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EXMO. SR. DR. JUIZ.

DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE


BARREIRAS/BA

PROCESSO N. 0001579-82.2012.8.05.0022

MAICON DE SOUZA SANTOS, já devidamente qualificado nos autos do


processo em epígrafe, vem, por intermédio da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO
DA BAHIA, presentada pela defensora pública subscritora, perante Vossa Excelência,
oferecer suas
CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

nos termos que passa a expor para ao final requerer.

Após o recebimento das contrarrazões, requer a remessa do feito ao


Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.

Barreiras, 18 de março de 2019.

PAULO MALAGUTTI
Defensor Público do Estado da Bahia

DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA BAHIA


Rua 26 de maio, nº 568, Centro, Barreiras/Ba
Tel: 3611-8833 / 3611-3444
Juízo: 1ª Vara Criminal da Comarca de Barreiras/BA
Autos nº 0001579-82.2012.8.05.0022
Apelante: Ministério Público do Estado da Bahia
Apelado: Maicon de Souza Santos

Egrégio Tribunal,

Colenda Câmara,

Ínclitos Julgadores,

Douto Relator,

CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

I. BREVE HISTÓRICO DOS FATOS

Trata-se de ação penal proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO


DA BAHIA contra MAICON DE SOUZA SANTOS, imputando-lhe a prática dos crimes
dos arts. 33, caput, e 33, §1º, I, da Lei de Drogas, em concurso material.

Afirma o autor ministerial que em 4/1/2012, por volta da 0:30, o denunciado


portava três papelotes de cocaína (peso não informado) em trecho não especificado da
rua Bombril, Vila Brasil, Barreiras/BA. Estaria também portando quinze frascos de
anestésico, cinco ampolas de epinefrina, meio quilo de pó branco e cem gramas de
pasta de cocaína.

Mais à frente, a peça de acusação indica que que uma guarnição da PM


estaria fazendo “abordagens de rotina, quando encontraram em poder do ora
denunciado a droga”. O réu então teria sido “conduzido até sua residência, onde foram
encontradas outras substâncias (…) como bicarbonato de potássio e éter, substâncias
sabidamente usadas para a fabricação de drogas”.

A denúncia foi instruída com o IP nº 10/2012, instaurado pelo APF da fl. 6,


sendo recebida em 15/4/2013 (fl. 44v).

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O réu foi citado pessoalmente (fl. 45v), apresentando defesa prévia por
advogado constituído (fls. 46/49).

Instrução concentrada na audiência de 8/6/2016 (fls. 89/95), encerrada com


debates, nos quais o MP postulou a condenação, e a defesa a absolvição.

O Ministério Público do Estado da Bahia, inconformado com a sentença,


interpôs recurso de apelação, pugnando pela reforma da decisão e pela consequente
condenação do réu nas iras do tipo penal descrito na denúncia.

No entanto, a sentença recorrida deve ser mantida, como se passa a expor a


seguir.

II. DO DESRESPEITO À GARANTIA DA VEDAÇÃO À AUTOINCRIMINAÇÃO


COMPULSÓRIA.
Alega o PARQUET que as garantias fundamentais do recorrido foram
respeitadas quando abordado pela polícia militar e “conduzido” até sua residência para
uma busca e apreensão. Aduz que é impossível se falar em induzimento do réu a
apontar o local da arma, pois estão ausentes quaisquer indícios de tal fato, não
podendo o Juiz a quo presumir situações fáticas, violando o devido processo legal,
sendo de conhecimento público que ninguém é obrigado a submeter-se a produzir
prova contra si mesmo, expressão do princípio da não auto-incriminação.
No entanto, da análise detida dos autos constata-se que há uma ilicitude
patente no procedimento dos policiais ao abordarem o recorrido e dirigirem-se até sua
residência.
Lamentavelmente, é comum na praxe forense ler depoimentos de policiais em
que tal autorização é “dada” pelos alvos de suas ações. Por esses depoimentos, pessoas
que, em tese, estão cometendo crimes são as melhores colaboradoras do sistema de
justiça brasileiro, dada a docilidade com a qual renunciam às garantias fundamentais
mais básicas.
Não raro, construções linguísticas como “franqueou o ingresso em seu
domicílio”, “permitiu a entrada no imóvel”, “autorizou a busca domiciliar” ou ainda
“convidou os policiais a revistarem a sua residência” são utilizadas para convalidar o
suposto flagrante de crime permanente cometido dentro dos domicílios de pessoas
mais vulneráveis à seletividade do poder punitivo.
Assim, além de obter êxito completo em sua diligência, a responsabilidade penal
e administrativa por eventual excesso ou abuso é afastada. De outro lado, atropelam-se
as garantias fundamentais de suspeitos tudo em nome da eficiência policial.

