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CONTRATOS E
LICITAÇÕES
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3 UNIDADE 1 – Introdução
5 UNIDADE 2 – Conhecendo a Surdez e Suas Implicações
5 2.1 O processo da audição

10 2.2 A surdez ao longo da história

17 2.3 Evolução histórica da Educação de Surdos no Brasil

19 2.4 A linguagem e a surdez

20 2.5 A surdez – graus e classificações

24 UNIDADE 3 – Deficiência Auditiva/Surdez

SUMÁRIO
24 3.1 Diagnóstico da deficiência auditiva

28 3.2 Classificação das perdas auditivas

29 3.3 Identificando crianças com surdez

32 UNIDADE 4 – As Identidades Surdas – Categorizando As Pessoas Surdas


32 4.1 Identidade política

32 4.2 Identidades surdas híbridas

33 4.3 Identidades surdas flutuantes

33 4.4 Identidades surdas embaraçadas

34 4.5 Identidades Surdas

34 4.6 Identidades surdas de diáspora

34 4.7 Identidades surdas intermediárias

36 UNIDADE 5 – A Língua de Sinais


37 5.1 A Língua Brasileira de Sinais

41 5.2 Datilologia ou Alfabeto manual

44 UNIDADE 6 – Filosofias Educacionais/Propostas de Ensino


45 6.1 Educação Bilíngue

46 REFERÊNCIAS

49 ANEXOS
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UNIDADE 1 – Introdução

A voz dos surdos são as mãos e os por essa parcela da sociedade.


corpos que pensam, sonham e ex-
Uma unidade foi dedicada à surdez en-
pressam. As línguas de sinais envol-
quanto deficiência, seu diagnóstico, a classi-
vem movimentos que podem parecer
ficação das perdas auditivas e a identificação
sem sentido para muitos, mas que
de crianças com surdez para que possamos
significam a possibilidade de orga-
ajudar a construir uma história diferente
nizar as ideias, estruturar o pensa-
para elas.
mento e manifestar o significado da
vida dos surdos. As identidades surdas; propostas de en-
sino partindo da educação monolíngue até a
Pensar sobre a Surdez requer pe-
educação bilíngue; a língua de sinais propria-
netrar no “mundo” dos surdos e “ou-
mente dita completam nossos estudos nes-
vir” as mãos que com alguns movi-
te primeiro momento.
mentos nos dizem o que fazer para
tornar possível o contato entre os Não poderíamos nos furtar a ilustrar este
mundos envolvidos. Permita-se a tipo de comunicação, portanto, ilustrações
“ouvir” estas mãos. Somente assim variadas ajudarão a visualizar a comunicação
será possível mostrar aos surdos entre os surdos e estes para conosco, princi-
como eles podem “ouvir” o silêncio palmente nos demais módulos.
da palavra.
Ressaltamos em primeiro lugar que embo-
Ronice Quadros ra a escrita acadêmica tenha como premissa
ser científica, baseada em normas e padrões
Com a epígrafe acima convidamos vocês da academia, fugiremos um pouco às regras
a se permitirem penetrar no mundo dos sur- para nos aproximarmos de vocês e para que
dos, despojados de qualquer preconceito, os temas abordados cheguem de maneira
e ouvi-los, para que juntos possamos fazer clara e objetiva, mas não menos científicos.
uma caminhada em prol da prevalência da ci- Em segundo lugar, deixamos claro que este
dadania a que todos temos direito. módulo é uma compilação das ideias de vá-
O título deste módulo “Introdução à Lín- rios autores, incluindo aqueles que conside-
gua de Sinais” não traduz fielmente o que ramos clássicos, não se tratando, portanto,
buscamos, visto que nossa proposta não é de uma redação original e tendo em vista o
ensinar a língua de sinais, mas despertá-los caráter didático da obra, não serão expres-
para os meandros desta língua, o que passa sas opiniões pessoais. Em especial no tocan-
necessariamente por conhecermos a sur- te à LIBRAS, as pesquisadoras do mundo da
dez e suas implicações, que por sua vez nos LIBRAS, Márcia Honora, Mary Lopes Esteves
levam a compreender a priori o processo da Frizanco; Lucinda Ferreira Brito; Ronice Mül-
audição. A surdez ao longo da história tam- ler de Quadros e Lodenir Becker Karnopp, se-
bém enriquecerá nossa compreensão, diga- rão nossas guias em todos os módulos.
mos, em termos políticos e de cidadania, pois Ao final do módulo, além da lista de refe-
veremos os avanços e retrocessos vividos
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rências básicas, encontram-se outras que


foram ora utilizadas, ora somente consulta-
das, mas que, de todo modo, podem servir
para sanar lacunas que por ventura venham
a surgir ao longo dos estudos.
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UNIDADE 2 – Conhecendo a Surdez e Suas
Implicações
Dois passos básicos, mas importantes movimentação das partículas do ar. Qual-
para trabalhar com alunos surdos e sur- quer evento capaz de causar ondas de
dos-mudos são: compreender o proces- pressão no ar é considerado uma fonte
samento normal da audição, que inclui o sonora.
conhecimento das estruturas anatômicas
A fala, por exemplo, é o resultado do
do ouvido humano e de seu funcionamen-
movimento dos órgãos fonoarticulató-
to e conhecer a surdez ao longo da história
rios, que por sua vez provoca movimenta-
para percebermos os avanços e retroces-
ção das partículas de ar, produzindo então
sos que essas pessoas sofreram ao longo
o som.
da existência humana.
Perceber, reconhecer, interpretar e,
É através da audição que aprendemos
finalmente, compreender os diferentes
a identificar e reconhecer os diferentes
sons do ambiente só é possível graças à
sons do ambiente. As informações trazi-
existência de três estruturas que fun-
das pela audição, além de funcionarem
cionam de forma ajustada e harmoniosa,
como sinais de alerta, auxiliam o desen-
constituindo o sistema auditivo humano.
volvimento da linguagem, possibilitando a
comunicação oral com nossos semelhan- O ouvido humano é composto por três
tes. partes: uma, é externa; as outras duas (in-
ternas) estão localizadas dentro da caixa
Vamos então ao primeiro passo a ser
craniana. A orelha é uma obra de arte de
dado? Conhecer o processo da audição!
engenharia que consiste em três partes:
orelha externa, orelha média e orelha in-
2.1 O processo da audição terna (HONORA; FRIZANCO, 2008).
O som é um fenômeno resultante da
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A parte externa, também chamada de trutura que tem o tamanho de um grão


ouvido externo, compreende o pavilhão de feijão e o formato de um caracol), os
auricular (orelha), o conduto auditivo e canais semicirculares (responsáveis pelo
a membrana timpânica. Essa estrutura equilíbrio) e o nervo auditivo. É nessa por-
tem por função receber as ondas sonoras, ção do ouvido que ocorre a percepção do
captadas pela orelha e transportá-las até som.
a membrana timpânica ou tímpano, fa-
Em razão de termos essa tuba auditiva
zendo-a vibrar com a pressão das ondas
que liga nossa garganta à orelha média,
sonoras. A membrana timpânica separa o
pode-se acumular pus nessa região, de-
ouvido externo do ouvido médio.
vido às infecções de ouvido (otites), por
O pavilhão auricular é uma estrutura uso indevido de mamadeiras e amamen-
externa semelhante a um funil, feita de tação dada para o bebê enquanto ele está
cartilagem e pele que tem a função de deitado. Por este motivo, também podem
captar as ondas sonoras e as desviar para ocorrer lesões no tímpano devido ao seu
dentro do conduto auditivo externo, que rompimento para a saída desse líquido.
é o corredor que encaminha, amplificando
Muitas crianças em idade escolar apre-
a onda sonora até o tímpano, o qual vibra
sentam este problema, o que pode dimi-
como se fosse o couro de um tambor.
nuir sua atenção auditiva e consequente-
No ouvido médio, ou seja, na face inter- mente causar deficiência auditiva.
na no tímpano, que é uma câmara cheia de
No conduto auditivo externo, temos a
ar, estão localizados três ossos muito pe-
presença de pelos e de certas glândulas
quenos (martelo, bigorna e estribo). Esses
que produzem cera para proteger a ore-
ossículos são presos por músculos, conec-
lha; portanto, a limpeza exagerada desse
tados entre si, tendo por função mover-se
local pode causar danos e até lesões sé-
para frente e para trás, colaborando no
rias na audição. Vale lembrar também que,
transporte das ondas sonoras até a parte
quando o tímpano, ou a membrana timpâ-
interna do ouvido.
nica, é perfurada, podemos ter perda de
Esses ossos recebem esses nomes pela audição e até ser submetidos a uma cirur-
semelhança que têm com esses objetos. gia de enxerto para a sua reconstrução.
Os ossículos unem o tímpano à janela oval,
O processo de decodificação de um es-
uma abertura no revestimento ósseo da
tímulo auditivo tem início na cóclea e ter-
cóclea. Ainda na orelha média, está loca-
mina nos centros auditivos do cérebro,
lizada a tuba auditiva que é a nossa liga-
possibilitando a compreensão da mensa-
ção entre o ouvido, o nariz e a garganta. É
gem recebida.
o que nos dá a sensação de sentir o gosto
de alguns remédios quando os pingamos Qualquer alteração ou distúrbio no pro-
no nariz. cessamento normal da audição, seja qual
for a causa, tipo ou grau de severidade,
A porção interna do ouvido, também
constitui uma alteração auditiva, deter-
denominado ouvido interno, é muito es-
minando, para o indivíduo, uma diminui-
pecial. Nela estão situados: a cóclea (es-
ção da sua capacidade de ouvir e perceber
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os sons (GOMES, 2006). O processo funciona da seguinte for-


ma: o som entra pela orelha externa, pas-
Enfim, é por meio da audição que con-
sa pelo conduto auditivo externo, onde
seguimos identificar e reconhecer os
é amplificado e faz com que a membrana
diferentes sons do ambiente, além de
timpânica vibre. A membrana timpânica
podermos nos comunicar com nossos se-
vibra e faz com que os ossículos (martelo,
melhantes.
bigorna e estribo) também vibrem como
A cóclea é a estrutura do ouvido pela numa alavanca. Os ossículos amplificam
qual ouvimos. Ela é do tamanho de uma e transmitem as vibrações para a janela
ervilha e é nela que estão localizados os oval posicionada na entrada da cóclea. Na
receptores auditivos. Quando as ondas cóclea, as células ciliadas se movimentam
sonoras fazem o tímpano vibrar, essas vi- e transformam os sons recebidos em im-
brações são transmitidas para os ossícu- pulsos elétricos que caminham até o cére-
los que, por sua vez, produzem uma ação bro pelo nervo auditivo. No cérebro, estes
semelhante à de uma alavanca, transmi- impulsos elétricos são codificados e “en-
tindo e amplificando as vibrações para a tendidos” pela pessoa. Enfim: uma estru-
membrana que reveste a janela oval da tura bem complexa!
cóclea.
Temos em média 15 mil células ciliadas
A cóclea, que tem esse nome porque em nossa orelha interna. A boa notícia é
parece um caracol, é uma estrutura oca que elas são muito numerosas e a péssi-
e os compartimentos desse espaço são ma notícia é que elas não nascem mais,
preenchidos por líquido, onde há uma não se regeneram.
membrana fina denominada membrana
Como bem explicam Honora e Frizanco
basilar, na qual estão inseridas as células
(2008), toda vez que formos a um show
ciliadas (cílios), que são nossos receptores
de heavy metal e, ao chegarmos em casa,
auditivos, que são estruturas com termi-
escutarmos nosso ouvido apitar, significa
nações nervosas capazes de converter as
que algumas de nossas células ciliadas es-
vibrações mecânicas (ondas sonoras) em
tão morrendo.
impulsos elétricos, os quais são enviados
ao nervo auditivo e deste para os centros O som tem três dimensões físicas: fre-
auditivos do cérebro. quência, amplitude e complexidade, como
demonstra a tabela a seguir.
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Embora o som seja transmitido a uma como agudos têm frequências elevadas
velocidade de cerca de 330 metros por (muitos ciclos por segundo).
segundo, as ondas sonoras variam no que
Podemos perceber os sons apenas
se refere à taxa de vibração, conhecida
dentro de um intervalo limitado de fre-
como frequência. Mais precisamente, a
quência. Para os humanos, esse interva-
frequência se refere ao número de ciclos
lo se estende de aproximadamente 20 a
de uma onda, completados em um deter-
20.000 hertz. Como os humanos, muitos
minado período. As frequências das ondas
animais produzem algum tipo de som para
sonoras são medidas em unidade de ciclos
se comunicar, o que significa que devem
por segundo, denominada hertz (Hz).
possuir sistemas auditivos designados
Um hertz é um ciclo por segundo, 50 para interpretar os sons típicos de sua
hertz são 50 ciclos por segundo, e assim espécie. Os intervalos das frequências
por diante. Os sons que percebemos como sonoras que as diferentes espécies usam
graves têm frequências baixas (poucos variam muito. Na figura a seguir, podemos
ciclos por segundo) e os que percebemos observar essas diferenças.
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As rãs ouvem apenas uma faixa muito energia em uma onda sonora, o que faz o
estreita de frequências, enquanto as ba- volume do som parecer mais alto – mais
leias e os golfinhos ouvem uma faixa mais amplificado.
ampla. Embora nos humanos a faixa de
A amplitude do som geralmente é medi-
audição seja bastante extensa, com um
da em decibéis (dB), medida que descreve
pico de cerca de 2.000 hertz, não somos
a potência de um som em relação à inten-
capazes de perceber muitos dos sons que
sidade de referência padronizada. Sons
outros animais podem produzir e ouvir.
superiores a aproximadamente 70 deci-
Além da frequência, a amplitude pode béis são percebidos como altos, enquanto
causar uma diferença no tom percebido. A os inferiores a 20 decibéis são considera-
amplitude é o termo que se refere à mag- dos baixos. Os sons da fala normal estão
nitude da mudança na densidade de mo- em cerca de 40 decibéis.
léculas de ar. O aumento na compressão
A união dessas duas propriedades do
de moléculas de ar eleva a quantidade de
som está ilustrada no gráfico a seguir:

