus da varíola, que traz a cura de todas as doenças.
Suas danças e cânticos lembram sempre os doentes, as doenças e a cura das mesmas.
Algumas falam das lutas que esses Voduns enfrentaram com a rejeição das comunidades
com sua presença e outras falam das vitórias que tiveram sobre todas as comunidades
que a eles vieram pedir ajuda.
Os Sakpatás trabalham muito e têm um importantíssimo papel nas feituras de Voduns.
Do início ao fim de uma ahama (barco de yaô), eles atuam com rigidez e vigor, mantendo
o bom andamento, principalmente dos bons costumes morais e, cobram "feio" caso
alguém cometa alguma falha. Eles são, na verdade, as testemunhas de uma feitura. Após
a feitura, se um filho negar alguma coisa que tenha sido feita, eles são os primeiros a
cobrarem desse vodunci a mentira que ele está dizendo, assim como também cobram a
quebra de segredos.
Todas as folhas refrescantes para ferimentos, pertencem a esses Voduns.
Vale alertar que existem Orixás e Inkices também ligados a cura e doenças porém, não
são os mesmos deuses que os Voduns da família Dambirá, da nação Jeje. Muitas
confusões são feitas e, encontramos várias bibliografias relatando origens,
especificações e costumes que nada têm a ver com o Vodum Sakpatá.
AVEJI DA
Tobossis/Naês/Mami Wata
Tobossis, Naês ou Mami Wata, são todas as Voduns femininas das ezins jeçuçu, jevivi e
salobres. Aqui falaremos, especificamente ,das belas Naês das ezins doces e salobres.
Em todas as famílias de Voduns encontramos Naês, sendo que, a maioria delas, são da
família Dambirá, panteão da terra.
No Brasil, convencionou-se chamar Oxum, dentro das casas Jeje, de Tobossi. Tobossis
são Voduns femininos, infantis e, como elas tem muito a ver com as Naês, acredita-se
que foi daí que o brasileiro passou a chamar Oxum de Tobossi.
Como a maioria dos adeptos do Candomblé sabem, Oxum é um Orixá da nação Ijexá,
muito cultuada por todas as nações, inclusive o Jeje mas, temos que entender que
existem Oxum e Naês. Quando, dentro da nação Jeje, uma pessoa é feita de Oxum,
dizemos que ela é feita de Orixá, quando a pessoa é feita de Naê, dizemos que ela é feita
de Vodum.
As Naês vivem em plena harmonia com toda e qualquer entidade que mora nas ezins.
Nesse habitat não existe separação de nações.
As Naês ou Mami Watas, são mulheres vaidosas, exigentes, caridosas, algumas são
guerreiras, outras caçadoras. Gostam do brilho das pedras e do ouro, adoram se enfeitar
com colares, pequenas conchas e caramujos, pulseiras, pequenas penas coloridas.
Normalmente, seus adornos são feitos por elas mesmas, caso alguém queira fazer para
elas, essas exigem que seja feito exatamente como elas fariam.
Algumas Naês gostam de ficar a beira dos tódôum, sentindo e recebendo a energia do
guhê, das atinçá, do djóom, da sum, etc.. Essas são muito falantes, gostam de dançar,
cantar, caçar junto com Otolu, pescar junto com Ajaunsi, macerar folhas junto com Agué,
comer amalá com Sobo, Aveheketi e Ahevessul, etc. Gostam de caminhar pelas matas,
praias e lagoas, ondem residem outras Naês.
Outras Naes preferem as profundezas das ezins onde a paz reina com toda a plenitude
da natureza, essas não gostam de se expor aos olhos de curiosos e são de falar muito
pouco.
As Naês que moram nas ezim salobres, são as mais guerreiras, cultuam os ancestrais,
lidam com eguns e a magia é seu forte. Dizem os antigos, que é nas lagoas que se
escondem os grandes mistérios da magia das Naês, pois ali se encontram as duas
energias, a das ezins jeçuçu e a das ezins jevivi. Fá sempre aconselha seus bakonos a irem
à lagoa conversarem com as Naês quando existe a necessidade da magia ser usada.
As Naês usam roupas de várias cores sendo que, algumas delas, adoram o dourado, daí
confeccionar-se roupas com tecido amarelo, o que não está totalmente correto. As
roupas das Naês devem obedecer a uma série de exigências das mesmas. Podemos até
fazer uma roupa amarela ou dourada, mas nunca podemos esquecer os detalhes que
virão complementar a simbologia da roupa a ser usada.
Seus assentamentos podem ser feitos em louças, em bustos de madeira, argila ou cô,
dependendo da Vodum que se está assentando.
Comem: bò, catraio, marreca, kôkôlo, uhui, caças, eché.
Dependendo da Naê, ela traz nas mãos: ezuzu (abebê), pena, ofá, lira, eché (de
preferência vivo), cobra, espada ou adaga.
Em todos os estudos que fizemos na África, encontramos a SEREIA simbolizando as Mami
Wata/Naês, tanto das água doces quanto das águas salgadas e salobre. É comum
encontrarmos, em qualquer estabelecimento comercial e residencial, a figura de uma
sereia cultuada (podemos comparar com os santinhos católicos que os brasileiros
cultuam aqui em pequenos altares em seus estabelecimentos).
Vocabulário
kôkôlo - galinha
bò - cabra ou cabrito
có - barro
eché - pássaro
uhui - peixe
ezim - água
atinçá - árvores, folhas
sum - lua
djóom - vento
tódoum - rio
catraio - galinha da angola
guhê - sol
jevivi - salgada
jeçuçu - doce
Nohê Aikunguman
(Mãe terra)
Deuses da Riqueza
(Daometanos)
Na cultura daometana, encontramos como Deuses da Riqueza, um casal de gêmeos que
foram enviados à terra por Mavu e Lissa, para que ajudassem a humanidade.
Os gêmeos Da Zodji e Nyohwe Ananu foram os primeiros Voduns a nascerem e após
chegarem a terra, deram origem a uma linhagem de Voduns ricos e guerreiros.
Cabe a esses Voduns guerreiros, ajudarem a todas pessoas que recorrerem a Da Zodje e
a Nyohwe Ananu, a chegarem até eles, isso é, caso algum caminho ou energia do
solicitante estiver atrapalhando o intercâmbio entre ele e os Deuses da Riqueza, esses
Voduns mostram os ebós que deverão ser feitos para que ele alcance os Deuses gêmeos.
Quando chegaram a Terra, Da Zodji e Nyohwe Ananu habitaram o mar, onde acharam as
maiores riquezas da Terra. Nyohwe Ananu, muito feminina, encantou-se com as conchas
e os caramujos que encontrou e ficava extasiada ao ouvir o som do mar dentro dos
caramujos. Seu irmão mandou que trouxessem todos os caramujos e conchas para o
palácio deles para agradar Nyohwe Ananu.
De tanto Nyohwe insistir para que Da Zodji ouvisse o som dos caramujos esse atendeu
seu apelo e também se encantou. Daí por diante, os dois passavam todo o tempo
ouvindo esse som e não mais prestavam atenção aos pedidos das pessoas. Incomodados
com essas atitude dos Deuses gêmeos, seus descendentes resolveram consultar um
bakono.
O bakono consultou Fá e esse mandou que todos pegassem um caramujo para si e que
quando quisessem falar com os Deuses da riqueza, falassem dentro do casco do
caramujo, pois somente assim Da Zodji e Nyohwe Ananu os ouviriam.
Os descendentes obedeceram a Fá e passaram a falar com os Deuses dentro dos
caramujos e, alguns deles, começaram a colecionar caramujos por acreditarem que
quanto mais caramujos tivessem, mais poderiam conversar com eles.
Esse procedimento causou um pouco de confusão na vida dos Deuses da Riqueza pois,
quando as pessoas falavam com Da Zodji a irmã também ouvia e vice-versa. Então, eles
estabeleceram o seguinte: "Que cada um tivesse em seu poder dois caramujos. Um
deveria ficar deitado e nesse, os pedidos à Nyohwe deveriam ser feitos e o outro
caramujo deveria ficar em pé e nesse, os pedidos à Da Zodji deveriam ser feitos".
Deram também a opção de usarem os caramujos de uma maneira só e se comunicarem
apenas com um dos Deuses.
NANÃ
Nanã é considera por todos os adeptos do Culto Vodum como a grande Mãe Universal
que criou o mundo e deu vida aos Voduns. É chamada carinhosamente de vó Misan
(missam).
Senhora da lama, matéria primordial e fecunda da qual o homem em especial, foi tirado.
Mistura de água e terra, a lama une o princípio receptivo e matricial (a terra) ao princípio
dinâmico da mutação e das transformações. Sua ligação com a água e a lama, associa
Nanã à agricultura, a fertilidade e aos grãos (vide simbologia dos grãos e favas).
Nanã tem os mais variados nomes de acordo com o dialeto usado: Bouclou, Buukun,
Buruku, etc. Em Dahomey, na cidade de Domê onde está localizado seu principal templo,
Ela é conhecida como Nanã Buruku (lê-se, buluku).
No Brasil, também existem variações de nomes para Nanã: Buruku, Naê Naité, Yabainha,
Naê, Anabiocô, etc.
Nanã representa a dogbê (vida) e a doku (morte). Ela recebe em seu seio os ghedes
(mortos) e os prepara para o leko (lêcô - retorno, renascimento)
Quando uma mulher não consegue engravidar, recorre a Nanã que ensina a "fórmula
mágica", o remédio de ervas que deve tomar, os ebós e oferendas que devem ser feitos.
Se um doente recorre a Nanã, imediatamente obtém o remédio curador.
Na África quando uma família ou alguém obtém um favor de Nanã, fica com o
compromisso de oferecer um membro da família ao culto de Nanã e esse, após sua
iniciação, receberá na frente de seu nome a palavra Nanã; assim como a criança que
nasce com a ajuda da Grande Mãe também. Todos os sacerdotes e sacerdotisas de Nanã
têm na frente de seus nomes a palavra Nanã.
Nanã é a maior conhecedora do uso terapêutico das ervas. Alguns de seus sacerdotes e
sacerdotisas são preparados para serem curandeiros. Em Ghana existe a Sociedade dos
Jou-Jou, em Allada e Dahomey a Sociedade do Bo, etc.. Nessas sociedades as pessoas
escolhidas são preparadas para a prática da medicina através das ervas. Nanã diz que
além do uso terapêutico das folhas e de alguns produtos animais, as doenças devem que
ser tratadas em sua origem espiritual, para que a cura seja concretizada. É lastimável que
no Brasil essa parte do culto a Nanã não tenha sido trazida. Em outros países como
Estados Unidos, Canadá, Jamaica e Haiti encontramos essa prática.
O Culto de iniciação de uma filha ou filho de Nanã requer uma série de cuidados
especiais, tanto na África, como no Brasil. Para mim, esse é o mais difícil culto de Vodum.
Nanã Buruku não é feita na cabeça de ninguém.
Existem vários Voduns da linhagem de Nanã Buruku, que são feitos nos iniciados. Todos
esses Voduns seguem a tradição de Nanã Buruku e são tão exigentes quanto Ela.
Para iniciar um processo de feitura de uma Nanã, é exigido a abstinência de sexo, bebidas
alcoolicas e outros prazeres carnais, pelo menos dois meses antes (na África são exigidos
3 meses), de todos que irão participar do processo de renascimento do iniciado. Nesse
período, são feitos vários ebós no iniciado e alguns poucos nos participantes e na casa
de santo.
A bogami (bôgâmi - menstruação) é outro beko de Nanã. Se durante o processo de
iniciação a vodunsi ficar menstruada, deve ser afastada imediatamente de Nanã e ficar
reclusa em um lugar especial, fora do templo, até que cesse esse período.
Na África as mulheres menstruada são proibidas de entrar no Templo de Nanã ou de
participar de qualquer preceito, seja de rituais ou simplesmente fazer uma comida de
santo. Nanã diz que a bogami é um sangue impuro e aconselha as mulheres não
cozinharem para seus maridos nesse período.
Por ter muita ligação com egungum é necessário saber tratar muito bem de Buku,
entidade assistente de Nanã e Sakpata. Em uma feitura, não é permitido a sua presença,
mas, ele deve ficar aposto, sua função será tomar conta de todos, para que nenhuma
exigência da Grande Mãe seja desobedecida, principalmente a abstinência de sexo.
Assim como Buku, Legba Aghamasa (agramassá) devem ser tratados corretamente para
garantir a paz, tranqüilidade e segurança nos rituais e preceitos. Ebós e oferendas
específicas devem ser feitos para essas duas entidades.
Os ancestrais dos Voduns, do iniciado, dos participantes e da casa de santo não podem
ser esquecidos em hipótese alguma!
Antes, durante e depois da iniciação de uma Nanã devemos fazer muitos ebós, oferendas
e preceitos. Uma Nanã bem feita é caminho de prosperidade e crescimento para a casa
de santo, do iniciado e dos participantes.
De acordo com a Vodum Nanã que está sento feita ou cultuada é que se determina, se
comerá bichos macho ou fêmea. Existem Voduns dessa linhagem que não comem bicho
de quatro pés, outros preferem comer somente o Igby. Nanã Buruku, por exemplo, não
gosta de muito kun (sangue)
Vários textos têm sido publicados, citando o carneiro como o bicho oferecido a Nanã,
mas, se observarmos as fotos que acompanham esses texto, veremos que se trata de
cabra e cabritos. O sacrifício de carneiro é o maior beko (kisila) de Nanã. Para essa
Vodum, o carneiro é um bicho sagrado e não deve ser sacrificado.
