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Epístolas Gerais – Tiago 25

um transgressor da lei é todo aquele que peca quanto a qualquer um dos seus
mandamentos, segundo este dito: “Maldito aquele que não cumpre todas as
coisas” (Dt 27:26). Vemos ainda que transgressor da lei, e culpado de todos,
significam a mesma coisa, de acordo com Tiago.

TIAGO 2:12-13
12. Assim falai, e assim procedei, como 12. Sic loquimini, et sic facite, ut per legem
devendo ser julgados pela lei da liberda- libertatis judicandi.
de.
13. Porque o juízo será sem misericórdia 13. Judicium enim sine misericordia ei qui
sobre aquele que não fez misericórdia; e non praestiterit misericordiam; et gloriatur
a misericórdia triunfa do juízo. misericordia adversus judicium.
12. Assim falai. Alguns dão esta explicação – de que, como se gabavam dema-
siadamente, eles são convocados ao justo tribunal; pois os homens se absol-
vem de acordo com os seus próprios conceitos porque se afastam do julga-
mento da lei divina. Então ele os lembra de que todos os feitos e obras alí se-
rão levados em conta, porque Deus julgará o mundo de acordo com a sua lei.
Como, porém, tal declaração poderia tê-los afetado de terror imoderado, para
corrigir ou mitigar o que poderiam ter considerado severo, ele acrescenta: a lei
da liberdade. Pois sabemos o que Paulo diz: “Todos aqueles que estão debaixo
das obras da lei estão debaixo da maldição” (Gl 3:10). Por onde o julgamento
da lei em si mesmo é condenação à morte eterna; mas ele quer dizer, através
da palavra liberdade, que estamos livres do rigor da lei.
Este sentido não é completamente inadequado, ainda que, se alguém examinar
mais precisamente o que vem logo em seguida, verá que Tiago queria dizer
outra coisa; o sentido é como se ele tivesse dito: “A não ser que desejais sofrer
o rigor da lei, deveis ser menos rígidos para com o vosso próximo; pois a lei da
liberdade é idêntica à misericórdia de Deus, que nos livra da maldição da lei”.
E, assim, este verso deve ser lido com o que segue, onde ele fala do dever de
suportar as fraquezas. E, sem dúvida, toda a passagem soa melhor assim: “Co-
mo nenhum de nós pode permanecer de pé diante de Deus, a não ser que se-
jamos salvos e livres do rigor estrito da lei, assim devemos agir, para que, por
demasiada severidade, não excluamos a indulgência ou misericórdia de Deus,
da qual todos nós precisamos até o fim”.
13. Porque o juízo será. Esta é uma aplicação do último verso ao tema em
questão, que confirma totalmente a segunda explicação que citei; pois ele mos-
tra que, como permanecemos de pé somente pela misericórdia de Deus, de-
vemos demonstrar isto àqueles que o próprio Senhor nos recomenda. De fato,
é uma recomendação singular de bondade e benevolência, que Deus prometa
ser misericordioso para conosco, se assim formos para com nossos irmãos;
não que nossa misericórdia, por maior que possa ser, demonstrada aos ho-
mens, mereça a misericórdia de Deus; e sim que Deus deseja que aqueles que
ele adotou, assim como ele é para com eles um Pai bondoso e indulgente, tra-
gam e demonstrem a sua imagem na terra, de acordo com as palavras de Cris-
26 Comentários de Calvino

