Sunteți pe pagina 1din 10

1.

Uma revis40 da literatura; A finalidade deste artigo é demonstrar a metodolôgia utili-


2. O conceito de tecnologia; zada ao pesquisar a possibilidade de ver a tecnologia como
3. A estratégia da pesquisa; uma variável indicativa de estrutura organizacional. Um
4. A formulação de hipóteses; primeiro passo nessa direção compreende a revisão com-
5. Comentários finais. pleta da evidência teórica e empírica realmente disponível
nesse assunto. A identificação do conceito particular de
tecnologia a ser selecionado neste estudo, bem como as
maneiras pelas quais este conceito poderia ser operaciona-
lizado, são pontos a serem desenvolvidos mais tarde. A
intenção final é a de formular hipóteses para pesquisa
empírica que-envolvam a correlação de ambas as variáveis,
isto é, tecnologia e estrutura organizacional.

1. UMA REVISÃO DA LITERATURA

Para efeito desta revisão, o conceito de tecnologia


será considerado como sendo não-dimensional e ficará
temporariamente sem definição. O conceito de estrutura
organizacional, por sua vez, será dividido em duas dimen-
Júlio Lobos ** sões: estrutura de tarefas e estrutura social. A estrutura de
tarefas é geralmente definida como a distribuição oficial
de atividades intencionalmente prescritas para se alcançar
um objetivo geral. Elementos nessa dimensão são, por
exemplo, hierarquia e funcionalização. Estrutura social,
por sua vez, diz respeito às relações interpessoais bem
como os valores, idéias e regras que as governam, as quais
acompanham as atividades formalizadas pela estrutura de
tarefas. 1 .

1.1 Tecnologia e estrutura de tarefas

* O presente artigo foi apresentado ao Embora o impacto da tecnologia sobre a estrutura de tare-
Semínãrío sobre Organização e Ambiente, fas tenha sido muito pesquisado empiricamente através de
organizado pelo Departamento de estudos de correlação, tais assuntos foram estimulados por
Administração Geral e um trabalho estritamente teórico. A proposição geral
Recursos Humanos da EAESP/FGV em desenvolvida por Thompson e Batesê de que " ... o tipo
agosto de 1975. Ele se baseia nos de tecnologia disponível e conveniente para tipos parti-
capítulos 1 e 2 da tese de culares de objetivos organizacionais estabelece limites nos
doutorado do autor: Technology and tipos de estruturas apropriadas para as organizações" foi
organization structure: a comparative baseada muna comparação totalmente simulada entre
case-study of automotive and organizações tão diversas quanto uma fábrica, uma mina,
processing fírms in Brazil. um hospital e uma universidade. Suas especulações leva-
Cornell University, Ithaca, ram-nos adiante para formular hipóteses sobre os diferen-
New York, 1975. tes tipos de automatização como sendo determinantes de
A tese será publicada brevemente mecanismos pessoais e impessoais de controle existentes
sobre o mesmo título, pelo na organização. Do mesmo modo, um estudo teórico, tal
Latin American Program Studies da como o sistema de classificação de organizações por
Cornell University. padrões técnicos, isto é, rotineiros, não-rotíneiros, etc.,
construído por Perrow,3 .édigno de ser mencionado
** Professor
visitante, também como ponto de referência para muitos outros
Programa de Pós-Graduação da pesquisadores. Para cada padrão técnico, Perrow formula
Faculdade de Economia e Administração. como hipótese um número de relacionamento entre a
Universidade Federal de Minas Gerais. tecnologia e as características da estrutura de tarefas
Ex-professor da Escola de (medida em termos de "rotina individual") e entre estas
Administração de Empresas da características e as inter-relações existentes ao nível de
Fundação Getulio Vargas. grupo. Assim, por exemplo, um alto nível de rotina indi-

R. Adm. Emp., Rio de Janeiro, 16 (2): 7-16, _mar./abr. 1976

1_
Tecnologia e estrutura organizacional formulação de hipóteses para pesquisas comparativa
vidual seria associado a um alto poder do grupo "técnico" curvilinear (por exemplo: desenvolvimento da organização
(stalf) sobre o grupo "de supervisão" (linha), à coordena- linha/stal!, etc.) com o grau de "complexidade" da tecno-
ção intergrupal baseada em planejamento e a um baixo logia. Finalmente, quanto mais estes relacionamentos
nível de interdependência dos grupos mencionados. aproximavam-se à média correspondente à categoria indus-
Embora reivindicando' serem aplicáveis a todas orga- trial, maior parecia ser o sucesso econômico da fuma.
nizações, algumas das hipóteses de Perrow foram reconhe- Assim, o trabalho de WoodwilJ'd poderia ser resumido
cidamente confirmadas apenas por Magnusem4 num em três hipóteses. Uma primeira pressupõe a existência de
estudo abrangendo 14 corporações manufatureiras de um "imperativo tecnológico" agindo sobre a variável de
tamanho médio nos Estados Unidos: estrutura de tarefas em organizações num modo relativa-
"Examinando as percepções gerenciais sobre a rotina mente sistemático. Desta forma, as organizações parecem
de seus trabalhos, uma certa tecnologia modal foi deter- adotar uma estrutura consistente com os "requisitos" de
minada para cada uma das organizações e usada para elas- sua tecnologia: Uma segunda hipótese sugeriria que as
sificâ-las nos quadrantes do modelo tecnológico-organiza- organizações centralizadas em sistemas de produção locali-
cional de Perrow; quando isso foi feito, no entanto, os zados em extremos de uma escala descritiva de "complexi-
dados mostraram que as companhias pareciam ser mais dade tecnológica" podem mais provavelmente apresentar
homogêneas do que fora previsto e podiam ser categori- um caráter orgânico do que as localizadas no meio da
zadas apenas em rotineiras e não-rotineiras. Os modelos de mesma escala. Finalmente, uma terceira hipótese apoiaria
artesanato e engenharia foram conseqüentemente elimi- um relacionamento entre tecnologia, estrutura de tarefas e
nados da análise. desempenho econômico-financeiro.
A despeito dessa redução de alcance teórico, as dife- Surpreendentemente, exceto pelo estudo correlacio-
renças entre as organizações rotineiras e não-rotineiras, no nai de Fullan" de 12 firmas pertencentes aos ramos auto-
que se refere a estrutura de tarefas, seguiram as direções mobilístico e de processamento de petróleo no Canadá, as
prognosticadas pela teoria de Perrow." hipóteses de Woodward não têm sido consistentemente
Que as organizações podem ser distribuídas em um confirmadas por estudos mais recentes sobre o assunto.
contínuo mecanístíco-orgâníco de acordo com um critério Embora parte desta inconsistência possa ser creditada nas
tecnológico; no entanto, não é uma nova idéia. diferenças relativas a defíníções de conceitos e metodo-
Anos antes que o trabalho de Perrow fosse publicado, logia, uma revisão breve das descobertas destes esforços de
Burns e Stalkerf já tinham informado sobre os relaciona- pesquisa pode ser interessante em si mesma.
mentos existentes entre tecnologia, estrutura de tarefas e Mohor,9 por exemplo, descobriu a tecnologia (opera-
nível de desempenho, baseados numa pesquisa feita em 20 cionalizada em termos do crítérío de Perrow de "rotina
firmas escocesas. Para eles,' uma estrutura organizacional individual") como não sendo determinante da estrutura de
"flexível" pareceu ser apropriada para um ambiente tarefas em 13 departamentos de previdência social. Simi-
tecnológico em mudança e uma estrutura organizacional larmente, .Sammuels e Mannheim 10 não acharam nenhum
mais "rígida" para um ambiente tecnológico estável. Além relacionamento signíficativo entre tipo de produção
disso, diferenças estruturais entre as organizações foram (unidade, massa, processo contínuo) e intensidade de
também relacionadas com diferenças normativas e com- controle estrutural (exemplo, comprimento da linha de
portamentais. comando, extensão de controle dos diversos níveis hierár-
Outros pesquisadores" chegaram recentemente a con- quicos) numa pesquisa de 30 empresas em Israel. Esses
clusões similares às mencionadas. De grande relevância é o autores também não crêem que a tecnologia esteja signifi-
8 trabalho da socióloga inglesa Joan Woodward.7 cativamente relacionada com as variáveis de formalização,
Na pesquisa feita por Woodward em 100 firmas funcionalização e impessoalidade na direção curvilinear
manufatureiras na área do sul do condado de Essex, na prognosticada por Woodward.
Inglaterra, a maioria das diferenças organizacionais detec- Aparentemente o desafio mais sério às descobertas de
tadas não foram inicialmente explicadas por tais fatores Woodward foi apresentado por uma equipe de pesquisa-
como tamanho da companhia, tipo de indústria ou perso- dores pertencentes a Universidade de Aston em Bírming-
nalidade do executivo de maior nível. Por outro lado, o ham, Inglaterra. 11 Baseado num estudo de 31 organiza-
grau de conformidade demonstrado com relação aos prin- ções manufatureiras, este grupo relatou uma surpreen-
cípios clássicos de organização não mostrou nenhum rela- dente falta de associação entre "integração de fluxo de
cionamento com o sucesso econõmíco-flnanceiro das trabalho" (sua própria medida de "complexidade" tecno-
firmas estudadas. lógica) e certas dimensões de estrutura organizacional, tais
Foi só depois de as firmas se tornarem classíficadas como as ~e estruturação de atividades, concentração de
numa escala de "complexidade técnica" composta de três autoridade e outras. Pior ainda, nem as relações lineares,
categorias maiores (produção por unidade, produção em nem muitas das relações curvilíneas existentes entre tecno-
grande escala e produção de processo contínuo ) que os logia e configuração organizacional descobertas por
dados coletados sobre as estruturas de tarefas e os padrões Woodward nas empresas do condado de Essex parecem ser
gerenciais começaram a fazer. sentido. Medidas de confi- verdadeiras para as organizações de Birmingham. No
guração organizacional apresentaram um relacionamento entanto, o Grupo Aston tem explicado razoavelmente tais
linear (isto é, comprimento da linha de comando, etc.) ou discrepâncias formulando a hipótese de que:

