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Com outras palavras, a diferença básica entre curador e tutor é que o curador representa alguém adulto e incapaz,
porém presente; enquanto isso, o tutor zela por um menor e somente devido a ausência dos pais.
A morte do filho, por outro lado, torna ineficaz e inexistente o instituto. O mesmo acontece com a emancipação2 ou quando
o filho completa 18 anos, pois deixa de ser considerado juridicamente “incapaz”, e torna-se o responsável por administrar sua própria
vida, respondendo por seus atos.
Na adoção, pode-se dizer que o que acontece é a extinção do poder familiar dos pais biológicos, passando a titularidade a ser
dos pais adotivos. Sobre a adoção, explicaremos mais detalhadamente em um próximo artigo.
SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR
A suspensão do poder familiar é uma interrupção temporária do direito-dever concedido aos pais. De acordo com o artigo
1637 do Código Civil, o poder familiar pode ser suspenso por abuso de autoridade ou quando o genitor for condenado, por sentença
irrecorrível (ou seja, que não admite mais recurso), em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
O “abuso de autoridade” ocorrerá sempre que o pai ou a mãe abusarem de suas atribuições ou fizerem mau uso das
prerrogativas que a lei lhes conferiu, inclusive no que diz respeito à administração dos bens em nome dos filhos.
Algumas hipóteses que podem caracterizar a necessidade de suspensão do poder familiar são as seguintes: “risco de
exposição à vida, à saúde, ao lazer, à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária
dos filhos, assim como fatos capazes de submetê-los a atos de discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” 3.
Ocorrendo tais situações, o Juiz deve intervir na relação entre pais e filhos, a fim de preservar o interesse do menor, evitando
prejuízos ao seu desenvolvimento. Em se tratando apenas de má administração em relação aos bens dos filhos, porém, o que se
recomenda é o afastamento do genitor da administração do referido patrimônio.
É importante esclarecer que o descumprimento do dever de sustento, por si só, não justifica a suspensão do poder familiar, já
que somente a falta de recursos materiais (boas condições financeiras) do genitor não constitui motivo suficiente para tal sanção. 4
Vale lembrar que, quando a causa que justificou a suspensão termina, o genitor pode retomar o poder familiar, submetendo-
se, caso necessário, a acompanhamento médico ou psicológico para resguardar os filhos.
No que diz respeito à suspensão por conta de “condenação criminal”, ela gera críticas entre os operadores do Direito.
Alguns entendem que a suspensão é injusta quando o crime cometido não guardar relação com o vínculo paterno ou materno-filial.
Além disso, como existe a possibilidade de cumprimento de pena em regime aberto ou de substituição da pena por uma restritiva de
direitos, nem sempre seria recomendado afastar os pais (ou mães) e filhos. No entanto, a previsão legal permanece e caberá ao Juiz
interpretar a norma de acordo com cada hipótese apresentada.
Diferentemente da suspensão, na destituição do poder familiar os genitores perdem a titularidade deste direito-dever, ou seja,
ele é “retirado” dos pais, por ordem judicial. Ela pode acontecer nas hipóteses enumeradas no artigo 1638 do Código Civil: castigar
imoderadamente o filho; deixar o filho em abandono; praticar atos contrários à moral e bons costumes e dar causa a reiteradas
suspensões do poder familiar.
Em relação à expressão “castigos imoderados”, pode-se dizer que há muitas críticas dos operadores do Direito, por
acreditarem que a disposição legal, da forma em que está escrita, acaba por “permitir” o castigo moderado, quando na verdade o ideal
seria que os pais nunca utilizassem qualquer forma de violência para educar os filhos.
No que diz respeito ao “abandono”, significa privar o filho de seus direitos fundamentais e deixar de prestar os cuidados
essenciais à sua formação moral e material. É preciso ter cuidado quando se tratar de destituição do poder familiar por abandono,
porque ele pode acontecer de várias formas e pode ser que o genitor não possua intenção de privar o filho, sendo necessária uma
análise criteriosa de caso para caso.
Sobre a “prática de atos imorais”, tem-se como exemplos: o “uso imoderado de bebidas alcoólicas, ou de drogas e
entorpecentes, os abusos físicos ou sexuais e as agressões morais e pessoais para com os filhos, parceiro ou cônjuge, ou mesmo para
com terceiros”5, pois são práticas condenáveis e de nenhuma contribuição para o sadio desenvolvimento da criança, a qual estará
inserida em um contexto de reprovável comportamento, e, provavelmente, isto refletirá negativamente em sua formação, caso siga o
que presenciou em seu ambiente familiar. Com essas práticas, o pai ou a mãe deixam de observar o seu dever de segurança e de saúde
da prole, motivo pelo qual podem ser destituídos.