O não uso da faca e outros metais nos nahunos e preceitos de Nanã devem-se ao fato
de Ela ser muito mais velha que esses metais. Por seu caráter conservador, quando o
ferro e outros metais apareceram, ela preferiu manter o que já conhecia em seus ritos.
Vejamos abaixo alguns dos Voduns da linhagem de Buruku. e algumas curiosidade
ligadas a Grande Mãe.
Nanã Densu ou apenas Densu – Segundo os Fons esse Vodum é um deus andrógino e
seria o lado macho ou marido de Buruku. É muito cultuado nos rituais de Mami Wata
onde é considerado o maior de todos os deuses, os Fons o compara a Olokun. Muitos
antropólogos têm atribuído erronêamente Densu a um deus hindu, devido seus fetíches
e assentamentos apresentarem três cabeças. Esse Vodum é muito rico e farto. Costuma
presentear seus adeptos com suas riquezas. Não é feito na cabeça de ninguém. Nanã
Asuo Gyebi (assuô giêbi) – Vodum masculino velho, que habita os rios. Muito popular
em Ghana e tido como o protetor das crianças africanas que foram escravizadas. Esse
Vodum pediu aos seus sacerdotes que o levasse para os países onde os africanos foram
escravizados afim de que pudesse resgatar suas crianças. Ele já foi assentado em templos
de Akonedi nos Estados Unidos e no Canadá.
Nanã Esi Ketewa (êssi quetêuá) – Vodum feminina muito velha, cultuada em Ghana,
Cotonou e Allada. Dizem os mais velhos que essa Vodum morreu de parto e que por isso
a missão dela é proteger e tratar as mulheres grávidas assim como seus filhos
Nanã Adade Kofi (adadê côfi) – Vodum masculino, tem a função de proteger e defender
todos os templos de Nanã. É um Vodum guerreiro, ligado ao ferro e outros metais.
Cultuado em Ghana, Allada, Cotonou, Porto Novo, etc. É o Vodum da força e
perseverança. Sua espada é usada pelos adeptos de Nanã, para prestarem juramentos
de obediência, submissão e devoção a Grande Mãe.
Nanã Tegahe (têgarê) – Vodum feminina jovem, cultuada em Ghana. Tem o poder de
tirar feitíços das pessoas e lugares. Tem grande conhecimento no uso terapêuticos e
ritualísticos das ervas. Muito alegre e faceira, gosta de dançar e cantar, mas fica muito
séria e aborrecida quando encontra malfeitores e ladrões; ela os mata.
Nanã Obo Kwesi (obó cuêssi) – Vodum feminina guerreira, cultuada na região Fanti em
Ghana. Protege e ajuda os kuhatô (pobres) e os azon (doentes). Detesta quem faz aze
(azê - bruxarias) ou qualquer mau a um ser humano.
Nanã Tongo ou Nanã Wango (tongô/uangô) – Vodum feminina, cultuada em Togo.
Grande curandeira, trata das pessoas com ervas, ebós e gri-gris. É uma grande Azeto
(azétó - feiticeira) e seu culto talvez seja um dos mais complexo. Em seus nahunos, os
sacerdotes prostam-se no chão ao lado dos bichos mortos e fingem estarem mortos
também, assim permanecem até que Wango incorpore em um deles e os ressuscite.
Todos levantam, os bicho são suspensos e preparados. Nanã Tongo dança com muita
alegria, vestida em suas roupas confeccionadas com as peles dos bichos sacrificados para
ela. Seus adeptos costumam presentear Wango com muitas jóias, enfeites, roupas e
talismãs que a agradam. Antes de começar os nahunos para Wango, corujas são atadas
às árvores. Nanã Akonedi Abena – Vodum feminina jovem, cultuada em diversas partes
da África. Seu principal templo fica em Later, cidade de Ghana. Quando Akonedi chega
ela percorre a vila, esconde-se em arbustos e sobe em telhados à procura de feitíços,
feiticeiros e malfeitores. Atende os moradores locais, fazendo libações e curando os
doentes. Em Ghana é considerada a Deusa da Justiça Seu corpo é coberto com um pó
branco sagrado, usa saia de palha, seu rosto é descoberto, na cabeça usa um torço, no
corpo muitos brajás e nas mãos trás um feixe de lenha. Sua dança é selvagem e
desenvolve-se dentro de um quadrado divino, dividido em outros quadrados menores
feito com riscos do mesmo pó que cobre seu corpo. Esse conjunto de quadrado também
é usado por suas sacerdotisas durante as danças. Seu assentamento fica em um buraco
dentro da terra, ficando somente a tampa deste aparecendo. Os sacerdote e adeptos de
Akonedi carregam-na nos ombros numa espécie de desfile, para que todos possam
admirar e louvar a grande deusa da Justiça. Terça-feira é o dia consagrado a essa Vodum.
O Culto de Akonedi foi levado para alguns países, a pedido dos governantes desses.
Quem levou o culto de Akonedi para o novo mundo foi a maior autoridade religiosa do
culto, Nanã Oparebea Akua Okomfohemma, falecida em 1995. Mmoetea – Aldeia de
pigmeus que vivem nas florestas de Ghana. Formam uma sociedade secreta
especializada no uso das ervas para diversos fins. Desenvolveram a capacidade de curar
qualquer doença física, mental e espiritual. Trabalham com os espíritos da natureza e
seu maior deus é Nanã. Os espíritos da floresta deram aos Mmoeta o poder de ler a
mente dos homens e dos animais. São grandes curandeiros e poderosos feiticeiros.
Buku – Assistente de Nanã e Sakpata que mata os doentes infectados pela varíola. “Toma
conta e presta conta” do comportamento moral das pessoas durante os cultos de Nanã
e Sakpata.
Legba Aghamasa – Vodum Legba masculino, reina nos portais da morte onde reside
Nanã Buruku.
Odom – Bolsa feita com pele de cabra não curtida, enfeitada com búzios, penas e sangue.
Nessa bolsa são colocados os gris-gris venenoso e não venenoso que decidem uma
questão de justiça. Quando duas pessoas brigam pela mesma “coisa” e recorrem a Nanã
para saber quem tem razão, sua sacerdotisa pede um galo a cada um dos queixosos,
quando esses animais chegam, esses gris-gris são oferecido aos animais. O galo que
comer o venenoso, o dono dele perde a causa. Além desses gri-gris, outros segredos de
Nanã são guardados na Odom. A Odom fica sempre nos pés do assentamento de Nanã,
nunca vai a público e não pode jamais ser tocada por homens. Abuk (abuquê) – De
acordo com a cultura Fon, foi a primeira mulher a surgir. Patrona das mulheres e dos
jardins, seu fetíche é uma pequena serpente. (teria alguma coisa a ver com Nanã?!!)
Asase (assassê) – Deusa da criação dos homens e receptadora dos mesmos na morte.
Cultura Ashanti. (Seria a mesma Buruku?!)
Atori (atôli) – Vara ou haste simbólica de Nanã, representa seus filhos mortos e os
ancestrais.
Todos esses Voduns usam muitos kpolis (quipôlis - búzios) e palha, dificilmente cobrem
seus rostos.
Falar ou escrever sobre Nanã é uma tarefa das mais difíceis, pois são tantas as história a
ser contadas, que somente um livro poderia caber.
Todos os adeptos do Culto Vodum, devem prestar muita reverência a Nanã. Em seus
cânticos e danças devemos nos alegrar e nos sentirmos honrados em poder, aqui no
Brasil, participar dessa parte que na África é reservada somente aos seus sacerdotes e
sacerdotisas.
Aho bo boy Naê!!
EKU E AVUN
No culto dos Voduns, Eku é visto como um Deus acompanhado sempre de um avun. Essa
é uma das razões que, dentro dos Templos de Voduns, a entrada desse animal é proibida.
Porém, os sacerdotes reservam uma área fora dos templos, onde esses animais são
criados para que sejam os guardiões das almas, impedindo-as de entrarem nos Templos
além de encaminhá-las. Os Vodunos, Bokonos, Ahougans, Sofós, Vodunsis e outros,
acreditam que Vodum Ewa sempre espreita o temido Deus Eku para que esse nunca
pegue ninguém desprevenido, além de sempre tentar desviá-lo de seu caminho. Os
velhos Vodunos contam-nos várias histórias para justificar a proibição de avuns em
Templos Voduns. Vejamos algumas delas: 1 - Um dia, Aveheketi estava pescando e
enchendo um balaio com muitos uhui, que levaria para sua aldeia, para saciar a fome
dos seus. Daí, enquanto ele estava distraído em sua pescaria, os avuns vieram e sem que
ele os visse, devoraram todos os uhui. Quando Aveheketi terminou sua pescaria e voltou-
se para o balaio, o encontrou vazio e ainda pode avistar os avuns se afastando com seus
uhui. Desse dia em diante, Aveheketi proibiu a presença de avuns em seus domínios, ato
esse que foi seguido por toda a sua família que é a de Heviosso. Nos kwes de Jeje,
principalmente aqueles regidos por Heviosso ou mesmo Xangô, é proibido a presença
de avuns. Aveheketi diz que em Kwes que tem avuns, nenhum membro da família
Heviosso comparece. 2 - Um avun roubou o fogo de Dan, de Dan Wedo, das divindades
celestes ou do Grande-Espírito para trazê-lo na ponta de sua husi, e por isso, os Voduns
têm pavor de avuns. 3 - A repulsa ao avun nos Templos dos Voduns, é a interdição
implacável sofrida por esse animal, pelos muçulmanos, povo que muito influenciou a
cultura africana. Eles fazem do avun, a imagem daquilo que a criação comporta de mais
vil. O avun, devorador de oku é um animal impuro. Por essa razão também, acreditam
que os deuses jamais entram em um Templo onde se encontra um avun. Não há, sem
dúvida, mitologia alguma que não tenha associado o avun à morte, aos infernos, ao
mundo subterrâneo, aos impérios invisíveis regidos pelas divindades ctonianas ou
selênicas. A primeira função mítica do avun universalmente atestada, é a de guia do
homem na noite da iku, após ter sido seu companheiro no dia da vida. Vemos, em muitas
culturas, o avun emprestar seu rosto a todos os grandes guias de almas. Têm por missão
aprisionar ou destruir os inimigos da luz e guardar as Portas dos locais sagrados, reino
dos okus, país de gelo e de trevas. Algumas tradições chegam a criar avuns
especialmente destinados a acompanhar e a guiar os okus no Além. Atribui-se também
ao avun como intercessor entre este mundo e o outro, atuando como intermediário
quando os vivos querem interrogar os okus e as divindades subterrâneas do país dos
okus. Na África, o avun possui a dom da clarividência e, além de sua familiaridade com
iku e com as forças invisíveis da noite, é considerado um grande feiticeiro. É um costume
africano, em seus banquetes funerários, oferecerem aos avuns a parte que caberia ao
oku, após ter pronunciado estas palavras: "A heaiye hesóa iwo ho hebo Ébe ti eke oku
sòa tiwo hoho ti bo" "Quando vivias, eras tu mesmo quem comia. Mas agora que estás
morto, é tua alma que come!" Também na cultura africana, encontramos feiticeiros com
trajes feitos de peles curtidas de avun, o que mostra o poder divinatório outorgado a
esse animal. Em Porto Novo, Maupoil, num de seus relatos, conta que um de seus
informantes, confiou-lhe o seguinte: a fim de reforçar o poder de seu oráculo divinatório,
ele o deixaria enterrado durante alguns dias dentro da barriga de um avun que imolara
especialmente com essa finalidade. Enfim, seu conhecimento do mundo do Além, bem
como do mundo em que vivem os seres humanos, faz do avun senhor e conquistador do
fogo, sempre ligado a iku, a clarividência, a feitiçaria e as forças invisíveis.
Vocabulário:
Vodunos - sacerdotes
Bakonos - sacerdote de Fá
Ahougan - sacerdote feito de Vodum
Sofó - sacerdotisa feita de Vodum vodunsis - feitos de Voduns (yao)
Avun - cão
Eku - Deus da Morte Iku - morte Husi - cauda
Uhui - peixe
Dan Wedo - Deus do arco-íris, arco-íris
Oku - cadáver, morto
Itans
A Nação Jeje possui, em sua cultura, itans belíssimos que não poderíamos deixar de
divulgar. Estaremos sempre disponibilizando nesta página esta cultura tão rica que a
todos encanta.
Colocaremos também belíssimos Mitos Africanos.
ITANS
MITOS
Borboleta Anansi
Os Primeiros Voduns Árvore da Vida
Hevioso salva Dahomey A Colheita de Estrelas
Serpente - Visão do Fim A árvore que não tinha medo do céu
Promessa feita aos Voduns A Tartaruga e o Macaco - FA
KLAMKLAMLE
(As Borboletas)
Contam-nos os velhos Vodunos que Aveji-da tem, em seu touboumé, um exército de
klamklamle que sobrevoam os mundos e voltam para contar-lhes seus feitos ao mesmo
tempo que trazem outras klamklamle que nada mais são do que as almas que ali irão
residir.
Dizem que a própria Aveji-da, quando está muito preocupada, se transforma em uma
linda klamklam e sai pelos mundos a voar para observar melhor o djenukom e o
aikungumã.
Fá disse a um bakono que sempre que uma Aveji-da recebe uma oferenda, uma
klamklam aparece para confirmar a presença dela.
A klamklam é como Aveji-da, ligeira e inconstante. Uma ligeireza sutil, de espírito
viajante.
