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Introdução
prático, que não deve ser atribuído apenas ao movimento dos fluidos. Potencialmente,
poderá reunir condições para operar em regime turbulento. Nestas situações, os valores
espaço, são de difícil previsão, uma vez que elas mantêm estrita dependência das condições
iniciais e das condições de contorno do problema. Sob esta ótica, numerosos são os
trilha ao longo do tempo, são totalmente imprevisíveis, mesmo para alguns poucos
segundos após o instante em que se realiza a observação. Além disso, uma pequena
valores estatísticos das informações associadas podem ser determinados com grande
ondulatória e radiação. Existem mais coisas desconhecidas que se pode imaginar! O estado
grande descoberta for realizada pode colocar esse sistema dinâmico em operação
determinada espécie, que integra uma das diversas cadeias alimentares deste sistema
características altamente turbulentas, tem origem na dinâmica de interação não linear entre
residência ou, até mesmo, a migrarem das pequenas cidades para os grandes centros
urbanos e vice-versa. Se, por um lado, as grandes cidades normalmente oferecem maiores
oportunidades de emprego e de lazer, por outro lado, a vida nas pequenas cidades é, em
geral, menos tumultuada. O crescimento desenfreado das grandes metrópoles, bem como as
de seca afetam sobremaneira a vida das comunidades rurais, induzindo famílias inteiras a
migrarem do campo para as grandes cidades. Uma pessoa inserida neste sistema não pode
ser vista como um indivíduo isolado, mas como parte integrante de um todo, onde vários
resultado, prever o futuro local de residência de uma pessoa inserida neste contexto torna-se
uma tarefa quase impossível. Não obstante, o crescimento médio populacional de uma
cidade, que leva em conta estes e vários outros fatores, tem sido predito com relativa
Uma pequena perturbação de ordem política, social ou natural, injetada em um único país
opulência à bancarrota em poucas horas, sem que se encontre, na lógica formal, qualquer
autoridades sanitárias.
Nada mais caótico (imprevisível) que o trânsito das grandes metrópoles. Uma troca
originadas por acidentes e obras nas vias públicas, manifestações populares, saídas de
estádios, chuvas e inundações, fazem parte do cotidiano das grandes cidades, ocasionando a
rápida transição de uma situação de relativa ordem, para o caos no trânsito. Esta
suas casas para o trabalho, já aprenderam a se orientar por emissoras de rádio, que utilizam
tráfego ao longo de seu trajeto. Num processo totalmente interativo, os motoristas alteram
suas respectivas rotas ao sabor das informações que lhes são disponibilizadas, de maneira a
evitar os pontos de maior congestionamento. Novamente aqui, nem mesmo o motorista será
capaz de prever, com um mínimo de antecedência, qual será a rota efetiva que o levará a
páginas desta obra poderiam ser dedicadas a este tipo de abordagem, propiciando ao leitor
fluidos, assunto que tem intrigado a mente de filósofos, cientistas e engenheiros, ao longo
dos últimos séculos, mas cuja perfeita compreensão ainda permanece como um dos grandes
que os mecanismos que lhe dão origem sejam bem compreendidos. Apesar dos notáveis
ainda hoje, bastante obscuros, impedindo que uma definição completa e abrangente possa
ser formulada. Até o momento, todas as tentativas neste sentido produziram definições
insatisfatórias ou controversas, porquanto ainda não existe consenso sobre a maneira com
associadas à natureza física da turbulência nos fluidos. Uma discussão sobre este tema é
no interior dos escoamentos, conduzindo a uma interpretação incorreta sobre a sua natureza
física. De fato, entende-se por vórtice uma estrutura bem organizada, constituída por uma
massa de fluido em movimento rotativo em torno de uma linha central. É bem verdade que
vórtices não garante que um regime turbulento esteja se estabelecendo ou que esteja
estabelecido. A turbulência é composta por estruturas turbilhonares, que incorporam,
sobretudo, outras formas topológicas com níveis de complexidade diferenciados, quando
literatura sobre turbulência, escrita em língua inglesa, nem sempre deve ser entendido como
corresponde à realidade física. Caracterizar a turbulência dessa forma torna menor toda a
sua riqueza física em termos de sua verdadeira composição que deve ser baseada no
desse livro.
