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Resumo
Nas últimas décadas, parece haver uma cisão entre as ciências cognitivas e os
estudos sobre letramento. Essa desvinculação aponta para uma concepção de
cognição como restrita a habilidades e competências individuais contidas em uma
mente desvinculada de seu entorno biofísico e sociohistórico, habilidades de uma
computação (codificação e decodificação) específica do signo linguístico. Entretanto,
desde a década de oitenta, tem sido construído um diálogo interessante entre
perspectivas cognitivas e sociais para o estudo da construção de sentidos. Tomando
como ponto de partida essa possibilidade de diálogo, buscaremos no presente
trabalho demonstrar como a vertente da Linguística Cognitiva conhecida como
Corporificada (LAKOFF; JOHNSON, 1999), bem como desenvolvimentos das ciências
cognitivas apresentam uma visão de cognição humana compatível com e útil a atuais
propostas de letramentos e demandas sociocomunicativas e interacionais de nossos
dias. Para tanto, primeiramente, faremos uma pequena revisão das bases filosóficas
que subjazem à concepção de cognição como atividade puramente mental e sua
recente desconstrução pós-moderna. Em seguida, buscaremos situar a hipótese de
uma cognição corporificada no paradigma das Ciências Cognitivas. Por último,
apontaremos alguns caminhos de intersecção frutífera entre a Linguística Cognitiva
Corporificada (Embodied Cognitive Linguistic) e os Estudos em Letramento na
contemporaneidade.
Abstract
In the last decades, there seems to be a split between the cognitive sciences and
literacy studies. This unlinking points to a conception of cognition as restricted to the
individual skills and competences contained in a mind unrelated to its biophysical and
sociohistorical environment, a computational (encoding and decoding) specific to the
linguistic sign. However, since the 1980s, an interesting dialogue between cognitive
and social perspectives has been constructed for the study of the construction of
meanings. In this paper we will try to demonstrate how the Cognitive Linguistics aspect
known as Corpored (LAKOFF; JOHNSON, 1999), as well as developments in the
cognitive sciences present a view of human cognition compatible with and useful to
current proposals of literacies and sociocommunicative and interactive demands of our
day. To do so, we will first make a small revision of the philosophical underpinnings
underlying the conception of cognition as a purely mental activity and its recent
postmodern deconstruction. Next, we will seek to situate the hypothesis of a cognition
embodied in the Cognitive Sciences paradigm. Finally, we will point out some paths of
fruitful intersection between the Embodied Cognitive Linguistic and the Literature
Studies in contemporaneity.
Introdução
Nas últimas décadas, parece haver uma cisão entre as ciências cognitivas e
os estudos sobre letramento. A agenda contemporânea das pesquisas em
letramentos tem se voltado para os contextos sociais, para as práticas de
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letramento(s) locais e contextuais pelas quais os sujeitos operam em grupos sociais
para além das salas de aula (BAYNHAM; PRINSLOO, 2009), para as relações de
poder e hierarquia social que definem (ou tentam definir) o que conta como letramento
e para a multimodalidade proporcionada pelos meios digitais de produção e circulação
de textos.
Essa nova direção2 parece indicar um afastamento de questões cognitivas,
sendo muitas vezes descrita sob os termos de “afastamento de questões pedagógicas
e psicolinguísticas” ou oposição “a posição que vê letramento como uma mera
questão de habilidades, como um processo único, no qual leitores e escritores são (...)
mais ou menos proficientes processadores de textos” (BAYYNHAM; PRINSLOO,
2009). Tais definições apontam para uma concepção de cognição como restritas a
habilidades e competências individuais contidas em uma mente desvinculada de seu
entorno biofísico e sociohistórico, habilidades que diriam respeito a uma computação 3
(codificação e decodificação) específica do signo linguístico.