Revista de Administração de Empresas

_"l
"Variáveis estruturais são associadas com a tecnologia para o outro durante um certo período de tempo. As
de operações somente onde elas estão focalizadas no fluxo relações humanas na indústria de restaurante, de Whyte, é
de trabalho. Quanto menor a organização, tanto mais sua um exemplo clássico desta linha de pensamento.
estrutura será influenciada por tais efeitos tecnológicos; As pesquisas sobre liderança conduzida em organiza-
quanto maior a organização, tanto mais estes efeitos serão ções-? também sugerem que o comportamento do pessoal
confinados a variáveis menores tais como o número de de supervisão é afetado por fatores técnicos tais como a
empregados em atividades ligadas com o próprio fluxo de variabilidade das operações supervisionadas. Dubin 20
trabalho, e não serão detectados em variáveis da mais acredita, que a consideração, por parte dos supervisores,
remota incidência sobre estrutura administrativa e hierár- dos trabalhadores como indivíduos decai quando a tecno-
quica.,,12 logia se torna mais complexa e o horário de produção mais
Para o Grupo de Aston, então, tamanho e tecnologia exigente. Burak 21 também prediz um ligeiro aumento de
de uma organização são variáveis relacionadas por defi- "proximidade de supervisão" como uma conseqüência de
nição. maiores reajustamentos no ritmo de trabalho derivados de
condições tecnológicas mais adiantadas. Finalmente,
Fiedler22 achou um relacionamento entre certas condi-
1.2 Tecnologia e estrutura social ções de liderança, (grau de estrutura da tarefa, relações
pessoais entre o supervisor e os subordinados e poder do
Não obstante algumas questões não permaneçam ainda supervisor) e desempenho eficiente. Sob ambas as condi-
claras, os comentários precedentes sugerem que parece ções de liderança, extremamente favorável e extrema-
haver definitivamente um relacionamento entre a tecno- mente desfavorável, um estilo de liderança autoritária
logia e a estrutura de tarefas de uma organização. Isto parece estar relacionado ao desempenho mais eficiente da
significa que é razoável esperar diferenças sistemáticas na tarefa do grupo. Em condições de liderança intermediá-
estrutura de tarefas das organizações. Se tais diferenças rias, por sua vez, é um comportamento mais permissível o
estão, na verdade, relacionadas a diferenças em valores ou que parece estar associado a um desempenho mais
formas de comportamento organizacional, é uma outra eficiente.
questão. . Uma abordagem mais direta ao relacionamento entre
Pesquisa relativa ao impacto da tecnologia sobre a a tecnologia e a estrutura social, ao nível do grupo, foi
estrutura social do indivíduo e do grupo tem suas raízes desenvolvida por Trist e Banforth.ê? Baseados no estudo
na escola de relações humanas. Embora negligenciada do método long-wall de mineração utilizado nas minas de
pelos seguidores de Mayo, no primeiro estágio desta carvão na Inglaterra, estes autores concluíram que toda
escola, a variável tecnológica pareceu desempenhar um organização desenvolve propriedades sociais e psicológicas,
papel central no livro O sistema social da fábrica moderna as quais não dependem necessariamente da tecnologia. No
de W. L. Warner} 3 Embora neste livro o autor aceite e entanto, a integração dos papéis individuais diferenciados
use a abordagem básica desenvolvida em Hawthorne, ele do grupo num todo social não pressupõe integração dos
leva a análise a um passo adiante. Como relatado por componentes do trabalho num "todo tecnológico". O
Mouzelis: 14 "Ele (Warner) está não só satisfeito de ver fracasso em se obter um equilfbrio entre os "interesses"
como as variáveis organizacionaís entram na situação do sociais e técn1cos sempre presentes dentro do sistema orga-
indivíduo, mas também tenta examinar :esses fatores nizacional provocaria conseqüências indesejáveis, bis
ambientais em si mesmos. Por exemplo, Wamer mostra COlhO ·telUl6es por I*te .dá supervisão eexercíoio de
corno uma interrupção na hiorarquia dI; oport~es· .tMicas de 4efesa de gnIpO. 9
tem um impacto no status do trabalhador e na sua defini- Embora referindo-se a wna celta "organiza9ão" em
ção da situação - tudo isto levando a uma greve. Wamer abstrato, oeonceao do "sistema sociotécnico" formulado
continua explicando esta mudança no status através de um por Trist e Banforth foi baseado na observação de grupos
exame sistemático das mudanças na tecnologia, no tama- de ~rabalho. Foi portanto 4eixada Para os eutros pesqui-
nho dos mercados e das fmnas é no seu impacto na comu- sadores a ~a cleestuda' empiricuaentea aplicaçio do
nidade e assim por diante. Deste modo, ele fornece um conceito, ao Awel,da,estrutura social4a orpnízaçlo como
modelo mais completo dos mecanismos de mudança." um todo. Isto foi desenvolvido principalmente através de
Depois de Warner vieram os interacionistas. Sua abor- estudos de casos. Entre eles, ps mais dignos de nota são o
dagem, primeiro elaborada por Chapple! 5 e Aresberg16 na contraste de organizações subterrâneas e de superfície
Universidade de Harvard, e continuada logo em seguida numa mina de gesso estudada porGoulâner, 24 e a análise
por Whyte 17 e Sayles, 18 advogava a obserwzçíio e medição intensiva de firmas iftclmduais na amostra de empresas do
do comportamento dos membros do grupo. Segundo eles, condado de Essex feita por Woodward.
uma vez que tais medidas sejam executada!', o papel deter- Eotre outras coisas, o levantamento geral de empr~
minante da estrutura técnica e de processo nos padrões de feito por Woodward mostrou que características organíza-
interação interpessoal torna-se evidente. A sequência, cionais tais como linhas de comunicação, tensões psicoló-
freqüência e duração das interações sociais dependem em gicas e padrões de influência interorganizacional não são
grande parte do fluxo de trabalho, isto é, da maneira em independentes da tecnologia em uso. Esta conclusão preli-
que os materiais são processados de um posto de trabalho minar foi confírmada mais tarde por Woodward num

