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Há sempre poesia nesse mar de linguagem que nos engendra, por Levi Branco.

Meus caros amigos,

Meus caros amigos,


Não há nada de novo por aqui
Somente as mesmas palavras duras e secas
preenchendo o cenário desta ilusão

O verão arde
O sol das onze ferve-nos o tino
O poema vacila em nascer para o mundo
como uma flor de náusea impávida e real

É complicado, requer paciência e boa-vontade


No começo é difícil caminhar com as próprias pernas
É bem comum meter os pés pelas mãos e não entender bulhufas
Mas vamos com calma, aí vai um empurrãozinho:

Deixem o poema nascer!


Tanto faz se no barro seco do chão
Ou no asfalto ou na grama do jardim
O importante é deixá-lo firme, para que floresça, um dia
No meio do caminho de quem vem de longe
E vai se perder na estrada de Silêncio e Caos

Deixem o poema rolar por aí


Cair profundamente nos abismos
Lúcido como um heterônimo pessoano
Deixem o poema comprimir-se no peito e depois explodir
Exprimir! Expandir! Exaltar qualquer coisa maior do que si mesmo
Ou o mundo, com todas desgraças e maravilhas
E, mesmo que o poema não fale sobre nada além dele mesmo
(Que não é senão tudo), deixa ele ser...
Se criar, rolar pelo mundo...
Pisar a grama de pé descalço brincar na rua até anoitecer...
Arrebentar o dedão jogando bola...
Brigar... Enfim, todas as coisas que fazem uma infância feliz

Ora, deixem o poema sonhar!


Pois um dia ou outro ele será engolido
E digerido no caos do esquecimento
Então só haverá a música...
Há quem diga, por outro lado, que o poema vive, para sempre
Vitorioso e retumbante no peito dos velhos amigos
E dos leitores fiéis mesmo que críticos
Eis a luz no fim do túnel para poetas-piolhos
Fracassados megalômanos e ególatras
Mascarados especialistas na arte da fuga e nada mais
Dissolvedores do Eu no Outro e do Outro no Eu - Como Eu!
Meros especuladores de significâncias vazias,
Mas místicos, sobretudo... Sim, Místicos!
Leviatãs de aço projetando na escura trama da Linguagem astros incandescentes
Imagens, Palavras e Alter-Egos fulgurantes numa órbita viciosa de Mistério e Névoa

Deixem o poema em paz, caras


É disso que o poeta precisa
Só assim o poeta massacra-se
Só assim o poeta (trans)fere-se
Só Assim o poeta satura-se
Só Assim o poeta transvê-se
De cima e por si mesmo
Fragmentado e Uno
E recria seus álibis para justificar sua autodestruição
E ejacula desvarios poéticos tão profusamente quanto uma erupção vulcânica

Meus vulcânicos amigos, aí vai mais um conselho:


Fluam com a poesia do mundo
Procurem no arco-iris algo que não seja uma cor
Deem nome aos cães, aos homens e aos versos antes que não mais te pertençam
Ah, importante: nunca, mas nunca pensem antes de agir...

Ao amor que eclode, deixa-lhe marcas de indiferença


E, enquanto houver asco em tua boca
Confirma o escarro que não existe.
Contemplação

O céu recua
Sem perguntas
Ausente e sem mistério

De meus jardins anteriores


Só me restaram palavras
Cicatrizes sobre a carne
Escassas flores pisoteadas
Com odor de esgoto a céu aberto
Em dias quentes de verão

Avulso
E em convulsões
Conjugo-me como a um verbo
Indeclinável, no entanto, mas inverossímil

Meu nome
Ainda é o mesmo
Mas para não esquecê-lo
Repito-o incessantemente
Em tons fúnebres de prece católica

Na terra do sonho onde me afasto da vida


(Que é um mero detalhe para quem desliza entre idéias)
As cores me abstraem e o acaso me compõe em sonatas de gelo e dor
Mais frias que a noite e mais densas que os olhos crus da minha namorada

Eis o dia a dia da minha provação.


Deslumbramento espontâneo da contemplação.
Dia após dia após dia após dia após dia após dia.

