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O Outro Lado do Poder (Resumo Didático – RFW)

Claude Steiner
Introdução a Edição Brasileira
O poder sempre atraiu o ser humano. A história da humanidade, desde os
seus primórdios, é marcada por lutas de poder que arrastaram atrás de si
milhares de seres humanos, causando morte, destruição, miséria e
sofrimento. A grande maioria das sociedades conhecidas apresenta uma
organização social baseada em hierarquias nas quais o poder é
desigualmente distribuído entre seus membros. Isso não só cria condições
propícias para o abuso do poder, como também tem repercussões nos
sistemas familiar, educacional, econômico, político e religioso, assegurando
sua perpetuação através dos séculos. Em O Outro Lado do Poder, Steiner
analisa uma certa forma de poder chamada controle, que depende da
exploração e manipulação dos outros. A preocupação central de Steiner é
enfatizar a responsabilidade individual na manutenção e reforço do status
quo e, ao mesmo tempo, esboçar uma trajetória de mudança que permita a
cada ser humano, ao utilizar o poder pessoal que tem a sua disposição,
abandonar os tradicionais comportamentos controladores que aprendem
desde a mais tenra idade, substituindo-os por aquilo que o autor chama de
“o outro lado do poder”. Seu estudo demonstra as vantagens de não
utilização do poder de Controle, da importância do respeito ao ser humano,
da cooperação e da ausência de manipulação das vontades pessoais como
formas de mudança dos padrões de relacionamento, dos valores e,
conseqüentemente, da cultura no seu conjunto.
Com isso enfatiza uma revisão da realidade sociocultural, mostrando
que a dinâmica da relação homem-sociedade pode ser alterada. Sua analise
dos jogos de poder esmiúça os detalhes dos relacionamentos cotidianos nas
suas mais variadas situações. São esses jogos de poder que impedem o
contato com as nossas emoções, que barram uso de nossa intuição e da
capacidade de observação e raciocínio, que dificultam amar, ser amado, ser
autônomo e utilizar nosso imenso potencial.
Daí a existência da “Tecnologia do Controle”, que oprime, discrimina,
impõe e manipula através de jogos de poder, das mentiras, da opressão
lingüística e do cerceamento da criatividade, muito semelhante ao
“duplipensar”, que integram as técnicas contemporâneas da desinformação,
através das quais a guerra se transforma em defesa, a proteção em
violência, o crime em justiça etc.
O ser humano, embora eminentemente gregário, tem subutilizado
sua capacidade de conviver de forma pacifica e construtiva com seus
semelhantes. A razão básica está no fato dele não ter exercitado, em
primeiro lugar, a capacidade de conviver consigo mesmo. A “alfabetização
emocional” é o passo inicial para reversão desse processo, pois o
reconhecimento do próprio eu abrirá caminho para o reconhecimento do
outro.
Interdependência dos indivíduos, das nações e dos continentes
aumenta a cada dia a ponto de não ser mais possível pensar na
sobrevivência da humanidade em termos espaços-temporais restritos.
Fazemos parte de um ecossistema complexo, no qual qualquer alteração no
equilíbrio de uma das partes terá repercussões no todo. É chegado o
momento de desistirmos do controle, do uso do poder como um fim em si
próprio e passarmos a utilizar “o outro lado do poder”, sobre pena de
criarmos cataclismas mundiais como a guerra nuclear, o desastre ecológico,
1
a depressão econômica generalizada, a revolução social dos oprimidos.
Como afirma Steiner, “desistir do Controle e passar para outro lado do
poder equivale a juntar-se à espécie humana. À medida que o fazemos,
descobrimos que não estamos sós, que existem inúmeros outros, onde quer
que estejamos, despercebidos pelo olhar frio do controle, que também
estão intensamente envolvidos na luta pela sobrevivência do nosso
humanitarismo. (15)

I - CONTROLE
1. O Sonho Americano do Poder
Nos últimos anos surgiram vários trabalhos sobre poder, dentre eles
destaca-se o livro de Korda que é uma enciclopédia de observações a
respeito de comportamentos de poder. Korda aponta a importância das
pastas, relógios e sapatos que as pessoas usam. Sugere a importância dos
lugares onde sentamos em nosso escritório ou em de outros, como nos
movimentamos nas festas de negócios ou como respondemos a
telefonemas. Alega que todos estes aspectos relacionam-se com o nosso
nível de poder. Korda não aprecia demonstrações grosseiras de poder e em
exemplos seguidos em seu livro ele endossa manobras com um mesmo
objetivo – Controle – desde que sejam elegantes, suaves e eficazes. Ele é
um apreciador do abuso requintado do poder. É bom ter poder e utiliza-lo
para controlar os outros, desde que isso seja feito com classe. O mais
apropriado é a capacidade de simular não ter nenhum poder, enquanto se é
todo poderoso. (25) Nesta perspectiva respeitar o seu próximo é burrice
pura. Justiça, consciência, generosidade, participação e cooperação não tem
valor. Só uma coisa é importante – Controle e acumulo de poder –
preferencialmente na forma de dinheiro. (26)
Na verdade estamos tão imersos neste tipo de mundo que é difícil ver
o que está errado nesta abordagem. Assim, infelizmente, a maioria das
pessoas que estão tentando fazer com que a vida funcione assume com
demasiada freqüência que este é o melhor caminho para sua realização.
Engajando-se neste estilo de vida competitiva, eles estão abandonando
todas as outras opções nas quais a realização do poder não depende da
redução do poder do outro, ou de arriscar o seu próprio poder num jogo
competitivo. (27)
Anos atrás, quando eu havia alcançado sucesso, sentia-me orgulhoso
de todos os meus feitos. Não percebi que muito do que eu havia conseguido
era resultado de minha posição privilegiada de utilizar recursos que não
eram, na sua maioria, intrinsecamente meus. Eu era uma privilegiada
criança branca, do sexo masculino, com pais instruídos em um país e numa
época de abundancia. Parecia-me, como a outros em posições privilegiadas
semelhantes, que com um pouco de trabalho duro qualquer pessoa poderia
ter sucesso. Não percebia que pessoas trabalhadoras e espertas passavam
a vida se poderem atender suas necessidades básicas. Acontece que eu
estava no estrato superior de uma pirâmide global que canalizava seus
recursos em minha direção, mas eu não sabia disso. Na verdade, eu não
tinha o direito de desfrutar os sentimentos de vitória e poder que possuía.
Estes baseavam-se na usurpação inconsciente do direito inato de outras
pessoas. Na medida em que tomei maior conhecimento das verdades de
minha posição ns “degraus do sucesso”, passei a ter mais dificuldade em
tentar afirmar presunçosamente o meu privilegio injusto, pois verifiquei que
meu poder baseava-se na falta de poder dos outros. Daí para frente foi
simples perceber que o meu privilegio estendia-se para além dos negros e
das mulheres. Eu tinha vantagens injustas sobre pessoas jovens e velhas,
mas, acima de tudo, sobre um vasto número de pobres neste país e no
mundo todo. A ilusão de que eu tinha direitos a esta vantagem dissolveu-se
2
e esta nova conscientização mudou radicalmente minha visão sobre mim e
o mundo. Reconheçamos: nós, prósperos “americanos médios”, estivemos
viajando de carona durante muito tempo. Uma carona fornecida de um lado
por muita gente que trabalha duro (quem não trabalha também contribui) e
de outra pela boa terra. (29)
Os sinais de abundancia estão diminuindo. A carona chegou ao fim. À
medida que ingressamos na próxima era da escassez, nossos sentimentos
de poder não podem mais basear-se naqueles amplos recursos que
estávamos tão acostumados a drenar. Teremos de procurar em outro lugar
a energia para sustentar-nos. Precisamos crescer e desenvolver nossos
próprios poderes, poderes esses que emanam de cada um de nós, mais do
que de fontes externas. Teremos que abandonar o seio materno e
compartilhar que existe com nossos irmãos e irmãs que choram. (30)
Precisamos desistir da ilusão do poder e da energia abundante se quisermos
sobreviver. Teremos que andar a pé, de bicicleta, trabalhar, suar, tomar
banhos de chuveiro mais rápidos, reciclar, conservar, organizar rodízios de
transporte, utilizar transporte coletivos, partilhar, discutir, organizar,
reivindicar direitos e respeitar o direito dos outros. (30) À medida que
ultrapasso minha ilusão de poder, percebo que ainda desejo ser poderoso,
mas meu objetivo agora é ser forte, sem desrespeitar. A alternativa
oferecida neste livro, baseia-se na crença de que é possível ser poderoso,
feliz e alerta, ter amigos íntimos e carinhosos, será apreciado pelos
colaboradores e concorrentes ou empregados e, ao mesmo tempo, ser
justo, respeitador e guiado pela sua própria consciência em todas as suas
ações. (31)

