Sunteți pe pagina 1din 6

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A
Peter A.B. Schulz
percepção da nanociência é propostas apresentadas aparecem dis-
Instituto de Física muitas vezes associada à ima- persas em diferentes contextos e fon-
Universidade Estadual de Campinas gem de que se trata de uma tes bibliográficas; no entanto, a reu-
Campinas, SP, Brasil atividade humana desenvolvida em nião desse conjunto como um todo
E-mail: pschulz@ifi.unicamp.br laboratórios demasiadamente sofisti- caracteriza-se como inédita. Outro
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
cados e caros. Associações desse tipo aspecto importante refere-se à origem
podem criar barreiras à predisposição histórica muitas vezes longínqua
de crianças, jovens e adultos leigos em dessas demonstrações, que passaram
se deixar instigar pelo tema, que pode a formar um conjunto coeso de con-
ser considerado interessante em si, ceitos e técnicas com o boom de nano-
mas cuja compreensão mais aprofun- ciência e nanotecnologia a partir do
dada é socialmente relevante e cons- final do século XX.
titui uma nova oportunidade para
fortalecer o debate público de novas Descendo até o nanômetro
tecnologias. Avanços importantes Estamos acostumados a um enor-
vêm ocorrendo no cenário brasileiro me repertório de objetos e fenômenos
de difusão pública da ciência nos últi- que pertencem a uma escala de tama-
mos anos. No que se refere à nano- nho que também faz parte desse mes-
ciência, a “nanoaventura” [1] revelou- mo repertório. Facilmente estimamos
se uma experiência muito bem suce- a altura de uma pessoa e de um prédio
dida de aproxima- ou a espessura de
ção de crianças e A percepção da nanociência um livro. No entan-
jovens à ciência e é muitas vezes associada à to, ao obser var
tecnologia em um imagem de que se trata de uma montanha já
ambiente especial- uma atividade humana não temos tanta
mente desenhado desenvolvida em laboratórios segurança se a di-
para esse fim. Uma demasiadamente sofisticados mensão é de algu-
tarefa complemen- e caros. Associações desse mas centenas ou
tar importante é a tipo podem criar barreiras à mesmo poucos mi-
atividade pós-visi- predisposição de crianças, lhares de metros.
tação, tanto em sala jovens e adultos leigos em se Nesses casos, em
de aula quanto em deixar instigar pelo tema geral, buscamos o
casa ou em um outro ambiente de auxílio de guias que forneçam a infor-
aprendizado não formal. mação: “a cachoeira tem 130 m de
Uma discussão continuada com altura”. Para distâncias maiores, fenô-
vários parceiros permitiu a formula- menos aparentes bastante estranhos
ção incipiente de um material didático começam a povoar a imaginação das
de baixo custo para o ensino de con- crianças (os adultos muitas vezes sim-
ceitos de nanociência, aproximando o plesmente não admitem, mas tam-
A nanotecnologia é sofisticada, mas a nanoci- estudante das estratégias centrais des- pouco têm uma explicação clara para
ência é também divertida e seus conceitos po-
se ramo da ciência, bem como da pró- essas aparências): “papai, por que a
dem ser abordados na escola ou em casa com a
ajuda de réguas, bacias, palha de aço e jogos pria percepção da escala de tamanho. Lua segue a gente quando andamos?”
infantis. É interessante observar que várias das Um estranhamento às avessas

