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RELATÓRIO FINAL
1. COORDENADORA
NOME: SYLVIA MARA PIRES DE FREITAS
DEPARTAMENTO: Psicologia Centro: CCH
2. DADOS DA EQUIPE EXECUTORA
NOME: SYLVIA MARA PIRES DE FREITAS
DEPARTAMENTO: PSICOLOGIA Centro: CCH
PERÍODO DE PARTICIPAÇÃO: 28/02/2013 A 31/01/2015
3. DADOS DO PROJETO
INÍCIO: 28/02/2013 TÉRMINO: 31/01/2015
PERÍODO DE ABRANGÊNCIA DESTE RELATÓRIO: 28/02/2013 A 31/01/2015
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4. INTRODUÇÃO
Souza (2010) menciona também que, pela sua primeira fase, Sartre foi
classificado como burguês idealista por alguns marxistas, como Marcuse e Luckács;
comenta a menção de Mèszaros sobre a passagem de Sartre do heroísmo abstrato
à presença da dialética na história; a tese de Gomez-Muller sobre a descoberta da
história por Sartre através da crise existencial e ética experienciadas na guerra; a
divisão realizada por Bornheim entre o meta histórico na primeira fase e o histórico
em sua segunda fase, bem como algumas afirmações do próprio Sartre que, ao
mesmo tempo que confirma os momentos metafísico e histórico, também mostra a
unidade entre os dois.
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por conceber essa cristalização do homem pelo marxismo, inclusive por este
despojar-se da subjetividade, que Sartre (2002) considera o existencialismo uma
terceira via para o conhecimento. Como coloca Belo (2008, p. 61):
Acrescentam Melo e Alves (2013, p.97) “que Sartre quer denunciar aqueles
que, extremamente contrários ao idealismo, utilizam-se da práxis como forma de
poder, deturpando, dessa forma, o caráter prático da Filosofia”.
Por isso Sartre (2002) critica a tese marxista de que o ser humano é
determinado pelas circunstâncias anteriores, mais especificamente pelas condições
econômicas. Adverte sobre a não passividade do ser humano e de sua
responsabilidade por suas práxis, pois são essas que superam ou conservam a
história. É através do movimento dialético que o ser humano constrói e transforma o
mundo material e histórico, logo a dialética não pode ser contemplada, haja vista
esta não estar fora de nós, mas vivida por nós. Contudo, este autor menciona que a
história construída pelos seres humanos volta-se contra eles. Se estes objetivam-se
nos produtos de suas práxis, podem neles se alienar quando não se reconhecem
como seus produtores, como sujeitos da história. Somente tendo consciência de si,
que o ser humano pode impedir que as consequências de suas práxis voltem-se
contra ele.
O sujeito não se faz sozinho e nem cria o mundo sozinho. Mesmo que sua
experiência seja singular e irredutível, ao interiorizar o mundo, ele interioriza a
universalidade, e essa é construída em curso, por sínteses totalizantes, assim, o ser
humano constrói a história e a supera. Destarte, Sartre (2002, p. 76, grifos do autor)
coloca que “a pluralidade dos sentidos da História só pode ser descoberta e ser
apresentada para si tendo como fundo uma totalização futura, em função desta e em
Por isso a práxis é negatividade, pois ao agir o ser humano o faz negando o
que lhe fundamenta: o nada. Mesmo que em relação ao objeto visado seja
positividade, esse objeto é o que o ser humano ainda não foi.
O terceiro e último ponto refere-se ao ser humano se definir pelo seu projeto.
Pelo trabalho e pela práxis, o ser humano objetiva-se ao superar uma situação dada.
É da própria estrutura do ser humano o projeto. Lançar-se ao mundo, em direção a
objetivação, traduz a existência. Pelas escolhas que fazemos nos projetamos nos
campos das possibilidades, concretizando alguma, excluindo outras. A estrutura de
base que o sujeito busca superar somente delimita os campos dos possíveis, assim,
Sartre (2002) coloca que é a escolha que deve ser interrogada, pois o sentido e
valores de uma conduta só podem ser apreendidos pela maneira que o sujeito
realiza seus possíveis.
produzindo no campo social a dissolução dos autores dos atos. Conferir aos
coletivos, ao social, às instituições, organizações, etc. o papel de significante,
desconsiderando as práxis singulares, é desumanizar, impessoalizar as relações e
suas produções.