to: “Sede vós misericordiosos, assim como vosso Pai que está nos céus é mi-
sericordioso” (Mt 5:7).
Por outro lado, devemos notar que ele não poderia denunciar nada mais severo
ou mais terrível sobre eles do que o juízo de Deus. Por onde segue-se que são
todos miseráveis e perdidos aqueles que não fogem para o asilo do perdão.
E a misericórdia triunfa. Como se tivesse dito: “Somente a misericórdia de
Deus é o que nos livra do terror e tremor do juízo”, ele toma regozijar-se ou
gloriar-se no sentido de ser vitorioso ou triunfante – pois o juízo de condenação
está suspenso sobre todo o mundo, e nada além da misericórdia pode trazer
alívio.
Dura e forçada é a explicação daqueles que consideram a misericórdia expres-
sa aqui no sentido da pessoa, pois não se pode dizer propriamente que os ho-
mens se regozijam ou se gloriam contra o juízo de Deus; mas a própria miseri-
córdia de certo modo triunfa, e reina sozinha, quando a severidade do juízo
diminui; ainda que eu não negue que por esta causa surja a confiança em re-
gozijar-se – ou seja, quando os fiéis sabem que a ira de Deus de certo modo se
sujeita à misericórdia, de modo que, sendo livrados pela última, não são sobre-
pujados pela primeira.

TIAGO 2:14-17
14. Meus irmãos, que aproveita se al- 14. Quid prodest, fratres mei, si fidem di-
guém disser que tem fé, e não tiver as cataliquis se habere, opera autem non
obras? Porventura a fé pode salvá-lo? habeat? nunquid potest fides salvum face-
re ipsum?
15. E, se o irmão ou a irmã estiverem 15. Quod si frater aut soror nudi fuerint, et
nus, e tiverem falta de mantimento quoti- egentes quotidiano victu,
diano,
16. E algum de vós lhes disser: Ide em 16. Dicat autem aliquis vestrum illis, Abite
paz, aquentai-vos, e fartai-vos; e não lhes cum pace, calescite et saturamini; non
derdes as coisas necessárias para o cor- tamen dederitis quae sunt necessaria cor-
po, que proveito virá daí? pori, quae utilitas?
17. Assim também a fé, se não tiver as 17. Sic et fides, si opera non habuerit,
obras, é morta em si mesma. mortua est per se.
14. Que aproveita. Ele passa a recomendar a misericórdia. E, como havia a-
meaçado que Deus seria um Juíz severo para conosco, e ao mesmo tempo
mui terrível, a não ser que sejamos benignos e misericordiosos para com o
nosso próximo; e como, por outro lado, os hipócritas objetavam e diziam que a
fé, na qual consiste a salvação dos homens, é suficiente para nós; ele condena
agora esta vã jactância. A suma, então, do que se diz, é que a fé sem o amor
de nada aproveita, e que, por isso, está completamente morta.
Mas aqui surge uma questão: Pode a fé ser separada do amor? De fato, é ver-
dade que a exposição desta passagem tem produzido aquela distinção comum
dos sofistas, entre a fé informe e fé formada; mas Tiago não sabia nada a res-
peito de tal coisa, pois está claro, a partir das primeiras palavras, que ele fala
Epístolas Gerais – Tiago 27

