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Consumo Agregado: Uma apresentação

sob a perspectiva brasileira


Alexandre Rands Barros1

1. Introdução

O consumo é o principal dos agregados macroeconômicos entre os


que compõem a demanda efetiva. Normalmente ele é superior a 70% do
PIB, ficando normalmente no Brasil acima de 80%, quando se inclui
consumos público e privado, como pode se ver na figura 1. Quando se
restringe apenas ao consumo privado, excluindo-se o das administrações
públicas, ele representa uma proporção menor. Entretanto, na maior
parte dos anos, situa-se acima de 60% do PIB, chegando a superar os 70%
nos anos iniciais da série apresentada na figura 1. Obviamente esses
percentuais variam de ano para ano, dependendo de várias circunstâncias
macroeconômicas.

A determinação do consumo agregado na Teoria Macroeconômica


normalmente é associada à renda agregada e à taxa de juros de mercado,
sendo uma função positiva da renda agregada e negativa da taxa de juros.
Já em Keynes (1936) essas relações apareceram, apesar de comumente os
livros textos de Macroeconomia não introduzirem a relação com a taxa de
juros.2 Nesse texto vamos ver como essas relações emergem a partir de
algumas suposições sobre o comportamento dos consumidores.

Antes de introduzir um modelo de comportamento do consumidor


que possa justificar as relações apresentadas acima, contudo, a próxima
seção traz uma discussão de alguns fatos estilizados sobre o
comportamento do consumo que devem ser explicados por qualquer
modelo que tenha como meta elucidar a determinação desse agregado
macroeconômico. Apesar de esses fatos serem de conhecimento e
aceitação gerais, não há na literatura uma apresentação conjunta deles a
partir de dados brasileiros, como feito aqui. A seção 3 traz o modelo que
pode justificar as relações fundamentais normalmente introduzidas na
1
Professor do Departamento de Economia da UFPE.
2
Ver, por exemplo, Mankiw (2003, cap. 10), Froyen (1999, cap. 5) e Blanchard (1997, cap. 3).
1
análise da determinação do consumo, tomando um consumidor
representativo como ponto de partida. A seção 4 discute algumas
consequências do modelo para o consumo agregado, com foco particular
no seu poder de explicação dos fatos estilizados apresentados na seção 2.
A seção 5, por sua vez, estende o modelo a partir de discussão de sua
compatibilidade com a hipótese do passeio aleatório, a Teoria da Renda
Permanente e a Hipótese do Ciclo de Vida, que são teorias tradicionais na
explicação do consumo agregado. A seção 5 resume as principais
conclusões do artigo.

Figura 1
Consumo final no Brasil, total e apenas privado, como
proporção (%) do PIB,
1947 a 2010
100

90
Total
80

70

60

50 Privado
40
1950

2001
1947

1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998

2004
2007
2010

Fonte: Calculado com base em dados do IBGE, extraídos do IPEADATA.

2. Fatos estilizados principais sobre o consumo

O consumo agregado tem alguns comportamentos que podem ser


verificados em todos os países e em diferentes épocas. Pode haver
variações quantitativas nas relações verificadas nesses universos
diferentes, mas elas sempre estão presentes na sua essência qualitativa.
Por causa dessa persistência temporal e espacial, essas relações básicas
são consideradas fatos estilizados do consumo. Essa seção apresentará
alguns deles.

2.1. Consumo e renda pessoal disponível

2
Fato estilizado 1: O consumo apresenta uma relação de longo prazo
estável com a renda pessoal disponível. A figura 2 traz essa relação para o
Brasil com dados anuais, cobrindo o período entre 1947 e 2011. Como
pode se ver, o consumo das famílias, quando posto em função da renda
disponível pode ser representado por um conjunto de pontos que se
comporta quase como uma reta. Por isso, a estabilidade da proporção
representada na figura 1.

A mesma proporção entre consumo das famílias e PIB que se


encontra na figura 1 para o Brasil foi reproduzida na figura 3 para os
Estados Unidos da América. Comparando-se as duas, percebe-se que na
verdade ambas proporções variam no tempo. Enquanto a proporção para
o Brasil cai ligeiramente entre 1947 e 2011, saindo de cerca de 76% para
pouco mais de 60% em 2011, a americana sobe nesse período, passando
de 65,4% em 1950 para 71,2% em 2011.

Figura 2
Consumo famílias como proporção da Renda disponível
R$ bilhões de 2011
3.000,0
Consumo das famílias (R$ bilhões)

2.500,0

2.000,0

1.500,0

1.000,0

500,0

-
(500,0) 500,0 1.500,0 2.500,0 3.500,0 4.500,0
Renda disponível (R$ bilhões)
Fonte: IBGE, extraído de IPEADATA

Essas pequenas tendências são consideradas particularidades dos


países. A crença maior é que há uma grande estabilidade nessa relação
entre consumo e renda, de forma que há uma relação de longo prazo
entre as duas variáveis, que pode ser representada como:

(1)

3
Onde Ct e Yt representam o consumo e a renda pessoal disponível,
representada pelo PIB nas figuras (1) e (3) e c é um parâmetro constante,
tal que 0<c<1. Essa relação implica que no longo prazo o consumo e a
renda pessoal disponível tendem a crescer à mesma taxa. Tanto para o
Brasil como para os EUA, essa relação é ligeiramente diferente, mas
representa uma boa aproximação.

