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Resenha

SANTOS, B. S. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In:
Revista crítica de Ciências Sociais, nº 63, 2002. Disponível em:
http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Sociologia_das_ausencias_RCCS63.P
DF

APRESENTAÇÃO DO AUTOR

Boaventura de Sousa Santos nasceu em 15 de novembro de 1940 em Coimbra. É


Doutor em Sociologia do Direito pela Universidade de Yale e Professor Catedrático da
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Distinguished Legal Scholar da
Universidade de Wisconsin-Madison e Global Legal Scholar da Universidade de Warwick.
Possui uma extensa publicação sobre globalização, sociologia do direito, epistemologia,
democracia e direitos humanos, tanto em Português como em espanhol, inglês, italiano,
francês. Tem como principais temas de pesquisa a epistemologia, sociologia do direito,
teoria pós-colonial, democracia, interculturalidade, globalização, movimentos sociais,
direitos humanos. Participa ativamente do Fórum Social Mundial.

PERSPECTIVA TEÓRICA DA OBRA

Sua obra pode ser identificada como claramente pós-colonialista e anti-


capitalista. Dialoga com teóricos como Bloch filiados a corrente de pensamento
filosófico marxista e, embora não cite Marx em momento algum no texto nem nas
referências bibliográficas, pode também ser considerado dentro desta perspectiva ,
principalmente pelo seu engajamento político e posicionamento em relação aos temas
que pesquisa. Possui também uma visão crítica e inovadora com relação aos temas que
aborda.

RESUMO DA OBRA

Em sua obra intitulada “Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das
emergências.” Santos se opõe à tradicional razão ocidental, a qual denomina razão
indolente e propõe uma nova racionalidade, a razão cosmopolita, pois, segundo o autor, a
ciência social tal como a conhecemos hoje em dia não considera a enorme diversidade de
experiências, pelo contrário, desqualifica muitas experiências alternativas. O objetivo da
fundação desta nova racionalidade seria trazer para a cena social experiências
desvalorizadas, invisibilizadas e desperdiçadas. Para tanto, três procedimentos são
fundamentais: a sociologia das ausências, a sociologia das emergências e o trabalho de
tradução.

Neste trabalho de valorização e resgate das experiências alternativas é necessário


ter-se em mente que a compreensão do mundo está muito além do entendimento ocidental
sobre ele, da noção de temporalidade linear e da sobrevalorização do futuro em detrimento
do presente. A racionalidade cosmopolita deve então expandir o presente e contrair o futuro
através de uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências
respectivamente. Além disso, não se pode criar uma teoria geral para dar conta das diversas
experiências e sim deve ser realizado um trabalho de tradução entre essas diferentes
práticas e saberes.

Santos identifica quatro formas da razão indolente, a razão impotente, a arrogante, a


metonímica e a proléptica e afirma a necessidade de desafiá-las. Focalizará, entretanto, na
razão metonímica, que “é obcecada pela idéia de totalidade sob a forma da ordem” (p. 241)
e na proléptica, que é a concepção do futuro apenas a partir de uma noção linear, pois, as
outras duas já vem sendo fonte de debate há mais tempo.

A razão metonímica, por valorizar a totalidade, cria dicotomias, que trazem em si


tanto a simetria quanto a hierarquia, embora a última seja escamoteada pela primeira. Nesse
tipo de racionalidade, o todo não é mais que a soma das partes, mas simplesmente uma
parte colocada como referência para as demais, como se fosse a totalidade. Como
conseqüência disso, teremos negação da limitação da compreensão ocidental do mundo e a
impossibilidade de se pensar qualquer uma das partes sem referência à totalidade, ou
mesmo admitir que essas partes possam ser em algum momento totalidades.

Santos, citando Japers (1951,1976) e Marramo (1995), irá mostrar como que o
Ocidente constituiu-se a partir do Oriente, apropriando dele apenas aquilo que interessava
para a expansão capitalista: o mundo terreno e o tempo linear. Desperdiçou por outro lado
outros mundos e tempos presentes no Oriente. Para recuperarmos as experiências
desperdiçadas é fundamental uma crítica a essa razão metonímica, fazendo-a coexistir com
outras totalidades heterogêneas, entendendo que as partes que a compõe têm vida própria
fora dela e devem, portanto, ser pensadas fora das relações de poder que as vinculam de
forma dicotômica. Para tanto, propõe a sociologia das ausências que tem como objetivo
“transformar obcjetos impossíveis em possíveis e com base neles, transformar as ausências
em presenças” (p. 246).

O autor identifica cinco lógicas de produção de não existência, que são a


monocultura do saber e rigor, na qual o que não é reconhecido por estar fora dos padrões é
posto como inexistente; a monocultura linear, para qual o sentido e a direção da história já
estão definidos; a lógica da classificação social, que naturaliza as diferentes categorias e
portanto também naturaliza as hierarquias; a lógica da escala dominante, que tem como
formas principais o universal e o global, excluindo assim as realidades locais; e por último,
a lógica produtivista, fundada nos critérios de produtividade capitalista e que tem como
objetivo inquestionável o crescimento econômico e nega qualquer forma de não produção,
quer seja da natureza ou do trabalho. Essas lógicas de produção geram cinco principais
formas de não existência: o ignorante, o residual, o inferior, o local e o improdutivo.

