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1. Introdução
Figura 1
Consumo final no Brasil, total e apenas privado, como
proporção (%) do PIB,
1947 a 2010
100
90
Total
80
70
60
50 Privado
40
1950
2001
1947
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2004
2007
2010
2
Fato estilizado 1: O consumo apresenta uma relação de longo prazo
estável com a renda pessoal disponível. A figura 2 traz essa relação para o
Brasil com dados anuais, cobrindo o período entre 1947 e 2011. Como
pode se ver, o consumo das famílias, quando posto em função da renda
disponível pode ser representado por um conjunto de pontos que se
comporta quase como uma reta. Por isso, a estabilidade da proporção
representada na figura 1.
Figura 2
Consumo famílias como proporção da Renda disponível
R$ bilhões de 2011
3.000,0
Consumo das famílias (R$ bilhões)
2.500,0
2.000,0
1.500,0
1.000,0
500,0
-
(500,0) 500,0 1.500,0 2.500,0 3.500,0 4.500,0
Renda disponível (R$ bilhões)
Fonte: IBGE, extraído de IPEADATA
(1)
3
Onde Ct e Yt representam o consumo e a renda pessoal disponível,
representada pelo PIB nas figuras (1) e (3) e c é um parâmetro constante,
tal que 0<c<1. Essa relação implica que no longo prazo o consumo e a
renda pessoal disponível tendem a crescer à mesma taxa. Tanto para o
Brasil como para os EUA, essa relação é ligeiramente diferente, mas
representa uma boa aproximação.
Figura 3
E.U.A.: Consumo das famílias como proporção do PIB,
preços correntes
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1983
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1965
1968
1971
1974
1977
1980
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2007
2010
Fonte: US Bureau of Economic Analysis.
4
Figura 4
EUA: Taxa de crescimento nominal do PIB
e do consumo (%)
18,0
16,0
14,0
12,0
10,0
8,0
6,0
4,0
2,0
0,0
1965
2007
1947
1950
1953
1956
1959
1962
1968
1971
1974
1977
1980
1983
1986
1989
1992
1995
1998
2001
2004
2010
-2,0
-4,0
Apesar deste ser um fato estilizado tido como sempre correto, ele
não se verifica para o Brasil no período entre 1947 e 2011, com dados
anuais. A figura 5 traz as taxas de crescimento real do consumo e da renda
disponível para esse período. Pode se perceber que o consumo apresenta
grandes oscilações. Somente após 1996, período estável pós Plano Real, é
que essa relação passou a se verificar. Os desvios padrões dessas taxas de
crescimento para todo o período são de 4,02 e 5,12 para as taxas de
crescimento da renda disponível e do consumo, respectivamente. Já para
o período entre 1996 e 2011, essas estatísticas são 2,68 e 1,95,
respectivamente, enquadrando-se em um comportamento tido como
mais padrão. A alta inflação ao longo do período pré-1996 e as constantes
políticas de mudança das condições de crédito no país devem explicar o
comportamento supostamente anômalo dos consumidores brasileiros ou
do processo de geração de estatísticas.
(2)
5
Onde Ct-i e Yt-i são definidos como acima para os períodos t-i (i=0 ou i=1) e
0<<1 é um parâmetro. A partir dessa relação, pode se deduzir facilmente
que , onde C e Y representa o desvio padrão da taxa de
crescimento do consumo e da renda, respectivamente. Daí a comparação
entre esses desvios padrões poder ser utilizada na verificação da
aderência desse fato estilizado à realidade.
Figura 5
Brasil: Taxas de crescimento real anual do consumo das
famílias e da renda disponível
20,0000
15,0000
10,0000
5,0000
0,0000
1975
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
2005
2008
2011
-5,0000
Fonte: IBGE, extraído de Ipeadata Renda disponível Consumo
-10,0000
(2´)
( )
( ⁄ )
( ) ( ) (3)
Figura 6
EUA: Relação entre a proporção do consumo para o PIB
e a taxa de crescimento do PIB entre 1947 e 2011
72,0
Proporção entre o consumo e o PIB
70,0
68,0
66,0
64,0
62,0
60,0
-4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
Taxa de crescimento do PIB per capita (%)
Fonte: US Bureau of Economic Analysis. Relação
7
Fato estilizado 3: Em estudos longitudinais, pessoas com maior renda
pessoal tendem a consumir uma proporção menor de suas rendas
individuais. Esse fato pode ser observado na figura 8 dados da Pesquisa de
orçamento familiar (POF) do IBGE para o Brasil em 2008. Quanto maior a
faixa de renda das famílias, menor a proporção dessa renda que é
dedicada ao consumo.
Figura 8
Brasil: Proporção do consumo na renda familiar total por
faixa de renda (%, 2008)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Até R$ 830 R$ R$ R$ R$ R$ Y>R$ 10.375
830<Y≤R$ 1.245<Y≤R$ 2.490<Y≤R$ 4.150<Y≤R$ 6.225<Y≤R$
1.245 2.490 4.150 6.225 10.375
Fonte: IBGE, Pesquisa de Orçamento Familiar, 2008.