da falsa confissão de fé; pois ele não começa assim: “Se alguém tem fé”, e sim:
“Se alguém diz que tem fé” – por meio de que certamente sugere que os hipó-
critas se vangloriam do nome oco da fé, a qual na verdade não lhes pertence.
O que ele chama então de fé é uma concessão, como dizem os retóricos; pois,
quando discutimos um ponto, não faz mal – mais ainda, às vezes é aconselhá-
vel – conceder a um adversário o que ele pede, pois, tão logo a coisa em si
seja conhecida, o que é concedido pode ser facilmente retirado dele. Tiago,
então, como estava satisfeito com que este fosse um falso pretexto com o qual
os hipócritas se encobriam, não estava disposto a levantar disputa sobre uma
palavra ou expressão. Contudo, lembremo-nos de que ele não fala segundo a
impressão da sua mente quando faz menção à fé, mas que, pelo contrário, dis-
puta contra aqueles que faziam uma falsa pretensão quanto à fé, da qual esta-
vam totalmente destituídos.
Porventura a fé pode salvá-lo? Isto é o mesmo que se ele tivesse dito que não
alcançamos a salvação por um mero e frígido conhecimento de Deus, o qual
todos confessam ser mui verdadeiro; pois a salvação vem a nós através da fé
por esta razão – porque ela nos une a Deus. E isto não ocorre de nenhum ou-
tro modo senão por estarmos unidos ao corpo de Cristo, de modo que, vivendo
pelo seu Espírito, também somos governados por ele. Não existe nada disto na
imagem morta da fé. Então, não é de se surpreender que Tiago negue que a
salvação esteja unida a ela.17
15. Se o irmão, ou, pois, se o irmão. Ele toma um exemplo a partir do que está
relacionado com o seu assunto; pois vinha exortando-os ao exercício dos deve-
res do amor. Se alguém, pelo contrário, se jactasse de que estava satisfeito
com a fé sem as obras, ele compara esta fé obscura com as palavras de al-
guém que manda um homem faminto saciar-se sem lhe fornecer o alimento de
que este está destituído. Então, assim como aquele que despede um homem
pobre com palavras, e não lhe oferece ajuda, trata-o com escárnio, do mesmo
modo aqueles que inventam para si uma fé sem obras, e sem nenhum dos de-
veres da religião, brinca com Deus.18
17. É morta em si mesma. Ele afirma que a fé é morta em si mesma, ou seja,
quando destituída de boas obras. Por onde concluímos que, na verdade, isto
não é fé, pois, quando morta, não retém devidamente o nome. Os sofistas ape-
lam para esta expressão e dizem que algum tipo de fé existe em si mesma;
mas esta objeção frívola e capciosa é facilmente refutada; pois é suficiente-
mente evidente que o Apóstolo raciocina a partir do que é impossível – assim

17
Quando ele diz: “Porventura a fé pode salvá-lo?”, seu sentido é: “Porventura a fé
que ele diz ter pode salvá-lo?” – a fé que está morta e não produz obras; pois essa é
claramente a fé pretendida aqui, tal como se mostra pelo que se segue. Para tornar o
sentido mais evidente, Macknight traduz a sentença assim: “Porventura esta fé pode
salvá-lo?” – ou seja, a fé que não tem obras.
18
Isto é aduzido como uma ilustração – assim como as palavras de um homem ao nú:
“Veste-te”, quando ele nada faz, não produz nenhum bem, é totalmente inútil; do
mesmo modo é aquela fé que não produz obras – estando como que morta, não pode
salvar.
28 Comentários de Calvino

como Paulo chama um anjo de anátema, se tentasse subverter o evangelho (Gl


1:8).

TIAGO 2:18-19
18. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu 18. Quin dicat quispam, Tu fidem habes,
tenho as obras; mostra-me a tua fé sem et ego opera habeo; ostende mihi fidem
as tuas obras, e eu te mostrarei a minha tuam sine operibus (alias, ex operibus)
fé pelas minhas obras. tuis, et ego tibi ex operibus meis ostendam
fidem meam.
19. Tu crês que há um só Deus; fazes 19. Tu credis quod Deus unus est, bene
bem. Também os demônios o crêem, e facis; et daemones credunt, ac contremis-
estremecem. cunt.
18. Mas dirá alguém. Erasmo introduz aqui duas pessoas como interlocutores,
das quais uma se gloria da fé sem as obras, e a outra das obras sem a fé; e ele
acredita que ambas finalmente são refutadas pelo Apóstolo. Mas esta visão
parece-me forçada demais. Ele acha estranho que isto devesse ser dito por
Tiago: Tu tens a fé – o qual não admite nenhuma fé sem obras. Mas nisto ele
está muito enganado, porque não percebe uma ironia nestas palavras. Então,
ἀλλὰ entendo no sentido de “não, mas antes”; e τὶς no sentido de “alguém” –
pois o propósito de Tiago era expor o orgulho insensato daqueles que imagina-
vam que tinham fé, quando, pela sua vida, mostravam que eram incrédulos;
pois ele sugere que seria fácil para todos os fiéis que levavam uma vida santa
despojar os hipócritas dessa jactância com que estavam inchados.19
Mostra-me. Embora a leitura mais aceita seja: “pelas obras”, a Antiga Latina é
mais apropriada, e a leitura também se encontra em algumas cópias gregas.
Portanto, não hesitei em adotá-la. Então, ele manda mostrar a fé sem as obras,
e assim raciocina a partir do que é impossível, para provar o que não existe.
Portanto, ele fala ironicamente. Mas, se alguém prefere a outra leitura, ela re-
dunda na mesma coisa: “Mostra-me pelas obras a tua fé” – pois, como ela não
é algo inativo, necessariamente deverá ser provada por meio das obras. O sen-
tido então é: “A menos que a tua fé produza frutos, eu nego que tenhas qual-
quer fé”.20