Tecnologio e estrutura o'KfJnizacio7UI1


estudo de casos extraídos da amostra original. Aqui Wood- 2. O CONCEITO DE TECNOLOGIA
ward 25 achou que a importância relativa dos diferentes
grupos funcionais e seus relacionamentos variaram dentro A tarefa de definir o conceito de tecnologia será realizada
de cada tipo de sistema de produção. Pesquisa e desenvol- em duas etapas. Primeiro, far-se-ã menção à variedade de
vimento predominando em firmas de produção por uni- maneiras em que tal conceito aparece definido na litera-
dade, produção em firmas de produção em alta escala, e tura. Uma segunda etapa consistirá em rever os diferentes
mercadologia em firmas de produção de processamento. critérios por meio dos quais ele aparece operacionalizado
Assim, para cada tipo de tecnologia corresponderia o na pesquisa empírica. Finalmente, uma justificação será
predomínio de uma "função crítica" específica, a qual as adiantada sobre a abordagem que será tomada neste artigo
firmas acima da média em sucesso pareceram recompensar quanto a essa matéria.
adequadamente por meio dos seus sistemas de status.
Descobertas semelhantes relativas a tecnologia e
influência interorganizacional foram comentadas mais 2.1 Definição do conceito
recentemente por Lawrence e Lorsch.ê" Eles examinaram
o relacionamento entre organização e ambiente. De acor- Definições gerais de tecnologia foram enunciadas por
do com estes autores, o grau de diferenciação interfuncio- Blauner.ê'' Perrow.ê? e mais recentemente por Fullan. 30
nal dentro de cada organização parece variar em relação Para usar a definição de Perrow como exemplo: "Enten-
proporcional à incerteza do' seu ambiente e, conseqüente- de-se por tecnologia as ações que um indivíduo executa
mente, à maior ou menor "complexidade" da tecnologia em um objeto, com ou sem os recursos de ferramentas ou
existente. A integração, por sua vez, acaba sendo melhor dispositivos mecânicos, para fazer alguma mudança naque-
servida quando a maioria das unidades funcionais reco- le objeto. O objeto ou matéria-prima pode ser humano,
nhece a liderança de uma outra em cada ambiente. Como vivo ou não, ou então um símbolo ou objeto inanimado."
relatado por Magnusen: 27 "onde o serviço de rotina era A definição de Perrow é a mais completa em compa-
crítico (recipiente), requisitou-se uma integração mais ração com outras fornecidas pela literatura especializada.
firme entre produção e vendas (para cumprir como o pro- Isto é apoiado pelo fato de que ela concebe as ações
grama de produção). Onde a inovação era mais importante executadas pelo indivíduo como sendo eventualmente
(plásticos e processamento de alimentos), a interdepen- independentes do uso de ferramentas ou "dispositivos
dência teve que ser maior entre vendas e pesquisa e desen- mecânicos", bem como focalizadas num "objeto" ampla-
volvimento e entre pesquisa e desenvolvimento e produ- mente definido. De acordo com Hickson e associados, tal
ção (para lidar com novos produtos e mudanças tecnoló- definição abrangeria todas as perspectivas das quais a
gicas). tecnologia pode ser observada em abstrato. Estas pers-
pectivas são as de tecnologia de operações, tecnologia de
conhecimentos e tecnologia de materiais.
1.3 Uma conclusão preliminar O conceito de tecnologia de operações refere-se à
expressão física adotada pelo núcleo produtivo de uma
A revisão anterior das pesquisas empíricas feitas sobre o organização industrial. Como tal, este conceito se refere a
relacionamento entre tecnologia e estrutura organizacional ferramentas, instrumentos, máquinas e fórmulas técnicas
pode ter sido sugestiva, embora dificilmente conclusiva. essenciais para o desempenho do trabalho.ê! Num sentido
Tecnologia e estrutura organizacional parecem ser rela- amplo, ela se refere aos equipamentos e à seqüência das
10 cionadas entre si J\.s organizações acomodam-se a arranjos atividades que compõem o fluxo de trabalho de um
tecnológicos por meio da adoção de certas estruturas de sistema de produção.
tarefas e sociais. As formas apresentadas por estas estru- Supõe-se, no entanto, que há também uma razão para
turas, no entanto, são extremamente variadas. Através dos a existência de uma máquina, um processo, ou um método
trabalhos revistos é difícil chegar a um sistema geral de produção. Assim, a tecnologia cobriria também o corpo
de classificação considerando tipos específicos de de idéias expressando as finalidades do trabalho, sua
arranjos tecnológicos vis-à-vis estruturas organizacionais importância funcional e a lógica dos métodos aplicados. 32
típicas. Tal corpo de idéias constitui a tecnologia de conhecimen-
Uma explicação desta situação pode residir no fato tos, a qual é absorvida pelo índívíduo como conseqüência
de que o conceito de tecnologia foi deliberadamente da incerteza que ele percebe como existente em seu am-
deixado sem definição no começo deste artigo. Isto ocor- biente de trabalho. Tecnologia de conhecimentos é assim
reu porque pareceu necessário demonstrar, primeiro, que concebida por Perrow33 como: " ... uma reação indivi-
o relacionamento entre tecnologia e estrutura organizacio- dual ao número de casos excepcionais encontrados no
nal está razoavelmente apoiado por descobertas empíricas. trabalho e à medida que estes são percebidos como fami-
Visto que tal objetivo já foi atingido, parece apropriado liares ou não-familiares.
neste ponto concentrar-se numa definição do conceito de . Característica a essa reação é a natureza do processo
tecnologia e num exame dos critérios por meio dos quais de busca empreendido quando as exceções ocorrem".
este conceito tem sido operacionalizado. Uma tentativa Mas, de onde vêm as fontes de incerteza? Para
nesta direção será a matéria da próxima seção. Perrow e outros, a incerteza é sempre inerente à natureza