A klamklam brincando entre as flores é a alma da deusa nos humahuan. A deusa
acompanha o guhê na primeira metade de seu curso visível, até o guhemê. Em seguida,
desce de volta à aikungumã sobe a forma de uma klamklam.
Há uma associação analógica da klamklam e da chama, de suas cores e do bater de suas
asas tal qual a duwe de Aveji-da.
Aveji-da, assim como todas as deusas do fogo, associa-se a obsidiana, uma kpe-izó, seu
emblema.
Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma dos achólupêle, a klamklam é
também um símbolo do guhê-du, atravessando os mundos subterrâneos durante o seu
curso noturno. É assim, símbolo do fogo ctoniano oculto, ligado a noção de sacrifício, de
morte e de ressurreição. É então a klamklam, atributo das divindades ctonianas,
associadas à morte. Ela ilustra, ao mesmo tempo, a analogia alma-borboleta e a
passagem do símbolo à imagem.
O homem segue, da vida à morte, o ciclo da klamklam. Ele é, na sua infância, uma
pequena lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em crisálida
na sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde sai a sua alma que voa sob a forma de
uma klamklam. A postura de ovos dessa klamklam é a expressão de sua reencarnação.
Dizem os velhos Vodunos:
- Ekùs ete jo nhû oku do bochiô na klamklam!
(- A alma que deixa o corpo dos mortos tem a forma de uma borboleta)
Quando uma klamklam aparece no templo dos Voduns, todos saúdam a bela Deusa do
degi, dos johon, e das djizônukon num só grito "Ahoboboi, mikan Aveji-da!!!".
Vocabulário
klamklam - borboleta (pronuncia-se kunlamkunlam)
Klamklamle - borboletas
Touboumé - reino
Djenukom - céu (orum)
aikungumã - terra (aiye)
Humahuane - guerra, campo de batalha
Guhê - sol
Guhemê - meio-dia
Duwe - dança
Guhê-du - sol negro
kpe-izó - pedra de fogo
achólupê - soldado, guerreiro
achólupêle - soldados, guerreiros
Oku - morto, cadáver
Ete - que
Ekùs - alma, egum
jo - deixar
Nhû - corpo físico
Bochiô - forma, escultura
Na - uma (artigo)
Degi - ar
Johon - vento
Mikan - salve!
djizônukon - tempestade
OS PRIMEIROS VODUNS
De acordo com os povos Fon de Abomey, Dahomey, Mawu é um deus supremo e criador.
Mawu representa a lua que traz a noite e a temperatura fresca, no mundo africano.
Reside no oeste e é descrita como uma velha fria e indiferente o que é considerado pelos
povos Fon, sinônimo de sabedoria e idade.
Alguns itans contam que Mawu tem um irmão gêmeo chamado Lisá, em outros,
encontramos que se trata de um deus andrógino, que sua parte feminina é Mawu e a
parte masculina é Lisá. Lisá é tido, pelos povos africanos, como feroz e áspero, residente
no leste, representa o sol.
Mawu e Lisá são considerados como uma unidade inseparável na base do universo,
representantes do uno e da ordem. Foram trazidos por Nanã, que criou o mundo.
Quando há um eclipse do sol ou da lua, os povos de Fon acreditam que Mawu e Lisá
estão fazendo amor. E conceberam... As primeiras crianças a nascerem, gêmeos, foi um
menino chamado Da Zodji e
uma menina chamada Nyohwe Ananu.
O segundo a nascer, teve a mesma característica de seus pais, andrógeno, era Sobo.
O terceiro nascimento, também gemeos, foi um menino, Agbe e uma menina, Naete.
O quinto, também era um homem, Gu. Todo em forma de corpo, não tinha cabeça. No
lugar da cabeça, uma enorme espada saía de sua garganta e seu tronco era uma pedra.
O sexto nascimento não foi de um ser. Era Djo, o ar, a atmosfera, o necessário para criar
os homens.
O sétimo a nascer tinha chifre, era Legba. Era o preferido de Mawu, por ser o mais novo.
Aos primeiros gemeos deu todas as riquezas e disse-lhes para irem habitar a terra. Disse-
lhes que a terra era para eles.
À Sobo, Mawu disse que devia permanecer no céu porque era homem e mulher como
seu pai.
Aos gemeos Agbe e Naete, disse-lhes para irem habitar o mar, comandar as águas.
Para o quarto filho, velho e experiente, deu o comando de todos os animais e pássaros,
e disse-lhe para viver no arbusto como um caçador.
A Gu, Mawu disse-lhe que era sua força, e era assim porque não foi lhe dado uma cabeça
como aos outros. Por isso, a terra não permaneceria para sempre só com arbustos
selvagens. Era ele quem ensinaria os homens a serem felizes.
À Djo, Mawu disse-lhe para viver no espaço, entre a terra e o céu. A ele confiaria o livre
arbítrio do homem. Seus irmãos seriam invisíveis e a ele cabia vesti-los.
Depois que Mawu disse isso às crianças, ela deu aos gemeos de Sagbata a língua que
devia ser usada na terra, e removeu de sua memória a linguagem do céu.
Deu a Hevioso a língua que ele falaria e tirou de sua memória a língua falada pelo pai. O
mesmo foi feito para Agbe e Naete, para o mais velho e para Gu.
Agora, disse a Legba, você é a minha criança mais nova e como você é levado e nunca
soube o que é punição, não posso transformá-lo como a seus irmãos. Ficarás sempre
comigo. Seu trabalho será visitar todos os reinos governados por seus irmãos e dar-me
ciência do que acontece. Assim, Legba sabe todas as línguas faladas por seus irmãos e a
língua de Mawu. Legba é lingüísta de Mawu. Se um dos irmãos desejar falar com Mawu-
Lisá, deve dar a mensagem a Legba, porque nenhum deles sabe mais dirigir-se a Mawu-
Lisa. Por isso que Legba está em toda parte.
E é também por isso que encontramos Legba na porta de todas as casas de Vodum,
porque todos os seres humanos e deuses devem dirigir-se a ele antes que possam se
aproximarem dos deuses.
O mundo foi criado por Nana Buluku, um deus que não é macho e nem fêmea. Nana
Buluku gerou dois gêmeos, Mawu e Lisa, quem modelou o mundo com a ajuda de seus
quatorze filhos, os Voduns, deuses menores.
Antes de Mawu ter dado vida à seus filhos, a Serpente do arco-íris já existia, criada para
servir a Nana-Buluku. Levava o criador por toda a parte em sua boca. Rios, montanhas,
entre os vales e curvas, exatamente o movimento circular da Serpente. Onde eles
paravam pela noite, montanhas surgiam de esterco da Serpente. Por este motivo,
quando você escava profundamente as montanhas, acha riquezas. Quando Nana acabou
de criar o mundo, é óbvio que a terra não podia suportar o peso de tudo, montanhas,
árvores, seres humanos e animais. O criador designou que Da envolvesse o mundo para
mantê-lo, amortecê-lo.
Daí o costume africano do uso do torso quando estão levando uma carga pesada.
Para que Da não permanecesse no calor, Mawu criou o oceano para ele. E lá Da
permanecem desde o início dos tempos, com sua cauda na boca. Mesmo a água
mantendo-a fresca, as vezes se desloca em torno de si mesma tentando ficar confortável,
o que causa os terremotos.
Da precisa manter-se alimentada, o que obriga a Nana e aos ferreiros forjarem barras de
ferro para mantê-la alimentada. Mais cedo ou mais tarde o suprimento de ferro irá se
esgotar e Da não vai ter nada o que comer. Com fome, ela vai comer sua cauda, suas
convulsões serão terríveis, toda a Terra vai inclinar, pela sobrecarga de coisas e pessoas.
A terra vai ser engolida pelo mar.
Está é a história de um homem pobre que se chamava Kakpo. Esse fato aconteceu em
Tendji.
Há muito tempo, Loko era uma árvore sagrada.
Havia um homem pobre que trabalhava com o machado. Ele cortava árvores para
conseguir madeira. Um dia, encontrou uma árvore boa para cortar. Ele foi cortar Loko.
Loko lhe disse: - Não me corte. Nenhum homem deve me cortar.
Há três Voduns que vivem na árvore de Loko: Dan, Dangbe e Tohwivo, do clã de Ayato,
uma vila em Abomey. Loko tem sete tipos de pequenas cabaças duplas. Loko disse ao
homem: - Vire-se para mim. Se eu lhe der riquezas, você fará tudo que eu mandar?
O homem lhe respondeu: - Sim!
Loko deu-lhe sete das pequenas cabaças duplas e disse-lhe: - Encontre um bom lugar e
quebre uma na terra. Se eu der as riquezas você me dará um boi anualmente?
- Sim, respondeu o homem.
Aquele lugar onde o pobre homem quebrou a primeira cabaça tinha se tornado sagrado.
Quebrou então a segunda. Muitas casas apareceram.
Quando quebrou a terceira cabaça as casas foram cercadas por paredes.
Com a quarta, redes, bancos e almofadas apareceram, tudo que era necessário à um rei.
Quebrou a quinta cabaça e viu muitas pessoas nas casas. Com a sexta surgiram cavalos.
Montou um cavalo.
Quando quebrou a sétima cabaça encontrou Fa e Legba, e não apenas as coisas para
adorá-los.
Mas Kakpo não deu a Loko o boi que lhe tinha prometido.
Loko se transforma em um homem pobre, usando roupas de ráfia, e vai pedir água a
Kakpo.
Encontrou o Minga de Kakpo, que se tornou rei.
O Minga disse: - Sai daqui! Que tipo de homem é você que veste-se com roupa de ráfia?
E Loko foi afastado. Voltou uma segunda vez. O Minga surrou-o com um chicote. Loko
foi embora. Voltou uma terceira vez. Os aldeões estavam ocupados em cultivar para o
chefe. Bateram em Loko novamente.
Desta vez, Loko começou a cantar uma canção:
- "Ponham aqui as sementes, venham aqui e dancem para mim, seus dançarino que
dançam bem".
Loko cantava assim e, enquanto cantou, todas as pessoas que cultivavam
desapareceram.
Kakpo ficou pobre outra vez. Loko deixou-o somente com um pano de ráfia. Fa retornou
ao seu reino.
Kakpo foi outra vez à Loko. Diante dele, encostou sua testa na terra e implorou que Loko
o perdoasse. Disse: - Eu lhe darei o boi que havia prometido.
Mas Loko recusou.
Kakpo e sua vila viveram o resto de suas vidas pobremente.
Não se Deve Enganar um Bakonon
O Macaco e a Tartaruga
O macaco pode subir em árvores, mas a tartaruga não pode. Os dois não eram amigos.
Uma vez, durante uma escassez, o macaco encontrou um milharal onde a colheita estava
muito boa. Ele não podia comer o milho porque as pessoas sempre expulsavam os
macacos dali.
Assim, o macaco foi a um bakonon para perguntar o que ele podia fazer.
A tartaruga disse: - Eu sou um grande bakonon, mas eu não saio de minha casa. Se você
quiser algo, deve vir à minha casa. Estou aqui para os pobres, para todos aqueles que
precisem de algo. Seu tivesse ido com você, tu não me alimentarias, porque sabes subir
em árvores e eu não.
A tartaruga não queria ir mas o macaco tanto insistiu até que, finalmente, ela foi com
ele. Ela consultou o Fa por longo tempo.
Quando chegaram ao milharal, o macaco começou a comer. Disse a tartaruga que
esperasse por ele mas não deu nada à ela. Assim, deu meio-dia e a tartaruga não tinha
nada para comer.
Um leopardo chegou ao local onde a tartaruga estava. Disse à tartaruga: - Eu estou com
uma criança doente em minha casa. Já fui a sua casa duas vezes mas não a encontrei.
O macaco, de cima da árvore, prestava atenção na conversa do leopardo com a tartaruga.
A tartaruga chamou o leopardo para baixo da árvore onde estava o macaco. Lá jogarei o
Fa para você, disse a tartaruga.
Quando lá chegaram começou a jogar. Ela disse: - nós devemos encontrar um macaco
para curar sua criança.
O leopardo indagou: - Devo encontrar um macaco? E onde posso encontrar um?
A tartaruga respondeu: - Oh! não é difícil. Você é forte. Sem isso não posso fazer nada.
Eu sei onde encontrar um macaco. O que você me dá se eu lhe disser onde encontrar o
que precisa?
Pediu mil cauris.
O leopardo deu-lhe os mil cauris.
- Olhe acima de minha cabeça e verá um macaco, disse a tartaruga.
O leopardo falou para o macaco: - Ah! venha já aqui, você está tão perto!
O macaco não quis descer porque tinha ouvido toda a conversa.
O leopardo começou a se irritar e gritava: - Você não está me ouvindo? Está de
macaquice comigo? Um macaco não é mais que meu filho! O Fa disse que você é a
solução. Preciso de sua cabeça e sua cauda, o resto deixo com você.
Ouvindo essas palavras, o macaco fugiu. Disse: - Eu não estou aqui para dar-lhe minha
cabeça e minha cauda.
O macaco correu e o leopardo foi atrás dele. O leopardo conseguiu alcançá-lo e trouxe-
o para a tartaruga.
A tartaruga disse: - Bem, amarre-o!
Assim o leopardo fez, amarrou o macaco.
Então a tartaruga teve descanso para comer e a criança doente foi curada.
Por essa razão, ninguém deve enganar um bakonon.
ANANSI
Anansi ou Ananse. é um heroi da cultura Ashanti, povo de Ghana, também chamado "O Aranha".