Temos também o sistema vestibular do movimento. Também nos permitem


que nos informa sobre nossa localização ignorar a influência desestabilizadora que
em relação à gravidade, sobre a acelera- nossos movimentos poderiam exercer
ção e a desaceleração de nossos movi- sobre nós. Por exemplo, quando estamos
mentos e sobre as alterações na direção em pé em um ônibus, até mesmo os mo-
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vimentos leves do veículo poderiam fazer Nesta época, a sociedade era dividida
com que perdêssemos o equilíbrio, mas em feudos. Nos castelos, os nobres, para
não o fazem. Do mesmo modo, ao fazer- não dividir suas heranças com outras fa-
mos movimentos, evitamos um tombo mílias, acabavam casando-se entre si, o
com facilidade, apesar de deslocarmos o que gerava grande número de Surdos en-
peso do corpo constantemente. Nosso tre eles.
sistema vestibular nos possibilita evitar o
Por não terem uma língua que se fizes-
tombo.
se inteligível, os Surdos não iam se confes-
sar. Suas almas passaram a ser considera-
2.2 A surdez ao longo da his- das mortais, pois eles não podiam falar os
tória sacramentos. Foi então que ocorreu a pri-
Veremos, como nos contam Honora e meira tentativa de educá-los, inicialmen-
Frizanco (2009), que foram muitos os pre- te de maneira preceptorial. Os monges
conceitos para com os Surdos e essa his- que estavam em clausura, e haviam feito
tória remonta à Antiguidade quando sua o Voto do Silêncio para não passar os co-
educação variava de acordo com a con- nhecimentos adquiridos pelo contato com
cepção que se tinha deles. Para os gregos os livros sagrados, haviam criado uma lin-
e romanos, em linhas gerais, o Surdo não guagem gestual para que não ficassem
era considerado humano, pois a fala era totalmente incomunicáveis. Esses mon-
resultado do pensamento. Logo, quem ges foram convidados pela Igreja Católica
não pensava não era humano. Não tinham a se tornarem preceptores dos Surdos.
direito a testamentos, à escolarização e A Igreja Católica tinha grande influên-
a frequentar os mesmos lugares que os cia na vida de toda sociedade da época,
ouvintes. Até o século XII, os Surdos eram mas não podia prescindir dos que deti-
privados até mesmo de se casarem. nham o poder econômico. Portanto, pas-
Certa vez, Aristóteles afirmou que con- sou a se preocupar em instruir os Surdos
siderava o ouvido como o órgão mais im- nobres para que o círculo não fosse rompi-
portante para a educação, o que contri- do. Possuindo uma língua, eles poderiam
buiu para que o Surdo fosse visto como participar dos ritos, dizer os sacramentos
incapacitado para receber qualquer ins- e, consequentemente, manter suas almas
trução naquela época. imortais. Além disso, não perderiam suas
posições e poderiam continuar ajudando a
Na Idade Média, a Igreja Católica teve Santa Madre Igreja.
papel fundamental na discriminação no
que se refere às pessoas com deficiência, É somente a partir do final da Idade
já que para ela o homem foi criado à “ima- Média que os dados com relação à educa-
gem e semelhança de Deus”. Portanto, ção e à vida do Surdo tornam-se mais dis-
os que não se encaixavam neste padrão poníveis. É exatamente nesta época que
eram postos à margem, não sendo consi- começam a surgir os primeiros trabalhos
derados humanos. Entretanto, isso inco- no sentido de educar a criança surda e de
modava a Igreja, principalmente em rela- integrá-la (ainda não é inclusão) na socie-
ção às famílias abastadas. dade.
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Até o século XV, os Surdos – bem como não dividirem os bens com estranhos.
todos os outros deficientes – tornaram-se Dois membros dessa família foram para
alvo da Medicina e da religião católica. A o mosteiro de Ponce de Leon e lá, junto
primeira estava mais interessada em suas dele, deram origem à Língua de Sinais.
pesquisas e a segunda, em promover a ca- Ponce de Leon foi tutor de muitos Surdos
ridade com pessoas tão desafortunadas, e foi dado a ele o mérito de provar que a
pois para ela a doença representava puni- pessoa Surda era capaz, contrariando a
ção. afirmação anterior de Aristóteles. Seus
alunos foram pessoas importantes que
No ocidente, os primeiros educadores
dominavam Filosofia, História, Matemá-
de Surdos de que se tem notícia, começam
tica e outras ciências, o que fez com que
a surgir a partir do século XVI. Um deles
o trabalho de Leon fosse reconhecido em
foi o médico, matemático e astrólogo ita-
toda a Europa. Pelo pouco que restou de
liano Gerolamo Cardano (1501-1576), cujo
registro de seu método, sabe-se que seu
primeiro filho era Surdo. Cardano afirma-
trabalho iniciava com o ensino da escrita,
va que a surdez não impedia os Surdos de
por meio dos nomes dos objetos, e em se-
receberem instrução. Ele fez tal afirma-
guida o ensino da fala, começando pelos
ção depois de pesquisar e descobrir que
fonemas.
a escrita representava os sons da fala ou
das ideias do pensamento. Os nobres, que tinham em sua famí-
lia um descendente Surdo, começaram a
Pedro Ponce de Leon (1510-1584),
educá-lo, pois os primogênitos Surdos não
monge beneditino que viveu em um mo-
tinham direito à herança se não aprendes-
nastério na Espanha, em 1570, também
sem a falar, o que colocava em risco toda a
passou a usar sinais rudimentares para se
riqueza da família. Se falassem teriam ga-
comunicar, pois lá havia o Voto do Silêncio.
rantidos sua posição e seu reconhecimen-
Uma autora checa surda, Strnadová to como cidadão.
(2000), contou em seu livro que foi desta
No século XVI, a grande revolução se
forma que se teve o registro da primeira
deu pela concepção de que a compreen-
vez que se fez uso do alfabeto manual:
são da ideia não dependia da audição de
“Não conversavam entre si em voz alta,
palavras.
porém seus dedos tagarelavam. Eram
monges, mas não eram bobos”. Honora e Em 1620, o padre espanhol Juan Pablo
Frizanco (2009) acreditam que a privação Bonet (1579-1633), filólogo e soldado a
de comunicação que existia neste mos- serviço secreto do rei, considerado um dos
teiro possibilitou a criação de outra forma primeiros preceptores de Surdos, criou
de expressão, não muito diferente do que o primeiro tratado de ensino de surdos-
observam na convivência com os Surdos. -mudos (termo que se refere ao passado,
hoje em desuso) que iniciava com a escrita
Há registros de que uma família espa-
sistematizada pelo alfabeto, que foi edi-
nhola teve muitos descendentes Surdos
tado na França com o nome de Redação
por ter o costume, já mencionado ante-
das Letras e Artes de Ensinar os Mudos a
riormente, de se casarem entre si para
Falar. Bonet foi quem primeiro idealizou e
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desenhou o alfabeto manual. Ele, em seu todo usado até hoje em terapias fonoau-
livro, destaca como ideia principal que se- diológicas.
ria mais fácil para o Surdo aprender a ler
Para Amman, o foco do seu trabalho era
se cada som da fala fosse substituído por
o Oralismo, pois acreditava que os Surdos
uma forma visível.
eram pouco diferentes dos animais, devi-
Alguns estudiosos da língua também do à incapacidade de falar. Acreditava que
se dedicaram ao ensino dos Surdos e um “na voz residiria o sopro da vida, o espírito
exemplo é o holandês Van Helmont (1614- de Deus” (MOURA, 2000). Era contra o uso
1699) que propunha a oralização do Surdo da Língua de Sinais, acreditando que seu
por meio do alfabeto da língua hebraica, uso atrofiava a mente, impossibilitando
pois, segundo ele, as letras hebraicas in- o Surdo de, no futuro, desenvolver a fala
dicavam a posição da laringe e da língua por meio do pensamento. O segredo de
ao reproduzir cada som. Helmont foi quem seu método só foi descoberto após a sua
primeiro descreveu a leitura labial e o uso morte. Relatos demonstram que usava o
do espelho, que posteriormente foi aper- paladar para a aquisição da fala.
feiçoado por Amman.
No século XVII, era percebido o grande
Jacob Rodrigues Pereira (1715-1780) interesse que os estudiosos tinham pela
foi um educador de Surdos português educação dos Surdos, principalmente por-
(emigrou para a França ainda criança) que, que tinham descoberto que esse tipo de
embora usasse a Língua de Sinais com flu- educação possibilitava ganhos financei-
ência, defendia a oralização dos Surdos. ros, pois as famílias abastadas que tinham
Seu trabalho consistia na desmutização descendentes Surdos pagavam grandes
por meio da visão (usava um alfabeto di- fortunas para que seus filhos aprendes-
gital especial e manipulava os órgãos da sem a falar e escrever.
fala de seus alunos). Educou doze alunos,
Isso é observado em Thomas Brai-
todos eles usuários de linguagem oral.
dwood (1715-1806), educador de Surdos
Existem relatos que colocam em risco o
inglês. Em 1760, fundou, em Edimburgo,
seu método, ressaltando que ele era pro-
a primeira escola na Grã-Bretanha como
fessor somente de alunos que não eram
academia privada. Em 1783, transferiu-
completamente Surdos o que facilitava
-se para Londres e recomendou o uso de
a oralização. Temos alguns estudos que
um alfabeto onde se utilizassem as duas
indicam que a escrita não era vista como
mãos que ainda hoje está em uso na In-
inserção do sujeito na sociedade, mas sim
glaterra. Seus alunos aprendiam palavras
como uma tentativa de substituir o que
escritas, seu significado, sua pronúncia e
lhe faltava, a fala (HONORA; FRIZANCO,
a leitura orofacial, além do alfabeto digi-
2009).
tal. Outras escolas que usavam o mesmo
Johann Conrad Amman (1669-1724) método que Braidwood eram organizadas
foi um médico e educador de Surdos suí- por sua família e seu método era mantido
ço que aperfeiçoou os procedimentos de em segredo para garantir seu monopólio.
leitura labial por meio de espelhos e tato, Quando Kinniburg (um de seus “discípu-
percebendo as vibrações da laringe, mé- los”) aprendeu o método com Braidwood,
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foi obrigado a manter segredo e pagar também evoluiu, já que, através da Língua
sempre metade do que ganhava ao “dono” de Sinais, eles podiam aprender e dominar
do método. Certa vez, Kinniburg foi procu- diversos assuntos e exercer diversas pro-
rado por Thomas Gallaudet (1787-1851), fissões.
educador ouvinte americano, que queria
Chegamos à Idade Contemporânea
levar o método para os Estados Unidos,
quando os trabalhos realizados em insti-
mas Kinniburg não aceitou a proposta.
tuições somente apareceram no final do
O abade Charles-Michel de L’Epée século XVIII. Até esta época eram os pre-
(1712-1789) foi um educador filantrópico ceptores (médicos, religiosos ou gramáti-
francês que ficou conhecido como “Pai dos cas) quem realizavam essa tarefa.
Surdos” e também um dos primeiros que
Sabemos que, antes de 1750, a maioria
defendeu o uso da Língua de Sinais. “Re-
dos Surdos que nasciam não era alfabeti-
conheceu que a língua existia, desenvol-
zada ou instruída.
via-se e servia de base comunicativa es-
sencial entre os Surdos” (MOURA, 2000). Em 1790, no lugar de L’Epée, Abbé Si-
card (1742-1822) foi nomeado diretor do
L’Epée teve a disponibilidade de apren-
Instituto Nacional de Surdos-Mudos. Ele
der a Língua de Sinais para poder se co-
publicou dois livros: uma gramática geral
municar com os Surdos. Criou a primeira
e um relato detalhado de como havia trei-
escola pública no mundo para Surdos em
nado Jean Massieu (Surdo).
Paris, o Instituto Nacional para Surdos-
-Mudos, em 1760. L’Epée fazia demons- Com a morte de Sicard, foi nomeado
trações de seus alunos em praça pública, como diretor do Instituto seu discípulo
assim arrecadava dinheiro para continuar Massieu, um dos primeiros professores
seu trabalho. Estas apresentações con- Surdos do mundo. Esse fato fez desen-
sistiam em perguntas feitas por escrito cadear uma grande disputa pelo poder,
aos Surdos, confirmando que seu método envolvendo outros dois estudiosos da
era eficaz. L’Epée tinha grande interesse surdez, Itard e Gérando, ocasionando o
na educação religiosa dos Surdos e sabia afastamento de Massieu da direção do
que para isso era importante que fosse Instituto.
desenvolvida uma forma de comunicação
Jean-Marc ltard (1775-1838) foi um
que fizesse os conhecimentos sagrados
médico-cirurgião francês que se tornou
possíveis. Referia-se à Língua de Sinais
médico residente do Instituto Nacional
com respeito e a obra mais importante
de Surdos-Mudos de Paris, em 1814. Ele
dele foi publicada em 1776 com o título A
estudara com Philipe Pinel, pai da Psiquia-
Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-
tria, e seguia os pensamentos do filósofo
-Mudos.
Condillac, para quem as sensações eram a
O século XVIII é considerado por muitos base para o conhecimento humano e que
o período mais próspero da educação dos reconhecia somente a experiência exter-
Surdos. Neste século, houve a fundação na como fonte de conhecimento. Dentro
de várias escolas para Surdos. Além disso, desta concepção era exigida a erradica-
qualitativamente, a educação do Surdo ção ou a “diminuição” da surdez para que o
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surdo tivesse acesso a este conhecimen- incessante para chegar à oralização, Itard
to (HONORA; FRIZANCO, 2009). rendeu-se ao fato de que o Surdo só pode
ser educado por meio da Língua de Sinais.
ltard iniciou um trabalho com o Garo-
to Selvagem, em 1799, descrito no fil- O barão de Gérando era filósofo, ad-
me francês de 1970, O Garoto Selvagem, ministrador, historiador e filantropo. Ga-
de François Truffaut. Trata-se de Victor, nhou a disputa pelo cargo de diretor do
um menino encontrado nos bosques de Instituto Nacional de Surdos-Mudos de
Aveyron, por volta dos 12 anos de idade, Paris, mencionada anteriormente. Géran-
deslocando-se de quatro, comendo bo- do acreditava na superioridade do povo
lotas de carvalho e levando uma vida de europeu e sua intenção era equiparar os
animal. Quando foi levado para Paris, em selvagens aos europeus. Para ele, os Sur-
1800, despertou um enorme interesse dos entravam na categoria de selvagens
filosófico e pedagógico: Como ele pensa- e sua língua era vista como pobre quando
va? Podia ser instruído? Itard trabalhou comparada à língua oral e não deveria ser
com o Garoto Selvagem por cinco anos e usada na educação. Com esta concepção,
foi constatado que Victor nunca adquiriu os professores Surdos da escola foram
linguagem, foi somente forçado a falar. A substituídos pelos professores ouvintes e
história de Victor é tão interessante que a oralização era seu principal objetivo. “Os
serviu de inspiração para um filme da Dis- sinais deveriam ser banidos da educação”
ney de nome Mogly, O Menino Lobo, clás- (MOURA, 2000). Após anos de trabalho,
sico que muitos de nós já tivemos oportu- reconheceu, antes de morrer, a importân-
nidade de assistir. cia do uso dos Sinais.