O exemplo da Figura 1.1 ilustra a diferença que existe entre estas duas situações. Na
Figura 1.1(a) visualiza-se o escoamento laminar sobre um cilindro, com a presença de dois
Reynolds que caracteriza o escoamento sobre o mesmo cilindro. Neste último caso, a
visualização de vórtices já não é tão clara, sendo apresentada uma estrutura turbilhonar
Figura 1.1. Escoamentos sobre um cilindro circular: (a) escoamento laminar estável –
si de forma intensa e altamente não linear. Isto deve ser entendido como uma
Via de regra as dimensões das grandes estruturas turbilhonares são da mesma ordem
menores estruturas, por sua vez, são tão menores quanto maior for o valor assumido pelo
destas estruturas aumentam à medida que se reduz o seu tamanho característico. Grandes
A turbulência pode ser considerada como um fenômeno contínuo, uma vez que,
superiores ao caminho livre molecular médio do fluido. Isto quer dizer que qualquer
escoamento pode ser modelado adequadamente por intermédio das equações de balanço de
quantidade de movimento, balanço de energia e balanço de massa. Essa afirmação é
verdadeira desde que o número de Mach relativo ao escoamento não seja superior a 15. É
turbulento.
domínio físico, determina-se uma única solução para este sistema, essa solução só
condições iniciais e nos limites fossem conhecidas com absoluta exatidão temporal e
espacial. Entretanto, na prática, isto nunca acontece. De fato, a determinação das condições
clima planetário depende do uso de códigos computacionais que devem ser alimentados
de erros e, além disto, outras fontes de erros inerentes aos métodos de solução estarão
sempre presentes.
1
Embora ainda não tenha sido demonstrado matematicamente, admite-se a existência e unicidade da solução
para este sistema de equações.
condições iniciais e de contorno, podem conduzir a resultados distintos, no tempo e no
espaço. Neste sentido é que se fala de “caos determinístico turbulento2” – as equações que
modelam a turbulência são determinísticas, mas suas soluções não o são. Esta noção foi
de contorno jamais serão rigorosamente idênticas para diferentes realizações. Este fato não
deve, naturalmente, causar uma falsa impressão sobre a utilidade das ferramentas de
destas ferramentas de análise conduz aos seguintes desdobramentos práticos, os quais são
reproduzido a seguir:
x y x (1.1)
y x y xz (1.2)
z z xy (1.3)
Para o presente exercício, fixou-se 10 , 8 / 3 , 28 , x x t ,
y y t z z t . Esse sistema de equações foi resolvido utilizando-se um integrador de
Runge-Kutta de quarta ordem. Uma primeira simulação foi feita com as condições iniciais
mudança muito pequena na condição inicial para a variável x 0 0,100001 . Foi também
2
A noção de caos está associada à imprevisibilidade do sistema. Fala-se de “caos determinístico” quando o
sistema dinâmico é modelado por equações determinísticas e a imprevisibilidade dos resultados está associada
apenas a inexatidão das condições iniciais e de contorno. Note-se que nem todo sistema dinâmico que
transiciona para caos determinístico, pode ser considerado turbulento, por não atender a todas as demais
características da turbulência.
feita outra simulação para averiguar a sensibilidade do modelo quanto ao tipo de integrador.
Foram feitas duas simulações com as mesmas condições iniciais, porém utilizando o
quarta ordem. Na Figura 1.2 (a) apresentam-se as distribuições temporais das três variáveis
após o que elas se tornam oscilantes com o tempo. Na Figura 1.2 (b) apresentam-se a
(a) (b)
Figura 1.2. Evolução de duas soluções do sistema dinâmico de Lorenz: (a) a partir de duas
diferentes.
Na coluna (a) da Figura 1.3 têm-se as três condições iniciais que diferem entre si
apenas pelas diferenças nos valores da semente do gerador aleatório da perturbação que é
são relativos a um tempo t= 2 [s], as quais são qualitativamente diferentes. A coluna (c) da
Figura 1.3 mostra os escoamentos para um tempo t= 4 [s], sendo que nesse tempo os
específica, estejam submetidas a fortes flutuações não periódicas, cuja magnitude depende
cria fortes e numerosos gradientes locais, tornando o processo de difusão molecular mais
eficiente.
Foram realizadas três simulações, diferindo entre si apenas no valor da semente do gerador
de ruído aleatório: (a) condições iniciais t=0 [s]; (b) tempo t=2 [s] e (c) tempo t=4 [s].
