Sunteți pe pagina 1din 141

' ..

VIVENDO PElA FÉ
/ UM ESTUDO DE ROMANOS E GÁLA TAS
: Weldon E. Viertel
~
SUMÁRIO

P refãci o 4

Instruções para o Estudo 5

Lição 6
5
8
7
4
10
12
11
2
9
3 Introdução às Cartas de Paulo aos Romanos e aos Gãlatas 7

23
Lição
Lição
Li
Lição
ção Lição Paulo e os Santos (Gãlatas 1:1 - 2:21)
Li ção (Romanos 1:1-17)
Lição

O Homem sem Fe (Romanos 1:18 - 3:20) 40

A Justiça que Procede da Fe (Romanos 3:21 - 4:25) 53

A Lei e a Graça (Gãlatas 3:1 - 4:31) 62

As Bênçãos do Dom de Deus (Romanos 5:1-21) 77

A Nova Vi da e a Lei (Romanos 6: 1 - 7: 25) 89

Vivendo no Esplrito (Gãlatas 5:1-22) 104

(Romanos 8:1-39)

O Lugar de Israel no Plano de Deus (Romanos 9:1 - 11:36) 121

A Conduta Cristã (Romanos 12:1-21) 138

A Cidadania Cristã e Liberdade (Romanos 13:1) - 15:13) ,. 149

A Conclusão das Eplstolas (Romanos 15:14 - 16:27) 163

(Gãlatas 6:11-18)

Bibliografia Selecionada .......................................................................... 175

Os verslculos citados nesta tradução foram retirados da Versão da Imprensa Blblica

Brasileira, baseada na tradução em Português de João Ferreira de Almeida, de acor-

do com os melhores textos em Hebraico e Grego, 2a. impressão, 1974.


L'
(

PREFÁCIO

Ne~hum livro superior a Eplstold de Paulo aos Romanos jamais foi escrito. Semore que
a Iç;yeja tem ::;edesviado, o estudo e a pregaçao de Romanos a tem guiado ctp vrl1ta ii graça de Deus. Agos-
tinhc', du iít'ricéldo ~icrte, cünvel'teu~se atY'Civés da leitura desta EOlstoLJ e tornolJ-se um dos teólogos
r~a'ispt"ofundos da Igi'cja. r·lar7.inhoLutero, UlIl monge Agostlniano e profess0r cJe teologia sao'a na Uni-
versidade de :Nittcnbel'Y, converteu-se, em 1515, em conseqtJência da leitur~ de Romanos, e foi induzido
â Reforma. A vid~ de Jo~~ Wesley foi mudada em 1738, quando ele ouviu a leitura do pref~cio de Lutero
concernente â Epfstola aos Romanos. Quando us te510gos estavam tendo dificuldades no inicio do s~culo
20, Karl Barth publicou um comentãrio a respeito do liv~'l.:
de ROICanos, o qual conduziu a uma.verdadeira
mudança das tendências teolâgicas com reflexos até os nOSS05 dias.

A Epfstola aos Romanos torna-se diflCil de compreender, a menos que a cosmovisão de


Paulo seja compreendida. Paulo não viveu numa era cientlflca, em que o materialismo predomina. Anders
Nygren tem enfatizado um importante aspecto de Romanos no conceito das duas eras. Estas eras são espi-
ritl~é\is '2!ll
n2t'lreZ.3, porém elas controlam a, e são expre~.sas através da, l'ealidade material.

Na 00lnião de Paulo, foi Deus quem cornou a existência material proveitosa. O pecado
do homem roupeu ã harmonia da natureza e fez com que o homem, como resultado, ficasse com o desconfor-
to e trabalho insano. O pecado que Adão e Eva introduziram no mundo trouxe a morte como companheira.
Satanãs usa suas potestades malignas para alienar o homem de Deus, trazendo-o em cativeiro. O homem é
incapaz de libertar-se do velho dominio do pecado e morte. Em Cristo, Deus expressa sua graça e poder,
libertando o homem do reino do mal. A vida santa, a morte e a ressurreição de Jesus foram elementos es-
senciais no estabelecimento do Reino de Deus, na derrota das potestades maliqnas e na vitõria do ho-
mem. Paulo, que el'a fal'iseu, achou que a Lei é boa, porém impotente rara libertar o homem dos poderes
malignos espirituais. Em sua experi~ncia com Cristo, ele descobriu uma nova justiça, um novo poder ~
uma nova paz com Deus. Por 1112iodesta Epístola mais profunda, a experiência de Paulo tem sido comparti"
lhada com milhões, que o t~m seguido, encontrando vitõria através da fê em Cristo. Aqueles que vivem
pela fé experimentam o poder de Deus em suas vidas Dor intermédio de Jesus Cristo.

VIVENDO PELA FE é o guia de estudo para as riq~ezas das cartas aos Romanos e G51atas.
r designado especificamente para um programa de treinamento ministerial, no qual o prâprio estudante é
responsãvel pelo dominio da matéria, O guia de estudo é valioso para os leigos que também estão inte-
ressados numa compreensão mais profunda da natureza do pecado, da salvação e da vida eterna vitoriosa.

O guia de estudo não visa substituir a Bfblia ou ser estudado sem leitura paralela
da Escritura Sagrada As questões do lado direito da pâgina ajudam o estudante, focalizando os pontos-
chaves de cada parãg~afo. As questões no fim de cada liç~o capacitam o estudante a avaliar o grau de
seu dominio do conteudo da lição.

O Cjuia d2 estudo pode ser- usado efetlvamente sem livros suplementares A leitura pa-
ralela ~ sugerida apenas para estudantes que desejam fazer um estudo mais extenso de Romanos e Gãlatas.
O '?stud) de Gãlatas ê incl'údo 110 de Rnl11anoó. Giílatas 2 muito semelhante em conteudo
doutrinai J Ep1sto!3 a(Js r:::W~J;lJ~~ c; as
dUnS E'plstola:: ser E:studadas ein conjunto, tit'ando-se pro'~
veito de ambas. Algumas partes de Cãlatas dão importante discernimento ~ matéria de Romanos; outras
partes contel:l os mesmos r:nnreito~; er:lreclacão leve,nente difen;nte.

Como em outros guias de estudo, valiosa assist~ncia tem sido prestada na preparaçao
do manuscrito e da programação adjunta. Em adição à assistência secretarial, o trabalho da Sra. Gladys
e minha esposa Joyce foi esseQcial para o complemento deste livro.

Espero que os estudantes que usem VIVENDO PELA FE como uma introdução a Romanos e Gâ-
latas encontrem bênçãos similares, no estudo destas duas grandes Eoistolas, às que experimentei na pre-
paração do guia de estudo.

WELDON E. VIERTEL

El Paso, Te~3S
Julho, lY75
INSTRUÇÕES PARA O ESTUDO

o preparo Ministerial através dos Estudos Programados consiste em apresentar a Bíblia e ãreas correlatas
a alunos de vãrios níveis acadêmicos. O Estudo Programado não é um Curso por Correspondência, nem tam-
pouco segue o sistema tradicional de aulas em classes, ma; e um novo metodo em Educação. O objetivo des-
se novo tipo de estudo e o de possibilitar a qualquer alu~o um preDaro teolõgico de boa qU0lidcGe. A
falta_de pre-requisitos acadêmicos, bem como problemas financeiros, família, responsabilidades nas igre-
jas tem impedido a muitos homens e mulheres chamados por Deus de se prepararem melhor para o desempenho
de seu ministério. bses impedimentos deixam de existir neste caso, qUC'.l1doé aplicado o método do estudo
particular em casa e um encontro semanal para_discussões em grupo. Assim é que os Estudos Programados
consistem em dar Opot'tunidade a alunos dos tres níveis de escolaridade:

1. alunos com o Primeiro Grau;

2. alunos com o Segundo Grau;

3. alunos com Cursos de Nível Superior.

Apesar de o Estudo Programado se destinar primariamente a pêstores e candidatos ao ministerio que nao
tiveram oportunidade de cursar u~ seminârio, os chamados leigos podem se utilizar dos benefícios ofere-
cidos por este método. Pastores que jB tenham o grau de Bacharel em Teologia poderão utilizar este mate-
rial para cursos de reciclagem, especialmente se atuarem como líderes de grupo de estudo ou como super-
~. vi s ores dos encont ros seman ai s .

Usam-se os Estudos Programados para orientar as ati vi dades parti cu1ares ou em grupo, na apropri ação do
conteudo de deter'minada matéria. Eles contêm os elementos bãsicos para cada materia e as recomendações
para o uso de fontes suplementares mais avançadas de estudo. As perguntas são incluídas para chamar a a-
tenção do aluno para os pontos mais importantes contidos nas lições e conduzi-los a respostas com corre-
ções imediatas sobre a matéria lida. Encontros semanais de, aproximadamente, Ijma hora para cada matéria,
darão oportunidade de discussão sobre os assuntos estudados e suas aplicações prãticas na vida diãria.
Um professor ou supervisor orienta as discussões, mas os alunos dos três níveis apresentam e discutem
3S suas ideias. Quando os alunos comparecem ao encontro com boa base na m0teria a ser discutida, a dis-
cussão ou "Seminãrio" pode contribuir grandemente para o enriquecimento do assunto e a discussão de or-
dem pr~tica pode oferecer material abundante para a utilização na vida da igreja.

o texto e as atividades d~scentes

o Guia de Estudos destina-se principalmente ao estudo particular em casa. Quando se abre o Guia, o texto
aparece do lado esquerdo da pãgina, ao mesmo tempo que as perguntas sobre cada parãgrafo estudado e o
espaço destinado às respostas imediatas estão do lado direito. O aluno deverã ler cu-ídadosamente todo um
parãgrafo antes de ler e responder à ou às perguntas do mesmo. Se algum parãgrafo não contiver pergun-
tas, prossiga-se ao seguinte. O espaço das perguntas deverã ser coherto com um pedaço de papel (cursar)
ate que o parãgrafo tenha sido lido e o aluno se sinta em condições de responder a qualquer pergunta que
surja. O papel deverã ser deslocado, em cada parãgrafo, somente o bastante para deixar a descoberto o
espaço da pergunta e resposta equivalente ao parãgrafo lido. Depois de ter dado a sua resposta, o aluY]o
conferirã com G. resposta impressa logo no final do espaço_ Se as duas não coincidír2Jl1, o L;;t.G :JO par-]-
grafo deverã ser reexaminado. Serã de profundo valor para o aluno se fizer anotações próprias nos para-
grafos que não se encontrem acompanhados das respectivas perguntas.

Avaliação da aprendizagem dos estudos particulares

Ao final de cada lição aparece uma oportunidade de verificação do rendimento escoíar. O Guia de Estudos
contem a matéria bãsica para cada lição e as perguntas sobre essa ~esma materia, as quais deverão ser
respondidas pelos alunos dos três níveis_ Depois de ter lido o texto e completado a atividade discente
correspondente, o aluno estarã em condições de responder à maior parte das questões da avaliação final
de cada lição sem consu1ta~' o texto. Essas questões servem como exercícios de auto-avaliação da a-
prendizagem. Se um aluno não estiver seguro da resposta certa, ê sinal de que não estã suficientelilente

5
senhor da matéria abordada naquela parte do estudo e deverã reexaminã-la até que se encontre seguro do
conteudo da mesma. Algumas perguntas exigirão respostas mais extensas e, conseqOentemente, um esforço
maior para expressã-las. As questões co~letadilS se,'virão de sumãrio da lição estudada e auxiliarão na
revisão da matéria.

Os alunos dos níveis 2 e 3 terão tarefas supleJrentares a realizar. As mesmas incluem a leitura cuida-
dosa de algum outro livro com petguntas a r-esponder.

Dos alunos do nível 3 serã requerido um estudo bem mais profundo. Esse estudo variarã em conformida-
rie com os recul"SOS bibliogrãficos existentes. k
vezes haverã perguntas a respeito de leituras para-
lelas em determinado livro indicado. Outras vezes, haverã perguntas que demandarão alguma pesquisa in-
dividual. Dicionãrios biblicos, enciclopédias e livros sobre a matéria contida no Guia são fontes que
deverão ser consultadas. A bibliografia, no final deste Guia, indica onde esse materiai suplementar po-
derã ser encontrado.

Seminãri o

Sugere-se que os alunos dos três níveis. de uma determinada ã"'ea geográfica, tenham 11m encontTo de uma
hora semanal com um professor ou supervisor, a fim de disc~tir a lição, levando-se em conta:

1. dificuldades encontradas no estudo part~cular em casa, problemas encontrados nas


respostas às perguntas constantes da matéria, ou ainda dificuldades na compreen-
são do texto apresantado;

2. aplicação prãtica da lição a atividades do ministerio cristão e da conduta;

i
3. a significação
mi n s te ri a 1 •
global da liçãc e o seu lugar no conjunto do programa do preparo

E possível que aconteça poderem ser respondidas iso'ladamente perguntas que acompanham o texto sem que
haja uma visão global da lição. t
igualmente posível aprender os fatos a respeito do cristianismo sem
a visão de sua aplicação atual na vida da igreja. C aluno ê responsãvel pela fixação detalhada das in-
formações contidas na lição, em seus estudos partiCUlares, em casa. Corr~reender a lição no seu aspec-
to mais amplo e sua aplicação prãtica seria então o alvo do Seminãrio.

Algumas perguntas a serem respondidas nos Seminãrios foram incluídas no final de cada lição. Os seus
propósitos são:

- despertar o interesse (algumas são questões de controvérsia ainda nao resolvidas


pelos eruditos);

- dirigir o início da discussão no Seminãrio;

- dirigir a atenção para problemas relacionados com a matéria estudada;

- incrementar a criaçao de idéias originais que conduzam a sugestões de apiicação


prãtica da matéria.

Professor ou supervisar

o professor ou supervisor pOderã apresentar perguntas que sejam mais imoortantes para determinada si-
tl!ação. Ele poderã determinar os aspectos a serem abordados durante a discussao da matêria. Ca •.. ub a
ele evitar que o Seminãrio se desvie para o aspecto de menos importância.

O professor poderã iniciar o encontro com um pequeno teste. Isto motivarâ os àlunos a um melhor estudo
particular, em casa, e servi rã para avaliar o progresso de cada um. Duas ou três perguntas de matêria
bãsica são suficientes. Aos alunos que tiverem maior dificuldade, deverã o professor dar uma assisten-
cia especial a fim de que acompanhem os estudos. Não deverão ser abandonados:

6
A Import~ncia dos Escritos de Paulo

A Epístola aos Romanos é considerada, pela


maioria das pessoas, como um dos mais importantes es-
critos ja produzidos. E o trabalho mais significati-
vo no campo da teologia bíblica. Considerando que
os Evangelhos Sinõpticos apresentam os ensinamentos
e descrevem as atividades de Cristo, Romanos intel'-
preta as implicações desses ensinamentos e ativida-
des para a vida diaria do homem e sua eternidade.

A Epístola aos Galatas é estudada em con-


junto com Romanos por causa de suas semelhanças quan-
to ao conteudo, Ambas as Epístolas apresentam a dou-
trina da redenção. Também a do cristão vivendo pe1a
fé. Galatas foi escrita para solucionar o problema
que surgiu referente aos requerimentos para salvação.
Seu conteudo é, antes de tudo, limitado a esta dou-
trina e a um aspecto particular, que se refere ã ex-
pressão pratica da salvação na maneira cristã de vi-
ver. Romanos é mais sistematica, inclusive e~ sua a-
presentação destas doutrinas.

A revelação ultima de Deus em seu Filho foi


dada no contexto de costumes nacionais e crenças ju-
daicos. Quando o Evangelho de Cristo foi apresentado
aos gentios, foi necessario achar novos termos e ex-
pressões para comunicar os conceitos revelatõrios.
Os gentios proselitos ao judaísmo entenderam algumas
esperanças judaicas baseadas no Velho Testamento,
mas a maioria dos gentios não foi informada dos re-
querimentos morais do Velho Testamento nem das espe-
ranças referentes ao Messias e ao Reino de Deus. Pa-
ra o ato de redenção de Deus em Jesus Cristo fazer
sentido para eles, foi necessario falar do evento em
termos de fé em Cristo e da nova vida que resulta da
morada do Espírito Santo no coração. A teologia da
igreja gentia era formada, primariamente, pelas Epís-
tolas aos Romanos e aos Galatas. Durante 3 Reforma,
uma ênfase sobre as doutrinas destas Epístolas foi
renovada de tal forma que elas se tornaram o funda-
mento do protestantismo.

Fontes de Compreensão de Paulo a respeito de Cristo

Hã mais de um seculo atras, Ferdinand Chris-


tian Baur (1792-1860) declarou que Paulo transformou
um Mestre judeu puramente humano no Cristo sobrenatu-
ral. Ele acreditava que, aparte das escrituras de
Paulo, Jesus teria sido nada mais que um Rabi gali-
leu. Ernest Renan, da mesma época, declarou:
"As escrituras de Paulo têm sido um perigo
e uma pedra de tropeço, a causa dos princi-
pais defeitos da teologia cristã; Paulo é
o pai do sutil Agostinho, do ãrido Aquinas,
do Calvinista sombrio, do picante Jansenis-
ta e da teologia feroz Que predestina ã
condenação. "1
Renan predisse que o domínio de Paulo terminaria em
nossos dias. Ele depreciou a verdadeira magnitude
de Paulo e falhou por não perceber que, enquanto o
cristianismo existir, a carta de Paulo aos Romanos
permanecerã uma fonte primãria da doutrina da Igreja.

Karl Barth diferiu de Renan em sua aprecia-


ção de Paulo:
"Paulo, como uma criança de sua idade, diri-
gi a-se a seus contemporâneos. Como profe-
ta e apóstolo do Reino de Deus, ele verda-
deiramente fala a todos os homens de todas
as idades ... Se nós perfeitamente compreen-
demos a nós mesmos ... nossos problemas são
os problemas de Paulo; e se nós somos es-
clarecidos pelo esplendor de suas respos-
tas, essas respostas devem ser as nossas. "2

Quais foram os pontos principais da experi-


ência de Paulo e as fontes de sua compreensão a res-
peito de Cristo? Hã no mínimo 6 fontes ou influênci-
as que devem ser consideradas a fim de compreender-
mos sua doutrina do Cristo vivo.
Um conhecimento dos ditos e atividades de
Jesus - Embora Paulo tenha ctecJarãdõ---queeTenao--fO,
a Jerusalém para consultar "carne e sangue", a decla-
ração não nega seu conhecimento da "doutrina dos a-
póstolos" (cf. Gãl. 1:16 e ss.; Atos 2:41 e ss.). Os
requisitos para o apostolado foram dois:

1. Ter estado presente com os disclpulos


"todo o tempo em que o Senhor Jesus an-
dou entre nós, começando desde o batismo
de João ate o dia que dentre nós foi le-
vado" (Atos 1:21,22).
2. Ter sido uma testemunha do Senhor ressur·
recto (Atos 1:22).

E evidente destes requisitos que a doutri-


na dos apóstolos (ensinamentos ou DIDACHE) incluía
os ensinamentos e atividades de Jesus e a verificação
de sua ressurreição.

O tempo dos apóstolos era devotado ã oração


e ao "ministerio (servico) da palavra" (Atos 6:4).
Somente eles tinham o conhecimento de primeira mão a
respeito dos ensinamentos de Jesus, e seu tempo era
gasto na instrução de outros. Lucas recebeu uma nar-
rativa precisa das atividades e ditos de Jesus de

Veja A. M. HUNTER, Interpreting the New Testament,


1900-1950, Philadelphla: The Westmlnster Press,
1951, p. 61.

2 KARL BARTH, The Epistle to the Romans, traduzido


por Edwyn Hoskin (69 ed., London: Oxford Universi-
ty Press, 1933), p. i.
"testemunhas oculares e de ministros (servos) da pa~
lavra" (Lucas 1 :2), e as registrou em seu Evangelho.
Somente os apõstolos puderam qualificar-se como "tes-
temunhas oculares", mas aqueles instrufdos por eles
tornaram-se "ministros da palavra". A mesma frase
"ministros da palavra" é empregada em relação a Jo-
ão Marcos, que acompanhou Paulo e Barnabé na primei-
ra viagem missionãria (cf. Atos 13:5). O que se po-
de entender é que a tarefa de Marcos era exercitar
os novos convertidos na doutrina dos apóstolos
"Começando desde o batismo de João até o dia em que
dentre nós foi levado para cima, um deles se torne
testemunha conosco da sua ressurreição" (Atos 1:22).
Ambos, Marcos e Lucas, foram companheiros de Paulo
nas viagens missionãrias. Da parte deles, se não jã
antes, Paulo teria conhecido bem os eventos de Cris-
to.

Visto que as viagens missionãrias começaram


mais de dez anos apõs a conversão de Paulo, é pro-
v~vel que ele tenha conhecido os ensinamentos de Je-
sus muito tempo antes da primeira viagem. Após sua
conversão, ele "demorou-se alguns dias com os discf-
pulos em Damasco, e logo nas sinagogas pregava a
Jesus, que este é o Filho de Deus ... Saulo, porém,
se fortalecia cada vez mais e confundi~ os judeus ...
provando que Jesus era o Cristo" (Atos 9:19-22). Pro-
vavelmente Paulo aprendeu a doutrina dos apóstolos
com os "ministros da palavra" (discfpulos) em Damas-
co.

Pelo tempo da primeira viagem missionãria,


no mfnimo, Paulo teve um conhecimento completo do
conteudo dos Evangelhos: "Mai s bem-aventurado é dar
do que receber" (Atos 20:35). A primeira viagem mis-
sionãria ocorreu, no mfnimo, dez anos antes de Paulo
escrever a carta aos Romanos. Os ditos e atividades
de Jesus constitufram a fonte primãria para a doutri-
na de Paulo acerca do Cristo ressurrecto.

Paulo participou da atitude de Jesus con-


cernente ao judafsmo legalfstico. A observância me-
ticulosa da Lei (costumes dos anciãos) não estabele-
ceria uma perfeita comunhão com Deus. As cerimônias
judaicas não purificavam dos pecados. Somente a fé
em Jesus como o Messias (Cristo) e Senhor poderia ou-
torgar ao indivfduo a nova vida no Reino de Deus.

Paulo não discordou da ênfase de Jesus so-


bre o Reino; ele simplesmente achou necessário ex-
pressar o conceito em termos diferentes, para os gen-
tios que se converteram. Ele deu ênfase à importân-
ci a de "andar no eSDlrito". Ele aqarrou-se fi rmemen-
te â convicção de que Jesus voltaria para ressusci-
tar os mortos e julgar toda a humanidade. Estas dou-
trinas são vitais às narrativas sinõpticas dos ensi-
namentos de Jesus. Paulo não inventou doutrinas que
Jesus não tivesse ensinado ou dado a entender. Ele
interpretou os ensinamentos de Jesus para as igrejas
do mundo gentio.

Seu encontro com o Cristo vivo na estrada


a Damasco. - Embora Paulo houvesse sido um estudante
do judafsmo e do Velho Testamento, seus anos de estu-
do não o tinham capacitado a encontrar a verdade. O
testemunho de Estêvão, na hora de sua morte, pode
ter sacudido a confiança de Paulo de que o judaismo
fariscaico fosse o modo de obter-se vida. A experi-
ência decisiva da mudança de vida ocorreu na estrada
de Damasco, quando uma luz brilhou do céu e a voz do
Senhor foi ouvida. A vida e a teologia de Paulo fo-
ram completamente transformadas. Os cristãos que ti-
nham sido seus inimigos tornaram-se seus irmãos. As
ambições e doutrinas que dominavam sua vida tornaram-
se sem significado (cf. Gãlo 1:13 e ss.; Filo 3:4-
11). Em Cristo, Paulo experimentou um novo poder,
que lhe deu vitória sobre "o principe das potestades
do ar, do espírito que agora opera nos filhos da de-
sobediência" (Ef. 2:2). O Cristo ressurrecto, viven-
do nele, deu-lhe a vitória sobre o pecado e a segu-
rança da ressurreição. O conhecimento de Paulo atra-
vés da experiência transformou sua teologia.

Revelação divina especial - Paulo declarou


que Deus, segundo sua propn a vontade, revelou "seu
Filho em mim" (Gãl. 1 :16) para o propósito de levar
as boas-novas aos gentios. Paulo não recebeu da par-
te de homens seu entendimento a respeito de Cristo;
ele foi a Arãbia, talvez, para estudar os ensinamen-
tos do Velho Testamento e correlacionã-los com sua
nova experiência em Cristo. Enquanto na solidão da
Arãbia, o Espirito Santo o orientou na reinterpreta-
ção das Escrituras do Velho Testamento,para uma nova
compreensão do Reino de Deus, e um novo conceito de
justiça alcançãvel através da fé. Paulo deu a enten-
der que a revelação divina especial veio a ele na A-
rãbia (cf. Gãl. 1:16-18).

Seu conhecimento do Velho Testamento - Pau-


lo foi um fariseu t;pico, que esperava que o Reino
de Deus fosse a restauração de Israel ao poder como
uma nação. Como um fariseu, ele era rigoroso em guar-
dar a Lei ou os costumes dos anciãos, e zeloso por
suas crenças religiosas a ponto de perseguir a Igre-
ja (Fil. 3:5,6). Os fariseus acreditavam que seaLei
fosse guardada por um dia o Reino de Deus viria.

Como um fariseu, Paulo deu uma interpreta-


ção exclusiva e nacionalista as Escrituras do Velho
Testamento, com uma ênfase aquelas que falavam da e-
xaltação de Israel e da derrota de seus inimigos.
Israel esperava as bênçãos de Deus para exaltã-lo a-
cima das nações circunvizinhas, e para trazê-las em
submissão dependente, porque era o escolhido de Deus.
sião foi descrita como a base da dinastia davídica,
e a semente de Davi dominaria as outras nações (cf.
Is. 32:1-5; Jer. 33:14-17; Miq. 5:2-4).

Outras escrituras falavam do lugar dos gen-


tios no Israel restaurado. Os "filhos do estrangeiro"
se chegariam ao Senhor para servi-lo e amar o nome
do Senhor (Is. 56:6). O templo seria chamado "casa
de oração para todos os povos" (Is. 56:7). Isaías as-
segurou que quando Israel fosse reunido de seu cati-
veiro, os gentios tambem se reuniriam. Provavelmente
Paulo tinha ponderado a escritura freqUentemente: "E
nações encaminharão para a tua luz, e reis para o
resplendor da tua aurora" (Is. 60:3). Tais escritu-
ras e a reputação de Estêvão começaram a fazer senti-
do para Paulo, depois que o Senhor lhe revelou que
ele era " ... um vaso escolnido, para levar o meu nome
perante os gentios, e os reis, e os filhos de Israel"
10
(Atos 9:15). O estreito nacionalismo de Paulo foi mu-
dado para um universalismo em que ele viu o Deus de
Israel como o Deus de todo o universo. Portanto, a
responsabilidade dos servos de Deus era fazer Seu no-
me conhecido por todos os povos. O Reino de Deus não
era para ser limitado aos judeus, mas para abranger
o povo de cada nação gentia.

O Rei no de Deus e a presen ça do Deus de po-


der para governar o seu povo. Paulo descobriu que o
Reino não e um poder terrestre ou organização centra-
lizando-se em algum grande líder humano, mas o poder
de Deus nas vidas de seus filhos que andam no espíri-
to. A compreensão do conceito do Velho Testamento pa-
ra o Reino de Deus como presença divina assumiu novo
significado ã luz da ~periência de que Cristo habi-
ta dentro de nossos corações.

Seu treinamento como um fariseu - Paulo rei-


vindicou que foi um fariseu rigoroso que guardava a
Lei. Por causa do seu zelo religioso, ele tentou a-
perfeiçoar-se para com Deus; todavia, sua alma não
estava ã vontade enquanto reconhecia que o pecado
cortrolava sua vida. Em sua experiência pre-cristã,
ele foi muito zeloso para manter a Lei judaica. Sua
compreensão posterior de liberdade em Cristo estava
baseada em suas previas tentativas de guardar a Lei
e na descoberta de sua insuficiência. Deus em Cristo
pode fazer o que a Lei não podia fazer.

O treinamento de Paulo estava sob a respon-


sabilidade de Gamaliel; que era um professor reconhe-
cido entre os fariseus. Provavelmente ele foi neto
de Hillel, à qual seguiu uma interpretação mais li-
beral da Lei do que seus professores rivais. De a-
dcordo com Atos 5, Gamaliel não poderia ter sido tão
radical em sua atitude para com os gentios quanto os
outros fariseus.

Seu ambiente gentio - Paulo foi criado em


Tarso da Cillcla, onde ficou exposto á uma socieda-
de dominada pelos gentios. Embora seu treinamento ra-
binico tendesse a separã-lo dos gentios, seu ambien-
te de infância o expusera forçosamente ã cultura
gent{a. Indubitavelmente, esta sua exposição prematu-
ra o levou a uma maior compreeensão dos gentios do
que muitos outros possuíam.

Acompanhando os ensinamentos de Jesus con-


cernentes ã- futilidade de rituais e cerimônias, Pau-
lo reconheceu que o legalismo judeu não salvava, e
que nem os costumes prãticos judaicos eram para se-
rem observados pelos gentios. Mesmo Pedro admitiu
que os judeus que nasceram como judeus não podiam
guardar todas as regras estipuladas pelos fariseus
(cf. Atos 15:10). Por que devem os gentios, que não
tinham nascido como judeus, viver pelas regras ju-
daicas a fim de obter salvação? Pedro sustentou o
argumento de Paulo para que os gentios fossem salvos
pela fe, aparte de guardar os costumes judeus dos ri-
tuais da circuncisão e purificação. Ele referiu-se a
Cornelio, que recebeu o dom do Espírito Santo de
Deus sem observa r os ritua is judeus. "A medi da que
Paulo trabalhava entre os gentios, ele experimentava
o poder de Deus e via evidencias de salvação entre
eles na proporção que respondiam, pela fe, ao evange-
lho. Estas experiências o levaram ã sua convicção de
que a salvação e pela fe, e não pelo guardar da Lei,
conforme os fariseus reivindicavam.

A Ocasião e o Propósito de Gãlatas

O livro de Atos dã alguma indicação das lu-


tas que Paulo passou por pregar o evangelho entre os
gentios. Os judeus consideravam que eles tinham pri-
vilegias especiais como o povo escolhido de Deus.
Sua comunhão com Deus estava baseada na promessa di-
vina, que foi expressa pela circuncisão. A promessa
divina elevou a responsabilidade dos judeus no senti-
do de guardar a Lei de Moises. Para assegurar que a
Lei mosaica fosse propriamente observada, os escri-
bas elaboraram muitas regras que definiam ações proi-
bidas e permissíveis com respeito ao cumprimento de
itens específicos da Lei sob diversas circunstânci-
as. Por exemplo, a fim de guardar o sãbado, absten-
do-se do trabalho, foram estabeleci das regras que de-
finiam o trabalho. A uma pessoa não era permitido
caminhar mais de uma jornada do dia de sãbado (cerca
de 1.200 metros) nem realizar colheita (os discípu-
los colhiam espigas de trigo).

A comunhão com Deus foi imagi nada como depen-


dente da circuncisão e da observância das regras ou
costumes dos anciãos. O orgulho espiritual caracte-
rizou os fariseus, que reivindicavam por andar de a-
cordo com a Lei e tradições dos anciãos. Jesus tinha
visto suas inconsistências e os acusava de serem me-
ticulosos em seguir regras cerimoniais, enquanto
grosseiramente violavam a lei moral. Enquanto os fa-
riseus eram cuidadosos em dar ate mesmo o dízimo de
produtos não dispendiosos como a hortelã, o endro e
o caminho, eles enganavam as viuvas e os órfãos, e
negligenciavam os mais idosos de suas famílias (cf.
Mat. 23:14,23; Marcos 7:11).

Paulo seguiu Jesus rejeitando o legalismo


(lias obras da lei" - Gãl. 3:16) como um meio para al-
cançar justiça e uma afinidade real com Deus. Ele
chegou ate a negar a necessidade dos gentios serem
circuncidados, o que significava uma afinidade lega-
lística com Deus. Ele ensinou que a purificação do
pecado e a reconciliação com Deus ocorreram por in-
termedio da morte de Cristo, e não atraves de símbo-
los cerimoniais de sacrifícios de sangue no Templo
eíil Jerus"lem. O Templo simbolizava a presença de
Deus com seu povo, porem Paulo encontrou em Cristo
a realidade da presença de Deus; portanto, ele ensi-
nou que não era necessãrio que os gentios viajassem
ate Jerusalem para encontrar Deus. Mesmo se eles ti-
vessem visitado a ~rea do Templo, teriam sido preve-
nidos para não er arem na corte interna dos israe-
litas. A recusa parte de Paulo no sentido da ne-
cessidade de o' gentios serem circuncidados, guarda-
rem as regras; escribas, oferecerem sacrifícios
em Jerusalem Dservarem os rituais de purificação
conduziu ã oposição da parte dos judeus.

12
Na conferência de Jerusalem (Atos 15), foi
estabelecido um acordo pelo qual os gentios não pre-
cisariam guardar as "Leis de Moises" (costumes ritua-
listicos judaicos), visto que foram salvos pela fe.
Também foi posto em acordo que os judeus, mesmo em
cidades predominantemente gentias, seriam estimula-
dos a guardar os costumes judaicos relativos ã Lei
mosaica. Aparentemente, os problemas surgiram dentro
das igrejas que eram compostas de ambos os elementos,
judeus e gentios. Se os judeus rigorosos não estives-
sem presentes, o problema poderia ser solucionado pe-
los judeus cristãos, negligenciando-se certos costu-
mes, especialmente o costume de um judeu não entrar
na casa de um gentio. O relacionamento das congrega-
ções cristãs que compunham-se de ambos, judeus e gen-
tios, teria sido grandemente impedido pela recusa
dos judeus rigorosos de se relacionarem com os gen-
tios e de os aceitarem como iguais.

Certos fariseus que se converteram (cf. A-


tos 15:5) insistiram na necessidade de circuncidar
os gentios e de instrul-los a guardarem a Lei de Moi-
sés a fim de serem salvos. Ou estes judaizantes
(cristãos judeus rigorosos) de Jerusalém ou ju-
deus da Galacia seguiram Paulo a varias cidades gen-
tias e causaram problemas. Mesmo o acordo em contra-
rio, junto ã Igreja, no Concilio em Jerusalem, não
resolveu o conflito. As decisões adotadas pelos após-
tolos e anciãos, em Jerusalém, foram compartilhadas
com as igrejas da Galacia (Atos 16:4,5), porem, após
a partida de Paulo, parece que os judaizantes arri-
baram e contradisseram as decisões e os ensinamentos
de Paulo.

Paulo escreveu a Epistola3aos Galatas para


refutar a heresia que surgiu na Igreja como um resul-
tado do ensinamento dos judaizantes. Ele insistiu
que uma afinidade real ê estabeleci da com Deus atra-
vés da fé, e não por seguir as regras e regulamentos
dos escribas. Ele usou as escrituras do Velho Testa-
mento para sustentar seu argumento de que Cristo é
a promessa de Deus, por. meio da qual, a justiça é
recebida pela fé. Em Cristo, a discriminação de gen-
tios pelos judeus foi removida e todos se tornaram
um. Para refutar o erro de que a negligência de re-
gras legalisticas resulta em pecado, Paulo enfatizou
a importância de andar no Espirito, que dá ao homem
orientação e poder para viver uma vida de vitória.
A Epistola aos Galatas manifesta a nova afinidade
com Deus, estabelecida pela fé em Cristo. Os ensina-
mentos desta Epistola são similares aos da Carta aos
Romanos; portanto, as duas Epistolas são estudadas
em conjunto.

Os Destinatários da Eplstola aos Gãlatas

A Epistola declara que os leitores foram


chamados galatas (veja 3:1) e foram agrupados no que
e descrito como "as igrejas da Galacia" (v. 1:2).

3 Eplstola e Carta sao empregados reciprocamente


neste guia de estudo. Veja Introduction to the
N.T., Grand Rapids: Wm. B. Eerdman Publishing
Company, 1964, p. 240 e sS., para uma discussão
das di ferenças.
A Teoria Gãlata do Norte

Existem duas teorias referentes a area de-


signada por Lucas como Galãcia. Até o século XIX, a
maioria dos estudiosos concluiu que a Epistor--a-- era
endereçada às igrejas na Galãcia do Norte. Lucas men-
ciona em Atos 16:6 que "percorrendo a região fr'ígio-
gãlata", eles foram proibidos, pelo Espirito Santo,
de pregar a Palavra na ~sia (cf. Atos 18:23). Os es-
tudiosos concluiram que Paulo e Silas voltaram, na-
quele tempo, para uma região ao sul da Bitinia e Pon-
to, onde estabeleceram igrejas nas cidades de Pessi-
no, Ancira e Tãvio. Se igrejas foram estabeleci das
naquela região, o livro de Atos não faz nenhuma men-
ção a respeito delas.

Os limites geogrãficos da Frigia variaram


continuamente, A região nordeste foi tomada pelos
gauleses no século 111 a.C. A Frígia do sul estendeu-
se em direção a Pisidia, na qual estava localizada a
Artioquia. Ic6nio também foi chamada, freqUentemente,
de Frígia pelos escritores da antiguidade. Nos tem-
pos romanos, Frigia abrangia as cidades de Colosso,
Hierãpolis e Laodicéia. Uma parte da Frígia tornou-
se parte da provincia romana da Galãcia. A maior por-
ção fez parte da província chamada ~sia.4

A confusão surge na ãrea indicada como "Ga-


lãcia", porque o termo era empregado em dois senti-
dos diferentes durante o século I. No século 3, os
celtas ou gauleses invadiram a maior parte da ~sia
Menor do oeste e foram -1 imitados a um di strito com
fronteiras marcadas por eles. Este distrito estava
localizado ao sul da região montanhosa central de Bi-
tinia e Ponto, e ao longo do curso mediano do rio Ha-
liso Anteriormente, esta região tinha sido frigia.
As cidades da região - Pessino e Ancira - permanece-
ram, predominantemente, frígias em carãter. Os gau-
leses não se tornaram urbanizados, porém eles vive-
ram em lugares abertos, batendo em retirada para for-
talezas na montanha em tempo de perigo militar. To-
davia, eles deram seu nome à ãrea que habitavam, dai
o termo "Gãlatas".

A Provincia Romana da Galãcia

Em 25 a.C., os romanos estabeleceram uma


provincia conhecida como Galãcia. Esta província in-
cluía a prõpria Galãcia (a região desde Pessino, no
oeste, até Tâvio, no este), com maiores extensões:
Lica6nia, 1sãuria e Pisídia. Lica6nia abrangia as ci-
dades de Ic6nio, Listra e Derbe. Pisídia a!:lrilnoia
as cidades de Apolônia e Antioquia. Estas cidades
são conhecidas por causa da visita de Paulo a elas,
durante sua primeira viagem missionãria. Elas eram
parte da grande província romana da Galãcia, mas não
da região geogrãfica original conhecida pelo mesmo
nome. No século I, o termo "Galâcia" foi empregado
geograficamente para designar o país na parte norte
do plat6 central da ~sia Menor, porém politicamente
designou urllagrande província do Império Romano, que
foi estabelecida para fins administrativos.

4 F.V. Filson, "Phrygia" , Vol. rII de The Interpre-


ter's Dictionary of the Bible, ed. por G.A. But-
rick (New York: Abingdon Press, 1962) p. 806.

14
A Teoria Gãlata do Sul

Até o século XIX, os estudiosos geralmente


acreditavam que "GalãcTã"" referia-se à região geo-
grãfica do norte. Sir William Ramsay desafiou esta
concepção, sugerindo que a Epístola aos Gãlatas foi
escrita às igrejas da parte sul da Galãcia política.
Ele sugeriu que Atos 16:6 refere-se à região frígio-
gãlata, com o que ele quis dizer tratar-se de parte
da província romana da Galãcia, a qual era habitada
pelos frígios e era conhecida geograficamente como
Frígia. Esta região ficava ao sul do velho reino da
Galãcia, que é comumente chamada de Galãcia do Norte.
Ele assinalou que Atos não contém nenhuma referência
à visita de Paulo a Galãcia do Norte, mas Lucas dã
considerãvel atenção aos estãgios mais primitivos da
atividade missionãria de Paulo para com as igrejas
na Galãcia do Sul. Kirsopp Lake tem sugerido que A-
tos 16:6 é uma frase descritiva da região cujo povo
era, em parte, de idioma frígio e em parte de idioma
gâlata. Sua sugestão não fixa a questão da localiza-
ção das igrejas às quais a Epístola foi endereçada.

O fato de que Barnabe e mencionado na Epís-


tola aos Gãlatas (2:1,9,13), sugere fortemente que
as igrejas estavam familiarizadas com Barnabe. Visto
que Barnabe esteve com Paulo na primeira viagem mis-
sionãria, mas não na segunda, as igrejas de Listra,
Cerbe, Icônio e Antioquia o teriam conhecido. A de-
claração de Paulo de que "mesmo Barnabe" (2:13) foi
levado pela insinceridade de Pedro e outros judeus
dã a entender que isto foi inesperado, em vista do
que era conhecido a respeito do carãter de Barnabe;
portanto, Barnabe parece ter sido bem conhecido pe-
las igrejas. Provavelmente, as igrejas gãlatas eram
compostas de ambos os cristãos - judeus e gentios.
Os ensinamentos dos judeus que podem não ter sido
membros da igreja comprometeram seriamente a comu-
nhão.

A tpoca da Epístola aos Gãlatas

Os estudiosos sugerem datas de 49 A.D. a 56


A. O., dependendo da preferênci a deles pe 1a Teori a Gã-
lata do Norte ou pela Teoria Gãlata do Sul. A.M. Hun-
ter sugere que o silêncio completo das cartas a res-
peito dos decretos apostólicos, descritos em Atos 15,
confirma fortemente uma data anterior ao Concílio de
Jerusalem em 49 A.D. "Se Paulo tivesse escrito após
o Concílio de Jerusalem, ele certamente teria citado
o decreto e encerrado o assunto. "5 Hunter sugere
que Paulo escreveu a Epístola cerca de 49 A. O., ou
em Antioquia ou em seu caminho ate Jerusalem para o
Concílio.

Se a carta foi escrita às igrejas na Galã-


cia do Norte, a data deve ser marcada tarde o bastan-
te para permitir a visita de Paulo ã ãrea norte em

5 A. M. Hunter, Galatians to Colossians in The Lay-


man's Bible Comentanes, [ondon: SeM Press, [td.,
1959, p. 9.
sua segunda viagem e provavelmente depois da segunda
visita ã região (Gãlatas 4:13 - "Vós sabeis que ...
vos anunciei o evangelho a primeira vez ... " - dã a
entender duas visitas). Se a declaração dã a enten-
der duas visitas por Paulo antes da escritura da E-
pístola, a segunda visita necessitaria ser identifi-
cada com Atos 18:23. A data da Epístola seria subse-
qUente ã segunda visita, provavelmente, enquanto Pau-
lo estivesse em tfeso cerca de 55 A.D.

Por causa da semelhança do conteudo de Gãla-


tas com o da Epístola aos Romanos, muitos estudiosos
colocam a escritura de Gãlatas antes de Romanos. Pro-
vavelmente, Paulo escreveu duas cartas aos Coríntios
- uma carta perdida e I Coríntios - enquanto esteve
em tfeso por três anos, durante a sua terceira via-
gem missionãria. De acordo com o ponto de vista da
maioria dos estudiosos, Paulo escreveu 11 Coríntios
enquanto esteve na Macedônia, após deixar tfeso (A-
tos 20:1). Ele passou três meses na Grécia, talvez
em Corinto, antes de voltar através da Macedônia, fa-
zendo sua ultima viagem a Jerusalém. Muitos estudio-
sos sugerem que Gãlatas e Romanos foram escritos du-
rante os três meses que Paulo passou em Corinto, no
final de 56 A.D. ou início de 57 A.D. Outros estudio-
sos crêem que a Carta aos Gãlatas foi escrita no iní-
cio do ministério de três anos de Paulo em tfeso.

Um conhecimento do lugar, data e rec1p1en-


tes da E~ístola não é necessãrio para se compreender
sua mensagem. Estas matérias introdutórias especiais
fazem alusão ã reconstrução das jornadas de Paulo a
Jerusalém, as quais são mencionadas na Epístola.

A Igreja em Roma

A Epístola de Paulo aos Romanos foi endere-


çada a uma igreja que ele não iniciou; todavia, ele
foi informado a respeito por muitos cristãos que es-
tiveram em Roma. Visto que ele tornou-se um apóstolo
aos gentios, sentiu alguma responsabilidade pelo po-
vo daquele lugar.

Nem Paulo nem Pedro foram fundadores da 1-


greja em Roma. Judeus e gentios prosélitos de Roma,
estiveram presentes em Jerusalém no Dia de Pentecos-
tes (Atos 2:10). Eles podem ter estado entre os três
mi 1 que foram batizados e que "perseveraram na dou-
trina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão
e nas orações" (Atos 2:11,,12). () -"ato de lJi': alCl',ms
discípulos venderam suas propriedades a fim de pro-
ver aos outros "segundo a necessidade de cada um" dã
a entender que os convertidos de outras províncias
podem ter continuado em Jerusalém por um período de
tempo, para aprender o evangelho, fazendo-se neces-
sãrio para os cristãos de Jerusalém ajudarem, pro-
vendo comida para eles. Os convertidos podem ter vol-
tado a Roma e estabelecido a igreja. Eles teriam co-
nhecido os ensinos e atividades de Jesus, o siqni-
ficado de sua ressurreição e a vinda do Espírito
Santo. Ambos, judeus e gentios prosélitos, estavam
re7resentados no grupo iricial.

16
Não há nenhuma certeza histórica de que os
convertidos por ocasião do pentecostes estabeleceram
a igreja em Roma, nem existe qualquer informação so-
bre o desenvolvimento da igreja. Um período de 25 a-
nos separou o Pentecostes da escritura da Carta aos
Romanos. Talvez o testemunho cristão tenha se esten-
dido em Roma durante este período. A Igreja Catõli-
ca Romana diz que Pedra fundou a igreja em Roma, mas
Pedra ainda estava em Jerusalém no tempo do Concílio,
cerca de 49 A.D. Suetônio recorda que cláudio baniu
os judeus de Roma em 49 A. O., porque ti nha havi do
tumulto pela instigação de um chamado Cresto. Embora
a referência não possa ser dirigida a Cristo, há uma
possibilidade de que os cristãos estivessem, de qual-
quer forma, envolvidos neste assunto.

/, Paulo declarou que ele não edificou sobre


fundamento alheio (Rom. 15:20); todavia, ele não de-
monstrou nenhuma hesitação em escrever ã igreja em
Roma, expressando um desejo de ter parte em seu mi-
nistério. O fato da liberdade de Paulo relacionar-se
com a igreja é outra indicação de que Pedra provavel-
mente não foi o fundador da igreja em Roma.

l provável que a igreja tenha existido


tempo que cláudio baniu os judeus de Roma em 49 A.D.
no

Originalmente, o rol de membros pode ter sido prima-


riamente formado por judeus, porem o decreto de
cláudio deixou somente cristãos gentios na igreja.
Ãquila e Priscila parecem ter sido cristãos quando
deixaram Roma. Paulo uniu-se a eles em Corinto cerca
de 50 A.D. Eles tinham voltado a Roma pelo tempo da
composição da Carta aos Romanos (Rom. 16:3). Paulo
pede tê-los estimulado a retornarem a Roma para aju-
darem a igreja predominantemente gentia (cf. Rom. 16:
4). Eles eram, provavelmente, líderes de uma igreja
que se reunia na casa deles (Rom. 16:5).

Alguns estudiosos têm sustentado a teoria


de que a igreja era judaica. Outros têm sugerido que
era antes de tudo gentia ou uma mistura de ambos.
William Manson acreditava que a maior porção da igre-
ja era judaica, porque os argumentos da Epístola são
mais aplicáveis a judeus do que a gentios. Outros
têm assinalado que em Romanos 1:5 e ss., Paulo inclu-
iu os leitores entre os gentios, a quem ele foi co-
missionado como apõstolo. Ele os comparou com "ou-
tros gentios" (1:12-14). Paulo declarou: "dirijo-me
a vós outros, que soi s genti os", numa passaqem que
enfatiza que os leitores obtiverammisericõrdiaatra-
vês da descrença por parte dos judeus (11: 13,28-31).
Embora liqOila e Priscilla fossem judeus (cf. i\tos 1 :
2), eles trabalhavam nas igrejas gentias e tinham u-
ma igreja que se reunia na casa deles (Rom. 16:4,5),

C. H. Dodd (The Epistle of Paul to the Ro-


mans) e Sanday Headlam (The Epistle to the Romans)
sugerem que a congregaçao era uma mistura de romanos
e judeus. O elemento judeu pode ter predominado an-
tes da sua expulsão por Cláudio em 49 A.D., apôs a
qual o elemento gentio prevaleceu. Quando Paulo che-
gou a Roma, os membros da Igreja foram ao seu encon-
tro, ã Três Vendas, porem o numero de membros não é
identificado (Atos 28:15). Paulo foi grandemente es-
timulado pelo encontro, o qual pôde indicar que e-
xistia harmonia entre os judeus e gentios dentro da
igreja. Após sua chegada, ele encontrou-se com os 11-
deres dos judeus para explicar as circunstâncias de
sua experiência. Aparentemente, estes 11deres judeus
não eram membros da igreja, porem estavam interessa-
dos em ouvir algo "a respeito desta seita, que por
toda parte e impugnada" (Atos 28:22). Depois que Pau-
lo ensinou-lhes, referindo-se a Jesus, muitos creram,
porem outros não. Depois que os judeus incredulos
partiram, Paulo voltou-se para os gentios com o evan-
gel ho.

A Ocasião e a tpoca da Ep1stola aos Romanos

A Ep1stola aos Romanos difere das outras e-


plstolas paulinas, por não endereçar um problema es-
peclfico dentro da igreja. Embora o conteudo doutri-
nario de Galatas e Romanos seja similar, Galatas se
dirige a um problema espec1fico dentro das igrejas.
Romanos e uma dissertação doutrinal, que lida com a
questão de se a salvação requer a observância da Lei
j~dai~a ou se e obtida pela fe somente. Se a salva-
çao nao e obtida pelo guardar a Lei, o que faz com
que os cristãos vivam uma vida justa?

Provavelmente AqOila e Priscilla tinham co-


municado a doutrina de salvação e justiça pela fê,
mas as uuestões ainda ficaram sem respostas. Se uma
perfeita comunhão com Deus não e dependente do ceri-
monialismo e legalismo judaicos, como alguêm e puri-
ficado do pecado e impelido a viver justamente? O re-
querimento de guardar a Lei para ganhar salvação es-
tabelece o motivo para a pessoa empenhar-se em viver
justamente, porem a salvação so pela fê aparentemen-
te nao apresenta ta 1 incenti vo. Como podem novos
cristaos, vindos do paganismo, encontrar vitoria vi-
vendo uma vida justa? Se a Lei do Velho Testamento
não traz salvação, que proposito tinha Deus em seus
procedimentos para com a naçao judaica? Estas foram
questóes urgentes para a nova igreja em exoansao. Ca-
da questão tinha um v1nculo ao problema do relacio-
namento de jude~s e gentios dentro da igreja. Os ju-
deus, que tinham aprendido que não era para eles te-
rem ligações com os gentios, tinham que resolver a
questão do cerimonialismo e legalismo judaicos em
relaçao ao novo movimento cristão. Se o Velho Testa-
mento, que tinha sido interpretado no sentido de ex-
cluir a relação de judeus e gentios, era seguido no
que tange a esse ensino como uma igreja composta de
ambos, judeus e gentios, podia experimentar comunhão?

Paulo mostra o funoamento teo16gico para u-


ma vida cristã vitoriosa por meio da fe. Seu sistema
doutrinario não excluiu os gentios da igreja nem os
excusou por feitos imorais. Antes mostrou a ambos,
judeus e gentios, como se tornarem justos, purifican-
do-se dos pecados passados e como obterem vitoria so-
bre as tentações presentes.

A ocasião imediata da Carta parece ter sido


a de fortalecer o relacionamento de Paulo com a 1-
greja, a fim de que, quando ele visitasse Roma, pu-
desse ministrar no meio deles. Tambem ele planejou
visitar a Espanha (cf. Rom. 15:24,28). Talvez ele es-

18
I,

perasse que a igreja em Roma tomasse parte em seu mi-


nisterio espanhol, sustentando-o.

Provavelmente houvesse alguma tensão entre


os elementos judeus e gentios na igreja. Esta tensão
seria natural na maioria das igrejas, por causa do
orgulho nacional. A melhor maneira para solucionar o
disturbio era apresentar uma posição doutrinária que
enfatizasse a reconciliação universal. Tambem os mem-
bros necessitavam de uma compreensão mais extensa da
doutrina de salvação pela graça atraves da fe.

A maioria dos estudiosos crê que Paulo es-


creveu a Epistola aos Romanos depois que ele deixou
tfeso, cerca de 56 A.D. Ele foi primeiro ã Macedônia
e então passou 3 meses na Grecia, talvez em Corinto
(Atos 20:1-3). Enquanto em Corinto, ele concluiu que
seu ministerio naquela ãrea estava completo; portan-
to, escreveu a Carta aos Romanos a fim de preparã-
los para sua visita, depois que ele tivesse levado a
oferta das igrejas gentias aos santos em Jerusalem.

Corinto e sugerido como o lugar para a com-


posição da Epistola aos Romanos porque:

1. Paulo tinha acabado de completar sua co-


leta para os crentes pobres em Jerusalem
(Rom. 15:22 e ss.).

2. Paulo tinha pregado o evangelho atraves


da região, desde Jerusalem ate a 1líria
(Rom. 15: 19) .

3. Paulo recomendou Febe, a qual pertencia


ã igreja em Cencreia, aos Romanos (Rom.
16:1). Cencreia era o porto da cidade de
Corinto.