2. O Controle em nossa Vida Cotidiana


Os jogos de poder em uma relação homem-mulher ilustram um conflito
típico entre duas pessoas. Não é que Joan e Mark não se amem mais. Mas
alguma coisa está errada, ambos estão confusos, magoados e irritados.
Cada um sente que a culpa é do outro.
No passado as manobras de Mark tiveram sucesso. Conseguiu distrair
Joan ou criar nela a necessidade de tê-lo, ou ainda leva-la a submeter-se
por culpa ou medo. Estas táticas, entretanto, deixaram de funcionar.
Dificilmente funcionam depois de algum tempo. As pessoas não gostam de
ser controladas e a manipulação acaba por estimular um forte desejo de
resistir. Seguem-se lutas, perda de energia, resultados de falta de poder. A
situação de Mark e Joan é mais um exemplo de pessoas envolvidas em
jogos de poder. (37) Vejamos a luta de poder da perspectiva de Mark: ele
quer sexo. Joan não quer. É como ele vê. Assistimos às suas tentativas de
conseguir a aprovação de Joan ao montar, durante horas, a cena.
Observamos como ele dissimula seus sentimentos, tentando estimular
culpa, fingia interesse, isolava-se, procurava dopa-la, ficava emburrado.
Quando sua abordagem sutil não dá resultados, ele é capaz de tentar algo
mais grosseiro. (37) Na nossa vida cotidiana somos controlados
basicamente através de formas sutis de poder. Raras vezes temos uma
percepção clara de como estes métodos atingem seus propósitos, mesmo
quando os usamos com outros ou com nós mesmos. A força não é o
elemento principal e imediato para o sucesso. Estes métodos se apóiam na
nossa obediência, na falta de vontade de desafiar a autoridade em virtude
de medo, delicadeza, ou na nossa incapacidade de saber e reivindicar o que
queremos. Os jogos de poder são as ferramentas de Controle e de
competição e, quando introduzidos em relacionamentos carinhosos e
cooperativos, acabam por afetá-los profundamente. (38)

Enquanto isso, de volta ao escritório.


3
Caso: São quatro horas da tarde, uma hora antes do término do expediente.
Você trabalhou duro durante todo o dia. Enquanto você espera para o fim do
dia de trabalho, sua chefe entra na sala com uma pasta e diz: “Isto tem que
estar pronto antes de amanhã de manha. Esta bem?”
Você hesita, mas responde automaticamente: “Tudo bem.”
Você foi envolvido em jogo de poder. Sua chefe conseguir que fizesse algo
que não queria fazer, alguma coisa que ela não têm direito de pretender de
você. Mas ela o fez, sem tocá-lo e com um sorriso, para aproveitar-se. Ela
considerou sua obediência, sua relutância em desafiá-la e sua subserviência
para obrigá-lo a fazer algo que ela sabia muito bem que não era razoável.
Se você fosse mais vivo, teria dito: “Espere um pouco, não estou seguro que
está bem. Deixe-me dar uma espiada nisto”.
Depois de olhar, poderia dizer: “Por que me trouxe isso tão tarde? Por que
tem de estar pronto amanhã cedo? Pode arranjar alguém para ajudar? Pode
ajudar? Se é tão importante poderia ser trazido mais cedo. Por que você
mesmo não faz?” Certamente este tipo de comportamento seria considerado
como insubordinação, rebelião e falta de cooperação.

A decisão não é fácil. O que você vai fazer?


A confusão que sentimos em situações deste tipo é sensível.
Desejamos ser cooperativos, bons funcionários. Mas as pessoas que nos
pedem para ser assim são as pessoas que pensam apenas em si próprias e
não hesitariam em nos controlar para ter vantagem própria. A única
maneira de decidir com sabedoria e responsabilidade é entender melhor a
situação, informando-se a respeito do poder, como se abusa deste através
de jogos de poder grosseiros ou sutis, e como pode ser utilizado de forma
cooperativa e humana. As pessoas têm direito de trabalhar numa atmosfera
onde não se utilizam jogos de poder, como o de ser obrigado a trabalhar
depois do horário regularmente, e onde funcionários reivindicam, de forma
razoável e justa, o que desejam. Os empregados precisam estar seguros de
que sua boa vontade para trabalhar duro não será explorada ou
considerada como óbvia e os chefes precisam saber que os empregados
estarão prontos para trabalhar, quando for necessário, e o farão de maneira
mais produtiva.
A chefe no caso acima poderia sentar-se e dizer: “Desculpe
interrompe-lo, mas gostaria de saber se você pode fazer um trabalho extra
antes de ir embora. Deve levar cerca de uma hora.” Se você mostrasse
insatisfação, ela poderia dizer: “Isto é realmente importante – será que
pudemos fazer um acordo? Talvez você queira tirar um tempo de folga
amanhã pela manhã.” Ou, “recompensarei este favor em outra
oportunidade”, Este pedido de cooperação, livre de jogos de poder, poderá
ter sucesso na sua decisão de fazer o trabalho com prazer. (39)

3. Obediência: Por que aceitamos o Controle dos Outros


Os jogos sutis de poder dependem de nossa obediência que,
frequentemente, é confundida com cooperação. Cooperação significa,
muitas vezes, concordar, não discutir, fazer o que aqueles que sabem
melhor nos dizem. Os colonos americanos recusaram-se a pagar seus
impostos e “cooperar” com a Inglaterra.

Caso: Você está sentado num banco de jardim aproveitando o sol do


início da manhã. De repente uma sombra projeta-se sobre seu corpo, você
abre os olhos e vê alguém parado entre você e o sol. Diz você para seus
botões: “Provavelmente ele não percebeu que está fazendo sombra”.
“Desculpe, mas você está fazendo sombra”, você diz.
“Eu sei”, responde ele.

4
Você muda de lugar para ficar ao sol. Ele muda de posição e novamente
bloqueia a luz do sol. Tentando parecer tranqüilo você pergunta: “Por que
você está fazendo isso?”
Ele responde: “Você precisa me desculpar, mas tenho de fazer uma outra
coisa”. Ele aproxima-se e dá-lhe um pisão no dedo do pé.
Segurando um grito, você diz: “Hei! Você está pisando no pé!”.
“Eu sei”, ele responde.
“Por quê?”, suplica você.
Muito honestamente ele responde: “Isso poderá ser difícil de acreditar, mas
a razão de eu estar pisando no seu pé é muito complicada para entender. E
ficaria agradecido se você não fizesse nenhuma reclamação. Todos estão
agindo assim e não podemos permitir que você interfira nos nossos esforços
de proteger nossa segurança econômica”.
Você nunca foi capaz de entender coisas de economia. Sente-se
completamente ignorante no assunto. Você reprime o desejo de fazer
perguntas, com medo de tornar pública a sua ignorância.
O homem parece satisfeito. “Você é um grande sujeito. Esta nação tem uma
grande dívida contigo. Seus filhos terão orgulho de você.”
Você vai acostumando-se com a dor. Olha à sua volta e vê várias pessoas
em situação idêntica a sua. Você começa a se sentir melhor, sabendo que
está fazendo a coisa certa, deixando de criar problemas e ajudando com sua
vontade de cooperar. Ao longe você vê pessoas protestando, retirando os
bondosos cavalheiros de seus pés e pensa: “Que absurdo fazer um
escândalo por tão pouco!”. (42)

