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ALBERTO GUERREIRO RAMOS


/* UíÀloco> ^oetodó

Ivi M^U^&wdJk1

I
A NOVA CIÊNCIA
DAS ORGANIZAÇÕES
Uma reconceituação da / a

riqueza das nações


Tradução de
MARY CARDOSO

Jill^üii CsauarSõ Jfiorcno fOiioa


ESTATÍSTICO
ÍP1
o..

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*

£ fcs-i

FGV-Instituto de Documentação
Editora da Fundação Getulio Vargas
Rio de Janeiro, RJ — 1981
1

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I
„ dar ao rascunho deste livro sua forma presente. Beverly Harwick da- I
^íôVetíe texto esou reconhecido àsua alerta diligencia. Gostaria
t 2X£ df«iSn£ aqui omeu carinho por duas adoráveis cnaturas, 1
h ^ZZZ£^o^companheirosdasminhassolitárias
Í^Ttudí aue se foi para sempre, eCochese, alegres efiéis
f
b h0n,S Finalmente! minha permanência na Wesleyan University ena
o Yale University, como professor visitante econfrade visitante, respec 1|
o tivamente por ocasião da licença especial para estudos que me foi PREFACIO I•;«pll^
concedida pela USC no ano acadêmico de 1972/73, representou uma wHBf^-- 1
o auspiciosa oportunidade para que eu clarificasse aforma deste livro. O
processo de revisão da Editora da Universidade de Toronto, sob adire Neste livro, apresento o arcabouço conceituai deiwm nova 1
o
ção de R. I- K. Davidson, foi de inestimável valor para aarticulação de ciência das organizações. Meu objetivo écontrapor um modjlo jejuiá- •)
raffi^SSjii,';'- ':< '•>•.'•
1
o meu trabalho. As críticas ao esboço original, que recebi dos leitores da
Editora daUniversidade deToronto, contribuíram decisiva e generosa 1
G mente para aconfiguração e a substância finais do livro. SãfifiSmpàmSSj aadrnuu>Uaçãoj>ubbçajioi_ult^pjJP^:_
O Aresponsabilidade pelo que no livro se contém, é claro, cabe KÁi í \ LtSõTTmPten^rais,que uma_teoria da «P°"^**£
dTnolnlfciaò-liloTipUcável atodos mas apenas aum ripe e^cial
1
a mim.
(
C^'- de atividade. Aa-pücação de seus princípios atodas ^ íormfJ^ 1
( vidade está dificultando aatualização de possíveis novos sistemas^so- >
c MoogLo S, necessários àsuperação de dilemas básicos de «"*££ •' •

Argumento ainda, que omodelo de alocação de mao-de-obra ede re-


c ÍSTmSí na teoria dominante de organização, nãojeva ern
"•con^ as exigências ecológicas , não_se_vincula,.portanto, k. estígiQ
o
conlen^p^anVlaTcip-acidades de ^S^^f^Tl 1
o que amaneira pela qual éensinado omodelo JM^**"»*
o
desastrosa, porque não admite explicitamente sua limitada utüidade >
~ c ' L_
o •)
******* usando aexpressão nova ciência das organizações em sen >
/ tido amplo, eamesma inclui assuntos não apenas pertinentes asetores
o olt presentemente rotulados como administração pública eadministração 1
o é!w£m privadas, mas também temas especificamente pertencen
tes ao campo da economia, da ciência política da ciência da fonnul. 1
o ção de políticas eda ciência social em geral. Assim sendo, damaneua 1
o como está concebida neste livro, anova ciência das orgaruzações édm-
SE aproblemas de ordenação dos negócios sociais epessoais numa 1
o microperspectiva, tanto quanto numa perspectiva mi"°-
De um modo geral, o enriao e otiemajnento oferecidos aos _ 1
c
estudantes, não apenas nas escolas de administração publica edejuta* ^ Cü^-V^o
o rüsFaçfcTde empresas, mas igualmente nos departamentos de ciência |
o social ainda são baseados nos pressupostos da sociedade centrada no 5$ »
^60^ <^ -
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mercado. Hoje é necessário um modelo alternativo de pensamento,
o Je-T k> ainda não articulado em termos sistemáticos, porque asociedade cen fS
»
( íU trada em mercado, mais de 200 anos depois de seu aparecimento, está
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ponentes não têm apercepção de semelhante dimensão. A> eonada
arando agora suas limitações esua influência desfiguradora da vida l organização dominante épré-analítica, no sentido de quente 0£*
r ^ como um todo. Eéapenas tal forma de pensamento que este do dos negócios humanos na sociedade centrada no mercado^como
uma premissa, sem se aperceber da extensão das^.d^sob^
UVK> NtocWÍtulo 1, tnto do conceito básico de toda ciência social - vas 0 capítulo trata, com minúcia, de três pressupostos nao articula
. razfo Amoderna ciência social não pode ser completamente expli dos da presente teoria da organização, isto é, aM-W*"»»
6 cada senão àluz da compreensão peculiar da razão que nela esta im za humana com asíndrome comportamental.sta inerentej"°**«
i
plícita Neste século, a crítica da razão moderna foi iniciada por Max
centrada no mercado, adefinição da pessoa como um detentor de em
O Weber e Karl Mannheim, que falharam, não obstante, quanto aencarar
prego eaidentíficação da comunicação humana com acomunicação
instrumental.
( consistentemente a complexidade dessa razão. Mais recentemente, Ocapítulo 6expõe mj™'™ <*gos epistemològicos^ajeona
o
Eric Voegelin tentou avaliar a razão moderna do ponto de vista do le
gado clássico do pensamento e, por mais significativa que sua grande
o contribuição possa ser considerada, pressupõe ela, contudo, um cará
ter restaurador que não está suficientemente qualificado. Mais ainda, X^Tnr"elucidam que a presente teona organizacional, dejx^jiste
( deixa de prover anova ciência das organizações eda sociedade da perí
o cia operacional e analítica exigida pelas condições históricas de nosso
tempo. Outra significativa linha de crítica é representada pela chama
( da Escola de Frankfurt que, mostrarei, ainda está carregada de moder
( nas ilusões de cunho historicista.
Ocapítulo 2é uma crítica do modelo contemporâneo de ciência
( social, do ponto de vista de um modelo alternativo que chamo de
( teoria substantiva da vidahumana associada, e queé calcado na distin
ção feita por Max Weber entre Wertrationaliíaí (valor ou racionalidade
( substantiva) e Zweckrationalitàt (racionalidade funcional) e naanálise, laJn and Socie.y, bem como no livro 0*^X^980)
o de Karl Polanyi, da sociedade centradano mercado.
O capítulo 3 conceitualiza asíndrome psicológica inerente àso
o ciedade centrada no mercado e especifica seus traços principais, a sa para usar os referidos artigos.
o ber: afluidez da individualidade, operspectivismo, oformalismo eo^> No capítulo 7, apresento um modelp multicéntrico dejmájise
operacionalismo. Esclarece que enquanto os cidadãos, em geral, con dos sistemas sociais edo desenho_organizaçional que denomino- deli-
o tinuarem sucumbindo à persuasão organizada, às pressões e às influên mítação dos sistemas-lioaairTarmod^^
o
cias que mantém tal síndrome em operação, haverá, na melhor das Z^Zlrio peto ü=55a, 3áTOsa5^eo«^^g
hipóteses, pouca oportunidade para uma transformação social revita-
o lizadora. cr^vTo^núitiplõsl^
o Nocapítulo 4. sustento que a teoria da organização, como cam
dale". 0 capítulrJTc^nsUtui uma apresentação preliminar daquilo que
po disciplinar, está perdendo o senso de seus objetivos específicos, cHãmõde paradigma paraeconòmico. t.

o pela tentativa de assimilar modelos e conceitos estranhos a seu domí


• Alei d^^uifes^de^os3>presentada no capitulo 8co
o nio próprio. Em apoio desse argumento, examino exemplos de "colo mo unTtópico fundamental da nova ciência das organizações. E*
o
cação desapropriada" - misplacement —de conceitos demonstrados aLdoomL*^^
çao^sencial de qualqueT sociedade, que_deve_ter respostas para as ne:
por tópicos em voga no campo da teoria da organização. Concluo o
capítulo 4 fazendo a articulação de alguns tópicos básicospermanen
o
tes do estudo científico de organizações formais.
capítulo sustento que^a um desses sistemasjoc.aiTletermma os
o O capítulo 5 apresenta o conceito da política cognitiva, e de prfe^uisitoT^^^da tecnologia, do tamanho, dlpercepçao, do
n.T^gr^rnTWlise
o monstra que a mesma constitui a mais importante dimensão oculta da
psicologia da sociedade centrada no mercado. A teoria da organização espaço e do tempo dossistemasjociais^
!o nunca atingiu o stahis de uma disciplina científica porque seus pro- XIII
o XII
(
o
o
No capítulo 9, tento mostrar as impücaçõesjolítjc^iio^-
o Higrn, paraeconômico. Aessa altura, àtmno que adjlirnjt^o^
(
o
orgarn^õn^na^
deElclaTe^titp^dr^^
c d™braVdeIeçuisõI^^
-l^e^iin^TIvnrconrum sumário oorFru^rn^un^amentm
( da nova ciência das organizações e indicando o rumo geral de sua PREFÁCIO DA EDIÇÃO BRASILEIRA
(
^endOseifTclpi3tulos deste livro constituem uma unidade orgânica e
o devem ser lidos na seqüência em que estão apresentados; de outra ma Oleitor brasüeiro deste livro deve sempre levar em conta que= ele
o neira, oleitor perderá aspectos fundamentais de seu desenvolvunento
teTrico Isso é particularmente verdadeiro em relação ao ultimo
c SSSo, mquePse tornam evidentes as minhas diretrizes política, e
<
filosóficas. Ocapítulo não pode ser compreendido, se for lido como
uma peça autônoma. _ , .
( Aprocura da nova ciência das organizações vem ocorrendo des
de algum tempo, constituindo um esforço gradativo, empreendido.por sú^bstitujçãojõTumaji^^ verificará quels^
( grande número de estudiosos. Este livro aprove, amuito da atividade YttO
criadora de tais especialistas, mas começa amoldâja num corpo abran-
<
gente de conhecimentos.
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o
o
o
o
o SSSSSRSSSwSnSSfera sociedade,
o
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c
o SssssSSsrSSSSaS
No mundo contemporâneo, os EUA sao a mais •a
sociedade centrada no mercado. Por conseguinte éa, ^«™»
Ü ™vai-se tomando mais consciente do efeito deculturativo do merca
o ao Eve*to?aue não vem ao caso relatar aqui levaram-me aresidir nos
EUA desde ^66 Nos últimos três lustros, aproblemática norte-ame
( ricana tanto nosseus aspectos acadêmicos como naqueles pertinentes
V XV
4. o-V
<- XIV
jV\,v
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I

Este livro éresultado de minhas pesquisas sobre aredução***>


i Mdomínio dos afazeres cotidianos, tem sido parte central de minha lneica no terceiro sentido. Otema já tinha sido esboçado em meu esto
i
rife Este livro destüa essa intensa experiência. Em vanas de suas pas-
noens éevidente que minhas elaborações conceituais sao largamente
°o8d MM! >tual da sociologia, que constitui og^.
afetadas por incidentes típicos da vida norte-americana. M^s^pjnodelo
dc sociedade que Ajwva_çiên£ÍíL^^^ Í* constitui,o desenho
eJ^tf^Hal decjescente"número de mdryiduos^mjodp o.mundo. Nos
EÜXTmmãrérde pessoas estão sistematicamente vivendo como se o
mercado fosse apenas um lugar delimitado em seu espaço vital. EstaJ.* vZJn?o(\966) minhas anájiswjtoç^ncrit^^
uma revolução silenciosa que embora nfo_faç_amançhetesnaimpren-
^^^^^^^^^^r^x^jo^ij^^^iojuturo, isto é, a oJeitoLencontrará neste livro. nrnAuin a- cerca de
práxis de emergente modelo de relações entre os indivíduos, e entre ANova ciência das organizações é, ^gf^JZ?"
estes e a natureza. Em outras palavras, este modelo restaura o que a 30 anos de pesquisa ereflexão. Mas ele não articula tudo aquilo em
sorié&ídecentiãai no mercado deformou ou, em parte, destruiu: os
elementos permanentes da vida humana^ ção da proposta de trabalho teónco eoperacional, que espero
A categorização desse modelo emergente na práxis de minorias mar durante o resto deminha vida.
em todo o mundo tem importância universal, pois constitui a referên Alberto Guerreiro Ramos
cia magna da crítica da sociedade moderna, ede sua ideologia que, sob Los Angeles, 1980
o disfarce de ciência, devários modos comanda o processo configurati-
vo da vida dos povos, tanto nos países chamados capitalistas como nos
chamados socialistas.
Nos estudos que realizei no Brasil antes de radicar-me nos EUA
( já eram perceptíveis as linhas mestras do pensamento sistematicamen
te articulado neste livro. Ao leitor interessado em verificar a progres
C são desse pensamento dirijo as considerações finais aseguir.
c Nos meus estudos publicados no Brasil desde 1951 encontram-se
análises da ciência social européia e da norte-americana, bem como do
o marxismo e do paramarxismo [veja Introdução critica àsociologia bra
o sileira (1957), OProblema nacional do Brasil (1960), ACrise do poder
no Brasil (1961), Mito e verdade da revolução brasileira (1963)]. Par
e ticularmente significante na minha trajetória intelectual é ARedução
o sociológica, cuja primeira edição é datada de 1958. No prefácio da se
gunda edição deste livro (1965) sublinhei otríplicejentido da redução
o so^ológjca.jjaber: a) atitude imprescindível àassjmilação_ciítica_da
o ciência e da cultura importadas; l-j adestramento cultural sistemático
necessário para habilitar o individuçLaje^tir_àjnassificaçãojie sua
o conduta e às pressões sociais organizadas; c) superação da ciência so-
o
ciáTnos moldes institucionais é universitários emqueseencontra.
Na edição de 1958, ARedução sociológica tratou principalmen
o te da mesma em seu primeiro sentido. Posteriormente, afim de ressal
o
tar o segundo sentido da redução sociológica, sugeri a categoria de
homem parentético, em Homem-organizaçãoe homem-parentético, ca
o pítulo de Mito e verdade da revolução brasileira, e em Models of man
and administrative theory, artigo publicado no número demaio/junho
4 C; de 1972 da Public Administration Review.
XV11
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< XVI
c
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V
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SUMARIO

Agradecimentos IX
Prefácio XI
Prefácio daedição brasileira XV
1. Crítica da razão moderna e sua influência sobre a teoria da
organização 1
1.1 A razão como cálculo utilitário de conseqüências 2
1.2 Aresignação eos pontos de vista de Max Weber sobre a
( racionalidade 4
1.3 Avisão limitada de racionalidade de Karl Mannheim 6
o 1.4 A teoria críticada escola de Frankfurt 8
c 1.5 O trabalho derestauração deEric Voegelin 75
1.6 Alguns comentários críticos 19
o 1.7 Conclusão 22
o Bibliografia 23
o 2^Norumo de uma teoria substantiva da vida humana
o associada 25
2.1 Amoderna transavaliação do social 28
o 2.2 Ordenamento político e sociedade 33
o 2.3 A dicotomia entrevalores e fatos 37
2.4 Aciência social como uma ideologia serialista 39
o 2.5 Da ciência social cientística 42
o 2.6 Conclusão 45
Bibliografia 46
o
o 3l A síndrome comportamentalista 50
3.1 A fluidez da individualidade 53
o 3.2 Perspectivismo 57
3.3 Formalismo 59
Q 3.4 Operacionalismo 62 l
3.5 Conclusão 67
Bibliografia 67
i XIX

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I
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<3&?S3°
8. Alei dos requisitos adequados eo desenho de sistemas
4 Colocação desapropriada de conceitos eteoria da organização 69
41 Traços fundamentais da formulação teórica 69 sociais 155
Bibliografia 173
Adeslocação transforma-se em colocação inapropnada 71
Ailusão da autenticidade corporativa 72 9. Paraeconomia: paradigma emodelo multicêntrico de
Aalienação mal compreendida 72 alocação 177
Sanidade organizacional, uma denominação incorreta /o Bibliografia 191
Pessoas e modelos desistemas 79
Conclusão 82 10. Visão geral eperspectivas da nova ciência 194
Bibliografia 83 10.1 Aciência social convencional 194
10.2 Aorganização resistente 198
Política cognitiva - apsicologia da sociedade centrada no Bibliografia 201
mercado 86
5.1 Política cognitiva, uma digressão histórica 87 índice analítico 203
5.2 Apolítica cognitiva easociedade centrada no mercado 90
I
5.3 Uma visão paroquial da natureza humana 93
0 alegre detentor de emprego, vítima patológica da
SC 5.4
sociedade centrada no mercado 98
í 5.5 Apsicologia da comunicação instrumental 108
5.6 Conclusão 114
i
Bibliografia 115

O
O 6. Uma abordagem substantiva da organização 118
6.1 Tarefa 1- aorganização como sistema epistemológico 118
O 6.2 Tarefa 2- pontos cegos da teoria organizacional
o corrente 120
Reexame danoção de racionalidade 121
e Peculiaridade histórica das organizações econômicas 123
o Interação simbólica e humanidade 126
Trabalho e ocupação 129
o Conceptualização de uma abordagem substantiva da
o organização 134
6.8 Conclusão 136
o Bibliografia 138
o
o
7. Teoria dadelimitação dos sistemas sociais: apresentação de um
o paradigma 140
o 7.1 Orientação individual e comunitária 140
7.2 Prescrição contra ausência de normas 143
V 7.3 Conceituação das categorias delimitadoras 146
(i Bibliografia 153 XXI
XX
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1 CRITICA DA RAZÃO MODERNA
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TEORIA DA ORGANIZAÇÃO

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o émenos convincente do que ofoi no passado eJ™ ™a^\m
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pouco prática einoperante, na medida em que continua ase apoiar em
o TSSatt* éusada aqui no sentido em que aempre
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assim, aojd^rsu^i^^ Mais ainda^vldadantíto
^««Amico das sociedades industriais desenvolvidas tem sido uma con- #- na psique^KulnãhTéTa-êTiciridTíon^^a realidade que resistia asua
SSSTuíInS-v. aplicação das ciências naturais. No entanto, a nrÓDria redução aum fenômeno histórico ou social.
SSade manipuladora de tais ciências não constitui necessanamen- P PNos trabalhos deVHobbe> a"razão moderna" e. pela primeira
Z uma indicação de sua sofisticação teórica. Assim, de acordo com vez clara esistematicamentearticulada, eaté hoje sua influencia nao
HÚsserl na medida em que essas ciências admitem como evidente por desap receu. Definindo arazão como uma capacidade que oindivíduo
Ò si mesmo otipo pré-refletivo da vida cotidiana ficam elas "no mesmo
nível de racionalidade das pirâmides do Egito (Husserl, 1965, p. 186).
adqíi "pelo esforço" (Hobbes. 1974, p^ 45) eque ohabd.tjj^/fcj?
Em outras palavras, as ciências naturais do Ocidente nao se fun
mais do que fazer o"cálculo utilitário de conseqüências TttobbesT
1974 o 41) Hobbes pretendeu despojar a razão de qualquer papel
damentam numa forma analítica de pensamento, já que se viram apa normativo no domínio da construção teórica eda vida humana asso
nhadas numa trama de interesses práticos imediatos. É isso, talvez, o ciada. Numa obra em que tenta levar a cabo o seu propósito diz ele:
b que Husserl quis dizer com a afirmação: "Toda ciência natural éingê "A filosofia civil" é "não mais velha... do que meu livro De Ove
h nua, relativamente a seu ponto de partida. Anatureza, que irá investi (Hobbes, 1839, p. IX).
gar,'está simplesmente à disposição dela para isso" (Husserl, 1965, De acordo com Hobbes. parece que o termo racionalidade eago
p. 85). No fim de contas, as ciências naturais podem ser perdoadas por ra geralmente empregado por leigos, tanto quanto pelos c.ent.stas so
sua ingênua objetividade, em razão de sua produtividade. Mas essa to ciais segundo uma feição enganadora, que, todavia, não ma.s reflete o
lerância não pode tervez nodomínio social, onde premissas epistemo- tipo'de indagação consciente empreendido por Hobbes. esim profun
lógicas errôneas passam a ser um fenômeno cripto-político - quer di da desorientação. As enganosas implicações de que ora se reveste o ter
zer, uma dimensão normativa disfarçada imposta pela configuração de mo precisam ser identificadas pelo que realmente são. Ja que. em nos
poder estabelecida. sos dias a racionalidade assume com freqüência conotações antiteticas
O presente capítulo é uma tentativa de identificação da episte- relativamente aos propósitos fundamentais da existência humana a
mologia inerente na ciência social estabelecida, de que a atual teoria anti-racionalidade sem qualjficação transformou-se numa_dasjeses de_
organizacional é um derivativo. Meu principal argumento é que aciên
i cia social estabelecida também se fundamenta numa racionalidade ins
trumental, particularmente característica do sistema de mercado. Con
í iP àTgmTS-TnTTlè-eTicãrar^^ No entanto,
quando se examinam suas intenções, percebe-se que a deles e uma
causa errada Suas intenções podem ser boas, mas seu objetivo esta en
b cluirei o capítulo indicando o assunto principal do capítulo 2: um ganosamente mal colocado. Aracionalidade por que se batem e, na
b conceito de racionalidade mais teoricamente sadio, quer dizer, uma ra realidade, a distorção de um conceito-chave da vida individual e
cionalidade substantiva, que ofereça a base para uma ciência social al associada.
P ternativa, em geral, e para uma nova ciência das organizações, em A transavaliação da razão - levando à conversão do concreto no
o particular. abstrafõTã^ bom no funcional, e mesmo do ético no não-ético - ca
racteriza o perfil intelectual de escritores que tém tentado legitimar a
o 1.1 A razão como cálculo utilitário de conseqüências sociedade moderna exclusivamente em bases utilitárias. Uma das teses
o principais deste livro consistirá em assinalar que, quando comparada
No período moderno) da história intelectual do Ocidente, que com outras sociedades, a sociedade moderna tem demonstrado uma vo^r'
o começou noléciiIõ"XVII e continua até os nossos dias, o significado alta capacidade de absorver, distorcendo-os, palavras e conceitos cujo Cfi^'
previamente estabelecido daquelas pilavras que constituem uma lin significado original se chocaria com o processo de auto-sustentaçao !'O**
o guagem teórica fundamental mudou drasticamente, numa direção de ^
dessa sociedade. Uma vez que a palavra razão dificilmente poderia ser
o terminada. Nos trabalhos de homens como Bacon e Hobbes, escreven posta de lado, por força de seu caráter central na vida humana, asocie
o
do no clima cultural do século XVII, é evidente que o significado do
termo razão (assim como de outros termos tais que ciência e natureza)
\ ^ dade moderna tornou-a compatível com sua estrutura normativa.
Assim na moderna sociedade centrada no mercado, a linguagem dis
o já era peculiar, enquanto refletia um universo semântico sem prece torcida tornou-se normal, e uma das formas de criticar essa sociedade
o
dente. consiste na descrição de sua astúcia na utilização inapropriada do vo
No sentido antigo, como será mostrado, a razão era entendida cabulário teórico que prevalecia antes de seu aparecimento.
o como força ativa na psique humana que habilita o indivíduo a distin Com o intento de preparar o caminho que levará a uma nova
o guir entre o beme o mal,entre o conhecimento falso e o verdadeiro e, ciência das organizações e da sociedade como um todo, livre de desfi-
I 3
o
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MkMtf>jBMeP»MaW^
\

«mradá linguagem teórica, examino rapidamente, nos parágrafos se opsicologicamente existente com oeticamente válido" (Weber 1969. o^-'
guintes, aavaliação crítica da razão moderna, empreendida por alguns p. 44). Nessa disposição etendo em mente os economistas^iberais.
dos mais eminentes estudiosos contemporâneos. observa: .*.*v/vSr A^iVft^
:y
V
1.2 Aresignação eos pontos de vista de Max Weber sobre a "Os defensores extremados dó livre-comércioi.. concebiam (a eco
racionalidade nomia pura) como um retrato adequado da realidade natural. isto
é darealidade nãoperturbada pela estupidez humana - e prosseguiam
Quando Max Weber iniciou seu trabalho acadêmico, avelha no visando a estabelecê-la como um imperativo moral, como um válido
ção de razão já tinha perdido a/€õnòt^çapjiojTnauy>> que sempre tive ideal normativo - enquanto que ela é apenas um tipo conveniente, a
ra, como referência para a ordenação dos negócios pessoais e sociais. ser usado naanálise empírica" (Weber, 1969, p. 44).
Por um lado, de Hobbes a Adam Smith e aos modernos cientistas so
ciais em geral, instintos, paixões, interesses e a simples motivação subs Ojulgamento que Max Weber fez do capitalismo e da moderna
tituíram a razão, como referência para a compreensão e a ordenação sociedade de massa foi essencialmente crítico, apesar de parecer lauda-
da vida humana associada. Por outro lado, sob a influência do Ilumi- pi *. t>.«f/u#wwk tório. Chocava-se ante a maneira pela qual tal sociedade fazia a reava
nismo, de Turgot a Marx, a história substituiu o homem, comoporta liação do significado tradicioriaUaracionalidade, processo que intima
dor da razão. Contra tal situação, Max Weber permanece como uma j^ U/ida ^'VM mente lamentávãrèmbõrãrfenha deixado dedíretamente confrontá-lo.
figura solitária. Rejeitou tanto o rude empirismo britânico e o natura ' •
Muito embora Weber se tenha recusado a basear sua análise sobre a in
lismo dos cientistas sociais, quanto o determinismo histórico,principal dignação moral, como fizeram outros teóricos, de forma notável, éum
característica de influentes pensadores alemães. Uma clara indicação 3- & ^^h o erro atribuir-lhe qualquer compromisso dogmático com a racionalida
da conotação polêmica da obraacadêmica de Weber está em sua tenta de gerada pelo sistejrja^rjLtalista, Adistinção que fez, entre Zwckra-
tiva de qualificar a noçãode racionalidade. rionalitàt e Wertrationalitat - e que. é verdade, algumas vezes minimi
Max Weber é descrito, freqüentemente, como verdadeiro crente za - constitui, possivelmente, uma manifestação do conflito moral em
na insuficientemente qualificada excelência da lógica inerente à so que se sentia com as tendências dominantes da moderna sociedade de
ciedade centrada no mercado. No entanto, uma leitura cuidadosa de massa. Cqmo-4-amplamente sabido, ele salientou que a racionalidade
sua obra justifica diferente avaliação de seu pensamento, a propósito formal)e fastrumentiu) (Zwcekrationalitat) é determinada por uma ex
do assunto. Ele escreveu muito sobre o mercado como a mais eficiente pectativa de resultados, ou "fins calculados" (Weber. 1968, p. 24). A
configuração para o fomento da capacidade produtiva de uma nação e racionalidade substantiva, ou de(tàor^WertrationaIitàt). édetermina
para a escalada de seu processo de formação de capital. Mas, ao da "independentemente de suas expectativas de sucesso" e não carac
voltar-se para o mercado e para sua lógica específica, é evidente que teriza nenhuma ação humana interessada na "consecução de um resul
nenhum fundamentalismo mancha sua investigação. Em outras pa tado ulterior a ela" (Weber, 1968, p. 24-5). Nessa conformidade, We
lavras, não era um fundamentalista, no sentido de que explicava o ber descreve a burocracia como ejn^enhad^jnijunções racionais^ no Ul^
VDU
mercado e sua lógica específica como constituindo a síndrome de uma contexto peculiar de uma sociedade capitalista centrada no mercado, e
época singular: a história, segundoele, não iria encerrar seu curso com cuja racionalidade é funcional e não substantiva, esta última consti
o advento dessa época. Focaliza esses assuntos do ponto de vista da tuindo um componente intrínseco do ator humano.
análise funcional e, na realidade, merece ser considerado o fundador
Sob fundamento algum é possível considerar-se Max Weber
da análise funcional. Autores modernos, como, por exemplo, Adam
Smith, negligenciam o caráter precário da lógica de mercado, enquan
como um representante dafracionalidade burgueji^tima vez que ele
to Max Weber a interpreta como um requisito funcional de um deter
encarava esse tipo de racionalidade com evidentédesinteresse pessoal.
minado sistemasocial episódico. AdamSmith procedeucomo um fun
Aqueles que afirmam o contrário identificam inadvertidamente suas
damentalista, visto como exaltou a lógica do mercado como um ethos
observações ad hoc com sua posição pessoal, em termos gerais, da
da existência humana em geral. MaxWeber, porém, descreve essa lógi
mesma forma que deixam de perceber a tensão_espiritual que subli =0 " </a^
ca (da qual a burocracia é umadasmanifestações) comoum complexo nhou seus esforços para investigar,«ne ira ac studkyz temática de sua
KJ
> época. Na verdade, ele foi incapaz dTrèlolveTCfsãtensão empreenden
eurístic^ em afinidade com uma forma peculiar de sociedade - oca-1 do uma análise social do ponto de vista da racionalidade substantiva.
pitãHsmo, ouA^QJieiria^ociedajfjl? mgssa Condena explicitamente s
qualquer tipo fundamentalista de análise econômica, que "identifica' De fato, a Wertrationalitat é apenas, por assim dizer, uma nota de
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jpu nuiimiiw mi i i,i ,i i ipnua iii.ihpw ii. . •— i •-
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rodapé em sua obra; não desempenha papel sistemático em seus estu de crítica do indivíduo, na proporção do desenvolvimento davindus- (
dos. Se o fizesse, a pesquisa de(Weber\teria tomado um rumo comple Vi* cSatefe) Sugere, também, que embora a racionalidade funcional
tamente diferente. Escolheu ele íresignação (isto é. a neutralidade em A) teflhTeStído em sociedades anteriores, estava nelas restrita aesferas
face dos valores, não aconfrontação^como posição metodológica, em limitadas Na sociedade moderna, porém, tende a abranger atotalida
seu estudo da vida social. Contudo, essa resignação nunca o desorien de da vida humana, não deixando ao indivíduo médio outra escolha
tou, transformando-o em um historicista radical. De modo significa r além da desistência da própria autonomia e"de sua própria interpreta
tivo, considerava "auto-enganadora" qualquer posição que "afirme ção dos eventos, em favor daquilo que os outros lhe dão" (Mannheim,
que através da síntese de vários pontos de vista partidários, ouseguin 1940, p. 59)- Seu livro Man and society in an age ofreconstruetion é
do uma linha intermediária aos mesmos, seja possível chegar-se a nor uma indagação sobre a maneira de proteger a vida humana contra a
mas práticas de validade cientifica" (o grifo é do original) (Weber. crescente expansão da racionalidade funcional. Mannheim alega que
1969, p. 58). Seu historicismo foi mantido cmequilíbrio pelo forte sen & todo aquele que deseje ser coerente com adistinção entre os dois tipos
timento pessoaldefinitude dos conceitos científicos, emcomparação de racionalidade precisa compreender que umjltograu de desenvolvi- ^ 'QVW \/U/V^
5 ^çom a "corrente infinitamente multiforme" (Weber. 1968. p. 92) da mento técnicoxecoriômico_riQdíçpjnisp^ridjr^^paixodesenvolvi- ^
realidade. mento ético. Vale a pena salientar esse ponto, porque há autores de
O funcionalismo qualificado de Max Weber tem sido mal com orientação positivista que parecem admitir a validade da distinção,
<
preendido por alguns de seus intérpretes, e mesmo pelos que se auto- sem se aperceberem, aparentemente, das conseqüências éticas dessa
proclamam seus seguidores. Um caso a assinalar é Talcott Parsons. cuja distinção.
( obra, ao que parece, sofreu a influência de Max Weber. Parsons mostra Adistinção que Mannheim faz não sugere que aracionalidade
pouca ou nenhuma ambigüidade moral em relação à racionalidade funcional deva ser abolida do domínio social. Estipula, antes, que uma
( imanente ao sistema de mercado. À luz de seu modelo dogmático de ordem social verdadeira e sadia não pode ser obtida quando o homem
( análise estrutural e funcional, do qual extrai sua noção de "variáveis- médio perde a força psicológica que lhe permite suportar a tensão
padrão" e "universais-evolutivos"! os requisitos específicos da socie entre aracionalidade funcional e a substancial e por completo se rende
c dade capitalista avançada tornam-se padrões dogmáticos para a ciência «fcP1 às exigências da primeira. Tal situação éagravada quando aqueles que
c social comparativa, e mesmo para a própria história. \^~ estudam oprocesso formativo de decisões descuram da tensão existente
c entre as duas racionalidades. Através da abordagem do processo for
1.3 A visão limitada de racionalidade de Karl Mannheim mativo de decisões de um ponto de vista puramente técnico e pragmá
o tico, aceitam a racionalidadejuncional comoo padrão fundamental
Éóbvio que Karl Mannheim se apoia em Max Weber para estabe da vida humana.
o lecer uma distinção entre racionalidade substanciai ejuncional. Define
racionalidade substancial como "um ato de pensamento que revela
Aparentemente, aanálise empreendida por Karl Mannheim ado
o
percepções inteligentes das inter-relações de acontecimentos, numa
tou uma posição confrontativa, no sentido de que reflete aânsia liber
o situação determinada" (Mannheim. 1940, p. 53) e sugere que atos
tária do autor para encontrar meios de modificar o estado atual das
dessa natureza tomam possível uma vida pessoal orientada por "julga
sociedades industriais. Na realidade, ele não tirou, inteiramente, as
o
mentos independentes" (Mannheim, 1940. p. 58). Essa racionalidade
conseqüências da distinção que fez. Seu ecletismo relacionahsta, pelo
o constitui a base da vida humana ética, responsável. A racionalidade
qual pretendeu integrar todas as principais correntes da ciência social
funcional diz respeito a qualquer conduta, acontecimento ou objeto,
contemporânea, acabou por deixá-lo desnorteado. Nem apreocupação
o na medida em que este é reconhecido como sendo apenas um meio de
de Mannheim com a liberdade humana o salvou da perplexidade inte
o atingir uma determinada meta. A influência ilimitada da racionalidade
lectual O esforço classificatório que desenvolveu, na avaliação e
funcional sobre a vida humana solapa suas qualificações éticas. comentário de descobertas feitas no campo da ciência social conven
ü Tal distinção, portanto, é estabelecida para propósitos éticos e,
cional nunca lhe permitiu, realmente, chegar aum conjunto coerente
na verdade, Mannheim sublinha o fato de que a racionalidade funcio de diretrizes teóricas. Por exemplo, nolivro Man and society inan age
o ofreconstruetion, são apresentadas uma análise aguda e observações
nal "tende a despojar o indivíduo médio" (Mannheim. 1940, p. 58)de
o sua capacidade de sadio julgamento. Ele vê um declínio das faculdades
precisas, mas no fim de contas ele não conseguiu desenvolver um
conceito de ciência social em consonância com sua noção de raciona
( 1 Veja Parsons, Talcott (1962 1964). lidade substancial.
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14 Ateoria critica da Escola de Frankfurt mer 1947 P 97)3 Na perspectiva do Iluminismo, omundo 6escrito
Tfólíaímatlmática: ePo desconhecido perde seu »-cen * >
significado clássico, tomando-se alguma coisa relativa as capacidades
de cálculo disponíveis. Assim, Horkheimer e Adorno escrevem. I
Aracionalidade tem sido uma das preocupações centrais da cha
mada Escola de Frankfurt.2 Seus principais representantes, essencial »
mente, afirmam que, na sociedade moderna, a racionalidade se trans "A redução do pensamento a um aparelho matemático esconde a
formou num instrumento disfarçado de perpetuação da repressão I
sanção do mundo como seu próprio instrumento de mensuraçao. O
social, em vez de ser sinônimo de razão verdadeira. Esses autores pre- \
tendem restabelecer o papel da razão como uma categoria ética e,
que parece ser otriunfo da ... racionalidade, asujeição da realidade >
toda ao formalismo lógico, é pago pela obediente submissão da razão
portanto, como elemento de referência para uma teoria critica da ao que é dado duetamente.^iejjib^^
sociedade. Recusam, ao que parece, o pressuposto de Marx de que a ção e aborda^enula_coim<xin^^
racionalidade é inerente à história, e que o processo da sociedade mo
derna, através da crítica dialética de si mesma, conduzirá à Idade da
-g~Hg^^ni^ yenha odia ..." ffloridietaet eAdorno. >

razão. Salientam que Marx não percebeu que, na sociedade moderna, -T9TZTpT!£7)7~ I
as forças produtoras haviam conquistado seu próprio impulso institu I
cional independente, assim subordinando toda avida humana a metas Apesar das proclamações "dialéticas" de Karl Marx, que preten
que nada têma ver com a emancipação humana. deu ter despojado o racionalismo do século XVIII de seus traços meca- >
O questionamento a que Horkheimer e Adorno submetem o nicistas seu conceito de razão está profundamente enraizado na tradi I
conceito dejazão de Marx é uma conseqüência lógica de sua análise da ção do'iluminismo, na medida em que ele acreditava que o processo
tradiçãoÇüurrn^ista) Encaram eles o Iluminismo como o momento em Ãm • ' • histórico das forças de produção é racional em si mesmo e,portanto, I
( que o conhecimento daj^zãojoijeparado de sua herança clássjca^De emancipatório. Isso é uma üusão, afirma a Escola de Frankfurt, e
acordo comBõfRRêímer, há uma teoria de razão objetiva^oriunda de Habermas, em especial, ocupa-se sistematicamente dessa questão. I
b Platão e Aristóteles e passando através dos êscolásticos e mesmo atra A"liquidação" da razão "como um fator de compreensão ética,
o moral e religiosa" (Horkheimer, 1947, p. 18) não teria sido consuma I
vés do Idealismo alemão (Horkheimer, 1947, p. 41), que enfatiza os
fins de preferência aos meios e as implicações éticas davida de razão da no decurso dos últimos séculos, sem a concomitante desnaturaçao
I
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o
para a existênciahumana. Essateoria
da linguagem filosófica e da linguagem usada nos negócios humanos \s
o comuns. Divorciando palavras e conceitos de seu respectivo conteúdo I
ísK*
e »
o
"... não focaliza a coordenação de comportamento e propósito, mas
conceitos - não importa o quanto nos pareçam hoje mitológicos
"G"^meTe,eoCThoVrnem tornou-se menos dependente de padrões absolutos de
conduta, de idéias vinculadoras em termos universais. Considera-se tao completa yJ^- I
o - sobre a idéia do bem maior, sobre o problema do destino humano mente livre que não precisa de nenhum padrão, exceto oseu propno. No entan
e sobre a maneira de serem atingidos os objetivos últimos"(Horkhei to paradoxalmente, esse aumento de independência conduziu a um aumento pa >
o mer, 1946, p. 5).
ralelo de passividade. Sagazes como se tornaram as estimativas individuais no
que se refere aos meios ao alcance do homem, aescolha que ele fez de seus fins, I
o que anteriormente se correlacionavam à crença numa verdade objetiva, passou a
ser desprovida de argúcia: o indivíduo, expurgado de todos os resquícios de mi
o Horkheimer considera implícitos nesse entendimento da razão os pre tologias, incluindo a mitologia da razão objetiva, reage automaticamente, de I
ceitos de ordenação da vida do homem. acordo com os padrões gerais de adaptação. Forças econômicas esooaisjomam^
o o caráter dos CeWLttndgM naturais oue o homem, para_a_HejejyjCjg_dj.sj_mes^ I
No entanto, o Iluminismo transforma pensamento em matemá -mc-TjTRísTaorninãr, ajustando-se a elas. Como resultado final do processo, te-
o tica, qualidades ernfunçoes, conceitos em fórmulas, e a verdade em i'sVGfr mòhle-TiTinaTlcrrpèssoa, oegó abstrato despojado de toda asubstancia, exceto I
freqüências estatísticas de médias. Em outras palavfasy-com o Ilumi de sua tentativa de transformar tudo que existe no céu e na terra em meios de
o nismo, "o pensamento se transforma em merátautologiay (Horkhei- autopreservação e, de outro lado, uma natureza vazia, degradada acondição de I
mero material, mera matéria-prima a ser dominada, sem outro propósito que o
( da sua pura dominação pelo ser humano" (Horkheimer, 1947, p.97). I
2 Sobrea históriada Escolade Frankfurt, vejaJay, M. (1973).
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4P^~
1 Arestauração do conceito de um interesse racional, que embora
intrínseco, oJhjminjsjTiode*^^ £> LrifSI nolensamento político grego, passou aser tema central dos
"A lineuaeem foi reduzida a mais um instrumento no gigantesco apa h£E7 que uma sociedade racional iria resultar, necessanamente,
v relho de produção, na sociedade moderna. Toda sentença que não
i eqüivale auma operação parece ao leigo tão desprovida de significado
( quanto é assim considerada pelos semânticos contemporâneos, que da racionalidade instrumental sobre as sociedades modernas.
(': entendem que aquilo que é puramente simbólico e operacional, quer 4 ^padronização da comunicação como ponto central de uma teona
dizer, a sentença puramente sem sentido, faz sentido ... Na medida em soc^l integrativa crítica. Inclina-se ele por uma espécie de crítica
í que às palavras não são usadas com opropósito evidente de calcular
tecnicamente probabilidades importantes, ou para outros objetivos "te^femi)mergulha na corrente principal do Idealismo alemão
( práticos, entre os quais se inclui orelaxamento, correm elas orisco de oara exanunaTa racionalidade de unuponto de vista enrico. Sal en£
< se tornarem suspeitas ... porque averdade não constitui um fim em si Cna fiCfia transcendental de@)"já aparece oconceito de um
mesma" (Horkheimer, 1947, p. 22). Jtere seTrazão" (Habermas, 196Kp. 198). Arazão pura na obra
( *btf tem ointeresse prático de vir aencarnar-se na vida soe«d.
Horkheimer vê o processo^e_d_esnaturação da linguagem como Araíofoi concebida por Kant como sendo dotada de causalidade e,
<
um resultado daj»õlunaa socTalíz^ãg^oJndnaduQ no sistema_indus- de ^a namreza, podei induzir anoção de um bem aser procurado
( -tiiãrmoa^fnóTEm algumas páginas de Eclipse da razão, antecipa ele o no TomTnio da 'vida pessoal, tanto quanto no ^ vida social An*ao
essencial daquilo que Riesmann e seus associados teriam a dizer em nreceitua um dever exclusivamente aos seres racionai? disse Kant,
(
77i<? Lonely crowd.* Horkheimer descreve o homem moderno como . ••' re^pen^eritõWs^tiirõ tema inteiro de sua Critica da razão
( um "ego contraído, prisioneiro de um presente efêmero, esquecendo- pZa?Contém, acredita Habermas, os rudimentos de uma teona
se de usar as funções intelectuais pelas quais foi capaz, um dia, de critica da sociedade. Além disso, Kant éaraiz do pensamento soc.oló-
t
transcender sua efetiva posição na realidade" (Horkheimer, 1947, Jco Semio, de uma forma ou de outra. Habermas apo.a-se na herança
O p. 22)._OJndjyiduojnoderno perdeu acapacidade de usar_a linguagem Ltiana La desenvolver uma teoria social consonante com o«grüfl-
pa^ajransmiE de exprimir «doesquecido de racionalidade. Em um de seus resumos do pensa-
propósitos. Em conseqüência, recusa-se Horkheimer a aceitar o usual mento dTKant diz ele que "na razão existe um imputo intiinseco^
( "comportamento das pessoas" (Horkheimer, 1947, p. 47), na sociedade
moderna, como base para decidir o significado de racionalidade. Sem Í^^^o^^^^^sse prático, que se devena tomar efet-
O dissimular sua indignação moral diante da modernização, ele termina y:^ '«soledade de seres racionais. Oproblema consiste em como
e olivro Eclipse da razão com aseguinte afirmativa: "A denúncia daqui- ^ omTprática arazão pura, no mundo social, eas respostas aessa per
Io que é hoje chamado de razão é o maior serviço que a razão pode gunta têm variado. Hegel eMarx acreditavam que arazão punl* har-
o prestar"(Horkheimer, 1947, p. 187). monizaria com a razão prática da vida de cada dia, numa Idade da
o SH- entendiam como aconseqüência necessária da evolução
—A noção de racionalidade é igualmente soberana nos trabalhos tótóricrHabermas questiona fundamentalmente tal entendimento
o de (ííabêrmaà Seu interesse primordial é a construção de uma teoria Depois de enfatizar oconceito de um interesse da razão, na obra
o críticaUíTsociedade, comoinstrumento para estabelecer o primado da de Kant^abermas observa, contudo, que Fichte deu gestão um
o
conduta racional na vida social. Ao contrário de Weber, Habermas não tratamento que se ajusta, particularmente, au™ teo™|^^
Desenvolveu Fichte o"conceito do interesse emancipatono inerente a
suspende ospadrões éticos quando se volta para o tema daracionalida
o de nas sociedades modernas. No contexto deste capítulo, parece que o ^ío ativa" (Habermas, 1968, p. 198), que «"^«"^
boração de uma tipologia de interesses cogmtivos, como enterras
trabalho de Habermas se toma importante na medidaem que trata dos
u temas seguintes: oaía a diferenciação de várias jmhaWç^SíHiisa, no domínio da
o
SSci A25. de Fichte éespééiKirte Retira porque identi-
4 Veja Jay (1973, p. 262).
*> Apud Habermas (1968, p.200).
s Veja especialmente, Horkheimer (1947, p. 141-2). 11
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fica aracionalidade como oatributo essencial da consciência humana hunmaem^ral. Mesmo asubjetividade pnvada do ^^g
esdarecida isto é, de uma consciência liberada do dogmatismo que de
pn^on^aaSacionalidade instrumental. Odesenvolvim nto cap.ta
ç otário mfecciona todas as formasconhecidas de vida cotidiana. Esta impõe limites à livre e genuína comunicação entre os seres
í Anoção de interesse <íogrittvo)tiansforma-se num instrumento rx
hUmTPremissa de Marx provou ser insustentável, pelo simples fato
central oara adistinção entie^àriõTtipos de ciência. Habermas os dife de que, na "sociedade industrial de larga escala, apesquisa, aciência a
í> rencia de acordo com os interesses orientadores de suas pesquisas, a tecnologia eautilização industrial fundiram-se num sistema (Haber
V saber- a) "ciências (ciências naturais) cujo interesse cognitivo e o mas 1969 p 104), levando assim auma forma repressiva de estrutura
controle técnico sobre processos objetificados"; b) ciências cujo inte institucional, em que as normas de mútuo entendimento dos indivi-
p resse cognitivo é uma "preservação eexpansão da intersubjetividade duos estão absorvidas, num "sistema comportamental de ação racionai
í da possível compreensão mútua orientada para a ação"; c) ciências de propósito determinado" (Habermas, 1969, p. 106). Em outras pala
subordinadas ao interesse cognitivo emancipatório, isto é, que devem vras num ambiente desse tipo a diferença entre a racionalidade subs
ser consideradas como instrumentais na estimulação da capacidade tantiva e a pragmática toma-se irrelevante e chega a desaparecer. De
humana para a auto-reflexão e a autonomia ética (Habermas, 1968, fato, asociedade tecno-industrial legitima-se através da escamoteaçao
p. 309-10).
objetivadessa diferença.
IP O interesse orientador da pesquisa de uma teoria crítica da Idêntico a esta posição diante de Marx e o enfoque retormula-
( sociedade é a emancipaçjo_dojiomem. através do desenvolvimento de tivo que Habermas adota quanto aMax Weber. Ele explica oconceito
< suas potencialidades de^to^rellexlfr. No entanto, no modelo da ciên weberiano de racionalização como se segue:
cia social estabelecida, o controle técnico darealidade constitui o inte
( resse básico, como orientador da pesquisa. Isso eqüivale a dizer que a "A superioridade da forma capitalista de produção sobre as que a
( ciência social estabelecida tomou-se cientística. mediante a assimila precederam tem estas duas raízes: o estabelecimento de um mecanis-
ção do método das ciências naturais (a este respeito, há mais no capí mo econômico que torna permanente a expansão dos subsistemas de
c tulo seguinte). Além disso, transformou-se ela num meio de legitima ação racional de propósito determinado, e a criação de uma legitima
o ção do controle institucionalizado sobre omundo natural eaconduta ção econômica, através da qual osistema político pode ser adaptado
humana. A eficiência no controle da realidade_ toma-se o critério -ç aos novos requisitos de racionalidade trazidos à luz pelo desenvolvi
o comum de validade, tanto nas ciências naturaisTquanto nas sociais, e mento desses subsistemas. Ê esse processo de adaptação que Weber
o
Habermas preconiza uma ciência social conceituada em bases diferen entende como "racionalização" (Habermas, 1970, p. 97-8).
tes. Salienta que a"ciência do homem ... estende, de modo metódico,
o o conhecimento refletivo" e "reivindica ser um auto-reflexo do objeto Todavia, Habermas considera necessário desenvolver mais aaná
e
inteligente" e "da história da espécie" em si mesma (Habermas, 1968, lise da racionalidade, uma vez que as^dedad^jnjuitrial, em seu atual
p.61-3). estágio émuito diferente daquela que Weber conheceu. Weber podia
o Habermas vê-se como um continuador da teona marxista e voltar-se para o tema como um funcionalista, mas hoje a questão
admite a possibilidade de uma teoria social crítica incorporadora de acarreta impressionantes conotações éticas, que o esforço teónco de
o contribuição de Marx e liberada dos seus erros. Na realidade, ateoria Habermas realça consideravelmente.
o marxista é inspirada pelojnteresse emancipatório, partilhado pelo )^V Num comentário sobre Marcuse,. Habermas assinala que, na tase
conceito da teoria social critica de HabermasTnõ~entanto, é preciso fl^VI presente, "aquilo que Weber chamou de 'racionalização' realiza nao a
o que seja introduzida uma correção fundamental na opinião de Marx V racionalidade como tal. mas antes, em nome da racionalidade, uma
\^K^
o sobre racionalidade e liberdade. Marx presumia que a liberdade e a forma específica de associação política não reconhecida" (Habermas,
racionalidade seriam resultados inevitáveis do desenvolvimento das 1969 p 82) Mais ainda, tal "racionalização^e^ujyaje^
o forças de produção. Habermas observa que tal pressuposto não foi c^polpiético:, (Habermas, 1969, p. 83), no qual as normas de relações
o validado pela história e diz: "o crescimento das forças de produção fy. interpessoais na esfera privada eas regras sistemáticas de ação racionai
não significa o mesmo que a intenção da boa vida" (Habermas, 1969, de propósito determinado tomam-se idênticas, ou perdem sua diferen
o p. 119). Ofato é que, nas sociedades industriais,jjógica da racionali- p\ & ciação e, em conseqüência, conduzem a um estado de comunicação
o dade mstrumental, que amplia tr~CõnIrole da nãtiíreza, ou seja, o sistematicamente distorcida, entre os seres humanos.
desenvolvimento das forças produtora^ je_tornou a lógica da-vida-
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O fenômeno da comunicação distorcida tornou-se uma preo considerado excêntrico. Habermas salienta que "à ^J ™Pj£
cupação fundamental de Habermas. Propõe ele uma distinção entre a cia comunicativa não podemos, de maneira alguma, produzir asitua
acãoVacional com propósito, ou ação instrumental eaação de comu ção S de discurso independentemente das estaturas empincas do
nicação ou de interação simbólica. Aprimeira, subordinada aregras Lema social a que pertencemos; podemos apenas antecipar essa
técnicas^ pode ser demonstrada como sendo correta ou incorreta. A SaTfoTHabermas, 1970, p. 144). Asituação ideal de discurso não
segunda, isto é, ainteração simbólica, ou ação de comunicação, define si pod^matenS «não dentro de adequado contexto social.
fl relações interpessoais como sendo livres de compulsão externa etendo
suas normas legitimadas "apenas através da intersubjetividade da 7.5 Otrabalho de restauração de Eric Voegelin
mútua compreensão das intenções" (Habermas, 1969, p. 92). Uma
tese central de Habermas éade que, na moderna sociedade industrial, Do ponto de vista dos padrões contemporâneos da ciência polí
as antigas bases de interação simbólica foram solapadas pelos sistemas tica e sodal, aobra de Eric Voegelin parece heterodoxa, obscura e
de conduta de ação racional com propósito. Nessas sociedades, ainte mesmo^rturbadora. Em sua opinião, aciência política, na forma
ração simbólica só é possível em enclaves extremamente residuais ou Z acMiceberamiktão eAristóteles., nunca perdeu sua valide* Ele
marginais. STclTum £dfiT«hlHSenlutica, não como umxromste, d.
O que mantém uma sociedade em funcionamento como impor déias. Do ânguloTrrnçrà^ H J/rJ
tante ordem coesiva é a aceitação, pelos seus membros, dossímbolos <?(&* '^^rmpimiStmrn^vSr^^ emsua^que f - icY*
através dos quais ela faz sua própria interpretação. A interação simbó
lica é a essência da vida social significativa e. portanto, para usar uma iH ^^e^eriências dásdcaVnao-lh^s^õ^ê^apreTnder osignificado.
expressão de Kenneth Burke,7 a"simbolicidade" constitui um atribu
i,'-^
$£3%o do conteúdo desses textos que se reflete sobre avida
to essencial da ação humana. Significado, na vida humana e social, é humana, constitui mais do que um exemplo de ma informação éum
obtido através da prática da interação simbólica. Mas. na sociedade sintoma da deformação da psique humana e represente aquilo que
industrial, o significado foi subordinado ao imperativo do controle Voegelin denomina descarrilamento. Ele considera os últimos cinco
técnico da natureza e da acumulaçãode capital. séculos da história ocidental como um período de descarrdamento e
Uma conseqüência do domínio exercido pela racionalidade de deculturação da espécie humana, ao ponto de a exporem aum
instrumental sobre as sociedades modernasé que a comunicação siste processo de "sistemática corifujâíiJlaiazae"(Voegehn, 1961, p. 284).
maticamente distorcida prevalece entre aspessoas. Esse tipo de comu Pode-se^TaW^õTrHInwnte da razão como uma realidade inde
nicação toma-se normal, de outra maneira ficaria evidente o caráter pendente de nossa palavra. Qualquer tentativa de abordar arazão
repressivo das relações sociais. Habermas sublinha o efeito dos fatores como se ela fosse apenas um produto convencional da tamn refle
políticos e emriõrnteos sobre os padrões de comunicação, e o estudo te um estado deformado da psique. Arazão foi descoberta pelos filó
(To eãrater repressivo desses padrões, que prevalecem nas sociedades sofos místicos da Grécia, mas esse episódio histónco émais do que um
modemasTreqüer uma temia datioiiipetêrTClãcÕrnunicativa. E possível incidente bastante interessante para ser registrado na crônica das idém
admitir-se que "cada palavra dita, mesmo aquela de engano intencio antes, dá ele início aum período de formação da alma humana. Com
nal, oriente-se no sentido da idéia de verdade". Se é assim, quais são essa descoberta, a alma do homem teve acesso aum nível de auto-
os padrões adequados a semelhante linguagem? Essa especulação 9 compieensâo no qual rompeu os limites da visão compacta da realida
conduz aoconceito da"situação ideal de discurso" e àidéia do orador de articulada no mito. Na verdade, oevento não mudou aestrutura da
competente. De fato, a "competência na comunicação significa o alma humana: representa, antes, um momento cubmnante, ein que a
domínio de uma situaçãojdeal de discurso".» Nas situações em que os consciência do homem quanto àprópria alma ganha em luminosidade
"'relacionamentos intersubjetivos são concretizados em razão do choque e diferenciação. „ .. ,, „ ,M#„
de compulsões sociais agindo sobre eles, é muito difícil conseguir-se Comparadas com a interpretação que Voegelin dá aos textos
competência comunicativa. Num tal ambiente, o orador competente clássicos, as afirmações de Weber e de Mannheim sobre arazão trans
expõe-se a malentendidos, para nãomencionar também que pode ser mitem tênues indícios quanto àsua natureza e em consequenaa, os
trabalhos desses autores exemplificam uma contida avaliação da socie
7 Veja Burke. K.Í1W3/1964). dade moderna. Sem uma inflexível fidelidade àrazão, como aexpli
8 Veja Habermas (1970. p. 116-46).
cam Platão e Aristóteles, Voegelin mostra que não há possibdidade de
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Voegelin atribui grande valor àopinião déJThomas Reid^ne que bilidade e a experiência substituem a verdade como o critério de
nosenso comum já existe um certo grau deracionalidade. Afirma ele linguagem dominante, há pouca, se é que há alguma, oportunidade
qUe "o sgnso comum constitui um tipo compacto de raçjQnaJjdade'1? para apersuasão das pessoas através do debate racional. Aracionalida
e qué^portanto, são possíveis transações sociais baseadas numa per de desaparece, num mundo em que o cálculo utilitário de conseqüên
cepção não distorcida da realidade. Se a razão é uma partff d" Mtah cias passa ajgraúnica referência para_as_ações humanas. (^^ {Ijj^JWfA,
tura da existência humana, então o entendimento e a conversação
"e7iTfe~õThoTTlSns sao possíveis na base de sua participação comum na 1.6 Algunscomentários críticos
realidade. Contudo, o debate verdadeiro e racional está-se tomando
uma possibilidade muito pouco provável de efetivar-se nas sociedades Todos esses estudiosos parecem concordar em que, nasociedade
modernas. Nessas sociedades, a psique do indivíduo médio foi assimi moderna, a racionalidade se transformou numa categoria sociomórfica,
lada no modelo de uma personalidade fechada, inteiramente incluída ÍH-v 1 isto é, é interpretada como um atributo_do^processos históricos e
em limites mundanos. Hoje em dia, as capacidades humanas de debate
am limttap miinrlinnc Hr^i*» orr* Aífk OC f**ir»a/*tf4af1ac numonoc ria Hí»Knt.-«
sociais, e não como força ativa na^sjquèTvulnanà) Todos eles reconhe-
racional estão danificadas pelos__padrões de linguagem predominantes i)U. J 'J Jrs cem que o conceito de racionalidade^ determinativo da abordagem
e juntamente pela assimilação do homem no contexto da estrutura ^ dos assuntos pertinentes ao desenho social. No entanto, todos eles são
social existente, em que a racionalidade instrumeníal se transformou menos do que suficientemente sistemáticos na apresentação de suas
em racionalidade_enLgeiaJ. Nas sociedades modernas, o debate racio opiniões sobre tais assuntos. Em sua crítica da razão moderna, tomam
nal só é possível em muito poucos e restritos enclaves. Mesmo os diversas posições: resignação (Max Weber), "relacionalismo" (Man
nheim), indignação moral (Horkheimer). crítica integrativa (Haber
l chamados meios intelectuais são, em geral, incapazes de manter uma
conversação racional. Voegelin afirma que o declínio do debate
racional é fenômeno recente na história ocidental, e vê no passado um
mas) e restauração(Voegelin).
Uma vez que foi anteriormente apresentada uma avaliação de
i "período em que o universo da discussão racional ainda estava intacto, Max Weber e de Karl Mannheim, cabe agora fazer um rápido julga-
porquejjjnimeira realidade da existência permanecia não questionada" memo da Escola de Frankfurt e de Voegelin.
c
(Voegelin, 1967, p. 144). Há mérito tanto nos trabalhos de Horkheimer, quanto nos de
'C É significativo que ao tempo de Santo Tomás de Aquino o Habermas, na medida em que se esforçam por demonstrar o erro
"debate racional com o oponente ainda fosse possível" (Voegelin, básico do ponto de vista de Marx sobre a razão como um atributo do
o processo histórico. Ambos questionariam o pressuposto de que o
1967, p. 144). Com base nessa presunção, Santo Tomás acreditava-se
o capaz de convencer pagãos, e especialmente muçulmanos, da validez a^dobramentõdás forças produtoras, por si só, conduziria ao advento
da verdade cristã, apenas com argumentos racionais. Assim é que, na de uma sociedade racional. Horkheimer parecedemonstrar que, desde
o SulnnwVontrã~GentiIes?Santo Tomás afirma: , o momento em que arazão é deslocada da-psique humana^onde deve
e estar, e é transformada num atributo da sociedade, fica perdida a
"... contra os judeus, podemos argumentar usando o Velho Testa possibilidade da ciência social. Habermas enfatiza a circunstância de
o que, nas sociedades industriais avançadas, as próprias forças produto
mento, enquanto contra os hereges podemos argumentar usando o
o Novo Testamento. Mas os muçulmanos e os pagãos não aceitam nem ras, em última análise, são compulsões políticas modeladoras de toda a
um, nem o outro. Temos, portanto, que recorrer à razão natural, com vida humana. Para superar tal condição, sugere eleoue seabraespaço
o para a política e o debate racional, em sua função de orientadores do
a qual todos os homens são forçados3 concordar."10
o processo social. Esses pontos constituem traços positivos das análises
É possível que hoje tenhamos dificuldade em compreender de Horkheimer e de Habermas.
o Santo Tomás. Não apenas a razão, mas igualmente palavras-chaves Por outro lado, a obra de Horkheimer não é muito mais do que
o sofreram a obliteração de sentido salientada nesta análise. A própria uma acusação da sociedade moderna que, conquanto iluminadora,
linguagem foi capturada por padrões operacionais de eficiência, fato deixa de dizer como * em que direção caminhar, para que se encon
o trem alternativas para os males atuais, teóricos e sociais. Parece que
que influi sobre todo o domínio da existência humana. Quando a via-
Habermas se preocupa com tais alternativas, mas apresenta-as em
o 9 Apud Sandoz, Ellis (1971, p. 59). termos incipientes, ecléticos e bastante spciqnlSrfícojC1 RearmerTteTã
( 1° Apud Voegelin (1967, p. 151). noção dos "interesses do conhecimento", por ele exposta (que é me- 1^

