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FÓRUM ESTADUAL DA AGENDA 21 DE PERNAMBUCO

Agenda 21 do Estado de Pernambuco

6 de agosto de 2002
“Antes de qualquer prenúncio de claridade no céu, é o rio que principia a alvorada e se
espreguiça num primeiro desejo de cor. (...) se sente que o dia vai sair por detrás do
mato. E então o horizonte principia existindo.”

Mário de Andrade
APRESENTAÇÃO

Uma década depois da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, quando a Agenda 21 Global foi pactuada no Rio de Janeiro, os
entraves e os desafios da sustentabilidade impõem a todos uma revisão dos
compromissos assumidos.

Em pauta, permanecem os limites de um desenvolvimento que deve ir além do papel


do mercado e dos governos e que ressalte a melhoria da qualidade de vida da
população. Em vez de ser apenas focalizada a elevação da renda per capita,
também a saúde, a educação, o meio ambiente, a redução das desigualdades sociais
firmaram-se como temas relevantes para o desenvolvimento sustentável. Esse
desenvolvimento define, também, que os processos sociais são tão relevantes quanto a
formulação de políticas. Consenso, participação, parceria e transparência devem,
portanto, estar na base de políticas sustentáveis que representem um princípio central
para a organização das sociedades e o reordenamento das prioridades globais.

A Agenda 21 propõe a integração entre meio ambiente e desenvolvimento,


reconhecendo o combate à pobreza como condição primordial para garantir a
sustentabilidade. Enquanto plano estratégico, parte de uma visão integrada de
diversos componentes e aborda, entre outros tópicos, a garantia dos direitos das
mulheres e dos grupos vulneráveis, o papel das comunidades locais, a gestão de
recursos naturais, os processos democráticos, etc. Oferece, portanto, um arcabouço
para o desenvolvimento sustentável, levando a concluir que, se o capital natural
restringe o processo econômico, é preciso maximizar a produtividade desse capital, no
curto prazo, aumentando a sua oferta , no longo prazo.

Há de se reconhecer que, a despeito dos esforços de muitos países, existe uma grande
lacuna na implementação da Agenda 21. O mundo ainda enfrenta os desafios de uma
pobreza endêmica, padrões de consumo insustentáveis e um processo de degradação
ambiental. Com essa preocupação, foi criada, a partir dos resultados de várias
conferências das Nações Unidas, a Declaração do Milênio, com o intuito de identificar
metas precisas que acelerassem a implementação da Agenda 21. Há, portanto, uma
estreita relação entre a Agenda 21 e a Declaração. Em muitos países, o esforço volta-
se para alcançar objetivos e metas que promovam meios de vida sustentáveis, com
prazos determinados e recursos e mecanismos de monitoramento. Isso significa o
resgate de alguns compromissos internacionais que podem, facilmente, redundar na
retórica da sustentabilidade.

É pouco comum para governo e sociedade criar marcos simbólicos que traduzam
avaliações, balanços e autocríticas. Menos comum ainda é presenciar um processo de
construção democrática, que, além de repensar os problemas, apresente uma
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

proposta para o desenvolvimento sustentável do País. Durante um ano, a Secretaria de


Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente coordenou o trabalho do Fórum Estadual da
Agenda 21 de Pernambuco, formado por representantes do Governo, de entidades
não-governamentais e de setores do empresariado. Desse esforço conjunto resultou a
Agenda 21 do Estado de Pernambuco, a primeira do País.

Expressão do desejo de mudança de inúmeros atores que participaram ativamente das


consultas regionais, a Agenda 21 Estadual contempla as especificidades regionais do
Estado.

Ao formular políticas públicas integradas, nas dimensões da sustentabilidade —


econômica, social, ambiental e institucional — o documento mescla novos a antigos
temas. Assim, ao lado das demandas por educação e geração de emprego e renda,
surge a mudança de padrões de consumo. Interligados, encontram-se, também,
princípios de descentralização com decisões que integrem desenvolvimento e meio
ambiente.

Embora os debates tenham frisado que a Agenda 21 constitui um pacto entre os


diversos segmentos da sociedade e que o Governo representa um entre tantos atores,
a tendência foi de repassar a sua implementação ao Poder Público. Isso significa, por
um lado, uma crítica ao papel político-institucional dos governos; por outro, a
prevalência da visão do Estado provedor, sempre associada à carência de políticas
sociais.

Estamos a caminho de uma globalização positiva. Pernambuco interage com as


demais Agendas, compartilhando problemas e delineando políticas sustentáveis. A
Agenda 21 do Estado de Pernambuco contempla, em escalas distintas, os temas
definidos pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, como prioritários para o debate da
Rio+10, em agosto, na África do Sul. A biodiversidade como fonte de vida deve ter
práticas sustentáveis definidas. A escassez e a qualidade da água vêm
comprometendo a saúde de dois terços da população mundial, daí por que se deve
evitar o desperdício e melhorar o saneamento básico. À saúde deve associar-se um
meio ambiente seguro — sem lixo, sem poluição das águas e do ar. A agricultura deve
produzir alimento, com atenção para o solo e o fenômeno da desertificação. E, por fim,
uma energia que garanta aos pobres uma vida mais digna, utilizando tecnologias
limpas.

No âmbito político do País, o lançamento da Agenda 21 do Estado de Pernambuco


não poderia ser mais oportuno. Aos governantes e parlamentares cabe uma
apreciação de propostas legitimadas que devem nortear programas, ações e normas
em um futuro próximo. Para estados e municípios, temos um exemplo de processo

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Agenda 21 do Estado de Pernambuco

participativo. Pernambuco, seguindo os passos da Agenda 21 Brasileira, realizou ampla


consulta em todo o Estado, envolvendo cerca de 2.000 pessoas. O Fórum Estadual da
Agenda 21 de Pernambuco definiu os temas e a metodologia do processo com base
na Agenda 21 Brasileira.

De um modo geral, ficou clara a capacidade de integrar os aspectos de saúde ao


meio ambiente e de criar responsabilidades para os agentes econômicos. À
semelhança da Agenda 21 Brasileira, Pernambuco põe o Estado no centro para
implementar as propostas. Além disso, a Agenda 21 do Estado de Pernambuco dialoga
com os temas da Agenda 21 Brasileira, com a Declaração do Milênio e com as
convenções internacionais que, a exemplo da Convenção de Combate à
Desertificação, estão sendo implementadas no Brasil graças às iniciativas dos estados.

A Agenda 21 de Pernambuco constitui, sem dúvida, um marco na elaboração de


políticas públicas no Estado. De início, resultou de uma obrigação assumida durante a
Rio 92, mas o seu resultado expressa, sobretudo, um caminho de mudança, pactuado
entre muitos, para um desenvolvimento sustentável que ultrapasse os umbrais de uma
agenda ecológica, articulando o planejamento aos setores socioambientais e
econômicos. Por fim, o fato de que a Agenda 21 Estadual, apesar de focalizar o futuro,
resgata também o que já foi realizado no Estado em busca de uma sustentabilidade,
deixa a certeza de que a sua implementação é possível, pois conta com o poder
transformador da sociedade.

Alexandrina Sobreira de Moura


Secretaria Executiva do Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS

INTRODUÇÃO

1 METODOLOGIA E PROCESSO DE ELABORAÇÃO DA AGENDA 21 DO ESTADO DE PERNAMBUCO

2 ENTRAVES À SUSTENTABILIDADE
2.1 CIDADES SUSTENTÁVEIS
2.1.1 Perfil da População
2.1.2 Categorias de Cidades
2.1.3 Acessibilidade ao Espaço Urbano
2.1.4 Condições de Habitabilidade
2.2 INFRA-ESTRUTURA URBANA
2.2.1 Saneamento Ambiental
2.2.2 Infra-estrutura de Apoio às Categorias Econômicas
2.3 REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS
2.3.1 Indicadores
2.3.2 A Educação e a Saúde como Condições de Inclusão Social
2.4 ECONOMIA SUSTENTÁVEL
2.4.1 Diversificação da Economia Estadual
2.4.2 Desafios Setoriais da Produção
2.5 GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS
2.5.1 Uso e Conservação da Biodiversidade
2.5.2 Uso e Ocupação do Solo
2.5.3 Recursos Hídricos
2.5.4 Poluição e Degradação Ambiental
2.6 COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E CONVIVÊNCIA COM A SECA

3 BASES DE AÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE


3.1 CIDADES SUSTENTÁVEIS
Estratégia 1: Ordenamento Territorial das Cidades
Estratégia 2: Mudança nos Padrões de Produção e Consumo
Estratégia 3: Gestão Sustentável dos Serviços de Saneamento
3.2 INFRA-ESTRUTURA
Estratégia 4: Planejamento Integrado do Setor de Transporte
Estratégia 5: Sustentabilidade do Setor de Comunicação
Estratégia 6: Sustentabilidade da Energia
3.3 REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS
Estratégia 7: Combate à Pobreza
Estratégia 8: Educação para o Desenvolvimento
Estratégia 9: Saúde para o Desenvolvimento
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Estratégia 10: Fortalecimento de Grupos Vulneráveis


Estratégia 11: Combate à Violência
3.4 GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS
Estratégia 12: Regulação do Uso e Ocupação do Solo
Estratégia 13: Uso e Conservação da Biodiversidade
Estratégia 14: Medidas de Controle da Qualidade Ambiental
Estratégia 15: Gestão Integrada dos Recursos Hídricos
3.5 COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E CONVIVÊNCIA COM A SECA
Estratégia 16: Desenvolvimento de Processos Produtivos Sustentáveis no Semi-árido
Estratégia 17: Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia para o Trópico Semi-árido
Estratégia 18: Sustentabilidade em Áreas de Desertificação e/ou com Restrições Hídricas
Severas
3.6 ECONOMIA SUSTENTÁVEL
Estratégia 19: Sustentabilidade das Atividades Industriais
Estratégia 20: Comércio e Serviços para um Futuro Sustentável
Estratégia 21: Atividades Agropecuárias

4 GOVERNANÇA, CONTROLE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE


4.1 GOVERNANÇA INTERNACIONAL NUM MUNDO EM GLOBALIZAÇÃO
4.2 OS PARCEIROS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AGENDA 21 DO ESTADO DE PERNAMBUCO
4.3 O PAPEL DOS GOVERNOS
4.4 PAPEL DE DIVERSOS PARCEIROS DA AGENDA 21 DO ESTADO DE PERNAMBUCO

5 MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO DA AGENDA 21


5.1 PROSPOSTAS TRANSVERSAIS ÀS DIVERSAS ESTRATÉGIAS DA AGENDA 21 DO ESTADO DE PERNAMBUCO
5.2 OS MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO POR EIXOS TEMÁTICOS

6 RESULTADO DA CONSULTA ESTADUAL

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

8 BIBLIOGRAFIA

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LISTA DE SIGLAS

Adene Agência de Desenvolvimento do Nordeste


Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica
APA Área de Proteção Ambiental
Bandespar BNDES Participações S.A.
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
Bird Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento — Banco Mundial
BNB Banco do Nordeste do Brasil
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CDS Comissão para o Desenvolvimento Sustentável
Ceagepe Companhia de Abastecimento e de Armazéns Gerais de Pernambuco
CEF Caixa Econômica Federal
Cefet Centro Federal de Educação Tecnológica
Celpe Companhia Elétrica de Pernambuco
Centru Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural
Cerbma Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
CFN Companhia Ferroviária do Nordeste
Chesf Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
Cipoma Companhia de Policiamento Ostensivo do Meio Ambiente
Ciretrans Circunscrições Regionais de Trânsito
Cobh Comitê de Bacia Hidrográfica
Codevasf Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
Comdema Conselho Municipal de Meio Ambiente
Condema Conselho de Desenvolvimento Municipal
Compesa Companhia Pernambucana de Saneamento
Conama Conselho Nacional de Meio Ambiente
Condepe Instituto de Planejamento de Pernambuco
Conderm Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife
Consema Conselho Estadual do Meio Ambiente
COP Conferências das Partes da Convenção da Desertificação
Copergás Companhia Pernambucana de Gás
Cpatsa Centro de Pesquisa do Trópico Semi-árido
CPRH Companhia Pernambucana do Meio Ambiente
DAC Departamento de Aviação Civil
Detran Departamento Estadual de Trânsito
Dfid Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Governo Britânico
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EIA Estudo de Impacto Ambiental
EJA Educação de Jovens e Adultos
Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embratur Empresa Brasileira de Turismo
Emhape Empresa de Melhoramentos Habitacionais de Pernambuco
EMTU Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos
Fade Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de
Pernambuco
Fadurpe Fundação Apolônio Sales de Desenvolvimento Educacional
Fampe Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas
FAO Organização de Agricultura e Alimento
FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador
Fema Fundo Estadual de Meio Ambiente
Fepemi Fundo Especial de Apoio às Pequenas e Microempresas
Ferh Fundo Estadual de Recursos Hídricos
Finame Agência Especial de Financiamento Industrial
Finor Fundo de Investimento do Nordeste
Fisepe Empresa de Fomento de Informática do Estado de Pernambuco
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

FNE Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste


FNMA Fundo Nacional de Meio Ambiente
FNRH Fundo Nacional de Recursos Hídricos
Funai Fundação Nacional do Índio
Funasa Fundação Nacional de Saúde
Gatt Grupo de Acordo de Tarifas e Comércio
GEF Fundo para o Meio Ambiente Mundial
GPS Sistema de Posicionamento Global
GTZ Fundação Alemã de Cooperação Internacional
Ibama Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Icam Índice de Compromisso Ambiental de Bancos da América Latina
ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
Imip Instituto Materno-infantil de Pernambuco
IPA Instituto de Pesquisa Agropecuária
Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Iser Instituto superior de Estudos da Educação
ISO Organização Internacional para Normalização
Itep Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco
Jica Agência de Cooperação Técnica Japonesa
Lafepe Laboratório Farmacêutico de Pernambuco
MCT Ministério de Ciência e Tecnologia
MMA Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal
MPO Ministério de Planejamento e Orçamento
Naper Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis
OGM Organismos Geneticamente Modificados
OMC Organização Mundial do Comércio
ONG Organização Não-governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PCH Pequenas Centrais Hidrelétricas
PDF Plano de Desenvolvimento Florestal e da Conservação da Biodiversidade de
Pernambuco
PEA População Economicamente Ativa
Peti Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
PIB Produto Interno Bruto
Pnad Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar
PNB Produto Nacional Bruto
PNCD Plano Nacional de Combate à Desertificação
Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Pnuma Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
Prezeis Plano de Regularização de Zonas de Especial Interesse Social
Procel Programa de Economia de Energia Elétrica
Pronaf Programa Nacional de financiamento da Agricultura Familiar
Prosad Programa de Saúde do Adolescente
Rima Relatório de Impacto ao Meio Ambiente
RMR Região Metropolitana do Recife
RPPN Reservas Privadas do Patrimônio Natural
Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
Sectma Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de Pernambuco
Sedu Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano
Senac Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
Senai Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Senar Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
Seplandes Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social
Sesc Serviço Social do Comércio

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Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Sesi Serviço Social da Indústria


SGA Sistema de Gestão Ambiental
Sirh Sistema de Informação de Recursos Hídricos
Slap Sistema de Licenciamento de Atividades Jurídicas
Snuc Sistema Nacional de Unidades de Conservação
Sudene Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
SUS Sistema Único de Saúde
Teca Terminal de Cargas
TIP Terminal Integrado de Passageiros
UFPE Universidade Federal de Pernambuco
UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco
Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNFPA Fundo de População das Nações Unidas
Unicap Universidade Católica de Pernambuco
Unieco Universidade Livre do Meio Ambiente
UPE Universidade de Pernambuco
WSSD Cúpulas Mundiais sobre Desenvolvimento Sustentável

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INTRODUÇÃO

A Agenda 21 foi um pacto assinado entre diversos países durante a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em
1992. Trata-se de um plano de ação estratégico para promover, em escala planetária,
um novo padrão de desenvolvimento global que garanta a qualidade de vida para
atuais e futuras gerações. O termo Agenda buscou registrar os compromissos das nações
com as mudanças para esse novo modelo de desenvolvimento sustentável, que
estabelece o equilíbrio entre crescimento econômico, igualdade social, preservação
ambiental e conservação e manejo dos recursos naturais.

As discussões realizadas em fóruns internacionais na última década, em especial os


estudos promovidos pelas Nações Unidas, recomendam a incorporação de vários temas
nos estudos de desenvolvimento sustentável, entre eles a visão ecológica, ambiental,
social, política, econômica, demográfica, cultural, institucional e espacial. A noção de
sustentabilidade é estabelecida dentro de um espaço multivariado que inclui as
dimensões ambientais, econômicas e sociais, ou seja, todas as condições que exercem
influência sobre a estabilidade da sociedade num determinado espaço geográfico.

A dimensão ambiental se refere à capacidade do homem de utilizar adequadamente os


recursos naturais dentro de uma visão sistêmica de biodiversidade e da vocação natural
dos ecossistemas. A dimensão econômica abrange elementos e processos associados às
atividades de geração de riqueza, através da transformação das condições de
produção em favor da humanidade e da utilização dos recursos de maneira racional,
para atender à demanda das gerações atuais sem comprometer os anseios das
populações futuras. A dimensão sociocultural envolve a integração do homem em todos
os aspectos da sociedade, de maneira que tenha acesso aos direitos econômicos,
sociais e jurídicos e possa desfrutar de uma vida digna em sociedade. A dimensão
político-institucional é o reconhecimento do aspecto político do homem em sociedade.
Nesse sentido, ela está relacionada a todas as outras dimensões e funciona como a
forma de proteção dos direitos sociais, econômicos, jurídicos e materiais da pessoa
humana, na sociedade, integrada ao meio ambiente.

As várias dimensões estão integradas e se relacionam de diversas maneiras, ou seja,


através, por exemplo, da quantidade e qualidade da força de trabalho, influenciando a
economia; da pressão sobre os recursos ambientais exercida pela sociedade ou pelas
atividades econômicas; e dos impactos sobre o bem-estar e as condições de trabalho
exercidas pelo meio ambiente ou ainda pela interação das políticas públicas.

A Agenda 21 do Estado de Pernambuco tem por base a Agenda 21 Global, a


Convenção de Combate à Desertificação, a Convenção da Biodiversidade, a
Declaração do Milênio, e a Agenda 21 Brasileira. Vale salientar que há, entre a Agenda
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Global e a Declaração do Milênio, uma estreita relação, principalmente nas dimensões


sociais e econômicas e no gerenciamento dos recursos para o desenvolvimento.
O conceito de desenvolvimento sustentável, conforme consagrado pelo Relatório
Brundtland é aquele que satisfaz às necessidades do presente, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas próprias necessidades.
De maneira operacional, o desenvolvimento sustentável pode ser conceituado como “o
processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade,
compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a
conservação ambiental, a qualidade de vida e a eqüidade social” (Buarque 1994). Esse
conceito encerra três grandes conjuntos interligados, embora com características,
funções e papéis distintos no processo de desenvolvimento:

• Os objetivos centrais do desenvolvimento sustentável são a elevação da qualidade


de vida e a eqüidade social, seja no curto, médio ou longo prazos.

• Os pré-requisitos são a eficiência econômica e o crescimento econômico, pois sem


eles não há possibilidade de se elevar a qualidade de vida ou promover a eqüidade.
São, portanto, condições necessárias, mas não suficientes, para a implementação
desse modelo de desenvolvimento.

• O condicionante decisivo para o desenvolvimento sustentável é a conservação


ambiental, que permitirá a manutenção dos níveis de qualidade de vida
conquistados, inclusive para as gerações futuras, e a eqüidade social contínua no
tempo e no espaço.

Trata-se, portanto, de um processo de compatibilização de interesses, ações e sistemas,


com alto grau de complexidade, e que terá as mais diferentes formas concretas, pois
será sempre fruto dos condicionantes históricos específicos da realidade objetiva. Ainda
assim, algumas diretrizes genéricas são úteis. Ignacy Sachs contribui com o chamado
tripé mágico: prudência ecológica, eficiência econômica e justiça social. A prudência
ecológica levará à parcimônia no uso dos recursos naturais, garantindo a permanência
das atividades econômicas e da qualidade de vida. Eficiência econômica significa criar
as condições para que os níveis de quantidade e qualidade da produção se elevem
para os mesmos níveis de utilização dos recursos. Justiça social representa a igualdade
de oportunidades para todos os contemporâneos.

Nos esforços surgidos após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento – Rio 92, observa-se que duas noções-chave de sustentabilidade foram
se formando, fruto da necessidade de se atender à chamada Agenda Social e à
questão da democracia e dos direitos humanos: a sustentabilidade ampliada e a
sustentabilidade progressiva.

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Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• A noção de sustentabilidade ampliada explicita a indissolubilidade entre os fatores


sociais e os ambientais. Decorre daí a necessidade de se enfrentarem conjuntamente
a pobreza e a degradação ambiental.

• A noção de sustentabilidade progressiva, por sua vez, representa o entendimento de


que a sustentabilidade não é um estado, mas um processo. Essa progressividade não
significa que decisões importantes possam ser adiadas, mas busca substituir um
círculo vicioso de produção, destruição e exclusão por um círculo virtuoso de
produção, conservação e inclusão.

Todo o debate internacional sobre desenvolvimento sustentável, nos últimos dez anos,
conduziu à integração entre meio ambiente, coesão social, pobreza e crescimento.
Além disso, foi estabelecido um consenso em torno da necessidade de formulação de
políticas eficazes, bem como de instituições habilitadas, que ofereçam maior
capacidade de resposta.

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1 METODOLOGIA E PROCESSO DE ELABORAÇÃO DA
AGENDA 21 DO ESTADO DE PERNAMBUCO

A Agenda 21 de Pernambuco é um processo de planejamento participativo, com a


mobilização de todos os segmentos da sociedade, que diagnostica e analisa a situação
do Estado e estabelece uma estratégia de ação, baseada em compromissos de
mudanças, democratização e descentralização. A construção da Agenda teve a
coordenação do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Meio Ambiente – Sectma, e da Secretaria Executiva do Fórum Estadual da Agenda 21 de
Pernambuco.

As discussões em torno da Agenda tiveram início em 1999, ano em que foi criado o
Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco, com a finalidade de acompanhar e
avaliar o processo e a implementação de um plano de ação estratégico, visando à
formulação de políticas voltadas para o desenvolvimento sustentável, com a
participação contínua de todos os segmentos da sociedade.

A construção da Agenda 21 de Pernambuco baseou-se na metodologia da Agenda 21


Brasileira, consultando a população e adequando as premissas e os temas considerados
prioritários à realidade do Estado. O processo de elaboração do plano estratégico
observa o estabelecimento de parcerias, enfatizando que a Agenda 21 não é um plano
de governo, nem uma agenda meramente ambiental, mas uma proposta de estratégia
integrada, destinada a subsidiar políticas públicas e estabelecer mecanismos de controle
social que garantam a co-responsabilidade dos parceiros, inclusive na fase de
implementação das ações.

As seguintes premissas fizeram parte da metodologia para a condução do processo de


construção da Agenda 21:

• Envolver os diferentes representantes da sociedade no estabelecimento de parcerias,


de modo a conferir legitimidade ao processo.

• Viabilizar a inclusão de aspirações e prioridades formuladas pela sociedade.

• Possuir um caráter gerencial e mobilizador de meios, no qual todos os atores


envolvidos na implementação do desenvolvimento sustentável deverão centrar
esforços na criação, tanto dos meios para soluções múltiplas adaptadas a cada
realidade como dos mecanismos de natureza mais abrangente, normativos e
financeiros, viabilizando as ações de longo prazo.

• Adotar, com visão prospectiva, uma abordagem integrada e sistêmica das


dimensões econômica, sociocultural, ambiental (ambiente natural), tecnológica e
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

político-institucional do desenvolvimento sustentável, buscando eficiência


econômica, conservação e qualidade ambiental, eqüidade social e democracia.

Para elaborar a Agenda 21 de Pernambuco, foram escolhidos e aprovados, pelo Fórum


Estadual da Agenda 21, seis eixos temáticos prioritários (Quadro 1), fundamentados no
conceito de sustentabilidade social, econômica e ambiental e de acordo com as
potencialidades e vulnerabilidades dos recursos disponíveis no Estado. Os temas escolhidos
foram: 1 – Cidades Sustentáveis; 2 – Gestão dos Recursos Naturais; 3 – Combate à
Desertificação e Convivência com a Seca; 4 – Redução das Desigualdades Sociais; 5 –
Infra-estrutura; 6 – Economia Sustentável.

A escolha dos temas para compor a Agenda 21 Estadual foi definida a partir de
discussões no Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco e de debates realizados em
vários municípios, durante a elaboração da Agenda 21 Brasileira. Em 2001, a Secretaria
Estadual de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente selecionou, por meio de um edital de
concorrência pública, quatro instituições da sociedade civil como parceiras, para
elaborar os documentos de referência sobre cada tema, bem como conduzir a consulta
estadual. Ficaram responsáveis as seguintes instituições: Centro de Educação e Cultura
do Trabalhador Rural – Centru, Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade
Federal de Pernambuco – Fade, Fundação Apolônio Sales de Desenvolvimento
Educacional – Fadurpe, e Universidade Livre do Meio Ambiente – Unieco.

Após a produção dos relatórios sobre os seis eixos temáticos, foi realizado, em outubro de
2001, o seminário: Agenda 21 — Nordeste, Rumo a Joanesburgo (Rio+10), que, entre os
objetivos, buscou reunir a contribuição da Região Nordeste do Brasil para o evento
Rio+10 a ser realizado em Joanesburgo, África do Sul. Naquela ocasião, os temas da
Agenda 21 de Pernambuco foram validados a partir de uma perspectiva regional.

Em fevereiro de 2002, foi realizado seminário com especialistas em áreas


multidisciplinares, para discussão e aprofundamento, com a definição das propostas
técnicas dos respectivos diagnósticos, com ênfase na identificação de medidas
prioritárias. Foi realizada uma revisão dos documentos, em função das sugestões
apresentadas pelos especialistas. O documento resultante consistiu em uma matriz com
as estratégias, diretrizes e ações, denominado Agenda 21 Pernambuco – Debate
Estadual 2002, que serviu de base para as discussões no Estado.

Entre os meses de março e julho de 2002, foram realizados seminários para debate sobre
os seis eixos temáticos, nas onze Regiões de Desenvolvimento do Estado e no distrito de
Fernando de Noronha, e uma rodada com os representantes do Governo Estadual, com
ampla participação de todos os segmentos da sociedade, do poder público e do
empresariado. O objetivo foi discutir e produzir um plano de ação estratégico para
atender às diretrizes da Agenda 21 Global, representando a construção de consensos
para um novo padrão de desenvolvimento no Estado.

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Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Para balizamento das propostas, foi procedida uma análise dos objetivos e das metas da
Declaração do Milênio da ONU. São apresentadas, no Quadro 2, as principais
recorrências entre a Declaração e as propostas da Agenda 21 do Estado de
Pernambuco.

Em julho de 2002, o documento resultante dos encontros regionais, incorporando os


principais resultados da consulta nos seminários regionais, foi apresentado ao Fórum
Estadual, que discutiu e apresentou contribuições para a consolidação do documento
final, aqui apresentado, que é composto de três partes: diagnóstico, bases para ação e
o resultado da consulta.

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Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Eixos temáticos da Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Quadro 1

CIDADES SUSTENTÁVEIS
Esse tema abordou o uso e a ocupação do solo; planejamento e gestão urbana;
habitação e melhoria das condições ambientais; garantia de direito de acesso às
cidades; padrões de consumo; reciclagem e coleta seletiva de lixo; prevenção,
controle e diminuição dos impactos ambientais em áreas urbanas; conservação do
patrimônio histórico; rede urbana e desenvolvimento sustentável dos assentamentos
humanos; transporte urbano; abastecimento de água e serviços de esgoto sanitário.
INFRA-ESTRUTURA
O debate em torno desse tema abordou questões, tais como: transportes e uso de
tecnologias seguras e menos poluentes; maior cobertura social dos serviços
energéticos; fornecimento de energia ambientalmente saudável; racionalização do
uso de energia alternativa e reavaliação dos atuais padrões de consumo; e
comunicação, compreendendo telecomunicações, computação e informação.
REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS
Foram trabalhados, nesse tema, os seguintes itens: pobreza; sistema educacional;
qualificação e emprego; distribuição de renda; saúde; dinâmica demográfica e os
impactos sobre o desenvolvimento; acesso de oportunidades aos grupos
considerados vulneráveis, como mulheres, crianças, adolescentes, índios, afro-
descendentes, etc.
ECONOMIA SUSTENTÁVEL
As discussões abrangeram os princípios da economia sustentável em Pernambuco e
a visão regionalizada do Estado em termos das vocações e potencialidades para o
desenvolvimento. Foi feita uma análise da cadeia produtiva e do papel das novas
tecnologias, principalmente no que se refere ao apoio a empreendimentos
inovadores. Foi abordada a criação de instrumentos econômicos que venham a
induzir políticas e ações.
GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS
Esse tema focalizou os seguintes itens: solo; recursos hídricos e florestais; uso e
proteção dos recursos da fauna e da flora; recursos pesqueiros; preservação e
conservação e uso da biodiversidade; oceanos, zoneamento costeiro, mangues,
conservação e uso sustentável dos recursos do mar; instrumentos de monitoramento
e controle; e políticas voltadas para o manejo adequado do uso dos recursos
naturais.
COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E CONVIVÊNCIA COM A SECA
As discussões envolveram: ciência e tecnologia para o desenvolvimento do semi-
árido, uso e conservação da biodiversidade, recuperação de áreas em processo de
desertificação, indicadores e monitoramento da desertificação, capacitação
técnica e educação ambiental.

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Agenda 21 do Estado de Pernambuco

A Declaração do Milênio e as prioridades da Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Quadro 2

Objetivos e Metas Indicadores

Objetivo 1 Erradicação da extrema pobreza e da fome


meta 1 1. Percentual da população com renda abaixo de US$
Reduzir pela metade a proporção de
1/dia.
pessoas que ganham menos de US$ 2. Índice de Gini (concentração de renda).
3/dia
até 2015. 3. Acesso dos mais pobres aos bens de consumo.
meta 2 Reduzir pela metade a proporção de 4. Incidência de crianças com peso abaixo do ideal
pessoas abaixo do nível de pobreza. (menor que 5 anos).
5. Percentual da população com consumo de calorias
abaixo do mínimo.
meta 3 Erradicar o trabalho infantil até 2005. 6. Percentual de crianças sendo exploradas no trabalho
infantil.
Objetivo 2 Garantia da educação primária
meta 4 Assegurar que todas as crianças 7. Taxa de crianças matriculadas na rede de ensino
estarão aptas a completar o ensino primária.
primário até
2015. 8. Percentual de alunos que começam na primeira série e
chegam à quinta série da educação primária.
9. Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais
de idade.
Objetivo 3 Promoção da igualdade de gênero e fortalecimento do papel da mulher
meta 5 Eliminar a disparidade de gênero na 10. Relação entre os sexos feminino e masculino na
educação primária e secundária até educação primária, secundária e superior.
2005,
e em todos os níveis de educação até 11. Taxa de analfabetismo entre homens e mulheres de 15-
2015. 24 anos.
12. Percentual de mulheres com trabalho assalariado
empregadas fora do setor agrícola.
13. Parte das vagas para o parlamento reservada para
mulheres.
Objetivo 4 Redução da mortalidade infantil
meta 5 Reduzir em 2/3 a taxa de mortalidade 14. Taxa de mortalidade infantil abaixo de 5 anos de
de crianças abaixo de 5 anos até 2015. idade.
15. Taxa de mortalidade infantil.
16. Índice de vacinação contra sarampo em menores de 1
ano de idade.
Objetivo 5 Melhoria da saúde materna
meta 6 Reduzir em 75% a taxa de mortalidade 17. Taxa de mortalidade materna.
materna até 2015. 18. Percentual de nascimentos assistidos por profissionais
habilitados.
Objetivo 6 Combate a doenças infecciosas
meta 7 Estabilizar a disseminação do HIV/Aids 19. Incidência do vírus HIV entre mulheres grávidas com
e reverter a propagação da doença idade entre 15-24 anos.
até 2015.
20. Percentual do uso de contraceptivos
.
21. Número de crianças órfãs por causa do vírus HIV.

18
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Objetivos e Metas Indicadores


meta 8 Estabilizar o crescimento de casos de 22. Incidência e taxa de mortalidade associadas à
esquistossomose, dengue, tuberculose esquistossomose.
até 2015. 23. Percentual da população que vive nas áreas de risco
de contaminação de esquistossomose, usando meios
eficazes de prevenção e medidas para o tratamento.
24. Incidência e taxa de mortalidade associadas à
tuberculose e dengue.
25. Percentual de casos de tuberculose detectados e
curados.
Objetivo 7 Garantia da sustentabilidade ambiental
meta 9 Integrar os princípios do 26. Percentual da área coberta por floresta.
desenvolvimento sustentável às
políticas e programas executados e 27. Áreas protegidas para manter a biodiversidade.
reverter a degradação dos recursos 28. Percentual da população com acesso à água potável.
naturais.
meta 10 Reduzir em 50% a proporção de
pessoas sem acesso à água potável
até 2015.
meta 11 Alcançar melhorias significativas nas 29. Percentual da população com acesso a esgoto
condições de habitabilidade de 2/3 sanitário.
das
favelas até 2015. 30. Percentual da população com título de posse da
propriedade.
meta 12 Ampliar em 2/3 a geração de energia 31. Percentual de energia gerada com fontes renováveis.
com fontes renováveis.
meta 13 Erradicar os lixões do Estado até 2006. 32. Percentual de municípios sem destinação final de
resíduos sólidos.
Objetivo 8 Desenvolver parcerias para o desenvolvimento
meta 14 Estabelecer compromissos para uma boa governança, desenvolvimento e redução da pobreza.
• Governos Federal, Estadual e Municipal.
• ONGs.
• Setor produtivo.
• Agentes de desenvolvimento tecnológico e financeiro.

meta 15 Fomentar o desenvolvimento industrial com base na produção mais limpa.


• Empresas.
• Universidades.
• Agências financiadoras de pesquisas.
• Estado.
Meta 16 Apoiar a elaboração de Agendas 21 locais.
•Governo Federal – MMA; Governo Estadual – Fema.
•Bancos.
•ONGs.
•Sebrae – Sesc.
meta 17 Desenvolver e implementar estratégias para criação de trabalho produtivo para a juventude.
• Estado.
• Município.
• ONGs.
• Setor Produtivo.
Meta 18 Promover a implantação de sistemas de gestão ambiental nas indústrias e prestadoras de serviços.
• Indústria.
• Prestadoras de serviços.
• Estado.
• Agentes de desenvolvimento.

19
2 ENTRAVES À SUSTENTABILIDADE

Os documentos sobre cada um dos seis eixos temáticos elaborados pelas instituições
vencedoras da concorrência pública apresentaram diagnóstico preliminar, abordando o
referencial conceitual, os aspectos de maior impacto, os impasses e conflitos, as soluções
que vêm sendo adotadas, as propostas e as recomendações preliminares, para
discussão aberta com a sociedade.

Os documentos produzidos na primeira etapa do processo de elaboração da Agenda 21


do Estado de Pernambuco, quanto às principais questões delineadas como entraves à
sustentabilidade, são aqui apresentados de forma resumida.

2.1 CIDADES SUSTENTÁVEIS

Inventariar e discutir os problemas e potencialidades dos suportes e instrumentos das


cidades do Estado, em suas diversas dimensões e escalas, foram os objetivos principais
perseguidos na construção da Agenda 21 do Estado de Pernambuco.

Foram identificados os problemas recorrentes, apontados como entraves à


sustentabilidade de todas as cidades ou da maioria delas. Admitindo-se, no entanto, a
existência de gradientes desses problemas a serem tratados através de estratégias e
diretrizes específicas. Ao lado desses problemas, considerados comuns, foram
identificados problemas específicos a distintas cidades.

Considerando as potencialidades e peculiaridades das cidades e/ou conjunto de


cidades, também foram contempladas as preocupações vinculadas à viabilização de
empreendimentos e fortalecimento de ações indutoras de ampliação das condições de
sustentabilidade. A Agenda contemplou as cidades integrantes da Região Metropolitana
do Recife, as cidades médias e as pequenas. Envolveu ainda, na consulta, aquelas que,
dentro de suas dimensões, seus problemas e suas potencialidades, retêm características
específicas.

Os dados estatísticos demonstram que, no presente momento, está se vivendo o salto da


urbanização global, que ultrapassa o percentual de 50% e que deverá atingir os 60% já
no ano 2025. No Brasil, esse percentual deve atingir os 85% nos próximos vinte anos. Tal
expectativa deverá ser acompanhada por Pernambuco, cuja taxa de urbanização
encontra-se no patamar dos 77%, a despeito de algumas cidades apresentarem taxas de
área urbanizada acima desse número, como, por exemplo, Caruaru (85,69%), Garanhuns
(87,83%) e Arcoverde (89,75%).

As estatísticas e os dados da infra-estrutura e da capacidade de suporte ambiental dos


espaços não vêm acompanhando a demanda que esse processo de urbanização exige.
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Pernambuco, que conta com 7.918.344 habitantes, abrigando, portanto, 5% da


população total do País, nos 98.938 km² que constituem seu território, apresenta uma
população urbana de 6.058.249 habitantes e uma concentração de assentamentos
humanos correspondente a uma densidade média de 80 pessoas por km 2, o que significa
quatro vezes a média nacional.

Na década de 70, o Estado de Pernambuco reproduziu o modelo nacional, que


privilegiava as metrópoles, as grandes cidades e as capitais, com a institucionalização da
Região Metropolitana do Recife como foco de polarização do desenvolvimento.

Na década de 80, ainda de acordo com o modelo brasileiro, constatam-se a


periferização metropolitana, com a ampliação dos problemas urbano-ambientais na
base expandida da Região Metropolitana do Recife, e as políticas incipientes para as
cidades de médio porte, como Caruaru, Garanhuns e Petrolina. Resultante desse
processo, há um agravamento dos quadros deficitários entre a oferta da infra-estrutura e
a demanda desses espaços. A esse período remontam os fatores desencadeadores dos
atuais déficits no atendimento ao saneamento básico.

A partir dos anos 90, verifica-se uma queda da qualidade de vida nos espaços
metropolitanos do Recife, o que impulsiona o crescimento desordenado das cidades de
médio e pequeno portes. Emerge, nessa nova tendência, a importância das cidades
médias e pequenas serem contempladas na política de sustentabilidade dos
assentamentos humanos, guardadas as suas especificidades, potencialidades e
vulnerabilidades.

O diagnóstico realizado aponta alguns aspectos relevantes para a discussão da


sustentabilidade urbana, que foram identificados após a análise das diferentes áreas
urbanas em suas diferentes dimensões: perfil da população, categorias de cidades,
acessibilidade ao espaço urbano, condições de habitabilidade.

O Estado de Pernambuco, com uma superfície de 98.938 km², constitui um pólo de atração
das regiões Norte e Nordeste. Da sua população de 7.911.937 habitantes, 76,5% ocupam
áreas urbanas, no conjunto de seus 184 municípios e o distrito estadual de Fernando de
Noronha (Seplandes, 2002).

O processo de expansão urbana registrado nas últimas três décadas, resultado de um


constante fluxo de migração rural, agravado com os freqüentes períodos de estiagem e
seca, resultou em um uso desordenado do solo pelas populações de baixa renda
migrantes, que passaram a viver em zonas de precária habitabilidade nas cidades
pernambucanas, com pressão maior nas cidades que fazem parte da Região
Metropolitana do Recife e das cidades-pólo do Agreste e Sertão, como, por exemplo,
Petrolina e Caruaru.

21
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Historicamente, as políticas urbanas têm se concentrado nas tradicionais grandes


cidades, metrópoles e áreas metropolitanas, desenhando um desenvolvimento urbano
brasileiro pautado em um modelo metropolitano. É patente a ausência de um conceito
de desenvolvimento descentralizado que contemple as cidades médias, especialmente
aquelas situadas nessas regiões do Agreste e do Sertão.

A região do Agreste corresponde a uma forma mais moderada de inserção


socioespacial, encontrando-se situada entre a região litorânea, também denominada
da Mata, e o Sertão. Este último configura, reconhecidamente, um exemplo clássico de
região periférica.

Dos 184 municípios pernambucanos, 52 se encontram nas duas mesorregiões do Sertão


pernambucano: São Francisco (25,1% da área total do Estado, 13 municípios distribuídos
em duas microrregiões) e Sertão (38,9% da área do Estado, 39 municípios distribuídos em
quatro microrregiões).

A urbanização ocorreu em todas as mesorregiões, sendo mais elevada na mesorregião


metropolitana, indicando um processo de conurbação urbana entre os municípios
vizinhos à cidade do Recife. No entanto, constatam-se novas dinâmicas de
reestruturação de redes na hinterlândia pernambucana, caracterizando novos “fronts“
de urbanização.

Observa-se, no quadro de investimentos e de produção estadual, a necessidade de se


rever o direcionamento das cidades de porte médio — através da exploração de suas
potencialidades físicas e produtivas, para expansão de atividades econômicas, sobretudo
as associadas às dinâmicas industriais e de serviços, como lazer, cultura e educação —,
assim como o conjunto de fluxos de bens e serviços que proporciona: número de leitos,
serviços médicos especializados, entre outros aspectos atinentes à intensidade de fluxos e
tipos de transportes, com as variáveis de deslocamento. Nesse contexto, assumem
destaque as cidades das regiões lindeiras ou cortadas pelos eixos rodoviários federais e
estaduais do Estado, como, por exemplo, as cidades da Zona da Mata e do Agreste ao
longo da BR-232, em processo de duplicação, e ao longo da BR-101.

Cabe também ressaltar a importância das áreas que contêm ecossistemas nativos
dentro do perímetro urbano como indutoras do conhecimento do cidadão acerca da
paisagem natural onde a cidade primeiro se assentou. Os ecossistemas florestais do
Estado de Pernambuco encontram-se em estado avançado de degradação e
necessitam de atenção, principalmente aquele inserido quase completamente no
espaço de urbanização mais intensiva no Estado, como é o caso da Mata Atlântica.
Dessa forma, a existência de reduzidas áreas verdes e a deficiente arborização urbana
se apresentam como passivos ambientais urbanos que necessitam ser trabalhados.

O processo de configuração das redes urbanas pernambucanas apresenta superposição


de sistemas de desenvolvimento espacial — polarizações. Tais sistemas constituem-se em
focos de investimentos programados, vinculados ao capital externo, extremamente

22
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

seletivo, privilegiando espaços dinâmicos, potencial ou efetivamente desenvolvidos,


como é o caso de Petrolina, com o desenvolvimento da agricultura irrigada. O desafio
que se tem hoje é a descentralização das atividades produtivas, de modo que todas as
cidades possam usufruir de condições mínimas de qualidade de vida.

2.1.1 Perfil da População

De acordo com os dados do IBGE (2002), o Estado de Pernambuco, que contava, em


1991, com uma população de 7.127.855 habitantes avançou, em 2000, para, apenas,
7.918.344 habitantes. Os dados apontam para uma taxa média geométrica de
crescimento anual de 1,19%. Trata-se de uma baixa taxa, mas que acompanha o
Nordeste (1,31%). A Região Nordeste apresentou a menor taxa média de crescimento
geométrico da década, entre as demais regiões brasileiras, e, particularmente, abaixo da
taxa nacional, situada em 1,64%. Esse dado é conseqüência do decréscimo do ritmo do
crescimento vegetativo da população, combinado, em pequena escala, a um possível
residual fluxo migratório para outras regiões.

A análise da distribuição da população em Pernambuco mostra que três mesorregiões —


Mata, Agreste e Sertão — vêm perdendo participação relativa na população do Estado,
enquanto duas mesorregiões — São Francisco e a Região Metropolitana — vêm
aumentando sua participação na população total. Os maiores ganhos de população
deram-se quando a infra-estrutura social foi canalizada para a Região Metropolitana, em
razão dos fluxos migratórios na direção da cidade do Recife. Essa mesorregião aumentou
a sua participação de 35,4%, em 1970, para 42,1%, em 2000. As perdas de população
relativa do Agreste são as mais significativas, tendo a sua participação na população do
Estado caído de 29,8%, em 1970, para 25,2%, em 2000.

Em termos de distribuição da população por sexo, verifica-se maior percentual de


mulheres do que de homens em todas as mesorregiões do Estado, conforme indica a
Tabela 2.1.

Tabela 2.1 População residente nas mesorregiões do Estado de Pernambuco, segundo o domicílio e o sexo.

Mesorregiões Total (hab.) Homens Mulheres


Total 7.918.344 3.826.657 4.091.687
Zona do Agreste 1.993.868 970.306 1.023.562
Zona da Mata 1.207.274 597.005 610.269
Região Metropolitana do
3.339.616 1.583.049 1.756.567
Recife
Região do São Francisco 465.672 229.413 236.259
Zona do Sertão 911.914 446.884 465.030
Fonte: Censo Demográfico, IBGE, 2000.

23
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

A população de Pernambuco encontra-se desigualmente assentada nos seus 184


municípios e no distrito de Fernando de Noronha, a exemplo do que ocorre no País, com
maior fixação em áreas urbanas, em detrimento dos espaços rurais. Dessa forma, têm-se,
respectivamente, dos 7.918.344 habitantes que formam a população total do Estado,
6.058.249 residentes em áreas urbanas, frente a um contingente de apenas 1.860.095
habitantes em áreas rurais.

Essa distribuição desigual reflete-se nos modos de vida, nos padrões de consumo e na
produção da sociedade pernambucana, que vivencia impulsos da transição de uma
economia em bases agrárias para uma almejada economia em bases da prestação de
serviços e da geração de tecnologias de ponta, como se um processo não fosse
complementar ao outro e sim substitutivo e totalizante. Por outro lado, essa
predominância urbana revela a problemática do desemprego nos estabelecimentos
agrícolas e os históricos fluxos migratórios em estágios de crise, que tanto marcaram o
processo de urbanização em torno das grandes cidades e metrópoles do País.

O fluxo migratório, a busca por melhores condições de vida e a própria gênese da


ocupação colonial do País respondem pelos 45% do total da população do Estado que
habita as áreas costeiras (IBGE, 2000). Há uma forte pressão desses 45%, que correspondem
a 3.541.566 habitantes, devido aos habitantes de segunda residência e turistas nas áreas-
destino de lazer e diversão.

Ao lado disso, os aspectos culturais e os legados de tradição de grupos sociais encontram-se


submetidos a ameaças de extinção pela massificação turística sem o necessário
planejamento e gestão. Esse é um quadro que revela vários níveis de suscetibilidades a exigir
políticas públicas eficazes.

2.1.2 Categorias de Cidades

O fluxo de pessoas e de mercadorias, com suas diferentes práticas e processos nas


cidades, define a qualidade ofertada e potencial desses espaços. A intensidade,
concentração e difusão desses fluxos se dão em diferentes escalas e dimensões. É na
perspectiva da qualidade e da hospitalidade desses espaços que a sustentabilidade das
cidades é focalizada nesta Agenda.

A garantia dessa sustentabilidade remete aos suportes físico-naturais e construídos, sobre


os quais os processos se assentam, bem como aos instrumentos administrativos e legais,
aliados às formas de participação dos grupos sociais nos processos decisórios.

A urbanização ocorreu em todas as mesorregiões, processo que se verificou mais


fortemente em Pernambuco do que nos demais estados do Nordeste. As taxas de

24
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

urbanização são maiores na mesorregião metropolitana, indicando um processo de


conurbação urbana entre os municípios vizinhos à cidade do Recife.

