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Boa administração: um direito

fundamental a ser efetivado


em prol de uma gestão pública
eficiente*
Good administration: fundamental
right to be implemented in favor
of efficient public management
Salomão Ismail Filho**

RE SUM O:
O direito administrativo moderno encontra-se intrinsecamente relacionado
com o direito constitucional. Uma consequência de tal relação é o direito
fundamental a uma boa administração. O conceito de boa governança,
Žȱ ŒŠ›¤Ž›ȱ –Š’œȱ Š–™•˜ȱ Žȱ –ž•’’œŒ’™•’—Š›ǰȱ Žȱ ˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šȱ
Šž¡’•’Š–ȱ—ŠȱŽę—’³¨˜ȱŠšž’•˜ȱšžŽȱœŽ“Šȱž–Šȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ—˜ȱœŽ›Ÿ’³˜ȱ
™ø‹•’Œ˜ǯȱ1ȱŽŸŽ›ȱ˜ȱŽœ˜›ȱ™ø‹•’Œ˜ȦŽŒ’œ˜›ȱ™˜•Ç’Œ˜ȱŠŽ—Ž›ȱŠ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱ

*ȱ ›’˜ȱ›ŽŒŽ‹’˜ȱŽ–ȱŘŘȱŽȱŠ‹›’•ȱŽȱŘŖŗŞȱŽȱŠ™›˜ŸŠ˜ȱŽ–ȱŘŝȱŽȱ“ž—‘˜ȱŽȱŘŖŗŞǯȱ DZȱ‘Ĵ™DZȦȦ¡ǯ˜’ǯ
org/10.12660/rda.v277.2018.77679.
** Faculdade Imaculada Conceição do Recife, Recife, PE, Brasil. E-mail: salomao74@yahoo.com.br.
Doutorando em direito (Unicap). Especialista e mestre em direito (UFPE). MBA em gestão
do Ministério Público (UPE). Promotor de Justiça do Ministério Público de Pernambuco.
Professor de direito administrativo e constitucional da Faculdade Imaculada Conceição do
Recife (FICR).

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


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fundamentais da Constituição por meio de uma administração que concilie


os custos orçamentários com os interesses e necessidades do administrado,
˜žȱœŽ“ŠǰȱŠȱ™Žœœ˜Šȱ‘ž–Š—Šǰȱ›Š£¨˜ȱŽȱœŽ›ȱ˜ȱœŠ˜ǯ

PALAV RAS - CHAV E:


Direitos fundamentais — boa administração — boa governança —
™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱŽęŒ’¹—Œ’Šȱ— custos orçamentários

ABS TR AC T:
˜Ž›—ȱ Š–’—’œ›Š’ŸŽȱ •Š ȱ ’œȱ ’—›’—œ’ŒŠ••¢ȱ ›Ž•ŠŽȱ ˜ȱ Œ˜—œ’ž’˜—Š•ȱ
•Š ǯȱ —Žȱ Œ˜—œŽšžŽ—ŒŽȱ  ˜ž•ȱ ‹Žȱ ‘Žȱ œ˜ȬŒŠ••Žȱ ž—Š–Ž—Š•ȱ ›’‘ȱ ˜ȱ
good administration. The concept of good governance, broader and
–ž•’’œŒ’™•’—Š›¢ǰȱŠ—ȱ‘Žȱ™›’—Œ’™•Žȱ˜ȱŽĜŒ’Ž—Œ¢ȱ‘Ž•™ȱ’—ȱ‘ŽȱŽę—’’˜—ȱ˜ȱ
 ‘Šȱ˜˜ȱŠ–’—’œ›Š’˜—ȱ’œȱ’—ȱ‘Žȱ™ž‹•’ŒȱœŽ›Ÿ’ŒŽǯȱ‘Žȱ™ž‹•’ŒȱŠ—ȱ™˜•’’ŒŠ•ȱ
–Š—ŠŽ›ȱ‘Šœȱ‘Žȱž¢ȱ˜ȱŒ˜–™•¢ȱ‘Žȱž—Š–Ž—Š•ȱ˜‹“ŽŒ’ŸŽœȱ˜ȱ˜—œ’ž’˜—ȱ
‘›˜ž‘ȱŠȱ–Š—ŠŽ–Ž—ȱ‘Šȱ›ŽŒ˜—Œ’•Žœȱ‘Žȱ‹žŽȱŒ˜œœȱ ’‘ȱ’—Ž›ŽœœȱŠ—ȱ
—ŽŽœȱ˜ȱ‘ŽȱŠ–’—’œŽ›Žǰȱ‘Šȱ’œǰȱ‘Žȱ‘ž–Š—ȱ™Ž›œ˜—ǰȱ›ŽŠœ˜—ȱ˜›ȱŽ¡’œŽ—ŒŽȱ
of the State.

KEY WORDS :
Fundamental rights — good administration — good governance —
™›’—Œ’™•Žȱ˜ȱŽĜŒ’Ž—Œ¢ȱ— budgetary costs

1. Introdução

ȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ Žȱ ž–Šȱ Œž•ž›Šȱ Žȱ Žœ¨˜ȱ ™ø‹•’ŒŠȱ ŽęŒ’Ž—Žȱ Žȱ Œ˜–Ȭ


prometida com o bem-estar do cidadão é algo que não se estabelece de forma
›Ž™Ž—’—ŠȱŽȱŽ™Ž—Žȱ—¨˜ȱŠ™Ž—ŠœȱŽȱž–ȱŒ˜—“ž—˜ȱŽȱ—˜›–Šœȱ“ž›Ç’ŒŠœȱŒ˜—œ’Ȭ
tucionais e legais, mas também do desenvolvimento de uma prática contínua
Ššž’•˜ȱšžŽȱœŽ“ŠȱŒ˜—œ’Ž›Š˜ȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ǯ
Mas, teriam os cidadãos/administrados um direito a uma gestão pública
ŽęŒ’Ž—Žȱ˜žȱ–Žœ–˜ȱŠȱž–Šȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǵ
No últimos tempos, o tratamento de institutos do direito administrativo
na Constituição é um fenômeno que tem se repetido e se apresentado como
uma garantia para os administrativos e, algumas vezes, para a própria
administração pública.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 107

Destarte, utilizando o método hipotético-dedutivo, parte-se da necessária


inter-relação entre o direito administrativo e o direito constitucional, para
se chegar a um conceito de boa administração, dentro do serviço público
brasileiro.
Por conseguinte, poderia tal conceito ser interpretado como um direito
ž—Š–Ž—Š•ǰȱŠȱœŽ›ȱ’—Ÿ˜ŒŠ˜ȱŽ–ȱ‹Ž—ŽÇŒ’˜ȱ˜ȱŒ’Š¨˜ǵȱŠ›Šȱ›Žœ™˜—Ž›ȱŠȱŠ•ȱ
šžŽœ’˜—Š–Ž—˜ǰȱ‹žœŒŠȬœŽǰȱŒ˜–˜ȱ–Ž˜˜•˜’ŠȱŠž¡’•’Š›ǰȱŠ™˜’˜ȱ—˜ȱŒ˜—ŒŽ’˜ȱŽȱ
‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³ŠǰȱŽ–ŠȱšžŽȱŽ–ȱŠȱ’—Ěž¹—Œ’ŠȱŽȱ˜ž›ŠœȱŒ’¹—Œ’Šœȱœ˜Œ’Š’œȱŠ™•’ŒŠŠœǰȱ
como a economia. Além disso, trabalha-se o princípio constitucional da
ŽęŒ’¹—Œ’ŠǰȱŒ˜–˜ȱž–ȱŸŽ˜›ȱšžŽȱ’›ŽŒ’˜—ŠȱŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ¥ȱ™›ŽœŠ³¨˜ȱŽȱž–ȱ
serviço público de qualidade.
˜›ȱę–ǰȱ–Ž’Š—Žȱž–Šȱ–Ž˜˜•˜’Šȱ’—ž’ŸŠǰȱŠ™›ŽœŽ—ŠȬœŽȱ˜ȱŠ›ž–Ž—˜ȱ
dos custos orçamentários, os quais haverão de seguir o imperativo caminho
de realização dos direitos fundamentais, não obstante o culto e a valorização de
Œ›’·›’˜œȱ –Ž›Š–Ž—Žȱ ŽŒ˜—â–’Œ˜œǰȱ —˜ȱ –˜–Ž—˜ȱ Žȱ œŽȱ ŠŸŠ•’Š›ȱ Šȱ Ž¡ŽŒž³¨˜ȱ
orçamentária dos Estados e demais entidades públicas.
’œǰȱ Ž—¨˜ǰȱ Šȱ ™›˜™˜œŠȱ ŽœŽȱ Š›’˜ȱ “ž›Ç’Œ˜DZȱ Š™›ŽœŽ—Š›ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ž—ŠȬ
mental à boa administração pública como algo viável, concreto e que não
™˜Žȱ œŽ›ȱ ˜•Ÿ’Š˜ȱ ˜žȱ ›Ž•ŽŠ˜ȱ ™Ž•˜œȱ Žœ˜›Žœȱ ™ø‹•’Œ˜œǰȱ –¤¡’–Žȱ Ž–ȱ ›Š£¨˜ȱ
do permanente apelo constitucional para sua realização. Apelo este que, à
•ž£ȱŠȱ’—’ŠŽȱ‘ž–Š—ŠȱŽȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱŠȱŽ™ø‹•’ŒŠǰȱŸŽ–ȱ
Šȱ Ž¡’’›ȱ ž–Šȱ ™Ž›–Š—Ž—Žȱ ŠŸŠ•’Š³¨˜ȱ Šȱ ›Žœ™Ž’˜ȱ Šȱ ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ ˜œȱ ’›Ž’˜œȱ
fundamentais da pessoa humana.

2. O direito administrativo moderno e sua necessária relação


com o cumprimento de metas constitucionais

Š›ŠȱŠ•ž—œȱŠž˜›ŽœǰȱŒ˜–˜ȱŽ—Š˜ȱ•Žœœ’ǰȱŽ¡’œŽȱž–Šȱ›Ž•Š³¨˜ȱ‹ŠœŠ—Žȱ¹—žŽȱ
entre o direito constitucional e o direito administrativo, sendo o primeiro a
‹ŠœŽǰȱ˜ȱŠ•’ŒŽ›ŒŽǰȱŽȱ˜˜ȱ˜ȱ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽȱŽȱ˜˜œȱ˜œȱ˜ž›˜œȱ›Š–˜œȱŠȱ
Œ’¹—Œ’Šȱ“ž›Ç’ŒŠǯȱȱ˜›–ŠȱŽȱŒ˜–˜ȱ˜œȱà›¨˜œȱœž™›Ž–˜œȱ˜ȱœŠ˜ǰȱ–¤¡’–Žȱ˜ȱ
˜Ž›ȱ¡ŽŒž’Ÿ˜ǰȱœŽ›¨˜ȱ›ŠŠ˜œǰȱ—Šȱ˜—œ’ž’³¨˜ǰȱ’—ĚžŽ—Œ’Š›¤ȱŽŒ’œ’ŸŠ–Ž—Žȱ
na sistematização do direito administrativo e de como será ele aplicado pelos
˜™Ž›Š˜›Žœȱ“ž›Çdicos.1

1
Alessi, Renato. —œ’žŒ’˜—Žœȱ Žȱ Ž›ŽŒ‘˜ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ǯȱ Š›ŒŽ•˜—ŠDZȱ ˜œŒ‘Dzȱ ŠœŠȱ ’˜›’Š•ǰȱ ŗşŝŖǯȱ
t. I, p. 17-18.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


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ŽŸŽ›ŠœǰȱŠȱŒ˜’ęŒŠ³¨˜ȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱŠœȱ—˜›–ŠœȱŽȱ’›Ž’˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ
™˜œœ’‹’•’Šȱ˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱŽȱž–ŠȱŽ˜›’ŠȱŽ›Š•ǰȱŸ˜•ŠŠȱ™Š›ŠȱŠȱ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ
Žȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š’œǰȱŒ˜–ȱŠȱꗊ•’ŠŽȱŽȱ•’–’Š›ȱ˜ȱ™˜Ž›ȱ˜ȱœŠ˜ȱ
sobre a esfera privada dos indivíduos, garantindo, outrossim, transparência,
controle dos agentes públicos e probidade na administração pública.
Não por acaso, tem-se desenvolvido um conceito moderno, no sentido de
apresentar um direito administrativo com alicerce na Constituição, em que o
Œ’Š¨˜ȱ—¨˜ȱœŽ›’Šȱ–Š’œȱ›ŠŠ˜ȱŒ˜–˜ȱœž“Ž’˜ȱ’—Ž›Žȱ˜œȱœŽ›Ÿ’³˜œȱŽȱ™›ŽœŠ³äŽœȱ
do Estado, mas sim como protagonista e sentido de todo o agir administrativo.
›ŠŠȬœŽǰȱ Ž–ȱ ŸŽ›ŠŽǰȱ —˜ȱ ŒŠœ˜ȱ ˜ȱ ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ “ž›Ç’Œ˜ȱ ‹›Šœ’•Ž’›˜ǰȱ Žȱ ž–ȱ
corolário do princípio da dignidade da pessoa humana, enquanto fundamento
da República Federativa (art. 1º-III da CF/1988).
Um direito administrativo que, no dizer de Gordillo, precisa criar e
adicionar novas possibilidades de participação do Povo no poder, de forma
šžŽȱ œžŠȱ ’—Ěž¹—Œ’Šȱ —¨˜ȱ œŽȱ •’–’Žȱ ¥ȱ Ž•Ž’³¨˜ȱ Žȱ ŒŠ—’Š˜œȱ Ž•Ž’˜›Š’œǯȱ ꗊ•ǰȱ
segundo o autor, a democracia não é somente um modo de alcançar o poder,
–ŠœȱŠ–‹·–ȱž–ȱ–˜˜ȱŽȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒŽ›ǯ2
•Ž›ŠȬœŽȱ˜ȱ˜Œ˜ȱ˜ȱ™›à™›’˜ȱ’›Ž’˜Dzȱ˜ȱ™›˜ŒŽ’–Ž—˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ—¨˜ȱ
œŽ›’Šȱ–Š’œȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’˜ȱŽ—˜ȱŒ˜–˜ȱ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ™›’—Œ’™Š•ȱž–ȱ›ŠŠ–Ž—˜ȱ’ŽȬ
›Ž—Œ’Š˜ȱ˜œȱŠ˜œȱ™˜•Ç’Œ˜œȱ˜žȱŽȱ˜ŸŽ›—˜ǰȱŒ˜–˜ȱ˜ž›˜›ŠȱŽę—’žȱŠ›•ȱŒ‘–’Ĵǯ3
ȱ–ŽŠȱ™›’–˜›’Š•ǰȱ˜›ŠŸŠ—ŽǰȱœŽ›¤ȱŠȱœŠ’œŠ³¨˜ȱ˜ȱŒ•’Ž—Žǰȱ˜žȱœŽ“Šǰȱ˜ȱŠ–’Ȭ
—’œ›Š˜ǰȱ ™˜›ȱ –Ž’˜ȱ Žȱ ž–Šȱ “žœ’³Šȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠȱ ŽŽ’ŸŠ–Ž—Žȱ “žœŠȱ Žȱ šžŽȱ
›ŽĚ’Šȱ˜œȱŸŠ•˜›ŽœȱŠ•‹Ž›Š˜œȱ™Ž•Šȱ˜—œ’ž’³¨˜ȱŽ–˜Œ›¤’ŒŠǯ
Esse novo direito administrativo visa também garantir a liberdade dos
administrados, por meio de uma hermenêutica que tenha por escopo dar um
sentido teleológico às ações do poder público.4 E tal teleologia tem como foco
principal, como se disse alhures, a pessoa humana.5 Por isso, quando se fala

2
GORDILLO, Agustín. ›ŠŠ˜ȱ Žȱ Ž›ŽŒ‘˜ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜, tomo 1: parte general. 7. ed. Belo

˜›’£˜—ŽDZȱŽ•ȱŽ¢Dzȱž—ŠŒ’à—ȱŽȱŽ›ŽŒ‘˜ȱ–’—’œ›Š’Ÿ˜ǰȱŘŖŖřǯȱ™ǯȱŗŚȬŗśǯ
3
ȱ 
 ǰȱŠ›•ǯȱTeoria de la constituciónǯȱ›ŠžŒŒ’à—ȱŽȱ›Š—Œ’œŒ˜ȱ¢Š•ŠǯȱŠ›’ȱǻŽ’¡Ž’ȱ˜ȱŽ›–˜ȱ
˜›’’—Š•ǰȱŽ–ȱŽœ™Š—‘˜•ǼDZȱ•’Š—£Šȱ—’ŸŽ›œ’ŠȱŽ¡˜œǰȱŗşşŜǯȱ™ǯȱŗŚŝǯ
4
ȱ –™˜›Š—ŽȱŽœŠŒŠ›ȱŠšž’ǰȱŠȱÇž•˜ȱŽȱŽ¡Ž–™•˜ǰȱšžŽȱ˜’ȱ˜ȱŒŽ—›Š•’œ–˜ȱŽȱŠȱ‹ž›˜Œ›ŠŒ’Šȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ
administrativo dos Estados socialistas europeus, capitaneados pela União Soviética e pela
•Ž–Š—‘Šȱ›’Ž—Š•ǰȱž–ȱ˜œȱ™›’—Œ’™Š’œȱŠ˜›ŽœȱšžŽȱ•ŽŸŠ›Š–ȱŠ˜ȱę–ȱŠšžŽ•Žȱ›Ž’–ŽǰȱŠ›ŽŠ˜ȱ¥ȱ
intermitente crise econômica, que teve por corolário o desabastecimento de inúmeros produtos
Žȱ¹—Ž›˜œȱŽȱ™›’–Ž’›Šȱ—ŽŒŽœœ’ŠŽǯȱŽœœŽȱœŽ—’˜ǰȱǰȱ
Š—œȱ ǯȱŽȱŠ•ǯȱDireito administrativo.
11. ed. Tradução de António F. de Sousa. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1999. v. I,
p. 128.
5
Sobre o direito à boa administração pública como estandarte do direito administrativo
moderno, que tem a pessoa do administrado e o respeito a sua liberdade como principais

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 109

em alterações constitucionais ou mesmo legais para introduzir institutos que


™›˜–˜ŸŠ–ȱŽęŒ’¹—Œ’ŠDzȱ™Š›’Œ’™Š³¨˜DzȱŽœŒŽ—›Š•’£Š³¨˜ȱ˜žȱŽœ‹ž›˜Œ›Š’£Š³¨˜ȱ—Šȱ
Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱ—¨˜ȱœŽȱ™˜Žȱ›ŠŠ›ȱŠ’œȱ’—œ’ž˜œȱŒ˜–˜ȱꗊ•’ŠŽȱŽ–ȱ
si mesmos, mas vinculados a um sentido constitucional de agir, visando ao
bem-estar e à felicidade do administrado, por meio da construção de uma
sociedade efetivamente solidária e do respeito à dignidade humana.
ȱ Š’›ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ Ÿ˜•Š˜ȱ ™Š›Šȱ ˜—œ’ž’³¨˜ȱ ŸŽ›’ęŒŠȬœŽǰȱ ™›’—Œ’™Š•Ȭ
mente, quando se tratar dos direitos fundamentais da pessoa humana, os
šžŠ’œȱŽ¡’’›¨˜ȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱŠȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱ’—Œ•žœ’ŸŽȱ—˜ȱšžŽȱ’£ȱ›Žœ™Ž’˜ȱ¥ȱ
discricionariedade administrativa, voltada para a realização de tais direitos,
mediante a formulação de políticas públicas e a utilização dos recursos
˜›³Š–Ž—¤›’˜œǰȱŽȱ˜›–ŠȱŽęŒ’Ž—ŽȱŽȱ™›˜™˜›Œ’˜—Š•ǯ6
A constitucionalização de institutos do direito administrativo (princípios
Ž›Š’œȱ˜ȱœŽ›Ÿ’³˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŽȱ˜œȱœŽ›Ÿ’˜›Žœȱ™ø‹•’Œ˜œDzȱ‘’™àŽœŽœȱŽȱ’—Ž›ŸŽ—³¨˜ȱ
˜ȱ œŠ˜ȱ —Šȱ ™›˜™›’ŽŠŽȱ ™›’ŸŠŠDzȱ ›Žœ™˜—œŠ‹’•’£Š³¨˜ȱ ˜œȱ ŠŽ—Žœȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ
ŽŒǯǼǰȱ—˜ȱŽœŠ˜ȱŽ–˜Œ›¤’Œ˜ȱŽȱ’›Ž’˜ǰȱ˜›—ŠȱŽ¡™›Žœœ˜ȱšžŽȱ˜œȱŠ–’—’œ›Š˜œȱ
—¨˜ȱ œ¨˜ȱ –Ž›˜œȱ œž“Ž’˜œȱ ™Šœœ’Ÿ˜œȱ —Šȱ ›Ž•Š³¨˜ȱ Œ˜–ȱ ˜ȱ ™˜Ž›ȱ ™ø‹•’Œ˜ǰȱ –Šœȱ
ŸŽ›ŠŽ’›˜œȱ’ž•Š›Žœȱ˜ȱ™˜Ž›ȱ™˜•Ç’Œ˜ȱŽ¡Ž›Œ’˜Dzȱœ¨˜ȱŽ•Žœȱ™›˜Š˜—’œŠœȱŽȱ—¨˜ȱ
–Ž›˜œȱŽœ’—Š¤›’˜œȱ˜ȱŠ’›ȱ˜ȱœŠ˜ǰȱšžŽȱ—¨˜ȱ·ȱž–ȱę–ȱŽ–ȱœ’ȱ–Žœ–˜ǯ
Tal constitucionalização tem por corolário a formação de um direito
Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ Ž–ȱ ™Ž›–Š—Ž—Žȱ –žŠ³¨˜ǰȱ Œ˜–ȱ Šȱ ꗊ•’ŠŽȱ Žȱ œŽȱ ˜›—Š›ȱ
cada vez mais participativo e democrático, servindo como um instrumento
de equilíbrio entre o Estado e a liberdade dos indivíduos/administrados.
ȱ ›Žœž•Š˜ȱ ꗊ•ȱ ŽœŠȱ ŽšžŠ³¨˜ȱ œŽ›’Šǰȱ “žœŠ–Ž—Žǰȱ ˜ȱ ŽœŠ˜ȱ Žȱ ‹Ž–ȬŽœŠ›ǰȱ
Œ˜–˜ȱ™˜—’ęŒŠȱžœÇ—ȱ ˜›dillo.7