É o intermediário do deus do Céu Nyame, seu pai, que comanda Anansi para levar chuva para apagar o fogo em
florestas e determina os lugares que Anansi deve "fazer" barreiras em oceanos e rios, em grandes inundações.
Estas funções de Anansi se aproximam com as do camaleão, alguns dizem que o camaleão roubou as funções de
Anansi.
Sua mãe, Asase Ya, é considerada, por vezes, a criadora do Sol, da Lua e das Estrelas, bem como aquela que instituiu
a sucessão do dia e da noite. Diz-se que Asase Ya também criou o primeiro homem e que Nyame deu o sopro de vida.
Anansi é astucioso e matreiro. Ensinou a humanidade como semear grãos e como usar a pá nos campos.
Anansi é o mito africano mais popular.
Hoje, a figura de Anansi tornou-se muito conhecida entre as crianças e jovens, por ter tido sua performance
caricaturada a uma aranha infantil, que conta histórias, mitos e fábulas dos diversos lugares, civilizações e culturas
africana.
A ÁRVORE DA VIDA
Naquele tempo - e faz tempo que ninguém sabe quando foi e nunca soube - não havia floresta, apenas colinas e
planaltos a perder de vista, e um rio que atravessava estas terras desoladas. Perto do rio, onde a terra era branca,
vermelha e preta, erguia-se a casa de Khmvum, o Criador de todas as coisas.
Foi lá que Mbere e Nkwa foram encontrá-lo um belo dia, para lhe suplicar que criasse uma grande floresta...
- Khmvum Bali, tu que dás a vida, bem que podia nos dar uma floresta, povoada por milhares de árvores... -
pediuMbere, com o coração cheio de esperança.
- Khmvum Kka, tu que és o mais forte entre os fortes, por favor, nos dê uma floresta povoada por milhares de animais...
- pediu Nkwa, com o coração cheio de sonhos.
Khmvum ouviu em silêncio, e depois alisou a barba, olhando firme para eles, com seus olhos escuros como a noite.
- E por que os meus filhos pigmeus estão querendo isso?
- Nós somos tão pequeninos... Os menores dos menores... - começou Mbere. - Podíamos nos esconder na sombra
das árvores...
- E colados aos troncos enormes - continuou Nkwa - podíamos escapar dos nossos inimigos gigantes...
- Os gigantes receberam a força, na divisão, mas vou dar algo muito melhor aos pigmeus...
E o Criador ergueu a mão.
- Dou a vocês a coisa vermelha, o fogo, para vocês não terem mais frio. E dou os animais que caminham, que pulam,
que voam, que nadam, para que jamais a fome entre na barriga de vocês. E lhes dou todas as árvores, como abrigo e
como amigas. Vocês serão os senhores da floresta e, no reino dela, os pigmeus estarão em casa, livres.
Mbere e Nkwa ouviam as palavras de Khmvum boquiabertos, com a impressão de estarem vivendo um sonho. Eles,
os menores entre os homens, iam se tornar os reis da floresta!
Ardendo de impaciência e devorados pela curiosidade, viram o Criador entrar em casa e voltar em seguida, trazendo
uma árvore minúscula, que acabara de se formar.
- Esta aqui é Tii, a ancestral da floresta. É a guardiã da coisa vermelha que esquenta, que cozinha e que ilumina.
E Khvum lhes ensinou a fazer o fogo nascer, esfregando dois pedaços de pau. Depois, plantou a arvorezinha na
margem de três cores e foi se sentar, com os braços cruzados.
- Só isso? - perguntou Mbere, pensando que uma única árvore, mesmo se crescesse muito, não era uma floresta.
- Só isso? - repetiu Nkwa, pensando que os animais não nasciam em árvores.
O Todo-Poderoso tinha fechado os olhos.
- Depois da noite, o dia. Depois de uma nuvem, outra nuvem. Depois de uma árvore, outra árvore...
Os dois pigmeus não perguntaram mais nada. Curvados, com a testa apoiada no chão, rezavam para Khmvum, quando
um barulho estranho estranho os fez levantar a cabeça.
Bem ali, diante de seus olhos, Tii começava a crescer com uma velocidade prodigiosa.
Em pouco tempo, seu tronco estava tão grande que seis pigmeus não bastariam para rodeá-lo com os braços. O sol
do meio-dia desaparecera por trás da folhagem espessa que já enchia de sombra as duas margens do rio. E a árvore
continuava crescendo.
Logo que a envergadura de seus galhos se estendeu pelo quatro cantos do horizonte, Khmvum Vali, aquele que dá a
vida, aproximou-se e tocou a árvore com a palma da mão.
Tii tremeu com o choque e fez cair sobre a planície um dilúvio de grãos. Mbere e Nkwa caíram de joelhos,
maravilhados. Num instante, cada grão dava vida a uma nova árvore. Onde antes não havia nada, nascia agora um
mundo ao redor deles, uma floresta profunda, que crescia a olhos vistos!
Depois, Khmvum Kka, o mais forte entre os fortes, sacudiu com as mãos o tronco da grande ancestral e as folhas
começaram a cair de uma a uma.
Mbere e Nkwa assistiram então, fascinados, ao nascimento do mundo animal: assim que uma folha tocava o solo,
começava a se arrastar, a saltar, a andar ... e ia crescendo e se transformando em serpente, em macaco, em elefante...
As que ficavam dando voltas no ar logo viravam pássaros de todo tipo, e as que caíam no rio tornavam-se peixes,
tartarugas, crocodilos... E toda a vida da floresta nasceu da árvore Tii.
Texto de Franck Jouve
Tradução de Ana Maria Machado
A COLHEITA DE ESTRELAS
Já havia algum tempo que Bako, o Sol, dava sinais de cansaço...
No começo, os pigmeus não prestaram muita atenção. Talvez estivesse um pouco menos claro, seguramente fazia
menos calor que antes, mas, afinal de contas, sempre houve dias menos bonitos que outros, não era motivo para
ninguém se apavorar.
Entretanto, depois de uma semana, mesmo os pigmeus mais otimistas tinham que reconhecer que o fenômeno estava
continuando de uma forma anormal. Consultaram então o Nzorx, o advinho curandeiro, que foi consultar seu espelho
de vidência. O que leu nele não devia ser muito animador, porque apertou as mãos sobre o seu talismã de chifre de
antílope, como se quisesse se proteger e proteger sua tribo de uma grande desgraça.
- E então? O que foi que o espelho de vidência revelou? - perguntaram seus irmãos, esperando o pior.
Com um sorriso forçado, o Nzorx quis tranquilizá-los: desde que existia a memória dos homens, nunca o Sol deixara
de brilhar. Bako era velho e robusto como o mundo, não havia nenhuma razão para que de repente adoecesse...
- Mas não dá para negar que Bako não anda com um aspecto muito bom - insistiu um pigmeu, com a voz preocupada.
- Está tão pálido...
- Só um pouco de cansaço, isso passa.
- E no fim do dia está vermelho, afogueado, como se estivesse sem fôlego!
- Na certa é uma febrezinha, mas não deve ser nada grave.
No entanto, os sintomas preocupantes se multiplicavam: o calor era cada vez menor... a luz enfraquecia a olhos
vistos... Bako cada dia deitava-se mais cedo, como se estivesse esmagado pelo peso de um trabalho que ficara pesado
demais para ele. Então o pressentimento virou certeza: o estado do Sol piorava de maneira catastrófica.
- Hum... alguma coisa anormal está acontecendo... - murmurou um pigmeu, e depois outro, e mais outro.
- Bako só é a sombra do que era - sussurraram outros.
- E se ele apagasse?
Mal foi formulada, essa idéia lançou o terror nos espíritos. A vida era inconcebível sem Bako para iluminar e aquecer
os humanos. Nessa noite, os pigmeus ficaram esperando o alvorecer e tremendo: se o Sol não comparecesse ao
encontro, seria simplesmente o fim do mundo.
Como o dia demorava a aparecer! Com um atraso angustiante, o astro levantou-se mais uma vez, mas em que estado!
Irreconhecível, lívido, gasto, subia penosamente pelo céu, mal conseguindo dardejar seus grandes raios...
Horrorizados, os pigmeus finalmente o viram desaparecer numa luz crepuscular de muito mau agouro. Desta vez, foi
o pânico. O Sol morria no horizonte! Jamais teria a força de subir novamente ao firmamento se sua chama não fosse
reavivada. Aliás, nem haveria amanhã, pois com toda certeza o dia não nasceria nunca mais. Era absolutamente
indispensável que se tentasse alguma coisa logo, mas o que?
Intimado a encontrar uma solução, já que era o advinho e curandeiro, o pobre Nzrox ergueu as mãos para o Céu, em
sinal de impotência.
- Rezemos a Khmvoum... Só ele pode curar Bako.
Khmvoum... À simples evocação do Deus supremo, os pigmeus readquiriram confiança, tão rapidamente quanto
haviam se desesperado. Isso mesmo, apenas o Grande Caçador celeste poderia impedir o desastre. Bastava que ele
ouvisse o pedido de socorro de seus filhos: tudo voltaria à ordem e...
De repente, uma risada sinistra rasgou o silêncio da noite: era Tore, o espírito da Floresta! Só ele poderia achar graça
num momento daqueles... Pouco lhe importava que a luz abandonasse o mundo, ele era um pássaro noturno, um
monstro da mata, que se alegrava com as trevas.
- Se a luz não voltar - balbuciou um pigmeu - o ogro Ngoogounogumbar vai devorar nossos filhos...
- E o anão Ogrigwabibikwa vai se transformar em réptil para nos morder no escuro!
Tremendo, os pigmeus dirigiram ao céu um olhar de súplica. Entrecortada pelas risadas de Tore, sua prece subiu ao
Céu:
Ó Sol... Ó Sol...
A morte vem, o fim já chega,
O astro cai e morre.
O fogo escurece, a mata fica negra,
A chama vai se apagar, é nossa desgraça!
É nossa desgraça... Oh! Khmvoum!
Do alto do céu, Khmvoum ouviu a voz de seus filhos e siu seu desespero.
Sem perder um minuto, pôs-se a caminho em direção ao Sol. Em sua mão direita, brilhava o Arco-íris. Na esquerda,
tinha uma sacola enorme, que lançou sobre os ombros: a colheita do Grande Semeador celeste ia começar...
Khmvoum penetrou nas grandes florestas do Céu. Dirigiu-se para o oriente, lá no fim do mundo, onde normalmente
Bako deveria reaparecer. Em sinal de aliança com seu povo, plantou lá o Arco-íris que, de manhã, diria que os belos
dias tinham voltado e que não havia mais nada a temer. Depois, com passos decididos, enveredou pela Via Láctea; o
caminho todo pavimentado de estrelas.
Khmvoum deteve-se numa região celeste rica em milhões de astros, todos muito brilhantes. Havia tantos, de todo
lado, que era só esticar a mão, colhê-los aos punhados e guardá-los na sacola. Bem que as estrelas, assustadas,
tentavam fugir, mas não era fácil escapar ao Grande Semeador, e elas logo eram aprisionadas.
Khmvoum calculou o peso da sacola. Já era quase o suficiente, mais um punhado de estrelas e pronto. Unindo o gesto
ao pensamento, agarrou um cometa que passava voando e mais duas ou três estrelas cadentes, para completar!
Khmvoum prestou atenção. Por cima da tempestade que rugia lá embaixo, distinguiu o coro de seus filhos
desesperados, suplicando:
É nossa desgraça ... Oh! Khmvoum!
A morte já vem, o fim vai chegando,
A chama vai se apagar!
Para tranquilizá-los, encarrega o elefante Gor, o mensageiro celeste que fala na tempestade, de explicar aos pigmeus
que o fim do mundo não viria nesse dia. Gor dirigiu a tromba para a Terra, para mandar a mensagem de esperança...
Na mesma hora, atingidos por uma chuva diluviana, os pigmeus recitavam sua prece com fervor crescente. O alvorecer
já devia estar ali... não restava mais muito tempo para salvar Bako. Então, quando o trovão estourou com sua força
assustadora, acreditaram que a hora de seu fim tinha chegado. Mas o Nzorx apontou um dedo inspirado em direção
ao céu.
- É a voz de Gor! - exultou, com o rosto encharcado de chuva. - E nos diz que Khmvoum está à cabeceira de Bako.
Khmvoum atravessara o espaço com grandes passadas. Bem a leste do mundo, tinha encontrado o astro moribundo,
mais pálido que a Lua, e lançado o conteúdo de sua sacola na fogueira quase extinta do Sol. As estrelas crepitaram,
explodiram em centelhas que se transformaram em chamas gigantescas. Bako foi ficando cada vez mais vermelho,
como uma brasa incandescente. A chuva de estrelas, que não parava de cair sobre ele, o regenerou. Ele embrasou-
se, inflamou-se, reencontrou seu esplendor original. E no oriente houve uma ebulição de calor, uma luz ofuscante!
Lá embaixo na floresta, as risadas cruéis de Tore, o espírito da Floresta, estrangularam-se em sua garganta. A longa
noite acabava de ter fim, a hora do grande declínio ainda não chegara.
Saudado pelos pigmeus entusiasmados, o Sol levantou-se no horizonte. Mais brilhante do que nunca, rasgou o manto
das trevas, furou as nuvens negras, dissipou os medos, explodiu e resplandeceu no dia nascente.
- Arco-íris! O Arco-íris! - entoaram os pigmeus, encantados, descobrindo o sinal de Khmvoum a leste do céu.