4 Nanociência de baixo custo Física na Escola, v. 8, n. 1, 2007


acontece quando tentamos interagir (100 μm) para a espessura de
com fenômenos e objetos cada vez uma folha. Trata-se eviden-
menores. Admiramos os detalhes temente de uma estimativa.
minúsculos de uma miniatura, mas Uma estratégia semelhante
quando os objetos fogem à percepção pode ser usada para estimar a
a olho nu, passamos inadvertidamen- largura de uma trilha de gra-
te a um terreno de hipóteses e supo- vação em um disco de vinil.1
sições muitas vezes amparadas por Para isso, basta escolher uma
conceitos mais ou menos abstratos, faixa e verificar o tempo de
melhor ou pior assimilados em aulas, duração da mesma. A medida
palestras, leituras ou outros meios a ser feita é com a régua: a
indiretos de contato com a realidade espessura de uma faixa em cen-
microscópica. Dificilmente temos a tímetros. Com a duração da
sorte de contar com um repertório de música e sabendo que a rotação
ferramentas para estimar as dimen- do disco é de 33,3 rotações por Figura 1. Qual é o diâmetro de um fio de cabelo?
sões ou obser var fenômenos de minuto, sabemos quantas Imagens de microscopia interessantes como essa
dimensões microscópicas. No entanto, trilhas foram percorridas pela estão no sítio: http://ion.asu.edu.
a mesma criança que se maravilha agulha e estimamos a largura
com a Lua que acompanha seu passeio de cada trilha.2 gem de microscopia eletrônica na Fig.
volta e meia pergunta de que são fei- A ordem de grandeza encontrada 2 traz a resposta (1 microm), mas não
tas as coisas e temos poucas respostas nessas medidas é a mesma do diâme- é uma resposta obtida com uma
convincentes - por- tro de um fio de medida de baixo custo. Uma estima-
que sempre são abs- Qual a largura de uma cabelo (entre 50 μm tiva de baixo custo nesse caso pode
tratas - sobre a per- trilha de gravação em um e 100 μm) e dos ser feita a olho nu! Basta olhar para
da de uma proprie- disco de vinil? Para estimá- jatos dos cartuchos um CD (o lado gravado) refletindo
dade física quando o la, basta verificar o tempo de impressoras de uma fonte luminosa que observamos
pedacinho de um de duração de uma faixa e jatos de tinta a decomposição da luz nas cores do
material é “pequeno medir sua espessura (em (50 μm) [2]. São arco-íris: o CD funciona como uma
demais”. Pior ainda centímetros!). Conhecendo a dimensões cerca de grade de difração para a luz visível
é conseguir mostrar rotação do disco, podemos 10 vezes menores [3], portanto suas trilhas de gravação
que, se o “pedacinho calcular quantas trilhas que a menor divi- têm que ter um espaçamento com
é pequeno demais”, foram percorridas... são em uma régua. dimensões da ordem do comprimento
novas propriedades O próximo passo de onda da luz visível, ou seja, de
podem surgir em vez de desaparecer. será uma redução ainda maior, em 1 μm.
um fator de 100 vezes. Comprimentos da ordem de 1 μm
Primeiro passo: a folha de correspondem às dimensões de uma
papel e o disco de vinil Rumo ao micrômetro e além: bactéria. Conseguir estimar dimen-
A primeira tarefa será encontrar a gravação de um CD e a teia sões menores significa finalmente
estratégias para medir dimensões bem de aranha fazer medidas no mundo nanomé-
menores que, digamos, 1 mm, a me- Um antigo LP de vinil pode trico. Pelo menos uma estimativa nes-
nor divisão de uma régua comum. armazenar cerca de 30 min de música sa escala de tamanho pode ainda ser
Devemos nos lembrar que nem todos em uma área de 0,06 m2. Os primeiros feita a olho nu:
os objetos poderão ser medidos, mas CDs de música podiam armazenar O olho humano é capaz de detectar
isso vale para as dimensões do nosso 60 min (o dobro) em uma área de
cotidiano: podemos usar uma régua 2
0,009 m , ou seja, cerca de 7
para medir o comprimento do nosso vezes menor. Isso levaria a
pé, mas não do fêmur, já que não pensar que as ranhuras de
temos acesso direto a ele sem a ajuda gravação em um CD teriam a
de uma imagem de raios-X, por exem- largura de 2 a 3 micra, em vez
plo. A pergunta então é qual a espes- dos mais de 30 micra em um
sura de uma folha de papel sulfite? LP de vinil. Essa largura no CD,
Para medir a espessura de uma única é, no entanto, menor ainda,
folha precisaríamos de um instru- pois a gravação digital tem
mento bem mais preciso que uma ré- maior conteúdo sonoro que o
gua (um micrômetro), mas podemos possibilitado pela gravação Figura 2. Gravações de dados em um CD fotogra-
medir a altura de um pacote de 500 analógica. Como podemos fados por microscopia eletrônica. Fonte: http://
folhas com uma régua! São cerca de estimar a largura das trilhas de www.emal.engin.umich.edu/courses/SEM_
5 cm, o que corresponde a 0,1 mm gravação em um CD? A ima- lectureCW/SEM_frontpage.htm1.