O Estado de Pernambuco constitui um pólo de atração das regiões Norte e Nordeste. Os


municípios que o formam, juntamente com o distrito de Fernando de Noronha, comportam
diferentes categorias de cidades, envolvendo desde aquelas que integram a Região
Metropolitana do Recife, formada por catorze cidades, compreendendo, em termos
municipais, um conjunto urbano de mais de três milhões de habitantes; até as cidades de
médio porte, com características de pólo regional, e as cidades pequenas. Além disso,
ressaltam-se as cidades em faixa costeira e as cidades-patrimônio. Todas essas categorias
de cidades apresentam problemas específicos e, portanto, em seus esforços de busca
pela sustentabilidade, demandam abordagens e prioridades distintas que considerem o
território, as bacias hidrográficas e os sistemas urbanos que as articulam.

Região Metropolitana do Recife

Nas cidades da Região Metropolitana do Recife, a sustentabilidade do desenvolvimento


passa pelas carências da ocupação do uso do solo, que demandam urbanização das
ocupações ilegais, em particular as áreas de morros e margens de rios e canais, que
trazem riscos à população. Associado a esses fatos, coloca-se o alto déficit dos serviços de
infra-estrutura urbana, representada por saneamento ambiental, transportes e segurança.
A cidade do Recife, como capital do Estado, é um pólo das atividades econômicas e já se
encontra em fase de saturação da ocupação dos espaços urbanos em algumas áreas
mais consolidadas, como é o caso de Boa Viagem.

Cidades de médio e pequeno portes

As cidades de porte médio constituem um elemento importante na construção da


sustentabilidade da nossa rede urbana, uma vez que têm diversificado suas economias e
consolidado seu papel de prestadoras de serviços, ao mesmo tempo que ainda não
apresentam, até por uma questão de escala, o mesmo nível dos problemas
apresentados pelas metrópoles. Há, portanto, a necessidade de se construir instrumentos
e mecanismos de regulação de seus territórios e processos econômicos e sociais. Elas
representam centros industriais, comerciais e/ou turísticos, como as que apresentam
patrimônio ambiental ou histórico relevantes. Nessa classificação, atenção especial deve
ser dada às cidades que estão em fase de plena expansão urbana, de modo a
assegurar sua sustentabilidade futura, como é o caso de Caruaru e Petrolina.

As cidades de médio porte têm diversificado suas atividades e seus serviços. De um lado,
a sua importância para as pequenas cidades e zonas rurais tornam-se opção no
mercado de trabalho. Por outro lado, esses espaços atuam como desembocaduras de
migrantes que participam de processos de contra-urbanização e contrametropolização,

25
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

característicos da década de 90, atraídos por aspectos vinculados à suposição de


melhor qualidade de vida e meio ambiente.

Dessa forma, há, claramente, diferentes pressões de grupos sociais distintos sobre os
espaços das cidades médias, os quais reelaboram suas expectativas de vida urbana a
partir de um quadro real intermediário entre metrópole — sem os problemas
considerados tipicamente metropolitanos — e cidades pequenas, com uma infra-
estrutura capaz de suportar novos surtos. Empregos industriais, comerciais, aumento de
serviços ligados à educação e aos setores turísticos, valorização de espaços públicos
voltados ao contingente de novos freqüentadores, sejam turistas ou habitantes antigos. O
desenvolvimento de planos diretores aponta para a consagração de tais espaços como
estratégicos, muito embora sua implementação seja difícil.

As cidades pequenas têm sofrido perda de população devido à migração, por


apresentarem baixos níveis comparativos de desenvolvimento. Na sua maioria,
apresentam carência de serviços de infra-estrutura, atividades econômicas de caráter
sazonal e poucas oportunidades de emprego, permanecendo assim num círculo vicioso
de atraso, que deve ser necessariamente quebrado. Muitas dessas cidades apresentam
baixos Índices de Desenvolvimento Humano – IDH, como é o caso de Solidão. A busca
de soluções para essas cidades é fundamental, como, por exemplo, a alocação de
assentamentos de famílias-sem-terra, criação de minicréditos e estímulo às cooperativas
de construção habitacional.

As cidades em faixa costeira

A ausência de políticas de desenvolvimento urbano e de normas adequadas de uso e


ocupação do solo das cidades litorâneas tem gerado um crescimento descontrolado
dessas áreas, como são os casos de Porto de Galinhas e Tamandaré, no litoral sul, e de
Itamaracá, no litoral norte pernambucano. O alto fluxo turístico no período de férias e de
verão vem provocando uma sobrecarga na capacidade de suporte dos ecossistemas e
da infra-estrutura dessas cidades, em particular os manguezais e a faixa de praia. Essas
cidades representam um alto potencial de desenvolvimento das atividades turísticas em
toda a faixa litorânea. No sentido de assegurar a sustentabilidade dessas cidades,
necessário se faz aumentar o controle do uso do solo, assegurando a proteção da faixa
de praia e dos manguezais existentes nessas áreas.

A concentração da população em espaços costeiros remete às origens coloniais, cuja


relação cidade–porto formou o Recife, e responde pela estrutura organizacional que a
Região da Mata, com a cultura da cana-de-açúcar, consolidou e que a Região
Metropolitana concretiza, institucional e economicamente.

26
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Cidades-patrimônio

A proteção do patrimônio histórico existente em algumas cidades deve ser feita através
de uma política de conservação integrada, priorizando os valores estéticos, históricos,
culturais, sociais e econômicos. O desafio que se impõe é o de uma gestão partilhada,
que deve acarretar uma intervenção de reabilitação desse patrimônio. Há, nesse caso, o
pressuposto de que o ambiente — monumento e entorno — encontra-se em abandono
e/ou estágio de degradação. Nesse contexto, encontram-se inseridas as cidades de
Triunfo, Olinda, Igarassu, Jaboatão e Recife.

2.1.3 Acessibilidade ao Espaço Urbano

A definição mais adequada para acessibilidade é a possibilidade de acesso a um lugar.


A abordagem dessa temática esteve presente nas discussões sobre o espaço urbano das
cidades pernambucanas. Nesse sentido, o que se almeja alcançar são diretrizes que
orientem a elaboração de políticas públicas que contribuam para o processo de
adequação do ambiente coletivo às exigências da população e, sobretudo, de um
grupo de pessoas que apresenta necessidades especiais em acessibilidade (obesos,
cardíacos, mulheres grávidas, pessoas com carrinho de bebê e, particularmente, pessoas
portadoras de deficiência física).

Ao município brasileiro compete legislar sobre assuntos de interesse local. Entre esses,
encontra-se o ordenamento do espaço urbano. As cidades são, por sua natureza, locais
de troca e convívio humano. São espaços onde habitam, trabalham e circulam pessoas
com as mais diversas necessidades. São, por isso, espaços que devem ser acessíveis a
todos. Contudo, essa premissa nem esteve presente no cenário de gestão municipal,
uma vez que os espaços públicos da cidade vêm sendo concebidos para serem
majoritariamente usados por um padrão idealizado de pessoas, que exclui as portadoras
de deficiência.

As pessoas portadoras de deficiência representam um segmento com especificidades que


fogem ao padrão de normalidade estabelecido pela sociedade. Suas diferenças não se
localizam apenas em suas dificuldades para exercer determinadas tarefas da vida
cotidiana, mas também no acesso a trabalho, educação, saúde, lazer e espaços urbanos.

Nas cidades pernambucanas de diferentes portes, nota-se o quase total despreparo


desses locais em relação à oferta de condições de acesso para as pessoas com
dificuldade de locomoção. O espaço mal concebido acaba concretizando uma segregação
não-desejada, porém ainda muito presente na sociedade: o que foge do padrão deve ser
afastado ou, no mínimo, não merecer a devida atenção, pois é a exceção.

27
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

2.1.4 Condições de Habitabilidade

Habitabilidade pressupõe não apenas o lócus, o abrigo, mas todo o ambiente de suporte
às condições de uma boa qualidade de vida. Isso implica aliar o atual déficit de cerca
de 200 mil unidades habitacionais no Estado — reconhecido pela atual Empresa de
Melhoramentos Habitacionais de Pernambuco – Emhape —, dos quais 18 mil na área
metropolitana, a preocupações que se convertam em políticas públicas que assegurem
a acessibilidade plena à infra-estrutura e aos equipamentos dos atuais e futuros
domicílios.

Essas necessidades envolvem melhoria e ampliação nos serviços de abastecimento d’água,


sistema de esgoto sanitário, transportes de qualidade, coleta e destinação de lixo,
segurança, salubridade, acessibilidade aos equipamentos de apoio à moradia, entre outros.
Dessa forma, passa-se a analisar as cidades no seu conjunto, no que tange ao
planejamento de suas oportunidades e não apenas à habitação de per si, complementada
por uma política regulatória clara.

A habitação é uma necessidade básica do ser humano. A qualidade de vida da


população está diretamente relacionada a uma moradia adequada e pode ser expressa
pela densidade de ocupação, resultante da relação entre o número de moradores pelo
número de dormitórios. Esse indicador expressa, em percentual, a população que está
submetida a uma densidade superior a três pessoas por dormitório. O percentual de
domicílios particulares permanentes é superior à média nacional, que é de 14,7%, e inferior
à média do Nordeste, que é de 17,5%, conforme Tabela 2.2.

Tabela 2.2 População total em domicílios particulares permanentes, com densidade inadequada de
moradores por dormitório, total e percentual, no Brasil, na Região Nordeste e em seus
estados – 2000.
População
Em domicílios particulares permanentes,
Brasil, Região Nordeste e
com densidade inadequada de moradores
seus estados Total
por dormitório.
Total Percentual (%)
Brasil 168.292.527 24.772.950 14,7
Nordeste 47.433.568 8.316.353 17,5
Maranhão 5.627.489 1.430.125 25,4
Piauí 2.829.983 488.172 17,2
Ceará 7.399.031 1.168.879 15,8
Rio Grande do Norte 2.756.932 358.213 13,0
Paraíba 3.430.428 463.358 13,5
Pernambuco 7.852.576 1.309.204 16,7
Alagoas 2.802.500 557.566 19,9
Sergipe 1.775.943 314.672 17,7
Bahia 12.958.685 2.226.165 17,2
Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, IBGE, 2002.

28
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

A insuficiência de investimentos para recuperação, ampliação e implantação de sistemas


de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, bem como para capacitação
técnica e melhoria de sua operação, aliada à ineficácia dos órgãos municipais e
estaduais de vigilância sanitária e de controle da poluição, é responsável pelo processo de
sucateamento dos sistemas e pela ineficiência operacional que se observa ao longo das
últimas décadas. Uma análise mais detalhada das condições da infra-estrutura de
saneamento é apresentada, a seguir, no tópico de infra-estrutura.

2.2 INFRA-ESTRUTURA URBANA

O Estado de Pernambuco apresenta grandes desafios no âmbito da infra-estrutura, tanto


nas necessárias, ao desenvolvimento rural e propiciadoras do crescimento econômico
quanto nas áreas urbanas. Vale destacar que quando das discussões para identificação
dos entraves à sustentabilidade do desenvolvimento de Pernambuco ficaram bem
caracterizadas as distorções aqui apresentadas sob a denominação de saneamento
ambiental e ações de infra-estrutura ligadas ao apoio das atividades econômicas de
caráter rural ou urbano e às relacionadas às condições de habitabilidade dos
assentamentos humanos, sejam eles rurais ou urbanos.

2.2.1 Saneamento Ambiental

Entende-se por saneamento as ações relacionadas estritamente com o abastecimento


de água e com o esgoto sanitário. Indo mais além, saneamento básico é aquele que
compreende ações relacionadas com o abastecimento de água, com o esgotamento
sanitário, com a coleta e disposição final de resíduos sólidos e drenagem urbana; e o
saneamento ambiental é aquele que compreende ações e serviços necessários ao
provimento de condições de salubridade ao meio físico e à saúde e ao bem-estar da
população, com: abastecimento de água, qualidade da água para o consumo
humano, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, educação
sanitária ambiental, melhorias sanitárias domiciliares, controle de vetores e reservatórios
de doenças transmissíveis, bem como o uso e ocupação do solo.

Abastecimento de água

Os serviços de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, na quase


totalidade dos municípios do Estado de Pernambuco, são prestados pela Companhia
Pernambucana de Saneamento – Compesa, que possui a concessão. Em 1999, essa
companhia era responsável pelo abastecimento de água em 174 municípios,
atendendo 168 sedes municipais e 74 outras localidades. Em apenas quatro municípios

29
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

(Água Preta, Catende, Palmares e Ribeirão), o abastecimento de água de suas sedes e


de seis localidades estavam sob a responsabilidade de autarquias municipais (serviços
autônomos de água e esgotos). Nos municípios atendidos pela Compesa, o índice de
atendimento da população pelos sistemas de abastecimento de água atingia 74,5%,
enquanto nos municípios atendidos por serviços autônomos de água e esgotos, esse
índice era de 73,3% (Sedu/PR, Ipea, 2000).

Analisando o percentual de moradores em domicílios particulares permanentes, em


relação à população total, apresentado na Tabela 2.3, pode-se observar que, em
Pernambuco, os valores de atendimento com rede geral na zona urbana são de 85,6%,
enquanto na zona rural são bem mais deficitários, atingindo o valor de apenas 14,5%. Estes
valores são inferiores à média brasileira.

Tabela 2.3 Percentual de moradores em domicílios particulares permanentes com abastecimento de água,
em relação à população total, por tipo de abastecimento de água e situação do domicílio, no
Brasil, na Região Nordeste e em seus estados.

Percentual de moradores em domicílios


Brasil, Região particulares permanentes com abastecimento de
População total água, em relação à população total (%)
Nordeste e seus
estados
Tipo de abastecimento
Rede geral Outro tipo
Zona Urbana
Brasil 137.015.685 89,1 10,9
Nordeste 32.774.954 85,3 14,7
Pernambuco 6.023.175 85,6 14,4
Zona Rural
Brasil 31.355.208 17,8 82,2
Nordeste 14.631.768 18,3 81,7
Maranhão 2.268.604 17,7 82,3
Piauí 1.050.747 11,5 88,5
Ceará 2.104.575 8,0 92,0
Rio Grande do Norte 733.194 36,2 63,8
Paraíba 992.301 10,3 89,7
Pernambuco 1.839.104 14,5 85,5
Alagoas 892.106 21,4 78,6
Sergipe 504.831 30,8 69,2
Bahia 4.246.306 23,6 76,4
Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, IBGE, 2002.

Esses números revelam que os índices de atendimento dos serviços de abastecimento de


água no Estado de Pernambuco estão ainda distantes da universalização. Além disso, a
distribuição do atendimento é socialmente desigual, com déficits de atendimento mais
elevados nas áreas de menor renda. E ainda: por falta de investimentos adequados para

30
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

recuperação e ampliação, os sistemas de abastecimento de água vêm sofrendo, ao longo


das últimas décadas, um processo de sucateamento que tem provocado descontinuidade
no abastecimento, com longos períodos de racionamento, e fornecimento de água cuja
qualidade não atende aos padrões de potabilidade.

A população não atendida por sistemas de abastecimento de água (cerca de 2 milhões de


pessoas) vem utilizando fontes alternativas de suprimento. Sem o adequado controle de
qualidade da água, efeitos negativos são gerados sobre a saúde da população, entre eles,
a ocorrência de doenças de veiculação hídrica, principalmente entre a população mais
pobre. Certamente esse é um fator que contribui para a elevada taxa de mortalidade
infantil no Estado de Pernambuco (61,8%), superior às médias do Nordeste (59%) e do Brasil
(36,7%) (Condepe, 2001).

Com relação aos impactos ambientais decorrentes da falta de investimentos em


abastecimento de água, deve-se citar que, em conseqüência do recente e rigoroso
programa de racionamento imposto pela Compesa, devido ao prolongado período de
estiagem que ocorreu na região, foram perfurados, ao longo dos últimos anos, sem o devido
controle, centenas de poços profundos na Região Metropolitana do Recife, o que poderá
provocar a contaminação do aqüífero e o adensamento do solo na região. Deve-se
mencionar, ainda, como resultado da falta de investimentos para a melhoria das estações
de tratamento de água, a poluição de cursos de água, provocada pelos despejos dos
resíduos (lodo) dessas estações.

Desde meados da década 80, quando foi extinto o Plano Nacional de Saneamento,
implantado na década de 70, o Governo Federal vem estudando nova política para o
setor de saneamento. Em estados importantes da Federação (São Paulo, Paraná, Rio
Grande do Sul, Bahia, Santa Catarina, Ceará e Pernambuco), companhias estaduais de
saneamento, com o objetivo de obter recursos financeiros para novos investimentos,
estudam a possibilidade ou já vêm, nos últimos anos, realizando a venda parcial de suas
ações pertencentes aos governos estaduais, abrindo seu capital a empresas privadas.

Fundos e grupos internacionais têm interesse em participar desse atraente mercado no


Brasil e na América Latina. No nível municipal, observa-se, no Estado de Pernambuco, a
tendência de criação de autarquias ou empresas municipais de saneamento,
notadamente naqueles municípios economicamente mais fortes. Em Petrolina e Vitória
de Santo Antão, essas entidades já foram criadas. Na Região Metropolitana do Recife, os
governos municipais do Cabo de Santo Agostinho e do Recife estão desenvolvendo
estudos nesse sentido.

Esses movimentos, nos três níveis de governo, dependem da definição de importantes


questões jurídicas, tais como a regulamentação do setor (criação de agência

31
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

reguladora) e a definição do poder concedente. Os projetos de lei que fornecem as


bases para a nova legislação do saneamento no Brasil estão atualmente em análise no
Congresso Nacional.

Esgotamento sanitário

No Estado de Pernambuco, os serviços de esgotos se caracterizam por três aspectos


principais: (1) baixíssimo índice de atendimento da população; (2) ineficiência
operacional dos sistemas existentes; e (3) gestão inadequada dos serviços.

Conforme pode ser visto na Tabela 2.4, apenas 41,9% da população residente em áreas
urbanas são dotadas de algum sistema de esgoto sanitário em nível satisfatório, dotado
de rede coletora e tratamento público coletivo. O índice nacional atinge 53,8%. Na zona
rural, o nível de atendimento é bem mais deficiente, uma vez que em Pernambuco 55,4%
não possuem qualquer tipo de tratamento, enquanto no Brasil esse índice é de 37,6%.
Comparados com os dados do Nordeste (61,4%), os valores de Pernambuco estão
melhores.

O sistema público, em geral, encontra-se sob a administração da Companhia


Pernambucana de Saneamento – Compesa, havendo ainda a participação muito
pequena de outros órgãos, como a Fundação Nacional de Saúde – Funasa, do Ministério
da Saúde; ou da administração municipal, direta ou indireta. Redes coletoras com
estações de tratamento de esgoto existem somente em poucas cidades do Estado, em
geral as maiores, como Recife, Petrolina e Caruaru. Mesmo assim, o atendimento nessas
cidades se encontra longe da universalização.

32
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 2.4 Percentual de moradores em domicílios particulares permanentes em relação à população total,
por tipo de esgotamento sanitário e situação do domicílio, no Brasil, na Região Nordeste e em
seus estados – 2000.
Percentual de moradores em domicílios
Brasil, Região particulares permanentes, em relação à
População população total (%)
Nordeste e seus
Total Com esgoto sanitário, por tipo
estados
Não
Rede Fossa Outro tinham
coletora Séptica tipo
Zona Urbana
Brasil 137.015.685 53,8 16,2 26,9 3,1
Nordeste 32.774.954 33,4 16,3 41,2 9,1
Maranhão 3.345.987 13,1 22,1 43,5 21,3
Piauí 1.780.844 6,0 51,6 23,2 19,2
Ceará 5.290.171 28,5 15,4 46,0 10,1
Rio Grande do 2.027.219 20,8 29,1 46,4 3,8
Norte
Paraíba 2.434.188 38,6 12,3 43,6 5,5
Pernambuco 6.023.175 41,9 11,0 42,3 4,9
Alagoas 1.899.858 20,0 13,6 58,7 7,7
Sergipe 1.265.361 37,0 19,3 39,3 4,4
Bahia 8.708.151 47,7 9,6 34,9 7,7
Zona Rural
Brasil 31 355 208 3,1 8,7 50,6 37,6
Nordeste 14.631.768 1,1 4,1 33,5 61,4
Maranhão 2.268.604 1,6 3,7 25,4 69,3
Piauí 1.050.747 0,0 4,6 7,7 87,7
Ceará 2.104.575 0,2 4,1 29,8 65,9
Rio Grande do 733.194 2,1 8,9 60,4 28,5
Norte
Paraíba 992.301 0,5 4,0 39,9 55,6
Pernambuco 1.839.104 1,2 4,2 39,2 55,4
Alagoas 892.106 1,5 3,1 44,7 50,7
Sergipe 504.831 1,0 3,6 56,3 39,1
Bahia 4.246.306 1,2 3,6 32,3 62,9
Fonte: Censo Demográfico, IBGE, 2000.

Há centenas de pequenos sistemas com rede e tratamento que atendem isoladamente


vilas ou bairros das cidades com população entre 5.000 e 15.000 habitantes,
aproximadamente. Os tratamentos utilizados nesses casos são predominantemente as
lagoas de estabilização, as lagoas aeradas, as fossas e os filtros anaeróbios. De maior
porte, e instalados mais recentemente, são os reatores anaeróbios de fluxo ascendente e
a lagoa de polimento. Para os sistemas individuais, em residências ou em edifícios
localizados em áreas onde não há rede coletora, é bastante disseminada a utilização de
fossas negras e de fossas sépticas, seguidas de sumidouros ou de filtros anaeróbios. Com
menor intensidade, são utilizados outros tipos de estação de tratamento de esgotos, mais
eficientes, em certos hotéis ou em condomínios de maior porte.

Nas últimas décadas, com raras exceções, tem se verificado a falta de operação
adequada dos sistemas existentes, públicos ou privados, coletivos ou individuais. Com
isso, caracteriza-se o setor como um dos menos valorizados, apesar de sua estreita

33
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

relação — e altíssima importância — com a qualidade de vida, nos aspectos sanitários e


de saúde pública. Uma das conseqüências tem sido o lançamento, praticamente in
natura, nos rios e solos, retrato da má operação das fossas, aliado à ineficiência dos
serviços de remoção do lodo nelas produzido e acumulado; e às freqüentes e longas
paralisações das estações elevatórias e das estações de tratamento de esgotos,
provocando despejo contínuo e prolongado dos esgotos coletados nos canais, rios e
estuários, mesmo nas áreas urbanas dotadas de sistemas de esgotamento sanitário.

As causas podem ser atribuídas à falta de investimentos adequados para recuperação e


ampliação dos sistemas existentes; à ineficácia dos órgãos, municipais e estaduais, de
vigilância sanitária e de controle da poluição, o que vem provocando, há muitos anos, a
disseminação da prática de ligações clandestinas dos efluentes, especialmente das
milhares de fossas; e à rede de microdrenagem de águas pluviais (galerias e canais),
que, por sua vez, também recebe grande parte do lixo urbano.

A gestão inadequada dos serviços de esgotos é atestada pela qualidade precária dos
sistemas existentes, concorrendo para isso a falta de capacidade técnica no setor, a falta
de recursos financeiros específicos e a falta de prioridade da Compesa para esses serviços,
privilegiando apenas os serviços de água, sem a devida preocupação com a água
residuária formada pelo seu uso.

O quadro atual é a ocorrência de intensa poluição dos recursos hídricos, com reflexos
negativos na saúde — a proliferação de várias doenças infecciosas e parasitárias — e no
bem-estar da população. A deterioração ambiental, especialmente dos recursos
hídricos, reflete-se pela contaminação dos rios, lagos e lençóis freáticos, sendo
atualmente um dos mais graves problemas da Região Metropolitana do Recife e da
região litorânea.

Além dos problemas acarretados à saúde pública, a poluição dos recursos hídricos tem
dificultado o desenvolvimento da atividade turística, uma das principais potencialidades
econômicas da região. Diante da ineficiência da Compesa, os municípios
economicamente mais fortes vêm procurando investir nesse setor, especialmente os
municípios do Recife e de Petrolina. Em Petrolina foram instalados, com sucesso, sistemas
de esgotamento sanitário do tipo condominial, onde, atualmente, pode se verificar o
maior índice de atendimento no Estado.

Esforços têm sido feitos nos últimos anos, através de programas específicos voltados para
o setor de saneamento, com recursos dos Governos Federal e Estadual e de órgãos ou
bancos do exterior. Os resultados, porém, ainda têm sido tímidos, em face da grande
demanda atual. Um outro aspecto relevante das ações de saneamento no Estado tem
sido a sua dissociação do gerenciamento integrado dos recursos hídricos.

34
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Drenagem de águas pluviais

A situação da drenagem urbana no Estado pode ser inserida no quadro geral de


saneamento básico, uma vez que os sistemas existentes comportam não somente a
finalidade de escoar os excessos de águas pluviais, como acontecia antigamente nas
áreas urbanas. O desenvolvimento urbano, que também ocorreu no Estado nas últimas
décadas, com elevada concentração populacional sem a devida infra-estrutura,
resultou em uso e ocupação inadequados de solos e espaços, seja em locais com
excesso de declividade, como é o caso dos morros, ou naqueles com falta de
declividade, em planícies alagadas, mangues, beira de rios ou fundos de vales. Os
sistemas de drenagem urbana refletem os conflitos e problemas gerados e concorrem
também para a degradação ambiental, com riscos de enchentes, erosão e
deslizamentos.

Embora os serviços de drenagem urbana estejam a cargo predominantemente dos


municípios, estes não possuem, em geral, capacidade institucional e econômica, como
ocorre em muitos municípios brasileiros, para administrar aqueles problemas. Os Governos
Estadual e Federal, por sua vez, normalmente se encontram distantes dos municípios para
que se ache uma solução satisfatória ou adequada ao apoio dessa questão. Exemplos
recentes no Recife e em várias cidades da Mata Sul mostram que cada vez que um
problema de porte, relativo à falta de drenagem urbana, aflora, ele é tratado de forma
isolada, sem se buscar um planejamento preventivo ou mesmo corretivo. O período de
chuvas, em especial na Região Metropolitana do Recife, tem sido sempre sinônimo de
perigo para vidas humanas, prejuízos econômicos, perdas de moradias e bens, caos no
trânsito, interrupção de atividades comerciais e industriais, além da elevação do número
de pessoas com doenças típicas, associadas às chuvas, como, por exemplo, a
leptospirose.

Hoje, os sistemas de drenagem urbana no Estado, em especial nas grandes cidades,


caracterizam-se pelo uso “múltiplo”, longe de sua finalidade inicial de apenas conduzir os
excedentes das águas superficiais oriundas das precipitações. A falta de saneamento
básico, com coleta regular através de rede própria para os esgotos sanitários, bem como
a falta de coleta ou freqüência irregular, tornou os canais e as galerias pluviais os lugares
de mais fácil acesso da população para o lançamento clandestino e ilegal dos resíduos
líquidos (esgotos) e sólidos (lixo urbano). Em conseqüência, torna-se visível a degradação
ambiental, com a poluição de rios e estuários.

Por fim, deve-se ressaltar que as calamidades resultantes das enchentes urbanas, além
de serem resultado da ocupação inadequada dos leitos dos rios e canais, são frutos de
uma política equivocada, não somente no Estado, como também no País, com a falta
de políticas de controle, de interesses e de conhecimentos e sem programas preventivos
eficientes que contemplem a forte atuação na regulamentação do uso e ocupação do
solo.

35
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Resíduos sólidos

No Brasil, aproximadamente 91,2% da população conta com coleta regular de lixo. No


início dos anos 90, cerca de 76% do lixo coletado era “vazado” em lixões, sem quaisquer
preocupações sanitárias, e 13% desse lixo era disposto em aterros controlados. Apenas
10% do lixo coletado era depositado em aterros sanitários e 1% era processado
(compostagem, incineração ou reciclagem) (IBGE, 2000).

Situação ainda mais precária foi revelada no Estado de Pernambuco, registrando um


índice de lixo coletado de 84,75%, valor superior ao índice do Nordeste (81,4%). Os
resultados do diagnóstico efetuado pela Sectma em 2000, em 72 municípios do Estado,
cobrindo 86% de sua população, revelaram a insuficiência da cobertura do serviço de
limpeza urbana, que não atinge toda a população urbana dos municípios. Em
numerosos municípios foram constatados índices de cobertura inferiores a 50%,
especialmente naqueles de menor porte. Apenas nos municípios com população
superior a 100 mil habitantes foram observados índices mais elevados (> 75%).

No que diz respeito à geração de resíduos sólidos em Pernambuco, o diagnóstico (2000)


realizado pela Sectma identificou que:

• A quantidade de resíduos gerados no Estado de Pernambuco é, em média, de 1,22


kg/hab./dia. A Região Metropolitana gera, aproximadamente, 1,24 kg/hab./dia.

• A estimativa da geração diária de resíduos no Estado de Pernambuco é de 7.803,06


toneladas/dia, sendo que a Região Metropolitana gera 53,01% desse valor, possuindo
uma população de 53,4% da população urbana do Estado, conforme pode ser visto
na Tabela 2.5.

36
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 2.5 Quantificação da geração de resíduos sólidos por cada Região de Desenvolvimento de
Pernambuco.

Percentual da
Quantidade de Geração per
Região de Desenvolvimento geração de
resíduos gerados capita média
de Pernambuco resíduos no
(t/dia) (kg/hab./dia)
Estado
Estado de Pernambuco 7.803,06 1,22
Região Metropolitana do
4.136,27 53,01% 1,24
Recife
Agreste Central 652,45 8,36% 1,00
Agreste Meridional 463,97 5,95% 1,50
Zona da Mata Norte 504,71 6,47% 1,34
Pajeú/Moxotó 451,92 5,79% 1,50
Zona da Mata Sul 647,22 8,29% 1,42
São Francisco 256,06 3,28% 1,20
Agreste Setentrional 360,10 4,61% 1,41
Araripe 210,96 2,70% 1,15
Sertão Central 68,91 0,88% 0,82
Itaparica 50,48 0,65% 0,79
Fonte: Diagnóstico dos Sistemas de Limpeza Urbana de Pernambuco, Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Meio Ambiente de Pernambuco – Sectma, 2002.

Atualmente, no Estado de Pernambuco, existe 01 incinerador para o tratamento dos


resíduos de serviços de saúde. Essa empresa coleta e trata cerca de 220 t/mês. No
Estado, existem 44 unidades de compostagem, porém apenas 03 funcionam (Fernando
de Noronha, Itapissuma e Ceagepe – Recife), estando as demais sucateadas.

No que se refere à destinação final, no Estado de Pernambuco, existem mais de 200


lixões em operação, 08 aterros controlados (nos municípios de Caruaru, Belo Jardim,
Sanharó, Recife/Jaboatão, Petrolândia, Garanhuns, Serra Talhada e Petrolina) e 01 aterro
sanitário em fase de operação (no município de Goiana), licenciado pelo órgão
ambiental. O aterro controlado de Caruaru está em fase de transformação em aterro
sanitário.

Em termos de impactos ambientais, observa-se que os municípios que possuem grandes


áreas e baixa densidade populacional, o potencial de impacto, em geral, é baixo, pois
as áreas de destinação final localizam-se distantes da zona urbana e longe de cursos
d’água, enquanto os municípios que possuem áreas menores e densidade populacional
elevada apresentam potencial de impacto médio ou alto.

Com o objetivo de enfrentar esse problema, que desponta no Estado como um dos mais
importantes desafios à sustentabilidade urbana, o Governo Estadual coordenou em 2000,
a discussão e elaboração de uma política de resíduos sólidos para Pernambuco,
institucionalizada pela Lei Estadual nº 12.008, de 1º de junho de 2001. As tecnologias de
coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos estão consolidadas e disponíveis no
Estado. Por outro lado, esforços consideráveis vêm sendo feitos na obtenção de recursos

37
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

financeiros para implantação de novos aterros sanitários e recuperação dos lixões


existentes. A possibilidade de utilização dos recursos financeiros provenientes do ICMS
socioambiental vem estimulando os governos municipais a investirem no setor, de modo
a implantar um sistema de gestão integrada dos resíduos sólidos em seus municípios.

2.2.2 Infra-estrutura de Apoio às Categorias Econômicas

Energia

No campo da energia, é necessária a utilização, de modo inteligente e eficiente, de


recursos renováveis e que gerem energia limpa, preservando o meio ambiente, eliminando
desperdícios e reduzindo custos operacionais. A energia está presente em todas as
atividades da sociedade moderna, seja como um serviço essencial à qualidade de vida,
seja como um fator de produção que impulsiona o desenvolvimento econômico. Desse
modo, é importante tratar a produção e o uso de energia dentro de um enfoque
sistêmico, superando uma abordagem limitada ao setor energético.

Há dois tipos de fontes de energia: (1) as primárias, que são geradas a partir de fontes
como petróleo, gás natural, biomassa, sol, vento, etc.; e (2) as secundárias, que
produzem energia através de transformações. Os meios tradicionais de transformações
são as usinas hidrelétricas, térmicas, refinarias, destilarias. A relação entre energia e meio
ambiente também é bastante intensa, por causa da utilização dos recursos naturais e
dos impactos ambientais envolvidos ao longo de toda a cadeia de produção. Assim,
destaca-se como um problema de vital importância conciliar a conservação do meio
ambiente com o desenvolvimento. O crescimento da demanda de energia é inevitável,
devido ao estágio atual do desenvolvimento nacional, ao crescimento urbano e à
necessidade de instalação de infra-estrutura industrial e de transporte.

Tabela 2.6 Oferta interna de energia, 1992-2000.

Oferta interna de energia (GJ)


Fontes de energia
1992 2000
Total 6.427.679.952 8.345.338.112
Energia não-renovável 3.394.665.400 5.055.267.205
Petróleo e derivados 2.700.447.960 3.922.134.135
Gás natural 202.721.260 427.618.046
Carvão mineral e derivados 476.076.160 625.367.186
Urânio e derivados 15.420.020 80.147.838
Energia renovável 3.033.014.552 3.290.070.907
Hidráulica e eletricidade (1) 894.832.072 1.266.138.294
Lenha e carvão vegetal (2) 1.120.370.720 971.407.539
Derivados da cana-de-açúcar 895.039.460 870.596.377
Outras fontes primárias 122.772.300 181.928.697
renováveis
Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, IBGE, 2002.

38
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Focalizando o aumento da oferta de energia, a Chesf vem desenvolvendo estudos de


implantação de pequenas centrais hidrelétricas de até 30 MW (megawatts), abrangendo
quinze rios do Nordeste. Nessa situação, está incluída a PCH Primavera, no Rio Ipojuca,
Cachoeira do Urubu, com capacidade de 5 MW. Quanto à utilização do gás natural, um
marco para o Estado é o Terminal de Regaseificação de Suape, orçado em R$ 526
milhões, que se encontra na fase preliminar de elaboração do Estudo de Impacto
Ambiental – EIA, e do Relatório de Impacto ao Meio Ambiente – Rima. Esse
empreendimento tem sua operação prevista para 2005.

Quanto ao uso da biomassa, segundo o Pnud/FAO/Ibama/Governo de Pernambuco, no


início da década de 90, em torno de 70% dessa forma de energia era consumida em
residências, sendo o restante no setor industrial/comercial (cerâmicas e olarias,
calcinadoras de gesso e de cal, indústrias de bebidas e alimentícias, entre outras). A
utilização da biomassa florestal para fins energéticos, muitas vezes, é realizada sem
cuidados de manejo, comprometendo a base de recursos florestais. Já o uso de energia
eólica, advinda de turbina de grande porte, pioneirismo do Estado, tem como objetivo
diminuir a dependência do Arquipélago de Fernando de Noronha da geração térmica,
que utiliza o óleo diesel. Recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel,
autorizou a construção de vinte novas usinas eólicas, cuja capacidade total será de
1.773 megawatts, representando um investimento da ordem de R$ 4,5 milhões. Dezoito
delas serão construídas no Nordeste, sendo duas em Pernambuco. No Estado, serão
construídos os parques eólicos Serra da Macambira, entre os municípios de Pesqueira e
Poção; e Serra do Orobó, em Pesqueira, cada um com potência instalada de 59,5
megawatts, que deverão entrar em operação em dezembro de 2004.

No campo da energia solar, Pernambuco conta com um centro de pesquisas bastante


conceituado, o Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis da Universidade
Federal de Pernambuco – Naper/UFPE. Desde 1999, está em andamento o Programa de
Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios, do Ministério das Minas e Energia,
que visa atender comunidades desassistidas, fomentar o desenvolvimento econômico,
atender a comunidades rurais e carentes, promover a capacitação de recursos humanos
e o desenvolvimento da tecnologia e buscar a sustentabilidade e a continuidade do
processo.

O cenário energético aponta para o mercado livre, onde a oferta de energia se adapte
à evolução da demanda, sem a interferência do Estado. Esse ambiente competitivo
tende a entrar em conflito com as alternativas energéticas de maior investimento inicial,
tanto no tocante às hidrelétricas como também às demais fontes energéticas renováveis
e à adoção de medidas de elevação da eficiência do uso da energia. Para evitar essa
contradição com os objetivos do desenvolvimento sustentável, é necessária uma ação
reguladora e de financiamento por parte do Estado para que seja restabelecida a
atratividade das alternativas energéticas mais sustentáveis e balizadas as decisões dos
agentes privados com vistas à sua adoção.

39
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Telecomunicação

O setor de comunicações é constituído por telecomunicações, computação e


entretenimento. Esse setor cresce cerca de duas vezes a taxa de crescimento global da
economia. Isso significa que há uma demanda reprimida e que o segmento é vital no
horizonte de qualquer sociedade inserida nos altos padrões de consumo ou de
estabilidade das relações para redução das diferenças sociais. O efeito multiplicador da
informação no aperfeiçoamento de processos que resultem em produtos e serviços de
melhor qualidade, preços mais baixos e menor tempo de produção é evidente, embora
pouco aferido pelos indicadores tradicionais de desempenho socioeconômico desse
setor. Além disso, os meios de comunicação devem servir à sociedade em muitos
aspectos, principalmente no monitoramento do meio ambiente.

A tendência mundial do setor de comunicação aponta para a formação da sociedade


da informação, ou seja, uma infra-estrutura de comunicações de grande capacidade e
alta velocidade, apta a viabilizar o tráfego multimídia (voz, dados, textos, imagens e
vídeo), associada a um mercado de informação eletrônica, em especial no segmento
de negócios, que está em franca expansão. Entretanto, a oferta de infra-estrutura de
telecomunicações de Pernambuco é relativamente reduzida, se comparada às
necessidades de deflagração de um processo de desenvolvimento sustentável.

Tabela 2.7 Acessos aos serviços telefônicos fixo comutado e móvel celular, no Brasil, na Região Nordeste e
em seus estados – 2001.

Brasil, Região Acesso aos serviços telefônicos (1.000 hab.)


Nordeste e seus
Fixo comutado Móvel celular
estados
Brasil 277,22 166,75
Nordeste 168,80 89,00
Maranhão 105,72 50,20
Piauí 136,92 50,24
Ceará 166,41 77,02
Rio Grande do
182,91 106,67
Norte
Paraíba 160,61 83,95
Pernambuco 199,02 135,77
Alagoas 141,59 102,14
Sergipe 179,43 103,47
Bahia 189,73 85,48
Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, IBGE, 2002.

Para ampliação das oportunidades de acesso aos sistemas de telecomunicações,


encontram-se em fase de criação os Centros Comunitários de Comunicações nas áreas
mudas do semi-árido. Esses centros estão voltados para a educação por meio de
mensagens dirigidas, complementares ao sistema de radiodifusão educativa; incentivo à
cultura local, incluindo o cuidado com o meio ambiente e com o acesso aos serviços

40
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

públicos ofertados pelo Estado ou município. Um outro dado registrado pelo IBGE (2002)
foi o número de terminais ativos da telefonia móvel em Pernambuco, que atingiu a
ordem de 135,77 por 1.000 habitantes em 2000, enquanto a densidade de telefones fixos
era da ordem de 199,02 telefones por 1.000 habitantes. No Brasil, os valores são
277,22/1.000 habitantes, para os fixos, e 165/1.000 habitantes, para os móveis. Nos países
desenvolvidos, a densidade de telefonia móvel é de 200/1.000.

Visando melhorar a infra-estrutura de comunicação, está sendo desenvolvido o Projeto


Pernambuco Digital, possibilitando a inclusão de grande parte da sociedade na
realidade digital. Como desdobramento desse projeto, já se instalou o Porto Digital na
RMR, com vistas à incubação de empresas e instalação de núcleos de pesquisas. O
empreendimento, com investimentos previstos para mais de US$ 30 milhões, visa
transformar o Estado em um centro produtor e exportador de softwares e outros serviços
de informática.

Tecnologia da Informação e Comunicação

A indústria de informática comercializou, no Brasil, R$ 22,5 bilhões em 1999. Destes, R$ 11,1


bilhões (quase 50%) foram faturados por empresas de software e serviços de informática.
Em 1999, essas empresas faturaram, no Recife, R$ 130 milhões. As empresas de hardware
e suprimentos de informática comercializaram R$ 70 milhões no mesmo ano, em
Pernambuco.

Em 1999, 257 empresas de Tecnologia da Informação pagaram ISS no Recife. Desde 1995,
a área tem experimentado um crescimento médio superior a 8% ao ano no número de
empresas em atividade. Devem trabalhar nas empresas de Tecnologia da Informação de
Pernambuco pelo menos 5 mil pessoas, com salários médios superiores a R$ 1.200.

As empresas de telecomunicações em Pernambuco multiplicaram por cinco o ICMS


arrecadado entre 1995 e 1999, saindo de R$ 41 milhões para R$ 200 milhões. Já são
responsáveis pela segunda maior arrecadação entre as atividades econômicas do Estado,
perdendo apenas para os combustíveis.

Transporte

Um fato que assume gravidade é a expressiva queda de demanda que vem sofrendo o
sistema de transporte público por ônibus em todo o Brasil. Na RMR a demanda do sistema
de transporte por ônibus era, em 1990, de 535 milhões e, em 1997, caiu para 431 milhões
de passageiros, uma queda de 104 milhões de passageiros anuais, cerca de 20%. Isso
significa o aumento de transportes particulares em circulação e a consolidação de
transportes alternativos à margem do sistema de regularização para seu funcionamento.

41
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Por outro lado, a questão dos transportes alternativos é uma realidade que assume
diferentes perspectivas. Nas cidades de médio e pequeno porte, devido à precariedade
no sistema de transportes públicos e de ligações intermunicipais, ele se configura em
possibilidades de deslocamento da população e de comercialização de produtos. Assim,
têm-se a modalidade associada a “moto-táxis”, “kombis”, “toyotas”, “caminhonetes”,
entre outros sistemas. Na Região Metropolitana, o contexto em que se situa essa
modalidade alternativa colabora para agravar congestionamentos, acidentes e nível de
saturação ambiental, além de comprometer os sistemas integrados de transportes
públicos. A peculiaridade desses problemas reivindica ação setorial, regional e distinta
para cada conjunto de realidade identificada.

A viabilidade ambiental do sistema de transportes deve estar presente em todas as suas


fases de desenvolvimento do transporte: do planejamento à operação, pois todos os
empreendimentos nessa área devem preservar o meio ambiente e reduzir os impactos
negativos referentes à qualidade de vida da população.

A Lei nº 10.233, de 05 de junho de 2001, prevê que o gerenciamento da infra-estrutura e a


operação dos transportes terrestres e aquaviários devem atentar para a redução dos níveis
de poluição sonora e de contaminação atmosférica do solo e dos recursos hídricos. Vale
salientar que programas de controle de poluição de veículos e de racionalização do uso
de derivados de petróleo e gás natural representam um destaque para a preservação da
qualidade do ar, na medida em que as variáveis ambientais vão sendo internalizadas nas
políticas de infra-estrutura de transportes.

O sistema de transportes apresenta muitas particularidades. O modal rodoviário produz


impactos sobre o meio ambiente de duas formas quantificáveis: poluição do ar e ruídos.
Outras formas de impactos indiretos são o consumo de energia, a poluição de cursos
d’água adjacentes às estradas, os acidentes, os congestionamentos, o conflito de uso do
solo e a fragmentação de hábitats. Sobre ruídos, pode-se afirmar que o transporte
rodoviário é considerado, entre os modais de transporte, o mais prejudicial.
Particularmente, os caminhões são uma fonte significativa de ruídos, produzindo níveis de
aproximadamente 90 dB. Nas áreas urbanas, os ônibus também trazem problemas do
ponto de vista da emissão de ruídos. A respeito de congestionamentos, observa-se que
rodovias com tráfego pesado e intenso, que cortam cidades e áreas habitadas, podem
levar a situações perigosas, à restrição de circulação e ao rompimento da interação da
comunidade.

No campo do transporte de cargas, o Governo do Estado de Pernambuco está


elaborando o seu Plano Logístico, que envolve não apenas a infra-estrutura viária
(rodovias, ferrovias, dutovias), mas também os terminais de carga (portos, aeroportos), as
instalações de armazenagem (silos, depósitos, armazéns), os equipamentos de
movimentação de carga, como também aspectos relacionados a: legislação, incentivos
fiscais, barreiras alfandegárias, etc.

42
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Observando o mapa rodoviário de Pernambuco, percebe-se uma desigual distribuição


espacial das rodovias, pois há uma concentração da malha junto ao litoral, sendo
rarefeita à medida que se caminha para o oeste. No Sertão de Pernambuco, por
exemplo, entre as cidades de Serra Talhada, Floresta, Cabrobó e Salgueiro, há uma área
limitada pelas rodovias BR-232, PE-390, BR-316 e BR-116, com aproximadamente 6.800 km²
de superfície (correspondente a mais de 30% da área do Estado de Sergipe), onde, no
seu interior, com exceção apenas de um trecho de 12 km da PE-423 (acesso a
Mirandiba), inexistem rodovias pavimentadas. Apesar desse quadro, o transporte
rodoviário é responsável por mais de 80% das cargas transportadas.

As rodovias estaduais de Pernambuco representam 5.032,5 km. A densidade de rodovias


pavimentadas em Pernambuco é de aproximadamente 53,5 m/km², ao passo que a
média nacional é de cerca de 16,7 m/km². O sistema rodoviário do Estado, composto por
rodovias municipais, apresenta características de rodovias vicinais e não pavimentadas.
Basicamente, a malha rodoviária do Estado é estruturada a partir de quatro grandes
eixos, sendo três longitudinais (BR-101, BR-104 e BR-116) e um transversal (BR-232), com seu
prolongamento (BR-316). Articulam-se, a esta estrutura principal, duas rodovias arteriais
primárias longitudinais (BR-110 e BR-122) e duas rodovias de ligação (BR-423 e BR-424),
além de várias rodovias estaduais. As demais rodovias arteriais secundárias, coletoras, de
ligação e vicinais estabelecem as complementações da malha rodoviária do Estado.

Encontra-se em obras de duplicação a rodovia BR-232 (entre a saída do Recife e


Caruaru), com conclusão prevista para o mês de setembro de 2002. Essa obra está sendo
certificada em conformidade com a norma ambiental NBR – ISO 14001. Ainda em 2002,
deverá ser iniciada a duplicação da rodovia BR-101, no trecho entre Igarassu e a divisa
com a Paraíba, numa extensão de 42 km. Nos próximos três anos, deverão ser duplicados
os trechos Charneca—Ribeirão e Ribeirão—Palmares, ambos também integrantes da BR-
101.

O transporte ferroviário em Pernambuco, como de resto em todo o Nordeste, está


praticamente desativado. Desde que assumiu a concessão para a exploração das
ferrovias nos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará,
Piauí e Maranhão, a Companhia Ferroviária do Nordeste – CFN, não investiu na
conservação da via permanente nem do material rodante, além de ter uma atuação
comercial muito tímida. Hoje, a operação ferroviária no Estado está restrita praticamente
à movimentação de cargas dentro do espaço da RMR.

O Sistema Portuário de Pernambuco é formado por quatro portos, sendo três marítimos
(Recife, Suape e, em fase de conclusão, o de Fernando de Noronha) e um fluvial
(Petrolina).

