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ANAIS

ANÁLISE COMPREENSIVA DO EMPREENDEDORISMO DE BASE


TECNOLÓGICA

DEISE NATALIA SIMAS LAND


(deise.sland@gmail.com)
UNIVERSIDADE FEEVALE
DUSAN SCHREIBER
(dusan@feevale.br)
UNIVERSIDADE FEEVALE

RESUMO
O objetivo desta pesquisa é identificar as variáveis que influenciam o surgimento e a
consolidação das startups de base tecnológica no mercado gaúcho. Optou-se por desenvolver
um estudo de caso múltiplo, de natureza exploratória e descritiva com abordagem qualitativa.
Para verificar a percepção dos novos empreendedores, foi realizada entrevista com roteiro
semi-estruturado. A análise dos resultados evidenciou que as startups iniciam a operação com
base no conhecimento técnico específico e conjunto de competências voltadas para o
desenvolvimento do produto e condução do processo operacional, com fragilidades em
técnicas de gestão e acesso a linhas de financiamento.

Palavras-chave: Empreendedorismo. Comportamento Empreendedor. Empresa de Base


Tecnológica. Startup.

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, com os avanços da ciência e da tecnologia, percebe-se uma
modificação na forma de empreender. A liberação comercial entre países têm favorecido para
a criação de um ambiente cada vez mais competitivo.
Várias empresas surgiram de “garagem”, como a Microsoft, Apple, Google e se
transformaram em grandes impérios, a nível mundial. Entretanto, essa realidade parece muito
distante da realidade brasileira. Apesar dos noticiários divulgarem que o Brasil está na
“moda” e destacarem que sua população é, naturalmente, empreendedora, percebe-se uma
banalização dos termos empreender e startups, o que pode resultar em uma interpretação
equivocada do quadro de facilidades e estímulos para o empreendedorismo, que pode não
representar a situação real, com dificuldades que variam desde a infraestrutura oferecida,
como, por exemplo, a qualidade da internet, até as dificuldades de acesso a investimento de
capital e políticas públicas inadequadas, o que repercute diretamente no seu mercado interno.

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Empreender não é algo novo, faz parte da evolução humana, desde o início dos
tempos, como fonte de sobrevivência. Entretanto, nos últimos anos, o empreendedorismo tem
se constatado o esforço dos agentes governamentais para estimular e consolidar as iniciativas
empreendedoras, com base nas evidências empíricas que comprovam a contribuição relevante
das empresas de pequeno porte para o desenvolvimento econômico e social. Visando obter a
compreensão das variáveis que influenciam o surgimento e consolidação do
empreendedorismo, foi realizada, ao longo das últimas duas décadas, uma série de estudos,
contribuindo para a concepção de políticas públicas e de incentivos à iniciativa
empreendedora.
Fazendo um recorte dentro do tema de empreendedorismo, este estudo propõe-se
investigar e caracterizar as variáveis que moldam o contexto do empreendedorismo de base
tecnológica no Brasil. A pergunta de pesquisa que norteou o desenvolvimento do estudo foi:
“Quais são só fatores e variáveis, percebidos por empreendedores de projetos de base
tecnológica, que caracterizam o contexto de mercado, no qual os mesmos estão inseridos?”.
Com este objetivo a revisão teórica abordou o empreendedorismo no Brasil, com destaque ao
impacto da sua tardia industrialização, a desconsideração do mercado externo e o pouco
investimento em pesquisas e desenvolvimento, ao contrário dos países desenvolvidos.
Desta forma, tendo como base o problema de pesquisa explicitado acima, este trabalho
possui como hipótese a seguinte afirmação: o mercado gaúcho de startups enfrenta inúmeras
dificuldades para competir com os países desenvolvidos, frente à reduzida oferta de
financiamento de risco e políticas públicas inexpressivas.
Esta pesquisa tem por objetivo geral, identificar as variáveis que influenciam o
surgimento e a consolidação das startups de base tecnológica no mercado. Para cumprir com
o objetivo geral deste trabalho, foi necessário atingir alguns objetivos específicos, a saber: (1)
Elencar as características do novo empreendedor brasileiro; (2) Identificar e analisar o cenário
social e econômico no qual as empresas estão inseridas; (3) Analisar o impacto de empresas
de base tecnológica nas estruturas competitivas e mercadológicas.
A fim de responder o problema de pesquisa, optou-se pela metodologia de pesquisa
exploratória, desenvolvida por meio de estudo de casos múltiplos, com abordagem qualitativa,
por meio da utilização de entrevista semi-estruturada, como instrumento de coleta de dados.
O trabalho inicia com a apresentação de bases teóricas que nortearam o
desenvolvimento da pesquisa, principalmente na construção do instrumento de pesquisa e a
análise de dados empíricos. O método é detalhado na sequência, bem como os resultados,
analisados à luz das vertentes teóricas revistas. O trabalho é encerrado com as considerações
finais.

