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FACULDADE DE LETRAS
SIMONE FLAESCHEN
RIO DE JANEIRO
2012
SIMONE FLAESCHEN
RIO DE JANEIRO
2012
Flaeschen, Simone.
Orações coordenadas e subordinadas do italiano e do
português do Brasil: um estudo de Análise Contrastiva /
Simone Flaeschen. -- 2012.
xii, 315 f.: il.
_________________________________________________________
Annita Gullo, Professora Doutora, UFRJ
__________________________________________________________
Flora Simonetti Coelho, Professora Doutora, UERJ
__________________________________________________________
Jaci Correia Fernandes, Professora Doutora, UFRJ
___________________________________________________________
Maria Lizete dos Santos, Professora Doutora, UFRJ
___________________________________________________________
Carlos da Silva Sobral, Professor Doutor, UFRJ
____________________________________________________________
Opázia Chain Feres, Professora Doutora, UFF (Suplente)
____________________________________________________________
Cláudia Fátima Morais Martins, Professora Doutora, UFRJ (Suplente)
Rio de Janeiro
Março de 2012
SINOPSE
À Professora Doutora Annita Gullo, minha admiração e gratidão infinitas. Em sua prática
docente, sempre se fez presente a afetuosidade, tornando o relacionamento professora-alunos o
melhor possível. Ter sido sua orientanda, tanto no Curso de Mestrado quanto no de Doutorado,
foi uma honra.
Aos Professores Doutores, membros da banca examinadora: à Maria Lizete dos Santos, a Carlos
Sobral e Jaci Correia Fernandes, agradeço a compreensão e o apoio, e também o carinho com o
qual sempre me trataram; agradeço à Professora Doutora Flora Simonetti Coelho, da UERJ, por
aceitar fazer parte da banca examinadora. Sinto-me honrada.
Ao amigo Luiz Roberto Conegundes Salvador, pelo incentivo constante, que me ajudou a
enfrentar mais esse desafio.
Às amigas Eliane Gomes da Silva e Sheila Cardoso Marchesano, que me ajudaram em momentos
difíceis da minha vida e sempre torceram pela minha felicidade.
Agradeço especialmente a meu amado marido, Anderson do Carmo Rocha, que, sempre
compreensivo, amoroso e trabalhador, apoiou-me e suportou heroicamente, junto comigo, o peso
dos sacrifícios que tivemos de fazer para que o presente trabalho fosse elaborado.
Agradeço o amor, a compreensão e o apoio de toda a minha querida família, em especial à minha
mãe, Marcélia Garavello Flaeschen, e a meus irmãos, André Flaeschen e Luciana Flaeschen.
From a study of contrastive analysis on, we present in this thesis a proposal of correspondence
between the classifications of coordinate and subordinate clauses of Italian language and
Brazilian Portuguese language. It was done analysing two groups of sentences: the first with
Italian sentences, presented by Italian grammarians to illustrate the types of coordinate and
subordinate clauses; the second group, formed by the same sentences, translated into Portuguese.
Five Italian grammars were used as sources of Italian sentences. Based on the results of the study
of the contrastive analysis and on the proposal of correspondence, which we referred above, we
indicate the types of Italian coordinate and subordinate clauses would offer a bigger difficulty
learning by Brazilian students who learn Italian as a foreign language.
A partire da uno studio di analisi contrastivo, presentiamo in questa tesi una proposta di
corrispondenza tra le classificazioni delle proposizioni coordinate e subordinate dell’italiano e
quelle del portoghese del Brasile. Lo studio a cui ci riferiamo è stato realizzato in base all’analisi
proposizionali di due gruppi di frasi: il primo gruppo è stato formato da frasi italiane presentate
da gramatici italiani per esemplificare i tipi di proposizioni coordinate e subordinate; il secondo
gruppo è stato formato dalle stesse frasi, solo che tradotte in portoghese. Cinque gramatiche sono
state utilizzate come fonti delle frasi italiane. In base ai risultati dello studio di analisi contrastivo
e alla proposta di corrispondenza, ai quali ci siamo riferiti sopra, indichiamo i tipi di proposizioni
coordinate e subordinate italiane che offrirebbero una maggior difficoltà al suo apprendimento da
parte degli studenti brasiliani di italiano come lingua straniera.
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 15
6.2. Frase multipla composta (periodo composto per coordinazione) ....................................... 138
6.2.1. Proposizioni coordinate .................................................................................................... 139
6.2.1.1. Proposizione copulativa ................................................................................................ 142
6.2.1.2. Proposizione disgiuntiva ............................................................................................... 144
6.2.1.3. Proposizione avversativa ............................................................................................... 145
6.2.1.4. Proposizione sostitutiva ................................................................................................. 147
6.2.1.5. Proposizione conclusiva o consecutiva ......................................................................... 149
6.2.1.6. Proposizione esplicativa o dimostrativa ....................................................................... 151
6.2.2. Correlazione e giustapposizione ...................................................................................... 155
6.2.3. Quadro resumitivo da proposta de correspondência entre as orações coordenadas
do italiano e as do português do Brasil ...................................................................................... 162
6.3. Frase multipla complessa (periodo composto per subordinazione e periodo misto) .......... 162
6.3.1. Proposizioni subordinate sostantive ................................................................................. 165
6.3.1.1. Proposizione soggettiva ................................................................................................. 167
6.3.1.2. Proposizione oggettiva diretta ....................................................................................... 175
6.3.1.3. Proposizione oggettiva indiretta .................................................................................... 188
6.3.1.4. Proposizione interrogativa indiretta ............................................................................. 192
6.3.1.5. Proposizione dichiarativa .............................................................................................. 200
6.3.2. Quadro resumitivo da proposta de correspondência entre as orações subordinadas
substantivas do italiano e as do português do Brasil .................................................................. 206
1. INTRODUÇÃO
se orienta pela prática. É nesta relação dialética — prática-teoria-prática — que este trabalho se
fundamenta.
No Curso de Mestrado, realizamos uma pesquisa de base etnográfica, ligada às áreas de
ensino-aprendizagem de italiano para estrangeiros e de Linguística Aplicada. A dissertação, cujo
título foi A relação professor-aluno em um curso de italiano para fins acadêmicos
(FLAESCHEN, 2006), também foi fruto da nossa experiência como professora junto a
instituições de Ensino Superior: a UFRJ — em que ministramos um Curso de Extensão de
italiano para fins acadêmicos — e a UFF / Universidade Federal Fluminense — em que
lecionamos disciplinas como Língua Italiana e Didática da Língua Italiana.
A presente pesquisa foi desenvolvida a partir dos seguintes principais questionamentos:
Através da realização de um estudo de Análise Contrastiva, identificar qual (ou quais) oração
(orações) do português corresponde(m) a cada oração coordenada e subordinada do italiano;
Identificar quais são as orações coordenadas e subordinadas do italiano que apresentam maior
dificuldade para estudantes brasileiros de italiano como língua estrangeira;
Apontar estratégia(s) para a superação das dificuldades.
2. A LINGUÍSTICA CONTRASTIVA
2.1. Introdução
1
David Crystal (1941) é um linguista, palestrante, escritor e acadêmico britânico.
20
segundo verbete, uma das capacidades humanas, a fala, apresenta-se de maneira contrastante
através da antítese mutismo/tagarelice.
O dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2011) apresenta como um dos verbetes do
vocábulo contrastivo o seguinte: “Que analisa ou descreve as diferenças entre línguas ou
variedades de uma língua (ex.: gramática contrastiva)”. O dicionário Zingarelli (1995) define o
termo contrastivo, relacionando-o à análise contrastiva, definindo-a como sendo “ramo da
Linguística Aplicada que analisa, de modo comparativo, duas línguas em vários níveis
(fonológico, morfológico, sintático e semântico), para colocar em evidência as diferenças e os
contrastes” (tradução nossa).
Partindo dos conceitos e dos exemplos apresentados — sobretudo das definições do
parágrafo anterior —, podemos entender qual é, pelo menos em parte, a proposta da Linguística
Contrastiva. Dissemos em parte, porque os dicionários gerais da Língua Portuguesa, apesar de
serem geralmente excelentes fontes de pesquisa, são meios não-especializados de se obter
conceitos detalhados de determinados saberes. As definições, por vezes, são incompletas —
como é o caso do dicionário Priberam —, ou até mesmo equivocadas — caso, como veremos
abaixo, do dicionário Zingarelli. Apesar disso, achamos interessante verificarmos os conceitos
apresentados por estes meios não-especializados, para contrastarmos, posteriormente, com meios
especializados.
A Linguística Contrastiva, na verdade, estuda e compara duas ou mais línguas (ou
variantes linguísticas), sob um ponto de vista sincrônico, para destacar não só as diferenças, os
contrastes, mas também as semelhanças entre essas línguas. Tem três modelo de investigação: a
Análise Contrastiva, a Análise de Erros e a Interlíngua. Estes serão explicados com detalhes em
outro tópico deste capítulo. Mas, por hora, já podemos entender por que o conceito de Análise
Contrastiva, apresentado pelo dicionário Zingarelli, está errado. O referido conceito deveria ter
sido atribuído à Linguística Contrastiva, pois a Análise Contrastiva é apenas um de seus modelos.
Quanto a ser ramo de uma ciência, na investigação que realizamos sobre a Linguística
Contrastiva, verificamos que há estudiosos — como Paulino Vandressen2 (1988) — que a
consideram um ramo da Linguística, e outros — como Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão3
2
Professor-Pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, vinculado ao CNPq.
3
Professora da Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Linguística Contrastiva. É Bolsista de
Produtividade em Pesquisa do CNPq. Concluiu cursos de Pós-Doutorado e Doutorado em Universidades da Espanha,
e de Mestrado e Graduação na Faculdade de Letras da UFRJ (SISTEMA DE CURRÍCULOS LATTES).
21
(2004) — que a definem como um ramo da Linguística Aplicada (LA). Atualmente sabemos que
estas são ciências da linguagem independentes e autônomas, não obstante estejam profundamente
inter-relacionadas. Sendo assim, a Linguística Contrastiva seria uma subárea de qual destas duas
ciências?
Segundo Antônio Franco ([1989?]), professor da Universidade do Porto, há dois tipos de
estudos contrastivos, um teórico e outro aplicado. A Linguística Contrastiva seria então
considerada tanto uma subdisciplina teórica da Linguística, quanto um ramo de investigação da
Linguística Aplicada. O autor afirma o seguinte a esse respeito:
De acordo com o autor, as raízes do primeiro tipo de estudo, o teórico, remontam ao final
do século XIX e início do século XX. De fato, neste período, o desenvolvimento da Linguística
enquanto ciência foi marcado por importantes estudos teóricos, sobretudo de Linguística
Histórica e de Gramática Comparada, e pela publicação, em 1916, do célebre Cours de
linguistique générale (Curso de Linguística Geral), obra póstuma de Ferdinand de Sausure
(1857-19135), que abriu novos caminhos para os estudos linguísticos, inaugurando a fase
estruturalista6. Com Saussure, a Linguística passou a ser considerada uma ciência a posteriori7,
de investigação de dados. É importante destacar o que dizem Mário Martelotta e Eduardo Areas
4
Aqui o autor considera gramática contrastiva o mesmo que Linguística Contrastiva.
5
Com o símbolo (), indicamos a data de nascimento e, com o símbolo (), indicamos a data da morte.
6
O Estruturalismo propunha-se a estudar o conjunto de relações que formam uma estrutura linguística, concebendo a
língua como um sistema composto por elementos cuja definição depende das relações de oposição ou de
equivalência que esses elementos têm entre si. O precursor do estruturalismo linguístico de Ferdinand de Saussure
foi Wilhelm Von Humboldt (1767-1835), que no início do século XIX, definia a língua como organismo vivo,
dotado de forma externa (sons), provida de sentido, e forma interna.
7
Que exige experimentação.
22
8
Segundo o dicionário Zingarelli (1995), universais linguísticos são “conceitos, elementos estruturais ou traços
comuns a todas as línguas naturais do mundo” (tradução nossa). São exemplos o substantivo e o verbo; as vogais e as
consoantes.
9
Entre estudiosos das áreas ligadas ao ensino-aprendizagem de línguas, ainda não há concenso sobre os significados
dos termos língua estrangeira e segunda língua. Consideramos aqui que o termo língua estrangeira (LE) refere-se à
língua não-nativa aprendida por um falante sem que este saia de seu país natal, e que o termo segunda língua (L2 ou
LS) refere-se à língua aprendida por um estrangeiro no país onde ela é falada.
23
língua 10. Por isso, a análise das divergências pode iluminar o processo de
aprendizagem do estudante e o de ensino do professor.
A maioria dos estudos em Linguística Contrastiva é de tipo prática e está ligada ao ensino-
aprendizagem de línguas estrangeiras ou segundas línguas, por isso a LC é considerada um dos
principais ramos da Linguística Aplicada, estando mais ligada a esta ciência do que à Linguística
teórica. Luiz Paulo da Moita Lopes (2002), linguista aplicado brasileiro, afirma o seguinte a esse
respeito:
10
Aqui a autora não faz distinção entre segunda língua e língua estrangeira.
24
LEGENDA: ESQUEMA:
11
O Positivismo foi criado por Auguste Comte (1798-1857) na primeira metade do século XIX. Uma investigação
de base positivista consiste na observação dos fenômenos, desprezando a metafísica e o sobrenatural, considerando
apenas o mundo físico ou material. Tanto o pesquisador quanto o objeto pesquisado são neutros no processo
investigativo. A ciência positivista não investiga as causas dos fenômenos naturais e sociais, pois considera tal
investigação inútil e inacessível. Busca descobrir e estudar as leis que regem os fenômenos observáveis e suas
relações. É um tipo de pesquisa cuja base é quantitativa, ou seja, utiliza dados que exigem, por exemplo, cálculos e
estatísticas, visando a produzir generalizações (TRINDADE, 2007).
A investigação de base interpretativista busca a compreensão e a interpretação da realidade a partir do ponto de vista
dos sujeitos envolvidos nela, o que inclui a visão do pesquisador. É uma investigação de tipo qualitativa, ou seja,
trabalha com dados que não podem ser medidos, como crenças, valores, atitudes e situações. Em relação à
metodologia, segundo Moita Lopes (2002), quando a investigação é interpretativista, a Linguística Aplicada usa a
etnografia ou a pesquisa introspectiva. A etnografia é o método de investigação tradicionalmente usado pela
antropologia, baseado no estudo de um objeto a partir da vivência in loco, ou seja, vivendo diretamente a realidade
em que esteja inserido o objeto investigado. Também é conhecida como pesquisa social, interpretativa ou observação
participante. A pesquisa introspectiva estuda os estados de consciência de indivíduos submetidos a certas
experiências.
25
soldados americanos aprendessem de modo rápido e eficiente a falar as línguas dos lugares para
onde seriam enviados. Investiram grandes somas em pesquisas e em cursos para treinamento
desses soldados. Em nossa Dissertação de Mestrado (FLAESCHEN, 2006), informamos o
seguinte a esse respeito:
Charles Fries, Robert Lado e outros conceituados linguistas — como Leonard Bloomfield
(1887-1949), considerado o fundador da Linguística Estrutural norte-americana —, estiveram à
frente destas pesquisas. Foram contratados também, além dos linguistas, informantes nativos.
Para desenvolverem um método de ensino de idiomas para o referido projeto militar, os
pesquisadores realizaram estudos que chamaram de Análise Contrastiva — como afirmamos
anteriormente. Esses estudos consistiam em comparar dois sistemas linguísticos, o da língua
materna — no caso, o inglês — e o da língua estrangeira, para, a partir da identificação das
diferenças e semelhanças entre eles, verificar as estruturas da língua estrangeira que
apresentariam mais dificuldade para os aprendizes.
Fries e Lado buscavam construir gramáticas contrastivas — uma para cada par de línguas
— que hierarquizassem as correspondências dos diferentes níveis gramaticais, para terem o
“controle” das dificuldades e das interferências12 no processo de ensino-aprendizagem da língua
estrangeira (GARGALLO, 1993).
Esses linguistas também experimentaram combinar certos princípios de algumas
disciplinas, tais como a Linguística Antropológica13 e a Psicologia Comportamental14, praticando
a interdisciplinaridade que caracteriza a Linguística Aplicada. O trabalho deles levou à criação do
método audiolingual para ensino de idiomas, que prioriza a língua oral e utiliza exercícios de
12
Fenômeno linguístico caracterizado pela utilização inadequada de estruturas e elementos linguísticos da língua de
partida na língua de chegada. (DURÃO, 2008)
13
Ramo da Linguística que se apoia na Antropologia para estudar a linguagem.
14
Ramo da Psicologia que estuda as relações entre as emoções, os pensamentos, os comportamentos e os estados
fisiológicos. Sua base teórica é o Beheviorismo e apoia-se na premissa de que a aprendizagem ocorre a partir do
condicionamento comportamental dos indivíduos.
26
15
O americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) realizou trabalhos inovadores em Psicologia Experimental
e é o fundador do Behaviorismo Radical. Skinner buscava compreender o comportamento humano através do
comportamento operante (GOODWIN, 2010).
16
Ato de Defesa e Educação Nacional; também chamado de Title VI.
17
A abordagem direta propõe a aprendizagem da língua estrangeira através da mesma. A língua materna não deve
ser usada nas aulas, pois o aluno deve aprender a pensar, usando a língua-alvo. No lugar da tradução das palavras e
sentenças, podem ser utilizados recursos como mímica, gestos e gravuras. Diálogos situacionais (como por exemplo
"no banco", "no mercado", etc.) e pequenos trechos de leitura devem introduzir as aulas, porque a oralidade deve
preceder a escrita. Exercícios de compreensão auditiva, conversação livre, pronúncia e escrita baseada em respostas a
questionários devem ser trabalhados nas aulas. Com a abordagem direta, pela primeira vez houve a integração das
27
Doze18 ‒ seu sucesso foi tão grande que as universidades se interessaram pela
experiência. Depois, as escolas secundárias seguiram na adoção do método,
provocando um aumento significativo no número de matrículas. Devido à
existência de linguistas no projeto, o ensino de línguas adquiria agora o status de
ciência.
quatro habilidades (na sequência de ouvir, falar, ler e escrever) no ensino de línguas. Gramática e aspectos culturais
da língua estrangeiras deveriam ser ensinados indutivamente.
A técnica da repetição é usada para o aprendizado automático da língua. 0 uso de diálogos sobre assuntos da vida
diária tem por objetivo tornar viva a língua usada na sala de aula. 0 ditado é abolido como exercício” (LEFFA,
1988).
18
A chamada Comissão Extraordinária dos Doze, ou Comissão dos Doze, foi criada durante a Revolução Francesa
(1789-1799) para procurar e perseguir conspiradores. A instauração desta Comissão ‒ composta por doze membros,
em sua maioria girondinos ‒ levou à Insurreição de 2 de Junho de 1793, à queda dos Girondinos e ao começo do
Terror.
19
Eugene Nida (1914-2011): Ph.D. em Linguística pela Universidade de Michigan. Destacou-se no campo da
Tradução.
20
Influenciada pelo Existencialismo ‒ que valorizava o aspecto individual do ser humano ‒ e pela Fenomenologia ‒
que se ocupava dos fenômenos da consciência ‒, a Psicologia Humanista surgiu na década de 50 e teve seu auge nos
anos 60 e 70. Foi uma reação ao Behaviorismo e à teoria psicanalista. Sua proposta era “humanizar” o lado psíquico
do ser humano, valorizando o seu consciente, o seu livre-arbítrio, a sua criatividade e o seu potencial para ser
autorrealizador. Os principais representantes foram os americanos Abraham Maslow (1908-1970) ‒ considerado o
pai espiritual desse movimento ‒ e Carl Rogers (1902-1987), que defendia que cada pessoa tem uma tendência
inata de atualizar suas capacidades e seus potenciais (MACHADO, 2010).
21
Estuda a cognição, os processos mentais ligados a cada comportamento. Está ligado à ciência cognitiva, que estuda
questões sobre memória, atenção, percepção, representação de conhecimento, raciocínio e criatividade.
28
apenas com base em experiências de laboratório, sem nunca terem feito pesquisas empíricas ou
nem terem atuado como professores de línguas estrangeiras. Isso era um fator muito negativo.
Além disso, desde a década de 70 vinham surgindo novas abordagens de ensino-aprendizagem de
línguas — como a Abordagem Comunicativa —, inspiradas no pensamento de Noam Chomsky,
crítico do Beheviorismo.
A Linguística Aplicada enfrentava um período de crise no seu alicerce, o ensino-
aprendizagem de línguas. Ora, se a Linguística Contrastiva era o principal ramo da LA, e ramo
cuja maioria dos trabalhos era sobre ensino-aprendizagem de idiomas, conclui-se, então, que a
Linguística Contrastiva também enfrentava a mesma crise.
Conscientes dessa situação crítica, os linguistas aplicados deixaram de buscar suporte
teórico exclusivamente na Linguística e passaram, então, a buscar ferramentas e subsídios em
outras áreas, como na Pedagogia, na Psicologia Cognitiva, na Semântica, na Análise do Discurso.
Passaram a ver a linguagem como fenômeno social. Doris de Almeida Soares (s.d.) esclarece:
estrangeiras na atualidade: algumas relações (2003), resume a história desta ciência da seguinte
forma: “[...] a Linguística Contrastiva surge em 1945, consolida-se na década de 50, entra em
crise nos anos 80, mas recupera sua força, voltando a ser empregada com vistas a potencializar o
processo de ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras”.
antigas, por terem conservado textos de milhares de anos atrás. Esse tipo de estudo, porém, já
vinha sendo desenvolvido timidamente por outros linguistas pelo menos desde o século XVII.
Depois disso, em 1813, Thomas Young ( 1773-1829), físico, médico, egiptólogo e
linguista britânico, usa pela primeira vez o termo “indo-europeu” em um artigo para referir-se ao
que seria a língua-mãe das línguas europeias e do sânscrito.
Em 1816, o linguista alemão Franz Bopp (1791-1867) publicou a obra Über das
Conjugationssystem der Sanskritsprache...22 (Sobre o sistema das conjugações do sânscrito...), na
qual compara as conjugações do sânscrito, do latim, do grego, do persa e do alemão e aponta
afinidades fonéticas e morfológicas que comprovariam a existência do indo-europeu.
Entre 1833 e 1852, Franz Bopp escreve a chamada Vergleichende Grammatik des
Sanskrit...23 (Gramática Comparada das línguas indo-europeias), que dá início aos estudos das
línguas indo-europeias em universidades. De grande relevância científica também foram os
trabalhos dos linguistas Rasmus Rask (1787-1832), dinamarquês, e Jacob Grimm (1785-
1863), alemão. Realizaram pesquisas sobretudo de correspondência fonética. A chamada “Lei de
Grimm” ou “Primeira mutação consonântica do germânico”, ligada à área de fonética histórica, é
resultado de importante descoberta feita por Jacob Grimm em 1822 a respeito de variações de
consoantes indo-europeias.
O século XIX, portanto, foi marcado por muitas pesquisas de Linguística Histórica, que
destacou a comparação como método básico de investigação. O texto abaixo chama a atenção
para o tipo de estudo que predominou nesta área na segunda metade do referido século:
22
O título completo é Über das Conjugationssystem der Sanskritsprache in Vergleichung mit jenem der
griechischen, lateinischen, persischen und germanischen Sprache: nebst Episoden des Ramajan und Mahabharat
und einigen Abschnitten aus den Vedas (Sobre o sistema das conjugações do sânscrito comparado aos das línguas
grega, latina, persa e germânica).
23
O título original é Vergleichende Grammatik des Sanskrit, Zend, Griechischen, Lateinischen, Litthauischen,
Altslawischen, Gotischen und Deutschen (Gramática Comparada do sânscrito, zend (avestan), grego, latim, lituano,
eslavo, gótico e alemão).
33
Assumimos que o aluno que entra em contato com a língua estrangeira vai
encontrar algumas características da mesma muito fáceis e outras extremamente
difíceis. Os elementos que são semelhantes à sua língua nativa serão simples
para ele, e os elementos que são diferentes serão difíceis.
34
24
Ver nota 12.
35
Chamado também de Versão Forte, este modelo tem sua base teórica na Linguística
Estrutural25 e no Comportamentalismo 26. Concebe o processo de aprendizagem de uma língua
estrangeira como a aquisição de uma série de hábitos, baseados no binômio estímulo-resposta.
Segundo Fernandez Gonzalez (1995), as línguas são consideradas “conjuntos de hábitos
adquiridos que respondiam a estímulos externos”. O erro é visto como fator negativo, pois
representa um desvio da norma da língua que se está aprendendo. De acordo com esse modelo, a
principal causa do erro é a interferência da língua materna sobre a aprendizagem da língua
estrangeira.
O objetivo principal dos estudos contrastivos era melhorar o processo de ensino-
aprendizagem de idiomas, por isso seu foco de investigação eram as divergências linguísticas.
Segundo este modelo de análise, são as diferenças entre as línguas que causam as difculdades da
aprendizagem da LE. A estratégia para se superar as dificuldades é realizar um trabalho de
graduação dessas diferenças. De acordo com Weinreich (1953), quanto maior for a diferença
entre dois sistemas, isto é, à medida que sejam mais numerosas as formas e padrões de cada um,
maior será a dificuldade de aprendizagem e onde mais interferências acontecerão.
A Análise Contrastiva serviu de base para a criação do método audiolingual — como
explicamos no tópico 2 deste capítulo —, para a produção de materiais didáticos e para o
planejamento de cursos de idiomas.
Ronald Wardhaugh (apud DURÃO, 2004), em 1970, criticou o modelo sobretudo por este
desprezar a produção escrita e oral dos alunos. Esse autor apoia a denominada Versão Fraca,
centrada na produção linguística dos aprendizes. Porém, essa proposta tinha a mesma base teórica
que a Versão Forte, pois se apoiava no fator transferência: positiva, quando a LM e a LE eram
semelhantes, e negativa, quando eram diferentes. Analisaremos a versão fraca no próximo tópico.
O modelo de Análise Contrastiva foi muito criticado durante a década de 70 do século
XX. Adja Balbino Durão (2004) aponta três críticas como as mais relevantes. A primeira é a
respeito da base behaviorista, combatida por Chomsky. Este linguista recebeu pleno apoio dos
25
Ver nota 6.
26
Ver nota14.
36
teóricos da área ao defender a ideia de que a língua é uma faculdade vinculada ao sistema
cognitivo do ser humano, e não um conjunto de hábitos adquiridos.
A segunda crítica refere-se à ideia de que todas as diferenças entre LM e LE
necessariamente representariam dificuldades e provocariam erros durante o processo de
aprendizagem da LE. Pesquisas indicaram que nem sempre isso acontecia, ou quando acontecia,
muitos erros eram rapidamente superados.
A terceira crítica é direcionada ao pressuposto de que a interferência seria a única causa
de dificuldades e erros. Pesquisas — sobretudo as de Dulay, Burt e Krashen — também
derrubaram esse pressuposto. Muitos outros fatores influenciavam a ocorrência de erros por parte
dos alunos de LE, tais como falta de motivação, idade, falta de aptidão para o estudo de línguas
etc.. Segundo Vandresen (1988), muitos erros aconteciam devido à estrutura intralinguística da
LE. Os verbos irregulares são exemplo disso: em inglês, *goed27, em lugar da forma correta went;
em português, *fazi, em vez do correto fiz.
Vandresen (1988) chama a atenção para uma das questões mais criticadas nesse modelo
de análise: o fato de estar centrado em evitar a ocorrência de erros, e não em desenvolver a
comunicação. O professor devia corrigir o aluno no ato em que esse cometia algum erro ao se
manifestar através da LE. Com isso, a espontaneidade e a interação em sala de aula, por exemplo,
ficavam comprometidas.
Essas e outras críticas fizeram com que linguistas aplicados, já na década de 60, se
desinteressassem pelo modelo de Análise Contrastiva, o que levou a formulação do próximo
modelo, o de Análise de Erros.
Adja Balbino Durão (2004), porém, afirma o seguinte em defesa do modelo de Análise
Contrastiva:
27
O asterisco representa agramaticalidade, ou seja, forma inexistente na língua.
37
EXEMPLO 1:
O número 16, em italiano, se diz sedici; é muito comum os estudantes brasileiros dizerem
diciasei (forma agramatical), por interfrência da forma dezesseis, da língua portuguesa.
EXEMPLO 2:
Também é muito comum a confusão que os brasileiros fazem entre os verbos ter, do português, e
avere (ter) e esserci (haver, estar presente), do italiano. Consideremos a seguinte frase: Tem uma
pessoa na praça. Os brasileiros, ao tentarem dizer essa frase em italiano, costumam dizer
38
erradamente: Ha una persona nella piazza. A frase correta em italiano é: C’è una persona nella
piazza.
28
É o mesmo que distância linguística.
40
estudos dos erros sistemáticos na produção oral e escrita dos alunos de LE. No resumo do
referido artigo, o linguista (1967) afirma:
No texto acima, fica claro que Corder se apoia prioritariamente na Teoria de Aquisição
Linguística de Noam Chomsky, segundo a qual a aprendizagem linguística é resultado do
desenvolvimento de uma série de estratégias cognitivas por parte do aluno. Essas estratégias são
inatas, bem como é inata a capacidade do ser humano de desenvolver a linguagem verbal. Trata-
se da ideia de competência linguística proposta por Chomsky.
Na Análise de Erros, como dissemos anteriormente, trabalha-se com um corpus composto
por produções dos alunos, devidamente registradas através sobretudo de gravações de áudio,
filmagens e textos escritos por esses aprendizes. O trabalho com o corpus inclui pelo menos as
seguintes tarefas:
29
No original: “Error (not mistakes)”. Segundo dicionários de inglês-português, tanto error quanto mistake podem
ser traduzidos para o português como erro, engano. A diferença entre esses termos seria que error é mais formal.
Porém, preferimos traduzir error como erro, e mistakes como deslizes, esta última expressão suaviando a ideia de
erro.
30
No original: “built-in syllabus”; as aspas foram usadas pelo próprio autor.
41
Corder estabeleceu distinção entre dois tipos de erros, identificados através de duas
palavras em inglês: error e mistake. O termo error — que vamos traduzir como erro — refere-se
a um desvio da norma culta, da língua padrão. É classificado como sistemático e tem a ver com o
nível de domínio da LE por parte do aluno. Esses erros podem ser causados por fatores como
interferência 31 e falta de conhecimento de certas estruturas ou de vocabulário. Esses são os erros
que interessam ao modelo de Análise Contrastiva.
Por sua vez, a expressão mistake — que preferimos traduzir como deslize — é o erro não-
sistemático, que é o que não se repete sistematicamente. Esses deslizes são causados, por
exemplo, por esquecimento.
A interpretação e classificação dos erros deve respeitar “variáveis como a idade do aluno,
a tensão nervosa, a metodologia de ensino, a motivação e o interesse” (FIALHO, 2005). Segundo
Corder (in DURÃO, 2004, p. 17):
O professor tem de ter, então, a capacidade de diferenciar os dois tipos de erros que os
alunos venham a cometer durante as aulas e, segundo este modelo de análise, deve dar atenção
apenas aos erros que forem sistemáticos.
O modelo de Análise de Erros se apoia também em outras concepções teóricas, além da
Teoria de Aquisição Linguística, e a de competência linguística. Segue também o conceito de
competência comunicativa, proposto pelo linguista, sociolinguista, antropólogo e folclorista Dell
Hymes (1927-2009). Este conceito defende a influência dos aspectos culturais e contextuais
durante o processo comunicativo. O falante tem de adequar a língua a esses aspectos, logo, eles
devem ser levados em conta no processo de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras.
Marcelo Clemente (2008) esclarece:
31
Ver tópico 2.4.1.1 desta tese.
42
A nosso ver, o principal avanço que este modelo conseguiu foi que se admitisse que a
ocorrência de erros é inevitável no processo de aprendizagem tanto da língua materna quanto das
línguas estrangeiras. Antes, com o modelo de Análise Contrastiva, os erros eram sinônimos de
fracasso. Com a Análise de Erros, estes passam a ser vistos como estratégia cognitiva, refletem a
tentativa do aluno de usar a língua que ele está aprendendo.
Alguns linguistas consideram o modelo de Análise de Erros uma evolução em relação ao
modelo de Análise Contrastiva. Concordamos com os que consideram esses modelos
complementares, como José Manuel Vez Jeremías (2004):
erros segue, por sua parte, uma metodologia ‘a posteriori’ com a qual pretende
descobrir a causa de um tipo ou outro de erro. (tradução nossa)
2.4.3. Interlíngua
Noi
Noi siomos
siomos brasiliani.
brasiliani.
A expressão siomos torna o enunciado agramatical, porque ela não existe; porém, é
possível verificarmos que o termo tem características morfológicas de um verbo. Entendemos que
o estudante tentou dizer em italiano Noi siamo brasiliani, que em português significa Nós somos
brasileiros. O termo agramatical siomos se assemelha tanto a siamo, do italiano, quanto a somos,
do português. Fica claro que o indivíduo que produz sistematicamente o enunciado acima ainda
44
não aprendeu ainda a forma correta do verbo essere flexionado na 1ª pessoa do plural do presente
do indicativo.
Outros linguistas vinham estudando a interlíngua, atribuindo-lhe outros nomes. William
Nemser destacou a natureza transitória e dinâmica desse sistema linguístico e o denominou
"sistema aproximativo". Jack Richards o chamou de “competência transitória”. Dulay e Burt o
identificaram pela expressão “hipótese de construção criativa”.
Stephen Pit Corder, que desenvolveu o modelo de Análise de Erros, também tratou desse
terceiro modelo da Linguística Contrastiva, porque esses dois modelos estão mais interligados em
termos teóricos, do que a Análise de Erros e a Análise Contrastiva. Corder escreveu artigos e
livros sobre o sistema. Inicialmente chamava-o de “dialeto idiossincrático”.
É importante esclarecer que o termo “interlíngua” também foi usado anos antes com outro
significado. Referia-se a uma língua auxiliar internacional elaborada em 1951 por Alexander
Gode32, da International Auxiliary Language Association (Associação Internacional de língua
Auxiliar). Essa língua foi construída, durante mais de duas décadas de estudos linguísticos, a
partir de vasto vocabulário considerado comum a línguas de grande difusão mundial: inglês,
francês, italiano e espanhol/português33. Muitas dessas palavras também eram de origem greco-
romana. As obras básicas sobre essa interlíngua são Interlingua: English Dictionary (Interlíngua:
Dicionário de Inglês), com 27.000 palavras, e Interlingua Grammar (Gramática de Interlíngua),
ambas publicadas em 1951. Essa interlíngua nada tem a ver com a interlíngua proposta por Larry
Selinker.
Ligado à Linguística Contrastiva, Selinker procurou elaborar uma teoria psicolinguística
da aprendizagem de línguas estrangeiras. Ele afirmou que a mente do ser humano tem dois
importantes tipos de estruturas: a estrutura latente da linguagem e a estrutura psicológica
latente. A primeira está relacionada à capacidade genética de aquisição da língua materna. Adja
Balbino Durão (2004) diz que, segundo Selinker, esta “é a contrapartida biológica da gramática
universal que a criança transforma na gramática de uma língua particular”. A estrutura
psicológica latente é a que permite o desenvolvimento da interlíngua. Durante o processo de
aprendizagem da LE, esta estrutura mental promove “identificações entre-línguas” (interlingual
32
Alexander Gottfried Friedrich Gode-von-Aesch, ou simplesmente Alexander Gode (1906-1970).
33
Espanhol e português foram consideradas juntas.
45
identifications) de modo dinâmico. Isso ajuda o aprendiz a entender a língua estrangeira e tentar
se comunicar através dela. Adja Balbino Durão (2004) apresenta mais detalhes:
Vejamos a seguir um quadro resumitivo que elaboramos sobre esses três modelos da
Linguística Contrastiva, visando a estabelecer uma comparação entre eles. Nesse quadro,
destacamos alguns tópicos que consideramos mais importantes34:
As diferenças que esses modelos aprensentam entre si permitem que eles sejam
complementares. A Análise de Erros surge como uma resposta às críticas sofridas pela Análise
Contrastiva. Uma das mais relevantes foi sobre o fato de este modelo não considerar a produção
dos alunos. Os dois modelos subsequentes “corrigem” isso.
As mudanças ocorridas entre Análise Contrastiva e Análise de Erros são bastante radicais.
