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1- O Cortiço-Aluísio de Azevedo
Profª Sônia Targa
ANÁLISE DETALHADA
Neste livro, já não é mais a estória dos personagens que interessa tanto. Mais do que ela, salienta-se rivalidade entre
o espaço de João Romão e do comendador Miranda, a simbolizarem todo um processo de transformação econômica
em momento de expansão urbana.
João Romão, um ganancioso comerciante de origem portuguesa, possui uma pedreira, uma taverna e um
terreno razoável, onde constrói casinholas de baixo custo para alugar. Secundando-o nas tarefas e com ele repartindo
a cama, a figura da negra Bertoleza ex-escrava forte e também ambiciosa, supostamente alforriada.
A poucos metros da venda, havia um sobrado que veio a ser ocupado por Miranda, Estela e Zulmira, uma
família economicamente segura, cujo chefe vendia pano por atacado.
A proximidade do cortiço incomodava Miranda que, por sua vez incomodava João Romão com seu ar de
fidalguia e seu título de comendador.
Rita ,no entanto tinha compromisso com Firmo,mulato garboso e gabola, capoerista hábil ,morador de
um cortiço vizinho, o “Cabeça de Gato”. No primeiro enfrentamento ,Firmo leva a melhor , e atinge Jerônimo
com uma navalha.
Enquanto isso , Botelho, um agregado em casa de Miranda ,começa a estimular o interesse de João Romão
por Zulmira ,a filha do atacadista de panos. Nesse projeto, evidentemente ,inclui-se um plano para dispensar
Bertoleza.
A essa altura Rita e Jerônimo já vivem juntos , e a preocupação deste é vingar-se da navalhada que o
atingira e , se possível eliminar seu rival de vez. Através de uma combinação prévia ,dois tipos escusos atraem
Firmo para uma cilada e Jerônimo assassina-o a pauladas.
Em conseqüência dessa morte , os”Cabeça-de-Gato” atacam os “ carapicus” do cortiço de João Romão e a
luta só se interrompe por causa de um incêndio provocado( pela bruxa, a lavadeira Paula).
Na verdade.desse fogo arrasador renasce um cortiço novo e mais “próspero”. O fogo ajudara, indiretamente,
os planos de João Romão que , agora já vinha mantendo boas relações com a família de Miranda .Só restava
o empecilho de Bertoleza.Mas o providencial Botelho descobrira o dono daquela escrava , cujo dinheiro da
alforria ,tão duramente economizado ,fora embolsado por João Romão.
Diante da ameaça de retorno ao cativeiro,Bertoleza estripa-se ,enquanto João Romão recebe um prêmio
como amigo da Sociedade Abolicionista.
Vamos lá........
ESTRUTURA DA OBRA
A obra apresenta 23 capítulos não intitulados e não muito curtos.Presença constante de diálogos.
Foco Narrativo
Narrado em 3ª pessoa, a obra tem um narrador onisciente que se situa fora do mundo narrado e/ou descrito. Há um
total distanciamento entre o narrador e o mundo ficcional, por vezes no cortiço de João Romão, outras no sobrado de
Miranda.Como o narrador exerce a onisciência, por vezes sua fala se confunde com a dos personagens,
principalmente com João Romão, por meio do discurso indireto livre
. Há o predomínio na narrativa do discurso indireto livre, o que permite ao autor revelar o pensamento das
personagens.
ESPAÇO-
A narrativa transcorre em alguns bairros do Rio de Janeiro, mas seu foco de atenção se atém ao cortiço de João
Romão, situado em Botafogo.
O cenário é descrito com ambiente e os caracteres em toda a sua sujeira, podridão e promiscuidade, com uma
intenção crítica - mostrar a miséria do proletariado urbano - sem esconder a náusea que o narrador sente diante da
realidade que revela, mas posicionando-se de maneira solidária junto ao povo do cortiço: "Sentia-se naquela
fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras ...o prazer animal de existir,... E naquela terra,
...naquela umidade quente e lodosa, começou a minhoca a esfervilhar, a crescer,... uma coisa viva, uma geração que
parecia espontânea,... multiplicar-se como larvas no esterco."
TEMPO
A narrativa apresenta tempo cronológico, bem marcado, co inúmeras situações de horas, dias da semana
etc...Porém em alguns capítulos o narrador conta em flashback acontecimentos passados, que orientam a narrativa.
Romance de cunho social, O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é o marco da literatura realista-naturalista brasileira. Uma
história envolvente e sombria de uma habitação coletiva no Rio de Janeiro do Segundo Império (período em que as
estalagens coletivas proliferavam) que tem como tema a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De
um lado, João Romão, que aspira à riqueza, e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro lado, a "gentalha",
caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome. Todas as existências se entrelaçam e
repercutem umas nas outras. O cortiço é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se
desenvolve e se transforma com João Romão.
O SEXO
O sexo é, em O Cortiço, força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica de
determinismo biológico e do naturalismo, conduz Aluísio a focalizar diversas formas de "patologia" sexual:
"acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo etc.
Na elaboração de O Cortiço, Aluísio Azevedo seguiu, como em Casa de Pensão (que é bastante inferior), a técnica
naturalista de Zola. Visitou inúmeras habitações coletivas do Rio; interrogou lavadeiras, sapoeiras, vendedores,
cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os ruídos coletivos dos cortiços; sentiu-lhes o cheiro (como
na obra de Zola, as imagens olfativas têm importância na fixação do ambiente, segundo um processo criado pelos
naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, são ligadas por um
estranho sentimento de classe que as une, nos momentos mais críticos, quando são esquecidos os ódios e as
divergências. Com toda essa “documentação”, criou o enredo em tomo de um problema social que se tomava mais e
mais grave, com a formação de grandes massas urbanas proletárias, constituídas em boa parte pelos operários dos
primórdios da industrialização do país.
O VISUAL
Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O Cortiço: uma é a grande capacidade de representação
visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (Aluísio exerceu, em certa época, a
atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqüentemente, ao ler o romance, a impressão de estarmos
assistindo a um filme; a outra é a sua formidável habilidade para dar vida à multidão, ao grande grupo humano dos
moradores do cortiço. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, legando-se, deprimindo-se ou
irando-se — e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns
tipos, a que o romancista soube atribuir urna individualidade marcante. Entre estes últimos, é inesquecível a figura de
Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notáveis da
literatura brasileira. Deve se notar que no romance, as mulheres são reduzidas a três condições: de objeto, usadas e
aviltadas pelo homem: Bertoleza e Piedade; de objeto e sujeito, simultaneamente: Rita Baiana; e de sujeito, são as
que se independem do homem, prostituindo-se: Leonie e Pombinha.
PERSONAGENS
As personagens em O Cortiço não podem ser tratadas como entidades independentes, podendo ser vistas
preferencialmente como partes de uma rede intrincada de influências e interações. Alguns podem ser separados em
grupos de forma mais clara em grupos de relacionamento, esquema no qual serão apresentados a seguir.
O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito
à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento,
desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios nas pessoas de João Romão, é, na verdade, o
estabelecimento que muda o dono, não o contrário. Vê-se na evolução do cortiço um processo que não se pode evitar
ou reverter, determinado desde o início da história, tendo João Romão apenas feito o que estava em seu instinto de
homem desprovido de livre-arbítrio fazer. O sobrado representa para o cortiço o mesmo que Miranda representa
para Romão, criando-se entre eles a mesma tensão que existe entre os dois homens.
João Romão: E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para
a venda, da venda hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, tamancos, sem meias, olhando para todos os
lados, com o seu eterno ar de cobiça apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não pode apoderar-se
logo com as unhas.
...possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão
da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco estopa cheio de palha.
Miranda- português, 35 anos, negociante de tecidos. Muda-se para um sobrado, ao lado do cortiço de J. Romão.Casa-
se por interesse com Estela, que não o ama, sente-se humilhado e aos poucos irá invejar J. Romão que ascendeu
sozinho, sem precisar se casar por conveniência
Estela- esposa de Miranda, pretensiosa e com fumaças de nobreza.
Zulmira- suposta filha de Miranda e Estela- tinha de 12 para 13 anos, pálida, com pequeninas manchas roxas nas
narinas.- sardas pelo rosto- unhas moles e curtas, olhos grandes, vivos e maliciosos.
Bertoleza- quitandeira,, escrava que enganada por J. Romão crê que está alforriada.Trabalhadeira, humilde e servil
Piedade- esposa de Jerônimo, não se adapta aos costumes do cortiço mantém seus hábitos portugueses, tanto na
alimentação como em não tomar banho todos os dias.Abandonada pelo marido, vai se degradando até ser expulsa do
cortiço.
Jerônimo-português de uns 35 a 40 anos,, alto, barba áspera,cabelos pretos e maltratados caindo-lhe sobre a testa,
pescoço de touro e e cara de Hércules.,olhos que exprimiam bondade. A princípio mostra-se trabalhador, bom marido,
bom pai. Ao se apaixonar por Rita Baiana passa por uma degradação muito grande-( chamamos abrasileiramento).No
final da narrativa busca sua mulher e filha e abandona o cortiço, na esperança de voltar a ser o que era.
Rita Baiana- mulata muito sensual, amiga de todos no cortiço.”E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor
sensual de trevos e plantas aromáticas.” Mulher independente, causadora da transformação de Jerônimo que fica
fascinado por ela. Tudo começa quando ela lhe oferece um café.