O sistema aeroportuário do Estado é formado pelo Aeroporto Internacional dos


Guararapes e o Aeroporto de Petrolina e um conjunto de 17 aeródromos administrados

43
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

pelo Governo de Pernambuco, através da Secretaria de Infra-estrutura do Estado.


Utilizando o Aeroporto Internacional dos Guararapes, são realizados em média 115 vôos
regulares diários, e o seu Terminal de Cargas – Teca, movimenta por ano cerca de 430
toneladas. No Aeroporto de Petrolina, são realizados atualmente 04 vôos regulares diários
e o seu Terminal de Cargas movimenta em torno de 1,2 tonelada por ano. Segundo o
Departamento de Aviação Civil – DAC, o movimento anual de passageiros do Aeroporto
Internacional dos Guararapes tem apresentado expressivo crescimento. Em 1977, era de
cerca de 612,4 mil e atualmente (2002) alcança aproximadamente 2.585,7 mil,
prevendo-se 5.664,8 mil passageiros no ano de 2017.

O sistema metroviário da RMR é atualmente formado pelos trechos Recife—Jaboatão e


Coqueiral—Terminal Integrado de Passageiros – TIP, e transporta atualmente cerca de
120 mil passageiros por dia útil. Encontram-se em obras os trechos Recife—Cajueiro Seco
e TIP—Timbi, que farão com que o sistema metroviário da RMR seja o segundo maior do
País, com uma extensão total de aproximadamente 40 km.

O transporte urbano de passageiros na RMR é realizado principalmente pela modalidade


ônibus, com uma demanda diária (dias úteis) da ordem de 1,5 milhão de passageiros. Os
sistemas intermunicipal e intramunicipal do Recife e de parte de Jaboatão dos
Guararapes são gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos –
EMTU, do Governo Estadual. Os demais sistemas intramunicipais, em especial os de
Olinda, Paulista, Camaragibe e o restante de Jaboatão dos Guararapes, são
gerenciados pelas respectivas prefeituras.

O sistema dutoviário em Pernambuco corresponde basicamente ao transporte do gás


natural, o metano, produzido na plataforma de Guamaré, no Rio Grande do Norte, e
trazido através do gasoduto conhecido como Nordestão, construído pela Petrobras na
década de 80. Essa distribuição é feita pela Companhia Pernambucana de Gás –
Copergás, que, através de oito ramais, fornece cerca de 661.000 m³ de metano a 45
indústrias e a 13 postos de abastecimento, localizados nos municípios de Goiana,
Itapissuma, Igarassu, Paulista, Abreu e Lima, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Recife,
Vitória de Santo Antão, Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho.

Como resultado dessa avaliação dos assentamentos humanos em Pernambuco, registra-


se a necessidade de enfrentamento dos desafios identificados, no sentido de induzir uma
reorientação das políticas e do desenvolvimento urbano, assegurando a proteção do
ambiente urbano e a inclusão social. Para assegurar a sustentabilidade desses
assentamentos humanos, faz-se necessário também assegurar a melhoria dos serviços de
infra-estrutura, no que diz respeito a abastecimento de água, esgotamento sanitário,
drenagem e limpeza urbana, associada à melhoria dos serviços de energia, transportes e
comunicações. E que seja assegurada a sustentabilidade dos assentamentos humanos,
dentro do contexto de desenvolvimento estadual e local.

44
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

2.3 REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS

A adoção de uma estratégia para a construção da Agenda 21 do Estado de Pernambuco


rompe com as concepções tradicionais de desenvolvimento socioeconômico, assumindo
o compromisso com as premissas fundamentais levantadas pelo modelo de
desenvolvimento sustentável, entre as quais ganha destaque a necessidade de se
organizar a sociedade local em bases de eqüidade e justiça. Para tanto, a redução das
desigualdades sociais é questão central e de máxima urgência.

A questão da redução das desigualdades na Agenda Estadual de Pernambuco


contempla pelo menos cinco objetivos estabelecidos na Declaração do Milênio
(Millennium Development Goals):

• Erradicação da pobreza e da fome.

• Universalização da educação primária.

• Promoção da igualdade de gênero e fortalecimento do papel da mulher.

• Redução da mortalidade infantil.

• Melhoria da saúde materna.

A primeira constatação com a qual se defronta quem investiga esse tema é que
desigualdade social e pobreza são aspectos recorrentes da realidade brasileira. No
Nordeste, tais problemas alcançam uma dimensão ainda mais acentuada, como reflexo
das desigualdades que se consolidaram entre as diversas regiões do País, outro
desequilíbrio herdado da formação econômica e social nacional e que interfere
diretamente na constituição da realidade local, fazendo com que o Estado de
Pernambuco apresente dados significativamente negativos em sua realidade
econômica e social, e que cobram competência, criatividade e esforço coletivo na
consolidação de pactos locais e globais, gerando mudanças de valores e posturas para
o enfrentamento desses problemas.

Essa nova concepção pressupõe que se compreenda a desigualdade social como


fenômeno que se estende para além da simples noção de pobreza e que esta é, por sua
vez, de origem estrutural e se apresenta sob inúmeras faces, cujas dimensões e
complexidade não podem ser captadas apenas a partir da renda e do trabalho. É
possível se desenvolver medidas que destaquem o atendimento com prioridade às
populações mais pobres e que sejam articuladas com camadas sociais já bem-
sucedidas no cenário econômico. Medidas estas voltadas para a ampliação das
oportunidades de educação continuada e extensiva, a ampliação e o fortalecimento
dos serviços de saúde e seguridade, a ampliação do atendimento às carências dos

45
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

segmentos sociais portadores de necessidades especiais e a redução da pobreza,


através da geração de trabalho e renda, fatores básicos para que seja concretizada a
eqüidade como idéia central de desenvolvimento sustentável, objetivo maior desta
Agenda.

O diagnóstico socioeconômico do Estado, que servirá de referencial às ações


estruturantes da Agenda 21 de Pernambuco, no que se refere à redução das
desigualdades sociais, seguirá a orientação geral adotada pelo IBGE no documento
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – 2002, buscando salientar os principais
problemas e entraves ao processo de desenvolvimento local e as potencialidades que
podem ser maximizadas no intuito de reverter o quadro desfavorável, viabilizando a
mudança necessária.

De uma maneira geral, pode-se afirmar que Pernambuco se engajou no processo de


modernização econômica que se desencadeou no País ao longo dos últimos anos;
contudo, a elevação da renda não foi suficiente para garantir uma melhor qualidade de
vida da maioria da população. Se, por um lado, todos os indicadores sociais melhoraram
nas últimas décadas, isso não significou uma mudança significativa no quadro de pobreza
e, em muitos casos, evidenciou um distanciamento dos níveis de desenvolvimento
atingidos nacionalmente ou mesmo dos alcançados em outras regiões.

É possível constatar os sérios desequilíbrios na distribuição das atividades econômicas, do


emprego e das condições de vida no Nordeste do País. Particularmente o agravamento
das profundas desigualdades sociais nos espaços de cada estado, com níveis de
exclusão, miséria e pobreza, está a desafiar a criatividade de toda a sociedade na
busca de alternativas que apontem para a sustentabilidade social.

Só através de programas elaborados de forma participativa, a sociedade poderá ser


mobilizada para o combate da pobreza e da desigualdade social em suas diferentes
formas de manifestação e de distribuição espacial. A pobreza, inicialmente concentrada
no meio rural, tanto em números absolutos como em termos relativos, amplia-se
fortemente em direção aos espaços urbanos. Nesse sentido, é fundamental a
implementação de programas sociais que visem reduzir a pobreza, de modo a assegurar
a sustentabilidade dos espaços urbanos e rurais.

Diante dessa avaliação, verifica-se a necessidade de se investir em programas de


redução das desigualdades sociais, buscando a eqüidade em termos de distribuição de
renda, de melhoria dos serviços de educação e de saúde; a proteção dos grupos
vulneráveis; e o combate à violência. Só assim poderá se atingir um estágio de
desenvolvimento mais justo e equilibrado no Estado de Pernambuco.

Apresenta-se a seguir o entendimento que balizou o tratamento do tema Desigualdades


Sociais em Pernambuco. Partiu-se da análise de alguns indicadores que refletem a

46
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

qualidade de vida da população local, tais como: indicadores de desenvolvimento


humano, concentração de renda, rendimento familiar, desemprego, situação dos grupos
vulneráveis, padrões de produção e consumo, bem como tratamento dado aos temas
educação e saúde.

2.3.1 Indicadores

Desenvolvimento humano

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud, construiu e vem utilizando
em seus trabalhos de avaliação da qualidade de vida da população o Índice de
Desenvolvimento Humano – IDH, buscando dimensionar o bem-estar da população em três
aspectos: vida longa e saudável, acesso ao conhecimento e à informação e padrão de
vida digna. O IDH é uma composição dos três indicadores que representam essas
condições: expectativa de vida, grau de escolaridade e renda per capita dos habitantes.
Sua escala varia de 0 a 1, e, quanto mais próximo de 1 se apresentar o indicador, melhor
será considerada a qualidade de vida da população em estudo.

O Índice de Desenvolvimento Humano de Pernambuco vem registrando melhoria,


passando de 0,332, em 1970, para 0,615, em 1996. Embora esse índice se mostre
ligeiramente melhor do que o apresentado para a Região Nordeste, como um todo, ele
é inferior ao apresentado pelos estados de Sergipe (0,732), da Bahia (0,655) e do Rio
Grande do Norte (0,668), fato que evidencia uma perda de posição regional, uma vez
que até 1991 Pernambuco detinha o mais alto índice do Nordeste, como pode ser
constatado pelo gráfico oferecido pelo Plano Plurianual do Governo do Estado de
Pernambuco, Figura 2.1.

Um dos elementos que contribuem para o mau desempenho do Estado na composição


desse indicador é o fato de Pernambuco ainda apresentar uma das taxas de
mortalidade infantil mais altas do Nordeste, com 61,8 mortes em mil crianças nascidas
1
vivas (dados de 1997), sendo este número superior à média regional (59) e ao indicador
da Bahia (52) e do Ceará (58,2. Por outro lado, também a esperança de vida ao nascer,
que em Pernambuco é estimada pelo IBGE em 62,7 anos, é menor que a do Nordeste
(64,8 anos) e que a calculada para todos os outros estados da região, exceto Alagoas.

1 IBGE/Departamento de População e Indicadores Sociais. Síntese de Indicadores Sociais 1998. Rio de


Janeiro, 1999.

47
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Figura 2.1 IDH dos estados do Nordeste do Brasil.

Maranhão
Piauí
0,7 Ceará
Rio Grande
do Norte
H 0,5 Paraíba
Pernambuco
Alagoas
0,3
Sergipe

0,1 Bahia

0 1

Estados do Nordeste - 1996

Fonte: Plano Plurianual do Estado de Pernambuco, 1999-2003. Seplandes, 1999.

Efetuando-se uma análise do comportamento da distribuição do IDH por regiões e


municípios do Estado, evidencia-se que a desigualdade social em Pernambuco também
reproduz uma variação acentuada espacialmente. De acordo com dados do
Pnud/Ipea/IBGE, a Região Metropolitana do Recife e o Arquipélago de Fernando de
Noronha (que, depois do Recife, detém o mais alto indicador) registravam, em 1991, um
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, de 0,764 — ligeiramente mais elevado do que
o apresentado pela média nacional (0,742) —, superando o de todas as outras
microrregiões do Estado. Fora a RMR, apenas a região do São Francisco tem IDH acima
de 0,50 (estimada em 0,544). Todas as outras regiões registram um IDH muito baixo,
variando entre 0,30 e 0,50, destacando-se o Agreste Meridional como o de pior
desempenho, com índice ligeiramente abaixo de 0,40, conforme apresentado na Tabela
2.8.

48
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 2.8 IDH-M no Brasil e IDB2 por meso e microrregiões de Pernambuco.


IDH-M IDH-M
Meso e microrregiões IDH-M IDH-M IDB
Longevida Educaçã
Pernambucanas 1991 Renda 2000
de o
Mesorregião Metropolitana do
Recife 0,769 0,638 0,731 0,939 -
1. Fernando de Noronha 0,482 0,611 0,511 0,322 67,20
2. Itamaracá 0,512 0,647 0,533 0,356 48,70
3. Suape 0,774 0,678 0,700 0,944 39,30
4. Recife
Mesorregião da Mata
1. Mata Meridional 0,409 0,560 0,400 0,267 76,50
2. Mata Setentrional 0,438 0,560 0,451 0,304 85,10
3. Vitória 0,454 0,576 0,440 0,346 66,40
Mesorregião do Agreste
1. Alto Capibaribe 0,474 0,556 0,436 0,429 82,90
2. Médio Capibaribe 0,410 0,569 0,394 0,267 69,00
3. Brejo 0,359 0,491 0,318 0,269 98,50
4. Garanhuns 0,416 0,518 0,393 0,335 89,90
5. Vale do Ipanema 0,350 0,546 0,292 0,212 63,30
6. Vale do Ipojuca 0,482 0,556 0,445 0,446 76,30
Mesorregião do Sertão
1. Araripe 0,375 0,491 0,318 0,269 74,70
2. Pajeú 0,435 0,580 0,448 0,276 63,50
3. Salgueiro 0,453 0,641 0,449 0,271 41,30
4. Sertão do Moxotó 0,421 0,506 0,433 0,324 91,10

Fonte: Pnud/Ipea/IBGE.

Concentração de renda

A preocupação com a erradicação da pobreza tem evidenciado que este problema


assume feições tanto enquanto pobreza absoluta, quando a região em foco tem um
desempenho econômico ineficiente e produz pouca riqueza, como enquanto pobreza
relativa, quando a riqueza produzida na região não é bem dividida, resultando em uma
pequena parcela da população rica, em contraste com uma maioria pobre. Pernambuco
padece dos dois problemas simultaneamente, tanto quando seu desempenho econômico
não é satisfatório, sendo um estado pobre, como quando apresenta uma grande
concentração de renda, o que torna a questão do crescimento econômico e da
eqüidade social um problema central, tendo em vista o desenvolvimento sustentável.

Para efeito da avaliação da pobreza relativa no Estado, tomou-se o indicador de


concentração de renda oferecido pelo Índice de Gini, que é uma das medidas mais
utilizadas hoje. A construção desse indicador se baseia em informações sobre a
população economicamente ocupada, de 10 anos ou mais de idade, e seus respectivos
rendimentos mensais, frente à riqueza produzida. O índice varia de zero (perfeita
igualdade) a 1,0 (desigualdade máxima). De acordo com os dados oferecidos pelo IBGE,
através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, em Pernambuco, o Índice de

2 IDB: Coeficiente de Mortalidade Infantil.

49
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Gini para 1999 é um pouco mais elevado que o apresentado pelo Brasil, como um todo,
sendo de 0,586 para o Estado, enquanto para o Brasil é 0,567. Esse comportamento é
bastante semelhante ao apresentado pela Região Nordeste, onde esse índice é de
0,587, traduzindo uma tendência de ampliação da desigualdade, como pobreza
relativa, justamente nas regiões onde a pobreza absoluta é maior.

Tabela 2.9 Índice de Gini da distribuição do rendimento mensal de todos os trabalhos das pessoas de 10
anos ou mais de idade com rendimentos, no Brasil e nos estados do Nordeste – 1999.

No Brasil, na Região Nordeste e em seus


Índice de Gini
estados
Brasil 0,567
Nordeste 0,587
Maranhão 0,609
Piauí 0,598
Ceará 0,572
Rio Grande do Norte 0,572
Paraíba 0,644
Pernambuco 0,586
Alagoas 0,529
Sergipe 0,589
Bahia 0,558
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio –1999, IBGE, 2000.

Tal constatação evidencia que — embora um dos pré-requisitos primários para a


melhoria da qualidade de vida da população seja a eficiência econômica e o
crescimento econômico, resgatando o Estado do seu quadro de pobreza — esses
condicionantes não são suficientes para implementar um novo modelo de
desenvolvimento, sem que se faça uma revisão urgente das regras de redistribuição
dessa riqueza.

Rendimento familiar

Um dos elementos utilizados para análise das condições de vida da população é o


aspecto pelo qual a renda é distribuída socialmente, sob a forma de renda familiar per
capita média, como o resultado do somatório dos ganhos de cada família com salários,
renda de aluguéis, pensões, lucros e todas as formas de que a família dispõe para
atender às suas necessidades. A utilização desse indicador para a análise da qualidade
de vida pela distribuição de rendimentos da sociedade tem por base a compreensão de
que a família, além de ser uma unidade fundamental de produção e de consumo, é
também uma importante unidade de reprodução, de socialização e de estruturação da
personalidade.

De acordo com as informações oferecidas pelo IBGE, através da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios de 1999, em Pernambuco, das 2.112.365 famílias cadastradas com

50
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

residências em domicílios particulares permanentes, levando-se em consideração uma


classificação de rendimento médio mensal familiar per capita, 34% percebiam um
rendimento médio mensal de até ½ salário-mínimo; 26,8% tinham rendimento mensal de
½ até 1 salário-mínimo; 16,2%, entre mais de 1 e 2; 5,2%, entre 2 e 3; 3,7%, entre 3 e 4; e,
apenas 4,1% das famílias atingiam um patamar de renda superior a 5 salários-mínimos, o
que reflete uma situação de pobreza absoluta grande, assim como de pobreza relativa
também muito acentuada. De uma maneira geral, esse quadro reproduz a realidade de
toda a região, onde apenas o Estado de Sergipe apresenta um percentual inferior de
famílias com rendimento até ½ salário-mínimo (33,4%), sendo esse percentual de 38,9
para todo o Nordeste, o que representa a pior situação entre todas as regiões, quando
este índice para o Brasil como um todo é de 20,1%, atingindo 11,1% no Sudeste. Na
mesma proporção, o segmento de famílias com rendimentos maiores que 5 salários-
mínimos chega a 12,5% no Sudeste, enquanto só representa 3,9% no Nordeste e 9,4% de
todas as famílias brasileiras.

Tabela 2.10 Famílias residentes em domicílios particulares permanentes (total) e sua respectiva distribuição
percentual, por classes de rendimento médio mensal familiar per capita em salário-mínimo — no
Brasil, na Região Nordeste e em seus estados – 1999.
Famílias residentes em domicílios particulares permanentes
Classe de rendimento médio mensal familiar per
capita em salário-mínimo (%)
Unidades
Total (1) Mais
Mais de Mais de Mais de Mais de
de
1/2 a 1 1a2 3a5 5
2a3

Brasil 46.306.278 20,1 23,4 23,1 10,2 8,2 9,4


Nordeste 12.417.775 38,9 27,0 15,3 4,9 3,5 3,9
Maranhão 1.340.294 49,1 26,4 12,2 4,3 2,2 2,3
Piauí 714.290 47,7 24,0 13,7 3,6 3,7 2,5
Ceará 1.880.070 40,8 27,6 14,5 4,1 3,0 3,8
Rio Grande do Norte 728.039 34,2 28,6 18,5 4,2 4,5 5,1
Paraíba 925.822 36,3 25,9 16,4 5,8 4,6 7,3
Pernambuco 2.112.365 34,0 26,8 16,2 5,2 3,7 4,1
Alagoas 711.090 43,6 26,0 13,7 6,0 3,4 3,6
Sergipe 475.100 33,4 27,5 14,6 4,2 5,0 5,0
Bahia 3.530.698 36,5 27,9 16,2 5,3 3,3 3,5
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – 1999. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. 1 CD-ROM.
(1) Inclusive as famílias sem declaração e sem rendimento.

Segundo as informações do Censo Agropecuário de 1995/1996, as últimas disponíveis,


havia um total de 975.288 pessoas ocupadas em atividades agropecuárias no Estado.
Desse total, 76,1% eram pessoas ocupadas como membros da família, portanto,
trabalhadores sem remuneração ou salário, o que indica a predominância de relações
de trabalho tradicionais na agricultura do Estado. Apenas 13,1% declararam trabalhar
como empregados temporários; e 8,9%, como permanentes, entre os quais, empregados
em atividades da agricultura moderna. A ocupação da mão-de-obra como
trabalhadores familiares pode caracterizar uma situação de economia rural atrasada,

51
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

com baixo nível de capitalização. Não estando a mão-de-obra empregada por salário,
significa que o efeito do emprego sobre o consumo é baixo, pela inexistência de fluxo
circular da renda, que estimula as relações de mercado. Por outro lado, chama a
atenção da importância da agricultura familiar para um modelo sustentável de
desenvolvimento.
Os dados mostram também a grande importância do emprego familiar, particularmente
nas regiões do Sertão e do Agreste pernambucanos. Nas regiões mais urbanizadas, como
a Zona da Mata e a Região Metropolitana do Recife, a importância do emprego
assalariado se sobrepõe a do emprego de natureza familiar.

Dados do nível de emprego nas atividades formais da economia indicam que a maioria
dos empregos está ligada à indústria de transformação, seguida da administração
pública. Os serviços vêm em terceiro lugar, o comércio em quarto. O emprego total
gerado na economia do Estado, segundo dados da Rais de 1999, era de 848.247 postos
de trabalho. A Região Metropolitana concentra 70,1% do emprego total nas atividades
formais da economia e, na sua quase totalidade, nos ramos industriais e de serviços.
Apenas no caso da agropecuária, destacam-se mesorregiões do Agreste e do Sertão
com maiores proporções de emprego formal.

A distribuição do emprego segundo a atividade econômica mostra a importância das


lavouras e da pecuária na ocupação da PEA, no Estado. Para o trabalho agrícola, as
lavouras temporárias e permanentes empregam 46,94% da mão-de-obra, enquanto a
pecuária ocupa 28,95%. Sendo a pecuária normalmente uma atividade de baixa
ocupação de emprego, a sua importância no Agreste mostra a relevância desse sistema
de produção na economia rural. Existe também a atividade mista de agricultura e
pecuária, herança do antigo sistema lavoura-gado-algodão, com a ocupação de boa
parte do emprego, num percentual de 20,63%.

Desemprego

As sociedades modernas adotaram o sistema de inclusão social, fortemente marcado


pela inserção econômica estabelecida pelo emprego como base de rendimento da
maioria da população. Embora o pleno emprego tenha se constituído em um mito,
jamais alcançado pelas modernas economias, o desemprego se transformou em um dos
principais problemas que afetam, diretamente, os níveis de pobreza.

A taxa de desemprego aberto é um indicador que se constitui a partir da relação entre a


População Economicamente Ativa – PEA, de uma região e a proporção dessa
população que se encontra desocupada, mas que continua procurando emprego, no
período de referência.

O Estado de Pernambuco conta com uma população de aproximadamente 7,5 milhões


de habitantes, dos quais, 47% compõem a sua PEA. Isso significa que a parcela da

52
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

população que, em potencial, pode trabalhar é grande, restando quase que uma
equiparação de 1 que trabalha para 1 que não trabalha. Há, no entanto, alguns
desencontros nessa equiparação, pois a faixa de idade para ingresso na PEA é muito
baixa, sendo calculada pelo segmento da população com mais de dez anos de idade,
porque a distribuição da população não se dá de forma homogênea por todo o
território. Da população do Estado, 41,6% vive na Região Metropolitana do Recife, que
abrange 39,4% da PEA e concentra mais de 50% do PIB estadual, sendo esta região
responsável por 70% da produção industrial, detendo 73% do estoque de empregos
formais, segundo dados contidos na Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, do ano
2000.

Em 1999, de acordo com o IBGE, Pernambuco revelava uma proporção de empregados,


com carteira profissional assinada, de apenas 47,2% do total de sua população
economicamente ativa (não incluídos no cálculo militares e funcionários públicos
estatutários); entre empregados domésticos, tal proporção era de 25,5% no mesmo ano.
No que se refere à contribuição para a Previdência Social, apenas 5,7% dos
trabalhadores por conta própria e 43,3% dos empregadores eram contribuintes.

Isso revela condições adversas do mercado de trabalho, cujas causas podem estar
relacionadas aos seguintes fatores: 1) baixo crescimento econômico; 2) prática de
rotatividade cujas raízes incluem elementos institucionais (legislação trabalhista, estrutura
tributária) que levam empresas a tentar reduzir custos via redução do tempo médio dos
contratos de trabalho (ou via aumento das relações de informalidade). A alta proporção
de desemprego entre os mais jovens é outro importante aspecto qualificador da
desocupação — a desocupação na faixa etária de 18 a 25 anos é em geral mais que o
dobro da taxa média global de desemprego. Isso compõe a medida do desafio
enfrentado pelas políticas de emprego em Pernambuco.

Embora os dados sobre desemprego estejam concentrados no Grande Recife, este não
é um fenômeno meramente metropolitano. Apesar de não haver números disponíveis
sobre desemprego no interior do Estado, sabe-se que a Zona da Mata, por exemplo,
abriga bolsões de desemprego, cuja dimensão se agrava, sazonalmente, em função das
crises da economia açucareira — ainda o principal esteio da economia dessa área.

Fica evidente que a questão do emprego é algo que manterá sua relevância e sua
urgência por alguns anos à frente. Implica constatar que, mais do que em outros
momentos, será fundamental o papel de políticas públicas para minorar o problema da
desocupação.

Afora medidas que possam atuar na redução do ritmo de crescimento da oferta de


força de trabalho nos centros metropolitanos (alternativas de ocupação na agricultura
familiar, particularmente, e incorporação dos mais jovens ao sistema educacional), será
necessário identificar áreas e segmentos prioritários para distribuição e aplicação dos

53
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

recursos disponíveis. Ou seja, será fundamental caracterizar bem as demandas para


melhor aplicar os recursos, sendo isso de crucial importância para os programas de
geração de emprego de renda e para os programas de requalificação da força de
trabalho.

Tratamento dispensado aos grupos vulneráveis

Dentro do quadro geral de desigualdades sociais, pode-se perceber que os diversos


grupos que compõem e caracterizam a heterogeneidade do tecido social não se
encontram diante das mesmas chances de participação, havendo grupos que se tornam
mais vulneráveis diante dos riscos de pobreza, discriminação e violência. A vulnerabilidade
de tais grupos decorre de fatores de desigualdade social e economicamente impostos; as
possibilidades de se reverter o quadro desfavorável não depende, apenas, da
autodeterminação dos seus componentes, mas da intervenção política direta, como
condição de estabelecimento da eqüidade e base do exercício da igualdade. Entre esses
grupos, merecem destaque as mulheres, as crianças e os adolescentes, os idosos, os
representantes de etnias negras e indígenas e os portadores de necessidades especiais.

As mulheres são representantes de grupos vulneráveis, tanto pela sua inserção na


economia — na qual os rendimentos do trabalho feminino são, de uma maneira geral,
inferiores aos rendimentos do trabalho masculino, e isso se comprova quando se afere
que o número de famílias pobres chefiadas por mulheres é superior ao de famílias na
mesma situação de pobreza chefiadas por homens — como pela fragilidade feminina
diante da violência, especialmente na violência praticada dentro da família.

Embora venha se registrando, em todo o País, um declínio nos patamares de


desigualdade frente a trabalho por sexos — enquanto a diferença entre os rendimentos
femininos em 1992 representava aproximadamente a metade dos rendimentos
masculinos (R$ 216,00 para mulheres e R$ 406,00 para homens), em 1999 representa R$
324,00 para R$ 534,00 — e a força de trabalho feminina venha, pouco a pouco,
ocupando espaços antes reservados apenas a representantes masculinos, ainda é alta a
desigualdade econômica por sexo. De acordo com as informações fornecidas pelo IBGE,
através da Pnad, de 1999, enquanto o rendimento médio mensal para as mulheres
empregadas era de R$ 196,00 o mesmo indicador para o trabalho masculino era de R$
319,00.

A situação dos grupos étnicos considerados vulneráveis no Brasil reproduz o preconceito


consubstanciado na formação social e econômica do País. Por exemplo, os negros
representam aproximadamente 45% da população, apresentam baixa oportunidade de
mobilidade social vertical, percebem menores salários, ocupam postos de trabalho
considerados piores, sofrem discriminação social e apresentam menores índices de
escolaridade.

54
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

A avaliação do rendimento médio mensal de todos os trabalhos das pessoas de 10 anos


ou mais de idade, economicamente ativa, por cor ou raça em Pernambuco, revela uma
grande defasagem entre as pessoas de cor branca (R$ 478,00), comparadas com as de
cor preta (R$ 228,00) e pardas (R$ 261,00), além de rendimentos bem menores que o da
média do Brasil, Tabela 2.11.

Tabela 2.11 Rendimento médio mensal de todos os trabalhos das pessoas de 10 anos ou mais de idade,
economicamente ativa, por cor ou raça, no Brasil, na Região Nordeste e em seus estados – 1999.

Brasil, Região Rendimento médio mensal de todos os trabalhos das pessoas


Nordeste e seus de 10 anos ou mais de idade, economicamente ativas, por cor
estados ou raça (R$)
Branca Preta Parda
Brasil 670 314 329
Nordeste 467 206 252
Maranhão 418 133 224
Piauí 407 141 216
Ceará 413 310 235
Rio Grande do Norte 460 274 284
Paraíba 592 264 280
Pernambuco 478 228 261
Alagoas 443 182 235
Sergipe 569 231 277
Bahia 467 218 266
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – 1999. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

O trabalho infantil expõe a vulnerabilidade de crianças e adolescentes de baixa renda no


País, comprometendo o seu desenvolvimento biopsicossocial e repercutindo negativamente
na escolarização.

Pernambuco apresenta um dos maiores índices de trabalho precoce, uma vez que 46,2%
dos seus trabalhadores começam a trabalhar ainda na infância, sendo a agricultura o
setor que mais emprega crianças, 55,1% delas. Nesta conjuntura, o Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil – Peti, foi lançado oficialmente pelos Governos Federal e
Estadual, em janeiro de 1997, e vem obtendo resultados positivos. No final de 2000, esse
programa já abrangia 65 municípios do Estado, além de atender a quinze áreas de lixões,
tanto urbanos quanto rurais.

Associado ao quadro de pobreza e desigualdade, um outro aspecto que altera


negativamente a qualidade de vida da população é a violência que permeia toda a
sociedade e cuja amplitude e complexidade varia, desde um imaginário coletivo
violento, abrangendo relações familiares e pequenos grupos, até ações políticas que
tomam formas de crimes do colarinho branco, passando pela violência criminosa,
percebida, hoje, como um dos mais graves problemas sociais, disputando a primazia
com o desemprego na preocupação do cidadão.

55
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Adotando-se um conceito amplo de violência, pode-se perceber que esta pode ser
referenciada enquanto resultado da pobreza e das desigualdades econômicas, sociais,
políticas e de fatores psicológicos, apreendidos como exclusão social e negação à
participação na condição de sujeito de direito, contribuindo para a constituição de uma
ambiência criminosa que induz indivíduos e grupos à prática da delinqüência e do crime,
tornando-os socialmente perigosos e/ou vulneráveis.

O quadro geral da violência vem sendo agravado, também, pelas falhas no sistema de
justiça criminal, que vem exigindo soluções norteadas por uma política de defesa social,
dentro de uma perspectiva da ecologia criminal, uma vez que se percebe a relação da
incidência da violência com as questões ambientais, especialmente como decorrência
da degradação do espaço ambiental urbano.

Embora o País apresente taxas de criminalidade altas, algumas diferenças assim como
algumas ligações se estabelecem entre a violência urbana e rural, criando um sistema
de complementaridade entre elas. A violência rural se caracteriza sob a forma de crimes
contra a pessoa, em grande parte decorrentes de conflitos pela posse da terra e pelo
aproveitamento do espaço para a agricultura e o comércio de plantas que servem de
base à produção de drogas, mantendo sérias ligações com o crime internacional
organizado e com a violência urbana conseqüente à comercialização e ao consumo de
drogas. Pernambuco está inserido no roteiro internacional do tráfico de drogas, assim
como tem parte de suas terras cultiváveis para o plantio de maconha, a despeito de
todas as iniciativas para o controle dessa prática.

Dentre as manifestações de violência criminosa de características urbanas, destacam-se


os crimes contra o patrimônio, cuja incidência mais comum são o furto e o roubo, que se
manifestam mais comumente como assalto e se combinam com os crimes contra a
pessoa, quando expõem as vítimas ao risco de vida, aos seqüestros e aos latrocínios. São,
no entanto, os crimes contra a pessoa, especificamente o homicídio, que compõem os
indicadores mais alarmantes da violência, hoje, no Brasil.

Se for observada a evolução de óbitos por homicídio nos últimos anos, nas regiões
metropolitanas do Brasil, vai se constatar um crescimento absoluto de 52,2%, entre os
anos de 1991 e 1999, crescimento este bem superior ao observado pelo da população,
para o mesmo período, que foi de 11%, passando de 15.191 para 23.120 por ano, entre os
anos-base. O indicador de níveis de incidência relativo, que se obtém a partir da relação
do número de mortes por homicídio pela população total, para grupos de 100.000
habitantes, por um período determinado, registra um comportamento semelhante,
apresentando um percentual de 37,74 em 1991, passando para 51,76% em 1999,

56
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

representando um aumento de 37,15%, no período. Para os indicadores de 1999, Vitória,


Recife e São Paulo apresentam os índices mais elevados desse tipo de violência.

Pernambuco tem lugar de destaque com referência aos índices de violência: 9,8% dos
homicídios praticados em 1999, no País. Nesse sentido, o Estado registra uma taxa de
violência preocupante, uma vez que o coeficiente de mortalidade por homicídios em
1999 foi de 55,63/100.000 habitantes, enquanto no Maranhão é de 4,84/100.000
habitantes.

Tabela 2.12 Coeficiente de mortalidade por homicídios — no Brasil e nos estados do Nordeste – 1999.

Coeficiente de mortalidade por homicídios (por 100.000


Brasil e estados do Nordeste
hab.)
Brasil 26,18
Maranhão 4,84
Piauí 4,86
Ceará 15,53
Rio Grande do Norte 8,44
Paraíba 11,94
Pernambuco 55,63
Alagoas 20,42
Sergipe 19,21
Bahia 7,03
Fonte: Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, Coordenação de Informática do Sistema Único de
Saúde, Coordenação de Informação de Saúde, Sistema de Informação sobre Mortalidade ––
Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, IBGE, 2002.

A constatação do aumento absoluto e relativo da violência contra a vida é agravada


quando se leva em consideração que esta é a causa mortis principal em óbitos ocorridos
entre jovens. Dos homicídios ocorridos no Brasil, em 1999, 53,9% são praticados contra
jovens entre 18 e 29 anos. Pernambuco acompanha essa tendência, tendo esta taxa
representado 53,9% das mortes violentas em 1999.

Padrões de produção e consumo

Os padrões atuais de produção e consumo vêm sendo criticados, em nível internacional,


como um aspecto primordial para a mudança dos valores dados aos recursos naturais.
Em Pernambuco, esse tema vem ganhando força nos últimos anos por conta das crises
de escassez de água e de energia, que requereu da população a participação em
medidas de economia e racionamento do uso desses recursos. Estando grande parte do
Estado em área do semi-árido inserido no Polígono das Secas do Nordeste, faz-se
necessário reavaliar todos os setores da sociedade, no sentido de reduzir os atuais índices
de produção e consumo.

Reciclagem e coleta seletiva do lixo


57
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

A reciclagem de materiais, associada à reutilização e à redução do consumo, vem


sendo um tema presente nas discussões nacionais e internacionais, dada a pressão sobre
os recursos naturais, tanto para a produção de bens, bem como para disposição final
dos resíduos produzidos. Entretanto, na prática, os dados revelam que apenas 2,4% do
lixo coletado em Pernambuco possui atendimento com coleta seletiva. Padrões
baixíssimos também são verificados no Brasil (1,9%) e de Nordeste (0,5%), conforme indica
a Tabela 2.13.

Esforços devem ser direcionados para ampliar esse atendimento, contando inclusive com
a parceria das organizações não-governamentais – ONGs, da comunidade e de setores
do empresariado local, de modo que esse novo modo de proceder seja implantado não
apenas no gerenciamento dos resíduos domiciliares, como também dos resíduos
comerciais e industriais.

Tabela 2.13 Serviço de coleta seletiva de lixo, com indicação do número de municípios, número de
residências atendidas e quantidade de lixo coletado, no Brasil, na Região Nordeste e em seus
estados – 2000.
Serviço de coleta seletiva de lixo
Nº de municípios Nº de residências atendidas Quant. de lixo coletado
Brasil, Região
Nordeste e seus Com
Com coleta Total Com coleta
estados coleta
Total Total seletiva (t/dia) seletiva
seletiva
Total Total
Total % (1) % %
estimado (t/dia)
Brasil 5.507 451 8,2 44.795.101 2.680.383 6,0 228.413,0 4.290,0 1,9
Nordeste 1.787 27 1,5 11.401.385 38.771 0,3 41.557,8 199,0 0,5
Maranhão 217 - - 1.235.496 - - 2.652,6 - -
Piauí 221 - - 661.366 - - 2.431,3 - -
Ceará 184 2 1,1 1.757.888 30 0,0 10.150,5 1,0 0,0
Rio Grande do
166 2 1,2 671.993 - - 2.373,5 - -
Norte
Paraíba 223 1 0,4 849.378 4.000 0,5 2.894,0 2,0 0,1
Pernambuco 185 9 4,9 1.968.761 8.600 0,9 6.281,2 149,0 2,4
Alagoas 101 1 1,0 649.365 800 0,1 2.999,3 1,0 0,1
Sergipe 75 - - 436.735 - - 1.377,1 - -
Bahia 415 12 2,9 3.170.403 15.341 0,5 10.398,3 46,0 0,4

Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, IBGE, 2002.


(1) Corresponde ao número total de domicílios particulares permanentes levantados no Censo Demográfico
2000.

Consumo de energia

O consumo de energia geralmente está associado ao grau de desenvolvimento de uma


região. Entretanto, a produção, o consumo e os subprodutos resultantes da oferta de
energia exercem pressões sobre o meio ambiente e os recursos renováveis. Nesse sentido,

58
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

é fundamental limitar o uso de energia, através do aumento da eficiência energética,


compatibilizando a oferta de energia com a proteção ambiental.

O Brasil tem uma matriz energética eminentemente limpa, uma vez que mais de 95% da
energia gerada provêm de fontes hídricas. Da mesma forma, a participação das fontes
renováveis na matriz energética de Pernambuco é alta, uma vez que a maioria é
proveniente do sistema hidroelétrico do Vale do São Francisco, gerenciado pela Chesf.
Entretanto, no que se refere às demais fontes renováveis de energia, como, por exemplo,
as energias eólica e solar, o percentual ainda é bastante reduzido. Experiência positiva
foi vivenciada nos anos 80 pelo Programa Proálcool, de substituição em larga escala dos
derivados de petróleo, no qual o Estado de Pernambuco foi um produtor importante, em
face do parque sucroalcooleiro existente. Quanto à energia eólica, existem duas
unidades em funcionamento, uma no distrito de Fernando de Noronha e a outra no
município de Olinda.

A Tabela 2.14 revela o consumo de energéticos em Pernambuco, na qual se ressalta o


aumento da demanda de fontes hidroelétricas e a redução do uso da biomassa. Uma
preocupação que se deve ter é a matriz energética, fortemente pautada pela
produção das usinas hidrelétricas. Essa fonte é seguida pelos derivados de petróleo e
pela biomassa florestal (lenha e carvão vegetal). Entretanto, essa matriz está
caminhando para a diversificação. A disponibilidade de alternativas, como pequenas
centrais hidrelétricas/PCH, gás natural, biomassa (principalmente bagaço de cana),
energia eólica e energia solar, apresenta representatividade crescente.

Tabela 2.14 Consumo de energéticos em Pernambuco (1989-1998).

Setor / Ano 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Eletricidade 1.435 1.442 1.515 1.538 1.614 1.664 1.792 1.915 2.054 2.225

Derivados de
1.077 1.205 1.219 1.192 1.160 1.175 1.323 1.555 1.628 1.751
Petróleo

Biomassa 2.255 2.210 2.198 2.156 2.004 1.973 2.145 2.211 2.153 1.698

Gás Natural 226 172 188 145 141 126 161 162 174 175

Total 4.993 5.029 5.120 5.031 4.919 4.938 5.421 5.843 6.009 5.849
Fonte: Secretaria de Infra-estrutura do Governo do Estado de Pernambuco, 2000.

Existe em andamento o Programa de Economia de Energia Elétrica – Procel, que vem


atuando em diversos setores, no sentido de reduzir os atuais níveis de consumo de
energia.

59
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

2.3.2 A Educação e a Saúde como Condições de Inclusão Social

Educação

O acesso universal à educação e à informação é visto como uma variável-chave para a


consolidação do exercício da cidadania, sendo importante tanto para a expansão da
renda individual e familiar como para a conseqüente redução da pobreza. Os altos níveis
de educação estão sempre vinculados a altos índices de renda em sociedades que
apresentam bons níveis de qualidade de vida de suas populações. Da mesma forma, em
sociedades que ostentam baixos índices de desenvolvimento humano, o acesso à renda
e à riqueza se tornam condições indispensáveis ao acesso à educação e à informação
de qualidade. Assim, a educação se torna um indicador de grande significado tanto de
mensuração da igualdade social, como de consolidação das desigualdades sociais.
Essas oportunidades podem se manifestar em indicadores como:

Escolaridade

A escolaridade revela o nível de educação alcançado pelo segmento da população


que não se encontra mais em idade escolar, expressando a quantidade de anos de
estudo, em média.

De acordo com os dados do IBGE, oferecidos pela Pnad de 1999, em média, o brasileiro
de mais de 25 anos estudou 5,7 anos. Pernambuco apresenta uma taxa um pouco
inferior à nacional, com 4,7 anos de estudo, índice um pouco superior ao regional, que é
de 4,2 anos, sendo, ao mesmo tempo, bem inferior ao constatado para os habitantes da
Região Sudeste, que é de 6,4, índice mais elevado do País.

O investimento em educação, que também traga melhoria à qualidade do ensino em


Pernambuco, vai depender das práticas desenvolvidas e do que se pode planejar para
o futuro. A urgência, nesse caso, é um tanto maior, já que investimentos em educação
não produzem efeitos imediatos. Nesse sentido, esforços vêm sendo feitos no Estado nos
últimos anos. Com relação à evasão escolar, a Secretaria de Educação de Pernambuco
revela que:

• 55% dos estudantes pernambucanos concluem apenas o segundo ano do ensino


fundamental.

• 27% chegam ao oitavo ano do mesmo nível.

• 6% concluem o segundo grau.

60
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• 3% chegam à universidade.

Com relação à escolaridade, ainda, pode-se perceber que Pernambuco apresenta, em


alguns sentidos, uma situação superior à verificada em outros estados da região. A
Região Metropolitana do Recife registra uma média de 6 anos de estudo, acima da
média brasileira. À medida que avança o nível de capacitação profissional, Pernambuco
amplia a sua vantagem competitiva em relação aos outros estados do Nordeste,
consolidando a sua posição de destaque no segmento científico e tecnológico. De
acordo com as informações contidas no Plano Plurianual de Desenvolvimento do Estado
de Pernambuco, o Estado tem um número de pesquisadores (mestres e doutores) igual à
soma dos estados da Bahia e do Ceará e concentra mais de 28% dos centros de
pesquisa do Nordeste, duas vezes mais que a Bahia e três vezes mais que o Ceará.

Figura 2.2 Centros de pesquisa nos estados do Nordeste do Brasil.

14% 5% 0% 10%
10%
5%

5%

23%
28%

MARANHÃO CEARÁ BAHIA PARAÍBA ALAGOAS

PIAUÍ RIO GRANDE DO NORTE PERNAMBUCO SERGIPE

Fonte: Plano Plurianual de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco, 1999–2003. Seplandes, 1999.

Escolarização

A taxa de escolarização diz respeito às condições de acesso à educação do segmento


da população em idade escolar regular, entre 5 e 24 anos de idade. A análise da taxa
de escolarização evidencia algumas características do acesso da população à
educação, abrangendo desde o ingresso ao pré-escolar até o curso superior.

O Brasil, de uma maneira geral, vem apresentando melhorias significativas no setor


educacional e isso pode ser observado na comparação dos índices de escolarização da
população, que era de 53,9% em 1992, para crianças entre 5 e 6 anos, passando para
70,9%, em 1999; de 86,6%, para a faixa etária entre 7 e 14 anos, para 95,7%; de 59,7%, entre
15 e 17 anos, para 78,5%; de 36,1% entre 18 e 19 anos, para 51,9%; e, finalmente, de 16,9%,
para 25,5%, para a faixa entre 20 e 24 anos.
61
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 2.15 Média de anos de estudos da população de 25 anos ou mais, no Brasil, na Região Nordeste e
em seus estados – 1999.
Média de anos de estudos da população
Brasil, Região Nordeste e seus estados
de 25 anos ou mais de idade
Brasil 5,7
Nordeste 4,2
Maranhão 3,7
Piauí 3,7
Ceará 4,1
Rio Grande do Norte 4,8
Paraíba 4,9
Pernambuco 4,7
Alagoas 4,1
Sergipe 4,7
Bahia 4,0

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – 1999. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

Pernambuco também vem conseguindo melhorar os seus índices de escolarização,


apresentando, segundo o IBGE, através da Pnad de 1999, taxas de 74,4% para as idades
entre 5 e 6 anos; 92,1% para a faixa etária entre 7 e 14 anos, sendo esta a etapa
considerada fundamental no sistema mínimo de educação; 72,8% para as idades entre
15 e 17 anos; 50,1% entre 18 e 19 anos; e 25,5% para o segmento entre 20 e 24 anos.

Alfabetização

A taxa de alfabetização expressa a relação entre as pessoas adultas, com 15 anos ou


mais de idade, capazes de ler e escrever, e a população total adulta nessa mesma faixa
etária.

Os dados do IBGE (2002) revelam que Pernambuco detém uma taxa de alfabetização
de 75,3%, um pouco superior aos valores registrados para o Nordeste (73,4%) e inferior aos
valores detectados para o Brasil (86,7%).

Pernambuco se destaca, contudo, quando se trata de taxa de alfabetização e de


escolaridade. O percentual de analfabetos (na população de 15 anos ou mais) no
Estado é de 26,4%, desempenho melhor que o nordestino, estimado em 29,4% de
analfabetos, inferior à Bahia (26,9%) e ao Ceará (30,8%), perdendo apenas para Sergipe,
como mostra o gráfico a seguir apresentado. Entre a população de 10 anos ou mais,
Pernambuco apresenta uma média de 4,4 anos de estudo, acima da média nordestina
(4 anos) e da Bahia e do Ceará, ambos com 3,9 anos de estudo. Em todo caso,
Pernambuco empata com Sergipe e perde para o Rio Grande do Norte na taxa de
escolaridade, que apresenta 4,6 anos médios de estudos, segundo o IBGE (cinco anos

62
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

antes, Pernambuco estava em primeiro lugar na escolaridade da população de 25 anos


ou mais).

Figura 2.3 Taxa de analfabetismo — pessoas com 15 anos ou mais, 1997.

MARANHÃO
40 PIAUÍ
CEARÁ
RIO GRANDE
Percentual

30 DO NORTE
PARAÍBA
PERNAMBUCO
20 ALAGOAS
SERGIPE

10 BAHIA

NORDESTE

0 1

ESTADOS DO NORDESTE E REGIÃO

Fonte: Plano Plurianual de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco – 1999-2003. Seplandes, 1999.

Analfabetismo funcional

O Brasil vem desenvolvendo esforços no sentido de melhorar os seus indicadores sociais


na área de educação, implantando alguns programas. No entanto, segundo revela a
Síntese de Indicadores Sociais 2000, divulgada pelo IBGE, muito ainda precisa ser feito. De
acordo com esses dados, se, em 1992, 17,2% da população brasileira era composta por
analfabetos, em 1999 a proporção cai para 13,3%. O comportamento apresentado pelo
Estado de Pernambuco apresenta-se ainda mais grave do que o observado no quadro
nacional, reproduzindo as antigas diferenças de eqüidade entre as regiões. Da
população pernambucana, 30,9% era analfabeta em 1992 e, embora haja ocorrido uma
pequena melhora até 1999, naquele ano o índice ainda era muito elevado, atingindo
24,7%. Entretanto isso é mais grave nas pessoas de 15 anos ou mais de idade, uma vez
que a taxa de analfabetismo é de 40,1% em Pernambuco, enquanto no Brasil a taxa é
de 29,4%, conforme Tabela 2.16.

