Sunteți pe pagina 1din 13

1

GRUPO DE TRABALHO 8
CULTURA E SOCIABILIDADES

RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA REGIÃO DE


MARINGÁ: DIVERSIDADE E INVISIBILIDADE

Amorim, C. R
Silva, E. J.
Rocha, N.
Graton, L.
Bischoff, A.
Nascimento, S.
Gonçalves, G.
2
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA REGIÃO DE MARINGÁ: DIVERSIDADE E
INVISIBILIDADE1
Amorim, C. R.2
Silva, E.3 J.
Rocha, N.4
Graton, L.5
Bischoff, A.6
Nascimento, S.7
Gonçalves, G.8

Resumo

Em Maringá, pesquisas anteriores apontam a grande quantidade e diversidade de manifestações


religiosas, apontando a existência de mais de 300 templos, no município de cerca de 300 mil
habitantes. A aparente invisibilidade de cerca de 50 templos das religiões afro-brasileiras e sua
inserção na região merecem uma investigação mais detalhada. A partir de levantamentos sobre os
templos de religiões afro-brasileiras em Maringá e região metropolitana, o Grupo de Estudos sobre
Religiões Afro-Brasileiras- RELIGAFRO objetiva discutir a constituição e o lugar dessas
designações religiosas nas práticas culturais da região. A pesquisa antropológica utiliza
questionários e observação participante, junto aos templos em Maringá, Sarandi, Marialva e
Mandaguari. Na maioria dos casos, os templos situam-se em bairros periféricos, sendo que alguns já
se localizaram em áreas mais centrais ou no município maior. Observa-se que, por pressão dos
outros grupos, com diferentes orientações religiosas, tais templos foram “empurrados” para
municípios limítrofes, na região metropolitana. A caracterização dos templos é bem diversificada,
sendo que predomina a umbanda como característica geral dos cultos. Entretanto, há a significativa
presença de outras designações religiosas, como o candomblé, o omolokô e o tambor de mina, estes
dois últimos chegaram em Maringá na última década.

Palavras-chave: religiões afro-brasileiras em Maringá; práticas culturais e religiosidade;


religiões afro-brasileiras e espaço urbano

Introdução

O antropólogo americano Clifford Geertz (1989) entende cultura como um sistema ordenado
de significados e símbolos... nos termos dos quais os indivíduos definem seu mundo, expressam