Importante ressaltar que a destituição do poder familiar é medida extrema e, por isso, o Juiz deverá analisar todas as
circunstâncias do caso com muita cautela, determinando a produção de todas as provas que entender necessárias.
Por se tratar de medida extrema e excepcional, deve-se tentar a suspensão como sanção antes de se aplicar a perda efetiva do
poder familiar e, neste caso, “recomendável que, ao ser decretada a suspensão ou perda do poder familiar, seja aplicada medida
protetiva de acompanhamento, apoio e orientação ao filho” 6.
O que se deve observar, portanto, é que a destituição do poder familiar só pode ser aplicada definitivamente em casos muito
graves. Antes de se aplicar medida tão extrema, porém, há que se aplicar medidas sancionadoras como a suspensão do poder familiar,
a fim de conscientizar os genitores sobre seus deveres de cuidado em relação aos filhos.
ArethusaBaroni
Flávia KirilosBeckert Cabral
Laura Roncaglio de Carvalho
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1 ELIAS, João Roberto. Direitos fundamentais da criança e do adolescente. São Paulo: Saraiva, 2005.
2 Sobre a emancipação, explicaremos mais detalhadamente em um próximo artigo.
3 MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 4a Edição. Editora Forense. Rio de Janeiro, 2011.
4 BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Lei nº 8.069 Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais
não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.
5 MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 4a Edição. Editora Forense. Rio de Janeiro, 2011.
6 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias . 9ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
Quando estamos diante de uma situação de disputa pela guarda de menores, imprescindível a aplicação do princípio do
melhor interesse da criança e do adolescente, que tem todos os seus direitos resguardados constitucionalmente.
Dentro do ambiente familiar, a figura da criança e do adolescente ganha destaque por ainda não terem a capacidade
necessária para gerir suas vidas por conta própria. Por tal motivo, necessitam de alguém, de preferência os genitores, que possa gerir
suas vidas de maneira sadia, a fim de trilhar os caminhos para que eles exerçam sua autonomia 1.
Difícil é a conceituação de tal princípio, vez que infinitos são os padrões comportamentais das famílias, contendo cada uma a
sua própria complexidade. Por tal motivo não há um conceito pré-definido acerca do melhor interesse da criança, sendo permitido que
a norma seja adaptada conforme as imprevisibilidades e especificidades de cada núcleo familiar 2 .
Rodrigo da Cunha Pereira segue a mesma linha de raciocínio quanto ao teor do princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente:
“O entendimento sobre seu conteúdo pode sofrer variações culturais, sociais e axiológicas ((adj. Estudo de alguma espécie de
valor, em especial de valores morais.). É por esta razão que a definição de mérito só pode ser feita no caso concreto, ou seja,
naquela situação real, com determinados contornos predefinidos, o que é o melhor para o menor.(…) Para a aplicação do
princípio que atenda verdadeiramente ao interesse dos menores, é necessário em cada caso fazer uma distinção entre moral e
ética.”3.
Em suma, o princípio do melhor interesse da criança e do adolescente prima de maneira absoluta para que seja assegurado a
eles o direito “à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à
liberdade e à convivência familiar e comunitária”,4, inclusive conforme preceituam a Carta Magna, em seu artigo 227 e o Estatuto da
Criança e do Adolescente em seu artigo 4º:
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”.5
“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.” 6.
Essa preocupação acerca do melhor interesse da criança e do adolescente é primordial, vez que tem como objetivo maior
zelar pela sua boa formação moral, social e psíquica. Nas palavras de DA CUNHA PEREIRA: “É a busca da saúde mental, a
preservação da estrutura emocional e de seu convívio social.”. 7
A importância da aplicação deste princípio se dá diante da necessidade de amparo àqueles que se encontram em situação de
vulnerabilidade, a fim de que lhes seja dada a devida proteção e lhes seja proporcionado um processo sadio de desenvolvimento e
formação de personalidade8.
ArethusaBaroni.
Flávia KirilosBeckert Cabral.
Laura Roncaglio de Carvalho.
1 DA CUNHA PEREIRA, Rodrigo. Princípios Fundamentais Norteadores do Direito de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. Pg. 127.
2
MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. Pg. 430.
3 DA CUNHA PEREIRA, Rodrigo. Princípios Fundamentais Norteadores do Direito de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. Pgs. 128/129.
4 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. Pg. 70.
5 BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988 . Site da Presidência da República Federativa do Brasil.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em 30/06/2015.
6 BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Site da Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em
A fim de amenizar essa quebra do vínculo familiar e preservar o bem estar dos filhos, imperiosa a opção por uma modalidade
de guarda que se encaixe da melhor maneira possível dentro do contexto familiar existente. Por isso, antes de adentrar no tema
proposto pelo artigo, imperiosa a necessidade de analisar brevemente instituto da guarda.