Revilta de Adminiltraçíio de Emprellll8

,
das matérias-primas. A estabilidade e a variabilidade de Tentativas teóricas e empmcas no sentido de se
tais matérias-primas, bem como a sua compreensão, deter- operacionalizar o conceito de tecnologia de operações, ao
minaria o processo de busca e, fundamentalmente, o tipo nível do grupo, são um tanto raras. É digno de nota, no
de tecnologia a ser usado. Portanto, rigorosamente defi- entanto, o estudo de Sayles 39 sobre relações entre as
nido, tecnologia de materiais consiste em: " ... uma varie- tarefas de um grupo e as ações defensivas desenvolvidas
dade de técnicas, cuja seleção, combinação e ordem de por este último. Sayles acredita que certas características
aplicação são determinadas pelo feedback do próprio tecnológicas estão relacionadas às diferenças nas estraté-
objeto (ou matéria-prima)". 34 gias de comportamento desenvolvidas por grupos de tra-
De todas as três dimensões de tecnologia comentadas balho em contextos de fábrica. Critérios de tecnologia de
previamente, a que melhor combina com os propósitos operações são, neste caso, os de a) diferenciação de tare-
deste estudo é a de tecnologia de operações. Esta é não só fas; b) fluxo de trabalho e dependência; c) ritmo de
observável por definíção, mas parece condicionar as outras máquina; d) interações exigidas.
duas dimensões restantes, isto é, tecnologia de materiais e Ao nível da organização como um todo os critérios
tecnologia de conhecimentos. utilizados para exemplificar a tecnologia de operações
podem ser divididos em três grupos: indicadores econô-
micos baseados na relação trabalho-capital, medidas quali-
2.2 Operacionalização do conceito tativas e/ou quantitativas da própria tecnologia, e taxas de
mudança tecnológica. No primeiro grupo, a pesquisa de
Tentativas de desenvolvimento de medidas para identificar Blauner 40 sobre a alienação na indústria é digna de
a tecnologia de operações diferem em termos de nível de menção. Baseado na análise secundária de múltiplos
análise (indivíduo, grupo, organização) e critérios de dados, este autor defende que firmas têxteis, automobilís-
operacionalização (repetição, automação, complexidade, ticas e químicas aparecem ordenadas em tal seqüência
etc.). conforme o seu grau de mecanização e estandartização dos
Amplas regras teóricas sobre o assunto foram propor- processos de trabalho. Para confirmar a utilização destes
cionadas por March e Símon-" e Perrow.ê" Para March e dois critérios, Blauner recorre a um ordenamento das
Simon, critérios indicadores de tecnologia são os de "repe- firmas com base em indicadores econômicos tais como
tição", "programação" e "previsibilidade" das atividades investimento de capital requerido por trabalhador de
individuais. Preocupado mais com a descoberta de um produção e a proporção de custos de pessoal não-produ-
critério inclusivo de tecnologia do que com questões de tivo na folha de pagamento total.
operacionalização, Perrow prefere lidar com variáveis Encabeçando o segundo grupo de critérios, aquele da
abstratas tais como "número das exceções" e o grau de "complexidade técnica" de Woodward é certamente o
"analisabilidade dos problemas" encontrados pelo indiví- mais citado na literatura. Este critério classifica as orga-
duo no trabalho. Correlacionando ambas variáveis, um nízaçõesmanufatureiras em três categorias básicas, isto é,
contínuo abstrato de "rotina individual" emerge orde- produção por unidade, produção em grande escala e pro-
nando as organizações de acordo com seus respectivos dução de processo contínuo ..
tipos de· tecnologia: rotineira, ofício, não-rotineira ou Para alguns, no entanto, a escala de "complexidade
engenharia. técnica" construída por Woodward é conceitualmente
Pesquisas em tecnologia de operações foram condu- enganadora."! Porque, na verdade, as categorias em escala
zidas, ao nível individual, por Meissnerê? e Turner.P" não estão ordenadas em termos de complexidade, mas de
Para se operacionalizar o conceito, o primeiro autor acordo com o "número" de unidades de produção. Daí, 11
desenvolveu o critério de nível de "automação". Fazen- "complexidade tecnológica" significaria regularidade ou
do-se isto, uma distinção é primeiramente feita entre continuidade de produção. Baseado nestas críticas, o
dois amplos tipos de operações: operações de conversão grupo Aston prefere expressar o conceito de tecnologia de
e operações de transferência. Em segundo lugar, escalas operações em termos de grau de "integração do fluxo de
separadas para ambos os tipos de operações foram trabalho"· apresentado pelo processo produtivo. Embora
construídas de acordo com o grau de controle humano complicado, este último critério tem uma vantagem sobre
(oposto ao controle de máquina) exercido sobre o ciclo o de Woodward; isto é, baseia-se a priori em quatro sub-
completo de produção. Correlacionando ambas as critérios estatisticamente independentes (ainda que alta-
escalas, Meissner construiu uma matriz de, assim chama- mente correlatos): rigidez do fluxo de trabalho, inter-
das, "distinções técnicas" na qual se situa uma variedade dependência dos· segmentos que compõem o fluxo de
de casos empíricos. Para Turner e Lawrence; os diversos trabalho, .automaticidade e especificidade das operações
tipos de operações industriais -caracterizaram-se em de controle de qualidade.
termos de "complexidade". Esta variável é medida por Finalmente, procurando melhorar o raciocínio de
meio de um índice contendo três componentes maiores, Woodward, Harvey42 parece adotar ainda uma terceira
cada um dividido em dois elementos alternativos: abordagem em direção à operacionalização da tecnologia
a) atividade (variedade e autonomia); b) interação (reque- de operações. As organizações são agrupadas por este
rida e opcional); c) condições mentais (tempo para apren- autor numa freqüência que vai desde um ponto de extre-
der o serviço e responsabilidade). ma "difusão técnica" para um outro ponto de extrema