Cortesia de Moreira (2011).
Para exemplificar este fato, considere-se uma parcela finita de fluido, transportando
turbulento. Como ilustrado na Figura 1.4, o efeito da turbulência será de quebrar esta
porção de fluido em partes, tão pequenas quanto menores forem as escalas da turbulência,
as quais serão transportadas para diferentes regiões do espaço. Esse processo conduz a um
aumento do número de gradientes locais e em consequência conduz a um aumento da
se separar os seus efeitos, de forma a não se tomar um fenômeno pelo outro. A difusão de
uma informação depende dos gradientes locais e do potencial associado a essa informação;
depende ainda do coeficiente de difusão, o qual é uma propriedade do fluido. Por outro
turbulenta” não deve conduzir a uma falsa ideia física. A turbulência em si só pode
transportar uma informação por advecção. Por outro lado ela acelera e intensifica o
(a)
(b)
Figura 1.4. Camada de mistura em desenvolvimento espacial, confinada entre duas placas
planas paralelas: (a) campo de temperatura e (b) taxa de reação química. Cortesia de
Vedovoto (2013).
estruturas, por sua vez, são compostas de estruturas menores, sendo que esse processo de
composição se repete até as menores estruturas que foram resolvidas utilizando-se uma
Figura 1.4 (b) apresenta-se a taxa de reação química. Percebe-se o alto nível de correlação
entre os dois campos, mostrando que quanto mais corrugada for a interface entre gás fresco
e gás quente, maior será a eficiência de reação química. Nota-se que o processo de reação
podem resultar em geração de instabilidades. Por outro lado, os efeitos difusivos são
Efeitos advectivos
Re . (1.1)
Efeitos difusivos
Este parâmetro adimensional também pode ser definido em termos das propriedades
físicas do fluido e das escalas características da turbulência, para representar a relação entre
os efeitos de inércia e os efeitos viscosos. Assim, seja uma estrutura turbilhonar de tamanho
que:
Re . (1.2)
manter turbulento, em situações onde os efeitos de inércia sejam mais importantes que os
tridimensional.
viscosa de energia cinética turbulenta, que gera aumento de energia interna, acontece nas
altas frequências da turbulência – menores escalas de tempo e de comprimento -, onde os
efeitos viscosos predominam sobre os efeitos advectivos. Sabe-se ainda que, em regime
por um processo não linear de interação simultânea entre todas as escalas que compõem o
uma cascata de energia desde as escalas integrais até as menores escalas, também
conhecidas como escalas de Kolmogorov, onde essa energia cinética turbulenta é então
importantes para se identificar fenômenos que não podem ser considerados como
turbulentos. As ondas internas de gravidade, por exemplo, não podem ser turbulentas, pois
(a)
(b)
Figura 1.5. Jato em desenvolvimento espacial em um meio quiescente: (a) visualização do
axial da velocidade média, na linha central do jato, comparado com dados experimentais.
À medida que o jato propaga pelo meio quiescente ele entra em decaimento, sob
efeito da dissipação viscosa de energia cinética turbulenta, indo ao repouso após uma dada
distância. A Figura 1.8 (a) mostra o processo de transição e o regime turbulento. Nessa
figura não é visualizada a zona de decaimento. Na Figura 1.8 (b) visualiza-se a distribuição
helicoidal, dependendo das dimensões da bolha e das propriedades físicas dos fluidos
das bolhas e as esteiras deixadas por elas, que determinam o caminho percorrido durante
seu deslocamento. À medida que os escoamentos internos e externos a uma bolha se tornam
instáveis, que podem inclusive transicionar para a turbulência, as trajetórias tornam-se mais
complexas.
(a) (b)
Figura 1.6 Movimento ascendente de uma bolha gasosa em um meio líquido - estruturas
turbilhonares com dimensões características da ordem de milímetros: (a) simulação
numérica, cortesia de Pivelo et al. (2013); (b) Resultado experimental, Clift et al. (1978).
A Figura 1.6 permite uma clara identificação da esteira a jusante de uma bolha de ar
experimentação material (Figura 1.6 (b)). Pode-se ainda identificar que as instabilidades
pulsátil da bolha.
obtenção de resultados tão detalhados quanto os acima apresentados, houve uma época em
realismo, que testemunham suas observações e reflexões acerca do movimento dos fluidos.
