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19/02/2017 Teologia da Trindade: Deus uno e Trino | Missionários Xaverianos

Teologia da Trindade: Deus uno e Trino
 A Comunicação Trinitária

Perante a revelação de deus na história como Pai… Flho… Espírito Santo, surgem três questões:

1. Essas três formas de encontro de Deus com a história não serão apenas  uma “máscara” usada por Deus para
assumir diferentes “papeis”  ao longo da História?…

2. Essas três formas de revelação de Deus não serão apenas três maneiras de o Homem se poder encontrar e
relacionar com Deus?

3. Ou não será a tríade divina ( ou Trindade ) uma expressão da auto­consciência do Homem e da sua necessidade
de se relacionar   com Deus?

Pressupestos “cientificos” de uma resposta

No  nosso  conhecimento  de  Deus  dá­se  um  pouco  do  que  acontece  com  o  conhecimento  científico  nos  dias  de
hoje:  *  toda  a  verdade  que  se  conhece  depende  das  “ondas”  que  a    própria  realidade  nos  pode  revelar  à
experiência:   as “relações” em Deus * toda realidade conhecida e experimentada depende do  ângulo de visão do
próprio experimentador e só lhe revela  um aspecto de cada vez: “complementaridade”  a Revelação e a História *
só conhecemos e podemos experimentar a realidade  na medida em que nos deixamos envolver por ela  a fé e a
experiência religiosa  (JOSEPH RATZINGER, Introdução ao Cristianismo, p. 126­128).

A doutrina cristã que encontra a sua expressão  no Deus Uno e Trino significa, no fundo, a renúncia à tentativa  de
encontrar uma saída e a permanência no mistério que o ser humano não é capaz de alcançar: na realidade, essa
profissão de fé é a única renúncia verdadeira  à pretensão do saber que torna  tão atraentes as soluções simples
com a sua falsa modéstia (JOSEPH RATZINGER, Introdução ao Cristianismo, p. 121).

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19/02/2017 Teologia da Trindade: Deus uno e Trino | Missionários Xaverianos

Deus Uno ­Trino: Unidade e Multiplicidade

1. Referir a essência de Deus como unidade e trindade significa que a definição da divindade ultrapassa as nossas
categorias de unidade e pluralidade como  opostos: unidade e multiplicidade na filosofia.

2. Ao mesmo tempo significa que se ultrapassa o “dualismo” tão presente nas culturas antigas: persa, grega, etc.
É na de “trindade” e não na dualidade que melhor se entende a “unidade” de Deus.

3. Ultrapassa­se também o conceito de “unidade” que não se confunde com  “unicidade”; “a forma máxima da
unidade é a que cria o amor”; daqui vem a ideia da Trindade com a verdadeira expressão de Deus: não apenas
Trindade económica, mas Trindade imanente.

Deus Uno ­Trino: o conceito de pessoa

1. Aplicar a Deus o termo “pessoa” implica dizer e acreditar que Deus é “relação, é “linguagem”, é “diálogo” e é
“fecundidade”. O conceito de pessoa em Deus implica falar de trindade de pessoas.

2.  A  palavra  “pessoa”  (  “pro+sopon”  e  “per+sonam”  )  significa  “um  olhar  dirigido  para…”;  é  nesta  dimensão
antropológica que melhor poderemos aplicar o  conceito de pessoa ao Pai, ao Filho e ao E. Santo, e não tanto na
dimensão de “indivídua substantia”  que pode levar­nos a um “tri­teismo”.

3.  A  “personalidade”  das  pessoas  divinas  ultrapassa  a  maneira  humana  de  ser  pessoa;  no  caso  das  pessoas
humanas não existe uma relação subsistente ao passo que em Deus essa relação existe: Deus Pai nunca  foi Deus
sem ser Pai… ou Deus Filho sem ser Filho, quer na revelação quer na eternidade.

