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OBRAS OBRIGATÓRIAS- FAMEMA-2011-2012- Profª SÔNIA

♦ Antologia poética - Vinicius de Moraes


♦ Capitães de Areia - Jorge Amado
♦ Dom Casmurro - Machado de Assis
♦ O cortiço - Aluísio de Azevedo
♦ Vidas secas - Graciliano Ramos

1- O Cortiço-Aluísio de Azevedo
Profª Sônia Targa

ANÁLISE DETALHADA

Neste livro, já não é mais a estória dos personagens que interessa tanto. Mais do que ela, salienta-se rivalidade entre
o espaço de João Romão e do comendador Miranda, a simbolizarem todo um processo de transformação econômica
em momento de expansão urbana.

João Romão, um ganancioso comerciante de origem portuguesa, possui uma pedreira, uma taverna e um
terreno razoável, onde constrói casinholas de baixo custo para alugar. Secundando-o nas tarefas e com ele repartindo
a cama, a figura da negra Bertoleza ex-escrava forte e também ambiciosa, supostamente alforriada.

A poucos metros da venda, havia um sobrado que veio a ser ocupado por Miranda, Estela e Zulmira, uma
família economicamente segura, cujo chefe vendia pano por atacado.

A proximidade do cortiço incomodava Miranda que, por sua vez incomodava João Romão com seu ar de
fidalguia e seu título de comendador.

A contratação de Jerônimo , um operário português ,para o trabalho na pedreira altera um pouco a


competição do cortiço,para onde ele se muda em companhia da mulher, a Piedade e a filha Senhorinha.Essa
alteração ganha intensidade, sobretudo a partir do momento em que nasce o interesse amoroso entre o
operário e Rita Baiana ,beleza máxima daquele agrupamento.

Rita ,no entanto tinha compromisso com Firmo,mulato garboso e gabola, capoerista hábil ,morador de
um cortiço vizinho, o “Cabeça de Gato”. No primeiro enfrentamento ,Firmo leva a melhor , e atinge Jerônimo
com uma navalha.

Enquanto isso , Botelho, um agregado em casa de Miranda ,começa a estimular o interesse de João Romão
por Zulmira ,a filha do atacadista de panos. Nesse projeto, evidentemente ,inclui-se um plano para dispensar
Bertoleza.

A essa altura Rita e Jerônimo já vivem juntos , e a preocupação deste é vingar-se da navalhada que o
atingira e , se possível eliminar seu rival de vez. Através de uma combinação prévia ,dois tipos escusos atraem
Firmo para uma cilada e Jerônimo assassina-o a pauladas.
Em conseqüência dessa morte , os”Cabeça-de-Gato” atacam os “ carapicus” do cortiço de João Romão e a
luta só se interrompe por causa de um incêndio provocado( pela bruxa, a lavadeira Paula).

Na verdade.desse fogo arrasador renasce um cortiço novo e mais “próspero”. O fogo ajudara, indiretamente,
os planos de João Romão que , agora já vinha mantendo boas relações com a família de Miranda .Só restava
o empecilho de Bertoleza.Mas o providencial Botelho descobrira o dono daquela escrava , cujo dinheiro da
alforria ,tão duramente economizado ,fora embolsado por João Romão.

Diante da ameaça de retorno ao cativeiro,Bertoleza estripa-se ,enquanto João Romão recebe um prêmio
como amigo da Sociedade Abolicionista.

Vamos lá........

ESTRUTURA DA OBRA

A obra apresenta 23 capítulos não intitulados e não muito curtos.Presença constante de diálogos.

Foco Narrativo

Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um
total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional, por vezes no cortiço de João Romão, outras no sobrado de
Miranda.Como o narrador exerce a onisciência, por vezes sua fala se confunde com a dos personagens,
principalmente com João Romão, por meio do discurso indireto livre
. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das
personagens.

ESPAÇO-

A narrativa transcorre em alguns bairros do Rio de Janeiro, mas seu foco de atenção se atém ao cortiço de João
Romão, situado em Botafogo.
O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma
intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da
realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: "Sentia-se naquela
fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer animal de existir,... E naquela terra,
...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que
parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco."
TEMPO

A narrativa apresenta tempo cronológico, bem marcado, co inúmeras situações de horas, dias da semana
etc...Porém em alguns capítulos o narrador conta em flashback acontecimentos passados, que orientam a narrativa.
Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é o marco da literatura realista-naturalista brasileira. Uma
história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império (período em que as
estalagens coletivas proliferavam) que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De
um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha",
caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e
repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se
desenvolve e se transforma com João Romão.
O SEXO

O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de
determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de "patologia" sexual:
"acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.

Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão (que é bastante inferior), a técnica
naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio; interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores,
cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como
na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos
naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um
estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as
divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em tomo de um problema social que se tomava mais e
mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos
primórdios da industrialização do país.
O VISUAL
Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação
visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (Aluísio exerceu, em certa época, a
atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos
assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos
moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou
irando-se — e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns
tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de
Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da
literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e
aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as
que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.

Veja exemplos de descrição realista e objetiva dos tipos humanos na obra:

PERSONAGENS

As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas
preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em
grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.

O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito
à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento,
desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios nas pessoas de João Romão, é, na verdade, o
estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar
ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de
homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa
para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.

João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para
a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os
lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se
logo com as unhas.

...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão
da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.

Miranda- português, 35 anos, negociante de tecidos. Muda-se para um sobrado, ao lado do cortiço de J. Romão.Casa-
se por interesse com Estela, que não o ama, sente-se humilhado e aos poucos irá invejar J. Romão que ascendeu
sozinho, sem precisar se casar por conveniência
Estela- esposa de Miranda, pretensiosa e com fumaças de nobreza.

Zulmira- suposta filha de Miranda e Estela- tinha de 12 para 13 anos, pálida, com pequeninas manchas roxas nas
narinas.- sardas pelo rosto- unhas moles e curtas, olhos grandes, vivos e maliciosos.

Bertoleza- quitandeira,, escrava que enganada por J. Romão crê que está alforriada.Trabalhadeira, humilde e servil

Piedade- esposa de Jerônimo, não se adapta aos costumes do cortiço mantém seus hábitos portugueses, tanto na
alimentação como em não tomar banho todos os dias.Abandonada pelo marido, vai se degradando até ser expulsa do
cortiço.

Jerônimo-português de uns 35 a 40 anos,, alto, barba áspera,cabelos pretos e maltratados caindo-lhe sobre a testa,
pescoço de touro e e cara de Hércules.,olhos que exprimiam bondade. A princípio mostra-se trabalhador, bom marido,
bom pai. Ao se apaixonar por Rita Baiana passa por uma degradação muito grande-( chamamos abrasileiramento).No
final da narrativa busca sua mulher e filha e abandona o cortiço, na esperança de voltar a ser o que era.

Rita Baiana- mulata muito sensual, amiga de todos no cortiço.”E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor
sensual de trevos e plantas aromáticas.” Mulher independente, causadora da transformação de Jerônimo que fica
fascinado por ela. Tudo começa quando ela lhe oferece um café.

Firmo- capoeirista, amante de Rita Baiana.Teria seus trinta e poucos anos,mas não parecia ter vinte e poucos.Pernas e
braços finos, pescoço estreito,porém forte; não tinha músculos, tinha nervos.Não tinha barba, e sim um bigodinho
crespo, petulante onde reluzia à brilhantina de barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra e bem negra, dividida
ao meio na cabeça, estufando debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda derreado sobre a orelha
esquerda.

João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário
Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra "não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...]
é um estado de permanente tensão e mútua agressão". Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá
vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são
essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se
tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes,
porém iguais sob olhar mais minucioso. Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as
óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de
complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda.
Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a
nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor
para dar andamento à história.

Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio
naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no
ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era "a força tranqüila
,o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no
sobressalto do primeiro instante". Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum
deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava
fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e
a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo
antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz
do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou menos de acordo como suas características pessoais,
notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos
a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do
que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão
sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza
inevitável e irreversível.

Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das
filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar.
Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições
sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não se havia
tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para
seguir num relacionamento homossexual com Léonie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade
de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de
acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento
intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas
de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não conseguiu se adaptar à
falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo
protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto
esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio.
Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada
num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da
mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.

Alguns personagens secundários, usados por Azevedo principalmente como objetos de estudo da temática
determinista:

As LAVADEIRAS- Leandra( a machona), Augusta Carne-Mole ( esposa de Alexandre, mãe de Juju),Leocádia ( esposa
de bruno), Paula ( a bruxa), Marciana e sua filha Florinda,D. Isabel ( mãe de Pombinha)
- Henrique: filho de um fazendeiro importante que se encontra aos cuidados de Miranda até o fim de seus estudos.
Cultivará um caso com D.Estela.
- Valentim: filho alforriado de uma escrava por quem D. Estela nutria afeição ilimitada.
- Leonor: negrinha virgem, moradora do cortiço.
- Leandra (Machona): portuguesa feroz, habitante do cortiço.
- Ana das Dores: filha desquitada de Machona.
- Neném: filha virgem de Machona, muito cobiçada.
- Agostinho: filho caçula de Machona que morre num acidente da pedreira.
- Augusta Carne-Mole: brasileira branca, honesta, casada com Alexandre e com muitos filhos.
- Alexandre: mulato, militar, dava muito valor ao seu emprego.

- Juju: afilhada de Leónie.,


- Leocádia: portuguesa, esposa de Bruno, comete adultério com Henrique.
- Bruno: ferreiro casado com Leocádia.
- Paula (a Bruxa): cabocla velha que exercia função de curandeira. Põe fogo no cortiço duas vezes após enlouquecer,
morrendo na segunda tentativa.
- Marciana: mulata velha, com mania de limpeza, mãe de Florinda, que perde o juízo quando a filha foge de casa.
- Florinda: filha virgem de Marciana, que engravida de um dos vendeiros de Romão e foge de casa.
- Dona Isabel: mãe de Pombinha. Seu maior sonho é ver a filha casada.
- Albino: Fechava a fila das primeiras lavadeiras, o Albino, um sujeito afeminado, fraco, cor de aspargo cozido e com
um cabelinho castanho, deslavado e pobre, que lhe caia, numa só linha, até o pescocinho mole e fino.- lavadeiro
homossexual, morador do cortiço.
- Delporto, Pompeo, Francesco e Andrea: imigrantes italianos que residiam no cortiço. Azevedo foi um dos primeiros
a caracterizar literariamente a figura do imigrante italiano no Brasil, mesmo que de forma preconceituosa, retratando-
os como carcamanos imundos.
- Porfiro: mulato capoeira amigo de Firmo.
- Libório: velho pão-duro que esmolava entre os outros moradores do Cortiço, mas que possuía uma fortuna
escondida, da qual Romão irá se apoderar depois da morte de Libório no segundo incêndio provocado por Bruxa.
- Pataca: cúmplice de Jerônimo no assassinato de Firmo, torna-se um dos aproveitadores de Piedade depois que
Jerônimo vai morar com Rita.
Botelho: Era um pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e duro como escova,
barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila
e davam-lhe à cara uma expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua boca sem
lábios: viam-lhe ainda todos os dentes mas, tão gastos, que pareciam 1imados até ao meio. (...) Atirou-se muito às
especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser bem rico; mas a roda desandou e, de
malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo por entre as suas garras de ave de rapina.
Pombinha- considerada “ a flor do cortiço”, bonita, loira,muito pálida, modos finos e educados, recebeu instrução até
em francês.Depois de violentada por Léonie, casa-se ,mas insatisfeita, separa-se e, juntamente com Léonie, dominam
o meretrício da região.

João da Costa- noivo e depois marido de Pombinha- Traído pela mulher, depois a abandona.

Léonie- cocote de procedência francesa.Prostituta e lésbica era muito querida por todos no cortiço. Gosta de
Pombinha e a força numa experiência homossexual.Ao final ambas dominam o meretrício.
Enredo

O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento
dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos
rico, mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no
futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver
Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade).

A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai
se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, para de pagar a escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana.
No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim
como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.

A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro comerciante
português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma
negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de
alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de
João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar
pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a "Estalagem São Romão." Logo se ergueriam novas
pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus
artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.

Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro
Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita
Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos,
Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta
briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.

Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de "Cabeça-de-gato" pelos moradores do cortiço de João
Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de "Carapicus", o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto
isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem
português larga a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do "Cabeça-de-gato" entra em guerra com os
moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e
destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.
João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar
rodas mais finas e elegantes e se casar com uma moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante
é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua
companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu
esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a
traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João
Romão e os clientes do seu armazém.

A homossexualidade retratada em O Cortiço

No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é
tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O
naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos
marginalizados.

O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor
denunciativo, rompimento com o romance convencional.

Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do
ficcional o factual, como, por exemplo, a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a
pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto
animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos
deterministas do cientificismo/ evolucionismo.Os furtos, estupros, homicídios ocorrem sem justificativa.

Léonie - Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu tempo. Mais
por se tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria definida como mulher
pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a sociedade e pode contaminar os que
conviverem com ela.

A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam
relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que
possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se:

(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. (AZEVEDO,
2009, p.105).

Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a
constantemente:

O troco ficou esquecido, de propósito, sobre a cômoda (...). (pag.108)

Leónie entregou á Pombinha uma medalha de prata (...). (pag.109)

(...) tomou a mão de Pombinha e meteu-lhe um anel cercado de pérolas. (pag.139)

Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.

-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou louca por
ti!(p.135)

E, num relance, desfez para o lado, examine, inerte, os membros atirados num abandono de bêbado. (p.136-137)
No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor:

Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde,
adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137).

Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça,
doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada.

A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um estupro.Pombinha rompe
drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual, desumana. A moral cristã do
naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do "patólogico", defeituoso, se dar bem.

A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez
essa figura do pai é substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito segundo os
estudiosos para a formação da personalidade de Pombinha.

Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie
como espelho, modelo de vida a ser seguido.

Observemos à afilhada, antes da relação homoérotica:

"A folha era a flor do cortiço (...)". (p.37)

"As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo umaflor(...)orçando pelos dezoito anos,
não tinha pago a natureza o cruento tributo da puberdade". (p.38).

Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando menstruou , todos ficaram sabendo, houve
comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e um pássaro pudesse finalmente voar.

"E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto
temor (...)" (p.135)

A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi
morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua
sagacidade, conquistava todos os homens.

Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie.

"A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela
pobre menina desamparada, que se fazia mulher" (p.236)

Você que vai prestar FUVEST-UNICAMP-FAMEMA- veja estas questões, resolva-as e, se quiser, traga
para a professora olhar.

1. Caracterize o narrador em personagem ou observador-onisciente. Justifique com passagens do texto.


2. De que forma resume o narrador, no capítulo I, A RIVALIDADE ENTRE João Romão e Miranda?
3. Quem foi Bertoleza, descrita no capítulo I ? Relacione: João Romão > venda > cortiço >pedreira
João Romão > Bertoleza
Como se apresenta , o casal Miranda e D. Estela? Sobrado > Miranda > Estela

4. Uma reflexão feita por Miranda, no cap. II,dá bem a medida do interesse crítico de Aluísio de Azevedo pelo
imigrante português.Localize a passagem e transcreva-a.
5. O cap. III inicia-se por uma longa descrição do amanhecer no cortiço. Redija um texto semelhante acerca de
outro tema , por exemplo, uma multidão aglomerada na porta de um estádio de futebol ou a entrada solene
da noiva em casamento de gala.Observe que é indispensável, num quadro assim a ordem dos detalhes
colhidos.Caracterize as lavadeiras - perspectiva naturalista: busque exemplos.
6. Durante todo o romance , Aluísio de Azevedo opõe o mundo dos brasileiros ao mundo dos portugueses,
descrevendo-lhes os hábitos , as crenças, os gostos, etc,,,No capítulo VII, a polaridade inclui também a
música pela contraposição da dolência do fado à sensualidade do samba .Comente o trecho em que essa
cena acontece.
7. Quem era o suposto dono do cortiço “cabeça de gato”?( cap. XIII)
8. Quase no fim do capítulo III aparece em cena Jerônimo, cuja história será contada apenas no capítulo V. De
que forma é descrito?
9. Jerônimo x João Romão > consciência do valor do trabalho x interesse capitalista-Caracterize Jerônimo e
Piedade
10. Quem era Firmo? Caracterize- Caracterize também o velho Libório
11. O que acontece com Jerônimo? Piedade sente o perigo por instinto ou por inteligência?
12. Relacione: Henriquinho x Leocádia x Bruno
13. Ao longo e cínico diálogo entre João Romão e Botelho termina com o ditado:” O dente que já não presta
arranca-se fora” ( cap. XXI). Que sentido tem no contexto da conversa?
14. Jerônimo > processo de abrasileiramento > Rita > Firmo > Piedade-O que descobriu Marciana? Que proveito
tira João Romão da situação?
15. Caracterize Leonie e seu relacionamento com as pessoas do cortiço.

16. O que se comemora no sobrado de Miranda?A revolta de Marciana e suas conseqüências. Por que a bruxa
sorriu quando Miranda ameaçou João Romão?
17. Por que Firmo e Jerônimo brigaram? Quem representava a força? Quem representava a agilidade? O que
colocou fim na briga? Por que os moradores temiam a presença da policia?
18. O que o narrador revela sobre a visita de Pombinha a casa de Leonie? Como o narrador apresentou a
transformação de Pombinha em mulher? Os preparativos do casamento de Pombinha. Qual o efeito que o
pedido de Bruno provocou em Pombinha?
19. O que era o Cabeça de Gato? Quem eram os Carapicus? Que transformações aconteceram com J. Romão? O
que as motivava? Ao final do cap. II ,qual recurso utiliza Botelho para aquietar a consciência do jovem
Henrique, amante de D. Estela? Qual o acordo que fez com o Botelho?
20. Rita x Firmo x Jerônimo: o que os aproxima? O que os distancia? O que Aconteceu com o Firmo?
21. A descrição da chegada de Rita Baiana no Cortiço ( cap. VI) exemplifica a maestria de Azevedo na criação de
tipos populares, um dos segredos também de Camilo Castelo Branco( veja-se o João da Cruz de Amor de
Perdição) Explique o trecho, anotando-o. Qual a reação do cortiço com a volta de Rita?
22. No capítulo VIII, Piedade, mulher de Jerônimo, sente pela primeira vez, ciúmes de Rita Baiana. Assim o
expressa o narrador:’Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro
sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente o seu ninho exposto”. O que aconteceu com
Rita e Piedade? Como reagiram os habitantes do cortiço diante da disputa das duas? O que voltou a unir os
habitantes do cortiço?
23. Que fato importante da trajetória do cortiço é focalizado no 17º capitulo? Quem o provocou? O que os
fatos deste capítulo revelam sobre a solidariedade entre os menos favorecidos?
24. O capítulo II de Iracema(1865), de Alencar, começa pela descrição da heroína, aquela que ficou conhecida
como a “Virgem dos lábios de mel”.Curiosamente o parágrafo iniciado por “Naquela mulata estava o grande
mistério...’(CAP.VII) faz uso do mesmo tipo de metáfora para dizer dos tormentos íntimos de Jerônimo.
Comparar os dois textos é bom exercício de verificação de proximidades e das distâncias entre Romantismo
e Realismo, vizinhança que se explica muito bem nas obras de Raul Pompeia Aluísio Azevedo ou Camilo C.
Branco.
25. A quem Piedade culpa por ter sido abandonada pelo marido? Como Piedade passou a se comportar depois
que foi abandonada por ele ? Por que Senhorinha também foi atingida por esse fato?
26. Qual o problema que J. Romão tem de resolver para poder casar-se com Zulmira? Era um casamento por
amor? Justifique. Como J. Romão tentou resolver o problema? Qual foi a solução definitiva? Quanto ele
pagou por ela?
27. O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no capítulo XIX, pode ser considerado um momento de romantismo,
dos tantos em que resvala o narrador ao longo da obra?
28. A última hora, às vésperas do casamento , os sonhos românticos de Pombinha com que se desfazem( cap.
XII). Por quê? O que aconteceu com Pombinha depois do casamento?
29. Por que no final de O Cortiço revela certo gosto de Aluísio pelo melodramático?
30. Que cenas marcaram o final da narrativa?

Leia, ainda, que é importante !!!!!!

O Protagonista do Cortiço é o próprio cortiço

Conjunto 1 – Cortiço São Romão Define-se por sua composição elementar .Seus elementos têm uma constituição
primária e estão ao nível da natureza do instinto .

O Conjunto 2- Casa do Miranda- mostra a vigência de certas regras mais definidas culturalmente.Existe entre seus
elementos uma coexistência baseada num maleável regime de trocas que indica a predominância de outros
interesses que não o puramente instintivo.

Portanto ,ainda que correndo o risco de simplificar a questão se poderia dizer que o conjunto 1 está do lado
da Natureza e o conjunto 2 está do lado da cultura.Toda a movimentação de Romão ,por exemplo , é para sair do
solo puramente biológico e instintivo em que se agita o cortiço e entrar numa organização social regida por um
sistema jurídico e político representativo da cultura.

O conjunto simples nivela-se em vários sentidos,porque sua dominante é a horizontalidade.De um ponto de


vista racial sua grande maioria é de preto e mestiços e os elementos de outras raças que acabam por se comportar
como a maioria.De um ponto de vista social todos são empregados e assalariados vivendo de pequenos misteres
sendo , portanto , economicamente dependentes do regime imposto pelos elementos do conjunto 2. Nivelam-se por
baixo pela miséria e pobreza.Agrupam-se num coletivismo tribal e identificam-se mais pelas semelhanças do que
pelas diferenças.

.O próprio nome CORTIÇO-marca a sua natureza.Num cortiço, metaforicamente falando também a grande
quantidade de abelhas são as operárias com funções semelhantes, excetuando-se somente a abelha rainha.Não
estranha, portanto, que o narrador insista numa seqüência de imagens de animais e insetos para caracterizar esse
conjunto.Tome-se como exercício e pesquisa o campo III relatando o despertar do cortiço .Por aí através de um
processo de antropomorfização não se diferem objetos , homens,animais e vegetais.É tudo um bando de machos e
fêmeas, numa fermentação sanguínea,naquela gula viçosa de plantas rasteiras ,mostrando o prazer animal de
existir.Há um verminar constante de formigueiro assanhado e destacam-se risos, sons de vozes que se
alternavam,sem saber onde grasnar de marrecos,cantar de galos,cacarejar de galinhas.

Para ressaltar essa borda de seres primitivos, o narrador acentua a degradação tipos aproximando-os
insistentemente de animais e conferindo-lhes apelidos.Leandra com “äncas de animal do campo“,Neném como uma
“enguia”; Paula com “dente de cão “e Pombinha ,com esse nome no diminutivo ocultando seu verdadeiro nome
,significa a fusão do natural e do cultural,quando o narrador privilegia o apelido de caracterização zoomórfica.E assim,
narrativa a dentro persiste um movimento de zoomorfização das criaturas , nivelando-as por baixo ,pelo que tem de
mais elementar.Romão e Bertoleza trabalham como uma junta de bois, o cortiço exala um “fartum de besta no
coito “,os personagens se xingam de cão ,vaca , galinha, porco ; Jerônimo com suas “lascívias de macaco e cheiro
sensual de bodes“;Piedade abandonada surge “ululante como um cão “,soltando um “mugido lúgubre ‘ como “
uma vaca chamando de longe ‘.
PERSONAGENS

Relação Bruno/Leocádia: quando Bruno descobre que Leocádia encontra-se com Henriquinho, a solução que
encontra é a destruição de sua casa e a expulsão da mulher sob ameaça de morte.

Relação Jerônimo/Firmo: a rivalidade por causa da mulata Rita configura-se por uma briga de porrete versus navalha,
e num outro ponto da narrativa pelo assassinato de Firmo.

Relação Romão/Bertoleza: ao se ver traída por Romão , Bertoleza comete violência contra si mesma e rasga a barriga
derramando as vísceras no chão da cozinha .

Relação Rita/Piedade: reduplicando o conflito Firmo/Jerônimo, brasileiro/ português , branco/mulato xingando-se as


personagens como os mais diferentes nomes de animais, reafirmando o primitivismo de seu conjunto.

Já o outro conjunto- o complexo, soluciona os conflitos efetivando trocas de objetos e dons. Na verdade, mais objetos
do que dons, uma vez que o romance se esforça por cumprir os preceitos naturalistas ressaltando sempre o aspecto
físico/objetivo das relações.

Relação Estela/Miranda: Apontada desde o príncipio da narrativa como uma associação de interesses em que a
mulher entrava com o capital e o homem com a sua gerência , destaca-se a função do dote, na formação dessa
sociedade econômico - sentimental .

João Romão: Significa elemento vitorioso segundo uma seleção das espécies , valores tidos como positivos na
cultura brasileira.

João Romão vendeiro

Miranda: sua posição de aristocrata com pequenas variações se mantém e ele atinge o baronato.

Jerônimo: depois de atingir o máximo de sua posição de assalariados, envolvido pelos elementos naturais do
conjunto 1 no interior do qual foi viver, entra em degenerescência.

Jerônimo: quando aparece na estalagem de Romão . A figura mitológica aí não é acidental ,mas ganha mais sentido
com a fisionomia da personagem depois que entra em decadência.Ele aí chega com ideais de ascensão,pois saíra da
roça onde “tinha que se sujeitar a emparelhar com os negros escravos e viver com sem aspirações nem futuro ,
trabalhando eternamente para outro” [ cap. V ].Todo esse capítulo é uma exaltação das virtudes de Jerônimo como
um tipo clássico-mitológico.

A- Mulher Objeto- Exemplifica-se inicialmente em Bertoleza, elemento feminino que se associa ao masculino(Romão)
para criação do cortiço. Macho e Fêmea trabalham dia e noite, e quanto mais o tempo passa, mais o macho se afasta
da Fêmea , uma vez que ela era peça fundamental apenas no principio de carreira de Romão : “a medida que ela
galgava posição social, a desgraça descia mais e mais, fazia-se mais escrava e rasteira”. Outro exemplo é Zulmira: vai
ser outro degrau utilizado por Romão , agora não no conjunto 1,mas no conjunto 2. A passagem de um conjunto ao
outro implica na presença de um elemento feminino no regime de troca Reafirmam-se certas regras da sociedade,
daquilo que José de Alencar chamara de “mercado matrimonial”. As ligações entre ele e Bertoleza e ele e Zulmira são
totalmente circunstanciais. As mulheres aí são elementos cambiáveis no comércio que ele opera.

B- A MULHER Sujeito - objeto . A relação Estela / Miranda coloca os dois em nível de igualdade.Ambos se
beneficiam. Essa relação ajusta o regime de trocas sexuais, que são a contrapartida das trocas econômicas e sociais. A
dupla Rita/Jerônimo exemplifica o mesmo regime de trocas. O narrador vem ao nível do enunciado para dizer que
entre eles se cumpria o ritual da atração racial. Rita é metonímia da natureza tropical enquanto Jerônimo é o símbolo
daquilo que o autor chama de “raça superior”:
“mas desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com sua tranqüila seriedade de animal bom e forte, o
sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.”(cap.
15)

Todas essas personagens têm a caracteriza-las ou permanência no mesmo status econômico e social ou a decadência.
Nenhuma sai de seu conjunto, as transformações são endógenas e não exógenas como se dará com Leonie,
Pombinha, Senhorinha.

C) Mulher-sujeito. – O termo “sujeito” aqui implica numa interpretação dos valores ideológicos da comunidade
descrita. Assim como Romão consegue se impor afirmando-se enquanto indivíduo dentro dos padrões vigentes na
sociedade, aquelas mulheres(Leonie, Pombinha, Senhorinha) também se destacam da dependência contínua ao
macho e passam a exercer o poder através do sexo-luxúria. Como Romão , elas extrapolam de seu conjunto original e
se realizam no conjunto complexo.

