JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL, DEMOCRACIA E perceber sua complexidade, sua diversidade e sua
FEDERALISMO relatividade. Diante disso uma nova consciência jurídica se afirma. A superação de um legalismo simplificador é JOSÉ LUIZ QUADROS DE MAGALHÃES exigência do nosso tempo. O Direito não pode ser Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela UFMG resumido a regra, pois não há a possibilidade de previsão Professor da PUC/MG e da UFMG de regras para solucionar todos os conflitos de um mundo Diretor Geral do CEEDE/MG complexo. O Direito principiológico vinculado à história, SUMÁRIO: Introdução - Jurisdição constitucional - vinculado ao caso concreto, tornou-se uma exigência Federalismo - Controle de constitucionalidade - Conclusão. democrática.
INTRODUÇÃO Para compreender o que foi dito, é importante
lembrar que Constituição não é texto. O texto é um Para abordamos o tema precisamos trabalhar de sistema de significantes aos quais atribuímos significados. forma sucinta, três aspectos importantes de nosso Nesse sentido, um texto significa atribuir sentidos e sistema constitucional: como funciona nossa jurisdição atribuir sentidos significa atribuir valores, os quais mudam constitucional; como está estruturado nosso federalismo e com a sociedade. A sociedade muda por meio das como é nosso sistema de constitucionalidade. contradições e conflitos internos e externos. Logo, quando a sociedade muda, mudam-se os valores, logo, mudam os Estudando a jurisdição constitucional conceitos das palavras (significantes), aos quais, portanto, perceberemos que, de acordo com o conceito que passamos a atribuir novos significados. construímos no Estado democrático e social de Direito da Constituição de 1988 não é possível pensarmos em uma Esse é o ponto que nos interessa de perto para a jurisdição constitucional restrita às chamadas ações construção da idéia de jurisdição constitucional ampla ou, constitucionais e às competências do Supremo Tribunal melhor, o fato de que toda a jurisdição tem de ser uma Federal, uma vez que, sendo a Constituição a base de jurisdição constitucional, uma vez que não se pode ler a todo o sistema jurídico, não há como compreender uma lei infraconstitucional contra a Constituição, o que seria jurisdição que não seja constitucional: toda jurisdição é uma interpretação inconstitucional. constitucional, ou seja, toda interpretação da norma para sua aplicação ao caso concreto deve sempre partir da A interpretação, a atribuição de sentido ao texto, Constituição e logo adequar-se ao sistema constitucional. é fato que sempre ocorre. O texto por si só não existe; ele A construção da norma para o caso não pode ignorar o só passa a existir quando alguém lê, e quando isso ocorre, sistema constitucional, seus princípios e fundamentos. necessariamente, quem lê e atribui sentido o faz a partir de sua compreensão dos significantes ali apresentados, Estudando o federalismo perceberemos que jogando na compreensão do texto os valores, as pré- temos um federalismo ainda cooperativo, pouco compreensões adquiridas no decorrer de sua vida. descentralizado no que diz respeito às competências Podemos afirmar que é impossível não interpretar. legislativas e aos recursos financeiros para a implementação de políticas públicas que correspondam às Pode-se imaginar a partir daí que a relatividade e competências administrativas. A centralização das as variações das compreensões são muito grandes, e isso competências legislativas faz com que a Justiça Estadual também é fato. O que cabe ao operador do direito buscar aplique normas federais o que faz com que a Justiça da é a segurança jurídica possível diante do universo de União se manifeste com impressionante freqüência sobre compreensão que se abre. A segurança que se buscou no suas decisões, seja por meio do Superior Tribunal de legalismo extremado, gerador de injustiças, não é de Justiça, seja nas Ações extraordinárias de competência do forma nenhuma a solução. A inflação normativa, com a Supremo Tribunal Federal. Logo, embora a Justiça dos criação de regras para tudo é uma ilusão que não gera Estados Membros tenha a obrigação de promover uma segurança, mas gera, sim, injustiça e imobilismo interpretação conforme a Constituição Federal, esta é autoritário. prejudicada pela constante reformulação da Justiça da Vivemos