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Luigi Biondi2
Neste artigo, o autor desenha um panorama do mutualismo italiano em São Paulo durante
a Primeira República, desde suas origens. É analisada a formação das sociedades italia-
nas de socorro mútuo, assim como daquelas associações mútuas em que os imigrantes
italianos constituíam sua parcela preponderante, suas ligações com a tradição associativa
italiana das regiões de origens dos imigrantes, seus posicionamentos e divergências polí-
ticos, sua relação com o movimento operário e com o mundo do trabalho em geral, em
seus aspectos organizativos de sociabilidades, lazer ou luta. Construtoras de uma identi-
dade italiana multifacetada e caracterizada politicamente, essas associações contribuíram
para, e foram também expressão de, uma identidade de classe em formação.
Palavras-chave: Socorro mútuo, associações étnicas, imigração italiana, movimento
operário.
Hands joined, hearts divided. The Italian mutual assistance societies in São Paulo
during the First Republic: their training, their struggles, their festivals
The author gives an overview of the Italian mutualism in São Paulo since its origins,
during the Brazilian First Republic. He investigates the making of the Italian mutual-aid
societies, so as the associations where Italian migrants composed the most part, the ties
1 Artigo recebido em 26.1.2012 e aprovado para publicação em 16.4.2012.
2 Departamento de História – Unifesp. E-mail: luigi.biondi@unifesp.br
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with the Italian associational tradition of the regions where they came from, its political
attitudes and differences, its relationship with the working-class movement and with the
world of labour, by its organizational characteristics of sociability, recreation or fight.
Builder of a multiple and politically characterized Italian identity, these societies con-
curred in creating – and were also an expression of – the making of a working-class
identity.
Keywords: Mutual-aid societies, ethnic societies, Italian migration, labour movement.
Les mains jointes, les coeurs brisés. Les sociétés italiennes d’aide mutuelle à São
Paulo au cours de la Première République: leur formation, leurs luttes, leurs
festivals
Dans cet article, l’auteur dresse un tableau de mutualisme italienne à São Paulo au cours
de la Première République, de ses origines. Il analyse la formation des entreprises ita-
liennes de l’assistance mutuelle, les associations mutuelles, ainsi que ceux dans lesquels les
Italiens étaient son prépondérante, ses liens avec la tradition italienne des régions asso-
ciatives d’origine des immigrés, leurs positions et les différences politiques, leur relation
avec la mouvement syndical et le monde du travail en général, dans ses aspects organi-
sationnels de la sociabilité, les loisirs ou la lutte. Construction d’une identité italienne de
multiples facettes et caractérisé politique, ont contribué à ces associations, et étaient aussi
l’expression d’une formation de l’identité de classe.
Mots-clés: Sociétés de secours mutuels, sociétés ethniques, migration italienne, mouve-
ment ouvrier.
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gradualmente foi absorvida pelas ligas de ofício e sindicatos, muitas das quais
surgiram do seio das sociedades de socorro mútuo ou com o auxílio destas.3
Esse aspecto foi muito polêmico entre as associações mutualistas de italianos
no exterior, onde muito raramente essas agremiações se dedicaram a criar tais
fundos específicos para a greve.
É importante ressaltar, todavia, que as sociedades de socorro mútuo desen-
volviam uma função de sociabilidade e cultural muito intensa e aberta também
aos não sócios, permitindo estruturar ou revelando, sobretudo no exterior, as
redes das quais os membros das agremiações e suas famílias faziam parte. Redes
fundamentais para a inserção no mercado de trabalho, assim como para a defesa
e a conquista de direitos e para a solidariedade nos momentos mais conflituosos
e nos processos de organização política e sindical.
As cotas de participação nessas sociedades não eram altas, mas também limi-
tavam o acesso a sócios que tinham salários estáveis, e não foi rara a coexistência,
pelo menos até a década de 1880, de trabalhadores assalariados, artesãos inde-
pendentes e até empresários, mas esse interclassismo foi diminuindo até desapa-
recer quase por completo, embora os trabalhadores mais qualificados e autôno-
mos tenham continuado a formar a maioria dos membros.