Léonie- Como protótipo da mulher do cortiço que saiu para a prostituição de elite, mantém trânsito livre entre um
conjunto e outro. Ela pode desfilar com os amantes pelas ruas e teatros com a mesma leveza com que regressa ao
cortiço para ver sua afilhada. Sua ascensão social permite-lhe o trânsito. O modelo de Léonie repete-se em Pombinha,
que é por ela seduzida, deixando de lado seu aspecto angelical para assumir a imagem da “serpente”, que o narrador
maneja para classificar vigor do instinto e a ameaça sexual. Repete-se em termos onomásticos o determinismo: a
pombinha vai ser devorada pela leoa através da iniciação homossexual: “a serpente vencia afinal: Pombinha foi, pelo
próprio pé, atraída, meter-se-lhe na boca”. Pombinha, enfim, “desfere o vôo”

Fique Atento!
 Bertoleza se considera como pertencente a uma raça superior à negra, pois é cafuza e inferior à branca.Seu
meio de origem é,evidentemente,inferior ao de João Romão, pois ela era escrava a ele provinha de um país
europeu, embora fosse de classe baixa. Daí a admiração que a mulher tem pelo português e daí a sua total
subserviência a ele.
 As imagens que o autor emprega na descrição do desenvolvimento do cortiço são degradantes( lodo,
lama,esterco) e reduzem as pessoas ao grau mais baixo e repulsivo da escala animal( larvas). Essa tendência
ao rebaixamento e à animalização das pessoas é características do naturalismo.
 Está implícita na obra que Miranda tem a ideia de que o Brasil é um paraíso para os espertos. O pais não é
visto como um lugar de trabalho construtivo, mas sim um lugar para fazer a América., ou seja,enriquecer
facilmente e aproveitar de tudo sem escrúpulos.
 Apesar de ser mais feliz com Rita Baiana , em nova vida cercada de prazeres , Jerônimo perdeu com seu
caráter português, sua antiga fibra moral, sua disciplina e seus projetos de enriquecimento.Agora, leva vida
relaxada, endivida-se , embriaga-se.
 Existe uma relação entre a mulata e a lua, a mulher é, nos dois textos associada ao brilho prateado da lua. .
 O narrador diz que Rita Baiana era volúvel( leviana) como toda mestiça. Aqui temos a expressão de um
preconceito determinista que era tomado como verdade científica pelos naturalistas.De que preconceito e
determinismo se trata?Trata-se do determinismo da raça , que era tomado como verdade científica e que
degenerou em simples preconceito racial.
 Aluísio de Azevedo pertence ao Naturalismo , que tem como características principais o zoomorfismo e o
descritivismo objetivo, que fixa elementos sensoriais.
 O zoomorfismo aparece no aglomerado de” fêmeas e machos” ,”não molhar o pelo”,”fossando” ,” pomba no
cio” e a análise objetiva voltada para elementos sensoriais, aprece em “ fio d´água que escorria da altura de
uns cinco palmos”,”chão inundava-se”, dentre outras.
 O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no cap.XIX, pode ser considerado um momento de romantismo, pois
arrependidos , chorosos, cheios de melancolia e derrotada ternura um pelo outro, eles são vistos
comovidamente pelo narrador, que usa de sinais de pontuação subjetivos e de frases entrecortadas, à moda
de balbucio, de voz embargada pela tristeza- embora volte quase que imediatamente a postura impessoal.
 No final do capítulo II,Aluísio de Azevedo põe em boca de Botelho um discurso cuja ironia nos lembra O
Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós ( 1875) com os argumentos levantados pelos safados padres de
Leiria para tornar lícito seu amasiamento ilegal com as devotas, para aquietar a consciência do jovem
Henrique, amante de D. Estela, dizendo:”Fique então sabendo que não é só a ela que você faz o obséquio ,
mas também ao marido, quanto mais escovar-lhe você a mulher, mais macia ela fica para ele. Dessa forma
ele ficará tranqüilo quando voltar do serviço, um pouco de descanso. Escove-a, escove-a! que a porá macia
que nem veludo!”
 Observe a prosopopeia ou personificação “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os
olhos,mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas”( cap. III).
 FUVEST-2010- Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se
pede.
(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom
e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho
de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa,
sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre
destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo
porejou o cheiro sensual dos bodes. Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam na
composição de O cortiço, identifique e explique aquela que se manifesta no trecho a e a que se
manifesta no trecho b, a seguir:
a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”.
b) “cedendo às imposições mesológicas”.
Resposta É do naturalismo -poética predominante na composição de Aluísio de Azevedo a concepção
de que os comportamentos humanos, obedecem a determinismos “de raça”, ou seja genético, como se
demonstraria, na propensão da mestiça determinada por seu “sangue”, para o “macho de raça superior”.
B) As “imposições mesológicas” representam o determinismo “do meio”, ou seja do ambiente físico e
social, sobre o comportamento humano.
2- VIDAS SECAS- Graciliano Ramos Profª Sônia Targa

2ª geração do modernismo no Brasil

Em Literatura, o período de 1930 e 1945 caracteriza-se pela tendência do posicionamento


ideológico, político e social dos intelectuais brasileiros.A rebeldia estética da 1ª fase modernista cedeu
lugar à literatura socialmente comprometida, sobretudo no que diz respeito à prosa de ficção.A
revolução de 1930, o declínio e a dissolução das estruturas sociais e econômicas do Nordeste a imigração
nas estradas do Sul apareciam nos novos estilos de ficção, caracterizados pela observação real e direta
dos fatos.Euclides da Cunha e Lima Barreto, do Pré Romantismo não eram mais exceções, mas sim os
primeiros a abordar o elemento regional/social e, como tal ganharam sucessores.As elites urbanas e seus
intelectuais analisavam e procuravam compreender o país nos seus novos aspectos.

Diante de tal complexidade, a prosa passou a ser o gênero mais cultivado, principalmente na
vertente regionalista, com as produções de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Raquel de
Queirós José Américo de Almeida e José Lins do Rego.

Além do aspecto regional, usava-se o texto também para analisar ou denunciar injustiças
sociais como dificuldades com o trabalho, o meio, o abandono do cidadão por parte do Estado,
resumindo tudo na falta de perspectiva de uma vida minimamente decente para o cidadão anônimo,
modelo, aliás, ao qual se enquadra a temática de Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas.

A preocupação com essas realidades foi tão intensa nesses autores que a linguagem literária
evoluiu muito pouco, principalmente se considerarmos as propostas inovadoras da geração modernista
de 1922, isso porque preocupações com a linguagem foram relegadas a segundo plano, haja vista que a
essência do projeto artístico desses autores centrava-se nos planos social e histórico.

Vidas Secas – uma novela desmontável? Uma obra cíclica?

Romance novela ou uma coletânea de contos? O próprio Graciliano Ramos, em Alguns tipos
sem importância, uma das crônicas de seu livro Linhas tortas depõe:

Em 1937 escrevi algumas linhas sobre a morte de uma cachorra, um bicho que saiu
inteligente demais, creio eu, e por isso um pouco diferente dos meus bípedes.Dediquei em seguida
várias páginas aos donos do animal. Essas coisas foram vendidas, em retalho, a jornais e revistas. E como
José Olimpio (proprietário da Livraria José Olympio Editora) me pedisse um livro para o começo do ano
passado, arranjei outras narrações, que tanto podem ser contos como capítulos de romance.Assim
nasceram Fabiano, a mulher, os dois filhos e a cachorra Baleia, as últimas criaturas que pus em
circulação.

Portanto, Vidas Secas é a junção de treze contos formando uma novela ( ou romance como
disse o próprio autor) já que todos eles estão ligados entre si, sendo o primeiro ( agora capítulo ) uma
espécie de apresentação das personagens. Nos demais há capítulos especialmente feitos para cada
componente da família (aí se inclui a cachorra Baleia), em que os outros viventes não passam de
coadjuvantes, dando à obra um caráter novelístico.Obra neorrealista, mostra a denúncia social, a miséria
física e intelectual do homem do sertão nordestino.Esses treze capítulos demonstra a saga do vaqueiro
Fabiano, Sinhá Vitória, MMV, MMN e a cadela Baleia.

Os capítulos (ou contos) de Vidas Secas são: Mudança; Fabiano; Cadeia; Sinhá Vitória; O
menino mais novo; O menino mais velho; Inverno; Festa; Baleia; Contas; O soldado amarelo; O mundo
coberto de penas; Fuga.

Graciliano Ramos escreveu uma carta a coluna de João Conde da Revista “O Cruzeiro” em
1944, explicando a construção do livro.Primeiro escreveu Baleia, depois Sinhá Vitória e Cadeia. Aos
poucos, a partir das lembranças da sua própria vida escreveu o restante- cujo tema Nordeste e seus
problemas- A seca que transforma as pessoas em bichos esfomeados e sedentos.

A- Quanto às influências recebidas

Vidas Secas se enquadra na linha regionalista, introduzida na Literatura Brasileira, pelo


romancista romântico Franklin Távora ao publicar em 1876 O Cabeleira, obra cujo assunto gira em torno do
banditismo no Nordeste.Mas foi com romances regionalistas do Naturalismo que não só Vidas Secas, mas
vários romances da geração de 1930-como, por exemplo, A Bagaceira (José Américo de Almeida), O quinze
(Raquel de Queirós)-mais se identificaram.Estamos falando de Dona Guidinha do Poço, de Manuel Oliveira
Paiva e, principalmente Luzia Homem de Domingos Olimpio, obra em que a seca se faz presente.

B-Quanto à linguagem
Linguagem direta, concisa, direta ,objetiva, frases curtas e diretas.Entanto há momentos de
reflexão,no momento em que faz repetições de palavras e expressões. Até mesmo em Vidas Secas, em que
tudo é minguado –água, comida, dinheiro, diálogos, adjetivos, podemos encontrar algumas figuras de
linguagem que quebram a seca narrativa de personagens secos vivendo em terra seca: símiles e
onomatopéias são as mais utilizadas, isto porque as personagens são a todo o momento comparadas a
animais e, por vezes a vegetação da região, além de balbuciarem, grunhirem rugirem imitando cabras,
bois, ventos em sons omomatopaicos.Usa o discurso indireto livre, em abundância, para mostrar
intimidade entre narrador e personagem .Capta a emoção e o pensamento mais interior das personagens
protagonistas.Aproximações psicológicas, sonhos, lembranças. Tipo de simbiose:’Estava direito aquilo.”
“...era bruto.”

Debaixo dos couros, Fabiano andava banzeiro, pesado, direitinho um urubu.

Há na história momentos narrativo-descritivo. Faz uso de verbos no Pretérito Perfeito que


indicam as ações pontuais e, no Pretérito Imperfeito, indicando ações habituais. Os substantivos são
concretos. Ainda, Baleia representa os sonhos e desejos das pessoas.O enredo é quase surreal, para isso o
uso do Futuro do Pretérito.”Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás”.

As personagens não dialogam, resmungam. Usam interjeições e gestos.


C-Quanto ao foco narrativo

Narrador em 3ª pessoa – onisciente- único romance escrito em 3ª pessoa. Graciliano deixa de


lado a impessoalidade, passando a sofrer com a família (inclusive Baleia),aí não seria exagero dizermos que
o narrador é o próprio Graciliano Ramos. Ao narrador interessa registrar além da tragédia a opressão social
que recai sobre Fabiano que evita o olhar dos filhos. Fabiano tenta compreender o mundo, mas devido ao
conflito interno, rebela-se contra seu destino.

Como as personagens, principalmente Fabiano, são monossilábicas, pouco se expressam pela


fala, os autores lança mão do discurso indireto livre. (mistura da fala do narrador e personagem)

D- Quanto aos temas;

Observa-se nos nomes de Sinhá Vitória e Baleia uma oposição em relação á realidade, pois
Vitória significa realização de ideais e Baleia gorda que vive nas águas.

Podemos citar outros temas em Vidas secas:

- a miséria física e mental- a penúria em que vive a família,

- a arbitrariedade ou o abuso da figura do soldado amarelo,


- a exploração no trabalho- a figura do fazendeiro explorador e do empregado –
explorado,
- a corrupção governamental- a figura do cobrador de impostos da prefeitura,
- a falta de perspectiva de vida – na figura do próprio narrador,
- a marginalização do sertanejo submisso,
- sujeição do homem pelo homem,
- impotência diante da natureza,
- revolta interior,
- (in)consciência do existir,
- ZOOMORFIZAÇÃO.
-

E-.Comentário

Até certo ponto os capítulos podem ser lidos separadamente. No entanto, ligam-se pela
temática: família de nordestinos- problemática- desigusldade- desgraças cotidianas- medos- sonhos-
sofrimentos e privações.

Primeira Visão-

Parece ser fácil de ler, mas engano.É difícil, escrito como protesto para que os brasileiros,
políticos em geram voltassem os olhos para os dramas dos nordestinos.-Tema de reflexão e
denúncia..Vidas Secas é um canto de amor ao homem cheio de coragem e teimosia.É uma
metonímia do sertão.

F- Tempo narrativo
A história acontece entre duas secas. 1ª Seca- Família de sertanejos migram á procura de um
lugar para recomeçar a vida,vem para a fazenda abandonada- juazeiros.

Fabiano apresenta-se ao patrão como vaqueiro- marcador de gado- símbolo de marcar-se a si


mesmo .Seres animalizados, perdidos dentro de si mesmos.

2ª Seca- Família parte para o Sul, pois os meninos precisam se alfabetizar- busca de novas
possibilidades. O capítulo Fuga fecha à narrativa. Não sabemos para onde vão..O restante é
psicológico.

G- Espaço-

Sertão do Nordeste- qualquer lugar que tem seca

H- Comentário

Vidas Secas é a história de uma família de retirantes, que, paradoxalmente, não chega a
constituir propriamente uma história. A dura andança, sob a implacabilidade da seca, de certa forma
justifica a inutilidade da comunicação ente os membros da família, o fato dos meninos não
apresentarem, as dificuldades lingüísticas de Fabiano, a inquietação constante. E também o sacrifício
do papagaio, que tinha acompanhado a família, e que veio a transformar-se em alimento
providencial. O papagaio ao ser comido representa a ruptura da linguagem.

Fabiano é considerado um anti-herói- duro como a própria terra que nunca cria raízes.. É
branco, de olhos claros, mas como ele mesmo se compara “ um bicho”

Como se não bastasse tal infortúnio, Fabiano vem a ser preso pelo soldado amarelo, símbolo
do autoritarismo local. Ao contrário de Fabiano, que se mostra matuto em tudo, Sinhá Vitória
apresenta sinais de ter vindo de um meio social menos duro. Baleia, a cachorra, consegue sentir e
reagir com inteligência superior à media dos animais. Sua humanização progressiva acompanha a
também progressiva animalização dos membros da família.

Fabiano teve de sacrificar a cachorra, por suspeitar que ela estivesse padecendo de raiva.

Embora se revolte contra as coisas do patrão, Fabiano tem de aceitá-las, para não perder o
emprego.

Seu reencontro com o soldado amarelo, depois, em plena caatinga, faz-lhe reconhecer sua
própria superioridade. Acaba perdoando, ensinando ao soldado o caminho de volta. Mas a temida
seca enfim está chegando.

As árvores se enchem de aves de arribação.

Fabiano recomeça a analisar sua vida. Quem lhe dá ânimo é Sinhá Vitória. Os retirantes deixam
à casa da fazenda, e retornam o caminho de sempre. No pensamento de Fabiano brilha certa
esperança, materializada pelas promessas de chegar ao sul do país. Mas a perspectiva que vem do
narrador é a da contínua andança, sem definição e sem destino certo.

Vejamos agora como se distribuem os principais acidentes dentro de cada capítulo:


A FUGA DA SECA

Este primeiro capítulo já supõe toda uma narrativa anterior, sobre a qual para o silêncio, e
cujas características podemos adivinhar:

“Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados famintos”. Vinham tocados
pela seca. Chegam ao pátio de uma fazenda abandonada. Fabiano arruma uma fogueira. Baleia traz
no dentes um preá.

“Levantaram-se todos gritando. O menino mais velho esfregou as pálpebras afastando


pedaços de sonho. Sinhá Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava
ensangüentado, lábia o sangue e tirava proveito do beijo”.Fabiano enche-se de alegria com a
promessa de chuvas no poente. Já se anuncia neste capítulo a compreensível rudeza de Fabiano com
os filhos, resultado da incomunicabilidade. Podemos dizer que este primeiro capítulo apresenta as
“regras sérias do jogo”, ou seja, o conjunto de princípios e situações que não se vão mudar
substancialmente.

É desse tabuleiro inicial que se podem escolher alguma peça para dar-lhes desenvolvimento
particular m cada um dos capítulos seguintes.

Dos treze capítulos do livro, apenas três fogem um pouco a esse esquema e trazem à cena
alguma coisa inesperada: “Caldeira”, “Festa” e “O soldado amarelo”. Não nos deve admirar o fato de
que esses três capítulos são os que estabelecem uma mínima relação da família com a periferia da
sociedade, e denunciam, por isso mesmo, uma crise da comunicação e da receptibilidade.

VOCÊ É UM BICHO, FABIANO!

Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto passara uns dias mastigando raiz de
imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano
fizera-se de desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos,
sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe a marca de ferro.
Fabiano trabalha como um negro.

Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera com um bicho, entocara-se
como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Contente, dizia a si mesmo: “Você é um bicho,
Fabiano.”

Sua vida era com os brutos, sua linguagem era deficiente: “Admirava as palavras compridas e
difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e
talvez perigosas”. Lembrava-se sempre do seu Tomás da bolandeira (máquina de descaroçar
algodão). Aquele sim é que falava bem. Seu Tomás “lia demais”

O patrão mostra autoridade. Fabiano obedece, pois se preocupa com o futuro, com a
educação dos filhos.
Nota-se que a presença do patrão obedece a um movimento circular. Ele já despedira Fabiano
antes. Reencontra Fabiano, e a pedido deste, deixa-o ficar. Depois o despede de novo. A família
então teve de retomar o ciclo da andança

CADEIA vs FABIANO

Na feira da cidade, Fabiano é convidado por um soldado amarelo para jogar trinta e um.
Perde, e sai. O soldado o insulta por ter saído sem se despedir. Fabiano é levado para cadeia e
apanha.

Obviamente o soldado não prende Fabiano por uma antipatia pessoal,que o vaqueiro lhe
inspirasse.

Prende-o, porque, afinal, com alguém ele deve exercer a autoridade. Para o soldado amarelo,
Fabiano é apenas um tipo, o tipo social contra quem ele pode exercer sua discriminação e seu
autoritarismo. (intertextualidade com M.Sargento de Milícias- Major Vidigal)

SINHÁ VITÓRIA

Sinhá Vitória que já há mais de um ano uma cama de lastro e couro, igual à do seu Tomás da
bolandeira. Vêm-lhe as recordações da viagem, a morte do papagaio. Tem medo da seção. Mas a
presença do marido a deixa segura.

A figura de seu Tomás da bolandeira funciona como um modelo um paradigma de gente culta,
que a família pôde conhecer. Mas, aqui, sobretudo é importante verificar como Graciliano, atento
Talvez à lição machadiana, faz a mulher ocupar um plano psicologicamente distinto do plano
masculino. Dizem alguns antropólogos que a mulher te uma reação mais íntima com a natureza que
o homem. Entretanto, Graciliano parece inverter esse princípio, pois Sinhá Vitória está mais próxima
da cultura do que Fabiano. Portanto, sua “animalização” é menor.

O MENINO MAIS NOVO (MMN)

Quer ser igual ao pai, e por isso deseja realizar algo notável, para despertar a admiração do
irmão e da cachorra. Queria amansar uma égua e montá-la, como o pai fizera. Por isso, ele tentar
montar o bode, e cai sob risadas do irmão, e a desaprovação e Baleia.

Aqui também notamos uma resistência a brutalização, pois o menino continua com seus
sonhos de menino, tal como sua mãe, que continua a sonhar com uma cama de lastro de couro.

O MENINO MAIS VELHO (MMV)


Sente imensa curiosidade pela palavra inferno. Não obtendo explicação do pai, recorre à mãe,
que fala em espetos quentes e fogueiras. Ao perguntar à mãe se ela tinha visto tudo isso, Sinhá
Vitória lhe dá um cocorote. Indignado, o menino se esconde. Fica abraçado com a cachorrinha. Seu
ideal é ter um amigo.

“Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia.”

Ao contrário de seu irmão, o menino mais velho já começa a apresenta sinais de mais efetiva
(e mais dolorosa) imitação paterna. O desejo de saber o que significava inferno, a, e a lição recebida
da mãe, já constituem, por si sós, maneiras de evidenciar como a linguagem não tem boa qualidade
no contexto dos retirantes.

Isso também explicaria um pouco as dificuldades lingüísticas de Fabiano, que não parecem de
origem patológica, mas resultam de inadaptação cultural. E, por outro lado, no plano do narrador, o
desejo de saber o que é inferno não passa de uma discreta (mas intensa) ironia, pois todos estavam,
afinal, submetidos ao inferno do sol.

INVERNO RIGOROSO

O inverno também é rigoroso. A família se reúne ao pé do fogo.

Fabiano inventa uma história, mas a família não entende, nem ele a sabe exprimir direito.
Todos temem a violência ameaçadora da chuva. Também tem a seca, que virá depois.

Esta imagem da família reunida, a ouvir uma história contada pelo pai, pode, de certa forma,
parecer-nos excessiva. Porque nós, leitores, colocados num plano existencialmente superior ao das
personagens, estranhamos que elas ainda tenham tempo para se preocupar com algo supérfluo,
tanto mais que a situação delas era de completa abertura. Mas este modo de ler seria incorreto
porque as situações de angústia prolongada conhecem bem um movimento de vai-e-vem, entre a
angústia e a distração. Graciliano conhecia muito bem esse fenômeno

FESTA NA CIDADE

Festa de natal na cidade. As roupas da família ficaram apertadas. Os meninos estranham tudo
em volta.

“Comparando-se ao tipo da cidade, Fabiano reconhecia-se inferior.”

Depois da missa, convida a mulher e filhos para os cavalinhos. Quer ir às barracas de jogo, mas
sinhá Vitória desaprova. Bebe em demasia, fica valente. Mas acaba pegando no sono na calçada.
Fabiano sonha com soldados amarelos que lhe pisavam os pés e ameaçavam com facões terríveis.
Este capítulo procura exprimir o sentimento de inferioridade da família. Mas não fica nisso. Porque a
obediência forçada é muitas vezes pulverizada pela revolta repentina.

Isso, aliás, é típico do comportamento sertanejo, pelo menos no que está testemunhado pela
ficção regionalista. Há um sentimento de dignidade humana, que mais cedo ou mais tarde se vem a
manifestar.

BALEIA (o nome que lembra água)

Baleia não estava bem. Fabiano calcula que era raiva (hidrofobia) e resolve matar o animal.
Sinhá vitória tem de conter os meninos. Desconfiada Baleia tenta esconder-se. Feriada na perna,
Baleia foge, mas não consegue alcançar os juazeiros. Baleia não conseguia entender o que estava
acontecendo. “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos
de Fabiano, um Fabiano enorme.”

Pode-se dizer que o realismo contínuo de Graciliano Ramos encontra em Baleia seu ponto de
inversão. De fato, o carinho, a ternura com que o narrador se transfere para dentro do animal, ,a
sabedoria com que soube preparar a cena patética, o clímax de humanização do bichinho antes da
morte, tudo isto nos mostra repentinamente com Graciliano muito próximo dos modos sublimes da
literatura narrativa, coisas que contrasta com a paisagem constante do livro.

Digamos que esse é um momento de poesia trágica de Vidas Secas.

O ACERTO DAS CONTAS

O patrão rouba Fabiano nas contas. Os bezerros e cabritos que lhe cabiam, como paga do
trabalho, Fabiano os tem de vender ao patrão. Fabiano reclama, pois as contas do patrão não
conferem com as feitas por sinhá Vitória. O patrão lhe aconselha procurar serviço noutra fazenda.
Fabiano depois recorda a injustiça que sofreu de um fiscal da prefeitura por ter tentado vender um
porco. “O pai vivera assim, o avô também. Cortar mandacaru ensebar látegos – aquilo estava nos
sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada”.

O SOLDADO AMARELO (amarelo = seca =sol)

E eis que Fabiano encontra na caatinga o soldado amarelo que levara para a cadeia. O
soldado, acovardado, fica à mercê de Fabiano, que vacila em sua intenção de vingança, e acaba
ensinando ao soldado o caminho do retorno.

Este é um dos momentos de grande ironia. Pois o soldado aí aparece naquilo que pessoal e
socialmente ele é, não mais naquilo que a instituição o fazia parecer. E ele é, enfim, sob vários
aspectos, inferior a Fabiano. Existe uma proporção entre ambos. Fabiano é tanto mais forte quanto
mais próximo da caatinga. O soldado é tanto mais forte quanto acobertado pelas instituições. A força
de Fabiano vem do próprio Fabiano; o poder do soldado, o autoritarismo que exerce sobre os outros,
ao contrário,,não vem dele, mas da organização a que pertence.

O MUNDO COBERTO DE PENAS (é a volta da seca)

A seca estava voltando. É o que anunciam as aves de arribação. Sinhá Vitória adverte: as aves
estão tomando a água que mantém vivo os outros animais. Fabiano se admira da inteligência de sua
mulher, e procura matar várias aves com a espingarda. Servirão de alimento...Fabiano não consegue
esquecer Baleia. Era preciso sair dali. Novamente se vai precipitar a andança.

FUGA (obra cíclica)

Prepara a viagem, partem de madrugada. Fabiano mata o bezerro que possuem e salga a
carne. Sinhá Vitória fala de seus sonhos ao marido. Este se enche de esperança. “E andavam para o
sul, metidos naqueles sonhos. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolar,
aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros,
inúteis, acabando-se como Baleia”.

Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada,
ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá.

O sertão mandaria pra cidade homens fortes, brutos como Fabiano, sinhá Vitória e os
meninos.”

Este final, senão representa nem de longe um “final feliz”, é, pelo menos, uma porta aberta
para sair-se do contínuo giro circular. É um final importantíssimo para a solução do romance, pois
introduz uma pequena abertura para a utopia das grandes metrópoles, e reproduz com
verossimilhança, aquilo que de fato vem acontecendo na cena abrasileira.

F. A ESTRUTURA DO ROMANCE

Um dos elementos mais aguardados, num romance regionalista, é o enredo, a intriga, ou seja,
a forma que no romance assuma a sociedade. Já se vê que Vida Seca não pode contar com um intriga
sólida, complexa.

Enfim, Vidas Secas não tem uma história, no sentido romancístico do termo. Pois, para que
haja uma história substancial, é necessário que a sociedade se manifeste. Ora, as relações sociais, em
Vidas Secas, são apenas vislumbradas de longe, ou sinalizadas em circunstâncias muito rápidas e
muito fortuitas. A família é projetada para o âmbito agressivo da natureza. Portanto, a fisionomia
heróica da família se vai formar na luta contra a hostilidade natural, na organização mínima do
instinto de sobrevivência. A sociedade reaparece aqui ou ali,mas tensa e vigilante, como os guardas
de uma fronteira.

Isto, por reflexo, acaba apontando uma sociedade dividida entre grandes proprietários rurais e
seus trabalhadores, que representam apenas disponibilidade eventual de força de trabalho.
Do ponto d vista do narrador, que se manifesta em terceira pessoa e é onisciente a discrição
tática é sensível.

Repare-se que os capítulos lembram verdadeiras tomadas fílmicas. São cenas colocadas umas
ao lado das outras, com pouca continuidade narrativa, embora apresentasse em constante
movimentação.

Obviamente, este mosaico é uma função da realidade social representada. Daí que a maioria
dos capítulos passa ser lida com contos autônomos. E, de fato, a intenção primeira de Graciliano
Ramos oi a de escrever um conto. Sua secura não vinha de um projeto de concisão abertamente
definido, como foi o projeto de modernidade apresentado por Oswald de Andrade ou Mário de
Andrade. A secura de Graciliano Ramoso tinha principalmente duas fontes. Uma era o caráter do
homem, um caráter coeso e determinado, que o fazia sentir com despudor todo excesso verbal,
sobretudo se fosse romântico, expansivo. A outra fonte era a própria necessidade de harmonizar a
linguagem ao panorama seco e inóspito que estava descrevendo. No fundo, isto revela necessidade
de adequação imitativa – adequação entre a realidade representada e o estilo de representação -,
fundamental para o neorrealismo regionalista. A prosa de Graciliano Ramos corresponde a um
esforço de análise dos dramas sociais. E Graciliano foi, em sua geração, a chamada geração
regionalista dos anos 30, aquele que melhor soube casar a denúncia com a elaboração artística

Observe: Três são os opressores de Fabiano; a seca; o soldado amarelo e o patrão. Ainda se
analisarmos a fundo encontraremos o fisca.

Conclusão-

Urge salientar que o problema social tratado em Vidas Secas é extremamente brasileiro e de
âmbito regional. A seca gera miséria, e a miséria: a morte e a desolação. Nesse sentido, é lícito pensar que
não sobram alternativas para os retirantes, a não ser as migrações contínuas de terra para terra, na mesma
região, caracterizando a mudança, transfigurando-se em fuga.

Em qualquer cenário, é nítido observar a relação de vassalagem e de exploração, uma vez que
esses homens acabam sendo tomados como mão de obra barata.;No entanto, percebe-se que o vaqueiro
respeita o trabalho que executa e ama a terra em que vive.O meio agride o homem, interferindo nas
relações sociais.. Nesse sentido, ao lado da tendência neorrealista coexiste a forte tendência neonaturalista
em Vidas Secas.
3- Antologia Poética (com base na 2ª edição aumentada), de Vinicius de Moraes

Profª Sônia Targa

Antologia Poética

Antologia poética foi publicada em 1954 e apresenta a relação completa dos poemas
que integram esse conjunto, a fim de dirimir possíveis dúvidas dos alunos:

- O olhar para - Marinha - A manhã do


trás - Os acrobatas morto
- A uma - Paisagem - Mensagem a
mulher - Balada do Rubem Braga
- Ilha do cavalão - Balada da
Governador - Canção moça do
- Ausência - Quatro Miramar
- O incriado sonetos de - Balanço do
- A volta da meditação: filho morto
mulher I - Balada das
morena II arquivistas
- A mulher na III - A Verlaine
noite IV - A bomba
- Agonia - O riso atômica
- A legião dos - Pescador - Aurora, com
Urias - Soneto de movimento
- Alba despedida (Posto 3)
- O escravo - Sinos de - Balada do
- A música das Oxford morto vivo
almas - Trecho - Sacrifício da
- Três - Mar Aurora
respostas em - Balada da - Soneto da
face de Deus praia do mulher inútil
- Poema nº Vidigal - O rio
três em busca - Soneto de - Bilhete a
da essência - Londres Baudelaire
O poeta - Cântico - A morte de
O nascimento - A um madrugada
do homem passarinho - O assassino
(**) - A estrela - Poema
- Viagem à polar enjoadinho
sombra - Soneto do - Soneto do só
- Balada feroz maior amor ou Parábola de
- Invocação à - Imitação de Malte Laurids
mulher única Rilke Brigge
- A máscara - Balada do - A pera
da noite enterrado vivo - A paixão da
- Vida e poesia - Epitáfio carne
- Sonata do - Allegro - A ausente
amor perdido - Soneto de - A rosa de
- A brusca véspera Hiroshima
poesia da - Balada do - Tríptico na
mulher amada Mangue morte de Sergei
- O cemitério - Soneto a Mikhailovitch
na madrugada Otávio de Faria Eisenstein
- Solilóquio - Rosário - Pátria minha
- A vida vivida - O escândalo - O crocodilo
- Ariana, a da rosa - História
mulher - Soneto ao passional,
- Elegia quase inverno Hollywood,
uma ode - Marina Califórnia
- Elegia lírica - Soneto de - Epitalâmio
- Elegia Quarta-feira de - Conjugação da
desesperada Cinzas ausente
- Elegia ao - Sombra e luz - O filho do
primeiro - Saudade de homem
amigo Manuel - Soneto de
- A última Bandeira aniversário
elegia - Azul e Branco - Poética (I)
- O falso - Soneto de - Elegia na
mendigo separação morte de
- Soneto de - Balada de Clodoaldo
intimidade Pedro Nava (O Pereira da Silva
- Ária para anjo e o Moraes, poeta e
assovio túmulo) cidadão
- Soneto à lua - Soneto de - Desert Hot
- Soneto de carnaval Springs
agosto - Balada das - Retrato, à sua
- A mulher meninas de maneira (João
que passa bicicleta Cabral de Melo
- Soneto a - Poema de Neto)
Katherine Natal - A hora íntima
Mansfield - O dia da - Menino morto
- Balada para Criação pelas ladeiras
Maria - Balada dos de Ouro Preto
- Soneto de mortos dos - Poema dos
contrição campos de olhos da amada
- Ternura concentração - O poeta Hart
- Soneto de - Repto Crane suicida-se
devoção - O poeta e a no mar
- Soneto de lua - A brusca
fidelidade - Soneto da poesia da
- Poemas para rosa mulher amada
todas as - Valsa à (II)
mulheres mulher do - A que vem de
- A morte povo longe
- A partida - Cinepoema - Receita de
- Mensagem à mulher
poesia - Balada negra
- O tempo nos - Soneto do
parques amor total
- Balada das
duas mocinhas
de Botafogo
- Máscara
mortuária de
Graciliano
Ramos
- O mergulhador
- Poema de
Auteil
- O operário em
construção

Este livro reúne a maior e a melhor parte da obra de um dos grandes poetas do Brasil.