O QUE É A GUARDA?
A guarda é um dos atributos do poder familiar, sendo este um conjunto de obrigações, direitos e deveres que os pais exercem
igualmente em relação aos filhos. O poder familiar é inerente ao estado de pai ou mãe, decorrendo tanto da filiação natural, quanto da
legal e socioafetiva1 e não se extingue com o divórcio ou separação, também estando presente nos casos em que não há uma relação
conjugal/marital entre os genitores quando da concepção e do nascimento do filho.
Grisard Filho conceitua o poder o poder familiar de maneira objetiva: “… é o conjunto de faculdades encomendadas aos pais,
como instituição protetora da menoridade, com o fim de lograr o pleno desenvolvimento e a formação integral dos filhos, física,
mental, moral, espiritual e social.”.2
O artigo 226, §5º da Constituição Federal concede a ambos os genitores o exercício do poder familiar com relação aos filhos
comuns3 . No entanto, quando há divergência entre os pais quanto ao exercício desse poder familiar, pode vir a ocorrer uma disputa
quanto à guarda, que servirá para determinar qual dos genitores será o responsável por reger a vida do filho.
Em suma, conforme dispõe o artigo 33 do Estatuto da Criança e do Adolescente 4 , a guarda “obriga a prestação de
assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente”, cabendo ao genitor não guardião supervisionar aquele que detém
a guarda em relação a suas decisões a respeito do menor.
A partir disso, extrai-se que a ausência da guarda não afasta o poder familiar daquele que não a detém, apenas prioriza – no
caso de conflito entre os genitores na tomada de decisões – a opinião do detentor da guarda, desde que em benefício do filho ainda
menor.
A guarda unilateral exclusiva é aquela atribuída a um dos genitores, sendo que o outro terá o direito de visitas e de
supervisionar as decisões tomadas pelo detentor da guarda 5. Já a guarda unilateral alternada é concedida apenas a um dos genitores,
por um determinado período de tempo e, após o término desse período, a guarda passa para o outro genitor (ex.: o filho fica 6 meses
sob a guarda de um genitor e 6 meses sob a guarda do outro).
Esta modalidade de guarda não tem sido aceita perante nossos Tribunais, vez que ela não se mostra adequada aos filhos
menores, por causar confusão quanto ao seu ponto de referência, mal estar e danos à sua formação no presente e no futuro 6.
“Esta modalidade de guarda opõe-se fortemente ao princípio de ‘continuidade’, que deve ser respeitado quando desejamos o
bem-estar físico e mental da criança.”.7
Por fim, temos guarda conjunta, ou compartilhada, que merece especial atenção, vez que a legislação brasileira sofreu
alterações significativas recentemente no que diz respeito à aplicação e exercício desta modalidade de guarda.
Nessa forma, os genitores têm os mesmos direitos e obrigações em relação a seus filhos, de forma efetiva e prática. E
embora os pais tenham direitos iguais em relação à prole, o importante é estabelecer uma residência para os filhos, para que
eles não percam a referência de lar. Sem sombra de dúvidas, este é o modelo que maiores benefícios traz a filhos de pais
separados.
Na guarda compartilhada, apesar de ter uma residência fixa, o menor pode transitar livremente entre a casa de seu pai e
de sua mãe, sempre dentro das possibilidades de ambos e da criança. Essa modalidade permite também que os pais
acompanhem e participem mais de perto de todos os aspectos que envolvem o desenvolvimento dos filhos: o psíquico, o físico e
o mental. Por exemplo, os pais podem participar das reuniões promovidas pela escola, entrevistas com profissionais como
psicólogos, fonoaudiólogos ou dentistas.
A guarda compartilhada possibilita ainda que os pais, em prol do bem-estar de seus filhos, passem juntos as festas de final
de ano, acompanhem os filhos a consultas e até assistam na arquibancada, lado a lado, uma final de jogo de futebol. Nessa
forma de guarda, os horários de visitação são flexíveis, assim como os períodos de férias.
O sustento também cabe a ambos os pais, obedecendo-se às regras de cada um e às necessidades da criança. É fácil
perceber que esse é o modelo onde é possível manter uma relação equilibrada entre as possibilidades e desejos dos filhos e de
seus pais, sem isentar um ou outro de responsabilidades.
Ainda não utilizada com muita freqüência, a guarda compartilhada deve ser estimulada. O tempo demonstrará que é a
melhor opção a ser feita pelos pais em benefício de todos os membros do que já foi um dia uma família, unida pelo amor que
gerou filhos. Eles são os únicos que não podem ser culpados pela separação dos pais.
ArethusaBaroni.
Flávia KirilosBeckert Cabral.