4. Paulo era h6spede de Caio no tempo que a


Epístola foi escrita (cf. Rom. 16:23).
Caio pode ter sido a mesma pessoa que
foi batizada em Corinto (I Cor. 1:14).

o Estilo de Romanos

Anteriormente, este livro foi chamado de E-


pistola, porem a descoberta e publicação do antigo
papiro egípcio mudou a visão dos estudiosos quanto a
ele. O estilo de Romanos concorda com o das antigas
cartas. - As cartas típicas começavam com um cumpri-
mento seguido de oração, ação de graças, apresentan-
do-se então o assunto principal. Eram concluídas com
saudações especiais e cumprimentos pessoais. Romanos
segue este padrão. Um secretãrio especial, chamado
Tercio, escreveu a carta para Paulo, porem provavel-
mente contribuiu com nada mais do que seus cumprimen-
tos e de seu irmão mais jovem, no fim da nota especi-
al para Febe (16:22,23).
Introdução aos Gãlatas

Provavelmente, Paulo visitou as igrejas da


Galãcia, em sua jornada de Antioquia até tfeso, cer-
ca de 53 A.O. (veja Atos 18:23). Não muito tempo de-
pois de sua visita, os cristãos judeus de Jerusalém,
ou talvez os judeus de Antioquia e Icônio (veja Atos
14:19) foram às igrejas e refutaram os ensinamentos
de Paulo (cf. Gãl. 1:7; 5:7-10). Antecipadamente,
Paulo tinha entregado aos cristãos gentios as deci-
soes da conferência de Jerusalem (Atos 16:4-6). A
instrucãode que cristãos gentios não necessitavam de
ser circuncidados e de guardar as leis cerimoniais
judaicas causou uma forte reação da parte de alguns
cri s tãos judeus.

Alguns estudiosos argumentam que a Epístola


aos G~latas foi escrita antes da Conferência de ~e-
rusalem em 49 A.D., doutro modo, Paulo teria usado
as quatro decisoes tomadas em Jerusalem, para susten-
tar seus argumentos. E prov~vel que as decisões j~
tivessem sido apresentadas às igrejas, a referência
suplementar a elas tendo que levar um pouco de con-
sideração no debate. A negação de Paulo de ter rece-
bido, dos apostolos de Jerusalem, "o evangelho que
era pregado por mim" pode indicar que eles tambem
estavam sendo desacreditados.

Os acordos em Jerusalem de que os gentios e-


ram salvos pela fe e que nao teriam aplicados a eles
qualquer "encargo alem destas coisas necess~rias:
"Que vos abstenhai s das coi sas sacri fi cadas a ídolos,
e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituicão;
e dessas coisas fareis bem de vos guardar. Bem -vos
vã" (Atos 15:28,29), nao adicionaram nada aos ensi-
namentos de Paulo. A conferência de Jerusalem foi
convocada porque, "tendo havido, da parte de Paulo e
Barnabe, contenda e não pequena discussao com e-
les, ... Insurgiram-se entretanto, alguns da seita
dos fariseus que haviam crido" (Atos 15:2,5). O con-
cílio tinha concordado com a posição de Paulo.

Provavelmente, os judeus farisaicos que


creram apelaram para as ações de Pedro e Barnabe em
Antioquia (cf. Gãl. 2:11-13) para rebater os argumen-
tos de Paulo e as decisões do Concílio de Jerusalem.
As decisões do Concílio tinham fixado a questão dos
requerimentos de salvação para os gentios, mas não
os problemas de comunhãú que surgiram quando judeus
e gentios estavam na mesma igreja.
Os fariseus crentes consideravam Pedro como
uma autoridade superior a Paulo. Paulo respondeu, ex-
plicando que a autoridade de seu evangelho não era ba-
seada sobre si mesmo e nem nas ações de Pedro, mas
foi dada por revelação. Ele procedeu para mo~trar que
Pedro não tinha nenhuma autoridade especial, opondo-
se a Pedro pessoalmente em Antioquia, porque sua con-
duta o condenava.

Aparentemente os judaizantes tentaram rebai-


xar a autoridade de Paulo, atacando sua pessoa. Suas
credenciais apostõlicas eram questionadas tanto quan-
to sua integridade pessoal. Depois de uma introdução
muito breve, Paulo passou imediatamente ã defesa de
seu aIJostolado.

Os judeus cr~ntes farisaicos (judaizantes)


criam que Jesus, o homem, era o r·1essias (Cristo);
portanto, o tempo tinha chegado quando Deus, o Pai,
libertaria seus filhos do pecado, trazendo-os para o
seu Reino. O povo de Deus inclula tanto gentios quan-
to judeus. A questão era: O que e requerido dos gen-
tios para serem libertos do pecado (salvos) e trazi-
dos ao Reino de Deus? A resposta que Paulo deu foi
que era a "fe". A resposta que os judaizantes deram
foi que era a "crença em Jesus como o Messi as" e a
circuncisão e guardar a Lei de Moises". Os judaizan-
tes contendiam que os estrangeiros deviam adotar os
costumes nacionais judaicos, para serem salvos. Paulo
argumentou que os costumes nacionais não tinham nada
a ver com a salvação. Salvação e uma afinidade com
Deus, estabelecida pela atitude de fe.

A controversia de como o homem e justifica-


do perante Deus continua em nossos dias. Hã aqueles
que pensam que a libertação da penalidade do pecado
estã baseada na apresentação de bons feitos. O homem
recebe uma reputação reta diante de Deus, refreiando-
se em relações imorais. Por outro lado, muitos insis-
tem que as boas obras de um homem não o justificam. O
homem culpado torna-se justo perante Deus somente se
aceitar a justiça de Deus provida atraves de Jesus
Cristo.

Cumprimentos e Apologia de Paulo

Gãl a tas 1: 1 - 2: 21

Saudação (1:1-5)

Paulo usou seu nome gentio ao escrever ã i-


greja (v.l). Enquanto ele era um "judeu entre judeus"
era conhecido por seu nome hebraico "Saula". Lucas,
em Atos 13:9, começou a referir-se a ele por seu nome
romano, Paulo. Naquele tempo Paulo superou Barnabe em
liderança e seu principal trabalho era entre os gen-
tios.

E posslvel que Paulo tivesse sido rebaixado


a um apóstolo de segunda categoria que tivesse apren-
dido tudo de Pedro e Tiago. No primeiro verslculo,
Paulo afirma a origem divina de seu apostolado. Sua
comi ssão vei o "não da parte dos homens, nem por inter-
medio de homem algum, mas sim por Jesus Cristo e por
Deus Pai ... " Talvez os judaizantes tenham sugerido
que Paulo não era um apóstolo genulno porque ele não

24
era um dos doze. Paulo respondeu que a chamada de
Deus constitui alguém um apõstolo, e não o compromis-
so de homens. Os doze eram comissionados especialmen-
te para levar o ensinamento de Jesus relativo ã che-
gada do Reino de Deus, e para afirmar o fato da Sua
ressurreição. Paulo recebeu o mandato especial de le-
var as Boas-Novas aos gentios. Apâstolo é aquele que
é enviado numa missão específica, com a mensagem de
Cristo.

Paulo geralmente citava os amigos especiais


que estavam com ele, quando escrevia as epístolas
(por exemplo, Silvano e Timâteo, nas Cartas aos Tes-
salonicenses, e Sõstenes, em I Coríntios). Todavia,
em Gãlatas, ele se refere a amigos especiais, como "to-
dos os irmãos" (v.2). A Epístola é endereçada a diver-
sas igrejas na Galãcia (v.2). Paulo abriu mão do cum-
primento grego chairein e escolheu a palavra charis,
ou graça (v. 3). Graça denota o favor ime recTCfõQe
Deus para com o homem pecador, e é a base para uma a-
finidade real com Deus. A graça descreve a dãdiva di-
vina de justiça mais do que realização humana. A paz
inclui mais do que o hebraico shalom, que era comum
em saudação (v.3). Cristo dã uma paz interior que su-
pera todo entendimento.

A graca e a paz vêm de Deus através de "nos-


so Senhor Jesus Cristo, o qual se entregou a si mes-
mo pelos nossos pecados" (vv. 4 e 5). "Jesus" é o Sal-
vador que foi oferecido em sacrifício pelos nossos
pecados e "Cri sto" e o Ungi do de Deus que dã vi tôri a
sobre as forças do mal.

Era necessãrio o homem ser purificado de se-


us pecados, antes que ele pudesse experimentar a pre-
sença e o poder de Deus que o libertasse do mundo per-
verso (v.4). A sociedade do mundo atual estã sob o po-
der de Satanãs, e o Reino de Deus está invadindo e
destruindo o domínio de Satanãs, libertando o homem
do seu cativeiro. O atual mundo perverso e caracteri-
zado pelo pecado e a morte. O amanhecer do Reino de
Deus e caracterizado pela justiça e a vida. Quando o
Reino de Deus vier em abund~ncia, sujeito ao Seu Es-
colhido, todo o mal serã vencido. A morte de Cristo
para o pecado e a nossa libertação do presente mundo
perverso estão de acordo com a vontade de Deus. A es-
perança e o gozo do evangelho trazem uma doxologia
(v. 5).
O Dr. John W. MacGorman aponta para o fato
de que não consta nenhuma expressão de agradecimento
dirigida aos gãlatas na saudação de Paulo.l Visto
que isto não se dã em nenhuma outra parte, revela a
agitação e mãgoa que Paulo sentiu por causa da falta
dos gãlatas.

A Ocasião para a Escri tura (1 :6-10)

A Epístola foi ocasionada pelo aparecimento


de falsos mestres, que pregavam um evangelho diferen-
te (heteron) (v.6). O que eles pregavam era uma per-
versao do Evangelho de Cristo. Eles tinham posto de
lado o evangelho da graça de Deus (favor imerecido)
em Cristo, proclamando uma justiça baseada no esforço

1. John W. MacGorman, Gala ti ans, Vo 1. I I de The B road-


man Bible Comentary (Nashvllle: Broadman Press,
1g71 ), p. 83.
humano. A perversão do Evangelho não era realmente u-
ma outra versão do evangelho que Paulo pregava; es-
tava em oposição ao evangelho da graça (v.7). Um e-
vange 1ho depende do homem e outro depende de Deus.
Um origina-se no orgulho e o outro na f~. Um conduz
ã derrota e outro ã vitória. Paulo surpreendeu-se de
como os gãlatas haviam se voltado tão rapidamente de
um evangelho que oferecia vitória para um legalismo
que escravi zava.

Paulo pronunciou sentença incondicional con-


tra aqueles que pregavam um evangelho pervertido (vv.
8 e 9). A linguagem de Paulo e impetuosa, ao pronun-
ciar a maldição irrecuperãvel, contudo, ele reconhe-
ceu que a perversão do evangelho ~ seria, porque
traz destruição para aqueles que o ouvem tanto quan-
to para aqueles que o·pregam. O homem não pode efe-
tuar sua própria salvação, dependendo dos çódigos mo-
rais e cerimoniais de j·10ises. Ele não guarda ~s có-
digos morais perfeitamente, e as cerimonias sao so-
mente sombras de real idade.

As qualificações da pessoa que proclama a


doutrina legalista não podem tornã-la correta (v.
8). Mesmo se um anjo do ceu proclamasse que, guardan-
do os rituais judaicos e os costumes dos anciãos os
homens seriam salvos, a proclamação não seria verda-
deira. Paulo assegurou aos gãlatas que ele não ima-
ginou o evangelho para agradar aos homens, mas que
o recebeu de Deus (v.10). Visto que o evangelho foi
divinamente dado, ele foi obrigado a proclamã-lo fi-
elcente. Sua fidelidade ao evangelho não agradou aos
homens, somente trouxe. prisão. Não obstante, ele o
proclamou porque era um servo de Jesus Cristo. O E-
vangelho de Cristo, que removeu a distinção entre ju-
deus e gentios, estava contra o nacionalismo judaico
de Paulo tanto quanto de outros judeus, especialmen-
te os fariseus.

A linguagem impetuosa de Paulo revela que e-


le não era uma pessoa que gostasse de agradar a ho-
mens. Aparentemente, seus oponentes na Galãcia o ti-
nham atacado com isto (v.10). Tivesse ele atentado
para obter o favor dos'homens, ele não teria falado
tão ousadamente. Visto que ele foi um ousado servo
de Cristo, sua tarefa não era agradar a homens, fa-
lando o que eles queriam ouvir (v.10).

A Defesa Pessoal de Paulo (1:11 - 2:21)

A fonte divina de seus ensinamentos (1:11,


12) - Paulo defendeu sua autorldade apostollca, ten-
do como base que a mensagem que ele pregava era di-
vinamente insDirada (v.nL ADarentemente, os judai-
zances reivinaicavam que o aposto'laao de Paulo re-
pousava mais sobre autoridade humana do que divina.
Eles, provavelmente, sugeriram que ele era dependen-
te dos apõstolos de Jerusalem para sua mensagem e re-
connecimento oficial como apóstolo.

Paulo nao satisfez os requisitos apostóli-


cos de ter estado com Jesus, desde o tempo de Seu ba-
tismo ate Sua morte, e de ter-se encontrado com o
Cristo ressurrecto como os outros apóstolos. Todavia,
ele recebeu seus ensinamentos e testemunhos de Cris-
to, não da parte de homens. O evangelho da graça,
que não requeria que os gentios fossem circuncidados
ou guardassem os costumes dos anciãos, não era uma
26
invenção humana. Seu apostolado era divinamente ins-
pirado, porque a mensagem que lhe foi comissionada
para levar aos gentios era divinamente revelada.

A declaração de Paulo de que Jesus Cristo


é o Revelador não quer dizer que ele não recebeu na-
da das testemunhas oculares e seguidores de Jesus
Cristo. Paulo recebeu uma narrativa dos ensinamentos
e atividades de Jesus de testemunhas oculares, porém
o significado e a interpretação da parte de Cristo.
Também, ele tinha ouvido uma voz do céu, que comuni-
cava uma mensagem divina. no tempo de sua conversão.

As palavras e ações de Jesus tinham que ser


interpretadas e aplicadas aos gentios. Qual era o
significado, para os gentios, da mensagem de que o
Reino tem chegado em Cristo? Como eles poderiam en-
trar para o Reino? Paulo foi capaz de responder a es-
tas questões por revelação divina.

A Refutação dos Oponentes (1:13.14) - Os ju-


daizantes reivindicavam que sua religiao se baseava
na Escritura (A Lei de Moisés e dos Profetas). Eles
consideraram a rejeição da parte de Paulo, das "tra-
dições dos pais" (v.l4), e sua aceitação dos genti-
os na igreja como iguais serem inovações de seu am-
biente gentio. Embora o judeu de Tarso houvesse esta-
do exposto aos gentios em sua mocidade, suas primei-
ras ações provaram que ele permaneceu um judeu con-
servador. Ele tinha estabelecido uma reputação para
defender a religião judaica ao ponto de perseguir a
Igreja de Deus, devastando-a (v.13). Anteriormente e-
le tinha concordado com os fariseus de que a religi-
ão cristã era uma perversão do judaísmo. Suas ações
revelaram que ele não tinha rejeitado o judaísmo,
nem tinha se tornado simpãtico aos gentios por causa
de seu ambiente anterior. Ele era extremamente zelo-
so pelas tradições dos ancestrais até sua conversão
(v. 14).
A Influência Dominante na Vida de Paulo (1:
15-17) - Os judaizantes p~recem ter dito tambem que
~recebeu suas interpretações da parte de homens.
Paulo lembrou, seus oponentes, da crença judaica na
providência de Deus. Mesmo antes de Paulo nascer, jã
tinha o plano para a sua vida (v.15).
A chamada divina de Paulo era baseada na
graça de Deus mais do que no seu próprio mérito. Pau-
lo considerou-se indigno de ministrar aos gentios,
uma tarefa que os judaizantes depreciaram. Paulo jul-
gou o plano de Deus, "para revelar seu Filho em mim,
para que eu o pregasse entre os gentios" (v.16), ser
uma nobre chamada. Os gentios tambem foram escolhi-
dos para fazer parte do Reino.
Como um estudioso do Velho Testamento, Pau-
lo estava familiarizado com a mensagem dos profetas,
especialmente Isaías. Isaías enfatizou o lugar dos
gentios no Reino de Deus. Os judaizantes eseerav~m
um vitorioso Messias nacionalista, que desse a naçao
judaica, vitória sobre os gentios. A rejeição do Mes-
sias de Deus por parte dos judeus e Sua crucificação
pelos gentios eram mistérios do plano de Deus, que
"desde os seculos esteve oculto em Deus, que tudo
criou" (Ef. 3:9). A morte do Messias proveu:

1. A expiação do pecado através do derrama-


mento de sangue;
2. A revelação da reJelçao divina de um Mes-
sias vitorioso, nacionalista e polltico,
e a afirmação de um Messias universal e
sofredor.

Se Jesus era o Messias e foi posto ã morte,


era óbvio que o plano de Deus não foi enviar um Mes-
sias para a nação israelita, mas um servo sofredor pa-
ra derramar seu sangue por todos. A morte de Jesus re-
velou a Paulo que Jesus é o Messias universal, e que
os gentios estão incluldos no Reino.

Paulo n~o recebeu um conhecimento do miste-


rioso plano de Deus da parte dos apóstolos em Jeru-
salém, mas através da revelação de Jesus Cristo (v.
12). Ao invés de ir a Jerusalem para conversar com os
apóstolos após sua conversão, ele foi ã Arãbia, uma
região a este de Damasco (v.17). Não sabemos quão lon-
ge ele foi, o que fez e nem quanto tempo ficou. Tanto
Jesus foi compelidn, pelo Esplrito, a ir ao deserto
por 40 dias e noites após Sua revelação divina em seu
batismo, quanto Paulo precisou de um periodo de soli-
dão depois de sua conversão. A interpretação de Paulo
acerca do Velho Testamento tinha sido um erro; portan-
to, ele precisou pensar novamente a respeito de sua
posição e correlacionar as Escrituras dos profetas
com seu encontro com o Senhor vivo e sua comissão pa-
ra ser um apóstolo aos gentios. Da Arãbia, ele retor-
nou a D,'lmasco.

Paulo foi influenciado pelas tradições judai-


cas, porem el~ foi transformado pela graça de Deus
em sua experiencia de conversão. Na hora de sua con-
versão, Paulo "ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo,
Saula, por que me persegues?" (Atos 9:4). Por intermé-
dio de Ananias, o Senhor revelou a Paulo que ele era
um vaso escolhido para trabalhar entre os gentios. O
único encontro com o Senhor ressurrecto no tempo da
conversão de Paulo e a divina revelação atraves de A-
nanias foram fatores predominantes na mudança da vida
de Paulo. As influências dos pontos principais de sua
experiência judaica, sua prévia compreensão do Velho
Testamento e as conversações com os apóstolos de Jeru-
salém foram influências secundãrias.

A Visita de Paulo a Jerusalem (1:18-24


Paulo dec arou que fOl a Jerusa em epOlS e tres a-
nos (v.18). Não se sabe se os três anos são datados
desde sua conversão e chamada (v.15) ou se desde o
tempo de sua volta da Arãbia para Damasco (v.17). Du-
rante a primeira visita de Paulo a Jerusalém (cf. A-
tos 9:26-30), ele passou quinze dias com Pedro (v.18).
Este breve periodo não teria sido suficiente para Pau-
lo ter recebido seu evangelho dos apóstolos; nem Pe-
dra teria dado a Paulo a interpretação que aplicava o
evangelho aos gentios. O suplemento desta informação
prova o argumento de Paulo de que ele recebeu o evan-
gelho que pregava por revelação divina, mais do que
de homens, desse modo qualificando-o como um apóstolo.

A alusão de Paulo com vista a "Tiago, o ir-


mão do Senhor" (v.19), dã a entender que Tiago tinha
se tornado proeminente na igreja em Jerusalém. Ele o
mencionou juntamente com Cefas (nome aramaico de Pe-
dro) e João como "colunas" da igreja (Gãl. 2:9). Sua
conversão pode ter seguido a ressurreição de Jesus.
Paulo refere-se a um aparecimento do Jesus ressurrec-
to a Ti ago (cL I Cor. 15: 7) .
28
Depois que Paulo declarou, sob juramento so-
lene, que suas afirmações eram verdadeiras (v. 20), e-
le deu um resumo de suas atividades durante os anos
seguintes (vv. 21 e ss.). Seu juramento talvez fosse
em resposta a uma acusação que ele recebeu a respeito
de ~uas visitas com os outros apóstolos.

Visto que Paulo trabalhou nas regiões da sí-


ria e Cilícia (v. 21), não é provável que ele tenha
estado sob a direção dos Doze que permaneceram em Je-
rusalém. Antioquia, a terceira cidade do Império Ro-
mano, ficava na Síria, e Tarso, a cidade natal de Pau-
lo, estava localizada na Cilícia. Estas eram áreas
predominantemente gentias, onde Paulo trabalhou pelos
onze (ou talvez catorze) anos seguintes. No livro de
Atos lemos que quando Paulo deixou Jerusalém, ele foi
a Tarso (9:30). Pouco se sabe acerca da resposta ao
evangelho naquela região, porem em Atos e indicado
que o trabalho desenvolveu-se em Antioquia, na Siria,
ao ponto de a igreja tornar-se o centro de atividades
missionárias aos gentios (cf. Atos 13 e ss.). Paulo
estava tão ocupado com seu ministério na Síria e Ci-
licia, que ele não dedicou tempo às igrejas da Judéia,
onde os apóstolos eram influentes (v.22). Embora ele
fosse pessoalmente conhecido por Pedro e Tiago, não e-
ra conhecido pessoalmente pelas igrejas da Judeia. A
palavra a respeito da conversão do perseguidor fez
com que as igrejas da Judeia glorificassem a Deus
(vv. 23 e 24).
A Segunda Visita de Paulo a Jerusalém (2:1-
lQl - O livro_de Atos indlca qu~ Paulo fez duas visi-
tas a Jerusalem antes da Conferencia em 49 A.D. (veja
Atos 9:26 e ss.; 11:30; 12:25). Em Atos 9:26 e ss.,
Paulo foi apresentado aos apóstolos por intermédio de
Barnabé. Ele ocupou seu tempo em Jerusalém, proclaman-
do o nome do Senhor Jesus e debatendo com os helenis-
-tas. Atos não indica que Paulo foi a Jerusalém para
se instruir a respeito do evangelho. Ele e Barnabé fo-
ram escolhidos para levar a oferta a Jerusalém duran-
te o período de fome (Atos 11:30; 12:25), contudo e-
les não podem ter visto os apóstolos. Josefo um his-
toriador judeu, menciona fome em Jerusalem, cerca de
4~-48 A.D. Alguns estudiosos identificam o levar as
ofertas por Paulo a Jerusalém com os eventos descri-
tos em Gãlatas 2. Paulo jurou aos gãlatas que ele ti-
nha feito somente duas viagens a Jerusalem, durante
as quais viu os apóstolos.

t provãvel que Paulo não tenha considerado


que sua viagem, que tinha a finalidad~ de levar as o-
fertas para aliviar a fom~ em Jerusalem,.fosse envol-
vida em sua defesa na Galacia. Naqu~la vlagem, Paulo
viu os anciãos da iqreJa em Jerusalem (Atos 11:30),
mas provavelmente nao conversou com os Doze quanto ao
que se refere ao evangelho. ~ãlatas 2, prova~el~ente,
refere-se a viagem a Jerusalem para a Conferencla em
49 A.D. Esta viagem teria sido a segunda em que Pa~lo
poderia ter recebido seu evangelho da parte dos apos-
tolos.
Paulo levou Barnabe e Tito consigo na segun-
da viagem a Jerusalem (v.l). Barnabê tinha B')oia?o
Paulo diante dos discípulos, mesmo quando eles o eVl-
taram por causa do medo (Atos 9:26 e ss.); el~ trouxe
Paulo de Tarso para ajudã-lo no trab~lho f~utl~ero em
Antioquia (Atos 11:25 e ss.). Barnabe.ta~be~ ~lnha a-
companhado Paulo na primeira viagem mlSSlonarla (Atos
13:2 e ss.). As duas ultimas referências indicam o
interesse de Barnabé pela missão gentia. Tito era um
cristão gentio que não foi circuncidado, apesar da
insistência dos cristãos de Jerusalém. O fato de Ti-
to não ser cincuncidado, não foi obstãculo para que
ele não fosse aceito na igreja. Paulo tinha circunci-
dado Timóteo, cujo pai era grego, a fim de que Timó-
teo não tivesse barreiras em seu ministério com os ju-
deus. Paulo recusou circuncidar Tito por. causa de sua
convicção de que os gentios não precisavam guardar os
rituais judaicos (v.3).

Paulo declarou que sua viagem foi o resulta-


do da divina revelação (v.2). Quando ele chegou a Je-
rusalém, primeiro visitou os apóstolos e os anciãos
(Atos 15:4), para comunicar-lhes "o evangelho que pre-
go entre os gentios, mãs em particular aos que eram
de destaque" (v.2). Depois, toda a igreja uniu-se pa-
ra considerar o manifesto, levantado pelos fariseus
crentes, referente ã necessidade de os gentios guar-
darem os rituais judaicos.

Embora ele não tivesse recorrido aos apâsto-


los para a estruturação de sua mensagem, era importan-
te.que a harmonia e a compreensão mutua prevalecessem
entre eles. Tecnicamente, a finalidade da Conferência
de Jerusalém não era autorizar, oficialmente, o evan-
gelho de Paulo aos gentios. Era trazer compreensão en-
tre gentios e judeus, a fim de que a comunhão pudesse
;.' ser mantida na igreja. O fato de que os líderes de Je-
rusalém falharam no sentido de fazer prevalecer a ne-
cessi dade de Ti to ser ci rcunci dado cortou o argumento
dos judai zantes para que os gãl atas se submetessem ao
ritual da circuncisão.

Havia "falsos irmãos" em Jerusalém, que in-


sistiam na imposição dos rituais judaicos sobre os
gentios que se converteram (v.4). Lucas refere-se a
eles como "alguns da seita dos fariseus; que tinham
crido" (Atos 15:5). Aprender e seguir tudo das regras
dos fariseus restringia as atividades de uma pessoa
ao ponto de ela não ter liberdade para servir a Cris-
to (v.4). Os costumes farisaicos restringiam a asso-
ciação com certas pessoás e conduziam ã iustiça pró-
pria. Estas ações e atitudes tornaram imposslvel com-
part11har efetivamente o evan~elho de Cristo com os
incredulos. Os rituais do judalsmo eram, aproximada-
mente, relativos aos costumes nacionalistas judaicos;
portanto, re~uerer que os gentios aderissem às tradi-
ções dos antigos era impor requisitos desprezfveis a
eles. Paulo recusou comprometer-se com os fariseus
cre~tes ou em Antioguia (Atos 15:2) ou duran!e a Con-
ferencia de Jerusalem(cf. Atos15:6 e ss.; Gal. 2:5).
A posição que ele assumiu prevaleceu.

Visto que alguns manuscritos primitivos omi-


tem as palavras gregas que são traduzi das como "a
quem" e "n"ao, de maneira alguma", alguns estudiosos
concluem que Tito foi circuncidado. Eles leram o ver-
sículo 5: "por uma hora cedemos em sujeição". Eles in-
terpretam o verslculo 3 como querendo dizer que Tito
foi circuncidado, porem a ação veio por causa da com-
pulsão. Aqueles que assumem esta posição dizem que
Paulo concordou com o gesto rituallstico, mas não o
considerou como compromisso a um princípio.

Alguns homens foram determinados para circun-


cidar Tito. Paulo os chamou de "falsos irmãos intru-

30
(
(
sos, os quais furtivamente entraram a espiar a nossa
liberdade que temos em Cristo Jesus, para nos escravi-
zar" (v.4). Paulo declarou que ele recusou a comprome-
ter-se, por um momento, com estes legalistas farisai-
cos, que foram determinados para reduzir os gentios â
escravi dão.

Paulo voltou sua atenção para "os que eram


de des taque" (a saber, companhei ros de Jes us durante
o Seu ministerio terreno). Visto que Deus não tem fa-
voritos, aqueles de reputação não fizeram diferença
para Paulo (v.6). Durante a Conferência de Jerusalém,
eles não adicionaram nada â doutrina de salvação de
Paulo para os gentios. Sua declaração concordou com a
descrição de Atos 15. Depois que Paulo apresentou aos
ap6stolos e anciãos o evangelho que ele pregava aos
gentios, Pedro sustentou sua posição, notando que o
fato de os gentios receberem o Esplrito Santo demons-
trou que Deus purificou seus corações pela fé e que
os judeus foram salvos "do mesmo modo que eles também"
(Atos 15:8-11). A Conferência terminou em acordo com
o entendimento de que Paulo foi divinamente escolhido
para levar o evangelho da incircuncisão, e Pedro o da
circuncisão. Não havia dois Evangelhos, mas somente
um que pregava a salvação pela fe; todavia, os jude-
us e os gentios tinham costumes nacionais diferentes
emanei ras di ferentes de expressar sua fé. O mesmo
Deus que abençoava o ministério de Pedro para com os
judeus, abençoava o ministério de Paulo para com os
gentios (v.8).
A Conferência de Jerusalém realmente definiu
como os judeus eram salvos mais do que como os genti-
os o eram. Paulo foi â Conferência com a convicção de
que a salvação é pela fe. Pedro concluiu que os jude-
us também eram salvos pela fé, e que nem mesmo eles
eram capazes de guardar a Lei de Moisés. A reunião
termi nou em acordo, es tendendo-se as "des t ras de co-
munhão" (v.9). Foi concordado que Paulo e Barnabé se
di ri gi ri am aos genti os e Pedro aos judeus. Foi sugeri-
do que Paulo e a igreja gentia deveriam se lembrar
dos cristãos pobres de Jerusalém (v.lO). Isto Paulo
estava ansioso por fazer.

A Falta de Pedro em Antioquia (2:11-15) - A-


queles que atenderam a Conferencia de Jerusalem con-
cordaram que a salvação é pela fé, porem o acordo não
eliminou a lealdade, de raiz profunda, âs tradições
nacionais ou ao orgulho racial. A Conferência parece
ter favorecido a observância de costumes judaicos pe-
los cristãos judeus; todavia, os atos leqalistas
não eram necessãrios para a salvação de um dos dois,
judeu ou grego. Nem todo judeu cristão farisaico es-
tava disposto a ater-se ã decisão do Concllio.

Paulo não indicou quando Pedro chegou a An-


tioquia. Nesta terceira cidade do Imperio Romano, Pe-
dra encontrou conversos judeus e gentios compartilhan-
do nas refeições. A lei judaica proibia esta ação e
enfatizava o separatismo(cf. Neem. 13). Houve perlo-
dos históricos quando a sobrevivência do judalsmo re-
quereu a sua separação de estrangeiros; doutro modo,
as crenças religiosas judaicas teriam sido comprometi-
das e os judeus forçosamente teriam que aderir â ido-
latria. Alguns judeus cristãos rigorosos continuaram
a perpetuar a Lei. Por outro lado, os gentios que e-
ram membros desta mesma igreja sentiram a discrimina-
ção quando os judeus se recusaram a compartilhar, em
comunhão nas refeições.
Pedro tinha aprendido, da visão em Jope, que
as carnes não eram impuras e nem era errado entrar na
casa de um gentio. Ele foi sensato o bastante para le-
var seis testemunhas consigo ao entrar na casa de Cor-
nélio (Atos 10). Ele foi chamado pelos cristãos de Je-
rusa lém a prestar contas por esta ação (Atos 11). A
prova de que suas ações eram baseadas na revelação de
Deus os satisfez, mas não mudou suas atitudes de na-
cionalismo. Parece que a experiência não trouxe mudan-
ças significativas para Pedro. Na conferência de Jeru-
salém, ele referiu-se ã experiência na casa de Corne-
lia, em palavras que dão a entender que a visão espe-
cial teve um pouco de influência em suas atividades
normais. A visão fez com que Pedro fosse mais franco
para com os gentios, porém ele não tinha uma forte
convicção referente ã igualdade de judeus e gentios.
Ele estava se associando com os gentios em Antioquia,
quando os cristãos judeus rigorosos, da igreja em Je-
rusalém, que Tiago pastoreava, chegaram ã Antioquia.
~ chegada deles, ele cessou a comunhão com os gentios
(v.12). Suas ações influenciaram outros cristãos ju-
deus, mesmo Barnabé, que tinha servido muitos anos en-
tre os gentios (v.13). Talvez os crentes farisaicos
tenham convencido Barnabé de que o fato de Pedro ter
estado com Jesus atribuiu-lhe autoridade maior do que
a Paulo, que procedeu a integração das igrejas genti-
as e judaicas. Embora Jesus tivesse se oposto aos fa-
riseus, ele tinha continuado a observar as práticas
religiosas judaicas. Seu ministerio tinha sido quase
completamente entre os judeus; por isso, a vida de
Cristo ofereceu apenas um pequeno precedente, para e-
xemplo, quanto ao relacionamento com os gentios.
Se Paulo não tivesse permanecido firme o
cristianismo poderia ter-se tornado subordinado ao ju-
dalsmo. O argumento de Paulo lembra a confissão de Pe-
dro na Conferência de Jerusalém: "Agora, pois, por
que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos disclpu-
los um jugo que nem nossos pais nem nós pudemos supor-
tar?" (Atos 15:10). Pedra admitiu que os judeus eram
salvos pela fé no Senhor Jesus Cristo assim como os
gentios. Paulo assinalou que, se alguém nascido ju-
deu não podia guardar as leis e os costumes judaicos,
mas era como os gentios na vida prática, por que os
judeus deveriam compelir os gentios cristãos a vive-
rem pela Lei judaica? (v.14). Os gentios não tinham
grandes experiências nem interesse no sentido de guar-
dar os costumes nacionalistas judaicos; portanto, por
que os cristãos judeus deviam insistir em colocar es-
te jugo, que eles mesmos não podiam suportar, sobre os
c:-'istãc'?,~~::ntios? (v.l~j). l\ C:Y'ise era tão séria que
Paulo, publicamente repreendeu Pedra. A questão de
religião espiritual foi ameaçada pelo legalismo; o a-
mcr e o respeito cristãos foram ameaçados pelo racis-
mo e estreito nacionalísmo.

O Evangelho Verdadeiro (2:16-21) - Paulo re-


feriu-se aos "pecadores dentre os gentios", em con-
traste com "judeus por natureza" (v.15). Os judeus ri-
gorosos, que observavam a Lei detalhadamente (farise-
us), consideravam que os gentios, que não obedeciam ã
Lei, estavam numa categoria diferente de pecadores.
Mas, se os judeus "viviam como gentios" (v.14), a Lei
não oferecia esperança de salvação: "Sabendo, contudo,
que o homem não ê justificado por obras da lei" (v.
32
16). Justificação significa ser julgado ou declarado
justo para" com Deus. Nem mesmo os judeus são conside-
rados justos para com Deus pelos seus costumes, re-
gras, e leis, se eles não os guardam perfeitamente.
Previamente, Pedro tinha admitido que mesmo
os judeus que nasceram sob os costumes da Lei eram in-
capazes de guardã-la. A unica esperança para judeus e
gentios, era a expiação pela fe .em Jesus Cristo. Des-
de que ambos, judeus e gentios, têm quebrado a Lei,
ela os condena, ao inves de salvã-los. A morte de
Cristo na cruz proveu expiação dos pecados do homem;
portanto, se judeus e gentios crerem em Jesus Cristo,
seus pecados serão removidos pelo sangue de Cristo e,
então se tornarão justos diante de Deus. A cruz e o
ato de Deus em seu Filho: Deus não somente declarou o
pecador justo, mas o torna justo, removendo o seu pe-
cado quando ele volta-se para Cristo em fê. As obras
da Lei - circuncisão, separação dos gentios, sacrif;-
cios, pretens~es ã integridade moral - não justifi~a-
rão o indiv;duo que transgredir a Lei moral (v.16).
Os fariseus ensinavam que, se os homens se
tornassem justos por guardar a Lei, a presença e o po-
der de Deus voltariam em Seu Reino. Paulo argumentou
que nem mesmo os judeus eram obedientes; portanto, a
salvação não poderia vir pela Lei. A fe em Cristo era
o meio para ambos os pecadores, gentios e judeus, se-
rem considerados justos diante de Deus (v.17). O evan-
gelho de Cristo não advogava o pecado e nem Cristo e-
ra um agente do pecado, mesmo ainda ele oferecendo
salvação aos pecadores (v.17). A conclusão normal e
que o pecar e estimulado, se os pecadores podem ser
salvos pela fe em Cristo. Os legalistas alegavam que
a tentativa de guardar a Lei encorajava o homem a ser
justo, e não um pecador, mas o Evangelho de Cristo es-
timu 1ava os homens a se rem pecadores. Na realidade,
o oposto e verdadeiro. Aqueles que vivem pelas obras
da Lei dizem ser justos, porem não guardam partes de-
la. A fim de esconderem seus fracassos, os legalistas
negam seus pecados e fingem ser justos. Esta vida de
engano e hipocrisia conduz ao orgulho espiritual, e e
destituída de amor ou compaixão pela pessoa honesta,
que admite seu pecado. A atitude e aç~es dos legalis-
tas estão bem distantes das de Cristo. Eles se torna-
ram juizes de justiça prõpria, que dizem fazer justi-
ça, mas, na realidade, vivem enganosamente a esconder
suas prãticas erradas.
Paulo estimulou ambos, judeus e gentios ia a-
bandonarem a dependência da Lei para salvação (v.18).
Se ele se tivesse submetido ã pressão dos judaizantes
para reouerer que os gentios guardassem as tradiç~es
judaicas, teria sido um transgressor, porque ele os
tinha ensinado a fazer o oposto (v.18). Visto que a
salvação não e por prãticas cerimoniais e legais, Pau-
lo parou de ser escravizado por essas prãticas (a
Lei), a fim de ser libertado para fazer a vontade de
Deus, conforme revelado pelo Seu Espírito. Paulo sin-
ceramente cria que a revelação que ele teve de Jesus
Cristo (veja 1:2), revelou a vontade de Deus mais com-
pletamente do que a Lei, que os fariseus advogavam.
O versículo 19 e difícil de ser interpretado.
Talvez Paulo tenha usado a palavra "lei" em duas di-
ferentes maneiras. Poderia referir-se aos cinco pri-
meiros livros do Velhr Testamento (a lei de Moises);
ao Velho Testamento inteiro; aos requerimentos mora-
is e cerimonais contidos no livro de Moises; ou às
regras e interpretações legalistas das leis do Ve-
lho Testamento. Os escribas tinham definido cada uma
com numerosas regras eações legalistas. Talve·z Paulo
quisesse dizer, no versfculo 19, que ele, "mediante
a própria lei" (as escrituras do Velho Testamento
que falam de Cristo), estava "morto para a lei" - as
regras farisaicas legalistas não o controlavam mais.
Atraves de sua nova liberdade, ele podia viver de a-
cordo com a vontade de Deus, ao inves de ser escravi-
zado pelo legalismo.

O versfculo 20, vividamente expressa a nova


atitude do cristão. Paulo tinha jã confessado seu ze-
lo na religião judaica, e sua ambição de ultrapassar
os de sua própria idade (1:13,14). Após sua experiên-
cia cristã, ele se tornou ciente de que tinha vivido
por si próprio, ao inves de por Deus. Ele tinha se
empenhado para adiantar-se na religião judaica. Em
contraste a Paulo, Cristo tinha morrido pelos ou-
tros. Ele tinha instrufdo Seus discfpulos, dizendo:
"negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e si-
ga-me" (Lucas 9:23). Paulo conhecia a declaração de
Jesus: "Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-
ã; mas quem perder a sua vida vida por amor de mim,
esse a salvarã" (Lucas 9:24). O "eu" deve ser posto
ã morte, a fim de que não controle a nossa vida para
fins egofstas. Cristo morreu por outros. Os cristãos
tem por dever viver para os outros, porem isto e im-
possfvel enquanto o "eu" não perder seu poder sobre
nossa vida. Após crucificar o "eu", o cristão conti-
nua a vi ver, mas não e ó seu ego ("eu") que exerce o
controle sOQre sua vida; antes e Cristo, que habita
dentro de quem tem o controle sobre si. O cristão
continua a viver "na carne" (uma vida inclinada para
o pecado), porem ele não e dominado pelo pecado, por-
que ele vive "pela fe no Filho de Deus" (v.20). O
cristão crê que o Cristo que controla sua vida pode
dar-lhe vitória sobre as tentações e sobre as incli-
nações para o pecado (vida na carne).

O segui r as regras 1ega 1is tas é o es forço do


homem para obter justiça. A salvação pela graça e
realização de Deus, atraves de Cristo, a qual e ofe-
recida ao homem. O homem não pode depender de ambos,
de sua própria realização e da provisão de Deus para
si. Se ele depende de seus próprios esforços, então
a morte de Cristo não tem valor para ele (v.21).

Introdução Pessoal de Paulo aos Romanos

Roman os 1: 1- 17

Sua Identidade e Cumprimentos (1:1-7)

Paulo seguiu o modelo da tfpica carta grega,


que começava com muitas referências ao remetente e
continha um cumprimento aos recipientes. Ele identi-
ficou-se como um escravo de Jesus Cristo (v.l). Ele
não era um escravo pertencente ao homem, porem tinha
sido "comprado por preço" (I Cor. 6:20; 7:23). Como
"apóstolo chamado", Paulo foi divinamente comissiona-
do e autorizado a ir em frente com uma mensagem. Ele
não era um dos Doze originais que tinham estado com
34
Jesus e tinham testemunhado Sua ressurreição, mas a
autoridade de Paulo não era menos vãlida por causa de
sua chamada divina para ir aos gentios. Ele foi tira-
do de outras ocupações, para levar o evangelho aos
genti os.

A promessa de que Deus enviaria um descenden-


te de Davi para estabelecer o Reino foi feita através
dos profetas (vv. 2 e 3). Jesus satisfez os requeri-
mentos messiâni cos como um descendente de Davi "segun-
do a carne" (v.3). Davi tinha sido chamado de "filho
de Deus", porem Jesus foi des ignado Fi 1ho de Deus num
sentido especial. Ele era mais do que um mortal des-
cendente humano de Davi.

Sua ressurreição, pelo poder do Espirito de


Deus, declarou sua natureza divina (v.4). Jesus era
divino, tanto quanto humano, antes de sua ressurrei-
ção, porém sua ressurreição manifestou sua natureza
divina e senhorio (v.5).

Não foram os apóstolos em Jerusalém que de-


ram a Paulo autoridade para ensinar o evangelho. Foi
pela autoridade do Senhor ressurrecto que Paulo foi
comissionado para difundir obediência por meio da fe
entre os gentios (v.5). Paulo não merecia a nobre res-
ponsabilidade de levar as Boas-Novas, mas a graça de
Deus expressa mediante Cristo o qualificou para a ta-
refa. As atividades de Paulo não foram para exaltar a
ele mesmo, mas para honrar o nome de Cristo (v.5).
Os cristãos romanos tambem eram divinamente
chamados a Cristo, e foram os filhos amados de Deus
(v.6). Por causa da chamada e da graça de Deus, eles
tinham uma afinidade especial com Deus. Os cristãos
romanos foram separados para serem possessão de Deus
para o serviço e adoração.

O cumprimento de Paulo incluia a bênção cos-


tumeira da graça e da paz. Graça é o favor imerecido
de Deus, e paz é a ausência de perturbação e mal. O
favor especial e a proteção vêm de Deus, que é o nos-
so Pai e também o Pai do Senhor Jesus Cristo (v.7).
Normalmente, os filhos esperam bênçãos, provisões e
proteção da parte de seus pais. Os cristãos Dodem es-
perã-las da parte de seu Pai Celestial.

A Gratidão de Paulo (1:8-15)

Paulo seguiu o estilo grego, expressando a-


ções de graças a Deus apos o sobrescrito e cumprimen-
to. Um soldado escreveu da Itãlia a seu pai no Egito:
"Apion para Epimachus, seu pai e senhor, cumprimentos.
Antes de tudo, rogo que esteja com saude e continua-
mente próspero e que tudo esteja correndo bem com mi-
nha irmã e sua filha e meu irmão. Agradeço ao Senhor
Serãpis que, quando eu estava em perigo no mar, sal-
vou-me de ... "1 Paulo estava agradecido de que a fé
da comunidade romana era conhecida em todo o mundo.
Sem duvida, os cristãos sentiram um orgulho legitimo
em saber que o cristianismo era bem representado na
capital do Império.

MILLIGAN, Selections from the Greek Papyri (Sele-


ções do Papiro Grego N9 36)
Paulo aproximou a hora da tomada de juramen-
to, ao pronunciar Deus como sua testemunha para com-
provar suas declarações. Somente Deus podia conhecer
o espirito intimo e as orações particulares de supli-
ca de Paulo, a favor dos cristãos romanos e séu forte
desejo de visitar Roma (vv. 9 e 10). Paulo desejou
compartilhar "algum dom espiritual" que fortalecesse
os cristãos romanos como servos (v.ll). Ele cria que
a vida cristã estava sob o controle e o poder do Es-
pirito Santo, que capacita os cristãos a profetizar,
ministros assim como servos, a ensinar, etc. (12-6-8).
Paulo tomou parte no concedimento de dons espirituais,
comunicando o evangelho, que ê oconteudo e a base do
serviço cristão. Seu ensinamento doutrinârio fortale-
ceria e estabilizaria os cristãos romanos.

Um segundo propâsito de visita de Paulo aos


rom~nos foi para obter estimulo pessoal, inspiração
di'[ fe de 1es e cometi mento ao Senhor (v. 12). El e sen-
tiu-se obrigado a ministrar aos cristãos romanos, vis-
to que eles eram predominantemente gentios (v.14), po-
rem tinha sido impedido, previamente, de ir a Roma. E-
le tambem desejou partilhar da colheita que Deus tinha
preparado.

Os judeus classificavam as pessoas de outras


nações como gentios; os gregos os classificavam como
bârbaros (v.14). Para os gregos, bârbaros eram pesso-
as que não sabiam o grego, incluindo ambos, judeus e
gentios. Os gregos eram os sâbios, e os bârbaros, os
ignorantes. Os versiculos 13-16 dão a entender que a
igreja em Roma era predominantemente gentia no tempo
que Paulo escreveu a Epistola.

O Tema (1: 16 ,17)

O tema de Paulo para a Epistola e declarado


no versiculo 16: O Evangelho de Cristo "ê o poder de
Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro
do judeu e tambêm do grego". Paulo estava ansioso pa-
ra pregar o evangelho em Roma, porque ele não se en-
vergonhava do evangelho (vv. lSeT61. Ele não se en-
vergonhava do evangelho; porque ê o poder de Deus pa-
ra a salvação (v.16). O Evangelho e o poder de Deus
para a salvação, porque a justiça de Deus e revelada
nele. ------- <

O judaismo oferecia salvação aos judeus, mas


não aos gentios, a menos que estes se submetessem aos
costumes judaicos. O Evangelho de Cristo oferece sal-
vação a todos, não importando a identidade nacional.

Salvação significa experimentar a presença


beniqna de Deus e o seu Doder. Sómente quando o ho-
mem e justo, ele pode confrontar a presença de um
Deus justo e viver. As Boas-Novas, significam que o
homem pecaminoso pode tornar-se justo atraves da fe;
portanto, ele pode viver. A justiça não ê realização
humana, mas é provisão de Deus, e e obtidaatraves da
fe. "O justo viverá da fé" iv.17). A justiça é "de Fé
em fe" (v.l7) - a salvacão e obtida pela fé do inlcio
ao fim. O homem quecre que Jesus é o Messias, em
quem o Reino tem chegado, encontra poder, mediante a
fe, para Jiver uma vida justa, requerida dos cidadaos
do Reino. Ele nao é deixado a seus próprios recursos
para guardar a Lei. A vida real, provem mais em con-
seqUência da fé do que do desempenho humano e reali-
zação pessoal.
36
Introdução

Fé é a resposta do indivíduo total a Deus em


Jesus Cristo. Ela inclui os seguintes conceitos, ati-
tudes e açoes:

1. Acreditar nas promessas de um Deus digno


de confiança;

2. Crer com convicção que Jesus e o Messias


e Salvador;

3. Submeter sua vida a ele, baseando-se em


que Jesus e o Senhor;

4. Viver com confiança íntima em Deus.

A fe exclui a auto-confiança e o auto-inte-


resse, que são colocados aparte da confiança em Deus,
e do amor para com Deus e para com o homem. Responder
propriamente ã crença de que Jesus e o Senhor ou Rei
requer obediência e auto-negação. Fé no Senhor ressur-
recto significa que o homem entregou o controle de
sua vida ao Mestre, o qual habita em seu coração.

Na língua portuguesa não hã nenhuma forma


verbal do substantivo fe;portanto, o verbo grego para
fe deve ser traduzido como crer. O conceito hebraico,
expresso pela fe, envolve mars-do que um assentimento
intelectual. Inclui atitude e ação - a vida total do
indivíduo. O homem pode realizar justiça somente pela
confiança total da graça de Deus (o que Deus faz por
ele), mais do que pelo depender de sua própria reali-
zação. Em Romanos 1:18 - 3:20, Paulo mostrou o que a-
contece ao homem que confia em sua própria força e
que controla sua prâpria vida. t~smo ainda que o ho-
mem pretendesse viver justamente, ele não deixaria de
cometer pecado. O pecado o deixa espiritual~2nte fa-
',ldO e sem a vida nova. O homem não pode realizar jus-
tiça pelas obras da Lei. Quando ele quebra a Lei, ela
o traz sob condenação e o priva da vida eterna.

Paulo deu início ã dissertação doutrinal,


mostrando a nece'sidade da parte do homem de justifi-
cação pela fê. imeiro, ele assinalou a injustiça
dos gentios e justa condenação. Depois, ele assi-
nalou a iniqtJ Jade dos judeus, que fingem guardar a
Lei; portantc eles também precisam de justiça pela
fe.

40
A Inigtlidade dos Gentios

Romanos 1 :18-32

A merecida ira de Deus (vv. 18-25)

A ira de Deus e a cólera de um Deus santo


contra o pecado. A cólera de Deus e revelada tanto na
ordem criada quanto na ordem social do mundo natu-
ral e atraves de revelação especial na história de Is-
rael (o Velho Testamento). E expressa contra a impie-
dade (irreligião ou carência de reverência para--õõm
Deus) e contra a injustiça (injustiça para com os ho-
mens). Estas duas palavras correspondem às duas tãbu-
as dos Dez Mandamentos. O resto do capítulo e uma im-
plicação destas duas especies de pecado. Os atos in-
justos dos homens detêm a verdade revelada por Deus
(v. 18).
Impiedade e o homem rejeitar ou ignorar seu
Criador. Deus, que e invisível, tem expresso elemen-
tos de sua natureza em sua obra da criação. A magni-
tude do mundo; seu desígnio intricado e sua natureza
tolerante refletem a eternidade, o poder e a sabedo-
ria da divindade. O conhecimento do homem a respeito
de Deus mediante a natureza e limitado, porem é sufi-
ciente para tornã-lo responsãvel pela adoração ao seu
Criador (v.20). Embora Deus faça seu poder, majestade
e sabedoria conhecidos atraves de sua obra da criação,
os gentios falharam em prestar o respeito e reverên-
cia devidos a ele. Como criatura, o homem deve res-
ponder a Deus em gratidão por suas bênçãos (v.21). A
condenação dos gentios foi justificada, porque eles
falharam em fazer o que sabiam que era reto. O racio-
cínio deles era insensível e vazio - eles careciam de
compreensão (v.21). O coração, o centro de controle
das ações, estava mais escurecido do que iluminado. O
fracasso em usar apropriadamente o conhecimento que e-
les receberam proscreveu a revelação adicional. A re-
velação que eles receberam através da natureza era i-
ninteligível, por causa de seu raciocínio vazio. Eles
dependiam de seu próprio raciocínio para obter conheci-
mentO,mais do que de buscar a revelação de Deus; por-
tanto, eles se tornaram, deste modo, alienados de Deus
e ignorantes da verdade.

Por causa da iniqtlidade do homem, sua mente


estã inolinada para o interesse próprio, e ele ê in-
capaz de chegar à verdade. Uma mente com preconceitos
conduz à perversão da verdade. Sua compreensão a res-
peito da natureza de Deus como revelada atraves da
criação estã distorcida, e a glória e a adoração de-
vidos ao Justo Criador, freqUentemente, é dada aos í-
dolos que o homem tem feito. A mente confusa do ho-
mem reconhece sua dependência do e responsabilidade
para com seu Criador, mas em sua iniqÜidade ele o
substitui pela obra de suas próprias mãos. Os ídolos
representando pãssaros, bestas, quadrúpedes e criatu-
ras rastejantes são exaltados como objetos de adora-
ção e reverência. Visto que o homem criou os ídolos,
sua adoração a tais ídolos realmente siqnifica que e-
le estã exaltando a si próprio no papel-do Criador.
A afinidade distorcida dos gentios para com
Deus conduziu a uma afinidade corrupta para com seus
semelhantes (v.24). Visto que sua razão estava subver-
tida, mediante o orgulho na adoração de idolos, sua
razão foi tambem afetada por seus desejos luxuriosos
para com seu próximo (v.24). A substituição de um 1-
dolo, que e indefeso e desprezivel pelo Deus vivo e
que e poderoso e justo, revela o pensamento culpã-
vel que resulta em mãs ações (v. 25).

A Degradação Gentia (26-32)

Porque os gentios dependiam da razão humana


distorcida, ao inves da revelação divina, Deus desis-
tiu deles, e deixou que se entregassem ã idolatria, ã
imoralidade (v.26) e a uma maneira de pensar que não
funcionava mais com uma percepção apropriada de Deus.
Deus não usou a força para refreã-los de suas ações
imorais; nem os isentou das conseqUências e julgamen-
to por aquelas ações (v.32).

A mente do homem e capaz de justificar quase


qualquer ação procedente de seu desejo luxurioso. Os
pecados sensuais abrangiam a homossexualidade (vv.26 e
27), que estava difundida no mundo pagão, e era o re-
sultado de terem sido deixadosentregues ã "concupis-
cência de seus próprios corações" (v.24).

Em adição aos pecados de idolatria e indul-


gência sexual pervertida que os gentios cometiam, Pau-
lo mencionou'21 pecados do espirito. Os primeiros qua-
tro eram injúrias contra a sociedade: toda especie de
maldade, depravação, voracidade e vicio. Os próximos
cincos eram contra as pessoas: inveja, homicidio, con-
tenda, dolo e falta de afeição natural. Seis males re-
lativos ao orgulho eram: murmuração, calúnia, aborre-
cer a Deus, insolência, soberba e presunção (v.30).
Seis pecados revelando o carãter do homem: inventores
de males, desobedientes aos pais, insensatos, perfi-
dos, sem ternura (desumanos) e crueis (desapiedados).

