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Antonio S. T. Pires
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das
idéias da ._.... •
Antonio S. T. Pires
das
idéias da
Edttora
Direção editorial
José Roberto Marinho
Revisão
Maria Angelo Rodrigues Figueiredo
Copo
Ano Mo rio Hitomi - Typography
Pires, Antonio S. T.
Evolução dos idéios do físico / Antonio S. T.Pires.
- São Paulo: Editora Livraria do Físico , 2008.
Bibliografia
ISBN 978-85-88325-96-8
08-00127 CDD-530.07
'
lndices poro catálogo sistemático:
1. Física : Estudo e ensino
530.07
Todos os direitos reservados. Nenhuma porte desta obro poderá ser reproduzido
sejam quais forern os meios empregados sem o permissão do Editora.
Aos infratores aplicam-se os sanções previstos nos artigos 102, 104, 106 e 107
do Lei nº 9 .6 1O, de 19 de fevereiro de 1998
Editora
3. A Nova Astronomia ........................ ..... .. .... ...... ... ... .... ........ 85
7. Energia, Calor e Entropia ............ ............ .... ... .. .... ........ ... 233
8. Teoria Eletromagnética ....... ... .... ... .. .. ... ... .... ..................... 263
9. Teoria da Relatividade Restrita .... ... .. ... ... ... ... ..................... 299
11.Caos e Determinismo .. .... ... .. .... ... .... .. ........ .. .. .... ....... ... ... . 361
12 . O Est ra n h o M u n d o Q uâ nti co . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 7 3
15. Partículas Elementares .. .... .... .... ... ... .... ... .. .. ........ ... .... ..... .. 423
16. Conclusão ...... .. ........... ... ....... ... ......... .... ........ ..... .. .. .... ... . 44 7
Apêndice D: Algumas noções de astronomia ......... ... ..... .... ... . 463
Notas .............................. .... .. ...... .. ..... ...... .. ... ..... ... .... ... ........ 467
não deixando qualquer espaço vazio. Para ele cada um dos elementos era, por
sua vez, constituído de forma e matéria. Como a matéria é capaz de assumir
várias formas, os ele.m entes podem se transformar uns nos outros. As forn1as
instrume11tais para produzir os elementos eram aquelas associadas com as
quatro qt1antidades primárias: quente, frio, úmido e seco. Temos as combi-
nações: frio e seco= terra, frio e úmjdo = água, quente e úmido = ar, quente e
seco = fogo. O céu, por sua vez, era composto de um único elemento: o éter,
um elemento imutável, do qual falarei mais adiante.
O mttndo de Aristóteles, ao con.trário do mundo inerte dos atomistas,
onde átom os individuais se moviam aleatoriainente, não era um .mu11do de
chances e coincidências, mas um mundo organizado, orde11ado, um inundo
de propósito, onde as coisas se moviam para fu1s detern1inados pelas suas
naturezas. Em seu empiricismo não podia aceitar a suposição atomística de
que a realidade se apoiava crn entidades microscópicas não observáveis.
Igualava o atomismo a um ti esejo cego de abrir mão do controle da atureza
em favor da pura cl1ance. O movimento dos átomos, dizia, não derivava de
propried ades inerentes deles próprios: não possttíam uma cau.s a final. Para
e]e a Natt1reza e ra um sistem a vivo, complexo e at1to regulante. Via o Unj-
verso como um organismo \ ri\ro em vez de um mecanism o qt1e funcionava
como un1 relógio. Não aceitava a geometri zação n1ística da Natureza feita
pelos pitagóricos. Pensava que uma explicação completa de qualqu.er coisa
deve.ria considerar não somente o material, a forma e as causas eficientes,
mas também a causa final - o propósito para o qt1 al a coisa existia ou foi
criada. Stia concepção do Ur1iverso era teleológica, isto é, concebia-o como
gover11.a d o por uma finalidade. A ciência moderna teve um sucesso enorme
no ente11dimento do Universo, mas o preço pago por esse vasto conhed-
me11to foi o de ignorar deliberadarnente a questão de propósito, que era tão
importante para Aristóteles.
A lógica de Aristóteles
Aristóteles praticamente criou a ciê11cia da lógica, que ele definiu como
a arte e o método de pensar corretamente, e que permanece até hoje e.n tre as
grandes criações d a mente humana. os tratados sobre lógica, conhecidos
coletivamente como Orga1'zo1i, ele está particularmente interessado em argu-
mentos dedutivos e provas. Chama a atenção para a difere11ça entre o mé-
todo usado em ·u n1.a demonstração e aquele usado em uma descoberta. No
quando seus pensame ntos se transformaram em d ogm as. Nos séculos seguin-
tes surgiram várias críticas ao sistema aristotélico, principalmente em relação
à teoria d o movimento. Mas exemplos contrários entre resultados teóricos e
medidas experimentais não resultam, por si só, na rejeição de uma teoria, prin-
cipalmente quan.d o ela está basead a em um esquem a metafísico mais amplo,
como era o caso do conceito de m ovimento de Aristó teles. Os seus disdpulos
não eram ignorantes, eles acreditavam que as discrepâncias existentes entre
observações e teoria pod eriam, ultima mente, ser corrigidas satisfatoriamente.
Ptolomeu
imagens em esp elh.os planos, esféricos e cilíndricos. Usou um disco, com su.a
circunferência marcada em graus, para medir os ângulos de incidência e re-
fração. Apresentou uma tabela para esses ângulos para o caso onde raios de
luz iam do ar para a água, do ar para o vidro e da água para o vidro, mas não
chegou a escrever uma fórmula m.atemática que expressasse seus resultados.
H oje sabemos qt1e a idéia de Aristarco estava correta e a de Ptolomeu
não. Mas a partir daí não podemos dizer que a ''teoria'' do primeiro era supe-
rior a do último. Uma teoria para ser levada a sério precisa explicar, se não to-
dos, pelo menos a maioria dos fatos conhecidos, fazer previsões e ser expressa
em uma forma matemática. O modelo de Ptolomeu preencl1ja, em parte, esses
requisitos. Mesmo hoje se alguém apresentar uma idéia (por exemplo, que a
velocidade da lu z varia com o tempo) e não apresentar uma razão pela qual
ela acredita nisso, não fa zer previsões que possam ser verifi cadas experimen-
talmente e não formular um modelo preciso n ão será levada a sério. Mesmo
que no futuro venl1amos a descobrir que esse alguém tinha razão, o fato ob-
jetivo é que teve apenas uma idéia. Existem hoje centenas de idéias. Possivel-
mente poucas, ou até muitas, podem se mostrar corretas, mas não tem os corno
averig u a r qua is são corre tas se fore1n a p eI1.as isso: u 1na idé ia.
•
T I
Nele, entre outras coisas, ele refuta a teoria aristotélica do movimento, criti-
cando a teoria de movimento de um projétil e a alegação de que um objeto
pesado cai com a velocidade proporcional ao seu peso.
Uma centena de anos depois da morte de Maomé em 632 d. C., qu.a se a
tnetade do mundo civilizado estava sob a dominação muçulmana. O impé-
rio sarraceno estendeu-se das fronteiras d a Índia até o Estreito de Gilbratar
e os Pirineus. Em 762 d .C. foi construída Bagdá a capital do Império Ára-
be e no ano 800 d.C. Haroun Al-Raschid fundou nessa cidade uma escola
de ciência. Nos sécs VII e VIII a corrente muçulmana colheu os restos da
,
filosofia e ciência grega na Asia m enor e Alexandria, levando-os para a
Europa. Do ano 800 até 1300 d..C. o árabe foi a língua dominante na Ciência
e Filosofia, como o grego o havia sido nos séculos preced entes. A partir do
séc Xll, começaram a surgir fragme11tos de trabalhos de Arquimedes, Eu-
clides, Aristarco e Ptolomeu.
Os eruditos árabes estudaram e traduziram os manuscritos gregos sal-
vos das bibliotecas helênicas, que foram parcialmente destruídas, desen vol-
,,
verain a Algebra, e introduziram. os algarismos arábicos qt1e tornavam as
operações aritméticas mais fáceis de serem realizadas do que com o sistema
roma110. Havia, naquela época, dois sistemas rivais em Astronomia. Um era
o sistema de esferas hom ocê11tricas de Etidoxo e Calipus, adotado por Aris-
tóteles. Teorias homocê11tricas não reproduzem completamente os detalhes
dos movimentos planetários e são incapazes de explicar a variação de brilho
dos planetas. Essa variação era explicada como uma conseqüência da varia-
ção das distân cias e.n tre os planetas e a Terra, mas um modelo homocêntrico
por st1a própria natureza excluía tais distâncias variáveis. Como resultado
desses pro.blemas esse modelo foi suplantado pelo outro de Hiparco e Pto-
lomeu, mais fl exível, m as mais complicado. Esse modelo tem a virtude de
tecnicamente prodt1zir boas prevjsões de fenômenos astronômicos, mas ao
custo de uma suposição - que L1n1 corpo celeste pode ter movime11to circu-
lar uniforme em torno de um ponto outro qLte o centro d a Te1·ra. Alguns
astrônon,os árabes tentaram modificar o primeiro sistema, introduzindo
m.a is esferas para melhorar o acordo com dados de observação. Outros se
dedicaram ao sistema de PtolomeLt, fazendo algumas correções, com o deixar
que os epiciclos rolasse1n em torno de seLts deferentes. Algttns astrônomos
islâmicos, como Averroes (Ibn Rushd, 1126-1198) questionaram os modelos
geo'l11étricos que Ptolomeu inventara, alegando qLte ele não se ative1·a próxi-
mo da filosofia aristotélica, especialmente em relação ao movimento circular
uniforme. Os árabes desenvolveram a trigonometria esférica, inclt1indo o
dizer que o Universo foi criado (isto é, d ep ende de um p od e.r criativo divi-
no para sua existên cia), mas no entanto, ex iste eterna mente. Escreveu que a
origem d o nosso conhecim ento está nos sentidos, mesm o p ara as coisas que
transcendem os sentidos.
Tomás rejeitou o argumento ontológico (ontologia é o estudo d as caracte-
rísticas básicas da realidade), formulado pouco m ais de um século antes de seu
nascimento por Santo Anselmo, que afirmava que a idéia de Deus é a maior que
p odem os con ceber. Se essa idéia não existe, deve l1ave r t1ma id.éia runda maior
como ela que também inclua o atributo d a existência. Assim, a maior de todas as
idéias deve existir, do contrário un1a idéia ainda maior seria possível.