Física na Escola, v. 8, n. 1, 2007 Nanociência de baixo custo 5


3 km de comprimento. A largura
desse traço é de 0,5 mm. Estime
o volume em uma carga nova de
uma caneta esferográfica e, a
partir desse valor, calcule a
espessura do traço deixado pela
caneta sobre o papel.
A resposta é 0,2 μm [5]. É
possível traçar linhas com uma
lapiseira, medir o comprimento
Figura 3. Teias de aranha: visíveis apenas total dos traços, calcular o vo-
por causa da reflexão da luz do sol. lume de grafite gasto (deixe, por
exemplo, 1 mm para fora do
objetos a uma distância de 10 cm com
corpo da lapiseira e desenhe até
um diâmetro de 25 μm. O diâmetro
gastar tudo) e fazer o mesmo
médio de um fio de teia de aranha é de
tipo de estimativa. No teste que
0,15 μm (Fig. 3). O fio mais fino já
eu fiz foi encontrado o incrível
medido tinha apenas 0,02 μm de
valor de 10 nm. Como a
espessura. Nós somos capazes de ver
separação dos planos de átomos
as teias apenas devido à reflexão da
de carbono no grafite é de
luz do sol nelas. Esses fios extrema-
0,34 nm, palavras escritas (de
mente finos são capazes de deter uma
leve) têm a espessura de apenas
mosca voando a toda velocidade. Esses
30 camadas atômicas. Isso é
fios não são apenas extremamente
nanociência a um custo muito
resistentes, mas também muito Figura 4. Experimento de resistência elétrica de uma
baixo.
elásticos. [4]
Uma outra experiência in- linha desenhada a lápis.
teressante é calcular a espessura
Escala nanoscópica na ponta de um traço de grafite por meio da
A resposta está nas propriedades que
do lápis associamos ao ouro, como a cor e o
medida de sua resistência elétrica
brilho. O que acontece com o “dou-
Podemos realizar medidas, com a (Fig. 4), com o qual foi obtido o valor
rado” em pedaços cada vez menores
ajuda de uma régua, de dimensões de 17 nm [6]. Uma estimativa geomé-
de ouro? A resposta é que o dourado
menores que um mícron, mas mais trica feita em resposta a esse projeto
passa a ser vermelho rubi e a razão
uma vez são procedimentos geomé- encontra o valor de 4 nm [7]. Apesar
disso está em um efeito de tamanho
tricos indiretos e extremamente sim- das discrepâncias, todos os resultados
sobre as propriedades ópticas desses
ples. Notamos que a espessura finita estão na mesma ordem de grandeza e
pequenos pedaços de ouro (diâmetros
de uma folha de papel, ou do diâmetro o leitor é convidado a fazer sua pró-
menores de 40 nm) [9]. Resumindo:
de um fio de cabelo, são perceptíveis pria medida.
podemos revelar novas propriedades
ao tato, embora não tenhamos pre-
Fenômenos emergentes em físicas e químicas em aglomerados
cisão suficiente para fazer estimativas
dimensões decrescentes: acen- muito pequenos de um determinado
numéricas com a ponta dos dedos.
material, que não se manifestariam
Ainda assim, o que pode ser percebido dendo aço com uma bateria
em aglomerados maiores. Essa é uma
pelo tato representa um limite supe-
Aqui propomos então a pergunta das estratégias importantes explora-
rior.3 Um traço leve feito por uma
inversa a que muitas vezes ouvimos das em nanotecnologia e um exem-
caneta ou lápis sobre uma folha de
de crianças. Essa curiosidade é, por plo muito acessível, embora micro e
papel já não pode ser percebido pela
exemplo, sobre quantas vezes pode- não nano, é colocar fogo em aço com
sensibilidade tátil de um dedo huma-
mos dividir um pedaço de madeira e uma bateria (Fig. 5). Se encostarmos
no. Esse fato sugere a possibilidade da
os pedacinhos menores continuarem os pólos de uma bateria de 9 V (na
espessura de uma palavra escrita
a ser madeira. Essa questão preocupa verdade, duas pilhas de 1,5 V em série
sobre uma folha de papel ser de no
a humanidade desde, pelo menos, já são suficientes) em contato com
máximo alguns micra. Uma estima-
Demócrito (460-370 A.C.), o famoso uma chave de fenda, nada acontecerá
tiva para o caso da caneta já foi uma
atomista grego [8]. Tomemos um (a não ser que a bateria será gasta
questão de física no vestibular nacio-
pedaço de ouro. Imaginamos que po- rapidamente, pois o aço conduz eletri-
nal da Unicamp de 2005, que pode
demos dividí-lo em partes menores até cidade e o sistema estará em curto-
ser proposta como atividade em sala
chegarmos aos átomos de ouro iso- circuito). Se encostarmos esses pólos
de aula:
lados. Uma análise química ou física em um chumaço de palha de aço,
Uma caneta esferográfica comum desses átomos mostrará que eles são notaremos que a corrente elétrica
pode desenhar um traço contínuo de ouro; afinal, o que mais poderiam ser? esquenta os fios de aço, que se tornam

