Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Guarapuava, PR
Agosto/2016
DILEMAS E PERSPECTIVAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO MUNDO
CONTEMPORÂNEO
No livro “Nova ordem Mundial”, José Willian Vesentini faz um percurso histórico
desde a Segunda Guerra Mundial até os dias atuais, buscando compreender os fatores e
eventos que contribuíram para que se estabelecesse a ordem multipolar do mundo
moderno. Além de analisar os eventos históricos, o autor também apresenta alguns
dilemas e problemas agravantes presentes da Nova ordem.
A queda do Muro de Berlim, em 1989, marca um novo período na história das Relações
Internacionais. Antes desse evento, o que se tinha era uma ordem bipolar com uma batalha
ideológica e econômica entre o capitalismo (USA) e o socialismo (URSS), nenhum país
do globo conseguiu escapar da influência de uma dessas potências no período em que a
humanidade conhece como Guerra Fria. De acordo com o autor, a ideologia da Guerra
Fria era extremamente simplista e não comportava os processos complexos envolvidos
nas estruturas de cada país. O mundo então, se limita a capitalistas e socialistas sem levar
em conta as construções culturais e territoriais diferentes em cada país.
O autor defende que os dois sistemas eram igualmente falhos, porém, o capitalista
conseguiu resistir e chegar a obter maior influência por ter tido maior capacidade em
conseguir se adaptar aos avanços tecnológicos da última década.
A crise do mundo socialista entra em reflexão no capítulo três. O autor busca explicar
o socialismo desde sua origem na Revolução Russa até se tornar um sistema forte na
Guerra Fria, onde vários países (principalmente da Europa) adotaram. No período de
maior expansão do socialismo, acreditava-se que esse sistema iria substituir o
capitalismo. Este por consequência, acabaria por sucumbir a abrangência socialista.
Contudo, tais expectativas foram rompidas quando no final dos anos 80 a humanidade
assistiu o sistema entrar em decadência. O que restou foi substituído por novos ideais,
deixando de lado a economia centralizada. Mesmo os países que permanecem críticos a
economia de mercado aceitam (mesmo que alguma resistência) a instalação de
multinacionais como forma de atrair capital estrangeiro.
A crise socialista pegou a muitos de surpresa, pois haviam aqueles que acreditavam
nos números divulgados pelos países socialistas. No caso da economia de mercado,
ludibriar com estatísticas inventadas torna-se muito mais difícil, já que caso haja esse tipo
de estratégia a carga tributária seria muito alta, o que não compensaria tal manobra.
Além disso, o nivelamento salarial entre os trabalhadores também não contribuía para
o fortalecimento das empresas, o consumidor não era valorizado como na economia de
mercado. O profissional que exercia cargo de médico ou de faxineiro possuía o mesmo
rendimento. As moradias também eram padronizadas. Sem incentivo à criatividade e ao
crescimento no trabalho, os funcionários não viam-se dispostos a trabalhar pela evolução
da produção.
Mais adiante, em 1985 a URSS tenta se reconstruir através do plano do secretário geral
Mikhail Gorbachev denominado “perestroika”. Era uma tentativa de trazer novamente
crescimento ao socialismo através da dinamização da economia. A perestroika funcionou
tanto como uma política de incentivo interna e externamente incentivando a população a
consumir e tirando recursos da indústria bélica. Alguns avanços foram conseguidos,
talvez o principal deles tenham sido a abertura política denominada glasnost.
Essa abertura trouxe maior liberdade para a imprensa que antes só divulgava a versão
oficial dos fatos. Porém a perestroika teve seu fim em 1991 por conta da diversidade
étnico-nacional existente na União Soviética. A Rússia sempre ocupava lugar
privilegiado dentro da URSS, com a abertura política outros países começaram a
reivindicar espaço e o sentimento de nacionalismo aflorava depois de muito tempo
escondido.