Esta alegoria procura esclarecer a maneira como tendemos a aceitar


e justificar os jogos sutis de poder que nos são impostos. Não contestamos
as coisas desagradáveis que as pessoas poderosas nos impõem. Não
exigimos prova da necessidade das coisas que toleramos. Quando vemos o
conformismo e a aceitação por parte dos outros, supomos que nossas
objeções não são justificadas. Preferimos acreditamos nas mentiras das
pessoas. Não aprovamos as pessoas que protestam. Em suma, somos
obedientes. Quando em dúvida, duvidamos de nós mesmos. Quando não
entendemos algo, a suposição é que somos burros. Se não desejamos fazer
algo, a suposição é de que somos preguiçosos. Se estivermos demasiado
cansados para desafiar os que pisam em nós, a suposição é de somos
fracos. (43)
É necessário mais energia, habilidade e coragem do que a possuída
pela maioria das pessoas para contestar, indagar, duvidar de afirmações
categóricas, discordar, criticar abertamente o que todos os outros estão
fazendo e defender os nossos direitos. Não queremos arriscar o que
possuímos irritando os poderosos. Em vez disso concordamos
silenciosamente e “cooperamos”, o que, neste caso, significa que de fato
obedecemos. Vivemos um sonho que é parte de um sonho, no qual fomos
hipnotizados para aceitar nossa opressão e, em seguida, novamente
hipnotizados para esquecermos que fomos hipnotizados. (43)
O primeiro passo para tornar-se poderoso, sem usar jogos de poder
para controlar os outros, é aprender a desobedecer. Você é um ser humano
livre e a liberdade é poderosa. No entanto, desperdiçamos muito de nossa
vida sendo manipulados e arrastados pelos outros. O recusar-se a ser
controlado contra a própria vontade libera o poder para realizar aquilo que
você decida que é bom para si mesmo. A obediência é uma qualidade que é
ensinada para muitos de nós por nossos pais, pelas escolas e por todas as
instituições da nossa infância. Aprendemos a fazer os que os outros nos
mandam sem questionar. A obediência envolve aceitar mentiras, não fazer
perguntas óbvias, não dizer o que desejamos, não mostrar raiva, tristeza ou
algum outro sentimento, não exigir ou defender nossos direitos, sorrir

5
quando estamos tristes e, em termos gerais, concordar e não criar
problemas. (44)
Stanley Milgran escreveu Obedience to authority, um estudo famoso
que aborda o sério problema da obediência. Nessa experiência pessoas
comuns foram recrutadas para participar de um experimento de
“aprendizagem”. Neste o indivíduo deveria memorizar algumas palavras.
Você, o professor, deveria aplicar um choque se o treinando cometesse um
erro. Para cada erro deveria ser acionado o botão com choque mais intenso
de 15 volts até 450 volts – os botões possuíam legendas - choque intenso
(225 volts); choque de extrema intensidade (311 volts); Perigo, choque
severo (375 volts) e “XXX (450 volts)”. Na realidade o treinando era um
ator (o professor não tinha conhecimento disso) instruído previamente a
berrar e protestar quando submetido aos choques. A única pessoa que não
estava representando era o professor. À medida que o treinando cometia
erro após erro e o professor hesitava em aumentar a intensidade do
choque, o indivíduo que conduzia o experimento, dizia: “Por favor,
continue”. “A experiência exige que você continue”.
Provavelmente você está pensando que você e a maioria das pessoas
se recusariam a dar choques em alguém nestas circunstâncias. Porem, mais
ou menos uma em cada três pessoas que participaram da experiência
aplicou choques até alcançar 450 volts, mesmo quando o treinando parecia
inconsciente. E mesmo quando não eram eles a aplicar o “choque”, mas
apenas aplicavam o teste das palavras, enquanto outra pessoa assumia a
eletrocussão, nove em cada dez chegavam até os choques mais intensos.
Você deve estar dizendo: “Eu não!” Eu não posso afirmar isso com tamanha
convicção. A obediência à autoridade está profundamente arraigada em
nosso comportamento. É uma programação básica da qual poucos de nós
escapa, embora gostássemos de pensar que escapamos. (45)
A eficácia de combinar introdução gradual e sutil do abuso de poder
com a falta de opção, apoiada na violência, foi amplamente demonstrada na
Alemanha nazista, onde um país inteiro de pessoas civilizadas concordou
com o Holocausto. (45) Estamos tão habituados a pensar em obediência
como uma virtude, que a idéia de encorajar a desobediência poderá parecer
errada e perigosa. Porém, a desobediência civil é uma tradição honrada pelo
tempo e fez parte de todo movimento de mérito na nossa história. A
opressão é, com freqüência, apoiada pelas leis e pela tradição. O desejo de
mudar estas situações necessita do desejo de desobedecer. A desobediência
não é, necessariamente, uma característica rebelde e violenta, embora
possa ser e, muitas vezes, precisa ser. Refiro-me principalmente a
desobediência suave que provém do auto-respeito e do compromisso sólido
de ser um crítico carinhoso consigo mesmo e com os outros, que vem do
não endossar coisas com as quais não concorda e de perguntar “Por quê?”
inúmeras vezes, até satisfazer-se com as respostas. (46)

A Obediência e o Inimigo
O que causa esta diferença importante no caráter das pessoas, que
determina a aceitação do domínio ou seu desafio? Para responder a esta
questão será útil possui um conhecimento básico de Análise Transacional
(Eric Berne). Basicamente uma pessoa age de uma destas três formas: Pai
– a pessoas que diz aos outros o que é certo ou errado e o que fazer. O Pai
pode ser protetor ou crítico e desagradável. Adulto – a pessoa que pensa e
age racionalmente, sem emoção, de acordo com as leis da lógica. Criança –
a pessoa espontânea, irracional, emotiva e infantil. A função principal do
inimigo é a de Controlar as pessoas e é a fonte de todos os jogos de poder,
bem como dos abusos de poder a que somos submetidos. O Inimigo é o
estado de ego controlador na nossa personalidade que não controla apenas
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os outros, controla nós mesmos de forma similar. Autonomia, desobediência
e, em última análise, liberdade, dependem da liberação da influência do
Inimigo, externa ou internamente. Isso significa não usar o nosso Inimigo,
a nossa capacidade de Controlar contra nós mesmos, nem permitir que
outros a usem contra nós. (47)

Como Opera o Inimigo


O estado de ego inimigo funciona de duas formas no mundo. Externamente,
quando o utilizamos com os outros, ele se manifesta sob a forma de jogos
de poder. Internamente aparece como vozes na nossa cabeça. O Inimigo é
uma realidade na vida de todas as pessoas. Entretanto, a amplitude com
que opera varia muito de pessoa para pessoa. O Inimigo é um
representante dos outros que está dentro de nós e que deseja nos
controlar. Quando o inimigo nos diz o que fazer e o que não fazer, ele não
presta atenção em nós, mas assume o papel de um capanga, de opressor
que representa os desejos dos outros, que não considera os nossos
interesses de forma nenhuma. (48) O Inimigo pode atuar na forma de dores
e desconfortos físicos, de pesadelos ou calafrios de terror. A maioria de nós
tem consciência das vozes nas nossas cabeças, que dizem o que está
errado com a gente e como estamos fazendo as coisas de forma errada. Se
as pessoas nos dizem mentiras e queremos questionar as suas afirmações,
o Inimigo nos diz que não temos o direito de fazer perguntas, que somos
arrogantes e presunçosos. Se alguém tenta nos intimidar, o Inimigo tenta
nos convencer que fracassaremos se resistir. Em qualquer dos casos, seja
através de mensagens verbais claras, seja através de sentimentos vagos de
pavor e desespero, o Inimigo solapa nosso poder e nos torna submissos aos
abusos dos outros. (49) Qualquer que seja a forma assumida pelo Inimigo,
ele não poderá sobreviver se nós o desafiarmos. Ele age somente porque o
apoiamos e aceitamos como uma parte válida do nosso mundo. Para
derrotá-lo, precisamos reconhecer que ele é arbitrário, que nos foi legado
por outros, internalizado e aceito. Enquanto for aceito terá poder. É,
portanto, importante ter consciência da sua atuação em nós e os outros e
trabalhar ativamente contra ele. (49)

4. O Sentimento Subjetivo de Poder


O poder pode ser visto de dois modos: externamente, em termos de
quantidade de dinheiro, quantidade de força física, por exemplo, ou pode
estar relacionada a maneira como nos sentimos. Este sentimento subjetivo
de poder, o sentimento de ser belo, saudável, esperto e bom, tem muito a
ver com o quanto o indivíduo sente que é pessoalmente capaz de dirigir os
acontecimentos de sua vida. Um ricaço que não pode controlar a bebida
sente-se sem poder. (50) Permitir que nossos sentimentos de poder
dependam das posses materiais ocasionará a sensação de falta de poder,
uma vez que a quantidade de coisas que podemos obter é limitada. Quando
o sentimento de poder depende de coisas não materiais como o amor, a
sabedoria, ou a capacidade de comunicação, aí nossa necessidade de
constante expansão e crescimento poderão ser satisfeitos, pois estas
existem ilimitadamente. (52)