Durante a década de 1890, a típica associação mutualista na Itália já era,
sobretudo, uma agremiação de trabalhadores fechada aos empresários e, além de
suas funções de assistência aos sócios, auxiliava os sindicatos em formação, cola-
borava com os grupos políticos republicanos, socialistas e às vezes anarquistas e
abrigava e organizava festas, encontros e reuniões de todo tipo, políticas, cultu-
rais de lazer e esportivas, voltadas também para os trabalhadores não associados
das localidades ou bairros onde a associação atuava. No Norte da Itália já tinham
aparecido, aliás, associações de socorro mútuo entre camponeses.
Havia algumas exceções, sobretudo no contexto das regiões do Sul da Itá-
lia, onde o interclassismo ou a prevalência de membros de classe média, comer-
ciantes, empresários e profissionais liberais e de posições políticas monarquistas,
liberais e geralmente antissocialistas e católicas não raramente caracterizaram as
associações de socorro mútuo, diferentemente do que acontecia no centro e no
Norte da Itália, onde era dominante a identidade operária, anticlerical, republi-
cana e socialista dessas associações.
3 ROBOTTI, Diego; GERA, Bianca. Il tempo della solidarietà. Milão: Feltrinelli, 1991.
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4 Le società di mutuo soccorso italiane e i loro archivi. Roma: Ministero per i Beni e le Attività
Culturali, 1999; FONZO, Erminio. “L’unione fa la forza”. Società di mutuo soccorso e altre
organizzazioni dei lavoratori a Napoli dall’Unità alla crisi di fine secolo. Soveria Mannelli-CZ:
Rubbettino, 2010.
5 HALL, Michael. O movimento operário na cidade de São Paulo: 1890-1954. In: PORTA, Paula
(Org.). História da cidade de São Paulo: a cidade na primeira metade do século XX. São Paulo: Paz
e Terra, 2004. v. 3, p. 259-289; e “Os chapeleiros: notas e hipóteses”, ago. 1988. (mimeo).
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6 Il Brasile e gli Italiani. Florença: Edizioni del “Fanfulla”, Bemporad & Figlio, 1906. p. 811-813.
7 MINISTERO DEGLI AFFARI ESTERI. Le società italiane all’estero nel 1908. Bollettino del
Ministero degli Affari Esteri, n. 3, p. 373 e 426, dez. 1908.
8 Nos anos 1930, não temos mais referências da Galilei e da Fieramosca, que, em 1928, segundo
o Anuário estatístico do estado de São Paulo, chegaram ao número mínimo de seus sócios
(respectivamente, 91 e 93). Ao contrário, a Oberdan, a Lega Lombarda e a Vittorio Emanuele II
foram fechadas somente durante a Segunda Guerra Mundial. A SIB – Hospital Italiano “Umberto
I” continuou sua atividade ao longo das décadas de 1930 e 1940. Cf. Prontuários n. 10.182; no 9.982;
n. 9.983; n. 13.536; n. 10.569, Apesp, Deops/SP.
9 TOMASSINI, Luigi. Op. cit., p. 233.
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enorme crescimento na década de 1880), mas entre 1894 e 1904 o número de seus
sócios diminuiu.10
Depois de 1900, nota-se em São Paulo o surgimento de novas sociedades
com características diferentes das que as precederam. Com o desaparecimento
de muitas pequenas sociedades baseadas na origem regional de seus membros,
novas SIMS foram fundadas entre seus ex-membros, e, ao mesmo tempo, difun-
diram-se as sociedades italianas de bairro, acompanhando, desse modo, o contí-
nuo crescimento da cidade de São Paulo e sua expansão em direção aos bairros
periféricos de instalação industrial ou ferroviária e às várzeas. O período de vida
das mútuas de imigrantes italianos que surgem ao longo das primeiras décadas
do século XX foi o que aparece no quadro a seguir:
Em termos gerais, podemos dizer que, entre 1896 e 1920, funcionaram pelo
menos 15 associações de socorro mútuo italianas contemporaneamente (o auge
foi alcançado em 1899-1900, com 20 associações).