O céu recua
Sempre como a onda
Que quando ninguém espera
(E estão nuas tuas costas de praia)
Vem e enxágua essas baías de areia e osso
Com a abundância exuberante do azul celeste

O céu recua
Fugindo ad infinitum
Embora não saiba por quê
Pra onde, nem de quem, ou até quando?
Dobrando-se em si mesmo ele se encolhe
Transmuta-se entre as lacunas de amor e luz (vazio).
Mas na fuga, se agiganta; e no medo, se adoça, manso
Porque é sempre céu e sempre azul, mesmo que cinza

O céu recua
Tal qual maré-morta
Lodaçal salgado do tempo
No qual apodrecemos aos versos
Na espuma bacteriana da pós-modernidade

Fervendo, o coração se consome


Decompõe-se em sais sulfúricos de medo
E volta a ser lodo
Caos ancestral
Tempo e pó
E isso é só

O céu recua
E já não suspiramos
Nem sentimos mais saudades

Nuvens
É o que somos
Passageiros do Presente
Sob o reflexo insano do sol
Profusão lírica

I
Hipóteses tão belas quanto impossíveis,
São forjadas no emblema da noite
Quando as musas se embevecem no sal da manhã
E vêm serenar canções no ouvido do tempo

II
Hoje eu acordei pensando nas cores
Da musa mais linda dentre as musas.
Ejaculei as memórias num vaso sanitário
E às vésperas de um derrame
Enegreci a imensidão das distâncias.

Num sobressalto
Lembrei-me das vezes
Em que a parasita se alojou no meu peito
E sugou o meu mundo para dentro do seu
Lembrei-me das caóticas ocasiões
Em que escassos desfilamos pelas ruas de néctar
Como se fossemos rei e rainha da manhã ambígua
Espantando as moscas das nossas feridas
Com o licor dos sonhos a escorrer pelos cabelos
Sentindo nervosos calafrios na espinha
E saudades reais da estrela

III
Meu coração posto a nu
Suplantou as vanidades da alma
E Rejuvenesceu eras a fio
ao tentar rememorar o amor em versos:
Naqueles tempos insólitos
vacinávamos a alma para mantê-la aquecida
Perscrutávamos a mente para mantê-la calma e afastar os demônios de seus domínios
Mas, sobretudo, desvendávamos o corpo e seus fluidos glandulares
Para conservar o sabor agridoce do inferno no céu sem nuvens da boca.
Não bastasse,
Deslizávamos pelas ruas de cera, equilibrando-nos sobre hexágonos de mel,
E assimilando os perversos desígnios de deus ao tocar o céu com a extensão das
nossas vistas amarguradas
IV
Mas eu soube do ser o estremecimento
Quando a ferroada do tempo me feriu gravemente
Quando os cruéis musgos do esquecimento
Assentaram-se na pedra fria da memória
Na umidade implacável de um dia sem sol
Cerrei os meus olhos desesperadamente
Para conservar intacta a tua imagem
Pressionei o cérebro contra as paredes do crânio
Para vislumbrar teus olhos impossíveis e suprarreais
Mas esvaneceram-se teus traços mais simbólicos
E tua imagem fugidia, cada vez mais tênue, teimou em vingar
Esmaecida na cromofônica esfera do esquecimento

V
Eu resisti.
Cravei as unhas com garra nas enormes estalactites de cristal penduradas no fundo da
caverna do peito para delas extrair o denso fluido do passado ossificado há séculos
Recitei preces de memória com palavras doces de amor puro trocadas no âmago das
noites em claro
Mas tudo se havia perdido
Somente o nada sobre o nada restou de nós
Desmanchado em sulfúricos perfumes
Na imensidão perversa e nefasta do amor perdido

VI
Como tu eras linda flutuando morta entre os peixes
na superfície lamacenta do lodo anaeróbico
Nua como a neve e inchada como a lua em decomposição
Na fotossíntese gesticulada do teu corpinho outrora agitado, nacarado e sensível
Como te sorriam as algas indecentes
No vazio cortante daquela muda esfera
De silêncio e desolação