˜‹“Ž’Ÿ˜œǰȱ Œ˜—œž•ŽȬœŽȱ A Ȭǰȱ Š’–Žǯȱ •ȱ Ž›ŽŒ‘˜ȱ ž—Š–Ž—Š•ȱ Šȱ •Šȱ ‹žŽ—Šȱ
administración de instituciones públicas y el derecho administrativo. In: RODRÍGUEZ,
Š›–Ž—ȱŠ›ÇŠȱŸ’•ŠDzȱA ǰȱ›Š—Œ’œŒ˜ȱ ž’·››Ž£ǯȱ•ȱŽ›ŽŒ‘˜ȱŠȱž–Šȱ‹žŽ—ŠȱŠ–’—’œ›ŠŒ’à—ȱ
y la ética pública. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011. p. 77-83.
6
Eurico Bitencourt Neto, ao doutrinar sobre a vinculação da administração pública ao mínimo
Ž¡’œŽ—Œ’Š•ǰȱ ŽŽ—Žȱ šžŽǰȱ ŠŒ’–Šȱ Šœȱ ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽœȱ ™˜•Ç’ŒŠȱ Žȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠǰȱ Žœ¨˜ȱ
as prioridades previamente estabelecidas na Constituição. BITENCOURT NETO, Eurico.
’—Œž•Š³¨˜ȱŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱŠ˜ȱ–Ç—’–˜ȱŽ¡’œŽ—Œ’Š•ǯȱ —DZ NETTO, Luísa Cristina Pinto
ŽDzȱ ȱǰȱž›’Œ˜ȱǻ˜˜›ǯǼǯȱ’›Ž’˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱŽȱ’›Ž’˜œȱž—Š–Ž—Š’œ: diálogos
—ŽŒŽœœ¤›’˜œǯȱŽ•˜ȱ
˜›’£˜—ŽDZȱà›ž–ǰȱŘŖŗŘǯȱ™ǯȱŗŜśȬŗŝŖǯ
7
Para Gordillo, no estado de bem-estar, o equilíbrio entre autoridade/liberdade é comple-
mentado pelo equilíbrio entre direitos individuais e direitos sociais/prestacionais. GORDILLO,
Agustín. ›ŠŠ˜ȱ Žȱ Ž›ŽŒ‘˜ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ ¢ȱ ˜‹›Šœȱ œŽ•ŽŠœ, tomo 8: teoría general del derecho
administrativo. Buenos Aires: Fundación de Derecho Administrativo, 2013. p. 54-56, 61, 66,
74-76.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


110 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Deveras, muitos seria–ȱ˜œȱŽœŠę˜œȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ—ŽœœŽȱŽœŠ˜ȱ


Žȱ ‹Ž–ȬŽœŠ›DZȱ Šȱ ›ŽŽę—’³¨˜ȱ ˜œȱ •’–’Žœȱ Šȱ ›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽȱ ˜ȱ œŠ˜Dzȱ Šȱ
Œ˜—’—žŠ³¨˜ȱŠȱ“ž›’’ęŒŠ³¨˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱŽȱ˜ȱ›Ž˜›³˜ȱŠȱ’—Ěž¹—Œ’Šȱ
˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•Dzȱ ˜ȱ Šž–Ž—˜ȱ Šȱ ™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ ˜ȱ Œ’Š¨˜ǰȱ –Ž’Š—Žȱ
Žę—’³¨˜ȱ˜œȱœŽžœȱ’›Ž’˜œȱŽȱŽŸŽ›ŽœDzȱŠȱŒ˜—œ›ž³¨˜ȱŽȱž–ȱ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ•ŽŠ•ȱ
™Š›ŠȱŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱŽȱ™›ŽœŠ³¨˜ȱŽȱœŽ›Ÿ’³˜œȱŽȱŽȱ’—˜›–Š³¨˜DzȱŠȱ™›˜‹•Žȱ–ŠȬ
tização de uma administração pública ambientalmente suportável e baseada
no princípio do desenvolvimento sustentável, entre outros.8
œœŠȱ ’—Ěž¹—Œ’Šȱ Žȱ ž–ȱ ’›Ž’˜ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•’£Š˜ȱ Ž–ȱ
œ’˜ȱ‹ŠœŠ—Žȱ—˜ŠŠȱ—˜ȱŒ˜—Ž¡˜ȱŠȱ—’¨˜ȱž›˜™Ž’Šǰȱ˜—ŽȱŒŠŠȱŸŽ£ȱ–Š’œȱ˜œȱ
˜›Ž—Š–Ž—˜œȱ “ž›Ç’Œ˜œȱ ˜œȱ ™ŠÇœŽœȬ–Ž–‹›˜œȱ ¹–ȱ šžŽȱ œŽ›ȱ ’—Ž›Š˜œȱ Šȱ ž–ȱ
Œ˜—Ž¡˜ȱ Žȱ –Š’˜›ȱ ™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ ˜ȱ Š–’—’œ›Š˜ȱ —˜œȱ ™›˜ŒŽ’–Ž—˜œȱ Žȱ Žȱ
uma maior fundamentação técnica das decisões estatais, visando neutralizar/
diminuir o conteúdo político e arbitrário de algumas decisões tomadas sob o
pálio da discricionariedade administrativa.9
Esse chamado direito administrativo moderno ou de viés constitucional
—¨˜ȱŽ–ȱ™˜›ȱ™›Ž˜Œž™Š³¨˜ȱŽ¡™Š—’›ȱŠœȱŠ³äŽœȱ˜ȱœŠ˜ǰȱ–ŠœȱŠœȱ˜›—Š›ȱŽęŒ’Ž—Žœǰȱ
“žœ’ęŒŠŠœȦ–˜’ŸŠŠœȱŽȱ•’–’ŠŠœȱ™˜›ȱž–Šȱ›Ž›ŠȱŽȱŒ˜–™Ž¹—Œ’ŠȱšžŽȱžŽ•Šȱ
as ações dos servidores públicos em geral. Estes, frise-se, não possuem um
ȃ’›Ž’˜Ȅȱ Žȱ ŠžŠ›ȱ ǻŠ–’—’œ›Š›Dzȱ “ž•Š›Dzȱ •Ž’œ•Š›Ǽǰȱ ™˜›·–ȱ ˜ȱ ȃŽŸŽ›Ȅȱ Žȱ ‹Ž–ȱ
ŠžŠ›ǰȱ Œ˜—˜›–Žȱ ™›ŽŸ’Š–Ž—Žȱ ŽŸŽ›¤ȱ ŽœŠ›ȱ Žę—’˜ȱ —Šȱ ›ŽŽ›’Šȱ ›Ž›Šȱ Žȱ
competência.10
Paralelamente a isso, faz-se necessária uma valorização do serviço público,
a partir do oferecimento de garantias de atuação que motivem o ingresso e a
™Ž›–Š—¹—Œ’Šȱ—ŠœȱŒŠ››Ž’›ŠœȱŽȱœŠ˜ǯȱꗊ•ǰȱŒ˜–˜ȱ“¤ȱ›ŽŒ˜—‘ŽŒŽžȱŠȱž™›Ž–Šȱ
˜›Žȱ˜œȱǰȱ˜ȱœŠ˜ȱ™›˜–˜ŸŽǰȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱ˜œȱœŽžœȱŽ–™›ŽŠ˜œǰȱŠȱŽęŒ’¹—Œ’Šȱ
e a boa performance do serviço público. Demais, o Tribunal Constitucional

8
ȱ
Š—œȱ ǯȱ˜•ěȱŽȱŠ•ǯǰȱ’›Ž’˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ǰȱ˜™ǯȱŒ’ǯǰȱ™ǯȱŗřřȬŗřŜǯ
9
Conforme, Suzana Tavares da Silva, que destaca que o novo direito administrativo pede
ao direito administrativo tradicional que absorva os conteúdos dessa nova metodologia,
permitindo que as decisões tenham maior qualidade e menor carga político-arbitrária. SILVA,
Suzana Tavares da. Direito administrativo europeu. Coimbra: Imprensa da Universidade de
Coimbra, 2010. p. 75-76.
10
ȱ ˜›ȱ’œœ˜ǰȱŠ›•˜œȱ›’ȱž—Ž•ȱ˜ž›’—ŠȱšžŽȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŽ–ȱŠȱŒ˜–™•Ž¡Šȱ–’œœ¨˜ȱŽȱŠ›Š—’›ȱ
˜ȱŽšž’•Ç‹›’˜ȱŽ—›ŽȱŠœȱŠ³äŽœȱ˜ȱœŠ˜ȱǻ˜ȱšžŠ•ȱŽ¡Ž›ŒŽȱ˜ȱ™˜Ž›ȱŽȱŠž˜›’ŠŽǼȱŽȱ˜œȱ’—’ŸÇž˜œǰȱ
que se subordinam ao Estado, com fundamento em regras de competência, mas sem perder
a condição de titulares do poder político e de direitos próprios. SUNDFELD, Carlos Ari.
Fundamentos de direito público. 3. ed. 3. tir. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 99-107.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 111

norte-americano também reconheceu que os servidores públicos não abrem


mão dos seus direitos fundamentais quando ingressam no serviço público.11
Š’œȱŠ›Š—’ŠœȱŽ—Ÿ˜•ŸŽ–ǰȱ™˜›ȱŽ¡Ž–™•˜ǰȱ˜ȱ˜Ž›ŽŒ’–Ž—˜ȱŽȱŽœ›žž›Šȱ˜›ŠȬ
nizacional adequada para o servidor/agente público bem desempenhar suas
Š›’‹ž’³äŽœDzȱ›Ž–ž—Ž›Š³¨˜ȱ’—ŠȱŽȱŒ˜—’£Ž—ŽȱŒ˜–ȱ˜ȱŒŠ›˜Dzȱ’—œ’ž˜œȱ“ž›Ç’Œ˜œȱ
™Š›Šȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱœŽž›˜ȱŽȱ’—Ž™Ž—Ž—ŽȱŠȱ™›˜ęœœ¨˜ǰȱŒ˜–˜ȱŠȱŽœŠ‹’•’ŠŽDzȱŠȱ
Žę—’³¨˜ȱŽȱŠ›’‹ž’³äŽœȱŽ–ȱŽœŠž˜ȱ™›à™›’˜ȱŽȱž–Šȱ™˜•Ç’ŒŠȱŽȱœŽž›Š—³Šȱ™Š›Šȱ
ŽŽ›–’—ŠŠœȱ ŒŠ››Ž’›Šœǰȱ Ž¡™˜œŠœȱ Šȱ ›’œŒ˜œȱ Žȱ Ÿ’Šǰȱ Œ˜–˜ȱ ꜌Š’œȱ Žȱ ›’‹ž˜œDzȱ
–Šȱ’œ›Š˜œȱ“ž’ŒŠ—Žœǰȱ™˜•’Œ’Š’œȱŽȱ–Ž–‹›˜œȱ˜ȱ’—’œ·›’˜ȱø‹•’Œ˜ǯ
Algumas prerrogativas funcionais, como a estabilidade, a vitaliciedade,
a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos/subsídios são verda-
deiras garantias contra o arbítrio de determinados gestores públicos, permi-
tindo que os servidores desempenhem suas atribuições sem pressões e com
™›˜ęœȱœ’˜ȱ—Š•’œ–˜ǰȱ’—Ž™Ž—¹—Œ’ŠǰȱŽ—›˜ȱŽȱž–Šȱ›Ž›ŠȱŽȱŒ˜–™Ž¹—Œ’Šȱ™›ŽŸ’ŠȬ
–Ž—ŽȱŽę—’Šǯ12
A Constituição brasileira de 1988, aliás, trata, de fato, de muitas questões
Š’—Ž—Žœȱ Š˜œȱ œŽ›Ÿ’˜›Žœǰȱ Žę—’—˜ǰȱ ™˜›ȱ Ž¡Ž–™•˜ǰȱ ˜ȱ šžŽȱ œŽ›’Šȱ ŽœŠ‹’•’ŠŽȱ
no serviço público brasileiro (art. 41), além de prever a vitaliciedade, a
’—Š–˜Ÿ’‹’•’ŠŽȱŽȱŠȱ’››Žž’‹’•’ŠŽȱŽȱœž‹œÇ’˜œȱ™Š›Šȱ“žÇ£ŽœȱŽȱ–Ž–‹›˜œȱ˜ȱ
Ministério Público (arts. 95 e 128, §5º, inciso I).
—ę–ǰȱ —¨˜ȱ œŽȱ šžŽ›ȱ Ššž’ȱ Šę›–Š›ȱ ž–Šȱ ›Ž•Š³¨˜ȱ Žȱ œž‹˜›’—Š³¨˜ȱ Ž—›Žȱ ˜ȱ
’›Ž’˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱŽȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ǰȱ–Šœȱž–Šȱ—ŽŒŽœœ¤›’ŠȱŒ˜—Ž¡¨˜ȱ
Ž—›ŽȱŽ•ŽœǰȱŽ¡’œŽ—Žȱ™›’—Œ’™Š•–Ž—Žȱ—˜ȱŽœŠ˜ȱŽ–˜Œ›¤’Œ˜ȱŽȱ’›Ž’˜ǯȱ˜ȱ’Ȭ
reito constitucional cabe traçar as linhas gerais do Estado e da sua atuação
™˜•Ç’ŒŠǰȱŠȱ™Š›’›ȱ˜œȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱŽȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱž—Š–Ž—Š’œǰȱŠȱœŽ›Ž–ȱ›ŽŠ•’£Š˜œȱ
naquela sociedŠŽǰȱ™›ŽŸ’Š–Ž—ŽȱŽę—’˜œȱ—Šȱ˜—œ’ž’³¨˜ǯ

11
ȱ  ȱǯȱž™›Ž–Žȱ˜ž›ǯȱ Š›ȱ›ǯȱŠ—Žǰȱ™Ž’’˜—Ž›ȱŸǯȱŽŸŽȱ›Š—”œǰȱ’—ȱ‘’œȱ’—’Ÿ’žŠ•ȱ
ŒŠ™ŠŒ’¢ǰȱŠ—ȱžœŠ—ȱž››˜ ǰȱ’—ȱ‘Ž›ȱ˜ĜŒ’Š•ȱŒŠ™ŠŒ’¢ȱŠœȱŠŒ’—ȱ›Žœ’Ž—ȱ˜ȱŽ—›Š•ȱ•Š‹Š–Šȱ
Community College. Opinion of the Court no 13-483. OpinionsǰȱŠœ‘’—˜—ǰȱǰȱŗşȱ“ž—ǯȱŘŖŗŚǯȱ
’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–DZȱǀ   ǯœž™›Ž–ŽŒ˜ž›ǯ˜ŸȦ˜™’—’˜—œȦŗř™ȦŗřȬŚŞřȏş˜Ŝ‹ǯ™ǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱşȱ“ž•ǯȱ
2016.
12
Nesse diapasão caminha Juarez Freitas, o qual destaca a necessária valorização das carreiras
típicas de Estado, mostrando que algumas atribuições são indelegáveis para particulares
Žȱ ŽŸŽ–ȱ œŽ›ȱ Ž¡Ž›Œ’Šœȱ ’›ŽŠ–Ž—Žȱ ™˜›ȱ œŽ›Ÿ’˜›Žœȱ Œ˜—Œž›œŠ˜œǰȱ Œ˜–ȱ ŸÇ—Œž•˜ȱ ŽœŠž¤›’˜ǰȱ
ꛖŠ˜ȱ ’›ŽŠ–Ž—Žȱ Œ˜–ȱ Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ ™ø‹•’ŒŠǯȱ Š›Šȱ ˜ȱ ›ŽŽ›’˜ȱ Šž˜›ǰȱ Šȱ ŸŠ•˜›’£Š³¨˜ȱ Šœȱ
carreiras de Estado é condição sine qua nonȱ™Š›ŠȱšžŽȱœŽȱ˜‹Ž—‘Šȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ•ŽÇ’–˜ȱŽȱŽęŒŠ£ȱ
Šȱ ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠǰȱ Ž–ȱ Œ˜—œ˜—¦—Œ’Šȱ Œ˜–ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ž—Š–Ž—Š•ȱ ¥ȱ ‹˜Šȱ
administração. FREITAS, Juarez. ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠȱ Žȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ž—Š–Ž—Š•ȱ
à boa administração pública. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 114-125.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


112 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

E o direito administrativo, principalmente aquele voltado para uma gestão


prestadora e participativa,13 também se encontra vinculado ao cumprimento
de tais valores, sendo responsável de, na prática, constitucionalizar o agir
Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱŽȱ’Š›ȱ˜œȱ™Šœœ˜œȱ˜œȱŽœ˜›Žœȱ™ø‹•’Œ˜œȱŒ˜—˜›–Žȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱ
™˜•Ç’Œ˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱ›Š³Š˜œȱ—ŠȱŠ—ŠȱŠ›Šǰȱ–¤¡’–ŽȱŠšžŽ•ŽœȱšžŽȱ’£Ž–ȱ
respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana. A previsão consti-
tucional de alguns institutos ou regras do direito administrativo somente
reforça tal conclusão.14

3. A boa administração enquanto direito fundamental do


cidadão

Autores como Lucio Pegoraro não entendem a boa administração como


ž–ȱ ’›Ž’˜ȱ ˜ȱ Œ’Š¨˜ǰȱ –Šœȱ Œ˜–˜ȱ ž–ȱ ˜‹“Ž’Ÿ˜ȱ ˜ȱ œŠ˜ǰȱ ž–Šȱ –ŽŠȱ Šȱ œŽ›ȱ
atingida pelos gestores públicos. Assim, seria a boa administração algo que
integra o próprio conceito de Estado e não propriamente um direito.15
Outros doutrinadores, como Rogério Soares, interpretam a boa admi-
nistração como um dever do gestor público, um dever de direcionar o poder
Œ˜—Ž›’˜ȱ™Ž•Šȱ—˜›–Šȱ“ž›Ç’ŒŠȱ¥ȱœŠ’œŠ³¨˜ȱ˜ȱ’—Ž›ŽœœŽȱ™ø‹•’Œ˜ǰȱŽœŒ˜‹›’—˜ǰȱ
em um determinado caso concreto, o interesse público visado pela própria
norma.16
Defende-se, neste estudo, que a boa administração não seria apenas
ž–Šȱ Ž¡˜›Š³¨˜ȱ ˜žȱ ž–ȱ ’—œ’ž˜ȱ Žà›’Œ˜ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ǯȱ Š–‹·–ȱ

13
Como, aliás, destaca Carla Amado Gomes, ao aduzir que, durante o século XX, com a consagra-
ção de uma administração pública prestadora, o direito administrativo é chamado para regular
ž–ȱŒ˜—“ž—˜ȱŽȱ˜–Ç—’˜œȱ–ž’˜ȱÇœ™Š›Žœǰȱ’—Œ•žœ’ŸŽȱ˜ȱ–Ž’˜ȱŠ–‹’Ž—ŽǰȱŠȱ™Š›’›ȱŠȱŒ˜—œ›ž³¨˜ȱ
de um procedimento onde se aprimore cada vez mais a participação dos administrados.
GOMES, Carla Amado. A fruição do ambiente: um interesse procedimentalizável. In: NETTO,
žÇœŠȱ›’œ’—Šȱ’—˜ȱŽDzȱ ȱǰȱž›’Œ˜ȱǻ˜˜›ǯǼǯȱDireito administrativo e direitos
ž—Š–Ž—Š’œDZȱ’¤•˜˜œȱ—ŽŒŽœœ¤›’˜œǯȱŽ•˜ȱ
˜›’£˜—ŽDZȱà›ž–ǰȱŘŖŗŘǯȱ™ǯȱŞřȬŞŚǯ
14
Ainda a respeito do tema, consultem-se as conclusões de Odete Medauar, no sentido de que
a administração e o direito administrativo encontram-se vinculados à Constituição e à ordem
de valores que ela representa, funcionando a administração pública como inegável fator de
’—˜ŸŠ³¨˜ȱ —˜ȱ ŽœŠ˜ȱ Ž–˜Œ›¤’Œ˜ȱ Žȱ ’›Ž’˜ȱ Œ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜ǯȱ ǰȱ ŽŽǯȱ O direito
administrativo em evolução. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992. p. 156-164.
15
ȱ  ǰȱ žŒ’˜ǯȱ Ƕ¡’œŽȱ ž—ȱ Ž›ŽŒ‘˜ȱ Šȱ ž–Šȱ ‹žŽ—Šȱ Š–’—’œ›ŠŒ’à—ǵȱ ǻ•ž—Šœȱ
consideraciones sobre el ab — uso — de la palabra “derecho”). In: RODRÍGUEZ, Carmen
Š›ÇŠȱŸ’•ŠDzȱA ǰȱ›Š—Œ’œŒ˜ȱ ž’·››Ž£ȱǻ˜˜›ǯǼǯȱ•ȱŽ›ŽŒ‘˜ȱŠȱž—Šȱ‹žŽ—ŠȱŠ–’—’œ›ŠŒ’à—ȱ
y la ética pública. Valencia: Tirant lo Blanch, 2011. p. 36-41.
16
SOARES, Rogério Ehrhardt. —Ž›ŽœœŽȱ ™ø‹•’Œ˜ǰȱ •ŽŠ•’ŠŽȱ Žȱ –·›’˜ǯȱ ˜’–‹›ŠDZȱ •¦—’Šǰȱ ŗşśśǯȱ
p. 198-201.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 113