inseridos em sistemas de valores, em União. Pelo mesmo motivo, a aplicação da norma estadual universos de compreensão que se inserem uns dentro dos e sua adequação as Constituições dos Estados membros outros. Quanto maior o espaço de abrangência do sistema da Federação fica bastante reduzida ou periférica. de compreensão, menor a sintonia fina existente, Finalmente, estudando o controle de menores os recursos de comunicação. O sistema jurídico constitucionalidade, diante da compreensão da constrói um universo de compreensão não uniforme, mas Constituição como interpretação e da aceitação óbvia de que oferece maior segurança se o compreendermos em sua fundamentalidade no sistema jurídico não é possível sua dimensão histórica e em sua dimensão sistêmica e compreender um sistema de controle de teleológica. constitucionalidade para o Estado democrático e social de O que vem ocorrendo em termos de jurisdição Direito, previsto em nossa Constituição, que não seja o constitucional ampla em nossos tribunais reforça a idéia controle difuso, o que nos remete ao início: diante da de uma Constituição dinâmica, viva, que se reconstrói impossibilidade de não se interpretar, e diante da diariamente diante da complexidade das sociedades obrigatoriedade de se interpretar conforme a Constituição, contemporâneas. Uma Constituição presente em cada toda jurisdição é constitucional e logo o controle de momento da vida. Uma Constituição que é interpretação, constitucionalidade é de forma inafastável, diante das e não texto. Essa compreensão nos revela uma nova constatações anteriores, difuso. dimensão da jurisdição constitucional, presente em toda a JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL manifestação do Direito. É tarefa do agente do Direito, nas suas mais diversas funções, dizer a Constituição ao O Direito Constitucional tem evoluído com grande caso concreto e promover leituras constitucionalmente velocidade nesses anos, e com esta evolução a adequadas de todas as normas e fatos. A vida é compreensão do significado do que é Constituição muda a interpretação; não há texto que não seja interpretado. A partir de exigências de um mundo dinâmico e complexo. interpretação do mundo, dos fatos, das normas é Constituição não é texto e Direito não é regra, e não pode inafastável. ser assim considerado, como ocorria no passado, sob pena de se tornar obsoleto. É inimaginável a possibilidade FEDERALISMO de o parlamento acompanhar e prever todas as possíveis O nosso Estado federal surgiu a partir de um situações fáticas decorrentes das mudanças sociais Estado unitário, criado pela Constituição de 1824. O seu rápidas, e muitas vezes, radicais. processo de formação é, portanto, exatamente o inverso do norte-americano. A Constituição brasileira de 1891 restrição a qualquer ação contrária a forma federal copia da Constituição dos Estados Unidos da América do centrífuga. Não é necessário lembrar que se uma emenda Norte (1787) o federalismo, mas como a história não pode centralizadora, logo tendente a abolir a forma federal, é ser copiada, e o modelo norte-americano, tanto de inconstitucional, inconstitucional também será qualquer Suprema Corte como de presidencialismo, de outra medida nesse sentido. bicameralismo e de federalismo, são modelos históricos, a nossa cópia quase nada tem a ver com o modelo original. Dessa forma, o reflexo dessa compreensão ocorre, por exemplo, na leitura correta das limitações A visão de nosso federalismo como centrífugo materiais previstas no art. 60, parágrafo 4º, quando este explica a nossa federação extremamente centralizada, que dispõe que é vedada emenda tendente a abolir a forma para aperfeiçoar-se deve buscar constantemente a federal. Alguns autores referem-se a este dispositivo descentralização. Somos um Estado federal formado a como cláusula pétrea. Não acredito que esta terminologia partir de um Estado unitário, o que explica uma tradição seja a mais adequada para nomear as limitações materiais centralizadora e autoritária que buscamos abandonar para do poder de reforma na atual Constituição, uma vez que construir uma federação moderna e um Estado não estamos nos referindo a cláusula imutável, mas sim Democrático de Direito. as cláusulas não modificáveis em um certo sentido. No caso específico da vedação de emendas tendentes a abolir A Constituição de 1891 construiu um