V 19
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«„,i do aue parece, quando se lê cuidadosamente Platão e não estí expücada nesses ^*%^«£fi£Z£
ÂristS aímTomo KantXpode servir para identificar aíndole
? ° n£« do cientismo. Contudo, mesmo essa noção nao está
"ente £nHe Sentismo, na medida em que, para Habermas,
ífflSS é absorvida nos tipos tríplices de ciência que propõe. sluTicativo~o trabalho SSSÉSÊPffSÊ^g^lí
Aquilo que chama de "intersubjetividade" ede "mutua compreensão WÊ^Ú&fin&7awZ&& clássica," enele Voegelin ü>
Xiona-se com esferas da realidade que escapam, necessanamente, SS£ explora eampüa insights eidentifica alguns traços da
ao alcance de uma abordagem meramente cientifica.
Sua "teoria crítica", entendida como uma integração daquilo
aue considera válidos insights encontrados nos trabalhos de Kant, to de vista da experiência clássica eprecisamente "esse sentido ^nao
Heeel Fichte Marx eFreud, parece demasiado eclética, eapresenta-se no sentido de Erik Erikson, representa um estudo em P^o-histona.
ainda'impregnada de erros de natureza sociomórfica. Aparentemente, Pelo fato de que Voegelin parece impor as, mesmo opape de
c Habermas aceita opressuposto, comum aFichte, Hegel eMarx de que intérprete de textos ede analista de idéias eacontecimentos oconteú
aemancipação humana pode acontecer como um evento social coleti do pTescritivo de seu trabalho é, na realidade, muito amplo. Mesmo
Ü vo e para criar apossibilidade de tal evento vai ao ponto de propor a ÍuPdscurso sobre a"nova ciência da política" ««tespr^do de
organização de processos de esclarecimento" (Habermas, 1973, p. 32) preocupações pragmáticas imediatas. Tem apoio na «terpreteçao en.
e ressuscita a idéia marxista de uma escla^eddaprátjc^de_massa. Há. Lpansão de insights clássicos eno julgamento critico da^f^
assim um soBéTonnõaõmôffU» IW piôjêto de Habermas, de "uma tória intelectual e política do Ocidente. Parece, porém, dificd de acei
teoria destinada ao esclarecimento" (Habermas, 1973, p. 37), que pro £r noção de que' ciência política pode ser exclusivamente ormula-
mete o esclarecimento existencial como uma qualidade coletiva do da apenas em termos assim amplos. Afinal de contas Platão eAnsto-
comportamento da massa, quando oesclarecimento tem sido sempre teles fontes básicas da busca empreendida por Voegelin, mcluuamno
possível apenas ao nível da psique individual. Não épor acidente que campo da ciência política aspectos da vida cotidiana, que escapam
0 ele vê a doutrina de Freud como um elemento subsidiário dessa "teo completamente àsua atenção. Nos textos daqueles autores,os crité
Io ria delineada para oesclarecimento". Isso representa uma indicação de rios de ação para aarticulação eoaperfeiçoamento das formas de go
que Habermas apoia um tipo de psicologia motivacional que exclui o verno existentes são oferecidos de forma tal que mesmo hoje, com ba
D papel da razão na psique humana, eessas falhas em seu esforço teórico se em seus ensinamentos, seria possível deduzir como se conduziriam
P são até certo ponto curiosas, senão desconcertantes, porque ele parece para encontrar os meios institucionais de superar os problema do go
ter adequada compreensão da teoria política clássica (Habermas, vernos contemporâneos. Contudo, as assertivas de Voege nsobre ven
t) 1973,p. 41-81). cia política deixam oleitor muito bem esclarecido sobre seus funda
u mentos clássicos; não oferecem nenhuma pista para um tratamento
O Embora todos os autores até aquianalisados mereçam ser consi
derados críticos da razão moderna, somente Eric Voegelin sustenta operacional de problemas da sociedade contemporânea^
ò que arazão moderna exprime uma experiência deformada da realida Além disso, aanálise voegeliana da ciência moderna carece de
o de Conseqüentemente, considera ele sem propósito tentar apenas a suficiente qualificação. Por exemplo, nem todas as investigações cien
conciliação ou a integração de idéias e doutrinas fundamentais na ra tíficas de hoje são "cientísticas", isto é, despercebidas do campoparti
o zão moderna. A questão está em que tais idéias e doutrinas tornam cular limitado aque pertence aciência natural. Parece que otipo de
obscuros os pólos da tensão existencial humana, expressando uma ten ciência contido nas investigações de A. N. Wh.tehead ,Werner Heisen-
0 berg Arthur Eddington, Michael Polanyi eoutros esta extremamente
tativa emesmo um sonho de encontrar, no contexto dahistória, da so
0 ciedade ou da natureza, a solução da tensão (metaxy) constitutiva da Sonizado com í razão no sentido clássico, como será explicado no
o condição humana. Uma vez que ajazão implica a consciênçiajiessa, capítulo 2 etalvez mesmo exemplifique um novo grau d^diferencia
tensão, razão, no sentidgjDodemo, ê um termo errôneo. - ção da consciência da realidade, que ocorre atualmente. Com justiça
o Tíum sentido rwculiar, Voegelin é um psico-historiador. Afirma íjeverá ser dito que, em conversações econferências ocasionais, Voege
que os textos clássicos não são relíquias, a serem apreciadas de um lin demonstrou ter consciência desse fato.
o ponto de vista evolucionário; antes, considera os conhecimentos arti
culados nesses textos como perenemente válidos. Acondição humana I» Veja Voegelin (1974).
21
< 20
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g£5?yg«iWMWHJ^^^ 5ggCT5WggagglPlBJ!í^^ v"'
autodefinição das. sociedades industriais avançadas do Oc
I. Deve ser enfatizado, também, o desprezo de Voegelin pela defi portadoras da razão está sendo diariamente solapada eé
nição sistemática do significado de alguns termos básicos de seu voca tão laigamente desacreditada que se fica aimaginar se a
bulário, tais como descarrilamento, kinesis, gnosticismo, texto, teoria, tais sociedades, exclusivamente àbase da racionalidade
orientação e psicologia motivacional, compacidade e diferenciação. tinuará, dentro em pouco, encontrando neste mune"
Até aqui, termos como estes estão insuficientemente elaborados nos nela. Esse clima de perplexidade pode viabilizar un^.
escritos de Voegelin. teórica de enorme magnitude.
Finalmente, os pontos de vista de Voegelin quanto àciência po A presente crítica da razão modernaji§D_é_empjeeiidida çou^
lítica precisam de maior clarificação do que as que ele em geral se um exercício acadêmico sem^nseqüfençial Seu propósito épreparar
preocupa em oferecer, uma vez que, da maneira como até aqui está ar ocaminho parTõ desenvolvimento de uma nova. ciência das organiza
ticulada a matéria, algumas vezes aparece prejudicada por um caráter ções Àrazão éoconceito básico de qualquer ciência da sociedade e
excessivamente restaurador. Nenhum retomo a qualquer forma histó das organizações. Ela prescreve como os seres, humanos deveriam
rica de vida humana pode estar contido na idéia de uma restauração ordenar sua vida pessoal esocial. No decurso dos últimos 300 anos a
verdadeiramente criadora dos ensinamentos clássicos. Tal restauração • racionalidade funcional tem escorado o esforço das populações do
cpimac em tranfifAnmr ™ pensadores clássicos, através da apropria- Ocidente central para dominar anatureza, eaumentar aprópria capa
?ãõ dãq"!1'» q"p puderam compreender, em parceiros atives dos estíi- cidade de produção. Écerto que essa é uma grande realização. Mas
ftiívtns cnntémporãneos. emmia hHHf81 Hp "™haeimpnif, A restauração agora há indícios de que semelhante sucesso está aponto de se trans
daherança conceptual clássica, nesse caso, visa apenas superar o esque formar numa vitória de Pirro. Apercepção dessa situação está abnndo
cimento dela. Os pensadores clássicos não devem ser considerados au novos caminhosde buscaintelectual.
toridades canõnicas infalíveis. Afinal de contas, não se tem muito a A teoria corrente da organização dá um cunho normativo geral
aprender do Aristóteles que justificava a escravidão, mas do Aristóte ao desenho implícito na racionalidade funcional. Admitindo como
les compatível com adefinição doser humano como o zoon politikon. legítima ailimitada intrusão do sistema de mercado na vida humana, a
teoria de organização atual é, portanto, teoricamente incapaz de ofere
1.7 Conclusão
cer diretrizes para acriação de espaços sociais em que os indivíduos
possam participai de relações interpessoais verdadeiramente autograti-
Deve ser dito que, a fim de salvar o quenamoderna ciência so ficantes. A racionalidade substantiva sustentaj3u.fi o. lugar gdgquadoj^
cial é correto, é necessário compreender o caráter precário de seus razão érpa^jS^ Nessa ronfornüdade, apsique humana deve
principais pressupostos, a saber, «pie n ser humano não é senão uma --, ^érc5nriderada"o^ontode referência para aordenajãojda^asgsial,
criatura capaz do cálculo utilitário de conseqüências e o mercado o tanto quanto para aconceitiiação djdêndasocialemg^raida qual o
modelo de acordo com o qual sua vida associadadeveria organizar^ estudo sistemático da on^izaj^^nTtmn QomirnTparticular. 0
Na verdade, a ciência social moderna foi articulada com o propósito papel da racionalidade substantiva na estruturação da vida humana
de liberar o mercado das peias que, através da história da humanidade associada é o assunto do capítulo seguinte.
e atéo advento darevolução comercial e industrial, o mantiveram den
tro de limites definidos. 0 que agora debilita avalidade teórica da mo
derna cjgBcja wrial è. yia f^nr^i!HBipreéns>[o sistemáticada natureza- BIBLIOGRAFIA
^específica de sua missão. Por mais de dois séculos, o restrito alcance Burke, K. Definition ofman. Hudson Review, Winter, 1963/1964.
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dício à exaustão dos limitados recursos do planeta, e assim por diante,
C^—. Vteory and practice. Boston, Massachusetts, Beacon Press,
mal disfarçam o caráter enganador das sociedades contemporâneas. A 1973*
23
22

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Jay, Martin. 77ie Dialectical imagination, a history of the Frankfurt nalidade funcional e a substantiva, ambas constituem, não obstante,
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Parsons, Talcott & Shills, E.A., ed. Toward a general theory ofaction. Poder-se-á afirmar que quando Max Weber decidiu caracterizar a
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o ty of Chicago Fress, 1952. inteiramente comprometido com uma tarefa peculiar a uma determi
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porIa Libertad, 1960. Suplemento do n9 40. lidade formal) eWertrationalitat (racionalidade substantiva) sugeriaeje
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o technology and human destiny. Ann Arbor, Michigan, University of biográfico ehistórico da escolha de Weber pudesse constituir interes
o Chicago Press, 1963. sante e importante matéria para investigação, isso estana além do pro
. On debate and existence. 77ie Intercollegiate Reviewer, Mar./ pósito deste capítulo. Não obstante, ofereço àespeculação aidéia de
o Apr. 1967. que uma teoria substantiva poderia ser formulada com base naquilo
. Reason: the elassie experience. The Southern Review, Spring, que Weber não disse, mas que provavelmente diria se tivesse vivido
1974. nas presentes circunstâncias históricas.
Weber, Max. Economy and society. New York, Bedminster Press, Argumenta MaxWeber que, Mnbora açigncjajQCial seja neutiA.
1968. v.l. do ponto devista dciM os valores adotados por uma sociedade são,
-. Methodology of social sciences. New York, The Free Press, eTéTpropnõs, critériõsindicadores daqueles pontos que são importan-
1969.
25
24

Wfí^^^WWF!i^TW^^
t« «ara aquela forma particular de vida humana associada, durante principal categoria de análise. Na medida em que arazão substantiva é
«rto wríodo histórico. Admitiria ele, então, que quando as premissas entendida como uma categoria ordenativa, a teoria substantiva passa a
Se valor de um certo tipo de vida associada se transformam, elas pró- ser uma teoria normativa de tipo específico. Na medida em que a
orias em fatores de um mal coletivo, ocientista social não pode. legi razão funcional é apenas uma definição, ou uma elaboração lógica, a
timamente desprezar tais premissas como estranhas àsua disciplina. teoria formal é umateoria nominalista de tipo específico. Os concei
Ao contrário, do ponto de vista de Weber. o cientista social deve tos da teoria substantiva são conhecimentos derivados doe no proces
focalizar esses valores, embora apenas para mostrar as conseqüências so de realidade, enquanto os conceitos da teoria formal são apenas
praticas que acarretam, ncientista social, como tal não deveria emitir instrumentos convencionais dé linguagem, que descrevem procedimen- ,
julgamentos de valor, imm_w» q"» va!™efi *** subjetivos^- ou têm tos operacionais. A pergunta: Que é a racionalidade? que requer aten
ção direta no domínio da teoria substantiva, não tem papel a desem
~~ãjicêrces demoníacos. penhar no domínio da teoria formal. Aqui a pergunta é, de preferên
A posição de Weber não deixa de ser contraditória. Se os valores cia: Que é quechamaremos deracionalidade? A pergunta seria respon
são simplesmente demoníacos e não têm fundamentos objetivos, dida, no último caso, por uma afirmação emqueuma combinação de
então a análise das conseqüências de sua adoção pelos indivíduos não palavras1 constitui, essencialmente, a referência para os objetivos da
é mais do que um fútil exercício de abstração. Tal análise só teria
sentido se fosse empreendida na esperança de que o indivíduo pudesse análise.
I Segundo, uma teoria substantiva da vida humana associada é
ser persuadido a fazer um julgamento de valor objetivo, racional. 'algo que existe há muito tempo e seus elementos sistemáticos podem
Essa contradição na posição de Webeí_Kflejeje_ejnsuaobrae em sua ' ser encontrados nos trabalhos dos pensadores de todos ostempos, pas
vida. Pretendeu ele ter estudado,[sinejra^acjtud^i^^ome^ds sados e presentes, harmonizados ao significado que o senso comum
racionalidade formal, mas apesar disso manitesfóúseu pesar ante a atribui á razãOj^rrn^qranenhum deles tenha jamais empregado a
culminação de tal síndrome - um mundo de "especialistas sem espí expressão razão substantivada* verdade, é graças às peculiaridades da
rito, desensualistas sem coração" (Weber, 1958, p. 182). época moderna, através das quais oconceito de razão foi escamoteado
Max Weber viveu num contexto histórico em que a racionalida
de formal, ou funcional, substituía amplamente a racionalidade subs pelos funcionalistas de várias convicções, que temos presentemente
tantiva, como o principal critério para aordenação dos negócios polí
que qualificar o conceito como substantivo. Uma descoberta funda
mental, resultante da herança de ensinamentos dos pensadores clássi
ticos e sociais. Tomou como certa essa substituição e recusou-se a cos, é ade que é o debate racional, nosentido substantivo, que consti
erigir aciência social sobre anoção da racionalidade substantiva. Hoje, tuiaessência da forma política de vida, e também o requisito essencial
porém, é mais difícil do que nos tempos de Hobbes ede Weber pôr de para o suporte de qualquer bem regulada vida humana associada, em
lado a viabilidade de uma teoria substantiva da associação humana,
porque agora é evidente que orelativismo no tocante avalores condu seu conjunto.
JO A propósito, aquilo que o campo da economia e, mais especifi
ziu a vida associada a um becosem saída, intelectual e espiritual. Em
conseqüência, aquestão de que tratará este capítulo consiste em saber \J t camente, o campo da antropologia econômica referem presentemente
se a razão substantivadeveria ser a categoria essencial para a cogitação
como sendo teoria substantiva,3 é apenas subsidiário aestaanálise. O
dos assuntos políticos e sociais e,sendo esse o caso, que tipo de teoria atual debate entre economistas que professam de um lado a teoria
iria corresponder a essa ordem de pensamento. Constituirá propósito formal, de outro ateoria substantiva, diz respeito ànatureza do Jenç^
dos capítulos subseqüentes a discussão das estruturas sociais emergen menrxeconõmico, ao mercado e a suas implicações teóricas.(jíarl_
tes e das implicações de política que daí resultam. /^olairíí) fundador da teoria^egonôniica substantiva, assinala que oT
Há três qualificações gerais, que realçam as distinções entre a Sõiiíêilos formais, extrãíHÕTda dinâmica específica do mercado, na
teoria substantivae a teoria formal da vida humanaassociada. melhor das hipóteses são válidos como instrumentos gerais de análise
e formulação dos sistemas sociais apenas numa sociedade capitalista,
Primeiro, uma teoria da vida humana associada é substantiva durante um período em que o mercado esteja relativamente livre da
quando a razão, no sentido substantivo, é sua principal categoria de
análise. Tal teoria é formal quando a razão, no sentido funcional, é sua 2 Sobreo caráter essencialisia e nominalista dos conceitos, veja Popper(1971,
p. 32; 1965, p. 13-4).
1 Eric Voegelin e Leo Strauss também frisaram as contradições da noção de 1 Sobre a complexa controvérsia em tomo da teoria econômica substantiva
neutralidade de valor na ciência social, de Weber. Veja obras de Voegelin, E.
(1952, p. 13-22)e Strauss, L. (19S3. P- 35-80). versasa teoria econômica formal, veja Kaplan (1968) e Cook (1966).
27
26

pP^^W^SST^^ 'TM-l.-itt* !•"-.<-- ' !.


Quadro 1
Teoria da vida humana associada
Formal Substantiva

Os critérios para ordenação das assodacões humanas são I. Os critérios para a ordenação das assodaçôes humanas são
dados socialmente racionais, isto í, evidentes por si mesmos ao senso comum
individual, independentemente de qualquer processo parti
II. Uma condição fundamental da ordem sodal é que a econo cular de socialização
mia se transforme num sistema auto-regulado II. Uma condição fundamental da ordem sodal é a regulação
política da economia
III. O estudo científico das assodaçôes humanas c" livre do III. O estudo científico das assodaçôes humanas ê normativo:
conceito de valor: há uma dicolomia entre valores c fatos a dicolomia entre valores c fatos tf falsa, na prática, c, em
teoria, tende a produzir uma análise defectiva
IV. O sentido da história pode ser captado pelo conhedmento, IV. A história torna-se significante para o homem através do
que se revela através de uma série de determinados estados rmítodo paradigmático dç auto-fntcrpretaçao da comuni
empírico-temporais dade organizada. Seu sentido não pode ser captado por
categorias scrialistns de pensamento
V. A dênda natural fornece o paradigma teórico para a correta V. O estudo científico adequado das associações humanas é*
focalizacão de todos os assuntos e questões susd lados pela um tipo de investigação cm si mesmo, distinto da dênda
realidade dos fenômenos naturais, c mais abrangente que esta
homem como um "animal político" (zoon politikon) só écompreen Fable of the bees, de Bernard MandevÜle (1714), publicada primeiro
sível à luz desse entendimento.
sob a denominação de The Grumbling hive (1705). Em 1723, ele

(
II
Aristóteles e os pensadores clássicos, em geral, concebiam a publicou A Search into the nature ofsociety, um ensaio que éuma
i I socialídade como uma qualidade do bando, indigna do homem polí justificação teórica de sua fábula. J^andeyüjTc^mparou asociedade -
tico No domínio político, o homem é destinado aagir por simesmo, em particular a sociedade britânica de seu tempo - com uma colmeia.
como um portador da razão no sentido substantivo. No domínio Pode-se resumir o argumento básico de seu trabalho da maneira
social, ao contrário, a preocupação "apenas com avida" prevalece, e -ifçuintf• • o BgS&JB fr!fflsfnrma nn critério que abrange tudo_ja- >3<WP
[ ele age como uma criatura "que calcula", isto é, como um agente eco ordenação_dAAXistênciaJiumana, então os vícios, o orgulho, o egoiV
i
nômico. A razão, no sentido de uma habilidade "calculadora", fflõ, a çornípcão, a fraude, aganância, ahipocrisia e ainjustiça passam
r
também é inferida por Aristóteles na Política e na Ética aNicômaco. a ser virtudes. Embora sugira que a virtude está além da capacidade
: É exigida para aadministração do lar (oikos), onde obem-estar econô humana, Mandeville pode ser considerado um moralista malgré lui, se
mico do grupo determina qual o curso de ações que devem ou não sua fábula for interpretada como retratando as conseqüências, para a
( existência humana em seu conjunto, da isenção da sociedade da regu
devem ser tomados. Esse tipo de conduta social é limitado a seu pró
prio enclave. Não faz parte do domínio político, em que oindivíduo lação política. Aambigüidade do pensamento de Mandeville em gran
possa manifestar seu interesse pela expansão do bom caráter do de parte explica por que, por vias sutis e contraditórias, exerceu ele
conjunto, e não simplesmente pela sobrevivência. influência sobreeminentes escritores e filósofos de seu tempo, incluin
É claro que Aristóteles tinha a percepção de que o modelo da do Adam Smith, que, porém, repudiou ainfluência de Mandeville.7
( Não é por acaso que a idéia de uma ciência social obcecou os
melhor forma política de vida, aberto ao comando integral da razão
'

substantiva, só poderia ser conseguido historicamente, por acaso. filósofos escoceses na Inglaterra, durante o século XVIII. A noção de
Sabia que nenhuma comunidade política está, eternamente, a salvo ciência social permeia as especulações sobre a natureza humana e o
da influência solapadora dos interesses sociais. Mas, onde querjque, fenômeno institucional, empreendidas por Adam Ferguson, David
esses interesses práticos constituam o único critério para as ações %A Hume, Francis Hutcheson, Lorde Kames (Henry Home), Lorde
humanas, não existe nenhuma vida política. Monboddo (James Burnet), Adam Smith e Dugald Stewart.8 Por mais
í 3 Para muitos, a ciência social é, no moderno período histórico, que esses homens fossem diferentes em idéias e talento, apesar disso I

resultado de crescente sofisticação da racionalidade e de sua aplicação eram. leais a uma certa comunhão de premissas e uma delas era a de
a fenômenos cada vez mais diversos. O preconceito histórico desse que a ciência social poderia ser r^ojsíyeiiamio_o_estiido^a razão da__
modo de ver será examinado mais extensamente no item 2.4 deste sociedVde7ParrrrnãioTpãrtê~déles, a razão era urna çaiaçteristiçajia_
capítulo. Por ora, é suficiente assinalar que a própria idéia de uma "sõclêdãdé^mais do que dojiidividuo. Consumaram a sublimação da
ciência social afirmada com basena presunção de que o indivídup_é— razão, no sentido de que esta já não mais precisava ser concebida
fundamentalmente um ser social, e quesuas virtudes devem ser avalia através da mediação do indivíduo, mas como algo cognato àsociedade
das segundò~c7íteriõs socialmente estabelecidos, era inconcebiyêTggra e à natureza. Todos eles concebiam leis racionais governando a socie
Aristóteles_e panfõsTeóricos clássicos em geral. A ciência social mo dade e a natureza, apesar dofato deconcordarem emque as paixões, e
derna pressupõe que a sociedade, ao desdobrar-se como uma associa não a razão, é que conduziam o ser humano à ação. Atribui-se, geral
ção puramente natural, gera os padrões da existência humana em seu mente, a idéia da mão invisível a Adam Smith, mas na verdade foi ela
conjunto. Essa_tia^nsa^iação_JÍO-^açÍalt__de que a modema_cjéncia- sugerida nõslrabalhos desses homens. Aatividade dessa "mão" mani
social é resultado, ocorreu nos três últimos séculos da história do festa-se na sociedade e na natureza e o papel da ciência é descobrir e
õadentiT É Hobbes quem, sistematicamente, prepara o caminho para ordenar a maneira como isso acontece. Por exemplo, Hutcheson,
essa transavaliação, ao atacar o conceito de razão em termos de senso amigo e professor de Adam Smith, escreveu em 1728 sobre uma "mão
comum e ao propor alternativas para esse conceito. No momento em superior", como uma força providencial, que afeta tanto os seres
que o ser humano é reduzido^a-uma criatura que calcula, é para ele humanos quanto os animais, através de seus instintos.
impossível distinguir entre (WçioJ e virtude,) A sociedade toma-se, 7 Sobre a influênda de Mandeville sobre Adam Smith, veja Marx (1974, p.
então, o seu único mentor e, não surpreendentemente, padecimento é
355), CoUetti (1972) e Macfie(1967).
equiparado ao mal, e o prazer ao benu_
Uma das mais notáveis documentações da confusão do homem " VejaBryson (1945)e Stephen (1927).
ocidental, no momento culminante da transavaliação do social,é The 9 Veja Bryson (1945, p. 118).

30 31

1
>
^ução_e_wnaimo^^
Para crédito de Mandeville, não há ambigüidade em Dav dHume organliãdolíe^scTarêçüne^ cnmaotn . natu.
AH^Smilh quando ambos justificam aabrangência integral da Uma vez^queTTara ambas as correntes de pensamento anatu
C Ze Pa7a Hume e Smith, a socialidade substitui a razão, ao reza humana não tem padrões adequados asi própna, o.^mento
f? t'r comoÍS viver ohomem. Hume considerava oser huma- de medida para avaliação edesenho dos sistemas sociais no funde
«rnZ umaTriati^completamente incluída na sociedade. 0"méri- contas, éele mesmo social. Em conseqüência, aciência oc ai formal
ZTíTlte"nlo decorre ... de uma conformidade àrazão, nem nunca poderá ser uma teoria crítica, tal como hoje aleganalgun
1 cíba do So de contrariá-la" (Hume, 1973 p. 458). Éo*nti- escritores, amenos que o teórico critico acredite, discretamente, que
mento que ohomemJejnjL^e^er^sociedad^juec^SgCo-- sTele écapaz de se esquivar ao processo de socialização eenunciar
LdamemonIé~suT^^^ julgamentos sobre oestágio atual da natureza humana. Adecepção
TmiryTdWTmTrêl^^ à censura dos outros - desempe JpeL>al do teórico crítico com oestado de coisas que ora P^ece ^
nha um papel fundamental no desenvolvimento de seu senso moral. £de induzi-lo aentregar-se aum tipo de ação oracu ar edemiunp^
Padrões de ordenação da vida humana são, eles próprios,^sociais e, em Afinal não ha pontos importantes de disputa entre os cientistas
última análise, compõem-se de "interesses da sociedade , que Hume sodaTs' ocidentais estabelecidos eos teóricos críticos marxistas eneo-
afirma serem as referências principais para distinguir entre avirtude e Sstas porque ambos os grupos exemplificam amoderna transava-
• SS, do social e, nessa conformidade, estão de acordo em que um
o vício (Hume, 1973, p. 579). Para Hume. aordem na vida humana discurso teórico está inerejriemenjejnçç^^ da sociedade.
( associada é um resultado de processos anônimos, envolvendo forças e
(
atividades independentes das deliberações racionais do indivíduo, no S atual dW^adefao^alitefe^^0».à Prax!S **?
sentido substantivo. Mais propriamente, aquüo que ésocial é, forçosa teCinx^^é^yzí que éinútil
tivaVsu^Ta?Tlusõ'es ideológicas ^^^Z^S^
da ciência social do Ocidente e,
( mente moral. Como ocorre com outros filósofos escoceses, Hume
pretende elaborar o alicerce filosófico da ciência social formal do ao mesmo tempo, preservar seu caráter formal.
(
i Ocidente.
( 2.2 Ordenamento político e sociedade
As correntes de pensamento que hoje prevalecem em matéria de
o ciência social formal, seja em seus termos estabelecidos usuais, seja sob Oparadigma completamente desenvolvido da visão escocesa de
os disfarces marxistas e neomarxistas, apóiam-se numa visão sociomor-
o fica do homem, visão que reduz oserjiumano a nada mais que_umser ciência social surgiu, primeiro, «mio^^^gg^nos^hos
social Daí que álIeTiaTtQ-áliraçâo^olHdivíduo seja entendida como a de Adam Smith. Proposta como uma ciência social verdadeiramente
o gei, á^conomia política concebe aordem na vida humana associada
^sualítal socialização, quer sob as condições presentemente oferecidas, como um resultado da livre interação dos interesses de seus membros^
o quer num futuro estágio social esclarecido. Poj^xjm^h^ajnojrv^çao,
econômica éconsjdjrada^_t^^
D^e modo, oenclave delimitado que Aristóteles descreve como a
o teona^co^jcT^rjaLafirma que omarcado éa^OTtrfimdaT oVdem dos negócios domésticos toma-se expücitamente equiparado a
o mental, paraT^pajaclo^i^^ "ns Sistemas ?da humana iodada em seu conjunto, graças ^sJundadores brUâm-
sociais. Assunção é por acidente que os cientistas sociais estabeleci- cos da ciência social. Aeconomia política eaciência social formal
o d~o7-nScomendam aos países do Terceiro Mundo a pratica maciça de legitimam, conceptualmente, a isenção da economia doméstica de
o certo tipo de esclarecimento organizado, que se destina a ensinar a eXão Política ,0 Poiessarazão, o^^^f^3^^-^- V
motivação do sucesso", bu seu equivalente, aos povos que yrvem nessa sociedade eana^tã^^J^^í^^^td^^-
o área Essa perspectiva conceptual sugere que os países do Terceno ficacgermjeTim^riõmem tem comojojn^rriante^
o Mundo só poderão resolver seus problemas se se transformarem em -Carnalmente, porém, hTTimlra^oWm entre os teóncos
sociedades centradas no mercado. Os teoristas marxistas e neomarxis substantivos eos teóricos" formais do Ocidente: ambos interem^que
o tas percebem aingenuidade desse ponto de vista particular. Salientam, reduzir oindivíduo aum ser puramente socai eqüivale aafirmar que
o em
em vez
vez disso,
aisso, oimperativo ua !••—-.»
o unpciaiiru da mudança da natureza humana de acordo -~n V
v8 ,-. .o Sobre este ponto, veja Myrdal (1954). Declara c.e ^*£%*»£Z
com omodelo da sociedade socialista, coisa que, aliás, nunca concei- ^ .^ mia como um tipo sodal de administração domcst.ca inspira nao apenas ateo
o tuam a não seriem teTmo^vagos.Xonseq^ejiteme^ ria do ívre ^om^cio. mas Umbém todas as outras doutrinas de economia po
o ciais de seuprojfctn universalião asociaüzacão dos meios dxpraduçao---> ^ lítica" (Myrdal, 1954, p. 140).
e do excedente^gnomico, planejamento socialista da estiujura_jte. 33
i
32
V .
'
•••„..« ,..t.;Vru?My.i;»Trr. •*•;?"";' ,^'•,ly!.l.•.-••?:J"-,r-,'.^T:"' »i%^,V-./-V";' '*;' "
que, necessariamente, dominasse anatureza. Na^Gréçja^ojLexejriplo,
sua principal preocupação na sociedade émeramente com «»JB*B&- invenções atribuídas a Hero e a ArqjiüneJÍffiLdâo_rj^^^
^Tão. Ambos os grupos alegariam que asociedade éum tipo espe- -aVesT5gm"ae tipologia. Mas aaplicaçãoJa tecnologia à_pjroduçao era
^fícole" coletividade humana em que os interesses imediatos, práti limitada po"r7aiõerpolítiçai e éticas^Tecnologia, para os gregos, nem
cos constituem os pontos de referência básicos do indivíduo para se deveriTco^stituir"preocupação de um homem livre, nem deveria violar
relacionar com as outras pessoas. Os teóricos formais atribuem uma os processos autogerados da natureza.'3 Era como se os gregos, e
dinâmica própria a esse tipo de coletividade; dinâmica que onenta a outros povos antigos, tivessem a percepção de ser aeconomia parte
interação dos interesses individuais no sentido de uma ordem de con integrante do sistema biofísico. ... r *,
junto da qual ninguém está individualmente consciente. Dgsse modo, „ 0 consumo dentro dos limites de necessidades humanas Imitas,
para Oi tenros formais.a política émera articula^oe_ajgreia,çÍQ.de- a produção limitada, constituíam ameta da economia instituída nas
interesses. (liberalismo), ou a expressão da sociedade agindo como um sociedades pré-modemas. Np século XIII, Santojomás de Aquino_
"conjunto, de acordo com suas leis (socialismo). Poder-se-ia dizer, reiterava essa opinião. SegmndrxÃlTstóWsTãa^ertla contra aprolifera
assim que aexpressão^nomwpoj^tontém uma contradição de ção das neçes»deTsocÍ3lmenteinduzidas, estabelecendo uma distin
termos'' Situa mal um atributo (o poUticqV 2 que só o ser humano ção entre ÚQüezXmraU artificial?Aprimeira "serve para afastar do
pode exercer, ao considerar aeconomia como um agente corporativo homem suas naturais deficiências, tais como comida e bebida, vestuá
político em si, isto é. como um todo animado de um propósito seu, rio veículos, abrigo e coisas que tais". A"riqueza artificial , como,
propósito que, afinal, coincide com obem de todos os homens. Por por exemplo, dinheiro, tinha sido inventada por "arte do homem
tanto a idéia de ciência social envolve uma redução, por baixo, da para servir de medida de coisas permutáveis".14 Mais tarde, no século
vida humana associada, visto como a socialidade. per se, é uma dimen XVII essa orientação ainda ecoa nos trabalhos de Puffendori. fcste
são imperfeita daexistência humana. partilha, com os pensadores pré-modernos, oponto de vista de que o
Poder-se-ia indagar das circunstâncias históricas que constituem valor em uso deveria determinar as atividades da economia. Mas é o
obackground de tal transformação. Desde oséculo XVI que uma série valor de troca, não o valor em uso, que constitui a meta de uma
9^M
de acontecimentos, tais como a descoberta de novas partes doglobo e
a expansão da área de transporte marítimo - graças à iniciativa dos
economia moderna. Assim. pelaJe^dlünaçáUda^iquez^
mesma, essa inversão envolve, necessariamente, a emancipação da
f^J3-
navegadores europeus - assim como a multiplicação das iniciativas economia da regulação política e ética.
comerciais e industriais, precipitou o aparecimento de uma nova atitu Os cientistas políticos substantivos perceberam que um bom sis
de em relação à prosperidade material da Europa. Comerciando com tema organizado de governo não poderia existir abaixo de certo nível
outras partes do mundo, alguns países europeus acharam um meio de de meios de subsistência. Consideravam a criação de tais meios como
aumentar as suas riquezas numa proporção sem paralelo.. Em última, uma condição necessária, em vez de constituir ameta do sistema polí
análise. ^g^nnpjftjiharna de revolução comercial_eJndustnal foj_ tico No entanto, desde o momento em que a_prospendade matenai
uma .sçrie_ de acontecimentos levando àconclusão de queTprospen^ foi presumidacgmo alguma co^a^osnrei^ajajodoslistijé,umpres-
riadE m^n^ej^^^poàexmr^T criadas ou estimuladãsyor unw sü^òWlan^teTísticoda chamada^yojução_ industrial), a nqueza
deliberação sistemaTlH^õTíõmem. Nõs séculos prémodernos, apros-
'pendadTmãterial e à riquezTêram resultados de feitos humanos, mas
0[> JT transformou-se na meta fundamental do sist^r^teavésdos; século
de desenvolvimento comercial eindustrial, íteoria^pdític* foi redelh
tais feitos representavam transações inteligentes com a natureza como nida de acordo com esse pressuposto. Sua pjricjpg^eocupaçaopa^ i^7
ela era dada. As necessidades do homem eram consideradas limitadas e sou a ser aprosperidade majejtejjejrejerencia ao bom ojd^riamento,
a produção de bens deveria ser obtida através da colaboração do dTassocüção humana.•0-padrãb~ético inerente à teoria política subs- ^:'X :,- r
homem com os processos que a própria natureza gerava, e não pela WtiVaTo11uT*nJtu7fo>la justificação moral do interesse imediato do
escalada sistemática desses processos, mediante implementos tecnoló indivíduo. A ciência social contemporânea representa a culminaçao
gicos e sem consideração dos imperativos termodinâmicos da natureza. desse processo.
Uma posição exploradora em face da natureza seria eticamente 13 Veja Dijksterhuis (1969, p. 72-5).
viciosa, para a mentalidade pré-modema enão-moderna. Ajeçnojogia---
científica existiu muito antes da^chamada revolução indjistriaL^sem .4 Apud Flynn, F.E. (1942, p. 23). Atradução que Flynn fez de Santo Tomás
foi ligeiramente modificada pelo autor.
M Veja Barker, Emest (1959, p. 357).
is veja SewaU.H.R. (1901, p. 3843).
H Sobre o conceito do político, veja a Política, de Aristóteles.
35
A 34
i j
I wr**-*
Houve um momento em que a novidade da "sociedade", na Mas sua posição não foi partilhada por todos os pensadores alemães
Europa, foi sentida e vividamente discutida. Que nos seja permitido, de seu tempo, eum deles, Heinrich von Treitschke, cuja participação
nos poucos parágrafos que se seguem, escrever ''sociedade", entre nos negócios públicos da Alemanha pode ser justamente criticada, ape
aspas, de Bradesa podermos sublinhar seu significado peculiarmente sar disso poderá ser invocado para ilustrar atensão entre anova ciên
modemoCHe^adrrürador eleitor cuidadoso de Adam^ndÜL. focali cia e ateoria política. Na opinião de von Treitschke, asconnmidades
zou a "sociedade" como um acontecimento históriçoj.6 Ele saúda o humanasse podem subsistir quando dispon|^n_deJfefflnaigiTna^
acontecimento como uma progressão da überaaaeTuma vez que, em ,rõrganSãs|òÍtaiaL- Em outras palavras, uma vez que a"sociedade é
sua opinião, a "sociedade" é a arena em que o universal terá, final incapaz de espontaneamente dar forma asi mesma, essa tarefa ordena-
mente,que se consumar a si mesmo.
dora pertence ao Estado. Assim, lamentava Treitschke, "tudo aquflo
Embora influenciado por Hegel, Lorenz von Stein encara a
que nosso século chama de liberalismo tendepara avisão social do Es^
"sociedade", mas propriamente, como um historiador. Seu livro,
jado? (von Treitschke, 19oJ, p. 29). DessrpMtò de vista, aculniína-
publicado em 1850, Geschichte der Sozialen Bewegung in Frankreich ção de tais tendências conduziria àdesintegração eao colapso da vida
von 1789 bis auf unsere Tage (traduzido para o inglês sob o título
associada. Aquilo que ele denomina "visão social", as "atitudes exclu
A História do movimento social na França, 1789/1850), começa, sig
sivamente sociais da mente", a "perspectiva puramente social (von
nificativamente, com um capítulo sobre o conceito de sociedade e
Treitschke, 1963, p. 29-30) envolve uma referência à tese de uma
suas leis dinâmicas, e nele o autor frisa que, em sua geração, a "socie
ciência social independente da ciência política. Adotando uma posi
dade" evidencia uma ordem de "fenômenos que, anteriormente,
ção até certo ponto polêmica em relação aessa tese, afirma ele que
haviam permanecido sem registro na vida decada dia, tanto quanto na
"quando o nosso século alega que o estudo das condições sociais é
ciência" (von Stein, 1964, p. 43). Lorenz von Stein lança-se à sua-
uma coisa nova... exibe um estranho conceito de si mesmo" (von
análise histórica para legitimar anova ciência, ou seja, a ciência social. Treitschke, 1963, p. 32). Nega ele, explicitamente, apossibilidade da
Na concretização desse esforço, manifesta a percepção daquilo que a ciência social, visto como a teoria política (em sentido substantivo)
nova ciência fundamentalmente envolve, e assim escreve:
tem sempre tratado, com propriedade, da ordem de fenômenos que a
nova disciplina pretende definir como de seu domínio exclusivo.
Hoje em dia, mal se tem apercepção do problema fundamental
"Há alguma coisa no interior do Estado trabalhando contra ele. Essa envolvido no surgimento do social e da ciência social. Em seusjnode-
alguma coisa é a sociedade (os grifos são do original). Será que a so los liberal e socialista, aciência social fonnalítejna_çoncepção da vida
ciedade se conforma a um princípio de existência diferente do Esta humana associada como sendo ordenada pelofciteressej oque éomes
do?Seé assim, qual é o princípio? mo que admitir que o princípio da "sociedade* éopadrão normativo
Durante séculos, muitos e grandes homens tentaram formular o princí essencial da existência humana em seu conjunto. Em outras palavras,
pio que rege o Estado, mas ninguém pensou na possibilidade de que ao tomar difuso oelemento político na vida humana associada, aciên
pudesse existir também um princípio para asociedade. E,noentanto, cia social formal deixa de considerar qualquer espécie de regulação
existe... O interesse, queè o centro... de todaaação social, é o prin substantiva influindo sobre o processo econômico.
cipio da sociedade" (os grifos são do original) (von Stein, 1964, p.
45-55). 2.3 A dicotomiaentrevak%ss.e fatos
Tal como Adam Smith no caso da economia, Lorenz von Stein Ao pôr emfoco_ajÜHú*miiaentre valores e fatos, quero aqui
dá bom acolhimento à isenção da •'sociedade*' da regulação política. examinar as gtfcWtâncIásTustónç^que aoriginaram, mais do que os
alicerces filosóficos em que se rundamenta.
16 "Quando os homens são assim dependentes uns dos outros e reciprocamente Quando oindivíduo é definido como um ser puramente social, a
mter-idacionados em seu trabalho e na satisfação de suas necessidades, a au-1
to-teaiização subjetiva transforma-se numa contribuição para asatisfação das ne $v> suposição é de que aordem de sua vida lhe seja concedida como algo
cessidades de todos. Querisio dizer, numa antecipação dialética, que a auto-rea- extrínseco. O mundo, de onde provém essa ordem, é uma arena, em
tização subjetiva passa a sermediação do particular para o universal, com o resul que ele se esforça para elevar ao máximo os seus ganhos. Aordem da
tado de que cada homem, aoganhar, produzir e desfrutar, porõ mesmo, está<o sociedade é possível na medida em que seus membros, com base num
ipso, produzindo e ganhando para que disso desfrutem todosos demais"(Hegel, calculo utilitário de conseqüências, regulam e limitam as próprias pai-
1973, p. 129-30).
37
36
r

deseja, sem qualquer consideração ao que seus desejos possam ser


•.

i xões, de modo a não ameaçarem seus interesses práticos. A sociedade (Wicksteed, 1913, p. 258). Para neutralizar essa conseqüência, imagi
é o próprio mercado amplificado. Os valores humanos tornam-se nou ele um tipo de economia subordinada a"wnsideraçôes éticas
valores econômicos, no sentido moderno, e todos os fins têm a mesma (Wicksteed, 1913, p. 260), porque "a.sanidade dos desejos dos ho
categoria. Em última análise, como veremos, adicotomia entre valores mens é mais importante do que aabundância de seus meios de con
e fatos só é válida quando a total inclusão do homem na sociedade é cretizá-los" (Wicksteed, 1913, p. 260). 6 opinião dele, também, que
tida como coisa natural. "o mercado não nos diz, de nenhuma forma fecunda, quais são as ne
Além doso, numa sociedade de mercado, a preocupação com a cessidades nacionais, sociais ou coletivas, ou os meios de satisfação de
matériacomo o estofo de que são feitas as coisas tem prevalência, ou uma comunidade, porque ele só nos pode dar somas** (Wicksteed,
chega mesmo a excluir o interesse pela natureza delas, ou pelos seus 1913, p. 260). Em conseqüência, afirma ele que "as leis eamômicas
fins intrínsecos. O mercado é cego paraos fins intrínsecos das coisase não devem ser procuradas e não podem ser encontradas nocampo pro
as considera, tanto quanto os própriosindivíduos, convertidosem for priamente econômico" (Wicksteed, 1913. p. 260). Olamentável éque
ca do trabalho, como "dados", ou seja,como fatores de produção. Em uma compreensão tão criteriosa da natureza do mercado não tenha,
conseqüência, as disciplinas contemporâneas, como a economia, que até agora, se constituído num conjunto conceptual coerente, bastante
(\ aceitam como indiscutível a sociedade centrada no mercado, têm que convincente para substituir omodelo formal de pensamento ainda do
ser isentas de conceitos de valor e exclusivamente interessadas em fa minante nomüieu convencional da profissão econômica em particular.
tos. Nessas disciplinas está inferida a asserção de que valores são, sim e da ciência social em geral.
plesmente, aspectos da subjetividade humana. Devem ser considera
dos, na melhor das hipóteses, como qualidades exógenas ou secundá
rias das coisas, nãocomo propriedades delas. Assim sendo, não podem 2.4 A ciência socialcomo uma ideologia serialista
ser objeto de avaliação cognitiva. Do ponto de vista analítico, afirma
ções çognitijtas e normativas tomam-se então mutuamente excluden- Anoção de que ahistória revela seu significado através de uma
tes. É interessante notar que tal dicotomização sereflete nosinteresses serie de estágios empírico-temporais é comum ao acadêmico liberal
da pesquisa, mesmo no contexto dos principais departamentos de de tipo padrão, tanto quanto aos teóricos marxistas e neomarxistas.
ciência socialneste país, em nossos dias. Contido nessa noção comum, está um.conceitode tempo peculiar ao
; Iluminismo, e que continua a prevalecer nas fõmns-DCltfentais con-
f KJ
O poder de previsão da ciência social formal isenta de conceitos "J temporáneas de pensamento. Nos escritos dos epígonos do Uurninis-
de valor precisa, realmente, ser reconhecido, mas devemos compreen mo otempo em que supostamente anatureza humana se atualiza ées
der que esse poder só existe na medida em que o círculo de causali sencialmente serializado. Através de distintos graus qualitativos de
dade, ligando o mercado e a conformidade de comportamento do atualização que correspondem adiferentes degraus existentes numa es
indivfduo a esse mercado, permanece sem perturbação. No entanto, pécie ascendente e seriada de tempo, anatureza humana muda sua
no momento em que tal conformidade, por motivos que escapam ao estrutura. Além disso, nessa perspectiva Üuminista, existe ummomen
âmbito desta análise, é passível de questionamento, como acontece em to histórico culminante, em que anatureza humana alcança seu está
nossos dias, surge uma resistência psicológica, dirigida contra a dinâmi gio final e perfeito. .
O ca desordenada de uma sociedade centrada no mercado. Essa resistên Sem dúvida, a visão serialista da existência humana na bistõna
cia enfraquece o poder de previsão da ciência social formal isenta de tem implicações comparativas^djacrôniças esmcranjcas. Quando ava -fí/e^
conceitos de valor, porque a pessoa tende a se transformar num sei
mais do que totalmente socializado. Tal resistência desencadeia uma §&
>YV liada em comparação com aestrutura que supostamente deve alcan
çar em sua fase culminante, aexistência humana, em períodos históri
tendência normativa de pensamento, do qual a teoria substantiva de cos anteriores, éconsideradaJnperteua^ii, namedida em que nem to
vidahumana associada é porassim dizer umaarticulação inicial. das as sociedades contemporâneas tenham atingido simultaneamente o
Deixado à sua própria dinâmica, o sistema de mercado trabalha mesmo grau de progresso, aexistência humana nessas sociedades me
contra a COnstiratç^onfa-WdjJUJgiana associada, entendida mmouma nos desenvolvidas, que caminham atrás das mais avançadaá ou mesmo
comunidade dejmmensVmulheres.. Esse fato temmesmo sido admiti historicamente em fase terminal, é também, necessariamente, imper
o do pelos própiír^economistasrPor exemplo, em 1913, Phfllip H. feita. Por exemplo, anoção dejrerçejroJJunjp reflete avisão seriabs-
Wicksteed descreveu o "inundo industrial" como uma "organização laliãhistôria de hoje, já que pressupõe o segundo e o primeiro.
destinada a transmudar aquilo que cada homem tem naquilo que ele
39
38
•-: ... -tr

liana, marxismo eneomarxismo, ecomo as **»**»**


Sob a influência do critério serialista do Iluminismo, vários auto dessas tendências com fenomenologia e- ou - ^ ^ ^ ^
res imaginaram ter compreendido os padrões de acordo com os quais a Do ponto de vista dos critérios comparativos dessas%****»
história se desenrola. Por exemplo. Condorcet, Turgot e Saint-Simon de pensamento, tais como, por exemplo, vanáveis de prtooe^
sentiram-se compelidos a desvendar os estágios necessários da história. gios de desenvolvimento, as diferentes sociedades do:mundocontem,
Aciência social contemporânea é um rebento do clima intelectual de porâneo estão classificadas em fila indiana, apontando na dtaçtt»£
que esses autores são representantes. Na Riqueza das nações, por chamada sociedade avançada, ou esclarecida. Na realidade, tais cnte-
exemplo, onde é apresentado encorpo çonceptual da economia polftk- rios são armadilhas epistemológicas e ideologias disfarçadas que fo
í _ca*,Adam Smith reinterpreta a história, descrevendo a sociedade co mentam uma errada compreensão dessas sociedades e que as desviam
X mercial como suafase culminante. Auguste Comte e Karl Marx empre de seu imperativo crítico de auto-reconstrução. As políticas emanadas
enderam esforços semelhantes. Vêem em suas próprias épocas a imi desses critérios funcionam, na prática, no sentido da escalada da od-
nente culminação da história, definida, respectivamente, como a idade dentaüzação do mundo todo._Um.Jlos resultados desse P™çesso, ^m
( positiva e a sociedade socialista. que estão presas as chamadas nações do Terceiro Mundo, éTaègfãdí
(
Hoje, a disposição serialista continua a ser característica da ção de sua! SlülllIiJ^^
ciência social, e toma-se evidente na maneira segundo a qual os cien contamina de mnrtfi W™«M"™» WW***#**^2gS^
um dos fatores primoriiais-aJhei dificultar aauto-jeçqnslruçao. Aso
í tistas sociais focalizam temas como mudança social, estágios sociais,
modernização, desenvolvimento, pós-industrialismo, sociedade indus lução do problema criado por tal sentimento éconceituada por via da
( trial desenvolvida e socialismo. categoria serializada do desenvolvimentismo, em ^terpreteçto pa-
(
droncada, ou na interpretação marxista. Essa mentalidade adventista
Esses termos têm sido solapados pelos acontecimentos contem mais do que aescassez de recursos, constitui oobstáculo fundamental
( porâneos, tais como o desencanto com o industrialismo, o mal social à auto-articulação cultural, política e econômica dessas nações. Para
r
característico das sociedades avançadas, e a exaustão de recursos limi
tados e poluição do meio-ambiente. Em conseqüência, tomaram-se
poderem superar essa cilada, toma-se imperativa UMPtimiTnmakten-
objeto de crescente literatura revisionista. Por exemplo, reagindo aes logiasocial do Ocidente.
c
sas circunstâncias, alguns teóricos empreenderam um desajeitado es Pode-se concluir que tal ruptura é imperativa, se devem as cha
c forço para libertar as noções de modernização e desenvolvimento de madas nações subdesenvolvidas encontrar uma saída do processo aque
seu engaste histórico. Na vejjade. a noção dejnojdernização dá origem foram conduzidas. Mas o ponto que desejo salientar aqui éque os ter
a tantes^rguntasjteiconcejrarite^-íiue está a-ponto^ser-abolida_da_ mos dessa ruptura não podem ser encontrados através de nenhuma re
c linguagem dos cientistas,sociais formais. Numerosos escritores estão modelação da ideologia serialista do Ocidente. Eesse rompimento pro
àgÕrãTéntando reconceitua7desenvolvimento, não como significando vavelmente não ocorrerá a menos que os povos sejam ativados para
o
o aumento irrestrito do PNBjnas. essencialmente, corno uma indica construir imediatamente, partindo daquilo que já tem, umapiedade
e ção da"gíeíhoria quàí\t^v2~^\mbien^Jmnm^. sobretudo, como \v
~i
racional, entendida em termos substantivos e despojada das atuais
processorLTèqualização sociaTTeconômica. Impressionados com o fa conotações serialistas efuturistas. Ocomeço eofim da histona nao se
o to de que sucessivos programas de modernização e desenvolvimento, constituem de categorias serialistas. ^BJ^l^J^^^
o implementados no Terceiro Mundo, não lhe alteraram a situação de apreendidoatiavésJeciOjTir^^ ««£
dependência, no arcabouço atual dadivisão internacional de trabalho, o>y demo período oridental, folanTelas experimentadas como imediata
o alguns neomarxistas alegam post hoc que tais programas foram sempre mente presentes a qualquer sociedade, mediante apropna autocom-
o arquitetados para servir a propósitos imperialistas. preensão como um microcosmo - eordenaram com freqüência avida
das pessoas. No passado, como presentemente, porém apenas sob do
o Por significativas que essas opiniões certamente sejam, comosi minação hegemônica sucumbem, afinal, as sociedades adisposição se
o
nais do colapso da modernidade e do desenvolvimento, contudo não rialista constitutiva da privação relativa, e essa condição episódica da
apreendem a questão, quer dizer, os representantes dessa corrente natureza humana não deve ser entendida como aprópna natureza hu
o não encararam, com agudeza, a atitude serialista da mentalidade mana (Outras considerações sobre oconceito de tempo esuas impli
o
adventista e os alicerces pseudoteóricos do tipo padrão de teoria social cações relativamente aos sistemas sociais serão apresentadas no capi
formal. Continuam ainda enredados na metaideologia desse tipo, de
mentalidade disfarçada como funcionalismo 'estrutural, dialéticahege- tulo 8.)
o 41
O 40

t
o

I
«
C
declaração é significativamente citada por W. Heisenberg, num ensaio
i l^l&^^S^* ™»*foi
M oímento horizontal no espaço histórico precedida,
(ou ocorreu de
simulta-
em que tenta conciliar Copérnico, Galileu, Newton ei ciência física
em geral com atradição clássica. Ele vê atrajetória histórica da físi
ca não como algo radicalmente descontínuo em relação a tradição
clássica, mas como uma "história de conceitos" (Heisenberg, WJS,
2ZSZZ ™» arcabouçJplanetário institucional de nossos p 561 como crescente diferençiacjQ do conhecÜTiento_jlaiL^strvijuias-,
aSTnão há mt perspectiva para um êxodo no sentido horizontal. Se estáveis da realidade. Equipara as construções matemáticas aos arqué-
Í5 mptura histórica"tiver que acontecer em nosso tempo, terá que| ;\° üp^Tde Platão (Heisenberg, 1975, p. 55). Uma tonalidade platônica
a^mir ocaráter sem precedente de um puro êxodo em compacto ainda mais forte é característica da visão de Eddington sobre os fenô
f ^vertical, isto é, através de uma mudança no íntimo das pessoas,
em sua orientação relativamente àrealidade enos critérios de percep- ^ menos físicos. Para ele, a solidez que o olho "não educado ve na
natureza exterior éilusória ou "obscura", L!J^/^£L££- 9 -jjjJie
ão rdelição de suas necessidades edesejo, Aimagem retóricai das mais éfmeum tipo simbólico de cojAgçmienjpjMealidade (Edüing-
\ cortinas associada com os experimentos soviético echinês, pode ser
um inicio de que, no presente, as pessoas ainda podem ser mobdrza-
ton7T974,p.XV-XVne318). . .
Aciência social formal, particularmente em sua convicção beha-
2 para tentar! rompimento, embora essas experiências comunistas viorista. é cientística no sentido já elaborado. Seu conteúdo tenden-
'f possam por certo ser consideradas malogradas, uma vez que nao vao cioso tem sido objeto de vários estudos críticos recentes, todos eles
SHa disposição serialista da ideologia do Ocidente. Se éhoje viável sugerindo que a funcionalização de sua linguagem e sua orientação
um êxodo genuíno do Ocidente, éassunto para um tipo de discussão centrada em método acabam por converter a ciência social em uma
í que ultrapassa oalcance desta análise. forma disfarçada de ideologia e tecnologia. Ailustração desse julga
mento será apresentada aqui através de breve apreciação da noção
behaviorista da ordem política e dos critérios nacionais de comparação.
\ 2.5 Da ciênciasocial cientistica
M^p, «nriri formal écientística, isjoJJ_r^ne_d^priUiSa^
Aciência política formal é apolitica, no sentido de que perde
completamente de vista adistinção qualitativa entre avida política,e_a
vida social. Na realidade, equipara greganedade social à ordem políti
|6
o
omodelo da H^r^lir^^^
realidade éreduzida apenas^^^^^^^^S"
ficado. Aprópria ciênciãTõclâTcIênTisI^^ P0Sl<?a0
/,
ca e o resultado dessa confusão é aabolição do elemento político da
vida humana associada. Por exemplo, é alegação de David Easton que
^sociedad^'é aunidade social, maisjbrangentóque coiiheçemos_,
c serialista em relação à realidade.
. . . . . . .„.,.ntimn „ b lHê~Ssenvoive ainda mais essa opinião, como se segue:
Um bom argumento contra aciência cientistica nao subestima a
o importância das questões operacionais. Alega, t+mm+mM**^ vtâ -^ CS" "A atividade política é vital numa sociedade. Mas também osão a
0 todo etécnica não são padrões de verdade_e de adequado conhec^. atividade econômica, a estrutura social e coisas que tais. Uma socie
Vcientíta~As conclusões da ciência cientistica podem, eventual dade tem numerosos aspectos eéimprovável que os homens consigam
O mente ser validadas, embora devesse ser frisado que as mesmas se res realizar seus propósitos sem providenciarem para que haja bens eservi
o tringem aum nível de realidade cujos limites precisam ser reconheci ços por exemplo, assim como acompetente alocação das coisas valori
dos Considerar essa forma de conhecimento como oparadigma do sa zadas Marx, ao que parece, defendeu oprimadoiajagnomia, alguns
o ber em todos os domínios da realidade é precisamente aquúo que cientistasjodais insistiram no domínio da cuipi ou ^ « ^
Whitehead chamou de "falácia da concretidade mal locada . de e moGvâiâo. Ofato éque, no nível geral da vida societária, cada
Écerto que os cientistas naturais não partilham, necessariamen uma das grandes áreas da atividadehumana contribui com asua parte
8
ò
te da premissa da ciência cientística. Einstein, por exemplo, parece
que evita se permitir o puro cientismo. Não é por acaso g» ™£»
num proces^o^tôiaSen^St^A política penetra atotalidade da
vida, mas omWTazãnTecon^mia, acultura amotivação eores
que "é ... teoria* que decide aquüo que pode ser observado . Essa to. Uma interpretação multicausal, interativa da sociedade, parece
11 Sobre importantes avanços históricos, veja Voegelin (1968). 19 Apud Mfller, Eugene F. David Easton's poütical theory. 77,* Political Scien-
* N. do A. E não um método. ce Reviewer, Autumn, 1971.
18 Veja Heisenberg (1975, p. 56).
O 43
« V' 42
(
I
4
«
quanto esta persistir em ser uma faceta da ideologia adventista se-
"^^-«SS^tom tipo de primazia, imediata, deum ou outio •£<jk
^ ,
rialista.
Aparentemente, aciência política formal descartou a> "J» «
^_ ,

CTso^roXno?^
?^£ÍLL^nW outra asp^
LÍ^t<jtr
um bom sistema de governo como uma legítima preocupaçSojr?Ka-
Todavia, e precisamente quando são considerados >" c™01
comparativos, ateoria formal envolve, disfarçadamente. aidéia de que
£S l^todTseletivo, por motivos especiakMas édrfk0 ^:9 < o bom e o melhor são representados por jujnjhfdos como progresso,
benvêstor, industrialização e pelo aparejhamento institeçjpnal que ha-
Sn^midei ser encarado como 'formativo', em algum sentido bãitiTas sociedades aalcançarem essas metas. Por exemplo, na tingua-
importante" (Easton, 1973, p. 294). gem ribemitiea atualmente em voga, osistema de governo êdefinido
c^otrasisitema mecanomórfico, e o estadista como seu operador
A afirmação de Easton érepresentativa da confusão reinante en (Deutsch, 1966, p. 182-5). Sob esse aspecto, é*e levado aadmitir que
tre os teóricos políticos formais. Partilhando de sua idéia de que oele ._f***Mfft An «mriectmpntn nnlíticn.depende, sobretudo, dajuaKd*
mento político pertence ao mesmo nível do econômico edo social, es- de e da quantidade da informação dfeprâtível. Ese, como foi estima
seTteôricos equiparam aordem política ao controle da vida gregána, do" o mõfàSte^iiifonnação atualmente necessário para o acurado
independentemente da natureza de seus princípios normativos. Para conhecimento político iria requerer milhões de cartões padronizados
eles aordggjgjítica existe numa sociedade enquanto^mesmajema^ da IBM,31 falando em termos práticos, temos que aos computadores,
^nàadaaT^stitedonal de mdrár os cidadãos aacatálêm^respecti- e não aseres humanos, deveria ser atribuído o papel decisivo de diri
^g-piar5el ou de axticujaj^agregarjnteresses ny^^fingrasti^ gir osgovernos contemporâneos.
numã^oSaÓMtável. Coerentecom essa visão puramentéoperacio- Pode ser bastante verdadeiro que a direção dos governos indus
nardrõHenT-pòimcaTím autor sente-se seguro para dizer que nao triais desenvolvidos possa de fato repousar em critérios quantitativos
"considera... regimes autoritários que começaram acaminhar na dire (Deutsch, 1966), de preferência acritérios normativos éticos. No en
ção do progresso e do bem-estar... normativamente infenores aos de- tanto, atribuir um caráter paradigmático àcondição desses sistemas de
mocráticos e desenvolvidos" (Almond, 1973, p. 268). Assim, os sím governo eqüivale alegitimar amarcha cega da história da humanidade.
bolos representativos de um precário período histórico, tais como Semelhante abordagem em termos de mformaçjo (Deutsch, 1966,
"progresso", "desenvolvimento", "bem-estar" e entidades mstitucio- p 145-62) congela grosseiramente o atual poder de configuração do
nais fpisódicas, são eles próprios transformados em criténos de avalia mundo e, finalmente, interpreta a dicotomia entre desenvolvido e
ção da realidade política em seu conjunto." Nessa disposição, uma subdesenvolvido como umjulgamento ético, histórico, quando naver
nova área de estudo, ajormação de instituições (insrítution butídtng), dade a mesma existe no sentimento que as pessoas têmde relativa sa
destinada ao^ercfi^ojâunHglpelo quartel-general dos acadêmicos oci tisfação e de privação relativas, mais do que nas possibilidades concre
dentais, foi recentemente concebida, no pressuposto de que tal esfor tas de seus contextos.
ço requer apenas perícia operacional.
Não constitui surpresa perceber que ateona política formal se
vê minada pelos acontecimentos contemporâneos, que revelam ajnre- 2.6 Conclusão
cariedade histórica de seus critérios. Seus conceitos de ordem políti Toda teoria da organização existente pressupõe uma ciência so
ca e de desenvolvimento político, despojados de dimensões explici cial da mesma natureza epistemológica. A contrapartida da atual teo
tas substantivas eéticas, provaram ser tão teoricamente mconastentes ria da oreanizaçãb éaciência social formal. Acontrapartida da nova
que o caráter ideológico dessa disciplina mal pode escapar àatenção. ciência da organização éaciência social substantiva. Neste capítulo foi
Essa situação crítica não é, de forma alguma, peculiar apenas àciência apresentada uma breve caracterização desses dois tipos de ciência so
políticaTi característica de todo ocampo da ciência social formal, en-
ai Emafnmaçfef«extiattadeSartoria970).Esiieveele: ^
» Sob opredomínio de tal orientação, nao í siirpie^ente enconttaras
tes afcmaçfenum importante tratado de teoria i»tftica:" ^ e bomFJ» a "HáX^nSatrfs. Kari Deutsch predisse que por volta de i975as ex*enctos
de intacta da ciência política seriam atendidas pelo 'equivalente auns 50
GhSmSots ébom para opaís* contém, pelo menos, uma« ^ ?"**£.? milhões [dVcartôes IBM] ..*aum crescimento anua) broto de: taheruns 5mi
qTéTomZaa presidência /bom para opaís* contém, no entanto, «£~** lhões.' Considero aestimativa assustadora..." (Sartori, 1970,p. 1.035-0j.
rmai^.^erdVpiesidêncU i identificado com obem da comunidade po
lítica" (Huntington, 1968, p. 26). 45