1
Pesquisa desenvolvida pelo Grupo de Estudos sobre Religiões Afro-brasileiras – RELIGAFRO, coordenada pela Profa. Cleyde R.
Amorim – NEIAB/PGC/DCS/UEM.
2
Antropóloga, professora adjunta do Depto. de Ciências Sociais/UEM e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais -
PCG/UEM. Coordenadora do Programa Núcleo de Estudos Interdisciplinares Afro-brasileiros – NEIAB/UEM .
3
Historiador, Doutorando em Antropologia PUC/SP, pesquisador do o Grupo de Estudos sobre Religiões Afro-brasileiras -
RELIGAFRO e do NEIAB/UEM
4
Pedagoga, pesquisadora do RELIGAFRO e do NEIAB/UEM
5
Graduando em História/UEM, pesquisador do RELIGAFRO e do NEIAB/UEM
6
Graduando em Ciências Sociais/UEM , pesquisador do RELIGAFRO e do NEIAB/UEM
7
Graduanda em Ciências Sociais/UEM , pesquisadora do RELIGAFRO e do NEIAB/UEM
8
Graduada em Educação Física, pesquisadora do RELIGAFRO e do NEIAB/UEM.
3
seus sentimentos e fazem seus julgamentos (p.50). Nesse sentido segundo o autor o homem tem a
capacidade de criar e recriar símbolos e significados para a sua realidade os quais devem dar sentido
ao mundo em que vive. Os símbolos e significados funcionariam como uma ordenação ao caos do
mundo, projetando imagens no plano da experiência humana.
Um sistema que contribui muito para ordenar e dar sentido aos caos é a religião, pois a
mesma visa ajustar as ações humanas à ordem cósmica mitificada e projeta no plano da experiência
humana uma ordem cósmica imaginada e pressupõe dar sentido a existência humana e ao mesmo
tempo as suas práticas e ações na realidade na qual se insere.
Para Geertz, os símbolos religiosos funcionam para sintetizar o ethos de um povo – seus
valores, estilos de vida, suas disposições morais e estéticas – e sua visão de mundo. Explica, então,
como se estabelece esse ethos na crença e na prática religiosa:
O ethos de um grupo torna-se intelectualmente razoável porque demonstra representar um
tipo de vida idealmente adaptado ao estado de coisas atual que a visão de mundo descreve,
enquanto essa visão de mundo torna-se emocionalmente convincente por ser apresentada como
uma imagem de um estado de coisas verdadeiro, especialmente bem-arrumado para acomodar tal
tipo de vida (p.67).
Com a interiorização dos símbolos religiosos no cotidiano dos indivíduos, os mesmo passam
a dar significados à realidade social modelando-se a ele e ao mesmo tempo modelando os mesmos
que os criaram.
Essa relação humana com o sagrado é construída e reconstruída o tempo todo. Os símbolos e
signos que compõe a religião e os novos que são criados e projetados na realidade buscam como
fim dar sentido a realidade humana. Uma vez inscritos esses símbolos e signos na cultura, se
construirá uma visão de mundo a qual delineará os comportamentos individuais e coletivos.
Segundo Geertz as disposições e motivações que uma orientação religiosa produz lançam uma luz
derivativa, lunar, sobre os aspectos sólidos da vida secular de um povo (p.90).
Partindo das reflexões de Geertz, busca-se visualizar as representações dos símbolos e
signos que compõem as religiões afro-brasileiras na região metropolitana de Maringá-PR, por meio
de uma etnografia, usando como referência terreiros localizados na região metropolitana de
Maringá.
4

Breve caracterização dos templos de religiões afro-brasileiras

O terreiro de candomblé Ylê Axé de Oya

O terreiro de candomblé Ylê Axé de Oya localiza-se Jardim Alvorada, bairro que apresenta
grande concentração de templos religiosos afro-brasileiros, no município de Maringá. A sacertotiza
que é responsável pela casa é Mãe Lurdes – a Sandya. Nesse templo pudemos conhecer a estrutura e
o funcionamento, conduzidos pela Ialorixá (mãe-de-santo) Mãe Lurdes, que se mostrou atenciosa e
acolhedora o que proporcionou uma conversa franca e de procedimento informal. Ela nos contou
um pouco de sua história na religião, a qual teve início na década de 1960 na Umbanda. Já em 1975
a Ialorixá foi iniciada no candomblé de nação Angola pelo baiano Tata Pereira tendo o axé de sua
casa plantado primeiramente nesta nação.
Hoje o Ylê de Axé de Oya tem como ritual predominante o candomblé de nação Keto
mantendo estreita relação com pai Décio de Ogum, Babalorixá radicado em Guarulhos (SP) ligado
ao Ylê Axé Opom Afonja. Ele é filho-de-santo de Mãe Estela de Oxossi dirigente do terreiro.
Apesar dos relatos da Ialorixá responsável pela casa, sobre a predominância do ritual,
pudemos perceber alguns resquícios do candomblé de nação Angola e do culto Umbandista. O
primeiro aspecto pôde ser observado principalmente pelo assentamento do Inkice Tempo (Kitembo)
cultuado costumeiramente na nação Angola, o qual pode ser identificado também em casas que
possuem uma bandeira branca fixada junto a assentamento. Quanto à Umbanda, notamos a
existência de uma pequena tapera para culto de Pretos-Velhos, além de serem realizados no terreiro,
de acordo com a mãe-de-santo, toques esporádicos para os caboclos, Zé Pilintra e Exú Marabô.
Ademais, a formação da casa constitui-se basicamente em um típico terreiro de Keto,
possuindo um amplo barracão ao centro e vários assentamentos nos arredores, além de inúmeras
árvores sagradas como a Iriko, trazidas por Mãe Lurdes do Opom Afonja localizado na cidade
Salvador. Assim, o ritual predominante neste templo de Candomblé, é o da nação Keto.
A casa é mantida pelos filhos de santos, por doações e promoções de eventos, e realiza as
festas de Preto-Velho, para Exú Marabô e de Caboclo.