Figura 3
E.U.A.: Consumo das famílias como proporção do PIB,
preços correntes
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1983
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980

1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
2010
Fonte: US Bureau of Economic Analysis.

Fato estilizado 2: No curto prazo, uma variação da renda pessoal


disponível leva a uma variação menos do que proporcional do consumo
agregado. A figura 4 traz dados para os EUA que mostram esse fato. A taxa
de crescimento anual do PIB tende a ser maior, quando positiva, ou
menor, quando negativa, do que a taxa de crescimento do consumo. Ou
seja, os seus movimentos são mais exagerados do que os do consumo.

Os números observados nas duas séries apresentadas na figura 4


geram desvios padrões para as taxas de crescimento do PIB e do consumo
de 3,25 e 2,66, respectivamente. Como medida de dispersão, esses
desvios padrões mostram que as flutuações da taxa de crescimento do PIB
tende a ser maior do que a do consumo, como se pode observar de forma
mais intuitiva comparando-se os extremos das duas séries na figura 4.

4
Figura 4
EUA: Taxa de crescimento nominal do PIB
e do consumo (%)
18,0
16,0
14,0
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
1965

2007
1947
1950
1953
1956
1959
1962

1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004

2010
-2,0
-4,0

Fonte: US Bureau of Economic Analysis. Consumo PIB

Apesar deste ser um fato estilizado tido como sempre correto, ele
não se verifica para o Brasil no período entre 1947 e 2011, com dados
anuais. A figura 5 traz as taxas de crescimento real do consumo e da renda
disponível para esse período. Pode se perceber que o consumo apresenta
grandes oscilações. Somente após 1996, período estável pós Plano Real, é
que essa relação passou a se verificar. Os desvios padrões dessas taxas de
crescimento para todo o período são de 4,02 e 5,12 para as taxas de
crescimento da renda disponível e do consumo, respectivamente. Já para
o período entre 1996 e 2011, essas estatísticas são 2,68 e 1,95,
respectivamente, enquadrando-se em um comportamento tido como
mais padrão. A alta inflação ao longo do período pré-1996 e as constantes
políticas de mudança das condições de crédito no país devem explicar o
comportamento supostamente anômalo dos consumidores brasileiros ou
do processo de geração de estatísticas.

Esse segundo fato estilizado pode ser traduzido matematicamente


da seguinte forma:

(2)

5
Onde Ct-i e Yt-i são definidos como acima para os períodos t-i (i=0 ou i=1) e
0<<1 é um parâmetro. A partir dessa relação, pode se deduzir facilmente
que , onde C e Y representa o desvio padrão da taxa de
crescimento do consumo e da renda, respectivamente. Daí a comparação
entre esses desvios padrões poder ser utilizada na verificação da
aderência desse fato estilizado à realidade.

Figura 5
Brasil: Taxas de crescimento real anual do consumo das
famílias e da renda disponível
20,0000

15,0000

10,0000

5,0000

0,0000
1975
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972

1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
-5,0000
Fonte: IBGE, extraído de Ipeadata Renda disponível Consumo
-10,0000

A partir da equação (2) pode se obter:

(2´)
( )

Onde gYt é a taxa de crescimento de Y entre os períodos t e (t-1).


Nessa equação é possível se observar que:

( ⁄ )
( ) ( ) (3)

Ou seja, a proporção entre consumo e renda pessoal disponível


tende a ter uma relação inversa com a taxa de crescimento da renda. As
figuras 6 e 7 mostram que tal relação se verifica, tanto nos EUA como no
Brasil, no período entre 1948 e 2011. Em ambos os casos, contudo, há
saltos de patamar periódicos nessa relação, o que dificulta sua percepção
6
visual. Entretanto, quando essas figuras são apresentadas com linhas
conectando os pontos dentro de uma lógica temporal, esses saltos ficam
mais claros. As linhas de tendência da relação colocadas ajudam a ter essa
percepção.

Figura 6
EUA: Relação entre a proporção do consumo para o PIB
e a taxa de crescimento do PIB entre 1947 e 2011
72,0
Proporção entre o consumo e o PIB

70,0

68,0

66,0

64,0

62,0

60,0
-4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
Taxa de crescimento do PIB per capita (%)
Fonte: US Bureau of Economic Analysis. Relação

7
Fato estilizado 3: Em estudos longitudinais, pessoas com maior renda
pessoal tendem a consumir uma proporção menor de suas rendas
individuais. Esse fato pode ser observado na figura 8 dados da Pesquisa de
orçamento familiar (POF) do IBGE para o Brasil em 2008. Quanto maior a
faixa de renda das famílias, menor a proporção dessa renda que é
dedicada ao consumo.

Figura 8
Brasil: Proporção do consumo na renda familiar total por
faixa de renda (%, 2008)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Até R$ 830 R$ R$ R$ R$ R$ Y>R$ 10.375
830<Y≤R$ 1.245<Y≤R$ 2.490<Y≤R$ 4.150<Y≤R$ 6.225<Y≤R$
1.245 2.490 4.150 6.225 10.375
Fonte: IBGE, Pesquisa de Orçamento Familiar, 2008.

