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Claude Steiner
Introdução a Edição Brasileira
O poder sempre atraiu o ser humano. A história da humanidade, desde os
seus primórdios, é marcada por lutas de poder que arrastaram atrás de si
milhares de seres humanos, causando morte, destruição, miséria e
sofrimento. A grande maioria das sociedades conhecidas apresenta uma
organização social baseada em hierarquias nas quais o poder é
desigualmente distribuído entre seus membros. Isso não só cria condições
propícias para o abuso do poder, como também tem repercussões nos
sistemas familiar, educacional, econômico, político e religioso, assegurando
sua perpetuação através dos séculos. Em O Outro Lado do Poder, Steiner
analisa uma certa forma de poder chamada controle, que depende da
exploração e manipulação dos outros. A preocupação central de Steiner é
enfatizar a responsabilidade individual na manutenção e reforço do status
quo e, ao mesmo tempo, esboçar uma trajetória de mudança que permita a
cada ser humano, ao utilizar o poder pessoal que tem a sua disposição,
abandonar os tradicionais comportamentos controladores que aprendem
desde a mais tenra idade, substituindo-os por aquilo que o autor chama de
“o outro lado do poder”. Seu estudo demonstra as vantagens de não
utilização do poder de Controle, da importância do respeito ao ser humano,
da cooperação e da ausência de manipulação das vontades pessoais como
formas de mudança dos padrões de relacionamento, dos valores e,
conseqüentemente, da cultura no seu conjunto.
Com isso enfatiza uma revisão da realidade sociocultural, mostrando
que a dinâmica da relação homem-sociedade pode ser alterada. Sua analise
dos jogos de poder esmiúça os detalhes dos relacionamentos cotidianos nas
suas mais variadas situações. São esses jogos de poder que impedem o
contato com as nossas emoções, que barram uso de nossa intuição e da
capacidade de observação e raciocínio, que dificultam amar, ser amado, ser
autônomo e utilizar nosso imenso potencial.
Daí a existência da “Tecnologia do Controle”, que oprime, discrimina,
impõe e manipula através de jogos de poder, das mentiras, da opressão
lingüística e do cerceamento da criatividade, muito semelhante ao
“duplipensar”, que integram as técnicas contemporâneas da desinformação,
através das quais a guerra se transforma em defesa, a proteção em
violência, o crime em justiça etc.
O ser humano, embora eminentemente gregário, tem subutilizado
sua capacidade de conviver de forma pacifica e construtiva com seus
semelhantes. A razão básica está no fato dele não ter exercitado, em
primeiro lugar, a capacidade de conviver consigo mesmo. A “alfabetização
emocional” é o passo inicial para reversão desse processo, pois o
reconhecimento do próprio eu abrirá caminho para o reconhecimento do
outro.
Interdependência dos indivíduos, das nações e dos continentes
aumenta a cada dia a ponto de não ser mais possível pensar na
sobrevivência da humanidade em termos espaços-temporais restritos.
Fazemos parte de um ecossistema complexo, no qual qualquer alteração no
equilíbrio de uma das partes terá repercussões no todo. É chegado o
momento de desistirmos do controle, do uso do poder como um fim em si
próprio e passarmos a utilizar “o outro lado do poder”, sobre pena de
criarmos cataclismas mundiais como a guerra nuclear, o desastre ecológico,
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a depressão econômica generalizada, a revolução social dos oprimidos.