A Federação Espírita Umbandista do Estado do Paraná (nasceu com o nome de Tenda de


Umbanda Mãe Iemanjá)

A Federação Espírita Umbandista do Estado do Paraná localiza-se em Mandaguari e nasceu


com o nome de Tenda de Umbanda Mãe Iemanjá. É dirigida pelo Babalorixá (pai-de-santo) Manoel
Lino de Andrade
5
A Federação apresenta uma organização mais burocratizada, tendo ficha de identificação,
certificado de consagração e registro em cartório. Todos os eventos que acontecem dentro da
Federação são registrados em ata. Qualquer pessoa pode freqüentar não havendo distinção de cor,
etnia, religião. Porém existem regras a serem seguidas como: a participação em cerimônias é vedada
a sujeitos alcoolizados e não é permitido envolvimento entre as pessoas, ou seja, relacionamento
mais íntimo entre os membros do terreiro (neste templo há o uso de centro para designar o templo).
Para que o sacerdote (Babalorixá) faça qualquer atividade relacionada ao templo, este
primeiramente tem que passar por uma purificação chamada de banho de descarrego, caso tenha
praticado qualquer ato que a umbanda considere impuro, como: ter ficado alcoolizado um dia antes
ou tido relação sexual.
A afiliação se dá quando alguém que já esteja freqüentando as cerimônias (giras) há algum
tempo deseja tornar-se integrante, ou seja, participante dos rituais. Neste caso há um doutrina a ser
seguida, e o cumprimento de diversos rituais, tais como: rituais de purificação – obrigações de
cachoeira, uma vez ou outra tem que ir as matas, acender velas em agradecimentos a mãe natureza,
e outros, pelos quais acredita-se que assim a pessoa se alcança equilíbrio na espiritualidade.
Para estes fiéis, a umbanda veio para fazer o bem, trazer alegria, felicidade e não para fazer
o mal, nasceu com os negros escravos, pretos velhos, é considerada uma religião brasileira.
Acreditam na força da natureza e por isso faz todo um trabalho de proteção e preservação as matas e
aos animais. No caso deste templo não fazem os chamados “despachos”.
Os rituais apresentam forte influência do catolicismo, e sempre são iniciados com orações
em nome de Jesus Cristo e Nossa Senhora. Os cantos que fazem parte das celebrações são católicos,
principalmente para iniciar como para terminar. Com pedidos de perdão e benção para todos.
Iniciado o ritual, entoam-se cantos para que as entidades desçam e se manifestem, logo após vem os
cantos de subida dos espíritos. Para eles as entidades que se manifestam são espíritos em verdade,
as pessoas que as recebem (incorporação pelo transe) já vem com uma intuição do passado.
Os rituais sempre terminam com um canto, “refletiu a luz Divina com todo seu esplendor,
vem do reino de Oxalá, onde reina a paz e o amor”... Mas não há despedida, as pessoas se
cumprimentam e saem. Acontecem normalmente duas vezes na semana, as sextas e aos domingos,
na sexta: início às 20h término às 22h, e no domingo: início às 14h término às 17h. Os Orixás e
divindades cultuados são Oxalá, Oxum, Ogum, Iemanjá, Caboclos, Preto Velho, Zambi, Oxossi.
São feitos trabalhos também com: Exu, Maria Padilha, Tiriri.
O sincretismo entre as divindades da umbanda e as católicas está presente, com Oxalá
representando Cristo, Zambi representando Deus, Oxum representando Nossa Senhora Aparecida,
entre outros.
6
Neste templo também há benzimentos, que começam com o sinal da cruz somente falado,
seguido pedido de retirada de todos os males, oração de benção, oração de proteção. A filha
consangüínea do Sacerdote, de apenas dezoito anos, já é mãe-pequena (asegunda pessoa na
hierarquia religiosa), e o ajuda nas atividades ligadas ao templo.
Os casamentos que são realizados no templo contam com a presença de autoridades, para
serem considerados válidos e, durante a celebração os noivos são submetidos a uma disciplina e
conscientização, por meio de uma preleção, onde é dito que um não é objeto do outro, que se faz
necessário haver uma cumplicidade por ambos, não podendo haver desconfiança, etc. Apresentam,
neste discurso, a concepção criacionista da Igreja católica, que a mulher nasceu da costela do
homem e, por isso, estão lado a lado e têm o mesmo valor, direitos e deveres.
A mulher é muito valorizada dentro desta religião, não é permitida qualquer forma de ofensa
para com a mesma dentro ou fora do templo. Caso isso eventualmente ocorra, a pessoa que o fez
tem sua atenção repreendida pelo sacerdote, chegando até a ser expulso do templo. O mesmo ocorre
com quem tenha praticado aborto, estupro, no caso do assassinato, salvo aquele que foi em legitima
defesa e tenha sido absolvido pela justiça, caso contrário não.
Quanto ao batismo acreditam que este pode ser realizado somente uma vez.