44

!*J Itysglü&fê&p&çi&t- •:!^>'-,7


ciai Eu deveria salientar, porém, que embora em diferentes passagens
do capítulo ateoria clássica tenha sido utilizada para ilustrar adistin Barker, Ernest. The Political thought of Plato and Aristotle. New
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ção os «Êmffe^ê^^m^^^^^^-^^^^l^.
humanT^slo^dalão^erivãdos do exercício de um senso da realidade Bryson, Gladys. Man and society. The Scottish inquiry ofthe eigh-
comum atodos os indivíduos, em todos os tempos eem todos os luga- teenth century. Princeton, New York, Princeton University Press,
res~Há uma herança de pensamento humano que transcendej teona 1945.
clássica em seu mais estrito Senso, rqde estXãfiva e operante nas men Clark, J.M. Altemative to serfdom. New York, Vintage Books, 1960.
tes ^évHõTeYmdiosos contemporâneos, sensíveis ao caráter precáno Colletti, Lúcio. From Rousseau to Lenin, studies in ideology and so
dfidade moderna. Tal sensitividade, porém,Jalta, oué latente, nos ciety. New York, Monthly Review Press, 1972.
representantes das ciê"ncias sociais formais. A_ disposição característica Cook, Scott. The Obsolete anti-market mentality: a critique of the
da idade moderna reflete uma premissa não articulada sobre anature substantive approach to economic anthropology. American Anthropo-
za humana, a de que a própria natureza humana éum dado histórico. logist, (58) 1966.
Éevidente,' portanto, que aciência social formal nunca poderá alcan Cropsey, Joseph. Polity and economy, an interpretation ofthe princi
çar onível de uma teoria verdadeiramente crítica. Na realidade, nem a pies ofAdam Smith. Haia, Martinus Nijhoff, 1957.
história, nem a sociedade, pode criticar a si mesma, porque ojnstru- Dalton, George. ed. Primitive, archaic and modem economies. Boston,
mento de medida para essa crítica não se contém em nenhuma de suas. Massachusetts, Essays of Karl Polanyi. Beacon Press, 1971.
episódicas configurações. Ao contrário, oinstrumento de medida éum Daly, Herman E., ed. Toward a steady-state economy. San Francisco,
componente das estruturas básicas da natureza humana, que se atuali W. H. Freeman, 1973.
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simpósio permanente, inteligível, no qual todas as gerações se com 1960.
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preendem umas às outras. Mas não é a própria história que nos permi ftA\J
te sermos inteligíveis e inteligentes. Antes, é a razão, em sentido subs ../• Oxford University Press, 1909.
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tantivo, que capacita os seres humanos acompreenderem as variedades
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históricas da condição humana.
Há um círculo vicioso ligando_a ciência social formal à disposi- Flynn, Frederick E. Wealth and money in the economic philosophy of
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s~o^iãis~aTacõ73õ, acima de tudo.jom_os pressupostos característicos., Galbraith, J.K. Economics as a system of belief. American Economic
dessa disposição. Aofuscação do senso comum pela disposição mo-_ Review, May, 1970.
aériiá constitui aessência daquilo que me proponho chamar dé síndro- Georgescu-Roegen, Nicholas (1975). The Entropy law and the econo
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I
I
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Vi •
1 -A
(
r f na racionalidade funcional ou na estimativa utilitária das con*qüên-
cias, uma capacidade - como assinalou corretamente Hobbe-^que
< o ser humano tem enu^inumxom os outros animais. Sua categona
mais importante éaCconve^ciajEm conseqüência ocomportamen
to édesprovido de conteúdoftico* validade geral. Éum tipo de con
duta mecanomórfica, ditada por imperativos extenores Pode«et afa
i nado como funcional ou efetivo e inclui-se, completamente, num
mundo determinado apenas porcausas eficientes.
Em contraposição, aação éprópria de um agente que delibera
f& ASI1MDR0ME COMPORTAMENTALISTA^ sobre coisas porque está consciente de suas finalidades intrínsecas. Pe-
Io reconhecimento dessas finalidades, aação constitui uma forma éti
ca de conduta. Aeficiência social eorganizacional éuma dimensão in-
Ateoria organizacional em voga não consegue proporcionar uma cidental enão fundamental da ação humana. Os seres humanos sao le-
compreensão exata da complexidade da análise edesenho dos sistemas vados aagi atomar decisões eafazer escolhas, porque causas finais
sociais eessa falha resulta, em grande parte, de seus alicerces psicológi - enão acenas causas eficientes - influem no mundo em ^
cos Portanto, o desenvolvimento de uma nova ciência das organiza ação baseia-se na estimativa utilitária das conseqüências, quando
í
ções exige uma explicação analítica dessa base psicológica. Antes de ,UÍt°Ar"ePpa^a identificação eao exame dos alicerces psicoló
( dar início a essa tarefa, diversas considerações preliminares fazem-se gicos da teoria de organização existente, são oportunas nia» dguma*
(
°P° Primeiro as organizações são sistemas cognitivos; os membros fonsiderações preliminares. 0ponto seguinte a^^^^ ,

( de uma organização em geral assimilam, interiormente, tais sistemas e gem lingüística do termo comportamento esua relação com atenden- •

assim, sem saberem, tomam-se pensadores inconscientes. Mas opensa capenetrante da síndrome comportamentalista. Em seguida, será sa-
(
mento organizacional pode mesmo passar aser consciente esistemati- ,. uSo^a-^iromicomportamentalista surgiu como consequ n-
C co, quando articulado de maneira fundjmejuahsta. Es*^tipo depensa- cia de um esforçolu^> sem precedentes para modelar uma ordem
mènto écaracterístico de teóricos, que artlcíIanTo sistemaoogdtivo ociaí de acordVconT-cííTérios de economicidade. Fmaknente£rf
O inerente aum tipo particular de organização como sendo um sistema dada certa consideração aos conceitos de bom homem ede boa soc.e-
c normativo e cognitivogeral.
dade, na medida em que ambos influem na compreensão do conceito
" Ã~maio7íarte daquilo que é usualmente denominado eona da da síndromecomportamentalista.
o organização édesprovida de rigor científico^ é, antes, tautologia dis- -^ -- Não é por acidente que, no mundo ocidental, comportamento
o farçada ou, quando muito, disfarçadopensaniento organizacional, pen- \~* /
só recentemente passou aser vocábulo de uma línguafranca, indicado
o
samento que aceita, por seu valoraríamos critérios merentes aor-
gankação% éT^e hfesInõTsu^proSn^ó próprio processo organiza
ranunca
do foipavões FZ*Mm^*^^em± Ag™
usada na ImguagemWe^aTenla^^
I ÇK
o cional. Considera como normais e naturais os requisitos organizacio acordo cornos dicionaristas, começou a ter aceitação lingüística po i»// JL

o
nais tal como, por acaso, são encontrados sobrepondo-se aconduta
humana como um todo. Em contraposição, uma teona da organização
wy voUa
volta de
de f49^e
vuiia wi<
1490Ae significava
,
significava conformidade
o-
contormiaaoc aordens
a uiucu» ecostumes
c "i ditados
^5> pelas conveTüinciat exteriores. Mesmo em nossos dias, apalavra nao

„„„~c Ait<t i na avra nao

o verdadeira e científica tem seus próprios criténosristeAcnténos que <í4^oL perdeu


£ egoriaseude^co^±r*nlo^^^
sigroificadíLori^^ send.° ™
que égeralmente
não são necessariamente, idênticos aos dalejjciêncjajoçiâl>e oigaruz*
o cionaLUma teoria científica da orgariizaçãohaõlèbaseia em sistemas neghgenciadõrp^uTTconTonnidlld^
o cognitivos inerentes a qualquer tipo de organização existente, mas an mente estabelecidos foi transformada em padrões de moralidade hu
tes faz a avaliação das organizações em termos da compreensão da mana em geral. Homens emulheres já não vivem mais em comumda-
c conduta geralmente adequada aseres humanos, levando em considera oTonTe um senso comum substantivo determina ocurso de suas
o ção tanto requisitos substantivos como funcionais. ações Pertencem, em vez disso^juwciaia^^ pouco
Segundo, propõe-se aqui uma distinção entre comportamento e S além de responder .ry^^or^^^ indivíduo tor-
o ação, para esclarecer o reducionismo psicológico da atual teoria de or nou-se umacriatura que secomporta.
c ganização. Ocomportamento é uma forma de conduta que se baseia 51

c> 50

c
«
<
«
Q*iyi\i n<^ c/yx/x 'íAl/fr
Asíndrome comportamentalista é uma disposição socialmente Concluindo estas considerações preümmares,volo-me W
condicionada, que afeta avida das pessoas quando estas confundem as ra uma discussão analítica
comportamentalista: de V^>^^^nt^^
a) afluidez da indmduahdade, b) «Perspecti^s-
regras enormas de operação pecubares asistemas sociais episódicos mo; c) oformalismo; d) ooperacionalismo. Serão mdicadas as cone
com regras enormas de sua conduta como um todo xões entre esses traços eamentalidade imposta pelo mercado.
Asíndrome conaportamentalista, isto é, a ofuscação do senso
pessoal drcntérios adequados de modo geral à conduta humana, tor-O,
nou-se uma característica básica das sociedades industnais contempo- XJ 3.1 Afluidez da individualidade —^ fC' -s '
râneas.
Essas sociedades constituem a culminação de uma experiência A"individualidade fluida" é uma expressão usadai por Axnold
histórica, a esta altura jávelha de três séculos, que tenta criar um tipo Hauser em seu estudo do maneirismo, estágio inicia^ da arte moderna
nunca visto de vida humana associada, ordenada e sancionada pelos Assinala Hauser que aindividualidade fluida e^J"**™" ^J ív
processos auto-reguladores do mercado. Aexperiência foi bem-sucedi- dos artistas maneiristas anteciparam atendência que, séculos^mau ar- V
da certamente que bem demais. Não apenas omercado e seu caráter de, se transformou numa síndrome psicológica das sociedades cap.ta-
! utilitário tomaram-se forças históricas e sociais inteiramente abrangen
tes, em suas formas institucionalizadas em larga escala, mas também
demonstraram ser altamente convenientes para a escalada e a explo
ração dos processos da natureza epara amaximização da inventiva e
üs as. Hauser destaca Montaigne como um e^01^0™^™™*
rista ecomo um dos melhores exemplos da indmduahdade flu da_In-
"erpreta ofilósofo francês como afirmando que aavaliação das coisas
nâ?tem base permanente eque "nada ébom ou maue^«
( das capacidades humanas de produção. No entanto, através de todo
(Hauser 1965, p. 49). Criados pelo homem, os valores nao sao per
esse experimento, o indivíduo ilusoriamente ganhou melhora material pétuos,'imutáveis einequívocos... anatureza humanaé fraca em-
em sua vida e pagou por ela com a perda do senso pessoal de instante, num estado de eterno fluxo, suspensa entre d erentes estiv
|r auto-orientação. Aisenção do mercado da regulação política deu ori dos, inclinações, disposições, porque está em continua transiçãot
1!
gem aum tipo de vida humana associada ordenada apenas pela intera sua verdadeira natureza não está na permanência, mas « ™^H
c ção dos interesses individuais (para a autopreservação), ou seja, uma (Hauser, 1955, p. 49). Assim escreve Montaigne, significativamente,
.
sociedade em que o puro cálculo das conseqüências substitui o senso em seu Ensaios:
comum do ser humano.
Como expliquei no capítulo 2, é impróprio considerar como "Não retrato oser; retrato aquilo que passa... Se minha mente pudes- x
ciência social formal aquela que se baseia nanoção comportamental se encontrar uma base firme, eu não escreveria ensaios, tornaria de-
do ser humano. Essa chamada ciência equipara a natureza humana às cbteÜ mas ela está sempre aprendendo eexperimentando (Mon-/
c características de um certo tipo de sociedade que é, ela própria, um taigne, 1975, p.611).
è mero acidente na história. Essa ciência trata de socialização, de acul
turação e de motivação como se os padrões do bem fossem inerentes Sustento que afluidez da individualidade não pode ser inteira
o a uma tal sociedade.1 Em vezdisso, deve sercompreendido que todas mente explicada sem que se vincule esse fenômeno àforma de repre-
© as sociedades são menos do que boas; apenas o serhumano, eventual Tteão a^vés da qual as sociedades capitalistas teÇtunj^J» •
mesmas. Implícito nas variadas formas de representação característi
mente, merece ser caracterizado como bom. O bom homem, por sua
o vez, nunca é um ser inteiramente socializado; é, antes, um ator sob ca! de sociedades medievais, bem como de antigas sociedades ede nu
tensão, cedendo ou resistindo aos estímulos sociais, com base em seu mero Sociedades contemporâneas não-ocidentais, está oproposto
o senso ético. Na verdade, osprocessos não regulados do mercado jamais Jeque ouniverso, em seu conjunto, constitui uma ordem coerentee
podem gerar uma boa sociedade. Tal sociedade só pode resultar das que aprópria comunidade humana éparte dessa ordem. Cada uma
deliberações de seus membros em busca da configuração ética, subs dessas sociedades se imagina como contínua, porém precária, represen-
o tantiva, de sua vida associada. tação da ordem cósmica, num mundo de histona ede mudança. Aqui
o lo que oproblema da representação acarreta para tais sociedadesêo
J Assim, como diz Reichenbach, a ética serviria apenas para "informar-nos que há de verdade na existência delas. Afonte de sua auto-mterpreta.
o sobre matéria de fato. Esse é o tipo de umaética descritiva, que nos informa ção éoparadigma meta-histórico que oferece adequado ponto de re
sobre os hábitos morais de vários povos e classes sociais; essa ética é umaparte
( da sociologia, mas não é de natureza normativa" (Reichenbach, 1959, p.276-7). ferência como uma estrutura normativa para a conduta humana em
< 53

(
(
n
( O^ vácuo meta-histórico, não dispõe otoàiríéaoàoplÊofinm^ç^ào
( para que sua identidade se desenvolva. Ele é. :antes.compelido aen
eeral2 Como ahistória do mundo eas mudanças circunstanciais sola firmai processos emudanças que constituem denvativos de um movi
( pam,' continuamente, aconsciência que oindivíduo tem desse para mento amo-induzido eindefinido do agregado iriiOW
( digma essas sociedades promovem, de vez em quando, cerimonias de demo éotolo enganado por uma fé g^^^gg^ag
autopúrificação e de restauração do senso comum dos fundamentos Bíblia; parã-õTcnTntes alè éaesperariçâ^ãTcõisas,que>™*°*J™ ^V> !<
•( meta-históricos. Em tais sociedades, os indivíduos encontram base fir vistasVeW^ntinüa^ente afetando ouniverso ec&ndc, iscado
o me para o desenvolvimento de suas identidades, e há padrões para aõcurso-dõs acontecimentos. Mas, sem dispor de raízes meta-històn
muitos papéis e para muitas vocações, mas esses padrões proporcio caie rriltaslóciais, a mente leiga moderna transpôs, mais do que eü-
CJ nam os meios para aexpressão da identidade individual. minou, seus artigos de fé: agora ela acredita na mão=mjüSiyel_dj
o Nas sociedades modernas, a representação é um processo pura O^
mente sociomórfico; já não émais uma legitimação da verdade da exis ^^=fõde ser deduzida uma certa epistemoíogia dessa condição, de
(. tência comunal sobre fundamentos meta-históricos. E, antes, uma acordo com aqual os processos eas mudanças têm que ser exphcados
( exigência para apacificação negociada entre os indivíduos, para habi como ativados exclusivamente por causas eficientes. Essa, alias a
litá-los a acomodar seus interesses pessoais.3 Asociedade moderna nao epistemoíogia em que se apoia aciência socai convencional. Na lin
( se reconhece como miniatura de um cosmos maior, mas como um con guagem que prevalece nessa ciência, expressões como orientação para
(!
trato amplo entre seres humanos." Assim, a conduta humana se con Oprocesso t orientação para amudança determinam afe errônea na
forma a critérios utilitários que, aseu turno, estimulam afluidez da in abXita transitoriedade das coisas. Tal compreensão de proce sos e
mudanças édefeituosa e unilateral, por 'azoes lógicas que indicarei,
(
c
dividualidade. Na verdade, o homem moderno é uma fluida criatura
calculista, que se comporta, essencialmente, de acordo com regras
objetivas de conveniência.
X deduzidas das investigações filosóficas de Alfred North Whitehead
Um dos muitos méritos da filosofia de organismo de Whitehead
éaelucidação do conceito^e^ròcèsSo, Reconhece ele como valida a
( Não é por acidente que Hobbes, que é a fonte de maior autori
dade em relação ao moderno conceito de representação, concebe oin mtu ão deÇHeráclito~ée ^lõdãsãs coisasfluem, fs considera mais
c divíduo como um seguidor de regras. Para ele, bom emau são simples adequado falar do fluxo das coisas, uma vez que todo fluxo éfluxo de
o denominações, cujos significados estabelecem-se convencionalmente. ^ alguma coisa (Whitehead, 1969. p. 240). Ofluxo das coisas éaconcre-
No conceito de representação consistente com esse ponto de vista, a ^ tizacão de seus padrões imanentes e, portanto, resulta inteiramente de
o imparcialidade substitui a verdade. Asociedade é um sistema de re-A> J• $
íítiyUrL.tUílL4LiL*L •••>••••• • —
causas eficientes efinais. Ofluxo das coisas éobjetivamente condicu,
o gras de uma determinada espécie. Se oindivíduo acede em tomar par 4> nado pelos dados constitutivos do mundo determinado etambém pela
te nele, reconhece que sua conduta está limitada à órbita de um con experiência particular de suas finalidades. Não existe fluxo indefinido
o trato 0 bom cidadão obedece aprescrições externamente derivadas. ^ do nada para onada. Para ser exato, as coisas tomam-se algo seletiva
o Averdadeira ação éestranha asuas transações com as outras pessoas. \^-J mente, finitamente. Um tomar-se algo não-seletivo, mdefinido, éin
Ele só é capaz de ter comportamento. concebível. As coisas são processos finitos e"epocais'. Perecem como
o 0 fenômeno caracterizado por Hauser como a fluidez da indivi processos, embora sejam perpétuas como padrões. Numa síntese,
o
dualidade é peculiar à sociedade moderna e constitui uma das princi Whitehead apresenta sua idéia de fluxo, como se segue:
pais facetas da síndrome comportamentalista. Na sociedade moderna,
o não se supõe que o estado dos negócios cotidianos do mundo seja ve "Há dois princípios inerentes àprópria natureza dás coisas, que.apa
rificado segundo um paradigma de ordem cósmica. Em tal situação de recem sempre em algumas corporificações particulares, seja qual for,
o
2 Sobre representação e seus fundamentos meta-históricos, veja Voegelin ocan\po que explorarmos - o^mútoM^m^ oejp^oje
o conservação. Nada pode ser real sem ambos. Amera mudança sem con- |
o
(1952) eEliade (1959).
3 Hirschman (1977) trata da questão dos interesses, na forma pela qual se
emção^é uma paLgem do nada para onada A-era conservação
relacionam com o surgimento do capitalismo.
sem mudança não pode conservar. Porque, afinal de contas, ha um flu-
o xo de circunstância eafrescura de ser se evapora sob amera> repetição.
4 L. von Stein assinala, corretamente, que a sociedade moderna é constituída Ocaráter da realidade existente écomposto de organismos perduran
o quando a "organização davida econômica se transforma naordem da comuni do através do fluxo das coisas" (Whitehead, 1967, p. 201).
dade humana" (von Stein, 1964, p. 47). Conseqüentemente, "a percepção dos
< [interesses] regula todas asatividades extrínsecas ... estásempre presente e viva
em cada indivíduo, determinando suaposição social" (von Stein, 1964, p. 55). '55
V
( 54
I

4"

(
( 3.2 Perspectivvmo
Whitehead esclarece, em essência, que dissociada da categoria ser
( (• imnossível conceber acategoria de passar ou mudar.
Wkwe perguntar o que foi que, na histona moderna, gerou o Em conseqüência, numa visão fluídica, com a^terpretação da
( sociedade como um sistema de regras contratadas, o mdividuo e eva-
senJanto geneSzado da permanente transitoriedade de todas as do acompreender que tanto asua conduta quanto^çpn^ute dos ou
( ST tãcbem articulado por Montaigne. Uma parte da resposta éda tros é afetada por uma perspectiva. Toma-se um^spectivist> Ecer
(
da Õdo conceito de natureza característico da ciência moderna, apar to que aperspectiva ésempre um ingrediente da conduta humana, em
tir do século XVÜ. Em última análise, aciência moderna ve anatureza qualquer sociedade. Mas somente na sociedade moderna éque oindi
( como partículas de matéria em movimento, erepresenta os valores co víduo adquire a consciência desse fato. Essa sociedade gera um tipo
(
mo adventícios, em relação ànatureza. No domínio da vida cotidiana, peculiar de conduta, que merece ser referida como comportamento, e
essa visão filtra-se como um sentimento de uma permanente e sem para comportar-se bem, então, ohomem só tem que levar em conta as
Cl propósito transitoriedade das coisas. Reduzidas apartículas de matena_ cWe^iaS^riw^ os pontos de vista alheios eos propósitos em
em movjrrjenio^âo-elas^jacebidas^o
( TnHnri^rTaiTi^ancI Se valores epropósitos não podem ser consi- jogo.
c ^éráaoT^oTneWteTàs próprias coisas, estas estão fadadas ase en Ao discutir ocrescente destaque do perspectivismo como um as
cadearem num mundo em infinita progressão. Nesse mundo nao há pecto fundamental do alicerce psicológico da teoria de organização
( um tomar-se algo, visto como o processo das coisas não pode ser ava que ora prevalece, será útil fornecer alguns antecedentes históricos do
( liado independentemente do pressuposto de que as mesmas sao dota termo. Aperspectiva, como djmensão da exrnejsão humana,Ltranjfo-_
(
das de experiências privadas de realidade, ou de finalidades próprias. mou.se nuVteímTtécnico, primeiro no domínio da pmtura, Na reah-
Aquestão admite, também, outra resposta parcial. Ciientimento_ dade todos os estilos de" pintura se caracterizaram por uma certa pers
c de transitoriedade das coisas, permanente e sem propósito, é uma con- pectiva. Mas somente na fase final da Idade **V"^f\|^
c
seqüêncnHh^&nSrtZa^áõacrítica, pelo indivíduo, da auto-represen- tiva aconstituir objeto da atenção do pintor. Q'* ^? fl^t
admite aue aquilo que o artista oferecejiumjejajiaojjirna copiada
tacão da sdCToe moderna, que se define como um precário contrato
c entre indivíduos que maximizam a utilidade, na busca da felicidade
pessoal entendida como uma busca de satisfação de uma interminável Petrarca (1304-74) repetiria Giotto em sua máxima: Cada um de
o sucessão de desejos. Para além das fronteiras sociais, não há significa veria e" nVver «u próprio estilo." Foi, porém, Uon Battista Alberti
o ção para esse esforço. Uma vez que, em conseqüência de seu caráter (1404-72) quem teve a percepção das leis da perspectiva como um
competitivo, omundosocial como_um_lfldn se toma estranho aojio- objeto de investigação científica formal. Subseqüentemente na este,
o mem este terTteãipeTSr sua alienarão, seja anulando-se através da pas- ra da revolução comercial e industrial, aperspectiva deveria tornar-se,
o slvT conformidade a papéis que prevalecem aqui e ali, ou recolhen- cada vez mi, uma categoria sistemática de trabalho artístico, assim
do-se dentro de si mesmo, afirmando assim uma identidade demasia como uma característica da conduta humana em geral.
© damente consçienteJe_iuriesjnâ1 Mas já que ocentro ordenador de
sua vida não está em parte alguma, sua jdenlidadfi é de sua propna No século XVI, florescia na Itália um mercado de arte. 0 que as
o
criação. Essa forma de cultivo da individualidade acaba em narçisis- pessoas de gosto compram, num tal mercado, é, preferentemente avx-
Trio~*~Ã psicologia, ela própria esquecida de tudo que possa transcen síL pessoal dos artistas. Oelemento pessoal toma-se amarca regrada
deias persuasões sociais que agem sobre arisjau^Jiumariii^e^ dobras de arte eaapreciação dessas obras requer uma certa inicia-
o
xílio do indivíduo. Anossa é uma era d<rgmçndagem psicológica? Nas c7o na? mLiras peculiares aos artistas. Os historiadores destecam
o clínicas psicológicas, o indivíduo que se isolou da realidade éencora onv"enmtemente,Po maneirismo como a%£*£*"£$£
naquele século, quando oconnoisseur encontra P*la P™^"2£"
jado alancar-se àprocuraja_pjópria individualidade, mas édiscutível
que essa procura possa jamais ter sucesso, num mundo ordenado de oportunidade de ganhar sua vida nos centros artísticos da Itáta. E.de
acordo com regras contratuais de agregação, social de interesses com um comerciante eum corretor entre os artistas e«£^jjj•«
petitivos. Quando a condição humana é presumida como apenas so artistas iá percebem que trabalham para um mercado. 0 conceito da
cial, a fluidez daindividualidade é inevitável. oropriedade intelectual, desconhecido na Idade Média, é agora reco-
SfoaSa éum empresário, habilitado areclamar direitos de
s Sobre esteponto,veja Hauser (1965) e Lowenthal (1968).
57
56

I
»
% «

propriedade sobre seus trabalhos, que pode ou não vender ao público, nados como expressões legítimas da conduta humana. Dessa forma,
de acordo com o preço domercado.6 louva atos deploráveis para o senso comum. O príncipe não deveria
No entanto, nessa época, o perspectivismo não está confinado considerar seu dever a prática dequalidades "consideradas boas", por
aos meios artísticos. Constitui uma feição davida diária de umnúme que elas podem resultar na sua "destruição". Há qualidades "quê pa
ro crescente de pessoas, envolvidas em atividades propiciadas pelo recem vícios mas que, se ele as pratica, lhe poderão trazer segurança
emergente sistema de mercado. Na realidade, o mercado é a força e bem-estar" (Maquiavel, 1965, p. 59). É certo que "todo mundo",
subjacente, geradora da visão perspectivista da vida humana associa diz ele, "admitirá que seria muito louvável que um príncipe exibisse
da. Poder-se-ia dizer que Maquiavel encontra nascondições que preva [as] qualidades... consideradas boas... Mas nenhum governante po
lecem em seu tempo a inspiração para elaborar sua teoria política.7 de possuí-las, ou praticá-las inteiramente, por causa de condições hu
0 perspectivismo permeia o pensamento de Maquiavel e um manas que tal não permitem" (Maquiavel, 1965, p. 58). Os ensina
exemplo disso é a analogia usada porele na dedicatória â'0Príncipe a mentos de Maquiavel significam que não apenas os príncipes, mas
Lourenço de Mediei. A dedicatória em si é um recurso de conveniên igualmente os homens comuns, têm o direito de pôr de lado os pa
cia, servindo à sua intenção de obter vantagens pessoais com suaadula- drões morais das boas ações, na perseguição dos interesses pessoais.
ção do príncipe. Mas o que deve sersalientado é a caracterização, que Ele é, na verdade, um dos primeiros pensadores modernos que com
Maquiavel faz, da forma correta de estudar a arte de governar. Ele preenderam os padrões motivadores imanentes a uma sociedade cen
compara os estudiosos da políticacom "aqueles que desenham osma trada no mercado. Tais padrões em geral e o perspectivismo^em par
pas dos países". E explica: eles "secolocam bem embaixo, naplanície, ticular tomaram-se os padrões normativos da conduta humana. D
W.'1 -

para observar a natureza das montanhas e doslugares elevados, e para 0


observar a dos lugares baixos colocam-se bem no alto das montanhas. -

3.3 Formalismo
Da mesma forma, para poder discernir claramente a natureza do povo, i
o observador precisa ser um príncipe e para discernir a dos príncipes,
O formalismo é um terceiro aspectodos fundamentos psicológi
tem que fazer parte da populaça" (Maquiavel, 1965, p. 10-1). Ma cos que inspiram aatual teoria de organização. Éuma característica da
quiavel recorre a essa metáfora perspectivista a fim de declarar que o conduta humanaque se tomou externamente orientada. 0 termo é ge
estudo da política requeruma integração dos pontosde vista tanto do
príncipe quanto do povo. Para usar a terminologia de Mannheim, Ma
ralmente empregado pelos historiadores da arte, incluindo Arnold
quiavel já é um "relacionalista" completo e acabado. Seu relacionalis-
Hauser, para descrever uma característica psicológica particular da so
O ciedade ocidental, no início de seu período capitalista. O formalismo
mo, porém, não se preocupa coma verdade, mesmo emsentido relati ainda é útil, hoje em dia, como uma categoria explicativa da conduta
c vo. Preocupa-se, essencialmente, com a conveniência. O príncipe preci humana. Na realidade, tomou-se um traço normal da vida cotidiana, i
sa ser instruído sobre a perspectiva do governante para preservar e v
o
aumentar os seus bens. Precisa compreender a perspectiva do cidadão
nas sociedades centradas no mercado, onde aQJjgjgjnria das renTas M^^
e comum para enganá-lo. O príncipe precisa ter sensibilidade para os im
^ jubstitui a preocupação pelos padrões éticos substantivos. Exposto a J ' íttj
um"mundo infiltrado de- relativismo-moTaCõTmTvTduo egocêntrico Ç._v
perativos cênicos, isto é, ser virtuoso por fingimento e capaz de indu sente-se alienado da realidade e, para superar essa alienação, entrega-se
o zir os cidadãos a serens bons através do sábio exercício da crueldade.
a tipos formalistas de comportamento, isto é, sujeita-se aos imperati
o Maquiavel distorce sistematicamente a linguagem teórica por vos externos segundo os,quais-£|»íoduzida a vida social. Toma-se um
despojá-la de qualquer substância ética, prática em que Hobbes mais maneirista. De fato, oCa^neirismo' é} disposição psicológica exigida S)s>}a%{.c P
o tarde seria soberbo. Por exemplo, com Maquiavel a prudência ganha / porum tipo de política divoTciada-dó interesse pelo bem comum, por
o uma conotação desconhecida. Sua idéia de prudência é vazia de con " um tipo de economia unicamente interessada em valores de troca, e
teúdo ético. A prudência é mero cálculo de conseqüências, uma habi por uma ciência, em geral, essencialmente definida por método e por
o lidade a serviço dos interesses. É ele o fundador de uma "teoria polí l/V\ rvlY/A*
praxes operacionais.
Q tica de interesse" (Wolin, 1960, p. 233), na qual "crueldade", "em
buste", "logro", "usura", "guerra", "assassínio em massa" são sancio- P O comportamento é uma manifestação do maneirismo e é intei
O
6 Sobre o mercado artístico na Itália e o surgimento da arte moderna, veja von
JO. ramente capturado pelos critérios incidentais da arena pública. Seu
O Martin (1944). significado exaure-se em sua aparência perante os outros. Sua recom
I pensa está no próprio reconhecimento como adequado, correto, justa
7 Sobre o "momento maquiavélico",veja Pocock (1975).
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rença como uma característica de conduta recomendável, um persona


as, uma criatura
.?
gemdo 0 Cortesão declara que:
,,,/comportamenta- "independentemente de ser uma fonte real de graciosidade, [a indi
lista pode ser extraída da cuidadosãTêTnõrade dois documentos manci- ferença] traz consigo outra vantagem. É que, seja qual for a ação
ristas 0 cortesão, de autoria de Baldesar Castiglione, pubhcado em que acompanhe, não importa quão trivial, ela não só demonstra a
1528' eTeoria dos sentimentos morais, de Adam Smith, pubhcado em habilidade da pessoa que a pratica, mas também, muitas vezes, faz
175o' Uma vez que tais documentos são especialmente reveladores, com que a mesma seja considerada bem mais importante do que real
não apenas quanto à síndrome do comportamento em geral mas em mente é. Eisso porque leva os observadores a crer que um homem que
relação ao formalismo em particular, serão eles analisados nas paginas age bem com tanta facüidade deve ser possuidor de uma habilidade
seguintes. ainda maior do que aque de fato tem, e que se quisesse se darámaio
As cortes sempre existiram sob uma forma qualquer, através da res trabalhos e esforços, poderia fazer as coisas melhor ainda" (Casti
história. Mas a corte, tal como apareceu na Itália, na Espanha, na ;í
glione, 1976,p. 70).
França eem outros países-europeus, nas fases iniciais do capitalismo,
foi um fenômeno histórico especial. Mais doque nunca anteriormente, Através do livro todo, Castiglione sugere que a única recom
a corte era então o centro da vida associada que tudo abrangia. Era a <lP°
pensa da boa conduta é o louvor público. Para ele, não há aboa con
arena em que regularmente se encontravam os atores importantes da duta por si só e, em conseqüência, um dos tipos que criou aconselha o
vida pública. Nada, nos domínios da religião, da política, da econo cortesão a "prestar atenção ao lugar e à pessoa em cuja presença yL <y\sjwi.-
mia do militar, do artístico, ou em outros domínios da vida publica, estiver" e a "regalar os olhos daqueles que oestiverem olhando" (Cas óouie.
conquistava caráter normativo, geral, sem ser primeiro filtrado pela tiglione, 1976, p. 116). Num período posterior da sociedade ocidental,
corte. Uma vez que a corte influía decisivamente sobre os negócios a arena pública transcenderá a corte e transformar-se-á na própria
humanos do dia-a-dia, as maneiras predominantes entre os que eram sociedade. As regras predominantes de comportamento social transfor-
admitidos em seu círculo transformavam-se em normas de boa condu mar-se-ão emregras de boa conduta emgeral.
c ta em geral. Pela própria identificação com tais maneiras, sem atitude Aeste ponto da análise, a explicação da na^urezajtojonnalismo.
0 crítica, Castiglione transforma historicamente critérios precários em pode ser extraída da afirmação de Aristóteles, de que "um homem é
critérios de boa conduta humana. Éexatamente essa identificação que destinado à associação política, num nível superior àquele em que as
0 constitui o traço essencial do behaviorismo. abelhas ou outros animais gregários jamais poderão estar associados"
É de assinalar-se que Castiglione se coloca, a sipróprio, na com -• ,á (Aristóteles, Política I, 1.253a, § 10). Em consonância com essa afir
0 í
panhia dê Cícero, que também éum autor de vários panfletos sobre mação, salientou ele também que um bom homem não é, necessaria
0 normas de conduta humana. Mas se alguém ler cuidadosamente o De mente, um bom cidadão. Oque é enfatizado por Aristóteles é ofato
e Officiis de Cícero, por exemplo, perceoerá que o escntor romano de que o bom homem é, sobretudo, guiado pelo que se qualifica aqui
nunca se rendeu à atração episódica de puramente palaciano. Cícero como razão substantiva, comum a todos oshomens, em qualquer mo
o preocupa-se basicamente com aquilo que é bom de modo geral, além mento e em qualquer lugar, eque não deve ser considerada coinciden
0 de quaisquer circunstâncias episódicas. Assim é que escreve: "Muito te com padrões particulares de qualquer sociedade determinada. Em
embora [a] excelência moral [de uma conduta humana] não seja de C seu Teoria dos sentimentos morais, porém, Adam Smith torce oantigo
i) modo geral enaltecida, ainda assim édigna de respeito; e, por sua pró significado de razão, com oobjetivo de harmonizar o termo com crité
pria natureza, merece louvor, muito embora não seja louvada por nin tf rios de economicidade, e a substitui pelo sentimento individual de
0
guém" (Cícero, 1975, p. 17). gregarismo. Escreve ele:
0 Em contraposição, Castiglione está basicamente interessado na "... embora a razão seja, indubitavelmente, a fonte das regras gerais
0 aprovação social. Assim sendo, descreve o comportamento palaciano de moralidade, e de todos osjulgamentos morais que formamos atra
como um padrão geral de conduta humana. Seu livro não éum tratado vés delas, é de todo absurdo e incompreensível supor que as per
i) sobre educação, como aRepúbUca, de Platão, eoDe Officiis, de Cíce CJ3Vt cepções iniciais do certo e do errado possam ser derivadas da razão...
0 ro, autores que Castiglione apregoa estar imitando, mas apresenta uma ^ Essas primeiras percepções, da mesma forma que todos os outros
metodologia requerida para a conquista da boa reputação, um tratado experimentos em que se fundamentam quaisquer regras gerais, não
0 sobre agerência das impressões. Por exemplo, falando sobre aindife-
61
u 60

L
^-m «r nhieto da razão, mas de imediato senso e sentimento... A cimento. Este ultima resposta constitui a essência daquilo que aqui é
^t Toent não pode tomar qualquer objeto particular, por si ;<** rotulado de operacionalismo.
r^oXaSvel ou'desagradável àmente" (Smith, 1976, p. 506). 3*f Parece prudente, no entanto, qualificar o operacionalismo
entendido dessa forma como operacionalismo positivista, para que
Na opinião de Adam Smith, assim como na de todos aqueles que 0^ ninguém interprete este item como insinuando que os critérios de rigo
afirmam que amoralidade écompatível com aprópria sociahdade, o roso raciocínio são irrelevantes em todosos campos de estudo,exceto
indivíduo é deixado sem um piso firme, metassocial, para aresponsá a física. Aocontrário, onde quer que a articulação do pensamento não
vel determinação do caráter ético de sua conduta. Ohomem nao age, encontre critérios de exatidão, não existe sabedoria. É por isso que
propriamente, mas comporta-se, isto é, é inclinado a conformar-se não é fácil para uma pessoa empenhar-se numa conversação no terreno
com as regras eventuais da aprovação social. Em conseqüência, aedu dametafísica, daética, da estética, sem dominar osrespectivos padrões
cação não visa desenvolver opotencial do indivíduo para tomar-se um específico» de pensamento e de esclarecimento das matérias. Por
hnm homem nosentido aristotélico. "Ogrande segredo da educação, exemplo, aquilo que é conceituado como forma na metafísica, como
declara Smith, "é dirigir avaidade a objetos adequados (Smith, 19/õ, virtude na moral, como beleza na estética, não é dado à percepção
p 417). Acorreção da conduta humana está em sua mera forma, não humana da mesma forma que tamanho, forma, extensão e número de
em seu conteúdo intrínseco. Oindivíduo deveria colocar-se diante de objetos. Não obstante, pode-se argumentar, legitimamente, que imagi
um "espelho, através do qual [elej possa ... com os olhos das outras nar as coisas como formas objetivas é um requisito para a apreensão de
pessoas, examinar a propriedade da [sua] própria conduta" (Smith, sua natureza concreta. Justamente por isso, osjulgamentos que dizem
1976, p. 206). Não há, assim, discordância essencial entre Castiglione que um indivíduo é bom eque uma obra de arte ébela significam que
e Adam Smith, no que se refere ao método adequado à determinação virtude e beleza são objetos reais de uma espécie determinada, não
de normas de conduta humana em geral. Aúnica diferença entre eles é apreendida diretamente pela percepção sensorial imediata.
de natureza episódica. Para Castiglione, oespelho do homem é acorte. Poder-se-ia considerar como representativo do operacionalismo
Para Adam Smith, é a "sociedade". Portanto, Teoria dos sentimentos positivista o argumento de P. W. Bridgman de que "um conceito nada
morais de Adam Smith, é equivalente ao livro de Castiglione, enquan mais é que um conjunto de operações".8 G. Lundberg exprime sua
to ambos sucumbem ao fascínio do episódico, cujo modelo étransfor idéia de operacionalismo afirmando que a"receita de um bolo define
mado em um padrão de conduta humana em geral. o bolo".9 É possível que nem todos os operacionalistas positivistas
Alegitimação de formas episódicas de conduta humana, de acor concordem literalmente com Bridgman e Lundberg, mas em geral
do com seus precários princípios imanentes continua, até hoje, a ser «ar.. todos eles partilham da doutrina esposada por ambos, de que apenas
um postulado básico da ciência do comportamento, "objetiva", "livre aquilo que pode ser fisicamente medido ou avaliado merece ser consi
de valores". É, pois, compreensível que os que contemporaneamente derado como conhecimento. Esta é uma das razões pelas quais, nos
praticam a ciência do comportamento se vejam, a si própnos, como, meios operacionalistas, a palavra metafísica écarregada de conotações
estudiosos de processos, cuja forma, enão asubstância, éoque impor pejorativas. Dizer que uma afirmação émetafísica eqüivale adescartá-la
ta. Para essas pessoas, a síndrome comportamentalista é uma premissa, por não ter sentido.
o e questioná-la não tem sentido. O operacionalismo positivista pode ser considerado um traço da
ò síndrome comportamentalista. Em outras palavras, quem quer que
3.4 Operacionalismo adira ~o operacionalismo positivista, fica preso aos limites de uma
peculiar tendência psicológica. Na análise da psicologia do operaciona

I O operacionalismo, como éentendido atualmente, tenta respon-


der àseguinte pergunta: Como avaliar ocaráter cognitivo de uma afir- I
mação? Há duas respostas básicas para esta pergunta, euma delas admi- «
te a existência de diversos tipos de conhecimento (tal como o metafí
sico, o ético, o físico), cada um dos quais requerendo normas especí
lismo, é forçoso enfatizar duas de suas características principais.
Primeiro, o operacionalismo positivista é permeado de uma
orientação controladora do mundo e,desse modo, induz o pesquisa
dor a enfocar seus aspectos suscetíveis de controle. Tal característica
decorre de pontos de referência filosóficos e psicológicos.
o ficas de verificação. Todavia, há aqueles que alegam que apenas asnor
mas inerentes ao método de uma ciência natural de características " Apud Sjoberg(1959, p. 605).
o
matemáticas são adequadas para a validação e averificação do conhe- 9 Apud Sjoberg(1959, p. 606).
o
63
62 \£è*c~ 6-
í <
I
I
»

física, a formulação teórica, na física de hoje, é antes uma arte e


Füosoficamente e, na realidade, metafisicamente ooperaciona- obedece a regras estéticas.1 , ..
««« nSsta reflete avisão do universo inerente afísica clássica. Psicologicamente, aorientação controladora do' "tundo tem*»
PoT xemPr^Soiique aquüo que éreal no mundo só pode inerente ao operacionalismo positivista desde seu ™«o tatónc^no »
„Srado como extensão, espaço, massa, movunento esolidez. século XVD. Na física, seus fundadores foram personalidades, como
Conseqüentemente, oaparelho conceptualpara abordairi.realidade Galileu, que reagiam contra aorientação contemplativa dominante e
« e ser derivado, por força, da matemática. Na realidade, amate- dogmática, dos pensadores medievais. Os pensadores modernos deseja
vam que omundo prático fosse oobjeto mesmo da indagação cientí
m^crmodema leva em conta, na natureza, apenas aqueles aspectos
1 podem ter expressão quantitativa. Em geral, os físicos clássicos ^h xy
v*
fica Arefinação que Galileu fez da doutrina de Aristóteles sobre a
queda dos corpos, mediante aexperiência aque procedeu na Torre de I
ZàtoZ esses aspectoscomo as únicas qualidades edeclaram secun- r Pisa, éexemplo de um caso em que avalidação do conhecimento exige i
aaria. (isto é, invenções da imaginação) quaisquer outras qualidades ^ mais do que raciocínio süogístico. C(Jt\.)
que a mente conceba. Dessa forma, conceitos de alta ordem como Na raiz do operacionalismo está o interesse em lidar com pro
aqueles que constituem amatemática moderna, determinam quais as
coisas do mundo que devem ser entendidas como reais ou irreais^ Es blemas práticos do mundo eesse interesse foi tomado explícito por
substituição do abstrato pelo concreto é precisamente aquüoque Francis Bacon em seu Novo órgão, onde afirma que "conhecimento é
( Whitehèíd identifica, com exatidão, como a"falácia da concretidade poder" Coerente com essa orientação é a assertiva de Bacon, de que l
mal colocada" (Whitehead, 1967, p. 51). "aquüo que éomais útil na operação, éomais verdadeiro no conhe- \) f\. ft
( cimento" (Bacon, 1968, p. 122). Énesse sentido que oque deturpa o
< Hobbes aceitou a doutrina de Galileu e, de acordo com ela. operacionalismo é sua identificação do útil com o verdadeiro. Utili
desenvolveu sua noção de "filosofia civil". *W*f>9* J"nge dade é uma noção cheia dejmbigjn^adejtiça, Em si mesmo, aquilo
( aquüo que é hoje conhecido como ciência política esocial. Assim e que é útü pode servir para ser tanto eticamente sadio quanto etica
(
que afinna ele que sentimentos como amor, benevolência esperança, mente errado nodomínio social e, desse modo, o papel do operaciona
aversão™ imptes movimentos da mente, induzidos por Influências lismo em ciência social deveria ser eticamente qualificado. Isso e preci i
c externas) da mesma forma que aconduta humana em geral devem samente o que Hobbes e os cientistas sociais convencionais, de modo
o
ser considerados do ponto de vista da física (Hobbes, 1859, p. 72). geral deixam de fazer. Despojaram a utilidade de seu caráter etica
Hobbes afirmaria que aciência social é, necessariamente, física social mente ambíguo, legitimando como normas gerais aquüo que éútil ao
de determinado tipo, e que o problema da ordem nos negócios huma- sistema social para o controle dos seres humanos que dele participam.
ò nos só admite uma solução mecânica. Uma vez que as noções de bem e Ainda uma vez, é evidente aafinidade entre ooperacionalismo easin-
de mal e todas as virtudes e sentimentos pertencentes ao domínio da drome comportamentalista.._
o ética, assumem ocaráter de qualidades secundárias, oplanejamento de i
Outra característica do operacionalismo positivista influi na sín
o uma boa sociedade eqüivale ao planejamento de um sistema mecânico, drome do comportamento: a recusa em reconhecer às causas finais
em que os indivíduos são engrenados, por instigações extenores, para qualquer papel na explicação do mundo físico esocial. Sua inferencia
o suportar as regras de conduta necessárias para manutenção da estabi éade que as coisas são, simplesmente, resultados de causas eficientes,
o lidade desse sistema. sendo o mundo inteiro um encadeamento mecânico de antecedentes e
o A ciência do homem e da sociedade, de Hobbes, modelada conseqüentes. Essa conjectura éum componente sistemático da dou
segundo a física clássica, embora sob formas atenuadas, ainda tem trina de Galileu, Newton, Laplace, ede todos aqueles que concebem a
o influência, hoje em dia, entre estudiosos e praticantes da ciência do ciência social como uma extensão da ciência física clássica. Uma vez
o comportamento, da pesquisa operacional e de determinados tipos de que causa final éuma expressão que raramente aparece na linguagem
análise de sistemas e planejamento. Na realidade, tais correntes estão técnica atual, ninguém, no contexto da presente análise, pode servir
sobrevivendo ao declínio do tipo de ciência física de que são denva- como exemplo melhor do que Hobbes, para sensibilizar o leitor »
das. De fato, a física de hoje tende a trabalhar com conceitos sem quanto às questões aqui em jogo.
»
representação visível, que não podem ser articulados como receitas, já io Mais amplo desenvolvimento deste ponto ultrapassa os limites deste capítu
que ela nega àpercepção sensorial um papel importante na formulação lo.Veja, não obstante, Capek (1961) e Leclerc (1972). >
da teoria. Tendo «instaurado o conceito do vir a ser como realidade
65
64
f
mas não pode correr atravessado, porque as margens são impedimen
(
Hobbes exprime aidéia de causalidade inferida pelo operaciona tos" (Hobbes, 1840, p. 273-4). Portanto, o homem nuncai age pro
( priamente, mas cede sempre às instigações f^nores porque su
lismo positivista como se segue: 'Vontade ... e cada uma das inclinações do homem, enquanto ete ,_,... .• .....

(
n—i „5n tem luear senão naquelas coisas que têm senso delibera, são igualmente necessárias, edependem *jmg• "J
(
mrvsssss^ -«—"••(Hobbes' ciente [o que, em Hobbes, éo£»£•«•»* ^]' 55?
quanto qualquer outra coisa, seja ela qual for' (Hobbes, 184^ p. 2AI.
< 1839, p. 132). Mesmo Deus não escapa ao peso da necessidade mecânica. Deus , diz
( Não é de admirar que, para ser coerente com tal doutrina ele "não faz todas as coisas que pode fazer, se quiser; nf^ue possa
Tuerer aquüo que não tenha querido por toda aeternidade, isso eu
( HniJ« terma sido levado adefinir arazão como nada mais do que
225? S Ponseqülncias, no sentido mecânico. A****** neg7 (Hobbes' 1841, p. 246). Na terminologia da presente rtto.
isso eqüivale a dizer que Deus eos seres humanos não agem. Podem
o tntido mecânico énecessária aqui porque, no processo de atuahza- T^nnrtaTse 0 mundo vai-se desdobrando de acordo com um
( cão » coisas ficam, realmente, se acham sob ainfluencia de algum
tino de antecedentes econseqüentes. Em seu processo de atualização,
S553B2£ .£• -da aeternidade. Não existe criativida-
( Tcotr nutram dados que são suas causas eficientes, mas tais de no universo mecanomórfico de Hobbes.
( oadosTão constituem oúnico agente determinante do processo das
coS como alegam Hobbes eos operacionalistas posinvistas em geral 3.5 Conclusão
( PoHxemplo Hobbes afirma, corajosamente, que "nada começa por Por imgegmaatHJuejeafjffltem **>££%££%
( Z^lyúo, mas por força da ação de algum outro agente
Srior" (HoWs, 1840, p. 274). Ele concebe ouniverso como uma
( oS mecânica, cuja compreensão requer »» «^ *J^
matemática um cálculo que consiste, essencialmente, em soma ou
££«££»**** d, instimiça?seorg?íiIJç5eLque.func.o,
(
2S& descobertas da ciência contemporânea mostram que essa
c roncepção de causalidade éinsustentável. Por exemplo, acerteza na
predTçao do processo das coisas éadmitida como teoncamente pos -
o
c
vel na idéia mecanicista de causalidade, enquanto oprincipio da incer
teza de Heisenberg, empiricamente provado, significa que as coisas
L=S^5sawasagag
têm seus fins próprios, que as dotam de certa capacidade de autodeter-
o mrna^São^merlte, afetadas por antecedentes no sentido de^
o nãoTxistindo abstratamente, têm que se apropriar dos dados fornece
dos X mundo, mas tal apropriação não deve ser explicada^ como tormaiismo e ou y focalizarão duas conseqüências
o umaVcomodação passiva acircunstancias externas; éum processo, «de-
To, de exclusão einclusão de dados, de acordo com os objetivospar-
ZZSSLsírvid^disciplina administrativa dominante, ou
o locação inapropriada de conceitos eapolítica cognitiva.
o
ticu ares das coisas. Na linguagem de Whitehead, as co^o^
nuamente fazendo a preensão de dados, na conçretizaç c dseus
o padrões intrínsecos. Assim, a ciência contemporânea restabelece a
causa final nodomínio físico e social. BIBLIOGRAFIA
o Hobbes compreendeu, corretamente, que não se podia aceitar o Aristóteles, Política, trad., publ. Ernest Barker. Oxford, Inglaterra,-
o operacionalismo positivista sem reduzir ohomem auma espécie^meca-
nomórfica de entidade. Assim, conscientemente, ele equipara aliber ;Ú?\J>1 2£ ^aíT,1^ «rgão. In: Spedding, , et alU, org
o dade à necessidade. Em conseqüência, aquela não deveria ser apenas ^
o atribuída aos humanos, mas atodos os corpos. Aliberdade , diz ete
"é a ausência de tudo que constitua impedimento a ação ....como por u ^^P^n^mpact of contemporary physics. Prince-
o exemplo, se diz que aágua desce livremente, ou tem aliberdade de ton, New Jersey, D. Van Nostrant, 1961.
o
descer pelo canal do rio, porque dessa forma não há impedimento, 67

fo 66
Castiglione, Baldesar. TheBook ofthe cotirrier. Middlesex. Inglaterra.
Sf flTo/Jcíís- Cambridge, Massachusetts. Harvard University
HaS Amold. Mmnerifln. London, Routledge &Kegan Paul, 1965.
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. The English works. Molesworth Edition, 1840. v.4.
The English works. Molesworth Edition, 1841, v. 5.
Leclerc, Ivor. The Nature ofphysical existence. London, George Allen Ocampo da teoria da organização tem sido tâo mdiscrmiinada-
&Unwm,1972.
mente receptivo a influências vindas de tantas áreas diferentes de
LowenthaL Leo. Literature. popular culture, and society. Paio Alto, conhecimento que parece agora ter perdido a consciência de sua
Califórnia, Pacific Books, 1968. missão específica. Embora um relacionamento cnizado entre as disci-
Machiavelli, N. OPríncipe. In:Machiavelti, the chief works and others. plinas seja, de modo geral, positivoemesmo necessário àcnatmdade,
trad. Allan Gilbert. North Carolina, Duke University Press, Durham, é hora de uma séria avaliação da condição desse campo, para que ele
não se transforme numa mera confusão de divagaçôes abstratas,
1965. v.l
Montaigne, Michel Eyquem de. 77te Complete essays ofMontaigne. desprovidas de força ede direção. Toda disciplina deve ter um mínimo
trad. D.M. Frame. Stanford, Califórnia, Stanford University Press, de mtolerãncia em suas transações com as outras, ou perderá sua razão
de ser Ter identidade e caráter é,num certo sentido, ser intolerante.
Pocock, J.G.A. The Machiaveüian moment. Pnnceton, New Jersey. Sustento, neste capítulo, que o processo de extrapolação, que
Princeton University Press, 1975.
chamo de colocação inapropriada - misplacement - de conceitos, está
Reichenbach, Hans. The Rise ofscientific phüosophy. Berkeley, Cali descaracterizando ateoria da organização, e esta acabara mutuada, se
fórnia, University of Califórnia Press, 1959. continuar se permitindo aprática de tomar emprestados aoutras dia*
Sjobeig, G. Operatoonalism and social research. In: Gross, L., publ. plinas, incompetentemente, teorias, modelos econceitos estranhos á
Symposium on Sociológica! Theory. New York. Harper & Row, suatarefa específica.
1>
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Smith, ,- - .- T a-
Indiana, 4.1 Traços fundamentais da formulação teórica
UbertyClassics,1976.
Voegelin, Eric. The New scienceofpolitics. Chicago, DJinois, Universi A formulação teórica, no campo organizacional, tem-se verifica
ty of Chicago Piess, 1952. do mais freqüentemente como resultado: a) da criação original direto;
Von Martin, Alfred. Socioiogy ofthe Renaissance. New York, Oxford b) do acaso de uma feliz descoberta (serendipity); c) da colocação
University Press, 1944. apropriada deconceitos. .»•.««-
Von Stein, Lorenz. The History of the social movement inFrance, NSo é minha intenção investigar as complexidades da cnatmaa-
1789-1850. Totowa, NewJersey, The Bedminster Press, 1964.
de conceptual. Basta dizer que um conceito resulta de um ato direto
. Process andreality. NewYork, The Free Press, 1969.
de criação quando nenhum antecedente dele é aparente, quando não
Whitehead, A.N. Science and the modem world. New York, The Free foi derivado senão da transação pessoal e direta entre amente do pen
sador e os traços peculiares do tópico ou problema objeto de atenção.
O
Press, 1967.
Wolin, Sheldon S. Politics and vision. Boston, Massachusetts, Littte, Assim, aacreditarmos em Cassirer, Montesquieu "é oprimeiro pensa,
dor aapreender e aexprimir, claramente, oconceito dos tipos ideais
Brown, 1960. (Cassirer 1951 p. 210). Com as características sistemáticas que mais
tarde lhe foram* atribuídas por Max Weber, esse conceito trouxe uma
compreensão sem precedentes da natureza edo significado da própna
69
68
4

f
f o
(
Em ciência política, outra ilustração de deslocação.decone tos
formulação teórica. Aformação do conceito, porém, resiüta geralmen- érepresentada pela obra The Nerves ofgovemment de Kar Deut cn
( teTe uma feliz descoberta casual eda colocação apropriada de concei Aforça principal desse livro está na conceiteação de topicos^iticos
tos sendo averdadeira eoriginal criação conceptual mais rara do que do "ponte de vista de comunicações" (Deutsch, 1966, p. XXVDJ -
c
é ordinariamente admitido. isto é pelo recurso aos modelos cibernéticos. No campo da teona cia
( Como explicou Robert Merton, ocorre serendipity quando 'um orgarüzação, oequivalente ao trabalho de DeutschVj«Tenente.
achado inesperado eanômalo estimula acuriosidade do investigador e Social pvchologyoforganizations. de DanielfteeI*bert LKahn
(
o (conduz] através de um atalho não premeditado, que [leva] auma no qual os principais temas eproblemas de administração se entrela
( mpôtese nova" (Merton, 1967, p. 108). Afeliz descoberta casual no çam numa trama cibernética.
(
campo da organização ébem exemplificada pelos chamados Estudos
Hawthorne. O propósito original dessa pesquisa era a avaliação do 4.2 Adeslocação transforma-se em colocação inapropriada
0 efeito da claridade na produção do trabalhador. Numa primeira tenta
tiva nenhuma relação importante foi encontrada entre as duas vana- Embora a deslocação de conceitos possa constituir um meio va
0 veis' Esse resultado inesperado levou os pesquisadores aprocederem a lioso profícuo e legítimo de formulação teórica, pode muito acil-
0 uma completa investigação dos fatores da eficiência, e o resultado men^edeVenerar numa colocação inapropriada de conceitos. Acoloca
disso foi a descoberta de que os sentimentos e as relações informais ção inapropriada de conceitos contamina, presentemente, ocampo da
0 entre os empregados, da mesma forma que suas necessidades pessoais teoria organizacional, e ocorre quando aextensão de um modelo de
c e condições sociais externas à organização, têm influência sistemática teoria ou conceito do fenômeno a ao fenômeno b nao se justiiica,
sobre aprodutividade. Épossível dizer-se que os esforços despendidos após minuciosa análise, porque ofenômeno bpertence aumcontexto
( na avaliação e na discussão dos passos e dos resultados dos Estudos peculiar cujas características específicas so limitadamente correspon
( Hawthorne conduziram Fritz Roetiüisberger e William J. Dickson a dem ao contexto do fenômeno a. Apessoa expõe-se, com freqüência
uma incipiente formulação daquüo que éhoje conhecido como aaná a colocar inapropriadamente conceitos, quando empreende oesforço
á
c lise de sistemas. (Essa raiz da análise de sistemas tem sido negligencia da formulação teórica, earazão pela qual muitas vezes sucedem essas
< da pelos que fazem acrônica desse campo.) "injustificadas extensões de conceitos" édada por Kaplan:
A colocação apropriada de conceitos pode proporcionar um
c meio fecundo de obtenção de insight e pode mesmo levar à formula 'Não há duas coisas no mundo completamente iguais, de modo que
ção de uma lógica da descoberta. Por isso se esforça Donald Schon, em toda analogia, por mais estreita que seja, pode ser levada a ume,
0 seu livro Displacement of concepts.1 "A emergência de conceitos , tremo exagerado; por outro lado, não há duas coisas que sejam com-
0 afirma Schon, pode "decorrer da deslocação de velhos conceitos para plamente dessemelhantes, de modo que sempre épossível estabele
novas situações" (Schon, 1963, p. 53). Ao deslocar um conceito, cer mna analogia, se nos decidirmos afazer isso. Aquestão aser consi
0 tenta-se compreender oinusitado em termos do familiar, ou odesco derada, em todos os casos, é se há ou não alguma co.amaisaaprer,
g 0 nhecido em termos do conhecido. Vários exemplos podem ser citados, der nessa analogia, se nos decidirmos aestabelece-la (Kaplan, 1964,
no estudo da política e da administração. Um exemplo de deslocação p. 266).
o deconceitos é encontrado no livro 77ie Principies oforganuation, de Assim, na tentativa de deslocar um conceito, pode-se estar en
o James D. Mooney e Alan C. Reiley, autores que fizeram, explicita trando "numa possível cüada intelectual" (Nagel 1961, p. 11),' em
|
o
mente, o que outros, como Henri Fayol, Frederick Taylor, Luther que atentativa resulta na colocação inapropn^da de um conceito.
Gulick, fizeram implicitamente: deduziram_dos modelos histongos
o existentes dnetrizesstoemitooaja^^ Mooney e Reiley, a Veia Nagel, Ernest (1961, p. 108). Nagel escreve: "O que existe d££•*£»;
"^ianlõlê~sistênlãTÍcalnente numa lógica ãedeslocação, formularam ue onovo* ovelho é, muitas vezes, apenas vagamente apreend.d, sem er eu
o princípios como oprincípio escalar, oprincípio funcional, oprincipio
o coordenativo e o princípio da equipe, tomando como paradigma de
eficiência organizada (Mooney e Reiley, 1939, p. 47) a Igreja e o assadas, graves erros podem ser facilmente cometidos (Nagc., 1965, p. 108).
o Exército. 3Sobre os enganos que Giovanni Sartori chama de "estiramento conceptual".
o • Veja Donald A. Schon (1963). Sobre deslocação de conceitos como instru vejaSartori (1970).
' mento de inovação tecnológica, veja Gordon, W.J.J. (1973). 71
0
o 70