TecnologÍll e eBtrutura organizacional


"especificidade técnica", dependendo do número de pro- 3. A ESTRATÉGIA DA PESQUISA
cessos técnicos usados ao se produzir um certo número de
produtos durante um período de 10 anos. Assim, Harvey Este estudo apóia o argumento de Woodward comentado
leva em conta a "forma" da tecnologia, sem omitir, como ao fim da seção anterior, que considera a associação da
Woodward fez, a quantidade de mudanças ocorridas numa estrutura organizacional com características "salientes" da
"forma" dada. tecnologia. Apesar de que, para pesquisar empiricamente
tal associação, talvez fosse suficiente selecionar apenas um
só tipo de organização e: a) detectar características
2.3 Conclusões sobre a revisão e a seleção de uma alter- "salientes" de seu sistema de produção; b) delinear um
nativa perfil aceitável de sua estrutura organizacional; c) mais
adiante, relacionar as características "salientes" ao perfil
o propósito fundamental da última revisão foi o de achar organizacional; este estudo compara dois tipos organiza-
um critério de tecnologia "operacional" ao qual associar cionais, cada um centralizado em torno de um sistema de
características de estrutura organizacional, tais como as produção diferente.
meacíonadas no começo, numa maneira um tanto sistemd- A primeira parte desta seção inclui a identificação de
tica. Hipóteses apropriadas para pesquisa poderiam ser dois sistemas diferentes de produção como um passo
tiradas subseqüentemente de tal modelo teórico. prévio para se escolher organizações a serem pesquisadas
A revisão em referência, no entanto, mostra que tal empiricamente. A parte seguinte discute a formulação de
objetivo não é fácil de se alcançar. hipóteses sobre como é que tais organizações se comparam
Na verdade, não se dispõe de uma só medida de entre si, quanto a aspectos de estrutura organizacional.
tecnologia relacionada sistematicamente à estrutura orga-
nizacional. Conseqüentemente, a procura de regras gerais
no assunto deve ser deixada de lado, a favor de alternativa 3.1 O critério de seleção dos sistemas de produção
de se prosseguir analiticamente, enquanto se estudam
casos individuais. Este estudo presta atenção, inicialmente, a dois tipos
A última alternativa é dificilmente urna novidade. tecnológicos: produção em massa e produção de processo
Woodward 43 foi a primeira a considerá-la seriamente contínuo. Enquanto que o primeiro destes tipos tecnoló-
depois de admitir que as diferenças em estrutura e com- gicos focaliza-se na manufatura de produtos integrais em
portamento dentro do grupo de fumas de produção em quantidades infinitas, o segundo tipo diz respeito à exe-
grande escala podem ser explicadas por diferenças dema- cução de produtos dimensionados medidos pelo seu peso,
siado dífíceis de se perceber na sua escala de "complexi- capacidade e volume.
dade técnica". Pua ela, o tipo de classificação utilizado Os dois tipos tecnológicos referidos têm algumas
nas fumas do sul de Essex acabou abraçando um nú- características em comum, mas ainda não está claro como
mero de subvariáveis tecnológicas que podem ser inde- eles se comparamentre si, em termos de seu relaciona-
pendentes umas das outras, e que têm efeitos separados mento com a estrutura organizacional. Perrow, 46 por
sobre a variável dependente de estrutura organizacional. exemplo, considerou ambos os tipos tecnológicos como
Conseqüentemente, ela indica:4.4 sendo iguais em termos de "rotina individual" e, portanto,
"Um modo possível de se prosseguir além deste ponto iguais quanto à estrutura organizacional. Para Wood-
pode ser, o de abandonar a idéia de se achar urna medida _ward,41 Fullan 48 e outros, ao contrário, a produção de
12 geral de tecnologia, a qual a estrutura organizacional processo contínuo situa-se como um tipo tecnológico
pudesse ser associada substancialmente, preocupando-se significativamente diferente da produção em massa. Dessa
apenas em relacionar isoladamente características técnicas maneira, espera-se que os caracteres das correspondentes
específicas, as düerenças em estrutura organizacional e estruturas organizacionais se diferenciem também de um
comportamento." tipo tecnológico para outro.
Assim, é provável que algumas, mas não todas as
características da tecnologia sejam refletidas na estrutura e
comportamento organizacionais. Como sugerido por Tur- 3.2 Os sistemas de produção
ner,4S tais características deveriam ser reconhecidas como
"características tecnológicas salientes" sendo possível Um sistema de produção específico foi selecionado de
identificá-las ao nível de tarefa organizacional. cada um dos tipos tecnológicos mencionados anterior-
Resumindo, é düícil de se construir um modelo de mente, para efeitos de execução da pesquisa comparativa.
pesquisa satisfatório baseando-se na classificação a priori Os sistemas selecionados foram os de "produção em massa
de sistemas tecnológicos, particularmente, se tais sistemas na linha de montagem" e de "produção de processo
se supõem de alguma forma relacionados à estrutura orga-- contínuo".
nizacional; A maneira de se proceder para analisar o rela- O primeiro tipo de sistema de produção é aquele em
cionamento entre tecnologia e estrutura organizacional, que os diversos componentes de grandes lotes são progres-
seria, então, a de limitar a atenção apenas às caracterís- sivamente montados através de uma aplicação extrema do
ticas tecnológicas salientes. princípio de divisão de trabalho, em unidades completa- 1)

Revista de Administração de EmpreSlls


mente terminadas. Uma correia transportadora é usada têm que ser redefmidos continuamente pela interação com
para acionar o processo de trabalho entre as linhas dos outros cargos participando numa mesma tarefa. As intera-
trabalhadores, cada um dos quais executa uma operação ções seguem linhas laterais tanto quanto de comando
dada para cor ipletar a unidade. O número de lotes é geral- vertical. Omnisciência não pode mais ser atribuída ao
mente muito baixo e mudanças eventuais em cada um diretor da fuma."
deles requerem, necessariamente, decisões sobre a modifi- Como foi indicado antes, com a ajuda das mais recen-
cação do modelo do produto e/ou das próprias máquinas tes descobertas sobre o assunto, torna-se possível parcelar
operatrizes. Estas últimas decisões estão além da autori- as duas proposições gerais mencionadas em hipóteses mais
dade normal dos supervisores na linha de produção e/ou específicas. Para manter a distinção formulada no começo,
.da administração do planejamento da produção. algumas das hipóteses cairão numa dimensão de estrutura
Um sistema de produção de processo contínuo, por de tarefas, outras referír-se-ão à dimensão de estrutura
sua vez, envolve o controle automático e centralizado de social. Hipóteses no primeiro grupo tratarão com aspectos
um ciclo integrado de operações. Um lote de produção organizacionais, tais como: a) o grau de desenvolvimento
não é imediatamente distinguível de outro. A manipulação formal do conceito de linha-staff; b) a intensidade do
de materiais normalmente fluidos é desenvolvida, em controle estrutural sobre os membros da organização; c) o
geral, por regulagem automática e controle remoto de uso de mecanismos impessoais de controle. Hipóteses
unidades de processo. O trabalhador torna-se mero moni- sobre a estrutura social, por sua vez, relacíonar-se-ão com
tor de um painel de instrumentos através do qual controla questões de d) ideologia administrativa; e) distribuição de
o ciclo integrado. influência íntra-organízacional.