6 Nanociência de baixo custo Física na Escola, v. 8, n. 1, 2007


ração com o tempo de disso- [14] como na Fig. 6.
lução dessa mesma pastilha Auto-arranjos em nanoescala
moída. Sugestões de experiên- ocorrem em outros sistemas físicos,
cias desse tipo podem ser como os pontos quânticos auto-orga-
encontradas na internet, nizados, basicamente devido a tensões
embora a grande maioria dos superficiais durante o processo de
sítios estejam em inglês [10]. formação dessas estruturas [15].
Uma ilustração muito efetiva e
Candidatos a novas
divertida desse tipo de auto-arranjo
tecnologias: materiais e é o que ocorre com blocos de plástico
estratégias quadrados flutuando em uma super-
Traços a lápis podem ser fície de água devido a tensões
interessantes além de ser um superficiais, que são minimizadas
Figura 5. Um pedaço de palha de aço queimando exemplo de uma espessura na com a reorganização dos blocos. Essa
devido à corrente elétrica gerada pela bateria. escala da nanociência. Já demonstração pode ser feita com
comentamos a possibilidade de blocos de Lego ou similares. O uso
incandescentes. Ao retirarmos a estimar a espessura de uma linha de- do jogo Lego para demonstrações em
bateria, a palha continuará a queimar, senhada com um lápis por meio da nanociênica foi desenvolvido pelo In-
ou seja, temos aço pegando fogo. O resistividade elétrica do mesmo. Usar terdisciplinary Education Group da
que acontece com a palha de aço é que riscos a lápis sobre papel (ou outro Universidade de Wisconsin-Madison
a razão área/volume já é suficiente tipo de suporte) como kit para expe- [16]. Desse conjunto de experi-
para manter o fogo, ou seja, os fios rimentos de circuitos elétricos (resis- mentos, o auto-arranjo foi testado
de aço são tão finos, que o número de tores) e propriedades elétricas dos ma- pelo autor em uma bacia com água
átomos de ferro em contato com o teriais são razoavelmente freqüentes (Fig. 7).
oxigênio do ar é grande o suficiente na literatura [11-13]. O grafite não
para entrar em combustão com o é, obviamente, a forma alotrópica do
Gota de óleo sobre água:
aquecimento Joule proporcionado carbono que aparece como material dimensões moleculares
pela corrente provocado pela bateria. promissor, e sim o nanotubo de car- O exemplo anterior ilustra um
bono4. No entanto, podemos pensar auto-arranjo, mas é macroscópico.
Razão área/volume: em experiências de propriedades elétri- Colorido e divertido, mas muito longe
acelerando reações químicas cas de desenhos a lápis como analogias do nosso objetivo de chegar à bilioné-
A variação da razão área/volume para dispositivos de micro(nano)ele- sima parte do metro, que é o nosso
crescente com a diminuição do trônica. tema. Um bom complemento seria
tamanho dos corpos pode ser também provocar um auto-arranjo nessa
imaginada com um “experimento A estratégia do auto-arranjo escala e essa experiência pode ser feita
geométrico”. Qual é o volume e a área Para tornar uma nano-
em contato com o ar de um dado de fabricação possível em toda a
1 cm de aresta? Resposta: 1 cm3 e sua potencialidade, um novo
6 cm 2 , respectivamente. Agora paradigma faz-se necessário: a
podemos dividir esse dado em 1000 auto fabricação do dispositivo.
dados menores de 1 mm de aresta e É a chamada estratégia bottom-
fazer a mesma pergunta. Qual é a res- up, na qual os minúsculos
posta? Novamente 1 cm3 para o volu- pedaços constituintes se auto-
me, mas a área passa a ser de 60 cm2. organizam no dispositivo. A
Imagine agora dividir o dado em 1015 organização desses pedaços por
pequenos dados de 100 nm de aresta. meio de um agente externo
O volume total será sempre o mesmo, (como um microscópio de
mas a área total em contato com o ar força atômica, por exemplo)
passará a ser de 60 m2, que é compa- seria muito lenta para os pa-
rável à área de um pára-quedas drões de produção em série das
aberto. Esse contato maior é respon- tecnologias estabelecidas. Uma
sável pela aceleração das reações aposta fascinante é a auto- Figura 6. Auto-arranjo de moléculas de DNA for-
químicas, como na experiência da organização de moléculas de mando um reticulado. Algumas moléculas são fun-
palha de aço. Uma outra experência DNA, com sequências especí- cionalizadas com partículas metálicas e se auto-
que ilustra esse fenômeno é bastante ficas para formar arranjos organizam formando as letras D, N e A. Resultados
difundida e consiste em comparar o previamente projetados, por obtidos por um grupo de pesquisadores da
tempo que uma pastilha efervescente meio do mecanismo de empa- Universidade de Duke nos EUA. Fonte: http://
demora para se dissolver em compa- relhamento de pares de base www.physorg.com/news9322.html.