Tal concepção de mente descorporificada4 muito relaciona-se com uma
perspectiva cognitivista bem atuante desde meados do século passado: gerativismo,
que ancora-se em uma concepção internalista, autônoma e essencialista de
linguagem e de cognição, atrelada a um projeto modular de mente. Entretanto, sua
fundação remonta à radical separação clássica e ocidental entre mente e corpo e
atividade mental interna e sem qualquer localização física e social. Esta separação,
por sua vez, se desenrola sobre um embate filosófico e epistemológico mais amplo,
que diz respeito às condições gerais que possibilitam aos seres humanos construir
conhecimentos e significados e foi fundamental para o estabelecimento da
racionalidade moderna. Nesse sentido, renovam-se antigas questões filosóficas em
torno de dicotomias como mente/corpo, objetividade/subjetividade,
raciocínio/imaginação, inato/adquirido, lógica/senso comum.
2
Segundo Baynhan e Prinsloo (2009), nos últimos vinte e cinco anos, os estudos em letramento têm
passado por uma virada conceptual, construindo uma nova direção de pesquisa frequentemente
chamada de New Literacy Studies (NLS – Novos Estudos em Letramento).
3
Desde meados da década de 50, com os avanços nos estudos das Ciências da Computação da época,
“a cognição passa a ser explicada a partir do pressuposto de que o agente executa ações com base
[em] representações com a finalidade de resolver problemas que lhe são apresentados. A assunção de
que o comportamento depende de uma capacidade cognitiva internalizada fundamenta a ideia de que
a cognição pode ser bem explicada se for compreendida como uma computação (operação lógica
realizada sobre símbolos, repercutindo na execução de determinadas funções)” (DUQUE; COSTA,
2011)
4
O termo usado em inglês para esse conceito é disembodied, traduzido por desencarnado,
descorporificado, desencorpado.
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Entretanto, desde a década de oitenta, conforme Koch e Cunha Lima (2011),
tem sido construído um diálogo interessante entre perspectivas cognitivas e sociais 5,
5
Para uma discussão acerca das intersecções entre Ciências Cognitiva e linguística Aplicada, ver
GERHARDT. É de pessoas que se trata: o lugar da Linguística Cognitiva numa Linguística Aplicada
Indisciplinar. No prelo.
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A separação entre mente e corpo na tradição ocidental
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Não há nada sobre os seres humanos mencionados em qualquer lugar
nesta conta - nem a sua capacidade de entender, nem a sua atividade
imaginativa, nem sua natureza como organismos em funcionamento,
nem qualquer outra coisa sobre eles. (...) a natureza humana (a
corporeidade humana) do entendimento não tem qualquer influência
significativa sobre a natureza do significado e da racionalidade. A
estrutura da racionalidade é considerada como transcendendo
estruturas da experiência corporal. E o significado é considerado como
objetivo, porque consiste apenas na relação entre símbolos abstratos
e coisas (com suas propriedades e relações) no mundo. Como
consequência, a forma como os seres humanos compreendem as
coisas como significativas - a maneira como compreendem a sua
experiência - é considerada acessória em relação à natureza do
pensamento significativo e da razão. (JOHNSON, 1987, p. 10)
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Para descrever uma realidade objetiva desse tipo, precisamos de uma
linguagem que expresse conceitos que podem mapear os objetos,
suas propriedades e relações em uma literal e unívoca forma
independente de contexto. Raciocinar para obter conhecimento de
nosso mundo é visto como exigindo a união de tais conceitos em
proposições que descrevem aspectos da realidade. A razão é, assim,
uma capacidade puramente formal para conectar e fazer inferências a
partir destes conceitos literais de acordo com as regras da lógica. As
palavras são símbolos arbitrários que, embora sem sentido em si
mesmos, recebem o seu significado em virtude de sua capacidade de
corresponder diretamente às coisas do mundo. E o pensamento
racional pode ser visto como manipulação algorítmica de tais
símbolos. (idem, p. 10)
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versões, há uma compreensão de cognição de-situada, alheia aos contextos em que
acontece e aos agentes que a realizam.
Para o neurocientista português António Damásio, o erro de Descartes em
separar mente e corpo continua a prevalecer.