1. EMPREENDEDORISMO DE BASE TECNOLÓGICA


Conforme o relatório do Global Entrepreneurship Monitor – GEM (2012), o
empreendedorismo é considerado um processo que evolui ao longo dos tempos, sendo um dos
fatores originários para a produção de riqueza, contribuindo para a melhora das condições de

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vida da população. Por esse motivo é possível afirmar que o surgimento e a diversificação de
novas empresas é um importante fator para o desenvolvimento socioeconômico de uma
região. A consolidação de um número maior de empresas proporciona uma melhor
distribuição de renda, novas oportunidades de negócios, com a diversificação da economia e
melhor aproveitamento dos recursos humanos e naturais (SEBRAE SP, 2001).
Souza (2001) afirma que o empreendedor traz consigo alguns traços de personalidade,
tais como: motivação e otimismo, disposição para trabalhar com afinco, entendimento das
experiências fracassadas como oportunidades de aprendizado e melhorias. Dornelas (2010, p.
76) apresenta seguinte ponto de vista “[...] raramente, o empreendedorismo é uma proposta de
enriquecimento rápido. Pelo contrário, é uma proposta de renovação contínua, pois os
empreendedores nunca ficam satisfeitos com a natureza de sua oportunidade”.
Com base nesse conceito, Dornelas (2010) salienta que os empreendedores têm a
oportunidade de solucionar algum problema específico. Contudo, de forma predominante, o
empreendedorismo brasileiro é, ainda, motivado pela necessidade e baixo nível de inovação.
Esta constatação inclui a maioria das empresas e organizações de todos os segmentos
(NOGUEIRA, 2007).
Em síntese, Domingues (2010) classifica empreendedores em duas categorias: (i) os
empreendedores motivados pela necessidade, em que as pessoas foram excluídas do mercado
formal de trabalho e buscam uma alternativa de renda; e (ii) os empreendedores motivados
por oportunidade, que exploram boas ideias e as transformam em negócios rentáveis.
Para Tidd e Bessant (2009), a prática empreendedora está relacionada ao histórico
familiar. Na visão dos autores, o ambiente familiar exerce papel coadjuvante sobre o
indivíduo no ato de empreender, com grande poder de persuasão, concluindo que a grande
maioria dos empreendedores possui ao menos um familiar que atua como autônomo ou
profissional liberal que serve como modelo oferecendo instrução e apoio.
No ponto de vista de Bhide (2002), a maioria dos negócios está surgindo através do
autofinanciamento dos empreendedores ou oriundo de amigos ou parentes. No entanto, as
características do plano de negócios são, normalmente, diferentes dos exigidos por
investidores profissionais, de mercado. Isso, na prática, pode significar o engessamento do
negócio, abrindo mão da flexibilidade que o negócio precisa ter para se adaptar a
complexidade do mercado.
Para Dornelas (2010), o novo modelo de empreendedorismo, capaz de comercializar
ideias, principalmente de base tecnológica, resulta no modelo de startups, que desenvolvem-
se com agilidade, com potencial de se transformar em uma empresa com alto nível de
crescimento. Alguns exemplos bem sucedidos desse modelo de negócio, consideradas
verdadeiras lendas do empreendedorismo, são: Google, Microsoft, Amazon e Facebook. As
startups têm em comum, além de uma equipe multidisciplinar, a capacidade de explorar
oportunidades em que outras organizações percebem apenas confusão e caos.
Gonzales, Giardi e Segatto (2009) corroboram esta vertente teórica, ao afirmar que a
maioria das empresas estão sendo criadas a partir de tecnologias desenvolvidas,
principalmente, no interior da própria organização. Entretanto, poucas empresas de base

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tecnológica conseguem tornar-se superstars, por atenderem um nicho de mercado muito
específico “[...] com sinergias não óbvias ou grandiosas” em outros mercados. Para os autores
esta estratégia não se sustenta em face da acirrada competitividade no mercado, podendo
comprometer, inclusive, a sobrevivência da empresa em longo prazo (TIDD; BESSANT,
2009, p. 300).
O domínio da tecnologia de ponta é fundamental para o desenvolvimento econômico
de uma nação responsável pela capacidade de gerar riquezas, com a alocação ótima e racional
de recursos disponíveis (SANTOS, 2005; FERRO E TORKOMIAM,1988). O fortalecimento
da economia em países desenvolvidos é marcada pela presença de um “[...] parque industrial
organizado e competitivo, um setor de serviços dinâmico e uma agricultura de alta
produtividade” (SANTOS, 2005 p. 27). Necessariamente, não significa que as nações devem
buscar o alto nível de desenvolvimento nos três setores, mas que cada um dos citados
segmentos possui uma representatividade importante, em termos tecnológicos e produtivos.
Com base em resultados de seus estudos, Marcovitch, Santos e Dutra (1986) e Santos
(1984) caracterizam as empresas de tecnologia como empreendimentos criados para fabricar
produtos ou serviços, que utilizam alto conteúdo tecnológico, operantes com processos,
produtos ou serviços, com tecnologia nova ou inovadora, sendo resultados de investimentos
em pesquisa tecnológica decorrentes dos setores de informática, biotecnologia, robótica,
genética, microeletrônica, aeroespacial, semicondutores, com produtos ou processos
comerciáveis.
Santos (2005) também ressalta a importância de um sólido parque industrial bem
desenvolvido e ativo, que é apontado como o propulsor dos países desenvolvidos, como EUA,
Japão, França, Alemanha, entre outros. Nesse sentido destacam-se as empresas do setor
tradicional, com as atividades voltadas para a siderurgia, mineração e tecelagem. A indústria
tradicional é definida pela Anprotec (2002, p. 47) como aquela que faz uso de “[...]
tecnologias maduras em seu processo produtivo”.
Em países desenvolvidos, investimentos em pesquisas científicas e tecnológicas, nos
setores tradicionais, repercutiram em avanços nestas áreas. Os frutos dos investimentos nas
últimas décadas dinamizaram a capacidade de produção nacional, que com os avanços da
ciência e da tecnologia redesenharam os cenários dos setores industriais, como, por exemplo,
setores automobilísticos, o plástico e o naval. Com o advento de novas empresas industriais,
surgiram novas empresas de base tecnológica, viabilizadas a partir do desenvolvimento da
pesquisa cientifica e tecnológica (SANTOS, 1984; 2005).
Exemplificando, Santos (2005) diz que o Vale do Silício desenvolveu-se e tornou-se
referência com o advento da microeletrônica aplicada à indústria. As aplicações dos circuitos
integrados gravados em chips de silício permitiram baixar os custos e o tamanho dos
computadores. Na telecomunicação e na biotecnologia, os avanços criaram oportunidades de
exploração industrial e comercial. O êxito do Vale do Silício aconteceu pela transferência
imediata de tecnologia resultante das pesquisas, viabilizado pelo forte relacionamento de
empresas de alta tecnologia com as grandes universidades próximas e com as instituições de
pesquisa tecnológica existentes nas imediações.