Como afirma Steiner, “desistir do Controle e passar para outro lado do
poder equivale a juntar-se à espécie humana. À medida que o fazemos,
descobrimos que não estamos sós, que existem inúmeros outros, onde quer
que estejamos, despercebidos pelo olhar frio do controle, que também
estão intensamente envolvidos na luta pela sobrevivência do nosso
humanitarismo. (15)
I - CONTROLE
1. O Sonho Americano do Poder
Nos últimos anos surgiram vários trabalhos sobre poder, dentre eles
destaca-se o livro de Korda que é uma enciclopédia de observações a
respeito de comportamentos de poder. Korda aponta a importância das
pastas, relógios e sapatos que as pessoas usam. Sugere a importância dos
lugares onde sentamos em nosso escritório ou em de outros, como nos
movimentamos nas festas de negócios ou como respondemos a
telefonemas. Alega que todos estes aspectos relacionam-se com o nosso
nível de poder. Korda não aprecia demonstrações grosseiras de poder e em
exemplos seguidos em seu livro ele endossa manobras com um mesmo
objetivo – Controle – desde que sejam elegantes, suaves e eficazes. Ele é
um apreciador do abuso requintado do poder. É bom ter poder e utiliza-lo
para controlar os outros, desde que isso seja feito com classe. O mais
apropriado é a capacidade de simular não ter nenhum poder, enquanto se é
todo poderoso. (25) Nesta perspectiva respeitar o seu próximo é burrice
pura. Justiça, consciência, generosidade, participação e cooperação não tem
valor. Só uma coisa é importante – Controle e acumulo de poder –
preferencialmente na forma de dinheiro. (26)
Na verdade estamos tão imersos neste tipo de mundo que é difícil ver
o que está errado nesta abordagem. Assim, infelizmente, a maioria das
pessoas que estão tentando fazer com que a vida funcione assume com
demasiada freqüência que este é o melhor caminho para sua realização.
Engajando-se neste estilo de vida competitiva, eles estão abandonando
todas as outras opções nas quais a realização do poder não depende da
redução do poder do outro, ou de arriscar o seu próprio poder num jogo
competitivo. (27)
Anos atrás, quando eu havia alcançado sucesso, sentia-me orgulhoso
de todos os meus feitos. Não percebi que muito do que eu havia conseguido
era resultado de minha posição privilegiada de utilizar recursos que não
eram, na sua maioria, intrinsecamente meus. Eu era uma privilegiada
criança branca, do sexo masculino, com pais instruídos em um país e numa
época de abundancia. Parecia-me, como a outros em posições privilegiadas
semelhantes, que com um pouco de trabalho duro qualquer pessoa poderia
ter sucesso. Não percebia que pessoas trabalhadoras e espertas passavam
a vida se poderem atender suas necessidades básicas. Acontece que eu
estava no estrato superior de uma pirâmide global que canalizava seus
recursos em minha direção, mas eu não sabia disso. Na verdade, eu não
tinha o direito de desfrutar os sentimentos de vitória e poder que possuía.
Estes baseavam-se na usurpação inconsciente do direito inato de outras
pessoas. Na medida em que tomei maior conhecimento das verdades de
minha posição ns “degraus do sucesso”, passei a ter mais dificuldade em
tentar afirmar presunçosamente o meu privilegio injusto, pois verifiquei que
meu poder baseava-se na falta de poder dos outros. Daí para frente foi
simples perceber que o meu privilegio estendia-se para além dos negros e
das mulheres. Eu tinha vantagens injustas sobre pessoas jovens e velhas,
mas, acima de tudo, sobre um vasto número de pobres neste país e no
mundo todo. A ilusão de que eu tinha direitos a esta vantagem dissolveu-se
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e esta nova conscientização mudou radicalmente minha visão sobre mim e
o mundo. Reconheçamos: nós, prósperos “americanos médios”, estivemos
viajando de carona durante muito tempo. Uma carona fornecida de um lado
por muita gente que trabalha duro (quem não trabalha também contribui) e
de outra pela boa terra. (29)
Os sinais de abundancia estão diminuindo. A carona chegou ao fim. À
medida que ingressamos na próxima era da escassez, nossos sentimentos
de poder não podem mais basear-se naqueles amplos recursos que
estávamos tão acostumados a drenar. Teremos de procurar em outro lugar
a energia para sustentar-nos. Precisamos crescer e desenvolver nossos
próprios poderes, poderes esses que emanam de cada um de nós, mais do
que de fontes externas. Teremos que abandonar o seio materno e
compartilhar que existe com nossos irmãos e irmãs que choram. (30)
Precisamos desistir da ilusão do poder e da energia abundante se quisermos
sobreviver. Teremos que andar a pé, de bicicleta, trabalhar, suar, tomar
banhos de chuveiro mais rápidos, reciclar, conservar, organizar rodízios de
transporte, utilizar transporte coletivos, partilhar, discutir, organizar,
reivindicar direitos e respeitar o direito dos outros. (30) À medida que
ultrapasso minha ilusão de poder, percebo que ainda desejo ser poderoso,
mas meu objetivo agora é ser forte, sem desrespeitar. A alternativa
oferecida neste livro, baseia-se na crença de que é possível ser poderoso,
feliz e alerta, ter amigos íntimos e carinhosos, será apreciado pelos
colaboradores e concorrentes ou empregados e, ao mesmo tempo, ser
justo, respeitador e guiado pela sua própria consciência em todas as suas
ações. (31)
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Você muda de lugar para ficar ao sol. Ele muda de posição e novamente
bloqueia a luz do sol. Tentando parecer tranqüilo você pergunta: “Por que
você está fazendo isso?”