—¨˜ȱœŽȱ•’–’Š›’ŠȱŽ•ŠȱŠȱ’—Ž›Š›ȱ˜ȱŒ˜—ŒŽ’˜ȱŽȱœŠ˜ǰȱŽ–‹˜›ŠȱŒ˜–ȱŽœŽȱŽœŽ“Šȱ
’—’œŒž’ŸŽ•–Ž—Žȱ ›Ž•ŠŒ’˜—ŠŠǯȱ ŽŸŽ›Šœǰȱ Œ˜–˜ȱ ŽœŠŒŠ˜ȱ —Šȱ Žę—’³¨˜ȱ Žȱ
Rogério Soares, há a presença de um dever, dever este a ser observado pelo
gestor público na sua atuação funcional/administrativa.
Mas, de outro lado, como em uma relação sinalagmática, o particular/
administrado/cidadão (o qual, nos estados democráticos e sociais de direito,
integra o conceito de Povo, titular do poder político) também possui um
’›Ž’˜ȱ Žȱ Ž¡’’›ȱ ˜œȱ œŽ›Ÿ’˜›Žœȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ ˜ȱ Œž–™›’–Ž—˜ȱ ˜ȱ ŽŸŽ›ȱ Žȱ ‹˜Šȱ
Š–’ȱ—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱ–¤¡’–ŽȱŠšžŽ•ŽœȱšžŽȱŽ•ŽŽžȱ™Š›ŠȱŠ—˜ǯ
Nesse passo, a boa administração é, sim, um direito fundamental que liga
˜ȱŒ’Š¨˜ȱŠ˜ȱŠ–’—’œ›Š˜›ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŽȱŒž“˜ȱŒ˜—Žø˜ȱ·ȱŠȱ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ™˜›ȱŽœŽȱ˜œȱ
princípios da administração pública (legalidade, impessoalidade, moralidade,
™ž‹•’Œ’ŠŽǰȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šǰȱ ’žŠ•ŠŽǰȱ ›Š£˜Š‹’•’ŠŽǰȱ ™›˜™˜›Œ’˜—Š•’ŠŽȱ ŽŒǯǼǰȱ
das tarefas fundamentais do Estado e dos direitos referentes à participação
procedimental do particular na gestão pública (devido processo legal, duração
razoável do processo, direito à audiência com o gestor e/ou seu representante,
entre outros).
Trata-se, como lembra Lourenzo Baquer, não apenas de um argumento
œ’–‹à•’Œ˜ǰȱ–ŠœȱŠ–‹·–ȱŽȱž–ȱŒ˜—“ž—˜ȱŽȱ·Œ—’ŒŠœȱŽȱ™›¤’ŒŠœȱŠœȱšžŠ’œȱ˜›—Š›¨˜ȱ
a boa gestão pública uma realidade.17
˜–ž—ŠȬœŽǰȱ™˜’œǰȱŒ˜–ȱ žŠ›Ž£ȱŽȱ›Ž’Šœǰȱ—ŠȱŽę—’³¨˜ȱŽȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱž—ŠȬ
–Ž—Š•ȱ¥ȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱŒ˜–˜ȱž–ȱœ˜–Šà›’˜ȱŽȱ’›Ž’˜œȱœž‹“Ž’Ÿ˜œȱ
públicos (direito a uma administração pública transparente, dialógica, impar-
cial, proba, respeitadora de uma legalidade temperada e com uma atuação
ŽęŒŠ£ȱŽȱ™›ŽŸŽ—’ŸŠǼǯȱŽž—˜ȱ˜ȱ›ŽŽ›’˜ȱŠž˜›ǰȱŠ–‹·–ȱŒ˜–™˜›’Šȱ˜ȱŒ˜—Žø˜ȱ
do direito fundamental em destaque o direito a uma maior participação do
administrado nos procedimentos e decisões da administração pública.18
Destaque-se, a Constituição italiana de 1947, no art. 97, 1ª parte, traz a
™›ŽŸ’œ¨˜ȱŽȱž–ŠȱŽœ¨˜ȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠȱŽȱŠŒ˜›˜ȱŒ˜–ȱŠȱ•Ž’ǰȱŽȱ˜›–ŠȱšžŽȱœŽ“Š–ȱ
assegurados o “bom andamento” e a “imparcialidade” da administração.
Ž–‹›ŠȬœŽǰȱŠ’—Šǰȱ—ŽœœŽȱŒ˜—Ž¡˜ǰȱ˜ȱŠ›ǯȱŝŖǰȱcaput, da Constituição brasileira
de 1988, o qual não fala apenas em um controle de legalidade dos atos do
poder público, mas também em um controle de legitimidade e economicidade.

17
Baquer, Lourenzo Martín-Retortillo. De los derechos humanos al derecho a uma buena
administración. In: Carmen María Ávila Rodríguez e Francisco Gutiérrez Rodríguez,
•ȱŽ›ŽŒ‘˜ȱŠȱž—Šȱ‹žŽ—ŠȱŠ–’—’œ›ŠŒ’à—ȱ¢ȱ•Šȱ·’ŒŠȱ™ø‹•’ŒŠ, op. cit., p. 54.
18
Juarez Freitas, ’œŒ›’Œ’˜—Š›’ŽŠŽȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠȱŽȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱž—Š–Ž—Š•ȱ¥ȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠ,
op. cit., p. 22-28 e 46.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


114 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Ora, isso permite concluir que a legitimidade do agir administrativo é


algo que também está relacionado com a prática da boa administração pelo
Žœ˜›ǯȱȱœŽȱ·ȱ™˜œœÇŸŽ•ȱž–ȱŒ˜—›˜•ŽȱŽȱȃ•Ž’’–’ŠŽȄȱ™Ž•˜œȱà›¨˜œȱŽ¡Ž›—˜œȱ
de controle da gestão pública (não se limitando apenas a aspectos de
•ŽŠ•’ŠŽȱ˜›–Š•Ǽǰȱ·ȱ™˜›šžŽȱ‘¤ȱž–ȱ’›Ž’˜ȱǻŽŒ˜››Ž—Žȱ˜ȱŠ›ŒŠ‹˜ž³˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ
no qual se encontra inserida a administração pública, o chamado bloco de
constitucionalidade) por parte do titular do poder político (Povo), de ver
˜‹œŽ›ŸŠŠȱŠ•ȱ•Ž’’–’ŠŽǰȱŒž“˜ȱŒ˜—Žø˜ȱŠ–‹·–ȱ’—Œ•ž’ȱŠȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ǯ
A propósito, o art. 41, da Carta dos Direitos Fundamentais da União
ž›˜™Ž’Šǰȱ ™˜›ȱ –Ž’˜ȱ ˜œȱ œŽžœȱ ’Ž—œȱ ŗȱ Šȱ Śǰȱ Ž¡™›ŽœœŠ–Ž—Žȱ Œ˜—œŠ›Šȱ Šȱ ‹˜Šȱ
Š–’—’œ›Š³¨˜ȱŒ˜–˜ȱž–ȱ’›Ž’˜ǰȱŒž“˜ȱŒ˜—Žø˜ȱœŽ›’Šȱ˜ȱ›ŠŠ–Ž—˜ȱ˜œȱ™•Ž’˜œȱ
dirigidos à União de forma equitativa, imparcial e rápida, além do direito de
˜’’ŸŠDzȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŽȱŠŒŽœœ˜ȱŠ˜œȱ˜Œž–Ž—˜œȱŽȱ™›˜ŒŽœœ˜œȱ™ø‹•’Œ˜œDzȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ
à reparação e do direito de receber, a respeito dos seus pleitos, em um dos
idiomas dos países signatários, uma decisão administrativa fundamentada.
O direito fundamental à boa administração pública revela-se, assim,
como um direito de natureza prestacional, que vincula o administrador à
˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ˜œȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱ›Ž•ŠŒ’˜—Š˜œȱŒ˜–ȱŠȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱ
inclusive aqueles que permitem uma maior participação procedimental do
administrado na gestão da res publicaeȱǻ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŽȱŠž’¹—Œ’Šœȱ™ø‹•’ŒŠœDzȱ’›Ž’˜ȱ
Žȱ˜’’ŸŠȱ™Š›’Œž•Š›DzȱŒ˜—œž•Šœȱ¥ȱ™˜™ž•Š³¨˜ȱŽŒǯǼǯ19 Participação procedimental
ŽœŠȱ šžŽȱ œŽȱ Œ˜—ꐞ›Šǰȱ Ž–ȱ ŸŽ›ŠŽǰȱ Ž–ȱ ž–ȱ Œ˜—›˜•Žȱ œ˜Œ’Š•ȱ ™Ž›–Š—Ž—Žȱ Šȱ
administração pelo titular do poder político, isto é, o Povo.20 A propósito,
merece menção o art. 20, item 1, da Constituição de Portugal, que consagra o
’›Ž’˜ȱŽȱŠŒŽœœ˜ȱ¥ȱ“žœ’³ŠǰȱœŽ–ȱ•’–’¤Ȭ•˜ȱŠ™Ž—Šœȱ¥ȱŽœŽ›Šȱ“ž›’œ’Œ’˜—Š•ǯ21
No mesmo diapasão, o art. 5º, XXXIV, a, da Constituição brasileira de
1988, elenca, como direito fundamental, o direito de petição aos poderes

19
Carlos Urquilla fala em uma obrigação de a gestão administrativa observar os princípios da
’—Ž™Ž—¹—Œ’Šǰȱ’–™Š›Œ’Š•’ŠŽǰȱ˜™˜›ž—’ŠŽȱŽȱŽęŒ’¹—Œ’Šǯȱ˜—œž•ŽȬœŽDZȱ ǰȱŠ›•˜œǯȱ
Šȱ“žœ’Œ’Šȱ’›ŽŒŠȱŽȱ•˜œȱŽ›ŽŒ‘˜œȱŽŒ˜—â–’Œ˜œǰȱœ˜Œ’Š•Žœȱ¢ȱŒž•ž›Š•Žœǯ San José de Costa Rica: Instituto
—Ž›Š–Ž›’ŒŠ—˜ȱŽȱŽ›ŽŒ‘˜œȱ
ž–Š—˜œǰȱŘŖŖŞǯȱ™ǯȱŞŘǯ
20
Agustín Gordillo, ›ŠŠ˜ȱŽȱŽ›ŽŒ‘˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜, op. cit., p. 15-16.
21
A norma constitucional lusitana fala em direito de acesso ao direito e aos tribunais, sem fazer
referência limitativa ao Poder Judiciário, ao contrário do que fez o art. 5º, XXXV, da CF/1988,
šžŽȱ ’—˜›–Šǰȱ ˜ȱ ˜Ž›ȱ ž’Œ’¤›’˜ȱ —¨˜ȱ œŽ›¤ȱ Ž¡Œ•žÇŠȱ •Žœ¨˜ȱ ˜žȱ Š–ŽŠ³Šȱ Žȱ ’›Ž’˜ǯȱ ˜ŠŸ’Šǰȱ
outras normas constitucionais, do próprio art. 5º da Carta brasileira, como o direito de petição
(inciso XXIV, aǼǰȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ¥ȱŠœœ’œ¹—Œ’Šȱ“ž’Œ’¤›’Šȱ’—Ž›Š•ȱǻ’—Œ’œ˜ȱ Ǽ e o direito à duração
›Š£˜¤ŸŽ•ȱ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱǻ’—Œ’œ˜ȱ ǼȱŠ›Š—Ž–ȱŠ–‹·–ǰȱ—˜ȱ›Šœ’•ǰȱ˜ȱŠŒŽœœ˜ȱŠ˜ȱŸŠ•˜›ȱ“žœ’³Šȱ
Š–‹·–ȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱœŽ–ȱž–Šȱ›ŽŠ³¨˜ȱ›Žœ›’’ŸŠȱŠ˜ȱ™›˜ŒŽœœ˜ȱ“ž’Œ’Š•ǯȱ
Nesse sentido, consulte-se: Ismail Filho, Salomão Abdo Aziz. Ministério Público e atendimento à
populaçãoDZȱ’—œ›ž–Ž—˜ȱŽȱŠŒŽœœ˜ȱ¥ȱ“žœ’³Šȱœ˜Œ’Š•ǯȱž›’’‹ŠDZȱ ž›ž¤ǰȱŘŖŗŗǯȱ™ǯȱŚşȬśŗǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 115

públicos, para a defesa de direitos ou contra a ilegalidade ou abuso de poder.


1ȱ˜ȱŒ‘Š–Š˜ȱ’›Ž’˜ȱŠȱž–Šȱ–Š’˜›ȱ™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ™›˜ŒŽ’–Ž—Š•ǰȱŒ˜–˜ȱŽœŠŒŠȱ
Gomes Canotilho.22
Também resta evidente que a boa administração pede providências
à’–ŠœǰȱŸ˜•ŠŠœȱ™Š›Šȱ˜ȱŒž–™›’–Ž—˜ȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȦ–ŽŠœȱ˜ȱœŠ˜ǰȱŽ—›ŽȱŠœȱ
quais não podem ser ignorados os chamados direitos fundamentais sociais,
˜œȱšžŠ’œǰȱŽ–ȱ›Ž›ŠǰȱŽ¡’’›¨˜ȱŽœŒ˜•‘ŠœȱŽȱ™›ŽœŠ³äŽœȱ˜ȱ™˜Ž›ȱ™ø‹•’Œ˜ǯȱ–ȱŠ’œȱ
–˜–Ž—˜œǰȱŠȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱŽ›¤ȱž–Šȱ’–™˜›¦—Œ’Šȱž—Š–Ž—Š•ǰȱ™˜’œȱœŽ›¤ȱ
em nome desse direito (para o administrado) e dever (para o gestor) que as
previsões constitucionais de melhor qualidade de vida para a população e
Žȱ’›Ž’˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱǻ–¤¡’–ŽȱŽ–ȱœžŠȱŠŒŽŠȱ™›ŽœŠŒ’˜—Š•Ǽȱ—¨˜ȱ™˜Ž›¨˜ȱ
ser olvidadas pelo gestor público ou tratadas como meras normas simbólicas,
œŽ–ȱŽ¡’’‹’•’ŠŽȱ˜žȱŽ¡˜›Š’ŸŠœǯ23
›ŠŠȬœŽǰȱŽ—ę–ǰȱŽȱž–ȱ™›˜Š˜—’œ–˜ȱ™˜•Ç’Œ˜ǰȱ™˜’œȱŠȱŽęŒ¤Œ’ŠȱŠœȱ—˜›–Šœȱ
de bem-estar social da Constituição não depende apenas do legislador, mas
também de uma atuação do Estado-administração comprometida com a
›ŽŠ•’£Š³¨˜ȱŠœȱŠ›ŽŠœȱž—Š–Ž—Š’œȱ˜ȱœŠ˜ǰȱŠ–‹·–ȱ™›ŽŸ’œŠœȱŽȱŽę—’Šœȱ
—˜ȱŽ¡˜ȱ˜—œ’žŒ’˜—Š•ǯ

4. Boa governança e a relevância de tal conceito para o direito à


boa administração

A palavra “governança” tem sido utilizada por doutrinadores de disci-


™•’—Šœȱ˜ž›ŠœǰȱŠ•·–ȱ˜ȱž—’ŸŽ›œ˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ǰȱŒ˜–˜ȱœ’—â—’–˜ȱŽȱž–Šȱ—˜ŸŠȱ˜›–Šȱ
Žȱ Š–’—’œ›Š›ǰȱ Žȱ ˜ŸŽ›—Š›ǯȱ œ˜ȱ ·ǰȱ ž–Šȱ —˜ŸŠȱ ™›˜™˜œŠȱ Ššž’•˜ȱ šžŽȱ œŽ“Šȱ
˜ŸŽ›—˜ȱ˜žȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱ˜ȱœŽ›Ÿ’³˜ȱ™ø‹•’Œ˜ǯ24
Eis, então, a ideia de boa governançaǰȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱŽȱŒ˜—˜›—˜œȱ•Š˜œǰȱŠȱšžŠ•ȱ
—¨˜ȱœŽȱ•’–’ŠȱŠȱœŽȱŠ™›ŽœŽ—Š›ȱŒ˜–˜ȱž–ŠȱŽę—’³¨˜ȱœ’–™•Žœ–Ž—Žȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱ–Šœȱ
alberga, em seu conceito, tópicos do direito, da ciência da administração e da

22
Conforme, Canotilho, José Joaquim Gomes. œž˜œȱ œ˜‹›Žȱ ’›Ž’˜œȱ ž—Š–Ž—Š’œ. 2. ed. portu-
žŽœŠǯȱ¨˜ȱŠž•˜DZȱŽŸ’œŠȱ˜œȱ›’‹ž—Š’œDzȱ˜’–‹›ŠDZȱ˜’–‹›ŠǰȱŘŖŖŞǯȱ™ǯȱŝřǯ
23
Segundo Rogério Soares, boa administração é sinônimo de ótima administração, pois cabe
ao agente público encontrar o único meio que satisfaz integralmente a vontade da norma.
Rogério Ehrhardt Soares, —Ž›ŽœœŽȱ™ø‹•’Œ˜ǰȱ•ŽŠ•’ŠŽȱŽȱ–·›’˜, op. cit., p. 189.
24
ȱ ȱ™›˜™àœ’˜ǰȱŒ˜—œž•ŽȬœŽȱŽ—Ž—’–Ž—˜ȱŽȱŠž•˜ȱ˜žŽ’›ŠȱŠȱ˜œŠǰȱ™Š›ŠȱšžŽ–ȱŠȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱ
governanceǰȱŽ¡›ŠÇŠȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŠ—•˜ȬœŠ¡â—’Œ˜ǰȱ·ȱŠ–™•Šǰȱ›ŽŸŽ•Š—˜ȱŒ˜—˜›—˜œȱ™˜žŒ˜œȱ™›ŽŒ’œ˜œǯȱ
COSTA, Paulo Nogueira da. O Tribunal de Contas e a boa governança: contributo para uma
›Ž˜›–Šȱ˜ȱŒ˜—›˜•˜ȱꗊ—ŒŽ’›˜ȱŽ¡Ž›—˜ȱŽ–ȱ˜›žŠ•ǯȱ˜’–‹›ŠDZȱ˜’–‹›ŠǰȱŘŖŗŚǯȱ™ǯȱŗŚşȬŗśřǯ

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economia, trazendo, assim, a proposta de uma nova forma de gestão pública,


–Ž—˜œȱ‹ž›˜Œ›Š’£ŠŠȱŽǰȱŒ˜—Œ˜–’Š—Ž–Ž—Žǰȱ–Š’œȱŽęŒ’Ž—ŽǰȱŒ˜–ȱž–Šȱ–Ž—˜›ȱ
presença do Estado, tendo por relevante consequência uma maior participação
da sociedade civil na persecução do interesse público.
Já o termo boa administraçãoǰȱŽ—Ž—ŽȬœŽǰȱœŽ›’Šȱž–ŠȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱŸ’—Œž•ŠŠȱŠȱ
ž–ȱœŽ—’˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱšžŽȱœŽȱŒ˜–™›˜–ŽŽȱŠȱ˜‹œŽ›ŸŠ›ȱ
ž–Šȱœ·›’ŽȱŽȱ’›Ž’˜œȱœž‹“Ž’Ÿ˜œȱŽ–ȱ™›˜•ȱ˜ȱŠ–’—’œ›Š˜ȱǻŒ˜–˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŠ˜ȱ
devido processo legal e à participação procedimental), bem como os princípios
para ela insculpidos na Constituição, tendo por corolário um serviço público
mais transparente, legítimo e efetivo.
Todavia, ao conceito de boa administração podem ser agregados muitos
postulados trazidos pelos teóricos da boa governança, tópicos que têm en-
Œ˜—›Š˜ȱ–Š’˜›ȱœ’—˜—’Šȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŠ—•˜ȬœŠ¡â—’Œ˜ǯȱ˜–˜ȱŽ¡Ž–™•˜ǰȱ
™˜ŽȬœŽȱ Ššž’ȱ Šž£’›ȱ šžŽȱ ž–Šȱ ‹˜Šȱ ˜ŸŽ›—Š—³Šȱ ™ø‹•’ŒŠȱ œ’—’ęŒŠȱ ›ŠŠ›ȱ ˜œȱ
destinatários do serviço público não como simples consumidores, mas, antes
de tudo, como cidadãos. Por isso, a permanente necessidade de accountability,
durante o período do mandato do decisor político e não apenas no período
de campanha eleitoral.25ȱ ǰȱ ’—Ž™Ž—Ž—Ž–Ž—Žȱ Žȱ ›Žœž•Š˜œȱ ˜žȱ ŽęŒ¤Œ’Šǰȱ ·ȱ
™›ŽŒ’œ˜ȱŠžŠ›ȱ™Ž›–Š—Ž—Ž–Ž—ŽȱŽ–ȱ™›˜•ȱŠȱœŠ’œŠ³¨˜ȱ˜ȱŒ•’Ž—Žȱǻ˜žȱœŽ“Šǰȱ˜ȱ
cidadão), sempre tendo por meta contribuir para que o cidadão tenha uma
vida melhor.26
Deveras, contribuir para que o cidadão tenha uma vida melhor é contri-
‹ž’›ȱ ™Š›Šȱ œžŠȱ Ž•’Œ’ŠŽǰȱ Ÿ’—˜ȬœŽǰȱ Ž—¨˜ǰȱ Šȱ ˜›—Š›ȱ Ž¡ŽšžÇŸŽ•ȱ ˜ȱ Š–™•˜ȱ ǻ–Šœǰȱ
indubitavelmente, concretizável) direito humano à felicidade.27