Pode bem ter sido a ideia cartesiana de uma mente separada do corpo
que esteve na origem, na metade do século XX, da metáfora da mente
como programa de software. De fato, se a mente pudesse ser
separada do corpo, talvez fosse possível compreendê-la sem nenhum
recurso à neurobiologia, sem nenhuma necessidade de saber
neuroanatomia, neurofisiologia e neuroquímica. É interessante e
paradoxal que muitos investigadores em ciência cognitiva, que se
julgam capazes de investigar a mente sem nenhum recurso à
neurobiologia, não se considerem dualistas.
A separação cartesiana pode estar também subjacente ao modo de
pensar de neurocientistas que insistem em que a mente pode ser
perfeitamente explicada em termos de fenômenos cerebrais, deixando
de lado o resto do organismo e o meio ambiente físico e social – e, por
conseguinte, excluindo o fato de parte do próprio meio ambiente ser
também um produto das ações anteriores do organismo. (...) não só a
mente tem de passar de cogitum não físico para o domínio do tecido
biológico, como deve também ser relacionada com todo o organismo
que possui cérebro e corpo integrados e que se encontra plenamente
interativo com um meio ambiente físico e social. (DAMÁSIO, 2012, p.
220, 221)
6
Logocentrismo é a suposição de que tanto sinais falados quanto escritos são apenas dicas e
expressões externas de significados mais profundos e verdades, verdades que se encontram tanto em
pensamentos de homens ou, em última instância, as mentes dos deuses”. (BROCKMEIER; OLSON,
2009, p. 15)
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A percepção pós-moderna do mundo é irredutivelmente pluralista, com o
poder e a autoridade dividida em um grande número de unidades e lugares, sem uma
pré-determinada ordem horizontal ou vertical.
O corpo na mente
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que a cognição é de natureza corporificada, situada e social 7. Já na década de 1970,
a Linguística Cognitiva (LC) surge como uma dessas vertentes.
A partir do trabalho de teóricos interessados na relação entre cognição,
linguagem e sociedade (como Charles Fillmore, George Lakoff, Ronald Langacker),
começa-se a enfrentar as ideais da perspectiva então predominante de que a estrutura
e a significação linguísticas poderiam ser explicadas por características internas e
especificas da linguagem, de que a mente seria um autônomo e modular sistema de
manipulação simbólica e de que as representações mentais seriam símbolos das
coisas do mundo. Em vez disso, a LC voltou-se para o estudo da linguagem e sua
relação com “nossa experiência enquanto organismos corporificados funcionando em
interação com um ambiente” (JOHNSON, 1987, p. XVI), fundando a concepção de
“mente corporificada” (embodied mind).
Segundo essa nova perspectiva, há uma relação de mútua e contínua
influência entre nossa configuração biológica (estrutura neural, perceptual, sensório-
motora e musculoesquelética) em interação com nosso entorno biosocioafetivocultural
e nossa organização conceptual mais abstrata, incluindo a estrutura linguística.
Evidências encontradas nos estudos sobre os modos de pensamento e
organização não-ocidentais, sobre a formação de conceitos, sobre categorização e
sobre a variação semântica (ver JONHSON, 1987) reforçaram o papel do corpo
(sistemas perceptuais e motores) na configuração de nosso sistema conceptual, ou
seja, da experiência sensório-motora e perceptual (somática) na formação de nossos
conceitos.
Como argumentado pela pragmática, em primeiro lugar, a experiência
nunca foi ontologicamente bifurcada, até podemos identificar aspectos
de nossa experiência unificada e abstratizá-los como se fossem
entidades separadas e distintas estruturas ou processos. Experiências
vêm como um todo contínuo, a partir do qual fazemos distinções e
construímos padrões abstratos desse todo qualitativo. Sob esse ponto
de vista, cognição é um processo orgânico, corporificado de enação
em que o organismo está dinamicamente articulado com seu entorno,
e não separado ou alienado dele. [...] Os padrões desse nosso
engajamento são padrões sensório-motor, esquemas imagéticos,
metáforas conceptuais e outras estruturas imaginativas. (JOHNSON,
2007, p. 145)
7Há ainda abordagens que compreendem a cognição também como distribuída, ou seja, ela acontece
para além dos nossos corpos, nos ambientes e artefatos que nos rodeiam e a partir das possibilidades
de interação eles nos apresentam. Há possibilidade de aproximação entre essas abordagens e a
discussão proposta por Harold Innis e outros teóricos sobre o papel da mídia (mediação material), mas
esse seria assunto para um outro ensaio ou artigo.