5. Compreendendo os Mitos do Poder


A força física é bem compreendida pelos cientistas. Pode ser medida
precisamente e computada até a fração de um erg., a unidade da força
física. Entretanto, o poder humano não é, nem de perto, tão claro. Sabemos
que algumas pessoas são mais poderosas que outras, mas as variáveis que
são responsáveis por estas diferenças não são facilmente compreensíveis.
Não podem ser medidas ou computadas. (56) No momento a compreensão
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do poder humano é puramente intuitiva. Alguns têm um excelente
entendimento deste, mas ninguém o compreende com base científica.
Ligado ao fato de que o poder não é claramente compreensível, existem
ainda vários mitos relacionados com o poder que têm influencia muito forte
sobre a maneira de pensar das pessoas. São três os mitos mais
importantes:

Mito 1: Todos temos poder igual – os indivíduos neste país acreditam na


eficácia do nosso sistema de governo em distribuir o poder, mais ou menos
equitativamente, entre seus cidadãos. É possível que haja grandes
desequilíbrios de poder em outros países, porém não no nosso. Porem
muito dos detalhes referentes ao desequilíbrio de poder está oculto. A elite
do poder existe. É um grupo de homens, a maioria constituída por políticos
não eleitos que, silenciosamente, afetam a nossa vida sem que o saibamos
e que, com toda a certeza, não são multados por excesso de velocidade,
embora se movimentem com muita rapidez. (58)
Caso: A empresa Lockheed recebeu um empréstimo de US$ 250
milhões através de um ato do Congresso Americano para salvá-la da
falência. Porem os jornais não dão ênfase ao fato de que a Lockheed
subornou funcionários estrangeiros no mundo inteiro. Somente no seu
relacionamento com militares japoneses foram gastos US$ 5 milhões.
Falsificando documentos e com auxílio da Força Aérea, cobrou US$ i bilhão
do governo em despesas falsas. Muitos homens de coragem tentaram dar o
alerta porem foram despedidos, ameaçados e desqualificados. (58) Seja
aqui ou no estrangeiro, seja em monarquia, democracia, emirados ou
países fascistas, os super-poderosos agem como se a delegação do poder
aos indivíduos fosse uma idéia tola, que não deve ser levada a sério, a não
ser em assuntos de pouca importância. Um exemplo de como os nossos
assuntos mais importantes são conduzidos, sem nossa opinião ou
consentimento, mas em nosso contínuo prejuízo, foi a Guerra do Vietnã. A
maior parte das coisas que aconteceram durante este período foi sonegada
do povo americano.

Mito 2: Não possuímos poder – No decorre de um dia corriqueiro surgem


muitas frustrações e obstáculos que, como cidadãos particulares e isolados,
nos fazem sentir sem poder. Nestas ocasiões tendemos a nos culpar e crer
que não temos valor porque abandonamos os estudos, porque somos
burros, porque não temos força de vontade e porque não trabalhamos o
bastante. Quando nos sentimos por baixo, nossa tendência é decidir que
não temos nenhum poder, que tudo está contra nós e que a situação não
tem remédio. (61) O sentimento de desesperança é familiar para os pobres
e os povos do Terceiro Mundo que vivem em cortiços e guetos. Sua
experiência de desesperança é constante, esmagadora, aparentemente sem
solução e, na maioria das vezes, esta sensação é justificável. Porém, um
sentimento semelhante pode ser encontrado em todos os níveis da
sociedade, sob a forma de fatalismo e niilismo; é aquela crença
profundamente enraizada de que nada pode ser feito para mudar as coisas
e que as coisas acontecerão, independente do que fizemos. (62) Afirma-se
que as pessoas podem ser poderosas, a verdade, entretanto, é que uma
pessoa sozinha, que atingiu um certo grau de desespero, não pode
desvencilhar-se por si só do buraco em que se encontra. Uma mistura de
energia precisará vir de fora. A verdade é que falta de poder e isolamento
andam juntos. (62) O mais importante antídoto para a falta de poder é a
ação coletiva. O mito da falta de poder sobreviverá enquanto as pessoas
não se organizarem para a tomada do poder. (63)

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Mito 3: Somos tão poderosos quanto desejamos – Ao lado do mito de falta
de poder há um outro mito, que afirma que nossa vida é exatamente aquilo
que desejamos que seja. Se, realmente, queremos ser bem-sucedidos
seremos, e se conseguimos ou não, isso depende totalmente de nós. Somos
os únicos a controlar o nosso destino. Em resumo criamos a nossa própria
realidade. As condições de abundância que alguns poucos tiveram
capacidade de explorar com facilidade em seu próprio benefício, criaram a
ilusão de que, para a maioria, o sucesso e a felicidade eram apenas uma
questão de querer trabalhar arduamente. O fato é que a maioria não
conseguirá! (63) Muitas livros de sucesso difundem a idéia de que as
pessoas são completamente responsáveis por si mesmas. Esta idéia, que
ganhou a aceitação geral, tem, na verdade, uma base válida: a busca da
felicidade é uma tarefa realista e uma grande parte depende de nossas
atitudes e ações. Quando este ponto de vista é distorcido numa crença
insensata em nosso poder absoluto de controlar nosso próprio destino,
então poderá ser justificadamente considerado como tendo se transformado
numa noção idiota. A palavra “idiota” vem do grego idiotes, que significa
uma pessoa que está sozinha – esta noção de idiota com o mito do poder
do indivíduo. (63)
Ao ser guiado por este mito as pessoas bem-sucedidas concluem que
seu sentimento subjetivo de poder corresponderá a uma real capacidade de
ser poderoso. Quando não conseguem o que desejam se sentem
fracassados. A realidade é que sucesso ou fracasso nesta vida depende de
mais coisas do que nós, em nossa ilusão solitária, fazemos ou pensamos. O
sentimento de poder poderá basear-se na realidade ou poderá ser,
simplesmente, uma condição subjetiva. Mesmo sendo subjetivo poderá não
ser ilusório em sua totalidade. O poder subjetivo é um estimulante ou
catalisador eficaz para o desenvolvimento do poder real e objetivo. Mas
apoiar-se neste sentimento como uma fonte de poder confirmado no mundo
é um erro que leva à falta de poder. Quando toda uma população aceita
este mito, ela se coloca na mão daqueles que lucram com a nossa
impotência. (64)
Por que é este mito tão atraente? Quando tememos não ter
capacidade para lidar com a vida, isto nos ajuda a pensar que através de
um esforço de vontade poderíamos, sozinhos, alterar tudo a nosso favor e
melhorar nossas vidas. Dá-nos esperança quando nos sentimos
desamparados. Mas a esperança é uma centelha, como o estopim de uma
banana de dinamite. Sozinho poderá muito pouco para mover montanhas,
senão contar com algo que faça a real movimentação. Apoiar-se naquela
centelha ilusória para dar força À vida será um erro. A verdade é que não
somos nem completamente sem poder, nem completamente capazes de
criar nossa própria realidade. A realidade está em algum lugar no meio do
caminho. Nosso poder depende em parte do que fazemos e, em parte, do
que os outros fazem em resposta a isso. Nem o mito de falta de poder nem
o mito do poder absoluto fazem sentido no mundo real. (64 e 65)

II OS JOGOS DE PODER DAS PESSOAS


6. Tudo ou Nada
O instrumento fundamental do Controle é o jogo de poder. Jogos de poder
são aquelas manobras que utilizamos para conseguir, uns dos outros, o que
desejamos. Utilizamos os jogos de poder em vez de pedir o que queremos,
por não acreditar que uma abordagem direta traria os resultados esperados.
Usamos os jogos de poder para obter coisas que pensamos serem difíceis
de conseguir. Existem várias famílias de jogos de poder, “tudo ou nada” é a
primeira. (69)

9
A lei da Oferta e da Procura afirma que o valor de uma coisa está
relacionado não só com a necessidade das pessoas, mas também com sua
relativa escassez. “Tudo ou nada” baseia sua eficácia na criação de
carências. Criando uma escassez artificial de algo que as pessoas desejam,
o proprietário terá possibilidade de maior lucro.