Firmo- capoeirista, amante de Rita Baiana.Teria seus trinta e poucos anos,mas não parecia ter vinte e poucos.Pernas e
braços finos, pescoço estreito,porém forte; não tinha músculos, tinha nervos.Não tinha barba, e sim um bigodinho
crespo, petulante onde reluzia à brilhantina de barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra e bem negra, dividida
ao meio na cabeça, estufando debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda derreado sobre a orelha
esquerda.
João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: de acordo com o crítico literário
Rui Mourão, os elementos conflitantes na obra "não se isolam em planos equidistantes. Ao contrário, o que existe [...]
é um estado de permanente tensão e mútua agressão". Afirma, em outra ocasião, que dessas lutas ninguém sairá
vencedor ou vencido. Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são
essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Seus rumos se
tornam entrelaçados similarmente aos laços existentes entre sobrado e cortiço: vizinhos, porém distantes; diferentes,
porém iguais sob olhar mais minucioso. Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as
óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Não há relação de
complementação nesse caso, apenas uma forma de acentuação do abismo de inveja que une João e Miranda.
Enquanto um deseja a independência, a prosperidade e a fidelidade conjugal do outro, o outro almeja os contatos, a
nobreza e a capacidade de esbanjamento do um. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor
para dar andamento à história.
Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nas relações entre essas personagens é demonstrado mais claramente o princípio
naturalista que rege a obra de Azevedo. Suas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no
ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são como Romão e Miranda, complementos um do outro. Um era "a força tranqüila
,o pulso de chumbo, em constante tensão com a força nervosa (...) o arrebatamento que tudo desbarata no
sobressalto do primeiro instante". Mas, nas palavras de Azevedo, ambos corajosos. O autor deixa claro que nenhum
deles pode fugir ao que lhes está destinado. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava
fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e
a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade. A metamorfose de Jerônimo se dá como tentativa de se tornar Firmo
antes de tirar o que lhe pertence não só Rita, mas tudo o que ela implicava: a beleza, os encantos da terra, a vida feliz
do malandro sem preocupações. Cada um reage mais ou menos de acordo como suas características pessoais,
notoriamente a raça (a submissão da portuguesa e a belicosidade do mulato capoeira), mas se faz presente em todos
a conformação, a inércia. Com a morte de Firmo, Jerônimo assimila o papel de seu rival, mantendo um fantasma do
que era no passado, que a bebida e a Rita contribuem para esmaecer. Os elementos naturais e as circunstâncias estão
sempre a sufocar qualquer manifestação psicológica independente, carregando os personagens numa correnteza
inevitável e irreversível.
Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das
filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar.
Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições
sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não se havia
tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para
seguir num relacionamento homossexual com Léonie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Ao atiçar a sexualidade
de Pombinha, fazendo com que ela atinja a puberdade, Leónie põe em funcionamento uma dinâmica de
acontecimentos que passam a independer da vontade dos personagens. Pombinha possuía um desenvolvimento
intelectual maior que a maioria dos personagens do cortiço, talvez por não se ter visto envolvida tão cedo nas tramas
de sexo e ciúme que os consumiam. Ao ter que começar uma vida como mulher casada, não conseguiu se adaptar à
falta de liberdade e foi viver com Leónie, aprendendo seu ofício. Ironicamente, a comercialização do sexo
protagonizada por Leónie e Pombinha se contrapõe à vulgarização do sexo pelos moradores do Cortiço enquanto
esses são escravos de seus impulsos, Leónie e Pombinha se tornam mais senhoras de si através do desejo alheio.
Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada
num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da
mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.
Alguns personagens secundários, usados por Azevedo principalmente como objetos de estudo da temática
determinista:
As LAVADEIRAS- Leandra( a machona), Augusta Carne-Mole ( esposa de Alexandre, mãe de Juju),Leocádia ( esposa
de bruno), Paula ( a bruxa), Marciana e sua filha Florinda,D. Isabel ( mãe de Pombinha)
- Henrique: filho de um fazendeiro importante que se encontra aos cuidados de Miranda até o fim de seus estudos.
Cultivará um caso com D.Estela.
- Valentim: filho alforriado de uma escrava por quem D. Estela nutria afeição ilimitada.
- Leonor: negrinha virgem, moradora do cortiço.
- Leandra (Machona): portuguesa feroz, habitante do cortiço.
- Ana das Dores: filha desquitada de Machona.
- Neném: filha virgem de Machona, muito cobiçada.
- Agostinho: filho caçula de Machona que morre num acidente da pedreira.
- Augusta Carne-Mole: brasileira branca, honesta, casada com Alexandre e com muitos filhos.
- Alexandre: mulato, militar, dava muito valor ao seu emprego.
João da Costa- noivo e depois marido de Pombinha- Traído pela mulher, depois a abandona.
Léonie- cocote de procedência francesa.Prostituta e lésbica era muito querida por todos no cortiço. Gosta de
Pombinha e a força numa experiência homossexual.Ao final ambas dominam o meretrício.
Enredo
O Cortiço conta principalmente duas histórias: a de João Romão e Miranda, dois comerciantes, o primeiro, o avarento
dono do cortiço, que vive com uma escrava a qual ele mente liberdade. Com o tempo sua inveja de Miranda, menos
rico, mas mais fino, com um casamento de fachada, leva-o a querer se casar com sua filha (e tornar-se Barão no
futuro, tal qual Miranda se torna no meio da história). Isto faz com que ele se refine e mais tarde tente devolver
Bertoleza, a escrava, a seu antigo dono (ela se mata antes de perder a liberdade).
A outra história é a de Jerônimo e Rita Baiana, o primeiro, um trabalhador português que é seduzido pela Baiana e vai
se abrasileirando. Acaba por abandonar a mulher, para de pagar a escola da filha e matar o ex-amante de Rita Baiana.
No pano de fundo existem várias histórias secundárias, notavelmente as de Pombinha, Leocádia e Machona, assim
como a do próprio cortiço, que parece adquirir vida própria como personagem. Vejamos.
A área suburbana do Rio de Janeiro do século XIX é o cenário da história de um esperto e pão-duro comerciante
português chamado João Romão. Comprando um pequeno estabelecimento comercial, este consegue se aliar a uma
negra escrava fugida de nome Bertoleza, proprietária de uma pequena quitanda. Para agradá-la, falsifica uma carta de
alforria que asseguraria à negra a tão desejada liberdade. O pequeno estabelecimento, mantido pela esperteza de
João Romão e o trabalho árduo de Bertoleza, começa a crescer. Aos poucos o português começa a construir e alugar
pequenas casas, o que leva a edificação de um grande cortiço: a "Estalagem São Romão." Logo se ergueriam novas
pendências, como a pedreira (que servia emprego aos moradores) e o armazém (onde os mesmos compravam seus
artigos de necessidade). O crescimento só não agrada ao Senhor Miranda, dono de um sobrado vizinho.
Nas casas do cortiço, figuras das mais variadas caracterizações podem ser vistas e apreciadas: entre eles o negro
Alexandre, a lavadeira Machona, a moça Pombinha, Jerônimo e Piedade (casal de portugueses), e a sensual Rita
Baiana, que desfilava toda a sua sensualidade dançando nas festas. Num desses encontros feitos de música e gritos,
Jerônimo se encanta com a dança de Rita Baiana, o que provoca ciúmes em Firmo, amante da moça. Há uma violenta
briga, e Firmo fere o jovem português com uma navalha, fugindo logo depois. Jerônimo vai parar num hospital.
Forma-se um novo cortiço perto dali, recebendo o apelido de "Cabeça-de-gato" pelos moradores do cortiço de João
Romão. Estes, por sua vez, os apelidam de "Carapicus", o que já indica a competição e a rincha entre eles. Enquanto
isso, Jerônimo volta do hospital e, numa emboscada, mata Firmo, agora morador do cortiço rival. Enquanto o jovem
português larga a mulher para viver com Rita Baiana, o pessoal do "Cabeça-de-gato" entra em guerra com os
moradores do cortiço de João Romão para vingar a morte de Firmo. Um incêndio misterioso acaba com o conflito e
destrói grande parte do cortiço do velho comerciante português.
João Romão reconstrói sua estalagem, que fica ainda mais próspera, e se alia a Miranda, com a intenção de freqüentar
rodas mais finas e elegantes e se casar com uma moça de boa educação. O verdadeiro intento do esperto comerciante
é a mão de Zulmira, filha do novo amigo. Concretizando seu sonho, só resta agora se livrar do incômodo de sua
companheira Bertoleza. Isso se dá através de uma carta enviada aos proprietários da negra fugida, revelando seu
esconderijo. Estes não demoram a aparecer no cortiço com o intuito de levá-la de volta. Bertoleza, percebendo a
traição, suicida-se com a mesma faca de limpar peixes que usou a vida inteira para preparar as refeições de João
Romão e os clientes do seu armazém.
No naturalismo brasileiro o homem é visto como produto do meio e biológico. A questão da homossexualidade é
tratada como desvio de conduta, anormal, patológico, animalesca. Assim as personagens apresentam desvios. O
naturalismo é material, é do corpo não humano. Retratando a realidade de forma objetiva, descrevendo grupos
marginalizados.
O autor retrata a vivência e o comportamento da sociedade sobre uma ótica estética, rica em detalhes, com teor
denunciativo, rompimento com o romance convencional.