A ira de Deus contra os pagãos e justificada,


por causa de seus pecados. Os pagãos que não dão ouvi-
dos ao evangelho da graça justamente merecem o salãrio
do pecado, que e a morte. Embora eles não tenham o a-
bundante evangelho de salvação pela graça, têm conhe-
cimento suficiente da vontade de Deus para orientã-
los. O problema não e a ignorância, mas a aversão pa-
ra viver do modo que eles sabem ser certo (v.32). Não
somente aqueles que cometem atos pecaminosos, mas tam-
bem que aprovam os atos errôneos são dignos de morte.

A ira de Deus e justificada, porque aqueles


que conhecem as ordenacões de Deus não as Guardam. Os
pagãos que nunca ouv r~m o evangelho ou qu~ nao tem a
revelação do Velho Testamento tem códigos morais para
sua sociedade. Esses códigos, que podem ser inferio-
res aos Dez Mandamentos, estabelecem um padrão do que
e direito e indicam um conhecimento do certo e do er-
rado. As limitações do padrão não condenam, porem o
fracasso em viver segundo o mesmo padrão limitado con-
dena. O fato de aqueles sem um conhecimento da Biblia
adorarem idolos prova que eles têm algum conhecimen-
to de Deus, porem se recusam a adorã-lo.
A Pecaminosidade dos Judeus

Romanos 2: 1-29

A culpa dos judeus (vv. 1-11)

Os judeus gabavam-se de sua lei moral e jul-


gavam os gentios por não viverem justamente. O julga-
mento deles provou que eles sabiam quais ações eram
erradas; portanto, eles não podiam reivindicar a ig-
norância para desculpar.suas ações errôneas semelhan-
tes (v.l). A critica judaica e o pronunciamento
do julgamento contra os atos errôneos dos gentios de-
ram a entender o seu conhecimento de que Deus conde-
·nou retamente aqueles que erraram (v.2). Paulo, cate-
goricamente, perguntou como os judeus esperavam esca-
par ao julgamento de Deus, visto que eles praticavam
os mesmos erros pelos guais eles condenavam os genti-
os (v.3). Paulo faz tres perguntas que expõe a atitu-
de dos judaizantes:

1. Pensam eles que escaparão do castigo de


Deus, quanto ao pecado, porque são os fa-
vori tos de Deus?

2. Estão eles se aproveitando da bondade e


tolerância de Deus (v.4)?

3. Não estão eles cientes de que a benevolên-


cia de Deus tem retardado o castigo, a
fim de que eles pudessem vir a arrepender-
se?

Deus não tem pressa de demonstrar sua ira


contra o pecado, Este retardamento não significa
que Deus cessarã de ser severo em seu julgamento (v.
5). Sua bondade estã comprometida a levar ao arrepen-
dimento, porém o abuso dessa bondade a transforma em
i ra. As tentati vas de aprovei tar-se de Deus somente
conduzem ã acumulação da ira de Deus para o Dia do
Juizo (v.5). Um coração obstinado e impenitente remo-
ve o homem do reino da bondade e graça divinas para o
da ira. Ser judeu pornascimento não isenta ninguém do
castigo, porque Deus retribui a cada homem segundo as
suas obras (v.6).

O ~fetuar, ao invés do professar, é importan-


te no que diz respeito ã justiça (v.7). Este versicu-
10 não nega que a ~nica esperança para justiça é pela
fé, mas expõe a idéia errada dos judeus em reivindi-
car justiça por obediência ã Lei, quando na verdade e-
les estavam quebrando a Lei. Deve ser tomado cuidado
para se evitar o conceito de que a justificação pela
fe anula a necessidade de obediência e obras justas.
O viver justamente não estã em contradição com a jus-
tificação pela fé. O viver justo e as boas obras são
realizados somente pela fé e não por pretensão.

A vida eterna, como um resultado da justiça,


é contrastada com a morte ou a ira de Deus sobre aque-
les que são desobedientes e injustos (vv. 7 e 8). Ao
contrãrio da crença dos judeus de que eles receberiam
o bem e os gentios receberiam o mal, sua realização
de maus feitos os traria sob a mesma condenação que
os gentios. O homem é condenado com base em suas mãs
obras, porém ele não pode ser justificado pelas boas
obras, simplesmente, porque não as apresenta sempre.
A unica esperança para o homem pecador, quer ele seja
judeu ou gentio, estã no dom dª graça de Deus de que
se pode apropriar mediante a fe.

Glõria, honra e paz são as recompensas de


cada homem que vive justamente, independente de sua
nacionalidade (v.10). Estes versiculos mostram a res-
posta de Paulo ã questão referente ã divina isenção
dos judeus do castigo por causa do favoritismo. Suas
necessidades diante de Deus são as mesmas que as dos
gentios. Deus não favorece uma nação mais que a outra
(v.ll).

o Juizo Imparcial de Deus (vv. 12-16)

Paulo continuou a dar ênfase ao fato de que


os gentios estão no mesmo nivel que os judeus diante
de Deus. Embora os judeus tenham sido privilegiados
em receber a revelação especial de Deus, a Lei, eles
não estão isentos do julgamento. Eles serão julgados
de acordo com o padrão que foi dado a eles. Visto que
receberam a Lei, deles e requerido o viver segundo os
preceitos da Lei. Se eles rejeitarem ou quebrarem os
mandamentos, serão condenados por esses mandamentos
(v.12). O padrão pelo qual os gentios serão julgados
não é tão alto quanto o dos judeus (v.12). Aquilo que
eles têm conhecido através da natureza, estabelece o
padrão de justiça requerido para suas vidas. O fato
de eles fracassarem quanto ao viver de acordo com es-
se padrão resulta no seu perecimento, apesar de não
terem a Lei.

A justiça requer procedimento de acordo com


o padrão moral revelado (v.13). Se um individuo vive
de acordo com o que é requerido, ele serã declarado
reto ou justo quando estiver diante de Deus em juizo
(v. 13).
Embora os gentios não tenham recebido revela-
ção especial, eles demonstraram, pelas suas leis na-
cionais e tribais, que Deus tinha estampado seus re-
querimentos morais dentro de suas naturezas (v.14).
Visto que não tinham os Dez Mandamentos, o cõdigo mo-
ral adotado por sua tribo tornou-se o padrão para a
sua conduta moral (v.14). Esse código revelou que
Deus colocou dentro da natureza do homem, em seu cora-
ção e em sua consciência, uma estrutura moral para
guiã-lo no justo modo de viver. Consciência significa
co-conhecimento ao lado do conhecimento original, que
conduz à ação. A consciência do homem reage quando e-
le cessa de fazer o que ele sabe que é certo. Este se-
gundo conhecimento é descrito como confronto ao conhe-
cimento ori ginal, "quer acusando-os, quer defendendo-
os" (v. 15).
Por que as pessoas, em algumas culturas, fa-
zem idolos de madeira ou pedra e adoram o trabalho de
suas próprias mãos? Deveria ser óbvio a elas que os
objetos que criam são menos do que elas mesmas, e,
portanto, indignos de adoração. Por que os lideres
tribais prescrevem leis e regras, para regulamentar a
conduta do povo; e no entanto, eles mesmos inflingem
essas leis ou regras? As respostas a estas questões
são as mesmas que dizem respeito àquelas relativas à
nossa própria sociedade. Quando é obvio que um grande
Deus é o criador do mundo e de nós mesmos. por que a
maioria dos homens se recusa a adorã-lo e a servi-lo?
Por que os que tem contato com os ensinamentos cris-

44
tãos condenam os outros por não seguirem esses ensina-
mentos, e, no entanto, também cometem o mesmo erro?
Paulo respondeu que o coração néscio do homem pecador
é obscurecido. O pecado se constitui basicamente de a-
titudes e ações egoístas por parte do homem. O homem
e tanto racional como irracional. Ele erra porque as-
sim deseja, e, então, usa sua racionalidade para jus-
tificar sua falta. A consciência do homem lhe lembra
de sua inconsistências, porem e sufocada por seu de-
sejo de pecar. O homem racionaliza para justificar se-
us desejos e ações. Paulo avisou que as inconsistênci-
as e pretensões dos horoensserão dadas a conhecer no
Dia do Juízo (v.16). Os segredos íntimos do coração
do homem, seus motivos e desejos, serão trazidos ã
luz. Ele pode enganar o seu próximo com ações incon-
sistentes e racionalizações, porem não a Deus.
A consciência não estabelece o padrão de jus-
tiça, mas chama a atenção do homem quando ele trans-
gride esse padrão. A consciência e aguçada na propor-
ção do nível moral do meio ambiente do indivíduo. Um
indivíduo de uma sociedade pode não ver nada de erra-
do num ato fortemente condenado em outra; portanto,
sua consciência não o condenarã por cometer esse ato
particular. O Espírito de Deus usa a consciência do
cristão para guiã-lo no reto modo de viver. A medida
que a Bíblia e lida, o Espírito convence o cristão de
atitudes e ações errôneas.

J Fracasso do Modo Judaico de Justiça (vv. 17-29)

A nação judaica tinha recebido a Lei da par-


te de Deus. Os Rabis tinham definido 613 leis na Bí-
blia; todavia, a essência da Lei estã contida nos Dez
Mandamentos. Cada Lei tinha ligado a ela muitas re-
gras que definiam sua aplicação a situações específi-
cas. Estas regras foram passadas de uma geração para
outra por transmissão oral. Os fariseus eram zelosos
em guardã-las perfeitamente. Quando uma lei particu-
lar interferia com o interesse prâprio dos fariseus,
eles davam um jeito de contornã-la.
Os fariseus criam que a aceitação por Deus
dependia de eles guardarem a Lei perfeitamente. Por-
que eles a possuíam, consideravam-se mais justos do
que as outras nações. Esta atitude resultou em orgu-
lho espiritual. Eles criam que Deus os favorecia aci-
ma de outras nações, por causa de seus esforços em
guardar mesmo as menores regras que definem a Lei:
"mas se tu, és chamado judeu, e repousas na lei, e te
glorias em Deus" (v.l7).
A lei manifestou a vontade de Deus referente
ã conduta moral e ã adoração (v.18). O fato de pos-
suir a lei deu aos judeus uma vantagem sobre os genti-
os em saber o que era reto e essencial, mas tambem
trouxe grande responsabilidade para com o justo modo
de viver. Eles estavam convencidos de que eram guias
ou instrutores dos gentios, que não tinham a Lei e an-
davam em cegueira ou trevas (v.19). A revelação de
Deus no Monte Sinai fez os judeus autoridades em as-
suntos do certo e errado. Eles corrigiam aqueles que
viviam tolamente e ensinavam os ignorantes (v.20). As
palavras "cego", "trevas", "tolo" e "crianças" aplica-
vam-se aos gentios e davam a entender a superioridade
dos judeus, que eram "guias", "luz", "corretores" e
"mestres".
Paulo não negou que os judeus receberam pri-
vilegios especiais. No judaismo, ele tinha sido um
fariseu zeloso pela lei. Paulo não negou o valor da
Lei, nem rebaixou os esforços para guardã-la. Ele es-
tava ciente das pretensões e hipocrisias dos farise-
us, que reivindicavam por guardã-la. O problema exis-
tiu não em justiça estabelecida por guardar a Lei,
mas em injustiça por fracassar em guardã-la. Paulo
assinalou que, os mestres judaicos eram culpados de
roubar (v.2l) Condenando outros por transgredir a
Lei; enquanto somente pretendendo gU'lrdã-la, eles mes-
mos acharam-se destituidos da glória de Deus. Quando
os judeus se misturavam com os gentios, se tornaram
culpados de adultério, embora ensinassem o contrãrio.
Eles vigorosamente condenavam a idolatria, porém eram
culpados por roubarem os templos (v.22). O gloriarem-
se na Lei não era consistente com suas ações; portan-
to, eles desonravam a Deus (v.23). Os ensinamentos ju-
daicos fizeram com que os gentios se associassem ã
religião judaica e ã adoração de Yahweh, de altos pa-
drões morai s. Os fracassos judai cos re 1ati vos a vi ver
por sua Lei se refletiram não somente em seu próprio
carãter, mas em seu Deus e reli gião. Suas ações injus-
tas e imorais fizeram com que o nome de Deus fosse
blasfemado e criticado (v.24).

Pode ser argumentado que as fraquezas e fra-


cassos dos aderentes de uma religião, não devem ser
considerados como um reflexo da qualidade e padrão
dessa dada religião, nem da natureza de seu deus. Não
obstante, os que estão do lado de fora da fe reli-
giosa julgam o valor e o carãter de Deus pelas vidas
dos seus devotos. O conceito de Deus dos não crentes
é formado pelas impressões que recebem através das vi-
das dos crentes.

Os judaizantes tinham insistido que os gen-


tios devem ser circuncidados a fim de serem salvos.
Circuncisão era o simbolo da aliança entre Deus e Is-
rael. A responsabilidade da promessa de Deus era aben-
çoar Israel e ser seu Deus. A responsabilidade de Is-
rael era adorar somente a Yahweh e viver de acordo
com Sua vontade. A vontade de Deus foi expressa nos
Mandamentos. Paulo insistiu que a observância do ri-
tual da circuncisão, que simbolizava a aliança, não a
estabeleceu. Cada indivíduo envolvido na promessa di-
vina deve levar a cabo sua responsabilidade. Se os ju-
deus transgrediram a Lei, eles não estavam mantendo
sua parte da promessa divina; portanto, a circuncisão
que simbolizava seu estabelecimento, não tinha nenhum
significado (v.25). Paulo argumentou que um indivíduo
que realmente guardava os requerimentos da promessa
divina., observando a Lei, estava firnvld,') num;; (11~Jnça
com Deus, mesmo ainda que ele não tivesse sido circun-
cidado (v.26). Uma aliança é realmente efetiva somen-
te se cada indivíduo cumprir sua responsabilidade. O
viver justo, ao invés de cerimônias simbólicas ou pre-
tensões, e requerido do homem.

Paulo novamente atacou o orgulho dos judeus


que procedia de seu privilegio especial de possuir a
Lei (v.2?). Possul-la era sem significado, se não fos-
se observada e obedecida. Ser um judeu não dava privi-
legios especiais ao quebrar os Mandamentos, nem merl-
tos ou isenções no Dia do Julzo. Os gentios incircun-
cisos, cujas vidas estavam em harmonia com seu código
moral, seriam usados como um exemplo para justificar
46
a condenação dos judeus que transgrediam sua Lei (v.
27).

Porque eles eram escolhidos de Deus e tinham


recebido a revelação especial, o orgulho judaico re-
sultou na conclusão de que eram aceitos por Deus, vis-
to que outras nacionalidades eram rejeitadas. Embora
Deus tivesse entrado em aliança com Abraão e seus des-
cedentes (a nação judaica), o ser um descendente ge-
nuino de Abraão não garantia salvação (v.28). Nem era
a circuncisão, um simbolo externo na carne, suficien-
te para tornar o homem aceito por Deus (v.28). O ver-
dadeiro descendente de ~braão era aquele que seguia
o seu exemplo na justiça, através da fé (v.29). Os ri-
tuais externos não são suficientes para assegurar, a
alguém, a aceitação por Deus. Deus olha o coração e a
atitude mais do que o comportamento religioso superfi-
ci~l.

Objeções Judaicas

Romanos 3:1-8

Os Judeus Não Têm Vantagens? (vv. 1 e 2)

Paulo tinha enfatizado que a salvação nao e


pela Lei (2:17-24). Os judeus consideravam que sua a-
finidade com Deus era estabelecida através da promes-
S?, que requeria o guardar da Lei. Se a Lei e a cir-
cuncisão não traziam salvação, quais eram os seus pro-
pósitos? Nega a teologia de Paulo que os judeus são o
povo especialmente escolhido de Deus?

Paulo respondeu que ser incumbido dos orácu-


los de Deus (o Velho Testamento) era uma vantagem de-
finida (v.2). As Escrituras do Velho Testamento deram
a oportunidade de conhecer a vontade e a natureza de
Deus. Embora a posse da Escritura seja uma vantagem,
ela não torna um individuo superior aos outros.

Nem Todos São Infiéis (vv. 3 e 4)

Possivelmente, alguns judeus admitiam que o


que Paulo tinha dito acerca de quebrar a Lei era ver-
dade em relação a alguns, mas não a todos. Alguns ju-
deus, por sua descrença, estavam perdendo o direito
na promessa de Deus. Sua infidelidade anularia a fi-
delidade de Deus? Mesmo ainda que somente um remanes-
cente cresse, isto não cancelaria afidelidade de Deus.
Ele permanecerá fiel ã sua promessa, mesmo ainda que
todos os homens se tornem mentirosos. Paulo apelou pa-
ra a Escritura (Salmos 51 :4) para sustentar sua decla-
ração de que Deus é fiel, mesmo quando confrontado
com o pecado do homem.

Nossa Maldade Mostra a Justiça de Deus (vv. 5-8)

A terceira objeção judaica sugere que a teo-


logia de Paulo tornou a ira de Deus injusta. Se o pe-
cado do homem torna a justiça de Deus mais clara,
Deus é beneficiado pelo pecado do homem e é injusto
em impor castigo (v.5). Não é o pecado bom se ele mag-
nifica a Deus? Paulo tinha ouvido os Rabis apresenta-
rem tais argumentos nas sinagogas. Ele assinalou que
esta linha de argumento era um ponto de vista humano
e estava longe da verdade (vv. 5 e 6). Os rabis acei-
taram a doutrina de que Deus é o Juiz do mundo. Se es-
ta linha humana de argumento estã correta, Deus não
tem o direito de julgar o mundo (v.6). O julgamento
deve ser baseado na justiça, ou deixa de ser julgamen-
to: "Não farã justiça o Juiz de toda a terra?" (Gên.
18:25). A justificação pela graça de Deus, apropriada
pelo homem mediante a fe, não e inconsistente com a
justiça de Deus.

A segunda pergunta de Paulo focaliza o homem


como pecador, ao invés de Deus como Juiz. A questão é
essencialmente a mesma que a previa. Os judaizantes
tinham acusado Paulo de ser um pecador digno de conde-
nação. A lógica deles sugeriria que a glória de Deus
abundou como um resultado do pecado de Paulo. Se sua
vida magnificava a verdade de Deus, a teologia judai-
ca defendia que ele seria abençoado por Deus, ao in-
vés de julgado. Entretanto, os judeus concluiram que
Paulo continuava a ser julgado como um pecador (v.7).
Segundo a própria teologia deles, não seria lógico
Paulo, como um pecador digno de condenação, trazer
glória ã veracidade de Deus.

Paulo tinha sido acusado de advogar o mal a


fim de que dele o bem pudesse advir (v.S). Este ata-
que era uma incompreensão de seu ensinamento de que a
justiça não pode ser realizada através das obras da
Lei, e, sim, ser recebida por meio da fé. Aquele que
toma a posição de fazer o mal para que dele o bem pos-
sa advir e justamente condenado por seu mal.

~ ~niversalidade do Pecado

Romanos 3:9-20

Paulo empregou seis citações, dos Salmos e


Isaias, para sustentar seus ensinamentos. Os judeus
reconheceram a escritura do Velho Testamento como au-
tori dade. Pau 10 us ou as" ci tações sem cons ideração a
seu contexto, a fim de fortalecer sua doutrina de que
o homem se encontra moralmente falido e culpado dian-
te de Deus.

Paulo tinha mostrado, nos capitulos 1 e 2,


que tanto os judeus como os gentios estavam sob peca-
do. Os judeus não superavam os gentios em justiça.
Paulo citou o Salmo 14:1-3 para sustentar sua tese de
que ninguém é justo. Estes versiculos foram escritos
aos judeus, e não podiam ser interpretados de modo a
se aplicarem somente aos gentios. Através da Escritu-
l"a (Lei) os jud~us ti nham v~ntagem sobre o~ genti os
em saber o que e certo, porem sua conduta nao era me-
lhor.

Paulo falou do pecado no singular como um po-


der que controla o homem (v.9). Os judeus tinham a
Lei para apontar-lhes a justiça, porem o poder do pe-
cado resultava em não fazerem o bem. Seus órgãos da
fala eram usados para destruir a reputação de outros
(v.13). A falsidade e a calunia são mortais. Ao inves
de amar seus vizinhos, eles estavam dispostos a assas-
sinar ã menor provocação (v.15). Eles não buscavam a
paz, e, sim, traziam destruição e miseria para aque-
les que cruzavam seus caminhos (vv. 16 e 17). Eles
não tinham temor de Deus (v.18). Os judeus não podiam
48
negar que estas escrituras aplicavam-se a eles, visto
que eles estavam sob a Lei (v.19). A Lei provava a
maldade dos judeus e sustentava o argumento de Paulo
de que eles, juntos com os gentios, seriam trazidos
sob o jUlzo de Deus. O Velho Testamento continha não
somente leis que apontavam a justiça ao homem, mas
também ensinamentos que mostravam que ninguém é justi
ficado diante de Deus, porque ninguém é justo por
guardar a Lei. A Lei serve para tornar o homem ciente
de seu pecado (v.20).

Sumãrio

A doutrina de Paulo a respeito do pecado é


manifestada em Romanos 1:18 - 3:20. Seus ensinamentos
importantes são:

1. Todos os gentios são pecadores. Sua peca-


minosidade é revelada por sua idolatria e
relações imorais.

2. Apesar de os gentios não terem recebido


revelação especial de Deus,. eles sao res-
ponsãveis por fazerem injustiça porque
transgridem o padrão moral que conhecem.
Eles não podem ter perfeito conhecimento
de Deus aparte da revelação do Velho Tes-
tamento, porém podem saber alguma coisa a
respeito Dele através da natureza. A re-
velação natural não é adequada para sal-
vação, mas é suficiente para deixar o ho-
mem responsãvel por seus pecados.

3. Os judeus têm pecado tanto quanto os gen-


tios. Jactar-se da justiça, sem a prati-
car não torna ninguém justo diante de
Deus.

4. A evidência da pecaminosidade dos judeus


estã baseada em suas ações, que contradi-
zem seus ensinamentos do Velho Testamento.

5. A Lei diz ao homem o que fazer para ser


justo; portanto, ninguém é justificado pe-
las obras da Lei. O poder do pecado sobre
a vida do homem resulta na pecaminosidade
de todos. Entretanto, o homem é responsã-
vel por seu pecado diante de Deus.

6. Todos os homens são condenados justamente,


quer tenham conhecimento do cristianismo
e do Velho Testamento ou não. Eles têm al-
gum conhecimento de Deus, quer através da
natureza (Ram. 1:18 e 55.), da Velho Tes-
tamento (Rom. 2:1 e ss.), quer através da
consciência (Rom. 2:14 e ss.). Todos são
condenados, porque ninguém vive de acordo
com o conhecimento que tem: "Não hã quem
entenda; não hã quem busque a Deus" (3:
11) .
7. A justiça não é realização do homem atra-
vés do guardar a Lei, porque todos pecam,
mas é realização de Deus mediante um ato
de sua misericõrdia.
Introdução

Ao apresentar a tendência ao pecado de toda


a raça humana, Paulo afirmou que o fato de os judeus
possulrem a Lei não tinha resultado em"justiça. Ele
admitiu que a posse dos orãculos de Deus deu alguma
vantagem ao judeu. O propósito completo da Lei e dis-
c~tido em Gãlatas 3 e 4 e serã estudado na próxima li-
çao.

Os Rabis ensin'avam que o guardar a Lei per-


feitamente resultaria na restauração do Reino a Isra-
el. Deus tinha se afastado de seu povo por causa do
pecado deste. A justiça seria estabelecida quando os
is rae 1i tas guardassem a Lei, e a presença e o poder
de Deus voltariam no Reino restaurado. Os fariseus
zelosamente observavam a Lei em cada detalhe (cf. Mat.
23). Muitos regulamentos, referentes a como guardã-la
em circunstâncias particulares, tinham-se acumulado.
Jesus mostrou que alguns destes regulamentos realmen-
te fugiam da ou transgrediam a Lei, mais do que a es-
tabeleci amo

Quando foi levantada a questão acerca da sal-


vação dos gentios, os apóstolos e os anciãos em Jeru-
salem concluiram que a salvação tanto para os judeus
como para os gentios e obtida pela fe (Atos 15:8-11).
Nem todos os judeus estavam convencidos de que a fe e
a chave para a salvação. O propósito de Paulo, no li-
vro de Romanos, foi mostrar como a nova vida vem por
meio da fe. Ele primeiro apresentou as razões por que
os judeus tanto quanto os gentios precisavam de uma
justiça provida por Deus, mais do que realizada por
leis e cerimônias religiosas. Em seu debate a respei-
to da doutrina do pecado, Paulo assinalou que o fra-
casso dos judeus em guardar a Lei a tornou insuficien-
te para se realizar a justiça. A unica esperança do
homem pecador estã na justiça provida por Deus.

A Provisão da Justiça por Parte de Deus

Romanos 3:21-31

Visto que o homem não pode realizar justiça


atraves de obras legalistas, ele deve procurar alguma
outra fonte. Paulo assegurou aos romanos que uma jus-
tiça divina realizada por meio de obras legalistas
estava sendo manifestada (v.2l). Esta justiça não e
realizada nem se obtem por guardar a Lei, porem "a
lei e os profetas" (o Velho Testamento) falam dela.
Paulo reinvidicou apoio do Velho Testamento para sua
doutrina de que Deus prove justiça atraves de Jesus
Cristo. O homem recebe ou se apropria dessa justiça
pela fe, em vez de mediante obras (v.22). A justiça e
eficaz para todos, incluindo os gentios, que seriam
excluldos se fosse obtida por guardar a Lei.

Os judeus precisavam da justiça divinamente


provi da tanto quanto os genti os, "Porque todos peca-
ram e destituldos estãci da glória de Deus" (v.23). Os
judeus eram tão incapazes de realizar justiça quanto
os gentios; portanto, ambos devem depender do dom gra-
tuito da graça de Deus para justiça (v.24).

Dale Moody declara que o velho debate sobre


se o si gni fi cada e "decl arar justo" ou "tornar justo"
tem separado o que Deus ajuntou. 1 Ele sugere que jus-
tiça de Deus é aquilo que o crente "chega a ser" (cf.
II Cor. 5:21). Mediante duas obras de Cristo o crente
se torna jus to:
1. Por meio da morte de Cristo ele é redimi-
do (perdoado, purificado) de seus pecados
(v. 24);
2. Mediante o controle de Cristo, na pessoa
do Esplri to. Santo (santi fi cação), ele é
induzido a atos e atitudes justos.

Redenção e o ato da graça de Cristo, atraves


do qual o pecador escravizado é libertado do cativei-
ro do pecado. A palavra "redenção" é usada na Septua-
ginta* para descrever a libertação do povo de Deus do
cativeiro eglpcio e do cativeiro babilônico. A liber-
tação do pecado estã em Cristo Jesus (v.24).
A palavra "propiciação", no verslculo 25,
tem causado muita discussão. Três interpretações se-
melhantes, mas levemente diferentes, têm sido propos-
tas:

1. Deus manifesta para si mesmo uma propi-


ciação - um meio de pacificação.
2. Na morte de Cristo um ato é realizado por
meio do qual a culpa ou a profanação é re-
movida;

3. Hilasterion deve ser traduzido por "lugar


de misericordia", ao invés de "proricia-
ção", significando que o lugar onde Deus
se encontra com o homem e no Cristo cru-
ci fi cada.

Cristo, em sua morte, substi tui e assume o


lugar de misericórdia como o lugar onde o homem se
encontra com Deus.

No Velho Testamento, o sangue dos animais e-


ra derramado no Lugar de Misericórdia no Dia de Expia-
ção. Mediante este ritual, o Sumo-Sacerdote represen-

Dale Moody, Romans, Vol. X, de The Broadman Bible


Commentary (Nashville: Broadman Press, 1970), p.183.

* Uma versão grega do V.T. usada pelos cristãos de i-


dioma grego. - N.T.

54
l.

tava todo o Israel ao aproximar-se de Deus. O Concer-


to representado pelos Dez Mandamentos, estava incluí-
do na Arca como o Lugar de Misericórdia. Visto que o
homem tinha transgredido os Mandamentos e quebrado o
Concerto, sua unica esperança de ser aceito por Deus
era a misericórdia divina. A cerimônia descrevia a ad-
missão do homem como pecador que devia pagar uma pena-
lidade ou oferecer um sacrifício. Todavia, o próprio
sacrifício era insuficiente para remover o pecado do
homem. Era necessãrio que dependesse da misericórdia
de Deus. A cerimônia combinava a morte substitucional
do animal e a misericórdia de Deus, a fim de o homem
ser restaurado a uma afinidade com o Deus justo.

Deus publicamente expôs (manifestou) Jesus


Cristo, cujo sangue foi derramado como um "meio de
perdão" (propi ci ação - v. 25). Pode-se ser alvo do a-
to de redenção da graça de Deus mediante a fê, e não
por obras. No sistema sacrificial, era requerido do
israelita selecionar um animal sem mancha de seu re-
banho, e oferecê-lo como sacrifício a Deus. Cristo
não é propriedade de um pecador, mas através da fé o
pecador apropria-se de Cristo como seu sacrifício.

O sangue representava vida: portanto, o der-


ramamento de sangue é sacrifício de vida (Lev. 17:11).
A penalidade do pecado é a morte. O sangue derramado
de Cristo é a experiência da morte pelo pecado. Em
sua misericórdia Deus aceita a morte de Cristo como a
substituta pelo homem, que deve morrer por seus peca-
dos. Por meio da cruz, Deus mantém sua justiça sem
comprometer-se com o pecado; entretanto, ele é capaz
de tornar o pecador justo para Consigo mesmo (justifi-
car - v. 26). Visto que o pecado tem recebido o julga-
mento de morte, Deus não seria justo se ele falhasse
em manter a penalidade que manteve através de seu Fi-
lho. Ao mesmo tempo, Ele e capaz de restaurar o peca-
dor ã justiça. Para o homem pecador, o debito do pe-
cado é perdoado (tolerado sem ser punido), porque
Cristo tem feito emendas (expiado) por seus pecados.
(v. 25).
Deus tem sido paciente e indulgente para com
pecados que foram cometidos anteriormente (v.25). O
fato de que Deus não pune cada pessoa imediatamente
por seus pecados não é o resultado de descuido, frou-
xidão ou injustiça da parte de Deus. Atraves dos tem-
pos, a Cruz tem sido o plano de Deus para colocar o
homem pecador na forma devida, sem comprometer-se com
o pecado. O dom de Deus para fazer emendas para o pe-
cado (propiciação) foi demonstrado no derramamento do
sangue de Cristo na cruz.

A justiça mediante a morte de Cristo não dei-


xa fundamento para a presunção do homem. Realmente, a
presunção humana entre judeus e gentios era rejeitada
pela demonstração da universalidade do pecado (Rom.
1:18 - 3:20). O estabelecer a justiça mediante obras,
se isto fosse possível, poderia conduzir ã presunção
(v.27). Visto que o pecador não pode estabelecer sua
própria justiça, ele não tem a seu favor nenhuma rea-
lização pessoal pela qual gabar-se. Deve humildemente
aceitar o dom de Deus pela fé, porque ele se torna
justo pelo ato da graçd de Deus (v.27).A atitude cris-
tã própria e humildade, um elemento da fé.

O argumento de Paulo e decisivo. Nem o judeu


nem o gentio tornam-se aceitãveis ao Deus Santo medi-
ante seu~ próprios esforços ou realizações (v.28). Su-
as cerimonias religiosas legalistas não os tornam jus-
tos para com Deus.

Os gentios seriam exluldos da salvação se a


aceitação por Deus dependesse do guardar a Lei judai-
ca. Atraves da justiça pela fé, eles têm igual opor-
tunidade com os judeus para serem salvos (vv.29 e 30).
Ambos, o judeu circunciso que transgride a Lei e o
gentio incircunciso, são justificados pela fe (v.30).

Paulo não mostrou em seu argumento a rela-


ção de Lei e fe. Esta r.elação sera apresentada numa
escritura posterior. Ele demonstrou que a Lei não e
estebelecida mediante esforços legalistas do homem
pecador porque ele a transgride. Paulo reivindicou
que a fe estabelece a Lei, ao inves de destrul-la (v.
31). Uma explicação de como isto acontece sera dado
numa prâxima oportunidade.

o Apoio da Escritura para a Doutrina de Paulo

Romanos 4:1-25

Abraão tornou-se justo pela fé (4:1-8)

Na Eplstola aO$ Galatas, Paulo argumentou


que não recebeu seu evangelho da parte dos apóstolos
em Jerusalém. Possivelmente, ele não o quis dizer pa-
ra negar que recebeu os fatos basicos da vida de Cris-
to e os ensinamentos da parte deles. Todavia, ele não
recebeu a interpretação de justificação pela fé da
parte dos apóstolos. Esta doutrina foi revelada por
Deus a Paulo à medida que este estudava o Velho Testa-
mento. Aparte da salvação pela fé em Cristo, não ha
nenhuma salvação para os gentios; portanto, a missão
de Paulo teria sido em vão, na opinião deles.

O fato de Paulo tomar Abraão como exemplo


foi importante, por duas razoes:
1. O apoio da Escritura teria tornado a dou-
trina aceitavel aos judeus;
2. A referência às Escrituras do V.T. reve-
lou uma das fontes da doutrina de Paulo.
E -óbvio que o apoio da Escritura não era li-
mitado ao exemplo de Abraão, visto que Paulo tinha ja
in terp retado a morte de Cris to na cruz à 1uz do Di a
de Expiação.
Abraão foi o ancestral segundo a carne ou o
antepassado do povo judeu. O judalsmo ensinava que A-
braão foi justificado pelas obras, o que lhe deu fun-
délm?ntos para jactar-se (v.Z). Paulo refutou este en-
slnamento, referindo-se ã escritura do V.T.: "Creu A-
braão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça"
(v.3; cf. Gên. 15:6). Paulo usou o mes.mo exemplo que
seus oponentes, porem chegou à conclusão oposta. A
justiça e a aceitação de Abraão por Deus foram a~alia-
dos (creditados em sua conta) baseando-se na fe, e
não como salario ganho por seu trabalho (vv. 4 ~ 5).
Se Abraão tivesse estabelecido sua justiça atraves da
realização, ela teria sido creditada como salario e
não dom. Uma vez que a justiça é obtida como dom da
graça de Deus através da fé, ela é disponlvel àqueles
sue não a ganham, mas crêem nAquele que justifica o
lmpio (v.5).
56
Paulo, al~m disso, fortaleceu seu argumento,
referindo-se ã experiência de Davi, cujas obras de pe-
cado o tornaram injusto. Todavia, Deus não creditou
(imputou) injustiça em sua conta, mas o creditou com
justiça sem obras (v.6). Embora Davi fosse culpado de
lux~ria, adult~rio, engano e homicfdio, ~ um exemplo
inicial dos injustos que são justificados pela f~.

Abraão e Davi, em companhia de Moises, foram


figuras-chaves na história judaica. Abraão era o pai
da nação e Davi era o rei que tinha tornado a nação u-
ma realidade. Visto que eles tinham sido escolhidos
por Deus para os maiores pap~is na história do povo
escolhido de Deus, não havia nenhuma d~vida de que
fossem aceitos por Deus. Paulo assinalou que sua jus-
tiça e aceitação divina não poderiam ter sido basea-
das no modo perfeito de viver, visto que seus pecados
eram bem conhecidos mediante a Escritura.

A Justificação de Abraão Precedeu a Circuncisão (4:9-

El
Os judeus tinham enfatizado que a circunci-
são era essencial para salvação. A circuncisão era im-
portante, visto que simbolizava o ingresso na alian-
ça com Deus; todavia, as bênçãos e a promessa de Deus
que foram incorporadas na Aliança não eram dependen-
tes da circuncisão. Abraão foi aceito de Deus e rece-
beu sua promessa antes que o ritual tivesse sido es-
tabelecido. A conclusão aparente e que as bênçãos e a
promessa de Deus não são dependentes do ritual, nem a
justiça é estabelecida por ele. Abraão tornou-se jus-
to pela fé antes que recebesse a circuncisão como um
sinal ou selo (v.ll; cf. Gên. 15:6 e 17:11). Um sinal
é um sfmbolo exterior de uma experiência interior. A
circuncisão é descrita como um sinal da Aliança entre
Deus e Abraão, em Gênesis 17:11.

O batismo é descrito como circuncisão cristã


em Colo 2:11-13; é um sinal do relacionamento entre o
homem e Deus, estabelecido pela fé, e não o meio para
tornar o homem justo para com Deus. A fé sempre tem
sido o meio pelo qual o homem entra numa relação cor-
reta com Deus.

Paulo também declarou que a circuncisão foi


um " ... selo da justiça da fe ... " (v.11). Selo indica
uma experiência interior, enquanto sinal Tndíca sua
expressão externa. Aqueles que entraram numa aliança
com Deus através da fé, confirmaram ou selaram essa
decisão interior por um sinal ou expressão externa.
Visto que a promessa de Deus, incorporada na Aliança,
orecedeu o sinal da circuncisão e foi baseada na f~.
Abraão é o pai de todos os que crêem, quer sejam ju-
deus, quer sejam gentios. O judafsmo ensinava que A-
braão era pai somente dos judeus. Paulo assinalou que
os crentes incircuncisos estavam entre os filhos de A-
braão (v.12). Os filhos de Abraão são aqueles que an-
dam "nas pisadas daquela fé que teve nosso pai Abraão
antes de ser circuncidado" (v.12).

A Promessa Foi Assegurada pela Fé (4:13-15)

A relação inicial de Abraão com Yahweh é de-


clarada em termos de promessa mais do que de aliança.
Yahweh prometeu fazer de Abraão uma grande nação para
tornar seu nome grande e abençoã-lo (Gên. 12:2). Deu
a entender na promessa que a condição era que Abraão
adorasse e servisse a Vahweh, ao invês de aos deuses
e ídolos adorados por seus compatriotas. A promessa,
eventualmente desenvolvida numa aliança, com as res-
ponsabilidades de Abraão adorar e servir a Deus, foi
descrita com mais detalhes nos Mandamentos. Os Manda-
mentos ou Leis foram dados, centenas de anos mais tar-
de, a Moisês no Monte Sinai. Obviamente, a afinidade
de Abraão com Deus não foi estabeleci da através da
Lei, mas por meio da justiça da fê (v.13). A promessa
foi renovada muito tempo antes que a Lei fosse dada a-
traves de Moises. Se as promessas de Deus e a aliança
entre Deus e Abraão dependessem da Lei, a fê teria si-
do excluída e a promessa baseada na fê teria sido sem
valor (v.14).

As leis são usadas para condenar aqueles que


as infringem. A legislação passada por um Estado esta-
belece ações legais e ilegais. Outrossim, sabendo o
que e legal, um indivíduo é pouco afetado pela Lei a-
te que ele a viole. Quando ele a transgride, a lei e
usada para condenã-lo: "Porque a lei opera a ira" (v.
15). Se a lei não existe em atenção a um modo particu-
lar de ação, uma pessoa não sabe se ela estã transgre-
dindo ou fazendo justiça (v.15). Sem saber que ações
são erradas, uma pessoa não é tida responsãvel por
violações.

A Fê Que Abraão Demonstrou t um Exemplo para Todos

9ue são Justificados (4:16-25)

Se o homem fosse capaz de estabelecer justi-


ça por obras, ele teria direito aos benefícios de Deus
e eles não seriam dados pela graça (v.16). Visto que
aqueles que têm a lei a transgridem, por causa de su-
as naturezas pecaminosas, são incapazes de realizar
justiça por obras e não merecem os benefícios de Deus.
As promessas de Deus não poderiam ser dadas pela gra-
ça (favor imerecido) se o homem adquirisse por si
mesmo as bênçãos de Deus. A natureza pecaminosa do ho-
mem o impede de ganhar a promessa de Deus como um sa-
lãrio, mas ê oferecida a cada um que se relaciona com
ele pela fe. A fe assegura a promessa de Deus não so-
mente para aqueles que têm a Lei, mas tambem para a-
queles que não a têm (v.16). A fê capacitou Abraão a
ser o pai não somente de judeus, mas tambem dos gen-
tios que crêem: "Por pai de muitas nações te consti-
tuí" (v.l7).

A promessa de Deus era importante para Paulo


Dor causa do Doador da promessa. O homem ê fraco e ip-
cünsls-cente, e suas promessas e feitos sao irbegul'c.c.
Pode-se confiar que Deus cumpre o que promete. Ele
prometeu um herdeiro a Abraão em sua velha idade. Pa-
recia impossível a Abraão e a Sara, que tinha passado
da idade de conceber, que eles pudessem ter um filho.
Mas o Deus de Abraão, " ... vi vi fi ca os mortos e chama
as coisas que não são, como se fossem" (v.l7). Abraão
agarrou-se ã promessa de Deus de que ele se tornaria
pai de muitas nações (v.18). Quando Abraão tinha 100
anos, o Senhor apareceu a ele e prometeu que Sara,
que tinha 90 anos, daria ã luz um filho. Ele creu na
promessa de Deus mesmo ainda que " ... considerou o seu
próprio corpo amortecido, (pois tinha quase 100 anos)
e o amortecimento do ventre de Sara" (v.19).
58
Embora a possibilidade do nascimento de uma
criança a Abraão não fosse muito provãvel, Deus tinha
feito a promessa e Abraão não duvidou de Deus (v.20).
Sua confiança em Deus fortaleceu-se, e ele reconheceu
que, se uma criança nascesse, seria pelo poder de
Deus. Pela fé, Abraão estava convicto de que tudo o
que Deus prometeu Ele era capaz de cumprir (v.2l).
Sua afinidade com Deus não era estabelecida por uma
vida perfeita e sem pecado, mas por sua confiança e
crença ou fé em Deus, que o chamou e fez-lhe uma pro-
messa. Yahweh considerou Abraão justo por causa de
sua fé (v.22). Sua fé o qualificou para a aceitação
por parte de um Deus santo e justo.

Paulo usou Isaque como um tipo de Cristo que


Deus levantou dentre os mortos. Consciente de sua pró-
pria impotência total, Abraão confiou no poder todo-
suficiente de Deus, que deu vida a Isaque apesar do
"amortecimento do ventre de Sara" (cf. v.19). A fé de
Abraão torna-se um exemplo para nós, que devemos crer
no poder de Deus para ressuscitar Jesus, nosso Senhor,
dentre os mortos (v.24). Assim como o nascimento de
Isaque pareceu impossivel, do ponto de vista humano,
a Abraão, assim a ressurreição de Cristo parece impos-
sivel para nós. O impossivel para o homem não o é pa-
ra Deus; portanto, o homem que, pela fé, aceita as
promessas de Deus é considerado justo e é aceito por
ele. Embora a fé seja uma expressão de confiança em
Deus para ressuscitar Cristo dentre os mortos, sua
morte foi causada por nossa injustiça: "o qual foi en-
tregue por causa das nossas transgressões ... " (v.?5).
Cristo morreu e ressuscitou novamente a fim de que pu-
déssemos ser libertos da culpa de nossos pecados atra-
vés dele (v.25). A ressurreição é a prova das qualifi-
cações de Cristo para morrer por nossos pecados, e o
Senhor vivo e ressurrecto que habita em nossos cora-
ções conduz o homem a um modo de viver justo.

A declaração de que Cristo "foi ressuscitado


para a nossa justificação" (v.25) refere-se ao reno-
var de nossas naturezas morais pelo Senhor vivo e res-
surrecto. A justificação pela fé é mais do que o pe-
cador sem merecimento "ser declarado justo" por um
Deus benigno e misericordioso. t a justiça de Deus
tornando-se viva e operativa no coração do individuo
que põe a justiça divina em efeito, controlando e de-
legando poder ao crente. O homem torna-se justo atra-
vés da fé e ele não é apenas "declarado" justo.
Introdução

o fato de Paulo ter usado o termo "lei" de


diversas maneiras, foi mencionado anteriormente. Vis-
to gue sua mais completa discussão a respeito da lei
esta contida em Gãlatas 3 e 4, e prãtico alistar os
usos variados do termo no princípio desta lição.

Paulo geralmente empregava a expressão "Lei


de Deus" para referi r-se a alguma parte ou ao todo do
Velho Testamento. ~s ve2es, o termo inclui a interpre-
tação rablnica do V.T. Os Rabis deduziram, de cada
Lei, numeros·as regras para sua aplicação; desse modo,
eles legalizavam a observância da lei em termos de
multiplas regras específicas. O termo, muitas vezes,
inclui sua aplicação farisaica em adição às escritu-
ras do Velho Testamento.

Qs diversos significados de Lei em Romanos e


Gãlatas sao:

1. O V.T. intei.ro - "lei" (Rom. 3:19);

2. O V. T. inteiro - "a lei e os profetas"


(Rom. 3: 21 ) ;

3. A lei como equivalente à religião judaica


(Rom. 2:15; Gãl. 3:12 e s., 17, 19, 21,
etc.) ;

4 .. Um princípio de ação que obriga o homem


a guardar a lei moral (Rom. 7:21,23);

5. "Outra lei nos meus membros", que e con-


frontada com a lei (princípio) da mente -
a lei ou o princípio do pecado que con-
trola os membros físicos do homem (Rom.
7:23, 8:2);
6. "A lei de Cristo" - o cristianismo como
uma nova lei (Gãl. 6:2);

7. "A lei do Espírito da vida"- o princípio


que controla e caracteriza a nova vida
dos cidadãos do Reino (Rom. 8:2).

Paulo não fez distinção entre a Escritura e


sua interpretação em seu uso do termo "lei".

FreqUentemente, seu uso de lei tem sido con-


fundido e tem conduzido ao antinomianismo (negligên-
cia da lei moral). Paulo não aceitou a religião lega-

62
lista dos fariseus como um caminho vãlido de ganhar a-
ceitação diante de Deus. Ele não rejeitou os precei-
tos ou os mandamentos do V.T. que são revelação de
Deus ao seu povo. Todavia, o guardar os mandamentos
e ineficaz em efetuar justiça por causa da condição
pecaminosa do homem. Quando Paulo usou a lei para se
referir ã escritura do V.T., ele certamente não degra-
dou sua autoridade ou seu valor, visto que ele usou a
Escritura para dar autoridade ã sua doutrina.
Sua própria experiência como fariseu e sua
conversão lhe ensinaram que a religião legalista de-
pende da atuação da própria pessoa, que e destinada
ao fracasso. Quando Paulo se converteu, ele achou em
Cristo um poder que habitou dentro de seu coração e
trouxe seus desejos pecaminosos sob controle. Ele re-
conheceu que os desejos pecaminosos do homem fazem
com que a Lei seja um meio inutil de se realizar jus-
tiça. A Lei, em si, não é mã, porem ela não tem poder
para ajudar o homem pecador. O homem em pecado não po-
de controlar seus desejos malignos e evitar aquilo
que e errado, mesmo ainda que ele seja ameaçado por
castigo. Paulo achou que a graça de Deus, expressa a-
traves de Jesus Cristo, é superior ã justi~a pela Lei,
porque a graça de Deus obtida mediante a fe proveu um
poder para mudar a vida pecaminosa.

o Erro dos Gãlatas

Gãlatas 3:1-5

Paulo não incluiu em Gãlatas uma discussão a


respeito da regeneração que acontece atraves da fe.
Ele mencionou isso como um resultado da fé, "Cristo
vive em mim ... " (Gãl. 2:20). A fé como submissão e
crença no Filho de Deus deixa Cristo controlar a vida
do crente. Visto que os gãlatas tinham experimentado
a regeneração, Paulo presumiu que eles haviam compre-
endido o papel do Espírito e de Cristo na vida do
crente. Esta importante doutrina não e compreendida
por muitos membros da igreja contemporânea.

Paulo tinha proclamado Jesus Cristo, aos gã-


latas, como crucificado (v. 1); portanto, ele aparen-
temente os tinha instruído a crucificar a carne, a
fim de que o Cristo ressurrecto ou o Espírito pudes-
sem estar no controle. Paulo perguntou se eles haviam
recebido o Espírito por seus próprios esforços de
guardar a Lei ou se o haviam recebido pela fe (v.2).
Ele os fez lembrar que tinham começado suas vidas
cristãs pela f~, em que dependiam do poder de Deus pa-
ra habitar em seus corações e para orientã-los, porem
eles retornaram orgulhosos a uma dependência de sua
própria carne ou recursos (v.3). Paulo os censurou
por terem retornado ã dependência de si mesmos para
guardarem a Lei perfeitamente, após terem experimenta-
do a vitória por intermedio do poder do Espírito.

Os gãlatas tinham começado sua nova vida por


um nascimento espiritual, porem mais tarde voltaram ã
velha vida da carne (v.3). Carne não se refere basi-
camente aos elementos materiais do corpo do homem,
mas ã sua vida em seu estado de pecado. O pecado tem
invadido sua vida e a tem controlado. A vida na carne
e uma vida de luxuria, avidez, fraqueza e derrota. A
vida no Esp;rito é
vivida no poder e sob o controle
do Esp;rito de Deus, resultando em vitória e justiça.
Depois de ter começado a vida cristã com a experiên-
cia de vitória, os gãlatas tinham voltado ã dependên-
cia da carne (de seu próprio esforço para viver justa-
mente e servir a Deus - v.4). Sua experiênciã de vitó-
ria no Espirito pareceu ter sido em vão.

Paulo introduziu outro aspecto de salvação


pela fe, sem explicã-lo. Aparentemente, a justificação
pela fe inclui não somente o perdão dos pecados come-
tidos, mas tambem o poder para vencer a vida pecamino-
sa. Pela fe o homem e feito justo, tendo sua própria
injustiça removida mediante o perdão e por ser capa-
citado a viver justamente atraves da atuação do poder
de Deus. O poder do Esp;rito foi evidenciado pelos mi-
lagres que foram operàdos entre eles. Os milagres não
foram o resultado do esforço dos gãlatas para guardar
a lei por meio da sua própria for~a, porem da experi-
ência de regeneração mediante a fe (v.5).

A Superioridade da Fe

Gãlatas 3:6-14

Conforme em Romanos 4, Paulo interpretou e


aplicou os ensinamentos referentes ã Abraão registra-
dos em Gênesis 12 e 17. Abraão tinha sido chamado por
Yahweh para separar-se de seus parentes e sua idola-
tria. Yahweh prometeu tornar grande o nome de Abraão
e fazê-lo uma benção para outras nações, se ele se
voltasse da idolatria:' "anda em minha presença, e sê
perfeito" (Gên. 17:1). Abraão creu nas promessas do
Senhor, que "imputou-lhe isto como justiça" (Gên, 15:
6). Paulo usou o exemplo de Abraão para argumentar
que a parentela de Abraão, atraves de guem as promes-
sas foram perpetuadas, deviam ser tambem homens de fe
(v.7). Os judaizantes interpretaram a parentela de A-
braão como sendo descendentes de sangue, ao inves de
descendentes de fe.

Em Gênesis 17, Deus mandou Abraão andar ino-


centemente diante dele (v.l). Seu nome foi mudado de
Abrão (pai exaltado) para Abraão (pai de uma multidão
- v.5). A aliança foi repetida a ele e seus descenden-
tes e ele e sua casa foram circuncidados como um si-
nal da Aliança (vv. 10 e 11). A Aliança incluiu "tan-
to o nascido em casa, como o comprado por dinheiro e
qualquer estrangeiro, que não for da tua linhagem"
(v. 12).
Os judeus interpretaram a perfeição requeri-
da de Abraão em G~nesis 17:1 ter sido efetuada por
guardar a Lei; todavia ela não tinha sido dada naque-
le tempo. A perfeição requerida era provavelmente per-
feita lealdade a Yahweh. Os judeus admitiam que todos
das nações da Terra seriam abençoados em Abraão (Gên.
12:3), porem os gentios deviam submeter-se a circun-
cisão como o selo da Aliança (Gên. 17:10-14). Talvez
os judeus tenham dito aos gãlatas que eles precisavam
da circuncisão a fim de tornarem perfeita a sua fe.
Ao refutar os ensinamentos dos judaizantes, Paulo as-
sinalou que Abraão foi considerado justo antes que e-
le e sua casa fossem circuncidados (Gên. 15:6). Que
os filhos de Abraão não eram seus descendentes f;si-
cos, os judeus, mas homens de fe, os gentios, e mos-
64
trado em Gênesis 12:3 (cf. Gã1. 3:8), pela Co~issão de
Deus a Abraão para ser uma bênção para as naçoes.

Paulo assinalou que uma maldição repousa sobre


todo aquele que fiar-se na obediência a uma lei. Os ju-
deus fundamentaram seu di rei to às bênçãos de Abraão pe-
lo fato de guardarem a Lei e em ser seus descendentes
(parentela). Referindo-se a Deuteronômio 22:26, Paulo
fê-10s lembrar que a Lei pronuncia uma maldição sobre
todo aquele que não cumpre tudo aquilo que ela requer.
Em Romanos 2 e 3, Paulo mostrou que não hã ninguém que
perfeitamente a obedece. Estes fatos conduzem a conclu-
são obvia de que ninguém é justificado pela Lei diante
de Deus (v.11). Se a justiça não e obtida pela fe, não
hã nenhuma esperança para o homem pecador.

Paulo disse que a Lei não estã baseada na fê.


Fê e a expressão da necessidade do homem e crença em
Deus. A justificação pela Lei é baseada no procedimen-
to do homem - dependência de si proprio (v.12).

Embora a Lei justamente condena (coloca uma


maldição sobre) aqueles que pecam (a transgridem),
Cristo redime de sua maldição (v.13). Paulo citou Ha-
bacuque 2:4 para sustentar seu ensinamento de que
" ... pela lei ninguêm ê justificado diante de Deus ... "
(v.11). Por meio da redenfão que estã em Cristo,
" ••. 0 justo viverã pela fe" (vv. 13 e 11). Israel en-
carou a ameaça da invasão babi1ônica, e o profeta Ha-
bacuque procurou a razão por que ã nação lmpi a foi
permitido derrotar o povo de Deus. Yahweh respondeu
que "o justo viverã por sua fê" (por sua lealdade ou
fidelidade). Viver pela fê significa crer na fidelida-
de de Yahweh. O homem pecador pode depender da reden-
ção de Cristo da maldição da Lei, visto que Ele tor-
nou-se uma maldição em nosso lugar (v.13).

