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CONTRATOS E
LICITAÇÕES
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3 UNIDADE 1 – Introdução
5 UNIDADE 2 – Conhecendo a Surdez e Suas Implicações
5 2.1 O processo da audição
SUMÁRIO
24 3.1 Diagnóstico da deficiência auditiva
46 REFERÊNCIAS
49 ANEXOS
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UNIDADE 1 – Introdução
Embora o som seja transmitido a uma como agudos têm frequências elevadas
velocidade de cerca de 330 metros por (muitos ciclos por segundo).
segundo, as ondas sonoras variam no que
Podemos perceber os sons apenas
se refere à taxa de vibração, conhecida
dentro de um intervalo limitado de fre-
como frequência. Mais precisamente, a
quência. Para os humanos, esse interva-
frequência se refere ao número de ciclos
lo se estende de aproximadamente 20 a
de uma onda, completados em um deter-
20.000 hertz. Como os humanos, muitos
minado período. As frequências das ondas
animais produzem algum tipo de som para
sonoras são medidas em unidade de ciclos
se comunicar, o que significa que devem
por segundo, denominada hertz (Hz).
possuir sistemas auditivos designados
Um hertz é um ciclo por segundo, 50 para interpretar os sons típicos de sua
hertz são 50 ciclos por segundo, e assim espécie. Os intervalos das frequências
por diante. Os sons que percebemos como sonoras que as diferentes espécies usam
graves têm frequências baixas (poucos variam muito. Na figura a seguir, podemos
ciclos por segundo) e os que percebemos observar essas diferenças.
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As rãs ouvem apenas uma faixa muito energia em uma onda sonora, o que faz o
estreita de frequências, enquanto as ba- volume do som parecer mais alto – mais
leias e os golfinhos ouvem uma faixa mais amplificado.
ampla. Embora nos humanos a faixa de
A amplitude do som geralmente é medi-
audição seja bastante extensa, com um
da em decibéis (dB), medida que descreve
pico de cerca de 2.000 hertz, não somos
a potência de um som em relação à inten-
capazes de perceber muitos dos sons que
sidade de referência padronizada. Sons
outros animais podem produzir e ouvir.
superiores a aproximadamente 70 deci-
Além da frequência, a amplitude pode béis são percebidos como altos, enquanto
causar uma diferença no tom percebido. A os inferiores a 20 decibéis são considera-
amplitude é o termo que se refere à mag- dos baixos. Os sons da fala normal estão
nitude da mudança na densidade de mo- em cerca de 40 decibéis.
léculas de ar. O aumento na compressão
A união dessas duas propriedades do
de moléculas de ar eleva a quantidade de
som está ilustrada no gráfico a seguir:
vimentos leves do veículo poderiam fazer Nesta época, a sociedade era dividida
com que perdêssemos o equilíbrio, mas em feudos. Nos castelos, os nobres, para
não o fazem. Do mesmo modo, ao fazer- não dividir suas heranças com outras fa-
mos movimentos, evitamos um tombo mílias, acabavam casando-se entre si, o
com facilidade, apesar de deslocarmos o que gerava grande número de Surdos en-
peso do corpo constantemente. Nosso tre eles.
sistema vestibular nos possibilita evitar o
Por não terem uma língua que se fizes-
tombo.
se inteligível, os Surdos não iam se confes-
sar. Suas almas passaram a ser considera-
2.2 A surdez ao longo da his- das mortais, pois eles não podiam falar os
tória sacramentos. Foi então que ocorreu a pri-
Veremos, como nos contam Honora e meira tentativa de educá-los, inicialmen-
Frizanco (2009), que foram muitos os pre- te de maneira preceptorial. Os monges
conceitos para com os Surdos e essa his- que estavam em clausura, e haviam feito
tória remonta à Antiguidade quando sua o Voto do Silêncio para não passar os co-
educação variava de acordo com a con- nhecimentos adquiridos pelo contato com
cepção que se tinha deles. Para os gregos os livros sagrados, haviam criado uma lin-
e romanos, em linhas gerais, o Surdo não guagem gestual para que não ficassem
era considerado humano, pois a fala era totalmente incomunicáveis. Esses mon-
resultado do pensamento. Logo, quem ges foram convidados pela Igreja Católica
não pensava não era humano. Não tinham a se tornarem preceptores dos Surdos.
direito a testamentos, à escolarização e A Igreja Católica tinha grande influên-
a frequentar os mesmos lugares que os cia na vida de toda sociedade da época,
ouvintes. Até o século XII, os Surdos eram mas não podia prescindir dos que deti-
privados até mesmo de se casarem. nham o poder econômico. Portanto, pas-
Certa vez, Aristóteles afirmou que con- sou a se preocupar em instruir os Surdos
siderava o ouvido como o órgão mais im- nobres para que o círculo não fosse rompi-
portante para a educação, o que contri- do. Possuindo uma língua, eles poderiam
buiu para que o Surdo fosse visto como participar dos ritos, dizer os sacramentos
incapacitado para receber qualquer ins- e, consequentemente, manter suas almas
trução naquela época. imortais. Além disso, não perderiam suas
posições e poderiam continuar ajudando a
Na Idade Média, a Igreja Católica teve Santa Madre Igreja.
papel fundamental na discriminação no
que se refere às pessoas com deficiência, É somente a partir do final da Idade
já que para ela o homem foi criado à “ima- Média que os dados com relação à educa-
gem e semelhança de Deus”. Portanto, ção e à vida do Surdo tornam-se mais dis-
os que não se encaixavam neste padrão poníveis. É exatamente nesta época que
eram postos à margem, não sendo consi- começam a surgir os primeiros trabalhos
derados humanos. Entretanto, isso inco- no sentido de educar a criança surda e de
modava a Igreja, principalmente em rela- integrá-la (ainda não é inclusão) na socie-
ção às famílias abastadas. dade.