Os fundamentos teóricos dos dois modelos e a visão sobre “erro”, por exemplo, são claramente
antagônicos. Em relação a esse último tópico, enquanto para a Análise Contrastiva o erro em LE
é visto como fator negativo, como fracasso, para a Análise de Erros, o erro é natural e inevitável,
tornando-se inclusive o foco da investigação desse modelo.
As mudanças ocorridas entre o modelo de Análise de Erros e o de Interlíngua são mais
suaves. Ambos seguem praticamente os mesmos fundamentos teóricos e compartilham também
do mesmo tipo de corpus investigativo: a produção oral e escrita dos aprendizes de LE.
34
Para elaborar o quadro, baseamo-nos no texto O modelo de AC, o modelo de AE e o modelo de IL frente a frente,
de Adja Balbino de Amorim Barbieri Durão (DURÃO, 2004, p. 21-22).
48
É, portanto, questão de bom senso usar a Linguística Contrastiva como aliada no trabalho
em sala de aula de língua estrangeira, em qualquer nível do processo de ensino-aprendizagem,
pois o fenômeno da interferência, por exemplo, não está preso a nenhum nível específico do
referido processo. Fernández conclui: “[...] a Linguística Contrastiva é importante sim nos dias
atuais posto que suas contribuições são perfeitamente aplicáveis e são, igualmente, aplicadas no
nosso dia-a-dia, mesmo que nem sempre sejamos conscientes disso”. Fernández ainda esclarece:
Vale ressaltar também o que diz Paolo Balboni (2002) a respeito da importância da
Linguística Contrastiva: “Relevante sobre o plano glotodidático é a contribuição da Linguística
Contrastiva, que procura prever a ocorrência de erros através do confronto entre duas línguas”.
Sobre esse tipo de análise, Anna Ciliberti (1997) afirma o seguinte:
Por todos os argumentos que apresentamos aqui, não resta dúvida de que a Linguística
Contrastiva é muito importante para a área de ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras.
51
La speranza che Anna tornasse non abbandonava Paolo. (SABATINI, 1994, p. 481)
Para fazer a análise desse período composto italiano, os alunos poderiam seguir estratégias
diferentes, mas em geral seguiam os seguintes passo:
52
1. Traduziam a frase;
2. Identificavam os verbos, para verificar o número de orações;
3. Separavam as orações, usando barras diagonais ( / ) ou colchetes ( [ ] );
4. Classificavam as orações.
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa determinativa
Não houve erro nos três primeiros passos. A tradução da frase e a identificação dos verbos
estão corretas, mas a classificação das orações está parcialmente errada. A primeira oração
(proposizione, em italiano) é, de fato, a oração reggente (principal). A segunda oração, che Anna
tornasse, não é subordinata relativa determinativa, que em português significa “subordinada
adjetiva restritiva”. A classificação correta dessa oração em italiano é subordinata sostantiva
oggettiva diretta, que em português significa “subordinada substantiva objetiva direta”.
Por que os alunos acertaram a classificação da primeira oração e erraram a da segunda?
Acertaram a classificação da primeira, porque ela é a mesma em italiano e em português. O que
muda é o termo designativo: em italiano, se diz reggente e, em português, se diz principal. Já em
relação à segunda oração, os alunos erraram sua classificação, porque pensaram na do português.
A oração “que Ana voltasse”, de acordo com a gramática descritiva da língua portuguesa, é
classsificada como “subordinada adjetiva restritiva”. Mas a gramática descritiva italiana — como
já afirmamos — considera a oração che Anna tornasse uma subordinata sostantiva oggettiva
diretta (subordinada substantiva objetiva direta), ou seja, uma classificação totalmente diferente
53
Contrastiva aplicada, sobretudo porque seu objetivo central é didático, ou seja, aplicar os
resultados desse estudo no ensino do italiano como língua estrangeira.
55
Segundo António Franco ([1989?]), “é ponto assente entre os que trabalham na área da
contrastividade que a comparação sincrônica de duas línguas se faz com base no mesmo modelo
de gramática”, ou seja, deve haver coerência entre os fundamentos teóricos da Linguística
Contrastiva, em quaisquer de seus três modelos, e os tipos de gramática utilizados no trabalho de
contrastação. Vejamos essa relação mais a fundo, verificando primeiramente quais conceitos de
gramática devem-se considerar neste estudo.
O termo gramática veio do grego grammatiké. Formou-se a partir da expressão grámma
que significava letra. Originalmente, designava a “arte de ler e de escrever”, referindo-se a um
conjunto de técnicas de leitura e de escrita; posteriormente passou a ter outras acepções
(INFANTE, 1997), e aqui nos interessam duas delas. A primeira é a que concebe a gramática
como um conjunto de princípios que regem o funcionamento de uma língua. Esses princípios
envolvem os elementos constitutivos da língua, ou seja, os sons, as formas, as palavras, as
construções, os recursos expressivos. Estes elementos são agrupados e estudados em partes. A
Nomenclatura Gramatical Brasileira (HENRIQUES, 2009), adotada em 1959, aponta três partes:
Fonética, Morfologia e Sintaxe. Explicando sucintamente, a Fonética trata do estudo dos sons;
como devem ser escritos, pronunciados etc.. A Morfologia trata da estrutura e da formação das
palavras, agrupando-as em classes. E a Sintaxe é a parte que estuda as relações lógicas entre as
palavras, as combinações e as funções destas nos enunciados.
Interessa-nos também entender gramática como livro didático que contém essa disciplina.
Nesta tese, trabalhamos com algumas gramáticas da língua italiana e da língua portuguesa,
conforme veremos com mais detalhes no capítulo 5. Em geral, esses manuais didáticos — como
os elaborados para o ensino do português nas escolas de níveis Fundamental e Médio 35 no Brasil
— trazem as três partes fundamentais da gramática — citadas no parágrafo anterior — e ainda
outras divisões, tais como a Semântica, que trata das relações de significado das palavras, e a
Estilística, que trata do uso estético da linguagem.
35
O Ensino Fundamental vai do primeiro ano — no qual a criança deve ingressar ao completar seis anos — ao nono
ano de escolaridade. O Ensino Médio vem após o Ensino Fundamental e é constituído de três anos.
56
defenda a ideia radical de que esse tipo de estudo deve ser completamente abolido. Luiz Carlos
de Assis Rocha, na sua obra Gramática: nunca mais (2007, p.16-17), compartilha esse
posicionamento no contexto do ensino do português como língua materna nas escolas brasileiras:
O autor declara haver uma “confusão reinante” no que tange ao ensino do português. Na
obra Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio36, publicada pelo Ministério da
Educação do Brasil (1999, p. 137), através da Secretaria de Educação Média e Tecnológica,
admite-se que esse problema vem ocorrendo há anos:
Assis Rocha (2007, p. 16) faz uma crítica direta ao estudo da gramática descritiva em
instituições de ensino de vários níveis. O autor considera inútil essa prática:
36
Os chamados Parâmetros Curriculares Nacionais são diretrizes propostas pelo Governo Federal para a educação
básica no Brasil. São dirigidos aos professores para orientá-los sobretudo na elaboração dos planos de curso das
disciplinas do Ensino Fundamental e do Ensino Médio no Brasil.
58
O resultado da falta de foco no ensino da língua padrão é que os alunos não progridem no
processo de domínio do próprio idioma. Assis Rocha (2007, p. 63) acrescenta o seguinte a
respeito desta situação:
59
A afirmação acima é muito importante, porque explica de modo simples a relação entre os
dois tipos de gramática em questão, evidenciando o caráter abrangente da gramática descritiva.
Vejamos, nos próximos tópicos, as gramáticas ligadas aos modelos da Linguística Contrastiva.
Primeiramente é fundamental destacar que a Linguística, por ser uma ciência descritiva e
explicativa (LOPES, 2007), gera gramáticas descritivas. A Linguística Contrastiva, que é uma
subárea da Linguística e da Linguística Aplicada, trabalha principalmente com esse tipo de
gramática.
60
Como afirmamos no início deste capítulo, são os fundamentos teóricos de cada modelo da
Linguística Contrastiva que determinam o tipo de gramática ligado a cada modelo. Verifiquemos,
no quadro a seguir, as correspondências que se estabelecem:
TÓPICOS
MODELOS PRINCIPAIS FUNDAMENTOS TEÓRICOS GRAMÁTICAS
DE LC
Pensar a língua somente sob o escopo formal, ou então, pensar a língua somente
relacionada ao contexto de uso pode trazer um recorte nos estudos linguísticos.
Essa disputa, por assim dizer, por espaço, nos parece ser deveras desnecessária
para o estudo. De uma forma mais ampla, essas duas grandes concepções
defendem posições distintas, não devendo haver, então, uma disputa por uma
teoria que deva ser a correta. Todas, dentro do que se propõem a pesquisar,
apresentam informações de grande importância para o estudo, dando um maior
aprofundamento em dado aspecto.
Logo, todas as teorias linguísticas que surgiram ao longo dos tempos foram importantes
para a evolução do estudo da linguagem e, falando metaforicamente, cada uma delas é uma
espécie de peça de um grande quebra-cabeça que é o esforço por se compreender plenamente a
comunicação verbal humana. As duas principais correntes ligadas à Análise Contrastiva, o
Formalismo — cujas principais vertentes são o Estruturalismo e o Gerativismo — e o
Funcionalismo, são, conforme afirma Ataliba de Castilho (2010, p. 64), as de maior prestígio da
Linguística Contemporânea.
37
A pragmática é um ramo da Linguística. Estuda a linguagem, considerando a influência do contexto de uso.
62
Não podemos deixar de explicar que os três modelos da Linguística Contrastiva também
têm uma ligação com a gramática internalizada ou implícita. É esta gramática que promove o
fenômeno da interferência linguística na aprendizagem da língua estrangeira.
Vejamos com mais detalhes, nos próximos tópicos, os três modelos e as gramáticas
ligadas a eles.
Carlos Franchi (1991, p. 54) define gramática internalizada ou implícita como sendo o
“saber linguístico que o falante de uma língua desenvolve dentro de certos limites impostos pela
sua própria dotação genética humana, em condições apropriadas de natureza social e
antropológica”. O falante desenvolve e usa essa gramática de modo inconsciente. Esta reflete a
competência do usuário para usar a língua para se comunicar; representa o seu nível de domínio
da norma culta da língua. Celso Pedro Luft (2002, p. 16) chama este tipo de gramática de natural
e esclarece:
Conforme Luft afirma acima, a gramática natural ou internalizada ou implícita está ligada
à dicotomia competência e desempenho, introduzida por Chomsky nos estudos de Linguística.
Nesse contexto, competência é a capacidade inata do ser humano de se comunicar através de um
sistema de sinais vocais. Ela possibilita o desenvolvimento da gramática internalizada;
desempenho refere-se à performance que cada um tem ao usar a língua; depende, portanto, da
competência. Para Canale e Swain (1980, p. 3), a competência “corresponde ao conhecimento da
gramática e outros aspectos da língua, enquanto o desempenho diz respeito ao uso real”.
63
Luft (2002, p. 21) contrapõe a gramática natural à gramática artificial e afirma que “a
segunda só vale enquanto reprodução, cópia da primeira”. É o registro da primeira, e esta, a
natural, é considerada pelo autor como sendo a verdadeira gramática de uma língua:
Segundo Luft, a gramática artificial tem duas grandes vertentes: a tradicional e a moderna.
A tradicional tem herança greco-latina, e suas duas principais orientações são a gramática
normativa e a descritiva. A gramática moderna é, nas palavras de Luft, “fruto dos progressos da
ciência linguística”, resultado dos trabalhos de linguistas como Ferdinand de Saussure, Edward
Sapir, Leonard Bloomfield e Luís Hjelmslev. O autor afirma que as vertentes principais da
gramática moderna são a gramática estrutural e a transformacional.
A gramática descritiva se ocupa, como vimos, de registrar e descrever cientificamente as
variações de uma língua, levando em conta o seu uso real pelos falantes. Considerando a
dicotomia de que tratamos no início deste tópico, podemos dizer que o foco da gramática
descritiva é o desempenho dos falantes de uma dada língua. Mas, de acordo com Luft (2002, p.
21), “até hoje, nenhuma aceitação e codificação (no sentido de documentalizar para tornar oficial)
ou reprodução fiel, completa, de nenhuma gramática natural foi conseguida. Isso quer dizer que a
pessoa sabe mais da língua do que consegue falar ou escrever sobre ela”.
A existência da gramática implícita pode ser constatada através de alguns fatos, entre os
quais destacaremos dois. O primeiro é o fato de crianças que têm o português como língua
materna dizerem, por exemplo, fazi (forma agramatical38), em lugar de fiz, e trazi (forma
agramatical), em lugar de trouxe, quando estão aprendendo a falar. Elas demonstram que
inconscientemente aplicam a regra de conjugação dos verbos regulares — regra esta já
38
O termo agramatical refere-se a uma expressão ou a um enunciado inaceitável em uma determinada língua, por
desrespeitar as regras da gramática normativa dessa língua.
64
internalizada por elas — com verbos irregulares — cuja regra de conjugação desconhecem —,
resultando no uso das formas agramaticais fazi e trazi.
O segundo fato é a hipercorreção, que ocorre quando o falante comete um erro ao se
expressar verbalmente, por tentar corrigir o que ele supõe estar errado na língua. É quando, por
exemplo, alguém diz orinar (forma agramatical) em vez de urinar, ou quando diz adevogado
(forma agramatical), ao invés de advogado.
José Carlos de Azeredo (2010, p. 129) chama a gramática que estamos tratando de
internalizada ou latente e explica: “A gramática latente corresponde ao conhecimento que cada
usuário tem de uma língua específica qualquer — sua língua materna — e que o torna apto a
produzir e compreender frases nessa língua”. Porém, a gramática internalizada não diz respeito só
à língua materna. Quando começamos a aprender uma língua estrangeira, damos início ao
processo de desenvolvimento de uma gramática internalizada dessa língua. Essa gramática
implícita aparece quando usamos a língua estrangeira.
Quanto à ideia de erro linguístico, ele só poderá ser considerado como tal se a gramática
internalizada, ao se manifestar através do desempenho do falante com a língua materna ou
estrangeira, for analisada sob a ótica da gramática normativa.
Tratemos agora da ligação entre a Linguística Contrastiva e a gramática internalizada ou
implícita. Como já afirmamos, o modelo de Análise Contrastiva não trabalha com a produção
oral e escrita de aprendizes de língua estrangeira. Esse modelo não leva em conta nem a
competência linguística desses aprendizes, nem o desempenho deles ao se comunicarem na
língua estrangeira. É um modelo teórico por excelência, que busca produzir “em laboratório” uma
gramática contrastiva de duas línguas, a materna e a estrangeira, visando a prever as possíveis
dificuldades na aprendizagem da língua estrangeira, para saná-las. Logo, se esse modelo não
trabalha com a competência dos alunos — pelo menos não diretamente —, então ele não trabalha
com a gramática internalizada. Porém, é interessante notar que essa gramática promove o
fenômeno da interferência linguística, o qual é apontado pelo modelo de Análise Contrastiva
como principal causa dos erros cometidos na língua estrangeira pelos aprendizes. Na verdade,
esse primeiro modelo da Linguística Contrastiva trabalha com a possibilidade da ocorrência de
interferências linguísticas. Procura formar a gramática internalizada, eliminando essas
interferências.
65
É muito importante entender que toda reflexão sobre a língua começa pela
descrição das expressões. Ao mesmo tempo que descrevemos, vamos
identificando os grandes processos linguísticos que se escondem por trás da
multidão de dados. Sem a Gramática Descritiva, as teorias gerais sobre a língua
não teriam avançado. Ela representa um marco não ultrapassável, qualquer que
seja nosso interesse específico.
Bechara (ibid., p.52) afirma que a gramática descritiva “se reveste de várias formas
segundo o que examina mediante uma metodologia empregada [...]: estrutural, funcional,
contrastiva, distribucional, gerativa, transformacional, estratificacional, de dependências, de
valências, de usos, etc.”. A gramática contrastiva, portanto, é um dos tipos de gramática
descritiva. Aponta as diferenças e as semelhanças entre duas ou mais línguas, como resultado do
trabalho de Análise Contrastiva.
67
Esta é uma das afirmações que configuram uma ciência clássica. Ataliba de Castilho
(ibid.) explica que a gramática descritiva é uma ciência clássica focada no estudo do enunciado
linguístico, visto como um produto acabado. Esse tipo de gramática interpreta a língua como um
conjunto ordenado de itens, uma estrutura homogênea, composta por signos39, que são
identificados através dos contrastes que se estabelecem entre eles. Os signos são distribuídos por
unidades, que por sua vez pertencem aos níveis fonológico, morfológico e gramatical. As
unidades gramaticais atendem a uma hierarquia. Em ordem crescente, são as seguintes: o fonema,
a sílaba, o morfema, a palavra, o sintagma e a sentença. Esta última também é chamada de frase,
oração ou período (conjunto de orações). O fonema e a sílaba são estudados pela Fonologia; o
morfema e a palavra são tratados pela Morfologia; e o sintagma e a senteça são estudados pela
Sintaxe. A composição hierarquizada das unidades gramaticais forma a estrutura gramatical
(AZEREDO, 2010, p. 139).
Quanto aos procedimentos metodológicos da gramática descritiva, José Carlos de Azeredo
(2010, p. 129) aponta os principais:
[...] se nosso objetivo é, por exemplo, descrever (isto é, explicitar por meios
técnicos) certo uso da língua, precisamos de quatro coisas pelo menos: (a)
delimitar um objeto de análise, (b) selecionar um corpus, (c) apoiar-nos numa
teoria e (d) classificar as unidades e enunciar as regras de seu funcionamento.
39
Conceito criado por Ferdinand de Saussure para designar o elemento, dotado de significante e significado, que
representa algo que existe.
68
A gramática descritiva tem como base teórica o Estruturalismo, que, como vimos na
página 20 desta tese, originou-se com o Curso de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure,
obra publicada em 1916. O termo Estruturalismo “abrange diversas correntes de pensamento
fundamentadas na ideia de que os fenômenos e fatos culturais podem ser analisados como
estruturas, isto é, totalidades constituídas de elementos funcionalmente interligados”
(ESTRUTURALISMO). Adotado pelas Ciências Humanas, o Estruturalismo gerou um método
homônimo, extensamente utilizado para se analisarem línguas, culturas, filosofias e sociedades.
O Estruturalismo Linguístico investiga as relações que se estabelecem entre as unidades
linguísticas por meio de oposições ou contrastes. Cada unidade só tem valor e só pode ser
definida a partir da sua relação com as demais unidades. O conjunto de relações é que forma a
estrutura.
O Estruturalismo é considerado uma corrente do Formalismo, pois faz análise da língua a
partir das propriedades internas dela, sem considerar o contexto em que as estruturas linguísticas
foram geradas. Dá ênfase, portanto, à forma e não ao conteúdo ou significado.
Além do Estruturalismo, o Gerativismo é outra modalidade do Formalismo. Todas essas
correntes estão ligadas ao Imanentismo, doutrina que concebe a língua como autônoma e que
foca as relações internas da mesma. São teóricos formalistas Noam Chomsky, Leonard
Bloomfield, Zellig Sabbetai Harris40, Celso Cunha e Lindley Cintra.
Interessante notar que a Análise Contrastiva, em sua primeira versão, foi denominada
forte, preditiva ou a priori, e o Formalismo também recebeu outras denominações, entre as quais,
gramática a priori. Ataliba de Castilho (2010, p. 64) explica como os formalistas concebem, por
exemplo, a sintaxe:
40
Zellig Sabbetai Harris (1909-1992) foi discípulo de Leonard Bloomfield; destacou-se como linguista sobretudo
por seus trabalhos distribucionalistas. Fundou o primeiro departamento de Linguística dos Estados Unidos em 1946,
na Universidade da Pensilvânia. Foi professor de importantes linguistas, como Noam Chomsky e Maurice Gross.
69
Como afirmamos no tópico 3.2 deste capítulo, o modelo de Análise Contrastiva tem uma
finalidade científica e por isso está ligado à gramática descritiva; mas também tem uma
finalidade pedagógica, que o liga à gramática normativa ou prescritiva. Esta gramática determina,
através de um conjunto de regras, como uma dada língua deve ser usada, estabelecendo, assim, a
língua padrão ou norma culta, que pode ser usada nos níveis de linguagem41 formal, informal ou
coloquial e técnico, tanto na fala quanto na escrita.
Qualquer produção linguística que infrinja as regras da gramática normativa configura
erro para esta gramática. Existe um nível de linguagem, frequentemente identificado como nível
inculto, cuja principal característica é o grande número de erros gramaticais na produção oral e
escrita dos falantes. Esse é o nível de linguagem usado principalmente por pessoas que tiveram
pouco ou nenhum acesso ao estudo da língua padrão e, por isso, não a dominam. Celso Pedro
Luft (2002) fala a esse respeito:
[...] as várias camadas sociais espelham-se em camadas linguísticas (já que toda
língua retrata as realidades humanas). A estratificação social determina uma
correspondente estratificação linguística. [...] Toda estratificação sociolinguística
é mais ou menos complexa. Mas, simplificando as coisas para o essencial que
aqui interessa, podemos adotar a dicotomia nível culto / nível inculto, tomando
por critério o fato cultural da leitura: os falantes que leem (escolarizados, etc.),
de um lado, e de outro os que não leem, os analfabetos.
41
Os chamados níveis de linguagem são maneiras diferentes de se comunicar através de um idioma, determinadas
por fatores como nível instrucional, situação social e idade dos falantes.
70
Sua condição de modelo de uso faz da língua padrão uma referência idealmente
homogênea, uma espécie de repertório que inclui usos de um espectro de tempo
amplo e fatos que frequentemente conflitam com tendências da língua falada
usual [...]. A língua padrão deve este perfil conservador a um poderoso aliado: a
codificação escrita. Na história de todas as sociedades, a escrita atua como um
instrumento de unidade política e intercâmbio cultural na medida em que garante
a permanência da mensagem através do tempo e promove sua difusão no espaço.
Conforme vimos no tópico 3.1 deste capítulo, segundo Azeredo (2010, p. 131), a
gramática normativa é antes de tudo uma gramática descritiva, pois a prescrição de uma variação
linguística depende da sua identificação através de uma descrição prévia.
A Análise Contrastiva, portanto, se utiliza das gramáticas normativas das línguas em
contraste para elaborar uma gramática descritiva contrastiva, que aponte semelhanças e
diferenças entre essas línguas. Esse modelo da Linguística Contrastiva e a gramática normativa
consideram o erro como um fator negativo no processo de ensino-aprendizagem de uma LE,
devendo ser evitado. Todo o trabalho do modelo de Análise Contrastiva, que, lembramos, tem um
caráter científico, tem o objetivo de evitar que aprendizes de línguas estrangeiras cometam erros
durante o processo de aprendizagem destas. Esse modelo busca facilitar a aprendizagem
evidenciando as diferenças entre as línguas e “alertando” sobre os riscos de se cometerem erros
durante o uso de uma LE. Uma vez que erros sejam cometidos, a Análise Contrastiva não se
ocupa em buscar meios para corrigi-los. Essa “tarefa” cabe à metodologia de ensino de línguas
estrangeiras. Cursos norteados pela gramática normativa costumam utilizar métodos de base
estruturalista.
parentescos Tok Pisin42), de Gillian Sankoff e Penelope Brown. Destacaram-se também Sandra
Thompson, Paul Hopper e Talmy Givón, que desenvolveram uma linguística baseada na
observância da língua do ponto de vista do contexto linguístico e da situação extralinguística.
No final da década de 60, destacou-se também o linguista holandês Simon Cornelis Dik,
considerado o responsável pelo desenvolvimento da teoria da gramática funcional.
A escola funcionalista de Londres tem como maior representante Michael Alexander
Kirkwood Halliday (chamado Mak Halliday). Na década de 50, este linguista começou a
desenvolver o que ele chamou de gramática sistêmico-funcional, segundo a qual os componentes
essenciais de significado na língua são componentes funcionais. A chamada Linguística
Sistêmico-Funcional (LSF) defende uma conexão direta entre elementos lexicogramaticais e
contextos sociais. Halliday criou o termo lexicogramatical para indicar que léxico e gramática
devem ser considerados juntos. Defendeu quatro categorias fundamentais para a teoria
gramatical: unidade, estrutura, classe e sistema. Em relação às unidades da gramática, o linguista
estabeleceu uma escala hierárquica de classificação diferente do que já havia sido feito até então
com o Formalismo. As unidades definidas pelo linguista foram: sentença, oração, grupo/frase,
palavra, morfema. A escala vai de uma unidade mais complexa, a sentença, para uma mais
simples, o morfema.
Segundo Halliday (1994), a estrutura linguística é a realização da estrutura social, e não
simplesmente o reflexo desta. O linguista afirma o seguinte:
42
Tok Pisin é uma língua crioula, ou seja, uma língua que deriva de um pidgin ou língua de contato, que é um sistema de comunicação
verbal rudimentar, usado por pessoas que falam línguas diferentes e precisam se comunicar. É um idioma falado por cerca de dois milhões
de pessoas, das quais quinhentos mil são nativas. Seu vocabulário é baseado na língua inglesa. É uma das línguas oficiais de Papua Nova
Guiné, a oeste da Oceania.
75
O modelo de análise linguística de Halliday, que segue a Linguística Funcional, tem sido
aplicado às pesquisas sobre o inglês, o português e outras línguas.
Segundo Ataliba de Castilho (ibid.), os funcionalistas desenvolveram várias reflexões
sobre as funções da língua, para embasar a visão desta como atividade social. A formulação do
linguista alemão Karl Bühler foi divulgada no Brasil através de Joaquim Mattoso Câmara Jr..
Bühler aponta três funções: a primeira é a representativa, cujo objetivo principal é informar,
ordenar e representar a realidade circunstante, e que dá destaque ao assunto; a segunda função é a
emotiva, através da qual o falante manifesta seus estados da alma; a terceira função é a apelativa,
através da qual podemos influir no comportamento do interlocutor; esta função ressalta o ouvinte.
De acordo com Bühler, cada língua natural codifica essas funções a seu modo.
Já Halliday classificou as funções da língua da seguinte forma:
Entre todos os funcionalistas que trataram das funções da linguagem, o russo Roman
Osipovich Jakobson ocupa lugar de destaque. É considerado um dos maiores linguistas do
século XX e foi pioneiro na análise estrutural da linguagem, abordando inclusive a arte
poética. Realizou estudos sobre obras de escritores como Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa e
Bertolt Brecht. Jakobson revolucionou o campo da Linguística ao apresentar seis funções para
a linguagem, com base em seis elementos comunicativos. Nas palavras de Jakobson (1987, p.
123):
76
CONTEXTO
REMETENTE MENSAGEM DESTINATÁRIO
........................................
CONTATO
CÓDIGO
sintáticos de André Martinet, e Rodolfo Ilari. Neves (1999) também inclui, entre os pioneiros,
Ataliba de Castilho, que “sem invocar uma linha específica dentro do Funcionalismo, trabalha,
entretanto, desde os primeiros estudos, dentro da consideração de uma interface entre a sintaxe, a
semântica e a pragmática, visão que está na base de qualquer teoria funcionalista”.
Vale comentarmos aqui a nossa experiência como professora de Língua Portuguesa da
Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Lecionando do 6º ao 9º ano do Ensino
Fundamental desde 2008, temos participado do esforço da referida Rede por aplicar uma
metodologia de ensino de Língua Portuguesa pautada na Linguística Funcional. Na obra
Orientações Curriculares: Língua Portuguesa (RIO DE JANEIRO, 2010), encontramos a
seguinte declaração:
Em outro trecho da referida obra, afirma-se: “A base para o ensino da Língua Portuguesa
em qualquer ano de escolarização serão os textos em suas múltiplas manifestações”. De fato, a
Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro tem produzido e distribuído bimestralmente
para os seus alunos cadernos pedagógicos de Língua Portuguesa — como também de outras
matérias como Matemática e Ciências — que seguem, de um modo geral, a proposta
funcionalista para ensino-aprendizagem da língua materna. Os referidos cadernos trazem, como
conteúdo principal, textos de vários gêneros; os exercícios — praticamente todos voltados para
esses textos — são sobretudo de compreensão e de exploração dos sentidos dos textos por meio
dos seus elementos lexicogramaticais e contextuais; busca-se ainda, através dos exercícios,
estabelecer uma ligação entre cada leitura e a vida dos discentes.
Ainda na obra Orientações Curriculares: Língua Portuguesa (RIO DE JANEIRO, 2010),
explica-se que as aulas de português devem dar destaque à prática da leitura, “concebendo-a
como um processo de atribuição de sentidos que se dá a partir da interação entre o texto e o leitor,
78
não sendo, portanto, mera decodificação de textos”. Essa prática deve retomar experiências e
conhecimentos prévios dos alunos:
Por fim, através de outro trecho da obra, é possível ratificarmos que atualmente as escolas
municipais do Rio de Janeiro não privilegiam a gramática normativa:
[...] não se pode entender a reflexão sobre a língua como aulas pautadas na
gramática normativa, considerando apenas duas alternativas: certo e errado. Tal
concepção impõe à Língua Portuguesa um mito de unidade, valorizando a norma
culta como única e desconsiderando as outras variantes. Do ponto de vista
sociolinguístico, as variantes linguísticas não são classificadas em boas ou ruins,
certas ou erradas, melhores ou piores, pois constituem sistemas linguísticos
eficazes dadas as especificidades das práticas sociais e hábitos culturais das
comunidades. Sendo assim, é papel fundamental da escola garantir a todos os
seus alunos acesso à variante linguística padrão. Entretanto, é fundamental,
também, o respeito à existência das diferentes variantes como prática essencial
para o exercício da cidadania. [...] Dessa forma, o trabalho com a gramática
deixa de ser constituído por “listas de exercícios” – reconhecer substantivos,
adjetivos, pronomes; enumerar preposições; nomear; classificar; repetir –
abrindo espaço, então, para que o aluno compreenda o conceito do que seja um
bom texto, de como é organizado e de como suas ideias são tecidas, permitindo a
integração com o leitor.
A Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro, responsável sobretudo pelo Ensino Médio
regular, tem seguido praticamente a mesma linha pedagógica da Rede Municipal, pelo menos no
que diz respeito ao ensino da língua materna.
A gramática normativa cedeu lugar à gramática funcional não só no ensino-aprendizagem
de língua materna, como também, no de língua estrangeira, sobretudo nos cursos de níveis
intermediário e avançado. Cabe observar que, em cursos de idiomas em que se adote a gramática
funcional, a abordagem comunicativa costuma ser adotada também por ser a mais coerente com a
referida gramática. Essa abordagem foca a interação e as funções linguísticas e põe o ensino de
paradigmas gramaticais em segundo plano.
79
43
Professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Colégio Universitário da
Universidade Federal Fluminense (COLUNI-UFF).
80
que os mesmos estão inseridos. Sobre a associação entre gramática e texto, Vânia Lúcia
Rodrigues Dutra (2011, p. 4299) afirma:
É por conta dessa estreita relação entre os fatos gramaticais e a constituição dos
textos que não se pode admitir estudar uma língua sem considerar sua gramática.
Na perspectiva sistêmico-funcional, a gramática é um potencial para a
construção de significados. É preciso, então, analisar, com os alunos, quais são
os recursos que a língua oferece, por meio de sua lexicogramática, para realizar
a sua função: a produção de significados para a interação.
44
Conjunto de termos técnicos de uma ciência ou de uma arte.
81
45
O filósofo grego Sócrates viveu de 469 a 399 a.C. (séculos V e IV a.C.); Platão, que foi aluno de Sócrates, viveu
de 428/427 a 348/347 a.C.; Aristóteles foi discípulo de Platão e viveu de 384 a 322 a.C..
46
O estoicismo foi uma escola filosófica grega atuante do século III a.C. ao VI d.C..
47
Não é nosso objetivo, neste tópico, tratarmos detalhadamente das correntes filosóficas da Grécia Antiga.
82
que, no século III a.C., destacou-se como centro de estudos literários e linguísticos. Nesse
período, os estudos sobre a língua tinham um caráter literário. Gurpilhares (2004) aponta dois
motivos para isso: o primeiro era o desejo de divulgar os textos gregos clássicos, sobretudo a obra
de Homero; e o segundo, era o objetivo de se preservar o grego clássico, considerado a “língua
correta”. Foi a partir daí que surgiu a noção de certo e errado em relação à língua.
Assim, a primeira gramática do ocidente foi escrita pelo alexandrino Dionísio Trácio no
século II a.C., a partir de uma perspectiva filosófica. Intitulada Téchné grammatiké — traduzida
como “A arte da gramática” —, a obra foi escrita em grego e é composta por quinze páginas, com
vinte e cinco seções. Dionísio tratou da fonética e da morfologia; desenvolveu sistemas
classificatórios e buscou fixar uma norma para a língua grega com base nos textos literários. Não
tratou da sintaxe, porém as suas análises morfológicas serviram de modelo para as posteriores
formulações sintáticas (OLIVEIRA, 2011).
Na referida obra, Dionísio tratou apenas do grego; não há referência a outras línguas. De
acordo com Bruno Fregni Bassetto (2004), o gramático grego era conhecedor de várias línguas,
mas era um helenista, ou seja, um sábio voltado para o estudo de sua própria língua nas obras de
tradição literária e filosófica. A definição de gramática apresentada por Dionísio é a seguinte:
“conhecimento empírico daquilo que comumente é dito pelos poetas e pensadores” (BASSETTO,
2004). Era, portanto, um saber desenvolvido através de análises de textos poéticos e filosóficos.
O referido autor grego tinha a preocupação de preservar a língua e a cultura gregas, pois,
afinal, no passado, a Grécia já tinha enfrentado períodos de ameaça à sua existência. Um desses
momentos foi a chamada Idade das Trevas, que teve início em 1200 a.C., com a invasão dos
Dórios, estendendo-se até 800 a.C.. Foi uma época em que a Grécia viveu profundas crises
sociais por causa das invasões que sofreu. Entre outros prejuízos que teve, perdeu seu comércio,
teve muitos dos seus costumes alterados e o uso da sua escrita foi abandonado. O alfabeto grego
só foi retomado no século VIII a.C.. Na época em que Dionísio escreveu a Téchné grammatiké, a
Grécia estava sob o domínio romano48, e o período helenístico49, que promoveu a difusão da
cultura grega e o desenvolvimento científico, chegava ao fim.
48
A dominação romana na Grécia durou de 146 a.C. a 330 d.C. (século II a.C. a século IV d.C.).
49
O termo helenismo vem do grego hellenizein, que significa “viver como os gregos” ou “falar grego corretamente”;
foi o período compreendido entre a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C., e o início da dominação romana na
Grécia em 146 a.C.. Caracterizou-se pelo predomínio da cultura grega em um vasto território: do Mar Mediterrâneo
Oriental à Ásia Central, abrangendo a Macedônia, a Síria e o Egito.
83
O império romano foi o grande responsável pela difusão da gramática grega. Os romanos
acolheram a teoria gramatical desenvolvida pelos gregos e a difundiram, traduzindo para o latim
essa teoria, juntamente com a sua terminologia.
De acordo com Neves (2001), a época helenística ajudou a produção de Dionísio, porque
promovia o desenvolvimento de padrões a serem seguidos. A obra Téchné grammatiké serviu de
base para as gramáticas de várias línguas, como por exemplo a latina. A primeira gramática latina
foi escrita por Quintus Rhemmius Fannius Palaemon no século I d.C..
No século II d.C., o também alexandrino Apolônio Díscolo “completa” a gramática de
Dionísio, dando atenção à Sintaxe. Díscolo, que escreveu amplamente sobre as partes do
discurso, é considerado o fundador da gramática científica.
Então, no Ocidente, a gramática tradicional originou-se da gramática grega; já a gramática
moderna é resultado das pesquisas linguísticas. Bassetto (2004) afirma o seguinte a respeito da
importância da herança filosófica que a gramática adquiriu:
50
De acordo com Gurpilhares (2004), as classes de palavras — assim como outras partes da gramática — foram
sendo estabelecidas aos poucos, ao longo dos tempos, como resultado da contribuição de vários estudiosos de épocas
diferentes.
84
grammatichetta vaticana (A pequena gramática vaticana). Acredita-se que foi escrita entre 1437
e 1441; nas palavras de Fornara (2009, p. 33): “A obra de Alberti não só é a primeira gramática
do italiano, como também é a primeira gramática de uma língua vulgar, em nível europeu”.
