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Genéticas, Neoplásicas e do
Desenvolvimento
Ashley G. Riverbark e William B. Coleman
INTRODUÇÃO
Ao longo dos séculos, médicos e cientistas têm estudado as tipo de lesão (p. ex., determinada forma de câncer) irão
doenças humanas por meio da descrição de lesões anormais influenciar o comportamento clínico dessa lesão e sua resposta
(patologia) e seus efeitos adversos nos pacientes (fisiopatologia), à terapia. Portanto, um grande esforço tem sido feito para
procurando identificar os fatores de risco (suscetibilidade) caracterizar as bases genéticas de várias doenças humanas
e as causas (agentes etiológicos) e buscando uma maior (patologia molecular), levando a uma melhor compreensão das
compreensão de como surgem as doenças (patogênese). contribuições das alterações genômicas para o desenvolvimento
Com o progresso nessas direções, algumas doenças humanas e a progressão de doenças. A patologia molecular representa
atualmente são bem compreendidas na perspectiva dos a aplicação dos princípios da biologia molecular básica à
fatores de risco e causais, tendo sido desenvolvidas estratégias investigação dos processos de doenças humanas. Nossas
de prevenção e/ou tratamento. Para muitas outras doenças percepções, sempre crescentes, sobre as bases moleculares
humanas, a investigação dos elementos fundamentais da da doença fornecem oportunidades para o desenvolvimento
patogênese molecular e celular representa um esforço contínuo. de abordagens novas e inovadoras para o diagnóstico, a
No entanto, nas últimas décadas, o campo da patologia evoluiu classificação e a avaliação prognóstica das doenças humanas
no reconhecimento de que as doenças podem se manifestar, e para a expansão de tratamentos direcionados a alvos ou vias
em muitos casos, como um reflexo direto de mudanças nos moleculares específicas. Neste capítulo, fornecemos uma visão
padrões da expressão gênica e, muitas vezes, envolvendo geral do papel das alterações genômicas nas doenças genéticas,
alterações no próprio genoma. Há também o reconhecimento neoplásicas e do desenvolvimento, com ênfase especial no papel
de que os padrões de expressão gênica em determinado das mutações e epimutações na patogênese dessas doenças.
O GENOMA HUMANO mas não se sabia se esse DNA carregava a informação genética
ou se servia meramente como um arcabouço para alguma classe
o Dna é a Fonte de informação de proteínas desconhecidas que carregavam a informação gené-
tica. Entretanto, a demonstração de que as características ge-
Genética néticas podiam ser transmitidas pelo DNA formou a base para
Entre os blocos construtores essenciais das células vivas que fo- numerosas investigações centradas na elucidação da natureza
ram identificados e caracterizados por químicos e pelos primei- do código genético. Nos últimos 65 anos, numerosos investiga-
ros bioquímicos estão os ácidos nucleicos – polímeros de cadeia dores participaram da revolução científica que conduziu à bio-
longa compostos de nucleotídeos. Os ácidos nucleicos foram logia molecular moderna. Apresentaram significado especial a
denominados com base parcialmente em suas propriedades elucidação da estrutura do DNA, a determinação das relações
químicas e parcialmente na observação de que eles represen- estrutura-função entre o DNA e o RNA e a aquisição de percep-
tam um constituinte importante do núcleo celular. A percep- ções básicas dos processos de replicação do DNA, transcrição
ção fundamental de que os ácidos nucleicos formam as bases do RNA e síntese proteica.
químicas para a transmissão das características genéticas não
ocorreu até cerca de 65 anos atrás. Antes desse período, havia
considerável discordância entre os cientistas se a informação o Dogma Central da Biologia molecular
genética estava contida e era transmitida por proteínas ou áci- A biologia molecular desenvolveu-se em um amplo campo de
dos nucleicos. Constatou-se que os cromossomos continham o busca científica e, ao mesmo tempo, representou um compo-
ácido desoxirribonucleico (DNA) como constituinte principal, nente básico da maioria das outras ciências de pesquisas básicas.
2 Capítulo 1
Esse fato aconteceu pela rápida expansão de nossos conheci- Numerosos mecanismos de reparo do DNA são expressos em
mentos sobre numerosos aspectos básicos da biologia mole- células eucarióticas para garantir a integridade da estrutura
cular e pelo desenvolvimento de uma compreensão das intera- primária do DNA (a sequência do DNA). Esses mecanismos
ções fundamentais entre os diversos processos principais que funcionam em conjunto com os processos de replicação (para
abrangem o campo maior de investigação. Uma teoria, referi- proteção contra erros de replicação) e transcrição (para pro-
da como dogma central, descreve as inter-relações entre esses teção de regiões expressas no genoma). As principais vias de
processos principais. O dogma central define o paradigma da reparo do DNA para danos na sequência primária do DNA in-
biologia molecular de que a informação genética se perpetua cluem o reparo de pareamentos errados, o reparo de excisão de
como sequências de ácidos nucleicos e que os genes funcionam nucleotídeos e os mecanismos diretos de reversão química. As
por sua expressão na forma de moléculas de proteínas. Molé- células eucarióticas também apresentam vias de reparo do DNA
culas individuais de DNA funcionam como moldes para fitas que podem corrigir quebras na fita e outros danos no nível cro-
complementares de DNA durante o processo de replicação mossômico. A regulação da transcrição da expressão gênica é
ou moléculas complementares de RNA durante o processo de realizada por interações equilibradas de fatores de transcrição
transcrição. Por sua vez, as moléculas de RNA funcionam como de ativação específica e inibidores de repressão da expressão gê-
moldes para a ordenação de aminoácidos por ribossomos du- nica. Além disso, o controle de transcrição da expressão gênica
rante a síntese proteica ou tradução. Essa simples representa- é muito influenciado pelos fatores epigenéticos, incluindo a me-
ção de interações e inter-relações complexas entre DNA, RNA tilação da sequência do DNA e o remodelamento da cromatina
e proteínas (Figura 1-1A) foi proposta e normalmente aceita secundário à modificação de proteínas histonas. A regulação
logo após a descoberta da estrutura do DNA. No entanto, esse pós-transcrição da expressão gênica é influenciada por micro
paradigma ainda se sustenta mais de 50 anos depois e continua RNAs (miRNAs) que direcionam a degradação de RNAs men-
a representar um princípio norteador para os biólogos mole- sageiros (mRNAs) específicos. As proteínas codificadas por ge-
culares envolvidos em todas as áreas de pesquisa de biologia nes estruturais muitas vezes são modificadas na pós-tradução
básica, biomedicina e genética. por glicosilação, fosforilação, acetilação, metilação ou clivagem
Com os avanços de nossa compreensão dos fundamentos enzimática, resultando em um polipeptídeo com funções novas
moleculares da célula eucariótica, o conceito de dogma central ou modificadas. Esse novo conceito de dogma central descreve
permanece em grande parte o mesmo. Porém, agora reconhe- com maior precisão o número e a complexidade das funções
cemos a importância da manutenção da integridade genômica celulares que incidem no genoma e sua expressão (Figura 1-1B).