modelo a forma federal, essa limitação só pode ser compreendida federal altamente descentralizado, mas artificial, pois não a partir do sentido do nosso federalismo, no caso um houve união de Estados soberanos, mas sim uma divisão federalismo centrífugo. para se criar uma união artificial. Isto ajuda a entender a fragilidade de nossa Federação que recuou bastante nos Em outras palavras, isto quer dizer que o artigo mecanismos de descentralização de competências nas 60 não veda emendas sobre o federalismo; o que é Constituições brasileiras posteriores. Não se pode negar a vedado são as emendas tendentes a abolir a forma história, mas sim trabalhar com ela para fazer evoluir o federal; ao vedar emendas tendentes a abolir a forma nosso Estado para modelos mais descentralizados e, logo, federal, no nosso caso específico, em um federalismo mais democráticos. Por isso, um federalismo de três centrífugo, voltado constitucionalmente para esferas, mais cedo ou mais tarde teria que surgir no descentralização, só serão permitidas emendas que Brasil, país de tradição municipalista. venham a aperfeiçoar o nosso federalismo, ou, em outras palavras, que venham a acentuar a descentralização; A federação descentralizada de 1891 recua no emendas que venham a centralizar, em um modelo grau de descentralização em 1934 e 1946, sendo que na federal historicamente originário de um estado unitário e Constituição social-fascista de 1937 a federação foi altamente centralizado, são vedadas pela Constituição, extinta, permanecendo apenas de forma nominal no texto. pois tenderiam à extinção do estado federal brasileiro. A conexão entre autoritarismo e centralização é muito Centralizar mais o nosso modelo significa transformar forte em nossa história. Nas Constituições de 1967 e nosso federalismo em um federalismo nominal, como já principalmente de 1969 (a chamada Emenda nº 1) temos vivido no passado. novamente uma federação nominal, uma vez que em sua estrutura de distribuição de competências nos CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE aproximamos de algo muito próximo a um Estado unitário descentralizado e autoritário. No Brasil da ditadura pós-64 A existência de mecanismos adequados e e com a Constituição de 69, vivemos um período de eficazes de controle de constitucionalidade é condição extrema centralização com a nomeação de governadores, fundamental para a supremacia constitucional e a prefeitos de capitais e estâncias hidrominerais e de segurança jurídica, essência do moderno Estado de senadores. Era uma ditadura mais sofisticada que outras Direito. De nada adianta a existência de limites materiais, latino-americanas, pois um novo general era eleito de circunstanciais, temporais e formais que marcam a rigidez quatro em quatro anos, em um sistema de eleição indireta constitucional se não há meio de controle eficaz que e bipartidário semelhante ao modelo de democracia permita o afastamento do ordenamento jurídico e da vida elitista presidencial norte-americano. das pessoas, dos atos e leis que contrariam esses limites.
A Constituição de 1988 restaura a federação e a Outro aspecto relativo ao controle de
democracia, procurando avançar em um novo federalismo constitucionalidade é o fato de encontrarmos mecanismos centrífugo (que deve sempre buscar a descentralização) e de controle sofisticados, como é o brasileiro, ao lado de de três esferas (incluindo uma terceira esfera de poder mecanismos precários e quase que inexistentes, como na federal: o município). Entretanto, apesar das inovações, o Holanda, Luxemburgo e Bélgica, ou inexistentes, como no número de competências e de recursos destinados à Reino Unido. O que explica esse fato são os diversos União, em detrimento dos Estados e Municípios, é muito fatores que envolvem a tradição constitucional, a grande, fazendo com que tenhamos um dos Estados participação política, a estabilidade democrática, o grau federais mais centralizados no mundo. Esta é uma grave de organização e de participação da sociedade civil distorção de nosso federalismo que conviveu com um organizada na vida política de cada país. Não há um único período de autoritarismo das "democracias formais fator, mas podemos encontrar pistas que nos conduzam a constitucionais" que tomaram conta da América Latina na uma compreensão do fenômeno do controle de década de 90 com a penetração