Ele responde: “Você precisa me desculpar, mas tenho de fazer uma outra
coisa”. Ele aproxima-se e dá-lhe um pisão no dedo do pé.
Segurando um grito, você diz: “Hei! Você está pisando no pé!”.
“Eu sei”, ele responde.
“Por quê?”, suplica você.
Muito honestamente ele responde: “Isso poderá ser difícil de acreditar, mas
a razão de eu estar pisando no seu pé é muito complicada para entender. E
ficaria agradecido se você não fizesse nenhuma reclamação. Todos estão
agindo assim e não podemos permitir que você interfira nos nossos esforços
de proteger nossa segurança econômica”.
Você nunca foi capaz de entender coisas de economia. Sente-se
completamente ignorante no assunto. Você reprime o desejo de fazer
perguntas, com medo de tornar pública a sua ignorância.
O homem parece satisfeito. “Você é um grande sujeito. Esta nação tem uma
grande dívida contigo. Seus filhos terão orgulho de você.”
Você vai acostumando-se com a dor. Olha à sua volta e vê várias pessoas
em situação idêntica a sua. Você começa a se sentir melhor, sabendo que
está fazendo a coisa certa, deixando de criar problemas e ajudando com sua
vontade de cooperar. Ao longe você vê pessoas protestando, retirando os
bondosos cavalheiros de seus pés e pensa: “Que absurdo fazer um
escândalo por tão pouco!”. (42)
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quando estamos tristes e, em termos gerais, concordar e não criar
problemas. (44)
Stanley Milgran escreveu Obedience to authority, um estudo famoso
que aborda o sério problema da obediência. Nessa experiência pessoas
comuns foram recrutadas para participar de um experimento de
“aprendizagem”. Neste o indivíduo deveria memorizar algumas palavras.
Você, o professor, deveria aplicar um choque se o treinando cometesse um
erro. Para cada erro deveria ser acionado o botão com choque mais intenso
de 15 volts até 450 volts – os botões possuíam legendas - choque intenso
(225 volts); choque de extrema intensidade (311 volts); Perigo, choque
severo (375 volts) e “XXX (450 volts)”. Na realidade o treinando era um
ator (o professor não tinha conhecimento disso) instruído previamente a
berrar e protestar quando submetido aos choques. A única pessoa que não
estava representando era o professor. À medida que o treinando cometia
erro após erro e o professor hesitava em aumentar a intensidade do
choque, o indivíduo que conduzia o experimento, dizia: “Por favor,
continue”. “A experiência exige que você continue”.
Provavelmente você está pensando que você e a maioria das pessoas
se recusariam a dar choques em alguém nestas circunstâncias. Porem, mais
ou menos uma em cada três pessoas que participaram da experiência
aplicou choques até alcançar 450 volts, mesmo quando o treinando parecia
inconsciente. E mesmo quando não eram eles a aplicar o “choque”, mas
apenas aplicavam o teste das palavras, enquanto outra pessoa assumia a
eletrocussão, nove em cada dez chegavam até os choques mais intensos.
Você deve estar dizendo: “Eu não!” Eu não posso afirmar isso com tamanha
convicção. A obediência à autoridade está profundamente arraigada em
nosso comportamento. É uma programação básica da qual poucos de nós
escapa, embora gostássemos de pensar que escapamos. (45)
A eficácia de combinar introdução gradual e sutil do abuso de poder
com a falta de opção, apoiada na violência, foi amplamente demonstrada na
Alemanha nazista, onde um país inteiro de pessoas civilizadas concordou
com o Holocausto. (45) Estamos tão habituados a pensar em obediência
como uma virtude, que a idéia de encorajar a desobediência poderá parecer
errada e perigosa. Porém, a desobediência civil é uma tradição honrada pelo
tempo e fez parte de todo movimento de mérito na nossa história. A
opressão é, com freqüência, apoiada pelas leis e pela tradição. O desejo de
mudar estas situações necessita do desejo de desobedecer. A desobediência
não é, necessariamente, uma característica rebelde e violenta, embora
possa ser e, muitas vezes, precisa ser. Refiro-me principalmente a
desobediência suave que provém do auto-respeito e do compromisso sólido
de ser um crítico carinhoso consigo mesmo e com os outros, que vem do
não endossar coisas com as quais não concorda e de perguntar “Por quê?”