25
À luz de tal conclusão — e também como decorrência de outros argumentos —, Merilee
›’—•ŽȱŽŽ—ŽǰȱŒ˜–˜ȱž–ŠȱŠœȱŽ¡™›ŽœœäŽœȱŽȱ‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³ŠǰȱŠȱŸŽŠ³¨˜ȱŽȱž–Šȱ›ŽŽ•Ž’³¨˜ȱ
sucessiva, como forma de evitar abusos durante o período eleitoral, permitindo que a gestão
pública tenha como foco a realização de direitos civis e coletivos e não a recondução do
ŽŒ’œ˜›ȱ™˜•Ç’Œ˜ȱŠ˜ȱŒŠ›˜ȱ™Š›Šȱ˜ȱšžŠ•ȱ˜’ȱŽ•Ž’˜ǯȱ  ǰȱŽ›’•ŽŽȱǯȱŠ—Œ’˜—œǰȱ‹Ž—ŽęœȱŠ—ȱ
rights: three faces of accountability. In: [ ǰȱ ˜Š”’–Dzȱ ǰȱ—”’ǯȱ‘Žȱ’–™Ž›Š’ŸŽȱ˜ȱ
good local governanceDZȱŒ‘Š••Ž—Žœȱ˜›ȱ‘Žȱ—Ž¡ȱŽŒŠŽȱ˜ȱŽœŒŽ—›Š•’£Š’˜—ǯȱ˜ŸŠȱ˜›”DZȱ—’Žȱ
Nations University Press, 2013. p. 226-227.
26
ȱ œœŠȱŠȱ•’³¨˜ȱŽ¡›ŠÇŠȱŠȱ˜‹›ŠȱŽȱ Š—ŽȱŽȱ˜‹Ž›ȱŽ—‘Š›ǰȱ˜œȱšžŠ’œȱŽ¡Š•Š–ȱž–Šȱ—˜ŸŠȱ˜›–Šȱ
de prestação do serviço público, onde o interesse público deve ser igualmente perseguido
™˜›ȱ Œ’Š¨˜œȱ Žȱ Žœ˜›Žœȱ ™ø‹•’Œ˜œǯȱ ȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ ™ø‹•’Œ˜ȱ ·ǰȱ Ž—ę–ǰȱ Ž—Ž—’˜ȱ Œ˜–˜ȱ ž–Šȱ Šœȱ
consequências do processo democrático. Assim, a desburocratização e uma maior participação
do cidadão na gestão da coisa pública seriam essenciais para caracterizar a nova forma de
serviço público e, por conseguinte, a boa governança, antítese do “velho” serviço público.
˜—˜›–Žȱ
ǰȱ Š—ŽȱǯDzȱ
ǰȱ˜‹Ž›ȱǯȱ‘Žȱ—Ž ȱ™ž‹•’ŒȱœŽ›Ÿ’ŒŽ: serving, not
œŽŽŽ›’—ǰȱŽ¡™Š—ŽȱŽ’’˜—ǯȱ˜ŸŠȱ˜›”Dzȱ˜—›ŽœDZȱǯȱǯȱ‘Š›™ǰȱŘŖŖŝǯȱ™ǯȱřȬśȱŽȱŗřǯ
27
ȱ ˜‹›Žȱ ˜ȱ Ž–Šȱ Žȱ Šȱ Žę—’³¨˜ȱ Šȱ Ž•’Œ’ŠŽȱ Œ˜–˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ž—Š–Ž—Š•ǰȱ Œ˜—œž•ŽȬœŽȱ  ȱ
 
ǰȱŠ•˜–¨˜ǯȱ˜Šœȱœ˜‹›Žȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ‘ž–Š—˜ȱ¥ȱŽ•’Œ’ŠŽǯȱŽŸ’œŠȱ ž›Ç’ŒŠȱžœ˜ȱ›Šœ’•Ž’›Š,

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SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 117

Outro importante contributo da boa governança é a visão de que não se


deve diferenciar o gestor político do gestor administrativo, no que se refere
ao comprometimento com o bom andamento do serviço público e ao atendi-
–Ž—˜ȱ˜œȱ’—Ž›ŽœœŽœȱŠȱ™˜™ž•Š³¨˜ǯȱŽœ–’’ęŒŠȬœŽǰȱŠœœ’–ǰȱŠȱ’Ž’ŠȱŠȱŽŒ’œ¨˜ȱ
política ou governamental como algo divino, inatingível e insuscetível de
šžŠ•šžŽ›ȱ ˜›–Šȱ Žȱ Œ˜—›˜•Žȱ ˜žȱ šžŽœ’˜—Š–Ž—˜ǯȱ ꗊ•ǰȱ œŽǰȱ ™˜›ȱ ž–ȱ •Š˜ǰȱ
ŽŸŽȱŠȱŽœ¨˜ȱ˜ȱŽŒ’œ˜›ȱ™˜•Ç’Œ˜ȱ™›’–Š›ȱ™˜›ȱŽŒ’œäŽœȱŸ’œŠ—˜ȱ¥ȱŽęŒ’¹—Œ’Šȱ˜ȱ
serviço prestado, por outro, a ideia de prestação de contas/transparência deve
estar presente também em qualquer outra esfera administrativa de decisão,
™˜’œȱ·ȱ—ŽŒŽœœ¤›’˜ȱšžŽȱŽ¡’œŠȱž–Šȱ™›Ž˜Œž™Š³¨˜ȱ™Ž›–Š—Ž—ŽȱŒ˜–ȱ˜ȱŽœ’—Š¤›’˜ȱ
do serviço (cidadão).28
˜Šȱ ˜ŸŽ›—Š—³Šǰȱ ˜ž›˜œœ’–ǰȱ œ’—’ęŒŠȱ ˜ŸŽ›—Š›ȱ Œ˜–ȱ ›Š—œ™Š›¹—Œ’Šǰȱ ˜Ȭ
mando decisões fundamentadas, onde o usuário do serviço público, sempre
šžŽȱ™˜œœÇŸŽ•ǰȱŽŸŽȱœŽ›ȱ˜žŸ’˜ȱŽȱ™›ŽŒ’œŠȱŽ›ȱŠŒŽœœ˜ȱŠ˜œȱ–˜’Ÿ˜œȱŽ—œŽ“Šȱ˜›ŽœȱŠȱ
decisão governamental. Isso porque deve-se ter sempre em conta a perma-
nente necessidade de prestação de contas (accountability).29 Por conseguinte,
Ž–Ž›Žȱ Šȱ —ŽŒŽœœ’ŠŽȱ Žȱ ž–ȱ ™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱ ™›·Ÿ’˜ȱ Šœȱ ŽŒ’œäŽœȱ Š–’—’œȬ
›Š’ŸŠœȱ Žȱ šžŽȱ Ž¡’œŠȱ ž–ȱ ’¤•˜˜ȱ ™Ž›–Š—Ž—Žȱ ǻŒŠ—Š•ȱ Žȱ Œ˜–ž—’ŒŠ³¨˜Ǽȱ Ž—›Žȱ
Ž¡ŽŒž’Ÿ˜œȱ ˜ȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ ™ø‹•’Œ˜ȱ ǻŠ–’—’œ›Š˜›Žœȱ ˜žȱ Žœ˜›Žœȱ ™ø‹•’Œ˜œǼȱ Žȱ
usuários/destinatários da prestação.30
Para as Nações Unidas, aliás, as principais características da boa
˜ŸŽ›—Š—³Šȱ œ¨˜ȱ Œ˜—œŽ—œ˜Dzȱ ™Š›’Œ’™Š³¨˜ǰȱ ŽŽ’Ÿ’ŠŽȦŽęŒ’¹—Œ’ŠDzȱ ŠŒŒ˜ž—Š‹’•’¢Dzȱ
Žšž’ŠŽȱŽȱ’—Œ•žœ¨˜Dzȱ›Š—œ™Š›¹—Œ’ŠDzȱ›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽȱŽǰȱ™˜›ȱę–ǰȱŒž–™›’–Ž—˜ȱ

’œ‹˜ŠǰȱŠǯȱřǰȱ—ǯȱśǰȱ™ǯȱŗřŚřȬŗřŜŜǰȱŘŖŗŝǯȱ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱŽ–DZȱǀ   ǯŒ’™ǯ™Ȧ›ŽŸ’œŠœȦ›“•‹Ȧ›“•‹ȬŘŖŗŝȬŖśǁǯȱ
Acesso em: 22 abr. 2018.
28
Aliás, Janete e Robert Denhardt destacam que mesmo doutrinadores da “velha” administração,
—˜ȱ¦–‹’˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŠ—•˜ȬœŠ¡â—’Œ˜ǰȱ˜ž›˜›Šȱ›Ž•ŠŠ›Š–ȱŠœȱ’ęŒž•ŠŽœȱŽȱœŽ™Š›Š›ǰȱ—Šȱ™›¤’ŒŠǰȱ
o político do administrativo. No entanto, há que se dizer — e isso não se nega —, o casal
Denhardt também entende que, em determinados momentos, a diferença entre o político
e o administrativo é necessária. Mais importante, contudo, é que, em ambos os conceitos,
permaneça presente a ideia de accountability, em prol do usuário do serviço público. Ibid.,
p. 6-8.
29
ȱ ȱŒŠ›ŠŒŽ›Çœ’ŒŠȱŠȱ›Š—œ™Š›¹—Œ’ŠǰȱŠ•’¤œǰȱ·ȱŽœœŽ—Œ’Š•ȱ™Š›ŠȱšžŽȱŠȱœ˜Œ’ŽŠŽȱŒ’Ÿ’•ȱ™˜œœŠȱŽ—Š“Š›Ȭ
œŽȱ—Šȱ꜌Š•’£Š³¨˜ȱ˜œȱ˜ŸŽ›—˜œȱ•˜ŒŠ’œǰȱŽ—˜ǰȱŠœœ’–ǰȱ™•Ž—˜ȱŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ˜œȱ™›˜“Ž˜œȱŽȱŠ˜œȱ
Š–’—’œ›Š’Ÿ˜œȱŽȱ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š’œǯȱ˜—˜›–Žǰȱ
ǰȱ ǯȱ‘Š‹‹’›ǯȱ—Š—’—ȱŒ’Ÿ’•ȱœ˜Œ’Ž¢ȱ
˜ȱ™›˜–˜Žȱ•˜ŒŠ•ȱ˜ŸŽ›—Š—ŒŽDZȱŽ–Ž›’—ȱ›Ž—œȱ’—ȱ•˜ŒŠ•ȱŽ–˜Œ›ŠŒ¢ȱ’—ȱœ’Šǯȱ —DZȱ ˜Š”’–ȱ[“Ž—Š•ȱ
e Anki Dellnäs, ‘Žȱ’–™Ž›Š’ŸŽȱ˜ȱ˜˜ȱ•˜ŒŠ•ȱ˜ŸŽ›—Š—ŒŽ, op. cit., p. 233-234.
30
ȱ ŽœœŽȱœŽ—’˜ǰȱ˜œȱŒ‘Š–Š˜œȱȃ™›’—ŒÇ™’˜œȱŠȱ‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³ŠȄǰȱŽ•Š‹˜›Š˜œȱ™˜›ȱęŒŽȱ˜›ȱž‹•’Œȱ
Management Ltd (OPM) e por The Chartered Institute of Public Finance and Accountancy
ǻ’™ŠǼǰȱŽ–ȱ˜‹›ŠȱŽœ™ŽŒÇꌊȱœ˜‹›Žȱ˜ȱŽ–Šǯȱ˜—˜›–Žȱ Dzȱǯȱ‘Žȱ˜˜ȱ˜ŸŽ›—Š—ŒŽȱœŠ—Š›ȱ
˜›ȱ ™ž‹•’Œȱ œŽ›Ÿ’ŒŽœ. Londres: 2004. p. 4-8. Disponível em: <   ǯŒ’™Šǯ˜›ȦȬȦ–Ž’ŠȦ’•ŽœȦ
Publications/Reports/governance_standard.pdfǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŞȱ–Š›ǯȱŘŖŗŚǯ

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118 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Šȱ•Ž’ȱǻ˜žȱœŽ“ŠǰȱœŽž’›ȱŠœȱȃ›Ž›Šœȱ˜ȱ“˜˜ȄǼǯȱ’—Šȱ–Š’œǯȱ–ȱŽœž˜œȱœ˜‹›Žȱ˜ȱ
tema, a ONU defende a democracia participativa, aduzindo que a democracia
–Ž›Š–Ž—Žȱ ›Ž™›ŽœŽ—Š’ŸŠȱ —¨˜ȱ ·ȱ œžęŒ’Ž—Žȱ ™Š›Šȱ ™â›ȱ Ž–ȱ ™›¤’ŒŠȱ ˜˜œȱ ˜œȱ
ŸŠ•˜›ŽœȱŽ¡’’˜œȱ™Ž•Šȱ‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³Šǯȱ•·–ȱ’œœ˜ǰȱŠȱ‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³Šȱ™›˜–˜ŸŽȱ
a diminuição dos casos de corrupção no serviço público e faz com que o
gestor passe a levar em conta o direito das minorias, no processo de tomada
de decisões.31
A boa governança, em tal sentido, deve estar interligada aos direitos
humanos, como bem lembra o Alto Comissariado das Nações Unidas. Serão
os princípios de direitos humanos que deverão orientar a boa governança,
inclusive no combate à corrupção, por meio do fortalecimento da transparência
das contas dos serviços de governo e das instituições responsáveis pela sua
꜌Š•’£Š³¨˜ǯ32

¤ȱ šžŽȱ œŽȱ Œ˜—œ’Ž›Š›ǰȱ Œ˜—ž˜ǰȱ šžŽȱ Šȱ ȃà›–ž•ŠȄȱ ž—’ŸŽ›œŠ•ȱ Šȱ good
governance, alicerçada em democracia, respeito aos direitos humanos e em
ž–Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ ŽęŒ’Ž—Žǰȱ —Ž–ȱ œŽ–™›Žȱ œŽȱ Š™•’ŒŠȱ œ’–Ž›’ŒŠ–Ž—Žȱ Šȱ ˜˜œȱ
˜œȱ ˜›Ž—Š–Ž—˜œȱ “ž›Ç’Œ˜œȱ Žœ’—Š¤›’˜œǯȱ ȱ —Ž–ȱ Žȱ •˜—Žȱ ™˜Žȱ œŽ›ȱ ’–™˜œŠȱ
Š‹›ž™Š–Ž—ŽȱŠ˜œȱœŠ˜œǯȱ1ȱ™›ŽŒ’œ˜ǰȱ™˜’œǰȱšžŽȱŠȱŒž•ž›ŠȱŠȱ‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³Šȱ
œŽ“Šȱ Š™•’ŒŠŠȱ Žȱ ˜›–Šȱ ›ŠŠ’ŸŠǰȱ Ž–‹˜›Šȱ Œ˜—Ç—žŠǰȱ –Ž’Š—Žȱ Šȱ Œ›’Š³¨˜ȱ Žȱ ˜ȱ
desenvolvimento de instituições fortes e responsáveis pelo desenvolvi-
mento, na cultura local, de uma nova forma de compreender e vivenciar a
administração pública.33
˜›ȱ ’œœ˜ǰȱ Šȱ ’–™˜›¦—Œ’Šȱ Šȱ ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ Žȱ ŽŽ›–’—Š˜œȱ ŸŽ˜›Žœǰȱ Šȱ ę–ȱ
Žȱ ˜›—Š›ȱ ˜ȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ ™ø‹•’Œ˜ȱ ŒŠŠȱ ŸŽ£ȱ –Š’œȱ ˜‹“Ž’Ÿ˜ǯȱ ˜–˜ȱ Ž¡Ž–™•˜ǰȱ ŽŸŽȱ ˜ȱ
Œ˜—Œž›œ˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱœŽ›ȱŠȱ›Ž›Šǰȱ™Š›ŠȱŠȱœŽ•Ž³¨˜ȱŽȱœŽ›Ÿ’˜›Žœǰȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱ˜ȱœŽ›Ÿ’³˜ȱ
público.34 Também o controle interno dos atos e decisões administrativas, das
entidades e pessoas de direito público, precisa ser valorizado e fortalecido,
mediante a criação de Controladorias, Procuradorias Jurídicas e Ouvidorias.

31
ȱ  ȱ ǯȱŒ˜—˜–’ŒȱŠ—ȱ˜Œ’Š•ȱ˜––’œœ’˜—ȱ˜›ȱœ’ŠȱŠ—ȱ‘ŽȱŠŒ’ęŒǯȱ‘Šȱ’œȱ˜˜ȱ
˜ŸŽ›—Š—ŒŽǵ p. 1-3. Disponível em: <   ǯž—ŽœŒŠ™ǯ˜›Ȧ™Ȧ™ž‹•’ŒŠ’˜—œȦȬŠŒŒŽœœŘ‹Šœ’ŒȬ
service/Mdg-access-to-basic-services.pdfǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŚȱ–Š›ǯȱŘŖŗŚǯ
32
ȱ  ȱ ǯȱĜŒŽȱ˜ȱ‘Žȱ
’Žȱ˜––œœ’˜—Ž›ȱ˜›ȱ
ž–Š—ȱ’‘œǯȱGood governance and
‘ž–Š—ȱ ›’‘œ. Disponível em: <   ǯ˜‘Œ‘›ǯ˜›ȦŽ—Ȧ œœžŽœȦŽŸŽ•˜™–Ž—Ȧ ˜˜ ˜ŸŽ›—Š—ŒŽȦ
ŠŽœȦ ˜˜ ˜ŸŽ›—Š—ŒŽ —Ž¡ǯŠœ™¡ǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŗŘȱ–Š›ǯȱŘŖŗŚǯ
33
ȱ ˜—˜›–Žȱ  ǰȱ ’Œ˜•ŠœDzȱ  ǰȱ ŠŒšžŽœȱ ž•ǯȱ œȱ ȃ˜˜ȱ ˜ŸŽ›—Š—ŒŽȄȱ Šȱ ˜˜ȱ
ŽŸŽ•˜™–Ž—ȱœ›ŠŽ¢ǵȱȱ˜›”’—ȱŠ™Ž›ǰȱŠ›’œǰȱ—ǯȱśŞǰȱ™ǯȱŜȬŞǰȱ“Š—ǯȱŘŖŖŞǯ
34
Lembre-se do art. 23, item 1, alínea c, do Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana
Žȱ’›Ž’˜œȱ
ž–Š—˜œǰȱŽȱŘŘǯŗŗǯŗşŜşǼǰȱšžŽȱŠœœŽž›ŠȱŠȱ˜˜ȱŒ’Š¨˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱŽȱŽ›ȱŠŒŽœœ˜ǰȱŽ–ȱ
condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


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¨˜ȱœŽȱ˜•Ÿ’Ž–ǰȱ˜ž›˜œœ’–ǰȱ˜œȱà›¨˜œȱŽȱŒ˜—›˜•ŽȱŽ¡Ž›—˜ǰȱŒ˜–˜ȱ˜ȱombudsman/
Ministério Público e o Tribunal de Contas, os quais devem gozar na necessária
autonomia funcional, administrativa e orçamentária.

5. Boa administração e princípio da eficiência: serviço


público de resultados em prol da realização dos direitos
fundamentais

A noção de boa administração, de fato, relaciona-se, primeiramente, com


a persecução do interesse público pelo decisor político ou pelo administra-
˜›ȱ ™ø‹•’Œ˜ǯȱ žȱ œŽ“Šǰȱ —˜ȱ Ž¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱ Šœȱ œžŠœȱ Š›’‹ž’³äŽœǰȱ —¨˜ȱ ‹ŠœŠȱ Š˜ȱ Žœ˜›ȱ
™ø‹•’Œ˜ȱ Ž—Œ˜—›Š›ȱ šžŠ•šžŽ›ȱ œ˜•ž³¨˜ȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠDzȱ ·ȱ ™›ŽŒ’œ˜ȱ Ž—Œ˜—›Š›ȱ Šȱ
melhor solução administrativa possível, diante da situação concreta que lhe
·ȱŠ™›ŽœŽ—ŠŠǯȱŽŸŽȱŽ•Žȱ‹žœŒŠ›ȱŠšžŽ•ŠȱŽœŒ˜•‘ŠȱšžŽȱ›ŽĚ’Šȱž–Šȱ˜™³¨˜ȱšžŽȱœŽȱ
Ž—šžŠ›Žȱ—˜ȱ‹•˜Œ˜ȱŽȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•’ŠŽȱǻ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’ŠȱŠȱ˜—œ’ž’³¨˜ȱŽȱŠœȱ
•Ž’œȱ šžŽȱ žŽ•Š–ȱ Šȱ Š’Ÿ’ŠŽȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠǼDzȱ ŠšžŽ•Šȱ šžŽȱ ›ŽŠ•’£Žǰȱ Šȱ –Ž•‘˜›ȱ
forma possível, os princípios constitucionais aos quais está vinculada a
administração pública.35
Bastante feliz, neste aspecto, o art. 103.2 da Constituição da Espanha,
šžŠ—˜ȱ œž‹˜›’—Šǰȱ Ž¡™›ŽœœŠ–Ž—Žǰȱ Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ Š˜œȱ ’Š–Žœȱ Šȱ •Ž’ǰȱ
mediante uma relação de coordenação e regência. No mesmo sentido, o art.
ŘŜŜǯŘȱŠȱŠ›Šȱ˜›žžŽœŠǰȱŠ–‹·–ȱŠ£Ž—˜ȱ–Ž—³¨˜ȱŽ¡™›ŽœœŠȱŠȱ›Žœ™Ž’˜ȱŠȱ
atuação dos órgãos administrativos e dos seus agentes, em comunhão com
a Constituição, a lei e os princípios de boa conduta administrativa. Eis mais
ž–ȱ Ž¡Ž–™•˜ȱ Šȱ Œ˜—œŠ›Š³¨˜ȱ •Ž’œ•Š’ŸŠȱ Šȱ œž‹˜›’—Š³¨˜ȱ Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ
pública ao chamado bloco de constitucionalidade.