8
(encadeado e dessazonalizado), por sua vez, foi dividido pelo PIB também
real, índice encadeado e dessazonalizado. Com isso eliminou-se a
tendência de longo prazo encontrada no consumo. Os dados claramente
mostram que há essa relação inversa entre consumo e taxa de juros.
Figura 9
Brasil: Relação entre a taxa de juros nominal (CDI-over, %
mensal) e a proporção do consumo para o PIB
(Variáveis trimestrais, 2000:1 a 2012:3))
1,1
Índice da proporção do
consumo para o PIB
1,08
1,06
1,04
1,02
1
0,98
0,96
0,94
0,92
0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2
Taxa de juros CDI/Over, % ao mês
Fonte: Dados do IBGE, PIB e consumo, e Banco Central. Todos extraídos do IPEADATA
3. O problema do consumidor
∑ ( ) (4)
Vale notar que o lazer ou não trabalho não faz parte dessa função
utilidade. Isso significa que por simplificação supomos que o consumidor
utiliza todo o seu tempo disponível apto para o trabalho. Obviamente essa
é apenas uma simplificação e que sabemos não ser condizente com a
realidade, mas que simplifica tremendamente a obtenção dos resultados.
Blanchard e Fischer (1989) traz uma demonstração de que representa a elasticidade de substituição
3
intertemporal do consumo.
10
∑ ( ) ∑ ( ) (5)
(6)
A introdução de como amplificador da taxa de desconto da renda futura faz com que possamos
4
evitar a necessidade de uma otimização estocástica, como feito por Carrol (2001) para obter os
resultados usuais da Teoria.
11
∑ ( ) [∑ ( ) ∑ ( ) ]
( ) ( )
( ) (7)
Quando i=0, ou seja no presente, essa equação vira .
Combinando-se esses dois últimos resultados, obtemos:
⁄
(8)
( )
Substituindo esse resultado, junto com a suposição de que Yt+i=Y, na
restrição orçamentária, representada na equação (5), obtemos:
⁄
∑( ) ( ) (9)
Para que essa equação possa ser verdadeira para r>0, Y>0 e Ct>0 é
necessário que o somatório do lado direito seja finito, já que o termo do
lado esquerdo da equação é necessariamente finito (lembrar que 1<<).
Isso só vai ocorrer se:
⁄
( ) ( ) (10)
⁄
( ) ( )
(10´)
12
Sendo a equação (10) verdadeira, a regra para a soma dos termos de uma
progressão geométrica infinita com razão menor do que 1, quando
aplicada na equação (9), implica que:
⁄
( )
[ ] (9´)
( ) ⁄ ( )
(11)
Da equação (9´) pode se ver que um aumento de r (r>0) diminui o lado
esquerdo dessa equação, pois o impacto é proporcionalmente maior no
denominador do que no numerador. Isso significa que o lado direito da
equação também deverá cair. Entretanto, o denominador da fração desse
termo diminui. Isso implica que a fração como um todo aumenta.
Consequentemente, somente uma queda de Ct poderá fazer com que haja
redução do termo do lado direito, como requerido para manter a
igualdade entre os dois lados da equação. Ou seja, pode se afirmar
também que:
(12)
⁄
( )
[ ] (13)
( ) ⁄ ( )
Para que isso seja verdadeiro, a seguinte condição terá que ser satisfeita:
⁄ (13´)
( ) ( ) ( )
13
Dada a restrição imposta pela equação (10´), isso só será verdadeiro se
for suficientemente grande. Assim, supomos que é tal que isso é
verdade.
⁄
( ) [( ) ( ) ]
(9”)
[( ) ⁄ ]
Nesse caso, usando a equação (1):
⁄
( ) [( ) ( ) ]
(14)
[( ) ⁄ ]
Esse é o coeficiente da relação de longo prazo entre Ct e Y no modelo na
sua versão até a seção 3. Empiricamente, esse coeficiente é menor do que
um e maior do que zero, como verificado na apresentação de dados que
confirmam esse fato estilizado.
Vale notar que, para que essa relação de longo prazo seja
verdadeira, a taxa de juros na economia, representada por r no modelo,
14
não pode ter uma tendência de longo prazo que seja diferente da nula. Ou
seja, desvios de uma média de longo de prazo de r têm que ser
transitórios. Se isso não for verdade, essa relação pode não se verificar.
(8´)
( )
(15)
Ela implica que o consumo no tempo t, Ct, é uma função linear da
renda permanente no mesmo período, YPt.
∑ ( ) ∑ ( ) (16)
5
Ver Friedman (1966).
16
para tornar os valores acima dele negligíveis para os indivíduos que vivem
hoje. Pode se ver na equação (16) que se r=0, a renda permanente YPt é a
média aritmética das rendas futuras esperadas.