VII
Mas endireitei-me diante do espelho
E furei os meus olhos para te soletrar
Na espiralada visão do nosso amor sublingual
Sonhando eu adivinhei cada nervo
Invertido da tua espinha dorsal

VIII
E como um cancro ímpio e nefasto
Com um toque vampírico e milimétrico
Premido entre as vértebras do teu sorriso
e o enlace metafísico que nos uniu
tua imagem recompôs-se diante de mim como uma estrela
Afugentada sombra antes do sol
Abraçamo-nos por segundos insuperáveis
E por instantes nutrimos nosso vazio
Fluindo o amor do cóccix ao crânio
Na invisível viscosidade medular da noite
Rabisco meu uivo pálido & opaco nos muros de osso da mente soberana

Rabisco meu uivo pálido & opaco nos muros de osso da mente soberana
Livre ele segue rarefeito & tímido através desta tela que me separa do mundo
Já ouvi falar de uivos que estremeceram o ocidente & rasgaram o homem ao meio
Ouvi falar também de suicídios memoráveis que foram ocultados pela mídia para
evitar que meia humanidade fosse dizimada em matanças coletivas combinadas pelo
Facebook

Ó, Ginsberg que repousa no limbo dos poetas malditos


Ofereco-te este uivo modesto de revolta & excremento
Banhado na urina pós-moderna destes dias confusos
Eu, que nunca vi anjos tortos & aleijados nus & histéricos na noite lendo poemas nos
terraços imaginários enquanto legiões de poetas & músicos expoentes da geração
convulsionavam no gramado com as veias entupidas de arte & amor & a poesia a
arder-lhes nos olhos sufocados de fumaça
Vi somente a luz suja de seus cus se apagar num ensurdecedor gemido que rasgou o
céu & murchou a lua
Vi somente suas bocas fecharem-se suas mãos apalparem as carteiras recheadas de
reais, ao passo que, reais mesmo eram somente os demônios de cimento e alumínio,
que devoravam seus cérebros & imaginação no lodo tóxico da propaganda

Eu, que me julgo beato, mas fodo & defeco isolado do mundo nos quartos
aconchegantes destas ruas vazias da minha não-Nova York onde nenhuma ameaça
penetra & é muito fácil indignar-se, tenho legitimidade poética para uivar?
Eu, que não possuo coquetéis químicos correndo nas veias exceto o ópio
esplendoroso do sonho
Eu, que desisti tão cedo de buscar a eternidade & sangro sem dor nem motivo
lamentando o tempo perdido, tenho razão para uivar?

A arte acorda de um longo período de hibernação & remonta-se no caos da realidade


Tal como o homem, que viu a promessa de um novo mundo explodir na carapaça
daqueles que diziam ter bolas duras o suficiente para conduzir o barco, mas que
naufragaram e foram mastigados engolidos regurgitados pelo dínamo colossal do
capital & hoje não passam de buracos negros de cobiça & veneno
Que nos empurraram goela abaixo a falsa idéia de que estas engrenagens sujas de
sangue giram para o lado certo & que toda esta maquinaria não engendra a
autodestruição
Que andam escoltados por seguranças retangulares no palácio onde ditam as regras
do nosso jogo & escrevem nosso destino com suas Montblancs, mas nem sequer
imaginam que jantamos suas bolas cruas noite após noite planejando a revolução
Através dos nossos uivos-fantasmas que viajam lutando para não serem esmagados
pelas sombras da realidade através desta tela fina que nos separa do mundo

Meu Uivo, para Ginsberg no limbo dos poetas malditos


São sempre mais bonitas as coisas que não existem

Cansada dos surrealismos gratuitos


E das metáforas sem pé nem cabeça
A menina sorriu ao som do sol
Olhou para a nuvem em forma de tempo
E não quis mais brincar

Curou a cegueira da cabra


Colheu palavras de luz ao jardim
E deitou-se sobre a relva a sonhar

"São sempre mais bonitas as coisas que não existem"