t
ei
c
í
propósitos das organizações".5 Essa observação éde particular perti
4.5 /4 i/usõo dfl autenticidade corporativa nência em relação àqueles que afirmam que é possível minimizar e
Muitas tentativas para deslocar conceitos de outros campos para
mesmo eliminar aalienação, no contexto das organizações formais.
A literatura contemporânea sobre alienação representa, em gran
ocampo da teoria organizacional produziram resultados diferentes dos de parte, um exemplo de colocação conceptual inapropriado, ou ' esti-
pretendidos. De modo geral, os conceitos são inapropriadamente colo ramento conceptual", para usar a linguagem de Sarton. Antes de
cados na teoria da organização porque aqueles que praticam essa co Hegel eMarx, oassunto da alienação tinha um caráter meta-histónco
locação inapropriada não percebem que as organizações formais sao e religioso fundamental. Para superar seu infortúnio histórico, ou sua
afetadas por vários tipos de socialidade, que possuem, por sua vez, di proscrição no mundo, esperava-se dos humanos que enfrentassem as
ferentes graus de intensidade. Por exemplo, tomando ograu de inten dimensões de sua condição, que eram essencialmente meta-históricas
sidade do contato entre os indivíduos como um ponto de referência, e metassociais.6 Hegel e Marx reduziam essa proscrição, conceituada
Gurvitch (1958, p. 176) estabelece a diferença entre massa, comunida como alienação, a uma condição puramente social, de forma aconce
de e comunhão^ como formas de socialidade. Muitos autores são leva berem a desalienação, a redenção ou emancipação do homem não co
dos a extrapolações injustificadas, exatamente na medida em que não mo um acontecimento na vida individual, independentemente de
tomam conhecimento do fato de que o terceiro tipo desocialidade -
comunhão - tem a menor das funções estruturais no contexto das or determinadas circunstâncias do mundo, mas como o resultado de um
ganizações formais. Exemplo típico desse erro é aquilo que tem sido certo estágio do processo histórico-social. Hegel eMarx colocaram ina
chamado de organizações autênticas.4
propriadamente, eles próprios, ovelho tema e idéia de alienação e-
No entanto, autenticidade corporativa é, em seus próprios ter ou - de proscrição.
mos, uma contradição, já que a autenticidade é um atributo intrínseco Todavia, pelo menos ambos tinham familiaridade com amilenar
do indivíduo: não pode, jamais, ser conquistada definitivamente. A herança de pensamento e de insights sobre alienação. Sabiam que, de
existência social corporativa constitui, normalmente, o alvo contra o acordo com essa herança, a proscrição ou a alienação deveria ser con
qual se lança a autenticidade. Os momentos autênticos da vida indivi siderada como uma questão essencialmente metafísica e religiosa. O
intuito deles era deliberadamente polêmico: mostrar que a proscnçao
c dual são precisamente aqueles em que os comportamentos corporati ou a alienação do homem poderia ser superada nos limites do domí
vos estão em suspenso. E por essa razão que a autenticidade é perigo nio da história secular. Queriam dizer que, antes deles, os pensadores
o sa. Viesse ela a se transformar num estado social corporativo firme,
como querem alguns, então não haveria mérito para os indivíduos em encaravam a alienação num nível em que ela não se situava. Assim, su
o geriam que esses pensadores do passado eram culpados de colocação
serem autênticos, e o ser humano perderia o caráter deumverdadeiro
o eu, responsável por suas próprias ações. De fato, essa posição deixa de errada do conceito de alienação.
É difícil, porém, encontrar desculpas para a atual literatura
o tomar em consideração a inextricável tensão entre as dimensões subs behaviorista sobre alienação. De modo geral, a maioria de seus repre
tantivas das pessoas e os requisitos funcionais da sociedade. Pressupõe sentantes parece esquecer os antecedentes históricos da questão. Mais
© que a atualização pessoal pode ser equivalente à execução de ativida ainda embora alguns desses representantes contemporâneos se refiram
o des funcionais. É verdade que, onde prevalece a comunhão, existe uma a Marx (e raramente aHegel) como fonte, seus estritos estão realmen
expressiva tolerância para a autenticidade, mas a comunhão dificil te carregados de erradas interpretações do pensamento de Marx, para
o mente é possível, dentro dos limites das organizações formais. Em ra não mencionar seus antecedentes. Ao que parece, aintenção deles é a
o zão de sua natureza, uma organização formal tem, normalmente, bai operacionalização do pensamento de Marx, mas ao prosseguirem em
xo grau detolerância em relação à autenticidade individual, para aque seus esforços não tomam conhecimento do arcabouço macrossocial
( les tipos derelacionamentos definidos por Martin Buber como Eu-Tu.
o 5 Apud Means, Richard (1970, p. 173).
4.4 A alienação mal compreendida 6 O conceito de distanciamento (ou alienação), como afirma Paul Tillich, cor
o responde "àquilo que no simbolismo religioso é denominado queda". Veja
o Aidílica vibração que prevalece em muitas das atuais teorias no Tillich (1968, p. 419).
campo da organização confirma a asserção de Saul Alinsky de que "os ' Marx, por exemplo, diz: "a teologia explica aorigem do mal através da queda
o cientistas sociais muitas vezes parecem simplórios, quanto aos usos e do homem; quer dizer, afirma como fato histórico aquilo que deveria explicar
(Marx, 1964, p. 121).
< 4 Veja, porexemplo, Beatrice &Rome, Sydney (1967, p. 181).
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em que apenas oconceito de alienação de Marx faz sentido. Por exem sistema industrial, de acordo com Marx, é a propriedade privada dos
plo, num artigo amplamente citado, Mehrin Seeman procura tornar o meios de produção, aspecto sistematicamente negligenciado por
significado de alienação "mais pesquisável" e"acessível auma precisa Blauner. Da perspectiva de Marx não faz sentido dizer que "o impres-
enunciação empírica" (Seeman, 1972, p. 46). Descreve aalienação co sor é quase o protótipo do trabalhador não alienado, na indústria
mo provida de traços behavioristas, tais como fraqueza, falta de signi moderna" (Blauner, 1964, p. 56-7), ou que "osistema industrial (con
t ficado, falta de normas, isolamento, auto-alheamento e justifica sua
analise mediante uma interpretação fora de contexto de autores como
temporâneo) distribui desigualmente aalienação entre a força de tra
balho do operariado, da mesma forma que nosso sistema econômico
Marx, Max Weber, Durkheim, Mannheim (cavalheiros que, certamente, distribui desigualmente a renda" (Blauner, 1964, p. 5). Para Marx,
hurlentde se trouverensemble), nenhum deles aceitando jamais uma diante das características intrínsecas das sociedades industriais con
discussão behaviorista do tema. Seemandiz, por exemplo, que rebelião temporâneas, aalienação éum traço inevitável da vida de cada dia, um
muito se aproxima de isolamento. Se, naverdade, esse fosse o caso, fenômeno social total, que resiste a qualquer solução compartimenta-
Marx seria umapessoa alienada, o queeqüivale ainterpretar Marx con lizada. A pesquisa de Blauner estriba-se numa colocação errada da
tra o próprio Marx. Uma personalidade tão visivelmente voltada para teoria de Marx sobre alienação, e representa, narealidade, acolocação
seu próprio ego, como por certo era Marx, repeliria com indignação inapropriada de um conceito, isto é, primeiro despoja a questão da
esse tipo de sugestão. Ele achava que sua rebelião contra a sociedade alienação de seu caráter meta-histórico: segundo, admite que ela possa
(5 ser resolvida pormeiosmteronpnizacionajSj,
burguesa e seu isolamento dentro dela eram sinais de que antecipava, Quando esse tipo de literatura, representativo da convicção
no decurso de suavida, a fase histórica futura definida pelodesapare
cimento daalienação. Atinai de contas, Marx era dealgum modo bege- behaviorista, é aceito por autores e especialistas em administração e
liano e, tal como Hegel, estava convencido de que havia decifrado o organização por seu valor aparente, estimula uma distorcida e até
enigma dahistória. É sabido também que Marx tinha problemas com mesmo bizarra compreensão das relações entre as organizações formais
e os seus membros. Por exemplo, refletindo os pontos oe vista de
seus intérpretes e que disse, umavez: "moi, je nesuis pas marxiste." Seeman e de Blauner sobre alienação, Richard E.Walton sustenta que
Narealidade, Seeman tem consciência de que suaidéia dealiena
ção"diverge datradição marxista", mas considera quetal"divergência "as raízes da alienação do trabalhador" podem ser "extirpadas" atra
não é radical". Reconhece que Marx produziu um "julgamento sobre
vés da "remodelação do local de trabalho" (Walton, 1972, p.70). Para
um estado de coisas*'. "A minha versão", declara, "diz respeito â con
corroborar essa afirmação, informa ele osresultados de uma modifica
trapartida desse estado de coisas, nas expectativas do indivíduo" ção implementada numa fábrica de alimentos para animais de estima
(Seeman, 1972, p. 47). A questão é que essa divergência conduz a ção. Alguns desses resultados são assim enumerados:
conseqüências ridículas, e isso é particularmente evidente no livro "Depois de 18 meses, ataxa de despesas gerais estimadas foi infe
Ahenation andfreedom, de Robert Blauner.
rior em 33%, na nova fábrica, ao que era na antiga. As reduções
Blauner alega basear-se na teoria da alienação, de Marx. Contu em custos variáveis de fabricação (por exemplo, 92% a menos nas
do, apesar de suas interessantes conclusões empíricas sobre ambientes rejeições por questão de qualidade e uma taxa de absenteísmo 9%
de trabalho em vários setores daindústria americana, a pesquisa dele é abaixo da norma da indústria) resultaram numa economia anual de
precária, do ponto de vista conceptual, mesmo em bases marxistas, USS 600 mfl. O índice de segurança era um dos melhores da compa
porque o contexto emque sedispõe'a avaliar aalienação não seajusta nhia e a rotatividade ficou muito abaixo damédia.Novosequipamen
ao contexto global de sociedade que Marx tinha em mira. Blauner tos são responsáveis por alguns desses resultados, mas acredito que
parece considerar alienação como equivalente a descontentamento mais da metade deles deriva da inovação operada na organização
comas condições dotrabalho e essa equivalência corresponde àdetur OiumanslíWalton, 1972, p. 77).
pação do conceito marxista de alienação. Como assinalou corretamen
i te Richard Schacht, Marx não"hesitaria em falar sobre 'trabalho alie
nado', mesmo com relação a indivíduos que não estivessem desconten
Constitui tarefa dos especialistas em administração pública e
privada aremodelação dos ambientes de trabalho, eoartigo de Walton
tes com seu trabalho" (Schacht, 1970, p. 164). Para Marx, nunca se
poderia eliminar a alienação nos limitesdamicrorganizaçSo. A desatie-
é, certamente, umainteressante pesquisa paraesse fim. Mas aidentifica
nação, para ele, exige a total transformação do próprio sistema social
ção do processo de desalienação com asatisfação notrabalho, e aten
tativa de avaliá-lo em termos deresultados tais comotaxas de despesas
do mundo inteiro. O que toma a alienação inevitável, no presente
i 41 74
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«rais custos operacionais, economia anual eíndices de segurança sao imaginar se não significará uma reconência de ilusões antropomórficas
( como a "alma coletiva", de Gustave LeBon, e a "mente grupai de
cxemòlos de completa ingenuidade. Além disso, os manuais contri
( buem para difundir essa ingenuidade entre os estudantes enum desses McDougall.
( manuais geralmente utilizados está dito, por exemplo, que "certos 2. Ahipótese de autores clássicos, de Taylor a Chester I. Bamard,
tipos de tecnologia podem reduzir a alienação (Luthans, 1977, de que não existe teoria de organização sem padrões objetivos pa
( p 9i)» Em outras palavras a alienaçjo pode ser tratada como se • ra avaliação de atividades específicas da organização formal, con
í
f^ç^jn^^çjntã^ecmomòtiicCÊste éum tipoJs-r,onhRCimentn^ tinua válida, em nossos dias. Em outras palavras, uma vez que a
superficial, (niejteyeria ser considsiafin inripsnupávol nao esoolas-de— organização formal éessencialmente definida por um tipoespecifico
o gradúl^rirãdnu^tração pública edejmpresjfi».— de racionalidade ^racionalidade mstmmerriafou funcioriãT)- que se
relaciona à otimização dos méiósTpãnrqúe se possa chegar a metas
o especificadas, os critérios de avaliação da eficácia organizacional cons
4.5 Sanidade organizacional, uma denominação incorreta
( tituem um sério tópico teórico. Podemos hoje rejeitar, como primária
Outro exemplo de conceito errôneo é anoção de sanidade orga- e inadequada, a abordagem da capacidade organizacional proposta por
(
nizacional. Warren Bennis afirma que é necessário um conceito de Taylor e pelos administradores científicos. No entanto, em qualquer
( sãrudádrÕrganizacional para superar as inadequações da noção de tentativa para lidar com esse problema, suas especulações e as conclu
capacidade da organização. Podemos aceitar aobservação de Bennis de sões a que chegaram merecem cuidadosa consideração. Aeficácia da
(•
'queTiâI formas tradicionais" (Bennis, 1966, p. 44) de avaliação da efi organização tem aspectos que Taylor e outros autores mais antigos
( cácia da organização parecem muito primárias, uma vez que deixam de negligenciaram, mas a tarefa dos teóricos e dos que praticam aciência
lado diversos traços da questão que agora se mostram salientes. Real da organização não está em evitar o problema, nem em recomendar
( mente, os autores tradicionais preocuparam-se sobremaneira com o paliativos. Consiste, em vez disso, na direta confrontação do problema
desempenho, medido de acordo com padrões maisj^ menojjjgidps-e- da eficácia, em toda a sua atual complexidade. Em minha opinião, o
o conceito da sanidade organizacional falseia o assunto.
com limitadas "características de proauçaõ^H^êrmlsT 1966, p. 41). E Na tentativa de substanciar a noção de sanidade organizacional,
c certo que Bennis levanta um importante problema na teoria organiza
cional contemporânea: o conceito tradicional da capacidade da orga Bennis identifica a organização com um quem ("é preciso que se saiba
c quem ela é"), que se consj^i^de^exsas_"pessoaSLM^sendo_ aJaieia_do_
nização reflete uma visão muito estreita das "determinantes" (Bennis, executivo "esforçar-se para coriseguir coerência" ou"harmonia" entre
o 1966, p. 44) dessa organização. No entanto, o pressuposto de que o
conceito dasanidade organizacional pode trazer algum esclarecimento essas "péMÕaTT^Wínlídldíém^^ 1966,
o
ou ampliar os limites da teoria organizacional é algo questionável. p. 52~4):^Tinbssoas~õrganizacionais, como as sugere Bennis, repre
o Além de ser estranha ao estudo científico de organizações formais sentam uma reclassificação, em jermos behavioristas, das diferentes
(por motivos que serão explicados posteriormente), anoção de sanida estruturas que Wüfred Brown vê em qualquer organização complexa:
e a estjntanjnanifêSta, que tem sua expressão num gráfico organizacio-
de organizacional não só deixa de solucionar os problemas teóricos e naTTã estrutura presumida, como se apresenta às percepções fenome-
o operacionais gerados pelo antigo conceito de eficácia organizacional nológicas dos indivíduos; a estrutura existente, que é aquela objetiva
o como cria outros.
A esse respeito, meus argumentos principais podem ser resumi mente percebida pelo analista de organização; eaestrutura nfressária
o nos termos ótimos que conviriam à organização, dentro desuas limita
dos como se segue:
das circunstâncias. A classificação deBrown évalida e temforça escla
o 1. A sanidade organizacional, como a conceitua Bennis, é estranha recedora, mas ao aplicar a tais estruturas critérios psicológicos e ao
o ao campo da teoria organizacional, sendo uma extrapolação mecâ considera-las correspondentes a pessoas, Bennis coloca mal o conceito
nica de um atributo que pode ser pertinente àvida individual, mas não de pessoa e traz confusão aos termos da análise organizacional. Pode-
o à natureza da organização formal. Oconceito de sanidade organizacio se, realmente, avaliar e descrever tais estruturas, mas perde-se a precisa
o nal de Bennis pressupõe a existência concreta de uma mente coletiva perspectiva na compreensão das complexidades organizacionais, se se
ou organizacional, cujas implicações organicistas dificilmente se har recorre a uma categorização de pessoa, tal como propõe Bennis. Éjus-
o monizam com a estrutura da ciência social contemporânea. Fica-se a 9 Repetindo Bennis, HMF. Rush escreve: "Supõe-se que aorganização tenha...
G * Veja Shepard (1972), Kirsch &Lengermann (1972) e Miller (1975). todas asqualidades de um indivíduo" (Rush, 1969, p. 8).
77
76

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f 'vv :
(.
í integrar oindivíduo eaorganização. Isso constitui, na verdade, um
c esforço sinistro, que só pode ser levado acabo às expensas da dimen
são substantiva das pessoas. 0 tipo de psicologia que fundamenta a
( prática de tais consultores integracionistas é apoiado numa errada
( compreensão da natureza da socialização edo próprio fenômeno orga
interdependência no contexto »^> mostram-se muito nizacional. É um tipo de psicologia motivacional, que pressuoõe-qiie a
( síndrome behaviorista,1' inerente àsociedade centrada nojnerçadoj é
( X2^53L* — pau probaso^acona* ^aTHvaTénirrriãtiireza huimna em seu conjunto. A motivação enten
dida dessa maneira toma-se equivalente ao controle e a repressão da
( e é assim queafirmam: energia psíquica do indivíduo. Todavia, essa espécie de psicologia
V
forma o arcabouço conceptual de alguns especialistas, educados em
nossas escolas de administração pública e de empresas, os quais afir
( ü-s-s sasrar/S» »
,U)
yf mam possuir habilidades para administrar atensão humana.Somente
o fato de que são vítimas de uma formação falsa e simplória pode
( livrá-los da acusação de agirem como peculatários de seus crédulos
nrobíema de motivação para aorganização inteira, comportando uma
o clientes. , . mm±
Uma psicologia científica não concorda, necessariamente, com
< significados que derivam de definições institucionalizadas da realidade
Kahn, 1966, p. 336). Reconhece uma dimensão profunda de realidade psíquica individual
(
Ébem-vinda aparticipação dos psicólogos no campo da teoria e que resiste ao fato de ser totalmente capturada por definições sociais e
( organizacionais.12 As relações entre os indivíduos e as organizações
( implicam sempre em tensão enunca podem ser integradas sem custos
psíquicos deformantes. As orgaimaçjesjormais não sao senão mstru^
( mentos Os indivíduos sã^seus senhores. Se apsicologia deve ser um
o u S Uma demonstração clássica de que os psicólogos podem c^poTTente da estrutura conceptual de especialistas e consultores -
cVnTribuir notavelmente para odesenvolvimento da teona da organi como precisa ser - é necessário que haja maior sofisticação em seu
o
zação édada pela obra The Social psychology of orgamzations, de ensino em nossas escolas de administração pública ede empresa^ E
o encorajador que tal «orientação já esteja sendo sugerida em trabalhos
^ ^étdisso, pode-se afirmar que todas as imprecisões do concei recentes, que estão aparecendo nas publicações técnicas.
o
to de sanidade organizacional derivam de uma ™^^™t 4.6 Pessoase modelosde sistemas
© cão inapropriada do conceito de sanidade mental. Realmente, se a
LúdTmentalé um conceito válido (e há quem questione que ose,.), Lamentavelmente, e sem uma admissão explícita desse fato a
o Sus padres só são apücáveis aindivíduos, jamais podendo ser aplica ideologia integracionista infiltra-se numa grande proporção daquüo
o dos aorganizações, ou deduzidos das situações organizacionais que os planejadores e analistas de sistemas fazem, como consultores^
Oconceito de sanidade .organizacional relacona-se diretamente especialistas. Émuito comum que percam de vista anecejsânajensao
o com , X do ajustamento enão reconhece aautonomia.ndivi- pntrfr-nessrm e os sistemas projetados, apoiindo-se jUHnã^gngpçac^
o duai Não éuma categoria científica, mas um instrumento ideológico de^sterri7de"masiadTTiõnltiça>De modo geral, reificam o sistema
o
ttçado: éum recuL pseudocientífico, dirigido atotal inclusão organizacional, isto é, dão èlífase à dependência das partes sobre o
do indivíduono contexto da organização.
o Quando usado por praticantes e^gSXSSÍaZ
cia para intervir nas organizações, opseudoconcei o,* l"**"»
li Veja o capítulo 3 deste livro,
n Veja Glass (1972-1974) eLaing (1967-1969).
o nizacional pode levar àsufocação da energia P^^fto ™*^
Em suas intervenções, esses especialistas pretendem, confessadamente, .3 Veja, por exemplo, Gross, Bertiam (1973); Scott. WiUiarn G(1974); Glass,
o James (1975); Perrow, C. (1972); Singer, E. &Wooton, M. (1976), Dunn, W.N.
o «o Sobre as noções de inclusão parcial e inclusão total, veja Allport, F.H. & Fozouni, B. (1976).
(1933). 79
o
78
(
(
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r
todo em vez de tratar, com precisão, da interdependência das partes holon, como um instrumento para a análise de sistemas que vai "além
i internas eexternas que constituem otodo. Robert Boguslaw refere-se do atomismo e doholismo" (Koestler, 1969,1977). Ele vê os organis
aesse ponto, em seu livro The New utopians. Os planejadores de siste b mos e as organizações não como totalidades absolutas, mas como
mas de orientação mecanicista e organísmica não questionam as sendo constituídos de subconjuntos de organelas, de órgãos, de siste

! regras operativas inerentes aos sistemas institucionalizados e"a luz do


status quo ... tratam de explicar como os grupos humanos se podem H>
adaptar, ou de fato se adaptam ao mundo em que se encontram"
^9^ mas de órgãos - cada um deles provido de notável grau de autonomia
e autogoverno. Cada um desses subconjuntos é um holon, "que tem
duas faces, olhando para direções opostas - a face voltada para os
h (Boguslaw, 1965, p. 3). Na prática, isso eqüivale a permitir que as níveis inferiores é a de uma totalidade autônoma, a que se volta para
h regras operativas das organizações formais condicionem as necessida cima é a de uma parte dependente" (Koestler, 1969, p. 197). No
entanto, pode-se argumentar quea incorporação do conceito de holon
des dos cidadãos quanto a alimentação, proteção, vestuário, transpor
te, educação e lazer. Esse preconceito é agravado quando se combina à análise de sistemas não parece eliminar a tendência da mesma no
com o mau emprego da cibernética, que como explica Sheldon Wolin sentido reducionista e holístico. Pode-se dizer que esse conceito pres
"consiste em equiparar a natureza do pensamento humano a da ação supõe tima_avahacão_fiindona]_d^^
intencional à operação de um sistema de comunicações, ou seja 'o das "partes que se relacionam com superestmtujras"^eja_conig toJLalJr
problema do valor eqüivale' a um 'problema de painel de ligações', ou dáde "relacionada a subestroturas", e que essa ótica não exprime, é
a 'consciência' é análoga ao processo da realimentação" (Wolin. 1969. "evidente, aquilo que, tradicionalmente, se supõe que uma pessoa seja.
p. 1.076). Mesmo um especialista em cibernética alerta para as falácias Em essência, uma pessoa não é uma parte funcional constitutiva de
contidas nas analogias mecanicistas eorgan ísmicas. como, porexemplo, um sistema. Acredito que a definição de Kant parapessoa, em última
Karl Deutsch, pode ser apanhado na prática da colocação inapropriada análise, ainda é verdadeira: "Uma pessoa não está sujeita a nenhuma iõ - '
outra lei senão àquelas que (is"õTãdamemj2^j^lojrienos^em conjunto z-^c u
de conceitos. Assim é que ele emprega uma imagem mecanomórfica,
ao definir a comunidade organizada como um "sistema de direção"e com outras pessoas) estabeleceTpSãji própria" (Kant, 1965, p. 24).
a habilidade do estadista como sendo a "arte de dirigir um automóvel Dessa forma, pode acontecer que uma pessõa"se encontre num sistema
numa estrada coberta de gelo" (Deutsch. 1966, p. 182-5). Da mesma sem ser, necessariamente, parte funcional dele. Uma pessoa, num siste
forma, o analista de sistemas está apenas interessado na capacidade ma planejado, pode bem ser um cavalo de Tróia, isto é, um agente,
deliberadamente disfarçado, de destruição de superestruturas, tanto
que a comunidade tem de atingir suas metas; a dimensão ética de tais / t & quanto de subestruturas.
metas não é de seu interesse. Osameaçadores resultadosde semelhante 0
posição cibernética têm sido apontados por Giovanni Sartori (Sartori, As tentativas de integração do indivíduo e da organização
v
1970, p. 1.035-6), e preocupações idênticas às de Wolin e Sartori baseiam-se numa compreensão errônea da natureza da pessoa. Meu
inspiram a discussão da análise de sistemas feita por Habermas (Haber ponto de vista é o de que somente uma visão delimitativa do plano
mas, 1970, p. 106-7).'4 organizacional pode contrapor-se à inadequada prática da análise de
Minha intenção aqui não é rejeitar os modelos de sistemas, mas sistemas.
sim argumentar contra sua inadequada utilização para análise e plane A colocação inapropriada de conceitos impregna a literatura
jamento administrativos. Em princípio, os modelos de sistemas têm contemporânea sobre tópicos e problemas organizacionais, e, em resul
utilidade, no campo administrativo, principalmente quando asfunções tado, a cidadela do conhecimento organizacional de nossos dias é
de manutenção estrutural dos sistemas devem ser, de forma legítima, semelhante a uma torre de Babel. A confusão de línguas é quase ensur-
controladas e estimuladas. Mas quando se detêm sobre as funções de decedora. Afonte de boa parte dessa contusão é a linguagem deforma-
articulação e modificação estrutural dos sistemas, os analistas deve dóra que surgiu como uma conseqüência do predomínio doscritérios
riam estar preparados para lidar com a verdadeira natureza da dinâmi econômicos na tessitura social em seu conjunto, e a diluição do polí
ca dos sistemas, da qual é parte constitutiva a tensão entre as pessoas e tico no contexto sociaj. O impacto dessas manifestações sob~rè~a
as estruturas sociais. linguagem será considerado mais longamente no capítulo 5. O dilema
Importante tentativa de aperfeiçoamento da análise dos sistemas organizacional não pode ser superado senão recusando-se a teoria
tem sido feita por autores contemporâneos e Arthur Koestler, por administrativa que supõe seremcritériosinerentes às organizações for-
exemplo, propõe esse refinamento quando apresenta o conceito de 15 Veja excelente discussão deste assunto em Esposito, J. L. (1976).Veja tam
14 Veja Voegelin,F.ric (1956). bém Wcizenbaum. J. (1976).

80 81
trabalhadores. Em outras palavras, otreinamento técnico não elimina
mais os critérios dominantes de toda aexistência humana. Contraria- nem sufoca, necessariamente, as diferenças individuais, mas antes as
mnte a"oria organizacional deveria transformar-se numa invest.ga- tá?
çTo sobre múltiplas tipos de sistemas sociais, dos quais ocontexto ^ aCentlEstes são alguns dos tópicos permanentes da teoria da organiza
econômico formal é um caso particular. ^ ^ ,vPf ção formal. Aabordagem desses tópicos pelos classicistas pode ser cn .-
^ cada em termos legítimos, por ser teoricamente superficial. Mas^pelo_
4.7 Conclusão menos, perceberam eles que as organizações formais não constltuem °
TnmaTto-apTòpnado para a desalienaçao epara a auto-atuanzaçau uas
Paradoxalmente, o campo de estudo da teoria da organização pessoas"TihTíãm maTsYõnscíêncíã~dé~suas limitações do que os mtegra-
tinha um senso muito mais claro de seu objetivo antes do surgimento^ cionista's e humanistas de hoje. que afirmam saber como planejar orga
na década de 30, da chamadaJsçpJa_de_RejacõeiJ^ David nizações autênticas. pró«tivas esadias. Como precursores da indus
Riesman e W H Whyte deveriam ser lidos de novo. porque explicam, tria da ciência-, os classicistas assumiram uma mjssãohistorica^qual a
de maneira convincente, como a Escola de Relações Humanas fo. de prover a economiae_a_s^dea^jmí^njis, de modo geral, de
desencadeada pelos imperativos de uma estrutura econômica que .-1511!n5i3ii—^ Desincumb.ram-se.
P^, aênfase no consumo eJjãiuia_pQu^anci:'fe De Taylor aLuther com elegância, dessa missão. Sua capacidade inventiva esua engenhosi-
Gulick os adminislradoTeTpTofissionais preocuparam-se muito com a dade contribuíram, numa importante medida, para tornar os EUA a
descoberta daquilo que deveria constituir o estudo sistemático do primeira economia terciária ede serviço, na história da humamdade -
trabalho e da produtividade, egraças aeles foram identificados alguns uma economia em que as organizações formais, por assim dizer,
pontos básicos permanentes da ciência administrativa, que podem ser podem cuidar de si mesmas com ajuda comparativamente limitada das
articulados-como sejegue: __^
1 O fabalhò> *produtividad>constituem objetos sistemáticos de pessoas Hoje em dia. amissão fundamental dos especialistas em teona
da organização não consiste em legitimar a total inclusão das pessoas
estudo' científico. PeteT-Dracicér corretamente considera Frederick nos limites das organizações econômicas formais, mas sim em def.n.r o
(
Taylor um pioneiro da "economia do conhecimento de hoje. de escopTdé Tais organizações na existência humanílem geral. Ahora è
acordo com o qual "a chave para aprodutividade [é] o conhecimento, azada para a prática de un. tipo'sem precedentes de cienc.a organiza
c não o suor" (Drucker. 1969. p. 71). E isso pode ser dito de toda a cional sensível aos diversos aspectos da vida humana, e que seja capaz
0 chamada escola clássica. de lidar com esses aspectos nos contextos a que adequadamente per
2. Não existe ciência daorganização formal sem normas técnicas para tencem Este capítulo, da mesma forma que oseguinte, sobre apolí
( mensuração e avaliação dos produtos do trabalho. tica cognitiva, um fenômeno relacionado com acolocação inapropr.a-
* 3 As funções ou tarefas deveriam ser tecnicamente planejadas eseus da de conceitos e de tópicos, prepara ocaminho para adiscussão ana
o planejadores deveriam levar em consideração a condição fisiológica lítica dos alicerces epistemológicos da nova ciência das organizações.
e psicológica do homem. Não éverdade que Taylor eaescola clássi
ca tenham negligenciado o fator humano nas organizações. Oque
0 deve ser acentuado é que aconcepção que tinham do homem era redu-
BIBÜ0GRAE1\
o cionista e demasiado limitada.
4 As potencialidades humanas não são "intuitivamente obvias, se Allport. F.H. Institutional bchavior. Chapei Hill. Carolina do Norte,
o ja para o trabalhadoi, seja para aquele que o observa";18 devem ser
técnica e experimentalmente detectadas. University of North Carolina Press, 1933.
0 Bennis W. Chanzing organizations. New York, McGraw-Hill 196o.
5 Odesempenho, na execução da tarefa, não pode ser melhorado Blauner. R. AUenafkm &freedom. Chicago, University of Chicago
0 e eficientemente organizado sem um treinamento sistemático dos
Press. 1964. _,.
0 .6 Sobre a"ilusâ-o da participação mal colocada", ^acrística da Escola de Boguslaw, R. ThcNenutopians. New Jersey. Prent.ce-Hall, 1965^
o
Relações Humanas, veja Riesman (1971, p. 270-1). Veja Whyte (1957. p. 38-12), Caplow, Th. Principies of organizatUm. New York, Harcourt. Brace I
para a crítica da experiência Hawthorne.
0 II Veja Ramos (1972). Cassirer,' E. The Philosl>phy of enlightenment. Princeton, Princeton.
< «» Veja Caplow (1964, p 234). Oitem que se segue c.cm grande parte, deriva University Press. 1951.
do do livro de Caplow,mesma páginaaqui indicada. 83
: 0
82
(
c
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and expressive relations. Administrative Science Quarterly, June 1975. »


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85
84
I
(
1 »
i
<
I dendo-se agora à sociedade como um todo. Mesmo no pietenterno-
mento, uma apreciação sistemática da política come.umad mensao
! cognitiva ainda éignorada pelos teonstas da J***^ "££
política cognitiva continua situada fora do interesse mesmo daqueles
que, já há muito tempo, abandonaram avelha dicotomia entre admi-
í mStra PolítiM comitiva, para oferecer uma definição preliminar, con-
siste no uso consciente ou inconsciente de uma linguagem gorada, ., ê' QO
T
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5. POLÍTICA COGNITIVA - A PSICOLOGIA
DA SOCIEDADE CENTRADA NO MERCADO
<9 cuja finalidade é levar as pessoas ainterpretarem a "«"»•"
termos adequados aos interesses dos agentes diretos e/ou mdiretos de
(
tal distorção.
Si
(
A chamada çjénjãâ_da_oj^anizacão. como hoje a conhecemos,
está enredada numa trama de pressupostos não questionados, que 5.1 Política cognitiva, uma digressão histórica
( derivam da sociedade centrada no mercado e dela são reflexos. Apolítica cognitiva é um fenômeno histórico perene. Éuma
Enquanto permanecer alheia à crítica desi mesma, a colocação inapro auestão exposta por Platão, em muitos de seus diálogos sobre a
( priada"de conceitos e a política cognitiva afetarão de modo adverso a
< prática e o ensino da disciplina administrativa, por sufocarem qualquer
2tu za ePo uso^a retórica. Ébem sabido que Platão man, es ou
aversão pela retórica, tal como apraticavam os sofistas, pela simples
(
esforço no sentido de uma verdadeira articulação teórica nesse terreno.
Já expliquei a noção de colocação inapropriada de conceitos. Meu pro
Lão de que ela visava produzir apenas crenças, não conhecimento*
pósito, neste capítulo, é estabelecer a natureza da política cognitiva.
Snmdo. tentou ele salvar ofenômeno da retórica ou da persuasão
(
Conviria assinalar-se que pouca - se é que alguma - atenção
política reclamando, em diversos diálogos, mais especificamente
tem sido dada, pelos teóricos da organização, à dimensão política da
porém no Fedro. uma retórica dialética, uma retórica a serviço da
cognição. Política e conhecimento, tradicionalmente, vém sendo trata
filo ofiaE no Górgias, um dos seus primeiros diálogos, Platão mostra
dos como áreas separadas e distintas de estudo, situação que traz à
Éralés de Sócrates, que oretórico típico "não tem necessidade d
:; memória um período histórico anterior, emque os teóricos da organi
zação reivindicavam uma nítida separação entre a política e a adminis
conhecer a verdade das coisas, mas de descobrir uma técnica de
pemiasão" (p. 459c). Esse tipo de retórica, diz Sócrates em suii famo
V
tração. Naquela época, os teóricos e ospraticantes não dispunham dos sa comparação, "está para ajustiça como aculinária para a^medicina
O instrumentos conceptuais de identificação de processos políticos no (p 456c isto é, aretórica constitui uma técnica para adular amulti-
dão easer usada perante aqueles que não têm ohábito de pensar, uma
o contexto da organização. Essa condição do conhecimento administra
vez que oíetóriío sofistico não pode ser convincente entre os que
G
tivo modificou-se, quando novas circunstâncias sociais tornaram into
lerável tal deficiência. Posteriormentea esseestágio,quando a política possLi sabedoria. Num ponto de seu diálogo, Sócrates refere-se a
veio a ser reconhecida como uma dimensão inerente às atividades retórica como "a semelhança de uma parte da política (p. 40Q,
O desenvolvidas nas organizações, a atividade política foi incorporada à relação sobre a qual Aristóteles elabora em sua Retórica. Admite,
o elaboração da teoria organizacional, mas mesmo nesse caso a política contudo, a possibilidade de uma retórica emanada do conhecimento
era entendida apenas como uma luta pelo poder, através de processos que se preocupe em "tomar os cidadãos os melhores possíveis
o de alocação de recompensas.
ío 513c) ou seja', formar uma cidadania esclarecida, não constituída
o Entendo que, em nossos dias, os desenvolvimentos atingidos de indiv duos que, politicamente, ou são simplórios ou unpostores.
tomam indesculpável o estudo separado e distinto da cognição e da Desse modo, o%p5o uso que Sócrates faz da «Ms^gigN» I
o política, e isso porque a influência da política cognitiva, que esteve é demonstração de que ela pode estar a serviço do rdade.r».te*
o um dia restrita a enclaves marginais no contexto mais amplo da tessi político, isto é, da arte da política. Como foi já menc onadb Piatfo
tura social, agora passou a permear tudo. Os padrõescognitivos, exigi tembém sugere que amaneira de salvar aretónca está em toma-la
o dos pelos requisitos das transações típicas do mercado, limitado no parte da dialética, tal como ele aentendia. fc|-.ilBAj
o espaço, trasformaram-se em política de cognição, induzida do modo iP Conviria salientar que Platão, no fim de conlas, nao trai pn5-
particular das estruturas e estratégias das organizações formais, esten- pria condenação do retórico sofistico, porque nas Leis sugere ele que
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uma teologia civil deveria acompanhar a legislação, protegendo o sadio aguda percepção da relação entre o poder da palavra e as muitas
(
sistema político dos agentes edas ações de destruição. Platão concebe mascarar usadas em'nome da legitimação política. 0 assunto da
( esse credo como uma destilação das normas mínimas comuns a todas retórica écompatível com oprojeto de Platão de purificar aretónca
as religiões, normas cuja validade se toma evidente através do debate da distorção sofistica, assinalando que oque distingue o retónco do
(
racional. Uma palavra sobre a natureza da teologia civil pode ajudar a sofista é o propósito moral do indivíduo no uso da retórica.
< esclarecer o funcionamento da política cognitiva.
O retórico é um orador treinado na prática da arte da persuasão.
A moralidade substantiva é uma qualidade das pessoas e reside no
Através de toda a história, as teologias civis têm sido instrumen orador. Ao violar essa orientação o indivíduo incorre numa espécie de
t
tos legítimos para aumentar a resistência de sistemas políticos. Com ^ conduta que se desvia da tensão constitutiva da razão substantiva e
escrúpulos racionais menos exigentes que Platão, por exemplo, encon que reduz as considerações éticas acritérios instrumentais de avaliação.
( tramos Políbio (1972) louvando o estadista romano porintroduzir na Daí que apenas imperativos de expediência (o que, afinal, eqüivale a
mente das pessoas, em nome da coesão do Estado, "noções relativas dizer nenhum imperativo) são os únicos freios capazes de controlar a
( aos deuses e crenças no tenor do inferno", expediente que não seria habüidade dos oradores para usarem seu poder de enganar, de induzir
( necessário se o "Estado [fosse] composto de homens sábios" (Políbio, os outros a emitirem julgamentos errados, ou de se permitirem com
1972; VI, 56, 6-11). Hoje em dia, ademocracia constitucional, embora portamentos imorais. Oreconhecimento do caráter ambíguo da lin
( contendo um elemento racional insignificante, aproxima-se mais de guagem é, pelo menos, tão antigo quanto os gregos. Oorador respon
( uma variedade da teologia civil na maior parte dos países anglo- sável pode esforçar-se por usar a habüidade que adquiriu de superar
saxões.1 Não obstante, teologia civil não deveria ser erroneamente ambigüidades de motivo ou propósito. Embora Aristóteles cedesse, de
( identificada como política cognitiva. Uma teologia civil é expressa vez em quando, àtentação sofistica de compüar receitas lingüísticas, o
( mente formulada não paraenganar as pessoas, mas antes para legitimar intuito geral de sua Retórica é subordinar a arte da persuasão a
um tipo de ordem social em termos e imagens acessíveis à compre padrões éticos, eexplicar seus numerosos usos políticos legítimos.
( ensão e ao nível educacional do conjunto de cidadãos. A distinção Platão e Aristóteles não foram os únicos sábios gregos conscien
c
importante gira em tomo da noção de debate racional. Alguém pode, tes do fenômeno da política cognitiva. Mas na Grécia o alcance e o
legitimamente, se envolver num debate racional com a finalidade de impacto sociais dessa política puderam ser mantidos sob ocontrole
c validar as teologias civis, mas a doutrinação, ou a inculcação sublimi dos usos e costumes predominantes, e do processo educativo ocorrido
nar de definições distorcidas da realidade, estimulada pela política nos grupos formais e informais, em que os gregos aprendiam os deve-
c cognitiva, nãoconstitui jamais objeto de debate entre suas vítimas. res dacidadania. A filosofia e a educação sistemática também serviram
o Em seus diálogos, Platão empreende a tarefa de desenvolver uma como forças de compensação, contra a proliferação da política cogni
o arte de debate racional, que é mais além refinada e codificada por tiva. Em outras sociedades antigas, em que não existiu propriamente
Aristóteles, em suaRetórica. Aristóteles considera a retórica, emrela filosofia, a política cognitiva nunca se transformou em ponto de deba
G ção a outras disciplinas, como um "ramo de estudos dialéticos e tam te, uma vez que o indivíduo estava evidentemente prevenido contra
bém éticos". Elabora ele, ainda, sobre essa relação quando adverte o tal armadilha por sua compacta emítica experiência da realidade.
O No contexto de suas bases culturais específicas, os indivíduos
leitor de que "estudos éticos podem bem ser chamados de políticos"
O e, por essa razão, a retórica às vezes "disfarça-se como ciência polí puderam desenvolver um sentido de vida comunitária livre da influên
tica" (Aristóteles, 1954; I, 1.356a, 2/25). Portanto, Aristóteles tem cia da política cognitiva. No repositório de tradições da maioria das
o sociedades da era pré-industrial, podemos encontrar exposta natermi
1 Veja Voegelin (1963, p. 36). Anoção deteologia civil tem uma longa tradição nologia dos provérbios apercepção comum do mercado como olocal
G no campo da teoria política. Para uma excelente visão deconjunto desta noção,
O veja Sandoz, EUis (1972). Veja também Germino, Dantc (1967, p. 29). Umi
tentativa de formulação de uma teologia civil para a sociedade industrial desen
(Nyji^r^> de prática da política cognitiva eda linguagem enganadora. Em muitas
sociedades arcaicas e antigas, o mercado tinha uma função determina
o volvida é representada pelos trabalhos de Rawls, J. (1971). Apesar do sabor da dentro de rigorosos limites geográficos, longe da corrente maior da
compassivo da noção que Rawls tem da eqüidade social, coisa queestáficando
influente entre alguns teoristas daadministração, sua teoria da justiça, em última
vida social, para que não solapasse as bases da comunidade e distor
G cesse a natureza da comunicação. Esse ordenamento histórico foi
análise, reflete uma avaliação míopedo estadoatual da sociedade industrial de
O senvolvida, na medida em que a racionalidade inerente ao sistema de preço de conscientemente elevado à condição de um princípio diferenciado de
mercado c explicitamenteaceita por Rawls como premissa básicade suafilosofia planejamento social pelos pensadores políticos clássicos, tais como
<• moral.
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Platão Aristóteles e Santo Tomás, os quais concordaram todos em do povo. Se eles admitissem a intencionalidade das atividades que
oue para peservar obom caráter da comunidade, ao mercado easeus desenvolvem, não apenas se enfraqueceria aeficácia de seus atos como
peciais padrões cognitivos elingüísticos nunca devem ser permiti políticos cognitivos, mas também graves questões éticas poderiam ser
da aexpansão para além do local que lhes fosse circunscrito. levantadas quantoa seus objetivos.
O fenômeno da política cognitiva requer explícita investigação
5.2 Apolítica cognitiva easociedade centrada no mercado acadêmica se se pretende que a elaboração teórica nas ciências de pla
nejamento de sistemas sociais e da administração organizacional se
Apolítica cognitiva éamoeda corrente psicológica da sociedade liberte da deformação decorrente da aceitação ingênua dos pressupos
centrada no mercado. Não constitui mero incidente ofato de que, em tos da sociedade centrada no mercado. Oestudo desse fenômeno deve
toda sociedade em que omercado se transformou em agencia centnca valer-se dos recursos existentes na sociologia do conhecimento, na
.iTl^Wnriilocial. os laços comunitários e os traços culturais especi-
lingüística, na psicologia cognitiva, na antropologia cognitiva e na
jp^iTlr^pTdos ou mesmo destruídos,. Diante do consistente teoria da comunicação. Matéria ponto central desse tipo de estudo, éo
padrão de conseqüências que acompanhou adifusão da mentalidade conjunto de regras epistemológicas inerentes àestrutura política pre
dominante nas sociedades industriais desenvolvidas, regras que sao
de mercado através de todo o mundo contemporâneo, e dificü com absorvidas sem nenhuma crítica pelo cidadão comum, através da socia
preender como esse fenômeno escapou auma investigação sistemática^ lização e/ou mediante aexposição desse cidadão, homem ou mulher,
Aqui estou eu simplesmente chamando a atenção para oobvio, mas é a influências planejadas sistematicamente.
precisamente o óbvio que constitui propósito da política cognitiva
obscurecer Esse evento praticamente universal, resultante do expan- Os agentes da política cognitiva se diferençam, no grau de per
sionismo político das sociedades hegemônicas centradas no mercado, é cepção de seus papéis. Os mais conscientes deles encontram-se, geral
legitimado como princípio básico da ciência social contemporânea. mente nas atividades de comunicação e publicidade. Aimprensa, o
Dessa forma, o fim da sociedade tradicional (Lemer, 1958) ahomoge rádio e a telev.são estão, conjuntamente, engajados num processo con
neização do comportamento humano em escala mundial (Alex Inkeles, tínuo de deliberada definição da realidade-Qs instrumentos da mídia
1960; Deutsch, 1953), aidentificação de modernização com adifusão são utüizados como armas na competição para influenciar a interpre
r dos requisitos institucionais epsicológicos do mercado (Parsons, 1964; tação que opovo dá àrealidade. Tanto ocenário em que ainformação
McClelland, 1961)2 - tudo isso é interpretado com sentido normativo é dada quanto seu padrão lingüístico, éelaborado antes para enganar
C pelos cientistas sociais convencionais. Tal circunstância mostra o do què para esclarecer opúblico. Uma hora de televisão ésuficiente
O paroquialismo dessa espécie de ciência esua servidão, nos limites do para que qualquer um perceba que apolítica de cognição éum fato
arcabouço de padrões cognitivos inerentes à sociedade centrada no preponderante da vida contemporânea. Abem-sucedida venda de um
o
mercado.
produto é, hoje em dia, não tanto oresultado da exata compreensão
G Conseqüentemente, é lícito indagar as razões pelas quais o estu de suas verdadeiras propriedades, por parte dos consumidores, mas de
do da cognição como uma força impulsionadora da política - ou,
,V« preferência odesfecho de uma batalha política velada contra obom
G senso De fato, a presente estrutura de consumo neste pais, onde
O
melhor, a política como uma dimensão da cognição - não se transfor
mou em assunto acadêmico. Pode-se compreender facilmente o signi
<$y
\*f
massas enormes de pessoas são induzidas a acreditar que desejam (e
ficado de expressões como política do petróleo, política de transporte i»' portanto, devem comprar) aquüo de que não precisam tornou-se J3JA ./.( ^te^—r).
G e política da poluição, sem uma longa análise. Mas o significado de viável - graças àprática da política cognitiva. Oprocesso de educação
viavei — grata» d uiauva v.» [*«....>.-^—o- - ,
< :•,'.
G uma expressão como "política cognitiva" não se toma e-idente sem formal, igualmente, está grandemente condicionado por esse tipo de
maior clarificação. Talvez uma razão que, logo de início, faça aexpres política. Às vezes, indivíduos e grupos dão-se conta da política de
G sãosoar como desconcertante, seja a de que está na própria natureza cognição e é assim, por exemplo, que as mulheres, os negros; e os V1
G da política cognitiva a condição de ser obscura. Não há razões de chicanos, neste país, já não estão mais dispostos a aceitar as próprias
conveniência, para aqueles que estão envolvidos na política do petró imagens tal como têm sido tipicamente representadas.
O leo, do transporte e assim por diante, em negarem o fato, mas essa A política cognitiva é uma parte fundamental das estruturas Pi
G hipótese não vale para aqueles que, consciente ou inconscientemente, organizacionais formais, de todas as categorias ede todos os tamanhos. -,
estão envolvidos na política cognitiva, cujo objetivo é afetar a mente Cada organização formal tem seu jargão específico, que constitui * l
O importante dispositivo de proteção eestabüizaçao, eque contém umOy? ^
2 Veja também McClelland &Winter (1969).
V 91^$ i í
I 90
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I

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( rtn roniunto de regras tácitas de cognição, ou definições da realida- ciedade centrada no mercado b) **?»£*^Z^*
tentor de emprego; c) aidentificação da comunicação num
í
T? Zmí aseus membros no processo de socialrzação. comunicação instrumental.
de *-fí*ZZ£2 organizações típicas da sociedade de mer-, -
( , ^necessariamente, falsas ementirosas. Estão fadadas aenga-j t ^ 5.3 Uma visão paroquial da natureza humana
(
cado ^'"^"^seus membros eseus clientes, induzindo-os, noU 0^
XTnST^ aprraTceitar como desejável aquüo que produ- •v Os teóricos eos praticantes da organização foram, *"«>nsctote-
( Z maTtantbém, no nível macro, aacreditar que existem efunc,o-l mente capturados no domínio da política cognitiva, por se permiti
(
ntní por uTinteresse vital da sociedade como um todo. Hoje em dia fíLvi> 0>
rem aformulação de conceitos emétodos, bem como aimplementa-
aTorganizações desempenham um papel ativo esem precedentes no ..•0'- £ de «as eplanos gerenciais que aceitam, sem maiores «xpü-
c prrSo de socialização do indivíduo, tentam transformar-se na $
S ü E ao que parece, têm acapacidade de fazer «so, porque
( So elas próprias poderosos sistemas epistemológicos e, presentemen-
Tnão sofrem restrição alguma quanto àinfluência que exercem sobre, h
(l
os cidadãos, através do exercício da política cognitiva. extaênciâs psicológicas do sistema de mercado como algo equivalente
,
( ?
Nas sociedades pré-industriais, as organizações formais Unham \ rSre?aPhuman8a. As normas que prescreve para amotivação das
P pessoas no ambiente de trabalho base.am-se na presunção de que ,
í pouca participação no processo de socialização do indivíduo Na reali- I
\ competição, calculo, interesse pelo ganho ecaracterísticas puramente
Zlí nessas sociedades os costumes eas tradições sob cuja influencia
o homem adquüia uma visão particular do mundo e os padrões do conômL desse tipo resumem aessência da natureza nu.m. a^O
( coneto comportamento, estavam, de modo gerai, livres do planejado caráter fictício dessa noção de natureza humana e, por si mesmo
ondicionamento de sistemas formais artificiais. Apessoa aprendia a demasiado evidente para merecer uma longa discussão. Dados h.ston-
tomar-se membro da sociedade através da participação numa porção corrantropoXgicos agora facümente disponíveis, demonstram que
o de grupos que em geral não tinham ocaráter instrumental das orgam- t^\ agente na soeidad industrial moderna, graças aimperativos institu-
zaçlea fonnais, como hoje as conhecemos. Mais ainda, em nenhuma /W donaísfo oindivíduo induzido acomportar-se como um ser econo-
( sSade anterior àsociedade industrial, as organizações de caráter \s mio De modo geral, nas sociedades pré-industriais, os determinantes
conomico jamais assumiram papel central edeliberado no processo V "onônícoTda conduta humana nunca tiveram aM <£*£
de socialização. Essa circunstância écaracterística da sociedade centra-/ nal oue assumüam na sociedade centrada no mercado. Além disso
o da no mercado, sobretudo em seu estágio industrial mais recente. íavlor co^derava aadministração científica eseus correlativos de
Nos dias de hoje, o mercado tende a transformar-se na força motivação como um dado de referência para o planejamento nao
o modeladora da sociedade como um todo, eotipo peculiar de organi- | lll 1 ammentes de trabalho, mas também da família, das escolas
ITtoS atM Em outras palavras via atessitura global da t>
I© zação que conesponde às suas exigências assumiu o caráter de um
paradigma, para aorganização de toda aexistência humanaNesas cir sociedade como uma ampliação do domínio do mercado.
O cunstâncias, os padrões do mercado, para pensamento e linguagem, Otailorismo éhoje apresentado na literatura como um estagio
G tendem a tomar-se equivalentes aos padrões gerais de pensamento e ~». história enc^Tdo, da'ciência da organização Mas adefinição do
linguagem; es* éoambiente da política cognitiva. Adisciplina orga homem como um se econômico, atenuada edisfarçada como frequen-
G nizacional ensinada nas escolas e universidades não éum saber critico íemenTeoT continua adeterminar as ações dos planejadores orgaruza-
O consciente dessas circunstâncias. Éassim ela propna uma manifestação Ss e dos formuladore; de políticas. Oarcabouço macro, ti -
G dosucesso da política cognitiva: cional da sociedade centrada no mercado écontrolado^*g™
Nos parágrafos seguintes tentarei fundamentar este argumento, baseadas nessa definição do homem. Acenca ^onomica estabetecida
O examinando três pressupostos, não articulados até agora dad.sc.phna
organizacional dominante, que são: a) a identificação da natureza
O humana, em geral, com asíndrome de comportamento inerente aso-
O 3 Na Inglaterra dos Tudors e Stuarts - diz Peter Laslett - "os adultos não
<
saíam de casTpara trabalhar" e"a vida institucional era^uase desconheada (1971) e Sahüns, Marshall (1972).
(Laslett, 1965, p. 11). -4J M 93
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dimentos, mas a sociedade assegurava a trabalhadores e a outras
com suas regras de recompensa ecastigo, eseus critérios gerais de alo pessoas - mulheres, gente jovem abaixo da idade de trabalhar', assim
cação de mão-de-obra e recursos, oindivíduo tem que se programar como alguns poucos cidadãos - que não queriam ser empregados,
como um ser econômico. muitos campos em que os mesmos podiam perseguü objetivos existen
As políticas dos governos tornam-se agora inoperantes, já que ciais independentes das pressões organizacionais. Por assim dizer, uma
são cada vez mais obstruídas por dificuldades biofísicas de produção e fronteira imaginária e, contudo, existencialmente real, separava clara
de alocação de recursos, que aeconomia típica sistematicamente negli mente a arena das organizações econômicas formais de outros sírios,
gencia, ou alega levar em conta no contexto de sua estrutura conven em que variados tipos de esforço humano podiam seguú livremente
cional' como variáveis exógenas. Por exemplo, fenômenos como a seu curso lógico de desenvolvimento. Significativamente, no decorrer
inflação e o desemprego já não reagem às diretrizes convencionais dos desse período, a poupança foi acentuada de modo enfático na vida
governos, principalmente porque o cenário econômico normativo que americana. Por si só, essacircunstância impeliu os cidadãos a se ocupa
essas düetrizes pressupõem não combina com as circunstâncias concre rem de atividades autogratificantes que envolviam a aplicação de seu
tas do mundo. Não é de admirar que os economistas tradicionais rea- V-'^
potencial como seres humanos, sem o desenfreado consumo de merca
jam atal situação com espanto.5 Infelizmente, embora um modelo de fNfvh' dorias e, por conseguinte, o gasto irrefreado. Quando se queria econo
formulação de diretrizes, sensível às limitações biofísicas de produção mizar, ficava-se em casa e cuidava-se de exercer atividades dentro de
e de alocação de recursos, tenha recentemente atingido alto grau de casa e ao ar livre, e descobria-se a alegria de fazer direta e livremente as
coerência teórica e viabüidade prática, ainda é a economia convencio coisas. As organizações formais eram discretas e conscientes de seus
nal que constitui o ensinamento ministrado nas instituições acadêmi limites, mantendo-se dentro de um contexto delimitado do conjunto
cas e que fornece as principais diretrizes para a modelagem das socie do espaço vital dos cidadãos. Poder-se-ia dizer que, durante esse perío
dades ocidentais. do, o consumidor neste país ainda gozava de alto grau de soberania no
Desde o advento da chamada escola de relações humanas, nos sistema de mercado. Existia na família importante reservatório de
últimos anos da década de 20, e mesmo em nossos dias, um número "competência artesanal" (Leiss, 1976), que habüitava o cidadão a
cada vez maior de teóricos e praticantes da ciência da organização produzir considerável quantidade de bens que ele não encontrava
afirma adotar enfoques humanistas no planejamento organizacional. disponíveis ou vantajosos para comprar. Sendo assim, o mercado
No entanto, quando se examina cuidadosamente esse humanismo, precisava ter sensibilidade, relativamente àcapacidade artesanal substi
descobre-se que é falso, visto como seus representantes, de modo tutiva do cidadão, de maneira a poder planejar sua linha de produção.
geral, são desprovidos de uma compreensão sistemática do espectro de O surgimento da chamada escola de relações humanas, nos últi
requisitos contextuais que a prática do humanismo deveria levar em mos anos dadécada de 20 e sua rápida expansão nas décadas seguintes, =£> ^
conta. Em outras palavras e generalizando, esses chamados humanistas reflete uma transição naeconomia americana. Emproporção exponen-
permitem-se a prática da colocação inapropriada de conceitos, tópico cial, as atividades das organizações econômicas formais aumentaram e
que foi discutido analiticamente no capítulo 4 deste livro. se foram diferenciando, passando dessa maneira, cada vez mais, a
Ésignificativo e, afirmo eu, não éacidental que adifundida voga ocupar todo ocampo do espaço vital dos cidadãos. Aênfase da econo
das abordagens humanistas da administração tenha coincidido com a mia americana de hoje já não se faz sobre poupar, mas sim sobre
fase em que este país se transformou numa sociedade organizacional. gastar.7 Amídia, dirigida cada dia mais pelas organizações econômicas I
-Vamos fazer uma pausa para entender esta,expressão. E certo dizer 1 Projetos de pesquisa de motivação foram largamente encorajados, nesse perío
que, nas décadas em que foi aclamada aadministração científica, este do. Whyte cita um "pesquisador de motivação" dessa época, Ernest Dichter:
país não constituía ainda uma sociedade organizacional. As pessoas "Estamos agora diante do problema de permitir que o americano médio sesinta
procuravam as organizações formais, para trabalhar ereceber seus ren- virtuoso quando está namorando, mesmo quando está gastando, mesmo quando
não está economizando, mesmo quando tira férias duas vezes poranoe quando •

s "Nós economistas" - diz Linton Friedman, em 1972 -, "temos reclamado compra um segundo ou terceiro carro. Um dos problemas fundamentais dessa
mais do'que podemos dar." Na realidade, ele estava repetindo Arthur F.Burns, prosperidade, portanto, consiste em dar às pessoas a sanção e ajustificação para
antigo presidente do Conselho da Reserva Federal (Federal Reserve Board), que gozá-la c para demonstrar que a abordagem hedonista de suas vidas é moral, e
disse, em 1971: "As regras da economia não estão funcionando exatamente co não imoral" (Wfiytc, 1954, p. 19). O Triumph ofmassidols, de Leo Lowenthal,
mo costumavam funcionar." Apud Henderson (1978,p. 63-4). oferece interessante estudo sobre a maneira pela qual a transição de uma econo
mia de produção para uma economia de consumo se refletiu nacultura popular
6 Veja, por exemplo, o capítulo 3,No rumo da sociedade organizacional, em americana (1968). Jl
Presthus (1965).
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formais intromete-se no espaço vital particular dos cidadãos e os serviços que apenas servem para destruir gradativamente o senso que
taduz a'diversificarem suas necessidades eaexprimi-las em termos tao S
têm os cidadãos de suas necessidades genuínas, pessoais. Nao questio-
esoecíficos que, somente através da aquisição de mercadorias especi- , «J nam eles, explicitamente, o caráter geral desumanizador e enganoso
da estrutura de emprego da sociedade centrada no mercado, que em si fr
fSs, podem as mesmas ser satisfeitas. Através desse processo, o ^ mesma não permite uma coerente prática do verdadeiro humanismo.
cidadão está fadado aperder sua competência artesanal, aforça de que £, .<•ÍV
dispunha para afetar as linhas de produção do mercado. Anação trans Os esforços que fazem tendem aser fragmentários, eproporcionadores
formou-se numa sociedade organizacional e a pessoa humana num de "remendos" e, assim, não vêem a floresta porque se preocupam
homem de organização. Oprodutor iornou-se soberano no mercado e apenas com as árvores. Há indícios de que nem todos os intervencio
oator principal no processo de alocação de mão-de-obra ede recursos nistas são totalmente insensíveis à síndrome psicológica inerente a
Oregistro dessa transformação tem sido feito por vários analis sociedade organizacional. Por exemplo, num livro de sucesso, significa
tas e há notável concordância quanto ao fato de que o enredamento tivamente intitulado Up the organization. how to stop the corporation
existencial do cidadão americano processa-se através de um ambiente from stiffling people and strangling profits, Robert Townsend propõe
social excessivamente projetado, no qual quase nenhum segmento de uma estratégia administrativa "tipo guerra de guerrüha nao-violenta ,
seu espaço vital é deixado livre para objetivos pessoais autônomos. visando "desmantelar nossas organizações na parte em que nos esta
Naturalmente é absurdo afirmar que os estudiosos pertinentes ao mos servindo a elas, e deixando apenas as partes em que elas estão ser
campo da disciplina administrativa ignoram ou negligenciam tis contri vindo a nós" (Townsend, 1970, p. XII). Considera ele os 80 mühoes
buições desses analistas, mas a verdade é que esses estudiosos nao de cidadãos que estão realmente exercendo empregos como casos
parecem ter uma compreensão teoricamente refinada esistemat.ca das psiquiátricos" (Townsend, 1970, p. 121), eexplica.
implicações organizacionais do ambiente social contemporâneo, todo "Tornamo-nos uma nação de office-boys. Corporações gigantescas...
ele demasiadamente projetado. Os teóricos e os praticantes de nossos a
dias tendem, na realidade, a legitimar a expansão das organizações de e agências gigantescas... cresceram como câncer, até ocuparem qua
caráter econômico para além de seus limites contextuais específicos, se todo o espaço vivo de trabalho. Como os clérigos do tempo de
( pondo em prática um humanismo errôneo emal colocado. Através de Anthony Trollope, não somos senão mortais treinados para servir a M. fí
"-^estratégias integracionistas, isto é, mediante estratégias que visam a instituições imortais ... Esse não éonosso estado natural (Townsend, 7—•
< integração de metas individuais e organizacionais, esforçam-se eles 1970, p. XII).
( para transformar as organizações econômicas em sistemas sociais de !

o tipo doméstico.9 Dessa maneira, entregam-se à pratica da política O fato de que o livro de Townsend se transformou no best- "Ho
cognitiva pela qual temas como o amor, a auto-atualizaçao, a con ,;• seller número um, quando foi publicado em 1970, e permaneceu sete
i
o fiança básica, afranqueza, a desalienação e a autenticidade sao trazi ir meses nalista de livros mais vendidos àoNew York Times, mostra que
dos para oâmbito da organização convencional, ao qual tais temas so milhões de cidadãos têm consciência da armadilha existencial em que
incidentalmente pertencem. POTtosJundamentais da vida intersubje- •"-.; • se encontram na sociedade industrial contemporânea e estão abertos a
o trva sãn em conseqüência, conceptualizados erradamente eatentativa >/ y ~) alternativas. Sua inclinação psicológica aachar alternativas para apró
O
de situá-los no terreno das organizações economícaTé, teoricamente, A^ pria situação pode significar que o momento agora éoportuno para o
indefensável. . .-^ T\ (/ surgimento de um novo paradigma de ciência organizacional. Uma das
O Somente uma visão açrítica das metas organizacionais eda moti- «yièk^-^^cpj tarefas essenciais dessa nova ciência consiste na conceptualizaçao da
vação humana pode explicar porque os intervencionistas humanistas O f] variedade de objetivos básicos e de seus correspondentes sistemas espe
O se sentem àvontade em suas tentativas, por exemplo, de minimizar a fí^*** í*a>*>~«- cíficos de que as organizações econômicas formais são um caso aum
O alienação em fábricas de alimentos para bichos de estimação; de me- U^ * &*&. limite.'Quer dizer, é essencial libertar a concepção de natureza huma-
lhorar acultura humana em complexos industriais poluentes edestrui- ^ ^ -na e dos objetivos àmesma relacionados das prescrições impostas pela
o dores dos recursos naturais; de aumentar a eficiência de corporações ^ ç^ "^ síndrome comportamentalista, e desenvolver os enfoques operacionais
o especializadas em
^^MOmmJtmm Bm fornecer
fnmprpr ao DÚblico
público mercadorias
mercadorias desnecessárias ee ^«^cO/ .r.pr necessários ao planejamento, à implementação e ao estimulo de
0< *-V empreendimentos diversos e na conformidade das metas peculiares a
o « Veja Galbraith (1970).
cada um deles.
9 Veja. por exemplo. Argyris, Chris (1973, 1973* c 1973&).
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í 96