Vinicius de Moraes nasceu no Rio, em 1913, aqui se formou em Direito e entrou, por concurso,
para a carreira diplomática. Serviu durante quatro anos no consulado brasileiro em Los Angeles e está
no momento como secretário de nossa embaixada em Paris. Seu primeiro livro foi O caminho para a
distância, do qual pouco aproveitou nesta seleção, seguindo-se Ariana, a mulher e Forma e exegese,
com o qual conquistou o Prêmio Felipe de Oliveira. Publicou a seguir Novos poemas, Cinco elegias,
Poemas, sonetos e baladas e Pátria minha que firmaram seu nome, no consenso da crítica, como o
melhor poeta da turma que hoje entra pela casa dos quarenta. Alguns desses livros foram feitos em
edições limitadas; todos estão há longo tempo esgotados, o que faz com que grandes admiradores de
Vinicius de Moraes conheçam apenas uma pequena parte de sua obra. Esta seleção, feita pelo próprio
poeta com a ajuda de amigos – principalmente Manuel Bandeira – adquire, assim, uma grande
importância, pois possibilita um estudo da evolução do poeta e a admiração do que ele tem feito de
mais alto e melhor.

Vindo de um misticismo de fundo religioso para uma poesia nitidamente sensual que depois se
muda em versos marcados por um fundo sentimento social, a obra de Vinicius tem como constante um
lirismo de grande força e pureza. Ainda com o risco de incorrer na censura dos que levam suas
preocupações puritanas ao domínio das artes, não quiseram os amigos do poeta, principalmente o que
assina esta nota, e assim se faz responsável por esta resolução, suprimir algumas palavras ou
expressões mais fortes que de raro em raro aparecem em seus versos. Isso fará com que não seja
recomendável a presença deste livro em mãos juvenis – mas resguarda a pureza de sua poesia, que
tudo, em poesia, transfigura. Estamos certos de que, com a edição deste livro, a obra de Vinicius de
Moraes ganhará uma popularidade maior, e passará a ter, entre o público, o lugar de honra que há
muito ocupa no espírito e no sentimento dos poetas e dos críticos.
O volume abre-se com uma "Advertência" (do autor, sem dúvida, embora sem assinatura, com
indicação de local e data):

Poderia este livro ser dividido em duas partes, correspondentes a dois períodos distintos na
poesia .
A primeira, transcendental, freqüentemente mística, resultante de sua fase cristã, termina com o
poema "Ariana, a mulher", editado em 1936. Salvo, aqui e ali, umas pequenas emendas, a única
alteração digna de nota nesta parte foi reduzir-se o poema "O cemitério da madrugada" às quatro
estrofes iniciais, no que atendeu o A. a uma velha idéia de seu amigo Rodrigo M.F. de Andrade.

À segunda parte, que abre com o poema "O falso mendigo", o primeiro, ao que se lembra o A.,
escrito em oposição ao transcendentalismo anterior, pertencem algumas poesias do livro Novos
poemas, também representado na outra fase, e os demais versos publicados posteriormente em livros,
revistas e jornais. Nela estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo
material, com a difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos.

De permeio foram colocadas as Cinco elegias (1943), como representativas do período de


transição entre aquelas duas tendências contraditórias, – livro também onde elas melhor se encontram
e fundiram em busca de uma sintaxe própria.

Não obstante certas disparidades, facilmente verificáveis no índice, impôs-se o critério


cronológico para uma impressão verídica do que foi a luta mantida pelo A.contra si mesmo no sentido
de uma libertação, hoje alcançada, dos preconceitos e enjoamentos de sua classe e do seu meio, os
quais tanto, e tão inutilmente, lhe angustiaram a formação.

que é uma antologia?

Antes de qualquer coisa é preciso definir o que vem a ser "antologia". Antologia
significa, etimologicamente, "coletânea de flores"; o termo remete à idéia de escolha,
coleção. Sendo assim, antologia é uma coleção de trabalhos literários; neste caso,
coleção de trabalhos poéticos.

A importância de se ler uma obra como esta ("Antologia Poética") está no fato de que
estamos tendo contato com uma seleção de poemas feita pelo próprio autor.

A divisão da obra de Vinicius


A obra poética de Vinícius de Moraes é tradicionalmente dividida pela crítica em duas
fases distintas.

A primeira está dividida em 27 poemas, marcada pelo misticismo,pelos altos voos


angustiados que lembram o condoreirismo romântico e o Simbolismo.
A segunda fase com 109 textos, é marcada pela abordagem do cotidiano,pelo tempo
presente, pelo voo rasteiro sobre as coisas simples da vida. Por haver nessa fase uma
renúncia à superstição e ao purismo fortemente presentes na primeira, bem como um
direcionamento para uma atitude mais brincalhona e amorosa perante a poesia, essa
segunda fase ficou conhecida como "O encontro do cotidiano pelo poeta". Nessa
passagem do metafísico para o físico, do espiritual para o sensual, do sublime para o
cotidiano, o poeta retoma sugestões românticas (como lua, cidade, samba). Refugia-
se no erotismo: há contemplação do amor, poemas "sobre a mulher" e adoração
panteística da natureza. Compôs também poemas de indignação social, cujos
exemplares são: "Balada dos mortos dos campos de concentração", "O operário em
construção" e "A rosa de Hiroshima".
E entre as duas estão as Cinco Elegias, que, por assumirem uma posição
intermediária, possuem uma mistura de abstração com objetividade.

O terceiro Vinicius é o compositor, letrista e cantor. Autor de mais de trezentas


músicas (como atesta seu Livro de letras, lançado postumamente, em 1991, onde
estão mais de 300 letras de músicas de sua autoria), difundidas pelo mundo com o
grande acontecimento cultural e musical que foi a bossa nova. Seus parceiros, como
vimos, vão desde Bach a Toquinho.

Embora a crítica fizesse (faça) tal divisão, colocando de um lado o poeta e de outro o
showman, Vinicius nunca concordou que houvesse diferença entre seus sambas e
seus poemas escritos, pois para ele tudo era igual.

Comentários sobre alguns poemas


Selecionei alguns poemas representativos da primeira e segunda fase do poeta para
uma breve análise, com maior ênfase aos sonetos que, como se sabe, é o forte da
poesia de Vinícius. Vejamos:

O incriado

Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo – outro luar eu vi

(passar na altura
Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera
O vento ríspido agita sombras de araucárias em corpos nus unidos se amando
E no meu ser todas as agitações se anulam como as vozes dos campos

(moribundos.

Oh, de que serve ao amante o amor que não germinará na terra infecunda
De que serve ao poeta desabrochar sobre o pântano e cantar prisioneiro?
Nada há a fazer pois que estão brotando crianças trágicas como cactos
Da semente má que a carne enlouquecida deixou nas matas silenciosas.

Nem plácidas visões restam aos olhos – só o passado surge se a dor surge
E o passado é como o último morto que é preciso esquecer para ter vida
Todas as meias-noites soam e o leito está deserto do corpo estendido
Nas ruas noturnas a alma passeia, desolada e só em busca de Deus.

Eu sou como o velho barco que guarda no seu bojo o eterno ruído do mar
(batendo
No entanto como está longe o mar e como é dura a terra sob mim...
Felizes são os pássaros que chegam mais cedo que eu à suprema fraqueza

E que, voando, caem, pequenos e abençoados, nos parques onde a

(primavera é eterna.
Na memória cruel vinte anos seguem a vinte anos na única paisagem humana
Longe do homem os desertos continuam impassíveis diante da morte
Os trigais caminham para o lavrador e o suor para a terra
E dos velhos frutos caídos surgem árvores estranhamente calmas.

Ai, muito andei e em vão... rios enganosos conduziram meu corpo a todas

(as idades
Na terra primeira ninguém conhecia o Senhor das bem-aventuranças...
Quando meu corpo precisou repousar eu repousei, quando minha boca

(ficou sedenta eu bebi


Quando meu ser pediu a carne eu dei-lhe a carne mas eu me senti mendigo.

Longe está o espaço onde existem os grandes vôos e onde a música vibra solta
A cidade deserta é o espaço onde o poeta sonha os grandes vôos solitários
Mas quando o desespero vem e o poeta se sente morto para a noite
As entranhas das mulheres afogam o poeta e o entregam dormindo à madrugada.

Terrível é a dor que lança o poeta prisioneiro à suprema miséria


Terrível é o sono atormentado do homem que suou sacrilegamente a carne
Mas boa é a companheira errante que traz o esquecimento de um minuto
Boa é a esquecida que dá o lábio morto ao beijo desesperado.

Onde os cantos longínquos do oceano?... Sobre a espessura verde eu me

(debruço e busco o infinito


Ao léu das ondas há cabeleiras abertas como flores – são jovens que o

(eterno amor surpreendeu


Nos bosques procuro a seiva úmida mas os troncos estão morrendo
No chão vejo magros corpos enlaçados de onde a poesia fugiu como o

(perfume da flor morta.

Muito forte sou para odiar nada senão a vida


Muito fraco sou para amar nada mais do que a vida
A gratuidade está no meu coração e a nostalgia dos dias me aniquila
Porque eu nada serei como ódio e como amor se eu nada conto e nada valho.

Eu sou o Incriado de Deus, o que não teve a sua alma e semelhança


Eu sou o que surgiu da terra e a quem não coube outra dor senão a terra
Eu sou a carne louca que freme ante a adolescência impúbere e explode
(sobre a imagem criada
Eu sou o demônio do bem e o destinado do mal mas eu nada sou.

De nada vale ao homem a pura compreensão de todas as coisas


Se ele tem algemas que o impedem de levantar os braços para o alto
De nada valem ao homem os bons sentimentos se ele descansa nos

(sentimentos maus
No teu puríssimo regaço eu nunca estarei, Senhora...

Choram as árvores na espantosa noite, curvadas sobre mim, me olhando...


Eu caminhando... Sobre o meu corpo as árvores passando...
Quem morreu se estou vivo, por que choram as árvores?
Dentro de mim tudo está imóvel, mas eu estou vivo, eu sei que estou vivo

(porque sofro.

Se alguém não devia sofrer eu não devia, mas sofro e é tudo o mesmo
Eu tenho o desvelo e a bênção, mas sofro como um desesperado e nada posso
Sofro a pureza impossível, sofro o amor pequenino dos olhos e das mãos
Sofro porque a náusea dos seios gastos está amargurando a minha boca.

Não quero a esposa que eu violaria nem o filho que ergueria a mão sobre

(o meu rosto
Nada quero porque eu deixo traços de lágrimas por onde passo
Quisera apenas que todos me desprezassem pela minha fraqueza
Mas, pelo amor de Deus, não me deixeis nunca sozinho!

Às vezes por um segundo a alma acorda para um grande êxtase sereno


Num sopro de suspensão a beleza passa e beija a fronte do homem parado
E então o poeta surge e do seu peito se ouve uma voz maravilhosa,
Que palpita no ar fremente e envolve todos os gritos num só grito.

Mas depois, quando o poeta foge e o homem volta como de um sonho


E sente sobre a sua boca um riso que ele desconhece
A cólera penetra em seu coração e ele renega a poesia
Que veio trazer de volta o princípio de todo o caminho percorrido.

Todos os momentos estão passando e todos os momentos estão sendo vividos


A essência das rosas invade o peito do homem e ele se apazigua no perfume
Mas se um pinheiro uiva no vento o coração do homem cerra-se de inquietude
No entanto ele dormirá ao lado dos pinheiros uivando e das rosas recendendo.

Eu sou o Incriado de Deus, o que não pode fugir à carne e à memoria


Eu sou como velho barco longe do mar, cheio de lamentações no vazio do bojo
No meu ser todas as agitações se anulam – nada permanece para a vida
Só eu permaneço parado dentro do tempo passado, passando, passando...
Rio de Janeiro, 1935

Comentário- Observe como nesse poema, por meio de versos livres e longos dentro do
padrão dos famosos versículos bíblicos. Vinícius se destaca por garantir ritmo,realçado
pelas anáforas(repetição de expressões no início do verso). A forma,portanto, adapta-se
perfeitamente à preocupação do poeta de expressar a angústia de saber-se prisioneiro
da carne. Condena-a, mas enxerga nela o alívio de sua angústia. Com o espírito
perturbado, entra em processo de satanização, ao se intitular o “Incriado”, ou seja, a
negação da criação de Deus, alguém que não é semelhança e imagem do Divino.O eu-
lírico se sente tão maldito que nega em si o grão divino que, de acordo com o
cristianismo, existe dentro de todos os homens. Para se esclarecer o que está expondo, é
importante a leitura de outro poema: O Poeta

O poeta
(...)

Foi muito antes dos pássaros – apenas rolavam na esfera os cantos de Deus
E apenas a sua sombra imensa cruzava o ar como um farol alucinado...
Existíamos já... No caos de Deus girávamos como o pó prisioneiro da vertigem
Mas de onde viéramos nós e por que privilégio recebido?

E enquanto o eterno tirava da música vazia a harmonia criadora


E da harmonia criadora a ordem dos seres e da ordem dos seres o amor
E do amor a morte e da morte o tempo e do tempo o sofrimento
E do sofrimento a contemplação e da contemplação a serenidade ínperecível

Nós percorríamos como estranhas larvas a forma patética dos astros


Assistimos ao mistério da revelação dos Trópicos e dos Signos
Como, não sei... Éramos a primeira manifestação da divindade
Éramos o primeiro ovo se fecundando à cálida centelha.
(...)
Comentário- Mais uma vez se percebe que o uso que Vinicius de Moraes faz do verso
livre bíblico, não o torna enfadonho,monótono.Basta notar na 2ª estrofe do excerto
como a repetição de expressões imprime ritmo ás frases.É importante notar como
esse poema mantém coerência com O Incriado, pois desenvolve o mesmo tema da 1ª
parte da Antologia.O eu lírico expressa a ideia de que ser poeta o torna um
privilegiado, alguém que participa dos grandes mistérios do funcionamento do
universo, ou pelo menos assiste a eles.Expressa em ambos os poemas, um
narcisismo, um egocentrismo que o vinculam tardiamente ao Romantismo.- um
adolescente mergulhado nos conflitos mal resolvidos da religião

Endimião e a lua-mitologia grega nos relata que Endimião faz parte das
personagens que traduzem a perseguição ao ideal de beleza.
“Na lenda, Endimião é um pastor portador de juventude e uma beleza perfeita.
E Endimião, quando adulto, pediu a Zeus que não lhe tirasse nunca o que tinha de mais
perfeito e valioso, a juventude e a beleza rara de um simples mortal.
Zeus, então, realiza o pedido do rapaz e, numa tarde de verão, promete a Endimião que,
naquele dia, quando adormecesse, jamais envelheceria e jamais perderia a beleza,pois sabia
que tão logo adormecesse seria jovem e belo para todo o sempre, e adormece feliz.Mas o
que ele não sabia é que jamais iria acordar. Zeus o envolvera em um sono eterno, poupando-
o assim, do envelhecimento e da perda da juventude e da beleza que tanto o envaidecia.
Diz a lenda que à noite, Selene, a Lua, sempre percorre o céu em sua carruagem prateada,
avista a figura adormecida de Endimião. Ela nunca vira um homem com tamanha beleza e
apaixona-se imediatamente.
A presença da Lua é marcante na Antologia Poética- no começo pode se dizer que ela
é testemunha dos anseios do poeta.Pouco depois ele se torna mais ousado e
começa a associá-la aos seus desejos sexuais, como em “Elegia desesperada.”(...) e
eu só tive a lua/Lívida, a lésbica que me poluiu da sua eterna/Insensível polução...

Há de lembrar que o mito de Endimião está ligado ás poluções noturnas


(ejaculação involuntária durante o sono), típicas de adolescentes que ainda não
atingiram sua maturidade sexual.Mais para a frente, Vinícius dirige diretamente sua
emotividade a esse astro, como em ”Soneto á lua”

Fugaz, com que direito tens-me presa


A alma que por ti soluça nua
E não és Tatiana e nem Teresa:

E és tampouco a mulher que anda na rua


Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!

Até que em “Soneto de despedida” começa a perder o pudor diante dessa deusa implacável diante da luxúria.

Uma lua no céu apareceu


Cheia e branca; foi quando, emocionada
A mulher a meu lado estremeceu
E se entregou sem que eu dissesse nada.

Larguei-as pela jovem madrugada


Ambas cheias e brancas e sem véu
Perdida uma, a outra abandonada
Uma nua na terra, outra no céu.

Mas não partira delas; a mais louca


Apaixonou-me o pensamento; dei-o
Feliz - eu de amor pouco e vida pouca

Mas que tinha deixado em meu enleio


Um sorriso de carne em sua boca
Uma gota de leite no seu seio.

Ainda assim, como um expediente psicológico imaturo de transferência, o desejo é


desviado a uma mulher branca como a Lua.Sente-se atraído por esse astro, porém ,
ainda não tem coragem de assumir isso. Mas, amadurecido, escancara um claro ato
sexual em “O poeta e a lua”( ainda que em 1ª pessoa, lírica, se disfarce na 3ª pessoa
da palavra poeta)

Em meio a um cristal de ecos


O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de éter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nádegas da lua.
Entre as esfera nitentes
Tremeluzem pelos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e água
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de luxúria.
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perpassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua...
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciúmes.

O caráter sedutor do eu lírico está amadurecido- não mais descarrega em poluções


noturnas.

Orfeu- De acordo com a Mitologia Grega Orfeu era um poeta e um músico, filho da musa Calíope. apaixonou-
se por Eurídice e casou-se com ela. Mas Eurídice era tão bonita que, pouco tempo depois do casamento, atraiu um apicultor
chamado Aristeu. Quando ela recusou suas atenções, ele a perseguiu. Tentando escapar, ela tropeçou em uma serpente que
a picou e a matou. Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando sua lira, foi até o Mundo dos Mortos, para tentar trazê-la de
volta. A canção pungente e emocionada de sua lira convenceu o barqueiro Caronte a levá-lo vivo pelo Rio Estige. Finalmente
Orfeu chegou ao trono de Hades.. Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos. Mas com uma única condição: que
ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol.

Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração
enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olhou nenhuma vez para trás, até atingir a luz
do sol. Mas então se virou, para se certificar de que Eurídice estava seguindo-o.
Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de
novo um fino fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que saía do Mundo dos Mortos. Ele
a havia perdido para sempre. Em total desespero, Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher,
não querendo se lembrar da perda de sua amada. Furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens
chamadas Mênades caíram sobre ele, frenéticas, atirando dardos. Os dardos de nada valiam contra a música do lirista, mas
elas, abafando sua música com gritos, conseguiram atingi-lo e o mataram. Depois, despedaçaram seu corpo e jogaram sua
cabeça cortada no Rio Hebrus, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice! Eurídice!" Chorando, as nove musas reuniram seus
pedaços e os enterraram no Monte Olimpo. Dizem que, desde então, os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente
do que os outros. Pois Orfeu, na morte, se uniu a sua amada Eurídice.

Orfeu é, portanto, o símbolo do artista cuja emotividade é capaz de mudar


radicalmente o mundo .- é também o apaixonado sem limites. Sua história traz em si
elementos da condição humana: vida, morte, amor e arte. Diante desse fato, é mais
fácil entender a poesia de Vinícius, a música e a emoção são os ingredientes mais
fortes,responsáveis pela qualidade latente da sua imatura 1ª fase.

O Mar- tem presença marcante na obra de Vinícius, a começar pelo pretenso estilo
de vida no R.J. Há nele inúmeras simbologias que o poeta soube captar.A começar
pelo ritmo das ondas, constante e cíclico, faz lembrar a dinâmica existência humana,
tendo facilmente associado aos mistérios da vida e da morte.Seu pulsar é sempre
associado ao coração humano e ás suas paixões.Todos esses são temas recorrentes
da Antologia Poética.Observe o poema abaixo :

A lua foi companheira


Na Praia do Vidigal
Não surgiu, mas mesmo oculta
Nos recordou seu luar
Teu ventre de maré cheia
Vinha em ondas me puxar
Eram-me os dedos de areia
Eram-te os lábios de sal.
Na sombra que ali se inclina
Do rochedo em miramar
Eu soube te amar, menina
Na Praia do Vidigal...

É importante notar, a simbiose existente entre ele, ela e o mar.

O Amor- Manuel Bandeira percebeu em Vinícius a “ intoxicação do amor”.A relação


sexual é constante em seus textos, mas percebe-se que o poeta busca algo além do
automatismo lascivo, do sexo pelo sexo.Comprova essa ideia o “Soneto da Devoção

Essa mulher que se arremessa, fria


E lúbrica em meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia


Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama


A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! - uma cadela


Talvez... - mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!

1ª estrofe - Repetição sistemática do fonema consonantal “b”- aliteração.

Não houve preocupação em obedecer às regras tradicionais de pontuação.

Versos decassílabos com esquema de rima ABAB, ABB CCD, DCD

Assim como Castro Alves, Vinicius canta o amor físico, o amor livre.

O termo "cadela", bastante forte, pois normalmente funciona como palavrão, como ofensa, dirigida vulgarmente a
mulher que “não se respeita”, que se entrega a qualquer um, tem aqui uma força e um gosto especial.Observe que
aborda a sexualidade de forma fria, direta como afirma Mario de Andrade.
Ao designar a mulher de cadela, dentro do contexto desses versos e da personalidade de seu criador, veste a palavra
com novas roupas e novas cores.

O que se sente ao ler o poema é que ali esta uma mulher que ama o amor, uma mulher que se entrega a relação sexual
com força animal, sem os recatos afrescalhados de uma formação burguesa, cristã, repressora .
Perante a admiração e devoção do eu lírico, tal condição transforma-se em valor, em qualidade, conferindo a musa uma
aura de beleza.

Reforce-se que o sexo só assume valor quando se mostra como meio, não simplesmente um fim em si. Seu objetivo
pode ser a procriação , canal de toda a magia da paternidade, abordado com humor em “Poema Enjoadinho”

.Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

Entretanto, o que fica mais nítido em Vinícius é que o amor é a grande força de elevação. É o que exprime em
“Os Acrobatas”

Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso


Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto,
imensamente
IMENSAMENTE ALTO.

Em uma interpretação vem a mente o 'super homem' de Nietzche, o homem perfeito, belo, bom, mais
rápido, mais forte- o ideal grego, o semi-deus romano,o atleta.Ele faz alegoria do esforço do atleta para
fazer o movimento perfeito, no seu tempo, com a própria revolução humana.O super homem, a
possibilidade de irmos muito além nas nossas capacidade humanas, nos faz sentir vergonha do que somos
hoje. Mas vamos além, vamos em frente, vamos seguir até chegar, passar de deus, ou seja, ser o homem de
verdade o que ele deve ser, o centro do universo, acima dele. Morremos porque não seremos mais reles
homens.

Nesse soneto a seguir: “Soneto de quarta-feira de cinzas” encontra-se principalmente a busca da


mulher amada, das infinitas mulheres que se concentram e se desprendem de uma mulher, a
afirmação do motivo principal: "mudança", "evolução", "transição". Poeta viril e terno,
transcendental e carnal, caudaloso e contido, ele fez de sua obra o lugar do encontro e da
despedida. Enfim, não importa que Vinícius parta do etéreo para chegar ao real, o que mais vale
em sua obra é a busca da fusão com a vida.
Essa “eternidade” do amor pode durar uma vida toda, ou não mais do que algumas meras horas de
encantamento e de prazer. O que conta, no caso, não é a duração, mas a intensidade do
sentimento. É a sua autenticidade. São as marcas deixadas na memória por esse acontecimento de
tanta relevância e até transcendência, que nos acompanham enquanto vivermos.
Qualquer que seja a análise feita da obra de Vinícius de Moraes, não se pode escapar das palavras
"mudança", "evolução", "transição". Sua poesia, além de ser a encarnação do movimento e do
transitório, elege a busca como motor primordial: do divino, da coisa ordinária, do homem
concreto, do homem social, do homem banal, do amante e, sobretudo, da mulher

"soneto de quarta-feira de cinzas"


Por seres quem me foste, grave e pura
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura


Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha


Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha


Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.

O que o poeta apresenta em sua poesia, não é novidade em sua cultura, pois remonta ao neoplatonismo ,
nascido na Idade Média.Em outras palavras, um culto ao amor em sua inúmeras facetas.Essa não realização
plena do amor é que nascerá acesa sua chama, mas também provocará sofrimento, melancolia, que lhe
parece essencialmente constitutiva. É o que se vê em “ Ausência”

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz

a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Comentário:
Diz o crítico Carlos Felipe Moisés que este é um dos primeiros poemas em que
aparece a tentativa de representar a mulher amada e a experiência amorosa como
ponto de encontro entre a transcendência e os apelos terrenos, entre espírito e
matéria. Para o ideal do amor sobreviver em toda a sua força ,as partidas, as
separações são necessárias.A melancolia é essencial,mas Ausência também mostra a
simbiose, ou seja a fusão do eu-lírico com a amada.

Essa faceta também aparece em “ A brusca poesia da mulher amada II”

A mulher amada carrega o cetro, o seu fastígio


É máximo. A mulher amada é aquela que aponta para a noite
E de cujo seio surge a aurora. A mulher amada
É quem traça a curva do horizonte e dá linha ao movimento dos
astros.
(...)A mulher amada
É o tempo passado no tempo presente no tempo futuro
No sem tempo(...) A mulher amada é a mulher amada é a mulher
amada
(...) pois é ela
A coluna e o gral, a fé e o símbolo, implícita
Na criação. (...) Eia, a mulher amada! Seja ela o princípio e o fim de todas as coisas.
Poder geral, completo, absoluto à mulher amada!

A mulher amada é enaltecida com fervor romântico- ela é rainha, pois carrega o cetro, ela faz parte da
criação do universo, é o poder absoluto Emblemático o seguinte trecho: “A mulher amada é a mulher
amada é a mulher amada”.Nele a coincidência entre sujeito e predicativo, permite inferir que o simples
fato de a mulher se amada a torna um ente completo, sem necessidade de nenhum atributo , de mais
nenhum adjetivo. .

Observe o tema moderno da mulher que passa, inspirados em “ A uma passante”, do


francês Baudelaire.

A rua em derredor era um ruído incomum,


Longa, magra, de luto e na dor majestosa,
Uma mulher passou e com a mão faustosa
Erguendo, balançando o festão e o debrum;

Nobre e ágil, tendo a perna assim de estátua exata.


Eu bebia perdido em minha crispação
No seu olhar, céu que germina o furacão,
A doçura que embala e o frenesi que mata.

Um relâmpago, e após a noite! – Aérea beldade,


E cujo olhar me fez renascer de repente,
Só te verei um dia e já na eternidade?

Bem longe, tarde, além, jamais provavelmente!


Não sabes aonde vou, eu não sei aonde vais,
Tu que eu teria amado – e o sabias demais!

Para alguns estudiosos, o poeta acima é precursor da poesia moderna, pois expressa a influência do mundo
urbano, com suas relações efêmeras e superficiais. Dele decorrem duas obras primas vinicianas. Uma delas
é “A mulher que passa”
A Mulher que passa

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.


Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!

Oh! como és linda, mulher que passas


Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
(...)
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida?
Para o que sofro não ser desgraça?

Meu Deus, eu quero a mulher que passa!


Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
(...)
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.

A outra é “ Balada das meninas de bicicleta”

Balada das meninas de bicicleta


Meninas de bicicleta
Que fagueiras pedalais
Quero ser vosso poeta!
Ó transitórias estátuas
Esfuziantes de azul
Louras com peles mulatas
Princesas da zona sul:
As vossas jovens figuras
Retesadas nos selins
Me prendem, com serem puras
Em redondilhas afins.
Que lindas são vossas quilhas
Quando as praias abordais!
E as nervosas panturrilhas
Na rotação dos pedais:
Que douradas maravilhas!
Bicicletai, meninada
Aos ventos do Arpoador
Solta a flâmula agitada
Das cabeleiras em flor
Uma correndo à gandaia
Outra com jeito de séria
Mostrando as pernas sem saia
Feitas da mesma matéria.
Permanecei! vós que sois
O que o mundo não tem mais
Juventude de maiôs
Sobre máquinas da paz
Enxames de namoradas
Ao sol de Copacabana
Centauresas transpiradas
Que o leque do mar abana!
A vós o canto que inflama
Os meus trint'anos, meninas
Velozes massas em chama
Explodindo em vitaminas.
Bem haja a vossa saúde
À humanidade inquieta
Vós cuja ardente virtude
Preservais muito amiúde
Com um selim de bicicleta
Vós que levais tantas raças
Nos corpos firmes e crus:
Meninas, soltai as alças
Bicicletai seios nus!
No vosso rastro persiste
O mesmo eterno poeta
Um poeta – essa coisa triste
Escravizada à beleza
Que em vosso rastro persiste,
Levando a sua tristeza
No quadro da bicicleta.
Comentário

O poema “Balada das meninas de bicicleta” pertence à 2ª fase de Vinicius de Moraes. Quanto à
forma, destaca-se o uso de vocabulário simples e cotidiano e versos curtos. Quanto ao conteúdo,
pode-se apontar o tema do cotidiano, em que se descrevem simplesmente meninas andando de
bicicleta, e o erotismo com que esse mesmo fato é visto pelo eu lírico.

