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ARTIGOS
A PSICOTERAPIA EXISTENCIAL
2 DE SETEMBRO DE 2014 BRUNOTURRI
A Psicoterapia Existencial
A terapia sob a ótica do existencialismo, permite que o paciente construa seu caminho e
o enredo de sua vida sem nenhum pressuposto apriorístico, sendo ele próprio quem
determinará as explicações sobre os fatos que estão prendendo sua existência. Logo, não
deve se ater ao passado como a causa de seu sofrimento, ou seja, como se tudo que
ocorreu há muito tempo atrás determinasse seu sofrimento atual. Assim, no processo de
psicoterapia, “o paciente é visto enquanto totalidade senso perceptiva e não como um
ser dicotomizado em diversas partes que muitas vezes nem sequer se tocam ainda que
tangencialmente” pág. 94.
Contudo, a abordagem existencial contribui para que a pessoa que procura a ajuda
perceba coisas que sozinha não esta conseguindo ter uma percepção mais totalizada.
Coisas estas, relacionadas à própria vida e priorizando sua singularidade. Portanto, a
pessoa não esta conseguindo sozinha compreender os fatos e os determinantes que estão
acorrentando sua vida, e não esta conseguindo desvendar os possíveis caminhos para se
livrar do sofrimento.
Para ter uma compreensão mais abrangente á respeito da psicoterapia existencial, se faz
necessário destacar alguns conceitos existencialistas estipulados como sendo
fundamentais para se compreender essa abordagem.
Por conseguinte, para o homem comum e para a filosofia tradicional, o ideal supremo é
alcançar uma vida de tranqüilidade e isenta de sofrimentos, na qual a felicidade plena
esteja presente. Os existencialistas rebatem essa posição, crendo que não é possível esse
tipo de idealização, pois, são inerente e indissolúvel da existência humana, algumas
ingremidades existenciais como a angústia, solidão, tédio, morte, entre outras. Nesse
sentido, é difícil pensar em realizações humanas descartando os sofrimentos a ela
inerentes, isso não quer dizer que os existencialistas só exploram o lado trágico da
existência, apenas buscam refletir sobre conhecidas formas da existência, assim, não
tem como excluir da discussão temas que transmitam ao homem sofrimento e
desespero.
Para Sartre, “o homem esta condenado a ser livre”, esta citação define a necessidade de
uma redimensão da existência. Segundo Angerami (2007), “Condenado, porque não
criou a si próprio, e, no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo, é responsável
por tudo quanto fizer. Este passa a ser um dos principais valores existencialistas: a
liberdade para assumir a totalidade dos próprios atos” p.15.
Não basta falar apenas da psicoterapia existencial sem abordar os temas considerados
principais para o existencialismo, os quais também estão presentes no processo de
psicoterapia.
Liberdade:
No linguajar popular a liberdade é utilizada para determinar situações as quais as
pessoas resolvem determinados objetivos, não é livre aquele que não tem condições
para tal. Na política liberdade possui conotação própria, possui liberdade quando
apresenta – se condições de expressar vontade e opinião, isso acontece através do voto,
como também através de manifestação de idéias contrárias a ordem estabelecida.
Porém, o existencialismo propõe outra reflexão sobre o termo liberdade, se para esse
pressuposto teórico filosófico a existência precede e comanda a essência, portanto, a
liberdade se explica como fundamento de todas as essências, dessa maneira não se trata
de uma propriedade ou de uma tendência acrescida a minha natureza. Segundo alguns
filósofos tradicionais é a capacidade de realizar objetivos previamente propostos. Logo,
sendo um ser livre o homem decide sua própria vida, arcando com a responsabilidade de
sua escolha. “O homem é livre por necessidade ontológica, e qualquer tentativa de fugir
dessa condição, é por assim dizer uma forma de quietismo” p.16.
Sartre salienta que a liberdade é o que precisamente me estrutura como homem, porque
é uma designação especifica da própria qualidade de ser consciente, de poder negar, de
transcender. “A liberdade é o que define a minha possibilidade de me recusar como
coisa, projetando-me para além disso, ou, se quiser, para além de mim” p.17.
Solidão:
É difícil entrar em contato com a solidão, mas a partir do momento em que se consegue
compreende – la, constatando que cada um é único com sua história individual, percurso
próprio, biografia própria, maneira própria de buscar sentido para vida, se percebe então
que ela demonstra a altivez da condição humana.
Contudo, quando se fala que a solidão faz parte da existência humana, assume – se a
condição de ser único, e com isso, a responsabilidade com relação à dimensão dada à
existência.
Essência:
Essência é definida etiologicamente como “a natureza intima das coisas, aquilo que faz
que uma coisa seja o que é ou lhe dá a aparência dominante, aquilo que constitui a
natureza de um objeto” p.22.
O ser no mundo:
O ser está no mundo, e este fato ocasiona muito sofrimento e desespero, em um mundo
com regras e normas, morais, éticas, políticas, religiosas, e isso muitas vezes acaba
limitando as possibilidades existenciais. No entanto, o ser no mundo traz também a
questão de que o homem é o único ser que constrói seu ambiente de vida, diferente dos
animais que habitam determinado ambiente sem condições de transforma – lo ou
mesmo de se adaptarem noutro ambiente.