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Nogueira (2007) constata que os baixos índices de empreendedores tecnológicos a
partir de tecnologia nacional podem ser consequência de um modelo mental que caracteriza a
cultura empreendedora brasileira, cujas origens iniciam na época do descobrimento do Brasil,
nas condições comerciais impostas ao Brasil como “[...] empresa mercantil para gerar a
acumulação primitiva do capital português. A função da colônia era produzir bens primários a
baixo custo para comercialização na Europa” (NOGUEIRA, 2007, p. 252). No período da
colonização não houve preocupação em desenvolver o progresso da nação por meio da
criação de instituições adequadas ao território, em vez disso, os parâmetros indicativos de
produtividade não se traduziam em descobrimentos de novas técnicas de trabalho, que, ao
contrário, era centralizado em superexploração e controle rígido da força de trabalho
escravizada. Segundo Nogueira (2007) os brasileiros ainda não estão em busca da sua
independência tecnológica.
O cenário do empreendedorismo no Brasil teve no início um movimento bastante
peculiar, com a economia predominantemente agrícola. Aos poucos as iniciativas e ações
empreendedoras deslocaram-se do campo para as cidades. No entanto, o modelo do
empreendedorismo que nasceu em campo foi incorporado na forma de gestão da produção
industrial no cenário brasileiro. Mais tarde, em período histórico ainda marcado pelo uso de
mão de obra escravizada, o sistema econômico e social, que era governado por interesses
políticos e baseado no Coronelismo, inibiam o surgimento e consolidação da iniciativa
empreendedora, baseada na introdução de novas técnicas de fabricação. Essas variáveis
somadas a outros fatores sociais arcaicos significaram atraso de 100 anos no processo de
industrialização e desenvolvimento do Brasil (NOGUEIRA, 2007; BNDES, 1996).
Enquanto isso, em países desenvolvidos, não faltavam investidores (privados e
públicos) dispostos a estimular as iniciativas empreendedoras, notadamente decorrentes das
atividades de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Apesar dos estímulos
proporcionados pelos agentes públicos para a pesquisa e desenvolvimento, muitos estudiosos
identificam o governo como inibidor do empreendedorismo tecnológico. Day (2003, p. 98)
afirma: “[...] e não como uma solução, ao aprimoramento das capacidades tecnológicas de
uma nação, com seu poder de taxar, regular e, sob outros aspectos, onerar as inovações a cada
passo”. Apesar da constatação de entraves que o governo impõe à atividade empreendedora,
Day (2003) se posiciona favoravelmente às atitudes governamentais, destacando que muitas
das tecnologias disponíveis no mercado foram viabilizadas graças aos aportes financeiros
governamentais, que disponibilizaram o capital de investimento e a estrutura física como os
Institutos de Pesquisa, interpretando, desta forma, o papel do governo como primordial e
ditador do ritmo da inovação tecnológica.
Day (2003) discorre sobre alguns pontos que governantes podem melhorar a fim de
criar ambiente facilitador para o surgimento de novas empresas de base tecnológica: (i)
infraestrutura institucional: através de normas regulamentares para o estímulo à propriedade
intelectual, para proteger e estimular novas invenções, em conjunto, adotar o uso de inovações
tecnológicas no sistema educacional, qualificando a mão de obra para adoção rápida de novas
tecnologias e sistema de financiamentos acessível a todos os portes de empresas; (ii)