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Até o século XV, os Surdos – bem como não dividirem os bens com estranhos.
todos os outros deficientes – tornaram-se Dois membros dessa família foram para
alvo da Medicina e da religião católica. A o mosteiro de Ponce de Leon e lá, junto
primeira estava mais interessada em suas dele, deram origem à Língua de Sinais.
pesquisas e a segunda, em promover a ca- Ponce de Leon foi tutor de muitos Surdos
ridade com pessoas tão desafortunadas, e foi dado a ele o mérito de provar que a
pois para ela a doença representava puni- pessoa Surda era capaz, contrariando a
ção. afirmação anterior de Aristóteles. Seus
alunos foram pessoas importantes que
No ocidente, os primeiros educadores
dominavam Filosofia, História, Matemá-
de Surdos de que se tem notícia, começam
tica e outras ciências, o que fez com que
a surgir a partir do século XVI. Um deles
o trabalho de Leon fosse reconhecido em
foi o médico, matemático e astrólogo ita-
toda a Europa. Pelo pouco que restou de
liano Gerolamo Cardano (1501-1576), cujo
registro de seu método, sabe-se que seu
primeiro filho era Surdo. Cardano afirma-
trabalho iniciava com o ensino da escrita,
va que a surdez não impedia os Surdos de
por meio dos nomes dos objetos, e em se-
receberem instrução. Ele fez tal afirma-
guida o ensino da fala, começando pelos
ção depois de pesquisar e descobrir que
fonemas.
a escrita representava os sons da fala ou
das ideias do pensamento. Os nobres, que tinham em sua famí-
lia um descendente Surdo, começaram a
Pedro Ponce de Leon (1510-1584),
educá-lo, pois os primogênitos Surdos não
monge beneditino que viveu em um mo-
tinham direito à herança se não aprendes-
nastério na Espanha, em 1570, também
sem a falar, o que colocava em risco toda a
passou a usar sinais rudimentares para se
riqueza da família. Se falassem teriam ga-
comunicar, pois lá havia o Voto do Silêncio.
rantidos sua posição e seu reconhecimen-
Uma autora checa surda, Strnadová to como cidadão.
(2000), contou em seu livro que foi desta
No século XVI, a grande revolução se
forma que se teve o registro da primeira
deu pela concepção de que a compreen-
vez que se fez uso do alfabeto manual:
são da ideia não dependia da audição de
“Não conversavam entre si em voz alta,
palavras.
porém seus dedos tagarelavam. Eram
monges, mas não eram bobos”. Honora e Em 1620, o padre espanhol Juan Pablo
Frizanco (2009) acreditam que a privação Bonet (1579-1633), filólogo e soldado a
de comunicação que existia neste mos- serviço secreto do rei, considerado um dos
teiro possibilitou a criação de outra forma primeiros preceptores de Surdos, criou
de expressão, não muito diferente do que o primeiro tratado de ensino de surdos-
observam na convivência com os Surdos. -mudos (termo que se refere ao passado,
hoje em desuso) que iniciava com a escrita
Há registros de que uma família espa-
sistematizada pelo alfabeto, que foi edi-
nhola teve muitos descendentes Surdos
tado na França com o nome de Redação
por ter o costume, já mencionado ante-
das Letras e Artes de Ensinar os Mudos a
riormente, de se casarem entre si para
Falar. Bonet foi quem primeiro idealizou e
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desenhou o alfabeto manual. Ele, em seu todo usado até hoje em terapias fonoau-
livro, destaca como ideia principal que se- diológicas.
ria mais fácil para o Surdo aprender a ler
Para Amman, o foco do seu trabalho era
se cada som da fala fosse substituído por
o Oralismo, pois acreditava que os Surdos
uma forma visível.
eram pouco diferentes dos animais, devi-
Alguns estudiosos da língua também do à incapacidade de falar. Acreditava que
se dedicaram ao ensino dos Surdos e um “na voz residiria o sopro da vida, o espírito
exemplo é o holandês Van Helmont (1614- de Deus” (MOURA, 2000). Era contra o uso
1699) que propunha a oralização do Surdo da Língua de Sinais, acreditando que seu
por meio do alfabeto da língua hebraica, uso atrofiava a mente, impossibilitando
pois, segundo ele, as letras hebraicas in- o Surdo de, no futuro, desenvolver a fala
dicavam a posição da laringe e da língua por meio do pensamento. O segredo de
ao reproduzir cada som. Helmont foi quem seu método só foi descoberto após a sua
primeiro descreveu a leitura labial e o uso morte. Relatos demonstram que usava o
do espelho, que posteriormente foi aper- paladar para a aquisição da fala.
feiçoado por Amman.
No século XVII, era percebido o grande
Jacob Rodrigues Pereira (1715-1780) interesse que os estudiosos tinham pela
foi um educador de Surdos português educação dos Surdos, principalmente por-
(emigrou para a França ainda criança) que, que tinham descoberto que esse tipo de
embora usasse a Língua de Sinais com flu- educação possibilitava ganhos financei-
ência, defendia a oralização dos Surdos. ros, pois as famílias abastadas que tinham
Seu trabalho consistia na desmutização descendentes Surdos pagavam grandes
por meio da visão (usava um alfabeto di- fortunas para que seus filhos aprendes-
gital especial e manipulava os órgãos da sem a falar e escrever.
fala de seus alunos). Educou doze alunos,
Isso é observado em Thomas Brai-
todos eles usuários de linguagem oral.
dwood (1715-1806), educador de Surdos
Existem relatos que colocam em risco o
inglês. Em 1760, fundou, em Edimburgo,
seu método, ressaltando que ele era pro-
a primeira escola na Grã-Bretanha como
fessor somente de alunos que não eram
academia privada. Em 1783, transferiu-
completamente Surdos o que facilitava
-se para Londres e recomendou o uso de
a oralização. Temos alguns estudos que
um alfabeto onde se utilizassem as duas
indicam que a escrita não era vista como
mãos que ainda hoje está em uso na In-
inserção do sujeito na sociedade, mas sim
glaterra. Seus alunos aprendiam palavras
como uma tentativa de substituir o que
escritas, seu significado, sua pronúncia e
lhe faltava, a fala (HONORA; FRIZANCO,
a leitura orofacial, além do alfabeto digi-
2009).
tal. Outras escolas que usavam o mesmo
Johann Conrad Amman (1669-1724) método que Braidwood eram organizadas
foi um médico e educador de Surdos suí- por sua família e seu método era mantido
ço que aperfeiçoou os procedimentos de em segredo para garantir seu monopólio.
leitura labial por meio de espelhos e tato, Quando Kinniburg (um de seus “discípu-
percebendo as vibrações da laringe, mé- los”) aprendeu o método com Braidwood,
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foi obrigado a manter segredo e pagar também evoluiu, já que, através da Língua
sempre metade do que ganhava ao “dono” de Sinais, eles podiam aprender e dominar
do método. Certa vez, Kinniburg foi procu- diversos assuntos e exercer diversas pro-
rado por Thomas Gallaudet (1787-1851), fissões.
educador ouvinte americano, que queria
Chegamos à Idade Contemporânea
levar o método para os Estados Unidos,
quando os trabalhos realizados em insti-
mas Kinniburg não aceitou a proposta.
tuições somente apareceram no final do
O abade Charles-Michel de L’Epée século XVIII. Até esta época eram os pre-
(1712-1789) foi um educador filantrópico ceptores (médicos, religiosos ou gramáti-
francês que ficou conhecido como “Pai dos cas) quem realizavam essa tarefa.