Deus Uno ­Trino: Absoluto e Relativo

1. A ideia de “pessoas” e de “relações” em Deus já é de certa forma atestada  na Sagrada Escritura quando nos
fala de “um Deus que dialoga consigo mesmo” (Gen 1, 26; Sal 109, 1). Deus não é simplesmente “logos”, mas é
“diá+logos”.

2. Os conceitos de “substância” e de “pessoa”  exigem­nos que, ao falar de Deus, saibamos estar perante formas
de dizer aquilo que é  indizível; os conceitos utilizados não são os únicos possíveis, pelo que  não nos deveremos
apegar demasiado à terminologia usada.

3. Falando de unidade de Deus ao nível da “substância” não se poderia falar de pluralidade ao nível dos acidentes,
porque  não  se  tratava  disso;    foi  então  que  se  escolheu  o  conceito  de  pessoa  enquanto  “relação”;  o  próprio
conceito de “substância” em Deus implica ser possuída pelas três pessoas.

A  profissão  de  fé  na  unicidade  de  Deus  não  é  menos  radical  no  cristianismo  que  em  qualquer  outra  religião
monoteísta;  pelo  contrário,  é  nele,  que  essa  unicidade  alcança  a  sua    verdadeira  grandeza.    A  essência  da  vida
cristã consiste, porém, em aceitar e viver a existência como relacionalidade, para entrar, dessa maneira, naquela
unidade que é a base que sustenta toda a relacionalidade (JOSEPH RATZINGER, Introdução ao Cristianismo, p.
136).

Deus uno e Trino

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19/02/2017 Teologia da Trindade: Deus uno e Trino | Missionários Xaverianos

1. Mesmo quando o Antigo Testamento nos fala de Deus, não o podemos aplicar apenas ao Pai: * aplica­se ao
Deus que Jesus revela como Pai * aplica­se ao Deus que depois sabemos ser Trindade.

2.  Quando  falamos  de  Deus  não  falamos  de  um  Deus­Uno  que  depois  se  “transforma”  em  Deus­Trino;  ele  é
sempre “Uno­Trino”.

3. A unidade divina não significa um Deus “unipessoal”, nem a unidade de uma essência abstracta, nem, muito
menos, a unicidade do Pai, mas  a unidade do Pai, Filho e Espírito Santo.

O  Pai  divino  é  mais  que  “benevolência”,  “fidelidade”,    “misericórdia”,  quer  dizer,  é  um  amor  substancial  em    si
mesmo  (e  não  só  para  com  as  criaturas)  para  o  qual  precisa  do  Amado,  gerado  na  sua  auto­doação;  e  para
demonstração do perfeito desprendimento da unidade dos dois,  precisa de um “terceiro”, fruto e testemunho da
unidade do amor que gera e que agradece” (H.U. VON BALTHASAR, Theologik III, Der Geist der Wahrheit, p. 404).

II. O Pai de Jesus Cristo

“Jesus  compraz­se  em  mostrar­me  o  único  caminho  que  conduz  a  essa  fogueira  divina.  Esse  caminho  é  o
abandono  da  criança  que  adormece,  sem  medo,  nos  braços  do  pai…”  (S.  Terezinha  de  Lisiux  ­História  de  uma
alma).

Paternidade Divina no Antigo Testamento

1.  A  ideia  da  paternidade  divina  era  entendida  no  AT  como  uma  forma  de  relação  com  o  Povo:  libertação…
eleição…

2. É um Deus “com entranhas maternas” (Is 66, 13; Is 49, 15; Sal 27, 10  Jer 31, 15­20; Num 11, 12­13…).

3. Só nos escritos tardios do AT e particularmente na literatura  Sapiencial se fala de Deus como Pai do justo (Sab
2, 16).