inúmeras vezes, até satisfazer-se com as respostas. (46)
A Obediência e o Inimigo
O que causa esta diferença importante no caráter das pessoas, que
determina a aceitação do domínio ou seu desafio? Para responder a esta
questão será útil possui um conhecimento básico de Análise Transacional
(Eric Berne). Basicamente uma pessoa age de uma destas três formas: Pai
– a pessoas que diz aos outros o que é certo ou errado e o que fazer. O Pai
pode ser protetor ou crítico e desagradável. Adulto – a pessoa que pensa e
age racionalmente, sem emoção, de acordo com as leis da lógica. Criança –
a pessoa espontânea, irracional, emotiva e infantil. A função principal do
inimigo é a de Controlar as pessoas e é a fonte de todos os jogos de poder,
bem como dos abusos de poder a que somos submetidos. O Inimigo é o
estado de ego controlador na nossa personalidade que não controla apenas
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os outros, controla nós mesmos de forma similar. Autonomia, desobediência
e, em última análise, liberdade, dependem da liberação da influência do
Inimigo, externa ou internamente. Isso significa não usar o nosso Inimigo,
a nossa capacidade de Controlar contra nós mesmos, nem permitir que
outros a usem contra nós. (47)
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Mito 3: Somos tão poderosos quanto desejamos – Ao lado do mito de falta
de poder há um outro mito, que afirma que nossa vida é exatamente aquilo
que desejamos que seja. Se, realmente, queremos ser bem-sucedidos
seremos, e se conseguimos ou não, isso depende totalmente de nós. Somos
os únicos a controlar o nosso destino. Em resumo criamos a nossa própria
realidade. As condições de abundância que alguns poucos tiveram
capacidade de explorar com facilidade em seu próprio benefício, criaram a
ilusão de que, para a maioria, o sucesso e a felicidade eram apenas uma
questão de querer trabalhar arduamente. O fato é que a maioria não
conseguirá! (63) Muitas livros de sucesso difundem a idéia de que as
pessoas são completamente responsáveis por si mesmas. Esta idéia, que
ganhou a aceitação geral, tem, na verdade, uma base válida: a busca da
felicidade é uma tarefa realista e uma grande parte depende de nossas
atitudes e ações. Quando este ponto de vista é distorcido numa crença
insensata em nosso poder absoluto de controlar nosso próprio destino,
então poderá ser justificadamente considerado como tendo se transformado
numa noção idiota. A palavra “idiota” vem do grego idiotes, que significa
uma pessoa que está sozinha – esta noção de idiota com o mito do poder
do indivíduo. (63)
Ao ser guiado por este mito as pessoas bem-sucedidas concluem que
seu sentimento subjetivo de poder corresponderá a uma real capacidade de
ser poderoso. Quando não conseguem o que desejam se sentem
fracassados. A realidade é que sucesso ou fracasso nesta vida depende de
mais coisas do que nós, em nossa ilusão solitária, fazemos ou pensamos. O
sentimento de poder poderá basear-se na realidade ou poderá ser,
simplesmente, uma condição subjetiva. Mesmo sendo subjetivo poderá não
ser ilusório em sua totalidade. O poder subjetivo é um estimulante ou
catalisador eficaz para o desenvolvimento do poder real e objetivo. Mas
apoiar-se neste sentimento como uma fonte de poder confirmado no mundo
é um erro que leva à falta de poder. Quando toda uma população aceita
este mito, ela se coloca na mão daqueles que lucram com a nossa
impotência. (64)
Por que é este mito tão atraente? Quando tememos não ter
capacidade para lidar com a vida, isto nos ajuda a pensar que através de
um esforço de vontade poderíamos, sozinhos, alterar tudo a nosso favor e
melhorar nossas vidas. Dá-nos esperança quando nos sentimos
desamparados. Mas a esperança é uma centelha, como o estopim de uma
banana de dinamite. Sozinho poderá muito pouco para mover montanhas,
senão contar com algo que faça a real movimentação. Apoiar-se naquela
centelha ilusória para dar força À vida será um erro. A verdade é que não
somos nem completamente sem poder, nem completamente capazes de
criar nossa própria realidade. A realidade está em algum lugar no meio do
caminho. Nosso poder depende em parte do que fazemos e, em parte, do
que os outros fazem em resposta a isso. Nem o mito de falta de poder nem
o mito do poder absoluto fazem sentido no mundo real. (64 e 65)
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A lei da Oferta e da Procura afirma que o valor de uma coisa está
relacionado não só com a necessidade das pessoas, mas também com sua
relativa escassez. “Tudo ou nada” baseia sua eficácia na criação de
carências. Criando uma escassez artificial de algo que as pessoas desejam,
o proprietário terá possibilidade de maior lucro.