por meio de mecanismos de reparo do DNA, múltiplos meca-
nismos e níveis de regulação da expressão gênica (nos níveis de
transcrição e pós-transcrição) e modificação da funcionalida- Estrutura e Organização do Genoma
de das proteínas pela modificação pós-tradução (Figura 1-1B). Humano
Natureza Química do DNA
Replicação
O DNA é uma molécula polimérica composta de subunidades
Transcrição Tradução repetidas de nucleotídeos. A ordem das subunidades de nucle-
DNA RNA Proteína otídeos contidas na sequência linear ou na estrutura primária
desses polímeros representa toda a informação genética de uma
A
célula. Cada nucleotídeo é composto de (1) um grupo fosfato,
Reparo de DNA (2) um açúcar pentose (5 carbonos) e (3) um nitrogênio cíclico
Modificação
Replicação Metilação de DNA microRNA que contém um composto chamado de base. No DNA, o radical
pós-tradução
açúcar é o 2-desoxirribose. O DNA eucariótico é composto de
Transcrição Tradução quatro bases diferentes: adenina, guanina, timina e citosina (Fi-
DNA RNA Proteína
gura 1-2A). Essas bases são classificadas de acordo com suas es-
Modificação de histonas
truturas químicas em dois grupos: adenina e guanina são estru-
turas em anel duplo denominadas purinas, e timina e citosina
B Dano ao DNA são estruturas em anel simples denominadas pirimidinas (Fi-
gura 1-2A). Na composição geral do DNA, a concentração de
Figura 1-1 O dogma central. (A) O dogma central da biologia
timina é sempre igual à de adenina, e a concentração de citosina
molecular como originalmente descrito por Crick. Este esquema ilustra
o fluxo de informação genética do DNA para o RNA e, a seguir, para a é sempre igual à de guanina. Assim, a concentração total de
proteína, ilustrando também como o DNA funciona como seu próprio pirimidinas é sempre igual à concentração total de purinas. A
molde na replicação. (B) O novo dogma central reflete avanços em nos- relação constante entre purinas e pirimidinas no DNA, e, mais
sa compreensão dos processos moleculares que ocorrem em células especificamente, a mesma concentração de adenina/timina e
normais. Esses processos incluem a regulação epigenética da expressão guanosina/citosina, é conhecida como regra de Chargaff. As
gênica por metilação do DNA e modificação de histonas, a regulação observações de Chargaff relacionadas à composição de purina/
pós-transcrição da expressão gênica por microRNAs e a modificação da
funcionalidade proteica por modificação pós-tradução (que pode in-
pirimidina do DNA foram validadas quando foi reconhecido
cluir glicosilação, ubiquitinação, fosforilação ou outros processos). Esse que adenina/timina (A:T) e guanosina/citosina (G:C) são espe-
novo dogma central também enfatiza a importância dos processos de cificamente ligações de hidrogênio na estrutura do DNA. Os
reparo do DNA na manutenção da integridade do genoma. pares de adenina-timina são ligados na estrutura do DNA por
Doenças e o Genoma: Doenças Genéticas, Neoplásicas e do Desenvolvimento 3
NH2 O NH2 O
N CH3
N
N N N N
N N N N N N
NH2 O O
HOCH2 O HOCH2 O HOCH2 O HOCH2 O
OH OH OH OH
A 2′-desoxiadenosina 2′-desoxiguanosina 2′-desoxicitosina 2′-desoxitimosina
FIGURA 1-2 Blocos de construção do DNA. (A) Estrutura química dos desoxirribonucleosídeos da purina (2‘-desoxiadenosina e 2‘-desoxigua-
nosina) e da pirimidina (2‘-desoxicitosina e 2‘-desoxitimosina). (B) Estrutura química de subunidades de repetição de nucleotídeos no DNA. As áreas
sombreadas destacam uma ligação 3‘,5‘-fosfodiéster.
ligações duplas de hidrogênio, e os pares de guanosina-citosina de hidrogênio. A especificidade das interações moleculares, no
são ligados por ligações triplas de hidrogênio. A extensa liga- interior da molécula de DNA, permite a previsão da sequência
ção de hidrogênio entre as fitas de DNA na estrutura de dupla- de nucleotídeos em uma fita de polinucleotídeo, se a sequência
-hélice da molécula confere grande estabilidade em condições de nucleotídeos da fita complementar for conhecida. Embora
fisiológicas. As unidades de nucleotídeos monoméricos são as próprias ligações de hidrogênio sejam relativamente fracas,
ligadas entre si na estrutura polimérica do DNA por ligações o número dessas ligações no interior de uma molécula de DNA
3ʹ,5ʹ-fosfodiéster (Figura 1-2B). Os DNAs naturais apresentam resulta em uma molécula muito estável que não se separa de
ampla variação de tamanho, dependendo de sua fonte. Os pesos modo espontâneo em condições fisiológicas. Há muitas possi-
moleculares relativos variam de 1,6 × 106 dáltons para DNA de bilidades de ligações de hidrogênio entre pares de bases hetero-
bacteriófago a 1 × 1011 dáltons para um cromossomo humano. cíclicas. As mais importantes são os pares de bases com ligações
de hidrogênio A:T e G:C que foram propostos por Watson e
Estrutura do DNA Crick em seu DNA com estrutura de dupla-hélice. Entretanto,
A estrutura do DNA é uma dupla-hélice, composta de duas fitas outras formas de pareamento de bases foram descritas. Além
de polinucleotídeos que são enroladas entre si em uma espiral. disso, interações hidrofóbicas entre as bases empilhadas na
Cada fita de polinucleotídeo é fixada à outra por ligações fosfo- dupla-hélice conferem uma estabilidade adicional à molécula
diéster ligando metades das desoxirriboses adjacentes (Figura de DNA. Existem três formas reconhecidas de hélices de DNA:
1-2B). As duas fitas são fixas entre si por várias interações não A, B e Z. A conformação B é a forma dominante em condições
covalentes, incluindo interações lipofílicas entre bases adjacen- fisiológicas. No DNA B, os pares de bases têm uma distância de
tes e ligações de hidrogênio entre as bases de fitas opostas. Os 0,34 nm entre eles, com 10 pares de bases por volta da dupla-
esqueletos de açúcar-fosfato de duas fitas complementares são -hélice voltada para a direita, e um diâmetro de cerca de 2 nm.
antiparalelos – isto é, eles possuem polaridade química opos- Como o DNA B, a conformação A também é uma hélice volta-
ta. Movendo-se ao longo da dupla-hélice de DNA em uma di- da para a direita. Entretanto, o DNA A apresenta um diâmetro
reção, as pontes de fosfodiéster em uma fita são orientadas de maior (2,6 nm), com 11 bases por volta da hélice, e as bases
5ʹ-3ʹ, enquanto são orientadas de 3ʹ-5ʹ na fita complementar. são empilhadas com menor distância entre elas (0,25 nm). Um
Essa configuração resulta em pares de bases sendo empilhados exame criterioso dos modelos de preenchimento do espaço das
entre as duas cadeias perpendiculares ao eixo da molécula. Os conformações A e B do DNA revela a presença de um sulco
pares de bases são sempre específicos: adenina é sempre parea maior e um sulco menor. Esses sulcos (em particular, o sulco
da com timina, e guanina é sempre pareada com citosina. Essa menor) contêm moléculas de água que interagem favoravel-
especificidade resulta das capacidades das ligações de hidro- mente com os grupos amino e os cetogrupos das bases. Nesses
gênio das próprias bases. Adenina e timina formam duas liga- sulcos, as proteínas de ligação do DNA podem interagir com
ções de hidrogênio, e guanina e citosina formam três ligações sequências específicas do DNA, sem destruir o pareamento de
4 Capítulo 1
base da molécula. Em contrapartida às conformações A e B do um grande número de moléculas de proteínas, que estão envol-
DNA, o DNA Z é uma hélice voltada para a esquerda. Ele pos- vidas na manutenção da estrutura do cromossomo e na regula-
sui um sulco menor, mas não possui um sulco maior, e o sulco ção da expressão gênica. O DNA genômico contém sequências
menor é profundo o suficiente para atingir o eixo da hélice do tanto codificadoras quanto não codificadoras. Sequências não
DNA. A ocorrência natural e o potencial significado fisiológi- codificadoras contêm informação que não leva à síntese de uma
co do DNA Z nas células vivas têm sido objeto de muita es- molécula de RNA ativo ou proteínas. Isso não significa que o
peculação, mas têm obtido reconhecimento atualmente. Foram DNA não codificador não apresente qualquer função no geno-
descritas estruturas adicionais de DNA não B, e algumas delas ma. Ao contrário, foi sugerido que sequências de DNA não co-
podem contribuir para a base genética de doenças humanas. dificadoras atuam no empacotamento do DNA, na estrutura do
cromossomo, na organização da cromatina no interior do nú-
Sequências do Genoma Humano cleo e/ou na regulação da expressão gênica. Uma fração das se-
O genoma diploide de uma típica célula humana contém cerca quências não codificadoras representa sequências intervenien-
de 3 × 109 pares de bases de DNA, que são subdivididos em 23 tes que separam as regiões codificadoras dos genes estruturais.