4. O Deus criador, o Deus da Aliança, o Deus que falou pelos Profetas é o mesmo que Jesus nos apresenta como
PAI.

Gostaria de recordar que a Palavra PAI permanece obviamente uma metáfora. Continua a ser verdadeiro que Deus
não  é  homem  nem  mulher  mas  precisamente  Deus.  Trata­se  efectivamente  de  uma  imagem  que  Cristo  nos
entregou inequivocamente, para que nós recorrêssemos a ela na oração. Uma imagem através da qual nos quer
comunicar alguma coisa sobre a visão de Deus. O Deus representado por uma imagem paterna “cria” através da
palavra, e por isso, daqui deriva a diferença específica entre criatura e criação (JOSEPH RATZINGER /BENTO XVI, 
Dio e il Mondo).

O Filho revela o Pai

1. Jesus fala do Deus criador, do Deus da Aliança, do Deus dos Profetas como Seu Pai  e invoca­o como tal;

2. Jesus exprime a sua relação com Deus numa dimensão familiar: trata­O com o termo aramaico “Abba” ( Mc 14,
36) que vai ser retomado em Rom 8, 15 e Gal 4, 6;

3. O Pai de Jesus Cristo é o que convida para as bodas (Lc 14, 16), é o que perdoa as dívidas (Mt 18, 23), o que
caminha à procura do homem e age discretamente (Mt 13, 31­32);

4. Jesus, fala de Deus como Pai e fala de si mesmo como Filho; particularmente no “Hino de Júbilo” ou “Logion
Joanino” (Mt 11, 25­27).

O nome “Pai” altera assim o seu valor: não é já um simples atributo genérico que diz respeito à divindade, que
exprime a sua bondade ou mesmo a eleição de um povo ou de um indivíduo, mas tornou­se um nome trinitário,
um nome que se compreende a partir do Filho  e vice­versa. Mais tarde, a teologia explicará que esta comunhão
entre o Pai e o Filho se realiza no Espírito Santo.

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Deus, Pai de todos os homens

A oração do Senhor dá­nos ainda uma nova dimensão do Pai: a paternidade divina estende­se a todos os
homens…

1. Há uma relação íntima entre o envio do Filho e a filiação divina de todos os homens. Ao ensinar o “Pai Nosso”,
Jesus introduz­nos no mesmo tipo de relação que tem com o Pai.

2. No entanto Deus não é “nosso Pai” da mesma forma que o é de  Jesus: “vou para meu Pai e vosso Pai” (Jo 20,
17).

3. A comunidade cristã primitiva tem consciência da importância  desta relação com Deus, de modo que a “Oração
do Senhor” se torna num dos elementos fundamentais da oração cristã.

Esta relação “Pai­Filho”  constitui um modelo linguístico que nos permite abrir uma brecha no mistério de Deus.
Mesmo levando em consideração o facto de que  – como salienta o IV Concílio de Latrão – Deus é muito mais
dissemelhante das realidades terrenas do que lhes poderá ser semelhante, nunca poderíamos ter uma ideia, por
mais pálida que fosse sobre o mistério de Deus, se esta relação não nos oferecesse um reflexo daquilo que Deus
realmente é (JOSEPH RATZINGER / BENTO XVI, Dio e il Mondo).

Ó meu Deus, Trindade a quem adoro ajuda­me a esquecer­me totalmente de mim, para me instalar em ti, imóvel
e tranquila, como se a minha alma já estivesse na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem me
fazer sair de ti, ó meu Imutável, mas que cada minuto me envolva mais nas profundezas do teu mistério. Pacifica a
minha alma, faz dela o teu Céu, tua morada de amor e o lugar do teu descanso. Que nela eu nunca te deixe só,
mas  que  esteja  ali  com  todo  o  meu  ser  toda  desperta  na  fé,  toda  adorante  totalmente  entregue  à  tua  acção
criadora (Beata ISABEL DA TRINDADE).

Da Trindade Econômica à Trindade Imanente

Será possível  conhecer a realidade intima de Deus?

1. Não é possível conhecer Deus Trino por qualquer tipo de conhecimento  que não passe pela revelação histórica:
é em Jesus Cristo que temos um verdadeiro acesso à “teo­logia”.

2.  A  teoria  agostiniana  e  medieval  dos  “vestigia  Dei”  no  mundo  criado  não    nos  leva  ao  conhecimento  da
Trindade; pelo contrário, mais que um acto  de razão, ela pressupõe a existência da fé.