Neste poema, o eu lírico usa a metalinguagem para se referir ao próprio poema e ao papel do
poeta. Os dois trechos em que há metalinguagem estão em “Me prendem, com serem puras / em
redondilhas afins” e no sete versos finais do poema. No primeiro caso, o eu lírico comenta a
própria forma do poema, a redondilha maior, forma de sete sílabas poéticas, afirmando que são as
meninas que lhe inspiram a forma do poema. No segundo caso, o eu lírico define o poeta como
alguém triste e que persegue a beleza, afirmando mais uma vez que a beleza das meninas é que
inspiraram o poema.

Tal idealização feminina culminará na canção “Garota de Ipanema”- canção mais


popular do mundo.

GAROTA DE IPANEMA

OLHA que coisa mais linda


Mais cheia de graça
É ela, a menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
Caminho do mar...
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado
É mais que um poema
É a coisa mais linda
Que eu já vi passar..

Ah, porque estou tão sozinho


Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha...

Ah, se ela soubesse


Que quando ela passa
O mundo sorrindo
Se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor...

Pátria Minha A minha pátria é como se não fosse, é íntima


Doçura e vontade de chorar; uma criança
dormindo Lábaro não; a minha pátria é desolação
É minha pátria. Por isso, no exílio De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
Assistindo dormir meu filho E praia branca; a minha pátria é o grande rio
Choro de saudades de minha pátria. secular
Que bebe nuvem, come terra
Se me perguntarem o que é a minha pátria direi: E urina mar.
Não sei. De fato, não sei (...)
Como, por que e quando a minha pátria Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que brinca em teus cabelos e te alisa
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Em longas lágrimas amargas. Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Vontade de beijar os olhos de minha pátria Atento à fome em tuas entranhas
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... E ao batuque em teu coração.
Vontade de mudar as cores do vestido (...)
(auriverde!) tão feias Agora chamarei a amiga cotovia
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E pedirei que peça ao rouxinol do dia
E sem meias pátria minha Que peça ao sabiá
Tão pobrinha! Para levar-te presto este avigrama:
(...) "Pátria minha, saudades de quem te ama...
Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem Vinicius de Moraes."
ostenta

Comentário-

Este poema vincula-se á tradição literária de cantar as belezas da pátria, firmada no Romantismo por
Gonçalves Dias – Canção do Exílio.Entretanto,como sempre fez no decorrer de sua obra poética, Vinícius
retoma a herança estética para imprimir nela uma marca própria.A estranha frase inicial-“A minha pátria é
como se não fosse”- em que falta o predicativo do sujeito, significa a recusa dos adjetivos altissonantes que
cristalizaram ao substantivo pátria. É como se ele defendesse a tese de que a pátria não tem os predicados
que costumam atribuir a ela, por isso a recusa das palavras e expressões, como “florão”,”ostenta” e
“lábaro”., presentes no Hino Nacional.Em vez disso, ele assume um tom de afetividade, com abundantes
diminutivos, tratando sua terra como uma criança, em um processo conhecido como “prosopopéia”,
personificação ou antropomorfização.Entretanto ,essa visão edulcorada não impede o poeta de enxergar os
problemas sociais.Confirma esse aspecto a referência á pátria “tão pobrinha”.Por isso, deve ser ressaltado,
que, apesar de pertencente á segunda fase poética de Vinícius, em “Pátria Minha” ele trouxe de volta o
hábito de sua fase inicial; A utilização de versos livres extensos.

Balada do Mangue
Analise do poema Balada do Mangue de Vinicius de
Moraes?
Vinicius de Moraes é

--------------------------------------…

Balada do Mangue

Pobres flores gonocócicas


Que à noite despetalais
As vossas pétalas tóxicas!
Pobre de vós, pensas, murchas
Orquídeas do despudor
Não sois Loelia tenebrosa
Nem sois Vanda tricolor:
Sois frágeis, desmilingüidas
Dálias cortadas ao pé
Corolas descoloridas
Enclausuradas sem fé.
Ah, jovens putas das tardes
O que vos aconteceu
Para assim envenenardes
O pólen que Deus vos deu?
No entanto crispais sorrisos
Em vossas jaulas acesas
Mostrando o rubro das presas
Falando coisas do amor
E às vezes cantais uivando
Como cadelas à lua
Que em vossa rua sem nome
**** perdida no céu...
Mas que brilho mau de estrela
Em vossos olhos lilases
Percebo quando, falazes
Fazeis rapazes entrar!
Sinto então nos vossos sexos
Formarem-se imediatos
Os venenos putrefatos
Com que os envenenar
Ó misericordiosas!
Glabra, glúteas cafetinas
Embebidas em jasmim
Jogando cantos felizes
Em perspectivas sem fim
Cantais, maternais hienas
Canções de cafetinizar
Gordas polacas serenas
Sempre prestes a chorar.
Como sofreis, que silêncio
Não deve gritar em vós
Esse imenso, atroz silêncio
Dos santos e dos heróis!
E o contraponto de vozes
Com que ampliais o mistério
Como é semelhante às luzes
Votivas de um cemitério
Esculpido de memórias!
Pobres, trágicas mulheres
Multidimensionais
Ponto morto de choferes
Passadiço de navais!
Louras mulatas francesas
Vestidas de carnaval:
Viveis a festa das flores
Pelo convés dessas ruas
Ancoradas no canal?
Para onde irão vossos cantos
Para onde irá vossa nau?
Por que vos deixais imóveis
Alérgicas sensitivas
Nos jardins desse hospital
Etílico e heliotrópico?
Por que não vos trucidais
ó inimigas? ou bem
Não ateais fogo às vestes
E vos lançais como tochas
Contra esses homens de nada
Nessa terra de ninguém!

Comentário

Mangues lembram Recife. O eu poético faz uma referência metafórica da vida das prostitutas que se
embelezam inclusive mulatas pintam os cabelos de loiros para atrair rapazes. Há uma nítida comparação
das prostitutas com as flores venenosas chamadas no primeiro verso de "flores gonocócitas" uma alusão à
gonorréia. Isto pq, segundo o eu poético, tais mulheres eram transmissoras de doenças venéreas. Na última
linha de verso há uma crítica tb aos homens que as usam tb.
OBSERVE ÁS QUESTÕES RESOLVIDAS

(PUC-RS 2009) Para responder à questão 1, leia o trecho de “Operário em construção”, de


Vinicius de Moraes, e as afirmativas, preenchendo os parênteses com V para verdadeiro e F para
falso.

Era ele quem os fazia Olhou sua própria mão

Ele, um humilde operário, Sua rude mão de operário

Um operário em construção. De operário em construção

Olhou em torno: gamela E olhando bem para ela

Banco, enxerga, caldeirão Teve um segundo a impressão

Vidro, parede, janela De que não havia no mundo

Casa, cidade, nação! Coisa que fosse mais bela.

Tudo, tudo o que existia

Era ele quem o fazia Foi dentro da compreensão

Ele, um humilde operário Desse instante solitário

Um operário que sabia Que, tal sua construção

Exercer a profissão. Cresceu também o operário.

Cresceu em alto e profundo

Ah, homens de pensamento Em largo e no coração

Não sabereis nunca o quanto E como tudo que cresce

Aquele humilde operário Ele não cresceu em vão

Soube naquele momento! Pois além do que sabia

Naquela casa vazia – Exercer a profissão –

Que ele mesmo levantara O operário adquiriu

Um mundo novo nascia Uma nova dimensão:

De que sequer suspeitava. A dimensão da poesia.

O operário emocionado
O fragmento do poema “Operário em construção”, de Vinícius de Moraes, apresenta

( ) o papel do operário na construção das coisas e a importância da sua profissão.

( ) a consciência dos homens intelectuais sobre a importância do trabalho dos que empilham os

tijolos com suor e cimento.

( ) o conhecimento do operário de que o produto de seu trabalho modifica o mundo.

( ) o crescimento da consciência do operário, que o leva a perceber a dimensão de seu papel na

sociedade.

1. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

a) V – F – F – V

b) V – F – V – V

c) F – V – F – V

d) V – V – F – F

e) F – F – V – F

Leia o poema a seguir, de Vinicius de Moraes, para responder às questões 2 e 3:

A volta da mulher morena

Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena


Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus últimos cantos
Dai morte cruel à mulher morena!

2. A partir da leitura do poema, é possível afirmar que:

a) ele pertence à 1ª fase do poeta, com a presença de linguagem simples e forte erotismo.

b) ele pertence à 1ª fase do poeta, em que a mulher representa o pecado por provocar o
desejo no eu lírico.

c) ele pertence à 2ª fase do poeta, em que a mulher é vista de forma mais material e há a
consciência do pecado.

d) ele pertence à 1ª fase do poeta, em que os temas transcendentais predominam e a mulher é


vista como uma espécie de anjo.

e) ele pertence à 2ª fase do poeta, com a presença do soneto e da indagação sobre as


contradições do amor.

3. Em relação à mulher, nesse poema, pode-se afirmar que:

a) ela é vista de maneira espiritualizada e idealizada.

b) ela é descrita como motivação do pecado, mas, apesar disso, o eu lírico mantém-se alheio a
seus encantos.

c) ela é vista com naturalidade, e o desejo sexual não apresenta problema para o eu lírico.

d) ela representa o pecado e precisa ser eliminada para que o eu lírico encontre a paz.

e) ela é inalcançável, daí provém a angústia do eu lírico.


QUESTÕES DISCURSIVAS

1. Leia o poema a seguir, de Vinicius de Moraes, e responda ao que se pede.

A mulher na noite

Eu fiquei imóvel e no escuro tu vieste.


A chuva batia nas vidraças e escorria nas calhas – vinhas andando e eu não te via
Contudo a volúpia entrou em mim e ulcerou a treva nos meus olhos.
Eu estava imóvel – tu caminhavas para mim como um pinheiro erguido
E de repente, não sei, me vi acorrentado no descampado, no meio de insetos
E as formigas me passeavam pelo corpo úmido.
Do teu corpo balouçante saíam cobras que se eriçavam sobre o meu peito
E muito ao longe me parecia ouvir uivos de lobas.
E então a aragem começou a descer e me arrepiou os nervos
E os insetos se ocultavam nos meus ouvidos e zunzunavam sobre os meus lábios.
Eu queria me levantar porque grandes reses me lambiam o rosto
E cabras cheirando forte urinavam sobre as minhas pernas.
Uma angústia de morte começou a se apossar do meu ser
As formigas iam e vinham, os insetos procriavam e zumbiam do meu desespero
E eu comecei a sufocar sob a rês que me lambia.
Nesse momento as cobras apertaram o meu pescoço
E a chuva despejou sobre mim torrentes amargas.

Eu me levantei e comecei a chegar, me parecia vir de longe


E não havia mais vida na minha frente.

Rio de Janeiro, 1935

a) Comente a que fase da obra de Vinicius de Moraes pertence esse poema e destaque duas
características dessa fase, uma quanto à forma e outra quanto ao conteúdo do poema.

O poema pertence à 1ª fase da obra do poeta. Quanto à forma, pode-se destacar os versos
longos e a linguagem abstrata e alegórica, sobretudo com vocabulário pertencente à
natureza. Quanto ao conteúdo, encontra-se nesse poema a angústia do eu lírico, dividido
entre o amor carnal e a sensação do pecado.

b) Neste poema, há uma metáfora do desejo amoroso. Explique essa metáfora e comente os
sentimentos do eu lírico que ela revela.
A metáfora do desejo amoroso está nos elementos da natureza, principalmente na
descrição do ato sexual, que é sentido como atividade dos animais, como em “os insetos
se ocultavam no meu ouvido” e “grandes reses lambiam-me o rosto”. O eu lírico revela
sentimentos de angústia a partir dessas metáforas e, por fim, associa o gozo sexual à
morte, “E não havia mais vida na minha frente”.

3. Leia o poema a seguir, de Vinicius de Moraes, e responda ao que se pede.

Soneto de véspera

Quando chegares e eu te vir chorando


De tanto te esperar, que te direi?
E da angústia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lágrimas terei


Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa


Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou – fria de vida

Imagem tua que eu compus serena


Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...

Oxford, 1939

a) Comente o poema acima quanto à forma e ao conteúdo tendo em vista a obra poética de
Vinicius de Moraes.

O poema em questão é um soneto, forma que Vinicius de Moraes cultivou em muitos


momentos, a partir dos modelos de Camões e Shakespeare. Quanto ao conteúdo, pode-se
destacar o questionamento acerca do relacionamento amoroso, também muito comum nos
sonetos do poeta.

b) Relacione o título do poema à angústia sentida pelo eu lírico.


O título do poema “Soneto de véspera”, relaciona-se à angústia sentida pelo eu lírico ao
antecipar a volta da mulher amada que estivera longe. Dessa maneira, ele mostra-se aflito
por perceber que se acostumara à ausência e por não saber o que sentir na presença da
mulher amada. O soneto demonstra uma característica marcante da obra de Vinicius,
sobretudo do soneto, em que a relação amorosa é analisada em suas contradições.

A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças


Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
Comentário:
Numa postura humanista, em que cria figuras com fortes tintas, o poeta canta contra
a guerra. Usando o verbo "pensar" no imperativo ("pensem"), "convida-nos" a todos a
refletir diante das atrocidades causadas pela guerra; e, principalmente, a causada
pelo mais novo rebento gerado pelo ser humano: a bomba atômica. A culpa não é
apenas de um indivíduo ou outro. A culpa, a responsabilidade da destruição não é de
um país X ou Y, mas de toda a humanidade. O que está em jogo aqui é a própria
existência, ou melhor dizendo, a própria sobrevivência humana.

Os sonetos
Ao escrever sonetos, Vinicius de Moraes soma-se à distinta lista de poetas que
versejaram em língua portuguesa, tais como Camões, Gregório de Matos, Bocage,
Antero de Quental, Olavo Bilac, entre outros, e que escolheram como forma de
expressão esta composição poética clássica.

Mas não é só; o motivo de tal escolha diz muito, também, sobre a atitude do poeta
diante do fazer poético. O soneto, forma literária clássica fechada, é uma composição
de quatorze versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos, seguindo
variavelmente os seguintes esquemas de rima: abab / abab / ccd / ccd; abba / abba /
cde / cde ou abba / abba / cdc / dcd., sendo que o metro mais utilizado tem sido o
decassílabo (com acento na 4ª, 7ª e 10ª). Por encerrar o conceito fundamental do
poema, o último verso constitui o que chamamos de "fecho de ouro" ou a "chave de
ouro".

Tudo isso faz do soneto uma escolha formal lúcida para o poeta. Porque aí se observa
a clareza e a concisão de linguagem, de características clássicas. Com ela, o poeta
mantém a expressão de um lirismo controlado, ou seja, o sentimento e a emoção
líricos contêm-se nos limites do equilíbrio e da harmonia. O poeta procura atenuar os
impulsos do "eu", isto é, de sua subjetividade particular, em favor de uma visão
impessoal ou objetiva. Daí dizer que nos sonetos existe a luta de um "eu" que ama e
um "eu" que raciocina.

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto


Silencioso e branco como a bruma 1
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Oceano Atlântico, a bordo do


Highland Patriot, a caminho da
Inglaterra, 09.1938

Comentário:
Este soneto, um dos mais populares de Vinícius, é quase todo composto num jogo
antitético, tais como: riso X pranto; calma X vento; triste X contente e próximo X
distante. O emprego dessa figura de linguagem, ao longo do poema, revela as
mudanças na relação amorosa que se processam de uma forma abrupta e inesperada.
O poeta utiliza um outro recurso, num belíssimo arranjo de antíteses, para acentuar o
dinamismo que caracteriza o poema: o emprego da forma verbal "Fez-se" e de sua
forma contrária "desfez". Esse dinamismo expresso no soneto revela, sob certo
aspecto, a própria inconstância na vida amorosa de Vinicius.

VEJA UM EXERCÍCIO DE VESTIBULAR


SONETO DA SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(Vinícius de Moraes. Poesia completa e prosa).

Este soneto, de um poeta e compositor contemporâneo, foi inserido em uma canção,


e pode ser explorado para mostrar que a Literatura não é estanque; pelo contrário,
seus usos atravessam épocas e movimentos históricos. Das características de
movimentos literários citadas abaixo, indique a única que não está presente no
poema.
A) O poema apresenta antíteses e outras figuras de estilo, típicas da poesia barroca.
B) O soneto tem em comum com a poesia simbolista a expressão da realidade de
maneira vaga e imprecisa, e a musicalidade, com aliterações e assonâncias.
C) A vertente lírica do Romantismo, com idealização e exacerbação dos sentimentos,
está presente no tratamento temático da dor da separação.
D) O poema é um exemplo da perfeição formal, de rima e métrica, muito valorizadas
no Parnasianismo.
E) Do Modernismo, corrente a que pertence o poeta, o poema apresenta, além da
linguagem coloquial, expressões de humor.

Resposta
Vinícius de Moraes, poeta modernista da Geração de 30, assinalava que sua obra
consistia em duas fases: a primeira, transcendental, freqüentemente mística, é
resultante de sua fase cristã; a segunda fase assinala a explosão de uma poesia mais
próxima do mundo material, com a difícil, mas consistente repulsa ao idealismo dos
primeiros anos. O tema principal desse momento foi o amor em suas múltiplas
manifestações: saudade, carência, desejo, paixão, espanto, separação.
Diferentemente da primeira fase, em que o escritor utilizava poemas longos, com
versos extensos, em linguagem abstrata e declamatória, nesta segunda fase, Vinícius,
embora aprecie o soneto e seu teor clássico, adere às idéias dos modernistas de 22,
sendo aberto a novas propostas e incorporando características de diversos estilos de
época ao seu texto, o que verificamos em “Soneto de separação” nas seguintes
alternativas:
a) ao longo do poema, está presente a oposição entre o passado e presente
(antíteses): “branco como a bruma” – (comparação) – (Barroco);
b) presença de aliterações: “branco”, “bruma” e de assonâncias: /e/ ; /o/, linguagem
vaga: “da calma fez-se o vento” (Simbolismo);
c) verifica-se a vertente romântica a partir do próprio título: “Soneto da separação” –
no texto, há descrições desse momento de intensa dor;
d) o poema está ligado à tradição clássica (Parnasianismo), uma vez que faz uso do
soneto, do verso decassílabo e apresenta sintaxe e vocabulário apurados;
e) são improcedentes no textos as características modernistas: a utilização de uma
linguagem coloquial, como foi dito acima, também não se verifica o humor na
mensagem, o eu-lírico demonstra dor em função da separação.
Resposta E

Soneto de fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa lhe dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que2 é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

Estoril - Portugal, 10.1939


Comentário: Este é um dos mais conhecidos e apreciados sonetos de Vinicius de
Moraes. Observam-se nele a clareza e a concisão de linguagem, características
clássicas que substituem a tendência alegórica e o derramamento declamatório
dominantes na fase inicial do poeta.

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço

De noite ardo A oeste a morte


Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem


Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.

Nova York, 1950


Comentário:
Segundo Carlos Felipe Moisés (ver bibliografia), a sequência vertical da primeira
estrofe manhã-dia-tarde-noite obedece a um encadeamento lógico: a passagem
natural do tempo. Tal encadeamento é rompido na linha horizontal, já no primeiro
verso ("escureço" se opõe à "manhã") e ganha ambiguidade no quarto, em que "ardo"
conota claridade, em oposição ao escuro da noite, mas, sobretudo, ganha
passionalidade (arder, ardor de amor). Isso aproxima parcialmente os extremos, dia e
noite, e sugere a passagem do tempo como sucessão de contrates, negação de
expectativas, em um clima de intenso subjetivismo (1ª pessoa).

Na segunda estrofe, numa atitude de liberdade, de anticonvencionalismo, o eu lírico


diz-se guiar pelo "este" e não pelo "norte" como todos fazem. O último verso da
última estrofe privilegia o circunstancial (não é "aquilo que" acontece, mas o
"momento quando" acontece que realmente importa), valorizando a disponibilidade do
instante presente, para que seja intensamente vivido. Observando o aspecto formal
do poema, parece haver ali um soneto renovado. Isso confirma a valorização da
liberdade e do individualismo, da insubordinação e da disponibilidade, também para o
ato de criação poética.

Curiosidade
Na saída de um show em Portugal, diante de estudantes salazaristas que
protestavam contra ele na porta do teatro, Vinicius declama os versos de "Poética"
(De manhã escureço / De dia tardo / De tarde anoiteço / De noite ardo). Um dos
jovens tirou a capa do seu traje acadêmico e a colocou no chão para que Vinicius
pudesse passar sobre ela - ato imitado pelos outros estudantes e que, em Portugal, é
uma forma tradicional de homenagem acadêmica.

Elegia desesperada

(O DESESPERO DA PIEDADE)

Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde


E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas


E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Mas tende mais piedade ainda de dois elegantes que passam
E sem saber inventam a doutrina do pão e da guilhotina.

Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta


Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.

Tende imensa piedade dos músicos dos cafés e casas de chá


Que são virtuoses da própria tristeza e solidão
Mas tende piedade também dos que buscam o silêncio
E súbito se abate sobre eles uma ária da Tosca.

Não esqueçais também em vossa piedade os pobres que enriqueceram


E para quem o suicídio ainda é a mais doce solução
Mas tende realmente piedade dos ricos que empobreceram
E tornam-se heróicos e à santa pobreza dão um ar de grandeza.

Tende infinita piedade dos vendedores de passarinhos


Que em suas alminhas claras deixam a lágrima e a incompreensão
E tende piedade também, menor embora, dos vendedores de balcão
Que amam as freguesas e saem de noite, quem sabe aonde vão...

Tende piedade dos barbeiros em geral, e dos cabeleireiros


Que se efeminam por profissão mas que são humildes nas suas carícias
Mas tende mais piedade ainda dos que cortam o cabelo:
Que espera, que angústia, que indigno, meu Deus!

Tende piedade dos sapateiros e caixeiros de sapataria


Que lembram madalenas arrependidas pedindo piedade pelos sapatos
Mas lembrai-vos também dos que se calçam de novo
Nada pior que um sapato apertado, Senhor Deus.

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas


Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos


Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

E no longo capítulo das mulheres, Senhor, tende piedade das mulheres


Castigai minha alma, mas tende piedade das mulheres
Enlouquecei meu espírito, mas tende piedade das mulheres
Ulcerai minha carne, mas tende piedade das mulheres!

Tende piedade da moça feia que serve na vida


De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta – que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais


Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.

Tende piedade da mulher no primeiro coito


Onde se cria a primeira alegria da Criação
E onde se consuma a tragédia dos anjos
E onde a morte encontra a vida em desintegração.

Tende piedade da mulher no instante do parto


Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas


Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas


Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, das primeiras namoradas


De corpo hermético e coração patético
Que saem à rua felizes mas que sempre entram desgraçadas
Que se crêem vestidas mas que em verdade vivem nuas.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres


Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.

Tende infinita piedade delas, Senhor, que são puras


Que são crianças e são trágicas e são belas
Que caminham ao sopro dos ventos e que pecam
E que têm a única emoção da vida nelas.
Tende piedade delas, Senhor, que uma me disse
Ter piedade de si mesma e de sua louca mocidade
E outra, à simples emoção do amor piedoso
Delirava e se desfazia em gozos de amor de carne.

Tende piedade delas, Senhor, que dentro delas


A vida fere mais fundo e mais fecundo
E o sexo está nelas, e o mundo está nelas
E a loucura reside nesse mundo.

Tende piedade, Senhor, das santas mulheres


Dos meninos velhos, dos homens humilhados – sede enfim
Piedoso com todos, que tudo merece piedade
E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!

Oxford, 1938

Comentário – Esse poema faz parte de Cinco Elegias que Vinicius de Moraes inseriu entre os textos da

1ª e da 2ª fase de sua poesia.Como obra de transição, apresenta uma mistura dos elementos dos dois

períodos poéticos.Da fase inicial,por exemplo,há o verso livre extenso que faz lembrar versículos

bíblicos. Há também o tom religioso, pois se trata de prece.Já da 2ª fase pode ser destacado o

coloquialismo da linguagem- não há mais o tom altissonante quase sonambúlico,como se o poeta

estivesse em transe- e o prosaico, o cotidiano das cenas apresentadas, tão próximas do banal. Soma-se

a essas características o humor. Por fim, é preciso notar nessa elegia a solidariedade que o eu

poemático expressa, o que indica que abandonou sua fase narcisista e está se abrindo para o mundo, a

dedicação a todas as mulheres, ingrediente essencial na poesia de Vinicius, e a enumeração labiríntica

de fatos sugerindo uma idéia de totalidade que estará presente em um dos melhores poemas do autor:

“O dia da criação”.

A última elegia (V)

Greenish, newish roofs of Chelsea


Onde, merencórios, toutinegram rouxinóis
Forlornando baladas para nunca mais!
Ó imortal landscape

no anticlímax da aurora!
ô joy for ever!

Na hora da nossa morte et nunc et semper


Na minha vida em lágrimas!

uer ar iú

Ó fenesuites, calmo atlas do fog


Impassévido devorador das esterlúridas?

Darling, darkling I listen...

"... it is, my soul, it is

Her gracious self..."

murmura adormecida

É meu nome!...

sou eu, sou eu, Nabucodonosor!

Motionless I climb

the wa
t
e
r

Am I p a Spider?

Am I p a Mirror?

Am I s an X Ray?

No, I’m the Three Musketeers

rolled in a Romeo.

Vírus
Comentário- Produzido quando Vinícius esteve na Inglaterra a estudo (há um
sentimento de expatriado , largado no mundo), esse talvez seja o seu texto mais ousado ,
mais moderno e mais inventivo.- inventividade linguística

A manhã do morto

0 poeta, na noite de 25 de fevereiro Noite de angústia: que sonho


de 1945, sonha que várias amigos Que debater-se, que treva. ...é um
seus perderam a vida num desastre grande avião que leva amigos meus no
de avião, em meio a uma inexplicável seu bojo...
viagem para São Paulo. ...depois, a horrível notícia: FOI UM
DESASTRE MEDONHO

A mulher do poeta dá-lhe a dolorosa Me acordam numa carícia... O que foi


nova às oito da manhã, depois de que aconteceu? Rodrigo telefonou:
uma telefonada de Rodrigo M. F. de MÁRIO DE ANDRADE MORREU.
Andrade.

Ergo-me com dificuldade


Sentindo a presença dele
Ao se levantar, o poeta sente Do morto Mário de Andrade
incorporar-se a ele o amigo morto. Que muito maior do que eu
Mal cabe na minha pele.

Escovo os dentes na saudade


Do amigo que se perdeu
Olho o espelho: não sou eu
É o morto Mário de Andrade
Me olhando daquele espelho
Tomo o café da manhã: Café, de Mário
de Andrade.

Não, meu caro, que eu me digo


Pensa com serenidade
A necessidade de falar com o amigo Busca o consolo do amigo
denominador-comum, e o eco de Rodrigo M. F. de Andrade
Manuel Bandeira.
Telefono para Rodrigo
Ouço-o; mas na realidade
A voz que me chega ao ouvido
É a voz de Mário de Andrade.

E saio para a cidade


Na canícula do dia
0 passeio com o morto Lembro o nome de Maria
Remate de males Também de Mário de Andrade
Do Poeta Mário de Andrade

Com grande dignidade


A dignidade de um morto
Gesto familiar Anda a meu lado, absorto
O poeta Mário de Andrade
Com a manopla no meu ombro.

Goza a delícica de ver


Em seus menores resquícios.
Seus olhos refletem assombro. Depois
me fala: Vinicius
Que ma-ra-vilha é viver!

Olho o grande morto enorme


Sua cara colossal
A cara do morto Nessa cara lábios roxos
E a palidez sepulcral
Específica dos mortos.

Essa cara me comove


De beatitude tamanha.
Chamo-o: Mário! ele não ouve
Perdido no puro êxtase
Da beleza da manhã.
Mas caminha com hombridade
Seus ombros suportam o mundo
Como no verso inquebrável
De Carlos Drummond de Andrade
E o meu verga-se ao defunto…

O eco de Pedro Nava Assim passeio com ele


Vou ao dentista com ele
Vou ao trabalho com ele
Como bife ao lado dele
O gigantesco defunto
Com a sua gravata brique
E a sua infantilidade.

À tarde o morto abandona subitamente Somente às cinco da tarde


Senti a pressão amiga
o poeta para ir enterrar-se Desfazer-se do meu ombro...
Ia o morto se enterrar
No seu caixão de dois metros.

Não pude seguir o féretro


Por circunstâncias alheias
À minha e à sua vontade
(De fato, é grande a distância
Entre uma e outra cidade...
Aliás, teria medo

Porque nunca sei se um sonho


Não pode ser realidade).
Mas sofri na minha carne
O grande enterro da carne
Do poeta Mário de Andrade
Que morreu de angina pectoris:

Vivo na imortalidade.

Operário em construção

Epígrafe

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E
disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto,
se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas Não sabia, por exemplo


Onde antes só havia chão. Que a casa de um homem é um templo
Como um pássaro sem asas Um templo sem religião
Ele subia com as casas Como tampouco sabia
Que lhe brotavam da mão. Que a casa que ele fazia
Mas tudo desconhecia Sendo a sua liberdade
De sua grande missão: Era a sua escravidão.
De fato, como podia Teve um segundo a impressão
Um operário em construção De que não havia no mundo
Compreender por que um tijolo Coisa que fosse mais bela.
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava Foi dentro da compreensão
Com pá, cimento e esquadria Desse instante solitário
Quanto ao pão, ele o comia... Que, tal sua construção
Mas fosse comer tijolo! Cresceu também o operário.
E assim o operário ia Cresceu em alto e profundo
Com suor e com cimento Em largo e no coração
Erguendo uma casa aqui E como tudo que cresce
Adiante um apartamento Ele não cresceu em vão
Além uma igreja, à frente Pois além do que sabia
Um quartel e uma prisão: - Exercer a profissão -
Prisão de que sofreria O operário adquiriu
Não fosse, eventualmente Uma nova dimensão:
Um operário em construção. A dimensão da poesia.