19
Eu traduziria o verso assim: “Mas alguém pode dizer: Tu tens fé, eu também tenho
obras; mostra-me a tua fé que é sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas
obras”. É o mesmo que se ele tivesse dito: “Tu tens apenas a fé, eu tenho também as
obras em acréscimo à minha fé; agora, prove-me que tu tens a verdadeira fé sem ter
obras conectadas a ela (o que era impossível, por isso é chamado de ‘homem vão’, ou
cabeça-oca, em Tg 2:20), e eu provarei a minha fé pelos seus frutos, a saber, as boas
obras”.
20
Griesbach e outros consideram χωρὶς como a verdadeira leitura, favorecida pela
maioria dos manuscritos, e encontrada na Siríaca e na Vulgata.
Este verso é uma chave para o sentido de Tiago; a fé deve ser provada por meio das
obras; então, a fé propriamente justifica e salva, e as obras provam a sua autenticida-
de. Quando ele diz que o homem é justificado pelas obras, o sentido, de acordo com
este verso, é de que o homem é provado pelas suas obras que está justificado, sua fé
Epístolas Gerais – Tiago 29

Mas, pode-se questionar se a justiça de vida exterior é uma evidência segura


da fé. Pois Tiago diz: “Eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. A isto eu
respondo que os incrédulos às vezes se sobressaem em virtudes especiosas, e
levam uma vida honrosa, livre de todo o crime; e, por isso, obras aparentemen-
te excelentes podem existir à parte da fé. E, na verdade, Tiago também não
defende que todo aquele que parece bom possua fé. Ele quer dizer apenas isto
– que a fé, sem a evidência das boas obras, é pretendida em vão, porque sem-
pre nasce fruto da raiz viva de uma boa árvore.
19. Tu crês que há um só Deus. A partir desta única sentença, torna-se eviden-
te que toda a disputa não é sobre fé, e sim sobre o conhecimento comum de
Deus – que não pode conectar os homens a Deus mais do que a vista do sol
pode levá-los ao céu; mas é certo que, pela fé, chegamos perto de Deus. Além
disso, seria ridículo se alguém dissesse que os demônios têm fé; e Tiago prefe-
re-os a eles do que aos hipócritas, neste aspecto. O diabo estremece, diz ele, à
menção do nome de Deus, porque, quando reconhece o seu próprio juíz, en-
che-se de temor dele. Então, aquele que despreza um Deus reconhecido é
muito pior.
Fazes bem é dito com o fim de extenuar – como se ele tivesse dito: “É, certa-
mente, algo magnífico ficar abaixo dos demônios!”21

TIAGO 2:20-26
20. Mas, ó homem vão, queres tu saber 20 Vis autem scire, O homo inanis! quod
que a fé sem as obras é morta? fides absque operibus mortua sit?
21. Porventura o nosso pai Abraão não 21. Abraham pater noster, nonne ex ope-
foi justificado pelas obras, quando ofere- ribus justificatus est, quum filium suum
ceu sobre o altar o seu filho Isaque? Isaac super altare?