2.2. Consumo e taxas de juros

Além das relações entre consumo agregado e renda, que foram


apresentadas acima, há também algumas relações entre o consumo
agregado e a taxa de juros, que supõe-se ocorrerem nos vários países e
em diferentes períodos, obviamente também com variações quantitativas,
mas sempre dentro de um mesmo padrão de comportamento.

Fato estilizado 4: O consumo tende a diminuir quando há um aumento da


taxa de juros. A figura 9 mostra essa relação com dados trimestrais para o
período entre 2000:1 e 2012:3. A taxa de juros é nominal e está
representada pela taxa do CDI-Over, com valores mensais e médias de três
meses para a obtenção dos dados trimestrais. O índice de consumo

8
(encadeado e dessazonalizado), por sua vez, foi dividido pelo PIB também
real, índice encadeado e dessazonalizado. Com isso eliminou-se a
tendência de longo prazo encontrada no consumo. Os dados claramente
mostram que há essa relação inversa entre consumo e taxa de juros.

Figura 9
Brasil: Relação entre a taxa de juros nominal (CDI-over, %
mensal) e a proporção do consumo para o PIB
(Variáveis trimestrais, 2000:1 a 2012:3))
1,1
Índice da proporção do
consumo para o PIB

1,08
1,06
1,04
1,02
1
0,98
0,96
0,94
0,92
0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2
Taxa de juros CDI/Over, % ao mês
Fonte: Dados do IBGE, PIB e consumo, e Banco Central. Todos extraídos do IPEADATA

3. O problema do consumidor

Na Macroeconomia moderna trabalhamos com a ideia do


consumidor representativo. Ele é um indivíduo que tem comportamento
que se acredita ser semelhante ao que seria o padrão da maioria.
Comumente, supõe-se que esse consumidor é um consumidor médio e
por tal quando multiplicamos algumas de suas variáveis como consumo e
renda pela quantidade de indivíduos existentes obtemos o agregado
dessas variáveis. Isso, obviamente é um conceito diferente daquele de
comportamento mais comum. Para o problema a ser apresentado, o mais
essencial é que o comportamento seja o mais comum apresentado pelos
demais.

Esse consumidor padrão é na verdade uma família, que tem uma


quantidade constante de indivíduos e que por se reproduzir no tempo tem
uma vida infinita. Supõe-se ainda que a sua função utilidade não possui
nenhuma descontinuidade quando há mudança no comando da família
entre gerações. Essa simplificação evita uma série de problemas que não
9
são relevantes para as conclusões que se quer obter aqui e não as muda
nas suas essências.

Esse consumidor ou família possui uma função utilidade que pode


ser definida como segue:

∑ ( ) (4)

Onde Ct+i representa o consumo no período t+i;  é a taxa de desconto do


consumo futuro e  é a taxa de aversão ao risco ou elasticidade de
substituição intertemporal do consumo.3

Vale notar que o lazer ou não trabalho não faz parte dessa função
utilidade. Isso significa que por simplificação supomos que o consumidor
utiliza todo o seu tempo disponível apto para o trabalho. Obviamente essa
é apenas uma simplificação e que sabemos não ser condizente com a
realidade, mas que simplifica tremendamente a obtenção dos resultados.

Vale notar também que o consumidor obtém utilidade não só do


consumo presente, mas do consumo de todos os períodos futuros.
Entretanto, ele sempre dará mais valor ao consumo presente, aplicando
uma taxa de desconto no consumo futuro. Essa taxa é ρ. Como supomos
que o consumidor retira mais utilidade do consumo presente do que do
mesmo nível de consumo em períodos futuros, pode se afirmar que >0.
Pela forma da função, pode se ver que estamos supondo que quanto mais
afastado no futuro está o consumo, menor será o seu impacto na utilidade
do consumidor hoje. Frequentemente essa suposição é apresentada com
o conceito de impaciência do consumidor.

O consumidor maximiza essa função utilidade sujeito a uma


restrição orçamentária com a qual ele se defronta. Essa restrição será
definida aqui como:

Blanchard e Fischer (1989) traz uma demonstração de que  representa a elasticidade de substituição
3

intertemporal do consumo.
10
∑ ( ) ∑ ( ) (5)

Onde Yt+i é a sua renda no período t+i, r é a taxa de juros da economia e 


é um coeficiente amplificador da taxa de desconto aplicada na renda, que
por haver incertezas quanto à renda futura, o consumidor supõe que seja
maior do que 1, porém um número finito. Ou seja, 1<<.4

A restrição orçamentária apresentada implicitamente supõe que


não há restrição creditícia. Ou seja, o consumidor a cada momento pode
tomar emprestado recursos suficientes para consumir no presente e pagar
no futuro esse empréstimo. Obviamente no mundo real isso não é
verdade, pois a maioria dos empréstimos requer a apresentação de
colaterais (ou garantias) que possam ser executados caso o devedor
recuse-se a honrar sua dívida. Essa suposição, contudo, simplifica
tremendamente a apresentação do problema, não alterando de forma
relevante os resultados.