Mas ele desconhecia E um fato novo se viu


Esse fato extraordinário: Que a todos admirava:
Que o operário faz a coisa O que o operário dizia
E a coisa faz o operário. Outro operário escutava.
De forma que, certo dia
E foi assim que o operário
À mesa, ao cortar o pão
Do edifício em construção
O operário foi tomado
Que sempre dizia sim
De uma súbita emoção
Começou a dizer não.
Ao constatar assombrado
E aprendeu a notar coisas
Que tudo naquela mesa
A que não dava atenção:
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia Notou que sua marmita
Ele, um humilde operário, Era o prato do patrão
Um operário em construção. Que sua cerveja preta
Olhou em torno: gamela Era o uísque do patrão
Banco, enxerga, caldeirão Que seu macacão de zuarte
Vidro, parede, janela Era o terno do patrão
Casa, cidade, nação! Que o casebre onde morava
Tudo, tudo o que existia Era a mansão do patrão
Era ele quem o fazia Que seus dois pés andarilhos
Ele, um humilde operário Eram as rodas do patrão
Um operário que sabia Que a dureza do seu dia
Exercer a profissão. Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Ah, homens de pensamento
Era amiga do patrão.
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário E o operário disse: Não!
Soube naquele momento! E o operário fez-se forte
Naquela casa vazia Na sua resolução.
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia Como era de se esperar
De que sequer suspeitava. As bocas da delação
O operário emocionado Começaram a dizer coisas
Olhou sua própria mão Aos ouvidos do patrão.
Sua rude mão de operário Mas o patrão não queria
De operário em construção Nenhuma preocupação
E olhando bem para ela - "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário O patrão nunca veria.
E ao dizer isso sorria. O operário via as casas
E dentro das estruturas
Dia seguinte, o operário Via coisas, objetos
Ao sair da construção Produtos, manufaturas.
Viu-se súbito cercado Via tudo o que fazia
Dos homens da delação O lucro do seu patrão
E sofreu, por destinado E em cada coisa que via
Sua primeira agressão. Misteriosamente havia
Teve seu rosto cuspido A marca de sua mão.
Teve seu braço quebrado E o operário disse: Não!
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não! - Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
Em vão sofrera o operário - Mentira! - disse o operário
Sua primeira agressão Não podes dar-me o que é meu.
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão. E um grande silêncio fez-se
Porém, por imprescindível Dentro do seu coração
Ao edifício em construção Um silêncio de martírios
Seu trabalho prosseguia Um silêncio de prisão.
E todo o seu sofrimento Um silêncio povoado
Misturava-se ao cimento De pedidos de perdão
Da construção que crescia. Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Sentindo que a violência
Não dobraria o operário Um silêncio de torturas
Um dia tentou o patrão E gritos de maldição
Dobrá-lo de modo vário. Um silêncio de fraturas
De sorte que o foi levando A se arrastarem no chão.
Ao alto da construção E o operário ouviu a voz
E num momento de tempo De todos os seus irmãos
Mostrou-lhe toda a região Os seus irmãos que morreram
E apontando-a ao operário Por outros que viverão.
Fez-lhe esta declaração: Uma esperança sincera
- Dar-te-ei todo esse poder Cresceu no seu coração
E a sua satisfação E dentro da tarde mansa
Porque a mim me foi entregue Agigantou-se a razão
E dou-o a quem bem quiser. De um homem pobre e esquecido
Dou-te tempo de lazer Razão porém que fizera
Dou-te tempo de mulher. Em operário construído
Portanto, tudo o que vês O operário em construção.
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário


Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário

Comentário- Este poema, produzido no final da carreira de Vinícius, mostra que a


abertura para a solidariedade provocou no poeta a simpatia pelos ideais socialistas, o
que se percebe na representação da luta de classes a partir da 5ª estrofe do trecho
acima apresentado e principalmente na valorização da consciência de classe, caminho
essencial para a revolução libertadora do proletariado. Vale a pena lembrar que a forma
da redondilha e o aspecto dramático-narrativo do texto autorizando a considerá-lo uma
balada.É interessante ressaltar, ainda, que a herança católica do poeta, anunciada na
epígrafe bíblica no texto, estabelece um diálogo entre cristianismo e marxismo, igualando
o martírio engrandecedor de Jesus ao martírio do trabalhador.Assim,Vinícius, sempre
antenado no mundo presente, assume os ideais do setor progressista da Igreja Católica
que tanta atenção chamou nos idos dos anos 60 e70 do século XX.

Leia o trecho de “Operário em construção”, de Vinicius de Moraes, e as afirmativas, preenchendo


os parênteses com V para verdadeiro e F para falso.

Era ele quem os fazia Naquela casa vazia

Ele, um humilde operário, Que ele mesmo levantara

Um operário em construção. Um mundo novo nascia

Olhou em torno: gamela De que sequer suspeitava.

Banco, enxerga, caldeirão O operário emocionado

Vidro, parede, janela Olhou sua própria mão

Casa, cidade, nação! Sua rude mão de operário

Tudo, tudo o que existia De operário em construção

Era ele quem o fazia E olhando bem para ela

Ele, um humilde operário Teve um segundo a impressão

Um operário que sabia De que não havia no mundo

Exercer a profissão. Coisa que fosse mais bela.

Ah, homens de pensamento Foi dentro da compreensão

Não sabereis nunca o quanto Desse instante solitário

Aquele humilde operário Que, tal sua construção

Soube naquele momento! Cresceu também o operário.


Cresceu em alto e profundo

Em largo e no coração

E como tudo que cresce

Ele não cresceu em vão

Pois além do que sabia

– Exercer a profissão –

O operário adquiriu

Uma nova dimensão:

A dimensão da poesia.
O fragmento do poema “Operário em construção”, de Vinícius de Moraes, apresenta

( ) o papel do operário na construção das coisas e a importância da sua profissão.

( ) a consciência dos homens intelectuais sobre a importância do trabalho dos que


empilham os tijolos com suor e cimento.

( ) o conhecimento do operário de que o produto de seu trabalho modifica o mundo.

( ) o crescimento da consciência do operário, que o leva a perceber a dimensão de


seu papel na sociedade.

1. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

a) V – F – F – V

b) V – F – V – V

c) F – V – F – V

d) V – V – F – F

e) F – F – V – F

Comentário- Este poema, produzido no final da carreira de Vinícius, mostra


que a abertura para a solidariedade provocou no poeta a simpatia pelos ideais
socialistas, o que se percebe na representação da luta de classes a partir da
5ª estrofe do trecho acima apresentado e principalmente na valorização da
consciência de classe, caminho essencial para a revolução libertadora do
proletariado. Vale a pena lembrar que a forma da redondilha e o aspecto
dramático-narrativo do texto autorizando a considerá-lo uma balada.É
interessante ressaltar, ainda, que a herança católica do poeta, anunciada na
epígrafe bíblica no texto, estabelece um diálogo entre cristianismo e marxismo,
igualando o martírio engrandecedor de Jesus ao martírio do
trabalhador.Assim,Vinícius, sempre antenado no mundo presente, assume os
ideais do setor progressista da Igreja Católica que tanta atenção chamou nos
idos dos anos 60 e70 do século XX.

REFLEXÃO sobre o Poema: O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO-Vinícius de


Moraes

OBJETIVO: Perceber a importância da consciência crítica para compreensão


da realidade como fator importante para o responsável exercício da cidadania.

INTRODUÇÃO:

A teoria do modo de produção diz que é a maneira como se conseguem as coisas


para viver que dá a característica fundamental a uma sociedade.

Ao perguntar para qualquer pessoa como se consegue as coisas

para viver, ela dirá que é pelo trabalho, na terra, nas fábricas, etc., isto é, nos

meios de produção.

Ao analisar a relação entre os meios de produção e o trabalho, vemos que existe uma
ruptura entre essas duas realidades: de um lado os donos dos meios de produção
(donos do capital) e do outro lado, a maioria,que dispõe apenas de sua força de
trabalho (trabalhadores).Nas relações entre capital e trabalho, observa-se que os
donos do capital se enriquecem, ao passo que os trabalhadores dificilmente saem de
sua condição: simples trabalhadores.

Nessa relação os donos do capital exploram o trabalho dos que trabalham.

Só o trabalho pode se explorado, pois só ele produz riqueza.

Fora do trabalho não há valor econômico, não há riqueza .

Isso é difícil de entender e de aceitar, a compreensão é dolorosa.

As relações de produção são de dominação e de exploração.

Quem as compreende, isto é, se dá conta, com clareza, do que é a

relação de dominação e exploração, muda sua consciência. Deixa de sua

consciência. Deixa de ser ingênuo para ser crítico.

Para entender bem isso, propõe-se a análise do poema de Vinícius

de Moraes:

OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO - VINÍCIUS DE MORAES

Quantas coisas são construídas para alicerçar nossas estruturas? As casas, os


templos, as escolas, os cinemas... No mundo são apenas objetos inominados que
nos abrigam, valorizados conforme as leis de mercado, mas... O homem se perde
no anonimato das construções e vive sobre as construções que ajudou a levantar.
O poema “Operário em construção”, de Vinícius de Moraes, inicia com o papel do
operário na construção das coisas e o desconhecimento da importância da sua
profissão. Narra, em versos, a alienação verificada na multidão que empilha os
tijolos com suor e cimento.
“Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.”
De repente, o operário constatou que ele, um humilde operário, era responsável
pelos objetos que estavam em sua mesa e, “tomado de uma súbita emoção”,
percebe que era ele quem construía tudo o que existia: “casa, cidade,
nação!”. Compreende a força das rudes mãos e a grandeza de ser um operário em
construção:
“Foi dentro desta compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário...”
O operário se constituiu em uma nova dimensão. A percepção da própria
importância na sociedade que construía, a compreensão do significado do exercício
de sua profissão... Tudo disposto em poesia, a consciência adquirida, o
conhecimento compartilhado como outros operários e a possibilidade de dizer não:
“O que o operário dizia
Outro operário escutava
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia “sim”
Começou a dizer “não”...”
O poema nos contagia. Sentimos libertar a percepção quando o operário começa a
notar as coisas, as diferenças de sua vida com a do patrão, comparando pequenos
detalhes. Sua consciência política e social amadurece e ele se faz forte em dizer
não, apesar das contrariedades e das delações de alguns companheiros. O patrão,
sem dar importância, solicita aos delatores que o convençam do contrário.
Começam as agressões: cospem em seu rosto, quebram seu braço e ainda assim o
operário diz não.
“Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.”
O patrão, verificando que toda a violência sofrida não convenceria o operário, tenta
dobrá-lo com a proposta de poder, tempo de lazer e de mulheres, com a condição
de que o mesmo abandone o motivo que lhe faz dizer não.
O operário observa a ampla região em volta da construção e vê o que seu patrão
não consegue ver: o operário vê casas e tantos objetos, enquanto seu patrão está
limitado a visão do lucro. O operário percebe que em tudo há a marca de sua mão
e diz “não” à oferta do patrão: “Não pode me dar o que é meu”.
O homem, com a amplitude da percepção que adquiriu, sente a enorme solidão dos
que compreendem além das aparências, a responsabilidade pela vida dos que
padeceram e dos que viverão com esperanças. Constrói-se dentro de um novo
perfil de homem, engajado no mundo e consciente de sua participação na história.
“E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um pobre e esquecido
Razão que fizera
Em operário construído
O operário em construção.”
O poeta encerra sua grande edificação poética. Vivemos a construção do operário,
de sua consciência e da coragem para negar à ordem, quando esta não representa
o seu trabalho. O poema inicia com versos cotidianos para encerrar na razão
solitária e na perspectiva que constrói um trabalhador e que pode contagiar os
demais.
Viajamos nos versos e aportamos, emocionados, em nosso papel no mundo. Somos
todos operários em construção que devemos construir o dia-a-dia com tijolos
significativos e transformar a realidade num abrigo seguro para os ideais.
Pensamos nas conquistas de nossas construções individuais, as carreiras que
exercemos, nossa importância na sociedade, o orgulho de estar no mundo de forma
significativa, e verificamos que somos também a edificação coletiva, quando
podemos visualizar, do alto da construção, o mundo em desenvolvimento.
Vinícius de Moraes (19/10/1913 a 09/07/1980), formado em direito, ingressou na
carreira diplomática em 1943 e exerceu-a até 1968, quando resolveu dedicar todo
o seu tempo à arte que o consagrou como um dos grandes talentos brasileiros.
Imortalizado pela vasta obra literária e musical, consagrado pela singular
abordagem do amor nos sonetos do Amor Total, da Separação e da Fidelidade e
pela denúncia da letra da Rosa de Hiroxima; pelo olhar infantil dos poemas infantis
da Arca de Noé, e nas inúmeras letras em parceria com Tom Jobim e Toquinho,
entre outros compositores. Enfim, destacou-se como um homem que engrandeceu
tudo que transformou em versos e músicas. Um homem que construiu a si mesmo
e que ousou edificar o operário num poema tão verdadeiro e revelador.
“Operário em construção” não é um poema que acalenta as tardes mansas, mas
uma construção de versos que impõe a reflexão do papel que exercemos na
sociedade em que vivemos, dos compromissos que assumimos e dos direitos pelos
quais devemos lutar.
Vinícius de Moraes marcou sua passagem com um olhar verdadeiro e uma ampla
consciência da condição humana e deixou os versos do seu trajeto para os que
querem viver mais do que as alienadas aparências possam trilhar em busca de uma
vida mais significativa.
Não podemos perder a capacidade de dizer não. Temos sempre de afirmar nossos
ideais com a percepção lúcida do operário e não com os olhos dos acovardados
pelas circunstâncias ou dos corrompidos pelo poder. A consciência de um
trabalhador é algo que jamais pode ser apagada.

REFLEXÃO

1- Leitura do Poema

2- Coleta das impressões sobre o poema

3-- Comentário sobre:

Por que o operário ia construindo tudo o que existe e não se dava conta
entre o valor e utilidade da cada coisa?

Quando é que o operário começa a se dar conta das coisas? Que

relações vai fazendo?

O que significa: Assim, nascia um novo mundo para o operário.

Em que parte do poema se percebe claramente a exploração?

Por que antes o operário não conseguia notar as coisas?

Que lições interessantes retiramos do poema?

Por que o operário que sempre dizia sim, de repente começou a dizer

não?

O que quer dizer:

“...Ah! homens de pensamento,

não sabereis nunca o quanto

aquele humilde operário

soube naquele momento!...”

Por que quem compreende a relação de dominação e exploração, luta

pela mudança?

4- Comentário confrontando o poema e a realidade do povo trabalhador.

5- Qual o problema que está em questão no poema?

6- Qual o problema que está em questão no poema?

7- Qual a solução para o problema em questão?

8- Reflexão do texto bíblico Mt 4, 1-11. As tentações de Jesus. Comparando-o

ao poema

Qual a relação entre ambos?

Por que Jesus não cai em tentação?

VEJA A ANTOLOGIA CONDENSADA


O que é uma antologia?
Antes de qualquer coisa é preciso definir o que vem a ser "antologia". Antologia significa, etimologicamente, "coletânea de
poesia"; o termo remete à ideia de escolha, coleção. Sendo assim, antologia é uma coleção de trabalhos literários; neste caso,
coleção de trabalhos poéticos.
A importância de se ler uma obra como esta ("Antologia Poética") está no fato de que estamos tendo contato com uma seleção de
poemas feita pelo próprio autor.

Vinicius é um os maiores compositores brasileiros e um dos fundadores do movimento Bossa Nova. São dele estes versos:
“Olha que coisa mais linda
mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa”
“Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos seus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que é isso, meu Deus,
Que frio que me dá o encontro desse olhar”

Porém, muitos não sabem que ele também foi um grande poeta da Segunda Fase do Modernismo Brasileiro (1930 – 1945)
I – Um campeão de audiência nos anos 70.

II –Biografia – Rio (1913-1980)

Direito – Diplomata (20 anos)-Família de artistas-Amizade artistas de várias tendências-Aposentadoria compulsória em 1968-(55
anos)

Soube associar música x poesia.

Preocupado com a organização e publicações de sua obra  Antologia Poética (1954)  Prefácio (de Vinicius)  Duas fases –
visão evolutiva:

1ª Fase- transcendental e mística

Transição – cinco elegias(1943);

2ª Fase- aproximação com o mundo material.

Caminha para propostas conceituais e comportamentais menos rígidas; quebrando expectativas:

- Verso livre x hermetismos simbolistas e parnasianos;

- Cotidiano x soneto;

Religiosidade, misticismo – na 1º fase.

- Interesse pela vida – na 2ª fase;

- PRIMEIRA FASE:

- A Experiência Mística=

(1) O Terror do Pecado.

- transcendental e místico: concepção espiritualizada e cristão da existência – tendência da 2º geração – a busca da


transcendência (de Deus...) não se realiza porque a alma, em busca da purificação, sofre AMEAÇA DAS TENTAÇÕES (representada
por vários símbolos) e a transcendência só ocorre depois da EXPERIÊNCIA DO PECADO que é inevitável:

CHOQUE ENTRE A PUREZA DESEJADA E O PECADO INEVITÁVEL.

- Canto – instrumento de luta – purificador

- Insistência em pecar – IMPOSSIBILIDADE DE REMISSÃO DA CULPA

- Experiência do pecado – particularizada, intimista, pessoal – perda da inocência


(2) A Tentação da Carne

- Tema – FIGURA FEMININA (idealizada – representa a carne, o pecado, a tentação, o desejo); possibilidade de salvação pelo
AMOR PLATÔNICO).

3) Uma Linguagem Bíblica

- Versos livres (sem métrica regular)

-Versos longos (bárbaro) – mais de 12 sílabas – sabor retórico, parnasiano.

- Vocabulário religioso.

- Uso do polissíndeto: repetição da aditiva e reforça o tom “bíblico”.

- Estrofes regulares

O olhar para trás de Vinicius de Moraes tem um quê de piedade ou de amor. Em seu poema, o infinito nada poderá contra ele
porque dele quer tudo. Tem um quê de Romantismo, marcada por uma retórica discursiva em que a mulher aparece como
tentação impura e o eu-lírico se apresenta confuso,perdido, ocupado, e a morte se impõe

O olhar para trás

Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor


Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante...
Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha fatalidade
Sobre o cadáver ainda morno desse passado adolescente.

Talvez no espaço perfeito aparecesse à visão nua


Ou talvez a porta do oratório se fosse abrindo misteriosamente...
Eu estaria esquecido, tateando suavemente a face do filho morto
Partido de dor, chorando sobre o seu corpo insepultável.

Talvez da carne do homem prostrado se visse sair uma sombra igual à minha
Que amasse as andorinhas, os seios virgens, os perfumes e os lírios da terra
Talvez… mas todas as visões estariam também em minhas lágrimas boiando
E elas seriam como óleo santo e como pétalas se derramando sobre o nada.

Alguém gritaria longe: – "Quantas rosas nos deu a primavera!..."


Eu olharia vagamente o jardim cheio de sol e de cores noivas se enlaçando
Talvez mesmo meu olhar seguisse da flor o vôo rápido de um pássaro
Mas sob meus dedos vivos estaria a sua boca fria e os seus cabelos luminosos.

Rumores chegariam a mim, distintos como passos na madrugada


Uma voz cantou, foi a irmã, foi a irmã vestida de branco! – a sua voz é fresca

(como o orvalho...
Beijam-me a face – irmã vestida de azul, por que estás triste?
Deu-te a vida a velar um passado também? (...) Rio de Janeiro, 1935

- TRANSIÇÃO – CINCO ELEGIAS (1943)

- O Caminho para a Renovação-

1) O Pecado Mora ao Lado

- Persiste a LUTA CONTRA A CARNE, mas já ocorre a ACEITAÇÃO DO PRÓRPIO DESEJO – a procura da mulher amada e encontram-
se, sem choque – a ESPIRITUALIDADE DIVINA e a MATERIALIDADE FEMININA – “E compreendi que só onde caba Deus cabia
Ariana”.

2) Cinco Elegias
- As 4 primeiras idealizadas de uma só vez (1937)

- 1º - ELEGIA QUASE UMA ODE: “Meu sonho, eu te perdi; tornei-me um homem”.

- 2º - LEGIA LÍRICA – “Oh/ Crucificado estou/ Na ânsia deste amor//”

- 3º - ELEGIA DESESPERADA – O poeta dá ao seu canto um sentido coletivo ( é um pedido de “piedade” por todos e por ele mesmo
no fina: “ E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim”

- 4º - ELEGIA AO PRIMEIRO AMIGO – Tom afetivo – desdobramentos do sentimento amoroso – intimista

- 5º - A ÚLTIMA ELEGIA – É a expressão de um apaixonado a evocação da amada (1930).

(O DESESPERO DA PIEDADE)

Meu senhor, tende piedade dos que andam de bonde


E sonham no longo percurso com automóveis, apartamentos...
Mas tende piedade também dos que andam de automóvel
Quando enfrentam a cidade movediça de sonâmbulos, na direção.

Tende piedade das pequenas famílias suburbanas


E em particular dos adolescentes que se embebedam de domingos
Tende muita piedade do mocinho franzino, três cruzes, poeta
Que só tem de seu as costeletas e a namorada pequenina
Mas tende mais piedade ainda do impávido forte colosso do esporte
E que se encaminha lutando, remando, nadando para a morte.
(...)

Tende piedade dos homens úteis como os dentistas


Que sofrem de utilidade e vivem para fazer sofrer
Mas tende mais piedade dos veterinários e práticos de farmácia
Que muito eles gostariam de ser médicos, Senhor.

Tende piedade dos homens públicos e em particular dos políticos


Pela sua fala fácil, olhar brilhante e segurança dos gestos de mão
Mas tende mais piedade ainda dos seus criados, próximos e parentes
Fazei, Senhor, com que deles não saiam políticos também.

Tende piedade da moça feia que serve na vida


De casa, comida e roupa lavada da moça bonita
Mas tende mais piedade ainda da moça bonita
Que o homem molesta – que o homem não presta, não presta, meu Deus!

Tende piedade das moças pequenas das ruas transversais


Que de apoio na vida só têm Santa Janela da Consolação
E sonham exaltadas nos quartos humildes
Os olhos perdidos e o seio na mão.
.........................................................

Tende piedade da mulher no instante do parto


Onde ela é como a água explodindo em convulsão
Onde ela é como a terra vomitando cólera
Onde ela é como a lua parindo desilusão.

Tende piedade das mulheres chamadas desquitadas


Porque nelas se refaz misteriosamente a virgindade
Mas tende piedade também das mulheres casadas
Que se sacrificam e se simplificam a troco de nada.

Tende piedade, Senhor, das mulheres chamadas vagabundas


Que são desgraçadas e são exploradas e são infecundas
Mas que vendem barato muito instante de esquecimento
E em paga o homem mata com a navalha, com o fogo, com o veneno.

Tende piedade, Senhor, de todas as mulheres


Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.
Oxford, 1938

3) Primeira Ousadias Formais

- Permanecem ocasionais – singularidade estrófica e vocabulário litúrgico

- Transgressões – desobediência às restrições de gênero (prosa e verso) – adoção da linguagem coloquial

- Tom religioso – associado ao cotidiano, ao humo (Elegia Ao Primeiro Amigo) – “Tende piedade dos homens úteis como dentistas”

- última Elegia – Mistura inglês e português. – intertextualidades, neologismos, tipografismos.

4) Ariana, A MULHER (1º Fase)

- Tema da busca da mulher amada

SEGUNDA FASE-- A Descoberta do Mundo

1) Um Novo Cenário: O Cotidiano.

- Poema: O falso mentido

- Temática da vida urbana

2) A Mulher de Carne e Osso

- Permanece a obsessão da busca da amada – agora “erotizada”, dessacralizada (Soneto de agosto – mulher nua)

- Receita de mulher: “As muito feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental” [...] “Com olhos e nádegas. Nádegas é
importantíssimo”.

- “Valsa à mulher do povo” – Antideusa – despossuída de atributo. “Musa central ferroviária”

- Duas Imagens da condição feminina – prostituição e maternidade

3) Sexo sem Culpa

- Desejo incontido (O assassino)

- Memorialismo

- O ato sexual: Soneto da devoção: “Essa mulher que se arremessa, fria/ E lúbrica aos meus braços, e nos de amor e nomes feios/
[...] Essa mulher é um mundo!/ Uma cadela/ Talvez... – mas na moldura de uma ama/ Nunca mulher nenhuma foi tão bela”

- Sexualidade x natureza: “O poeta e a lua”

- Eu lírico como sujeito da ação - Amor... Aparece, agora, como uma celebração: plenitude acima do material e do espiritual.

(4) O Amor Vale a Pena

- A experiência amorosa é válida por si mesma – apesar do desprezo, dos desencontros, dos azares, dos sofrimentos.. do fim do
amor.

- Capacidade de sobreviver do amor – eventualmente eterno


- Reconhecimento da efemeridade do amor

(5) Nova Atmosfera Mística

- Dessacralização da religiosidade

(6) Temática Social

- Compromisso social e poético

- Temática guerra – A rosa de Hiroshima

- Realidade brasileira – Pátria minha/ Operário em construção””

(7) Natureza

- Associada à sexualidade/cenários naturais

(8) Um Cantar de Amigos

- Curiosidade – incorpora aos textos qualidades pessoais, temáticas, estilística dos amigos homenageados.

- Presença de familiares

(9) Metalinguagem

- Reflexão sobre a poesia

(10) A Dor de Viver

- Saudade, solidão, filhos.

- Degenerescência física

- A morte – dimensão pessoal e universal

(11) Despojamento da Linguagem

- Referências religiosas – dessacralizadas

- Abandono da linguagem retórica elevada

- Deslizamento do verso longo

- Regularidade métrica

(12) A Retomada do Soneto

- Soneto do amor total

- Soneto da separação

- Soneto da fidelidade

Soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto


Silencioso e branco como a bruma 1
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento


Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente


Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante


Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Comentário:
Este soneto, um dos mais populares de Vinícius, é quase todo composto num jogo antitético, tais como: riso X pranto; calma X
vento; triste X contente e próximo X distante. O emprego dessa figura de linguagem, ao longo do poema, revela as mudanças na
relação amorosa que se processam de uma forma abrupta e inesperada. O poeta utiliza um outro recurso, num belíssimo arranjo
de antíteses, para acentuar o dinamismo que caracteriza o poema: o emprego da forma verbal "Fez-se" e de sua forma contrária
"desfez". Esse dinamismo expresso no soneto revela, sob certo aspecto, a própria inconstância na vida amorosa de Vinicius.

(13) O Riso

- Graça, humor, ironia

(14) Um Lírico Antilírico

- Registro equilibrado da linguagem moderna

- Coloquialismo sem exageros

- Enjambement. “À noite em brancas trevas o caminhos// Da vida,...”

- Ausência de pontuação regular

- Antilirismo – “Cheiro bom do estrume...”

(15) Inovações

- Neologismos

- Experimentalismo

Registros: sofisticado x popular

- Poema narrativo

(16) Figuras de Linguagem

a) Anáfora – repetição no início de versos em sequência

b) Apóstrofe – apelo, chamamento

c) Comparação

d) Metáforas

e) Personificação

f) Quiasmo – cruzamento de palavras em forma de X “ E rir meu riso e derramar meu pranto/ Ao seu pesar ou seu contentamento”
g) Anadiplose – repetição de expressões do final, no início do verso – “Todo o teu corpo diz que sim/ Teu corpo diz que sim / Diz
que sim...

Vinicius de Moraes também escreveu poesia social, ou seja, uma poesia engajada, preocupada com os problemas enfrentados
pela população. Um bom exemplo do envolvimento de Vinicius de Moraes nessa área é o poema Operário em Construção
(1956).
Nesse poema o escritor usa uma linguagem simples e direta, além de se mostrar solidário com essa classe oprimida. Através
de suas palavras o poeta tenta conscientizar os leitores.

OPERÁRIO EM CONTRUÇÃO

Era ele que erguia casas


Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
(…)
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
(…)

A partir da década de 60, Vinicius de Moraes começou a se afastar da Literatura e passou


a se dedicar à música.
Começou a fazer shows com Dorival Caymmi, Tom Jobim, Edu Lobo, Toquinho, Chico
Buarque. Vinicius morreu em 9 de julho de 1980 de edema pulmonar e até hoje lemos e
ouvimos suas canções e poesias, foi um dos escritores e compositores mais populares da
cultura brasileira.

LEIA QUE É IMPORTANTE.....

Vinicius de Moraes
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 19 de

outubro de 1913. Formou-se em Direito, mas abandonou a profissão tornando-se censor

cinematográfico. Diplomata, Vinicius morou em vários países. De volta ao Brasil, em

1964, dedicou-se à música. Faleceu no Rio de Janeiro em 9 de julho de 1980, deixando um


vasto legado artístico-literário.

Consoante Massaud Moisés (1996, p. 360), “a poesia de Vinicius de Moraes é,

antes de tudo, expressão de um caso pessoal”. Nela se percebe um paulatino processo de

amadurecimento e de constante renovação, podendo, nas palavras do Poeta, ser dividida


em duas fases, grosso modo, dicotômicas:

[...] a primeira, transcendental, freqüentemente mística, resultante de sua fase cristã,

termina com o poema ‘Ariana, a mulher’, editado em 1936. [...] [Na segunda fase] estão

nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil

mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos. [...] (Apud: MOISÉS, 1996, p.

361) 1 Bacharelando em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), orientado pelo Prof.
Dr. Alexandre Huady Torres Guimarães.

Na sua estreia como poeta, Vinicius demonstrou forte apego ao passado lírico, num

tom neo-simbolista. Passando pela religiosidade, chegou ao materialismo, ao factual, ao

cotidiano, dando margem a uma poesia de cunho amoroso, sensual, até mesmo, erótica. A partir
de então, a figura feminina incorporou-se como tema recorrente em sua poesia: “ela passa a ser
‘divina’, um ser superior, ‘de onde provêm e para onde convergem todas as formas elevadas de
existência’ [...].” (MOISÉS, 1980, p. 93) Exemplo profícuo deste erotismo encontra-se em
“Balada do Mangue”, poema presente em Poemas, sonetos e baladas (Apud: LYRA, 1983, p.
85-88)

[...]

Enclausuradas sem fé.

Ah, jovens putas das tardes

O que vos aconteceu

Para assim envenenardes

O pólen que Deus vos deu?

[...]

A primeira fase da poesia de Vinicius de Moraes, como se depreende das próprias

considerações feitas pelo Poeta, ancora-se num viés espiritualista. Compreendendo o

decênio de 1930, abrange a publicação de O caminho para a distância (1933), Forma e

exegese (1935), Ariana, a mulher (1936), Novos poemas (1938) e Cinco elegias (1943).