Surdos” e também um dos primeiros que
Sabemos que, antes de 1750, a maioria
defendeu o uso da Língua de Sinais. “Re-
dos Surdos que nasciam não era alfabeti-
conheceu que a língua existia, desenvol-
zada ou instruída.
via-se e servia de base comunicativa es-
sencial entre os Surdos” (MOURA, 2000). Em 1790, no lugar de L’Epée, Abbé Si-
card (1742-1822) foi nomeado diretor do
L’Epée teve a disponibilidade de apren-
Instituto Nacional de Surdos-Mudos. Ele
der a Língua de Sinais para poder se co-
publicou dois livros: uma gramática geral
municar com os Surdos. Criou a primeira
e um relato detalhado de como havia trei-
escola pública no mundo para Surdos em
nado Jean Massieu (Surdo).
Paris, o Instituto Nacional para Surdos-
-Mudos, em 1760. L’Epée fazia demons- Com a morte de Sicard, foi nomeado
trações de seus alunos em praça pública, como diretor do Instituto seu discípulo
assim arrecadava dinheiro para continuar Massieu, um dos primeiros professores
seu trabalho. Estas apresentações con- Surdos do mundo. Esse fato fez desen-
sistiam em perguntas feitas por escrito cadear uma grande disputa pelo poder,
aos Surdos, confirmando que seu método envolvendo outros dois estudiosos da
era eficaz. L’Epée tinha grande interesse surdez, Itard e Gérando, ocasionando o
na educação religiosa dos Surdos e sabia afastamento de Massieu da direção do
que para isso era importante que fosse Instituto.
desenvolvida uma forma de comunicação
Jean-Marc ltard (1775-1838) foi um
que fizesse os conhecimentos sagrados
médico-cirurgião francês que se tornou
possíveis. Referia-se à Língua de Sinais
médico residente do Instituto Nacional
com respeito e a obra mais importante
de Surdos-Mudos de Paris, em 1814. Ele
dele foi publicada em 1776 com o título A
estudara com Philipe Pinel, pai da Psiquia-
Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-
tria, e seguia os pensamentos do filósofo
-Mudos.
Condillac, para quem as sensações eram a
O século XVIII é considerado por muitos base para o conhecimento humano e que
o período mais próspero da educação dos reconhecia somente a experiência exter-
Surdos. Neste século, houve a fundação na como fonte de conhecimento. Dentro
de várias escolas para Surdos. Além disso, desta concepção era exigida a erradica-
qualitativamente, a educação do Surdo ção ou a “diminuição” da surdez para que o
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surdo tivesse acesso a este conhecimen- incessante para chegar à oralização, Itard
to (HONORA; FRIZANCO, 2009). rendeu-se ao fato de que o Surdo só pode
ser educado por meio da Língua de Sinais.
ltard iniciou um trabalho com o Garo-
to Selvagem, em 1799, descrito no fil- O barão de Gérando era filósofo, ad-
me francês de 1970, O Garoto Selvagem, ministrador, historiador e filantropo. Ga-
de François Truffaut. Trata-se de Victor, nhou a disputa pelo cargo de diretor do
um menino encontrado nos bosques de Instituto Nacional de Surdos-Mudos de
Aveyron, por volta dos 12 anos de idade, Paris, mencionada anteriormente. Géran-
deslocando-se de quatro, comendo bo- do acreditava na superioridade do povo
lotas de carvalho e levando uma vida de europeu e sua intenção era equiparar os
animal. Quando foi levado para Paris, em selvagens aos europeus. Para ele, os Sur-
1800, despertou um enorme interesse dos entravam na categoria de selvagens
filosófico e pedagógico: Como ele pensa- e sua língua era vista como pobre quando
va? Podia ser instruído? Itard trabalhou comparada à língua oral e não deveria ser
com o Garoto Selvagem por cinco anos e usada na educação. Com esta concepção,
foi constatado que Victor nunca adquiriu os professores Surdos da escola foram
linguagem, foi somente forçado a falar. A substituídos pelos professores ouvintes e
história de Victor é tão interessante que a oralização era seu principal objetivo. “Os
serviu de inspiração para um filme da Dis- sinais deveriam ser banidos da educação”
ney de nome Mogly, O Menino Lobo, clás- (MOURA, 2000). Após anos de trabalho,
sico que muitos de nós já tivemos oportu- reconheceu, antes de morrer, a importân-
nidade de assistir. cia do uso dos Sinais.
Segundo Moura (2000), Itard dedicou A educação dos Surdos nos Estados
grande parte de seu tempo tentando en- Unidos aconteceu com mais dificuldade
tender quais as causas da surdez. Sua pri- do que na Europa, visto que o acesso à
meira constatação foi a de que a causa metodologia inglesa sempre era negado.
dela não era visível. Seus próximos pas- Assim aconteceu com Thomas Gallaudet
sos foram dissecar cadáveres de Surdos, quando foi visitar Braidwood e Kinniburg,
dar descargas elétricas em seus ouvidos, que não revelaram seu método. Gallaudet
usar sanguessugas para provocar sangra- então procurou L’Epée no Instituto Na-
mentos e furar as membranas timpâni- cional de Surdos-Mudos de Paris. Ele foi
cas de alunos, fazendo com que um deles aceito para fazer um estágio e conheceu
fosse levado à morte e outros tivessem Laurent Clerc (1785-1869), um professor
fraturas cranianas e infecções devido às Surdo da escola. Posteriormente, Gallau-
suas intervenções. ltard nunca aprendeu det convidou Clerc para retomarem aos
a Língua de Sinais. Seu trabalho era todo Estados Unidos em 1816 para fundarem
voltado para a discriminação dos instru- a primeira escola pública para Surdos da-
mentos musicais para posteriormente quele país. Abriram a escola em abril de
chegar à discriminação de palavras e criou 1817 (Hartford School) devido às doações
o curso de articulação para surdos-mudos que receberam. (Honora e Frizanco nos
aproveitáveis. Após 16 anos de trabalho levam a notar uma diferença de mais de
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50 anos de atraso entre a mesma inicia- ter como professor um instrutor Surdo só
tiva na Europa.) A Língua de Sinais usada serviria como empecilho para sua integra-
na escola era inicialmente a francesa e ção com a comunidade ouvinte. Bell acre-
gradualmente foi sendo modificada para ditava que os Surdos deveriam estudar
se transformar na Língua Americana de junto com os ouvintes, não como direito,
Sinais. mas para evitar que se unissem, que se
casassem e criassem congregações. O
O filho de Thomas Gallaudet, Edward
fato de que os Surdos se casassem para
Gallaudet, fundou em 1864 a primei-
ele representava um perigo para a socie-
ra faculdade para Surdos, localizada em
dade. Criou o telefone em 1876, tentando
Washington. Após anos trabalhando com
criar um acessório para Surdos.
os Surdos, Edward resolveu fazer uma
grande viagem, visitando outros países e Veditz, ex-presidente da Associação
outras instituições para verificar se seu Nacional dos Surdos, ressalta que Bell foi
método estava adequado. Voltou desta considerado “o mais temido inimigo dos
viagem apoiando o trabalho de Oralismo surdos americanos” (SACKS, 1990).