Tu que brilhas no alto bem alto,
Acima da floresta tão grande,
Arco poderoso do Grande Caçador celeste,
Diz a ele que agradecemos!
Não, Bako não se apagaria - não enquanto houvesse estrelas no céu e enquanto Khmvoum velasse sobre seu povo.
Texto - Franck Jouve e Michael Welply
Tradução - Ana Maria Machado
A ÁRVORE QUE NÃO TINHA MEDO DO CÉU
O Céu não foi sempre alto assim, nem a floresta tão bonita e cheia de vida.
No começo, o Céu ficava muito perto da Terra e pesava sobre ela como se fosse uma grande tampa, de tal modo que
as árvores só conseguiam crescer para os lados. Então seus galhos ficavam uns por cima dos outros, suas folhas
varriam o chão tristemente, seus brotos se amarrotavam e secavam...
Era assim desde o começo dos tempos - e seria até hoje se uma sumaúma, cansada de viver apertada, não tivesse
forçado seu destino.
"Quem sabe se não há mais espaço do outro lado do teto do mundo?", sonhava ela.
Firmando bem sua copa, a árvore tentou furar um buraco e então - mas que prodígio! - o Céu recuou alguns metros!
Era o que bastava para que a valente sumaúma se endireitasse em todo o seu tamanho e passasse lá para cima, para
aspirar o ar das alturas.
Espantadas ao verem que se afastava o tirano que as oprimia desde sempre, as outras árvores aproveitaram para se
sacudir e se esticar, lançando seus galhos para o alto. Os troncos se firmaram, as raízes ancoraram majestosamente
no solo, os brotos atrofiados se desdobraram, embriagados de felicidade, e deixaram assim nascer milhares de folhas.
Em volta da sumaúna, em pouco tempo a Terra era uma vasta floresta virgem, que finalmente começava a respirar.
Enquanto isso, do outro lado do Céu, um jovem casal de órfãos avançava cautelosamente pelas grandes pradarias
celestes. Ao avistar o que tanto procuravam, ficaram imóveis. Um lagarto grande , preguiçoso, tomava sol estendido
sobre uma nuvem. O caçador ergueu sua azagaia, enquanto sua companheira punha uma flecha no arco.
Consultaram-se com um olhar e fizeram pontaria... O lagarto deu um salto e rolou sobre si mesmo, no instante em
que os dois projéteis fendiam o ar. Os órfãos não acreditaram no que viam: não apenas tinham errado o alvo, mas
seus tiros haviam desaparecido num buraco! Esquecendo a presa, aproximaram-se da abertura...
Debaixo do assoalho do Céu, um estranho mar verde ondulava a perder de vista. Olhando mais de perto, descobriram
a flecha e a lança fincadas no meio daquele oceano esquisito. Não era um mar líquido. O que seria então?
- E se nós descêssemos? - sugeriu a moça, fascinada.
Não precisou dizer duas vezes. Era isso mesmo o que ele queria. Pousou o pé num galho da sumaúma, para testar se
era firme, e depois estendeu os braços para a companheira, a fim de ajudá-la. De galho em galho, penetraram assim
no coração daquele reino verde, até pisarem em terra firme. Durante todo o dia, exploraram cada recanto da floresta,
maravilhados com sua beleza e com o frescor que nela reinava. A mesma idéia lhes ocorreu, ao mesmo tempo: por
que não se mudavam para viver ali embaixo?
O entusiasmo deles diminuiu quando, depois de muitas horas de buscas inúteis, tiveram de se render às evidências:
não havia viv'alma naquele lugar... Nem um animal nos ocos, nem ao menos um inseto! Um silêncio mortal planava
sobre a floresta desabitada.
Muito desapontados, os órfãos se sentaram num tronco de árvore para pensar. Mesmo que eles se alimentassem
apenas de frutas e bagas, morreriam de tédio e solidão. E como começavam a ter fome, a moça de repente se lembrou
de que tinha no bolso uma espiga de migo celeste. Ia dividi-la ao meio, mas mudou de idéia e a cortou em três
pedaços. Deu um ao companheiro, guardou o outro para si e plantou o último na beirada do bosque. Talvez surgisse
um campo de milho daquela terra semeada, num sinal de que pudessem ficar lá embaixo.
Enquanto as primeiras folhinhas do pé de milho apontavam timidamente em busca da luz, a sumaúna continuava a
crescer, empurrando o Céu, lá nas alturas. Até que chegou um momento em que o Céu se cansou e não quis mais
chegar para trás. Curvou-se todo para resistir ao ataque daquela insolente... mas a árvore acabou conseguindo
transpassá-lo e sair do outro lado.
Foi assim que uma copa gloriosa e triunfante irrompeu bem no meio da pradaria do céu - para grande alegria dos
animais que lá viviam e que vieram correndo se abrigar dentro dela. Até que enfim, aparecia um lugar fresco e
sombreado!
Porém, mal tinham se metido pelo meio da folhagem, quando o Céu resolveu de uma só vez se afastar para bem
longe da sumaúma, indo parar no lugar onde está até hoje.
Abandonados, sentindo-se presos numa armadilha, os animais não tiveram outro remédio: trataram de descer, de
qualquer jeito, pelo troco da sumaúma e foram viver na floresta. Os que não conseguiram, nem sabiam voar, tiveram
de esperar que os órfãos fossem buscá-los, um a um.
Foi assim que o mudou o mundo todo, graças a uma árvore que não tinha medo do Céu.
Texto de Franck Jouve
Tradução de Ana Maria Machado
INSTRUMENTOS
DANHOUN
O danhoun pertence a família dos instrumentos de percussão. É uma série de três tambores de tamanhos diferentes
sendo o maior chamado de hounon, o médio o sanga e o menor o alekle. Eles são cobertos com ráfia tingida, apenas
tocados por adeptos preparados (ogans) e sua melodia só pode ser dançada por pessoas feitas.
Este instrumento só é tocado durante as cerimônias em honra ao deus Dan, representado pelo arco-íris ou por
Dangbe, a cobra python, para as Tovoduns das águas doces ou para Legba, deus dos caminhos. Nestas cerimônias os
adeptos também usam roupas de ráfia tingidas de roxo.
A intensidade do ritmo do danhoun proporciona o transe aos voduncis.
O deus Aziza, fascinado pelo danhoun, foi o primeiro a iniciar um ogan para tocar seu instrumento de adoração.
Na África, tocar o danhoun para outros deuses que não os citados, é considerado sacrilégio. Seu caráter altamente
religioso faz deste tambor um instrumento muito especial.
TATCHOOTA
tatchoota é uma espécie de gongo.
Este instrumento musical é usado, principalmente durantes os rituais fúnebres e celebrações.
Ele difere dos outros gongos por seu tamanho e forma especiais. É composto de duas peças independentes sendo a
primeira sempre usada no dedo indicador e a segunda, circular, no polegar.
O tatchoota é confeccionado em ferro e, usualmente, possui 8 cm de diâmetro e 20 cm de comprimento. Os primeiros
tatchootas a serem confeccionados pelos antigos ferreiros reais, eram muito maiores.
É um instrumento misterioso e maravilhoso.
O tatchoota também é utilizado pelos betamaribes (caçadores), que sinalizam um animal abatido aos outros
betamaribes pedindo ajuda.
Na cerimônia de passagem da infância para a maturidade, o difoni, os jovens Fon recebem um tatchoota para
simbolizar esta nova etapa de vida e saem em procissão, tocando o instrumento.
O ritmo produzido pelo tatchoota é chamado tipenti, muito apreciado e dançado nas cerimônias em homenagem aos
Voduns e também no fim da estação das chuvas.
Outro momento importante onde o tatchoota é tocado é no sacrifício de animais e na entrega das oferendas aos
deuses.
GOTA
O gota, também conhecido como kago, que é a base do ritmo tchinkoume.
Inicialmente foi chamado de zin e era uma peça redonda de cerâmica, utilizado para fornecer o ritmo zinli, música
tocada pelos antepassados que vieram de Tado, uma aldeia Mahi, onde nasceu o gota. Depois foi introduzido em
Savalou onde era tocado quando haviam inimigos na cidade. Daí nasceu o ritmo particular do zin.
O material principal utilizado para confeccionar o gota é produzido pelo cabaceiro, chamado katin na língua Fon.
Uma pele animal seca é esticada cobrindo a abertura depois das sementes terem sido removidas. E é aí que o som é
produzido, com batidas firmes.
Juntamente com este instrumento principal, outras duas cabaças menores, emborcadas em recipientes cheios de
água, proporcionam um som diferente, o tohoun. Este ritmo é dançado por mulheres ágeis por ser um ritmo muito
rápido.
O gota é tocado principalmente nas cerimônias em homenagem aos voduns, funerais e para acalmar os espíritos dos
mortos.
Durante as cerimônias funerais toca o ritmo tchinkoume além do yonoutcho e o ahidjekpe, que são o primeiro e
segundo estágios, respectivamente, do ritual dos mortos na tradição Mahi. Seu som oco e fundo representa o outro
mundo para os Mahis.
Normalmente é tocado apenas por mulheres.
KANKANGUI
É também chamado de kankank, kakasi, kakati, kakake.
O kankangui é um instrumento de sopro, confeccionado em latão com aproximadamente 1,95 cm de comprimento,
bem fino e brilhante. É uma herança cultural do reino Nikki, no antigo Dahomey.
É um instrumento sagrado e só pode ser tocado por pessoas iniciadas.
O kankangui é especial, não só por sua forma mas também pelo seu tamanho além de produzir um som
completamente diferente dos instrumentos de sopro conhecidos.
O iniciado que toca este instrumento é chamado de kiriku e usa um bácom (espécie de chapéu) na cabeça.
Ele era tocado para agradar os reis e a aristocracia durante suas grandes cerimônias e procissões religiosas.
Ainda hoje é tocado nas procissões, festivais e cerimônias em homenagem aos Voduns.
Nas noites de quinta-feira, ele é tocado como um mensageiro sagrado, levando aos deuses todos os pedidos dos
adeptos ao culto dos Voduns.
ADJALIN
O adjalin é um instrumento muito antigo, criado pelo grupo étnico Goun.
Ainda hoje, este instrumento é tocado em quase todas as cerimônias e rituais em homenagem aos Voduns.
Normalmente, são os Gouns mais velhos que o tocam.
É um instrumento que exemplifica a grande imaginação e genialidade de um povo. Confeccionado apenas de hastes
de bambu, ao olharmos o adjalin temos a impressão de estarmos vendo uma pilha de lenha mas, o adjalin é muito
mais que isso. Tem uma forma retangular, quinze hastes de bambu são dispostas horizontalmente. O adjalin tem em
média 65 cm de comprimento por 25 cm de largura, e as hastes de bambu são amarradas por fibras de legumes.
O som deste instrumento é muito harmonioso, agradando à muitas pessoas. Elas são atraídas pela melodia suave e
fascinante, encantadora, um verdadeiro som mágico.
Quando tocado junto com os tambores, não há quem resista a dançar. É, sem dúvida, um dos melhores instrumentos
oriundos do antigo Dahomey.
ALOUNLOUN
O instrumento é chamado de alounloun e seu ritmo adjogan.
O alounloun é uma barra de ferro comprida, de um metro de comprimento, com um alongamento, toda trabalhada,
sua parte central é de cobre e argolas deslizam para cima e para baixo para produzir a harmonia de sua música. Tem
um cabo na forma de um pássaro, símbolo de Kokpon.
Para falar das origens deste instrumento devemos voltar na história.
No início, o alounloun era um cajado que simbolizava a força do rei de Allada. Este cajado foi herdado por Te-Agdanlin
de seu pai Kokpon quando da disputa, entre os dois irmãos, formaram então os reinos de Allada e Dahomey,
respectivamente, no século dezessete.
Um descendente de Te-Agdanlin, De-Gbeyon, transformou o cajado em um instrumento musical, durante seu reinado
(1765-1775).
Naquele tempo, era usado para acompanhar canções que elogiavam o rei. Era tocado unicamente por mulheres.
Ele pegou o alounloun durante a migração e veio para o sul do Benin onde criou o reino de Hogbonou (atual Porto
Novo).
Quando ele morreu, de uma geração para a outra, o alounloun sofreu várias transformações contando com o gosto e
aspirações de cada rei. Foi realmente transformado em um instrumento musical pelo rei De-Gbeyon para homenagear
seus antepassados.
Naquela época ele não era tocado só para homenagear os reis mortos mas também para os reis vivos, para as ahossis
(rainhas) e na consagração dos ministros do rei.
O alounloun foi tocado durante cinco dinastias de Porto Novo.
Hoje é tocado em muitas cerimônias em homenagem aos voduns, nos ritos fúnebres, procissões e festivais.
BALAFON
O verdadeiro nome deste instrumento é balan, incorretamente chamado de balafon, palavra francesa que indica
quem toca o instrumento: balan é o instrumento, fo o tocador.
Sua forma é trapezóide e seu som melódico, ativo e excitante.
Ele é confeccionado de barras de madeira que produzem notas quando tocadas. As barras são dispostas
paralelamente e sob ele coloca-se cabaças de vários tamanhos para criar um sistema de amplificação do som.
As barras são feitas de uma madeira dura chamada gouene-yori, na língua bambara e koyehoun, em Fon.
Os fios que seguram as barras são feitos de pele de cabra ou cervo, que é mais resistente.
O balafon é tocado em cerimônias festivas em homenagem aos deuses, acompanhado de outros instrumentos.