Tomás re futot1 a idéia d o v ácuo com o m esm o arg umento usado por
Aristóteles: um corpo colocad o em m ovimento no vácuo continuaria a se
m over indefinid amente. Mas disse que isso seria possível em um vácuo hi-
p otético. Ao contrário d e Aristóteles, afirmou que o movimento n o vácuo
exigiria um tempo não 11ulo, pois para ir d e um po11to a o utro o corpo de-
veria p ercorrer a distância interveniente. Acredita\ra, todavia, que mesm o
um m ovimento n o vácuo exigia a ação d e uma força e d e uma resistência. A
resistê n cia e ra fornecida. p elo corp1,1s quar1ti11n o Lt ta m a nho o u dimen são do
corpo. Mas uma vez colocado e m movimento no ,,ácuo o corpo conti11uaria
a se m over p ara sempre.
Roger Bacon (1220-1292), filósofo fra11ciscano e reformad or ed.ttcacio-
nal, n egou que ta r1.to a razão com o a autoridad e pudessem fornecer conhe-
cimentos válidos, a 11ão ser quando b asead os na p esquisa experimental. Fez
trabalhos importar1tes em ó·p tica rclacio11ados com le11tes d e aumento . Foi
o p r imeiro a t1sar expli citam ente a palavra leis da Natureza n o seu sentido
m od erno, quand o falou d e leis de reflexão e re fração. u ·sou o termo lei para
d escrever regularidades n a N atureza da m aneira como l1oje o fazem os. Se-
gundo Bacon tod o ser fi11ito era composto d e matéria e forma. Os obje tos do
Universo, ernbora distintos uns d os outros quanto às su.as substâncias, eram
unidos em urna red e imensa d e ações e reações recíprocas. Para explicar a
prop agação d essas '' forças'' usou o termo ''esp écies'', um con ceito obscuro
que n ão chegou a ter uma d efinição precisa. Ele afirmou que a espécie não
era emitida pelo agente, p ois se o fosse o agente seria even tualmente consu-
mido pela emissão. O agente excitava a atividade poten cial d o m eio entre ele
e o paciente e finalmente a ativ idade potencial do pacie11te. O agente a tua-
va naquela parte d o meio que era adjacen_te a ele e esta parte, por sua vez,
transmitia a esp écie p ela estjmulação da energia latente d as p artes adjacen-
tes e assim p or dia nte. A transmissão d a força era uma espécie d e reação e.m
que o in1peti1.S era adquirido, limitava a velocidade do corpo. Foi ele, apa-
rentemente, o primeiro a fazer uma distinção, embora de maneira intuitiva,
entre massa e peso. Complementando a tese de Aristóteles, propôs que era
o centro de gravid ad e de um corpo que aspirava alcançar o centro do Uni-
verso. Disse que quando um homem caminha na superfície da Terra sua
cabeça move-se mais rapidamente do qt1e seus pés.
Oresme continuou o trabalho de Buridan, mas acreditava que o i1npe-
tus se consumia por si mesmo e dependia da aceleração e da velocidade do
corpo. Mesmo os adeptos da teoria do impetus acreditavam porém que um
projétil se movia em linha reta até que essa força tivesse exaurido, e só então
se encurvava rapidamente caindo verticalmente para o solo. No final do séc
XIV Blasius de Parma, estudando choques de corpos, rejeitou a teoria do
impetus e falott da persistência do movimento:
a Terra é esférica ela deveria gi1·ar (mas o Sol é esférico e, em seu modelo,
não girava). O movimen to natL1ral, disse, não pode conduzir a resultados
violentos. O movimento natural da Terra é girar; tendo formato esférico 11ão
pode deixar de girar, sendo-lhe a rotação um.a conseqüê11cia natural de esfe-
ricidade, assim como a gravidade é o desejo n.atural de esfericidade.
Copérnico apesar de radical em relação à sua hipótese era um conserva-
dor n.o s detalhes técnicos da astronomia. Acreditava, como outros astrônomos
o haviam feito antes, qLte o eixo de rotação de um planeta estava fixo no seu
sólidos perfeitos e cinco intervalos entre os planetas. Aquilo não podia ser
um. acaso, pen sou Kepler. Na órbita de Saturno, inscreveu um cubo; e no
cubo outra esfera, que correspondia à esfera d e Júpiter. Inscreveu n esta o
tetraedro, e nele inscrita a esfera d e Marte. Entre as esferas de Marte e da
Terra colocou o d odecaedro; entre a Terra e Vê11us o icossaedro; entre Vê-
nus e Mercúrio o octaedro. Estava fi11almente explicado p orque existiam
seis plaT1etas e n ão vinte ou cen1. No di zer de Koestler 3, naquele momento
''tivemos o privilégio de testemunhar um dos ra ros exemplos registra-
dos d e falsa inspiração e supremo embuste'' . A compo11ente ·p latônica e
pitagórica na concepção d e Kepler da h armonia celeste, embo ra tendo
origens místicas, o ajudou a chegar às leis que agora têm o seu nome.
A_p resentou sua teoria d e então 110 Myster·iu.rn Cosn1ogrnpliicurn em 1596
quru1do tinha vinte e cinco an os. Quando escreveu o li vro ele n ão estava
procurando p or leis física s abstratas, m as tentat1do explicar as razões pe-
las quais Deus criara o U11iverso com um Sol e seis planetas tnovend o-se
em torno dele com velocidades e órbitas específicas.
Para explicar o fato de que as distâncias de cada pl a11c ta ao Sol va-
riam dentro de certos limites (ele ainda 11ão havia descoberto que as órbi-
tas eram elípticas) deu. a cada planeta uma carapaça esférica de espessura
suficie11te para aco1nodar as órbitas entre as s·u as p aredes. Co1n o havia vá-
rias discrepâncias entre seu modelo e os dados observados colocou a culpa
nos dados. Pa.r a explicar porquê a velocidade dos planetas dirni11ui com a
distância, postulou que deveria l1aver uma força. emanada do Sol, que ele
ch amou de a11itna rnotrix, que conduzia os pla11etas 11as su as órbitas e que
diminuía com a distância, como a lu z o faz (para ele a força era uma e11tida-
de não substancial, emanada d e ttm corpo substancial). Pela pri1neira vez
d esde a antiguidade fazia-se uma tentativa para atribuir uma causa física
ao movimento dos plan etas. Lembremos que no sistema copernj ca"n o, o Sol
não tinha qualquer influência física nos movimentos d os planetas. Kepler
colocou, assim, o Prin1eiro Motor de Aristóteles no Sol. Ele foi o primeit·o a
reconhecer qtte forças entre os corpos eram ca Ltsadas 11ão pelas sttas posi-
ções relativas ou configurações geométricas, mas por interações n1ecâ,n icas
entre os objetos m ateriais.
Sua primeira te11tatíva pa ra relacio11ar as di stân cias d os planeta.s ao
Sol aos p eríodos d e rotação fora m desajeitadas. De qualquer forma, ele
não poderia ch ega r a um resultado corre to: alg un1as das distât1cias qu e
ele u sou estavam errad as . Represe11tando os p eríodos de rota.ção d e um
planeta e daquele im.edi atam ente superj or p or 1·, e T 5, e suas d.istân cias
As leis de Kepler
O modo pelo qual Kepler ch egou às suas duas primeiras leis, que po-
demos consid.erar como as primeiras leis no sen.t ido moderno, é descrito
em A Nova A s troriornia e recontado por Koestler4 e Stephenson 5 • Aqui vou
Figuro
,
3.2.
Orbito circular de Morte em
s torno do ponto C. 5 é o Sol e
E o igualante.
e
E
substituir o raio pela secante através d e toda a órbita e assin1 obter uma ór-
bita oval de formato correto. Substituindo o raio pela secante, Kepler chegou
a uma '' distância'' que não estava. ligada n.e m ao Sol nem ao planeta na sua
oval. Vou fazer referência à fig ura 3.3, onde temos um círculo de raio uni-
tário, B é o centro d e rotação, A é a posição do Sol e P representa o planeta
Marte; a equação óptica no ponto P é o ângulo a. A secante d esse ângulo é a
razão entre AP e EP, onde EP = 1 + ecosp (e = AB é a excentricidade e m um
círculo de raio unitário). BP é o círculo de referência. Tomando a distância
AP como uma secante, Kepler a substituiu por um raio igual a PE. Agora esta
distância d everia ser medida a partir do Sol, em A, até um ponto não muito
bem definido dentro d o círculo, próximo de P. Stephenso11 comenta que essa
era uma maneira estranha de se constn1ir uma oval. Notemos que R = 1 +
ecosp é a equação d e uma elipse onde R é a distância de um dos focos até a
curva e ~ é o ângulo pola r. Kepler tinha agora uma teoria matemática d as
distân.cias que descrevia o movimento d os plane tas, mas não percebia ainda
que a ''curva'', na \rerdade, era uma elipse.
Figura 3.3.
Esquema usado por Kepler em seu
cólculo do órbita de Morte.
E
A
mé todos davam o mesm o res ultado. De pois d e seis anos de trabalho chegara
finalmente à órbita d e Marte.
N o Epito,ne Ast1·011.omie Cope1·nica'l1ae as duas leis, que o rig inalmente
só se referiam a M arte, fo ram estendidas para tod os os planetas e aos
satélites d e Júpite r (d escobertos p o r Galile u). Este é um exemplo célebre
d e indução analógica. Neste li vro ele apresenta também sua teoria para
o movimento da Lua . A segunda lei, generalizad a p a ra órbitas elípticas,
foi escrita con10 : '' ....Portanto o a traso d o plane ta n o arco PC está para o
atraso n o a rco igual RG como a área d o triâng ulo PCA está p a ra a á rea d o
triângulo RGA '' (fig ura 3.4). Por atraso Kepler q.u cri a dizer o tempo d e
trân sito a o lo ngo d o arco e m questão.
Figura 3.4.