Laura Roncaglio de Carvalho.
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1 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. Pg.436.
2GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda Compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade parental. 4ª rev., autal. e ampl.. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2009. Pg. 35.
3“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.(…) § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.” BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988 . Site da
Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>.Acesso em: 29/06/2015.
4 “Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de
opor-se a terceiros, inclusive aos pais. § 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos
procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros. § 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e
adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a
prática de atos determinados. § 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito,
inclusive previdenciários. § 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a medida
for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas
pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério
Público.” BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 . Site da Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 29/06/2015.
5 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9ª. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. Pg.458.
6BONFIM, Paulo Andreatto. Guarda compartilhada x guarda alternada:. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 815, 26 set. 2005. Disponível
em: <http://jus.com.br/artigos/7335>. Acesso em: 29/06/2015.
7GRISARD FILHO, Waldyr. Guarda Compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade parental. 4ª rev., autal. e ampl.. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2009. Pg. 91.
Você sabia que a guarda compartilhada pode ser exercida entre pai, mãe e avós, ou apenas entre os avós da criança ou
adolescente? Não são poucas as vezes que os avós acabam participando ativamente da criação dos netos e tomam para si as
responsabilidades sobre eles.
Inúmeras podem ser as situações, mas, apenas para ilustrar, citaremos os seguintes exemplos:
– Maria e João, ambos com 18 anos, tiveram um filho, Pedro. Eles ainda dependem de seus pais, estudam e não conseguem
exercer 100% as funções materna e paterna. Quem acabou ficando responsável por Pedro? Isso mesmo, os avós.
– Maria e João tiveram um filho, Pedro. Eles não são casados e não moram juntos. Maria mora com Pedro na casa dos seus
pais, mas sai para trabalhar todos os dias e fica fora o dia inteiro, deixando o menor sob os cuidados dos seus pais, que o levam e
buscam na escola, bem como às consultas médicas e demais atividades.
– Maria teve um filho com João. João faleceu quando a criança tinha um ano, e Maria precisou da ajuda dos avós da criança
para criá-la.
Grandes chances de você conhecer alguém que vive alguma situação semelhante a essas, não é? Não são raras as vezes que
os pais precisam do apoio dos avós e demais familiares nos cuidados com os filhos.
Por tal motivo, inúmeros são os pedidos de guarda realizados por avós. O que poucas pessoas sabem, ou pelo menos, nunca
cogitaram essa hipótese, é que a guarda não precisa ser exercida exclusivamente pelos pais ou pelos avós, caso a família se encaixe
num dos exemplos acima. Para esses casos, existe a possibilidade de a guarda compartilhada ser estabelecida entre os pais e os avós,
simultaneamente.
Em outros artigos, explicamos um pouco mais sobre a guarda compartilhada.
Já no artigo “As diferenças entre a guarda compartilhada e a guarda alternada”, fizemos a seguinte observação:
“Na GUARDA COMPARTILHADA, por sua vez, o que se compartilha são as responsabilidades relativas ao filho,
independentemente de quanto tempo aquele passa na casa de cada um dos genitores. Assim, o que se busca é a maior participação
dos pais na rotina das crianças e adolescentes, não havendo necessidade, contudo, de se dividir o tempo da criança ou do
adolescente em mais de uma residência.”
Embora nesses artigos tenhamos falado apenas sobre a divisão de responsabilidade entre os genitores, pode-se ampliar tal
entendimento em relação ao exercício da guarda compartilhada também com os avós.
Pensemos o seguinte: a criança que está sob os cuidados dos avós, pode vir a precisar emergencialmente de uma consulta
médica; ou a escola pode solicitar a presença de algum representante legal por algum motivo específico. O exercício da guarda
compartilhada entre genitores e avós não tem o objetivo de que os avós assumam o papel dos pais, mas sim de que tenham mais
autonomia em relação aos assuntos que dizem respeito ao cotidiano dos netos. Assim, ocorrendo alguma situação como as
mencionadas acima, os avós, como guardiões dos netos, também poderiam resolver as questões relativas aos pequenos, de maneira
mais rápida e eficaz.
Cabe ainda observar que, caso os avós venham a exercer a guarda compartilhada junto aos genitores, ainda assim será
recomendado o estabelecimento de uma residência de referência da criança (até mesmo para fins práticos, por exemplo: constar em
documentos escolares ou em outros cadastros realizado) e de um regime de convivência com um ou com ambos os genitores
(dependendo de quem estiver exercendo a guarda). Isso porque a convivência familiar é um direito que deve ser garantido a todos.
Devemos ter em mente que tal situação deverá ser concretizada com o objetivo de se atender o princípio do melhor interesse
da criança ou adolescente.