pares de cromossomos (22 autossômicos e os cromossomos se- Entretanto, a maior parte do DNA não codificador é classificada
xuais X e Y). Por muitos anos foi sugerido que o conhecimento em várias famílias de DNA repetitivas cujas funções exatas não
do sequenciamento completo do genoma humano permitiria a foram inteiramente elucidadas. As sequências de DNA codifi-
investigação das causas genéticas e de suas contribuições para cadoras originam todos os RNAs transcritos da célula, incluin-
as doenças humanas. Entretanto, as técnicas iniciais de biologia do os mRNAs que codificam as proteínas. A organização dos
molecular e as abordagens para clonagem e sequenciamento genes estruturais transcritos consiste em regiões codificadoras
do DNA eram lentas e muito trabalhosas. Não obstante, em que são interrompidas por regiões de DNA não codificadoras
meados da década de 1970, surgiram métodos práticos para intervenientes. Assim, os transcritos primários de RNA contêm
sequenciamento do DNA e começaram a surgir numerosos sequências tanto codificadoras quanto não codificadoras, e as
relatos de sequências do DNA correspondendo a segmentos sequências não codificadoras devem ser removidas do transcrito
do genoma humano. Em meados da década de 1980, foi pro- de RNA primário durante o processamento para produzir uma
posto um projeto para o sequenciamento completo do genoma molécula de mRNA funcional adequada para tradução.
humano, que se iniciou nos últimos anos daquela década. O
desenvolvimento de métodos automatizados para o sequencia-
mento do DNA tornou possível as ambiciosas metas do Pro- Função do DNA
jeto Genoma Humano. Subsequentemente, surgiram mapas O DNA apresenta duas funções essências em relação à home-
genéticos e físicos detalhados do genoma humano, sequências ostase celular: (1) armazenamento de informação genética e (2)
expressas foram identificadas e caracterizadas, e foram cons- transmissão da informação genética. A molécula de DNA fun-
truídos os mapas de genes do genoma humano. Os esforços de ciona como um modelo para realizar cada uma dessas funções
vários consórcios utilizando diferentes abordagens para o se- gerais. Durante a divisão celular, o DNA funciona como um
quenciamento em larga escala do DNA humano e a montagem modelo para a replicação fiel da informação genética, que é, em
de sequências contig culminaram em 2001 com a publicação de última análise, passada para as células-filhas; do mesmo modo,
um projeto para o sequenciamento do genoma humano. Mui- a molécula de DNA serve como modelo para a restauração da
tos anos mais tarde, foi lançada uma sequência mais completa sequência normal de DNA durante os processos de reparo do
do genoma humano. Atualmente, acredita-se que o genoma DNA. Durante operações celulares normais, o DNA serve como
humano contenha cerca de 21.000 genes diferentes codificado- modelo para a transcrição do RNA. As moléculas transcritas de
res de proteínas. A análise das sequências do genoma humano RNA podem funcionar diretamente (como no caso dos RNAs
revelou considerável variabilidade entre indivíduos, incluindo ribossomais [rRNAs] e RNAs transportadores [tRNAs]), po-
em excesso de 1,1 a 1,4 milhão de polimorfismos de nucleo- dem funcionar após processamento (como no caso dos miR-
tídeo único (SNPs, de single-nucleotide polymorphisms) dis- NAs), ou podem funcionar como modelo para a síntese de pro-
tribuídos através do genoma. O refinamento da sequência do teínas celulares (como no caso dos mRNAs).
genoma humano, a identificação e a caracterização dos genes
contidos e a descrição das características do genoma (SNPs e Replicação de DNA
outras variações) continuam em ritmo acelerado (www.geno-
A descoberta da estrutura em fita dupla do DNA levou rapida-
me.gov). São imensas as implicações para o conhecimento do
mente à sugestão de que a replicação do DNA seria realizada
genoma humano, no contexto da compreensão do impacto dos
de uma maneira semiconservativa. Na replicação semiconser-
fatores genéticos nas doenças humanas.
vativa do DNA, cada fita da hélice de DNA serve de modelo
para a síntese da fita complementar. O resultado é a formação
Organização do Genoma Humano de duas cópias completas da molécula de DNA, cada uma con-
O DNA genômico humano é acondicionado em unidades estru- sistindo em uma fita da molécula de DNA parental e outra fita
turais distintas, que variam em tamanho e composição genética. recentemente sintetizada. A utilização de fitas de DNA como
A unidade estrutural do DNA é o cromossomo, que é um grande modelos para a síntese de fitas complementares de DNA garan-
segmento contínuo de DNA. Um cromossomo representa uma te a reprodução fiel do material genético para transmissão às
única molécula de DNA, geneticamente específica, à qual se liga células-filhas.
Doenças e o Genoma: Doenças Genéticas, Neoplásicas e do Desenvolvimento 5
marcam cromossomos individuais com uma coloração distinta, purina). Mutações pontuais de transversão incluem a troca de A
permitindo uma numeração rápida e direta dos cromossomos e por T, A por C, G por C, G por T, T por A, T por G, C por A e
a identificação dos rearranjos estruturais. C por G. as mutações nonsense diferem das mutações missense
A principal consequência da deleção cromossômica é a perda pelo fato de envolverem substituições de bases dos nucleotídeos
de genes específicos que estão localizados na região cromossô- que modificam um códon triplo, que normalmente codifica um
mica deletada, resultando em alterações no número de cópias aminoácido em um códon de parada da tradução. Isso resulta
dos genes afetados. Por exemplo, a deleção de certas classes de na interrupção prematura da tradução e na produção de uma
genes, incluindo genes supressores de tumores ou genes codifi- proteína truncada. Em alguns casos, a proteína truncada que re-
cadores de proteínas envolvidas no reparo do DNA, leva à pre- sulta de uma mutação missense não apresenta funcionalidade e
disposição das células afetadas à transformação neoplásica. Do é rapidamente degradada. Em outros casos, a proteína truncada
mesmo modo, a amplificação de regiões cromossômicas resulta pode reter alguma função ou pode ganhar nova funcionalidade
em um aumento no número de genes copiados, o que pode levar (como liberação dos mecanismos reguladores normais).
