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As paredes têm ouvidos

por Reinaldo Polito

Nos meus primeiros tempos morando na capital de São Paulo, logo depois de ter
chegado do Interior, garotão ainda, trabalhei como estagiário numa empresa do mercado
financeiro. O trabalho dos estagiários consistia em pegar uma pilha de fichas, que continham
dados de empresas que funcionavam na região da Grande São Paulo, ligar para o gerente
financeiro e oferecer empréstimos em moeda estrangeira, regulados pela Lei n° 4131 e
Resolução n° 63 do Banco Central.
Para preparar bem o estagiário a exercer essa função a empresa ministrou um curso
intensivo de pouco mais de três meses, ensinando de maneira prática e muito eficiente tudo
o que era preciso saber sobre matemática financeira, análise de balanço, técnicas de
vendas, de negociação, de conversa por telefone e, é óbvio, como funcionavam as
operações de empréstimo. Assim, o estagiário teria condições de marcar uma entrevista com
o gerente financeiro, explicar os custos da operação e fazer uma rápida análise da situação
da empresa, antes da proposta oficial do pedido de empréstimo.
Encontrar uma empresa que aceitasse aquele tipo de empréstimo e com cadastro em
condições de ser aprovado pelos analistas de crédito era muito raro. Quando dava certo era
uma festa. Sobrava comissão para todo mundo, até para o estagiário que não tinha tido
nenhum tipo de participação.
Por isso, as operações em andamento eram tratadas como se fossem segredo de
estado. E nesse ponto o curso apresentou um módulo muito curioso, que jamais esqueci. A
cada final de matéria ministrada um dos diretores fazia uma palestra falando sobre a
importância do sigilo e de como seria perigoso para os negócios conversar sobre as
operações no elevador, no táxi e até no banheiro. Cada orientação era ilustrada por
exemplos de negócios que foram perdidos por causa de conversas que poderiam ter sido
evitadas. Na época achei que tudo não passava de exagero e invencionice dos diretores.
Mas, como o tema era recorrente, ninguém ousava pensar alto sobre as operações fora das
paredes da empresa.
Cada pessoa que se aproximava de mim eu tinha a impressão de que era para
bisbilhotar minhas operações.
O ministro Rubens Ricupero deveria ter feito o curso
Você se lembra bem do que ocorreu com o ex-ministro Rubens Ricupero. Ele estava
numa emissora de televisão com o jornalista Carlos Monfort e enquanto aguardavam o
momento da entrevista conversavam de maneira descontraída. Não consideraram,
entretanto, que já estavam com o microfone na lapela do paletó e toda a conversa foi
transmitida por uma antena parabólica.
Nem sempre nossas opiniões pessoais, que expressamos apenas nas situações mais
íntimas, como em casa ou nas pequenas rodas de amigos, podem ser discutidas livremente
na vida pública ou nos contatos profissionais. O que dizer então de uma pessoa que, como
ministro, ocupa uma das funções mais importantes do País?
Sempre fui e sou admirador do ministro Ricupero, pois o considero um homem íntegro,
experiente e muito bem preparado. Ocorre que naquele momento de descontração, muito à
vontade com o jornalista, com quem, pelas informações divulgadas, tinha um distante grau
de parentesco, comportou-se como se estivesse na sala de visitas da sua própria casa e fez
algumas revelações indiscretas e contou algumas vantagens. Por aquilo que conheço do
ministro, o que ele disse não tinha muito a ver com o que sentia. Eram apenas palavras de
uma pessoa que conversava em família. Mas, quem ouviu a conversa entendeu que as
informações eram fruto do que ele efetivamente pensava e a situação ficou tão insustentável
que foi obrigado a pedir demissão do cargo.
Talvez a história do Brasil tivesse tomado um rumo muito diferente se não fosse
aquele episódio.Todas as vezes que vou para uma entrevista em emissoras de televisão e o
técnico de som coloca o microfone, garantindo taxativamente que o aparelho está desligado
e que só entrará em funcionamento durante minha participação no programa, lembro-me do
caso do ministro Ricupero e fico com tanto receio de dizer o que não deveria que deixo até
de pensar.
Quando você estiver em emissoras de rádio ou de televisão, em auditórios ou salas de
evento evite fazer comentários que de alguma maneira poderiam prejudicá-lo ou provocar
mal-entendidos. Esses locais estão empestados de microfones com todas as sensibilidades
possíveis e o risco de estar sendo ouvido por alguém nunca pode ser descartado. E o mais
grave é que nesses momentos de descontração, dependendo de quem nos acompanha, às
vezes acabamos por falar o que na verdade nem temos tanta convicção, mas, como no caso
do ministro Ricupero, falou está falado, e pior, gravado, e aí não adianta mais querer
explicar.