do perverso modelo constitucionalidade, tão importante como mencionamos e, neoliberal: os neo-autoritarismos ou o ao mesmo tempo, tão precário em algumas democracias neopresidencialismo autoritário, segundo expressão do constitucionais estáveis. constitucionalista Friedrich Muller. Felizmente, a partir do Parece ser obvio que a sofisticação de um século XXI, vivemos um momento especial da história da sistema qualquer surge da necessidade prática de seu América Latina, onde governos democráticos e populares, aperfeiçoamento. O fato de encontrarmos apenas sustentados por uma sociedade civil cada vez mais forte e mecanismos de autocontrole político da organizada chegam ao poder na maioria dos Estados sul- constitucionalidade sem a existência de um controle americanos. judicial ou mesmo concentrado por parte de uma corte A compreensão do nosso federalismo como constitucional em países como Holanda e Luxemburgo centrífugo é de fundamental importância para sua leitura pode ser explicado pela estabilização da democracia, pelo constitucionalmente adequada assim como para um alto grau de instrução, organização e participação política, correto controle de constitucionalidade, coibindo atos e e pela inexistência, por parte do parlamento, da prática de normas inconstitucionais, pois tendentes a abolir a nossa descumprimento da Constituição. Nesse caso, não é que forma federal centrífuga. Este é um limite material não exista controle, mas este é exercido pelo próprio expresso ao poder de emenda à Constituição, e logo parlamento e pela sociedade civil atenta e ativa, e tem sido suficiente. Dessa forma pela inexistência de necessidade, não se desenvolveu um mecanismo mais São várias as combinações possíveis, algumas sofisticado. existentes outras apenas prováveis de existir. Exemplo: No caso inglês, a explicação é outra. A Inglaterra a) um sistema constitucional onde embora o (Reino Unido) não tem uma Constituição codificada, controle seja concentrado a jurisdição poderá ser difusa; rígida, produto de um poder constituinte originário, como a maioria dos países do mundo. No Reino Unido, a b) outros em que a jurisdição e o controle são Constituição é formada por três partes, duas delas difusos (Brasil e Estados Unidos da América); escritas: a primeira, as leis produzidas pelo parlamento e c) a jurisdição pode ser difusa, não existindo que tratam de matéria constitucional (constituição no controle (Inglaterra); sentido material); a segunda, as decisões judiciais (que são escritas) que incorporam os costumes e interpretam e d) o controle e a jurisdição são concentrados, reinterpretam as leis do parlamento; e a terceira os sendo a jurisdição constitucional muito limitada (França); costumes não escritos do parlamento. Dessa forma, é e) inexistência de jurisdição constitucional com claro o papel do parlamento na construção diária da autocontrole do parlamento (Holanda e Luxemburgo). Constituição, em um sistema em que não há diferença formal entre lei ordinária e constitucional. Isso explica a Importante lembrar que no Brasil existe um inexistência de um controle de constitucionalidade em um controle difuso combinado com mecanismos concentrados sistema no qual a Constituição é construída diariamente ao lado de uma democrática expansão da jurisdição difusa como um poder constituinte originário permanente. que recentemente encontra resistência de Ministros do Supremo, em nome da celeridade e da concentração de Por fim outro aspecto importante a ressaltar é a poderes. Em verdade, desde 1998 ocorrem constantes falta da tradição do Judiciário europeu em dizer a tentativas de transformação do nosso sistema em um Constituição diariamente. Em países como a França, a autoritário sistema concentrado. Há uma tensão entre tradição do Judiciário é de dizer as leis forças democráticas que fazem desenvolver a jurisdição infraconstitucionais, deixando para a Corte Constitucional constitucional no Brasil ao lado de forças autoritárias nos (no caso francês, o Conselho Constitucional) não só tribunais superiores que querem negar a possibilidade da efetuar o controle de constitucionalidade mas também jurisdição constitucional difusa ampliando os mecanismos dizer a Constituição, ou seja, além de um controle de concentração do controle e vinculação das decisões. concentrado de constitucionalidade, a maioria dos países