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Gey Espinheira

RESENHAS
ANTROPOLOGIA E PODER Wolf – “Uma autobiografia intelectual” –, o que
confere ao livro Antropologia e poder – contri-
WOLF, Eric R. Sob o olhar multidimensional: antropolo- buições de Eric R. Wolf uma totalidade significa-
gia e poder.
tiva sobre a obra de um pensador contemporâ-
Gey Espinheira neo que muito contribuiu para o estatuto de
modernidade da antropologia contemporânea.
INTRODUÇÃO

Sob a responsabilidade de seus organiza- UM LIVRO POLÊMICO E ATUALIZADOR DA ANTROPO-


do-res, Bela Feldman-Bianco e Gustavo Lins Ri- LOGIA CONTEMPORÂNEA
beiro, traduzido por Pedro Maia Soares, o livro
Antropologia e poder – contribuições de Eric R. Antropologia e poder é um livro que con-
Wolf nos chega pelas editoras Universidade de tém escritos do autor Eric R. Wolf e que, ao mes-
Brasília, Imprensa Oficial do Estado de São Pau- mo tempo, fala do autor, ou o autor fala de si
lo e Universidade Estadual de Campinas, em mesmo, em uma autobiografia da vida intelec-

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2003. Os organizadores são antropólogos, conhe- tual.
cedores profundos da obra do autor e dele pró- Bela Feldman-Bianco e Gustavo Lins Ri-
prio como orientador, como é o caso do profes- beiro, ambos professores, a primeira do Departa-
sor Gustavo Lins Ribeiro, do Departamento de mento de Antropologia da Universidade Esta-
Antropologia da Universidade de Brasília, cuja dual e Campinas (Unicamp) e o segundo, do De-
tese, desenvolvida na City University of New York partamento de Antropologia da Universidade de
(1988), foi orientada por Wolf. Bela Feldman-Bianco Brasília, oferecem ao público brasileiro, na tra-
é do Departamento de Antropologia da Universi- dução de Pedro Maia Soares, uma ampla abor-
dade Estadual de Campinas (Unicamp) e direto- dagem dos textos e Eric R. Wolf, pouco conheci-
ra do Centro de Estudos de Migrações Internaci- do no Brasil, a não ser no pequeno círculo dos
onais (CEMI/IFCH) da mesma universidade. antropólogos que, de início, se dedicaram ao es-
Ambos, portanto, profundos conhecedores e res- tudo dos camponeses.
ponsáveis pela introdução ao livro. Mas, como O livro é uma apresentação do antropólo-
se não bastassem esses testemunhos qualifica- go americano ao meio acadêmico na forma de
dos, um capítulo é dedicado ao próprio Eric R. blocos de abordagens do autor, ou seja, dos te-