sendo, por meio disso, revelada como uma fé viva, e não uma fé morta. Podemos bem
nos surpreender, assim como Doddridge, de que alguém, tendo em vista toda esta
passagem, pense que haja alguma contrariedade, no que é dito aqui, com o ensino de
Paulo. A doutrina de Paulo, de que o homem é justificado pela fé, e não pelas obras –
ou seja, por uma fé viva, que opera através do amor – é perfeitamente consistente
com o que diz Tiago – ou seja, que o homem não é justificado por uma fé morta, e sim
por aquela fé que prova o seu poder vivo produzindo boas obras, ou prestando obedi-
ência a Deus. A suma do que Tiago diz é que uma fé morta não pode salvar, e sim
uma fé viva, e que uma fé viva é uma fé operante – uma doutrina ensinada por Paulo,
assim como por Tiago.
21
O propósito de se aludir à fé dos demônios parece ter sido este – mostrar que, em-
bora um homem bom possa crer e tremer, se não obedece a Deus e não faz boas o-
bras, ele não tem verdadeira evidência da fé. A fé obediente é a que salva, e não ape-
nas a que nos faz estremecer. A relação com o verso precedente parece ser a seguin-
te: no primeiro verso, o ostentador da mera fé é desafiado a provar que a sua fé é ver-
dadeira e, portanto, salvífica; o desafiador provaria pelas suas obras. Então, neste
verso, é aplicado um teste – é mencionado o primeiro artigo de fé: “Seja que creias
nisto, contudo esta fé não te salvará – os demônios têm esta fé e, ao invés de serem
salvos, eles estremecem”.
30 Comentários de Calvino

22. Bem vês que a fé cooperou com as 22. Vides quod fides cooperata fuerit ejus
suas obras, e que pelas obras a fé foi operibus, et ex operibus fides perfecta
aperfeiçoada. fuerit?
23. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E 23. Atque implenta fuit scriptura, quae
creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso impu- dicit, Credidit Abraham Deo, et imputatum
tado como justiça, e foi chamado o amigo illi fuit in justitiam, et Amicus Deo vacatus
de Deus. est?
24. Vedes então que o homem é justifica- 24. Videtis igitur quod ex operibus justifi-
do pelas obras, e não somente pela fé. catur homo, et non ex fide solum.
25. E de igual modo Raabe, a meretriz, 25. Similiter et Rahab meretrix, nonne ex
não foi também justificada pelas obras, operibus justificata est, quum excepit nun-
quando recolheu os emissários, e os tios, et alia via ejecit?
despediu por outro caminho?
26. Porque, assim como o corpo sem o 26. Quemadmodum enim corpus sine a-
espírito está morto, assim também a fé nima mortuum est, ita et fides sine operi-
sem obras é morta. bus mortua est.
20. Mas, queres tu saber. Devemos entender o estado da questão, pois a dis-
puta aqui não é a respeito da causa da justificação, mas apenas de que apro-
veita uma confissão de fé sem as obras, e que opinião devemos formar acerca
disto. Absurdamente, então, agem aqueles que se esforçam por provar, através
desta passagem, que o homem é justificado pelas obras; porque Tiago não
queria dizer nada disso, pois as provas que ele acrescenta se referem a esta
declaração – de que não existe fé, ou apenas uma fé morta, sem as obras.
Ninguém jamais entenderá o que é dito, nem avaliará sabiamente as palavras,
exceto aquele que mantiver em vista o propósito do escritor.
21. Não foi Abraão. Os sofistas se apegam à palavra justificado, e então bra-
dam, como se fossem vitoriosos, que a justificação é parcialmente através das
obras. Mas devemos procurar uma interpretação correta, de acordo com a in-
tenção geral de toda a passagem. Já temos dito que Tiago não fala aqui da
causa da justificação, ou da maneira como os homens alcançam a justiça – e
isto está claro a todos; mas que o seu objetivo era apenas mostrar que as boas
obras sempre estão conectadas à fé; e, portanto, como declara que Abraão
fora justificado pelas obras, ele está falando a respeito da prova que ele dera
da sua justificação.
Quando, portanto, os sofistas colocam Tiago contra Paulo, eles se perdem pelo
sentido ambíguo de um termo. Quando Paulo diz que somos justificados pela
fé, ele não significa outra coisa senão que, pela fé, somos reputados por justos
diante de Deus. Mas Tiago tem em vista algo completamente diferente – a sa-
ber, mostrar que aquele que confessa ter fé deve provar a realidade da sua fé
por meio das suas obras. Sem dúvida, Tiago não pretendia nos ensinar aqui o
fundamento sobre o qual a nossa esperança de salvação deve se apoiar; e é
nisto somente que Paulo se detém.22