Disse-lhe um homem com voz de luar

Prove-me o improvável que te farei rainha


Sobre a relva morta de carvão
Então veremos brotarem as rugas
No rosto magro e vencido de sol
Hoje não há mais poema

Hoje não há mais poema


Hoje a carne é cinza como a quarta-feira
E vermelha no sábado imenso que eu sou
Azul no domingo de outono
Mas na segunda cotidiana
Talvez seja meu último prato de arroz e feijão

Tu, minha melhor amiga,


que sempre me escuta e me abraça:
Não pense que eu amo o avesso
Por orgulho teimoso ou simples acaso

Tua carne é de riso e de pólen


Tão súbita e ingênua
Que me atiro da torre vestido de branco
E rezo três carnavais durante a queda
O cárcere das coisas não ditas

Parados na cruza dos ventos


Como parasitas na água estagnada
Discutimos os rumos da estrada
Cada soldado com sua bandeira

Resolvendo enigmas
Com nossas goelas cantantes
E simplesmente súbitas em relação ao sol
Quebramos o cárcere das coisas não ditas
E gargarejamos a quietude
Em relâmpagos de silêncio
Sonhos com Liz

Liz passeava com seu cão de diamante


Na alameda dos meus sonhos favoritos
Seus seios orbitavam
Na cadência dos passos
E produziam algum tipo de encantamento nos meus olhos redondos

Impulsos sexuais pulsavam em cada célula do meu corpo


Após duas taças de mercúrio me senti pronto pra Liz
Mas o rosnado do enorme cão de diamante me deteve
Voltei pra casa cansado. Acordei.

Nua, Liz se olhava na superfície espelhada


Da esfera metálica da vida
Era absorvida e vomitada
No ciclo eterno da minha escrita suave
Que era o tempo e suava
E tremia nas pernas da noite

Ela gemia, penetrada pelo meu desejo


A Luz morria nos olhos redondos

E Liz se escondia sob as cobertas


Risos rolavam na estampa
escute meu chapa,

um poema não se faz com versos


colhidos ao léu em jardim alheio
tampouco com trocadilhos gratuitos
tecidos com pressa antes do sol

um poema não se faz com rimas


nem com métricas de arrebatar
trata-se de expôr a lata sem medo
e nunca correr quando a coisa ficar preta

além disso, um poema se faz no deserto


com o coração entregue aos leitores
para nutri-los da mais ingrata podridão
ah, esses abutres de negras penas!

atenção! um poema se escreve, apenas


mas não na areia da praia, com vento na cara
tampouco nas nuvens... suave... ou no céu...
(dispensa-se até a caneta e o papel)

meu amor, pela última vez


meu poema não está nos teus cabelos
meu poema é carniça fresca no deserto aguardando os urubus
pois ser devorado, quando morto, é vencê-los

citação:
ofereça este poema
a um leitor e a um abutre
o que ficar mais satisfeito
elogiar, gorgolejar, curtir, se lambuzar
e admitir que o verso podre muito bem o nutre
é o leitor, nem que seja o abutre
não adentreis a noite densa

não adentreis a noite densa


que paira avassaladora
sobre a crosta acidentada
desta bola de vida giratória
se, à luz daquele tempo
que abarca do sêmen à tumba
vos deixastes ser capturados n
a crueza nua dos sentidos
pelos espectros cadavéricos
que velam o espírito
na sala circular da torre
e parasitam a essência da luz
que na noite densa sucumbe
e não se permite mais brilhar

não adentreis a noite densa


se diante do espelho
(janela dimensional
que vislumbra a noite amiga
na expressão do rosto refletido)
não cegastes os próprios olhos
na longa vigília dos séculos
ao fitar esquecidamente
a luz entalhada no metal da imagem

(estas palavas mortas,


as bebo como metal fundido
para provocar a noite
e aventurar o perigo)

não adentreis a noite densa


sem conhecer o canto do bardo
que ressonará no seio da terra
por todo o sempre

esta noite pode ser a última,


portanto, ouvis o que vos digo:
bebei este gole
cantai com o bardo e
deixai fluir o rio da poesia
em vossos corações