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mas que privilegiou como campos de preocupa- logia americana e que se volta para o estudo das
ção intelectual. A disposição dos capítulos per- relações complexas no mundo contemporâneo.
mite que o autor seja conhecido por si mesmo, Um autor sem fronteiras temáticas ou
através de uma autobiografia, pela abordagem epistemológicas
da complexidade que toma como foco uma soci- Pode-se dizer que Eric R. Wolf passou a
edade complexa: “México, parentesco, amizade ser conhecido no Brasil por seu trabalho sobre o
e relações patrono-cliente”. A vida rural é trata- campesinato, considerado um clássico escrito em
da na analise de “tipos de campesinato latino- 1966 (Peasants), traduzido como “Sociedade cam-
americano, como uma discussão tomada como ponesa”, mas, mesmo assim, por um público res-
preliminar, centrada em comunidades campo- trito de estudiosos da temática agrária sob o ân-
nesas corporadas, fechadas na Mesoamérica e em gulo da antropologia. Os organizadores do livro
Java Central”. “Aspectos específicos dos sistemas reconhecem que agora ampliam as possibilida-
de Plantations no Novo Mundo: subculturas das des de conhecimento da obra de Wolf com este
comunidades e classes sociais e fases do proces- livro-coletânea de textos, mas também um
so rural na América Latina” são capítulos que mapeamento das preocupações intelectuais do
“explicam a complexidade e a vida rural”. autor, tanto no que concerne a campos de estu-
“Nação, nacionalismo e etnicidade” abor- do como na formulação teórica das ciências hu-
da “A formação da nação: um ensaio de formu- manas, mais particularmente a antropologia. É
lação”, a “Virgem de Guadalupe: um símbolo lembrado o seu instigante artigo, polêmico des-
nacional mexicano”, “Nacionalismo camponês de o título, com as idéias desenvolvidas sobre a
em um vale dos Alpes” e “Etnicidade e naciona- antropologia contemporânea: “they divide and
lidade”. subdivide, and call it anthropology” (eles divi-
Para além desses campos de abordagem, dem e subdividem e lhe dão o nome de antropo-
em que se observam as pesquisas empíricas e as logia) (Wolf, 1980).
revisões teóricas, contribuições para uma antro- A sensibilidade de Eric R. Wolf para as
pologia que incorpora a moderna concepção da ciências sociais, e mais particularmente para a
globalização e do poder, Eric. R. Wolf faz impor- antropologia, foi manifestada como uma orien-
tantes incursões no campo mesmo da teoria das tação, ao ouvir uma conferência de Norberto
ciências sociais, transgredindo fronteiras e abrin- Elias, da qual uma conclusão lhe foi marcante e
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do espaço para uma antropologia da complexi- ele confessa: “a idéia de que o indivíduo nasce
dade. dentro de uma rede estabelecida de pessoas e
No bloco final do livro, “Teoria”, os orga- que sua pessoa é um fenômeno social foi uma
niza-dores selecionaram contribuições significa- revelação e abriu meus olhos para as ciências
tivas do autor e, por que não dizer, radicais, na sociais” (Wolf, p.60), como é ressaltada pelos
seguinte seqüência: “Os antropólogos america- organizadores do livro, extraindo-a da autobio-
nos e a sociedade americana”; “Os moinhos da grafia intelectual, que é um capítulo do livro.
desigualdade: uma abordagem marxiana”; Cul- A perspectiva dos estudos da formação
tura: panacéia ou problema?”; “Inventando a da nação é mais um campo em que Wolf faz
sociedade”; “Encarando o poder: velhos insights, provocações aos antropólogos e contribui deci-
novas questões” e “Trabalho de campo e teoria”. sivamente para dar à antropologia uma abertura
Como última parte, os organizadores apre- maior para a compreensão das sociedades com-
sentam as publicações do autor, permitindo ao plexas, a partir da construção de modelos na for-
leitor entrar em contado com o universo de Eric ma de tipo ideal abrangente, capaz de conter os
R. Wolf, um dos mais importantes incorporadores elementos e as fases do processo de constituição
da perspectiva marxiana e marxista da antropo- da nação. De forma simplificada, o esquema de