Tal fase é marcada pelo uso do verso livre de longa extensão. Carregados de melancolia,

seus primeiros versos corporificam a ânsia pelo transcendental, como num jorrar de

emoções em tom declamatório. Em tais composições, percebe-se a busca por uma

linguagem solene que reconstrua a atmosfera de caráter neo-simbolista, almejando-se

alcançar o sublime espiritual por meio da poesia, objetivo este que, posteriormente, se

desvinculará de sua produção poética. (MOISÉS, 1980)


A segunda fase da poesia de Vinicius de Moraes começa a partir de 1943, com a

publicação de Poemas, sonetos e baladas. A partir desta fase, o tom simbolista-religioso

cede lugar a uma poesia mais preocupada com a composição formal, desenvolvendo temas de
caráter mais prosaico, coloquial, ao mesmo tempo, um amor que deixa de ser

transcendental e principia num viés mais sensual. São deste período os sonetos

emblemáticos que se caracterizaram como parcela considerável de sua obra poética. Por

meio dos sonetos, e de outros poemas de estrutura fixa, ratifica-se a preocupação do Poeta em
afastar-se de uma linguagem prolixa, em detrimento do tom declamatório dos versos de longa
extensão da fase anterior. Aparecem, também, textos marcadamente calcados por um tom
humorístico, tais como “Poema enjoadinho” (Apud: MOISÉS, 1980, p. 42):

Filhos... Filhos?

Melhor não tê-los!

Mas se não os temos

Como sabê-lo?

[...]

Também se descobre um Poeta voltado para composições infantis como as que

constam na obra A Arca de Noé: poemas infantis (2000) — “A casa”, “A Galinha

d’Angola”, “A Foca”, “O Pato” etc.

A par das mudanças, Vinicius passou a conceber a poesia como um tipo de

manifestação arquitetônica, com todas as conotações inerentes ao termo. “[...] Incorporou a


liberdade dos modernos sem desprezar o legado dos antigos, no que este lhe favorecia a
expressão.” (MICHELETTI, 1994, p. 15)

Arquitetura é a palavra que norteia Vinicius de Moraes em sua segunda fase poética

(MICHELETTI, 1994). Agora, sua visão de poesia se desprende do supérfluo. O Poeta,

que antes vivia “um contínuo de dor angustiante”, em O caminho para a distância

(MORAES, 2004, p. 182), doravante assume a função catalisadora de transmitir sensações


tolhidas pelo crivo da razão e por um trabalho mais consciente e esmerado com a linguagem
(MORAES, 2004, p. 641):

O poeta

Olhos que recolhem

Só tristeza e adeus

Para que outros olhem


Com amor os seus.

[...]

Palavras que dizem

Sempre um juramento

Para que precisem

Dele, eternamente.

Em “O Operário em Construção” (Apud: MOISÉS, 1980, p. 54), Vinicius revela

certa preocupação social como poucas vezes fizera. Composto em redondilhas, faz lembrar os
autos medievais, ou, até mesmo, a literatura de cordel.

Vinicius de Moraes também demonstra uma postura crítico-política em relação a

seu tempo por meio de composições e poemas como “Rosa de Hiroshima” e “Balada dos
Mortos dos Campos de Concentração” (Apud: LYRA, 1983, p. 97-99,110).

Capítulo à parte na obra de Vinicius de Moraes é a peça teatral Orfeu da

Conceição, cujo subtítulo “Tragédia Carioca” sintetiza seu conteúdo. Encenada tão somente por
atores negros, a peça rendeu inúmeros frutos, tendo sido aclamada pela crítica,a ponto de sofrer
uma adaptação para o cinema e tornar-se sucesso internacional nas mão do francês Marcel
Camus, intitulada Orfeu Negro. O mito de Orfeu foi adaptado para figurar no morro do Rio de
Janeiro, com trilha sonora do próprio Poeta ao lado de Antonio Carlos Jobim. Anos mais tarde,
num trabalho de Cacá Diegues, voltou às telas do cinema, sob o título de Orfeu.

Plural, a poesia de Vinicius de Moraes não cabe em nomenclaturas classificatórias.

Embebida de ritmo e musicalidade, tal poesia atinge o ápice quando se casa à Música

Popular Brasileira, através da Bossa Nova. Sozinho, ou ao lado de parceiros como Tom

Jobim, Baden Powell, Toquinho, Edu Lobo, entre outros, Vinicius marcou para sempre o
cenário musical brasileiro, por meio de canções que hoje fazem parte do imaginário

coletivo nacional. “Garota de Ipanema”, “Eu sei que vou te amar”, entre tantas outras
composições popularmente conhecidas e apreciadas por praticamente todas as esferas sócio-
culturais,revelam um Vinicius cada vez mais atento à sublimidade do cotidiano, do ameno, ao
valor inestimável inerente ao que é simples. É por meio da contribuição de Vinicius de Moraes
para com a MPB que os limites entre poesia e canção se esgarçam ainda mais. Penetrando em
sua atmosfera musical, também se descobre um Poeta associado a questões próprias da cultura
afro-brasileira como em “Canto de Ossanha”, “Meu Pai Oxalá”, “Zambi”, “Canto de Oxum”
etc.:

Meu pai Oxalá

[...]

Meu pai Oxalá é o rei


Venha me valer

O velho Omulu

A to tô abalua yê

[...] (Apud: CASTELLO, 2005, p. 110-111)

4- Capitães de Areia- Jorge Amado

Jorge Amado- “Baiano, romântico e sensual”, mas era bem mais que isso.
Escritor brasileiro conhecido e respeitado no exterior. Autor dos romances que
fizeram e fazem sucesso intenso hoje, ainda. De sua cabeça nasceram:Pedro
Bala,Tieta,Gabriela,Quincas Berro d´água. Escreveu 25 romances, 2
biografias(Castro Alves- “AB de Castro Alves” e do líder comunista Luís Carlos
Prestes-”O Cavaleiro da Esperança”), histórias infantis, contos, novelas( A morte e
a morte de Quincas Berro d´água e poemas( A estrada é assim).

É um regionalista cujo estilo despojado e coloquial trouxe para os livros que


escreveu os tipos peculiares da Bahia, os coronéis da época do cacau, prostitutas,
meninos abandonados de rua, bêbados inveterados, marinheiros, marginais e
pescadores, dentre outros. Há em Jorge Amado muita descrição e tessitura
narrativa, a sensualidade das cores e de ações.

Jorge Amado narra histórias inesquecíveis, como Capitães da Areia, na qual aborda
temas extremamente importantes como a infância abandonada e meninos que se
criam nas ruas á mercê de sua própria sorte.

Obras de Jorge Amado

O país do Carnaval (1931)

Cacau (1933)

Suor (1934)

Jubiabá (1935)

Mar morto (1936)

Capitães da areia (1937)

ABC de Castro Alves (1941)


Terras do sem fim (1942)

São Jorge dos ilhéus (1944)

O cavaleiro da esperança; vida de Luis Carlos Prestes (1945)

Seara vermelha (1946)

O amor de Castro Alves, reeditado com O amor do Soldado (1947)

Os subterrâneos da liberdade (1952)

I. Os ásperos tempo
II. A agonia da noite
III. A luz e o túnel
Gabriela, cravo e canela (1958)

Os velhos marinheiros (1961)

Os pastores da noite (1964)

Dona Flor e seus dois maridos (1967)

Tenda dos milagres (1970)

Teresa Batista cansada de guerra (1973)

Tieta do agreste (1977)

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá (1978)

Farda, fardão, camisola de dormir (1979)

O menino Grapiúna (1981)

A bola e o goleiro (1984)

Tocais grande; a face obscura (1984)

O sumiço da Santa (1988)

Navegação de cabotagem (1992)

A descoberta da América pelos turcos (1994

A história é uma metonímia


O Trapiche- lugar onde os meninos infratores se amontoam para dormir e fugir da
polícia.é uma metonímia do que hoje acontece nas grandes cidades brasileiras-
casarões abandonados e debaixo dos viadutos, nas praças, desestabilizando a
sociedade em que se inserem longe dos alcances das autoridades, e quando
recolhidos sob a tutela do Estado, esquecidos nas casa que abrigam menores.

A Política e a Polícia , as autoridades e os brasileiros mais comuns ensinaram a eles


que só é possível viver aos bandos , na rua,, encaminhando para a delinqüência, a
desobediência, a transgressão.Mas pode se observar que esses tipos de meninos
também são capazes de amar(Dora), de descobrir Deus (Pirulito),de descobrir a
arte (Professor), de se tornarem vigaristas e violentos ( Gato e Volta Seca),preferir
a morte a entregar-se ( Sem Pernas), de descobrir a liderança e a sabedoria por
vocação (Pedro Bala)

Análise da obra

Capitães da Areia- romance de 37- foi escrito na primeira fase da carreira de


Jorge Amado, e nota-se grandes preocupações sociais. As autoridades e o clero são
sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção, mas nem
tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e responsáveis pelos
males. Os Capitães da Areia são tachados como heróis no estilo Robin Hood. Faz
neste romance denúncia social que é vista como uma advertência : os meninos
pobres do Brasil estão abandonados á própria sorte. Não importa que
linguagem falem, as autoridades é preciso olhar por eles, ensinar-lhes a existência
e a alegria de viver, dar-lhes escolas, ampliando-lhes os horizontes futuros. Nesse
sentido o trapiche abandonado é um microcosmo povoado de criaturas tão
diversas: reunidos ali,á margem de todo reconhecimento humano, há gente que
guarda histórias, sofrimentos e que antes de mais nada acredita que a liberdade
deve ser defendida a qualquer custo. No geral, as preocupações sociais dominam,
mas os problemas existenciais dos garotos os transformam em personagens únicos
e corajosos Capitães da Areia de Salvador.

Pedro Bala é o protagonista- filho de um grevista, atingido e morto por uma bala.
Não fora abandonado, o pai morrera em torno de um ideal e ele descobre que a
mãe , que era da cidade alta, de origem rica, tinha morrido seis meses antes do
pai.Os outros personagens são coadjuvantes.- simbólicos- metonímia.
A grande admiração de Jorge Amado pelos vagabundos ensejou o romance
Capitães da Areia. A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o
Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque
comercial de Salvador); onde os meninos circulavam na esperança de conseguirem
dinheiro e comida devido ao trânsito de pessoas que trabalhavam lá e passavam
por lá; no Corredor da Vitória área nobre de Salvador, local visado pelo grupo
porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana, como o comendador
mencionado no início da narrativa.

OBJETIVO DO ESCRITOR
Romance de denúncia- um alerta- um indício de que era preciso cuidar das
crianças do Brasil, que havia meninos abandonados, a própria sorte, que não
existia trapiche, só na Bahia-Salvador, mas também em outras cidades havia
Pedros, Professores,Joões, Doras- criaturas do mundo e suas dificuldades.

Jorge Amado não registra uma história de violência apenas. Impõe ao leitor uma
reflexão.O Brasil que ele registra pulsa. Os meninos capitães existem em outros
meninos de ruas nas grandes cidades brasileiras e nos mais longinquos recantos do
país:esquecidos, espancados, aleijados, formam um batalhão de seres que não
cobram providências para se transformarem em pintores, líderes, humanos, como
quaisquer outras criaturas do país.Mostra as brutais diferenças de classe e a má
distribuição de renda e os efeitos da a marginalidade-sistema social perverso.

Como eram vistos esses menores abandonados? Pseudo-reportagens mostravam-


nos como menores abandonados marginalizados que aterrorizavam
Salvador.Dessa forma, Jorge Amado narra de forma realista, e descreve o
cotidiano de um grupo de menores que para arranjar dinheiro se marginalizam.

O romance supervaloriza a humanidade das crianças e ironiza a ganância e o


egoísmo das classes dominantes.Ainda no final do romance encontramos os
destinos marginalizados de alguns e a sorte de outros, tais como: Sem Perna se
mata antes de ser capturado pela polícia, Gato- torna-se malandro de verdade;
Volta Seca torna-se cangaceiro, mata mais de 60 soldados e ao se entregar se
suicida. Professor vai para o Rio de Janeiro ser pintor; Pirulito vira frade; Padre
José Pedro consegue sua paróquia; João Grande se torna marinheiro; Querido
de Deus um grande capoeirista, mas não perde as traquinas de malandro. Dora,
personagem do bando que trouxe carinho feminino (papel de mãe e irmã para
alguns),ama Pedro Bala e graças a ela que sua vida muda totalmente, pois ao
descobrir o amor, que não é só violência, e sim uma entrega afetiva ao próximo)
Dora morre com muita febre depois de se entregar a Pedro Bala, que se lembrará
dela como uma estrela- momento poético do romance.

Pedro Bala cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, deixa
de ser líder do bando e passa a ser líder revolucionário comunista.Na época o
comunismo é considerado algo bom.

Tempo - A obra apresenta tempo cronológico demarcado pelos dias, meses, anos e
horas conforme exemplificam os fragmentos: "É aqui também que mora o chefe
dos Capitães da Areia, Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus 5
anos. Hoje tem 15 anos. Há dez anos que vagabundeia nas ruas da Bahia."
O tempo psicológico correspondente às lembranças e recordações constantes na
narrativa.No final do romance, as marcas da temporalidade se avolumam. “Depois
de terminada a greve” “Anos depois” “ E no dia em que ele fugiu...”

Foco Narrativo

A obra Capitães da Areia é narrada na terceira pessoa,onisciente- sendo o autor,


Jorge Amado, também narrador expectador. Ele se comporta, durante todo o
desenvolvimento do tema, de maneira indiferente, criando e narrando os
acontecimentos sem se envolver diretamente com eles. Capta a intensidade
dramática daqueles que habitam o trapiche. A obra Capitães é poética, pois há
transbordamento pela descrição.Descreve com muita luz, som e cor cada
acontecimento, cada aspecto de viver dos meninos.

Espaço-

Espaço aberto- cidade onde os meninos estão em todas as partes- conhecem


todos os becos , ruas, morros:

Espaço Fechado- o trapiche- armazém abandonado próximo ao cais.( hoje o


Museu da Arte Moderna em Salvador)

As recorrências temáticas-

Romance típico da literatura urbana- interesse de mostrar o conjunto, a


comunidade, o coletivo. Pedro Bala é só um herói- menino. Ele crescerá, tomará
vulto e lidará grevista, assim como o pai. O mais gritante é o confronto entre as
classes sociais: meninos infratores de um lado e os poderosos de outro (Polícia,
Reformatório,Orfanato, Igreja Católica convencional)

A Estrutura do romance-

O livro é dividido em três partes. Antes delas o Prefácio “Cartas Á Redação”-


Artigo inicial denunciador, publicado no Jornal da Tarde de Salvador( não são cartas
verdadeiras, mas um pretexto para o início do romance)”Capitães da Areia, que
infestam a cidade invadiram á casa do Comendador José Ferreira, apunhalaram o
jardineiro e roubaram quantia e um relógio”. Várias cartas são enviadas á redação
e se fecha com manchetes elogiosa ao reformatório.” O Reformatório Baiano é uma
grande família”.

Em suma, uma sequência de reportagens e depoimentos, explicando que os


Capitães da Areia é um grupo de menores abandonados e marginalizados, que
aterrorizam Salvador. Os únicos que se relacionam com eles são Padre José Pedro e
uma mãe-de-santo, Don'Aninha. O Reformatório é um antro de crueldades, e a
polícia os caça como adultos antes de se tornarem um.

A primeira parte em si, "Sob a lua, num velho trapiche abandonado" conta
algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da
Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas
tinha líderes). Pedro Bala, o líder, tinha uma cicatriz no rosto, uma espécie de pai
para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, que depois descobre
ser filho de um líder sindical morto durante uma greve; Volta Seca, afilhado de
Lampião, que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro;
Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso; Gato, que com
seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva; Sem- Pernas, o
garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das
casas que vai é bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer
fazê-lo de verdade); João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo
em comando; Querido- de- Deus, um capoeirista amigo do grupo, que dá
algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João Grande e Gato; e Pirulito, que
tem grande fervor religioso.

O apogeu da primeira parte é dividido em quando os meninos se envolvem com


um carrossel mambembe que chegou à cidade, e exercendo sua meninez; e
quando a varíola ataca a cidade, matando um deles, mesmo com Padre José Pedro
tentando ajudá-los e se indo contra a lei por isso. Ainda, A aventura de Ogun-
Mãe de santo procura os meninos para pedir ajuda que em uma batida da polícia
em seu terreiro, os policiais levaram seu santo do altar. Pedro Bala dá um jeito de
armar um assalto e ir até a delegacia, é obrigado a ir à sala de detenção e lá coloca
o santo debaixo da camisa e o devolve a mãe de santo. Encontramos outra parte
Deus sorri como um negrinho- Pirulito fora a grande conquista de Padre José
Pedro. Quando Bala assumiu os meninos acabou com o sexualismo entre eles, não
porque condenasse, mas segundo o padre aquilo era coisa indigna num
homem.Pirulito desde que ouvira falar de Deus não praticara mais a violência, nem
brigas, mas um dia roubou uma imagem do menino Jesus e a Virgem Maria e
correu para o trapiche com Ele encostado ao peito, tal como tinha feito João Grande
quando o encontrara na rua e o levava para o armazém..Sua morrera de ataque
fulminante no meio da rua e ele com apenas uns meses é levado por João Grande
e o D Aninha cuidou dele. Em Família- Sem Pernas simula ser pobre órfão e entra
na casa de Dr Raul e D. Ester que perderam o filho único,Augusto, que morrera
bem pequeno.Acolhe-o como um filho, levam-no ao cinema, tomam sorvete.Pela 1ª
vez tem sensação de família.Dr. Raul viajou e os capitães entram na casa e fazem
um rapa.Ele não quis o resultado do furto e chora....Ainda, outro fato importante é
Alastrina, que é o mesmo que varíola (bexiga negra). O 1º a pegar varíola foi
Almiro.Sem Pernas desesperado manda-o embora para que não pegasse nos
demais.Resolve entregar Almiro á mãe, uma pobre lavadeira amigada com um
agricultor.Almiro morre no lazareto(estabelecimento para controle sanitário).

A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos",
surge uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da
Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá-la á força, ela se torna
como mãe e irmã para todos. Filha do bexiguento- Estevão e Margarida morrem
no lazareto de recaída do alastrim. Deixa dois órfãos: Dora de 13 para 14 anos e Zé
Fuinha com seis anos. Perambulavam pela cidade e foram achados por João Grande
e pelo Professor e levados para o trapiche. Dora, mãe- Dora se integra ao grupo e
passa a exerce as funções de mãe dos meninos.Professor e Pedro Bala se
apaixonam Dora e ela se apaixona por Pedro Bala.Dora, irmã e noiva-Veste calças
compridas e se junta ao bando e começa a mostrar serviço.Professor a olhava
sempr4e com olhos doces.Reformatório—durante um assalto a uma casa a polícia
prende Pedro,Dora e João Grande,Sem Pernas e Gato e estes não revelam nada
sobre o bando. Pedro Bala foi levado ao Reformatório e Dora para o orfanato.Sem
Pernas assume o bando até Pedro voltar.Sem Pernas manda uma corda a Pedro e
este foge do reformatório. Orfanato- Dora ficou um mês no orfanato.Professor,
João Grande Gato e Pedro buscam-na e ela ainda está com febre.Noite de
grande- Don Aninha faz uma prece para a febre desaparecer,mas não adianta. Ela
é olhada por todos como mãe , irmã, noiva e amada pelo Professor.Dora, esposa
–A febre continua.Dora diz a Pedro Bala que menstruou no orfanato e agora pode
ser dele.Eles se amam pela primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo
do fim para os principais membros do grupo.
A terceira parte "Canção da Bahia, Canção da Liberdade"-Vocações- Professor
olha o trapiche como uma moldura sem quadro. vai nos mostrando a desintegração
dos líderes.O destino de cada um, como já foi comentado acima Tudo estava
vazio.Professor se despede para estudar no Rio.Promete que um dia irá retratar a
vida dos meninos: as desigualdades sociais,as barbaridades que fazem contra a
pobreza.Pirulito parou de furtar e foi vender jornais e carregar bagagens de
viajantes. O Padre José Pedro é chamado pelo arcebispo e ganha sua paróquia e
traz Pirulito para estudar.Mais tarde será o Irmão Francisco da Sagrada Família.

Canção de amor da Vitalina – Havia na cidade uma solteirona, Joana, rica, feia e
nervosa.Tinha 45 anos.Sem Pernas se aproxima dela e diz que é órfão.Ela
necessitada de sexo quer brincar um pouco com o menino, mas não cede a ele.Ele
com raiva rouba-lhe as jóias e cai fora.Mas mal sabe ela que Sem Pernas a desejou
de verdade. Como um trapezista de circo- Pedro Bala, João Grande e Barandão
disparam numa corrida e se livram da prisão, no assalto a casa Rui Barbosa.Mas o
Sem Pernas corre de um lado para outro , desesperado e se joga de costas no
espaço do elevador, como se fosse um trapezista de circo. Terminava assim a vida
de quem escolheu a liberdade á prisão .Neste momento, o narrador entra na
intimidade da personagem e capta seus pensamentos mais intensos “...nuca fora
amado pelo que era, menino abandonado, aleijado e triste.Os ataques ressoam
como clarins de guerra- Acontece uma greve e quando termina o estudante
Alberto continua a freqüentar o trapiche .Gato reaparece bem vestido.Dalva ficou
em Ilhéus amigada com um coronel.Pedro Bala passa o comando para Barandão e
vai cumprir o destino que seu pai deixou pela metade.Uma pátria e uma família-

Pedro Bala, militante,político,proletário está sendo perseguido pela polícia de cinco


estados como organizador de greve, dirigente de partidos dos ilegais e perigoso
inimigo da ordem estabelecida. Ao ser preso e levado para uma colônia, recebia dos
lares pobres o apoio para continuar a luta.

Personagens

Personagens:
Pedro Bala: Negro, mais alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo,
músculos rígidos, tem 13 anos. Seu pai, um carroceiro gigantesco, morreu
atropelado por um caminhão, quando tentava desviar o cavalo para um lado da
rua. Após a morte de seu pai, João Grande não voltou mais ao morro onde morava,
pois estava atraído pela cidade da Bahia. Cidade essa que era negra, religiosa,
quase tão misteriosa como o verde mar. Com nove anos entrou no Capitães da
areia. Época em que o Caboclo ainda era o chefe. Cedo, se fez um dos chefes do
grupo e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam
para organizar os furtos. Ele não era chamado para as reuniões porque ele era
inteligente e sabia planejar os furtos, mas porque ele era temido, devido a sua
força muscular. Se fosse para pensar, até lhe doía a cabeça e os olhos ardiam. Os
olhos ardiam também quando viam alguém machucando menores.Então seus
músculos ficavam duros e ele estava disposto a qualquer briga. Ele era uma pessoa
boa e forte, por isso, quando chegava pequenino cheio de receio para o grupo, ele
era escolhido o protetor deles. O chefe dos capitães da areia era amigo de João
Grande não por sua força, mas porque Pedro o achava muito bom, até melhor que
eles. João Grande aprende capoeira com o Querido-de-Deus junto com Pedro Bala e
Gato. João Grande tem um grande pé, fuma e bebe cachaça. João Grande não sabe
ler. João Grande era chamado de Grande pelo professor, admirava o professor. O
professor achava João Grande um negro macho de verdade.
Dora: Morreu de uma febre muito forte, depois de se tornar esposa de Pedro Bala*.
Morreu como uma santa, pois havia sido boa. *Para ele, virara uma estrela.
Sem-Pernas: Morrera, jogando-se de um penhasco (elevador), depois de muito
correr fugindo da polícia após um roubo. Ele preferira morrer a se entregar.
Professor: Com seu dom de pintar, fora ao "Rio de Janeiro" tentar sucesso. Lá
com os quadros dos Capitães da Areia ficou famoso.
Boa-Vida: Era mais um malandro da cidade, que fazia sambas e cantava pelas
ruas, nas calçadas, nos bares, a "vagabundar".
Querido-de-Deus: Ensinava os meninos a lutar capoeira. Todos no trapiche o
admiravam. Era pescador.
Dalva: Era uma mulher de uns trinta e cinco anos, o corpo forte, rosto cheio de
sensualidade. Gato a desejou imediatamente.
Pirulito: Garoto magro e muito alto, olhos encovados e fundos. Tinha Hábito de
rezar.
Volta-Seca: Mulato sertanejo. Viera da caatinga. Tinha como ídolo o cangaceiro
Lampião.era afilhado deste.
O Gato: Candidato a malandro do bando, era elegante, gostava de se vestir bem.
Tinha um caso com a prostituta, Dalva, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas
vezes, não dormia no trapiche. Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os
outros, para as aventuras do dia.
João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente
temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai.

Enredo

Tendo como cenário as ruas e as areias das praias de Salvador, Capitães da Areia
trata da vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém
abandonado no cais do porto. Os motivos que as uniram eram os mais variados:
ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos e maus tratos recebidos
em casa.
Aproximadamente quarenta meninos de todas as cores, entre nove e dezesseis
anos, dormiam nas ruínas do velho trapiche. Tinham como líder Pedro Bala, rapaz
de quinze anos, loiro, com uma cicatriz no rosto. Generoso e valente, há dez anos
vagabundeava pelas ruas de Salvador, conhecendo cada palmo da cidade.
Durante o dia, maltrapilhos, sujos e esfomeados, mostravam-se para a sociedade,
perambulando pelas ruas, fumando pontas de cigarro, mendigando comida ou
praticando pequenos furtos para poder comer. Esse contato precoce com a dura
realidade da vida adulta fazia com que se tornassem agressivos e desbocados.
Além desses pequenos expedientes, os Capitães da Areia praticavam roubos
maiores, o que os tornou conhecidos, temidos e procurados pela polícia, que estava
em busca do esconderijo e do chefe dos capitães. Esses meninos se pegos, seriam
enviados para o Reformatório de Menores, visto pela sociedade como um
estabelecimento modelar para a criança em processo de regeneração, com
trabalho, comida ótima e direito a lazer. No entanto, esta não era a opinião dos
menores infratores. Sabendo que lá estariam sujeitos a todos os tipos de castigo,
preferiam as agruras das ruas e da areia à essa falsa instituição.
Um dia, Salvador foi assolada pela epidemia de varíola. Como os pobres não tinham
acesso à vacina, muitos morriam, isolados no lazareto. Almiro, o primeiro capitão a
ser infectado, ali morreu. Já Boa-Vida teve outra sorte; saiu de lá, andando. Dora e
o irmão, Zequinha, perderam os pais durante a epidemia. Ao saber que eram filhos
de bexiguentos, o povo fechava-lhes a porta na cara. Não tendo onde ficar, os dois
acabaram no trapiche, levados por João Grande e o Professor.
A confusão, causada pela presença de Dora no armazém, foi contornada por Pedro.
Os meninos aceitaram-na no grupo e, depois de algum tempo, vestida como um
deles, participava de todas as atividades e roubos do bando. Pedro Bala
considerava Dora mais que uma irmã; era sua noiva. Ele que não sabia o que era
amor, viu-se apaixonado; o que sentia era diferente dos encontros amorosos com
as negrinhas ou prostitutas no areal.

Quando roubavam um palacete de um ricaço na ladeira de São Bento, foram


presos. Parte do grupo conseguiu fugir da delegacia, graças à intervenção de Bala
que acabou sendo levado para o Reformatório. Ali sofreu muito, mas conseguiu
fugir. Em liberdade, preparou-se para libertar Dora. Um mês no Reformatório
feminino foi o suficiente para acabar com a alegria e saúde da menina que, ardendo
em febre, se encontrava na enfermaria.

Após renderem a irmã, Pedro, Professor e Volta-Seca fugiram, levando Dora


consigo. Infelizmente, não resistindo, ela morreu na manhã seguinte. Don'aninha
embrulhou-a em uma toalha de renda branca e Querido-de-Deus levou-a em seu
saveiro, jogando-a em alto mar. Pedro Bala, inconsolável e muito triste, chorou
com todos a ausência de Dora. Alguns anos se passaram e o destino de cada um do
grupo foi tomando rumo. Graças ao apoio de um poeta, o Professor foi para o Rio, e
já estava expondo seus quadros. Pirulito, que já não roubava mais, entrara para
uma ordem religiosa. Sem-Pernas morreu, quando fugia da polícia. Volta-Seca
estava fazendo o que sempre tinha sonhado; aliou-se ao bando de seu padrinho,
Lampião, tornando-se um terrível matador de polícia. Gato, perfeito gigolô e
vigarista, estava em Ilhéus, trapaceando coronéis. Boa-Vida, tocador de violão e
armador de bagunças, pouco aparecia no trapiche. João Grande embarcou como
marinheiro, num navio de carga do Lloyd.

Após o auxílio na greve dos condutores de bonde, o bando Capitães da Areia de


Pedro Bala, tornou-se uma "brigada de choque", intervindo em comício, greves e
em lutas de classes. Assim como Pirulito, Bala havia encontrado sua vocação.
Passando a chefia do bando para Barandão, seguiu para Aracaju, onde iria
organizar outra brigada. Anos depois, Pedro Bala, conhecido organizador de greves
e perigoso inimigo da ordem estabelecida, é perseguido pela polícia de cinco
estados.

Os Capitães da Areia são heróicos, "Robin Hood"s que tiram dos ricos e guardam
para si (os pobres). O Comunismo é mostrado como algo bom. No geral, as
preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os
transforma em personagens únicos e corajosos.

IMPORTANTE....

Capitães da Areia-Jorge Amado

Ficção e realidade

Em 1980, o cineasta Hector Babenco também se inclinou sobre o tema do


menor abandonado e realizou o filme Pixote, a lei dos mais fracos.

Roteiro de Leitura
Entretanto, se a temática á a mesma, no filme ela é elaborada de forma
diferente da de Jorge Amado em Capitães de areia. O enredo pode ser resumido da
seguinte maneira: o retrato nu e cru da vida de menores abandonados que fogem
de um reformatório e passam a viver com uma prostituta.

Porém, diante do descaso das autoridades competentes e da própria


sociedade, a história de ficção não está muito ou nada distante da realidade. Mais
uma vez, contrariando os preceitos aristotélicos, a vida imita a arte. Não muito
tempo depois de sua participação como personagem principal no cinema, todos
pudemos ver nos meios de comunicação o destino de Pixote Fernando Ramos da
Silva: morre em 1988, assassinado pela polícia em uma favela em Diadema (SP).