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corporação em seu trabalho ao papel representado por um artista num
5.4 Oalegre detentor de emprego, vitima patológica da sociedade palco Enquanto o bom ator se projeta em seu papel, o executivo
centrada no mercado eficiente esconde-se, em situações idênticas. Esse contraste, entre
Uma dimensão básica a demonstrar o caráter da disciplina orga revelação e ocultação, é instrutivo:
nizacional contemporânea como exemplo de política cognitiva é seu «O ator deve interpretar o papel em termos de sua própria persona
inadequado pressuposto de que os ambientes formais de trabalho são lidade Éle se introduz no personagem, em vez de simplesmente,
apropriados para a atualização humana. Essa noção é claramente Representar' o papel. Ao contrário, as normas Ç0 protocolo (na
desautorizada por qualquer um que esteja em dia com a .literatura companhia) nos ensinam a representar nossos papéis com Vma deso
competente sobre anatureza da sociedade de mercado. Pode-se dificil nestidade intrínseca. Assim como o ator se derrama no papel que
mente admitir que um responsável especialista em organização seper desempenha, o executivo (da pmpresai extrai rir sen papel a própr»
mita ignorar aquilo que Max Weber escreveu sobre as peculiaridades individualidade" (Harrington. 1959.P. 144).
históricas da sociedade de mercado e suarepercussão sobre a estrutura
de emprego. De fato, Max Weber salientou que, comparada às socieda Os atos que oindivíduo pratica em sua qualidade de detentor de
des aque sucedeu, asociedade de mercado constitui uma configuração um emprego são de importância secundária, relativamente àsua verda
histórica particular precisamente porque não pode funcionar de deira atualização pessoal. Se uma pessoa permite que a organização se CX^V^y. %A_A»

maneira eficaz a menos que o desempenho do indivíduo, como mem tome a referência primordial de sua existência, perde o contato com CS "THaíV 5asv^
bro dos ambientes de trabalho, tenha caráter impessoal. Os sistemas suajíeidadeira individualidade e, em vez disso, adapta-se a.unn reali
sociais adequados ao desempenho pessoal nos ambientes profissionais, dade fabricada. Os sistemas planejados, como as organizações formais,
têm metas que, só acidental esecundariamente, consideram aatualiza
^Lsvo *
tanto quanto ao tratamento personalizado de seus clientes, retardam
o advento e o desenvolvimento do sistema de mercado. Weber insi ção pessoal. Verdadeiros atualizadores são os agentes capazes de ma
nuou, por exemplo, que uma das razões pelas quais a Alemanha de nobrar, no mundo organizacionalmente planejado, de modo aservirem '4
seu tempo estava atrasada, em relação à Grã-Bretenha e a outras aos objetivos desse mundo com reservas e restrições mentais, sempre
nações da Europa ocidental, era a de que sua estrutura administrativa deixando algum espaço para a satisfação de seu projeto especial de
ainda estava contida dentro do tipo patrimonialista de trabalho carac vida Há, portanto, uma tensão contínua entre os sistemas organiza I
terístico dos sistemas sociais feudais do passado. Modernizar a cionais planejados e os atualizadores, e afirmar que oindivíduo deve
Alemanha - queria ele dizer - eqüivaleria a acelerar a formação de |
ria esforçar-se para eliminar essa tensão, Chegando assim auma condi
um mercado nacional alemão e, portanto, a desmantelar o tipo feudal ção de equUíbrio orgânico com aempresa (exemplo de política cogni
de estrutura administrativa. As afirmações de Weber têm sido objeto tiva que uma psicologia motivacional defende, em bases supostamente
de um grande número de restrições, mas a essência de sua análise da científicas), corresponde a recomendar adeformação da pessoa huma
modernização como sinônimo de desenvolvimento da sociedade de na. Somente um ser deformado pode encontrar em sistemas planeja
mercado ainda é verdadeira, sem restrição alguma. dos o meio adequado à própria atualização.
Numa sociedade de mercado, o empregado eficiente deve ser um \ O atual humanismo integracionista das organizações toma por
ator despersonalizado. Espera-se dele que acate as determinações UJW base uma concepção sociomórfica da atualização humana, e, pois,
impostas, de cima para baixo, eque definem opapel que tem que JS-" opõe resistência ao reconhecimento do fato de que apsique humana
desempenhar. Um traço de sua patologia normal é aquüo que Dewey^/ ^ t\ contenha qualquer elemento substantivo ^ue não seja interiorizado
X mediante o processo de socialização. Essa concepção do integracionis
chamou de "psicose ocupacional", resultante de uma aceitação acri- '- r
tica das determinações referentes a seu papel profissional (Merton, 7-<~0O <?- ta humanista é indefensável, diante daconseqüente patologia dos pró
1967, p. 198). Como assinalou Robert Merton, o empregado está ^ . A %^ prios sistemas sociais. Uma concepção oposta, isto é, uma perspectiva
destinado a conformar-se a um "comportamento esteriotipado", que real centrada no indivíduo, toma-se necessária para que se adote um
"não se adapta às exigências dos problemas individuais" (Merton,. enfoque clínico de tais sistemas. Do ponto de vista de uma psicologia
1967, p. 202).
desse tipo, centrada no indivíduo, "ohomem édoente - não apenas o
Vamos fazer uma pausa, a esta altura, e prestar atenção a uma
-*JL neurótico ou psicótico, mas igualmente aquele que é chamado de
narração autobiográfica do executivo de uma corporação. O livro,
homem 'normal' - porque esconde o seu eu real natransação com os
Life in the Chrystal Palace, contrapõe o desempenho do membro da
outros, (e) equipara os papéis que desempenha nos sistemas sociais à
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-ex. r^o e»Cta/a c*> SU ^yya, X,


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dade assim, não ser detentor de um emprego corresponde a não ter 1
( própria identidade etenta negar aexistência de tudo aquüo do eu real
que não tem importância para o papel desempenhado" (Jourard, valõT- e mesmo a não existir.
( Não obstante, a noção de emprego, como a conhecemos, e xao 1
1964,p. 60-1). recente que o dicionário Webster ainda a considera um coloquialis-
O conceito sociomórfico da psique humana despoja o indivíduo mo ,0 No inglês do período coberto pelos séculos XII a XVI )oooe, 1
< de seu desejo de significação. Na realidade, oindivíduo confere signifi
( cação asua vida quando tal significação, primordialmente, resulta da raiz da palavra moderna job - emprego - queria dizer um pedaço, ou 1
atualização de suas potencialidades pessoais. Contudo, isto não quer
um monte, e nada tinha em comum com a ocupação de qualquer
( cargo especificado de uma organização formal. Antes do advento da
dizer que, ao atualizar-se, possa o indivíduo dar plena expansão asuas sociedade centrada no mercado, o emprego nunca tinha sido o cnteno 1
( compulsões psicológicas e deva se permitir arealização indiscriminada
de suas potencialidades. Na verdade, terá ele até que lutar contra principal para definir asignificação social do indivíduo, enos contex >
c- muitas delas, se estiver decidido a alcançar o objetivo pessoal sem par tos pré-industriais as pessoas produziam e tinham ocupações sem
0 de sua vida. A auto-atualização conduz o homem na direção da tensão serem, necessariamente, detentoras de empregos. No plano estrutural 1
interior, no sentido da resistência à completa socialização de sua dessas sociedades, edesemprego como uma característica de desocupa
o ção era inconcebível,11 já que as mesmas asseguravam uma função »
psique. Énecessário que se proceda auma cuidadosa caracterização do produtiva a qualquer pessoa que reconhecessem como um de seus
0 conceito de auto-atualização, para que o mesmo não venha ajustificar ' 1
aincapacidade do indivíduo de viver a tensão inerente àsua.existência. membros. Em tais sociedades, o que poderia se assemelhar ao desem
( prego em massa de nossos dias era, antes, resultado esporádico de »
O conflito entre o indivíduo e os sistemas sociais projetados é acontecimentos perturbadores, como as secas, as guerras, as rixas entre
( permanente e inevitável, e só pode ser eliminado pela morte do ser famílias, ou as pragas. Ofato de pertencer aessas sociedades por si so l
( humano ou por sua paralisia, mediante exagerada adaptação às condi dava ao indivíduo a possibüidade de estar livre de morrer de fome. A
ções sociais exteriores. Além disso, a auto-atualização individual é, na morte pela fome só aconteceria como um fenômeno coletivo, causado l
( maior parte das vezes, uma conseqüência não premeditada de inúme por uma catástrofe natural ou social, que afetaria todos os membros
fl ras ações. Paradoxalmente, constitui uma verificação posterior ao fato, ^ da sociedade. e
em vez d\ser tópico garantido de uma agenda. Quanto mais se preo ^ Como reconhece Adam Smith, a sociedade demercado transíor- *
c cupa o homem, de maneira explícita, com a auto-atualização, tanto [ -As ma ohomem, necessariamente, num detentor de emprego: "Onde uma
0 mais se vê coibido no emaranhado da frpstração existencial. vez se estabeleça a divisão do trabalho", diz ele, "todo homem vive
Falam-nos deSm domínio profundo da pessoa humana, intoca numa base de troca ou, de alguma forma, toma-se umcomerciante, e a
0 própria sociedade passa a ser aquüo que constitui, de fato, uma socie
do pelo processo da socialização, não apenas psicólogos como Jung,
0 Laing, Progoff e outros, mas também outras pessoas que se atrevem a dade comercial" (Smith, 1965, p. 22). Na sociedade que conceitua
penetrar nesse domínio - indivíduos criativos, poetas, músicos, nove como sendo comercial, o indivíduo só pode garantir a si mesmo os
© bens eserviços de que necessita através do exercício de um emprego.
listas, artistas de muitos tipos, até mesmo loucos. O indivíduo que a
0 psicologia sociomórfica motivacional enfoca é aquele para quem o Exercendo o emprego, recebe um salário, um certo montante de
mundo social representa o único centro de experiência. Ele é provido dinheiro, com que compra aquüo que lhe seja possível comprar. Nesse
c tipo de sociedade, fica sem ocupação, no sentido antigo e primitivo.
de ego, mas perdeu a consciência de sua individualidade, onde estão
0 adormecidas realidades imencionáveis (Laing, 1968,p. 133-58). Exatamente no momento em que Adam Smith escrevia ARiqueza das
V nações ainda podia ver, na Inglatena, áreas intocadas pelo sistema de
0 Apsicologia sociomórfica motivacional utilizada edepois perpe mercado mas lamentava ofato de que "quando o mercado é pequeno,
tuada pela disciplina organizacional existente é,ela própria, um aspec ninguém pode ter estímulo para se dedicar a uma única ocupação
o to da síndrome comportamentalista inerente à sociedade centrada no <-) (Smith, 1965, p. 17), como ocarregador, numa grande cidade, onde o
c mercado. Avalia a normalidade e a qualidade do indivíduo de acordo Ç£> mercado é ubíquo.Escreve ele:
com a função que ele exerce como detentor de um emprego. Éum c3j-~-
o tipo de psicologia que não transcende um episódio histórico peculiar, "Nas propriedades isoladas e nos vUarejos muito pequenos, espalha-
já que somente na sociedade centrada nomercado, pela primeira vez, '
0 io Veja de Grazia (1964, p.51).
os empregos passaram a ser acategoria dominante - senão aexclusiva
V - para reconhecimento do valor dos propósitos humanos. Numa socie- li Veja Schumpeter (1974, p. 270). Veja também Garraty (1978).
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dos por uma região tão deserta quanto os altiplanos da Escócia, para se ter uma visão adequada da natureza dessas realidades^será útü
cada granjeiro tem que ser açougueiro, padeiro e cervejeiro de sua distinguir entre bens eserviços, primaciais edemonstrativos. Os pri
própria família. Nessas situações mal podemos esperar que haja um meiros são aqueles que atendem às limitadas necessidades biofísicas de
( alimento, abrigo, vestuário, transporte e de serviços elementares que
ferreiro, um carpinteiro ou um pedreiro distante menos de trinta qui ajudam o indivíduo a se manter como um organismo sadio e um
( lômetros de outro irmão de ofício. As famílias dispersas, que vivem a
uma distância de 10 ou 15 quüômetros umas das outras, precisam
membro ativo, no funcionamento da sociedade. Bens e serviços oe-
( monstrativos são aqueles que visam, principalmente, a satisfação dos
aprender a executar, elas mesmas, um grande número de pequenos desejos que têm os indivíduos de exprimir seu nível pessoal, relativa
( trabalhos, para os quais, em regiões mais populosas, poderiam pedir a mente à estrutura de status, sendo seus desejos concebidos em termos
( colaboração desses trabalhadores. Os homens que trabalham no
interior são, em quase toda parte, obrigados ase dedicarem a todos os sociais e Uimitados. .
( diferentes tipos de atividades que tenham suficiente afinidade umas Em retrospecto, pode ser justificada a visão que Smith tinha do
com as outras para poderem ser executadas com o mesmo tipo de desenvolvimento da sociedade de mercado como um processo civüiza-
o
material. Um carpinteiro de roça faz todo tipo de trabalho que seja tório Enquanto omercado permaneceu confinado (tal como em todas
as sociedades pré-industriais), o fornecimento de bens e serviços pri
c executado com madeira; um ferreiro de roça, toda espécie de trabalho •*> maciais constituiu a meta essencial do sistema de produção. Em tais
feito com ferro. 0 primeiro não é apenas um carpinteiro, mas também
o um montador, um marceneiro e até um entalhador, do mesmo modo tf sociedades a produtividade da força de trabalho era baixa e apenas
( que um fabricante derodas, dearados, ou um construtor de canoças e uma minoria dominante era capaz de se ocupar de atividades de natu
carruagens. As ocupações do segundo são ainda mais variadas. fc reza civUizatória. O desenvolvimento do sistema de mercado traria, em
( impossível a existência de um ofícioaté mesmo como o de fabricante última análise, a abundância e, portanto, uma estrutura social mais
( de pregos, nas zonas remotas e interioranas dos altiplanos daEscócia. justa pelo fato de libertar a força do trabalho do peso de atividades
Um operário desses, produziria 1.000 pregos por dia e, nos 300 dias enfadonhas. Semelhante justificação post hoc do desenvolvimento da
c úteis do ano, faria 300 mil pregos por ano. Mas, em tal situação, seria sociedade de mercado foi articulada sistematicamente porJohn Stuart
impossível utilizar 1.000 deles, quer dizer, o resultado de um dia de MUI- "O efeito legítimo" da sociedade de mercado - infere ele - éa
o "diminuição do trabalho". Em algum estágio, no desenvolvimento da
trabalho porano" (Smith, 1965, p. 17-8).
o sociedade de mercado, qualquer "aumento de riqueza" sena um
Portanto, a economia clássica foi concebida por seus criadores "adiamento" de uma "melhor distribuição" de bense serviços e, nessa
o como uma disciplina que encara o emprego formal como o critério
conformidade, afirmou:
c
primordial para a alocação de recursos e de mão-de-obra. Smith via fjj& ' 9.' &
essas regiões da Inglaterra como um obstáculo àcivüização. Estar-se-ia "Confesso que não estou encantado com o ideal de vida defendido
o servindo à civilização se se permitisse a expansão do mercado, na 0a- pelos que acham que o estado normal dos seres humanos é o de
Inglaterra, eliminando-se qualquer possibüidade de permanência de lutarem par» ganhar a vida; que eipezjiüiai_o_ próximo, esmagá-lo,
o tipos como o carpinteiro de roça e oferreiro de roça, que ele descreve acotovelá-lo e caminhar umgrudado nos calcanhares do outro- como
o com nuanças pejorativas. Não havia razão para preocupações com o se constitui hoje o tipo de vida social, seja oque mais se pode desejar
choque da expansão do mercado sobre avida do carpinteiro de roça e para ahumanidade, ou que seja algo mais que sintomas desagradáveis :
o do ferreiro de roça, que não estavam treinados para agir como deten de uma das fases do progresso industrial."13
o tores de emprego. Com o tempo, aprenderiam os ofícios necessários
para se tomarem parte do tipo de força de trabalho que estava emer Essa explicação retrospectiva do desenvolvimento da sociedade
o gindo, e a lei da oferta e da procura proporcionaria emprego para
todos os indivíduos que estivessem dispostos a trabalhar. Smith, do de mercado traz nova luz à interpretação de acontecimentos caracte-
o
mesmo modo que os economistas clássicos em geral, não concebia o 12 Dever-se-ia compreender que tal distinção pretende evitar o uso da classifica
o desemprego involuntário. E, em regra, esse pressuposto foi confirmado ção das atividades de produção como primárias, secundárias e teicianas, coisa
pelos fatos, durante, mais ou menos, os primeiros 150 anos da socie corrente nos manuais de economia. Anoção que tenho de bens e serviços de
o monstrativos reflete o conceito de Duesemberry sobre efeitos dedemonstração,
dade de mercado. embora seassemelhe aoque Fred Hirsch (1976) chama bens "de posição .
o Contudo, no presente sistema econômico do Ocidente, há reali
dades que Smith e os economistas clássicos não poderiam prever e, 13 Esta eoutras citações de J.S. Mill foram tiradas de Daly (1973, p. 12-3).
G
103
ío 102

r \*
rísticos da história econômica contemporânea. Pode-se argumentar, y i_ novo ficando incapaz de proporcionar empregos para todos os que
por exemplo, que a Grande Depressão, nos EUA, foi uma indicação . y> jij? P desejam trabalhar. Isso se transformou numa tendência estrutural
de que, neste país, osistema de mercado havia desempenhado seu ?\C\^ \r\j^9< ^' secular, que desafia qualquer sistema de políticas econômicas, incluin
papel histórico. Paradoxalmente, a depressão não significou falta de J *A.9 V do aqueles de natureza keynesiana. Assim, por exemplo, no livro Work
capacidade para produzir bens primaciais suficientes para todos os ^\d v' in America, pode-se ler:
cidadãos, mas resultou do baixo poder aquisitivo destes para compra- V1^
los. Exatamente quando a depressão ia começar a aparecer, o presi- ..; "... a própria economia não foi (capaz) ... de absorver o aumento
dente Hoover disse: "Em breve, com a ajuda de Deus, estaremos vendo espetacular verificado hõ nível educacional da força de trabalho. A
o dia em que a pobreza será banida desta nação."14 Em outras pala /"expansão nos empregos nas áreas de pessoal, técnica e de serviços de
vras, o mercado deste país desenvolvera uma disponibüidade de capital escritório absorveu apenas 15% dos novos trabalhadorêTinstruídos; os
e uma logística tecnológica capazes de produzir uma quantidade de restantes 85% aceitaram trabalhos anteriormente executados por
bens e serviços primaciais equivalentes às necessidades básicas da pessoas portadoras de menores credênciãfsr
população. Além disso, podia chegar a esse resultado sem exigir que Se as coisas continuarem como estão, â disparidade entre a oferta
cada indivíduo se transformasse no detentor de um emprego. Mas a e a procura de tràbãmádórés ms&uTdõs provavelmente estará exacer
mentalidade dos empresários e dos elaboradores da política econômica bada na próxima década. Cerca de 10 milhões de diplomados de
oficial os impediu de compreender o conceito de emprego em outro nível superior estão previstos para entrar no mercado de trabalho j
sentido que não fosse o de um mecanismo para a distribuição de nesse período, enquanto apenas 4 milhões de diplomados deixarão a
renda, e isso, por sua vez, os levou à crença de que não havia maneira força de trabalho, por aposentadoria ou morte. Isso quer dizer que
pela qual essa economia de bens primaciais proporcionasse ocupação haverá 2V£ diplomados competindo em torno de cada um dos 'bons'
( para todos" empregos, para não mencionar os outros 350 mü doutorados que
OFèconomistas clássicos estavam conceptualmente desprepara estarão procurando trabalho" (OToole et alii, 1973,p. 135-6).
dos para compreender e superar essa crise. A revolução keynesiana
O consistiu em socorrer a disciplina econômica e em resolver o impasse I {-^yVlZ- Afirmar que o caráter psicologicamente disfuncional da estru-
c
dç> mercado, pela atualização através do dispêndio, do potencial do O5 " tura de emprego dominante nas situações industriais avançadas passou
mercado para produzir bens e'serviços de natureza demonstrativa. Sob ri O O despercebido dos estudiosos de organização não é inteiramente
essa nova condição, pode ôfnéfcàdo proporcionar, outra vez, empre-u^c> ^J^oVí,-* c^ «0* exato, mas a teoria fundamental de semelhante disfuncionalidade eo
O
gos para todos, o que, por sua vez, aumentaria o~poder de compra. a^^j»-^.!) -ÇL-phoque que produz sobje a vida da totalidade dos cidadãos têm sido
Deve-se notar porém queKeyri€sCõTícebe\ro emprego como ocritério j?"rso-'Y^ Ç| (1lV)^lamentayelmente negligenciados. Éfato que um anseio de personaliza-
O êsséncial de distribuição dé mão-de-obra, sêrido sua mente prisioneira °k- íj^»- i-»oç&^o»{ _ ção constitui, agora, uma característica preponderante do perfil psico-
do desenho social estrutural implícito nesse princípio de organização: e^^^. çx \Q^\o. <SL lógico dos cidadãos e, ao darem notícia dos resultados de um levanta-
o Por essa razão, continuou êlé sendo urireconomísta clássico, etalíiou q^ Q mento de âmbito nacional, empreendido nos primeiros anos da presen-
o na tarefa de produzir uma verdadeira "teoria geral de emprego", se ^*JP*'vín a '\3oU*a~^ década, os autores de Work in America afirmam:
entendemos por emprego uma condição em que o indivíduo pode^, ír^ik/^lljMso «"^-tr^ç
o exercer uma atividade produtiva socialmente útil, sem ser, necessária- Q (TT Çj ' íticomparado com as gerações anteriores, o jovem de hoje quer me-
o mente, um item da folha de pagamento
pagamento de
de uma
uma empresa. Ecerto
É certo que
que"*5 *- *« Tv^T
^^T um padrão esta-
as políticas econômicas de Keynes salvaram de empresa.
fato omercado ede^^v^^ ^^ dir seu aperfeiçoamento
f * ™ segundo ^^ muilo maJor quedeele próprio
Qjnterior
o fato reestimularam suas atividades, mas o keynesianismo foi apenas c^-it^f^ <&r> á/v^^^r,- do que David Riessman teria predito duas décadas atrás.)Ç).problema,
o um adiamento temporário da crise, que prenunciava o fim da validade ar*-^,^*-,^© ' com a forma segundo a qual o trabalho estáhojeorganizado, estáem 4 K'
histórica da categoria de emprego como um princípio organizacional ^ üj v que ela não permitirá ao trabalhador a consecução de suas metaspes
o da produção.
Nas sociedades de mercado, atualmente, apesar do fato de que a
soais" (OToolejt aíü, 1973, p. 51). >»X^qJ^^QP^SL^
o
produção de bens e serviços demonstrativos eqüivale, se é que não A disciplina organizacional existente, ao que parece, também é
O excede, a produção dos bens e serviços primaciais, o mercado está de sensível a essa tendência, mas focaliza erradamente sua atenção sobre
Q i" Apud HeUbroner (1972, p. 241). o atendimento da necessidade de personalização dos cidadãos no

t 104 105
4
(
(
(
contexto dos ambientes de trabalho. Isso implica uma incompreensão de produção despersonalizado. A deformação da pessoa humana,
( duplamente errada. Primeiro, os teóricos convencionais, ou os teóricos 0M imposta por essa transição, tem sido o preço psicológico pago pela
( e praticantes da ciência organizacional não percebem que os próprios criação da logística da abundância de bens primordiais para todos.
Essa é a grande transformação, aser creditada ao sistema de mercado.
(
empregos são incidentais, no processo de personalização; segundo, ao f Mais que qualquer outra coisa, um incidente histórico isolado prova
que parece, não levam em conta o fato de que a estrutura de emprego
da sociedade avançada de mercado é cronicamente incapaz de propor que essa grande transformação foi conseguida. Tal incidente começa
( com a II Guerra Mundial e desdobra-se através dos 30 anos subse
cionar ocupação para todos os cidadãos dispostos a trabalhar.
( A queixa de que a estrutura empresarial oferece agora aos indi qüentes.
víduos tarefas que não se destinam a lhes satisfazer as necessidades de O argumento é desenvolvido por H. F. WUliam Perk. AII Guerra •'•• '
( Mundial ativou umacapacidade de produção sem precedentes no siste Q -
personalização é menos do que se poderia esperar de uma abordagem ma industrial americano. Infelizmente, uma quantidade imensa de
( verdadeiramente humanista do planejamento de sistemas sociais. O
âmago da questão está em que os empregos já não constituem mais o materiais e artigos de destruição foi produzida e entregue aoconsumi
(> -
dor, nas frentes de guerra. Esse esforço envolveu diversas dispendiosas
único meio de engajar osindivíduos em atividades de produção social operações, tais como embalagem, transporte, distribuição e suas com
( mente significativas. Ofato de que, na sociedade de mercado, a oeu- '. ( \ plexas medidas administrativas correlacionadas. Subseqüentemente, o
pação de um emprego é o único caminho para que o homem se torne
(
uma pessoa com significação social, tem que ser interpretado como período de guerra fria, que foi dos últynpianos da década de 40até o
( um requisito funcional, temporário, para o desenvolvimento da logís- J final da de 50, introduziu a era àaoverkill)- além do necessário para
tica capaz de produzir fartamente e para todos. Como serviçal dessa matar - na qual nossa capacidade dèslfútiva aumentou um milhão de
(
logística, o sistema de mercado não teria desempenhado sua missão vezes. Durante esse período, vimos também o aparecimento de um
histórica sem queo conceito de emprego se tomasse o princípioessen sistema industria) não-militar, capaz de proporcionar a abundância
(
cial da organização social da produção. material. Prova desse fato está em indicadores como o da prática da
C O sistema de mercado, em seu modelo ocidental, provou que
obsolescência planejada de artigos para o consumidor, a escalada
a produção de bens primaciais para todos é possível sem exigir que o intencional da demanda de bens supérfluos de natureza demonstrativa,
O envolvendo o engajamento de parte considerável da força de trabalho,
indivíduo só possa subsistir como fator impessoal de produção. A taxay1- - \
c de produtividade do labor humano, nos sistemas pré-industriais. era a admissão do fato de que a capacidade produtiva não poderia ter
V 100% de utUização, sob pena do excesso de produção perturbar os
o tão baixa que propósitos de lazer só podiam ser privilégio de poucos.
Na medida em que a produção nessassociedades não podia ser conce
termos convencionais do mercado, forçando a utUização insuficiente
o bida como objeto sistemático de conhecimento aplicado, o labor tinha da capacidade industrial combinada da Europa, URSS e Japão para a
que ser encargo da maioria do povo e tinha que ser justificado como produção de bens e serviços primaciais em abundância.
o D
uma questão de princípio e como um fato da natureza. No entanto,
nessas sociedades, o trabalhador estava a salvo de certos imperativos
y. Portanto, essa produção abundante de bens primaciais poderia
ter sido empreendida pelo sistema logístico então existente, mas esse 'Aa>
,.4^\fiM
tfi
vexatórios, que recaem singularmente sobre o empregado hoje em dia. acontecimento não constitui, em si mesmo, a necessária e indispen •r ¥
0? Por exemplo, o trabalhador pré-industrial era privado de refinadasati sável condição para agrande transformação. Perk, efetivamente, afir
o vidades de lazer, mas era dono de si mesmo, não um fator de produção ma:
( a ser tratado como mercadoria, e avaliado de acordo com a lei da
\A oferta e da procura. Seu trabalho deixava-lhe amplo espaço parapro "Há razão para se acreditar que a Grande Depressão que precedeu a
( pósitos através dos quais podia atualizar livremente seu potencial indi II Guerra Mundial foi tão grave porque a possibüidade técnica da
vidual. Mesmo na Idade da Pedra, como a retrata Sahlins (1972), a abundância já era iminente, e aqueles que detinham o controle do
o afluência estava à disposição do indivíduo. sistema industrial não sabiam como lidar com essa condição" (Perk,
o O objetivo final do sistema de mercado era o de transformar a 1966, p. 362)."
produção numa atividade científica e de prover a sociedade de capaci
o dades de processamento de alta taxa de produtividade,simultaneamen O raciocínio de Perk fornece uma referência nova para uma
o te liberando os homens do labor. No processo de consecução desseobje reavaliação das políticas econômicas, em geral keynesianas, que foram
tivo, a sociedade de mercado tinha que usar o homem como um fator formuladas e implementadas para superar a Grande Depressão e que
t
107
( 106
\l
constituem, ainda mesmo em nossos dias, grande parte da sabedoria Simon, em seu livro Administrative behavior, publicado em 1947.
convencional do economista. Aparentemente, os formuladores de tais Afirma Simon:
políticas econômicas não puderam compreender que, num estágio em
que a abundância de bens e serviços primaciais pode ser produzida a "A comunicação pode ser formalmente definida como qualquer pro
:
>
uma taxa inferior de envolvimento dos indivíduos na estrutura formal cesso pelo qualas premissas decisórias são transmitidas de um membro k 1
de emprego, passa a ser necessáriauma reinterpretação do papel histó da organização para outro" (Simon, 1965, p. 154).
rico do mercado - isto é, uma reinterpretação pressupondo sua deli 1^ 3 1
mitação,atravésde novasnormaspolíticas, como um enclave incumbi Considerando-se que Simon está sobretudo interessadonas orga
do das atividades de natureza econômica, por excelência. Ao invés nizações econômicas, tal afirmação é realmente correta. Nasorganiza »
rl,.ç l^-ií -y^ ções econômicas, a comunicação entre as pessoas ocorre independen
disso, as políticas de Keynes e de outros economistas com orientação
te .jlj[CuOl^Kov-"**
semelhante retardaram a delimitação do mercado, mediante a expan temente daquüo que são como pessoas, e delas extrai informaçãoque 1
são de suas linhas de produção e de suas atiyidades_tJevando-o dessa ]/V/0(/wV~^ só é compreensível sob premissas decisórias impostas. Em outras pala
maneira a apossar-se da direção da própria^ruturajocial? l\,\fi
tfoA vras, essa espécie de comunicação não é livre de imperativos externos e •
>
A política cognitiva é uma dimensãoinevitável dessahipertrofia ^/ylAM1 não serve como um veículo para a exposição autogratificante, pessoal r
do mercado, e a teoria administrativa, aceitando a presente estrutura e subjetiva do indivíduo. Simon esclarece suas definições como se
de emprego como um traço permanente da economia, falha em segue: I
compreender a difícil situação organizacional dos cidadãos americanos.
"Através de sua submissão a metas organizacionalmente estabeleci 1
das e através da absorção gradual dessas metas em suas próprias atitu
5.5 A psicologia da comunicaçãoinstrumental des, aquele que participa da organização adquire uma personalida
de de organização, bastante diferente de sua personalidade como indi
o A disciplina administrativa dominante deixade perceber que no víduo. A organização destina-lhe um papel: especifica os valores parti
contexto das organizações econômicas a comunicaçãoé essencialmen culares, os fatos, as alternativas, segundo os quais devem ser tomadas 1
( te instrumental, no sentido de que é planejada, de modo sistemático, suas decisões na organização" (Simon, 1965, p. 198).
o para maximizar a capacidade produtiva. Em tais organizações, o pró ,

prio indivíduo é um recurso que deve ser empregado eficientemente. É clara a razão pela qual Simon nega, compropriedade, a possi
>
c
A psicologia transforma-se numa tecnologia de persuasão para aumen- Vy-C'r,U'V^ bilidade de auto-atualização no contexto das organizações formais."" 11
o tar a produtividade. Culparas organizações de natureza econômicapor \ to«^ Contudo, embora sua descrição das realidades organizacionais seja 1
serem incapazes de atender às necessidades do indivíduo como um ser mais realista do que a que fazem seus oponentes humanistas, tal des
o singular é tão fütü quanto culpar o leão por ser carnívoro. Elas não crição tende a justificar a prática da política cognitiva. Até certo »
c podem agir de outra maneira e, já que sem as organizações econômicas ponto, çfiiyro de Simoryreflete o ambiente social deste país no perío
a sociedade não poderia funcionar adequadamente, é preciso que as >k- do subseqüente à IÍGuerra Mundial, quando uma visão otimista e
G mesmas sejam realisticamente compreendidas conforme são. A comu acrítica das funções da organização predominava. Assim, ao enfocar os
nicação substantiva, isto é, aquela que visa desvendar a subjetividade y, relacionamentos entre o indivíduo e a organização, sua abordagem
O
de pessoas engajadas em permutas autogratificantes, é pouco tolerável inclina-se a favor da organização. Por exemplo, admite ele que "o
O em organizações econômicas. Nessa conformidade, admitirque a auto- _£- empregado assina um cheque em branco, ao entrar na organização"
O atualização pode ser estimulada nos contextos econômicos, como o í (Simon, 1965, p. 116). E certo, adverte, que "a área na qual será >
fazem os humanistas organizacionais, é incorrer em política cognitiva. aceita a autoridade da organização não é ilimitada" (Simon, 1965,
o p. 117). Mas sua compreensão de tais limites é deficiente.Apoiado em 1
De fato, semelhante pressuposto conduz à prática de técnicasüusórias
o Barnard, ele vê o detentor do emprego como uma personalidade divi
de aperfeiçoamento de pessoal, destinadas a facilitar a exposição com diria, simultaneamente portador de uma "personalidade de organiza 1
o pleta da subjetividade das pessoas, fora de contexto, isto é, no desem ção" e uma "personalidadeparticular" (Simon, 1965, p. 204). Diz ele:
penho de papéis de natureza instrumental. >
"Quando as exigências organizacionais ultrapassam [seus limites], os
o No domínio da teoria organizacional, uma das raras tentativas
para enfrentar o conceito da comunicação foi feita por Herbert «5 Veja a discussão entre Simon (1973) e Argyris (1973).
)
V
108
1
t 109

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« ( -Ol-A^O/c
motivos pessoais se reafirmam e a organização, nessa medida, deixa de intimidação e coerção" (Uzarsfeld e Merton, 1974, p. 556). Preso
« (
de existir" (Simon, 1965, p. 204). ao contexto dessa forma, o ambiente sociaL como um todo, tornou-se,
r Contudo, a concepção de Barnard e de Simon, relativamente à ele próprio, um ambiente ^mecanomórficoye, pela interiorização de
dupla personalidade do detentor de emprego, está insuficientemente suas normas e exigências, o indivíduo é induzido a se transformar, a si
r
caracterizada, apresentada em termos exageradamente mecanicistas e mesmo, num sistema rnecanomórfico. Substitui por um jargãoprojeta !
( pressupõe uma lealdade à organização que conduz, sejamos francos, do o senso comum e, inevitavelmente, perde a habilidade verbal de
a terríveis conseqüências sociais. Por exemplo, Barnard conta a histó falar sobre níveis profundos de sua psique, que resistem à expressão
( ria de uma telefonista, tão preocupada com a mãe doente que aceitou, mediante signos mecanomórficos.
( contra as próprias inclinações, um emprego num lugar solitário,
Herbert Simon não veria nada de extraordinário na presente
porque dali podia ver a casa em que estava a mãe, em seu leito de
i (' submissão passiva do indivíduo ao ambiente social. Argumentando
enferma. Não obstante, quando chegou o dia em que a casa seincen que existe apenas uma diferença de grau entre uma formiga e um
( diou, ela observou o fato sem abandonar a mesa de ligações telefôni homem, diria ele que, quanto ao indivíduo, seu "ambiente interior
cas. Barnard elogia a telefonista: "mostrou extraordinária 'coragem pode ser muito irrelevante para (seu) comportamento, relativamente
( moral', poderíamos dizer, ao agir segundo o código de suaorganização ao ambiente exterior" (Simon, 1969, p. 25). Na realidade, afirma ele:
• Cl - a necessidade moral de serviço ininterrupto" (Barnard, 1948, ;
'0 p. 269). É precisamente esse tipo de injustificada lealdade do empre
gado às organizações que, finalmente, as transforma em agências de 1^- *&> "Uma formiga, encarada como um sistema de comportamento, é bem
simples. A aparente complexidade de seu comportamento, ... é em
( corrupção moral, induzindo os indivíduos, por exempro, a aceitarem grande parte um reflexo da complexidade do ambiente em que ela se
os horrores nazistas como fatos normais da vida do Estado, ou a se encontra...
( permitirem violações da lei, tais como aquelas em que o presidente cj^tM*^ ík
<*-^ £u gOStaria de explorar esta hipótese, mas com a palavra 'homem'
( Nixon e seus auxüiares foram apanhados, durante o caso Watergate. ^ o5£> .aawjaX substituindo 'formiga'...
Além disso, é evidente que a submissão passiva do indivíduo à Q_£SJWx>p Q^Um homem, encarado como um sistema de comportamento, é bem
c organização, em sua qualidade de detentor de emprego, tem um v •^"simples. A aparente complexidade de seu comportamento, ... é em
i 0
profundo efeito sobre sua personalidade, efeito que não desaparece _grande parte um reflexo da complexidade do ambiente em que ele se
em seu espaço vital particular. Se, como sustenta Simon, se espera do encontra.
m
c empregado que "deixe em repouso suas faculdades críticas", a fim de tA/v' Pessoalmente, acredito que a hipótese vale mesmo em relação ao ho
"permitir que as decisões que lhe forem transmitidas" possam "guiar
0 sua própria opção" (Simon, 1966, p. 151), essa disposição pode
mem como um todo ... Um ser humano raciocinante é um sistema
adaptativo; suas metas são definidas pela área comum entre seus
o condená-lo a fazer de sua psicose ocupacional uma segunda natureza, ambientes interior e exterior. Na medida em que ele é de fato adaptá
como assinalamalguns analistas (Merton, 1967; Mannheim, 1940). Em vel, seu comportamento refletirá características situadas, em grande
Q outras palavras, estaráele enfraquecendo suacapacidade de fazer, fora parte, no ambiente exterior (em face das metas individuais) e revelará
O da organização, julgamentos éticos e críticos de natureza pessoal. A apenas umas poucas propriedades limitativas de seu ambiente interior"
injustificada legitimação dessa pressão, exercida sobre o indivíduo pela (Simon, 1969, p. 24-6).
O organização, deve serreconhecida como exemplo de política cognitiva.y

o É duvidoso, na verdade, que em seu tempo fora do trabalho Essa afirmação é altamente representativa da concepção de!
possa o indivíduo dispor de áreas suficientes, livres da penetração de homem infiltrada na psicologia behaviorista, sendo formulada em dois]
o pressões sociais organizadas. O ambiente social desta nação é altamen passos nãoarticulados. Primeiro, define o homem como um sistema de) I I.A li
o te planejado, se se leva em conta a maneira pela qual normalmente a comportamento e, segundo, pressupõe que um sistema de comporta-', ,
informação chega aos cidadãos. Tem sido corretamente afirmado por mento é equivalente a um sistema de processamento de informação. |
o muitas autoridades que, altamente controlados por gigantescos com Os oponentes humanistas de Simon, no domínio da teoria organiza
o plexos empresariais, os meios de comunicação de massa promovem s ^* cional típica, reconhecem, de fato, no indivíduo, uma gama de neces
amplamente aqui uma "irrefletida lealdade" (Lazarsfeld e. Merton, sidades, que se funda em sua subjetividade pessoal. Contudo, parado
o 1974, p. 567) ao status quo. Estes autores interpretam essa forma xalmente, na prática não há uma polêmica essencial entre Simon e
"
(? institucional de prestar informação como o meio utilizado "em lugar aqueles que concordam com ele, por um lado, e os colegas que a eles

o 110 111
i CJ
1 i
I
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1
V
se opõem, de outro lado, pela simples razão de que os últimos dei O projeto de humanização das organizações formais tem
xam de compreender que as referidas necessidades nao podem ser também suas raízes nessa compreensão errada. De fato, aceitando a
atendidas dentro de ambientes mecanomorficopos jrujisse sentem limitada razão das organizações formais como constituindo a razão em
àvontade para exercer sua perícia clínica. Ofímmanis^ot exem geral, os humanistas esforçam-se por mitigar apreocupação intrínseca
plo, acreditam que aconfiança, aautenticida^eTõamoJ. afianque- que têm com os requisitos funcionais de eficácia, propondo estratégias -^ £s+
za só podem ser estimulados na cultura interpessoal das organiza-^ ^ , destinadas a integrar metas organizacionais e individuais e, assim, o
ções de natureza econômica pelo engajamento de seus membros em ,^ ^ projetado e o emocional e espontâneo. Deixam de perceber, evidente
sessões de realimentação - feedback -, em que são encorajados nao N^ J mente, que quando engajado em sistemas instrumentais de comunica
apenas aproduzir informações sobre seus sentimentos, mas aprocessar ^ ^0 ção, o indivíduo está fadado a rejeitar, sistematicamente, sua experiên
cia direta da realidade. Esta observação foi articulada com lucidez por
informações sobre si mesmos vindas também das outras pessoas. Esse pb Joseph Weizenbaum, em seu livro The Computer and human reason,
tipo de dinâmica de grupo que inclui, por exemplo, técnicas como a onde ele corretamente acentua que a presente rejeição da experiência
do gnjpo Te ado treinamento da sensitividade. émecanomortica e, direta é uma habüidade que o indivíduo aprende através de sua socia
auspiciada pelas organizações de natureza econômica, iraprópna para lização, um "novo sentido" para que "encontre seu caminho", num
tratar de tópicos de desenvolvimento pessoal. mundo projetado de acordo com requisitos funcionais de eficácia
Na realidade, o desenvolvimento pessoal e a solidão pessoal sao
inseparáveis 0 desenvolvimento pessoal desdobra-se vindo da psique (Weizenbaum, 1976, p. 25). Nesse tipo de mundo, o homem aprende
( a reprimir espontaneamente sentimentos e maneiras de ver que desvia
individual e. com toda a probabÜidade, é dificultado por processos
sociais ou de realimentação grupai. Toda socialização é alienação. riam seu comportamento dos respectivos propósitos instrumentais.
Ésignificativo que os humanistas não hesitem em abraçar apsicologia Assim, ele come quando o relógio diz que é hora, não quando está
behaviorista e desnecessário reafirmar minha crítica desse tipo de com fome, e satisfaz suas outras necessidades da mesma maneira.
psicologia, que é apresentada no capítulo 3 deste livro. Basta dizer No domínio da disciplina organizacional, o elogio de Barnard à tele
aqui que o comportamento é, essencialmente, uma categona da vida fonista que permanece em sua mesa de ligações, em vez de tentar
•ao oo
exterior do indivíduo. É natural que uma psicologia que encara o & socorrer a mãe doente dentro de uma casa que se incendeia. é um
o homem como um animal que só é capaz de comportamento se incline 1 ^^-^ exemplo notável de rejeição daexperiência direta darealidade.
a ser centrada no grupo, ou gire em tomo de processos de realimenta A tentativa humanista de integração de metas individuais e orga
o ção Mas essa éuma visão muito parcial da vida psíquica do homem. O nizacionais só podeserempreendida à base de uma psicologia behavio
o comportamento é uma dimensão superficial de sua vida. Ohomem, rista (que é pouco mais que uma forma críptica de política cognitiva),
essencialmente, não se comporta - como um portador da razão, essen apoiada numa compreensão pré-analítica das realidades operacionais
o cialmente age. Mas a psicologia behaviorista está fadada anegligenciar da organização, na qual as funções críticas do conhecimento adminis
a ação como uma categoria da vida interior do homem, porque éuma trativo convencional são sistematicamente deixadas de lado. A moda
o da teoria de sistemas é um caso a assinalar. Como frisa Sheldon Wolin,
psicologia sem razão, isto é, uma psicologia na qual arazão éinterpre na abordagem de sistemas, de orientação behaviorista, na categoria de
o tada erroneamente como sinônimo da mera avaliação de conseqüên
cias. Essa errada compreensão, baseada numa teoria pretensiosa, expli insumo —input —reduzem-se tópicos heterogêneos a um item homo I
o gêneo comum. Por exemplo, o termo insumo vale "igualmente, para
ca porque é que os humanistas alegam um choque entre ohomem em um protesto pelos direitos civis, uma delegação da Associação Nacio
o auto-atualização e o homem racional. nal do Rifle (National Rifle Association) e umagreve da UAW (União
o 16 Sólido conhecimento de psicologia deveria justificar esta afirmação. Não se Americana de Trabalhadores)" (Wolin, 1969, p. 1.078).
deveria esquecer que opróprio Freud afirmou, noüvro^ CMttu**, eStUS dt>^ No mesmo sentido, argumenta Wolin que essa orientação meca-
o sabores, que "na severidade de seus comandos ede suas f"*^ 1°"P^J "i •
incomoda-se muito pouco com afelicidade do ego (Freud, 1962, p; 90). Mas o nomórfica, que denomina de metodismo, tem alicerces éticos e teóri
o menos que se pode dizer éque Freud foi ambíguo sobre airreduübilidade do eu cos/que, finalmente, conduzem a "grotescos resultados educacionais" "1
à socialidade. Melhores fontes para fundamentação do,aue foi i*™*do *™» (Wolin, 1969, p. 1.078). Constitui "em última análise, uma proposta
o encontradas nos escritos de Carl Jung, Alfred Adler Otto Rank, Franz AJexan-
der H. Hartmann, W. Stekel, L. Binswangcr, Erich Fromm, M. Boas, Viktor para a moldagem da mente" (Wolin, 1969, p. 1.064) e seus "prêT
o Frankl, R.D. Laing, Ira Progoff, R. May, eoutros. Ajustificação da assertiva nao .supostos são de natureza tal que revigoram a visão acrítica das atuais
c pode ser feita no texto do presente capítulo, para que omesmo nao se afaste de ftstniriiras políticas e de tudo que eias envolvem'" (Wolin, iy69r
seu objetivo principal.
í 113
112
i V
i.
I
í
1064, Muito freqüentemente ensina uma "falsa racionalidade e
P" n^udoTxSênc^ como já assinalou outro analista.17 Quando
Sda ap.nd.a^ dos ^-J«'^S^TJSSi
microssistemas sociais, no contexto da ^ssitur g
to $
uma P^^J^^nci, disse tipo de abordagem, os alunos das transformando aorganização*Jj^S!S^SSSL margem
se P5«™^?í2toS empresas ede administração pública são
mas apenas escriturários acadêmicos. que constitui otema do capítulo segumte.
5.6 Conclusão
BIBLIOGRAFIA
Nenhuma sociedade, no passado, esteve jamais na situação.da .a <tr->
sociedade desenvolvida centrada no mercado de nossos dias^ na qual
o^So^ocializaçio está, em grande parte, subordinado auma Arçyris, Chris. Orgamzaüon man ané setf-aCuaHzing. MScA***-
política cognitiva excercida por vastos complexos.empresariais que *rtt2f?12* - °*«»»~*,heory-M,ic
aem sem nenhum controle. Em sociedade alguma do passado. ,ama s
osTeeódos foram alógica central da vida da comunidade. Somente ^:Z%^™^«*Hms-sasc PubUcaI,ons-
nas SSd mas sociedades de hoje omercado desempenha opapel de
forca central modeladora da mente dos cidadãos. Areforma da 19736. . a xxi a Rnherts a 1 Bywater, res-
mSalidade de mercado não constitui tarefa simples, pois nao apenas
os citdãos emTeu conjunto, se tomaram ajustados aessa mentalida
de mL tembfai poucos são os canais disponíveis, pelos quais influen- S^H'redUtS:^---,,o--,,Sa„Fta,,cisco.W.H.
ías^b^doras. destinadas adesfazer essa inclinação, possam
«Ta stematicamente exercidas. Escravos de um sistema de comuntca-
1
fio de massa dirigido por grandes complexos empresariais os indiv,-
Çduos endelna pender acapacidade de se empenhar no debate racio
STÉSk! M-to. Of **, «di mé M~ Garden Ci.y. New
o
nal Cedendo anuências projetadas, amaioria das pessoas per*a SST23^*-* - ~» "—"""•CambtW8e-
o capacidade de distinguir entre ofabricado eoJ*^"**^
aprende areprimir padrões substantivos de racionalidade, beleza e
o tllSTTcí^^*^-"™Yo,k'ww-Nor,on-
o •"^JSSSSK SKmento orgamzaconaltípicoco C9«, J.K. Econondcs as asystem of beUef. A.erican E—
o
o
o Nada hHe errado com oprofissionalismo em geral - oque elamen-
o tível éaue ele se protege do debate racional, através de imposição de
o
^2^f£to3 opiniático como uma condição de aceitação
O aC3dé ofproblemas humanos contemporâneos podem ser apenas per Soner, RX. 7*. **» N ^ *" Y°*' *"" '"''
petuados^ não resolvidos, pela política cognitiva. As fronteiras da.teo ££«»* o-. *-— *—•Nw Yo,k'Be,k,ey-
V riaoSdzactonal formal precisam ser definidas com clareza. Em lugar •
o Se r^ofa organização econômica formal no centro da existência huma- Sh. Fred. Ml «mi» »^* C-nbn*. Massachusem. Ha,.
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116 117

V
risco sua segurança psicológica. "Daí", dizem March e Simon (1958,
p. 165) "tender o mundo a serpercebido pelos membros da organiza
ção em termos dos conceitos particulares refletidos no vocabulário da
organização. As categorias e osesquemas especiais de classificação que ^C^se'
aquele emprega são materializados e tornam-se, para os membros ete
/.organização, atributos do mundo, em vez de meras convenções^
\-'\: : c_
Em .».*_:_ ._!
seu comentário " * - - — -
sobre "absorção A*. ;n^«r*k«<"
de incer Charles
f

XPerrow afirma que as organizações controlam a ação de seus membros


6. UMA ABORDAGEM SUBSTANTIVA desenvolvendo "vocabulários que escondenTãlKumas partes da realidíT
;
DA ORGANIZAÇÃO dé~e magnificam outras partes"' (Perrow, 1972, p. 152). Dada a cir-
cunstància de que as atuais organizações têm "protéica habilidade de
moldar a sociedade" (Perrow, 1972, p. 199), reclama Perrow um
A disciplina organizacional contemporânea não desenvolveu a reexame da noção de ambiente, tal comoé correntemente apresentada
capacidade analítica necessária à crítica de seus alicerces teóricos e, na literatura especializada. Emlugar do ambiente afetar a organização,
em vez disso, em grande parte toma emprestadas capacidades exte parece que o contrário fica mais perto daverdade. Aorganização deve
riores. Por essa razão, condenou-se a si mesma a permanecer pré-ana ser vista, hoje em dia, "como definindo, criando e moldando seu am
lítica e, para sempre, na periferia da ciência social. Dificilmente um biente" (Perrow, 1972, p. 199). Opinião semelhante sobre o ambiente
tGÍAss,
campo disciplinar atingirá o nível sofisticado de conhecimento reque f^c Sustentada por J. K. Galbraith (1973) e B. Gross (1973) - opinião
rido para o ensino em grau superior, se não for capaz de desenvolver que sustentam ser característica de todo o sistema social dos EUA.
em caráter crítico e de si mesmo extraídas suas bases epistemológicas. Embora sejam freqüentes declarações comoessas, um exame sis
Ao concentrar-se nessas bases, este capítulo tentará apresentar uma temático de suas implicações só recentemente está sendo tentado por
abordagem sistemática da teoria organizacional, fundada na racionali alguns poucos autores, preocupados com a dimensão epistemólógtca -
dade substantiva. dos sistemas sociais.
A formulação de uma abordagem substantiva para a organização Robert Boguslaw defronta-se com este problema no livro The I
inclui duas tarefas distintas: a) o desenvolvimento de um tipo de aná New utop'ians. Declara ele- que o desenho de sistemas não é assunto
lise capaz de detectar os ingredientes epistemológicos dos vários cená puramente técnico, mas deveria envolver uma sistemática preocupação
rios organizacionais; b) o desenvolvimento de um tipo de análise orga com asconseqüências, avaliadas do ponto de vista de valores humanos.
nizacional expurgado de padrões distorcidos de linguagem e concep- No entanto, os atuais planejadores de sistemas enfocam esses proble
tualização. mas organizacionais usando instrumentos conceptuais e operacionais ^_
Embora o capítulo trate, sobretudo, da segunda tarefa, são cabí que só têm coerência em termos do status quo tecnológico (Boguslawr:
veisalgumas consideraçõessobre a primeira. 1965, p. 4). .Trabalham com o conjunto de hardware dos computado
O res —equipamento pesado - com normas de sistemas, com análises
6.1 Tarefa 1 - a organização como sistema epistemológico funcionais e com heurística que especifica comportamentos e atitudes
o
humanas. Boguslaw tenta desvendar as regras de cognição que domi
o Os cientistas sociais afirmam, comumente, que as definições da nam a arte e a teoria do planejamento convencional de sistemas, que
realidade são aprendidas pelos indivíduos no processo rfesocializaçãoj," considera sob a influência das conveniências políticas, e emite a opi
o Como salienta Karl Mannheim, quando novas situações emergem nião de que os planejadores se apoiam, em larga proporção, "numa
o numa sociedade, seus membros normalmente tendem a interpretá-las teoria de tipo subseqüente ao fato físico" (Boguslaw, 1965, p. 2).
do acordo com categorias já estabelecidas. É como se "se recusassem a Assim sendo, questiona ele a validade dos "métodos, técnicas e funda- * v ** •.

o admitir-lhes o caráter de novidade", ou preferissem "ignorar-lhes a MU3 mentos intelectuais das várias abordagens do planejamento de siste-j
r>
c:
o singularidade" (Mannheim, 1940, p. 302). Ao nível da microrganiza- mas" (Boguslaw, 1965, p. 2-3).
ção, March e Simon (1958, p. 165) chamam esse padrão de reação de Alguns estudiosos de sistemas e comunicação estão,igualmente,
o "absorção de incerteza". Quando exposto a uma situação nunca vista, atentos às questões epistemológicas pertinentes à teoria da organiza
o o indivíduo tenta normalmente interpretá-la de acordo com o vocabu ção. Por exemplo, C. W. Churchman (1971) e W. Buckley (1972) de-
lário conceptual familiar à organização, para que não venha a pôr em
o 119
118
o
L v
c
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l*
: !

