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Fotografia sem retoque

| Artigo de Robinson Borges |

Os bastidores da notícia: Greg Marinovich, autor de The Bang Bang Club, fala sobre as
dificuldades de registrar uma guerra.

Apesar de ter revelado ao mundo as imagens da tragédia que os negros da África do Sul
enfrentaram no fim do apartheid, o fotógrafo Greg Marinovich deixou de acreditar na
máxima de que uma imagem fala mais do que mil palavras.

Em seu livro The Bang Bang Club - Snapshots From a Hiden War, que acaba de ser
lançado pela Basic Books, Marinovich disseca em bom inglês o que nenhuma de suas
milhares de fotos foi capaz de dizer sobre essa guerra civil: as agruras pessoais de
quatro jovens fotógrafos brancos durante a cobertura dos massacres entre as duas
facções de negros de seu país. "Queria dizer muitas outras coisas com o livro. Tentei
explicar o que as fotos não puderam", diz Marinovich ao Valor, por telefone, de
Johanesburgo. "O livro tenta corrigir alguns conceitos errados e também discutir o fato
de nos sentirmos culpados por algumas fotografias que tiramos", acrescenta o autor.

A idéia de mostrar os bastidores da notícia surgiu a partir das tragédias que atingiram os
impetuosos e corajosos integrantes do The Bang Bang Club - como eram conhecidos os
fotógrafos Greg Marinovich, Ken Oosterbroek, Kevin Carter e João Silva pela imprensa
internacional na África do Sul. Depois de terem conquistado fama internacional com
seus registros da miséria humana, o outro lado da moeda não demorou a aparecer. "Para
escrever o livro enfrentei muitas lutas. Foram muitas lembranças e muitas relutâncias
em revisitar o que foi um tempo muito difícil para todos nós", antecipa o autor da obra.

Em uma manhã de abril, como muitas outras daquele período de tensão, Ken
Oosterbroek viu seu escudo falhar e foi assassinado. Ele estava em mais uma ação de
guerra com Greg Marinovich, quando ambos foram baleados. Oosterbroek morreu
imediatamente ainda com o dedo no botão da máquina. João Silva registrava as dores de
Marinovich, quando soube da morte de Oosterbroek e mudou imediatamente de foco:
"Ken vai querer ver isso mais tarde", justificou Silva sobre a foto do amigo morto. Para
tornar a situação ainda mais terrível, alguns dias depois, Kevin Carter suicidou-se aos
33 anos.

"Acho que o fim da investigação sobre a morte de Ken foi um dado importante para
escrever o livro. Nós ficamos completamente chocados com o que as pessoas pensavam
sobre nós", explica Marinovich. Sobre Kevin, porém, ele é mais reservado. "Ele se
suicidou na hora errada. Tudo havia acabado quando fez isso. Seu suicídio nos deixou
muito magoados. Não mudei de lado e nem de visão em relação ao trabalho que fizemos
por causa disso.

" De fato, a história parecia ser outra para os integrantes do The Bang Bang Club, que
segundo Marinovich se sentiam protegidos pela câmera até aquele dia 18 de abril de
1994, pouco antes de Nelson Mandela ser eleito presidente da República e acabar com o
apartheid. Em 1991, aos 28 anos, Greg Marinovich experimentou a primeira
recompensa por sua coragem ao ganhar o prestigiado Prêmio Pulitzer na categoria de
fotografia instantânea por uma imagem do assassinato de um negro zulu, em Soweto.
Ao seu lado, figuraram mais cedo ou mais tarde os nomes de Oosterbroek, primeiro sul-
africano a receber o Prêmio Pulitzer e Carter, vencedor pela famigerada foto de uma
criança morrendo de fome com um urubu atrás.

"O impacto do Prêmio Pulitzer por uma fotografia ocorre em muitos níveis. Há,
sobretudo, o aspecto do sucesso que está envolvido. O fotojornalismo é muito associado
a nomes, como qualquer tipo de jornalismo. As pessoas sempre reconhecem esses
nomes", observa o fotógrafo. "Uma vez que você tem esse nome, o resultado do que
você faz é muito maior. Você pode mais", diz Marinovich, o único dos três ganhadores
que pode fazer uma avaliação a longo prazo sobre o Pulitzer.

O prêmio de Carter, porém expôs outras feridas da guerra civil, além dela própria. Ao
contrário do que diz Marinovich, a vitória do líder negro Nelson Mandela, conquistada
depois de 27 anos de prisão e às custas de 16 mil mortes por causa da oposição dos
negros zulu, não pôs fim aos dilemas dos fotógrafos.

Kevin Carter, por exemplo, já havia se tornado um consumidor constante de coquetéis


de maconha e comprimidos - para suportar a vida como um vampiro da desgraça de
oprimidos - quando sua culpa e aflição foram alimentadas, paradoxalmente, com o
Prêmio Pulitzer, pouco antes da morte de Ken Oosterbroek.