C Segundo lei de Kepler
está enuncia d a como: ''Mas é a bsolutame nte certo e exato que a razão que
exis te e n tre os tempos peri ódicos de qt1 aisqu er dc,is pla11e tas é precisamen -
te a razão da potêr, cia 3/2 d e suas d istâ11cias médias ... ". Segu nd o Koestler,
di\1ersa me n te d as outras duas leis, d escobertas p ela intu ição e seguindo
um camin ho tortuoso, a 'J"erceira Lei foi fruto d e tentativas p acie ntes e obs-
tinad as. Na física de Kepler a i11ércia d e um plane ta a umentava com a su a
massa., m as n ão l1a.via um aume nto corresp ondente na fo rça exercida so-
bre ele p elo Sol (a for ça ap enas d ecresc ia com a dis tâ ncia). Para ex plicar a
terceira le i e le supôs qt1e as massa.s d os pla netas aum entavam co1n a raiz
quadrad a d e s u as distân cias ao Sol.
Estritamente falando, as leis d e Kepler são \terd.adeiras somente se o
corpo centra.1 estivesse fi xo. Co.m o Nev,,ton m ostrou m ais tard e, d ois corpos
A física de Kepler
Na introdução de Nova Astronomia, Kepler tentou explicar como a Terra
em movimento permanecia coesa e mantinha objetos pesados nela. Descar-
tando as idéias aristotélicas ele precisava propor algo novo. Sugeriu uma
força de atração entre os corpos, uma virtude atrativa (virtus tractoria) que
era mútua e proporcional às massas (moles) dos corpos. Ele usava virtus (vir-
tude) e vis (força) indiscriminadan1ente. Escreveu:
órbitas. I~ara este propós ito, era necessário que o corpo central estivesse em
rotação (e assim predisse a rotação do Sol). No c11tanto, um co1-po celeste sem
satélites, corno era o caso da Lua, não deveria possuir 1no\1imento rotacio-
nal, pois este seria supérfluo. Ke pler disse explicitan1ente que anteriormente
acreditara que a causa do movimento planetárjo fosse utn espírito, n:1as en-
tão se deu conta de que as causas motoras decresciam com a distância do Sol
e concluiu que essa força era algo corpóreo. Para explicar porque os planetas
se n1ovem cm órbitas excêntricas supôs que eles eram enormes imãs redon-
dos, cujo eixo magné tico se voltava sempre para a mesma direção. Assim,
o planeta seria periodicamente atraído para mais perto do Sol, e repelido,
conforme o pólo magnético se voltasse para ele.
Acreditava que a região entre os planetas era preencllida p elo éter~ que
era bem mais rarefeito e mais puro que o ar. Foi ele un1 mis to d e mís tico e
cientista, não conseguindo se desvencilhar, por completo, das idéias aristo-
télicas e pitagóricas. Fica claro isso na s ua afi1·mação de que o Sol estava situ-
ado no centro do mundo, baseado no argumertto pitagórico da dignidade do
Sol, e de sua função de ser fonte da. vida e de iluminar o mundo. Não chegou
a completar a tra11sição de um universo movido por uma inteligência inten-
cional, a outro regido por forças inanimadas. Não tinha ainda o conceito de
força, como nós o temos hoje, algo des tituído de i11tenção. Vejamos o que
escreveu na Nova .Astro1'lo1nia:
As idéias de Kepler não foram aceitas de imediato como já foi dito an-
tes. Deixando de lado a simplicidade geométrica de s ua teoria, havia pou-
cas evidências a seu favor. Ainda em 1657, o astrônomo Ismael Bullialdus
rejeitou o conceito kepleriano de uma força atrativa exercida pelo Sol sobre
os planetas, cl1amando-a de pura imaginação, não jus tificada pelos fatos. Se-
gundo ele, o movimento de um planeta tinl1a sua causa no próprio planeta.
Disse também que se tal força existisse ela não se propagaria em um único
plano, mas se dispersaria em todo o espaço, e seu valor decresceria com o
quadrado da distância.
.
a:u,a. , ..,..,....._,ali.
. - . . .
MEDI CEA S ID E RA -·-
N\'WCVPAHDOS DBCll!VIT ,
cavidades e protuberâncias. Ele não só descre-
veu a aparência das montanhas da Lua, mas
chegou a estimar suas alturas. Observou que
as estrelas fi xas não pareciam aumentadas de
tamanho qu.ando vistas pelo telescópio, con-
cluído assim que elas estavam a um.a enorme
distância da Terra. No entanto, a quantidade
delas era muito n1aior. Ele mesmo d.escobriu mais de qu.inhentas estrelas
nunca vistas antes. Obser\ro11 também que a V.ia Láctea e as chamadas nebu-
losas eram formadas por um número grande de estrelas. Descob1i u também
os quatro satélites de Júpiter (sua descoberta mais importante), qtt.e chamou
de ''astros mediceus'' em homenagem a Cosn1e de Médicis, grão-duque de
Toscana. Ele usou a palavra plarzeta para os satélites no sen tido grego origi-
11aJ de corpo errante. O termo satélite se tornou parte d a linguagem científica
somente depois que foi usad o por Ne\l\,ton. Antes d a descoberta dos saté lites
de Júpiter, a Lua girando e1n torno da Terra (um pla11eta circulando outro
planeta) parecia uma a.n omali a não explicad a pelo sistema heliocêntrico e,
portanto, uma objeção a ele. Os satélites de Júpiter 11ão explicavam o fenô-
meno, mas pelo mc11os destruía sua uni cidade.
Três outras descobertas astronômicas feitas por Galileu mais tarde e,
portanto, não apresentadas no livro foram: qt1e Vênus tinl1a fases como a
Lua (essa descoberta foi feita independentemente pelos jesuítas do colégio
de Roma), que Sa tur110 tin.l1a t1n1 par de ''orelhas'' que mudava de for1na e
algumas vezes desapareciam (os a11éis), e as ma.n ch as solares (que já tinham
sido observadas antes). Esc1·eveu qu.e as n1anchas provavam que o Sol não
somente n.ão era um corpo perfeito, mas que girava em tor110 d o seu eixo.
Segundo Cohen, o comportamento de Galileu, ao interpretar as observações
feitas, mostrava um comprometimento com a doutrir1a. copernicana condi-
cionando e dirigindo as interpretações do que realmente observava. É inte-
ressante observa r que o uso do telescópi o desviou Galileu de seus estudos de
queda dos corpos e movimento de p1·ojéteis.
A notícia das descobertas de GalileL1 correu por toda a Itália e além.
Quinhentas cópias do liv ro foram irnpressas e a ed ição logo esgotada. Foi
aclam ad.o por cientistas e filósofos e comparad o a Cristóvão Colombo (que
por então já era famoso por ter descoberto a América). O Cardeal Barberi-
ni escreveu um poema em lot1vor às suas descobertas. Galileu não perdeu
tempo em utilizar sua celebridade súbita para tentar conseguir uma posi-
ção na corte de Toscana. Escreveu uma carta para Belisário Vinta, Secretário
de Estado de Cosme, onde fez uma súplica eloqüente. Na carta dizia que
em suas lições públicas podia ensinar apenas aqueles rudimentos para os
quais a maioria das pessoas estava preparad a e isto em 11ada o ajudava em
seu trabalho, mas por outro lado julgava ser sua maior glória poder ensinar
príncipes. Pelo que parece a carta surtiu efeito pois q.uatro meses depois da
publicação do Me11sageiro das Estrelas, ele foi nomeado ''fil ósofo e matemático
extraordinário'' do Grão-duque, com um alto salário e com tempo ilimitado
verdadeiras, som e11te o movimento da Terra tinha algo de incríve] e não pode-
ria ocorrer, em partiettlar porque as Escrituras Sagradas eram contrárias a. essa
visão. A resposta de Galileu se deu na forma de Ca1,ta a Castelli, u1n manifesto
lo1lgo, que foi escrito para se tom.a r público, onde ap·resentava sua opinião sobre
a relação entre ciência e religião e faz uma defesa da liberdade da pesquisa cien-
tífica. Na carta, reafirmava sua crença de que o Sol se encontra imóvel no centro
das revoluções dos orbes celestes, enquanto a Terra gira em seu eixo e revolve
em tomo do Sol, e que suas descobertas celestes confirmavam essa hipótese.
Disse que certas afirn1ações da Bíblia não deveriam ser tomadas literalmente,
por estarem em li11guagem '' de acordo com a capacidade da gente comum, po.r-
tanto rude e ignorante''. Gta várias vezes Santo Agostinho em apoio às suas
idéias. Transfere a responsabilidade da prova dize11do gu.e os críticos do sistema
copernicano deveriam ''mostrar que ele não está demonstrado'' e em, alguns
trechos, fez pouco caso da inteligência de seus opositores. Cita as palavras do
Cardeal Baronius ''o Espírito Sru1to pretendia nos ensinar na Bíblia como ir para
o céu e não como o céu funciona''. Afinna também que as passagens bíblicas
·n ão p ossuem at1toridade nos debates científicos, e que o conhecimento científico
deve ser analisado pe1a demonstração e observação. A ciêrlcia. possui critérios d e
avaliação que são ir1.dependentes dos critérios da autoridade religiosa, dizia ain-
da. No final, escreveu que no milagre d e Josué, d escrito na Bíblia, qt1ar1do o Sol
parou de girar, a Terra també.m o fez. Essa Carta seria usada mais tarde contra ele
próprio no seu julgamento.
Em d ez.e mbro d e 1614, um frade domirlicano, Ton1maso CacciJ.1j, pre-
gou ttm sermão dominical contra os matemáticos em geral e Galileu em par-
ticular, dizendo que s uas cre11ças eram co11trárias à Bíblia. Em fevereiro d e
1615, outro dominicano, Niccolo Lorini, professor de História da Religião,
e,m Florença, fez à Inquisição (a Inquis ição foi criada n o séc XIII e seu objeti-
vo era julgar aqueles cons iderados uma ameaça às dot1trinas católicas) uma
queixa escrita contra Galileu anexando uma cópia da carta como evidência
incriminadora. Comentou, no e11tanto, que achava que os galileistas eram
bons cristãos, mas presunçosos, e a sua ação era motivada apenas pelo zelo
com a causa sagrada. A Carta foi examinada e chegou-se à conclusão de que
ela não contrariava a doutri11a católica. No entanto, o comitê decidiu consul-
tar especialistas para uma opi11ião sobre o sis tema de Copérnico e a decisão
final foi adiada. Quando Galileu ficou sabendo que Lorini tinha uma cópia
da carta e te11do em vista que circulavam exemplares distorcidos da mesma,
ele recuperou o original com Castelli e a enviou ao seu amigo, o card.ea1
Piero Dini e m Roma, pedindo que ela fc.)sse mostrada, se possível, ao cardeal
Bellarnúno. Mais tarde ele fez algu11s melhoramentos, incluiu novo material
e a nova versão foi publicada com o título Carta à Grã-duquesa Cristina.
