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2019
Autor:
Hamilton Pedro
Com o apoio:
Universidade Pedagógica
Laboratório de Engenharia de
Moçambique
RESUMO
Na construção civil técnicas são adoptados para que os materiais e as práticas de execução conduzam
a resultados finais satisfatórios. Nessa perspectiva, o trabalho a seguir centra-se na análise do efeito
que a cura tem no processo de aquisição de resistência à compressão do betão. Com isso em
consideração, foi implementada uma metodologia que consistiu em submeter três lotes de amostras
à três condições de humidade diferentes, caracterizando assim três tipos de cura distintos. Com este
processo esperou-se determinar com algum grau de confiança como varia a resistência à compressão
dos diferentes provetes submetidos a condições de cura diferentes, e com base nisso tirar conclusões
sobre como varia a resistência do betão curado em campo em relação aos curados em ambiente
laboratorial, isto permitiu verificar que embora exista uma variação considerável entre os valores de
resistência à compressão medidos entre os provetes, essa variação por si só não torna os resultados
de laboratório incoerentes com a realidade de campo. No entanto, é importante realçar que em
elementos estruturais com dimensões relativamente próximas as dos cubos de ensaio os processos de
cura irão ser determinantes na resistência final do betão.
ABSTRACT
In civil construction techniques are adopted for materials and implementation practices in order to
archive satisfactory results. From this perspective, the following work focuses on the analysis of the
effect that curing has on the process of acquiring compressive strength of concrete. With this in mind,
a methodology was developed, which consisted in submitting three batches of samples to three
different humidity conditions, characterizing three different types of cure. With this process it was
expected to determine with some degree of confidence how the compressive strength of the different
specimens under different curing conditions varies, and based on this, draw conclusions about how
the resistance of the concrete cured in the field varies with respect to the concrete cured in laboratory.
This allowed to verify that although there is a considerable variation between the values measured,
this variation by itself does not make the laboratory results incoherent with the field reality. However,
it is important to note that for structural elements with dimensions relatively close to those of the test
cubes the curing processes will be decisive in the final strength of the concrete.
Tensao [Mpa]
45.00
40.00
35.00
30.00
7 14 21 28 35 42 49 56 6
Idade [dias]
Figura 2: influência da cura húmida na resistência à Gráfico 2: Evolução da resistência à compressão com a idade
compressão (adaptado de Price, 1953). do betão – WCC (adaptado de Fonseca,2012).
Relativamente aos ambientes LCC (Gráfico 4) e WIC (Gráfico
Fonseca (2012) avaliou experimentalmente a influência
3), o andamento das curvas de resistência leva a supor que a
de condições de cura no desempenho mecânico do hidratação do cimento tenha sido mais lenta, pelo que o
betão, tendo desenvolvido uma campanha que incluiu a valor de fcm56 Poderá não corresponder à resistência final.
Isto era esperado para o ambiente WIC, pois, devido aos
avaliação da resistência a compressão de um betão de
provetes se encontrarem imersos em água, a evaporação
referência BR de classe C30/37 ou B35, com provetes desta é evitada, o que por norma conduz a resistências finais
cúbicos de aresta 150 mm submetidos a quatro (4) mais elevadas, mas a uma evolução mais lenta (Fonseca,
condições de cura, nomeadamente: cura em ambiente 2012).
de laboratório – LCC (laboratory condition curing), cura cura por imersão em água
em ambiente exterior – OEC (outter enviroment curing), 55.00
50.00
Tensao [Mpa]
30.00 45.00
7 14 21 28 35 42 49 56 40.00
Idade [dias]
35.00
Gráfico 1: Evolução da resistência à compressão com a 30.00
7 14 21 28 35 42 49 56
idade do betão – OEC (adaptado de Fonseca,2012). Idade [dias]
Observando estes gráficos, constata-se que, após 28 dias
Gráfico 4: Evolução da resistência à compressão com a idade
de cura em ambiente OEC (Gráfico 1), a evolução da
do betão – LCC (adaptado de Fonseca,2012)
resistência à compressão é quase nula.
CAMPANHA EXPERIMENTAL
a. Cimento Portland
O cimento Portland utilizado nesse trabalho Massa das partículas secas
m3 6307
experimental foi o CP IV 32.5 (cimento Portland ×ρ= × 997 = 2324.61 kg/m3
m1 − m2 6513 − 3808
Pozolânico). A composição potencial do cimento, assim Absorção de água
como as características físicas da pasta estão detalhadas m1 − m3 6513 − 6307
× 100 = × 100 = 3.27%
m3 6307
na Tabela 1.
10
sólidos
água
Figura 6: mistura dos materiais em betoneira de
eixo vertical.