Na época em que foi publicado o romance causava choque aos leitores, por seus temas que mostrava através do
ficcional o factual, como, por exemplo, a homossexualidade de Léonie e Pombinha. Léonie configura-se como a
pervertida, que desvia Pombinha do caminho, havendo apelos carnais. O autor descreve as personagens com instinto
animal, patente o depreciativo, relações de interesse, sedução, desejo, poder, culminados nos processos
deterministas do cientificismo/ evolucionismo.Os furtos, estupros, homicídios ocorrem sem justificativa.
Léonie - Nos dias atuais poderíamos definir Léonie, como uma mulher forte, autêntica, a frente do seu tempo. Mais
por se tratar de um romance naturalista há controvérsia, já que no naturalismo Léonie seria definida como mulher
pervertida, impura, aquela que tem que ser banida, pois é um "mal" que assola a sociedade e pode contaminar os que
conviverem com ela.
A mulher no naturalismo era tratada como objeto sexual, e tudo sobre os desvios na sexualidade estavam
relacionados a fatores internos e externos. O autor caracteriza Léonie como mulher de procedência francesa que
possuía um sobrado na cidade, o que demonstrava status. A busca por relação sexual para satisfazer-se:
(...) Os seus lábios pintados de carmim, sua pálpebras tingidas de violeta; o seu cabelo artificialmente loiro. (AZEVEDO,
2009, p.105).
Utiliza faceta para seduzir, abocanhar sua presa, um jogo de interesse, dava-lhe presente, premiando-a
constantemente:
Quando sua presa caía na armadilha, ela saciava sua sede, devorando-a ferozmente toda.
-Vem cá, minha flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si (...). Sabes? Eu te quero cada vez mais!...Estou louca por
ti!(p.135)
E, num relance, desfez para o lado, examine, inerte, os membros atirados num abandono de bêbado. (p.136-137)
No jogo do homoerotismo, essa mulher subjuga as vontades da afilhada utilizando discurso sedutor:
Léonie saltava para junto dela e pôs-se a beijar-lhe, á força, os ouvidos e o pescoço, fazendo-se muito humilde,
adulando-a, comprometendo-se a ser sua escrava e obedecer-lhe como um cachorrinho. (p.137).
Pombinha - Na segunda análise da personagem vale ressaltar seu estereótipo de fraca, nervosa, doente, enfermiça,
doente, loira, muito pálida, sua sensualidade associada a doses de inocência, pureza, boa família, asseada.
A relação homossexual entre Pombina e sua madrinha Léonie se dá em consequência de um estupro.Pombinha rompe
drasticamente com os padrões impostos por ima sociedade preconceituosa, desigual, desumana. A moral cristã do
naturalismo aniquila com os padrões qualquer possibilidade do "patólogico", defeituoso, se dar bem.
A personagem tem a figura da mãe, que a protege e a figura do pai, um homem que fracassa e comete suicídio. Talvez
essa figura do pai é substituída pelas carícias e mimos de sua madrinha Léonie. O que conta muito segundo os
estudiosos para a formação da personalidade de Pombinha.
Léonie perverteu Pombinha desviando-a para uma vida de prostituição, sexo e embriagues. Pombinha toma Léonie
como espelho, modelo de vida a ser seguido.
"As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço e a sombrinha(...) é mesmo umaflor(...)orçando pelos dezoito anos,
não tinha pago a natureza o cruento tributo da puberdade". (p.38).
Este assunto não era segredo para ninguém, porém quando menstruou , todos ficaram sabendo, houve
comemoração, é como se as janelas da liberdade fossem abertas e um pássaro pudesse finalmente voar.
"E devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina, enchendo de espanto e de um instinto
temor (...)" (p.135)
A ruptura acontece quando Pombinha se separa do seu marido, após adultério. Atirou-se as coisas mundanas e foi
morar com Léonie, mais sustentava a mãe com o dinheiro da prostituição, a qual se tornou perita e com sua
sagacidade, conquistava todos os homens.
Pombinha tinha uma afilhada e a tratava com a mesma simpatia que fora tratada por Léonie.
"A cadeia continuava e continuaria interminavelmente; o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela
pobre menina desamparada, que se fazia mulher" (p.236)
Você que vai prestar FUVEST-UNICAMP-FAMEMA- veja estas questões, resolva-as e, se quiser, traga
para a professora olhar.
4. Uma reflexão feita por Miranda, no cap. II,dá bem a medida do interesse crítico de Aluísio de Azevedo pelo
imigrante português.Localize a passagem e transcreva-a.
5. O cap. III inicia-se por uma longa descrição do amanhecer no cortiço. Redija um texto semelhante acerca de
outro tema , por exemplo, uma multidão aglomerada na porta de um estádio de futebol ou a entrada solene
da noiva em casamento de gala.Observe que é indispensável, num quadro assim a ordem dos detalhes
colhidos.Caracterize as lavadeiras - perspectiva naturalista: busque exemplos.
6. Durante todo o romance , Aluísio de Azevedo opõe o mundo dos brasileiros ao mundo dos portugueses,
descrevendo-lhes os hábitos , as crenças, os gostos, etc,,,No capítulo VII, a polaridade inclui também a
música pela contraposição da dolência do fado à sensualidade do samba .Comente o trecho em que essa
cena acontece.
7. Quem era o suposto dono do cortiço “cabeça de gato”?( cap. XIII)
8. Quase no fim do capítulo III aparece em cena Jerônimo, cuja história será contada apenas no capítulo V. De
que forma é descrito?
9. Jerônimo x João Romão > consciência do valor do trabalho x interesse capitalista-Caracterize Jerônimo e
Piedade
10. Quem era Firmo? Caracterize- Caracterize também o velho Libório
11. O que acontece com Jerônimo? Piedade sente o perigo por instinto ou por inteligência?
12. Relacione: Henriquinho x Leocádia x Bruno
13. Ao longo e cínico diálogo entre João Romão e Botelho termina com o ditado:” O dente que já não presta
arranca-se fora” ( cap. XXI). Que sentido tem no contexto da conversa?
14. Jerônimo > processo de abrasileiramento > Rita > Firmo > Piedade-O que descobriu Marciana? Que proveito
tira João Romão da situação?
15. Caracterize Leonie e seu relacionamento com as pessoas do cortiço.
16. O que se comemora no sobrado de Miranda?A revolta de Marciana e suas conseqüências. Por que a bruxa
sorriu quando Miranda ameaçou João Romão?
17. Por que Firmo e Jerônimo brigaram? Quem representava a força? Quem representava a agilidade? O que
colocou fim na briga? Por que os moradores temiam a presença da policia?
18. O que o narrador revela sobre a visita de Pombinha a casa de Leonie? Como o narrador apresentou a
transformação de Pombinha em mulher? Os preparativos do casamento de Pombinha. Qual o efeito que o
pedido de Bruno provocou em Pombinha?
19. O que era o Cabeça de Gato? Quem eram os Carapicus? Que transformações aconteceram com J. Romão? O
que as motivava? Ao final do cap. II ,qual recurso utiliza Botelho para aquietar a consciência do jovem
Henrique, amante de D. Estela? Qual o acordo que fez com o Botelho?
20. Rita x Firmo x Jerônimo: o que os aproxima? O que os distancia? O que Aconteceu com o Firmo?
21. A descrição da chegada de Rita Baiana no Cortiço ( cap. VI) exemplifica a maestria de Azevedo na criação de
tipos populares, um dos segredos também de Camilo Castelo Branco( veja-se o João da Cruz de Amor de
Perdição) Explique o trecho, anotando-o. Qual a reação do cortiço com a volta de Rita?
22. No capítulo VIII, Piedade, mulher de Jerônimo, sente pela primeira vez, ciúmes de Rita Baiana. Assim o
expressa o narrador:’Não era a inteligência nem a razão o que lhe apontava o perigo, mas o instinto, o faro
sutil e desconfiado de toda fêmea pelas outras, quando sente o seu ninho exposto”. O que aconteceu com
Rita e Piedade? Como reagiram os habitantes do cortiço diante da disputa das duas? O que voltou a unir os
habitantes do cortiço?
23. Que fato importante da trajetória do cortiço é focalizado no 17º capitulo? Quem o provocou? O que os
fatos deste capítulo revelam sobre a solidariedade entre os menos favorecidos?
24. O capítulo II de Iracema(1865), de Alencar, começa pela descrição da heroína, aquela que ficou conhecida
como a “Virgem dos lábios de mel”.Curiosamente o parágrafo iniciado por “Naquela mulata estava o grande
mistério...’(CAP.VII) faz uso do mesmo tipo de metáfora para dizer dos tormentos íntimos de Jerônimo.
Comparar os dois textos é bom exercício de verificação de proximidades e das distâncias entre Romantismo
e Realismo, vizinhança que se explica muito bem nas obras de Raul Pompeia Aluísio Azevedo ou Camilo C.
Branco.
25. A quem Piedade culpa por ter sido abandonada pelo marido? Como Piedade passou a se comportar depois
que foi abandonada por ele ? Por que Senhorinha também foi atingida por esse fato?
26. Qual o problema que J. Romão tem de resolver para poder casar-se com Zulmira? Era um casamento por
amor? Justifique. Como J. Romão tentou resolver o problema? Qual foi a solução definitiva? Quanto ele
pagou por ela?
27. O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no capítulo XIX, pode ser considerado um momento de romantismo,
dos tantos em que resvala o narrador ao longo da obra?
28. A última hora, às vésperas do casamento , os sonhos românticos de Pombinha com que se desfazem( cap.
XII). Por quê? O que aconteceu com Pombinha depois do casamento?