Física na Escola, v. 8, n. 1, 2007 Nanociência de baixo custo 7


para a tradução para o português),
surgidos na década de 1980 [18]. Os
mais conhecidos são o microscópio de
tunelamento e o de força atômica.
Esses foram os primeiros instrumen-
tos que permitiram não somente
“ver” (as aspas aqui são fundamen-
tais, como constataremos daqui a
pouco) átomos, mas também mani-
pulá-los individualmente de maneira
controlada.
Figura 7. Experimento de auto-arranjo com blocos de LEGO. A microscopia de varredura de
sonda (Fig. 9, direita) é constituída de
em casa ou na escola com a ajuda de lham totalmente sobre a água, for- três aspectos básicos que precisam ser
uma bacia, uma gota de óleo de co- mando um filme fino com a espessura acoplados. Primeiro a sonda em si,
zinha em um conta-gotas, um pouco de uma única molécula de óleo, que objeto que só pode ter uma resolução
de talco e uma régua (Fig. 8). Coloca- só enxergamos indiretamente pelo nanoscópica se também tiver dimen-
mos água em uma bacia e esperamos movimento das partículas de talco. sões nanoscópicas. Diferentes tipos de
a formação de um espelho de água Essa espessura do filme fino de óleo sonda são sensíveis a diferentes
sem agitação. Polvilhamos então com sobre a água é verificado por uma fenômenos físicos (corrente elétrica,
cuidado a superfície com talco e espe- comparação de volumes (estimativa forças atômicas ou propriedades
ramos que eventuais agitações na do volume da gota saindo do conta- magnéticas). Essas sondas precisam
água terminem por completo. Em se- gotas comparado à área da mancha ser deslocadas sobre o objeto de estudo
guida pingamos uma gota de óleo so- do talco deslocado mutiplicado pela de forma controlada (a varredura)
bre a água, bem no meio da bacia e espessura dessa mancha) como fize- com precisão também da ordem de
com o conta-gotas bem perto da mos para o risco à caneta ou lápis. nanômetros ou mesmo de frações de
superfície. O que acontece? O óleo se Um pouco da história desse expe- nanômetro. Por último, a variação da
espalha rapidamente sobre a super- rimento curioso, feito já por Benjamin medida do fenômeno físico em função
fície da água e isso pode ser visua- Franklin em 1774, pode ser lido no da posição da sonda precisa ser
lizado pelo deslocamento das partí- jornal do Centro de Biotecnologia traduzida em imagens adequadas do
culas de talco. Se pingarmos uma gota Molecular e Estrutural [17]. objeto estudado e manipulado em es-
de óleo sobre um vidro ou uma placa cala atômica. Por isso que “ver” áto-
de madeira não observamos esse alas- A vitrola e o microscópio mos é um processo bastante comple-
tramento. O que acontece sobre a Um programa de atividades em xo, indireto e, portanto, entre aspas.
água é que as moléculas de óleo têm nanociência não estaria completo sem Uma analogia útil para a micros-
uma extremidade hidrofóbica (são uma ligação ao ambiente mais sofis- copia por varredura de sonda, que
repelidas pela água) e a outra hidrofí- ticado de realização das pesquisas de envolve os três aspectos mencionados
lica (são atraídas pela água). O resul- ponta e seus instrumetos. O paradig- acima, é o familiar toca-discos, talvez
tado é que essas moléculas se espa- ma da instrumentação científica em melhor conhecido pelos mais jovens
nanociência é, provavelmente, através do trabalho dos DJs (Fig. 9,
o conjunto dos novos esquerda). Nesse caso nunca existiu a
microscópios de varredura de motivação de “ver ” os detalhes
sonda (scanning probe micro- microscópicos da superfície do disco
scope; existem várias versões de vinil e sim “simplesmente” ouvir a