europeus tem também uma jurisdição constitucional Outros exemplos poderão ser encontrados, e concentrada. Neste ponto convém lembrar a diferença procuraremos demonstrar em outro momento o entre controle de constitucionalidade e jurisdição funcionamento de alguns desses sistemas. Nas dimensões constitucional. deste texto é importante entender a classificação proposta e a necessidade da existência de uma jurisdição O controle de constitucionalidade, como foi dito, constitucional difusa ao lado de mecanismos eficazes de é o mecanismo de afastar atos e leis inconstitucionais do controle de constitucionalidade para a efetividade da ordenamento jurídico e sua prática. A idéia de jurisdição Constituição e, logo, do Estado Democrático e Social de que hoje se desenvolve surge a partir da influência do Direito. constitucionalismo norte-americano no Brasil, que historicamente começou em 1891, mas que recentemente A seguir, vamos retomar a classificação se fortalece com as reflexões desenvolvidas em torno da tradicional dos mecanismos de controle de hermenêutica filosófica e constitucional. A jurisdição constitucionalidade para compreender sua atualidade de constitucional significa, hoje, dizer o direito constitucional acordo com o que foi acima discutido. a todo o momento, ou podemos dizer, promover sempre leituras constitucionalmente adequadas de todo o direito Após tudo que foi dito, fica mais fácil infraconstitucional. Nessa perspectiva, como já dissemos compreendermos essa classificação: anteriormente, toda jurisdição é constitucional. Assim, o a) Controle concentrado abstrato e político: controle de constitucionalidade é uma forma de dizer a exercido por um único órgão fora da estrutura do Poder Constituição, mas não a única, pois é possível entender Judiciário, encarregado de se pronunciar sobre a uma lei como sendo em abstrato, constitucional, a qual, constitucionalidade das leis. Abstrato, pois independe do entretanto, pode ser interpretada diante do caso concreto caso concreto. A França dispõe de um controle contra a Constituição. Em outras palavras, não basta o concentrado político e preventivo e, logo, abstrato. controle de constitucionalidade, é necessário também que se promova constantemente, em todo momento, leituras b) Controle concentrado judiciário (abstrato, constitucionalmente adequadas de todo o ordenamento. incidental ou misto): exercido por um único órgão do Essa adequação de que falamos significa fazer com que a Poder Judiciário encarregado de dizer da coerência do sistema constitucional seja constitucionalidade ou não das leis. Pode ser preventivo permanentemente mantida quando da interpretação da (logo, abstrato) e ou repressivo (abstrato ou no caso norma infraconstitucional juntamente com os concreto). A Bélgica dispõe de um controle concentrado mandamentos constitucionais de forma a construir a exercido por Tribunal Superior do Judiciário, abstrato norma justa para o caso levando em consideração toda a preventivo ou repressivo. No caso Belga, o juiz está complexidade da vida. Portanto, uma lei em abstrato impedido de exercer o controle de constitucionalidade, e constitucional pode ter uma interpretação inconstitucional mesmo uma jurisdição constitucional (interpretação diante do caso concreto, ou seja, uma lei constitucional constitucionalmente adequada). A competência da Corte pode receber uma interpretação inadequada ou contra a encarregada de exercer o controle de constitucionalidade Constituição quando confrontada com a complexidade da se pronuncia apenas em caso de conflito de competência história (da interpretação da vida, do caso concreto), na nova federação belga. Na Itália, temos um sistema construindo-se a partir do sistema constitucional uma mais avançado, no qual há um controle judicial norma inadequada e logo injusta. concentrado abstrato preventivo ou repressivo, e um controle concentrado também no caso concreto, no qual o Partindo dessa compreensão, poderíamos juiz da causa, entendendo ser a lei aplicável ao caso sob encontrar sistemas constitucionais com diversas sua jurisdição, inconstitucional, remete o processo à Corte variações, entendendo a jurisdição constitucional como a Constitucional, que decide o caso se pronunciando sobre a interpretação constitucionalmente adequada, portanto constitucionalidade da norma. mais do que o controle, pois esta