Centro de Umbanda Nossa Senhora Aparecida

O Centro de Umbanda Nossa Senhora Aparecida, localiza-se no Jardim Alvorada, em


Maringá – PR, e é dirigido por seu fundador o Srº Geraldo Martins Paiva e sua filha biológica e
filha-de-santo Marilza Martins de Paiva.
Como consta no nome do templo o culto praticado neste é a Umbanda. Toda primeira
quinta-feira de cada mês realiza-se um ritual de quimbanda, e a cada quinze dias - aos sábados -
uma sessão de umbanda ou mesa branca.
O Centro possui por entidade espiritual fundadora e ainda dirigente o baiano Antônio
Quirino de Moraes, outrora incorporado pela falecida mãe-de-santo Oscarina Venâncio de Paiva,
fundadora do templo em conjunto com seu esposo Srº Geraldo e mãe biológica e de santo de
Marilza. Esta na atualidade incorpora a entidade supracitada.
A história pessoal do Srº Geraldo se funde com a de Maringá, e com o início neste
município das práticas religiosas afro-brasileiras. A data de sua chegada à cidade não lhe é
recordada, mas fica claro que ocorreu posteriormente a 30 de agosto de 1952, data de seu casamento
com Oscarina. Pois segundo nos relatou, quando da sua chegada à Maringá se encontrava casado e
com dois filhos, um destes sendo Marilza.
Seu primeiro domicílio situava-se à Avenida Paiçandu, Vila Operária, mais tarde vindo a se
mudar para sua atual residência, onde fundou o Centro, este com mais de quarenta anos de
7
funcionamento. Por seus pais terem sido praticantes da umbanda e mesa branca, desde o seu
nascimento - 22 de junho de 1929, na cidade de Muraí, Minas Gerais – está envolvido com tais
práticas religiosas. Cabe relatar que é pai de quarenta e quatro filhos, sendo doze biológicos e trinta
e dois adotivos, e foi funcionário da Sambra por trinta e seis anos. Os atuais membros do Centro o
chamam por Babalorixá ou Padrinho.
Em decorrência do falecimento de sua esposa, Marilza(sua filha) a sucedeu na liderança dos
rituais do Centro e como participante do Movimento Ecumênico de Maringá. Toda primeira
segunda-feira de cada mês se dirige ao cemitério municipal para ofertar às almas. Interrogada sobre
possíveis objeções feitas a está prática, nos respondeu nunca tê-las sofrido.
O Centro de Umbanda Nossa Senhora Aparecida é possuidor de alvará de funcionamento
concedido pela Federação Paranaense de Umbanda, é mantido por doações de membros e pessoas
de fora, já que não cobra taxa alguma de seus participantes. Na atualidade conta com cerca de onze
membros ativos.
Esporadicamente ocorrem eventos festivos, sendo que entre tais o de data certa é a festa em
celebração conjunta de Yemanjá, Cosme e Damião, Zé Pelintra e Antônio Quirino de Moraes, no
primeiro sábado de dezembro. Neste dia os fiéis saem em procissão pelas ruas do bairro rezando o
terço, e segundo relatos de Marilza não sofrem nenhuma objeção por tal prática. Estes eventos
festivos são realizados por meio de doações recebidas. Ainda no final de cada ano é feita uma
oferenda na cachoeira para Yemanjá.