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O pior é a vista grossa que se faz quanto a tais abusos. Ora, realmente se
acredita que os suspeitos permitiriam, de livre e espontânea vontade, que fossem
conduzidos por policiais procurando algo que os incriminassem? E o mais chocante:
realmente se acredita que os suspeitos ainda apontariam docilmente aos policiais onde
uma arma de fogo possa ser encontrada?
Não se esta aqui imputando má-fé aos policiais nem aos demais agentes do
sistema de justiça. Porém, analisando objetivamente a questão, no mínimo, é possível
afirmar que algo não ortodoxo aconteceu na abordagem policial. Isto já é
suficiente para se questionar a validade do flagrante.
Por outro lado, NÃO HÁ DÚVIDAS de que os policiais militares violaram a
vedação à auto - incriminação compulsória, direito fundamental previsto no art. 5º,
LXIII, da CR; 8.2, g, da CADH; e 14.3, g, do PIDCP.
Ora, é simplesmente inimaginável, impensável que uma pessoa que guarda uma
arma de fogo em algum local iria prestar tal tipo de colaboração, colocando-se assim
em situação de patente vulnerabilidade frente ao poder punitivo. Logo, quando
depoimentos policiais abordam tal docilidade de comportamento, é porque
obviamente não se respeitou a garantia da vedação à autoincriminação
compulsória.
Afinal, o recorrido seria então um colaborador da justiça formidável, não
oferecendo risco algum à ordem pública e econômica, nem estaria se furtando à
aplicação da lei penal ou pretendendo prejudicar a instrução processual.
Em decorrência do que foi acima abordado, a prova obtida com a violação da
garantia da vedação à autoincriminação compulsória é inadmissível, conforme art. 5º,
LXIII, da CF. Por essa razão, não merece reforma a sentença que absolveu o réu com
relação ao art. 12 do Estatuto do Desarmamento, com fundamento no art. 386, VII do
CPP.

II – D ACERTADA DECISÃO DO JUÍZO DE PISO: DA EXTRAÇÃO COERCITIVA DE


INFORMAÇÕES E DA INVASÃO DOMICILIAR ILÍCITA

Compulsando os autos, é patente, sobretudo pela análise dos depoimentos


colhidos na fase instrutória, da ocorrência da violação domiciliar ilícita e extração
coercitiva de informações, conforme sabiamente detectou o juízo de piso.

Nesse sentido, vejamos o depoimento do SD/PM Dirson Gomes da Rocha, que


narra in litteris:

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Ora, da análise do relato acima, resta claro que o ingresso na residência onde foi
encontrado o material ilícito se deu fora das hipóteses permissivas constitucionais. Não
houve autorização do morador para ingresso na residência tampouco haviam fundadas
razões para que tal fato acontecesse.

Corrobora dessa informação o relato do SD/PM MARIO RIBEIRO MAIA NETO ,


em fl. 171:

Em fl. 168/169, vislumbra-se o depoimento de MAICON DE SOUZA SANTOS,


esclarecedor no sentido da ocorrência da extração coercitiva de informações e da
utilização de meios coercitivos e/ou violentos para possivelmente compelir o acusado a
produzir prova contra si mesmo:

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Portanto, fica patente que o réu NÃO CONCEDEU AUTORIZAÇÃO. Logo,
houve indevida violação a domicílio.

Na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, há precedente da Sexta Turma


– Recurso Especial (REsp) 1.546.242/RJ – quanto à violação domiciliar ilícita. Segue
trecho da decisão monocrática proferida pela rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura
(DJe 01.08.2014):

(...) Daí o presente recurso especial, no qual o recorrente alega


que o acórdão recorrido negou vigência aos arts. 157, caput, e §
1º, 282, 301 e 301, todos do Código de Processo Penal, bem
como divergiu de julgados de outros Tribunais da Federação, ao
entender ser ilícito o adentramento de policiais militares em
residência sem o consentimento do respectivo morador e
sem mandado judicial, lastreado, exclusivamente, em denúncia
anônima (...). O apelo especial foi admitido (...).

É o relatório. Decido.

A insurgência |ministerial| não merece ser acolhida.