à mesma circunstância se a região afetada contiver genes para Pequenas deleções e inserções em geral originam mutações
proto-oncogenes dominantes ou outros mediadores positivos de de mudança de fase, pois a deleção ou a inserção de um único
progressão e proliferação do ciclo celular. O resultado direto da nucleotídeo (por exemplo) altera o quadro de leitura do gene no
translocação cromossômica é o movimento de algum segmento lado 3ʹ do sítio afetado. Isso resulta na síntese de um polipep-
de DNA de sua localização natural para uma nova localização tídeo que não se assemelha ao produto normal do gene. Além
no genoma, o que pode resultar na expressão alterada dos genes disso, pequenas inserções ou deleções podem resultar no térmi-
que estão contidos na região translocada. Se os pontos de que- no prematuro da tradução em função da presença de um códon
bra cromossômicos utilizados em uma translocação estiverem de parada na nova fase de leitura do gene que sofreu mutação.
localizados no interior de genes estruturais, então novos genes Deleções ou inserções que ocorrem envolvendo múltiplos de
híbridos podem ser gerados. Do mesmo modo, algum rearran- três nucleotídeos não resultarão em mutação de mudança de
jo cromossômico provoca a perda de genes estruturais devido fase, mas irão alterar o polipeptídeo resultante produzido pelo
à presença de um ponto de quebra no interior do próprio gene.
gene, o qual irá apresentar a perda de aminoácidos específicos
ou a presença de aminoácidos adicionais em sua estrutura pri-
Alterações das Sequências de Nucleotídeos
mária. Esses tipos de alteração também podem levar a uma per-
As formas mais comuns de mutação envolvem alterações de um da de função da proteína.
único nucleotídeo, pequenas deleções ou pequenas inserções
em sequências gênicas específicas. Ao contrário das alterações
cromossômicas, essas alterações moleculares no genoma po- Mutações Somáticas versus Mutações na
dem ser detectadas apenas pelo sequenciamento do DNA ou Linhagem Germinativa
por outras análises moleculares sensíveis que empregam pri- Todo o DNA celular está sujeito à mutação por mecanismos
mers de reação em cadeia da polimerase (PCR, de polymerase espontâneos ou em resposta a agentes mutagênicos. Quando
chain reaction) específicos de sequência. eventos mutacionais ou de dano ao DNA afetam o DNA de uma
Alterações de um único nucleotídeo que envolvam uma célula somática, as mutações resultantes são denominadas muta-
mudança na sequência codificadora normal do gene são deno- ções somáticas. As células somáticas representam as células que
minadas mutações pontuais. A consequência da maioria das compõem todos os tecidos no organismo, além da linhagem ger-
mutações pontuais é uma alteração na sequência de aminoá- minativa. As mutações somáticas foram associadas a diversos ti-
cidos da proteína modificada. Entretanto, algumas mutações pos de doenças, em particular aquelas que são caracterizadas por
pontuais são silenciosas e não afetam a estrutura do produto do proliferação clonal de células alteradas (como no caso do câncer).
gene. Mutações silenciosas (também conhecidas como mutações Algumas mutações somáticas ocorrem durante o desenvolvimen-
sinônimas) são possíveis porque a maioria dos aminoácidos é to, resultando em tipos específicos de anomalias do desenvolvi-
codificada por mais de um códon triplo. Elas representam um mento localizadas. As mutações somáticas não são herdáveis. Em
mecanismo para a introdução de variabilidade genética, mas não contrapartida, eventos mutacionais e dano ao DNA que afetem o
apresentam consequências funcionais. As mutações pontuais DNA das células da linhagem germinativa produzem mutações
restantes caem em duas classes: (1) mutações missense e (2) mu- que são denominadas mutações na linhagem germinativa. Essa
tações nonsense. As mutações missense envolvem substituições distinção é biológica e clinicamente significativa. As células da
de bases de nucleotídeos que alteram a tradução do códon triplo linhagem germinativa são responsáveis pela origem dos oócitos
afetado, mas frequentemente com uma alteração não conser- (na mulher) e espermatócitos (no homem). Portanto, a transmis-
vadora de aminoácidos. Elas costumam ser classificadas como são de uma mutação na linhagem germinativa introduz uma al-
transições com base na natureza do nucleotídeo trocado na se- teração na sequência de nucleotídeos no ovo fertilizado. Se esse
quência do DNA. Uma transição é a substituição de um nucleo- ovo produzir um organismo viável, a mutação será encontrada
tídeo por outro nucleotídeo do mesmo tipo químico (i.e., purina em cada célula do organismo. Mutações nas células germinativas
por purina ou pirimidina por pirimidina). Mutações pontuais são responsáveis por várias doenças genéticas, que podem se ma-
de transição incluem a troca de A por G, G por A, C por T e T nifestar como doenças sistêmicas ou específicas de um órgão (ór-
por C. Em contrapartida, uma transversão é a substituição de gão único ou multiórgãos). Além disso, a mutação na linhagem
um nucleotídeo de um tipo químico por um nucleotídeo de ou- germinativa é encontrada na linhagem germinativa do indivíduo
tro tipo químico (i.e., purina por pirimidina ou pirimidina por afetado, ou seja, sua prole também herdará a mutação.
Doenças e o Genoma: Doenças Genéticas, Neoplásicas e do Desenvolvimento 7
ESR1
MYB
CST6
Figura 1-3 Genes contendo ilhas CpG. As distribuições dos dinucleotídeos CpG proximais ao sítio de início da transcrição no promotor e
éxon 1 (seta preta) do receptor de estrogênio 1 (ESR1, de estrogen receptor 1), do oncogene viral da mieloblastose (MYB, de myeloblastosis) e da cistati-
na (CST6) são representadas esquematicamente (linhas verticais indicam a posição relativa de dinucleotídeos CpG individuais). Ilhas são encontradas
em todos os genes representativos. A ilha CpG é encontrada no éxon 1 do ESR1. Em MYB e CST6, a ilha CpG está localizada no promotor proximal e
éxon 1, abrangendo o sítio de início da transcrição.
8 Capítulo 1
P A A A A A P
M Ub
M
M Ub
Ub
A A P A A A P P
M M
K5 K12 K14 K15 K20 K27 K28 K32 K36 H2B K120
A A M M A
A
P P P A A A P
M M M M M M M
K56
R2 T3 K4 R8 K9 S10 S11 K14 R17 K18 K23 K27 K28 K36 H3
M
K79
M
A
A A A A A P
M M
FIGURA 1-6 O código de histonas. Esse esquema representa as principais modificações de histonas incluindo fosforilação (P), acetilação (A),
metilação (M) e ubiquitinação (Ub) das 4 histonas centrais (H2A, H2B, H3, H4) em células normais. A maioria das modificações conhecidas de histonas
ocorre nas caudas N-terminais de histonas (mostradas à esquerda dos grandes círculos coloridos) com poucas exceções.