Terreiro de Umbanda Pai Joaquim de Angola e Oxossi

O Terreiro de Umbanda Pai Joaquim de Angola e Oxossi localiza-se no Parque Alvamar, na


cidade de Cidade: Sarandi-PR e é dirigido por Mãe Divina.
Desde o primeiro contato a sacerdotoza Mãe Divina se mostrou bastante receptível,
convidando todos os participantes para vir em um dia em que seria feito o ritual. No dia da
participação, fomos atendidos pelo Boiadeiro, entidade incorporada pela Mãe Divina. O Boiadeiro
nos explicou sobre o funcionamento da casa, dizendo que o local segue uma disciplina rígida e
aqueles que não aceitarem esta disciplina não podem fazer parte da casa. Segundo o boiadeiro a
disciplina é tanto para os membros como para os espíritos que ali são incorporados através dos
médiuns.
O terreiro é muito organizado e, nos dias em são feitos os rituais se oferecem aos
participantes alimentos que são doados por algum membro participante da casa. A casa faz
atendimento ao público em geral e não cobra nenhum valor pelas consultas.
8
A casa é composta por 10 filhos-de-santo e o ritual seguido na casa é o de Umbanda, com
forte influência católica. Neste templo são realizadas as festas de Preto Velho e de Cosme e
Damião. A casa é mantida pelos filhos de santos e por meio de doações.

Terreiro de Omoloko Igbaigbe Omoloko Ti Osossi (Recanto Omoloko Pai Benedito das
Almas)