A economia de carícias – as mesmas leis que se aplicam às mercadorias


como água, alimentos e matérias-primas podem ser aplicadas também a
certas necessidades psicológicas. As carícias constituem a tal mercadoria
transformada em necessidade devido à escassez artificial. Exceto por
limitações de tempo, o suprimento de carícias poderia ser virtualmente
ilimitado. Entretanto as carícias apresentam grande escassez, porque uma
economia artificial foi imposta a elas, reduzindo sua circulação e
disponibilidade. Por causa das regras de economia de carícias, esta se
tornou escassa e, em virtude desta escassez artificial, as pessoas estão
dispostas a trabalhar longas horas, pagar dinheiro e fazer sacrifícios para
obter carícias tão necessárias. (70)
Da mesma forma como conseguir carícias, “estar certo” – conseguir
as coisas de seu jeito – são necessidades comuns entre as pessoas. Com
freqüência, não é importante estar certo ou conseguir as coisas de seu
jeito. O que parece importar é que o nosso jeito prevaleça, seja legitimado,
acertado. A necessidade de “estar certo” é fonte de muitos jogos de poder e
é o melhor exemplo de escassez artificial, uma vez que ninguém está, na
realidade, completamente certo ou errado. Todos estão certos e todos estão
errados e qualquer ponto de vista que poderá estar parcialmente correto ou
incorreto, aqui e agora, tem probabilidade de ser considerado menos (ou
mais) correto em outro momento. Manter o próprio prestígio é um aspecto
da necessidade de estar certo e as pessoas farão tudo para não admitir que
estão erradas. Nos últimos anos da Guerra do Vietnã a luta prosseguiu num
esforço de salvar a dignidade nacional, uma vez que a opinião da maioria
era que a guerra não tinha sentido e não poderia ser ganha. (71)

A avidez – competitividade e avidez estão, frequentemente, interligadas. Os


que agem de maneira competitiva estão, em geral, tentando apenas ser
iguais aos outros e não ficar para trás, não possuir menos que os outros.1 A
avidez é uma complicação da competição, pois envolve o acúmulo de mais
do que é necessário e mais do que os outros possuem. Sua intenção não é
necessariamente obter mais do que necessita – ficar com excedente – mas,
em função de seu medo da escassez e tentando assegurar que terá o
suficiente, acaba se servindo de muito mais do que poderá “comer”. Em
contrapartida, uma pessoa que está segura de ter o suficiente poderá
servir-se moderadamente. O mundo está cheio de pessoas ávidas, algumas
têm muito, outras pouco. A forma mais institucional de avidez é
manifestada por algumas empresas com fins lucrativos.
O “tudo ou nada” pode assumir diversas formas, dependendo de
quem joga e por qual das mercadorias escassas. As crianças e alguns
adultos jogam “Vou Levar Minha Bola de Gude” esperando fazer o que
querem ao retirar os brinquedos tão desejados. O “Mal Humor Incrível” é
outra versão do “Tudo ou Nada”, na qual o mal-humorado retira as carícias
para conseguir o que deseja. Nos relacionamentos entre casais, “Tudo ou
Nada” é jogado muitas vezes, sob a forma de “Entre ou Saia”, “Ame-me ou
Deixe-me” para alguém que exige o compromisso de outro. (75 e 76)

1
Relação com os privilégios que excluem a maior parte das pessoas.

10
Antítese – todo jogo de poder tem uma antítese, isto é, um procedimento
tático que pode ser usado para neutralizá-lo. Existe uma diferença entre
desarmar um jogo de poder e esmagá-lo com um outro, mais poderoso. A
antítese não significa uma escalada de manobras de poder, e sim a
neutralização de uma tentativa de controle. A antítese eficaz para o “Tudo
ou Nada” baseia-se na capacidade e na vontade de desistir da mercadoria
que está sendo tornada escassa. “Eu gosto de seu futebol, segurança,
amor, emprego, salário, mas eu não preciso disso tanto assim” é a maneira
mais bem sucedida de parar o jogo de poder “Tudo ou Nada”. Quando o
“Tudo ou Nada” transforma-se em “Tudo ou Morte”, como na Alemanha de
Hitler, onde o não aceitar tudo significava prisão quase certa ou morte
provável, a antítese torna-se mais difícil. (78)

7. Intimidação
Antes de investigar esta nova família de jogos de poder vamos definir com
mais precisão o jogo de poder do controle – é uma transação ou uma série
de transações conscientes, através das quais uma pessoa procura controlar
o comportamento de outra.
1. Todos os jogos de poder são transações ou séries de transações. A
transação é definida como a unidade do relacionamento social. Toda
transação consiste em um estímulo e uma resposta. O estímulo do jogo de
poder é chamado de jogada de poder e é uma tentativa da pessoa de
exercer o controle da situação. A resposta a jogada de poder poderá ser: a)
anuência , b) contra-jogada, c) antítese ou d) resposta cooperativa. A
anuência e a contra-jogada são respostas competitivas que reforçam a
forma de transacionar de controle-poder. A anuência é uma resposta
submissa que completa o jogo deixando que este tenha sucesso. A contra-
jogada é a resposta da escalada dominante de superioridade e um estímulo
a segunda jogada de jogadas. A antítese é uma resposta de autodefesa
que, apesar de não competitiva, permanece na categoria de Controle (o
jogador é visto como um antagonista). A resposta Cooperativa passa da
categoria de Controle para a Cooperativa, não é uma manobra defensiva de
ofensiva. Veja o seguinte caso: (83)

Proprietário (jogada de poder): “Você me deve dois meses de aluguel.


Se não pagar será despejado.”
Locatário responde (anuência): “Vou buscar meu talão de cheques.”
Locatário responde (escalada): “Se me despejar não pago nada mesmo.”
Locatário responde (antítese): “Não estou preocupado com o despejo.
Terei o dinheiro na próxima segunda-feira.”
Locatário responde (cooperativo) “Não há necessidade de falar em
despejo. Quero pagar o aluguel, mas no momento não tenho dinheiro.
Pode esperar até segunda-feira?”

2. Um jogo de poder é uma transação consciente – as manobras que


utilizamos para coagir os outros a fazerem o que de outra forma não fariam
são conscientes de nossa parte. Às vezes estamos tão habituados a
conseguir o que desejamos através de jogos que deixamos de prestar
atenção ao nosso comportamento. Enfatizo a intenção consciente de uma
pessoa na definição de jogos de poder, porque em muitos casos não é
possível dizer se o estímulo transacional é uma jogada de poder logo à
primeira vista. Considere o seguinte exemplo:
Jack: “Vamos ao cinema”.
Jill: “Prefiro ir dançar”.
Jack: “Bem, quero ir ao cinema. Talvez devesse ir sozinho.”
A não ser que se saiba qual a intenção da última frase de Jack, fica-se sem
saber se é o início de um jogo de poder. (84) Uma jogada de poder é um
11
ato consciente e precisa ser diferenciado de um ato que parece ser uma
jogada de poder, mas na realidade não é, porque não tem a intenção de
controlar.