Podemos encontrar o balafon em vários modelos.
DJEMBE
O djembe ou jeme, é um tambor com uma cabaça atada, tocado com a mão e junto com o doudoumba, outro
instrumento de percussão, fornecendo o tom baixo. O topo do djembe é coberto com uma pele de cabra curtida,
segura por argolas de ferro anexadas por nós de corda.
Tem um som agradável e puro. Alguns dizem que seu nome vem do som do instrumento quando vibra. É um
instrumento muito expressivo.
O djembe deve estar sempre em um local seco e limpo.
É tocado em diversas cerimônias e rituais em homenagem aos voduns.
KPANOUHOUN
O kpanouhoun é uma espécie de tamborim tocado por vários grupos étnicos: Fon, Mahi, Goun, Mina, Yoruba, etc.
É composto de uma parte semelhante a um prato fundo e uma margem com buracos onde aparecem argolas de ferro.
Uma parte da margem não contém buracos e é aí que deve ser segurado com a mão direita. Com a palma da mão
esquerda é tocado.
Não se pode dizer com exatidão onde este instrumento se originou. Ele emite um som muito agradável, falicitador de
nossos sonhos.
É um dos raros instrumentos tocados exclusivamente por mulheres, em cerimônias de casamentos, iniciações,
funerais de idosos e festivais.
Pode ser acompanhado por um gongo de uma ou duas câmpulas.
SATO
O sato é um instrumento sagrado de percussão, feito de madeira e coberto de couro. O tambor maior mede cerca de
1,75 cm de altura.
Ele possui duas formas: uma masculina e outra feminina sendo que, ainda podemos encontrar uma forma
hermafrodita, exibindo seus atributos sexuais na maneira de se tocar.
Este tambor é tocado com pequenas varas curvas, e emite um ritmo do mesmo nome, durante os festivais anuais em
homenagem aos antepassados. Nesta ocasião, todos dançam o ritmo sato, tocado pelo tambor de mesmo nome
acompanhado de outros instrumentos musicais: gbehoun, ahlomidon, alangandan e o gongo.
O tambor sato participa da passagem do morto do mundo visível para o invisível e é por isso que é tocado nos ritos
funerais, para garantir a separação da alma deste mundo e sua transição para o outro mundo.
A ninguém é permitido olhar dentro do sato pois lá estão os espíritos dos mortos e é por isso que ele é guardado em
posição ereta e só pode ser transportado a noite.
Este instrumento é fantástico, desafia o tempo e é imutável.
YABARA
O yabara também é chamado de mayabara (a cabaça da humanidade).
É um instrumento de percussão, sua forma e tamanho são variáveis.
Ele é confeccionado de uma cabaça e revestido por uma rede de pérolas ou sementes de frutas, envolvendo a cabaça
até o pescoço.
Para se tocar o yabara, pega-se o pescoço da cabaça com uma das mãos e com a outra a ponta da rede para permitir
que o som das pérolas ou sementes seja amplificado.
Este é outro instrumento bastante utilizado nas cerimônias e rituais dos Voduns.
KPEZIN
O kpezin é um instrumento importante na vida cultural e religiosa do Benin.
É um tambor em forma de pote, uma caixa de som com um longo pescoço e uma base redonda. A base é revestida
com vime trançado e o instrumento é assentado em uma "almofada" de casca de bananeira seca e enrolada, presa
no instrumento por fios de fibra de folhas de bananeira.
O topo tem um diâmetro de 73 cm e é coberto por pele de antílope. Há dois tipos de kpezin: o maior chamado de
kpezinnon e o menor kpezinvi, que podem ser tocados ao mesmo tempo.
A base do kpezin, coberta de pele, pode ser batida no centro ou nas margens para produzir sons diferentes durante
as cerimônias especiais, exigindo muita habilidade de seus tocadores.
O kpezin é frequentemente colocado em uma peça de madeira quando é tocado para que as forças dos deuses sejam
"armazenadas" nos assentamentos. Da mesma maneira, ele é tocado para os assentamentos destes tambores que
são guardados sob eles quando não estão sendo tocados.
Ele também é tocado em cerimônias e rituais aos voduns e funerais. Nos rituais fúnebres ele é tocado acompanhado
pelo zinli, para afastar as aflições, moléstias e ofensas.
A maior parte do tempo, os Ogans tocam o kpezin sob uma árvore.
Também é utilizado em rituais agrícolas e de purificação.
O kpezin é um instrumento muito antigo, já tocado pelos adjohoun (da cidade de Adja), trazido de Allada pelo rei
Dakodonou, primeiro rei do Dahomey, morto em 1645.
No reinado de Glele, o kpezin também foi utilizado, inclusive para consertos em frente ao palácio.
Tradicionalmente, o kpezin é um instrumento sagrado. Na cerimônia do aziza honou (Aziza é o deus da canção, da
música, dos caminhos musicais), é tocado na madrugada. Esta cerimônia confere grande força aos instrumentos.
GANKEKE
O gankeke é uma espécie de sino duplo sem nenhum pêndulo em seu interior, feito em duas peças de ferro, redondas
e finas ao longo, como um funil, unidos no fim com um espaço entre elas, formando um cabo onde o tocador segura
o instrumento. O pescoço do instrumento é encurvado e os tocadores dão batidinhas com uma peça de madeira.
Também encontramos gankeke com apenas uma câmpula.
Existem gankekes de 20, 30 ou 50 cm de comprimento. Este maior é tocado especialmente nas cerimônias fúnebres.
Ele produz um som agradável, 'kay' 'kay' 'kay', de onde sai seu nome, acrescido de gan, que quer dizer ferro.
Este instrumento é tocado principalmente por homens que, numa mão têm o gankeke e na outra o zangbetohoun,
que é um outro instrumento musical, secreto, exclusivo da sociedade do Zangbeto. Seu propósito está em garantir a
segurança do reino.
Além de instrumento musical, o gankeke era utilizado para que as ordens do rei fossem comunicadas por um músico
chamado kpalingan, uma espécie de repentista que vagueava pelo humpayme, cantando para todo o reino as ordens
e notícias do rei.
O kpalingan também era responsável por cantar sobre toda a genealogia dos reis do Dahomey.
Assim, hoje, cada cantiga, cada reverência cantada tem um significado, uma mensagem precisa que pode ser
compreendida apenas pelos iniciados.
O gankeke também toca o ritmo gangbo, quando os Zangbeto, vigias da noite, saem em patrulha.
O instrumento gangbo, de onde vem o ritmo de mesmo nome, também é uma espécie de gongo utilizado pelos
Zangbeto.
Nas comunidades e cerimônias dos Voduns, o gankeke é um instrumento tocado pelas sacerdotizas pela manhã e a
noite, nos templos de Doudoua e de Dan, para saúde ou culto de adoração à esses deuses, além de procissões.
Era também com o gankeke que as sacerdotizas "espantavam" a má sorte e os espíritos ruins dos palácio reais.
Artigos
As matérias apresentadas foram selecionadas por mim e tiveram autorizações de seus respectivos autores. As pessoas
que quiserem colocar suas matérias neste site, poderão enviar-me a mesma para uma previa seleção. Só serão aceitas
matérias relacionadas a cultura dos Voduns e seus seguidores.
Simbolismo
Espaço Sagrado
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Ervas, História e Ritos
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Dia Nacional dos Voduns
Simbolismo
A palavra "símbolo" origina-se do grego symbolon, um sinal de reconhecimento onde observamos que sua etimologia
mostra o símbolo como algo composto. É um sinal visível de uma realidade invisível que jamais se esgota em seus
significados. O objeto e seu significado não podem ser separados.
As imagens, os emblemas, os objetos, os símbolos, os mitos não são meras criações de nossa alma, nosso espírito ou
nossa mente, eles nos falam de todas as nossas necessidades. São objetos de nosso cotidiano, percebidos pelos
sentidos, mas que apontam para algo encoberto, enigmático, para um significado e para um excesso de significados,
tudo que não pode ser esgotado no primeiro momento. Algo externo revela algo interno, algo corporal em algo
espiritual, algo particular em algo geral.
Geramos energias específicas ao visualizarmos, mentalizarmos, canalizarmos ou sentirmos um símbolo, eles nos
levam a entrar em ressonância com o Cosmo, que é o grande objetivo.
Através dos símbolos desenvolvemos uma maior capacidade de percepções, revelações e transformações. Eles fazem
parte de toda a nossa realidade, de nossa vida interior, mística e religiosa, nos orientam no campo do conhecimento
e no campo religioso. Somos conduzidos à diversas dimensões à mundos distantes, à passados remotos e ao nosso
interior onde a "palavra ainda não se transformou em palavras".
Os inúmeros símbolos existentes (lingüísticos, musicais, religiosos, mitológicos, matemáticos, etc), ocultam verdades
iniciáticas e contam, sozinhos e interligados, passagens de toda humanidade além de formarem um único símbolo, o
UNO.
Quando trabalhamos bem nossas energias, elas se transformam em símbolos de vida, de pensamento, de sabedoria
e o poder ativo dos símbolos projetam seu significado no Cosmo que nos devolve em energia do saber infinito.
Os símbolos são universais e difundidos em todo o mundo, em todas as culturas. Não podem ser substituídos
mediante um acordo. São suporte e difusores de energias que nos revelam os segredos da matéria e do espírito, do
físico e do espiritual.
No universo tudo é vida e se manifesta simbolicamente. O homem, desvendando a linguagem oculta dos símbolos,
desperta seu inconsciente para a unicidade, adquire esclarecimentos suplementares sobre a natureza secreta de
nossa identidade espiritual, nosso EU.
O africanos e seus descendentes transplantaram toda uma cultura em símbolos que fazem parte de nossa sociedade
cultural e religiosa.
Através de diversas etnias e de processos sociais e históricos, nosso país, nosso povo, nossa formação é
profundamente marcada por instituições que transportam e recriam a riquíssima herança africana.
As casa de candomblé são os maiores difusores desta herança cultural africana através de um farto e complexo
sistema simbólico.
Todo grupo, toda etnia, associação ou comunidade, para se constituir como tal, deve estabelecer modo de
comunicação - gestos, sons, exclamações, ritmos, cores, formas - e constitui-se numa linguagem. Essa linguagem
compreende um conjunto de signos cujo intercâmbios ou relações simbólicas configuram as divindades. Desta forma,
o grupo expressa seus desejos. O consenso simbólico permite que o grupo fale entre si.
No candomblé o simbolismo é realizado fundamentalmente pela prática religiosa. A comunicação se dá por atividades
individuais ou em grupo, pelas cerimônias e ritos públicos e privados, pelos quartos sagrados, objetos, trajes e
emblemas rituais.
Dança, ritmos, cor, conta, gesto, folha, som, emblemas e objetos se articulam para significar o sagrado. São
instrumentos de comunicação que, através de sua forma significante, manifestam e contribuem para manifestar e
transmitir a complexa trama simbólica que ultrapassa gerações, transcendendo o tempo e a origem.
A caracterização sagrada de um símbolo é dada através de rituais religiosos especiais que transmitem poderes
místicos à esses símbolos. Desta forma, não podem ser tratados como objetos-divindades ou meros amuletos
onipotentes que controlam os adeptos e sim como objetos preparados e aceitos como símbolos de forças espirituais.
Eles são mais que meras representações materiais, são objetos essenciais em que o sagrado está representado. O
religioso reverencia não à matéria e sim à essência mística que ele simboliza, que têm finalidades e funções. São
portadores de forças místicas, estimulam a memória grupal e o processo de ligação às divindades.
Os símbolos são um "microcosmo" que, decodificados, falam de todo um sistema religioso - estético de uma
determinada nação.
Não é possível definir intelectualmente o processo de criação desses símbolos assim como, não podemos
compreender seu conteúdo sagrado como uma equação matemática. Cada um deles possui conteúdos aparentes,
visíveis ou manifestos em níveis consciente, latentes, ocultos ou reprimidos no nível inconsciente.
A religião, a mitologia e a arte são os veículos mais sensíveis através dos quais uma cultura manifesta seus conteúdos
e necessidades latentes. Eles abrigam os mais ocultos conflitos de nosso mundo presente e passado, um gigantesco
arquivo onde parte de nossa história ancestral - o inconsciente coletivo - se elabora e transmite. Símbolos de uma
cultura que emprestam sua matéria para que o místico se revele.
Para vivenciarmos os símbolos realmente como tais, devemos estar prontos para nos deixarmos tocar
emocionalmente por eles, questionarmos nosso nível de vida concreto para depois nos ocuparmos com o que está
oculto. Quando estabelecemos relação com um símbolo, tudo que está ligado a ele torna-se repentinamente vivo.
Ainda hoje, a grande maioria do povo candomblecista, desconhecem a simbologia dos objetos de nossa religião,
assumindo atitudes meramente repetitivas de tradições passadas oralmente, sem serem decodificadas. Acreditamos
que a cada símbolo compreendido e apreendido, crescemos em emanações de energias interior e exterior.
- Fontes de consulta: Dicionário de Símbolos - Jean Chevalier
Os Nagôs e a Morte - Juana Elbein
AS MÃOS
A mão exprime as idéias de atividade, ao mesmo tempo que as de poder e de dominação.
Certos escritos taoístas dão à elas o sentindo do alquimista de coagulação e de dissolução, correspondendo a primeira
fase ao esforço de concentração espiritual, a segunda à não intervenção ao livre desenvolvimento da experiência
interior dentro de um microcosmo que escapa ao condicionamento espacial e temporal.