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Relação com os privilégios que excluem a maior parte das pessoas.
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Antítese – todo jogo de poder tem uma antítese, isto é, um procedimento
tático que pode ser usado para neutralizá-lo. Existe uma diferença entre
desarmar um jogo de poder e esmagá-lo com um outro, mais poderoso. A
antítese não significa uma escalada de manobras de poder, e sim a
neutralização de uma tentativa de controle. A antítese eficaz para o “Tudo
ou Nada” baseia-se na capacidade e na vontade de desistir da mercadoria
que está sendo tornada escassa. “Eu gosto de seu futebol, segurança,
amor, emprego, salário, mas eu não preciso disso tanto assim” é a maneira
mais bem sucedida de parar o jogo de poder “Tudo ou Nada”. Quando o
“Tudo ou Nada” transforma-se em “Tudo ou Morte”, como na Alemanha de
Hitler, onde o não aceitar tudo significava prisão quase certa ou morte
provável, a antítese torna-se mais difícil. (78)
7. Intimidação
Antes de investigar esta nova família de jogos de poder vamos definir com
mais precisão o jogo de poder do controle – é uma transação ou uma série
de transações conscientes, através das quais uma pessoa procura controlar
o comportamento de outra.
1. Todos os jogos de poder são transações ou séries de transações. A
transação é definida como a unidade do relacionamento social. Toda
transação consiste em um estímulo e uma resposta. O estímulo do jogo de
poder é chamado de jogada de poder e é uma tentativa da pessoa de
exercer o controle da situação. A resposta a jogada de poder poderá ser: a)
anuência , b) contra-jogada, c) antítese ou d) resposta cooperativa. A
anuência e a contra-jogada são respostas competitivas que reforçam a
forma de transacionar de controle-poder. A anuência é uma resposta
submissa que completa o jogo deixando que este tenha sucesso. A contra-
jogada é a resposta da escalada dominante de superioridade e um estímulo
a segunda jogada de jogadas. A antítese é uma resposta de autodefesa
que, apesar de não competitiva, permanece na categoria de Controle (o
jogador é visto como um antagonista). A resposta Cooperativa passa da
categoria de Controle para a Cooperativa, não é uma manobra defensiva de
ofensiva. Veja o seguinte caso: (83)
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Inibidores de pensamento – Frequentemente a intimidação ocorre durante
conversas, sob a forma de interrupção, rapidez de discurso, vozes elevadas,
tom de voz entrecortado, gesticulação, berros, utilização de palavras
pesadas ou insultos. Todos estes jogos de poder, isolados ou em conjunto,
podem ser utilizados para controlar as conversas e seus resultados e
funcionam por perturbar o pensamento da vítima.
Antítese: a antítese será cortar o jogo de poder pela raiz: primeiro,
surpreender o jogo na medida em que está sendo aplicado; segundo, voltar
à conversa sem perder o fio da meada. Por exemplo: “Você me
interrompeu. Deixe-me terminar, por favor. Bem, onde é que eu estava?