Origem do Culto Omoloko


O Omoloko começou a existir como uma das variantes de religião afro-brasileira que
passou a ser praticada no Brasil a partir de algum tempo no passado, depois da chegada dos
escravos negros. Provavelmente de maneira precária no início, pela falta de liberdade dos escravos
para qualquer tipo de organização, mas, com o decorrer do tempo e com as leis que foram aos
poucos mudando as condições de vida dessas pessoas, de maneira mais organizada e completa – e o
Omoloko, nesse particular, em nada difere das outras variantes religiosas afro-brasileiras. O que o
torna particular é que ele se estruturou inteiramente no Brasil, tendo influência de diversos rituais
religiosos africanos, principalmente os dos povos que vieram de regiões que hoje são o Congo,
Angola, Moçambique, Nigéria, Benin, Camarões – e, portanto, diferente dos Candomblés, por
exemplo os de origem Yoruba, que ainda hoje guardam forte predominância de influência de sua
região de origem, e aqui se organizaram obedecendo a um padrão religioso e cultural já
preestabelecido nessas origens.
O Omoloko fazia parte do que se chamava, nos fins do século XIX e início do século
XX, de Makumba, no Rio de Janeiro; segundo os estudiosos, também a Makumba se originou de
diversas procedências, conforme a influência de suas regiões de origem na África; assim, existia a
Makumba Mina, a Rebolo, a Cabinda, a Congo, etc.
O Omoloko organizou-se majoritariamente na Zona da Mata em Minas Gerais, no estado
do Rio de Janeiro, no nordeste do estado de São Paulo e em parte do Espírito Santo; o nome é
Yoruba e existem várias opiniões a respeito de seu significado. Uns dizem que significa "filhos do
tempo", porque no início, devido à falta de recursos, seus adeptos praticavam-no ao ar livre, ou
debaixo das árvores, ou debaixo das árvores chamadas Iroko. Outros atribuem à palavra sentido
mais literal e abrangente, como "filhos da fazenda", ou mesmo "filhos da roça", designando os
negros vindos do meio rural e que professavam tal religião, haja vista serem muitas dessas
organizações estabelecidas mesmo nas roças, ou em áreas afastadas das cidades.
Segundo o sacerdote Pai Jorge, e outras fontes pesquisadas, o Omoloko foi instituído
por uma escrava, nascida na África, que no nosso meio ficou conhecida como Maria Batayọ.
Maria Batayọ nasceu por volta de 1797 na África. Veio com vinte anos como escrava
para o Brasil, para trabalhar numa fazendo do estado do Rio de Janeiro. Foi embarcada no Forte da
9
Mina e tinha procedência Mina Je San, segundo uma das versões; outra versão conta que Batayọ era
uma negra Bini, que são os habitantes da região da cidade de Benin na Nigéria, povo que reivindica
para si descendência dos Yoruba de Ife. Seus contemporâneos de culto afro-brasileiro no Brasil
diziam dela que era Nago, quando queriam compará-la com outros praticantes do Omoloko. Já veio
feita da África, era de Nanã e foi feita por Sanguerabu, que era das terras de Egun (também
conhecido como Popo ou Je), povo de língua da família Ewe, nas cercanias de Porto Novo, na Baía
de Benin, no litoral do antigo Daomé, atual Benin. Batayọ era escrava doméstica e trabalhava na
cozinha; "Maria" foi o nome adotado em terras brasileiras. Ainda nesta condição, realizou curas,
ganhou a alforria como recompensa e angariou adeptos. Posteriormente radicou-se no morro de São
Carlos, na cidade do Rio de Janeiro, iniciando lá sua vida de mãe-de-santo. Apesar de ter vindo feita
(iniciada) da África, aprendeu com africanos ex-escravos muito sobre os fundamentos das religiões
africanas praticadas aqui no Brasil naquela época, especialmente o Omoloko, e morreu aos 129
anos, por volta de 1926, na Roça do morro de São Carlos, onde, além de ter sua Casa-de-Santo,
também morava. Depois disso, a Roça do morro de São Carlos esteve fechada por seis meses,
ficando Roxinha como sua sucessora.
O Terreiro Recanto Omoloko Pai Benedito Das Almas localiza-se no Jardim Paris, em
Maringá-PR e é conduzido pelo Pai Jorge de Oxossi.
Após estabelecemos contato com os membros participantes do local, e solicitar
consentimento para a pesquisa, foi possível estabelecer um contato com o sacerdote, o qual nos
recebeu muito bem e se colocou a disposição. Pai Jorge também é um estudioso das religiões afro-
brasileiras, mantendo em sua casa uma biblioteca variada sobre o assunto. Colocou este material
que ele tem a disposiçãoe, em conversas posteriores explicou sobre o culto Omoloko, bem como
falou sobre a sua história de vida e como se deu o seu ingresso na religião. Pai Jorge teve sua
formação muito jovem, aos 17 anos. A sua formação foi feita em São Paulo há 21 anos, no ritual
Keto, mas o seu axé foi feito no Omoloko. Após a sua formação participou em Maringá da
Umbanda durante alguns anos. Em 2003 abriu o seu terreiro e começa a praticar o Culto Omoloko.
O sacerdote também trabalha em uma loja de produtos religiosos afro-brasileiros, de sua
propriedade, na região central da cidade.
O ritual da casa inicia-se com os cantos aos orixás, onde sempre seguem a seqüência dos
rituais do candomblé, ou seja, canta-se para exu até chegar em oxalá. Após o ritual segue as
características dos rituais de Umbanda, cantando para as linhas de: preto-velhos, baianos e caboclos.
As cerimônias são realizadas a cada quinze dias, aos sábados das 19h às 22h, tendo atendimento as
pessoas que estão no local sem cobrança de valores.
10
A casa é composta por 22 filhos-de-santo. Nela realizam-se as festas Oxossi, de Ogum,
de Preto Velho, de Exu, de Cosme e Damião, das Iabas (orixás femininos),e a festa de encerramento
do ano - águas de Oxalá.
A cada 15 dias é realizada uma atividade filantrópica que consiste na preparação de
sopa, a qual é distribuída para as pessoas carentes.
A casa é mantida pelos filhos-de-santo que contribuem mensalmente com um valor
médio de 20,00. A complementação dos gastos é obtida através de doações e parte da receita
pessoal do Pai Jorge.