( I
( a teoria da organização nunca examinou, em termos de crítica, aepis
dicaram-se à epistemoíogia considerando-a um tópico da análise de temoíogia inerente ao sistema de mercado. Eos pontosvçejo^a_aUial^
( sistemas, porém num alto nível de abstração. Da mesma forma, foi
amplamente analisada por Joseph Weizenbaum (1976) ainfluência do teoria da organização podem ser caracterizados da forma seguinte:
(
computador sobre a autopercepção do indivíduo. Mas, até recente 1 O conceito de racionalidade predominante na vigente teoria or
( mente, os especialistas na teoria de sistemas não tinham desenvolvido ganizacional parece afetado por fortes implicações ideológicas. Con
< instrumentos conceptuais e operacionais para lidar com o sistema duz àidentificação do comportamento econômico como constituindo
epistemológico que, embora geralmente oculto, constitui componente a totalidade danatureza humana. Embora anocãodejinmpnrtamento
fundamental de qualquer tipo de organização. econômico pareça evidente por si mesma, refen^sejla, aqui, aqual
Exceção nessa tendência é Donald Schon (1971). Em sua análise quer tipo~ae açãojmgreendida rxilojigjnejn^çaiaido ele emovido,
W?* apenas,
de sistemas sociais, conforme apresentada emBeyond the stable state, pelo interesse de elevaraomáximo seus ganhos econômicos.
a dimensão epistemológica é um tópico sistemático de interesse. De r Apresente teona da organização não distingue, sistematicamen
acordo com Schon, qualquer sistema social consiste, basicamente, te entre o significado substantivo e o significado formal da organi
de uma estnitura, uma tecnologia e uma teoria. Aestrutura é o "con zação. Essa confusão toma obscuro o fato de que a organização eco
junto de papéis e de relações entre os membros, individualmente" nômica formal é uma inovação institucional recente, exigida pelo im
(Schon, 1971, p. 33). A tecnologia é o conjunto vigente denormas e perativo da acumulação de capital epela expansão das capacidades de
praxes consolidadas, através do qual as coisas são feitas e osresultados processamento características do sistema de mercado-.A organização
conseguidos. A teoria é o conjunto deregras epistemológicas segundo econômica formal não pode ser considerada um paradigma, segundo o
o qual a realidade interna e externa é interpretada e tratada, em ter qual devam ser estudadas todas as formas de organizações, passadas,
mos práticos. Em qualquer sistema essas dimensões são interdependen presentes e emergentes.
tes, de modo que a modificação numa delas conduz a modificações 3 A presente teona da organização não tem clara compreensão do
correspondentes nas outras e, portanto, em todo osistema. Épossível papel da interação simbólica, no conjunto dos relacionamentos inter
visualizarem-se essas dimensões como círculos, ou como constituindo pessoais. . _ .,„-.
uma "estrutura circular" (Schon, 1971, p. 38). A dimensão epistemo 4 A presente teoria da organização apoia-se numa visão mecano-
lógica dos sistemas sociais, usualmente, nãorecebe adequada atenção. mórfica da atividade produtiva do homem, e isso fica patente através
No entanto,"quando uma pessoa passa a fazer parte de umsistema so de sua incapacidade de distinguir entre trabalho e ocupação.
cial encontra um corpo de teoria que, de maneira mais ou menos ex Na medida em que os teoristas da organização continuem ane
plícita estabelece não apenas 'como o mundo é\ mas também 'quem glicenciar esses pontos, estarão cedendo auma abordagem reducionis-
somos nós', 'que estamos nós fazendo' e 'que é que deveríamos estar V
ta do desenho dos sistemas sociais. Tal reducionismo exige que vejam
fazendo'" (Schon, 1971,p.34). Conseqüentemente, a teoria é uma di diferentes tipos de sistemas sociais sob aótica de um conjunto de pres
mensão nuclear e quando essencialmente alterada expõe a organiza supostos pertinentes apenas a um desses tipos.
ção a grave fratura, na medida em que amudança possa afetar: a) sua Cada um desses tópicos será agora considerado mais detalhada
auto-interpretação; b) a definição de suas metas; c) a natureza e o al
cance desuas operações; d) suas transações como mundo exterior. mente.
í
6.3 Reexame danoção deracionalidade
6.2 Tarefa 2 - pontos cegos da teoria organizacional corrente
A situação em que se encontra a noção de racionalidade, no
Constitui argumento básico deste livro a noção de que os siste campo da teoria da organização, ilustra sua insuficiente qualificação
mas sociais cujo desenho evita considerações substantivas deformam, teórica. Os pontos de vista de Herbert Simon sobre racionalidade,
caracteristicamente, a linguagem e os conceitos através dos quais a rea apresentados em Administrative behavior e outros trabalhos, consti
lidade é apreendida. Nessa conformidade, nossa atenção deve voltar-se, tuem ainda parte do conhecimento convencional desse campo. Ara- cK
agora, para uma abordagem substantiva da organização. \ cionalidade - consoante aversão de Simon (1965) - éoconhecimen-
Nenhuma mudança significativa ocorreu nos pressupostos episte- j -yJ' ||to absoluto de conseqüências. Assim, mil pode ohomem ser conside-
mológicos daanálise organizacional, desde Taylor. Em outras palavras, /W\f^\. rado um ser racional, porque oconhecimento abrangente está além de
121
120
i** ' As
As corpo
corporações, porém, da mesma forma que aorga- entre os quais oconceito tem validade. Tivesse ei «clareado que su
( sua capacidade ç.F^ ^putarizadas, mere- opinião era válida apenas no mundo de puros objetivos^omicc« .
nização convencionai esI*a^en,~ *TT em ue ^o menos limi- posição que adotou seria mais firme. Infelizmente não **"*£
f
cem oqualificativo de "^^"^atalteção. Além disso, paraj
tadas que ohomem em sua habüidade * avanaç^ Sesclarecimento e, na realidade, tenta induzir oleitor "•«*££
I
Simon. aracionalidade na ™^™j*°™£ de seu enfoque envolve tudo aquilo que se P°* <^*~ ^ ^ 2
hdade. Por exemplo, questiona oconceito de racionai dadde Amto-
uma teles que envolve oexame da "bondade" do homem eda sociedade e
ser ouquestão de •«^jj^Sg^Sfc»
para •fowec^ nQ nomem ou
ou fins. Em
(
não instrumental na SOcie-1 oconsidera "limitado" (Simon, 1965, p. 47), como se ele c:ofilósofo
(
(
i
3 grego estivessem tratando da mwma,dimensãoM racionalidade,
Averdade é que ote™ racionalidade, como éusado por Si
mon, nada absolutamente tem aver com o«^*£**»*
'
< racionahdade. Aristóteles jamais considerou^me^cado^como.o siste
( ma primordial gjodadJT^naipç^^^^^g^
«corta mercado se W535m*»*n nas normafda «Ê^gg
(
(
^ 5=3 JSSSSáSs conjunto. ÉcirtoliuTtiriha clara noç^dTriíionahdTdè do compor-
Lmento econômica, mas em seu conceito normativo deuma.boa o-
aedade esse tipo de racionalidade só incidentalmente influiria sobre a
( «SdThumana. Poder-se-ia argumentar que oconceito anstotehco
( de oXcia contém um ingrediente de cálculo. No entanto, na opi
nião^ Aristóteles, aprudência éuma çatejffiriajticj, nao puramente
( uma condutasemconveniente.
prudentes sermos bons"Assim,
(Ética *«£««^»?^S
aNicomaco, W™£J*Cta
<
seaüentemente, a racionalidade aristotéhca e a racionalidade instru-
( p^s^ menuS pTrtencem aduas esferas qualitativas da existência humana ea
mctonahdade de Aristóteles não pode ser enricada da perspectiv de
( ^tób^oTs^^
f^lharn em compreende: aquestão da racionahdade. Até que emergisse Simon, amenos que oautor de Administrative behavior queira, n*
o I^eda^e dTme cado. otipo de raciocínio deliberado, somente in- mente, dizer que aracionalidade instrumental eaúnica que se pode
( tete^do nos meios de'.tm* metas determinadas, fora apenas um conceber, oque éuma posição claramente errada.
So limitado de um^ojiçeitomais amplo de "^^^^ 6.4 Peculiaridade histórica das organizações econômicas
(: gJ^^^eWwttTSte^te °conceito^ela^ionahdaBèr
O Ocampo da teoria da organização não consegue compreender a
^^SõSãaiaêíe^dS significava reconhecéTlsuTtuleW peculiaridade lustórica_d*i organizações de caráter econômico e^de
O £Tum pXTobjetivo de valores postos acima de £££** .
S funções. Aorganização que constitui ofoco da atenção da teona
O organizacional, em stricto sensu, é, mti^nsecaxnfinte, vinculada auma
o ^MricfaBBBja
ri ocasião, em seu üvro,únicos
em querriténos fe °^S^^tod5
ele indique, exphctamente. os limites sociedade de tipo sem precedentes -a sociedade de mercado. Como
assinalou Mareei Mauss, "somente as nossas' sociedade* ocidentais é
o
•Simon afirma: "É impossível que *££*-£*g^£Sí£ aue bastante recentemente, transformaram o homem num animal
o econômico",3 isto é, numa criatura que age, normalmente, de acordo
com ocaráter - ethos - utilitário, imanente às organizações formais
o
V 1965, p. 80). .
dC h° Deveria ser feita uma distinção entre osignificado substantivo e
o formal de organização e essa distinção éimportante pelas mesmas
o 3 Apud Dalton, G. (1971, p.IX).
(1973). 123
o 122
1/
i
do por Moreno (1934), os grupos num playground constituem organi
razões que levaram Karl Polanyi adiferençar entre os significados for zaçõessubstantivas.
mais eos substantivos do termo econômico. Diz ele: Ao contrário das organizações substantivas,^s^reamzacr5isJoi1
» nenhuma sociedade pode existir sem algum tipo de sistema, que ^J mau ™fi.nd.daa em cákülf^omn tal, constituem Sistemas proje-
assegura ordem na produção ena distribuição dos bens. Mas isso nao -gS 555 SeSetadt^ejgra amaximização de recursos. Como
envolve aexistência de instituições econômicas distintas; normalmen Topico-TIã-Tèlmã^^ f.'nesse
te a ordem econômica émeramente uma função da social, na qual es- sentido organizações formais de variados objetivos tem existido em
tá'contida. Nem nas condições de vida tribal, ou feudal, ou mercantil , todas as sociedades, embora só se tenham transformado em objeto de
houve . um sistema econômico separado na sociedade Asociedade estudo sistemático num estágio recente da história.
do século XIX na qual a atividade econômica foi isolada eimputada Realmente nas sociedades mais rudimentares, as pessoas tiveram
a uma razão econômica inconfundível, representou, de fato, um des acapacidade de se dedicarem aproblemas de utUização de recursos do
i vio singular... semelhante padrão institucional não podia funcionar, a ponto de vista de vantagens comparativas calculadas. Por exemplo, al
menos que a sociedade ficasse, de alguma forma, submetida as suas gumas maneiras de colher frutos, de caçar, de pescar, de construir mo
i exigências. Uma economia de mercado só pode existir numa sociedade radias de fazer toda sorte de coisas eram reconhecidas como melhores
l de mercado" (Polanyi, 1971a, p. 71). do que outras, do ponto de vista da comparação de resultados. Uma
( Polanyi indica que nas sociedades não-mercantis, as economias vez que um indivíduo escolhe uma norma de ação em lugar de outra,
existiam no sentido substantivo. Na sociedade de mercado, porem o está-se permitindo um tipo de ação calculista. Odesejo de poder ins-
( pirou deliberadas estruturas organiza^^ajsjormaisnas sociedades tn-
termo econômico deriva formalmente seu sentido do pressuposto de SsTtá ESòpi antigaTl^Grécirem Roma, eem instituições «peci-
( que sendo escassos os meios eos recursos, devem ser otimizados atra
vés 'de opções que atendam, com precisão, aos requisitos de economi- ITc^omo-õ-èltercitõVíjgjeja. Max Weber percebeu em tais estrutu-
cidade Nas sociedades não-mercantis, a escassez de meios nao consti raTlraços daquflõ~que chamou de burocracia, ou organização no senti
tui princípio formal para aorganização da produção epara aescolha [|'# do formal Mas percebeu ele, também, que nessas sociedades tais estru
•:,• turas constituíam enclaves delimitados no contexto do espaço vital
humana de modo geral, uma vez que a sobrevivência do indivíduo _e, humano. Em tais sociedades, a maior parte do espaço vital humano
li normalmente, garantida pela eficácia dos critérios sociais globais (nao mantinha-se disponível sobretudo para a interação social, livre das re
da organização formal) de reciprocidade, redistnbuiçao e troca. A pressões da organização formal. Em outras palavras, os tipos de ação
economia aqui, está incrustada na tessitura social, enão constitui um ralr.nlkta eram incidentais e freoüentemente classificados sob regras
sistema auto-regulado. Em outras palavras, numa sociedade nao-mer- 1*
cantil, ninguém vive sob a ameaça do chicote econômico. • \ de interação social primária.
a t>0\y>çy/V^''Av •
o
Por circunstâncias idênticas às que foram mencionadas, nas so O Weber compreendeu que asociedade moderna é sem paralelo na
ciedade» não-mercantis as organizações constituem, de modo geral, * ^W ç£ ^ ~ medida em que nela aorganização formal (burocracia) se tornou um
o 5555 rfe experiência de que ninguém tem lormaimente consciência. ^©oM&»2s. vUk- modelo social fundamental, e sua racionalidade calculista imanente
Em tais sociedades, os indivíduos têm uma vida compacta, nao uma "^0*J passou aser opadrão dominante de racionalidade para aexistência hu
o «J*v tA^V^
vida diferenciada. Em outras palavras, existem em bases substantivas e mana Graças aessa circunstância, asociedade moderna merece arotu-
o não formais, legais ou contratuais. Por exemplo, numa sociedade pn- \u «/ lação de sociedade organizacional, como tem sido ap-opnadamente
mitiva uma família é uma organização substantiva, no sentido de que «3%
:rú chamada.
o não funcionaria como um sistema amenos que existisse algum padrão As finalidades da vida humana são diversas e só umas poucas,
o nos relacionamentos entre aqueles que a constituem, eentre estes e o dentre elas, pertencem, essencialmente, à esfera das organizações eco
ambiente exterior. Afamília em nossa sociedade, na medida em que nômicas formais. Na tentativa de criar e maximizar os recursos neces
o ainda preserva algumas funções da família arcaica, partilha de seu cará sários a seu bem-estar material, o indivíduo pode-se permitir atividades
o ter organizacional substantivo. No entanto, graças ànatureza da socie mecanomórficas, que são aquelas específicas da organização econômi
dade global contemporânea, a família está antes se transformando ca formal. No entanto, regras operacionais, mecânicas, não se ajustam
o num fenômeno de organização formal. Em outro exemplo, demonstra- ràt' *"*°\i\ a todo o espectro daconduta humana.
(• 4 Expressão de E.H. Carr, citada por Dalton (1971, p. XIII). »& 125
«JN_^3 cr V/N 1'<SAa-^-«3nxJ
t 124
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1
1
(
l< nômicas são ocasionais, quase sempre restritas a situações em que os
!( 6.5 Interação simbólica e humanidade homens se defrontam com o problema da utUização de recursos na u-
rais, reclamados por sua existência prática e, assim as Caçoes entre
f ( Em toda sociedade, ohomem se defronta com dois problemas: eles nunca são determinadas apenas por critérios de economicidade.
oproblema do significado de sua existência eoproblejmdejuasobre-^ De fato, antropólogos de várias correntes teóricas ofereceram provas
<
vivida gtòajcHUsocMàdié lollllatg^naorcP"™££« & de que nas sociedades pré-capitalistas édifícü identificar comercio en
( àhiem"bro7uma expressão da ordem do universo. Toda «c. dade tre indivíduos causado pormotivação puramente econômica.
parece natural aseus membros na medida em que, pela adesão aseus Antes da sociedade de mercado, nunca existiu uma sociedade
( símbolos epela confiança em seus padrões, sintam eles aprópria exis- em que ocritério .mnômico se torna^ " p^ão da existência huma-
f ( tência como alguma coisa que se harmoniza com aquela ordem. Na ^ na. Apresente teoria da organização é, sobretudo, uma exprejsao_da
(
palavras de Voegelin, "toda sociedade tem que enfrentar os problemas -^o^JTrn^^^ ideolog" negligenciar os
j de sua existência prática e,ao mesmo tempo se preocupar com avera ^nloiln^olvldoT^ela interação simbólica. Êpor essa razão que os
( cidade de sua ordem" (Voegelin, 1964, p. 2). Em outras palavras em teoristas convencionais da organização se sentem a vontade aotratar
toda sociedade existe, de um lado, uma série de ações simbohcas em de assuntos como confiança, virtude, valia, amor, auto-atualizaçao. au
1 ( sua natureza, ações condicionadas, sobretudo, pela experiência do tenticidade, no campo da organização econômica, a que, por sua natu
( unificado e de outro lado, atividades de natureza econômica, que reza, dificilmente os mesmos pertencem.
Jo\cima de tudo condicionadas pelo imperativo da sobrevivência da São numerosos os esforços para explicar a natureza da interação
< calculada maximização de recursos. Os critérios de cada tipo.d^con simbólica e, neste país, associa-se geralmente otema com os trabalhos
< duta são distintos e não devem ser confundidos. Uma atividade de na da chamada Escola de Chicago, fundada por George Herbert Mead. No
tureza econômica, ou um sistema social econômico, eavaliado em ter entanto o tópico tem constituído também interesse primordial de au
( mos das vantagens práticas aque conduz, está engrenado para aconse- C\v
tores cuja orientação teórica nem sempre coincide e entre estes
c cução de tais vantagens, enão para oconhecimento da verdade. As a -^ incluem-se Carl Jung, Ernest Cassirer, Georges Gurvitch, Ene Voege
vidades de natureza econômica são cjmxn&dQS*?^razão de seus/lf lin Jürgen Habermas, Kenneth Byrke, H. D. Duncan. Herbert Blúmer
resultados extrínsecos, enquanto a4ueja^sh^hca)e intnnseca- Qc&^ro~ e muitos outros. De seus trabalhos parece possível extrairem-se algu
mente compensadora. Oprimeiro tipo de ativididTe~me.o para conse mas proposições que caracterizam aconvicção das teonas da interação
( guir um fim; osegundo, constitui um fim em si mesmo. -<^w simbólica:
< Em todas as sociedades primitivas earcaicas, avida simbólica foi 1 O enfoque da interação simbólica repousa no princípio de que
\o predominante e .™ntPve "* nadrõ^s de economicidade em condição há múltiplas maneiras de se chegar ao conhecimento, e, entre outras
<
rtftfrH »...hnrdinada. Nas sociedades primitivas, as atividades eco- coisas, questiona fundamentalmente o pressuposto de que a ciência,
no sentido que lhe dá o cientismo, seja a única forma correta de
o s Anatureza simbólica da existência social csublinhada por Voegeiin, em seu conhecimento: Cassirer é explícito ao afirmar que a ciência, em s,
j constitui uma de várias formas simbólicas eque nao ha razão para lhe
o r»
reconhecer uma posição privUegiada em relação as outras^ Arte, mito
<
0
rSEScSSSssBçsSiSSS ^
^
religião ehistória são formas de conhecimento, legando diferentes ti
pos de experiência, cada um deles válido nc-s limites da realidade aque
corresponde.7 , . .
0 2 Os estudiosos da interação simbólica partem do principio de que
a'sociedade é, essencialmente, a existência social. Aênfase aqui é
V em existência, que não pode ser explicada através da objetivaçao de
categorias como forças, estruturas, classes. Averdadeira existência, in
° dividual tanto quanto social, nunca éum fato - uma simples manifes-
C Sdei até diír que ésua parte essencial, porque mediante tal s.mbohzaçao os 6 Veja Polanyi (1971&). Veja também Bücher (1968).
(
um acidente ouuma conveniência: expenmcntam-na como algo que taz pari 7 Para um resumo da teoria de Cassirer, veja Cassirer (1970).
i suaessência humana" (Voegelin, 1969, p. 27). 127
V 1' )
i
126
V
i
í
3. A mteraçâosnnr^ca presume^
taçao externa evidente por si mesma. Éalguma «^^f^ ngível ao indrvíduo através de experiências livres de repressões^ope-
Zlòetween* uma tensão entre opotencial eoreal. Assim, aexisten- E* formais. Símbolos são veículos P» •«—*£"£ :
dasocial eindividual não pode ser explicada segundo categorias meca- riências, isto é, para areciprocidade de perspectivas. Emoutias pala
Smorfici tais como aquelas que infestam omodelo predominante iS, t* experiências da realidade são socialmente trocadas ou oomu-
Sdas mediante ainteração simbólica, que requer nec«sanamente,
biólogos não estudam asociedade humana em termos de suas umda- £*• íntimas entre os indivíduos, que não se efetivam ™drante*a-
des atuantes" mas, em lugar disso, aconsideram "em te*nosde«tni- Sou regras impostas, de carátereconômico. Ainteração «mU»»
tura de organização" e"tratam aação social como uma expressão des- |/ ^ éum tipo! comunicação nío-projetada eque se opõe as comunica
» estnitura deTrganização", dando ênfase a"categorias estruturais, ções projetadas. Nos sistemas racionais efuncionais, t^ como oda or-
como sistema social, normas culturais, valores, estratrficaçSo social, Staçfe convencional, as corrninicaçôes entre os wl^"*»
situações de status, papéis sociais e organizações institucionais Editam no livre fluxo da experiência direta da Cidade mas
(Blumer, 1962, p. 188-9). classificam-se sob um conjunto de regras técmcas ede I««*"™*-
Diz ele, caracterizando aabordagem da interação simbólica. Aorganização convencional perderia sua ratson detre se fos* perrm-
"Reconhece (ela) a presença de organizações na sociedade humana e tír aüvreinteraçío simbólica, eas comunicaçõesjo contexto, *: t»
respeita-lhes aimportância. Contudo, encara etrata as organizações de organizações são operacionais enão expressivas. No domínio da inte
maneira diferente, eadiferença traduz-se consoante duas linhas pnna- ração simbólica, não há comportamentos funcionais que devam ser jul
pais- primeiro, do ponto de vista da interação sunbólica, aorganização gados do ponto de vista de estratégias instrumentais oü de «glau
da sociedade humana éo arcabouço, no interior do qual se verifica a cas mas antes ações ou atitudes inteligíveis ou ininteligíveis, definidas
ação social, enão constitui oestímulo determinante de tal ação. Se , partir de um plano de reciprocidade de perspectivas. Ha pouca tole
gundo, essa organização e as mudanças que nela se operam sac, opro rância para aambigüidade na interação social instrumental, enquanto
duto da atividade das unidades em ação e não de forças que deixam Ttolerância égrande para aambigüidade, na *^£**~
"Uma das características dos símbolos", diz Gumtch (1971, p. 40),
essas unidades fora de consideração" (Blumer, 1962, p. 189). "é que eles revelam enquanto encobrem e encobrem enquanto reve
Em outras palavras, oindivíduo participa da feitura da realidade lam, e proporcionam participação, enquanto a impedem °u restrin
social, eocaráter dessa participação pode diferir de um indivíduo para gem, mas encorajando, apesar disso, essa participação. As atividades
outro Pode ser. um caráter ativo, caso em que oindivíduo éum exis fe natureza econômica estão presas, essencialmente aregras opera
tente real (isto é,um ego, uma pessoa), ou pode ser meramente reativo. cionais formais e, portanto, limitam oalcancejesse tipodejnjinnd*,
Neste último caso, o indivíduo perde o caráter de ser real e trans
forma-se num simples sistema de processamento de informação, como de nas transações humanas. - ^x ^;MRM-a\
^4^enteJp^ã^,^M^»tBS~como ©{amor; <confiançya
O areúem alguns cientistas da computação. Pode acontecer que, em cer honertSaS, a.veXpaíj^o-atualizaçã^ão devertórn^tar^auf-
tas circunstancias, as estruturas sociais influenciem tão pesadamente donS^po dT^âoda orBSnrzaçtoTiconômica^ eque tais organiza
os indivíduos que eles passem aagir como se estivessem completamen- j { ções deveriam ser distintas de outros tipos de sistemas sociais, aque os
te moldados pelo processo social. As proposições da ciência social con- . Pontos referidos efetivamente pertencem. As organizações econômicas
vencionai seriam corretas se tal espécie de reação passiva devesse estar j iazem-se inteligíveis, antes, através de normas funcionais eracionais de
equiparada àprópria natureza humana. Apremissa de que denva éa) / conTute ecomunicação. Existem, contudo, outros sistemas sociais em
de que oindivíduo éum ser completamente socializado.9 que ainteração simbólica éconsiderada como constituindo oprincipal
* Esta expressão étomada emprestado aVoegelin. Ao desovo atensioima fundamento para relacionamentos interpessoais inteligíveis.
nente àeístênda humana, acentua ele sua estrutura mttnnediána - M******
^TSlSo *"**> estabelecido de çM .«aal. :P°i"£
tivos óbvios, einadequado àconceituac&.deste terna. Na ">Ua^aitaqo 6.6 Trabalho e ocupação
o de recuperação dTvoegelin envolve critérios de cogmçfo e, «ffl^teme*-
te dTEgSm, que parecem chocantes aos que estão exageradamentecon-
foimadSaoSoddopredwmnante de ciência sodal. ^m «atenção* Em todas as sociedades pré-mercado dotadas de algum grau de
modelo de ciência política de Voegelin, veja Sandoz. Ellis (1972). Sobre ano diferenciação social, existiu sempre uma clara distinção entre^ajmdjt.
ção de in-berween, veja Voegelin (1970 e 1974). -d^ou^o^p^ô^uperiores einferiores, do ponto de vista de uma
9 Apropósito,vejaWiong,D.H.a961). 129
128
í
{
í Ainversão do significado original de lazer, como foi gradual
classificação existencial. Embora as atividades classificadas numa ou mente conseguida através do processo de autojustificaçao ética do sis
( noutra categoria variem de sociedade para sociedade, duas premissas
parecem permear essa distinção. Primeira, as atividades de categoriza- tema de mercado, é um exemplo da desorientação da civilização oci
(
ção existencial superior são, de preferência, exercidas autonomamente dental em seu estágio moderno. "Grandes mudanças subterrâneas em
( pelo indivíduo, de acordo com seu desejo de atualização pessoal. Ao nossa escala de valores" (Pieper, 1963, p. 23) ocorreram nos últimos
exercer tais atividades, o homem realiza alguma coisa que, aos olhos três séculos, e por meio delas o lazer perdeu seu caráter como uma
( das bases da cultura ocidental" (Pieper, 1963, p. 20). Essa distorção
dos outros indivíduos, é desejável como um fim em si mesma. Segun foi ditada pelas premissas de valor do sistema de mercado, no qual o
< da, as atividades que não alcançam esse nível superior são, de preferên homem sente que está social e mesmo religiosamente justificado a
( cia, determinadas externamente por necessidades objetivas e não pela QujJesfrutar, com aconsciência tranqüila", apenas "aquilo que adquiriu
livre deliberação pessoal. Éesse segundo tipo de atividade que força o
( indivíduo a se empenhar em esforços penosos. As atividades de nível ^"^com esforço esacrifício" (Pieper, 1963, p. 33).
superior não deixam de exigir esforços, noentanto são, intrinsecamen- Veblen salienta, corretamente, que a existência de uma classe
c
te, gratificantes.
*" ociosa é impossível sem a existência da propriedade privada, fato que
o
foi bem compreendido por Aristóteles, que especificou também
Parece evidente que uma distinção sistemática entre trabalho e que somente aqueles que dispunham de propriedades individuais po
o ocupação pode ser conceptualizada, de acordo com esses pressupostos. diam ser livres. Para ele. a posse da propriedade era uma condição para
O trabalho é a prática de um esforço subordinada às necessidades obje uma vida plena, racional, livre. Desse modo. considerava ele oescravo
( tivas inerentes ao processo de produção em si. Aocupação é a prática como um ser não inteiramente racional, e embora tal opinião seja re
( de esforços livremente produzidos pelo indivíduo em busca de sua pugnante aos nossos sentimentos atuais, nela Aristóteles éapenas cul
atualização pessoal. pado por considerar uma imposição das circunstancias como indicação
( Semelhante distinção constitui a base da teoria de Veblen sobre
classe ociosa. 0 trabalho, como foi definido, tem sido tão universal
n de uma dicotomia essencial entre duas categorias de seres humanos.
(
mente desprezado, que aqueles que não precisam trabalhar para viver, ^^«-vifig" ,®y^Como assinala Leo Strauss:
c se empenham em enfatizar essa condição através da prática do consu- ^ÇV jV Ç<v^ cyv
"Aristóteles considerou como coisa certa alguma coisa que ja nao po
c
mo conspícuo. No entanto, a noção que Veblen tem de consumo ^ Qsy^kj^^ ' VJ demos considerar como certa. Tomou como certo o fato de que toda
conspícuo pode dificultar a plena compreensão do lazer. / economia teria que ser uma economia de escassez, em que amaior par
o Na sociedade de mercado, a noção delazer tem sido degradada, te dos homens não disporia de lazer. Descobrimos uma economia de
porque se tomou sinônimo de ociosidade, passatempo, diversão - abundância. E, numa economia de abundância, jánão everdade que a
c conotações que o lazer nunca teve antes. Esse fato é sintomático das maior parte das pessoas tenha que ser não educada. Esse fato constitui
o premissas de valor do sistema de preços de mercado, em que o traba uma resposta perfeita aAristóteles, nesse particular. Mas épreciso que
Q
lho foi transformado no critério par excellence de valia e merecimen vejamos aquilo que mudou, exatamente. Não os princípios de justiça,
to. Num mundo de "trabalho total" (Pieper, 1963,p. 20), tal comoo que são os mesmos. Oque mudou foram as circunstancias (Strauss,
O que pressupõe o sistema de mercado, o lazer naturalmente perde oca 1972, p. 231).
ráter que anteriormente teve, de_.çojTespondência a uma condição N
O apropriada para os mais sérios esforços em que um homem se pode De fato na medida em que a exeqüibUidade de uma economia
o empenhar Tentando reconstituir o significado original de lazer, Josef de abundância é inconcebível, é correto admitir que, em todo sistema I
Pieper escreve: político diferenciado, apenas uma minoria podia ser livre da condição
o de trabalhadora, o que constitui o requisito indispensável de Anstote-
o "A ociosidade, no velho sentido da palavra, longe de ser sinônimo de les para um tipo de vida racional e livre. Portanto, se pusermos nossa
lazer é, mais aproximadamente, o requisito indispensável e secreto que indignação moral contra ajustificação da escravatura sob adequada
o toma o lazer impossível: poderia ser descrita como a total ausência de perspectiva, não há como fazer objeção a Aristóteles.
o
lazer, ou o exato oposto do lazer. Olazer só é possível quando o ho Como acentua Arendt, "a instituição da escravatura, na antigüi
mem sesente unido a si próprio. Aociosidade e a incapacidade de la dade foi um recurso para excluir o trabalho da condição da vida do
o zer entre si se correspondem. Lazer é o contrário de ambas" (Pieper, W Ihomem" (Arendt, 1958, p. 74). Essa exclusão só podia ser viável atra-
1963, p. 40). \t&
c 131
I
o 130
I c V
I i
I (
\

vés da institucionalização da escravatura, dadas as capacidades de pro ser subsidiárias de objetivos mecânicos. Em outras palavras em tais
dução daquele período histórico. Ponderando bem ateoria de Aristó circunstâncias espera-se do homem não que se ocupe »J^?"™"'
teles em sua apropriada perspectiva histórica, Arendt escreve: nem que se exprima livremente, em relação àtarefa que lhe loi designa
"Aristóteles, que defendeu essa teoria tão explicitamente edepois, em da; espera-se dele que trabalhe. Ohomem é, portanto, essencialmente
seu leito de morte, libertou os escravos que possuía, talvez não tenha considerado apenas como um componente de uma força de traba
sido tão incoerente como os homens modernos estão inclinados a pen lho.1°3 transformação do indivíduo num trabalhador éumjemjisito.,
sar. Ele não negava ac escravo a capacidade de ser humano, mas ape do plano merânjçojiaj£OjliiçIo.
nas o uso da palavra 'homens' para membros da espécie humana, en "Segundo, o sistema de mercado^ujnjisjema^preços eprecisa
quanto os mesmos estivessem inteiramente sob o domínio da necessi de padrões objètívõT^ãrã determinar aequivalência de bens eserviços.
dade. E é verdade que o uso dapalavra 'animal', nosentido de animal Além disso, na medida em que os relacionamentos entre produtores e
laborans, de maneira distinta do muito discutível uso da mesma pala consumidores, no mercado, são destacados e simultaneamente classiii-
vra na expressão animal rationale, éinteiramente justificado. Oanimal cados sob um processo competitivo, os lucros e custos precisam ser n-
laborans é, realmente, apenas uma e na melhor das hipóteses a mais gorosamente calculados. Desse modo^o indrvíduo particir^pmces-,
elevada das espécies animais que povoam a terra" (Arendt, 1958, p. so de produção, mas unjçamenje^cjnojirrUtejn^ °s ™to,res
de produção são avaliados^enTteTmos de preço e, assim, o indivíduo
74-5).
Ü fato de que palavras como razão, racionalidade e lazer adqui
torna-se aperm um ganhadorde salário. Np mercado, como observou
Blake "as almas das pessoas são compradas e vendidas .' Atranstor-
rem, no sistema de mercado, significados que originalmente não expri maçãò do indivíduo num trabalhador éum requisito da contabüidade
miam não é acidental. O processo daconsolidação institucional do sis
tema de mercado é inseparável de um processo de desculturação da de produção. . ,
Terceiro, osistema de mercado não pode funcionar em bases pu
mentalidade ocidental, por meio do qual é eliminado o sentido origi ramente técnicas e econômicas. Só se poderia transformar no mais im
nal dessas palavras. De modo particular, o lazer ea distinção qualitati portante setor social na medida em que o processo geral de socializa
va nele contida entre trabalho e ocupação foram transformados, de ção induzisse os indivíduos a aceitarem seus requisitos psicológicos.
maneira a enquadrar o termo noarcabouço epistemológico do sistema Diversos estudiosos têm examinado as conotações religiosas da ideolo
de mercado. Nesse sistema, o trabalho transformou-se na fonte de to gia inerente ao sistema de mercado, esalientam que tal ideologia nao
dos os valores e o animal laborans foi elevado "à posição tradicional representa a contribuição de uma única pessoa, mas resultou de esfor
mente ocupada pelo animal rationale" (Arendt. 1958. p. 75). ços confluentes de filósofos como Hobbes e Locke, de reformadores
a'maneira pela qual ocorreu essa transformação constitui uma religiosos como Lutero e Calvino, de moralistas como Bentham, eou
questão muito complexa e que, aliás, foi amplamente discutida por tros que elaboraram oantecedente teórico do éthos utditano^çon-
"9 W. A. Weisskopf (1957; 1971). Tal discussão aborda apenas asrazões seqüência final dos esforços desses homens éaética do trabalho ba
pácoculturais para a "súbita, espetacular ascensão do trabalho, da seada no postulado de que o trabalho é o critério cardmal de valor,
mais baixa, mais desdenhada posição ao nível mais elevado, como nm domínios da existência individual e social. AqliiUTque em econo-
Ò amais prezada de todas as atividades humanas" (Arendt, 1958. p. 88). mia é conhecido como a teoria de valor do trabalho é apenas um as
O Segue-se umsumário de razões: pecto particular da ideologia que legitima a sociedade centrada no
Primeiro, o sistema de mercado^encontrou condições excepcio
o nais para estabelecer seu comando sobre avida social durante a chama mercado.12
da revolução industrial. A indústria tomou-se, agora, uma peça funda >° Sobre este ponto, veja Weisskopf (1957 e 1971).
o
mental, um componente do sistema de mercado. A produção indus 11 Apud Hicks, John (1969. p.123).
o trial apóia-se antes nas leis da mecânica do que em qualquer destreza " Sir John Hicks escreve: "Trabalho ... nio é ... 'OCupaçto'. Ca*>••»da»
c pessoal particular, condicionando ohomem, eficazmente, a concordar classes de pessoas cujas atividades estivemos examinando tem sua oo»P"Ç"o. £
com suas exigências operacionais. No processo de fabricação, o traba- camponês tem sua ocupação, oadministrador tem sua "«PW0**^*,
ò lho é dividido e, assim, quanto mais o indivíduo se adapta às determP tem sua ocupação, mesmo opropnetano, na medida em que ~n«2Sr „0
nações mecânicas ao lazer as coisasTmelhores sao osresultados gerais
ção positivarem sua ocupação. Oque caracteriza ooperário, o«tn*Jhadog no
o sentido mais estreito ... é que ele trabalha para uma outra pessoa. Ele e (nao te
esperados. No contexto dê tais circunstancias, e para cnegar a conse- n^os meoo de dizer) uníservidor.» EHicks^crescenta.
til nuncalolcapazde jassaLSja^^
"A^nomiajn»^
1969, p. 1W
oíçaVaos resultados finais previstos, as habilidades pessoais passam a
133
< 132
i
V
(
(
( A escolha do trabalho como instrumento de medição do valor e ximização de recursos limitados e utiliza critérios quantitativos para
da dignidade humana de um modo geral foi condicionada pela necessi avaliar a equivalência de bens eserviços. Isso quer dizer que as organi
( zações econômicas, tendo exigências próprias que não coincidem, ne
dade de aliviar a dissonância cognitiva gerada pelo surgimento do sis
( tema de mercado. A velha distinção entre ocupação e trabalho precisa cessariamente, com aquilo que é requerido pela boaqualidade daexis
va ser solapada,de outro modo os conflitos interiores da psiquehuma tência humana em geral, devem ser consideradas como pertencentes a
( um enclave conceptual e pragmaticamente limitado, dentro do espaço
na tomariam o sistema de mercado impraticável. O trabalho como ins
( trumento de medição do valor e da dignidade humana é um expe vital humano.
diente psicocultural, usado para minimizar a dissonância cognitiva e o 2. A conduta individual, no contexto das organizações econômi
( cas, está, fatalmente, subordinada a compulsões operacionais, for
conflito interior.
( O rudimento de uma distinção entre as duas palavras é encon mais e impostas. Assim sendo, o comportamento administrativo é in-_
trado no livro Principies of economics, de Alfred Marshall. O trabalho trinsecamente vexatório e jncompajjvel com o pleno desenvolvimento
( é nele definido como "qualquer esforço de mente ou de corpo, pro das potencialidades humanas. "
( movido parcial ou totalmente com vistas a algumacoisa boa, além do "3. A organização econômica é apenas um caso particular de diver
prazer diretamente derivado do trabalho(work)".13 Embora esta afir sos tipos de sistemas microssociais, em que as funções econômicas
( mação esclareça de modo satisfatório a natureza do trabalho, o faz são desempenhadas de acordo com diferentes escalas de prioridades.
erradamente no final, quando usa a palavra work. Depois de citar a de A importância do comportamento administrativo diminui, quando se su
í
finição de Marshall, Galbraith observa corretamente, na obra The parte de sistemas sociais planejados para a obtenção de lucro e se ca- ^
( Affluent society (1958, p. 264). que a distinção formal entre trabalho minha no sentido de sistemas sociais mais adequados à atualização ,-
( e ocupação não teve papel na teoria econômica. Galbraith parece acre humana.
ditar que as condições peculiares da sociedade afluente exigiriam a dis 4. Uma abordagem substantiva da teoria organizacional preocupa-se,
( tinção, para a clarificação de seus problemas. Não há dúvida, porém, sistematicamente, com os meios de eliminação de compulsões des
de que tal distinção é teoricamente importante, do ponto de vista de necessárias agindo sobre as atividades humanas nas organizações
( econômicas e nos sistemas sociais em geral. Em outras palavras,
uma abordagem substantiva da organização.
o tal abordagem reconhece que, por sua própria natureza, o comporta
6. 7 Conceptualização de uma abordagem substantiva da organização mentoadministrativo constituiatividade humana submetidaa compul
c iV ' VM sões operacionais. Todavia, essa abordagem está interessada em meios
( Temos que começar, a esta altura, o confronto com a noção de > viáveis de redução, e mesmo de eliminação, de descontentamentos e
com o aumento da satisfação pessoal dos membros das organizações
delimitação organizacional. A expressão pressupõe, não apenas que há
c múltiplos tipos de organização, mas também, e mais importante ainda, econômicas.
o que cada um deles pertence a enclaves distintos, no contexto da tessi 5. As situações em que os seres humanos se defrontam com tópi
tura geral da sociedade. Asorganizações formais convencionais cons-. cos relativos à própria atualização adequadamente entendidas, têm
o titufram. ate ago^ojrrien^sse^^ orpanizaçjomdjxm- exigências sistêmicas diferentes daquelas que atendem aos contextos
o terripórânea. o que tem inibido os teoristas da organização, quanto a econômicos. Essa diferenciação social sistêmica foi corretamente
sistemática e acuradamente.,se dedicarem à variedade de sistemas so- apreendida por H. Arendt como uma condição que habilita os indiví
c ciais que constitui o espaço macrossocial Para qnp seja possível superar duos a se avantajarem, na consecução das diferentes obras de suas vi
o esse paroquialismo teórico, é necessário um enfoque substantivo da or das. Dizela:"Nenhumaatividade podevir a ser excelente, se o mundo
ganização, e esse enfoque se caracteriza pelas seguintes considerações: não proporcionar um lugar adequado para seu exercício" (Arendt,
o 1. Os limites da organização deveriam coincidir com seus objetivos. 1958, p. 49). Para proporcionar esses lugares adequados, precisamos
O Nessa conformidade, a delimitação organizacional está, primor começar formulando uma tipologia de interesses humanos e dos cor
dialmente, interessada na delimitação das fronteiras específicas da or r-r respondentes sistemas sociais onde tais interesses possam ser propria
o ganização econômica. É possível tentar definir a organização econômi ..•> menteconsiderados comotópicos do desenho organizacional.
o
ca como um sistema microssocial que produz mercadorias segundo •
Como indicam estas cinco considerações, uma abordagem subs
normas contratuais objetivas, dispõe de meios operacionais para a ma- tantiva da organização resiste a tomar-se, sob qualquer disfarce, um
c 13
Apud Galbraith, J.K. (1958, p. 264). instrumento de política cognitiva.
( 135
134
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( i/
I
I

j' 6.8 Conclusão to e eficazmente combinadas do ponto de vista dos rendimentos dese
'• ( jados. A mescla que hoje se faz da teoria da organização econômica
! Ante a análise até aqui apresentada, toma-se claro que a teona com a teoria da personalidade é uma união espúria, que esconde um
i ( da organização precisa ser reforroulada sobre novos fundamentos epis- propósito sinistJO^AJàiíiÊâ-dfisíadpxrM^
( temológicos. Dos dias de Taylor até hoje, ateoria da organização - hipótejc^ua^q^qçada^Dfrféí.,
I graças à persistente falta de exame de suas dimensões epistemológi- De fato, os proponentes da administração científica, como
•> ( cas- tem sido, em grande parte, uma ideologia do sistema de preço de 'Taylor, eosoperacionalistaspositivos, como Herbert Simon, estão mais
f mercado. Só sobreviverá se for transformada numa teoria realmente próximos de uma teoria de organização válida do que os teoristas hu
* viável, fazendo-se sensível aos pontos cegos de sua conceptualização e- manistas, que colocam erradamente anoção de auto-atualização.
! redefinindo-se sobre bases substantivas. Para o aperfeiçoamento da teoria da organização, precisar-se-ia
g As afirmações que se seguem são oferecidas como um conjunto reformular Taylor e Simon. Foi cheio de sentido oesforço desses ho
• de possíveis diretrizes, necessárias à reformulação da teoria da orga-^ mens, tentando descobrir estruturas eficazes que deveriam caracterizar
(} nizaçSo: as organizações econômicas, para que as mesmas pudessem atingir seus
1.0 homem tem diferentes tipos de necessidades, cuja satisfação' objetivos. Interessaram-se eles, essencialmente, pelas questões técnicase
*• requer múltiplos tipos de cenários sociais. É possível não apenas a maior parte daquilo que disseram ainda constitui, pelo menos, um
•i categorizar tais tipos de sistemas sociais, mas lambem formular as con fundamento parcial, sobre o qual se pode continuar a promover a
dições operacionais peculiares acada um deles. construção teórica. Há muita coisa aser considerada válida no esforço
í 2. O sistema de mercado só atende a limitadas necessidades huma- ^ de Taylor para formular os fundamentos de uma ciência da produção.
i nas, e determina um tipo particular de cenário social em que se es-* Simon, também, estava basicamente correto, em sua tentativa de escla
pera do indivíduo um desempenho consistente com regras de comum- recimento do processo datomada de decisões; jáqueo mesmo, como
^ cação operacional, ou critérios intencionais einstrumentais, agindo co- é característico, se desenrola dentro dos limites da organização econô
Í"' moum ser trabalhador. Ojomportamento adrmnjsteatiyo, portanto. 4L- mica. No entanto, quando eles negligenciaram as fronteiras das regras
conduta humana condidmíãaa^orjniperaTfffw^ãwnnii«« de cognição inerentes às organizacôjs^ejaaíôjmsas, sua psicologia tor-
C X^Dfereritgs~caTegorias de tempo e espaço vital correspondem a nrnF3eTTra-ponto~de vista objêtivoTuma psicologia de má-fé, porque
'- ê • tipos diferentes de cenários ojgamzaaonais. A categoria de tempo e inconscientemente, transformaram as mesmas em regras de cognição
f espaço vital exigida por um<gjnjnõ" sodaT^de natureza econômica é supostamente válidas para anatureza humana em geral.
í O apenas um caso particular entre outros, aser discernido na ecologia Taylor e Simon ainda merecem ser reexaminados, do ponto de
| f\ global da existência humana. vista de uma teoria de organização econômica, mas de uma teoria
| 4. Diferentes sistemas cognitivos pertencem a diferentes cenários contida entre suas adequadas fronteiras. A teoria da organização que
I0 organizacionais. As regras de cognição inerentes ao comportamento imaginaram trata de atividades humanas opcionalmente úteis para
f g* administrativo constituem caso particular de uma epistemoíogia multi- poupar recursos. Oerro de Taylor consistiu em expandir exagerada-
I *' dimensional do planejamento de cenários organizacionais. mente alógica dessas atividades específicas. Para ele, cada ato da vida
fO 5- Diferentes cenários sociais requerem enclaves distintos, no con- humana deveria ser focalizado do ponto de vista da adnunistração
* f> texto geral da tessitura da sociedade, havendo, contudo, vínculos científica. Parece nâõ ter interesse nopapel da interação social primá
^ que os tornam inter-relacionados. Tais vínculos constituem ponto cen- ria (simbólica), um campo da associação que nada tem aver com pos
Q trai do interesse de uma abordagem substantiva do planejamento de sibilidade de calculo e maximização. Emúltima análise, Simon equipa
r, sistemas sociais.14 ra aracionalidade com aestimativa deconseqüências e, por conseguin
U o estudo científico das organizações econômicas trata de estru- te,identifica as exigências psicológicas do sistema de mercado com a
[) turas que conduzem àefetiva utilização de recursos físicos ede mão- naturezahumana em geral.
de-obra. Esse estudocientíficoda produção, é verdade, focaliza seuin-
•-•' teresse sobre personalidades, mas apenas namedida em que as aptidões 0 problema de pontos de vista doutrinários dessa espécie não es
Q e habilidades individuais podem ser melhoradas através do treinamen- tá apenas em que são teoricamente alienados, mas também em que,
w As redes e os papéis a serem desempenhados nas redes, na concepção de mediante a prática da política de cognição, são eles utilizados para
1 Schon, austram especificamente tal abordagem. Veja Schon (1971). construir a realidade social do cidadão comum.
137
~1' 136
Não há sentido em se descartar o estudo científico dos cenários Neisser, U. Cognitive psychology. NewYork, Appleton-Century-Crofts,
sociais de natureza econômica. A sociedade, como um todo, não pode 1967.
subsistir sem eles. 0 planejamento e a operação dessescenáriosconsti Perrow, C. Complex organization, a criticai essay. Glemiew, Illinois,
tuem um problema técnico de caráter peculiar. No entanto, esse tema Scott, Foresman, 1971
é apenas parte daquilo que, no capítuloseguinte, será conceptualizado Pfiffner, J. & Sherwood, F. Administrative organization. Englewood
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138 139

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Figura 1
I O paradigma paraeconômico
f Prescrição
Economia Isolado
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E =3
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7. TEORIA DA DELIMITAÇÃO DOSSISTEMAS SOCIAIS: t
APRESENTAÇÃO DE UM PARADIGMA •a •I
3 3
(
c
1
Motim Anomia
( O modelo de análise e planejamento de sistemas sociais que ora Ausência de >
predomina, nos campos da administração, da ciência política, da eco normas

( nomia e da ciência social em geral, é unidimensional, porque reflete o 1


moderno paradigma que, em grande parte, considera o mercado como tanto pode ocorrer em pequenos ambientes exclusivos, quanto em
a principal categoria para a ordenação dos negócios pessoais e sociais. comunidades de regular tamanho. Nesses lugares alternativos, é possí
<
Neste capítulo, começarei a delinear um modelo multidimensional, vel uma verdadeira escolha pessoal, mas é preciso que se tenha em •
( para a análise e a formulação dos sistemassociais, no qual o mercado é mente que, no arcabouço epistemológico do paradigma, a escolha
considerado um enclave social legítimo e necessário, mas limitado e re pessoal não tem a mesma conotação da palavra escolha no campo das I
c gulado, modelo que reflete aquilo que chamo de paradigma paraeco- ciências políticas atuais e, especialmente, aquela em que é usada pelos
nômico. teoristas da escolha pública,' os quais seriam capazes de ver escolha 1
c
O ponto central desse modelo multidimensional é a noção de pessoal onde, do ponto de vista do paradigma,não há nenhuma. Redu 1
c delimitação orgãnizTciõnãl;~que envolve: a) uma visão düociedade co zem oindivíduo, ou o cidadão, a um agente damaximização dautilida
c mo sendo constituída de uma variedade de enclaves (dos quais o mer de, permanentemente ocupado em atividades de comércio. A escolha >
cado é apenas um), onde o homem se empenha em tiposnitidamente exercida por esse agente não envolve uma confrontação do merca
< do, mas pressupõe que o indivíduo neste se inclui completamente,
diferentes, embora verdadeiramente integrativos, de atividades subs
o tantivas; b) um sistema de governo social capaz de formular e imple tendo sua natureza definida pelas exigências do mercado. A teoria da
mentar as políticas e decisões distributivas requeridas paraa promoção escolha pública, da mesma forma que ateoria administrativa, é prega
o do tipo ótimo de transações entre tais enclaves sociais. A teoria da da em termos de um modelo humano unidimensional, que visualiza o 1
o dehj|itação dos sistemas sociais aqui apresentada enfoca, sobretudo, a espaço social como horizontal e plano: nele, onde quer que o homem
jp^ira implicação. Asegunda éexaminada nos capítulos 8e9. vá, nunca sai do mercado. I•' 1
o A figura 1 mostra as dimensões principais do paradigma para- Ao contrário, primeiro e acima de tudo, opadrão paraeconômi- I'
o econômico. As categorias do paradigma (em grifo) devem ser conside co parte do pressuposto de que o mercado constitui um enclave den- !i| »
radas como elaborações heurísticas, no sentido weberiano. Não se tro de uma realidade social' multicêntrica, onde há descontinuidades "* M^'^ 3
o espera de nenhuma situação existente na vida social quecoincida com de diversos tipos, múltiplos critérios substantivos de vida pessoal e
o esses tipos ideais. No mundo concreto, só existem sistemas sociais mis uma variedade de padrões de relações interpessoais. Segundo, nesse iaJ[iuÍJi/o
tos. espaço social, só incidentalmente o indivíduo é um maximizador da
o Uma explicação de alguns detalhes específicos do paradigma utilidade e seu esforço básico é no sentido da ordenação de sua >
o toma-se agora oportuna. existência de acordo com as próprias necessidades de atualização
pessoal. Terceiro, nesse espaço social, o indivíduo não é forçado a 1
o 7.1 Orientação individuale comunitária conformar-se inteiramente ao sistema de valores de mercado. São-lhe '* ^°& Co]
dadas oportunidades de ocupar-se, ou mesmo de levar a melhor sobre 1
c No mundo social visualizado pelo paradigma, há lugares para a
atualização individual livre de prescrições impostas, e essa atualização 1 Veja, por exemplo, Monsen, RJ. &Downs, A. (1971) e Tullock, G. (1972). >
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140 141 t
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o sistema de mercado, criando uma porção de ambientes sociais que muitos casos em que uma pessoa podia fugir da emulação frenética de 'UA
diferem uns dos outros, em sua natureza, e deles participando. Em nosso sistema econômico - instituições como a família numerosa e a , ,- //
; (
suma, oespaço retratado pelo padrão éum espaço em que oindivíduo vizinhança estável, nas quais se podia encontrar um prazer diferente
pode ter ação adequada, em vez de comportar-se apenas de maneira daquele que se experimenta ao conquistar uma vitória simbólica sobre .- \^
que venha acorresponder às expectativas de uma realidade social do ,y um companheiro. Mas desapareceram, esses casos, um aum, deixando \A ,
í:< oindivíduo, mais emais, numa situação em que precisa tentar satisfa- ,qyfu
minada pelomercado.
Raramente sepodem integrar atualização pessoal e maximização zer suas necessidades gregárias e hostis no mesmo lugar —o apelo da
da utilidade, no sentido estritamente econômico. Onde quer queam vida cooperativa fez-se mais sedutor e a necessidade desuprimir o de
bas sejam seriamente consideradas como imperativos fundamentais da sejo quetemos dela sefez mais aguda" (Slater, 1971, p.6).
vida individual e social, é preciso quesedelimitem enclaves emqueca Uma arte de formulação de sistemas sociais preocupada coma
da uma delas possa ser convincentemente atendida. A maximização da atualização humana, por direito próprio, assim como com aeficiência
utilidade é incidental, nos sistemas quevisam a atualização pessoal e, na produção de bens e na prestação de serviços, tem que defender uma
conversamente, a atualização pessoal é incidental naauele^auejrisam a 0 variedade deambientes organizacionais, em queesses diferentes objeti
maximização da utilidade. Assim, aÇormulaçáo dos sisternasjpcjaiyé, vos possam ser mais ou menos atendidos. Aafirmação inadequada de [
tanto quanto uaaiaíncM uma arte multidimensional. que o interesse pejas pessoas pode ser harmonizado com o interesse-!
A delimitação organizacional i, portanto, uma tentativa sistemá pela produção de mercadorias só se justifica àbase de uma abordagem \
tica de superar o processo continuo de unidimensionalização da vida unidimensional da organização. E esse é, precisamente, o erro caracte-'
individual e coletiva. A umdimensionanzação é um tipo específicode rístico das atuais tendências do pensamento e da prática, no campo
socialização, através do qual o indivíduo intemaliza profundamente o administrativo. Osexemplos incluem designações como a teoriax con
caráter - o ethos - do mercado, e age como se tal caráter fosse o su tra a teoria y, escala gerencial (managenal grid) e desenvolvimento
premo padrão normativo de todo o espectro de suas relações inter organizacional.
pessoais.3 Esse processo é característico da sociedade centrada no Em vez de proclamar a possibilidade de umatotalintegração das
mercada na forma institucional pecuharque a mesma assumiu nos metas individuais e organizacionais, o paradigma aqui apresentado
paTsesTndustriais desenvolvidos.3 mostra que a atualização humana é um esforço complexo. Jamais po
0 processo de umdimenáonalizacão tem sido examinado por derá ser empreendido num tipo único de organização. Comodetentor
numerosos autores de diferentes convicções filosóficas. Não tenho a de um emprego, o indivíduo é, geralmente, obrigado a agir segundo
intenção de elaborar esse ponto, mas merece atenção um Uvro de regras impostas. Contudo, em diferentes graus, tem ele variadas neces
Philip Slater, intitulado ThePursuitoflonelmess: American cultureat sidades. Por exemplo, precisa participar da comunidade, da mesma
the breaking point. Slater investiga as conseqüências psicológicas e so forma que tomar parte emespeculações que dêem expressão àsingula
ciais da unidimensionalização. No mundo social que descreve, "rela ridade de seucaráter. Oscenários adequados â satisfação de tais neces
ções públicas, o drama da televisão eavida tomam-se indistinguíveis" sidades, emboraem grande partenaoestruturados, sãoaté certo ponto
(Skter, 1971, p. 19), e o indivíduo é sistematicamente ensinado aex modelados por prescrições ou a que se chegou por consenso, ou que
primir mal suas emoções. Esse tipo de mundo engendra aquilo que foram livremente auto-impostas. Oexamedostermosdegovernojnte-
Slater define como a "perversão da emorionalidade humana" (Slater, jn^jMçuliarejLajiiferenles espaços sociais SÃráfeHÔnuma fase ulterior
1971, p. 3), e ele vê o processo de unidbronsionahzação da sociedade desta analise. É importante, agora, prosseguir no delmeamenio dopa
americana aproximando-se do ponto de ruptura. No passado, osame radigma geral queestamosexaminando.
ricanos tinham condições de formular contextos existenciais mais ajus
tados asuas próprias escolhas, e é assim queSlater afirma: 7.2 Prescrição contraausência de normas
"No passado, como tantos já salientaram, houve em nossa sociedade Para que se consiga a execução de qualquer trabalho, é preciso
1 Pais nina visão mais complexa da «nlifr"""rfftlinli*ftçgni veja Marco», Her quehaja aobservância denormas operacionais. Quanto maior é o cará
bert (1966). Sobre esse processo de perspectiva histórica, veja Hahnos, Paul ter econômico do trabalho, menos oportunidade de atualização pes
(1953). soal é oferecida aos que o executam pelas respectivas prescrições ope
3 Sobre este ponto, veja Polanyi,Karl (1971). racionais. E isso ocorre porque há uma oportunidade mínima de esco-
142 143

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lha pessoal, no sentido em que amesma foi discutida anteriormente. >}!? da pessoal criativa.ÇA sohdaVVdlz Marcuse (1966, p. 70), "a própna
Essa contradição entre as necessidades individuais e as exigências da condição que foi osusteirtídflo do indivíduo contra e além da socie
organização econômica não pode ser resolvida através de nenhuma dade em que vive, tomou-se tecnicamente impossível." Pode-se facil
prática behaviorista, ou diteííumãnMçãr^A produção de bens e a/ mente comprovar tal afirmação. Num ensaio cheio de discernimento,
Mordecai Roshwald oferece uma porção de exemplos significativos, /
prestação de serviços, sob o imperativo de maximização do saldo lí aludindo à(padronização da emodonahdadgjque resulta do largo uso
quido entre custos e benefícios, reclamam tipos de organizações em V\.(h de cartõesdispcmiveis nas lojas, para que osfregueses manifestem seus
que, obviamente, há nouca tolerância para aatualização pessoa!. Na sentimentos, em ocasiões como natalídos, aniversários, casamentos,
realidade, a pdxrn^xmgortamenlo^nesse contexto, significa aquilo mortes, doenças, situações de solidariedade; àutUização dos chefes de
que se espera que as pessoas façam, emsua qualidade de detentoras
de emprego- Assim, como foi dito anteriormente, o comportamento torcida, para aromar o público presente aos jogos de futebol; ao uso
administrativo consiste na atividade humana sob prescrições opera
das "deixas" para o riso e o aplauso, orientando osqueassistem a pro
gramas de audiência. A educação, também, não escapou ao processo
cionais formais e impostas. O'uso inadequado da expressão compor de superorganização; seu CbjeflVtt, de modo gerai, 6 sobretiiao^fignS
tamento administrativo é, ele próprio, uma indicação do caráter uni as pessoas capazes de se transformarem em detentorasae emprego,no
dimensional da teoria e da prática organizacionais do momento. Essa "sistema de mercado. Os estudantes dos ginásios e aos cursos colegiais
teoria ignora, sistematicamente, o fato de que o comportamento admi "sab submetidos a praxes uniformes de ensino e avaliação, que dificil
nistrativo é umacategoria de conformidade a prescrições formais e im mente lhes estimulam a criatividade e o desenvolvimento da sensitivi-
postas. Quanto mais a atividade humana é considerada administrativa, \âJ^P
Oft
dade, em relação ao caráter complexo dos tópicos para osquais se de
menosé elaumaexpressão de atualização pessoal. termina que orientem sua atenção.4 Preso continuamente auma trama
Uma vez que as economias funcionam, caracteristicamente. na de exigências sobre método e organização, o indivíduo acaba por acei
sociedade centrada no mercado, são elas, até certo ponto, sistemas tarumavisão predeterminada da realidade.
ameaçadores que dispõem de meios para compelir seus membros a É óbvio que asuperorganização aumenta adespersonalização do
aceitar as prescrições operacionais estabelecidas. Dizem ao indivíduo: indivíduo. Nos trabalhos de ErvingGoffman, por exemplo, encontra-se
aceite asnormas de desempenho, ou saia,j) comportamento adminis- abundante material clínico sobre as pressões institucionalizadas de
trativo é uma síndrome psicológica inerenfaTá economia e aos sistemas despersonalização. Uma das conclusões de Goffman é a de quejüm
ameaçadores em geral!. No entanto, o problema relativo ao modelo modelo predominante da inter-relação pessoal, nasociedade, consiste
"atuaTda teona unidimensional de organização e à sua prática está em nagerência deimpressão {impression management), ou seja, aprática
que o mesmo pressupõe que o comportamento administrativo éidên do engano sistemático entre as pessoas. Asconclusões de Goffman dão
tico à natureza humana. Essa errônea suposição é, às vezes, expressa apoio empírico à afirmação de que, numa sociedade superorganizada,
em termos rudes. Por exemplo, nummanual de comportamento típi o indivíduo perde a identidade pessoal, na medida emque é induzido
co, lê-se que "a organização, ao que se acredita, tem em larga escala a interiorizar uma determinada identidade, exigida pelospapéis que se
todas as qualidades do indivíduo" (Rush, 1969, p. 8). Sob as pressões espera que desempenhe.5
do sistema de mercado, nãoé de surpreender que o indivíduo médio Uma arte muldimensional de desenho de sistemas sociaisnão po
se sinta confuso, tanto sobre a natureza dacondição humana, quanto de desprezar os efeitos psicológicos das prescrições operacionais. Não
sobre atualização pessoal. Atecria^nwüj|rariya^corrmie dá legitimi- procura eliminar essas prescrições domundo social, porque as mesmas
dgde ao crescente processo defiupSõrjgruzação^ da^despenion_ são indispensáveis à manutenção e ao desenvolvimento do sistema de
(cãojjrmarvnlúõ^io contexto do sistema de mercadoaTúm tipo in apoio de qualquer coletividade. No entanto, interessa-se pela delimita
dustrial desenvolvido.
Esse duplo processo de superorganização e de despersonalização ção dos enclaves emque cabem tais prescrições, enos quais podem até
poderia ser caracterizado como se segue: o fenômeno da superorgani ser legitimamente impostas ao indivíduo. Nos sistemas sociais que vi
zação na sociedade americana tem sido estudado por numerosos espe
sam maximizar a atualização pessoal, as prescrições não são elimina
das. São mínimas, porém, e nunca são estabelecidas semo pleno con
cialistas. A superorganização ocorre coma transformação de toda aso sentimento dos indivíduos interessados. Tais sistemas são bastante fle-
O ciedade num universo operacionalizado, em que seespera sempre que
o indivíduovivacomo um ator,a quem cabe um papel determinado. * Veja Roshwald, M. (1973).
Num sistema social superorganizado, o indivíduo não dispõe de 5 Veja, especialmente, Goffman (1961). Veja também Goodman, Paul (1960).
lugar e tempo verdadeiramente privados, duas condições para umavi-
145
144
y
soai. São os beats, os marginais, os excluídos, que vez por outra assu
xíveis para estimular osenso pessoal de ordem ede compromisso com mem acondição do jovem errante, ou do adulto não-convencional em
os objetivos fixados, sem transformar os indivíduos em agentes passi busca da própria identidade ou de novas experiências; sao alguns cn-
vos A total eliminação das prescrições e das normas é incompatível minosos, viciados em drogas, ébrios e mendigos, os indigentes e os
com uma significativa atualização humana, no contexto do mundo so mentalmente defeituosos.
cial Nessa conformidade, os fatos classificados nas categonas de mo Oindivíduo anômico é incapaz de enar um ambiente social pa
tim (mob) eanomia (anomy) põem em risco, essencialmente, aviabili ra si próprio e, simultaneamente, obedecer às prescrições operacionais
dade de toda a tessitura social. de organizações importantes para sua subsistência. Tem que ser assis
No contexto deste capítulo, o formulador de um sistema social tido protegido ou controlado por instituições como oExército de sal
não é encarado como uma espécie de benfeitor ou de Pigmalião, que vação, os hospícios, os reformatóribs, os hospitais eas prisões. No en
modela um ambiente e diz aseus membros como nele devem viver. E, tanto oplanejamento dos ambientes destinados aos indivíduos anomi-
antes, imaginado como um agente, capaz de facilitar odesenvolvimen cos precisa atender arequisitos específicos/Os articuladores e os res
to de iniciativas livremente geradas pelos indivíduos, passíveis de se ponsáveis por esses sistemas deveriam compreender que atarefa que
amalgamarem, sob a forma de configurações reais. Nessa qualidade, lhes cabe emrolve meios ehabilidades adequados aos objetivos imedia
pode ele desempenhar alguns dos papéis que caracterizam a rede ge tos Nesse sentido, a anomia encaixa-se no quadro da-delimitaçao e
rencial de Donald Schon,6 tais como o de facüitador. de negociador uma das razões pelas quais as instituições referidas geralmente agravam
de sistemas, de gerente de underground, de manobrador, ou de corre a condição anômica das pessoas de que cuidam é que seu esquema e
tor. Outros títulos podem-se acrescentar a estes, como o de construtor administração não são sistematicamente encarados como pertencendo
de equipe, o de especialista em dinâmica de grupo, terapeutas de gru a um enclave social específico. Os clientes dessas instituições, que
po como representado, por exemplo, por Ira Progoff, eo papel de pla constituem, de fato, um testemunho vivo do desconforto que prevale
nejador de espaço, como foi descrito por Fred Steele. ce na sociedade, são definidos em termos dos pressupostos operacio
Deve ser salientado, finalmente, que da forma como estão con nais do conjunto social, que penetram em todos os campos. Essa cir
ceituados no paradigma, não se espera que os enclaves existam em par cunstância, por si própria, inibe a compreensão dos que agem em no
tes segregadas do espaço físico. Economias, isonomias, fenonomias e me desses órgãos, quanto ànatureza de syas funções equanto as quali
suas formas mistas caracterizam-se por seus estüos específicos devida ficações que se supõe que tenham. Estão sendo hoje em dia ampla
e,eventualmente, podem ser encontradas cm vizinhança física mente experimentados numerosos ambientes destinados ao trato com
indivíduos anômicos. Aformulação e implementação de tais ambien
tes tal como referem, por exemplo, J. M. N. Query (1973), S. B. Saran-
7.3 Conceituação das categorias delimitadoras son (1974) e outros, envolvem uma perícia específica - expertise -
É oportuna, agora, uma conceituação de cada uma das catego
que agora ainda está em estágio muito incipiente. Se vier aser possível
uma delimitação do mercado, então a estrutura, as funções eos pres
rias representadas no paradigma. supostos de tais instituições serão radicalmente diferentes daqueles
que atualmente prevalecem. Assim sendo, aanomia faz jus aser consi-
7.3.1 Anomia e motim derada uma categoria de delimitação organizacional.
No paradigma, anomia refere-se aindivíduos desprovidos de nor
Apresença das categorias anomia e motim no paradigma é exi mas orientadoras, que não têm osenso de relacionamento com outros
gida pela lógica de suas dimensões. Aanomia éconceituada como uma indivíduos. Motim é areferência de coletividades desprovidas de nor
situação estanque, em que avida pessoal esocial desaparece. 0 termo mas a cujos membros falta osenso de ordem social. Pode acontecer
anomia (anomie, em francês), originariamente inventado pelo sociólo que'uma sociedade se tome passível de perturbação pelos motins,
go francês Êmile Durkheim, detinejunu condição em que os mdiví- quando perder, para seus membros, arepresentatividade eosignificado.
duos subsistem naoria do sistémTsocjaTTÊles são desprovidos de nor
mas e de raízes! sem compromisso com prescrições operacionais, mas 7.3.2 Economia
são incapazes de modelar suas vidas de acordo com um projeto pes-
Em termos gerais, uma economia é um contexto organizacional
« Veja Schon (1971). altamente ordenado, estabelecido para aprodução de bens e/ou para a
1 Veja Steele (1973).
147
146

4<
s prestação de serviços, possuindo as seguintes características: os indivíduos e as economias, resume completamente anatureza hu
1 Presta seus serviços a fregueses e/ou a clientes que, na melhor mana. Apredominância das economias edo comportamento adminis
das hipóteses, têm influência indireta no planejamento ena execução trativo é considerada axiomática pelos teoristas políticos, econômicos
de suas atividades. e aclministrativos centrados no mercado. Dustrando esse ponto, t
1 Sua sobrevivência é uma função da eficiência com que produz oportuno comentar uma passagem de Victor Thompson, em seu livro
os bens e presta serviços aos fregueses e clientes. Assim sendo, a Modem organization.
eficiência de uma economia pode ser objetivamente avaliada em ter Afirma Thompson (1966, p. 21) que "osucesso, no contexto de
mos de lucros e/ou da relação custo/benefício, envolvendo mais que nossa sociedade, significa, para a maioria, a ascensão numa hierarquia
a simples consideração de lucros diretos. organizacional". Parece que ele enfoca esse tópico partindo de um
3. Pode e geralmente precisa assumir grandes dimensões em tama ponto de vista semelhante ao da supersocializada conceituação de nor
nho (que se exprime pelo conjunto de pessoal, escritórios, instala malidade humana de Émile Durkheim. Para este, em instância final e,
ções materiais, e assim por diante) e complexidade (que se exprime aparentemente, também paia Thompson, os critérios de normalidade e
através da diversidade de operações, deveres, relacionamentos com o moralidade, na vida humana, são inerentes ao sistema social. Essa
ambiente, e assim por diante). orientação justifica aimplicação de neutralidade de valor, contida na
4. Seus membros são detentores de empregos e são avaliados, so afirmação de Thompson (1966, p. 20-1), que figura aseguir:
bretudo, nessa qualidade. As qualificações profissionais para o de
sempenho dos cargos determinam a contratação, a dispensa, a manu "Uma vez que uma instituição monocrática não pode admitir alegiti
tenção no emprego, a promoção e as decisões sobre o progresso na midade de conflitos, a legitimidade de metas e interesses divergentes,
carreira. gasta-se muito esforço para garantir aaparência de consenso ede acor
5. A informação circula de maneira irregular entre os seus mem do garantindo uma 'organização que caminha suavemente'. Aorgani
bros, bem como entre a própria economia, como entidade, e o públi zação moderna deseja tanto convertidos quanto deseja trabalhadores.
co. Isso quer dizer que as pessoas situadas nos vários níveis da estrutu
Preocupa-se com o que pensam seus membros tanto quanto com suas
c ra condicionam a prestação de informação aos interesses pessoais ou
ações e com oque pensa opúblico sobre os pensamentos eações de
empresariais. Essa difundida condição das economias em geral é o seus membros. Em conseqüência, preocupa-se com toda avida de seus
o membros, com aquüo que pensam e fazem fora do trabalho, tanto
principal fator da lei de ferro da oligarquia, da lei de Parkinson, do
c princípio de Pedro, da errônea localização de metas, eassim por diante. quanto nele."
c Presume-se que ascinco características mencionadas são comuns É preciso que se diga que Modem organization, de Thompson,
a todas as economias: a monopólios, firmas competidoras, organiza
o ções de fins não-lucrativos eagências. Êóbvio que cada um desses qua oferece uma descrição muito acurada do comportamento econômico.
tro tipos de economias pode ser examinado em termos de suas peculia No entanto, a completa falta de interesse do seu autor pela delimita
ó ção organizacional dá um caráter iinidimensional a algumas de suas
ridades, tanto quanto de seus traços comuns. Mas uma análise detalha
o da das economias não é essencial aos objetivosdeste estudo, sendo su opiniões. Por exemplo, ao explicar seu conceito de burose (bureausis),
ficiente dizer que, enquanto os monopólios, as firmas de natureza estabelece ele os padrões psicológicos exigidos pelas agencias corno pa
o drões de saúde humana. Afalta de conformidade atais padrões (buro
competitiva e mesmo os empreendimentos sem fins lucrativos obtêm se) é para Thompson (1966, p. 24), reflexo de uma personal-dade
o sua receita da produção unitária, as agências operam à base de umor
çamento, derivando pelo menos parcialmente sua renda de auxílios, imatura. Essa opinião legitimiza definitivamente o processo de unidi
o donativos, financiamento direto e verbasespeciais. mensionalização, como foi descrito anteriormente.
o O mercado tende a transformar-se numa categoria de abrangên Nos últimos tempos, diversos autores eespecialistas desenvolve
o cia total, quanto à ordenação da vida individual e social. Na sociedade ram opiniões em oposição aparentemente direta aos pontos de vista de
centrada no mercado, as economias sãolivres paramodelar a mente de Thompson. Advogam, sem justificação, uma organização não-hierár-
o seus membros e a vida de seus cidadãos, de modo geral. Assim, uma quica, uma gerência partícipe e, algumas vezes, atotal eüininação da
teoria política e administrativa centrada no mercado, como é caracte burocracia. Um deles predisse o desaparecimento da burocracia nos
o rístico da que atualmente prevalece e é largamente ensinada, pressu próximos 20 ou 50 anos. De modo geral, as opiniões desses autores
( põe que o critério do desempenho eficiente, nas mútuas relações entre são expressas em termos avassaladores. Oque fundamentalmente lhes
< 149
148
c
V
I
I