10 Capítulo 1
Distúrbios de um Único Gene ou no óvulo antes da fertilização. Desse modo, o filho afetado
carrega o gene mutante em sua linhagem germinativa e pode
Distúrbios de único gene envolvem a mutação de um gene que
passar a mutação para sua prole. Os irmãos de indivíduos com
é responsável pelo fenótipo observado no indivíduo afetado.
mutações fundadoras não são afetados e não apresentam um
Esses distúrbios em geral acompanham um dos três padrões
risco maior de desenvolvimento da doença.
de herança: (1) autossômico dominante, (2) autossômico re-
A expressão da doença refletida nas características clínicas
cessivo ou (3) ligado ao X. A frequência de distúrbios mono-
entre indivíduos afetados por distúrbios autossômicos domi-
gênicos entre a população geral é de cerca de 10 em 1.000 nas-
nantes pode variar em função da penetrância reduzida e da
cidos vivos.
expressividade variável. Do mesmo modo, a idade do início
da doença pode variar, indo da primeira infância à fase adulta
Distúrbios Autossômicos Dominantes tardia. Alguns indivíduos que herdam um gene mutante serão
Distúrbios autossômicos dominantes são aqueles em que a pre- fenotipicamente normais (sem evidência da doença). Isso refle-
sença de uma única cópia de um gene mutante (alelo) resulta em te uma penetrância incompleta da doença associada à mutação.
doença. Desse modo, tanto indivíduos homozigotos quanto he- A penetrância é uma medida de quão frequentemente os pa-
terozigotos expressam o fenótipo da doença, homens e mulhe- cientes com um alelo mutante expressam a doença associada
res são igualmente afetados, e qualquer indivíduo afetado pode à mutação. Dessa forma, uma mutação que apresente 100% de
transmitir a condição para seus descendentes. Na maioria dos penetrância irá produzir doença em todo indivíduo portador
casos, os indivíduos afetados por um desses distúrbios apresen- da mutação. Em contrapartida, uma mutação que apresente
tam pelo menos um dos pais que também é afetado. O padrão 50% de penetrância irá produzir doença em apenas 50% dos
autossômico dominante de herança é caracterizado pela trans- portadores da mutação. A expressividade variável refere-se à
missão vertical da doença de uma geração para outra, expres- observação de que, em um grupo de indivíduos com uma do-
são igual entre homens e mulheres, ausência de filhos afetados ença associada à mutação, a manifestação da doença pode ser
a partir de pais não afetados, chance de 50% de filhos afetados a diferente (diferenças na gravidade, no fenótipo da doença).
partir de pais afetados, e a maioria dos indivíduos afetados Os mecanismos responsáveis pela penetrância reduzida e pela
apresenta um dos pais afetado (Figura 1-7A). Indivíduos com expressividade variável não são bem conhecidos. Entretanto,
distúrbio autossômico dominante, mas sem um dos pais afeta- acredita-se que os efeitos de outros genes ou fatores ambien-
do, em geral apresentam uma mutação fundadora no gene da tais possam influenciar a expressão das mutações causadoras
doença. Mutações fundadoras não são encontradas nas linha- de doenças. Diferenças na idade de início da doença refletem
gens germinativas dos pais, mas ocorrem no espermatozoide a observação de que algumas doenças associadas a mutações
se desenvolvem no início da vida e outras se desenvolvem em
adultos ou mais tarde na vida. Esse fenômeno provavelmente
está relacionado ao contexto fisiológico e de desenvolvimento
em que os genes causadores de doença se expressam.
Distúrbios autossômicos dominantes afetam vários sis-
temas, incluindo o sistema nervoso (doença de Huntington,
neurofibromatose, distrofia miotônica, esclerose tuberosa), o
A sistema urinário (doença do rim policístico), o sistema gastrin-
testinal (polipose colônica familiar), o sistema hematopoiético
(doença de von Willebrand) e o sistema esquelético (síndrome
de Marfan, osteogênese imperfeita, acondroplasia e outras).
Além disso, alguns distúrbios autossômicos dominantes repre-
sentam doenças metabólicas (tais como hipercolesterolemia fa-
miliar). Essa lista de exemplos procura ser representativa, mas
não completa.
A doença de Alzheimer é o distúrbio neurodegenerativo de- representam defeitos estruturais que estão presentes no nasci-
pendente de idade mais comum e está ligada à história familiar. mento, embora algumas só se apresentem mais tarde no desen-
As vias patológicas dessa doença incluem o processamento aber- volvimento. Por exemplo, anomalias cardíacas e renais podem
rante da proteína precursora amiloide (APP, de amyloid precursor não se apresentar por vários anos após o nascimento.
protein), o precursor Aβ e a hiperfosforilação de Tau. O gene APP
é constitutivamente metilado em condições normais e se torna Formas Principais de Doenças do
hipometilado com a idade. A doença de Alzheimer foi mais re-
centemente associada a perfis modificados de acetilação de histo-
Desenvolvimento
nas, bem como a níveis elevados da histona H3 fosforilada. Por- As doenças do desenvolvimento refletem principalmente erros
tanto, parece provável que mecanismos epigenéticos sejam um na morfogênese. Essas doenças incluem (1) malformações, (2)
marcador da doença e disparem cascatas de sinalização ligadas a disrupções e (3) deformações. Além disso, anomalias secundá-
vários mecanismos patológicos na doença de Alzheimer. rias podem resultar de manifestações primárias de doenças do
A doença de Parkinson afeta 1 a 2% da população com idade desenvolvimento. Algumas delas são anomalias de sequência e
acima de 65 anos e 4% com idade superior a 85 anos. Uma his- outras são consideradas síndromes de malformação.
tória familiar dessa doença ocorre em cerca de 20% dos casos, Malformações são a manifestação de anomalias intrínsecas
e estudos de famílias com doença de Parkinson identificaram de processos de desenvolvimento. Portanto, elas representam
15 loci (PARK1-15) ligados à doença. Há alguma evidência de erros primários de morfogênese. As malformações normal-
que 5 desses genes (α-sinucleína, parkin, PTEN, DJ-1 e quinase mente são o resultado de múltiplos fatores em vez de um defeito
2 rica em repetições de leucina) provocam doença de Parkinson em um único gene ou anomalia cromossômica isolada. Em al-
típica, e mutações no ATP13A2 provocam uma forma autos- guns casos, elas estão restritas a um único órgão de um sistema
sômica recessiva dessa doença (doença de Kufor-Rakeb). Dois (como o coração), e, em outros, vários sistemas de órgãos po-
desses genes (α-sinucleína e quinase 2 rica em repetições de leu- dem estar envolvidos. Além disso, as malformações variam em
cina) provocam formas autossômicas da doença de Parkinson, gravidade. Algumas são cosméticas e outras provocam conse-
em que parkin, PTEN, DJ-1 e ATP13A2 são herdados de modo quências funcionais que podem ser toleradas, enquanto outras
autossômico recessivo. Vários estudos demonstraram que a são fatais. Exemplos de malformações menos graves incluem a
α-sinucleína apresenta regulação errônea na doença de Parkin- polidactilia (a presença de dedos extras) e a sindactilia (fusão
son em função de padrões aberrantes de metilação do DNA. de vários dedos). Malformações de consequência funcional in-
Entretanto, nenhuma diferença na porcentagem de metilação cluem a fenda labial, que requer correção cirúrgica, mas que
do DNA entre pacientes com doença de Parkinson e indivíduos pode ser tolerada. Malformações mais graves incluem aquelas
normais foi observada para qualquer outro dos genes associa- que afetam a formação adequada do cérebro e do sistema ner-
dos à doença. A α-sinucleína interage com histonas e inibe a voso, que em geral resultam em natimorto.
acetilação de histonas, e foi demonstrado que os HDACis apre- As disrupções resultam de processos destrutivos secundá-
sentam um papel neuroprotetor contra a toxicidade associada à rios, agindo sobre um tecido ou uma região corporal que apre-
regulação aberrante da α-sinucleína. sentava previamente desenvolvimento normal. Portanto, elas
A síndrome do X frágil é um distúrbio ligado ao X e a forma surgem de distúrbios extrínsecos da morfogênese. Foi sugerido
hereditária mais comum de retardo mental. Essa síndrome afeta que muitos agentes ambientais seriam responsáveis por essas
cerca de 1 em 4.000 homens e 1 em 6.000 mulheres, e cerca de disrupções. Dada a natureza dessa forma de anomalia congê-
1 em 100 a 250 mulheres na população geral é portadora de X nita, as disrupções não são hereditárias. As bandas amnióticas
frágil. O X frágil é causado por uma expansão da repetição do representam um exemplo de uma disrupção. Essas bandas se
trinucleotídeo CGG na região 5ʹ não traduzida do gene do sí- referem à ruptura do âmnio que resulta na formação de uma
tio frágil sensível ao folato (FMR1). O FMR1 está envolvido na banda que envolve, comprime ou se prende a partes do feto em
regulação da tradução nas sinapses e no transporte do mRNA. desenvolvimento.