Para Sartre (2002) o ser humano não deve ser determinável por significações,
portanto, compreender a realidade humana não deve se comprometer com o projeto
de estabelecer leis, instituir saberes que determinam a maneira de realizar este
empreendimento. Pelo método compreensivo não nos distanciamos da práxis a ser
compreendida, pois o próprio método não se distingue dela, bem como o que temos
é um conhecimento indireto da existência, uma vez que ao compreender o outro, o
que fazemos é refletir sobre a existência. Desta maneira:
Böechat (2011) menciona quatro condições definidas por Sartre para que
ocorra a reciprocidade: 1o) tanto o outro quando eu devemos ser meios um para
outro; 2o) o outro deve ser reconhecido por mim como projeto, como totalização-em-
curso e o mesmo deve assim me reconhecer, para que integremos um ao outro no
próprio projeto; 3o) que haja reconhecimento da alteridade, uma vez que cada um
faz-se também e a priori, pelo seu projeto singular mas; 4o) que também eu me
reconheça para ele e ele a mim como objeto e instrumento para os fins mútuos.
base do conflito, quando sabemos que o outro nos vê como um meio para atingir o
seu fim. Ao negar o projeto que outro faz para nós, recusamo-nos a tornar
instrumento para seus fins. Assim, podemos reverter a situação, reagindo de
maneira a transformar o outro em instrumento para que conquistemos nosso fim.
Perdigão (1995) coloca que é a escassez do mundo, a insuficiência de bens para
todos em um mesmo campo a ser trabalhado que dificulta as relações de
reciprocidade positiva, imperando as negativas.
Porém, mesmo que o ser humano esteja determinado pelo prático-inerte, pela
história, por ser dialético e o criador dessa, somente ele pode dar um novo rumo ao
futuro predeterminado. Mesmo corroborando com o fatalismo do futuro, não se
isenta da responsabilidade por assim agir. A liberdade persiste no prático-inerte e
justamente por ser livre que escolhe manter a situação no devir. Ademais, é por
existir o prático-inerte que haverá estado a superar.
Retomando o exemplo anterior, não é a divisão do trabalho, por si, que faz
com que o ser humano trabalhe e continue trabalhando isolado ou não. Mudar os
modos de divisão de trabalho, criados e mantidos pelo próprio ser humano como sua
própria realidade, requer que as diversas práticas exercidas por eles em um campo
prático comum sintetizem um modo diferente de organizar o trabalho, um modo que
supere essa divisão
sujeitos, e os una como serialidade, esses ainda continuam exercendo sua livre
práxis.
Perdigão (1995) enfatiza que não há uma fusão de consciências. Cada uma
permanece estanque. O que ocorre é uma identidade na ação, porque cada um
apreende os demais como aquele que atua da mesma maneira que ele. A práxis
individual, então, se reconhece na práxis de todos (interiorização da multiplicidade).
Todavia, o não poder sair totalmente do grupo para não o dispersar e por
saber que foi livre para firmar a sua fidelidade ao grupo; o não estar totalmente no
grupo, pois a função é desvelada na práxis individual e solitária, logo cada um vê o
grupo de fora; bem como, mesmo que a distribuição das funções una mais o grupo,
a ausência de uma mediação direta o favorece a se aproximar dos não agrupados,
da série, sendo atraído por ela; todas essas situações sendo experienciadas singular
e livremente, coloca cada um sobre o olhar de todos do grupo sob um sentido
paradoxal: da mesma maneira que por cada um o grupo é mantido, é também por
eles que a sua dissolução se torna possibilidade.