A palavra "redimir" significa "resgatar". A


metãfora de pagamento funde-se na de libertação. Cris-
to emacipou-nos de alguma forma de escravidão, descri-
ta como a maldição da Lei. Ele assegurou nossa liber-
dade por um alto preço, tornando-se uma maldição por
nos (v. 13) .

Deuteronomio 21:22-23 declara que, se um


homem cometeu um crime de morte. " ... e o tiveres pen-
durado num madeiro; o seu cadãver não permanece rã to-
da a noite no madeiro (porquanto o que for pen-
durado no madeiro e maldito de Deus). Assim não con-
taminarãs a tua terra ... " Visto que Cristo foi coloca-
do num madeiro (madeira) construldo em forma de cruz,
Paulo achou apoio nesta escritura para o ensinamento
de que Cristo tornou-se "uma maldição" no sentido de
que ele deu a si proprio para vir sob uma maldição. O
mesmo concei to ê expresso em II Corinti os 5 :21: "Aque-
le que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por
nos ... " Cristo não era pecador nem era realmente amal-
diçoado, porem foi feito pecado e tornou-se uma maldi-
ção por nos. A maldição ou castigo pelo pecado caiu
sobre ele, ao inves de sobre nos. Assim ele nos resga-
tou da maldição, e nos estamos livres dela. Em levar
o cas ti 90 que os pecadores mereci am sob a Lei, Cri s to
Jesus tornou disponlvel aos gentios as bênçãos de A-
braão (v.14).

"Em Cristo Jesus" e uma expressão importante


nos escritos de Paulo. As promessas de Deus a Abra-
ão são incorporadas em Cristo e sua obra. Quando um
individuo recebe Cristo e Sua expiação atraves da fe,
ele recebe as promessas ou bênçãos de Abraão. Na ex-
periência de redenção mediante a fe, Cristo vem habi-
tar espiritualmente dentro do crente, "a fim de que
nós recebêssemos pela fe a promessa do Espirito" (v.
14). Antes, Paulo tinha perguntado aos gãlatas se e-
les tinham recebido o Espirito pela fe, ou atraves
das obras da Lei. Ele tinha mostrado que a promessa
de Deus a Abraão foi recebida pela fe. Semelhantemen-
te, a promessa do Espirito ao cristão, como um dom, e
recebida pela fe.

o Propósito da Lei

Gãlatas 3:15-19

Por que a Lei e importante

Os dois importantes mandamentos do Decãlogo


(Os Dez Mandamentos) são:
1. "Não te rãs outros deuses diante de mim"
(txodo 20:3).

2. "Lembra-te do dia de sãbado, para o santi-


ficar" (txodo 20:8).

Os Dez Mandamentos manifestam a essência da


responsabilidade do homem para viver justamente em
sua aliança com Vahweh. De acordo com os profetas, os
judeus tinham quebrado a Aliança e tinham perdido o
direito às bênçãos de Deus. Primeiro Israel e depois
Judã tornaram-se culpados de idolatria e de negligen-
ciar a adoração de Vahw~h no sãbado. Eles foram leva-
dos em cativeiro. Na volta dos judeus do cativeiro ba-
bilônico, Esdras deu ênfase a que guardassem estes
mandamentos para assegurar que fosse evitado outro ca-
tiveiro da nação. O guardar a Lei tornou-se o caminho
judaico para tornar-se justo e ser aceitãvel a Deus.
Paulo descobriu que a justiça não e posslvel atraves
da Lei, porque nenhum homem a guarda perfeitamente.
Deve haver outro caminho para ser aceito por Deus. E-
le voltou à promessa de Deus a Abraão, que foi feita
antes que a Lei fosse d8da. Sua tarefa era mostrar a
superioridade da promessa em comparação com a Lei,
e, alem disso, explicar o propósito da Lei.

A Lei não anula a promessa (3:15-18)

Paulo escolheu um exemplo humano para ilus-


trar a permanência das promessas de Vahweh a Abraão
(v.15). Ele assinalou que, depois que um acordo huma-
no fosse devidamente y'atificado, ninguem o COdel"ía a-
nular ou mudã-lo. A promessa de Deus ~ muito mais se-
gura do que a do homem. Visto que Deus tinha dado sua
promessa a Abraão e à sua parentela, baseando-se na
fe, o recebimento das bênçãos de Deus e o cumprimento.
de sua promessa continuaram a ser pela fe. Paulo assi-
nalou que, segundo a fraseologia da Escritura, a pro-
messa foi dada a uma unica pessoa, não a muitos - à
linhagem de Abraão (singular), não a suas linhagens
(plural). Esta foi realmente cumprida ate a vinda de
Cristo.

A promessa que Deus fez a Abraão foi a de fa-


zer dele uma grande nação e de tornar seu nome grande.
Ele seria uma bênção para todas as familias da Terra.

66
A Aliança, incorporando a promessa de Deus, foi esta-
belecida com a parentela de Abraão depois dele (Gên.
17:7). A promessa tinha se cumprido em parte antes da
vinda de Cristo. Paulo interpretou a promessa de uma
grande nação como se referindo ao Reino que Deus esta-
beleceu. A promessa de que Abraão e sua parentela se-
riam uma bênção para todas as nações foi interpretada
por Paulo como significando que o Evangelho de Cristo
seria levado aos gentios. A promessa não foi anulada
nem mudada pela Lei, que veio 430 anos mais tarde (v.
17). A herança de Israel não estava baseada no guar-
dar a Lei, mas na fidelidade de Deus em conservar sua
promessa (v.18).

A Lei define os erros (3:19,20)

Paulo tinha explicado previamente o que a


Lei não estava comprometida a fazer. Ela nunca teve
em vista ser um meio para se obter justiça pela qual
a promessa de Deus seria recebida. Os escribas e os
fariseus ensinavam que o estabelecimento do Reino de
Deus dependia da perfeita obediência ã Lei. Se a pro-
messa de Deus é dada pela graça mais do que por méri-
to realizado por guardar a Lei, qual é o propósito de-
la? Ao inves de ser a expressão fundamental da vonta-
de de Deus para com seu povo, Paulo declarou que é u-
ma mera adição ao plano fundamental de Deus (v.19).
Paulo, em seu uso variado do termo "lei", su-
gere diversos significados possiveis para a declara-
ção d~ que a Lei foi adicionada por causa das trans-
gressoes:

1. A lei moral proveu um padrão reconhecido,


por onde o pecado cometido em ignorância
tornou-se transgressão especifica quando
os mandamentos de Deus foram conhecidos.
Até que um individuo saiba que uma a~ão
ou atitude e errada, ele peca em ignoran-
cia, porem o pecado não torna-se trans-
gressão com culpa até que um padrão reco-
nhecido do que seja certo ou um mandamen-
to especifico seja rejeitado. Depois que
Cristo veio (a parentela), Ele tornou-se
o padrão de justiça.

2. A lei cerimonial foi dada para o benefi-


cio daqueles que reconheceram suas trans-
gressões. A consciência culpada, resultan-
te de pecado responsãvel, precisava de
ser purificada mediante um sacrificio de
sangue. Os sacrificios eram somente som-
bras do Cristo, que ofereceu sua vida pa-
ra tornar os homens justos para o Reino
de Deus.

A lei moral não pode tornar os homens justos,


porque os homens p'ecadores fracassam em guardã-la. A
lei cerimonial dependia de sacrificios inferiores que
precisavam de ser oferecidos repetidamente. A Lei,
que foi dada através de um mediador, era inferior ã
promessa de Deus a Abraão, que foi dada diretamente.
A lei não podia produzir vida como a promessa. Ela,
meramente, transmitia as ordens e regulamentos de
Deus, mas não a promessa viva e o poder de Deus, que
foram expressos em seu Filho.
A Septuaginta preserva a tradição de que os
anjos estavam presentes no ato da doação da Lei
(Deut. 33:2; Heb. 2:2; Atos 7:38,53). Os judeus cri-
am que os anjos atendentes, como o trovão e o relâm-
pago, manifestavam a glória da. Presença Divina. Pau-
lo interpretou a presença de tais elementos como um
substituto de Deus, que não estava presente em pes-
soa.l A Lei foi dada através de um mediador, porque
ela envolvia duas partes contratantes: Deus e a na-
ção judaica. O contrato poderia ser anulado pela fa-
lha de um dos indivíduos envolvidos. Uma promessa
não é condicionada sobre as ações de um segundo indi-
víduo (v.20). Quando Deus fez uma promessa a Abraão
e S;Ja parentela, a promessa não seria anulada pelo
fracasso do homem.

A Lei não é contraditória ou oposta as pro-


messas de Deus (v.21). Paulo expôs uma falsa promes-
sa - " ... porque, se fosse dada uma lei que pudesse
vivificar ... " . que conduz a uma conclusão errônea -
" ... a justiça, na verdade, teria sido pela lei". Se-
gundo a Escritura, a promessa e falsa, porque nenhum
homem tem guardado a Lei e obtido justiça, porem to-
dos tem pecado (v.22). Todavia, a promessa permanece,
visto que Deus a dã para aqueles que creem, mesmo
que não tenham obedecido ã Lei perfeitamente.

A Lei e como uma Custódia (3:23-29)

Paulo declarou que antes que a fe viesse (a


fe tornou-se possível pela histórica vinda de Cristo,
o Redentor), a Lei foi .uma guardi ã que nos conservou
confinados (v.23). Os homens tinham fé em Deus antes
da vinda de. Cristo, mas a fe foi expandida para a-
branger mais do que confiança na fidelidade de Deus.
"A feIO abrange tudo que e proclamado como evangelho
e vivamente distingue a nova esperança em Cristo da
velha religião da Lei.
A Lei tinha sido determinada ao homem como
um tutor para refreio moral. Ela servia ao duplo pro-
pósito de instruir o homem com relação ã injustiça e
de disciplinã-lo por fazer injustiça. A Lei e compa-
rada a uma custódia (governanta rigorosa, mestre, tu-
tora). Ela não e tanto um professor quanto um super-
visor moral da vida do homem. A palavra traduzida
"custódia", descreve uma pessoa a quem foi confia-
da a supervisão moral de uma criança. Ela possuía o
direito de exercitar disciplina e era geralmente re-
presentada em vasos antigos com uma vara em sua mão.2
Espiritualmente, a responsabilidade da Lei, como cus-
tódia moral sobre o imaturo, terminou quando Cristo
vei o.
Antes de tudo, a Lei operou para fazer os
homens perceberem seu cativeiro de pecado. Era um es-
tágio no processo de redenção, porem tem sido supera-
do pelo Cristo, que liberta. Paulo declarou que a
Lei conduz a Cristo não por educar um homem, mas por
disciplinã-lo e mostrar a ele sua necessidade de re-

George S. Duncan, The Epistle of Paul to the Gala-


tians, Vol. IX, The Moffatt New Testament Commenta-
ry (London: Hodder and stoughton, 1934), p. 114.
2 John W. MacGorman, Galatians, 1.103.

68
dencão.
Aparentemente, o versículo 24 desenvolveu-
se a partir da experiência previa de Paulo. Como um
fariseu, ele desejou realizar justiça atraves da Lei.
Embora seus esforços fossem sinceros, ele reconheceu
que seus fracassos o trouxeram sob justa condenação.
Seu zelo em guardar a Lei fez com que ele pecasse. E-
le cri a que os cristãos transgredi am os precei tos de
~10ises, porque eles falavam contra a necessidade de
cerimônias no templo para purificação e ofereciam a
fe cristã a outros povos alem dos judeus. Para parar
a heresi a cristã e proteger a re li gião da Lei, Paulo
transgrediu os mandamentos de Deus, participando no
homicídio de Estêvão. A condenação da Lei por homicí-
dio não deixou-lhe nenhuma alternativa, exceto a de
aceitar o divino dom gracioso, de redenção em Cristo
pela fe. A justificação pela fe trouxe a purificação,
o perdão e um sentido de libertação da condenação
por suas falhas. Tudo que a Lei tinha sido capaz de
fazer, era dizer-lhe quando tinha cometido erro e pro-
nunciar a condenação sobre ele. A fe em Cristo trou-
xe a libertação do pecado e a libertação da discipli-
na repressiva.
Mediante a fé em Cristo, Paulo experimentou
uma vida positiva como um filho de Deus, e foi capaz
de pôr de lado a vida sob um disciplinador repressivo
(vv. 25 e 26). O clímax para seu argumento se encon-
tra no versículo 26. Por meio da fé, os judeus e os
gentios tornam-se filhos de Deus. E uma experiência
regenerativa que revoluciona a vida do crente. Pela
fé, o crente torna-se uma possessão de Cristo. Esta
experiência interior precisa ser expressa exteriomen-
te. O batismo e a expressão exterior da nova e íntima
afinidade do crente com Cristo. O batismo não consti-
tui alguem um filho de Deus; essa transação e aperfei-
çoada atraves da fe (v.26). O batismo e descrito como
revestir-se de Cristo (v.27). Esta metáfora represen-
ta vestir um uniforme para se identificar no serviço
de Cristo. O batismo é a profissão publica e a identi-
ficação de alguem com Cristo.
Mediante a fe em Cristo, todos os crentes
são filhos de Deus, sem distincão entre judeu e gen-
tio, escravo e livre. ou macho e fêmea. Os judaizan-
tes mantiveram distinções entre raças, classes soci-
ais e sexos. A segregação e a discriminação não têm
lugar na Igreja. A raça, o status social e o gênero
do homem não o recomendam nem tampouco ) desacreditam
diante de Deus. Se ele pertence a Cristo, ele e conta-
do como descendente de Abraão, que e herdeiro da pro-
messa (v .29).

A Liberdade como Filhos

sãlatas 4:1-7

Paulo aludiu a sua crença numa escatologia


(ulti~as coisas) que pode ter parecido estranha aos
cristaos contemporâneos. Ele cria que o mundo está di-
vidido em dua esferas espirituais, eras, ou domínios.
A presente era e má e está sob a influência do "prín-
cipe da potestade do ar, do espírito que agora opera
nos filhos da desobediência" (Ef. 2:2). O Reino de
Deus, sendo estabelecido sob seu Messias, derrotará
as potestades malignas, que serão destruídas para sem-
pre. Satã não mais será capaz de manter a presente e-
ra maligna em seu poder. A intervenção de Deus na
história com Seu Messias escolhido vencerá os exerci-
tas de Satã. Os "filhos das trevas" farão um ultimo
esforço desesperado para subjugar os "filhos da luz",
mas Deus e suas forças triunfarão. Paulo cria que a
nova era tinha chegado com a vinda de Cristo.

Na velha era, os herdeiros do Reino são co-


mo crianças que devem ser guardadas pela Lei. Eles
não têm maturidade, inteligência nem o poder do Espí-
rito De Deus, para resistir às forças do mal. Antes
da vinda de Cisto, o tempo não tinha chegado para
Deus realizar o plano para seu Reino. Embora os elei-
tos fossem herdeiros e, eventualmente, se tornariam
donos de tudo, durant~ o tempo de imaturidade, mesmo
os herdeiros estavam limitados sob tutores e regen-
tes - a Lei.

De acordo com o próprio tempo de Deus, o


Reino viria em maturidade e plenitude (v.2). Ate a-
quele tempo, os herdeiros tinham que viver segundo
os princípios fundamentais deste mundo (v.3). Paulo
os comparou a crianças que estavam sob tutores e re-
gerites nomeados pe 10 Pai, ate o tempo de sua maturi-
dade' quando eles receberiam liberdade. Ate que Cris-
to veio e iniciou a nova era, Paulo declarou que o
homem estava sob a tutela da Lei, porem era controla-
do pelos poderes deste mundo. Com a vinda de Cristo,
o herdeiro ingressou em sua herança plena no Reino
de Deus.

Cristo nasceu ~e uma mulher, isso e, ele as-


sumiu a humanidade, com todas as suas limitações e
fraquezas (v.4). Cristo nasceu na velha era em que
a Lei, como tutora, limitava e restringia o homem.
Embora Cristo tenha nascido sob a Lei (uma tutora
restrita), como Filho de Deus Ele não era controlado
(mantido em cativeiro sob as coisas elementares do
mundo) pelos legisladores espirituais malignos deste
mundo. Embora a Lei dissesse ao homem, na velha era,
o que fazer, os legisladores malignos deste mundo
levavam o homem a infringi-la, o que resultava em
sua condenação.

As potestades malignas da velha era eram


capazes de usar a Lei como um instrumento de conde-
nação. Quando Cristo, como o Messias, iniciou a nova
era, como Servo Sofredor, ele redimiu o homem da con-
denação da Lei e, como Senhor ressurrecto que habita
nos corações, ele trouxe os herdeiros para uma nova
aliança com Deus. O espírito do mal não pode mais
controlar a vida do homem, e fazer com que ele entre
na condenação da Lei, porque "De,,:;envi ou aos nossos
corações o-Esplrito de seu Filho" (v.6). A transação
tem estabelecido uma aliança madura com Deus, em que
o herdeiro e adotado como filho e chama Deus de "meu
Pai ". O homem não e mais deixado à tutela da Lei,
que disciplina e subjuga, tornando-Q um escravo; ele
e um filho que vive pelo poder de Deus e na liberda-
de de filho deum Rei (v. 7).
A Vantagem da Nova Vida atraves da Fe

Gã1atas 4:8-31

Aviso Contra a Reincidência (4:8-11)

A Lei foi recebida de Deus e e boa. Seu pro-


pósito era mostrar ao homem o que e certo, porem os
legisladores daquela era (cf. I Cor. 2:6) a usavam co-
mo um instrumento pelo qual manter os homens sob ca-
tiveiro. Estes legisladores malignos, que "serviam
aos que por natureza não são deuses" (v. 8), eram ca-
pazes de escravizar os homens que seguiam a Lei. Deus
tinha colocado os homens como crianças sob tutores, a-o
te que eles se tornassem de idade para serem tratados
como filhos e companheiros. Agora que os gã1atas vie-
ram a conhecer a Deus, "ou antes a serem conheci dos
por Deus", atraves da fe em Cristo, por que haveriam
eles de querer deixar a relação íntima com o Pai e
voltar ã vida de escravos sob um tutor? (v.9).

Antes de o libertador chegar, o mundo intei-


ro, judeu e gentio, do mesmo modo, estava sob o domí-
nio das "potestades da presente era". Qual caminho de
vida os gã1atas desejavam? Mais do que avançar em sua
nova fe, desejavam eles voltar e servir a espíritos e-
lementares, dos quais Cristo os tinha libertado? A a-
doração e o serviço destes espíritos mundanos, que
não são deuses, são representados pela observância de
dias, meses, estações e anos (v.10). A volta dos gã-
latas ã escravidão de viver pela Lei e comparada com
a volta do gentio ã sujeição às milícias celestiais
(cf. Atos 7:42). Paulo temeu que, entre eles, seu la-
bor tinha sido gasto em vão (v.ll).

O apelo pessoal de Paulo (4:12-20)

A referência de Paulo a seus labores entre


os gãlatas, no verslculo 11, sugere sua volta, aparte
do argumento sobre a superioridade da fé para com a
Lei. Numa passagem intensamente pessoal, ele apelou
aos gãlatas para que recomeçassem sua velha afinidade
para com ele. Paulo sentiu profundamente, o fato de
os gãlatas alienarem-se de si mesmos e de Deus. No i-
nlcio do capítulo 3, ele usou palavras ãsperas, não
para ajudar a alienã-los, mas para ganhã-los de volta
ao evangelho.

Paulo exortou os gãlatas a prosseguirem, tor-


nando-se como ele era (v.12). Talvez ele estivesse su-
gerindo que eles adotassem suas atitudes para com as
exigências da Lei judaica. Paulo fez-lhes o apelo ba-
seando-se no fato de ter-se identificado com os genti-
os. Mesmo ainda que os gãlatas tivessem sido influen-
ciados a rejeitar a doutrina de Paulo e aceitar a dos
judaizantes, Paulo lhes assegurou que ele não carrega-
va sentimento de injustiça com respeito às ações de-
1es (v. 12) .
A referência de Paulo a uma doença corpõrea,
que fez com que ele fosse à Galãcia, ao inves de ir a
alguma outra região, tem sido a fonte de muita especu-
lação. Alguns estudiosos ligam esta doença com a afli-
ção crônica citada em Il COrlntios 12:7 como "um espi-
nho nacarne". As sugestões referentes ã natureza da
doença têm incluldo malãria, epilepsia e uma mblês-
tia dos olhos. Alguns têm sugerido que ele foi às re-
giões montanhosas da Galãcia por causa de sua neces-
sidade de maiores altitudes. A referência de Paulo
à boa vontade dos gãlatas, de que "terleis arrancado
os vossos olhos, e mos terleis dado" (v.15), tem cau-
sado freqüente identificação de sua doença como doen-
ça dos olhos. .

Paulo deu a entender que a doença era um


mal que podia ter evocado desprezo e mesmo repulsa
entre os gãlatas. Embora sua doença "aquilo que na
minha carne era para vós uma tentação" (v. 14), eles
não o repeliram. A.T. Robertson menciona o hãbito de
"cuspir" eara demonstl;'ar aversão como um costume pro-
filãtico a vista de invãlidos, especialmente epiléti-
cos; mas Plutarco empregou a palavra para referir-se
à mera rejeição.3 Apesar da sua aparência repulsiva,
Paulo havia sido recebido como um mensageiro especi-
al, como um verdadeiro anjo, mesmo como Cristo Jesus
(v.14). O gozo dos gãlatas por tê-lo em seu meio ha-
via sido expresso numa disposição de fazer um grande
sacrifício por suas necessidades físicas (v.15). Pau-
lo perguntou por que as atitudes dos gãlatas tinham
mudado. Estavam eles dispostos a ouvir a verdade que
ele partilhava, concernente aos judaizantes? (v.16).
Paulo pode ter tide receio de que sua linguagem for-
te, em sua epístola, poderia ser usada para voltar
os gãlatas contra ele.

Os judaizantes zelosamente procuravam ga-


nhar os gãlatas para o lado deles (v.17). Paulo avi-
sou que os motivos deles eram desonestos. Os judai-
zantes desejavam afastar os gãlatas de Paulo, a fim
de que fossem dependentes deles. Se os judaizantes
pudessem cortar a afinidade de Paulo com os gãlatas,
eles obteriam mais honra e atenção para si mesmos.
Paulo declarou que a amizade verdadeira deve ser
,honrosa e imutãvel (v.18). O fato de sua presença ou
~usência não devia ter mudado a amizade deles.

O versículo 19 expressa a mais terna afei-


ção de Paulo aos gãlatas. Ele comparou-se a uma mãe
nos trabalhos de parto, que deve sofrer primeiro, pa-
ra ter alegria. Sua experiência, no tempo da escritu-
ra, foi de profunda tristeza e sofrimento, mas ele o-
lhava para diante, para o tempo de gozo, quando Cris-
to fosse formado neles (vv. 19-20).

A interpretação alegórica das Esposas de Abraão (4:

21 :31 )

Paul voltou nO seu arauniento Y'ef~('ente


ã superioridade da vida mediante a fe em Cristo, em
relacao com aquela de estar sob a Lei. Ele levantou
mais uma vez a questão: Quem são os verdadeiros fi-
lhos de Abraão? Ele "OU o método alegórico de inter-
pretação para aplic a Lei (os cinco livros de Moi-
sés) ao seu argume'

A interp "cão alegórica deduz aplicações


espirituais de c ]cteres e eventos bíblicos. Eles

3 A. T. Robert' ,The Epistles of Paul, Vol. 4 de


Word Picturé in the New Testamenr-TNashville:
Broadman PresJ' 1931), p.304.
72
se tornam, essencialmente, tipos de realidades esplrl-
tuais. Atualmente, o metodo tem caído em descredito,
por causa de seu uso desenfreado. Todavia, os contem-
porâneos versados de Paulo respeitavam este metodo de
basear as verdades religiosas na Escritura.

o desejo de Paulo era mostrar aos gãlatas o


que eles perderiam se voltassem a uma vida religiosa
controlada pela Lei. Para confundir os entusiastas pe-
la Lei, ele usou a prõpria Lei (v.21).

Paulo presumiu que seus leitores gentios es-


tivessem familiarizados co~ a histõria de Abraão, Ha-
gar e Sara do Velho Testamento. Hagar era a serva e-
gípcia de Sara (Gên. 16). Visto que Sara era estéril,
segundo os costumes da época, sua serva podia gerar
um filho para ela. Abraao gerou um filho a Hagar
" ... segundo a carne ... " (v.23). Eventualmente, Sara
gerou um filho a Abraão, cujo nome foi IsaC]ue. Por
causa da idade de Sara, o nascimento de Isaque não o-
correu "segundo a carne". O nascimento de Isaque efe-
tuou-se por um ato especial da graça divina, a fim de
que se cumprisse a promessa que Deus tinha feito a A-
braao.

Paulo notou que a aplicação da histõria para


seu argumento não foi pela interpretação usual da Es-
critura, mas pelo uso de alegoria (v.24). Ele deu um
significado secundãrio ã narrativa. Ele não negou o
significado histõrico do evento, mas o usou como um
tipo de verdade espiritual. Hagar, a escrava, repre-
sentou o Monte Sinai, onde a Lei foi dada a Jerusalem
e ali observada, especialmente a lei cerimonial. O fi-
lho de Hagar, Ismael, representou os judeus que esta-
vam sob o cativeiro da Lei. Isaque, o filho da livre
(a Jerusalém celestial), era um tipo de cristão que
tinha sido libertado da custõdia da Lei.

Os judeus orgulhavam-se de sua descendência


natural de Abraão, porém esta sua descendência natu-
ralos escravizava sob a Lei. Sara, como um tipo da
Jerusalém espiritual, e a mãe dos filhos da promessa.
A interpretação alegórica permitiu a Paulo ir alem do
significado histórico, em sua aplicação espiritual de
identificar os judeus orgulhosos como descendentes de
Ismael. Eles nasceram sob a Aliança da Lei e foram
destinados ã servidão, ao inves de ã liberdade. Suas
atitudes espirituais os identificavam como descenden-
tes de Ismael. Doutra maneira, a resposta da fé dos
gãlatas convertidos os identificava como os filhos da
Aliança da promessa. Sua atitude espiritual de fé os
tornou os verdadeiros descendentes de Sara, os filhos
da promessa (v.28). A promessa tinha relação com a fé
de Abraao.

A aplicação espiritual ê levada mais adiante


pela referência ao desdem de Ismael com respeito a 1-
saque (v.29 - cf. Gên. 21:9). Esta perseguição foi um
tipo de perseguição dos cristãos pelos judeus. Toda-
via, a história não acabou com a perseguição do filho
da promes s a pe 10 es cravo. fi.sordens de Sara, Ab raão
lançou fora Hagar e seu filho. Os judeus serão julga-
dos e deserdados por Deus. Eles não herdarão a Alian-
ça da promessa juntamente com os cristãos (vv. 30 e
31) .
Introdução

A promessa de Deus a Abraão inclula:

1. Uma extensão de terra desde o rio do Egi-


to até o rio Eufrates (Gên. 15:18);

2. Uma grande nação, composta de multiplos


descendentes através de Isaque, o filho
da promessa (Gên. 12:2; 13:16; 15:4; 17:
2); e,
3. Uma bênção para todas as nações da Terra
(Gên. 12:3).

A promessa de Deus era baseada na fidelida-


de de Abraão em adorar somente a Yahweh e em seu não
regresso aos ldolos. A medida que a promessa era ma-
is completamente expandida para uma aliança, Yahweh
requereu de Abrão: "anda na minha presença, e sê per-
feito" (Gên. 17: 1), e "es tabe 1ecere i o meu pacto con-
tigo e com a tua descedência depois de ti em suas ge-
rações, como pacto perpétuo, para te ser por Deus a
tie ã tua descendência depois de ti" (Gên. 17:7).

Paulo tinha mostrado que a necessidade de A-


braão ser inocente ou perfeito diante de Yahweh era
considerada com base em sua fé mais do que em suas
realizações. O Velho Testamento mostra a maneira de
Deus para justificar os pecadores através da fé. A
pessoa que é considerada justa recebe as bênçãos da
promessa de Deus. A fé continua a ser a atitude re-
querida do homem para tornar-se justo. A declaração
foi que Abraão foi justificado pela fe: "ora, não e
so por causa dele que estã escrito que lhe foi impu-
tado, mas também por causa de nos a quem hã de ser
imputado, a nos os que cremos naquele que dos mortos
ressuscitou a Jesus nosso Senhor" (Rom. 4:23,24). As
bênçãos de Deus, prometidas a nos, são eficazes, ba-
seando-se na morte e ressurreição de Cristo (Rom. 4:
25). Seguir o exemplo da crença de Abraão em Deus,
que faz promessas inacreditaveis, resulta em grandes
bênçãos. Paulo enumerou essas bênçãos em Romanos 5.

O dom de Deus dado ã pessoa que tornou-se


justa pela fé é a salvação. Paulo debateu esta maté-
ria nos capltulos 5-8. Nygren sugere que estes qua-
tro capltulos poderiam ser descritos como salvação
de quatro poderes hostis: ira (cap. 5), pecado (cap.
6), lei (cap. 7) e morte (cap. 8).1 Dale Moody pre-
fere falar dos aspectos de salvação mostrados nestes
capitulos como reconciliação, santificação, liberta-
ção, e filiação ou adoção.2 O pecado estabelece uma
barreira entre o homem e Deus. Sendo considerado jus-
to pela fe, remove-se essa barreira e permite-se a
reconciliação. A salvação abrange ambos os aspectos,
o negativo e o positivo: redenção dos pecados e res-
tauração ã comunhão com Deus. Ele estã sob a ira de
Deus.

O Estabelecimento da Paz

Romanos 5: 1-5

O pecador não estã em paz com Deus, e, sim,


alienado e pertur~ado. Mesmo ainda que um indivíduo
pratique as cerimonias religiosas, ele sabe interior-
mente que sua vida não tem satisfeito os requisitos
de Deus; portanto, ele não tem sido aceito por Deus.
A paz somente tem lugar quando o homem estã assegura-
do de sua aceitação pelo seu Criador. Ele nunca estã
seguramente em paz, enquanto depender de seus própri-
os feitos, ao inves do dom de Deus mediante a fe.
Quando uma pessoa e justificada pela fe, ela estã se-
gura da sua aceitação por Deus e experimenta a paz
em sua alma atribulada. Sua aceitação torna-se pos-
sível atraves do Senhor Jesus Cristo (v.l). Enquanto
o homem tentar ganhar a aceitação de Deus atraves de
suas próprias realizações, ele nunca estarã seguro
de que sua justiça e suficiente para agradar a Deus.
Ele continuarã a viver com a inquietação de que sua
justiça é inadequada; portanto, ele não tem seguran-
ça da promessa divina de vida eterna.

E pela obra de Cristo, de sua morte e res-


surreição, que nós temos recebido acesso ã graça de
Deus (favor imerecido). Pela fe, o homem e removido
do domínio da ira de Deus para dentro da nova vida
provida por Sua graça. A salvação significa a passa-
gem da velha vida para a nova; da ira de Deus para a
paz com Deus.

Assim como Abraão não duvidou da promessa


de Deus mediante incredulidade, mas ficou firme na
fe (4:20), tambem o cristão que vive pela fe não fi-
ca em duvida acerca de sua afinidade com Deus. Pela
fe, ele e estabelecido na graça de Deus (v.2). Sua
nova segurança traz regozijo, na esperança da glória
de Deus (v.2). O homem em pecado carece da glória de
Deus(3:23), porem o homem na graça de Deus tomarã
parte nela na era vindoura. A glória de Deus ê a vi-
da divina, e o cristão é feito para compartilhar de-
la atraves da fe. A nova vida no Reino abrangerã sua
plenitude na consumação do Reino; portanto, a glória
abundante da vida atraves de Cristo e futura e e pos-
suída na esperança, que repousa na confiança ou fe
em Deus, o qual faz as promessas. A glória de Deus e
o fim para o qual Ele criou o homem. Este fim serã
realizado atraves da obra redentora de Cristo.

Anders Nygren, Commentary on Romans (Philadelphia:


Fortress Pl'ess, 1949), p. 191 e ss.

2 Dale Moody, Romans, p. 191.


78
Mediante a fê, o crente ê estabelecido pela
graça de Deus atê o ponto em que o sofrimento ou tri-
bulação não mais o derrotarão (v.3). As aflições são
vistas como a experiência normal dos cristãos. A a-
flição e a tribulação não são consideradas como um
fracasso da fê cristã, mas como uma caracteristica
dela. Visto que a tribulação produz paciência e fir-
meza de carãte~, ela ajuda o crente na preEaração pa-
ra a futura gloria de Deus. O sofrimento nao derrota
e destrói, mas conduz à grande fe em Deus, em lugar
de confiança na carne.

Os cristãos devem passar pela tribulação na


presente epoca como filhos de Deus. As tribulações
estão derrotando aqueles que vivem somente na carne
e não nasceram para o Reino. Eles preparam os cida-
dãos do Reino para glória mais abundante e fazem com
que os cristãos creiam pacientemente em Deus. As tri-
bulações testam a fe do homem e amadurecem seu carã-
ter (experiência significa "prova" ou "a calma do ve-
terano curtido"). A pessoa testada e temperada põe
mais ênfase na esperança futura do que em lutas pre-
sentes. A vida passa a focalizar mais o que Deus tem
prometido do que_o que o homem ~ode realizar. As a-
çoes presentes sao controladas a luz da esperança da
glória de Deus (v.4).

O homem não serã desapontado por víver sua


vida baseada na esperança. Os cristãos têm sido acu-
sados de darem ênfase à esperança futura mais do que
a enfrentar a tristeza e fracasso presentes. Tal mu-
dança no encarar a vida parece tolice à pessoa que
não tem experimentado a fidelidade de Deus e seu a-
mor (v.5). Paulo não compartilhou do pessimismo de
muitos existencialistas modernos, que crêem que o
significado da vida centraliza-se na experiência ime-
diata de alegria e tristeza. Ele cria que as experi-
ências devem ser compreendidas ã luz da esperança fu-
tura que um Deus fiel tem prometido. Parece tolice
ao homem natural que os cristãos possam estar certos
do futuro. Para o individuo que jã tem experimenta-
do o Espirito dado a ele no novo nascimento, a espe-
rança futura não e uma fantasia irreal, mas uma rea-
lidade prometida por Deus e possuida pela fe.

Nygren assinala que, se não houvesse sofri-


mento, a esperança nunca teria oportunidade para ob-
ter sua força plena. A esperança e testada e fortale-
cida pelo sofrimento. A finalidade do sofrimento do
cri s tão e desenvolver a perseverança, "e a perseve-

rança produz a experiência, e a experiência a espe-


rança". j

A Fonte de Bênçãos

Romanos 5: 6-11

Como e possivel àqueles que eram lnlmlgos


de Deus e estavam sob sua ira, virem pela fe a uma
nova vida, em que são recipientes de suas bênçãos? A
menção de Paulo do amor de Deus, que e a base da es-
perança para os pecadores, o levou a dar uma explica-
ção mais completa do divino ato de amor em Cristo.

3 Anders Nigren, Comentary on Romans, p. 196.


a amor de Deus não pode ser compreendido em
termos do amor humano. a amor humano contém um ele-
mento de egoísmo. Ele deseja possuir o objeto do a-
mor para auto-satisfação. Quando muito, o amor huma-
no responde somente ao amãvel num relacionamento de
dar e receber mutuos. a amor de Deus não possui o
seu objeto para auto-satisfação, nem é reservado pa-
ra aqueles que respondem favoravelmente ou que o me-
reçam. a amor terreno requer um objeto digno de ser
amado. a grau de amor dado ao objeto, pelo indivíduo,
depende do valor desse objeto. a valor de Deus não
depende do valor do obj~to, e, sim, focaliza-se no
ser amado, em vez de no seu mérito. Deus ama porque
Deus é amor, e não porque o homem mereça ser amado.
a homem amado é descrito como desamparado
("fraco" - v.6), ;mpio (v.6), pecador (v.8) e inimi-
go (v.la). Estas descrições enfatizam que o amor de
Deus não depende do valor de seu objeto. Seu amor
busca o bem-estar e o contentamento de seu objeto,
lndiferente para com sua indignidade. O amor de Deus
não limita o sacrifício feito para satisfazer ã ne-
cessidade do objeto: "Pois ... Criste morreu a seu
tempo pelos impios" (v.6). No tempo assinalado na
história Cristo morreu. Sua morte marcou o ponto cul-
minante da história. Até a morte de Cristo, o homem
estava sujeito ao poder da velha era ou domínio, e
sem esperança, por causa do poder do pecado. A morte
de Cristo iniciou a nova era do Reino. Através da fé
no Senhor crucificado e ressurrectó, o homem pecador
é redimido da velha era da ira de Deus e transferido
para a nova era de seu amor e graça. Por causa de
sua impiedade, o homem mereceu a condena~ão de Deus,
a qual é a morte. Cristo morreu em beneflcio do ím-
pio, o que explica como Deus justifica o pecador.
a amor divino é dificilmente comparãvel ao
amor humano. Mesmo a expressão mais nobre do amor hu-
mano dificilmente farã alguém morrer por um homem
justo (v.7). Um homem justo poderia parecer ser dig-
no de tal sacrifício, por causa de sua justiça na li-
da com os outros. Um homem bom adiciona feitos de
bondade e misericórdia ã justiça. Somente sob raras
circunstâncias alguém seria motivado a morrer por u-
ma pessoa que parece digna. O amor de Deus é inade-
quadamente descrito por uma ilustração do amor huma-
no, porque Deus enviou Seu Filho para morrer pelo
que não tem mérito e indigno, não pelo merecedor e
digno. O amor de Deus não é ganho ou merecido, mas
brota espontaneamente de Sua natureza. Não é chamado
ã ação por um carãter bom ou feitos dignos do homem.
t recomendado ou expresso para conosco como pecado-
res sem merito (v.S). O amor de Deus ê expresso e~
resposta ã necessidade e ao desamparo humanos; o a-
mor de Deus apresenta-se num sacrifício do mais alto
valor: "Cristo morreu por nós" (v.8).
A compreensão de Paulo sobre justificação
pela fé era baseada na natureza do amor de Deus, ao
invés de nas realizações e méritos do homem. Com or-
gulho, o homem continua a crer de algum modo que ele
merece realmente a divina expressão de amor em Cris-
to. A salvação pela graça, através da fé, se baseia
na compreensão de que o homem pecador de nenhum modo
merece a redenção, nem Deus de qualquer maneira é o-
brigado a perdoã-lo. A graça é o dom imerecido de
Deus ao homem sem mérito e pecador.
80
Este tipo de amor e graça parece inacreditã-
ve1. Se o homem nada reivindica para a salvação, como
pode ele ter certeza de rece~er a esperança da glória
que Deus tem prometido? Paulo assinalou que se o ho-
mem pecador tem se tornado justo ã custa do sofrimen-
to e morte do Filho de Deus, e lógico concluir que o
homem redimido estará exposto ao perigo da futura ira
de Deus (v.9). O homem que se torna justo atraves da
fe e aprovado e aceito por Deus, e não mais e o obje-
to de Sua ira. Se a natureza de Deus fez com que Ele
sacrificasse Seu Filho por Seus inimigos que merecem
Sua ira, não pode haver ameaça para a esperança futu-
ra daqueles que foram reconciliados como filhos de
Deus (v.10). A ira de Deus repousa sobre o homem por
causa dos seus pecados. O amor de Deus apresentou-se
em pecado e tornou-se provisão para seu castigo. O ho-
mem perdoado e redimido não está mais sob a ira de
Deus, porem ele e reconciliado para comunhão com Deus
pela morte de Seu Filho (v.10).
A ira de Deus e uma realidade. Paulo falou
dela como o "dia da ira". Esse dia revelarã que Deus
e um Juiz Justo, que dará a cada homem segundo suas o-
bras. Visto que todo homem tem pecado, suas obras pro-
vocaram a ira de Deus. Embora a ira de Deus seja, pre-
sentemente, revelada contra toda a impiedade e injus-
tiça, um dia virá quando atingirá sua mais completa
expressão contra o pecado e consumirá tudo que e mau.
Quando esse dia do jUlzo chegar, todos estarão em espe-
rança, exceto aqueles que são "por ele salvos da ira"
(v. 9).
Por causa do futuro dia do juizo, Paulo fa-
lou da salvação como futura (vv.9-l0). A salvação e
tanto uma ~xperiência do passado como um evento futu-
ro. O evento de redenção da parte de Deus, que come-
çou com a morte de Jesus Cristo na cruz, estende-se
para o futuro com o Juízo. Os pecadores que receberam
a salvação atraves da fe e foram reconciliados com
Deus não terão receio da condenação quando estiverem
diante dele naquele dia. Esta esperança e referida no-
vamente no primeiro versicu10, o qual declara que,
visto que fomos justificados pela fe, temos paz com
Deus.

a versicu10 10 declara por que ambos, a mor-


te e a ressurreição de Jesus, são importantes para a
salvação. Nós fomos reconciliados com Deus pela mor-
te de se.u Filho. a derramamento de seu sangue, ou sua-
morte, foi necessãrio para prover a remoção de nossos
pecados. A pessoa cujos pecados são perdoados e recon-
ci 1iada com Deus: "es tando j ã reconci 1i ados , seremos
salvos pela sua vida" (v.la). O Senhor vivo e que as-
cendeu aos ceus faz contlnua intercessão pelos peca-
dores redimidos. a Senhor ressurrecto, vivo e que ha-
bita nos corações traz a nova vida do Reino ao crente.
Esta união com Cristo, o Filho de Deus, significa es-
tar livre da ira de Deus. Tambem significa estar li-
berto do poder do mal.

a que Deus fez por nós em Cristo dã aque-


les que receberam a expiação (reconciliação), razão
para se jactarem. a amor que proveu a Cruz para a nos-
sa redenção nos manterá a salvo no julzo. Se a cruci-
ficação de Cristo por nós, como inimigos de Deus,
nos fez amigos de Deus ,quanto mais o Cristo vivo, o
Filho de Deus, não nos salvarã, como amigos de Deus,
de sua ira?
Uma Recapitulação da Salvação pela Fê

Romanos 5:12-19

Introdução

Os primeiros cinco capítulos de Romanos, ex-


ceto a saudação de Paulo, referem-se ã doutrina de
justificação pela fê. Primeiro, Paulo apresentou as
necessidades, tanto dos judeus como dos gentios, de
serem justificados (1:18 - 3:20). Segundo, Paulo a-
presentou a provisão de Deus para a justificação a-
traves de Cristo (3:21-31). Terceiro, Paulo susten-
tou sua doutrina com as Escrituras do Velho Testamen-
to e exemplos (4:1-25). Quarto, Paulo falou das bên-
çãos do dom divino da salvação atraves da fe (5:1-
11) •
Romanos 5:12-19 apresenta uma recapitulação
do que foi antes. Paulo confronta a queda de Adão no
pecado, o que criou a necessidade da salvação por
meio da redenção provida em Cristo. De Adão veio o
pecado ea morte para seus descendentes; deCristovem
a justiça e a vida atraves da fe. Os homens devem
viver pela fe: Atraves de um homem o pecado entrou
no mundo e a morte passou a todos os homens, porque
"todos têm pecado". Atraves do segundo homem, a jus-
tiça entrou no mundo e a vida através da justiça.

A Necessidade Humana do Dom de Deus (5:12-14)

Paulo continuou a sustentar sua doutrina de


viver pela fe, apelando para o Velho Testamento. Em
Gênesis 2:16,17, Deus deu a Adão um mandamento espe-
cifico: "De toda árvore do jardim podes comer livre-
mente; mas da árvore do conhecimento do bem e do
mal, dessa não comerás; porque no dia em que dela
comeres, certamente morrerás ~" O argumento de Paulo
estava baseado na distinção entre o pecado, o poder
do mal que faz o homem pecar, e a transgressão espe-
cífica. Deus deu a Adão um mandamento específico, e
ele o quebrou. Não havia mais atos específicos de
transgressão desde Adão ate Moises, visto que Deus
não tinha dado nenhuma outra lei específica; todavia,
o poder do pecado entrou no mundo atraves de Adão e
causou muitos malfeitos, com desastre conseqüente.
Paulo pensou a respeito do pecado quase em
termos pessoais. A palavra significa literalmente
"ultrapassar a demarcação", mas Paulo, às vezes, fa-
lou dele como um poaer dominador. O pecado:
entrou no mundo (Rom. 5:12);
reina (Rom. 5:21);
tem submetido todas as coisas (Gãl. 3:22);
tem escravizado os homens (Rom. 6:6, 17,
20);
tem aprisionado os homens (Rom. 6:22);
e um princípio que controla a vida (Rom. 7:
23; 8:2);
habita no homem como um princípio pessoal
(Rom. 7:17, 20).
82
o corpo terrestre e o reino da operaçio do
pecado. 'Quando o corpo estã sob o controle do pecado
e em oposição ã vontade de Deus, o homem e descri-
to como estando na carne ou sendo carnal.

O pecado tambem se refere a atos errôneos.


Estã transgredindo os mandamentos específicos de
Deus (Rom. 5:14). Paulo tinha jã mostrado que os gen-
tios eram culpados de cometerem pecados (ações errô-
neas), tanto quanto os judeus que ensinavam a Lei,
porem não a guardavam.

Com referência. a Gênesis 3, Paulo assinalou


que o pecado trouxe a morte, e o pecado universal
trouxe a morte universal. O poder de ação do pecado
entrou no mundo através de Adão quando ele cometeu o
ato específico de transgredir o mandamento especial
de Deus (v.12). O poder de ação do pecado tem trazi-
do morte a todos os homens, porque ele tem feito ca-
da homem cometer atos específicos de pecado.
Romanos 5:12-14 tem sido erroneamente inter-
pretado, com o fim de ensinar que o pecado é herdado.
A_Igreja Catõlica ensina que o pecado original de A-
dao foi transmitido a seus descendentes; portanto, to-
da criança jã estã condenada, ao nascer, por causa do
pecado de Adão. Recorre-se a Romanos 5:12-14 para
sustentar esta doutrina.

Paulo ligou o reino universal de pecado e


morte com a transgressão de Adão. Ele, todavia decla-
rou que todas os homens são condenados ã morte por
causa da culpa herdada do pecado de Adão. Deus tinha
instruído Adão que, se ele transgredisse o mandamen-
to, certamente morreria (Gên. 2:17). Paulo assinalou,
portanto, que a morte veio através do pecado (Rom. 5:
12). A morte espalhou-se a todos os homens não por-
que todos herdaram a culpa do pecado de Adão, mas
" ... porque todos pecaram" (v.12). A razão por que to-
dos têm pecado e chegado ã condenação da morte é o po-
der do pecado que entrou no mundo através do pecado
de Adão. O argumento de Paulo, no versículo 12, era
que o fato de todo homem morrer revela que todo homem
tem pecado.
O raciocínio de Paulo nos versículos 13 e
14 não e fãcil de se seguir. Seu proeõsito era mos-
trar que os homens foram condenados a morte por cau-
sa do pecado antes da Lei recebida através de Moises.
Muitos séculos separaram o tempo de Adão e sua trans-
gressão de um mandamento especifico e o tempo de Moi-
ses, que recebeu os Dez Mandamentos. Paulo provou ser
evidente que o pecado estava no mundo antes da doação
da Lei a Moises (v.13). Sua lógica para concluir que
o pecado estava no mundo e que o castigo do pecado,
a morte, passou a todos os homens. Mesmo ainda que o
pecado não seja imputado quando não haja Lei, o fato
da morte universal, desde Adão a Moises, indica que
os homens eram culpados do pecado (vv. 13 e 14).

Paulo reconheceu o fato de que, embora um


indivíduo cometa um determinado erro, ele não serã
responsãvel por esse erro se não houver regra ou lei
para mostrar que o ato é errôneo. Visto que Deus e
justo, ele não condenaria os homens por pecado se e-
les não tivessem lei para capacitã-los a saber que e-
les estavam pecando. O versículo 14 argumenta que o
fato de os homens terem sido condenados ã morte reve-
la que eles são culpados de pecado, mesmo ainda que
o corpo terrestre e o reino da operaçio do
pecado. 'Quando o corpo estã sob o controle do pecado
e em oposição ã vontade de Deus, o homem e descri-
to como estando na carne ou sendo carnal.

O pecado tambem se refere a atos errôneos.


Estã transgredindo os mandamentos específicos de
Deus (Rom. 5:14). Paulo tinha jã mostrado que os gen-
tios eram culpados de cometerem pecados (ações errô-
neas), tanto quanto os judeus que ensinavam a Lei,
porem não a guardavam.

Com referência. a Gênesis 3, Paulo assinalou


que o pecado trouxe a morte, e o pecado universal
trouxe a morte universal. O poder de ação do pecado
entrou no mundo atraves de Adão quando ele cometeu o
ato específico de transgredir o mandamento especial
de Deus (v.12). O poder de ação do pecado tem trazi-
do morte a todos os homens, porque ele tem feito ca-
da homem cometer atos específicos de pecado.
Romanos 5:12-14 tem sido erroneamente inter-
pretado, com o fim de ensinar que o pecado e herdado.
A_Igreja Catõ1ica ensina que o pecado original de A-
dao foi transmitido a seus descendentes; portanto, to-
da criança jã estã condenada, ao nascer, por causa do
pecado de Adão. Recorre-se a Romanos 5:12-14 para
sustentar esta doutrina.

Paulo ligou o reino universal de pecado e


morte com a transgressão de Adão. Ele, todavia decla-
rou que todas os homens são condenados ã morte por
causa da culpa herdada do pecado de Adão. Deus tinha
instruido Adão que, se ele transgredisse o mandamen-
to, certamente morreria (Gên. 2:17). Paulo assinalou,
portanto, que a morte veio através do pecado (Rom. 5:
12). A morte espalhou-se a todos os homens não por-
que todos herdaram a culpa do pecado de Adão, mas
" ... porque todos pecaram" (v.12). A razão por que to-
dos têm pecado e chegado ã condenação da morte é o po-
der do pecado que entrou no mundo através do pecado
de Adão. O argumento de Paulo, no versiculo 12, era
que o fato de todo homem morrer revela que todo homem
tem pecado.
O raciocínio de Paulo nos versículos 13 e
14 não é fãcil de se seguir. Seu proeõsito era mos-
trar que os homens foram condenados a morte por cau-
sa do pecado antes da Lei recebida atraves de Moises.
Muitos séculos separaram o tempo de Adão e sua trans-
gressão de um mandamento especifico e o tempo de Moi-
sés, que recebeu os Dez Mandamentos. Paulo provou ser
evidente que o pecado estava no mundo antes da doação
da Lei a Moisés (v.13). Sua lógica para concluir que
o pecado estava no mundo e que o castigo do pecado,
a morte, passou a todos os homens. Mesmo ainda que o
pecado não seja imputado quando não haja Lei, o fato
da morte universal, desde Adão a Moises, indica que
os homens eram culpados do pecado (vv. 13 e 14).

Paulo reconheceu o fato de que, embora um


indivíduo cometa um determinado erro, ele não serã
responsãvel por esse erro se não houver regra ou lei
para mostrar que o ato é errôneo. Visto que Deus é
justo, ele não condenaria os homens por pecado se e-
les não tivessem lei para capacitã-los a saber que e-
les estavam pecando. O versiculo 14 argumenta que o
fato de os homens terem sido condenados ã morte reve-
la que eles são culpados de pecado, mesmo ainda que
seu pecado não seja transgressão de um mandamento es-

aecifico, como e
ada a Moises, foiaparte
o de Adão. Antes queespecial
do mandamento a Le, fosse
recebi-
do por Adão, os homens conheciam o certo e o errado a-
traves da natureza e da consciência. Eles tinham uma
especie de lei que os capacitava a conhecer o certo e
o errado, mesmo ainda que não fosse um mandamento es-
pecialmente dado, como o recebido por Adão: "No entan-
to, a morte reinou desde Adão ate Moisés, mesmo sobre
aqueles que não pecaram ã semelhança da transgressão
de Adão" (v.14). Abraão viveu numa terra de idolatria.
Paulo tinha jã declarado, no capitulo 1, que os ho-
mens Eoderiam conhecer o Deus invisivel através da
criaçao, mas eles preferiram ignorar a Deus e mudar
"a glória do Deus incorruptível em semelhança da ima-
gem de homem corruptível" (1:20-23). "Eles, embora não
tendo lei, para si mesmos são lei" (2:14).

O propósito de Paulo em 5:12-14 não foi mani-


festar sua doutrina de pecado. Ele tinha jã declarado
essã doutrina nos três primeiros capítulos. Seu propó-
sito foi o de manifestar Adão como um tipo, em con-
fronto com Cristo como um tipo. O interesse de Paulo,
em Romanos 5:12-14, estava em mostrar que através de
um Homem, o dom da graça de Deus entrou no mundo, pe-
lo qual todo homem, tanto o judeu como o gentio, pode
ser redimi do.

A compreensão de Paulo a respeito da morte


como um resultado do pecado não deve ser limitada ã
morte espiritual. A morte física e a morte espiritu-
al não estão estritamente separadas; todavia, alguma
distinção é feita. A morte espiritual ê uma separação
entre a pessoa e Deus, e a morte física é uma separa-
ção do espírito e o corpo. As duas se relacionam em
que ambas, a morte física e a espiritual, são resulta-
dos do pecado e da separação de Deus. Paulo falou de
ambas, daque 1es de que, e 1e di z: "es tando vós mortos
nos vossos delitos e pecados" (Ef. 2:1), e da morte
passando a todos os homens, porque todos pecaram (Rom.
5:12). A redenção de Deus em Cristo inverte a direção
estabelecida por Adão: (1) Através de Adão, o homem
transgredi u. Em Cristo os homens são perdoados. ('~)
Através de Adão, o homem foi condenado ã morte. Em
Cristo os homens são vivificados mediante a regenera-
ção e a ressurrei ção.

A Grandeza do Dom de Deus (5:15-19)

Dale Moody assinala que Adão tem a seu cre-


dito o pecado (transgressão, violação, desobediência),
a condenação e a morte; enquanto os dons de Cristo
são descritos em termos de abundância, justificação e
vida.' Adão colocou-se ã frente da velha raca e foi a
fonte de sua característica primãria - o pecado que
causou a morte. Cristo e o cabeça da nova era e a fon-
tê de sua característica primãria - o dom da graça de
Deus. Através de um ato de desobediência, Adão intro-
duziu o pecado e a condenação a todos na velha era. O
dom gratuito através de Cristo não é como a transgres-
são através de Adão, porem deve ser confrontado com e-
la (v.15). Em confronto a uma transgressão que trou-
xe destruição a muitos, a graça de Deus e o dom pela
graça através de um Homem, Jesus Cristo, superabundou
para muitos (v.15). Aparentemente, "muitos" significa
todos os homens.