Sobre o padrão formal de organização


4. A FORMULAÇÃO DE HIPÓTESES
De acordo com Woodward na organização linha-staff, as
Baseado nas revisões anteriores da leitura, bem como em unidades de linha são consideradas totalmente respon-
algumas informações adicionais, parece possível formular sáveis por resultados e assim mantêm autoridade sobre
aqui algumas hipóteses a respeito das diferenças em estru- certas questões diretamente relacionadas à consecução
tura de trabalho e estrutura social existentes entre organi- desses resultados. Carecendo de tal grau de responsabili-
zações de produção em massa e processo contínuo. Estas dade, as unidades de staff são supostamente responsáveis
hipóteses são construídas sobre dados fragmentados e, apenas pela assistência às unidades de linha, quanto à
assim, devem ser consideradas mais como regras orienta- realização das suas tarefas. Desta maneira, a autoridade é
doras da pesquisa do que qualquer outra coisa. Todas elas exercida pelas unidades staff exclusivamente dentro do
caem dentro de uma proposição geral, isto é, que uma seu contexto interno.
firma localizada num tipo de tecnologia de produção Considerando esta última definição, Woodward relata
massa-linha possui provavelmente um caráter organiza- que uma bem demarcada distinção entre os papéis das
cional mais mecantstico do que uma outra fuma compa- unidades de linha e de ~taff ocorre nas categorias interme-
rável que utiliza um tipo de tecnologia de processo diárias da sua escala de "complexidade tecnológica", isto
contínuo. é, no caso das fumas de produção em massa. Nas organiza-
A classificação de organizações como "mecanísticas" ções de processo contínuo, ao contrário, não haverá tal
ou "orgânicas" é baseada, de fato, num exame detalhado tipo de distinção. 13
das suas estruturas sociais e de trabalho e numa compara-
ção de seus respectivos padrões organizacionais. Tais
Hipótese I
padrões foram especificados por Burns e Stalker+? como
segue: "Um padrão organizacional do tipo linha-staff ver-se-á
"Em sistemas mecanisticos os problemas e trabalhos mais estritamente reforçado numa organização massa-linha
da fuma como um todo dividindo-se em especialidades. do que numa organização comparável de processo
Cada índívíduo desempenha tarefas específicas. Alguém contínuo. "
no alto é responsável pela importância destas tarefas. Os
métodos, obr.gações e poderes associados a. cada papel
funcional estão definidos. A interação dentro da adminis- Sobre o controle estrutural
tração tende a ser vertical. As operações e o comporta-
mento no trabalho são governados por instruções e deci- É comumente aceito que uma primeira compreensão de
sões emitidas por superiores." uma organização pode ser obtida simplesmente através da
"Sistemas orgânicos são adaptados a condições instá- observação de sua estrutura formal. Não muitos pesquisa-
veis; os indívíduos têm que desempenhar duas tarefas dores, no entanto, têm sido bem sucedidos ao tentar
especiais à luz do seu conhecimento e das tarefas da fuma operacionalizar esta especulação. O trabalho de' Wood-
como um todo. Os cargos perdem muito de suas defini- ward, para se começar, demonstra a existência de uma
ções formais em termos de métodes, deveres e poderes e relação entre a "complexidade" da tecnologia e certas

Tecnologia e estrutura organizacional


medidas de confíguração de estrutura, como, por exem- produção, mecanismos de medida e/ou sis1emas de con-
plo, a amplitude de controle dos diferentes supervisores. trole de custos, ou "mecânicos" como no :ontrole auto-
I

'Mas uma coisa é apontar tal relacionamento e outra é mático de máquina-ferramentas ou de uma fábrica de
especificar até que ponto certos caracteres de configura- processo contínuo de produção.
ção .resultem verdadeiramente num maior ou menorcon- Visto o anterior, uma hipótese apropriada sobre a
trole, sendo exercitado pela estrutura sobre os membros questão seria a seguinte:
da organização. A respeito disto, as observações de
Woodward são confusas. De fato, Woodward declara que Hipótese 111
quanto mais complexa á tecnologia, maior o número de
níveis hierárquicos e mais restritas às amplitudes de con- "Mecanismos impessoais de controle de natureza adminis-
trole dos níveis de supervisão, médios e de primeira linha. trativa serão mais desenvolvidos (isto é, numerosos, difun-
Assim, apenas admitindo que o controle estrutural se didos e detalhados) numa organização massa-linha do que
torna mais forte numa estrutura organizacional confi- numa outra organização comparável de processo con-
gurada longa e restritamente do que nunca mais estendida, tínuo."
é que um relacionamento direto entre o conceito de con-
trole estrutural e a "complexidade" da tecnologia pode
chegar a ser sugerido. Sobre ideologia administrativa

Perrow 51 discutiu que metas operacionais estáveis, não-


Hipótese II
inovadoras e essencialmente quantitativas são geralmente
"O controle estrutural será menor numa organização adotadas por organizações cuja tecnologia enfatiza a
massa-linha do que numa outra organização comparãvel de rotina individual. Metas de um tipo oposto são conse-
processo contínuo." qüentemente abraçadas por organizações centradas em
torno de tecnologia baseada na livre iniciativa individual.
Como índicado anteriormente, diferenças quanto a metas
Sobre mecanismos impessoais de controle entre organizações rotineiras e não-rotineiras foram recen-
temente confirmadas por Magnusen.52 Se as metas organi-
Desde Weber até recentemente, o controle nas organiza- zacionais são tomadas como reflexões da ideologia admi-
ções tinha sido considerado, tanto pelos estudantes de nistrativa, pode-se desta forma concluir, inicialmente, que
administração de empresas como pelos próprios gerentes, esta ideologia parecia ser mais conservadora numa organi-
simplesmente como resultante da distribuição e legiti- zação massa-linha do que numa organização de processo
mação da autoridade formal ao longo de toda a pirâmide contínuo.
hierárquica. Dentro deste contexto, elementos normativos
foram considerados como mecanismos impessoais de Hipótese IV
controle não necessariamente relacionados à tecnologia.
Pode ter sido Joan Woodward 50 e sua equipe de' "A ideologia administrativa será mais conservadora (isto é,
pesquisadores do Imperial College quem primeiro citou os estável, não-inovadora, consciente dos aspectos formais da
mecanismos impessoais de controle dentro de um con- organização e ..pouco orientada para a consideração de
texto mais amplo. Para eles, os complexos processos asso- aspectos ínterpessoaís) numa organização massa-linha do
14 ciados com o controle das tarefas nas organizações indus- que numa outra organização comparável de processo
triais modernas não podem ser adequadamente explicados, contínuo."
em termos de uma simples pirâmide hierárquica. Isto
acontece, eles raciocinam, porque devido a um cresci-
mento do tamanho organizacional e da pr6pria complexi- Sobre a distribuição de influência organizacional
dade tecnol6gica, a possibilidade dos gerentes de linha
exercerem controle hierárquico tende a decrescer. Mais A questão de distribuição interna de influência em orga-
precisamente, eles "não podem mais possuir um conheci- nizações centradas em tomo de tecnologias diferentes t~m
mento íntimo dos diversos processos especializados e sido pesquisada empiricamente por Lawrence e Lorsch,53
complexos que são intrínsecos à fabricação". Woodward, 54 Perrow~ e indiretamente por Kavcic e
"Para evitar o perigo de perder o controle do trabalho outros. 56
de produção a gerência incorpora na organização proces- Os primeiros autores, por exemplo, demonstraram
sos impessoais de controle que influenciam e regulam o que a soma total da influência hierárquica é mais baixa e
comportamento daqueles que ela emprega." . menos desigualmente distribuída entre níveis hierárquicos
Com respeito à natureza desses mecanismos de con- em indústrias de fabricação. de recipientes (produção em
trole impessoal, no entanto, WoodWard considera-os todos massa) do que em firmas de fabricação de plásticos
como sendo relativamente associados com a tecnologia. (produção de processo contínuo). Além disso, os autores
Eles podem ser assim "administrativos", contendo tais acrescentam que ambas as firmas diferem em termos de
coisas como programas complexos para o planejamento da dístríbuíção de influência funcional, baseando-se numa