Essa suposição de que não há restrição creditícia demanda uma


suposição adicional para que não haja uma solução do tipo denominado
solução de canto. Nela, por exemplo, o consumidor poderia pedir
emprestado todo o dinheiro que sua renda futura torna possível hoje para
consumir no período presente e a partir de então não consumir mais
nada.

Se supusermos que Yt+i=Y, como faremos doravante, e todo o


consumo for feito no período inicial (i=0), da equação (5) é possível ver
que essa condição particular implica que:

(6)

O Lagrangiano desse problema de maximização de utilidade do


consumidor pode ser expresso como:

A introdução de  como amplificador da taxa de desconto da renda futura faz com que possamos
4

evitar a necessidade de uma otimização estocástica, como feito por Carrol (2001) para obter os
resultados usuais da Teoria.
11
∑ ( ) [∑ ( ) ∑ ( ) ]

A partir desse Lagrangiano, pode se obter as condições de primeira


ordem para a maximização como:

( ) ( )

Essa equação implica que:

( ) (7)
Quando i=0, ou seja no presente, essa equação vira .
Combinando-se esses dois últimos resultados, obtemos:

(8)
( )
Substituindo esse resultado, junto com a suposição de que Yt+i=Y, na
restrição orçamentária, representada na equação (5), obtemos:

∑( ) ( ) (9)

Para que essa equação possa ser verdadeira para r>0, Y>0 e Ct>0 é
necessário que o somatório do lado direito seja finito, já que o termo do
lado esquerdo da equação é necessariamente finito (lembrar que 1<<).
Isso só vai ocorrer se:

( ) ( ) (10)

A partir de algumas operações algébricas simples, essa desigualdade


implica que:


( ) ( )
(10´)

12
Sendo a equação (10) verdadeira, a regra para a soma dos termos de uma
progressão geométrica infinita com razão menor do que 1, quando
aplicada na equação (9), implica que:


( )
[ ] (9´)
( ) ⁄ ( )

A equação (10´) e os sinais dos diversos parâmetros implicam que


para r>0 teremos que todos os dois termos da equação são positivos. Isso
implica que:

(11)
Da equação (9´) pode se ver que um aumento de r (r>0) diminui o lado
esquerdo dessa equação, pois o impacto é proporcionalmente maior no
denominador do que no numerador. Isso significa que o lado direito da
equação também deverá cair. Entretanto, o denominador da fração desse
termo diminui. Isso implica que a fração como um todo aumenta.
Consequentemente, somente uma queda de Ct poderá fazer com que haja
redução do termo do lado direito, como requerido para manter a
igualdade entre os dois lados da equação. Ou seja, pode se afirmar
também que:

(12)

Para que a derivada de Ct em relação a Y seja menor do que 1, é


necessário que:


( )
[ ] (13)
( ) ⁄ ( )

Para que isso seja verdadeiro, a seguinte condição terá que ser satisfeita:

⁄ (13´)
( ) ( ) ( )

13
Dada a restrição imposta pela equação (10´), isso só será verdadeiro se 
for suficientemente grande. Assim, supomos que  é tal que isso é
verdade.

4. Explicando os fatos estilizados a partir do modelo apresentado

Esse modelo da seção 3, no seu estágio atual, é capaz de explicar


dois dos fatos estilizados expostos na seção 2. São eles o primeiro e o
quarto. Para os outros dois deles, algumas extensões a serem introduzidas
na seção seguinte, serão necessárias. Nessa seção haverá uma breve
exposição de como os dois fatos estilizados mencionados podem ser
explicados pelo modelo na sua forma atual. A seção 5 discute a explicação
dos demais fatos estilizados a partir da Teoria da Renda Permanente, que
é apresentada como uma extensão do modelo anterior.

4.1. Fato estilizado 1: Relação de longo prazo entre consumo e


renda

O primeiro fato estilizado apresentado implica que há uma relação


de longo prazo entre o consumo e renda pessoal disponível. Essa relação
pode ser definida por uma relação linear tal como na equação (1). Isso
pode ser visto da equação (9´), que pode ser reescrita como:


( ) [( ) ( ) ]
(9”)
[( ) ⁄ ]
Nesse caso, usando a equação (1):


( ) [( ) ( ) ]
(14)
[( ) ⁄ ]
Esse é o coeficiente da relação de longo prazo entre Ct e Y no modelo na
sua versão até a seção 3. Empiricamente, esse coeficiente é menor do que
um e maior do que zero, como verificado na apresentação de dados que
confirmam esse fato estilizado.

Vale notar que, para que essa relação de longo prazo seja
verdadeira, a taxa de juros na economia, representada por r no modelo,

14
não pode ter uma tendência de longo prazo que seja diferente da nula. Ou
seja, desvios de uma média de longo de prazo de r têm que ser
transitórios. Se isso não for verdade, essa relação pode não se verificar.

4.2. Fato estilizado 4: O consumo agregado tem uma relação


negativa com a taxa de juros

A demonstração dessa relação já foi feita na derivação da inequação


representada por (12) acima. Quando a taxa de juros aumenta, cai a
proporção do consumo para a renda representada na equação (9”), já que
o impacto no termo do denominador da fração do seu lado direito é
proporcionalmente maior.

