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JESUS É O CRISTO
Uma questão que precisa ser levantada e problematizada é a forma como a
expressão “Jesus é Cristo” acabou por ser absorvida ao longo do desenvolver da história
e acabar por ser tido como o sobrenome de Jesus. No entanto, a palavra Cristo (do grego
Christós e do hebraico Meshiah) significa ungido. Portanto, toda vez que aparece o termo
Cristo ou Messias relacionado a Jesus, significa que está se fazendo uma profissão de fé
afirmando-se que Jesus é o “ungido de Deus Pai”.
No AT a unção era feita aos reis, aos sacerdotes e, em alguns casos mais raros,
aos profetas. O NT no ato do nascimento de Jesus traz o anúncio de quem ele é pela boca
de um anjo: “Hoje nasceu para nós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11).
Também em outra passagem se afirma: “aquele que se chama Cristo, nascesse da esposa
de José na descendência messiânica de Davi” (Mt 1,16).
O próprio nascimento de Jesus, enquanto sua encarnação, o seu fazer-se homem,
é uma obra do Espírito Santo, que é aquele que é a própria unção (Cf. Mt 1,21). Sobre
isso podemos afirmar aquele que o ungiu é o Pai, aquele que é ungido é o Filho e o foi no
Espírito Santo, que é a própria unção.
Mas o que significa dizer que Jesus é o ungido de Deus Pai (Cristo/Messias)? O
AT aponta algumas profecias, entre elas de que da casa (descendência) de Davi sairia um
homem que seria o Messias/Cristo, e que ele viria para ser uma espécie de líder, um rei,
para guiar e governar Israel e seu povo, conduzindo-o à sua realização, prosperidade e
paz. Mas interpretavam esse Messias como um líder político e humano para instaurar um
Reino nessa terra. Sobre isso, diversas passagens apontam Jesus com o título messiânico
de “Filho de Davi” (Jo 6,15, Lc 24, 21), como no caso do cego Bartimeu que gritava à
beira do caminho: “Filho de Davi, tende piedade de mim”.
Entre as profecias também havia no livro do profeta Isaías duas outras: uma delas
fala sobre o servo sofredor, sobre o qual seriam lançados todos os pecados do povo e ele
que era sem pecado os carregaria sobre si. Também no livro do profeta Isaías é dito que
nasceria um filho de uma virgem e ele seria chamado de Emanuel, ou seja, Deus conosco.
Sobre essa realidade, o profeta Jeremias chega a dizer que Deus mesmo virá para ser o
pastor de seu povo e Ele mesmo o alimentará e apascentará. Todas essas profecias,
aparentemente separadas uma da outra, se unem e se cumprem em Jesus, nele todas as
profecias do AT foram sintetizadas e realizadas.
JESUS É HUMANO?
Parece estranho levantar essa questão, mas depois de uma primeira dificuldade em
aceitar a divindade de Jesus por parte de alguns teólogos do primeiro e segundo séculos,
o pêndulo da história virou de lado e após algum tempo passou-se a ter dificuldade em
aceitar a humanidade de Jesus, pensando-se que ele fosse apenas Deus. Um dos
questionamentos era: “Como Deus pode morrer?”
Jesus se faz solidário a nós em tudo, assumindo na totalidade a nossa condição
humana, se fazendo homem e assumindo até mesmo a morte. Sobre isso podemos ver
algumas passagens:
“O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
“Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus.
Mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos
homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais,
tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fil 2,5-8).
“Formaste-me um corpo” (Hb 10,5-7).
“Foi manifestado na carne” (1 Tm 3,16).
Jesus é o ungido de Deus Pai que vem para guiar e conduzir o seu povo, é aquele
que vem para nos resgatar do pecado, assumindo sobre si nossas culpas. Tomando sobre
si o pecado, ele religa o que estava separado. A exemplo da cruz, com sua trave vertical,
ele une de novo céu e terra, Deus e os homens, e, com sua trave horizontal, une a
humanidade entre si. Ele é Deus conosco, um Deus que não se contenta em ficar nas
alturas, longe de nós, mas que desce à nossa condição humana e vem se fazer próximo de
nós. O Deus cristão é o Deus único e verdadeiro, o qual vê a condição de seu povo, ouve
o seu clamor e desce para habitar no meio de nós. Em Jesus, Deus se despoja de sua glória,
poder, eternidade, e imortalidade, para assumir nossa condição humana frágil, finita,
mortal. Portanto, Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sendo 100% Deus e 100%
homem, ou seja, uma pessoa e duas naturezas (humana e divina).
Jesus veio ao mundo para construir com a humanidade a amizade que Deus já
tinha querido construir no princípio, como vimos no relato do Gênesis, mas ali havia uma
relação de criatura e Criador, onde há um desnível que desequilibra a relação. Deus já
tinha a intenção de colocar-nos numa condição de igualdade, mas a humanidade é muito
impaciente e apressada, quis chegar à condição divina sem Deus, não como Deus, e
colocando-se no lugar de Deus. Quando isso acontece é sempre um risco, pois “o
apressado come cru ou queima a língua”. A serpente falando sobre o fruto, sinal do limite
humano, nossa distinção com Deus que é ilimitado, afirma que quando o fruto fosse
comido, Adão e Eva seriam como deuses. Até o momento Eva não via necessidade
alguma no fruto, mas ao ser dita a mentira, surgiu em Eva a soberba que a fez mudar de
ideia e se ver atraída pelo fruto. Tomou-o e o comeu, mas não se tornou deusa. Muito
pelo contrário, perdeu tudo que tinha e não ganhou nada. Porém, o projeto de Deus não
mudou, e Jesus vem insistir em instaurar essa amizade de um modo pleno. Jesus faz o
caminho inverso ao nosso: o da humildade e do rebaixamento.
Em Jesus, Deus desce à nossa condição humana e agora não há mais o abismo de
criatura e Criador, pois o Criador assumiu a condição de criatura. Todavia, em um
segundo momento, Jesus faz um movimento de subida. Ele que havia se rebaixado se
eleva novamente à condição de glória, poder e divindade, mas não abandona a sua
humanidade. Pelo contrário, Jesus eleva a condição humana à uma divina condição, além
de nos fazer também filhos muito amados de Deus Pai. Essa divina condição é uma
realidade que participamos desde já, mas ainda não em sua plenitude, pois isso só se
consumará plenamente no fim dos tempos.