29. Por que no final de O Cortiço revela certo gosto de Aluísio pelo melodramático?
30. Que cenas marcaram o final da narrativa?
Conjunto 1 – Cortiço São Romão Define-se por sua composição elementar .Seus elementos têm uma constituição
primária e estão ao nível da natureza do instinto .
O Conjunto 2- Casa do Miranda- mostra a vigência de certas regras mais definidas culturalmente.Existe entre seus
elementos uma coexistência baseada num maleável regime de trocas que indica a predominância de outros
interesses que não o puramente instintivo.
Portanto ,ainda que correndo o risco de simplificar a questão se poderia dizer que o conjunto 1 está do lado
da Natureza e o conjunto 2 está do lado da cultura.Toda a movimentação de Romão ,por exemplo , é para sair do
solo puramente biológico e instintivo em que se agita o cortiço e entrar numa organização social regida por um
sistema jurídico e político representativo da cultura.
.O próprio nome CORTIÇO-marca a sua natureza.Num cortiço, metaforicamente falando também a grande
quantidade de abelhas são as operárias com funções semelhantes, excetuando-se somente a abelha rainha.Não
estranha, portanto, que o narrador insista numa seqüência de imagens de animais e insetos para caracterizar esse
conjunto.Tome-se como exercício e pesquisa o campo III relatando o despertar do cortiço .Por aí através de um
processo de antropomorfização não se diferem objetos , homens,animais e vegetais.É tudo um bando de machos e
fêmeas, numa fermentação sanguínea,naquela gula viçosa de plantas rasteiras ,mostrando o prazer animal de
existir.Há um verminar constante de formigueiro assanhado e destacam-se risos, sons de vozes que se
alternavam,sem saber onde grasnar de marrecos,cantar de galos,cacarejar de galinhas.
Para ressaltar essa borda de seres primitivos, o narrador acentua a degradação tipos aproximando-os
insistentemente de animais e conferindo-lhes apelidos.Leandra com “äncas de animal do campo“,Neném como uma
“enguia”; Paula com “dente de cão “e Pombinha ,com esse nome no diminutivo ocultando seu verdadeiro nome
,significa a fusão do natural e do cultural,quando o narrador privilegia o apelido de caracterização zoomórfica.E assim,
narrativa a dentro persiste um movimento de zoomorfização das criaturas , nivelando-as por baixo ,pelo que tem de
mais elementar.Romão e Bertoleza trabalham como uma junta de bois, o cortiço exala um “fartum de besta no
coito “,os personagens se xingam de cão ,vaca , galinha, porco ; Jerônimo com suas “lascívias de macaco e cheiro
sensual de bodes“;Piedade abandonada surge “ululante como um cão “,soltando um “mugido lúgubre ‘ como “
uma vaca chamando de longe ‘.
PERSONAGENS
Relação Bruno/Leocádia: quando Bruno descobre que Leocádia encontra-se com Henriquinho, a solução que
encontra é a destruição de sua casa e a expulsão da mulher sob ameaça de morte.
Relação Jerônimo/Firmo: a rivalidade por causa da mulata Rita configura-se por uma briga de porrete versus navalha,
e num outro ponto da narrativa pelo assassinato de Firmo.
Relação Romão/Bertoleza: ao se ver traída por Romão , Bertoleza comete violência contra si mesma e rasga a barriga
derramando as vísceras no chão da cozinha .
Já o outro conjunto- o complexo, soluciona os conflitos efetivando trocas de objetos e dons. Na verdade, mais objetos
do que dons, uma vez que o romance se esforça por cumprir os preceitos naturalistas ressaltando sempre o aspecto
físico/objetivo das relações.
Relação Estela/Miranda: Apontada desde o príncipio da narrativa como uma associação de interesses em que a
mulher entrava com o capital e o homem com a sua gerência , destaca-se a função do dote, na formação dessa
sociedade econômico - sentimental .
João Romão: Significa elemento vitorioso segundo uma seleção das espécies , valores tidos como positivos na
cultura brasileira.
Miranda: sua posição de aristocrata com pequenas variações se mantém e ele atinge o baronato.
Jerônimo: depois de atingir o máximo de sua posição de assalariados, envolvido pelos elementos naturais do
conjunto 1 no interior do qual foi viver, entra em degenerescência.
Jerônimo: quando aparece na estalagem de Romão . A figura mitológica aí não é acidental ,mas ganha mais sentido
com a fisionomia da personagem depois que entra em decadência.Ele aí chega com ideais de ascensão,pois saíra da
roça onde “tinha que se sujeitar a emparelhar com os negros escravos e viver com sem aspirações nem futuro ,
trabalhando eternamente para outro” [ cap. V ].Todo esse capítulo é uma exaltação das virtudes de Jerônimo como
um tipo clássico-mitológico.
A- Mulher Objeto- Exemplifica-se inicialmente em Bertoleza, elemento feminino que se associa ao masculino(Romão)
para criação do cortiço. Macho e Fêmea trabalham dia e noite, e quanto mais o tempo passa, mais o macho se afasta
da Fêmea , uma vez que ela era peça fundamental apenas no principio de carreira de Romão : “a medida que ela
galgava posição social, a desgraça descia mais e mais, fazia-se mais escrava e rasteira”. Outro exemplo é Zulmira: vai
ser outro degrau utilizado por Romão , agora não no conjunto 1,mas no conjunto 2. A passagem de um conjunto ao
outro implica na presença de um elemento feminino no regime de troca Reafirmam-se certas regras da sociedade,
daquilo que José de Alencar chamara de “mercado matrimonial”. As ligações entre ele e Bertoleza e ele e Zulmira são
totalmente circunstanciais. As mulheres aí são elementos cambiáveis no comércio que ele opera.
B- A MULHER Sujeito - objeto . A relação Estela / Miranda coloca os dois em nível de igualdade.Ambos se
beneficiam. Essa relação ajusta o regime de trocas sexuais, que são a contrapartida das trocas econômicas e sociais. A
dupla Rita/Jerônimo exemplifica o mesmo regime de trocas. O narrador vem ao nível do enunciado para dizer que
entre eles se cumpria o ritual da atração racial. Rita é metonímia da natureza tropical enquanto Jerônimo é o símbolo
daquilo que o autor chama de “raça superior”:
“mas desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com sua tranqüila seriedade de animal bom e forte, o
sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.”(cap.
15)
Todas essas personagens têm a caracteriza-las ou permanência no mesmo status econômico e social ou a decadência.
Nenhuma sai de seu conjunto, as transformações são endógenas e não exógenas como se dará com Leonie,
Pombinha, Senhorinha.
C) Mulher-sujeito. – O termo “sujeito” aqui implica numa interpretação dos valores ideológicos da comunidade
descrita. Assim como Romão consegue se impor afirmando-se enquanto indivíduo dentro dos padrões vigentes na
sociedade, aquelas mulheres(Leonie, Pombinha, Senhorinha) também se destacam da dependência contínua ao
macho e passam a exercer o poder através do sexo-luxúria. Como Romão , elas extrapolam de seu conjunto original e
se realizam no conjunto complexo.
Léonie- Como protótipo da mulher do cortiço que saiu para a prostituição de elite, mantém trânsito livre entre um
conjunto e outro. Ela pode desfilar com os amantes pelas ruas e teatros com a mesma leveza com que regressa ao
cortiço para ver sua afilhada. Sua ascensão social permite-lhe o trânsito. O modelo de Léonie repete-se em Pombinha,
que é por ela seduzida, deixando de lado seu aspecto angelical para assumir a imagem da “serpente”, que o narrador
maneja para classificar vigor do instinto e a ameaça sexual. Repete-se em termos onomásticos o determinismo: a
pombinha vai ser devorada pela leoa através da iniciação homossexual: “a serpente vencia afinal: Pombinha foi, pelo
próprio pé, atraída, meter-se-lhe na boca”. Pombinha, enfim, “desfere o vôo”
Fique Atento!
Bertoleza se considera como pertencente a uma raça superior à negra, pois é cafuza e inferior à branca.Seu
meio de origem é,evidentemente,inferior ao de João Romão, pois ela era escrava a ele provinha de um país
europeu, embora fosse de classe baixa. Daí a admiração que a mulher tem pelo português e daí a sua total
subserviência a ele.
As imagens que o autor emprega na descrição do desenvolvimento do cortiço são degradantes( lodo,
lama,esterco) e reduzem as pessoas ao grau mais baixo e repulsivo da escala animal( larvas). Essa tendência
ao rebaixamento e à animalização das pessoas é características do naturalismo.
Está implícita na obra que Miranda tem a ideia de que o Brasil é um paraíso para os espertos. O pais não é
visto como um lugar de trabalho construtivo, mas sim um lugar para fazer a América., ou seja,enriquecer
facilmente e aproveitar de tudo sem escrúpulos.
Apesar de ser mais feliz com Rita Baiana , em nova vida cercada de prazeres , Jerônimo perdeu com seu
caráter português, sua antiga fibra moral, sua disciplina e seus projetos de enriquecimento.Agora, leva vida
relaxada, endivida-se , embriaga-se.
Existe uma relação entre a mulata e a lua, a mulher é, nos dois textos associada ao brilho prateado da lua. .
O narrador diz que Rita Baiana era volúvel( leviana) como toda mestiça. Aqui temos a expressão de um
preconceito determinista que era tomado como verdade científica pelos naturalistas.De que preconceito e
determinismo se trata?Trata-se do determinismo da raça , que era tomado como verdade científica e que
degenerou em simples preconceito racial.