(...) “Em sede policial os agentes estatais aduziram que após


receberam denúncia anônima dando conta de que no local dos
fatos descritos na denún-cia estaria se realizando atividade de
endolação para lá procederam, e que ao chegar ao local abriram
o portão da residência e renderam o ora apelante que estava na
varanda portando uma arma de fogo (...)”.

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Do que se pode observar a diligência policial foi ilegal, eis
que não fora autorizada a entrada dos agentes estatais na
casa do apelante, tampouco havia qualquer autorização de
busca no referido domicilio. Nem se queira argumentar que o
fato de o apelante estar portando dentro de sua casa, mais
precisamente na varanda, uma arma de fogo legitimaria a revista
no restante da residência, onde fora encontrado o material
entorpecente descrito na denúncia.

Fato é que agentes estatais sem qualquer autorização


adentraram à resi-dência do apelante, o que torna ilegal a
busca pessoal, bem como domiciliar realizada pelos policiais
em questão, como efetivamente fora feito.

DA MESMA FORMA, O FATO DE HAVER UMA DENÚNCIA


ANÔNIMA DANDO CONTA DE QUE NA RESIDÊNCIA DO
APELANTE ESTARIA OCORREN-DO TRÁFICO DE DROGAS NÃO
TORNA LEGÍTIMA ATUAÇÃO DOS MILITARES EM QUESTÃO. Não
é de se admitir que em um ordenamento jurídico pautado por
valores democráticos, receba-se uma apreensão realizada da
forma como se observa nos presentes autos. Admiti-lo no caso
concreto, emprestando qualquer valor a tanto quanto sobreveio a
partir dos dados coletados, significa apontar a possibilidade de a
investigação policial ser tocada, sempre, por seus próprios meios e
de acordo com seus próprios princípios, sem observância dos
preceitos norteadores do nosso Direito constitucionalmente
previsto (...). (negritou-se, sublinhou-se e se destacou).

Em suma, ainda que já se pretenda analisar a questão sob o enfoque da tese


firmada em sede de Repercussão Geral pelo STF, no bojo do Recurso Extraordinário
(RE) 603.616/RO, ficou esclarecido que: DENÚNCIA ANÔNIMA NÃO É JUSTA CAUSA
PARA INVADIR DOMICÍLIO, MESMO NA HIPÓTESE DE FLAGRANTE DE CRIME
PERMANENTE.

Em relação ao RE 603.616/RO, o STF decidiu:

1. (...) Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso


de crime permanente. Possibilidade. A Constituição dispensa o
mandado judicial para ingresso forçado em residência em caso de
flagrante delito. No crime permanente, a situação de flagrância se

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protrai no tempo (...). 4. Controle judicial a posteriori (...). Proteção
contra ingerências arbitrárias no domicílio. Muito embora o
flagrante delito legitime o ingresso forçado em casa sem
determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente
(...). 5. Justa causa. A entrada forçada em domicílio, sem uma
justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária . Não será a
constatação de situação de flagrância, posterior ao ingresso, que
justificará a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que
havia elementos mínimos a caracterizar fundadas razões (justa
causa) para a medida. 6. Fixada a interpretação de que a entrada
forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em
período noturno, quando amparada em fundadas razões,
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da
casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade dos atos praticados (...).

Ou seja, “A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita,


mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente
justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante
delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade dos atos praticados”.

Com efeito, os agentes policiais só poderiam ingressar no domicílio do réu se


estivessem amparados em justa causa.

Logo, toda a prova de materialidade e autoria foi obtida de forma ilícita (arts.
157, CPP), de modo a ser inadmissível (art. 5º, LVI, CR). Ou seja, toda persecução é
nula, na forma do art. 564, IV, do CPP, sendo acertada a decisão do juízo de piso
ao absolver o acusado por ausência de provas, com fulcro no art. 386, II do
CPP.

III – DO PREQUESTIONAMENTO

O apelado prequestiona nesta oportunidade a aplicação de todas as normas


mencionadas nas presentes contrarrazões, considerando o eventual interesse recursal
perante as instâncias excepcionais. Em especial, a) art. 5º, caput e inciso LXIV, da
CFRB/88; b) art. 157, §1º do CPP; c) art. 386, II e IV do CPP.

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IV – DOS PEDIDOS

Pelo exposto, requer que o recurso ministerial não seja conhecido e, caso
seja conhecido, não seja provido, mantendo-se a sentença guerreada pelos seus
próprios fundamentos.

Pede deferimento.

Barreiras, 18 de março de 2019.

PAULO MALAGUTTI
Defensor Público do Estado da Bahia

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