O processo tod o transcorrera a portas fechadas, sem que Galileu ficasse
sabendo o que ocorria, mas amigos e m Roma o avisaram de que algo estra-
nho se passava. Ele escreveu ao cardeal Dini, em Roma, pedindo conselho
em re lação às acusações que lhe ha,v iam sido feitas. Em março daqLiele m es-
mo ano recebeu a resposta onde Dini lhe inforn1ava qu e ouv ira d o cardeal
Roberto Bellar111i110 - jesuíta, o teólogo mais respeitado e influente da Igreja,
consultor d o Santo Ofícjo e resp onsável p ela condenação de Giord an o Bruno
à morte - que p od eria escrever ]jvremente sobre Física e Matemática desde
que n ão se envolvesse em interpretações teológicas da Bíblia. No mesmo
mês, Galileu recebeu a notícia de que um monge carmelita de Náp oles, Pao]o
Anto1uo Foscarini, havia escrito um livro em s ua defesa e também de Copér-
nico. O livro de Foscarini pode ter sido o fator cru cial na d ecisão de Galileu
d e continuar su a luta cm d efesa de Copér1tico. Escrevct1 a Di1ú dizend.o q ue
o siste ma copernicano era. verd adei ro e não somente uma hipótese e se recu -
sou a qualquer comprom isso.
Em 12 d e abril d e 1615, BelJarmino escreveu uma carta ao p adre Fosca-
rini, mas dirigindo-se à Galileu, onde apresentava sua opinião sobre o livro
de Foscarini. Vou citar apenas a lg t1ns trech os. A carta completa encontra-se
n,o livro de Drake.
Segundo, conden ava e pro ibia o livro d e Foscarini. Terceiro, su sp endia a cir-
culação d o livro d e Copérnico a té que fossem feitas correções e revisões (as
quais só fo ram concluíd as em 1620). Q u.arto, censurava liv ros análogos (sem
dizer qua l era a a.n alogia). Em geral, a lingu agem d o decre to era vaga e o
nom e d e Galile u não foi m en cion.ad o. A lg uns dias d ep o is Galileu teve uma
audiên cia com o P a.p a, n1as o conteúdo p reciso d essa re uni ão n ão é conheci-
d o . Ao m esm o ten1po, Galile u recebeu cartas de amigos dize·n do que h avia
rumo res de que ele h.avia sido conde11ado pela Inquisição. Para acaba r com
esses rumo res, obteve d o Cardeal Bellarn1ino um certificad o dizendo que n ão
teve que a bjt1rar suas o piniões e nen1 execu tar p enitên cias. Não h.avia sid o
condenad o pela I11qtrisição, a penas 11otificad o de que não p od eria d.efender
a d o utrina he li ocêntrica. Neste m esm o a no, p orém, o impressor d o liv ro de
Foscarini foi en carcerado e o atttor m orreu e111 circu11s tân.cias obscuras.
E1n 1618, o p adre H o rácjo Grassi (já m encio nad o anteriorm ente) publi-
cou Ltm tra tad o o nde dizia que os com e tas se m ovia1n e m ó rb itas circula res
com o os pla11etas, a um a d is tâ11cia muito m aior qu e a d a Lu a, e ci to u Tych o
Brahe. Galileu ficot1 fur ioso p or não ter sido citad o e desacreditou Grassi
dizendo que os com etas n ão eram objetos reais, m as fenômenos ópticos cat1-
sad os p ela refração da luz do Sol nos vap ores atm osféricos. Disse que os co-
m etas podia m se d issolver em p ou cos d ias e não tinham un1a fo r·m a defini -
d a . Com en tou tambén1 que Grassi e T)1cho n ad a enten d iam d e Astron o m ja.
Um a outra razão pa ra Galile u d esacre ditar a existên cia d os com e tas era qt1e
su as órbitas 11ão podi a1n ser conciliad as com círcLtlos. Em m aio de 1619, ele
p ublicou Disci,rso sobre Co,nctas, uma crítica ao padre Grassi, m as o fez em
n o m e de set1 di scípulo Mari o Gu id u cci. G rassi replicou sob o p seudônimo
de Lotha rio Sarsi e, d,c ixando de lado G t1id u cci, lan çou um ataque d ireto
contra Gali leu . Por su a vez, Galileu d en1o ro t1 d o is a nos escrevendo a resp os-
ta e o fez n a forma d e uma carta di1·igida ao seu amigo o m o11Senhor VirgJnio
Cesa r-ini. A carta, conside:r ada uma d as 111aiores po lêmicas escrita 11as ciê11-
cias físicas e ch am ad a de o m anifesto d e Ga lileu., fo i p t1 blicad a em 1623 com
o titulo li Saggiatore (O Ensaiad or). SegL1ndo Drake3, essa ob ra m a rcou u1n
p o nto crucial 11a histó ria d o pensam ento d e Ga lileu. An tes, ele faJo t1 com o o
cientista experimental; de p o is falaria com o ltm teórico. este tra balho fala
com o o fil ósofo d a ciên cia.
Logo 110 in.ício d o liv ro, Ga lil eu reclam a d aqu eles qt1e querem ro u -
ba r-lhe a g ló ria . A m ai o r p a rte d o tex to co11siste em refutações d a quilo
que for a escrito p o r Grassi, m as no m eio d e a firm ações sa rcásticas Sttr-
gem trecl1 os a presentan d o u ma n ova co11ce pção d e Ciên.cia e Filosofi a.
Ele diz que p ara a Filosofia se tornar Ciên cia, ela d eve se livrar d o jugo
d a autoridade e que a Filosofia verdadeira d eve se basear na observação,
raciocínio e uso d a. Matemática. O filósofo deveria se contentar em per-
seguir objeti vos limitados, procurando entender gradualmente as leis da
Natureza. Escreveu :
Flore nça, d esd e que se confor masse às instruções enviadas por Riccardi. Su-
p ondo que isto lhe d a\ a o direito d e dizer que tivera a p ermissão d e Riccar-
1
Diálogo
O Diálogo sobre os dois ,11á.tin1os siste,nas do r11itrzdo ptolo,na ico e coper11i-
cano é uma d e fesa do siste·m a d e Cop é rni co. É este o propósito do li vro e
n ão o d e apresentar uma nova ciêr1 cia d o m ovime11to (o que acontece 11 0
Discurso). Alguns hi storia.dores afirmam n1esm o que a carreira científi ca
d e Galileu foi uma ba talha a favor d esse sis te ma. Ele n ão discute n o livro
os aspectos técnicos e as dificuldades matemá tica.s do sistema coper11ica-
no; seu objeti vo não é introdu zir o mod e lo, m as re m over as objeções a e le.
E mbo ra faça a teori.a he liocêntrica parecer mai s pla ttsívcl, não prova real-
rne11te sua valida d e. Ele n ão se oct1pa muito com deta lhes, fa la d e órbitas
circulares sem fa zer qualque r re fe rência d e q tte o m o d e lo copernica110
exigia. o u so d e epicicl os e excêntricos (assin1 o que ele chama d e s jstem a
cop ernica no n ão o é de fa to). Afirma que não pretende pro \rar a n1obi-
li.dade d a Te rra m as somente m ostrar qt1c, d os arg umentos d e in1obili-
dade 11ada se pode provar. O Diál ogo n ão é un1a o bra d e A s tro 11.on1ia (as
questões técnicas e m ate111á ti cas são e \1itadas ) e nem t1m tex to d e Fís ica.
Os resultados c n1 re lação ao movimento d os corpos, obtidos por Ga lile u
.n o in ício de Stta carreira científica em Pádua, s ão a presentados sem uma
orden ação s is temática e d.e maneira esp ars a. Ele apresenta d e n1an eira
resumjda, e sem d e m on stração, 1na tc1·i a l que ser á trata do em d e tall1es n o
Discurso. A obra se ca ra cteriza pe la crítica re pe tida ao princípio da a uto-
ridade e a ênfase 11a aplicação d a Matcn1á ti ca ao estud o da · a tL1reza. Se-
g t111dos a lg t1ns es critores hav ia na ép oca de Galile u uma se paração entre
em movime11to re to. Ele prete·n dia, assitn, atacar a mencionada dico tomia d e
Aristóteles entre o céu e a Terra, mostrando que 11ão só o m o,,imento circular
podia acontecer na Terra, n1as que o movime11to reto também poderia ocor-
re r 11a região celeste.
A seguir esc1·eve que a Natt1.1·eza, para co11fe rir a um móvel, qtte a n-
tes estava e m rep o uso, uma d e te rmin ada velocidade, ela faz cotn que ele
se mo,,a p o.r algttm te mpo e m t1m m ()\timerlto re to . O mo,,ime nto circul a r
jamais p oderia ser adquirido ·n a turalmerlte sen1 o m ov imertto reto prece-
d ente, ma s tt1n a vez adquirido corlti11t1aria p e rpe tt1amente com velocida-
d e unifo rme. Afirma que: ''o movi111c11to re to ser,,e para g uiar a maté ria
na construção da obra, n1as uma ,,ez construída, ou fica imóvel, ou, se
é 1116vel, move-se circularmente''. Po t1co d e pois conti11ua : ''Tod o corpo,
constitttído e n1 um estado de repouso, n1as que por st1a na tureza seja
capaz de movimento, quando coJocado em liberdade m over-se-á, sempre
que tc nl1a por 11a tureza uma te ndê11cia a u111 lugar particular qLtalqucr ''.
U m corpo não pod e, portanto, segt111d o ele, simpl esme n.tc se afastar d e
un1 lugar, m as some nte se dirigir para un1 lu gar. Diz que d o is co rpos tê m
as mesmas ve locidad es quando os espa ços pe rcorridos tê:m a mesn1a pro-
p o rção que os tc1npos nos qt1ais são percorridos. Notem os que o te rm o
·v elocidade não tinha p ara Galileu o sig11ificado técnico qu e ele tem hoje.
Como já foi m e ncionado, Galilet1, como o utros, nã o acl1a va possível dj-
,,idir um comprime11to por um inter va lo d e ten1po . Ele raciocinava sobre
o quocie nte d e duas \rclocidades sem, contudo, d efi11ir velocidade com o
hoje o fazemos.