Segundo Fornara, essa obra não foi publicada. A primeira publicação de uma gramática do
italiano ocorre em 1561, com a obra Regole grammaticali della volgar lingua (Regras
gramaticais da língua vulgar), da autoria de Giovanni Francesco Fortunio.
progresso do Brasil. Hoje, é consenso se tratar de um adjunto adnominal, mas, na época, seria
possível aceitar as seguintes classificações: adjunto atributivo, adjunto restritivo, adjunto
limitativo, adjunto adjetivo, adjunto determinativo, adjunto demonstrativo, adjunto determinativo
demonstrativo, complemento atributivo, complemento restritivo, complemento limitativo,
complemento adjetivo, complemento qualificativo, complemento do nome não-preposicionado.
São simplesmente 13 possibilidades de classificação para um único termo. Esse tipo de problema
ocorria com muitos outros termos gramaticais. Isso complicava bastante a situação de estudantes,
candidatos em concursos, bancas de língua portuguesa de concursos etc..
A adoção da NGB em 1959 pôs um fim nesse problema, porque fixou uma nomenclatura
a ser usada pelos professores nas instituições de ensino de todo o território nacional. Cláudio
Moreno (2009) cita algumas mudanças ocorridas:
[...] por exemplo, todos passaram a falar em objeto direto, e não mais em
“complemento terminativo” ou “complemento relativo”, ou quejandos; os
adjetivos ficaram restritos aos qualificativos, enquanto os demais
(demonstrativos, indefinidos, etc.) passaram a ser classificados como tipos de
pronomes, o antigo condicional ganhou o duvidoso nome de futuro do pretérito;
e assim por diante.
Ocorre que ela foi concebida com base nos conhecimentos de 1958 — quando
ainda não funcionava regularmente, por exemplo, a cadeira de Linguística nos
Cursos de Letras. Os gramáticos da comissão, embora de renome, eram de
formação tradicional e obviamente imprimiram nessa nomenclatura as suas
concepções pessoais, muitas vezes limitadas. O resultado é conhecido por
qualquer professor de Português: os livros mais sérios estão cheios de notas de
rodapé, [...] contestando aqui e ali a NGB, que precisa urgentemente ser revisada
e reformulada, não só para adequá-la aos avanços registrados nos estudos da
língua nesses últimos quarenta anos, como também para corrigir comezinhos
erros de lógica, que tanto prejudicaram (e prejudicam ainda hoje!) o
entendimento dos alunos.
Vejamos alguns exemplos de notas ou observações feitas por gramáticos sobre a NGB, ao
tratarem de um determinado tópico gramatical. Luiz Antonio Sacconi, na sua obra Nossa
gramática: teoria (1990, p. 328), ao tratar dos tipos de orações adverbiais, apresenta as “modais”,
tecendo a seguinte observação: “A Nomenclatura Gramatical Brasileira não agasalha as orações
modais. Prefere distribuí-las entre as conformativas, consecutivas e comparativas. Curiosamente,
porém, admite a oração reduzida modal”. Celso Pedro Luft, na obra Moderna gramática
brasileira (2002, p. 88), também apresenta essas mesmas orações com uma pequena observação
entre parênteses: “faltam na NGB”. Já Evanildo Bechara, na Moderna gramática portuguesa
(1999, p. 501), apresenta não somente as adverbiais modais, como também as adverbiais
locativas, sem tecer nenhum comentário sobre a NGB; porém, nesta mesma obra, ao aprensentar
o prefácio da 1ª edição (1961), Bechara (1999, p. 21) afirma o seguinte: “Seguimos a
Nomenclatura Gramatical Brasileira. Os termos que aqui se encontrarem e lá faltam, não se
explicarão por discordância ou desrespeito; é que a NGB não tratou de todos os assuntos aqui
ventilados”.
Assim como Bechara, também nós seguiremos, nesta tese, a NGB, tecendo observações
que considerarmos necessárias. Vale lembrar que o ponto de partida é a língua italiana. No
trabalho de análise contrastiva, primeiro analisaremos os tipos de orações italianas e depois,
tendo a Nomenclatura como referência, buscaremos possíveis correspondentes na língua
portuguesa.
A NGB adquiriu força de lei e a portaria que a instituiu, a de número 36, de 28 de janeiro
de 1959, impediu, em um primeiro momento, um questionamento sobre o assunto. O importante
era criar uma uniformidade para o ensino da língua portuguesa no Brasil, e isso foi alcançado,
mas há muito tempo fala-se da necessidade de uma reformulação da NGB. Em relação à Sintaxe,
87
por exemplo, os professores que a elaboraram reduziram muito as classificações das orações em
português, a ponto de serem insuficientes para darem conta da necessidade existente. Há pelo
menos uns 6 tipos não reconhecidos pela NGB, sobretudo entre as orações subordinadas
adverbiais. Há inúmeras falhas em outras partes da Sintaxe da língua.
Um exemplo do que se considera falha do documento diz respeito ao complemento
nominal e ao adjunto adnominal, classificados como funções normais do sintagma, quando, na
verdade, eles são elementos internos aos sintagmas, conforme explica Moreno (2009): “eles não
aparecem quando dividimos uma frase qualquer em suas partes constituintes; [...] só vão aparecer
quando dividirmos as próprias partes constituintes da frase”. Eles não têm, portanto, o mesmo
valor de um objeto direto, um objeto indireto, um adjunto adverbial ou um predicativo, mas a
NGB os apresenta como se tivessem esse mesmo valor.
Segundo Moreno (2009) a reformulação da NGB ainda não aconteceu, por representar um
problema político: “um documento desse tipo e desse alcance vai necessariamente tentar
responder a uma pergunta crucial: qual é a descrição do Português que deve ser ensinada na
escola?”. Para Moreno, o aprimoramento da atual NGB poderia ser feito a partir da criação de
uma comissão composta por linguistas, gramáticos e professores de LP que estivessem atuando
em sala de aula; a comissão elaboraria um projeto de reforma e este seria submetido “ao crivo de
milhares de professores e especialistas”, através, por exemplo, de uma espécie de plebiscito na
internet. Em relação às mudanças na NGB, Moreno (ibid.) sugere:
[...] a gramática a ser ensinada não precisa incorporar todos os avanços das
pesquisas linguísticas (o que seria inviável e, sem dúvida alguma,
completamente inadequado), nem cair naquelas inovações terminológicas que
pululam nas teses de pós-graduação. Devemos aproveitar o máximo possível da
nomenclatura tradicional, já consolidada na memória de incontáveis gerações,
modificando-a apenas naqueles pontos em que a mudança vai facilitar, para o
aluno, a compreensão do modelo da língua.
porque trata-se também de uma valiosa referência para o meio científico. Achamos que uma nova
Nomenclatura deve fazer juz à riqueza da língua portuguesa.
O problema, porém, é que o atual cenário do ensino da língua portuguesa em instituições
escolares de nível Fundamental e Médio no Brasil não favorece a reforma da NGB. Como já
afirmamos no tópico anterior, o referido ensino não se pauta mais sobre a nomenclatura
gramatical. A metodologia de ensino do português adotada atualmente está pautada na
Linguística Funcional; a gramática trabalhada em sala de aula não é mais a normativa, que se
apoia no estudo teórico da língua e da nomenclatura gramatical; hoje em dia, a base é a gramática
funcional, que foca a constituição semântica dos textos.
Os concursos realizados no Brasil que têm provas de português, como o Vestibular, o
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e outros, privilegiam, em sua maioria, a gramática
funcional. Como exemplo, citamos o trecho do edital do concurso da Fundação de Apoio à
Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro/Faetec (2011), para preenchimento de vagas em
2012, a respeito da prova objetiva de língua portuguesa:
Assim, conforme diz Aderlande Pereira Ferraz (apud HENRIQUES, 2009, p. 70):
“[...] com cinquenta anos de vigência, não se discute mais a importância da NGB para uso
escolar; o que se discute agora é a necessidade de sua atualização em face do evidente progresso
dos estudos linguísticos, alcançados nas últimas décadas”.
Destacamos o que diz Marcos Bagno (apud HENRIQUES, 2009, p. 99-100) a respeito do
objetivo do ensino de língua na escola e da relação deste com a NGB:
O autor explica que a reflexão sobre a linguagem e seu funcionamento também pode ser
feita na escola, mas não em qualquer fase da escolaridade; deve ser feita nos níveis mais
avançados, quando teoricamente os aprendizes já dominam a leitura e a escrita. Bagno esclarece:
“assim como só se aprende química, física, biologia no ensino médio, a abordagem da língua
como objeto de ciência também deveria ser deixada para essa fase do aprendizado”.
Como este nosso trabalho é científico, gozamos de certa liberdade para fugirmos do que é
oficial e propormos novos conceitos; concordamos com a opinião de Marcos Bagno (apud
HENRIQUES, 2009, p. 99), quando este diz que “é preciso que todos os pesquisadores e
teorizadores tenham ampla e total liberdade para cunhar novos termos e fixar novas definições
para os fatos gramaticais que eles estudam”. Assim, nós não usaremos somente as classificações
de orações coordenadas e subordinadas do português descritas pela NGB. Assumiremos, por
exemplo, classificações que extrapolam a NGB, mas que já foram acolhidas por gramáticos
brasileiros de prestígio, como Evanildo Bechara (1999, p. 501) — que tratou, por exemplo, das
orações subordinadas adverbiais modais e locativas —, e proporemos outras classificações,
partindo das que existem na língua italiana, porque o objetivo do nosso trabalho, como já
dissemos, é, através do estudo de análise contrastiva, facilitar o conhecimento, a aprendizagem
das orações coordenadas e subordinadas da língua italiana; esta é o nosso objeto principal de
estudo.
90
Nosso principal objetivo, neste tópico, não é tratarmos a história da língua italiana, mas
sim verificarmos se há, na Itália, um documento equivalente à Nomenclatura Gramatical
Brasileira, a NGB, isto é, se há um documento nomenclator que unifique e padronize a
nomenclatura gramatical italiana. Porém, é claro que a história da gramática tem ligação com a
história da língua; esta segunda é matéria muito mais ampla, que abarca a primeira. Por isso,
destacaremos aqui alguns pontos da história linguística da Itália que consideramos mais
relevantes em relação ao objetivo deste tópico.
Segundo Marazzini (apud FORNARA, 2009, p. 18), “a gramática não nasce antes das
línguas e antes que as próprias línguas tenham expressado uma tradição literária” (tradução
nossa). A esse respeito, Fornara (2009, p. 18) afirma o seguinte:
A Itália, antes da sua unificação política, ocorrida no século XIX, era dividida em diversos
reinos, com línguas e dialetos próprios, que, em sua maioria, eram incompreensíveis entre si. Em
1848 começaram a surgir movimentos nacionalistas que almejavam a fusão dos Estados. Era o
início do período chamado Risorgimento, marcado por guerras de independência que levaram à
unificação política da Itália. Em 17 de março de 1861, Vítor Emanuel II, rei do Piemonte e da
Sardenha, reuniu-se em Turim com representantes de outros Estados e assumiu o título de Rei da
Itália. Reproduzimos a seguir mapas do processo de unificação (JANNUZZI, 2005):
91
Vale destacar que a unificação da Itália não foi resultado de movimentos populares, mas
sim iniciativa dos poderes dominantes, conforme afirma Silvino Santin (2011): “Ninguém propôs
plebiscitos, nem para a unificação, nem para a escolha da forma e do regime de governo. Tudo
foi imposto de cima para baixo. Portanto, não poderia ser diferente com a língua”. Há muitos
detalhes envolvendo essa questão política, mas não nos cabe abordá-los em detalhes aqui.
92
Giovanni Francesco Fortunio. Foi um esforço para descrever as regras gramaticais que
constituíam a base da língua usada por Dante, Petrarca e Boccaccio. O autor pretendia fazer a
obra ser formada por cinco livros, mas só conseguiu escrever dois: um dedicado à morfologia, e
outro, à ortografia. Na dedicatória dos livros, é possível verificar que o autor pretendia dedicar os
outros três livros a questões lexicais, à Sintaxe e à Métrica.
Segundo Fornara (2009, p. 72-73), o século XVII não foi profícuo em relação aos tratados
gramaticais. Foi dominado pelo Vocabolario della Crusca. Em 1612, a Crusca elaborou e
publicou o Vocabolario della língua italiana, considerado o primeiro grande dicionário de uma
língua moderna; tanto que serviu de modelo lexicográfico para a língua francesa, a espanhola, a
alemã e a inglesa. A Instituição realizou algumas revisões e reedições da obra. É importante
destacar que a Accademia della Crusca começava, então, a exercer um papel normativo em
relação à questão linguística italiana.
Fornara (ibid.) afirma que no século XVII havia duas tendências dominantes em relação
aos tratados gramaticais: a dos autores como Giacomo Pergamini, ligados à tradição, que
recorriam a exemplos retirados dos autores canônicos, e a dos autores como Benedetto
Buommattei, que tentavam equilibrar esquemas tradicionais e novas exigências, elaborando
gramáticas a partir de uma postura dita ragionevole, ou seja, racional.
Em relação ao século XVIII, o que há de mais relevante a se observar é que os tratados
gramaticais aproximavam-se gradualmente da didática escolar. Neste século, o ensino da língua
italiana teve início oficialmente nas escolas. Antes, somente a língua latina era ensinada; Fornara
(ibid., p. 74, tradução nossa) explica:
Por este motivo, as gramáticas dos séculos XVI e XVII [...] eram
substancialmente estranhas à escola, mesmo que, por vezes, tenham começado a
revelar os primeiros sinais de uma intenção didática, referindo-se não só
exclusivamente aos doutos, mas a um público mais vasto. No século XVIII, a
intenção didática é evidente também no curso da chamada “gramática racional”
(ou “fundamentada”), que tem o seu mais notávem expoente no padre somasco51
Francesco Soave.
No século XIX, a Questione della lingua teve a atenção de Alessandro Manzoni. Escritor
da célebre obra I promessi sposi (Os noivos), Manzoni foi convidado a fazer parte de uma
51
Membro de antiga ordem religiosa, o qual se propunha especialmente a educar e a instruir crianças.
94
[...] pelo menos até o crescente interesse pela perspectiva histórica na segunda
metade do século XIX e até as mais modernas realizações do século XX, a
história da gramática é essencialmente história de gramáticas sincrônicas e
normativas (ou prescritivas, isto é, que prescrevem, fixam determinadas regras)
[...].
No século XIX, o caráter didático da gramática estava mais forte. Após a Unificação da
Itália, proclamada em 1861, o Estado Italiano começou a investir maciçamente na difusão do
italiano nacional. A esse respeito, Baldelli e Scivoletto (1979, p. 56, tradução nossa) afirmam o
seguinte:
52
Data da realização de censo da população da Itália.
53
Esses dados se referem às pessoas com idade a partir dos 6 anos.
96
Ao lado do gráfico, o Istat (ibid., tradução nossa) informa o seguinte: “Na Itália, no século
XIX, o analfabetismo era muito disseminado, sobretudo entre as mulheres. Hoje está quase
erradicado”.
Hoje a população italiana é de mais ou menos 60 milhões de habitantes e as ações de
combate ao analfabetismo continuam se desenvolvendo.
O investimento maciço na difusão do italiano na Itália representou um impulso para o
desenvolvimento da gramaticografia deste país. Fornara (2009, p. 109, tradução nossa) diz o
seguinte a esse respeito: “[...] o século XIX revelou-se decisivo para o amadurecimento da
gramaticografia italiana, que atingiu um nível de descrição e um método modernos, não muito
diferentes daquele das gramáticas de hoje”.
Assim, considerando o nosso principal objetivo neste tópico, verificamos que não há, na
Itália, um documento equivalente à Nomenclatura Gramatical Brasileira, a NGB. Porém, existe
uma padronização da nomenclatura gramatical italiana, alcançada de forma diferente — em
relação ao Brasil — e cuja manutenção é feita pela Accademia della Crusca.
É preciso destacar que, no campo do desenvolvimento linguístico e gramatical, Itália e
Brasil têm histórias muito distintas. Como vimos no tópico anterior, a elaboração da NGB foi
necessária, porque a falta de padronização terminológica da norma gramatical do português do
Brasil gerava caos. Com a NGB, resolveu-se esse problema, mas simplificou-se demais a
terminologia, gerando outro problema. Na Itália, o principal desafio linguístico era a definição da
língua nacional e a sua difusão. Não houve grandes polêmicas na elaboração e no
estabelecimento da nomenclatura gramatical italiana. Na história da gramática italiana, houve
momentos de debates entre especialistas, escritores, poetas, mas, em relação à terminologia,
predominava a concordância entre eles. Ao longo dos anos, algumas gramáticas se destacaram e
serviram de modelos para outras. O que já tinha sido estabelecido como nomenclatura por
gramáticos de prestígio, simplesmente era reproduzido nas gramáticas subsequentes. À medida
que ocorria o desenvolvimento científico na área linguística, novas gramáticas eram publicadas, e
a gramaticografia se enriquecia e evoluía. Fornara (ibid, p. 100, tradução nossa) descreve um
exemplo de inovação ocorrida na história gramatical italiana, quando Raffaello Fornaciari
escreve as obras complementares Grammatica e Sintassi dell’uso moderno, publicadas
respectivamente em 1879 e em 1881:
97
Como podemos verificar na citação acima, Fornaciari é um exemplo de autor que inovou,
mas sem alterar a terminologia gramatical já existente; na verdade, o autor aperfeiçoou a
descrição gramatical, apresentando, por exemplo, uma classificação cuidadosa das orações,
conforme explica Fornara (2009, p. 102, tradução nossa):
[...] ele [Fornaciari] não fica só no uso e na concordância das partes individuais
do discurso ‒ matéria que já encontramos nos poucos gramáticos que se
interessaram, antes dele, por questões sintáticas ‒, mas estende o
questionamento à sintaxe e à análise da oração e do período, fornecendo também
uma classificação das orações. Fornaciari não esquece de prestar atenção ao uso
dos sinais de pontuação para delimitar e distinguir vários tipos de orações [...].
Segundo Fornara (ibid.), as duas obras citadas de Fornaciari obtiveram grande sucesso e
foram muito utilizadas, nas formas compendiadas, pelas escolas de Ensino Fundamental e Médio
italianas até pelo menos a primeira metade do século XX.
Nesta tese, usamos cinco gramáticas italianas diferentes entre si para constituirmos o
nosso corpus e pudemos verificar que seus autores usaram, no geral, a mesma nomenclatura
gramatical na descrição do período composto italiano. Há certa diferença em relação à
apresentação dos tipos de orações: umas apresentam mais tipos que outras. Mas as orações em
comum recebem todas as mesmas denominações. As gramáticas são as seguintes:
1) Grammatica italiana con nozioni di linguistica, de Maurizio Dardano e Pietro Trifone (2003);
2) Grammatica italiana – italiano comune e lingua letteraria, de Luca Serianni (1999);
3) Grammatica italiana, de Salvatore Battaglia e Vincenzo Pernicone (1994).
4) La comunicazione e gli usi della lingua, de Francesco Sabatini (1994);
5) Grammatica italiana, de Giuseppe Pittano (1974).
98
4. SINTAXE E SEMÂNTICA
4.1. Sintaxe
Segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (2004), a palavra sintaxe vem
do grego syntaxis, que significa “ordem, disposição”. Nessa obra, encontramos o seguinte
conceito para o termo: “Parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e das
frases no discurso, bem como a relação lógica das frases entre si e a correta construção
gramatical”. Ataliba de Castilho (2010, p. 144) define Sintaxe como sendo “o estudo das
estruturas sintagmáticas e sentenciais”. É esta seção gramatical que trata das orações coordenadas
e subordinadas, foco da nossa investigação.
A origem grega do termo sintaxe é devido ao fato de as primeiras discussões dialéticas
sobre a linguagem terem partido da Grécia Antiga, como vimos no capítulo anterior. O filósofo
grego Platão é considerado o primeiro pensador a estabelecer uma diferença entre o que hoje
entendemos por sintagma nominal e sintagma verbal, os quais ele chamou respectivamente de
onoma e de rhema. Este princípio definiu a estrutura sintática fundamental formada por sujeito e
predicado. Aristóteles, discípulo de Platão, acolheu a teoria de seu mestre e deu continuidade aos
estudos linguísticos, a seu modo. Ele deu início ao desenvolvimento de uma sistematização do
conhecimento gramatical.
No século XIX, o matemático e filósofo alemão Friedrich Ludwig Gottlob Frege critica a
teoria aristotélica e propõe a divisão da frase em função e argumento — uma oposição
matemática —, dando origem à lógica formal contemporânea.
A Sintaxe foi apresentada como parte da gramática pela primeira vez com Apolônio
Díscolo, no século II d. C.. Ao longo dos tempos, foi sendo tratada com maior ou menor
relevância pelos estudiosos da linguagem, até conquistar o estatuto de disciplina autônoma.
Alguns estudiosos da Sintaxe, como Port Royal e Noam Chomsky, ao focalizarem aspectos
distintos do fenômeno sintático, originaram diferentes tipos de abordagens para o seu estudo.
Assim, destacaremos resumidamente quatro importantes tipos: a Sintaxe Psicológica, a
Estrutural, a Transformacional e a Funcional.
100
A Sintaxe Transformacional busca construir uma teoria da linguagem que seja capaz de
explicar as manifestações do comportamento linguístico dos falantes nativos de uma língua. É
uma teoria que tenta demonstrar como os falantes são capazes de associar uma significação a uma
cadeia de sons. Como teoria, seu grau de objetividade e de generalidade é o mais avançado
possível, por isso utiliza o método dedutivo.
Para o Funcionalismo, a sintaxe não é autônoma, porque está ligada a aspectos semânticos
e pragmáticos da linguagem. A estrutura da língua tem base sócio-cognitiva, por isso, a
compreensão do fenômeno sintático está condicionada ao estudo da língua em uso, ou seja, ao
seu estudo em seus contextos discursivos específicos, nos quais a gramática é contituída
(CUNHA, 2003, p. 24).
Evanildo Bechara (1999, p. 54) destaca a importância da Sintaxe enquanto parte da
gramática normativa:
De acordo com a NGB (2009, p. 162), a sintaxe do português do Brasil tem as seguintes
divisões: sintaxe de concordância nominal e verbal; de regência; e de colocação; há a parte de
análise sintática da oração e a do período.
4.2. Semântica
O termo semântica vem do grego semantikós (sema, signo, sinal). É a ciência que estuda o
significado, em todos os sentidos do termo. Seu campo investigativo é bastante amplo, abarcando
tanto a linguagem humana quanto, por exemplo, a de softwares.
A Semântica Linguística é parte da Semiótica, que é a ciência que estuda o sistema de
signos verbais e não-verbais das línguas naturais. Neste caso, ela analisa a relação entre signo e
referente sem considerar as implicações sociológicas e psicológicas da linguagem
(ZINGARELLI, 1995). Estuda a relação de significação nos signos e a representação do sentido
dos enunciados.
O signo linguístico — a palavra — possui dois aspectos inseparáveis: um material e outro
imaterial. O aspecto material são os sons da fala e as letras, na escrita. O aspecto imaterial é o
significado da palavra. Muitos linguistas, como Saussure, Pierce, Hjelmslev, Guiraud, Greimas,
Barthes, Borba, Bakhtin, Fillmore e Vigotsky, dedicaram-se ao estudo do signo linguístico e suas
significações.
No âmbito das investigações sobre significação das palavras e de suas relações, a
Semântica trata de fenômenos como sinonímia, antonímia, homonímia, paronímia, polissemia;
denotação e conotação; figuras e vícios de linguagem. O estudo do significado pode ser feito a
102
partir de ângulos diferentes, por isso a Semântica, enquanto disciplina, possui vários ramos:
Textual, Cognitiva, Lexical, Argumentativa, Discursiva etc.. A Semântica Frásica, por exemplo, é
considerada um ramo da Linguística Descritiva e trata do conteúdo proposicional das frases.
Irène Tamba-Mecz (2006, p. 8-9) destaca duas vertentes da Semântica:
Como vimos no tópico 3.3.1 desta tese, a preocupação com a linguagem, com a
significação e com a interpretação dos signos linguísticos é manifestada desde pelo menos o
século V a.C. com os filósofos gregos. Mas o termo semântica foi usado pela primeira vez
somente em 1883, no artigo As leis intelectuais da linguagem: fragmento semântico, de Michael
Bréal, para designar uma “ciência da significação”. Em 1897, este autor francês publicou a obra
Ensaio de semântica (ciência das significações). Na época, pretendia-se criar uma ciência que
estudasse as mudanças de sentido das palavras. A ideia era identificar os mecanismos reguladores
dessas mudanças, através de um estudo diacrônico. A investigação era restrita ao léxico, porém,
posteriormente percebeu-se que as significações linguísticas extrapolavam os limites das
palavras. Então, a partir de 1930, a abordagem histórica começou a ser substituída pela
investigação sincrônica e pela abordagem estruturalista, que se baseava em princípios
saussurianos e focava os enunciados linguísticos. Nos anos 60, surge a chamada Semântica
Estrutural, baseada na dupla articulação da linguagem: plano do conteúdo e plano da expressão.
A proposta era realizar análise dos morfemas, decompondo-os em unidades menores, chamadas
de semas ou traços semânticos.
Assim, atribuem-se três períodos à história da Semântica: o evolucionista; o misto; e o
período das teorias formalizadas. O evolucionista aconteceu de 1883 a 1931 e foi chamado assim,
porque, nessa época, estava em evidência o Evolucionismo, através dos estudos desenvolvidos
pelo cientista inglês Charles Robert Darwin54, no campo das ciências naturais, e pelo filósofo
54
Charles Robert Darwin (1809-1882) publicou, em 1859, a sua obra On the origin of species by means of natural
selection or the preservation of favoured races in the struggle for life, identificada em português simplesmente como
A origem das espécies. Trata-se de uma obra revolucionária, em que Darwin defende a ideia de que as espécies
evoluem a partir de um ancestral comum, através da chamada seleção natural. A teoria evolucionista de Darwin
influenciou inúmeros campos de estudo.
103
55
Herbert Spencer (1820-1903) foi um profundo admirador de Charles Darwin; procurou aplicar as ideias do
Evolucionismo do célebre naturalista ao campo da Sociologia, por isso, é considerado o Pai do chamado Darwinismo
Social.
104
Dois representantes desse segundo período são Stephen Ullmann e Pierre Guiraud.
Segundo este último, a Semântica tem sido instrumento de investigação não só da Linguística,
mas também de outras ciências, como a Psicologia e a Lógica.
O terceiro período é o das teorias linguísticas e do tratamento informático e teve início em
1963 com a Semântica Formal, desenvolvida com base na gramática gerativa de Noam Chomsky.
Os estudos de gramática gerativa eram autônomos e formais e não consideravam o componente
semântico. Em 1965, Chomsky reformula sua teoria e concebe a gramática gerativo-
transformacional, dando atenção não só ao aspecto sintático do enunciado, como também ao
aspecto semântico-interpretativo. Passava-se de uma semântica lexical para uma semântica da
frase. As significações conceituais dão lugar às significações relacionais, em que se combinam
significados estruturais e lexicais. A visão diacrônica é excluída, prevalecendo a sincrônica.
Chomsky defendia que uma teoria linguística deveria atualizar a gramática universal. Esta
é concebida como inata e capaz de explicar a competência linguística humana e a aprendizagem
natural das línguas. Desenvolvem-se, então, estudos ligando a Semântica à cognição.
Houve, ainda neste terceiro período, as teorias pragmático-enunciativas da significação,
com destaque para três correntes: a pragmática lógica; o pragmatismo dos atos de linguagem; e a
semântica enunciativa.
De acordo com Ataliba de Castilho (2010, p. 122), destacam-se atualmente três campos de
estudo em Semântica — os quais esse linguista afirma serem “de difícil delimitação”:
[...] a Semântica Léxica, que trata dos sentidos contidos nas palavras, a
Semântica Gramatical ou composicional, que trata dos significados contidos nas
construções, e a Semântica Pragmática, que trata das significações geradas no
“intervalo” que medeia entre os locutores e os signos linguísticos. [...] Nesse
intervalo, surgem significados não contidos nas palavras nem nas construções
gramaticais. Tento caracterizar essas áreas especificando os respectivos objetos
empíricos através dos termos sentido, significado e significação.
por vezes divergiam semanticamente; e frases cujas estruturas eram muito diferentes
expressavam o mesmo sentido. Para resolver questões como essas, foi desenvolvida a teoria dos
papéis temáticos. Estes são as funções semânticas atribuídas aos argumentos de um predicador.
Quando esse predicador é, por exemplo, um verbo — este é um atribuidor por excelência —,
papéis temáticos são atribuídos por ele ao sujeito e aos complementos desse verbo em uma dada
sentença (CANÇADO, 2009, p. 112). Alguns papéis temáticos são: agente, paciente, tema,
experienciador, locativo, causa, origem, destino, alvo, fonte. Analisemos alguns exemplos
típicos.
Não há como tratar de classificação de orações que formam período composto sem
considerar o aspecto semântico. Essa parte da Sintaxe e a Semântica tem uma forte ligação,
conforme nos atesta Ana Clara Meira (2008, p. 53):
[...] não se pode resumir o estudo das orações a termos como independente e
dependente, realizando classificações que priorizem critérios meramente
sintáticos. Considera-se que não se devem classificar as orações sem a elas
associar os fatores semânticos e pragmáticos56; pois, a língua não é estática, mas
dinâmica. Ademais, está revestida de intenções as quais são perceptíveis em um
processo de interação comunicativa.
Francisco da Silva Borba (1972, p. 237) afirma o seguinte sobre as duas disciplinas:
“[...] a sintaxe e a semântica se relacionam desde a base dos fatos linguísticos. Assim, qualquer
teoria da linguagem que tencione tratar as línguas como sistemas formais terá de, primeiro,
decidir como tratar esse problema”.
56
Os fatores pragmáticos são aqueles ligados aos contextos de uso da linguagem.
107
Mário A. Perini (1998, p. 241) explica que, no estudo do significado das formas
linguísticas, existe a parte do significado oriunda da interpretação das estruturas e dos itens
léxicos, e a parte que provém de fatores extralinguísticos:
Perini (1996, p. 241) explica que essa frase não tem a estrutura de um pedido de
informação sobre as horas. Se a pergunta for interpretada literalmente, a resposta será sim ou
não, ou seja, o interlocutor dirá apenas se sabe ou se não sabe que horas eram no momento da
interação. Perini diz que há situações em que uma resposta assim é adequada, mas não é a única
possível; uma interpretação não-literal seria justamente a de um pedido de informação sobre as
horas.
A interpretação adequada de uma pergunta como a que Perini apresenta dependerá,
portanto, do contexto de seu uso. Em qualquer situação, o interlocutor realiza um processo de
raciocínio — que Perini chamou de implícito — que o leva a escolher a resposta mais adequada.
Em relação às duas etapas da construção de significados, às quais nos referimos, segundo
Perini, a primeira, ligada à estrutura formal do enunciado, representa a Semântica. Já a
interpretação final, formada pelo significado literal associado aos fatores extralinguísticos, remete
à Pragmática. Em geral, as duas disciplinas — Semântica e Pragmática — são estudadas juntas.
108
Mário Perini (1996) dedica a terceira parte da sua Gramática descritiva do português
exclusivamente à Semântica. O gramático (ibid., 243) afirma o seguinte:
[...] o estudo da pragmática está fora do escopo desta Gramática. Devo alertar o
leitor que a hipótese da separação da semântica e da pragmática em
componentes distintos não é universalmente aceita. Na verdade, trata-se de um
dos grandes pontos de discussão da linguística atual, e muitos negam a
possibilidade de separar os dois tipos de fatores. [...] como minha tarefa é a
descrição do português, sou forçado a tomar partido e optei pela alternativa que
me parece mais plausível: uma decisão ditada mais pela necessidade prática do
que por uma convicção profunda.
Perini (ibid.) afirma que adota, na referida obra, “a teoria segundo a qual as formas
linguísticas (orações, por exemplo) são interpretadas por um componente semântico”. Ele explica
que esse componente é composto por regras de interpretação semântica e por outros
mecanismos, como filtros e restrições. O que importa é o significado literal.
Assim como fez Perini na obra que citamos acima, nós também, nesta tese, ao
interpretarmos o corpus, formado por períodos compostos, levamos em conta somente os
aspectos semânticos; não consideramos aspectos pragmáticos, porque os referidos períodos são
apresentados descontextualizados pelas gramáticas que utilizamos para a composição do corpus.
Nessas obras, esses períodos servem apenas para exemplificar os tipos de orações coordenadas e
subordinadas da língua italiana, nas explicações sobre as mesmas.
No período composto, o mais frequente é que as orações sejam ligadas por conectivos,
que, em sua maioria, são conjunções e locuções conjuntivas que estabelecem entre as orações
uma relação semântica, tanto na coordenação quanto na subordinação. Na coordenação, unem
orações ditas independentes do ponto de vista sintático, e as tornam dependentes semanticamente;
na subordinação, há dependência sintática e semântica.
Por si só, muitas conjunções já trazem uma carga com significado específico. As
subclassificações das conjunções adverbiais, por exemplo, têm base exclusivamente semântica.
Analisemos outra questão importante: um mesmo conectivo pode introduzir tipos
diferentes de orações. É o aspecto semântico que determinará a classificação das referidas
orações. Vejamos exemplos disso com a conjunção e. Na obra Nossa gramática: teoria, Luiz
Antonio Sacconi (1990) apresenta os seguintes enunciados:
109
Trata-se de três períodos compostos, formados por duas orações cada um. No período 1, a
conjunção e é classificada como coordenativa aditiva; introduz, portanto, uma oração
coordenada sindética aditiva (sublinhada). No período 2, a mesma conjunção e é classificada
como coordenativa adversativa, correspondendo a mas, porém, todavia, contudo, e introduz uma
oração coordenada sindética adversativa (sublinhada). Finalmente no período 3, a conjunção e
tem valor consecutivo; pois pode ser substituída pela conjunção que, e a oração principal aceita o
advérbio tão (ou tanto, tamanho, tal); assim, dizer “A chuva foi intensa, e a cidade ficou
inundada”, é o mesmo que dizer “A chuva foi tão intensa, que a cidade ficou inundada”. A oração
sublinhada, no período 3, é, portanto, uma oração subordinada adverbial consecutiva.
Francesco Sabatini, na obra La comunicazione e gli usi della lingua (1996, p. 230-231),
também apresenta explicações sobre duas funções atribuídas à conjunção e : uma aggiuntiva e
outra esplicativa. Os exemplos que esse linguista apresenta são os seguintes (ibid., p. 230,
tradução nossa):
Sabatini (ibid.) explica que, no primeiro exemplo, a conjunção tem a função puramente
aggiuntiva, isto é, função de adição de duas ações que se realizam em um mesmo nível. Já no
segundo exemplo, considerando-se a interpretação italiana, o primeiro fato é causa do segundo;
este expressa, portanto, ideia de consequência. Sabatini (ibid., tradução nossa) afirma que o
verdadeiro significado da frase é o seguinte:
Luigi aveva preso molto freddo, perciò aveva una gran tosse.
(Luiz tinha passado muito frio, por isso estava com uma forte tosse.)
110
Luigi aveva una gran tosse perché aveva preso molto freddo.
(Luiz estava com uma forte tosse, porque tinha passado muito frio.)
57
Em português, esta função seria causal.
111
As gramáticas italianas adotadas para este trabalho são para estudo de gramática pura, em
sua maioria, estudo aprofundado da língua italiana. Não são, portanto, direcionadas a
estrangeiros, mas sim aos próprios italianos, para serem usadas em escolas de níveis que
corresponderiam ao nosso Ensino Fundamental e ao nosso Ensino Médio. Assim, na coleta e
análise dos dados da pesquisa, foram utilizadas cinco gramáticas com características bem
diferentes. Justifiquemos esse número de gramáticas.
Acreditamos que, para identificarmos a correspondência entre uma determinada oração
italiana e uma oração do português, quanto mais frases com a oração italiana analisarmos melhor.
Há caso de correspondência identificada a partir de exemplo apresentado por um único gramático
italiano. É o que acontece na correspondência entre a proposizione subordinata sostantiva
oggettiva indiretta e a oração subordinada substantiva completiva nominal; identificamos essa
112
1) Grammatica italiana con nozioni di linguística, de Maurizio Dardano e Pietro Trifone (2003)
58
A edição desta obra é de 2003, mas a data que consta no prefácio é março de 1995, que é, na verdade, a data da
primeira edição da obra, e não a terceira.