O sol é um zepelim de fogo

No rastro leitoso da galáxia


Uma estrela nada e se nutre
Agarrada ao seio de poeira e luz
De algum ponto vazio do espaço

É o sol! meu zepelim de fogo


Emanando selvageria universo afora
Pulsando & pairando, soberano,
Sobre os edifícios de esponja e sangue
Que brotam feito melanomas de concreto
Esgaçando o centro das cidades
Imensos corais de loucura pós-moderna
Onde nascem e crescem crianças
De crânios cromados e crinas cremosas
Afagadas e fustigadas diariamente
Pelas infinitas línguas de luz solar
Que como (di)amantes derretidos,
Beijam, aquecem e envolvem
A terra: esfera azul de vida plena
Embrião imerso na saliva amniótica
E altamente nutritiva do Amor

Foi desvendada a real identidade de Deus.


É o sol! com seus dedos radioativos
Desenhando no vazio a órbita dos astros
É o sol! eterno objeto da nossa adoração
Responsável pelo absurdo e culpado pela existência
Deus! Deus! Sol! Sol!
Sob qualquer forma ou imagem
Que possa conceber a mente humana:
Velho barbudo, energia cósmica
Eterna dualidade de opostos
Tudo e nada
Nada e tudo, enfim:
O sol é um zepelim de fogo
Tripulado pelo Avatar divino
Que observa o grande tabuleiro
Onde as peças se movem, orgulhosas
E convictas de um suposto livre-arbítrio
Prefácio da Inervação

Pelas arestas movediças


Destas palavras brutas
Eu destilo a plenitude
O substrato de vida
Deste poema absurdo
Que veio até mim
Através de uma visão
Iluminada e profética

No princípio era delírio


Randomização sensorial
Alucinação de primeira ordem
Mas num ímpeto de sonho
Expelindo fantasias
Ergui muralhas de loucura
No solo lamacento da desordem

Para celebrar a libertação


Das cadeias lógicas da linguagem
Eu bebi taças e mais taças
Da poesia imagética
Musicada por miragens
Palavras pinceladas
Pelo verbo é o movimento
Enquanto cores me consomem
A Inervação estica o homem
E cede espaço á Idéia
Primorosamente esculpida
Na substância eterna
E primitiva do Amor.

Mas o homem se torna deus


Na sua cena derradeira
Na catarse trágica da vida
Rompendo-se em mil pedaços
Num assomo de rebeldia
Meu peito explodiu
Um campo infinito de girassóis
Um torpor infinito de expressões
Impregnado de megalomania
E neurastenia psicótica
Eu, gênio só para mim mesmo
Sigo na busca implacável
Pela sublimação poética

Eis minhas iluminurações


Espetáculos de sangue e morte
Perante um coliseu lotado
O circo e o pão do espírito
o estopim

o sono beija
meu cérebro
carinhosamente.

a mente morre
caio de afago
em sono profundo.

Acordo e nada
Reparo exceto
que há um piano

Desmanchando-se
em canções febris
de tabacaria

do lado de lá
da rua cruzada
por gente por carros

está o estopim
da minha poesia
e da metafísica

que nada mais é


do que acordar
mal disposto
Não há motivo algum pra pranto.

Ao longo dos teus dezoito anos,


não houve inverno frio
que o verão radiante da tua alma
não tenha derrotado bravamente
na batalha eterna das estações.

Não há motivo algum pra pranto.


O coração deve ser duro,
ou escorre pelas costelas,
como metal quente fundido.
O coração deve ser frio,
ou o peito superaquece,
a máquina entra em colapso,
e então é preciso abandoná-la.
O coração deve ser forte,
mas nunca flexível, ou vaza.
Explode na maquinação destrutiva
da mente entorpecida
por doses montruosas de realidade.
Ah, que cesse já o afogamento das pupilas!

Não há motivo algum pra pranto.


A tua pele ainda reveste essa carne
Tenra que, por sua vez,
ainda reveste a ossada
que não pulverizou
nem virou vidro ou cimento ou madeira
e ainda te sustenta em pé
e te ergue da cama
todos os dias
sobretudo quando chove
e é segunda.

