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I
Distinga sucintamente (mas referindo exemplos, quando possível) os seguintes
conceitos:
a) Territorialização / Institucionalização do poder (2,5 val.)
Territorialização do poder:
o Característica do Estado moderno
o Contrapõe-se à pessoalização do poder nas formações políticas
medievais.
o Natureza do território como palco de soberania (ius imperium).
o Permite a distinção entre propriedade e jurisdição.
o Relevante no Direito Público: princípio da territorialidade das leis.
Institucionalização do poder:
o Característica do Estado moderno
o Contrapõe-se à individualização do poder nas formações políticas
medievais
o Criação de instituições às quais cabe o exercício do poder,
dissociadas das pessoas que concretamente as dirigem
o Permite a distinção entre património da Coroa e do Rei
o O seu auge ocorre com o reconhecimento de personalidade jurídica
ao Estado
v.s.f.f
União real:
o Categorias de Estado Composto (mais de um aparelho de poder)
o Coroa é instituição comum aos vários Estados, pelo que diversos
domínio da governação continuam a ser regidos de maneira igual em
ambos.
o Exemplo: Monarquia dual austro-húngara (1867-1917) e Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822).
União pessoal:
o A mesma pessoa física é simultaneamente titular da coroa de cada
um dos diferentes Estados mas os órgãos mantêm-se separados.
o Exemplo: Portugal e Espanha entre 1580/1640 / Commonwealth.
II
Distinga as funções política e jurisdicional, referindo-se (de modo justificado) ao
posicionamento que o Tribunal Constitucional ocupa neste contexto. (3 val.)
- Noção de função política, acompanhada de exs. (salientar a sua natureza
de função primária)
- Noção de função jurisdicional, acompanhada de exs. (salientar a sua
natureza de função secundária)
- Explicar que o TC se situa numa zona de transição. Por um lado, é um
tribunal, estando localizado na parte da CRP dedicada a estes órgãos. Mas,
por outro lado, tem características que o aproximam da função política: 1)
nomeação dos seus membros (indicados pela AR e por cooptação) e 2)
função de legislador negativo (declaração de inconstitucionalidade com
força obrigatória geral, provocando a retirada das normas inconstitucionais
do ordenamento).
III
François é um cidadão francês que se dedica à realização de documentários
sobre a história e a cultura de países europeus. Em 2013, encantado com a história e
cultura portuguesas, passou a residir legalmente no Porto, cidade onde nasceu, no ano
de 1986, e onde o seu pai, Jean, também francês, residira legalmente entre 1980 e 1987.
Em 2017, François adotou uma criança de origem vietnamita, de nome Xuan.
a) Explique se François e Xuan podem adquirir a nacionalidade portuguesa,
identificando o tipo, a via e os efeitos de tais aquisições. (4 val.)
François:
- art. 1.º, n.º 1, al. f) – explicar os requisitos e demonstrar que se aplicam no
caso. Aquisição pela via originária, por efeito da lei e da vontade, com
efeitos retroativos (art. 11.º LN).
(solução alternativa admissível, embora menos cotada: naturalização, com
base no art. 6.º/1, explicando que apenas poderá ocorrer daqui a um ano)
Xuan:
- art. 5.º - explicar os requisitos e demonstrar que se aplicam no caso. Em
particular, como a aquisição de François tem efeitos retroativos, quando
este adotou Xuan já era um nacional português, viabilizando a aplicação do
preceito.
Aquisição pela via derivada, por mero efeito da lei, com efeitos prospetivos
(art. 12.º LN)
(caso optem pelo art. 6.º/1, para François, deverão aplicar o art. 2.º para
proporcionar a aquisição de Xuan).
IV
Em 5 de janeiro de 2018, no âmbito de reunião convocada para debater e votar a
aprovação de contas, o Presidente do Conselho Administrativo do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF), por considerar urgente, incluiu na ordem de trabalhos,
já em plena reunião, a proposta de expulsão de Iuri, estrangeiro a residir em Portugal.
De facto, no dia anterior, Iuri tinha proferido acusações graves quanto ao mau
funcionamento do SEF, o que, na opinião do Presidente, muito melindravam a imagem
do SEF e do Ministério de que faz parte, o Ministério da Administração Interna, pelo
que era necessário ser intransigente com condutas de “agressão criminosa” às
instituições da República.
Posta à discussão a proposta, os dois vogais presentes manifestaram, de forma
exaltada, que esta devia ser retirada pois que indiciava uma atitude persecutória do SEF.
Perante esta circunstância, o Presidente retirou a palavra aos vogais e fez uso do seu
voto de qualidade, para assim aprovar a deliberação, dando por encerrada a reunião.
Após tomar conhecimento da deliberação, Iuri não se conformou, e contestou-a
junto do Secretário de Estado da Administração Interna.
c) Qual o meio de reação escolhido por Iuri? Teria Iuri de abandonar o território
nacional? (1,5 val.)
Iuri parece ter interposto um recurso hierárquico (193.º e ss): explicar
relação de hierarquia.
Não foi dirigido ao órgão correto: o máximo superior hierárquico é o
Ministro. O Secretário de Estado não integra a hierarquia da AP (194.º
CPA).
Natureza: impugnação administrativa facultativa (185.º, n.º 2)
Fundamentos: ilegalidade do ato (185.º, n.º 3)
Efeito: meramente devolutivo (189.º, n.º 2)
Logo, a interposição do recurso, em princípio, não determinaria a
suspensão do ato.