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O verão arde
O sol das onze ferve-nos o tino
O poema vacila em nascer para o mundo
como uma flor de náusea impávida e real
O céu recua
Sem perguntas
Ausente e sem mistério
Avulso
E em convulsões
Conjugo-me como a um verbo
Indeclinável, no entanto, mas inverossímil
Meu nome
Ainda é o mesmo
Mas para não esquecê-lo
Repito-o incessantemente
Em tons fúnebres de prece católica
O céu recua
Sempre como a onda
Que quando ninguém espera
(E estão nuas tuas costas de praia)
Vem e enxágua essas baías de areia e osso
Com a abundância exuberante do azul celeste
O céu recua
Fugindo ad infinitum
Embora não saiba por quê
Pra onde, nem de quem, ou até quando?
Dobrando-se em si mesmo ele se encolhe
Transmuta-se entre as lacunas de amor e luz (vazio).
Mas na fuga, se agiganta; e no medo, se adoça, manso
Porque é sempre céu e sempre azul, mesmo que cinza
O céu recua
Tal qual maré-morta
Lodaçal salgado do tempo
No qual apodrecemos aos versos
Na espuma bacteriana da pós-modernidade
O céu recua
E já não suspiramos
Nem sentimos mais saudades
Nuvens
É o que somos
Passageiros do Presente
Sob o reflexo insano do sol
Profusão lírica
I
Hipóteses tão belas quanto impossíveis,
São forjadas no emblema da noite
Quando as musas se embevecem no sal da manhã
E vêm serenar canções no ouvido do tempo
II
Hoje eu acordei pensando nas cores
Da musa mais linda dentre as musas.
Ejaculei as memórias num vaso sanitário
E às vésperas de um derrame
Enegreci a imensidão das distâncias.
Num sobressalto
Lembrei-me das vezes
Em que a parasita se alojou no meu peito
E sugou o meu mundo para dentro do seu
Lembrei-me das caóticas ocasiões
Em que escassos desfilamos pelas ruas de néctar
Como se fossemos rei e rainha da manhã ambígua
Espantando as moscas das nossas feridas
Com o licor dos sonhos a escorrer pelos cabelos
Sentindo nervosos calafrios na espinha
E saudades reais da estrela
III
Meu coração posto a nu
Suplantou as vanidades da alma
E Rejuvenesceu eras a fio
ao tentar rememorar o amor em versos:
Naqueles tempos insólitos
vacinávamos a alma para mantê-la aquecida
Perscrutávamos a mente para mantê-la calma e afastar os demônios de seus domínios
Mas, sobretudo, desvendávamos o corpo e seus fluidos glandulares
Para conservar o sabor agridoce do inferno no céu sem nuvens da boca.
Não bastasse,
Deslizávamos pelas ruas de cera, equilibrando-nos sobre hexágonos de mel,
E assimilando os perversos desígnios de deus ao tocar o céu com a extensão das
nossas vistas amarguradas
IV
Mas eu soube do ser o estremecimento
Quando a ferroada do tempo me feriu gravemente
Quando os cruéis musgos do esquecimento
Assentaram-se na pedra fria da memória
Na umidade implacável de um dia sem sol
Cerrei os meus olhos desesperadamente
Para conservar intacta a tua imagem
Pressionei o cérebro contra as paredes do crânio
Para vislumbrar teus olhos impossíveis e suprarreais
Mas esvaneceram-se teus traços mais simbólicos
E tua imagem fugidia, cada vez mais tênue, teimou em vingar
Esmaecida na cromofônica esfera do esquecimento
V
Eu resisti.