Desse modo, a situação vivenciada pela família deve ser apresentada ao juiz, que analisará os elementos do caso e
determinará o compartilhamento da guarda, estabelecendo aquilo que corresponder ao que for melhor para os menores envolvidos.
ArethusaBaroni
Flávia KirilosBeckert Cabral
Laura Roncaglio de Carvalho
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1DA CUNHA PEREIRA, Rodrigo. Princípios Fundamentais Norteadores do Direito de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2005. Pg. 134.
Antes de adentrar nas dúvidas que podem surgir quanto ao pagamento de alimentos especificamente, é necessário entender o
conceito de pensão alimentícia e quais são as suas características.
Segundo Rolf MADALENO 1, grande jurista atuante na área de Direito de Família, os alimentos são os valores devidos à
determinada pessoa que não pode prover seu sustento por meiopróprios. O dever de pagar alimentos a alguém está fundado no dever
de solidariedade existente entre membros de uma família, ou, parentes.
No caso de pais e filhos, a obrigação de prestar alimentos decorre do poder familiar, que é o conjunto de direitos e deveres
dos genitores em relação à prole. Os alimentos são uma continuação do dever de sustentar os filhos, que já existia antes da separação
dos pais. Esta é “uma obrigação primária (…), que não é afastada nem quando os filhos são entregues a terceiros” 2 .
Desse modo, se ambos os pais trabalhavam no sentido de manter os elementos necessários ao melhor desenvolvimento do
filho quando da união, esta situação continuará mesmo com os genitores estando separados. A justificativa para tanto é baseada no
princípio do superior interesse da criança ou adolescente, já que os efeitos da separação e os conflitos existentes entre os pais não
devem refletir de forma negativa na criação dos filhos.
É importante salientar que o termo “pensão alimentícia” abrange todo tipo de assistência aos filhos, não só alimentos
propriamente ditos, ou seja, inclui habitação, vestuário, lazer, saúde e educação.
Esta é uma pergunta muito comum. Muitas pessoas acham que cabe somente ao homem pagar a pensão alimentícia. Este
pensamento tem origem no fato de que, antigamente, o modelo de família era patriarcal. Isso significa que, em tese, o homem era o
responsável por trabalhar e prover o sustento da família, enquanto a mulher cuidava dos filhos.
No entanto, como é sabido, as estruturas familiares mudaram no decorrer dos anos. Nem sempre é a mulher que vai
permanecer cuidando dos filhos, muitas vezes, o homem assumirá este papel.
Assim, ambos os genitores poderão ser os responsáveis pelo pagamento da pensão alimentícia. Geralmente o que ocorre, é
que o genitor que reside com o filho arcará com as despesas diretamente, vez que o filho estará sob seus cuidados. Dessa forma,
aquele que não residirá com o filho, ficará encarregado de contribuir com as despesas do filho, tanto da casa, quanto das necessidades
básicas.
Embora grande parte das pessoas acredite que os alimentos sempre serão fixados em 33% dos rendimentos do alimentante, é
importante mencionar que há critérios a serem analisados para o estabelecimento do valor mais adequado.
O entendimento mais adotado pelos operadores do direito é o da aplicação do binômio possibilidade X necessidade. Assim,
as possibilidades financeiras daquele que deve pagar a pensão devem ser consideradas, comparando-se com as necessidades dos
filhos. O genitor que prestar alimentos não pode ter o seu próprio sustento prejudicado por conta da pensão alimentícia, mas os filhos,
por outro lado, também não podem ficar desamparados.
Alguns doutrinadores entendem que outro critério, além dos mencionados acima, seria o da proporcionalidade, ou seja, deve-
se verificar se a quantia exigida é razoável.
Paulo LÔBO 3 afirma que esses requisitos “constituem conceitos indeterminados, cujos conteúdos apenas podem ser
preenchidos ante cada caso concreto”, pois não há como fixar igualmente os valores de pensão para todas as pessoas. É essencial
analisar as circunstâncias envolvendo cada família a fim de encontrar o valor adequado, ou seja, que se encaixe dentro do
contexto econômico de cada família.
O pagamento da pensão alimentícia pode ser feito de duas maneiras: in pecúnia e in natura.
In pecúnia: O pagamento in pecúnia é aquele realizado através da entrega da quantia em dinheiro, fixado como valor da
penso alimentícia, diretamente para a pessoa que deve recebê-lo. Este pagamento pode ser feito mediante depósito em conta da pessoa
que deve ser favorecida pelos alimentos; pode ser entregue pessoalmente, mediante a entrega de recibo fornecido pela pessoa que está
recebendo a quantia; mediante desconto em folha de pagamento de quem paga os alimentos; ou outra forma convencionada pelas
partes, desde que consista na entrega de quantia certa a quem deva receber a pensão.