Segundo Moura (2000), Itard dedicou A educação dos Surdos nos Estados
grande parte de seu tempo tentando en- Unidos aconteceu com mais dificuldade
tender quais as causas da surdez. Sua pri- do que na Europa, visto que o acesso à
meira constatação foi a de que a causa metodologia inglesa sempre era negado.
dela não era visível. Seus próximos pas- Assim aconteceu com Thomas Gallaudet
sos foram dissecar cadáveres de Surdos, quando foi visitar Braidwood e Kinniburg,
dar descargas elétricas em seus ouvidos, que não revelaram seu método. Gallaudet
usar sanguessugas para provocar sangra- então procurou L’Epée no Instituto Na-
mentos e furar as membranas timpâni- cional de Surdos-Mudos de Paris. Ele foi
cas de alunos, fazendo com que um deles aceito para fazer um estágio e conheceu
fosse levado à morte e outros tivessem Laurent Clerc (1785-1869), um professor
fraturas cranianas e infecções devido às Surdo da escola. Posteriormente, Gallau-
suas intervenções. ltard nunca aprendeu det convidou Clerc para retomarem aos
a Língua de Sinais. Seu trabalho era todo Estados Unidos em 1816 para fundarem
voltado para a discriminação dos instru- a primeira escola pública para Surdos da-
mentos musicais para posteriormente quele país. Abriram a escola em abril de
chegar à discriminação de palavras e criou 1817 (Hartford School) devido às doações
o curso de articulação para surdos-mudos que receberam. (Honora e Frizanco nos
aproveitáveis. Após 16 anos de trabalho levam a notar uma diferença de mais de
15

50 anos de atraso entre a mesma inicia- ter como professor um instrutor Surdo só
tiva na Europa.) A Língua de Sinais usada serviria como empecilho para sua integra-
na escola era inicialmente a francesa e ção com a comunidade ouvinte. Bell acre-
gradualmente foi sendo modificada para ditava que os Surdos deveriam estudar
se transformar na Língua Americana de junto com os ouvintes, não como direito,
Sinais. mas para evitar que se unissem, que se
casassem e criassem congregações. O
O filho de Thomas Gallaudet, Edward
fato de que os Surdos se casassem para
Gallaudet, fundou em 1864 a primei-
ele representava um perigo para a socie-
ra faculdade para Surdos, localizada em
dade. Criou o telefone em 1876, tentando
Washington. Após anos trabalhando com
criar um acessório para Surdos.
os Surdos, Edward resolveu fazer uma
grande viagem, visitando outros países e Veditz, ex-presidente da Associação
outras instituições para verificar se seu Nacional dos Surdos, ressalta que Bell foi
método estava adequado. Voltou desta considerado “o mais temido inimigo dos
viagem apoiando o trabalho de Oralismo surdos americanos” (SACKS, 1990).
e adotou “como papel da escola fornecer
As instituições de educação de surdos
treinamento em articulação e em leitura
se disseminaram por toda Europa e, em
orofacial para aqueles alunos que pode-
1878, em Paris, aconteceu o I Congresso
riam se beneficiar deste treinamento”
Internacional de Surdos-Mudos, instituin-
(MOURA, 2000).
do que o melhor método para a educação
No mesmo ano em que foi instituído o dos surdos consistia na articulação com
Oralismo, Clerc, que sempre defendeu o leitura labial e no uso de gestos nas sé-
uso da Língua de Sinais, faleceu (1869). O ries iniciais. Esta determinação somente
Oralismo foi a principal forma de educação durou dois anos, pois em 1880, em Milão,
dos Surdos nos 80 anos posteriores. ocorreu o II Congresso Mundial de Surdos-
-Mudos, que promoveu uma votação para
A Universidade Gallaudet, como é cha-
definir qual seria a melhor forma de edu-
mada atualmente, é ainda a única escola
car uma pessoa Surda.
superior de artes liberais para estudantes
Surdos do mundo, e a primeira língua uti- A partir desta votação com os partici-
lizada nas aulas da universidade foi a Lín- pantes do congresso, foi recomendado
gua de Sinais. que o melhor método seria o oral puro,
abolindo oficialmente o uso da Língua de
Outro defensor do Oralismo foi Ale-
Sinais na educação dos Surdos. Vale res-
xander Graham Bell (1847-1922), cientis-
saltar que apenas um Surdo participou do
ta e inventor do telefone. Ele era filho de
congresso, mas não teve direito de voto,
Surda e casado com Mabel, que perdera a
sendo convidado a se retirar da sala de vo-
audição quando jovem. Oralizada, ela não
tação.
gostava de estar na presença dos Surdos.
Para ele, a surdez era um desvio. Os Surdos As determinações do Congresso fo-
deveriam se passar por ouvintes encaixa- ram:
dos num mundo ouvinte e um aluno Surdo
a fala é incontestavelmente superior
16

aos Sinais e deve ter preferência na edu- sofrimento e tudo isso muito mais por não
cação dos Surdos; serem usuários de uma língua oral do que
por serem Surdos.
o método oral puro deve ser preferi-
do ao método combinado. O que observamos fazendo esta retros-
pectiva histórica é que muitos estudiosos
A partir do II Congresso Internacional de
defensores do Oralismo, depois de uma
Surdos-Mudos, o método oral foi adotado
vida de tentativas, resolveram aceitar o
em vários países da Europa, acreditando-
uso da Língua de Sinais como possibili-
-se que esta era a melhor maneira para o
dade para o Surdo (HONORA; FRIZANCO,
Surdo receber a instrução no ambiente
2009).
escolar.
Durante os 80 anos de proibição do uso
Honora e Frizanco (2009) acreditam
de Sinais, os insucessos foram notados
que esta foi uma fase de extrema impor-
em todo o mundo. Os Surdos passavam
tância para entendermos o processo que
por oito anos de escolaridade com poucas
se deu na educação dos Surdos. Quando
aquisições e saíam das escolas como sa-
eles já estavam em uma situação dife-
pateiros e costureiras.
renciada, sendo instruídos, educados e
usuários de uma língua que lhes permitia Os Surdos que não se adaptavam ao
conhecimento de mundo, uma determina- Oralismo eram considerados retardados.
ção mundial lhes colocou de novo em uma Não era respeitada a dificuldade de alguns
posição submissa, proibindo-os, a partir Surdos por causa de sua perda de audição
daquela data, de usarem a língua que lhes severa e profunda. As pessoas somente
era de direito. estavam interessadas em fazer com que
o Surdo fosse “normalizado” e que desen-
Concordamos com as autores quando
volvesse a fala para que assim ninguém
inferem que a convivência entre pessoas
precisasse mudar ou sair da sua situação
surdas nos levam a perceber que se tra-
confortável. Quem deveria mudar era o
ta de uma comunidade que costuma, em
Surdo. O que não se entendia, até então, é
sua maioria, conviver em “guetos”, optar
que, para a grande maioria deles, não era
por casamentos entre si e estudar com os
organicamente possível.
iguais. Muitos se mostram desconfiados
quando os ouvintes se aproximam, pois Na primeira avaliação sistemática do
se consideram incompreendidos. É, cla- método oral, Binet e Simon (dois psicólo-
ramente, um comportamento resultante gos criadores do teste de quociente de in-
de séculos de ações que levaram à segre- teligência) concluíram que os Surdos não
gação, submissão, enfim, submissão. No conseguiam realizar uma conversação, só
entanto, é esse passado que nos leva a podiam ser entendidos e entender aque-
buscar a igualdade baseada no tratamen- les a quem estavam acostumados (MOU-
to desigual, mas justo. RA, 2000).

Os Surdos, muitas vezes, foram usados, O uso de Sinais só voltou a ser aceito
deslocados e colocados em situação de como manifestação linguística a partir de
desconforto social que lhes causou muito 1970, com a nova metodologia criada, a
17

Comunicação Total, que preconizava o uso tinha como convicção ser um desperdício
de linguagem oral e sinalizada ao mesmo alfabetizar Surdos num país de analfabe-
tempo. tos. Para ele, “a fala seria o único meio de
restituir o surdo-mudo na sociedade” (SO-
Atualmente, o método mais usado em
ARES, 1999).
escolas que trabalham com alunos com
surdez é o Bilinguismo, que usa como lín- O Instituto tinha vagas para 100 alunos
gua materna a Língua Brasileira de Sinais do Brasil todo e somente 30 eram finan-
e como segunda língua, a Língua Portu- ciadas pelo governo, que oferecia educa-
guesa Escrita. ção gratuita. Os alunos tinham de 9 a 14
anos e participavam de oficinas de sapa-
2.3 Evolução histórica da taria, encadernação, pautação e doura-
ção.
Educação de Surdos no Bra-
O quarto diretor do Instituto, o médi-
sil co Tobias Leite, apresentava um foco di-
No Brasil, a educação dos surdos teve ferente do Dr. Menezes Vieira no que se
início durante o Segundo Império, com a refere à educação dos surdos. Para ele, o
chegada do educador francês Hernest que era de primeira importância era a pro-
Huet, ex-aluno surdo do Instituto de Paris, fissionalização, afirmando que “não tanto
que trouxe o alfabeto manual francês e a porque os surdos aprendem facilmente,
Língua Francesa de Sinais. Deu-se origem mas porque são fidelíssimos executores
à Língua Brasileira de Sinais, com gran- das instruções e ordens do patrão” (SOA-
de influência da Língua Francesa. Huet RES, 1999).
apresentou documentos importantes
para educar os Surdos, mas ainda não ha- Entre os anos 1930 e 1947, o Instituto
via escolas especiais. Solicitou, então, ao esteve sob a gestão do Dr. Armando Paiva
Imperador Dom Pedro II 1, um prédio para Lacerda e foi durante esse período que foi
fundar, em 26 de setembro de 1857, o Ins- desenvolvida por ele a Pedagogia Emen-
tituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janei- dativa do Surdo-Mudo que mais uma vez
ro, atual Instituto Nacional de Educação destaca que o método oral seria a única
dos Surdos – INES. O Instituto inicialmente maneira do Surdo ser incluído na socieda-
utilizava a Língua dos Sinais, mas em 1911 de.
passou a adotar o Oralismo puro, seguin-
Nessa gestão foi instituído também
do a determinação do Congresso Interna-
que os alunos do Instituto passassem por
cional de Surdos-Mudos de Milão. Dr. Me-
aplicações de testes para verificar a in-
nezes Vieira, que trabalhou no Instituto,
teligência e a aptidão para a oralização.
defendia este método afirmando que nas
Após estes testes, os alunos eram sepa-
relações sociais o indivíduo Surdo usaria
rados de acordo com suas capacidades. O
a linguagem oral e não a escrita, sendo
objetivo era que as salas de aula fossem
esta secundária para ele. Além disso, ele
cada vez mais homogêneas, separadas
1  D. Pedro II tinha interesse na educação de Surdos devido ter um
de acordo com a seguinte classificação:
neto surdo, filho da princesa Isabel, que era casada com o conde surdos-mudos completos, surdos incom-
D’Eu, parcialmente surdo.
18