Ficção ou realidade? Atônitos, porém inertes, ainda estamos longe de


conseguir responder...

Um livro muito atual

Capitães de areia, como se sabe, foi publicado pela primeira vez em 1937.
mais de meio século depois, o livro continua surpreendentemente atual. Basta dar
uma olhada na manchete dos jornais e revistas dos últimos anos, para se perceber
como o romance de Jorge Amado ainda mexe diretamente com muitos de nossos
fantasmas e nossas culpas. Por isso mesmo, é que nos comove e provoca reflexões
bastante sérias sobre o modelo econômico, a organização social e a consciência dos
cidadãos do Brasil. Em síntese, Capitães de areia é um dos poucos romances de
denuncia social, escritos com talento e amor, que põe o dedo numa das maiores
feridas de nosso país: a situação do menor abandonado.

Aparentemente, muita coisa mudou no Brasil de 37 pra cá. O país passou


por um desenvolvimento econômico extraordinário: estabeleceu-se um processo de
industrialização, que teve como conseqüência o crescimento das grandes
metrópoles, o aumento da produção agrícola e da produção agrícola e da produção
dos bens de consumo. Mas esse desenvolvimento econômico esconde uma triste
verdade: o Brasil é uma nação de ilhas de prosperidade em meio à miséria
generalizada, como se o Primeiro Mundo dos carros importados, dos aparelhos
eletrônicos, das roupas de griff convivesse com o Terceiro Mundo das favelas, dos
rios poluídos e das crianças sobrevivendo precariamente nas ruas.

O que se verifica, portanto é que o país cresceu em todos os sentidos.


Tornou-se uma potência emergente (principalmente nos idos de 70, coma a
ditadura militar) e talvez, em conseqüência de um crescimento sem um
planejamento social, tornou-se também uma indústria da miséria mais abjeta, com
o aumento do desemprego, das levas de retirantes do Nordeste, dos sem-tetos e
da impunidade, principalmente no que diz respeito aos assustadores crimes contra
os desprotegidos da sorte.

Desse modo, o romance de Jorge Amado provoca uma curiosa reflexão: de


um lado, comove com sua visão lírica, ás vezes apaixonada, dos meninos que
atendem pelos nomes e apelidos de Pedro Bala, Sem-Pernas, Pirulito, Professor,
Gato, Volta Seca, etc,; por outro lado, deixa no ar uma série de interrogações, se
cotejarmos o que o livro conta com o que ocorre no nosso tempo:

a) No que diz respeito aos fatos narrados por Jorge Amado piorou ou melhorou
a condição do menor?
b) No que diz respeito ao comportamento das personagens e seu destino seria
possível pensar que as coisas se modificam para melhor ou para pior?
c) No que diz respeito ao interesse das autoridades pela criança abandonada,
mudou alguma coisa de 37 pra cá?
A resposta a essas três questões é desoladora, porque, baseando-nos em fatos,
verificamos que, tendo em vista o crescimento, o de desenvolvimento
econômico do país, as coisas, em vez de melhorarem, pioraram bastante. Para
ilustrar o que afirmamos, vamos nos servir de um fato ocorrido a opinião
publica e que ilustra muito bem a débâcle de uma sociedade alienada e de um
sistema econômico iníquo, injusto.

O massacre da Candelária

Numa quinta-feira, noite fira de julho, uns quarenta meninos de rua


dormiam sob a marquise dos prédios da Praça Pio X, onde fica a igreja da
Candelária. Encolhidos e embrulhados em velhos cobertores tinham como cama
apenas o chão duro revestido de pedaços de carpete e papelão. Passava da
meia-noite quando, fazendo o mínimo ruído possível, chegaram dois Chevettes,
em amarelo-claro, e o outro marrom. Do primeiro, saíram quatro homens, do
segundo dois. Alguns meninos acordaram, mas a maioria continuou
adormecida. Um dos homens dirigiu-se a um garoto de cabelos loiros e
perguntou-lhe rispidamente:

- Você é que é o Russo?


- Não, meu nome é Marco Antônio, respondeu o garoto.

O homem, que era alto e forte, tirou um revólver e berrou:

- Não mente pra gente seu safado! Sabemos que você é O Russo.

Com o barulho, Caveirinha, um outro garoto, acordou assustado e saiu


correndo. Um dos homens apontou-lhe o revólver, mas a arma não
disparou. Russo (ou Marco Antônio) não teve a mesma sorte. Levou dois
tiros á queima-roupa: um, no olho e outro, na coxa. Mais tiros foram
disparados indiscriminadamente: três meninos morreram na hora. Pimpolho,
que dormia sobre a banca de jornais e que completaria doze anos na
semana seguinte, chagou, em estado desesperados, ao hospital, juntamente
com Russo. Ambos morreriam logo depois, não resistiram logo depois, não
resistindo aos ferimentos.

A continuação do massacre
Não muito longe da Candelária provavelmente os mesmos homens do
Chevette claro abordaram Wagner, Paulo e Gambazinho. Sob a ameaça de
armas, os meninos foram obrigados a entrar no bando de trás do carro. Um
dos homens, alto, forte, com um dente da frente quebrado, tirou o capuz e
disse que era da polícia. Foi a senha, para que mais uma cena de
brutalidade começasse: os três garotos foram espancados a socos e
pontapés.
Wagner escapou milagrosamente da segunda chacina, com uma bala
alojada na nuca, muito próxima da coluna cervical. E, assim, se tornou a
testemunha de uma noite de horrores, que aumentou o numero de vítimas
de cinco para sete. Horas depois, no hospital, com o rosto inchado e cheio
de hematomas, recordou-se penosamente dos fatos. Depois do
espancamento, um homem branco, franzino, sentara-se em cima dele e
apontara-lhe um revólver para a cabeça. Os outros homens, também
armados, interrogavam e ameaçavam Paulo e Gambazinho. Foi a última
coisa que Wagner pôde ver, pois um tiro fez que ele perdesse a consciência.

Wagner acordou em frente ao Museu de Arte Moderna, que dista três


quilômetros da Praça Pio X. esvaindo-se em sangue, verificou que os
companheiros estavam mortos. Saiu andando e foi a um posto de gasolina,
onde o encaminharam para o hospital.

A opinião pública e a negligência oficial

O surpreendente nisso tudo, além da extrema crueldade das


execuções, foi a opinião pública e a reação das autoridades. Os principais
jornais e revistas do Brasil não só fizeram extensas reportagens sobre o
fato, bem como rediscutiram a questão do menor abandonado. Chegaram à
estarrecedora conclusão de que se matam quatro crianças por dia no país! A
noite da Candelária foi uma exceção, e uma exceção, dolorosamente, para
mais, de uma grave, terrível realidade.

Mas o tom indignado, às vezes mesmo apaixonado, das reportagens


não escondeu uma verdade: o público nem sempre reagiu como devia e as
autoridades, como não podia e as autoridades, como não podia deixar de
acontecer, se omitiram, apesar da aparência em contrário. Quanto ao
público, muita gente, vítima ou não da ação criminosa dos menores ou
mesmo assustada com sua presença ostensiva e ofensiva pelas ruas,
respirou aliviada, como se a questão do menos abandonado só devesse ser
resolvida pela via mais rápida: o puro e simples extermínio. Quanto às
autoridades, lavaram as mãos como Pilatos, ainda que se ouvisse
depoimentos veementes dos governantes, prometendo isso e aquilo, para
unir os responsáveis, como também para tentar solucionar o problema.

Água de bacalhau
E tudo acabou em águas de bacalhau, ou, utilizando uma expressão
mais em moda nos dias de hoje (haja vista o freqüente envolvimento de
nossos parlamentares em casos de corrupção), tudo acabou em pizza.
Escolheram-se alguns bodes expiatórios, para encobrir os verdadeiros
culpados pela chacina, remanejaram-se algumas autoridades policiais, e o
crime ficou impune. Mesmo que sete crianças, de doze a dezessete anos,
tivessem sido fuziladas à queima roupa, sem oportunidade alguma de
defesa.

Mas o pior de tudo (se é que pode dizer que haveria algo pior do que
tudo que aconteceu...) é que, globalmente, nada mudou na condição do
menor. Organizações assistenciais, na época, movimentaram-se, verbas
foram prometidas, mas as ruas continuam cheias de menores e mais
menores são, todos os dias, despejados nas ruas. Outros Russos, Caolhos,
Gambazinhos continuam a roubar, a matar, a cheirar cola, sem saber (ou
mesmo sabendo) que, à sombra, grupos de extermínio esperam a poeira da
opinião pública assentar, para dar continuidade à genial solução para a
questão do menos abandonado: a morte súbita, a tiros de revólver.

Enquanto isso, o Brasil procura meios de sair do buraco, tapando os


olhos para a miséria absoluta de seus pobres cidadãos, entre os quais,
vivem, em condições subumanas, um simulacro de futuros homens, um
simulacro de forças de trabalho.

Dolorosas respostas a algumas questões

Cremos que a essa altura já é possível responder às questões


formuladas anteriormente. Se compararmos a situação descrita por Jorge
Amado com a situação do menor abandonado hoje, verificaremos
tristemente que tudo evoluiu para pior. Ou seja, a condição do menor, o
destino das crianças e a atuação das autoridades revelam a quem leu o livro
e a quem acompanhou o horrível fato de julho de 93 que o país, em vez de
andar para frente, andou para trás. E, paradoxalmente, parece que os fatos
narrados pelo romancista são muitos suaves, como se seu livro, hoje, fosse
incapaz de chocar tanto como chocou na época em que foi escrito.

Não precisamos ir muito longe para justificar nossa afirmativa. Basta


examinar a trajetória das personagens e a atuação das autoridades de
Capitães da areia para chegar a essa conclusão. No livro, verificamos, por
exemplo, que não há propriamente grupos de extermínio que liquidem de
modo gratuito as crianças. De todas elas, somente Sem-Pernas é que morre
em confronto com as forças policiais. Mas tal fato se dá às claras, nas ruas
da cidade e sob a forma de suicídio da personagem, quando ela prefere a
morte à perda da liberdade. O que há de idêntico entre os fatos que Jorge
Amado conta e a realidade de nossos dias diz respeito às casas de correção.
O juizado de menores, o orfanato de 37 e a Febem de hoje são muito
semelhantes, o que vem somente confirmar nosso ponto de vista, já que,
meio século depois, tais instituições deveriam ter sofrido sensível melhora.

O mesmo se pode dizer da condição do menor e seu destino. Em


Capitães da areia, apesar da visão degradante da situação do menor,
verifica-se que há uma luz no final do túnel, uma luz de esperança. Os
delitos que as crianças cometem são leves, se comparados ais que os
menores abandonados cometem hoje: pequenos roubos, golpes, nada que
implique, por exemplo, atentados contra a vida humana ou mesmo o tráfico
de drogas (a esse respeito, leia a entrevista com um menor abandonado no
final). Se o Sem-Pernas morre, porque está sem saída, outras personagens
superam as adversidades com tenacidade, com grandeza. São os caos de
Pedro Bala, Pirulito e Professos. O primeiro torna-se um líder operário,
bastante respeitado pelos seus iguais, Pirulito entra para o seminário,
respondendo a uma vocação acentuada desde o início da narrativa, e o
Professor será um pintor de sucesso no Rio de Janeiro. Será que Russo,
Pimpolho e Gambazinho teriam outras opções de vida, outro destino?

Essa comparação sumária entre o romance de 37 e a realidade


de hoje revela uma triste verdade: Jorge Amado, sem dourar a
pílula, produziu um dos documentos mais sinceros, mais chocantes
sobre a condição do menor. Contudo, a realidade, por incrível que pareça,
em vez de se modificar, ao sofrer o impacto do romance-reportagem,
mostrou-se mais chocante, mais cruel, a ponto de acentuar as iniqüidades
que o romancista havia denunciado na década de 30. Por isso mesmo,
Capitães da areia continua vivo, pois nos acorda para fatos que a nossa
consciência às vezes prefere que sejam esquecidos ou, nos casos mais
drásticos, como acontece com as pessoas sem um mínimo de humanidade,
que a consciência prefere apagar, mesmo que seja com um tiro no olho de
quem a incomoda.

Veja algumas questões sobre o livro:

Jorge Amado, em Capitães da Areia tem como núcleo a cidade de Salvador,


com seus tipos inesquecíveis, com seus heróis extraídos das classes menos
favorecidas. O escritor dá destaque ao coletivo, procurando abarcar a história de
uma comunidade, mais especificamente, a dos menores abandonados.O Foco
Narrativo utilizado por ele é em 3ª pessoa, com o narrador se permitindo a
onisciência, ou seja, narrando os fatos de fora, e ao mesmo tempo de dentro,
quando penetra na interioridade de diferentes personagens.

É possível ler a obra dentro de duas vertentes temáticas: a primeira, confronto


entre classe social que se antagonizam, levando a um desfecho mais ou menos
previsível.O outro lado, temos os desprotegidos da sorte que se tornam senhor
de um espaço vazio, a areia a que deu assim o título metafórico: os menores são
capitães da terra devoluta,em que se ergue um trapiche abandonado.
01-O romance inicia-se com a descrição do trapiche, quase derruído, que servirá
de contraste a construções suntuosas dentro do espaço da cidade propriamente
dito, como é o caso da sede do Arcebispado, ou ainda casas em que moram os
burgueses.

a) Explique o efeito de contraste acentuado nitidamente.


b) Qual a primeira personagem a ser introduzida no romance? Justifique.
c) Por que essa personagem citada por você foi engajada no grupo dos
Capitães da Areia?

02- Jorge Amado monta o romance “Capitães da Areia ‘ através de quadros mais
ou menos independentes. Ainda, ao lado da narração, intercalam notícias de jornal,
bem como, reflexões poéticas- daí o nome de romance híbrido”.Outro aspecto
que chama a atenção no que diz respeito à estruturação da narrativa, é a
divisão em partes.

a) Comente a divisão do romance.Descreva-as.

03-Por que o episódio, intitulado “As luzes do Carrossel”, indica que os Capitães,
apesar dos roubos, eram ainda crianças? Copie uma passagem que justifique sua
resposta..Quais personagens se relacionam diretamente com o Carrossel? O destino
final dessas personagens indica que “a sociedade” criou condições para que se
tornassem “cidadãos respeitáveis?” Justifique.

04-A relação entre o Padre José Pedro e os Capitães é de autoritarismo ou é


amistoso?Copie uma frase que justifique. A atitude do Padre José Pedro representa
a posição da igreja ou se opõe a ela?Justifique.

05- Por que o episódio “Família” talvez seja um dos mais consistentes de todo o
livro?Comente com o relacionamento com a figura de Sem Pernas.

06-A presença de Dora no grupo reafirma a “carência” afetiva dos Capitães.

a) Copie uma passagem que confirme essa “carência”.


b) Quem a via como mãe?
c) Quem a sentia como irmã?
d) Quais se apaixonaram por ela? A quem ela correspondeu? Como “o outro” (
não correspondido “ a imortalizou?

07- Numa cena bastante poética, Jorge Amado mostra Pedro Bala seguindo nas
águas do rio o corpo de Dora, que irá simbolicamente se transformar numa estrela
do céu. Comente. Qual a função de Dora no romance? Explique.
08-O autor fecha o romance, retratando o destino de cada membro do
grupo.Comente.

Os Capitães da Areia eram muitos, mas o narrador destaca alguns. Quais são eles?
Qual a origem do apelido de cada um? Qual continuou na vida adulta, com as
mesmas “malandragens’ da época, em que convivia com os Capitães? Copie uma
passagem para justificar”.

09-Quem era o líder dos Capitães”.Como ele conseguiu essa liderança?Qual a


ligação do destino desse líder com a situação política e social da época, depois que
se tornou adulto?

10- Comente o último parágrafo do livro: “Apesar da miséria dos meninos


desamparados, da alienação de alguns deles, o romance termina positivamente,
pois Jorge Amado irá concentrar em Pedro Bala toda sua crença na força do
homem, em seu poder para modificar o destino, através da luta, através da ação.
Com isso, acaba por deixar às claras a sua concepção de romance: um tipo de
narrativa que se presta a desalienar e a conscientizar o homem, não só lhe
chamando a atenção para as mazelas sociais, como também lhe indicando o
caminho da redenção”.

11- Entre as variedades de preconceito enumeradas a seguir, aponte aquelas que o


grupo dos “capitães da areia” (do romance homônimo) rejeita e aquelas que acata
e reforça:
Preconceito de raça e cor;
De religião;
De gênero (homem e mulher);
De orientação sexual. Justifique suas respostas.

12- Em Capitães da Areia temos a "cidade alta" como cenário principal. Pedro Bala
é o chefe de um grupo de jovens arruaceiros que roubam para sobreviver. Nunca
ninguém havia mencionado em literatura este bando de jovens que
engenhosamente desafia as autoridades, roubando a classe privilegiada e dividindo
o produto do roubo entre os seus camaradas subnutridos. Explique essa assertiva

13-Os personagens são em sua maioria masculinos, e dentre eles, Pedro Bala, cuja
agilidade sugerida pelo apelido, merece especial atenção - Sem Perna, Pirulito, O
Professor são os mais destacados: Ainda temos no grupo João Grande, Volta Seca,
Boa Vida muito bem configurados pelos seus apelidos baseados na aparência física.
Explique o porquê dos apelidos,

14-Dora é a única figura feminina merecedora de destaque, pois ela passa a


assumir o referencial feminino da família, a mãe. Por que Dora é considerada dessa
forma entre os capitães?
15-- Ao mesmo tempo que eles se relacionam bem com o padre José Pedro, eles se
dão bem com a Mãe de Santo D. Aninha. Envolviam-se no candomblé, capoeira e
respeitavam a igreja. Qual o relacionamento dos meninos com essas duas figuras/
O padre era hostilizado pela igreja/ Justifique.
16- A imprensa fazia o papel de porta-voz de problemas relacionados aos Capitães
da Areia; mas o espaço era sempre o mais destacados quando o material era para
acusá-los. Isso acontece atualmente?Justifique.
17-Qual o espaço em que se desenrola a narrativa ? A obra apresenta tempo
psicológico ou cronológico? Dê exemplos.

RESUMO RÁPIDO- o título metafórico: os menores são


capitães da terra devoluta,em que se
Capitães da Areia- romance de 37- ergue um trapiche abandonado.
foi escrito na primeira fase da carreira
de Jorge Amado, e nota-se grandes O romance inicia-se com a descrição
preocupações sociais. Faz neste do trapiche, quase derruído, que
romance denúncia social que é vista servirá de contraste a construções
como uma advertência : os meninos suntuosas dentro do espaço da
pobres do Brasil estão abandonados á cidade propriamente dito, como é o
própria sorte. caso da sede do Arcebispado, ou
ainda casas em que moram os
Jorge Amado, em Capitães da burgueses.
Areia tem como núcleo a cidade de
Salvador, com seus tipos Jorge Amado- “Baiano, romântico
inesquecíveis, com seus heróis e sensual”, É um regionalista cujo
extraídos das classes menos estilo despojado e coloquial trouxe
favorecidas. O escritor dá destaque ao para os livros que escreveu os tipos
coletivo, procurando abarcar a história peculiares da Bahia, os coronéis da
de uma comunidade, mais época do cacau, prostitutas, meninos
especificamente, a dos menores abandonados de rua, bêbados
abandonados.O Foco Narrativo inveterados, marinheiros, marginais e
utilizado por ele é em 3ª pessoa, com pescadores, dentre outros. Há em
o narrador se permitindo a Jorge Amado muita descrição e
onisciência, ou seja, narrando os fatos tessitura narrativa, a sensualidade
de fora, e ao mesmo tempo de das cores e de ações.
dentro, quando penetra na
interioridade de diferentes Jorge Amado narra histórias
personagens. inesquecíveis, como Capitães da
Areia, na qual aborda temas
É possível ler a obra dentro de duas extremamente importantes como a
vertentes temáticas: a primeira, infância abandonada e meninos que
confronto entre classe social que se se criam nas ruas á mercê de sua
antagonizam, levando a um desfecho própria sorte.
mais ou menos previsível.O outro
lado, temos os desprotegidos da A história é uma metonímia
sorte que se tornam senhor de um
espaço vazio, a areia a que deu assim
O Trapiche- lugar onde os meninos Romance de denúncia- um alerta- um
infratores se amontoam para dormir indício de que era preciso cuidar das
e fugir da polícia.é uma metonímia do crianças do Brasil, que havia meninos
que hoje acontece nas grandes abandonados, a própria sorte, que
cidades brasileiras- casarões não existia trapiche, só na Bahia-
abandonados e debaixo dos viadutos, Salvador, mas também em outras
nas praças, desestabilizando a cidades havia Pedros,
sociedade em que se inserem longe Professores,Joões, Doras- criaturas do
dos alcances das autoridades, e mundo e suas dificuldades.
quando recolhidos sob a tutela do
Estado, esquecidos nas casa que O romance supervaloriza a
abrigam menores. humanidade das crianças e ironiza a
ganância e o egoísmo das classes
As autoridades e o clero são sempre dominantes.
retratados como opressores (Padre
José Pedro é uma exceção, mas nem Ainda no final do romance
tanto; antes de ser um bom padre foi encontramos os destinos
um operário), cruéis e responsáveis marginalizados de alguns e a sorte de
pelos males. Os Capitães da Areia são outros, tais como: Sem Perna se mata
tachados como heróis no estilo Robin antes de ser capturado pela polícia,
Hood. Gato- torna-se malandro de verdade;
Volta Seca torna-se cangaceiro, mata
Não importa que linguagem falem, as mais de 60 soldados e ao se entregar
autoridades é preciso olhar por eles, se suicida. Professor vai para o Rio de
ensinar-lhes a existência e a alegria Janeiro ser pintor; Pirulito vira frade;
de viver, dar-lhes escolas, ampliando- Padre José Pedro consegue sua
lhes os horizontes futuros. paróquia; João Grande se torna
marinheiro; Querido de Deus um
Nesse sentido o trapiche abandonado grande capoeirista, mas não perde as
é um microcosmo povoado de traquinas de malandro. Dora,
criaturas tão diversas: reunidos ali,á personagem do bando que trouxe
margem de todo reconhecimento carinho feminino (papel de mãe e
humano, há gente que guarda irmã para alguns),ama Pedro Bala e
histórias, sofrimentos e que antes de graças a ela que sua vida muda
mais nada acredita que a liberdade totalmente, pois ao descobrir o amor,
deve ser defendida a qualquer custo. que não é só violência, e sim uma
entrega afetiva ao próximo) Dora
Pedro Bala é o protagonista- filho de
morre com muita febre depois de se
um grevista, atingido e morto por
entregar a Pedro Bala, que se
uma bala. Não fora abandonado, o pai
lembrará dela como uma estrela-
morrera em torno de um ideal e ele
momento poético do romance.
descobre que a mãe , que era da
cidade alta, de origem rica, tinha Pedro Bala cada vez mais fascinado
morrido seis meses antes do pai.Os com as histórias de seu pai
outros personagens são sindicalista, deixa de ser líder do
coadjuvantes.- simbólicos- bando e passa a ser líder
metonímia. revolucionário comunista.Na época o
comunismo é considerado algo bom.

OBJETIVO DO ESCRITOR
Tempo - A obra apresenta tempo
cronológico demarcado pelos dias,
meses, anos e horas Redação”- A primeira parte em si,
Foco Narrativo "Sob a lua, num velho trapiche
abandonado" conta algumas histórias
A obra Capitães da Areia é quase independentes sobre alguns
narrada na terceira dos principais Capitães da Areia (o
pessoa,onisciente- sendo o autor, grupo chegava a quase cem, morando
Jorge Amado, também narrador num trapiche abandonado, mas tinha
expectador. Ele se comporta, durante líderes).
todo o desenvolvimento do tema, de
maneira indiferente, criando e O apogeu da primeira parte é dividido
narrando os acontecimentos sem se em quando os meninos se envolvem
envolver diretamente com eles. Capta com um carrossel mambembe que
a intensidade dramática daqueles que chegou à cidade, e exercendo sua
habitam o trapiche. A obra Capitães é meninez; e quando a varíola ataca a
poética, pois há transbordamento pela cidade, matando um deles, mesmo
descrição.Descreve com muita luz, com Padre José Pedro tentando ajudá-
som e cor cada acontecimento, cada los e se indo contra a lei por isso.
aspecto de viver dos meninos. Ainda,

Espaço- A aventura de Ogun- Mãe de santo


procura os meninos para pedir ajuda
Espaço aberto- cidade onde os que em uma batida da polícia em seu
meninos estão em todas as partes- terreiro, os policiais levaram seu
conhecem todos os becos , ruas, santo do altar. Pedro Bala dá um jeito
morros: de armar um assalto e ir até a
delegacia, é obrigado a ir à sala de
Espaço Fechado- o trapiche- detenção e lá coloca o santo debaixo
armazém abandonado próximo ao da camisa e o devolve a mãe de
cais.( hoje o Museu da Arte Moderna santo. Encontramos outra parte
em Salvador)
Deus sorri como um negrinho- Pirulito
fora a grande conquista de Padre José
As recorrências temáticas- Pedro. Quando Bala assumiu os
meninos acabou com o sexualismo
Romance típico da literatura urbana-
entre eles, não porque condenasse,
interesse de mostrar o conjunto, a
mas segundo o padre aquilo era coisa
comunidade, o coletivo. Pedro Bala é
indigna num homem.Pirulito desde
só um herói- menino. Ele crescerá,
que ouvira falar de Deus não praticara
tomará vulto e lidará grevista, assim
mais a violência, nem brigas, mas um
como o pai. O mais gritante é o
dia roubou uma imagem do menino
confronto entre as classes sociais:
Jesus e a Virgem Maria e correu para
meninos infratores de um lado e os
o trapiche com Ele encostado ao
poderosos de outro (Polícia,
peito, tal como tinha feito João
Reformatório,Orfanato, Igreja Católica
Grande quando o encontrara na rua e
convencional)
o levava para o armazém..Sua
morrera de ataque fulminante no
meio da rua e ele com apenas uns
A Estrutura do romance- meses é levado por João Grande e o
D Aninha cuidou dele.
O livro é dividido em três partes.
Antes delas o Prefácio “Cartas Á
Em Família- Sem Pernas simula ser Reformatório—durante um assalto a
pobre órfão e entra na casa de Dr uma casa a polícia prende Pedro,Dora
Raul e D. Ester que perderam o filho e João Grande,Sem Pernas e Gato e
único,Augusto, que morrera bem estes não revelam nada sobre o
pequeno.Acolhe-o como um filho, bando. Pedro Bala foi levado ao
levam-no ao cinema, tomam Reformatório e Dora para o
sorvete.Pela 1ª vez tem sensação de orfanato.Sem Pernas assume o bando
família.Dr. Raul viajou e os capitães até Pedro voltar.Sem Pernas manda
entram na casa e fazem um rapa.Ele uma corda a Pedro e este foge do
não quis o resultado do furto e reformatório.
chora....
Orfanato- Dora ficou um mês no
Ainda, outro fato importante é orfanato.Professor, João Grande Gato
Alastrina, que é o mesmo que varíola e Pedro buscam-na e ela ainda está
(bexiga negra). O 1º a pegar varíola com febre.
foi Almiro.Sem Pernas desesperado
manda-o embora para que não Noite de grande Paz- Don Aninha faz
pegasse nos demais.Resolve entregar uma prece para a febre
Almiro á mãe, uma pobre lavadeira desaparecer,mas não adianta. Ela é
amigada com um agricultor.Almiro olhada por todos como mãe , irmã,
morre no lazareto(estabelecimento noiva e amada pelo Professor.
para controle sanitário).
Dora, esposa –A febre continua.Dora
A segunda parte, "Noite da Grande diz a Pedro Bala que menstruou no
Paz, da Grande Paz dos teus olhos", orfanato e agora pode ser dele.Eles se
surge uma história de amor quando a amam pela primeira vez na praia e ela
menina Dora torna-se a primeira morre, marcando o começo do fim
"Capitã da Areia", e mesmo que para os principais membros do grupo.
inicialmente os garotos tentem tomá-
A terceira parte "Canção da Bahia,
la á força, ela se torna como mãe e
Canção da Liberdade"-
irmã para todos.
Vocações- Professor olha o trapiche
Filha do bexiguento- Estevão e
como uma moldura sem quadro. vai
Margarida morrem no lazareto de
nos mostrando a desintegração dos
recaída do alastrim. Deixa dois órfãos:
líderes.O destino de cada um, como já
Dora de 13 para 14 anos e Zé Fuinha
foi comentado acima Tudo estava
com seis anos. Perambulavam pela
vazio.Professor se despede para
cidade e foram achados por João
estudar no Rio.Promete que um dia
Grande e pelo Professor e levados
irá retratar a vida dos meninos: as
para o trapiche.
desigualdades sociais,as barbaridades
Dora, mãe- Dora se integra ao grupo que fazem contra a pobreza.Pirulito
e passa a exerce as funções de mãe parou de furtar e foi vender jornais e
dos meninos.Professor e Pedro Bala carregar bagagens de viajantes. O
se apaixonam Dora e ela se apaixona Padre José Pedro é chamado pelo
por Pedro Bala. arcebispo e ganha sua paróquia e
traz Pirulito para estudar.Mais tarde
Dora, irmã e noiva-Veste calças será o Irmão Francisco da Sagrada
compridas e se junta ao bando e Família.
começa a mostrar serviço.Professor a
olhava sempr4e com olhos doces.
Canção de amor da Vitalina – Havia (do romance homônimo) rejeita e
na cidade uma solteirona, Joana, rica, aquelas que acata e reforça:
feia e nervosa.Tinha 45 anos.Sem Preconceito de raça e cor;
De religião;
Pernas se aproxima dela e diz que é
De gênero (homem e mulher);
órfão.Ela necessitada de sexo quer De orientação sexual.
brincar um pouco com o menino, mas
não cede a ele.Ele com raiva rouba-
lhe as jóias e cai fora.Mas mal sabe Personagens
ela que Sem Pernas a desejou de
verdade. Personagens:
Pedro Bala: Negro, mais alto e mais
Como um trapezista de circo- Pedro forte do bando. Cabelo crespo e
Bala, João Grande e Barandão baixo, músculos rígidos, tem 13 anos.
disparam numa corrida e se livram da
prisão, no assalto a casa Rui Dora: Morreu de uma febre muito
Barbosa.Mas o Sem Pernas corre de forte, depois de se tornar esposa de
Pedro Bala*. Morreu como uma santa,
um lado para outro , desesperado e
pois havia sido boa. *Para ele, virara
se joga de costas no espaço do uma estrela.
elevador, como se fosse um trapezista Sem-Pernas: Morrera, jogando-se de
de circo. Terminava assim a vida de um penhasco (elevador), depois de
quem escolheu a liberdade á prisão muito correr fugindo da polícia após
.Neste momento, o narrador entra na um roubo. Ele preferira morrer a se
intimidade da personagem e capta entregar.
Professor: Com seu dom de pintar,
seus pensamentos mais intensos
fora ao "Rio de Janeiro" tentar
“...nuca fora amado pelo que era, sucesso. Lá com os quadros dos
menino abandonado, aleijado e triste Capitães da Areia ficou famoso.
Boa-Vida: Era mais um malandro da
.Os ataques ressoam como clarins de cidade, que fazia sambas e cantava
guerra- Acontece uma greve e quando pelas ruas, nas calçadas, nos bares, a
termina o estudante Alberto continua "vagabundar".
a freqüentar o trapiche .Gato Querido-de-Deus: Ensinava os
meninos a lutar capoeira. Todos no
reaparece bem vestido.Dalva ficou em
trapiche o admiravam. Era pescador.
Ilhéus amigada com um coronel.Pedro
Dalva: Era uma mulher de uns trinta e
Bala passa o comando para Barandão cinco anos, o corpo forte, rosto cheio
e vai cumprir o destino que seu pai de sensualidade. Gato a desejou
deixou pela metade. imediatamente.
Pirulito: Garoto magro e muito alto,
Uma pátria e uma família-Pedro Bala, olhos encovados e fundos. Tinha
militante,político,proletário está sendo Hábito de rezar.
perseguido pela polícia de cinco Volta-Seca: Mulato sertanejo. Viera
da caatinga. Tinha como ídolo o
estados como organizador de greve,
cangaceiro Lampião.era afilhado
dirigente de partidos dos ilegais e
deste.
perigoso inimigo da ordem O Gato: Candidato a malandro do
estabelecida. Ao ser preso e levado bando, era elegante, gostava de se
para uma colônia, recebia dos lares vestir bem. Tinha um caso com a
pobres o apoio para continuar a luta. prostituta, Dalva, que lhe dava
dinheiro, por isso, muitas vezes, não
Entre as variedades de preconceito dormia no trapiche.
enumeradas a seguir, aponte aquelas
que o grupo dos “capitães da areia” João-de-Adão: Estivador, negro
fortíssimo e antigo grevista, era
igualmente temido e amado em toda
a estiva. Através dele, Pedro Bala
soube de seu pai.