Para que o grupo continue existindo, é preciso que cada ação dos que o cria
o afirme como tal, totalizando-o em curso, mas as liberdades individuais, suas práxis
isoladas, a possibilidade de um trair os demais, desistindo do grupo, o estressante
trabalho de reorganizar incessantemente o grupo, ou seja, as estruturas inertes
criadas até o momento não são capazes de dar ao grupo o status de ser maciço
frente a livre práxis. Mas mesmo diante a ameaça constante do fracasso da
consolidação do grupo como Ser, este projeto continua sendo perseguido.
Se a práxis comum não foi eficiente para manter tal intento, as estruturas de
inércia são empoderadas, instaurando-se a antipráxis pelo processo que deixa as
ações individuais mais passivas. A práxis-processo, segundo Perdigão (1995), é
uma saída de emergência e desesperada contra a serialidade. São criados códigos
de condutas, leis, normas, estrutura estabilizada do grupo que, como sistemas
fechados, estáticos e rígidos, submetem severamente e ao máximo a práxis
individual. Delineia-se assim, pelos indivíduos que compõem o grupo, um Ser-da-
instituição.
inerte, pois mantêm-se as tarefas e funções para um fim comum, mas o indivíduo a
executa na passividade, como um qualquer, logo substituível por outro qualquer.
Mas para que essa passividade não se iguale a impotência serial, nasce a figura do
soberano, aquele que encarnará a práxis de todos pela controle que realizará pela
sua livre práxis.
Para finalizar, Sartre (2002) afirma que as séries e grupos não devem ser
compreendidos em separado, pois se dão conjuntamente. Todo grupo se origina da
série e totaliza-se em curso para lutar contra ela que, por sua vez sustenta o projeto
do grupo em positivar-se, por ser, por esse projeto, sempre desvelada como
negação, contra o que o grupo luta. Essa relação dialética é a realidade concreta da
sociabilidade.
viver numa determinada sociedade. Desta forma, falar da Psicologia como produto e
produtora de ordenamentos culturais é desvelar, infortunadamente, uma faceta
desumana de psicólogos(as) que, por vezes, empreenderam e empreendem seus
conhecimentos a favor da alienação da práxis em projetos alheios, nos quais as
suas próprias também estão alienadas.
Não obstante, como nos ensina Sartre, o devir humano é condição para
superação de uma situação dada, e como dissemos, tais superações só podem
acontecer através das práxis livres. Assim, a não aceitação da alienação da ação de
psicólogos(as) ao sistema capitalista pode ser compreendido quando,
historicamente, inicia-se o movimento crítico de psicólogos(a) aos saberes e fazeres
disciplinadores da Psicologia. O desvelamento de algumas realidades opressoras é
também mencionado por Lacerda Jr. (2013, p. 218):
passado, esse sendo soberano ao seu futuro, pode-se olvidar que é assim porque o
próprio sujeito fez de seu passado um projeto futuro.
Entre esses temos aqueles que concebem que as singularidades podem ser
diluídas em um Ser-do-grupo, como a composição de uma sala de aula, uma equipe
de um setor de trabalho ou mesmo uma equipe multiprofissional de saúde.
Geralmente esses são grupos que quando constituídos já apresentam uma
característica institucional. Uma classe escolar é assim definida geralmente pela
série/ano que a representa, os(as) alunos(as) são nela alocados(as) por um terceiro
excluído, as aulas geralmente são mediadas pelo(a) professor(a), pelo conteúdo,
materiais didáticos e físicos; os grupos de trabalho são geralmente constituídos por
solicitação do(a) professor(a) e não espontaneamente pelos(as) alunos(as). Dessa
coletividade serial denominada como turma ou classe, mediada por terceiros, pode
nascer um grupo-em-fusão. É comum observarmos este tipo de grupo ser
estruturado pelo que comumente conhecemos como as “panelinhas”.
Espontaneamente, alunos(as) agregam-se para combaterem a solidão e os
percalços da vida acadêmica. Não compreender esse movimento dos grupos é
7. REFERÊNCIAS
CRARY, J. 24/7 – Capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Ed. Cosac
Naify, 2014.
SARTRE, J. P. Entre quatro paredes. (A. Araújo e P. Hussak, Trad.), 2 ed., Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.