pletos, semissurdos propriamente ditos, o ano de 1970, funcionou como interna-


semissurdos. to para meninas surdas, passando depois
desta data a aceitar meninos Surdos e
A visão que este diretor tinha da educa-
trabalhar com o conceito de integração no
ção dos Surdos pode ser demonstrada por
ensino regular. Atende atualmente até o
meio da seguinte afirmação: “Separados
Ensino Fundamental e é de natureza par-
os anormais em classes homogêneas su-
ticular. Outra instituição é a Escola Muni-
aviza-se sobremaneira a tarefa educativa
cipal de Educação Especial Helen Keller,
que é muito mais difícil e ingrata em rela-
fundada em 1951 pelo então prefeito de
ção a estas crianças” (SOARES, 1999).
São Paulo, Dr. Armando de Arruda Pereira.
Em 1951, assume a direção do Instituto Outra instituição de suma importância é
a Profª Ana Rímoli de Faria Dória. O inte- o Instituto Educacional São Paulo – IESP,
ressante é que após quase 100 anos de fundado em 1954, foi doado em 1969
existência, essa era a primeira vez que um para a PUC/SP e atualmente é referência
profissional da educação estava na dire- para pesquisas e estudos na área da defi-
ção deste Instituto. A grande inovação do ciência auditiva.
período de sua gestão foi a implementa-
Honora e Frizanco (2009) ressaltam
ção do Curso Normal de Formação de Pro-
que o trabalho terapêutico com os Surdos
fessores para Surdos. Sendo o Instituto
e a sua capacidade de desenvolver a lin-
uma referência para todo o Brasil, rece-
guagem oral é possível. Tudo vai depender
bia professores de todo o país para fazer
do seu resíduo auditivo, sua estimulação
o curso que tinha duração de três anos. A
para a fala, o uso precoce de bons Apare-
metodologia usada era toda voltada para
lhos de Amplificação Sonora Individual e
o Oralismo.
alguns outros fatores.
Na década de 1970, com a visita de Ive-
Porém, são contrárias à privação de es-
te Vasconcelos, educadora de surdos da
tímulos que pode prejudicar o desenvolvi-
Universidade Gallaudet, chegou ao Bra-
mento social, intelectual e emocional dos
sil a filosofia da Comunicação Total e, na
alunos, como é o caso da privação do uso
década seguinte, a partir das pesquisas
de Sinais. Acreditam que o Oralismo é uma
da professora linguista Lucinda Ferreira
possibilidade, assim como o uso de Sinais
Brito sobre a Língua Brasileira de Sinais e
também é. Cada caso deve ser avaliado
da professora Eulalia Fernandes, sobre a
individualmente e terá cuidados, ganhos
educação dos surdos, o Bilinguismo pas-
e perdas diferentes. Acreditam ainda que
sou a ser difundido. Atualmente, essas
os Surdos que puderem se desenvolver
três filosofias educacionais ainda persis-
também pela linguagem oral terão algu-
tem paralelamente no Brasil.
mas vantagens se comparados aos que
Outros institutos fizeram parte da his- se desenvolverem somente pela Língua
tória da educação dos Surdos no Brasil, de Sinais. Mas há que pensar que a pessoa
como o Instituto Santa Teresinha, funda- que não desenvolveu a linguagem oral,
do em 1929, inicialmente em Campinas e muitas vezes, não fez isso porque não
transferido para São Paulo, em 1933. Até queria, mas sim por uma limitação orgâni-
19

ca, por falta de investimento terapêutico, da inteligência do homem, tem sido obje-
etc. to de pesquisa e discussões. Ela tem sido
“um campo fértil” para estudos referen-
OPORTUNIDADE, como frisam as pes-
tes à aptidão linguística, tendo em vista a
quisadoras, é a palavra-chave.
discussão sobre falhas decorrentes de da-
É preciso oferecer oportunidades para nos cerebrais ou de distúrbios sensoriais,
que os Surdos se desenvolvam linguisti- como a surdez.
camente, pedagogicamente e como cida-
Com os estudos do linguista Chomsky,
dãos. Se isso se der pela Língua de Sinais,
obteve-se um melhor entendimento acer-
estaremos lhes oferecendo essa possibi-
ca das línguas e do seu funcionamento.
lidade.
Suas considerações partem do fato de
Muitas outras escolas especiais foram que é muito difícil explicar como a língua
importantes para a educação do Surdo materna pode ser adquirida de forma tão
no Brasil e no mundo. Hoje, temos de ter rápida e tão precisa, apesar das impurezas
consciência de nosso papel como educa- nas amostras de fala que a criança ouve.
dores, terapeutas e familiares das pesso- Chomsky, junto com outros estudiosos,
as com surdez, de que temos de nos unir admite, ainda, que as crianças não seriam
e nos empenhar para fazer com que essa capazes de aprender a língua materna
barreira comunicativa possa, cada vez caso não fizessem determinadas suposi-
mais, se estreitar e possamos viver num ções iniciais sobre como o código deve ou
mundo com as mesmas oportunidades não operar.
para todos, independente de suas carac-
A palavra tem uma importância excep-
terísticas (HONORA; FRIZANCO, 2009).
cional, no sentido de dar forma à atividade
mental, e é fator fundamental de forma-
2.4 A linguagem e a surdez ção da consciência. Ela é capaz de assegu-
A linguagem permite ao homem es- rar o processo de abstração e generaliza-
truturar seu pensamento, traduzir o que ção, além de ser veículo de transmissão do
sente, registrar o que conhece e comu- saber.
nicar-se com outros homens. Ela marca
o ingresso do homem na cultura, cons- Os indivíduos que ouvem parecem utili-
truindo-o como sujeito capaz de produzir zar, em sua linguagem, os dois processos:
transformações nunca antes imaginadas o verbal e o não-verbal. A surdez congê-
(LIMA et al., 2006). nita e pré-verbal pode bloquear o desen-
volvimento da linguagem verbal, mas não
Apesar da evidente importância do ra- impede o desenvolvimento dos processos
ciocínio lógico-matemático e dos sistemas não-verbais.
de símbolos, a linguagem, tanto na forma
verbal como em outras maneiras de comu- Mas a teoria sobre a base biológica da
nicação, permanece como meio ideal para linguagem admite a existência de um
transmitir conceitos e sentimentos, além substrato neuroanatômico no cérebro
de fornecer elementos para expandir o para o sistema da linguagem. Portanto,
conhecimento. A linguagem, prova clara todos os indivíduos nascem com predis-
20

posição para a aquisição da fala. Nesse com estrutura sintática própria. Na aquisi-
caso, o que se deduz é a existência de uma ção da língua, as pessoas surdas utilizam
estrutura linguística latente responsável o segundo sistema. Várias pesquisas já
pelos traços gerais da gramática univer- comprovaram que crianças surdas procu-
sal (universais linguísticos). A exposição ram criar e desenvolver alguma forma de
a um ambiente linguístico é necessária linguagem, mesmo não sendo expostas
para ativar a estrutura latente e para que a nenhuma língua de sinais. Essas crian-
a pessoa possa sintetizar e recriar os me- ças desenvolvem espontaneamente um
canismos linguísticos. sistema de gesticulação manual que tem
semelhança com outros sistemas desen-
As crianças são capazes de deduzir as
volvidos por outros surdos que nunca ti-
regras gerais e regularizar os mecanismos
veram contato entre si e com as línguas de
de uma conjugação verbal, por exemplo,
sinais já conhecidas. Existem estudos que
embora às vezes, a dificuldade aparece,
demonstram as características morfológi-
principalmente, no que se refere à per-
cas e lexicais desses sistemas.
cepção e à discriminação auditiva, o que
traz transtornos à compreensão da língua A capacidade de comunicação linguís-
oral. Outras vezes, a dificuldade é relati- tica apresenta-se como um dos principais
va à articulação e à emissão da voz, o que responsáveis pelo processo de desenvol-
produz transtornos na emissão da língua vimento da criança surda em toda a sua
oral. Tudo isso pode ou não ter relação com potencialidade, para que possa desem-
a surdez, visto que muitas crianças que penhar seu papel social e integrar-se ver-
apresentam dificuldades linguísticas não dadeiramente na sociedade (LIMA et al.,
têm audição prejudicada. Por exemplo, 2006).
a capacidade de processar rapidamente
mensagens linguísticas – um pré-requisi- 2.5 A surdez – graus e classi-
to para o entendimento da fala – parece
depender do lobo temporal esquerdo do
ficações
cérebro. Danos a essa zona neural ou seu Vimos até o momento uma breve in-
desenvolvimento “anormal” geralmente trodução ao sistema auditivo, contamos
são suficientes para produzir problemas a história dos Surdos ao redor do mundo,
de linguagem. mas o que é surdez?

Entretanto, já está comprovado cienti- A surdez consiste na perda maior ou


ficamente que o ser humano possui dois menor da percepção normal dos sons. Ve-
sistemas para a produção e reconheci- rifica-se a existência de vários tipos de
mento da linguagem: o sistema sensorial, pessoas com surdez, de acordo com os di-
que faz uso da anatomia visual/auditiva ferentes graus de perda da audição.
e vocal (línguas orais) e o sistema motor, Com o avanço da genética, sabe-se que
que faz uso da anatomia visual e da anato- não é necessariamente obrigatório ter
mia da mão e do braço (línguas de sinais). casos no contexto familiar, para que uma
Estas são consideradas as línguas naturais criança nasça surda. Basta acontecer uma
dos surdos, emitidas por meio de gestos e anomalia genética que provoque a surdez
21

em um bebê de pais ouvintes, sem que se d) De 71 a 90 db – surdez severa.


conheça nenhum parentesco com a situa-
ção (NOVAES, 2010).
e) Acima de 91 db – surdez profunda.

Em relação à etiologia, as causas f) Anacusia.


da surdez podem ser classificadas, Pode-se analisar a surdez como unila-
tais como: teral (quando se dá em apenas um ouvido)
ou bilateral (acometendo ambos ouvidos).
a) Pré-natais: provocada por fatores
Os graus de surdez são avaliados confor-
genéticos e hereditários, bem como por
me a perda auditiva na zona conversa-
doenças adquiridas pela genitora no pro-
cional do melhor ouvido. O audiômetro é
cesso de gestação (rubéola, toxoplasmo-
um instrumento utilizado para se medir a
se, citomegalovírus).
sensibilidade auditiva das pessoas. Sendo
b) Perinatais: pelo fato de o parto se uma privação sensorial, a surdez acaba
dar de forma prematura, por falta de oxi- por interferir totalmente na comunicação.
genação no cérebro, imediatamente após
Em relação ao desenvolvimento de uma
nascer (anóxia cerebral), ou pelo parto ser
criança, essa alteração pode acarretar vá-
marcado por traumas, como o uso inade-
rias implicações, conforme o grau de sur-
quado de fórceps, partos excessivamente
dez, como, por exemplo:
rápidos ou demorados.

Podem ainda provocar surdez a sífilis, a


a) Na surdez leve, a criança consegue
perceber os sons da fala, consegue ad-
má-formação de cabeça e pescoço, o her-
quirir e desenvolver a linguagem oral. O
pes simples, a hiperbilirrubinemia, o nas-
caso, normalmente, é diagnosticado já
cimento com baixo peso, a meningite.
tardiamente e, por ser a audição próxima
Sob o aspecto da interferência na aqui- ao normal, não se coloca, normalmente, o
sição da linguagem e da fala, o déficit au- aparelho auditivo.
ditivo pode ser definido como perda mé-
dia em decibéis, na zona conversacional
b) Na surdez moderada, o desenvol-
vimento da fala e de uma linguagem da
(frequência de 500 – 1000 – 2000 hertz)
criança já se dá de uma forma mais gradu-
para o melhor ouvido.
al, com apresentação de alterações arti-
O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro culatórias por não perceber nitidamente
de 1999, em seu artigo 4°, inciso IV, com todos os sons com precisão. Não se conse-
alterações feitas pelo Decreto nº 5.296, gue também perceber a fala em ambien-
de 2 de dezembro de 2004, traz a seguin- tes com ruídos, possuindo dificuldades no
te classificação dos graus de perdas audi- aprendizado da leitura e da fala, além de
tivas, a saber: ser desatenta.
a) De 25 a 40 decibéis (db) – surdez c) Na surdez severa, a criança já tem
leve. muitas dificuldades em adquirir fala e
linguagem de forma espontânea e, em
b) De 41 a 55 db – surdez moderada.
contexto familiar, pode vir a desenvolver
c) De 56 a 70 db – surdez acentuada. algum vocabulário e necessitar do uso de
22