59
Os autores se dirigem aos italianos; por “nossa língua”, entende-se, portanto, a língua italiana.
113
A nosso ver, essa gramática cumpre aquilo a que se propõe, conforme exposto no seu
prefácio e na sua contracapa. Traz mais de 600 frases, entre as quais, trechos de obras de autores
de várias épocas, porém privilegia frases do dia-a-dia da comunicação entre as pessoas,
destacando o nível informal da língua. A matéria é muito bem organizada e os exercícios são
bastante objetivos e claros. Não traz quase nada de ilustração, o que é coerente com o tipo de
gramática que é. Essa terceira edição tem 789 páginas.
“Um endereço já consolidado”; “Um modelo muito imitado. Vamos dar passos
além”; “O desenvolvimento da ‘competência textual’ e a variedade dos textos”;
“Por uma análise realmente ‘lógica’ ”; “A língua e a literatura, em particular a
poesia”; “O ‘livro da língua’ e a antologia”; e “O italiano, as outras línguas, a
história”.
A parte que mais nos interessa é a de título “Por uma análise verdadeiramente ‘lógica’ ”.
Sabatini explica esse título inusitado, quase irônico:
60
As expressões entre aspas e as citações que se seguirem são traduções nossas.
114
Sabatini deixa bem claro que considera a competência textual muito importante. De fato,
esta obra traz muitos textos, de diversos tipos, tanto nas explicações das matérias que apresenta,
quanto nos exercícios. A parte primeira do livro tem o título “A comunicação e o texto”. Trata,
por exemplo, dos vários tipos de linguagens, das situações e objetivos da comunicação, das
funções da linguagem, da língua falada, escrita e “transmitida” e de compreensão e produção
textual. A segunda parte da obra é dedicada ao estudo dos assuntos gramaticais. Tem o título “A
estrutura da língua: morfossintaxe e léxico”. O capítulo 6, intitulado “A frase ‘múltipla’62.
Coordenação e subordinação”, é bem detalhista. Os exercícios privilegiam a leitura e análise de
textos e a produção de frases e de textos.
O livro apresenta ainda uma terceira parte, cujo título é “A língua e a história”, e um
longo apêndice, dividido em 7 partes. O autor apresenta, no final de cada capítulo, um quadro
resumitivo da matéria abordada. Escolhemos esta obra sobretudo porque queríamos usar uma
gramática com um enfoque diferenciado das outras, o textual.
Esta foi uma gramática muito importante para a realização desta tese,
porque, em muitas situações, por apresentar seu conteúdo detalhadamente,
forneceu informações fundamentais para resolvermos dúvidas que surgiram
durante o trabalho, e que as outras gramáticas não forneciam. Um fator
negativo que apontaríamos é o fato de que praticamente todas as frases-
exemplo são de textos literários. Por vezes, são frases de estrutura e compreensão complexas.
Corresponderia, em português, mais ou menos à Moderna gramática portuguesa, de Evanildo
61
O próprio autor usou o negrito nas duas expressões destacadas com esse recurso.
62
Em italiano, “frase multipla”. Preferimos traduzir “multipla” para o português de forma literal, ou seja, como
“múltipla”, porém, a expressão em português “frase múltipla” não é usada. Essa expressão italiana faz referência ao
que chamamos de período composto.
115
Bechara. Luca Serianni é professor de História da língua italiana, membro da Accademia della
Crusca63, escritor de inúmeros artigos, ensaios e livros voltados para o público universitário e
especialista em história da língua.
Esta sua Grammatica italiana traz, no capítulo XIV, sob o título “Sintaxe do período”
(tradução nossa), detalhado estudo sobre esse tema. São 104 páginas de matéria.
No final da obra, há um glossário com termos e expressões próprios da Linguística, da
retórica e da Estilística. A gramática tem um total de 750 páginas. Não tem exercícios.
63
Instituição correspondente à Academia Brasileira de Letras.
64
As expressões entre aspas e as citações que se seguirem são traduções nossas.
116
Com um discurso um tanto poético, os autores afirmam que a gramática é “uma forma de
educação moral, de disciplina interior” e um instrumento de inclusão social. Declaram também
que a mesma “dá sentido e razão às ‘palavras’: tira-as da desordem ou do isolamento em que cada
uma se confunde ou se esconde, para harmonizá-las cada vez mais na arquitetura da expressão”.
Enfim, no prefácio, os autores não descrevem a obra, não explicam suas partes. Incluímos
essa gramática neste trabalho, porque ela é diferente das outras e porque as frases que os autores
apresentam como exemplos são, em sua maioria, do nível informal da língua, típicas da
comunicação oral, privilegiada pela gramática descritiva.
Consideramos uma gramática de 1974 antiga. São 38 anos de distância entre a sua
publicação e os dias de hoje. Pode parecer que queremos realizar estudo diacrônico, mas, como já
afirmamos anteriormente, esse não é o objetivo deste trabalho. Nós a escolhemos, principalmente
por causa da maneira como apresenta as orações subordinadas adjetivas, que em italiano são
chamadas proposizioni subordinate relative. Apresentamos essa maneira em outro tópico. Além
disso, um outro diferencial em relação às demais gramáticas escolhidas, é que esta, apesar de
também ser gramática pura e estar voltada para o ensino do italiano língua materna na scuola
media (Ensino Médio brasileiro), a apresentação do seu conteúdo é totalmente diferente daquela
que as outras gramáticas fazem. Esta parece voltada para crianças, porque tem muitas ilustrações
e uma linguagem muito fácil e objetiva.
Utiliza o método indutivo, coerente com o modelo de Análise Contrastiva e seus
fundamentos teóricos. Tem 624 páginas de teoria e cerca de 950 exercícios.
5.3. Principais obras da língua portuguesa utilizadas para a análise dos dados
Serviu de parâmetro para as classificações das orações apresentadas pelos outros autores e
para verificar as observações que estes fazem sobre a NGB ao tratarem do assunto período
composto da língua portugesa.
Um pouco mais adiante, nesta mesma apresentação, o autor fala sobre o objetivo da obra,
e expõe o seu posicionamento em relação ao papel da linguagem verbal e da gramática:
Nosso objetivo vai um pouco além da aferição de um uso e sua descrição. [...]
empenhamo-nos em refletir sobre o funcionamento da linguagem verbal no seu
tríplice papel (a) de forma de organização do conhecimento [...], (b) de meio de
codificação do conhecimento em enunciados/textos (expressão) e (c) de forma
de atuação interpessoal (comunicação). A gramática não é evidentemente o
único, mas é o mais sólido suporte dos papéis explicitados nos itens ‘a’ e ‘b’.
118
Selecionamos esta gramática para servir de base para o trabalho de Análise Contrastiva,
principalmente porque, segundo o próprio autor, o enfoque adotado na obra é “essencialmente
descritivo, sem prejuízo, contudo, de considerações de ordem normativa, sempre que oportunas”.
Em vez da obsessão prescritiva própria dos gramáticos, que leva a falar de uma
língua irreal como se ela existisse de fato, encontramos nele [em Castilho] a
preocupação de apresentar ao leitor fatos concretamente observados, com todo o
rigor possível. Em vez de tomar como referência os textos escritos, elege como
amostra preferencial da língua a sua manifestação aparentemente mais caótica
— a conversação falada. [...] no passado, a maioria dos autores que escreveram
gramáticas “do português” o fizeram de modo a ressaltar os aspectos que as
variedades europeia e sul-americana do português têm em comum; [...] Em
suma, escolher como tema e como título o “português brasileiro” é uma forma
de recusar aquele modelo”. (página 26)
Escolhemos esta gramática para nos dar suporte no trabalho desta tese, porque trata-se de
uma obra muito respeitada e usada no meio acadêmico. É muito indicada também em concursos.
O autor, Evanildo Bechara, é professor, gramático e filólogo; é considerado um dos maiores
especialistas do Brasil em Língua Portuguesa. É membro da Academia das Ciências de Lisboa,
doutor honoris causa pela Universidade de Coimbra, professor titular e emérito da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), titular da
cadeira 16 da Academia Brasileira de Filologia e da cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras.
Para entendermos qual é o corpus desta tese, precisamos lembrar dos nossos objetivos na
mesma: realizarmos um estudo de Análise Contrastiva das classificações das orações
coordenadas e subordinadas do italiano e do português do Brasil; apresentarmos uma proposta de
correspondência entre as referidas classificações — partindo dos tipos de orações italianas; e
apontarmos, entre as referidas orações italianas, as que apresentam maior dificuldade para
estudantes brasileiros de italiano como língua estrangeira.
65
A 37ª edição tem duas datas: 1999 e 2009.
120
Por “classificações das orações” queremos dizer tipos e subtipos de orações. Assim,
considerando o português do Brasil, as orações subordinadas, por exemplo, têm as seguintes
classificações: substantivas, adjetivas e adverbiais; estas três, por sua vez, têm suas
classificações. As orações subordinadas substantivas, por exemplo, classificam-se em subjetivas,
objetivas diretas, objetivas indiretas, predicativas, completivas nominais e apositivas.
Consideremos as três partes do corpus citadas acima. Para constituirmos a parte 1, a das
classificações das orações italianas, verificamos as classificações que os autores das cinco
gramáticas italianas apresentam. Fizemos o mesmo na parte 2, em relação às classificações das
orações da língua portuguesa: verificamos como os autores das três gramática do português
classificam as orações coordenadas e subordinadas.
A constituição da parte 3 do corpus, a da seleção das frases-exemplo, foi da seguinte
forma:
66
As cinco gramáticas foram apresentadas no tópico 5.2 desta tese.
121
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone (2003) FRASES
3.1) as frases deveriam formar um período composto preferencialmente por duas orações.
O nosso objetivo é realizar a analise contrastiva das orações coordenadas e subordinadas
do italiano e do português do Brasil, então, consideramos que um período composto com
apenas duas orações facilitaria o trabalho de análise; seria desnecessário selecionarmos
um período com três, quatro, cinco orações, se o nosso foco é sempre apenas uma das
orações;
3.2) Procuramos selecionar poucas frases por gramática; quando apresentamos várias
frases, em geral, é porque quisemos destacar a diversidade de conectivos ou de estrutura
frasal ligada ao tipo de oração analisado;
3.4) No caso das orações subordinadas, procuramos selecionar tanto orações italianas
desenvolvidas — ditas esplicite —quanto orações reduzidas — ditas implicite. Quando
não apresentamos um desses dois tipos, ou é porque o autor da gramática não apresentou,
ou porque o tipo de oração analisado não tem uma dessas formas.
A) Um quadro — como o que descrevemos acima — para cada tipo de oração coordenada e
subordinada da língua italiana;
Primeiramente é importante dizer que, para realizarmos a análise a que nos propomos,
nós partimos do geral para o particular. Em um primeiro momento, fizemos uma descrição do
período composto em italiano e em português, estabelecendo uma comparação entre eles. Em
seguida, abordamos dois tipos de período composto italiano individualmente: a coordenação e a
subordinação. As orações italianas de cada um desses períodos foram analisadas uma a uma.
Em um primeiro momento da abordagem a uma oração italiana, começamos por
descrevê-la, indicando sua função e suas características gerais. Não nos ativemos a muitos
detalhes tanto na descrição dos tipos de período, quanto na dos tipos de orações, porque não
convinha, pois o principal momento do estudo dos dados é o da análise oracional das frases-
exemplo apresentadas pelos autores das cinco gramáticas italianas descritas no tópico 5.2 desta
tese. Para se obter todos os detalhes sobre cada oração italiana — como, por exemplo, os modos
dos seus verbos —, é preciso consultar diretamente as gramáticas.
Seguindo com o passo-a-passo da análise, passamos ao exame das referidas frases-
exemplo. Começamos pela tradução dessas sentenças para o português. Em seguida, fizemos a
análise completa das orações de algumas dessas sentenças para que pudéssemos chegar a
conclusões e estabelecer correspondência com as classificações das orações do português. Para
realizarmos a análise completa, procuramos escolher as frases que consideramos mais
interessantes em termos sintáticos ou semânticos, de modo que pudessem confirmar ou refutar
cada hipótese nossa em relação à correspondência entre italiano e português. A referida análise
consistiu nas seguintes etapas:
ITALIANO:
Frase 1: È ancora qui o è già andato via? (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 445).
Após termos seguido todos os passos descritos acima, com todos os tipos de orações
coordenadas e subordinadas do italiano, apresentados pelos autores das gramáticas italianas,
completamos, por fim, os quatro quadros resumitivos da proposta de correspondência entre as
referidas orações do italiano e do português.
É importante destacarmos que todos os autores das cinco gramáticas italianas, ao tratarem
do período composto, apresentam as orações seguindo praticamente a mesma ordem: primeiro
tratam das coordenadas e depois das subordinadas. Fizemos o mesmo nesta tese.
Também é importante explicarmos que mantivemos em italiano a nomenclatura
gramatical italiana. Quando consideramos necessário, fizemos observações com a tradução do
termo gramatical analisado. Em geral, os termos que dão nomes às classificações das orações
italianas são bastante transparentes para brasileiro, isto é, são muito parecidos com os termos em
português.
Considerando as obras das línguas italiana e portuguesa descritas nos tópicos 5.2 e 5.3, os
capítulos ou partes das mesmas os quais tratam do período composto e das conjunções
125
GRAMÁTICAS ITALIANAS:
1) Grammatica italiana con nozioni di linguistica, de Maurizio Dardano e Pietro Trifone (2003):
para as conjunções, consultamos o capítulo 11, intitulado La congiunzione e l’interiezione; para o
período composto, utilizamos o capítulo seguinte a esse, o 12, intitulado La sintassi della frase
complessa.
2) La comunicazione e gli usi della lingua, de Francesco Sabatini (1994): para o estudo das
conjunções e outros tipos de conectivos, pesquisamos o capítulo quarto, no tópico 13, intitulado
Caratteristiche del testo IV): la coesione mediante i legamenti, e em especial no subtópico 6:
Legamenti per mezzo delle congiunzioni. Ainda para as conjunções, estudamos o tópico VIII —
Congiunzione — do apêndice VI. Para o estudo do período composto, estudamos principalmente
o capítulo sexto, intitulado La frase “multipla”: coordinazione e subordinazione.
3) Grammatica italiana – italiano comune e lingua letteraria, de Luca Serianni (1999): para o
estudo das conjunções, pesquisamos o capítulo IX, intitulado Congiunzioni e segnali discorsivi;
para a investigação sobre período composto, estudamos o capítulo XIV, intitulado Sintassi del
periodo.
4) Grammatica italiana, de Salvatore Battaglia e Vincenzo Pernicone (1994): esta obra não é
dividida em capítulos; a parte que trata das conjunções — intitulada Le congiunzioni — vai da
página 263 à 270; a parte do período composto é intitulada La sintassi del periodo; estudamos o
conteúdo que vai da página 320 à 346.
67
Considerando as edições que utilizamos.
126
1) Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, de José Carlos de Azeredo (2010): Foi na quarta
parte desta obra que encontramos o conteúdo ligado ao tema desta tese. Nesta parte, estudamos,
no capítulo 7, os tópicos 7.7.3 e 7.7.4, que tratam das conjunções; estudamos também o capítulo
14, intitulado O período composto.
2) Nova gramática do português brasileiro, de Ataliba Teixeira de Castilho (2010): tanto para o
tratamento das conjunções quanto do período composto, estudamos o capítulo 9 desta obra,
intitulado A sentença complexa e sua tipologia.
Estudamos eventualmente outras partes destas obras, mas as citadas acima foram
certamente as mais importantes para desenvolvermos o estudo proposto nesta tese.
A tradução das frases foi procedimento-chave para o processo de análise, isto é, sem
traduzir as sentenças não seria possível realizar a análise contrastiva, nem estabelecer a
correspondência que desejávamos. Portanto, ao traduzirmos as frases, procuramos ser o mais
fiéis possível às sentenças originais em italiano, respeitando, porém, as características dos dois
idiomas em questão, o italiano e o português. Como o corpus a ser traduzido era extenso, foi
inevitável nos depararmos com situações mais desafiadoras; principalmente nesses casos,
procuramos fornecer todas as observações que consideramos necessárias para o bom
127
entendimento da sentença original e para a realização de uma análise adequada. Vejamos dois
exemplos de frases que exigiram uma maior atenção ao serem traduzidas:
Esta frase é apresentada por Francesco Sabatini (1994), e está inserida no quadro que
apresenta a chamada proposizione coordinata correlativa do italiano. O que há de especial nessa
frase é que o verbo venire do italiano pode ser traduzido para o português tanto como vir quanto
como ir. Logo, há pelo menos duas opções de tradução da frase:
Esta frase é apresentada por Dardano e Trifone (2003) para exemplificar uma
proposizione subordinata avverbiale concessiva implicita: Per essere così magro. Consideramos
a tradução dessa frase difícil. Em um primeiro momento, parece que as duas orações que
constituem a sentença formam uma ideia contraditória. Traduzindo “ao pé da letra”, a frase
ficaria assim em português: “Por ser tão magro, ele tem uma bela força”. Esta tradução faz o
enunciado não ter sentido algum. Ficaria totalmente incoerente. Logo, a tradução de frases como
esta não pode ser feita “ao pé da letra”, mas sim, usando-se o bom senso e o domínio das duas
línguas. A tradução mais adequada é a seguinte68:
Assim, tivemos desafios com a tradução das frases-exemplo, mas nos esforçamos para
realizarmos boas traduções, porque elas foram determinantes na qualidade da análise contrastiva
que fizemos.
68
Conseguimos manter a forma reduzida da oração subordinada.
128
Para tratarmos do tema do presente tópico, nós nos baseamos principalmente nas cinco
gramáticas italianas e nas três gramáticas da língua portuguesa descritas nos tópicos 5.2 e 5.3
desta tese.
No geral, a sintaxe do período composto do italiano é muito parecida com a do português
do Brasil, mas existem naturalmente diferenças; apontaremos aqui as que consideramos mais
significativas. Analisemos primeiramente como as referidas gramáticas italianas apresentam a
matéria em questão.
Segundo Dardano e Trifone (2003, p. 442, tradução nossa), a chamada sintassi della frase
complessa (sintaxe da frase complexa), “dita também sintaxe do período, estuda as relações que
intercorrem entre estruturas sintáticas simples (orações), as quais, combinando-se entre si,
formam estruturas mais complexas (frases ou períodos)”. Afirmam ainda (ibid., p. 93, tradução
nossa): “A análise sintática da frase complessa [frase complexa] consiste em identificar as várias
espécies de orações que compõem a frase complessa (oração principal, coordenada, subordinada
etc.)”.
Verifiquemos, no quadro abaixo, a definição de frase, oração e período dada pelos autores
das cinco gramáticas italianas:
Período: “com este termo indica-se uma frase mais ampla, formada com
duas ou mais frases ligadas estreitamente entre si: é aquela que nós
Francesco Sabatini
chamaremos frase multipla” (p. 215, tradução nossa). “A frase se define
(1994)
também como uma expressão linguística de sentido completo, que tem
como elemento indispensável um predicado” (p. 302, tradução nossa).
VERBALE SEMPLICE ou SINGOLA (tem uma única oração, logo, tem um verbo)
COMPOSTA COMPLESSA
Já Giuseppe Pittano (1974, p. 490, tradução nossa) apresenta as três frases a seguir e
depois explica os tipos de período:
131
1) Il sole splende.
2) Il sole splende e l’aria è calda.
3) Perché il sole splende l’aria è calda.
Aproveitamos para destacar que Giuseppe Pittano considera período a frase semplice, a
que tem uma única oração, como podemos verificar no texto citado acima. Os outros gramáticos,
como já dissemos, só consideram período a frase múltipla, ou seja, a frase que tem duas ou mais
orações.
Outra questão que precisamos ressaltar é que entre os gramáticos italianos, não há um
consenso sobre a definição de frase. Luca Seriani (1999, p. 88, tradução nossa), que considera
frase o mesmo que proposizione, afirma o seguinte:
69
STATI 1976: Sorin S., La sintassi, Bologna, Zanichelli.
70
Obra popular, destinada à grande massa estudantil brasileira, distribuída, inclusive, gratuitamente para os
estudantes do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino da cidade do Rio de Janeiro.
132
de comunicação linguística transmissora de uma mensagem, caracterizada por uma entoação que
lhe marca o início e o fim”.
Em relação à frase nominal, cabe fazermos uma observação. Francesco Sabatini (1994, p.
436, tradução nossa) dedica a unidade 23 da sua gramática para tratar desse tipo frasal. Os títulos
da unidade são: As frases sem verbo ou “nominais”: na realidade são enunciados. O “estilo
nominal71. O autor afirma o seguinte (ibid., p. 436, tradução nossa):
Francesco Sabatini não considera, portanto, a frase nominal uma frase tão verdadeira e
legítima quanto à frase verbal. Essa visão do autor é, a nosso ver, muito particular e radical.
Vejamos abaixo um exemplo de frase nominal e de frase verbal simples. Daremos
exemplos da frase múltipla mais à frente.
A oração indipendente tem sentido completo, isto é, não depende de outra oração para ter
sentido; A frase semplice ou singola — que é a que tem apenas um predicado — é formada por
uma oração indipendente. As orações coordinate (coordenadas) são consideradas indipendenti.
A oração principale faz parte de uma frase múltipla, tanto de tipo composta quanto de tipo
complessa. É um tipo de oração indipendente à qual outras orações se ligam. Na frase multipla
71
Os títulos em italiano são: Le frasi senza verbo o “nominali”: in realtà sono enunciati. Lo “stile nominale”.
133
complessa, essa oração principale passa a se chamar reggente, “porque rege, isto é, sustenta a
dependente ou subordinada” (PITTANO, 1974, p. 484, tradução nossa).
A oração subordinata ou dipendente compõe a frase multipla complessa, juntamente com
a oração reggente.
Quanto ao modo verbal, a oração será esplicita, quando apresentar o verbo na forma
finita, ou seja, flexionado; será implicita, quando o verbo estiver em uma das formas nominais:
implicita d’infinito, di gerundio ou di participio (respectivamente reduzida de infinitivo, de
gerúndio e de particípio).
Giuseppe Pittano (1974, p. 491, tradução nossa) chama a atenção sobre a hierarquia
existente entre as orações:
1ª proposizione: principale
2ª proposizione: coordinata
Oggi non vengo a scuola / perché non ho fatto il compito / che il professsore ci aveva dato.
1ª proposizione 2ª proposizione 3ª proposizione
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata di 1º grado (subordinata alla reggente)
3ª proposizione: 2ª subordinata di 1º grado (subordinata alla reggente) e coordinata alla 1ª
subordinata di 1º grado
Frase é um enunciado com sentido completo73. Os sinais de pontuação que podem encerrar uma
frase são o ponto final, o ponto de exclamação, o ponto de interrogação e as reticências;
Uma frase pode ser nominal ou verbal. Será nominal quando não tiver um verbo, como no
seguinte enunciado: Que dia lindo! Será verbal se tiver um ou mais verbos ou locuções verbais;
Um período é uma frase verbal, com um ou mais verbos. Quando tem um verbo ou uma
locução verbal, trata-se de um período simples; quando tem dois ou mais verbos ou locuções
verbais, temos um período composto;
72
A frase-exemplo é apresentada por Pittano (1974, p. 496), mas a análise é nossa.
73
Ter “sentido completo” significa ser capaz de transmitir uma mensagem linguística completa.
135
Uma oração não precisa ter sentido completo, visto que é um enunciado organizado em torno
de um verbo ou de uma locução verbal, expressando uma ideia;
O número de orações de uma frase verbal ou período, dependerá do número de verbos ou
locuções verbais que esta frase contenha: termos um verbo ou uma locução verbal, significa
termos uma oração na frase ou período; termos dois verbos ou locuções verbais, significa termos
duas orações, e por aí vai. Quando um período tem uma única oração, esta é classificada como
oração absoluta.
Considerando o que foi exposto até aqui, podemos elaborar o seguinte esquema sobre o
português:
Há três tipos de período composto em português; vejamos no quadro abaixo quais são:
Assim, estabelecendo uma análise contrastiva entre italiano e português em relação a estes
conceitos sintáticos, partamos do quadro abaixo para as observações:
ITALIANO PORTUGUÊS
Em italiano, a locução verbal abarca o conceito da língua portuguesa, mas vai além.
Locuções verbais são chamadas também de perifrasi verbali (perífrases verbais). Podem ser
compostas por um verbo e um complemento-objeto (ou outro complemento). Dardano e Trifone
(2003, p. 364) apresentam os seguintes exemplos, que traduzimos entre parênteses:
137
a) aver(e)74 bisogno, aver (il) diritto, aver luogo (ter necessidade, ter (o) direito, ter lugar);
b) dar(e) atto, dar l’avvio, dar congedo, dar luogo, dar peso, dar torto (dar ato, dar início, dar
licença, dar lugar, dar peso, dar errado);
c) far(e) allusione, far finta, far fronte, far uso (fazer alusão, finger, fazer frente, fazer uso);
d) metter(e) mano, metter piede, metter in atto, in azione, in guardia (pôr a mão, pôr o pé, pôr em
prática, pôr em ação, alertar);
e) prender(e) la fuga, aria, prender atto, prender congedo, prender cura, prender gusto, prender
il largo, prender le distanze (fugir, tomar ar, tomar nota, despedir-se, cuidar, tomar gosto, afastar-
se, tomar distância);
f) tener(e) compagnia, tener conto, tener fede, tener a bada, tener a dieta, tener in sospeso (fazer
companhia, levar em conta, manter a fé, tapear, manter a dieta, manter suspenso).
Giuseppe Pittano (1974, p. 483, tradução nossa) afirma que as locuções verbais formam
uma única oração, e dá exemplos dessas locuções:
Formam entretanto predicado único: [...] c) as locuções verbais como aver fame,
aver sete, aver fretta etc. e as formas perifrásticas, aquelas, isto é, formadas por
perífrases ou expressões como: star per, avere intenzione di, essere in procinto
di, essere lì lì per, essere sul punto di, essere da, proporsi di etc. Exemplos:
Marco ha fame, stavo per scriverti, questa storia è da raccontare.
Luca Serianni (1999, p. 379, tradução nossa), sobre locuções verbais em italiano, afirma o
seguinte:
Esse modo da língua italiana de conceber a locução verbal faz muita diferença no
momento de estabelecer a correspondência entre as classificações de algumas orações do italiano
e do português. Como essa concepção de locução verbal não existe no português, as
classificações de algumas orações consequentemente são diferentes. Vejamos um exemplo disso
74
Na locução verbal, quando o verbo se apresenta no infinitivo, é possível omitir-se o “e” final.
138
com uma frase apresentada por Francesco Sabatini (1994, p. 482), ao tratar da proposizione
subordinata sostantiva oggettiva diretta. Seguem a frase e a análise:
Francesco Sabatini classifica a primeira oração como reggente e a segunda oração como
proposizione subordinata sostantiva oggettiva diretta. A expressão Mi rendo conto (rendersi
conto) é uma locução verbal em italiano, por isso, toda a segunda oração é vista como um
complemento verbal do tipo objeto direto.
Porém, quando traduzimos a frase para o português e fazemos a análise oracional, o
resultado é diferente, ou seja, a segunda oração não é subordinada substantiva objetiva direta,
como no italiano. Vejamos:
Como vimos no tópico anterior, o periodo per coordinazione (ou paratassi) é formado por
uma proposizione principale e uma ou mais proposizioni coordinate. É parcialmente diferente do
português, cujo período por coordenação é formado geralmente por orações coordenadas
assindéticas e sindéticas. Também vimos que estas expressões — asindetica e sindetica —
também existem em italiano, mas não são usadas.
139
A coordenação em italiano pode ser feita de duas maneiras: por asindeto (ou
giustapposizione) ou por meio de congiunzioni coordinative. A coordinazione per asindeto é
quando não há conectivo ligando as orações; estas são separadas por sinais de pontuação (vírgula,
ponto e vírgula, dois pontos), como no exemplo abaixo:
Scesi le scale, / uscii dal portone, / chiamai un tassì. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 445)
1ª P 2ª P 3ª P
75
Com base principalmente na Grammatica italiana de Giuseppe Pittano (1974). Em relação às funções das
conjunções, preferimos manter as informações em italiano.
76
Com base principalmente na Gramática Houaiss, de José Carlos de Azeredo (2010).
140
ITALIANO:
PROPOSIZIONI
PRINCIPALI CONGIUNZIONI FUNZIONI DELLE CONGIUNZIONI
COORDINATE
PORTUGUÊS:
mesmas. As conjunções italianas e (ed), pure, inoltre, anche, né, neppure, neanche e nemmeno
significam, em português, respectivamente: e, também, além disso, também, nem, nem sequer,
tampouco, nem mesmo. As duas orações supracitadas seriam, então, correspondentes.
A proposizione coordinata disgiuntiva: pela sua função e pelas conjunções (que
significam respectivamente ou, ou também/ou melhor, ou/ou bem), corresponderia à oração
coordenada sindética alternativa, quando esta dá ideia de exclusão.
A proposizione coordinata avversativa do italiano e a oração coordenada sindética
adversativa do português expressam a mesma ideia: adversidade, contrariedade, oposição. As
conjunções italianas ma, però, tuttavia, eppure, anzi, invece e al contrario significam
respectivamente mas, porém, todavia, contudo, antes/pelo contrário, ao invés e ao contrário.
Elas têm o mesmo valor semântico das conjunções coordenativas adversativas do português.
Logo, em princípio, podemos dizer que as duas orações em questão são correspondentes.
A proposizione coordinata sostitutiva corresponderia à oração coordenada sindética
adversativa. Suas principais conjunções são ma e bensì, que significam mas e mas sim.
A proposizione coordinata conclusiva o consecutiva e a oração coordenada sindética
conclusiva apresentam a mesma função: expressam conclusão. As conjunções italianas quindi,
dunque, pertanto, perciò são traduzidas respectivamente da seguinte forma: assim, então,
portanto, por isso. As duas referidas orações são correspondentes.
A proposizione coordinata esplicativa o dimostrativa declara ou explica um fato ou um
conceito. Suas conjunções, infatti, cioè, ossia, significam de fato, isto é, ou seja. Oficialmente,
nenhum tipo de oração coordenada da língua portuguesa é introduzida por estas expressões, que
em português são chamadas de expressões denotativas de explicação; elas têm valor de advérbio.
A oração coordenada sindética explicativa e a proposizione coordinata esplicativa, apesar de
terem a mesma função, em princípio, não seriam correspondentes. Entre as orações coordenadas,
esta oração coordenada italiana é a que ofereceria maior dificuldade de aprendizagem por parte
de estudantes brasileiros de italiano como língua estrangeira. Passemos agora para a análise de
cada tipo de oração.
142
AUTORES EXEMPLOS
1) Lascio qui l’automobile e proseguo a piedi. (Deixo aqui o automóvel
Dardano e Trifone e prossigo a pé.)
(2003, p. 444) 2) Marta non viene e nemmeno Laura. (Marta não vem, e nem Laura.)
Francesco Sabatini Cecilia studia e Teresa disegna. (Cecília estuda, e Teresa desenha.)
(1994, p. 449)
1) Giorgio esce e compra il giornale. (Jorge sai e compra o jornal.)
Luca Serianni 2) Non sei il primo né sarai l’ultimo a sbagliare. (Você não é o primeiro
(1999, p. 535) nem será o último a errar.)
Salvatore Battaglia e Gli uomini nascono e faticano, inoltre soffrono e gioiscano. (Os homens
Vincenzo Pernicone nascem e se esforçam, além disso sofrem e se alegram.)
(1994, p. 322)
1) Mangiava e beveva senza tante preoccupazioni. ( (Ele/Ela) comia e
Giuseppe Pittano bebia sem tantas preocupações.)
(1974, p. 496) 2) È un pittore molto ben quotato, inoltre compone dei bellissimi versi.
(É um pintor muito bem quotado, além disso compõe uns lindos versos.)
No quadro acima, todas as frases italianas, apresentadas como “exemplos”, têm, em sua
constituição, uma proposizione coordinata copulativa. Selecionamos frases com diferentes
congiunzioni coordinative copulative. O primeiro passo para a análise foi traduzirmos todas as
frases para o português; depois sublinhamos, nas traduções, as orações coordenadas sindéticas, as
quais analisamos e verificamos serem aditivas. Ao contrastarmos as proposizioni coordinate
copulative com as orações coordenadas sindéticas aditivas, confirmamos que as referidas orações
são correspondentes. Analisemos com mais detalhes algumas dessas frases italianas.
143
ITALIANO:
Como podemos verificar na análise acima, a divisão das frases em orações é a mesma. Em
italiano, a primeira oração é chamada de principale e corresponde à coordenada assindética da
frase em português. As duas orações coordenadas, a do italiano e a do português, são
correspondentes. Em relação às frases acima, temos a observar ainda que, em português, quando
o sujeito da segunda oração não é o mesmo sujeito da primeira, temos de usar vírgula antes da
conjunção que introduz a segunda oração. No italiano essa regra não existe. Analisemos mais
uma frase:
ITALIANO:
Frase 2: Marta non viene e nemmeno Laura (DARDANO; TRIFONE, 2003, p.444).
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone È ancora qui o è già andato via? ((Ele) ainda está aqui ou já foi embora?)
(2003, p. 445)
Francesco Sabatini Sei venuto da solo o c’è anche tua moglie? (Você veio sozinho ou sua
(1994, p. 449) mulher também está?)
Luca Serianni Scherzi o fai sul serio? (Você está brincando ou é sério?)
(1999, p. 540)
Salvatore Battaglia e Stasera leggerò o scriverò oppure sentirò la radio. (Esta noite lerei ou
Vincenzo Pernicone escreverei ou então ouvirei música.)
(1994, p. 322)
Giuseppe Pittano Resti con noi o hai deciso altrimenti? (Você fica conosco ou decidiu
(1974, p. 496) outra coisa?)
ITALIANO:
Frase 1: È ancora qui o è già andato via? (DARDANO; TRIFONE, 2003, p.445).
AUTORES EXEMPLOS
1) Ti sono amico, ma non posso aiutarti. (Sou teu amigo, mas não posso
te ajudar.)
Dardano e Trifone 2) I dati sono precisi, però sono incompleti. (Os dados são precisos,
(2003, p. 444) porém estão incompletos.)
Francesco Sabatini Volevo parlargli, ma se n’è andato. (Eu queria falar com ele, mas ele foi
(1994, p. 449) embora.)
146
Salvatore Battaglia e Volevo studiare ma non trovai il tempo per farlo. (Eu queria estudar,
Vincenzo Pernicone mas não encontrava o tempo para fazer isso.)
(1994, p. 322)
Giuseppe Pittano Non ha vinto, tuttavia ha ottenuto un tempo apprezzabile. ((Ele/Ela) não
(1974, p. 496) venceu, todavia obteve um tempo apreciável.)
Analisemos detalhadamente duas das frases do quadro, para depois apresentarmos nossas
considerações.
ITALIANO:
Frase 1: Ti sono amico, ma non posso aiutarti. (DARDANO; TRIFONE, 2003, p. 444)
Sou teu amigo, / mas não posso te ajudar. 1ª oração: coordenada assindética
1ª oração 2ª oração 2ª oração: coordenada sindética adversativa
ITALIANO:
Frase 2: I dati sono precisi, però sono incompleti. (DARDANO; TRIFONE, 2003, p. 444)
Esta oração é um caso particular de coordenada. Das cinco gramáticas italianas que
utilizamos neste trabalho, apenas duas tratam deste tipo de oração do italiano: a Grammatica
italiana, de Dardano e Trifone (2003, p. 444), e também a Grammatica italiana, de Luca Serianni
(1999, p. 537).
Dardano e Trifone, na obra supracitada, tratam deste tipo de oração dentro do tópico sobre
a coordenação adversativa; os autores explicam que “o contraste parcial caracteriza a oração
adversativa; [...] O contraste total caracteriza, por sua vez, aquela que os linguistas chamam de
proposizione sostitutiva”. A estrutura da avversativa é A però B (A porém B); e a da sostitutiva é
non A bensì B (não A mas sim B). Segundo os autores, as principais congiunzioni avversative são
ma, però, tuttavia e eppure; e as principais congiunzioni sostitutive são ma, bensì, anzi e invece.