A lição da Hoescht

Ministrei 16 cursos in company para os executivos da Hoescht. Os primeiros


ocorreram quando os escritórios da empresa ainda estavam localizados no centro de São
Paulo, próximo da Praça da República. Eram instalações muito boas, embora fossem apenas
sombra do magnífico prédio para onde se mudaram na Marginal Pinheiros.
Nas antigas instalações havia um banheiro masculino com cerca de cinco sanitários
isolados em cubículos um ao lado do outro para que o usuário tivesse privacidade. A porta
desse cubículo começava a uns 20 centímetros do chão, deixando um vão por onde se podia
ver os pés de alguém que estivesse lá dentro.
Em um dos intervalos da aula, próximo do horário do almoço, fui até o banheiro com o
professor Jairo Del Santo Jorge, que trabalha comigo praticamente desde o princípio, para
lavar as mãos.
Como é normal em todo processo de treinamento, os alunos apresentam maior ou
menor grau de dificuldade de aprendizagem dependendo da circunstância, do grupo e deles
individualmente. Cabe ao instrutor identificar as características de cada aluno, descobrir os
motivos que os impedem de aprender e planejar os caminhos para que todos do grupo
possam aprender e se desenvolver com o mesmo aproveitamento. Os motivos inibidores são
os mais diversos e em determinadas situações são aqueles que menos se espera, como a
presença de uma pessoa querida da família ou de um amigo muito próximo.
Nesse dia especificamente dois alunos apresentavam dificuldades bem acentuadas
para acompanhar o desempenho do grupo. Por isso, ao entrarmos no banheiro, foi natural
que começássemos a comentar sobre o que estava ocorrendo com os dois alunos e
chegamos à conclusão de que o problema estava na presença em sala de aula de um
superior hierárquico deles, que pela sua importância os inibia no treinamento.
Como estávamos sozinhos no banheiro a conversa iniciou sem os cuidados
diplomáticos que teríamos se estivéssemos junto a outras pessoas, mesmo que não
pertencessem àquele grupo. Entretanto, no meio dos comentários que fazíamos sobre as
conseqüências da presença do chefe todo-poderoso em sala de aula, descobrimos que na
verdade não estávamos tão sozinhos assim. O Jairo me olhou meio preocupado e apontou
para um par de sapatos que podiam ser vistos pelo vão da porta. E pior, eram os sapatos do
chefe que naquele instante era alvo dos nossos comentários.
Não falávamos mal dele, apenas comentávamos sobre como tornar sua presença
menos inibidora para os dois alunos, que eram seus subordinados. Mas, bem ou mal o
comentário era sobre ele. Nunca descobrimos se ele ouviu o que dissemos, mas aquele dia
foi para nós um excelente aprendizado. De lá para cá, sempre que começamos a conversar
sobre qualquer assunto que não possa ser ouvido por outras pessoas olhamos para todos os
lados e ao sinal do menor risco de que alguém esteja por perto usamos o nosso código -
Hoescht, ou seja, cuidado para não cometermos o mesmo deslize daquele inesquecível dia
no banheiro da multinacional alemã.
Fique atento para essas situações, pois às vezes pensamos que estamos tão
sozinhos e protegidos que nem percebemos a presença de outras pessoas e podemos
descobrir mais tarde que alguém estava nos fazendo companhia e ouvindo o que não
poderia ouvir.

