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1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Segundo Sáles et al. (1999), de maneira simplificada, pode-se definir o vento como o
movimento das massas de ar decorrente das diferenças de pressões na atmosfera. Segundo
Silva (2008), o ar sendo um fluído e estando em movimento ao encontrar um obstáculo
exercerá uma ação sobre o mesmo (figura 1).
VENTO
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Tabela 1 – Escala de Beaufort
Fonte: Sáles et al. (1999)
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Figura 2 – Perfil de velocidade média sobre terrenos de distinta rugosidade
Fonte: Souza et al (2006), adaptado de Davemport (1963)
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É importante salientar o caráter aleatório do vento na sua intensidade, duração e
direção; este fato exige não só a necessidade de realizar medições do vento natural, como
também adotar simplificações para poder considerar seus efeitos.
Neste texto apresenta-se a maneira de determinação das ações do vento nos edifícios
segundo a norma brasileira NBR 6123:1988. As pressões do vento são transformadas em
forças estáticas, atuando na superfície perpendicular à direção do vento.
2. VELOCIDADE DO VENTO
Sabe-se que a velocidade do vento é diferente de local para local da terra. Para uma
dada região, a velocidade do vento é obtida por meio de medições realizadas com o auxílio de
anemômetros ou anemógrafos; entretanto, conforme salienta Sales et al. (1999), os resultados
dessas medições não podem ser adotados como referência inicial sem as devidas
considerações de sua variabilidade ao longo do tempo.
Normalmente as edificações são projetadas para uma vida útil de 50 anos, fazendo
com que a análise do vento deva considerar este aspecto. Em outras palavras, é necessário
determinar qual a velocidade máxima do vento neste período de tempo.
Fica evidente a necessidade de obter informações sobre a velocidade do vento em
vários locais, como também considerar estatisticamente estas informações.
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Figura 3 – Isopletas da velocidade básica V0 (m/s)
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presentes no escoamento, das características topográficas da localidade, dos fatores
estatísticos e da localização específica da edificação sobre o valor de velocidade final. De
acordo com a NBR 6123:1988, a velocidade característica do vento deve ser obtida por meio
da seguinte expressão:
VK V0 S1 S 2 S3 (1)
onde:
V0 é a velocidade básica do vento;
S1 é o fator topográfico;
S 3 é o fator estatístico.
A NBR 6123:1988 considera três situações distintas para determinação deste fator:
a) terreno plano ou fracamente acidentado: S1 = 1,00;
b) vales profundos, protegidos de ventos de qualquer direção: S1 = 0,90;
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c) taludes e morros: a correção da velocidade básica será realizada à partir do ângulo de
inclinação do talude ou do morro. A figura 5 ilustra os valores prescritos.
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sem sebes ou muros. A cota média do topo dos obstáculos é considerada inferior ou igual
a 1,0m.
Categoria III: Terrenos planos ou ondulados com obstáculos, tais como sebes e muros,
poucos quebra-ventos de árvores, edificações baixas e esparsas. Exemplos: granjas e casas
de campo, com exceção das partes com matos; fazendas com sebes e/ou muros; subúrbios
a considerável distância do centro, com casas baixas e esparsas. A cota média do topo dos
obstáculos é considerada igual a 3,0m.
Categoria IV: Terrenos cobertos por obstáculos numerosos e pouco espaçados, em zona
florestal, industrial ou urbanizada. Exemplos: zonas de parques e bosques com muitas
árvores; cidades pequenas e seus arredores; subúrbios densamente construídos de grandes
cidades; áreas industriais plena ou parcialmente desenvolvidas. A cota média do topo dos
obstáculos é considerada igual a 10m. Esta categoria também inclui zonas com obstáculos
maiores e que ainda não possam ser consideradas na categoria V.
Categoria V: Terrenos cobertos por obstáculos numerosos, grandes, altos e pouco
espaçados. Exemplos: florestas com árvores altas, de copas isoladas; centros de grandes
cidades; complexos industriais bem desenvolvidos. A cota média do topo dos obstáculos é
considerada igual ou superior a 25m.
As classes de edificações estabelecidas pela NBR 6123:1988, por sua vez, são as
seguintes:
Classe A: Todas as unidades de vedação, seus elementos de fixação e peças individuais de
estruturas sem vedação. Toda edificação na qual a maior dimensão horizontal ou vertical
não exceda 20 metros.
Classe B - Toda edificação, ou parte de edificação, para a qual a maior dimensão
horizontal ou vertical da superfície frontal esteja entre 20 e 50 metros.
Classe C - Toda edificação, ou parte de edificação, para a qual a maior dimensão
horizontal ou vertical da superfície frontal exceda 50 metros.