É preciso lembrar ainda que a palavra manifestação tem a mesma raiz que mão: manifesta-se aquilo que pode ser
seguro ou alcançado pela mão.
A palavra em hebreu iad significa ao mesmo tempo mão e poder.
A mão esquerda é tradicionalmente associada com a justiça e a direita com a misericórdia; a mão do rigor e a da
maleabilidade, o equilíbrio quando juntas.
A mão fechada é o símbolo do segredo.
A mão serve, enfim, à invocação. Por vezes ela é comparada com o olho: ela vê. É uma interpretação que a psicánalise
reteve, considerando que a mão que aparece nos sonhos é equivalente ao olho. Daí o belo título: "O cego com dedos
de luz".
Segundo Gregorio de Nissa, as mãos do homem estão ligadas ao conhecimento, à visão, pois elas têm como fim a
linguagem.
As mãos têm uma "transferência" e também uma "troca" de energia.
A mão é como uma síntese, exclusivamente humana, do masculina e do feminino, ela é passiva naquilo que contêm
e ativa no que segura.
As mãos possuem milhares de pontos ocultos de canais sutis por onde circula a energia vital. Esses centros de
consciência, superpostos ao longo da coluna vertebral até o topo da cabeça, podem ser qualificados de "turbilhões
de matéria etérea". Ao friccionar as mãos com os búzios (jogo) dentro, estamos ativando esses pontos, liberando e
trocando energia, a concentração espiritual, a manifestação, o poder, o segredo, a invocação, o conhecimento, a visão
e o equilíbrio, para termos como fim a "linguagem" da leitura dos búzios.
Se todos os pais/mães de santo procurassem entender mais sobre o significado de tudo que fazem e manipulam, com
certeza o "poder" que têm em suas mãos seria muito melhor explorado e aplicado em beneficío de seus filhos, de si
próprio e da humanidade.
fonte de consulta: Símbolos - Jean Chevalier
O ESPAÇO SAGRADO
Ataliba Fernando Costa*
A sacralização do espaço remonta, é certo, aos primórdios do aparecimento na Terra dos seres humanos modernos
(Homo sapiens) isso na era Cenozóica, período quaternário.O Homem é considerado como uma das últimas espécies
a surgir no planeta, e na sua curta trajetória sobre a superfície deste planeta apenas ele possui as ideais condições e
capacidade para agir sobre o meio e manipular objetos, Aguiar ao dissertar sobre as capacidades humanas afirma que
o Homem diferencia-se das demais espécies animais, visto que só o Homem é dotado de imaginação e inteligência
simbólicas.
Trataremos então a seguir de manipulações do Homem sobre o meio, e a sacralização não só do espaço, mas também
do momento, de um certo momento que capturado e representado pode trazer presságios para um ato ou uma vida.
Comentaremos sobre as mais antigas representações conhecidas, as gravadas nas paredes das cavernas,
representações conhecidas como arte rupestre; além de muito estudadas em nossos dias, trazem algumas incógnitas
que ainda não foram plenamente elucidadas. Uma delas, refere-se à dificuldade de precisar a idade desses desenhos.
No entanto, alguns pesquisadores afirmam que desenhos como esses datam de períodos anteriores ao Neolítico.
Relevando os problemas de exatidão da idade dessas representações, a arte rupestre prima por nos fornecer, como
salienta Brézillon, "informações sobre a fauna e o gênero de vida das populações representadas".
Estas formas primitivas de representação, feitas nas paredes das cavernas, usando de pigmentos extraídos da natureza
e entalhes feitos com ferramentas de pedra, como muitos pesquisadores como Brézillon, Hauser, Garcia, Motes e
outros puderam observar, não tinham nenhuma intenção ornamental estética, e sim um caráter místico, onde as
imagens ali presentes representavam, para o Homem pré-histórico, amuletos; presságios positivos em suas
empreitadas, uma vez que se encontram em salas ocultas, de difícil acesso; nunca em lugares expostos à apreciação,
como mostra Hauser.
Sobre todo el hecho de que las pinturas estén a menudo completamente escondidas en rincones inaccesibles y
totalmente oscuros de las cavernas, en los que hubieram podido de ninguna manera ser una "decoración. Tambien
habla contra semejante explicación el hecho de su superposición a la manera de los palimpsestos, superposición que
destruye de antemano toda función decorativa; esta superposición no era, sin embargo, necesaria, pues el pintor
disponía de espacio suficiente. El amontonamiento de una figura sobre outra indica claramente que las pinturas no
eran creadas com la inteción de proporcionar a los ojos un goce estético, sino persiguiendo un propósito en el que lo
más importante era que as pinturas estuviesen situadas en ciertas cavernas y en ciertas partes específicas de las
cavernas, indudablemente en determinados lugares considerados como especialmente convenientes para la magia.
De posse destas afirmações exemplificadas podemos então, concluir que poderiam ser estes ambientes os primeiros
templos, lugares sacralizados, que manipulados pelo homem estavam prenhes de magia e energia possibilitadora de
presságios positivos. Ainda buscando subsídios nas informações de Hauser, podemos também dizer que se o templo,
ou seja, locais onde tais imagens eram impressas, o local representado também continha a energia sagrada, um local
sacro santo.
Ainda citando Hauser, quando este disserta sobre os autores das tais pinturas rupestres podemos apreender que os
executores dessas obras deveriam possuir além das posições de caçador e até mesmo de geógrafo o título de
sacerdote, aquele eu distinguia e prendia mentalmente todas as particularidades de um lugar para assim pender no
templo de seu clã toda a mítica do lugar.
l pintor paleolítico era cazador y debia, como tal, ser um buen observador; debía conocer los animales y sus
características, sus habituales paradas y sus emigraciones a través de las más leves huellas y rastros; debía tener una
vista aguda para distinguir semejanzas y diferencias.
Com essas informações podemos concluir que as representações primitivas são parte das conquistas do Homem, que
lenta e gradativamente foi se intelectualizando e criando condições de agir sobre o meio, evoluindo,
conseqüentemente, na forma de representar o espaço à sua volta. Os desenhos impressos pelo Homem primitivo,
são representações do espaço no qual ele age, e, como não poderia deixar de ser, está cheio de elementos
emocionais, um espaço relacionado com as necessidades e interesses do Homem pré-histórico.
Dizer que as câmaras das cavernas utilizadas pelo homem como templo, seria o primeiro templo seria um pouco
incoerente uma vez que o divino, o sagrado estava, na realidade do outro lado daquelas paredes de pedra. Concluímos
sim, que tais câmaras eram na realidade a captura de espaços especiais que deviam ser transformados e sacralizados.
Finalizando essa questão da sacralização do espaço podemos afirmar que a categoria Espaço, Paisagem e até mesmo
Lugar (unidade elementar) servem como pano de fundo para as atividades humanas, portanto o profano e o sagrado
coexistem, e quem transforma e dá caráter profano ou sagrado a um ambiente é o homem que o manipula ao se bel
prazer. Citando HARVEY, quando este fala das classificações do espaço, este escreve:
O espaço não é nem absoluto, relativo ou relacional em si mesmo, mas pode tornar-se em um ou em outro,
dependendo das circunstâncias. O problema da correta conceituação do espaço é resolvido através da prática humana
em relação a ele. Em outras palavras, não há respostas filosóficas para questões filosóficas que surgem sobre natureza
do espaço. As respostas estão na prática humana.
COMIDA DE SANTO
Explorando o assunto Comida de Santo, pode-se encontrar na literatura alguns textos. Fazendo-se agora um resumo
e algumas colocações. Nina Rodrigues, em seus estudos, ao abordar à arte da culinária africana, achou difícil precisar,
devido ao estado atual dos costumes, à quais grupos pertenceriam determinadas comidas. Já Manuel Querino
assinalava que a contribuição dos grupos bantos, angolanos e jejes eram maiores que as dos nagôs, contrariando a
tese dos que insistiam na sua predominância.
Nos terreiros, esta cozinha, marcada por uma série de preceitos e interdições, vai aparecer relacionada diretamente
aos deuses através das chamadas comidas do santo. Assim, cada um deles irá receber em dias especiais (ou não)
pratos de sua preferência. Não se trata, porém só de comer e sim o que se come, o que não se come, quando se
come, com quem, participam de um todo integrado que diz respeito a códigos imprescindíveis dentro da culinária
dos deuses. E mais ainda, esta comida dentro da dinâmica dos terreiros é um dos veículos de vital importância para
a transmissão e distribuição de axé. Seja essa comida reelaborada a partir de técnicas e maneiras predominantemente
banto, jeje ou yorubá, esse negros modificaram as refeições do reino como já exposto. Outro fato que deve ser
considerado é a falta de mantimentos num país desde o começo assolado pela fome. Da nova terra, o português ao
lado das caças e muitos frutos, só pôde aproveitar a mandioca e o milho que eram alimentos básicos para o sustento
e o qual era oferecido aos negros. Adotar os mantimentos da terra, ao lado de importar tantos outros como, por
exemplo, o gengibre, arroz, inhame, banana, coco, dendê, foi à solução encontrada pelos portugueses para suprir a
falta de alimentos. Cascudo (1970) diz que ao fim do séc XVIII os produtos americanos já estavam tão difundidos na
África portuguesa que participavam das refeições nos negros, escravos ou livres. Os ingredientes africanos vindos da
áfrica, como o quiabo, o inhame, erva-doce, gengibre, gergelim, amendoim, melancia, dendê e outros foram entrando
aos poucos no Brasil de acordo com as exigências do tráfico ou da população aqui estabelecida. Não é possível, no
entanto, se pensar nesta cozinha e nem em uma outra somente a partir de tais elementos. Ela é mais do que um
conjunto de matérias naturais que podem ser adaptados e substituídos. Esse próprio fato obedece a uma certa ordem
inscrita nos mais remotos tempos, fazendo com que a comida não perca seu sentido nem se afaste da visão do mundo
que ela representa. O que dá identidade à determinada comida não é a origem dos vários ingredientes combinados,
mas a maneira como estes elementos são combinados. E estas maneiras obedecem a determinados ritos que lhe dão
sentido e, como tais, apresentam-se como algo criativo. Assim, é completamente arbitrário buscar precisar datas para
essa culinária, entendendo esta como algo parado, fechado, se o próprio tempo se incumbiu de dinamizá-la. As
condições de possibilidade para se pensar uma cozinha africana não podem ser pensadas em nível cronológico, assim
como não podem prescindir desse tempo. Elas vão acontecendo, se dando, de acordo com o tipo de situação servil
ou livre e o lugar em que vivia o africano, variando, desde o primeiro momento em que dividiu a cozinha com as
africanas cozinheiras, até quando pôde, ante as novas condições suscitadas pelo processo histórico, negociar um
tabuleiro. O processo de criação das comidas africanas também se deve a importância dos jejuns e das festas
regulados pelas igrejas ( outra questão complexa que não cabe abrir aqui). Os africanos tiveram também que adaptar
às vezes sua alimentação, a hora e quantidade que se podia comer impostas pela igreja. Todavia, quando puderam
providenciar seus próprios alimentos. é muito provável que tenham lançado mão do conhecimento acumulado e das
várias experiências trazidas de suas terras, já somadas a tantas outras. Tudo isso que foi colocado pelos autores não
se trata de um retorno à África, mas fazer com que comida se faça africana, ou seja, remonte a histórias e passagens,
visões de mundo associadas aos ancestrais, princípios universais ou antepassados, aos primórdios dos tempos quando
estes fundaram a humanidade, constituíram as cidades e criaram os diferentes grupos. Visões de mundo juntadas a
inúmeras outras experiências históricas constituídas no Novo Mundo. É este fazer que faz com que tal comida seja
comida de santo. A comida de santo diferencia-se, assim, daquela do dia a dia. Uma coisa é cozinhar um inhame e
dividi-lo em pedaços e come-lo no café da manhã. Outra é preparar esse mesmo inhame para Oxalá, quando variam
desde o tamanho, a forma das raízes, os procedimentos observados para sua feitura e por fim, as palavras ditas para
encantar a comida. Fazer um feijão no azeite não é o mesmo que preparar um Omolocum. Neste nada pode se
escapar, se escolhe bem os grãos, pois Oxun liga-se à fecundidade. Os deuses comem comida mais elaborada. Embora
os ingredientes sejam os mesmos, mudam o tratamento que estes recebem. E a forma como estes são tratados
expressa seu sentido através de um ritual onde nada é por acaso. Assim, Exu pode comer de tudo com já dizia um de
seus mitos. Ogun pode receber feijoada, uma vez que as carnes gordas lhe pertencem. E Oxossi por se ligar a terra,
recebe todos os frutos dados pelo Novo Mundo. Gonzegan Carla de Tobosi FONTE: Faces da Tradição Afro-Brasileira
– CNPq Santo Também Come - Raul Lody
Certo também que a alopatia (medicina convencional) não nasceu junto com o primeiro "homus sapiens" a habitar o
Planeta. Desta forma, como os seres primórdios curavam suas doenças, senão pela utilização das ervas existentes?
Partindo-se deste raciocínio, não se precisa ir tão longe, para se concluir que as plantas sempre acompanharam o ser
humano, seja na alimentação (auto-subsistência), quanto no tratamento de suas doenças. Junto com isso, foram
surgindo, como é de conhecimento histórico, as tribos, os guetos, já que, cientificamente, tem-se conhecimento hoje
de que a vida humana surgiu mesmo no Continente Africano.