Casa de Mina Nagô de Yemanjá e Ogum (Templo Tambor De Mina)

Dentre as diversas manifestações religiosas afro-brasileiras encontradas em Maringá,


encontra-se no Conjunto Residencial Porto Seguro uma casa de culto aos voduns, originários dos
povos ewê-fon, do antigo Daomé, hoje atual República do Benin. A Casa de Mina Nagô de
Yemanjá e Ogum, foi fundada e na atualidade é dirigida pela Yoalorixá Hunjaí Glória de Abê, filha
de santo do falecido Pai Francelino de Xapanã, figura crucial na introdução do culto aos voduns na
cidade de São Paulo em 1977, e por extensão na região sul do país. O culto aos voduns é marcante
na região norte do Brasil, em especial nos Estados do Maranhão e Pará, onde também recebe o
nome de tambor-de-mina, em alusão ao uso constante de tambores durante os rituais e aos escravos
minas, como eram ali chamados os negros sudaneses.
A Casa de Mina Nagô de Yemanjá e Ogum tem sua origem na cidade de Itatiba-SP, de onde
foi transferida para Maringá, localizada ao lado da residência de Glória de Abê. O espaço conta com
o barracão, onde acontecem as cerimônias públicas em que cânticos e danças são realizados em
homenagem aos voduns e encantados, e pequenos quartos que o rodeiam onde se encontram os
assentamentos (objetos sagrados) dos voduns e encantados.
Em cerimônias realizadas para cultuar os voduns, as danças acompanham cânticos
realizados em língua de origem africana, enquanto aos encantados os cânticos são formados pela
língua portuguesa. Quando de um tambor para voduns, nome como os adeptos se referem às
cerimônias, inicia-se sempre com um cântico ao Vodun Elegbara, sem a utilização dos tambores e
estando a Yalorixá acompanhada dos filhos da casa situados fora do barracão, na seqüência etendo
a frente a sacerdotisa, adentram todos ao local dispostos em uma fila, cantando e dançando em
homenagem aos voduns, no decorrer da cerimônia conforme a louvação dos voduns, os filhos vão
sendo tomados por estes em estado de transe. Cada vodun possui uma cor característica, própria,
por exemplo Abê – vodun da Yalorixá Glória – tem por simbologia a cor azul, representação das
águas do mar, elemento comandado por esta divindade; estando os filhos da casa incorporados por
seus respectivos voduns, trajam roupas de cores representativas de tais divindades. As cerimônias
11
do tambor são sempre muito alegres, coloridas, expressam a conservação de um culto originário na
África introduzido no Brasil por negros escravizados, onde absorveu e acomodou elementos de
outras culturas, a indígena e branca.

Templos desativados

Em Maringá há também alguns pais e mães-de-santo que relatam um longo histórico de


atividades religiosas e que, no momento, e por motivos diferenciados, estão com os templos
desativados. Um destes é o Pai Mano de Oyá (Oya Mofum Balé) (PAI HERMANO), residente
Zona 4.
Pai Mano foi iniciado há 50 anos no candomblé de nação Angola em Itabuna BA. No ano de
1970 muda seu axé, dando obrigações no Keto com o pai-de-santo Airá (José Antonio Passarelo),
segundo Pai Mano um judeu convertido ao candomblé radicado em Taboão da Serra SP. Apesar da
mudança de Axé, Pai Mano procurou manter os fundamentos de sua antiga nação, o que fica claro
no nome de seu antigo terreiro, hoje desativado, Ylê Axé de Oya Matamba. Neste caso temos a
referêrencia a Oya, senhora dos ventos e tempestades, tendo como correspondente, no candomblé
Angola, Inkice Matamba.
No que diz respeito ao desativamento do terreiro, Pai Mano destaca o quanto é difícil e
oneroso cuidar de filhos de santo, sem contar com o fato dos constantes “desgostos” causados por
estes, salienta o sacerdote. Entretanto, o pai-de-santo continua cuidando dos filhos já iniciados,
auxiliando aqueles que possuem terreiro em atividade e recolhendo também novos iaôs.