Luca Serianni (1999, p. 538) dá praticamente as mesmas informações que Dardano e
Trifone, e acrescenta: “A conjunção fundamental para este tipo de coordenação é ma (mas)
(sempre em posição inicial), que não só é a mais frequente no uso, mas é a única que pode
desenvolver funções seja avversative [...], seja sostitutive”. O autor ainda explica que a conjunção
148
ma pode unir-se a outras congiunzioni avversative ou sostitutive para intensificar uma ideia: ma
però, ma bensì.
Vejamos, no quadro abaixo, os exemplos de proposizioni coordinate sostitutive:
AUTORES EXEMPLOS
1) Non considerarmi un amico, ma un pericoloso rivale. (Não me
considere um amigo, mas um perigoso rival.)
Dardano e Trifone 2) I dati non sono imprecisi, bensì del tutto infondati. (Os dados
(2003, p. 444) não são precisos, mas sim de todo infundados.)
3) Lui non è intelligente, ma stupido. (Ele não é inteligente, mas
estúpido.)
ITALIANO:
1ª proposizione: principale
2ª proposizione: coordinata sostitutiva
ITALIANO:
Frase 2: Non sbadigliava per il sonno, bensì per la fame. (SERIANNI, 1999, p. 537)
1ª proposizione: principale
2ª proposizione: coordinata sostitutiva
Como pudemos verificar nas frases italianas 1 e 2 analisadas acima, a primeira oração
delas é a negação de um fato. Conforme afirmam Dardano e Trifone (2003, p. 444, tradução
nossa): “o primeiro termo da relação é negado e é “substituído” pelo segundo”. Daí o nome da
oração ser sostitutiva, isto é, substitutiva.
Essa nuance oracional não existe na língua portuguesa. A proposizione coordinata
avversativa e a proposizione coordinata sostitutiva correspondem, portanto, à oração coordenada
sindética adversativa.
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone Più persone l’hanno visto in città, quindi è sicuramente tornato. (Mais
(2003, p. 445) pessoas o viram na cidade, logo, com certeza ele voltou.)
Francesco Sabatini Il film era noioso, perciò non l’ho visto tutto. (O filme era chato, por isso
(1994, p. 449) não o vi todo.)
Don Abbondio in vece [sic] non sapeva altro ancora se non che
Luca Serianni l’indomani sarebbe giorno di battaglia; quindi una gran parte della notte
(1999, p. 541) fu spesa in consulte angosciose. (Dom Abondio, ao contrário, não sabia
de nada ainda, a não ser que o dia seguinte seria dia de batalha; então
uma grande parte da noite foi gasta em consultas angustiantes.)
Salvatore Battaglia e Tu hai sbagliato, dunque sei colpevole. (Você errou, então é culpado/a.)
Vincenzo Pernicone
(1994, p. 322)
Passava i suoi giorni sui libri, pertanto la vista gli si indebolì e dovette
Giuseppe Pittano mettere gli occhiali. ( (Ele/Ela) passava os seus dias sobre os livros, por
(1974, p. 496) conseguinte a vista se enfraqueceu e teve que colocar óculos.)
ITALIANO:
1ª proposizione: principale
2ª proposizione: coordinata conclusiva
Não há dificuldade com este tipo de oração do italiano, porque, de fato, corresponde à
oração coordenada sindética conclusiva.
Consideramos esta oração italiana um desafio para estudantes brasileiros de italiano como
língua estrangeira. Se considerarmos a tradução da expressão proposizione coordinata
esplicativa, pensaremos imediatamente que esta oração italiana tem sua correspondente em
português na oração coordenada sindética explicativa. Porém, a contrastação destas duas orações
nos leva a questionar se elas são realmente correspondentes, devido a diferenças significativas
entre elas.
A primeira questão a se pensar é o fato de que essas duas orações não têm nenhuma
conjunção em comum. Como vimos no tópico 6.2.1, as principais conjunções da proposizione
coordinata esplicativa são infatti, cioè, ossia, que significam em português respectivamente de
fato, isto é, ou seja. As conjunções da oração coordenada sindética explicativa do português são
porque, que e pois (esta última, quando anteposta ao verbo). As duas orações têm, portanto,
conjunções diferentes.
As duas orações têm praticamente a mesma função: explicar, justificar, esclarecer.
Segundo Dardano e Trifone (2003, p. 445), a estrutura da oração explicativa italiana é A infatti B
(A de fato B) ou A cioè B (A isto é B). Já a estrutura básica da explicativa do português é A
porque B. Vejamos os exemplos no quadro a seguir.
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone 1) Siamo in ritardo, infatti non c’è più nessuno. (Estamos atrasados, de
(2003, p. 445) fato, não há mais ninguém.);
152
Dardano e Trifone 2) Luisa è mia cognata, cioè ha sposato mio fratello. (Luísa é minha
(2003, p. 445) cunhada, / isto é, casou-se com meu irmão.)
Francesco Sabatini Ugo era molto stanco, infatti non è venuto. (Hugo estava muito cansado,
(1994, p. 449) de fato não veio.)
Luca Serianni Scrivo queste cose in italiano, cioè le traduco in un’altra lingua. (Escrevo
(1999, p. 543) estas coisas em italiano, isto é, traduzo-as em uma outra língua.)
Giuseppe Pittano È arrivato tutto bagnato; infatti fuori pioveva. ( (Ele) chegou todo
(1974, p. 496) molhado; de fato, lá fora chovia.)
Consideremos primeiro o tipo de relação estabelecido entre as orações das frases. As duas
orações que compõem cada frase do italiano e do português são independentes entre si; logo,
entre elas se estabelece uma relação de coordenação. Temos, então, nas frases em português, dois
tipos de oração coordenada, sendo pelo menos uma delas assindética (a primeira).
Consideremos agora as conjunções da oração explicativa italiana em questão: cioè, infatti,
ossia. Conforme já dissemos, essas expressões, traduzidas para o português, significam isto é, de
fato, ou seja. No português, essas expressões são classificadas como locuções denotativas de
explicação. Não pertencem, segundo a NGB, a nenhuma classe gramatical, embora sejam
consideradas semelhantes a advérbios. Como já são classificadas como locuções denotativas de
explicação, as orações introduzidas por essas expressões deveriam ser classificadas, a nosso ver,
como coordenadas sindéticas explicativas. Analisemos mais detalhadamente duas frases do
quadro.
ITALIANO:
Frase 1: Siamo in ritardo, infatti non c’è più nessuno. (DARDANO; TRIFONE, 2003, p.445)
1ª proposizione: principale
2ª proposizione: coordinata esplicativa
153
ITALIANO:
Frase 2: Luisa è mia cognata, cioè ha sposato mio fratello.(DARDANO; TRIFONE, 2003, p. 445)
1ª proposizione: principale
2ª proposizione: coordinata esplicativa
1) Luisa è mia cognata, cioè ha sposato mio fratello. (DARDANO E TRIFONE, 2003)
2) È arrivato tutto bagnato; infatti fuori pioveva. (PITTANO, 1999)
A) A rua está molhada porque choveu. B) Choveu, porque a rua está molhada.
Temos uma oração subordinada adverbial causal na frase A (sublinhada), e uma oração
coordenada sindética explicativa na frase B (sublinhada). Castilho explica que “considera-se
causal a sentença a cujo conteúdo proposicional está associado um efeito ou consequência,
verbalizado na sentença principal”. A frase B expressa uma explicação e não uma causa, porque,
por uma questão de lógica, “rua molhada” não pode ser causa, e “chover”, efeito, mas sim o
contrário.
Em italiano, não há confusão entre proposizione coordinata esplicativa e proposizione
subordinata avverbiale causale, porque estas orações não compartilham nenhuma conjunção.
Pelo contrário, elas têm conjunções bem diferentes.
Quando tratarmos da proposizione subordinata avverbiale causale, voltaremos a tratar da
oração coordenada sindética explicativa do português.
155
77
Todas as correlatas alternativas formam-se por espelhamento: já...já, nem...nem, ora...ora, ou...ou, quer...quer,
seja...seja.
78
Ataliba de Castilho (2010, p. 386) chama certas conjunções que formam a correlação de conjunções complexas.
156
AUTORES EXEMPLOS
1) O parte subito o dovrà restare qui un’altra settimana.
(p. 482, exercício 5, n.7; Ou parte imediatamente ou deverá
ficar aqui mais uma semana.)
Dardano e Trifone 2) Né parla né lascia parlare. (p. 445; Nem fala, nem deixa
(2003) falar.)
3) Non solo l’ho detto, ma l’ho ripetuto molte volte.
(p. 445; Eu não somente disse, mas repeti muitas vezes.)
Francesco Sabatini 1) O vieni tu, o vengo io. (Ou vem você, ou venho eu.79)
(1994, p. 449;p. 450)
79
A tradução também poderia ser a seguinte: Ou vai você, ou vou eu.
157
ITALIANO:
Frase 1: O parte subito o dovrà restare qui un’altra settimana. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 482)
ITALIANO:
Análise por dedução com base no conteúdo teórico apresentado pelos autores:
Nem fala, / nem deixa falar. Tanto a 1ª quanto a 2ª oração são coordenadas
1ª oração 2ª oração sindéticas alternativas por correlação
ITALIANO:
Frase 3: Non solo l’ho detto, ma l’ho ripetuto molte volte. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 445)
Análise por dedução com base no conteúdo teórico apresentado pelos autores:
159
Na análise das três frases italianas e das frases em português, classificamos as orações de
acordo com os tipos de coordenadas, como de costume, e informamos a ocorrência de
coordenação por correlação. Verificamos que esse tipo de combinação de orações, conforme
afirma Azeredo (2010, p. 351), dá realce às unidades conectadas: “A correlação é um expediente
retórico, de rendimento enfático no discurso, e não um processo sintático distinto da coordenação
e da subordinação”.
Vejamos agora sucintamente a questão da giustapposizione. Na gramática do português, a
expressão justaposição está ligada à Morfologia e à Sintaxe. Na Morfologia, refere-se ao tipo de
formação de palavras que consiste na junção de dois ou mais vocábulos, para que formem um
vocábulo novo, sem que haja perda de fonemas ou mudança na acentuação, ou seja, sem
alteração fonética. São exemplos de justaposição as palavras couve-flor, salário-família,
passatempo, girassol, guarda-chuva, vaivém.
Na Sintaxe, tanto do português quanto do italiano, justaposição é um tipo de combinação
de orações, caracterizado pela ausência de conectivo; a separação entre as orações é feita através
de vírgula, ponto e vírgula ou dois pontos. Ataliba de Castilho (2010, p. 337-338) explica o
seguinte sobre a justaposição: “A Gramática Tradicional trata as justapostas como coordenadas
assindéticas, ou seja, coordenadas não conjuncionais. Sentenças justapostas podem ser
convertidas em sentenças conjuncionais”. O autor dá os seguintes exemplo:
O uso de conectivos para ligar orações é, portanto, mais frequente do que o uso da
justaposição das sentenças, porque os conectivos facilitam a interpretação das frases, tornando a
comunicação mais rápida e eficiente. Porém, como explica Sabatini, a justaposição também
ocorre com certa frequência em determinados contextos. Luca Serianni (1999, p. 531-532)
apresenta o mesmo tipo de observação:
Salvatore Battaglia e Vincenzo Pernicone (1994, p. 322) afirmam que uma das maneiras
de formar período por coordenação é “por simples aproximação lógica, que, na escrita, é marcado
com a mais breve pausa, a vírgula”. De fato, a separação das orações justapostas feita por vírgula
é a mais comum.
Giuseppe Pittano (1974, p. 496), na sua Grammatica italiana, não fala em
giustapposizione, mas sim em coordinazione per asindeto, explicando que trata-se de uma
ligação de orações feita “sem conjunções, mas por simples aproximação, pela qual as orações são
separadas por vígulas, pontos e vírgulas, dois pontos”.
161
AUTORES EXEMPLOS
Scesi le scale, uscii dal portone, chiamai un tassì. (Desci as
Dardano e Trifone (2003, p. 445) escadas, saí pelo portão, chamei um táxi.)
Luca Serianni (1999, p. 544) Tu non ricordi; altro tempo frastorna la tua memoria 80. (Você
não lembra; um outro tempo atordoa a tua memória.)
A justaposição é, portanto, uma forma de ligação de orações com a qual é preciso atenção,
para que, na ausência de conectivo, o tipo de relação intersentencial estabelecido — adição,
adversidade, causa etc. — seja compreendido. Analisando algumas das frases do quadro, temos o
seguinte: a frase-exemplo de Dardano e Trifone expressa adição; a frase Il film era noioso, non
l’ho visto tutto, de Francesco Sabatini, expressa causa; a frase-exemplo de Salvatore Battaglia e
Vincenzo Pernicone e a de Giuseppe Pittano expressam soma, adição de fatos; e a frase Volevo
parlargli, se n’è andato, de Francesco Sabatini, expressa adversidade.
80
Montale, La casa dei doganieri, 10-11; L’opera in versi. Torino: Einaldi, 1980.
162
ITALIANO PORTUGUÊS
copulativa aditiva
disgiuntiva alternativa
avversativa adversativa
sostitutiva adversativa
conclusiva o consecutiva conclusiva
esplicativa o dimostrativa o explicativa81
dichiarativa
6.3. Frase multipla complessa (periodo composto per subordinazione e periodo misto)
Conforme vimos no tópico 6.1 desta tese, a frase verbal italiana se divide em frase
semplice, que tem um único predicado, e em frase multipla, que tem dois ou mais predicados,
constituindo período. A frase multipla, por sua vez, se divide em composta, que é o período por
coordenação, e em complessa, que abrange o período por subordinação e o período misto, isto é,
por coordenação e por subordinação. Elaboramos o esquema abaixo para destacar esses tipos de
frases/períodos e suas orações:
81
A explicativa a que nos referimos não é a descrita pelas gramáticas tradicionais do português, mas sim uma
explicativa “ampliada”, isto é, ao invés de ser uma oração introduzida somente pelas conjunções tradicionais porque,
que e pois, seria introduzida também, como no italiano, pelas locuções denotativas de explicação de fato, isto é, ou
seja, conforme propomos no tópico 6.2.1.6 desta tese.
163
No tópico 6.1, apresentamos exemplos desses tipos de período. No tópico 6.2, tratamos da
frase multipla composta; no presente tópico, trataremos da frase multipla complessa; o nosso
foco será o periodo composto per subordinazione. Não trataremos do período misto, porque o
nosso objetivo, nesse caso, é tão somente verificar os tipos de orações subordinadas do italiano,
para podermos realizar o estudo contrastivo com a língua portuguesa.
Vimos, no mesmo tópico 6.2, que proposizione principale é um tipo de proposizione
indipendente a qual outras orações se ligam; uma proposizione indipendente é uma oração que
tem sentido completo, que não depende de outra oração para ter sentido. As proposizioni
coordinate são proposizioni indipendenti. Já a proposizione reggente “rege” as orações
subordinadas na frase multipla complessa. A combinação de reggente e subordinate forma o
sentido completo da frase. Vale observar que uma “proposizione subordinata pode ser, ao mesmo
tempo, dependente e reggente” de outras subordinadas (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 447).
Vimos ainda que a oração subordinada italiana pode ser esplicita (desenvolvida) ou
implicita d’infinito, di gerundio ou di participio (reduzida de infinitivo, gerúndio ou particípio).
Verifiquemos agora quais são os tipos de orações subordinadas do italiano.
Das cinco principais gramáticas italianas que usamos nesta tese, três delas apresentam as
orações subordinadas organizadas em três grupos; no quadro abaixo indicamos quais são esses
grupos (identificamos as gramáticas pelos nomes dos autores):
Luca Serianni (1999, p. 548) preferiu não usar classificações dessa natureza e se justifica:
Apesar do que Serianni expõe na citação acima, o autor fala em proposizioni completive,
referindo-se a duas orações subordinadas: a soggettiva e a oggettiva. As outras orações ele
apresenta individualmente. Dardano e Trifone (2003, p. 448) e Francesco Sabatini (1994, p. 480-
485) também falam em proposizioni completive. Sabatini, assim como Serianni, chama de
completive a soggettiva e a oggettiva.
Já Dardano e Trifone consideram completive todas as seguintes orações: soggettiva,
oggettiva, dichiarativa e interrogativa indiretta. Para estes autores, completive são as oração que
exercem função de sujeito e de complemento objeto; attributive são as que têm função de
“atributo”, ou seja, de adjunto adnominal ou de aposto; circostanziali são as que exercem função
de adjuntos adverbiais.
Salvatore Battaglia e Vincenzo Pernicone (1994) não usam as classificações do quadro
acima. Apresentam diretamente os tipos de orações subordinadas.
Nesta tese, nós usaremos a nomenclatura abaixo:
ITALIANO PORTUGUÊS
sostantiva substantiva
relativa adjetiva
avverbiale adverbial
Na frase acima, conforme explica Pittano, a oração subordinada pode ser substituída pela
expressão la tua ragione, cujo núcleo é um substantivo. Podemos apontar quatro tipos de orações
subordinadas substantivas em italiano, os quais elencamos no quadro abaixo, juntamente com
seus respectivos conectivos (conjunções, advérbios, pronomes):
soggettiva che
oggettiva che, come (raro)
Che (precedido de um pronome demonstrativo, acompanhado ou
dichiarativa
não de um substantivo: cio, questo punto / fatto / circostanza)
Se
interrogativa indiretta
Chi, che, che cosa, come, quando, dove, perché, quanto, quale
Analisaremos cada uma dessas orações nos próximos subtópicos, então não
apresentaremos exemplos agora.
Em português, as orações subordinadas substantivas também exercem as funções
sintáticas próprias de um substantivo, que são: sujeito, objeto direto, objeto indireto, predicativo,
complemento nominal e aposto. Assim, como são seis as funções, há seis tipos de orações
subordinadas substantivas. No quadro abaixo, identificamos esses tipos e as suas conjunções,
chamadas de integrantes, que podem vir acompanhadas de preposição:
subjetiva que
objetiva direta que, se
166
Vale destacar a explicação de Ernani Terra (2007, p. 306) sobre como identificar a função
sintática das orações substantivas: “Existe um recurso muito difundido para reconhecer a função
sintática exercida pela oração subordinada substantiva: basta substituí-la pela palavra isso. A
função sintática da palavra isso será a mesma que a oração subordinada exerce”. O autor cita o
seguinte exemplo:
B) Desejo isso.
Na frase B, a função sintática do pronome isso é objeto direto; a oração que todos voltem
será, então, subordinada substantiva objetiva direta.
Nos próximos subtópicos, analisaremos cada tipo de proposizione subordinata sostantiva
e realizaremos a contrastação com os tipos de oração subordinada substantiva do português do
Brasil.
167
A forma esplicita (desenvolvida) dessa oração apresenta o verbo nos modos indicativo,
congiuntivo ou condizionale; a forma implicita (reduzida) traz o verbo no infinitivo.
A maioria dos autores das cinco principais gramáticas italianas que utilizamos apresenta
um número grande de exemplos para esse tipo de oração. Francesco Sabatini (1994), por
exemplo, somente na parte 2 — Le frasi “soggettive” — do capítulo 26 da sua gramática,
apresenta aproximadamente 22 frases.
Ao realizarmos o estudo desta oração italiana, verificamos que esta corresponde a três
tipos de orações do português: subordinada substantiva subjetiva, subordinada substantiva
predicativa e subordinada adjetiva. Analisaremos cada caso a seguir.
Essa é a correspondência mais natural entre a oração italiana em questão e uma oração do
português. Apresentaremos, no quadro abaixo, as frases que selecionamos para analisarmos a
referida correspondência. Lembramos que as frases são das cinco principais gramáticas italianas
usadas na tese e que as orações subordinadas, tanto em italiano quanto em português, estão
sublinhadas.
168
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Conviene che io vada. (p. 451; Convém que eu vá.);
2) È meglio che ci rassegniamo. (p. 451; É melhor que nos conformemos.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) È necessario che tu parta. (p. 483; É necessário que você parta.)
2) Basta che tu mi avverta prima. (p. 484; Basta que você me avise antes.)
Francesco
Sabatini 3) È bene che tu non perda tempo. (p. 484; É bom que você não perca tempo.)
(1994)
IMPLICITE (reduzidas):
4) Si prega di non fumare. (p. 485; Pede-se para não fumar.)
5) È bello godersi le vacanze. (É bom aproveitar as férias.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Luca 1) Sembra che ci sia qualche difficoltà. (p. 564; Parece que há alguma dificuldade.)
Serianni
(1999) 2) Può darsi che così stiano veramente le cose. (p. 566; Pode ser que assim estejam
realmente as coisas.)
82
Em relação aos verbos piacere e dispiacere, há importante observação a se fazer: podemos traduzir esses verbos de
maneiras diferentes, e isso altera a estrutura frasal. Podemos traduzi-los respectivamente como agradar e
desagradar; esses dois verbos do português são transitivos indiretos e formam a estrutura “algo/alguém
agrada/desagrada a alguém”, ou seja, sujeito + verbo + objeto indireto; nesse caso, a oração subordinada faz o papel
de sujeito da frase, logo, será uma oração subordinada substantiva subjetiva; preferimos essa tradução. A outra
tradução para piacere e dispiacere é gostar e desgostar (ou usando-se a expressão “não gostar”, que é mais comum);
esses verbos do português também são transitivos indiretos, mas, nesse caso, a oração subordinada não exerce papel
de sujeito, mas sim de objeto indireto; a estrutura será sujeito + verbo + objeto indireto, mas correspondendo a
“algo/alguém gosta/desgosta de algo/alguém”; a subordinada será, então, substantiva objetiva indireta.
169
IMPLICITE (reduzidas):
Luca
Serianni 3) Sembra opportuno rinviare l’incontro. (. 564; Parece oportuno adiar o encontro.)
(1999) 6) Non mi va di dormire. (p. 565; Não fica bem eu dormir.)
7) Bisogna riflettere con calma. (Convém refletir com calma.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Salvatore 1) Si dice che la terra gira intorno al sole. (Diz-se que a terra gira em torno do sol.)
Battaglia e
Vincenzo 2) Conviene che voi studiate. (Convém que vocês estudem.)
Pernicone
(1994, p. 331) 3) È bello che tu l’abbia fatto. (É bom que você tenha feito isso.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) È bene che tu te ne parta. (É bom que você se afaste.)
Giuseppe
Pittano 2) È evidente che hai sbagliato. (É evidente que você errou.)
(1974, p. 500)
IMPLICITE (reduzidas):
Analisando cada frase italiana do quadro e suas respectivas traduções para o português,
verificamos claramente a correspondência entre a proposizione subordinata sostantiva soggettiva
e a oração subordinada substantiva subjetiva. Segue a análise oracional de duas das frases.
ITALIANO:
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: soggettiva implicita d’infinito
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo
desempenhar no período simples será a mesma que a oração subordinada substantiva exerce”. De
certa forma, esse artifício também pode ser aplicado às orações italianas, respeitando-se as
particularidades da sintaxe desta língua.
Também podem entrar nesta série estruturas particulares que não têm em si um
significado específico, mas que servem para introduzir a subordinada que segue,
dando-lhe o destaque de uma constatação objetiva; a construção é sempre
esplicita: è che, c’è che, gli è che (próprio do uso toscano e literário), il fatto è
che, è un fatto che, fatto sta che, com’è che (regência interrogativa) etc.
Il bello è che lì per lì non me ne sono accorta. (O bom é que, em um primeiro momento, não me
dei conta disso.)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: soggettiva
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva predicativa
AUTORES EXEMPLOS
IMPLICITE (reduzidas):
1) Non è il caso di inventarsi il trasporto della passione. (Não
é o caso de se inventar o transporte da paixão.)
Luca Serianni 2) Noi siamo nati in un tempo in cui era vergogna essere
(1999, p. 566-567) soldato, pena essere uomo, miseria essere italiano. (Nós
nascemos em um tempo em que era vergonha ser soldado,
pena ser homem, miséria ser italiano.)
3) È ora di lasciare il canneto stento [...]. (É hora de deixar o
canavial maltratado.)
Todas as soggettive do quadro são implicite. Dardano e Trifone (2003) não explicam a
estrutura da frase deles. Apresentam-na ao tratarem da soggettiva implicita com e sem a
preposição di.
Os exemplos de Luca Serianni estão ligados à mesma explicação que apresentamos no
caso B: segundo o referido gramático (1999, p. 567-568), a proposizione soggettiva pode ligar-se
a uma proposizione reggente formada por um sintagma nominal e pelo verbo essere. Entre os
exemplos apresentados por Serianni, destacamos aqui os que proporcionam a correspondência
entre a soggettiva e a oração subordinada adjetiva. São os seguintes: è il caso (+ di e infinito), è
un peccato, una fortuna, una vergogna, ecc. (+ inf.), è tempo, è ora (+ di e inf.). Nas três frases
do quadro, as reggenti são respectivamente: Non è il caso; in cui era vergogna; e È ora.
No português, encontramos a explicação para esses casos em Azeredo (2010, p. 321): “É
comum a oração adjetiva assumir a forma de um sintagma preposicional”. Um dos dois tipos
existentes é justamente quando a preposição introduz uma oração reduzida de infinitivo, como
nos seguintes exemplos apresentados pelo autor:
PORTUGUÊS: ITALIANO:
Já está na hora de voltarmos para casa. È ora di andare.
ITALIANO:
È ora / di andare.
1ª prop. 2ª prop.
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: soggettiva implicita d’infinito
É hora / de ir.
1ª oração 2ª oração
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva reduzida de infinitivo
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: soggettiva implicita d’infinito
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva reduzida de infinitivo
b) Mi preoccupo che tu sia in ritardo. (Eu me preocupo que você esteja atrasado.)
176
Como podemos verificar, a forma das duas orações subordinadas é a mesma: ambas são
introduzidas pela conjunção che. A oggettiva indiretta não é introduzida por preposição. Só
percebemos a diferença de classificação das duas orações, transformando-as em complementos
na frase semplice.
No português, o uso da preposição para introduzir a oração substantiva objetiva indireta é
opcional, conforme afirma Bechara (1999, p. 483): “[...] pode-se prescindir da preposição que
inicia uma oração objetiva indireta ou completiva nominal”.
Assim, em relação ao tipo de oggettiva, neste estudo, preferimos diferenciar os dois tipos
existentes, usando os termos diretta e indiretta, para facilitar o entendimento da análise
contrastiva com o português. Tratemos primeiramente da oggettiva diretta.
Segundo Dardano e Trifone (2003, p. 449), a proposizione oggettiva diretta “desenvolve a
função de complemento oggetto da proposizione reggente. Os autores explicam que ela pode
depender de verbos e de locuções verbais de vários tipos83:
83
Dardano e Trifone (2003, p. 449) fornecem uma lista bem grande de verbos e de locuções na sua Grammatica
italiana, mas aqui indicaremos apenas alguns.
177
Essa é a correspondência mais simples entre a oração italiana em questão e uma oração do
português. Vejamos alguns exemplos:
178
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Spero che non si preoccupi. (p. 449; Espero que não se preocupe.)
2) Ordinò ai soldati che cessassero il fuoco. (p. 451; Ordenou aos soldados que
Dardano e cesassem fogo.)
Trifone
(2003) IMPLICITE (reduzidas):
3) Ritengo di aver agito correttamente. (p. 451; Acredito ter agido corretamente.)
4) Ordinò ai soldati di cessare il fuoco. (p. 451; Ordenou aos soldados cessar fogo.)
5) Gli chiedo di andarsene. (p. 451; Peço-lhe para ir embora.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Assicuro che sarò presente. (p. 480; Asseguro que estarei presente.)
2) Paolo sperava che Anna tornasse. (p. 481; Paulo esperava que Ana voltasse.)
Francesco
Sabatini 3) So che ho torto. (p. 482; Sei que estou errado.)
(1994)
IMPLICITE (reduzidas):
4) Dichiaro di essere innocente. (p. 481; Declaro ser inocente.)
5) So di aver torto. (p. 483; Sei estar errado.)
6) Ho chiesto ai ragazzi di aiutarmi. (p. 483; Pedi aos rapazes para me ajudarem.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Sento che mi nascondi qualcosa. (p. 549-550; Sinto que você me esconde
alguma coisa.)
2) Vuoi che tutto questo finisca? (p. 550; Você quer que tudo isso termine?)
Luca
Serianni 3) Capivo che anche lei se n’era accorta. (p. 556; Eu entendia que ela também tinha
(1999) se dado conta.)
IMPLICITE (reduzidas):
4) Diceva di essere uno studente. (p. 550; Dizia ser um estudante.)
5) Cerco di smettere il fumo. (p. 553; Procuro deixar o fumo.)
6) Provo a smettere di fumare. (p. 553; Experimento deixar de fumar.)
179
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Dico che io sono guarito. (Digo que estou curado.)
Salvatore 2) Ci scrisse che stavano bene. (Escreveu-nos que estavam bem.)
Battaglia e
Vincenzo 3) Dubito ch’essi vengano. (Duvido que eles venham.)
Pernicone 4) Mi sembrava che non fosse possibile. (Parecia-me que não era possível.)
(1994, p.330)
IMPLICITA (reduzida):
5) Dico d’essere guarito. (Digo estar curado.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) So che lo fai per me. (Sei que você faz isso por mim.)
Giuseppe 2) Credo che tu lo faccia per me. (Creio que você faça isso por mim.)
Pittano
(1974,p.500) IMPLICITE (reduzidas):
3) Credo di aver sbagliato. (Creio ter errado.)
4) Ho imparato a parlare tedesco. (Aprendi a falar alemão.)
Como pudemos verificar, todas as oggettive dirette esplicite, nas frases-exemplo, são
introduzidas pela conjunção che; as implicite trazem o verbo no infinitivo e a maioria delas é
introduzida pela preposição di. Apenas a frase 6 de Luca Serianni e a frase 4 de Giuseppe Pittano
têm as implicite introduzidas pela preposição a. Analisemos duas das frases do quadro.
ITALIANO:
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: oggettiva diretta
Essa é uma correspondência muito particular entre uma oração italiana e uma oração do
português. Encontramos frases que expressavam esse caso apenas em Sabatini (1994) e em
Serianni (1999). Vejamos os exemplos apresentados por esses autores.
181
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) La tua dichiarazione che avresti pagato ci tranquillizzò. (A sua
declaração de que você teria pagado nos tranquilizou.)
2) Il dubbio che tu non stia bene mi tormenta. (A dúvida de que
você não esteja bem me atormenta.)
IMPLICITA (reduzida):
5) Il ricordo di essere stato amato non si cancella. (A lembrança de
ter sido amado não se apaga.)
ESPLICITA (desenvolvida):
1) La sensazione che tu mi nasconda qualcosa mi tormenta. (p.
550; A sensação de que você me esconde alguma coisa me
atormenta.)
Segundo Francesco Sabatini (1994, p. 480, tradução nossa), “é interessante notar que não
só os verbos podem reger uma oggettiva, mas também substantivos e até mesmo adjetivos que
correspondem, no significado, a estes verbos”. O autor explica que trata-se de verbos,
substantivos e adjetivos que indicam: a) declaração ou conhecimento; b) percepção, compreensão
ou lembrança; c) opinião (juízo, avaliação, dúvida, suspeita); d) vontade (ordem, concessão,
desejo, promessa, voto, temor); e) sentimentos. Em cada um desses tópicos, Sabatini apresenta
182
uma grande lista de verbos e de substantivos e adjetivos que podem formar a proposizione
reggente, à qual a oggettiva se ligará.
Analisemos, a seguir, alguns exemplos desse caso de correspondência oracional.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: oggettiva diretta
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva
Esse primeiro exemplo traz a oração italiana che avresti pagato ligada ao substantivo
dichiarazione, especificando-o. A gramática italiana a classifica como proposizione oggettiva.
Essa oração, traduzida para o português, é de que você teria pagado, e trata-se claramente de uma
subordinada adjetiva.
As subordinadas adjetivas do português exercem função sintática de adjunto adnominal,
que é a função própria de um adjetivo. Ligam-se justamente a um nome da oração principal e são
introduzidas por pronome relativo, acompanhado ou não de preposição. É comum que esse tipo
de oração venha intercalada na oração principal, isto é, dividindo-a.
Há dois tipos de orações subordinadas adjetivas: restritivas e explicativas. As restritivas,
como o próprio termo indica, restringem o significado do nome a que estão ligadas. As
explicativas apenas acrescentam uma informação sobre o termo ao qual se ligam. Estas vêm
sempre entre vírgulas. Veremos exemplos desses dois tipos de subordinadas adjetivas no tópico
6.3.3. Analisemos mais um exemplo apresentado por Francesco Sabatini.
183
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: oggettiva diretta implicita d’infinito
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva reduzida de infinitivo
Este segundo exemplo traz uma proposizione oggettiva diretta implicita d’infinito,
especificando o termo ricordo. Conforme já explicamos, as implicite desse tipo de oração são
introduzidas pela preposição di e trazem o verbo no infinitivo.
A oração correspondente a essa no português é de ter sido amado, que é uma subordinada
adjetiva restritiva reduzida de infinitivo, por estar ligada ao substantivo lembrança,
especificando-o, restringindo o seu significado, e por apresentar-se sem conectivo, com o verbo
no infinitivo. Analisemos abaixo mais um exemplo.
ITALIANO:
Frase 3: La speranza che Anna tornasse non abbandonava Paolo. (SABATINI,1994, p. 481)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata sostantiva oggettiva diretta
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva
A análise desta frase é como a das anteriores, queremos apenas destacar que a
subordinada italiana não é introduzida por preposição por se tratar de uma oggettiva; já a
subordinada do português traz a preposição, porque é uma oração que exerce função sintática de
adjunto adnominal, que, nesse caso, vem introduzido por preposição. Para verificarmos isso,
basta substituirmos a subordinada por uma expressão sem verbo:
A substituição da oração por uma expressão sem verbo permite-nos identificar claramente
que essa expressão tem a função de adjunto adnominal.
Esse é outro caso interessante de correspondência entre uma oração italiana e uma oração
do português. Como dissemos anteriormente, a proposizione subordinata sostantiva oggettiva
diretta pode ser regida não só por verbos, mas também por substantivos e adjetivos. O caso que
apresentamos neste tópico C está relacionado à regência através de adjetivos.
A oração subordinada substantiva completiva nominal do português é a que exerce função
sintática de complemento nominal de um termo presente na oração principal. Os complementos
nominais, no período simples, ligam-se, através de preposição, a substantivos, adjetivos ou
advérbios, completando o significado destes na frase. Analisemos alguns exemplos (TERRA,
2007, p. 275):
As frases (a), (b) e (c) são períodos simples. As expressões sublinhadas são complementos
nominais e se ligam respectivamente a um substantivo (necessidade), a um adjetivo (prejudicial)
e a um advérbio (favoravelmente). A frase (d) é um período composto por subordinação, formado
por uma oração principal e uma oração subordinada substantiva completiva nominal
(sublinhada); esta subordinada liga-se ao substantivo necessidade da oração principal.
O complemento nominal do português corresponde a dois complementos chamados
indiretti84 do italiano, denominados complemento di termine e complemento di specificazione.
Vejamos um exemplo do complemento di termine como complemento nominal:
Na frase italiana acima, a expressão a te se liga ao adjetivo adatto (adequado), por isso a
expressão corresponde a um complemento nominal em português. Battaglia e Pernicone (1994, p.
289, tradução nossa) explicam esse termo da seguinte forma: “O complemento di termine integra
a função e o valor de alguns adjetivos, como: fedele, caro, símile, adatto, idoneo, abile [...] Por
exemplo: [...] Le leggi favorevoli all’individuo; [...] Un uomo adatto alla fatica; etc.”.
É preciso esclarecermos que o complemento di termine também corresponde ao objeto
indireto do português, mas não cabe aqui tratarmos disso com detalhes.
Como dissemos acima, o complemento nominal do português também corresponde ao
complemento di specificazione — que também é um complemento chamado indiretto, por ter
preposição — do italiano no seguinte caso: quando completa substantivo. Por exemplo
(PITTANO, 1974, p. 422):
Il ricordo degli amici (= ricordare gli amici); il desiderio di richezza (= desiderare la richezza); il
timore dei nemici (= noi temiamo i nemici)
(A lembrança dos amigos (= lembrar os amigo); o desejo de riqueza (desejar a riqueza); o temor
dos inimigos (= nós tememos os inimigos) )
84
São complementos introduzidos por preposição.
186
AUTORES EXEMPLOS
IMPLICITE (reduzidas):
Dardano e 1) Ho creduto opportuno acconsentire alle sue richieste. (Considerei oportuno
Trifone concordar com os seus pedidos.)