3. A questão das “sementes do Verbo”, ou sementes de verdade que o “Logos” lançou sobre o mundo poderão
ter a ver com a Trindade, mas  não a dão a conhecer explicitamente.

Textos Bíblicos: Mt 28, 19; 2Cor 13, 13; 1Cor 12, 4­6; Jo 1,18;

A Trindade Económica é a Trindade Imanente

1. Deus revela­se tal como Ele é. Caso contrário, não haveria verdade nem na Revelação nem na Salvação: Deus
estaria a enganar­nos…

2. Nas actuações “ad extra” operam unitariamente as três pessoas divinas; não faria sentido que actuassem uma
independentemente da outra…

3. Só na Incarnação do Filho há uma actuação diferenciada: só o Filho  incarna, pela acção do Espírito e segundo a
vontade do Pai. E só o Filho poderia incarnar: ele é o Revelador do Pai.

4. Deus revela­se para nossa Salvação tal como Ele é: nesta forma de actuar se mostra algo do seu “ser íntimo”.

5. Na Revelação é Deus que se nos dá a si mesmo e não apenas nos oferece os seus “dons”, por excelentes que
eles possam ser.

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Com  este  modo  de  actuar  e  de  se  comunicar  a  si  mesmo,  Deus  dá­se­nos  a  conhecer  tal  qual  é.  O  facto  de
pensarmos que Ele poderia ter feito as coisas de outro modo é entrar em especulações para as quais a revelação
não  nos  oferece  qualquer  fundamento.    Portanto  há  uma  correspondência  entre  a  Trindade  económica  e  a
Trindade  imanente;  são  a  mesma  coisa,  não  se  distinguem  adequadamente  (LUIS  F.  LADARIA,  El  Diós  vivo  y
verdadero, p. 51).

E vice­versa?

1. Não podemos pretender que Deus seja apenas aquilo que nos revelou: a revelação, com o seu conteúdo, é livre
e gratuita; Deus permanece  transcendente ao mundo e à História, mesmo da Revelação…

2. A Trindade não se resolve – como em Hegel – na dialéctica entre: * Deus, subjectividade infinita – TESE  * a
contradição do mesmo: o Deus revelado – ANTÍTESE  * a solução da contradição: o Espírito – SINTESE.

3. A identidade entre a Trindade económica e a imanente não se pode explicar em termos de uma realização de
Deus através da economia  da salvação: Deus não se “realiza” ao revelar­se, não se “dissolve” nos acontecimentos
da História, nem muito menos se “esgota” neles.

Será que Deus compromete e revela todo o seu mistério na auto­comunicação que faz de si mesmo?

A  identidade  entre  a  Trindade  económica  e  a  Trindade  imanente  deve  entender­se  no  sentido  de  que,  por  um
lado, Deus se nos dá e se nos revela tal como é em si mesmo, mas fá­lo livremente, quer dizer que o seu ser não
se realiza nem se aperfeiçoa nessa auto­comunicação; e, por outro lado, no sentido de que, nesta revelação, Deus
se mantém no seu mistério; a sua maior proximidade significa a manifestação mais directa da Sua maior grandeza.
 No entanto, mesmo que a economia da salvação não condicione o ser de Deus, não quer dizer que não “afecte” a
vida divina ou lhe seja indiferente.

“A  Trindade  económica  aparece  realmente  como  a    interpretação  da  Trindade  imanente  que  apesar  de  ser
 princípio fundante da primeira, não pode simplesmente ser identificada com ela.  Porque, em tal caso, a Trindade
imanente e eterna  corre o risco de se reduzir à Trindade económica. Para sermos mais claros: Deus correria o risco
de    ser  absorvido  no  processo  do  mundo,  e  de  não  poder    chegar  a  si  mesmo  mais  que  através  do  mesmo
processo” (HANS URS VON BALTHASAR, Theodramatica III).

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