;( lecem políticas. Aisonomia éconcebida ^^^ZIaI-


nidade onde aautoridade éatribuída por deliberação de todos. Aw
( falta éuma visão coerente esistemática da delimitação organizacional. toridade passa, continuamente, de pessoa para pessoa, c^acordam
(
Para finalizar este item, caberia assinalar que uma gerencia parti anatureza dos assuntos, com os problemas em foco ecom a^uahhca
cipante, envolvendo relacionamentos interpessoais não-hierarquicos, é ção dos indivíduos para lidar com eles. Osufixo nomo éparricuh*
( matéria bastante estranha aos ambientes econômicos centrados no
mercado. Uma vez que no presente estágio histórico é inconcebível mente indicativo do fato de que, nesse tipo de •"**£>"£;
(
que qualquer sociedade venha jamais aser capaz de descartar comple agência diretora determinada eexclusiva - ^^f^^l
aveia em monarquia, oligarquia edemocracia podenam sugerir. Urna
( tamente as atividades de natureza econômica, certo grau de hierarquia
e coerção será sempre necessário para aordenação dos negócios huma
^nonTnao éunia demorada, eisto nos leva àsua quinta caracte-
(
nos como um todo. No âmbito de seus respectivos enclaves, as econo
( mias burocratizadas podem-se tomar mais produtivas para seus mem
( bros e para oscidadãos em geral.
aVpWtt relacionamentos secundários ou categoncos, aisonomu ne-
( 7.3.3 Isonomia S^riaTente declinará e, afinal, se transformará numa democracia,
( numa oligarquia ounuma burocracia.
De modo geral, isonomia pode ser definida como um contexto
( em que todos os membros são iguais. Apolis, tal como a concebeu Aisonomia está, cada vez mais, passando aconstituir urra parte
(
Aristóteles, era uma isonomia - uma associação de iguais, constituída
"por amor auma boa vida" (A Política, I, ü. 125b, §8) Ouso de tal
( palavra, porém, não significa nenhum nostálgico anseio de uma volta
ao passado, mas serve apenas para chamar a atenção para formas pos
i síveis de ambientes sociais atuais igualitários. As principais caracterís
( ticas da isonomia são as seguintes: 5
1 Seu objetivo essencial é permitir a atualização de seus membros, ní'as ZS de propriedade dos trabalhadores, algumas as oeu-
C independentemente de prescrições impostas. Desse modo, as pres ^."lÍjÍL-TiiIMt- associações locais de consurrudores grupos
O crições são mínimas e, quando inevitáveis, mesmo então se estabe-
lêCTnfpÕT^Sh-so. Espera-se dos indivíduos que se empenhem em re-
c lacionamenWmterpessoais, desde que estes contribuam para a boa vi
o da do conjunto. . , .. M Z V
/O \ «^â*«Mm^«*» dominam *sode<iade com0 T ,„ Z
"2' E amplamente autogratificante, no sentido de que nela indiví
G duos livremente associados desempenham atividades compensadoras ^tTov-o de «a e-g^LgSSSFSZ
O
em ã mesmas. As pessoas não ganham a vida numa isonomia; antes,
participam de um tipo generoso de relacionamento social, no qual dao
o e recebem. , _ _
V
3 Suas atividades são sobretudo promovidas comojrocacões, não
c como empregos. Nas isonomias, as pessoas se ocupam, não labutam.
o Em outras palavras, sua recompensa básica está na realização__dos
objetivos intrínsecos daquilo que fazem, não na renda "eventualmente
STSl M**»*. "«**r.constituem •» «» *"^
Smátíca de assunto, de crescente interesse para,«teenólogose refor-
o aulenda por sua atividade. Dessa ioima, a maximização da utilidade " T sociais Qui já existe uma tecnologia de instrumentos comi-
o não tem importância para os interesses fundamentais do indivíduo.
4 Seu sistema de tomada de decisões e de fixação de diretrizes
o políticas 6 totalmente abrangente. Não há diferenciação entre alide Victor Papanek, e outras.
o rança ou a gerência e os subordinados. Assim, uma isonomia perderia
~ò seu caráter,sêsêus membros se dicotomizassem entre nós eeles, en- « Sobre Alinsky, veja Norton (1972). Veja também Koüer (1969).
tendendo-se os últimos como aqueles que tomam decisões ou estabe- 151
i
150
I í V

I
I
Simon Rodia, oladrflheiro econsertador que construiu em Los Ange
73.4 Fenonomia les as justamente famosas torres Watts.
Este éum sistema social, de caráter esporádico ou mais ou me
nos estável, iniciado e dirigido por umindivíduo, ou poxumpemwio 73.5 O isolado
grupo, eque i*mute aseus immbros omáximo de opçã* i>e*soaU Enquanto oindivíduo anômico e os membros do motim não
um mínimo dTsubordmaçao aprescrições operacionais formais.Uma têm normas, oator isolado, tal como representado no paradigma^está
fenonomia temas seguintes características prmapais: . excessivamente comprometido com uma norma que para ele é única.
1 Coristituta, como um ambiente necessário às pessoas para ali Por uma série de razões, oisolado considera omundo social, como um
beração de sua criatividade, sob formas e segundo inaneiras escrita- todo inteiramente incontrolável e sem remédio. Mas, a despeito de
das com plena autonomia. Éparte do esforço * «f^ <^£*°* sua total oposição interior ao sistema social em conjunto, encontra ele
phaineim significa mostrar), que mobiliza aatmdade criadora de um um canto em que, de forma consistente, pode viver de acordo com seu
pequeno grupo, ou de um indivíduo isolado. peculiar e rígido sistema de crença. Este não é o caso do indivíduo
2. Seus membros empenham-se apenas em obras automonvadas, o anômico que falha no desenvolvimento de um sistema pessoal de cren
que significa que, de modo geral, se mantêm capados ao extremo e ça, bem como em seu ajustamento ao conjunto de padrões sociais. Us
seriamente comprometidos com aconsecução daquilo que, em termos isolados podem, afinal, ser considerados casos clínicos de paranóia,
pessoais, coruâderam relevante. Êimportante ressaltar que as tarefas mas não énecessariamente assim. Na verdade, muitos deles sao empre
automotivadas são, com muita freqüência, as que demandam maiores gados não-participantes e cidadãos que, sistematicamente, escondem
esforços. Para desempenhá-las com sucesso, os indivíduos precisam de dos outrossuas convicções pessoais.
senvolver programas eregras operacionais próprios, jamais permitindo Tal como foi aqui conceituado, o paradigma paraeconomico se
a simesmo agir caprichosamente. &—--. constitui na referência para uma nova abordagem do planejamento de
3 Embora o resultado das atividades empreendidas em fenono sistemas sociais e da nova ciência das organizações, matérias que serão
mias possa vir aser considerado em termos de mercado, os cnténos examinadas nos dois capítulos seguintes.
econômicos são acidentais, em relação àmotivação de seus membros.
As fenonomias são cenários sociais protegidos contra apenetração do
mercado, e esse aspecto não deve ser desprezado, se se deseja com BIBLIOGRAFIA
preender anatureza de uma fenononua. Na realidade, as fenonomias
desafiam, ou "batem", o sistema de mercado. Oescritóno que oem Goffinan,E.Xrvl«ms. Garden City, Doubleday, 1961.
pregado em franca ascensão, ou ogerente muito ocupado, mantém em Goodman, F. Growing up absurd. New York, Random House, 1960
casa para poder dar cumprimento de noite ou durante os fins de se &Percival CommunUas, means ofHvelihood and ways ofhfe.
mana às laboriosas atividades que seu emprego exige, não é uma NewYork Random House, 1960.
fenonomia. , ., . lmfc ,a Gottschalk, S.S. The Community-based welfare system: an dteflnim
4 Embora interessado em sua própna smguíandade, o membro da to pubhc values. The Journal ofAppHedBehavioralSaenceA9,213),
fenonomia tem consciência social Na verdade, sua opção não signi
fica o abandono da sociedade como umtodo, mas visa tomar outros Gross', B. An Organized society? Public Adnunistration Review, Jury/
indivíduos sensíveis quanto a possíveis experiências que são capazes
de partilhar ou deapreciar.
Há muitas pessoas normalmente envolvidas em atividades que se
HataoTp. SoUtude and privacy. New York, Phfloshophical library,
qualificam como fenonomias eeste é, por exemplo, ocaso da rnulher 2 1953
(i Kotier, M. Neighborhood govemment. Indianapoüs, Bobs Merrill,
e do marido habffidosos, que reservam sistematicamente um canto da
casa para planejar e produzir tapeies, cerâriiica,rnntimB,bemcomoo Y ^ li
das oficinas dos artistas, escritores, jornalistas, artesãos, inventores e •z.
1969
Marcuse, H. One^imensional man. Boston, Beacon Press, 1966.
McWhinney, W. Phenomenarchy: asuggestion for social redesign. The
assim por diante, que trabalham nc^conta própria. Um exemplo de te-
nonomias particularmente bem-sucedidas éaquele que Wffl eAriel Du- t Journal ofApplied Behavioral Science. (9,213), 1973.
Monson, RJ. &Downs, A. Public goods and private goods. Pubhc In-
rant vêm conseguindo realizar, com asérie de ensaios históricos efilo reresr,Spring,1971.
sóficos projetados para toda avida, etambém aaventura artística de
153
152
*
Moreno, J. Who shatt survive? Washington, D.C., 1934! (Monografia
sobre doenças nervosas ementais, n. 58.)
NortOT,E.Ptoyboymtemew:SaulAIji^ Mar 1971
*m\^\m ^ trt™foTmation- •««». Massachusetts,
2S,.JííJ';Tot^P^ and ** open totaI "stitution: the factory
hospital. The JcwnalofApplied Behavioral Science (9 ->13) 1973
Roshwald M. Order and over organization in America The British
Journal ofSoaology, (24). 1973.
8. A LEI DOS REQUISITOS ADEQUADOS EO
£?mH"^R^J"^
non. -*"e* COncepft
New York, Nanond mdustrial "^Board,
Conference "WWW.1969 flPP«cfl- DESENHO DE SISTEMAS SOCIAIS

Muito daquilo que constitui o paradigma paraeconômico repre


Schon,D.figwidrteJttWfílBte.NewYo± RandomHouse jm senta uma categorização de tendências básicas da emergente sociedade
pós-industrial. Isto não quer dizer que o paradigma paraeconômico
Sktyn, 1975 Bummcratic state- New ***. Samizdat Press, pressupõe uma concepção evolutiva do processo histórico e social Ce-
Slater P. The Pursuit ofloneliness: American cultureat thebreakin* nános eexplicações atuais da sociedade pÓs-industrial estão ainda pre
point. Boston, Beacon Press, 1971. meoreaKing sos, em larga medida, a padrões de pensamento baseados em teorias
Steele F. Physical setting and organizational development Readine senalistas do século XK. Em contraposição, oparadigma paiaeconô-
Massachusetts, Addison-Wesley, 1973. 5* micojiao encara ^sociedade pós-industrial como o desdobramento ne
Thoinpson, V.A. Modem organization, ageneral theorv. New York. cessário dejima sociedade' centrada no mercado. Éclaro que não há
Alfred A. Knopf, 1966. garantia alguma de que aextrapolação literal das tendências intrínse
TuUockG. Economic imperialism. In: Bucnanan, J. M. &Tolhnson cas deste tipo de sociedade vá conduzir à sociedade multicêntrica tal
K.D., publ. Theory ofPublic Choice. Ann Arbor, Michigan, University como esta categorizada no paradigma paraeconômico. Antes é mais
of Michigan Press, 1972. provável que essa extrapolação contribua para agravar o desconforto
que aflige os homens de hoje, salientado neste livro em alguns de seus
aspectos. Por conseguinte, a sociedade pós-industrial visualizada no
paradigma paraeconômico só poderá. w_a_existir como resultado de
vigorosa oposição por parte aos agentes cujo projetoliMsoal consiste
em resistir às tendências intrínsecas da sociedade centrada nomerca
do. Contudo, oobjetivo do paradigma paraeconômico não éasupres
são do mecanismo de mercado, mas apreservação somente das capaci
dades sem precedentes que o mesmo criou, ainda que pelas razões er
radas. De&sajorma, pode ele atender às metas de um modelo multidi-
menJpnaUe_exfatêncià humana, huma sociedade multicêntrica "
AwciedadeLjnMcéptrica^ um empreendimento intencional
eiHMSUtfmejame^^ um novo tipo dè~es£3o'
com o poder de formular e pôr em prática diretrizes distributivas de
apoio nao apenas de objetivos orientados para o mercado, mas tam
bém de cenános sociais adequados àatualização pessoal, arelaciona
mentos de convivência e aatividades comunitárias dos cidadãos. Uma
sociedade assim requer também iniciativas partidas dos cidadãos que
estarão saindo da sociedade de mercado sob sua própria responsabiJi-
dadee a seu próprio risco.
O paradigma paraeconômico pressupõe que planos de vida
154 pós-industrial são imediatamente possíveis, tanto nos países cêntricos
155
>
í> quanto nos países periféricos. Ê uma abordagem do tipo faça você ganização, autoridade e consentimento são "partes de uma situação
mèmòTem relação àsociedade pós-industrial. Para muitos indivíduos, abrangente" (Follet, 1973, p. 33), na qual os aciministradores cedem
K a "sociedade pós-industrial não significa um estágio futuro mas, em diante de normas induzidas por circunstâncias concretas. Ela focaliza,
l* grau significativo, uma possibilidade objetiva que têm aseu alcance. sobretudo, o processo de dar ordens. A_lei dos requisitos adequados
0 modelo delimitativo encerra, hoje, sob forma conceptual, o tipo de tem um alcancejnais amplo, pois sugere, tambémL que embora os re-
i< vida procurado por muita gente, em muitos lugares. Infelizmente, os quisitosjios sistemas possam, em geral,"sér generalizados, para o plane
sistemas sociais incompletos, que esses indivíduos estão criando jador de sistemas constituem, antes, um ponto de ordem prática, isto
f:
i
através do processo do ensaio e erro, ainda não se transformaram na
força impulsionadora de um esforço sistemático e disciplinado de
construção teórica, no meio acadêmico.
é^consèqüencáas de concreta, e participante observação, que envolve o
planejadoFê seus clientes. Ilustrarei o significado dessa lei por meio de
um rápido exame de algumas dimensões principais dos sistemas so
Já está disponível a perícia técnica para o desenho e controle de ciais, a saber: tecnologia, tamanho, espaço, cognição e tempo. No está
( gio atual da minha pesquisa, só posso formular afirmações hipotéticas
sistemas sociais econômicos. É menos do que suficiente a perícia
c técnica para o desenho e controle de sistemas sociais em que as ativi e impressionistas desses tópicos.
dades econômicas sejam, na melhor hipótese, de caráter incidental. 1. Tecnologia. Só parececabível, aqui, um brevecomentário sobre es
( ta dimensão dos sistemassociais,já que a mesma tem sido amplamente
Como resultado disso, o conhecimento organizacional dominante mal
pode proporcionar os ensinamentos necessários à superação da condi estudada pelos especialistas daorganização convencional. Há vasta lite
ção social do homem contemporâneo. Um dos^objetivos do paradigma ratura sobre esse tópico, na qual os planejadores de sistemas sociais de
;< paraeconômico èj_ formulação de diretrizes de uma nova ciência orga- confronto podem encontrar úteis e importantes conhecimentos. Reco
mzãdónaí, em sintonVcom as realidades operativas deuma sociedade nhece-se, de modo geral, que a tecnologia é uma parte essenciall_da es
multicêntrica.
trutura de apoio de qualquer sistema social, e existe no conjunto de
í< Um tópico fundamental da nova ciência da organização éaquele normas operacionais e de instrumentos através dos quais se consegue
que as coisas sejam feitas. Assim, não existe sistema social sem uma
( que chamo de lei dos requisitos adequados. Na realidade, preferiria de tecnologia, sejaele, por exemplo, uma igreja, uma prisão, uma família,
lc nominá-lo lei da variedade de requisitos. Mas esta expressão tem sido uma vizinhança, uma escola ou uma fábrica. Quando solicitado, o pla
usada por W. Ross Ashby (1968), para analisar sistemas físicos ebioló nejador deveria incluir, como aspecto central de sua análise, o exame !
;( gicos. Aquestão da delimitação dos sistemas sociais éestranha àcon da tecnologia, para verificar se aquela que é usada pelo sistema social
cepção que Ashby tem da lei da variedade de requisitos. Essa delimi
Io tação advoga uma variedade de cenários diferenciados como imperati propicia ou dificulta a consecução de suameta. A satisfação desse im
perativo envolve complexo trabalho de análise, que o planejador deve
( vo vital de sadia vida humana associada, isto é, envolve o conceito de empreender em estreita colaboração com seus clientes. Grande parte

que aatualização dos indivíduos ébloqueada quando eles são coagidos do sucesso daquilo que no domínio da teoria convencional sobre orga
a se ajustar^ajijma^sociedade^antecipadamente dominada pejojnerca- nização é conhecido como sistemas sócio-técnicos, resulta da atenção
G do, ou porQualquer outro tipo de enclave social. De modo específico, sistemática que seus representantes têm dado à harmonia entre a
a lei dos requisitos adequados estabelece_que a variedade dejistemas tecnologia de um sistema social e os objetivos específicos do sistema.
O sociais é qualificaçãoessenciaToé^ualquer sociedade sensível àsneces- Essa habüidade está bem desenvolvida e, além disso, tem um alcance
O ádades básicas de atualização de seus membros, e que cada um desses geral e deveria ser assimilada e ampliada pelos planejadores desistemas
sistemas sociais determina seusprópriosrequisitos de pjanejamento.
o sociais de confronto.3
Mary Parker Follet mostrou-se sensível aum aspecto parcial des 2. Tamanho. Ao contrário, existe relativamente pouca teoria contem
o se tópico, quando chamou aatenção dos administradores para alei da porânea dando sistemática atenção à questão do tamanho. Isto não
c
situação. Sua preocupação era libertarji gerência da arbitrariedade e significa a afirmação de que o tópico tenha sido ignorado. Pelo contrá
do "mandonismo" (bossism), encarando-ã como um processo_desper: rio, há uma herança de conhecimentos sobre a influência do tamanho
o sonalizado de dar e de recebercedem. Na opinião de Folletsobre or-
3 Sobre a dimensão tecnológica dos sistemas sociais e suas" implicações, em ter
o mos deplanejamento, veja, por exemplo, Woodward (1965), Lawrence ÁLorsch
1 Sobre o conceito da"possibilidade objetiva", veja Ramos (1970). (1969), Perrow (1965-72), Burns & Stalker (1961), Thompson (1967), Davis
ü 2 Sobre a noção de planejamento, em sentido amplo, veja Pye (1968-9) e A Engelstad (1966), Von Beinum (1968), Miller & Rice (1967), Emery (1969),
Thompson (1961).
Davis & Taylor (1972) e Davis & Cherns (1973).
(
157
( 156

O
<
f
i
t (isto é, o número de pessoas) dos cenários sociais, relativamente à sua escala, em cenários sociais. Haurindo dessas e de outras fontes, arris-
eficácia e ao caráter das relações interpessoais de seus membros, que car-me-ei a propor três possíveis enunciações.
t está a merecer reelaboração e sistematização. No entanto, atéagora, o Primeira, a capacidade de um cenário socialparafazer face e pa-
tamanho dos sistemas sociais dificilmente pode ser considerado um ra_correspander, eficazmente, àsjiecessidádesji_e_seus membros exige
f dos interesses centrais dos organizadores e dos planejadores de siste limites mínimos ou máximos a seu tamanho.4 Em outras palavras,
K mas sociais. A resistência da organização ou dos sistemas sociais é mais cada cenário social tem um limite concreto de tamanho, abaixo ou aci
importante do que aquüo que hoje é correntemente denominado de ma do qual perde á capacidade de atingireficazmente.suas metas(por
< senvolvimento organizacional, e que, com muita freqüência, considera exèmpjo7a~e~x"traçao e__oprocessamento derecursos)e deconseguir de
( o tamanho das organizações ou como um dado ou como tópico de so- seus membros o mínimo de consenso de que necessita para a própria
menos importância. preservação.
(
Num ambiente cultural como o nosso, em que se infiltra a pre Segunda, nenhuma norma geral pode ser formulada para deter
( missa de que quanto maior, melhor, há necessidade desalientar-se, en minar, tom precisão, antecipadamente, o limite de tamanho de um
(
faticamente, que a eficácia de um cenário social na consecução de suas cenário social; a questão do tamanho constitui sempre um problema
metas e na ótima utilização de seus recursos não acarreta, fatalmente, concreto, a ser resolvido mediante investigação ad hoc, no próprio
< um aumento de tamanho. O princípio do quanto maior, melhor con contexto. Em outras palavras, é possível determinar com exatidão o li
duz, com freqüência, a falsas relações interpessoais, à síndrome dalei mite de tamanho de um cenário social. Essa tarefa constitui, porém,
( de Parkinson, à desnecessária redundância e, finalmente, a sistemas so uma questão que envolve não apenas competência técnica, mas tam
( ciais de desperdício, de limitada capacidade de auto-sustentação. Pre bém educada sensitividade para as mútuas implicações de contexto e
cisamos aprender a arte do planejamento de cenários sociais capazes forma.
í de perdurar.
Terceüa^fl intensidadedas relações diretas entreos membros de_
( 0 tamanho dos cenários sociais tem sido um tema investigado umcenáriç\_sacial. tende a declinar na proporção direta do aumento de
por reformadores e teoristas políticos. Platão, de maneúa meticulosa, seu tamanho. Corolário deste postulado (Tquê7 "quando a_ intensidade
( afirmou que a boa comunidade deveria ter 5.040 cidadãos (chefes de das relações, interpessoais diretas é considerada fundamental para a
O famüia). Aristóteles evitou a precisão aritmética de seu mestre, mas, consecução de um objetivo, sãoapropriados os cenáriòTpequenos, em
de forma idêntica, tinha consciência de que deveriam ser impostos li lugar dos mais amplos.5
o mites ao tamanho do grupo de cidadãos, como uma das condições pa Não há uma regra geral para a determinação do tamanho das
c ra uma boa comunidade. Comentários sobre o assunto são igualmente economias. Por exemplo, as economias de caráter isonômico, isto é,
encontrados nas obras de Montesquieu e de Rousseau. Nos documen certos tipos de cooperativas e de empresas em que a administração e a
o tos federalistas (n9 14), James Madison trata da questão do tamanho propriedade são coletivas, preceituam tamanhos bastante moderados.
o como um fator potencialmente proibitório da aplicação dos princí No entanto, quando a divisão do trabalho, a impessoalidade e a espe- -
pios de representação na União. E, em vasto arcabouço sociológico, o cialização se fazem indispensáveis para que as economias entrem em
o sociólogo alemão Georg Simmel (1950) focaliza os aspectos quantita bem-sucedida competição no mercado, são elas compelidas a assumir
o tivos das relações sociais. É ele figura pioneüa naquüo que se conhece largas proporções. Desse modo, acontece que o grande tamanho, com
como dinâmica de grupo. muita freqüência, passa a ser um requisito para a viável operação das
c Um estudioso contemporâneo, Robert Dahl, tem frisado a im economias convencionais. Pode haver um sabor romântico na afirma-
portância do componente tamanho dos sistemas políticos, e em seu
o livro After the revolution? o tema é tratado com realce. Ê mais am Estou deliberadaments evitando o uso da controvertida noção de tamanho
ótimo. Sobre essa questão, veja AJonso (1971)e Richardson (1973). Sougratoa
o plamente investigado ainda em Size and democracy, que Dahl escre Hélio Viana, por chamara minhaatenção para essa controvérsia.
veu em colaboração com Edward R. Tufte. De extrema importância
o são também 77ie Breakdown of nations (1957) e Overdeveloped 5 Sobre o tamanho das organizações, veja Schumacher (1973, p.59-70). Esta
nations, dois fecundos volumes, em que Leopold Kohr apresenta sua afirmação enfoca a intensidade dosrelacionamentos interpessoais diretos. Certa
o mente que a presente tecnologia de comunicações podeintegrar as pessoas numa
teoria do tamanho em termos de desenvolvimento social e econômico. comunidade de interesses, independentemente das grandes distâncias físicas que
o Conclusões significativas, apresentadas nesses livros, merecem conside as separem. Levando essa circunstância em consideração, Melvin M. Webber pro
í ração de qualquer pessoa que se envolva num esforço de pesquisa vi põe o conceito de "comunidades não localizadas - nonplace communities"
sando ao desenvolvimento de habüidades para o trato de questões de (Webber. 1967).
c
158 159
1
( .
i
V
éaTproa^içãíou ocontrole;do ambiente; éèssendahnen^pdíri^
i
cão de que opequeno ébelo. Na realidade, çorim^ande também quando~*u mteressè^óminante é o estínuü^aoTpadrões de
í remenda; por seus próprios méritos. A^orng tipicamente, bem-estar social, em seu conjunto; é essencialmente personj^ticg
í
So cenários sociais de proporções moderadas, com rigida^ojerànoa
pa^a desvios de tamanho além de determinado limite. As^fenono^
(personalogic), quando ointeresse dominante éoJ-^KR
wnhecimento pessoal. Um sistema cognitivo deformado éaquele des
( do omenor tipo concebível de cenário social euma fenonomia pode provido de um único interesse central. . .
mesmo se compor de uma só pessoa, como éocaso do atehe do mn, Misturados de variadas maneiras, esses sistemas podem exisür si
( tor ou escultor Parece, contudo, duvidoso, que uma fenonomia tenda multaneamente num único cenário social, mas osistema cognitivo tun-
( a manter sua capacidade de sobrerivênda^ojiando onumero de seus . f^YV,<ACl cionaTpredomina nas economias, osistema cognitivo político, nas iso-
membros excedei cinco. Uma vez que a^ga>ão constitui um s.s- ftfVMJ nõnnasTõsIstêmal^trv^^ e> finalmen
( tema social, só indiretamente apresenta ela questões de tamanho; nao te osistema cognitivo deformado ébem característico dos indivíduos
( obstante o tratamento de pessoas anômicas tem mais sucesso em pe e/ôu grupos anômicos. Há, concretamente, sistemas sociais em que
quenos sistemas sociais, onde lhes possa ser dispensada atenção pes- V , mais de um tipo de sistema cognitivo assume, paralelamente, o caráter
( soai Na verdade, otamanho dos sistemas sociais, em geral, influi sobre ^.q^ dominante. Esse é, por exemplo, o caso das economias de natureza
( oalcance da anomia, numa determinada sociedade Adimensão tama-^ ^> isonômica e de muitas instituições edjicacjonais_em.quejjnfojTnaçao
nho das sociedades de massa, é em si mesma um fator de estimulo à *e o fomento do bem, na sociedade, se revestem de fundamen-
< inclinação à anomia, uma vez que, dentro dessa dimensão, as relações
< interpVssoais tendem a se tomar predominantemente funcionais, em ^ ÍmApEeta conclusãqa ti^a^sosjnunciados exr*rüwntaisléj
lugar de afetivas. Nas módêmâs sociedades uidustriais, como salientou dejnjea,
ae que a abrangência
aDrangciiow totaí
iuuu dorist
uu^ivü-^^^r^s^— _
( Êmüe Durkheim, tiposjnôrnjcps de condulajão conseqüências neces- / 4 mõ a nossa, envolvendo continuamente os indivíduos em seus padrões
(
ontudo, nao
ciai do trabalho/Contudo,
sanas ao procc»u uc-^»»»y *"-" **~ ~-^--
não se
se deve- rO-J^
deve- r\ cognitivos intrínsecos, pode invalidá-los para a ação como membros
rá procurar nas conclulõeTdlDuTIffiémTapSío para
in uma
uma condenação
mndenacão
uü eficientes de fenonomias ou isonomias. Nessa conformidade, no plane
í injustificada da industrialização. Aprática da delimitação dos sistemas jamento de tais sistemas ede suas formas mistas, devena ser feito um
sociais pode muito bem constituü o corretivo para aanomia, que por esforço para proporcionar aos indivíduos condições adequadas a seus
i
toda parte se tomou uma conseqüência normal da industrialização. específicos e dominantes interesses cognitivos. -— fiS-A h
í 3 Cognição. Trabalho pioneiro sobre as dimensões cognitivas dos sis 4 Espacó. Em sua expansão, através dos dois últimos séculos, ojiste-.
temas sociais tem sido desenvolvido pelo sociólogo Georges Gurvitch nialleS^^pass011 cada vez mais a ocupar os c?Pac0S reservados
c
(1955 1971) Sustenta ele que há uma variedade de tipos eformas de aos "sistemas sociais, constituindo-se na força impulsionadora da vida
o conhecimento, os quais se posicionam numa seqüência de prioridade pessoal ecomunitária. Aarquitetura das cidades contemporâneas aten
que difere consoante a natureza dos sistemas-sociais. Assim as socie- de par excellence, às exigências do mercado. Seria possível recordar
o v^ que em seus estágios iniciais, osistema de mercado estimulou na In
Lesjircaicas^daisl^it^ ser diferencia- glaterra aprática de locais confinados, oque acarretou aexpulsão de
das conforme seus predominantes e especfficc^^emas-coan^oi,.. grandes massas de gente dos espaços que costumava ocupar. Arevolu-
p
isto é, segundo a ordem de prioridade crescente ou decrescente de So industrial obrigou populações a se mudarem de amplas residên
tipos eformas de conhecimento que prevaleçam em cada uma delas. cias e chalés para apartamentos epavimentos exíguos, epara ediiícios
o Embora eu considere as abrangentes tipologias de Gurvitch mui
to úteis para aanálise macrossocial, usarei um processo mais simples e eguetos entupidos de gente, perto dos centros urbanos. Nesse proces
o
ad hoc que acredito seja importante para rapidamente caracterizar as X) so as pessoas perderam tempo, dinheiro eseu relacionamento direto
ü dimensões cognitivas dos ambientes retratados pelo^adjg^jarj: com os verdadeiros contextos naturais.7 Em outras palavras, adeteno-
1 Uma vigorosa avaliação da levotaçfc Mustria! na **£**•* SíSHZ iw1
econômico. , ... ......
o Habermas restabeleceu a idéia de que ossistemas cognitivos po
V dem ser classificados de acordo com seus interesses dominantes. Pa
ra os propósitos deste^çapitiü^Lbastante salientar que um sistema
V cognitivo é^éaSiciaTméHte^do^apquando seu interesse dominante ComSS tipo de importante avaliação da revolução U***""
o « Sobre HabermasTos interesses do conhecimento, veja ocapítulo 1desteU
entoe"na.-conseqüências sociais, culturais epsicológicas do largo uso de dinhei
ro é o de Simmel (1978).
o vro. 161

( 160

< 1/
c .

(
ração das condições da vida comunitária do povo tem sido urna conse-
zes, e começar de novo, até que oolho da gente nos dissesse que tudo
estava c*rtiMfcíD0*>abia muito mais sobre arquitetura do que os li
aüência normal da expansão do sistema de mercado. Afamília peque vros •IPerairifalível, na medida em que apessoa confiasse em seu
na é um símbolo dessa transformação esignifica que ocontato entre a próprio olho, enão no olho dos outros" (Munthe, 1956, p. 436). Nao
velha e a nova geração se toma, em grande parte, descontínuo. Graças há dúvida de que esse preceito de planejamento espacial funciona eli-
ao encolhimento do espaço, espera-se que avós e netos vrvam separa cazmente para indivíduos como Axel Munthe, que são de extrema cla
dos fato que, em si mesmo, produz nocivos efeitos sobre avida comu reza em relação àrespectiva agenda existencial.
nitária Não é de admirar que hoje as pessoas manifestem, muitas ve E difícü imaginar uma expressão mais vivida de sentido espacial
.'«.( zes uma certa nostalgia dos velhos tempos. Como assinala de Grazia,
"o'... espaço de que os ingleses dispunham, quando surgiu aindustria,
do que aquela que é oferecida por Carl Jung, num capítulo (A Torre)
de suas Lembranças, sonhos e reflexões. Como Axel Munthe em fase
( (está) perdido. Ingleses eamericanos pagam por isso todos os dias. No adiantada/de sua vida Jung decidiu "pôr em base firme suas fantasias
entanto, em todo lugar em que um jardim público éinaugurado, ofa e o conteúdo do subconsciente" (Jung, 1963, p. 223). Materializou
( to é envergonhadamente saudado como um triunfo de um bom gover esse desejo num trato de terra comprado em 1922 em BoUinger (Zun-
(
no ou da filantropia e, de qualquer forma, do progresso. Arecupera- que) e fala da casa que construiu nesse lugar, em diversos estágios, co
jdo passa a constituir um progresso^d^ mo sua "confissão de fé na pedra" (Jung, 1963, p. 223), a represen
( ecuperação de espaço para,i vida pessoallef tante do "lar materno" (Jung, 1963, p. 224). Não se precisa, porém,
( ser tão hábü e tão ricamente prendado como esses homens, para per
adequada delimitação do sistémaTdq ceber que os espaços em que nos édado yiver podem nutnr ou dificul
( rcadôT ^^^^^^^^^ tar nosso desenvolvimento psíquico, ém nossa singularidade como
( O espaço tem sido cuidadosamente examinado pelos espe pessoas' . .... —-
Mde organizaçãé sobretudo como uma dimensão do processo de 0 espaço pode ser um fator que façilüe ou que iniba adescarga
( produção e distribuição de bens e de prestação de serviços. Tem, po de tensões', assim como um determinado/ de estresse. Estudos sobre o
< rém, numerosas impücações, que vão muito além desses propósitos comportamento de animais indicam que cada espécie animal parece
econômicos, as quais muitas vezes escapam à percepção do leigo e necessitar de um espaço adequado, a fim de desenvolver, normalmen
( mesmo daqueles que, como os arquitetos e os especialistas de orga te as atividades inerentes a seu tipo específico de vida. Exposto a con
( nização, supostamente deveriam compreendê-las em sua plenitude. O dições de franca violação do adequado espaço de que precisa, qualquer
espaço afeta e,em certa medida, chega amoldar avida das pessoas. animal desenvolve padrões pervertidos de comportamento. Uma das
o Não é de admirar que indivíduos de grande sensitividade a mais impressionantes demonstrações desse fato éajjorte em mass/ de
condições que afetaram sua experiência pessoal singular tenham, entre kmm vivendo em jãPs^epletos, fenômeno observado entre ratos
o s^flalçado muitas vezes as casas em que viveram. Por exemplo, selvagens da Noruega, mesmo havendo fartura de comida. Existem nu
o jtHt descreve, em sua autobiografia, a casa em que viveu quando merosas porém desarticuladas observações dos efeitos do espaço sobre
criança, atribuindo-lhe uma influência benigna em seu processo de a vida humana, embora só recentemente tenham sido empreendidos
e crescimento. Reconheceu que a casa lhe despertou "um sentimento esforços no sentido de seu estudo sistemático.
o de solidão, de que resultou um anseio vago, que correspondia a(seu) Tentarei agora indicar algumas taarjjcacjja dn astx
temperamento" (Goethe, 1949, p. 4 ) ^ | 0 refere-se auma no planqamentodosambientessodais.
o casa em que morou 12 anos, a qual denomina a Casa Camuzzi, como
o sendo um lugar em que "sentiu a mais profunda solidão e sofreu por ;ao- fossistenlassociaisem termos de espaço
isso" (Hesse, 1973, p. 246) e onde pôde dar rédea solta àimaginação constitui uma arte, tanto quanto uma ciência. Sua prática, formal ou
o e à criatividade. Asensitividade ao espaço é^orwrto^ina das razões intuitivamente, requer aquüo o£eFredI^teeledgma^onu>etp
( que fizeram dV Livro de San Michele, de* ||Vum fascinante
registro autobiográfico. Quando ele decidiu construir seu retiro ideal,
( a percepção do plano que o mesmo impunha foi tão forte que o fez dade desta para usar ou modificar o ambiente que acerca, de modo
( atrever-se a desafiar a orientação do construtor, o mestre Nicola. Con • Veja, por exemplo, Freedman (1975). Barash (1977), Wilson (1977), Sahlins
ta ele: "Eu disse ao mestre Nicola que a maneira certa de umapessoa
(1976).
o construir sua casa era pôr tudo abaixo, sem importar o número de ve-
163
(
162
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(
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que o mesmo a ajude a conseguir seus objetivos, sem erradamente des Ascosanti, uma comuna experimental localizada no Arizona Central e

!
(!
P;
truir esse ambiente, ou reduzir o próprio senso de eficiência, ou o da
queles que tem emjedor de a" (Steele, 1973, p. 113). Steele concebe
a competência ambiental comoumacapacidade obtida através de trei
namento, já que a mesma tem fatores operacionais correlativos que
podem ser aprendidossistematicamente.
Em seus livros 77ie Silent language e 77ie Hidden dimension,
projetada por Soleri, como um conjunto habitacional em que a nature^.
za humana e o ambiente estão adequadamente combinados., Os defei
tos do cenário urbano americano têm sido amplamente focalizados
por muitos críticos sociais, entre os quais Paul e Percival Goodman
merecem atenção especial. Em sua obra Communitas, vão além da
crítica social, articulando modelos de" planejamento urbano que repre
sentam a expressão de sadios princípios,
Edward T. Hall focalizou importantes aspectos do espaço vital huma
f no, do ponto de vista antropológico. Chama ele a atenção para a dis
tinção que H.Osmond fez entreespaços sócio-afastadores (sociofugal) Nos trabalhos de analistas de espaço como Hall (1959, 1966),
í e sócio-aproximadores (sociopetal) (Hall, 1966, p. 101), isto é, aqueles Sommer (1969, 1972) e Steele (1973), há uma riqueza de sugestões
P que mantêm as pessoas separadas e aqueles que facilitam e encorajam que os planejadores de sistemas sociais paraeconómicos podemconsi
a convivalidade. Nenhum desses tipos de espaço é, intrinsecamente, derar construtiva. Nesse sentido, é particularmente importante a classi
P bom ou mau. São necessários por diferentes razões e Hall afirma: "O ficação de aspectos físicos conceituada tanto por Hall quanto por
que é necessário é flexibilidade e coerência entre o plano e a função, Steele. Os planejadores deveriam aprender a utüizar o aspecto de espa
fi de_modo que haja umaj^ariedadejle espaços,e^quea^j>essoaspossam ço determinado, o aspecto de espaço semideterminado e o aspecto de
P ser ou não envolvidas, conforme o exijama ocasiãoe o estado de espí espaço falsamente determinado, isto é, onde e quando um ambiente
rito" (Hall, 1966, p. 1034). O que deveria ser evitado é o descuida físico exige aspectos imóveis ou relativamente imóveis (paredes que
P. do agravamento das dimensões sócio-afastadoras do espaço nos siste suportarão cargas, monumentos, edifícios, ruas, pisos), aspectos flexí
Pi mas sociais, onde as mesmas devem ser sócio-aproximadoras. ou cen- veise móveis como cadeiras, quadros, escrivaninhas, tapetes e cortinas,
trípetas. Assinala Hall: '4aa^ lalmente, tudo nas cidades americanas. e aspectos aparentemente imóveis. No livro de Steele Physiéájf/ffff
ifl and organization development há um repositório de instruções práti
;íi As ... revoltante! UCaülUSS'STrTqTlê pessoas têm sido es
pancadas e até mortas, enquanto seus vizinhos ficam olhando, sem
cas sobre a tarefa de tratamento espacial dos sistemas sociais.
IP mesmo pegarem num telefone, mostram até que ponto progrediu essa Os planejadores de sistemas sociais do tipo de isonomias e feno
tendência para a alienação" (Hall, 1966, p. 163). A predominância dos nomias, e de suas possíveis formas mistas, deveriam compreender que
espaços sócio-afastadorès nas cidadesamericanas, como, por exemplo, a adequada consideração do espaço é uma condição essencial para o
Los Angeles, Nova Iorque, Boston, as qualifica como verdadeiras bem-sucedido funcionamento desses sistemas,
fossas behavioristas, expressão^ que Hall toma emprestada a Johnv v^ guagem süencio
J^õnETse que num debate sobre oreparo dos danos
6 Calhoun
es- cãusadospela guerra ao edifício da Câmara dos Comuns, Churchül ma
p ^ nifestou o desejo de que fosse preservado o local tradicional da Câma
Arquitetos e planejadores vêm há longo tempo assinalando que ra, em que os representantes do povo não podiam deixar de ficar de OJ
p o espaço pode sei fator de deformação humana. Diz-se, por exemplo, frente uns para os outros, enquanto usavam da palavra, parajiugji
o que novo traçado desse local não viesse alM ^Wio.
'^ntinMHMVBHBP'' disse ele.^^awBWBHHHP^Hall,
"ínowski, 1976, p. 84).' Num estudo emque Henryk Skolimowski ana 1966, p. 100). Uma senhora observou para o marido: "Se algum dos
lisa os projetos urbanos empreendidos por Paolo Soleri no Arizona, .[-/homens que desenharam esta cozinha tivesse trabalhado nela, não a
declara ele, embora não em referência a Soleri, que "muitos arquitetos S teria feito assim" (Hall, 1966, p. 98). Portanto, mesmo o sexo dos
estão projetando exatamente esse tipo de casa, sem conhecer a projetistas pode, semo saber, influenciar o tratamento espacial dos
fórmula de Frank L. Wright" (Skolimowski, 1976, p. 84). Descreve \Y
rf
9 Esta é, no entanto, uma afirmação exageradamente determinística.O homem
e mesmo os animais podem, finalmente, transcender o caráter deformante do es W reinterpretação das funções dagancha, que se tornou agora me
paço. Sobre este assunto, veja, por exemplo, Frank] (1968) e Bettelheim (1958). nos umTugarpara preparar comidado que um sítio de intensas e ínti-

164 165

í)
í mas relações sociais entre as pessoas, independentemente de sexo e
idade. Mais ainda, mulheres e homens partilham de seu funcionamen
A arte de projetar esses ambientes tem muito a ganhar, se incorporar
as contribuições que antropólogos e psicólogos de ambiente têm a ofe
f
to, cada vez mais,em termos de igualdade. recer.10 Aparentemente, espaços sócio-aproximadores, de preferência
(
Finalmente, na medida em que um dos objetivos fundamentais aos sócio-afastadores, deveriam prevalecer nas isonomias e fenonomias,
( da delimitação dos sistemas sociais está em conter a influência do sisj da mesma forma que em cenários projetados para ressocializar indiví
tema de mercadcTsbbre o espaço vital humano^os que praticam a deli- duos anómicos. Em razão da natureza de suas atividades, as economias
( ]ue Qualquer oufrapessoa, precisam ter consciência da \ . são sistemas em que os espaços sócio-afastadores devem prevalecer,
( 'arece evidente que o sistema de mer embora com alcance limitado espaços sócio-aproximadores sejam tam
cado condiciona, nos cidadãos americanos, a percepção e o uso do es bém funcionalmente necessários em tais cenários. i
( paço. Por exemplo, como foi observado por Hall, "os americanos são 5. Tempo. Volto-me, agora, à consideração do tempo como uma di
( atentos para alMU|num s^^g^^^y^). mas formal e informal mensão dos sistemas sociais. Devo salientar: o fato de que trato tempo_
mente não têm preferencias. Uma vez que nosso espaço é, em grande e espaço em seções separadas não significa a minha aceitação de uma
( parte, definido por pessoal de formação técnica, casas, cidades e arté dicotomia newtoniana de espaço e tempo. Apenas por um imperativo
( rias principais são geralmente orientadas de acordo com um dos pon de ordenada exposição é que um tema se segue ao outro.eaa^a^ e
tos indicados pela bússola... Um padrãotécnico que pode ter derivado WÊÊ/fS estão 9BHR?nte WBKÊÊÉ& A orientação temporal dos
( de uma base informal é o do valor da posição em quase todos os as membros de um sistema social tem correlativos espaciais intrínsecos.
( pectos de nossas vidas, de tal maneira que mesmo crianças de quatro O espaço, nos sistemas sociais, por outro lado, envolve orientações
anos de idade têm plena consciência de suas implicações e estão pron temporais específicas-
( tas a brigar umas com as outras, quanto à questão de quem será a pri oKpT, como uma categoria do .
meira" (Hall, 1959, p. 158-9). Em seu estudo sobre a afluência ma
(
terial e seus efeitos sobre a formação do caráter americano, denomina
tem sido tema da teoria convencional de organização. Contudo, nesse :>F
domínio, somente o tempoinerente aossistemas econômicos tem cons
< do People ofplenty, David M. Potter observou que "o espaço domésti tituído objeto de estudo. Assim, Hjiur e alguns de seus associados fo
(
o
o
co proporcionado pela economia da abundância tem sido usado par:
salientar a separação, o distanciamento, senão o isolamento, da crian
ça americana" (Potter, 1954, p. 197). Nos EUA de hoje, quando a oti
mização e a conservação de recursos se tomaram matéria de interesse
púbUco e item da agenda governamental, a influência de nossa cultura
I ram os pioneúos do estudo de tempo emovimento como aspecto da ad
ministração científica,mas o tempo que focalizaram representa um ca
so limitado, constituindo umaspecto doespectro temporal da experiên
cia humana. Nessa tradição, a maior parte dos estudos de tempo ora
i
disponível, no campo da teoria organizacional, não transcende a con
G sobre a percepção individual do espaço e o uso dele deveria ser manti cepção taylonana.1' Trata og ^f> apenas como uma^^Bfia, ou
da sob sistemática atenção dos formuladores de políticas e dos plane um aspecto da linearidade do comportamento organizacional, impor-
O jadores. Os americanos deveriam aprender a transcender a tendência tante como seja essa faceta da experiência humana de tempo, não
o que o mercado tem, quanto a explorar o uso do espaço, se estão seria constitui o impulso fundamental de uma variedade de sistemas sociais,
mente empenhados em jHBi leterioração ecológica de s rie- tais como as isonomias, as fenonomias e as diferentes formas pelas
o •B °#WBBBBfl WBBUtÊÊÊÊÊBÊtSm. na for- quais se mesclam às economias. Conseqj^temenje^o^paradigma para-,
o ma demonstrada por Yi-Fu Tuan (1974), em seu livro Topophilia, po econômico prescreve uma abordagem multidimensional do tempo,^
dem ser objeto dé investigação científica. Podem ser identificados e moçategoria do planejamento dos sistemas sociais^
c categorizados em cada cultura, assim como apreciados como uma variá
vel que influi sobre a eficácia ecológica de planejamentos de espaços
No domínio dasociologia, Georges Gurvitch (1964) desenvolveu
o uma tipologia de dimensões temporais dos sistemas sociais.12 Sustenta
vitais.
o ele, por exemplo, que o tempo das organizações formais não éidênti
9m oHffKm relação aos sistemas so co ao tempo característico dos sistemas sociais em que prevalecem a
V ciais constitui, certamente, um dos meios de estimular a atmosfera psi intimidade euma intensa reciprocidade interpessoal. Adem.ls, estabele-
cológica apropriada a seus objetivos específicos. Tópicos como soli
o 10 Veja H.M. Proshansky et alii (1970).

\
dão, privacidade, reserva, intimidade, anonimidade, território pessoal,
o órbita individual e outros são pontos a levarem conta, na definiçãodo " Há umas poucas exceções. Veja Lee (1968) e Waldo (1970).
espaço dos sistemas sociais, particularmente isonomias e fenonomias. 12 Sobre a abordagem filosófica do tempo, veja Fraser et alii (1972).
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< 166 167

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ce o conceito de uma variedadejlej é a massa deaposentados, emnossa sociedade, que não sabe o que fazer
t de orientação humana nas consigo mesmo, quando perde a condição de detentora de emprego.
í As dimensões temporais do sistema social, do ponto de vista paraeco "Os americanos são confusos em relação ao trabalho", diz A.K. Bier-
nômico, só podem ser apresentadas tentativamente e. nesse caráter, man, e acrescenta: "a menos que nos seja possível aprender a ir para a
•í poderia ser proposta uma tipologia constituída das seguintes catego cama com a máquina, no Éden, ela será fator de nossa desumanização,
•i rias: tempo serial, linear ou seqüencial; tempo convivial; tempo de sal em vez de ser nossa benfeitora" (Bierman, 1973, p. 15). É possível
to —leaptime —; tempo errante. que a orientação temporal dominante em relação à maior parte dos
f As economias são cenários em que prevalece o tempo serial e, americanos seja o fator principal a dificultar-lhes o engajamento em
desse modo, são incapazes de atender às necessidades humanas cuja sa processos isonômicos de aculturação.
f A isonomia é sítio para o exercício da convivência, e seu princi
tisfação envolva uma experiência de tempo que não possa ser estabele
( cida em termos de séries. pal requisito temporal é uma experiência de tempo em que aquilo que
iibros de acordo.com sua orj? o indivíduo ganha emseus relacionamentos comasoutraspessoas não é
í medido quantitativamente, mas representa uma gratificação profunda
i nessátarefa, dessa forma desenvolve-
m icapacidade parasej-ngajãrem em esforços que re-j por se ver liberado de pressões que lhe impedem a atualização pessoal.
•ntãção temporal "Os americanos", diz ^-£0 tempo convivial écatártico enele aexperiência individual encoraja-o
o Hall, "pensam que é natural quantificar ò terhrSjj£ inconcebível dei """ a interagir com os outros sem fachadas, e vice-versa. Quando um grupo
r xar de fazer isso, e o americanoesDeciTica a quantidade de tempo que de pessoas partilha esse tipo de experiência temporal, seus membros
é necessária para fazer qualquer coisa" (Hall^^59^^34)^efim^do relaxam, tendem a confiar uns nos outros e a expressar, com autentici
í dade, seus sentimentos profundos. Aqueles que participam dessa inte
o monocronisrrJo como a tendência a "faze»- uma coisa de cada ver,f
t Hall afirma que "a cultura americana é caracteristicamente monocrô- ração social não vêem osoutros, nem os tratam como objetos, mas co
nica" (Hall, 1959, p. 138), e compara esse traço cultural americano ao mo pessoas. Aceitam-se e estimam-se pelo que são. independentemen
P policronismo de outras culturas: te de suas posições empresariais, ou seu status no ambiente competiti
c vo do mercado. O tempo,em seu sentido serial, é esquecido, quando a
"Na Siient language, descrevo duas maneiras contrastantes de conside pessoa se envolve naexperiência do tempo convivial.
rar o tempo, a monocrônica e a policrônica. A monocrônica é caracterís O tempo de salto é um tipo muito pessoal de experiência tempo
tica de pessoasde baixo grau de envolvimento, que compartimentalizam ral, cuja qualidade e ritmo refletem a intensidade do anseio do indiví
P o tempo. .Planejam uma coisa para cada hora. e ficam desorientadas se duo pela criatividade e o auto-esclarecimento. É um momento muito
D tiverem que lidar com muitas coisas ao mesmo tempo. As pessoas poli- importante na vida de uma pessoa criativa e perscrutadora, isoladamen
crónicas, possivelmente pelo fato de estarem profundamente envolvi te ou na companhia de outras pessoas igualmente sintonizadas com o
O das umas com as outras, tendem a manter várias coisas em operação ao mesmo tipo de indagação. Éo impulso temporal das fenonomias.
G mesmo tempo, como os prestidigitadores. Portanto, a pessoa mono O tempo de salto não se enquadra no domínio do Chronos. A
crônica muitas vezes acha mais fácü funcionar se lhe_é_possível separar mente grega concebia o Chronos como uma dimensão da parte do cos
O as atividades em termos deespaço,fHqVHIIPVpHmi HBV mos restrita e regulada pelo tempo, e além daqual estava o que Anaxi-
O VBHHranHQ^I Hs. No entanto, se esses dois tipos estiverem in mandro denominava o apeiron, isto é, o infinito, o Uimitado, de onde.
teragindo reciprocamente, grande parte da dificuldade que experimen- em última instância, provêm todas as coisas.13 Parece-me que é deste
O tam pode ser superada peia adequadaM WÊ~ (Hall, último conceito que emerge o tempo desalto, para tornar-se parte do
1966, p. 162). Jmniilll^Bli^iiw
o terreno do Kairos, palavra grega que antes designa um tempo não
quantificável e que é constitutivo das percepções humanas do processo
o Na verdade, a avaliação que se faz no Ocidente da orientação, que conduz aeventos cntiçosjhj gA^o^^^^m^}^
temporal das pessoas que vivem em sociedades periféricas e primitivas peSBgr^fiilWtffrWW WpwHI tÊmfmSSmmiÊSí
o como uma indicação dé preguiça, ou de falta de motivação para reali afB||^||P^flBfrlfl(H!Pp^rflTrrp^flPRBíWB!Wâ^Os psicólogos reconhe
o zar coisas, não é senão uma expressão de paroquialismo cultural. cem que esse tipo de tempo é um dactum, em certas circunstâncias da
A participação em cenários sociais que não sejam economias exi experiência humana. Tem alguma semelhança com aquilo que Laing
o ge propensões psicológicas que, muito freqüentemente, muitos indiví
< duos deixam de desenvolver. Exemplo extremamente expressivo disso 13 Sobre a noção deapeiron, veja Kahn (1960) e Seligman (1962).
( 168
169

(
(_
1
I
(1967) chama de tempo eterno - eonic time, uma característica de dência de tempo de salto é marcada por altos e baixos do estado de es
profundos acontecimentos subjetivos (Laing, 1967, p. 128). Constitui, pírito do indivíduo, e é experimentada numa misturade sofrimento e
também, uma preocupação central de Jung e Progoff, em suaaborda alegria. Os baixos podem ser profundamente depressivos, mas repre
gem da psique humana. sentam os passos necessários que os indivíduos precisam dar, a fim de
Jung fala de acontecimentos de sua própria vida como ocorren consumarem suas metas autogratificantes. Quando passam os sofri
do "fora do tempo" (Jung, 1963. p. 225) e pertencendo ao "reino mentos que uma pessoa bem-sucedida teve que suportar numa busca
desprovido de espaço" (Jung, 1963, p. 226) da psique. Sugere ele que criativa, são eles encarados como experiências gratificantes. Após a pe
o significado de tais acontecimentos é apreendido no contexto de ex nosa provação de um bem-sucedido ato de criação, as pessoas geral
periências simbólicas em que, como explica Progoff, prevalecem "ima mente afirmam que seriam capazes de dar os mesmos passos, se se vis
gens desprovidas de tempo" e "espaço desprovido de espaço" (Progoff, sem novamente na posiçãode ter que escolher. O tempo de salto é um
1973, p. 53, 135). Quando entregue a experiências simbólicas, o indi momento importante de esforços criativos autogratificantes.
víduo ultrapassa os Ümites sociais imediatos da vida cotidiana. Énesse A ocorrência de tempo de salto é freqüente nos informes sobre
sentido que devemos entender que toda socialização é uma alienação progressos marcantes conseguidos por pessoas criativas, inclusive in
do mundo interior da psique. A socialização tem aspectoscontraditó ventores, reformadores, administradores, cientistas, novelistas, pinto
rios: sem ela o indivíduo não sobrevive como um membro da espécie, res e poetas. Em suas carreiras, um padrão pode ser configurado: a)em
mas quando inteiramente dominado por ela, o ser humano - homem >3 ovK/ geral, são pessoas que apreciam e sabem como trabalhar com elas mes
ou mulher - perde o caráter de pessoa. mas, sozinhas (coisa que asfenonomias se destinam a proteger); b) pa
Soren Kierkegaard (1962) e Henri Bergson (1966) descreveram, recem ter uma nítida compreensão daquüo que devem fazer; c) man
ambos, um tipo de criativa experiência humana que só ocorre quando '• • ! têm-se ocupadas, como se fossem movidas poruma compulsão interior
o indivíduo consegue rompei os limites do social^A experiência envol (o que constitui um indicador fundamental do tempo de salto), que os
ve um salto do fechado para o aberto(r5ergson7l956, p. 77), das nor capacita a realizar coisas que estão além do alcance das pessoas
mas sufocantes que caracterizam uma era peculiar para dentro da eter comuns.
nidade. Especialmente em KierkeRaard, o salto é equivalente à Já existe alguma perícia especializada - expertise - parao pla
autodescoberta individual. <^ nejamento de ambientes que parecem ter as características de fenono
o pessoa aprende a ajudar-se a si mesma'' (Kierkegaard, l9T7."p. i8). É mias. As equipes de pesquisa e desenvolvimento que trabalham em
oDvioqu^^rrirazaoaeTW^aT^i^^rraisocial, o conteúdo de saltos corporações empresariais e organizações como a Rand Corporation e a
o existenciais só pode ser articulado através de uma linguagem simbóli Nasa, tipos especiais de forças-tarefas governamentais, não seriam bem-
c ca. Pode-se argumentar que o domínio da experiência simbólica é es sucedidas se não estivessemdisponíveis habüidades especiais para a ge
tranho à teoria organizacional, mas sustento que qualquer teoria orga rência de" fenonomias.14 Contudo, um esforço concentrado precisaser
o nizacional que faça abstração da experiência simbólica deixa de de agora articulado, para que se desenvolva e consolide uma perícia ade
G sempenhar seu papel humanístico. A teoria organizacional verdadeira quada à criação de sistemas sociais de caráter mais alternativo do que
aquele visualizado pelas unidades de especialistas, organizadas pelas
G
O

mente humanística tem que estar criticamente consciente de que os


modelossociais do homem são semprecategorias de conveniência. Mas
a conveniência não é a única preocupação do conhecimento organiza
:/ instituições representativas dosistema de mercado.
Chamo um tempo dedireção inconsistente de tempo errante. As
cional; este deve ter sensibüidade para aquilo que, no ser humano, nã pessoas afetadas pelo conceito de tempo errante têm uma experiência
G podeser reduzido a termossociais, de modo a impedir a fluidez da psi imprecisa de sua agenda^existencial, se é que têm alguma espécie de
que humana e sua deformação comosimples espécime de episódica vi agenda. ATmcünstSaãpem vez de sua própria vontade em relação a
G da empresarial. Deve ser capaz de ajudar o indivíduo a manter um um propósito, modelam diretamente o curso de suas vidas. Para ilus rdívA
(! sadio equüíbrio entre as exigências exteriores de sua condição corpo trar casos concretos de tempo errante, pode-se pensar imediatamente
rativa e sua vida interior. Dessa forma, o tempo serial precisa ser reco em pessoas anômicas ou quase-anômicas, tais como os mendigos e os
(
nhecido por aquüo que é, e não tomado erroneamente por tudo aquilo marginais, que de ordinário se localizam em zonas de vagabundagem,
G que o tempo significa. os trabalhadores nômades, os vadios, os mascates e, em alguns casos,
G cidadãos aposentados ou desempregados. No entanto, o viver deacor-
São abundantes as fontes teóricas sobre a experiência de tempo
(
de salto. Nos esforços automotivados de homens e mulheres, a inci- 14 Veja,por exemplo, Gordon (1973).
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f do com os caprichos do tempo errante pode ser, temporariamente, ca
t paz deamduzirao desenvolvimento pessoal. Supõe-se que muito do mivivência