(2003, p. 451)
2) Il giudice ha ritenuto necessario ordinare la limitazione della libertà personale
dell’imputato. (O juiz considerou necessário ordenar a limitação da liberdade do
acusado.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Dormimmo [...] ansiosi che la luce del giorno ci rivelasse la terra rumena. (p.
550; Dormimos ansiosos de que a luz do dia nos revelasse a terra romena.)
2) Ero contento che fosse finita. (p. 554; Eu estava contente que tivesse
terminado.)
3) Elisa Ismani perse la speranza che tacesse. (p. 554; Elisa Ismani perdeu a
esperança de que calasse.)
Luca 4) Sorrise compiaciuto all’idea che avessi data tanta importanza alla sua lettera. (p.
Serianni 554; Sorriu satisfeito com a ideia de que tinha dado tanta importância à sua carta.)
(1999)
IMPLICITE (reduzidas):
5) Uno è contento di girare se vede bei posti. (p. 554; Fica-se contente de circular
se se veem bonitos lugares.)
6) Scantona via convinto di aver udito ululare tutte insieme le anime del
Purgatorio. (p. 554; Escapole convencido de ter ouvido urrarem todas juntas as
almas do Purgatório.)
187
7) Non so quando le sarebbe comodo ricevermi. (p. 573; Não sei quando lhe seria
cômodo rever-me.)
Salvatore Battaglia e Vincenzo Pernicone (1994) não apresentam exemplos para esse caso
de correspondência.
Nas frases italianas acima, ora a subordinada (sublinhada) se refere a um adjetivo
(opportuno, necessario, ansiosi, contento, convinto, comodo), ora a um substantivo (conto,
speranza, idea). Analisemos a seguir duas dessas frases.
ITALIANO:
Frase 1: Ho creduto opportuno acconsentire alle sue richieste. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 451)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: oggettiva diretta implicita d’infinito
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: oggettiva diretta implicita d’infinito
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo
Assim como a frase 1, a frase 2 tem uma subordinata implicita. Esta refere-se ao adjetivo
necessario presente na reggente. A frase em português, que é a tradução da frase italiana, tem a
subordinada reduzida de infinitivo ligada ao adjetivo necessário; por isso, trata-se de uma
subordinada substantiva completiva nominal.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Pensano che io abbia torto. (p. 449; Pensam que eu esteja errado.)
2) Si persuase che non volevano farle del male. (p. 451; Persuadiu-se de que
Dardano e não queriam fazer-lhe mal.)
Trifone (2003)
IMPLICITE (reduzidas):
3) Ricordati di prendere le chiavi. (p. 449; Lembre-se de pegar as chaves.)
4) Si è dimenticata di spedire la lettera. (p. 451; (Ela) se esqueceu de espedir a
carta.)
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Ti avverto che i soldi sono finiti. (p. 550; Eu te advirto de que o dinheiro
acabou.)
Luca Serianni
(1999) IMPLICITE (reduzidas):
2) Mi rallegro di ritrovarvi in buona salute. (p. 550; Alegro-me de encontrar-te
com boa saúde.)
3) Tobia s’accorse di avermi fatto effetto. (p. 553; Tobias se deu conta de ter-
me atingido.)
Consideremos a frase 1 apresentada por Dardano e Trifone: Pensano che io abbia torto. O
verbo pensare do italiano pede a preposição a: diz-se pensare a qualcosa. Podemos classificá-lo,
portanto, como transitivo indireto. Seguindo esse raciocínio, podemos classificar a oração
subordinada sublinhada na frase 1 como subordinata sostantiva oggettiva indiretta.
190
Da mesma forma, temos a frase 2 desses autores: Si persuase che non volevano farle del
male. O verbo persuadersi pede a preposição di. Logo, podemos classificá-lo como transitivo
indireto. A oração sublinhada na frase 2 é, portanto, subordinata sostantiva oggettiva indiretta. E
assim ocorre com as outras frases do quadro.
Não encontramos exemplos relevantes desse caso nas gramáticas de Battaglia e Pernicone
(1994) nem na de Giuseppe Pittano (1974). Vejamos a análise oracional de uma das frases do
quadro.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: oggettiva indiretta
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva objetiva indireta
Francesco Sabatini (1994) explica que, para reconhecermos a diferença entre oggettiva
diretta e oggettiva indiretta, temos de verificar qual seria a classificação de uma expressão
correspondente na frase singola (período simples). Assim, temos:
Mi rendo conto di come tu sia preoccupato. (Eu me dou conta de como você está preocupado.)
Vejamos a análise oracional desta frase.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: oggettiva indiretta
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva completiva nominal
A expressão rendersi conto é considerada locução verbal em italiano e pede preposição di;
diz-se rendersi conto di qualcosa (dar-se conta de alguma coisa). Logo, podemos dizer que seja
uma locução verbal que pede um complemento indiretto, mais especificamente um complemento
di termine ou oggetto indiretto. Logo, a oração regida por essa locução verbal será oggettiva
indiretta, como ocorre no exemplo acima.
192
verbos (ou locuções verbais) como domandare, chiedere, dire, sapere, cercare, tentare,
indovinare, ignorare, pensare, essere certo, incerto, non essere sicuro;
substantivos como domanda, ricerca, dubbio, problema, questione;
adjetivos como incerto, dubbioso.
A interrogativa indiretta pode ser introduzida pela conjunção se ou por chi, che, che
cosa, come, quando, dove, perché, quanto, quale etc.. A forma implicita traz o verbo no
infinitivo.
Dardano e Trifone (2003, p. 465, tradução nossa) apresentam a seguinte observação a
respeito da interrogativa indiretta:
Giuseppe Pittano (1974, p. 530, tradução nossa) afirma que “as interrogative indirette,
introduzidas pela conjunção se, são chamadas também de proposizioni subordinate dubitative
(orações subordinadas dubitativas): non so se verrò (Não sei se virei/irei)”.
Ao estudarmos este tipo de oração italiana, verificamos que esta corresponde a pelo
menos três orações subordinadas substantivas do português: a objetiva direta, a apositiva e a
completiva nominal. Vejamos a seguir individualmente cada um dos casos.
193
Essa é a correspondência mais fácil para brasileiros, porque a estrutura das duas orações é
a mesma: verbo transitivo direto + oração subordinada. Vejamos os exemplos no quadro abaixo:
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITA (desenvolvida):
Dardano e 1) Dimmi perché l’hai fatto. (Diga-me por que você fez isso.)
Trifone
(2003, p. 465) IMPLICITA (reduzida):
2) Non so se partire. (Não sei se parto85.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Francesco 1) Ti chiedo se è stato Luigi. (Eu te pergunto se foi Luiz.)
Sabatini
(1994, p.425) 2) Dimmi se piove. (Diga-me se chove.)
3) Vorrei sapere se questo autobus va alla stazione. (Eu queria saber se este ônibus
vai até a estação86.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Non so che cosa vuoi fare. (p. 570; Não sei o que você quer fazer.)
Luca 2) Gli chiese da dove venisse. (p. 570; Perguntou-lhe de onde vinha.)
Serianni
(1999) 3) Non so quando riuscirò a liberarmi. (p. 572; Não sei quando conseguirei me
liberar.)
IMPLICITA (reduzida):
4) Mi chiedo dove andare. (p. 573; Eu me pergunto aonde ir.)
85
Apresentamos, à frente, observação sobre essa frase, que consideramos difícil.
86
Usamos, na tradução, o pronome pessoal eu, para deixar claro que o verbo está na 1ª pessoa do singular. Além
disso, preferimos a forma queria à forma quereria (futuro do pretérito), porque queria é a mais usada na linguagem
coloquial; privilegiamos este nível de linguagem.
194
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Dimmi dove vai. (Diga-me aonde você vai.)
2) Voglio sapere dove vai. (Quero saber aonde você vai.)
Giuseppe
Pittano 3) Non so se tu hai capito. (Não sei se você entendeu.)
(1974, p. 529)
4) Non so chi venga questa sera. (Não sei quem vem esta noite.)
5) Ti chiedo se hai letto il giornale. (Eu te pergunto se você leu o jornal.)
IMPLICITA (reduzida):
6) Non so che cosa dire. (Não sei o que dizer.)
reduzida, ou então haveria alteração na classificação dessa oração. Para excluir a conjunção se e
manter a subordinada como uma reduzida de infinitivo, poderíamos transformá-la, por exemplo,
em uma subordinada substantiva apositiva (sublinhada): Não sei: partir?
Observamos que a expressão non so aparece em exemplos de todos os autores do quadro,
tanto na forma esplicita quanto na implicita. Passemos para a análise detalhada de duas frases do
quadro.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: interrogativa indiretta
ITALIANO:
Infelizmente os autores das cinco principais gramáticas italianas que utilizamos nesta tese
não deram muita atenção ao tipo de regência dessa subordinada feito com elementos que não
fossem verbos. Em relação à citação acima — com a afirmação de Luca Serianni —, nós
analisaremos o primeiro exemplo que o autor apresenta: lo prese il dubbio se restare o partire;
identificamos, nas subordinadas desse exemplo, uma correspondência com a subordinada
substantiva apositiva do português. Vejamos a análise.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: interrogativa indiretta (1º grado)
3ª proposizione: interrogativa indiretta doppia (o disgiuntiva) 88 (1º grado)
87
As palavras dubbio, penoso e dubitoso foram sublinhadas por nós.
88
A classificação como doppia ou disgiuntiva se encontra em Pittano (1974, p. 530).
197
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva apositiva em relação à 1ª oração
3ª oração: subordinada substantiva apositiva em relação à 1ª oração e coordenada sindética
alternativa em relação à 2ª oração
1ª oração: principal
2ª oração: oração subordinada substantiva apositiva
198
Seu grande desejo, [que o chefe lhe promovesse], foi finalmente atendido.
oração principal oração sub. subst. apositiva oração principal
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: interrogativa indiretta
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva completiva nominal
A frase italiana que apresentamos aqui traz um caso de uma interrogativa indiretta ligada
a um substantivo (idea). A referida subordinata é esplicita e é introduzida pela preposição di e
pelo pronome interrogativo quanto. A frase expressa dúvida, incerteza, o que explica a
classificação da subordinada como interrogativa indiretta.
Na frase em português — que é a tradução da frase italiana —, temos uma subordinada
ligada ao substantivo ideia, completando-o; essa subordinada exerce a função de complemento
200
nominal, por isso temos uma subordinada completiva nominal. É interessante observar que a
oração principal da frase em questão traz o verbo ter, o que é muito comum em frases com
subordinadas desse tipo em português.
Luca Serianni (1999, p. 568, tradução nossa) afirma que, “pela sua função no período, as
dichiarative podem ser aproximadas da apposizione [do aposto] na frase semplice”. De fato, uma
das orações do português correspondentes a essa oração italiana é justamente a subordinada
substantiva apositiva. Essa oração do português pode ser introduzinda pelas conjunções
integrantes que ou se, e pode ou não ser separada da oração principal por algum sinal de
pontuação, geralmente vírgula ou dois pontos.
201
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) In cio l’uomo si distingue dalle bestie, che ha l’uso della ragione. (Nisto
Dardano e Trifone o homem se distingue dos bichos, que tem o uso da razão.)
(2003, p. 453)
2) Su questo punto ti sbagli, che io fossi presente. (Neste ponto você se
engana, que eu estivesse presente.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) A volte mi sorprendevo a sperare appunto questo: che neve e gelo non si
sciogliessero più. (Às vezes eu me surpreendia a esperar realmente isto: que
neve e gelo não derretessem mais.)
Luca Serianni 2) Nell’ipotesi che si volessero bene, una cosa era certa: che cotesto bene
(1999, p. 568) non lo godevano. (Na hipótese que se quissessem bem, uma coisa era certa:
que este bem eles não aproveitavam.)
IMPLICITA (reduzida):
3) Espresse una proposta: ridurre tutti gli investimenti. (Expressou uma
proposta: reduzir todos os investimentos.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Questo doveva bastargli: che si erano ricordati di lui. (Isto devia bastar-
Giuseppe Pittano lhe: que tinham se lembrado dele.)
(1974, p. 505)
2) Era questo il punto: che non sarebbero mai giunti a un accordo. (Era este
o ponto: que não chegariam nunca a um acordo.)
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: dichiarativa
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva apositiva
principal. Encontramos frases em Dardano e Trifone (2003) e em Giuseppe Pittano (1974), cujas
subordinate sostantive dichiarative correspondem à completiva nominal do português. Estas
estão ligadas a substantivos das reggenti. Vejamos as frases no quadro a seguir.
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Il fatto che siamo tutti qui testimonia il nostro affetto per te. (O fato de
que estejamos todos aqui testemunha o nosso afeto por você.)
Dardano e Trifone
(2003, p. 453)
IMPLICITA (reduzida):
2) Il fatto di essere tutti qui testimonia il nostro affetto per te. (O fato de
estarmos todos aqui testemunha o nosso afeto por você.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Mi tormenta il pensiero che tu sia lontano. (Atormenta-me o pensamento
de que você esteja longe.)
2) Mi tormenta il fatto che tu sei lontano. (Atormenta-me o fato de que você
Giuseppe Pittano esteja longe.)
(1974, p. 503)
3) Mi tormenta il pensiero che io sarei il colpevole. (Atormenta-me o
pensamento de que eu seria o culpado.)
IMPLICITA (reduzida):
4) Mi tormenta il pensiero di essere lontano. (Atormenta-me o pensamento
de estar longe.)
Dardano e Trifone apresentam uma mesma ideia em duas versões: uma com a
dichiarativa na forma esplicita e outra com essa oração na forma implicita. Nas duas frases, a
dichiarativa apresenta-se intercalada na reggente, sem estar separada desta por vírgulas. Essa
subordinada, nas duas frases, refere-se ao substantivo fatto.
Giuseppe Pittano apresenta frases bem parecidas; nas três primeiras, o autor quer chamar
a atenção para a possibilidade de se usar, na subordinata dichiarativa, respectivamente os modos
congiuntivo, indicativo e condizionale.
As duas subordinate implicite do quadro — a de Dardano e Trifone e a de Giuseppe
Pittano — são introduzidas pela preposição di, seguida de verbo no infinitivo, como é
204
ITALIANO:
Frase 1: Il fatto che siamo tutti qui testimonia il nostro affetto per te.
(DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 453)
Il fatto [ che siamo tutti qui ] testimonia il nostro affetto per te.
1ª prop. 2ª proposizione continuazione della 1ª proposizione
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: dichiarativa
O fato [ de que estejamos todos aqui ] testemunha o nosso afeto por você.
1ª oração 2ª oração continuação da 1ª oração
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva completiva nominal
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: dichiarativa
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva completiva nominal
Essa é a estrutura das frases-exemplo de Dardano e Trifone (2003). Luiz Antonio Sacconi
(1990, p. 322), ao explicar as completivas nominais na sua obra Nossa gramática, apresenta duas
frases com essa mesma estrutura. Comparemos abaixo as frases italianas e suas traduções para o
português às frases de Sacconi (as subordinadas substantivas estão em itálico e em negrito):
FRASES ITALIANAS:
Il fatto che siamo tutti qui testimonia il nostro affetto per te. (DARDANO E TRIFONE, 2003)
Il pensiero che tu sia lontano mi tormenta. (PITTANO, 1974)
TRADUÇÕES:
O fato de que estejamos todos aqui testemunha o nosso afeto por você.
O pensamento de que você esteja longe me atormenta.
206
Logo, fica claro que as subordinadas das frases em português, que são traduções das
frases italianas, são substantivas completivas nominais. As dichiarative, portanto, nos casos que
explicamos neste tópico (B), correspondem às completivas nominais do português.
Após termos realizado, do tópico 6.3.1.1 ao tópico 6.3.1.5, o estudo de análise contrastiva
dos tipos de proposizioni subordinate sostantive do italiano com os tipos de orações subordinadas
substantivas do português, elaboramos o quadro abaixo para resumir a nossa proposta de
correspondência entre essas orações. Analisemos o quadro.
ITALIANO PORTUGUÊS
Como podemos ver, cada oração subordinada substantiva italiana corresponde a pelo
menos duas orações subordinadas do português, sendo que nem sempre essas orações do
207
português são substantivas. Como vimos, a soggettiva e a oggettiva diretta podem corresponder à
oração adjetiva do português.
É interessante observar que praticamente todos os tipos de substantivas do italiano podem
corresponder à substantiva completiva nominal do português; a exceção é a soggettiva. Vimos
que isso acontece, principalmente porque a locução verbal em italiano não é formada somente por
verbos, isto é, os elementos mais importantes que constituem uma locução verbal em italiano não
são somente verbos, mas também complementos-objeto (ou outros complementos). Há locuções
verbais italianas formadas, por exemplo, por verbo + substantivo, ou verbo + adjetivo. Quando
uma oração subordinada italiana se liga a um nome que compõe uma locução verbal italiana,
estabelece-se a correspondência com a oração subordinada substantiva completiva nominal do
português.
Destacamos que em italiano há menos tipos de orações subordinadas substantivas do que
em português. Há cinco tipos de sostantive: soggettiva, oggettiva diretta, oggettiva indiretta,
interrogativa indiretta e dichiarativa; em português, há seis tipos: subjetiva, objetiva direta,
objetiva indireta, completiva nominal, predicativa e apositiva. Passemos agora às proposizioni
subordinate relative.
89
Em italiano e em português, a palavra é a mesma: antecedente.
208
SIGNIFICADOS ESPECÍFICOS:
Francesco Sabatini restrittiva (ou determinativa)
temporale consecutiva
(1994, p. 476)
appositiva causale concessiva
finale ipotetica
CIRCUNSTÂNCIAS:
Battaglia e determinativa (ou specificativa)
Pernicone temporale consecutiva
appositiva (ou incidentale) causale concessiva
(1994, p. 335-336)
finale condizionale
PROPRIE: IMPROPRIE:
Giuseppe Pittano
(1974, p. 538) attributiva temporale consecutiva
causale concessiva
appositiva (ou incidentale)
finale condizionale
Como podemos observar no quadro, é grande a variação de nomes para os principais tipos
de proposizioni relative, e cada autor tem a sua preferência. Em relação ao primeiro tipo, o termo
determinativa aparece em duas das cinco gramáticas como a primeira opção de nome; e em
209
relação ao segundo tipo, o termo appositiva é o mais usado. Por isso, adotaremos, nesta tese,
esses dois termos para nos referirmos aos tipos de proposizioni subordinate relative.
Quanto às circunstâncias que essa subordinada pode expressar, há consenso entre os
autores; praticamente todos apresentam os mesmos tipos de circunstâncias, Luca Serianni citou
apenas quatro tipos, mas deixa entender que há outros. É a relativa determinativa que pode
expressar essas circunstâncias.
Também podemos observar no quadro que Giuseppe Pittano (1974, p. 538, tradução
nossa) divide as relative em dois grupos: proprie (próprias) e improprie (impróprias). As proprie
“são as que têm valor attributivo ou appositivo”; e as improprie “são as que têm valor de outras
subordinadas”.
Vejamos agora como se caracterizam os principais tipos de relative. A relativa
determinativa especifica ou limita o sentido do antecedente presente na reggente. Sem ela, esse
termo ficaria incompleto, logo, é um tipo de oração que não pode ser retirado da frase sem
prejuízo do sentido da mesma. Dardano e Trifone (2003, p. 467, tradução nossa) explicam que
“há neste tipo de proposizione relativa, um componente ‘dêitico’90, ‘demonstrativo’ [...]; por
exemplo, a frase prendo l’autobus che sta arrivando equivale a prendo questo autobus (non un
altro)”. Esse tipo de relativa corresponde, em princípio, à subordinada adjetiva restritiva do
português.
A relativa appositiva têm um caráter acessório; acrescenta uma informação a respeito do
antecedente, a qual não altera o sentido geral da frase. Costuma vir isolada, entre vírgulas. Esse
tipo de relativa corresponde, em princípio à adjetiva explicativa do português.
É interessante destacar que, em determinadas frases, a presença ou ausência das vígulas
determina o tipo de relativa. Dardano e Trifone (2003, p. 467) demonstram isso através dos
seguintes exemplos:
Tutti i coleghi che hanno fiducia in te ti appoggeranno. (= solo loro, non gli altri)
90
Que faz referência à situação, ao contexto e aos interlocutores da enunciação.
210
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
Dardano e
Trifone 1) Prendo l’autobus che sta arrivando. (Pego o ônibus que está chegando.)
(2003, p.
467-468)
2) Tutti i colleghi che hanno fiducia in te ti appoggeranno. (Todos os colegas que
têm confiança em você vão te apoiar.)
211
IMPLICITE (reduzidas):
3) Non riesco a trovare una persona con cui dividere l’appartamento. (Não consigo
encontrar uma pessoa com quem dividir o apartamento.)
4) Questi sono gli argomenti sui quali puntare per ottenere il consenso. (Estes são
Dardano e os argumentos sobre os quais se apoiar para obter o consenso.)
Trifone
(2003, p. 5) Ho portato un libro da leggere in treno. (Eu trouxe um livro para ler no trem.)
467-468)
6) Le domande pervenute [...] in ritardo non saranno esaminate. (As perguntas
recebidas com atraso não serão examinadas.)
7) Il governo dovrà applicare le direttive della CEE riguardanti la salvaguardia
ambientale. (O governo deverá aplicar as diretivas da CEE, referentes à defesa
ambiental.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Ho ricevuto ieri la lettera che aspettavo. (Recebi ontem a carta que eu esperava.)
2) Ho letto il romanzo del quale (di cui) mi avevi parlato. (Li o romance do qual
(de que) você tinha me falado.)
Francesco
Sabatini 3) Questa è la casa nella quale (o in cui, o dove) sono nato. (Esta é a casa na qual
(1994, p. (ou em que, ou onde) nasci.)
475-476)
4) Abbiamo rintracciato chi ha assistito all’episodio. (Fomos ao encalço de quem
assistiu ao episódio.)
IMPLICITA (reduzida):
5) Cerco amici con cui passare le vacanze. (Procuro amigos com quem passar as
férias.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Scegli i libri che ti servono. (p. 622; Escolha os livros que te servem.)
2) Va’ da chi è in grado di darti un consiglio. (p. 622; Vá à casa de quem é capaz
Luca de te dar um conselho.)
Serianni
(1999) IMPLICITE (reduzidas):
3) Saremmo noi gli ultimi a ricordarlo con qualche emozione. (p. 625; Seríamos
nós os últimos a lembrar dele com alguma emoção.)
4) Sono stati loro [...] a chiamarmi [...]. (p. 625; Foram eles [...] a me chamar [...]. )
212
ESPLICITE (desenvolvidas):
Salvatore 1) Ho letto il libro che ho comprato ieri. (Li o livro que comprei ontem.)
Battaglia e
Vincenzo 2) Bisogna sempre diffidare da coloro i quali si lodano. (É preciso sempre
Pernicone desconfiar daqueles os quais se gabam.)
(1994,p.335)
3) Ho rivisto la casa in cui abbiamo abitato. (Revi a casa em que moramos.)
4) Ecco la città dove sono nato. (Eis a cidade onde nasci.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) La città che stiamo attraversando è magnifica. (A cidade que estamos
atravessando é magnífica.)
2) Chi tace acconsente. (Quem cala consente.)
Giuseppe
Pittano 3) Non amo coloro che si vantano di tutto. (Não amo aqueles que si vangloriam de
(1974,p.537) tudo.)
4) Era generoso con chiunque avesse bisogno. (Era generoso com qualquer um que
tivesse necessidade.)
5) Vado dovunque mi mandino. (Vou em qualquer lugar que me mandem.)
6) Andiamo dove vanno gli altri. (Vamos aonde vão os outros.)
Como podemos verificar no quadro, as subordinate relative podem vir tanto após a
reggente, como na frase 1 de Dardano e Trifone, quanto intercaladas nesta, como na frase 2 dos
mesmos autores. Tanto as esplicite quanto as implicite podem ser introduzidas por vários tipos de
preposições (di, con, su, da, a); no caso das esplicite das frases 3 e 4 de Francesco Sabatini, a
preposição é seguida de um pronome relativo e o verbo apresenta-se flexionado; nas implicite das
frases 3 e 4 de Dardano e Trifone, a preposição se une a um pronome relativo e o verbo se
apresenta no infinitivo. O que determina se a subordinata relativa se iniciará por uma preposição
— e, nesse caso, qual preposição — será a regência do verbo da própria subordinada — como na
frase 3 de Dardano e Trifone: o verbo dividere exige que o seu complemento se inicie com a
preposição con.
213
É interessante destacar que os pronomes relativos podem estar presentes tanto nas frases
esplicite quanto nas implicite. Geralmente as implicite91 que são iniciadas por preposição têm,
logo após esta, um verbo em uma das formas nominais. Isso também acontece com as relative,
como podemos verificar na frase 5 de Dardano e Trifone.
Considerando as implicite, Giuseppe Pittano (1974, p. 537-538, tradução nossa) afirma, na
sua Grammatica italiana, que “a proposizione relativa é só esplicita”. Porém, após essa
afirmação, o autor explica o seguinte:
Em relação aos exemplos da citação acima, o autor não apresenta a classificação das
expressões riguardante la guerra, da primeira frase; arrivato ora, da segunda frase; e da leggere,
da terceira sentença. Para os outros autores, essas “expressões” seriam todas proposizioni relative
implicite.
Destacamos os exemplos de relativa reduzida de particípio do quadro: as frases 6 e 7 de
Dardano e Trifone. Esses autores explicam que o particípio é usado “com valor de relativa
implicita”. Na frase 6, pervenute in ritardo corresponde à relativa esplicita: che sono pervenute
in ritardo; na frase 7, riguardanti la salvaguardia ambientale corresponde à relativa esplicita:
che riguardano la salvaguardia ambientale. Analisemos, com mais detalhes, uma das frases do
quadro.
ITALIANO:
Tutti i colleghi che hanno fiducia in te ti appoggeranno. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p.467)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa determinativa
91
Somente as subordinadas podem se apresentar na forma implicita.
214
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva
A) relativa temporale
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone È già un mese che (= da quando) sono arrivato. (Já faz um mês que (=
(2003, p. 468) desde quando) eu cheguei.)
Francesco Sabatini È un’ora che ti aspetto (= da quando ti aspetto). (Faz uma hora que te
(1994, p. 476) espero (= desde quando te espero)
Salvatore Battaglia e Era la stagione in cui (durante la quale) si raccoglievano le olive. (Era a
Vincenzo Pernicone estação em que se colhiam as azeitonas.)
(1994, p. 335)
Giuseppe Pittano
(1974, p. 538) L’ho visto che (= quando) rientrava92. (Eu o vi quando ele voltava.)
92
Não identificamos nenhum verbo em português que correspondesse exatamente ao significado do verbo rientrare;
o melhor que conseguimos foi traduzi-lo como voltar, mas sabemos que não traduz tudo o que rientrare significa.
215
Considerando a questão semântica, podemos observar que todas as frases do quadro têm a
mensagem que transmitem ligada à ideia de tempo; determinadas palavras, como mese, ora,
stagione, evidenciam isso.
Quanto à parte formal, podemos verificar que a subordinata relativa com valor temporal
pode ser introduzida pelo pronome relativo che (significando quando) — como nas frases de
Dardano e Trifone, de Sabatini e de Pittano — e pelo pronome cui, sendo este último
acompanhado de preposição.
Ao analisarmos as orações subordinadas dos períodos apresentados, verificamos que a
subordinada relativa com valor temporal pode corresponder à oração subordinada substantiva
subjetiva, à oração subordinada adjetiva restritiva, e à oração subordinada adverbial temporal.
Verifiquemos cada caso, a partir da análise da cada frase do quadro.
ITALIANO:
Frase 1: È già un mese che sono arrivato. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 468)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa determinativa con valore temporale
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada substantiva subjetiva
mese fa, que em português significa faz um mês. Sobre a classificação do verbo fazer nesse caso,
Luiz Antonio Sacconi (1990, p. 290) afirma o seguinte:
Verbos unipessoais — a que Sacconi se refere — são os que possuem sujeito em uma
única pessoa do discurso: a 3ª pessoa do singular e/ou a do plural. Exprimem, por exemplo, ações
próprias dos aimais, como latir, miar, grunir etc..
Dando continuidade ao raciocínio de Sacconi, se colocarmos a última frase apresentada
pelo autor — Faz dez anos isso — na ordem direta, teremos Isso faz dez anos, onde o termo Isso
é sujeito e faz dez anos é o predicado. Se o termo Isso, na verdade, está substituindo uma oração,
então significa que essa oração exercerá a mesma função do termo, ou seja, será uma oração
subordinada substantiva subjetiva, que é a oração que tem a função de sujeito da reggente. Por
isso classificamos a oração que eu cheguei como subjetiva.
Consideremos agora a frase de Battaglia e Pernicone: Era la stagione in cui (durante la
quale) si raccoglievano le olive (Era a estação em que se colhiam as azeitonas). Classificamos a
subordinada da frase em português como adjetiva restritiva. Poderíamos substituir a referida
oração, por exemplo, por uma locução adjetiva, e então teríamos: Era a estação da colheita das
azeitonas. A função da oração subordinada é a de adjunto adnominal, uma das funções exercidas
pelas subordinadas adjetivas.
A quarta frase, a de Giuseppe Pittano, nos traz uma nova correspondência entre a relativa
com valor temporal e uma oração do português. Façamos a sua análise.
Se traduzirmos para o português a frase L’ho visto che (= quando) rientrava ao pé da
letra, ela não terá sentido; ficaria da seguinte forma: Eu o vi que voltava. A melhor tradução a que
chegamos para que a frase tenha sentido em português é: Eu o vi, quando ele voltava. Dessa
forma, fica muito fácil classificar a oração subordinada (sublinhada): é claramente uma adverbial
temporal.
217
B) relativa finale
Vejamos o caso da relativa finale através dos exemplos abaixo. Todas as frases são
esplicite.
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone Cercavo qualcuno che (= affinché) m’indicasse la strada. (Eu procurava
(2003, p. 468) alguém que (= a fim de que) me indicasse a estrada.)
Francesco Sabatini Assumerò una segretaria che parli (= affinché parli) il tedesco. (Assumirei
(1994, p. 476) uma secretária que fale (= afim de que fale) o alemão.)
Luca Serianni Fanno entrare sua sorella che lo consoli. (Fazem entrar sua irmã que o
(1999, p. 623) console.)
Salvatore Battaglia e Voglio scrivere un libro, che rievochi questi tempi. (Quero escrever um
Vincenzo Pernicone livro que evoque novamente estes tempos.)
(1994, p. 336)
Giuseppe Pittano Manderò uno che (= affinché) lo avverta. (Mandarei alguém que (a fim de
(1974, p. 538) que) o advirta.)
A subordinata relativa com valor final é um caso de correspondência perfeita com uma
oração do português, pois corresponde exatamente a uma oração subordinada adjetiva restritiva
final.
De acordo com Ataliba de Castilho (2010, p. 371), a oração subordinada adjetiva será
restritiva final, quando agregar uma noção de finalidade e trazer o verbo da subordinada no
subjuntivo. Isso acontece com as cinco frase em português — que são traduções das frases
italianas — do quadro.
A única observação a fazer é a respeito da vírgula usada por Battaglia e Pernicone. Não
deveria haver vírgula para separar a reggente desse tipo de subordinada, porque trata-se de uma
relativa finale, que não vêm isolada por vírgula. Acompanhemos abaixo a análise completa de
uma das frases do quadro.
218
ITALIANO:
Cercavo qualcuno che (affinché) m’indicasse la strada. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p.468)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa determinativa con valore finale
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva final
C) relativa consecutiva
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone Non c’erano ragioni che (= tali che) lo convincessero. (Não havia razões
(2003, p. 468) que (= tais que) o convencessem.)
Francesco Sabatini Non ci sono scuse che valgano (tali da valere). (Não há desculpas que
(1994, p. 476) valham (tais a valer).
Luca Serianni Non c’è gruppo italiano all’estero [...] che non si segnali per le stragi di
(1999, p. 623) fauna che da esso si irradiano. (Não há grupo italiano no esterior [...] que
não se destaque pelas matanças da fauna que dele se irradiam.)
Salvatore Battaglia e
1) Compro un cavallo che sia capace di vincere. (Compro um cavalo que
Vincenzo Pernicone
(1994, p. 336)
seja capaz de vencer.)
219
Salvatore Battaglia e
2) Non portò nessuna ragione che fosse persuasiva. (Não trouxe
Vincenzo Pernicone
nenhuma razão que fosse persuasiva.)
(1994, p. 336)
Giuseppe Pittano Non è uno che (= tale che) ti tradisca.(Não é alguém que (tal que) te
(1974, p. 538) traia.)
Todas as subordinadas das frases italianas do quadro são relative determinative; referem-
se a antecedentes, que são, em sua maioria, substantivos; na frase de Giuseppe Pittano, o
antecedente é uno, classificado gramaticalmente como pronome indefinido; essas relative
especificam e limitam o significado dos seus antecedentes.
José Carlos de Azeredo (2010, p. 321) dá o seguinte exemplo de oração subordinada
relativa com valor consecutivo:
Cuidado para não fazer declarações que possam nos comprometer. (= (tais) que possam nos
comprometer)
Se compararmos esse exemplo com as frases em português do quadro, veremos que são
muito parecidos: a subordinada é introduzida em todas as frases pelo pronome relativo que;
poderíamos acrescentar nas orações principais a expressão tal (ou suas flexões) — característico
da subordinada adverbial consecutiva — que reforçaria o valor consecutivo das subordinadas
adjetivas. Vejamos a análise completa de uma das orações italianas e a da sua tradução.
ITALIANO:
Non c’erano ragioni che (=tali che) lo convincessero. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 468)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa con valore consecutivo
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva restritiva com valor consecutivo
D) Relativa causale
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone Mi raccomando a te, che (= perché) sei più grande. (Eu confio em você, que
(2003, p. 468) (= porque) é mais velho.)
Francesco Mi rivolsi a lui, che aveva mostrato (= perché aveva mostrato) di capire le
Sabatini mie ragioni. (Dirigi-me a ele, que tinha mostrado (= porque tinha mostrado)
(1994, p. 476) entender as minhas razões.)
1) La colpa della mancata riuscita veniva riversata prima sul nipote che non
aveva voglia di studiare, quindi sui professori che non sapevano insegnare.
Luca Serianni (A culpa do resultado ruim recaía primeiro sobre o sobrinho (ou neto) que
(1999, p. 623) não queria estudar, depois sobre os professores que não sabiam ensinar.)
2) Del resto, tu che sei letterato, ricorderai certamente come inizia l’
‘Edmenegarda’ di Giovanni Prati. (De resto, você que é um literato, lembrará
certamente como se inicia a ‘Edmenegarda’ de Giovanni Prati.)
Battaglia e Sono felici loro, che hanno tanta serenità d’animo. (São felizes eles, que têm
Pernicone tanta serenidade de ânimo.)
(1994, p. 336)
Giuseppe Pittano Beati voi che (= perché) andate in vacanza. (Abençoados vocês que (=
(1974, p. 538) porque) sairão de férias.)
Todas as subordinate (sublinhadas) das frases italianas são introduzidas pelo pronome
che. Em algumas das frases, há vírgula entre essas orações e suas respectivas reggenti; é o caso
das frases de Dardano e Trifone, de Sabatini e de Battaglia e Pernicone. Classificaríamos essas
relative como appositive causale, porque, elas acrescentam uma informação acessória.
221
ITALIANO:
Mi raccomando a te, che (perché) sei più grande. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 468)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa appositiva causale
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva explicativa causal
E) Relativa condizionale
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone Chi (= se qualcuno) vuole, può restare. (Quem (= se alguém) quiser, pode
(2003, p. 468) ficar.)
Francesco Sabatini Darò aiuto a chi mostrerà (= se qualcuno mostrerà) di averne bisogno.
(1994, p. 476) (Darei ajuda a quem mostrar (= se alguém mostrar) ter necessidade dela).
1) Credo che gli italiani colmeranno gli eventuali vuoti che dovessero
Luca Serianni verificarsi nell’afflusso dall’estero. (Acredito que os italianos encherão os
(1999, p. 623-624) eventuais espaços vazios que devam se verificar no afluxo do exterior.)
2) A chi volesse configurarsi una Circe vista dall’interno, consiglierei la
biografia di una sciamana tibetana. (A quem quisesse configurar-se uma
Circe vista pelo interior, eu aconselharia a biografia de uma tibetana.)