1 bale Moody, Romans, p. 196.

84
Em seguida, Paulo confrontou a condenação
como um resultado do ato de Adão, e a justiflca ao
como um resultado do ato justo de Deus em rlsto v.
16). A condenação veio por causa de uma transgressão,
mas um dom gratuito de Deus e adequado para cobrir
muitas ofensas ate a justifica~ão. O dom gratuito de
Deus e adeguado para superar nao somente a unica
transgressao de Adão, mas as muitas transgressões da-
queles que repetem o pecado de Adão. Os condenados
são absolvidos atraves do justo ato em Cristo. Um
terceiro confronto estã entre a morte e a vida (v.17).
A morte reinou na era de Adão como um resultado de
sua-õTensa, mas a vida reina na nova era de justiça
através de Jesus Cristo.
No versiculo 18, Paulo colheu o pensamento
da sentença inacabada do versicu10 12. O contraste
estã entre a morte e a condenação de todos como um
resultado do pecado de um homem, e a absolvição de
todos da morte para a vida, por causa do ato de jus-
tiça de um Homem (v.18). O versicu10 19 repete a de-
claração paralela ã desobediencia de um homem, resul-
tando em muitos sendo feitos pecadores e a obediencia
de um outro homem, Jesus, resultando em muitos sendo
feitos justos. O pecado como transgressão da Lei exis-
tiu antes da Lei de Moisés, mas, quando a Lei de Moi-
ses foi dada, as transgressões aumentaram (v.20). Mas
onde o pecado como transgressão aumentou, a graça foi
muito maior do que a Lei -e abundou, suficientemente,
para perdoar mesmo o pecado de maior amplitude (v.20).
Conclusão

Romanos 5:21

Paulo resumiu os argumentos prévios na de-


claração: "para que, assim como o pecado veio a rei-
nar na morte, assim também viesse a reinar a graça
pela justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo
nosso Senhor." Se o dominio do pecado, que traz a
morte, era poderoso sobre a raça de Adão, o dominio
da graça, que traz a vida, sera muito maior para a-
queles que pertencem a Cristo. A estirpe de Adão e
caracterizada pelo pecado e morte; a descendência de
Cristo e caracterizada pela justiça e vida eterna. A
Lei e designada para a era de Adão; portanto, re-
sulta em condenação e morte mais do que em justiça e
vida eterna. A nova vida e obtida pela justiça, atra-
ves da f~, e não por justiça auto-obtida atraves das
obras da Lei.
Introdução

Paulo mostra que a aceitação por Deus não po-


de ser efetuada através de uma vida de cerimonialismo
e legalismo. Ele enfatiza a insuficiência dos feitos
e do esforço do homem, e a suficiência do dom de Deus
pela graça: Visto que a graça significa que o dom é
imerecido e não adquirlvel, qual é a relação dos es-
forços morais humanos para a salvação? O homem pode
ser passivo e depender completamente da graça de Deus
sem esforços humanos? Pode o homem ser negativo e in-
dulgente no pecado, e ainda esperar a graça de Deus a-
bundar? A Lei dã orientação ao homem no cumprimento
moral. Hã, na doutrina de Paulo, quanto a salvação pe-
la graça, lugar para esforços humanos? Os católicos
respondem que a salvação requer uma combinação de mé-
rito humano e graça divina. Os calvinistas crêem que
a salvação é totalmente pela graça; contudo, hã um lu-
gar para boas obras no cristianismo, porém elas não
propiciam a salvação.

A Justiça como uma Dãdiva Não Estimula o Pecado

Romanos 6:1-11

O Significado do Batismo (6:1-7)

Paulo antecipou a objeção para sua declara-


çao em 5:20 de que, onde o pecado tem abundado, o
dom da graça tem superabundado, para superã-lo. O ma-
is leve mal-entendido de sua doutrina poderia condu-
zir ã posição de que, se a graça de Deus assim abun-
dou sobre o pecado, por que não continuar pecando, de
modo a dar ã Sua graça a oportunidade de abundar so-
bre tudo o mais? Esta conclusão é mais comum do que
com freqUência se percebe. As denominações, que conti-
nuam a requerer o mêrito e realização humanos para a
salvação, baseiam seus argumentos nessa linha de ra-
cioclnio. Rasputim, o monge russo, ensinou e exempli-
ficou a doutrina da salvação através de repetidas ex-
periências de pecado e arrependimento. Ele disse que a-
queles que pecam mais reauerem mais perdão.
Um pecador que continua a pecar com abandonamento go-
za, cada vez que se arrepende, mais da generosa graça
de Deus do que qualquer pecador comum. 1

O conceito de que um salvo pode fazer moral-


mente o que ele gosta é heresia. Esta doutrina perver-
tida e conhecida como antinomianismo. Algumas vezes,
ela é racionalizada em argumentos expllcitos que jus-
tificam ações imorais. Em outras ocasiões, os cris-
tãos falam de Cristo na maneira mais gloriosa e na
justiça, mas indulgem na imoralidade. Porque o pro-
blema e tão prevalecente, muitas almas conscienciosas
procuram uma solução. Parece superficialmente que in-
culcar leis estritas resolveria o problema. Infeliz-
mente, as leis podem ser pervertidas e mal-interpre-
tadas. Muitas vezes, aqueles que mais falam numa pu-
reza legal de vida são falazes e evasivos em suas vi-
das pessoais.

Paulo tinha outra solução para o problema.


As observâncias legais farisaicas não tinham conduzi-
do ã ausência de pecado. A justificação pela fe não e
o esquecimento da moralidade cristã prãtica, mas na
verdade, é o prâprio fundamento para ela. Paulo apre-
sentou a justificação pela fê, porem ele não explicou,
para nosso beneflcio, tudo que a fe abrange .

.IJ. fê é melhor definida como o voltar para


Cristo em rendição confiante. Através da fé, o peca-
dor submete o controle de sua vida a seu Senhor. O
pecado é o resultado da tentativa do homem para con-
trolar sua prõpria vida, mas, na realidade, estã sen-
do governado pelo poder do pecado. Um indivlduo deve
renunciar a vida sob o controle do pecado e receber a
Cristo, que controlarã sua vida. O renunciar a velha
vida de pecado é descrito como uma morte para o peca-
do (v.Z). Se uma pessoa renunciou o pecado e morreu
para ele, como pode sua vida continuar a ser controla-
da pelo pecado? (v.Z). Sua morte para o pecado e ilus-
trada pelo batismo, que é o sepultamento numa cova de
ãgua (v.3).
O batismo é descrito como uma imersão em
Cristo, visto que a experiência da fé traz o indivl-
duo ã união com seu Senhor (v.3). A justificação pela
fê é mais do que ser declarado justo; ela envolve o
tornar-se justo. O homem torna-se justo, sendo puri-
ficado de seu pecado através do perdão e por uma u-
nião espiritual com Cristo. A imersão em ãgua descre-
ve diversas verdades relativas ã experiência da sal-
vação. Sabendo-se que a ãgua é o agente purificador,
o batismo por imersão comunica o conceito de purifi-
cocão. A ãgua lavarã a imundlcie da nele, mas não a
do coraçao. O sangue derramado por Cristo, aplicado
ao coração do homem pelo arrependimento e fe, limpa
o coraçao, e o batismo expressa a experiência.

A imersão em ãgua também descreve o sepulta-


mento numa cova de ãgua (v.4). Não somente a confis-
sao e o perdão são requeridos na experiência da con-
versao, mas o renunciar ou o morrer para a vida de pe-

F.F. Bruce, TheEpistle of Paul to the Romans, Vol.


6 de The Tyndale New Testament Commentaries (Lon-
don: The Tynda1e Press, 1963), p. 134.

90
cado é necessãrio também (cf. v.2). O batismo ilustra
o sepultamento da velha vida que era controlada pelo
1 pecado (v. 4) .
O batismo retrata também uma identidade e u-
nidade com Cristo (v.5); Cristo morreu pelos pecados;
o crente morre para o pecado. Cristo foi ressuscitado
dentre os mortos e libertado da cova, para viver uma
nova especie de vida. O crente é erguido da cova de
âgua do batismo para andar em uniio com Cristo na no-
va vida. A expressão de ser batizado em Jesus Cristo
(v.3) expressa uma união com Cristo, em que o Senhor
ressurrecto e vivo habita dentro do coração do crente.
Aqueles que estio " ... unidos a ele na semelhança de
sua morte ... ", estão tambem unidos com Ele na seme-
lhança de sua vida ressurrecta (v.5). Cristo foi le-
vantado dentre os mortos pela glória do Pai; ao cren-
te é dada a nova vida pelo poder do Espírito de Deus.
Por causa do novo poder habitando dentro do coração,
o crente pode viver ou andar segundo um novo modelo
de vi da (v. 4) .

A justificação pela fe envolve mais do que


uma transação legal objetiva por Deus. Subjetivamente,
requer uma renuncia da velha vida, em que o homem era
controlado pelo poder do pecado (v.6). Tambem signifi-
ca um encontro pessoal e união com o Cristo ressurrec-
to. A vida torna-se nova em sua caminhada, porque o
homem não depende mais de sua própria força e feitos,
porem e controlado e nutrido pelo Espírito. Paulo a-
presentou este aspecto de redenção mais completamente
no capítulo 8.

No versículo 6, Paulo especificamente decla-


rou que o velho homem, ou o "eu", que controlava a vi-
da foi .posto ã morte com Cristo; portanto, o velho eu
não estava mais vivo para controlar a vida do crente.
O pecado, como um poder personalizado, tinha uma esfe-
ra de ação no velho eu. Depois que o velho homem foi
banido ou feito impotente, por não lhe ser mais permi-
tido controlar a vida da pessoa, o crente não e mais
escravizado ao princípio ou poder do pecado (v.6).

Enquanto uma pessoa tentar viver pela Lei, e-


la serã derrotada, porque seu orgulho pessoal e egoís-
mo são os fatores controladores de sua vida. O orgu-
lho faz a pessoa jactar-se das poucas coisas boas que
ela fez na vida e negar a multidão de coisas ruins
das quais e culpada. Recusa-se a admitir fracassos e
a necessidade de dependência de Deus. A humildade de-
ve substituir o orgulho antes que a conversio seja
possíve). Reconhecer e renunciar a velha vida de orgu-
lho e auto-interesse e morrer para seu controle e o
unico caminho para ser livre do pecado (v.7). E o or-
gulho da pessoa que a faz depender de sua habilidade
para representar perfeitamente as obras da Lei.

E tambem o orgulho e o auto-interesse que fa-


zem a pessoa ceder a seus desejos de buscar uma vida
abundante. A pessoa deve abandonar esta velha maneira
de pensar e viver, antes que ela volte para a graça
de Deus a fim de que este o ajude. Ela deve tanto re-
nunciar a si mesma como incapaz e mã quanto confiar
a si mesma ã misericórdia de Deus pela fe. Somente
por rendição a Deus alguem pode tornar-se livre do pe-
cado.
o Exemplo de Cristo (6:8-11)

Em contradição a muitos, que crêem que a mo-


ralidade auto-efetuada é o caminho para uma vida re-
ligiosa, Paulo mostrou uma visão muito diferente e
freqUentemente mal-entendida. Crê-se, muitas vezes,
que a Lei prepara para a graça e conduz a ela, porque
somente aquele que tenta cumprir os mandamentos da
Lei pode contar em receber a graça e o favor de Deus.
Esta atitude leva ao esforço para obter sucesso. Pau-
lo falou do posto: auto-abandono e renuncia, que é
descrita como morte (v.S). O homem criado por Deus
não pode ser bem sucedido espiritualmente através de
poder humano. Ele deve pedir ao seu Criador o poder
necessario para viver a nova vida. Seu maior empeci-
lho é sua recusa de morrer para o "eu" com Cristo, a
fim de ser capaz de viver com ele através do poder de
Deus (v. 8).

Embora Cristo fosse posto ã morte, ele nao


permaneceu na morte, porque o poder de Deus o levan-
tou dentre os mortos, para não morrer mais (v.9). Mo-
ody explica este verslculopara dizer que a morte de
Cristo O tirou do velho domlnio do pecado e morte, e
que a sua ressurreição O trouxe ao novo domlnio da vi-
da. Antes de sua ressurreição, a morte podia "tornar-
se senhora sobre ele", mas agora ele e o Senhor da vi-
da.l Enquanto Cristo vi.via na velha era, controlada
pelo pecado e morte, ele estava sujeito ã morte flsi-
ca juntamente com a raça humana, com a qual ele foi
identificado. Esta condição existiu apesar de ele não
ter cometido pecado. Cristo tinha entrado na velha e-
ra para identificar-se com o homem e salva-lo. Depois
que ele morreu para o pecado e foi levantado dentre
os mortos, tornou-se o primeiro da nova era em que a
morte não e o senhor. Atraves de sua morte e ressur-
reição, Cristo tornou-se a cabeça de uma nova humani-
dade. A fim de enfatizar a participação e união de
seu povo com ele, Cristo ê descrito como a cabeça, e
os redimidos, como seu corpo.

A luz da nova vida, que se tornou eficaz a-


traves da morte e ressurreição de Cristo, o crente e
chamado a considerar ou avaliar que esta morto para o
pecado, porem vivo para com Deus em Cristo Jesus (v.
11). A palav.ra "considerar" ou "avaliar" é a mesma u-
sada em conexão com a fê de Abraão (4:3). Pela fe, o
crente aceita-se como morto para o pecado e vivo para
com Deus. Ser morto para o pecado significa que sua
vida não e mais que uma vida sob o domlnio de Deus no
novo Reino.

A Vontade Humana e a Graça

Romanos 6: 12-23

Em~ora o homem nao tenha o poder de guardar


a Lei, e C' d aceitar a justiça pela fe, ele tem a li-
berdade d .scolher seu caminho de vida. A fé inclui
a atitud J homem que seleciona o objeto com que e-
le compt :e sua vida. Deus não força o homem a ser

Dale MGody, Romans, p. 200

92
justificado pela fé, mas ele o convida a receber a
dádiva de justiça pela fé. O homem pode rejeitar a
dádiva de Deus e preferir continuar na velha era sob
o reino do pecado. O pecado como um poder de ação o-
pera no corpo mortal do homem (v.12). Mesmo ainda
que o corpo esteja sujeito ã velha era, ele sera res-
suscitado ã vida por Cristo na nova era. O corpo tem
paixões fortes, e se ao pecado é permitido controlar
o corpo, seus desejos serão entregues ao pecado e er-
ros serão cometidos.

Embora um indivlduo não tenha o poder para


viver perfeitamente segundo a Lei, por causa do peca-
do, ele é capaz de escolher o controlador de sua vi-
da. Ele pode ceder ~s membros de seu corpo ao poder
do pecado, que os usara como instrumentos para come-
ter injustiça, ou ele pode apresentar os membros de
seu corpo a Deus (v.13). Se uma pessoa reserva suas
habilidades e seu corpo flsico para si mesma, o peca-
do assumira o controle e guiara a ações de injustiça.
Se apresenta suas habilidades e o seu corpo a Deus,
ela sera guiada em atitudes e ações justas.

O pecado pode tomar posse do homem ou con-


trola-lo, quando ele tentar guardar a Lei com sua
propria força (v.14). Quando uma pessoa esta sob a
graça, o pecado não pode controla-la. Pela fé, o ho-
mem recebe a dadi va da graça de Deus, is to é, a dadi-
va do perdão dos pecados através da morte de Cristo,
e a dadiva do Esplrito, que é o Senhor ressurrecto e
vivo. O Esplrito assume o controle de sua vida e da
orientação, produz desejos justos e força para fazer
a vontade de Deus e viver justamente. A pessoa que
realiza justiça pela graça de Deus, através da fé,
não vivera em pecado (v.15). A vida da pessoa sob a
graça não é auto-controlada nem controlada pelo peca-
do, mas controlada por Cristo. A vida da pessoa que
tenta realizar justiça pela Lei, é auto-controlada e
torna-se controlada pelo pecado; portanto, ele falha
em apresentar o que a Lei ordena.

No verslculo 16, Paulo falou de o homem sob


a graça ser semelhante a um escravo que estã compro-
metidopara a obediência.Emboranão tenha ele defini-
do a fé, explicitamente, como submissão ao Senhor, e-
le o da a entender neste verslculo. Aparentemente,
Paulo não observou o homem como tendo liberdade fun-
damental. Como uma criatura, o homem ou é submisso
ao seu Criador ou ao poder maligno do pecado, que in-
vade sua vida. O domlnio do pecado é mais poderoso
do que o do homem. Assim, ele se torna um escravo do
poder do pecado, que o recompensa com a morte, ou e-
le voluntariamente submete-se como um servo ao Se-
nhor, o que resulta em justiça (v.16). Ser submetido
pela fé em Cristo resulta em obediência para justiça.

O homem sempre tem um senhor. Ele tem a es-


colha de ser um escravo do pecado, um servo de Deus,
ou de liberdade individual. Jesus disse que todo a-
quele que comete pecado é escravo do pecado (João 8:
34). Tambem Jesus deu a entender que o homem tem um
senhor: "Ninguém pode servir a dois senhores" (Hat.
6:24). O homem contemporâneo que reivindica liberda-
de para si é desiludido e vive uma vida enganosa no
pecado. Declarar a independência de alguém da autori-
dade e mandamentos de Deus não traz liberdade, mas
"scravidão.
A nova vida pela fe requer obediência do co-
ração a um padrão de ensino, a uma crença ou a uma
regra de conduta (v.17). A regra de conduta não se
torna uma Lei que o crente tenta realizar com sua pró-
pria força, e, sim, um guia, que e seguido no poder
do Esplrito Santo. Quando aqueles escravizados no pe-
cado são libertos de seu cativeiro atraves da reden-
ção, eles se submetem, como servos, ã justiça (v.18).
Paulo admitiu que o padrão de justiça foi necessãrio
por causa da fraqueza da carne deles (v.19). "A liber-
tação do pecado não deixa alguem a seus próprios ca-
prichRs e pa~x?es; ela o ind~z a um~ nova obediên-
cia".L Um COdlg0 de conduta nao exclul o coraçao.
Tal código pode somente ser realizado atravês da fê,
pela qual o Cristo que habita em nossos corações ori-
enta o cristão a viver de acordo com as êticas compa-
tlveis com a vida do Reino.
Muitos cristãos fracassam em viver de acor-
do com a etica cristã, porque eles dependem da velha
vida, que estã sujeita ao controle do pecado. Quando
o cristão segue um novo padrão de ética pela fé, ele
recebe a graça divina e a força para viver por esse
padrão. A impureza e a ilegalidade resultam da fraque-
za da carne humana, mas a santificação é o resultado
de viver a nova vida no poder de Deus (v.19). Santifi-
cação é o processo em direção ã perfeição, que elimi-
na-os pecados tanto da carne humana como do esplrito
humano. E o processo de ser separado do mundo para o
serviço de Deus.
Paulo continuou a analogia dos escravos, i-
lustrando a vida da fê. Antes de receberem a nova vi-
da mediante a fe, os romanos eram escravos do poder
do pecado, pois eles não estavam sob o controle do po-
der de Deus. Ate que a justiça, oferecida por Cristo,
foi recebida, eles não estavam no novo domlnio do Rei-
no de Deus; portanto, eles não estavam sob Sua regra
(v.20). Uma vez libertos da velha era ou velho doml-
nio, eles foram trazidos para o novo domínio ou nova
era, sob o poder da justiça de Deus. Depois de experi-
mentarem as bênçãos da nova era, os romanos tinham-se
tornado cientes de que as realizações e empreendimen-
tos nos quais se tinham previamente empenhado não e-
ram de nenhum beneflcio para eles (v.21). Aquilo que
era procurado na velha vida conduzia ã morte. Os pra-
zeres do pecado e as atividades de auto-interesse,
fundamentalmente, não beneficiam a pessoa, mas a des-
troem. As atividades e metas da nova vida sob o Espl-
rito de Deus resultam no fruto de santidade, e a vida
eterna e o resultado final (v.22).
Paulo deu um sumário que é familiar a muitas
oessoas no versTculo27. A velilJ vida de falsa liber-
dade e pecado paga o salário da morte. O homem que
peca merece e ganha o salãrio do pecado, em contraste
com o dom gratuito de vida eterna, que vem como um re-
sultado de fé em Deus. O pecado e um pagador de morte;
Deus e doador da vida eterna (v.23). O dom gratuito
da vida eterna resulta da participação em Cristo nos-
so Senhor.

2 Dale Moody, Romans, p. 202.

94
~
.. Romanós 7:1-6

A principio. parece estranho que Paulo argu-


mentasse que o cristão obtem a libertação da Lei. vis-
to que ela é uma expressão da vontade de Deus. Três
fatores devem ser lembrados. para se compreender a a-
titude de.Paulo para com a Lei:
1. Para os fariseus. a Lei era mais do que
simples mandamentos. Ela tinha-se tornado
um sistema legalista e incômodo para se a-
proximar de Deus.
2. Aqueles que reivindicavam o guardar a Lei.
realmente não a guardavam. mas. em sua au-
to-justiça. se tornavam severos criticos
dos outros. especialmente dos gentios.
3. A Lei foi manifestada como um meio de sal-
vação. Era reivindicada para ser o cami-
nho a estabelecer justiça e ganhar aceita-
ção por Deus.

Paulo usou a analogia de morte para ilustrar


a anulação da Lei para o cristão. Ele introduziu a a-
nalogia com a questão: "Ou ignorais. irmãos (pois fa-
lo aos que conhecem a Lei). que a lei tem prejuizo so-
bre o homem por todo o tempo que ele viver?" (v.l).
Paulo empregou o termo carinhoso "irmãos" e fez refe-
rência a uma Lei de Moises que eles deviam conhecer.
Os Rabis ensinavam que a morte dã fim às obrigações
legais. De acordo com a interpretação deles. da Lei.
uma mulher divorciada que se casasse novamemte en-
quanto. seu primeiro marido estivesse vivo cometeria
adulterio. Se. porem seu primeiro marido houvesse mor-
rido, ela estaria livre para se casar novamente sem
ser culpada de adulterio. A morte seria o meio pelo
qual ela obteria a libertação da Lei. A menos que seu
marido morresse, ela seria obrigada, pela Lei, a ser
fie 1 a e 1e.

O objetivo de Paulo era que, pela morte, uma


pessoa obtem a libertação da jurisdição da Lei. Com
relação aos cristãos, a morte com Cristo cuncede a li-
bertação da Lei (v.4). Ap 1icou-se a ana 1ogia por cau-
sa do conceito de duas eras de Paulo: a velha era.
com a qual a Lei estava relacionada e a nova era da
vida em Cristo. A pessoa deve morrer a fim de ser li-
bertada da antiga era da Lei e do pecado. Ela e levan-
tada dentre os mortos com Cristo, para participar da
nova humanidade da nova era. A Lei permanece tendo do-
mínio sobre aqueles da antiga era, mas aqueles que
morreram e ressuscitaram com Cristo foram removidos
( do domínio da Lei, do pecado, da morte e da ira de

í Deus para o Reino do dominio da nova humanidade em


Cristo. O novo reino e caracterizado. pela graça, pela
( vida, pelo Espírito de Deus e pela união com Cristo.
A antiga era é caracterizada pela carne, pelas pai-
xões pacaminosas, pela Lei e pela morte (v.5).
Paulo fazia ideia de um poder maligno, o pe-
cado, trabalhando dentro do corpo e da mente do ho-
mem, para influenciã-lo a fazer o mal. A influência
e tão forte que o homem, realmente, é controlado por
ela. Este poder controlador do pecado o influencia pa-
ra atividades que são condenadas pela Lei. e, desse
modo, produz o fruto da morte (v.5).
V-"'-"::'"~';'Navelha vida';'opecadoestã intimalllénte li-
, gado ã lei. embora a lei não seja pecaminosq.ehJ ,si
prôpri q. O poder de ação do pecado usa a Lei tanto
quanto 'O corpo e instintos do homem. que são normal-
mente bons. Por causa do poder do pecado. o homem a-
cha a lei repressiva e condenatória, ao invés de doa-
dora de vida. E necessãrio que ele morra para,a ve-
lha vida, a fim de se descartar de sua derrotá pelo
pecado, ã medida que ele tentar obter justiça atra-
ves de guardar a lei (v.6). Depois que ele morre pa-
ra o velho caminho da vida (um renunciar, como fute-
is, seus esforços para fazer justiça), ele é ressus-
citado para um novo mundo ou domínio do Espírito. A-
quilo que ele não pode fazer através de seus prâpri-
os esforços, torna-se possível na nova vida através
do Espírito de Deus.

Por que a Lei Fracassa

Romanos 7:7-23

Embora o pecado use a Lei no velho domínio,


a própria Lei não é pecaminosa nem errada. Ela ex-
pressa a vontade de Deus; portanto, expressa o que é
certo e o que é errado, ou o que é justo e o que é
pecaminoso. A Lei claramente declara que o cobiçar,
segundo a Lei no reino do espírito, é errôneo (v.7).
Uma pessoa poderia cobiçar sem saber que a cobiça é
um erro, se ele não tivesse a Lei. Depois que ela e
instruída pela Lei de que a cobiça constitui um erro,
o cobiçar torna-se mais do que pecado. Torna-se
transgressão da Lei, que significa que a culpa e a
responsabilidade são acrescentadas ao pecado do ho-
mem. O conhecimento da Lei adiciona culpa ao pecado;
portanto, o homem é justamente condenado pela Lei
quando ele a transgride. O cobiçar ê pecaminoso mes-
mo ainda que o homem não saiba que é errado. O man-
,damento que lhe diz que é errado torna-se a base pa-
;ra a condenação ã morte (v.9).
No verslculo 8, Paulo falou do pecado como
um poder maligno que deseja destruir o homem. O peca-
do não pode causar a condenação ã morte, enquanto e-
le não perceber que estã fazendo injustiça: "porquan-
to onde não hã Lei estã morto o pecado" (v.S). O pe-
cado exerce a sua maior eficãcia quando os mandamen-
tos, proi bi ndo ações, tornam-se conheci dos: "mas, as':
sim que veio o mandamento, reviveu o pecado, e eu
morri" (v.9). O conhecimento do mandamento adiciona
culpa e responsabilidade, e deixa o homem inexcusã-
velo O mandamento faz com que o homem pecador mereça
justamente a condenação ã morte.
A Lei nao cria a natureza carnal do homem
ou paixões pecaminosas, mas a velha natureza pecami-
nosa toma nova energia quando confrontada pela Lei.
Desde Adão, o homem herdou inclinações pecaminosas.
Ele tem fortes desejos para fazer aquilo que ê proi-
bido pelos mandamentos de Deus. Seus instintos têm
bons propósitos e são necessãrios para a perpetuação
do plano de Deus para a sua criação. Todavia, os ins-
tintos e paixões carnais podem ser abusados e mal u-
sados. A Lei dã informação ao homem com referência
ao uso certo de suas paixões corpôreas. Nenhum pro-
blema de pecado surge enquanto o homem expressa seus
instintos e paixões naturais dentro da esfera de a-
96
ção da Lei. O problema de tentação e pecado surge,
porque o pecado, como um governante poderoso, invade
o corpo e a vida do homem para estimular a expressão
de paixões alem de seus propósitos normais.

Aparentemente, Paulo tinha a teologia de Gê-


nesis 3 como um segundo plano para suas observações
sobre o pecado, como um poder ou dominador que tenta
o homem. A serpente apareceu como o tentador de Eva,
para influenciã-la a desobedecer o mandamento especi-
al de Deus. O pecado e um poder maligno que trabalha
contra a Lei e influencia o homem a desobedecê-la.
Quanto mais o homem sabe a respeito da Lei, mais dis-
simulado, astuto e poderoso se torna o desejo suscita-
do pelo pecado para fazer aquilo que ê proibido pela
Lei. Paulo estava tentando explicar a razão por que o
homem racionaliza seus feitos, aquilo que ele deseja,
mesmo ainda que a Lei do V.T. o proíba. Embora a pes-
soa saiba que o roubo, a mentira e a fornicação sejam
errados, ela raciocina com sua consciência: "Outras
pessoas o estão fazendo"; e, "Farã pouca diferença se
eu mentir, roubar, ou cometer adulterio apenas esta
vez: "

Os mandamentos ensinam ao homem o que e cer-


to e o que resultarã em vida (v.10). Os desejos e sen-
timentos do homem são fatores mais fortes em controlã-
10 do qu~ seu conhecimento e raciocínio. O conhecimen-
to de um mandamento não o preserva de infrigi-lo, por-
que suas paixões fortes o controlam. Paulo assinalou
que os desejos, intensificados pelo poder do pecado,
enganam o homem com respeito ao mandamento, e atraves
dele efetua sua morte (vv. 10 e 11). Atraves da ra-
cionalização, o homem se engana, justificando seus de-
sejos de quebrar os mandamentos. Paulo atribui a er-
rônea perversão dos desejos, raciocínio e ações ao po-
der do pecado.

A Lei em si mesma não e mã ou pecaminosa (v.


E). "E o mandamento e santo, justo e bom" (v.12). Pa-
r'ece ilôgico que aquilo que e bom possa ser usadopara
perverter, derrotar e condenar ã morte (v.13). O pró-
prio mandamento não engana ou tenta destruir o homem;
ele aponta para a vida. Antes e o princípio do pecado
agindo dentro do homem que usa o mandamento para efe-
tuar a sua morte (v.13). O poder do pecado como a ser-
pente sutil e enganosa, usa o bem para efetuar seus
próprios fins - escravidão e morte. O pecado se apre-
senta no fim como mortífero e destruidor (v.13). Deus
permitiu a Adão e Eva comer do fruto de cada ãrvore
do Jardim, exceto de uma. A serpente, astutamente, su-
geriu que, visto que Deus tinha permitido ao homem co-
n"2r do fruto das ãrvores. certamente haver"ia Douro
mal em comer do fruto de' todas as ãrvores. Usar aqui-
10 que Deus deu dentro de seu plano e benefico e de-
leitãvel, mas não consiste somente em comer: Alem das
necessidades físicas do homem, e Deus quem dã os man-
damentos às suas criaturas. A vida não pode existir em
abundância separadamente de se reconhecer as ordens
de Deus tanto quanto as necessidades do corpo físico.
O pecado, constantemente, tenta influenciar o homem
para ignorar as ordens de Deus e para tentar satisfa-
zer à vida com aquilo que estã no âmbito daquilo que
foi cri ado.
A Lei indi ca o reino espi ritual. que\ e vital
ã existência e ao significado do homem. mas o princi-
pio do pecado influencia o homem a buscar satisfação
no reino daquilo que foi criado (v.14). Por causa de
sua natureza carnal (seus instintos e desejos natura-
is sob o controle do poder do pecado). o homem torna-
se um escravo de suas próprias paixões (v.14). Estas
não são limitadas aos instintos ou paixões do corpo.
Os desejos. procedentes do orgulho. criam metas e am-
bições egoístas. Em realizar estas ambições egoístas.
o homem pisa os direitos e os interesses dos outros.
Ele torna-se tão escravizado às suas próprias ambi-
ç'oes egoístas e preconcei tos de modo que pode até ainda
causar a morte de ovtrem. Esta foi a experiencia de
Paulo com referência a Estêvão. Paulo estava obsecado
pelo seu preconceito contra os gentios e pela sua am-
bição egoísta de ser bem sucedido como fariseu. Apa-
rentemente. ele reconheceu que Estêvão realmente não
tinha blasfemado e não merecia a morte. mas a sua mor-
te foi o resultado do orgulho e preconceito do siné-
drio. Estêvão tinha-lhes contado que eles estavam er-
rados. mas o orgulho deles não lhes permitiu admiti-
10. Paulo parece estar admitindo o estranho caminho
do homem no versículo 15. Ele assinala que o homem sa-
be e tem o desejo de praticar a justiça. porém exis-
tem dentro dele princípios que fazem com que ele não
faça o que ele sabe que é certo. Paulo desejou prati-
car a justiça com respeito a Estêvão, mas ele acabou
fazendo a coisa que ele muito odiava - assassinando-o
(cf. v.15).

Dentro de sua própria mente. Paulo sabia que


o que a lei manda é bom e justo. Ele concordou que a
cobiça e o homicídio são errados. Contudo. ele admi-
tiu a culpa em cometer ambos (cf. Gãl. 1 :13.14; Atos
22:4). O homem interior, o vernadeiro eu, concorda
com a Lei. em que o que ela manda é bom (v.16); por-
tanto. nem o verdadeiro eu nem a Lei devem ser a fon-
te das ações errôneas da pessoa. Visto que o verdadei-
ro eu espiritual deseja fazer justiça, as ações errô-
neas devem ser causadas por outro poder que habita no
homem (v.17). Este outro poder é o pecado, que atua
através da carne do homem (v.18).

O homem espiritual, criado à imagem de Deus.


deseja fazer o bem e guardar a Lei. Adão e Eva foram
tentados para conhecerem o mal pe 1a experi ênci a. Por
meio da desobediência, eles experimentaram o mal e re-
ceberam um apetite para aquilo que é errado - a natu-
reza inferior ou o homem caído. A imagem de Deus ou a
natureza espiritual superior permanece no homem e de-
seja o bem, mas a natureza carnal ou caída também es-
- pr~sente e torna-SE a esfera de operaçao para o
poder do pecado. O homem pecador é desintegrado
e frustrado. O pecado opera através de seus apetites
ou desejos para induzi-lo a conhecer o mal pela ex-
periência, e o pecado faz com que ele faça aquilo que
sua natureza. ã imagem de Deus, abomina (v.19). Então.
não é realmente o homem ã imagem de Deus que deseja o
erro, mas o homem caído, que tem uma natureza carnal
em que o pecado habita (v.20).

Paulo não declarou, explicitamente. que o ho-


mem é composto de duas naturezas: o verdadeiro eu,
que deseja o bem, e o homem carnal. que deseja o mal.
Não obstante, existem, dentro de cada pessoa, os as-
pectos' da natureza, ou esferas, que permi tem ou o
98
"...,~<:,:--;,:;~:<:,~
...,:\

princípio do mal ou o Espírito de Deus operar.\O· con-


~ .ceito de Paulo a respeito do homem era diferente do
nosso,' tomando difícil, para nós, seguir sua linha.. '"
de racipcínio. O homem contemporâneo vê a si mesmo co-
mo independente e completo. Aparentemente, Paulo via
o-homem como uma criatura e, portanto, totalmente de-
pendente d~ poderes superiores. A vida do homem fun-
ciona somente em relação a um poder superior; ele não
estã sozinho nem vive para si mesmo. Para o homem ser
completo e viver de acordo com o plano original, o po-
der de Deus deve operar em sua vida. Visto que o ho-
mem tem liberdade de escolha, há a possibilidade de
que o poder do mal possa operar em sua vida e influen-
ciã-lo a fazer o mal (v.21). O poder do mal tem seu
reino espiritual, no qual existe o homem enquanto e-
le estã separado do poder de Deus. Contudo, permanece
dentro do homem interior o verdadeiro homem espiritu-
al (ã imagem de Deus) que alegremente coopera com a
Lei de Deus Cv.22).
No versículo 23, Paulo parece estar dizendo
que um poder estranho tinha invadido sua vida e luta-
do contra sua natureza verdadeira, "... a lei do meu
entendimento". A "lei do meu entendimento" e o mesmo
que o "homem interior" (v.22), t
o eu superior que
concorda que a Lei de Deus e boa (vv. 12,16,22). Um
diferente princípio guerreador e invasor empreeende u-
ma campanha contra o verdadeiro eu do homem. Como uma
criatura, o homem não tem dentro de si os recursos
para, com êxito, combater o poder invasor maligno.
Aparentemente, o capítulo 7 e a autobiogra-
fia de Paulo. Na estrada para Damasco, ele achou a li-
berdade do peso das tentativas legalistas para ganhar
justiça (vv. 1-6). t
óbvio que os versículos 7-12 re-
ferem-se ao período da inocência de Paulo, antes que
ele aprendesse a diferença entre o certo e o errado.
A doutrina protes tante, em que infantes e crianças
não são condenados ate que eles alcancem uma idade de
responsabilidade, é baseada nestes versículos. Esta i-
dade chega quando eles conhecem o erro, mas delibera-
damente o praticam.
Os estudiosos discordam quanto ao período da
vida de Paulo referido nos verslculos 13-20. Algu~s
crêem que ele estã falando de uma experiência pre-
cristã; outros crêem que ele está descrevendo a vida
depois que ele se tornou um cristão. Provavelmente,
Paulo estava escrevendo as lutas e as tentações con-
frontadas pelos cristãos. A natureza carnal não é er-
radicada na conversão, mas deve ser posta ã morte di-
ariamente. O poder maligno continua a reinar e tenta
obter novamente o controle do cristão eor meio de sua
natureza carnal. Se o homem retornar a sua própria
força para guardar a Lei e obter justiça, ele passa a
ser controlado pelo princlpio do mal e se entrega a
seus desejos pecaminosos. Sua unica esperança, como
cristão, é viver pela fe; isto e, ele deve renunci-
ar a sua própria insuficiência e pecaminosidade, e
crer no Cristo que nele habita para que nutre e con-
trole sua vida.
Alguns cristãos crêem que, uma vez converti-
dos e perdoados, eles estão livres da velha natureza
de pecado, e que se torna fãcil viver a vida cristã.
Eles tendem a voltar a uma dependência de sua própria
força e sabedoria, em vez de ao poder de Cristo que
neles habita. Paulo falou dos cristãos nesta condição
como sendo carnais, em contraste com os homens ~spiri-
tuais (cf. I Cor. 2:15; 3:1-5). A luta com a natureza
mundana ou carnal e o poder do pecado não é limitada
ã experiência pré-cristã. O poder do pecado continua
seus esforços de invadir a vida do cristão a fim de
obter novamente o controle de sua vida.

A Esperança para o Homem Carnal

Romanos 7:24,25

Paulo considerou a vida cristã seriamente e


estava angustiado pelo fato de que ele freqUentemente
era derrotado por sua natureza carnal. Ele desejou
tornar-se um homem perfeito, segundo a imagem de Cris-
to, porém foi honesto o bastante para reconhecer seus
desejos e motivos pecaminosos. Ao examinar sua pró-
pria vida, ele se desesperou e exclamou: "miserâvel
homem que eu sou: quem me livrarâ do corpo desta mor-
te?" (v.24). A declaração expressa o reconhecimento
de sua própria insuficiência e incapacidade para agra-
dar a Deus. Ela revela que, se o homem é deixado en-
tregue a seus próprios recursos e capacidade para pra-
ticar a justiça e guardar a Lei, ele estã sem espe-
rança, porque sua natureza carnal pode ser usada pelo
poder do pecado para produzir obras para morte.

A vida é sem esperança quando ela depende


do poder e feitos do homem em guardar a Lei para ob-
ter justiça. Todavia, a vida não é sem esperança por
causa da graça de Deus em Jesus Cristo. Deus tem provi-
do uma salvação adequada através de Jesus nosso Se-
nhor (v.25). A salvação pela graça inclui não somente
o perdao de pecados, mas também um novo poder, que ha-
bita o homem e orienta sua mente em cumprir a vontade
de Deus, expressa através da Lei. A velha natureza da
carne continua a estar sujeita ao poder do pecado, po-
'rém a vida da pessoa não é mais dominada pela velha
natureza ou velha soberania. O cristão morreu para o
velho homem e ressuscitou com Cristo, para participar
da nova humanidade sob seu reino ou controle. O cris-
tão desesperado pode, verdadeiramente, cantar a do-
xologia quando ele compreende a plenitude da graça de
Deus em Jesus Cristo:
Introdução

Em Gãlatas 4, Paulo argumentou que aqueles


que estão sob a Lei estão realmente em escravidão,
mas aqueles que receberam a promessa pela fé estão
livres. Em Gãlatas, ele usou ilustrações diferentes
daquelas em Romanos, para assinalar a superioridade
da vida pela fé ã vida sob a Lei. Em Romanos 7, ele
chegou ã conclusão de que viver pela Lei é ser escra-
vizado pelo pecado e pelo velho modo de vida. No fim
de Gãlatas 4, ele concluiu que aderir ã antiga Alian-
ça é escolher a escr-avidão e perder a herança de
cristão. Ele continuou seu debate em ambas as Epis-
tolas, assinalando a superioridade da vida de fe ã
vida de legalismo. Pela fé, o homem vive uma vida de
vitória no Espirito. Sob a Lei, vive uma vida lega-
lista, que é escravizada pelo poder do pecado e é
caracterizada pela morte.

Um Apelo para Permanecer Livre

Gãlatas 5:1-12

Vantagens da justiça pela graça (5:1-6)

A religião sob a lei é completamente dife-


rente da religião pela graça. A justiça pela lei de-
pende dQs feitos e da bondade do homem. O poder do
pecado e a natureza carnal do homem o privam de rea-
lizar a justiça. Por causa do orgulno, o homem não
quer admitir seu fracasso quanto a ter êxito em guar-
dar a Lei; portanto, ele se volta para uma vida de
dolo e hipocrisia. Inte:-iormeni:e, ele ê misETãvel e
estã condenado. Exteriormente, ele pretende ser jus-
to. A vista de Deus, ele estã condenado pela Lei,
que ele pretende guardar.

A justiça pela fé admite a indignidade, a


pecaminosidade, e a incapacidade do homem de ser jus-
to. Ele concorda com Deus (confissão) em que ê injus-
to e indigno de salvação. Ele descobre a graça de
Deus a ele doada como uma dãdiva que é incapaz de ga-
nhar através de seus próprios feitos. Ele ê induzido
a depender do gue Deus faz e oferece, mais do gue da-
quilo que ele e capaz de realizar. Sua dependencia,

104
procedendo de um reconhecimento de sua própria insu-
ficiência e pecaminosidade, e o que se chama fe. Es-
sa fe angaria a dãdiva de Deus para ele, a qual sig-
nifica que ele estã liberto da condenação e da luta
para obter a justiça por si mesmo, a qual ele não e
capaz de alcançar. Ele encontra liberdade e vitória
em Cri s to (v. 1 ) .

Paulo apelou aos gãlatas para evitarem o re-


torno ã escravidão sob a Lei. Ele avisou-lhes que,
se eles recebessem a circuncisão, Cristo não seria
de nenhu~ beneflcio para eles (v.2). Paulo disse aos
romanos que a circuncisão era um sinal (Rom. 4:11).
A declaração se baseia em Gênesis l7:l0·-e ss. A ali-
ança foi estabeleci~a e Abraão e seus filhos foram
circuncidados como "um sinal da aliança" entre Deus
e Abraão.

Impor a circuncisão aos gãlatas era tão se-


rio, ao ponto de significar que Cristo seria de ne-
nhum beneflcin para eles (v.2). O submeter-se ao ri-
tual queria dizer que eles estavam confiando na Ali-
ança para receber a promessa de Deus. Conforme pre-
viamente notado, tal tipo de religião é incompatlvel
com a justiça através da fé em Cristo. Se um homem
se voltasse para a Aliança, simbolizada pela circun-
cisão, ele estaria sob a obrigação de guardar a Lei
inteira com perfeição a fim de estabelecer uma justi-
ça que fosse aceitãvel a Deus (v.3). Voltando-se pa-
ra uma dependência de seus próprios esforços e habi-
lidade para realizar. a justiça, ele estaria fora da
justiça atraves da fé em Cristo; portanto, ele se
tornaria separado de Cristo (v.4). Ele abandonaria
a justiça de Deus provida pela graça e iria depender
de seus próprios feitos. Tornar da justiça como dãdi-
va de Deus através da fé para uma justiça auto-reali-
zada através da Lei e "cair da graça" (v.4). A menos
que os gãlatas pudessem guardar a Lêi inteira, eles
não poderi am ser justifi cados pelo mei o da "Lei de
justiça". .

Paulo assinalou que, enquanto os gãlatas es-


tavam contemplando o estabelecimento da auto-justiça,
a justiça genulna tinha jã sido assegurada através
do Esplrito, pela fe, e eles estavam aguardando a es-
perança que aco~panha a justiça {v.5). Aqueles que
buscam aceitaçao de Deus atraves de justiça lega-
lista, não estabelecem sua aceitação enquanto não ti-
verem completado seu curso de vida. Através da gra-
ça, Paulo tinha jã entrado na comunhão e aceitação
de Deus, e estava esperando para receber a plenitude
do que Deus tem prometido a seus filhos por adoção.
A justiça pela graça através da fé em Cris-
to Jesus não depende da circuncisão nem da incircun-
cisão (v.6). O judeu circunciso não é superior ao
gentio incircunciso. Embora a circuncisão não bene-
ficie, tambem não a incircuncisão. O gentio não tem
mais razão para acreditar em si mesmo do que o judeu.
A esperança de ambos, judeus e gentios, estã na fé
operando atraves do amor (v.6). O amor e o meio pelo
qual a fé se faz efetiva. O amor de Deus para com o
homem e a fonte da dãdiva divina de justiça que o ho-
mem recebe atraves da fé.
, Paulo observou que os gãlatas estavam fazen-
do excelente progresso em suas vidas cristãs, até que
eles foram impedidos (v.7). Ele deu a entender que o
empecilho veio de alguma fonte externa. Ele lhes as-
segurou que não era Deus que queria que eles mudassem
do evangelho da graça para uma religião baseada na
Lei (v.8). Sua declaração acusou os judaizantes de i-
rem contra Deus, em persuadir os gãlatas a tornarem
de uma religião de fé em Cristo para uma justiça au-
to-realizada e legalista. Sua declaração, "um pouco
de fermento leveda toda a massa" iv.9), dã a entender
que os judaizantes eram uma influencia para o mal. O
fermento geralmente simboliza o mal no N.T.
A declaração de Paulo, no versículo 10, in-
dica que os gãlatas ainda não tinham tornado da graxa
ã Lei, porém eles estavam sendo ensinados por alguém,
cujos ensinamentos os estavam perturbando. Ensinamen-
tos heréticos não estão limitados ao primeiro seculo.
Hã múltiplos ventos de doutrina hoje em dia, que de-
sencaminham os cristãos sinceros. O professor hereti-
co precisa lembrar-se de gue ele será julgado diante
de Deus por sua obra diabolica.
Aparentemente, Paulo foi acusado por alguns
de continuar a pregar a necessidade da circuncisão,
porem ele refutou a acusação, assinalando que ele não
teria sido perseguido se tivesse continuado a pregar
a necessidade da circuncisão (v.ll). Sua perseguição
veio dos judeus, que o acusaram de ser um traidor
e um reprobo (cf. Atos 21:28; 22:22 e ss.). E verdade
que Paulo concordou com a circuncisão dos cristãos ju-
deus como um costume nacional, juntamente com os ou-
tros costumes judaicos. Não há evidência de que ele
nunca concordasse que mesmo os cristãos judeus deves-
sem ser circuncidados, como um sinal de entrada para
a Aliança, para realizar a salvação. A última é apa-
r.entemente, o que os judaizantes, na Galãcia, estavam
requerendo dos gentios. Evidentemente, estes judaizan-
tes aceitaram a Cristo como o Ungido de Deus, porem
eles criam que os requerimentos da Aliança eram essen-
ciais ã sua aceitação por Deus. A doutrina deles não
tinha lugar para a Cruz de Cristo como o meio de re-
denção. A morte de Cristo (o Messias Ungido) era uma
pedra de tropeço para os judeus. Eles não esperavam
que o Messias de Deus fosse ser derrotado pela morte,
mas que fosse ser vitorioso. Na opinião de Paulo, a
Cruz era um meio de vitória sobre o pecado. Pelo der-
ramamento de seu sangue, Jesus tem expiado pelos peca-
dos dos homens. Os judaizantes criam que eles não pre-
cisavam de exoiaçiio alem daouela orovida pelo sistema
cerimonial. E'les-estabeleceram sua justiça a'~raves de
guardar a Lei. Seus problemas consistiam numa incapa-
cidade de reconhecer seus pecados e ter um sacrifício
adequado para removê-los.

Paulo concluiu o apelo aos gãlatas com uma


declaração muito ousada (v.12). Ele sugeriu que aque-
les que estavam comprometidos com a incisão da circun-
cisão deviam levar sua mutilação mais adiante - mesmo
ã castração, como procediam as religiões de mistério.
A iniciação ao sacerdócio do culto ã deusa Cybele-
Atis envolvia um frenetico ritual de sacrifício, no
qual um homem eram emasculado.
106
Uma Posslvel Perversão da liberdade

Gãlatas 5:13-15

Na opinião de Paulo. não havia comparação en-


tre a nova vida de liberdade em Cristo e a velha vida
de cativeiro e escravidão sob a lei. A liberdade de
que Paulo falou não dã licença ao pecado ou ao liber-
tinismo. Paulo apresentou. em Romanos 6. os fatores
restringentes navida da graça. os quais são mais efe-
tivos do que as observâncias legalistas. Ele explicou
que a liberdade da nova "vida em Cristo não significa
que alguém pode abundar na pecaminosidade da carne.
porque ele morreu para a velha vida carnal. A graça
de Deus cria dentro do homem uma nova motivação. ba-
seada no amor (v.13). Paulo declarou que a nova vida
em Cristo capacita a lei inteira a ser cumprida na u-
nica palavra "amor". mas ele não fez ressalvas na de-
claração (v.14).

A justiça legal faz com que alguém focalize


sua atenção sobre si mesmo e suas realizações. Isso
conduz ao modo egoísta de viver. que é oposto ã vida
de amor. A vida de amor é uma vida de interesse por
outra pessoa e uma disposição de sacrificar o auto-in-
teresse em benefício de outros. A unica maneira de u-
ma pessoa escapar da ênfase do eu. é a de receber a
justiça como uma dãdiva ~e Deus. em vez de depender
de si mesma para efetuã-la. Quando o homem é liberta-
do da necessidade de efetuar auto-justiça. ele tem a
liberdade para dar atenção aos outros e suas necessi-
dades. Ele não estã mais ligado ao requerimento de
servir aos seus próprios interesses. e. sim, tem a
liberdade para servir aos interesses de seu vizinho.
o que é a vida de amor. A pessoa que é forçada a efe-
tuar uma justiça legal, para ser aceita por Deus. lu-
ta sob opressões e tensões. A pressão de sua vida con-
duz a "morder" e "devorar" os outros (v. 15) .

o Espírito Dominando a Carne

Gãlatas 5:16-26

A luta entre a carne e o espírito (5:15-18)

A justiça pela Lei somente pode ser efetuada


se toda a Lei for guardada perfeitamente cf. 5:3).
Um segundo modo de realizar justiça é através da gra-
ça de Deus. que envolve a vida no Espírito. Se os gã-
latas deixassem suas vidas serem reguladas pelo Espí-
rito de Deus, o que quer di zer "andar no Espírito", e-
les não seriam controlados pelos seus desejos carnais
(v.16). Em Romanos 7, Paulo apresentou a natureza do
homem, ã imagem de Deus, que tem uma tendência para
fazer justiça e agradar a Deus. Ele também debateu o
aspecto da natureza humana que é a esfera da operação
do poder do pecado. Esta natureza carnal tende a per-
verter os desejos retos e fazer com que os membros do
corpo venham a indulgir em atividades proibidas pela
vontade de Deus.

Os desejos do homem carnal sob a influência


do pecado, constantemente, lutam contra a verdadeira
natureza do homem, ã imagem de Deus. sob a influência
do Espírito Santo (v.l?). Paulo falou dos doisaspec-
tos da natureza do homem como sendo o espírito humano
(Rom. 1:9) ea carne. O espírito humano, que e b ver-
dadeiro homem interior, e dominado pelo Espírito de
Deus, é a carne, que e o aspecto da natureza do ho-
mem, resultante da queda, e dominada pelo pecado. A
carne do homem abrange o orgulho, o auto-interesse e
um espírito de independência. O espirito do homem e
caracterizado pela humildade, dependência e um desejo
de fazer justiça. A natureza carnal do homem domina-
rã sua vida, a menos que ele ande no Espírito pela fe.
A carne tem desejüs tão fortes: "para que não façais
o que quereis" (v.l7). O unico meio para o homem evi-
tar ser controlado por suas cobiças (desejos desorde-
nados) é ser conduzido pelo Espírito (v.18). Ser con-
duzido pelo Espírito significa que o homem não estã
tentando a justiça auto-realizada sob a Lei.

A Vida na Carne (5:19-21)

Paulo apresentou os feitos da carne como


sendo de três categorias: erros sexuais, adoração
pervertida e relações sociais iníquas (vv. 19-21). Os
erros sexuais são as mais evidentes "obras da carne",
por causa das paixões e envolvimento do corpo. A "i-
moralidade" abrange o adultério, a fornicação e a ho-
mosexualidade - relações extra-maritais,relações pré-
maritais e relações sexuais pervertidas. A "impureza"
também é associada com erros sexuais. A "libertina-
gem" refere-se ao desenfreamento total das relações
sexuais. O vício sexual de toda espécie prevaleceu no
paganismo. Estes erros são serios porque eles são o-
fensas contra a própria vida. Eles destroem o lar,
que é unidade social bãsica. Quando o lar deteriora,
as unidades mais amplas da sociedade são ameaçadas,
mesmo o governo.
John MacGorman faz diversas declarações re-
levantes e significativas ã respeito da tendencia mo-
derna com relação ao sexo.
r inconceblvel que, em nossos dias,
existem lideres nas maiores denomi-
nações ... que parecem tender a re-
definir o adultério, a prostituição
e a homosexualidade como frutos do
Espírito: Com frases altivas sobre
o amor como o único estado permanen-
te, e de cada nova situação ser um
contexto em que se deva determinar
o certo ou errado da conduta sexual
pré ou extra-marital, eles parecem
determinados a obliterar a muita
consciência que no inicio o cristia-
nismo estabeleceu com tanta dificul-
OiC2. Eticas de situação, muitas ve-
zes, também significam imoralidades
seletivas.l
A imoralidade e os relacionamentos SOClalS
degradados resultam de adoração pervertida. Quando o
homem negligencia ou torce a adoração de seu Criador,
ele se engrandece como sendo o seu próprio deus, que
aprova seus desejos pecaminosos. "Idolatria" é a subs-
tituição do C~iador do homem por um deus, criado pelo
homem. Visto que o homem cria o idolo, ele é maior
do que o idolo e torna-se sua própria autoridade fun-

1 John W. MacGorman, Gal~tians, p.118


108
damental. o homem fazer-se a· autoridade fundamental
de suás ações resulta em justificar seus desejos e im-
pulsos imorais, "Bruxaria" é a prãtica de artes mãgi-
cas em·conexão com a idolatria.