e adotou “como papel da escola fornecer
As instituições de educação de surdos
treinamento em articulação e em leitura
se disseminaram por toda Europa e, em
orofacial para aqueles alunos que pode-
1878, em Paris, aconteceu o I Congresso
riam se beneficiar deste treinamento”
Internacional de Surdos-Mudos, instituin-
(MOURA, 2000).
do que o melhor método para a educação
No mesmo ano em que foi instituído o dos surdos consistia na articulação com
Oralismo, Clerc, que sempre defendeu o leitura labial e no uso de gestos nas sé-
uso da Língua de Sinais, faleceu (1869). O ries iniciais. Esta determinação somente
Oralismo foi a principal forma de educação durou dois anos, pois em 1880, em Milão,
dos Surdos nos 80 anos posteriores. ocorreu o II Congresso Mundial de Surdos-
-Mudos, que promoveu uma votação para
A Universidade Gallaudet, como é cha-
definir qual seria a melhor forma de edu-
mada atualmente, é ainda a única escola
car uma pessoa Surda.
superior de artes liberais para estudantes
Surdos do mundo, e a primeira língua uti- A partir desta votação com os partici-
lizada nas aulas da universidade foi a Lín- pantes do congresso, foi recomendado
gua de Sinais. que o melhor método seria o oral puro,
abolindo oficialmente o uso da Língua de
Outro defensor do Oralismo foi Ale-
Sinais na educação dos Surdos. Vale res-
xander Graham Bell (1847-1922), cientis-
saltar que apenas um Surdo participou do
ta e inventor do telefone. Ele era filho de
congresso, mas não teve direito de voto,
Surda e casado com Mabel, que perdera a
sendo convidado a se retirar da sala de vo-
audição quando jovem. Oralizada, ela não
tação.
gostava de estar na presença dos Surdos.
Para ele, a surdez era um desvio. Os Surdos As determinações do Congresso fo-
deveriam se passar por ouvintes encaixa- ram:
dos num mundo ouvinte e um aluno Surdo
a fala é incontestavelmente superior
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aos Sinais e deve ter preferência na edu- sofrimento e tudo isso muito mais por não
cação dos Surdos; serem usuários de uma língua oral do que
por serem Surdos.
o método oral puro deve ser preferi-
do ao método combinado. O que observamos fazendo esta retros-
pectiva histórica é que muitos estudiosos
A partir do II Congresso Internacional de
defensores do Oralismo, depois de uma
Surdos-Mudos, o método oral foi adotado
vida de tentativas, resolveram aceitar o
em vários países da Europa, acreditando-
uso da Língua de Sinais como possibili-
-se que esta era a melhor maneira para o
dade para o Surdo (HONORA; FRIZANCO,
Surdo receber a instrução no ambiente
2009).
escolar.
Durante os 80 anos de proibição do uso
Honora e Frizanco (2009) acreditam
de Sinais, os insucessos foram notados
que esta foi uma fase de extrema impor-
em todo o mundo. Os Surdos passavam
tância para entendermos o processo que
por oito anos de escolaridade com poucas
se deu na educação dos Surdos. Quando
aquisições e saíam das escolas como sa-
eles já estavam em uma situação dife-
pateiros e costureiras.
renciada, sendo instruídos, educados e
usuários de uma língua que lhes permitia Os Surdos que não se adaptavam ao
conhecimento de mundo, uma determina- Oralismo eram considerados retardados.
ção mundial lhes colocou de novo em uma Não era respeitada a dificuldade de alguns
posição submissa, proibindo-os, a partir Surdos por causa de sua perda de audição
daquela data, de usarem a língua que lhes severa e profunda. As pessoas somente
era de direito. estavam interessadas em fazer com que
o Surdo fosse “normalizado” e que desen-
Concordamos com as autores quando
volvesse a fala para que assim ninguém
inferem que a convivência entre pessoas
precisasse mudar ou sair da sua situação
surdas nos levam a perceber que se tra-
confortável. Quem deveria mudar era o
ta de uma comunidade que costuma, em
Surdo. O que não se entendia, até então, é
sua maioria, conviver em “guetos”, optar
que, para a grande maioria deles, não era
por casamentos entre si e estudar com os
organicamente possível.
iguais. Muitos se mostram desconfiados
quando os ouvintes se aproximam, pois Na primeira avaliação sistemática do
se consideram incompreendidos. É, cla- método oral, Binet e Simon (dois psicólo-
ramente, um comportamento resultante gos criadores do teste de quociente de in-
de séculos de ações que levaram à segre- teligência) concluíram que os Surdos não
gação, submissão, enfim, submissão. No conseguiam realizar uma conversação, só
entanto, é esse passado que nos leva a podiam ser entendidos e entender aque-
buscar a igualdade baseada no tratamen- les a quem estavam acostumados (MOU-
to desigual, mas justo. RA, 2000).
Os Surdos, muitas vezes, foram usados, O uso de Sinais só voltou a ser aceito
deslocados e colocados em situação de como manifestação linguística a partir de
desconforto social que lhes causou muito 1970, com a nova metodologia criada, a
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Comunicação Total, que preconizava o uso tinha como convicção ser um desperdício
de linguagem oral e sinalizada ao mesmo alfabetizar Surdos num país de analfabe-
tempo. tos. Para ele, “a fala seria o único meio de
restituir o surdo-mudo na sociedade” (SO-
Atualmente, o método mais usado em
ARES, 1999).
escolas que trabalham com alunos com
surdez é o Bilinguismo, que usa como lín- O Instituto tinha vagas para 100 alunos
gua materna a Língua Brasileira de Sinais do Brasil todo e somente 30 eram finan-
e como segunda língua, a Língua Portu- ciadas pelo governo, que oferecia educa-
guesa Escrita. ção gratuita. Os alunos tinham de 9 a 14
anos e participavam de oficinas de sapa-
2.3 Evolução histórica da taria, encadernação, pautação e doura-
ção.