222
Salvatore Battaglia e Chi avesse coraggio, potrebbe tentare. (Quem tivesse coragem, poderia
Vincenzo Pernicone tentar.)
(1994, p. 336)
Giuseppe Pittano Chi (= se uno) dicesse questo, sbaglierebbe. (Quem (= se alguém) dissesse
(1974, p. 538) isto, erraria.)
A maioria das subordinate relative determinative condizionali das frases italianas se inicia
com o pronome indefinido chi, precedido ou não de preposição. O modo verbal mais frequente é
o congiuntivo.
Chamamos a atenção para a frase de Francesco Sabatini: Darò aiuto a chi mostrerà (= se
qualcuno mostrerà) di averne bisogno (Darei ajuda a quem mostrar (= se alguém mostrar) ter
necessidade dela). Em italiano, a subordinada (sublinhada) é classificada como relativa
determinativa condizionale; mas em português não é tão fácil a classificação dessa subordinada
sublinhada. O verbo dar é transitivo direto e indireto; a estrutura mais comum com esse verbo é:
quem dá, dá algo a alguém, sendo o termo algo, o objeto direto (O.D.), e a expressão a alguém, o
objeto indireto (O.I.). Na frase em português que é tradução da frase italiana, o objeto direto é
claramente o substantivo ajuda; e a oração a quem mostrar será o objeto indireto. Poderíamos
substituir a referida oração por um subustantivo acompanhado de preposição. Vejamos frases
símiles:
ITALIANO:
ITALIANO:
Chi (se qualcuno) vuole, può restare. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 468)
F) Relativa concessiva
AUTORES EXEMPLOS
Dardano e Trifone Tu, che (= sebbene) avresti tanto da dire, non parli. (p. 468; Você, que (=
(2003, p. 468) embora tivesse) tinha tanto a dizer, não fala.)
Francesco Sabatini Parla proprio lui che dovrebbe star zitto (=sebbene debba). (Fala justo
(1994, p. 476) ele que deveria estar calado (= embora deva).
Salvatore Battaglia e Quel bravo figliolo, che aveva studiato sempre, è stato tuttavia bocciato.
Vincenzo Pernicone (Aquele bom filho, que tinha estudado sempre, foi todavia reprovado.)
(1994, p. 336)
Giuseppe Pittano Egli che aveva (= sebbene avesse) ragione, tacque. (Ele, que tinha (=
(1974, p. 538) embora tivesse) razão, calou.)
Podemos observar, nos exemplos do quadro, que todas as subordinate relative concessive
(sublinhadas) são introduzidas pelo pronome che, seguido de verbo no indicativo ou no
condizionale. A relativa concessiva parece uma oração acessória, e, a julgar pela presença das
vírgulas, isolando-a em algumas das frases, diríamos que as subordinadas das frases são relative
appositive.
José Carlos de Azeredo (2010, p. 321) apresenta o seguinte exemplo de oração
subordinada adjetiva explicativa com valor concessivo:
225
“Coitada da minha avó. (...) Logo ela, que amava tanto a vida, (...) ia morrer.” [NAVA, 1973, p.
75] (= embora amasse tanto a vida)
EXEMPLO: Tu, che (sebbene) avresti tanto da dire, non parli. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 468)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa appositiva concessiva
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva explicativa com valor concessivo
AUTORES EXEMPLOS
1) Tutti i colleghi, che hanno fiducia in te, ti appoggeranno. (Todos os colegas,
Dardano e que têm confiança em você, vão te apoiar93.)
Trifone 2) Prendo l’autobus, che è il mezzo di trasporto più econômico. (Pego o
(2003, p. 467-468)
ônibus, que é o meio de transporte mais econômico.)
3) La luna, che sorge a est, descrive un’orbita intorno alla Terra. (A lua, que
surge a leste, descreve uma órbita em torno da Terra.)
Luca Serianni Voi, che siete stati in guerra, non dovreste parlare così. (Vocês, que estiveram
(1999, p. 623) na guerra, não deveriam falar assim.)
Battaglia e Mio fratello, che è sempre irrequieto, è di nuovo ripartito. (Meu irmão, que é
Pernicone sempre irrequieto, partiu de novo.)
(1994, p. 335)
Giuseppe Questo libro, che ho avuto in prestito, è molto interessante. (Este livro, que
Pittano peguei emprestado, é muito interessante.)
(1974, p. 538)
93
Preferimos traduzir ti appoggeranno como vão te apoiar, porque essa locução em português é mais usada do que a
forma apoiar-te-ão.
94
Lembramos que proposizione reggente é como chama a oração principal das orações subordinadas.
227
ITALIANO:
Tutti i colleghi, che hanno fiducia in te, ti appoggeranno. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 468)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata relativa appositiva
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adjetiva explicativa
ITALIANO PORTUGUÊS
determinativa restritiva
(ou limitativa ou restrittiva ou attributiva)
appositiva explicativa
(ou incidentale ou esplicativa ou aggiuntiva)
Em relação aos valores circunstanciais que as relative podem ter, verificamos a seguinte
correspondência com o português:
Com exceção da relativa temporale, todos os outros tipos de relative circostanziali têm
uma oração de mesma classificação em português, o que os torna mais fáceis em termo de estudo.
Já a relativa temporale tem correspondência com três orações do português. O tipo que mais
chamou nossa atenção foi a correspondência com a oração subordinada substantiva subjetiva.
Parece-nos que expressões que denotem tempo, como è un mese, un anno fa, un’ora fa etc., são
determinantes para que a oração seja classificada como relativa temporale. Em português,
expressões como essas regeriam as orações subordinadas substantivas subjetivas. A
correspondência com a subordinada adverbial temporal pareceu-nos um caso isolado. Já a que se
estabeleu com a oração subordinada adjetiva restritiva parece a mais frequente.
perché, poiché, giacché, siccome, ché, che, per il fatto che, per
causale il motivo che, dal momento che, dato che, visto che, in quanto
che
benché, sebbene, quantunque, nonostante, malgrado, ancorché,
per quanto, nonostante che, malgrado che, com tutto che,
concessiva quand’anche o anche quando, anche se
modale come, come se, quasi, nel modo che, comunque, secondo che,
siccome
strumentale (somente implicita)
porque, visto que, já que, uma vez que, como (quando equivale a
causal
porque)
concessiva por mais que, por menos que, por muito que
condicional se, caso, contanto que, desde que
comparativa como, que (precedido de mais ou de menos)
final a fim de que, para que, que
consecutiva que (precedido de um termo intensivo: tão, tal, tanto)
temporal quando, enquanto, logo que, desde que, assim que, agora que
proporcional à proporção que, à medida que
conformativa conforme, segundo, consoante, como
Comparando os dois quadros acima, podemos verificar que há mais tipos de subordinadas
adverbiais em italiano do que em português. As seguintes orações italianas se destacam, na
comparação como, em princípio, não tendo correspondentes na língua portuguesa: avversativa,
eccettuativa, esclusiva, limitativa, modale e strumentale. Da parte do quadro de orações do
português, destacaram-se a proporcional e a conformativa. Através do estudo contrastivo
poderemos verificar se não há correspondentes, de fato, para as referidas orações italianas.
Há gramáticos brasileiros — como Bechara (1999), Azeredo (2010) e Sacconi (1990) que
até falam em orações como a limitativa e a modal, mas costumam deixar claro que a NGB não as
reconhece.
Observamos que o número de conjunções e locuções conjuntivas que as gramáticas
italianas apresentam também é maior do que as gramáticas do português.
231
95
As aspas foram usadas pelos autores citados.
232
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Visto che non c’è, vado via. (p. 453; Visto que não está, vou embora.)
2) Siccome non c’erano novità, non ti ho telefonato. (p. 453; Como não havia
novidades, não te telefonei.)
Dardano e 3) Non ho potuto avertirlo: non l’ho visto. (p. 454; Não pude adverti-lo: não o vi.)
Trifone
(2003) IMPLICITE (reduzidas):
4) Conoscendo le dificultà eravamo molto prudenti. (p. 453; Conhecendo as
dificuldades, éramos muito prudentes.)
5) Fu punito per aver trasgredito la legge. (p. 454; (Ele) Foi punido por ter
transgredido a lei.)
6) Offeso dal suo atteggiamento, non lo salutai. (p. 454; Ofendido pelo
comportamento dele, não o cumprimentei.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Marco si trovava a casa mia perché era il mio compleanno. (p. 461; Marco se
encontrava na minha casa, porque era o meu aniversário.)
2) Filippo ha abbandonato la gara, dato che gli mancavano le forze. (p. 461; Felipe
abandonou a competição, visto que faltavam-lhe as forças.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Luca
Serianni 1) Si sentiva poi lusingata del fatto che entrambi quei personaggi ci chiamassero
(1999) tutti per nome. (p. 575; (Ele/Ela) Sentia-se depois lisonjeada pelo fato de que
ambos os personagens nos chamassem todos pelo nome.)
233
2) Io sull’autobus non c’ero, ché ricorderei uno per uno i viaggiatori che c’erano.
(p. 576; Eu, no ônibus, não estava, porque eu lembraria um por um dos passageiros
que havia nele.)
3) Giacché ci tocca aspettare, si potrebbe prendere qualcosa al bar. (p. 577; Já que
Luca nos cabe esperar, poderíamos tomar alguma coisa no bar.)
Serianni
(1999)
IMPLICITE (reduzidas):
4) Non sono partito avendo già visto San Marino. (p. 573; Não parti, tendo já visto
São Marinho.)
5) Per il fatto di aver avuto ragione quella volta, pretende di averla sempre. (p. 580;
Pelo fato de ter tido razão aquela vez, pretende tê-la sempre.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Siamo preoccupati perché non scrivi. (p. 337; Estamos preocupados, porque
você não escreve.)
Salvatore
Battaglia e
Vincenzo IMPLICITE (reduzidas):
Pernicone 2) Gli alunni sono stati puniti per aver fatto chiasso. (p. 338; Os alunos foram
(1994) punidos por terem feito alvoroço.)
3) Essendo tardi, non volle uscire. (p. 338; Estando tarde, não quis sair.)
4) Preoccupato per il suo silenzio, gli scrissi subito. (p. 338; Preocupado pelo seu
silêncio, lhe escrevi imediatamente.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Non vengo perché sono stanco. (p. 508; Não vou/venho, porque estou cansado.)
2) La fortuna è spesso un male, giacché rende gli uomini tracotanti. (p. 509; A
Giuseppe fortuna é frequentemente um mal, já que torna os homens arrogantes.)
Pittano
(1974) IMPLICITE (reduzidas):
3) Franata la strada, dovemmo fermarci. (p. 508; Desmoronada a estrada, tivemos
de parar.)
4) Si vergognò per aver detto quella frase. (p. 509; Envergonhou-se, por ter dito
aquela frase.)
234
Os autores do quadro apresentam, em suas gramáticas, muitos exemplos para esse tipo de
avverbiale. Não colocamos todos, porque incorreríamos em redundância. Procuramos escolher
frases com conjunções e locuções diferentes e frases reduzidas diferentes para que pudéssemos
observar como é a estrutura da frase que possui a proposizione causale.
Destacamos a frase 3 de Dardano e Trifone que traz a única subordinata causale per
giustapposizione.
Há exemplos com os três tipos de reduzidas: d’infinito, di gerundio e di participio.
Observamos que o principal modo verbal das causali esplicite é o indicativo. Luca Serianni
apresenta esplicite com verbo no indicativo (tocca), no congiuntivo (chiamassero) e no
condizionale (ricorderei).
As orações causali, sejam esplicite, sejam implicite, podem vir tanto antes quanto depois
da reggente. Analisemos agora a frase 3 de Francesco Sabatini (1994, p. 462), transcrita abaixo:
ITALIANO:
Frase 1: Non ho potuto avertirlo: non l’ho visto. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 454)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: causale per giustaposizione
TRADUÇÃO PARA O PORTUGUÊS E ANÁLISE ORACIONAL:
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial causal por justaposição
Conforme já dissemos, a frase analisada acima apresenta uma proposizione causale per
giustapposizione. Para identificarmos a classificação de uma oração por justaposição, temos de
entender a ideia expressa por essa oração. Na frase analisada, é possível eliminarmos a
justaposição, substituindo os dois pontos por vírgula e inserindo, após esta vírgula, uma
conjunção causal, como perché ou giacché. Vejamos, a seguir, a análise de mais uma frase.
ITALIANO:
Frase 2: Siccome non c’erano novità, non ti ho telefonato. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 453)
1ª proposizione: causale
2ª proposizione: reggente
Como não havia novidades, / não te telefonei. 1ª oração: subordinada adverbial causal
1ª oração 2ª oração 2ª oração: principal
236
Castilho explica que, na frase (a) “temos uma sentença complexa com ordem não
marcada, isto é, a senteça matriz de consequência é seguida pela sentença subordinada de causa”.
A interpretação semântica deve ser feita da direita para a esquerda. Na frase (a) temos uma
subordinada adverbial causal (sublinhada). Castilho explica a situação da frase (b):
Ao dar [à frase (b)] um tratamento pautado pela relação lógica entre sentenças,
torna-se difícil aceitar que rua molhada seja a causa que tenha por efeito chover.
Nesta sentença há muito mais uma explicação do que uma causação: a rua estar
96
O autor não usou vírgula antes da conjunção porque.
237
molhada se explica pelo fato de ter chovido. A tradição gramatical optou por
considerá-la explicativa [...].
Ernani Terra (2007, p. 295) explica que as orações coordenadas sindéticas explicativas
“exprimem ideia de explicação, justificação, confirmação”. Suas principais conjunções são pois
(quando anteposto ao verbo), porque e que. As conjunções porque e que introduzirão o referido
tipo de coordenada quando:
a oração que formarem transmitir uma ideia de confirmação a respeito do que é dito na oração a
que estiver ligada. É o caso da frase (b) de Ataliba de Castilho: a rua está molhada é uma
confirmação de que choveu;
o verbo da oração anterior estiver no imperativo: Não saia daí, que eu volto logo.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Avvicinati, ché voglio vederti meglio. (p. 453; Aproxime-se, que quero te ver
melhor.)
Dardano e
Trifone 2) Smettila, perché potrei stancarmi. (p. 454; Pare com isso, porque eu poderia me
(2003) cansar.)
3) Passate a casa mia, perché vorrei vedervi. (p. 454; Passem na minha casa,
porque eu queria ver vocês.97)
IMPLICITE (reduzidas): Não apresentam.
97
Na tradução da frase italiana, preferimos queria no lugar de quereria, porque na linguagem informal queria é a
forma mais usada.
238
ESPLICITE (desenvolvidas):
Salvatore 1) Ricordamelo, perché potrei dimenticarmene. (p. 337; Lembre-me disso, porque
Battaglia e eu poderia me esquecer.)
Vincenzo
Pernicone 2) Avvertitemi del vostro ritorno, perché vorrei vedervi. (p. 337; Avisem-me do
(1994) retorno de vocês, porque eu queria vê-los.)
IMPLICITE (reduzidas): Não apresentam.
Todas as frases italianas do quadro são compostas por reggente e proposizione causale,
nesta ordem. Já em português, todas as frases têm uma oração coordenada assindética e uma
oração coordenada sindética explicativa, também nesta ordem. O que determina, portanto, essa
classificação oracional no português é o verbo da primeira oração estar no imperativo.
Acompanhemos a análise completa de uma das frases.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata avverbiale causale
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Quando c’è il sole, mi piace passeggiare. (p. 457; Quando faz sol, gosto de
passear.)
2) Mentre lo ascoltavo, prendevo appunti. (p. 457; Enquanto eu o escutava, eu
fazia anotações.)
3) Andiamo via prima che torni. (p. 460; Vamos embora, antes que volte.)
4) Dopo che l’ebbi visto, mi ricordai di lui. (p. 459; Depois que o vi, me lembrei
Dardano e dele.)
Trifone
(2003) IMPLICITE (reduzidas):
5) Passeggiando discutevamo. (p. 458; tradução: Passeando, discutíamos.)
6) Al primo vederlo, l’ho riconosciuto. (p. 458; Logo ao vê-lo, eu o reconheci.)
7) Prima di uscire, voglio finire quel lavoro. (p. 460; Antes de sair, quero terminar
aquele trabalho.)
8) (Una volta) superato questo problema, tutto si aggiusterà. (p. 460; (Uma vez)
superado este problema, tudo vai se ajustar.)
98
Não detalharemos aqui cada tipo, porque não convém.
240
2) Non appena bussai, mi fu aperto. (p. 467; Assim que eu bati, abriu-se para
mim.)
Francesco
Sabatini IMPLICITE (reduzidas):
(1994) 3) Nell’andare da lui, ho incontrato Valeria. (p. 468; Ao ir à casa dele, encontrei
Valéria.)
4) Dopo aver cenato, sono uscito di casa. (p. 468; Depois de ter jantado, saí de
casa.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Quando piove, le strade sono un pantano. (p. 603; Quando chove, as estradas
ficam um pântano.)
Luca 2) Che cosa farai dopo aver preso il diploma? (p. 604; O que você vai fazer, depois
Serianni que tiver pegado o diploma?)
(1999)
IMPLICITE (reduzidas):
3) Camminando guardavo le vetrine. (p. 608; Caminhando, eu olhava as vitrines.)
4) Appena arrivato, andò subito a dormire. (p. 609; Recém chegado, foi
imediatamente dormir.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Non appena tu guarisca, partiremo per la montagna. (p. 336; Assim que você se
curar, partiremos para a montanha.)
Salvatore
Battaglia e 2) Lavorerò finché tu venga. (p. 337; Trabalharei, até que você venha.)
Vincenzo
Pernicone
(1994) IMPLICITE (reduzidas):
3) Dopo aver camminato ci sedemmo. (p. 337; Depois de ter caminhado, nós nos
sentamos.)
4) Ho letto prima di dormire. (p. 337; Li antes de dormir.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Giuseppe
Pittano 1) La vedrò prima che parta. (Eu vou vê-la, antes que ela parta.)
(1974, p. 507)
2) L’ho visto mentre usciva di casa. (Eu o vi, enquanto saía de casa.)
IMPLICITE (reduzidas):
241
Observamos que todos os autores deixam de usar vírgula entre a reggente e a subordinata.
Isso ocorre nas frases 3 e 4 de Dardano e Trifone; na frase 1 de Sabatini; nas frases 2 e 3 de Luca
Serianni; nas sentenças 2, 3 e 4 de Battaglia e Pernicone; e em todas as cinco frases de Giuseppe
Pittano. Parece não haver obrigatoriedade do uso da vírgula nesses casos. Em português, a vírgula
é obrigatória.
affinché como a principal conjunção final; Dardano e Trifone (2003, p. 455) afirmam que afinché
e perché são as mais usadas.
Francesco Sabatini (1994, p. 464) apresenta um importante esclarecimento em relação à
conjunção perché: esta só terá valor final se vier seguida de verbo no congiuntivo. “Se o verbo da
dependente vier no indicativo, perché adquire valor causal e toda a dependente terá um outro
significado”. O autor resume esse princípio com o seguinte esquema:
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Te lo dico perché tu possa trarne un insegnamento. (p. 455; Eu te digo isso, para
que você possa tirar disso um aprendizado.)
2) Sottrasse il documento, affinché non si potesse divulgarlo. (p. 455; Subtraiu o
documento, a fim de que não se pudesse divulgá-lo.)
Dardano e
Trifone IMPLICITE (reduzidas):
(2003)
3) Sono venuto per parlarti. (p. 455; Eu vim para falar com você.)
4) Preparatevi a partire. (p. 455; Preparem-se para partir.)
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Ho regalato un libro a Francesca perché si ricordi di me. (Presenteei um livro à
Francesca, para que se lembre de mim.)
Francesco
Sabatini
(1994, p.464) IMPLICITE (reduzidas):
2) Apro la porta per chiamare mia sorella. (Abro a porta para chamar minha irmã.)
3) Ho comprato alcuni romanzi da leggere durante le vacanze. (Comprei alguns
livros para ler durante as férias.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Te lo dico perché tu ci vada. (p. 581; Eu te digo isso, para que você vá embora.)
2) Prego di pregare fervorosamente per me affinché mi siano abbreviate le pene del
Purgatorio. (p. 581; Peço para rezar fervorosamente por mim, a fim de que me
sejam abreviadas as penas do Purgatório.)
Luca
Serianni IMPLICITE (reduzidas):
(1999)
3) È emigrato per fare fortuna. (p. 580; Ele emigrou para fazer fortuna.)
4) Andava lui stesso a fare la spesa ogni mattina. (p. 582; Ia ele mesmo fazer
compras toda manhã.)
5) Il Consiglio dei ministri ha aprovato il pacchetto-Giustizia (...) allo scopo di
evitare il referendum. (p. 583; O Conselho dos ministros aprovou o pacote-Justiça
(...) com o objetivo de evitar o plebiscito.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Studiate affinché siate promossi. (Estudem, a fim de que vocês sejam
Salvatore aprovados.)
Battaglia e
Vincenzo 2) Studiate perché siate promossi. (Estudem, para que vocês sejam promovidos.)
Pernicone
(1994, p.338)
IMPLICITA (reduzida):
3) Partimmo per essere presenti. (Partimos, para estarmos presentes.)
Giuseppe 2) Io faccio perché tu impari. (Eu faço, para que você aprenda.)
Pittano
(1974, p.512) IMPLICITE (reduzidas):
3) Ti scrivo per informarti di ciò. (Eu te escrevo para te informar disto.)
4) Ci chiamarono ad aiutarli. (Chamaram-nos para ajudá-los.)
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: subordinata avverbiale finale implicita d’infinito
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial final reduzida de infinitivo
245
Tal ordem pode ser invertida, por motivos expressivos, realizando uma relação
de justaposição: a frase faceva tanto freddo che la mattina trovavano l’acqua dei
catini congelata torna-se la mattina trovavano l’acqua dei catini congelata,
tanto faceva freddo.
Vejamos alguns exemplos desse tipo de oração italiana nas frases selecionadas.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Parlava così piano che non riuscivo a sentirlo. (Falava tão baixo, que eu não
conseguia ouvi-lo.)
Dardano e 2) Sono arrivato in anticipo, di modo che devo aspettare. (Cheguei adiantado, de
Trifone modo que devo esperar.)
(2003, p. 456)
3) Gli parlerò in modo che non si faccia troppe illusioni. (Vou falar-lhe de modo
que não tenha ilusões demais.)
IMPLICITA (reduzida):
4) Ho una fame da morire. (Estou com uma fome de matar.)
246
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Paolo ha mangiato tanto che si è fatto venire il mal di pancia. (Paulo comeu
tanto, que ficou com dor de barriga.)
2) Ero talmente stanco che andai subito a dormire. (Eu estava tão cansado, que fui
logo dormir.)
Francesco 3) Era arrivato a tal punto di ubriachezza che dovettero riaccompagnarlo a casa.
Sabatini (Tinha chegado a tal ponto de embriaguez, que tiveram que acompanhá-lo em
(1994, p.463) casa.)
4) Diglielo con parole tali che non si offenda. (Diga-lhe com palavras tais, que não
se ofenda.)
IMPLICITA (reduzida):
5) Non sono così stupido da credere a tutto quello che mi dicono. (Não sou tão
estúpido de acreditar em tudo aquilo que me dizem.
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) È così alto che deve farsi fare tutto su misura. (p. 584; É tão alto, que deve
mandar fazer tudo sob medida.)
2) La vita psichica inconscia è talmente forte che può dominare la nostra vita
Luca cosciente. (p. 586; tradução: A vida psíquica inconsciente é de tal forma forte que
Serianni pode dominar a nossa vida consciente.)
(1999)
IMPLICITA (reduzida):
3) Padre santo, hai tanto amato il mondo da mandare a noi, nella pianezza dei
tempi, il tuo unico figlio como salvatore. (p. 587; Pai santo, amaste tanto o mundo
a ponto de mandar para nós, na planície dos tempos, o teu único filho como
salvador.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) È così presto, che non c’è ancora nessuno. (É tão cedo, que ainda não tem
Salvatore ninguém.)
Battaglia e
Vincenzo 2) Siamo in tanti che potremmo vincere. (Somos tantos, que poderíamos vencer.)
Pernicone
(1994, p. 340)
IMPLICITA (reduzida):
3) Mi sentivo così sfinito da non poter camminare. (Eu me sentia tão enfraquecido,
a ponto de não poder caminhar.)
247
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Ero così stanco che mi addormentai. (Eu estava tão cansado que dormi.)
Giuseppe
Pittano
(1974, p. 512) IMPLICITE (reduzidas):
2) Era così facilone da credere a tutti. (Era tão imprudente, de acreditar em todos.)
3) Mi annoiavo al punto di addormentarmi. (Eu me entediava, ao ponto de dormir.)
ITALIANO:
Frase 1: Parlava così piano che non riuscivo a sentirlo. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 456)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: consecutiva
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial consecutiva
248
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Benché abbia fame, non mangerò. (p. 464; Embora esteja com fome, não
comerei.)
2) Sebbene avessi ragione, tuttavia non ho voluto insistere. (p. 464; Embora tivesse
razão, eu não quis insistir.)
3) Anche se avevo ragione, non ho voluto insistere. (p. 464; Mesmo que eu tivesse
Dardano e razão, não quis insistir.)
Trifone
(2003) 4) Per quanto io faccia, non riesco a ricordarlo. (p. 472; Por mais que eu faça, não
consigo lembrar.)
IMPLICITE (reduzidas):
4) Per essere (sebbene sia) così magro ha una bella forza. (p. 465; Apesar de ser
(embora seja) tão magro, ele tem uma bela força.)
5) Pur avendo fatto una corsa, perdemmo il treno. (p. 465; Mesmo tendo dado uma
corrida, perdemos o trem.)
6) Non si trova un posto in aereo nemmeno a pagarlo oro! (p. 456; Não se encontra
um lugar no avião nem mesmo pagando em ouro!)
249
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Sebbene sia anziano, tuttavia è ancora agile. (Embora seja idoso, todavia ainda é
ágil.)
Francesco
Sabatini 2) Nonostante (che) avesse il piede gonfio, è andato lo stesso a giocare a pallone.
(1994, p. 471) (Não obstante (que) tivesse o pé inchado, foi assim mesmo jogar bola.)
IMPLICITA (reduzida):
3) Pur essendo freddo, faccio ugualmente una paseggiata. (Mesmo estando frio,
faço sim um passeio.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Benché sia ricco, vive poveramente. (p. 598; Embora seja rico, vive
pobremente.)
2) Malgrado l’attore abbia fatto tagliare una scena [...], il film sta ottenendo un
enorme successo. (p. 600; Ainda que o ator tenha feito cortar uma cena [...], o
Luca filme está obtendo um enorme sucesso.)
Serianni
(1999) IMPLICITE (reduzidas):
3) Per quanto festeggiato, non era del tutto sereno. (p. 603; Por quanto festejado,
não estava de todo sereno.)
4) Pure non rinunziando ancora alla prassi tradizionale (...), l’amministrazione
Coleridge giungeva ad un soddisfacente compromesso col Messico. (p. 603;
Mesmo não renunciado ainda à praxe tradicional (...), a administração Coleridge
alcançava um satisfatório compromisso com o México.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Benché sia stanco, continuerò il lavoro. (p. 340; Ainda que esteja cansado,
continuarei o trabalho.)
Salvatore 2) Sebbene sia tardi, ti aspetterò ancora. (p. 340; Embora esteja tarde, ainda vou te
Battaglia e esperar.)
Vincenzo
Pernicone 3) Chiunque mi cerchi, non farlo entrare. (p. 340; Qualquer um que me procure,
(1994) não o faça entrar.)
IMPLICITA (reduzida):
4) Pur avendo lavorato tanto, non mi sento stanco. (p. 341; Mesmo tendo
trabalhado tanto, não me sinto cansado.)
250
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Benché fossi stanco, continuai il lavoro. (p. 517; Embora estivesse cansado,
continuei o trabalho.)
2) Anche se vedo, non ci credo. (p. 517; Mesmo que eu veja, não acredito.)
Giuseppe 3) Sebbene viaggiasse con una macchina ultimo modello, era pieno di debiti. (p.
Pittano 517 e 518; Embora viajasse com um carro último modelo, ele estava cheio de
(1974) dívidas.)
IMPLICITE (reduzidas):
4) Pur avendo ragione, hai sbagliato. (p. 517; Mesmo tendo razão, você errou.)
5) Benché avvertito, ha fatto di testa sua. (p. 517; Embora advertido, agiu de
acordo com a sua cabeça.)
Nas duas sentenças, as orações subordinadas trazem seus verbos no congiuntivo presente,
e não é possível identificar a pessoa verbal, porque as formas abbia e sia podem se referir a 1ª, 2ª
ou 3ª pessoas do singular. Somente através da oração principal é possível a identificação. Nas
traduções, em português, mantivemos a omissão do pronome pessoal reto nas subordinadas. As
duas frases italianas acima foram traduzidas respectivamente da seguinte forma: Embora esteja
com fome, não comerei; Embora seja rico, vive pobremente. Analisemos agora duas frases do
quadro de exemplos.
251
ITALIANO:
Frase 1: Chiunque mi cerchi, non farlo entrare. (BATTAGLIA E PERNICONE, 1994, p. 340)
1ª proposizione: concessiva
2ª proposizione: reggente
ITALIANO:
Frase 2: Per essere così magro ha una bella forza. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 465)
Já comentamos esta frase no tópico 5.5.1 desta tese, que trata da tradução das frases-
exemplo. Na ocasião, afirmamos que esta frase não poderia ser traduzida “ao pé da letra”, do
contrário não teria sentido algum. Para mantermos o sentido expresso pela sentença italiana, a
preposição per, nesse caso, deve corresponder à locução prepositiva apesar de. Assim, também
pudemos manter a subordinada como reduzida de infinitivo.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Il diavolo non è così brutto come si dipinge. (O diabo não é tão feio como se
pinta.)
IMPLICITE (reduzidas):
4) Più che parlare, gridava. (Mais que falar, gritava.)
254
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Hai speso in un giorno tanti soldi quanti ne servivano (o servirebbero) in una
settimana. (p. 471; Você gastou em um dia tanto dinheiro quanto utilizava (ou
Francesco utilizaria) em uma semana.)
Sabatini
(1994) 2) Non è così ignorante come sembra. (p. 472; Não é tão ignorante como parece.)
3) È stata una giornata più faticosa di quanto immaginavo. (p. 472; Foi um dia
mais cansativo do que eu imaginava.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) È un tipo più sveglio di quel che sembri. (p. 611; É um tipo mais atento do que
parece.)
2) Si comporta come se la colpa fosse mia. (p. 611; Comporta-se como se a culpa
fosse minha.)
3) La situazione era meno nera di come sembrava. (p. 616; A situação era menos
Luca negra, do que parecia.)
Serianni 4) Si svegliò più stanco di quando era andato a dormire. (p. 616; Acordou mais
(1999) cansado do que quando tinha ido dormir.)
IMPLICITE (reduzidas):
5) Niente le faceva tanto piacere come sentirmi sbagliare. (p. 615; Nada lhe dava
tanto prazer como ouvir-me errar.)
6) È meglio [...] soffrire operando il bene piuttosto che fare il male. (p. 617; É
melhor sofrer, operando o bem, do que fazer o mal.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Salvatore
Battaglia e 1) Io lavoro come ho fatto sempre. (p. 344; Eu trabalho como sempre fiz.)
Vincenzo
Pernicone 2) Abbiamo studiato più che tu non voglia ammettere. (p. 345; Estudamos mais do
(1994) que você queira admitir.)
3) Ho risposto meglio che tu non creda. (p. 345; Respondi melhor do que você
acredita.)
255
Salvatore 4) Ha parlato meno di quel che prevedevamo. (p. 345; Ele/Ela falou menos daquilo
Battaglia e que prevíamos.)
Vincenzo 5) S’è comportato peggio di come avevamo pensato. (p. 345; Comportou-se pior
Pernicone do que tínhamos pensado.)
(1994)
IMPLICITE (reduzidas): Não apresentam.
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Studio più di quanto tu creda. (p. 525; Estudo mais do que você acredita.)
Giuseppe
Pittano 2) Studio meno di quanto vorrei. (p. 525; Estudo menos do que eu gostaria.)
(1974)
3) Non studio come tu credi. (Não estudo como você acredita.)
IMPLICITA (reduzida):
4) Piuttosto che studiare, vado a lavorare. (Ao invés de estudar, vou trabalhar.)
ITALIANO:
Frase 1: Il diavolo non è così brutto come si dipinge. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 461)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: comparativa
PROPORÇÃO DIRETA:
de equivalência (via via che... —, di mano in mano che... —, man mano che... —, a misura
che... —);
de progressão crescente (più... più, quanto più... tanto più);
de progressão decrescente (meno... meno, quanto meno... tanto meno).
Serianni (ibid., tradução nossa) explica que “nas relações de progressão, as duas frases
podem ser ligadas mediante e (em tal caso, a comparativa perde a sua qualidade de subordinada,
tornando-se coordenada à reggente)”. Vejamos os exemplos apresentados pelo gramático:
1) Dapprincipio agì come suo luogotenente; ma poi, via via che la sua forza cresceva e gli
entusiasmi per Fiume s’intiepidivano, cominciò a prendere da lui le distanze.
(No início, agiu como seu tenente; mas depois, à medida que a sua força crescia e os
entusiasmos por Fiume amornavam, começou a tomar distância dele.)
2) L’Istmo di Gibilterra ingigantisce, va su, man mano che ci avviciniamo.
(O Istmo de Gibraltar se agiganta, vem para cima, à proporção que nos aproximamos.)
3) La signora andava ripigliando fiato a misura che ne perdeva il vento.
(A senhora ia retomando o fôlego, à medida que perdia o vento.)
4) Devi sapere che l’Io è come le mosche: più lo scacci e più ti ronza d’intorno.
(Você deve saber que o Eu é como as moscas: quanto mais o expulsar, mais zumbe em volta
de você.)
Frase 1: Dapprincipio agì come suo luogotenente; ma poi, via via che la sua forza cresceva e
gli entusiasmi per Fiume s’intiepidivano, cominciò a prendere da lui le distanze.
Dapprincipio agì come suo luogotenente; / ma poi, [via via che la sua forza cresceva] [e gli
entusiasmi per Fiume s’intiepidivano], cominciò a prendere da lui le distanze.
No início, agiu como seu tenente; / mas depois, [à medida que a sua força crescia] [e os
entusiasmos por Fiume amornavam], começou a tomar distância dele.
O Istmo de Gibraltar se agiganta, / vem para cima, / à proporção que nos aproximamos.
PROPORÇÃO INVERSA: Ocorre quando più... meno, tanto più... quanto meno, meno... più,
tanto meno... quanto più.
2) Tanto più si travagliano con questo desiderio da se medesimi, quanto meno sono affliti dagli
altri mali.
(Quanto mais se afligem com este desejo por si mesmos, quanto menos ficam aflitos pelos outros
males.)
A conjunção mais usada é se, mas, como já vimos, também são usadas conjunções e
locuções conjuntivas condicionais: qualora, purché, posto che, ammesso che, a condizione che, a
patto che, nel caso che, nell’eventualità che, nell’ipotesi che.
Segundo Dardano e Trifone, “existem possibilidades diversas de correlação dos modos
verbais, que dão lugar a períodos hipotéticos ‘mistos’ [...]”. Não estudaremos aqui as possíveis
combinações dos tempos e modos verbais, porque consideramos isso detalhe, frente ao nosso
objetivo, que é realizarmos uma análise contrastiva para chegarmos à correspondência entre os
tipos de orações coordenadas e subordinadas do italiano e do português.
Luca Serianni (1999, p. 588-597) dedica nove páginas da sua Grammatica italiana
somente para tratar da proposizione condizionale. Segundo o autor, essa oração, quando
introduzida pela conjunção se seguida de verbo no indicativo, pode assumir valores específicos,
não-hipotéticos, tais como: temporale-iterativo, causale, concessivo, completivo, avversativo,
restrittivo, ipotetico apparente, fraseológico.
A forma implicita da condizionale pode apresentar o verbo no infinitivo, precedido da
preposição a, no gerúndio ou no particípio.
Analisando a condizionale, identificamos duas orações do português como suas
correspondentes: a oração subordinada adverbial condicional e a oração subordinada adverbial
proporcional. Verifiquemos cada caso a seguir.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
Dardano e 1) Se comincia a parlare, non la finisce più. (p. 462; Se começa a falar, não para
Trifone mais.)