A foto que lhe rendeu o prêmio foi tirada no Sudão. Curiosamente, pouco antes de
registrar a criança terminal com o urubu atrás, João Silva, seu colega e concorrente,
havia tirado apenas a foto da criança. Por sorte - ou azar - Carter teve o seu momento
especial. Naquele instante, porém, além de mostra a que ponto uma guerra civil poderia
chegar, Kevin Carter registrava os limites de sua profissão.

Ao receber o prêmio pela foto publicada no mundo todo, ele foi veementemente
cobrado sobre sua atitude como cidadão. "O que fez o fotógrafo para ajudar a criança?",
perguntaram a imprensa e entidades internacionais de direitos humanos. Quem sabe sua
morte explique algo, ou seja, a resposta que ele considerou apropriada. Como escreveu a
ex-diretora do escritório do jornal The New York Times em Johanesburgo sobre o livro:
"Ficamos tão magnetizados pelo que a câmera vê que não pensamos sobre a pessoa que
tira a foto.

"Greg Marinovich, no entanto, refuta as cobranças de maneira muito mais precisa e


enfática. "Tudo depende do que você está fazendo. Você está lá como jornalista ou para
ajudar as pessoas?", pergunta ele. "Ninguém deve pedir para a Cruz Vermelha tirar
fotos. Algumas vezes, a situação nos permite ajudar e tirar uma foto. Não havia
conflitos. Outras vezes, você tinha de fazer sua escolha. Mas é uma situação muito
complexa", continua o escritor.

E é justamente no amplo espaço que ocupa a palavra complexa que a questão pega. E
Marinovich rebate: "A razão pela qual você vai para a guerra carregando uma câmera é
sempre profissional. Algumas vezes, você não tira fotografias por medo ou por muita
sensibilidade à cena. Depende do instante", revela o autor. "Algumas vezes, me
perguntava: "Meu Deus! Como pude tirar essa foto. Outras, eu ficava indignado porque
não havia tirado determinada fotografia. Muda-se muito. Um dia se tira fotografias de
forma automática, em outro, há dificuldades em pressionar o botão e registrar o
momento. Há sempre uma ação física comprometida. Isso tudo depende de sua
interação com o lugar de seu humor, de um milhão de coisas. É algo realmente muito
complicado", pondera Marinovich.

Para ele, sua real motivação ao adentrar os meandros da sangrenta guerra civil nas
periferias de Johanesburgo - protagonizada pelos zulus, facção comandada por
Buthelezi e apoiada pelos bancos, e os partidários de Nelson Mandela, que voltava à
ativa depois de 27 anos preso - era política. "Nós esperávamos que aquela guerra civil
da África do Sul pudesse mudar o rumo da história do país. Acho que a alma de um
soldado de guerra é um dos elementos de um fotógrafo. Era uma causa, muito mais do
que um emprego", avalia o fotógrafo. "Acho que nossas fotos ajudaram a África do Sul
a ter seus problemas como parte da agenda internacional", continua.

Mas apesar de sua perspectiva pessoal e política Greg Marinovich considera que uma
fotografia pode ir muito além de seus reais objetivos. "Quando viam aquelas fotos, a
maioria das pessoas dizia: "negros matando os negros". Podia ser, nesse caso, uma boa
propaganda para o governo e o poder branco na África do Sul ", pondera o autor do
livro.

Mas como cidadão sul-africano, Greg Marinovich não repetiu a mesma visão ao cobrir
outras guerras, como a da Bósnia, logo em seguida. Sua postura sobre fotografar nesse
contexto é outra: "Uma fotografia pode ser muitas coisas. Uma lembrança do seu
sentimento, uma lembrança do que aconteceu, um tipo de propaganda consciente ou
inconsciente", afirma.

The Bang Bang Club discute também a intimidade e amizade que se construiu em um
cenário de brigas e tensões. Os jovens do grupo enfrentavam também um clima de
rivalidade interna. Cada um disputava a melhor foto, mas, ao mesmo tempo, era
dependente do amigo para sobreviver. "Isso é da natureza humana, que é competitiva.
Queríamos fazer sempre uma coisa tão bem ou melhor do que outros. Era um desafio a
mais", comenta o escritor.

Em uma perspectiva mais distanciada, Greg Marinovich aponta que as grandes


catástrofes são sempre um prato cheio para boas fotografias, pois mexem com os limites
do humano. Apesar desse ponto de vista, diz que não começaria tudo outra vez. "Eu
desejaria que aquele período nunca tivesse ocorrido em minha vida. Eu não gosto do
ódio que as pessoas tiveram de expressar", comenta. "Mas algumas pessoas consideram
uma guerra algo muito atraente.

" Antes de enfrentar o dia-a-dia da guerra civil e de ver a desgraça invadir seu território,
o jovem João Silva era um fotógrafo bélico de carteirinha. Mas as coisas mudaram e
eles também. Greg Marinovich é um diretor de documentários e colaborador de revistas,
como Time, Newsweek, The New York Time e The Washington Post.

Silva mantém-se nos caminhos da fotografia. Em tempo, embora ele assine o livro, The Bang Bang Club
foi escrito apenas por Marinovich.

Este artigo foi publicado no jornal Valor Econômico, em abril de 2001.

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