Não há motivo algum pra pranto.


Lembra que teu corpo ainda não foi
transformado em cinzas,
nem depois atirado ao mar,
em tarde nublada de outono,
naquele penhasco onde costumávamos ir...
Ou foi jogado na cova,
à seis ou sete palmos do chão...
Ou engavetado,
naqueles túmulos de parede
que economizam espaço nos cemitérios lotados...
Nem tua foto de formatura,
ou daquele último natal,
enfeita o lacre da tua cova...
Nem palavras entre aspas
resumem em uma frase
tua (sempre curta, posto que intensa)
vida.

Tu és linda,
e essas lágrimas queimam teu rosto,
deixando sulcos eternos,
cavando rios inférteis na porção de terra do ser.
Rios que irrigarão vastos e duradouros reinos,
erguidos sobre essa dor que te prostra ao chão,
que te arranca lágrimas,
e então é inevitável a gangrena da alma.

Deita aqui,
eu quero fazer amor contigo

...

Agora dorme tranquila,


não há motivo algum pra pranto.
Trago cósmico

O Universo veio ter comigo


Numa tarde gélida de julho
Foi logo entrando sem pedir licença
Sentou-se à mesa e acendeu um cigarro
(Uma miniatura de sol reluziu sobre mim)
Após um longo período de apreensão
E completo silêncio no vácuo da sala
Sob gloriosos arcos de fumaça
Ele ruminou um enigma e o revelou,
Com grave e densa voz de infinito,
(Uma formidável poesia anti-gravitacional
Em língua portuguesa, pra minha surpresa)

"Vinho?", perguntei. "Por favor", ele me disse


E agitou a cabeça levemente
Enquanto batia as cinzas do cigarro
O tempo derretia e se recompunha
Incessantemente a cada movimento
Do meu ilustre e digno convidado
E, líquido, ora pingava nas taças
Misturando-se ao vinho barato
E efervescendo ante meus olhos acesos

Enchemos a cara a tarde inteira


Jogando conversa fora
Bolando melodias pegajosas
E fazendo versinhos ridículos
Harmonizando canções antigas
E esculpindo palavras novas
Como velhos e bons amigos
Degenerados e bêbados
Tarde afora em plena segunda

Eis que na loucura do trago


Já balbuciando palavras em idiomas indecifráveis
Olhos fumegantes aranhas sob a pele
Chegamos à seguinte conclusão (parecia tão óbvio):
“só é pleno o espírito que transborda”
E no mesmo instante verteram
Luminosos fantasmas com tentáculos e raízes
Do peito do homem-deus que ali estava
Com o semblante aflito num frenesi indizível
Subjugado pelos espectros gerados pelo próprio ventre

Jorravam os perfumes, as luzes e as cores


Como num sonho jamais sonhado
Cruzando o céu num espetáculo inacreditável
Os filhos do infinito inundaram a sala
Depois a casa e, logo, a cidade
Em questão de minutos, tinham tomado o país
Poucas horas e o mundo se afogava
Num mar inflamável de faces monstruosas

O tecido da realidade queimava aos poucos


Tudo era grito de dor e aparente destruição
Seria o fim? Seria o derradeiro momento?
Malditos tragos cósmicos em plena segunda!
Eu e a minha mania inconseqüente
De tomar todas com as estrelas
E com entidades divinas... mea culpa...

(Em minha defesa: “Foi tudo em nome da arte,


Sou só um homem nauseado espremido
Entre a vontade da essência
E o absurdo da existência”
E assim me salvo)

Caro leitor,
Esta poesia não faz mais nenhum sentido
(Se é que um dia algo tenha feito)
Que a comam os abutres, e que a comam já!
Não serve sequer para adubo
Para dizer a verdade,
Ela flui hoje aonde a luz não chega
Carrega a herança dos excessos
Desbravando o Inferno em expansão
Derramando a eternidade em chamas azuis
Por sobre as terras virgens de verdade
Justo como eu previ naquela tarde extraordinária
Quando o Universo veio ter comigo

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