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constituição da nação abrange três aspectos prin- e com a abertura de novas orientações teóricas
cipais: “ecologia, estrutura social e caráter da que atualizam a antropologia na contemporanei-
aculturação interna, em termos de três estágios dade.
de desenvolvimento: (1) desenvolvimento nuclear A estruturação do livro, ajudada pela apre-
localizado; (2) extensão e consolidação territorial; sentação de seus organizadores e pela autobio-
(3) a nação”. (p. 203). grafia intelectual, completam uma visão ampla
Na explicação sobe etnicidade e naciona- e, ao mesmo tempo, densa do pensamento e da
lidade, a ênfase recai na idéia de construção so- orientação teórica e metodológica das pesquisas
cial histórica da etnicidade e da nacionalidade, desenvolvidas no campo da compreensão da
na percepção dos elementos comuns utilizados questão dos camponeses como tipos específicos,
na formação das nações: “as formas simbólicas assim como das singularidades de comunidades,
da formação da nação foram bem semelhantes: na técnica da confrontação de diferentes reali-
bandeiras, emblemas, feriados, monumentos, dades de comunidades em termos de seus ar-
canções, teatro; a construção de uma estética ranjos culturais, como é o caso do estudo sobre
nacional; a exaltação de uma língua padrão...”. o “Nacionalismo camponês em um vale dos Al-
Pelo viés das observações e de estudos compara- pes”.
tivos, a exemplo do que fez ao estudar o “Nacio- A perspectiva antropológica de Eric Wolf
nalismo camponês em um vale dos Alpes”, as trouxe contribuições importantes para a formu-
proximidades e diferenças culturais, políticas, lação de uma teoria antropológica do estudo das
tecnológicas e ecológicas são levadas em consi- sociedades complexas, sobretudo quando faz a
deração para ressaltar as formas como as comu- distinção entre o interior e o exterior, o dentro e
nidades assumem seus “nacionalismos”. Essa for- o fora, no que poderíamos falar de local e global,
ma de proceder assemelha-se, de algum modo, à em que a permanência e as transformações são
metodologia de Norberto Elias, que, ao elaborar reconhecidas como interconexões entre esses
estudos em pequenas comunidades, procura “iso- dois universos produtores de cultura e de figu-
lar” aspectos que se expressam em grandes soci- ração social em uma dada sociedade.
edades: “grosso modo, a pesquisa indicou que os Um outro aspecto demonstrativo da for-
problemas em pequena escala do desenvolvimen- mulação de modelos explicativos de Wolf, so-
to de uma comunidade e os problemas em larga bretudo quando se volta para as sociedades com-

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escala do desenvolvimento de um país são plexas, é o seu ponto de partida “de dentro”, em
inseparáveis” (ELIAS, 2000, p.16). Assim, para menor escala, para o “de fora”, em maior escala,
Elias, tanto como para Wolf, o estudo de comu- ao reconhecer o processo de aculturação, cujo
nidade de pequena escala pode ser visto “como conceito é referenciado por Kroeber:“as mudan-
uma espécie de “paradigma empírico”. Aplican- ças produzidas numa cultura por influência de
do-o como gabarito a outras configurações mais outra cultura que resultam numa semelhança
complexas desse tipo, pode-se compreender crescente entre as duas”. Conclui, portanto, que
melhor as características estruturais que elas têm “o problema colocado pela integração em gran-
em comum e as razões por que, em condições des conjuntos socioculturais de diversas e nu-
diferentes, elas funcionam e se desenvolvem se- merosas culturas locais na Europa não difere em
gundo diferentes linhas” (Elias, 2000, p. 21). sua natureza do problema da formação de uma
Os diversos campos de abordagem nação, como, por exemplo, no México moder-
temática, objetos de estudo e da contribuição no”. (p.200).
teórica, fazem deste livro um apanhado da obra Poder-se-ia dizer que Wolf procura as for-
do autor, levando o leitor a entrar em contato mas estruturantes e as aplica em suas “explica-
com o universo das preocupações de Eric R. Wolf ções” – pois é explicando temas ou conteúdos

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que os capítulos do livro foram compostos –, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


transpondo-as para as análises de sistemas com-
ELIAS, Norbert; SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os
plexos da sociedade contemporânea. outsiders. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 2000.
Antropologia e poder – contribuições Eric.
FELDMAN-BIANCO, Bela; RIBEIRO, Gustavo Lins (Orgs.)
R. Wolf é uma grande contribuição às ciências Antropologia e poder- contribuições de Eric R. Wolf. Trad.
humanas, uma abertura de caminhos para todos de Pedro Maia Soares. Brasília: Editora da Universidade de
Brasília; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Pau-
aqueles que se preocupam com o mundo con- lo; Editora Unicamp, 2003.376 p.
temporâneo, com a teoria da complexidade. O
mais a ser dito: a capacidade do autor de buscar,
nas tradições mais densas do pensamento mo-
derno, as bases para a compreensão do mundo
capitalista sob o prisma antropológico, mas na
dimensão da epistemologia da complexidade.

(Recebido para publicação em fevereiro de 2004)


(Aceito em março de 2004)
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