As duas primeiras sociedades, a Società Italiana di Beneficenza – SIB (cria-
dora do Hospital Italiano Umberto I em 1904 e que foi sempre a maior sociedade
italiana de São Paulo) e a SIMS Vittorio Emanuele II, fundadas respectivamente
em 1878 e 1879, constituíram dois projetos agremiativos abrangentes que, porém,
10 Em 1894, as sociedades mutualistas na Itália contavam com 994.183 sócios; em 1904, com
926.027. Id., p. 231.
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14 Cf. Estatutos da Sociedade de Socorro Mútuo Guglielmo Oberdan. São Paulo: [S.l.], 1940.
Prontuário no 13.536, Apesp, Deops/SP. O artigo 38 declarava, além disso, que o dia 20 de dezembro,
dia da execução de Oberdan, era uma das festas oficiais da sociedade.
15 Anuário estatístico do estado de São Paulo, 1904.
16 Alla Leale Oberdank. Avanti!, n. 6, 2 série, p. 3, 6 jun. 1914.
17 Anuário estatístico do estado de São Paulo, 1908 e 1911.
18 Estatutos da Società Unione Meridionale Italiana. Diário Oficial do Estado de São Paulo, n. 84,
p. 800, 13 abr. 1899.
19 Il Brasile e gli italiani. Op. cit., p. 833.
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20 Ettore Fieramosca, que aparecia bem no centro do estandarte oficial da sociedade, foi o cavaleiro
que liderou um duelo contra um grupo de nobres franceses durante a ocupação do Sul da Itália pelo
Exército francês, em 1503, em Barletta, na região de Puglia. Como Fieramosca era originário de
uma família da nobreza de Capua, próximo de Nápoles, é também provável que a SIMS que levava
seu nome fosse uma associação que agregava imigrantes do Sul da Itália de diversas regiões. Os
nomes dos membros da associação também reforçam esta conclusão.
21 Extrato dos estatutos da SMS Ausonia. Diário Oficial do Estado de São Paulo, n. 1.821, 25 set. 1897.
22 CAPPELLI, Vittorio. Le donne in Calabrianelle società di mutuo soccorso (1875-1900).
Movimento Operaio e Socialista, ano IV, nova série, n. 3, p. 287-296, 1981. Id. Immigrazione
transoceanica e socialismo: il caso di Morano Calabro tra Ottocento e Novecento. In: BORZOMATI,
Pietro (a cura di). L’emigrazione calabrese dall’Unità a oggi. Roma: Centro Studi Emigrazione, 1982.
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27 Artigo 3o e Condizioni di ammissione. In: Statuto della Società Italiana di Mutuo Soccorso “Lega
Lombarda”. São Paulo: Typ. Ideal/F.lli Canton, 1910. Cf. também Prontuário no 10.569, Apesp,
Deops/SP.
28 Alla Leale Oberdan. Avanti!, n. 6, 2. série, 6 jun. 1914.
29 Movimento operaio. Fanfulla, n. 20, p. 5, out. 1911.
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30 Prontuário no 38.465, Apesp, Deops/SP e estatutos da Società Italiana Mooca. Diário Oficial do
Estado de São Paulo, n. 178, 18 ago. 1918.