A sociologia das ausências é pensada então como uma forma de transgressão a essas
lógicas de exclusão. A primeira lógica deve então ser questionada a partir da identificação
de outros saberes e critérios de rigor, uma vez que todos os saberes são incompletos e por
outro lado, não há ignorância total. A monocultura do saber científico pode ser assim
substituída por uma ecologia de saberes.

A segunda lógica, deveria ser substituída pela ecologia das temporalidades,


rompendo com as hierarquias entre as diversas temporalidades, pois essas fazem com que
algumas experiências sejam reduzidas à condição de resíduo. O presente precisa ser
ampliado pela contestação do tempo linear e pela valorização de outras temporalidades.
A lógica da classificação social deve ser substituída pela ecologia dos
reconhecimentos, na medida em que essa possibilita reconhecimentos recíprocos e toma as
diferenças sem desigualdade.

A ecologia das trans-escalas surge como alternativa as escalas dominantes,


universais e globais, e recupera, segundo o autor “o que no local não é efeito da
globalização hegemônica.” (p. 252).

Por último, temos a ecologia da produtividade que visa à valorização de modos de


produção alternativos que foram até então menosprezados ou escondidos pela produção
capitalista. O objetivo da sociologia das ausências é reconstruir essas formas transformando
as suas relações de subalternidade.

Se a crítica da razão metonímica tinha como objetivo dilatar o presente,


considerando uma gama muito mais ampla de experiência, a crítica da razão proléptica vem
propor a contração do futuro, tornando-o escasso e desse modo, objeto de cuidado. A
sociologia das emergências “consiste em substituir o vazio do futuro segundo um tempo
linear (um vazio que tanto é tudo como é nada) por um futuro de possibilidades plurais e
concretas, simultaneamente utópicas e realistas que vão se construindo no presente através
das atividades de cuidado.” (p. 254)

Santos se apropria do conceito ‘Ainda-não’ de Bloch, que expressa como


tendência ou possibilidade para se opor aos conceitos ‘Tudo’ e ‘Nada’ da filosofia
ocidental, uma vez que esses conceitos podem conter tudo, no entanto, nada de novo
pode surgir. Utiliza também o conceito de ‘Não’ de Bloch para afirmar a falta de algo,
mas também o desejo de superação desta falta. O Ainda-não, “inscreve no presente
uma possibilidade incerta, mas nunca neutra” (p.255), o que faz com que as
transformações tenham um caráter ameaçador devido à imprevisibilidade de suas
conseqüências. Afirma ainda que a razão indolente centrou-se na realidade e na
necessidade e negligenciou totalmente a possibilidade. Este modo de pensar está
presente em toda a ciência moderna, apesar de Bloch atribuir grande parte da
responsabilidade sobre esse fato a Hegel.
A sociologia das emergências busca alternativas em possibilidades concretas e
com isso transforma o futuro infinito em um futuro concreto e restrito, que portanto
deve ser cuidado. Atua tanto sobre as possibilidades quanto sobre as capacidades.

Consiste em proceder uma ampliação simbólica dos saberes, práticas e agentes


de modo a identificar neles as tendências de futuro (o Ainda -Não) sobre as
quais é possível atuar para maximizar a possibilidade de esperança em relação
a probabilidade de frustração. (p. 256)

Tanto a sociologia das ausências como a sociologia das emergências tem como
fundamento o inconformismo. No caso da primeira, em relação às experiências
desperdiçadas. No caso da segunda, em relação às carências que podem ser supridas.

Quanto mais experiências houver e mais diversas forem, maior será a expansão
do presente e contração do futuro. No entanto, essa diversificação e ampliação de
possibilidades e experiências trazem consigo dois problemas, a saber a fragmentação
da realidade e a dificuldade em dar sentido às mudanças. Santos critica tanto o modo
como a razão metonímica e proléptica tentaram resolver esses problemas, como o
modo pelo qual o pós-modernismo negligencia-os. Para ele, o primeiro passo a ser
dado na resolução desse dilema é considerar todas as totalidades como partes e todas as
partes como totalidade e propõe como alternativa às grandes teorias o trabalho de
tradução, pois este trabalho focaliza tanto a relação hegemônica entre experiências
diversas, quanto o que há nessas experiências independente dessa relação.

O trabalho de tradução incide tanto sobre os saberes quanto sobre as práticas


(e os seus agentes). A tradução entre saberes assume a forma de uma
hermenêutica diatópica. Consiste no trabalho de interpretação entre duas ou
mais culturas com vista a identificar preocupações isomórficas entre elas e as
diferentes respostas que oferecem para elas. (p. 262-3)
A hermenêutica diatópica é possível na medida em que parte da noção de falta,
carência, incompletude de todas as culturas e de uma aprendizagem possível no
encontro e diálogo entre culturas.