22
É justamente observado por Scott que existe a mesma dificuldade em reconciliar
Tiago consigo mesmo, assim como com Paulo. E esta dificuldade desaparece de uma
Epístolas Gerais – Tiago 31

Então, para que não caiamos nesse falso raciocínio que tem enganado os so-
fistas, devemos notar o duplo sentido da palavra justificado. Paulo se refere,
por meio dela, à imputação gratuita da justiça diante do tribunal de Deus; e Ti-
ago, à manifestação da justiça através da conduta – e isso diante dos homens,
conforme podemos deduzir a partir das palavras precedentes: “Mostra-me a tua
fé etc.”. Neste verso, admitimos plenamente que o homem é justificado pelas
obras – como quando alguém diz que o homem é enriquecido pela compra de
um grande e valioso baú, porque suas riquezas, anteriormente ocultas, encer-
radas no baú, foram deste modo reveladas.
22. Pelas obras a fé foi aperfeiçoada.23 Através disto ele mostra novamente
que a questão aqui não é a respeito da causa da nossa salvação, mas se as
obras acompanham necessariamente a fé; pois, neste sentido, é dito que ela
foi aperfeiçoada pelas obras, porque não foi inativa. Diz-se que ela foi aperfei-
çoada pelas obras, não porque recebesse delas a sua própria perfeição, e sim
porque deste modo provou ser verdadeira. Pois a distinção fútil que os sofistas
fazem a partir destas palavras, entre fé informe e formada, não precisa de uma
refutação elaborada; pois a fé de Abrão foi formada e, portanto, aperfeiçoada
antes de sacrificar seu filho. E esta obra não foi como que a obra final, ou con-
clusiva. Depois seguiram-se coisas pelas quais Abraão provou o incremento da
sua fé. Por isso, isto não foi o aperfeiçoamento da sua fé, e ela também não
obteve a sua forma pela primeira vez nessa ocasião. Tiago então não entendia
outra coisa, senão que a integridade da sua fé se revelou nessa ocasião por-
que produziu aquele fruto notável de obediência.
23. E cumpriu-se a Escritura. Aqueles que procuram provar, a partir desta pas-
sagem de Tiago, que as obras de Abraão foram imputadas para justiça, neces-
sariamente confessarão que a Escritura é pervertida por ele; porque, por mais
que se retorçam de todos os lados, nunca poderão tornar o efeito em sua pró-
pria causa. A passagem é citada de Moisés (Gn 15:6). A imputação da justiça
que Moisés menciona precedeu mais de trinta anos à obra pela qual eles que-
rem que Abraão tenha sido justificado. Como a fé fora imputada a Abraão quin-
ze anos antes do nascimento de Isaque, certamente isto não poderia ter sido
realizado através do ato de sacrificá-lo. Considero que estão fortemente atados