5-- D.Casmurro,de Machado de Assis

-INTRODUÇÃO

Maior escritor brasileiro de todos os tempos, Joaquim Maria Machado de Assis


(1839-1908) era um mestiço de origem humílima, filho de um mulato e de uma
lavadeira portuguesa dos Açores. Moleque de morro, magro, franzino e doentio, o
maior escritor brasileiro se fez sozinho, adquirindo a sua vasta e espantosa cultura
de forma inteiramente autodidata.

Ao estudar a obra de Machado de Assis, a crítica divide-a em duas fases bem


distintas cujo marco deliminatório é o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas
publicado em 1881. Até essa data, a obra machadiana é marcante romântica, e
nela sobressai poesia, conto e romances como Ressurreição (1872), A mão e a luva
(1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878). Tais obras pertencem, pois, à chamada
primeira fase.

A partir de 1881, com a publicação das Memórias, Machado de Assis muda de


tal forma que Lúcia Miguel Pereira, biógrafa e estudiosa do escritor, chega a afirmar
que "tal obra não poderia ter saído de tal homem", pois, "Machado de Assis liberou
o demônio interior e começa uma nova aventura": a análise de caracteres, numa
verdadeira dissecação da alma humana. É a Segunda fase, fase perpassada dos
ingredientes do estilo realista.

Além de contos, poesia, teatro e crítica, integram essa fase os romances


seguintes, entre os quais está o nosso Dom Casmurro (1900): Memórias Póstumas
de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de
Aires (1908), seu último livro, pois morre nesse mesmo ano. Toda essa obra está
ligada ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da
categoria ao estilo realista, embora seja correto reconhecer que um escritor da
categoria de Machado de Assis não pode ficar preso às delimitações de um estilo de
época.

Construído em flash-back, o protagonista masculino (Dom Casmurro), já


cinqüentão e solitário, tenta "atar as duas pontas da vida" (infância e velhice),
contando a história de sua vida ao lado de Capitu, a qual acaba tomando conta do
romance, dada a sua força e o seu mistério.

ENREDO DE DOM CASMURRO

Dom Casmurro foi publicado em 1900 e é um dos romances mais conhecidos


de Machado. Narra em primeira pessoa à estória de Bentinho que, por
circunstâncias várias, vai se fechando em si mesmo e passa a ser conhecido como
Dom Casmurro. Sua estória é a seguinte:

Órfão de pai, criado com desvelo pela mãe (D. Glória), protegido do mundo
pelo círculo doméstico e familiar (tia Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é
destinado à vida sacerdotal, em cumprimento a uma antiga promessa de sua mãe.

A vida do seminário, no entanto, não o atrai, já o namoro com Capitu, filha dos
vizinhos. Apesar de comprometido pela promessa, também D. Glória sofre com a
idéia de separar-se do filho único, interno no seminário. Por expediente de José
Dias, o agregado da família, Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar,
ordena-se um escravo.

Correm os anos e com eles o amor de Bentinho e Capitu. Entre o namoro e o


casamento, Bentinho se forma em Direito e estreita a sua amizade com um ex-
colega de seminário, Escobar, que acaba se casando com Sancha, amiga de Capitu.
Do casamento de Bentinho e Capitu nasce Ezequiel. Escobar morre e, durante seu
enterro, Bentinho julga estranha a forma qual Capitu contempla o cadáver. A partir
daí, os ciúmes vão aumentando e precipita-se a crise. Á medida que cresce,
Ezequiel se torna cada vez mais parecido com Escobar. Bentinho muito ciumento
chega a planejar o assassinato da esposa e do filho, seguido pelo seu suicídio, mas
não tem coragem. A tragédia dilui-se na separação do casal. Capitu viaja com o
filho para a Europa onde morre anos depois. Ezequiel, já mocó, volta ao Brasil para
visitar o pai, que apenas constata a semelhança entre e antigo colega de seminário.
Ezequiel volta a viajar e morre no estrangeiro. Bentinho, cada vez mais fechado em
usas dúvidas, passa a ser chamado de casmurro pelos amigos e vizinhos e põe-se a
escrever de sua vida (o romance).

ORGANIZAÇÃO / ESTRUTURA

1) Dom Casmurro é narrado em primeira pessoa pelo protagonista masculino


que dá nome ao romance, já velho e solitário, desiludido e amargurado pela
casmurrice, conforme lhe está no apelido.Conta que desgostou um rapaz de seu
bairro ao dormir no trem da Central,durante a leitura que o moço fazia de uns
versos de sua autoria. Aborrecido, o moço vingou-se, colocando-lhe o apelido de
Dom Casmurro (teimoso, implicante, cabeçudo). A vizinhança que não gostava dos
modos reclusos do narrador, fez com que o apelido pegasse.

2) O romance é construído a partir de um flash-back, por um cinqüentão


solitário e casmurro,que faz dramatização ao narrar"à la recherche de temps perdu"
("à procura do tempo perdido"), o qual procura "atar as duas pontas da vida" (
infância e velhice). Perpassa, pois, no romance uma atmosfera memorialista, dando
a impressão de autobiografia, a qual, com o se sabe, não tem nada a ver com
Machado de Assis. É considerada uma pseudo-autobiografia, pois é a história de um
narrador-personagem, reconstruindo sua vida. É fictício, pois o vemos narrando.

Observando os capítulos iniciais, vemos que os mesmos são metalingüísticos, pois o


primeiro, explica o título, o segundo, explica o porquê do livro, que é a
reconstrução da casa de Matacavalos, mas não consegue reconstruí-la, pois faltam
as pessoas, falta ele criança. Dessa forma, tentativa frustrada de recompor o
passado. Decide, então, escrever o livro, pelo mesmo motivo, recuperar o tempo
perdido

3) O romance se compõe de 148 capítulos curtos, com títulos bem


precisos, que refletem o seu conteúdo. A narrativa vai lenta até o capítulo XCVII, a
partir do qual se acelera como declara o próprio narrador, ao dar-se conta da sua
lentidão: "Agora não há mais que levá-la a grandes pernadas, capítulo sobre
capítulo, pouca emenda, pouca reflexão, tudo em resumo. Já esta página vale por
meses, outras valerão por anos, e assim chegares ao final" (Cap. XCVII).

4) Assim, pois, até o capítulo XCVII, quando o narrador sai do seminário, "com
pouco mais de dezessete anos", focaliza-se, em câmera lenta, a infância e a
adolescência, dada necessidade do narrador traçar o perfil dos protagonistas da
estória (Bentinho e Capitu), revelando, desde as entranhas, o caráter e as
tendências de cada um: afinal, o adulto sempre se assenta no pilar da infância,
como insinua Dom Casmurro, no final da narrativa, ao referir-se a Capitu: "Se te
lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da
outra, como a fruta dentro da casca" (Cap. CXLVIII).

5) Espaço exterior-Infância-Fazenda Itaguaí:Adolescência-Rio de Janeiro(Rua


de Matacavalos);Seminário São José;Direito em São Paulo; Lua de mel--Rio
(Tijuca) e depois de casado também, e a Velhice no Engenho Novo.Assim desfilam
as ruas e os bairros do Rio.

A ação de escrever está sendo realizada na sua casa do Engenho Novo,uma


imitação da antiga residência na Rua de Matacavalos, que é o local onde ocorre a
história de seu amor por Capitu.A identificação das duas casas parece comunicar
que esse narrador não consegue se libertar do passado .Escrever pode estar sendo
a tentativa de recuperar o tempo perdido ,ou livrar-se dele definitivamente,mas
seu fracasso fica exposto nesta frase:”Pois,senhor,não consegui recompor nem o
que fui.”

PERSONAGENS

Machado de Assis sempre foi um grande “arquiteto de personalidades” e, na


sua imensa galeria de personagens famosas, Capitu se destaca como uma das mais
bem criadas por ele.

1) Capitolina . Capitu é considerada como um dos três perfis femininos mais


bem definidos por Machado ( Sofia,Virgília e Capitu).Ao longo dos anos, Capitu tem
desafiado a crítica com seu enigma, sutilmente criado por Machado de Assis. Até
hoje, ainda devora quantos tentam decifrá-la, pairando a dúvida: Capita traiu ou
não traiu Bentinho? A pergunta continua sem resposta, pois a versão que temos
para julgá-la nos é dada por um narrador suspeito - um marido envenenado pelo
ciúme e de imaginação bastante fértil, como revelam muitas passagens do livro.
Por outro lado, revelando um dos traços mais marcantes da psicologia feminina - a
capacidade de dissimu1ação de que é dotada a mulher, Capitu, com seus “olhos de
ressaca” e de “cigana oblíqua e dissimulada”, contribui ainda mais para fortalecer a
dúvida: ela sabe sair-se bem de situações difíceis. No início da narrativa,ela está
com 14 anos,um pouquinho, mais alta que Bentinho,dotada de cabelos longos e
pretos,chegando à cintura.Seus olhos também são negros e misteriosos,a ponto de
despertar no narrador uma comparação com a ressaca do mar .Menina
esperta,inteligente e criativa.É ela que pensa primeiro num plano para livrar
Bentinho do seminário

Inteligente, prática, personalidade forte e marcante (ela era muito mais


mulher do que Bentinho, homem), Capitu acaba se tomando a dona do romance:
forma, inicialmente, com o narrador, um “duo terníssimo” e, depois, possa a
constituir o centro do drama do protagonista masculino, com a entrada em cena de
Escobar (“trio") e de Ezequiel (“quattuor”).
No final, acusada pelo marido enciumado, revela-se nobre e altiva ao não
responder as acusações. O seu silêncio confere a ela grandeza e contribui mais
ainda para acentuar a dúvida que paira sobre seu adultério.

2) Dom Casmurro. O perfil do protagonista masculino pode ser acompanhado


em três fases distintas: Bentinho, Dr. Bento Fernandes Santiago e Dom Casmurro.

Bentinho revela-se uma criança/adolescente marcado pela timidez, sem muita


iniciativa e bastante dependente da mãe. Tinha uma imaginação fertilíssima, como
no capitulo XXIX (O Imperador)-em que no caminho da casa vê o coche imperial
em que o Imperador vinha da Escola de Medicina e deixou sua fantasia voar
,imaginando Sua Majestade entrando em sua casa e pedindo a sua mãe que
desistisse da idéia do seminário e fizesse dele um médico.

Levado para o seminário para ser padre (promessa da mãe - D. Glória), quando
trava amizade com Escobar, Bentinho, com ajuda de José Dias, abandona a carreira
sacerdotal e ingressa na Faculdade de Direito, em São Paulo.

Formado aos vinte e um anos, ele é agora o Dr. Bento F. Santiago, bem posto
na vida, financeiramente rico (riqueza muito mais de herança do que de trabalho),
casado e feliz com Capitu, quando canta na ópera da vida um “duo terníssimo”.

Depois, surge o filho (Ezequiel) e começam a aparecer os problemas: o “duo


terníssimo da ópera e vai cedendo lugar ao melodrama “trio” e “quattuor” das
dúvidas e incertezas. É a vez da fase casmurra, marcada pela solidão, pela mágoa
e pela amargura.

3) D. Glória- Mãe de Bentinho, cedo assume as rédeas da casa com a morte do


marido, o qual deixa a família bem amparada. Ao longo do romance, D. Glória,
revela-se religiosa, apegada às tradições e ao passado, conforme observa o
narrador: “Minha mãe exprimia bem a fidelidade aos velhos hábitos, velhas
maneiras, velhas idéias, velhas modas Tinha o seu museu de relíquias, pentes
desusados, um trecho de mantilha, umas moedas de cobre...”

D. Glória era, pois, unia boa senhora - uma santa, santíssima como diria o José
Dias.

Morando com D. Glória destacam-se na narrativa Tio Cosme, viúvo como ela, e
Prima Justina, igualmente viúva: “era a casa dos três viúvos”; além desses, pode
entrar aqui também o Padre Cabral, muito amigo de Tio Cosme, com quem ia jogar
à noite.

4) José Dias. Era agregado da família e gostava muito de Bentinho.

Bajulador e de idéias chochas, realçava-as com superlativo, que passa a ser


sua marca registrada: “José Dias amava os superlativos” e usa-os com freqüência
ao longo do romance inclusive na hora de morrer quando se refere ao dia como
“lindíssimo “.

5) Escobar. Muito amigo de Bentinho (colegas de seminário), Escobar era


casado com Sancha e revela-se um tanto quanto misterioso: teria participado do
“trio” cantado por Dom Casmurro, formando o triângulo amoroso da suspeita do
narrador? Fica a dúvida e a mágoa, como revela Dom Casmurro no capitulo final, já
que Escobar foi tragado pela morte (afogamento), sem possibilidade de defender-se
da acusação.
6) Ezequiel. É o filho de dom Casmurro com Capitu, pejorativamente chamado
pelo pai dc “filho do homem”. Gostava de imitar e imitava muito bem, sobretudo
Escobar. Vitima da suspeita do pai, acaba sendo afastado, assim como a mãe, para
a Suíça, tendo morrido perto de Jerusalém, como arqueólogo. Além desses,
destacam-se ainda o Pádua, pai de Capitu, o qual era um modesto funcionário
público, e sua mulher, Fortunata, muito econômica, também forte e cheia como a
filha Capitu.

ESTILO DO AUTOR/LINGUAGEM

O estilo de Machado de Assis, marcado pela sobriedade, correção e concisão,


apresenta traços inconfundíveis, que vamos alistar.

1) A linguagem de Machado de Assis é marcadamente acadêmica: clássica,


bem cuidada, regida pelas normas de correção gramatical.Entretanto, em alguns
pontos, tal como ocorre no Modernismo, ele registra aspectos típicos da língua da
personagem, como nesta fala de um vendedor de cocada:

- Sinhazinha, qué cocada hoje?


- Cocadinha tá boa...

2) Outra marca do estilo machadiano é a tendência para a frase sentenciosa e


proverbial, como aquela em que compara a vida com uma ópera, atribuída ao
tenor Marcolino: “A vida é uma ópera”.

3) Outro aspecto interessante é o uso freqüente de alusões, referências e


citações que vão como que confirmando as suas idéias e pensamentos, o que, por
outro lado, revela bem a espantosa cultura e erudição de Machado de Assis,
adquiridas de forma autodidata como vimos.

4) Ao longo das suas narrativas, Machado de Assis (ou o narrador que conduz a
estória), sempre gostou de estabelecer uni diálogo com o(a) leitor(a): conversa
com ele(a), dá-lhe conselhos, pondera e explica: “Mas eu creio que não, e tu
concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina...” (Cap. CXLVIII).

5) Outra coisa que chama e atenção são as suas personagens, quase sempre
bem situadas na vida, sem necessidade de trabalhar; aliás, o único trabalho que
fazem é serem personagens de Machado de Assis, como observou alguém. Por
outro lado, movem-se lenta e pausadamente, sendo quase sempre objeto de
observação e análise do autor: é gente muito mais de reflexão do que de ação.

6) Apresentando, via de regra, uma visão amarga, pessimista e niilista da vida


humana, Machado de Assis sempre se revela sarcástico e irônico na sua obra:
desmascara o ser humano na sua hipocrisia e torpezas, desnudando-o nas suas
entranhas; desmistifica crenças e instituições sacralizadas pelos tempos; questiona
o sentido da vida. Tudo se desfaz e se desmorona ante o seu olhar aquilino e
arrasador: até mesmo une casamento que parecia sólido e embasado no pilar do
amor.

ESTILO DE ÉPOCA

Como observamos no início (introdução), Dom Casmurro se enquadra na


segunda fase machadiana, na qual sobressaem traços do estilo realista.
1) Os romances realistas sempre se fundamentam num caso de adultério,como
se pode ver nos diversos autores da época (Eça de Queirós, Aluísio Azevedo etc).
Em Dom Casmurro é a suspeita de adultério que sustenta o enredo do romance.
Tudo se constrói em torno d e um possível adultério de Capitu.

2) Entretanto, não há uma preocupação excessiva em contar a estória,


preocupação maior é com a análise, uma análise dissecante e profunda, em que o
escritor procura desnudar a personagem e revelar as suas entranhas. Sem dúvida
por isso, Machado de Assis retroage à infância (ab ovo), tentando buscar a origem
do problema focalizado.

3) Por essa razão, a narrativa é lenta, pausada - anda bem devagar. Aliás, o
próprio Machado de Assis reconhece isso, ao declarar em passagem famosa de
Memórias póstumas de Brás Cubas que vale também para Dom Casmurro: “...o
livro anda devagar; tu (conversa com o leitor) amas a narração direta e nutrida, o
estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à
direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o
céu, escorregam e caem...”

4) Embora adote a primeira pessoa como técnica narrativa, o narrador de Dom


Casmurro se coloca a distância: no extremo da vida (velhice), o protagonista
masculino reconstitui o seu passado, assumindo assim um ângulo de visão marcado
pela objetividade. Embora seja personagem da estória e participe dela, o narrador
coloca-se fora e ausente enquanto narra e reconstitui os fatos (“flash-back”).

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES

Muitos aspectos temáticos podem ser detectados na obra de Machado de Assis,


que nunca foi escritor de grandes teses. É um estudioso da alma humana, que ele
procura analisar a fundo e de forma dissecante. Ao longo de Dom Casmurro,muitas
idéias interessantes vêm apresentadas.

1) Apoiando-se numa frase de um tenor ( tenor Marcolino ), Machado de


Assis declara que “a vida é uma ópera”. Com efeito, a existência humana é
perpassada de fases, o que evoca bem, como a vida de Dom Casmurro, os atos de
uma ópera: há sempre uma fase de “solo”, marcado por hesitações e buscas, que
une a fase em que se vive um “duo terníssimo”, cm que o eu e o outro (Bentinho e
Capitu) se aproximam e se harmonizam; depois a coisa se complica com a
presença de um terceiro (Escobar), que se instala para formar o triângulo que
desfaz a unidade; enfim surge um quarto (Ezequiel), que esfacela de vez o “duo”
da união harmoniosa de outrora. Tudo se vai e se esvai pela vida, e na alma
humana vão ficando as mágoas e ressentimentos dos sons plangentes que se
desfazem na solidão abissal.Ao retratar a ópera,Machado de Assis diz que a vida é
perversa,é decorrente de forças do universo.A vida é uma ópera escrita por
Deus,musicada pelo demônio.

2) Tal como ocorre em “Conto de escola” (conto machadiano que integra o


volume Várias Histórias, Machado de Assis vê a infância como o pilar que sustenta
o adulto: o caráter e as tendências se forjam no forno da infância. Como ele diz em
Memórias Póstumas, “o menino é pai do homem”. É o que se vê em Dom
Casmurro. O autor dedica praticamente meio romance à infância, com o fim de
mostrar “ab ovo” o embrião do caráter das personagens principais e concluir que a
Capita menina estava dentro da adulta, “como a fruta dentro da casca”.

3) Ao apresentar o perfil de Capitu, Machado de Assis revela traços da


psicologia feminina: a arte de dissimular e a capacidade que tem a mulher para
sair-se bem de situações embaraçosas, como, aliás, se pode ver também em
Quincas Borba com Sofia. e outras obras machadianas. Essa capacidade de
dissimulação de Capitu, sem dúvida, contribui enormemente para deixar no leitor
de Dom Casmurro a dúvida que paira no final do romance: houve ou não houve
adultério?

4) Apesar do “duo terníssimo” de Bentinho e Capitu, Dom Casmurro é um


romance de velhos e solitários (D. Glória, Tio Cosme, Padre Cabral, José Dias,
Prima Justina, além do nosso casmurro narrador). Como é próprio de Machado de
Assis, a velhice, no livro, é perpassada de uma visão amarga e melancólica,
dominada por magoas e ressentimentos. Sem dúvida, é licito afirmar que, filtrada
pela ótica do narrador, Machado de Assis insinua que a existência humana sempre
desemboca na casmurrice e na solidão.

5) Tudo vai-se desfazendo com o crepúsculo da existência humana: a


graça, a beleza, as flores de antanho; pela vida vazia, vão ficando as lágrimas, a
cinza, o nada. Vista de uma perspectiva pessimista (como é freqüente em Machado
de Assis), a velhice é perpassada de amargura. Solidão e sensação de vazio e perda
qual se acentua e dói ainda mais com a consciência da irreversibilidade do tempo.

6) E impressionante em Dom Casmurro a ação devastadora do tempo


sobre coisas e pessoas. Poucos ficam, como o desencantado Dom Casmurro,
para contar a história: todos são devorados pela ação voraz e demolidora do tempo
- todos morrem. E quem fica vivo, como Dom Casmurro, é atormentado pela
mágoa pelos ressentimentos, e, sobretudo pela solidão catacumbal da casmurrice
e do desencanto.

7) Como é próprio da literatura realista (e sobretudo de Machado de


Assis) um dos propósitos do livro é desmascarar o ser humano, revelando a
precariedade e a hipocrisia das relações sociais. Em entrevista à Folha de São Paulo
(3/8/91) com o ensaísta inglês John Gledson, o Prof. Luiz Roncari (autor de Assim
não brinco mais) observa e pergunta: “A questão do adultério, traição ou não, só
ganha importância mesmo no último terço do livro, na parte efetiva da intriga, mas
a mentira está muito presente em todo o livro. A verdadeira questão não seria:
como a mentira é fundamental para a manutenção das relações sociais, das
relações humanas?”

8) Em suma, em Dom Casmurro pode-se ver um perfil da sociedade da


época (e certamente de hoje), corno afirma o ensaísta John Gledson no IRACEMA
Lenda do Ceará de José de Alencar em seu prefácio de seu livro Machado de
Assis: impostura e realismo: “Este livro procura descobrir as intenções de Machado
em Dom Casmurro. Seu engenho e inteligência superiores são muitas vezes postos
em dúvida; mas espero mostrar que o que lhes confere a agudeza, a lâmina
pontiaguda, é a sua visão da sociedade na qual se criou, na qual teve muito
sucesso profissional, mas que - em um nível que só encontra expressão em suas
maiores obras - talvez detestasse”.

9) Outro ponto que se destaca em Dom Casmurro é a religião, a começar


pelo próprio nome do narrador (Bento, Bentinho) e Capitu, que “está bem próximo
de capeta”, conforme observa o Prof. Antônio Dimas, da USP. Sem perfilar unia
linha anticlericalista (tão em voga na época), “a gente não pode deixar de levar em
conta a religião no livro”, diz o Prof. John Gledson. “E o único romance de Machado
onde a religião católica aparece com tanta importância. Em Helena, a religião é um
pouco abstrata Mas aqui é o catolicismo, com suas ave-marias, seus Padres-
Nossos, com seus santos, seminários etc. Ele cita a Bíblia de um jeito terrível. Às
vezes cita São Pedro (sic) no seu momento mais antifeminista - em que as
mulheres devem estar sujeitas a seus maridos - para reforçar o seu ponto de vista.
Ou seja, é um livro que retrata o catolicismo e retrata mal, evidentemente. Isso
está na linha de Eça de Queirós só que mostra como a religião funciona na vida
íntima das pessoas”.

10-Universalismo- O amor de Bentinho por Capitu é uma paródia,uma imitação


burlesca de Otelo,de Shakespeare.Há semelhança com a tragédia,porque é uma
história de amor frustrado.A vida é uma traição, mas em vez de chorar,ele ri,por
isso, seu pessimismo é carregado de humor. Outro exemplo –paródia de Abraão e
Isaac –promessa da mãe de Bentinho –seminário.

Essa ligação paródica com textos clássicos confirma o universalismo (investigação


do comportamento humano e sua essência em seus constantes modelos.)

Segundo Flávio Loureiro Chaves, o tema do adultério é apenas um pretexto para


atingir uma região mais profunda das desgraças humanas, o problema do
ciúme,entrevisto como deformação patológica.
Observe: Confrontando com romances românticos,que nos passam uma visão
idealizadora do amor,D.Casmurro mostra o lado terrível,contundente,patético (e
real?) do casamento, do amor e da vida. Embora a vida humana possa ter os seus
encantos (é perfeitamente possível o “duo terníssimo” do casamento, da amizade -
das relações sociais), a visão apresentada por Machado de Assis acerca da vida
(especialmente do casamento, do amor e da amizade) é amarga e niilista, filtrada
pela ótica de uni narrador casmurro, ressentido e magoado pelas trapaças da sorte.
Distante do “happy end” dos romances românticos, cm que o casamento é uma
verdadeira comunhão de amor, em Dom Casmurro o casamento é simplesmente
uma comunhão de bens, que “dura quinze meses e onze contos de réis”, como
disse o cético Brás Cubas.

Comentário "Analisatório" :

OS OLHOS OBLÍQUOS E DISSIMULADOS de Capitu demonstram as duas


pontas da história da vida de Bentinho: seu primeiro beijo na amada ocorre
mediante a percepção daqueles belíssimos olhos de ressaca e seu drama é,
justamente, a percepção no velório dos mesmos olhos de Capitu. A infância
coligada com Capitu também contribui para a afirmação de Bentinho, pois ela
sempre esteve com o espírito de dissimulação que o deixava abismado nos
momentos que ela conseguia enganar o próprio pai , o velho Pádua.
Dom Casmurro é um livro complexo e cada leitura origina uma nova
interpretação. Segundo Fábio Lucas, prefacionista de uma das edições de Dom
Casmurro: "É a triangulação ideal que traduz a certeza de uma consciência
conturbada , a de Bentinho (cujo o nome - Bento Santiago - SANTO representa
BEM e IAGO no drama OTHELLO é a consciência perversa, ou seja, a fusão
entra o bem e o mal), e resulta, para o destinatário de seu discurso mesclado
de objetividade e de ressentimento (subjetivismo), numa ambigüidade
insolúvel".
Machado de Assis faz em Dom Casmurro um fato inacreditável em sua
narrativa: Ele cria um narrador que afirma algo (ou seja, diz que foi traído) e o
leitor não consegue decidir-se se ele está mentindo ou não. E aquela famosa
pergunta que é a trilogia do romance, não só entre os brasileiros, mas também
como os estudiosos do livro de outros países: TERIA SIDO CAPITU CULPADA DE
ADULTÉRIO?
Talvez Machado de Assis não tenha revelado o problema porque não sabia
respondê-lo!

RESUMO RÁPIDO/Dom Casmurro - Machado de Assis- Movimento


Literário: Realismo

- Características
- Estilo: linguagem clara, precisa, enxuta. Explorações do aspecto
psicológico. Capítulo curtos, constantes digressões com finalidade explicativa
ou argumentativa, constantes interferência do narrador através de
comentários dirigidos ao leitor, geralmente com carga de ironia e
pessimismo. São constantes na obra a metalinguagem e o discurso
intertextual.
- Narrador: 1ª pessoa, Bento. Narrador problemático, não-confiável, que
simula buscar a verdade, quando já a tem de antemão.
- Cenário: Rio de Janeiro, à época do Segundo Império

 Auto-análise de Bentinho;
 Visão pessoal e íntima;
 Reconstitui a vida para entendê-la;
 Pseudo Autobiografia – não é a autobiografia de M. de Assis - uma
biografia fictícia;
 Obra aberta, fictícia ao se dirigir ao leitor amigo;
 Busca do tempo perdido - Narrador problemático, irônico, enganoso,
inseguro, paranóico;
 Delírio de ciúmes;
 Pessimismo irônico;
 Questionamento da realidade absoluta;
 Projeção da sua alma;
 Bentinho age pela cabeça dos outros;

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