Aluísio de Azevedo pertence ao Naturalismo , que tem como características principais o zoomorfismo e o
descritivismo objetivo, que fixa elementos sensoriais.
O zoomorfismo aparece no aglomerado de” fêmeas e machos” ,”não molhar o pelo”,”fossando” ,” pomba no
cio” e a análise objetiva voltada para elementos sensoriais, aprece em “ fio d´água que escorria da altura de
uns cinco palmos”,”chão inundava-se”, dentre outras.
O reencontro entre Jerônimo e Piedade, no cap.XIX, pode ser considerado um momento de romantismo, pois
arrependidos , chorosos, cheios de melancolia e derrotada ternura um pelo outro, eles são vistos
comovidamente pelo narrador, que usa de sinais de pontuação subjetivos e de frases entrecortadas, à moda
de balbucio, de voz embargada pela tristeza- embora volte quase que imediatamente a postura impessoal.
No final do capítulo II,Aluísio de Azevedo põe em boca de Botelho um discurso cuja ironia nos lembra O
Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós ( 1875) com os argumentos levantados pelos safados padres de
Leiria para tornar lícito seu amasiamento ilegal com as devotas, para aquietar a consciência do jovem
Henrique, amante de D. Estela, dizendo:”Fique então sabendo que não é só a ela que você faz o obséquio ,
mas também ao marido, quanto mais escovar-lhe você a mulher, mais macia ela fica para ele. Dessa forma
ele ficará tranqüilo quando voltar do serviço, um pouco de descanso. Escove-a, escove-a! que a porá macia
que nem veludo!”
Observe a prosopopeia ou personificação “Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os
olhos,mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas”( cap. III).
FUVEST-2010- Considere o seguinte excerto de O cortiço, de Aluísio Azevedo, e responda ao que se
pede.
(...) desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranquila seriedade de animal bom
e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho
de raça superior. O cavouqueiro, pelo seu lado, cedendo às imposições mesológicas, enfarava a esposa,
sua congênere, e queria a mulata, porque a mulata era o prazer, a volúpia, era o fruto dourado e acre
destes sertões americanos, onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo
porejou o cheiro sensual dos bodes. Tendo em vista as orientações doutrinárias que predominam na
composição de O cortiço, identifique e explique aquela que se manifesta no trecho a e a que se
manifesta no trecho b, a seguir:
a) “o sangue da mestiça reclamou os seus direitos de apuração”.
b) “cedendo às imposições mesológicas”.
Resposta É do naturalismo -poética predominante na composição de Aluísio de Azevedo a concepção
de que os comportamentos humanos, obedecem a determinismos “de raça”, ou seja genético, como se
demonstraria, na propensão da mestiça determinada por seu “sangue”, para o “macho de raça superior”.
B) As “imposições mesológicas” representam o determinismo “do meio”, ou seja do ambiente físico e
social, sobre o comportamento humano.
2- VIDAS SECAS- Graciliano Ramos Profª Sônia Targa
Diante de tal complexidade, a prosa passou a ser o gênero mais cultivado, principalmente na
vertente regionalista, com as produções de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Jorge Amado, Raquel de
Queirós José Américo de Almeida e José Lins do Rego.
Além do aspecto regional, usava-se o texto também para analisar ou denunciar injustiças
sociais como dificuldades com o trabalho, o meio, o abandono do cidadão por parte do Estado,
resumindo tudo na falta de perspectiva de uma vida minimamente decente para o cidadão anônimo,
modelo, aliás, ao qual se enquadra a temática de Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas.
A preocupação com essas realidades foi tão intensa nesses autores que a linguagem literária
evoluiu muito pouco, principalmente se considerarmos as propostas inovadoras da geração modernista
de 1922, isso porque preocupações com a linguagem foram relegadas a segundo plano, haja vista que a
essência do projeto artístico desses autores centrava-se nos planos social e histórico.
Romance novela ou uma coletânea de contos? O próprio Graciliano Ramos, em Alguns tipos
sem importância, uma das crônicas de seu livro Linhas tortas depõe:
Em 1937 escrevi algumas linhas sobre a morte de uma cachorra, um bicho que saiu
inteligente demais, creio eu, e por isso um pouco diferente dos meus bípedes.Dediquei em seguida
várias páginas aos donos do animal. Essas coisas foram vendidas, em retalho, a jornais e revistas. E como
José Olimpio (proprietário da Livraria José Olympio Editora) me pedisse um livro para o começo do ano
passado, arranjei outras narrações, que tanto podem ser contos como capítulos de romance.Assim
nasceram Fabiano, a mulher, os dois filhos e a cachorra Baleia, as últimas criaturas que pus em
circulação.
Portanto, Vidas Secas é a junção de treze contos formando uma novela ( ou romance como
disse o próprio autor) já que todos eles estão ligados entre si, sendo o primeiro ( agora capítulo ) uma
espécie de apresentação das personagens. Nos demais há capítulos especialmente feitos para cada
componente da família (aí se inclui a cachorra Baleia), em que os outros viventes não passam de
coadjuvantes, dando à obra um caráter novelístico.Obra neorrealista, mostra a denúncia social, a miséria
física e intelectual do homem do sertão nordestino.Esses treze capítulos demonstra a saga do vaqueiro
Fabiano, Sinhá Vitória, MMV, MMN e a cadela Baleia.
Os capítulos (ou contos) de Vidas Secas são: Mudança; Fabiano; Cadeia; Sinhá Vitória; O
menino mais novo; O menino mais velho; Inverno; Festa; Baleia; Contas; O soldado amarelo; O mundo
coberto de penas; Fuga.
Graciliano Ramos escreveu uma carta a coluna de João Conde da Revista “O Cruzeiro” em
1944, explicando a construção do livro.Primeiro escreveu Baleia, depois Sinhá Vitória e Cadeia. Aos
poucos, a partir das lembranças da sua própria vida escreveu o restante- cujo tema Nordeste e seus
problemas- A seca que transforma as pessoas em bichos esfomeados e sedentos.
B-Quanto à linguagem
Linguagem direta, concisa, direta ,objetiva, frases curtas e diretas.Entanto há momentos de
reflexão,no momento em que faz repetições de palavras e expressões. Até mesmo em Vidas Secas, em que
tudo é minguado –água, comida, dinheiro, diálogos, adjetivos, podemos encontrar algumas figuras de
linguagem que quebram a seca narrativa de personagens secos vivendo em terra seca: símiles e
onomatopéias são as mais utilizadas, isto porque as personagens são a todo o momento comparadas a
animais e, por vezes a vegetação da região, além de balbuciarem, grunhirem rugirem imitando cabras,
bois, ventos em sons omomatopaicos.Usa o discurso indireto livre, em abundância, para mostrar
intimidade entre narrador e personagem .Capta a emoção e o pensamento mais interior das personagens
protagonistas.Aproximações psicológicas, sonhos, lembranças. Tipo de simbiose:’Estava direito aquilo.”
“...era bruto.”
Observa-se nos nomes de Sinhá Vitória e Baleia uma oposição em relação á realidade, pois
Vitória significa realização de ideais e Baleia gorda que vive nas águas.
E-.Comentário
Até certo ponto os capítulos podem ser lidos separadamente. No entanto, ligam-se pela
temática: família de nordestinos- problemática- desigusldade- desgraças cotidianas- medos- sonhos-
sofrimentos e privações.
Primeira Visão-
Parece ser fácil de ler, mas engano.É difícil, escrito como protesto para que os brasileiros,
políticos em geram voltassem os olhos para os dramas dos nordestinos.-Tema de reflexão e
denúncia..Vidas Secas é um canto de amor ao homem cheio de coragem e teimosia.É uma
metonímia do sertão.
F- Tempo narrativo
A história acontece entre duas secas. 1ª Seca- Família de sertanejos migram á procura de um
lugar para recomeçar a vida,vem para a fazenda abandonada- juazeiros.
2ª Seca- Família parte para o Sul, pois os meninos precisam se alfabetizar- busca de novas
possibilidades. O capítulo Fuga fecha à narrativa. Não sabemos para onde vão..O restante é
psicológico.
G- Espaço-
H- Comentário
Vidas Secas é a história de uma família de retirantes, que, paradoxalmente, não chega a
constituir propriamente uma história. A dura andança, sob a implacabilidade da seca, de certa forma
justifica a inutilidade da comunicação ente os membros da família, o fato dos meninos não
apresentarem, as dificuldades lingüísticas de Fabiano, a inquietação constante. E também o sacrifício
do papagaio, que tinha acompanhado a família, e que veio a transformar-se em alimento
providencial. O papagaio ao ser comido representa a ruptura da linguagem.
Fabiano é considerado um anti-herói- duro como a própria terra que nunca cria raízes.. É
branco, de olhos claros, mas como ele mesmo se compara “ um bicho”
Como se não bastasse tal infortúnio, Fabiano vem a ser preso pelo soldado amarelo, símbolo
do autoritarismo local. Ao contrário de Fabiano, que se mostra matuto em tudo, Sinhá Vitória
apresenta sinais de ter vindo de um meio social menos duro. Baleia, a cachorra, consegue sentir e
reagir com inteligência superior à media dos animais. Sua humanização progressiva acompanha a
também progressiva animalização dos membros da família.
Fabiano teve de sacrificar a cachorra, por suspeitar que ela estivesse padecendo de raiva.
Embora se revolte contra as coisas do patrão, Fabiano tem de aceitá-las, para não perder o
emprego.