3. Um jogo de poder é uma tentativa de uma pessoa controlar a outra –


no exemplo acima se Jack sabe que Jill tem medo de ficar sozinha em casa,
e ele espera que seu temor a leve a mudar de idéia. Ele estará tentando
controlar o comportamento dela, o que é uma jogada de poder. (85)

4. Os jogos de poder podem ser abertos ou sutis, físicos ou psicológicos


– um jogo aberto é uma transação ou uma série de transações, nas quais
uma pessoa tenta controlar a outra sem esforçar-se para camuflar o
propósito da jogada de poder. Num jogo sutil o propósito é camuflado. Os
jogos de poder físico empregam meios físicos para a sua eficácia, enquanto
os psicológicos dependem do uso de meios psicológicos para atingir seu
propósito. (86)

Voltando a Intimidação, como o “Tudo ou Nada”, a intimidação na sua


forma mais grosseira floresce do medo das pessoas. No aspecto sutil
explora a culpa dos outros. Orgulhamo-nos de ser seres humanos
civilizados e, em situações normais, não tentaríamos alcançar os nossos
propósitos ameaçando os outros com violência. Entretanto o verniz da
civilização é muito tênue. Poucos de nós hesitariam em explorar o temor
dos outros para conseguir o desejado. (87)
Metáforas – o uso de metáforas, como jogo de poder constitui a
forma mais sutil de intimidação verbal. Por exemplo, Sally é uma
adolescente que tem paixão por Burt. O pai de Sally não gosta de Burt. Diz
ele: “O Burt é um cara legal mas ele me lembra um pano de prato molhado.
Ele não tem fibra”. Os slogans políticos utilizam com freqüência a metáfora
para enviar uma mensagem sutil, sem ter de responsabilizar-se por ela:
“Direita à Vida” (para os fetos esqueça os direitos das mães); “Direito ao
Trabalho” (e explore os trabalhadores). A antítese da metáfora é
relativamente simples, basta ressaltar a sua impropriedade, o que é uma
forte elegante e eficaz de lidar com a questão. (89)
A Paridade do Poder – Seja escalada, antítese, ou resposta
cooperativa, o jogo de poder não poderá ser estancado sem a aplicação de
igual poder para contrabalançá-lo.
Resposta Cooperativa e Solução Criativa – A resposta cooperativa a
qualquer jogo é uma oportunidade para o exercício da criatividade. O
jogador de poder geralmente apresenta à vítima do jogo de poder uma
alternativa do tipo isto ou aquilo. É o resultado de uma tendência, por parte
das pessoas competitivas e controladoras, de ver o mundo em termos de
categorias mutuamente exclusivas. Ganhar ou perder, ou um ou outro,
branco ou preto. O mundo visto pelo jogador de poder é bidimensional, sem
nada no meio. A imposição de dicotomias tão estreitas em relação à
realidade é característica do mundo de Controle e violenta um mundo que é
multidimensional, multifacetado e multicolorido. (93) As soluções criativas
são alcançadas através da negociação. Cada um solicita o que deseja e
considerando-se as necessidades e os desejos das pessoas, mas todos os
fatos claramente apresentados, torna-se possível recompor a situação à
maneira de um quebra-cabeça. As peças nem sempre se ajustam
perfeitamente, mas, maioria dos casos, podem ser arranjadas de tal forma
que a figura obtida seja satisfatória e harmônica. (96)

INTIMIDAÇÃO ATRAVÉS DA CONVERSA

12
Inibidores de pensamento – Frequentemente a intimidação ocorre durante
conversas, sob a forma de interrupção, rapidez de discurso, vozes elevadas,
tom de voz entrecortado, gesticulação, berros, utilização de palavras
pesadas ou insultos. Todos estes jogos de poder, isolados ou em conjunto,
podem ser utilizados para controlar as conversas e seus resultados e
funcionam por perturbar o pensamento da vítima.
Antítese: a antítese será cortar o jogo de poder pela raiz: primeiro,
surpreender o jogo na medida em que está sendo aplicado; segundo, voltar
à conversa sem perder o fio da meada. Por exemplo: “Você me
interrompeu. Deixe-me terminar, por favor. Bem, onde é que eu estava?
Ah, sim...”; “Por favor, não levante a voz. Posso ouvir perfeitamente bem.”;
“A sua forma de falar põe-me tenso. Você está nervoso? Acalme-se, por
favor, não há necessidade de enfatizar tanto aquilo que diz. Estou
entendendo.” (96)

Você deve estar brincando – Este é um jogo de poder eficaz e provocador


de culpa. A jogada de poder consiste em dissimular uma descrença
chocante com algo que uma pessoa está fazendo. Antítese: A antítese de
“você deve estar brincando” é dizer simplesmente: “Sim, acredito nisso”.
(97)

Se você não pode provar, não pode fazer - Forma de refutar ordenada,
embora ilógica, do argumento, seguida pelo “portanto” que antecede a
conclusão falsa. Em virtude da abordagem ordenada e da linguagem lógica,
isso soa como um argumento válido que refuta a posição de outra pessoa.
O argumento é semelhante àqueles que aprendemos no colegial: “A é maior
do que B, B é maior do que C, por isso A é maior do que C”. O emprego da
palavra “portanto” ou “assim” da a impressão de que a pessoa está
envolvida num argumento de lógica estrita. Antítese: A refutação da lógica
envolvida ou a recusa em provar a validade das suas preferências, crenças
ou ações. Por exemplo: “Errado! O que você está dizendo não tem lógica,
portanto a sua conclusão é incorreta.” (99)

Fontes de descrédito – A anulação do ponto de vista da outra pessoa


através do descrédito das premissas, nas quais o ponto de vista está
baseado. Por exemplo: “Acho que você anda lendo demais sobre esta droga
de conservacionismo.” (tentativa de desacreditar as fontes das premissas
adotadas pela esposa para dar menos açúcar aos filhos) Antítese: Todas as
fontes podem ser desacreditadas. Os cientistas trapaceiam em suas
investigações. As empresas e os anunciantes mentem. As fontes confiáveis
são uma questão de preferência. Portanto, a antítese para este jogo é
ressaltar o direito a acreditar, independentemente do que os outros
pensam. Por exemplo: “Bem, você tem o direito de ter sua opinião, mas
creio que o açúcar é prejudicial à saúde e concordo com as pessoas que
querem fazer algo a respeito.”. (100)

8. Mentiras
As Mentiras são uma terceira família de jogos de poder. Exploram a
credulidade e o medo de confrontação das pessoas. A maioria das pessoas é
extremamente suscetível a mentiras, porque, como forma de rotina
cotidiana, fomos submetidos intensamente às mentiras, desde os nossos
primeiros dias de vida. Uma das maneiras mais eficazes de controlar os
outros é mentindo e uma das primeiras suposições que fazemos, quando
nos sentimos superiores aos outros, é que não precisamos contar-lhes a
verdade. Em geral, a justificativa é que os que desejamos controlar não são
suficientemente maduros ou inteligentes para compreender as coisas, como
13
elas realmente são. Estas justificativas para as mentiras são usadas pelos
políticos em relação aos eleitores, pelos executivos em relação aos
trabalhadores, pelos ricos em relação aos seus empregados e,
naturalmente, pelos pais em relação aos seus filhos. Por causa da mentira
difusa À nossa volta, assumimos isso como um fato mais ou menos
consumado em nossas vidas. Somente em relacionamentos muitos
especiais é que sentimos a necessidade de nos preocuparmos em ser fiéis a
verdade. (103) Antítese: A antítese para a mentira traz dificuldades.
Ninguém gosta de dizer que o outro é mentiroso. É mais fácil simplesmente
esquecer a questão. É mais confortador acreditar e assim submetemo-nos,
em nome da harmonia e da simplificação. Portanto, a melhor antítese será
fazer perguntas e verificar respostas. Às vezes uma série de perguntas
tornarão claras as mentiras. (107) Perguntar não é fácil, pois envolve falta
de confiança e isso dá ao mentiroso uma desculpa para uma indignação
justificada. No entanto, é possível formular perguntas de uma forma
relativamente inofensiva. Por exemplo:
“Espero que não se incomode, mas gostaria de fazer-lhe algumas
perguntas”.
“O que há, você não confia em mim?”
“Só quero fazer algumas perguntas. Você se importa de responder”.
“Está me chamando de mentiroso?”
“Não, só estou procurando saber por que ‘tal coisa’ foi feita”.
É altamente improvável que o mentiroso admita uma mentira. Ao contrário
da maioria das antíteses, que em geral conseguem estacar o jogo de poder,
a antítese das mentiras tende a aumentar sua intensidade. Pode-se esperar
que o mentiroso passe de uma mentira para a outra, para evitar a verdade.
No fim, a pessoa que suspeita da mentira terá que decidir por si mesma
quais foram os fatos. Embora a antítese não pare a mentira, evitará a
manipulação. (108)

9. Jogos de Poder Passivos


Até agora, todos os jogos de poder descritos foram utilizados de forma
agressiva, isto é, por pessoas que tentam, ofensivamente, obter o que
desejam. Existe, entretanto, todo um conjunto de jogos de poder que são
defensivos e que atingem sua metas passivamente.