Na Figura 1.7 pode-se verificar uma notável semelhança entre o desenho de da Vinci, que
uma fotografia feita utilizando-se um equipamento convencional que capta imagens a uma
médio devido ao grande tempo de exposição. Observando a imagem da Figura 1.7 (a) é
fertilidade de sua imaginação que permitia a ele inferir uma realidade física de alta
(a) (b)
Figura 1.7 Movimentação de água em cascata - tamanho característico da ordem de alguns
metros: (a) desenho feito por Leonardo da Vinci por volta de 1515 e (b) fotografia de um
curso d´água na Serra da Canastra, cortesia de Finotti (2001).
de ambos os lados do corpo, dando origem à chamada esteira turbilhonar de von Kármán.
Apesar da presença de instabilidades fluidodinâmicas, de natureza periódica no tempo, por
si só, não implica na existência de um regime turbulento. Este é o caso ilustrado na Figura
propriamente dita, surge, para um dado valor do número de Reynolds, à medida que as
Este processo pode ser visualizado na região próxima à saída do domínio dessa mesma
turbulência.
(b)
Figura 1.8 Esteiras de von Kármán formadas a jusante um cilindro de base quadrada
submerso: (a) experimentação em túnel hidrodinâmico, cortesia de Lindquist (1999),
(b) simulação numérica via volumes finitos, cortesia de Vedovoto (2013.
A Figura 1.9 contém duas magníficas imagens capturadas por satélites, mostrando
esteiras de Von Kárman sobre as ilhas Guadalupe e Canárias. A visualização tornou-se
possível graças ao contraste criado pela presença de nuvens granuladas, organizadas pela
ação da convecção natural da atmosférica terrestre. Estas imagens, realizadas sobre ilhas
com centenas de quilômetros, impressionam não apenas por sua beleza, mas principalmente
pela enorme semelhança que mantêm com as ilustrações da 1.8 (a), escoamento em torno
de uma geometria de alguns poucos milímetros de dimensão. Na Figura 1.9 (b) visualiza-se
inclui uma ampla faixa de problemas de interesse prático, seja do ponto de vista de
térmicos. Por outro lado, a esteira turbilhonar deixada pela asa de uma aeronave, pode estar
ricamente habitada por este tipo de instabilidade fluidodinâmica. Como elas são, via de
na Figuras 1.10, onde, mais uma vez, as nuvens atuam como agentes de visualização,
revelando fenômenos que ocorrem com frequência na natureza. Esses fenômenos estão
sempre presentes ao nosso redor, porém invisíveis aos olhos humanos, caso não se tenha
Modelos matemáticos podem representar uma dada realidade física com muita
fidelidade. Na solução destes modelos, o uso de metodologias numéricas avançadas, assim
como de máquinas computacionais de alta capacidade de processamento e de
armazenamento de dados, tem se tornado um aliado poderoso para a compreensão da
natureza e também para a modernização tecnológica. A visualização de determinadas
variáveis, como a pressão, a vorticidade ou um escalar passivo – temperatura,
concentrações de componentes químicos – fornece resultados semelhantes à visualização
propiciada pelas nuvens ou por traçadores utilizados em laboratórios.
Figura 1.11 Estruturas turbilhonares em escala planetária: (a) na Terra e (b) no Sol.
onde duas estruturas turbilhonares em espiral podem ser contempladas. As partículas que
compõem esse “fluido” são corpos celestes os mais diversos possíveis. Visualmente pode-
se imaginar um fluido em movimento que tende a organizar essa matéria em estruturas que
se movem em um aparente processo de emparelhamento, tal como se observa em
(a) (b)
Figura 12. Estruturas turbilhonares em escala astronômica nas galáxias (a) e em escala
milimétrica no interior de uma bolha de ar se deslocando em água (b).
entre os dois processos de aproximação das estruturas turbilhonares impressiona, pelo fato
constitui a regra e o regime laminar pode ser considerado como a exceção. A modelagem
interior de uma bolha até o escoamento astronômico das galáxias podem ser tratados com o
Clift, R.; Grace, J. R.; Wber, M. E., Bubbles, drops and particles, New York: Academic
Press.
Mansur, S. S. e Del Rio, E., 2002, Relatório técnico de pesquisa, UNESP-Ilha Sollteira –
SP.