63
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 2.16 Taxa de analfabetismo funcional das pessoas de 15 anos ou mais de idade, no Brasil, na Região
Nordeste e em seus estados – 1999.

Taxa de analfabetismo funcional das


Brasil, Região Nordeste e seus estados
pessoas de 15 anos ou mais de idade (%)
Brasil 29,4
Nordeste 46,2
Maranhão 52,8
Piauí 53,1
Ceará 46,4
Rio Grande do Norte 39,2
Paraíba 43,3
Pernambuco 40,1
Alagoas 47,4
Sergipe 41,5
Bahia 48,3
Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – 1999. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. 1 CD-ROM.

Segundo informações da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE do ano 2000, enquanto


19,2% da população urbana era composta por analfabetos, no meio rural a proporção
alcançava 40,3%. Pelos dados do último Censo, de um total populacional de 1.639.949
moradores de áreas rurais, apenas 54,2% são alfabetizados. Se a atenção se volta para a
questão de gênero, no tocante à educação pode-se perceber que as taxas de
analfabetismo se manifestam com alguma diferença entre homens e mulheres com 15
ou mais anos de idade.

Para os homens, distingue-se uma taxa de 26,4%, enquanto para as mulheres a


proporção é de 23,2% (dados também de 1999). É interessante observar que esse
comportamento, no qual as mulheres aparecem como mais alfabetizadas que os
homens, é uma característica dos dados do Estado de Pernambuco.

Se forem observadas as taxas de analfabetismo, por sexo, no mesmo período, no Brasil


elas correspondem a 13,3% para ambos os sexos, bem abaixo das apresentadas no
Estado de Pernambuco. A diferença favorável às mulheres pode ser associada à forma
de inserção no mercado de trabalho para homens e mulheres. Em termos de
escolaridade média, no geral as mulheres da força de trabalho possuem maior nível de
educação — uma forma de tentar compensar, no mercado, as desvantagens de
remuneração em relação aos homens.

Pode-se afirmar, a partir desses dados, sobre a situação da educação em Pernambuco,


que para se obter uma significativa mudança qualitativa, que envolva a melhoria na
qualidade da educação, a Agenda 21 Estadual prevê que sejam feitos investimentos em
capacitação, treinamento, atualização e reciclagem para o corpo docente das
unidades escolares (professores, técnicos e auxiliares administrativos), como também

64
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

investimentos em equipamentos e instalações, compatíveis com a modernização


tecnológica dos processos de informação e comunicação.

Saúde

As condições de saúde em Pernambuco podem ser avaliadas, ao mesmo tempo, como


um resultado da pobreza, quando os baixos níveis de renda e de educação da
população resultam em práticas pouco saudáveis, como precárias condições de
higiene; alimentação insatisfatória, com baixos índices nutricionais; etc., e também como
fator realimentador dessa mesma pobreza, manifestada pela baixa aptidão para a
escolaridade, baixa produtividade no trabalho, etc.

As condições de saúde em Pernambuco podem ser avaliadas, ao mesmo tempo, como


um resultado da pobreza, quando os baixos níveis de renda e de educação da
população resultam em práticas pouco saudáveis, como precárias condições de
higiene; alimentação insatisfatória, com baixos índices nutricionais; etc., e também como
fator realimentador dessa mesma pobreza, manifestada pela baixa aptidão para a
escolaridade, baixa produtividade no trabalho, etc.

Da mesma forma, os dados sobre saúde no Estado revelam o resultado do processo


acelerado de modernização da economia, reproduzindo a redistribuição desigual dos
frutos do modelo de desenvolvimento: ao lado dos indicadores de baixa qualidade da
saúde desfrutada por parte da população, Pernambuco é o segundo pólo médico do
Brasil, perdendo apenas para São Paulo. Destacam-se algumas especialidades, como
cardiologia, oftalmologia e traumato-ortopedia. O setor é de grande importância
econômica para o Estado, sendo o segundo maior contribuinte de ISS na Região
Metropolitana do Recife, com participação em torno de 13%.

Entre o período de 1993 a 1997, nessa área, houve um crescimento da arrecadação de


cerca de 96,6%. Um outro dado importante é a sua capacidade de geração de
emprego: em média, cinco empregos para cada leito hospitalar existente, número que
tende a crescer com a introdução de novas tecnologias na infra-estrutura hospitalar,
diferente da tendência natural de outros ramos de atividade. Estima-se que hoje o pólo
médico seja responsável pela criação direta de 130 mil empregos, num universo de 330
hospitais (181 privados) no Estado. Na Região Metropolitana do Recife são 256 clínicas e
341 laboratórios.

A liderança de Pernambuco dá-se também devido à sua capacidade de inovação. O


Estado montou o primeiro banco de leite do País e possui hoje, o segundo banco de pele
do Brasil. Outro destaque é o Instituto Materno Infantil de Pernambuco – Imip, referência
65
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

no País, atendendo 20 mil lactantes por ano, fazendo 800 cirurgias em crianças por mês e
fornecendo 6 mil doses de vacinas mensalmente. No setor de medicamentos, o
Laboratório Farmacêutico de Pernambuco – Lafepe, é uma das referências nacionais e é
responsável pela produção de medicamentos para Aids e epidemias da Amazônia.

Alguns indicadores representam os níveis de qualidade de vida desfrutados pela


população, tendo por base o acesso aos serviços de saúde, tanto no seu aspecto
preventivo como curativo. Entre eles se destacam:

Esperança de vida

Como bem observa o documento do IBGE sobre os Indicadores do Desenvolvimento


Sustentável no Brasil, a esperança de vida ao nascer está estreitamente relacionada às
condições de saúde e sanitárias de uma região, refletindo influências de ordens social,
econômica e ambiental, de uma maneira geral.

Embora tenha havido uma persistente ampliação da longevidade dos brasileiros, que se
ampliou de 66,3 anos, em 1992, para 68,5 anos, em 2000, observa-se que a expectativa de
vida ao nascer dos homens, no Brasil, apresenta-se inferior à das mulheres, sendo de 63,9
para eles e de 71,4 anos para elas. Em Pernambuco, com índices mais baixos de
expectativa de vida, sendo esta previsão de 63,7 anos, os homens vivem, em média, 59,8
anos e as mulheres 63,9 anos; esta média, inclusive, é inferior à apresentada para a Região
Nordeste como um todo, que é de 65,8 anos.

Tabela 2.17 Esperança de vida ao nascer, no Brasil, na Região Nordeste e em seus estados, 2000.

Brasil, Região Nordeste e seus estados Esperança de vida ao nascer (anos de


idade)
Brasil 68,5
Nordeste 65,8
Maranhão 64,8
Piauí 65,6
Ceará 66,4
Rio Grande do Norte 66,4
Paraíba 64,4
Pernambuco 63,7
Alagoas 63,2
Sergipe 67,2
Bahia 67,7
Fonte: Projeto IBGE/Fundo de População das Nações Unidas – UNFPA/Brasil (BRA/98/PO8). Sistema
Integrado de Projeções e Estimativas Populacionais e Indicadores Sociodemográficos.

66
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Fertilidade/mortalidade da população

No que diz respeito à taxa de fertilidade, que representa a dinâmica de crescimento da


população, pode-se perceber que houve uma retração no crescimento populacional,
tanto em nível nacional como estadual. Pernambuco apresenta indicadores semelhantes
aos do Brasil. Algumas informações fornecidas pela Pnad, IBGE, para 1999, revelam que:

• A taxa de fertilidade apresentada pela mulher brasileira, de 2,3 crianças nascidas por
mãe, é reproduzida de forma similar pela mulher pernambucana, que tem — em
média — 2,4 filhos.

• No exercício da procriação, também se estabelece uma semelhança entre as


oportunidades de sucesso das mulheres pernambucanas e brasileiras. De mil partos
acontecidos no Brasil, 44,4 resultam em morte da mãe; de forma similar, 44,3 mães
perdem a vida ao dar a luz, entre mil parturientes, em Pernambuco.

• Nas últimas décadas, o Estado obteve alguns resultados positivos no enfrentamento


da redução da mortalidade infantil. Suas taxas passaram de 185 mortes em mil
crianças nascidas com vida, em 1960, para 58,2 mortes em mil nascimentos, no ano
de 1999. No Brasil, a taxa é de 34,6 mortes por mil nascimentos, o que significa que as
taxas apresentadas pelo Estado ainda são muito elevadas, se comparadas ao
desempenho nacional, na mesma área.

As causas da manutenção dessas taxas se devem principalmente a fatores pré-natais


(condições prévias de saúde da mãe, antes e durante a gestação), que são também
causa de 58% do total de mortes de crianças antes de completar um ano de idade. As
outras causas mais incidentes são atribuídas a infecções respiratórias (13,9%), doenças
infectoparasitárias (6,3%). O percentual de mortes de crianças com menos de cinco anos
de idade, por diarréia, é de 11,6%.

A mortalidade pós-natal está associada às condições de pobreza, tais como consumo


da água (de forma imprópria), e também às condições sanitárias em geral. O Censo
Demográfico 2000 informa que, em Pernambuco, 1.665.741 domicílios permanentes, dos
1.968.776 cadastrados, possuem banheiro ou sanitário, dos quais 51,8% estão ligados à
rede geral de esgoto, ou pluvial, ou fossa séptica; enquanto 48,2% fazem uso de outras
formas de escoamento; e 15,4% não possuem banheiro ou sanitário.

67
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Doenças infecciosas

As doenças infectocontagiosas e as transmitidas por vetores, como a dengue e a


leishmaniose, por exemplo, também exercem uma grande influência na qualidade da
saúde preventiva e curativa do Estado. São detectados, ainda, altos índices de pessoas
infectadas com o vírus HIV/Aids, bem como de pessoas portadoras de tuberculose e
esquistossomose. As doenças de veiculação hídrica têm um papel relevante por conta
do sistema deficitário de esgotamento sanitário.

A imunização contra as doenças infecciosas tem se mostrado como um elemento


fundamental para a melhoria dos indicadores de saúde, reduzindo a morbidade e
mortalidade derivadas das enfermidades típicas da infância, abrangendo vacinas contra
tuberculose (BCG), sarampo, poliomielite e a vacina tríplice contra difteria, coqueluche e
tétano, que vêm sendo aplicadas à população brasileira com menos de 1 ano de idade
em quase sua totalidade. De acordo com informações do Ministério de Saúde, no ano
de 2000, a vacinação desse segmento da população foi de 100% para os três primeiros
tipos, e chegou a 94,94% para a vacina tríplice.

Acesso aos serviços de saúde

O atendimento às questões de saúde da população, tanto preventiva quanto curativa,


vem sendo oferecido de forma precária, se levadas em consideração as
recomendações da Organização Mundial de Saúde. A Síntese de Indicadores Sociais,
IBGE – 2000, informa que no Brasil existe um estabelecimento de saúde para cada grupo
de 2.946 habitantes; em Pernambuco, cada grupo de 3.213 habitantes dispõe de um
estabelecimento de saúde.

No que se refere ao número de profissionais médicos atuando, há um equilíbrio maior entre


os dados oferecidos nacionalmente e os de Pernambuco. Para cada grupo de mil
habitantes, no Brasil, existem 2,56 médicos atuando. No Estado, são 2,14 médicos por mil
habitantes, conforme Tabela 2.18.

68
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 2.18 Acesso aos serviços de saúde, por estabelecimentos de saúde e empregos médicos por mil
habitantes, no Brasil, na Região Nordeste e em seus estados – 1999.
Acesso aos serviços de saúde
Brasil, Região Estabelecimentos de saúde Empregos médicos
Nordeste e seus Habitantes por
estados Total estabeleciment Total Por mil habitantes
o
Brasil 56.133 2.946 423.812 2,56
Nordeste 16.265 2.889 81.080 1,73
Maranhão 1.669 3.285 5.472 1,00
Piauí 1.245 2.263 4.072 1,45
Ceará 2.614 2.773 12.051 1,66
Rio Grande do
1.256 2.165 5.676 2,09
Norte
Paraíba 1.418 2.477 6.026 1,72
Pernambuco 2.394 3.213 16.495 2,14
Alagoas 791 3.591 4.669 1,64
Sergipe 744 2.316 4.428 2,57
Bahia 4.134 3.135 22.191 1,71
Fonte: Estatísticas da Saúde: Assistência Médico-sanitária – 1999. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

Um outro indicador surge quando se examina o acesso ao atendimento médico por


planos e seguros de saúde segundo a distribuição de rendimentos. Conforme dados do
IBGE (Síntese dos Indicadores Sociais 2000), entre os 40% mais pobres no Estado de
Pernambuco, apenas 4,7% têm acesso a esse tipo de serviço; no segmento dos 10% mais
ricos, tal percentual eleva-se para 64,5%. Esses dados não diferem da situação nacional,
quando para o primeiro grupo a taxa é de 5,2% e para o segundo 74,2%.

2.4 ECONOMIA SUSTENTÁVEL

As desigualdades econômicas e sociais que afetam não só o Estado de Pernambuco,


como também o País, para serem enfrentadas, exigem um aumento imediato do ciclo
de crescimento sustentável, a partir de estratégias que estejam embasadas na
transformação das instituições e na mobilização de instrumentos, buscando o
desenvolvimento de longo prazo.

A maneira como a economia tratou tradicionalmente a realidade é limitada para a


interpretação do processo de desenvolvimento neste século. A teoria econômica
tradicional considerava o crescimento econômico como suficiente para alcançar o
progresso da sociedade, usando para isso indicadores como Produto Nacional Bruto –
PNB, e Produto Interno Bruto – PIB. Esses indicadores têm sido largamente utilizados em
estudos dos sistemas econômicos nacionais, apesar de freqüentemente reconhecidos
como incompletos e enganadores em vários aspectos, como atividade econômica
realizada fora do mercado, serviços governamentais medidos pelos custos antes que
pelo seu valor social e a degradação e o esgotamento dos recursos naturais. Por essa
razão, admite-se hoje que os indicadores tradicionais de medição do progresso

69
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

econômico são limitados para representar a sustentabilidade de longo prazo da


economia. Por outro lado, a política econômica é centralizada no poder político central
e não alcança facilmente as instâncias locais. Políticas de crédito e transferências de
renda e de investimento são decididas no nível do poder central, sem a participação das
populações locais, e os seus impactos não chegam freqüentemente às populações-alvo.

Tabela 2.19 Produto Interno Bruto per capita – 1999.

Unidades Produto Interno Bruto per capita (R$)


Brasil 5,740
Nordeste 2,671
Maranhão 1,402
Piauí 1,660
Ceará 2,631
Rio Grande do Norte 2,757
Paraíba 2,296
Pernambuco 3,279 (10)
Alagoas 2,275
Sergipe 3,056
Bahia 3,206
Fonte: IBGE – 2000.

A noção de economia sustentável está ligada à visão do desenvolvimento que incorpora


as formas de riqueza não monetária, como saúde e bem-estar, redes sociais, água e ar
de boa qualidade e biodiversidade. A noção de capital tradicional deve, então, ser
ampliada para incluir outros tipos de capital, como capital natural, capital humano e
capital social, dentro de uma concepção de sustentabilidade econômica. A economia
sustentável passa a ser considerada como uma dimensão de um esquema triangular que
incorpora a economia, a sociedade e o ambiente na noção de desenvolvimento
sustentável. O crescimento econômico, assim, será visto como riqueza acumulada na
forma de capital produtivo, capital natural, capital humano e capital social.

Apesar de todas as dificuldades por que passou, a economia do Estado de Pernambuco


nos últimos anos apresenta atualmente um nível maior de integração com a economia
brasileira e com a economia internacional. Essa maior integração resulta das suas fatias
de participação nos mercados globais e da renovação do seu parque industrial, que
possibilitou um maior nível de competitividade na sua exportação de produtos
industrializados. As mudanças na composição das exportações de produtos primários
também foram, sem dúvida, um fator determinante da sua maior integração competitiva
no mercado internacional.

As informações estatísticas disponíveis sobre o Estado de Pernambuco mostram que o


setor exportador não foi tradicionalmente um elemento dinâmico na sua economia, uma
vez que os produtos exportados, como cana-de-açúcar, sisal, fumo e algodão, nem
sempre estimularam o crescimento interno da economia, em razão da geração de
70
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

renda ter sido quase sempre apropriada por segmentos econômicos localizados fora da
região. Nas décadas de 80 e 90, essa situação começa a mudar, tendo em vista a nova
direção do comércio, baseada em produtos com um maior valor agregado, como
metais, plásticos, minerais, granito, frutas, pescado, produtos que, de uma maneira geral,
agregam valor às exportações e renda aos produtores. Essa mudança no perfil da
inserção do Estado no comércio global foi determinada pela abertura da economia
brasileira a partir dos anos 90, tanto no que diz respeito aos aspectos reais quanto
financeiros. No contexto de uma nova ordem internacional, que se estabeleceu na
década de 90, em resposta às recomendações do Grupo de Acordo de Tarifas e
Comércio – Gatt, e da Organização Mundial do Comércio – OMC, a importância do
comércio para a economia do Estado ficou marcada pela elevação da sua inserção nos
mercados nacional e mundial.

A Tabela 2.20 revela o quantitativo de exportação e importação de Pernambuco, que se


situa, comparado ao Brasil, em uma escala negativa no saldo comercial de US$ 694.834,
enquanto o Brasil registrou um saldo positivo de US$ 2.641.924.

Tabela 2.20 Valor das exportações, importações e saldo comercial – 2001.

Exportação Importação Saldo Comercial


Unidades
1.000 US$ FOB
Brasil 58.222.642 55.580.718 2,641.924
Nordeste 4.184.171 5.135.670 (-) 951.498
Maranhão 1.544.329 830.310 (-) 285.981
Piauí 40.087 15.458 24.629
Ceará 527.051 623.372 (-) 96.321
Rio Grande do Norte 187.585 88.740 98.845
Paraíba 105.315 90.225 15.090
Pernambuco 334.964 1.029.798 (-) 694.834
Alagoas 304.418 63.469 240.949
Sergipe 20.771 101.663 (-) 80.891
Bahia 2.119.651 2.292.634 (-) 172.983
Fonte: IBGE, 2000.

A realidade da economia pernambucana, estudada nesta seção, mostra como a sua


sustentabilidade se assenta sobre vários pilares, de natureza econômica, social e
ambiental. O desenvolvimento que se observa nos vários setores econômicos, tem se
dado com uma maior participação da população e um maior respeito ao meio
ambiente, constituindo-se, portanto, num processo de desenvolvimento sustentável.

Os setores dinâmicos da economia estão contribuindo para aumentar a renda e a riqueza


acumulada, reduzir os níveis de pobreza e ampliar a sua competitividade nos níveis local,
regional, nacional e internacional. Entre esses setores dinâmicos, destacam-se os de
exportação, moderna agricultura irrigada, indústrias de tecnologia de informação e
comunicação, produção rural não-agrícola, indústria eletroeletrônica, indústria gesseira e

71
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

os serviços de turismo, saúde e de gestão de empreendimentos. A evolução da economia


do Estado tem mostrado a sua elevada capacidade de superação das crises conjunturais
e inserção em um processo de desenvolvimento sustentável.

A participação do Estado, através de políticas, programas e projetos de apoio à


população, à iniciativa privada e aos setores dinâmicos, geradores de renda e riqueza,
tem sido essencial para alavancar o processo de desenvolvimento e possibilitar a maior
integração da economia no processo de globalização da economia mundial.

O Estado dispõe de algumas vantagens comparativas que o tem tornado mais


competitivo no cenário global e possibilitado uma crescente sustentabilidade do
processo de desenvolvimento interno de sua economia.

2.4.1 Diversificação da Economia Estadual

A base econômica de Pernambuco apresenta uma diversidade que a torna distinta da


maioria dos estados nordestinos, a exceção da Bahia. Por exemplo, para compor 87% do
PIB estadual é necessário reunir 13 setores industriais. No Ceará, que possui um PIB
comparável ao de Pernambuco, somente 03 setores completam esse percentual. Além
dessa diversidade quantitativa, entre os 05 setores com maior PIB, encontram-se indústrias
modernas, como a química e a eletroeletrônica.

Outro fator importante nessa diversificação é a distribuição geográfica. Existem setores


econômicos fortes ao longo do território do Estado, destacando-se a indústria gesseira e
a fruticultura irrigada, no Sertão; a indústria de baterias automotivas, a avicultura e a
indústria têxtil, no Agreste; e a indústria de softwares, na Região Metropolitana do Recife.

Figura 2.4 Setores econômicos fortes ao longo do território do Estado.

Fruticultura Irrigada Caprinocultura Baterias Automotivas Avicultura

Gesso Pecuária Leiteira Têxtil e Confecções Software e


Saúde

Fonte: Sectma, 2001

72
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Essa distribuição geográfica cria condições para a interiorização de ações de


desenvolvimento, apoiada na existência de uma boa infra-estrutura de comunicação
digital, inclusive com a Internet, podendo alcançar todos os municípios do Estado por
meio da Rede Pernambuco Digital, inovação pioneira do Governo do Estado de
Pernambuco, realizada pela Empresa de Fomento de Informática do Estado de
Pernambuco – Fisepe, com a colaboração da Secretaria Estadual de Ciência,
Tecnologia e Meio Ambiente – Sectma, e do Instituto de Tecnológico do Estado de
Pernambuco – Itep.

Setores dinâmicos na economia e suas cadeias produtivas

O contexto favorável à definição e implementação de uma política de ciência e


tecnologia arrojada em Pernambuco também se deve à existência de setores modernos
e dinâmicos na sua economia. Dentre esses setores, destacam-se, na Região
Metropolitana, a indústria de tecnologias da informação e comunicação e o setor de
serviços de saúde, dois pólos líderes no Nordeste e qualificados entre os melhores do País.

A diversidade do setor produtivo pernambucano também se expressa nos diversos níveis


de maturidade e organização das indústrias e suas cadeias produtivas. Por um lado,
existem setores nos quais a maioria dos fatores determinantes, descritos na seção
anterior, já existem, em maior ou menor grau. Por outro lado, vários setores não possuem
a organização suficiente para fazer uso das economias de escala e escopo que a
agregação geográfica e setorial permite às cadeias melhor estruturadas. Esses setores
são, conseqüentemente, menos competitivos.

Por essa razão, o terceiro pilar conceitual do Programa dos Centros Tecnológicos é a
atuação focalizada na cadeia produtiva completa e não em indústrias isoladas. Para
estruturar essa atuação, o programa utiliza o modelo de cadeias produtivas, ou clusters, de
Porter, M. E. (1998). Para cada cluster-alvo do programa são identificados gargalos
tecnológicos e oportunidades para inovação. A partir daí, ações são definidas e
implantadas de forma a resolver aqueles gargalos ou explorar as oportunidades no
desenvolvimento de novos negócios, através da inovação tecnológica.

Esse enfoque depende da existência de condições estruturais, recursos humanos e


tecnologia disponível para que as ações definidas possam ser implementadas. Em
particular, é necessário que todo o processo de estudo, geração e implantação de
solução tenha uma gerência profissional. Essa gerência é o papel central dos Centros
Tecnológicos e de Educação Profissional. Nesse sentido, cada centro é focado em um
cluster central e nas suas interações com indústrias relacionadas. A rede de centros é
articulada pelo Itep, que está recebendo investimentos para poder executar a gestão
do Programa.

73
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Resumindo, o Programa dos Centros Tecnológicos e de Educação Profissional assume


que, para sobreviver na economia globalizada, qualquer empreendimento local precisa
ter classe mundial e, portanto, ser capaz de competir em qualquer lugar. Para suportar o
desenvolvimento desses empreendimentos é necessário a existência de condições
ambientais locais favoráveis ao surgimento de ecossistemas de inovação e negócios. O
objetivo do Programa de Centros Tecnológicos e de Educação Profissional é ser um
instrumento executivo dessas ações governamentais.

Identificação das cadeias produtivas e localização do centros

Os seguintes clusters e regiões de desenvolvimento do Estado foram estudados:

• Gesso: Sertão do Araripe.

• Vinicultura e Fruticultura Irrigada: Sertão do São Francisco e Sertão de Itaparica.

• Caprino e Ovinocultura: Sertão do Moxotó/Pajeú.

• Pecuária Leiteira e Laticínios: Agreste Meridional.

• Produtos Farmacêuticos, Artesanato e Indústria Têxtil: Agreste Central e Agreste


Setentrional.

• Avicultura: Zona da Mata Norte.

• Turismo: Zona da Mata Sul.

• Tecnologia da Informação e Serviços Médicos: Região Metropolitana do Recife.

Entre esses, os clusters de tecnologia da informação, gesso e fruticultura irrigada possuem


uma maior articulação e maturidade enquanto cadeia produtiva. Porém, todos ainda
necessitam de suporte para melhor aproveitar o potencial competitivo que a agregação
geográfica de um cluster possui.

2.4.2 Desafios Setoriais da Produção

No Estado de Pernambuco, a participação da indústria aumentou até meados da


década de 80, depois caindo para a mesma posição de 1970 e apresentando,
atualmente, uma ligeira recuperação. Os serviços que se mantiveram com a mesma
participação até meados da década de 80, aumentaram substancialmente a sua
participação daí para diante, embora continuem estabilizados no presente. A
agropecuária mantém a sua participação, num nível baixo, e não apresenta tendência
a subir até o presente.
74
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Produção agrícola

A agricultura do Estado no tocante à sua capacidade de produção de alimentos para


atender a uma demanda crescente da população e de matérias-primas constitui um
desafio para o desenvolvimento sustentável do Estado. A estrutura produtiva da
agricultura se resume a poucos produtos. Embora se possa considerar uma pauta de
produção de cerca de catorze produtos, apenas nove desses têm importância na
produção e cinco são realmente os que mais contribuem na geração de renda no setor
agrícola. São eles: cana-de-açúcar, banana, feijão, uva e tomate, que, juntos,
participam com a geração de cerca de 80% da renda agrícola.

Produção rural não-agrícola

O novo rural é hoje uma realidade no Estado de Pernambuco. Por isso, existem várias
formas de produção rural não-agrícola que estão se desenvolvendo rapidamente,
contribuindo para aumentar a produtividade do sistema rural e o grau de integração nos
mercados nacional e internacional. Esses são os casos, por exemplo, da floricultura em
áreas do Agreste e da Mata, a exploração de piscicultura, seja de água doce ou
marinha, aproveitando as riquezas do litoral pernambucano, das áreas de estuário, dos
rios interiores e dos açudes de porte médio e grande. A contribuição desses setores para
o produto da economia pernambucana, por meio das vendas internas e das
exportações, tem se constituído numa fonte crescente de criação de riqueza.

Pesca e carcinicultura

A organização associativista dos pescadores em Pernambuco é composta por 01


Federação, 21 Colônias e 05 Associações. Tal estrutura, em geral, não atende às reais
necessidades dos pescadores, atuando de forma desordenada e com sérios problemas
administrativos, financeiros e organizacionais. Com toda certeza, todos esses problemas
contribuem de forma significativa para a limitação do empreendimento pesqueiro no
Estado.

Com relação aos recursos pesqueiros, a pesca artesanal é favorecida em detrimento da


pesca realizada em nível industrial. Em 1998, do total da produção pesqueira no Estado,
99% era feita de forma artesanal.

Existe no Estado de Pernambuco uma frota da ordem de 2.185 embarcações


cadastradas, a maioria delas de pequeno porte. O avanço tecnológico nessas
embarcações foi insignificante ao longo dos anos, muito embora haja linha de crédito
destinada à inovação da frota. Observa-se o uso principalmente de canoas e baiteiras
no litoral norte do Estado e de barcos motorizados na RMR e no litoral sul.

75
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Cerca de 11.000 pescadores atuam nessa atividade, utilizando aparelhos de pesca


diferenciados. A linha é o instrumento mais utilizado, com maior volume de captura, seguida
das redes de espera e do mangote. A captura de mariscos, siris, caranguejos e outros é feita
pelo método de coleta manual.

A demanda de pescado em Pernambuco é suprida principalmente por importação de


outros estados do Brasil e até do exterior. O sistema de comercialização também é
altamente deficitário, pois conta, assim como no caso da comercialização da produção
agrícola no Brasil, com uma intensa rede de intermediários.

A pequena oferta de pescado em Pernambuco, relativamente à sua demanda, se deve


também aos impactos negativos sobre a pesca, exercidos pela degradação dos
ecossistemas estuarinos e litorâneos. A degradação impede as espécies de se
recomporem, pondo em risco a sobrevivência das comunidades pesqueiras do litoral e
diminuindo, como conseqüência, a sua oferta no Estado.

Uma das maiores causas da degradação ambiental identificada é a pesca predatória,


realizada com bomba, explosivos, cloro e venenos. O uso de redes de malha fina e de
arrasto, para pescar camarão e lagosta, é também predatório, assim como a pesca desses
crustáceos em época proibida.

Os projetos de carcinicultura, os aterros e o desmatamento dos mangues, a poluição dos


rios e estuários por esgotos domésticos e resíduos industriais, a circulação de
embarcações motorizadas nos estuários, a invasão de áreas de praias e a retirada de
areia dos rios são também causas predominantes da citada degradação dos
ecossistemas estuários e litorâneos.

Pecuária

A pecuária é uma atividade econômica muito importante em todas as regiões do Estado


e contribui significativamente com a geração do produto da economia rural. O sistema
de produção possui características mais homogêneas, em todas as regiões do Estado, do
que a produção agrícola. A pecuária de pequeno porte, como a caprinocultura, ou a
criação de galinha de capoeira apresenta importante papel na produção familiar de
subsistência, garantindo o sustento e/ou a complementação da alimentação de
unidades familiares.

Tornou-se uma atividade mais concentradora de renda do que a agricultura, pois tendo
em vista o valor econômico dos rebanhos, a sua exploração sempre esteve mais ligada a
médios e grandes proprietários do que aos pequenos produtores. O desenvolvimento
dessa atividade no Estado obteve níveis de modernização mais rápidos do que os

76
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

adotados na atividade agrícola. A importância dessa atividade econômica no Estado e


nas várias mesorregiões pode ser vista pelos seguintes indicadores: a mesorregião do
Agreste, do São Francisco e da Mata, representa 89,3% do valor da renda gerada no
Estado nessa atividade; o Sertão lidera a exploração de caprinos e ovinos no Estado; e a
Mata e o Agreste, a produção de aves. Este último é responsável por 75,5% de todo o
leite produzido em Pernambuco.

Capacidade industrial de Pernambuco

Dentro da Região Nordeste há expressivos desníveis, pois se vê a forte presença da Bahia,


com 49% do total das indústrias nordestinas, seguida por Pernambuco, com 22%. Ou seja,
71% do valor da produção industrial da Região estão confinados a esses dois estados,
evidenciando uma forte concentração industrial. Já do ponto de vista intra-regional, a
atividade industrial nordestina se situa, em sua maioria, nos grandes centros urbanos das
regiões metropolitanas (Recife, Salvador e Fortaleza), nas demais capitais ou em outras
cidades importantes da Região, como Campina Grande, Caruaru e Feira de Santana. A
modernização industrial e a abertura comercial, adotadas no País nos últimos anos,
acentuaram essas desigualdades, assim como o aumento do desemprego.

Só mais recentemente, o setor industrial do Estado passou a ter uma preocupação mais
contundente com o saneamento ambiental, em particular a gestão integrada dos
resíduos sólidos e o tratamento dos efluentes. Esse fato gera problemas sanitários,
contaminação hídrica e doenças na população, principalmente em se tratando de
cargas tóxicas. Ações do Governo Estadual, bem como implantação de Sistemas de
Gestão Ambiental e de Produção mais Limpa, por parte das indústrias, devem alterar
esse quadro.

As microrregiões do Recife e de Suape apresentam-se como detentoras do melhor


conjunto de fatores necessários para a implantação de indústrias. Esse fato é facilmente
explicado por essas microrregiões estarem inseridas na Região Metropolitana do Recife, o
que constitui um “lugar central”, ou seja, um elemento organizador da curva de oferta e
demanda de bens no espaço que demarca a área de mercado, no qual ocorre um
intenso fluxo de trocas numa área geográfica e espacialmente delimitada. Essas
microrregiões, juntamente com o município de Petrolina, apresentam potencialidades
para os setores automobilístico, mecânico, de materiais plásticos, químico e de
informática.

Atenção especial deve ser dada ao desempenho apresentado pelas duas primeiras
microrregiões, com relação ao setor de informática. Isso ocorre por ser a Região
Metropolitana do Recife um pólo de desenvolvimento de softwares, embasado pelo
ótimo nível dos cursos de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (níveis de
graduação, mestrado e doutorado), assim como o papel do Programa Softex 2000, que
visa inserir o Brasil no mercado internacional de softwares, além do Projeto Porto Digital e
77
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

da proximidade do maior mercado consumidor do Nordeste (constituído da população


residente na Zona da Mata e regiões metropolitanas dos estados de Pernambuco,
Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, além de centros urbanos de médio porte, como
Caruaru e Campina Grande).

Pode-se destacar também o ótimo desempenho do Estado na localização de indústrias dos


setores alimentício, têxtil e eletroeletrônico. No primeiro, já existe uma exploração intensiva
das oportunidades de investimento, com destaque para a produção de bebidas e a
avicultura. No caso da indústria têxtil, o bom desempenho das microrregiões pode ser
explicado por este setor ser intensivo em mão-de-obra, o que explica sua capacidade de se
distribuir por todo o território do Estado.

Vale ainda ressaltar o potencial de algumas microrregiões do Estado para a captação


de investimentos do setor de minerais não-metálicos. Isso decorre do fato do Estado
possuir cerca de 52 variedades de granito, além das maiores jazidas de gipsita (matéria-
prima do gesso) do País. Contudo, o Estado carece de um sistema de transporte eficiente
para o produto, mais especificamente de ferrovias, o que, para a análise utilizada, possui
uma importância crucial.

A importância da vocação gesseira para a região, diante do elevado volume das


reservas de gipsita, transcende o espaço geográfico do Estado e o seu desenvolvimento
repercute nacionalmente. É inegável também o destaque dessa vocação como fonte
de desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida, geradora de empregos e de
renda, em uma região de condições tão adversas e tão castigada pela falta de
oportunidades. As reservas totais de gipsita do pólo gesseiro do Araripe correspondem a
347.676.000 t, colocando o Estado de Pernambuco como detentor de 36% das reservas
de gipsita do País, com grau de qualidade superior a 93% de pureza. Essas reservas estão
distribuídas nos municípios de Ipubi (36%), Araripina (33%), Ouricuri (24%), Trindade (4%) e
Bodocó (3%).

Outro grande problema enfrentado pelo setor industrial do Estado é a ausência de uma
preocupação mais contundente com o saneamento ambiental, em particular a gestão
integrada dos resíduos sólidos e o tratamento dos efluentes, fato que vem gerando
problemas sanitários, contaminação hídrica e doenças na população, principalmente
quando se trata de cargas tóxicas.

Turismo

Pernambuco é um dos estados nordestinos que, devido à sua localização, ao seu clima,
acervo histórico e cultural e nível de crescimento econômico, apresenta um grande
potencial para o desenvolvimento do turismo. Os mais de 500 anos de história fazem deste
Estado uma das áreas de colonização mais antigas de todas as Américas. Os sítios e

78
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

monumentos históricos, particularmente em cidades como Recife, Olinda, Itamaracá e


Igarassu, trazem para o presente toda a importância do passado histórico das capitanias
hereditárias, do ciclo do açúcar, das invasões holandesas, das revoluções republicanas, do
movimento abolicionista e finalmente dos movimentos literários e filosóficos (Escola do
Recife). Além disso, Olinda é considerada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade
pela Unesco, e a cidade de Caruaru é também considerada, pela mesma instituição,
como o maior centro de artes figurativas das Américas. No plano cultural, podemos
mencionar alguns eventos que alcançaram dimensão nacional, como o carnaval do
Recife e de Olinda, a festa de São João de Caruaru e a encenação da Paixão de Cristo
em Fazenda Nova.

Em relação aos aspectos geográficos e físicos do Estado, Pernambuco dispõe de um


litoral com 187 km de praias, com temperatura anual de 26°C e cerca de 2.871 horas de
sol/ano. O Estado apresenta três dos sete biomas que ocorrem no Brasil: a Mata
Atlântica, que antes se estendia ao longo de todo o litoral; a Caatinga, localizada na
área do Sertão, caracterizando-se por clima semi-árido e por uma vegetação de cactos
e bromeliáceas; e a Zona Costeira e Marinha, que, ao longo de sua faixa, apresenta
manguezais (ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica).

Serviços médicos

Em Pernambuco, 54% dos leitos se agrupam na Região Metropolitana do Recife – RMR,


sendo 37,2% deles na cidade do Recife. O elevado percentual de leitos em outros
municípios da RMR, excluído o próprio Recife, é influenciado pela presença de grandes
hospitais psiquiátricos, que participam com mais de 6% do total de leitos de Pernambuco.
Ainda que o Estado tenha importantes núcleos urbanos para o padrão nordestino, a
exemplo de Caruaru, Garanhuns e Petrolina, eles não desempenham com desenvoltura,
no plano da prestação de serviços de saúde, o papel que exercem no campo industrial,
comercial e de turismo. Serra Talhada é uma exceção, pois se afirma como um centro
sub-regional de certa relevância, sobretudo se levarmos em consideração o tamanho da
cidade em confronto com outras de maior porte no interior nordestino.

Os seis hospitais universitários, todos localizados no Recife, absorvem 9,4% dos leitos do
Estado. Pernambuco possui algo em torno de 170 hospitais privados e 130 públicos, com
uma média de 2,98 leitos e 2,71 habitantes por médico. Recife configura-se como o
grande pólo médico do Nordeste, com diversos centros de pesquisa e grandes
empreendimentos privados no setor.

Os dez maiores hospitais privados do Recife oferecem 2.387 leitos e empregam 5.159
pessoas, proporcionando uma média de 2,2 empregos por leito. Por seu lado, 10 hospitais
e clínicas especializados em oftalmologia do Recife oferecem 47 leitos e criam 852 postos

79
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

de trabalho, com média de 18,1 empregos por leito. Os avanços alcançados pelas
cirurgias oftalmológicas, através da utilização da microinformática, e de técnicas de
transplantes e da introdução de materiais artificiais substitutivos de partes do sistema
ocular, dispensam, pela sua simplicidade, as internações hospitalares. Considera-se que
está se processando a formação de um cluster do setor no Estado.

Os principais componentes de um potencial cluster de serviços de saúde, tendo por base


a realidade atualmente observada no Recife, são apresentados a seguir. Para um maior
entendimento, os principais componentes são agrupados em blocos afins, ressaltando o
que pode ser considerado como um conjunto de unidades centrais ou instituições-
âncora, compreendendo os hospitais e as clínicas, os laboratórios de análises e os
centros de diagnósticos; ressaltam-se as instituições de apoio, agregando as entidades
educacionais e profissionais, além das agências governamentais diretamente
relacionadas ao setor e do conjunto das entidades financeiras e compradores de
serviços; em outro grupo estão as demais atividades produtivas relacionadas direta ou
indiretamente ao setor, tais como fornecedores de insumos e prestação de serviços.

Outros serviços especializados

No Estado de Pernambuco, nas dimensões competitivas de custos e qualidade, muitas


empresas têm dificuldades no gerenciamento.

Na Figura 2.5, pode-se perceber esse estrangulamento no gerenciamento das


habilidades em boa parte das empresas entrevistadas. As posições competitivas abaixo
de zero são capacidades não gerenciadas adequadamente em relação aos líderes ou
à melhor tecnologia do mercado.

80
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Figura 2.5 Posições relativas de “desconforto competitivo” — Brasil.

0,1

-0,1

-0,2

-0,3

-0,4

-0,5

-0,6

-0,7

-0,8

-0,9
INDIRETOS

CONFIABILIDADE
NOVO PRODUTO
DIRETOS

PERFORMANCE
ALTERAÇÕES NO

ALTERAÇÕES NO

PRAZO
CUSTOS

SERV. DE PÓS-
DO PRODUTO
CUSTOS

DO PRODUTO
PRODUTO

VENDA
VOLUME

Fonte: IBGE, 2000.

As empresas localizadas no espaço geográfico da Região Nordeste têm uma


dificuldade, ainda mais acentuada, na gestão dos empreendimentos. A disponibilidade
de recursos (humanos, tecnológicos, infra-estrutura) é inferior a outros locais do País.
Como alternativa a esse cenário, as empresas poderiam potencializar mecanismos que
aumentassem a produtividade do capital humano, especialmente pela capacitação e
pelo interesse por novas tecnologias, a partir da implantação de um setor de serviços
tecnológicos especializados.

Nesse sentido, o incentivo às políticas de capacitação e de cooperação intrafirmas


pode ser indicativo de possíveis trajetórias de aprendizado e prosperidade para a
manufatura na Região Nordeste.

Devido à sua estrutura e capacidade de geração de mestres e doutores, a


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, associada a outros órgãos técnicos da
Região, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, pode se tornar
referencial no papel de busca de adaptações e inovações para o parque fabril do
Nordeste. A inovação é uma variável estratégica das empresas, sendo o caminho para
aumentar a produtividade e, conseqüentemente, criar novos empregos. Para isso o
papel da educação é decisivo.

81
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

2.5 GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS

O processo de gestão dos recursos naturais prevê a participação de todos os


segmentos da sociedade. Para isso é necessário que haja disseminação e acesso à
informação, à descentralização das ações, ao desenvolvimento da capacidade
institucional e à ampliação da abordagem da gestão dos recursos naturais,
promovendo a inserção ambiental nas políticas setoriais. No Estado de Pernambuco, o
cumprimento desses requisitos implica profundas modificações nos diversos setores da
sociedade. As entidades governamentais precisam se reestruturar, as políticas precisam
se tornar intersetoriais e os grupos locais precisam ampliar suas competências e ser
incorporados ao processo de gestão.

Pernambuco possui uma relativa riqueza de paisagens. Embora predomine em seu


território a Depressão Sertaneja, presente nos sertões pernambucanos, há o Planalto da
Borborema, as Superfícies Retrabalhadas e os Maciços e as Serras Baixas do Agreste e
do Sertão. Apesar de apresentar regiões com baixa fertilidade, o solo pernambucano
tem indicação potencial, em aproximadamente 70% do território, para atividade
agrícola, com culturas permanentes e/ou temporárias, isso sem considerar o plantio de
pastagens.

Apesar da diversificada produção agrícola, Pernambuco apresenta problemas na


configuração do solo no que tange à sua utilização como fator produtivo. Problemas
de erosão, salinização e desertificação são freqüentemente observados. O
desmatamento, as queimadas, o uso indiscriminado de produtos químicos, a
potencialidade original do solo e a tecnologia utilizada são fatores que contribuem em
cada um desses processos.

Não existem dados disponíveis que revelem a presença de um cruzamento adequado


da indicação potencial do uso do solo com a utilização que de fato se faz dele. Os
dados indicam apenas para a utilização do solo de uma forma geral. Os principais
produtos agrícolas de Pernambuco estão mostrados na Tabela 2.21.

82
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 2.21 Principais produtos agrícolas do Estado de Pernambuco por região.

Região Principais Produtos Agrícolas


milho, feijão, mamona, algodão herbáceo e arbóreo, sisal e
Sertão de Pernambuco
mandioca.
Sertão do São Francisco manga, uva, cebola, tomate, melão, melancia e citrus.
milho, feijão, mandioca, mamona, tomate, batatinha, batata-
Agreste
doce, banana, abacate, abacaxi, café, algodão, fumo.
Zona da Mata e cana-de-açúcar, milho, feijão, mandioca, batata-doce,
Região Metropolitana do banana, abacate, abacaxi, café, algodão, fumo, mandioca,
Recife coco, seringueira e pimenta-do-reino.

Fonte: Zoneamento Agropecuário do Nordeste – 1993. Embrapa.

Em todas essas regiões aqui destacadas, encontram-se presentes rebanhos de bovinos,


caprinos, ovinos e suínos, que são complementados com a exploração da avicultura,
principalmente no Agreste.

Silva (1994) fez um levantamento do grau de degradação ambiental nos estados do


Nordeste, revelando que aproximadamente 25,5% do solo pernambucano encontra-se
de alguma forma degradado. Os casos de degradação severa representam 1.629.800
ha, enquanto os de degradação acentuada abrangem uma área aproximada de
721.100 ha e os de degradação moderada acontecem em 154.400 ha.

Pernambuco, com mais de 80% de seu território, situado em região semi-árida, convive
com o fenômeno das secas. Sérios efeitos econômicos e sociais decorrem desse
processo. A atenuação dos problemas da seca envolve a construção de novos açudes,
canais e adutoras, incluindo a possibilidade de transposição de bacias.

As águas superficiais do Estado compõem-se basicamente de catorze bacias


hidrográficas e aproximadamente 776 açudes, com mais de 2,5 bilhões de metros
cúbicos de água. Com relação aos açudes, na mesorregião do Litoral/Mata, existem 48
reservatórios que acumulam 567 milhões de metros cúbicos; no Agreste, 253 açudes
acumulam 202 milhões de metros cúbicos; e no Sertão, 352 açudes podem acumular 1,7
bilhão de metros cúbicos de água. O volume de água represado em reservatórios reflete
diretamente a perenidade dos rios existentes na região e, indiretamente, a precipitação
pluviométrica das mesmas (Pnud/FAO/Ibama/Governo de Pernambuco, 1998).

De acordo com a Companhia Pernambucana do Meio Ambiente – CPRH, todas as


catorze bacias encontram-se poluídas. A forma mais freqüente de poluição é provocada

83
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

por esgotos domésticos dos aglomerados urbanos que acompanham os principais rios. As
bacias também se encontram poluídas por força da atividade industrial e agroindustrial.
Nesse ramo, deve-se destacar o distrito industrial de Paratibe, o granito de Bezerros, o
couro de Caruaru, a usina sucroalcooleira da Zona da Mata e da Região Metropolitana
do Recife. A atividade agrícola é responsável também por parte da poluição dos rios
pernambucanos, através de resíduos de fertilizantes e agrotóxicos, além da medicação e
limpeza dos animais.

Em 1998, foi realizado um mapeamento, baseado em imagens de satélite, da cobertura


florestal do Estado de Pernambuco (Pnud/FAO/Ibama/Governo do Estado, 1998). A área
mapeada totalizou 4.658 milhões de hectares de cobertura florestal, sendo quase toda
ela localizada no Sertão. Com isso, observa-se que a cobertura florestal pernambucana
é representada quase que em sua totalidade pela Caatinga, predominante do Sertão.

Esses dados revelaram também a devastação da principal cobertura florestal da Zona


da Mata do Estado de Pernambuco. A Mata Atlântica pernambucana, atualmente
reduzida a alguns fragmentos isolados de floresta, foi devastada pela exploração da
madeira e para a expansão de lavouras, principalmente da cana-de-açúcar. Existem,
ainda, alguns pequenos fragmentos localizados nos cumes de algumas pequenas
elevações, cuja topografia não favorece o plantio da cana. Apesar de relativamente
homogênea no que se refere às espécies presentes em toda a sua extensão, a Mata
Atlântica pode ser subdividida em: mata úmida e mata seca.

De acordo com o Plano de Desenvolvimento Florestal e da Conservação da Biodiversidade


de Pernambuco – PDF (Pernambuco, 2000), o balanço energético do Estado, realizado em
1998, revela que, embora considerado sem tradição florestal, 22,6% da energia consumida é
obtida de material lenhoso, sendo este o segundo combustível em importância no Estado. O
consumo dos setores domiciliar e industrial/comercial correspondem a 73,5% e 26,5%,
respectivamente. Diante dos dados, o setor florestal pode ser visto como um segmento
importante na economia de Pernambuco.