Educação de Surdos no Bra-
O quarto diretor do Instituto, o médi-
sil co Tobias Leite, apresentava um foco di-
No Brasil, a educação dos surdos teve ferente do Dr. Menezes Vieira no que se
início durante o Segundo Império, com a refere à educação dos surdos. Para ele, o
chegada do educador francês Hernest que era de primeira importância era a pro-
Huet, ex-aluno surdo do Instituto de Paris, fissionalização, afirmando que “não tanto
que trouxe o alfabeto manual francês e a porque os surdos aprendem facilmente,
Língua Francesa de Sinais. Deu-se origem mas porque são fidelíssimos executores
à Língua Brasileira de Sinais, com gran- das instruções e ordens do patrão” (SOA-
de influência da Língua Francesa. Huet RES, 1999).
apresentou documentos importantes
para educar os Surdos, mas ainda não ha- Entre os anos 1930 e 1947, o Instituto
via escolas especiais. Solicitou, então, ao esteve sob a gestão do Dr. Armando Paiva
Imperador Dom Pedro II 1, um prédio para Lacerda e foi durante esse período que foi
fundar, em 26 de setembro de 1857, o Ins- desenvolvida por ele a Pedagogia Emen-
tituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janei- dativa do Surdo-Mudo que mais uma vez
ro, atual Instituto Nacional de Educação destaca que o método oral seria a única
dos Surdos – INES. O Instituto inicialmente maneira do Surdo ser incluído na socieda-
utilizava a Língua dos Sinais, mas em 1911 de.
passou a adotar o Oralismo puro, seguin-
Nessa gestão foi instituído também
do a determinação do Congresso Interna-
que os alunos do Instituto passassem por
cional de Surdos-Mudos de Milão. Dr. Me-
aplicações de testes para verificar a in-
nezes Vieira, que trabalhou no Instituto,
teligência e a aptidão para a oralização.
defendia este método afirmando que nas
Após estes testes, os alunos eram sepa-
relações sociais o indivíduo Surdo usaria
rados de acordo com suas capacidades. O
a linguagem oral e não a escrita, sendo
objetivo era que as salas de aula fossem
esta secundária para ele. Além disso, ele
cada vez mais homogêneas, separadas
1 D. Pedro II tinha interesse na educação de Surdos devido ter um
de acordo com a seguinte classificação:
neto surdo, filho da princesa Isabel, que era casada com o conde surdos-mudos completos, surdos incom-
D’Eu, parcialmente surdo.
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ca, por falta de investimento terapêutico, da inteligência do homem, tem sido obje-
etc. to de pesquisa e discussões. Ela tem sido
“um campo fértil” para estudos referen-
OPORTUNIDADE, como frisam as pes-
tes à aptidão linguística, tendo em vista a
quisadoras, é a palavra-chave.
discussão sobre falhas decorrentes de da-
É preciso oferecer oportunidades para nos cerebrais ou de distúrbios sensoriais,
que os Surdos se desenvolvam linguisti- como a surdez.
camente, pedagogicamente e como cida-
Com os estudos do linguista Chomsky,
dãos. Se isso se der pela Língua de Sinais,
obteve-se um melhor entendimento acer-
estaremos lhes oferecendo essa possibi-
ca das línguas e do seu funcionamento.
lidade.
Suas considerações partem do fato de
Muitas outras escolas especiais foram que é muito difícil explicar como a língua
importantes para a educação do Surdo materna pode ser adquirida de forma tão
no Brasil e no mundo. Hoje, temos de ter rápida e tão precisa, apesar das impurezas
consciência de nosso papel como educa- nas amostras de fala que a criança ouve.
dores, terapeutas e familiares das pesso- Chomsky, junto com outros estudiosos,
as com surdez, de que temos de nos unir admite, ainda, que as crianças não seriam
e nos empenhar para fazer com que essa capazes de aprender a língua materna
barreira comunicativa possa, cada vez caso não fizessem determinadas suposi-
mais, se estreitar e possamos viver num ções iniciais sobre como o código deve ou
mundo com as mesmas oportunidades não operar.
para todos, independente de suas carac-
A palavra tem uma importância excep-
terísticas (HONORA; FRIZANCO, 2009).
cional, no sentido de dar forma à atividade
mental, e é fator fundamental de forma-
2.4 A linguagem e a surdez ção da consciência. Ela é capaz de assegu-
A linguagem permite ao homem es- rar o processo de abstração e generaliza-
truturar seu pensamento, traduzir o que ção, além de ser veículo de transmissão do
sente, registrar o que conhece e comu- saber.
nicar-se com outros homens. Ela marca
o ingresso do homem na cultura, cons- Os indivíduos que ouvem parecem utili-
truindo-o como sujeito capaz de produzir zar, em sua linguagem, os dois processos:
transformações nunca antes imaginadas o verbal e o não-verbal. A surdez congê-
(LIMA et al., 2006). nita e pré-verbal pode bloquear o desen-
volvimento da linguagem verbal, mas não
Apesar da evidente importância do ra- impede o desenvolvimento dos processos
ciocínio lógico-matemático e dos sistemas não-verbais.
de símbolos, a linguagem, tanto na forma
verbal como em outras maneiras de comu- Mas a teoria sobre a base biológica da
nicação, permanece como meio ideal para linguagem admite a existência de um
transmitir conceitos e sentimentos, além substrato neuroanatômico no cérebro
de fornecer elementos para expandir o para o sistema da linguagem. Portanto,
conhecimento. A linguagem, prova clara todos os indivíduos nascem com predis-
20
posição para a aquisição da fala. Nesse com estrutura sintática própria. Na aquisi-
caso, o que se deduz é a existência de uma ção da língua, as pessoas surdas utilizam
estrutura linguística latente responsável o segundo sistema. Várias pesquisas já
pelos traços gerais da gramática univer- comprovaram que crianças surdas procu-
sal (universais linguísticos). A exposição ram criar e desenvolver alguma forma de
a um ambiente linguístico é necessária linguagem, mesmo não sendo expostas
para ativar a estrutura latente e para que a nenhuma língua de sinais. Essas crian-
a pessoa possa sintetizar e recriar os me- ças desenvolvem espontaneamente um
canismos linguísticos. sistema de gesticulação manual que tem
semelhança com outros sistemas desen-
As crianças são capazes de deduzir as
volvidos por outros surdos que nunca ti-
regras gerais e regularizar os mecanismos
veram contato entre si e com as línguas de
de uma conjugação verbal, por exemplo,
sinais já conhecidas. Existem estudos que
embora às vezes, a dificuldade aparece,
demonstram as características morfológi-
principalmente, no que se refere à per-
cas e lexicais desses sistemas.
cepção e à discriminação auditiva, o que
traz transtornos à compreensão da língua A capacidade de comunicação linguís-
oral. Outras vezes, a dificuldade é relati- tica apresenta-se como um dos principais
va à articulação e à emissão da voz, o que responsáveis pelo processo de desenvol-
produz transtornos na emissão da língua vimento da criança surda em toda a sua
oral. Tudo isso pode ou não ter relação com potencialidade, para que possa desem-
a surdez, visto que muitas crianças que penhar seu papel social e integrar-se ver-
apresentam dificuldades linguísticas não dadeiramente na sociedade (LIMA et al.,
têm audição prejudicada. Por exemplo, 2006).
a capacidade de processar rapidamente
mensagens linguísticas – um pré-requisi- 2.5 A surdez – graus e classi-
to para o entendimento da fala – parece
depender do lobo temporal esquerdo do
ficações
cérebro. Danos a essa zona neural ou seu Vimos até o momento uma breve in-
desenvolvimento “anormal” geralmente trodução ao sistema auditivo, contamos
são suficientes para produzir problemas a história dos Surdos ao redor do mundo,
de linguagem. mas o que é surdez?