In natura: Embora a expressão utilizada seja “pensão alimentícia”, dando a entender que ela seria utilizada para mencionar a
soma em dinheiro destinada à compra de alimentos, vimos acima que não é exatamente isso. Como dito, o valor pago a título de
pensão alimentícia engloba despesas com saúde, educação, lazer, etc. Quando falamos em pagamento in natura da pensão, estamos
falando da possibilidade daquele que paga alimentos responsabilizar-se diretamente por estas despesas. Ele ficará responsável, por
exemplo, pelo pagamento do plano de saúde, da mensalidade escolar, sem que seja repassada a quantia em dinheiro para o credor dos
alimentos; o devedor realizará o pagamento direto às prestadoras de serviço, das despesas que o filho vier a ter.
ArethusaBaroni
Flávia KirilosBeckert Cabral
Laura Roncaglio de Carvalho
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1 MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.
Fazer uma tabela de despesas para calcular o valor da pensão alimentícia é algo necessário quando nos deparamos com
processos judiciais que estão discutindo valores que devem ser pagos.
Se você já leu alguns artigos do blog sobre pensão alimentícia, deve ter entendido que, embora o nome seja “pensão
alimentícia”, esse instituto na verdade trata de um valor destinado àquele que não pode prover seu próprio sustento. Ou seja, embora
estejamos falando de “alimentos”, a quantia estabelecida por um juiz em sentença (o que é sentença? Leia aqui) ou em um acordo
entre as partes não será destinada somente à alimentação dos filhos, mas a todas as despesas essenciais deles.
No artigo “Pensão alimentícia de pais para filhos” , explicamos que “a obrigação de prestar alimentos decorre do poder
familiar, que é o conjunto de direitos e deveres dos genitores em relação à prole” e salientamos que “o termo pensão alimentícia
abrange todo tipo de assistência aos filhos, não só alimentos propriamente ditos, ou seja, inclui habitação, vestuário, lazer, saúde e
educação”.No referido artigo, constou também que, em que pese muitos acreditem que o valor dos alimentos sempre será fixado em
33% dos rendimentos do outro genitor, essa é uma ideia equivocada. Isso porque “as possibilidades financeiras daquele que deve
pagar a pensão devem ser consideradas, comparando-se com as necessidades dos filhos”
O ideal é que aquele que está pedindo a fixação dos alimentos apresente uma tabela de suas despesas mais significativas,
inclusive mostrando no processo documentos que comprovem tais gastos (conta de luz, de água, boleto da mensalidade escolar, entre
outros).E quais seriam essas despesas mais significativas? Por conta de algumas dúvidas dos nossos leitores em relação a isso,
resolvemos elaborar uma tabela que pode servir como base para quem está pensando em pedir judicialmente o estabelecimento de
pensão alimentícia para o filho. Vejam só:
ASTOS COM: R$
MERCADO
HABITAÇÃO (ALUGUEL)
ALIMENTAÇÃO
HIGIENE
EDUCAÇÃO (MENSALIDADE
ESCOLAR)
EDUCAÇÃO (MATERIAL ESCOLAR) Taxa anual – valor dividido por 12
EDUCAÇÃO (ATIVIDADES
EXTRACURRICULARES)
VESTUÁRIO
DESPESAS DE CASA:
ENERGIA ELÉTRICA
ÁGUA Somar e dividir pela quantidade de moradores do local
INTERNET
GÁS
PLANO DE SAÚDE
DESPESAS MÉDICAS
Aqui podem entrar saídas (cinema e teatro), presentes para
LAZER festas de aniversário, parque de diversões, viagens, entre
outros.
Importante dizer, que existem certas situações que devem ser observadas. Por exemplo, conforme colocado na tabela, os
valores das despesas da residência como um todo não podem ser considerados gastos exclusivos dos filhos, de modo que devem
levados em conta os demais moradores do local para a definição da quantia que seria destinada à prole. Além disso, existem gastos –
tais como com material escolar – que acontecem somente uma vez ao ano, em regra. Assim, o valor deve ser dividido entre todos os
meses do ano.
Caso o filho já tenha completado a maioridade (“Até quando devo pagar pensão alimentícia ao meu filho?” clique aqui),
o interessante é que se demonstre que está frequentando instituição de ensino. Portanto, a tabela acima também pode ser utilizada por
ele, desde que comprove documentalmente as circunstâncias justificadoras da fixação de pensão alimentícia.
Para os casos em que já foram fixados alimentos anteriormente e o que se pretende é a alteração da quantia (“O valor da
pensão alimentícia pode ser alterado?” clique aqui), também pode ser utilizada esta tabela como exemplo. Lembre-se, porém, que,
para a alteração da pensão alimentícia é necessário demonstrar no processo a modificação fática que levou à necessidade de mudança
do valor.