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infraestrutura de pesquisa: investimento em pesquisa básica nos âmbitos da física, eletrônica,
microbiologia, softwares, criando mecanismos para reter os resultados obtidos, assim como as
invenções; (iii) tecnologia militar (pesados investimentos pelos EUA como na União
Soviética relacionados à defesa militar, aviação espacial e nas comunicações, resultaram em
grandes descobertas, como a internet, modificando inclusive o estilo de vida das pessoas); (iv)
financiamento: assegurando o acesso ao capital de baixo custo.
Segundo Schwartzman (1993) os países envolvidos em conflito militar investiram na
associação destes três itens: (i) pesquisas e desenvolvimento militar, (ii) pesquisas básicas e
engenharia, (iii) tecnologia industrial, repercutindo em avanços do conhecimento científico e
tecnológico em novas e potenciais descobertas em termos militares, mas também vantagem
econômica perante países que não possuem tais inovações. Entretanto, os avanços precisam
ser submetidos a medidas governamentais, pois poderiam fugir do controle. Com o fim da
Guerra Fria na década de1990, o governo direciona seu posicionamento em outras estratégias;
os países estão diminuindo seus investimentos em aparatos bélicos, consequentemente,
alterando a tradicional associação dos três itens citados anteriormente. Os investimentos em
avanços estão tomando novos rumos, sendo investidos em saúde, meio ambiente e energia.
Em decorrência disso, conforme Schwartzman (1993, p. 17): “A inovação científica neste
novo contexto predominantemente civil tenderá a se orientar sobretudo pelo mercado e por
demandas sociais de curto prazo, e não mais pelas prioridades governamentais”.
Ainda para Schwartzman (1993), em meados a década de 1970, período em que estava
instalada a Ditadura Militar no Brasil, o país registrou aumento nos índices do produto interno
bruto (PIB), período conhecido como “milagre econômico” resultado de investimentos em
infraestrutura no segmento industrial, siderurgia, e energia. As consequências desses avanços
se refletiram nos anos seguintes, uma vez que foram impulsionados com capital estrangeiro
junto ao Fundo Monetário Nacional (FMI). A dívida externa registrou aumento de US$ 4
bilhões para US$ 12 bilhões entre os anos de 1968 e 1973, desequilibrando inclusive a
balança comercial, já que os credores internacionais acreditavam que o Brasil não seria capaz
de honrar com suas dívidas. Internamente, o país atravessou uma forte crise econômico-
financeira, registrando altos índices inflacionários e instabilidade da moeda corrente.
Para Schwartzman (1993) a crise do Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980, afetou os
setores de Ciência e Tecnologia em longo prazo, com a redução de recursos para a maioria
dos programas existentes, diminuindo as perspectivas para o financiamento de novos projetos,
mesmo de projetos firmados em compromissos internacionais. Esta situação resultou no
atraso em avanços tecnológicos na comparação com os países desenvolvidos.
Atualmente, as oportunidades de negócios estão, na sua maioria, relacionadas com as
atividades exercidas no dia a dia, com o conhecimento individual do empreendedor,
respaldado no network que possuem e com as pessoas que as quais se relacionam. Segundo
GEM (2012), os índices de empreendedorismo no Brasil não são maiores devido à falta de
políticas governamentais consistentes e sustentáveis, à elevada carga tributária brasileira e ao
excesso de burocracia que consome recursos como tempo e dinheiro, aumentando o custo de
formalização de empresas nascentes e restringindo suas condições de competitividade. Outro

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fator limitante, principalmente para o empreendedorismo inicial (com até três meses de
existência), é a falta de recursos financeiros, pois a maioria dos empreendedores não atende as
exigências bancárias para a concessão de financiamentos (GEM, 2012).

2. STARTUPS
O século XXI é conhecido como a sociedade do conhecimento. A economia criativa é
destacada por muitos autores como a revolução do sistema social, econômico e cultural, por
meio do acesso à educação, motivados pela globalização e evoluções tecnológicas,
repercutindo em novas formas de gestão dos recursos frente a incertezas do mercado
(HANSON, 2012).
Com as transformações, decorrente da globalização, impulsionada pelos avanços
científicos, novas descobertas são rapidamente introduzidas no mercado através da criação de
novas organizações. O ritmo acelerado que caracteriza o mercado atual, em especial, de
tecnologia, intensifica a inovação. Esse movimento é considerado, por muitos estudiosos,
como tecnologia emergente, representando um alto potencial de transformação em setores
inteiros, diminuindo seu período de permanência no mercado, tornando-a rapidamente
obsoleta (FERRO; TORKOMIAM, 1988; TIDD; BESSANT, 2009; DAY 2003).
A inovação tecnológica estimula o aparecimento de novas necessidades de consumo.
Este processo tem origem na aplicação da invenção do seu processo ou a introdução de novos
procedimentos em processos ou produtos existentes, sendo resultado de uma “[...] atividade
de pesquisas e desenvolvimento, ou da experiência e da habilidade prática de alguém” (LUIS,
1986, p. 11). A inovação tecnológica ou tecnologia emergente, “[...] possui o potencial de
criar um novo segmento, ou transformar um já existente” (DAY, 2003, p. 18). Uma forte
característica da tecnologia emergente, por estar em fase inicial da pesquisa, ou seja, do seu
desenvolvimento, refere-se às expectativas de modificação de estruturas competitivas, o que,
no entanto, dificulta a avaliação do seu potencial de mercado (DAY, 2003).
Com advento dos computadores móveis, bem como de tablets e smartphones, “[...]
facultou-se o acesso a sistemas de informações via internet, equipados com sistemas
operacionais sofisticados, e os aplicativos ganharam mais importância do que software de
caixa” Revista Administradores, (2014, p. 40), pela rapidez que as novas formas e novos
métodos de executar atividades corriqueiras possibilitam seu desenvolvimento e introdução
no mercado. Esses novos modelos de negócios são considerados a evolução do
empreendedorismo, as Startups, empresas recém-criadas, ou ainda em fase inicial de
estruturação, surgem com um produto promissor em um modelo de negócio repetível e
escalável, porém de alto risco (SILVA et al., 2013).
Modelo de negócio repetível pode ser definido como aquele que tem a capacidade de
entregar o mesmo produto ou serviço novamente, sem precisar desenvolver novas
customizações ou alterações individuais ou sem a necessidade de criar novas estruturas. Ser
escalável significa ter a capacidade de entregar uma ou várias unidades do produto ou serviço,
independente da demanda, sem que isso influencie no modelo de negócio, ou seja, facultando