representa a efetividade da Constituição e não apenas a proibição de sua violação. c) Controle jurisdicional difuso: é o sistema criado nos Estados Unidos da América. Nesse sistema todos os órgãos do Poder Judiciário podem se manifestar sobre a constitucionalidade ou não de uma norma perceber este mau uso da Constituição e combatê-lo, constitucional. incessantemente. d) Controle misto: o controle misto pode se A democracia não é um lugar aonde se chega, apresentar de diversas formas. Pode ocorrer a mas caminho sem fim. A democracia e a Constituição são combinação de mecanismo político para algumas leis e conceitos em permanente evolução e a própria construção jurisdicional para outras (Suíça); pode ocorrer o controle de seus significados deve ser democratizada, afastando preventivo juntamente com mecanismos repressivos; qualquer sacralização que se queira promover de seu pode ocorrer a existência de mecanismos concentrados sentido. A sacralização é importante mecanismo usado (ou diretos) com mecanismos difusos. O Brasil detêm um pelos poucos que exercem o poder, o façam segundo suas sistema misto complexo que combina todas as variantes boas intenções e não segundo a vontade manifesta de acima. Temos o controle difuso de influência norte- todos. A sacralização de palavras, idéias, cargos, poderes, americana no qual todos os órgãos do Poder Judiciário retira da grande maioria a capacidade de livre uso e livre podem se manifestar. Temos mecanismos concentrados construção do mundo de sentidos. abstratos, como a ação direta de inconstitucionalidade por ação ou omissão; a ação declaratória de constitucionalidade e o mecanismo concentrado mediante prova de violação de preceito fundamental, que é a ação de descumprimento de preceito fundamental, regulamentada pela Lei nº 9.882, de 3 de dezembro de 1999. Combinamos ainda um controle político prévio exercido pelas comissões do Congresso, da Câmara e do Senado, e pelo Presidente da República (quando veta uma lei por ser inconstitucional), com o controle jurisdicional repressivo difuso ou concentrado. CONCLUSÃO Após as reflexões desenvolvidas podemos fazer uma clara e breve conclusão. A jurisdição constitucional difusa ao lado do controle de constitucionalidade difuso são mecanismos de integração federal uma vez que obrigam os juízes, todos, da União e estaduais, construírem a norma justa para o caso partindo, obrigatoriamente, da Constituição (o que, óbvio, não deveria ser diferente em um Estado Constitucional). Mais, a jurisdição e o controle difusos são intrínsecos à lógica federal, pois permitem a discussão democrática e descentralizada da Constituição, próxima aos problemas e complexidades de um Estado Federal da dimensão do nosso. Integração democrática e descentralizada, isto podemos ter com a jurisdição e o controle difusos. Os vários passos dados por nossa legislação infraconstitucional e por reforma do texto constitucional, em direção ao fortalecimento do Supremo Tribunal Federal, centralizando as decisões por meio da vinculação de suas decisões, ferem a lógica federal e democrática, comprometendo a pluralidade e autonomia concertada, que deve ser preservada, em país de dimensões continentais e com grande diversidade cultural. A estas normas centralizadoras somam-se decisões do próprio STF, que alegando uma suposta mutação constitucional forçada, comprometem ainda mais o controle e a jurisdição constitucional difusa, conquista democrática que deve ser preservada. Por estes argumentos podemos vislumbrar uma agressão direta à Constituição de 1988, uma vez que em nome da celeridade, o próprio guardião da Constituição a desrespeita. É importante lembrarmos sempre que, o titular do poder constituinte, em uma democracia, só pode ser o povo. Os poderes do Estado existem para cumprir as determinações desta vontade, sempre, soberana. A Constituição pertence a toda a sociedade e não a um poder ou a uma Corte. Admitir o contrário é aceitar uma democracia para alguns, uma democracia da elite (que pode ser econômica, política ou jurídica). Não é novidade, no constitucionalismo, o uso da Constituição contra a democracia, entendida a palavra democracia enquanto expressão da vontade manifesta de todas as pessoas e grupos sociais que compõem o tecido social do Estado brasileiro. É justamente por esta constatação que se torna fundamental, sermos capazes de