5. Teorias tradicionais do consumo

Nessa seção apresentar-se-á de forma sucinta três teorias


tradicionais de determinação do consumo agregado, que são a hipótese
do Passeio Aleatório, a Teoria da Renda Permanente e a Hipótese do Ciclo
de Vida. Todas serão apresentadas fazendo-se referências ao modelo
apresentado na seção anterior. A Teoria da Renda Permanente,
particularmente, por ser um caso particular do modelo apresentado
acima, introduzirá extensões nele que serão capazes de torna-lo apto a
explicar os dois fatos estilizados que não foram explicados até então.

5.1. A Hipótese do Passeio Aleatório

A Hipótese do Passeio Aleatório foi originalmente apresentada por


Hall (1978). Ele utilizou a hipótese de expectativas racionais em um
modelo de maximização de utilidade de um consumidor representativo,
semelhante ao que foi apresentado acima, com a diferença de que a
otimização era estocástica. O resultado obtido pode ser visto a partir da
equação (8) acima, caso suponhamos que i=1 e atrasarmos essa equação
um período. Nesse caso, o logaritmo natural daquela equação gera:

(8´)
( )

Essa equação mostra que para prever o logaritmo natural do


consumo, a renda não é necessária e apenas o consumo no período
anterior é suficiente, quando a taxa de juros é conhecida e constante. De
15
acordo com essa hipótese o consumo seguiria um passeio aleatório. Sob a
hipótese de expectativas racionais e de que a realidade é estocástica, Hall
(1978) mostra que um erro adicionado a essa relação exposta na equação
(8´) é totalmente independente de valores passados de qualquer outra
variável econômica, como a renda pessoal disponível, por exemplo.

5.2. A Teoria da Renda Permanente

A Teoria da Renda Permanente foi apresentada por Milton


Friedman (1957). Ela foi desenvolvida dentro de sua lógica da metodologia
da economia positiva,5 que foi apresentada em artigo clássico sobre
metodologia da Ciência Econômica. A partir dessa metodologia Milton
Friedman defende que uma teoria deve ser a mais simples possível e pode
recorrer a suposições irrealistas, desde que suas implicações possam
explicar os fenômenos concretos observados. Diante dessa lógica, ele
preconizou uma teoria bastante simples. Ela inicia com uma definição do
consumo como uma função linear e simples da renda permanente. Essa
relação era definida para cada indivíduo na sociedade e por tal também
poderia ser estendida ao conjunto da Economia. Essa relação pode ser
assim apresentada:

(15)
Ela implica que o consumo no tempo t, Ct, é uma função linear da
renda permanente no mesmo período, YPt.

A renda permanente, por sua vez, é igual àquela renda constante


que iguala o valor presente do fluxo esperado de renda futura ao fluxo
futuro esperado com essa renda constante. Ou seja, ela pode ser definida
em cada período t a partir da seguinte relação:

∑ ( ) ∑ ( ) (16)

No caso de um indivíduo, n é o número de períodos que esse


indivíduo espera viver do atual para frente. Quando essa equação é
definida para a renda permanente agregada, n é suficientemente grande

5
Ver Friedman (1966).
16
para tornar os valores acima dele negligíveis para os indivíduos que vivem
hoje. Pode se ver na equação (16) que se r=0, a renda permanente YPt é a
média aritmética das rendas futuras esperadas.

Se fizermos por simplificação n=, a partir dessa equação obtemos:

∑ ( )
(16´)
( )
Os valores para Yt+i, para i>0, são desconhecidos para o indivíduo no
período t. Então ele tem que formar suas expectativas sobre que valores
essas rendas vão assumir. Para tal Friedman incorporou à teoria a
Hipótese de Expectativas Adaptativas, que foi difundida por ele em vários
estudos e ficou muito conhecida pelo seu papel nas teorias monetárias
dele. De acordo com ela, a expectativa de Yt+1 formada no tempo t poderia
ser assim definida:

( ) ( ) [ ( )] (17)
Onde Et-i(Yt+i+1) é a expectativa da variável Y formada pelo
consumidor no tempo t+i para o seu valor no tempo t+i+1. Nesse conceito,
a expectativa formada no tempo t para o período t+1 é a mesma formada
no período passado para o seguinte (t nesse caso) com uma adaptação
formada a partir do erro observado. Daí o nome de expectativas
adaptativas. Essa equação pode ser resolvida de forma recursiva para
gerar:

( ) ( ) ( ) ∑( ) (17´)

A partir dessa equação, pode se dizer genericamente que a


expectativa formada para a variável Yt+1 é uma média ponderada dos
valores anteriores dessa variável, onde o elemento ponderador cai
quando o valor observado afasta-se no tempo. O primeiro termo do lado
direito converge para zero se m for para o infinito e será muito pequeno, e
portanto negligível, para valores muito grandes de m. Note que esse
somatório, caso m convirja para o infinito, será igual a 1,0, quando o  em
sua frente for incluído. Ou seja, se todos os valores de Yt-i no passado
forem iguais, a expectativa daquela variável será igual a esse valor.
17
Note que nas equações (16) e (16´) há várias expectativas incluídas,
não se limitando a Et(Yt+1), como apresentado na equações (17) e (17´). A
partir de Et+1(Yt+2), para valores de i maiores, as expectativas para valores
anteriores ainda não observados das variáveis passam a ser incluídas nas
suas versões da equação (17´). A solução de todas essas expectativas faz
com que genericamente possa se dizer que:

∑ (18)

Onde 0≤i<1 e

∑ (19)

Ou seja, a renda permanente é uma média ponderada das rendas


passadas observadas.6 Normalmente, quanto mais afastada no tempo for
a renda incluída na média, menor será sua ponderação.