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alcançar margem de lucro cada vez maior, gerando e acumulando riquezas, a custos cada vez
menores (GITAHY, 2010).
A crise econômica mundial do ano de 2008 impulsionou as Startups, como alternativa
ao trabalho convencional, caracterizando-se pela melhor qualidade de vida para o
empreendedor (THE ECONOMIST, 2014). Na visão de Gaspar (2008) os empresários,
especialmente os mais jovens, consideram o investimento em uma Startup como uma
interseção da ciência e da arte. Os padrões de repetição do sucesso e do fracasso já
conquistados por outros empreendedores em startups orientam os novos investidores,
podendo aumentar drasticamente suas chances de inovar através da socialização e do
conhecimento compartilhado. Contudo, apesar da janela de oportunidades por meio deste
novo modelo de negócios terem sido divulgadas com mais intensidade somente nos últimos 2-
3 anos, o número de novos empreendedores tecnológicos crescem exponencialmente
(MARMER ET. AL, 2012).
No Brasil, os índices de Empreendedorismo Tecnológico ou Startup de base
tecnológica, têm sido cada vez maiores, o que pode ser explicado pela redução dos custos de
criação e inicialização deste tipo de negócio, bem como fato de serem facilmente
monetizáveis, de baixo custo de manutenção e distribuição. Representam expectativas de
geração lucros acima do mercado tradicional, o que se justifica pelo modelo de negócio
específico e peculiar. Como as Startups de base tecnológica são organizações destinadas a
criar e desenvolver soluções para necessidades específicas de um nicho de mercado, com
necessidades ainda não atendidas ou atendidos inadequadamente, as Startups de base
tecnológica iniciam suas atividades com um protótipo ou produto mínimo viável, a fim de
validar sua ideia e atrair aportes milionários de investidores privados ou públicos (MARMER
et al., 2012; SILVA et al., 2013; HARTMANN, 2013; XAVIER; CANCELLIER, 2008;
ADMINISTRADORES, 2014; ABSTARTUP, 2014).
Para o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE (2012)
Startups são empresas nascentes, que querem validar sua ideia inovadora de produto ou
modelo de negócio inovador junto ao mercado. Neste estágio inicial, considera-se de
fundamental importância a realização de planejamento prévio, pautado em definições
estruturantes, tais como posicionamento estratégico, a construção de um protótipo,
dimensionamento da produção para viabilizar a comercialização do produto em escala
comercial, bem como o estabelecimento de parcerias com clientes, fornecedores e
financiadores do projeto.
Para as Nações Unidas (2010), pode-se potencializar o empreendedorismo criativo
através da união de esforços no desenvolvimento de políticas públicas com decisões
estratégicas respaldando o desenvolvimento das comunidades regionais e locais,
especialmente relacionadas à educação e identidade cultural. Por meio de políticas cruzadas,
devem-se direcionar os esforços para a criação de uma conexão criativa, capaz de atrair
potenciais investidores, desenvolvendo habilidades empreendedoras, melhorando o acesso à
infraestrutura de qualidade e modernas tecnologias. O empreendedorismo criativo “[...]
certamente resultará em maiores níveis de geração de emprego, maiores oportunidades de

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fortalecimento das capacidades de inovação e alta qualidade de vida social e cultural daqueles
países” (UNCTAD, 2010, p. 25).
Assim como vêm acontecendo em empreendimentos tradicionais, empreendimentos
criativos necessitam de recursos financeiros disponíveis para dar continuidade às suas
atividades e se consolidar no mercado. No entanto, o que é possível constatar é que o acesso
ao crédito para empreendedores criativos está restrito a editais públicos de fomento, uma vez
que instituições financeiras públicas e privadas carecem de elementos para avaliar um
empreendimento de base tecnológica, orientando o processo de concessão de crédito com base
nos critérios aplicados aos tomadores de créditos atuantes do setor tradicional, dificultando o
acesso ao crédito para esses novos empreendedores (SEC, 2011).
Para a Secretaria da Economia Criativa – SEC (2011) no Brasil, esta dificuldade
acontece, porque estudos sobre a economia criativa nacional são restritos a pesquisas locais e
pontuais, sendo insuficientes, para análise e compreensão global de suas características
potenciais, impedindo uma melhor avaliação do impacto gerado na economia brasileira e
dificultando o atendimento das exigências do mercado financeiro formal. Apesar de existirem
alguns indicadores, esses estudos são, na sua maioria, realizados a partir de dados
secundários, impedindo o Governo de tomar o conhecimento acerca de oportunidades que, de
outra forma, poderiam ser reforçadas e estimuladas por meio de políticas públicas
consistentes.

2. MÉTODO
Em alinhamento com o objetivo do estudo, os autores optaram pelo estudo de caso
múltiplo e abordagem qualitativa, com a coleta de dados por meio de entrevistas semi-
estruturadas, levantamento documental e observação não participante, de forma a atender a
triangulação de dados, conforme recomenda Yin (2001). O trabalho pode ser considerado de
natureza aplicada e segundo os objetivos, descritivo e exploratório, por visar aumentar o grau
de conhecimento sobre o tema em tela, a saber, empreendedorismo em startups, organizações
de base tecnológica.
Conforme já mencionado, os autores optaram por este delineamento metodológico por
entender que este é o mais adequado para a pesquisa. O estudo de caso é caracterizado por Gil
(2008), pela análise intensiva e exaustiva de uma situação particular. Yin (2001) indica o
estudo de caso para eventos contemporâneos, inseridos no contexto da vida real, em situações
em que os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas em que é possível
executar observações e entrevistas sistemáticas. Vale complementar, que o estudo foi
realizado com uma visão externa dos pesquisadores, sem manipulação dos dados obtidos.
Já com relação à abordagem do problema, a opção pela pesquisa qualitativa, se deve
ao fato de que a mesma é recomendada para casos, em que a interpretação da pesquisa não
pode ser traduzida em números, assim, não serão utilizados métodos estatísticos. O ambiente
natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave (GODOY,
1995).