Os relacionamentos sociais são prejudicados


pelos pecados do espírito. "Hostilidade" refere-se a
animosidade e rixas pessoais, e é
o oposto do amor.
"Porfia" refere-se ã discõrdia, envolvendo o escolher
um dos lados. "Inveja" é o desejo sequioso de possuir
qualidades que trazem sucesso aos outros. Inclui ser
invejoso da atenção dada a outros e ser crítico das
faltas ou fracassos daqueles que são mais talentosos
do que si prõprio. "Iras" são ataques de raiva. "Ego-
ísmo" estã preocupado com o louvor pessoal e o auto-
interesse, a ponto de ignorar as necessidades dos ou-
tros. "Porfia", ou "dissensões", significa manobrar
os outros para o benefício do eu e representa um ho-
mem contra outro para exaltar o eu. As divisões que
se cristalizam em indivíduos, ou "heresias".

A lista termina com dois pecados da carne


que afetam tanto ao indivíduo como aos outros. A em-
briaguez é um pecado contra o prõprio corpo de alguém
e, freqUentemente, conduz a prazeres ou orgias. Paulo
avisou que aqueles que indulgissem em outros pecados
do espírito ou da carne não herdariam o Reino de Deus
(v.2l). A salvação pela graça não dã licença ã carne.
Esta lista de pecados e o aviso de que aqueles que os
cometem não podem entrar no Reino de Deus excluem uma
interpretação antinomiana dos ensinamentos de Paulo.
Uma justiça ~ela graça, ã parte do guardar a Lei, não
significa que um cristão pode viver imoralmente.

Fruto do Espírito (5:22-26)

As ações daqueles que andam no Espírito são,


acentuadamente diferentes das obras da carne. Paulo
tinha, previamente, perguntado aos gãlatas se eles ha-
viam recebido o Espírito pelas obras da Lei ou pela
fé (3:2,3). O Espírito que habita na vida do crente
produz fruto. O homem é a fonte do fruto de sua vida
quando ele procura estabelecer sua prõpria justiça
por guardar a Lei; porém o Espírito é a fonte do fru-
to produzido na vida do cristão.

Jesus declarou que da pessoa é requerido a-


mar a Deus e a seu vizinho. Muitos cristãos tornam-se
angustiados por se sentirem incapazes de cumprir este
mandamento. Eles não descobriram que o amor é o fruto
do Espírito, e ndo uma virtude originada-3e seus pró-
prios esforços. Deus é amor, e seu Espírito é o amor
habitando dentro do coração do crente. Quando o Espí-
rito controla a vida do crente, as atividades do amor
são naturais, porque elas vem do Deus de amor que mo-
ra dentro do coração do crente.

O amor é um interesse pelo bem-estar dos ou-


tros mais do que pelo seu próprio. Aproximadamente re-

lativo
que ao amor
graça. Gozo é rea
o fOzo, uma é
na vida palavra
o frutocomde a sacrificar-
mesma raiz
se para sofrer as necessidades dos outros. Paz também
é aproximadamente relativo a estas virtudes~ verda-
deira paz é obtida somente quando o homem e liberto
de sua carga de pecado, e experimenta o contentamento
em fazer a vontade de Deus. A paz e mais do que a au-
sência de guerra ou porfia. Aos hebreus, ela denotou
\
a prosperidadecto homem todo e,
particularmente, a
p~asperidade espiritual. O homem que estã alienado
de Deus pelo pecado não tem paz. A reconciliação res-
taura a paz com Deus.

A longanimidade estã, pacientemente, supor-


tando sob a provaçao o constrangimento muito prolon-
gado da alma de ceder ã paixão. especialmente a pai-
xão da cólera. A benignidade significa salubridade e
benevolência. E uma dlsposiçao afãvel para com o pró-
ximo. A bondade é uma virtude mais severa do que a
benignidade. Ela apresenta um zelo pela verdade, que
repreende, corrige e castiga.

A fé é uma confiança total em Deus. Através


da fé, o homem sabe que Deus estã disposto e que é
capaz de fazer o que Ele promete. Pela fé, o homem
depende do poder de Deus para obter vitória, mais do
que de sua própria força e feitos. A mansidão signi-
fica, primariamente, ser compassivo e gentil. E o o-
posto de impetuosidade. A mansidão cristã estã basea-
da na humildade. Não é uma qualidade natural, mas u-
ma conseqtlência da natureza renovada. Implica submis-
são e estã disposta a aceitar os procedimentos de
Deus sem murmurio ou resistência. A mansidão para
com o homem aceita oposição, insulto e provocação. A
pessoa mansa suporta pacientemente a contradição de
pecadores contra si próprio, perdoando e restaurando
a pessoa que erra. Temperança significa auto-contro-
le de paixões e desejos.

A Lei é totalmente incapaz de produzir es-


tas atitudes. Ela simplesmente aponta aquilo que é
certo e dissuade dos feitos errôneos, ameaçando cas-
tigo. A pessoa habitada pelo Esplrito tem dentro de
si a lei espiritual e o poder do Esplrito, que pro-
duz o fruto de justiça. Ela evita o que a Lei prolbe,
e faz o que Deus deseja. Sua atitude considera quali-
dades que caracterizam a natureza divina, porque Deus
;habita nela e controla sua vida através do Esplrito.
O fruto de sua vida é o fruto que o divino Esplrito,
que controla sua vida, produz. A velha vida da carne
- paixões, desejos, auto-interesse e orgulho - foi
posta ã morte com Cristo, e não mais controla a vida
do cristão (v.24). Esta idéia é declarada mais com-
pletamente em Romanos 6:2-7. A pessoa que encontrou
nova vida através do nascimento do Esplrito deve tam-
bem andar, ou viver, diariamente sob o controle do
Esplrito (v.25).

Andar no Esplrito, ou andar na linha (orde-


nadamente), não e motivo para o homem se jactar, por-
que não é realização do homem (v.26). A tentação de
ser cCf~:eituado, por causa de possuir UnlJ legrtima
reivindicação de honra, é substitulda por um reconhe-
cimento de que a honra pertence a Deus. A jactância
provoca os outros e causa-lhes inveja. Uma atitude
humilde, que dã glória a Deus por uma vida ordenada
e justa, evita o despertar da porfia.

Vitória Através do Esplrito

Romanos 8:1-17

Liberdade da Condenação (8:1-4)

Antes de Romanos 8, Paulo tinha usado a pa-


110
lav~a grega para Espírito quatro vezes. Neste capítu-
10,a palavra é usada vinte vezes. Romanos 8 é; aprô-
ximadamente, relativo aos pensamentos de Galatas 5:
13 e ss.

Depois que Paulo começou a falar a respeito


da vida no Espírito, não ha mais conversa sobre der-
rota. A guerra entre as duas naturezas continua; mas
onde o Espírito Santo controla, a velha natureza é
compe1ida a dar o fora. Romanos 7 enfatiza a vel~a na-
tureza na luta, mas Romanos 8 volta-se para uma enfa-
se na vitória que ocorre por viver no Espírito. Roma-
nos 7 termina com a questão de Paulo, de como o velho
dominio do pecado e morte pode ser vencido, sabendo-
se que o homem não tem força dentro de si. Ele respon-
deu ã sua questão, declarando que a vitória é possi-
ve1 através âe Jesus Cristo, nosso Senhor. A velha
natureza da carne permanece sujeita ã velha ordem do-
minada "pela lei do pecado" (o poder contro1ador do
pecado). Embora sua carne permanecesse sujeita ã lei
do pecado, Paulo achou libertação da velha ordem por-
que ele não andaria (viveria diariamente) na carne.
Visto que ele não vivia na carne, ele não seria conde-
nado (não continuaria na servidão do pecado), "Portan-
to, nenhuma condenação hâ para os que estão em Cristo
Jesus" (v.l). Portanto, sua vitória sobre o corpo da
morte ocorreria por estar em Cristo.

Paulo assinalou que os requerimentos (lei)


do Espírito, que da vida (Espírito da vida) em Cristo
Jesus, o tinham libertado da Lei do pecado e da morte
- espécie de lei(v.2). A Lei de Moisés é relativa ao
pecado e ã morte, mas não tem o poder para dar vida.
Ela fracassa por causa da natureza carnal do hon~m
(v.3). Deus efetuou através de seu Filho o que a Lei
fracassou em fazer. Deus envi ou seu Fi 1ho, na "seme-
lhança de carne pecaminosa", como uma oferta pelo pe-
cado. Paulo não disse que Cristo veio na "carne de pe-
cado", porque isso O teria representado como partici-
pante do pecado. Ele apareceu num corpo de carne ca-
racterizado pelo pecado. Ele veio para habitar na mes-
ma carne que o pecado controlava. Ele condenou o pe-
cado na carne, isso é, Jesus entrou no esconderijo do
pecado e o derrotou, não cedendo a ele, embora Ele ha-
bitasse na mesma carne fraca em que o pecado veio a
habitar (v.3). "E por causa do pecado", freqUentemen-
te, é traduzido para significar sua obra de expiação,
pela qual Ele condenou o pecado "como uma oferta de
pecado". A frase também poderi a ser traduzi da: "E por

Jesus provou que a carne não precisa ser con-


causa
troladado pelo
pecado,
poderna de
carne
ação condenou o pecado."
do pecado. Visto que Jesus r
não cedeu ao pecado, a vida que ele controla pelo Es-
pírito cumpre os justos requerimentos da Lei (v.4).
Se o homem anda segundo a carne ou depende de sua for-
ça, ao invés do poder do Espírito, Ele não cumpri-
ra os requerimentos da Lei. O carater santo de Cristo
tem provado que o pecado pode ser destronado na car-
ne, mas deve ser pelo Seu poder.

O Contraste das Duas Maneiras de Viver (8:5-8)

"Pois os que são segundo a carne ... " - isso


é, aqueles que omitem Deus e dependem de sua própria
força - são carnais em seus pensamentos (v.5). "mas
os que são segundo o Espírito" - isso é, aqueles que
.,. . \
convidam a
Cristo OÚ ao Espírito para controlã-·los -
são espirituais em seus pensamentos (v.S). A maneira
de pensar caracterizada pela carne é a morte, mas a
maneira ae pensar caracterizada pelo Espírito traz
vida e paz (v.6). Não somente a maneira carnal de
pensar deixa Deus de fora, mas é hostil e oposto a
Deus (v.7). t
a experiência de Eva, que rejeitou o
mandamento especial de Deus, a fim de controlar sua
própria vida e fazer as coisas de que ela se agrada-
va. Esta maneira carnal de pensar não se submete aos
mandamentos de Deus (lei). A submissão é uma oposi-
ção ã natureza carnal; portanto, a maneira carnal de
pensar não e capaz de submeter-se aos mandamentos de
Deus (v.7). t
evidente que a natureza carnal não po-
de agradar a Deus (v.8).

O Habitar do Espírito (8:9-11)

Paulo tinha apresentado dois modos de viver:


uma vida caracterizada pela carne e uma vida caracte-
rizada pelo Espírito. Se era verdade que o Espírito
de Deus realmente habitava nos romanos, eles tinham
entrado para a nova ordem do Espírito. Eles não esta-
vam mais na velha ordem da carne, do pecado e da mor-
te. Eles ainda viviam num corpo de carne, porem não
eram controlados pela mente da carne (a maneira car-
nal de pensar).

Paulo deu a entender a deidade de Cristo por


primeiro falar do Esplrito de Deus", e, então, refe-
rindo-se ao Espírito como "o Esplrito de Cristo" (v.
9). O Espírito de Cristo passa a habitar no crente na
hora em que ele recebe a Cristo pela fe. João falou
da experiência como sendo nascido de novo (cf. João
3:3). A menos que o Espírito de Cristo habite dentro
do indivíduo, para controlã-lo, este indivíduo não
pertence a Cristo. A possessão do Espírito e essenci-
al e não algo extra para o cristão. O versículo 9 fa-
'la do Espírito de Deus habitando no crente. A frase
seguinte refere-se a Ele como o Espírito de Cristo. O
verslculo 10 declara que ê Cristo que habita no ho-
mem. Cristo não e, explicitamente, identificado como
o Espírito, mas as funções de um são atribuídas a am-
bos.

O corpo continua a estar sujeito ã morte (no


domínio da morte) por causa do pecado, mas ao espíri-
to do homem foi dada nova vida por causa da justiça
atraves da fe (v.10). O corpo não permanecerã na ve-
lha ordem da morte, porque o Espírito de Deus, que
levantou Jesus dentre os mortos, darã vida aos "cor-
pos mortais" daqueles que são habitados pelo Espíri-
to (v.ll). O mesmo Espfrito que leVdlltoL Jesus dentre
os mortos habita no cristão. Cristo foi as primlcias
da ressurreição e os cristãos serão a colheita plena
(I Cor. 15:23). Paulo declarou que o corpo mortal se
revestirã de imortalidade (I Cor. 15:53). O corpo
mortal tem participação no corpo do pecado, mas não
se constitui do mesmo. Estã destinado a ser redimido,
e não destruldo.

O Significado da Vida no Espírito (8:12-17)

Visto que o cristão foi liberto do domínio


da morte, ele e obrigado a viver para Deus (v.12). A-
queles que tentam efetuar justiça através da Lei es-

112
tão comprometidos com uma especie mundana de vida.
Porem omitir Deus e depender da carne conduz ã morte
(v.13). "Pois quando estãvamos na carne, as paixões
dos pecados, suscitadas pela lei, operavam em nossos
membros para darem fruto para a morte" (7:5). Os
cristãos não vivem segundo a carne, mas crucificam a
carne com suas paixões e desejos (Gãl. 5:24). Os fei-
tos pecaminosos do corpo são postos ã morte, por não
permitirem a natureza carnal estar no controle. Isto
pode ser feito somente atraves do Espírito (v.13).

Ser conduzido pelo Espírito de Deus signifi-


ca ser um filho de Deus .(v.14). Ser feito um fi lho
significa ser liberto da escravidão sob a Lei. En-
quanto servindo sob a Lei, o escravo vive no temor
de infrigí-la e ser condenado por seus erros (v.15).
Possuir o Espírito de Cristo significa pertencer a
Cristo (v.9). Possuir o Espirito de Deus significa
ser um filho de Deus (v. 14). O nascimento espiritual
como um filho de Deus não e pela carne ou descendên-
cia ~ísica, mas o Espírito coloca um determinado in-
divíduo na posição de filho (adoção). A lei romana
declarava que, pelo processo de adoção legal, o her-
deiro escolhido tornava-se outorgado ã propriedade,
ao status civil, e aos direitos do adotante. Ser a-
dotado como um filho de Deus significa entrar para a
comunhão íntima com ele, e receber as bênçãos de sua
promessa. O crente recebe o Espírito de Deus e nasce
para seu Reino.

A afinidade íntima com Deus e expressa na


exc 1amação de profunda emoção: "Pai:" (v. 15) . Ambas
as palavras, o aramaico abba e o grego pater, são da-
das para pai. ---- -----

Os filhos adotivos recebem a segurança de


sua herança. Quando um indivíduo crê e nasce do Espí-
rito ele tem uma segurança interior de que foi acei-
to por Deus (v.16). O Espírito Santo testifica, com
seu espírito (seu íntimo sendo de compreensão e emo-
ção), que ele é um filho de Deus. Um filho experimen-
ta a afinidade íntima com seu pai. O crente também é
um herdeiro (v.17). O herdeiro herda os bens do pai.
Cristo é herdei ro por natureza, mas a lei romana
fez os filhos adota dos iguais com os filhos naturais;
portanto, os filhos adotivos de Deus são co-herdei-
ros com Cristo. Os co-herdeiros com Cristo devem par-
tilhar a vida com o herdeiro natural, que quer dizer
sofrer com ele tanto quanto s~r glorificados com ele
(v. 17).

A Gl~ria em Abund~ncia para os Herdeiros Adotado:

Romanos 8:18-30

A Criação terã parte na gl~ria (8:18-25)

Paulo continuou seu contraste entre a velha


era de cativeiro sob a Lei e a nova era de liberda-
de sob Cristo. A velha era é caracterizada pela Lei,
pecado e morte. O pecado tem causado sofrimento e
morte.

A visão de Paulo de que toda a criacão tem


sido afligida por causa do pecado do homem, éstã ba-
seada em Gênesis 3. Uma maldição foi colocada sobre
a terra por causa do pecado de Adão (Gên. 3:17 e ss.).
,

o homem pecador deve 1utar contra as condi ções' adver-


sas na natureza para ganhar o pão: 10 ••• maldita é a
terra por tua causa; em fadiga comerãs dela todos os
dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e abro-
lhos; e comerãs das ervas do campo (Gen. 3:17,18). O
pecado de Adão também fez com que a morte entrasse
no mundo: " ... ate que tornes ã terra, porque dela
foste formado; porquanto és põ, e ao põ tornarás"
(Gen. 3: 19).
A redenção, que Deus provê através de Cris-
to, tem invertido a aflição causada pelo pecado de
Adão. Os filhos que Deus adotou, os quals foram re-
dimidos, entraram para a nova era, mas não possuem a
plenitude de sua glõria (v.18). Eles continuam a so-
frer um pouco da aflição do "tempo presente", porque
a redenção de Deus não será completada até que Cris-
to volte e ressuscite os mortos. A glória plena do
que Deus tem em abundância para seus filhos por ado-
ção será manifestada na volta de Cristo. As aflições
temporãrias sofridas pelos filhos de Deus durante a
época presente são incomparãveis com a glória que se-
rã deles na vinda de Cristo (v.18). "Glória" refere-
se ã majestade de Deus e ao esplendor da vida reser-
vada para seus filhos.

A criação não-racional foi envolvida no pe-


cado àe Adão, embora não seja culpada ou responsãvel
pelo pecado, de acordo com Genesis 3. A parte não-hu-
mana da criação junta-se ao homem em desejar, ansio-
samente, a glória plena da restauração de Deus. Gêne-
sis declara que o mundo foi criado bom, mas o peca-
do de Adão fez com que o mal entrasse. A excelencia
da criação de Deus serã restaurada no tempo da "reve-
lação dos filhos de Deus" (v.19).

A Authorized Version (Versão Autorizada)


traduz a palavra ktisis como "criatura" nos versos
19,20 e 21. A mesma palavra aparece no verslculo 22
e é traduzi da como "criação". A RSV* traduz todas as
quatro como "cri ação" e a NEB** vari a entre "uni ver-
so cri ado" e "uni verso". Hã uma pequena questão de
que Paulo estava se referindo ã existencia criada, a-
lem da de que o homem participarã da glória dos fi-
lhos de Deus. O esplendor da Igreja como o meio de
comunhão do reconciliado jã teve seu inlcio, porem
" ... agora vemos como por espelho, em enigma, mas en-
tão veremos -face a face; agora conheço em parte, mas
então conhecerei plenamente, como também sou conheci-
do" (I Cor. 13:12). Toda a criação estã esperando an-
siosamente (observando com a cabeça erguida ou esten-
dida; por conseqüência, esperando em suspense), e es-
perando pacientemente pela glória plena da redencão
uç ueus.

Quando a terra foi amaldiçoada pelo Criador


por causa do pecado do homem (cf. Gen. 3), a criação
cessou de cumprir seu propósito original e tornou-se
vã ou sem meta (v.20). A criação não foi responsãvel
pelos erros que provocaram a maldição e nem esta o-
correu por sua vontade, " ...mas por causa daquele
que a sujeitou" (v.20). Deus sujeitou a criação ã
frustração e futilidade, a fim de fazer com que o ho-
mem pecador reconhecesse sua dependência do Criador.

*- Revised Standard Version (Versão Padrão Revi-


sada) - N. T.
** - New English Bible (Nova Blblia Inglesa) - N.T.
114
Tudo ,;da natureza, que foi cri ado bom foi frustrado
pelo pecado, mas a derrota do pecado significará a re-
denção da natureza. Esta restauração virã no tempo da
" ... liberdade da glõria dos filhos de Deus" (v.2l).

A atual condição da criação e descrita como


uma mãe experimentando a dor do parto. O homem e a na-
tureza, "conjuntamente, geme e estã em dores de parto
ate agora" (vv. 22 e 23). Embora o homem continue a
experimentar os sofrimentos do pecado, o homem redimi-
do experimenta um gosto antecipado do esplendor da re-
denção de Deus. O Espírito que o habita e "a primícia"
da redenção de Deus (v.23). O homem, que foi derrota-
do pelo pecado, experimenta o perdão do pecado e a
vitõria sobre ele atraves da morte de Cristo e do po-
der do Espírito que o habita. "Aguardando a nossa a-
doção" refere-se ã mani festação exteri or de adoção. O
homem redimido continua a sofrer algumas das conse-
qaências do pecado, como a morte do corpo. Todavia,
ele pacientemente, gemendo, aguarda a vitõria plena,
quando o corpo serã ressusci tado ("a redenção do nos-
so corpo" - v.23), o que significarã vitõria completa
sobre o pecado e a morte. A ressurreição corpõrea e
parte da redenção de Deus, atraves de Cri s to, ·sobre
as forças do mal, porém ela é futura e, presentemente,
deve ser possuída pela esperança (v.24).

O novo homem deve continuar a viver pela fé


nas promessas de Deus. A ressurreição é parte da re-
denção prometida por Deus. A esperança da ressurrei-
ção faz com que o redimido espere pacientemente, no
meio das provações presentes e sofrimentos, pela glõ-
ria plena que Deus tem prometido (v.25).

Vitõria no Poder de Deus (8:26-30)

Embora a glõria plena e a vitõria sejam fu-


turas, o homem não deixa de saborear dessa glõria pre-
sente. O Espírito dã força e orientação na falta de
firmeza (fraqueza) e ignorancia do homem (v.26). Em-
bora o homem que vive pela fé não tenha experimentado
a vitõria final sobre o pecado e a morte, ele experi-
menta um sabor da glória final e um grau de vitória.

O homem, cuja libertação da velha ordem não


estã completa, não tem o conhecimento pleno do propó-
sito de Deus nem a força para focalizar sua mente na
perfeita vontade de Deus. Suas fraquezas são compensa-
das pelo Espírito, que faz intercessão por ele segun-
do a perfeita vontade de Deus (v.26). O Espírito co-
nhece a perfeita vontade de Deus, porque ele conhece
a mente de Deus (I Cor. 2:10 e ss.). Quando o esplri-
to do homem estã em harmonia com o Esplrito de Deus,
as palavras podem ser insuficientes, mas os gemidos
inexprimíveis, profundos, em seu coração, são compre-
endidos pelo Esplrito (v.26). O Espírito é capaz de
apresentar os gemidos do verdadeiro homem interior di-
ante de Deus, sabendo-se que Ele habita dentro do ho-
mem e compreende a natureza superior do homem. O Es-
pírito também conhece a mente de Deus, e desse modo a
vontade de Deus, e Ele é capaz de fazer as petições
pelo homem, diante de Deus, que estão em harmonia com
a vontade de Deus (v.2?).

Visto que a nova vida do homem é efetuada


pelo poder de Deus e a orientação do Espírito e se-
gundo a vontade de Deus, o homem pode estar assegura-
do de que experimentará novo significado e propósito
em sua vida (v.28). Embora o pecado e a morte conti-
nuem a afligir o homem redimido, Deus é capaz de
transformar mesmo os sofrimentos e aparentes derrotas
em bem para "aqueles que amam a Deus". Paulo tinha
convicção segura de que quando Deus, ao invés do pe-
cado, está encarregado da vida do homem, o propósito
de Deus será realizado. Ser "chamado segundo seu pro-
pósito" é a obra do Espírito de Deus, que convence do
pecado o homem e .coloca um anelo em seu coração para
fazer a vontade de Deus. Paulo partiu para a liberda-
de e resposta humanas, declarando que Deus opera com
aqueles que o amam.
Nos versículos 20 e 30, Paulo apresentou as
obras de Deus que efetuam seu propósito para com o
homem. Estas obras podem ser completadas nas vidas da-
queles que o amam. O Espírito Santo, continuamente, o-
pera na vida do homem para efetuar o propósito de
Deus para com o homem. a amor de Deus iniciou suas o-
bras de redenção antes que o homem respondesse ã gra-
ça de Deus pela fe. Deus provê toda a obra necessãria
para a salvação, porém o homem deve responder ã graça
de Deus. A responsabilidade do homem para obter a sal-
vação não inclui merito ou justiça auto-realizada,
contudo, o homem tem a liberdade e e responsãvel por
dizer "sim" ou "não" ã dãdiva da graça de Deus.
a propósito de Deus para com o homem e res-
taurã-lo "ã imagem de seu Filho" (v.29). No inicio,
Deus fez o homem ã Sua imagem. a pecado torceu essa
imagem, fazendo com que ela precisasse de restauração
ã sua pureza. Antes que o homem conhecesse a Deus,
Deus o conhecia. Conhecer e amar são termos aproxima-
damente relativos. Deus conheceu o homem e o amou en-
quanto ele estava no cativeiro do pecado. Baseando-se
no conhecimento e no amor, Deus predeterminou (predes-
tinou) que a imagem do seu Filho fosse formada no ho-
'mem. A predestinação e o plano definido de Deus para
prover a salvação do homem e trazê-lo ao ponto de
corresponder a ela pela fe. Visto que Deus provê a
salvação, ela ê sua dãdiva. Como uma dãdiva de graça,
o homem não a merece, porem pode ser recebida por ele.
A determinação (predestinação) de Deus, ba-
seada em sua presciência (conhecimento intimo ou a-
mor), era formar dentro do homem "a imagem de seu Fi-
lho" (a imagem original de Deus no homem). Seu plano
determinado requereria que o homem pecador fosse "cha-
mado" ã salvação que Cristo proveu através de sua mor-
te. Chamar é a obra do Espirito, pela qual o pecador
é convencido "...do pecado, da justiça e do juizo"
!Jo~o 16:8). Somente ouandn o npcador ~ convencido ce-
la Espirito Santo, ele §stã pron~o para voltar-se da
pecado e de seus proprios esforços para realizar
auto-justiça para com a dãdiva eficaz de Deus, atra-
ves da fe. Atraves da liderança do Espirito Santo, o
homem reconhece seu pecado e vem a saber do amor de
Deus por ele. Quando o pecador volta-se para Deus pa-
ra salvação, as provisões para sua justificação jã es-
tão preparad s - tambem uma obra de Deus. Ele torna-
se justo at' ves do sangue derramado de Cristo, que
remove seus ~cados, e a:ravés do Cristo vivo, que ha-
bita no hor para orientã-lo na vontade de Deus. A
glorificação é futura, porem Paulo falou dela como u-
ma realidade presente. Como, anteriormente observado,
a glória plena da obra de Deus terã lugar na volta de
Cristo e na ressurreição.
116
Vitória pelo Poder de Deus

Romanos 8:31-39

Paulo tem assinalado que a obra total da sal-


vaçao - incluindo a predeterminação de um plano efe-
tivo, a chamada pelo Esplrito Santo, a justificação a-
traves da morte e ressurreição de Cristo, e a glori-
ficação na volta de Cristo - é realização de Deus, e
não do homem. A Lei falou da divina condenação do ho-
mem por causa de seu pecado. A salvação de Deus em
Cristo fala do amor de Beus e da aceitação do homem.
A conclusão inevitável é que Deus é a favor dos peca-
dores, ao invés de contra eles (v.31).

A morte e a ressurreição de Cristo são pro-


vas da misericórdia e do amor de Deus. Visto que Deus
e fundamental em poder, as potestades malignas deste
mundo (Satanás, o pecado e a morte) não são competido-
res contra Deus. Se Deus é a favor do homem, não deve
haver, da parte deste, temor das potestades malignas
que estão contra ele. O fato de que Deus não poupou
seu Filho, mas o entregou pelo homem pecador, é prova
de que ele é a favor do homem e livremente lhe dará
todas as coisas (v.32). Não há duvida de que Deus e-
fetuará a glória plena e o esplendor de sua graça.
Qualquer reinvidicação ao homem ou acusação contra e-
le pelas potestades mali9nas deste mundo não ê efeti-
va. Deus é o jUlz e autoridade final; portanto, se e-
le justifica, ninguém tem poder e autoridade para go-
vernar seu jUlzo e condenar (vv. 33 3 34).

A salvação provida através de Cristo é sufi-


ciente. Como Filho de Deus, ele morreu para pagar a
penalidade do pecado do homem. Em sua ressurreição, e-
le demonstrou o poder e a vitória de Deus sobre o po-
der dos dominadores malignos desta era (o pecado e a
morte). Como o Salvador do homem e Senhor ascendeu
aos céus, ele está ã direita de Deus, para interceder
pelo homem diante de Deus (v.34). Embora aqueles que
Cristo perdoou não vivam vidas sem pecados, ele está
diante de Deus, fazendo intercessão por eles.

O amor de Cristo pelo redimido é tão grande e


completo que provê salvação suficiente para o homem
pecador. As aflições do homem, causadas pela tribula-
ção, angusti~, perseguição, fome, nudez, perigo ou
espada, não são indicações de que ele foi abandonado
pelo Cristo que o ama. Apesar das lutas e perturba-
ções que resultam do conflito com o poder do mal, o
homem redimido está seguro no amor de Cristo. Sua a-
flição não indica rejeição, mas participação com o
Servo Sofredor: "Como está escrito: Por amor de Ti so-
mos entregues ã morte o dia todo; fomos considerados
como ovelhas para o matadouro" (v.36; cf. Salmos 44:
22) .

Visto que o Servo Sofredor obteve vitória,


derrotando o mal, os poderes mundanos do pecado e da
morte atraves de seus próprios sofrimentos, morte e
ressurreição, os redimidos, cujas vidas estão "nele",
serão" ... mais que vencedores, por aquele que nos a-
mou" (v.37). Por causa da cruz e da ressurreição, a
morte não tem mais controle sobre a vida do homem, e
obtemos uma vitória superior sobre as potestades ma-
lignas através daquele que nos ama. Nenhum poder, e-
xistência ou condição pode desfazer a salvação que
Introdução

Parece ã primeira vista que, na identifica-


çao da Lei com o dominio do pecado e morte, Paulo ti-
nha rejeitado a Aliança de Deus com seu Povo Escolhi-
do e se tornara um traidor da nação judaica. Ele mos-
trou que a Lei é o meio de condenação e separação de
Deus, mais do que o meió de justiça e aceitação por
Deus. A Lei que mostrava ao homem sua responsabilida-
de na aliança com Deus, na realidade tornara-se uma
serva do pecado e da morte. A compreensão e ensinamen-
to de Paulo concernente ã Lei estava em oposição dire-
ta ã dos fariseus que eram ardentes seguidores dela e
representavam o mais alto nivel hierarquico do judais-
mo.

A religião do judaismo era identificada com


a naçao. O judaismo compreendeu que a promessa de
Deus foi feita a uma raça de pessoas que eram o Povo
Escolhido. O fato de que eles eram descendentes de A-
braão assegurava sua aceitação por Deus. As outras na-
ções eram excluidas, porque a Aliança foi interpreta-
da ter sido feita somente com os descendentes de Abra-
ão. Deus tinha um propósito e plano em escolher os is-
raelitas como seu povo, mas o judaismo interpretou
mal o propósito de Deus para com seu Povo Escolhido.
Mais do que fazer o nome d~ Deus conhecido ã na~ões
gentias, tornando-se uma benção para eles, o judalsmo
requereu que o povo gentio se submetesse aos costumes
nacionais judaicos. Todavia, os gentios prosélitos
não podiam ser completamente aceitos na nação judaica
para ficarem em pé de igualdade com os descendentes
de Abraão.

Paulo sentiu a necessidade de debater o pla-


no de Deus para com seu Povo Escolhido, cuja história
inteira foi uma preparação para a vinda de Cristo
(Gal. 3). Visto que Cristo e os apóstolos ofereceram
o evangelho primeiro aos judeus, é evidente que eles
continuaram a ser uma parte vital do plano de Deus.
Em Romanos 2:1 - 3:20, Paulo tinha mostrado a necessi-
dade judaica do evangelho oferecido por Cristo. Cris-
to, o Filho do Povo Escolhido segundo a carne,
era parte do plano de Deus para com eles, porem ele
foi rejeitado por eles. Apesar da rejeição de Cristo,
que foi um Messias servo sofredor, ao invés de um Mes-
sias politico vitorioso, Deus, em sua soberania, pôde
realizar seu propósito. Paulo empenhou-se em mostrar
como Deus executaria seu plano apesar da rejeição de
Cristo pelos judeus.

Paulo reivindicou que o evangelho que ele


pregava não era nenhuma inovação. Para sustentar sua
declaração, foi necessário mostrar como o evangelho
procedeu do Velho Testamento, e como os israelitas se
relacionariam com o evangelho. O Velho Testamento é
claro em especificar os descendentes de Abraão como o
Povo Escolhido de Deus. A doutrina de Paulo a respei-
to da soberania de Deus, afirma que o plano de Deus,
envolvendo o Povo Escolhido, seria executado. Se Cris-
to é parte do plano de Deus, e o povo judaico, que re~
jeitou a Cristo, também era uma parte desse plano, co-
mo poderiam os dois estar correlacionados? Como pode
a divina escolha de Israel conciliar com o fato de
que a nação em que o Messias tinha nascido o rejeitou?

O problema, a respeito do qual Paulo falou,


era muito complexo. Sua complexidade requereu respos-
tas de várias perspectivas. A ênfase principal de Pau-
lo estava na soberania de Deus executando seu plano
na história de Israel.

A questão que Paulo confrontou era muito ur-


gente, visto que uma minoria judaica continuou na i-
greja em Roma. Talvez a igreja em Roma tivesse sido
predominantemente judaica até os judeus serem expul-
sos de Roma pelo Imperador cláudio, em 49 A.D. A ten-
são que existiu entre os gentios e os judeus não po-
dia ser afastada das igrejas onde ambos os grupos e-
xistiam. A atitude apropriada de ambos, judeus e gen-
tios, dependia da compreensão certa do plano de Deus
para com Israel.

A Divina Escolha de Israel

Romanos 9:1-29

Os Pri vílégi os de Is rae 1 (9: 1-5)

Talvez a forte ênfase de Paulo sobre a jus-


tiça pela fé mais do que pela Lei, que deu aos genti-
os igual acesso a Deus juntamente com os judeus, fos-
se interpretada pelos judeus como rejeição de Paulo
de seu próprio povo. Como o Povo Escolhido, os israe-
litas sentiram-se assegurados de sua aceitação por
Deus. Paulo tinha negado essa cren~a e mostrado que
Isra~l deve tornar~se justo pela fe, tanto como os
,tlOS. P,'·?ul0 obr19cL~s:2~ C0:-:1 U-'l solene :' r'a\ment')~
a verdade de que ele experimentava incessante dor de
coração por seus compatriotas israelitas (v.l). Ele
não os tinha rejeitado nem os traiu por causa de
seu apostolado para com os gentios. Ele experimentou
a dor de coração porque seu próprio povo tinha fra-
cassado em aceitar a salvação proclamada no evangelho
(v.2). Sua oração, a qual expressou sua boa vontade
de se tornar anátema (amaldiçoado) por sua própria ra-
ça, não simboliza a cólera ou inveja deles, mas um a-
mor profundo (v. 3). El e os chamou de "i rmãos " , um ter-
mo geralmente reservado para os cristãos.

122
A doutrina cristã de Paulo, a respeito da
graça, não negou que Israel era a Nação Escolhida de
Deus e que tinha recebido vantagens. Ele discordou
em sua compreensão do propõsito dos privi1egios de
Israel. Ele acusou o recebimento de sete vantagens
que foram concedidas a Israel (vv. 4 e 5). Referir-
se a eles como "israe1itas" significava que eles eram
o Povo Escolhido da Aliança. (1) Seu relacionamento
especial com Deus e descrito como "filiação" (ado-
ção): "Então dirãs a Faraõ: Assim diz o Senhor: Isra-
e1 é meu filho ,meu primogênito; e eu tenho dito:
Deixa ir meu filho, para que me sirva" (tx. 4:22,23).
(2) Como israe1itas, eles receberam "a glõria", a
presença de Deus simbolizada pela nuvem que cobria a
Tenda da Congregação: "...e a glõria do Senhor en-
cheu o tabernãcu10" (tx. 40:34). (3) Eles também e-
ram recipientes das promessas divinas. Visto que a
palavra estã no plural, provavelmente, refere-se ã
antiga promessa recebida no Sinai e ã nova promessa
anunciada por Jeremias (cf. 31:31-34) e inaugurada
por Cristo (I Cor. 11:25).1 (4) Paulo admitiu que o
"doar da Lei" foi um benefício para Israe1. (5) Os
israe1itas tambem tinham a adoração cerimonial do
Templo ("O serviço de Deus") e as (6) "promessas"
feitas a Abraão e a seus descendentes. Deus tinha
prometido a Davi que seu trono e reino seriam estabe-
lecidos para sempre (lI Sam. 7:13). (7) Os israe1i-
tas poderiam reivindicãr os Patriarcas, os quais e-
les mantinham em alta estima como seus ancestrais. E-
les eram de suprema importância, visto que Cristo
veio deles, segundo a carne, para cumprir a promessa
feita a eles (v.5).
A ultima parte do versícu10 5 tem sido in-
terpretada de vãrias maneiras. A Authorized Version
(AV), a ASV, a RSV (margem) e a NEB (margem)~ lite-
ralmente, traduzem a frase: "Cristo, que é Deus so-
bre todos, bendito para todo o sempre." Ele, geral-
mente, era chamado de o Filho de Deus e o Senhor.
"Senhor" foi o termo usado para traduzi r Vahweh, o
nome pessoal de Deus, quando o Velho Testamento foi
traduzido para o grego. F.F. Bruce apoia este ponto
de vista. Ele declara que o Messias, "segundo a car-
ne" (sua descendência humana), veio de uma longa li-
nha de ancestrais israe1itas, porem, com respeito ao
seu ser eterno, ele ê "Deus sobre todos, bendito pa-
ra todo o sempre".2 Alguns estudiosos preferem se-
guir as traduções da RSV e da NEB: "Deus, que ê so-
bre todos, seja bendito para todo o sempre." A pon-
tuação e a tradução torna a ultima frase uma doxo10-
gia mais do que uma declaração da divindade de Cris-
to.

- AV - Authorized Version (Versão Autorizada)


ASV Authorized Standard Version (Versão Padrão
Autorizada)
- RSV - Revised Standard Version (Versão Padrão Re-
visada)
NEB - New Enqlish Bible (Nova Blblia Inglesa)
T. W. Manson, "Romans", em Peake's Comentary
on the Bib1e (London: Thomas Nelson and Sons
[td., 1952), p. 947.
2. F. F. Bruce, Romans, p. 186.
Os Verdadeiros Israe1itas (9-6-13)

A esperança de Israel estava baseada na Ali-


ança de Deus. Antes de entrar na Terra Prometida, Moi-
sés aproximou-se de Deus no Monte Sinai e recebeu es-
tas palavras de Yahweh: "V5s tendes visto o que fiz
aos egipcios, como vos levei sobre asas de ãguias, e
vos trouxe a mim. Agora, pois, se atentamente ouvir-
des a minha voz eguardardes o meu pacto, então sereis
a minha possessão peculiar dentre todos os povos, por-
que minha é toda a terra" (tx. 19:4,5). Israel concor-
dou com os requerimentos de Yahweh; pois o Decã10go
(dez palavras ou dez mandamentos) foi dado para mos-
trar os requerimentos de Deus para obediência. Israel
concluiu que o guardar a Lei dava segurança para que
ele fosse a nação de Deus. Paulo assinalou que Israel
fracassou em guardar a Lei; pois ele realmente não e-
ra justo e não tinha nenhuma segurança de aceitação
por Deus. Fracassou a Palavra de Deus a seu povo por-
que o povo não tem efetuado justiça através da Lei?
(cf. v.6).
Jeremias tinha falado da nova ~liança, em
que a Lei de Deus seria escrita nos coraçoes de seu
povo (Jer. 31:31 e ss.). Ela capacitaria o povo a co-
nhecer o Senhor através de uma experiência de perdão
e de uma maneira pessoal. Paulo tinha mostrado como a
Palavra de Deus não fracassou, mas foi cumprida atra-
ves da fe em Cristo.
O debate de Paulo estã baseado em suas cren-
ças de que (1) a promessa de Deus a Israel não pode
fa1har;(2) a promessa e cumprida em Cristo; (3) a mai-
or parte de Israel tem rejeitado a Cristo; (4) mas
Deus, ainda assim, cumprirã sua promessa atraves de
um remanescente em Israel.3 Os primeiros dois pontos
parecem contradit5rios ao que realmente estava acon-
tecendo. A maioria dos israelitas estava rejeitando
a Cristo, em quem a promessa a eles feita estava para
ser cumprida. Paulo respondeu ao problema aparente,
assinalando que nem todos que descendiam de Jacó (Is-
rael) eram verdadeiros israe1itas (v.6). A promessa
tinha sido feita a Abraão e a seus filhos, mas nem to-
dos os descendentes de Abraão eram a verdadeira paren-
tela da promessa. Ismael era um descendente da carne
de Abraão tanto quanto Isaque, porêm ele não estava
incluldo em Israel; portanto, a promessa e a aliança
de Deus não poderia ter sido a todos os descendentes
carnais d~ Abraão (v.8). A promessa de Deus a Abraão
requereu fé. Abraão tinha que ter fé, para que Deus
desse um filho a Sara, antes que a promessa de que e-
le se tornaria pai de uma grande nação pudesse ser
cumprida (v.9).
Os judeus podiam fazer objeção que Ismael e-
ra o filho de uma serva e não igual a Isaque. Paulo
tomou os filhos de Isague e Rebeca para uma ilustra-
ção (v.10). Jacó e Esau eram gêmeos. Se um ou outro
tivesse a vantagem, teria sido Esau, que era o primo-
gênito. Antes do nascimento, Deus tinha eleito Ja-
có; portanto, a eleição não poderia ter sido basea-

3 Dale Moody, Romans, p.228.

124
da em obra ou mérito (v.ll). A seleção foi baseada
na soberania de Deus, e não na herança ou mérito. A
declaração, "Amei a Jacó, porem me aborreci de Esau"
(v.131, provavelmente quis dizer: "Eu preferi Jacó
a Esau". Esau era i denti fi cado com os edomi tas detes-
tados, e nenhum judeu reivindicaria que os edomitas
eram o povo escolhido de Deus. Nem tampouco Esau e
os edomitas eram descendentes de Abraão, segundo a
carne, como os israelitas. Os verdadeiros israelitas
não são todos os descendentes carnais de Abraão -
somente aqueles selecionados por Yahweh. A seleção
divina não e determinada pela descendencia de sangue,
mas pela fe.

A Soberania de Deus em Escolher (9:14-29)

Uma defesa da justi a de Deus em sua esco-


lha -. - o Jeçao po er1a surg1r e que
Deus 01 1nJusto em escolher Jacó e rejeitar Esau.
Paulo poderia ter assinalado que, se a justiça de
Deus sozinha fosse considerada, nem Esau nem Jacó te-
riam sido escolhidos. Em vez disso, ele preferiu se-
guir, para ilustrações, a histõria da salvação de Is-
rael; assim, ele se voltou para Moises. A declaração
de Deus a Moi ses: "Terei mi seri cõrdi a de quem me a-

prouver
me ter misericõrdia,
aprouver ter compaixão" e (v.
terei
15), compaixão de guem
basei a-se. em Exo-
do 33:19. A misericõrdia e a justiça de Deus origi-
nam-se em sua própria vontade, e não estão baseadas
nos desejos ou realizações dos homens (v.16). "Se
Deus não revela os princípios sobre os quais ele faz
sua escolha, isso não e razão para sua justiça ser
questionada.4 A liberdade de Deus para agir segundo
a sua prõpria vontade não era limitada a Israel; ela
incluía Faraô. O predomínio de Yahweh sobre a ação
determinada de Faraõ foi a causa para as outras na-
ções tomarem conhecimento do Deus de Israel (v.17).
A ênfase de Paulo sobre a misericórdia de
Deus obscurece sua ênfase sobre a justiça de Deus. A
vontade soberana de Deus determina se Ele expressa

mi seri córdio a coração


endurecer ou endureci mento txodo
de Faraõ. (v. 18) assinala
. El e preferi
que àsu
vezes o endurecer do coração de Faraõ era atribuído
a Deus, mas em outras vezes ao prõprio Faraõ. Moody
declara que a palavra de Deus a Faraõ, atraves de
Moises, tinha o mesmo efeito que a Lei, que traz ao
conhecimento o pecado jã existente.5 A palavra de
Deus a Faraõ expressou uma dureza de coração jã pre-
sente.

Uma defesa da liberdade de Deus em sua es-

colha
de Pau \vv.
o era19-29).
se Deus- A prOX1mamanter
poderia questao do
o homem oponent~
responsa-
vel, visto que ele não pode resistir ã vontade de
Deus. Se o homem Qerde sua liberdade em eleição, co-
mo Deus pode mante-lo responsãvel? Paulo respondeu
que a criatura não tem o direito de discutir com o
Criador (v.20). Ao invés de defender a liberdade e a
responsabilidade do homem, Paulo voltou-se para uma
defesa da liberdade e misericõrdia de Deus.

4 F.F. Bruce, Romans, p.188.

5 Dale Moody, Romans, p.230.


Deus como Criador é comparado a um oleiro,
cuja vontade própria determina que vaso ele farã de
uma massa de barro. O oleiro tem a liberdade de fa-
zer um vaso para beleza e outro para uso subalterno
(v.2l). A aplica~ão de Paulo da ilustração, no ver-
siculo 22, e diflCil de interpretar. Alguns ramos do
calvinismo têm concluido que Deus predestina vasos
de ira para a condenação, e vasos de misericórdia pa-
ra a vida eterna. Uma interpretação alternada e pre-
ferida do versiculo e apresentada pela tradução de
Moffat: "Que sucederia se Deus, ainda que desejoso
de demonstrar sua cólera e mostrar seu poder, tole-
ra, mais pacientemente, os objetos de sua colera, ma-
duros e prontos para serem destruidos?" "Os vasos da
i ra preparados para destrui ção", poderi a também ser
traduzido segundo o grego, ao inves da voz passiva:
"Os vasos da ira tendo sido feitos (preparados) para
destruição." Deus, pacientemente, suporta os vasos
da ira que têm-se a si mesmos objetos de Sua ira.

Deus tem feito, para si mesmo, novos "vasos


de misericórdia" daqueles judeus que têm vindo ã fé,
e dos numerosos gentios que têm recebido a Cristo
(vv. 23 e 24). Rejeitando a Cristo, alguns judeus
têm-se tornado vasos de ira. Recebendo a Cristo, ou-
tros têm-se tornado "vasos de misericórdia, que de
antemão preparou para a glória" (v.23). Paulo citou
o profeta Oseias, para sustentar seu ponto de vista.
Oseias, por misericórdia e amor, estava disposto a
aceitar dois filhos ilegitimos de sua esposa como se-
us próprios. A experiência revelou a ele que Deus
faria o mesmo a Israel. Paulo aplicou a Escritura
aos gentios (v.26).

Contrãrio ã crença judaica de que eles sao


automaticamente aceitos como filhos de Deus por se-
rem descendentes de Abraão, Paulo declarou que eles
tem-se tornado vasos da ira de Deus. João Batista a-
presentou um ensinamento semelhante ao requerer que
o povo fugisse da ira vindoura: "não comeceis a di-
zer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão; porque
eu vos digo que ate destas pedras Deus pode suscitar
filhos a Abraão" (Lucas 3:8). Paulo declarou, ante-
riormente, que "nem todos os que são de Israel são
israelitas; nem por serem descendentes de Abraão são
todos fi lhos" (vv. 6 e 7). Ele retornou àquele tema
e deu, alem disso, a evidência de Isalas: "Ainda que
o numero dos filhos de Israel seja como a areia do
mar, o remanescente e que serã salvo" (v.27; cf. I-
salas 10:22,23). Deus prometeu a Abraão que sua des-
cendÊncia seria como a areia do mar, mas, por causa
02 infidelidade e pecado de Israel, somente alguns
seriam poupados do cativeiro e da condenação de Deus
(v .28).
Ao inves de defender o fracasso de Deus
quanto a conservar sua promessa a Abraão, Paulo en-
fatizou a misericórdia de Deus (v.29). Nem mesmo um
remanescente teria sobrevivido e Israel teria se tar-
nado como Sodoma e Gomorra, se a misericórdia de
Deus não tivesse encurtado sua ira.
A Razão para o Fracasso de Israel

Romanos 9:30-10:21

Israel procurou a justiça pela Lei (9:30-10:4)

_ Após discutir o problema do plano de Deus


do ponto de vista da eleição divina, Paulo a consis-
derou do ponto de vista da responsabilidade humana.
Embora o Deus soberano seja supremo em autoridade so-
bre o homem na história~ sua conduta com o homem en-
volve o relacionamento da iniciativa de Deus e o res-
ponder do homem. Deus não excede a liberdade humana
e força o homem a submeter-se ao plano divino e a a-
ceitar a sua graça. A vontade humana deve respond~r
ao plano de Deus, com isso fazendo o homem responsa-
vel por suas ações.

Embora os judeus não pensassem que os gen-


tios fossem aceitos por Deus, porque eles não guar-
davam a Lei, Paulo assinalou que sua justiça tinha
sido obtida atraves da fe (v.30). Os judeus que ten-
taram estabelecer justiça atraves de seus próprios
esforços, guardando a Lei, fracassaram em realizar
justiça, porque eles não a guardavam (v.3l). Embora
os judeus tivessem a pretensão de que guardavam a
Lei, Paulo mostrou, em Romanos 2:1-3:20, que na ver-
dade estavam quebrando ã Lei. E um hipócrita alguem
que tem a pretensão de estar fazendo alguma coisa
que ele realmente não estã fazendo. Condenando os
gentios por falharem em guardar a Lei, os judeus
enganosamente jactavam-se daquilo que eles próprios
nãú estavam fazendo.

Paulo assinalou que o fracasso judaico não


foi carência de sinceridade, mas carência de habili-
dade para fazer o que a Lei mandava. As obras do ho-
mem como pecador e como criatura (dependência do eu
para realização) sempre carecem da glória de Deus. A
aceitação da parte de Deus deve ser por intermedio
da fê e não por meio de obras (v.32). Acreditando em
sua prõpria habilidade para viver justamente, segun-
do a Lei, os judeus rejeitaram a Cristo, que foi o
intermediãrio da provisão de Deus para justiça (v.
33). Justiça pela fe não e realização humana; e pro-
vida por Deus e faz o posslvel para o homem tornar-
se, através da fé, aquilo que ele e incapaz de con-
seguir atraves de esforço. O orgulho humano faz com
que o homem dependa do que ele e capaz de realizar;
pois a justiça divina provida por intermédio de Cris-
to torna-se uma pedra de tropeço (v.32). Para cons-
truir uma parede forte e bonita, o pedreiro procura
pedras do tamanho e forma certos. Muitas vezes ele
tropeça em muita pedra de que precisa, porêm não lhe
dã preferência. A justiça atraves de Cristo, pela fe,
é exatamente o que cada homem necessita por causa de
seu pecado, mas ele freqUentemente tropeça nela e e
prejudicado por aquilo que é designado a ajudã-lo.
Rejeitar a dãdiva de justiça de Cristo é cair e ser
condenado (v.33). Aqueles que escolhem a dãdiva da
justiça de Cristo, por meio da fé, não serão desapon-
tados nem envergonhados.

Em 10:1, Paulo começou a dirigir-se aos


"irmãos" cristãos. Anterior a este verslculo, ele ti-
nha falado de sua relação com os judeus. Ele assegu-
rou a seus irmãos cristãos que ele não cessaria de o-
rar pela salvação de Israel (v.l). Três fatos a res-
peito dos judeus fez com que ele continuasse a orar
por eles:

1. Eles tinham zelo por Deus (v.2). t100dy


assinala que o zelo sem conhecimento e
fanatismo, porem o zelo com conhecimen-
to é entusiasmo genulno.6 Talvez Paulo
tenha se lembrado de seu próprio fanatis-
mo pela Lei e tradições dos ancestrais
antes de suá conversão.

2. Eles procuravam estabelecer sua própria


justiça (v.3). Os judeus estavam conven-
cidos de que a Lei foi dada parà servir-
lhes de orientação para realizarem sua
própria justiça. Ignorância da justiça
de Deus e recusa para reconhecer a sua
própria falha resultam em grande zelo pa-
ra estabelecer a auto-justiça.

3. Cristo e o mei o para cumpri r a Lei (v.4).


Em Romanos 7, Paulo assinalou que a Lei
e boa e o homem interior quer guardã-la,
mas que o homem carnal faz as coisas que
o homem interior odeia. Quando o Cristo
ressurrecto controla a vida de alguem, o
homem carnal" não segue a sua própria von-
tade e a Lei e cumprida.

Deus tem provido para a justiça do homem (10:5-13)

Conforme previamente registrado em Gãlatas,


Paulo assinalou que todo aquele que depende da Lei
para justiça não pode receber justiça por meio da fé
(Gãl. 3:12). Ele tambem recordou aos Gãlatas: "Maldi-
to todo aquele que não permanece em todas as coisas
que estão escritas no livro da lei, para fazê-las"
(Gãl. 3:10). Em contraste, para obter a auto-justiça,
o homem não tem que ir em busca de Cristo (vv. 6 e
7). O conceito estã baseado na exortação de Moisês
em Deuteronâmio 30:11-14. Moises informou ao povo
que os Mandamentos não estavam escondidos deles, e
nem longe. Eles não estavam no ceu requerendo que
alguem devesse ascender ao ceu para trazê-los, nem
no além-mar. A Palavra ou Mandamentos estavam perto,
mesmo em suas bocas e em seus corações, para que e-
les pudessem põ-los na prãtica. Da mesma forma, a
justiça pela fé não teve que ser preparada. Cristo
j~ tinha descidc do c~u na ~nc2rnaçâo, ele rQrrera
pelos pecados deles e entrara no abismo, e tinha si-
do ressuscitado dentre os mortos (v.7). A justiça pe-
la fe jã estava preparada por Deus, sendo imediata-
mente eficaz. Estã tão próxima quanto os lãbios, de
uma pessoa, que estão dispostos a confessar que Je-
sus e Senhor, e o coração de uma pessoa que estã dis-
posto a crer que Deus O levantou dentre os mortos
(vv. 8 e 9). A palavra de fê que Paulo pregou foi a
morte e ressurreicão de Cristo, o meio pelo qual a
justiça pela fê foi preparada. As "palavras" enfati-
zam que os eventos (evangelho) devem ser proclamados.