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Na contramão do dualismo cartesiano, a LC concebe cérebro/mente e corpo
como um organismo indissociável, e é esse organismo como um todo (não apenas o
cérebro) que interage com o nosso mundo (físico e social). A cognição, nesse sentido,
deixa de ser entendida como uma operação interna de manipulação simbólica e passa
a ser entendida numa perspectiva ecológica.
8De acordo com Johnson, a noção de “experiência” deve aqui ser entendida de maneira bem ampla,
incluindo as dimensões perceptuais básicas, motoras, emocionais, históricas, sociais e linguísticas.
9Esquemas imagéticos são imagens multi-estésicas (mapas perceptuais) que esquematicamente
10
A grafia dos nomes de frames ou esquemas imagéticos em letras maiúsculas é uma convenção
notacional utilizada na LC.
11
Voltaremos a esse conceito no decorrer de nossa discussão.
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prototípicos da experiência humana em uma dada cultura, logo em um dado sistema
conceptual, explica muito do que entendemos e/ou defendemos por acessibilidade,
normalidade, beleza. Pensar sobre o apagamento da pluralidade dessa experiência
sensório-motora e perceptual dentro de regimes de poder e controle durante a
construção desses sistemas conceptuais é reforçar a existência de algo essencial ou
a priori da existência e experiência humanas. Uma cognição corporificada é, portanto,
compatível com de-sedimentação do logos e construção/compreensão da realidade
contemporânea.
Tal perspectiva toma o corpo não apenas como suporte à vida, mas como
conteúdo e parte integrante da cognição, raciocínio e compreensão humana.
A linguagem, nessa perspectiva, é compreendida como uma capacidade
cognitiva geral de estruturação do nosso conhecimento. Assim, a construção de
significados para os mais diferentes tipos de estímulos, incluindo para as estruturas
linguísticas, relaciona-se aos padrões recorrentes de experiências corporificadas e
interação social e ao nosso aparato sensório motor e perceptual.
Um ponto crucial nesta perspectiva é que cognição consiste em
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“totalidade de recursos comunicativos, conhecimentos sobre suas funções e suas
condições de uso” (BLOMMAERT, 2007, p. 14) no processo de escrita.
As relações de poder e desigualdade que configuram as práticas de
letramento no atual mundo “globalizado” são, segundo esse autor, fruto de choques
de diferentes conjuntos de experiências padronizadas, estabilizados e estratificados
das práticas de letramentos locais: padrões histórico-míticos em narrativas (p. 22),
padrões sociais de escrita (p. 23), padrões e princípios organizacionais [do discurso]
(p. 28), padrões de organização dos recursos comunicativos para a construção de
significados específicos (p. 28) e mesmo a categorização de um não-familiar padrão
como a ausência de padrão (p. 30). Em outras palavras, nossas experiências de uso
da linguagem em contextos específicos no levam a construir padrões estabilizados do
que conta como escrita, texto, documento.
O conceito de frames, qual estrutura cognitiva complexa construída a partir de
nossa experiência, e constantemente retroalimentada por ela, pode somar-se, como
aparato conceitual, à proposta de um “etnográfico entendimento das grassroots
literacies em uma época de globalização” (idem, p. 16), tanto no que diz respeito ao
mapeamento das características que remetem às economias locais de letramentos,
bem como as relações dessas características com seu potencial de mobilidade
através de contextos translocais.
Conforme defende DUQUE (no prelo),
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Nesse sentido, Kathy Mills, em sua proposta de Letramentos Sensoriais,
aproxima-se da noção de cognição corporificada ao chamar a atenção para a
corporeidade (embodiment) e a multisensorialidade das práticas de letramento e de
comunicação, incluindo suas tecnologias de mediação e produção.