aparelho. daquilo que lhe falam. Essa perda auditi-


va não impede a aquisição normal da lín-
d) Na surdez profunda, dificilmente a
gua oral, mas poderá ser a causa de algum
criança conseguirá desenvolver uma lin-
problema articulatório na leitura e/ou na
guagem oral de forma concedida, só per-
escrita.
cebe sons intensos, como trovões, bom-
bas, avião, e, quase sempre, faz uso da b) Pessoa com surdez moderada –
leitura orofacial, necessitando de apare- indivíduo que apresenta perda auditiva
lhos e de implantes cocleares. entre quarenta e setenta decibéis. Esses
limites se encontram no nível da percep-
Em relação ao período de aquisição da
ção da palavra, sendo necessária uma voz
surdez, esta pode se dar de forma congê-
de certa intensidade para que seja con-
nita, também conhecida como surdez pré-
venientemente percebida. É frequente o
-lingual, quando já se nasce com a surdez,
atraso de linguagem e as alterações ar-
ocorrendo antes da aquisição da lingua-
ticulatórias, havendo, em alguns casos,
gem, ou ainda de forma adquirida, quando
maiores problemas linguísticos. Esse in-
se perde a audição já em vida, podendo ser
divíduo tem maior dificuldade de discri-
pré-lingual ou pós-lingual, dependendo se
minação auditiva em ambientes ruidosos.
a surdez se deu antes ou depois da aquisi-
Em geral, ele identifica as palavras mais
ção da linguagem, respectivamente.
significativas, tendo dificuldade em com-
Sacks (1990) citado por Bernardino preender certos termos de relação e/ou
(2000, p. 25) afirma que “a aquisição da formas gramaticais complexas. Sua com-
linguagem deve ser introduzida tão cedo preensão verbal está intimamente ligada
quanto possível ou seu desenvolvimento a sua aptidão para a percepção visual.
pode ser permanentemente retardado e
Surdo:
prejudicado” Afirma ainda que, “no caso
dos profundamente surdos, isso só pode a) Pessoa com surdez severa – indi-
ser feito com a língua de sinais”. víduo que apresenta perda auditiva entre
setenta e noventa decibéis. Este tipo de
Pela área da saúde e, tradicionalmen-
perda vai permitir que ele identifique al-
te, pela área educacional, o indivíduo com
guns ruídos familiares e poderá perceber
surdez pode ser considerado:
apenas a voz forte, podendo chegar até
Parcialmente surdo (com deficiên- aos quatro ou cinco anos sem aprender a
cia auditiva – DA): falar. Se a família estiver bem orientada
pela área da saúde e da educação, a crian-
a) Pessoa com surdez leve – indiví- ça poderá chegar a adquirir linguagem
duo que apresenta perda auditiva de até oral.
quarenta decibéis. Essa perda impede que
o indivíduo perceba igualmente todos os A compreensão verbal vai depender,
fonemas das palavras. Além disso, a voz em grande parte, de sua aptidão para uti-
fraca ou distante não é ouvida. Em geral, lizar a percepção visual e para observar o
esse indivíduo é considerado desatento, contexto das situações.
solicitando, frequentemente, a repetição
b) Pessoa com surdez profunda –
23

indivíduo que apresenta perda auditiva nais e para o aprendizado da língua portu-
superior a noventa decibéis. A gravidade guesa.
dessa perda é tal que o priva das informa-
As alternativas de atendimento para
ções auditivas necessárias para perceber
os alunos com surdez estão intimamente
e identificar a voz humana, impedindo-o
relacionadas às condições individuais do
de adquirir a língua oral. As perturbações
educando e às escolhas da família. O grau
da função auditiva estão ligadas tanto à
e o tipo da perda auditiva, a época em que
estrutura acústica quanto à identifica-
ocorreu a surdez e a idade em que come-
ção simbólica da linguagem. Um bebê que
çou a sua educação são fatores que irão
nasce surdo balbucia como um de audição
determinar importantes diferenças em
normal, mas suas emissões começam a
relação ao tipo de atendimento a ser de-
desaparecer à medida que não tem acesso
senvolvido com o aluno, e em relação aos
à estimulação auditiva externa, fator de
resultados.
máxima importância para a aquisição da
linguagem oral. Assim, tampouco adquire Quanto maior for a perda auditiva,
a fala como instrumento de comunicação, maior será o tempo em que o aluno preci-
uma vez que, não a percebendo, não se sará receber atendimento especializado
interessa por ela e, não tendo retorno au- para o aprendizado da língua portuguesa
ditivo, não possui modelo para dirigir suas oral. Tal perda, no entanto, não traz ne-
emissões. Esse indivíduo geralmente uti- nhum problema linguístico para o desen-
liza uma linguagem gestual, e poderá ter volvimento e aquisição da língua brasilei-
pleno desenvolvimento linguístico por ra de sinais – LIBRAS (LIMA et al., 2006).
meio da língua de sinais.

Atualmente, muitos surdos e pesquisa-


dores consideram que o termo “surdo” re-
fere-se ao indivíduo que percebe o mun-
do por meio de experiências visuais e opta
por utilizar a língua de sinais, valorizando
a cultura e a comunidade surda.

A princípio, a língua materna é uma lín-


gua adquirida naturalmente pelos indi-
víduos em seu contexto familiar. Imersa
no ambiente linguístico, qualquer criança
ouvinte chega à escola falando sua língua
materna, cabendo à escola apenas a siste-
matização do conhecimento.

Como a maioria das crianças surdas não


têm imersão linguística idêntica a dos ou-
vintes em suas famílias, a escola passa a
assumir a função também de oferecer-lhe
condições para aquisição da língua de si-
24

UNIDADE 3 – Deficiência Auditiva/Surdez

Inicialmente, gostaríamos de distinguir mente visuais, o que favorece o domínio


deficiência auditiva e surdez, não só por de uma linguagem visual-espacial. Tam-
uma questão didática, mas para facilitar o bém é importante considerar as pessoas
entendimento, caso as explicações ante- que apresentam resíduo auditivo e que,
riores não tenham sido muito claras. portanto, carecem de estímulos dessa na-
tureza (FIOCRUZ, 2009).
A deficiência auditiva acontece quando
alguma das estruturas da orelha apresen- A Deficiência auditiva é considerada
ta uma alteração, ocasionando uma dimi- como a diferença existente entre o de-
nuição da capacidade de perceber o som. sempenho do indivíduo e a habilidade nor-
Geralmente, o deficiente auditivo se co- mal para a detecção sonora de acordo com
munica pela fala e apresenta uma perda padrões estabelecidos pela American Na-
auditiva de grau leve ou moderado. tional Standards Institute (ANSI - 1989).

A surdez também é ocasionada por al- Considera-se, em geral, que a audição


guma alteração nas estruturas da orelha, normal corresponde à habilidade para de-
ocasionando uma incapacidade em perce- tecção de sons até 20 dB N.A. (decibéis,
ber o som. Geralmente o surdo se comuni- nível de audição) (FIOCRUZ, 2009).
ca por meio da Língua Brasileira de Sinais
(LIBRAS) e apresenta uma perda auditiva 3.1 Diagnóstico da deficiên-
de grau severo ou profundo.
cia auditiva
A deficiência auditiva e a surdez apre- Perda auditiva é a redução da audição
sentam características bem diferentes, em qualquer grau que reduza a inteligibili-
porém ambas ocasionam uma limitação dade da mensagem falada para a interpre-
para o desenvolvimento do indivíduo. tação apurada ou para a aprendizagem.
Consideramos que a audição é fundamen- Qualquer tipo de perda auditiva pode
tal para a aquisição da linguagem falada e comprometer a linguagem, o aprendiza-
sua deficiência pode ocasionar muita difi- do, o desenvolvimento cognitivo e a inclu-
culdade nas relações sociais, psicológicas são social da criança. Por estes motivos, o
e na interação. diagnóstico da deficiência auditiva deve
A audição desempenha um papel prin- ser o mais precoce possível (ROSLYN-JEN-
cipal e decisivo no desenvolvimento e na SEN, 1996).
manutenção da comunicação por meio da Na criança, a perda auditiva tem pecu-
linguagem falada, além de funcionar como liaridades quanto às causas, ao diagnós-
um mecanismo de defesa e alerta contra tico, e ao tratamento, que variam com
o perigo que funciona 24 horas por dia, a faixa etária. Isto deve ser do conheci-
pois nossos ouvidos não descansam nem mento dos pediatras, para que se possa
quando dormimos. suspeitar e diagnosticar o quadro o mais
As pessoas com surdez são extrema- rapidamente possível. A atenção destes
25

profissionais deve estender-se desde o são), tons puros (audiômetro pediátrico) e


nascimento, em que predomina a surdez sons verbais. As respostas esperadas são
neurossensorial profunda, até os escola- reflexas, como, por exemplo, reflexo có-
res, que apresentam déficits leves ou mo- cleo-palpebral, procura da fonte sonora,
derados, determinados por infecções da cessação da atividade corporal, mudança
orelha média (VIEIRA; MACEDO; GONÇAL- na expressão facial e visual, choro, risos,
VES, 2007). entre outros. Os estímulos são apresen-
tados em ordem decrescente de inten-
O diagnóstico de perda auditiva, assim
sidade, sendo que os bebês de até três
como do grau e tipo, baseia-se na história
meses de vida devem estar em estado de
atual e pregressa, focalizada na pesqui-
sonolência e, após essa faixa etária, em
sa de fatores de risco gestacionais, peri e
estado de alerta (FERREIRA, 2004; GAR-
pós-natais, no histórico de doenças infec-
CIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002; CARVALLO,
ciosas e respiratórias, na avaliação otorri-
2003).
nolaringológica, e nos testes audiológicos
(ROESER, 2001; CARVALLO, 2003). Estes A partir dos seis meses de vida, a ava-
testes dividem-se em subjetivos e obje- liação audiológica pode ser feita através
tivos, e têm a indicação feita na depen- do audiômetro pediátrico, que possibilita
dência da idade da criança, e do grau de noção aproximada do grau de perda au-
desenvolvimento neuropsicomotor global ditiva. Ainda assim, este tipo de avalia-
e cognitivo. ção tem característica mais qualitativa do
que quantitativa. As vantagens são bai-
Os testes subjetivos são menos pre-
xo custo, fácil realização e aparelhagem
cisos, pois dependem da resposta do pa-
pouco sofisticada (FERREIRA, 2004; GAR-
ciente, o que pode interferir no resultado.
CIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002; CARVALLO,
Os testes têm o resultado influenciado
2003). A principal desvantagem é a sus-
pelo interesse, cognição e participação da
cetibilidade a interferências ambientais,
criança, o que exige habilidade, experiên-
como ruídos, pistas visuais e interferência
cia e paciência do examinador (FERREIRA,
dos pais.
2004; GARCIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002;
CARVALLO, 2003). Por isso, esses exames A audiometria tonal e a vocal buscam
devem ser realizados, preferencialmente, quantificar os limiares auditivos. A audio-
por profissionais com formação específica metria tonal afere a menor intensidade
para esse fim, sendo o audiologista o mais sonora capaz de gerar sensação auditi-
capacitado. Os testes subjetivos mais im- va na criança para tons puros, enquanto
portantes são a audiometria comporta- a audiometria vocal o faz para estímulos
mental, a audiometria tonal e a vocal. de fala (FERREIRA, 2004; GARCIA, ISAAC,
OLIVEIRA, 2002; CARVALLO, 2003).
A avaliação audiológica comportamen-
tal é realizada em neonatos e lactentes Em função da complexidade de coman-
até os 2,5 anos. Baseia-se na observação dos, estas avaliações são indicadas para
das respostas comportamentais eviden- crianças a partir de 6 anos de idade. O
ciadas por estímulos acústicos instrumen- equipamento utilizado consiste em cabi-
tais (instrumentos musicais de percus- na acústica, audiômetro, fones de ouvido,
26

material para reforço visual e brinquedos deve produzir sons de frequências varia-
pedagógicos (VIEIRA; MACEDO; GONÇAL- das, conforme o estímulo; estes são de-
VES, 2007). tectados pela sonda, e a seguir filtrados
e amplificados pelo equipamento acopla-
A audiometria condicionada é uma va-
do a um computador. O exame é indolor,
riante da audiometria vocal e tonal, que
não invasivo, rápido, de baixo custo, tem
pode ser realizada em crianças a partir de
elevada sensibilidade, e a aparelhagem é
dois anos de idade. O objetivo é fazer com
portátil.
que a criança faça a associação entre o es-
tímulo sonoro apresentado e um estímu- Essas características tornaram a EOAT
lo visual de reforço. A audiometria lúdica – Emissões Otoacústicas Evocadas por
é uma outra alternativa de teste possível estímulo transiente – o mais adequado
para a faixa etária de dois a 6 anos, pois e utilizado para as triagens auditivas em
nesta faixa etária pode ser realizada de recém-nascidos. Um resultado normal in-
acordo com o desenvolvimento neuropsi- dica integridade da fisiologia coclear para
comotor da criança. Por exemplo, a criança o nível de audição social normal, que é de
é solicitada a realizar um ato motor, como até 25 dBNA. Porém, um resultado altera-
encaixar uma peça de um brinquedo, ao do, em que as emissões otoacústicas es-
ouvir o estímulo acústico. tão ausentes, pode ser um falso-positivo.
Neste caso, há a necessidade de se ava-
Os testes audiológicos objetivos são
liar também a orelha média, visto que um
mais precisos do que os acima citados e
simples acúmulo de cerume pode alterar
compreendem a imitanciometria, a avalia-
o teste. Desta forma, no caso de ausência
ção das emissões otoacústicas e os poten-
de respostas, o exame é repetido, e é re-
ciais auditivos evocados. A imitanciome-
alizada a imitanciometria para confirma-
tria verifica a condução sonora pela orelha
ção do resultado (FERREIRA, 2004; GAR-
média através da mensuração e análise
CIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002; CARVALLO,
dos deslocamentos do sistema timpanos-
2003).
sicular em resposta à variação da pressão
do som. O exame emprega uma sonda que Alguns comportamentos são indicati-
é colocada no conduto auditivo externo, vos de perda auditiva, e devem suscitar
que deve estar desimpedido de cerúmen. a atenção dos pediatras e outros pro-
A imitanciometria não define limiar auditi- fissionais da saúde. São estes: pedidos
vo, e indica apenas se a condução do som frequentes para que se repitam frases,
está normal ou alterada na orelha média virar a cabeça em direção ao orador, fa-
(FERREIRA, 2004; GARCIA, ISAAC, OLIVEI- lar com intensidade elevada ou reduzida,
RA, 2002; CARVALLO, 2003) demonstrar esforço ao tentar ouvir, olhar
e concentrar-se nos lábios da professora,
A avaliação das emissões otoacústicas
ser desatento quando há debates na sala
(EOAT) busca, primordialmente, avaliar se
de aula, preferir o isolamento social, ser
a cóclea está com função normal, e para
passivo ou tenso, cansar-se com facilida-
isto uma sonda é colocada no conduto au-
de, não se esforçar para demonstrar ca-
ditivo externo. Após a produção de um es-
pacidade, ter dificuldade no aprendizado.
tímulo sonoro específico – o click, a cóclea
27