Segundo Sáles et al. (1999), as dimensões da edificação estão relacionadas
diretamente com o turbilhão (rajada) que deverá envolver toda a edificação; quanto maior é a
edificação maior deve ser o turbilhão que a envolverá e por consequência menor a velocidade
média do vento. Ainda segundo este autor, uma maneira simples de compreender este efeito é
como se pudesse materializar a rajada de vento como um grande tubo que envolverá a
edificação; o tempo que este tubo levará para percorrer a edificação será considerado o tempo
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de rajada (figura 6). A NBR 6123:1988 considera os intervalos de tempo de 3, 5 e 10
segundos para as rajadas, respectivamente, para as classes A, B, e C mencionadas
anteriormente.
De acordo com a NBR 6123:1988, o fator de rugosidade S 2 deve ser obtido por meio
da seguinte expressão:
S 2 b Fr (z/10) p (2)
onde:
b = parâmetro meteorológico;
Fr = fator de rajada, sendo sempre o correspondente à categoria II;
z = altura acima do terreno (limitado a altura gradiente);
p = expoente da lei potencial de variação de S 2 .
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Na tabela 2 indicam-se os valores adotados pela NBR 6123:1988 para os parâmetros b,
Fr e p.
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A NBR 6123:1998 estabelece como vida útil da edificação o período de 50 anos e uma
probabilidade de 63% da velocidade básica do vento ser excedida pelo menos uma vez neste
período; o nível de probabilidade (0,63) e a vida útil (50 anos) adotados são considerados
adequados para edificações normais destinadas a moradias, hotéis, escritórios, etc. (grupo 2 da
tabela 3).
De acordo com a NBR 6123:1998, pode-se obter o fator S 3 para outros níveis de
l (1 Pm )
-0,157 (3)
S3 0,54 n
m
onde:
Pm = probabilidade considerada;
m = período de retorno adotado.
onde:
VK é a velocidade característica do vento, em m/s.
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4. FORÇA DE ARRASTO ( Fa )
Segundo a NBR 6123:1988, a força global do vento sobre uma edificação ou parte
dela ( Fg ) é obtida pela soma vetorial das forças que aí atuam. Esta força global pode ser
decomposta em várias direções; a figura 7 ilustra a força global e algumas das direções
possíveis de decomposição desta força.
Fa C a q A (5)
onde:
C a = coeficiente de arrasto;
q = pressão de obstrução;
A = área da superfície perpendicular à direção do vento.
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A NBR 6123:1988 apresenta valores do coeficiente de arrasto para edificações de
planta retangular (edifícios de múltiplos pavimentos) para duas situações distintas de
condições de turbulência do vento que incide sobre a edificação: vento de baixa turbulência e
vento de alta turbulência.
O gráfico reproduzido na figura 8 indica o valor do coeficiente de arrasto em função
da altura, comprimento e largura para edificações de planta retangular e vento de baixa
turbulência.
baixa turbulência
Fonte: NBR 6123:1988
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Conforme salienta Souza et al. (2006), o vento não turbulento é normalmente
observado em campos abertos e planos, e é caracterizado por um escoamento de ar
moderadamente suave.
Para o caso de vento de alta turbulência, por sua vez, pode-se utilizar o gráfico
reproduzido na figura 9 para a determinação do coeficiente de arrasto.
turbulência
Fonte: NBR 6123:1988
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A NBR 6123:1988 estabelece as condições mínimas para que se possa admitir o vento
de alta turbulência e, consequentemente, determinar o coeficiente de arrasto. Estas condições
estão transcritas abaixo:
Uma edificação pode ser considerada em zona de alta turbulência quando sua altura não
excede duas vezes a altura média das edificações nas vizinhanças, estendendo-se estas, na
direção e sentido do vento incidente, a distância mínima de:
- 500 m para uma edificação de até 40 m de altura;
- 1000 m para uma edificação de até 55 m de altura;
- 2000 m para uma edificação de até 70 m de altura;
- 3000 m para uma edificação de até 80 m de altura.
12m
18m 18m
Planta Baixa Elevação
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Velocidade básica do vento ( V0 )
São Carlos: V0 = 40m/s (obtido pelo gráfico das isopletas de velocidade básica)
S 2 b Fr (z/10) p , onde:
b = 0,86 (categoria IV e classe A)
p = 0,12 (categoria IV e classe A)
Fr = 0,98 (classe B e categoria II)
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Carregamento estático ( q a )
Ca q
qa ; é igual nas duas direções, pois 1 2 18m .
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Coeficiente de arrasto (vento não turbulento):
1 18,0
1,0
2 18,0
C a 1,05
h 12,0
0,67
1 18,0
VENTO
(Cotas em mm)
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