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A coleta de dados, por meio de entrevistas semi-estruturadas, tinha como objetivo
principal identificar e caracterizar a percepção dos novos empreendedores acerca do ambiente
no qual suas organizações de base tecnológica operavam. Para tanto foram entrevistados os
sócios fundadores das empresas Alpha, Beta e Gama. As entrevistas aconteceram nos meses
de março e abril de 2014, pelo aplicativo Skype®, e gravadas com consentimento dos
entrevistados para posterior transcrição.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2004,
p. 38) se refere a um “[...] conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Para
facultar a referida análise os dados coletados foram categorizados por assunto e interpretados
à luz das vertentes teóricas revistas.

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS EMPRESAS


A empresa Alpha, foi constituída com o objetivo de atuar no segmento musical. O
produto é um aplicativo mobile para que músicos ou até mesmo pessoas que fazem da música
um hobby, encontrem outros músicos, seja profissionais ou amadores, com as competências
complementares, viabilizando a harmonização dos esforços e compor um som (Jam) através
da geolocalização, com o raio de quilometragem definida pelo usuário, bem como estado ou
país. Este produto surgiu a partir da constatação do fundador, jovem paulistano, que toca o
instrumento musical guitarra, das dificuldades para encontrar pessoas para compor uma banda
e fazer um som, bem como em encontrar estúdios musicais com disponibilidade de agenda
para gravação de CD ou DVD. Por outro lado os estúdios musicais enfrentavam outro
problema, que foi solucionado por meio do aplicativo, que era o não comparecimento com
reserva de horário para gravação, que resultava na falta do pagamento, causando-lhes
transtorno, prejuízos e espaços ociosos.
Já a empresa Beta, ou empreendedor Beta, atua no mercado de desenvolvimento de
aplicativos móveis desde 2008. Beta adquiriu muito prestígio no mercado gaúcho, pela
inovação e qualidade do produto entregue. A empresa iniciou sua trajetória desenvolvendo
aplicativos personalizados, com a terceirização do desenvolvimento para outras empresas.
Alguns cases dos trabalhos desenvolvidos foram adotados em larga escala, como, por
exemplo, um dos aplicativos para uso exclusivo em hospitais, que oferece uma maneira
simples e rápida de diagnosticar delirium em pacientes internados em Unidades de Terapia
Intensiva. O aplicativo permite coletar informações e fazer a gestão dos indicadores de UTI
relacionados com delirium e sedação de uma maneira confiável.
O empreendedor da empresa Gama, está focado no desenvolvimento mobile para área
da telessaúde. Trata-se de uma empresa que passou pela incubadora da UFRGS, o CEI
(Centro de Empreendimentos em Informática), e em 2013 foi graduada. A empresa surgiu a
partir de projetos de pesquisas vinculados a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde
o projeto de desenvolvimento do aplicativo que se tornaria o carro-chefe dos produtos da
empresa atual foi tema da dissertação de mestrado de um dos sócios-fundadores em 2009. O

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produto começou a ser comercializado a partir de 2014 em alguns hospitais como: Santa Casa,
Hospital e Pronto Socorro Portinari, Cardionet, Instituto do Coração, entre outros.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Um ponto comum, dentre as respostas dadas, é que todos empreendedores iniciaram
seu primeiro negócio antes de 30 anos. O empreendedor da Alpha está, atualmente, com 29
anos de idade, e abriu seu primeiro negócio aos 25 anos. O mesmo possui formação superior
na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e experiência profissional em
empresas multinacionais em países como Austrália e Estados Unidos, onde morou alguns
anos e sua área de experiência profissional é a de mídia online e agências de comunicação.
Da mesma forma, o empreendedor da Beta, hoje aos 31 anos, iniciou seu primeiro
negócio aos 25 anos. Com formação superior pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS), em ciência da computação, destaca sua vivência no ambiente acadêmico, por
ter sido bolsista de iniciação científica. Sua área de experiência profissional é em atividades
de desenvolvimento (programação) de software em empresas multinacionais no Brasil. E o
profissional da empresa Gama, que tem atualmente 32 anos, teve seu primeiro negócio aos 27
anos. O mesmo é egresso do curso superior em análise de sistemas da UNISINOS e Mestre
em Ciência da Computação de Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com
sólida experiência em gestão de projetos em empresas de tecnologia.
Inicialmente os entrevistados foram questionados sobre os motivos pelos quais
empreenderam, com o objetivo de identificar se tiveram algum tipo de influência oriunda do
círculo familiar ou de amigos, se a motivação surgiu com base na intenção de explorar as
potencialidades da ideia que deu origem ao projeto, seja via operacionalização própria ou por
meio de comercialização dos direitos autorais da ideia, ou se empreenderam porque se viram
como agente de mudanças para solucionar algum problema social identificado, conforme as
alternativas mais citadas por Dornelas (2010).
O empreendedor Alpha afirmou que a iniciativa de empreender foi dele mesmo e que
nunca teve nenhum tipo de incentivo ou influência oriundo do seu ciclo de convivência, seja
de natureza familiar ou de amigos. Deixou claro que o motivo que o levou a empreender foi a
identificação de problemas em um determinado nicho de mercado, o que ele interpretou como
uma oportunidade para se inserir no mercado e monetarizar a ideia. Para superar o período
temporal sem faturamento, inerente ao qualquer tipo de negócio, o entrevistado se preparou,
formando uma reserva de capital. Esta necessidade de possuir um capital inicial foi citado em
Tidd; Bessant (2009), em virtude da estratégia adotada por empresas de base tecnológica, que
atendem um nicho de mercado muito específico, demorar, muitas vezes, para atingir o ponto
ótimo de geração de receita própria. A inexistência desta reserva inicial pode comprometer o
projeto e inviabilizar a sua continuidade e permanência na operação.
Diferentemente de Alpha, o empreendedor Beta tem exemplos próximos e sempre foi
motivado e influenciado a empreender: Neste sentido, Tidd e Bessant (2009) afirmam que o
ambiente familiar, normalmente, exerce forte influência para o individuo empreender. A
existência de, ao menos, uma pessoa empreendedora, dentro do círculo familiar, poderá ser