O perigo do avião

O avião é muito perigoso, mas não como meio de transporte, pois dizem os
especialistas que em matéria de segurança só perde para o elevador.
Como você já deve estar imaginando, estou me referindo ao perigo que o avião
representa para conversas que deveriam ser sigilosas. Como viajo muito de avião, já ouvi de
tudo de pessoas que estavam no banco da frente, de trás, do lado e até de algumas que em
viagens mais longas ficam de pé para dar uma esticada nas pernas. Ouvi relatos inteiros
sobre estratégia de lançamento de produtos, compra e venda de empresas, fusões e, como
não poderia deixar de ser, de confusões matrimoniais. Não sei se pelo barulho das turbinas
do avião, ou pelo fato de, normalmente, cada um ficar com seu companheiro de viagem sem
que ninguém lhe dirija a palavra, o certo é que as pessoas falam como se estivessem
sozinhas naquele vôo, e conversam às vezes sobre segredos que poderiam comprometer
seus negócios.
Há poucos dias comentei esse fato com o diretor de uma grande empresa de
telecomunicação do norte do País, que fazia um treinamento individual comigo, e ele me
disse que mudou toda uma campanha publicitária que estava pronta para ser lançada porque
durante um vôo de São Paulo para Belém ouviu com detalhes a conversa de um concorrente
que estava sentado bem à sua frente.
Por mais protegido e isolado que você possa se sentir num avião, mesmo que o
passageiro do lado esteja com os olhos fechados e pinta de quem está no terceiro sono, não
fale o que ele não poderia ouvir, e se falar acerte o volume para que ele não ouça.
Presenciei um fato que mostra que a inconveniência da conversa pode continuar até
fora do avião. Num dia de grande movimento no aeroporto de Congonhas, em São Paulo,
depois de descermos de um avião que nos trouxera de Brasília, ficamos um bom tempo
dentro do ônibus que nos levaria até à sala de desembarque. Na parte de trás do ônibus
estava um grupo de executivos de uma instituição financeira conversando calorosamente.
Em alguns minutos foi possível saber toda a história da empresa, o nome do vice-presidente,
a quantidade de créditos mal-sucedidos que aprovara na sua gestão, o volume do prejuízo,
enfim, todas as informações que só poderiam constar de um relatório ultraconfidencial dos
auditores. Eu não tenho nenhuma ligação com o mercado financeiro, mas provavelmente
naquele ônibus estavam muitos profissionais ligados a essa área e outros tantos empresários
que poderiam estar fazendo negócio, depositando e aplicando dinheiro naquela instituição.
Bem, são muitas as hipóteses e muito maiores ainda as chances de uma conversa como
aquela produzir um bom prejuízo.

De leve no celular

Pelo fato de a pessoa falar pelo celular sem que o seu interlocutor possa ser visto e
ouvido pelos outros, os cuidados com o sigilo da conversa em determinadas circunstâncias
diminuem muito.
Já que falamos tanto em avião, o aeroporto é um local onde as pessoas por
precisarem quase sempre esperar muito tempo aproveitam para pôr seus contatos e
compromissos em ordem. É comum observar executivos com agendas abertas ligando para
várias pessoas e tratando dos mais diferentes assuntos. Alguns se fecham no seu mundo e
se esquecem de que estão falando pelo telefone em público e sem censura vão desfiando
confidências que fazem a alegria dos passageiros que estão ao seu lado, aguardando seus
vôos, sem nada para fazer e atentos a tudo que se passa ao redor. Depois de algum tempo
as pessoas se acostumam com os ruídos do ambiente e como se usassem uma espécie de
filtro se concentram apenas na conversa interessante do vizinho descuidado.
Portanto, tenha muito cuidado com o uso de telefone celular em locais públicos e fique
atento para não conversar sobre assuntos delicados, que deveriam ser guardados em
segredo, quando puder ser ouvido por aqueles que estão perto de você.
Falando em telefone e em sigilo de conversa, nunca confie que ao falar pelo telefone,
seja ele celular ou fixo, esteja tendo a privacidade que precisa. A cada dia surgem notícias
de telefones que foram grampeados e de pessoas que tiveram sua conversa divulgada pelos
meios de comunicação.
Quando tiver de tratar de um assunto muito importante, que não possa ser ouvido por
ninguém, prefira falar pessoalmente, e, se não for possível, por causa da distância ou da
urgência, troque de aparelho e sugira que o seu interlocutor faça o mesmo. Mas, se posso
dar um bom conselho, evite sempre tratar de qualquer assunto mais delicado pelo telefone,
pois além do perigo do grampo há ainda o risco das ligações cruzadas, que também são
muito comuns.