35
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem desenvolvido o conceito de bloco de constitucionalidade
—˜ȱ Œ˜—›˜•Žȱ Žȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•’ŠŽȱ Š‹œ›Š˜ȱ Šœȱ •Ž’œǰȱ Ž—Ž—Ž—˜Ȭ˜ȱ Œ˜–˜ȱ ž–ȱ ™Š›¦–Ž›˜ȱ
constitucional, formado pela Constituição, os seus princípios e as normas infralegais que dão
concretude a valores constitucionais. Nesse sentido, consulte-se: BRASIL. Supremo Tribunal
Federal, rel. Min. Celso de Mello, decisão na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 595-ES.
Brasília, 18.02.2002. ’¤›’˜ȱ Šȱ žœ’³Š, Poder Judiciário, Brasília, DF, 26 fev. 2002. Disponível
em: <   ǯœǯ“žœǯ‹›Ȧ™˜›Š•Ȧ’—˜›–Š’Ÿ˜ȦŸŽ› —˜›–Š’Ÿ˜ǯŠœ™ǵœŗƽ‹•˜Œ˜ƖŘŖŽƖŘŖŒ˜—œ’žŒ’˜—
Š•’ŠŽǭ—ž–Ž›˜ƽŘśŞǭ™Š’—ŠƽŗŖǭ‹ŠœŽƽ ǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŗŗȱ–Š’˜ȱŘŖŖŘǯȱ˜‹›ŽȱŠȱŽ¡™›Žœœ¨˜ȱ
“bloco de legalidade”, utilizada por alguns autores como sinônimo, consultem-se SOUSA,
Š›ŒŽ•˜ȱŽ‹Ž•˜ȱŽDzȱǰȱ—›·ȱŠ•Š˜ȱŽǯȱDireito administrativo geral, tomo I: Introdução
Žȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱž—Š–Ž—Š’œǯȱřǯȱŽǯȱ•›Š’Žȱǻ˜›žŠ•ǼDZȱǯȱž’¡˜ŽǰȱŘŖŗŖǯȱ™ǯȱŗŗŖȬŗŗŘȱŽȱŗŝŞȬŗŝşǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


120 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Gaspar Ariño Ortiz, a propósito, destaca que o grande triunfo histórico


sobre o Antigo Regime foi a subordinação da administração pública à lei.
Porém, lembra, igualmente, que não é possível apenas um “governo de
•Ž’œȄǰȱŽŸŽ—˜ǰȱŽ—¨˜ǰȱ‘ŠŸŽ›ǰȱ—Šȱ™›¤’ŒŠǰȱž–ŠȱŒ˜—“ž—³¨˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱȃ˜ŸŽ›—˜ȱ˜œȱ
homens”. Eis a razão pela qual não se pode abolir a discricionariedade admi-
—’œȱ›Š’ŸŠǰȱ ™›ŽŸŽ—˜ȱ Šȱ •Ž’ȱ ž–Šȱ Š’¡Šȱ Žȱ •’‹Ž›ŠŽȱ ™Š›Šȱ ŽœŒ˜•‘Šœȱ Žȱ ŽŒ’œäŽœȱ
administrativas.36
ŽŸŽ›Šœǰȱ —¨˜ȱ —ŽŒŽœœŠ›’Š–Ž—Žȱ Ž–ȱ šžŽȱ Ž¡’œ’›ȱ ž–Šȱ ø—’ŒŠȱ œ˜•ž³¨˜ǰȱ –Šœȱ
˜ȱŽœ˜›ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŽŸŽ›¤ȱŠ£Ž›ȱž–Šȱ˜™³¨˜ȱšžŽȱŽœŽ“ŠȱŽ—›˜ȱŠœȱ–ŽŠœȱŒ˜—œ’Ȭ
žŒ’˜—Š’œȱǻ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱ™›’–˜›’Š’œǼȱŽę—’Šœȱ™Š›Šȱ˜ȱœŠ˜ȱ˜ȱšžŠ•ȱŠ£ȱ™Š›ŽȱŽǰȱ
em nome do qual, atua na condição de servidor público lato sensu.
ŽœŠ›Žǰȱ —¨˜ȱ ·ȱ œžęŒ’Ž—Žȱ šžŽȱ Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ ™ø‹•’ŒŠȱ œ’–™•Žœ–Ž—Žȱ
ŠžŽDzȱŽŸŽȱŽ•ŠȱŠžŠ›ȱŽȱŒŽ›Šȱ–Š—Ž’›ŠǰȱœŽ–™›Žȱ’›ŽŒ’˜—Š—˜ȱœžŠœȱŠ’Ÿ’ŠŽœȱ
para a satisfação do interesse público, através do melhor meio, de um meio
“žœ˜ȱŽȱà’–˜ǯ37
˜›ȱ Œ˜—œŽž’—Žǰȱ Ž–ȬœŽȱ Šȱ ’Ž’Šȱ Žȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šȱ Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ ™ø‹•’ŒŠǰȱ
isto é, uma gestão pública voltada para a produção de um ótimo resultado,
Ÿ’œŠ—˜ȱ Šȱ ‹Ž—ŽęŒ’Š›ȱ ˜ȱ ’—Ž›ŽœœŽȱ ™ø‹•’Œ˜ȱ Žǰȱ Œ˜—œŽšžŽ—Ž–Ž—Žǰȱ ˜œȱ Œ’Š¨˜œȱ
(ou, pelo menos, a sua maioria). Isso porque administrar recursos públicos
é gerir interesses alheios, dentro de uma ética de moralidade (honestidade),
Œž“Šȱ™›’—Œ’™Š•ȱ–ŽŠȱŽŸŽȱœŽ›ȱ—¨˜ȱ˜ȱ’—Ž›ŽœœŽȱ™Žœœ˜Š•ȱ˜ȱŠ–’—’œ›Š˜›ǰȱ–Šœȱ
servir à comunidade.38
Não por acaso, ao analisar o novo panorama constitucional europeu,
Gomes Canotilho apresenta, como uma das características do Estado, o
Estado-estatutário e o Estado-econômico, baseado no estabelecimento de
metas para o pessoal do serviço público (à semelhança do setor privado) e em
um controle orçamentário a posterioriǰȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŠȱŠŸŠ•’Š³¨˜ȱŠȱŽęŒ¤Œ’ŠȱŽȱŠȱ
‹˜Šȱž’•’ȱ£Š³¨˜ȱ˜œȱ›ŽŒž›œ˜œȱꗊ—ŒŽ’›˜œȱœŽž—˜ȱ–·˜˜œȱŽȱŽœ¨˜ȱ™›’ŸŠŠǯ39

36
ȱ  ǰȱ Šœ™Š›ȱ›’Û˜ǯȱ•ȱŒ˜—›˜•ȱ“ž’Œ’Š•ȱŽȱ•ŠœȱŽ—’ŠŽœȱ›Žž•Š˜›ŠœǯȱŠȱ—ŽŒŽœŠ›’ŠȱŽ¡™Š—œ’à—ȱ
del estado de derecho. Revista de Administración Pública, Madri, n. 182, p. 13-15, maio/ago. 2010.
37
Nesse sentido, Rogério Ehrhardt Soares, —Ž›ŽœœŽȱ™ø‹•’Œ˜ǰȱ•ŽŠ•’ŠŽȱŽȱ–·›’˜, op. cit., p. 187-190.
38
Paulo Otero compreende que a administração pública e o direito administrativo, além de
uma ética de servir à coletividade, devem estar alicerçados em três pilares fundamentais:
interesse público, vinculação e responsabilidade. Conforme, OTERO, Paulo. A crise ao direito
administrativo. Seminário proferido na Faculdade de Direito da Universidade Nova Lisboa.
’œ‹˜Šǰȱ ŘŘǯśǯŘŖŗŘǯȱ ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱ Ž–DZȱ ǀ   ǯ¢˜žž‹ŽǯŒ˜–Ȧ ŠŒ‘ǵŸƽȏ “Ŝ
ǁǯȱ ŒŽœœ˜ȱ
Ž–DZȱŘŘȱ“Š—ǯȱŘŖŗřǯ
39
Canotilho, José Joaquim Gomes. Precisará a teoria da Constituição europeia de uma teoria
˜ȱœŠ˜ǵȱ —DZȱX ȱ 1 DZȱ  ,!ȱ ȱȯȱ
 ȱȱ
DOUTOR FRANCISCO LUCAS PIRES, 2005, Coimbra. p. 672-674.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 121

ŽŸŽ›Šœǰȱ Šȱ ‹˜Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ǰȱ Œ˜–˜ȱ ’—œ’ž˜ȱ Ž¡›ŠÇ˜ȱ ˜œȱ ™›’—ŒÇ™’˜œȱ


fundamentais do direito administrativo, encontra-se umbilicalmente vincu-
•ŠŠȱ Š˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šǰȱ ˜ȱ šžŠ•ǰȱ Ž–ȱ Š•ž—œȱ ˜›Ž—Š–Ž—˜œȱ “ž›Ç’Œ˜œǰȱ
como no Brasil, tem statusȱŽȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱŽ¡™›Žœœ˜ȱǻŠ›ǯȱřŝǰȱcaput,
da CF/1988, alterado pela Emenda Constitucional no 19/1998). Também o art.
74, inciso II, da Carta Cidadã, no que se refere ao controle interno dos Poderes
Ž’œ•Š’Ÿ˜ǰȱ ¡ŽŒž’Ÿ˜ȱ Žȱ ž’Œ’¤›’˜ǰȱ ’œ™äŽȱ œ˜‹›Žȱ Šȱ ŠŸŠ•’Š³¨˜ȱ Žȱ ›Žœž•Š˜œǰȱ
šžŠ—˜ȱ¥ȱŽęŒ¤Œ’ŠȱŽȱŽęŒ’¹—Œ’ŠǰȱŠȱŽœ¨˜ȱ˜›³Š–Ž—¤›’Šǰȱꗊ—ŒŽ’›ŠȱŽȱ™Š›’–˜—’Š•ȱ
nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de
recursos públicos por entidades de direito privado.40
Já o art. 267.1 da CRP/1976 fala em evitar a desburocratização e em
Š™›˜¡’–Š›ȱ ˜œȱ œŽ›Ÿ’³˜œȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ Šȱ ™˜™ž•Š³¨˜ǰȱ ŠœœŽž›Š—˜ȱ Šȱ ™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ
dos interessados na sua gestão efetiva. Tal norma é complementada pelo
art. 267.2, que dispõe sobre descentralização e desconcentração administrativa,
œŽ–ȱ™›Ž“žÇ£˜ȱŠȱ—ŽŒŽœœ¤›’ŠȱŽęŒ¤Œ’ŠȱŽȱž—’ŠŽȱ˜ȱŠ’›ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ǯ
O art. 103, item 1, da Constituição espanhola de 1978, consagra o
™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱŽęŒ¤Œ’ŠǰȱŠ˜ȱ•Š˜ȱ˜œȱ™›’—ŒÇ™’˜œȱŠȱ‘’Ž›Š›šž’ŠǰȱŽœŒŽ—›Š•’£Š³¨˜ǰȱ
desconcentração e coordenação, sempre como obediência à lei e ao direito
(princípio da legalidade). Interessante notar que o item 3 do referido art. 103
Š–‹·–ȱŒ˜—œŠ›ŠȱŠȱŽęŒ’¹—Œ’ŠǰȱŠ˜ȱ™›ŽŸŽ›ȱšžŽȱ˜ȱŠŒŽœœ˜ȱ¥œȱž—³äŽœȱ™ø‹•’ŒŠœȱœŽ›¤ȱ
de acordo com os princípios de mérito e capacidade.41
O art. 97 da Constituição italiana de 1947 fala em “bom andamento”
e “imparcialidade” da administração pública, o que seria uma forma de
vincular constitucionalmente o agir administrativo, limitando a politização
Šȱ‹ž›˜ȱŒ›ŠŒ’ŠȱŽǰȱŠ˜ȱ–Žœ–˜ȱŽ–™˜ǰȱŽœŠŒŠ—˜ȱœŽžȱŒŠ›¤Ž›ȱ™›˜ęœœ’˜—Š•ǯ42

40
ȱ ˜–˜ȱ ŽœŠŒŠ–ȱ ȱ q ǰȱ ˜—·Dzȱ ǰȱ –’•’ȱ ›’œ’—Šȱ Žȱ ›Ž’Šœȱ ŽDzȱ

ȱ q ǰȱ˜—Š•˜ȱ—˜—’˜ǯȱȱŽ›–˜ȱŽȱŠ“žœŠ–Ž—˜ȱŽȱŒ˜—žŠȱŽȱŠȱŠžŠ³¨˜ȱ˜ȱ’Ȭ
—’œ·›’˜ȱø‹•’Œ˜ȱ™ŠžŠŠȱ™Ž•ŠȱŽęŒ’¹—Œ’Šǯȱ —DZ  ǰȱžŠ›˜Dzȱ ǰȱ•Ž—ŒŠ›ȱ›ŽŽ›’Œ˜ȱ
(Coord.). Direito e justiça: estudos em homenagem a Gilberto Giacoia. Curitiba: Ministério
Público, 2016. p. 397-413.
41
ȱ œœŠȱ Ÿ’—Œž•Š³¨˜ȱ Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ ™ø‹•’ŒŠȱ ¥ȱ •Ž’ȱ ·ȱ “žœŠ–Ž—Žȱ ˜ȱ •’–’Žȱ Šȱ œžŠȱ œž‹–’œœ¨˜ȱ Š˜ȱ
˜ŸŽ›—˜ǰȱ ™˜›šžŽȱ ŽŸŽ›¤ȱ Šȱ ‹ž›˜Œ›ŠŒ’Šȱ ŽœŠŠ•ȱ œŽž’›ȱ Šœȱ ’›Ž›’£Žœȱ ę¡ŠŠœȱ ™˜›ȱ ŽœŽǰȱ –Šœȱ œŽ–ȱ
ŽœŒž’Š›ȱŠœȱ›Ž›ŠœȱŽȱ’–™Š›Œ’Š•’ŠŽȱŽȱŽȱ˜‹“Ž’Ÿ’ŠŽǯȱ˜—˜›–Žȱǰȱ’ŒŽ—ŽȱœŒž’—ǯȱ
•Ž–Ž—˜œȱŽȱŽ›ŽŒ‘˜ȱ™ø‹•’Œ˜. 5. ed. Madri: Tecnos, 2008. p. 92-93.
42
No mesmo diapasão, caminha Paolo Mezzanote, o qual ainda doutrina que, em razão de tal
norma constitucional, o procedimento administrativo deverá ser desenvolvido sob critérios
Žȱ “žœ’³Šȱ Žȱ Žȱ ›Š£˜Š‹’•’ŠŽǰȱ Œ˜–˜ȱ ž–Šȱ Žœ™·Œ’Žȱ Žȱ ™¹—ž•˜ȱ Ž—›Žȱ Šȱ ›Ž•Š³¨˜ȱ Šž˜›’ŠŽȦ
liberdade. MEZZANOTTE, Paolo. Il tortuoso percorso del digusto procedimento come
Š›Š—£’ŠȱŒ˜—œ’ž£’˜—Š•ŽȱŽ’ȱ’›’Ĵ’ǯȱ —DZ NANIA, Roberto (a cura di). ȂŽŸ˜•ž£’˜—ŽȱŒ˜—œ’ž£’˜—Š•Žȱ
Ž••Žȱ•’‹Ž›¥ȱŽȱŽ’ȱ’›’Ĵ’ȱ˜—Š–Ž—Š•’: saggi e casi di studio. Turim: G. Giappichelli, 2012. p. 399-
406.

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122 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

O art. 60 da Constituição do Uruguai dispõe que a lei criará o serviço civil


da administração pública (central, entidades autônomas e serviços descentra-
•’£Š˜œǼǰȱŸ’œŠ—˜ȱŠ˜ȱŽœŠ‹Ž•ŽŒ’–Ž—˜ȱŽȱž–ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱŽęŒ’Ž—Žǯȱȱ™›à™›’Šȱ
—˜›–ŠȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱŠ–‹·–ȱŠœœŽž›ŠǰȱŽ–ȱ—˜–ŽȱŽȱž–ŠȱŽœ¨˜ȱ™›˜ęœȱœ’˜—Š•ǰȱ
a previsão de determinadas categorias de servidores públicos inamovíveis,
como uma forma de evitar a interferência política e casuística na administração.
A Constituição da Nação Argentina, no art. 42, trata como um direito
˜œȱžœž¤›’˜œȦŒ’Š¨˜œȱž–ȱœŽ›Ÿ’³˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŽęŒ’Ž—ŽȱŽȱŽȱšžŠ•’ŠŽǰȱŠȱœŽ›ȱŠœœŽȬ
gurado pelas autoridades.
No mesmo caminho, o art. 236, item 2, da Constituição do Cabo Verde,
dispõe que a administração pública é estruturada de modo a prestar aos
Œ’Š¨˜œȱž–ȱœŽ›Ÿ’³˜ȱŽęŒ’Ž—ŽȱŽȱŽȱšžŠ•’ŠŽǰȱŽŸŽ—˜ȱ˜‹ŽŽŒŽ›ǰȱ˜ž›˜œœ’–ǰȱ
aos princípios da subsidiariedade, da desconcentração, da descentralização, da
racionalização, da avaliação e controle, bem como da participação dos interes-
œŠ˜œǯȱ –™˜›Š—Žȱ ŽœŠŒŠ›ǰȱ ˜ȱ ’Ž–ȱ ŗǰȱ ˜ȱ ›ŽŽ›’˜ȱ Š›’˜ǰȱ “¤ȱ ™›ŽœŒ›ŽŸŽȱ šžŽȱ Šȱ
administração deverá respeitar os direitos e interesses legítimos dos cidadãos.
Antes disso, porém, o art. 69 da Carta cabo-verdiana faz o link Ž—›ŽȱŽęŒ’¹—Œ’Šȱ
Žȱ ™Š›’Œ’™Š³¨˜ǰȱ Š˜ȱ ™›ŽŸŽ›ȱ ˜ȱ ž—Œ’˜—Š–Ž—˜ȱ ŽęŒ’Ž—Žȱ ˜ȱ œ’œŽ–Šȱ —ŠŒ’˜—Š•ȱ Žȱ
segurança social, com a participação dos contribuintes e associações.
œœŠȱ Ÿ’—Œž•Š³¨˜ȱ Ž—›Žȱ ‹˜Šȱ Š–’—’œ›Š³¨˜ȱ Žȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•’£Šȱ
ŠȱŽ¡’¹—Œ’ŠȱŽȱ‹˜Šœȱ™›¤’ŒŠœȱŽȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱ˜›—Š—˜ȱŒ˜Ž—ŽȱŠ˜ȱŽŒ’œ˜›ȱ
político/gestor público a realização de uma gestão de resultados, fazendo com
que utilize ele da melhor forma possível o orçamento público do qual dispõe.43
’—Šȱ–Š’œǯȱȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱŽęŒ’¹—Œ’ŠȱŽ¡’Žȱž–ŠȱŒž•ž›ŠȱŽȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱ
como instituição, onde os administradores passem a atuar, efetivamente, como
Žœ˜›ŽœǰȱŽȱ˜›–Šȱ™›˜ęœœ’˜—Š•ǰȱ›Žœ™Ž’Š—˜ȱ˜œȱ•’–’Žœȱ•ŽŠ’œǰȱ–Šœȱ‹žœŒŠ—˜ȱ
œŽ–™›Žȱœ˜•ž³äŽœȱŒ›’Š’ŸŠœȱŽȱ™›˜ž’ŸŠœǰȱ–¤¡’–ŽȱŽ–ȱŽ–™˜œȱŽȱŒ›’œŽȱ˜›³Š–Ž—-
tária. A ideia é que o gestor público faça sempre o melhor possível, a partir de
›Ž’—Š–Ž—˜œȱŽ›Ž—Œ’Š’œȱŽœ™ŽŒÇꌘœǰȱŒ˜–ȱ¹—ŠœŽȱ—ŠȱŠ—¤•’œŽȱŽȱŒŠœ˜œȱ™›¤’Œ˜œȱŽȱ
—˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱŽȱž–ȱœŽ—œ˜ȱŽȱ›Žœ™˜—œŠ‹’•’ŠŽȱ™›˜ęœœ’˜—Š•ȦŽ›Ž—Œ’Š•ǯ44

43
ȱ ȱž™›Ž–Šȱ˜›Žȱ˜œȱǰȱŽ—›˜ȱŽȱŠ•ȱŒ˜—Ž¡˜ǰȱ™˜œœž’ȱž–ȱ“ž•Š˜ȱ˜—ŽȱŽœŠŒŠȱšžŽȱ˜œȱ
gastos públicos com serviços médicos e de saúde precisam estar agregados a uma prática
Žȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šǰȱ ŽŒ˜—˜–’Šȱ Žȱ ŒŠžŽ•Šǯȱ ’œ™˜—ÇŸŽ•ȱ Ž–DZȱ  ȱ ǯȱ ž™›Ž–Žȱ ˜ž›ǯȱ
›–œ›˜—ȱŽȱŠ•ǯȱŸǯȱ¡ŒŽ™’˜—Š•ȱ‘’•ȱŽ—Ž›ǰȱ’—ŒǯǰȱŽȱŠ•ǯȱ¢••Š‹žœȱ—˜ȱŗŚȬŗśǯȱ›žŽȱ Š—žŠ›¢ȱ
20, 2015. Opinions, Washington, DC, 31 mar. 2015. Disponível em: <   ǯœž™›Ž–ŽŒ˜ž›ǯ˜ŸȦ
opinions/14pdf/14-15_d1oe.pdfǁǯȱŒŽœœ˜ȱŽ–DZȱŞȱ“ž•ǯȱŘŖŗŜǯ
44
LYNN JR., Laurence E. Gestão pública. In: ǰȱǯȱ ž¢Dzȱ ǰȱ ˜—ǯȱAdministração pública:
Œ˜•Ž¦—ŽŠǯȱ›Šž³¨˜ȱŽȱ˜—’Šȱ’˜›’ȱŠ–Š–˜˜ȱŽȱ’›’Š—ȱ•’ŸŽ’›Šǯȱ¨˜ȱŠž•˜DZȱ’˜›Šȱ—Žœ™Dzȱ
Brasília: Enap, 2010. p. 34, 37, 43, 48-49.