indivíduo que apresenta perda auditiva nais e para o aprendizado da língua portu-
superior a noventa decibéis. A gravidade guesa.
dessa perda é tal que o priva das informa-
As alternativas de atendimento para
ções auditivas necessárias para perceber
os alunos com surdez estão intimamente
e identificar a voz humana, impedindo-o
relacionadas às condições individuais do
de adquirir a língua oral. As perturbações
educando e às escolhas da família. O grau
da função auditiva estão ligadas tanto à
e o tipo da perda auditiva, a época em que
estrutura acústica quanto à identifica-
ocorreu a surdez e a idade em que come-
ção simbólica da linguagem. Um bebê que
çou a sua educação são fatores que irão
nasce surdo balbucia como um de audição
determinar importantes diferenças em
normal, mas suas emissões começam a
relação ao tipo de atendimento a ser de-
desaparecer à medida que não tem acesso
senvolvido com o aluno, e em relação aos
à estimulação auditiva externa, fator de
resultados.
máxima importância para a aquisição da
linguagem oral. Assim, tampouco adquire Quanto maior for a perda auditiva,
a fala como instrumento de comunicação, maior será o tempo em que o aluno preci-
uma vez que, não a percebendo, não se sará receber atendimento especializado
interessa por ela e, não tendo retorno au- para o aprendizado da língua portuguesa
ditivo, não possui modelo para dirigir suas oral. Tal perda, no entanto, não traz ne-
emissões. Esse indivíduo geralmente uti- nhum problema linguístico para o desen-
liza uma linguagem gestual, e poderá ter volvimento e aquisição da língua brasilei-
pleno desenvolvimento linguístico por ra de sinais – LIBRAS (LIMA et al., 2006).
meio da língua de sinais.
material para reforço visual e brinquedos deve produzir sons de frequências varia-
pedagógicos (VIEIRA; MACEDO; GONÇAL- das, conforme o estímulo; estes são de-
VES, 2007). tectados pela sonda, e a seguir filtrados
e amplificados pelo equipamento acopla-
A audiometria condicionada é uma va-
do a um computador. O exame é indolor,
riante da audiometria vocal e tonal, que
não invasivo, rápido, de baixo custo, tem
pode ser realizada em crianças a partir de
elevada sensibilidade, e a aparelhagem é
dois anos de idade. O objetivo é fazer com
portátil.
que a criança faça a associação entre o es-
tímulo sonoro apresentado e um estímu- Essas características tornaram a EOAT
lo visual de reforço. A audiometria lúdica – Emissões Otoacústicas Evocadas por
é uma outra alternativa de teste possível estímulo transiente – o mais adequado
para a faixa etária de dois a 6 anos, pois e utilizado para as triagens auditivas em
nesta faixa etária pode ser realizada de recém-nascidos. Um resultado normal in-
acordo com o desenvolvimento neuropsi- dica integridade da fisiologia coclear para
comotor da criança. Por exemplo, a criança o nível de audição social normal, que é de
é solicitada a realizar um ato motor, como até 25 dBNA. Porém, um resultado altera-
encaixar uma peça de um brinquedo, ao do, em que as emissões otoacústicas es-
ouvir o estímulo acústico. tão ausentes, pode ser um falso-positivo.
Neste caso, há a necessidade de se ava-
Os testes audiológicos objetivos são
liar também a orelha média, visto que um
mais precisos do que os acima citados e
simples acúmulo de cerume pode alterar
compreendem a imitanciometria, a avalia-
o teste. Desta forma, no caso de ausência
ção das emissões otoacústicas e os poten-
de respostas, o exame é repetido, e é re-
ciais auditivos evocados. A imitanciome-
alizada a imitanciometria para confirma-
tria verifica a condução sonora pela orelha
ção do resultado (FERREIRA, 2004; GAR-
média através da mensuração e análise
CIA, ISAAC, OLIVEIRA, 2002; CARVALLO,
dos deslocamentos do sistema timpanos-
2003).
sicular em resposta à variação da pressão
do som. O exame emprega uma sonda que Alguns comportamentos são indicati-
é colocada no conduto auditivo externo, vos de perda auditiva, e devem suscitar
que deve estar desimpedido de cerúmen. a atenção dos pediatras e outros pro-
A imitanciometria não define limiar auditi- fissionais da saúde. São estes: pedidos
vo, e indica apenas se a condução do som frequentes para que se repitam frases,
está normal ou alterada na orelha média virar a cabeça em direção ao orador, fa-
(FERREIRA, 2004; GARCIA, ISAAC, OLIVEI- lar com intensidade elevada ou reduzida,
RA, 2002; CARVALLO, 2003) demonstrar esforço ao tentar ouvir, olhar
e concentrar-se nos lábios da professora,
A avaliação das emissões otoacústicas
ser desatento quando há debates na sala
(EOAT) busca, primordialmente, avaliar se
de aula, preferir o isolamento social, ser
a cóclea está com função normal, e para
passivo ou tenso, cansar-se com facilida-
isto uma sonda é colocada no conduto au-
de, não se esforçar para demonstrar ca-
ditivo externo. Após a produção de um es-
pacidade, ter dificuldade no aprendizado.
tímulo sonoro específico – o click, a cóclea
27
Alguns sinais e sintomas podem estar diométrico de 25 a 30 dB faz com que al-
associados à perda auditiva e merecem guns sons da fala e consoantes sonoras
atenção, como a respiração oral, tontura, não sejam percebidas. Geralmente, crian-
otalgia e zumbido (ROESER, 2001; COSTA, ças com esta perda apresentam disfun-
FERREIRA, MARI, 1991). Também devem ção de aprendizado auditivo, retardo leve
ter avaliação auditiva as crianças com di- de linguagem e da fala, e falta de atenção
ficuldades escolares de linguagem oral (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004;
(confusões fonéticas, inversões, dissi- ALMEIDA, SANTOS, 2003).
mulações e trocas na articulação), de lin-
No sentido de superar estes proble-
guagem escrita (trocas, dificuldades na
mas das crianças com perda auditiva leve,
expressão escrita e na leitura), e de outra
devemos facilitar a compreensão da fala
natureza (dislexia, disfasia e alterações
pela proximidade do falante (local prefe-
comportamentais); isto possibilita um
rencial na sala de aula) e emprego de tec-
diagnóstico mais precoce de parte dos ca-
nologia auxiliar, como o uso de aparelhos
sos (SANTOS et al., 2001).
auditivos individuais ou equipamentos de
A perda auditiva na infância, mesmo frequência modulada (ROSLYN-JENSEN,
leve, origina dificuldades escolares. Crian- 1996; FERREIRA, 2004; ALMEIDA, SAN-
ças com perdas auditivas discretas podem TOS, 2003).