(2003)
2) Mi farebbe piacere se ci fossi anche tu. (p. 462; Eu iria gostar, se você também
estivesse.)
260
IMPLICITE (reduzidas):
3) Applicandoti, potresti rendere molto di più. (p. 463; Aplicando-se, você poderia
Dardano e render muito mais.)
Trifone
(2003) 4) Sviluppata meglio, sarebbe un’ottima idea. (p. 463; Desenvolvida melhor, seria
uma ótima ideia.)
5) A vederlo, non penseresti che è ricco. (p. 463; Ao vê-lo, você não pensaria que é
rico.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Avrò in regalo gli sci se sarò promosso. (p. 468; Terei de presente os esquis, se
eu for promovido.)
2) Qualora tu ti alzassi prima, potresti essere più puntuale. (p. 470; Se você se
lenvantasse mais cedo, poderia ser mais pontual.)
Francesco IMPLICITE (reduzidas):
Sabatini
(1994) 3) Ad avere più soldi, avrei comprato quell’altro paio di sci. (p. 470; Ao ter mais
dinheiro, teria comprado aquele outro par de esqui.)
4) Ritardando ancora, perderai il treno. (p. 470; Atrasando mais um pouco, você
perderá o trem.)
5) Ascoltato con attenzione, Giulio potrebbe far capire le sue ragioni. (p. 470;
Ouvido com atenção, Júlio poderia fazer entender as razões.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Se mi toccate, chiamo gente. (p. 589; Se vocês tocarem em mim, chamo as
pessoas.)
2) Se hai sbagliato, devi correggerti. (p. 589; Se você errou, tem que se corrigir.)
Luca 3) Di queste galline, sette le mangeremo noi, e una la daremo a te, a condizione
Serianni [...] che tu faccia finta di dormire. (p.596; Destas galinhas, sete comeremos nós, e
(1999) uma daremos a você, com a condição [...] que você finja dormir.)
IMPLICITE (reduzidas):
4) A sentire gli storici l’impero romano fu distrutto dalle tasse più che dai barbari.
(p. 597; Ao ouvir os historiadores, o império romano foi destruído pelos impostos
mais do que pelos bárbaros.)
5) Speravo, ottenendo quel rinvio, di poter poi restare a Grassano definitivamente.
(p. 597; Eu esperava, obtendo aquela restituição, poder depois ficar em Grassano
definitivamente.)
261
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Se dirai la verità, sarai perdonato. (Se você disser a verdade, você será
Salvatore perdoado.)
Battaglia e
Vincenzo 2) Sarebbe una fortuna, se fossimo promossi. (Seria uma sorte, se fôssemos
Pernicone promovidos.)
(1994, p.
342) 3) Se tu avessi avuto pazienza, saresti riuscito. (Se você tivesse tido paciência, teria
conseguido.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Se dici questo sbagli. (p. 519; Se você diz isto, você erra.)
2) Qualora non si dimostri degno della nostra fiducia, non gli daremo più incarichi.
(p. 521; Se ele não se mostrar digno da nossa confiança, não lhe daremos mais
encargos.)
Giuseppe
Pittano IMPLICITE (reduzidas):
(1974)
3) Dicendo questo, sbagli. (p. 519; Dizendo isto, você erra.)
4) A dire questo sbagli. (p. 519; Ao dizer isto, você erra.)
5) Detto questo, hai certamente sbagliato. (p. 519; Dito isto, você certamente
errou.)
Todos os autores apresentam exemplos com a conjunção se, pois segundo eles, é a mais
frequente das conjunções condicionais. A subordinata condizionale tanto pode vir antes quanto
após a reggente. Praticamente todas as implicite do quadro se antepõem à oração principal. Em
relação à pontuação, parece não haver obrigatoriedade no uso da vírgula para separar subordinata
e reggente, pois há frases, esplicite e implicite, com vírgula e frases sem ela. A maioria das frases
têm a vírgula com essa função. Acompanhemos a seguir a análise oracional de uma das frases do
quadro.
262
ITALIANO:
Frase: Applicandoti, potresti rendere molto più. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 463)
Luca Serianni (1999, p. 596), ao tratar da proposizione condizionale, apresenta uma lista
grande de congiunzioni e locuzioni congiuntive que ele chama de ipotetiche e condizionali-
restrittive. Entre as referidas locuções, o autor cita nella misura in cui, que, com base na sua
tradução — na medida em que ou à medida que —, estabelece correspondência entre a
condizionale e a oração subordinada adverbial proporcional do português. Serianni (ibid.,
tradução nossa) esclarece: “A expressão nella misura in cui [...] indica propriamente a correlação
proporcional entre uma hipótese e o efeito que dela depende (mas no abuso que se fez dela em
anos recentes, foi frequentemente adotada como simples variante de se)”. Analisemos o exemplo
apresentado pelo autor.
ITALIANO:
Frase: È possibile che la proibizione dell’incesto un giorno scompaia, nella misura in cui si
saranno trovati nuovi mezzi per assicurare la coesione sociale.
É possível / que a proibição do incesto um dia desapareça, / à medida que serão encontrados
novos meios / para assegurar a coesão social.
Luca Serianni (1999, p. 618) é o único, entre os gramáticos italianos considerados nesta
tese, que descreve esse tipo de oração subordinada. O autor a define como a oração
essencialmente implicita que acrescenta uma circunstância acessória ao período. A aggiuntiva
pode ser introduzida por oltre a (forma implicita) ou oltre che (forma esplicita). A forma
reduzida traz o verbo no infinitivo. Vejamos os exemplos apresentados por Serianni.
264
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Oltre che io non pretendo dare ispirazioni, ben mi parrebbe peccato lo staccare anche per un
momento il vostro pennello da quelle tele. (Além de que eu não pretendo dar inspirações, bem
me pareceria pecado o afastar, mesmo por um momento, o vosso pincel daquelas telas.)
2) Passeggiare innanzi e indietro, tutto quel tempo, oltre che sarebbe stato poco efficace aiuto
contro il rigore del sereno, era un richieder troppo da quelle povere gambe. (Passear para cima
e para baixo, todo aquele tempo, além de que teria sido ajuda pouco eficaz contra o rigor do
sereno, era pedir demais daquelas pobres pernas.)
IMPLICITE (reduzidas):
3) Cos’altro ti ha detto, oltre che dichiarare le sue generalità? (O que mais te disse, além de
declarar as suas generalidades?)
4) Desideravo rivedere James Ensor, che, oltre ad esser un grande pittore, è un uomo curioso e
istruttivo. (Eu desejava rever James Ensor, que, além de ser um grande pintor, é um homem
curioso e instrutivo.)
ITALIANO:
Desideravo rivedere James Ensor, che, oltre ad esser un grande pittore, è un uomo curioso e
istruttivo.
Desideravo rivedere James Ensor, / che, [oltre ad esser un grande pittore], è un uomo curioso e
istruttivo.
Eu desejava rever James Ensor, / que , [além de ser um grande pintor], é um homem curioso e
instrutivo.
265
Assim, com base no exposto, podemos fazer a seguinte análise oracional dos exemplos de
Azeredo:
Como sabemos, a NGB não reconhece esses tipos de orações subordinadas adverbiais,
mas preferimos adotar aqui as denominações que apresentamos, devido à força da necessidade,
qual seja, encontrar uma oração correspondente para a proposizione aggiuntiva; essa
correspondente é, então, a oração subordinada adverbial aditiva.
Vejamos primeiro os exemplos apresentados pelos autores italianos, para depois fazermos
as nossas considerações.
267
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
Dardano e 1) Verrò a trovarti, a meno che qualcosa non me lo impedisca. (Virei te encontrar,
Trifone a menos que alguma coisa me impeça.)
(2003, p. 471)
2) Non dirò niente, tranne che non sia costretto. (Não direi nada, exceto se eu for
obrigado.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Salvatore
Battaglia e 1) Lo troveremo a casa tranne (o salvo) che non sia già partito. (p. 345; Nós vamos
Vincenzo encontrá-lo em casa, exceto (ou salvo) que já tenha partido.)
Pernicone
(1994) 2) Verrò a trovarti, a meno che (o eccetto che) non si faccia tardi. (p. 346;
Irei/Virei te encontrar, a menos que (ou exceto que) fique tarde.)
a) O senador não aceitará o cargo de ministro, a não ser que disponha de dinheiro para novos
investimentos.
b) A advogada disse que seu cliente não tem nada o que fazer do ponto de vista jurídico, a menos
que o laudo técnico o responsabilize nominalmente pelo desabamento do prédio.
Como podemos verificar, são exemplos parecidos com as frases em português do quadro
que apresentamos, as quais são traduções das frases italianas. Em português, portanto, as orações
sublinhadas nas frases acima são subordinadas adverbiais condicionais. Analisemos uma das
sentenças italianas.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: eccettuativa
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial condicional
269
A observação a fazer sobre a frase em italiano acima é que, por uma questão idiomática,
há um advérbio de negação na 2ª oração: non; se traduzirmos “ao pé da letra”, a frase seria
contraditória. Para que a frase, em português, seja coerente, precisamos suprimir esse advérbio de
negação.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Potrebbe vivere come tutti in una grande città, tranne che si sentirebbe troppo
solo. (p. 619; Ele/O Sr. poderia viver como todos em uma grande cidade, exceto
pelo fato de que se sentiria sozinho demais.)
2) Non chiedevano altro, in fondo, se non che se ne ricordassero. (p. 620; Não
pediam outra coisa, no fundo, a não ser que se lembrassem.)
Luca
Serianni IMPLICITA (reduzida):
(1999)
3) Sono disposto a tutto, tranne che a tradire un amico. (p. 620; Estou disposto a
tudo, exceto a trair um amigo.)
4) Non rimpiango nulla della mia giovinezza, tranne (che) di avere interrotto gli
studi. (p. 620; Eu não lamento nada da minha juventude, exceto ter interrompido os
estudos.)
5) Posso ammettere qualunque cosa tranne che mancare di parola. (p. 620; Posso
admitir qualquer coisa, exceto faltar com a palavra.)
ESPLICITA (desenvolvida):
Francesco 1) Tutto posso credere, tranne che Giorgio sia innocente. (Em tudo posso acreditar,
Sabatini exceto que Jorge seja inocente.)
(1994, p. 472)
IMPLICITA (reduzida):
2) Sono disposto a tutto, fuorché a perdonarlo. (Estou disposto a tudo, fora perdoá-
lo.)
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Non dico nulla, tranne che l’ho visto. (Não digo nada, exceto que eu o vi.)
Giuseppe
Pittano
(1974, p. 533) IMPLICITE (reduzidas):
2) Sa far tutto, tranne che mentire. (Sabe fazer tudo, exceto mentir.)
3) Non sa far altro che parlare. (Não sabe fazer outra coisa, a não ser falar.)
Como podemos ver, é clara a ideia de exceção nas orações subordinadas, tanto das frases
italianas quanto das frases em português. Evanildo Bechara (1999, p. 526) na obra Moderna
271
gramática portuguesa (1999, p. 523-524), ao tratar das orações que ele chama de reduzidas fixas,
fala das que expressam exceção, cujo verbo vem no infinitivo. Bechara apresenta o seguinte
exemplo:
A filha estava com quatorze anos; mas era muito fraquinha, e não fazia nada, a não ser namorar
os capadócios.
A oração sublinhada, na frase acima, é uma subordinada adverbial que denota exceção,
por isso, nós vamos chamá-la de excetuativa, seguindo a classificação italiana.
De acordo com os referidos gramáticos italianos, na primeira frase, mentre tem valor
temporale, e na segunda, tem valor avversativo. Esses gramáticos afirmam que “o diferente
significado da segunda frase é obtido por meio da pausa mais longa entre studia e mentre”.
Azeredo (2010, p. 331) afirma o seguinte a respeito da conjunção quando do português:
“Eu digo que muito veículo parece estar conduzindo passageiros apanhados ao acaso, quando na
verdade estão levando verdadeiras combinações de passageiros.” [MACHADO, 1957, p. 211-
212]
Azeredo não apresenta uma classificação para a conjunção quando na oração adverbial
quando na verdade estão levando verdadeiras combinações de passageiros, do exemplo acima.
O autor também não classifica a oração adverbial; explica apenas que “o que sobressai é o caráter
contrastivo dos fatos e ideias [...], de modo que a relação temporal se torna secundária ou mesmo
se esvazia” (AZEREDO, 2010, p. 331).
Em relação ao valor lógico-semântico, Luca Serianni (1999, p. 609) afirma que as
avversative aproximam-se das coordinate avversative: tu insisti, mentre dovresti tacere
corresponde a tu insisti, ma dovresti tacere.
Assim, considerando o que afirmam autores como Azeredo e Luca Serianni, optamos por
chamar de oração subordinada adverbial adversativa a oração do português, a qual é
correspondente à proposizione avversativa. Esta classificação que apresentamos em português
não é reconhecida pela NGB, mas optamos por ela, porque nenhuma das classificações que a
referida Nomenclatura apresenta para as adverbiais, a nosso ver, pode ser apontada como
correspondente da proposizione avversativa. Vejamos, a seguir, os exemplos de frases com esta
oração italiana.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
Dardano e 1) Lo aspettavamo oggi, mentre invece arriverà domani. (Nós o esperávamos hoje,
Trifone mas ao invés disso chegará amanhã.)
(2003, p. 471)
2) Ha voluto restare in casa, mentre io avrei preferito uscire. (Quis ficar em casa,
enquanto eu teria preferido sair.)
273
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Ti sei entusiasmato al primo annuncio, mentre dovevi essere prudente. (Você se
Francesco entusiasmou com o primeiro anúncio, enquanto você devia ser prudente.)
Sabatini
(1994, p. 472)
IMPLICITA (reduzida):
2) Ti sei entusiasmato al primo annuncio, invece di (o anziché) essere prudente.
(Você se entusiasmou com o primeiro anúncio, ao invés de ser prudente.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Tu insisti, mentre dovresti tacere. (p. 609; Você insiste, quando deveria calar.)
2) Su questo punto abbiamo avuto una polemica con il Psi, che ci rimprovera di
cercare scorciatoie nell’eurosinistra, quando il problema sarebbe soprattutto
italiano. (p. 610; Sobre este ponto, tivemos uma polêmica com o Psi, que nos
repreendeu por procurar atalhos na esquerda europeia, quando o problema seria
Luca sobretudo italiano.)
Serianni
(1999) IMPLICITE (reduzidas):
3) Fatto sta che i tre torsoli, invece di esser gettati fuori dalla finestra, vennero
posati sull’angolo della tavola. (p. 610; Fato é que os três caroços, ao invés de
serem atirados para fora da janela, foram pousados no canto da mesa.)
4) In luogo di migliorare le coltivazioni [i nobili] si stremavano a esigere diritti di
passaggio su vecchie strade e su guadi abbandonati. (p. 610; No lugar de melhorar
os cultivos, [os nobres] se extenuavam a exigir direitos de passagem em velhas
estradas e em vaus abandonados.)
Em geral, as avversative vêm após as orações principais. No quadro, todas as sete esplicite
vêm após as reggenti; das quatro implicite, duas vêm antes, e duas vêm após as reggenti. Em
praticamente todas as frases, as avversative são separadas das reggenti por vírgula; a exceção é a
frase 4 de Luca Serianni. Em português, a vírgula separa os dois referidos tipos de orações em
todas as frases.
Vejamos a análise oracional mais detalhada de duas das frases do quadro.
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: avversativa
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial adversativa
ITALIANO:
a) Ele é responsável, sem que o saiba, por todas essas coisas erradas.
Bechara classifica a oração sublinhada como uma subordinada adverbial concessiva; esta
corresponde a embora não saiba.
De acordo com Luiz Antonio Sacconi (1990, p. 328), as adverbiais modais são iniciadas
por sem que e expressam o modo como se realiza o fato descrito pela oração principal: Ifigênia
ria sem que mostrasse os dentes.
Bechara afirma que a NGB “desprezou as orações modais”. Sacconi, a esse respeito,
afirma o seguinte: “A Nomenclatura Gramatical Brasileira não agasalha as orações modais.
Prefere distribuí-las entre as conformativas, consecutivas e comparativas. Curiosamente, porém,
admite a oração reduzida modal”.
Após analisarmos cuidadosamente as frases com as proposizioni esclusive, suas traduções
para o português e o posicionamento de gramáticos como Bechara e Sacconi em relação à
locução sem que, optamos por apontar, como correspondente da proposizione esclusiva, a oração
subordinada adverbial modal. Vejamos os exemplos do italiano.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Abbiamo fatto tardi, senza che ce ne rendessimo conto. (Nós nos atrasamos, sem
Dardano e que nos déssemos conta.)
Trifone
(2003, p. 471)
IMPLICITA (reduzida):
2) Abbiamo fatto tardi, senza rendercene conto. (Nós nos atrasamos, sem nos
darmos conta.)
ESPLICITA (desenvolvida):
1) Ci siamo trovati d’accordo, senza che ne avessimo parlato prima. (Encontramo-
Francesco nos de acordo, sem que tivéssemos falado disso antes.)
Sabatini
(1994, p. 472)
IMPLICITA (reduzida):
2) Ci siamo trovati d’accordo senza averne parlato prima. (Encontramo-nos de
acordo, sem termos falado disso antes.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Luca 1) Senza che me ne accorgessi mi rendeva allegra. (p. 618; Sem que me desse
Serianni conta, fazia-me alegre.)
(1999)
2) Non mi stancavo di domandarmelo, senza che bastasse l’impazienza a
277
IMPLICITE (reduzidas):
Luca 3) Viaggiò tutta la notte senza fermarsi mai. (p. 618; Viajou toda a noite, sem
Serianni nunca parar.)
(1999)
4) Ritornò nella stessa casa senza aver parlato col figlio. (p. 619; Retornou para a
mesma casa, sem ter falado com o filho.)
5) La carozza attendeva lì davanti al portone del ‘Guarini’, ore e ore, non
spostandosi che per cercare l’ombra. (p. 619; A carruagem esperava ali em frente
ao portão do ‘Guarini’, horas e horas, não se afastando a não ser para procurar a
sombra.)
ESPLICITA (desenvolvida):
Giuseppe 1) L’ho fatto senza che tu lo comandassi. (Eu fiz sem que você mandasse.)
Pittano
(1974, p. 533)
IMPLICITA (reduzida):
2) L’ho fatto senza saperlo. (Eu fiz sem saber.)
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: esclusiva
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial modal
ITALIANO:
Frase 2: Sono caduto senza farmi male. (BATTAGLIA E PERNICONE, 1994, p. 345)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: esclusiva implicita d’infinito
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial modal, reduzida de infinitivo
279
Conforme afirma Sacconi (1999, p. 325), a oração subordinada adverbial funciona como
adjunto adverbial da oração principal. Em português, há muitos tipos de adjuntos adverbiais;
Sacconi (1999, p. 311-314) descreve 25 tipos; mas as classificações das orações subordinadas
adverbiais são em número bem menor; a NGB só cita nove: causal, comparativa, consecutiva,
concessiva, condicional, conformativa, final, proporcional e temporal. Sacconi (1999, p. 325-328)
reconhece todas essas nove e mais a modal. Bechara (1999, p. 501) assume 11 tipos: os nove
citados pela NGB, a modal e a locativa. Assim, usamos da mesma liberdade que os referidos
gramáticos usaram, para, no contexto desta tese, falarmos em mais uma oração não reconhecida
280
pela NGB: a subordinada adverbial limitativa. Passemos agora aos dois casos de correspondência
da proposizione limitativa.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITA (desenvolvida):
Dardano e 1) Per quanto ne so, stanno tutti bene. (Até onde sei, estão todos bem.)
Trifone
(2003, p. 472)
IMPLICITA (reduzida):
2) (In) quanto a venirti incontro, mi sembra di averlo già fatto abbastanza. (Quanto
a eu ir ao teu encontro, parece-me já ter feito isso o suficiente.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
Per quello che (o Per quanto) ne dicono gli esperti, le risorse di petrolio si
esauriranno. (Por aquilo que (ou Pelo que) dizem os especialistas, as reservas de
Francesco petrólio vão se exaurir.)
Sabatini
(1994, p. 472)
IMPLICITE (reduzidas):
Quanto a parlarne con Giulio, non è stato possibile. (Quanto a falar disso com
Júlio, não foi possível.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Per quanto ne so, non ci sono più treni per Napoli a quest’ora. (p. 621; Até onde
eu sei, não há mais trens para Nápoles há esta hora.)
Luca
Serianni 2) Per quel che so (per quel ch’io sappia, per quel poco che ne so, a quel che vedo),
(1999) di soldi ce ne sono abbastanza. (P. 621; Pelo que sei (que eu saiba, pelo pouco que
sei, pelo que vejo), dinheiro tem bastante.)
3) Per quel che concerne la materia e l’istrumento letterario, [...] apparisce [...] il
dialetto che si parlava in Firenze. (p. 621; Pelo que concerne à matéria e ao
instrumento literário, [...] aparece [...] o dialeto que se falava em Forença.)
281
4) Che si sappia, soltanto una famiglia, di origine ucraina, ci ha ripensato. (p. 621;
Que se saiba, somente uma família, de origem ucraniana, repensou isso.)
ESPLICITA (desenvolvida):
Salvatore 1) A quanto pare, il nostro amico non ha intenzione di ritornare. (Pelo que parece,
Battaglia e o nosso amigo não tem intenção de retornar.)
Vincenzo
Pernicone
(1994, p. 346) IMPLICITA (reduzida):
2) Quanto a pagare, c’è sempre tempo. (Quanto a pagar, sempre há tempo.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Per quanto mi riguarda, io ho finito. (p. 533; No que me diz respeito, eu
terminei.)
Giuseppe
Pittano 2) Per quanto io sappia, Mario ha ragione. (Pelo que eu sei, Mário tem razão.)
(1974, p. 533)
IMPLICITA (reduzida):
3) In quanto a crederci, è affare tuo. (Quanto a acreditar, é problema seu.)
Todas as frases acima trazem a proposizione limitativa como primeira oração. A maioria
das limitative esplicite do quadro tem o verbo no modo indicativo, mas, segundo Luca Serianni
(1999, p. 621) a limitativa pode apresentar verbo em qualquer um dos três modos verbais, ou
seja, no indicativo, no congiuntivo ou no condizionale.
Para traduzirmos, para o português, algumas das limitative, foi necessário fazermos
adaptações, privilegiando as expressões mais usadas na língua portuguesa. Assim, per quanto ne
so traduzimos como até onde eu sei; per quanto mi riguarda, como no que me diz respeito; per
quanto io sappia, como pelo que eu sei.
282
ITALIANO:
1) Per quanto ne so, stanno tutti bene. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 472)
1ª proposizione: limitativa
2ª proposizione: reggente
CASO 1:
O primeiro caso é formado por adjetivo + a (ou per ou in) + infinitivo de forma ativa. Vejamos
um exemplo: Sono abituato a mangiare presto. (Estou habituado a comer cedo.)
Serianni afirma que alguns adjetivos, como bello, brutto, facile, difficile, strano, podem
reger um verbo com valor passivo, introduzido pelas preposições a ou da. O gramático aponta
quatro construções desse tipo:
adjetivo + a + infinitivo, como no seguinte exemplo: Gli orsi sono belli ad accarezzare. Em
português, temos: Os ursos são bons de se acariciar.
adjetivo + da + infinitivo composto com si passivante: Il disegno era più facile da concepirsi
che da eseguirsi. Em português: O desenho era mais fácil de se conceber, do que de se executar.
CASO 2:
Formado por preposição a + infinitivo (com ou sem artigo): A vederlo pareva morto [...]. Ao vê-
lo, parecia morto [...].
CASO 3:
Formado por preposição per + infinitivo, em correspondência com uma subordinada que
contenha uma forma do mesmo verbo: E le resistenze ci sono? — Per esserci, ci sono. Em
português: E as resistências, existem? — Existir, existem. Classificamos a oração sublinhada em
português como subordinada adverbial limitativa reduzida de infinitivo.
CASO 4:
Formado por infinitivo simples, em algumas fórmulas próprias do registro coloquial: Ballare non
ballava ancora. Em português: Dançar, não dançava ainda. É o mesmo caso 3; a oração
sublinhada em português é uma subordinada adverbial limitativa reduzida de infinitivo.
A proposizione modale indica o modo como a ação expressa pela reggente se realiza. Na
forma esplicita, é introduzida principalmente por come, secondo che, nel modo che, quase che,
come se. Na forma implicita, traz o verbo no gerúndio.
Dardano e Trifone (2003, p. 470) afirmam que as orações reduzidas de gerúndio podem
ter valore modale ou valore strumentale; segundo os autores, do ponto de vista lógico, é difícil
distinguir os dois tipos de valores, quer se expressem como orações, quer como simples
complementi di modo e di mezzo o strumento. Sabatini (1994, p. 472) e Serianni (1999, p. 618)
também comentam a dificuldade dessa distinção.
285
Uma observação importante feita por Serianni (ibid.) é que, quando a implicita di
gerundio é negativa, não teremos uma modale, mas sim uma esclusiva. O referido gramático
apresenta o seguinte exemplo 99 (a proposizione esclusiva está sublinhada):
La carrozza attendeva lì davanti al portone del ‘Guarini’, ore e ore, non spostandosi che per
cercare l’ombra.
AUTORES EXEMPLOS
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Comportati nel modo che ritiene più opportuno. (Comporte-se do modo que
você achar mais conveniente.)
Dardano e
Trifone 2) Fai come se niente fosse. (Você age como se não fosse nada.)
(2003, p. 470)
IMPLICITA (reduzida):
3) Scappò via correndo. (Escapou, correndo.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Giudicalo come la tua coscienza ti detta. (Julgue-o como a tua consciência te
dita.)
Francesco 2) Mi guardò come se mi odiasse. (Olhou-me como se me odiasse.)
Sabatini
(1994, p. 472)
IMPLICITE (reduzidas):
3) Mi guardò sorridendo. (Olhou-me, sorrindo.)
4) Passa le serrate giocando a carte. (Passa as noitadas, jogando cartas.)
5) Lo ha convinto discutendo a lungo. (Convenceu-o, discutindo longamente.)
99
Já vimos esse exemplo, quando tratamos das proposizioni esclusive.
286
Luca Serianni 2) Il maestro cercava di radunare i bandisti col battere la bacchetta sopra uno dei
(1999, p. 617) leggii a stecche. (O maestro procurava reunir os músicos com o bater da baqueta
sobre um dos cavaletes de madeira.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Abbiamo fatto come sta scritto. (Fizemos como está escrito.)
Salvatore
Battaglia e 2) Comunque si comporti, è sempre sgradevole. (De qualquer modo que se
Vincenzo comporte, é sempre desagradável.)
Pernicone
(1994, p. 345) 3) In qualunque modo tu viva, avrai motivo di lagnarti. (De qualquer modo que
você viva, você terá sempre motivo para lamentar-se.)
IMPLICITA (reduzida):
4) Si allontanò gridando. (Afastou-se, gritando.)
ESPLICITE (desenvolvidas):
1) Ho fatto come tu volevi. (Fiz como você queria.)
Giuseppe
Pittano 2) Comunque tu faccia, fai bene. (De qualquer maneira que você faça, você faz
(1974, p. 523) bem.)
IMPLICITA (reduzida):
3) Giunse correndo. (Alcançou, correndo.)
Pelo que pudemos observar nos exemplos do quadro, a tendência é que a proposizione
modale venha após a reggente; Luca Serianni (1999, p. 618, tradução nossa) afirma que essa
oração “tem grande liberdade de colocação no interior do período”.
Somente Battaglia e Pernicone (1994) e Pittano (1974) apresentam exemplos com vírgula
separando as modali das reggenti. Em português, usamos vírgula com esse fim nas frases com
orações conformativas reduzidas.
Analisemos, com mais detalhes, duas das frases do quadro de exemplos.
ITALIANO:
Frase 1: Comportati nel modo che ritiene più opportuno. (DARDANO E TRIFONE, 2003, p. 470)
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: modale
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial conformativa
ITALIANO:
1ª proposizione: reggente
2ª proposizione: modale implicita di gerundio
Escapou, / correndo.
1ª oração 2ª oração
1ª oração: principal
2ª oração: subordinada adverbial conformativa reduzida de gerúndio
Entre os autores italianos que estamos considerando na análise realizada neste capítulo da
tese, o único que trata da proposizione strumentale separadamente é Giuseppe Pittano (1974, p.
523). Segundo esse gramático, a strumentale é somente implicita di gerundio e d’infinito e
288
Segundo Pittano, para que fique claro que a proposizione strumentale equivale a um
complemento di mezzo ou di strumento, basta substituirmos a referida oração por uma expressão
iniciada por per mezzo di. Assim, na primeira frase, dormendo seria substituído por per mezzo del
dormire, e, na segunda frase, col piangere viria substituído por per mezzo del piangere.
Nenhuma das classificações da NGB para as orações adverbiais corresponde à
proposizione strumentale do italiano. Evanildo Bechara, na obra Moderna gramática portuguesa
(1999, p. 523-524), trata detalhadamente das orações reduzidas. Esse gramático afirma o seguinte
a respeito do que ele chama de orações reduzidas fixas: “A nossa língua possui certo número de
orações reduzidas que normalmente não aparecem sob forma desenvolvida”. Segundo Bechara,
entre essas orações, estão “as que denotam pensamentos para cuja expressão não existem
conjunções subordinativas”; são orações que indicam exclusão, exceção e meio ou instrumento.
A nosso ver, a proposizione strumentale corresponde exatamente a esse terceiro tipo, ou seja, à
oração que indica meio ou instrumento, por isso a chamaremos de oração subordinada adverbial
instrumental.
Vejamos agora a análise mais detalhada do primeiro exemplo de Pittano.
ITALIANO:
ITALIANO PORTUGUÊS
causale causal e coordenada sindética explicativa
temporale temporal
finale final
consecutiva consecutiva
concessiva concessiva
100
No quadro, na coluna referente ao italiano, indicamos somente o tipo de proposizione avverbiale; na coluna
referente ao português, quando a correspondência é com uma subordinada adverbial, indicamos somente o seu tipo
— com exceção das orações subordinadas adverbiais aditiva e adversativa —; quando a correspondência é com outro
tipo de orações, damos a classificação completa.
290
conformativa. É a proposizione esclusiva que corresponde à nossa modal, que, como dissemos,
não é reconhecida, na forma desenvolvida, pela NGB. Destacamos, portanto, que, ao
estabelecermos correspondência entre as orações italianas e as do português, não podemos nos
deixar levar pelas aparências.
292
A) Proposizione disgiuntiva
B) Proposizione sostitutiva
conjunções são ma, bensì, anzi e invece. O termo sostitutiva denota justamente a substituição da
ideia contida na principale pela ideia expressa pela proposizione coordinata.
Destacamos, neste tópico, esse tipo de proposizione coordinata italiana, porque o mesmo
pode ser confundido com a proposizione avversativa.
A) Proposizione soggettiva
A oggettiva diretta pode corresponder a pelo menos três tipos de orações do português: à
subordinada substantiva objetiva direta, à subordinada substantiva completiva nominal e à
subordinada adjetiva. A correspondência que se estabelece com a objetiva direta não apresenta
dificuldade, mas a que se forma com a completiva nominal e com a adjetiva demandam mais
atenção. Esses dois casos acontecem, porque, conforme vimos, a oggettiva pode ser regida por
substantivos e por adjetivos. Ela corresponderá à adjetiva do português, quando exercer a função
de um adjunto adnominal, ligando-se a um nome da oração principal, especificando-o ou
explicando-o.
A oggettiva será a completiva nominal do português, quando, ao ser traduzida, exercer a
função sintática de complemento nominal de um termo da oração principal.
295
E) Proposizione dichiarativa
A proposizione relativa con valore temporale pode corresponder a três tipos bem
diferentes de oração subordinada do português: à substantiva subjetiva, à adjetiva restritiva e à
adverbial temporal. São três casos muito particulares de correspondência. Verificamos o primeiro
caso em frases italianas cujas traduções para o português tinham, na oração principal, o verbo
fazer como unipessoal, indicando tempo decorrido. O segundo caso — o da adjetiva restritiva —
ocorreu com uma frase-tradução cuja subordinada exercia a função de adjunto adnominal da
oração principal, ligando-se a um substantivo da principal, especificando-o. Por fim, a relativa
temporale corresponde à subordinada adverbial temporal se, na frase-tradução, indicar
simplesmente uma circunstância de tempo, ao referir-se à ação expressa na oração principal.
A) Proposizione causale
trazem duas orações: a primeira com o verbo no modo imperativo; a segunda, introduzida ou por
ché ou por perché. Essas são algumas das características que determinaram a referida
correspondência.
B) Proposizione comparativa
C) Proposizione strumentale
E) Proposizione avversativa
A proposizione avversativa pode ser confundida com a avverbiale temporale, por causa
das conjunções e locuções conjuntivas que introduzem a avversativa; na forma esplicita, são
quando, mentre, quando mentre e mentre invece; e na implicita, são invece di, in luogo di ou
anziché, com o verbo no infinitivo.
Como não há, entre as orações reconhecidas pela NGB, nenhuma oração que corresponda
à avversativa, optamos por chamar de adverbial adversativa a oração do português
correspondente à referida oração italiana.
F) Proposizione aggiuntiva
Das cinco gramáticas italianas usadas na análise contrastiva realizada nesta tese, somente
a de Luca Serianni (1999, p. 618) dá atenção à proposizione aggiuntiva. Encontramos em
Azeredo (2010, p. 336) os argumentos para chamarmos de oração subordinada adverbial aditiva a
oração do português a qual é correspondente à aggiuntiva.
G) Proposizione esclusiva
H) Proposizione limitativa
A proposizione limitativa oferece dificuldade, porque não existe em português com essa
denominação e porque pode corresponder a duas orações subordinadas do português; a primeira é
a substantiva completiva nominal reduzida de infinitivo; a segunda oração, nós chamamos de
adverbial limitativa. Esta classificação, como dissemos, não existe em português; decidimos
assumi-la, porque nenhuma das orações subordinadas descritas pela NGB corresponde ao tipo de
limitativa que identificamos.
I) Proposizione modale
8) CONSIDERAÇÕES FINAIS
italiano, buscando orações correspondentes no português brasileiro. Foi um trabalho árduo, mas
que gerou resultados surpreendentes.
Durante o referido estudo contrastivo, sobressaíram-se algumas características
interessantes de ambas as línguas em análise. Verificamos, por exemplo, que o uso da vírgula
para separar orações é muito mais frequente — e, em muitos casos, obrigatório — no português
do que na língua italiana. Este fato poderia perfeitamente ser objeto de uma futura pesquisa.
O processo de análise dos dados evidenciou um fato importante: cada sentença produzida
em uma língua é uma realidade única. Para comprovarmos isso, basta lembrarmos que as línguas
possuem um conjunto finito de elementos que permitem a produção de um conjunto infinito de
enunciados, ou seja, a possibilidade de elaboração de enunciados em um idioma é infinita, já
que, em princípio, toda língua é essencialmente variável. As línguas são organismos complexos
em contante processo de evolução; elas se diversificam ao longo do tempo. Nenhuma gramática
é capaz de descrever e analisar todas as possibilidade de produção de sentenças de uma língua.
Partindo desses princípios, esclarecemos que os resultados da Análise Contrastiva que
realizamos nesta tese têm um caráter flexível, porque não analisamos — isso não seria possível
— todas as possibilidades de apresentação dos tipos de orações coordenadas e subordinadas das
línguas italiana e portuguesa. Assim, se apontamos, por exemplo, três tipos de orações do
português como correspondentes de um tipo de oração do italiano, essa conclusão só pode ser
considerada “fechada” no contexto do corpus que analisamos para chegarmos a ela. Se
continuássemos analisando sentenças com o mesmo tipo específico de oração italiana, é possível
que o leque de correspondência se ampliasse.
Assim, termos realizado, nesta tese, um estudo de Análise Contrastiva das orações
coordenadas e subordinadas da língua italiana e do português do Brasil contribuiu
significativamente para o nosso aprimoramento enquanto professora-pesquisadora. Acreditamos
termos respondido satisfatoriamente às questões levantadas, porém, durante o referido estudo,
salientamos que outras questões surgiram. Continuaremos buscando respostas para essas e
quaisquer outras que surgirem durante estudos que realizarmos ou na nossa prática pedagógica,
uma vez que, como docente de língua italiana e de língua portuguesa, temos o compromisso de
buscar o aperfeiçoamento contínuo, através sobretudo da pesquisa linguística e didática.
304
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