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SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 123

˜ȱŽ—Š—˜ǰȱ·ȱ’–™˜›Š—ŽȱŽœŠŒŠ›ȱšžŽȱŠȱŽęŒ’¹—Œ’ŠȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ˜ȱŠ’›ȱ
Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ—¨˜ȱ™˜ŽȱœŽ›ȱŽ—Ž—’ŠȱŒ˜–˜ȱž–ȱę–ȱŽ–ȱœ’ȱ–Žœ–˜ǰȱ–ŠœȱŒ˜–˜ȱ
um instrumento para atingir determinadas metas ou valores. Até porque, se
ŠȱŽęŒ’¹—Œ’Šȱ·ȱž–ȱŒ˜—ŒŽ’˜ȱŽŒ˜—â–’Œ˜ȱŠ™•’ŒŠ˜ȱ¥ȱŒ’¹—Œ’Šȱ“ž›Ç’ŒŠǰȱ—¨˜ȱ™˜ŽȱœŽ›ȱ
Ž•Šȱ ’—œŽ›’Šȱ ž—’•ŠŽ›Š•–Ž—Žȱ Ž–ȱ ž–ȱ ŽŽ›–’—Š˜ȱ ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ —˜›–Š’Ÿ˜Dzȱ
precisa, como conceito e princípio, guardar/reservar um espaço conceitual
™Š›ŠȱŠ‹›’Š›ȱ™›’—ŒÇ™’˜œǰȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱŽȱŸŠ•˜›Žœȱ˜ȱœ’œŽ–Šȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽ–ȱšžŽœ¨˜ǯ45
Nesse passo, importante aqui lembrar, como faz Gordillo, que, nos anos
ŗşŞŖǰȱ˜ȱ™ŠŠ–Ž—˜ȱŠȱÇŸ’ŠȱŽ¡Ž›—Šȱ™˜›ȱ™ŠÇœŽœȱ’‹Ž›˜ȬŠ–Ž›’ŒŠ—˜œȱ˜’ȱŒ˜—œ’Ȭ
Ž›Š˜ȱ™˜›ȱŠ•ž—œȱž–Šȱ’—Ž¤ŸŽ•ȱŽ–˜—œ›Š³¨˜ȱŽȱŽęŒ’¹—Œ’ŠǰȱŽ–ȱž–ŠȱŸ’œ¨˜ȱ
meramente econômica do problema, não obstante o desprezo ou o descuido
de outros valores ou conceitos que também integram o conceito de boa
Š–’—’œ›Š³¨˜ǰȱŒ˜–˜ȱŠȱšžŠ•’ŠŽȱŽȱŸ’ŠȱŠȱ™˜™ž•Š³¨˜ǯȱ˜›ȱ’œœ˜ǰȱŠȱ’–™˜›¦—Œ’Šȱ
Žȱ ž–ȱ Žšž’•Ç‹›’˜ȱ Ž—›Žȱ ŽęŒ¤Œ’Šȱ Žȱ •’‹Ž›ŠŽȱ Žȱ –Žœ–˜ȱ Ž—›Žȱ ˜™˜›ž—’ŠŽȱ Žȱ
mérito, a ser trilhado pelo bom gestor administrativo.46
ž›˜ȱ™˜—˜ȱŠȱœŽ›ȱ˜‹œŽ›ŸŠ˜ǰȱ–¤¡’–Žȱ—ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱŽȱ™ŠÇœŽœȱ
latino-americanos, como o Brasil, é a superação de valores culturais que, nor-
–Š•–Ž—Žǰȱ ’–™ŽŽ–ȱ ŸŽ›ŠŽ’›Šœȱ ›Ž˜›–Šœȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠœǰȱ Šȱ ę–ȱ Žȱ Ž’¡Š›ȱ
ŠȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱ–Š’œȱŽęŒ’Ž—ŽǯȱȱŒ˜››ž™³¨˜ȱœ’œ¹–’ŒŠȱŽȱŠȱ’—Ěž¹—Œ’Šȱ™˜•Ç’ŒŠǰȱ
alterando as diretrizes administrativas conforme os interesses pessoais do
governante, ainda são fatores a serem efetivamente superados.
Note-se, porém, que algumas reformas administrativas, como aquela
›ŽŽ›Ž—Žȱ ¥œȱ ™›’ŸŠ’£Š³äŽœǰȱ Ž–ȱ Š•ž–Šœȱ ¤›ŽŠœȱ ǻŒ’ŽȬœŽȱ Œ˜–˜ȱ Ž¡Ž–™•˜ȱ ˜ȱ œŽ˜›ȱ
elétrico, onde se saiu de um monopólio público para um monopólio privado),
—˜ȱ ›Šœ’•ǰȱ Žœ’ŸŽ›Š–ȱ •˜—Žȱ Šȱ –ŽŠȱ Žȱ ž–ȱ œŽ›Ÿ’³˜ȱ ™ø‹•’Œ˜ȱ –Š’œȱ ŽęŒ’Ž—Žǯȱ
Ž–Š’œǰȱ ˜ȱ Œ˜›Žȱ Žȱ ŒŠ›˜œȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ œŽ–ȱ ž–ȱ ™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱ ™›·Ÿ’˜ȱ Žȱ Žœž˜œȱ
apropriados gerou, inversamente, o aumento da terceirização via empresas
privadas, em detrimento do acesso democrático às funções públicas.47
Não por acaso, o art. 80 da Constituição de Portugal informa que a
organização econômico-social deverá assentar-se, entre outros, no princípio
˜ȱ ™•Šȱ—Ž“Š–Ž—˜ȱ Ž–˜Œ›¤’Œ˜ȱ ˜ȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ ŽŒ˜—â–’Œ˜ȱ Žȱ œ˜Œ’Š•ǰȱ ˜ȱ

45
ȱ ŽœœŽȱ œŽ—’˜ǰȱ   ȱ ǰȱ Š¢–ŽDzȱ  ǰȱ ’—’Œ’žœȱ ’—’£ǯȱ ’—’œ·›’˜ȱ øȬ
‹•’Œ˜ǰȱ·’ŒŠǰȱ‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³ŠȱŽȱ–Ž›ŒŠ˜œDZȱž–Šȱ™ŠžŠȱŽȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ—˜ȱŒ˜—Ž¡˜ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ
Žȱ Šȱ ŽŒ˜—˜–’Šǯȱ —DZȱ ǰȱ —˜ȱ ˜•Š—Dzȱ  ǰȱ žŒ’Š—˜ȱ Ž—ŽĴ’ǯȱ ’›Ž’˜œȱ ž—Š–Ž—Š’œ:
orçamento e reserva do possível. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 256.
46
Agustín Gordillo, ›ŠŠ˜ȱŽȱŽ›ŽŒ‘˜ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ¢ȱ˜‹›ŠœȱœŽ•ŽŠœ, op. cit., p. 81-82.
47
A propósito, consulte-se NEF, Jorge. Administração pública e reforma do setor público na
América Latina. In: B. Guy Peters e Jon Pierre, Administração pública, op. cit., p. 529-532.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


124 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

que implica uma racionalização e uma previsibilidade da ação dos gestores


™ø‹•’Œ˜œǰȱ Šȱ ę–ȱ Žȱ ™›˜–˜ŸŽ›ǰȱ Žȱ ˜›–Šȱ Œ˜–™Š›’•‘ŠŠȱ Œ˜–ȱ Šȱ ™˜™ž•Š³¨˜ǰȱ ˜ȱ
desenvolvimento econômico.48
ȱ šžŠ’œȱ ŸŠ•˜›Žœȱ ™›ŽŒ’œŠ–ȱ ŽœŠ›ȱ Š›ŽŠ˜œȱ ¥ȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ ˜ȱ
Š’›ȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ǵȱšžŽ•Žœȱ ™›’–˜›’Š’œǰȱ Ž•Ž—ŒŠ˜œȱ —Šȱ ˜—œ’ž’³¨˜ǰȱ Œ˜–˜ȱ
o respeito à dignidade humana e aos direitos fundamentais, assim como a
Œ˜—œ›ž³¨˜ȱŽȱž–Šȱœ˜Œ’ŽŠŽȱ•’Ÿ›Žǰȱ“žœŠȱŽȱœ˜•’¤›’ŠǰȱŽŽ’ŸŠ–Ž—Žȱ•’‹Ž›ŠȱŠȱ
miséria.
Importante aqui lembrar da advertência de Diogo de Figueiredo
Moreira Neto, no sentido de que a constitucionalização do princípio da
ŽęȱŒ’¹—ȱŒ’Šȱ›Š—œ˜›–ŠȬ˜ȱŽ–ȱž–ȱ’›Ž’˜ȱ’žœ˜ȱŠȱŒ’ŠŠ—’Šǯȱ’—Šȱ–Š’œǯȱȱŽęȬ
ciência deverá nortear não apenas o agir administrativo, mas também a pro-
žȱ³¨˜ȱ•Ž’œ•Š’ŸŠȱŽȱŠȱ’—Ž›™›ŽŠ³¨˜ȱ“ž’Œ’¤›’Šǯ49
‹œŽ›ŸŽȬœŽǰȱ—ŽœœŽȱœŽ—’˜ǰȱšžŽȱ•Ž¡Š—›ŽȱŽȱ˜›ŠŽœǰȱŠ˜ȱ›ŠŠ›ȱ˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱ
Šȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šȱ —Šȱ Š›Šȱ Š—Šȱ ‹›Šœ’•Ž’›Šǰȱ Ž—Ž—Žȱ šžŽȱ Š•ȱ Œ¦—˜—Žȱ ™˜œœž’ȱ Šœȱ
seguintes características: direcionamento da atividade e dos serviços públicos
¥ȱ ŽŽ’Ÿ’ŠŽȱ ˜ȱ ‹Ž–ȱ Œ˜–ž–Dzȱ ’–™Š›Œ’Š•’ŠŽDzȱ —Žž›Š•’ŠŽDzȱ ›Š—œ™Š›¹—Œ’ŠDzȱ
™Š›’Œ’™Š³¨˜ȱ Žȱ Š™›˜¡’–Š³¨˜ȱ ˜œȱ œŽ›Ÿ’³˜œȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ Šȱ ™˜™ž•Š³¨˜Dzȱ ŽęŒ¤Œ’ŠDzȱ
desburocratização e busca da qualidade.50
¨˜ȱ ˜‹œŠ—Žȱ ˜ȱ ›ŽŒ˜—‘ŽŒ’–Ž—˜ȱ Šȱ ›Ž•ŽŸ¦—Œ’Šȱ Šœȱ ŒŠ›ŠŒŽ›Çœ’ŒŠœȱ
–Ž—Œ’˜—ŠŠœǰȱŽ—Ž—ŽȬœŽȱšžŽȱ˜ȱ›ŽŽ›’˜ȱŠž˜›ȱŸŠ’ȱŠ•·–ȱ˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱŽęȱŒ’¹—Ȭ
Œ’ŠȱŽȱŠŽ—›Šȱ—˜ȱŒ˜—Žø˜ȱŠšž’•˜ȱšžŽȱœŽ›’ŠȱŠȱ‹˜ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ǯȱȱŽęŒ’¹—Œ’Šǰȱ
deveras, seria uma das características da prática da boa administração pública,
›ŽŸŽ•ŠŠȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŽȱž–ŠȱŽœ¨˜ȱšžŽȱŽœŠ‹Ž•ŽŒŽȱ–ŽŠœȱŽȱŠ•–Ž“Šȱ›Žœž•Š˜œǰȱŠȱ
partir do melhor custo-benefício dos recursos a serem dispendidos e de um
controle de qualidade dos serviços públicos a serem desempenhados.

48
No mesmo caminho, doutrinam Canotilho e Vital Moreira, lembrando a necessidade de
˜ȱ ™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱ ŽŒ˜—â–’Œ˜ do Estado atuar de forma proporcional e sem uma restrição
Ž¡ŒŽœœ’ŸŠȱŠȱ•’‹Ž›ŠŽȱŽȱ’—’Œ’Š’ŸŠȱ˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱŽŒ˜—˜–’ŠȱŽȱ–Ž›ŒŠ˜ȱŽȱŠȱŒ˜—Œ˜››¹—Œ’Šǯȱ
 
ǰȱ ˜œ·ȱ ˜Ššž’–ȱ ˜–ŽœDzȱ  ǰȱ ’Š•ǯȱ Constituição da República Portuguesa
anotada. 4. ed. Coimbra: Coimbra, 2007. v. I, p. 960.
49
ȱ ȱ ›ŽŽ›’˜ȱ Šž˜›ȱ Š’—Šȱ –Ž—Œ’˜—Šǰȱ Œ˜–˜ȱ Œ˜›˜•¤›’˜ȱ ˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Šȱ ŽęŒ’¹—Œ’Šǰȱ ˜ȱ Š›ǯȱ řŝǰȱ ȗ3º,
inciso I, da CF/1988, que trata do recebimento de reclamações à prestação dos serviços
públicos em geral e, ainda, da previsão de serviços de atendimento ao usuário e de avaliações
periódicas do serviço público prestado. Conforme MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo.
™˜—Š–Ž—˜œȱœ˜‹›ŽȱŠȱ›Ž˜›–ŠȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠDZȱŽ–Ž—ŠȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ—ķȱŗşǰȱŽȱŚȱŽȱ“ž—‘˜ȱŽȱŗşşŞǯȱ
Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 38.
50
ȱ ǰȱ•Ž¡Š—›ŽȱŽǯȱDireito constitucional administrativo. São Paulo: Atlas, 2002. p. 109-113.

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SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 125

6. Sobre a necessária relação de equilíbrio e conciliação


entre boa administração, metas constitucionais e custos
orçamentários

ȱŽęŒŠ£ȱŽœ¨˜ȱ˜›³Š–Ž—¤›’ŠȱŽœ¤ȱ’—Œ•žœŠǰȱŒ˜–˜ȱŒ˜›˜•¤›’˜ǰȱ—Šȱ™›¤’ŒŠȱŠȱ
boa administração, no sentido de que ótima será a escolha que atenda às metas
Œ˜—œ’žŒ’˜—Š’œȱŽȱšžŽȱŽ—‘Šȱ˜ȱ–Ž•‘˜›Ȧ–Ž—˜›ȱ’œ™¹—’˜ȱꗊ—ŒŽ’›˜ȱ™Š›Šȱ˜ȱ›¤›’˜ȱ
(relação custo-benefício ĺ ideia de economicidade, mencionada no art. 70,
caputǰȱŠȱ˜—œ’ž’³¨˜ȱ˜ȱ›Šœ’•ǼǯȱžȱœŽ“ŠǰȱŠȱ‹˜ŠȱŽœ¨˜ȱ˜œȱ›ŽŒž›œ˜œȱ™ø‹•’Œ˜œȱ
contribuirá para uma melhor administração dos recursos orçamentários,
permitindo um investimento cada vez maior nos direitos fundamentais que
Ž¡’“Š–ȱ™›ŽœŠ³äŽœȱ™˜›ȱ™Š›Žȱ˜ȱ™˜Ž›ȱ™ø‹•’Œ˜ǯ51
Nesse diapasão, Lourezo Baquer lembra que a boa administração deve
œŽž’›ȱ Œ˜–ȱ Šę—Œ˜ȱ Šȱ –¤¡’–Šȱ Žȱ šžŽȱ ȃ˜ȱ ’—‘Ž’›˜ȱ ™ø‹•’Œ˜ȱ ·ȱ œŠ›Š˜Ȅǰȱ —¨˜ȱ
™Ž›–’’—˜ȱšžŽȱœŽ“Šȱ–Š•ȱŠ™•’ŒŠ˜ȱž–ȱŒŽ—ŠŸ˜ȱœŽšžŽ›ȱ˜œȱ›ŽŒž›œ˜œȱ™ø‹•’Œ˜œǯ52
Por isso, Paulo Otero destaca que, nos dias atuais, não basta à administração
do estado social uma legitimação decorrente da origem democrática do poder,
œŽ—˜ȱŠ–‹·–ȱ—ŽŒŽœœ¤›’Šȱž–Šȱȃ•Ž’’–Š³¨˜ȱ™Ž•˜ȱ¹¡’˜ȄǰȱŒ˜–˜ȱ›Žœž•Š˜ȱŠȱ
satisfação das necessidades da sociedade e das metas constitucionais.53
˜ȱŽ—Š—˜ǰȱŒ˜–˜ȱŒ‘ŽŠ›ȱŠȱŽœœŠȱȃ•Ž’’–Š³¨˜ȱ™Ž•˜ȱ¹¡’˜ȄǵȱŽŸŽȱ˜ȱŽœ˜›ȱ
público gastar, em favor dos direitos fundamentais, percentual mínimo do
œŽžȱ˜›³Š–Ž—˜ǵȱžȱœŽ›’Šȱ˜ȱ–¤¡’–˜ȱ™˜œœÇŸŽ•ȱŽ–ȱ™›˜•ȱ˜ȱ‹Ž–ȬŽœŠ›ȱ˜ȱŒ’Š¨˜ǵ
Eis o grande dilema do Estado moderno, onde compromissos e metas
ꗊ—ŒŽ’›ŠœȱŠœœž–’˜œȱ™Ž›Š—ŽȱŽ—’ŠŽœȱŽȱ˜›Š—’œ–˜œȱ’—Ž›—ŠŒ’˜—Š’œȱŽ—›Š–ȱ
em rota de colisão com as previsões prestacionais ou de bem-estar previstas
na Constituição de um Estado que pretende ser democrático e social.
ŠȱŸŽ›ŠŽǰȱ˜ȱŽœŠę˜ȱ˜ȱ‹˜–ȱŽœ˜›ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ·ȱž’•’£Š›ȱ˜ȱ˜›³Š–Ž—˜ȱ
™ø‹•’Œ˜ȱ šžŽȱ Ž–ȱ —Šœȱ –¨˜œȱ Ž–ȱ ™›˜•ȱ Šȱ –¤¡’–Šȱ ŽŽ’ŸŠ³¨˜ȱ ˜œȱ ’›Ž’˜œȱ ž—Ȭ
damentais. O decisor/gestor administrativo precisa ter como referência a

51
ȱ ŽŒ˜›ŽȬœŽȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱŠȱŽ™ø‹•’ŒŠȱŽŽ›Š’ŸŠȱ˜ȱ›Šœ’•ȱǻŠ›ǯȱ3º da CF/1988):
Œ˜—œ›ž³¨˜ȱ Žȱ ž–Šȱ œ˜Œ’ŽŠŽȱ •’Ÿ›Žǰȱ “žœŠȱ Žȱ œ˜•’¤›’ŠDzȱ Š›Š—’›ȱ ˜ȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ —ŠŒ’˜—Š•Dzȱ
Ž››Š’ŒŠ›ȱ Šȱ ™˜‹›Ž£Šȱ Žȱ Šȱ –Š›’—Š•’£Š³¨˜ȱ Žȱ ›Žž£’›ȱ Šœȱ Žœ’žŠ•ŠŽœȱ œ˜Œ’Š’œȱ Žȱ ›Ž’˜—Š’œDzȱ
™›˜–˜ŸŽ›ȱ ˜ȱ ‹Ž–ȱ Žȱ ˜˜œǰȱ œŽ–ȱ ™›ŽŒ˜—ŒŽ’˜œȱ Žȱ ˜›’Ž–ǰȱ ›Š³Šǰȱ œŽ¡˜ǰȱ Œ˜›ǰȱ ’ŠŽȱ Žȱ šžŠ’œšžŽ›ȱ
outras formas de discriminação.
52
Consulte-se: Lourenzo Martín-Retortillo Baquer, De los derechos humanos al derecho a uma
buena administración, op. cit., p. 53.
53
OTERO, Paulo. Legalidade e administração pública: o sentido da vinculação administrativa à
“ž›’’Œ’ŠŽǯȱŘǯȱ›Ž’–™ǯȱŠȱŽǯȱŽȱ–Š’˜ȦŘŖŖřǯȱ˜’–‹›ŠDZȱ•–Ž’—ŠǰȱŘŖŗŗǯȱ™ǯȱřŖȬřŗǯ