31 Diário Oficial do Estado de São Paulo, n. 98, p. 1.270, 3 maio 1901.
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32 O apoio aos grevistas foi notável e o financiamento à Fosp foi muito consistente, 610$500 réis,
enquanto, só para ter uma ideia, as centenas de operários da Antarctica contribuíram na mesma
subscrição com 61$500 réis. Festa Pro-Scioperanti. Avanti!, n. 1.717, p. 3, 11 jun. 1907; Movimento
sindacale. Sottoscrizione Pro-Scioperanti. Avanti!, n. 1.721, p. 2, 15 jun. 1907.
33 Circoli e società. Fanfulla, n. 22, jan. 1912; e Id. 12 jun. 1917; Diário Oficial do Estado de São
Paulo, p. 2.382, 12 abr. 1921; Prontuário no 9.140, Apesp, Deops/SP.
34 Circoli e società. Fanfulla, p. 4, n. 30, jan. 1912; Sempre Avanti!, n. 3, 16 dez. 1903.
35 Artigo 1o, d) Capítulo II. In: Statuto della Società Italiana di Mutuo Soccorso “Lega Lombarda”.
São Paulo: Typ. Ideal/F.lli Canton, 1910. p. 12-13.
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ser voltada para os residentes no bairro onde a sociedade residia, mas isso tam-
bém era bastante aleatório. Claramente, a maior parte dos sócios era do bairro
onde a sociedade tinha sido fundada, mas não havia nada nos estatutos que indi-
casse que a assistência médica ou que as condições para associar-se fossem exclu-
sivas dos sócios residentes no bairro.
O artigo 2º dos estatutos da Unione Operaia da Barra Funda, por exem-
plo, que surgiu a partir de uma associação recreativa de operários italianos do
mesmo bairro,36 afirmava que a sociedade desenvolvia sua ação na cidade de São
Paulo, sem especificar o bairro.37 É provável também que fosse subentendido
que podiam participar somente sócios residentes no bairro, pois, por exemplo,
não era também especificado que os sócios devessem ser italianos, mas não há
nenhuma diretoria dessa sociedade – e isso até os anos 1940 – em que apareça um
não italiano, nem entre os conselheiros.
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ções mútuas que mais apoiaram as organizações operárias e que tinham um imagi-
nário identitário republicano que remontava ao radicalismo mazziniano.39
Entre os muitos sócios do Círculo Socialista Internacional que assumiram
cargos na diretoria da Civiltà e Progresso, destacamos Guido Bertolotti (que foi
presidente dela em 1916 e 1917), Ferdinando Boschini (membro da Lega Demo-
cratica Italiana e também da Unione Veneta), Alcibiade Bertolotti (irmão de
Guido), Dante Ramenzoni, Amedeo e Quintilio Volponi.
Frequentemente, porém, as divisões ocorriam também no interior das socie-
dades, como foi, por exemplo, no caso da Fratellanza Italiana do Cambuci: em
1898, o presidente, Umberto Campetti, saiu da sociedade porque o conselho
recusou sua proposta de participar da subscrição em prol das vítimas políticas
das revoltas daquele ano; ainda em 1901, um grupo de sócios eleitos em car-
gos de responsabilidade foram forçados a abandonar a sociedade por contrastes
políticos, no momento em que começaram a pressionar para que a associação se
posicionasse politicamente e participasse mais ativamente do processo de orga-
nização sindical que estava ocorrendo naquele período. Os expulsos fundaram
logo em seguida o primeiro círculo socialista de bairro em São Paulo: o Circolo
Socialista Rionale “Enrico Ferri” do Cambuci (com cerca de 50 sócios).40
As duas tentativas feitas nos congressos gerais do associativismo italiano de
1897 e 1904 para unificar as sociedades italianas do estado de São Paulo em uma
federação ou instituição única fracassaram por causa dessas fortes divergências
políticas.41 Entre os promotores dessas iniciativas estava o republicano Domenico
Rangoni: amigo de uma das mais famosas lideranças socialistas italianas, Andrea
Costa, chegou ao Brasil em 1890 e logo iniciou com outros militantes da época,
como Alcibiade Bertolotti (também socialista), a tentativa de organizar uma
grande sociedade geral de socorro mútuo que ajudasse a resolver o problema da
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42 Federazione delle società italiane nello Stato di S. Paulo. Il Lavoro, ano II, n. 23, p. 1, 1o jul. 1894.