A substituição da equação (18) na (15) gera uma equação final de


determinação do consumo:

∑ (20)

Ou seja, o consumo é uma função de valores passados da renda.


Vale notar que se o c dessa equação (20) for definido como na equação
(14) e o Y que foi usado no modelo da seção 3 for feito como igual à renda
permanente, o que de fato aconteceria se essa renda fosse constante ao
longo do tempo, essa equação (20) passaria a ser o resultado do modelo
daquela seção sob a hipótese de expectativas adaptativas, como
apresentada pelas equações de (17) a (19).

Nesse caso, então, os dois fatos estilizados previamente explicados


por aquele modelo, o primeiro e o quarto, permanecem sendo explicados.

6
O conceito poderia ser ligeiramente alterado para incluir uma taxa de crescimento, mas a essência da
lógica de determinação continuaria a mesma.
18
Além disso, pode se ver que os dois outros fatos estilizados passam
também a ser explicados por esse modelo estendido.

5.2.1. Explicando o fato estilizado 2

Relembrando, o segundo fato estilizado diz que no curto prazo, uma


variação da renda pessoal disponível leva a uma variação menos do que
proporcional do consumo agregado e foi representado de forma simples
pela equação (2) acima.

Para verificar a sua satisfação a partir do modelo desenvolvido


incorporando-se a Teoria da Renda Permanente no modelo original, pode
se utilizar a equação (20) para definir a taxa de crescimento do consumo
como:

∑ ∑
(21)

Nessa equação, os somatórios foram desmembrados, isolando-se o
primeiro termo de cada um deles. Como o c está multiplicando todos os
termos, tanto no numerador como no denominador, ele pode ser
eliminado. Nesse ponto pode se introduzir uma suposição simples para
facilitar os desenvolvimentos e se mostrar que um crescimento da renda
entre os períodos t e t-1 deve ter um impacto menor que um no
crescimento do consumo. Para isso, supor-se-á que Yt-i=Yt-j para qualquer
i>j e i>1. Essa suposição implica que a renda era constante até o período t-
1. A partir daí ela teve uma elevação. Com essa suposição, a equação (21)
se transforma em:

( ) ( )
(22)
( )
Simplificando:

( ) (22´)

Essa exatamente a representação do fato estilizado 2 como expressa na


equação (2). Nesse caso, 0=.

19
5.2.2. Explicando o fato estilizado 3

O fato estilizado 3 diz que pessoas com maior renda pessoal tendem
a consumir uma proporção menor de suas rendas individuais. Isso significa
que ele pode ser representado a partir da seguinte inequação:

( ⁄ )
(23)

Onde i nesse caso está identificando o indivíduo i. Ou seja, quando o


indivíduo tem a renda maior, a proporção de seu consumo para sua renda
cai.

Uma determinação do consumo como definida na equação (20),


mas para um indivíduo, como essa equação é originalmente obtida, pode
gerar:


(20´)

Nessa equação

( ⁄ )
∑ (24)

Já que os valores passados de Yt-i já estão dados. Essa equação mostra que
quando a renda do indivíduo aumenta, ele tende a consumir uma parte
menos do que proporcional dessa renda adicional e com isso a proporção
entre seu consumo e sua renda uma cai. A intuição por trás dessa relação
é que quando a renda do indivíduo aumenta em um determinado período,
esse acréscimo não é todo incorporado à renda permanente naquele
período. Assim, somente a parte que é incorporada gera aumento de
consumo imediato. Somente com o passar do tempo, essa renda
adicional, caso se mantenha, é incorporada na renda permanente e será
plenamente refletida no consumo.

20
5.3. A Hipótese do ciclo de vida

A Hipótese do Ciclo de Vida foi inicialmente apresentada por


Modigliani e Brumberg (1954) e estendida em alguns outros trabalhos por
Modigliani, tanto sozinho7 como com o próprio Brumberg,8 ou com Ando.9
Ela tem como ponto de partida a tentativa de explicar fatos estilizados
sobre o comportamento do consumo, principalmente os três primeiros
apresentados na seção 2, a partir de fundamentos microeconômicos do
comportamento dos indivíduos ao longo de toda a sua vida.