ANÁLISE DE RESULTADOS
11
Tabela 1: resistência a compressão do betão aos 7
dias: cura seca
Pode levar-se em conta o efeito das vibrações que o grupo
com menor resistência sofreu devido aos processos
constantes de transporte e imersão no tanque de cura, que
podem ter afectado a estrutura interna do betão nos seus
primeiros dias.
sustentam Newman & Choo (2003), este seria o provetes nos seus 28 dias ligeiramente maiores aos dos 7 dias
caso, considerando que os provetes que receberam embora isso pudesse se justificar pelo maior tempo de
água mantiveram seus níveis de temperatura mais absorção de água que os agregados tiveram, a não ocorrência
baixos. Contudo, os valores de resistência dos desse fenómeno na cura saturada refuta essa hipótese. Estes
provetes curados à temperaturas ainda mais baixas resultados podem conduzir a importantes constatações, visto
(±20o) e em contacto directo e permanente com que o peso específico do betão é uma propriedade bastante
Tensao [Mpa]
27.0
importante do betão que é diretamente 23.0 cura seca
19.0
proporcional a sua massa. Entretanto a relação 15.0 cura intermitente
30.7 + 31.1 + 32 0.00 5.00 10.00 15.00 20.00 25.00 30.00 35.00 13
fcm =
3 28 dias 7 dias
fcm = 31.3 Mpa
Xmin = 30.7 Gráfico 6: Gráfico de resistência a compressão dos provetes
Verificações em condições de cura seca aos 7 e 28 dias
fcm < fck + 5 → k. O!
Xmin > fck − 1 → O. k! Cura Intermitente
HPII 30.7
24.18
b. Para provetes em condições de cura 33.8
HP II
23.56
intermitente
HP III 34.7
fck + 5 = 30 + 5 = 35Mpa 23.91
fck − 1 = 30 − 1 = 29Mpa 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00
Embora todos os provetes testados tenham atingido a resistência mínima desejada ficando acima dos 30.0Mpa, nota-
se que os critérios de conformidade, só foram atendidos por completo apenas pelos provetes em condições de cura
saturada, o que reforça ainda mais este método como o que oferece o maior desempenho mecânico em relação a
resistência à compressão.
50
cura- Cura - saturada
Tensao em Mpa
40 cura-seca Intermitente
30 Tensao requerida
20 Linear (Série1)
10
0 14
Considerando que os provetes curados de forma minimizadas conforme maior forem os tamanhos das
intermitente e seca tinham como finalidade criar uma peças betonadas, como referenciado por Fonseca
representação do betão curado em obra, os dados (2009), em um estudo análogo. No período em que foi
favorecem o pensamento de que existe um perigo em efectuado, o estudo o clima na região era em geral
considerar que os resultados que se obtêm a partir de ameno e de temperaturas razoáveis (com uma média
ensaio de provetes curados em condições perfeitas rondando os 21℃, mas com picos de até 35℃), essa
podem representar os resultados encontrados numa dinámica de efeitos climáticos como temperatura e
situação real. Assumindo que a representação aqui feita humidade do ar pode ser analisada no gráfico abaixo.
é fiel ao que realmente ocorre no terreno (embora no Por outro lado a humidade relativa fica em média na
terreno existam outras variáveis e de maior casa dos 51% bem abaixo dos 90% recomendados na
complexidade) é preciso considerar que as discrepâncias mesma norma NP-EN-197-1-2001. Estes factores
encontradas entre os valores dos provetes submetidos a associados a outros como vento e vibrações
diferentes processos de cura, serão influenciaram bastante no desenvolvimento da
resistência dos provetes.
75
70
Humidade relativa em %
65
60
55
50
45
40
35
30
25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Dias
29
Temperarura em oC
27
25
23
21
19
17
15
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
Dias
não recebe o cuidado que lhe é exigido. A cura do betão se pelo baixo controle de qualidade de construção, desta
forma um dos aspectos mais negligenciados é a cura, 15
constitui um processo importante para a aquisição da
uma sugestão seria o maior empenho dos pequenos
resistência requerida no próprio betão. Os resultados
obtidos nos permitem concluir que é grande a empreiteiros na prática de uma cura mais cuidada dos
importância que os processos de cura exercem na elementos de betão, considerando que por serem obras
de pequeno porte e consequentemente com elementos
resistência do betão, a maior ou menor exposição a
estruturais mais esbeltos a influência de uma má cura
humidade irá interferir no tempo necessário para atingir
pode ser significativa.
determinada resistência bem como na resistência final
Sugerir também mais estudos tendentes a descrição
em si. Pode-se notar a grande disparidade entre os
detalhada de fenómenos relacionados a hidratação do
valores medidos entre as curas seca e saturada, onde a
cimento e endurecimento do betão. É necessário criar
diferença entre as resistências finais aos 28 dias fica em
mecanismos que guiem futuras gerações no que diz
torno de 8Mpa cerca de 21%, isso demonstra a influência
respeito ao comportamento do betão no estágio de
que estes processos podem desempenhar em obra. As
condições de cura do laboratório mostraram-se muito cura.