Figura 8. Partículas de talco deslocadas pela gota de


óleo que se espalhou sobre a superfície da água. O
diâmetro da área sem talco é de aproximadamente
20 cm. O diâmetro da gota de óleo era de 1 mm.
Isso resulta em uma espessura da camada de 10 nm. Figura 9. A agulha de um toca-discos (esquerda) e a ponta de um microscópio
Nada mal para uma tentativa improvisada rápida. de força atômica (direita): quais são as semelhanças e quais as diferenças?

8 Nanociência de baixo custo Física na Escola, v. 8, n. 1, 2007


música. De fato, um grupo de pes- ser comparável ao caminho en-
quisadores da Universidade de Berke- tre esse deslocamento do braço
ley desenvolveu um procedimento de da agulha, quer dizer da ponta
recuperação de discos antigos que do AFM, e a imagem de fato
demonstra esse princípio: nesse dos átomos sobre uma
trabalho é feita uma leitura óptica superfície.
(“ver ”) dos sulcos, que depois é Uma nova pergunta sobre
traduzida em uma gravação digital do o AFM seria: como o deslo-
registro musical, que assim é camento do braço da ponta de
recuperado.4 um microscópio, devido às
Uma atividade interessante seria forças entre os átomos, é de-
discutir as semelhanças e diferenças tectado para depois ser trans-
(limitações da analogia) entre um formado em imagem? Esses Figura 10. Toca-discos, uma ponteira laser e um
microscópio de força atômica (Atomic movimentos da ponta de um pequeno espelho sobre a cápsula: o feixe refletido
Force Microscope, AFM)5 e um toca AFM são detectados pelo des- na parede vibra com o disco tocando, ilustrando
opticamente a estrutura dos sulcos de gravação.
discos de vinil. Por exemplo, locamento de um feixe de raio
observem as duas fotos da Fig. 9: não laser que é refletido pelas costas
existe uma diferença muito grande do braço que prende a ponta. experimentos simples permite uma
entre uma agulha de vitrola e a ponta Podemos testar esse princípio com o aproximação ao mundo da nano-
de um AFM. No caso da agulha, a toca-discos, usando uma ponteira ciência para estudantes do ensino
pressão dos sulcos produz um sinal laser, conforme mostra a Fig. 10 médio. Essa aproximação pode ser
elétrico na agulha, enquanto no AFM, (atenção: nunca olhe diretamente feita tanto em sala de aula, em ou-
o braço no qual a ponta está presa se para o feixe de luz) presa a um su- tro ambiente escolar ou mesmo em
desloca devido às forças de van der porte com o feixe direcionado à casa, desde que de maneira super-
Walls entre os átomos em uma super- cápsula de um toca-discos com um visionada. O conteúdo exposto aqui
fície e os poucos átomos na extremi- pedaço de espelho. Colocando o disco poderia ser discutido em 3 ou 4
dade da ponta. Essas forças são da para tocar, nota-se o feixe de luz aulas de 50 min. Espera-se que as
ordem de pico Newtons (1 pico = 1 refletido em um anteparo distante referências indicadas possibilitem
trilionésimo)! O longo caminho en- “dançando conforme a música”. um aprofundamento adequado ao
tre o sinal elétrico gerado na agulha tema, bem como uma indicação de
pelo sulco do disco e a música Comentários finais outras iniciativas desse tipo reali-
amplificada em “alta fidelidade” pode Esse conjunto de atividades e zadas em outros países.