43 Società Italiana di Beneficenza. Avanti!, n. 42, p. 1, 3 ago. 1901.
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44 Seduta tempestosa alla Società Italiana di Beneficenza. Avanti!, n. 38, p. 3, 6 jul. 1901.
45 Società Italiana di Beneficenza. Avanti!, n. 40, p. 1, 20 jul. 1901.
46 Società Italiana di Beneficenza. Avanti!, n. 42, p. 1, 3 ago. 1901.
47 Ospedale Italiano Umberto I. Avanti!, n. 49, p. 2, 21 set. 1901; Società Italiana di Beneficenza.
Avanti!, n. 50, p. 3, 28 set. 1901.
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51 “San Paolo. Una commemorazione” e “Società Popolari”, ambos em Avanti!, n. 2, p. 3, 27 out. 1900.
52 Artigo 34 dos estatutos da Società Calabresi Uniti Tommaso Campanella, Diário Oficial do
Estado de São Paulo, n. 1.832, p. 21.864, 9 out. 1897.
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60 “Relação do segundo congresso operário estadual. A Lucta Proletaria, supl. ao n. 14, 1o maio
1908. Alfonso Contieri foi também um dos principais organizadores das comemorações do 1o de
Maio de 1907: Il 1o Maggio. Avanti!, n. 1.683, 2 maio 1907.
61 “Uma simpaticíssima festa. Avanti!, 2 série, n. 16, p. 2, 15 ago. 1914; Sociedade Alliança. Id., n.
26, p. 3, 24 out. 1914; Uma conferenza ai camerieri. Id., n. 28, p. 3, 7 nov. 1914; Fra i camerieri. Id.,
n. 56, p. 3, 5 jun. 1915.
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tanto para reuniões operárias de ligas de ofício como para a realização de comí-
cios gerais e de conferências de propaganda.69
Essas ligações “perigosas” entre mutualismo italiano e movimento operário
certamente não desapareceram por completo durante a década de 1920, quando
da atenuação dos laços étnicos como definidores das formas de organização dos
trabalhadores imigrados, após décadas de progressiva integração, ainda que, cla-
ramente, tenham diminuído em seu alcance e em sua importância: afinal, os imi-
grantes e seus filhos se viam cada vez mais como brasileiros.
No início dos anos 1920, por exemplo, o tipógrafo e sindicalista Ambrogio
Chiodi e outros militantes socialistas de São Paulo, como Nello Colli e Adelmo
Giordani, (re)fundaram a Sociedade de Mutuo Socorro do Cambucy, cujos esta-
tutos, diferentemente dos da maioria das mútuas italianas fundadas naquela
época, evidenciavam em muitos pontos sua origem socialista e republicana: eram
consideradas datas de comemoração oficial da sociedade, de fato, os dias 14 de
julho e 1o de maio.70 Ainda durante as décadas de 1920 e de 1930, diversas socie-
dades italianas de socorro mútuo (sobretudo a Lega Lombarda, a Unione Ope-
raiadi Barra Funda, a União Fraterna da Lapa e Água Branca, a Società di Mutuo
Soccorso del Cambucy) funcionaram como abrigo e apoio de grupos políticos
socialistas e comunistas, especialmente no período da formação da Ação Nacio-
nal Libertadora (ANL).
Enfrentaram um processo violento de fascistização, por um lado, e de nacio-
nalização brasileira, por outro, desde a segunda metade dos anos 1930 até aden-
trar os anos 1940, ressurgindo no pós-guerra como associações culturais, cuja
atuação no processo organizativo dos trabalhadores italianos de São Paulo tinha-
-se tornado objeto de construção da própria memória identitária.
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