Dentro desta visão, sabe-se também, através dos historidadores, que buscam resgatar a história humana no seu
princípio, que, em cada tribo, ou gueto, haviam os denominados hoje "curandeiros". A partir dos rituais
desenvolvidos, novamente as ervas foram inseridas em todo o processo histórico.
Baseando-se neste conhecimento, tem-se a idéia exata da dimensão da importância de todas as plantas. Inclusive,
cientificamente, já se descobriu até a "aura" de cada planta, através de equipamentos especiais que captam até as
diferenças vibracionais de cada erva. Com todos esses elementos reunidos, é impossível que, ainda hoje, as criaturas
humanas não valorizem o conhecido "chazinho", ou até, quem sabe, não utilizem as cascas, os frutos, as folhas, ou
mesmo as flores e as raízes, em outras atividades.
No Candomblé, a árvore em si é de suma importância, tanto que existem as árvores sagradas, desde a raiz, até o
caule, as folhas e os frutos. Os vegetais são imprescindíveis na prática religiosa. O ritual das ervas é importante como
elemento nos trabalhos espirituais. As folhas podem ser utilizadas, tanto secas, como verdes. O caule é utilizado como
marco numa Casa de Santo e como sustentação em tenda, etc. A raiz é direcionada em cada fim ritualístico.
As ervas, com seus elementos vitais, trazem a essência para o crescimento espiritual.Cada elemento é atribuído à
determinada natureza, de acordo com a essência de cada Vodum, Orixá ou Inkice. Sem os rituais das ervas, não seria
possível o mínimo trabalho dentro de uma Casa de Santo. Em tudo, a erva sempre presente, aproximando a essência
de cada Ser Espiritual.
Vodou - Arte e Deuses
A arte tradicional de Vodun é a pedra fundamental desta religião, é a encarnação das idéias religiosas mantidas por
seguidores de Vodun.
O significado dos objetos usados nos cultos de Vodun é explicado geralmente desta maneira: Os seguidores de Vodun
procuram imagens dos deuses e dos sinais de mistérios divinos. Fiéis, são capazes de incitar um espírito em modelos
esculpidos e, assim sendo, o metal e a madeira aparentemente brutos são transformados em um meio de
comunicação com os deuses e seus antepassados. Se observarmos cuidadosamente estes objetos, certamente nos
aproximaremos do poder irradiado pelos cultos e cerimoniais.
Os deuses tentam incorporar em seus seguidores humanos, os dançarinos mascarados são mensageiros que carregam
sinais divinos, os corpos dos dançarinos servem como mediadores para os deuses de Vodun, as figuras gigantescas
do deus Legba dão aos dançarinos uma nova energia e os espetáculos naturais como o trovão e o relâmpago são
interpretados como expressões da vontade ou da punição divina.
O Vodun une seres humanos, matéria e natureza em um contexto orgânico de uma vista coerente do mundo. Ao
contrário das religiões monoteístas como o islamismo ou o cristianismo, o Vodun tem um santuário de deuses
povoado por numerosas divindades.
As escavações arqueológicas na costa ocidental africana mostraram que a religião e suas divindades tem mais de
quatro mil anos. Pode-se dizer com certeza que a tradição local, por exemplo em Heviosso e em Shango, vai além de
muitos séculos. Os realtos dos comerciantes e dos viajantes europeus que visitaram Benin no primeiro século também
atestam a existência destes deuses. Em alguns casos, os templos e os cerimoniais que são descritos nestes relatos
estão até hoje quase que inalterados, como por exemplo o templo Dangbe em Ouidah.
Estes deuses parecem ser confusos, contraditórios e criativos, com nenhuma hierarquia aparente, são passíveis de
estar irados em um momento e dóceis no momento seguinte. Nenhum dos deuses são semelhantes, cada um tem
um papel diferente. Alguns são relacionados ou têm crianças, outros são bi sexuados ou podem mudar seu sexo à
vontade. Por exemplo, Legba, o mensageiro dos deuses, desencadeia seu inacreditável poder quando transforma-se
literalmente em dois deuses durante um cerimonial. Neste caso, um sacerdote retorna da dança em um dançarino
mascarado grande e outro pequeno que se põe a girar. Fez-se uma criança? É o comentário alegre de todos os
participantes do ceremonial para este sinal da fertilidade divina, sabem que trará graças aos seres humanos também.
Para comprovação disto, todas as imagens moldadas possuem penis eretos como símbolos da vitalidade e potência.
O Vodou é mais do que uma religião, é uma maneira de vida que inspirou artistas do Haiti em muitos trabalhos. Depois
da segunda guerra mundial, estes trabalhos chamaram atenção de negociantes estrangeiros que comentaram o
renascimento do Haiti. Dois dos mais célebres destes artistas são o pintor Hyppolite e o escultor Georges Liautaud.
Outros artistas da atual geração são Antoine Oleyant cujas bandeiras foram inspiradas pelos sonhos e visões de Vodou
e Pierrot Barra que, com a colaboração de sua esposa Marie Cassaise criam fantasias de Vodou com sucatas recicladas.
O renascimento do Haiti é expresso nas modernas telas de Edouard Duval Carrie, cujo surrealismo captura
perfeitamente características do recente pesadelo político recente do Haiti.
O conteúdo escrito desta página, traduzido e condensado pelos webmasters de Luiá, aqui apresentado fazem parte
do acervo do American Museum of Natural History
HUMBÊ E HUDJÈ
Temos visto, em vários fóruns de estudo sobre a cultura afro-brasileira, muita pessoas perguntando sobre o que é o
Humbê. Temos visto também, explicações que não têm nada a ver com a realidade do Humbê. Por esse motivo,
resolvemos esclarecer esse assunto, dentro do que nos é permitido.
Humbê é o segundo maior segredo da nação dos Voduns, aqui no Brasil, denominada Jeje ou Djedje. Toda pessoa
feita em Jeje deveria receber o Humbê, porém alguns pai/mães de santo optaram em dar esse fundamento à alguns
filhos somente após esses fazerem por onde merecer recebê-lo pois, como sabemos, infelizmente, as pessoas hoje
mudam de casa, raíz, pai/mãe de santo como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Somente aqueles que
percebem a importância, o valor de uma família, de uma raíz, são merecedores de receber o Humbê, pois esses jamais
sairão de suas casas e, principalmente, da nação Jeje.
Não podemos aqui descrever o Humbê, apenas podemos dizer que é um axé pertencente única e exclusivamente a
nação Jeje e que fica muito bem resguardado dentro do Templo dos Voduns.
Já ouvimos e lemos pessoas dizerem que Humbê é o mesmo que Oyè da nação Ketu, isso é, a expressão "Tomar
Humbê" seria o mesmo que "Tomar cargo". Já vimos inclusive pessoas da própria nação Jeje fazerem essa afirmação.
No Jeje a expressão "Tomar HUDJÈ" é a correta para se dizer que a pessoa está tomando cargo. Cremos que, o fato
da grafia das duas palavras como também a pronúncia
serem muito parecidas, gerou toda essa confusão.
Quem passa por um Humdémè, um Humbê e um Agêuntò, nunca abandona a nação Jeje e jamais revela esses
segredos para alguém, salvo para seus descendentes.
Pano da Costa
Presença e distintivo do posicionamento feminino nas comunidades religiosas afro-brasileira, o pano-da-costa, não é
apenas um complemento da indumentária da mulher; é a marca do sentido religioso nas ações da mulher como
iniciada ou dirigente dos terreiros.
Observemos a profunda conotação sócioreligiosa desse simples pedaço de tecido, que atua em tão diversificadas
situações, desempenhando papéis dos mais significativos e necessários para a sobrevivencia dos rituais africano. O
pano-da costa é assim chamado por ter sido um tipo de tecido vindo da costa dos escravos, Costa Mina, Costa do
Ouro. O tecido original foi substituido por outros tipos de tecidos, o que não diminui em nada as funções do pano-
da-costa.
O pano-da-costa identifica a mulher feita, mesmo que ela naum esteja de roupa de santo completa.
A situação do pano-da-costa é de maior importância, se colocarmos a presença da mulher como símbolo do poder
sócioreligioso e arquétipo dos valores mágicos da fertilidade, isso motivado pelas formas anatômicas características
da mulher.
O sentido protetor do pano-da-costa é outro aspecto que merece atenção. As Yaos, ao terminar o período de feitura
começam a travar seus primeiros contatos com o mundo exterior protegidas pelo pano-da-costa branco, que
representa o prolongamento do Ala de Oxala, envolvendo praticamente todo o seu corpo no grande pano-da-costa,
procura manter os valores religiosos de sua feitura quando em contato com os valores profanos encontrados
extramuros dos terreiros
Nos sirruns/axexes, a mesma proteção do pano-da-costa, ateado como capa envolvente mágica, aparece guardando
as mulheres das presenças de egum.
Amigos, se voces podem encontrar mais informações sobre o pano-da-costa no livros O Povo do Santo de Raul Lody
da PALLAS-Editora e Distribuidora Ltda.
Agora vamos aos meus comentarios.
O pano-da-costa é de uso exclusivo da mulher nos cultos africanos, porque uma das principais funções do mesmo é
proteger os orgão reprodutores das mulheres, das Yamis.
Concordo com toda essa parte a cima transcrita do livro. Nos rituais de sirrum/axexe as mulheres usam dois panos-
da-costas branco: um protegendo seus ventres e outro sobre os ombros como uma capa que envolve todo o seu colo
e seios.
O autor fala sobre o uso de tiras amarradas na cintura pelas mulheres com obrigações de 7 anos e pelas ekedes. Bem
ai eu discordo. Primeiro se tem que ser usado na cintura, então que seja um pano-da-costa enrolado e não uma tira
de pano como muitas usam. O pano-da-costa deve ter no minino 60 cm de largura para que possa proteger os orgãos
que necessitam de proteção. As famosas mães de santo não usam o pano- da -costa na cintura nunca.
Aqui no Rio de Janeiro convencionou-se que o pano-da-costa deve ser usado de acordo com a idade de santo, isto é,
só usa preso acima dos seios aquelas que ainda são yaos. Esta errado, pano-da-costa é para ser usado dessa forma
mesmo independente da idade de feitura, quando muito, pode-se enrolar até abaixo dos seios.
Eu mesmo muita vezes coloco meu pano-da-costa na cintura, mas coloco-o aberto e não enrolado e nunca o uso assim
em candomble.
De alguns anos para cá os homem aderiram o pano-da-costa, mas nenhum deles até agora explicou o porque de usa-
lo e nem podem explicar pois o mesmo é de uso exclusivamente feminino.
Observem que as santas mulheres usam o pano-da-costa, os santos homens usam o pano-da costa amarrados no
ombro lembrando um Alaka (esse sim pertence ao homem) ou amarrado para tras, ou simplesmente ficam com o
peito nu adornados pelas conta e brajas.
Em algumsa casa encontramos abians usando pano da costa, esse procedimento esta errado. As abians ainda não
tiveram seus pontos de energias abertos durante uma feitura, portanto as mesmas não necessitam dessa proteção
ainda.
ATINS
Atim no dialeto Ewe/Fongbe quer dizer árvore ou madeira. No Brasil, essa palavra é usada para definir porções
mágicas usadas pelos vários segmentos do Candomblé.
Essas porções mágicas são mais uma das heranças que nos deixaram os africanos que trouxeram seus deuses para o
novo mundo. São compostas de ingredientes vegetais, minerais e animais, usadas para várias finalidades.
Os chamados "atins de feitura", tem como finalidade purificar o corpo físico do iniciado e ao mesmo tempo facilitar
o transe. Os africanos acreditam que, quanto mais djasi(djassi) eles passarem no corpo, mais aumenta a força de seu
Vodum no transe.
A diferença no uso dessas porções no Brasil e na África, é que aqui são usadas somente durante os rituais interno e
na África são usadas em público, isto é, durante os rituais e festas é colocado um recipiente contendo porções mágicas
que os vodunsis passam com abundância em seus corpos quando os Voduns começam a manifestar-se em seus filho.
O djasi é muito usado em algumas regiões do Benin. Consiste em uma pasta feita com farinha de milho, óleo de palma
e ervas sagradas.
Os Ata (atá (gengibre)), atakim (ataquim) , makun (mácum (sementes)), nhido [(nidô), nhifo (nifô) e nhijou(nijou) -
elementos animais], nhijou toubome (nrijou-toubômê (manteiga do reino)), nhizou (nizou )chifre)), yicca (iicá
(mandioca ralada e seca)) e o zume (zumê (matos e folhas)); são alguns dos gris-gris(glisglis (ingredientes para pós
mágico e amuletos)) vendidos nos mercados de todas as cidades no Benin.
Os Gbokonans(bôcônãs), os Akpagans (apagans) e as Dehes (dérés) são alguns(as) dos sacerdotes responsáveis pela
fabricação dessas porções mágicas. O Akpagan é uma espécie de médico curandeiro que conhece as propriedades
terapêutica de todos os gris-gris.
Existem ainda aos porções mágicas denominadas "Zoha (zorra)", pós mágicos usados para feitiços. São preparados
pelos sacerdo-tes e adivinhos que os usam para afastar pessoas, desocupar casas, desmanchar feitiços, etc. A zorra é
um poderoso elemento quando bem feito e usado. Devemos lembrar que, feitiço, não é sinônimo de maldade ou
coisa ruim. No feitiço, também encontramos a cura para doenças e a solução para vários problemas.
Finalizando, concluímos que os chamados atins são mais um recurso utilizados por nós e por nossos deuses para um
intercâmbios maior entre nós e eles, como também para a solução de vários problemas.