Normalmente, estão presentes 6 a 52 cópias da repetição do tri- As deformações são semelhantes às disrupções pelo fato de
nucleotídeo CGG. Entretanto, pacientes com a síndrome do X representarem o resultado de um distúrbio extrínseco do de-
frágil em geral apresentam > 200 repetições. Indivíduos afeta- senvolvimento, e não um erro intrínseco da morfogênese. Elas
dos apresentam hipermetilação do DNA da região de repetição são muito comuns, afetando cerca de 2% dos nascidos vivos. A
levando ao silenciamento do FMR1. Inibidores de DNMT fo- patogênese das deformações envolve a compressão localizada
ram bem-sucedidos na reativação da transcrição de FMR1. ou generalizada do feto em desenvolvimento por forças biome-
cânicas anormais. A compressão do feto leva a várias anomalias
estruturais. A causa mais comum de deformação é a restrição
DOENÇAS DO DESENVOLVIMENTO uterina, que pode resultar de um desequilíbrio entre o cres-
As doenças do desenvolvimento representam uma ampla cate- cimento do feto e o útero no final da gestação. Vários fatores
goria de doenças que são provocadas por alterações genéticas maternos podem contribuir para esse fenômeno, incluindo pri-
e epigenéticas no genoma. Muitas delas também são conside- miparidade, útero de tamanho pequeno, malformação uterina
radas como doenças da infância ou doenças pediátricas. Isso ou presença de leiomiomas. Do mesmo modo, vários fatores
ocorre principalmente porque as anomalias do desenvolvi- fetais podem contribuir para a deformação, incluindo presença
mento se manifestam no feto em desenvolvimento, no neonato de fetos múltiplos, apresentação anormal do feto ou ausência de
ou no início da infância. Essas anomalias congênitas em geral líquido amniótico suficiente.
Doenças e o Genoma: Doenças Genéticas, Neoplásicas e do Desenvolvimento 15
Alterações Gênicas e Doenças do distúrbio transmitido pela mãe que leva à predisposição a tu-
mores embrionários, como o tumor de Wilms. O locus dessa
Desenvolvimento síndrome é encontrado na localização cromossômica 11p15.5 e
Acredita-se que os genes que regulam diretamente a morfogê- abrange cerca de 1 Mb, incluindo vários genes imprinted (IGF2,
nese sejam alvo de teratogênicos. Portanto, a exposição da mãe H19, KCNQ1 e ICR2). Hipometilação aberrante afeta ICR2 e
(e do feto em desenvolvimento) a tais agentes pode afetar pro- KCNQ1. Entretanto, o mecanismo molecular da regulação epi-
cessos de desenvolvimento específicos. Do mesmo modo, os genética não é completamente compreendido.
genes que regulam os padrões de expressão gênica no desen-
volvimento fetal também podem ser alvo da ação de teratogê-
nicos. Por exemplo, a família Hox de reguladores da transcrição DOENÇAS NEOPLÁSICAS
controla a expressão de vários genes que governam o desenvol-
vimento. Agentes que alterem o funcionamento dos genes Hox
Classificação de Doenças Neoplásicas
produzem malformações em modelos experimentais. Um des- A palavra neoplasia é derivada do grego, significando “condição
ses agentes que têm como alvo os genes Hox é o ácido retinoico. de novo crescimento”. O termo tumor com frequência é utilizado
Lactentes que nasceram de mães que foram expostas ao ácido para se referir a uma neoplasia. Tumor significa literalmente “um
retinoico (como um tratamento para a acne grave) tendem a inchaço”. No início dos anos de 1950, R.A. Willis forneceu uma
apresentar embriopatias (caracterizadas por defeitos cardíacos descrição de neoplasia que ainda utilizamos nos dias de hoje: “...
e do sistema nervoso central, bem como anomalias craniofa- Uma neoplasia é uma massa de tecido anormal cujo crescimento
ciais). Em modelos animais, os disruptores de Hox provocam é excessivo e descontrolado em relação àquele dos tecidos nor-
anomalias fetais que são semelhantes àquelas encontradas nas mais e persiste da mesma maneira após a interrupção dos estí-
embriopatias por ácido retinoico. mulos que provocaram a alteração...”. Mais recentemente, outros
pesquisadores descreveram os tumores como resultado de um
processo patológico em que uma única célula adquire a capaci-
Anomalias Cromossômicas e Doenças dade de proliferar de modo anormal (crescimento clonal), resul-
do Desenvolvimento tando em acúmulo de células da progênie, e definem o câncer
A síndrome de Angelman é um exemplo de uma doença do como tumores que adquiriram a capacidade de invadir os tecidos
desenvolvimento cuja patogênese molecular costuma envolver normais circundantes. Essa definição ressalta um dos fatores de
uma anomalia cromossômica. O gene da síndrome de Angel- distinção mais importantes na classificação geral de neoplasias
man (UBE3A) está localizado no cromossomo 15 (em 15q12). – a distinção entre tumores benignos e malignos. A divisão de
Na maioria dos casos, uma grande deleção englobando 15q12 doenças neoplásicas em benignas e malignas é extremamente
(e o locus UBE3A) resulta em uma deficiência para o produto importante, tanto para a compreensão da biologia dessas neo-
do gene UBE3A e na consequente síndrome de Angelman. Em plasias quanto para o reconhecimento das alterações clínicas po-
alguns casos, a perda da expressão/função de UBE3A é atribuída tenciais para tratamento. No nível mais básico, as neoplasias são
à dissomia uniparental ou mutação inativadora do gene. Crian- classificadas como benignas ou malignas. As neoplasias benig-
ças com essa síndrome apresentam retardos de desenvolvimen- nas não apresentam características invasivas e são consideradas
to que em geral são evidentes com 6 a 12 meses de idade. Em como tumores que apresentam baixa probabilidade de invasão e
crianças afetadas, a compreensão da linguagem e as habilidades dispersão. Em contraste, as neoplasias malignas apresentam com-
não verbais desenvolvem-se, mas a linguagem falada é rudimen- portamentos invasivos e/ou alto risco de dispersão metastática.