Cravei as unhas com garra nas enormes estalactites de cristal penduradas no fundo da
caverna do peito para delas extrair o denso fluido do passado ossificado há séculos
Recitei preces de memória com palavras doces de amor puro trocadas no âmago das
noites em claro
Mas tudo se havia perdido
Somente o nada sobre o nada restou de nós
Desmanchado em sulfúricos perfumes
Na imensidão perversa e nefasta do amor perdido
VI
Como tu eras linda flutuando morta entre os peixes
na superfície lamacenta do lodo anaeróbico
Nua como a neve e inchada como a lua em decomposição
Na fotossíntese gesticulada do teu corpinho outrora agitado, nacarado e sensível
Como te sorriam as algas indecentes
No vazio cortante daquela muda esfera
De silêncio e desolação
VII
Mas endireitei-me diante do espelho
E furei os meus olhos para te soletrar
Na espiralada visão do nosso amor sublingual
Sonhando eu adivinhei cada nervo
Invertido da tua espinha dorsal
VIII
E como um cancro ímpio e nefasto
Com um toque vampírico e milimétrico
Premido entre as vértebras do teu sorriso
e o enlace metafísico que nos uniu
tua imagem recompôs-se diante de mim como uma estrela
Afugentada sombra antes do sol
Abraçamo-nos por segundos insuperáveis
E por instantes nutrimos nosso vazio
Fluindo o amor do cóccix ao crânio
Na invisível viscosidade medular da noite
Rabisco meu uivo pálido & opaco nos muros de osso da mente soberana
Rabisco meu uivo pálido & opaco nos muros de osso da mente soberana
Livre ele segue rarefeito & tímido através desta tela que me separa do mundo
Já ouvi falar de uivos que estremeceram o ocidente & rasgaram o homem ao meio
Ouvi falar também de suicídios memoráveis que foram ocultados pela mídia para
evitar que meia humanidade fosse dizimada em matanças coletivas combinadas pelo
Facebook
Eu, que me julgo beato, mas fodo & defeco isolado do mundo nos quartos
aconchegantes destas ruas vazias da minha não-Nova York onde nenhuma ameaça
penetra & é muito fácil indignar-se, tenho legitimidade poética para uivar?
Eu, que não possuo coquetéis químicos correndo nas veias exceto o ópio
esplendoroso do sonho
Eu, que desisti tão cedo de buscar a eternidade & sangro sem dor nem motivo
lamentando o tempo perdido, tenho razão para uivar?
Resolvendo enigmas
Com nossas goelas cantantes
E simplesmente súbitas em relação ao sol
Quebramos o cárcere das coisas não ditas
E gargarejamos a quietude
Em relâmpagos de silêncio
Sonhos com Liz
citação:
ofereça este poema
a um leitor e a um abutre
o que ficar mais satisfeito
elogiar, gorgolejar, curtir, se lambuzar
e admitir que o verso podre muito bem o nutre
é o leitor, nem que seja o abutre
não adentreis a noite densa
o sono beija
meu cérebro
carinhosamente.
a mente morre
caio de afago
em sono profundo.
Acordo e nada
Reparo exceto
que há um piano
Desmanchando-se
em canções febris
de tabacaria
do lado de lá
da rua cruzada
por gente por carros
está o estopim
da minha poesia
e da metafísica
Tu és linda,
e essas lágrimas queimam teu rosto,
deixando sulcos eternos,
cavando rios inférteis na porção de terra do ser.
Rios que irrigarão vastos e duradouros reinos,
erguidos sobre essa dor que te prostra ao chão,
que te arranca lágrimas,
e então é inevitável a gangrena da alma.
Deita aqui,
eu quero fazer amor contigo
...
Caro leitor,
Esta poesia não faz mais nenhum sentido
(Se é que um dia algo tenha feito)
Que a comam os abutres, e que a comam já!
Não serve sequer para adubo
Para dizer a verdade,
Ela flui hoje aonde a luz não chega
Carrega a herança dos excessos
Desbravando o Inferno em expansão
Derramando a eternidade em chamas azuis
Por sobre as terras virgens de verdade
Justo como eu previ naquela tarde extraordinária
Quando o Universo veio ter comigo