Referências [10] http://nanosense.org/activities/sizemat contrada no sítio http://history.san


ters/properties/SM_Lesson3 Teacher.pdf. diego.edu/gen/recording/notes.html.
[1] Veja o sítio www.nanoaventura.com.br [11] Samuel Derman e Aron Goykadosh, The 2
Eu escolhi um disco de vinil com a primeira
para maiores informações e links para Physics Teacher 37
37, 400 (1999). faixa de 2 min e 20 s. A largura era de
outras páginas interessantes sobre na- [12] Lawrence D. Woolf e Holger H. Streckert, aproximadamente 9 mm. A estimativa
nociência e nanotecnologia. The Physics Teacher 3434, 440 (1996). para a largura da trilha é de 32 μm. Ela
[2] http://www.hilord.com/InkJet.htm. [13] Rick Marshall, Physics Education Março
Março, é bastante próxima ao valor nominal
[3] Detalhes sobre esse efeito, bem como di- 94 (2003). que existe na literatura.
cas para a construção de um espectrô- [14] http://www.physorg.com/news9322.
3
Uma estimativa feita com um livro impresso
metro caseiro podem ser encontrados html. em papel bíblia indica que uma folha
em Marisa Almeida Cavalcante e Cris- [15] A.J. Chiquito, Revista Brasileira de Ensino desse papel tem uma espessura de
tiane F.C. Tavolaro, Física na Escola 3(2), de Física 23
23, 159 (2001). aproximadamente 50 μm. Seria interes-
40 (2002). [16] http://mrsec.wisc.edu/Edetc/LEGO/ sante determinar o limite inferior de
[4] http://www.geocities.com/~esabio/ index.html. percepção para o tato, como no caso da
aranha/teia_e_a_seda.htm. visão, mencionado na discussão sobre
[17] Carlos H.I. Ramos em http://cbme.
[5] http://www.convest.unicamp.br/ o fio da teia de aranha.
if.sc.usp.br/noticias/edicao9.pdf e http:/
vest_anteriores/2005/download/ 4
Isso já passou a ser questionável nos últimos
/cbme.if.sc.usp.br/noticias/edicao10.pdf.
comentadas/fisica.pdf. meses, pois cresce a espectativa em
[18] Veja uma série de imagens e atividades
[6] Projeto de Alice Newcombe: http:// torno do Grafeno (planos individuais de
no sítio http://www.nobelprize.org/
www. p e n c i l p a g e s . c o m / a r t i c l e s / grafite) como um dos possíveis subs-
educational_games/physics/micro-
thickness.doc. titutos do silício para a eletrônica do
scopes/scanning/.
[7] Stephen Ladyansky´s folloup: http:// futuro: http://www.inovacaotecnolo
www. p e n c i l p a g e s . c o m / a r t i c l e s / gica.com.br/noticias/noticia.php?arti
index.htm.
Notas go=010110060316.
[8] http://www.pucsp.br/~filopuc/ 1
Os mais jovens devem conhecer discos de vinil 5
Uma boa descrição do funcionamento de um
verbete/democri.htm. e os toca-discos pelo menos através dos AFM pode ser encontrada no sítio do
[9] Peter A.B. Schulz, Física na Escola 6 (1), DJs! Uma cronologia interessante da his- Naval Research Laboratory: http://
58 (2005). tória da gravação musical pode ser en- www.stm2.nrl.navy.mil.

Física na Escola, v. 8, n. 1, 2007 Nanociência de baixo custo 9

S-ar putea să vă placă și