Ressalte-se, ainda, que mesmo quando os pais optam ou o juiz estabelece a guarda compartilhada, existe a possibilidade de
fixação de alimentos a serem pagos por um dos genitores e, então, a tabela também poderá ser utilizada.
Isso porque, conforme já tratamos no artigo “Os alimentos na guarda compartilhada” (clique aqui), “o que se deve levar
em conta, mais do que a guarda em si, são os princípios e as regras relativas ao dever de sustento dos pais aos filhos, não sendo,
portanto, o compartilhamento da guarda um obstáculo à determinação de pensão alimentícia” e pode ser que os genitores possuam
diferentes condições financeiras, podendo, eventualmente, um arcar com mais despesas do que o outro.
Grife-se que, a tabela que trouxemos tem o intuito de auxiliar quem está passando por alguma situação envolvendo um
processo em que se discute a fixação de pensão alimentícia. No entanto, é certo que cada caso poderá trazer despesas diferenciadas e
mais específicas. A tabela acima serve como um modelo de referência, mas cada caso deve ser sempre analisado de acordo com as
suas particularidades.
De qualquer forma, com a tabela dentro do processo, o juiz poderá fazer uma análise acerca do binômio necessidade-
possibilidade (leia mais sobre isso aqui) e poderá comparar as necessidades do filho com os ganhos e gastos daquele genitor que
deverá prestar os alimentos. Assim, torna-se mais rápida e eficaz a resolução de um processo de pensão alimentícia.
E aí, gostou? Esperamos ter ajudado! Se tiver mais dúvidas ou sugestões, encaminha pra gente por aqui nos comentários, por
e-mail (clique aqui) ou pelas redes sociais!
ArethusaBaroni
Flávia KirilosBeckert Cabral
Laura Roncaglio de Carvalho
Essa é uma dúvida recorrente entre as pessoas, e a resposta será uma bem conhecida no meio jurídico: “depende”. Mas, como
assim “depende”?
Nos artigos anteriores, já falamos sobre o pagamento de pensão alimentícia de pais para filhos (clique aqui) e até mesmo
sobre o dever alimentar entre ex-cônjuges (clique aqui). Hoje, falaremos sobre a possibilidade de os avós prestarem alimentos aos
netos.
A resposta para a pergunta que intitula esse artigo é “depende” porque, em tese, os avós não possuem essa obrigação. O
dever de sustento e, portanto, de prestar alimentos é, essencialmente, dos genitores.
No entanto, entende-se que a obrigação de sustento dos avós em relação aos netos pode vir a existir em determinadas
situações. Quando isso acontecer, ela será somentesubsidiária ou complementar. O que isso significa? Significa que a obrigação dos
avós não será simultânea com a dos genitores, ou seja, ela não surgirá no mesmo momento em que o dever dos pais. Ou seja, os avós
não se responsabilizarão diretamente pelo compromisso assumido pelos seus filhos em relação aos seus netos.
Assim, eles somente serão chamados para contribuir com o sustento dos netos quando os genitores estiverem
impossibilitados de fazê-lo ou quando o valor prestado pelos pais não for suficiente, necessitando-se de complementação pelos demais
familiares.
Isso acontece porque a obrigação dos genitores decorre do poder familiar (“Poder Familiar: o que é e como termina?” clique
aqui), ao passo que a extensão para os avós somente ocorre em razão do princípio da solidariedade familiar. De acordo com o
princípio da solidariedade familiar, quando uma pessoa carece de recursos por quaisquer motivos, as necessidades dela devem ser
atendidas, em primeiro plano, pelos familiares mais próximos.
Tem-se, portanto, que o “fundamento dessa obrigação avoenga surge do princípio da solidariedade familiar, diante da
necessidade de as pessoas ligadas entre si por laços de parentesco, conforme a ordem de vocação sucessória, concorrerem para
auxiliar materialmente os integrantes da sua comunidade familiar”1.
Na verdade, há uma ordem a ser seguida, prevista em lei. Aquele que pretende receber os alimentos não pode, simplesmente,
escolher de quem os exigirá. A regra contida nos artigos 1.696, 1.697 do Código Civil é a seguinte: o alimentado (quem pede os
alimentos) deve buscar a pensão alimentícia primeiramente, no parente de grau mais próximo e, apenas quando efetivamente
comprovado que ele não possui condições de suportar a obrigação, abre-se a possibilidade de recorrer ao parente do grau seguinte.