Ah, sim...”; “Por favor, não levante a voz. Posso ouvir perfeitamente bem.”;
“A sua forma de falar põe-me tenso. Você está nervoso? Acalme-se, por
favor, não há necessidade de enfatizar tanto aquilo que diz. Estou
entendendo.” (96)
Se você não pode provar, não pode fazer - Forma de refutar ordenada,
embora ilógica, do argumento, seguida pelo “portanto” que antecede a
conclusão falsa. Em virtude da abordagem ordenada e da linguagem lógica,
isso soa como um argumento válido que refuta a posição de outra pessoa.
O argumento é semelhante àqueles que aprendemos no colegial: “A é maior
do que B, B é maior do que C, por isso A é maior do que C”. O emprego da
palavra “portanto” ou “assim” da a impressão de que a pessoa está
envolvida num argumento de lógica estrita. Antítese: A refutação da lógica
envolvida ou a recusa em provar a validade das suas preferências, crenças
ou ações. Por exemplo: “Errado! O que você está dizendo não tem lógica,
portanto a sua conclusão é incorreta.” (99)
8. Mentiras
As Mentiras são uma terceira família de jogos de poder. Exploram a
credulidade e o medo de confrontação das pessoas. A maioria das pessoas é
extremamente suscetível a mentiras, porque, como forma de rotina
cotidiana, fomos submetidos intensamente às mentiras, desde os nossos
primeiros dias de vida. Uma das maneiras mais eficazes de controlar os
outros é mentindo e uma das primeiras suposições que fazemos, quando
nos sentimos superiores aos outros, é que não precisamos contar-lhes a
verdade. Em geral, a justificativa é que os que desejamos controlar não são
suficientemente maduros ou inteligentes para compreender as coisas, como
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elas realmente são. Estas justificativas para as mentiras são usadas pelos
políticos em relação aos eleitores, pelos executivos em relação aos
trabalhadores, pelos ricos em relação aos seus empregados e,
naturalmente, pelos pais em relação aos seus filhos. Por causa da mentira
difusa À nossa volta, assumimos isso como um fato mais ou menos
consumado em nossas vidas. Somente em relacionamentos muitos
especiais é que sentimos a necessidade de nos preocuparmos em ser fiéis a
verdade. (103) Antítese: A antítese para a mentira traz dificuldades.
Ninguém gosta de dizer que o outro é mentiroso. É mais fácil simplesmente
esquecer a questão. É mais confortador acreditar e assim submetemo-nos,
em nome da harmonia e da simplificação. Portanto, a melhor antítese será
fazer perguntas e verificar respostas. Às vezes uma série de perguntas
tornarão claras as mentiras. (107) Perguntar não é fácil, pois envolve falta
de confiança e isso dá ao mentiroso uma desculpa para uma indignação
justificada. No entanto, é possível formular perguntas de uma forma
relativamente inofensiva. Por exemplo:
“Espero que não se incomode, mas gostaria de fazer-lhe algumas
perguntas”.
“O que há, você não confia em mim?”
“Só quero fazer algumas perguntas. Você se importa de responder”.
“Está me chamando de mentiroso?”
“Não, só estou procurando saber por que ‘tal coisa’ foi feita”.
É altamente improvável que o mentiroso admita uma mentira. Ao contrário
da maioria das antíteses, que em geral conseguem estacar o jogo de poder,
a antítese das mentiras tende a aumentar sua intensidade. Pode-se esperar
que o mentiroso passe de uma mentira para a outra, para evitar a verdade.
No fim, a pessoa que suspeita da mentira terá que decidir por si mesma
quais foram os fatos. Embora a antítese não pare a mentira, evitará a
manipulação. (108)
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Comportamento em conversa – Uma outra forma importante de
controlar os outros é através do comportamento em conversa. A verdadeira
finalidade de uma conversa é, presumivelmente, uma troca de pontos de
vista. Podemos discordar, trabalhar para acordo ou concordar. Muitas
vezes, entretanto, as conversas não têm nada deste propósito e são, na
verdade, tentativas de controlar os outros através das nossas palavras.
Nestas circunstancias se temos pontos de vista diferentes nossa conversa
pode se transformar em um campo de batalha pelo controle do
pensamento. A interrupção é um jogo de poder básico na conversação.
Interrompemos quando (a) pensamos saber o que o outra vai dizer, (b) não
gostamos do que o outro está dizendo, (c) não podemos esperar para expor
o nosso ponto de vista. (141)
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