Para ela,
o reconhecimento da dimensão corporificada de práticas de
letramento não entra em conflito com os princípios estabelecidos de
estudos sócio culturais de letramento (...). Em vez disso, por
reconhecer diferentes comunidades de prática e suas diferentes
maneiras corporais de construir sentido, pontos de vista sócio-culturais
de letramento podem apoiar abordagens sensoriais, iluminando
quadros culturais [frames] de referência para práticas de letramento
somáticas através de culturas, sub-culturas e lugares sociais. (idem,
p. 138)
Kathy Mills também toma como pressuposto para sua abordagem, justamente
a não separação entre mente e corpo nas práticas sociais e de letramento. Como ela
mesma esclarece, não se trata de uma divinização do corpo, mas do reconhecimento
do esquecido papel do corpo e dos sentido nas práticas de letramento.
Mills retoma o papel central que o corpo teve nos estudos sobre poder,
autoridade e reprodução cultural de Foucault e Bourdieu, respectivamente. Também
discute a natureza espacialmente situada da experiência e aprendizado humano, bem
como na construção de sentidos.
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uma prática corporificada é uma atividade culturalmente sancionada e
culturalmente aprendida que é realizada pelo ser humano individual
movendo-se através do tempo e espaço” (HAAS, 1996, apud MILLS,
p. 147)
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A cognição, como advogado pela LC, opõe-se a uma perspectiva de uma
mente separada de seu entorno. Toda atividade cognitiva se dá no encontro, na
interação do sujeito com outros sujeitos e com o seu entorno. Não se trata, no entanto,
de um exemplar de “um sujeito cognoscitivo, situado numa terra-de-ninguém
universal” (MIGNOLO, 2003, p. 42). Cada interação é sócio, afetiva e historicamente
marcada; se dá a partir dos registro estabilizados das semantizações anteriores do
“mundo”, das situações e dos sujeitos; a partir dos “rastros” das experiências histórica
e geograficamente compartilhadas.
Considerações finais
12Segundo Beck (1997, p.40), atualmente, período que ele chama de Modernidade Reflexiva, mesmo
a natureza tem perdido seu caráter “pré-ordenado” ou objetivo e externo à ação humana, passando a
figurar como “projeto social”, um produto, “natureza interna integral e ajustável”.
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Defendemos que a corporeidade da mente e do letramento vai além das
concretas e óbvias maneiras em que todo o corpo está engajado na produção,
veiculação e recepção de textos escritos. A corporeidade é constitutiva do nosso
sistema conceptual e da própria estrutura da língua 13, além de as áreas cerebrais
responsáveis pelo aparato sensoriomotor e perceptual também estarem engajadas na
compreensão da língua(gem).
Além disso, a abertura para a relativização e reconfiguração que um sistema
conceptual formatado a partir de nossa experiência cinestésica e social nos permite
pode ser de grande contribuição na construção de perspectivas críticas acerca dos
regimes de letramentos hegemônicos.
Referências
13
Para uma discussão mais ampla sobre a corporeidade na estruturação da língua(gem) ver DUQUE;
COSTA. LINGUÍSTICA COGNITIVA: em busca de uma arquitetura de linguagem compatível com
modelos de armazenamento e categorização de experiências. Natal: EDUFRN, 2012.
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BROCKMEIER, J.; OLSON, D. R. The Literacy Episteme From Innis to Derrida. In:
OLSON, D. R.; Torrance, N. The Cambridge Handbook of Literacy. Cambridge
University Press, 2009.
JONHSON, M. The Body in The Mind. The bodily basis of meaning, imagination,
and reason. Chicago: Chicago University Press, 1987.
LAKOFF, G. Woman, fire and dangerous things. What categories reveal about
the mind. Chicago: Chicago University Press, 1987.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Philosophy in the flesh: the embodied mind and its
challenge to Western thought. New York: Basic Books, 1999.
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MIGNOLO, W. D. Histórias locais/projetos globais. Colonialidade, saberes
subalternos e pensamento liminar. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. (p. 9-76)
MILLS, K. A. Literacy theories for the Digital Age. Social, Critical, Multimodal,
Spatial, and Sensory Lenses. Bristol • Buffalo • Toronto: MULTILINGUAL MATTERS,
2016.
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