Fingimento – O “fingimento” apóia-se na recusa em reconhecer as


expectativas dos outros. Se você quer que eu faça algo e eu não desejo
fazê-lo, poderei usar várias alternativas para dissuadi-lo de seu intento.
Poderei, simplesmente, recusar-me a tomar conhecimento de seu pedido. O
“Fingimento” pode assumir várias versões. Não ouvir, ler o jornal, fazer algo
enquanto está falando são bons exemplos. Uma forma de “Fingimento” é
esquecer ou não ouvir e, assim frustrar as expectativas dos outros
dissimulando ignora-las ou mesmo não as entendendo. Antítese: É fazer de
conta que está lidando com uma criança “retardada” e, pacientemente,
chamar a sua atenção para o assunto em pauta, assegurando que o
indivíduo esteja atento. “Por favor, pare de ler o jornal e ouça o que estou
dizendo”. “Você entendeu o que eu disse?” (114)

Você me deve – Esse é o jogo de poder passivo que se baseia na exploração


do senso de obrigação do outro. Os que usam essa manobra estão muito
sintonizados nas culpas dos outros. Os que fazer jogos de poder de culpa
criarão um clima ao fazer uma série de coisas para a vítima, todas elas com
o objetivo de criar um senso de obrigação que, depois, será cobrado.
Mulheres que necessitam de segurança de um homem prepararão o
caminho criando quantidades suficientes de culpa ao mostrarem-se
14
carinhosas, dóceis e protetoras. Se ele aceitar essas dádivas dela, poderá
sentir, depois de algum tempo, que não corresponder através de um
compromisso seria traição. Se a sua culpa puder ser fisgada, ele poderá
casar-se, iniciar uma família e sustentar sua esposa e eventuais filhos para
o resto da vida, baseado apenas na culpa. (116) Inversamente os homens
usarão o mesmo subterfúgio com as mulheres para obter o que desejam –
proteção, calor, amor e sexo – gastando muito dinheiro em viagens,
refeições e divertimentos, com o propósito expresso de criar um sentimento
de dívida e culpa. Quando ambos se engajam nestas manobras para criar
culpa terminam irremediavelmente emaranhados numa rede de obrigações
sustentadas pela culpa.
Outra forma de poder do tipo “Você me deve” tem haver com
direitos. Supostamente todos nascem iguais, entretanto nossa tradição
histórica é de que alguns são mais iguais do que outros. Alguns supõem ou
recebem mais direitos do que outros. Não faz muito tempo os direitos dados
por Deus eram adotados pelos progenitores em relação aos filhos, pelos
brancos em relação aos povos de cor, pelos homens em relação às
mulheres, pelos ricos em relação aos pobres, pelos “instruídos” em relação
às “massas”. Não é de todo em incomum que pobres ainda estejam
dispostos a desistir de seus direitos, com base na culpa. Um exemplo é a
culpa que sentem as pessoas desempregadas de receberem dinheiro dos
serviços de assistência social. (116 e 117)
Muitos recusam-se a aceitar seu legítimo direito com orgulho.
Orgulho e culpa são dois lados da moeda com a qual são premiados pela
submissão aos direitos concedidos por Deus. Da mesma forma,
empregadores gostariam de dar aos seus empregados a impressão de que
deveriam ser recompensados por proporcionarem empregos. Assim poderão
justificar a expectativa de receberem de seus empregados uma produção
que é superior ao salário pago. Fundamentalmente, esse é o orgulho da
obediência, de ser um bom súdito, um bom filho, um bom “negro”, uma boa
mulher ou um bom homem. “Dou-lhe emprego e você me deve trabalho
duro”. “Você deve a sua vida à sua pátria”. Direitos divinos, parentais e de
família são usados prodigamente, mesmo nos tempos atuais, para
conseguir dos outros o que desejamos. (117)
A questão, entretanto, não é se tornar insensível aos desejos ou
necessidades dos outros. Precisamos, apenas, saber o que desejamos fazer
e para quem. A culpa não é um bom indicador de quais são as nossas
obrigações. O senso de responsabilidade, baseado em diretrizes morais
claras, é um quadro de referência mais adequado para as decisões do que
os sentimento de culpa. Este poderá ser facilmente estimulado pelos jogos
de poder egoístas das outras pessoas.
A antítese para “Você me deve” será, então, dizer: “Não lhe devo
nada, a não ser que tivesse feito um acordo justo que você tivesse
cumprido e eu não. Não tenho obrigação com você. Farei as coisas por
opção e não por obrigação. Por isso, não morrerei pela minha pátria, não
farei o jantar, não ficarei satisfeito com esse emprego ou não calarei a boca
a não ser que queira fazê-lo”. (117)

10. A Pessoa Controladora


Pessoas que se envolvem de forma singular em jogos de poder de Controle
dominam, com freqüência, o seu meio ambiente através de aspectos físicos
próprios; movimentação e tom de voz. Mas, com igual freqüência, sua
dominação é mais sutil. Pode ser percebida apenas pela energia opressiva
sutil transmitida por sua linguagem. Nossa cultura confere altas
compensações para tais pessoas em forma de sucesso, dinheiro e poder.
Por outro lado, o estilo de vida destas pessoas pesa sobre elas, do ponto de
15
vista físico e emocional, isolando-as dos outros. Um efeito dessa excessiva
produção de energia de Controle é que o indivíduo ficará desgastado e
exausto rapidamente, tornando-se suscetíveis a esgotamento físico,
doenças e morte prematura. O uso excessivo desse tipo de poder,
entretanto, é muito prejudicial também para os outros. A terra é,
particularmente, uma vítima do comportamento de Controle das pessoas
que utilizam suas tendências para Controlar cada aspecto da biomassa:
represar rios, derrubar florestas, extrair água subterrânea até a última
gota, poluir a atmosfera e a superfície da terra. Quando o controle se torna
uma obsessão única, poderá ser muito nocivo. Convém enfatizar que
utilizado com consciência, poderá ser uma fonte válida de poder, que nos
permite lidar eficazmente com nosso meio ambiente. (120)

11. Como não der Controlado


A consciência que as pessoas têm a respeito do uso do poder varia muito e
pode ser dividida, de forma prática em quatro níveis: i) posso ver um jogo
de poder a milhas de distancia. Estou razoavelmente consciente e posso ver
os jogos das pessoas em auto-relevo, na medida em que são empregados
para fazer com que eu e os outros façam coisas que não desejam. Também
estou mais consciente do meu próprio uso de jogos de poder, embora seja
mais fácil vê-los nos outros do que verificá-los e admiti-los em mim próprio.
ii) outros, apesar de não terem uma clara consciência do que seja um jogo
de poder e de como funciona, têm, no entanto, a capacidade de perceber
quanto estão sendo manipulados e reagem com um endurecimento reflexo,
com reações defensivas, com resistências silenciosas, que poderão ser
muito eficazes para rechaçar o jogo de poder. iii) alguns, entretanto, não
percebem de imediato que estão sendo envolvidos num jogo de poder e
tomam consciência que o foram horas ou dias mais tarde. Agora é tarde
para mudar as coisas. iv) finalmente, alguns submetem-se àquilo que
deseja deles, jamais tomando consciência de que estão sendo manipulados,
embora o efeito cumulativo desta submissão repetida aos jogos de poder
dos outros acaba causando-lhes um sentir-se mal, sem ter a menor idéia do
porquê. (124)
Além desses quatro níveis de consciência de estar sendo controlado
pelos outros, existem quatro níveis em relação ao controle exercido sobre
os outros. I) os manipuladores conscientes, ii) um grupo de poder instintivo
e semiconsciente, não necessariamente deliberado. iii) os inocentes não
têm habilidades de jogo e não parecem particularmente conscientes. iv)
rejeita o uso de jogos de poder devido a sua decisão consciente, baseada na
crença de que é melhor cooperar do que competir e fazer jogos de poder
para conseguir o que deseja. Sabe da existência dos jogos, como usá-los,
como interrompê-los e como responder cooperativamente. (125)
Estes quatro tipos de jogadores conscientes acima indicados – muitas
vezes encontram-se e interagem. O que acontece é o seguinte: i) exaltado
contra exaltado (gritaria), ii) exaltado contra inocente (domínio), inocente
contra inocente (harmonia) e manipulador consciente contra cooperador
(luta).