vez, quando temos em vista toda a passagem, e não nos confinamos a expressões
isoladas.
23
A sentença anterior é dificilmente inteligível na nossa versão ou na de Calvino. “Vês
tu como a fé operou (cooperou, por Calvino) com as suas obras?” O verbo é
συνεργέω, que significa propriamente operar junto, cooperar; e significa também, co-
mo efeito da cooperação, ajudar, auxiliar. “Vês tu como a fé ajudou-o em suas obras?”
Schleusner fornece esta paráfrase: “Tu vês que Abraão foi ajudado pela sua fé a tor-
nar suas obras notórias”. A versão de Beza é: “Tu vês que a fé foi o assistente (admi-
nister) das suas obras”. Alguns dão a idéia de combinar a cooperar: “Tu vês que a fé
cooperou com as suas obras” – ou seja, na justificação. É dito que, se esta combina-
ção fosse pretendida, deveria ter sido dito que as obras cooperaram com a sua fé,
uma vez que a fé, de acordo com o testemunho da Escritura e a natureza das coisas,
é a coisa principal e primária, e uma vez que não pode haver boas obras sem fé. Mas
a primeira explicação é a mais coerente com as palavras e com a intenção da passa-
gem.
32 Comentários de Calvino

por um nó indissolúvel aqueles que imaginam que a justiça fora imputada a


Abraão diante de Deus porque ele sacrificou seu filho Isaque, o qual ainda não
era nascido quando o Espírito Santo declarou que Abraão fora justificado. Por
onde necessariamente segue-se que algo posterior é indicado aqui.
Por quê, então, Tiago diz que ela foi aperfeiçoada? A saber, porque ele preten-
dia mostrar que tipo de fé era aquela que justificara Abraão – ou seja, que ela
não era inativa ou evanescente, mas tornara-o obediente a Deus, conforme
também encontramos em Hb 11:8. A conclusão, que é acrescentada logo em
seguida, como depende disso, não tem outro significado. O homem não é justi-
ficado pela fé somente – ou seja, por um mero e vazio conhecimento de Deus;
ele é justificado pelas obras – ou seja, sua justiça é conhecida e provada atra-
vés dos seus frutos.
25. E de igual modo Raabe, não foi também. Parece estranho que ele relacio-
nasse aqueles que eram tão diferentes. Por que não escolheu antes alguém
dentre um número tão grande de ilustres patriarcas, e o uniu a Abraão? Por
que preferiu uma meretriz a todos os demais? Ele propositalmente uniu duas
pessoas tão diferentes no seu caráter, a fim de mostrar mais claramente que
ninguém, seja qual for a sua condição, nação ou classe social, jamais foi repu-
tado por justo sem as boas obras. Ele havia citado o patriarca, de longe o mais
eminente de todos; agora inclui, sob a pessoa de uma meretriz, todos aqueles
que, sendo estrangeiros, foram unidos à Igreja. Então, todo aquele que procura
ser reputado por justo, ainda que possa estar até entre os mais inferiores, deve
mostrar que é tal por meio de boas obras.
Tiago, segundo a sua maneira de falar, declara que Raabe foi justificada pelas
obras; e os sofistas concluem, por causa disto, que alcançamos a justiça pelos
méritos das obras. Mas negamos que a disputa aqui seja concernente ao modo
de alcançar a justiça. De fato, admitimos que as boas obras são necessárias
para a justiça – apenas removemos delas o poder de conferir a justiça, porque
elas não podem permanecer diante do tribunal de Deus.24

TIAGO 3:1-5
1. Meus irmãos, muitos de vós não sejam 1. Nolite plures magistri fieri, fratres mei;
mestres, sabendo que receberemos mais scientes quod majus judicium sumpturi
duro juízo. sumus.
2. Porque todos tropeçamos em muitas 2. In multis enim labimur omnes: si quis in
coisas. Se alguém não tropeça em pala- sermone non labitur, hic perfectus est vir,
vra, o tal é perfeito, e poderoso para tam- ut qui posssit fraeno moderari totum etiam
bém refrear todo o corpo. corpus.
3. Ora, nós pomos freio nas bocas dos 3. Ecce equis fraena in ora injicimus, ut

24
O último verso passou despercebido: “Porque, assim como o corpo sem o espírito
está morto, assim também a fé sem obras (ou, não tendo obras) é morta”. O sentido
não é de que as obras são para a fé o que o espírto é para o corpo, pois isto faria das
obras a vida da fé – o contrário da realidade; mas o sentido é de que a fé, não tendo
obras, é como uma carcassa morta, sem vida.

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