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126 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

respeito não sua ótica peœœ˜Š•ǰȱ–Šœȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱ™›ŽŸ’œ˜œȱ™Š›Šȱ


o Estado na Carta Fundamental. Mais do que isso, é necessário que atue
œŽž—˜ȱž–ȱ™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱŽœ›Š·’Œ˜ȱ™›ŽŸ’Š–Ž—ŽȱŽę—’˜ȱŽȱšžŽǰȱ‘ŠŸŽ—˜ȱ
Œ˜—Ě’˜œȱ˜›³Š–Ž—¤›’˜œǰȱŠȱ˜™³¨˜ȱœŽ“ŠȱœŽ–™›ŽȱŽ–ȱŠŸ˜›ȱŠȱ›ž‹›’ŒŠȱšžŽȱŠ›Š—Šȱ
determinado direito humano ou fundamental.
A gestão pública, assim, precisa estar voltada para resolver os problemas
e anseios do homem Žȱ Šȱ Œ˜–ž—’ŠŽȱ ˜—Žȱ ŽœŽ“Šȱ Ž•Žȱ ’—œŽ›’˜ǯȱ —Ÿ˜ŒŠ—˜ȱ
aquilo outrora preconizado por alguns economistas clássicos (os quais
pregavam reformas no capitalismo norte-americano, mas com estabilidade
social e respeito às leis), pode-se dizer que o gestor público ou decisor político
precisa atuar com bom senso e conhecer “a mente e o coração” dos seus
administrados, buscando dar-lhes conforto e estabilidade.54
œȱ Œ˜›Žœȱ ˜žȱ Š“žœŽœȱ ˜›³Š–Ž—¤›’˜œȱ ŽŸŽ–ȱ œŽ›ȱ Ž’˜œǰȱ ’—’Œ’Š•–Ž—Žǰȱ Ž–ȱ
¤›ŽŠœȱœž™·›ĚžŠœǰȱŠœȱšžŠ’œȱ—¨˜ȱŒ˜–™›˜–ŽŠ–ȱ˜œȱ’›Ž’˜œȱž—Š–Ž—Š’œǯȱšž’ȱ
œŽȱ Š•Šȱ Ž–ȱ Œ˜›Žœȱ Žȱ ›ŽŠ“žœŽœȱ ˜›³Š–Ž—¤›’˜œȱ šžŽȱ ™˜Ž–ȱ œŽ›ȱ ›ŽŠ•’£Š˜œȱ ™Ž•˜ȱ
próprio gestor público, quando da elaboração da peça orçamentária, que,
posteriormente, assumirá o caráter de lei formal e material, após a atuação do
Parlamento.
Assim, antes de se falar em redução de programas sociais, deve o decisor
Š–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ ’–’—ž’›ǰȱ ™˜›ȱ Ž¡Ž–™•˜ǰȱ ˜ȱ —ø–Ž›˜ȱ Žȱ ŒŠ›˜œȱ Œ˜–’œœ’˜—Š˜œDzȱ
˜ȱ —ø–Ž›˜ȱ Žȱ ŒŠ››˜œȱ ˜ęŒ’Š’œȱ ¥ȱ ’œ™˜œ’³¨˜ȱ ˜œȱ ŽœŒŠ•äŽœȱ Š–’—’œ›Š’Ÿ˜œDzȱ Šȱ
quantidade de linhas de telefones móveis à disposição de determinados
œŽ›Ÿ’˜›Žœȱ ™ø‹•’Œ˜œǰȱ ŒžœŽŠŠœȱ ™Ž•˜ȱ ›¤›’˜Dzȱ ˜ȱ ŸŠ•˜›ȱ Žȱ ’¤›’Šœȱ ™ŠŠœȱ Ž–ȱ
Ÿ’ŠŽ—œȱž—Œ’˜—Š’œDzȱ˜ȱŸŠ•˜›ȱŽȱŠœ˜œȱ™›ŽŸ’œ˜œȱŒ˜–ȱ™ž‹•’Œ’ŠŽȱ’—œ’žŒ’˜—Š•ȱ
etc. O investimento em sedes, para as repartições e órgãos públicos, suntuosas
e com benfeitorias voluptuárias, dispendiosas e, por vezes, desnecessárias,
também precisa ser repensado. Por que o piso do gabinete de determinada
autoridade pública precisa ser de granito, se ele pode ser de um material
menos custoso para o Estad˜ǰȱŒ˜–˜ȱŒŽ›¦–’ŒŠǵ55

54
Conforme, AARON, Daniel. Ž—ȱ˜ȱ˜˜ȱ‘˜™Ž: a story of american progressives. Nova York:
¡˜›ȱ—’ŸŽ›œ’¢ȱ›ŽœœǰȱŗşŜŗǯȱ™ǯȱřȬŚȱŽȱŗşȬŘŖǯ
55
A respeito da redução de custos e do desenvolvimento de uma cultura de austeridade no serviço
™ø‹•’Œ˜ȱŽȱœžŠȱ›Ž•Š³¨˜ȱŒ˜–ȱ˜œȱ•’–’ŽœȱŽȱŠ››ŽŒŠŠ³¨˜ȱ꜌Š•ȱŽȱŽȱŽœ™ŽœŠȱ™ø‹•’ŒŠǰȱŒ˜—œž•ŽȬœŽȱ
estudo de Suho Bae e Changhoon Jung, sobre os Estados do continente americano, no período
compreendido entre 1977 e 2006. Em tal estudo, constataram os autores que medidas locais e
Žœ™ŽŒÇꌊœȱŽȱ›Žž³¨˜ȱŽȱŒžœ˜œȱ™Ž•˜ȱœŠ˜ǰȱ–ž’ŠœȱŸŽ£Žœǰȱ¹–ȱž–ȱŽŽ’˜ȱ™˜œ’’Ÿ˜ȱ–Š’œȱ’›Ž˜ȱ
no orçamento público, em comparação com medidas gerais de austeridade. Conforme BAE,
ž‘˜ȱ ŠŽDzȱ  ǰȱ ‘Š—‘˜˜—ǯȱ Ȃ’—ĚžŽ—ŒŽȱ Žȱ •ȂŠžœ·›’·ȱ Žœȱ •’–’Žœȱ ꜌Š•Žœȱ Žȱ Žœȱ ·™Ž—œŽœȱ
ǻǼȱ œž›ȱ •Žȱ —’ŸŽŠžȱ Žȱ ·™Ž—œŽœȱ Žȱ Žȱ ›ŽŒŽĴŽœȱ Žœȱ 1Šœǯȱ Revue Internacionale des Sciences
Administrativesǰȱ›ž¡Ž•ŠœǰȱŸǯȱŝŝǰȱ—ǯȱŚǰȱ™ǯȱŜŝřȬŜşŜǰȱŽ£ǯȱŘŖŗŗǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 127

Š’œȱ ›ŽĚŽ¡äŽœȱ œ¨˜ȱ Ž¡›Ž–Š–Ž—Žȱ ’–™˜›Š—Žœǰȱ ™˜’œȱ œ˜–Ž—Žȱ šžŠ—˜ȱ


demonstrado que houve, primeiramente, cortes orçamentários em áreas não
prioritárias, é que se poderá falar em redução de prestações administrativas
šžŽȱŒ˜—›’‹žŠ–ȱ™Š›Šȱ˜ȱ‹Ž–ȬŽœŠ›ȱ˜ȱŒ’Š¨˜ǯȱ’œȱ˜ȱšžŽǰȱŽ—¨˜ǰȱœ’—’ęŒŠȱŽęȬ
Œ’¹—Œ’ŠȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠDZȱŠ™•’ŒŠ›ȱ˜ȱ–¤¡’–˜ȱ˜ȱ˜›³Š–Ž—˜ȱ™˜œœÇŸŽ•ȱŽ–ȱ™›˜•ȱŠȱ
›ŽŠ•’£Š³¨˜ȱ ˜œȱ ’›Ž’˜œȱ ž—Š–Ž—Š’œȱ ˜ȱ ‘˜–Ž–ǰȱ Š’—Šȱ šžŽȱ ’œœ˜ȱ œ’—’ęšžŽȱ
ž–Šȱ›Žž³¨˜ȱŽȱ™›’Ÿ’•·’˜œȱŠšžŽ•ŽœȱšžŽȱŽ¡Ž›ŒŽ–ȱž—³äŽœȱ—ŠȱŠ–’—’œ›Š³¨˜ȱ
™ø‹•’ŒŠǰȱ–¤¡’–ŽȱŠœȱž—³äŽœȱŽȱ’›Ž³¨˜ȱŽȱŽœ¨˜ǯ
˜›Š—˜ǰȱŽęŒ’¹—Œ’ŠȱŠ–’—’œ›Š’ŸŠȱœŽ–ȱŠȱ›ŽŠ•’£Š³¨˜ȱ˜œȱ’›Ž’˜œȱž—ŠȬ
–Ž—Š’œǰȱ’—˜›Š—˜ȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱ˜žȱŠ›ŽŠœȱž—Š–Ž—Š’œȱ˜ȱœŠ˜ǰȱ˜›—ŠȬœŽȱ
um conceito meramente econômico, afastando-se da valorização político-
“ž›Ç’ŒŠǯ56
Destaque-se, aliás, que a grande preocupação dos governos dos Estados
envolvidos na crise econômica mundial, iniciada a partir de setembro de 2008,
em decorrência do Œ›ŠŒ” do mercado imobiliário norte-americano, foi torná-los
competitivos e atrativos para o mercado internacional de investidores. Isso
™ŠœœŠǰȱœŽž—˜ȱŠ•ȱ•à’ŒŠǰȱŠȱ™Š›’›ȱŠȱ›Žž³¨˜ȱ˜ȱ·ęŒ’ȱ™ø‹•’Œ˜ǯȱȱŠ•ȱ–ŽŠȱ
™›ŽŒ’œŠ›’ŠȱœŽ›ȱŠ’—’Šǰȱ—¨˜ȱ’–™˜›ŠȱšžŽȱœŽȱœŠŒ›’ęŒŠœœŽ–ȱ’›Ž’˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱ
historicamente conquistados, principalmente aqueles considerados de
natureza social, como educação, assistência social e saúde.
1ȱ—ŽŒŽœœ¤›’˜ǰȱŒ˜—ž˜ǰȱšžŽȱœŽȱŽœŽ—Ÿ˜•ŸŠȱž–ŠȱŒž•ž›Šȱ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š•ȱŽȱ
econômica, onde um Estado também se apresentará atrativo para os inves-
tidores internacionais se mantiver uma boa qualidade de vida para seus
Œ’Š¨˜œȱŽȱž–ȱŽ•ŽŸŠ˜ȱǗ’ŒŽȱŽȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ‘ž–Š—˜ȱǻ 
ǼǯȱžȱœŽ“Šǰȱ
além de índices econômicos, também deverão ser consultados índices sociais,
os quais motivarão os gestores governamentais a conciliarem a redução do
Šœ˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŒ˜–ȱ˜ȱ›Žœ™Ž’˜ȱŠ˜œȱ™›˜›Š–ŠœȱŽȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱŽȱŠę›–Š³¨˜ȱ
dos direitos fundamentais.57

56
ȱ ¨˜ȱ ™˜›ȱ ŠŒŠœ˜ǰȱ Š•ȱ •ŽŸŽ›œȱ Žȱ
Š—œȬ Ž›ȱ ’™Ž›ǰȱ Š˜ȱ Š—Š•’œŠ›Ž–ȱ ˜ȱ ™›’—ŒÇ™’˜ȱ Ž–˜Œ›¤’Œ˜ǰȱ
previsto no art. 20.1 da Constituição da Alemanha, defendem que as decisões políticas/gover-
namentais devem ser tomadas considerando os interesses do povo (sempre em seu benefício)
Žȱ—¨˜ȱ’–™˜œŠœȱŽȱŒ’–Šȱ™Š›Šȱ‹Š’¡˜ǯȱ–ȱŒ˜—œŽšž¹—Œ’ŠǰȱœŽž—˜ȱ˜œȱŠž˜›ŽœǰȱŽŸŽȱ˜ȱ˜ŸŽ›—˜ȱ
ŽŽ›Š•ȱŽ›ȱŒŠžŽ•ŠȱŒ˜–ȱŠœ˜œȱ™Š›Šȱ’—ŸŽœ’–Ž—˜ȱŽ–ȱ™ž‹•’Œ’ŠŽǰȱꗊ—Œ’Š˜œȱŒ˜–ȱ’–™˜œ˜œȱ
™Š˜œȱ ™˜›ȱ ˜˜œȱ ˜œȱ Œ’Š¨˜œǯȱ ˜—˜›–Žȱ ǰȱ Š•Dzȱ  ǰȱ
Š—œȬ Ž›ǯȱ ›ž—›ŽŒ‘Žȱ
ŠŠœ˜›Š—’œŠ’˜—œ›ŽŒ‘ǯ Münster: Alpmann Schmidtp, 2012. p. 81.
57
ȱ ȱ 
ǰȱ Ž–ȱ ŸŽ›ŠŽǰȱ œž›’žȱ Œ˜–˜ȱ ž–ȱ Œ˜—›Š™˜—˜ȱ Šȱ ˜ž›˜ȱ Ǘ’ŒŽǰȱ ˜ȱ ™›˜ž˜ȱ ’—Ž›—˜ȱ ‹›ž˜ȱ
ǻ Ǽǰȱ˜ȱšžŠ•ȱŒ˜—œ’Ž›ŠȱŠ™Ž—ŠœȱŠȱ’–Ž—œ¨˜ȱŽŒ˜—â–’ŒŠȱ˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ǯȱȱ 
ȱ˜’ȱŒ›’Š˜ȱ
™˜›ȱ Š‘‹ž‹ȱ ž•ȱ
Ššǰȱ ŽŒ˜—˜–’œŠȱ ™Ššž’œŠ—¹œǰȱ Œ˜–ȱ Šȱ Œ˜•Š‹˜›Š³¨˜ȱ ˜ȱ ŽŒ˜—˜–’œŠȱ ’—’Š—˜ȱ
Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998. Atualmente, para medir o
desenvolvimento social dos países, outros índices têm sido utilizados pelas Nações Unidas,

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Destarte, conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-


mento (PNUD), é preciso que os governos mudem suas perspectivas do que
œŽ“ŠȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ǯȱ˜–ȱ˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ‘ž–Š—˜ǰȱ˜ȱ˜Œ˜ȱ·ȱ›Š—œŽ›’˜ȱ
˜ȱŒ›ŽœȱŒ’–Ž—˜ȱŽŒ˜—â–’Œ˜ȱ™Š›Šȱ˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ˜ȱœŽ›ȱ‘ž–Š—˜ǯȱȱ 
ȱ
seria, pois, um índice de referência para o progresso em longo prazo, a ser
desenvolvido em três dimensões: renda, educação e saúde.58
Ž–Š’œǰȱ —˜ŸŠœȱ ˜›–Šœȱ Žȱ ꗊ—Œ’Š–Ž—˜ȱ ˜ȱ ŽœŠ˜ȱ œ˜Œ’Š•ȱ ™›ŽŒ’œŠ–ȱ œŽ›ȱ
desenvolvidas e/ou aprimoradas. A ideia é que se criem novas hipóteses de
›’‹žŠ³¨˜ȱ’›ŽŠǰȱ˜—ŽȱšžŽ–ȱŽ–ȱŒ˜—’³äŽœȱꗊ—ŒŽ’›ŠœȱŽŸŽȱŒžœŽŠ›ǰȱŠ’—Šȱ
que em parte, benefícios sociais ou prestações estatais não prioritárias. Por
Ž¡Ž–™•˜ǰȱ ŽœžŠ—Žœȱ ’—Ž›Š—Žœȱ Žȱ Š–Ç•’Šœȱ Œ˜–ȱ Ž•ŽŸŠ˜ȱ ™˜Ž›ȱ Ššž’œ’’Ÿ˜ȱ
™˜Ž›’Š–ȱ ꗊ—Œ’Š›ǰȱ Š’—Šȱ šžŽȱ Ž–ȱ ™Š›Žǰȱ œŽžœȱ Œž›œ˜œȱ Žȱ ›ŠžŠ³¨˜ȱ Žǰȱ ™›’—Ȭ
cipalmente, de pós-graduação em universidades públicas, permitindo que se
aumentassem as ofertas de vagas para cotas raciais ou sociais.59 Ou, então,
à luz do princípio da solidariedade, deveriam dar à comunidade, durante
determinado período, uma contrapartida à sociedade, na forma de serviço
™ø‹•’Œ˜ȱ ›Šž’˜ǰȱ Œ˜–™Ž—œŠ—˜ȱ ˜ȱ Žœ˜›³˜ȱ ꗊ—ŒŽ’›˜ȱ ˜ȱ œŠ˜ȱ Ž–ȱ ŒžœŽŠ›ȱ
seus estudos.60

Œ˜–˜ȱ ˜ȱ Ǘ’ŒŽȱ Žȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ ‘ž–Š—˜ȱ Š“žœŠ˜ȱ ¥ȱ Žœ’žŠ•ŠŽȱ ǻ ‘ŠǼDzȱ ˜ȱ Ǘ’ŒŽȱ Žȱ
desigualdade de gênero (IDG) e o índice de pobreza multidimensional (IPM). Conforme
NAÇÕES UNIDAS. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O que é IDH.
Disponível em: <   ǯ™—žǯ˜›ǯ‹›Ȧ 
Ȧ 
ǯŠœ™¡ǵ’—’ŒŽŒŒ˜›’˜—ƽŖǭ•’ƽ•’ȏ 
ǁǯȱ ŒŽœœ˜ȱ
em: 5 set. 2012.
58
Consulte-se a respeito: NAÇÕES UNIDAS. Programa das Nações Unidas para o Desenvol-
vimento. ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ‘ž–Š—˜ȱŽȱ 
. Disponível em: <   ǯ™—žǯ˜›ǯ‹›Ȧ 
Ȧ
ǯŠœ™¡ǁǯȱ
Acesso em: 2 set. 2012.
59
ȱ –ȱŘşǯŞǯŘŖŗŘǰȱ˜’ȱœŠ—Œ’˜—ŠŠȱ™Ž•Šȱ™›Žœ’Ž—Žȱ˜ȱ›Šœ’•ǰȱ’•–Šȱ˜žœœŽěǰȱŠȱŽ’ȱ—ķȱŗŘǯŝŗŗǰȱšžŽȱ
dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e institutos federais de ensino médio. Tal
•Ž’ȱ ™›ŽŸ¹ȱ Šȱ ›ŽœŽ›ŸŠȱ Žȱ śŖƖȱ Šœȱ ŸŠŠœȱ Žȱ Š’œȱ ’—œ’ž’³äŽœȱ ™Š›Šȱ Š•ž—˜œȱ šžŽȱ Ž—‘Š–ȱ Œž›œŠ˜ȱ
integralmente o ensino médio ou o ensino fundamental em escolas públicas. Entre tais vagas,
Šȱ–ŽŠŽȱŽŸŽ›¤ȱœŽ›ȱŽœ’—ŠŠȱŠȱŠ•ž—˜œȱŒž“Šȱ›Ž—ŠȱŠ–’•’Š›ȱper capitaȱœŽ“Šȱ’žŠ•ȱ˜žȱ’—Ž›’˜›ȱŠȱ
um salário mínimo e meio. Reservou a lei ainda um percentual de vagas para negros, pardos
e indígenas (v. arts. 1º ao 5ºǼǯȱ ›Š˜žȬœŽǰȱ œŽ–ȱ øŸ’Šœǰȱ Žȱ ž–Šȱ ’–™˜›Š—Žȱ Š³¨˜ȱ Šę›–Š’ŸŠȱ
em prol da universalização do direito humano à educação, no Brasil. Tal ação também se
fundamentou no princípio da solidariedade, pois visou dar uma prioridade do ensino
™ø‹•’Œ˜ȱŽȱ›Šž’˜ȱ¥šžŽ•ŽœȱšžŽȱ’—‘Š–ȱ–Ž—˜œȱŒ˜—’³äŽœȱꗊ—ŒŽ’›ŠœȱŽȱŒžœŽŠ›ȱœŽžœȱ™›à™›’˜œȱ
Žœž˜œǯȱŽȱŠ˜ǰȱ˜’ȱž–Šȱ–Ž’Šȱ’–™›ŽœŒ’—ÇŸŽ•ǰȱ™˜’œȱŠȱ‹Š’¡ŠȱšžŠ•’ŠŽȱ˜ȱŽ—œ’—˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱ
(fundamental e médio), em diversos estados federados, tem por corolário que as vagas das
universidades públicas (custeadas pela União ou pelos estados federados — consideradas, em
geral, as melhores) terminem com alunos egressos do ensino privado (vindos de famílias com
–Ž•‘˜›ŽœȱŒ˜—’³äŽœȱꗊ—ŒŽ’›ŠœǼǰȱ˜œȱšžŠ’œȱ’ŸŽ›Š–ȱž–Šȱ–Ž•‘˜›ȱ™›Ž™Š›Š³¨˜ȱŠ˜ȱ•˜—˜ȱŠȱŸ’Šȱ
ŠŒŠ¹–’ŒŠǰȱŸ’—˜ȱŠȱŒ˜—œŽž’›ǰȱ™˜›Š—˜ǰȱž–Šȱ–Ž•‘˜›ȱŒ•Šœœ’ęŒŠ³¨˜ȱ—˜ȱŽ¡Š–ŽȱŽȱŠ–’œœ¨˜ǰȱŽ–ȱ
detrimento dos alunos egressos de escolas públicas.
60
ȱ ˜‹›Žȱ˜œȱŒžœ˜œȱ˜ȱŽœŠ˜ȱœ˜Œ’Š•ȱŽȱ˜œȱŽœŠę˜œȱ˜ȱœŽžȱꗊ—Œ’Š–Ž—˜ǰȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŠȱ›’‹žŠ³¨˜ȱ
’—’›ŽŠȱǻ’–™˜œ˜œǼȱ˜žȱ’›ŽŠȱǻŽ–ȱ›Ž›ŠǰȱŠ›ŠŸ·œȱŽȱŠ¡ŠœǼǰȱŠ–‹·–ȱ™ž—Š—˜ȱ™˜›ȱž–Šȱ›ŽŸ’œ¨˜ȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 129

Igualmente, a prática da boa administração deve estar sempre agregada


ao combate à corrupção, chaga responsável pelo desvio de inúmeras verbas ou
recursos públicos, os quais poderiam estar sendo usados em prol dos direitos
fundamentais.61 Nesse sentido, também caberia o estímulo à aplicação de
índices que medissem práticas ou medidas de combate à corrupção adotados
pelos Estados, sendo aqueles que recebessem as maiores pontuações os mais
privilegiados em termos de investimentos internacionais.62
Reconhece-se, como adverte Paulo Otero, que a força dos fatos, ante o
Žœ›Š—ž•Š–Ž—˜ȱ ꗊ—ŒŽ’›˜ȱ ˜ȱ œŠ˜ȱ Œ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜ǰȱ ˜›—Šǰȱ –ž’Šœȱ ŸŽ£Žœǰȱ
teorias constitucionais em prol dos direitos humanos, como a proibição do
›Ž›˜ŒŽœœ˜ȱœ˜Œ’Š•ǰȱŽ–ȱ™Ž³Šȱ›Žà›’ŒŠȱŽȱ™ž›ŠȱŠ›šžŽ˜•˜’Šȱ“ž›Ç’ŒŠǯ63
Não obstante, se não se criar uma cultura e uma consciência político-
“ž›Ç’ŒŠȱŽ–ȱ™›˜•ȱ˜œȱ’›Ž’˜œȱ‘ž–Š—˜œȱŽȱŠȱ‹˜ŠȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱ™˜ŽȬœŽȱŽœŠ›ȱ
a ingressar em um ciclo vicioso (benefícios sociais ĺ má gestão ĺ redução de
benefícios e direitos ĺ redução da qualidade de vida da população), o qual
levará não apenas a um retrocesso social, mas a um retrocesso histórico, que,
de certo, poderá comprometer, inclusive, a ordem pública interna ou mesmo
a paz entre as nações, a partir das crises e insatisfações sociais e humanas que
o ciclo mencionado costuma gerar.64