6 Dale Moody, Romans, p.234

128
A confissão com a boca e a crença no cora-
ção não são meramente externos. O ato do cristão con-
fessar o homem Jesus como Senhor significa que ele
reconhece Jesus como o seu próprio Senhor. Um Senhor
tem controle sobre as vidas de seus seguidores. Crer
na ressurreição é mais do que admitir uma proposição
doutrinal. Significa confiar sua vida e seu ser ao
fato da ressurreição. A existência adquire um novo
ce~tro de referência, um novo relacionamento e um no-
vo dominador sobre a vi da. "Jesus é Senhor" é a for-
ma mai s breve da cren ça baseada n a morte e ress ur-
reição de Cristo. Deve ser lembrado que o "Senhor"
foi a palavra grega usada para traduzir a palavra
"Yahweh".

A confissão e a crença não devem estar sepa-


radas: "Poi s é com o coração que se crê para a jus ti-
ça, e com a boca se faz confissão para salvação" (v.
9). Ele não quis dizer que a salvação não é uma rea-
lidade presente. Os crentes que jã estão justifica-
dos pela fé em Cristo serão libertos no Dia do Juizo.
Quando o Dia vier, "ninguém que nele crê serã confun-
dido" (v.ll). A justiça pela fé não exclui nem o ju-
deu nem o gentio (v.12). Todo aquele que se volta da
auto-realização para Jesus e o invoca como Senhor se-
rã sal vo (v. 13).

Israel é responsãvel por rejeitar o plano de Deus

(10: 14- 21 )

As quatro questões deste parãgrafo estão na


forma de sorites - o predicado de uma oração torna-se
o sujeito lógico da seguinte. O oponente de Paulo,
quer seja real ou imaginãrio, objetou que os homens
não invocarão um Senhor em quem eles não crêem (v.14).
E impossível crerem num senhor a respeito de quem e-
les nunca ouviram falar, e deve haver alguém que pre-
gue para eles ouvirem. Fundamentalmente, a responsa-
bilidade pelo fracasso quanto aos judeus crerem e de
Deus, porque ele não enviou um pregador ('1.15). O o-
ponente deu a entender que, se os judeus conhecessem
a justiça de Deus, através de Cristo, eles teriam in-
vocado seu nome e teriam sido salvos.

Paulo concordou com a linha de raciocínio de


que os homens não crerão naquele de quem nunca ouvi-
ram falar, porem ele não podia concordar que Israel
nunca tivesse ouvido (v.ló). Paulo citou Isaías 5~:7
e 53:1 para sustentar sua posição de que Israel tinha
ouvido falar, mas não tinha atendido. Isaías tinha an-
tecipado que aqueles que ouvissem falar da mensagem
do Senhor estariam assombrados, não creriam nela. A-
queles que ouvissem o evangelho da justiça pela fê
também teriam dificuldade para crer no que eles ouvis-
sem. Todavia, a fé é a resposta própria e é dependen-
te da mensagem que é pregada.

Visto que Israel tinha ouvido, mas não aten-


dido, sua rejeição não foi falta de Deus, mas de Is-
rael. Paulo mostrou que o evangelho da fe existiu an-
tes de Isaías. De fato, a mensagem da fê foi pregada
a Abraão (cf. Gãl. 3:8). O Velho Testamento contem um
testemunho de Cristo, o qual é a "pregação de Cristo"
ou a "palavra de Deus" ('1.17). Visto que o Velho Tes-
tamento dã testemunho de Cristo, os judeus não têm
desculpa por fracassarem em crer nele e por rejeita-
rem o plano de Deus.
A oportunidade para ouvir a mensagem divina
não era limitada a Israel, e sim, o evangelho tem si-
do proclamado na ordem inteira da criação (Salmos 19:
4). Paulo declarou, no 19 capltulo, que os gentios po-
deriam conhecer alguma coisa a respeito do Deus invi-
slvel por meio da criação vislvel. Israel tinha maior
responsabilidade por sua rejeição, porque ele confron-
tou Deus não somente na criação, mas tambem na Alian-
ça e em Cristo. Não obstante, todos os homens são res-
ponsãveis por seus pecados, pois eles não têm vivido
de acordo com o conhecimento de Deus.

Israel não podia reivindicar que ele ouviu


falar, mas não compreendeu (v.19). Os gentios, cujo
conhecimento era muito mais limitado do que o de Isra-
el, compreenderam e responderam pela fe. A manifesta-
ção de Deus de Si próprio aos gentios, que não o bus-
cavam, foi suficiente para eles lhe responderem (v.
20). O fato de que os gentios responderam com tão pou-
co conhecimento revela que Israel não tinha desculpa
por não compreender e por rejeitar a Cristo. Deus es-
tende suas mãos a um povo rebelde continuamente (v.
21) .

o Remanescente de Israel

Romanos 11: 1-10

Um remanescente continua pela graça de Deus (11:1-6)

Paulo antecipou que seus leitores podiam ter


concluído que Deus tinha rejeitado seu povo, com quem
ele tinha entrado em Aliança (v.l). Tal conclusão sig-
nificaria que o propósito de Deus tinha sido derrota-
do. O próprio Paulo era evidência de que Deus não ti-
nha rejeitado os israelitas que aceitaram seu plano
(v.l). Paulo era um descendente de Abraão e um mem-
bro da tribo de Benjamim. Benjamim tinha sido leal
a Judã, a tri bo de Davi, quando as tri bos do norte a-
partaram-se de Jeroboão. A existência de um remanes-
cente crente foi a prova de que Deus não tinha rejei-
tado aqueles flue ele de antemão conheceu e amou
(v.Z). Aqueles que tiram tal conclusão estão engana-
dos como Elias, que pensou que era o unico profeta
que permaneceu fiel a Yahweh (v.3). Elias estava en-
qanado, porque Deus ti nha sete mi 1 homens que não se
haviam voltado para Baal (v.4).
Se Deus rejeitasse o seu povo, teria sido
contraditório ã sua promessa no Velho Testamento. Na
di? ~,~.;;";::?j ~ C.: 'l-': (' r" ,C ~ 'J r);C);~1eS~"
foi fei ta: "o Senhor, por causa do seu grande nome,
não desampararã o seu povo" (I Sam. 12:22). O salmis-
ta fez uma declaração similar (Sal. 94:14).

Embora a Ali: ça de Deus tivesse sido com a


nação como um todo,' nou-se claro aos profetas, 1-
saías e Miqueias, 01 ,em todo o povo seria fiel a
Yahweh. Ao inves d( Jncluir que a promessa e a alian-
ça de Deus foram a' 1adas por caus a da infi de 1idade
da maioria, estes afetas viram que Deus executaria
seu plano com um r, ,Ianesrente fiel (cf. Is. 1 :9; 10:
20-22; Miq. 2:12; S:3).

130
Paulo'como um representante do remanescente,
não estava mais sã do que Elias. Muitos judeus tinham
crido em Cristo e representavam o eleito fiel (v.5).
O propósito de Deus continua a ser baseado em sua gra-
ça, e ele não falharão A eleição e da graça - reali-
zação imerecida de Deus (v.5). O remanescente que Pau-
lo representou era composto daqueles que pela fe ti-
nham recebido o dom da graça de Deus por meio de Cris-
to. Os judeus que continuaram a depender das obras,
estavam excluídos da eleição da graça (v.6). Graça e
o que Deus faz por aqueles que não a merecem; portan-
to, ela deixaria de ser graça se o homem a conquis-
tasse (v.6). A ultima pa~te do versículo 6 na Versão
Autorizada (AV) não e parte do texto original (cf.
NES) .

Por que a maior parte de Israel falhou (11:7-10)

Os eleitos podiam obter a promessa de Deus,


porem a maior parte de Israel fracassou (v.7). A maio-
ria recusou atender ao que eles ouviam; pois eles es-
tavam endurecidos. O erro deles chegou ao ponto de re-
jeitar a Cristo como o Messias e como o meio de prover
justiça pela graça. "Endurecer" significa tornar-se
insensível. Paulo tinha experimentado uma consciência
incômoda que rebelou-se contra Deus quando ele tomou
parte no apedrejamento de Estêvão. Talvez dentro de
seu coração, ele soubesse que Estêvão estava falando
palavras de verdade, porªm concordar com Estêvão sig-
nificava que ele devia admitir seu erro passado. Quan-
do um indivíduo torna-se convicto de seu erro, mas não
se arrepende, ele estã endurecido. Deus envia o Espí-
rito da convicção, o qual torna-se um Espírito de tor-
por se a rebelião continuar (v.8).Uma pessoa continuan-
do em rebelião a ponto de endurecer-se, seus olhos
tornam-se incapazes de ver e seus ouvidos de ouvir o
que estã sendo dito.

Em citar Salmos 69:22,23, Paulo sustentou seu


argumento com outra escritura. A festa cerimonial ju-
daica deu a falsa segurança àqueles que participavam
dela, de que eram aceitos por Deus. Assim, ela tornou-
se um laço ou armadi lha para Israel. Enquanto continua-
vam a observar suas cerimônias, os judeus rejeitavam a
Jesus, o Filho de Deus. Eles tinham se escravizado à
Lei e, em sua cegueira, não podiam ver a realidade do
Fi 1ho de Deus.

A Inclusão dos Gentios

Romanos 11:11-24

A falha de Israel torna-se a oportunidade dos gentios

(11:11-16)

Paulo tinha afirmado em 8:28 que Deus pode


transformar o mal em bem para aqueles que o amam. A re-
jeição e queda de Israel não foram sem um fim determi-
nado (v.ll). Foi por meio de sua rejeição que a salva-
ção foi levada aos gentios. Em numerosas ocasiões, du-
rante as suas viagens missionãrias, Paulo primeiro foi
aos judeus, porem quando eles recusaram-se a aceitar a
Cristo, ele voltou-se para os gentios. Os gentios res-
ponderam e receberam a bênção de Deus. Paulo cria que,
quando os judeus vissem as bênçãos que Deus concedera
aos gentios crentes. seriam movidos a considerar Cris-
to e se submeteriam a ele pela fê (v.ll).

, Paulo raciocinou que. se uma bênção pudesse


vir do pecado de Israel. sua obediência e inclusão
plena resultariam em bem indescritivel (v.12). Desde
o tempo que a promessa foi primeiro dada a Abraão.
Deus tinha em vista a inclusão dos gentios. Deus ti-
nha escolhido e abençoado Israel a fim de que ele.
por sua vez. pudesse tornar conhecido ao mundo o po-
der e a bondade de Yahweh. O propósito de Deus para
com Israel seria realizado mesmo ainda que Israel fa-
lhasse. Cristo. um israelita segundo a carne. tornou
a graça de Deus eficaz aos gentios crentes. O fracas-
so dos judeus em aceitar a Cristo conduziu a uma gran-
de oportunidade para os gentios o conhecerem e respon-
derem pela fê. Paulo deu a entender que a rejeição
dos israelitas era temporária. visto que sua plena
inclusão teria lugar no futuro (v.12).

Embora os gentios tivessem chegado a uma po-


sição superior na igreja em Roma no tempo que Paulo
escreveu. eles não deviam tornar-se orgulhosos. A que-
da dos israelitas era temporária, e ele. Paulo, acre-
ditava que o ciume deles dos beneficias dos gentios
em Cristo contribuiria para sua salvação (v.14). A
resposta dos judeus, procedendo de ciume dos crentes
gentios, significaria que Paulo, o missionãrio aos
gentios. teria tido parte na salvação de alguns dos
judeus.

Paulo repetiu o paralelo contrastante de que.


se a rejeição deles significou reconciliação do mundo
(gentios). então a aceitação deles significaria "
vida dentre os mortos" (v.15). O otimismo de Paulo
concernente ã conversão dos judeus estava baseado nos
princípios manifestados em Numeras 15:17-21. Os israe-
litas ofereciam a Deus um bolo de massa de farinha
grossa. A apresentação de um bolo ou uma porção de
,massa a Deus tornava santa toda a massa. A conversão
'de alguns judeus indicou que o maior corpo seria san-
tificado ou trazido ao Reino do povo de Deus. A metã-
fora da raiz santificando os ramos pode ter sido re-
ferência a Abraão (v.16). Visto que os ramos dependem
da raiz, o que quer que aconteça com a raiz afeta os
ramos. A santidade de Abraão afetaria todo o Israel;
todavia. ê necessário que cada israelita creia a fim
de ser salvo.

A oliveira ilustra a inclusão do gentio (11:17-24)

Paulo continuou a metáfora da raiz santifi-


cando os ramos como um aviso contra o orgulho gentio.
Os gentios eram ramos selvaqens que tinham sido en-
xertados na árvore a fim de-se tornarem participantes
da raiz e da seiva de oliveira (v.17). O fato de que
os gentios tinham chegado a um lugar superior no Rei-
no de Deus por causa da fé não deve torná-los orgu-
lhosos. Paulo lembrou-lhes que eles eram dependentes
da nação de Israel. a árvore, visto que o Salvador
tinha vindo através dela (v.18). Em segundo lugar, e-
le lembrou-lhes que os ramos judaicos tinham sido
quebrados a fim de que os ramos selvagens pudessem
ser enxertados na árvore (v.19). Os israelitas foram
quebrados por causa da incredulidade (v.20). Os gen-
tios não foram enxertados na árvore por causa de sua
superioridade ou justiça. mas por causa de sua fé.
132
Visto que a fe inclui um reconhecimento de indignida-
de e renuncia de pecado, os gentios devem ficar em
temor respeitoso, ao inves de se tornarem orgulhosos.
Em terceiro lugar, os gentios não deviam tornar-se
orgulhosos porque eles não tinham a segurança de que
Deus os pouparia, sabendo que ele não poupou os ramos
naturais (v.21). Um indivíduo orgulhoso tende a acre-
ditar em si mesmo. Deus lida severamente com aqueles
que acreditam em s~ prõprios, porem_ ele e bom para
com aqueles que creem nele. Nao ha esperança, paz,
nem segurança para o homem aparte da fe. Em quarto lu-
gar, Paulo lembrou aos ~entios que a rejeição judaica
não seria permanente, se os judeus não persistissem
em sua incredulidade (v.23). Deus tinha o poder para
enxertá-los de novo, se eles voltassem para ele com
fe. Se os gentios, os ramos selvagens, podiam ser en-
xei":ados numa oliveira cultivada, certamente era pos-
sível que os ramos naturais, os judeus, podiam tornar
a ser enxertados em sua prõpria oliveira (v.24).

o Plano Final de Deus para Israel

Romanos 11:25-32

A fim de os gentios evitarem a pres~nçao, e-


ra necessarlO que eles compreendessem o misterio de
Deus (v.25).Os gentios rrão tinham compreendido o pro-
pósito de Deus para com os judeus. Deus não abandonou
sua promessa a Israel, porem um endurecimento veio so-
bre parte de Israel, temporariamente, por amor aos
gentios. A cegueira parcial de Israel significou a o-
portunidade para os gentios. Quando o numero completo
de gentios já estiver fazendo parte do Reino, "assim
todo o Israel será salvo" (v.26). O que Paulo quis di-
zer pelas palavras, "e assim todo o Israel será :>;;1-
vo", tem levado a muito desacordo.

Alguns estudiosos traduzem "e assim" como


"em manei ra semelhante". Esta tradução conduz ã inter-
pretação de que todo o Israel será salvo do mesmo mo-
do que os gentios, isto e, pela fe. Outros enfatizam
que o contexto apoia a visão de que a plenitude de Is-
rael segue a plenitude dos gentios. O problema surge
sobre o significado de "todo o Israel". No capítulo 9,
Paulo mostrou que nem todo descendente de Abraão está
incluído em Israel. Ele assinalou que "nem todos os
de Israel são israelitas" (9:6). Os filhos da promes-
sa são contados como descendência (9:8). A promessa
foi estabeleci da atraves da fe de Abraão. Os homens
são aceitos por Deus não por causa de seus próprios
esforços, mas na base de seu propõsito segundo sua
eleição e chamada (9:11). Seus escolhidos não são só
os judeus, mas tambem os gentios (9:24). Em 4:11, Pau-
lo assinalou que Abraão e o pai de todo aquele que
crê, quer seja circuncidado ou não. Seus descendentes
são aqueles que o seguem na fe, e não aqueles que rei-
vindicam a obediência da Lei. Os israelitas verdadei-
ros são tanto os judeus como os gentios que foram
chamados por Deus e responderam pela fe.

"Todo o Israel" eram, provavelmente, aqueles


judeus que tinham sido escolhidos, pela graça de Deus,
como seu povo. Paulo não estava manifestando a salva-
ção universal de todos os homens, nem de cada israeli-
ta, segundo a carne, a qual teria contradito suas de-
clarações em Romanos 9. "Todo o Israel", referia-se
àqueles que cumpriam o propósito de Deus pela fe. E-
les foram salvos atraves do libertador que veio de
Sião. A nova aliança de Jeremias seria estabelecida
pela remoção de seus pecados (v.2?). O ponto primã-
rio de Paulo era que Deus ainda não tinha terminado
com Israel.

Paulo fez uma declaração sumãria nos versf-


culos 28-32. No misterioso funcionamentc do plano de
Deus, os. judeus eram inimigos de Deus com respeito a
Cristo, porque eles o rejeitaram. Mas Cristo foi re-
jeitado para o beneflcio dos gentios. Com relação ã
divina eleição de Abraão e seus descendentes, os is-
raelitas continuaram a ser amados, e eles têm um lu-
gar no propósito de Deus (v.28). Em sua soberania,
Deus não e obri gado a revogar sua chamada e dons (v.
29). Ele pode efetuar seu propósito sem infringir na
liberdade humana, mesmo ainda que o homem prefira re-
jeitã-lo. A rejeição judaica, do propósito de Deus
em Cristo, tinha manifestado, abertamente, sua deso-
bediência e necessidade de misericórdia (vv. 30 e
31). Outrora, os gentios eram desobedientes e recebe-
ram misericórdia, e os judeus que tinham sido desobe-
dientes tambem receberiam misericórdia no futuro. A
misericórdia e o perdão de Deus não eram concedidos
a eles aparte da fe, DOrem os gentios desobedientes
responderam a Deus pela fe e receberam sua misericór-
dia; portanto, Paulo concluiu que o mesmo acontece-
ria com os israelitas. Sua conclusão e que todos os
homens são desobedientes e devem buscar a misericór-
dia de Deus para redencao (v.32). Esta conclusão e
consistente com sua doútrina de pecado em Romanos 1-
3.
Introdução

Paulo tinna apresentado as doutrinas de Ee-


cado e salvação. ~le mostrou que todos os homens sao
pecadores e sujeit~s ao poder do mal, o qual rege es-
te mundo. Ele tamDem assinalou que a salvação atraves
da fe em Cristo ê o unico meio para se vencer a natu-
reza do pecado, ~ tornar-se justo. Embora não desa-
creditasse a Lei :omo santa e boa, ele, na verdade,
tomou a posiçâo oposta ã dos fariseus, mostrando que
a Lei e ineficaz em estabelecer um relacionamento
perfeito com Deus.

Paulo tinha mostrado como ê possTvel, pela


fê, viver justamente. Restava €le explicar quais ati-
tudes e ações caracterizam a vida cristã. Existe um
padrão de conduta para o cristão que pode ser realiza-
do quando sua vida ê controlada e fortalecida pelo Es-
pírito Santo. As acões e atitudes cristãs devem carac-
terizar seu relacionamento com Deus e com seu próximo.

Adoração GenuTna

Romanos 12:1,2

No centro da conduta cristã estã uma nova es-


pecle de ~doraçãc. Adoração para os judeus significa-
va levar os sacrifícios ao Templo e freqtientar a sina-
goga. Adoração para os gentios pagãos significava fes-
tivais especiais e sacrifícios aos ídolos.

Adoração estã intimamente relacionada com


serviço. Um aspecto da adoração ê compreendido co-
mo inclinação diante de Deus em submissão. O outro as-
pecto da adoração e honrar a Deus por meio de obediên-
cia leal. Apresentando os serviços do templo como fun-
damento em sua declaração, Paulo apelou aos romanos
para que ofertas sem seus corpos não em morte, mas co-
mo sacrifícios vivos a Deus. Ele tinha feito o apelo,
baseando-se no que Deus tinha feito por eles por in-
termêdio de Cristo. Este parãgrafo inicia com "pois"
ou "baseado no Que estive discutindo". Por causa do
amor e da misericórdia de Deus para com eles, a pró-
pria resposta deles deve ser a de oferecer suas vidas
no serviço de Deus. Paulo não perguntou pela vida pe-
138
caminosa e manchada, mas por uma vida santa (separa-
da para o serviço e justiça de Deus), a qual e acei-
tãve 1 a Deus.

Uma vida que expressa adoração no serviço


não pode ser vivida de acordo com este mundo e sob
o controle do poder do mal. A vida deve ser renovada
e transformada por uma nova maneira de pensar (v.2).
A nova maneira de pensar abrange um reconhecimento
da deficiência pessoal e uma confiança total em Deus.
A velha maneira de pensar confia no eu e segue os
interesses e os desejos próprios. A nova mente de
crença em Deus põe a vontade e o propósito de Deus
em teste, e prova que eles são bons e aceitãveis e
perfeitos.

Realmente, Paulo disse aos cristãos romanos


que não se conformassem com este século (v.Z). A sa-
bedoria deste século, ou dos príncipes deste mundo,
viria a ser nada, e era diferente da sabedoria a ser
falada entre o povo de Deus (I Cor. 2:6).
Os dominadores deste século não comoreendem
a sabedoria de Deus (I Cor. 2:8). Os deuses ou domi-
nadores deste mundo cegam as mentes dos não crentes,
a fim de que não compreendam a mensagem gloriosa de
Cristo (11 Cor. 4:4). Cristo tem sido exaltado acima
de todos os dominadores e potestades e autoridades
desta era, e também da era vindoura (Ef. 1:21). Esta
era presente é maligna e. seu dominador foi julgado
e condenado (Gãl. 1:4; João 12:31). Embora os cris-
tãos devam viver dentro do meio ambiente desta era,
não devem se conformar com seus caminhos, mas ser go-
vernados por uma nova mente, que orienta a vida em
faz2r a vontade de Deus. A vida transformada e pos-
sível pelo poder do Espírito.

As Atitudes para com o Eu

Romanos 12: 3-8

Humildade (12: 3)

o homem não pode se ajudar, mas tem exalta-


do opiniões de si próprio com respeito a suas capa-
cidades e posição de vida. O que o homem pensa a res-
peito de si prâprio afetará seu relacionamento com
os outros e com Deus. A maior virtude cristã, com re-
lação ao eu, ê a humildade. Algumas sociedades iden-
tificam humildade com fraqueza, porem os verdadeiros
cristãos seguem seu Senhor em genuína humildade.
Cristo, que é igual a Deus, esvaziou-se de sua digni-
dade e, humildemente, assumiu o pa2el de um servo
(Fil. 2:6 e s. ). Ele submeteu-se a condenação e ã
morte vergonhosas como um criminoso, a fim de fazer
a vontade de Deus. Sua humildade ê o exemplo para o
cristão na vida diãria. Paulo estimulou os cristãos
romanos a não pensarem de si próprios mais altamente
do que eles devessem pensar (v.3).
A humildade cristã estã baseada no reconhe-
cimento de que as habilidades individuais são dons
de Deus, e não criações do indivíduo. Paulo lembroú
aos coríntios que eles não tinham base para jactarem-
se, pois suas habilidades e qualidades superiores fo-
ram recebidas de Deus e não eram realizações de ho-
mem (I Cor. 4:7). A medida que uma pessoa pensa,
sobriamente, a respeito de si mesma, vai reconhecendo
que não pode reivindicar credito pelo que ela e. Nem
tampouco deve desesperar-se do que ela não e, porque
Deus a criou para um propósito na vida.

Seu pensamento sóbrio, ou julgamento, deve


considerar a "medida da fe" (v.3). Esta medida da fe
denota o poder espiritual dado a cada cristão para o
desencargo de sua responsabilidade especial. Seu po-
der espiritual e uma doação de Deus. A responsabili-
dade do homem e a de usar a doação fielmente, e não ne-
gl igenci ã-l a.

A Analogia do Corpo (12:4-8)

A analogia de Paulo a respeito do corpo hu-


mano para descrever a relação dos cristãos na Igreja
e semelhante a I Corlntios 12:14-26. A analogia corin-
tianaenfatiza a relação do cristão com Cristo, e com
os dons, os quais Cristo lhe doou. A analogia romana
dã ênfase ã relação de membros indi vi duai s um . com o
outro (vv. 4 e 5). A ênfase estã na diversidade de
membros e nas qualidades e funções diferentes dos mem-
bros. No verslculo 5, Paulo dã ênfase ã interdependên-
cia dos membros do corpo de Cristo. O corpo seria vas-
tamente inadequado, se fosse composto de somente do-
is ou três membros. As mãos são importantes, porem e-
las não podem funcionar, muito efetivamente, como os
pés. Os olhos são de grande valor, porem eles seriam
órgãos inuteis para a audição. Na Igreja, hã muitos
membros com capacidades e habilidades diferentes. Ca-
da membro e responsãvel por contribuir para o bem-es-
tar do corpo inteiro. Todos têm dons sue diferem se-
gundo a graça de Deus (v.6). Um indivlduo não deter-
mina que dom ele receberão Ele não merece dom algum;
portanto, ele deve ser dado com base na misericórdia
e bondade imerecidas da parte de Deus. Ele deve ser
grato por qualquer que seja o dom que Deus lhe tenha
dado, e deve usã-lo fielmente no serviço de Deus, em
benefício da Igreja. A profecia e citada em primeiro
lugar, porém os dons não estão em ordem de prioridade.
Todavia, Paulo colocou a profecia próxima ao apostola-
do em I Cor;ntios.

A "profecia" deve ser exercida "segundo a


proporção da fe" (v.6). Novamente, Paulo falou da fe
não como crença humana em Deus, mas como um grau de
poder espiritual dado a cada cristão. Profeta e aque-
le que fala à Igreja concernente ã voz e ã vontade de
Deus. A medida ou proporção da fe que ele recebe deter-
mina o nível de inspiração ou profundidade de seu dis-
cernimento e o grau em que Deus torna Sua vontade e
propósito conhecidos a ele e através dele. óbvior
que os pre2adores possuem graus variados de habilida-
de. A eficacia de seu papel profético depende grande-
mente da medida da fe com que eles foram dotados. To-
davia, alguns pregadores não são diligentes no exerc;-
elo deste dom. Eles falham quanto ao estudo e ã ora-
çao.

"Serviço" ou "ministério" veio a ser associa-


do ã função de diãcono. Eles ministravam àqueles que
estavam em necessidade. "Ensinamento" era a função
especial dos Rabis nas sinagogas, e tornou-se associa-
do ao trabalho do pastor na Igreja (Ef. 4:11 e s.).
Os mestres se ocupavam com as doutrinas da Igreja e e-
ram responsãveis pelo preparo dos santos em ministrar.
140
"Exortação" se re 1a.~iona com profeci a, mas, ao que
parece, era uma funçao aparte oportunamente. Ele en-
fatizava uma chamadã ã decisão mais do que a procla-
mação da Palavra de Deus.

Aquele que "dã" é ilustrado por Barnabê,


que tinha uma propriedade, a qual tornou ütil para
satisfazer às necessidades fis~cas do pobre. Os con-
tribuintes eram instruidos a nao fazerem uma exibi-
ção de sua liberalidade para o louvor dos homens, co-
rno Ananias e Safira, mas para darem livremente, sem
chamar a atenção para sua generosidade. Aquele que
"lidera" é, na verdade,'o que dã ajuda (v.S). Um 11-
der não é aquele que diz aos outros o que fazer, mas
aquele que dã o exemol0, tornando-se envolvido na ta-
refa a ser realizada. Sua diligência faz com que ele
seja o primeiro a emoreender a tarefa. Certos mem-
bros receberam a habilidade e a responsabilidade de
mostrar atos de "misericórdia". Aparentemente,_ ti-
nham por fim ajudar o doente e o faminto, Eles eram
estimulados a mostrarem animação em seu ministério.

Alguns cristãos não usam os dons espiritu-


ais com que foram dotados porque nunca os descobri-
ram. Outros estão cientes de seus dons espirituais,
mas se acham descontentes com eles, porque os con-
sideram sem valor. O descontentamento, muitas vezes,
faz com que os cristãos atentem para uma função em ã-
reas de responsabilidade, para as quais não foram es-
piritualmente dotados. A atitude que se tenha para
consigo mesmo, para com suas habilidades e para com
seus dons determinarã a eficiência que se tenha no
serviço e na adoração de Cristo. Uma atitude de hu-
mildade, da parte da pessoa, a conduzirã a uma acei-
tação alegre do dom que Deus lhe tenha dado e ao seu
exercicio fiel. Desse modo, a Igreja ê fortalecida,
e Cristo, glorificaào.

Ação para com os Outros

Romanos 12:9-21

A humildade deve caracterizar a atitude de


um indivíduo para consigo mesmo, e o amor deve carac-
terizar suas ações em relação aos outros. A humilda-
de conduz à alégria, ao passo que o orgulho conduz ã
inveja e ao descontentamento. As ações baseadas no a-
mor resultam em gozo e paz.

O amor genuino é mais do que uma atitude; e-


le deve ser expresso em ações. O amor em palavras não
ê amor real; ele deve ser expresso em feitos. Deus ê
amor, e ele deu o seu Filho. Deus não poderia ser a-
mor sem expressã-lo em dar. O ato de dar é uma par-
te integral do amor; ele deve ser expresso em atos
de bondade (v.9). O amor não ê hipócrita; isto ê,
não ê fingido. Tudo deve ser feito em amor (I Cor.
16:14). Isto é possivel porque o Espírito produz o
fruto do amor (Gãl. 5:22). O amor não se submete ao
mal, mas vence o mal com o bem.

Os cristãos devem abominar o mal e separar-


se dele, agarrando-se ao bem. O amor natural de pa-
rentesco, "afei ção fraternal", representa os cri s-
tãos como limitados por um laço de familia. Os cris-
taos devem amar seus irmãos na fé como se fossem ir-
mãos de sangue (v.10). "Preferindo-vos em honras, uns
aos outros" significa considerar melhor ou estimar ma-
is altamente a outra pessoa. Phillips sugere que sig-
nifica "deixar o outro indivlduo ter razão". As ca-
racterlsticas indecorosas dos cristãos consistem em
buscar credito para si mesmos e culpar os outros por
suas falhas. Os cristãos não devem ser indolentes e
inseguros na vida (v.ll). Eles devem ser ardorosos ou
"fervorosos no Esplrito", a medida que trabalham para
o Senhor.

O aspecto da vida presente não deve ser de-


terminado por meio de permanência em circunstâncias i-
mediatas. O gozo provém da contemplação da esperan-
ça que temos em Cristo (v.12). As tribulações marca-
rão a vida do cristão, mas a paciencia decorre do es-
quecimento de que as tribulações terminarão, e que go-
zaremos a eternidade com Deus. A vitória no meio do
presente mal pode ser obtida em continuar-se em comu-
nhão com Deus por meio da oração. Paulo enfrentou tem-
pos diflceis e penosos durante suas viagens missionã-
r2as, mas ele sempre encontrou vitória atraves da ora-
çao.

Os cristãos devem compartilhar com os neces-


sitados, quando eles por si procuram prover para as
suas próprias necessidades (v.13). No corpo de Cristo,
os cristãos são membros uns dos outros. O relaciona-
mento é tão lntimo gue, quando um sofre, os outros
membros sofrem tambem. Eles devem continuar pratican-
do a hospitalidade em todo tempo. Nos dias de Paulo,
muitos cristãos foram banidos e perseguidos __ Não de-
via haver necessidade de coação para os cristãos ro-
manos mais afortunados, mas deviam buscar as oportuni-
dades de exercitar a hospitalidade.

A relação do cristão não deve ser limitada


aos outros cristãos da comunidade. Ele deve abençoar
(falar bem de) aqueles que trazem miséria para sua vi-
da (v.14). Paulo pode ter tido em mente o sofrimento
e as perdas de Roma, em conseqOência da perseguição o-
ficial sob ãs ordens de Clãudio. A instrução para a-
bençoar o perseguidor ao invés de amaldiçoã-lo, relem-
bra as palavras de Jesus (Mat. 5:44).

Pode ser mais fãcil ter compaixão daque-


les que estão em necessidade do que regozijar-se com
aqueles que experimentam a boa sorte. A afeição genul-
na de uma famllia capacita seus membros a se regozija-
rem quando a honra e a boa sorte têm lugar. Da mesma
maneira, quando a tristeza sobrevem a um membro de u-
ma famllia, todos partilham da sua tristeza. A igreja
deve ter uma espécie de afinidade, em que o gozo e a
tristeza que sobrevenham a alguém resulte em gozo pa-
ra todos (v. 15) .

Novamente, Paulo avisou contra o orgulho (~.


16). Ele instruiu os cristãos para serem atraldos as
coisas humildes e a deixarem de ser guiados, por si
mesmos, na determinação de sua conduta. Ao invés do
pastor demonstrar sua superioridade como llder ele
deve ser atraldo em atitude para com os membros mais
indigentes e humildes da Igreja. Não é para os cris-
tãos colocarem suas mentes em coisas ou posições ele-
vadas, mas eles devem originar-se destis por simpa-
t. ia pe 1os humil des e neces s itados.
142
o cristão não deve retribuir o mal com mal
(~. 17-cf. Mat. 5:39). Antes ele deve adotar de ante-
mao idéias nobres, a fim de que suas ações sejam con-
troladas não por um espirito de vingança, mas por um
espirito do que é justo. Outros o permitindo, ele de-
ve viver em paz com todos os homens (v.18). As ações
do cristão devem conduzir ã paz, e não ã agitação e
ã porfia.
O homem não deve vingar-se por suas próprias
mãos, pois essa é a prerrogativa de Deus (v.19). "Mi-
nha é a vingança e a recompensa; ... porque o dia da
sua ruina está prõximo,·e as coisas que lhes hão de
suceder se apressam a chegar" (Deut. 32:35). O cris-
tão deve praticar a ação oposta de ajudar seu inimigo
em vez de feri-lo (v.20). Bruce sugere que a força o-
riginal da admoestação pode ter sido: "Trate seu ini-
migo gentilmente, porque isso aumentará a culpa dele;
você assegurará para ele um juizo mais terrivel; e pa-
ra você mesmo uma melhor recompensa de Deus."l Paulo
mudou a declaração lentamente, para significar que,
se você tratar seu inimigo gentilmente, o deixará en-
vergonhado, o que o levará ao arrependimento. Assim
procedendo, a pessoa livra-se de um inimigo, transfor-
mando-o em um ami go: "Não te deixes vencer do mal,
mas vence o mal com o bem" (v.21).

Aplicações Práticas da Vida Espiritual

Gãlatas 6:1-10

Ajudando outros em necessidade (6:1-6)

Paulo tinha declarado o principio básico da


conduta cristã: o Espirito Santo no controle da vida
da pessoa que se converteu produzirá fruto. A aplica-
ção especifica do amor cristão em relação a um irmão
que tenha caido em pecado, não é criticar e condenar,
mas ajudar (v.l). Andar no Espirito significa restau-
rar o caido. Se um homem é pago no ato de coisas er-
rôneas, sua vida precisa ser reformada (restaurada).
Isto pode ser feito somente por aquele que é contro-
lado pelo Espirito, porque ele reconhece que também
seria culpado de errar se a natureza carnal reconquis-
tasse o controle de sua vida. Visto que ele reconhe-
ce seu próprio perigo de cair em pecado, não se sente
superior e, portanto, expressa um espirito de mansi-
dão ou gentileza.

A pessoa que se sente superior ao cristão


caido, provavelmente, o criticará, em vez de ajudá-lo
a retomar ao caminho reto, Ele deve vigiar a si pró-
prio, porque será tentado e, provavelmente, cairá em
pecado também.

Alguns cristãos carregam cargas pesadas e


precisam da compreensão e do apoio dos outros cris-
tãos (v.2). Quando um cristão parece estar errando,
os outros, gue tendem a julgar, não podem compreender
as circunstancias dele, a menos que tenham comparti-
lhado em carregar a sua carga. Compartilhar com aque-
les em necessidade espiritual - assisti-los quando e-
les estiverem oprimidos - é cumprir a lei de Cristo
(v.2). A lei de Cristo é a lei do amor (cf. Rom. 13:
8). A pessoa precisa de mais do que simpatia quando o

F. F. Bruce, Romans, p. 230.


problema aparece. Ela pode ser pressionada sob a car-
ga do erro, do medo, da ansiedade, do cansaço e da
dor flsica. Muitas destas cargas não serão descober-
tas, exceto pelo cristão muito senslvel. Se deixamos
uma pessoa sustentar sua carga pesada sozinha, ela
pode cair em pecado. Este é, muitas vezes, o caso do
alcóólico. O amor genulno, a lei de Cristo, é expres-
sa pelo cristão senslvel, que estende sua mão para a-
judar um irmão que estã lutando sob uma carga, antes
que ele caia.
Paulo escreveu aos romanos para não se jul-
garem mais altos do que deviam. Ele avisou aos gãla-
tas que "...s"€alguem pensa ser alguma coisa, não
sendo nada, engana-se a si mesmo" (v.3). Um indivl-
duo que se julga superior estã apto a negligenciar
o compartilnar das cargas. Seu sentimento de auto-im-
portância pode fazer com que ele pense que é superi-
or ao irmão frãgil e fraco, que carrega cargas, ou
que ele estã ocupado demais para gastar tempo aju-
dando os outros. Em ambos os casos, ele estã em er-
ro. O dia virã quando estarã precisando da ajuda de
alguém muito mais importante do que ele próprio, mes-
mo de Deus.

Paulo sugeriu que cada pessoa deve medir


sua conduta e realizações ã luz de sua própria situa-
ção, e não em comoaração aos outros (v.4). FreqUente-
mente, um homem compara suas realizações com as da-
queles que têm tido menos oportunidades. O resultado
é exagerar o seu próprio trabalho e depreciar o de
outrem. Quando alguém avalia suas realizações ã luz
de seu potencial, descobre que sempre ê insuficiente.
O verslculo 5 parece contradizer a declara-
ção de Paulo no verslculo 2, de que o homem deve a-
judar ao sobrecarregado por amor. Contudo, todo ho-
mem tem uma responsabilidade na vida, que deve en-
frentar. Ele não deve se esquivar de seu serviço,
passando a responsabilidade de sua obrigação comum
da vida a outros. Aquele que não estã disposto a ar-
car com suas prõprias responsabilidades ou cargas so-
brecarrega outros, sobre os quais ele coloca suas
cargas. Se ele carrega a sua parte da carga, pode es-
perar que amigos cristãos o assistam com cargas ex-
tras.

A instrução religiosa foi muito importante


na igreja primitiva (v.6). Alguns mestres gastavam
tanto tempo na instrução, que a provisão precisava
ser feita para o sustento deles. Aqueles a quem ê
ensinada a Palavra (o evangelho) devem participar no
sustento daqueles que ensinam. Jesus disse: "pois dig-
no ê o trabalhador do seu salãrio" (Luc. 10:7). Over-
dadeiro pastor-professor não prega ou ensina por di-
nheiro; todavia, se ele devota todo o seu tempo ao
ensinamento e ao ministerio, ê incapaz de sustentar-
se. As congregações não pensam em termos de "contro-
lar um pregador", mas de "participar em seu susten-
to", para capacitã-lo a devotar mais tempo ao ensi-
namento e ao ministério.

A Instrução da Colheita (6:7-10)

Paulo disse aos gãlatas: "Não vos enganeis"


(v.7). Faulo pode ter repreendido os gãlatas por mes-
quinheza em relação ao sustento de seus mestres men-
144
cionados no versículo 6. A sua ~plicação do ~rande
princípio espiritual que introduziu, todavia, e mais
ampla do que a questão de sustentar professores. Ele
avisou que o homem não pode desprezar a Deus e seus
mandamentos sem pagar as conseqilências: "Deus não se
deixa escar!!ecer" (v.7). O homem não pode escapar
das conseqilencias de ignorar a Deus, que é seu Cria-
dor e tem o direito de fazer demandas de sua vida.

"Pois tudo o que o homem semear, isso tam-


bem ceifará" e uma referência ao julgamento, em que
todo homem deve dar conta de si mesmo a Deus. A re-
ferência mais imediata rode ser a esta vida presente,
em que a personalidade e o caráter do homem confor-
mam-se com suas ações - ações malignas que resultam
em um caráter torcido. Se uma pessoa gasta seu tempo
desprezando os outros ou semeando desprezo entre os
outros, virá o dia quando ela se tornará a vítima do
desprezo.

Paulo explicou que, se um homem vive segun-


do os desejos de sua carne, ele, eventualmente, cei-
fará as recompensas de corrupção e condenação (v.S).
A vida da carne despreza a necessidade de Deus na vi-
da de alguem e sua responsabilidade para com Deus,
enquanto focaliza assuntos de auto-interesse. Virá o
dia quando a misericórdia de Deus não será mais efi-
caz para o pecador culpado. De outro modo, "quem se-
meia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna"
(v.S). O indivíduo que esincero a respeito de agra-
dar a Deus e viver uma vida justa, considerará seria-
mente o que Paulo ensinou com referência ao Espíri-
to. Ele procurará ter o controle do Espírito Santo
na sua vida, o que resultará em atos justos e vida e-
terna.

Uma pessoa que semeia no Espírito nao se


cansará de fazer o bem (v.9). Fazer o bem significa
ajudar alguem que precisa de alguma coisa, quer se-
ja necessidade física quer seja espiritual. Não é ne-
cessário esforço para não fazer nada pelas necessida-
des dos outros, e muitos preferem o "não fazer" a "fa-
zerem o bem". Existe a possibilidade de a pessoa se
cansar de fazer o bem. Aquele que é consistente em
fazer o bem não serã desapontado, pois, eventualmen-
te (na devida estação) ele ceifarã o oroduto de seus
esforços. Algumas vezes, o fruto da colhei:a não es-
tá pronto para a eternidade. Dutras vezes. a pessoa
colhe nesta vida alguns frutos de seu labor. A co-
lheita abundante pertence àqueles que não perdem o
seu ânimo.

A estação de semear é o tempo para fazer o


bem a todos os homens (v.10). Paulo tinha jã mencio-
nado uma série de boas coisas a fazer: (1) a restau-
ração de um irmão caído; (2) carregar as cargas uns
dos outros; (3) partilhar das possessões materiais I.
com os professores; e (4) apresentar servi ço incansã- I~

ficência, ou misericõrdia surgisse, Paulo exortou os _


gãlatas
velo a tirarem
Sempre que umavantagens dela, defazendo
oportunidade o be~.bene-
gentileza, E!e I'~.'

fez uma admoestação especi a1 para se dar atençao a- \'

responsabilidade de cuidarem uns dos outros, assim ~


como os que
queles membros de família
são da uma família
da fé.sãoOs responsáveis
cristãos têm pora I~

cuidam dos filhos durante sua infância, e os filhos


satisfazer às necessidades uns dos outros. Os pais l_I
Introdução

Paulo concluiu Romanos 12, instruindo os


cristãos a deixarem a vingança nas mãos de Deus. As
vezes surgem circunstâncias que tornam difícil o es-
perar que Deus inflija o castigo nos malfeitores. O
mal não seria restringido se o principio de deixar o
castigo inteiramente nas mãos de Deus fosse seguido.
Paulo explicou que o Es~ado e ordenado por Deus para
punir os infratores da Lei.

Visto que Deus e todo poderoso, toda a au-


toridade pertence a ele. A autoridade pertencente ã
instituições ou indivíduos, ou e derivada de Deus ou
e permitida por ele. Paulo estava convicto de que o
Estado (governo) e divinamente ordenado; portanto; e-
le deriva sua autoridade de Deus e deve ser respeita-
do pelos cristãos.

Paulo gozou os privilegios da cidadania ro-


mana. O domínio romano era antes de maior valor do
que impecilho aos judeus. A religião deles era reco-
nhecida como uma religio lícita (religião legítima)~
Os romanos respeitavam seu Sabbath e leis quanto a
comida e a proibição de imagens esculpidas. A lei ro-
mana proibia padrões militares com imagens anexadas
a eles. A penalidade de morte era pronunciada contra
aqueles, mesmo tratando-se de um romano, que trans-
gredissem a lei do Templo que proibia os gentios de
entrarem nas cortes interiores.

Os governadores romanos enviados pelos impe-


radores estavam preocupados em conservar a paz e não
com a disputa entre cristãos e judeus. Em Corinto,
cerca de 51 A.D., Paulo foi acusado diante de Gãlio,
o novo procônsul de Acaia. Gãlio concluiu que as acu-
sações contra Paulo eram assuntos de interpretação
religiosa e de nenhum interesse para ele. O caso foi
posto de lado. Na maioria das ocasiões, Paulo achou
justiça sob legisladores romanos. A experiência de
Filipos foi uma exceção, em que Paulo foi colocado
na cadeia sem uma prova clara. Nos anos posteriores
de seu ministerio, Paulo dependeu, freqUentemente,
de provas diante dos magistrados romanos.

Todavia, as decisões dos legisladores roma-


nos nem sempre favoreciam os cristãos. Depois que o
imperador declarou sua deidade e requereu de todo o
povo sujeito que o adorasse, os cristãos sofreram se-
vera perseguição e injustiça nas mãos dos legislado-
res romanos. O governo tinha promulgado uma lei que
entrava em conflito com a vontade de Deus. A mais al-
ta lealdade dos cristãos ao seu Deus, resultava na
resposta freqUente de que "importa mai s obedecer a
Deus do que aos homens". Algumas vezes ó lealdade
mais alta resultava na morte do cristão. Estes inci-
dentes tinham feito com que muitos questionassem se
tinha fundamento o conselho de Paulo concernente às
relações dos cristãos com o Estado. Se os legislado-
res são desonestos e corruptos, pode ainda ser rei-
vin1icado que o governo seja de Deus? Mesmo ainda
que as decisões e as leis de um governo particular
possa ser contrãria ã vontade de Deus, o governo, co-
mo uma instituição, e ordenado por Deus para regular
a sociedade.

As Relações dos Cristãos com a Sociedade

Roman os 1 3: 1- 1O

As Responsabilidades para com o Estado (13:1-7)

"As autoridades superiores", geralmente, e


interpretado como as autoridades que governam (v.l).
Oscar Cullmann argumentou que "autoridades superio-
res", refere-se tanto a autoridades angelicas como a
autoridades humanas. Os judeus criam que as autorida-
des angelicas existiam e influenciavam os assuntos
do Estado. Aconselhando obediência ao governo, Paulo
pode ter dado a entender obediência às autoridades
espirituais nele ocultas. Paulo, explicitamente, de-
clarou que submeter-se às autoridades governantes é
submeter-se a autoridade de Deus, que instituiu o go-
verno. O poder do governo é exercico através de le-
gisladores humanos, e "Toda alma" deve estar sujei-
ta a eles (v.l). Ser sujeito não significa submeter-
se ã servidão. E um termo usado em relação ao respei-
to e submissão mútuos aos irmãos (I Cor. 16:16). Tam-
bém é usado em relação ã familia cristã, em que a es-
posa é submissa ao marido, como a Igreja e submissa
a Cristo (Ef. 5:24).

A sociedade não pode funcionar sem autorida-


de respeitada e centralizada. As relações humanas re-
querem um padrão de conduta. A pessoa deve conhecer
as ações e os direitos convenientes para não infrin-
gir os direitos dos outros. A injustiça surge mesmo
quando hã tentativas para manter a justiça. A anar-
quia é o resultado de se desacreditar e rejeitar a
autoridade.

Visto que todo homem tem seu próprio ponto


de vista quanto ao que é direito, ele seria sua prõ-
pria lei, se não houvesse um padrão de autoridade
centralizada e um poder para inculcar o padrão. Con-
seqüentemente, seria inevitãvel a existência de um
conflito continuo. Submeter-se a uma autoridade cen-
tralizada significa desistir dos privilegias pesso-
ais e limitar sua liberdade no ponto onde os direitos
de outrem começam; isto requer que cada pessoa viva
sob liberdade restrita. O governo determina as res-
trições fixadas em relação a uma pessoa, porém sem
150
estas limitações o homem seria privado pelos outros
de seus direitos e garantias.

Ocasiões surgem em Que a vontade de Deus ê


violada pelas leis dos governadores. Pedro e João fo-
ram proibidos pelo sinedrio de pregar a Cristo. Este
exemplo classico demonstra que a vontade de Deus nem
sempre e seguida por corporações das autoridades. Em
casos onde a consciência e a convicção cristãs são
violadas por leis do Estado, os cristãos, em primeiro
lugar, devem ser leais a Deus. ~s vezes, a lealdade
a Deus resulta em perseguição, porem um retorno do Es-
tado à vontade de Deus cão pode ser realizado doutra
maneira.

Ha o perigo de o cristão interpretar seus


próprios interesses como sendo a vontade de Deus. O
governo e, muitas vezes, criticado pelos elementos,
na sociedade, que acreditam não estar recebendo pri-
vilegios especiais. O principio da conduta cristã que
requer do cristão preferir os outros e regozijar-se
com os outros que recebem benefícios, o salvaguardara
de substi tui r a vontade de Deus na sociedade pelos
seus interesses pessoais.

Paulo avisou que resistir às autoridades ê


resistir a Deus, que instituiu o Estado (v.2). Qual-
quer que resistir a instituição de Deus, na ordem so-
cial, se colocara sob o juizõ de Deus. A ideia de que
a autoridade restritiva.esta errada, um conceito que
prevalece em nossos dias, resulta em anarquia que, e-
ventualmente, conduz a uma perda de direitos humanos
- a um estado de condenação (v.2). A autoridade res-
tritiva, que mantem a justiça, assegura os direitos
humanos.

Aqueles que obedecem às leis da terra têm


pouca razão em temer os magistrados (v.3). Aqueles
que quebram a lei têm razão de temer, porque os go-
vernantes aplicam-lhes castigo (vv. 3 e s.). Um magis-
trado e um servidor publico, cuja responsabilidade e
punir os criminosos. O cidadão que faz o bem e real-
mente servido e protegido pelos magistrados (v.3). Os
cristãos que são divinamente obrigados a viver vidas
retas, não devem temer os magistrados.

Paulo falou das autoridades governamentais


como servos (ministros) de Deus, usando a mesma pala-
vra pela qual os servos cristãos ou diaconos são de-
signados (v.4). A declaração dã a entender que a pes-
soa em ocupações seculares pode estar dentro da von-
tade de Deus. Como um servo de Deus, ela traz a espa-
da para executar a ira sobre agueles que fazem o mal
(v.4). Paulo proibiu ao indivlduo de fazer justiça
com suas próprias mãos e buscar vingança, porem ele,
com isto, não proibiu as autoridades governamentais.
Elas executam o juizo e o castigo, no lugar de Deus,
contra os malfeitores. Dale Moody faz a observação de
que o castigo capital e a paciência de Deus não entra-
vam em conflito na consciência de Paulo.

Paulo mencionou dois motivos para submissão


aos magistrados do Estado: evitar a ira de Deus e por
causa da consciência cristã (v.5). O temor do castigo
detém, ate certo ponto, o homem de fazer o mal. Um mo-
tivo mais alto é a convicção cristã de fazer o que é
justo. O cristão deve desejar fazer justiça para o
bem positivo da sociedade como um todo.
Respeito ao governo e submissão às autorida-
des requerem o pagamento de taxas (v.6). O aumento de
meios financeiros por meio de taxação é necessario pa-
ra o sustento daqueles que servem em posições governa-
mentais. O serviço de guardar a lei e a ordem, pres-
~ados pelos magistrados, é benéfico ã pessoa que paga
as taxas. Mesmo o povo conquistado, beneficiado pelos
oficiais do Estado Romano, tinham que pagar taxas. E-
les tanto tinham que pagar tributos (uma taxa paga
por toda pessoa a uma nação ocupante), como tarifas
de bens usados, para a construção de estradas, pon-
:es, mercados, etc.

A responsabilidade do cristão para com as au-


toridades não é limitada ao pagamento de taxas. Ele
deve respeito e honra, no mínimo, ao ofício se não à-
Quele que exerce o ofício. Visto que as autoridades
publicas aplicam o castigo aos malfeitores, deve-se-
lhe respeito e honra.
Talvez Paulo tivesse em mente o ensinamento
de Jesus, quando ele deu instruções referentes ao re-
lacionamento do cristão com o governo. Jesus tinha
dito: "Dai, a César o que é de César, e a Deus o que
é de Deus" (Mar. 12:17). A declaração não somente in-
clui honestidade em pagar as taxas, mas também o de-
ver de obediência às autoridades seculares.

C Relacionamento com o nosso próximo (13:8-10)

Assim como uma pessoa não deve estar em de-


bito com o governo, também ela não deve estar em de-
bito com o seu próximo - exceto em uma coisa (v.8). O
cristão nunca paga, completamente, o debito de amor a
cada pessoa, mesmo ainda que faça um pagamento de a-
mor diariamente. Este debito não é limitado aos ir-
mãos em Cristo. "O próximo quer dizer qualquer pessoa
que esteja passando necessidade, quer seja um estra-
nho quer seja um amigo (Lucas 10:25-37). O amor é ma-
is do que um sentimento de simpatia, boa vontade, ou
prazer. E a combinação de interesse pelo necessitado
e a determinação de fazer aquilo que e possível e ne-
cessaria para satisfazer às necessidades da outra pes-
soa. O cristão nunca pode pagar o seu debito de amor
completamente. Sempre que encontra alguem em necessida-
de, ele tem o dever de ajudar aquela pessoa. Sua moti-
vação esta baseada no amor, que foi expresso a ele em
Cristo Jesus.

Paulo explicou como o amor cumpre a Lei (v.