Seu reencontro com o soldado amarelo, depois, em plena caatinga, faz-lhe reconhecer sua
própria superioridade. Acaba perdoando, ensinando ao soldado o caminho de volta. Mas a temida
seca enfim está chegando.
Fabiano recomeça a analisar sua vida. Quem lhe dá ânimo é Sinhá Vitória. Os retirantes deixam
à casa da fazenda, e retornam o caminho de sempre. No pensamento de Fabiano brilha certa
esperança, materializada pelas promessas de chegar ao sul do país. Mas a perspectiva que vem do
narrador é a da contínua andança, sem definição e sem destino certo.
Este primeiro capítulo já supõe toda uma narrativa anterior, sobre a qual para o silêncio, e
cujas características podemos adivinhar:
“Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados famintos”. Vinham tocados
pela seca. Chegam ao pátio de uma fazenda abandonada. Fabiano arruma uma fogueira. Baleia traz
no dentes um preá.
É desse tabuleiro inicial que se podem escolher alguma peça para dar-lhes desenvolvimento
particular m cada um dos capítulos seguintes.
Dos treze capítulos do livro, apenas três fogem um pouco a esse esquema e trazem à cena
alguma coisa inesperada: “Caldeira”, “Festa” e “O soldado amarelo”. Não nos deve admirar o fato de
que esses três capítulos são os que estabelecem uma mínima relação da família com a periferia da
sociedade, e denunciam, por isso mesmo, uma crise da comunicação e da receptibilidade.
Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto passara uns dias mastigando raiz de
imbu e sementes de mucunã. Viera a trovoada. E, com ela, o fazendeiro, que o expulsara. Fabiano
fizera-se de desentendido e oferecera os seus préstimos, resmungando, coçando os cotovelos,
sorrindo aflito. O jeito que tinha era ficar. E o patrão aceitara-o, entregara-lhe a marca de ferro.
Fabiano trabalha como um negro.
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera com um bicho, entocara-se
como um bicho, mas criara raízes, estava plantado. Contente, dizia a si mesmo: “Você é um bicho,
Fabiano.”
Sua vida era com os brutos, sua linguagem era deficiente: “Admirava as palavras compridas e
difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e
talvez perigosas”. Lembrava-se sempre do seu Tomás da bolandeira (máquina de descaroçar
algodão). Aquele sim é que falava bem. Seu Tomás “lia demais”
O patrão mostra autoridade. Fabiano obedece, pois se preocupa com o futuro, com a
educação dos filhos.
Nota-se que a presença do patrão obedece a um movimento circular. Ele já despedira Fabiano
antes. Reencontra Fabiano, e a pedido deste, deixa-o ficar. Depois o despede de novo. A família
então teve de retomar o ciclo da andança
CADEIA vs FABIANO
Na feira da cidade, Fabiano é convidado por um soldado amarelo para jogar trinta e um.
Perde, e sai. O soldado o insulta por ter saído sem se despedir. Fabiano é levado para cadeia e
apanha.
Obviamente o soldado não prende Fabiano por uma antipatia pessoal,que o vaqueiro lhe
inspirasse.
Prende-o, porque, afinal, com alguém ele deve exercer a autoridade. Para o soldado amarelo,
Fabiano é apenas um tipo, o tipo social contra quem ele pode exercer sua discriminação e seu
autoritarismo. (intertextualidade com M.Sargento de Milícias- Major Vidigal)
SINHÁ VITÓRIA
Sinhá Vitória que já há mais de um ano uma cama de lastro e couro, igual à do seu Tomás da
bolandeira. Vêm-lhe as recordações da viagem, a morte do papagaio. Tem medo da seção. Mas a
presença do marido a deixa segura.
A figura de seu Tomás da bolandeira funciona como um modelo um paradigma de gente culta,
que a família pôde conhecer. Mas, aqui, sobretudo é importante verificar como Graciliano, atento
Talvez à lição machadiana, faz a mulher ocupar um plano psicologicamente distinto do plano
masculino. Dizem alguns antropólogos que a mulher te uma reação mais íntima com a natureza que
o homem. Entretanto, Graciliano parece inverter esse princípio, pois Sinhá Vitória está mais próxima
da cultura do que Fabiano. Portanto, sua “animalização” é menor.
Quer ser igual ao pai, e por isso deseja realizar algo notável, para despertar a admiração do
irmão e da cachorra. Queria amansar uma égua e montá-la, como o pai fizera. Por isso, ele tentar
montar o bode, e cai sob risadas do irmão, e a desaprovação e Baleia.
Aqui também notamos uma resistência a brutalização, pois o menino continua com seus
sonhos de menino, tal como sua mãe, que continua a sonhar com uma cama de lastro de couro.
“Todos o abandonavam, a cadelinha era o único vivente que lhe mostrava simpatia.”
Ao contrário de seu irmão, o menino mais velho já começa a apresenta sinais de mais efetiva
(e mais dolorosa) imitação paterna. O desejo de saber o que significava inferno, a, e a lição recebida
da mãe, já constituem, por si sós, maneiras de evidenciar como a linguagem não tem boa qualidade
no contexto dos retirantes.
Isso também explicaria um pouco as dificuldades lingüísticas de Fabiano, que não parecem de
origem patológica, mas resultam de inadaptação cultural. E, por outro lado, no plano do narrador, o
desejo de saber o que é inferno não passa de uma discreta (mas intensa) ironia, pois todos estavam,
afinal, submetidos ao inferno do sol.
INVERNO RIGOROSO
Fabiano inventa uma história, mas a família não entende, nem ele a sabe exprimir direito.
Todos temem a violência ameaçadora da chuva. Também tem a seca, que virá depois.
Esta imagem da família reunida, a ouvir uma história contada pelo pai, pode, de certa forma,
parecer-nos excessiva. Porque nós, leitores, colocados num plano existencialmente superior ao das
personagens, estranhamos que elas ainda tenham tempo para se preocupar com algo supérfluo,
tanto mais que a situação delas era de completa abertura. Mas este modo de ler seria incorreto
porque as situações de angústia prolongada conhecem bem um movimento de vai-e-vem, entre a
angústia e a distração. Graciliano conhecia muito bem esse fenômeno
FESTA NA CIDADE
Festa de natal na cidade. As roupas da família ficaram apertadas. Os meninos estranham tudo
em volta.
Depois da missa, convida a mulher e filhos para os cavalinhos. Quer ir às barracas de jogo, mas
sinhá Vitória desaprova. Bebe em demasia, fica valente. Mas acaba pegando no sono na calçada.
Fabiano sonha com soldados amarelos que lhe pisavam os pés e ameaçavam com facões terríveis.
Este capítulo procura exprimir o sentimento de inferioridade da família. Mas não fica nisso. Porque a
obediência forçada é muitas vezes pulverizada pela revolta repentina.
Isso, aliás, é típico do comportamento sertanejo, pelo menos no que está testemunhado pela
ficção regionalista. Há um sentimento de dignidade humana, que mais cedo ou mais tarde se vem a
manifestar.
Baleia não estava bem. Fabiano calcula que era raiva (hidrofobia) e resolve matar o animal.
Sinhá vitória tem de conter os meninos. Desconfiada Baleia tenta esconder-se. Feriada na perna,
Baleia foge, mas não consegue alcançar os juazeiros. Baleia não conseguia entender o que estava
acontecendo. “Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos
de Fabiano, um Fabiano enorme.”
Pode-se dizer que o realismo contínuo de Graciliano Ramos encontra em Baleia seu ponto de
inversão. De fato, o carinho, a ternura com que o narrador se transfere para dentro do animal, ,a
sabedoria com que soube preparar a cena patética, o clímax de humanização do bichinho antes da
morte, tudo isto nos mostra repentinamente com Graciliano muito próximo dos modos sublimes da
literatura narrativa, coisas que contrasta com a paisagem constante do livro.
O patrão rouba Fabiano nas contas. Os bezerros e cabritos que lhe cabiam, como paga do
trabalho, Fabiano os tem de vender ao patrão. Fabiano reclama, pois as contas do patrão não
conferem com as feitas por sinhá Vitória. O patrão lhe aconselha procurar serviço noutra fazenda.
Fabiano depois recorda a injustiça que sofreu de um fiscal da prefeitura por ter tentado vender um
porco. “O pai vivera assim, o avô também. Cortar mandacaru ensebar látegos – aquilo estava nos
sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada”.
E eis que Fabiano encontra na caatinga o soldado amarelo que levara para a cadeia. O
soldado, acovardado, fica à mercê de Fabiano, que vacila em sua intenção de vingança, e acaba
ensinando ao soldado o caminho do retorno.
Este é um dos momentos de grande ironia. Pois o soldado aí aparece naquilo que pessoal e
socialmente ele é, não mais naquilo que a instituição o fazia parecer. E ele é, enfim, sob vários
aspectos, inferior a Fabiano. Existe uma proporção entre ambos. Fabiano é tanto mais forte quanto
mais próximo da caatinga. O soldado é tanto mais forte quanto acobertado pelas instituições. A força
de Fabiano vem do próprio Fabiano; o poder do soldado, o autoritarismo que exerce sobre os outros,
ao contrário,,não vem dele, mas da organização a que pertence.
A seca estava voltando. É o que anunciam as aves de arribação. Sinhá Vitória adverte: as aves
estão tomando a água que mantém vivo os outros animais. Fabiano se admira da inteligência de sua
mulher, e procura matar várias aves com a espingarda. Servirão de alimento...Fabiano não consegue
esquecer Baleia. Era preciso sair dali. Novamente se vai precipitar a andança.