Por se desenvolver de forma secundária e complementar às atividades agrícolas e servir


como insumo às indústrias de cerâmicas, olarias, calcinadoras, casas de farinha e outras,
o setor florestal de Pernambuco não tem sua importância devidamente ressaltada nos
índices e nas estatísticas. Embora os reflorestamentos energéticos e industriais continuem
sendo uma realidade no panorama florestal brasileiro, em função de sua importância
para o desenvolvimento de setores estratégicos da economia, a moderna silvicultura
vem buscando alternativas de suprimento dos produtos florestais tradicionais, como
lenha, madeira cerrada e pasta celulósica. Em Pernambuco, a vegetação nativa atende
a 95% da demanda por recursos florestais.

84
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Os conceitos e as práticas de outras formas de produção florestal, integrando a


atividade florestal no sistema produtivo, como o manejo da floresta de usos múltiplos e a
agrossilvicultura ou sistemas agroflorestais, têm se mostrado como opções tecnicamente
viáveis, economicamente sustentáveis e ecologicamente equilibradas, capazes de
diversificar a produção agrícola e contribuir para um modelo social mais justo e
participativo.

2.5.1 Uso e Conservação da Biodiversidade

Sob o ponto de vista da diversidade biológica, o Atlas da Biodiversidade de Pernambuco


(Pernambuco, 2002) identificou, no Estado, 71 áreas prioritárias para a conservação. Essa
classificação foi realizada considerando aspectos biológicos e não-biológicos, como
cobertura vegetal, uso atual do solo, relevo, recursos hídricos, áreas suscetíveis à
salinização, fatores edafoclimáticos, mercado e vocação natural.

Calcula-se que a diversidade biológica do Estado de Pernambuco abrigue entre 20.000 e


93.000 espécies de organismos, embora apenas aproximadamente 8.000 tenham sido
registradas. Essa diversidade ímpar de organismos está distribuída dentro dos
ecossistemas marinhos, terrestres e aquáticos. Além disso, o Arquipélago de Fernando de
Noronha, caracterizado por apresentar espécies terrestres endêmicas e uma biota
marinha diversificada, contribui para o enriquecimento da biodiversidade estadual.

O Estado de Pernambuco tem identificado aproximadamente 940 espécies de animais


vertebrados, as quais podem ser distribuídas da seguinte forma: 490 espécies de aves, 149
espécies de mamíferos e 300 espécies de peixes marinhos e estuarinos.3 As regiões do
Estado identificadas como de extrema importância biológica são: o Arquipélago de
Fernando de Noronha, Serra Negra, Inajá-Floresta, Bodocó, Ouricuri, Verdejante, Araripe e
APA-Araripe (Pernambuco, 2002).

As espécies de invertebrados identificadas no Estado totalizam 1.682 espécies e estão,


em sua maioria, localizadas em áreas de extrema importância biológica: Arquipélago de
Fernando de Noronha, Itamaracá/Goiana, Brejo da Madre de Deus, Pesqueira e
Alagoinha (Pernambuco, 2002). Nesse sentido, o Agreste e o Sertão são ainda muito
pouco conhecidos, muito embora se reconheça a potencialidade dessas duas
mesorregiões.

3 As informações relativas à fauna e à flora se originam predominantemente do Atlas da


Biodiversidade do Estado de Pernambuco.
85
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Com relação ao grupo das plantas, o Estado apresenta 49 áreas consideradas prioritárias
para a sua conservação. Dessas áreas, 21 são consideradas de extrema importância,
localizadas principalmente nas regiões de Petrolina, São José do Belmonte, Triunfo,
Buíque, Itamaracá/Canal de Santa Cruz, Tamandaré e Serra Negra de Bezerros,
enquanto as demais ou são pouco conhecidas ou não apresentam potencialidade
assegurada (Pernambuco, 2002).

Em Pernambuco existem identificadas aproximadamente 940 espécies de algas,


ocorrentes em 14 áreas prioritárias (Pernambuco, 2002). Quanto ao grupo dos fungos, a
maior parte está na Zona da Mata, com 54% das espécies referidas para o Brasil. Os
liquens apresentam apenas 191 espécies identificadas entre as 13.500 espécies
registradas no mundo.

Entre os sete biomas ocorrentes no território nacional, três estão representados no Estado
de Pernambuco, são eles: Mata Atlântica, Caatinga e a Zona Costeira e Marinha.

A Mata Atlântica pernambucana atualmente representa apenas aproximadamente 5%


da cobertura florestal do Estado. É importante que se promova uma recomposição dessa
mata nativa em Pernambuco como uma tentativa de manter parte da diversidade
biológica presente. O que é ainda mais grave nesse aspecto é que os poucos
remanescentes restantes no Estado estão, de forma muito espalhada, em pequenas
ilhas, que, pela sua pouca dimensão, provavelmente não representam um hábitat
adequado para as plantas e os animais nativos da região.

A Caatinga é o ecossistema mais importante do ponto de vista do espaço ocupado do


Estado de Pernambuco. Nacionalmente, esse bioma ocupa 11% do território, sendo
presente em 70% do território nordestino. Biologicamente, a Caatinga apresenta-se como
bioma único no mundo, possuindo uma alta riqueza em espécies animais e vegetais.
Ressalta-se, entretanto, que cerca de 80% da Caatinga já foi de alguma forma
modificada pelas atividades humanas, sendo portanto uma região altamente
antropizada, principalmente por projetos de irrigação, pecuária, lenha, etc.

Os outros ecossistemas pernambucanos que fazem parte do bioma costeiro são os


mares, os estuários, as ilhas, os manguezais, as restingas, as dunas, as praias, as falésias, os
costões rochosos e os recifes de corais, cada um com suas funções essenciais na
reprodução biótica da vida marinha.

Os manguezais encontram-se ao longo de todo o litoral do Estado, sendo as principais


espécies: mangue-vermelho, mangue-branco, mangue-preto e mangue-de-botão.

86
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Destaca-se a importância do mangue-branco por ser a única espécie encontrada no


Arquipélago de Fernando de Noronha, no único manguezal da Baía do Sueste.

A situação dos manguezais em Pernambuco é preocupante, sendo observada uma


constante redução, ao longo dos anos, das áreas estuarinas e, em decorrência, das
áreas ocupadas por florestas de mangue. O Estado apresenta apenas 270 km 2 de
florestas de mangue, o que representa 1,08% da área existente no Brasil. Devido à
continuada agressão ao meio ambiente, ocasionando sua degradação e seu
desequilíbrio, a tendência é de uma redução ainda mais acentuada dessa área
ocupada por florestas de mangue no Estado. Os fatores que mais causam alterações nas
propriedades físicas, químicas e biológicas dos mangues são: aterro, desmatamento,
queimadas, deposição de lixo, lançamento de esgoto, lançamento de efluentes
industriais, dragagens, construções de marinas e pesca predatória.

Atualmente, os mangues existentes no Recife se restringem a algumas áreas, como os


mangues ciliares localizados às margens do Rio Capibaribe, nas imediações da Ilha de
Joana Bezerra, com cerca de 9 ha. Outra área potencialmente ameaçada, apesar da
provável implantação de um Parque Ecológico Estuarino, é o manguezal da Rádio Pina,
devido à grande pressão urbana, uma vez que está localizado em região de alto valor
comercial, entre os bairros do Pina, de Boa Viagem e da Imbiribeira.

As principais áreas estuarinas do Estado de Pernambuco são, respectivamente: Goiana e


Megaó, Itapessoca, Jaguaribe, Canal de Santa Cruz, Timbó, Paratibe, Beberibe,
Capibaribe, Jaboatão e Pirapama, Massangana e Tatuoca, Ipojuca, Maracaípe,
Sirinhaém, Rio Formoso, Ilhetas e Mamucabas, Una, Meireles e Persinunga. No caso
especial do Recife, a redução das áreas estuarinas e, conseqüentemente, das áreas de
mangue, cresceu à medida que a demanda por maiores espaços para as atividades
urbanas aumentava. Esse fato fez com que houvesse uma redução crescente da área
desse ecossistema na região.

Existem atualmente em Pernambuco 71 Unidades de Conservação, 20 de manejo


sustentável e 51 de proteção integral (Tabela 2.22). As áreas de manejo sustentável,
onde é permitida a utilização racional dos recursos naturais, totalizam 592.943,10 ha e
estão todas categorizadas como Área de Proteção Ambiental – APA. Dentre as federais,
estaduais e municipais, destacam-se as seguintes APAs: Chapada do Araripe, Costa dos
Corais, Fernando de Noronha, Sirinhaém, Engenho Uchôa e 10 áreas de proteção
ambiental estuarina. As Unidades de Conservação de proteção integral, na qual é
proibido qualquer tipo de exploração dos recursos naturais, totalizam área de 25.019,54
ha, onde se destaca o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. O Estado de

87
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Pernambuco ainda possui 04 Unidades de Conservação de domínio privado (Reserva


Privadas do Patrimônio Natural – RPPN).

Tabela 2.22 Categoria, número e área das Unidades de Conservação do Estado de Pernambuco.

Tipo e categoria das Unidades


Bioma Número de Área (ha)
de Conservação
Unidades

Proteção Integral

Nacional
Parque Nacional Mata Atlântica 01 10.797,00
Reserva Biológica Mata Atlântica 03 4.949,37
Estação Ecológica Mata Atlântica 01 589,42
Estadual
Parque Estadual Mata Atlântica 01 388,67
Estação Ecológica Mata Atlântica 01 150,00
Reserva Ecológica Mata Atlântica 38 7.782,84
Municipal
Parque Ecológico Mata Atlântica 02 362,24

Manejo Sustentável

Nacional
Área de Proteção Ambiental Mata 03 516.325,10
Estadual Atlântica/Caatinga
Área de Proteção Ambiental 16 76.426,00
Municipal Mata Atlântica
Área de Proteção Ambiental 01 192,00
Mata Atlântica

Categoria Complementar

Nacional
Reserva Particular do 01 1.485,00
Patrimônio Natural Mata Atlântica
Estadual 03 147,44
Reserva Particular do Mata
Patrimônio Natural Atlântica/Caatinga

Total 71 619.595,08

Fonte: Atlas da Biodiversidade de Pernambuco. Recife: Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente de
Pernambuco, 2002.

2.5.2 Uso e Ocupação do Solo

Em grande parte das maiores cidades do Estado de Pernambuco, a regulação da


ocupação e uso do solo é fator primordial para atingir o desenvolvimento sustentável. Os
principais locais que demandam esse tipo de ação são as áreas de ocupação ilegal, as

88
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

áreas de morros e as margens de rios e canais, locais estes que trazem riscos à
população.

O maior problema enfrentado pelas cidades que sofrem com o uso indiscriminado e a
ocupação irregular dos solos é a falta de infra-estrutura urbana, principalmente os
serviços de transportes, segurança e saneamento ambiental.

2.5.3 Recursos Hídricos

Os conflitos de interesse, com relação ao uso dos recursos hídricos, representado pela
geração de energia elétrica, pelo abastecimento urbano e industrial, pela manutenção
do ambiente propício à vida aquática e, principalmente, pela agricultura irrigada,
evidenciam a necessidade de articulação interinstitucional e a adoção de uma política
de gestão integrada e compartilhada pelos diversos atores sociais envolvidos com esses
recursos. A sustentabilidade, nesse caso, envolve tanto o controle da oferta quanto o da
demanda. Para isso, deve-se ter em relevo questões como mapeamento e
dimensionamento pelo lado da oferta, e desperdício, poluição e assoreamento, pelo
lado da demanda. Deve-se considerar que todas essas questões se referem tanto às
águas subterrâneas quanto às superficiais.

Águas subterrâneas

Com relação às águas subterrâneas, estas não contribuem de modo significativo para o
abastecimento hídrico no Estado de Pernambuco. A Zona da Mata pernambucana, que
se encontra em uma província cristalina, apresenta inexpressivas possibilidades de que
nela se encontre água. No litoral, por causa à ocorrência de sedimentos, existe uma
maior disponibilidade de água, como também na Mata Meridional, onde se registra a
existência de fontes e cachoeiras. Devido à formação geológica da maior parte do
território pernambucano, os aqüíferos do Estado tendem a ser de baixa potencialidade
hídrica, além de fornecer água de baixa qualidade.

Oceanos, mares e áreas costeiras

Assim como toda a zona costeira brasileira, o litoral pernambucano necessita tanto de
ações preventivas como corretivas para seu planejamento e gestão. A sustentabilidade
de cada um desses ecossistemas deve ser vista de forma especial, considerando suas
características de renovação e reprodução.

São inúmeras as possibilidades de fontes de riqueza dos oceanos. Todavia, ao mesmo


tempo em que essas fontes se constituem como alternativas de atividade produtiva,
apresentam-se também como fontes de degradação e poluição. Em Pernambuco, existe
muito pouca exploração dos recursos disponíveis no oceano, de forma que os riscos de

89
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

sua degradação e poluição advêm principalmente de outras fontes. Com freqüência os


rios pernambucanos que desembocam no mar são veículos de poluição. Esses rios
carregam, das cidades por onde passam, resíduos advindos do esgoto doméstico, dos
lixões, das indústrias e das agroindústrias que desenvolvem suas atividades, muitas vezes,
nas margens desses rios, da atividade agrícola e até da atividade pecuária.

Os mariscos, crustáceos e peixes são objeto de exploração comercial e de vários estudos


e pesquisas. Devido à sua importância econômica, os moluscos, tais como a unha-de-
velho, o sururu, o mexilhão, a lambreta e a ostra, são reais alternativas de fonte de renda
e trabalho para a população. Os crustáceos encontrados são representados pelo
caranguejo, o mais popular e com maior importância econômica, destacando-se,
também o guaiamum, o siri, o camarão-branco e o camarão-rosado.

2.5.4 Poluição e Degradação Ambiental

No Estado de Pernambuco, existem regiões que apresentam problemas específicos


decorrentes da deterioração da qualidade do ar, devido a emissões de poluentes de fontes
individuais (Zona da Mata e na Região do Araripe) e do tráfego de veículos automotores
(Região Metropolitana do Recife).

No Araripe, região do Estado onde se dá a extração e o beneficiamento da gipsita, a


atividade de mineração é responsável pela ocorrência da maioria dos casos de
problemas respiratórios decorrentes da poluição do ar. Na Zona da Mata
pernambucana, a indústria do álcool é a grande responsável por esse tipo de poluição,
através das queimadas indiscriminadas e da queima do bagaço, utilizado como fonte
energética em muitos dos municípios.

Além da poluição atmosférica, a maioria das áreas urbanizadas de Pernambuco


apresenta condições e problemas decorrentes da excessiva carga poluidora provocada
pelos esgotos domésticos e efluentes industriais.

Outra grave preocupação é com relação à degradação dos ecossistemas naturais do


Estado. Dados revelam a devastação dos dois principais biomas de Pernambuco: a Mata
Atlântica e a Caatinga.

No Brasil, a Mata Atlântica cobria uma área superior a 1,3 milhão de km², localizada na
costa brasileira, desde o Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul. Hoje, esse
bioma está reduzido a menos de 8% de sua extensão original, ou seja, cerca de 100 mil
km². Isso foi resultado dos impactos dos diferentes ciclos de exploração econômica na
região desde o início da colonização européia e da alta densidade demográfica em sua
área de abrangência (Dias et al. 1990; ISA 2001). Em Pernambuco, a situação da Mata
Atlântica não é diferente, e as florestas remanescentes continuam a ser devastadas e

90
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

consumidas para usos diversos, além do intenso e desordenado processo de


fragmentação na sua área de ocorrência (Silva & Tabarelli, 2000).

Com relação à Caatinga, estima-se que atualmente 100.000 ha são anualmente


devastados com projetos de irrigação, queimadas, extração de lenha, pecuária, etc. Essa
utilização faz com que cerca de 80% da região da Caatinga já tenha sido de alguma forma
modificada pelas atividades humanas.

Vale salientar, portanto, a importância da integração das medidas de conservação e de


uso dos recursos naturais. No Estado, o envolvimento de agricultores, instituições de
pesquisas, organizações não-governamentais – ONGs, e Governo — atores do processo
de utilização dos recursos naturais — com as áreas de vegetação natural, vegetação
manejada e campos agrícolas, ainda apresenta um estágio primário de
desenvolvimento. A intensa participação de todos os segmentos da sociedade no
processo de gestão dos recursos naturais se faz necessário neste momento crítico de
perda de diversidade biológica. O Estado de Pernambuco, cumprindo mais essa etapa
na elaboração de políticas públicas de meio ambiente, dá um passo importante para
alcançar a utilização racional e, conseqüentemente, a sustentabilidade de seus recursos.

91
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

2.6 COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E CONVIVÊNCIA COM A SECA

A Agenda 21 e a Convenção de Combate à Desertificação das Nações Unidas definem


a desertificação como a degradação da Terra nas regiões áridas, semi-áridas e
subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e as
atividades humanas. Esse entendimento, além de marcar o espaço geográfico a ser
considerado, quebra com a visão puramente climática da questão e evidencia que a
desertificação tem suas origens em complexas interações de fatores físicos, biológicos,
políticos, sociais, culturais e econômicos. A palavra desertificação vem induzindo a
alguns erros de interpretação. Para muitos significa que os desertos do mundo estariam
crescendo, cobrindo superfícies cada vez maiores de terras férteis. Realmente, os limites
dos desertos podem se expandir ou se retrair ciclicamente em função das flutuações do
clima, mas não é esse o caso; na verdade, o processo de desertificação é mais cruel,
envolvendo áreas distantes dos desertos. São áreas isoladas, às vezes pequenas, onde os
solos ficam empobrecidos e com a capacidade de regeneração comprometida, em
função de práticas inadequadas de cultivo.

O fenômeno de desertificação começou a gerar preocupação na comunidade


científica nos anos 30. Na Rio 92, da ONU, não só ficou evidenciado o fracasso dos
programas internacionais de combate à desertificação e à seca, como a necessidade
dos países afetados pelo problema se mobilizarem para elaborar uma convenção
internacional específica. A Convenção de Combate à Desertificação foi assinada por
158 países, incluindo o Brasil, e entrou em vigor em 1996, tendo como objetivo elaborar e
implementar políticas, programas e projetos destinados ao combate e à prevenção da
degradação da Terra, com a participação das comunidades afetadas.

As Nações Unidas organizaram ainda três Conferências das Partes da Convenção da


Desertificação – COPs, respectivamente em setembro de 1997, em Roma; em novembro
de 1998, em Dacar, Senegal; e em novembro de 1999, no Recife. No nível nacional, a
Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente delineou o Plano
Nacional de Combate à Desertificação. Já o Estado de Pernambuco, preocupado com
a qualidade ambiental e a sustentabilidade no uso dos recursos naturais, particularmente
nos ecossistemas frágeis do semi-árido, vem consolidando o processo de elaboração das
Agendas 21 locais, do Plano Estadual de Combate à Desertificação, além da Política
Estadual de Controle da Desertificação.

O mapeamento das áreas de desertificação no Brasil foi realizado pelo Ministério do Meio
Ambiente, Ibama, e detectou três categorias de susceptibilidade: alta, muito alta e
moderada. As duas primeiras referem-se às áreas áridas e semi-áridas, definidas pelo
Índice de Aridez. A terceira é resultado da diferença entre o perímetro do Polígono da
Seca e do correspondente às demais categorias, caracterizando-se por áreas de
antropismo. Já os estudos relativos à ocorrência do processo, elaborados a partir de
dados secundários e em escala municipal, apontam que a área afetada de forma muito

92
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

grave é de 98.595 km2, cerca de 10% da porção semi-árida. Cerca de 81.870 km 2 do


território é afetado de forma grave. As demais áreas sujeitas ao antropismo, 393.897 km2,
sofrem degradação moderada. Nos locais onde a existência da desertificação se dá de
maneira concentrada, constituindo os já mencionados núcleos de desertificação, é
possível perceber as especificidades do processo.

No Estado de Pernambuco, o núcleo desertificado está localizado no município de


Cabrobó, no Sertão do São Francisco, onde foi desenvolvida uma pecuária extensiva,
associada a culturas de subsistência. Nesse espaço, tiveram destaque as culturas de
vazante, nas margens e no leito dos rios. A agricultura irrigada, inicialmente em pequena
escala, passou a ser incentivada pelo poder público, principalmente a partir da segunda
metade do século 20, através da implantação de sistemas de irrigação, associados às
iniciativas de construção de barragens ligadas ao sistema de geração de energia
hidroelétrica. A região é palco de projetos de reassentamento, oriundos da construção
da barragem de Itaparica, o que provocou sérias mudanças no tocante à realocação
da população, assim como no sistema produtivo.

De acordo com o Plano Nacional de Combate à Desertificação – PNCD, Pernambuco


possui áreas com níveis de ocorrência de desertificação variados. As áreas identificadas
como tendo nível muito grave de degradação estão localizadas na mesorregião do São
Francisco, somando 22.884 km², e as de nível grave estão no Sertão, representando
10.152,2 km 2. Por outro lado, as áreas identificadas com problemas ambientais estão
localizadas no Agreste e totalizam 19.285,8 km². Contudo, além dessas áreas, é possível
identificar outras, nas quais a pressão sobre a cobertura florestal se faz de maneira
intensa, como no Pólo Gesseiro.

As áreas de Agreste e Sertão somam 88,6% da área do Estado, abrangendo 145


municípios e constituindo-se, de acordo com o escopo de aplicação da Convenção de
Combate à Desertificação e aos Efeitos das Secas, em espaço susceptível à
desertificação e aos efeitos das secas periódicas. Esse espaço apresenta precipitações
anuais iguais ou inferiores a 800 mm, sendo que as áreas mais secas do Sertão têm uma
média de chuvas entre 650 mm a 400 mm/ano. Mas existe uma grande diferenciação
interna tanto no Agreste como no Sertão, sendo possível, encontrar, inclusive, “ilhas de
umidade”, que apresentam índices anuais de chuva elevados (entre 900 e 1.000 mm),
como, por exemplo, Chapada do Araripe, Triunfo, Garanhuns e os brejos de transição do
Agreste para a Zona da Mata.

O Agreste tem como principais características a presença de uma pecuária semi-


intensiva, para produção de carne, leite e derivados, contando com o uso de pastagens
plantadas, uma agricultura de autoconsumo ou subsistência e a policultura nas áreas de
brejo. Já no Sertão, a pecuária de bovinos e caprinos é feita de forma extensiva e com
baixos padrões tecnológicos, assim como a agricultura de chuvas ou de sequeiro,
realizada de forma itinerante. Nas últimas décadas, a agricultura irrigada tem se

93
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

destacado, mas tem acentuado as desigualdades intra-regionais e provocado, em


diversas áreas dos pólos irrigados, a salinização dos solos. A vulnerabilidade da
população residente no espaço do trópico semi-árido pernambucano é alta, fruto de
características socioeconômicas excludentes, fazendo com que os indicadores sociais
sejam os mais graves da região e inferiores à média nacional. Premissas básicas devem
nortear as ações para a sustentabilidade do semi-árido. Assim, o processo de geração e
difusão de ciência e tecnologia deverá estar baseado na realidade local,
contextualizado, refletindo as necessidades de melhoria da tecnologia que baseia a
produção de bens em áreas sujeitas à desertificação e de convivência com secas
periódicas. Estas devem levar à introdução de novas atividades produtivas, compatíveis
com as características edafoclimáticas, direcionadas para o incremento da
produtividade dos sistemas tradicionais e viabilizando a convivência humana com áreas
do trópico semi-árido.

A conservação da biodiversidade entra em confronto com práticas observadas em


algumas áreas, como o desmatamento desordenado, o sobrecultivo, o pastoreio excessivo,
a irrigação malconduzida, entre outros. Considerando esses processos, a conservação da
biodiversidade deve se estabelecer através de mecanismos de gestão e também de
controle ambiental que garantam a conservação da fauna e flora, desenvolvendo ações e
processos de monitoramento e de avaliação de impactos ambientais. Uma reavaliação da
forma de utilização e apropriação dos recursos naturais deve ser a base para uma nova
relação sociedade e meio ambiente no semi-árido brasileiro.

Os impactos ambientais podem ser visualizados através da destruição da biodiversidade


(flora e fauna), da diminuição da disponibilidade de recursos hídricos, através do
assoreamento de rios e reservatórios, da perda física e química de solos. Todos esses
fatores reduzem a capacidade de fertilidade e produtividade da terra, diminuindo a
intensidade da produção agrícola e, portanto, impactando as populações. Os prejuízos
sociais podem ser caracterizados pelas importantes mudanças sociais que a crescente
perda da capacidade produtiva provoca nas unidades familiares. As migrações
desestruturam as famílias e impactam as zonas urbanas, que quase sempre não estão em
condições de oferecer serviços às massas de migrantes que para lá se deslocam. É
importante lembrar que a população afetada caracteriza-se por alta vulnerabilidade, já
que está entre as mais pobres da região semi-árida e tem índices de qualidade de vida
muito abaixo da média nacional. Para o Brasil, conforme diagnóstico realizado pelo
MMA, as perdas econômicas podem chegar a US$ 300 milhões por ano, devido à
desertificação. Os custos de recuperação das áreas mais afetadas alcançarão US$ 3,9
bilhões num período de vinte anos.

É necessária a adoção de medidas que possam atuar nas causas mais profundas do
processo de desertificação, sem perder de vista toda a complexidade existente. Assim,
políticas de geração de renda, de reforma agrária, de educação que incorpore a

94
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

dimensão ambiental, entre outras, são medidas importantes na perspectiva de se


trabalhar a convivência com o semi-árido.

O ecossistema da Caatinga apresenta características que denotam fragilidade no


tocante ao processo de recuperação de áreas degradadas, o que requer uma atenção
especial quando do uso de seus recursos naturais. Além disso, é necessário pensar em
ações tanto de prevenção quanto de recuperação, que articulem diferentes aspectos
do meio ambiente e ultrapassem a perspectiva de políticas setoriais.

Um outro fenômeno que merece destaque é o das secas periódicas, as quais possuem
efeitos em vários campos ou dimensões:

• Efeitos políticos – Fomento da indústria da seca e manutenção da miséria da


população, a partir de processos de concentração de renda, manipulação das
verbas públicas e do aparelho de Estado, desde o nível local até o Federal.

• Efeitos econômicos – Advindos das políticas econômicas, expressam-se em um


perverso processo de acumulação de capital, fundamentado na depredação dos
recursos naturais e na exploração intensiva e mal remunerada da força de trabalho.
Em decorrência, tem-se um desemprego generalizado, ligado à exclusão social e ao
círculo de reprodução da miséria e da pobreza.

• Efeitos sociais – Total vulnerabilidade da população à fome, à miséria e ao poder


político de grupos dominantes. A ausência de chuvas e as distorções na
periodicidade das precipitações (secas verdes) atingem, de forma destrutiva, todo o
processo de produção de bens primários que atendem às necessidades básicas do
contingente populacional. Em decorrência, vem a violência da fome, da miséria, do
êxodo e da marginalidade econômica.

• Efeitos ecológicos – Desmatamentos e desflorestamentos, exaustão das pastagens,


exposição dos solos ao sol, compactação dos solos, usos inapropriados dos recursos
hídricos escassos, desertificação, desenfreada especulação sobre os recursos naturais
básicos e diferentes formas de poluição ambiental. A dimensão ecológica do semi-
árido tropical brasileiro apresenta espaços limitados ao desenvolvimento de
atividades agrossilvo-pastoris.

Os principais problemas do Agreste e do semi-árido, conforme diagnosticado pelo


Instituto de Planejamento de Pernambuco – Condepe, constante no Plano de
Desenvolvimento Sustentável do Sertão de Pernambuco, são:

• Vulnerabilidade às secas, que impactam diretamente a agricultura de sequeiro e


pecuária.

95
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Fraca capacidade para reorganizar a estrutura produtiva do Sertão.

• Desmatamento resultante da pecuária extensiva e do uso de madeira para fins


energéticos.

• Graves níveis de desertificação.

• Salinização dos solos decorrente do manejo inadequado na agricultura irrigada.

• Baixa produtividade nas atividades agrícolas e no pastoreio.

• Perda de dinamismo de atividades industriais e comerciais.

• Precária conservação da infra-estrutura rodoviária.

• Precário atendimento dos serviços de comunicação.

• Precário sistema de difusão tecnológica.

• Baixa produção científica e tecnológica para as necessidades do semi-árido.

• Deficiência nos níveis de capacitação de mão-de-obra rural, industrial e do


comércio.

• Fragilidade institucional.

• Gestão municipal sem planejamento e comprometimento com objetivos de longo


prazo.

O problema da desertificação tem grande importância para o desenvolvimento do


Sertão e do Agreste do Estado. Os processos permanentes de perda da produção e da
produtividade agrícolas, já diagnosticados, podem inviabilizar um nicho importante para
a economia da região, agravando-se pela pequena disponibilidade de recursos hídricos.

Os estudos mostram, em suas estratégias, a necessidade de se impedir que o processo


de acumulação de capital se dê à custa da depredação dos recursos naturais, da
concentração monopolista da propriedade privada da terra e da exploração intensiva
da mão-de-obra em todas as regiões de desenvolvimento no Estado de Pernambuco.

Os estudos estratégicos da Agenda apontam, ainda, para o fenômeno das secas


periódicas, que pode e deve ser administrado com o ajuste da demografia ao meio
ambiente semi-árido e também que deve ser acompanhado por uma política de

96
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

emergência radicalmente democrática e capaz de atender à população afetada com


rigoroso e eficaz programa de segurança alimentar e de abastecimento.

Concluem, os estudos, que os poucos focos de desertificação em processo, no Estado,


no presente momento, são comparados a uma doença que pode e deve ser curada;
portanto, são reversíveis, bastando, para tanto, vontade política.

97
3 BASES DE AÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE

As estratégias apresentadas neste capítulo, por eixos temáticos, são resultado das
discussões ocorridas durante o processo de elaboração da Agenda 21 do Estado de
Pernambuco.

3.1 CIDADES SUSTENTÁVEIS

A busca da sustentabilidade das cidades requer uma reforma que passe pela
reordenação do uso do solo e pela descentralização administrativa, associada a uma
participação ativa de toda a sociedade, de modo a descentralizar o processo de
decisão e aumentar o controle social. Prioridades dessa reforma deverão passar pelo
reordenamento territorial das cidades, pela mudança dos padrões insustentáveis de
produção e consumo e pela gestão sustentável dos serviços de saneamento.

Estratégia 1: Ordenamento Territorial das Cidades

O crescimento urbano desordenado da maioria das cidades pernambucanas tem


levado a processos de degradação do território. As novas posturas estabelecidas no
estatuto da cidade vêm servir de marco referencial para mudanças significativas no
ordenamento territorial dos espaços urbanos. As condições dos assentamentos humanos
de Pernambuco vêm se deteriorando, principalmente por conta dos baixos investimentos
alocados para a melhoria das condições de habitação, lazer, segurança e bem-estar
social. Planejar o desenvolvimento das cidades, assegurando o ordenamento territorial,
torna-se um desafio importante a ser enfrentado, no sentido de: assegurar a integração
entre as atividades urbanas e rurais; promover as políticas públicas voltadas para a
conservação do patrimônio natural, cultural, histórico e arqueológico, garantindo a
revisão e a consolidação dos instrumentos e dispositivos legais.

Planejar o desenvolvimento das cidades, assegurando a incorporação da


dimensão físico-territorial

• Integrar institucionalmente os municípios pertencentes a regiões de desenvolvimento,


para o trato do planejamento integrado de serviços e infra-estruturas urbanas.
• Integrar efetivamente o planejamento das infra-estruturas e serviços urbanos ao
planejamento do uso e ocupação do solo.
• Elaborar, revisar e divulgar planos diretores, com a efetiva participação da
comunidade em todas as etapas do processo, visando incorporar os princípios e
mecanismos do Estatuto da Cidade.
• Estabelecer operações urbanas consorciadas com controle social, implementando
um conjunto de intervenções que envolvam o poder público, a iniciativa privada, os
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

moradores e os usuários de uma determinada área, com o objetivo de alcançar


transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental.
• Integrar os planos diretores de bacias hidrográficas com os planos de
desenvolvimento municipais e outros planos setoriais, promovendo a
compatibilização metodológica entre os diversos planos.

Promover a integração das atividades urbanas com as rurais, tendo em vista o


desenvolvimento sustentável dos municípios e suas áreas de influência

• Identificar áreas nos municípios, visando estabelecer cinturões verdes, onde as


populações possam se inserir em atividades voltadas ao desenvolvimento sustentável.
• Promover a integração metodológica entre programas e planos de desenvolvimento,
de modo a compatibilizar as propostas e incorporar as da Agenda 21 de
Pernambuco.
• Estabelecer mecanismos para utilização de forma sustentável do solo em áreas rurais,
estimulando a produção agrícola orgânica.
• Incluir infra-estrutura urbanística nos assentamentos e nas agrovilas, levando em
consideração peculiaridades culturais da localidade.

Promover políticas públicas voltadas para a conservação dos patrimônios natural,


cultural, histórico e arqueológico

• Incentivar a catalogação e a regulamentação dos patrimônios natural, cultural,


histórico e arqueológico, estadual e municipal.
• Criar mecanismos de gestão e manutenção desses espaços que abrigam os
patrimônios natural, histórico, cultural e arqueológico.
• Estimular novas formas de integração socioeconômica desses espaços com o
conjunto dos demais espaços dos municípios.
• Elaborar projetos e planos de gestão e proteção contínua do patrimônio natural e
construído para os sítios identificados de cada Região de Desenvolvimento,
garantindo a sua conservação e o seu uso econômico sustentável, considerando
aqueles já existentes.
• Elaborar circuitos turísticos por Região de Desenvolvimento ou entre grupos de
municípios, que integrem o turismo do litoral ao do interior, com destaque para as
potencialidades regionais.
• Promover a participação da sociedade no processo de planejamento, gestão e
conservação dos patrimônios cultural, histórico e natural.
• Estabelecer um processo de mobilização e participação dos moradores para
conservação dos patrimônios natural e construído.
• Viabilizar a implantação do evento Semana do Verde Pernambucano.
• Melhoria das condições de habitabilidade dos assentamentos de baixa renda.

99
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Promover a revisão e a consolidação dos instrumentos e dispositivos legais, de


modo a facilitar sua compreensão e garantir a eficácia de sua aplicação

• Incorporar, nas leis Orgânicas dos Municípios e respectivos Planos Diretores, o


reconhecimento das reservas naturais e culturais.
• Proceder à regularização fundiária, com provisão de serviços básicos.
• Promover a elaboração e/ou revisão da legislação relativa ao uso e ao
parcelamento do solo, contemplando critérios quanto à utilização de áreas marginais
a córregos e rios, áreas de morros e áreas íngremes.
• Ampliar os programas de valorização e inserção, no contexto dos diversos espaços
urbanos, de populações portadoras de necessidades especiais.
• Expandir os Planos de Regularização de Zonas de Especial Interesse Social – Prezeis.
• Definir a regulação dos serviços de limpeza urbana e saneamento básico (água, lixo,
drenagem e esgoto).
• Realizar estudos e estabelecer normas especiais de urbanização, uso e ocupação do
solo e edificação, visando a regularização fundiária e a urbanização, com destaque
para o saneamento ambiental de áreas ocupadas por população de baixa renda.

Dar prioridade à utilização das áreas que disponham de infra-estrutura e de serviços


urbanos subutilizados e restringir o adensamento de áreas já saturadas

• Criar programas e projetos que promovam a melhoria da qualidade ambiental.


• Criar programas de arborização nas áreas urbanas e nas margens de estradas e vias
de acesso às cidades e aglomerados, dando prioridade às espécies nativas.
• Controlar os adensamentos verticalizados em áreas de alta valorização imobiliária e
garantir a não ocupação de todos os espaços livres urbanos.
• Reutilizar os espaços construídos e ociosos em áreas urbanas consolidadas,
implantando atividades de lazer, de cultura e de serviços básicos.
• Reduzir o déficit habitacional, dando prioridade à ocupação dos espaços com
capacidade de suporte sustentável.
• Estabelecer um programa de prevenção para acidentes e emergências.

Reduzir os impactos ambientais nos perímetros urbanos, de modo a corrigir as


distorções do crescimento urbano e seus efeitos sobre o meio ambiente

• Condicionar o licenciamento de grandes equipamentos urbanos à elaboração de


Estudo de Impacto Ambiental Urbano para análise pelo Poder Público Municipal.
• Utilizar mecanismos de licenciamento para construções e funcionamento nas áreas
urbanas limitadas pela disponibilidade de infra-estrutura, principalmente aquela
relativa a sistema viário e saneamento ambiental.
• Criar mecanismos, dentro dos órgãos de controle ambiental, que permitam o acesso
fácil e a desburocratização dos licenciamentos ambientais, em particular para a
população de baixa renda.
100
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Ampliar os programas de controle da poluição urbana, descentralizando atividades


para o poder municipal.
• Criar Unidades de Conservação nas áreas urbanas que possuam especial interesse
ambiental.
• Modernizar os matadouros públicos, dentro dos padrões estabelecidos pela vigilância
sanitária e ambiental.

Melhorar as condições de habitabilidade nos assentamentos de baixa renda

• Reduzir as desigualdades no uso e na ocupação do solo nos espaços construídos e livres


da cidade.
• Realizar estudos e estabelecer normas especiais de urbanização, uso e ocupação do
solo e edificação, visando a regularização fundiária e a urbanização de áreas
ocupadas por população de baixa renda.
• Assegurar sistema de saneamento básico integrado (política de estruturação urbana,
abastecimento d’água e esgotamento sanitário) nos assentamentos.
• Fortalecer programas de prevenção a acidentes e riscos, através das comissões de
defesa civil.
• Democratizar o uso e a ocupação dos espaços coletivos e livres da cidade.
• Incentivar a empregabilidade da mão-de-obra local na melhoria das condições de
habitabilidade nos assentamentos.

Estratégia 2: Mudança nos Padrões de Produção e Consumo

A mudança dos atuais padrões insustentáveis de produção e consumo é um elemento


fundamental para gerar redução de custos e estimular o desenvolvimento de
tecnologias limpas e sustentáveis. O gasto excessivo com embalagens, a poluição
provocada por objetos descartáveis e a geração de quantidades exageradas de lixo
são conseqüências do modelo de consumo adotado em Pernambuco.

Promover a reciclagem e a coleta seletiva dos resíduos sólidos

• Incentivar os setores públicos produtivos e a população em geral a práticas que utilizem


tecnologias limpas, reduzindo a geração de lixo e promovendo a reciclagem de
materiais usados.
• Implementar programas de não-geração, redução, reutilização e/ou reciclagem e
destinação final adequada dos resíduos urbanos e industriais.

Incentivar o reuso da água

• Incentivar a reutilização do esgoto tratado em atividades agrícolas e na indústria,


tendo como objetivo o uso racional dos recursos hídricos e de energia.

101
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Implementar mecanismos que possibilitem a economia de água, promovendo a


redução de perdas e desperdícios e seu reuso.

Promover a conscientização ambiental

• Implementar atividades de educação ambiental, direcionadas para o uso racional


dos recursos naturais.
• Promover a realização de campanhas de sensibilização e mobilização da
comunidade sobre assuntos ligados à temática da sustentabilidade.

Estratégia 3: Gestão Sustentável dos Serviços de Saneamento

A ausência de uma infra-estrutura adequada para os serviços de saneamento ambiental,


associada à poluição dos rios e corpos de água, tem elevado os custos relativos às
despesas por atendimento médico por conta das doenças de conotação ambiental,
provocando, assim, prejuízos econômicos significativos. Para enfrentar esses desafios,
medidas devem ser tomadas para melhorar os sistemas de abastecimento de água,
esgotamento sanitário, drenagem e limpeza urbana, ampliando os serviços prestados e
aumentando sua qualidade.

Melhorar o serviço de abastecimento de água

• Ampliar os sistemas, de forma a atingir a universalização do acesso aos serviços de


abastecimento de água.
• Promover e incentivar o aproveitamento da água da chuva, como medida de
conservação da água.
• Implantar, em todas as estações de tratamento de água, sistemas de tratamento e
destinação adequada do lodo nelas produzido.

Melhorar o serviço de esgotamento sanitário

• Ampliar os sistemas, de forma a atingir a universalização do atendimento por serviços


de abastecimento de água e esgotamento sanitário.
• Implantar, em todas as estações de tratamento de esgotos, sistemas de tratamento e
destinação adequada do lodo produzido.
• Promover campanhas de conscientização da população que visem a eliminação de
lançamentos inadequados de esgotos em canais, rios e outros corpos d’água.

Melhorar o serviço de drenagem urbana

• Ampliar os sistemas, de forma a atingir a universalização do atendimento por serviços


de drenagem urbana.

102
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Promover ações de controle que eliminem ligações clandestinas em redes de galerias


de águas pluviais.
• Incentivar programas de pesquisas e estudos, com ênfase em experiências bem-
sucedidas nos âmbitos nacional e internacional, voltados para a utilização de
tecnologias alternativas para a drenagem urbana.

Melhorar o serviço de limpeza urbana

• Ampliar os sistemas, de forma a atingir a universalização do atendimento por serviços


de limpeza urbana.
• Definir instrumentos econômicos e fiscais que viabilizem a cobrança dos serviços de
limpeza urbana.
• Implementar a gestão integrada dos resíduos sólidos.
• Estruturar a prestação dos serviços, buscando o aumento, com qualidade, da
eficiência e do nível de investimentos.
• Aprimorar técnicas e processos, estabelecendo metas factíveis para a solução do
passivo ambiental, no que se refere à eliminação dos lixões.
• Incentivar pesquisas e estudos, com ênfase em experiências bem-sucedidas, nos
âmbitos nacional e internacional, voltadas para a utilização de tecnologias
adequadas à gestão integrada de resíduos sólidos.

3.2 INFRA-ESTRUTURA

O debate em torno desse tema abordou questões como: transportes e uso de


tecnologias seguras e menos poluentes; maior cobertura social dos serviços energéticos;
fornecimento de energia ambientalmente saudável; racionalização do uso de energia
alternativa e reavaliação dos atuais padrões de consumo; e comunicação, englobando
telecomunicações, computação e informação. As estratégias propostas foram:
planejamento integrado do setor de transporte, sustentabilidade do setor de
comunicação e sustentabilidade da energia.

Estratégia 4: Planejamento Integrado do Setor de Transporte

O setor de transporte é considerado como uma atividade-meio fundamental na


economia. A sustentabilidade desse setor é um desafio, face às diversas formas de
impacto que o sistema tradicional exerce sobre o meio. Na busca da sustentabilidade
desse segmento, deve-se:

Integrar o planejamento do sistema viário e de transporte ao do uso e da ocupação


do solo, buscando melhorar a fluidez de tráfego e o respeito aos espaços dos
pedestres

103
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Coletar, analisar e estabelecer intercâmbio de informações sobre meio ambiente e


transportes, com ênfase especial na observação sistemática das emissões de agentes
insalubres.
• Realizar monitoramento constante da qualidade do ar nos corredores que
apresentem grande fluxo de veículos.
• Implantar o abastecimento de gás natural nos postos da região.
• Incentivar a implantação de oficinas especializadas na conversão dos motores para
gás natural e manutenção das peças convertidas.
• Promover a regulamentação do licenciamento ambiental de empreendimentos de
transportes.
• Especificar os fatores ambientais na avaliação econômica dos projetos.
• Estabelecer o monitoramento constante das emissões gasosas.

Melhorar os serviços de transporte e trânsito, ampliando a oferta e aumentando a


qualidade dos serviços prestados

• Implantação e otimização, em todo o Estado, de um eficiente modelo de sistema de


transporte público de passageiros.
• Melhorar a rede de infra-estrutura necessária ao sistema de transporte de passageiros.
• Melhorar a gestão do serviço de transporte, aumentando a fiscalização com relação
à qualidade dos serviços prestados.
• Assegurar a expansão e implantação de sistemas de transporte público de
passageiros urbanos e rurais.
• Incentivar o uso de transportes fluvial e ferroviário, aproveitando as potencialidades
existentes e, na escala local, criar condições para o uso de bicicletas e, consideradas
as especificidades, o uso de animais para os deslocamentos necessários.
• Realizar pesquisa constante sobre a satisfação e as demandas do usuário.
• Levar em consideração as demandas dos usuários no planejamento das ações.
• Adotar dispositivos nos veículos que realizam transporte coletivo, visando facilitar o
acesso aos passageiros especiais.
• Controlar e fiscalizar a segurança no transporte público.

Desenvolver e promover incentivos para o transporte coletivo

• Realizar programa de controle da poluição sonora.


• Implantar vias exclusivas para o transporte coletivo.
• Estabelecer parâmetros para a definição dos veículos de transporte coletivo.
• Introduzir modernidades tecnológicas nos transportes, tornando-os mais confortáveis.

Buscar a sustentabilidade do transporte não-convencional

• Estimular a implantação de ciclovias.


• Realizar estudos para implantação de transporte fluvial de passageiros na cidade do
104
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Recife.

Fortalecer o transporte ferroviário

• Recuperar a malha ferroviária do Estado. Linhas: centro, norte e sul.


• Viabilizar a construção da Ferrovia Transnordestina nos municípios de Salgueiro—
Parnamirim—Petrolina e Salgueiro—Missão Velha (CE).
• Implantar o ramal do gesso, entre os municípios Parnamirim—Araripina, para o
escoamento da produção.
• Realizar estudos para analisar a viabilidade de transporte de passageiros de média e
longa distância.
• Ativar um “Circuito da Cana” (engenhos, casas-grandes, etc.) turístico, utilizando a
malha ferroviária existente.

Estratégia 5: Sustentabilidade do Setor de Comunicação

A visão predominante de que os problemas de comunicação afetam tão-somente a infra-


estrutura econômica é restrita, pois devemos ter a compreensão de que, com o apoio da
comunicação, poderemos obter uma melhor qualidade de vida e ampliar o futuro da
população local, buscando-se o uso democrático e sustentável da comunicação na
direção do desenvolvimento da sociedade.

Expandir os serviços de comunicação

• Assegurar condições de acesso aos serviços de comunicação a todos os cidadãos,


inclusive às pessoas que possuem condições especiais (surdos, mudos e outros).
• Expandir a rede de telefonia celular, de forma a atender às áreas mudas do interior.
• Criar centros comunitários de comunicações nas áreas mudas do semi-árido.
• Desestimular, mediante regulação, a tendência de formação de oligopólios nos
serviços de telecomunicações.
• Garantir condições mínimas para viabilizar serviços de telefonia fixa, principalmente na
zona rural.
• Dar prioridade às solicitações de acesso individual dos estabelecimentos de ensino
regular e das instituições de saúde.
• Tornar possível a utilização gratuita do serviço telefônico fixo comutado para
comunicação com serviços de emergência existentes para a localidade.
• Ativar os telefones de uso público, principalmente nas áreas rurais e ao longo das
rodovias.
• Ampliar o sistema de telefonia em comunidades carentes, urbanas e rurais.

Diminuir as desigualdades sociais

105
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Criar mecanismos que favoreçam a elevação do grau de informação da população


em geral.
• Estimular a atitude crítica da sociedade quanto à qualidade dos serviços de
comunicação a ela oferecidos.
• Viabilizar a implantação de Pólos Tecnológicos, portais e pólos distribuídos no interior do
Estado, para promover a capacitação, o desenvolvimento e o suporte dos diversos
setores produtivos.
• Facilitar o acesso da população aos meios de comunicação, especialmente dos menos
favorecidos.
• Garantir o suprimento de multimídia aos sistemas de saúde e educação.
• Garantir o acesso aos sistemas de comunicação às unidades que prestam serviços
públicos à comunidade (escolas, hospitais, etc.).
• Incentivar e apoiar a implantação de rádios e TVs comunitárias (por tele e
radiodifusão), em apoio ao desenvolvimento das ações comunitárias locais.
• Desestimular o uso exploratório da imagem humana nos meios de comunicação de
massa.
• Conscientizar e mobilizar as comunidades em relação ao valor das rádios
comunitárias, em apoio ao desenvolvimento local sustentável.
• Valorizar o papel social das rádios, especialmente das locais.
• Incentivar programas sociais, com a divulgação através de rádios e TVs.
• Incorporar a questão da sustentabilidade socioeconômica e ambiental à legislação
que orienta as concessões de rádios AM/FM.