Alguns sinais e sintomas podem estar diométrico de 25 a 30 dB faz com que al-
associados à perda auditiva e merecem guns sons da fala e consoantes sonoras
atenção, como a respiração oral, tontura, não sejam percebidas. Geralmente, crian-
otalgia e zumbido (ROESER, 2001; COSTA, ças com esta perda apresentam disfun-
FERREIRA, MARI, 1991). Também devem ção de aprendizado auditivo, retardo leve
ter avaliação auditiva as crianças com di- de linguagem e da fala, e falta de atenção
ficuldades escolares de linguagem oral (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004;
(confusões fonéticas, inversões, dissi- ALMEIDA, SANTOS, 2003).
mulações e trocas na articulação), de lin-
No sentido de superar estes proble-
guagem escrita (trocas, dificuldades na
mas das crianças com perda auditiva leve,
expressão escrita e na leitura), e de outra
devemos facilitar a compreensão da fala
natureza (dislexia, disfasia e alterações
pela proximidade do falante (local prefe-
comportamentais); isto possibilita um
rencial na sala de aula) e emprego de tec-
diagnóstico mais precoce de parte dos ca-
nologia auxiliar, como o uso de aparelhos
sos (SANTOS et al., 2001).
auditivos individuais ou equipamentos de
A perda auditiva na infância, mesmo frequência modulada (ROSLYN-JENSEN,
leve, origina dificuldades escolares. Crian- 1996; FERREIRA, 2004; ALMEIDA, SAN-
ças com perdas auditivas discretas podem TOS, 2003).
apresentar problemas de desenvolvimen-
A perda moderada da audição em limia-
to de linguagem, dificuldades de leitura
res audiométricos de 30 a 50 dB é verifi-
e distúrbios comportamentais (ROSLYN-
cada em crianças com doenças crônicas
-JENSEN, 1996; ROESER, 2001; COSTA,
de orelha média ou com perdas neuros-
FERREIRA, MARI, 2001).
sensoriais. Com esses limiares, não se
Estudos descrevem as consequências consegue ouvir a maioria dos sons da fala
da perda auditiva bilateral de acordo com durante a conversação e apresenta pro-
o tipo e grau da perda (ROSLYN-JENSEN, blemas de articulação, como omissões,
1996; FERREIRA, 2004; ALMEIDA, SAN- substituições e distorções na fala. Essas
TOS, 2003). Assim, a perda discreta com crianças podem se beneficiar com o uso
limiar audiométrico de 15 a 25 dB, causada de aparelho auditivo e local preferencial
mais frequentemente por impedimento na sala de aula, além de necessitarem de
condutivo, permite que a criança ouça os treinamento auditivo e de leitura labial
sons das vogais, mas dificulta a adequada (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004;
percepção das consoantes. ALMEIDA, SANTOS, 2003).

Quando se considera o nível de ruído Na perda auditiva severa (entre 50 e 70


presente no ambiente e a distância exis- dB) ou profunda (>70 dB), a criança não
tente entre o falante e o ouvinte, esta consegue perceber qualquer som da fala
criança pode perder de 25 a 40% do sinal na conversação normal. Estas perdas au-
de fala (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREI- ditivas graves são, geralmente, causadas
RA, 2004). por lesões neurossensoriais. A criança
com perda auditiva severa apresenta pro-
A perda de audição leve com limiar au-
blemas graves de fala (se não estiver em
28

uso de amplificação sonora), além de difi- mento uni ou bilateral, e a intensidade ou


culdade de comunicação em grupo ou na grau.
presença de ruído. Necessitam, além do
Quanto ao local do aparelho auditi-
aparelho de amplificação sonora, de fo-
vo afetado, a perda auditiva pode ser de
noterapia e treinamento de leitura labial
transmissão, percepção (neurossenso-
(ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004;
rial) ou mista. As perdas auditivas que
ALMEIDA, SANTOS, 2003).
decorrem de alguma afecção das ore-
A criança com perda auditiva profunda lhas externa e média são denominadas
não tem suficiente audição para propiciar de transmissão ou condutivas. As perdas
o desenvolvimento espontâneo de fala e neurossensoriais decorrem de lesões nas
linguagem. Estas podem ser desenvolvi- células ciliadas do órgão coclear de Cor-
das por meio do treinamento extensivo e ti (orelha interna) e/ou do nervo coclear.
com amplificação sonora, dependendo da Quando há afecção condutiva e neuros-
idade em que for iniciada a intervenção sensorial concomitantes, classifica-se a
(ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004; perda auditiva como mista.
ALMEIDA, SANTOS, 2003).
Quanto à intensidade da perda audi-
Quanto mais precoce for o diagnóstico tiva, o critério de classificação do grau
e o trabalho de (re)habilitação auditiva, depende de avaliação instrumental, e se
mais próximo do normal será o desenvol- baseia nas médias dos limiares audiomé-
vimento da fala e linguagem (ROSLYN- tricos (ROESER, 2001). O grau discreto de
-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004; ALMEI- perda auditiva tem como parâmetro limia-
DA, SANTOS, 2003). res auditivos de 15 a 25 dB, o grau leve de
26 a 30, o grau moderado de 31 a 50 dB, a
Os efeitos da perda auditiva unilateral
perda auditiva severa entre 51 e 70 dB, e
são menores do que os causados pela per-
a perda profunda >70 dB7 (VIEIRA; MACE-
da bilateral, porém, também podem oca-
DO; GONÇALVES, 2007).
sionar problemas. Em presença de ruído
ambiental, as crianças com perda unilate- Reafirmando: são tipos de deficiência
ral encontram maiores dificuldades que auditiva: a condutiva, sensório-neural,
as ouvintes normais para compreender a mista, central ou surdez central.
fala, mesmo quando a orelha melhor está
Condutiva:
posicionada em direção à fala. Além disso,
a localização espacial das fontes sonoras Quando ocorre qualquer interferência
fica comprometida (ALMEIDA, SANTOS, na transmissão do som desde o conduto
2003). auditivo externo até a orelha interna. A
grande maioria das deficiências auditivas
3.2 Classificação das perdas condutivas pode ser corrigida através de
tratamento clínico ou cirúrgico. Essa defi-
auditivas ciência pode ter várias causas, entre elas
As perdas auditivas podem ser classi- podem-se citar: corpos estranhos no con-
ficadas segundo o local do aparelho audi- duto auditivo externo; tampões de cera;
tivo que apresenta disfunção, o acometi- otite externa e média; malformação con-
29

gênita do conduto auditivo; inflamação da terizar os graus de severidade da defici-


membrana timpânica; perfuração do tím- ência auditiva que são:
pano; obstrução da tuba auditiva; entre
audição normal – limiares entre 0 a 24
outras.
dB nível de audição;
Sensório-Neural:
deficiência auditiva leve – limiares
Quando há uma impossibilidade de re- entre 25 a 40 dB nível de audição;
cepção do som por lesão das células ci-
deficiência auditiva moderna – limia-
liadas da orelha interna ou do nervo au-
res entre 41 e 70 dB nível de audição;
ditivo. Esse tipo de deficiência auditiva é
irreversível. A deficiência auditiva sensó- deficiência auditiva severa – limiares
rio-neural pode ser de origem hereditária, entre 71 e 90 dB nível de audição;
como problemas da mãe no pré-natal, tais
deficiência auditiva profunda – limia-
como a rubéola, sífilis, herpes, toxoplas-
res acima de 90 dB.
mose, alcoolismo, toxemia, diabetes, en-
tre outros. Também podem ser causadas Segundo a Federação Nacional de Edu-
por traumas físicos, prematuridade, bai- cação e Integração de Surdos – FENEIS,
xo peso ao nascimento, trauma de parto, um indivíduo que já tenha nascido com de-
meningite, encefalite, caxumba, saram- ficiência auditiva pode levar um ano para
po, entre outros. aprender a linguagem de sinais. Já alguém
que ouve bem ou que perdeu a capacida-
Mista:
de auditiva depois de adulto, pode levar
Quando há uma alteração na condu- um pouco mais de tempo para aprender,
ção do som até o órgão terminal sensorial por ter se habituado à linguagem oral
associada à lesão do órgão sensorial ou (FIOCRUZ, 2009).
do nervo auditivo. O audiograma mostra
geralmente limiares de condução óssea 3.3 Identificando crianças
abaixo dos níveis normais, embora com
comprometimento menos intenso do que
com surdez
nos limiares de condução aérea. O quadro abaixo distribui faixas etá-
rias para identificar crianças com surdez,
Central ou Surdez Central: tomando por base estudos de Lima et al.
Este tipo de deficiência auditiva não (2006):
é, necessariamente, acompanhado de di-
minuição da sensitividade auditiva, mas
manifesta-se por diferentes graus de difi-
culdade na compreensão das informações
sonoras. Decorre de alterações nos meca-
nismos de processamento da informação
sonora no tronco cerebral (SNC).

Em 1966, Davis e Silverman definiram


os níveis de limiares utilizados para carac-
30

- o recém-nascido não reage a um forte bater de palmas, numa dis-


DO NASCIMENTO tância de 30 cm;
AOS TRÊS ANOS
- o recém-nascido desenvolve-se normalmente nas áreas que não
DE IDADE:
envolvem a audição, quando propriamente estimulado.
- a criança não procura, com os olhos, de onde vem um determinado
DOS TRÊS AOS som;
SEIS MESES DE
- a criança não responde à fala dos pais;
IDADE:
- a criança pode interagir com os pais, se a abordagem for visual.
- a criança não atende quando é chamada pelo nome, não atende a
campainha da porta ou à voz de alguém;
- a criança não entende frases simples como “não, não”, ou “até
DOS SEIS AOS DEZ logo”;
MESES DE IDADE:
- a criança pode entender o que as pessoas estão “falando” com ela,
se for utilizada a língua de sinais.

- a criança não aponta objetos familiares ou pessoas quando inter-


rogada em língua portuguesa oral;
- a criança não imita sons e palavras simples;
DOS DEZ AOS - a criança não reage ao “não, não”, ou ao nome, a menos que veja
QUINZE MESES DE
quem está falando;
IDADE:
- a criança não mostra interesse por rádio;
- a criança aponta objetos familiares ou pessoas quando interroga-
da em língua de sinais.
- a criança não obedece a instruções faladas, por mais simples que
sejam;
DOS QUINZE AOS - as primeiras palavras da criança, como “até logo”, “não, não”, não
DEZOITO MESES
se desenvolvem;
DE IDADE:
- a criança obedece a instruções dadas em língua de sinais;
- a criança inicia sua linguagem gestual, sinalizada.
- não há enriquecimento vocabular (via oral);
- em vez de usar a fala, a criança gesticula para manifestar necessi-
dades e vontades;
- a criança observa intensamente o rosto dos pais, enquanto eles
DOS DEZOITO falam;
MESES AOS TRÊS - a criança não gosta de ouvir histórias;
ANOS E MEIO DE - a criança tem histórico de dores de cabeça e infecções de ouvido;
IDADE: - a criança parece desobediente a ordens dadas em língua portu-
guesa oral;
- a criança desenvolve a língua de sinais, comunica seus desejos
e necessidades, gosta de histórias narradas em língua de sinais e
gosta de desenhos.
31

- a criança não consegue localizar a origem de um som;