Importante dizer que, por conta desse caráter subsidiário e complementar, é certo que os avós prestarão um valor que esteja
dentro das suas possibilidades financeiras e que guarde relação tão somente com as despesas essenciais dos netos, evitando-se que os
pais (ou os próprios netos) ingressem com ação visando receber quantias para satisfazer seus “luxos”. Nesse sentido, o critério a ser
utilizado para o estabelecimento da pensão alimentícia será o da necessidade-possibilidade, sobre o qual já tratamos no artigo“Pensão
alimentícia de pais para filhos” .
Quando a obrigação dos avós possuir caráter complementar (porque um dos genitores já presta alimentos, mas em quantia
insuficiente), eles apenas ajudarão com determinado montante, com o fim de completar a quantia necessária para suprir as
necessidades do alimentado.
Em decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, ponderou-se acerca de três critérios indispensáveis para a fixação de
alimentos a serem pagos pelos avós, quais sejam:
Portanto, sempre que alguém quiser ingressar com uma ação de alimentos contra os avós, deverá demonstrar, por meio de
provas (documentais, testemunhas, etc.) que o genitor é ausente, que não possui condições de prestar alimentos ou que a quantia
prestada não é suficiente para a subsistência, necessitando de complementação.
Ressalte-se que, o simples inadimplemento daquele genitor que estiver devendo a pensão alimentícia não faz nascer para os
avós a obrigação. Nesses casos, deverá o filho recorrer ao pedido de cumprimento da sentença que fixou a pensão (execução de
alimentos – leia mais sobre isso aqui e aqui) para a satisfação do débito.
Para concluir, podemos dizer que, em que pese a obrigação dos avós de prestar alimentos possa existir em relação aos netos,
cada caso deverá ser analisado de acordo com suas particularidades, para a averiguação da real necessidade de se fixar os alimentos,
ainda que em caráter complementar.
Conforme dito acima, o dever de sustento é, essencialmente, dos genitores, sendo sua extensão para os ascendentes uma
circunstância excepcional, que somente será aceita depois de uma criteriosa avaliação dos elementos do processo judicial e das
condições financeiras dos envolvidos e das necessidades de seus dependentes.
ArethusaBaroni
Flávia KirilosBeckert Cabral
Laura Roncaglio de Carvalho
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1 MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 4ª Edição. Editora Forense. Rio de Janeiro, 2011.
Casos de alienação parental são mais comuns do que se imagina, não sendo difícil deparar-se atualmente com pais ou mães
que estimulam o filho a repudiar o outro pai alienado. Trata-se de um conflito familiar em que se tem como maior interessado a
criança ou adolescente.
Este tema é objeto de muitas discussões nos dias atuais, vez que os casos que chegam às Varas de Família são recorrentes e
demandam muita cautela ao ser analisados, pois a grande maioria dos problemas relativos à alienação parental não é de cunho
jurídico, tratam antes, de questões emocionais.
O psiquiatra infantil Richard Gardner foi quem criou o termo “síndrome da alienação parental”, através de estudos realizados
na área da psiquiatria forense, avaliando crianças de famílias em situações de divórcio 1.
“um distúrbio infantil, que surge, principalmente, em contextos de disputa pela posse e guarda de filhos. Manifesta-se por
meio de uma campanha de difamação que a criança realiza contra um dos genitores, sem que haja justificativa para isso.”. 2
Devemos entender a síndrome como a programação de uma criança por um dos genitores, para que passe a enxergar e
idealizar o outro genitor de maneira negativa, nutrindo, a partir de então, sentimentos de ódio e rejeição por ele, e externando tais
sentimentos.
Tal ponto merece atenção especial, vez que a síndrome da alienação parental refere-se à conduta do filho, enquanto a
alienação parental diz respeito à conduta do genitor que desencadeia o processo de afastamento da criança do outro genitor.
A Lei 12.318 de 2010 dispõe acerca da alienação parental, conceituando-a em seu artigo 2º:
“Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou
induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou
vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.”. 3
Como se pode observar, o alienador procura o tempo todo monitorar o sentimento da criança a fim de desmoralizar a imagem
do outro genitor. Tal situação faz com que a criança acabe se afastando do genitor alienado por acreditar no que lhe está sendo dito,
fazendo com que o vínculo afetivo seja destruído, ao ser acometido pela síndrome da alienação parental.
ArethusaBaroni.
Flávia KirilosBeckert Cabral.
Laura Roncaglio de Carvalho.
1 MARTINS DE SOUZA, Analícia. Síndrome da Alienação Parental: um novo tema nos juízos de família. 1ª. ed. São Paulo: Cortez, 2010. Pg. 99
2 MARTINS DE SOUZA, Analícia. Síndrome da Alienação Parental: um novo tema nos juízos de família. 1ª. ed. São Paulo: Cortez, 2010. Pg.99.
3 BRASIL, Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010. Site da Presidência da República Federativa do Brasil. Disponível em: