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Capítulo I

Introdução

1.1. Sistemas dinâmicos, caos e turbulência

A turbulência é um fenômeno natural, de alta complexidade e de forte interesse

prático, que não deve ser atribuído apenas ao movimento dos fluidos. Potencialmente,

qualquer sistema dinâmico com um número suficientemente grande de graus de liberdade

poderá reunir condições para operar em regime turbulento. Nestas situações, os valores

assumidos pelas variáveis que caracterizam o funcionamento do sistema, no tempo e no

espaço, são de difícil previsão, uma vez que elas mantêm estrita dependência das condições

iniciais e das condições de contorno do problema. Sob esta ótica, numerosos são os

exemplos onde a turbulência pode ser encontrada.

A observação de uma trilha de formigas entre uma pequena fonte de alimentos e a

entrada de um formigueiro fornece um exemplo bastante ilustrativo de um sistema muito


complexo, que, muito frequentemente, opera em regime caótico. Com efeito, ainda que os

pontos de partida e de chegada de cada trabalhadora envolvida no processo sejam

conhecidos a priori, sua trajetória individual, ou mesmo a configuração espacial sobre a

trilha ao longo do tempo, são totalmente imprevisíveis, mesmo para alguns poucos

segundos após o instante em que se realiza a observação. Além disso, uma pequena

perturbação injetada no sistema por um agente externo, por exemplo, a introdução de um

obstáculo físico ou de uma pequena quantidade de uma substância química em um ponto


qualquer da trilha, pode transformar este sistema dinâmico, globalmente bem organizado,
em um verdadeiro caos. Entretanto, é interessante observar que, embora as variáveis

básicas associadas ao sistema  trajetórias dos indivíduos, fluxo instantâneo de alimentos,

fluxo de informações, dentre várias outras  sejam imprevisíveis no tempo e no espaço,

valores estatísticos das informações associadas podem ser determinados com grande

exatidão. É interessante observar que informações podem ser transmitidas de um elemento

a outro por vários processos: toque de antenas, difusão e advecção de ferormônio,

ondulatória e radiação. Existem mais coisas desconhecidas que se pode imaginar! O estado

de agitação entre os elementos, quando a comunidade se sente ameaçada, ou quando uma

grande descoberta for realizada pode colocar esse sistema dinâmico em operação

turbulenta, com todas as características que essa palavra transporta.

O ecossistema da Amazônia, que impressiona pela exuberância da floresta tropical e

pela multiplicidade das espécies que se inter-relacionam, constitui um exemplo típico de

um sistema dinâmico com um fantástico número de graus de liberdade. Se uma

determinada espécie, que integra uma das diversas cadeias alimentares deste sistema

complexo, for dizimada, o equilíbrio do conjunto fica comprometido e as consequências

tornam-se também imprevisíveis, propiciando condições para o desaparecimento ou a

proliferação descontrolada de outras espécies. Este tipo de comportamento, com

características altamente turbulentas, tem origem na dinâmica de interação não linear entre

as diversas variáveis que caracterizam o sistema.


São muitos os fatores que motivam ou forçam as pessoas a se mudarem de

residência ou, até mesmo, a migrarem das pequenas cidades para os grandes centros

urbanos e vice-versa. Se, por um lado, as grandes cidades normalmente oferecem maiores

oportunidades de emprego e de lazer, por outro lado, a vida nas pequenas cidades é, em

geral, menos tumultuada. O crescimento desenfreado das grandes metrópoles, bem como as

ações políticas, econômicas e sociais adotadas por legisladores e governantes,

desencadeiam frequentes ondas de insatisfação popular, capazes de gerar instabilidades e


impulsionar pessoas a se transferirem para outros bairros ou localidades, sempre em busca
de melhores condições de vida. Por outro lado, grandes intempéries e períodos prolongados

de seca afetam sobremaneira a vida das comunidades rurais, induzindo famílias inteiras a

migrarem do campo para as grandes cidades. Uma pessoa inserida neste sistema não pode

ser vista como um indivíduo isolado, mas como parte integrante de um todo, onde vários

componentes interagem de forma complicada, sob a ação de fatores imponderáveis. Como

resultado, prever o futuro local de residência de uma pessoa inserida neste contexto torna-se

uma tarefa quase impossível. Não obstante, o crescimento médio populacional de uma

cidade, que leva em conta estes e vários outros fatores, tem sido predito com relativa

confiabilidade pelas agências governamentais consagradas aos estudos demográficos.

O comportamento imprevisível das bolsas de valores, sob a influência dos mais

diferentes aspectos, também constitui um exemplo típico de regime turbulento de operação.

Uma pequena perturbação de ordem política, social ou natural, injetada em um único país

longínquo, pode dar início a fortes instabilidades econômicas, capazes de se propagar

rapidamente por todo o planeta, comprometendo o equilíbrio do sistema financeiro

internacional. Nestas ocasiões, empresas sólidas e bem estabelecidas podem passar da

opulência à bancarrota em poucas horas, sem que se encontre, na lógica formal, qualquer

explicação plausível para o fenômeno.

A propagação de uma frente epidêmica de origem conhecida também pode

facilmente degenerar-se e dar origem a um processo caótico, em razão da importante


influência que as interações entre os indivíduos e o meio ambiente exerce sobre os

mecanismos de proliferação de moléstias contagiosas. Em determinadas situações, por

maiores que sejam os esforços empreendidos no combate à disseminação da doença, focos

sucessivos da epidemia vão eclodir em locais e momentos jamais imaginados pelas

autoridades sanitárias.

Nada mais caótico (imprevisível) que o trânsito das grandes metrópoles. Uma troca

de pneu às margens de uma via rápida, em um dia de movimentação intensa, pode


desencadear um engarrafamento de dezenas de quilômetros, provocado pela simples
curiosidade dos motoristas que passam pelo local, mesmo que nenhuma obstrução da pista

de rolamento tenha sido observada. Perturbações de maiores proporções, entretanto,

originadas por acidentes e obras nas vias públicas, manifestações populares, saídas de

estádios, chuvas e inundações, fazem parte do cotidiano das grandes cidades, ocasionando a

rápida transição de uma situação de relativa ordem, para o caos no trânsito. Esta

experiência é vivida diariamente por um enorme contingente de pessoas, que ao saírem de

suas casas para o trabalho, já aprenderam a se orientar por emissoras de rádio, que utilizam

helicópteros para transmitir aos motoristas informações contínuas sobre as condições de

tráfego ao longo de seu trajeto. Num processo totalmente interativo, os motoristas alteram

suas respectivas rotas ao sabor das informações que lhes são disponibilizadas, de maneira a

evitar os pontos de maior congestionamento. Novamente aqui, nem mesmo o motorista será

capaz de prever, com um mínimo de antecedência, qual será a rota efetiva que o levará a

um determinado destino. Aqui se encontra um exemplo de interação não linear entre

motoristas e o helicóptero. As informações enviadas por esse afeta as trajetórias daqueles

que por sua vez afeta a observação aérea e o reenvio de informações.

Os exemplos de comportamento turbulento que podem ser extraídos da natureza e

da vida cotidiana são, ao mesmo tempo, incontáveis e surpreendentes. Muitas outras

páginas desta obra poderiam ser dedicadas a este tipo de abordagem, propiciando ao leitor

uma forma alternativa de encarar o mundo e as causas dos problemas do dia-a-dia. O


interesse maior deste texto, entretanto, volta-se para o estudo da turbulência no seio dos

fluidos, assunto que tem intrigado a mente de filósofos, cientistas e engenheiros, ao longo

dos últimos séculos, mas cuja perfeita compreensão ainda permanece como um dos grandes

desafios da física moderna.

1.2. Caracterização da turbulência nos fluidos

1.2.1. Aspectos gerais


Para que um fenômeno físico possa ser precisamente definido, é necessário, antes,

que os mecanismos que lhe dão origem sejam bem compreendidos. Apesar dos notáveis

avanços nas ferramentas de análise teórica e experimental dos escoamentos turbulentos,

muitos aspectos dos fenômenos envolvidos nesse regime de escoamento permanecem,

ainda hoje, bastante obscuros, impedindo que uma definição completa e abrangente possa

ser formulada. Até o momento, todas as tentativas neste sentido produziram definições

insatisfatórias ou controversas, porquanto ainda não existe consenso sobre a maneira com

que vários aspectos fundamentais do fenômeno são interpretados por diferentes

especialistas. Contudo, a presença marcante da turbulência em numerosos fenômenos

naturais e aplicações tecnológicas tem motivado o enorme esforço de muitos pesquisadores,

em um grande número de laboratórios, dedicados principalmente aos estudos da

turbulência. Como resultado, já se pode estabelecer, com segurança, algumas características

associadas à natureza física da turbulência nos fluidos. Uma discussão sobre este tema é

apresentada nos próximos parágrafos.

1.2.2. A turbulência é caracterizada por estruturas turbilhonares

A turbulência nos fluidos tem sido frequentemente, associada à presença de vórtices

no interior dos escoamentos, conduzindo a uma interpretação incorreta sobre a sua natureza

física. De fato, entende-se por vórtice uma estrutura bem organizada, constituída por uma

massa de fluido em movimento rotativo em torno de uma linha central. É bem verdade que

vórtices podem ser identificados na maioria dos escoamentos em transição à turbulência e

até mesmo nos escoamentos plenamente turbulentos. Contudo, a simples presença de

vórtices não garante que um regime turbulento esteja se estabelecendo ou que esteja
estabelecido. A turbulência é composta por estruturas turbilhonares, que incorporam,
sobretudo, outras formas topológicas com níveis de complexidade diferenciados, quando

comparadas com a topologia de um vórtice. Aliás, o termo “eddy”, largamente utilizado na

literatura sobre turbulência, escrita em língua inglesa, nem sempre deve ser entendido como

vórtice. Na maioria das situações abordadas, deve-se atribuir-lhe o sentido “turbilhonar” ou

“estrutura turbilhonar”, para evitar a inconsistência física que advém do fato de se

caracterizar, erroneamente, a turbulência como uma composição de vórtices, o que não

corresponde à realidade física. Caracterizar a turbulência dessa forma torna menor toda a

sua riqueza física em termos de sua verdadeira composição que deve ser baseada no

conceito de estruturas turbilhonares. Esse conceito será discutido e detalhado ao longo

desse livro.

O exemplo da Figura 1.1 ilustra a diferença que existe entre estas duas situações. Na

Figura 1.1(a) visualiza-se o escoamento laminar sobre um cilindro, com a presença de dois

vórtices contra rotativos que permanecem aprisionados à jusante do corpo sólido. Um

escoamento mais instável, provavelmente em regime de transição à turbulência pode ser

visualizado nas Figura 1.1(b) e 1.1(c), obtido às custas de um aumento do número de

Reynolds que caracteriza o escoamento sobre o mesmo cilindro. Neste último caso, a

visualização de vórtices já não é tão clara, sendo apresentada uma estrutura turbilhonar

mais complexa, quando comparada ao primeiro caso.


(a) (b) (c)

Figura 1.1. Escoamentos sobre um cilindro circular: (a) escoamento laminar estável –

Re=42; (b) escoamento em transição, laminar instável – Re=46 e (c) escoamento em

transição, laminar instável – Re=106. Cortesia de Mansur e Del Rio (2002).

1.2.3. A turbulência é caracterizada por estruturas turbilhonares

Nos escoamentos turbulentos, as estruturas turbilhonares se apresentam com

topologias, dimensões e frequências muito diversificadas e elas coexistem e interagem entre

si de forma intensa e altamente não linear. Isto deve ser entendido como uma

multiplicidade de escalas temporais e espaciais, a qual constitui uma das características

fundamentais da turbulência nos fluidos.

Via de regra as dimensões das grandes estruturas turbilhonares são da mesma ordem

de grandeza das dimensões que caracterizam o sistema onde ocorre o escoamento. As

menores estruturas, por sua vez, são tão menores quanto maior for o valor assumido pelo

número de Reynolds baseado na escala integral do escoamento turbulento. As frequências

destas estruturas aumentam à medida que se reduz o seu tamanho característico. Grandes

estruturas possuem, pois, menores frequências, enquanto as pequenas estruturas possuem


maiores frequências.

1.2.4. A turbulência pode ser modelada como um fenômeno contínuo

A turbulência pode ser considerada como um fenômeno contínuo, uma vez que,

mesmo as menores estruturas turbilhonares possuem escalas de comprimento muitas vezes

superiores ao caminho livre molecular médio do fluido. Isto quer dizer que qualquer
escoamento pode ser modelado adequadamente por intermédio das equações de balanço de
quantidade de movimento, balanço de energia e balanço de massa. Essa afirmação é

verdadeira desde que o número de Mach relativo ao escoamento não seja superior a 15. É

importante enfatizar que, com as equações advindas desses balanços, modelam-se

quaisquer tipos de escoamento, independentemente do seu regime ser laminar ou

turbulento.

1.2.5. A turbulência pode ser considerada como caos-determinístico

Embora o sistema de equações que descreve os escoamentos turbulentos possa ser

considerado determinístico1, no sentido que, dadas as condições iniciais e de contorno do

domínio físico, determina-se uma única solução para este sistema, essa solução só

conduziria a predições determinísticas – previsão exata de eventos futuros - caso estas

condições iniciais e nos limites fossem conhecidas com absoluta exatidão temporal e

espacial. Entretanto, na prática, isto nunca acontece. De fato, a determinação das condições

iniciais e de contorno do domínio, as quais caracterizam um dado problema, é sempre

portadora de certo grau de inexatidão. A título de exemplo, a previsão meteorológica do

clima planetário depende do uso de códigos computacionais que devem ser alimentados

com condições iniciais e de contorno para as velocidades, temperatura, massa específica,

etc., as quais devem ser medidas utilizando-se de sensores e sistemas de aquisição


simultânea de dados. Seguramente, toda a cadeia de aquisição é portadora de muitas fontes

de erros e, além disto, outras fontes de erros inerentes aos métodos de solução estarão

sempre presentes.

Os termos advectivos das equações de transporte modelam adequadamente o

processo físico de geração de instabilidades através de efeitos não lineares de amplificação

de perturbações injetadas nos escoamentos. Assim, pequenos erros na estimativa das

1
Embora ainda não tenha sido demonstrado matematicamente, admite-se a existência e unicidade da solução
para este sistema de equações.
condições iniciais e de contorno, podem conduzir a resultados distintos, no tempo e no

espaço. Neste sentido é que se fala de “caos determinístico turbulento2” – as equações que

modelam a turbulência são determinísticas, mas suas soluções não o são. Esta noção foi

estabelecida por Henri Poincaré em 1889 e transcrita por Lesieur (1994).

É importante observar que não é também possível a repetição exata de um

experimento material em laboratório – em contrapartida aos experimentos virtuais

provenientes da matemática simbólica – uma vez que as condições iniciais e as condições

de contorno jamais serão rigorosamente idênticas para diferentes realizações. Este fato não

deve, naturalmente, causar uma falsa impressão sobre a utilidade das ferramentas de

análises teóricas e de análises materiais dos escoamentos turbulentos. De fato, o emprego

destas ferramentas de análise conduz aos seguintes desdobramentos práticos, os quais são

independentes da imprevisibilidade: compreensão do comportamento físico e obtenção de

informações estatísticas confiáveis.

A título de exemplo quantitativo, apresenta-se o modelo matemático de Lorenz, o

qual apresenta comportamento dinâmico imprediscível. O sistema de equações é

reproduzido a seguir:
x    y  x (1.1)

y   x  y  xz (1.2)

z   z  xy (1.3)
Para o presente exercício, fixou-se   10 ,   8 / 3 ,   28 , x  x  t  ,
y  y  t  z  z  t  . Esse sistema de equações foi resolvido utilizando-se um integrador de

Runge-Kutta de quarta ordem. Uma primeira simulação foi feita com as condições iniciais

de x  0   y 0  z 0  0, 1. Em seguida foi realizada uma segunda simulação com uma

mudança muito pequena na condição inicial para a variável x  0   0,100001 . Foi também

2
A noção de caos está associada à imprevisibilidade do sistema. Fala-se de “caos determinístico” quando o
sistema dinâmico é modelado por equações determinísticas e a imprevisibilidade dos resultados está associada
apenas a inexatidão das condições iniciais e de contorno. Note-se que nem todo sistema dinâmico que
transiciona para caos determinístico, pode ser considerado turbulento, por não atender a todas as demais
características da turbulência.
feita outra simulação para averiguar a sensibilidade do modelo quanto ao tipo de integrador.

Foram feitas duas simulações com as mesmas condições iniciais, porém utilizando o

integrador de Runge-Kutta de quarta ordem e um integrador de New-Mark igualmente de

quarta ordem. Na Figura 1.2 (a) apresentam-se as distribuições temporais das três variáveis

dependentes e das diferenças entre as soluções relativas às duas condições iniciais.

Observa-se que as diferenças são nulas até um tempo de aproximadamente 30 [s],

após o que elas se tornam oscilantes com o tempo. Na Figura 1.2 (b) apresentam-se a

sensibilidade do sistema aos integradores de quarta ordem, sendo que o mesmo

comportamento de imprediscibilidade é apresentado. Esse exemplo simples de sistema

dinâmico ilustra a importância do tema. Certamente esse comportamento se torna ainda

mais acentuado quando a complexidade e o número de graus de liberdade aumentam.


Na Figura 1.3 apresentam-se, qualitativamente, um exemplo onde a imprediscibilidade se
manifesta em um escoamento em transição de estável para instável. Esse sistema dinâmico,
o escoamento de um fluido viscoso, apresenta um número elevado de graus de liberdade.
Trata-se de um escoamento do tipo camada de mistura em

(a) (b)
Figura 1.2. Evolução de duas soluções do sistema dinâmico de Lorenz: (a) a partir de duas

condições iniciais muito próximas e (b) utilizando-se dois integradores temporais

diferentes.

desenvolvimento temporal. Os resultados são apresentados em três tempos, t=0 [s],

t=2 [s] e t=4 [s].

Na coluna (a) da Figura 1.3 têm-se as três condições iniciais que diferem entre si

apenas pelas diferenças nos valores da semente do gerador aleatório da perturbação que é

superposta à condição inicial. Os escoamentos apresentados na coluna (b) da Figura 1.3

são relativos a um tempo t= 2 [s], as quais são qualitativamente diferentes. A coluna (c) da

Figura 1.3 mostra os escoamentos para um tempo t= 4 [s], sendo que nesse tempo os

escoamentos apresentam-se visivelmente diferentes. Eles evoluíram para configurações

distintas, como consequência de uma pequena diferença na condição inicial. No entanto,

como já comentado, o tratamento estatístico de sequências temporais dos campos de

informações associadas a estes escoamentos devem ser iguais.

1.2.6. A turbulência acelera a difusão molecular das informações

A dinâmica particularmente ativa dos escoamentos turbulentos faz com que as


informações ou propriedades a eles associadas, notadamente a velocidade, a pressão, a

temperatura, as concentrações de contaminantes e de componentes químicos e a massa

específica, estejam submetidas a fortes flutuações não periódicas, cuja magnitude depende

da intensidade da turbulência. Quanto mais turbulento o escoamento, maior a amplitude das

flutuações aleatórias. Em consequência, têm-se aumentos substanciais dos mecanismos de

difusão e de dissipação, quando se compara com os escoamentos laminares. O processo de

difusão molecular de todas as informações ligadas a um escoamento (quantidade de


movimento, energia, concentrações) é muitas ordens de grandeza maior no regime
turbulento que no regime laminar. Isto se dá devido ao fato que, no regime turbulento, tem-

se a presença de flutuações de quantidade de movimento, flutuações térmicas, flutuações de

concentrações, ou flutuações de qualquer propriedade transportada pelo escoamento, o que

cria fortes e numerosos gradientes locais, tornando o processo de difusão molecular mais

eficiente.

(a) (b) (c)


Figura 1.3. Caráter imprevisível de uma camada de mistura em desenvolvimento temporal.

Foram realizadas três simulações, diferindo entre si apenas no valor da semente do gerador

de ruído aleatório: (a) condições iniciais t=0 [s]; (b) tempo t=2 [s] e (c) tempo t=4 [s].
Cortesia de Moreira (2011).

Para exemplificar este fato, considere-se uma parcela finita de fluido, transportando

uma determinada propriedade, por exemplo, a temperatura, no seio de um escoamento

turbulento. Como ilustrado na Figura 1.4, o efeito da turbulência será de quebrar esta

porção de fluido em partes, tão pequenas quanto menores forem as escalas da turbulência,

as quais serão transportadas para diferentes regiões do espaço. Esse processo conduz a um
aumento do número de gradientes locais e em consequência conduz a um aumento da

transferência difusiva da informação considerada.

Observa-se que os mecanismos advectivos e difusivos de transporte de uma

informação atuam de forma simultânea no interior de um escoamento. No entanto, devem-

se separar os seus efeitos, de forma a não se tomar um fenômeno pelo outro. A difusão de

uma informação depende dos gradientes locais e do potencial associado a essa informação;

depende ainda do coeficiente de difusão, o qual é uma propriedade do fluido. Por outro

lado, a advecção depende da dinâmica do escoamento, sendo um resultado da turbulência

em si. Assim, a turbulência acelera e multiplica os gradientes desse potencial no espaço e

no tempo, resultando em um aumento do processo difusivo molecular. O termo “difusão

turbulenta” não deve conduzir a uma falsa ideia física. A turbulência em si só pode

transportar uma informação por advecção. Por outro lado ela acelera e intensifica o

processo de difusão molecular.

(a)

(b)

Figura 1.4. Camada de mistura em desenvolvimento espacial, confinada entre duas placas

planas paralelas: (a) campo de temperatura e (b) taxa de reação química. Cortesia de

Vedovoto (2013).

A Figura 1.4 ilustra um escoamento do tipo camada de mistura em desenvolvimento


espacial, confinada por duas paredes paralelas e colocadas na horizontal. Observa-se a
formação de grandes estruturas turbilhonares coerentes do tipo Kelvin-Helmholz. Essas

estruturas, por sua vez, são compostas de estruturas menores, sendo que esse processo de

composição se repete até as menores estruturas que foram resolvidas utilizando-se uma

dada malha computacional. Na Figura 1.4 (a) apresenta-se o campo de temperatura e na

Figura 1.4 (b) apresenta-se a taxa de reação química. Percebe-se o alto nível de correlação

entre os dois campos, mostrando que quanto mais corrugada for a interface entre gás fresco

e gás quente, maior será a eficiência de reação química. Nota-se que o processo de reação

química depende do processo de difusão molecular, o qual depende igualmente do nível de

turbulência nas diversas escalas que compõem o espectro de estruturas turbilhonares.

Do ponto de vista de aplicações de engenharia, esta característica – aumento do

poder de difusão e de reação química – é uma das mais importantes propriedades da

turbulência, pois ela implica em aceleração dos processos de combustão, de troca de

energia interna, de mistura de componentes químicos, de dispersão de poluentes, e de

intensificação de reações químicas.

1.2.7. A turbulência ocorre a altos valores do número de Reynolds

A transição de um escoamento para o regime turbulento, bem como a sua

manutenção, dependem da importância relativa entre os efeitos advectivos e difusivos. Os


efeitos advectivos, não lineares, são responsáveis pela amplificação de perturbações que

podem resultar em geração de instabilidades. Por outro lado, os efeitos difusivos são

amortecedores ou inibidores da formação de instabilidades. O número de Reynolds (Re) é

aqui definido como a razão entre os efeitos advectivos e os efeitos difusivos:

Efeitos advectivos
Re  . (1.1)
Efeitos difusivos

Este parâmetro adimensional também pode ser definido em termos das propriedades
físicas do fluido e das escalas características da turbulência, para representar a relação entre
os efeitos de inércia e os efeitos viscosos. Assim, seja uma estrutura turbilhonar de tamanho

característico  , transportada com uma velocidade característica  , por um escoamento de

um fluido com viscosidade cinemática  . Através da análise dimensional, demonstra-se

que:


Re  . (1.2)

Um escoamento só poderá transicionar do regime laminar para o regime turbulento, ou se

manter turbulento, em situações onde os efeitos de inércia sejam mais importantes que os

efeitos viscosos, o que implica em Re maior que a unidade.

1.2.8. A turbulência é tridimensional

A experiência mostra que qualquer escoamento turbulento é tridimensional, com a

presença de flutuações de vorticidade. Fisicamente, vorticidade é gerada através de um

processo de estiramento de vórtices, o que é um mecanismo puramente tridimensional.

Assim, um escoamento turbulento, na verdadeira acepção da palavra, deve ser,

obrigatoriamente, rotacional e tridimensional. Do ponto de vista matemático, pode-se

demostrar, a partir da equação de Helmholtz para o transporte da vorticidade, que o único

termo produtor de vorticidade é diferente de zero apenas quando o escoamento é

tridimensional.

1.2.9. A turbulência é rotacional e dissipativa

A turbulência a acelera a dissipação viscosa molecular. O processo de dissipação

viscosa de energia cinética turbulenta, que gera aumento de energia interna, acontece nas
altas frequências da turbulência – menores escalas de tempo e de comprimento -, onde os
efeitos viscosos predominam sobre os efeitos advectivos. Sabe-se ainda que, em regime

turbulento completamente desenvolvido, toda a energia injetada no escoamento para

alimentar as grandes estruturas turbilhonares é transferida a todas as escalas da turbulência,

por um processo não linear de interação simultânea entre todas as escalas que compõem o

espectro de estruturas. Esse processo de transferência de energia resulta, globalmente, em

uma cascata de energia desde as escalas integrais até as menores escalas, também

conhecidas como escalas de Kolmogorov, onde essa energia cinética turbulenta é então

transformada em energia interna, por efeitos viscosos. Para se manter um escoamento

turbulento, necessita-se, portanto, suprimento contínuo de energia, sem o qual o

escoamento entrará em regime de decaimento, indo ao repouso.

Estas duas últimas características – turbulência é rotacional e é dissipativa - são

importantes para se identificar fenômenos que não podem ser considerados como

turbulentos. As ondas internas de gravidade, por exemplo, não podem ser turbulentas, pois

não são nem rotacionais nem dissipativas.

Na Figura 1.5, mostra-se um jato em transição à turbulência, desenvolvendo-se em

um meio quiescente. O suprimento de energia se dá na saída do conduto. A partir desse

ponto inicia-se a transição do mesmo, do regime laminar para o regime turbulento.

(a)
(b)
Figura 1.5. Jato em desenvolvimento espacial em um meio quiescente: (a) visualização do

escoamento usando-se isovalores do critério Q, Red=4.700; (b) distribuição da componente

axial da velocidade média, na linha central do jato, comparado com dados experimentais.

Cortesia de Moreira (2011).

À medida que o jato propaga pelo meio quiescente ele entra em decaimento, sob

efeito da dissipação viscosa de energia cinética turbulenta, indo ao repouso após uma dada

distância. A Figura 1.8 (a) mostra o processo de transição e o regime turbulento. Nessa

figura não é visualizada a zona de decaimento. Na Figura 1.8 (b) visualiza-se a distribuição

da componente axial da velocidade, ao longo da linha central do jato, mostrando o processo

de decaimento, promovido pela ação da dissipação viscosa.

1.3. Onde a turbulência pode se manifestar

A observação da topologia de uma galáxia fornece uma excelente noção intuitiva de

um comportamento dinâmico turbulento. Neste caso, as distâncias interestelares são

medidas em anos luz e estruturas turbilhonares de dimensões astronômicas podem levar

milhares de séculos para completar um ciclo característico. Em outro extremo, estruturas


turbilhonares de elevada frequência e dimensões milimétricas estão presentes na esteira
deixada por um pequeno inseto em voo. Entre estes dois extremos, inumeráveis são os

exemplos de fenômenos naturais onde a turbulência se manifesta com diferentes escalas

características de tempo e de comprimento. Nos parágrafos que se seguem, serão

apresentados diversos exemplos de fenômenos naturais onde se observam estruturas

turbilhonares de diferentes formas e escalas características. Nem sempre estes exemplos

apresentam situações de turbulência na sua plenitude. Em determinados casos pode-se

identificar apenas a presença de instabilidades turbilhonares que caracterizam uma

tendência de transição à turbulência.

Bolhas gasosas em movimento ascendente no interior de um meio líquido

estacionário podem se deformar e seguir diferentes trajetórias – retilínea, zig-zag ou

helicoidal, dependendo das dimensões da bolha e das propriedades físicas dos fluidos

envolvidos. Esta situação é encontrada, com muita frequência, em diferentes tipos de

equipamentos e processos industriais. Experimentos e simulações numéricas deste tipo de

escoamento têm colocado em evidência a presença de estruturas turbilhonares no interior

das bolhas e as esteiras deixadas por elas, que determinam o caminho percorrido durante

seu deslocamento. À medida que os escoamentos internos e externos a uma bolha se tornam

instáveis, que podem inclusive transicionar para a turbulência, as trajetórias tornam-se mais

complexas.
(a) (b)
Figura 1.6 Movimento ascendente de uma bolha gasosa em um meio líquido - estruturas
turbilhonares com dimensões características da ordem de milímetros: (a) simulação
numérica, cortesia de Pivelo et al. (2013); (b) Resultado experimental, Clift et al. (1978).

A Figura 1.6 permite uma clara identificação da esteira a jusante de uma bolha de ar

se deslocando em água. Ressaltando a notável semelhança entre os resultados oriundos dos

dois métodos de análise, ou seja, experimentação numérica (Figura 1.6 (a)) e

experimentação material (Figura 1.6 (b)). Pode-se ainda identificar que as instabilidades

fluidodinâmicas são do tipo varicosas, o que ocorre em consequência do movimento

pulsátil da bolha.

Se hoje as ferramentas de pesquisa na área de dinâmica dos fluidos permitem a

obtenção de resultados tão detalhados quanto os acima apresentados, houve uma época em

que a visualização de escoamentos na natureza constituía o único instrumento à disposição


daqueles que se interessavam em compreender as diferentes facetas do movimento dos
fluidos. Leonardo da Vinci, no século XVI, deixou um vasto legado de esboços de grande

realismo, que testemunham suas observações e reflexões acerca do movimento dos fluidos.

Na Figura 1.7 pode-se verificar uma notável semelhança entre o desenho de da Vinci, que

representa um curso d´água descarregando num meio quiescente, e a fotografia de uma

pequena cascata localizada na Serra da Canastra. Ambas as imagens colocam em evidência

a presença de estruturas turbilhonares tridimensionais transientes, frequentemente

encontradas em escoamentos turbulentos. No entanto, a riqueza de detalhes contidos na

ilustração de da Vinci, permite uma clara noção de multiplicidade de escalas de

comprimento que caracteriza um regime de turbulência.

Atualmente podem-se extrair informações detalhadas de escoamentos, na forma de

medidas exatas e visualizações tridimensionais e transientes, fazendo-se uso de recursos

experimentais em laboratórios materiais assim como de modernas metodologias de

experimentação em laboratórios computacionais. A Figura 1.7 (b) mostra o resultado de

uma fotografia feita utilizando-se um equipamento convencional que capta imagens a uma

taxa de aproximadamente 40 fps. Percebe-se um resultado que mostra um comportamento

médio devido ao grande tempo de exposição. Observando a imagem da Figura 1.7 (a) é

impressionante o nível de detalhe que da Vinci conseguiu visualizar a olho nu ou a

fertilidade de sua imaginação que permitia a ele inferir uma realidade física de alta

frequência o que é impossível de ser captado por olhares de pessoas comuns.

(a) (b)
Figura 1.7 Movimentação de água em cascata - tamanho característico da ordem de alguns
metros: (a) desenho feito por Leonardo da Vinci por volta de 1515 e (b) fotografia de um
curso d´água na Serra da Canastra, cortesia de Finotti (2001).

Quando um fluido contorna um obstáculo sólido, é comum ocorrer o descolamento

da camada limite, formando-se, a jusante do corpo, uma região de cisalhamento inflexional.

Nesta região, sob determinadas condições, surgem instabilidades que, ao se amplificarem,

podem provocar a transição do escoamento do regime laminar para o regime turbulento. No

escoamento ao redor de cilindros, em particular, vórtices alternados podem se desprender

de ambos os lados do corpo, dando origem à chamada esteira turbilhonar de von Kármán.
Apesar da presença de instabilidades fluidodinâmicas, de natureza periódica no tempo, por

si só, não implica na existência de um regime turbulento. Este é o caso ilustrado na Figura

1.8 (a), onde se observa, através de visualização em experimento material, a formação de

uma esteira de estruturas turbilhonares, facilmente identificáveis. A turbulência,

propriamente dita, surge, para um dado valor do número de Reynolds, à medida que as

instabilidades são transportadas e submetidas a efeitos não lineares de tridimensionalização.

Este processo pode ser visualizado na região próxima à saída do domínio dessa mesma

figura. Na Figura 1.8 (b), resultado de experimentação virtual (modelagem computacional),

pode-se visualizar estruturas turbilhonares tridimensionais que caracterizam a transição à

turbulência.

Esteiras de von Kármán em torno de corpos com geometria aproximadamente

cilíndrica está presente em diferentes aplicações da engenharia e pode ser visualizada em

experiências de laboratórios materiais e computacionais com relativa facilidade. Entretanto,

é na natureza que ela se apresenta em sua forma mais exuberante.


(a)

(b)
Figura 1.8 Esteiras de von Kármán formadas a jusante um cilindro de base quadrada
submerso: (a) experimentação em túnel hidrodinâmico, cortesia de Lindquist (1999),
(b) simulação numérica via volumes finitos, cortesia de Vedovoto (2013.

A Figura 1.9 contém duas magníficas imagens capturadas por satélites, mostrando
esteiras de Von Kárman sobre as ilhas Guadalupe e Canárias. A visualização tornou-se

possível graças ao contraste criado pela presença de nuvens granuladas, organizadas pela

ação da convecção natural da atmosférica terrestre. Estas imagens, realizadas sobre ilhas

com centenas de quilômetros, impressionam não apenas por sua beleza, mas principalmente

pela enorme semelhança que mantêm com as ilustrações da 1.8 (a), escoamento em torno

de uma geometria de alguns poucos milímetros de dimensão. Na Figura 1.9 (b) visualiza-se

a interação entre as esteiras de várias ilhas, dando origem a um escoamento muito


complexo.
Uma camada de mistura pode ser entendida como sendo uma região intermediária a

correntes que se movimentam na mesma direção, em um mesmo sentido ou em sentidos

opostos. Nessas condições podem surgir campos inflexionais de velocidades, necessários

para dar origem a instabilidades turbilhonares, conhecidas como instabilidades de Kelvin-

Helmholtz, que podem se transformar em turbulência. Nesta categoria de escoamentos se

inclui uma ampla faixa de problemas de interesse prático, seja do ponto de vista de

aplicações de engenharia, ou mesmo para a compreensão da física associada aos

escoamentos em transição à turbulência ou plenamente turbulentos. De fato, a indução de

instabilidades de Kelvin-Helmoholtz em escoamentos relacionados a processos de mistura

em reatores químicos implica no aumento da eficiência desses equipamentos. Também

pode implicar na melhoria de trocadores de energia interna, no que se refere a processos

térmicos. Por outro lado, a esteira turbilhonar deixada pela asa de uma aeronave, pode estar

ricamente habitada por este tipo de instabilidade fluidodinâmica. Como elas são, via de

regra, portadoras de grande quantidade de energia, isto implica diretamente em um aumento

do arrasto sobre a aeronave. Ressalta-se ainda, que em reatores químicos e trocadores de

calor, estas instabilidades implicam em aumento da potência de bombeamento. Um

exemplo de camada de mistura atmosférica, em desenvolvimento temporal, é apresentado

na Figuras 1.10, onde, mais uma vez, as nuvens atuam como agentes de visualização,

revelando fenômenos que ocorrem com frequência na natureza. Esses fenômenos estão
sempre presentes ao nosso redor, porém invisíveis aos olhos humanos, caso não se tenha

um traçador que os tornem visíveis.


(a) (b)
Figura 1.9 Esteiras de von Kármán observadas na natureza: (a) Ilha de Guadalupe; (b) Ilhas
Canárias; cortesia da NASA-DAAC.