Outro ten1a dessa jor11ada é um estudo ex tc11so sob1·e a Lua. Ga lileu
analisa s ua superfície e a manei ra com o ela reflete a luz, e p a ra fa zer Isso
discute a física da reflexão. Faz tan1bé n1 comparações e nt.re as propri eda-
des da Lua e da Terra. Escreve que a Ltta e a Terra ilumin a1n-se 1nutua-
mente. Ele l1a via verifica d o, usando o telescópio, qtte existe uma ilumina-
ção secundária 11a superfície escura d a Lt1a, qu e e le expli cot1 como sendo
a ltl Z do Sol refl e tid a pela 1crra. Mostrou assim qu e a Terra dev ia brilhar
como os outros pla11etas e a própri a Lua, 11ão p orquê ti11h an1cluz pró pria,
ma s por refle tirem a luz sola1·. Rcafi1·ma a tese d e que não 11á dife re nça de
11atureza entre a Terra e os de n1ais corpos celestes . En1 res um o, a i1nutabi-
l1dade do céu fo ra destruída.
Na segunda jornada, Galile u coo1eça fazendo vários comentários so-
bre Aristóteles. Diz que, se Aristóteles estivesse vivo e visse as 11ovidades
d escobertas 110 cétt certamente mt1daria de o pini ão e corrig iria set1s Ii,,ros.
Comenta que, com o telescópio, se viam coisas que Aristóteles não podia.
Louva o filósofo e diz que se deve estudá-lo, mas censura quem subscreve
cegamente cada afirmação dele como se fosse um decreto inviolável, isto é,
distingüe entre Aristóteles e o aristotelismo.
Em seguida, estuda o movimento: caracteriza o movimento com relação
a objetos que não participam desse movimento e o repouso co.m rela.ç ão a
objetos q.u e participam do mesmo movimento. É importante observar que
para Galileu o movimento é extrínseco à natu.reza das coisas, porque é de-
finido apenas como uma modificação das relações entre as coisas que não
têm sua co.n stituição natural modificada. Desse modo, movimento e repouso
são simples estados dos corpos. Essa definição elimina, porta11to, a distinção
ontológica aristotélica entre re pouso e movimento . .Esses conceitos passam
a serem relativos: só podemos dizer que um corpo está em movimento ou
e m repouso em relação a outros corpos. Na concepção pré-galileana o mo-
vimento e ra considerado como uma espécie de processo de mudança que
afetava os corpos submetidos a ele. Galileu i11terpretou o movimento como
uma esp écje de ser, não como um processo. Refutou, como outros o .h aviam
feito, a cc)ncepção aristotélica de que um corpo só se m ove se algum age11te
o m over. Afirmou gue o m o,;imento ·perseve.r a e 11ão precisa de agente. Vem
então uma parte importa11te onde a11a)isa os movimentos do nosso plane ta.
Afirma que não conseguimos pe rceber os tnovimentos da Terra e conclui:
corpo de continuar seu movimento p ela tangente for maior do que sua ten-
dência de cair para o centro da Terra, conclui. Tenta a seguir demonstrar, er-
roneamente, que nen_huma velocidade tangencial, por maior que seja, p ode
su.perar a tendência natura l de dirigir-se para o centro, p or menor que seja.
No final do estudo sobre a ex.trusão ele escreve:
obervada em 1838 pelo astrónomo alemão Friedrich Bessel, mas, por então,
a teoria l1eliocêntrica já estava bem estabelecida.
Para o n1ovimento d,a Terra em tor110 do Sol ele nova1nente apresentou
argumentos de sin1plicidade, a variação da distâ11cia dos planetas à Terr·a, as
fases de Vê11us, etc. Apresentou ainda algt11nas razões plausíveis para esse
movimento da Terra. Entre elas a afirmação de q,ue a Terra está posicionada
entre Vénus e Marte qt1e realiz,a vam revoluções orbitais. O pe.ríodo de tim
a11:o da revolução orbital da Terra é intermediá.rio entre os períodos de nove
meses e de d ois anos de Vênus e de Marte, respectivamente. São todos argu-
mentos plausíveis, .m as rigorosam ente n ada provavam. Júpiter ter satélites
indica\ra apenas qt1.e havia no sistema solar corpos que não giravam son1ente
em torno d a Terra. A existência das fases de Vênus era compatível com a teo-
ria av·e ntada por Tycho Brahe. Em segt1ida faz uma di scussão longa sobre as
manchas solares, afirmando, incorre tame11te, que foi o primei1·0 a descobri-
las. No final dessa. jornada, Galileu discute as idéias de Gilbert sobre o mag-
netismo terrestre e descreve experiências com a calamita. Suas investigações
sobre o magnetismo d ão mais uma mostra de sua capacidade de observação
s is tem ática e da a pli cação d o m é todo experime ntal.
Na quarta jornada, apresenta o que e le acredita va ser a prova d efi-
nitiv a do siste ma d e Copérnico (e este é o objeti,10 principal do Diálogo):
as marés só pode riam resultar do movimento combinado d e rotação e
translação da ~ferra. A teoria esta,1 a errada e aq ui vou apresentar apenas
t1m bre\re resumo.
Consideremos t1m ponto na superfície da Te rra. Ele tem dois movime11-
tos: a rotação diária em torno do eixo d a Terra e a rc,,olt1ção anti ai em tor-
n.o do Sol. Segundo Galilett, à noite, os dois mov imentos se somam, de dia
eles se subtrae1n. Assim a ter-ra firme mo\,e-se mais depressa de noite e n1ais
devagar de dia. Como resultado, a ágtta fica para trás de noite e move-se
para frente de dia. (O erro de Galileu foi considerar o mo,,imento da Ter-
ra em relação às estrelas fix as e o mov ime11to da água em relação ao eixo
da Terra). Mas essa cau.sa primária 11ão é suficic11te para prodt1zír as dttas
marés diárias. Ga lileu se vít1 obrigado a introduzir causas sectmdárias que
afetariam o efeito primário. Um desses efeitos ele associou ao movimento
de utn pênd·u lo: a água realizaria uma série de movimentos alte1·nados de
ida e volta, como acontece com o pêndulo, antes de alcançar o repouso, e a
freqi.iê ncia desse movim.ento dependia da proftu1didade do mar. Galile u cri-
ticot1 aqt1eles que atribuía m a cau sa. das marés à Lua, mas devemos lembrar
qt1e ele procurava uma explicação mecanicista, e a influência da Lua soava
A1---+---+---~~--------~-----º~
e E
F
B
Esse argumento não prova qLte ''os corpos caem com a m esm a velocida-
d e'', apertas refuta a afirmação d e que a velocidade d e queda é proporcio11aJ
ao peso, gue em si já é uma afirn1ação estranha, pois a velocid ad e aume11ta à
medida qt1e o corpo cai . Pouco d epois Salviati co11clui: '' .. durante uma qued a
Salviati diz, então, qt1e o m esm o acontece com as cordas da cítar a, isto
é, ttma corda vibrando colocará outra e m 1novimer1to não somen te quando
as d t1as estão em un'Íssor10, mas mesm o qua11do diferem uma d a o utra por
um oitavo o u um quirtto . Colocando em vibração a corda de uma vio la e
a proximando d ela um cálice d e vidro fino co1n o m esm o tom que aquele da
corda, o cálice vibrará e ressonará at1dível. Finalmente há uma discussão de
com o a freqüência de ttma corda vibrando d epende d e seu comprin1e nto e
como percebemos o som. A descrição deixa claro que Galileu. acreditava que
o som se propagava no ar com o ondas.
Na segt1nda jornada, Galileu estuda principalmente a causa da coesão dos
materiais. Vou escolher apenas algumas das afirmações dele para ilustrar.
Galileu diz então que qt1.alquer pessoa pod e inventar um tipo arbitrário
de movimento e disct1tir s uas propriedades, mesmo um movimento que não
exista n.a Natureza, mas que ele d ecidiu considerar o fenômeno de corpos em
queda livre com uma aceleração que ocorre realmente na Natureza, e fa zer
essa d efinição d e m ovimento acelerado exibir os feitos essenciais dos m ovi-
mentos acelerados observados.
Uma coisa é d efinir o m ovimento uniforme m ente acele rado e d e-
du zir as leis d esse movimento . Outra é afirmar que um corpo em queda
liv re tem esse movime nto . Podia não ser verdade, como d e fato n ão o
é quando consideramos um corpo caindo d e grande a ltura, pois a ace-
leração da gravidade varia com o inver so do quadrado da distância ao
centro da Terra. Galile u p a rtiu d o pressupos to d e que a Natureza se
comporta da maneira mais simples. Ele faz então a seguinte d efinição:
Um movimento é chamado d e uniforme m ente acelerado qua ndo, par-
tindo do re p o uso, ele adquire, dura nte inter valos d e tempos ig uais, in-
crementes igu a.is d e velocidade.
Sag.red o apresenta uma objeção argumentand o que se ta l fosse o caso, a
velocidade d e um objeto, partindo d o repouso, passaria por tod os os valores,
não importando quão pequeno. No início, como a velocidade é proporcional
ao tempo decorrido, o objeto se m overia com uma velocidade tão peque-
na que seria necessário um tempo extremamente longo para ele percorrer
foi totalmente usa da . Ela não é m ais suficiente para suplantar o peso d a
p edra, ape nas ig ualá-l o; tudo que pode fazer é retard ar o estágio inicial
d a d escid a natural d a p edra para o chão. Então a pedra cai, d e início len-
tamente, d evido ao ímpeto oposto, u1n a. porção d o qual ain.da permanece
ne la, m as qu e diminui, e é cada vez rn ais superado pela gravidade. Em
segu id a, comenta que quand o seguramos um.a p edra em nossa m ão a
única coisa que fazem os é d ar-lhe uma força impelindo-a p ara cin1a igu al
à potência d a g.r avidade pu.xand o-a p ara b aixo. No te que esto u u.sando
exatamen.te as palavras u sad as p or Galileu p ara d ar uma noção d as idéias
dele sobre o co11ceito de movimento.