Elevar o grau de inserção social nos trabalhos de telecomunicações

• Incentivar formação de mão-de-obra e constituição de empresas na área de


informática e telecomunicações.
• Divulgar as modernas técnicas de comércio eletrônico, criando um portal que associe
o Estado a negócios em conjunto com a iniciativa privada.
• Apoiar a ampliação da Rede Cidadão para o âmbito de todo o Estado.
• Estimular a criação de centros geradores de programas locais e estaduais.
• Utilizar a Tecnologia da Informação como um bem acessível a todos, de forma efetiva
e eficiente, nas aplicações de interesse da sociedade.
• Elaborar e divulgar o Programa de Educação Ambiental.
• Informar sobre técnicas de uso eficiente do comércio eletrônico.
• Conscientizar a coletividade sobre a eliminação de desperdícios e o uso eficiente dos
meios de comunicação, principalmente do telefone.
• Conscientizar sobre a necessidade da criação de grupos gestores para a
implantação de programas de eficiência das comunicações (telefonia e Internet).
• Implementar ações integradas que possibilitem a melhoria da prestação de serviços à
comunidade, reduzindo custos.
• Melhorar a eficiência na cobrança de impostos em meio eletrônico.
• Incentivar o uso de emissão e controle fiscal via Internet.

106
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Consolidar a infra-estrutura de informática

• Socializar as metas do Porto Digital.


• Fomentar a manutenção e distribuição de bases informacionais específicas sobre
legislação, informações socioeconômicas e outras bases correlatas, através do Porto
Digital.
• Viabilizar a implantação de Centros Tecnológicos, distribuídos no interior do Estado,
para promoção de capacitação, desenvolvimento e suporte tecnológico dos
diversos setores produtivos.
• Ampliar a base tecnológica na área de Tecnologia da Informação, através do
estimulo à pesquisa e aos negócios.
• Atrair novos investimentos no setor de informática, incubando empresas.
• Estimular o investimento de risco no setor e integrá-lo a outros setores da economia.

Socializar os meios de comunicação e informação na Inter e Intranet

• Criar pontos de acesso público à Internet, com tarifas sociais.


• Viabilizar o acesso público: (i) aos sistemas de informação operados e mantidos pelo
Governo Estadual; (ii) aos sistemas de outras instituições.
• Proporcionar aos cidadãos acesso às bases de dados com informações de interesse
da sociedade.
• Ampliar o acesso à Internet pelas escolas, hospitais, delegacias, prefeituras e demais
organizações de interação direta com a sociedade, no âmbito de todo o Estado.
• Ampliar os serviços prestados pelo Governo à sociedade, via Internet.
• Garantir a implantação de intranets e extranets nos diversos segmentos públicos e
outros segmentos organizados.
• Avançar mais na formação de empreendedores, evitando a exportação e/ou
importação de profissionais.

Compatibilizar o setor de comunicações com a questão ambiental

• Considerar o impacto paisagístico e ambiental, de modo a verificar os efeitos


provocados pela colocação de torres de transmissão.
• Analisar a compatibilidade da localização dos armários de distribuição colocados nas
calçadas.
• Verificar a colocação dos cabos nos postes de iluminação, de modo a não
comprometer a beleza das cidades, modificando o mínimo possível a paisagem
natural.
• Dar preferência à rede subterrânea de cabos de comunicação (telefonia) e
eletricidade.
• Garantir a segurança e a saúde da população quanto ao efeito nocivo das
radiações emitidas pelas radiofreqüências.
107
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Esclarecer a população sobre os possíveis danos advindos de eletrodomésticos que


utilizam tecnologia de fontes irradiantes de microondas ou raios X, tais como telefones
celulares, televisão e forno de microondas.
• Realizar o monitoramento da poluição espectral, à qual a população das grandes
cidades encontra-se submetida, e propor a criação de uma legislação específica.
• Rever o conceito de obsolescência programada dos aparelhos de comunicação.
• Usar tecnologias limpas na fabricação dos aparelhos de comunicação.
• Estimular o reaproveitamento, reciclagem e reutilização dos aparelhos de
comunicação.

Estratégia 6: Sustentabilidade da Energia

Nos dias de hoje, a energia é empregada intensivamente na sociedade em geral e em


tudo que se faz. Daí a necessidade de utilizá-la de modo inteligente e eficiente, para
preservar o meio ambiente, aumentar a sua disponibilidade, eliminar o desperdício e
reduzir os custos operacionais. A energia está presente em todas as atividades da
sociedade moderna, seja como um serviço essencial à qualidade de vida, seja como um
fator de produção que impulsiona o desenvolvimento econômico. Desse modo, é
importante tratar sua produção e seu uso dentro de um enfoque sistêmico, superando
uma abordagem limitada ao setor, o que acarreta a necessidade de consideração do
componente energético das diversas políticas setoriais.

Racionalizar o uso da energia

• Buscar a distribuição de energia a todos, enfocando o seu uso racional.


• Buscar soluções alternativas para comunidades isoladas da rede de distribuição.
• Realizar análise da viabilidade das diversas fontes energéticas para a realidade local.
• Incentivar o uso racional da energia para fins produtivos.
• Disponibilizar informações sobre técnicas de uso eficiente de energia.

Garantir a eficácia e eficiência ambiental na geração e uso de energia

• Estabelecer políticas que integrem aspectos energéticos, ambientais, sociais e


econômicos.
• Incentivar a constituição de grupos de apoio à eficiência energética.
• Elaborar política energética para o uso sustentável de recursos materiais renováveis.
• Implementar campanhas educativas e programas de ensino sobre o uso eficiente da
energia.
• Apoiar programas de rotulagem da eficiência energética dos produtos.

108
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Garantir a eficácia e eficiência econômica no uso da energia

• Levar ao conhecimento dos empresários a política de tarifação da energia.


• Implementar ações que possibilitem a melhoria no processo de geração e consumo
de energia, com abrangência nas áreas rurais.
• Incentivar a redução do custo da energia.
• Divulgar as fontes de recursos para pesquisas.
• Incentivar o uso de grandes blocos de energia fora do horário de ponta.

Incentivar a conservação de energia

• Implementar programas de conservação de energia


• Inserir, no currículo escolar, informações referentes ao uso eficiente da energia e ao
combate a seu desperdício.
• Disseminar técnicas que economizem energia.
• Divulgar as modernas técnicas de refrigeração.
• Dar continuidade ao Programa de Conservação de Energia Elétrica – Procel.

Incentivar o uso de fontes renováveis de energia

• Criar formas de incentivo às pesquisas voltadas para a geração de energias


renováveis sustentáveis.
• Incentivar o uso da biomassa, resíduos sólidos e outras fontes alternativas renováveis
como fonte primária para a produção de energia.
• Incentivar o uso do bagaço de cana para geração de energia por combustão,
atrelado a um sistema de filtração antipoluente, especialmente na Zona da Mata.
• Promover o plantio de florestas energéticas, com vistas a obter um abastecimento
sustentado da energia de biomassa.
• Implantar Programa de Educação Ambiental para a comunidade, com foco no uso
de fontes renováveis de energia.
• Promover a capacitação de recursos humanos e o desenvolvimento da tecnologia.
• Implantar Projeto Piloto de Energia Solar e/ou Eólica nos municípios, em parceria com
as universidades, com o objetivo de atender a demandas locais.
• Incentivar programas para subsidiar a implantação de sistemas alternativos de
energia.
• Interiorizar dutovias de gás natural.
• Estimular, principalmente nas zonas rurais, o uso de biodigestores (material orgânico).
• Disponibilizar, efetivamente, as tecnologias de energia renovável no mercado.
• Dar prioridade ao intercâmbio de tecnologias, garantindo o completo acesso a
dados e informações, sem se restringir às regras dos direitos da propriedade industrial.
• Os Governos Estadual e Federal devem fazer uma avaliação sistemática de
investimentos voltados para a energia renovável. Disponibilizar dados sobre energia
renovável (solar, eólica, biomassa, entre outras), de modo a embasar as decisões dos

109
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

investidores nesse tipo de projeto.


• Os Governos Estadual e Federal, a comunidade científica e o setor privado devem
promover a formação de parcerias relativas a pesquisas energéticas sobre tecnologia de
conversão de energia da biomassa em escala industrial, enfatizando aquelas que
podem prover tanto eletricidade como os produtos para co-geração (coque, produtos
químicos, fibras, alimentos, etc.).
• Promover uma avaliação integrada das necessidades energéticas, levando em
conta não só o critério econômico, mas também considerações sociais, como
geração de emprego, gênero e saúde.
• Dar prioridade às áreas rurais, de modo a criar emprego e oportunidades de geração de
empregos e renda, minimizando a pobreza e, conseqüentemente, melhorando a
qualidade de vida.
• Estabelecer mecanismos de recompensa às atividades dos pesquisadores das
universidades federal e estadual e dos centros de pesquisa, associados à produtividade
em pesquisa aplicada.
• Dar prioridade à utilização dos recursos de fundos estatais em projetos de energia
renovável.

3.3 REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS

As disparidades regionais são muito significativas em Pernambuco. Entre as principais


causas do círculo vicioso da concentração de renda estão as condições precárias de
trabalho e a baixa remuneração para o segmento de trabalhadores com baixa ou
nenhuma escolaridade. O uso abusivo de mão-de-obra infantil e de adolescentes vem
comprometendo o desenvolvimento psicossocial e educacional desses grupos. O desafio
de gerar novas fronteiras de ocupação e renda, com ênfase nas atividades econômicas
voltadas para o aumento das demandas por posto de trabalho, requer uma série de
ações.

Foram cinco as estratégias propostas para este eixo temático: combate à pobreza,
educação para o desenvolvimento, saúde para o desenvolvimento, fortalecimento de
grupos vulneráveis e combate à violência.

Estratégia 7: Combate à Pobreza

A pobreza e a desigualdade social são marcas evidentes na sociedade pernambucana.


A pobreza atinge mais diretamente as zonas rurais e as crianças que fazem parte de
famílias numerosas. Mas é nas grandes cidades que se encontram as maiores
disparidades sociais e também a maior incidência de conflitos.

Promover a geração de trabalho e renda

110
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Identificar, fortalecer e complementar as atividades produtivas, baseadas nas


oportunidades de rentabilidade econômica, e a participação social das
comunidades urbanas e rurais, dos pequenos produtores e suas famílias.
• Ampliar, monitorar e avaliar o escopo da política nacional de qualificação
profissional, incentivando o desenvolvimento de ações voltadas para a valorização
dos indivíduos, divulgando os resultados da avaliação.
• Qualificar pequenos e médios produtores rurais e urbanos para trabalhar nas cadeias
produtivas estratégicas do Estado: avicultura (Mata Norte), gesso e apicultura
(Araripe), turismo (Região Metropolitana do Recife – RMR, e Mata Norte e Sul),
caprinocultura (Pajeú e Moxotó), pecuária leiteira (Agreste Meridional), cultura da
mandioca, piscicultura e artesanato (Mata Norte), fruticultura, agricultura irrigada e
apicultura (Submédio São Francisco)
• Incentivar a instalação de Agências de Trabalho e fóruns afins.
• Implantar, divulgar e desburocratizar o sistema de microcrédito, buscando
alternativas através do apoio de instituições financeiras oficiais.
• Ampliar a abrangência do chamado Sistema S (Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial – Senac; Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai; Serviço
Social do Comércio – Sesc; Serviço Social da Indústria – Sesi; Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae; e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural –
Senar), através da capacitação direcionada aos trabalhadores, associada aos
recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT.
• Identificar nichos de mercado (demandas insatisfeitas) e promover o turismo
ecológico, cultural e rural.
• Dinamizar a economia regional, em caráter descentralizador, visando o
fortalecimento das estruturas administrativas locais e a geração de renda para a
população mais carente.
• Promover qualificação de pequenos e médios produtores rurais e urbanos para
trabalhar nas cadeias produtivas estratégicas do Estado.
• Identificar as necessidades locais e regionais de qualificação profissional,
incentivando a promoção de capacitações necessárias para o acesso dos indivíduos
e grupos ao mercado de trabalho.
• Incentivar a instalação de serviços de informações e agenciamento de trabalho,
fortalecendo as comissões municipais de emprego. Incentivar a criação e facilitar o
acesso a sistemas de microcrédito.
• Estimular a participação das comunidades e municípios no desenvolvimento de
atividades econômicas integradas, objetivando beneficiar toda a população.
• Incentivar a instalação de serviços de informações e agenciamento do trabalho,
fortalecendo as Comissões Municipais de Emprego, de modo a assegurar as
capacitações necessárias para o acesso de indivíduos e grupos ao mercado de
trabalho.
• Manter e ampliar o Programa Primeiro Emprego em todos os municípios.

111
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Estratégia 8: Educação para o Desenvolvimento

O aspecto mais marcante da pobreza do Estado é o baixo nível educacional, fazendo


com que o acesso das camadas de menor nível de escolaridade fique restrito aos postos
de baixa produtividade e pequena remuneração. A experiência bem-sucedida de
diversos programas para ampliar o atendimento escolar e a permanência dos alunos nas
escolas tem demonstrado a viabilidade da reversão do atual quadro de desigualdade
social. Para tanto, são necessárias ações para:

Garantir o acesso universal e a permanência dos alunos nas escolas

• Apoiar o fortalecimento educacional de mulheres, melhorando o acesso à educação


básica e superior, treinamento e capacitação, com ênfase na inclusão da questão
do gênero.
• Garantir políticas públicas e/ou fortalecer programas que visem a permanência de
todas as crianças e adolescentes na escola (ex.: programas Bolsa-escola e Renda
Mínima).
• Estimular o acesso ao ensino superior.
• Garantir a permanência do aluno na escola, através da disseminação de práticas
esportivas.
• Intensificar o atendimento educacional aos grupos indígenas.
• Ampliar e garantir o atendimento aos não-alfabetizados, através de programas de
aceleração do aprendizado.

Promover a melhoria da qualidade do ensino

• Priorizar a formação de professores, da equipe técnica e administrativa, para


promover atividades voltadas para o Desenvolvimento Sustentável.
• Inibir a discriminação racial e social, bem como as práticas de violência e de uso de
drogas, álcool e fumo nas escolas.
• Incentivar a discussão nas escolas sobre questões éticas, culturais e artísticas,
favorecendo a inclusão das diferenças.
• Rever os critérios da política de avaliação dos alunos, especialmente no que se
referem às práticas pedagógicas e ao conceito de reprovação escolar.
• Criar instrumentos de acompanhamento e avaliação da política educacional,
através da implantação de mecanismos de controle social: Conselhos Escolares,
Grêmios, Associações de Pais e Mestres, entre outros.
• Desenvolver política de valorização dos profissionais de educação e estimular a
promoção da educação entre os sistemas formais e informais.
• Promover mecanismos de descentralização e controle social nas unidades de ensino,
implantando mecanismos de responsabilidade, envolvimento e controle social das
atividades escolares.

112
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Democratizar o acesso dos adolescentes e jovens ao ensino médio, garantindo a


distribuição gratuita de material didático específico, ampliando-se a oferta de vagas,
com construção de escolas técnicas profissionalizantes em todas as regiões do
Estado.

Promover o treinamento e a capacitação profissionalizantes

• Implementar um processo de capacitação continuada para os docentes.


• Articular e favorecer parcerias do Sistema S (Senac, Senai, Sesi, Sebrae, Senar) com as
unidades educacionais formais e informais, ampliando o número de vagas e
barateando os seus custos.
• Qualificar pessoal para trabalhar nas cadeias produtivas estratégicas do Estado.
• Dar prioridade à formação de professores, da equipe técnica e administrativa, para
promover atividades voltadas para o desenvolvimento sustentável.

Promover a educação e a conscientização ambiental

• Implementar a Agenda Comum de Educação Ambiental do Estado, respeitando as


diferenças locais e regionais, sob a coordenação da Secretaria Estadual de Ciência,
Tecnologia e Meio Ambiente – Sectma.
• Fortalecer programas de educação ambiental e patrimonial que promovam um
debate abrangente acerca da interação dos ambientes natural e construído nos
municípios.
• Integrar a educação ambiental nos vários níveis do ensino, por meio de currículos
escolares, priorizando a educação infantil, sendo esta a base para a formação do
cidadão crítico e atuante na sociedade.
• Implementar programa de educação ambiental, valorizando os recursos naturais e
conscientizando os alunos da importância dos ecossistemas.
• Promover programas de educação ambiental que incentivem práticas de
reciclagem de lixo, reuso da água, recuperação de áreas degradadas, entre outros.

Estratégia 9: Saúde para o Desenvolvimento

Diversos são os fatores que causam problemas de saúde: poluição da água e do ar,
distribuição de água sem atender aos requisitos de potabilidade, sistema deficitário de
esgotamento sanitário e eliminação inadequada do lixo produzido, entre outros. Tais
fatores estão associados aos riscos de contaminação química e aos perigos do
crescimento desordenado das aglomerações urbanas de alta densidade populacional.
Além disso, a saúde do trabalhador é ameaçada por conta do uso indiscriminado de
agrotóxicos na agricultura e por ambientes industriais de alto risco ambiental. Para
enfrentar esses desafios, são necessárias ações para:

113
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Garantir o acesso universal aos serviços de saúde

• Integrar as preocupações de saúde em estratégias, políticas e programas de


desenvolvimento sustentável.
• Intensificar o atendimento dos serviços de saúde aos grupos indígenas.
• Garantir o acesso universal aos serviços de saúde (preventiva e curativa).
• Promover o uso de plantas medicinais para, em conjunto com a medicina tradicional,
promover a saúde coletiva.
• Implementar o programa de Agente de Saúde Ambiental.
• Combater o HIV/Aids, como parte fundamental de todas as estratégias de redução
da pobreza, desenvolvimento sustentável e crescimento econômico.
• Direcionar esforços na prevenção da saúde da mulher e da família.
• Promover a saúde, assegurando o acesso universal à alimentação suficiente, segura,
culturalmente aceitável e nutricionalmente adequada, implementando os
compromissos assumidos na Cúpula Mundial de Alimentação e na Cúpula do Milênio.

Promover a melhoria da qualidade do serviço de saúde

• Promover mecanismos de controle social e descentralização nas unidades de saúde.


• Desenvolver sistemas de informações relacionados à saúde e banco de dados
integrados sobre desenvolvimento, exposições ambientais e saúde, possibilitando o
acesso público a essas informações.
• Estabelecer um sistema de investigação de óbito infantil, identificando seus fatores,
riscos e causas.
• Consolidar a descentralização e o controle social do sistema de vigilância
epidemiológica e sanitária do Sistema Único de Saúde – SUS.
• Investigar o óbito da mulher em idade fértil, seus fatores de risco, causas e local,
desenvolvendo ações para a redução da morbimortalidade materna.
• Implementar programas de controle de saúde voltados para situações de emergências e
epidemias.
• Apoiar pesquisas, visando erradicar, de forma ambientalmente saudável, ameaças à
saúde, como malária, tuberculose, dengue e outras doenças endêmicas, parasíticas
e infecciosas.
• Dar prioridade às ações de medicina preventiva, de maneira a diminuir os índices de
morbidade e mortalidade da população, através do incentivo ao uso de remédios
fitoterápicos e alimentos alternativos, elaborados com recursos naturais da região.
• Garantir o atendimento médico às vítimas de abuso e exploração sexual e suas
famílias, através da criação de unidades de atendimento na rede pública de saúde,
constituídas por equipes multidisciplinares.

114
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Promover a saúde da mulher

• Investigar o óbito da mulher em idade fértil, seus fatores de risco, causas e locais,
desenvolvendo ações para a redução da morbimortalidade materna.
• Promover uma maternidade segura e sem dor, incentivando os partos naturais e
informando sobre os riscos do parto cesariana.
• Ampliar as campanhas de controle preventivo do câncer uterino e de mama.
• Promover campanhas para redução do número de gravidez precoce das
adolescentes.
• Aumentar o controle para localização e punição de clínicas e locais onde vêm sendo
feitos abortos ilegais.
• Incentivar campanhas de planejamento familiar.
• Aumentar o número de creches pré-escolares, para facilitar a inserção das mulheres-
mães no mercado de trabalho.
• Dar prioridade ao atendimento a mulheres chefes de família.

Promover a saúde do trabalhador

• Utilizar o local de trabalho como espaço para lidar com problemas de saúde pública,
tais como HIV/Aids, seguindo o Código de Práticas da Organização Internacional do
Trabalho.
• Promover capacitações periódicas, dirigidas ao pessoal do serviço público de saúde
e das empresas e entidades sindicais e patronais, voltadas à redução de acidentes
de trabalho.
• Implementar programas de disseminação de tecnologias para garantir água segura,
esgotamento sanitário dos dejetos e manejo adequado dos resíduos sólidos gerados
no meio urbano e rural, reduzindo os índices de doenças de veiculação hídrica e de
caráter ambiental.

Estratégia 10: Fortalecimento de Grupos Vulneráveis

As precárias condições de vida das mulheres pobres evidenciam a importância de se


levar em consideração a discriminação de gênero. Constata-se também, nas famílias
situadas abaixo da linha de pobreza, a existência significativa de mulheres chefes de
família. Quanto à população negra, verifica-se que ela tem reduzidas possibilidades de
mobilidade social ascendente, é socialmente vulnerável e geralmente tem acesso restrito
às oportunidades educacionais de melhor qualidade. Outro grupo relevante na
população pernambucana são as tribos indígenas remanescentes, que vivem
precariamente. A vulnerabilidade social se revela também na dimensão crescente da
violência em suas diversas manifestações, configurando um tipo específico de epidemia
social, atingindo toda a sociedade. Para solucionar esses problemas, as seguintes ações
se fazem necessárias:

115
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Melhorar as condições de vida da mulher

• Combater a violência contra a mulher, tanto a da esfera familiar quanto a da rua,


ampliando a sua segurança física e psicológica.
• Assegurar terra e moradia para a mulher, garantindo o seu espaço de reprodução de
vida.
• Garantir melhores salários para as professoras, possibilitando o eficiente desempenho
das suas funções enquanto educadora.
• Aumentar a participação da mulher nas escolas e universidades, ampliando as suas
oportunidades no mercado de trabalho e o conceito de cidadania.
• Assegurar a não-discriminação da mulher nos currículos e livros e resgatar sua imagem
feminina, tornando-a digna no imaginário coletivo.
• Garantir os direitos reprodutivos da mulher, como opção ao exercício da
maternidade e fator de dinâmica populacional.
• Ampliar os programas voltados à saúde da mulher, atendendo às necessidades
específicas do feminino e garantindo o seu direito à saúde como condição digna de
cidadã.
• Apoiar projetos e pesquisas sobre a mulher, nos seus diversos aspectos, ampliando os
conhecimentos sobre a sua realidade específica, para a orientação de políticas que
norteiem práticas de eqüidade social.
• Lutar contra a discriminação da mulher no trabalho, possibilitando maior igualdade no
mercado.
• Garantir igualdade de oportunidades na função pública, assegurando à mulher
espaço equânime para o exercício de vocações de liderança e de qualificação
profissional.

Melhorar as condições de vida do afro-descendente

• Combater a discriminação racial nas escolas, garantindo o acesso e o tratamento


digno aos afro-descendentes.
• Ampliar as oportunidades de trabalho e emprego para o afro-descendente,
resgatando, pela sua inserção no mercado, o seu espaço de exercício da cidadania.
• Valorizar as manifestações culturais da raça afro-descendente, ampliando o
reconhecimento da sua contribuição na formação da cultura local e nacional.
• Valorizar a diversidade racial, incluindo e apoiando a participação dos afro-
descendentes nos meios de comunicação, resgatando-lhes, no imaginário coletivo,
um espaço social digno e respeitado.
• Ampliar as oportunidades de inserção dos afro-descendentes nas universidades,
garantindo acesso à informação, ao conhecimento e à qualificação como força-de-
trabalho, facilitando a sua participação igualitária no mercado.
• Ampliar o controle da anemia falciforme, que atinge sobretudo os afro-descendentes,
como forma de promoção da eqüidade social no acesso à saúde, satisfazendo as
necessidades especiais do grupo.

116
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Ampliar as relações com a África, através de programas de cooperação técnica,


educacional e cultural, como forma de estabelecimento de relações de
solidariedade internacional entre culturas afins.
• Valorizar a participação da população afro-descendente nos esportes, fomentando
pesquisas científicas sobre seu desempenho esportivo, como forma de
democratização do uso do tempo livre e do lazer e como espaço para atuação de
profissionais.
• Aperfeiçoar os mecanismos jurídicos para penalizar os crimes de racismo, impedindo
a impunidade e a reprodução de um imaginário racialmente preconceituoso.
• Promover estudos e pesquisas voltados à população afro-descendente, possibilitando
a ampliação das informações e conhecimentos sobre as suas especificidades
econômicas, políticas, sociais e biopsicológicas, para a orientação de práticas de
eqüidade.
• Proteger o patrimônio histórico-cultural dos quilombos, resgatando o importante papel
dessas organizações nas histórias local e nacional.

Melhorar as condições de vida do indígena

• Combater a discriminação racial contra os índios, garantindo a sua participação


social ampla e o respeito ao exercício de suas especificidades étnicas.
• Ampliar as oportunidades de trabalho e emprego para o índio, possibilitando uma
maior inclusão social, através da inserção econômica.
• Valorizar as manifestações culturais da raça indígena, resgatando a importância da
sua contribuição para a formação cultural local e nacional.
• Garantir o respeito aos limites dos territórios indígenas, assegurando-os enquanto
espaço para o desenvolvimento de sua economia e de sua cultura.
• Promover a saúde das tribos indígenas, assegurando-lhes o acesso aos serviços de
saúde preventiva e curativa, tanto em rede oficial como no seu espaço tribal,
respeitando as suas tradições e costumes.
• Divulgar o acervo indígena existente como elemento atrativo para o turismo,
resgatando o papel dessas comunidades nas histórias local e nacional e ampliando
as suas possibilidades de inserção no mercado de trabalho.
• Promover estudos e pesquisas voltados à população indígena, resgatando a sua
história e o seu acervo, assim como ampliando as informações e conhecimentos
sobre suas especificidades sociais, econômicas, políticas e biopsíquicas.
• Proteger o patrimônio histórico-cultural das tribos de Pernambuco, recuperando a
importância das suas contribuições para a história do Estado.

Melhorar as condições de vida da criança e do adolescente

Educação

• Implementar a estratégia de integração do Estatuto da Criança e do Adolescente –


117
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

ECA, com os currículos escolares, os programas de formação de professores e a


realização de campanhas de divulgação para alunos, professores e pais.
• Rever os critérios da política de avaliação dos alunos, especialmente no que se refere
às práticas pedagógicas e ao conceito de reprovação escolar.
• Promover o protagonismo juvenil e a Educação de Jovens e Adultos – EJA,
estimulando os alunos a desenvolverem suas potencialidades afetivas, artísticas e
profissionais.
• Criar instrumentos de acompanhamento e avaliação da política educacional,
através da implantação de mecanismos de controle social: Conselhos Escolares,
Grêmios, Associações de Pais e Mestres, etc.
• Democratizar o acesso dos adolescentes e jovens ao ensino médio, garantindo a
distribuição gratuita de material didático específico, ampliando-se a oferta de vagas,
com a construção de escolas técnicas profissionalizantes nas sete regiões do Estado.
• Fortalecer e reconhecer o trabalho educacional desenvolvido nas escolas comunitárias,
organizações não-governamentais – ONGs, e demais entidades representativas da
sociedade civil.

Saúde

• Garantir o acesso da população a serviços de saúde de qualidade, através da


melhoria das condições físicas dos postos e hospitais, da aquisição de equipamentos
e medicamentos e da contratação de profissionais de saúde, de acordo com as
necessidades locais.
• Priorizar as ações de medicina preventiva, de maneira a diminuir os índices de
morbidade e mortalidade da população, através do incentivo ao uso de remédios
fitoterápicos e alimentos alternativos, elaborados com recursos naturais da região.
• Implantar uma rede de registro para notificação e atendimento às crianças e
adolescentes vítimas da violência, através da criação de retaguarda na área de
saúde.
• Implantar e/ou implementar o Programa de Saúde do Adolescente – Prosad, em
todos os municípios.
• Desenvolver campanhas preventivas e criar atendimento especializado, por região,
para crianças e adolescentes, no que se refere a uso de drogas, abuso sexual, maus-
tratos e doenças sexualmente transmissíveis.
• Realizar campanhas de divulgação do ECA entre os profissionais de saúde.
• Adequar os serviços de saúde ao atendimento de pessoas portadoras de necessidades
especiais.

Emprego e renda

• Intensificar as ações de prevenção e erradicação do trabalho infantil.


• Ampliar e diversificar a oferta de cursos profissionalizantes e de projetos para jovens
empreendedores.

118
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Aproveitar o ambiente de praia de Pernambuco para ampliar o programa de


adolescentes guias turísticos em todos os municípios.
• Manter e ampliar o Programa Primeiro Emprego em todos os municípios.

Segurança pública

• Promover a integração das ações entre os Conselhos Tutelares, as Prefeituras, o


Ministério Público, as Polícias Militar e Civil e a sociedade civil organizada.
• Criar Delegacias e Varas Especializadas da Infância, voltadas ao atendimento de
crianças e adolescentes vítimas e infratores.
• Estimular a realização de denúncias e o respeito às normas e diretrizes estabelecidas no
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, bem como garantir o sigilo da identidade
do denunciador.
• Realizar campanhas para estimular a população a denunciar os casos em que as
crianças e adolescentes são vítimas da violência.
• Capacitar todos os segmentos sociais envolvidos no atendimento às crianças e
adolescentes vítimas e infratores, tendo como perspectiva a humanização e a
melhoria da qualidade dos serviços prestados.
• Avaliar e qualificar nosso sistema de segurança pública (Polícia Militar e Civil) para
não ocorrer abuso de poder, principalmente contra crianças e adolescentes.

Programa Suplementar de Assistência Social

• Implantar creches, abrigos e casas de passagem, priorizando a criação de núcleos


de atendimento regionalizados e descentralizados.

Abuso e Exploração Sexual

• Criar/implementar programas específicos para atender as vítimas de abuso e


exploração sexual e de outras formas de violência praticadas contra crianças e
adolescentes.
• Garantir o atendimento médico às vítimas de abuso e exploração sexual e a suas
famílias, através da criação de unidades de atendimento na rede pública de saúde,
constituídas por equipes multidisciplinares.
• Realizar campanhas para conscientizar as famílias sobre a importância de denunciar
o abuso e a exploração sexual, bem como todas as formas de violência e maus-tratos
praticados contra as crianças e os adolescentes.
• Garantir a regionalização das ações desenvolvidas pela Rede de Combate ao Abuso
e Exploração Sexual, através da sua instalação em cidades-pólo.
• Criar Delegacias Especializadas para o atendimento das vítimas de abuso e
exploração sexual e de outras formas de violência praticadas contra as crianças e
adolescentes.

119
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Melhorar as condições de vida dos mais carentes

• Ampliar programas de valorização e inclusão, nos espaços municipais, dos indivíduos


portadores de necessidades especiais.
• Implantar e ampliar centros de atendimento a pessoas e famílias em estado de
miséria, garantindo acesso imediato à satisfação de carências de alimentação,
saúde e habitação, em complementaridade aos programas públicos já existentes.
• Assegurar assistência social, econômica e psicológica aos segmentos da população
atingidos por catástrofes naturais e crises sociais.

Estratégia 11: Combate à Violência

O problema do aumento da violência, particularmente nas cidades de maior porte, vem


se agravando nos últimos anos e tem se tornado um fator de risco, reduzindo o número
de turistas internacionais e trazendo sérias conseqüências à qualidade de vida da
população local. O grupo populacional mais atingido tem sido os jovens, que se
colocam, freqüentemente, em situações de vulnerabilidade. O combate à violência nas
suas diversas formas requer o envolvimento dos diversos setores da sociedade.

Reduzir a violência nos seus diversos aspectos

• Implementar serviços de prevenção e enfrentamento da violência, estimulando a


formação de conselhos comunitários de segurança.
• Promover assistência e garantir o monitoramento de crianças, adolescentes e
mulheres vítimas de violência.
• Implantar centros de atendimento às vítimas de violência, elaborando registros de
casos de violência e suas causas e estabelecendo ações para reintegração na vida
familiar e social.

Promover a segurança para o desenvolvimento com qualidade de vida

• Integrar o Sistema de Justiça Criminal ao Sistema de Meio Ambiente.


• Fortalecer e conscientizar o Sistema de Segurança Pública para as questões
ambientais.
• Apoiar a implementação de estruturação material e a reforma da postura doutrinária
dos órgãos de segurança para a defesa do cidadão.
• Apoiar as práticas comunitárias de segurança pública.
• Assegurar o fortalecimento da Política Ambiental dentro do Sistema de Segurança
Pública e de Meio Ambiente.
• Promover o fortalecimento do controle de delitos ambientais, através de política
reeducativa, reparatória, e não apenas punitiva.

120
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

3.4 GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS

A gestão dos recursos é uma atividade complexa e envolve ações de diversas naturezas.
Destacam-se, entre elas, ações que buscam operacionalizar diretrizes de uso e
regulação do solo, de conservação da biodiversidade, de controle da qualidade
ambiental e da gestão propriamente dita dos recursos naturais.

As estratégias apontadas neste eixo temático foram: regulação do uso e ocupação do


solo, uso e conservação da biodiversidade, medidas de controle e qualidade ambiental,
gestão integrada dos recursos hídricos.

Estratégia 12: Regulação do Uso e Ocupação do Solo

Define a utilização potencial do solo para sua produção e conservação. Para isso, utiliza-
se do zoneamento, da articulação e do gerenciamento de unidades espaciais de
importância para a biodiversidade e para a conservação dos recursos naturais.

Proteger o solo

• Evitar a degradação do solo, prevenindo a acidificação, a salinização e a


desertificação provocadas por manejo inadequado.
• Realizar inventário das fontes de poluição/contaminantes e de seus níveis de risco nos
diferentes biomas do Estado e em bacias hidrográficas.
• Criar incentivos ao produtor rural, no tocante ao reflorestamento das áreas de matas
ciliares com vegetação nativa da região.
• Recuperar as áreas de preservação permanente, reserva legal, recarga de aqüíferos
e proteção de mananciais, suscetíveis à desertificação e degradadas por exploração
mineral.

Elaborar o zoneamento ecológico-econômico

• Realizar zoneamento ecológico-econômico no Estado, salientando a variável


socioambiental.
• Implantar Projetos de Desenvolvimento Sustentável, obedecendo ao zoneamento
especificado para cada localidade.
• Regular o uso e a ocupação do solo, considerando: o zoneamento ecológico-
econômico-ambiental realizado, a articulação e o gerenciamento dos corredores
ecológicos e das Unidades de Conservação já estabelecidas e os ecossistemas do
Estado de Pernambuco.
• Incentivar a elaboração de instrumentos técnicos de valoração ecológico-urbana,
subsidiando uma política de gestão ambiental nas cidades.

121
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Identificar a capacidade de exploração dos recursos minerais

• Identificar a capacidade potencial de exploração racional dos recursos minerais na


Plataforma Continental jurídica brasileira e no meio terrestre.
• Estabelecer prioridades, cotas e cronogramas, visando a utilização sustentável dos
recursos minerais.
• Criar e ampliar o sistema de fiscalização para os Conselhos Municipais e Comissões
Regionais referentes ao exercício dessa atividade.

Estratégia 13: Uso e Conservação da Biodiversidade

Sugere-se a implementação e ampliação de Unidades de Conservação e corredores


ecológicos do Estado, o manejo sustentável e a conservação das espécies ameaçadas
de extinção, buscando resgatar o conhecimento das populações indígenas e
disciplinando a utilização de organismos geneticamente modificados.

Implementar e ampliar as Unidades de Conservação

• Criar Unidades de Conservação de Proteção Integral, compatibilizando-as com o


Sistema Nacional de Unidades de Conservação – Snuc.
• Implementar as Unidades de Conservação existentes no Estado, avaliando a
categoria de manejo e instalando infra-estrutura adequada para o seu
funcionamento.
• Ampliar a representatividade dos ecossistemas existentes no Estado, recuperando-os
e protegendo-os, através da criação de Unidades de Conservação de Proteção
Integral.
• Promover o inventário da fauna e da flora das Unidades de Conservação.
• Estabelecer os procedimentos de gestão para as unidades de manejo sustentável.
• Incentivar a criação de Reservas Privadas do Patrimônio Natural – RPPN, definindo e
uniformizando os critérios de manejo nos âmbitos federal e estadual.

Implantar corredores ecológicos

• Mapear o Estado para reconhecimento das regiões de interesse estratégico, visando


a conservação da diversidade biológica, de acordo com o zoneamento realizado.
• Implantar corredores regionais, utilizando os referenciais dos corredores ecológicos
brasileiros e contemplando todos os ecossistemas pernambucanos.
• Integrar as reservas legais e as áreas de preservação permanente ao sistema estadual
de Unidades de Conservação, visando a sua participação na formação de
corredores ecológicos.
• Utilizar o zoneamento ecológico-econômico-ambiental para definir o manejo
sustentável das áreas em produção, buscando a compatibilização das atividades
econômicas e sociais com a preservação.
122
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Incentivar o manejo sustentável de espécies florestais para a produção de


madeira

• Aproveitar os resíduos e subprodutos da exploração dos recursos florestais, a partir da


abertura de novos mercados, como o artesanato, e da identificação de novos
produtos derivados desse aproveitamento.
• Promover e difundir novas tecnologias de utilização sustentável dos recursos florestais.
• Desenvolver técnicas para a recuperação ambiental de ecossistemas degradados,
avaliando os impactos potenciais de programas sobre os ecossistemas e as espécies;
e incrementar a reabilitação e o uso de terras degradadas, mediante o
reflorestamento com espécies nativas ou exóticas e por meio do manejo da
regeneração natural, com especial ênfase para as áreas sob ameaça ou em
processo de desertificação.
• Implantar viveiros para produzir mudas florestais, objetivando trabalhar a reposição de
florestas pernambucanas.

Conservar os organismos ameaçados de extinção

• Identificar, localizar e recuperar, no Estado, os hábitats das espécies ameaçadas.


• Realizar, de forma contínua, uma revisão do status de conservação dessas espécies,
definindo estratégias de conservação.
• Realizar levantamento dos métodos de exploração e produção compatíveis com a
sustentabilidade da espécie explorada.

Disciplinar a utilização de Organismos Geneticamente Modificados – OGMs

• Disciplinar o ingresso e a produção interna de material genético transgênico.


• Estabelecer critérios para a utilização de Organismos Geneticamente Modificados –
OGMs, no desenvolvimento de programas de caracterização de genomas.
• Propor medidas imediatas e preventivas para avaliação e manejo dos riscos da
liberação de Organismos Geneticamente Modificados – OGMs.
• Fortalecer e harmonizar os instrumentos legais e os procedimentos utilizados para a
tomada de decisões, adotando o princípio da precaução.
• Reforçar os sistemas de prevenção e controle.
• Incentivar a criação de bancos de germoplasmas.

Proteger o conhecimento e as práticas utilizadas pelas comunidades locais e


pelas populações indígenas

• Inventariar conhecimentos e práticas de comunidades locais e sociedades indígenas,


relevantes à preservação e ao uso sustentável da biodiversidade.

123
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Identificar e cadastrar conhecimentos e práticas, de acordo com o seu potencial


para uso comercial.
• Estabelecer mecanismos que preservem, mantenham e valorizem os conhecimentos
tradicionais.

Estratégia 14: Medidas de Controle da Qualidade Ambiental

Estabelece medidas de controle da qualidade ambiental, ressaltando a necessidade de


fortalecimento do sistema de licenciamento de atividades poluidoras, da busca da
eficiência na produção e no consumo de energia, de implementação de atividades de
recuperação, monitoramento e fiscalização de áreas degradadas e da adoção de
mecanismos de certificação.

Fortalecer o Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras – Slap

• Criar e aplicar legislação pertinente, com participação dos municípios.


• Regulamentar a legislação pertinente, com a definição de critérios, de acordo com
as particularidades locais.

Estabelecer normas e regulamentação para o uso racional de energia

• Incentivar o consumo de álcool como combustível para automóveis e acrescentar


maior percentual de álcool ao óleo diesel.
• Exigir das empresas geradoras e distribuidoras de energia a elaboração de relatórios
anuais que contenham dados atualizados sobre a energia, relativos a sua origem, à
tecnologia utilizada para sua geração, ao destino e à distribuição proporcional da
mesma.

Promover a recuperação de áreas degradadas por ação antrópica

• Definir os agentes causadores da degradação ambiental, classificando por categoria


as suas principais formas, como as atividades agrícolas e de mineração, obras de
infra-estrutura, assentamentos urbanos e outras atividades potencialmente poluidoras.
• Considerar a recuperação relativa aos espaços ambientais específicos: ecossistemas
e/ou bacias hidrográficas.
• Realizar planejamento integrado de intervenções.
• Incentivar a criação de Leis Municipais de revitalização das bacias hidrográficas.

Controlar a poluição difusa de origem agrícola

• Classificar as principais formas de poluição difusa de origem agrícola, definindo seus


impactos reais: poluição orgânica, sais nutrientes e substâncias tóxicas.

124
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Realizar planejamento integrado sustentável de intervenções, com ênfase na


educação ambiental no meio rural.
• Punir práticas inadequadas de manejo do uso do solo, da água, da fauna e da flora.
• Incentivar a adoção de certificação ambiental, com ênfase na agroecologia local.
• Criar meios para estimular a prática de preservação ambiental.
• Desenvolver políticas descentralizadoras de ação.

Prevenir e atenuar as inundações urbanas e seus efeitos

• Constituir grupo para formulação de política de intervenção.


• Favorecer a elaboração de planos diretores municipais de drenagem urbana.
• Favorecer a criação de centros locais de alerta contra inundações.
• Combater o desmatamento e a extração ilegal de madeira.
• Controlar e prevenir queimadas e incêndios florestais.
• Fazer cumprir a legislação pertinente ao tema.

Divulgar a sistemática dos mecanismos de desenvolvimento limpo e definir de


critérios para eleição de projetos

• Divulgar e disseminar, de forma sistemática, os mecanismos de desenvolvimento


limpo.
• Definir critérios de elegibilidade de projetos passíveis de certificação, que ofereçam
garantia de redução de emissões de gás carbônico e outros poluentes, de modo a
incentivar o controle ambiental.
• Estimular práticas de obtenção de certificados NBR – ISO 9001/9002 e 14001 pelas
organizações.
• Estabelecer políticas diferenciadas para promover a certificação pela Norma NBR –
ISO 9001/9002 e 14001 nas pequenas, médias e grandes empresas e nas instituições
públicas e privadas.
• Disseminar os procedimentos e as possibilidades comerciais associadas às vantagens
da certificação.

Estratégia 15: Gestão Integrada dos Recursos Hídricos

Estabelece a conservação dos recursos hídricos, através de sua recuperação,


revitalização e uso dos instrumentos de gestão, objetivando o aumento de sua
disponibilidade, em quantidade e qualidade.

Conservar os recursos hídricos, visando o aumento de sua disponibilidade

• Desenvolver ações com o objetivo de prevenir a escassez e a piora da qualidade da


água nos mananciais ou, ao menos, atenuar os efeitos de sua ocorrência.

125
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Implantar tecnologias de reutilização da água.


• Estudar a necessidade de criação de novos reservatórios de água.
• Incentivar o uso mais eficiente das reservas existentes.
• Implantar estação de tratamento das águas poluídas que são lançadas aos rios.
• Concluir as obras inacabadas que visem disponibilizar recursos hídricos,
principalmente nas mesorregiões do Sertão pernambucano, caso ainda se adeqüem
aos objetivos.
• Incentivar o uso de dessalinizadores da água.
• Promover a fiscalização do uso nacional das águas subterrâneas das bacias
sedimentares do interior de Pernambuco.

Recuperar, revitalizar e conservar as bacias hidrográficas

• Monitorar a qualidade e a quantidade das águas, identificando problemas e


fiscalizando sua evolução.
• Promover o planejamento integrado de intervenções.
• Punir práticas inadequadas com ações de recuperação total do ambiente
degradado pelo agente degradador.
• Fazer cumprir o uso de instrumentos de regulamentação.
• Implementar ações de fiscalização e monitoramento.
• Desenvolver indicadores de avaliação da qualidade ambiental e da escassez de
água.
• Reflorestar e recompor matas ciliares.
• Proteger a área das bacias hidráulicas.

Ampliar a oferta de água, em qualidade e quantidade adequada

• Implantar obras de pequeno, médio e grande portes, desde que sejam discutidas
com a comunidade local.
• Implantar pequenas obras de apoio comunitário e de convivência com a seca.
• Reabilitar a infra-estrutura hídrica.
• Realizar levantamentos hidrogeológicos, com a finalidade de definir áreas com
mananciais de água subterrânea suscetíveis de serem exploradas.

Promover estudos de reenquadramento dos corpos d’água, atendendo aos


anseios das comunidades

• Identificar usos prioritários, atuais e futuros.


• Estabelecer critérios para reenquadramento.
• Classificar os corpos d’água.
• Especificar a qualidade das águas que se pretende manter ou alcançar.
• Estabelecer as medidas necessárias para colocar e/ou manter a condição do corpo
d’água em correspondência com a sua classe, de acordo com o uso pretendido
126
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

pela comunidade.

Otimizar e implantar os instrumentos de gestão dos recursos hídricos

• Instrumentalizar o órgão gestor de recursos hídricos, através de um Sistema de


Informação de Recursos Hídricos – Sirh.
• Implantar um sistema estadual de gerenciamento integrado de recursos hídricos.
• Enquadrar os corpos d’água.
• Fiscalizar os recursos hídricos.
• Fazer a cobrança do uso da água.
• Implantar Comitês de Bacias Hidrográficas e Conselhos de Usuários e outorgar o
direito de uso dos recursos hídricos, de forma a garantir a participação da
comunidade no gerenciamento dos recursos hídricos.
• Incentivar o uso dos recursos pluviométricos (água da chuva), através de cisternas.

Auxiliar o uso racional da água

• Desenvolver um plano de gestão integrada dos recursos hídricos para o Estado, com
ênfase no trópico semi-árido e no seu bioma Caatinga.
• Realizar ações de educação ambiental, potencializando a discussão do uso
integrado dos recursos naturais, envolvendo todos os atores sociais.
• Criar programas de tecnologias apropriadas para a captação, armazenamento e
melhor aproveitamento dos recursos hídricos, nos meios urbano e rural, considerando
os programas já existentes.

Criar mecanismos de proteção dos mananciais

• Identificar as reservas existentes e potenciais de recursos hídricos.


• Difundir práticas para as não-contaminações dos mananciais e, em particular, a
reconstituição e manutenção da mata ciliar.
• Alertar para o perigo de contaminação dos recursos hídricos pelo uso de agrotóxicos
e outros poluentes.
• Incentivar a produção agrícola orgânica e o controle natural das pragas e doenças,
tanto nos vegetais quanto nos animais.

Gestão sustentável dos recursos naturais

• Desenvolver métodos de auditoria ambiental e ecológica.