- a criança não consegue entender nem usar palavras simples em
língua portuguesa oral, como: ir, mim (eu), em, grande, etc.;
- a criança não consegue contar oralmente, com sequência, alguma
DOS TRÊS ANOS E experiência recente;
MEIO AOS CINCO
- a criança não consegue executar duas instruções simples e conse-
ANOS DE IDADE:
cutivas, emitidas oralmente;
- a criança não consegue levar adiante uma conversa simples em
língua portuguesa oral;
- a fala da criança é difícil de se entender;
- tem dificuldade em prestar atenção a conversas em língua portu-
guesa oral;
- não responde quando é chamada oralmente;
- confunde direções ou não as entende, quando expressas em lín-
gua portuguesa;
- frequentemente dá respostas erradas às perguntas formuladas
oralmente;
- não se desenvolve bem na escola, onde os conhecimentos são re-
passados somente em língua portuguesa oral; é morosa;
- expressa-se confusamente quando recebe ordem ou quando lhe
A CRIANÇA COM perguntam alguma coisa em língua portuguesa oral;
MAIS DE CINCO
- possui vocabulário pobre em língua portuguesa;
ANOS DE IDADE:
- substitui sons, omite sons e apresenta qualidade vocal pobre;
- evita pessoas, brinca sozinha, parece ressentida ou irritada se não
tem colegas que com ela interajam;
- amanhece cansada; parece inquieta ou tensa quando o ambiente
linguístico não lhe é conhecido;
- movimenta a cabeça sempre para um mesmo lado, quando deseja
ouvir algo, mostrando perda de audição em um dos ouvidos;
- tem frequentes resfriados e dores de ouvido;
- a criança conhece, entende e utiliza a LIBRAS.
32
UNIDADE 4 – As Identidades Surdas –
Categorizando As Pessoas Surdas
São várias as maneiras pelas quais po- assumem uma posição que avança
demos identificar as pessoas surdas, prin- em busca de delineação de identidade
cipalmente por suas diferenças, as quais cultural;
são facilmente observáveis. Vamos ca-
assimilam pouco, ou não conseguem
tegorizá-las pela lente da primeira Dou-
assimilar a ordem da língua falada, tem di-
tora Surda do Brasil, Gladis Perlin, mas
ficuldade de entendê-la;
lembrando que somente com pretensões
didáticas, sem intenção de classificá-las a escrita obedece à estrutura da lín-
pejorativamente, ok? gua de sinais, pode igualar-se a língua es-
crita, com reservas;
4.1 Identidade política
tem suas comunidades, associações,
A identidade política é fortemente
e/ou órgãos representativos e compar-
marcada e são mais presentes em surdos
tilham entre si suas dificuldades, aspira-
que pertencem à comunidade surda apre-
ções, utopias;
sentando as seguintes características:
usam tecnologia diferenciada – le-
possuem a experiência visual que de-
genda e sinais na TV, telefone especial,
termina formas de comportamento, cul-
campainha luminosa;
tura, língua, etc.;
tem uma diferente forma de relacio-
carregam consigo a língua de sinais.
nar-se com as pessoas e mesmo com ani-
Usam sinais sempre, pois é sua forma de
mais.
expressão. Eles têm o costume bastante
presente que os diferencia dos ouvintes e
4.2 Identidades surdas hí-
que caracteriza a diferença surda: a cap-
tação da mensagem é visual e não auditi- bridas
va; o envio de mensagens não usa o apa- São os surdos que nasceram ouvintes
relho fonador, mas as mãos; e com o tempo alguma doença, acidente,
entre outros, os deixou surdos:
aceitam-se como surdos; sabem que
são surdos e assumem um comportamen- dependendo da idade em que a sur-
to de pessoas surdas. Entram facilmente dez chegou, conheceram a estrutura do
na política com identidade surda, onde português falado e o envio ou a captação
impera a diferença: necessidade de intér- da mensagem vez ou outra é na forma da
pretes, de educação diferenciada, de lín- língua oral;
gua de sinais, etc.;
usam língua oral ou língua de sinais
passam aos outros surdos sua cultu- para captar a mensagem. Esta identidade
ra, sua forma de ser diferente; também é bastante diferenciada, alguns
não usam mais a língua oral e usam sinais
assumem uma posição de resistên-
sempre;
cia;
33

assumem um comportamento de princípios da comunidade surda, às vezes,


pessoas surdas, por exemplo, usam tec- competem com os ouvintes, porque são
nologia para surdos; induzidos no modelo da identidade ouvin-
te.
convivem pacificamente com as iden-
tidades surdas; Não participam da comunidade sur-
da, associações e lutas políticas.
a escrita obedece a estrutura da lín-
gua de sinais, pode igualar-se à língua es- Desconhecem ou rejeitam a presença
crita, com reservas; do intérprete de língua de sinais.

assimilam um pouco mais que os ou- Orgulham-se de saber falar “correta-


tros surdos, ou não conseguem assimilar mente”.
a ordem da língua falada, tem dificuldade
Demonstram resistências à língua de
de entendê-la;
sinais, cultura surda, visto que isto para
participam das comunidades, asso- eles representa estereotipo.
ciações, e/ou órgãos representativos e
Não conseguiram identificar-se como
compartilham com as identidades surdas
surdos, sentem-se sempre inferiores aos
suas dificuldades, políticas, aspirações e
ouvintes; isto pode causar muitas vezes
utopias;
depressão, fuga, suicídio, acusação aos
aceitam-se como surdos, sabem que outros surdos, competição com ouvintes,
são surdos, exigem intérpretes, legenda e há alguns que vivem na angústia no dese-
sinais na TV, telefone especial, campainha jo contínuo de ser ouvintes.
luminosa, etc.;
São as vítimas da ideologia oralista,
também tem uma diferente forma da inclusão, da educação clínica, do pre-
de relacionar-se com as pessoas e mesmo conceito e do preconceito da surdez.
com animais.
São surdos, quer ouçam algum som,
quer não ouçam, persistem em usar apa-
4.3 Identidades surdas flu- relhos auriculares, não usam tecnologia
tuantes se surdos.
Aqui encontramos os surdos que não
tem contato com a comunidade surda. 4.4 Identidades surdas em-
Para Karol Paden são outra categoria de baraçadas
surdos, por não contarem com os bene-
As identidades surdas embaraçadas
fícios da cultura surda. Eles também têm
são do tipo que podemos encontrar diante
algumas características particulares.
da representação estereotipada da sur-
Seguem a representação da entidade dez ou desconhecimento da surdez como
ouvinte. questão cultural.

Estão em dependência do mundo Os surdos não conseguem captar a


dos ouvintes, seguem os seus princípios, representação da identidade ouvinte.
respeitam-nos, colocam-nos acima dos Nem conseguem compreender a ideia.
34

O surdo não tem condições de usar são filhos de pais ouvintes.


língua de sinais, não lhe foi ensinada nem
No momento em que esses surdos
teve contato com a mesmo.
conseguem contato com a comunidade
São pessoas vistas como incapacita- surda, a situação muda e eles passam pela
das. des-ouvintização, ou seja, rejeição da re-
presentação da identidade ouvinte.
Neste ponto; ouvintes determinam
seus comportamentos, vida e aprendiza- Embora passando por essa des-ou-
dos. vintização, os surdos ficam com sequelas
da representação, o que fica evidenciado
É uma situação de deficiência, de in-
em sua identidade em construção.
capacidade, de inércia, de revolta.
Há uma passagem da comunicação
Existem casos de aprisionamento de
visual/oral para a comunicação visual/si-
surdos na família, seja pelo estereotipo ou
nalizada.
pelo preconceito, fazendo com que alguns
surdos se tornem incapacitados de chegar Para os surdos em transição para a
ao saber ou decidirem-se por si mesmos. representação ouvinte, ou seja, a identi-
dade flutuante se dá o contrário.
Na família, a falta de informação so-
bre o surdo é total e geralmente predomi-
na a opinião do médico; e algumas clínicas
4.6 Identidades surdas de
reproduzem uma ideologia contra o reco- diáspora
nhecimento da diferença. As identidades de diáspora divergem
Estes são alguns mecanismos de po- das identidades de transição. Estão pre-
der construído pelos ouvintes, sob repre- sentes entre os surdos que passam de um
sentações clínicas da surdez, colocando país a outro ou; inclusive passam de um
o surdo entre os deficientes ou retardos estado brasileiro a outro, ou ainda de um
mentais. grupo surdo a outro. Ela pode ser identi-
ficada como o surdo carioca, o surdo bra-
sileiro, o surdo norte americano. É uma
4.5 Identidades Surdas
identidade muito presente e marcada.
Estão presentes na situação dos surdos
que devido a sua condição social viveram
em ambientes sem contato com a identi-
4.7 Identidades surdas in-
dade surda ou que se afastam da identi- termediárias
dade surda. O que vai determinar a identidade sur-
da é sempre a experiência visual. Neste
Vivem no momento de trânsito entre
caso, em vista desta característica dife-
uma identidade e outra.
rente, distinguimos a identidade ouvin-
Se a aquisição da cultura surda não se te da identidade surda. Temos também
dá na infância, normalmente a maioria dos a identidade intermediária, geralmente
surdos precisa passar por este momento identificada como sendo surda. Essas pes-
de transição, visto que grande parte deles soas têm outra identidade, pois tem uma
35

característica que não Ihes permite essa ponto de partida para identificar as outras
identidade, isto é, sua captação de men- identidades surdas. Esta identidade se
sagens não é totalmente na experiência caracteriza também como identidade po-
visual que determina a identidade surda. lítica, pois está no centro das produções
culturais.
Apresentam alguma porcentagem de
surdez, mas levam uma vida de ouvintes.

Para estes, são de importância os


aparelhos de audição.

Importância do treinamento oral.

Busca de amplificadores de som.

Não uso de intérpretes de cultura


surda, etc.

Quando presente na comunidade sur-


da, geralmente se posiciona contra uso de
intérpretes ou considera o surdo como
menos dotado e não entende a necessi-
dade de língua de sinais de intérpretes.

Tem dificuldade de encontrar sua


identidade, visto que não é surdo nem ou-
vinte.

Enfim, as diferentes identidades sur-


das são bastante complexas e diversifica-
das. Isto pode ser constatado nesta divi-
são por identidades onde tem-se ocasião
para identificar outras muitas identidades
surdas, exemplo: filhos de pais surdos;
surdos que não tem nenhum contato com
surdo, surdos que nasceram na cidade, ou
que tiveram contato com língua de sinais
desde a infância, etc. Como dissemos, a
identidade surda não é estável está em
contínua mudança. Os surdos, não podem
ser um grupo de identidade homogênea.
Há que se respeitar as diferentes identi-
dades.

Em todo caso, para a construção destas


identidades impera sempre a identidade
cultural, ou seja, a identidade surda como
36

UNIDADE 5 – A Língua de Sinais

Chegamos às Línguas de Sinais (LS) que pois pode ser passado qualquer conceito,
são as línguas naturais das comunidades concreto ou abstrato, emocional ou racio-
surdas. nal, complexo ou simples por meio delas.
Trata-se de línguas organizadas e não de
Ao contrário do que muitos imaginam,
simples junção de gestos. Por este moti-
as Línguas de Sinais não são simplesmen-
vo, por terem regras e serem totalmente
te mímicas e gestos soltos utilizados pe-
estruturadas, são chamadas de LÍNGUAS.
los surdos para facilitar a comunicação.
São línguas com estruturas gramaticais As línguas de sinais distinguem-se das
próprias. línguas orais porque se utilizam de um
meio visual-espacial e oral-auditivo, ou
Atribui-se às Línguas de Sinais o status
seja, na elaboração das línguas de sinais,
de língua porque elas também são com-
precisamos olhar os movimentos que o
postas pelos níveis linguísticos: o fonoló-
emissor realiza para entender sua men-
gico, o morfológico, o sintático e o semân-
sagem. Já na língua oral, precisamos ape-
tico (que veremos em detalhes ao longo
nas ouvi-lo, sem necessariamente estar
do curso). No momento, faremos apenas
olhando para ele. Um exemplo é um casal
uma breve apresentação das inúmeras
de ouvintes que conversa mesmo quan-
possibilidades da LIBRAS.
do um deles está na cozinha e o outro na
O que é denominado de palavra ou item sala. Já nas línguas de sinais, esta situação
lexical nas línguas oral-auditivas são de- é impossível, pois precisamos estar ao al-
nominados sinais nas línguas de sinais. O cance da visão para que o sinal seja nota-
que diferencia as Línguas de Sinais das do e percebido pelo receptor.
demais línguas é a sua modalidade visu-
As línguas de sinais possuem mecanis-
al-espacial. Assim, uma pessoa que entra
mos morfológicos, sintáticos e semânti-
em contato com uma Língua de Sinais irá
cos. O canal usado nas línguas de sinais
aprender uma outra língua, como o Fran-
(o espaço) pode contribuir muito para a
cês, Inglês, etc. Os seus usuários podem
produção de sinais que estejam mais em
discutir filosofia ou política e até mesmo
contato com a realidade do que puramen-
produzir poemas e peças teatrais.
te as palavras. O sinal de árvore na Língua
Para conversar em LIBRAS não basta Brasileira de Sinais é representado por
apenas conhecer os sinais de forma sol- uma das mãos sendo o tronco e a outra as
ta, é necessário conhecer a sua estrutu- folhas, o que é muito mais significativo do
ra gramatical, combinando-os em frases que a palavra ÁRVORE.
(BRASIL, 2002).
Como todas as outras, as línguas de si-
As línguas de sinais são naturais, pois nais são vivas, pois estão em constante
surgiram do convívio entre as pessoas. transformação com novos sinais, sendo
Elas podem ser comparadas à complexi- introduzidos pela comunidade Surda de
dade e à expressividade das línguas orais, acordo com a sua necessidade.
37

As línguas de sinais não são universais. Da mesma forma que temos nas línguas
Cada uma tem a sua própria estrutura gra- orais pontos de articulações dos fonemas,
matical e assim, como não temos uma lín- temos na língua de sinais pontos de arti-
gua oral única, também não temos apenas culações que são expressados por toques
uma língua de sinais. A língua de sinais, no corpo do usuário da língua ou no espa-
assim como a língua oral, é a representa- ço neutro.
ção da cultura de um povo. Mesmo países
Os sinais são formados a partir da com-
com a mesma língua oral possuem línguas
binação da forma e do movimento das
de sinais diferentes. Um exemplo é o caso
mãos e do ponto no corpo ou no espaço
de Brasil e Portugal. Por mais que estes
onde esses sinais são feitos. Nas línguas
países possuam a mesma língua oral, pos-
de sinais podem ser encontrados os se-
suem línguas de sinais diferentes, com ca-
guintes parâmetros que formarão os si-
racterísticas próprias. O contrário aconte-
nais:
ce com os Estados Unidos e o Canadá, que
possuem a mesma língua oral e a mesma a) Configuração das mãos (CM) – são
língua de sinais (HONORA; FRIZANCO, as formas que colocamos as mãos para a
2009). execução do sinal. Pode ser representa-
do por uma letra do alfabeto, dos núme-
5.1 A Língua Brasileira de Si- ros ou outras formas de colocar a mão no
momento inicial do sinal. A Configuração
nais das Mãos é a representação de como es-
A Língua Brasileira de Sinais é a língua tará a mão de dominância (direita para
de sinais utilizada pelas pessoas Surdas os destros e esquerda para os canhotos)
que vivem no Brasil e tem como sigla a ini- no momento inicial do sinal. Alguns sinais
cial das palavras, sendo também chamada também podem ser representados pelas
de LIBRAS. É uma língua de modalidade duas mãos.
gestual-visual.
Os sinais DESCULPAR, EVITAR e IDADE,
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) por exemplo, possuem a mesma configu-
tem sua origem na Língua de Sinais Fran- ração de mão (com a letra y). A diferença
cesa. Reforçando, as Línguas de Sinais é que cada uma é produzida em um ponto
não são universais. Cada país possui a sua diferente no corpo, conforme ilustrações
própria língua de sinais, que sofre as influ- abaixo:
ências da cultura nacional. Como qualquer
outra língua, ela também possui expres- DESCULPAR
sões que diferem de região para região CM: mão direita em “Y” com
(os regionalismos), o que a legitima ainda palma para dentro.
mais como língua. PA: tocando o queixo.
O que chamamos de palavra na língua M: sem movimento.
oral chamamos de sinal nas línguas de si- O: sem orientação.
nais, não podendo ser chamado de gesto EF / C: expressão de arre-
ou mímica, pois não possui estas caracte- pendimento.
rísticas.
38

EVITAR IDADE
CM: mão direita em “Y”
com palma para dentro.