tar. Crianças com síndrome de Angelman também apresentam Uma subclassificação adicional das neoplasias malignas traça
dificuldades de movimento/equilíbrio, movimentos de agitação uma distinção entre (1) cânceres da infância versus cânceres que
das mãos, comportamento hiperativo e curto período de aten- afetam principalmente adultos, (2) tumores sólidos versus neo-
ção, bem como outras características físicas e déficits funcionais plasias hematopoiéticas e (3) cânceres hereditários versus neopla-
(incluindo questões ligadas ao sono e à alimentação). sias esporádicas. Tanto neoplasias benignas quanto malignas são
compostas por células neoplásicas que formam o parênquima e
por estroma não neoplásico que é composto de tecido conectivo,
Mecanismos Epigenéticos e Doenças vasos sanguíneos e outras células que dão suporte ao parênquima
do Desenvolvimento do tumor. O estroma do tumor apresenta uma função crítica no
Estímulos ambientais que ocorram no início do desenvolvi- apoio do crescimento das neoplasias fornecendo irrigação san-
mento podem produzir modificações epigenéticas que são her- guínea para nutrientes e oxigênio. Em quase todos os casos, as
dadas, com consequências potenciais de longo prazo. Modifi- células do parênquima determinam o comportamento biológico
cações epigenéticas apresentam uma memória das exposições (e o curso clínico) da neoplasia. Além disso, o tipo de célula do
ambientais, tais como exposição a substâncias químicas ou não parênquima da neoplasia determina como a lesão é nomeada.
químicas (nutrição), que podem influenciar o desenvolvimento
inicial. Estudos como gêmeos monozigóticos revelaram altera-
ções epigenéticas em várias doenças do desenvolvimento tais
Predisposição Genética de Doença
como distúrbio bipolar, síndrome de Silver-Russell, síndrome Neoplásica
de Beckwith-Wiedemann e diabetes melito neonatal transitó- O câncer não é uma doença, mas uma miríade de doenças com
rio. Por exemplo, a síndrome de Beckwith-Wiedemann é um tantas manifestações diferentes quanto tecidos ou tipos celulares
16 Capítulo 1
no corpo humano. Todos esses estados de enfermidade têm em autossômico dominante e é altamente penetrante (90% com
comum certas propriedades biológicas das células que com- 70 anos), mas muitas neoplasias se desenvolvem mais cedo na
põem os tumores, incluindo crescimento celular descontrola- vida. Sabe-se atualmente que a síndrome de Li-Fraumeni está
do (clonal), dificuldade de diferenciação celular, invasividade e associada a mutações na linhagem germinativa no gene supres-
potencial metastático. Atualmente, sabe-se que o câncer, na sua sor de tumores p53.
forma mais simples, é uma doença genética. Mais precisamente, Sabe-se que cerca de 5 a 10% dos cânceres de mama estão
ele é uma doença de expressão gênica anormal. Os mecanismos ligados à predisposição genética. Esses cânceres normalmente
moleculares que governam a proliferação celular descontrolada estão associados a uma forte história familiar de desenvolvimen-
na doença neoplásica envolvem perda, mutação ou desregulação to de câncer de mama. Muitas pesquisas levaram à descoberta
de genes que positivamente ou negativamente controlam a de vários genes de suscetibilidade ao câncer de mama, incluindo
proliferação, a migração e a diferenciação celulares. A carcino- BRCA1, BRCA2 e p53, que podem ser responsáveis pela maioria
gênese é um processo em múltiplas etapas pelas quais o cân- dos cânceres de mama hereditários. Em alguns casos, famílias
cer se desenvolve em resposta a alterações na expressão gênica com maior suscetibilidade de câncer de mama também apre-
conduzidas por alterações cromossômicas, mutações gênicas e sentam taxas elevadas de câncer ovariano. As pacientes que são
alterações epigenéticas do DNA. A ideia de que a carcinogênese afetadas por síndrome de câncer familiar mamário e ovariano
é um processo em etapas múltiplas é apoiada por observações podem apresentar mutação de BRCA1 na linhagem germinativa.
morfológicas das transições entre crescimento celular pré-ma- O melanoma familiar está associado (1) à história familiar de
ligno (benigno) e tumores malignos. No câncer colorretal (e em melanoma, (2) à presença de grande número de nevos comuns
alguns outros tipos de câncer), a transição de uma lesão benigna ou atípicos, (3) a uma história de melanoma primário ou outros
para uma neoplasia maligna pode ser facilmente documentada e cânceres de pele (não melanoma), (4) à imunossupressão, (5) à
ocorre em etapas discerníveis, incluindo adenoma benigno, car- suscetibilidade à queimadura solar e/ou (6) a uma história de
cinoma in situ, carcinoma invasivo e finalmente metástase local bolhas por queimadura solar. Dada a ligação entre o excesso de
e distante. Além disso, demonstrou-se que alterações genéticas exposição à luz do sol e o desenvolvimento de cânceres de pele
específicas se correlacionam com cada uma dessas etapas histo- (incluindo o melanoma), não é surpreendente que a suscetibili-
patológicas bem definidas do desenvolvimento e da progressão dade à queimadura solar (sensibilidade à luz do sol) represente
do tumor. Entretanto, é importante reconhecer que é o acúmulo um aumento do risco de melanoma. Essa suscetibilidade é parti-
de alterações genéticas múltiplas em células afetadas (e padrões cularmente pronunciada em indivíduos com pele clara, caracte-
de expressão gênica anormais associados), e não necessariamen- rizados por sardas, olhos azuis, ruivos e uma pele que se queima
te a ordem em que essas alterações se acumulam, que determina rapidamente em resposta à luz do sol e/ou apresenta dificuldade
a formação e a progressão do câncer. em se bronzear. Foram identificados dois genes de suscetibili-
dade ao melanoma altamente penetrantes: CDKN2A (que co-
difica o inibidor 2A da quinase dependente de ciclina) e CDK4
Síndromes de Câncer Familiar
(que codifica a quinase 4 dependente de ciclina). O CDKN2A
Várias síndromes de câncer familiar e hereditário foram reco- é encontrado no cromossomo 9p21, e o CDK4 é encontrado
nhecidas e caracterizadas. Cânceres familiares foram descritos no 12q13. Mutações de inativação da linhagem germinativa
para a maioria dos principais sistemas, incluindo cólon, mama, do gene CDKN2A são a causa mais comum de suscetibilidade
ovário e pele. Esses cânceres estão associados à predisposição hereditária ao melanoma, enquanto mutações do CDK4 ocor-
genética para desenvolver a doença. Os cânceres hereditários rem muito mais raramente. No entanto, mutações nas linhagens
normalmente são caracterizados por (1) idade precoce de iní- germinativas de CDKN2A são raras e muitas são responsáveis
cio ou diagnóstico, (2) neoplasias aparecendo em parentes de por uma pequena proporção de suscetibilidade ao melanoma
primeiro grau do caso-índice e, (3) em muitos casos, tumores na população geral. O gene CDKN2A codifica duas importantes
múltiplos ou bilaterais. Por exemplo, evidências epidemiológi- proteínas reguladoras do ciclo celular: p161NK4A e p14ARF. Em-
cas apontaram com consistência a história familiar como um bora outros loci de suscetibilidade ao melanoma tenham sido
indicador forte e independente de risco de câncer de mama. mapeados por análise linkage de todo o genoma, os genes que
Portanto, mulheres com um familiar de primeiro grau (mãe ou contribuem para a predisposição ao melanoma familiar perma-
irmã) que tenha sido diagnosticado com câncer de mama apre- necem desconhecidos para uma grande proporção dos casos
sentam um risco elevado de desenvolvimento da doença. Essa reconhecidos associados a parentesco. Pesquisa em andamen-
mesma relação é observada em outros cânceres hereditários. to está focada na identificação de genes de suscetibilidade ao
melanoma de baixa penetrância que conferem um risco mais
Mutações Hereditárias em Genes de baixo de melanoma com variações mais frequentes. Por exem-
Suscetibilidade ao Câncer plo, demonstrou-se que variantes específicas dos genes MC1R e
A síndrome de Li-Fraumeni foi caracterizada inicialmente en- OCA2 conferem um aumento do risco de melanoma.