apresentar problemas de desenvolvimen-
A perda moderada da audição em limia-
to de linguagem, dificuldades de leitura
res audiométricos de 30 a 50 dB é verifi-
e distúrbios comportamentais (ROSLYN-
cada em crianças com doenças crônicas
-JENSEN, 1996; ROESER, 2001; COSTA,
de orelha média ou com perdas neuros-
FERREIRA, MARI, 2001).
sensoriais. Com esses limiares, não se
Estudos descrevem as consequências consegue ouvir a maioria dos sons da fala
da perda auditiva bilateral de acordo com durante a conversação e apresenta pro-
o tipo e grau da perda (ROSLYN-JENSEN, blemas de articulação, como omissões,
1996; FERREIRA, 2004; ALMEIDA, SAN- substituições e distorções na fala. Essas
TOS, 2003). Assim, a perda discreta com crianças podem se beneficiar com o uso
limiar audiométrico de 15 a 25 dB, causada de aparelho auditivo e local preferencial
mais frequentemente por impedimento na sala de aula, além de necessitarem de
condutivo, permite que a criança ouça os treinamento auditivo e de leitura labial
sons das vogais, mas dificulta a adequada (ROSLYN-JENSEN, 1996; FERREIRA, 2004;
percepção das consoantes. ALMEIDA, SANTOS, 2003).
característica que não Ihes permite essa ponto de partida para identificar as outras
identidade, isto é, sua captação de men- identidades surdas. Esta identidade se
sagens não é totalmente na experiência caracteriza também como identidade po-
visual que determina a identidade surda. lítica, pois está no centro das produções
culturais.
Apresentam alguma porcentagem de
surdez, mas levam uma vida de ouvintes.
Chegamos às Línguas de Sinais (LS) que pois pode ser passado qualquer conceito,
são as línguas naturais das comunidades concreto ou abstrato, emocional ou racio-
surdas. nal, complexo ou simples por meio delas.
Trata-se de línguas organizadas e não de
Ao contrário do que muitos imaginam,
simples junção de gestos. Por este moti-
as Línguas de Sinais não são simplesmen-
vo, por terem regras e serem totalmente
te mímicas e gestos soltos utilizados pe-
estruturadas, são chamadas de LÍNGUAS.
los surdos para facilitar a comunicação.
São línguas com estruturas gramaticais As línguas de sinais distinguem-se das
próprias. línguas orais porque se utilizam de um
meio visual-espacial e oral-auditivo, ou
Atribui-se às Línguas de Sinais o status
seja, na elaboração das línguas de sinais,
de língua porque elas também são com-
precisamos olhar os movimentos que o
postas pelos níveis linguísticos: o fonoló-
emissor realiza para entender sua men-
gico, o morfológico, o sintático e o semân-
sagem. Já na língua oral, precisamos ape-
tico (que veremos em detalhes ao longo
nas ouvi-lo, sem necessariamente estar
do curso). No momento, faremos apenas
olhando para ele. Um exemplo é um casal
uma breve apresentação das inúmeras
de ouvintes que conversa mesmo quan-
possibilidades da LIBRAS.
do um deles está na cozinha e o outro na
O que é denominado de palavra ou item sala. Já nas línguas de sinais, esta situação
lexical nas línguas oral-auditivas são de- é impossível, pois precisamos estar ao al-
nominados sinais nas línguas de sinais. O cance da visão para que o sinal seja nota-
que diferencia as Línguas de Sinais das do e percebido pelo receptor.
demais línguas é a sua modalidade visu-
As línguas de sinais possuem mecanis-
al-espacial. Assim, uma pessoa que entra
mos morfológicos, sintáticos e semânti-
em contato com uma Língua de Sinais irá
cos. O canal usado nas línguas de sinais
aprender uma outra língua, como o Fran-
(o espaço) pode contribuir muito para a
cês, Inglês, etc. Os seus usuários podem
produção de sinais que estejam mais em
discutir filosofia ou política e até mesmo
contato com a realidade do que puramen-
produzir poemas e peças teatrais.
te as palavras. O sinal de árvore na Língua
Para conversar em LIBRAS não basta Brasileira de Sinais é representado por
apenas conhecer os sinais de forma sol- uma das mãos sendo o tronco e a outra as
ta, é necessário conhecer a sua estrutu- folhas, o que é muito mais significativo do
ra gramatical, combinando-os em frases que a palavra ÁRVORE.
(BRASIL, 2002).
Como todas as outras, as línguas de si-
As línguas de sinais são naturais, pois nais são vivas, pois estão em constante
surgiram do convívio entre as pessoas. transformação com novos sinais, sendo
Elas podem ser comparadas à complexi- introduzidos pela comunidade Surda de
dade e à expressividade das línguas orais, acordo com a sua necessidade.
37
As línguas de sinais não são universais. Da mesma forma que temos nas línguas
Cada uma tem a sua própria estrutura gra- orais pontos de articulações dos fonemas,
matical e assim, como não temos uma lín- temos na língua de sinais pontos de arti-
gua oral única, também não temos apenas culações que são expressados por toques
uma língua de sinais. A língua de sinais, no corpo do usuário da língua ou no espa-
assim como a língua oral, é a representa- ço neutro.
ção da cultura de um povo. Mesmo países
Os sinais são formados a partir da com-
com a mesma língua oral possuem línguas
binação da forma e do movimento das
de sinais diferentes. Um exemplo é o caso
mãos e do ponto no corpo ou no espaço
de Brasil e Portugal. Por mais que estes
onde esses sinais são feitos. Nas línguas
países possuam a mesma língua oral, pos-
de sinais podem ser encontrados os se-
suem línguas de sinais diferentes, com ca-
guintes parâmetros que formarão os si-
racterísticas próprias. O contrário aconte-
nais:
ce com os Estados Unidos e o Canadá, que
possuem a mesma língua oral e a mesma a) Configuração das mãos (CM) – são
língua de sinais (HONORA; FRIZANCO, as formas que colocamos as mãos para a
2009). execução do sinal. Pode ser representa-
do por uma letra do alfabeto, dos núme-
5.1 A Língua Brasileira de Si- ros ou outras formas de colocar a mão no
momento inicial do sinal. A Configuração
nais das Mãos é a representação de como es-
A Língua Brasileira de Sinais é a língua tará a mão de dominância (direita para
de sinais utilizada pelas pessoas Surdas os destros e esquerda para os canhotos)
que vivem no Brasil e tem como sigla a ini- no momento inicial do sinal. Alguns sinais
cial das palavras, sendo também chamada também podem ser representados pelas
de LIBRAS. É uma língua de modalidade duas mãos.
gestual-visual.