Modelos matemáticos podem representar uma dada realidade física com muita
fidelidade. Na solução destes modelos, o uso de metodologias numéricas avançadas, assim
como de máquinas computacionais de alta capacidade de processamento e de
armazenamento de dados, tem se tornado um aliado poderoso para a compreensão da
natureza e também para a modernização tecnológica. A visualização de determinadas
variáveis, como a pressão, a vorticidade ou um escalar passivo – temperatura,
concentrações de componentes químicos – fornece resultados semelhantes à visualização
propiciada pelas nuvens ou por traçadores utilizados em laboratórios.

Figura 1.10. Camada de mistura em desenvolvimento temporal, observada na natureza:


cortesia de Márcio Mendonça – CTA-IAE.
Quando se observa o movimento da atmosfera da terra como um todo ou da massa
gasosa que compõe o sol observa-se a presença de turbulência da forma mais exuberante
que se possa imaginar. Estruturas turbilhonares ao redor desses dois corpos celestes podem
ser visualizadas na Figura 1.11. No caso da atmosfera terrestre, a turbulência exerce um
papel fundamental para a manutenção das condições climáticas do nosso planeta. Estruturas
turbilhonares de diferentes características tem os mais diversos papéis. As estruturas
turbulentas dos tipos ciclônicas ou anticiclônicas têm papel importante na formação ou
ausência de chuva, conforme o hemisfério em que elas se encontram. A turbulência na
atmosfera terrestre é responsável pelo transporte de umidade de uma região do planeta para
outras, criando condições climáticas apropriadas. Tem ainda o papel fundamental de
dispersar e transportar poluentes e contaminantes, homogeneizando e evitando contração
não toleráveis por seres vivos que habitam o nosso planeta.

Figura 1.11 Estruturas turbilhonares em escala planetária: (a) na Terra e (b) no Sol.

Um exemplo de turbulência em escala astronômica pode ser visualizado na Figura 12 (a),

onde duas estruturas turbilhonares em espiral podem ser contempladas. As partículas que

compõem esse “fluido” são corpos celestes os mais diversos possíveis. Visualmente pode-

se imaginar um fluido em movimento que tende a organizar essa matéria em estruturas que
se movem em um aparente processo de emparelhamento, tal como se observa em

escoamentos em escalas de nosso cotidiano.

(a) (b)

Figura 12. Estruturas turbilhonares em escala astronômica nas galáxias (a) e em escala
milimétrica no interior de uma bolha de ar se deslocando em água (b).

A título de comparação, observa-se na Figura 1.12 (b) o emparelhamento de duas estruturas

turbilhonares no interior de uma bolha de alguns milímetros de diâmetro. A semelhança

entre os dois processos de aproximação das estruturas turbilhonares impressiona, pelo fato

das escalas de tempo e de espaço que caracterizam os dois problemas ocuparem os

extremos de nossa imaginação.


Tanto na natureza quanto em aplicações industriais, o regime de turbulência

constitui a regra e o regime laminar pode ser considerado como a exceção. A modelagem

matemática deve ser apoiada nos princípios fundamentais de conservação de massa,

segunda lei de Newton e conservação da energia. A modelagem é a mesma para todos os

escoamentos, independente da escala que caracteriza o problema. Desde o escoamento no

interior de uma bolha até o escoamento astronômico das galáxias podem ser tratados com o

mesmo modelo matemático diferencial.


Referências

Clift, R.; Grace, J. R.; Wber, M. E., Bubbles, drops and particles, New York: Academic
Press.

Finotti, L., (2001), Visualização de Escoamentos através de Fotografia de Alta Velocidade,


Relatório de Iniciação Cinetífica, Universidade Federal de Uberlândia – Faculdade de
Engenharia Mecânica-Laboratório de Transferência de Calor e Massa e Dinâmica dos
Fluidos, Uberlândia-MG.

Lesieur, M., 1994, La Turbulence, Presses Universitaires de Grenoble, Grenoble - França.

Lindquist, dissertação de mestrado da UNESP Ilha Solteira, ???

Mansur, S. S. e Del Rio, E., 2002, Relatório técnico de pesquisa, UNESP-Ilha Sollteira –
SP.

Matos, A., Pinho, F. A. A. and Silveira-Neto, 1999, Large-eddy simulation of turbulent


flow over a two-dimensional cavity with temperature fluctuations, Int, Journal of Heat and
Mass Transfer, Vol. 42, pp. 49-59.

Moreira, L. Q., Modelagem matemática de jatos em desenvolvimento espacial usando a


metodologia peseudo espectral de Fourier, Tese de doutorado, PPG Engenharia Mecânica
da UFU, 2011.

PIVELLO, M.R. ; VILLAR, M.M. ; SERFATY, R. ; ROMA, A.M. ; SILVEIRA-NETO, A.


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Journal of Multiphase Flow , v. 1, p. 72-82, 2013.

Silveira-Neto, A., Modelisacion matematique e simulacion nmérique fine des ecoulement


turbulent diphasiques, Rapport d´estage de Pos doctorat au CENG-Grenoble-France, 1997.

Vedovoto, J. M., Experimentação numérica realizada no Laboratório de Mecânica dos


Fluidos da Universidade Federal de Uberlândia, 2013.

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