• Incentivar o desenvolvimento de tecnologias ecologicamente mais seguras na
exploração dos recursos naturais.
• Criar o Programa Estadual de Manejo e Conservação de Solo e Água.
• Difundir o desenvolvimento de tecnologia apropriada para a construção de cisternas,
barreiros, trincheiras e barragens subterrâneas para captação e armazenamento da
127
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

água da chuva nas pequenas propriedades.


• Apoiar o corte sustentável de florestas plantadas e nativas.
• Incentivar ações de reciclagem, coleta seletiva e aproveitamento dos resíduos
orgânicos.
• Incentivar o plantio de árvores frutíferas em áreas desmatadas, visando a
recuperação da cobertura vegetal.
• Apoiar o corte sustentável de florestas plantadas, especialmente do Sabiá (para
estacas) e outras madeiras.
• Administrar a mudança para uma cultura empresarial com consciência ecológica.

3.5 COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E CONVIVÊNCIA COM A SECA

Sobre esse tema, apresentam-se como legítimas, no processo de elaboração da Agenda


21, as seguintes estratégias, com suas correspondentes linhas de ação: desenvolvimento
de processos produtivos sustentáveis no semi-árido, desenvolvimento da ciência e
tecnologia para o trópico semi-árido e sustentabilidade em áreas de desertificação e/ou
com restrições hídricas severas.

Estratégia 16: Desenvolvimento de Processos Produtivos Sustentáveis no Semi-árido

Considerando que o trópico semi-árido do Estado é economicamente marginalizado e


possui alta vulnerabilidade às variações e mudanças climáticas, assim como ao manejo
das atividades de produção de bens e serviços, foram reconhecidas, no processo de
elaboração da Agenda 21, com respeito à presente estratégia, as seguintes linhas de
ação e suas correspondentes alíneas.

Promover processos produtivos no semi-árido

• Viabilizar o acesso à terra, através de regularização da posse da terra e de crédito


fundiário.
• Desenvolver e incentivar atividades agropecuárias adaptadas ao trópico semi-árido.
• Investir na melhoria genética e no manejo do criatório, capacitando os agricultores.
• Fortalecer as cadeias produtivas de produtos agropecuários ou não.

Buscar a sustentabilidade socioeconômica das comunidades do semi-árido

• Dar prioridade aos pequenos agricultores nas políticas públicas.


• Criar programas permanentes para a profissionalização dos agricultores.
• Desenvolver um sistema de planejamento real participativo entre as instâncias
institucionais e administrativas dos Governos Federal, Estadual e Municipais com a
sociedade civil organizada.
• Implementar programas de ocupação permanente de mão-de-obra no trópico semi-

128
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

árido.
• Desenvolver habilidades empreendedoras no âmbito rural, utilizando os recursos
ambientais disponíveis.
• Incentivar pequenas unidades produtivas locais, com apoio à agricultura familiar.
• Reinstalar sementeiras municipais, visando o fortalecimento da produção, garantindo
a variedade e a qualidade das sementes.

Incentivar ações em conjunto com a sociedade

• Capacitar para o associativismo, com destaque para a empresa cooperativa.


• Criar programa de treinamento em tecnologias mais apropriadas para o trópico semi-
árido.
• Incluir no currículo escolar o aprendizado e o conhecimento da legislação ambiental.
• Dar prioridade às categorias de segurança alimentar e de abastecimento e ao estilo
de desenvolvimento sustentável, antes de se evidenciar e priorizar a competitividade.
• Introduzir os tópicos associativismo e cooperativismo no elenco disciplinar do ensino
médio.
• Abrir espaços deliberativos para a sociedade.
• Manter, de forma participativa, uma política e um plano de ação de emergência,
nas ocasiões das secas periódicas.

Estabelecer mecanismos de manejo sustentável da fauna e flora

• Desenvolver ações e processos de avaliação e de monitoramento dos impactos


ambientais.
• Difundir o uso sustentável da vegetação dos biomas do semi-árido.
• Disponibilizar e incentivar o uso de outras formas de energia que não a biomassa
advinda das caatingas.
• Difundir a prática do uso de instrumentos de zoneamento econômico-ecológico.
• Capacitar os produtores rurais e empresários para o manejo da caatinga e para o
reflorestamento local sustentável.
• Regulamentar, no trópico semi-árido, o manejo florestal para o uso sustentável nas
atividades empresariais.
• Incentivar a utilização de defensivos biológicos.
• Evitar o desenvolvimento de ervas daninhas que prejudiquem os animais.
• Incentivar a conservação arbórea para proteção dos animais.
• Reverter os recursos advindos de sanções em benefício das áreas que foram
degradadas.
• Incentivar o uso do biodigestor e outras formas sustentáveis de geração de energia,
evitando a devastação da caatinga.

Incentivar a recomposição e conservação da fauna e flora nativas

• Aprofundar o inventário da biodiversidade estadual, em nível local.


129
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Promover o desenvolvimento de pesquisas sobre desertificação.


• Apoiar a criação de Unidades de Conservação nas áreas que estão sob risco de
desertificação.
• Incentivar o reflorestamento com plantas nativas, resgatando a composição florística
da região
• Criar corredores ecológicos.
• Buscar formas de ampliar a quantidade de Unidades de Conservação no trópico
semi-árido.
• Viabilizar a implantação de viveiros para a produção de mudas nativas do trópico
semi-árido.

Consolidar a conservação da biodiversidade como valor importante da prática


cidadã

• Inserir, nos currículos escolares, conhecimentos sobre a biodiversidade estadual.


• Promover a educação ambiental voltada para a gestão sustentável dos recursos da
flora e fauna do trópico semi-árido e, principalmente, para a convivência com as
secas periódicas.
• Regulamentar a fitoterapia como tratamento complementar de saúde no Estado.

Estratégia 17: Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia para o Trópico Semi-árido

Reconhecendo que a ciência e a tecnologia contemporâneas confirmam que as


regiões semi-áridas são dotadas de recursos naturais para assentamentos humanos com
sistemas de produção de bens e serviços ajustados e adequados ao desenvolvimento
sustentável, os entrevistados no Estado legitimaram as seguintes linhas de ações e
correspondentes desdobramentos:

Fomentar a tecnologia existente

• Resgatar e difundir as práticas tecnológicas das culturas tradicionais.


• Incentivar o desenvolvimento tecnológico para a sustentabilidade, adaptando-o de
acordo com as peculiaridades do semi-árido.
• Apoiar iniciativas de contextualização do saber desenvolvido pela população local,
incentivando as práticas locais de desenvolvimento sustentável.
• Difundir conhecimentos advindos de estudos técnicos e práticas das organizações
não-governamentais que atuam no semi-árido.
• Analisar as alternativas tecnológicas sob o ponto de vista do seu potencial e impacto
ambiental.
• Dar assessoria técnica efetiva e permanente aos processos de gestão, produção e
circulação dos bens econômicos.
• Colocar, à disposição do trabalhador, pacotes tecnológicos ajustados e adaptados ao

130
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

semi-árido.
• Criar novas articulações entre os diversos setores governamentais e não-
governamentais, voltadas para os interesses dos trabalhadores.

Viabilizar a implantação de tecnologia

• Traçar o perfil econômico, social e cultural da microrregião e as especificidades de


cada uma das categorias de produtos agrícolas e suas necessidades.
• Fomentar a extensão da produção agrícola e não-agrícola, adequando-a à
realidade local.
• Favorecer a formação de mão-de-obra especializada para atender às demandas
dos pequenos agricultores, associações e cooperativas.
• Proceder, na emergência das secas periódicas, a meios e práticas de ampliar a
educação e a capacitação daqueles que vivem no semi-árido.

Evitar o processo de salinização dos solos

• Melhorar o dimensionamento dos sistemas de irrigação e drenagem da irrigação.


• Difundir espécies vegetais que são compatíveis com os solos salinizados.
• Incentivar o uso de espécies vegetais que tenham a propriedade de correção de
solos salinos.
• Realizar monitoramento constante das drenagens e corrigir possíveis desvios dos
agricultores.
• Fazer com que a legislação ambiental voltada para as atividades econômicas
desenvolvidas seja cumprida, no que se refere à conservação de solos e mananciais.
• Desenvolver padrões de manejo sustentável do solo e das águas.
• Desenvolver ações de capacitação voltadas para o manejo e conservação do solo.

Criar mecanismos de proteção dos solos

• Difundir formas de manejo apropriado dos solos nas condições do semi-árido.


• Capacitar o homem para conviver com a natureza sem agredi-la.
• Incentivar a conservação arbórea/herbácea para proteção dos solos.
• Difundir técnicas alternativas, em oposição à queimada e outras políticas predatórias.
• Promover campanhas de conscientização junto à população, visando esclarecer as
conseqüências devastadoras provocadas por queimadas e desmatamentos
desordenados e predatórios.
• Evitar o uso de agrotóxicos, incentivando a produção orgânica e o controle natural
das pragas e doenças.

Promover a recuperação dos solos

• Incentivar o uso de tecnologias para a conservação de solos.


131
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Incentivar pesquisas para o desenvolvimento e readequação das tecnologias


existentes.
• Estabelecer estratégias de manejo do bioma.
• Propiciar o armazenamento e uso racional dos recursos hídricos.
• Viabilizar recursos para recuperação de áreas salinizadas nos perímetros irrigados e
áreas degradadas.
• Evitar as queimadas e outras práticas que causem empobrecimento do solo.
• Estruturar empresa de assistência técnica para voltar a fazer extensão rural.

Estabelecer indicadores e sistema de monitoramento do processo de


desertificação

• Criar um sistema de acompanhamento e fiscalização.


• Desenvolver sistema de gerenciamento dos efeitos da seca e desertificação,
incluindo sistema de alerta precoce e preparação da defesa civil, em caso de
catástrofe.
• Desenvolver sistema de indicadores de desenvolvimento sustentável para o Estado e
Municípios.
• Disponibilizar a toda a sociedade os índices sobre seca e desertificação.
• Difundir experiências exitosas.
• Viabilizar o monitoramento constante.

Estratégia 18: Sustentabilidade em Áreas de Desertificação e/ou com


Restrições Hídricas Severas

Em regiões onde existem áreas em processo de desertificação e/ou com restrições


severas do estoque de recursos hídricos disponíveis, as atividades humanas podem ser
extremamente impactantes, caso não sejam norteadas por tecnologias apropriadas.
Buscando viabilizar o desenvolvimento sustentável nestas áreas, visa-se:

Estimular atividades que apresentem sustentabilidade no semi-árido

• Apoiar pesquisas voltadas para estudo e compreensão do processo de


desertificação.
• Incentivar a instalação de unidades agroindustriais.
• Melhorar o assessoramento técnico e a extensão rural.
• Realizar o monitoramento sistemático.
• Estabelecer política de incentivo à produção.
• Estimular a organização dos produtores em associações e cooperativas.
• Estimular a implantação de cursos técnicos voltados para as vocações regionais, em todos
os níveis.
• Incentivar a ampliação do mercado de trabalho para os profissionais habilitados na

132
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

região.
• Ampliar a oferta de água da região.
• Realizar o monitoramento sistemático dos projetos de desertificação.
• Estabelecer política de incentivo a sistemas de produção adaptados às condições do
semi-árido.
• Apoiar projetos de ampliação da oferta de água na região semi-árida.
• Capacitação em educação ambiental para as comunidades afetadas por processos
de desertificação.

Promover o resgate sociocultural

• Estabelecer canal de comunicação constante com a população.


• Estabelecer os parâmetros de sustentabilidade sociocultural.
• Dar visibilidade às iniciativas regionais.
• Realizar levantamento da cultura local.
• Estimular a manutenção das tradições.

Desenvolver as áreas de exceção

• Incentivar o estudo das áreas de exceção.


• Promover levantamentos e diagnósticos locais, utilizando metodologias já existentes,
criadas por órgãos especializados.
• Identificar as condições de sustentabilidade nas áreas de exceção.
• Incentivar a produção nas áreas de execução.

3.6 ECONOMIA SUSTENTÁVEL

A sustentabilidade econômica abrange elementos e processos associados às atividades


de geração de riqueza, através da transformação das condições de produção em favor
da humanidade e a utilização dos recursos de maneira racional, respeitando a
capacidade de suporte dos recursos naturais e a conservação dos ecossistemas
existentes. A dimensão econômica está integrada com a ambiental e a social,
relacionando-se com a quantidade e qualidade da força de trabalho. É relevante para
a economia da sustentabilidade a pressão sobre os recursos ambientais exercida pela
sociedade ou pelas atividades econômicas e os impactos sobre o bem-estar e as
condições de trabalho exercidos pelo meio ambiente e pela interação das políticas
públicas nas questões sociais e ambientais.

São três as estratégias apresentadas pela Agenda 21 do Estado de Pernambuco para o


eixo temático economia sustentável: sustentabilidade das atividades industriais, comércio
e serviços para um futuro sustentável e atividades agropecuárias.

133
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Estratégia 19: Sustentabilidade das Atividades Industriais

As atividades industriais, agregadoras de valor à produção de bens e geradoras de


riquezas, face às novas necessidades do mercado e às pressões para a implantação de
tecnologias e procedimentos mais limpos de produção ao longo do ciclo de vida do
produto, vem enfrentando o dilema de rever seus processos e produtos, visando atender
às novas especificações mercadológicas e legais. Na busca da sustentabilidade das
atividades industriais, ações a seguir foram levantadas.

Apoiar o desenvolvimento industrial com base na produção mais limpa

• Promover a adoção de práticas sustentáveis de produção.


• Incentivar a internalização de estratégias preventivas.
• Analisar as potencialidades locais.
• Treinar pequenos e médios empresários.
• Melhorar os serviços de assistência técnica.
• Priorizar o produto regional em relação aos produtos importados.
• Incentivar a produção de produtos de alto valor agregado.
• Fortalecer e implementar políticas de incentivo à produção mais limpa.
• Incentivar a pesquisa para o desenvolvimento de inovações tecnológicas com base
em tecnologias limpas.
• Incentivar a produção de produtos passíveis de receber selo verde.
• Incentivar a extração mineral de forma sustentável.
• Incentivar a produção de produtos com alto valor de conhecimento.
• Melhorar as condições de financiamento e de garantias exigidas para as pequenas e
médias empresas.
• Criar legislação adequada e instrumentos de apoio à constituição de empresas com
tecnologia desenvolvida a partir de projetos de desenvolvimento, nas instituições de
pesquisa e/ou universidades.
• Garantir a representação do setor produtivo nos órgãos colegiados que tratam das
questões ambientais.
• Estimular a redução de desperdícios e a geração de resíduos.
• Criar mecanismos para incentivar e apoiar a adoção da rotulagem ambiental
voluntária, com base nos requisitos das normas série NBR – ISO 14000.

Incentivar a instalação de indústrias que estejam atreladas à visão da gestão


ambiental

• Implantar o Programa Ambiental para o setor industrial de Pernambuco.


• Apoiar a implantação de sistemas de gestão ambiental e formação de gestores
locais.
• Priorizar produtos de indústrias que tenham compromisso com o meio ambiente.

134
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Inserir, nas diversas formações profissionais, a preocupação ambiental.


• Incentivar o setor industrial a adotar medidas de proteção ambiental.
• Conscientizar os empresários e industriais da importância da formação ambiental
voltada para o desenvolvimento sustentável.
• Incentivar a criação de unidades de reaproveitamento dos resíduos industriais.

Expandir as atividades agroindustriais nos setores de leite, hortifruticultura,


floricultura e serviços agrícolas

• Incentivar a instalação de unidades agroindustriais que adotem estratégias


preventivas.
• Fortalecer e desburocratizar os programas de crédito.
• Melhorar o assessoramento técnico com capacitação e formação profissional.
• Estimular melhores práticas de manejo e renovação de pastagens.
• Capacitar e acompanhar os produtores.
• Implantar unidades de resfriamento e processamento do leite e seus derivados.
• Ampliar a oferta de água na região, com orientação para o uso racional.
• Adequar a legislação estadual para a agroindústria.
• Incentivar novos canais de comercialização dos produtos agrícolas.
• Assessorar tecnicamente os produtores para melhorar os cuidados com a pós-
colheita, o transporte, o armazenamento e a comercialização dos produtos agrícolas.
• Criar centrais de abastecimento e escoamento da produção, dentro das condições
ideais para o processo.
• Expandir a prática de produção e comercialização, via cooperativas.

Expandir as atividades agroindustriais nos setores de avicultura e apicultura

• Ampliar o sistema de controle sanitário.


• Melhorar as condições de abate, armazenamento e comercialização.
• Criar programas de certificação de produtos da avicultura e da apicultura.
• Apoiar a ampliação da oferta de água na região.
• Expandir as linhas de crédito para a produção e comercialização de produtos agrícolas e
pecuários.
• Incentivar o desenvolvimento de empreendimentos nos setores de avicultura e
apicultura.
• Incentivar o desenvolvimento florestal voltado para a melhoria da produção apícola.
• Assessorar e treinar os produtores para a adoção de inovações tecnológicas
ambientalmente corretas.

Estratégia 20: Comércio e Serviços para um Futuro Sustentável

Na busca da consolidação de um futuro sustentável, o setor terciário, que agrega

135
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

comércio, serviços e turismo, é um dos fortes pilares para o redirecionamento da


sociedade.

Expandir as atividades terciárias (comércio e serviços)

• Elaborar diagnóstico da identidade cultural do município.


• Realizar levantamento das manifestações culturais e costumes locais, potencialidades
e entraves para a sustentabilidade.
• Incentivar a divulgação das potencialidades do município, através de marketing
cultural nos meios de comunicação de massa.
• Incentivar o desenvolvimento da logística de marketing.
• Incentivar novas atividades com potencial empreendedor.
• Apoiar o desenvolvimento sustentável dos serviços da área médica, de informática e
de outros ramos especializados (comunicação, informações de mercado, etc.).
• Apoiar a capacitação e o treinamento dos empreendedores locais.
• Melhorar os serviços de assistência técnica.
• Apoiar a melhoria dos serviços de saneamento, instalações elétricas e acesso às redes
de água e esgotamento sanitário.

Expandir a melhoria das atividades turísticas

• Realizar levantamento das potencialidades e entraves para a sustentabilidade.


• Realizar diagnóstico da identidade cultural do município.
• Promover treinamento para os empreendedores locais.
• Incentivar novas atividades turísticas com potencial de viabilidade econômica.
• Favorecer a expansão da oferta e melhoria dos serviços turísticos.
• Melhorar a logística de distribuição e o marketing.
• Incentivar a divulgação das potencialidades do município, através de marketing
cultural nos meios de comunicação de massa.

Fortalecer as atividades culturais

• Desenvolver mecanismos para a sustentabilidade das atividades socioculturais.


• Socializar as informações, visando tornar a população mais integrada aos processos
da modernidade.
• Dar visibilidade às manifestações da cultura local, através de um marketing cultural
intensivo.
• Conscientizar a sociedade da importância da cultura regional.

Estratégia 21: Atividades Agropecuárias

Na agricultura e na pecuária residem desafios contundentes, visto que estes setores


geram impactos diretos nos recursos naturais e que há uma necessidade de rever
136
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

práticas face à busca da sustentabilidade nesses setores.

Diversificar a produção de cana com cultivos alternativos

• Analisar, mapear e valorizar as potencialidades locais.


• Introduzir novas culturas, seguindo critérios técnicos.
• Incentivar a implantação de sistemas de produção agroecológica.
• Melhorar os serviços de assistência técnica e extensão rural, com monitoramento
sistemático.
• Priorizar o produto regional em relação aos produtos importados.
• Melhorar o aproveitamento dos recursos hídricos para aumentar a produtividade.

Expandir a produção agrícola em áreas agroecológicas propícias

• Analisar, mapear e valorizar as potencialidades locais.


• Introduzir sistemas de produção alternativos.
• Incentivar sistemas de produção agroecológica.
• Melhorar o aproveitamento dos recursos hídricos para a expansão da produção.
• Incentivar a pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias.
• Expandir a produção de outras culturas em áreas menos propícias à produção de
cana.
• Apoiar programas de revitalização da lavoura cafeeira no Agreste.
• Apoiar a expansão da agricultura de produção de alimentos.
• Apoiar a pequena agricultura irrigada.
• Apoiar a produção familiar nas áreas de assentamentos rurais.

Expandir a pecuária/produção animal

• Prestar assessoramento técnico aos pecuaristas ou produtores com potencial para tal
atividade e treiná-los.
• Incentivar a criação de sistemas pecuários sustentáveis.
• Melhorar os serviços de assistência técnica e extensão rural, com monitoramento
sistemático.
• Incentivar a avicultura de todos os tipos e portes.
• Incentivar a pecuária de pequeno porte.

Expandir a produção de culturas agrícolas adaptadas às condições locais

• Incentivar o desenvolvimento de novas atividades.


• Fortalecer as linhas de crédito para a produção agrícola.
• Aumentar e tornar acessível a produção de mudas e sementes selecionadas.
• Criar programas de certificação de produtos agrícolas.
• Desenvolver a agricultura irrigada, com assessoria técnica e monitoramento
137
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

constantes.
• Expandir a oferta de água, atrelada a programas educativos de uso racional.
• Incentivar a pesquisa para a implantação de novas tecnologias.

Divulgar as inovações tecnológicas e prestar assistência técnica às culturas


regionais

• Disponibilizar assistência técnica para os médios e pequenos produtores rurais.


• Usar a estrutura das rádios locais e comunitárias para o processo de divulgação.

Expandir a produção de caprinos ovinos e suínos

• Ampliar o sistema de controle sanitário do rebanho e melhorar as condições de


ordenha, abate, armazenamento e comercialização de carne, leite, derivados e
couro.
• Estabelecer programas de incentivo ao consumo de carne, leite e derivados dos
caprinos e ovinos.
• Disponibilizar assessoria técnica.
• Realizar o monitoramento constante das atividades pecuárias.
• Incentivar novos canais de comercialização.
• Apoiar a certificação de produtos pecuários.
• Ampliar o sistema de controle sanitário do rebanho.
• Realizar o melhoramento das condições de abate, abastecimento e comercialização
dos produtos.
• Treinar os pequenos e médios pecuaristas ou produtores com o potencial para tal
atividade.
• Rever a política de crédito, facilitando o seu acesso aos pequenos produtores.

Expandir os sistemas de produção de leite, pasto e carne

• Incentivar novos canais de comercialização do leite e derivados.


• Estimular melhores práticas de manejo e renovação de pastagens.
• Criar programas de certificação de produtos pecuários.
• Ampliar o sistema de controle sanitário do rebanho.
• Melhorar as condições de abate, armazenamento, transporte e comercialização da
carne.
• Apoiar a ampliação da oferta de água na região semi-árida.

138
4 GOVERNANÇA, CONTROLE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE

A construção da Agenda 21, baseada na busca de consenso entre os diversos setores da


sociedade, inova um modelo em escala global de mediação entre o Estado e os
segmentos sociais, capaz de equilibrar, por um lado, a saturação de propostas públicas
e, por outro, a forma desordenada com que as demandas sociais são canalizadas no
âmbito do processo político-decisório. A Agenda 21 assinala que não basta ao Estado o
exercício da autoridade política, mas a adoção do conjunto de atributos que
caracterizam as formas com que esse poder é exercido. Aqui reside a idéia de
governança que, além de informar sobre os arranjos institucionais, os meios de
implementação das políticas e seu financiamento, remete aos diversos pactos entre os
parceiros do desenvolvimento sustentável.

A idéia de uma boa governança no escopo das Agendas 21, elaboradas em diversos
níveis, tem sido reforçada por organismos internacionais. Durante as três reuniões
preparatórias da Organização das Nações Unidas – ONU, para a Conferência Rio+10, em
Joanesburgo, foi criada uma comissão para debater o modo como a autoridade política
deve ser exercida e quais os requisitos para que se qualifique essa autoridade no bojo do
desenvolvimento sustentável. Governança, assumiu, pois, um destaque, de vez que se
concluiu que não seria possível estabelecer ou revisar uma plataforma de ações sem
requisitos fundamentais para embasar não apenas a sua operacionalização, em geral
sob a responsabilidade dos governos, mas os diversos níveis de articulação entre os
atores sociais.

Uma das premissas que norteou o debate da ONU estabelece que a governança para o
desenvolvimento sustentável precisa ser fortalecida nos níveis internacional, nacional,
estadual e municipal, uma vez que essas esferas são intrinsecamente ligadas e
mutuamente interdependentes. Além disso, depois da década que teve início com a Rio
92, pode-se assegurar que a Agenda 21 é um instrumento, por excelência, para o
exercício de uma boa governança na medida em que:

• Fortalece a democracia e protege os direitos humanos.

• Reforça a importância da transparência das instituições legais e dos marcos


regulatórios para os setores privado e público.

• Cria um espaço de negociação entre governos e setores da sociedade, visando a


eqüidade social.

• Promove a descentralização e os processos participativos.

Do ponto de vista temático, as discussões, ocorridas durante as reuniões preparatórias da


ONU para a Rio+10, sobre governança ratificaram propostas da Agenda 21 Global.
Antes, todavia, foi salientado que a boa governança deve ser estendida para o Terceiro
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Setor (organizações não-governamentais) e para o setor privado, o que acarreta


medidas para promover a responsabilidade desses setores dentro dos parâmetros da
sustentabilidade.

Quanto aos governos, a sua atuação, para promover o desenvolvimento sustentável


com vistas a garantir uma boa governança, deverá contemplar cinco temas:

• Efetividade das instituições. Construir e manter instituições regulatórias e jurídicas que


sejam transparentes e responsáveis. As bases da sustentabilidade institucional incluem
a proteção dos direitos do indivíduo e dos grupos, a promoção do desenvolvimento
socioeconômico e a proteção do meio ambiente.

• Educação, ciência e tecnologia para as tomadas de decisões. Estabelecer e


fortalecer sistemas para incorporar o conhecimento científico, tecnológico e
tradicional, em políticas para o desenvolvimento sustentável, incluindo capacitação
e pesquisa e o uso de tecnologias de informação avançadas e avaliação dos
ecossistemas.

• Acesso à informação. Implantar leis e normas que garantam aos cidadãos o acesso à
informação relativa aos aspectos legais das atividades e das políticas.

• Participação das partes interessadas (stakeholders). Incentivar total participação do


público na elaboração e implementação das políticas de desenvolvimento
sustentável, contando com a participação efetiva de mulheres. Essa participação
deve abranger as políticas regulatórias e o processo de planejamento, incluindo
cooperação e coordenação com o poder local, grupos locais e comunidades de
base, além de outros parceiros.

• Acesso à justiça. Garantir arranjos administrativos e judiciais transparentes, não-


discriminatórios e justos; desenvolver e manter sistemas legais efetivos, incluindo leis
fortes e claras, relacionadas ao cumprimento, à aplicação e ao monitoramento.

Por outro lado, o fortalecimento da governança para o desenvolvimento sustentável


implica a consecução dos seguintes objetivos:

• Monitorar as políticas públicas e a prestação de contas (accountability) dos governos,


em todos os níveis.

• Promover arranjos efetivos e mecanismos que integrem de forma equilibrada as


dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental).

• Assegurar coerência na formulação e implementação das políticas que promovam o


crescimento econômico, garantindo eqüidade social e proteção do meio ambiente.

140
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Garantir o envolvimento das partes interessadas (stakeholders) do setor


governamental e da sociedade civil no processo de tomada de decisão.

Fortalecer mecanismos institucionais para a formulação, coordenação, implementação


e avaliação das políticas, realçando os vínculos existentes entre esses mecanismos.

4.1 GOVERNANÇA INTERNACIONAL NUM MUNDO EM GLOBALIZAÇÃO

A Assembléia Geral e a Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU

A Assembléia Geral deverá promover o desenvolvimento sustentável, direcionando as


atividades realizadas pelas instituições do sistema das Nações Unidas, de modo a
viabilizar a implementação da Agenda 21 e os resultados da Conferência Mundial para o
Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Deve, também,
assegurar o acompanhamento regular da implementação das ações propostas naquela
ocasião.

Por sua vez, a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável – CDS, precisa ser
fortalecida para tornar efetivas as políticas internacionais de desenvolvimento sustentável
e para coordenar e monitorar acordos, programas e parcerias resultantes das Cúpulas
Mundiais sobre Desenvolvimento Sustentável – WSSD. Como lócus privilegiado para a
formulação de políticas, a CDS poderá também facilitar a implementação de políticas
sustentáveis e coordenar o estabelecimento de parcerias. Seria importante, também,
assegurar a coerência nas abordagens das instituições internacionais no tocante à
implementação da Agenda 21, aos resultados das WSSD e aos aspectos relevantes da
Declaração do Milênio.

O fortalecimento de arranjos internacionais para a governança é um processo em


construção. É fundamental estar atento para identificar falhas na arquitetura institucional,
eliminar duplicação de funções e esforçar-se para garantir a coerência e a integração
das dimensões econômicas, sociais e ambientais do desenvolvimento sustentável.

A comunidade internacional deve estar comprometida com um programa de trabalho


que contenha, no mínimo, os princípios, os objetivos, as metas e os indicadores da
Agenda 21 Global e da Declaração do Milênio. Cabe-lhe portanto:

• Integrar os objetivos do desenvolvimento sustentável, a longo prazo, na formulação


de políticas, estratégias nacionais e diretrizes operacionais das agências das Nações
Unidas e das instituições financeiras internacionais, de modo que sejam respeitadas as
prioridades dos países em desenvolvimento.

141
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Promover o entendimento das relações entre comércio e meio ambiente, e entre


comércio e desenvolvimento social, avaliando suas implicações para o desenvolvimento
sustentável dos países.

• Garantir que as políticas macroeconômicas e os ajustes estruturais promovidos pelo


Fundo Monetário Internacional levem em conta as prioridades dos países em
desenvolvimento, evitando os efeitos perversos na implementação das políticas
socioambientais.

• Estabelecer uma parceria estratégica entre as Nações Unidas, agências e


organizações do sistema da ONU, instituições financeiras e a Organização Mundial do
Comércio, com o intuito de apoiar a implementação do desenvolvimento
sustentável.

• Promover parcerias públicas/privadas e iniciativas voluntárias, por meio das quais os


atores econômicos, especialmente as empresas multinacionais, sejam encorajados a
assumir suas responsabilidades sociais, ambientais e econômicas.

142
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Quadro 4.1 Governança.

PRIORIDADES DA CÚPULA MUNDIAL NO ÂMBITO DA GOVERNANÇA

Para as instituições internacionais

• Fortalecer e aperfeiçoar as diversas agências e os programas do sistema das


Nações Unidas relacionados com o meio ambiente.
• Promover uma maior cooperação e coerência entre as Nações Unidas, o
Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial de
Comércio.
• Promover a transparência, disponibilizando informações e facilitando o
acesso às negociações para observadores e participantes das ONGs.

Para os governos

• Elaborar e adotar as Agendas 21 nacional e local.


• Implementar os compromissos assumidos na Rio 92 sobre a liberdade de
informação ambiental, a participação pública e o acesso à justiça.
• Ratificar e implementar os acordos ambientais.
• Cumprir os compromissos de financiamento assumidos na Rio 92.

Para as ONGs

• Monitorar o cumprimento das normas e dos padrões internacionais por parte


dos governos e das empresas.
• Fortalecer, no plano internacional, a rede de contatos e a cooperação entre
as ONGs.
• Estabelecer parcerias com empresas, governos e instituições internacionais.
• Defender políticas ambientais fortes e processos governamentais
transparentes nos níveis global, nacional e local.

Para as empresas

• Participar do Pacto Global das Nações Unidas e de outros códigos de


conduta empresarial e aceitar o monitoramento independente e a
verificação da conformidade com eles.
• Respeitar as metas e disposições dos acordos e das normas internacionais
referentes ao meio ambiente, aos direitos humanos e ao trabalho.
• Estabelecer parcerias com empresas, governos e instituições internacionais.

Fonte: The World Watch Institute – State of the World 2002.

143
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

4.2 OS PARCEIROS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AGENDA 21


DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Dentro do espírito da boa governança, que envolve aspectos operacionais das políticas
públicas e dos requisitos para o exercício do poder, as diversas formas de interação entre
as partes interessadas (stakeholders), baseadas no pressuposto de uma co-
responsabilidade, são fundamentais para o êxito da Agenda 21. De um modo geral, a
implementação da Agenda 21 do Estado de Pernambuco está condicionada ao
estabelecimento de um sistema de parcerias que mesclam o público com o privado, o
nacional com o internacional e ressalta o papel das populações locais.
As parcerias que se entrecruzam, a depender da pauta de ações para o
desenvolvimento sustentável, encontram-se em seis segmentos:

• Os três níveis de Governo: Federal, Estadual e Municipal.

• Setor produtivo nacional e local.

• Organizações não-governamentais internacionais, nacionais e locais.

• Agências multilaterais e bilaterais de financiamento, nacionais e internacionais.

• Movimentos sociais e locais.

• Agências governamentais que intervêm na formulação, regulamentação e execução


de planos, projetos e ações.

4.3 O PAPEL DOS GOVERNOS

Apesar de a Agenda 21 indicar responsabilidades de ações para os diferentes parceiros,


cabe ao Poder Executivo, em seus diferentes níveis, um papel protagonista, devendo ser
explicitadas suas responsabilidades.

A Governança Nacional

O resgate da dívida social no Estado de Pernambuco vai depender, principalmente, da


capacidade do Governo, em níveis nacional e estadual, de estabelecer canais de
integração, descentralização e regulação para favorecer a governabilidade, em níveis
locais e municipais, e de fortalecer a democratização da gestão e transferência, para a
sociedade, da capacidade de decisão e execução, gestão de recursos e prestação de
serviços (Buarque, 1999). Nesse contexto, duas questões se destacam: i) a estrutura
institucional formulada para o desempenho eficiente, eficaz e efetivo das múltiplas

144
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

tarefas propostas e ii) os mecanismos e instrumentos a serem mobilizados para seu


financiamento.

É nessa perspectiva de padrões de governança, sob um sistema valorativo da


autonomia coletiva de segmentos articulados, que se situa a construção da Agenda 21
do Estado. Pernambuco destaca-se, no País, como estado de vanguarda que acumula
larga experiência na promoção de políticas de desenvolvimento social e econômico.
Diferentes setores registram iniciativas que buscam habilitar os cidadãos para a
participação na dinâmica social e na criação de condições político-institucionais que
colaborem para a superação dos problemas advindos das desigualdades, com a
garantia dos direitos e das liberdades associados.

O alcance dos padrões da governança exige diferentes níveis e escalas de articulação,


envolvendo as esferas do internacional, regional, nacional e local. Existe hoje a
necessidade clara de se implementar os princípios básicos de prevenção,
responsabilidade e cooperação, estabelecendo-se parcerias entre as diversas
instituições, tanto governamentais quanto não-governamentais, e respeitando-se as
diferenças entre as competências estabelecidas. Na descrição da governança aqui
proposta, procura-se organizar a estrutura, as relações interinstitucionais e os processos
decisório e executivo, com base em duas agregações:

• O nível político e estratégico: o primeiro constituído pelas instâncias decisórias, que


definem os objetivos, as opções e as prioridades nacionais, regionais, estaduais e
municipais; o segundo, por órgãos e entidades que dispõem de meios para alcançar
os objetivos, viabilizar as opções e cumprir as prioridades estabelecidas.

• O outro nível examinado é o corte espacial, no qual são analisados os espaços


nacional, regional, estadual e municipal, além de outros espaços criados, como é o
caso de bacias hidrográficas ou de Unidades de Conservação.

O desenvolvimento sustentável de Pernambuco depende do esforço de regionalização


e de políticas, estratégias, programas e instrumentos de desenvolvimento nacional,
implementados pelos órgãos e pelas entidades setoriais da União, bem como das
estratégias regionais específicas que atinjam o Estado. Nesse contexto, a União deverá
dispensar tratamento diferenciado às regiões menos desenvolvidas do País, como é o
caso do Nordeste, onde Pernambuco está inserido, e deverá voltar sua atuação para a
formulação de macropolíticas nacionais, atuando como agentes de coordenação e
articulação, estimulando assim o processo de descentralização do desenvolvimento.

A Agenda 21 Brasileira prevê linhas de ação para a integração regional, com ênfase na
redução das desigualdades. Suas premissas e propostas para uma base de ação
ressaltam as especificidades de cada região na construção da sustentabilidade. As
diversas estratégias devem ser ratificadas e validadas nas seguintes instâncias:

145
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Nível político: i) Congresso Nacional, ii) Conselho Nacional de Meio Ambiente –


Conama, iii) Conselho Nacional de Recursos Hídricos, mediante formulação de
políticas e resoluções normativas, iv) Comissão Nacional de Desenvolvimento
Sustentável e Agenda 21.

• Nível estratégico: i) Ministério do Planejamento e Orçamento – MPO, ii) Ministério de


Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal – MMA, em articulação
com os diversos ministérios setoriais.

Há de se ressaltar que as instâncias de deliberação e negociação de planos, programas


e projetos atuariam tanto para organizar o processo decisório regional quanto para
estabelecer os mecanismos de negociação com o poder federal. Dessa forma, espera-
se que a nova Agência de Desenvolvimento do Nordeste – Adene, funcione como
elemento de ligação dos diferentes espaços e níveis decisórios, com a função de
articulação, compatibilização e acompanhamento de programas prioritários de caráter
regional, bem como de negociação e articulação dos órgãos e entidades públicas
federais na região, além dos agentes econômicos e sociais privados.

A Governança Estadual

O fortalecimento da governança no Estado de Pernambuco requer o aumento do papel


das instituições governamentais e não-governamentais para direcionar esforços na
implementação prioritária dos Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento Sustentável
de Pernambuco. Nesse sentido, deverão ser desenvolvidas as seguintes ações:

• Continuar a apoiar as Agendas 21 locais, os programas e os projetos de


desenvolvimento sustentável.

• Incentivar parcerias entre instituições governamentais e não-governamentais, incluindo


os principais atores sociais e atraindo voluntários, em programas e atividades para a
realização de desenvolvimento sustentável, em todos os níveis, particularmente nos níveis
estadual e municipal.

• Apoiar a consolidação e o monitoramento de indicadores de desenvolvimento


sustentável, adaptados às características de Pernambuco, de modo a servir de
referência no processo de avaliação da implementação da Agenda 21 Estadual.

Dentro do espírito de fortalecimento da autonomia local, cabe ao Estado e aos


municípios a responsabilidade de planejar e executar os programas prioritários para o
desenvolvimento sustentável do Estado de Pernambuco, trabalhando em parceria com
os agentes sociais e econômicos da esfera privada da sociedade.

146
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Dessa forma, no Estado, identifica-se a atuação em diferentes instâncias.

• Nível político: Assembléia Legislativa, conselhos estaduais temáticos, entre eles o


Conselho Estadual de Meio Ambiente e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos.

• Nível estratégico: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social, Secretaria


de Ciência Tecnologia e Meio Ambiente, em articulação com as demais esferas de
governo.

Entre os diversos Conselhos existentes, é importante destacar os que mais diretamente


atuam na implementação da Agenda 21.

Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco

Esse Fórum foi criado pelo Decreto Estadual nº 21.691, de 1999, com o objetivo de
elaborar, acompanhar e avaliar a implementação das políticas voltadas para a
promoção do desenvolvimento sustentável, a partir de um processo participativo e
contínuo. Diversas instituições do setor governamental e não-governamental integram
esse Fórum. Visando a implementação da Agenda 21 Estadual.

Conselho Estadual de Meio Ambiente – Consema

O Consema é um órgão colegiado, consultivo e deliberativo, formado por 42 (quarenta e


dois) representantes de entidades governamentais e da sociedade civil organizada,
diretamente vinculado ao Governador do Estado e integrante do Sistema Estadual de
Meio Ambiente, na qualidade de órgão superior. O Consema tem o papel de deliberar
sobre as políticas públicas de meio ambiente e vem atuando desde 1994. Ele conta com
cinco Câmaras Técnicas: Biodiversidade e Florestas, Saneamento e Controle da Qualidade
Ambiental, Educação Ambiental, Agenda 21, Pesca e Aqüicultura. A Câmara Técnica da
Agenda 21 tem o papel de articular e acompanhar a elaboração e a implementação dos
programas prioritários da Agenda 21 Estadual.

Comitês de Bacia Hidrográfica – Cobhs

Os Comitês de Bacia Hidrográfica – Cobhs, são órgãos colegiados, consultivos e


deliberativos, cujo principal objetivo é o gerenciamento das águas da região, de forma
descentralizada e participativa. Já existem, instalados, os comitês dos rios Pirapama,
Jaboatão, Ipojuca, Pajeú e Moxotó. Esses comitês são formados por representantes dos
municípios integrantes da bacia, dos órgãos estaduais, bem como representantes da
sociedade civil, em termos das indústrias usuárias dos recursos naturais, organizações não-
governamentais atuantes na área, universidades, entre outros.

147
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife – Conderm

O Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife – Conderm, criado


pela Lei Complementar nº 10, de 1994, vem funcionando como um importante fórum de
discussão do desenvolvimento sustentável da região. Ele funciona com o apoio de suas
Câmaras Técnicas, ressaltando-se a de Saneamento Ambiental. Nesta Câmara vem
sendo discutido, entre outros temas, a Regulamentação dos Serviços de Abastecimento
de Água e Esgotos Sanitários da RMR.

Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – Cerbma

Relacionado à gestão de Unidades de Conservação e criado pelo Governo Estadual,


através do Decreto nº 20.860, de 23 de setembro de 1998, o Comitê Estadual da Reserva
da Biosfera da Mata Atlântica – Cerbma, órgão colegiado e vinculado ao Conselho
Nacional da Reserva da Biosfera, objetiva promover a conservação da biodiversidade, o
desenvolvimento sustentável e a difusão de conhecimento científico, e é considerado
um dos mais atuantes.

Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga

As reservas da biosfera são áreas de ecossistemas terrestres ou costeiros,


internacionalmente reconhecidas pelo programa da Unesco O Homem e a Biosfera. Elas
formam uma rede mundial que fomenta a troca de informações e experiências. A
Reserva da Biosfera da Caatinga, aprovada pela Unesco em 2001, é coordenada pelo
Conselho Nacional, cuja presidência coube à Secretaria de Ciência Tecnologia e Meio
Ambiente do Estado de Pernambuco.

A Governança Municipal

O desenvolvimento local representa um processo de transformação na base econômica


e na organização da sociedade, buscando promover a convergência de suas energias,
pondo em efetivação as suas capacidades e as suas potencialidades, aumentando as
oportunidades sociais, a competitividade da economia e, por conseguinte, a renda
pessoal e a capacidade de investimento e gastos públicos, o sentimento de
pertencimento entre os membros da sociedade e, em razão disso, um fortalecimento da
ética e de uma nova consciência ambiental.

As possibilidades de sucesso desse modelo derivam, de um lado, da capacidade de


mobilização da coletividade em torno de interesses partilhados, o que pressupõe
envolvimento dos grupos de interesses e de atores locais na elaboração e efetivação de
um projeto coletivo; por outro lado, tais possibilidades estão vinculadas à forma pela qual
o esforço coletivo aproveita as oportunidades que surgem do contexto externo, do

148
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

mesmo modo que trabalha para minimizar os impactos oferecidos pelas ameaças no seu
entorno.

Com a descentralização, o município e a comunidade devem ser transformados em


catalisadores das forças econômicas e das energias sociais e síntese e convergência da
intervenção e atuação de diferentes instituições estaduais, regionais e nacionais
(Buarque, 1999).

O processo de descentralização, para que seja bem-sucedido, necessita ser encarado


como caminho de mão dupla, pois a transferência, às municipalidades, de recursos
financeiros para a execução de ações estratégicas depende da capacidade
administrativa local em geri-los, o que exige treinamento e capacitação para a
participação.

Fortalecer a descentralização, através dessa perspectiva, pode prevenir riscos


desestabilizadores em economias que ficam subordinadas às estruturas imediatistas de
governos locais. Conseqüentemente, as políticas dos Governos Federal e Estadual de
estimular consórcios intermunicipais para administrar serviços comuns (por exemplo,
saúde, trabalho, educação, proteção ambiental, entre outros) poderão criar condições
mais favoráveis à descentralização efetiva desses serviços. No espaço do município, os
planos de Desenvolvimento Municipal deverão ser elaborados levando em consideração
a Agenda 21 Estadual.

• Nível político: i) as Câmaras de Vereadores e os Conselhos Municipais de


Desenvolvimento, responsáveis pela discussão e deliberação sobre estratégias,
diretrizes e formulação dos programas prioritários; ii) o Fórum da Agenda 21 Local, que
coordena a Agenda 21 nos respectivos municípios; iii) os Consórcios Intermunicipais,
que tratam de temas de interesse comum, como é o caso dos resíduos sólidos.

• Nível estratégico: a principal entidade de planejamento do desenvolvimento local,


que funciona como elemento de vinculação dos diferentes espaços e níveis
decisórios, deve ser a Prefeitura Municipal, em particular os setores vinculados ao
planejamento e ao controle urbanístico.

4.4 PAPEL DE DIVERSOS PARCEIROS DA AGENDA 21 DO ESTADO DE


PERNAMBUCO

Em Pernambuco, a título de exemplo, vários parceiros podem ser agrupados em termos


de suas áreas de atuação, destacando-se:

149
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Agências governamentais federal, estadual e municipal (Ministério do Meio Ambiente,


Ministério da Integração Nacional, Ministério do Planejamento e Orçamento e demais
ministérios setoriais). No Estado, as Secretarias de Planejamento e Desenvolvimento
Social, de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, de Infra-estrutura, de
Desenvolvimento Econômico, de Saúde, de Educação, de Produção Rural e Reforma
Agrária. Nos municípios, a Prefeitura é a parceira para o desenvolvimento das ações
locais.

• Vale salientar, ainda, parceiros específicos na esfera federal: Instituto Brasileiro de


Recursos Renováveis – Ibama, Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco – Codevasf, Agência de Desenvolvimento do Nordeste – Adene,
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf, Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária – Embrapa, Empresa Brasileira de Turismo – Embratur.

• Ainda na instância estadual, referência especial cabe aos agentes setoriais


prestadores de serviços públicos, como a Compesa e a Celpe, e aos órgãos de
gestão e controle ambiental, como a Companhia Pernambucana de Meio Ambiente
– CPRH.

• Segmentos dos diversos setores produtivos: agricultura, indústria, comércio e serviço.

• Universidades e centros de ensino e pesquisa (UFPE, UFRPE, UPE, Unicap, Cefet, Itep,
IPA, Cpatsa, etc.).

• Fundações de pesquisa e de cultura.

• Organizações não-governamentais, entidades de classe e sindicatos.

• Poderes legislativo estadual e municipal (Assembléia Legislativa e Câmaras


Municipais).

• Instituições representativas do Poder Judiciário.

• Ministérios Público Federal e Estadual.

• Instituições do Sistema S (Sebrae, Senai, Senac, Sesc, Sesi, Senar).

• Instituições religiosas.

• Instituições vinculadas à mídia (sindicato de jornalistas, emissoras de rádio, televisão,


entre outros).

• Instituições de todas as áreas culturais.

150
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Associações de moradores, cooperativas, organizações comunitárias, grupos de


jovens, grupos de mulheres, comunidades quilombolas e indígenas.

• Instituições internacionais de fomento ao desenvolvimento sustentável (Programa das


Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud; Banco Internacional de Reconstrução
e Desenvolvimento — Banco Mundial – Bird; Banco Interamericano de
Desenvolvimento – BID; Departamento para o Desenvolvimento Internacional do
Governo Britânico – Dfid; Fundação Alemã de Cooperação Internacional – GTZ;
Agência de Cooperação Técnica Japonesa – Jica; etc.).

As propostas contidas na Agenda 21 de Pernambuco inauguram uma nova cultura de


relações entre todos os segmentos da sociedade e o poder público, compartilhando um
compromisso na direção de um modelo de desenvolvimento mais justo e eqüitativo, que
garanta a cidadania, o exercício da liberdade e o atendimento das necessidades
básicas de todos. As parcerias, estabelecidas de forma multivariada, garantem uma
maior capacidade de controle da sociedade em relação à gestão das políticas públicas
na sua função de realizar o bem social e responder pelos impactos ou efeitos gerados
para as atuais e as futuras gerações.