Os sinais DESCULPAR, EVITAR e IDADE,
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) por exemplo, possuem a mesma configu-
tem sua origem na Língua de Sinais Fran- ração de mão (com a letra y). A diferença
cesa. Reforçando, as Línguas de Sinais é que cada uma é produzida em um ponto
não são universais. Cada país possui a sua diferente no corpo, conforme ilustrações
própria língua de sinais, que sofre as influ- abaixo:
ências da cultura nacional. Como qualquer
outra língua, ela também possui expres- DESCULPAR
sões que diferem de região para região CM: mão direita em “Y” com
(os regionalismos), o que a legitima ainda palma para dentro.
mais como língua. PA: tocando o queixo.
O que chamamos de palavra na língua M: sem movimento.
oral chamamos de sinal nas línguas de si- O: sem orientação.
nais, não podendo ser chamado de gesto EF / C: expressão de arre-
ou mímica, pois não possui estas caracte- pendimento.
rísticas.
38
EVITAR IDADE
CM: mão direita em “Y”
com palma para dentro.
d) Expressão facial e/ou corporal – dimento real do sinal, sendo que a ento-
as expressões faciais / corporais são de nação em Língua de Sinais é feita pela ex-
fundamental importância para o enten- pressão facial.
40
Existem algumas convenções da LI- Ramos (2004) conta que Woll fez um
BRAS, usadas, por exemplo, pelo SE- levantamento histórico do material im-
NAI: presso na Inglaterra sobre Línguas de Si-
nais, mostrando que a partir de 1880 co-
a grafia – os sinais em LIBRAS, para
meçam a aparecer pequenos panfletos,
simplificação, serão representados na
provavelmente destinados à venda para
Língua Portuguesa em letra maiúscula.
arrecadação de fundos, geralmente con-
Ex.: CASA, INSTRUTOR;
sistindo em ilustrações de sinais (em fotos
a datilologia (alfabeto manual) é ou desenhos), com ou sem descrições de
usada para expressar nomes de pessoas, como produzi-los.
lugares e outras palavras que não pos-
Um panfleto denominado “Language
suem sinal, estará representada pelas pa-
of Silent Word” (1914) apresenta fotos de
lavras separadas por hífen. Ex.: M-A-R-I-A,
boa qualidade de 143 sinais e mais o alfa-
H-I-P-Ó-T-E-S-E;
beto manual. Até 1938, quando novo pan-
os verbos serão apresentados no in- fleto foi publicado pelo National Institute
finitivo. Todas as concordâncias e conju- for the Deaf, essa foi a “cartilha” dos inte-
gações são feitas no espaço. Ex.: EU QUE- ressados em Língua de Sinais.
RER CURSO;
Em 1922 foi publicado pela British Deaf
as frases – obedecerão à estrutu- and Dumb Association, “The British Deaf
ra da LIBRAS, e não à do Português. Ex.: Times”, que, além das ilustrações de sinais
VOCÊ GOSTAR CURSO SENAI? (Você gosta continham informações e anedotas sobre
do curso do SENAI?); surdos, ilustrações do alfabeto manual e
ilustrações sobre cenas surdas (uma fes-
os pronomes pessoais – serão re- ta), a visita da rainha Vitória a uma surda
presentados pelo sistema de apontação. fazendo uso do alfabeto manual.
Apontar em LIBRAS é culturalmente e
gramaticalmente aceito (BRASIL, 2002). Porém, os alfabetos datilológicos ou
alfabetos manuais têm uma história um
5.2 Datilologia ou Alfabeto pouco mais antiga, coincidindo com as pri-
meiras tentativas formais de educação de
manual surdos.
42
Vem do século XVI, com o espanhol Pe- de ouvintes no sentido de ensinar o sur-
dro Ponce de Léon (1520- 1584), monge do a falar, a maior parte das comunidades
da ordem dos Beneditinos e que viveu no surdas de todo o mundo utilizam a datilo-
monastério de Onã, em Burgos, a inven- logia em suas línguas de sinais. Ela pode
ção do primeiro alfabeto manual conheci- servir para palavras estrangeiras, nomes
do, publicado por Juan Martin Pablo Bonet, próprios que ainda não tenham recebido
em 1620, em um livro intitulado Reduccion o “apelido” em sinal, nomes de lugares ou
de las letras y artes para enseñar a hablar palavras novas (RAMOS, 2004).
a los mudos. O trabalho de Ponce de Léon
Na Língua de sinais, o léxico pode ser
está registrado nos livros da instituição
definido como o repertório de palavras
religiosa que relata sucesso de uma me-
de um determinado idioma, ou seja, um
todologia que incluía datilologia, escrita e
conjunto de palavras. Em Libras, os itens
fala e levou seus três alunos surdos a falar
lexicais são os sinais. É totalmente errado
grego, latim e italiano, além de chegar a
pensar que a datilologia (soletração uti-
um alto nível de compreensão em física e
lizando o alfabeto manual) é a simulação
astronomia.
de um sinal. As letras do alfabeto digital
Em meados do século XVIII, esse alfa- representam as letras do alfabeto oral de
beto de uma mão, que pode ser reconhe- um idioma, e cada letra não significa um
cido como o ancestral dos alfabetos ma- sinal.
nuais atuais, foi levado à França por Jacob
A datilologia é utilizada, normalmente,
Rodriguez Pereira e subsequentemente
para soletrar nomes de pessoas, de lu-
para os Estados Unidos, em 1816 (através
gares, de rótulos, ou para vocábulos não
de Gallaudet). Outra corrente, o “alfabeto
existentes na língua de sinais. É um meio
de duas mãos”, atualmente ainda em uso
de verificação, questionamento ou vei-
na Inglaterra e algumas de suas ex-colô-
culação da ortografia de uma palavra em
nias, aparentemente não mantém relação
português. Quando uma pessoa não sabe
com o alfabeto de Bonet, tendo suas ori-
escrever uma palavra, normalmente sole-
gens menos claras. Segundo Woll, o alfa-
tramos, oralmente, para ajudá-la a escre-
beto publicado anonimamente, em 1698,
ver. Em Libras, o processo é similar: quan-
com o nome de “Digitilíngua” deve ser o
do uma pessoa não sabe escrever uma
inspirador do atual.
palavra, fazemos a datilologia dela.
Mesmo sendo resultado da pesquisa
Exemplo:
43
REFERÊNCIAS
BÁSICAS COMPLEMENTARES
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mento na educação dos surdos: ideolo- e adaptação de próteses auditivas em
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e aplicações clínicas. São Paulo: Lovise;
HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lo-
2003. p.357-80.
pes Esteves. Esclarecendo as deficiên-
cias: aspectos teóricos e práticos para BERNARDINO, Elidéa Lúcia. Absurdo ou
contribuir com uma sociedade inclusiva. lógico? Os surdos e sua produção linguís-
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tribuidora Ltda., 2008. 2000.
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http://www.fiocruz.br/biosseguranca/
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ANEXOS
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