Salviati diz qu.c o m om en.to n ão é adequad o p ara uma i11vcstigação
d as causas d a aceleração, pois vá ri as idéias fo ram apresentadas p or vá-
rios fi lósofos. O pro pósito d o A utor (110 caso Galile u), 110 m omento, é
in,,esti ga r e d em on strar algumas das pro pried a.des d o m ovime11to acele-
rad o (quaisquer q ue sejam as cau sas d ele), significando um m ovimento
tal que a velocidade aumenta, a partir d o rep ou so, em prop orção simples
ao tempo. Em seg uida, diz q ue o A utor cometeu um erro 11.0 passado
ao imaginar que no movimento ltniforn1em ente acelerad o, a velocidade
aumentava em pro porção à d istân cia p ercorrid a. Demo11stra porqu e jsso
é impossível: se as velocidad es fossem p ropo rcior1ais às d istâ11cias pe r-
corridas, as distâncias seriam percorridas tod as em intervalos de tempo
iguais, o que resultaria é que, por exemplo, um corpo que h ou vesse caíd o
oito braças levaria o dobro da velocid ade (1ue levaria o mesmo corpo se
h ou vesse ca ído t1uatro braças, com o que p od eria caj r oito braças o u qua-
tro braças 110 m esm o i11terva]o d e tempo, o que não é o caso, como mostra
a observaçã·o d e um objeto cm queda li v re .
Ao fal armos de movimento uniformeme11te acelerado, a aceleração
pode ser uni fo rme em relação ac) tempo ou à d istâ11cia. Poderíamos ter, v oc
t , ou v oc d, ambas rep1·esentando incrementes que se repetem sempre d.a
mesma maneira: o mesmo increm,ento da velocidade em inter valos d e tem-
po iguais, ou o mesmo in c1·emento em distâncias iguais. Galileu excluiu a
segunda relação alegando uma inconsistência lógica, mas o raciocínio dele
é falacioso, ele faz confusão entre velocid ade média e velocidade instantâ-
nea. Não existe inconsistên cia lógica 110 argumento apresentad o, o proble-
ma é que a relação ,, ex: d impli ca em uma força proporciona] à velocidade
e é, portanto, inco,m patível com a suposição de um corpo começando d o
rep o uso. Já a primeira relação corresponde a uma força consta11te. Ga1ileu
faz a seguir a seguinte suposição:
e Figuro 4.2.
Figuro usado por Galileu poro
G.------,A
demonstrar o Teorema 1.
F B D
A H
.
Figura 4 .3.
.L Figuro usado por Galileu poro
O. D der11011stror o teorema 2 .
• •
p_ E ••
F M
G .
••
.
••
N
.•
.•
.
•
• •
••
1
e B
'\.. ~
Uma réplica desse instrumento, co.r1struída mais tarde, encontra-se r10 Mu-
seu da História da Ciência, em Flore11ça. Notemos, uma vez majs, qL1e Galileu não
calculava velocidades em função do tempo, mas comparava razões entre veloci-
dades com. razões e11tre intervalos de tempo. Ele acreditava que a demonstraçã<)
que havia dado para a bola que rola po1· um plano inclinado devia ser \rerdadeira
para Lima bola em queda livre. De acordo com sua suposição, rolar por ttm p.lano
i11clinado equivale a cajr vertical1nente da mesma altw·a para efeito de \1elocidade
m.á xima alcançada ao nível do cl1ão. O ú.11ico efeito do plano inclinado seria o d.e
retardar o movimento, tomando possível que medidas pudessem ser feitas. Mas
no caso limite da queda livre, a bola 11ã<) rola no seu movimento de descida, como
ela o faz ao longo de plano inclinad<), um fato que GaJjJeu não m enciona. Não é
óbvio que a experiência com o plano inclinado mostrasse que a queda livre é uni-
for111emc11te aceJerada, embora fosse este o caso para a bola rolando.
Figuro 4.4.
e d e b a Figuro usado poro
o
demonstrar o teorema do
9 movimento composto.
.---~t-------+----+----~n
velocidade até que a resistência iguale o peso que puxa o corpo para baixo,
e ele passará, então, a cair com um m ovimento uniforme. Se dois corpos em
queda têm o m.esmo tamanl10 e a mesma forma tais que a resistência do ar
é a m esma para os d.ois, o mais pesado será acelerado por um tempo maior
porque tem m aior p eso. Ele continuará a acelerar até que a resistência do ar
iguale o seu peso.
Mesmo o movimento horizontal, que sem resistência seria uniforme,
cessa devido à resistência do meio d epois de algum tempo. Galileu concluiu
que é impossível dar uma descrição exa ta para todos os casos e escreve:
''p ara tratar esse assunto de t1ma maneira científica é necessário nos livrar-
mos dessas dificuldades e, tendo descoberto e demonstrado o teorema no
caso sem resistência, usá-lo com as limitações que a experiência nos ensi-
nar''. Ele volta ao estudo de composição de movimentos enunciando seu
segundo teorema.
A de.m onstração, usando a fig ura 4.5, é como segue. Suponha que nb
represente o deslocamento verti cal, enquanto bc representa o deslocam ento
qt1e, no mesmo intervalo de tempo, ocorreria na horizontal . Se as distâncias
ab e bc são percorridas d urante o mesmo intervalo de tempo com movimen-
tos uniformes o n101ne11ta correspondentes estarão na mesma razão como a
distância ab está pa ra bc. Mas o corpo sob esses dois movimentos descreve
a diagonal ac; seu 1110111enf l1111 é p roporcional a ac. O quadrado de ac é igual à
soma dos quadrados de ab e bc. Então o quadrado do 1nome11t1,11n resultante é
igual à soma dos qu adrados dos dois 1non1e11tn ab e bc.
Figuro 4 .5 .
a
Movimen to resultante de
dois movimentos uniformes.
Pela de1no11stração, fica claro que Ga lileu não ti11ha u.ma idéia muito
precisa do que fosse o 111on1e11.tut11 de um corpo. Essa palavra é usada muitas
vezes como um termo 11eutro que difere segundo o contexto em que é utili-
zad o. Ele tan1bém não sabia como medi-lo. Is to fica claro qua11do e le escre\1e:
''Imaginemos un1 corpo que se move com um mo1ne11ti,111 uniforme de 3'' . Na
d cm or,s tração, ele supõe que o n10111e11tu111 é proporciona l à distância percor-
rida pelo corpo (que só é verd.ade para movime·nto tJ11iforme). Para estudar
composição de mov i111e11tos 011de um deles é en1 queda livre, Galile u faz a
suposição d e que a velocidade aumc11ta diretamente com o tctnpo de queda
e propõe empregar con10 ''padrão d e velocidad e'' a velocid ade te rn1inal d e
um corpo caindo livremente de uma altura tal que o corpo cl1ega.ria ao tér-
mi110 da queda com a velocidade desejada, pois, escreveu, esta velocidade
aun1e11ta d e acordo con1 a mesma lei em qualqt1er lugar do mt1ndo. Para ele,
toda velocid ade l1orizo11tal conferid a artificia lmente a t1m corpo correspon-
de à uma altura a pa rtir d a qt1al o corpo d everia ca ir livremente d e n1od o a
adquirir wna velocidade vertical ig ual; p a ra e le a queda era a (1nica fonte de
movimento n atttra] . Ele escreveu:
Usa como exemplo uma lança atirada contra u,m inimigo corre11do.
O efeito causado será proporcional ao valor da velocidad e do projétil que
Conclusão
Existe uma grande djscussão sobre o papel desempenhado por Gali-
leu na criação do método científico na Física. Vimos sua contribuição para
a Astronomia e sua luta a favor do sistema de Cop érnico. Em relação ao
estudo d o movimento ele fez Lima unific.a ção das idéias dispersas e1n uma
formulação matemática única, apresentada como tlm sistema coerente de
proposições. Ele teve algumas contribuições originais, como a decomposi-
ção do movimento em duas componentes. Alguns historiadores fazem uma
imagem dele como um cientista moderno, que rompeu com a tradição, en-
quan.to que, ou.tros o vêem como um inovador, mas ligado ao pensamento
medieval e renascerltista, visto que ele não ro mpeu de vez com os princípios
aristotélicos, não chegou a uma definição precisa do conceito de velocidade,
nem quan.tidade de movimento e força.
Uma qt1estão muito debatida é se Galileu realmente execLttou ex peri-
1nentos, e se o fez, com que p1·opósito. Tudo indica que ele realizou experi-
mentos quando esteve em Pádua. No entanto, em seus textos não apresentou
uma descrição das experiências reali2adas junto com os dados obtidos. Ele
apresentou as experiências para confirmar idéias, e não idéias obtidas de
experiên cias. Apare11tem ertte, ele considerava exp e riên cias primariam e 11tc
com o disp ositivos p ara conven cer os o utros d a verdad e de su as conclusões.
Insistiu que de uns po u cos experimentos po ctia-se tirar co11clusões, que iam
be m além d eles, sem a necessida de d e exp erime.11tos ulteriores. Ao que pa-
rece acreditava que, qua11do sabia em quê um expe rimento ia rest1ltar n ão
haveria necessidad e d e fazê-lo realmen te. No D iálogo ch ega m esm o a afirm_a r
que o rest1ltad o corre to d eve ser m antido, mesm o em face d a evid êncía d os
sentidos (na forma de experiên cias o u o bservações) que p odem ser antagôni-
cas. A cre11ça de que Galileu p e 11sava que 11ão era r\ecessário recor rer à expe-
riên cia p ar a se chegar à -v erdad e, e de que as exp eriências d esempenharam
um p ap el secundário em suas p esquisas, levou a lg u11s histo riad ores a con-
siderá-lo ttm platô nico. A p o ntam ta mbém q ue n o Diálogo é Simplício q u em
d e fe nde o ato d a observa.ção, enqu a11to que Sa]viati, fala11do po1· Galileu,
nega experiências sensoria is a favor d o racioánio. Essa visão é co11testad a
p or ou tros histo riado res que afirm a1n que G alile u era um cxperim e11tad o r
J1abil idoso e os seus resultad os são constru ções racio nais basead as cm exp e-
riên cias analisad as minuciosam ente. Ele combino u a visão m aten1ática d o
n1undo com a visão empírica obtid a pela observação e cxp eriê11cia . O d eb a te
cor1tinua e m aberto. a verdad e a disputa é en tre os empiristas q u e to m am a
experiên cia com o a fonte m ais importan te d o conhecimento e os racionalistas
qu.e con sideram o raciocínio puro com o tend o este pa.p el.