Prepara a viagem, partem de madrugada. Fabiano mata o bezerro que possuem e salga a
carne. Sinhá Vitória fala de seus sonhos ao marido. Este se enche de esperança. “E andavam para o
sul, metidos naqueles sonhos. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolar,
aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros,
inúteis, acabando-se como Baleia”.
Que iriam fazer? Retardaram-se temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada,
ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá.
O sertão mandaria pra cidade homens fortes, brutos como Fabiano, sinhá Vitória e os
meninos.”
Este final, senão representa nem de longe um “final feliz”, é, pelo menos, uma porta aberta
para sair-se do contínuo giro circular. É um final importantíssimo para a solução do romance, pois
introduz uma pequena abertura para a utopia das grandes metrópoles, e reproduz com
verossimilhança, aquilo que de fato vem acontecendo na cena abrasileira.
F. A ESTRUTURA DO ROMANCE
Um dos elementos mais aguardados, num romance regionalista, é o enredo, a intriga, ou seja,
a forma que no romance assuma a sociedade. Já se vê que Vida Seca não pode contar com um intriga
sólida, complexa.
Enfim, Vidas Secas não tem uma história, no sentido romancístico do termo. Pois, para que
haja uma história substancial, é necessário que a sociedade se manifeste. Ora, as relações sociais, em
Vidas Secas, são apenas vislumbradas de longe, ou sinalizadas em circunstâncias muito rápidas e
muito fortuitas. A família é projetada para o âmbito agressivo da natureza. Portanto, a fisionomia
heróica da família se vai formar na luta contra a hostilidade natural, na organização mínima do
instinto de sobrevivência. A sociedade reaparece aqui ou ali,mas tensa e vigilante, como os guardas
de uma fronteira.
Isto, por reflexo, acaba apontando uma sociedade dividida entre grandes proprietários rurais e
seus trabalhadores, que representam apenas disponibilidade eventual de força de trabalho.
Do ponto d vista do narrador, que se manifesta em terceira pessoa e é onisciente a discrição
tática é sensível.
Repare-se que os capítulos lembram verdadeiras tomadas fílmicas. São cenas colocadas umas
ao lado das outras, com pouca continuidade narrativa, embora apresentasse em constante
movimentação.
Obviamente, este mosaico é uma função da realidade social representada. Daí que a maioria
dos capítulos passa ser lida com contos autônomos. E, de fato, a intenção primeira de Graciliano
Ramos oi a de escrever um conto. Sua secura não vinha de um projeto de concisão abertamente
definido, como foi o projeto de modernidade apresentado por Oswald de Andrade ou Mário de
Andrade. A secura de Graciliano Ramoso tinha principalmente duas fontes. Uma era o caráter do
homem, um caráter coeso e determinado, que o fazia sentir com despudor todo excesso verbal,
sobretudo se fosse romântico, expansivo. A outra fonte era a própria necessidade de harmonizar a
linguagem ao panorama seco e inóspito que estava descrevendo. No fundo, isto revela necessidade
de adequação imitativa – adequação entre a realidade representada e o estilo de representação -,
fundamental para o neorrealismo regionalista. A prosa de Graciliano Ramos corresponde a um
esforço de análise dos dramas sociais. E Graciliano foi, em sua geração, a chamada geração
regionalista dos anos 30, aquele que melhor soube casar a denúncia com a elaboração artística
Observe: Três são os opressores de Fabiano; a seca; o soldado amarelo e o patrão. Ainda se
analisarmos a fundo encontraremos o fisca.
Conclusão-
Urge salientar que o problema social tratado em Vidas Secas é extremamente brasileiro e de
âmbito regional. A seca gera miséria, e a miséria: a morte e a desolação. Nesse sentido, é lícito pensar que
não sobram alternativas para os retirantes, a não ser as migrações contínuas de terra para terra, na mesma
região, caracterizando a mudança, transfigurando-se em fuga.
Em qualquer cenário, é nítido observar a relação de vassalagem e de exploração, uma vez que
esses homens acabam sendo tomados como mão de obra barata.;No entanto, percebe-se que o vaqueiro
respeita o trabalho que executa e ama a terra em que vive.O meio agride o homem, interferindo nas
relações sociais.. Nesse sentido, ao lado da tendência neorrealista coexiste a forte tendência neonaturalista
em Vidas Secas.
3- Antologia Poética (com base na 2ª edição aumentada), de Vinicius de Moraes
Antologia Poética
Antologia poética foi publicada em 1954 e apresenta a relação completa dos poemas
que integram esse conjunto, a fim de dirimir possíveis dúvidas dos alunos:
Este livro reúne a maior e a melhor parte da obra de um dos grandes poetas do Brasil.
Vinicius de Moraes nasceu no Rio, em 1913, aqui se formou em Direito e entrou, por concurso,
para a carreira diplomática. Serviu durante quatro anos no consulado brasileiro em Los Angeles e está
no momento como secretário de nossa embaixada em Paris. Seu primeiro livro foi O caminho para a
distância, do qual pouco aproveitou nesta seleção, seguindo-se Ariana, a mulher e Forma e exegese,
com o qual conquistou o Prêmio Felipe de Oliveira. Publicou a seguir Novos poemas, Cinco elegias,
Poemas, sonetos e baladas e Pátria minha que firmaram seu nome, no consenso da crítica, como o
melhor poeta da turma que hoje entra pela casa dos quarenta. Alguns desses livros foram feitos em
edições limitadas; todos estão há longo tempo esgotados, o que faz com que grandes admiradores de
Vinicius de Moraes conheçam apenas uma pequena parte de sua obra. Esta seleção, feita pelo próprio
poeta com a ajuda de amigos – principalmente Manuel Bandeira – adquire, assim, uma grande
importância, pois possibilita um estudo da evolução do poeta e a admiração do que ele tem feito de
mais alto e melhor.
Vindo de um misticismo de fundo religioso para uma poesia nitidamente sensual que depois se
muda em versos marcados por um fundo sentimento social, a obra de Vinicius tem como constante um
lirismo de grande força e pureza. Ainda com o risco de incorrer na censura dos que levam suas
preocupações puritanas ao domínio das artes, não quiseram os amigos do poeta, principalmente o que
assina esta nota, e assim se faz responsável por esta resolução, suprimir algumas palavras ou
expressões mais fortes que de raro em raro aparecem em seus versos. Isso fará com que não seja
recomendável a presença deste livro em mãos juvenis – mas resguarda a pureza de sua poesia, que
tudo, em poesia, transfigura. Estamos certos de que, com a edição deste livro, a obra de Vinicius de
Moraes ganhará uma popularidade maior, e passará a ter, entre o público, o lugar de honra que há
muito ocupa no espírito e no sentimento dos poetas e dos críticos.
O volume abre-se com uma "Advertência" (do autor, sem dúvida, embora sem assinatura, com
indicação de local e data):
Poderia este livro ser dividido em duas partes, correspondentes a dois períodos distintos na
poesia .
A primeira, transcendental, freqüentemente mística, resultante de sua fase cristã, termina com o
poema "Ariana, a mulher", editado em 1936. Salvo, aqui e ali, umas pequenas emendas, a única
alteração digna de nota nesta parte foi reduzir-se o poema "O cemitério da madrugada" às quatro
estrofes iniciais, no que atendeu o A. a uma velha idéia de seu amigo Rodrigo M.F. de Andrade.
À segunda parte, que abre com o poema "O falso mendigo", o primeiro, ao que se lembra o A.,
escrito em oposição ao transcendentalismo anterior, pertencem algumas poesias do livro Novos
poemas, também representado na outra fase, e os demais versos publicados posteriormente em livros,
revistas e jornais. Nela estão nitidamente marcados os movimentos de aproximação do mundo
material, com a difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos.
Antes de qualquer coisa é preciso definir o que vem a ser "antologia". Antologia
significa, etimologicamente, "coletânea de flores"; o termo remete à idéia de escolha,
coleção. Sendo assim, antologia é uma coleção de trabalhos literários; neste caso,
coleção de trabalhos poéticos.
A importância de se ler uma obra como esta ("Antologia Poética") está no fato de que
estamos tendo contato com uma seleção de poemas feita pelo próprio autor.
Embora a crítica fizesse (faça) tal divisão, colocando de um lado o poeta e de outro o
showman, Vinicius nunca concordou que houvesse diferença entre seus sambas e
seus poemas escritos, pois para ele tudo era igual.
O incriado
(passar na altura
Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera
O vento ríspido agita sombras de araucárias em corpos nus unidos se amando
E no meu ser todas as agitações se anulam como as vozes dos campos
(moribundos.
Oh, de que serve ao amante o amor que não germinará na terra infecunda
De que serve ao poeta desabrochar sobre o pântano e cantar prisioneiro?
Nada há a fazer pois que estão brotando crianças trágicas como cactos
Da semente má que a carne enlouquecida deixou nas matas silenciosas.
Nem plácidas visões restam aos olhos – só o passado surge se a dor surge
E o passado é como o último morto que é preciso esquecer para ter vida
Todas as meias-noites soam e o leito está deserto do corpo estendido
Nas ruas noturnas a alma passeia, desolada e só em busca de Deus.
Eu sou como o velho barco que guarda no seu bojo o eterno ruído do mar
(batendo
No entanto como está longe o mar e como é dura a terra sob mim...
Felizes são os pássaros que chegam mais cedo que eu à suprema fraqueza
(primavera é eterna.