PA: tocando o peito.

M: raspar várias vezes.

O: para cima e para baixo.


CM: mão direita em “Y”, palma para bai-
xo.
PA: tocando a têmpora. b) Ponto de articulação (PA) – é o lu-
M: girar o pulso em arco. gar onde incide a mão predominante con-
O: para fora. figurada, ou seja, local onde é feito o sinal,
podendo tocar alguma parte do corpo ou
estar em um espaço neutro.

c) Movimento (M) – os sinais podem SAR e EM-PÉ não têm movimento; já os


ter um movimento ou não. Movimento é sinais EVITAR e TRABALHAR possuem
a deslocação da mão no espaço na execu- movimento.
ção do sinal. Por exemplo, os sinais PEN-
Veja outros exemplos abaixo:
39

d) Expressão facial e/ou corporal – dimento real do sinal, sendo que a ento-
as expressões faciais / corporais são de nação em Língua de Sinais é feita pela ex-
fundamental importância para o enten- pressão facial.
40

Expressões faciais afetivas: ligadas a sentimentos e emoções.

Expressões faciais afetivas: ligadas ao grau do adjetivo.

e) Orientação/Direção (O) – os sinais


têm uma direção com relação aos parâme-
tros acima. Assim, os verbos IR e VIR se
opõem em relação à direcionalidade.
41

Existem algumas convenções da LI- Ramos (2004) conta que Woll fez um
BRAS, usadas, por exemplo, pelo SE- levantamento histórico do material im-
NAI: presso na Inglaterra sobre Línguas de Si-
nais, mostrando que a partir de 1880 co-
a grafia – os sinais em LIBRAS, para
meçam a aparecer pequenos panfletos,
simplificação, serão representados na
provavelmente destinados à venda para
Língua Portuguesa em letra maiúscula.
arrecadação de fundos, geralmente con-
Ex.: CASA, INSTRUTOR;
sistindo em ilustrações de sinais (em fotos
a datilologia (alfabeto manual) é ou desenhos), com ou sem descrições de
usada para expressar nomes de pessoas, como produzi-los.
lugares e outras palavras que não pos-
Um panfleto denominado “Language
suem sinal, estará representada pelas pa-
of Silent Word” (1914) apresenta fotos de
lavras separadas por hífen. Ex.: M-A-R-I-A,
boa qualidade de 143 sinais e mais o alfa-
H-I-P-Ó-T-E-S-E;
beto manual. Até 1938, quando novo pan-
os verbos serão apresentados no in- fleto foi publicado pelo National Institute
finitivo. Todas as concordâncias e conju- for the Deaf, essa foi a “cartilha” dos inte-
gações são feitas no espaço. Ex.: EU QUE- ressados em Língua de Sinais.
RER CURSO;
Em 1922 foi publicado pela British Deaf
as frases – obedecerão à estrutu- and Dumb Association, “The British Deaf
ra da LIBRAS, e não à do Português. Ex.: Times”, que, além das ilustrações de sinais
VOCÊ GOSTAR CURSO SENAI? (Você gosta continham informações e anedotas sobre
do curso do SENAI?); surdos, ilustrações do alfabeto manual e
ilustrações sobre cenas surdas (uma fes-
os pronomes pessoais – serão re- ta), a visita da rainha Vitória a uma surda
presentados pelo sistema de apontação. fazendo uso do alfabeto manual.
Apontar em LIBRAS é culturalmente e
gramaticalmente aceito (BRASIL, 2002). Porém, os alfabetos datilológicos ou
alfabetos manuais têm uma história um
5.2 Datilologia ou Alfabeto pouco mais antiga, coincidindo com as pri-
meiras tentativas formais de educação de
manual surdos.
42

Vem do século XVI, com o espanhol Pe- de ouvintes no sentido de ensinar o sur-
dro Ponce de Léon (1520- 1584), monge do a falar, a maior parte das comunidades
da ordem dos Beneditinos e que viveu no surdas de todo o mundo utilizam a datilo-
monastério de Onã, em Burgos, a inven- logia em suas línguas de sinais. Ela pode
ção do primeiro alfabeto manual conheci- servir para palavras estrangeiras, nomes
do, publicado por Juan Martin Pablo Bonet, próprios que ainda não tenham recebido
em 1620, em um livro intitulado Reduccion o “apelido” em sinal, nomes de lugares ou
de las letras y artes para enseñar a hablar palavras novas (RAMOS, 2004).
a los mudos. O trabalho de Ponce de Léon
Na Língua de sinais, o léxico pode ser
está registrado nos livros da instituição
definido como o repertório de palavras
religiosa que relata sucesso de uma me-
de um determinado idioma, ou seja, um
todologia que incluía datilologia, escrita e
conjunto de palavras. Em Libras, os itens
fala e levou seus três alunos surdos a falar
lexicais são os sinais. É totalmente errado
grego, latim e italiano, além de chegar a
pensar que a datilologia (soletração uti-
um alto nível de compreensão em física e
lizando o alfabeto manual) é a simulação
astronomia.
de um sinal. As letras do alfabeto digital
Em meados do século XVIII, esse alfa- representam as letras do alfabeto oral de
beto de uma mão, que pode ser reconhe- um idioma, e cada letra não significa um
cido como o ancestral dos alfabetos ma- sinal.
nuais atuais, foi levado à França por Jacob
A datilologia é utilizada, normalmente,
Rodriguez Pereira e subsequentemente
para soletrar nomes de pessoas, de lu-
para os Estados Unidos, em 1816 (através
gares, de rótulos, ou para vocábulos não
de Gallaudet). Outra corrente, o “alfabeto
existentes na língua de sinais. É um meio
de duas mãos”, atualmente ainda em uso
de verificação, questionamento ou vei-
na Inglaterra e algumas de suas ex-colô-
culação da ortografia de uma palavra em
nias, aparentemente não mantém relação
português. Quando uma pessoa não sabe
com o alfabeto de Bonet, tendo suas ori-
escrever uma palavra, normalmente sole-
gens menos claras. Segundo Woll, o alfa-
tramos, oralmente, para ajudá-la a escre-
beto publicado anonimamente, em 1698,
ver. Em Libras, o processo é similar: quan-
com o nome de “Digitilíngua” deve ser o
do uma pessoa não sabe escrever uma
inspirador do atual.
palavra, fazemos a datilologia dela.
Mesmo sendo resultado da pesquisa
Exemplo:
43

O léxico na língua de sinais, assim como


em qualquer língua, é infinito no sentido
de que sempre comporta a incorporação
de novos sinais.

A título de enriquecimento teremos em


anexo neste módulo, a representação do
alfabeto e dos números, com o sinal ilus-
trado, o desenho e a palavra correspon-
dente, e a descrição dos cinco parâmetros
para a execução do sinal.
44
UNIDADE 6 – Filosofias Educacionais/
Propostas de Ensino
Segundo cálculos da Organização Mun- e expressão a Língua Brasileira de Sinais
dial da Saúde (OMS), estima-se que 2,5% — LIBRAS e dá outras providências.
da população seja portadora de surdez de
Esse fato, um marco para a comunidade
diferentes graus, de leve a profunda.
surda do Brasil, vem contribuir para a for-
Entre esse percentual, existem os sur- mação de uma sociedade verdadeiramen-
dos oralizados (que não fazem uso das te inclusiva, que garante os direitos dos
Línguas de Sinais) e os surdos não oraliza- surdos como cidadãos brasileiros (BRASIL,
dos (que se utilizam das Línguas de Sinais 2002) e nos leva a falar, ainda que super-
para a sua comunicação). Os surdos que ficialmente, das duas principais filosofias
utilizam as Línguas de Sinais podem ser educacionais em relação aos surdos, que
considerados formadores de uma comu- são refletidas no comportamento da so-
nidade linguística minoritária. ciedade para com os mesmos:

Assim como os índios ou qualquer outro a) Oralismo, que defende o aprendiza-


grupo numericamente pequeno com rela- do apenas da língua oral.
ção à população em geral, eles têm iden-
b) Bilinguismo, que defende o aprendi-
tidade, cultura e língua próprias. O que os
zado da lingual oral e da língua de sinais,
diferencia das demais pessoas, e das ou-
reconhecendo o surdo na sua diferença e
tras minorias, é que ser surdo não signifi-
especificidade (FERREIRA BRITO, 1993).
ca ter nascido em algum lugar determina-
do ou integrar uma família específica com Na prática do oralismo, o objetivo é
as mesmas características, e sim possuir aproximar o surdo na forma máxima possí-
uma Língua de modalidade gestual-visual vel do modelo ouvinte, por meio da apren-
cuja expressão e recepção se diferencia dizagem da língua, sendo esta analisada
de todas as demais, ou seja, das línguas como instrumento de integração social e
que são de modalidade oral-auditiva. de aprendizado global e da comunicação.
Sua proposta incide sobre a “recuperação”
No Brasil existem duas Línguas de Si-
da pessoa surda, denominada de “defi-
nais: a LIBRAS, Língua Brasileira de Si-
ciente auditivo”; seguindo critérios clíni-
nais — utilizada nos centros urbanos — e
cos.
a LSKB — Língua de Sinais Kaapor Brasi-
leira, da tribo indígena Urubus Kaapor da Já na análise do bilinguismo, a língua é
Amazônia. considerada um meio para o desenvolvi-
mento do ser em seu todo, capaz de pro-
No ano de 2002, a comunidade surda
piciar a comunicação das pessoas surdas
brasileira pôde comemorar uma grande
com os ouvintes, bem como com seus pa-
vitória. O Congresso Nacional aprovou e o
res, além de desempenhar também o pa-
Presidente da República sancionou a Lei
pel de suporte do desenvolvimento cog-
nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que re-
nitivo.
conhece como meio legal de comunicação
45

– de 95% a 96% –, não tem a mesma pos-


sibilidade que as que são filhas de surdos.
6.1 Educação Bilíngue Elas crescem e se desenvolvem dentro de
Segundo Bernardino (2000, p. 29), o uma família formada em sua totalidade
bilinguismo considera que a língua oral por ouvintes, que geralmente desconhe-
não preenche todas essas funções, sen- cem ou rejeitam o uso da língua de sinais.
do imprescindível o aprendizado de uma Portanto, eis nesse momento uma primei-
língua visual sinalizada desde tenra idade, ra defesa do bilinguismo que aprofunda-
possibilitando ao surdo o preenchimento remos em momento mais oportuno.
das funções linguísticas que a língua oral Enfim, acreditamos que neste primeiro
não preenche. Assim, as línguas de sinais módulo atingimos o objetivo de apresen-
são tanto o objetivo quanto o facilitador tar um pouco desse universo dos Surdos,
do aprendizado em geral, assim como do a definição para surdez, os graus e classi-
aprendizado da língua oral. ficação, a história da surdez e alguns dos
Essas línguas, diversas das línguas preconceitos que levaram os Surdos à
orais, têm estrutura própria e são codifi- marginalidade por séculos.
cadoras de uma “visão de mundo” especí- Ainda temos muito pela frente!
fica, sendo constituídas de uma gramáti-
ca própria, apresentando especificidades
em todos os níveis (fonológico, sintático,
semântico e pragmático), apesar de pare-
cerem utilizar princípios gerais, nas estru-
turas subjacentes, semelhantes aos das
línguas orais.

Sabe-se que, para os surdos, a sua lín-


gua primária, de caráter natural, é a língua
de sinais, e a segunda, em nosso País, a
língua portuguesa.

Porém, segundo Skliar (1997, p. 153),


estatísticas internacionais apontam que
somente 4% ou 5% das crianças surdas
são filhas de pais também surdos, tendo,
então, um acesso natural a esse bilinguis-
mo pelo contato com a língua de sinais,
sendo esse acesso efetuado por meio das
interações comunicativas com os seus
pais surdos, mesmo estando inseridos em
uma comunidade majoritária que é ouvin-
te.

A maioria das crianças surdas, portanto


46

REFERÊNCIAS

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ANEXOS
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