tre vários familiares com incidência excessiva de câncer. Pacien- Como o protótipo do gene supressor de tumor, o mecanis-
tes com essa síndrome desenvolvem vários tipos de neoplasias, mo de inativação e a perda de função associados ao gene Rb1
incluindo câncer de mama, sarcoma de partes moles e osteos- são ilustrativos de toda a classe de genes supressores de tumor.
sarcomas, tumores cerebrais e várias formas de leucemia, en- A inativação de ambos os alelos do gene Rb1 é necessária para o
tre outras. A suscetibilidade ao câncer entre indivíduos com a desenvolvimento do retinoblastoma, uma neoplasia ocular que
síndrome de Li-Fraumeni acompanha um padrão de herança em geral ocorre em uma idade muito jovem. Duas mutações
Doenças e o Genoma: Doenças Genéticas, Neoplásicas e do Desenvolvimento 17
propriedades transformadoras eficazes. As mutações c-ras são do gene, rearranjos e translocações e deleções em larga escala.
encontradas em um grande número de tipos de tumores hu- A proteína supressora de tumor p53 parece desempenhar pa-
manos, incluindo tumores da tireoide, do trato gastrintestinal, péis significativos na progressão do ciclo celular e na função
do útero, do pulmão, síndromes mielodisplásicas e leucemias. de verificação do ciclo celular em resposta ao dano no DNA. O
gene p53 costuma sofrer mutação em cânceres humanos, e es-
Mecanismos Anormais de Reparo do DNA em ses mesmos cânceres com frequência apresentam anomalias do
Doenças Neoplásicas Não Familiares número de cromossomos. Portanto, foi sugerido que a perda da
Vários distúrbios genéticos raros envolvendo vias de reparo função normal de p53 pode contribuir significativamente para a
do DNA disfuncionais estão associados a risco elevado de de- instabilidade cromossômica em algumas formas de câncer.
senvolvimento de câncer. Esses distúrbios incluem xeroderma
pigmentoso, ataxia telangectásica e anemia de Fanconi. Os indi- Epigenética do Câncer
víduos afetados por essas condições podem desenvolver várias Nas células cancerígenas, as alterações epigenéticas ocorrem em
neoplasias quando expostos a agentes específicos de dano ao um contexto maior de alterações extensas na estrutura da cro-
DNA. Pacientes com xeroderma pigmentoso apresentam hiper- matina relacionadas a padrões alterados de modificação de his-
sensibilidade à luz UV e incidência aumentada de vários tipos tonas e ganhos e perdas de metilação nos dinucleotídeos CpG
de câncer de pele, incluindo carcinoma basocelular, carcinoma nas sequências de DNA. O mecanismo de regulação epigenética
espinocelular e melanoma maligno. Pacientes com ataxia telan- mais bem estudado e compreendido é a metilação do DNA, que
gectásica apresentam hipersensibilidade à radiação ionizante e pode silenciar genes supressores de tumores (e outros media-
a agentes químicos e podem desenvolver linfoma de células B e dores negativos de crescimento neoplásico) por transcrição,
leucemias linfocíticas crônicas, e as mulheres afetadas apresen- resultando em vantagens seletivas de crescimento para células
tam um risco maior de desenvolvimento de câncer de mama. neoplásicas emergentes. A transformação neoplásica associada
Pacientes com anemia de Fanconi apresentam sensibilidade a a alterações na metilação do DNA incluem tanto a perda global
agentes que promovam ligações cruzadas no DNA e são pre- de metilação (hipometilação) quanto o ganho gene-específico
dispostos a doenças malignas do sistema hematopoiético, em de metilação (hipermetilação). A hipometilação ocorre princi-
particular a leucemia mieloide aguda. palmente nas regiões de repetição de DNA, e a hipermetilação
A síndrome de Bloom é um raro distúrbio genético que ocorre nas regiões promotoras dos genes supressores de tumor.
envolve vias de reparo do DNA disfuncionais. Pacientes com
essa síndrome apresentam maior incidência de vários tipos de
câncer, incluindo leucemia, câncer de pele e câncer de mama. Hipometilação de DNA no Câncer
Esses pacientes apresentam instabilidade cromossômica que se No início da década de 1980, foram descobertos os eventos glo-
manifesta com níveis extremamente elevados de trocas entre bais de hipometilação de DNA no câncer humano. A hipometi-
cromátides-irmãs. O defeito molecular na síndrome de Bloom lação de genomas de células cancerígenas está associada à perda
parece envolver falhas na regulação de enzimas de reparo do de metilação nas regiões desprovidas de CpG onde se esperaria
DNA. O produto gênico suspeito nessa síndrome é uma enzima que a maioria dos dinucleotídeos CpG fosse metilada. Essa per-
com atividade helicase. da de metilação nessas regiões do genoma possivelmente está
associada a expressões aberrantes ou inadequadas de alguns ge-
Alterações Cromossômicas em Doenças nes que poderiam contribuir para a transformação neoplásica,
Neoplásicas Não Familiares a tumorigênese ou a progressão do câncer. Além disso, a ampla
desmetilação do genoma pode contribuir para a instabilidade
A maioria dos cânceres humanos (incluindo tumores sólidos,
cromossômica, desestabilizando regiões pericentrômicas de
leucemias e linfomas) contém anormalidades cromossômicas
alguns cromossomos.
consistindo em alterações numéricas (aneuploidias) e/ou aber-
rações estruturais. Esses dois tipos gerais de dano cromossômi-
co podem refletir dois mecanismos distintos de instabilidade Hipermetilação de DNA no Câncer
cromossômica: (1) instabilidade do número de cromossomos e Ganhos na metilação do DNA em células cancerígenas em
(2) instabilidade na estrutura cromossômica. Em algumas for- geral refletem hipermetilação de ilhas CpG em regiões pro-
mas de câncer, as instabilidades cromossômicas predominam motoras do gene, que pode levar ao silenciamento gênico. A
sobre instabilidades na sequência de nucleotídeos, sugerindo identificação de hipermetilação do promotor de ilhas CpG dos
que esses mecanismos de instabilidade genética possam não se genes supressores de tumor nas células cancerígenas ocorreu
sobrepor significativamente. Em geral é aceito que muitas (se em meados da década de 1990. O silenciamento do gene de-
não a maioria) das alterações da estrutura cromossômica que pendente de metilação é um mecanismo normal de regulação
ocorrem em células cancerígenas conferem alguma vantagem da expressão gênica. Entretanto, o silenciamento epigenético do
seletiva ao tumor em desenvolvimento. Assim, o acúmulo gene dependente de metilação nas células cancerígenas repre-
de um número crítico de aberrações cromossômicas ou o senta um mecanismo independente de mutação para a inativa-
desenvolvimento de anomalias cromossômicas específicas pode ção dos genes supressores de tumor. Foi identificado um núme-
representar etapas essenciais no processo de transformação ne- ro significativo de genes associados ao câncer que estão sujeitos
oplásica. Três formas gerais de alterações cromossômicas estru- ao silenciamento dependente de metilação, e vários desses ge-
turais são observadas nas células cancerígenas: amplificações nes contribuem como marcas características do câncer.
Doenças e o Genoma: Doenças Genéticas, Neoplásicas e do Desenvolvimento 19