Afinal, liberdade; paz e segurança; estabilidade doméstica; respeito aos direitos


humanos; o cumprimento da lei; igualdade e não-discriminação de gênero, cor ou raça
constituem a base para os pactos que garantam uma sociedade sustentável. Esta tornar-
se-á viável por meio da construção de parcerias e do fortalecimento institucional que
envolvam um amplo processo de capacitação para indivíduos e instituições.

151
5 MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO DA AGENDA 21

Na última década, ficou patente que a implementação da Agenda 21 demandaria


esforços substancialmente maiores, tanto dos próprios países quanto da comunidade
internacional, inclusive recursos adicionais, bem como a transferência de tecnologias,
educação, capacitação e desenvolvimento das capacidades científicas. As
dificuldades para tornar os meios de implementação efetivos permanecem ainda um
grande desafio em termos do alcance das metas pactuadas durante a Rio 92.

A implementação de políticas de desenvolvimento sustentável envolve problemas de


coordenação entre diferentes setores dos três níveis de governo e entre instituições
públicas e privadas na formação de parcerias. A experiência tem revelado que o
insucesso na implementação de programas e projetos não se encontra na ausência de
bases conceituais ou de estruturas organizacionais, mas nos entraves político-institucionais
para sua implementação, associados à necessidade de criação de novos instrumentos
adequados ao trato de questões multissetoriais. No caso específico das políticas
ambientais, por exemplo, uma questão fundamental se coloca, em termos da
incorporação de novos instrumentos e mecanismos econômicos como elementos
complementares às decisões tomadas dentro do estilo de comando-controle, que vem
sendo tradicionalmente adotado (Agenda 21 Brasileira).

Os problemas relativos à implementação da Agenda 21 Global estabeleceram um


referencial crítico dentro dos processos de construção de outras Agendas, que passaram
a atrelar as suas bases de ação aos meios de operacionalizá-las. Em Pernambuco, todo o
processo de consulta à população e às instituições foi sempre norteado pela
necessidade de se chegar, ao mesmo tempo, a dois resultados: as ações e os meios de
implementação como objeto de pactuação entre os diversos representantes da
sociedade e dos governos. Ficou patente que uma Agenda só constituiria um processo
de mudança, a médio e longo prazos, se pudesse, na sua implementação, contar com
todos os atores sociais.

Neste capítulo, são apresentados os meios de implementação da Agenda 21 apontados


para cada eixo temático durante o processo de consulta, bem como outros aspectos
considerados relevantes, a saber: Transferência de Tecnologia, Ciência e Educação,
Capacitação, Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável.

5.1 PROPOSTAS TRANSVERSAIS ÀS DIVERSAS ESTRATÉGIAS DA AGENDA 21


DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Transferência de Tecnologia
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Promover desenvolvimento, transferência e difusão de tecnologias ambientalmente


saudáveis para todas as regiões do Estado, inclusive por meio de apoio técnico,
bancos de tecnologia, apoio de marketing, assessoramento jurídico, pesquisas,
instalação de laboratórios, assistência na formulação e negociação de projetos, etc.
• Promover iniciativas para desenvolver e fortalecer redes de contatos das estruturas de
apoio institucional, tais como centros de tecnologia e instituições de pesquisas e
desenvolvimento.
• Prover os municípios de acesso a tecnologias ambientalmente saudáveis, de domínio
público, e promover a capacitação para absorção e adaptação de novas técnicas.
• Fortalecer, no Estado, uma cultura propícia a investimentos e à transferência de
tecnologia, entre outros, por meio da promoção de programas de assistência aos
municípios.
• Promover parcerias público-privadas, nos níveis nacional, estadual e municipal,
visando a assistência técnica e financeira, para a melhoria da produtividade e da
competitividade em todo o Estado.

Ciência e Educação

• Fortalecer a capacitação em ciência e tecnologia nas instituições de pesquisa, nos


governos e no setor privado, promovendo parcerias entre cientistas, governos e
grupos comprometidos com a aplicação de pesquisas para ações voltadas ao
desenvolvimento.
• Promover a educação formal e a conscientização pública, por meio da educação
ambiental.
• Focalizar a educação como condição prioritária para a redução das desigualdades
sociais.
• Garantir o acesso de mulheres e meninas à educação básica, bem como dos demais
grupos vulneráveis (afro-descendentes, índios).
• Fortalecer as redes de interação de educação para o desenvolvimento sustentável,
com o intuito de compartilhar conhecimentos e experiências.

Capacitação

• Alocar recursos financeiros para centros de excelência em educação e pesquisa no


Estado.
• Promover programas de capacitação que tenham por base não só o investimento
público, mas a geração de emprego e renda nas comunidades e a diversificação
industrial do setor privado.
• Focalizar as capacitações realizadas com o apoio do Fundo de Amparo ao
Trabalhador, considerando as políticas de desenvolvimento sustentável do Estado, de
forma a evitar a pulverização dos recursos.

153
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Ainda dentro dos meios de implementação, serão analisados os recursos financeiros que
devem ser destinados para operacionalizar as bases de ação da Agenda 21.

Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável

A definição de recursos financeiros que contribuam para implementar a Agenda 21 do


Estado de Pernambuco vai ser, nesta seção, apresentada em três momentos: o
financiamento internacional, o nacional e o estadual. Salientamos que, neste caso,
adota-se a idéia de financiamento em um sentido geral, envolvendo todo o apoio
financeiro que se relacione com o desenvolvimento sustentável do Estado,
principalmente no tocante à área de meio ambiente.

Fontes Internacionais

A maior parte dos recursos externos para o Brasil são provenientes das agências
multilaterais, como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – Pnud. Além disso, doações e
recursos da cooperação bilateral são fontes relevantes. Brasil, Alemanha, Reino Unido,
Canadá e Estados Unidos representam o grupo maior de doadores internacionais.

Há que se registrar que tem sido fundamental, para o desenvolvimento de projetos, os


recursos provenientes da cooperação internacional não-governamental.

Neste tópico, é importante salientar a existência do Fundo para o Meio Ambiente


Mundial – GEF, criado em 1990, destinado a financiar projetos em quatro áreas: i)
aquecimento global, ii) biodiversidade, iii) águas internacionais e iv) destruição da
camada de ozônio. Sua gestão está a cargo de três agências de financiamento e
cooperação: o Pnud, que se encarrega de treinar recursos humanos e dar assistência
técnica aos projetos; o Banco Mundial, que preside o GEF e se responsabiliza pelos
projetos de investimentos; e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente –
Pnuma, que presta apoio científico aos projetos.

Fontes Nacionais

Para responder à pauta de ações da Agenda 21 Estadual, dentro de uma escassa


disponibilidade de recursos, é possível recorrer:

• Aos orçamentos anuais. Esse esforço implica uma integração das várias secretarias de
governo, para garantir uma ação menos setorial durante a definição dos orçamentos.
• Ao processo de geração de recursos públicos adicionais, de que são exemplos os
fundos. Destacam-se os Fundos Setoriais de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
oriundos de contribuições incidentes sobre o faturamento de empresas e/ou sobre o
resultado da exploração de recursos naturais pertencentes à União.
154
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Ao uso de instrumentos fiscais (incentivos, isenções e desonerações tributárias). Em


Pernambuco, o melhor exemplo é o ICMS Socioambiental, que premia municípios
com melhor desempenho nas áreas de resíduos sólidos, proteção das Unidades de
Conservação, redução da mortalidade infantil e aumento de matrículas no ensino
fundamental.
• Aos Fundos Nacional e Estadual de Meio Ambiente.

No que se refere especialmente à proteção do meio ambiente no Brasil, são os governos


estaduais que participam com um nível mais alto de despesas. Pernambuco, por sua vez,
demonstra que há uma baixa participação relativa, no item Meio Ambiente, no total das
despesas públicas. Em 1998 seu desempenho ficou abaixo da participação dos
municípios do Estado.

Torna-se, pois, relevante analisar de que modo a participação do Estado pode


aumentar, de vez que, com a Agenda 21, os programas de cunho ambiental precisam
de respaldo político, institucional e financeiro do Governo.

Tabela 5.1 Despesas públicas com a proteção do meio ambiente e respectiva participação relativa no total
das despesas públicas, segundo os níveis de governo – Brasil –1996-1998
Níveis de governo Despesas públicas com a proteção ao meio ambiente
Participação relativa no
Valor (1.000 R$) (1) total das despesas
públicas (%)
1996 1997 1998 1996 1997

Brasil 1.237.575 1.186.639 2.005.955 0,44 0,38

Federal 573.751 509.677 734.454 0,34 0,28

Estadual 559.085 564.370 1.126.860 0,63 0,53

Municipal (2) 104.739 112.592 144.641 0,41 0,44

(1) Valor expresso em moeda corrente.


(2) Nos anos de 1996 e 1997, a cobertura esteve restrita aos municípios das regiões metropolitanas das
capitais, enquanto no ano de 1998 foram incluídos, além daqueles, municípios de maior expressão
econômica e demográfica no restante do País, abrangendo um total de 245 municípios.
Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – IBGE, 2002.

155
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Tabela 5.2 Despesas públicas com a proteção do meio ambiente e respectiva participação relativa no total
das despesas públicas, segundo os níveis de governo – Brasil –1998

Despesas públicas com a proteção ao meio ambiente


Participação relativa no
Brasil, Nordeste e seus Valor (1.000 R$) (1) total das despesas públicas
estados (%)
Níveis de Níveis de
Total Total
governo governo
Estadual Municipal Estadua Municipal
l
Brasil 1.271.501 1.126.860 144.641 0,85 0,96 0,44
Nordeste 252.694 233.773 18.921 0,89 1,01 0,36
Maranhão 4.029 4.024 5 0,21 0,26 0,00
Piauí 3.502 2.423 1.079 0,27 0,24 0,35
Ceará 36.641 35.369 1.272 0,89 1,09 0,14
Rio Grande do 11.562 10.829 733 0,49 0,53 0,23
Norte
Paraíba 55.750 55.661 89 3,38 4,04 0,03
Pernambuco 28.493 21.260 7.233 0,49 0,45 1,25
Alagoas 6.621 2.011 4.610 0,47 0,20 1,25
Sergipe 1.928 1.928 - 0,11 0,13 -
Bahia 104.168 100.268 3.900 1,27 1,48 0,27
(1) No âmbito municipal, a cobertura foi de 245 municípios, incluindo as capitais, os municípios das regiões
metropolitanas e outros municípios considerados de relevante expressão econômica e demográfica no
País.
Fonte: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – IBGE, 2002.

Sistema de Apoio Financeiro

A falta de recursos disponíveis pelo agente produtivo é uma das maiores dificuldades ao
desenvolvimento sustentável. Por isso, tanto o setor público, principalmente, quanto o
setor privado são fundamentais na atração de novos investimentos para o Estado,
através das suas linhas de créditos disponíveis, que desempenham um papel importante
nesse processo de desenvolvimento regional, visto que os recursos para investimentos em
atividades produtivas, de caráter privado, no Nordeste, derivam-se, fundamentalmente,
dessas fontes.

O Compromisso dos Bancos com a Sustentabilidade

Bancos e empresas brasileiras têm focalizado a sua atenção na promoção da


ecoeficiência, na democracia participativa e na responsabilidade social. Essa tendência
vem sendo confirmada pela posição (terceiro lugar) que o Brasil ocupa no Índice de
Compromisso Ambiental de Bancos da América Latina – Icam, perdendo apenas para o
México e para o Chile. O BNDES é exemplo da construção de uma nova ética da
sustentabilidade, quando, além de ter concedido, na última década, R$ 6 milhões em
financiamento para investimentos na área ambiental, assinou a Carta de Compromissos
dos Bancos para o Desenvolvimento Sustentável do Programa das Nações Unidas para o

156
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Meio Ambiente e participou da iniciativa da uniformização da Contabilidade Ambiental,


promovida pelas Nações Unidas.

De um modo específico, empresas se envolvem com uma pauta socioambiental por


várias razões, tais como a redução de danos ambientais pelos quais as seguradoras se
responsabilizam, a qualidade de vida futura dos segurados, a seleção de investimentos
que respeitem o meio ambiente e os direitos humanos. Vê-se, pois, que os riscos
ambientais passam a ser componentes dos riscos financeiros.

Nessa linha, torna-se fundamental que os bancos, principalmente os que financiam as


ações de desenvolvimento sustentável, adotem critérios para o exercício de uma
responsabilidade social que represente em várias dimensões os valores e princípios da
Agenda 21.

O papel das instituições financeiras e seguradoras é relevante no sentido de assegurar


financiamento para ações que promovam o desenvolvimento sustentável e reduzam os
riscos ambientais. Nesse sentido, é imprescindível que o BNDES, o BNB, a CEF e o Banco
do Brasil, assim como as agências de desenvolvimento regional (Adene, por exemplo),
incorporem a dimensão social e ambiental como critérios decisivos nos seus
financiamentos, empréstimos ou concessão de incentivos fiscais.

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

É atualmente o principal instrumento do Governo Federal para os financiamentos de


longo prazo aos setores público e privado, com ênfase no estímulo à iniciativa privada
nacional. O Banco atua também por intermédio das suas subsidiárias integrais: BNDES
Participações S.A. – Bandespar, que investe em empresas nacionais, e a Agência
Especial de Financiamento Industrial – Finame, que atua diretamente na expansão e
modernização da indústria brasileira, através da alocação direta de recursos ou da
prestação de garantias.

Banco do Nordeste S.A.

Tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável da Região Nordeste,


através da capacitação técnica e financeira dos agentes produtivos regionais. Para isso,
o Banco do Nordeste oferece uma variedade de linhas de crédito, distribuídas nos
principais setores do mercado agroindustrial, industrial, rural, comercial/prestação de
serviços e turismo. Além de ser financiador de recursos, o BNB possui uma estrutura
produtiva que visa capacitar o agente produtivo para que ele tenha sucesso em seu
negócio, através da educação, do treinamento e do melhor conhecimento da
atividade desenvolvida.

157
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste

O FNE objetiva fomentar o desenvolvimento econômico e social do Nordeste do Brasil,


através da execução de programas de financiamento aos setores produtivos de caráter
regional, em consonância com o Plano Regional de Desenvolvimento Proposto.
Beneficiam-se, dos recursos do FNE, os agentes que realizam atividades produtivas nos
setores agropecuário, industrial e agroindustrial. Os principais programas incentivados
pelo FNE, por setor, são os seguintes: programas para o setor rural e agroindustrial
(Propec, Proagri, Proir, Agrin, Prodesa, Prointec); programas para o setor industrial
(Industrial, Prodetec, Mineral, Proatur) e programas especiais (Proger, Proterra, FNE-verde,
etc).3

Agência de Desenvolvimento do Nordeste

A atuação da Sudene pode ser dividida em quatro atividades: capacitação técnica e


organizacional, informação e documentação, política e programação, execução e
coordenação de obras e serviços. A Sudene era, até recentemente, o órgão responsável
pela administração de três tipos de incentivos regionais, dentre os quais destaca-se o
Finor como o principal para implantação de projetos na Região Nordeste. Além deste, a
autarquia era responsável pelos Incentivos Especiais da Redução e de Reinvestimento do
Imposto de Renda. O sistema de incentivos federais do Nordeste visa atingir os
empresários interessados em implantar empreendimentos na Região Nordeste, no norte
de Minas Gerais e no Vale do Jequitinhonha e no norte do Espírito Santo. Já os Incentivos
Especiais da Redução e Reinvestimento do Imposto de Renda beneficiam os diversos
tipos de pessoas jurídicas (firma individual, sociedade limitada, sociedade anônima) e se
destinam às pequenas, médias e grandes empresas, nacionais ou estrangeiras, que
venham a se instalar ou que já estejam instaladas e operando na área de atuação da
Sudene. Mais recentemente, a Sudene foi extinta e, em seu lugar, foi criada a Adene,
ainda em fase de estruturação.

Banco do Brasil

Destaca-se na concessão de financiamentos — como repassador de linhas de créditos de


outras instituições governamentais e do Tesouro Nacional — principalmente aos serviços
prestados às micro e pequenas empresas, através das suas linhas de créditos: Fepemi (Fundo
Especial de Apoio às Pequenas e Micro Empresas Industriais), que financia assistência técnica
e treinamento, visando elevar a qualidade e a produtividade empresarial. Além destas,
existem outras linhas de crédito que visam o capital de giro.

Deve-se destacar também o papel do Banco do Brasil na concessão de crédito à


agricultura familiar, por meio de repasse dos recursos do Programa Nacional de
Financiamento da Agricultura Familiar – Pronaf, e de outros programas do BNDES de

158
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

apoio à agricultura familiar nas áreas de produção agrícola, pecuária, avicultura e


piscicultura.

Caixa Econômica Federal

Trata-se de um banco estatal de depósitos, que financia diversos setores produtivos,


principalmente obras de infra-estrutura. Como financiador, atua basicamente
repassando os recursos do BNDES, sobretudo dos programas Proger e BNDES automático.

Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas

O Sebrae também age como financiador de pequenos empreendimentos, através do


Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas – Fampe. Esse fundo de aval se caracteriza
por ser um instrumento institucional do Sebrae, visando dar suporte a micro e pequenas
empresas que não dispõem de patrimônio adequado e suficiente para dar como
garantia de empréstimo bancário.

5.2 OS MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO POR EIXOS TEMÁTICOS

Os eixos temáticos Cidades Sustentáveis e Infra-estrutura tiveram seus meios de


implementação apresentados em conjunto.

CIDADES SUSTENTÁVEIS E INFRA-ESTRUTURA

Alocar Recursos Humanos e Institucionais

As equipes técnicas existentes nas instituições públicas e privadas representam o mais


valioso meio de implementação de um desenvolvimento sustentável no Estado, porque
será através da ação desse contingente de pessoal que serão implantadas novas ações
e modo de pensar e agir, quebrando-se os paradigmas que até então vêm sendo
adotados. Nesse sentido, a capacitação contínua dessas pessoas faz-se necessária,
tanto estadual quanto municipalmente. O fortalecimento do terceiro setor é
fundamental para consolidar o controle social das ações governamentais.

Verifica-se que os novos mecanismos de implementação da Agenda 21 devem estar


baseados em processo de negociação permanente com os atores institucionais
relevantes sobre as políticas, programas e projetos a serem desenvolvidos. Nesse sentido,
a construção de parcerias é fundamental. Exemplo disso vem sendo exercitado,
recentemente, através de Comitês de Bacias Hidrográficas, bem como de Consórcios
Intermunicipais. São identificadas as seguintes ações prioritárias:

• Criar mecanismos de compatibilização interinstitucional de ações de fiscalização e


159
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

controle ambiental nos municípios.


• Incorporar, à estrutura administrativa municipal existente, um Sistema Municipal de
Meio Ambiente que inclua: Órgão Gestor de Meio Ambiente, Política Ambiental,
Conselho Municipal de Meio Ambiente e Fundo Municipal de Meio Ambiente.
• Promover o associativismo intermunicipal, formando e/ou consolidando consórcios
municipais para tratar de temas de interesse comum, como, por exemplo, a
destinação adequada de resíduos sólidos.
• Efetivar o Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia para acompanhar as políticas
do Estado em C&T.
• Fortalecer a atuação da Agência Reguladora de Serviços do Estado nos serviços de
saneamento básico — abastecimento de água, esgotos sanitários, limpeza urbana e
drenagem urbana.
• Instituir Conselho Deliberativo, com representação paritária da sociedade civil
organizada, na Agência Reguladora de Serviços do Estado.
• Fortalecer e/ou criar órgãos municipais de vigilância e controle ambiental, capazes
de exercer controle eficaz sobre a qualidade da água distribuída à população e
sobre a qualidade dos despejos sólidos e líquidos.
• Aperfeiçoar a gestão e a regulação dos serviços de saneamento ambiental,
buscando a universalização do atendimento.
• Formar e/ou consolidar consórcios municipais para tratar de temas de interesse
comum.
• Estabelecer mecanismos de articulação e controle social para implementação das
políticas setoriais, criando novos conselhos e fortalecendo os conselhos existentes.
• Incentivar a investigação científica e a criação de redes de pesquisa locais ou
integradas que reflitam a busca de soluções para os problemas municipais, as quais
reduzam impactos socioambientais.
• Incentivar os programas de responsabilidade social das empresas, potencializando
parcerias com os diversos atores da sociedade.
• Criar unidades descentralizadas da Companhia de Policiamento Ostensivo do Meio
Ambiente – Cipoma, no interior do Estado, em parceria com os municípios.
• Sensibilizar e capacitar continuamente os gestores municipais, membros de
Conselhos, técnicos de organizações não-governamentais – ONGs, e outros atores
envolvidos nas ações de desenvolvimento sustentável.
• Fomentar a formação e/ou consolidação de núcleos de Ouvidorias ou Fóruns
semelhantes nos municípios, como forma de ampliar a responsabilidade social na
gestão ambiental.

Alocar Recursos Financeiros

A operacionalização do ICMS Socioambiental, recentemente criado no Estado,


apresenta-se como uma alternativa importante na alocação de recursos financeiros
para o desenvolvimento sustentável, que irão gerar melhoria no sistemas de gestão
integrada de resíduos sólidos, de educação, de saúde e de Unidades de Conservação.

160
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

Outras fontes importantes são os fundos setoriais para o desenvolvimento científico e


tecnológico, que vêm se mostrando uma alternativa importante para apoiar o
desenvolvimento de pesquisa em setores estratégicos, como energia, água, petróleo e
telecomunicações. Esses fundos são geridos de forma compartilhada, com comitês
coordenados pelo Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, juntamente com os
ministérios afins e representantes da comunidade científica e do setor privado.

Esses novos fundos têm a perspectiva de fontes estáveis, diversificadas e não-


orçamentárias de financiamento contínuo e são instrumentos capazes de ampliar os
investimentos das empresas em inovações tecnológicas, mediante projetos comuns com
as universidades funcionando em Pernambuco. A aprovação da nova Universidade do
São Francisco, que se instalará em Petrolina, trará a possibilidade de consolidar a região
como um pólo de conhecimento.

Além disso, as linhas de financiamento estabelecidas pelos bancos de desenvolvimento,


como o Banco do Nordeste, Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento
Social – BNDES, juntamente com recursos provenientes dos programas governamentais
existentes, podem vir a apoiar ações aqui propostas. Nesse sentido, faz-se necessário
melhorar as políticas de empréstimo das instituições financiadoras, nos níveis local,
nacional e internacional, de modo a atender os objetivos do desenvolvimento
sustentável do Estado.

Deverá ser assegurado também que os Fundos Nacionais de Meio Ambiente – FNMA, o
Fundo Estadual de Meio Ambiente – Fema, o Fundo Nacional de Recursos Hídricos – FNRH
e o Fundo Estadual de Recursos Hídricos – Ferh, bem como os Fundos Municipais de Meio
Ambiente e de Recursos Hídricos a serem criados, sejam direcionados para apoiar
atividades que estejam incluídas na Agenda 21 do Estado de Pernambuco.

• Negociar financiamentos e ações compensatórias, de modo que os recursos não


onerosos sejam destinados a sistemas que não apresentem viabilidade econômica,
nos quais, em geral, existem maiores déficits de serviços e menor renda.
• Promover a revisão dos modelos tarifários para os serviços públicos de abastecimento
de água e esgotos sanitários, prevendo tarifas sociais e explicitando os subsídios
cruzados praticados.
• Apoiar técnica e financeiramente os municípios menos desenvolvidos na elaboração
de seus planos municipais de metas ambientais.
• Condicionar o acesso às linhas de crédito daqueles segmentos produtivos que
privilegiem os princípios do desenvolvimento sustentável, fomentando a implantação
da norma NBR – ISO 14.001 e de Sistemas de Gestão Ambiental – SGA, em indústrias e
prestadoras de serviços.
• Aperfeiçoar os critérios de outorga e concessão da água e implementar a cobrança
pelo uso das águas superficiais e subterrâneas, estabelecendo preços diferenciados
para os seus múltiplos usos, principalmente o industrial, de forma que o custo da água

161
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

reciclada seja competitivo com o da água limpa.


• Nas situações em que lançamento de resíduos poluidores aos corpos d’água for
permitido, adotar tarifas cujo valor seja diretamente proporcional à carga poluidora
do resíduo a ser lançado.
• Encorajar fundações e instituições públicas e da sociedade civil, por meio de
incentivos fiscais, a prover assistência aos municípios menos desenvolvidos.

Alocar Recursos Científicos e Tecnológicos

No que diz respeito às tecnologias de saneamento, já existem tecnologias disponíveis no


mercado para o atendimento da demanda dos serviços de abastecimento de água,
esgotamento sanitário, resíduos sólidos e drenagem urbana. Importante, entretanto, é o
envolvimento das universidades no desenvolvimento de programas e pesquisas que
visem ampliar o leque de soluções alternativas e de baixo custo, incentivando o reuso e a
reciclagem de resíduos. Entre as propostas previstas, ressaltam-se:

• Fomentar, junto às instituições públicas e privadas, em especial nas universidades e


faculdades de formação existentes, o estudo de temas e o desenvolvimento de linhas
de pesquisa, que atendam às necessidades socioambientais diagnosticadas.
• Apoiar e promover o desenvolvimento, transferência e difusão de tecnologias limpas.

Consolidar Sistemas de Informações

• Criar e gerenciar uma base de dados e adotar indicadores de sustentabilidade


unificados no Estado, socializando e consolidando um sistema de informações que
estimulem um maior controle social.
• Implantar e divulgar sistemas de informação geográfica em cada Região de
Desenvolvimento, fornecendo base de dados para o monitoramento das ações.
• Implantar e divulgar sistemas de informações com indicadores de sustentabilidade,
ressaltando-se o cálculo e monitoramento do Índice de Desenvolvimento Humano –
IDH, nas cidades pernambucanas.
• Disponibilizar informações geográficas, imagens de satélite, sensoriamento remoto e
Sistema de Posicionamento Global – GPS, estruturando sistema de informações
georreferenciadas.
• Apoiar a implantação de rede digital, centros tecnológicos e ilhas de informática,
disseminando soluções de caráter tecnológico e social bem-sucedidas.
• Utilizar, de forma intensiva, a informática para a racionalização da administração
pública.
• Fortalecer o governo eletrônico como um novo modelo de gestão.

Melhorar os Serviços de Infra-estrutura

• Mobilizar recursos do setor público e privado para as pesquisas tecnológicas na área

162
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

de energia.
• Grupos majoritários e governos devem avaliar as atividades para a capacitação
institucional, tendo em vista o desenvolvimento da ciência e tecnologia.
• Governos de demais organizações devem prover amplo acesso às informações para
a pesquisa científica e educação, meio ambiente e desenvolvimento,
particularmente para energia e transportes.
• A comunidade científica, com o apoio de organizações governamentais e não-
governamentais, devem analisar e monitorar as implicações éticas e os meios de
regulação do trabalho científico, fomentar um debate público sobre as implicações
éticas do conhecimento científico e sua aplicação.
• A comunidade científica, o governo e demais instituições afins devem desenvolver
programas de informação e educação sobre comunicação, energia e transporte e
meio ambiente, dentro de suas respectivas esferas de responsabilidade.

REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS

Alocar Recursos Humanos e Institucionais

• Integrar ações de fiscalização e controle ambiental nos municípios, criando


mecanismos de compatibilização interinstitucional.
• Incentivar ações articuladas entre os municípios de uma mesma região para o
enfrentamento de problemas comuns.
• Incentivar a criação de mecanismos de controle ou regulação dos serviços de
saneamento e fortalecer os já existentes.
• Criar e/ou fortalecer órgãos municipais de vigilância sanitária e ambiental para
exercer controle eficaz da qualidade da água distribuída à população e dos
despejos de resíduos sólidos e líquidos produzidos.
• Estabelecer mecanismos para o aperfeiçoamento da gestão do saneamento básico,
em todos os níveis.
• Formar e/ou consolidar consórcios municipais para tratar de temas de interesse
comum, como, por exemplo, a destinação adequada de resíduos sólidos.
• Estabelecer mecanismos de articulação e controle social para implementação das
políticas setoriais, fortalecendo os conselhos e fóruns existentes, incentivando
parcerias entre as empresas e os diversos atores da sociedade.
• Incentivar a capacitação continuada dos diversos atores envolvidos nas ações de
desenvolvimento sustentável.
• Implantar os Conselhos Tutelares em todos os municípios do Estado, acionando
judicialmente aqueles que não o fizerem.
• Regularizar o Fundo da Infância e da Adolescência e implementar mecanismos
efetivos de fiscalização da aplicação dos recursos dos Fundos Municipais, em ação
articulada com o Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público.
• Criar a retaguarda necessária à implementação dos programas de proteção
especial e socioeducativos (núcleo de atendimento, abrigos, etc.).

163
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Criar e implementar, nos municípios onde não existam, Varas, Promotorias e


Defensorias Públicas especializadas no atendimento de crianças e adolescentes
vítimas e infratores.
• Realizar fóruns de debates regionais e itinerantes, cursos e seminários sobre as
atribuições e competências dos Conselhos de Direitos e Tutelares, do Ministério
Público, das Polícias Militar e Civil, do Poder Judiciário e dos Defensores Públicos.
• Fomentar a formação e/ou consolidação de núcleos de ouvidorias ou fóruns
semelhantes, nos municípios, como forma de ampliar a responsabilidade social na
gestão ambiental.
• Desenvolver mecanismos de articulação entre Poder Judiciário, Ministério Público e
Governo do Estado, nos municípios, de maneira que as remoções e a rotatividade
inerentes ao cargo não comprometam o desenvolvimento dos trabalhos com as
crianças e adolescentes.
• Fortalecer os órgãos policiais ambientais, melhorando o número de atores envolvidos
e sua formação.

Alocar Recursos Financeiros

• Assegurar a utilização de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública para


ações na área ambiental.
• A Agenda 21 deve ser base para utilização dos recursos públicos já existentes,
possibilitando ainda a alocação de recursos advindos de outras fontes.

Alocar Recursos Científicos e Tecnológicos

• Promover o desenvolvimento, transferência e difusão de tecnologias ambientalmente


saudáveis e socialmente justas.
• Apoiar a criação de laboratórios e intensificar linhas de pesquisa e produção
tecnológica, aprimorando as cadeias produtivas estratégicas do Estado.

Consolidar Sistemas de Informações

• Criar e gerenciar uma base de dados e de indicadores de sustentabilidade.


• Implantar sistemas de informação geográfica em cada Região de Desenvolvimento,
fornecendo base de dados para o monitoramento das ações.
• Acessar, explorar e usar informações geográficas, utilizando imagens de satélite de
sensoriamento remoto, Sistema de Posicionamento Global – GPS, estruturando sistema
de informações georreferenciados.

GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS

A implementação das ações propostas no âmbito de gestão dos recursos naturais


conjuga uma série de fatores. Recursos financeiros, capacitação e valorização dos

164
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

recursos humanos, reestruturação institucional, pesquisa e desenvolvimento, criação de


um sistema de informações, são os mais importantes desses fatores.

Recursos Financeiros

Os recursos financeiros são importantes para implementação das ações em pelo menos
dois sentidos diferentes. O primeiro como um incentivo à utilização de práticas
sustentáveis pelos potenciais agentes poluidores, e o segundo como fonte de recursos
para financiamento de obras de interesse ambiental.

No âmbito do primeiro grupo, destaca-se a necessidade de definição de política para


concessão de incentivos fiscais e creditícios para, entre outros:

• Proprietários rurais que contribuam para incrementar o percentual de áreas de


conservação do estado e trabalhem sobre a ótica da sustentabilidade, tendo a
agroecologia como modelo de produção.
• Implantação de novas áreas de reflorestamento para os agricultores que praticam
agricultura de subsistência (Nesses casos são sugeridas, inclusive, formas bastante
diretas, como a isenção do Imposto Territorial Rural e da Taxa de Reposição Florestal).
• Empresas que tenham implantado sistema de gestão integrada ambiental, de
qualidade e/ou de segurança.
• Incentivo às boas práticas de gestão, reutilização, reciclagem e redução dos resíduos
sólidos.
• Estudos na área econômica/social que dêem suporte a um Sistema de Licenciamento
estadual.
• Àqueles que praticam o manejo florestal sustentável em florestas naturais.
• Empreendimentos cooperativos e associativos que utilizem os recursos naturais de
modo sustentável para agregar atividades de pequeno e médio portes de quaisquer
natureza (produção agrícola, pesca artesanal, florestal, de aqüicultura familiar,
apicultura e artesanato em geral).

Para o segundo grupo, foram previstas ações de:

• Fixação de um percentual no valor das exportações dos produtos florestais dos


diferentes biomas para fins de aplicação em pesquisa.
• Criação de critérios e incentivos ao Imposto Verde.
• Implementação de sistema de tarifação do uso das águas, superficiais e
subterrâneas, sem que seja privatizado, mas com subsídios para a agricultura familiar.

Com relação à precificação da água, existe uma preocupação de que se estabeleçam


preços diferenciados, geridos pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente – Comdema,
para os múltiplos usos da água, de forma que o custo da água reciclada seja
competitivo com o da água limpa.

165
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Estímulo à adoção de mecanismos financeiros e de securitização para reduzir


exposição ao risco de inundação.

Recursos Humanos e Institucionais

Os recursos humanos e os arranjos institucionais são parte muito importante da


implantação de uma Agenda 21. Pelo lado dos recursos humanos, através dos técnicos
especialistas, tem-se a sua capacitação e valorização como instrumentos fundamentais
de suporte para conferir eficácia à atuação direta destes com os recursos naturais.

Com relação a valorização do técnico, ressalta-se a necessidade de sua participação


em todas as equipes de trabalho a serem formadas no âmbito das decisões de Gestão
dos Recursos Naturais, como também na orientação e conscientização sobre a
conservação da biodiversidade. Destaca-se também a necessidade de seu
fortalecimento, em número de técnicos e recursos destinados, nos órgãos de fiscalização
do meio ambiente do Estado de Pernambuco.

Da instituição, por sua vez, são requeridas reformas e reestruturação, além de uma
atuação mais presente junto às questões que lhe sejam pertinentes. A implementação
de parcerias com instituições privadas, ONGs, organismos internacionais (em especial
aqueles de atuação relevante na área ambiental), comitês, sociedade civil de uma
forma geral, são estratégias recorrentes no âmbito da definição e da implementação
das ações. A utilização dessas parcerias são estratégicas também no âmbito da
descentralização das ações.

Foram sugeridas parcerias (com técnicos e instituições) e descentralização nas ações de,
entre outros:
• Zoneamento ecológico-econômico-ambiental.
• Identificação da capacidade de exploração dos recursos minerais.
• Desenvolvimento de estudos e pesquisas de qualquer natureza, que visem o
desenvolvimento sustentável.
• Elaboração dos Planos Diretores de Recursos Hídricos e das Bacias Hidrográficas do
Estado, destacando-se, especificamente, os Comitês.
• Uso dos Recursos Hídricos e de elaboração de plano diretor para drenagem urbana,
com indicação de responsabilidade para os municípios.
• Fiscalização da legislação vigente, comprometendo os Conselhos Municipais e
Comissões Regionais.
• Revitalização dos rios, com ênfase na criação de leis municipais.
• Elaboração de inventário das fontes de poluição e de seus níveis de risco nos
diferentes biomas do estado e em bacias hidrográficas.
• Zoneamento para Segurança Pública (policiais) e integração interinstitucional com os
demais órgãos envolvidos.

166
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Fortalecimento dos Órgãos de Policiamento e Fiscalização nas questões de uso e


gestão de recursos naturais em todas as estratégias previstas.

Recursos Científicos e Tecnológicos

Os recursos científicos e tecnológicos são importantes por vários aspectos. Ressalta-se,


entre eles, o incentivo à pesquisa e à inovação tecnológica e à educação ambiental,
como um destaque importante dos mecanismos de difusão. A seguir, listam-se
considerações levantadas pelo tema Gestão dos Recursos Naturais, da Agenda 21 do
Estado de Pernambuco, para cada um desses três aspectos.

O incentivo a estudos e pesquisas deve ser dado para:

• Pesquisa geológica básica para a descoberta de novas jazidas minerais.


• Estudos sobre proteção da superfície do solo contra a ação dos agentes erosivos
naturais e antrópicos. Em particular, para o caso pernambucano, deve-se buscar
prevenir: acidificação, salinização e desertificação.
• Rede de pesquisa de espécies florestais, buscando o manejo sustentável e dando
ênfase às espécies de uso múltiplo e de valor econômico.
• Identificação da área de ocorrência e status de conservação das espécies de fauna
e flora do Estado de Pernambuco.
• Estudos oceanográficos, climatológicos e geológicos, em escala global, com o
objetivo de conhecer os processos costeiros que influenciam os problemas litorâneos,
em especial estudos sobre a vulnerabilidade da linha de costa.
• Desenvolvimento do conhecimento técnico-científico relativo às mudanças
climáticas.
• Previsão de ocorrência de situações de escassez de água.
• Identificação de meios alternativos para a produção e uso de energia a partir da
biomassa.
• Estudos liminológicos nos reservatórios médios, grandes e em rios perenes, para
promover o repovoamento das espécies nativas.
• Limites de exploração máxima por espécie de recurso natural, por unidade de tempo.
• Relação custo–benefício entre economia de energia e limitação da velocidade nas
estradas, que avaliem a possibilidade de se exigir um determinado nível de eficiência
dos equipamentos e veículos, estabelecimento de padrões de isolamento de
equipamentos, entre outras.
• Alternativas adequadas ao uso de resíduos.
• Aproveitamento de água dos pequenos açudes, cacimbas, barragens subterrâneas e
implúvios.
• Otimização dos recursos hídricos disponíveis potenciais nos imóveis e nas
comunidades rurais.
• Cadastramento das pequenas obras difusas no meio rural.
• Construção de obras de captação de água, com ênfase ao atendimento da

167
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

população difusa.

A difusão dos estudos e das tecnologias criados deve se dar de forma ampla, para que
se estabeleça uma rede de colaboração de centros de pesquisa internacionais,
nacionais e regionais com o Estado de Pernambuco, sobre os diversos temas citados.

A Educação Ambiental é tida como importante em todos os aspectos para a Gestão dos
Recursos Naturais. Ela deve se implementar de formas múltiplas, considerando-se o seu
alcance e conteúdo.

Quanto ao alcance, ela deve estar presente em:

• Rede Escolar.
• Campanhas específicas para a comunidade e empresas.
• Capacitação permanente de técnicos de uma forma geral.
• Projetos de alcance estadual.

Quanto ao conteúdo, a Educação ambiental deve estudar:

• Ecossistema local.
• Valorização do patrimônio natural do Estado de Pernambuco.
• Cadastramento de animais silvestres mantidos em cativeiro.
• Uso racional de energia.
• Efeitos degradadores da ação antrópica.
• Poluição das regiões ribeirinhas e sustentabilidade regional.
• Práticas de monitoramento e fiscalização do uso dos recursos naturais.
• Uso do catalisador automotivo e de dispositivo antipoluente nas indústrias.

Sistemas de Informação

• A criação de um sistema de informação, visando tornar disponíveis informações para


a Gestão dos Recursos Naturais.
• Uso e conservação da Biodiversidade.
• Apoiar a criação de rede de informação sobre biodiversidade, visando tornar
disponíveis informações de inventários e monitoramento de biodiversidade dos
biomas estaduais.
• Criar um programa de apoio à publicação de informações sobre a biodiversidade do
Estado, tais como guias de campo, chaves taxonômicas, revisões sistemáticas e
estudos etnobiológicos.
• Elaborar e manter bancos de dados sobre projetos de biodiversidade.
• Incentivar e fortalecer programas de pesquisas nas áreas de ecologia, biogeografia e
diversidade genética da fauna e da flora.
• Implantar sistema de monitoramento permanente da diversidade biológica e de

168
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

espécies ameaçadas.
• Desenvolver metodologias e sistemas para o monitoramento da biodiversidade,
integrando-os aos sistemas de monitoramento sobre o uso do solo e sobre a poluição;
de monitoramento de vetores e doenças e outros de recursos naturais.
• Dados sobre a sobrevivência da espécie no seu ecossistema.
• Implementar uma base de dados sobre a utilização de OGMs no Estado, interagindo
com as informações disponíveis em banco de dados nacionais e internacionais.
• Implantar e monitorar o ICMS Socioambiental na manutenção de Unidades de
Conservação, nos municípios que assim se habilitarem.
• Atualizar as informações e estratégias contidas no Atlas da Biodiversidade do Estado
de Pernambuco.

Recursos Hídricos

• Implantar e ampliar redes de monitoramento meteorológico, hidrológico e de


qualidade de água em tempo real.
• Controlar a poluição e qualquer alteração dos parâmetros básicos de qualidade de
água.
• Identificar e autuar os agentes de retiradas bruscas de grandes volumes a montante
da estação de controle, sem que seja outorgada tal retirada.
• Desenvolver estudos e projetos, visando também o controle e a previsão de eventos
críticos como secas e cheias.
• Intensificar o controle e monitoramento das águas subterrâneas.
• Cadastrar os poços existentes de forma ilegal.
• Fazer acompanhamento da evolução da qualidade da água subterrânea.
• Tornar disponível tecnologia e informação sobre a gestão dos problemas de
inundações.

Mudanças Climáticas

• Estabelecer uma rede informatizada de cooperação sobre mudanças climáticas,


entre centros de pesquisa internacionais, nacionais, regionais e locais.
• Estabelecer uma rede de colaboração de centros de pesquisa internacionais,
nacionais, e regionais com o Estado de Pernambuco, para intercâmbio e difusão do
conhecimento técnico-científico sobre mudanças climáticas e tecnologias
ambientalmente adequadas para redução das emissões de poluentes atmosféricos,
de forma a subsidiar a tomada de decisão.

COMBATE À DESERTIFICAÇÃO E CONVIVÊNCIA COM A SECA

Para implementação das ações estão envolvidos os atores ligados aos seguintes setores:

• Governos Federal, Estadual e Municipal, a depender da demanda.

169
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Privado, quando se sabe que a produção de bens e serviços envolve as empresas,


que devem agir com responsabilidade socioambiental e com solidariedade.
• Econômico-social, no qual as organizações não-governamentais – ONGs, podem
mobilizar a sociedade civil para implementação das propostas.

A governança e o arranjo institucional, para viabilizar a implementação do plano de


ação apresentado, podem e devem ser parte da Lei nº 10.257, de 10 de junho de 2001
(Estatuto da Cidade), que regulamenta os artigos nº 142 e nº 143 da Constituição Federal
de 1988 e torna compulsório o Plano Diretor Municipal e sua respectiva transformação
em lei municipal para sua implementação local.

Alocação de Recursos Institucionais

• Determinar os requisitos técnicos, financeiros e administrativos para dinamizar a


política, as estratégias, o plano, os programas e os projetos de desenvolvimento
sustentável.
• Estimular a criação e manutenção dos Comitês de Bacias Hidrográficas.
• Fortalecer os órgãos responsáveis pelo gerenciamento dos recursos hídricos do
Estado.
• Criar um sistema de fiscalização efetivo e integrado, com a participação da
sociedade civil.
• Apoiar a instalação de postos avançados do Instituto Brasileiro de Meio ambiente –
Ibama, Companhia Pernambucana de Meio Ambiente – CPRH, e Companhia de
Policiamento Ostensivo do Meio Ambiente – Cipoma, nas cidades-pólo das regiões de
desenvolvimento do Estado.
• Realizar plano participativo de uso dos recursos hídricos.
• Criar parcerias com entidades envolvidas nas atividades da agropecuária para o
desenvolvimento através de capacitações específicas.
• Disponibilizar recursos para treinamentos.

Alocação de Recursos Científicos e Tecnológicos

• Fortalecer os órgãos técnicos que podem fazer a difusão e produção de tecnologia.


• Promover Cursos de Capacitação com pessoas qualificadas.
• Capacitar os diversos atores sociais para interagir com a produção do conhecimento
e as tecnologias, valorizando as possíveis parcerias locais.
• Desenvolver um programa especial, através das parcerias dos Governos Federal,
Estadual e Municipal, para a exploração das águas subterrâneas, elevando a
quantidade de água disponível para os diversos fins.
• Reativar os Conselhos de Desenvolvimento Municipais – Condemas, com a
participação da sociedade de forma ampla e irrestrita.
• Fortalecer a estrutura do Instituto de Pesquisa Agropecuária – IPA, para melhor
desenvolver as tecnologias necessárias às ações de combate a desertificação.

170
Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Utilizar os centros tecnológicos para qualificação dos agricultores e outros agentes


produtivos.

Consolidação de um Sistema de Informações para o Desenvolvimento

• Realizar parcerias dos trabalhadores com os técnicos para difusão e implantação das
tecnologias.
• Criar banco de dados sobre tecnologias de convivência com a seca e controle e
recuperação de áreas em processo de desertificação.
• Responsabilizar o Estado Brasileiro pela defesa civil do cidadão do trópico semi-árido,
por ocasião das calamidades públicas oriundas das secas periódicas e das eventuais
enchentes.
• Mobilizar, de forma permanente, recursos de fontes internas e externas, bilaterais e
multilaterais, para gerar impactos em termos de alívio da pobreza existente, com vista
a mitigar a emergência das secas e enchentes.

ECONOMIA SUSTENTÁVEL

Alocação de Recursos Institucionais

• Promover reuniões, palestras e encontros com a comunidade, para promover uma


maior conscientização da população.
• Descentralizar as ações, fortalecendo a participação da população — cooperativas,
igrejas, associações, etc.
• Ampliar parcerias entre prefeituras e instituições públicas e privadas.
• Promover assessoramento técnico para as discussões com a população.
• Promover ações conjuntas entre os municípios da região.
• Promover ações conjuntas entre os diversos órgãos envolvidos.
• Incentivar a pesquisa e a associação desta ao planejamento, a linhas de ação e à
abertura de crédito para o setor produtivo.
• Estabelecer parcerias com órgãos governamentais e entidades produtoras para
divulgação das inovações tecnológicas das culturas locais.
• Ampliar o quadro técnico voltado para a assistência técnica.

Alocar Recursos Financeiros

• Incentivar a pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias.


• Fortalecer e desburocratizar as linhas de crédito que estão focadas nas atividades
que dão suporte ao turismo no Estado.
• Incentivar pesquisas que auxiliem na sustentabilidade da atividade industrial.
• Delinear linhas de crédito desburocratizadas, voltadas para o resgate cultural.
• Tornar as linhas de crédito acessíveis para o estabelecimento de indústrias que usam
tecnologias limpas.
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Agenda 21 do Estado de Pernambuco

• Disponibilizar linhas de crédito para melhoramento do rebanho e comercialização de


produtos pecuários.
• Criar linhas de crédito para as atividades de criação de caprinos, ovinos e suínos.

Alocar Recursos Científicos e Tecnológicos

• Mapear, formando um plano comum regional para implantação das diretrizes.


• Treinar os pequenos e médios agricultores e empresários.
• Melhorar os serviços de assistência técnica e extensão rural, com monitoramento
sistemático.
• Incentivar a produção de produtos industrializados de alto valor agregado e com
elevado valor de conhecimento.
• Incentivar a pesquisa para o desenvolvimento de novas tecnologias para os
processos industriais.
• Incentivar a produção de produtos passíveis de receber selo verde.
• Incentivar a extração de produtos minerais de forma sustentável.
• Incentivar a adoção de novas tecnologias que contribuam para o aumento da
produtividade agrícola, levando em consideração a preservação do meio ambiente.

Arranjos na Base Legal

• Promover política de incentivos à produção industrial, privilegiando o uso de


tecnologias limpas.
• Promover política de fortalecimento da cadeia produtiva da produção
agropecuária.

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