ão há dúvid as, no e11tc1nto, qtte no in ício d e s ua carrei ra cie11tífica Ga-
lile u executou experiências sobre o m ovimento d os corpos e q ue tais experi-
ên cias estavam relacionadas com as s t1as d escobertas. Cohen 1 tnen cion a g ue
em um m anuscrito n ão publi cado, Galileu descreveu experiên cias o nde ele
d eixou cair p esos d esig tta is de um a torre. As 11o tas i11dicam que alg t1mas ve-
zes t1n1a bola pesad a con1cçava a se n1over m ais lenta me nte d o que uma b ola
leve, m as a ultrapassa\,a a.lg um tempo d epois. Ga lilet1 tento t1, sem su cesso,
explicar essa estra11l1a ocorrência. O 111isté1:io foi esclarecido p or TJ1omas Set-
te, em 1983, que rela to u gu c qua11d o t11na pessoa segt1ra d ois pesos d esig ua is,
com os b1·aços esticad os, 11ão é possí,,cl solta r os d o is pesos simultaneam e.n -
te . Evidências fotográficas mostraran1 que a mão segurando o obje to pesad o
abre ttm p ou co d e pois d aque la segt1ra 11do o objeto leve. Cohen con clt1i q ue
essa d escob erta é un1a prova do q t1e Galileu executo u exp eriên cias precisas
e an o to u exata m ente o que observou . E n ão som ente isso, Galileu m ostro u,
ta111bém , que considerações teóricas e con cei tuais e ram importantes p ara a
ai1álise d e um exp erimento, não b astava a cons ta tação de um fato, era neces-
sári.o analisar con ceitua lmente os aspectos cm to rno dele.
que esses princípios expli cavam tod os os fe11ômenos nah.1rais. Para banir
qualidades do universo físico, Descartes teve qtte postular um rei no não
físico, aquele d a n1ente ht1r11 ana. Assim, por exempl o, cor só existia em
nossa mente. A filosofia ca1·tesia11a era um a forma de filosofi a mecar1icista
(esse n ome foi dado por Robert Boyle) segundo a qual o mur1do ina11imado
poderia, para propósitos científicos, ser co11siderado como t1m mecanismo
de relógio e que era possível imaginar um modelo mecânico para todo tipo
de fenôme110 físico. O objeti ,,o da filosofia mecanicista era o d e explicar os
meca nismos escondidos atrás dos fcnômenos. Seu ponto de partida era que
tod os os fenômenos da atureza são produz id os por partículas de m até-
ria em m_ov imento. A incapacid ade dos fi lósofos mecani cistas para tratar
qu alquer con ceito de força a lém da ''força de um corpo em movimento''
foj um obstáculo para a criação de uma teoria matem ática da D inâmica. A.
Mecânica ficou restrita a problemas cinemáticos, cujos movimentos eram
d escritos sem referência às forças que os causavam. Descartes acreditava
que o Cosmo era uma máquina enorme e que todo acontecimento no mun-
do material poderia ser predito pelo cálculo matemático.
Um dos problemas da filosofia natural era explicar as ações transmiti-
das entre corpos que não estavam em contato uns com os outros, tal como
acontecia no Magnetismo e na Gravitação. Descartes se recusava a aceitar
qualquer tipo d e influências ''ocultas'' e assim propôs que qualquer tipo d e
a.ção deveria ocorrer por pressão ou impacto. Os corpos podiam interagir
som ente quando estavam em contato, em outras palavras, ele negou a ação
à distância e, em conseqüência, afirmou que o espaço não podia estar va-
zio. Assim se o ar pudesse ser retirado de um recipiente, aquele recipiente
ainda estaria cheio como antes, e a. substância nele seria contínua, embora
muito mais etérea. Postulou que os interstícios entre as partícL11as que cons-
tituíam os corpos e todo o resto do espaço estavam ocupados com partícu-
las de Ltma espécie m ais sutil, que pressionavam e colidiam umas com as
outras. O espaço era assim ttm plenum ocupado por um meio (o éter) que,
embora imperceptível aos sentidos., era capaz de transmitir força s e exercer
efeitos nos corpos nele imersos; o movimento de uma parte era comu.nica-
d o a o utra pelo impacto. Descartes foi o p .r imc iro a pos tular que o é te r ti-
nha propriedades mecânicas., e que suas partículas estava m continuam.ente
em movimento. Rejeitando a possibilidade de ação à distância, explicava o
movimento circu lar dos corpos celestes em term os de vórtices, dizendo que
existiam imensos redemoinhos circulares, ou vórtices, no fluído qtte enchia
o esp aço, que arrastavam os planetas e os satélites em suas órbitas. Nosso
Sol estava no centro de um desses vórti ccs e os planetas eram arrastados
em torno dele. Os vórti ces ofereciam uma expli cação mecânica grosseira
para os fenômenos celestes (no lugar das esferas cristalinas). Explicavam
porque os planetas giram em torno do Sol, todos no mesmo sentido e quase
.,
no mesm o plano, sem a introdução de forças ocultas. E interessante obser-
var que Descartes aceitou doi princípios básicos da filosofia aristotélica: a
impossibilidade do vácuo e a crença de que os corpos pod iam influenciar
uns aos outros somente pelo con tato direto.
Descartes acreditava que o mundo físico era composto apenas de maté-
ria, cuja natur·eza fundamental era a exte.nsão; extensão constituía matéria e
matéria constituía espaço. A identificação da matéria com a extensão tornou
possível a utilização do método geométrico na ciência. Como, para Descartes,
o espaço geométri co era equivalente à matéria, a ciência natural podia almejar
alcançar o mesmo rigor em suas demonstrações que aquele da Geometria. Ele
acreditava que a matéria podia ser di\ridida em partículas, as quais podiam
su a teoria d os vértices eté reos. Ele era d e o pinião d e que o peso d e um corpo
dintinuia com a sua dis tâ ncia d.o centro d a Terra, mas apresentou evidências
estranhas, com o o '' vôo d os p ássaros'', p ar a essa conclusão. Supôs também
que a fo rça d e atração era in versam ente pro po rcio n.al à distância.
Em 1618 Isaac Beeckman (1588-1637) um professor d e latim holandês,
em colaboração com Descartes, calculou corretam ente o m ovimento d e um
corpo em um ca mpo g rav itacion al constante, supo ndo que a fo rça da g ravi-
dade atuava na forma d e pulsos periódicos. A idéia de subs tituir uma força
contínua por uma série d e pequen os impulsos variando periodicam ente no
tempo p ara tratar m ovi mentos acelerad os foi mais tarde u sad a p or H ooke
e Newto n. Beeckman d esenvolveu uma teoria das causas subjacentes aos
vários fenómenos físicos basead a na idéia de que a maté ria era con stituí-
da d e corpúsculos. As fo rmas, tamanhos e m ovimento d esses corpúsculos
eram resp o nsáveis p elos fenómenos macroscópicos visíveis. Para explicar a
atração mag né tica supôs que o m agne to e mitia corpúsculos diminutos que
afetavam um ped aço d e ferro po r impacto. Afirmou que t1m corpo uma vez
em m ov imento nunca ficaria e m rep o uso a me nos que fosse impelido em
assim o fa zer p o r um agen.te exte rno, mas (p ossivelmente influenciado po r
Descartes) n ão imagino u esse agente como uma força.
Huygens criticou Desca rtes dizend o que su as teorias não e ram confir-
madas pela exp eriên cia. De fato, Descartes se preocupava mais com expli-
cações d o que com fatos . Tentou explicar com o pod eria ch over sangue d as
nuvens (com o era a lg umas vezes afirmado) e como um relâ mpago poderia
se transformar em uma pedra.
Huygens
O fís ico, fi lósofo, matem á tico e as-
tró no m o ho la ndês C hris ti aa n Huygens
(1629-1 695) foi o fundador da teoria o n-
dulató ria da lu z . Ape rfe içoou o telescópio
com um novo m étod o d e polir as lentes,
d escobriu um sa té lite d e Saturno e a for-
ma verd ad eir a d e seus a11éis, dis ting uiu
as co mpo n entes estelares da nebulosa
d e Órion e i11troduz iu o u so d o p êndulo
com o regulador do re lógio. Afirmou que
A matematização da ciência
Alguns escritores afirmam que para explicar o nascimento da ciência
mod.erna não devem.os imagina.r que isso possa ser explicado recorrendo-
se apenas ao procedimento experim ental. Ch amam a atenção, como já foi
mencionado antes, que em um d os d iálogos de Galileu é Si1nplício, o porta
voz dos aristotélicos, quem d efende o método experime11tal de Aristóteles
contra o que é descrito como o métod o maten1áti co de Galileu . Em rela.-
ção ao estudo do mov imento, dizem que o feito mais importante foi uma
mudança que ocorreu no modo de pe11sar. No novo método, o movimento
foi concebido, de início em sua form.a mais si mples, ocorrendo no espaço
geométrico (vazio e isotrópico) onde 11ada interferia com ele. O movimento
era, de início, descri to matematicamente e depois os efeitos que ti11ham sido
d eixad os d e lado, como a resi stência d o ar, eram incluídos. As conclu sões
podiarn., então, ser testadas por experimentos reais: as experiências eram
realizadas com ·u m propósito. Este novo métod o expli ca p orque Bacon,
apesar d o grande número d e experimentos que reaJizou, não teve sucesso
como cientista . Tem sido afirmado que as mudanças surgem não por novas
observações ou evidências ad .icionais no primeiro momento, mas por uma
transformação qtte ocorre na m ente do cientista.
Mesmo Galileu, como vimos, não chegot1 à concepção total do espaço
euclidia110 se,m direções privilegiadas. Por essa razão, não alcançou a for-
mulação correta da lei de inércia, pois ele acreditava que a lei se aplicava ao
movimento circular. É verdade, 110 entanto, que o aparecimc11to d os instru-
mentos científicos no séc XVII, especialmente os ins trumentos de m edidas,
foi um fator i1nportante para o dese11volvimer1to científico.
resultados a partir de cálculos abs tratos insis tia que eles d everiam ser verifi-
cad os experimentalmente. Acreditava que o objetivo da ciência era entender
como a Natureza funci ona e não como ela é. Foi o responsá vel pela m aior re-
volução científica, de impacto não só teórico, m.as também prático. Unificou o
métod o empírico introduzido por Bacon, com o método raciona l proposto por
Desca rtes e, e m assim o fa zendo, d esenvolveu a metodologia em que a cjên cia
passou a fundamentar-se desde então. Seu método combinou d eduções mate-
má ticas com induções extraídas dos resultados experimentais ou observad os.