Rnilta de Admilliltraç40 de EmprelllZlI


comparação entre as funções básicas de vendas, produção cativamente diferentes. Para o empresário schumpete-
e pesquisa e desenvolvimento. Uma descoberta quase idên- riano, isto pode ser óbvio, considerando que a sua razão
tica já tinha sido adiantada por Woodward anos antes, de ser é mesmo a inovação. Mas, tal empresário já não é
após a conclu.ão do estudo no Essex. . tão comum como antigamente, havendo sido substituído
Kavcic e associados relatam variações significativas pelo chamado "homem organizacional".' Embora este
entre "curvas de controle" em fábricas iugoslavas dedica- último possua uma educação "científica" em administra-
das à fabricação de borracha, confecção de sapatos e lami- ção de empresas baseada essencialmente em princípios e
nação de madeira. Fábricas de borracha (produção de pro- dogmas de caráter relativamente universal. Em conseqüên-
cesso contínuo) mostraram uma quantidade de controle cia, ele provavelmente, acredita que as comunicações que
maior e mais equitativamente distribuída do que as outras. respeitam o princípio hierárquico são sempre boas, que
Perrow, baseando-se numa amostra de 12 fumas inde- um gerente supervisionando mais de uma dúzia de subor-
pendentes escolhidas de duas áreas industriais nos EUA, dinados não pode ser eficiente, que todo "caos administra-
falha em provar a suposição de que a influência de vendas tivo" é solucionado por meio de um esforço normativo, e
seria maior em fumas que usam uma tecnologia rotineira. assim por diante. Se as hipóteses formuladas neste artigo
Aparentemente, variáveis de liderança e a própria história são corretas, ter-se-á demonstrado que tal visão está
organizacional, aspectos estes que não foram medidos, errada.
desempenharam também um papel importante na distri- Em segundo lugar, o artigo entrega elementos de
buição de influência. Alguns dados, no entanto, indicaram análise (especificação de conceitos-chaves, relaciona-
sugestivamente que fumas que apresentavam uma ligação mentos entre variáveis, etc.), que podem ser muito valio-
"inapropriada" entre a sua tecnologia e o nível de influên- sos tanto para o gerente que luta por melhor entender seu
cia de vendas procuraram reorientar este relacionamento ambiente de trabalho, quanto para o consultor que é
para fazê-lo apropriado à teoria. chamado a diagnosticar problemas organizacionais com
vistas a uma possível introdução de mudança. Entender a
Hipótese V maneira pela qual as incertezas ambientais fazem com que
um certo grupo funcional (por exemplo: vendas) se torne
A soma total de influência na organização será mais baixa mais influente dentro de um tipo de organização do que
e desigualmente distribuída entre níveis hierárquicos e em outro pode levar a uma explicação da motivação e/ou
funções numa organização de massa-linha do que numa do desempenho desse grupo (ou daqueles outros grupos
outra organização comparável do processo-contínuo. menos influentes). A teoria das organizações não pode
mais continuar sendo um pacote de áridas formulações
acadêmicas. O seu imediato desafio consiste em começar a
entregar instrumentos analíticos, úteis para o homem de
5. COMENTÁRIOS FINAIS ação, sejam eles métodos de análise ou descobertas pro-
priamente ditas.
Obviamente, este artigo não é (nem pretendia ser) conclu- Em terceiro lugar, o artigo tem um valor didático para
sivo. De fato, as cinco hipóteses mencionadas foram testa- os alunos que freqüentam os diversos cursos de pós-
das através de um caso-estudo de ordem comparativa que graduação em administração de empresas existentes no
incluiu empresas automobilísticas', petroquímicas e farma- país, os quais confrontam a inconfortável tarefa de basear
cêuticas na Grande São Paulo. Os resultados obtidos nesse a sua tese de grau numa pesquisa empírica orígínal, Infeliz-
caso-estudo serão matéria de um outro artigo ainda em mente, não há publicações relativas a pesquisas sobre 15
fase de preparação. Como indicado no começo, a inten- comportamento organizacional no Brasil. Esta pesquisa,
ção aqui era apenas de detalhar a metodologia seguida na então, pode formar parte da base, sobre a qual o pesqui-
formulação de uma pesquisa sobre aspectos básicos de sador possa construir uma ciência do comportamento
comportamento organizacional. Isto foi logrado, primeiro, organizacional que, se ensinada nas maiores escolas de
através de uma rigorosa revisão da literatura existente administração de empresas nacionais, venha a incorporar
sobre o tema da pesquisa. Assim, pelo menos, houve- possi- gradualmente elementos peculiares à realidade brasileira .
bilidade de diferenciar o que é conhecido daquilo mera-
mente presumível. Segundo, com base na classificação
anterior, foi também possível aprimorar os conceitos utili-

zados (variáveis dependentes e independentes) antes de,
finalmente, fcrmular hipóteses específicas de pesquisa.
A esta al :ura, no entanto, o leitor provavelmente per- 1 Baseado em Whyte, W. F. The social structure of the restau-

guntar-se-á sobre a utilidade prática de tanto esforço aca- rant. The American Joumal 01 Sociology, v.54, p. 302-10, Jan.
1949. '
dêmico.Como a ciência do comportamento organiza-
2 Thompson, J. D. & Bates, F. L. Technology, organization and
cional é muito nova, esta interrogação merece ser tomada
administration. Administratille Science Qututerly, v. 3, p. 325-43,
em consideração. Dec.1957.
, Em prímeíro lugar, a lógica que sustenta o artigo todo
3 . Perrow, Charles. Organizational analym: a lOCiologicallliew.
é que as organizações, estruturalmente falando, são signifi- . Belmont. Califomia, Wadsworth Publishing, 1970. p. 100.
4 Magnusen, KarL Technology and organízatíonal differentiation: 28 Blauner, Robert. Aiienation and freedom: th« factory worker
a field study of manufacturing corporations. Unpublished doctoral aM his industry. Chicago, University of Chicago P ess, 1964.
dissertation, University of Wisconsin, Madison, 1970.
29 Perrow, Charles. A framework for the comparative analysis of
5 Burns, Tom & Stalker, G. M. The management of innovation. organizations. American Sociological Review, V. 32, p.191-208,
London, Tavistock Publications, 1961. Apr.1967.