Morte:
Para falar sobre a morte na visão existencialista, Sartre um dos principais filósofos
existencial aponta que, a morte é a ocorrência que determina o fim da existência,
finalizando todos os projetos elaborados. Por outro lado Heidegger também importante
filósofo existencial coloca a morte como fazendo parte da vida.
O ato de morte interrompe a existência humana, determina á existência o fim dos seus
planos e ilusões. Portanto, a morte é o acontecimento mais concreto da existência
humana, mas muitas vezes, exerce a condição de algo desagradável na vida do ser
humano.
O sentido da vida:
É através das suas realizações que o homem existe, a vida enquanto existência única e
isolada não tem sentido, logo, o homem existe a partir do contexto de suas próprias
realizações. Portanto, se a existência não tem sentido a consciência disso leva o
indivíduo ir em busca de realizações significativas, e com isso, busca dar sentido a essa
existência.
É necessário que o homem decida de maneira adequada seu projeto de vida, para que o
sentido de vida seja pertinente ás suas realizações. Se for de outra maneira ele precisará
se adaptar a inúmeras frustrações, e até mesmo a uma existência permeada pelos
parâmetros conferidos pela severidade do caminho.
Também o sentido de vida será pobre e limitado, quando as pessoas que escolherem
como sentido de vida a realização de projetos inalcançáveis, ou seja, realizações aquém
de suas possibilidades, e isso, acarretaram em muito sofrimento. Mas também, é através
do sentido de vida que sentimentos podem ser avaliados e superados de modo livre e
autêntico.
Transcendência:
Autenticidade:
Sartre salienta que o homem que vive de maneira autêntica, é aquele que se submete á
conversão da angústia e assume sua liberdade. Tanto para Sartre como para Heidegger,
“o homem autêntico é o que reconhece sua dualidade radical entre o humano e o não
humano, que reconhece que estar no mundo não implica estar no meio do mundo”.
Angústia:
Logo, “O homem é um ser arrojado que, uma vez lançado ao mundo, terá que, na mais
absoluta liberdade, buscar condições existenciais que possam trazer novas perspectivas
á própria vida”.
Amor:
Segundo Mareei e Jaspers, o amor é uma relação pessoal entre dois seres concretos, não
podendo haver relação pessoal entre um ser humano individual e a abstração da
humanidade. Logo, a pessoa ao se sacrificar em nome da humanidade, mostra sua
incapacidade de amor pessoal. Comungando com os humanistas, o amor universal
depende de algum tipo de identificação com os outros, e aceitar o outro como
semelhante é algo muito difícil de ser vivenciado e dimensionado.
O amor deve ser considerado um processo dialético, uma entrega onde as pessoas amam
para serem amadas, e isso exclui as formas de entrega em que não existe simetria e
troca.
Para outros, o amor é o próprio sentido da vida, pois afirmam que a vida existe a partir
do amor e que apenas este, da luz e cor à própria existência. O amor como forma de
renúncia e entrega que gratifica as atribulações da vida.
As diversas definições dadas ao amor fazem com que muitas vezes alguns atos
consistam em ser chamados de amor, se distanciando dos fatos. E também
determinados envolvimentos afetivos, ao serem chamados de amor perdem sua essência.
No entanto, o amor é o que se sente diante duma intensa emoção até fatigar, ao contrário
do que se define e se conceitua pela razão. O amor não existe como valor absoluto ou
fenômeno real, o amor se existente, é sentido de forma única e finita. “Amor é um
sorriso de criança com seu olhar de esperança; é o trem que parte ruma ao
desconhecido, levando sonhos e ilusões daqueles que ficam e daqueles que vão. É o
nada e o tudo, mas nunca o princípio sempre o fim”.
Contudo, o próprio desejo como se o desejo fosse arbítrio existencial, é uma forma de
tentar fazer do amor expressão de tantas outras coisas que transcendem a própria
conceituação dos fatos.
Segundo Angerami (2007), “amor é sentimento que torna dócil e meigo o próprio ódio:
nada, nem ser existente, resistem ao encanto de sua fragrância e magia. E como
sentimento, sentimento capaz de dar formas concretas ao abstrato, é a própria esperança,
capaz de escorraçar o ódio dos corações humanos”.
Tédio Existencial:
É impossível excluir o tédio, pois ele não é uma entidade que vem de fora e se instala
em nós, mas podem-se ouvir seus avisos e partir para a ação, ou deixar que ele se instale
como uma neurose. Para algumas pessoas o tédio existencial significa aniquilamento, a
corrosão lenta da própria solidão; para outros, foi o último aviso que os levou à
libertação e ao crescimento.
Culpa:
A culpa se apresenta também quando enfrentamos outros homens sem respeito à sua
condição humana, ou seja, quando aniquilamos as possibilidades existenciais dos nossos
semelhantes.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.
Angerami, Valdemar Augusto - Camon. Psicoterapia existencial. 4ed.rev. São Paulo:
Thomson, 2007.
Angerami, Valdemar Augusto - Camon. Psicoterapia e subjetivação: uma análise de
fenomenologia, emoção e percepção. São Paulo: Thomson, 2003.