Táxi, táxi

Assim como aconteceu comigo diversas vezes, também já deve ter ocorrido com você.
Ao conversar normalmente num táxi lá pelas tantas o motorista, que parecia estar alheio a
tudo e prestando atenção apenas no trânsito, entra repentinamente no meio da conversa.
Geralmente dizem assim: "O senhor desculpe me intrometer, mas também acho que..." Dá a
opinião dele, demonstrando que desde o princípio não havia perdido uma vírgula do que
estava sendo falado.
O problema não é o fato de o motorista querer participar da conversa, na verdade, não
é mesmo problema nenhum, porque de maneira geral eles são simpáticos e muito
comunicativos. A precaução que devemos ter é com o que dissermos dentro do táxi, pois a
conversa estará sendo ouvida pelo motorista, que logo em seguida irá apanhar outro
passageiro, às vezes até no mesmo prédio onde nos deixou e, de forma ingênua, sem
maldade, poderá contar para outra pessoa a conversa que acabou de presenciar.
Fale com o motorista de táxi, converse tudo o que desejar com ele, porque considero
uma boa forma de nos mantermos atualizados, mas tome muito cuidado com as conversa
que tiver perto desse profissional. Lembre-se de que outras pessoas poderão saber por ele
os assuntos que foram discutidos.

Cuide-se em toda parte

Não vamos nos transformar em pessoas paranóicas, imaginando que em todo lugar
há gente querendo ouvir nossa conversa, mas não podemos facilitar e sermos negligentes
diante de situações que poderiam ser evitadas. Fique atento nos elevadores, corredores da
empresa, saguões de hotel, aeroportos, enfim, em todos os lugares onde outras pessoas
possam estar ouvindo o que falamos.
Para encerrar esse assunto sobre ouvir conversas vou reproduzir uma anedota que
me foi contada pelo meu amigo Aluízio Derizans: Um homem estava indo para casa quando
sentiu uma forte dor de barriga. Como estava perto de um shopping, entrou para usar o
banheiro. Ao verificar que o primeiro sanitário estava ocupado, dirigiu-se imediatamente para
o seguinte que estava livre. Assim que se sentou ficou intrigado ao ouvir uma pergunta da
pessoa que estava ao lado:
— E aí? Tudo bem?
Julgou que seria melhor ficar calado e não responder , mas para evitar confusão deu
uma rápida resposta:
— Legal...Vou indo.
Em seguida a mesma pessoa voltou a perguntar:
— E o que você anda fazendo de importante?
Embora achasse esquisito o fato de responder perguntas de um estranho que nem
estava vendo e num banheiro público, ainda com o firme propósito de não criar encrenca,
respondeu:
— Conforme você percebeu, agora estou aqui no banheiro. E saindo daqui vou para
casa descansar.
E quase caiu duro quando o vizinho resmungou:
— Acho melhor ligar depois. Apareceu um babaca aqui ao lado que responde sempre
que faço uma pergunta a você.
Ninguém mais falou nada.

Reinaldo Polito
Revista Vencer nº 41

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