9). Ele mencionou a segunda tábua dos Dez Mandamentos,
que diz respeito à afinidade do homem com o seu pró-
ximo. Em adição ao sexto, sétimo, oitavo, nono e deci-
mo mandamentos, ele assinalou que o fato de alguém a-
mar o seu próximo como a si mesmo e suficiente para
cumprir qualquer outro mandamento. Se o homem está in-
teressado pelo bem-estar do seu próximo, ele não pri-
vara essa pessoa da castidade por meio do adultério,
da vida através do homicídio, de possessões através
do furto, de reputação através de falso testemunho e
de bens através da cobiça.

Paulo deu uma ilustração especifica de como


o amor cumpre a Lei. A pessoa que se interessa pelo
seu próximo, não fara nada de errado que o prejudique;
portanto, assim a Lei e cumprida (v.10).

152
o Cristão em Duas Eras

Romanos 13:1:-14

~ hora da ascensão de Jesus, a promessa foi


feita aos discípulos, por dois homens em trajes bran-
cos, de que ele voltaria assim com8 havia ido (Atos
1:11). Paulo reconheceu que o inimigo do homem não é
a carne e o sangue, mas os principados, as potesta-
des e príncipes do mundo destas trevas. A rajada da
morte tinha sido desferida contra o inimigo na cruz
e ressurreição de Jesus; porem as forças de Satanas
continuam a lutar, a sua derrota completa não acon-
tecera ate a volta de Cristo. Paulo vivia em constan-
te expectativa pela volta de Cristo, quando se daria
a derrota completa do mal, e a plena salvação, a res-
surreição do corpo, teria lugar. Eie cria que a hora
estava perto (v.ll).

Kairos era uma estação eSDecial, em que o


fim da era-se-ãproximava. A salvacão que Deus come-
çou com a encarnação, morte, e ressurreição de Jesus
seria completada na volta de Jesus. A declaração de
Paulo, "a nossa salvação estã agora mais perto do
que quando no Espí ri to cremos" indi ca que ele espera-
va que Cristo voltasse logo e levantasse os corpos
dentre os mortos. Ele anteri ormente tinha escri to
aos tessalonicenses que "o dia de Cristo está próxi-
mo" (II Tess. 2:2).
Os 'cris tãos têm uma tarefa determi nada a
ser realizada antes do fim da era das trevas. A noi-
te é um símbolo para a presente era malignà~ e a luz
do dia ê o símbolo para a nova era do Reino de Deus
(v.12). A velha era e passada e a nova estã rompendo
como a luz do dia, que vence a escuridão.
Um dos pergaminhos do Mar Morto, encontra-
dos em Qumram, divide os homens em aqueles que são
governados pelo anjo das trevas e aqueles pelo Pr;n-
ci pe da Luz. O as s un to do documen to e a "gue rra dos
filhos da luz e dos filhos das trevas". Paulo inci-
tou os filhos da luz a despertarem e estarem prepa-
rados para a volta do Senhor. Suas Dalavras são se-
melhantes ã ênfase das parãbolas de Jesus em Mateus
25 e 26. O cristão deve vestir a armadura da luz a
fim de estar preparado para a vitória na batalha
que estã próxima. '

O cristão não deve seguir o procedimento


dos pagãos (v.13). Os cristãos devem andar (viver
constantemente) como dignos filhos da luz e do Pai
Celestial. As praticas específicas que precisam ser
postas de lado são o entregar-se ã o~gia e ã bebedi-
ce. A orgia refere-se a entregar-se a farra nas ruas
sem nenhum constrangimento moral. r
acompanhada por
bebedice, que também é resultado de carência de cons-
trangimento. Tal conduta é vergonhosa e característi-
ca de pagãos.

"Impudicicias e dissoluções", podem ser tra-


duzi das como "deboche e 1 iberti nagem". Impudi c; ci as
refere-se a uma cama e dã a entender relações sexuais
numa cama proibida. Pecados paralel(~s prevalecentes em
nossa própria sociedade, são a bebedice e relações i-
morais. O homem moderno clama por liberdade, que sig-
nifica pôr de lado todo o constrangimento, a fim de
indulgir em seus desejos e paixões. Muitos estão des-
cobrindo que a indulgencia desenfreada não conduz ã
verdadeira liberdade, nem ã realização na vida, mas
ã deterioração moral, mental e física e a uma vida
de tristeza-e dor. As obras da~ trevas são enganosas.
Prometem satisfação e realizaçao na vida, porem tra-
zem tristeza e destruição.

Vício e libertinagem e o estãgio da imorali-


dade que não mais produz vergonha. A vida imoral ê
exibida em publico e reivindica a aprovação da socie-
dade por seus atos de lascívia.

O terceiro conjunto de prãticas não cristãs


e "contendas e ciumes" ou porfias e inveja. A porfia
e construída sobre a inveja. Um indivíduo torna-se
invejoso da posição e possessões dos outros e deter-
mina não ficar em segundo lugar.
O cristão deve se revestir do Senhor Jesus
Cristo (v.14). Isto significa que suas ações devem
seguir o exemplo de Cristo, e que sua vida deve ser
controlada por Cristo. Paulo tinha jã mencionado o
batismo como o símbolo da morte e do sepultamento da
velha vida. O levantar do candidato das ãguas batis-
mais simboli za ressurreição para uma nova vida em
Cristo. Somente revestindo-se do Senhor Jesus Cristo
alguem e capaz de pôr de lado o controle da carne.
Doutro modo, as luxurias da natureza carnal controla-
rão a sua vida (v.14).

A Liberdade do Homem em Cristo

Romanos 14:1-12

Os direitos do liberto (14:1-4)

A vida no judaísmo era oprimida por inumerã-


veis inibições e tabus. Algumas das restrições tinham
perdido seu significado original de conduta justa, po-
rem ainda estavam sendo perpetuadas. Uma tal restri-
ção referia-se ao comer carne que tinha sido ofereci-
da aos ídolos. Visto que os profetas tinham interpre-
tado o cativeiro de Israel como um castigo, antes de
tudo, pela idolatria, os judeus eram muito cuidadosos
em evitar qualquer relação com adoração de ídolo. Fre-
qUentemente, animais que tinham sido usados em ri-
tuais pagãos eram levados ao mercado e vendidos por
comida. Alguns criam que a carne de um animal usado
na adoração de ídolo era maculada e não devia ser co-
mida. De acordo com I Cor. 8-10, Paulo concluiu que
um ídolo não representava um deus real; portanto, a
carne do animal não era afetada.

Aqueles que tinham dúvidas quanto se a carne


usada nos templos pagãos era corrompida, eram referi-
dos "fracos na fê" (v. 1). Os cri s tãos que se senti am
libertos de tais duvidas tendiam a desacreditar o
"fraco na fe" como miserãvel e ignorante. Alguns che-
garam ao ponto de se abter de toda e qualquer carne,
por causa do temor de que alguma carne, comprada no
mercado, pudesse ter sido dedicada a ídolos. Eles se
tornaram vegetarianos (v.2).

Paulo instruiu aqueles que tinham obtido uma


compreensão mais plena do significado de justiça para
que acolhessem aqueles cujas crenças restringiam sua

154
liberdade, mas nao com o propósito de argumentar com
eles a respeito da conduta cristã apropriada (v.l).
Muitos cristãos judaicos continuaram a considerar cer-
tos tipos de carne como sendo impura, apesar de Jesus,
claramente, ter declarado que aquilo que uma pessoa
come não a contamina (Marcos 7:12-23; Lucas 11:41);
desse modo, ele declarou todas as carnes limpas (Mar-
cos 7:19).
Não somente havia o problema daqueles que ti-
nham obtido liberdade mais plena, depreciando as i-
déias e ações dos que se~lliam regulamentos r;gidos,
mas 05 mais conservador~s c.~~o,,'- '~~l;n~dn~ ~ cnn-
siderar que os libertos eram culpados de pecado (v.3).
O que come não deve desprezar o Que não come; nem a-
quele que não come deve julgar o que come carne. Pau-
lo lembrou aos cristãos romanos Que Cristo é o Mestre
e qJe cada crente é um servo de Cristo (v.4). Não é
responsabilidade dos servos julgar as ações do~ ou-
tros servos, visto que o servo é responsãvel somente
para com seu senhor. Se suas ações agradam ao seu se-
nhor, ele "estarã firme" (v.4). Se suas ações desagra-
darem ao seu senhor, ele cairã no seu desãgrado e cas-
tigo. Em ambos os casos, a função do senhor é julgar
as ações de seus servos.
Atualmente, a participação em bebidas alco-
ólicas é um ponto de controvérsiã entre os cristãos.
Alguns grupos reivindicam, como liberdade cristã o
direito de beber com moderação. Eles admitem que o
excesso de indulgência e a bebedeira desenfreada são
malignas. Outros grupos crêem que mesmo o beber mode-
rado é errado. Talvez o principio de Paulo de não co-
mer carne deva ser aplicado ao problema da bebedice
social; todavia fatores adicionais devem ser conside-
rados, antes de se julgar mesmo o beber moderado como
inofensivo:

1. Muitas pessoas, 9ue desejam se controlar


nas bebidas alcoolicas, são incapazes de
fazê-lo e tornam-se alcoólatras.

2. Companhias que produzem tais bebidas sao


dominadas por seu interesse de fazer di-
nheiro; portanto, elas utilizam muitos
meios sutis para escravizar as pessoas ao
hãbito da bebida. Muitos cristãos têm con-
cluldo que a industria é tão possuida por
motivos e projetos malignos, que o cris-
tão não deve ter nenhuma identificação
com ela.
3. Mesmo o beber moderado afeta os reflexos
e resulta em muitas mortes e ferimentos
corporais em acidentes de trãfico. A bebe-
dice mais intensa destrõi a mente e o
corpo.

Estes três fatores indicam que o beber bebi-


das alcõlicas não é um paralelo exato de comer carne
oferecida a ldolos. A carne dos dias de Paulo não pro-
duzia efeitos ruins sobre o corpo e a própria vida. O
principio de Paulo a respeito de emancipação não de-
fendia a participação em atividades que conduzem ã
destruição flsica e ã degeneração moral.
Princípios referentes a dias especiais (14:5-9)

O judaísmo tinha uma longa tradição referen-


te ao sãbado, que era um dia santo especial. O sába-
do é o ultimo dia da semana, e foi estabelecido como
santo pelo Quarto Mandamento. Quando o evangelho foi
levado aos gentios, seus costumes religiosos não es-
tavam baseados na Lei judaica. Embora o cristianismo
procedesse do Velho Testamento e estã intimamente re-
lacionado com ele, o dia importante para os cristãos
é o Dia da Ressurreição, ao invés do sábado. Muitos
cristãos judeus diriam que é necessãrio continuar a
adorar no sãbado. Os gentios, não influenciados pela
Lei judaica, preferiram o domingo, o primeiro dia da
semana. Aparentemente, o conflito existiu em Roma,
entre os cristãos, com respeito ao dia a ser guarda-
do (v.5). Em adição ao sãbado semanal, os judeus,
tanto quanto os gentios, tinham dias festivos espe-
ciais durante o ano.

Um outro princípio proibiu a participação


nos rituais religiosos pagãos; portanto, os cristãos
não deviam voltar aos dias especiais em que honravam
os deuses pagãos. Por outro lado, Paulo aconselhou o
exercício da liberalidade e respeito mútuo em rela-
ção aos dias especiais. Enquanto alguns estimavam um
dia acima dos outros, outros estimavam cada dia i-
gualmente (v.5). Talvez Paulo tenha assumido a posi-
ção de que todos os dias pertenciam ao Senhor; con-
tudo, ele respeitou a pessoa que tinha uma convicção
diferente. Ao inves de um lado tentar converter o ou-
tro, Paulo aconselhou que cada homem estivesse satis-
feito com sua própria mente e consciência. --A pessoa
que gozava de liberdades maiores não devia desprezar,
ou considerar espiritualmente imaturos, aqueles que
consideravam uns dias mais sagrados do que os ou-
tros. A observância de dias deve ser para honra do
Senhor, quando aqueIe que come, deve comer para hon-
ra do Senhor (v.G). Aquele que come carne dã graças
ao Senhor por ela, e aquele que se abstém o faz em
honra ao Senhor. As contendas entre os cristãos se-
riam, prat~camente, eliminadas, se eles fossem con-
trolados pela atitude de honrar ao Senhor, ao invés
de pelos direitos e desejos pessoais. O princípio de
viver para agradar ao Senhor não admite a vida de le-
galismo e negativismo.
Cada indivíduo vive sua vida aos olhos de
Cristo e como seu servo; portanto, sua vida não é vi-
vida para si mesmo, nem morre ele para si mesmo (vv.
7 e 8). Se cada cristão focalizasse mais os olhos em
Cristo em sua vida, encontraria maior harmonia com
seu próximo. O homem não estã mais separado de Deus
e sob o domínio do pecado e da morte. Enquanto viver,
o cristão estarã sob o domínio de Jesus como Senhor,
e, quando ele morrer, estarã nas mãos do Senhor. Por
causa destes fatos, sua vida deve ser dominada pelo
que ele pensa que estã agradando ao seu Senhor. A
morte e a ressurreição de Cristo o tornam Senhor de
toda a vida (v.9).Através da ressurreição de Cristo,
seu senhorio foi estabelecido sobre o reino da morte
tanto quanto da vida.

A Responsabilidade para com Deus (14:10-12)

O juízo de Deus é introduzido por duas ra-


156
zões: !'\ Advertir o homem que tende a desprezar e
julgar seus lrmãos cristãos; (2) restringir o uso da
liberdace oara com as ações que são agradãveis a
Deus. E orovãvel que o índivíduo de grandes escrupu-
los julgue e despreze seu irmão cristão que vive uma
vida de liberdade. O indivíduo, que prejudica o seu
irmão deve lembrar-se de que ele comparecerã diante
do tribunal de Deus, para dar conta de suas atitudes
não cristãs (v.10). O irmão que se sente livre quan-
to às suas ações que chega a desprezar aquele que vi-
ve uma vida restrita também darã conta de suas atitu-
des e ~.lavras ao Senhor. O auto-juizo de suas acões
da parIe do homem e o julgamento dos outros ou pelos
outros não substituem o juizo de Deus (v.12).

Restrições a Liberdade

Romanos 14:13-23

Ao dirigir-se aos cristãos fortes, Paulo en-


fatizou as lnfluencias que a conduta deles em assun-
tos moralmente indiferentes, pode ter sobre os menos
iluminados. O princípio que deve guiã-los não e o co-
nhecimento se alquma coisa e permissível, mas o amor
e a consideração'pelo irmão mais fraco.

Ao invés de cri,ticar os outros por sua libe~


ralidade ou estreiteza, eles foram instruídos a eVl-
tar de oôr obstãculo ou empecilho no caminho do irmão
mais fraco (v.13). Mesmo ainda que o cristão mais for-
te soubesse que o comer carne não impediria sua pró-
pria vida espiritual, sua liberdade poderia tornar-se
a causa para dissensão e fazer ressentir-se o irmão
mais fraco. Tambem poderia causar embaraço ao irmão
mais fraco, que considera alguma carne impura, se fos-
se influenciado, pelo irmão mais forte, a comer carne.
Comendo a carne que ele acredita que Deus tinha proi-
bido, ele estaria numa atitude de rebelião contra
Deus.

Paulo tomou partido com os cristãos sem pre-


conceitos que seguiam os ensinamentos de Jesus de que
"nada é de si mesmo imundo" (v.14). Contudo, se uma
pessoa julga que certas carnes são imundas e de13s co-
me de oualquer maneira, estarã em rebelião contra a-
quilo que entende ser a vontade de Deus. Deste modo,
uma certa conduta que e permissível poderia tornar-se
ocasião para pecado. Pecado é geralmente o uso perver-
tido ou excessivo do que e bom. Falso testemunho e o
uso pervertido da língua. Adultério e a perversão das
relações sagradas do casamento. O uso irrestrito da
liberdade cristã pode arruinar o irmão mais fraco (v.
15). Alguem que usa sua liberdade no comer ao ponto
de destruir seu irmão mais fraco não estã andando em
amor (v. 15) ,

Andar em amor significa estar desejoso de sa-


crificar beneficios próprios em prol do bem de outrem.
Se comer certos alimentos e beber certas bebidas são
um trooeço para outra pessoa, aquele que estã mais
firme na fe e e controlado pelo amor sacrificarã a
sua liberdade em beneficio da outra pessoa. Doutro mo-
do, sua liberdade cristã, que e boa, pode tornar-se
ocasião para agravo ou para o mal (v.16).
o Reino de Deus, muitas vezes, foi usado por
Paulo para descrever uma herança futura. O Reino virã
em sua plenitude com a volta do Rei e a ressurreição
dos mortos. O Reino de Deus jã veio em poder e ê uma
realidade presente atraves do Esplrito Santo. O Espl-
rito e ·0 poder e a presença de Deus com seu povo; to-
davia, o Reino ainda não veio em sua plenitude e gló-
ria. Como uma realidade presente, Paulo lembrou aos
romanos que "o reino de Deus não consiste em comer e
beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no Esplri-
to Santo" (v.l7). A preocupação com comida, bebida,
prazer sensual e diversão e caracterlstica dos epicu-
reus, cuja filosofia e deste mundo. A sabedoria ou
significado da vida para os cristãos não se focaliza
no reino da comida e bebida, mas no reino espiritual
da justiça, paz e gozo. A justiça tem sido provida
por Cristo, e e adquirida pelo homem atraves da fê.
A paz e o resultado da aceitação do homem por Deus,
tornando-se ele justo por meio da fê (cf. 5:1). O go-
zo e a experiência permanente da pessoa que vive em
constante vitória sobre o mal atraves do poder do Es-
plrito.

A vida controlada pelo amor (consideração pa-


ra com outra pessoa), e vivida no poder do Esplrito e
aceitãvel tanto a Deus como ao homem (v.18). O amor
foi descrito como o cumpri mento da Lei (13: 8-10) . A-
lem disso, Paulo o descreveu como o meio de servir a
Cristo e agradar a Deus. Todo aquele que ama a seu ir-
mão, mostrando respeito por seus escrupulos, serve a
Cristo. Considerando que pode haver abusada liberdade
ao ponto de criar dissensão dentro da igreja e causar
Crl ti ca da parte daque 1es fora da igrej a, avi da de a-
mor estabelece a paz dentro da igreja e ocasi ona a a-
provação dos homens do lado de fora (vv. 18 e 19).
Paulo estimulou os cristãos romanos a seguirem a vida
que traz paz pessoal e que edifica a Igreja e o Reino
de Deus. Ele instru~u ~s romanos a não impedirem a o-
bra de Deus por causa da comida (v.20). Embora Deus
tenha criado todos os animais, E toda comida, portan-
to, e limpa, e pecado alguem comer mesmo a comida pu-
ra, se isto faz com que os outros caiam (v.20).

Os versículos 20 e 21 são repetições dos en-


sinamentos precedentes. O tomar alimento aqui torna-
se mais definido como comer carne, e o beber faz uma
referência especial ao vinho (v.2l). As instruções de
Paulo vão alem da comida e do vinho, incluindo qual-
quer "outra coisa em que teu irmão tropece" (v.2l).
A fe descreve o relacionamento do homem com
Deus (v.22). Isto significa que o homem estã submisso
ao controle de Deus e que vive pelo que ele acredita
ser a vontade de Deus. O cristão forte crê que Deus
tem-lhe concedido liberdade em certas ações. Esta fe
ou convicção não deve ser imposta aos outros, mas ser
usada para avaliar suas prõprias ações diante de Deus.
Se ele pode continuar quanto às suas próprias ações
com uma consciência limpa, Paulo assinala que ele e
um indivíduo feliz (v.22). Porem, se surgem duvidas
referentes ã sua conduta com respeito à comida, sua
consciência o condena, porque ele não vive segundo a
sua fe (v.23). Sua vida não estã submissa ao que ele
crê ser a vontade de Deus para com ele. Viver em rebe-
lião contra a vontade de Deus e pecado (v.23).

158
o Exemplo de Cristo quanto à Conduta Cristã

Romanos 15:1-13

o Interesse de Cristo (15:1-6)

E fãcil um homem responder às suas críticas,


dizendo: "Eu vou agradar a mim mesmo." Embora ele pos-
sa reivindicar para si o direito de assim proceder,
sua atitude não é a de Cristo. Cristo considerou os
outros em primeiro lugar e negou o auto-interesse, a
fim de ajudar os outros de todas as maneiras possíve-
is. Ele nunca pôs seus prõprios interesses ou bem-es-
tar em primeiro lugar.

Os fortes na fé seguirem o exemplo de Cristo


significa eles serem pacientes para suportar as fra-
quezas do fraco (v.l). Eles não agradam a si mes-mos,
mas esfor~am-se em agradar aos que lhes estão prõxi-
mo, isto e, pensam e fazem coisas em benefício de
seu prõximo e que lhes serve de edificação (v.2). Mes-
mo Cristo não escolheu seu próprio prazer, mas respei-
tou com amor os escrúpulos dos outros (v.3). Ele pôs
os interesses dos outros antes dos seus próprios, po-
rém ele colocou a vontade de Deus antes de tudo. Ele
estava disposto a levar os opróbrios dos outros sobre
si mesmo. Descrevendo Cristo como um exemplo, Paulo
citou Salmos 69:9, que ~ra, no principio, interpreta-
do na Igreja como uma profecia da paixão de Cristo e
da retribuição em apanhar em flagrante seus persegui-
dores. A citação quer dizer que Jesus tolerou o opró-
brio e o insulto a fim de fazer a vontade de Deus.

Paulo cria que o Velho Testamento tinha sig-


nificado mais completo para os cristãos (v.4). Aquilo
que tinha sido escrito previamente foi para a instru-
ção dos cristãos, a fim de dar-lhes firmeza e estimu-
lo, para que eles pudessem prosseguir a ter esperança.
A fonte de sua firmeza e estimulo é Deus, que os capa-
cita a viver em harmonia de mente, a estar em pleno a-
cordo, e a ter voz uníssona em glorificar a Deus. Em-
bora a Igreja seja composta de membros com bases e
graus de maturidade muito diferentes, a harmonia é
quando o exemplo de Cristo é seguido. Se os judeus
determinassem seguir sua própria maneira segundo os
seus costumes, não poderia haver harmonia por causa
das exigências da sua Lei de permanecerem separados
dos gentios. Se os gentios insistissem em continuar
suas vidas pagãs imorais, não poderia haver nenhuma
harmonia com os irmãos judaicos. Voltar-se do auto-in-
teresse para o interesse pelos outros tornou possível
aosdois grupos encontrarem harmonia em seus pensamen-
tos, estarem de comum acordo e glorificarem o nome de
Deus.

A aceitação da parte de Cristo daqueles que diferem

(15:7-13)

Paulo estimulou os judeus e os gentios a a-


colherem uns aos outros, seguindo o exemplo de Cristo
que nos recebeu (v.7). Nem judeus nem gentios deseja-
ram as boas-vindas dadas a eles por Cristo, porque e-
le estava com Deus e era igual a Deus, mas tornou-se
um servo (v.S). Por tornar-se um servo em obediência
ao seu Pai Celestial, Cristo mostrou a veracidade e a
fidelidade de Deus, o qual tinha prometido aos Patri-
arcas que seus descendentes seriam seu povo (v.8). A
promessa incluia a responsabilidade dos descendentes
de Abraão de engrandecerem o nome de Yahweh entre os
gentios, que viriam a glorificar a Deus por sua mise-
ricórdia (v.9). A aceitação reciproca de judeus e gen-
tios trouxe glória a Deus.

A citação de quatro passagens, nos versicu-


los 9-12, mostra a universalidade da salvação. Davi
contou os gentios como parte de seu reino (Sal. 18:
49). A promessa de Deus a Abraão incluia uma bênção
oara os gentios, e os gentios estav~m convidados 2
regozijarem-se com o povo de Deus (v.10). As bênçãos
de Deus aos gentios, as quais trouxeram regozijo,
tambem fizeram com que eles louvassem ao Senhor (v.
11). O fato de os gentios louvarem ao Senhor junta-
mente com os judeus significava que ele é o Deus de
todos os povos. A citação do Salmo 117:1 que segue re-
vela que os gentios eram parte do Reino de Deus, vis-
to que eles estari am sob o governo da "rai z _de Jes-
se", uma declaraçãomessiânica (v.12). Estes versicu-
los revelam que os gentios partilhavam da mesma espe-
rança que os judeus. O Deus que dã esta esperança a
todos os povos é também a fonte de gozo e paz (0.13).
Os gentios tanto quanto os judeus tinham recebido o
poder do Espírito Santo, que deu aos crentes o poder
do Reino, gozo, paz e es.perança. Em Gãlatas 5:22,
Paulo menciona que o fruto do Espírito é o amor, o
gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bonda-
de, a fidelidade, a mansidão e o domínio próprio.
Capftulos Finais de Romanos

o livro de Romanos chegou a nós em recensões


(textos revisados), de três finais diferentes. A re-
censão mais curta termina com o capftulo 14, porem
tem a doxologia adicionada em 16:25-27. A segunda
recensão conclui no fim do capftulo 15, com a doxo-
logia anexada em 16:25-27. A recensão mais longa in-
clui os capítulos 15 e 16.
F. F.Bruce sugere que a recensão mais cur-
ta pode ter vindo do Cônego de Marcion.l Marcion a-
dotou as crenças gnósticas, rejeitou o Velho Testa-
mento. Visto que Romanos 15 refere-se a citações do
Velho Testamento, ele achou o capítulo inaceitãvel.
Bruce crê que o capítulo foi omitido de algumas re-
censões, porque a epístola foi enviada a igrejas di-
ferentes. O capítulo 16 contém uma lista de cumpri-
mentos a pessoas. t incerto se estas pessoas eram
membros da igreja em Roma ou em tfeso. Alguns estu-
diosos concluem que o capítulo 16 foi adicionado a
uma câpia da epístola, que foi enviada a (feso. Não
é impossível aue os cristãos que foram saudados ti-
vessem migradü para Roma.
Conforme observado anteriormente , Romanos
não é uma carta que trata de problemas específicos
de uma igreja particular. ( uma dissertação doutri-
nal, cuidadosamente organizada. ( possível que Paulo
a tenha redigido, em primeiro lugar, para a igreja
em Roma, porem enviou câpias adaptadas às outras i-
grejas.
As advertências finais de Paulo, em Romanos,
manifestam seus desejos e planos futuros no serviço
missionário. Ele sentiu-se obrigado a visitar Romá,
a fim de tomar parte no ministério do Evangelho de
Cristo aos gentios. Quando a carta foi escrita, ele
planejava passar somente um breve período em Roma,
antes de seguir para a Espanha. Antes que Paulo co-
meçasse a jornada romana, foi necessário que ele fi-
zesse uma viagem a Jerusalém para levar uma oferta
aos santos. Quando ele chegou a Jerusalem, seus pla-

F. F. Bruce, Peake I s Comentary on the Bib1e "The


Epistles of Paul", (Londres: Thomas Nelson and
Sons Ltd., 1962), p.933.
nos originais foram mudados por sua prisão e provação,
que necessitaram de seu apelo a Cesar. De acordo com
o Livro de Atos, Paulo foi a Roma como prisioneiro.
Se mais tarde ele foi liberto e teve necessidade de fa-
zer a jornada para a Espanha e incerto.

Depois que Paulo manifestou seus planos, ele


concluiu a carta com cumprimentos a uma serie de cris-
tãos, que tinha conhecido em vãrias cidades onde ha-
via pregado o evangelho. Ele encerrou a eplstola com
exortações diversas e uma doxologia.

A Apologia de Paulo ã Eplstola Romana

Romanos 15:14-21

A materia principal da Eplstola de Paulo ex-


tende-se de 1:18 - 15:13. Romanos 15:14-21 conte~ uma
explicação por que ele escreveu aos romanos. Sabendo-
se que ele não foi o fundador da igreja em Roma, ele
não poderia reivindicar responsabilidade para a ins-
trução e o crescimento dos cristãos em Roma (v.14).
Contudo, ele tinha escrito uma eOlstola extensa, apre-
sentando doutrinas de que eles precisavam. A fim de
não ofende-los, ele fez tres declarações complementa-
res acerca dos irmãos em Roma:

1. dotados
cheios
eram
Eles de
eram
todode conhecimento.
de capazes
instruir-se
grande aos uns
bondade.

Apesar da idade da igreja, que talvez tenha


sido iniciada pelos peregrinos pente:ostais logo após
a ressurreição de Cristo e o Dia de Pentecostes, Pau-
lo senti u a necessi dade de escrever úm "pequeno memo-
rando acerca do cristianismo essencial (uma expressão
deliberadamente atenuada, se e que houve alguma)."2
Talvez seus tres complementos sugiram a finalidade de
sua escritura. Ele admitiu que tinha sido ousado, mas
isto foi porque Deus havia dado beneflcios especiais
a ele, como um ministro aos gentios (v.15). Paulo rei-
vindicou um certo status nas igrejas gentias, não por
causa do que ele foi ou tivesse realizado, mas por
causa do que Deus lhe tinha revelado. A graça de Deus
o tornou um "ministro de Cristo Jesus entre os genti-
os" (v.16). A palavra ministro significa "pertencente
ao povo". Paulo tinha recebido a graça de Deus para
servir aos gentios. Ele tinha sido especialmente do-
tado pela graça de Deus çomo um ministro de Cristo,
"ministrando o evangelho de Deus" (v.16). Sua respon-
sabilidade, divinamente dada, foi a de ganhar e pre-
parar os crentes gentios como uma oferenda a Deus.
Não somente os gentios deviam ser salvos, mas tinham
que ser desenvolvidos e separados pelo Esplrito Santo
(v.16). Paulo considerou seu apostolado um serviço sa-
cerdotal, e seus convertidos gentios como sua oferta
a Deus. Embora os judaizantes pensassem que sua cha-
mada fosse insignificante, por causa da atitude deles
para com os gentios, Paulo orgulhava-se do trabalho
para o qual Deus o tinha chamado f qualificado para
fazer (v.17). Ele não tomou credito para si pelo que

2
164
T. W. Manson, ---
Romans, p.952
tinha sido realizado entre os gentios através dele,
mas reconheceu que Cristo no seu interior havia-os le-
vado ã conversão e à obediência (v.18). Ele podia fa-
lar destas coisas com humildade, porque eles eram a
obra de Cristo.

A obra que Cristo realizou através de Paulo


incluiu o ensino e atividades de sinais e prodígios
(v.19). Um sinal aponta alguma coisa além de si pró-
prio. Ele aponta Deus como a agência e a fonte de po-
der. Como um prodígio, o trabalho miraculoso cria uma
impressão em relação ao testemunho humano. Tanto a
pregação da Palavra como a realizaç~o de milagres por
parte de Paulo manifestaram o poder da obra de Cristo
por intermédio dele.

Paulo sentiu que seu trabalho, que se exten-


dia desde Jerusalém até ao Ilírico, estava quase com-
pleco. Se ele realmente pregou no llirico ou -se fez
somente às suas circunvizinhanças ê desconhecido. Ele
declarou que tinha pregado plenamente o evangelho de
Cristo (v.19). Talvez ele quisesse dizer por "pregado
plenamente" que tinha proclamado Cristo de um modo re-
presentativo nas cidades principais.

Paulo preferiu ser um missionãrio de frontei-


ra. Ele foi a lugares onde o evangelho não tinha sido
pregado anteriormente e estabeleceu a fundação do e-
vangelho (v.20). Embora a tradição primitiva sugira
que Pedro iniciou a igreja em Roma, a declaração de
Paulo de que ele não edificou sobre o fundamento de ou-
tro homem dã a entender que Pedro não foi o fundador,
visto que Paulo desejou contribuir para o ministério
da igreja em Roma.

Após iniciar uma igreja, Paulo não ficava


muito tempo na cidade, porem, deixava-a aos cuidados
de um ministro. Ele se mudava para um novo campo de
conquista. Ocasionalmente, ele voltaria a visitar as
igrejas que ele tinha fundado e, freqUentemente, es-
crevia cartas, dando-lhes conselhos.

Paulo levou o evangelho a lugares onde Cris-


to não tinha sido anunciado. Ele fez a obra de um a-
póstolo, mais do que a de profeta ou pastor-profes-
Sor. Ele baseou seu plano de obra missionãria pionei-
ra em Isaías 52:15: "Aqueles a quem não foi anunciado
o verão, e os que não ouviram entenderão (cf. Rom. 15:
21) .
Os Planos Futuros de Paulo

Romanos 15:22-23

Paulo explicou que, anteriormente, ele tinha


desejado visitar Roma, a capital do império. Ele ti-
nha sido impedido por causa da urgência do trabalho
de Jerusalém a Ilírico (v.22). Visto que Paulo sentiu
que seu trabalho naquela ãrea estava completo, não ha-
via nada para impedi-lo de cumprir seu desejo de mui-
tos anos (v.23): Ele não planejava ficar muito tempo
em Roma, sabendo que o evangelho tinha sido implanta-
do lã talvez trinta anos mais cedo e a igreja estava
relativamente forte. Ele desejou ir ã Espanha (v.24).
Ele esperava que sua visita a Roma estabelecesse um
relacionamento forte o bastante para fazer com que os
cristãos romanos o sustentassem durante sua missão na
Espanha (v.24). Os cristãos romanos poderiam auxiljã-
10 em seu caminho, dando-lhe cartas de recomendação,
informação, companheiros na obra e contribuições para
as despesas. Ele esperava ser fortalecido pelos ir-
mãos romanos e queria gozar da companhia deles por u-
ma temporada.

Não é certo que Paulo tenha chegado ã Espa-


nha, porém a tradição primitiva afirma que ele a atin-
giu. Al~uns estudiosos concluem que Paulo foi solto
da prisao romana por Nero em 62 ou 63 A.D. Após uma
jornada ã Espanha, ele sentiu a obrigação de ir a Je-
rusalém com a ajuda coletada das igrejas gentias para
os cristãos necessitados (v.25). O Livro de Atos des-
creve a coleta na Macedônia e Acaia, e a viagem de
Paulo a Jerusalém. I e 11 Corintios também adicionam
informação referente ã contribuição para os pobres em
Jerusalém. As provincias da Galãcia e ~sia também to-
maram parte na oferta. Sete mensageiros gentios, re-
presentando as igrejas, acompanharam Paulo (veja Atus
20:4).
As igrejas gentias estavam sequiosas de dar,
porque sentiam uma obrigação para com os judeus, atra-
vés dos quais Cristo veio (v.2?). Visto que eles ti-
nham recebido grandes bens espirituais dos judeus,
sentiram que era seu dever compartilhar os bens mate-
riais com aqueles em necessidade. A oferta foi uma ex-
pressão de amor cristão, e teve o poder de estabele-
cer grande unidade e amizade entre os cristãos judeus
e gentios. Paulo cria que a oferta havia-lhes "consig-
nado este fruto" (v.28). Esta declaração, provavelmen-
te, quis dizer que a aceitação da doação feita pelos
cristãos gentios da parte dos cristãos judeus repre-
sentava a aceitação dos próprios cristãos gentios.

Paulo disse que, quando ele empreendeu sua


jornada a Roma, tinha a certeza de que chegaria na
plenitude da bênção de Cristo (v.29). r
incerto se es-
ta declaração quis dizer que ele teria experimentado
a bênção pl~na de Cristo sobre seu trabalho no este,
ou se esperava que a vontade e propósito de Cristo in-
clu;am um ministério frutifero para ele em Roma.

Paulo completou seus comentãrios referentes


a seus planos futuros com um apelo aos romanos para
que eles o sustentassem com suas orações (15:30-33).
Ele sabia algo dos perigos que o aguardavam em Jerusa-
lém. Pela fé, ele foi confiante em que a vontade de
Deus se cumpriria. Pela terceira vez, no epilogo, ele
expressou urna fórmula trinitãria de Cristo, de Deus e
do Esp;rito (cf. 15:15-19, 30). Cristo ocupou o papel
de um mediador, o Espirito ligado ao amor, e a oração
foi endereçada a Deus. A suplica de Paulo, pela ora-
ção, era urgente, visto gue a crise que ele enfrenta-
ria em Jerusalém seria seria. Ele percebeu que enfren-
taria não somente a hostilidade dos incrédulos, mas
também a possibilidade de que os cristãos judeus não
aceitassem a doação (v.3l). Se ele fosse a Jerusalém
com as bênçãos plenas de Cristo e a vitória experimen-
tada em ambos os lados, ele seria capaz de fazer sua
jornada a Roma com gozo, pela vontade de Deus (v.32).

Pa' ') expressou uma tercei ra bênção. A pri-


mei ra, em 1 , se referi a ao Deus de fi rmeza e enco-
rajamento. egunda, em 15:13, ligou a esperança pro-
vinda de Deu~ com o gozo e a paz. A terceira, em 15:
33, enfat~za a paz. Muitos estudiosos crêem que a Car-
ta aos Romanos termina em 15:33. O capitulo 16 é uma
166
Os Cumprimentos de Paulo aos Santos

Romanos 16:1-16

Conforme observado anteriormente, o destino


dos cumprimentos no capitulo 16 é incerto. Alguns es-
tudiosos crêem que aqueles que foram cumprimentados
residiam em rfeso. Algu~as vezes, referem-se a este
parãgrafo como uma carta a Febe. Paulo pode ter en-
viado cartas semelhantes a Roma e a rfeso, que dife-
reriam somente na introdução e nos cumprimentos pes-
soais nas conclusões das duas cartas. Estes poderiam
ter sido combinados, mais tarde, em uma. Todavia, não
hã nenhuma evidencia textual de que isto aconteceu.
Febe é chamada de irmã e diaconisa. r discu-
ti do se "di aconi s a" era um termo técni co referente a
uma função na igreja. Diãcono (ministro) é um termo
descritivo que era freqUentemente usado para descre-
ver o trabalho de qualquer cristão ou de Cristo (cf.
Rom. 13:4; 15:8; I Tess. 3:2; II Cor. 11:23). A pala-
vra toma um significado técnico mais especifico em
Romanos 12:7, onde o ministério de diãconos é citado
com profecia, ensino, e.outras funções, como um dom
do Espirito. Os diãconos são mencionados em conexão
com os bispos em Filipenses 1:1.

Anteriormente, Paulo não tinha usado o ter-


mo "igreja" em Romanos. Ele referiu-se ao povo de
Deus com os termos "irmãos" e "santos". Uma igreja
(ekklesia) é uma comunhão do povo de Deus, que se u-
ne, conjuntamente, em adoração e serviço. Febe era
uma serva da igreja em Cencréia (v.l). Cencreia era
o porto este de Corinto. Por causa de sua fidelidade,
como uma serva (diaconisa), ela mereceu a ajuda dos
cristãos romanos. A palavra, descrevendo-a como uma
ajudadora, era usada como um termo legal para apre-
sentar réus e testemunhas numa corte de justiça. Ela
ajudou Paulo tanto quanto os outros (v.2). Sua assis-
tência pode ter sido em assuntos legais. Doutra ma-
neira, ela pode ter assistido Paulo e outros cris-
tãos com hospitalidade ou finanças.

Provavelmente Priscila e ~qUila foram lide-


res cristãos judeus antes de serem forçados a deixar
Roma, em 49 A.D. (cf. Atos 18:1-3). Paulo uniu-se a
eles no oficio de frabicantes de tendas em Corinto,
e mais tarde os levou a rfeso (Atos 18:18,19). Visto
que o nome de Priscila é,
geralmente, mencionado pri-
meiro, Paulo aparentemente tinha grande respeito por
sua habilidade de liderança. Priscila e ~qUila esta-
beleceram uma igreja em ffeso, que se reunia na casa
deles (I Cor. 16:19). Muitos estudiosos pensam que
Romanos 16 foi enviado a tfeso, Porque Paulo mandou
cumprimentos a uma igreja que se reunia na casa de
Priscila e ~qOila (16:5). Todavia, é possivel que e-
les retornar~m a Roma após a morte de clãudio em 54
A.D. Uma igreja poderia estar se reunindo na casa de-
les, em Roma, antes de serem forçados a partir, em
49 A. D.
Paulo esteve em Efeso de 53-56 A.D., e foi.
provavelmente lã que Priscila e AqUila arriscaram su~
as próprias cabeças pela vida de Paulo (v.4). Paulo
referiu-se a uma experiência em que ele lutou "em E-
feso com feras" (I Cor. 15":32).AqUila e Priscila es-
tavam ainda com Paulo no tempo que ele escreveu I Co-
rlntios (veja 16:19), provavelmente em 54 ou 55 A.D.
Eles tinham sido de grande beneflcio a "todas as i-
grejas dos gentios" (v.4). O ministerio de Paulo,
ainda em Efeso, parece ter-se extendido às vilas cir-
cunvizinhas. Priscila e AqUila, que tinham SidO capa-
zes de instruir Apolo (Atos 18:26), foram provavelmen-
te de grande ajuda, como ministros da Palavra, no tra-
balho de Paulo (v.3).
Alem da informação de que Epêneto estava en-
tre os primeiros convertidos na Asia, nada se sabe a
respeito dele. Sua identidade com a Asia dã apoio ao
argumento dos estudiosos de que este parãgrafo de Ro-
manos foi escrito à igreja em Efeso. Maria, que tra-
balhou muito para Paulo e seus associados, e desconhe-
cida em qualquer outra parte do Novo Testamento (v.6).
Andrõnico e Junias são chamados de parentes, que, pro-
vavelmente, queria dizer companheiros da mesma nacio-
nalidade ou cristãos judeus (v.7). Eles foram compa-
nheiros de prisão com Paulo, Dorem o local de sua pri-
são e desconnecido. A declaração de que eles eram
"bem conceituados entre os ap6stol03" poderia signifi-
car que ou eram apóstolos eminentes {missionãrios),
ou eram altamente estimados pelos apostolos.
Pouco se sabe sobre Ampliato (v.8), Urbano e
Estãquis (v.9),Apeles (talvez Apolo) e os da casa de
Aristõbulo (v.10). Aristõbulo pode ter sido um irmão
de Herodes Agripa I, que viveu em Roma. Seus familia-
res abrangeram seus escravos e homens libertos da es-
cravidão.

Herodião parece ter sido um cristão judeu


(v.ll). Narciso tem sido identificado como um abasta-
do escravo libertado Imperador Tiberio. Ele foi even-
tualmente executado por ordem de Agripina, a mãe de
Nero. As três mulheres mencionadas no versiculo 12
são desconhecidas. Rufo aparece em Marcos 15:21 como
um filho de Simão Cireneu; todavia, Rufo era um nome
comum. Os mencionados nos versiculos 14 e 16, ao con-
trãrio, são desconhecidos.

E digno de nota que Paulo mencionasse diver-


sas mulhe~es que eram llderes proeminentes nas igre-
jas primitivas. Alguns têm sugerido que Paulo "detes-
tava as mulheres", por causa do que se reflete em I
Corintios. Este parãgrafo da Escritura demonstra o
respeito de Paulo por elas, como lideres capazes e o-
breiras fieis nas igrejas.
Paulo exortou os recipientes a saudarem-se
"uns aos outros com o ósculo santo" (v.16). Este cos-
tume erã praticado pelos Rabis e, aparentemente, foi
adotado na igreja primitiva. Paulo tambem aludiu que
liasigrejas de Cristo vos saudam" (v.16). Talvez ele
tenha concluido a Epistola aos Romanos na epoca em
que os representantes das igrejas se uniram a ele pa-
ra levar a oferta a Jerusalem (cf. Atos 20:3,4). E
possivel que Paulo estivesse enviando a Carta aos Ro-
manos a Febe, de Cencreia, a qual estava planejando u-
ma viagem a Roma. Portanto, o capitulo 16 seria uma

168
carta de instruções e uma introdução de Febe aos cris-
tãos romanos. Os cumprimentos a numerosas pessoas co-
nhecidas de Paulo, que estavam em Roma, provariam que
a epístola não era uma falsificação.

Adve:-tênciade Paulo aos Cristãos Romanos

Romanos 16:17-20

A oposição dos judaizantes tinha sido tão di-


fundida, que Paulo provavelmente concluiu que alguns
que estavam na igreja em Roma estavam falando contra
sua doutrina. Quando ele chegou a Roma e falou com os
judeus,
"Eles lhe disseram: Nem recebemos da
Judeia cartas a teu respeito, nem
veio aqui irmão algum que contasse
ou dissesse mal de ti. No entanto,
bem quiséramos ouvir de ti o que
pensas; porque, quanto a esta seita,
notório nos é que em toda parte é
impugnada" (Atos 28:21,22).
Grande parte do texto da carta lidava com o e~ro da
doutrina de salvação mantida pelos judaizantes.
E possível que o gnosticismo estivesse influ-
enciando alguns dos cristãos romanos. O aviso de Pau-
lo contra aqueles que criam dissensões e dificuldades
(v.17), e "não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao
seu ventre" (v.18), poderia ter-se aplicado ou aos ju-
daizantes gnósticos. O gnosticismo era um sistema dua-
llstico, em que a existencia material era considerada
maligna. Embora o corpo aprisione a alma, alguns ra-
mos do gnosticismo criam que os pecados da carne não
afetam a alma; portanto, uma pessoa era livre para in-
dulgir em ações imorais - servindo a seus próprios a-
petites (v.18). Servir a seus próprios apetites tam-
bem poderia ter-se aplicado aos judaizantes, que viam
o triunfo fundamental de Cristo em termos de coisas
materiais e pompa e poder terrestres. Eles usavam pa-
lavras belas e religiosidade hipócrita para laçar as
pessoas inocentes.3
Enquanto Paulo regozijava-se pela obediência
dos romanos ao Senhor, ele queria que eles fossem pe-
ritos na bondade e inexperientes no mal (v.19). Eles
devem ter ganho força, sabendo que o Deus da paz logo
destruir~a seu maior inimig?, ~atanãs iv.20). Satanãs,
que contlnua a tentar os crlstaos, sera esmagado pelo
Senhor na Sua volta. A bênção no verslculo 20 estã o-
mitida em alguns textos primitivos.

Cumprimentos dos Companheiros de Paulo

Romanos 16:21-23

Timóteo, de Listra, tinha sido o companhelro


e cooperador mais chegado a Paulo. Ele era filho de
pai grego e mãe judia, e tinha-se unido a Paulo quan-
do este passou por Listra em sua segunda viagem mis-
sionãria. Timóteo, muitas vezes, é mencionado por Pau-
lo no início das cartas, e duas cartas, que tinham si-
do escritas a ele, tem sido preservadas. Lücio pode

3 T. W. Manson, "Romans", p.953.


ter sido Lucas, o autor das seçoes iniciadas com o
pronome "nõs" (Atos 16 - 28). Gaio pode ter sido um
dos primeiros convertidos de Paulo em Corinto (cf. I
Cor. 1:14). Tércio, que atuou como o amanuense (aque-
le que escreve o que se dita) de Paulo, não é mencio-
nado em qualquer outra parte no Novo Testamento. [-
rasto, o tesourei ro da ci dade, pode ser a mesma pes-
soa mencionada em Atos 19:22.

Quando a lista dos companheiros de Paulo f


comparada COJTl os repl'esentantes que acompanharam Pau-
lo a Jerusalém com a oferta, somente Sõpater e Timõ-
teo são mencionados em ambas as listas (cf. Atos 20'
4). Embora Gaio seja mencionado em ambas, o Gaio em
Atos 20:4 é de Derbe. Em Romanos 16:23, Paulo o iden~
tifica como seu hospedeiro, indicando que ele, prova-
velmente, estava na casa de GalO de Corinto quando a
epístola foi escrita.

Doxologia

KomanO$ 16:24-27

A bênção no versículo 24 é uma repetição d~


mesma no versículo 20. Já tem sido mencionado que a
doxologia dos versículos 25-27 aparece em três dife-
rentes lugares nos textos antigos. O Codex Vaticanu~
e o Codex Sinaiticus trazem a doxologia após 16:23,
A evidência textual parece favorãvel quando colocada
após 16:23; portanto, a Epistola aos Romanos não ter-
mina com o caprtulo 14, mas com o capítulo 16.

A doxologia E uma compilaç~o de declarações


importantes feitas em outras partes das escrituras de
Paulo. Alguns estudiosos têm sugerido que era uma
r.ompilação designada a conc'luir o túrpus Paulinum
total. "Ora, àquele que e poderoso pE1ra vos conr'ir'-
mar, segundo o meu evangeino" (v.25), e uma c it;:;.cã
o
de Efesios 3:20 e 2:16. "Segundo o meu evangelho"
significa o evangelho que Pa~ic pregava - a justifi-
cação pele;.fe em Cristo. "A pregação de Jesus Cristo"
tem relação com o conteudo da pregação que é Cristo.
"A revelação do mistério guaY'ciaclo em silêncio nos
tempos eternos", refere-se no fato de que os genti os
eram co-herdeiros com o povo escolhido. Este fato
tem sido desprezado pelos Judeus, apesar de estar in-
cluído na promessa a Abraão e ser freqUentemente re-
ferido por Isaias.

Por meio de reveiação especial, Paulo ficou


ciente do mistério que, r~ verdade, foi manifestado
"pel as escrituras proféti cas", porerr:não foi compre-
endido (v.26). Então o mistério tinha sido feito co-
nheci do a todas as nações "para a obedi ênci a por fi3"
(V.2§J, que era a conversão_ dos gentios. Que eles
tambem eram o povo de Deus nao erá compreendido pOí
Israel. Foi revelado a Paulo que a morte ao Messias,
cujo sangue tornou-se um sacrifício para todas a5
pessoas que foram justificadas pela fe, foi o meiJ
de Deus incluir os gentios em seu Reino. Enquanto a
aceitação por Deus era compreendida ser por meio dR
Lei judaica. os gentios estavam exclu;dos do Reino
de Deus. O único fim apropriado para tão grande dis-
sertação doutrinal é o louvor da sabedoria e glória
de Deus atraves de Cristo Jesus (v.27).

170
o Postscriptum aos Gãlatas

Gãlatas 6:11-18

Assim como a Epístola de Paulo aos Romanos


termina com um aviso contra os judaizantes, sua Epís-
tola aos Gãlatas avisa contra aqueles que queriam "os-
tentar boa aparência na carne" e insistiam na circun-
cisão dos cristãos gentios gãlatas (v.12). A conclu-
são desta carta difere de Romanos, em Paulo não apre-
sentar cumprimentos ou referências pessoais. Ele ur-
gentemente pediu aos romanos que se lembrassem dele
na oração, quando ele começasse a jornada perigosa pa-
ra Jerusalem, porem nenhum pedido e feito aos gãlatas.
Ele não compartilha seus planos de viagem nem dã ins-
trução para saudarem-se com o ósculo santo.

Paulo chamou a atenção para as "letras gran-


des" de sua escritura e para o fato de que ele estava
escrevendo sem a assistência de um amanuense. Talvez
o manuscrito de Paulo não tenha sido tão perfeito
quanto o de um escriba profissional. Aparentemente, e-
le escreveu a Carta com grande urgência e emoção, e
pode ter negligenciado o cuidado na informação de su-
as cartas. Ele pode ter confrontado sua carência de
perfeição (que causaria impressão em seus leitores)
com a exati dão e preci são de seus oponentes, que es-
tavam excessivamente preocupados em causar impressão
(v. 12).
Os judaizantes tambem estavam preocupados em
escapar ã perseguição por causa da cruz de Cristo (v.
12). Os judeus cristãos que requeriam que os gentios
fossem circuncidados e guardassem a Lei de Moises não
seriam condenados e banidos da pãtria pelo judaísmo
oficial. Convencendo um grande numero de gentios a se
submeterem ã circuncisão, os judaizantes poderiam "se
gloriarem na vossa (os gentios) carne" (v.13). Era ma-
is importante para eles convencerem os gentios a se
circuncidarem do que guardarem outros pontos da Lei
(v. 13).
Antes de sua experiência de conversão, Paulo
estava preocupado em causar impressão na carne. Ele
escreveu aos filipenses, dizendo que tinha confiado
na carne mais do que outros (3:4 e ss.). Ele era cui-
dadoso em guardar a Lei, como um fariseu, e ate mesmo
perseguia a Igreja, que falava contra a Lei. A ambi-
ção de Paulo era, indubitavelmente, ser um grande lí-
der no judaísmo. Estas ambições parecem ser o que ~l~
descreveu como "gl ori ar-se na carne". Após sua conver-
são, Paulo não tinha mais bases para jactar-se em su-
as prõpri as real i zações (v. 14). "A Cruz de nosso Se-
nhor Jesus Cristo" substituiu suas ambições mundanas
com uma justiça que veio de Deus e uma gratidão em
resposta ao amor de Deus que o tornou um servo. O en-
canto do poder e posições mundanas perderam a atração
para Paulo ("foi crucificado"), e ele parou de empe-
nhar-se em seguir os padrões mundanos (v.14). A segu-
rança e a paz de ser aceito por Deus atraves da fe,
o gozo da vitória na vida cristã e a esperança da res-
surreição tornaram-se supremos na vida de Paulo e
substituíram todos os outros valores.
o orgulho racial e o sentimento de superio-
ridade da parte de Paulo como um jude~ circuncidado
di~s~pC'T3m-se quôndc 21>2 se convencel; de ~,\la prapria
pecaminosidade e se converteu. Sua circuncisão não e-
rQ de nenhum valor, mas S~~ experiência de viver no
Espírito, como uma nova criatura de Deus, foi-lhe de
maior valor (v.15). O viver segundo a Lei o estava
d€~rQtanjo, pOiêm o andar segundo o ~sDlr;to trouxe-
lhe a paz e a misericórdia de Deus (v.16).
Paulo terminou com uma referência a suas ci-
catr~ ZES fei tilS por açoi tes, apedrejcmertos e outras
provas por que ele passou no servico de Cristo. Ao
inv~s de serem estigmas para desac~ed!t~-10, eram es-
tigmas que o marcam como pertencente a Jesus Cristo.
Ele tinha sido acusado, pelos judalzantes, de não es-
tar qualificúdo pura ap6stolo, assim desfizeram de
seus ensinamentos tendo-o por inconsistente em sua
posição qüê<nto ~ circuncisão. ,fj, vida de sofrimento
sacrificial e serviço de Paulo para com seu Senhor
foram evidência indiscutivel de sua aevoção a Cristo;
portanto, não havia nenhuma razão para ele ser per-
turbado pelo homem novamente (v.17). saulo terminou
a epístola com uma breve bênção, em Que ele recomen-
dou os "i rmãos li a graça de Deus.

S-ar putea să vă placă și