O fundamento básico da hipótese defende o mesmo que foi


apresentado anteriormente no problema do consumidor da seção 3. Na
essência, esse consumidor maximiza uma função utilidade como à
representada na equação (4), sujeito a uma restrição orçamentária como a
definida na equação (5). Geralmente apresentações dessa teoria incluem
na restrição orçamentária a existência de um estoque pré-acumulado de
riqueza (W0), o que transformaria ligeiramente a equação (5) para tornar-
se:

∑ ( ) ∑ ( ) (5´)

Entretanto, algumas das importantes contribuições dessa hipótese


para a compreensão do comportamento do consumo agregado vêm do
comportamento preconizado para os gastos com consumo ao longo da
vida do indivíduo. Segundo seus formuladores, cada consumidor tenderia
a ter o perfil de renda associada à produção e o consumo
qualitativamente semelhantes aos apresentados na figura 10, onde o
período de vida do indivíduo é igual a T. Apenas um perfil de renda,
denominado como Y, foi apresentado, mas também seria possível fazer
outras suposições para ele. Já quanto ao consumo, foram apresentados
dois perfis alternativos, Ca e Cb. Ambos apresentam as relações
fundamentais com a renda ao longo do tempo.

7
Ver, por exemplo Modigliani (1966, 1970, 1976).
8
Ver Modigliani e Brumberg (1990).
9
Ver Ando e Modigliani (1963).
21
A essência da ideia é que o consumo ao longo da vida do indivíduo,
entre 0 e T, tende a ser estabilizado por ele. A sua renda associada a suas
atividades produtivas, entretanto, inicia nula, quando ele é criança e
totalmente dependente dos pais ou tutores. Ela sobe um pouco quando
ele começa a se engajar em atividades remuneradas, mas somente
quando ele dedica-se de forma mais incisiva ao mercado de trabalho ela
eleva-se de forma mais radical, atingindo o seu topo ao longo de sua vida
profissional. Após esse ápice, ela começa a cair quando ele perde
produtividade relativa para as novas gerações e/ou reduz a carga de
dedicação ao trabalho e finalmente volta a ser nula quando ele aposenta-
se e para de exercer atividades produtivas.

No primeiro período da vida o indivíduo gasta mais do que gera de


renda a partir do trabalho, geralmente recebendo transferências de pais
e/ou tutores. Quando se torna profissional, o indivíduo passa a poupar
tanto para pagar dívidas do primeiro período (ou proporcionar
transferências para filhos) quanto para gerar recursos necessários para o
período em que ele novamente terá que gastar mais do que gera de renda
produtivamente.

No caso Ca o indivíduo age como preconizado por Friedman (1957)


na Teoria da Renda Permanente e iguala seu consumo ao longo da vida a
22
um mesmo patamar. No caso Cb ele reduz a oscilação com respeito à
verificada na renda, mas ainda assim mantém maior consumo no período
de maior renda. Não há nenhuma consequência maior quanto a qual
desses dois casos é o mais frequente.

Vale salientar também que nessa hipótese aposentadorias são


consideradas como ativos que geram uma renda financeira, e não como
uma renda obtida a partir de atividades produtivas. Ou seja, ela é
resultado de poupança acumulada. No mundo real, em que não se sabe
exatamente quando se vai morrer, as aposentadorias são na verdade
consideradas como uma poupança associada a uma apólice de seguro que
garante o fluxo financeiro pelo tempo em que o indivíduo ainda estiver
vivo.

Essa teoria assemelha-se muito àquelas que já foram apresentadas


anteriormente. Por consequência, o foco aqui será em algumas
contribuições específicas que ela oferece para a compreensão de alguns
fenômenos relacionados ao comportamento do consumo agregado.10

5.3.1. Relevância da expectativa de vida da população para a


poupança.

Como a população poupa parcialmente para financiar sua


aposentadoria, quando a participação do período de aposentado sobre a
vida total dos indivíduos aumenta, eleva-se a participação da poupança na
renda pessoal disponível. Assim, quando a expectativa de vida se eleva e
as idades médias em que os indivíduos começam e param de trabalhar
não se alteram, eleva-se a proporção da poupança sobre a renda pessoal
disponível.

Caso parte da poupança dos indivíduos seja formada a partir de


contribuições a regimes de previdência, esses terão que ser alterados para
manter o equilíbrio. Ou a proporção das rendas que são retidas como
contribuições previdenciárias terão que ser elevadas ou o período de

10
Maiores detalhes sobre essa teoria, algumas de suas dificuldades e comprovações empíricas podem
ser encontrados em Deaton (2005). Dornbusch e Fischer (1994, p. 299-306) trazem uma excelente e
esquemática apresentação dessa teoria.
23
contribuição terá que ser elevado, quando há esses aumentos da
expectativa de vida da população.

Reformas recentes de vários sistemas de previdência em diversos


países no mundo tiveram como elemento gerador exatamente os
aumentos de expectativa de vida das populações, geradas por
desenvolvimentos tecnológicos nas áreas médicas e nutricionais. Por isso,
essas reformas normalmente implicaram em elevação do período de
contribuição (adiamento da idade de aposentadoria) ou na proporção de
contribuição em relação à renda pessoal disponível. Na maioria dos casos,
as duas alternativas foram utilizadas. As reformas promovidas nos
Governos Lula e Fernando Henrique Cardoso no Brasil tiveram essas
lógicas.

Essa relação entre expectativa de vida da população e a poupança é


muito importante para entender a lógica de funcionamento dos regimes
de previdência, mas ela também pode explicar comportamentos da
poupança nacional diante de incertezas com guerras e outras possíveis
catástrofes, consequências do envelhecimento da população para a
poupança nacional e outras relações do gênero.

