Quando os Panteras negras apareceram no Oeste da Filadélfia, sua
força e coragem abalaram aos meus amigos e a mim. Eles entregaram cartazes com imagens de homens e mulheres negras lutando por si mesmas e exigindo liberdade. Eu tinha 17 anos e nunca tinha visto algo igual.
Eu cresci em uma comunidade de pessoas em sua maioria da classe
trabalhadora negra. Muitos filhos e netos de pessoas que tinham migrado do sul. Antes de eu ingressar no partido dos Panteras Negras, eu tinha abandonado a escola. Eu estava seriamente envolvido em coisas erradas. O envolvimento com o partido me deu um novo rumo.
Meu primeiro passo foi ir às aulas de educação política. Eu escutei as
pessoas explicarem o racismo e a supremacia branca, o capitalismo e o imperialismo. Eles explicarem porque meu bairro ficou de um jeito enquanto outros pareciam diferentes. Meus amigos e eu discutíamos isso, mas as aulas colocaram essas idéias em contexto.
Nessa fotografia, eu estou à frente por acaso: eu não estava em
qualquer posição de liderança. Nós geralmente marchávamos pela comunidade. Era uma maneira de aprendermos a trabalhar juntos. Nós tentamos nos disciplinar e aos mais jovens de que não era do nosso proveito disputas internas – que isso não promovia unidade. Os jovens gostam de participar dos exercícios, porque eram divertidos. Nós cantávamos pedindo o fim da guerra do Vietnam ou pela libertação de presos políticos.
Há estereótipos dos Panteras Negras como pessoas andando por aí com
armas, lutando com a polícia noite e dia, mas isso está longe da verdade. Nós passávamos a maior parte do dia fazendo trabalho voluntário e de advocacia. Nós servíamos café da manhã gratuito para as crianças, trabalhávamos com os mais velhos, tínhamos uma clínica médica gratuita. Nos finais de semana, nós tocávamos as “escolas de libertação” onde ensinávamos a história do povo negro. Nós presenteávamos os jovens com muito mais possibilidades do que eram dadas na escola pública.
Não existe partido revolucionário de meio-expediente e eu trabalhei
para o partido durante dois anos ininterruptos. Eu continuei envolvido em política pelo resto da minha vida. Há quatro anos, eu fundei um partido negro independente, o New Afrika Independence party. Os assuntos nos quais me envolvo agora incluem violência policial e comunitária. E eu ainda luto pelos presos políticos.
Nós temos ferramentas de comunicação e mobilização na ponta dos
dedos agora que nós não poderíamos imaginar há 50 anos. Lá atrás, quando usávamos mimeógrafos que sujavam todos as suas camisas e mãos. Nós imprimíamos 500 flyers e então corríamos para os passar adiante. A sofisticação da tecnologia responde pelo atual foco no terror e brutalidade policial. Aquilo não acabou nos anos 1970 e não acabou hoje.
Eu tenho 63 anos agora. Eu tenho seis filhos e todos são politicamente
conscientes, especialmente os mais velhos. Quando eu me percebo como estou agora, eu vejo alguém que está disposto a arriscar e defender coisas que ele pensa que são justas. Eu estou extremamente orgulhoso de ter sido membro de um partido que ajudou a moldar radicalmente o pensamento dos EUA entre os negros e outras pessoas de cor.