Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Geral
PEDRO FERNANDES DE QUEIROZ
ANTONIO GONÇALVES SOBREIRA
A individualização do conhecimento antropológico
No século XVIII, podemos afirmar que é o período em que o homem realmente
lança sobre si mesmo um arsenal de perguntas igual ou superior a que ele dissemi-
nou para sistematizar o movimento dos corpos celestes ou da teoria da origem da
vida, para construir um território de saber a seu respeito, que espelhasse sua exis-
tência inteira por meio da Antropologia, não só por meio da Filosofia ou da religião.
Com a especificidade da dupla percepção que o homem pode ter sobre si (sujei-
to do conhecimento e objeto do conhecimento), aqueles que comungam dos planos
de observações antropológicas, trabalharão para clarificar as dimensões do sujeito do
conhecimento e do objeto do conhecimento antropológico. Logo um desafio funda-
mental que os pioneiros tiveram de enfrentar para consolidar o objeto antropológico
encontrou-se em defini-lo, noutro momento de estabelecer um procedimento cientí-
fico para observar e registrar objeto do conhecimento antropológico.
Antropologia Geral 33
por conseguinte, da ameaça de extinção da própria Antropologia, pois a existência
de um campo científico engloba necessariamente existência de um objeto próprio.
A Antropologia redefine as fronteiras do seu objeto, que continua sendo empírico,
mas geograficamente, não tão longínquo. As sociedades camponesas, aqueles que
vivem restritamente do que planta e colhe guiados por uma tradição de saber, sem
se voltar para o mercado. A solução que parecia sofisticada, por abandonar o ideário
“primitivo”, erguido a partir de parâmetros etnocêntrico e evolucionista da socieda-
de ocidental, tem vida curta.
34 Antropologia Geral
I) Estranhamento: parte da ati- II) Desnaturaliza- III) Unidade plu-
tude de quebrar o monopólio na ção do social: sig- ral do Homem:
consciência do que está à frente nifica colocar um implicar em en-
ou voltar em termos de evento estado de pensa- tender que não
cultural ou social, é evidente por mento em rela- há uma unidade
si só. Pelo contrário em lugar do ção ao que existe centrada numa
“é assim mesmo”, um estado de como expressão essência única,
estranhamento contínuo para de ou da cultural sequer biológi-
examinar e apreender o que se de um indivíduo, ca a determinar
colocar a frente, são apenas pon- tanto quanto do uma modalidade
tas do iceberg que o senso co- próprio grupo so- linear de com-
mum teima a conceber como o cial, não é inato ou portamento para
iceberg inteiro. É pelo exercício dado, mas é uma o homem, mas
do distanciamento que efetiva- produção por um que os modos de
mente sai-se da “sala do eviden- conjunto de indi- se comportar, de
te”, tendo como chave a pergunta víduos socializa- agir sãos espécie
epistemológica: por que os even- dos. Por isso, pode de programas
tos que existem são assim? Tem ser investigado o que as culturas
outros modos deles existirem? momento que eles e regras sociais
Quais deles proporcionam maior elaboraram e or- convencionaram
grau de integração sociocultural? ganizaram-se para de diferentes
Qual a função ele desempenha efetivá-la, bem maneiras a con-
para a sociedade aonde a realiza? como as razões feccionar.
para produzi-la.
Antropologia Geral 35