O trabalho de tradução pode ocorrer entre saberes, ou entre práticas, que


também são formas de saber e entre práticas ou saberes hegemônicos e não-
hegemônicos ou entre diferentes saberes não-hegemônicos. O último caso é mais
importante, pois, é através dele que a contra-hegemonia é criada. “O potencial anti-
sistêmico ou contra-hegemônico de qualquer movimento social reside na sua
capacidade de articulação com outros movimentos, com as suas formas de organização
e seus objetivos.” (p. 264-5). O trabalho de tradução é o que permite esclarecer os
pontos em comum e os divergentes entre os diferentes movimentos e as possíveis
articulações entre eles. As práticas de maior potencial contra-hegemônico devem se
definidas na prática, considerando-se o momento histórico e o contexto cultural.

Santos propõe como alternativa a globalização neoliberal a construção de redes


transnacionais de movimentos locais, trabalho que exige um enorme esforço de
tradução uma vez que esses movimentos estão inseridos em culturas e saberes muito
diversos uns dos outros. Este trabalho é ao mesmo tempo político, intelectual e
emocional.

O trabalho de tradução assenta num pressuposto sobre o qual deve ser criado
consenso transcultural: a teoria geral da impossibilidade de uma teoria geral.
Sem este universalismo negativo, a tradução é um trabalho colonial, por mais
pós-colonial que se afirme. (p.268)

Cada saber ou prática decide o que é posto em contato e o aprofundamento do


trabalho de tradução é o que permite trazer para a zona de contato os aspectos mais
relevantes. O trabalho de tradução é sempre realizado por membros dos grupos sociais
e exige desses uma grande capacidade intelectual e uma profunda ligação e visão
crítica destas práticas que vão traduzir, pois só através do profundo conhecimento e da
visão crítica, nomeada ‘saber didático’ que irá emergir o sentimento de incompletude e
com ele surgirá a possibilidade de encontrar esse saber que falta em outros saberes ou
práticas.

No fim do texto Santos nos coloca a seguinte questão, que segundo ele abarca
as outras anteriormente colocadas: para que traduzir? e responderá a essa questão
dizendo que os problemas que os paradigmas da modernidade ocidental procurou
solucionar ainda restam sem solução. Deste modo, é necessário à criação urgente de
práticas alternativas à globalização neoliberal, que promovam transformações em
futuro mais próximo: “o novo inconformismo é o que resulta da verificação de que
hoje e não amanhã seria possível viver em um mundo muito melhor.” (p. 38)

Para que haja transformação social, não bastam as praticas de tradução. É


necessário que esses saberes compartilhados e os sentidos produzidos a partir dele
sejam aplicados na prática.

CONCLUSÕES

Santos discorre ao longo do seu texto sobre o modo pelo qual muitas
experiências sociais são desperdiçadas devido a uma certa razão indolente e propõe
como alternativa a esta a razão cosmopolita. Para tanto, propõe três procedimentos
fundamentais: a sociologia das ausências, a sociologia das emergências e o trabalho de
tradução. A partir desses três procedimentos poderíamos reverter o desperdício das
experiências e encontrar por meio do diálogo entre estas, alternativas para a construção
de um mundo melhor e para resolução dos problemas com os quais nos deparamos.

Um questionamento que me coloco em relação ao texto é o seguinte: Santos


(2002) ao dizer que é preciso desafiar a razão indolente, parece se colocar em um lugar
especial, totalmente fora dessa razão. O meu questionamento seria em que medida nós
conseguimos romper totalmente com essa razão indolente, com o nosso modo de
pensar ocidental, dualista, valorativo, de temporalidade linear, totalitário, etc, uma vez
que essa razão indolente é tão fundante do nosso pensamento. Isso se coloca como um
grande desafio, e como afirma Quijano (2005), é preciso a descolonização de nós
mesmos e Geertz (1973) o problema não é o estranhamento do outro, mas o
estranhamento de nós mesmos.

A partir desses três autores fica claro a importância da problematização


constante do nosso lugar enquanto pesquisadores e as transformações que devem
ocorrer no nosso modo de pensar no encontro com os atores com os quais iremos trocar
saberes e construir nossa pesquisa. O texto nos alerta para a riqueza de saberes com os
quais podemos nos deparar e com os quais podemos aprender se estivermos abertos ao
diálogo e a possibilidade de tradução e desmistifica a visão muitas vezes pessimista de
que não há mais nada a ser feito em relação aos problemas que vivenciamos.

Referências Bibliográficas

GEERTZ, C. (1973). El sevage cerebral: sobre a obra de Levi Strauss, In: La


interpretacion de las culturas.

QUIJANO, A. (2005). Colonialidade do poder: Eurocentrismo e América Latina. In:


LAnder, E. A. Colonialidade do saber: Eurocentrismo e Ciências Sociais.

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