Notas finais

O texto precedente apresenta os primeiros resultados, ainda incipientes, do projeto de


pesquisa Representações sobre a História e Cultura Afro-Brasileira, desenvolvido por integrantes do
Grupo de Estudos sobre religiões Afro-Brasileiras, e está vinculado ao Programa Núcleo de Estudos
Interdisciplinares Afro-Brasileiros - NEIAB/UEM.
As entrevistas já realizadas, bem como as observações nos templos mostram a variedade e
complexidade das religiões afro-brasileiras em Maringá, incorporando cultos que, até onde se sabe,
não são praticados em outras cidades da região sul do Brasil, como é o caso do Tambor de Mina,
religião predominante na região Amazônica, especialmente Pará e Maranhão. A pesquisa
antropológica utiliza questionários e observação participante, junto aos templos em Maringá,
Sarandi, Marialva, Mandaguari e outros municípios da região metropolitana de Maringá, onde
estima-se, a princípio, a existência de cerca de uma centena de templos de religiões afro-brasileiras.
Na maioria dos casos, os templos situam-se em bairros periféricos, sendo que alguns já se
12
localizaram em áreas mais centrais ou no município maior. Observa-se que, por pressão dos outros
grupos, com diferentes orientações religiosas, tais templos foram “empurrados” para municípios
limítrofes, na região metropolitana devido ao preconceito e aos estigmas de que estas religiões ainda
vítimas. Essa periferização também aconteceu com as populações de menor poder aquisitivo, nas
últimas décadas, seguindo as diretrizes da urbanização da região e, em especial da cidade de
Maringá (France, 1997). A pesquisa em curso aponta para um perfil sócio-econômico bem distinto,
que fornece explicações à localização de grande parte dos templos: a maioria dos fiéis trabalha em
ocupações pouco remuneradas, ou no mercado informal, com escolaridade baixa. A caracterização
dos templos é bem diversificada, sendo que predomina a umbanda como característica geral dos
cultos e, na Umbanda nota-se a predominância da divindade Caboclo Boiadeiro no comando das
atividades cerimoniais e das casas, de modo geral.
As estimativas de quantidade que se insinuam na pesquisa contrariam radicalmente os dados
do último censo (Atlas...: 2003), no qual a Região Sul, com a exceção do RS, as religiões afro-
brasileiras sãs o inexpressivas, em termos numéricos. No Paraná apenas Curitiba aparece no censo
com um contingente de praticantes que não chega ao milhar, nos demais municípios são
representados por algumas dezenas. Acreditamos poder, em breve, fornecer subsídios concretos
para que se promova a correção destes dados estatísticos e para que o poder público possa elaborar
políticas de apoio a este significativo contingente de moradores da região metropolitana que anseia
por liberdade de expressão religiosa de fato.
13

Bibliografia

ATLAS DA FILIAÇÃO RELIGIOSA E INDICADORES SOCIAIS NO BRASIL. César Romero


Jacob ...et al. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 1.ed., 13 reimpr. – Rio de Janeiro: LTC, 2008.

LUZ, France. O Fenômeno urbano numa zona pioneira, Maringá, 1997. Editora da prefeitura
municipal de Maringá, dissertação de mestrado-Universidade de São Paulo.

OLIVEIRA, Alaor Gregório A luta anti-racista em Maringá: Síntese memoralística. 2003/2004.


Monografia de conclusão de curso de Especialização em ciências Sociais – Universidade estadual
de Maringá. Maringá.

PRAXEDES, Rosângela Rosa. Negros de Classe Média na Cidade de Maringá. Dissertação de


Mestrado em Ciências Sociais. PUC, São Paulo 2006.

S-ar putea să vă placă și