Desvie a Manobra – quando alguém é vítima de um jogo de poder, uma das


tendências mais fortes é retaliar com um jogo de poder mais forte
(escalada) ou ceder (submissão). A resposta cooperativa paira entre os dois
extremos. Antes de mais nada, o impacto do jogo de poder deve ser
desviado. Muito freqüentemente quando o jogo de poder é sutil, basta
apenas não responder. Por outro lado, se o jogo de poder envolver
manobras do tipo falar rápido ou interrupção, ficar quieto não é suficiente
porque isso será interpretado como concordância. Este último exemplo é
16
uma grande oportunidade para usar o Cessador Universal de Jogos de
Poder. Este artifício funciona bem em quase todas as situações que exigem
o desvio de um jogo de poder. O nome desta armadilha é UM (um
momento). UM interromperá o fluxo do jogo de poder – é um breque de
controle, uma sentença que pode ser usada em quase todas as situações
nas quais você sente que algo não esta certo o que você está prestes a
fazer algo que não quer. UM pode ser dito delicadamente: “Desculpe-me,
gostaria de pensar um minuto antes de decidir”, ou bruscamente: “Puta que
o pariu!” – dependendo da energia de manipulação que esta sendo tentada
(alguém está com as mãos ao redor de seu pescoço).

Escolha uma estratégia criativa – tendo desviado o jogo de poder e


interrompido o fluxo de energia controladora, existe, agora, tempo e espaço
para refletir sobre a situação. Se nada se esclarece no primeiro momento,
pode-se pedir um minuto, uma tarde ou até um dia antes de agir. Esta é
uma hora boa para conversar com outras pessoas, ler alguns livros, dormir
sobre o assunto, enfim, utilizar informações sobre o assunto. (129) Você
ficará surpreso quando digo que às vezes poderá parecer que você é a única
pessoa a querer parar um jogo de poder, desistir do Controle e viver de
uma forma cooperativa. Deixar as coisas correrem parece um recuo sério.
Na verdade, não é assim. O desejo de trabalhar em conjunto, de partilhar,
de cuidar um do outro e de cooperar é profundo nas pessoas. (129)

III RENUNCIANDO AO CONTROLE


12. Liberando
Dei-lhes uma idéia de como funciona o Controle e que fazer para evitar que
as pessoas o controlem. Tudo isso é bom. Talvez você tenha achado um
pouco mais difícil aceitar que vale a pena não reagir a jogos de poder com
outros jogos de poder. Entretanto, vamos partir do pressuposto que você
aceitou a dignidade de uma autodefesa, em vez da atitude de retaliação.
Ainda assim, poderá ser difícil aceitar a validade, sabedoria e valor prático
de querer encontrar uma solução cooperativa com essa pessoa. Mas, como
se isso não bastasse, vou sugerir que sabemos como evitar que os outros
nos controlem, que podemos e devemos, ao mesmo tempo, desistir de
controlar os outros. Desistir do Controle e preencher o vácuo de poder
criado é o tema desta parte. (133)
Estou simplesmente planejando acabar com séculos de tradição – um
sistema que rege o mundo “civilizado”- substituindo-a por idéias vagamente
definidas, que soam, de início, como uma grande confusão. Afinal, estamos
falando em rebelião contra a obediência, hierarquias, respeito pela
autoridade. Estou pedindo muito, mas também estou prometendo muito.
Prometo-lhe a paz de espírito e satisfação que advém do conhecimento de
que você está sendo uma pessoa boa e justa da melhor maneira que é
possível. Estou prometendo-lhe a experiência que vem com o fato de ser
um indivíduo poderoso, vivendo em harmonia consigo próprio e com os
outros, como também com o seu meio ambiente. A forma como o Controle
toma conta de nossa vida afeta muitas facetas do nosso comportamento. A
maneira como usamos o nosso corpo, como fazemos amor, como ratamos
as outras pessoas que têm menos poder do que nós, a maneira como nos
sentimos em relação às mulheres, se formos homens, em relação às
crianças, se formos adultos, em relação aos velhos, se formos jovens, em
relação as pessoas de cor, se formos brancos, em relação aos pobres, se
formos ricos, em relação aos homossexuais, se formos heterossexuais, tudo
isso é influenciado pelo poder do Controle e necessita de um exame
minucioso e de possível mudança. (134)

17
Comportamento em conversa – Uma outra forma importante de
controlar os outros é através do comportamento em conversa. A verdadeira
finalidade de uma conversa é, presumivelmente, uma troca de pontos de
vista. Podemos discordar, trabalhar para acordo ou concordar. Muitas
vezes, entretanto, as conversas não têm nada deste propósito e são, na
verdade, tentativas de controlar os outros através das nossas palavras.
Nestas circunstancias se temos pontos de vista diferentes nossa conversa
pode se transformar em um campo de batalha pelo controle do
pensamento. A interrupção é um jogo de poder básico na conversação.
Interrompemos quando (a) pensamos saber o que o outra vai dizer, (b) não
gostamos do que o outro está dizendo, (c) não podemos esperar para expor
o nosso ponto de vista. (141)

Controle no Trabalho – O mundo do trabalho é organizado


tradicionalmente de forma hierárquica. São enfatizadas as diferenças de
poder e encorajados os jogos de poder. Desistir do Controle em situações
de emprego deve parecer estranho para a pessoa média que pressupõe,
simplesmente, que o local de trabalho é, por obrigação, um lugar de
desigualdades. As pessoas partem, também, do pressuposto de que o
trabalho é um sofrimento desagradável e sem alegria. A razão principal de
odiarmos o nosso trabalho é a nossa falta de poder. Dar poder ao
funcionário, no seu local de trabalho, é uma meta viável. Isso é difícil
quando negócio depende da exploração do trabalhador para conseguir
lucro. Os empregadores acreditam que a sobrevivência num mundo de
negócios competitivo depende da obtenção da maior produtividade possível
do trabalhador e isso só pode ser conseguido através de técnicas de
controle e de jogos de poder. (162)

13. Como Compreender o Vácuo do Controle


Ao interessar-me por este tópico, tomei consciência da ferramenta principal
de abuso de poder entre os seres humanos, o jogo de poder. Ficou claro
que toda a injustiça humana poderia ser facilmente analisada em termos de
seqüências transacionais, que eu chamo de jogo de poder. O sexismo foi
uma das áreas na qual a injustiça tornou-se muito clara para mim. Via
como eu próprio participava de todas as jogadas de desqualificação. Percebi
que eu incomodava, não apenas as mulheres, mas que era membro de
vários outros subgrupos opressivos. Como uma pessoa de meia-idade,
abusava de meu poder com crianças e velhos. Era racista, injusto com os
gordos e baixinhos. Vi que se poderoso é uma coisa e como se usa o poder
é outra. Percebi, pela primeira vez, em função das premências dos outros,
que era um homem privilegiado, mais privilegiado por ser branco e
instruído. V que todo o poder que eu possuía em virtude destes privilégios
criava uma responsabilidade. E eu não estava agindo responsavelmente.
Compreendi que meus esforços de autojustificação eram inúteis. O abuso
de poder estava por todo lado. Ninguém estava livre do abuso de poder,
nenhum homem ou mulher. A questão não era provar que era inocente do
sexismo, mas sim entendê-lo, encontrá-lo em mim e nos outros e lutar
contra ele. Era um trabalho de toda uma vida para mim e para todos que
sentiam desta forma. (164)
Minha primeira tendência foi de abandonar completamente o poder,
desistir de riquezas e isolar-me no esquecimento. Descobri, porém, que ser
poderoso e abusar do poder não é a mesma coisa. Ser poderoso é bom,
abusar do poder e mau. Para minha grande surpresa, eu poderia ganhar ao
abdicar de meus abusos de poder, tanto no meu trabalho como nas minhas
relações amorosas e com amigos, estranhos e até com meus inimigos.
(166)
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O Abandono do Controle Alarga a Vida – O abandono do controle afeta a
pessoa no seu todo, tanto psicológica, como fisicamente. A condição do
corpo e da alma, que acompanha o estar fixado no poder de Controle, é de
tensão. O indivíduo tem que estar constantemente alerta para não perder o
controle sobre si mesmo ou sobre os outros e assume, geralmente,
bastante responsabilidade sobre um número excessivo de coisas. A
concentração em questões específicas de Controle fará com que a pessoa
perca de vista o efeito que este comportamento tem sobre seu próprio
corpo. Esta negligencia torna-se generalizada e se manifestará num
desligamento geral de seus próprios sentimentos e sensações corporais.
(179)

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