ŽȱŠžŠ³¨˜ȱ˜ȱœŠ˜ȱ꜌Š•ǰȱŠŠ™Š—˜Ȭ˜ȱ¥œȱŽ¡’¹—Œ’Šœȱ˜ȱœ·Œž•˜ȱ ǰȱŒ˜—œž•ŽȬœŽȱ ǰȱ


˜œ·ȱŠœŠ•ŠǯȱŽĚŽ¡äŽœȱœ˜‹›ŽȱšžŽ–ȱ™ŠŠȱŠȱŒ˜—Šȱ˜ȱŽœŠ˜ȱœ˜Œ’Š•ǯȱRevista da Faculdade de Direito
da Universidade do Porto, Porto, a. VII, p. 51-83, 2010.
61
ȱ ˜–˜ȱ “¤ȱ Œ˜—œŠ˜žȱ ˜ž›˜›Šȱ ˜›Žȱ ’›Š—Šǰȱ Šȱ ‹ž›˜Œ›ŠŒ’Šǰȱ ŠŒ˜–™Š—‘ŠŠȱ ›ŽšžŽ—Ž–Ž—Žȱ
da corrupção, é um dos fatores de crise do Estado-providência. Seriam, assim, as causas
administrativas de crise do estado social, ao lado de causas ideológicas (avanço das ideias
—Ž˜•’‹Ž›Š’œȱŠ—ŽȱŠœȱœ˜Œ’Š•’œŠœȱ˜žȱœ˜Œ’Š•’£Š—ŽœǼǰȱꗊ—ŒŽ’›ŠœȱǻŠž–Ž—˜ȱ˜œȱŒžœ˜œȱŠœȱ™›ŽœŠ³äŽœȱ
sociais e da população economicamente ativa) e comerciais (perda da competitividade dos
œŠ˜œȱœ˜Œ’Š’œȱŠŒŽȱŠ˜œȱœŠ˜œȱšžŽȱ—¨˜ȱŠ˜Š–ȱ˜ȱ–Žœ–˜ȱ›Ž’–Žȱ“ž›Ç’Œ˜ȱŽȱ™›˜Ž³¨˜ȱœ˜Œ’Š•Ǽǯȱ
MIRANDA, Jorge. Democracia e Constituição para lá do Estado. Revista da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa, Coimbra, v. LI, n. 1 e 2, p. 36, 2011.
62
ȱ 1ȱ’–™˜›Š—ŽȱŽœŠŒŠ›ǰȱ˜ž›˜œœ’–ǰȱŽ¡’œŽ–ȱŠž˜›ŽœȱŠȱŽŽ—Ž›ȱŠȱ™›ŽœŽ—³ŠȱŽȱŒ˜—ŒŽ’˜œȱœ˜Œ’Š’œȱ
no liberalismo econômico, como é o caso de J. G. Merquior, o qual aponta que as ideias de
liberdade de mercado e de crítica à burocracia estatal, típicas do neoliberalismo, precisam se
harmonizar com os clamores/reivindicações de igualdade, à luz de um novo contratualismo
œ˜Œ’Š•ǰȱ™›˜™˜œ˜ȱ™˜›ȱ˜ž›’—Š˜›ŽœȱŒ˜–˜ȱŠ •œǰȱ˜‹‹’˜ȱŽȱ˜£’”ǯȱ ǰȱ ǯȱ ǯȱLiberalism
old and newǯȱ˜œ˜—DZȱ Š¢ȱž‹•’œ‘Ž›œǰȱŗşşŗǯȱ™ǯȱŗŚŝȬŗśŗǯ
63
OTERO, Paulo. Direitos econômicos e sociais na Constituição de 1976: 35 anos de evolução
constitucional. In: TRIBUNAL CONSTITUCIONAL. 35ºȱ Š—’ŸŽ›œ¤›’˜ȱ Šȱ ˜—œ’ž’³¨˜ȱ Žȱ ŗşŝŜ.
Coimbra: Coimbra, 2012. v. I, p. 53-54.
64
ȱ ˜‹Ž›˜ȱ˜–‹˜•’ȱŽȱŠ›’Šȱ’ŠȱŠ›—¸ǰȱŠ˜ȱŠ—Š•’œŠ›Ž–ȱ˜ȱ’›Ž’˜ȱ¥ȱœŠøŽǰȱ—˜ȱ˜›Ž—Š–Ž—˜ȱ“ž›Ç’Œ˜ȱ
italiano, reconhecem tal direito como um direito fundamental do homem e lembram a
necessária vinculação do administrador público à realização das previsões constitucionais
™Š›Šȱ œžŠȱ ŽŽ’ŸŠ³¨˜ǯȱ ȱ Ž¡˜ȱ Œ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ ’Š•’Š—˜ǰȱ —˜ȱ šžŽȱ œŽȱ ›ŽŽ›Žȱ Š˜ȱ ’›Ž’˜ȱ ‘ž–Š—˜ȱ
¥ȱ œŠøŽǰȱ Ž›’Šȱ ž–Šȱ ž—³¨˜ȱ Š’ŸŠȱ Žȱ —¨˜ȱ –Ž›Š–Ž—Žȱ ™Šœœ’ŸŠǰȱ Šȱ ę–ȱ Žȱ Œ›’Š›ȱ ŽŸŽ›Žœȱ “ž›Ç’Œ˜œȱ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


130 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

Antes de se falar em agonia ou morte do estado social, é preciso discutir


œ˜‹›Žȱ—˜ŸŠœȱ˜›–ŠœȱŽȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠȱŽȱ˜ȱšžŽȱœŽ“Šǰȱ›ŽŠ•–Ž—ŽǰȱŠȱ™›¤’ŒŠȱŠȱ
boa administração, voltada para a realização dos direitos humanos.65 Antes,
™˜›Š—˜ǰȱŽȱŠ’œȱ›ŽĚŽ¡äŽœȱŽȱŠȱ˜‹œŽ›Ÿ¦—Œ’Šȱ™›¤’ŒŠȱŽȱœžŠœȱŒ˜—Œ•žœäŽœǰȱœŽ›’Šȱ
™›Ž–Šž›˜ȱŽŒ›ŽŠ›ȱ˜ȱę–ȱ˜ȱŽœŠ˜ȱœ˜Œ’Š•ǯ66
ŽŸŽ›Šœǰȱ—Šȱ™›¤’ŒŠǰȱŠȱ–Š’˜›’Šȱ˜œȱ’›Ž’˜œȱž—Š–Ž—Š’œǰȱœŽ“Š–ȱŽ•ŽœȱŽȱ
—Šž›Ž£Šȱ ’—’Ÿ’žŠ•ȱ ǻŽȱ •’‹Ž›ŠŽǼȱ ˜žȱ œ˜Œ’Š•ǰȱ Ž¡’Žȱ ™›ŽœŠ³äŽœȱ ™˜œ’’ŸŠœȱ ˜ȱ
Estado para sua efetiva implementação. Por conseguinte, o poder público
™›ŽŒ’œŠȱŽ›ȱœŽ–™›Žȱž–Šȱ™Ž›˜›–Š—ŒŽȱŽęŒ’Ž—ŽǰȱŽȱ˜›–ŠȱŠȱ˜›—Š›ȱŒ˜—Œ›Ž˜œȱ˜žȱ
Š›Š—’›ȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱŽȱŠ’œȱ’›Ž’˜œǯ67 Perde o sentido uma ação administrativa
que atue apenas sob a ótica pessoal do governante, ignorando os anseios e as
necessidades do destinatário/cidadão, integrante do Povo (titular do poder
™˜•Ç’Œ˜Ǽǯȱꗊ•ǰȱ˜ȱœŠ˜ȱ—¨˜ȱ·ȱž–ȱę–ȱŽ–ȱœ’ȱ–Žœ–˜DzȱŠȱ’—’ŠŽȱ‘ž–Š—ŠǰȱŠȱ
partir do bem-estar e/ou da qualidade de vida de cada pessoa, dentro de um
Œ˜—Ž¡˜ȱ’—’Ÿ’žŠ•ȱŽȱŒ˜•Ž’Ÿ˜ǰȱ˜ȱ·ǯ

Š–‹·–ȱ™Š›Šȱ˜ȱŠ–’—’œ›Š˜›ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŽȱ—¨˜ȱœ˜–Ž—Žȱ™Š›Šȱ˜ȱ•Ž’œ•Š˜›ǯȱ ǰȱ˜‹Ž›˜Dzȱ
2ǰȱŠ›’Šȱ’Šǯȱ •ȱ’›’Ĵ˜ȱŠ••ŠȱœŠ•žŽȱ—Ž••Ȃ˜›’—Š–Ž—˜ȱŒ˜—œ’ž£’˜—Š•Žȱ’Š•’Š—˜ǯȱ —DZ SCAFF,
Ž›—Š—˜ȱŠŒž›¢Dzȱ ǰȱ˜‹Ž›˜Dzȱ ǰȱ’žŽ•ȱǻŠȱŒž›Šȱ’Ǽǯȱ›˜‹•Ž–’ȱŽȱ™›˜œ™ŽŒĴ’ŸŽȱ
’—ȱŽ–Šȱ’ȱžŽ•ŠȱŒ˜—œ’ž£’˜—Š•ŽȱŽ’ȱ’›’Ĵ’ȱœ˜Œ’Š•’ǯȱ’•¨˜DZȱ ’žě›¸ǰȱŘŖŖşǯȱ™ǯȱŘřŗȬŘřŚȱŽȱŘŚřȬŘŚŚǯ
65
ȱ Ž—›˜ȱ Žȱ Š•ȱ Œ˜—Ž¡˜ǰȱ Œ˜—Ÿ·–ȱ –Ž—Œ’˜—Š›ȱ ˜ȱ Ž—Ž—’–Ž—˜ȱ Žȱ ’Š—•žŒŠȱ ŠœŒ‘Ž›’—’ȱ Žȱ
Antonello Ciervo, os quais compreendem os direitos sociais como direitos fundamentais
Žȱ’—Ÿ’˜•¤ŸŽ’œǰȱ–ŠœȱŠ–’Ž–ȱšžŽȱ·ȱ—ŽŒŽœœ¤›’˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•ŸŽ›ȱ—˜ŸŠœȱœ˜•ž³äŽœȱ™Š›Šȱ˜ȱꗊ—Œ’Š–Ž—˜ȱ
do Welfare State. De forma paralela, a classe dirigente (decisores políticos: membros dos
˜Ž›ŽœȱŽ’œ•Š’Ÿ˜ȱŽȱ¡ŽŒž’Ÿ˜Ǽȱ—ŽŒŽœœ’Šȱ›Ž™Ž—œŠ›ȱœŽžœȱŸŠ•˜›Žœǰȱ¥ȱ•ž£ȱ˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱ’žŠ•ȱ
dignidade social. Também os cidadãos são chamados a aprimorar os seus deveres cívicos e de
œ˜•’Š›’ŽŠŽǯȱ
  ǰȱ ’Š—•žŒŠDzȱ ǰȱ—˜—Ž••˜ǯȱȂ’—Ž›Š£’˜—Žȱ’ĜŒ’•ŽDZȱ’•ȱ’›’Ĵ˜ȱ
Š••ŠȱœŠ•žŽȱŽȱŠ••Ȃ’œ›ž£’˜—ŽȱŽ•’ȱœ›Š—’Ž›’ȱ—Ž••ŠȱŒ›’œ’ȱŽ•ȱŽ•Š›ŽȱŠŽǯȱ —DZȱ˜‹Ž›˜ȱŠ—’ŠȱǻŠȱŒž›Šȱ
di), ȂŽŸ˜•ž£’˜—ŽȱŒ˜—œ’ž£’˜—Š•ŽȱŽ••Žȱ•’‹Ž›¥ȱŽȱŽ’ȱ’›’Ĵ’ȱ˜—Š–Ž—Š•’, op. cit., p. 381-383.
66
Por conseguinte, não se comunga das conclusões de João Caupers, o qual, em razão da
Œ›’œŽȱŽŒ˜—â–’ŒŠȱŠžŠ•ȱŽȱŠœȱ’ęŒž•ŠŽœȱ˜ȱœŽžȱꗊ—Œ’Š–Ž—˜ǰȱŽ—Ž—ŽȱšžŽȱ˜ȱŽœŠ˜ȱœ˜Œ’Š•ȱ
œŽȱ Ž—Œ˜—›Šȱ Ž–ȱ Š˜—’Šǰȱ œŽ—˜ȱ –Ž•‘˜›ȱ ŽœŽ“Š›ȱ ™Š›Šȱ Ž•Žȱ ž–Šȱ –˜›Žȱ ›Š—šž’•Šǰȱ ™Š›Šȱ šžŽȱ œŽ“Šȱ
œž‹œ’žÇ˜ǰȱ ™ŠŒ’ęŒŠ–Ž—Žǰȱ ™˜›ȱ ˜ž›Šȱ ›ŽŠ•’ŠŽǯȱ ˜—œž•ŽȬœŽȱ Šȱ ›Žœ™Ž’˜DZȱ ǰȱ ˜¨˜ǯȱ
A agonia do estado social. Revista da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, Porto, a. VII,
p. 45-49, 2010.
67
ȱ ŽœœŽȱ œŽ—’˜ǰȱ ˜ȱ Ž—œ’—Š–Ž—˜ȱ Žȱ Ž™‘Ž—ȱ
˜•–Žœȱ Žȱ Šœœȱ ǯȱ ž—œŽ’—ǰȱ ˜œȱ šžŠ’œȱ ŽœŠŒŠ–ȱ Šȱ
Ž¡’œ¹—Œ’Šȱ Žȱ ›Š—Žœȱ ’—ŸŽœ’–Ž—˜œȱ ™ø‹•’Œ˜œȱ ™Š›Šȱ Š›Š—’›ȱ ˜ȱ ’›Ž’˜ȱ Š˜ȱ Ÿ˜˜ȱ ˜žȱ –Žœ–˜ȱ ˜ȱ
direito ao devido processo legal, por meio de Tribunais que garantam o acesso ao cidadão.
Mas, advertem os referidos autores, será o contribuinte quem custeará tais direitos. Por
’œœ˜ȱȯȱŽ—Š’£ŠȬœŽȱȯȱŠȱ’–™˜›¦—Œ’ŠȱŽȱž–Šȱ‹˜ŠȱŽœ¨˜ȱ™ø‹•’ŒŠǰȱŠȱę–ȱŽȱ™Ž›–’’›ȱ˜ȱ–¤¡’–˜ȱ
Žȱ’—ŸŽœ’–Ž—˜ȱ™˜œœÇŸŽ•ȱ—ŠȱŽœ›žž›ŠȱŽȱŽ¡ŽŒž³¨˜ȱ˜œȱ’›Ž’˜œǰȱŒ˜–ȱ˜ȱ–Ç—’–˜ȱŽȱ›ŽŒž›œ˜œȱ
™ø‹•’Œ˜œȱ ™˜œœÇŸŽ•ǯȱ
ǰȱ Ž™‘Ž—Dzȱ  ǰȱ Šœœȱ ǯȱ ‘Žȱ Œ˜œȱ ˜ȱ ›’‘œDZȱ  ‘¢ȱ •’‹Ž›¢ȱ
Ž™Ž—œȱ˜—ȱŠ¡Žœǯȱ˜ŸŠȱ˜›”DZȱ˜›˜—ȱŠ™Ž›‹ŠŒ”ǰȱŗşşşǯȱ™ǯȱŚŞȱŽȱśŘȬśŚǯ

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


SALOMÃO ISMAIL FILHO | Boa administração: um direito fundamental a ser efetivado... 131

7. Conclusões

1. A boa administração constitui-se em um direito fundamental do cidadão,


de usufruir de uma gestão que respeite os princípios constitucionais da admi-
nistração pública, sendo transparente, dialógica e que assegure a partici-
pação procedimental no trato da res publicae. Encontra-se intrinsicamente
›Ž•ŠŒ’˜—ŠŠȱŒ˜–ȱ˜ȱ™›’—ŒÇ™’˜ȱŠȱŽęŒ’¹—Œ’ŠȱŽȱ˜ȱŒ˜—ŒŽ’˜ȱŽȱ‹˜Šȱ˜ŸŽ›—Š—³ŠǰȱŽȱ
caráter mais amplo e que envolve postulados de outras ciências.
Řǯȱ¨˜ȱ˜‹œŠ—Žȱ˜œȱŽœŠę˜œȱ˜œȱ•’–’Žœȱ˜›³Š–Ž—¤›’˜œȱ˜œȱŽ–™˜œȱ–˜Ž›Ȭ
—˜œǰȱŠȱŽęŒ’¹—Œ’ŠȱŒ˜—œ’žŒ’˜—Š•ȱ˜ȱŠ’›ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱ™›ŽŒ’œŠȱ‘Š›–˜—’£Š›ȬœŽȱ
Œ˜–ȱ˜ȱŽŸŽ›ȱ˜ȱŽœ˜›ȱ™ø‹•’Œ˜ȱŽȱŒž–™›’›ȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱŽȱ–ŽŠœȱŒ˜—œ’ȱžȱŒ’˜—Š’œǰȱ
tendo por escopo principal não o entendimento pessoal do gestor/decisor
™˜•Ç’Œ˜ǰȱ–Šœȱ˜ȱ‹Ž–ȬŽœŠ›ȱŽȱŠȱŽ•’Œ’ŠŽȱ˜ȱŒ•’Ž—Žǰȱ˜žȱœŽ“Šǰȱ˜ȱŒ’Š¨˜ǰȱ›Š£¨˜ȱ
de ser do Estado.
řǯȱȱ›Š—ŽȱŽœŠę˜ȱ˜ȱŽœ˜›ȱŠ–’—’œ›Š’Ÿ˜ȱŒ˜—Ž–™˜›¦—Ž˜ȱ·ȱž’•’£Š›ȱ˜ȱ
˜›³Š–Ž—˜ȱ™ø‹•’Œ˜ȱšžŽȱŽ–ȱ—Šœȱ–¨˜œȱŽ–ȱ™›˜•ȱŠȱ–¤¡’–ŠȱŽŽ’ŸŠ³¨˜ȱ˜œȱ’›Ž’˜œȱ
fundamentais. O gestor público precisa ter como referência a respeito não sua
à’ŒŠȱ™Žœœ˜Š•ǰȱ–Šœȱ˜œȱ˜‹“Ž’Ÿ˜œȱž—Š–Ž—Š’œȱ™›ŽŸ’œ˜œȱ™Š›Šȱ˜ȱœŠ˜ȱ—ŠȱŠ›Šȱ
ž—Š–Ž—Š•ǯȱ 1ȱ —ŽŒŽœœ¤›’Šǰȱ Šœœ’–ǰȱ ž–Šȱ ŠžŠ³¨˜ȱ œŽž—˜ȱ ž–ȱ ™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱ
Žœ›Š·’Œ˜ȱ ™›ŽŸ’Š–Ž—Žȱ Žę—’˜ǰȱ Žȱ šžŽǰȱ œŽȱ ‘˜žŸŽ›ȱ Œ˜—Ě’˜œȱ ˜›³Š–Ž—¤›’˜œǰȱ
Šȱ ˜™³¨˜ȱ œŽ“Šȱ œŽ–™›Žȱ Ž–ȱ ŠŸ˜›ȱ Šȱ ›ž‹›’ŒŠȱ šžŽȱ Š›Š—Šȱ ŽŽ›–’—Š˜ȱ ’›Ž’˜ȱ
humano ou fundamental.
4. Apresenta-se como imprescindível o desenvolvimento de uma cultura
governamental e econômica em que, além de índices econômicos, também
deverão ser consultados índices sociais, devendo um Estado também ser
considerado atrativo para os investidores internacionais se mantiver uma boa
qualidade de vida para seus cidadãos e um elevado índice de desenvolvimento
‘ž–Š—˜ȱ ǻ 
Ǽǯȱ œœ˜ȱ –˜’ŸŠ›¤ȱ ˜œȱ Žœ˜›Žœȱ ˜ŸŽ›—Š–Ž—Š’œȱ Šȱ Œ˜—Œ’•’Š›Ž–ȱ Šȱ
redução do gasto público com o respeito aos programas de desenvolvimento
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ingressar em um ciclo vicioso de má gestão pública, redução de benefícios
sociais e diminuição da qualidade de vida da população, o qual poderá com-
prometer, a médio e longo prazo, a ordem pública interna ou mesmo a paz
entre as nações, a partir das crises e insatisfações sociais e humanas que o ciclo
mencionado costuma gerar.

Rev. Direito Adm., Rio de Janeiro, v. 277, n. 3, p. 105-137, set./dez. 2018.


132 REV IS T A DE DI REIT O A DM INIS TR AT IV O

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a partir do bem-estar e/ou da qualidade de vida de cada pessoa, dentro de
ž–ȱ Œ˜—Ž¡˜ȱ ’—’Ÿ’žŠ•ȱ Žȱ Œ˜•Ž’Ÿ˜ǯȱ ˜›ȱ ’œœ˜ǰȱ Šȱ ŠžŠ³¨˜ȱ Š–’—’œ›Š’ŸŠȱ —¨˜ȱ
deve se pautar sob a ótica pessoal do governante, ignorando os anseios e
as necessidades dos administrados, integrantes do Povo, titular do poder
político soberano.

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 ǰȱ˜‹Ž›˜Dzȱ2ǰȱŠ›’Šȱ’Šǯȱ •ȱ’›’Ĵ˜ȱŠ••ŠȱœŠ•žŽȱ—Ž••Ȃ˜›’—Š–Ž—˜ȱ


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