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suficiente para se tornar uma referência para o individuo. Segundo este empreendedor, o que
o motivou não foi a percepção da possibilidade de lucro extraordinário, mas a oportunidade de
explorar um nicho promissor de mercado, deixando evidente que empreendeu pela paixão
pela tecnologia e como forma de tornar em realidade a sua ideia, pois a empresa de tecnologia
onde ele trabalhava na época não concordou em desenvolver o aplicativo mobile.
O depoimento do empreendedor da empresa Gama diferiu dos relatos anteriores em
vários aspectos. Com pai autônomo, que ele considera seu influenciador, ele conversava
frequentemente, desde sua adolescência, sobre rumos a seguir, em termos profissionais,
mesmo antes de ingressar no curso superior. No decorrer da graduação, quando decidiu que
queria abrir um negócio próprio, passou a pesquisar diversas opções e alternativas, para se
identificar com um projeto e colocá-lo em prática. A fala deste entrevistado confirma a
vertente teórica contida no texto de Dornelas (2010), segundo a qual os empreendedores são
pessoas que iniciam a etapa do planejamento pela identificação de algum problema a ser
solucionado, servindo de base para o futuro empreendimento. Hisrich e Peters (2004) também
afirmam que a oportunidade de empreender pode ser identificada a partir da exploração de
uma invenção ou através da concepção de novos produtos ou serviços realizados de uma nova
maneira. Esta percepção permite associar os três empreendimentos a nova economia,
traduzidos em startups (ANGELO, 2003; DORNELAS, 2010).
Com a segunda pergunta pretendia-se averiguar a trajetória e experiência de cada um
dos entrevistados, enquanto empreendedores, ou seja, se aquela foi a primeira experiência ou
se tinham tido vivências anteriores. O empreendedor Alpha cita que já teve outras
experiências empreendedoras de insucesso que o levaram a perder muito dinheiro. Este relato
vem ao encontro da afirmação de Souza (2001) segundo o qual o empreendedor, na maioria
das vezes, acumula um histórico de diversas tentativas e o que o diferencia é a percepção de
entender os possíveis fracassos como oportunidades de melhoria de projetos seguintes.
O conceito de ser empreendedor, segundo o discurso do sócio da empresa Beta, está
associado com o uso da tecnologia como um estilo de vida. Por trabalhar com
desenvolvimento de tecnologias novas no segmento de softwares, sempre acompanhou as
tendências do mercado de perto, o que facultou a identificação de diversas oportunidades para
empreender, mas a empresa atual foi a sua primeira experiência empreendedora. O que o
empreendedor Beta mencionou no seu relato confirma os conceitos de Domingues (2010), de
que empreendedores tecnológicos conseguem explorar as boas ideias e possuem capacidade
de transformá-las em negócios rentáveis.
Para o empreendedor Gama aquela também foi a sua primeira experiência
empreendedora. Como ocorre com a maioria dos empreendedores (Dornelas, 2010) a sua
trajetória profissional iniciou em organizações de maior porte, conforme o empreendedor
comentou “[...] nesta época eu ainda era gerente de projeto de uma empresa de tecnologia”.
Os motivos que o fizeram arriscar a carreira na empresa onde trabalhava, foi a aprovação do
seu projeto em um edital, garantindo-lhe um valor mensal de pró-labore, facultando-lhe a
dedicação integral para desenvolver seu projeto e, também, a sua dissertação de mestrado
junto a UFRGS.