6 Fouraker, Lawrence E. Unpublished manuscript Apud: 30 Fullan. Industrial technology ... op. cito
Lawrence, P. R. & Lorsch, J. W. Organization anâ environment. 31 Hickson, D. J. et alii. Operations technology and organization
New York, R. D. lrwin, 1969. structure: an empirícal reappraisal. Administratille Science Quar-
7 Woodward, Joan. Industrial organization: theory anâ practice. terly, v. 14, p. 378-97, Sep. 1969.
London, Oxford University Press, 1965. 32 Pugh, D. S. et alii. The context of organization structure,
Adminutrattve Science Quarterly, v. 14, p. 91-113, Mar. 1969.
8 Fullan, MichaeL Industrial technology and worker integration
in the organization. Amencan Sociological Review, v.35, 33 Perrow. A framework ... op. cito p. 195.
p, 1028-39, Dec. 1970.
34Thompson, James D. Organizations in action. New York,
9 Mohor, L B. Organizational technology and organizational McGraw-HillBook,1967.
structure. Aâministrative Science Quarterly, v. 15, p.26-9, Oct.
35 Marcn, James G. & Simon, Herbert A. Organizations. New
1970.
York. John Wiley and Sons, 1958.
10 Samuels, ltzka & Mannheim, B. A multidimensional approach
toward a typology of bureaucracy. Admmistrative Science Quar· 36 Perrow. A framework ... op. cito
terty, v. 15, p. 26-9, Oct. 1970. 37 Meissner, Martin. Technology and the worker. New York,
Chandler Publishing, 1969.
11 Hickson, D. J. et a1ii. Operations technology and the context
of organization structures: an empirical reappraisal. Administratille 38 Turner, Arthur N. & Lawrence, Paul R. Industrial jobs and
Science Quarterly, v. 14, p, 378-97, Sep. 1969. workers: an investigation of responses to task attributes. Boston,
Harvard University Press, 1965.
12 lbid. p, 395.
39 Sayles. 8ehavior of industrial work groups ... op. cito
13 Warner, Uoyd W. & Low, J. O. The social system of the
modern factory. The strike: a social analysill. New Haven, Yale 40 Blauner. Alienation and freedom ... op. cito
University Press, 1947.
41 Hickson et alii. Operations technology .•• op. cito p. 391.
14 Mouzelis, Nicos P. Organization and bureaucracy: an analysis 42 Harvey, Edward. Technology and organization structure.
of modem theories: Chicago, IlL Aldine Publishing, 1968. p. 104.
American Sociological Review, V. 33, p. 251-7, Jan. 1968.
15 Chapple, Elliot. Applied anthropology in industry. In: Kroeber, 43 Woodward, Joan.lndustrial orgllnization: behavior and control.
A. L ed, Anthropology today. Glencoe, 111.,The Free Press, 1953. London, Oxford University Press, 1970.
16 Arensberg, Conrad & Tooall, George. Plant sociology: real 44 Ibid. p. 13.
discoveries and new problems. In: Komarovsky, M. ed. Common
frontiers of the social sciences: Glencoe, 111., The Free Press, 45 Turner, 8ernard A. Unpublished research paper on technologi-
1957. cal salience. Imperial College, England, 1970.

17 Whyte, William F. An interaction approach to the theory of 46 Perrow, Charles. Organizlltional analysis: A sociotogical lIiew.
organization. In: Haire, M. ed. Modem organization theory. New Belmont, California, Wadsworth Publishing, 1970. p. 85.
•York, John Wiley and Sons, 1959. 47 Woodward, Joan, lndu,trIIIl orpnization: theory Il1Idpractice.
18 Sayles, Leonard R. Be1uzvior 01 industrial work poups: p'edic~ London, Oxford University Press, 1965.
tion aM controL New York, John Wiley and Sons, 1958. 48 Fullan, Michael. Industrial technology and worker integration
19 Thurley, Keith E. & Hamblla, A. C. The SIIpmI;,or a1td ltU lob. in organization. American SocioloP:lIl Rniew, V. 35, p. 1028-39,
1963. Sedes of Problems of Propess ao Iadustry, n, 13. Dec.1970.
16
49 Dutns, Tom & Sta1ker, G. M.-The management ofi~nova:tion.-
20 Dubin, Robert. Supervision and productivity: empirical find-
London. Tavistoclc Publications, 1961. As summarized in Paul R.
inp and theoretical considentions. In: Dubin, R. et aJü lAuknhip Lawrence and Jay W. Lorsch, Orpnization and Environment. NeW
aIId productivity. San Francisco, Chandler PublishinS, 1965.
York, R. D.lrwin, 1969. p. 188.
21 Bulack, Elmer. Industrial lIIUlI8ement in advanced production 50 Woodwud. Indu,trIIIl orpnizQtion: belulvior artd control. op.
systems: some theoreti<:al coacepts and preliminary findings. cit.p.44.
AmerlcIut SoeiolofictJl Rnlew, Y. 12, p. 497-500, Dec. 1967.
51 Perrow. Organizational analysis ... op. cito p. 91.
Fiedler, Fred E. Eqineer the jolt to fit the maoager. IItIntUd •
22
Burmesr Rnirw. v. 43, p. 115-22, Oct. 1965. 52 Ma!nusen, Karl. Technology and organizational differentiation:
a field study of manufacturing corporations. U"published doctoral
23 Trist, Emery L & llamforth, K. W. Selection from social and dissertatioa, University of Wisconsin, Madison, 1970.
psychological consequences of the long-hall method of coal, 53 Lawrence, Paul R. & Lorsch, Jay W. OrgII"ization and enlliron-
getting. Hu_n Ret.tiOflll, v. 4, p. 6-38, Jan. 1951.
ment. New York, R. D.lrwin, 1969.
24 Gouldner, Alvin W. Ptlttems of industrial democracy. New 54 Woodward. Indu,trial orgtlniz.tio,,: theory 11M practice. op.
York, The Free Press, 1954. cito p. 125.
25 Woodward. Indu,trial Of'IG1tizlltion: theory 11M practice. 55 Penow, Charles. Departmental power and perspective in indus-
London, Oxford University Press, 1965. p, 83. trial fírms. In: Zald, M. N. ed. Power in organizlltions. Nashville,
Tenn. Vanderbilt University Press, 1970.
26 Lawrence, Paul R. & Lorsch, Jay W. Organlzlltion 11Menlliron·
56 Kavcic, Boris et alii. Control, participation and effectíveness in
ment. New York, R. D. lrwin, 1969.
four Jugoslav industrial organizations. A.dministratille Science
27 Magnusen. op, cito p. 27. Quarterly, V. 16, p. 74-83, Mar. 1971.

Revilltll de Admin;,traç40 de Emprerll'

S-ar putea să vă placă și