Uma série de razões mostraram que a economia planificada era incapaz de atingir os
anseios da população e que a perestroika colaborou para mostrar ao mundo as falhas do
socialismo. E o mapa da Europa Oriental passou a ser redefinido a partir das contribuições
dadas pela abertura política. Os países socialistas passaram por uma reinvenção, e os que
se mantem até hoje como Cuba e Coréia do Norte por exemplo, passam a enfrentar
problemas pela não abertura de mercado.
O fato é que o socialismo não é mais uma opção e que os problemas e desafios do
futuro parecem ainda mais assustadores. Não há mais uma hierarquia de conflitos, o que
se tem são diversos conflitos e focos de tensão por motivos diversos. Não entre países,
mas entre grupos, etnias. A rivalidade ideológica da Guerra Fria foi substituída por
disputa de mercados, outros países começaram a surgir como pólos de desenvolvimento.
A bipolaridade é substituída por uma ordem multipolar, com a tecnologia avançando a
níveis estrondosos.
Na nova ordem os blocos regionais são importantes para trocas econômicas e fomento
das economias entre os países. As alianças mais conhecidas são os países que compõem
o Nafta e, claro, a União Europeia, cujo sucesso é exemplo ao mundo. Alguns acreditam
que essa tendência dividiria o mundo em blocos rivais que brigariam entre si, contudo a
teoria mais aceitável defende o fortalecimento dos mercados supranacionais com vistas a
globalização.
O que se sabe é que hoje não há mais crescimento econômico isolado. As economias
estão cada vez mais integradas. Na mundialização as multinacionais desempenham papel
fundamental de integração e expansão. São as famosas empresas sem pátria que possuem
filiais em diversas partes do globo. As multinacionais não são apenas industriais mas há
também bancos, redes de comunicações, empresas de software, etc. A tecnologia e
comunicação desempenham papel importante nesse mercado.
Com tantos dilemas e com uma ordem tão complexa no final do livro o autor traz uma
reflexão sobre as perspectivas para esse novo mundo. A tecnologia irá avançar ainda mais
em contraste com a pobreza que com certeza será acentuada. São questionados a tamanha
disparidade existente em uma era onde nunca se teve tantos avanços. Mesmo assim, as
desigualdades também nunca foram tão fortes. As cobranças para se obter níveis maiores
de escolaridade com certeza irão crescer.
Questiona-se também como o Brasil irá enfrentar esse cenário, será que o país está
preparado para estes desafios? O autor coloca em foco a relação histórica do Brasil com
o desenvolvimento e industrialização durante as décadas anteriores. Somente corrigindo
problemas antigos é o Brasil estará preparado para encontrar seu lugar de
desenvolvimento no Primeiro Mundo.
O que falta para a nação segundo o autor é um bom projeto político que possibilite a
mobilização do país. Que contemple a realidade e que seja coerente para alcançar novas
oportunidades e perspectivas em um globo entrelaçado e com geopolítica flutuante.
O livro de José Willian Vesentini possui leitura de fácil compreensão, porém é preciso
muita atenção as retomas históricas e informações dadas pelo autor. A leitura é na maior
parte das vezes linear. Para quem se interessa por história esse com certeza é o material
indicado. O principal ponto que chama atenção na narrativa é que o autor retoma as
grandes guerras do século XX e eventos importantes na história da humanidade para
explicar como foi percorrido o trajeto até que se chegasse a nova ordem multipolar. Ou
seja, diversos fatores colaboraram para o que vivemos hoje.
Contudo, o livro não é um produto acabado tendo como ponto forte o relato histórico
e como ponto fraco o pouco espaço dedicado ao tema título da obra. Porém, como bem
definiu Vesentini a nova ordem é complexa e por isso não há uma definição que se encaixe
pontualmente. Mais do que isso, ao não se aprofundar nos dilemas da globalização o livro
gera um ponto de interrogação que permanece na cabeça do leitor suscitando reflexão.