5.3.2. Relação entre taxa de crescimento da economia e poupança

De acordo com essa teoria, quando a taxa de crescimento da renda


na economia aumenta, a proporção da poupança para a renda aumenta.
Isso ocorre porque uma parte mais do que proporcional da nova renda
adicionada vai ser apropriada pelos indivíduos que estão ativos no
momento. Como esses indivíduos têm uma taxa de poupança maior, por
causa de sua posição no ciclo de vida, a média da poupança na sociedade
se eleva. Essa é uma explicação alternativa para a queda da proporção do
consumo para o PIB, quando há uma elevação da taxa de crescimento
desse último, como visto nas figuras 6 e 7. Isso significa que essa é uma
explicação alternativa do fato estilizado 2. Vale salientar que ela é
totalmente compatível com a anterior, que foi apresentada a partir da
Teoria da Renda Permanente, mas é menos restritiva quanto ao processo
de formação de expectativas de rendas futuras.

24
5.3.3. Explicando o fato estilizado 3

Essa hipótese também facilita a explicação do fato estilizado 3, que


diz que em dados longitudinais, a proporção da renda de um indivíduo
que ele dedica ao consumo tende a cair quando a renda dele aumenta.
Isso ocorre porque numa amostra com vários indivíduos, quanto mais alta
for a renda de um indivíduo, maior a probabilidade de ele estar no
período de sua vida em que ele terá maior renda. Com isso, esse indivíduo
estará em momento de maior proporção entre poupança e renda. Assim,
numa amostra aleatória, deverá haver uma proporção maior de indivíduos
no período de maior poupança de sua vida nos grupos de renda maior e
isso gera a relação média para a sociedade entre proporção da poupança
para a renda e renda pessoa disponível individual.

6. Conclusões

O consumo agregado apresenta algumas relações com renda e taxa


de juros que são comumente mencionados como fatos estilizados e que
são verificados em países e períodos diferentes. Nesse artigo, foi feita uma
apresentação desses fatos estilizados com dados brasileiros e americanos,
cobrindo o período entre 1947 e 2011. Verificou-se que eles também se
verificam na Economia brasileira.

Em seguida, apresentou-se um modelo simples em que se recorreu


a um consumidor representativo para se obter algumas conclusões básicas
sobre a relação do consumo com a renda e com a taxa de juros. A partir da
maximização de utilidade desse consumidor mostrou-se que é possível
concluir que uma variação positiva da renda eleva os seus gastos com
consumo, mas em uma quantidade menor do que a variação na renda no
curto prazo, desde que certas condições sejam satisfeitas. Isso decorre do
fato de que uma parte do aumento da renda será poupada para consumo
futuro por decorrência de incertezas do consumidor quanto a sua renda
futura. O coeficiente que mediu a incerteza quanto à renda futura, , tem
que ser suficientemente grande para que essa relação se verifique.

Esse comportamento para um consumidor pode ser estendido para


o conjunto deles. Assim, quando a renda aumenta a maior parte dos
consumidores estarão tendo uma renda maior e com isso gastarão mais
25
com consumo. Isso não quer dizer que isso ocorrerá com todos, mas o
comportamento da maioria deve prevalecer.

A existência de um impacto negativo da taxa de juros no consumo


também foi demonstrado por esse modelo. A partir da compreensão do
comportamento individual, espera-se que a maior parte dos consumidores
deverá substituir consumo presente por consumo futuro quando a taxa de
juros se eleva, pois poderão consumir uma quantidade maior de bens no
futuro com um mesmo sacrifício de consumo presente. Por isso, uma
elevação da taxa de juros deverá reduzir o consumo presente, como visto
matematicamente para um consumidor.

A partir desse modelo verificou-se que dois dos fatos estilizados


apresentados podem ser imediatamente explicados pelo comportamento
racional dos consumidores, sem nenhuma suposição específica sobre ao
processo de formação de expectativas. Esses são os fatos estilizados 1 e o
3. Enquanto o primeiro preconiza uma relação de longo prazo entre
consumo e renda, o quarto identifica a relação negativa entre consumo e
taxa de juros. Esses dois fatos já são plenamente justificados pelo modelo
em sua versão geral.

Contudo, as explicações dos dois outros fatos estilizados


requereram extensões do modelo feitas pela Teoria da Renda Permanente
e hipótese do ciclo de vida. No primeiro caso introduziu-se a suposição de
que a formação das expectativas ocorre por um processo adaptativo em
que erros de expectativas passadas são parcialmente ajustados no
presente. Com essa hipótese adicional os dois outros fatos estilizados
foram também explicados.

As extensões introduzidas pela Hipótese do Ciclo de Vida, por sua


vez, não requerem nenhum processo de formação de expectativas como a
introduzida na Teoria da Renda Permanente e por tal é totalmente
compatível com a hipótese de expectativas racionais, que é mais utilizado
hoje. Apenas introduziu-se a hipótese de um comportamento específico
do da relação do consumo com a renda dos indivíduos ao longo de suas
vidas. Com essa suposição o modelo original passa a poder explicar
também os fatos estilizados 2 e 3 de forma plena.

26
Referências

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aggregate implications and tests,” American Economic Review, 53(1),
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27
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