( que Ge^fPnfc conta em ^ÊI^fÊÊÊÊÊSUMjáJ^ndon ires aelqualquèr relaç


autobiográfico, e certamente que suaex^nêTOaTomTTWcTitor sem Ao proporcionar a seus membros essas"õportunidades, as socie
( vintém nessas cidades, durante amocidadejhe enjn^^çonweender toJ dades antigas interpretavam-se como réplicas do cosmos, e assim se
melhor asi mesmo eàsua vocação|^ ^e fBH^^^K|arece conformavam a prescrições de caráter sagrado, ou quase-sagrado. Em
f mostrar um tipo sernelbj^^^wnjnçjaiuv|n^Mi^õ'. De <y> taissociedades, as pessoas dispunham de muito tempo não relacionado
i idêntico significado c£fl W, deB t Hemi^^pa narra à sua condição detrabalhadoras, noqual se poderiam engajar em obje
ção de seus dias de busca de identidade, quando era moço evivia em tivos auto-gratificantes. Em seu calendário, o caráter das horas, dos
( dias, dos meses e dos anos refletia o interesse_que tinham pelas iriúltiw
Paris. As agências de turismo e viagens parecem saber como organizar
( excursões destinadas a revigorar pessoas que procuram um meio de se pias impUcações da£| o sagrada <jflV Na IdadeMédia.JHR
üvrar, por algum tempo, da obrigação de se preocupar com aquüo que dias em cada ano eram dias de nãotrabalhar. mdumdoj^Momingos.
c farão em seguida. Na verdade, um know-how visando recuperar para a
(] corrente mestra da sociedade os cidadãos sistematicamente atacados to. Em Roma,
da síndrome do tempo errante deveria constituir ponto importante mais^uTnenõTnTTmKmo período, 65 dias eram reservados para osjo
( para osplanejadores de sistemas sociais alternativos. gos. Na Roma da segunda metade do segundo século da era cristã, os
( Um dos objetivos desta tipologia é pôr a nu o processo de unidi jogos ocupavam 135 dias e, mais tarde, no quarto século, 175 dias."
mensionalização de tempo, que vitima a maior parte das pessoas viven Agora, mal se pode captar o sentimento de festividade e de celebração
( do na sociedade de mercado. As teorias econômica e organizacional que animava aquelas datas calendárias.17 Ao contrário, é fundamental
( típicas focalizam o tempo numa estreita perspectiva unidimensional. nas sociedades contemporâneas o fato de que não há dia, no calendá
Consideram apenas o tempo serial, negligenciando sistematicamente os / rio, livre da penetração das prescrições temporais inerentes ao merca
( objetivos humanos que não são funcionalmente prescritos pelo sistema do, que se apoderou das funções das agências sagradas e se transfor
c de mercado. Aceitam o tempo social inerente ao mercado como deter- mou no árbitro da temporalidade como um todo.
minativo da natureza da temporalidade social em seu conjunto. Épre Semelhante sincronização deveria ser ao reverso, ajustando o
o cisamente essa situação que as dúetrizes paraeconômicas e seus plane mercado para funcionar em consonância com as exigências dos siste
c jamentos procuram superar. Os indivíduos excessivamente acomoda mas sociais que elevam a qualidade da vida comunitária em geral, da
dos à orientação temporal imanente ao mercado mal podem com convivência e da atualização pessoal dos indivíduos. Essa tarefa tem si
o preender a extensão eanatureza de sua deformação psíquica. Uma te do empreendida, neste país, por muitos cidadãos, engajados numa sé
rapia destinada a curar essa deformação pode, talvez, ser desenvolvida rie multifacetada de experiências sociais alternativas. O estudo das im
G pUcações de política que isso encerra e das tendências afins será feito
como um conjunto de procedimentos capazes de ajudá-los ase dedica-
G rem a experiências não-seriais de tempo no capítulo seguinte.
"*ívc j que
G
BIBLIOGRAFIA
O
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G tfmmas cSÃ gP Deveríamos tentar entender a mensagem dessa pa- Barash, DP. Sociobiology and behavior. New York, Elsevier North-
toloSnoBaLNa realidade, a sociedade centrada no mercado tem Holland, 1977.
G privado o indivíduo da variedade de experiências de tempo que ele
G sempre encontrou à sua disposição, até osurgimento dessa sociedade. 16 Veja de Grazia (1964, p. 82).
V 15 Sobreeste assunto,veja Linder (1970). 17 Veja Cox (1970).
173
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Thompson, J. Organizations in action. New York, McGraw-Hill, 1967. mias são consideradas apenas como uma parte do conjunto da tessitu
lCj&
.•--
r
Tuan, Yi-Fu. Topophilia. Englewood, New Jersey, Prentice-Hall, ra social. Contudo, a paraeconomia pode ser entendidatambémcomo
1974. proporcionadora da estrutura de uma teoria política substantiva de
Van Beinum, H.J.J. The Design of the new radial tyrefactory as an alocação de recursos e de relacionamentos funcionais entre enclaves
( open socio-technical system. London, Tavistock Instituto of Human sociais, necessários à estimularão qualitativa da vida social dos cida
Relations, HRC 150, 28 Oct. 1968. dãos. Não foi desenvolvida ainda uma enunciação sistemática dessa
( Waldo, D., ed. Temporal dimensions of development administration. teoria, embora já se encontrem disponíveis contribuições fragmentá
(' Durham, North Carolina, Duke University Press, 1970. rias para sua elaboração. Ademais, em palavras e atos, há muitas pes
Webber, M.M. et alü. Explorations into urban structure. Filadélfia, soas cujas atividades as qualificam como paraeconomistas, isto é, indi ; to
G University of Pennsylvania Press, 1967. víduos que estão tentando implementar cenários que representam al
c Wilson, E.O. Sociobiology, the new synthesis. Massachusetts. The ternativas dos sistemas centrados no mercado.1
Belknap Press, of the Harvard University Press, 1977.
O Woodward, J. Industrial organizations: theory and practice. London, 1 Há, por exemplo, uma coloração paraeconômica nos trabalhos e no pensa
Oxford University Press, 1965. mento de indivíduos como Kenneth Boulding, Barry Commoner, René Dubos,
< Gunnar Myrdal, C.B. MacPherson, John Gardner, Ralph Nadcr e Hazel e Carter
Henderson. O que é mais característico dessas pessoas é seucompromisso deva
O lor, sua posição de confronto, relativamente aos tipos de disposições organiza
G cionais predominantes. Do ponto de vista normativo doparadigma, o consultor
/paraeconômico deveria ser seletivo, ao aceitar incumbências, porque está dispos
G to a pôr sua perícia a serviço apenas das promoções que visem criar e implemen
tar planos de vida pessoal e coletiva sem características de mercado, oude eco
O nomias existentes em que perceba umainclinação paramudanças que melhor as
capacitem aatender a necessidades genuínas, do indivíduo e do público.
G O paraeconomista, portanto, não deveria serconfundido com o que
Tc I chama de Odocrata. Toffler define a adocracia como uma força-tarefa
G que ajuda as organizações a atingirem suas metas, sem questionar, sistemaüca-
mente. a natureza delas. A adocracia de Toffler é uma conseqüência de um tipo
G ± O de JÈ ^^^MBtto que considera o aluai e abrangente sistema de mercado
corr^^m^^rPi He, portanto, procura legitimar as mudanças decorrentes de
G V sua dinâmica intrínseca. Concebe-a ele, especificamente, como um instrumento
para aumentar a "capacidade deenfrentar - cope-ability" das economias exis
( /)iS> tentes (Toffler, 1970, p. 257).
O Nesse sentido, não há, na atividade profissional do adocrata^ ou do
consultor comum,intenção delimitativa. Contrariamente a essaorientação, a pa-
177
176

i) I

K
Em oposição ao enfoque centrado no mercado que ora prevalece sentido único - one way -, características daquüoque Kenneth Boul-
em relação à análise ejüanejamento de sistemas sociais, o paradigma ding e seus associados chamam de economia de subvenções (grants).2
paraeconòmicõ^ãdvbga üma sociedade suficientemente diversificada Pòf exemplo, existem sistemas sociais, sobretudo aqueles que utilizam
um mecanismo alocativo de troca para distribuição de bens e serviços
para permitir que seus membros cuidem de tópicos substantivos de vi típicos ao público, cuja eficácia é avaliada através da contabüidade
da, na conformidade de seus respectivos critérios intrínsecos, e no
convencional de preço/lucro. Mas a qualidade e o desenvolvimento de
contexto dos cenários específicos a que esses tópicos pertencem. Do uma sociedade não resultam apenas das atividades desses sistemas cen
ponto de vista da política paracconômica. não apenas as economias trados no mercado.Qualidade e desenvolvimento resultam também de
que já constituem o enclave do mercado, mas também as isonomias c uma variedade de produtosLdisirjJiuJüos a^ra^_dejjrocessos alpcafF
fenonomias e suas diversas formas mistas, devem ser consideradas vos que não representam troca. A avaliação da eficácia desses proces
agências, através das quais se deve efetivar a alocação de mão-de-obra sos alternativos e de seus ambientes sociais envolve mais do que uma
e de recursos. É neste último sentido que a delimitação dos sistemas contabilidade direta de fatores de produção. Sua contribuição para a
sociais é aphcável tanto no nível da sociedade, quanto a nível macror- viabüidade do conjunto social não pode ser determinada numa estru
ganizacional. Em outras-palavras, da mesma forma que as ecoriorru^ tura convencional de custo/benefício. Esses sistemas, normalmente,
as isonomia^e fenononüas^devem também ser consideradas agências não podem funcionar, a menos que sejam financiados por subvenções.
legítimas, necessárias a viabüidade da sociedade em seu conjunto. A complexa questão de saber quais as atividades que. numa sociedade,
Há duas maneiras básicas para implementação de diretrizes e de deveriam ser financiadas por subvenções, ou organizadas segundo um
cisões alocativas na sociedade: transferências nos dois sentidos - critério de troca, e o tipo de apoio político de que um Estado necessi
two-way -, características da economia de troca, e transferências em ta para atender às funções desse último tipo delimitativo. estão além
do objetivo desta análise.3
raeconomic c concebida como uma categoria depensamento confrontativo c de-
limitativo. Assim, o consultor paraeconômico está decidido a trabalhar apenas Beyond the siable State, Schon (az a suposição de que. atualmente, o governo
para as mudanças que tenham significado, do ponto de vista de seu paradigma dos EUA não dispõe de capacidades institucionais para atender às necessidades
rssoal sobre a boa ordem dos negócios humanos e sociais. de nossa complexa sociedade. Uma das razões principais dessa deficiência insti
/£** No momento, há poucas pessoas quepoderiam serclassificadas como ati tucional é o sistema centralizado de formulação de política, à base do qual o go
vistas paracconômicas. Contudo, uma posição paracconômica tem. cada vez verno trata as agências administrativas, a nível estadual e local, como se fosse
c mais. passado a constituir dimensão saliente de consultores de primeira classe, preceptor delas. As inovações, nesses níveis, são sufocadas por esse modelo su-
pcrccntraüzado de formulação de política. Schon reconhece a necessidade de
o neste país. Por exemplo. A. K. Bicrman aproxima-se muito daquilo que pode ser
encarado como um agente de uansformações paracconômicas. Tem ele partici
•i3 superar o "conservadorismo dinâmico" dos centros de formulação política do
c pado de alguns programas de vizinhança, cm São Francisco, de acordo com o govcmo c considera que c necessário deixar mais espaço para iniciativae imple
que merece ser definido como uma csUatcgia paracconômica. Acima de tudo, a mentação descentralizada de políticas públicas e, para transformar o govcmo
o ação de Bicrman reflete suas opiniões sobre aquilo que uma cidade devena ser, atual num sistema público de aprendizagem, sugere ele o "planejamento, o de-
comoestá enunciado cm seulivro 77/e Philosophy ofurban exisience. Da mesma nvolvimcnto e a administração de redes" (Schon, 1971, p. 190), que habilita-
o forma que Milton Kotlcr cm suas propostas de govcmo de vizinhança. Bicrman ão o govcmo central "a funcionar como facüitador da aprendizagem social, e
percebe também que as políticas seguidas pelas autoridades locais para desenvol não como treinador da sociedade" (Schon, 1971, p. 178). A administração das
o ver asartes reforçam, de modo geral, o imperialismo do centro da cidade cm re redes, tal como ele a concebe, é obviamente uma abordagem de oposição ao mo
lação à comunidade como um todo. Salienta ele que "a mentalidade de museu delo de sistemas sociais e, ao que se supõe, a Organização de Inovação Social e
o de centro artístico, que parece hipnotizar Nova Iorque, Los Angeles c Washing Tecnológica (Organization for Social and Tcchnological Innovation - OSTI),
ton", na realidade ajuda "a preservar o valor imobiliário do centro dacidade" c presidida por Schon cm Cambridge, Massachusetts, é, ate certoponto,exemplo
o a "promover a encantação dos suburbanos, fazendo-os voltar à condição de ur de agencia paraeconômica. Além disso, cm outros livrosSchon desenvolveu tam
banos, nem que seja numas poucas noites do ano. por ofera de uma folia de in- bém uma metodologia para inovação em geral c em termos tecnológicos. Esses
o gressos" (Bicrman, 1973, p. 183). Oprograma artístico de vizinhança, que Bier- podem ser importantes elementos subsidiários para a criaçãoc a implementação
TnãTãjudou a estabelecer, resistiu a esse tipo de política centralizadora. Adue- de modelos "convivais" c assemelhados, similares aos que são propostos por Ivan
o IUich, E.F. Schumachcr c Victor Papanek, defendidos comoopositores necessá
çãodo programa conseguiu persuadir as fundações locais, o prefeito e os super
rios à completa abrangência do presente sistema industrial de mercado.
o visores a contribuir para a organização defundos que chegaram a vários milhões
2 Veja, sobre isto, K.E. Boulding (1973), K.E. Boulding & M. Pfaff (1972) e
de dólares. O sucesso desse programa levou Bicrman à convicção deque a idéia
o de programas artísticos de vizinhança é bastante forte, em São Francisco, para K.E. Boulding,M. Pfaff& A. PfafT (1973).
servir comoalternativa exeqüível parao modelo tradicional de arte centralizada. 3 Expandindo o arcabouço teórico apresentado neste livro, George K. Najjar
o Os pressupostos sistemáticos aqui associados com a categoria paraeconô- focalizou o processo de elaboração orçamentária como instrumento de desen
micapodem, também, estar permeando os esforços de Donald Schon. No Iívto volvimento econômico (Najjar, 1978).
i)
178
179 .1

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xpdsM •CiO/v b ;
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í
f Os modelos alocativos que predominam são baseados numa con pontos cegos, as políticas alocativas do governo têm sido incapazes de
t cepção muito estreita de lecmiotede produção. Nesses modelos, re ultrapassar o círculo vicioso do sistema de mercado, para tirar vanta
f cursos ejirqdução são entendidos apenas como insumos e produtos de gem das possibüidades existentes de construção de uma variedade de
atividades de natureza econômica. Em outras palavras, é o mercado ambientes produtivos, que não dispõem de dinheiro, como parte de
;<
» que, em última análise, determina õ~qlie deve ser considerado como uma sociedade multicêntrica.
recursos e como produção. Assim sendo, não se considerafolrnalmêiP" Há hoje em dia uma difundida preocupação com o problema dos
»( te como fatores contributivos da riqueza nacional aquüo que resulta recursos finitos. Na realidade, é fato que numerosos recursos físicos
,( da iniciativa de membros de uma unidade doméstica que, sem perce- de crucial importância, de que o sistema de mercado necessita para
( berenLum salário, se ocupam de atividades como coziima^Jimpar. que possa continuar operando, são de caráter não-renovável e podem
(
cojrturar^cultivaTverd^uaí, preparar conservas) cuidar de jardkw, deco exaurir-se a longo prazo. Mas a compreensão predominante desse pro
rar a^casa, tratarmos doentes, promover consertos e instalações, educar blema é deformada. Tem sido interpretada, por exemplo, como con-
,( ^êTcríanças e exercer a stipervisãojlelas. Da mesma forma, o cidadão ducente a limites ao crescimento. Isso é uma qualificação errônea. Na
que, sem ser pago põrisso, participa das reuniões da igreja local, de verdade, como sugerido anteriormente, flHM HBBHflB Qbs
( conjuntos artísticos e educacionais de vizinhança e de esforços de au inclui mais do que aquüo que o mercado se inclina a definir como re
( xilio próprio de todo tipo, não é considerado como recurso. Nos paí curso. Inclui £mp)es^aJ4Pcas ejajg^Ds. para as quais a episte
ses periféricos, uma grande parte da população que trabalha como moíogia mecanística inerente à lei clássica da oferta e da procura não
( camponesa do ponto de vista convencional não é considerada como tem sensibilidade. No mesmo sentido, o argumento em favor das estra
í produtiva, na medida em que o produto de suas atividadesjião é co tégias de crescimento zero é, em grande parte, uma admissão da ban-
mercializado. Não obstante, osmembros da família, o'cidadão partici carrota da pre, stema de mercado. Entendo,
( pante e õs""camponeses que provêem o próprio sustento produzem, contudo, que do4Bi Ki não representam,
C efetivamente. Tem sido estimado, por exemplo, que o valor do traba necessariamente o. i*.^HiMMPwmM§re
lho doméstico, nos EUA, representa cerca de um terço do produto na su nanecem ociosas, graça
( cional bruto e a metade da renda disponível do consumidor (Burns, falta de adeq organização ^^pBRi-
c 1975, p. 14). No entanto, pelo fato de não ser o produto do trabalho o ponto de vista paraeconômico, os recursos são infinitos e
doméstico diretamente transferível para o mercado, é ele ignorado não há limites ao crescimento. Ironicamente, a tese dos limites ao cres
c pelo sistema oficial de estatística. Semelhante sistema pressupõe que a cimento pode muito bem representar a oportunidade para revelação
produção é equivalente à venda, e que o consumo seequipara à com de um vasto horizonte de possibüidades para uma explosão de cresci
c pra. ~~ mento, tanto em termos de produção quanto de consumo. Para toma
o rem reais essas possibüidades, os indivíduos, as instituições e os gover
nos precisam livrar-se dos antolhos conceptuais inerentes aos modelos
G
alocativos centrados no mercado. De um modo geral, os principais
O pressupostos desses modelos podem ser articulados como se segue:
O 1. Os critérios para avaliação do desenvolvimento de uma nação são
essencialmente os mesmos que dizem respeito às atividades que cons
O duo produtivo não é, necessariamente, um detentor üe emprego.-"A tituem a dinâmica do mercado. Nessa conformidade, o volume do
O identificação de um com o outro constitui uma das principais üusões PNB, emsu^conmtuação convencional, a
e um dos pontos cegos mais importantes dos modelos alocativos ^| Bas. a percentagem da;
o predominantes. Outra ilusão e outro ponto cego é apressuposição de "'lürilí""tia-*—*»° tudo isso é tomado como indicadores importantes
Q que o montante e aqualidade do consumo do cidadão estão expressos do desenvolvimento.
naquilo que ele compra. Na realidade, o mercado não considera, em 2. Há uma presunção de que a natureza humana se deline como o
(J larga medida, aquilo de que as pessoas necessitam e apenas "sabe o conjunto de qualificações e de disposições que caracterizam o indi
que é que as pessoas são levadas a comprar" (de Grazia. 1!
O Ernoutras palavras, ~~ víduo como um detentor de emprego e como um comprador insaciá
vel. Assim, o processode socialização, em especial, precisaser engrena
( ^•Cde Grazia, 196"47p. 215). Presas entre essas ilusões eentre esses do para desenvolver o potencial dos cidadãos para serem bem-sucedi-
í 180
181
i
CL. I
Para propósitos Uustrativos, seráconveniente uma reavaliação do
trabalho de Robert Dahl e Charles Lindblom, cujoelegante e significa
tivo livro Politics, economics andwelfare, pubhcado em 1953, contém
3. A eficácia da organizaçáU l! llüü lHS.lllU!ÇUeü"em geral é mensu mais do que aquüo que os próprios autoresse propuserama explorar.
rada do ponto de vista de sua contribuição direta ou indireta para a Apresentam eles, sob forma conceptual, quatro modelos de escolha e
maximização das atividades do mercado, o que levaa tipos unidimen- alocação: a) o sistema de preço (controle de líderes e porlíderes); b)
sionais de teoria e prática organizacionais, e a modelos de ciência po hierarquia (controle por líderes); c) poliarquia (controle de líderes);
lítica de que são exemplos a teoria convencional da escolha pública d) barganha (controle entre líderes). Minha argumentação é a de que,
e a atual teoria econômica. desembaraçados de sua abrangente intencionalidade econômica, esses
O descontentamento com tais modelos tem sido manifestado em modelos poderiam muito bem proporcionar os alicerces teóricos do
muitos pontos do mundo acadêmico, valendo a pena salientar que processo alocativo, e servir como instrumentos de um sistemajjplíri*-
ciência política e análise política, como são convencionalmente enten co multicéntrico. Em particular, jflMp eggtÊÊfÊtpõdêúam ser
didas estas expressões, consistem, sobretudo, numa tentativa de enfo encaradas como modelos alocativosdecategorização de funções go
que do processo de formulação política, de sua implementação e ava vernamentais, necessárias para estímulo deenclaves isonômicos e feno-
liação, do ponto de vistada racionalidade instrumental inerenteao cál nômicos e para proteção desses enclaves contra apenetração do siste
culo econômico clássico. Não é de admirar que autores que adotam ma de mercado. Uma leitura cuidadosa do livro desses autores indica
esses modelos políticos se esforcem para acentuar o caráter científico que os mesmos demonstram uma alta sensitividade atópicos substan
da teoria política, tomando emprestados conceitos pertinentes aos tivos da alocação de recursos. No entanto, sendo o caráter econômico
campos da pesquisa operacional, da análise de sistemas, da análise de a- preocupação global de seu Üvro, deixa de ser claramente definido
custo/benefício, da tecnologia de computação, e presumindo que o aspecto paraeconômico dos modelos apresentados. Tivessem os au
abordagens e métodos quantitativos são realmente os melhores, senão tores desenvolvido uma distinção sistemática entre racionalidade subs
os únicos, instrumentos para aperfeiçoar o estudo da formulação polí tantiva e funcional e suasimpücações políticas, e é provável que tives
tica.4 O caráter limitado de tal orientação tem sido muito bem assina sem chegado perto da articulação de muito daquüo que constitui o
lado por diversos especialistas.5 No entanto, esse esforço críticoainda paradigma paraeconômico.
não resultou numa alternativa para o modelo de ciência política con Por exemplo, Dahl e Lindblom usam as expressões 41
(
vencional.. Acho que o paradigma paraeconômico é, pelo menos, um • ' e 'afBÉÍHflrte" como cambiáveis, isto é, como ações "que vi
amplo e incipiente arcabouço teórico dessa alternativa. sam maxjai aMttttfBMttta", na medida em que "a satisfa
( ü fBHWPWpBBBHBBB acrescenta duas qualificações essen- ção daiT^H^^^^^Wameta" (Dahl eLindblom, 1963, P^^
O ciais ao exame do tema ciência política/análise política.^| B Ao mesmo tempo, desejariam que oleitor compreenda que há 'MB*
admite que os métodos quantitativos têm a mais alta probabüidade de" da meta" e "sgffjSHM da meta", tais como lazer e convivência, que
c ser úteis no estudo de políticas ecologicamente sadias e/ou satisfató não podem ser avaliados segundo "símbolos quantitativos como •efi
o rias de maximização de lucro; contudo, esse aspecto é visto como uma cientes' " (Dahl e Lindblom, 1963, p. 40). Reconhecem eles, indireta
área restrita de interesse, no domínio da ciência política. HH mente, a realidade dos enclaves isonômicos e fenonômicos, quando
o afirma que há políticas normativas e substantivas de alocação que são frisam'que "é nos grupos pequenos que a maior parte das pessoas se
c indispensáveis, se desejamos elevar o st-:tus qualitativo do sistema so apoia para conseguir amor, afeição, amizade, 'o senso de beleza' e
cial em dimensão macro. Em outras palavras, a utUizaçãode modelos respeito" e assinalam que os mesmos "suportam a carga principal da
o convencionais de política tem que ser compatível com a lei da adequa doutrinação e da formação de hábito em identificações e normas,
ção de requisitos. Precisamos reconhecer que esses modelos assumem transmitindo os hábitos e atitudes apropriados à poliarquia" (Dahl e
o Lindblom, 1963, p. 520). Mais especificamente, afirmam:
uma conotação ideológica, quando vão além do contexto específico 1
(1 do enclave do mercado e pretendem agrupar sob seus critériostodo o
processo social da alocação de recursos. "Na medida em que é de qualquer modo possível, grande parte da
( 'boa vida* éencontrada, parajjnaoria_das pessoas, nospequencsgu^
o 4 Sobre isto, veja Tribe(1972).
s Veja Churchman (1971);Tribe (1971, 1973,1976); Dolbeare (1975);Kramer
(1975). 183
<

í
182
(
(
<^
mente são possíveis exceto em pequenos grupos. Se, de alguma forma, mais particularmente, ao tempo exigido por esse tipo de consumo. Tal
fosse possível destruir os grandes grupos e deixar tais coisas de pé, a concepção significa que um indivíduo completamente socializado é,
perda da grandeza seria bem suportável (grifo nosso). Mas se se manti necessariamente, menos do que aquüo que uma pessoa deveria ser e
pode ser. Significa, também, que osistema educacional deveria, sobre
vessem as grandes dimensões dos grupos e se destruíssem esses valo
res, o empobrecimento e a esterilidade da vida seriam incalculáveis"
M tudo, estar interessado no crescimento dosindivíduos como pessoas e,
(Dahl e Lindblom, 1963, p. 520). só secundariamente, como detentores de emprego. Além disso, na me
dida em que o consumo Uimitado de produtos do mercado é poluidor
econdu^pjs|ot|mentodo^ecursos naturais, em última análise de
A abordagem de Dahl e Lindblom da alocação de recursos é em
grande parte correta na medida em que se mantém dentro dos justos ve seifll wF
limites do enclave econômico. No entanto, como se apresenta, seu Bi O desenvolvimento de adequadas organizações e instituições,
enunciado de escolha e alocação de recursos tem um caráter confina em geral, éavaliado do ponto de vista de sua contribuição direta ou in
do, porque nele as isonomias e as fenonomias, sob a designação de direta para o fortalecimento do senso de comunidade do indivíduo.
pequenos grupos, apenas incidente e não sistematicamente são reco Isso conduz ao tipo multidimensional de teoria política e organizacio
nhecidas como categorias para a ordenação do processo deformulação nal (e de sua prática) conceptual e operacionalmente qualificada para
de política.6 o encorajamento, tanto das atividades produtivas dos cidadãos
II Contrariamente aos modelos centrados no mercado, o paradig quanto de seu senso de significativa atualização pessoal esocial.
ma paraeconômico fornece um arcabouço sistemático para desenvolvi É evidente que existe, hoje em dia, no meio acadêmico, um ge
mento de um impulso multidimensional e deümitativo, em relação ao neralizado mal-estar em relação às abordagens convencionais do desen
processo de formulação de política. Esse paradigma, dando ênfase às volvimento,7 que são desorientadoras precisamente porque permitem
alocações de recurso e de mão-de-obra nos sistemas sociais, em dimen que o mercado seja a referência principal do processo de alocação de
sões micro e macro, parte do pressuposto de que: recursos. Assim, por exemplo, elas pressupõem que um aumento no
iflPK) mercado deve ser politicamente regulado e delimitado, como volume das atividades de troca e a expansão especial do mercado se
um enclave entre outros enclaves que constituem o conjunto da equiparam ao desenvolvimento. Esse ponto de vista preconcebido fica
m\ tessitura social. Em outras palavras, o mercado tem critérios próprios, particularmente claro na forma padronizada de avaliação do fenômeno
que não são os mesmos dos outros enclaves, nem da sociedade como da economia dual, nos países periféricos. Éassim que se diz que um
um todo. Ainda, a quaüdade da vida social de uma nação resulta das país onde existe uma economia dual, ou populações vivendo em áreas
atividades produtivas que elevam o sentido de comunidade de seus ci não incluídas no mercado, é, por definição, subdesenvolvido, ou mes
dadãos. Nessa conformidade, tais atividades não devem, necessaria mo atrasado. Oconselho que os formuladores de política desses países
mente, ser avaliadas do ponto de vista inerente ao mercado. Sendo as recebem, geralmente, dos espedalistas ocidentais, éo de que, uma vez
1 • sim, a delimitação dos sistemas sociais conduz a estratégias de aloca que aeconomia dual constitui um obstáculo ao desenvolvimento, de
li; ção de recursos e de mão-de-obra, a nível nacional, que refletem uma veriam empreender esforços no sentido de incorporar apopulação in
integração funcional de transferências de sentido único ou nos dois teira do país ao sistema de mercado. Oresultado geral dessa orienta
sentidos. É preciso quevenha a ser desenvolvida uma perícia especiali ção política, não apenas nos países periféricos, mas também nas na-
zada —expertise —destinada à formulação de políticas públicas, ao
planejamento econômico e à elaboração orçamentária, que seja ade-
ções cêntnças^iigiyon^^
são aMÜÍD2SÃO,urbana oua exagerada concentração^deporjulaçao .
Íuada à delimitação dos sistemassociais. 'des oaumeotô da taxa de anomia, o agravamento da;;
í \ A natureza do homem atualiza-se através de várias atividades, formadora^ gônoracõr
-iorista' cc4H.'iodas aS^uaã-deiQfmadoras,conoraçof'
ítre as quais estão aquelas requeridas pela suacondição incidental de
psicológicas, WiliicTo d M :é cuItü73Efl?cidac &a y
detentor de emprego. A atualização humana é inversamente propor ^«;Cfln»ciraya'ri i
cional ao consumo individual de produtos e artigos do mercado e, Os s>.
! Mais ainda, o sentido
conômico e quantitativo de semelhante orientação política leva os
%
6 Em seu notável livro Politics and markets, Lindblom assinala várias conse
qüências sociais e políticas deformadoras, dossistemas demercado contemporâ i Veja, por exemplo, Mishan (1977); Ul Haq (1976); Seers (1977); Frank
neos, mas até 1953 ele nunca tratou sistematicamente das questões implícitas na
delimitação (Lindblom, 1977).
(1972); Holsti (1975); Streeten (1977); Morison (1974).
185

;; 184 1

Li
-r~
que a subscrevem a legitimar a primazia do aumento do PNB sobre a mando que de lua quase 50% da producãcsna América, sejam finan
justiça social e a distribuição da renda. ciados p°rB ^s- em lugar de^lpfeoulding, 1973, p. 1-2).
A interpretação convencional do fenômeno da economia dual é Ninguém se^ev^mpressionar com aaparente imprecisão da estimati
de extrema estreiteza, sendo o fenòrneno entendido, geralj va. As subvenções assumem múltiplas formas, algumas delas bem difí
;xisténcia, nunjajafiãtt»_dej_ ceis de definú e, assim, seu exato valor estatístico nunca será suscetí
e de HflC BBBP^SPH BrNo entanto, esse tipo de dicoto- vel de apuração. Por exemplo, há subvenções de natureza muito visível,
mia constitui uma forma particular de dualidade econômica, que é um como aquelas que são fornecidas por fundações particulares e públicas
traço normal de todas asnações contemporâneas. Najealidade. em to e por muitos tipos de doadores. São elas as menos difíceis de registrar
das elas, incluindo os EUA, há M W^c e é possível que representem o limite inferior da estimativa de Boul
' •K"- -^^BB8BBBBaçJctt Hró e os, ding. Olimite mais alto dessa estimativa refere-se, plausivelmente, a
ÍJJj l^Além disso, nem sempre são eles relacionados de maneira uma variedade de subvenções implícitas, isto é, de "redistribuições de
antagônica, e pensar assim eqüivale a incidú numa compreensão muito renda e riqueza, que oconem como resultado de mudanças estruturais
míope do fenômeno. Podem-se considerar, por exemplo, osEUA. Do ou de manipulações de preços e salários, autorizações, proibições,
ponto de vista paraeconômico, os formuladores da políticaeconômica oportunidade ou acesso" (Boulding, 1973, p. 49), assim como auma
do governodeste país deixam,em grande parte, de atualizar completa série multifacetada de auxílios que ativam os sistemas de produção de
mente o potencial de sua estrutura de produção graças à sua subjuga- orientação mutuária, que podem incluú isonomias, fenonomias e suas
ção pela mentalidade de mercado. Embora negligenciados pelos for formas mistas. ^^^^^m»
muladores de política, os sistemas de produção orientados para a mu- Existe, nos EUA, uma forma de MHPP< quc e constituí
tualidade constituem parte importante da estrutura econômica ameri- da pelo setor de subvenções e pelo setor de troca. Essa dualidade nao
na. No presente, o setor mutuário está vivo e em expansão, através de representa uma anormalidade, e um setor não deveria ser classificado
numerosas iniciativas particulares que rapidamente se multiplicam.8 segundo os imperativos de meta do outro. Ambos os setores deveriam
Concentram elas grande parte da energia criadora de que este país ne ser visualizados em sua distinta e específica natureza e como executo
cessita para superar a fase de rendimentos decrescentes em que ora se res de funções complementares e socialmente integrativas. Contudo,
encontra a própria economia de mercado, em razão das pressões ecoló as subvenções são, em grande parte, mal administradas pelos que as
gicas que sobre ela pesam. Os formuladores da política do governo não concedem, sejam de natureza pública ou particular, prisioneiros da
parecem perceber, na medida suficiente, que a sociedade americana mentalidade de mercado, e são utÜizadas adequadamente sobretudo
está gerando construtivos esquemas de alocação de recursos que, se através de técnicas de ensaio e erro, desenvolvidas por cidadãos inte
apoiados por adequadas e sistemáticas políticas, significariam antído ressados. Por exemplo, por motivos de ordem estrutural, o setor de
tos para os vícios da economia, em seu estado atual de d^^f^. Tal troca da economia americana está-se tomando incapaz de gerar opor
como o médico que trata um paciente com um remédio qüe lhe agrava tunidades convencionais de emprego em número suficiente para absor
a moléstia, tentam eles corrigir as distorções da vida social causadas ver a força de trabalho disponível.9 Éem grande parte como uma rea
pelo sistema de mercado, como, por exemplo, as m JBJF ção a essa tendência que se deveria interpretar acircunstância de que,
e a inflação em grande parte resultante de i no decorrer do ano fiscal 1977/8, 10% do aumento de empregos fica
Ecológicas, com os corretivos tradicionais do mercado. ram em mãos de cidadãos que trabalhavam por conta própria, em em
Não tomam conhecimento das energias autocurativas da sociedade, ar presas de pequeno porte, e que 50 milhões de americanos sao, agora,
mazenadas no setor de produção de orientação mutuária. membros de empresas de natureza cooperativa.10 Acho que aincapa
O caráter obstrutivo do sistema a que se filia a política oficial cidade do sistema de mercado predominante de absorver totalmente
apopulação de indivíduos em idade ativa éinterpretada de modo in i
americana reflete-se, também, em seu desprezo por aquüo que Kenneth
Boulding chama de tllllllHHPIHMQjM'. Como salienta ele, as correto, pelos formuladores convencionais de políticas, públicos epri
subvenções constituem agora uma parte substancial dos fundosdispo-. vados, como uma vicissitude temporária da economia. Uma conse
níveis para o financiamento das atividades produtivas do país, esti- qüência é que as pessoas forçadas ase juntarem àmassa dos beneficiá
rios da previdência eda assistência social são degradadas socialmente,
8 Sobre a variedade dessas iniciativas,veja Henderson, Carter (1977/8); Hender-
son, Hazel (1978); Stravianos (1976) e o número especial do Journalof Applied » Veja Yankelovich (1978).
BehavioralScience, 9(1973); Berger & Neuhaus (1977). «o Veja Henderson, H. (1978, p. 390, e 1978b).
186 187

i
uma ástematizaçâo dos padrões de pensamento inerentes ao sistema
em razão de suacondição de desempregadas, ^^f^S^Í^' de mercado, a economia convencional admite que os critérios para
avaliação do bem-estar social sejam os mesmos para todos os países e,
.SKw-Mconduzindo àplenaocupação da força de üaba- nessa conformidade, vemos as autoridades governamentais de uma na
mo escapam àatenção dos formuladores convenaonais de política, ção periférica formulando e implementando políticas alocativas que
precisai por causa de sua subjugaçâo pela mentaUdade de merca- são expressões da síndrome da privação relativa e do efeito de
do. Um ato de imaginação poderia permitir que an»»*^; demonstração. Opadrão mental dessas autoridades edo setor interme
de ociosa, representada pelas pessoas sem empregos formais, fosse mo diário dessas nações periféricas são, assim, fator significativo de um sis
bilizada para acorrente principal do sistema de Pnduçtoumcno. tema alocativo deformado.
através dTalocação desses fundos de assistência eprevidência social, É nesse sentido que a economia convencional é o componente
não como um simples auxílio benevolente, mas como subvenções paia ideológico da revolução industrial clássica. Na melhor hipótese, vale a
financiamento das atividades e da criatividade dos cidadãos, em em mesma como uminstrumento conceptual para explicar processos ca
preendimentos de orientação mutuária ecomumtána, socialmente re aí' racterísticos da sociedade centrada nomercado. Não proporciona, po
conhecidos.
V ,J rém, areferência conceptual para acompreensão eotrato dos pontos
Um dos objetivos das políticas paraeconômicas éuma equilibra-,-, \r fundamentais da alocação, comuns a todas as sociedades. Embora
incorporando contribuições de pensadores oriundos da França e de
da alocação de recursos. Por exemplo, do ponto de*st^™^\ outros países europeus, em seus termos dominantes e essencialmente
co awStência de economia dual num país pode, afinal, ser antes uniai-a^íoaaanglo-saxõnica.>tava fadada, desde seus começos, ase
uma vantagem, em lugar de um inconveniente. Isto não quer drzer que ^o^íi^f^^nó^mpmo^dotti *I^ "?".*£
não se devam fazer esforços para desenvolver omercado num determi através da qual as nações industriais hegemônicas do Ocidente induzi
nado país. Mas oparadigma paraeconômico pressupõe que odesenvol ram oresto do mundo ase ajustar àsua inclinação expansiomsta.
vimento do mercado deva ser politicamente regulado, de modo que
não venha asolapar a base dos enclaves isonômicos e fenonomicos. Nas duas iiltimasdécadas. as conseqüências poluidoras eexauri- O
Mais ainda, reconhece ele que amelhora das condições econômicas ge- , doras da prática datíoeoTogia anglo-saxônicjporiginaram, em certos se-
rais de uma nação é compatível com aquüo que é considerado como tam de pensamento teórico, uVrea^iação crítica da economia
economia dual, isto é, acoexistência de sistemas de orientação mutuá clássica, assim como tentativas de elaboração de uma ciência de aloca
ria nos quais os respectivos membros produzem para si mesmos uma \y/M ção de recursos como disciplina ecológica. Até agora, ornais elegantee
grande parte dos bens eserviços que diretamente consomem, ede sis .^ penetrante dos enunciados que refletem essa orientaçãoi pode ser en
temas orientados para olucro, em que os membros são, essencialmen V^ contrado nos trabalhos de Nicholas Georgescu-Roegen. Na verdade, o
te, detentores de empregos, que tiram de seus salários opoder aquisi- j n n~> ^ caráter enganador da economia convencional tornou-se cada M
tivo aue lhes proporcionará todos os bens e serviços de que necesa- >. ^W^ Uno, na proporção em que alguns traços exteriores de sua^aplicação
tam Os sistemas de orientação mutuária eosetor de troca nao sao, ^ fyv^ J sistemátioi atingiam asensibilidade de estudiosos preocupados com a
por conseguinte, reciprocamente excludentes. Devem ambos ser aste- yW
- » Síton^MtomdUrtM»* e«m aexaustão das reservas de fon- I
mática e simultaneamente estimulados, através de uma eficiente utUi tiTdVeneTgia, renováveis enão-renováveis. Por mais importantes que
zação de transferências num só sentido ou em duplo sentido, para be «estudosdessesespeciaüstas devarnjwconside^rtoMeria necessário
nefício da sociedade em geral. Uma das implicações desta observação Sido que uma análise atual d^^çeej^^Presultantes da J&>
éade que, nos países periféricos, as condições da vida rural devem ser prática da economia clássica, para «orientar oprocesso de?<™W>™
consideradas em seus próprios termos e protegidas contra aindiscrimi recursos em escala muníal. Em resposta aessa necessidade, Georges-
nada e destrutiva penetração do mercado, se se tem em vista oaumen cu-Roegen estabelece os pressupostos fundamentais da nova ciência da
to de suas potencialidades de autoconfiança. Em suma, oberrwstar alocação. . ,
geral dos indivíduos que vivem num sistema dual só pode ser melhora Em resumo, Georgescu-Roegen assinala que an^"^?
do mediante uma equilibrada alocação de recursos, tanto como trans baixa entropia disponível eacessível, eque em última análise éomm-
ferências num só sentido, quanto através de transferências em sentido mo de tudo aquuTque ohomem produz, «tt^jgfigg
limitado. Uma vez que amatéria-energia tem uma tendência irreversi
duplo.
Obenwstar dos cidadãos éuma categoria cultural peculiara ca -"veTTa^nir estados de alta entropia, a produção de bens eserviços,
da país, enão émedido por critérios comuns atodas as nações. Sendo 3>r°- 189

188
D
^tzí^tt
em nome da necessidade de prolongar a existência da humanidade co do ou através da mera aceitação passiva das circunstâncias pelos agen
mo espécie, não deveria acelerar essa tendência. Osrecursos acessíveis tes históricos, ouatravés de uma criativa exploração, por esses agentes,
e disponíveis são de dois tipos, a saber: a)renováveis, istoé, aqueles de das inigualáveis oportunidades contemporâneas. Muito provavelmente
através de ambas as formas, terão eles influência.
natureza biológica que podem ser reproduzidos dentro de ciclos natu
rais relativamente curtos, assim como a energia recebida do sol e a Embora ninguém possa afirmar que tem a visão precisa das coi
energia cínética do vento e da queda d*água; b) recursos não-renová sas que estão por vir, é essencial que delimitemos a influênciadasor
veis, como o petróleo,o chumbo, o estanho, o zinco, o mercúrioe ou ganizações econômicas sobre a existência-humana como um todo, se
tros minerais cuja reprodução, se possível, demandaria longos ciclos devemos capitalizar as possibilidades contemporâneas. Porseremas or
ecológicos, o que os torna praticamente indisponíveis nos limites ganizações econômicas precisamente aquelasque mais retiraminsumos
de tempo da existência da humanidade. A produção de bens e ser do limitado orçamento da matéria-energia de baixa entropia disponí
viços deveria ser promovida mediante o máximo uso de recursosreno vel, deveriam elas ser rigorosamente replanejadas, tendo-se em mente
váveis e o mínimo uso razoável dos não-renováveis. A escassez dos re um interesse ecológico. Deveriam tais organizações ficar circunscritas a
cursos não-renováveis não é de natureza temporária e tratar sua utili um enclave, como parte de uma sociedade multicêntrica provida de
zação e alocação em termos de mecanismos de mercado, isto é, como muitos cenários para propósitos autocompensadores, envolvendo con
se devessem ser apreçados de acordo com a lei clássica da nferfo tt da _ sumo mínimo de insumos de baixa entropia.
procura, é uma ilustração da regra utihtário-hedonísta do après moi le O mundo industria] em que vivemos também começou como
déluge. Na realidade, qualquer parcela de recursonão-renovável usada uma possibilidade objetiva.13 Foi modelado no decorrer de todo um
no processo de produção estará acabada para sempre, fato que diz processo acumulativo de inovação institucional, deliberadamente em
alguma coisa sobre o caráter exauridordos macrossistemas contempo preendido por muitos indivíduos. Podemos estar agora num similar es
r f - tágio incipiente de institucionalização, de que pode emergir uma alter
râneos. Nos últimos 10anos, metadede todo o óleo crujamais produ
zido foi obtida;e, nos últimos 30 anos, foi extraída metade da quanti .1.-1 -i nativa para a sociedade centrada no mercado —a sociedade multicên
dade total de carvãojamais minerado. Insubstituíveis como são esses e trica, ou reticular.
outros minerais, seus preços de mercado, portanto, não são senão
fictícios. Se a utilização desses materiais continuar nas proporções BIBLIOGRAFIA

í''*
atuais, logo a humanidade estará privada de seu uso.11 Em conseqüên
cia dos padrões de produção e consumo que prevalecem, o mundo Berger, P.L, & Neuhaus, RJ. To Empower people. Washington, D.C,
contemporâneo vê-se diante de uma taxa sem precedentes de absoluta American Enterprise Institute for Public Policy Research, 1977.
o Bierman, A.K. The Philosophy of urban existence. Athenas, Ohio,
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colapso termodinâmico do planeta, que,efetivamente, é afinal inevitá Ohio University Press, 1973.
vel, num determinado pontodo tempo. Boulding, A.K. The Economy oflove andfear. Belmont, Califórnia,
O paradigma paraeconômico leva em consideração nãoapenas a Wadsworth, 1973.
termodinâmica da produção, mas também seus aspectos externos so Boulding, K.E. & Pfaff, M., ed. Redistribution to the rich and the
ciais e ecológicos. Como tal, representa uma alternativa para os mode poor, the grant economics of income distribution. Belmont, Califór
los alocativos clássicos (quer derivados de Smith, quer de Marx), a nia, Wadsworth, 1971
qual oferece,também, o arcabouço abrangente para uma novaciência ; & Pfaff A., ed. Ttmsfers in an urbanized economy. Bel
dasorganizações. Nada menos queuma revolução organizacional deal mont, Califórnia, Wadsworth, 1973.
cance mundial faz-se necessária, para superar a deterioração física do Brown, H. The Human future revisited. New York, W.W. Norton,
planeta e das condições da vida humana, em todaparte. 1978.
A institucionalização de uma sociedade multicêntrica estáagora Bums, Scott. The Household economy. Boston, Massachusetts, Bea
Cí em processo, em termos dispersose incompletos. Talvez venha a malo con Press, 197S. ! I

grar; ou, por outro lado,podeganhar impulso,com a nossa compreen Churchman, C. West, The Design ofinquiringsystems. NewYork, Ba
são cada vez maior dos deformadores traços externos gerados pela so sic Books, 1971.
í) ciedade centrada no maçado. Em qualquer caso, o futuro será molda- i/
11 Veja Georgescu-Roegen (1976, p.20). » Veja Ramos (1970).

190 191

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192 193

^^^•M^í***!**!*.;^^
«
f
i pies aquisição de um pacote de informações. Segundo, a ciência social
i baseada na racionahdade substantiva transcende climas episódicos de
opinião. Em períodos históricos especiais pode ser eclipsada, mas nun
f ca destruída, o que não quer dizer que a ciência social substantiva
f exista como um corpo conceptual definitivo, que tenha sido formula
do uma vez e para sempre. Ao contrário, está sempre em elaboração,
f cada época acrescendo e expandindo o legado milenar de percepções
da natureza humana e da vida humana associada. A análise crítica que
10. VISÃO GERAL E PERSPECTIVAS apresentei não tem uma intenção literal de restauração. Antes, advoga
DA NOVA CIÊNCIA a apropriação de tal legado e seu desenvolvimento, em termos que nos
capacitariam a entender e dominar o processo da história contem
porânea.
Expus neste livro, de uma perspectiva teórica, os defeitos da
P teoria organizacional existente, eapresentei oarcabouço para uma no
va ciência geral de planejamento de sistemas sociais. Esta análise expôs,
P também, as deficiências da ciência social contemporânea, de que a teo ae vista dêstelivro, compreendemos agora que essa
P ria organizacional corrente é uma parte. Apresento, no item 1deste ransformação não pode ser considerada como o único caminho que
capítulo o resumo dos pontos-chave da minha avaliação critica da tais países poderiam ter tomado, no decorrer dos últimos 300 anos.
r ciência social convencional. No item 2, defino anova ciência da orga Presa à ilusória interpretação desse fato consumado como constituin
nização como sendo centrada na perduração - endurance-centered. do a conseqüência—dc_ um necessário desdobramento da história, a
ciência soei»! corrvpnCTonaf defende a sociedade centrada no mercado
10.1 A ciência social convencional e o caráter social dela resultante como o instrumento hábil para avalia
ção da história passada e presente da humanidade. Assim, a despeito
i Araiz do caráter enganoso da ciência social convenciona] está de suas reivindicações isentas de conceitos de valor, a ciência social
no conceito de racionalidade que a permeia. Este livro enfoca uma dis contemporânea é normativa, namedida em que, na teoria e naprática,
s tinção entre racionalidade substantiva eracionalidade formal, distin nada mais é do que umcorpo de critérios deanálise e planejamento de
ção que tem sido proposta por alguns grandes pensadores contemporâ cictPma» enriaie induzidos 2 nprtir A» ..m. rnnficmn.rim histórica parti
p neos, mas que nunca foi completamente explorada por eles como um cular.^.
C dado referencial para estabelecer a diferença entre dois tipos de ciên X-limitações que exigem uma delimitação do sistema de merca
cia social. A distinção não deveria ser considerada um exercício didá do —osalicerces ideológicosdaciência social convencional ficam cada
O tico: propõe um dilema existencial a quem quer que escolha ser um vez mais adescoberto. oJJHf alternativo de ciência social esboça
O cientista social. Na verdade, em geral, a opção por uma ou outra das do neste livro*9Ê éa^H |dft. Além disso, minha crítica da socie
pontas do dilema não éconsciente, mas éfeita para os indivíduos atra dade contemporânea centrada no mercado não deve ser interpretada
o vés de sua socialização em meios acadêmicos, que por sua vez operam como uma defesa da eliminação do mercado como um sistema social
o no contexto dos parâmetros institucionais que prevalecem no Ociden funcional. Antes, reconhece como um aédito para todos os tempos
te. Oque teoricamente arruina aciência social convencional não é seu futuros a grande conseqüência acidental dahistória dosistema demer
o caráter formal; é, antes, o desconhecimento de seu caráter paramétri- cado, ou seja, a criação de capacidades de processamento sem prece ! I
co, isto é, de seu penchant para apoiar-se numa visão do mundo ine dentes que, se iisadascorretamenteM>o<tem da 1 ,
o
rente a um precário clima histórico de opinião. Em conseqüência, está • Final- í
o fadada a desmoronar, quando esse clima de opinião perde acredibili ^TreTaçao ao sistema de mercado, minha análise chega a ter
dade. Diversamente da racionalldad£..formal.i uma tintura conservadora, pois sugere que, expurgado desuas injusti
o
ficadas inclinações expansionistas, e de seus exageros políticos e so
o Jmmmmm ciais, o mercado moderno pode muito bem constituir a mais viável e
m\\.i\> \\\wm\mmmm+mmm*rmmmma**- eficiente das formas até aqui planejadas para a consecução da produ-
o . Nem se podemesmo esperar compreendê-la através da sim-
195 íi
194
'"T"!» *•.'.•'
n^^PffiPia^^^^ :•: -'"VTV •"-"•'
- /«ir
i
í cão em massa, para adistribuição de bens eserviços epara 101^ Minha análise oferece a sugestão de que, dada a possibilidade
r ST*r^eríninados tipos de sistemas sociais de natureza eco- presente da abundante produção de bens e serviços primordiais^
f nômica. _/A produção flafl f^íecessanamente, um re
( Qualquer futuro que se visualize como um desenvolvimento li sultado de atividades desenvolvidas dentro dos limites do mercado. E
near da sociedade centrada no mercado será. necessariamente, pior do constituída, antes, pelos resultados que contribuem para aumentar o
í «To presente. Aciência social deveria libertar-se de sua obsessão com gozo da vida e que, como tal, podem representar os resultados de ati
( odesenvolvimento, ecomeçar acompreender que cada sociedade> con vidades desenvolvidas no contexto de sistemas sociais não orientados
(
temporânea está potencialmente apta ase transformar numa boa so para o mercado. Nesse sentido, os recursos são infinitos enão há limi
ciedade, se escolher se despojar da visão hnear.sta da histona. Este li tes à produção. A obsessão do emprego como o único critério para
( vro aventa aexistência de muitas possibüidades para as nações do cha medir a capacidade humana de produção é um ponto cego básico, dos
mado mundo subdesenvolvido, de imediata recuperação quanto a con formuladores de política do governo e da teoriaeconômica típica que
( dição periférica em que se colocam, se ao menos encontrassem seu utilizam. Refo/mas institucionais, como, por exemplo, a implementa
( próprio arbítrio político eassim se libertassem da síndrome da priva ção de imaginativos sistemas de subvenções, podem ser planejadas para
ção relativa que intemalizaram ao tomarem asociedade avançada de recompensar múltiplas formas da produtiva contribuição do indivíduo
( mercado como o paradigma de seu futuro. àvida social, de que o emprego constitui apenas um caso particular.
Adelimitação do sistema de mercado, tal como edefendida pela Na estrutura econômica institucional que prevalece, o aumento
( das oportunidades de empreRO_exigirá a escalada da produção de bens
nova ciência, envolve a formulação e aimplementação de novos crité
( rios epolíticas alocat.vos. no contexto das nações eentre elas. ^jW de natureza demonstrativa, rrss.as limitações biofísicas à p.
iade desses critérios resulta, sobretude^de sua sensitividade as«M ...ratégia. Como acontecia antes do surgimento da so-
( raedaaWentraaanomercado, também agora, em seu declínio histón-
•fcias fjjÊÊMcas e gfiHgicas, produzidas pelas nao
( .ladasatmdades doastema de mercado. Aadministração de freios ^ j, o total emprego da mão-de-obra é de novo possível, sem que se
ao funcionamento do sistema visaa preservação, -nponha atodos os indivíduos que desejam trabalhar aexigência de se
p ^otMflPiPprneta, ájianto d*saúde psicológica daj^manjiple. Jornarem detentores de um emprego. Aignorância desse fato é parti-
ses fre.os devem ser desSbertos e inventados através de um complexo Icularmente lamentável numa hora em que a economia está, cada vez
p 'mais. perdendo sua capacidade de proporcionar empregos para todas
c processo de pesquisa, que não se classifique sob interesses hegemôni
cos nem sob ortodoxias doutrinárias de espécie alguma. Por exemplo. as pessoas que desejam trabalhar.
o «fljfl fe é estranho ao modelo paraeconômico apresentado neste Este livro nada mais éque uma enunciação teórica preliminar da
nova ciência das organizações. Como tal, estabelece uma agenda de
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r¥* condições fundamentais para qualquer bem-sucedida delimitação do
?HPÍH?a]idade. a iniciativa privada e a propriedade privada sao
mercado. Mas, numa sociedade delimitada, a iniciativa privada e a pro
pesquisa. Muito resta ainda aser feito, para transformar anova ciência
num instrumento de reconstrução social. Em seus presentes termos,a
priedade privada são defendidas do poder disfarçado dos agentes cor minha análise não discutiu, por exemplo, como poderia o Estado, sis
o porativos privilegiados, tanto quanto do Estado onipotente. Na verda tematicamente, implementar eadministrar os sistemas sociais delimita
O de o Estado já recebeu essa incumbência que, numa sociedade delimi dos. Um Estado apto a controlar o tipo de sociedade visualizado pela
tada poderia exercer de maneira mais vigorosa e sistemática, no inte nova ciência, embora exibindo características regulatórias^não^era
C resse de uma revitalizante diversificação da vida social e comunitária. um interventor socialista.
O Mais especificamente, no domínio econômico adelimitação do merca i
do acarretaria não a eliminação dosinvestidores privados, mas a vigen-
o "penhar esse papel insiiluúukria para investigação ulterior. Além
cia ^i&tám*^mMBmsmm^
;IS ítnd:!^--:>^d|^!pM!açao^aj^nsumu disso, nenhuma VMfMMal para o^ajBJÉDcnlu. aimplemen
o )un-psico]ÒKi'.^Esse tipo tação e a manutenção earticulação dos variados e complementares sis
o alismo, isto e, a propriedade estatal dos temas sociais foi apresentada neste livro. Parti do pressuposto de que a
instrumentos da produção. Exige, porém, uma redefinição das metas apresentação de diretrizes desse tipo, antes da articulação, em termos
o teóricos, da condição do indivíduo na sociedade contemporânea cen
e prioridades, de acordo com as quais os atuais controles centrais do
Estado deveriam ser exercidos.
trada no mercado, seria uma coisa sem sentido. Entendi, também, que
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m primeiro o homem deveria ser libertado df sua escravização psicológi- i A velha teoria pressupõe que a produção é apenas um assunto
ea a mentalidade de mercado. Antes de serem atingidos essesobjetivos,
qualquer conjunto de prescrições operacionais não teria, para ele, ne técnico. No entanto, o pressuposto fundamental da nova ciência das
nhuma utilidade. Estou, certamente, consciente dessa e de outras
organizações é o de que a produçãoé, ao mesmo tempo, uma questão
omissões do livro, mas estou já empenhado num ulterior desenvolvi técnica e uma questão moral. A produção não é apenas umaatividade
mento desta análise, e que é uma análise baseada naquilo que estou mecanomórfica, é também um resultado da criativa satisfação que os
homens encontram em si mesmos. Num sentido,os homens produzem
aprendendo com as experiências de pessoas interessadas que atualmen a si mesmos, enquanto produzem coisas. Em outras palavras, a produ
te, de muitas maneiras e ein muitos lugares, estão lutando paraachar ção deveria ser empreendida não só para proporcionar a quantidade
alternativas viáveis para o atual estado de coisas que prevalece no bastante dos bens de que o homem necessita para viver uma vida sadia,
mundo.
mas também para provê-lo das condições que lhe permitam atualizar
10.2 A organização resistente sua natureza e apreciar o que faz para isso. Desse modo, a produção
das mercadorias deve sergerida eticamente, porque,como consumidor
Este livro põe a nu as falsas concepções da presente teoria da or ilimitado, o homem não torna resistente, mas exaure seu próprio ser.
ganização, cujo passamento não é de ser lamentado; é,'ao contrário, Mais ainda, a produção é igualmentejjnja^miesJãOJnQral, em razão óe
um acontecimento auspicioso. seu impacto subre a iiatúTêzaTffflJoTrmroaoT Ia'realidade, a natup. .a
A teoria organizacional existente já não pode mais esconder seu nao e um material inerte; e um sistema vivo. que so pode perdurar na
paroquialismo e ela é paroquial porque focaliza os temas organizacio medida em que não se violem os freios biofísicos impostos a seus pro
nais do ponto de vista de critérios inerentes a um tipo de sociedade em cessos de recuperação.
que o mercado desempenha o papel de padrão e força abrangentes e 0 uso do verbo perdurar, no parágrafo precedente, é intencio
integrativos. Torna-se muda. quando desafiada por temas organizacio nal. A perduraçao é, ao mesmo tempo, uma categoria da existência fí'
nais comuns a iodas as sociedades. Além disso, é paroquial porque se sicaj humana e social.'Sem a consideração da perduraçao. nãose pode
alimenta da fantasia da localização simples, isto é, da ignorância da in entender o processo através do qual as coisas, os seres humanos e as
terligação e da interdependência das coisas, no universo; lida com as sociedades realizam suas individualidades imanentes. Contudo, perdu
coisas como se as mesmas estivessem confinadas em seções mecânicas raçao não envolve manutenção. É retenção de caráter, em meio a mu
de espaço e tempo. dança; é a vitória sobre a fluidez. É uma categoria de processo mental
É justo admitir que há muita coisa, na presente teoria da organi que reconhece que todas as coisas são interligadas e continuamente se
zação, que qualquer teoria alternativa deveria incorporar e desenvol empenham para conseguir um equilíbrio ótimo entre conservação e
ver. Mais do que nunca, temos agora razões para admitir que uma pro mudança, no processo que leva a uma concretização modelar de seus
messa fundamental da velha teoria pode ser cumprida: o problema da propósitos intrínsecos.1 Numa caracterização do significado geral da
pobreza, como uma condição material, pode ser tecnicamente resolvi perduraçao, escreve Whitehead:
do. Afinal de contas, essa teoria nos ensinou que o conhecimento po
de ser sistematicamente utilizado para produzir mais, para produzir "A perduraçao é a retenção, através do tempo, de uma realização de
melhor, para produzir o bastante, ao mesmo tempo liberando os ho valor. O que persiste é a identidade de padrão*, autolegada. A perdura
mens das atividades do trabalho. Ensinou-nos que, em. última análL- çao requer ambiente favorável. Toda a ciência gira em torno da ques
sp fVCial"1 c a capacidade de processar; é um verbo/ não um subs- tão de organismos que perduram" (Whitehead, 1967, p. 194).
Mas, enganaa^porumTonauolinútado de produção e de
"capital, a presente teoria da organização vê-se num beco sem saída. Esta citaçãoestabelece o cenário para a elucidaçãodos paroquia-
Aprendemos que o aumento indefinido da produção de mercadorias lismos característicos da teoria organizacional existente.
e o progresso tecnológico indiscriminado não conduzem, necessaria
mente, à atualização do potencial do homem. Nos limites dos interes 1 Será óbvio, para aqueles que estão familiarizados com a teoria de Whitehead,
ses dominantes que prevaleceram no decurso dos três últimos séculos, que esta análise é, de modo geral, influenciada por seu pensamento. Devo, con
a atual teoria da organização já cumpriu a missão que lhe cabia. A tudo, prevenir o leitor de que o uso que faço da palavra resistência - enduran-
compreensão desse fato abre o caminho para a elaboração de uma ce —talvez não corresponda inteiramente ao de Whitehead. Minha justificativa
ciência multidimensional da organização. de uma noção ampliada de resistência não pode ser desenvolvida nos limites des
tas observações finais.
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A teoria de organização convencional e a ciência social em geral tropia e a restituem emestado dealtaentropia. Fazendo isso, necessa
não se inclinam ao reconhecimento da viabüidade das sociedades não riamente esgotam e poluem o ambiente, perturbando desse modo as
ocidentais, com base em seus próprios valores. Em sua perspectiva condições exigidas para uma resistente existência física, humana e so
conceptual, a ocidentalização de tais sociedades é equiparada ao pro cial. Postulada com base na üusão da localização simples, a teoria de
gresso qualitativo das mesmas. Por exemplo, esse preconceitoideológi organização existente está, antes, fadada a agravar o crescente desequi
co ê claramente enunciado por Likert (1963). Os conceitos e princí líbrio termodinâmico que perturba as sociedades ocidentais. Chegou a i
pios daquüo que denomina "uma teoria de administração de âmbito hora de substituí-la por uma ciência da organização centrada na
mundial" são todos deduzidos da prática da experiência industrial do perduraçao.
Ocidente e Likert justifica explicitamente a universalidade desses con Aesta altura deveria estar claro, para oleitor, ofato de que num
ceitos e princípios, não exatamente em termos teóricos, uma vez que I sentido a nova ciência das organizações não érealmente nova,3 porque
sua visão da doutrina não se ajusta á gerência de recursos em contexto é tão velha quanto osenso comum. Olllfl (.flQMifffl fflj fr^TMllÂ"- I
algum, mas apenas no âmbito dos setores industriais ocidentalizados. / cias, nas quais precisamos, mais uma vez, começar a dar ouvidos ao
Considera ele que essa doutrina é universal porque é baseada no nosso eu mais íntimo.
expansionismo do Ocidente, queestá estreitando"as diferenças cultu
rais ... entre as nações" e tornando-as "muito mais parecidas, em sua BIBLIOGRAFIA "
existência organizacional (e industrial)". Essa teorização é completa
mente insensível a fatos dramáticos, que demonstram que o modelo Alexander, C. Notes on the synthesis ofform. Cambridge, Massachu
ocidental de industrialização perturba a base organizacional das socie setts, Harvard University Press, 1974.
dades periféricas, em lugar de lhes aumentar as possibüidades de per Georgescu-Roegen, N. The Entropy law and the economic problem.
duraçao como sistemas autodeterminativos. Uma teoria de organiza In: Daly, H.E. Toward a steady state economy. San Francisco, Califór
ção verdadeiramente universal não se pode permitir semelhante paro- nia, W. H. Freeman, 1973.
quialismo histórico. Ao contrário, deveria admitir que a busca de re Likert, R. Trends toward a world-wide theory of management. CIOS,
quisitos organizacionais constitui assunto concreto em cada sociedade, XIII, 1963.
desafiando conceitos e princípios, tal como Likert os concebe. Chris- Sibley, M.Q. The Relevance of classical political theory of economy,
topher Alexander tem a visão correta dessa busca como um processo technology & ecology. Alternatives, 2(2), 1973.
analítico, que leva à descoberta e à implementação deum bom ajusta Whitehead, A.N. Science and the modem world. New York, The Free
mento, permitindo a satisfação das mútuas exigências que contexto' e Press, 1967.
foTfnàTazem um ao outro (Alexander, 1974, p. 19). Está ele sugerindo I
um processo de planejamento orientado para a perduraçao e, portanto, >
reconhecendo que "à sua maneira, as culturas simples fazem seu traba
lho melhor do que nós fazemos o nosso" (Alexander, 1974, p. 32). I
A destruição de sistemas perdurantes de vida constitui, também,
um traçoatual das sociedades industrializadas do Ocidente.2 A prática
de planejamento organizacional que predomina em tais países é, em
grande parte, afetada pela üusão dalocalização simples. Muito daaná
lise termodinâmica que Georgescu-Roegen faz da teoria econômica
convencional revela a üusão dalocalização simples. As organizações, e
o processo econômico que põem em vigor, são concebidos como se t
não tivessem vinculações àesfera biofísica. Semelhante concepção dei
xa de lado ofato de que oprocesso econômico, eespecialmente otipo
de organização planejada de acordo com critérios puramente econômi-
•cfíle^,etiram continuamente do ambiente matéria-energia de baixa en- 3 Paraverificação do grauem que o velhc pensamento clássico é importante pa
Veja meu artigo Endurance and fluidity: a reply (Resistência e fluidez: uma ra as tentativas contemporâneas de reformulação da ciência social, veja Sibley
resposta). Administration and Society, Feb. 1977. (1973).
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