∑ ( )
(16´)
( )
Os valores para Yt+i, para i>0, são desconhecidos para o indivíduo no
período t. Então ele tem que formar suas expectativas sobre que valores
essas rendas vão assumir. Para tal Friedman incorporou à teoria a
Hipótese de Expectativas Adaptativas, que foi difundida por ele em vários
estudos e ficou muito conhecida pelo seu papel nas teorias monetárias
dele. De acordo com ela, a expectativa de Yt+1 formada no tempo t poderia
ser assim definida:
( ) ( ) [ ( )] (17)
Onde Et-i(Yt+i+1) é a expectativa da variável Y formada pelo
consumidor no tempo t+i para o seu valor no tempo t+i+1. Nesse conceito,
a expectativa formada no tempo t para o período t+1 é a mesma formada
no período passado para o seguinte (t nesse caso) com uma adaptação
formada a partir do erro observado. Daí o nome de expectativas
adaptativas. Essa equação pode ser resolvida de forma recursiva para
gerar:
( ) ( ) ( ) ∑( ) (17´)
∑ (18)
Onde 0≤i<1 e
∑ (19)
∑ (20)
6
O conceito poderia ser ligeiramente alterado para incluir uma taxa de crescimento, mas a essência da
lógica de determinação continuaria a mesma.
18
Além disso, pode se ver que os dois outros fatos estilizados passam
também a ser explicados por esse modelo estendido.
∑ ∑
(21)
∑
Nessa equação, os somatórios foram desmembrados, isolando-se o
primeiro termo de cada um deles. Como o c está multiplicando todos os
termos, tanto no numerador como no denominador, ele pode ser
eliminado. Nesse ponto pode se introduzir uma suposição simples para
facilitar os desenvolvimentos e se mostrar que um crescimento da renda
entre os períodos t e t-1 deve ter um impacto menor que um no
crescimento do consumo. Para isso, supor-se-á que Yt-i=Yt-j para qualquer
i>j e i>1. Essa suposição implica que a renda era constante até o período t-
1. A partir daí ela teve uma elevação. Com essa suposição, a equação (21)
se transforma em:
( ) ( )
(22)
( )
Simplificando:
( ) (22´)
19
5.2.2. Explicando o fato estilizado 3
O fato estilizado 3 diz que pessoas com maior renda pessoal tendem
a consumir uma proporção menor de suas rendas individuais. Isso significa
que ele pode ser representado a partir da seguinte inequação:
( ⁄ )
(23)
∑
(20´)
Nessa equação
( ⁄ )
∑ (24)
Já que os valores passados de Yt-i já estão dados. Essa equação mostra que
quando a renda do indivíduo aumenta, ele tende a consumir uma parte
menos do que proporcional dessa renda adicional e com isso a proporção
entre seu consumo e sua renda uma cai. A intuição por trás dessa relação
é que quando a renda do indivíduo aumenta em um determinado período,
esse acréscimo não é todo incorporado à renda permanente naquele
período. Assim, somente a parte que é incorporada gera aumento de
consumo imediato. Somente com o passar do tempo, essa renda
adicional, caso se mantenha, é incorporada na renda permanente e será
plenamente refletida no consumo.
20
5.3. A Hipótese do ciclo de vida
∑ ( ) ∑ ( ) (5´)
7
Ver, por exemplo Modigliani (1966, 1970, 1976).
8
Ver Modigliani e Brumberg (1990).
9
Ver Ando e Modigliani (1963).
21
A essência da ideia é que o consumo ao longo da vida do indivíduo,
entre 0 e T, tende a ser estabilizado por ele. A sua renda associada a suas
atividades produtivas, entretanto, inicia nula, quando ele é criança e
totalmente dependente dos pais ou tutores. Ela sobe um pouco quando
ele começa a se engajar em atividades remuneradas, mas somente
quando ele dedica-se de forma mais incisiva ao mercado de trabalho ela
eleva-se de forma mais radical, atingindo o seu topo ao longo de sua vida
profissional. Após esse ápice, ela começa a cair quando ele perde
produtividade relativa para as novas gerações e/ou reduz a carga de
dedicação ao trabalho e finalmente volta a ser nula quando ele aposenta-
se e para de exercer atividades produtivas.
10
Maiores detalhes sobre essa teoria, algumas de suas dificuldades e comprovações empíricas podem
ser encontrados em Deaton (2005). Dornbusch e Fischer (1994, p. 299-306) trazem uma excelente e
esquemática apresentação dessa teoria.
23
contribuição terá que ser elevado, quando há esses aumentos da
expectativa de vida da população.
24
5.3.3. Explicando o fato estilizado 3
6. Conclusões
26
Referências
Deaton, A., “Franco Modigliani and the Life Cycle Theory of Consumption,”
BNL Quarterly Review, 58(233-234): 91-107, 2005.
Heston, A., R. Summers and B. Aten, Penn World Table Version 7.1, Center for
International Comparisons of Production, Income and Prices at the
University of Pennsylvania, July 2012.
Modigliani, Franco, 'The Life Cycle Hypothesis of Saving, the Demand for
Wealth and the Supply of Capital, Social Research, 1966.
27
Modigliani, Franco, “The life-cycle hypothesis and intercountry differences
in the saving ratio,” in W. A. Eltis, M. FG. Scott, and J. N. Wolfe, eds.,
Induction, growth, and trade: essays in honour of Sir Roy Harrod,
Oxford. Oxford University Press. P. 197–225, 1970.
28