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Quando perguntado aos empreendedores quais fatores eles julgam determinantes para
que uma empresa de tecnologia se consolide no mercado, as respostas priorizaram o plano
operacional, com destaque para os insights para desenvolver o modelo de negócio a partir de
modelos de negócios existentes em outros países e tecnologias disponíveis no mercado.
Também mencionaram a necessidade de um quadro de funcionário enxuto, preferencialmente
inferior a 5 pessoas, uma vez que o desenvolvimento dos projetos é, em grande parte,
conduzido pelo próprio empreendedor e dependente da capacidade técnica que o mesmo
detém.
O empreendedor da empresa Alpha ressaltou, também, a relevância da atualização
tecnológica, bem como a possibilidade de redução do nível de dependência de uma
determinada plataforma: como iOS ou Android por exemplo. O empreendedor da empresa
Beta percebe a importância da atualização permanente de competências técnicas, com base na
percepção de várias startups, que atuam no mercado, não dominam as ferramentas necessárias
para permanecer operando. Para o empreendedor Gama, além da atualização tecnológica e
capacidades específicas, para a condução do negócio de uma empresa de tecnologia, também
é necessário estar preparado, ter persistência, bem como ter um pouco de sorte, porque é
difícil de fazer acontecer, “ … o mercado pode mudar de uma hora para outra”. Os relatos
vem ao encontro da afirmação de Dornelas (2001) para quem o empreendedor, na sua
maioria, prioriza a competência técnica e a infraestrutura tecnológica.
A última questão procurou averiguar se os empreendedores contaram com apoio do
governo ou de outras instituições, que tem na sua missão apoiar o empreendedorismo no
Brasil, bem como identificar a percepção dos empreendedores acerca destas instituições de
apoio. Somente o empreendedor da empresa Gama apresentou a percepção positiva sobre o
apoio disponível às empresas de base tecnológica, que iniciam a sua operação no mercado,
por ter sido contemplado com o edital público e sua empresa foi incubada em uma
universidade local, além de estar, atualmente, em um parque tecnológico, vinculado à mesma
universidade. No entanto, apesar desta experiência positiva o empreendedor percebe que estes
órgãos estão muito distantes para fornecer um apoio mais efetivo para novos empreendedores,
diferentemente do que foi relatado por Santos (2005) que afirma que o sucesso do Vale do
Silício só foi possível devido à rede de apoio, por instituições públicas e privadas, respaldado
no relacionamento de empresas de alta tecnologia com as Universidades locais.
Os fatores determinantes para que uma empresa de tecnologia se consolide no
mercado, na percepção dos entrevistados, não está relacionado a questões de políticas
públicas de investimentos em infraestrutura, descoberta de novas tecnologias ou
desenvolvimento deste setor, mas relacionado a questões estruturais internas das empresas.
Esta afirmação corrobora as evidências apresentadas por Schwartzman (1993), para quem a
falta de investimentos brasileiros em novas pesquisas para desenvolvimento de tecnologia
nacional pode resultar em atrasos competitivos frente a países desenvolvidos.
Por fim, os entrevistados relataram as dificuldades para comercializar as primeiras
unidades dos seus produtos devido à resistência do mercado, que não conseguia avistar
vantagem comercial. Corroborando, o entrevistado da empresa Gama, que foi contemplado

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com apoio público e privado (edital + incubação + parque tecnológico), percebe despreparo
das estruturas formais destinadas para apoiar os empreendedores, bem como a inexistência de
política interna para transferir o conhecimento do meio acadêmico para empresas do setor
criativo com intuito de comercializar os resultados de suas pesquisas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Especialmente, no mercado gaúcho, o empreendedorismo de base tecnológica tem se
constituído em uma tendência, nos últimos anos. No entanto, é possível afirmar que o
contexto de mercado, no qual as empresas de base tecnológica, também denominadas de
startups, operam, apresenta-se altamente complexo e multifacetado, exigindo dos
empreendedores a concepção de novas abordagens, para assegurar a sua competitividade.
Com o objetivo de contribuir para o debate foi realizada a pesquisa, por meio de estudo
multicaso, com três empreendedores, do referido segmento, para caracterizar as percepções
dos mesmos acerca das variáveis que influenciam tanto a decisão de empreender, como a
permanência das empresas, já constituídas, no mercado.
A partir das informações coletadas, evidenciou-se o foco e priorização dos
empreendedores, que operam nas empresas de base tecnológica, com a estrutura,
aprimoramento tecnológico e desenvolvimento e atualização constante das competências
técnicas, bem como redução de custos e a necessidade de reservas financeiras antes de iniciar
a operação. Também a necessidade de um conjunto de políticas públicas consistentes para o
desenvolvimento e consolidação de empresas nascentes de base tecnológica, comprovando a
hipótese inicialmente estabelecida.
O estudo também levantou dados que sugerem o impacto da tardia industrialização
brasileira como justificativa possível para explicar os baixos investimentos em pesquisa e
desenvolvimento, bem como reduzido desempenho das startups brasileiras, quando
comparado com as localizadas nos países desenvolvidos, o que pode ser atribuído à forma de
governança dos agentes públicos, inibindo tanto a iniciativa empreendedora como a própria
inovação.
Observou-se que empresas brasileiras não modificam as estruturas mercadológicas,
visto que os modelos de negócios desenvolvidos são cópias de modelos de negócios já
existentes em outros países, apenas, adaptados para o mercado nacional, com uso de
tecnologias disponíveis, com reduzida ou quase nenhuma inovação na oferta do produto ao
mercado. Dadas às dificuldades comerciais iniciais, estas empresas apresentam dificuldades
para se consolidar no mercado, o que pode ser exemplificado com o caso da empresa Beta que
mesmo após cinco anos, com produto aceito, ainda lida rotineiramente com dificuldades para
assegurar sua sustentabilidade.
Como limitações deste trabalho, destaca-se o delineamento metodológico, estudo
multicaso, com apenas três empresas gaúchas analisadas, devido à dificuldade em encontrar
empresas dispostas a participar dessa pesquisa (foram contatadas 23 empresas). Apesar das
referidas limitações entende-se que o trabalho pode oferecer importantes contribuições para o
debate sobre empreendedorismo em empresas de base tecnológica.

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