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Foto: Cepe/Divulgação
Um dos principais escritores da sua geração, Gilvan Lemos morreu no dia 1 de agosto de
2015, no Recife, aos 87 anos. Autor de 25 livros, entre romances, novelas e contos, além de
textos em coletâneas e periódicos nacionais e internacionais, ele se destacou já no
primeiro romance, Noturno sem música, publicado em 1956. Depois disso ele não parou
mais de lançar novos livros.
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Os mais célebres trabalhos do autor de São Bento do Una, no Agreste pernambucano, são
os romances A lenda dos Cem e O Anjo do Quarto Dia, que foram adotados em listas dos
vestibulares de universidades públicas e privadas.
Mesmo assim, Lemos sempre foi muito respeitado pela crítica e por leitores famosos,
como o dramaturgo Hermilo Borba Filho, que chegou a compará-lo com Dostoiévski. Para
outros, ele era uma espécie de semideus de literatura, de nindo dessa forma por
Raimundo Carrero na biogra a Gilvan Lemos- O último capítulo (Cepe Editora – 192
págs), do jornalista Thiago Corrêa, que foi lançada no nal do ano passado. Este livro,
inclusive, nasceu sob uma encomenda que a Cepe fez a Thiago para a Coleção Memória,
direcionadas a personalidades pernambucanas vivas.
Um m
Mas o projeto sofreu um duro baque pouco depois que o jornalista aceitou escrevê-la, por
causa da morte do biografado dois dias depois da primeira entrevista concedida. O fato
colocou em xeque o projeto, já que não seria possível desenvolver o livro a partir das
memórias do personagem principal, como era a proposta editorial.
Esse nal de vida com toques ccionais causou surpresa e espanto, principalmente a
Thiago Corrêa. “Ao sair do seu apartamento perguntei se poderia voltar no dia seguinte.
Ele respondeu que sim, com a condição de que ligasse antes. O telefone chamou até
disparar. Algo que voltou a se repetir na ligação que z após o almoço. Naquele momento
não tinha como saber, mas o silêncio aos telefonemas indicava que algumas das mais de
sete dezenas de perguntas anotadas em meu bloquinho permaneceriam sem resposta
para sempre”, diz na introdução da biogra a.
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O jornalista Thiago Corrêa buscou diversas fontes para escrever a biogra a depois do falecimento de Gilvan. (Foto:
Alê Ribeiro)
Thiago teve o apoio de familiares que lhe contaram diversas histórias sobre Gilvan, além
da leitura do breve relato autobiográ co intitulado Vá vendo o caiporismo, de apenas 32
páginas. Sem contar na releitura dos diversos livros do escritor.
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No início da vida adulta ele obteve apoio de duas pessoas extremamente necessárias no
começo da carreira: Osman Lins e Hermilo Borba Filho. O primeiro desempenhando o
papel de apresentá-lo ao universo intelectual do Rio e São Paulo, e o segundo lhe dando
dicas técnicas de como melhorar o que ele escrevia com tanta abnegação.
Fica bastante evidente na biogra a que a in uência do cinema, a leitura dos quadrinhos
e, pouco depois a leitura do Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, foram as fontes
criativas que lhe despertaram o desejo em ler livros de escritores nacionais e
internacionais e, posteriormente, escrever a própria cção.
A biogra a passeia pela trajetória de um escritor que, apesar de famoso pela timidez e
desapego aos holofotes e distinções, conquistou – desde os seus dois primeiros livros –
vários prêmios e, de forma crescente, a admiração e o respeito da comunidade intelectual
pernambucana e brasileira.
Documento
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Mesmo assim, não deixa de ser um trabalho importante de resgate, documental, com
farto material (cerca de 100 imagens do autor e dos gibis que ele escreveu e desenhou)
sobre um dos principais escritores brasileiros, que teve no início da carreira a obra
celebrada por diversos críticos do país, o que lhe rendeu dois prêmios nacionais.
Talvez se não fosse pela extrema falta de domínio em vender a própria obra, por conta de
uma enorme timidez e também a baixa autoestima, o seu nome constaria no hall dos
mais aclamados ccionistas do país. Ao lado de um João Ubaldo Ribeiro, Clarice
Lispector, Ariano Suassuna, Érico Veríssimo, Rubem Fonseca, entre outros do primeiro
time da literatura do país.
Para quem não tem tanta intimidade com a obra do autor, esse livro é uma boa porta de
entrada para que as novas gerações entendam que ele representou (e ainda representa)
na literatura pernambucana e brasileira. E a entrega dele ao longo da vida na busca por
uma grande obra ccional. É impossível falar de literatura e não colocar Gilvan Lemos
entre os principais representantes.
É injusto saber que um dos principais nomes da literatura brasileira, que publicou por
grandes casas editoriais, não tenha hoje o reconhecimento que lhe é devido. Alguém que
viveu para a literatura e saiu de cena como um misterioso personagem, cercado por mais
de quatro mil livros, os mesmos que lhe serviram de companhia a vida inteira, em seu
bunker de solidão no 12º andar, no coração da Conde da Boa Vista, onde ele parece ter se
refugiado de si mesmo.
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Literatura
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Ney Anderson
Ney Anderson (Recife, 1984) é jornalista e escritor. Escreve resenhas sobre literatura brasileira
contemporânea no site Angústia Criadora (www.angustiacriadora.com). Participou da
antologia Os novos escritores pernambucanos do século XXI (Diário o cial,2008) e tem contos
publicados nas antologias Contos de O cina (Editora Bagaço,2007-2008-2009-2010-2017) e
Suplemento Pernambuco. No ano de 2010 cou em 6º lugar no Concurso Maximiano Campos
de Literatura, organizado pela Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto).
Atualmente prepara o primeiro livro solo. Reside em Olinda.
Site: http://www.angustiacriadora.com Postagens criadas: 9
1 COMENTÁRIO
Ediane Souza
02/05/2018 em 13:53
Muito boa matéria! Eu conheci Gilvan Lemos quando fazia Letras/UFPE e Luzilá Gonçalves,
outra pérola da literatura, o levou para uma roda de conversa em nossa turma. Apaixonei-me
pelo Anjo do quarto dia, e nunca mais me esqueci de Gilvan. Certamente que terei imenso
prazer em me debruçar sobre esta leitura. Grande abraço.
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