Para o mundo d e inte resse da maio ria d a pessoas a mecânica newtoniana
fornece resultados corretos. Até l1oje, a abordagem e tratamento d e problemas
mecânicos usa11do essa mecânica ocupa a ma ior parte d os cursos de física in-
trodutórios e é o espírito, se não a subs tância, de muitos cursos avançados.
Áreas tais como a Engenharia Civil, a Engenharia Mecânica e parte da Mecâ-
nica Celeste fazem uso exclusivo d esse formalismo.
Sobre Newton, Edmond H alley (que será mencion ado mais a frente)
escreveu: nenhum mo rtal pôde chega r mais perto dos d euses. E Lagrange
(id em): já que só l1av ia um Uni verso a ser explicado, ninguém poderia repetir
o ato d e Newton, o mais afortunado d os mo rtais. De Alexru1dre Koyré: a gran-
deza si ng ular d a mente e do trabalho newto11iano consis tiLt na combi11ação de
um s uprem o tale nto experime nta l com um supre mo ta lento m atem ático.
Isaac ew ton nasceu e m Woolstho rpe, Ing laterra, e n1 25 d e d ezem -
bro d e 1642 d e acordo com o ca ler1dá ri o vigente, o u em 4 d e jane iro d e
1643 pe lo ca le nd ário e ntão usad o na Itá lia, pois 11aqu e)a é poca a reforma
papa l d o ca le11dá ri o não l,av ia sido ajn-
da ad o tada n a Inglaterra . Seu pa i, um
pequen o fazende iro também ch am ad o
Isaac New to11, fal eceu p ouco depois de
se casar e a lg uns m eses a11tes do nasci-
me nto d o filh o. ew to n n asceu prem a-
tura mente e escap o u da mo rte po r pOLt-
co. Em 1646 SLt a m ãe, Ha nnah, casou-se
corn o re ito r de Nortl1 Witham, o reve-
rendo Barnabas Smith. O pas tor, pelo
que pa rece, não se inte ressou e m receber
uma fa mília já cons tituída e Ne\l\1ton foi
d eixad o com s ua avó m aterna. Segt1n-
dos a lg uns his to ri ad ores, essa sepa ração
Isaac Newton trat1má ti ca pod e ter sid o a cau sa d e s uas
tradição hermé tica que procurava explicar os fenô.m e11os naturais em termos
da Alquimia e d e conceitos mágicos. Esses d ois mundos, opos tos entre si,
estiveram sempre presentes em seu mod o de pensar. De certa forma ten -
tou em seus trabalhos conciliar a tradição mecânica que lidava com imagen s
concretas, com a tradição pitagórica que insistia n a natureza matemática da
realidade. Durante sua vida, d edicou mais tempo à Alquimia e a Teologia d o
que ao seu trabalho em Física. e Maten1ática. Entretanto, as suas crenças mís-
ticas 11ão atrapalharam seu trabalho científico. Ele nunca negou a existência
d e e11tidades que transcendem a experiência 'h umana, mas acreditava que a
existência d elas n ão era relevante para a explicação científica.
Quando a peste bubônica, que assolava a Inglaterra, atingiu Cambridge
em 1665, o colégio foi fech ado e Newton voltot1 à fazen.da em Lincolnshire.
Lá, realjzo·u experi1nentos em Ótica e Química e continuou a estudar Mate-
m ática. Ele com eçou suas pesquisas importantes sobre Mecânica n o início
de 1665. Ele acred itava, então, q ue uma força interna a um corpo o mantinha
em m ovim ento. Ele se dedicou, d e início, ao estudo de colisões d e corpos
rígidos e d o movimento circt1lar. Conco1·d ava com Descartes que um corp o
cm m ovim ento c.ircu]ar tinha uma tendê11cia d e se afastar do centro d e ro-
tação. Este esforço para se afastar do centro lhe parecia ser tuna tendê11cia
interna do corpo em m ovimento. Ele data d e 1666 su a d escoberta d a teo-
ria gra,,itaciona l: in1aginou a gravidade com o estender1do-se a té à órbita d.a
Lua, e comparou a força necessária para manter a Ltta cm sua órbita com a
força da gravidade n a superfície da Te·r ra (m as aqui ele pensou em um efeito
centrífugo e 11ão de uma força centrípeta com o o faria mais tarde). De,v id o
à imprecisão d os dados disp o11íveis, os seu s cálculos con corda,,am apenas
aproximadamente con1 os fatos, e e le abandon ou tudo por (1uase vit1te anos.
Durante esses anos, 111.edidas mais precisas do diâm.etro da Terra e da dis tân-
cia da Terra à Lu a foram elaborad as.
Ne1A1 ton resumit1 seus trabalhos i11iciais e m Mecânica em um artigo que
cham.ou d e As Leis do Movi111e1zto . Neste texto, propôs uma d efinição da quan-
tidade d e movimento circula r - o prodt1to do vulto do corpo (ele só d efiniria
massa e1n 1685) pela velocidade de um p onto que chamo·u ''equador d e ro-
tação'' . Apresento u o principio da conservação do m o\rimento angular p ela
prin1eira vez na l1istória d a Mecânica: tod o carpe.) m a11tém a mesma qu.a nti-
dade de movim ento circt1lar e velocidade tão logo ele não seja perturbado
por outros corpos. Aparentemente, começou seus estt1dos sobre a teoria das
cores também em 1665. A teoria co11tradizia afirm ações fU11damcntais e ne-
gava un1a tradição de d ois mil a nos fttndamentadas no bom senso. A opinião
corrente considerava a luz branca com o simples e as cores como uma m odi-
ficação dela. Newton afirn1ou qt1e a luz branca é heterogênea e que raios d e
cores diferentes são refratados em ângulos diferentes. Ele propunha, assim,
uma mudança radical na relação entre lu.z e cor. Sua idéia era tão revolucio-
nária para a época que não foi aceita. Ele gastou \1á rios anos para estabelecer
sua teoria. Em março d e 1666 retornou a Cambridge, mas em junho, devido
à peste, afastou-se pela segunda vez.
Em outubro d e 1666, Newton concluiu um tratado onde apresentava
a idéia d o que hoje chamamos de cálculo infinitesimal. O trabalho usava a
Geometria Analítica e a idéia de qtte uma curva é a trajetória d e un1 p onto
em m ovimento. Denominou esse método d e fluxi onal (originando do latim
fluere, qtte significa fluir). Introduziu o conceito d e velocidade i11s tantânea
definindo-a como a razão d e duas quantidades tendentes a zero (distância
infinitesim.a l percorrida num ins tante de tempo). A velocid ade instantâ nea
é o valor limite d e uma seqüência de velocid ad es m édias para intervalos
d e tempo cada vez m enores, cuja dttração tende para zero. Ge11eraJizou o
seu métod o observando que era possível calci1lar a razão d e quaisquer duas
qua11tidades infinitesim ais. Usou p e q para expressar as velocid ad es ins tan-
tâneas d.c x e y, onde (x, y) representarn as coorde11adas de um ponto d e uma
curva.. Mais tarde mudou a 11otação: x passou a indi car a fluxã o de x. Foi
o primeiro a reconhecer que o método p ara calcular a área abaixo de uma
curva, chamado d e método das quadraturas (hoje integração) era o inverso
d o n1étodo d o cálculo da tangente à cur,,a (diferenciação). No tra tado, a.p re-
ser1ta tambérn o seu m étodo d e expansão 'b inomina l.
Quando o Trinity College foi reaberto em abril d e 1667, Ne\'\rton ob-
teve o cargo d e pro fessor (cm 7 d e junho d e 1668 obteve seu g rau d e
Mestre em Artes) e d ois a11os 111ais tarde tornou-se professor lucasiano d e
Matemática, su cedend o seu antigo professo1· Isaac Barro\,v (lucasiano é o
no me dado à cátedra, octipad.a p or um m ate m á tico eminente, criada pe lo
m embro d o p arlamento Henr,y Lucas em 1663). Os estatutos d o colégio
ex igia.m que os me mbros d o corpo d ocente fossem ordenados no cle ro
anglicano no pra20 d e sete an os, a co11tar d o recebimento do diploma de
m estre . Mas, antes que isso acontecesse, u .m a dis pensa em caráte r perpé-
tuo para o ocupante da cátedra lucasia na liv ro u Newton da ord en ação.
Ele negava a Santíssima Trindade e acredita\ra que Jesus Cris to era ape-
nas um. intermediário entre Deus e a humanjdade. Manteve suas crenças
em segred o, p ois se e las viessem a pú.b lico p erderia s ua cátedra em Cam-
bridge. No inverno d e 1669, construiu o prjme iro te lescópio d e reflexão.
Figuro 6. 1. A
Diagrama de Newton em suo corto D B
poro Hooke poro demonstrar o
rotação do Terra.
E e
Figuro 6.2.
Desenhos apresentados no
correspondência de Hooke poro Newton
(a), e de Newton poro Hooke (b).
(a) (b)
B P 1 N
l
H E
e
o
N
e
n D
t-
'
Este livro apresenta uma discussão dos avanços da Física desde a antiga Grécia
até os dias de hoje, dando ênfase aos aspectos históricos e filosóficos em que
eles ocorreram. O livro analisa as influências mútuas que Física e Filosofia tiveram
uma na outra. Procurou-se também ensinar ao leitor como testar idéias, avaliar
hipóteses, apreciar os argumentos de um dado problema no seu justo valor.
Em resumo, ensiná-lo a desenvolver um comportamento objetivo e imparcial frente
às informações recebidas. Mostrar que em Ciência é mais importante saber
pensar do que o conhecimento enciclopédico.
Supõe-se que o leitor tenha alguns conhecimentos de física básica,
mas nenhum conhecimento de relatividade ou mecânica quântica é necessário.
O livro é de interesse particular para alunos de Física, Filosofia, ou mesmo
cientistas que tenham um interesse em História da Ciência.
Ele pode, no entanto, ser lido por qualquer pessoa curiosa que tenha um desejo
de aprofundar seus conhecimentos sobre as idéias fundamentais que regem
nosso entendimento do Universo. O livro foi escrito usando, tanto quanto possível,
referências originais e uma bibliografia detalhada é apresentada.
ISBN 978-85-88325-96-8