Na memória cruel vinte anos seguem a vinte anos na única paisagem humana
Longe do homem os desertos continuam impassíveis diante da morte
Os trigais caminham para o lavrador e o suor para a terra
E dos velhos frutos caídos surgem árvores estranhamente calmas.
Ai, muito andei e em vão... rios enganosos conduziram meu corpo a todas
(as idades
Na terra primeira ninguém conhecia o Senhor das bem-aventuranças...
Quando meu corpo precisou repousar eu repousei, quando minha boca
Longe está o espaço onde existem os grandes vôos e onde a música vibra solta
A cidade deserta é o espaço onde o poeta sonha os grandes vôos solitários
Mas quando o desespero vem e o poeta se sente morto para a noite
As entranhas das mulheres afogam o poeta e o entregam dormindo à madrugada.
(sentimentos maus
No teu puríssimo regaço eu nunca estarei, Senhora...
(porque sofro.
Se alguém não devia sofrer eu não devia, mas sofro e é tudo o mesmo
Eu tenho o desvelo e a bênção, mas sofro como um desesperado e nada posso
Sofro a pureza impossível, sofro o amor pequenino dos olhos e das mãos
Sofro porque a náusea dos seios gastos está amargurando a minha boca.
Não quero a esposa que eu violaria nem o filho que ergueria a mão sobre
(o meu rosto
Nada quero porque eu deixo traços de lágrimas por onde passo
Quisera apenas que todos me desprezassem pela minha fraqueza
Mas, pelo amor de Deus, não me deixeis nunca sozinho!
Comentário- Observe como nesse poema, por meio de versos livres e longos dentro do
padrão dos famosos versículos bíblicos. Vinícius se destaca por garantir ritmo,realçado
pelas anáforas(repetição de expressões no início do verso). A forma,portanto, adapta-se
perfeitamente à preocupação do poeta de expressar a angústia de saber-se prisioneiro
da carne. Condena-a, mas enxerga nela o alívio de sua angústia. Com o espírito
perturbado, entra em processo de satanização, ao se intitular o “Incriado”, ou seja, a
negação da criação de Deus, alguém que não é semelhança e imagem do Divino.O eu-
lírico se sente tão maldito que nega em si o grão divino que, de acordo com o
cristianismo, existe dentro de todos os homens. Para se esclarecer o que está expondo, é
importante a leitura de outro poema: O Poeta
O poeta
(...)
Foi muito antes dos pássaros – apenas rolavam na esfera os cantos de Deus
E apenas a sua sombra imensa cruzava o ar como um farol alucinado...
Existíamos já... No caos de Deus girávamos como o pó prisioneiro da vertigem
Mas de onde viéramos nós e por que privilégio recebido?
Endimião e a lua-mitologia grega nos relata que Endimião faz parte das
personagens que traduzem a perseguição ao ideal de beleza.
“Na lenda, Endimião é um pastor portador de juventude e uma beleza perfeita.
E Endimião, quando adulto, pediu a Zeus que não lhe tirasse nunca o que tinha de mais
perfeito e valioso, a juventude e a beleza rara de um simples mortal.
Zeus, então, realiza o pedido do rapaz e, numa tarde de verão, promete a Endimião que,
naquele dia, quando adormecesse, jamais envelheceria e jamais perderia a beleza,pois sabia
que tão logo adormecesse seria jovem e belo para todo o sempre, e adormece feliz.Mas o
que ele não sabia é que jamais iria acordar. Zeus o envolvera em um sono eterno, poupando-
o assim, do envelhecimento e da perda da juventude e da beleza que tanto o envaidecia.
Diz a lenda que à noite, Selene, a Lua, sempre percorre o céu em sua carruagem prateada,
avista a figura adormecida de Endimião. Ela nunca vira um homem com tamanha beleza e
apaixona-se imediatamente.
A presença da Lua é marcante na Antologia Poética- no começo pode se dizer que ela
é testemunha dos anseios do poeta.Pouco depois ele se torna mais ousado e
começa a associá-la aos seus desejos sexuais, como em “Elegia desesperada.”(...) e
eu só tive a lua/Lívida, a lésbica que me poluiu da sua eterna/Insensível polução...
Até que em “Soneto de despedida” começa a perder o pudor diante dessa deusa implacável diante da luxúria.
Orfeu- De acordo com a Mitologia Grega Orfeu era um poeta e um músico, filho da musa Calíope. apaixonou-
se por Eurídice e casou-se com ela. Mas Eurídice era tão bonita que, pouco tempo depois do casamento, atraiu um apicultor
chamado Aristeu. Quando ela recusou suas atenções, ele a perseguiu. Tentando escapar, ela tropeçou em uma serpente que
a picou e a matou. Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando sua lira, foi até o Mundo dos Mortos, para tentar trazê-la de
volta. A canção pungente e emocionada de sua lira convenceu o barqueiro Caronte a levá-lo vivo pelo Rio Estige. Finalmente
Orfeu chegou ao trono de Hades.. Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos. Mas com uma única condição: que
ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol.
Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração
enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele não olhou nenhuma vez para trás, até atingir a luz
do sol. Mas então se virou, para se certificar de que Eurídice estava seguindo-o.
Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de
novo um fino fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que saía do Mundo dos Mortos. Ele
a havia perdido para sempre. Em total desespero, Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher,
não querendo se lembrar da perda de sua amada. Furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens
chamadas Mênades caíram sobre ele, frenéticas, atirando dardos. Os dardos de nada valiam contra a música do lirista, mas
elas, abafando sua música com gritos, conseguiram atingi-lo e o mataram. Depois, despedaçaram seu corpo e jogaram sua
cabeça cortada no Rio Hebrus, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice! Eurídice!" Chorando, as nove musas reuniram seus
pedaços e os enterraram no Monte Olimpo. Dizem que, desde então, os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente
do que os outros. Pois Orfeu, na morte, se uniu a sua amada Eurídice.
O Mar- tem presença marcante na obra de Vinícius, a começar pelo pretenso estilo
de vida no R.J. Há nele inúmeras simbologias que o poeta soube captar.A começar
pelo ritmo das ondas, constante e cíclico, faz lembrar a dinâmica existência humana,
tendo facilmente associado aos mistérios da vida e da morte.Seu pulsar é sempre
associado ao coração humano e ás suas paixões.Todos esses são temas recorrentes
da Antologia Poética.Observe o poema abaixo :
Assim como Castro Alves, Vinicius canta o amor físico, o amor livre.
O termo "cadela", bastante forte, pois normalmente funciona como palavrão, como ofensa, dirigida vulgarmente a
mulher que “não se respeita”, que se entrega a qualquer um, tem aqui uma força e um gosto especial.Observe que
aborda a sexualidade de forma fria, direta como afirma Mario de Andrade.
Ao designar a mulher de cadela, dentro do contexto desses versos e da personalidade de seu criador, veste a palavra
com novas roupas e novas cores.
O que se sente ao ler o poema é que ali esta uma mulher que ama o amor, uma mulher que se entrega a relação sexual
com força animal, sem os recatos afrescalhados de uma formação burguesa, cristã, repressora .
Perante a admiração e devoção do eu lírico, tal condição transforma-se em valor, em qualidade, conferindo a musa uma
aura de beleza.
Reforce-se que o sexo só assume valor quando se mostra como meio, não simplesmente um fim em si. Seu objetivo
pode ser a procriação , canal de toda a magia da paternidade, abordado com humor em “Poema Enjoadinho”
.Filhos... Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete...
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los...
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem shampoo
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém, que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
Entretanto, o que fica mais nítido em Vinícius é que o amor é a grande força de elevação. É o que exprime em
“Os Acrobatas”
Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse física dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.
Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.
Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!
Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!
Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.
Como no espasmo.
E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus
E morreremos
Morreremos alto,
imensamente
IMENSAMENTE ALTO.
Em uma interpretação vem a mente o 'super homem' de Nietzche, o homem perfeito, belo, bom, mais
rápido, mais forte- o ideal grego, o semi-deus romano,o atleta.Ele faz alegoria do esforço do atleta para
fazer o movimento perfeito, no seu tempo, com a própria revolução humana.O super homem, a
possibilidade de irmos muito além nas nossas capacidade humanas, nos faz sentir vergonha do que somos
hoje. Mas vamos além, vamos em frente, vamos seguir até chegar, passar de deus, ou seja, ser o homem de
verdade o que ele deve ser, o centro do universo, acima dele. Morremos porque não seremos mais reles
homens.
O que o poeta apresenta em sua poesia, não é novidade em sua cultura, pois remonta ao neoplatonismo ,
nascido na Idade Média.Em outras palavras, um culto ao amor em sua inúmeras facetas.Essa não realização
plena do amor é que nascerá acesa sua chama, mas também provocará sofrimento, melancolia, que lhe
parece essencialmente constitutiva. É o que se vê em “ Ausência”
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz
a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Comentário:
Diz o crítico Carlos Felipe Moisés que este é um dos primeiros poemas em que
aparece a tentativa de representar a mulher amada e a experiência amorosa como
ponto de encontro entre a transcendência e os apelos terrenos, entre espírito e
matéria. Para o ideal do amor sobreviver em toda a sua força ,as partidas, as
separações são necessárias.A melancolia é essencial,mas Ausência também mostra a
simbiose, ou seja a fusão do eu-lírico com a amada.
A mulher amada é enaltecida com fervor romântico- ela é rainha, pois carrega o cetro, ela faz parte da
criação do universo, é o poder absoluto Emblemático o seguinte trecho: “A mulher amada é a mulher
amada é a mulher amada”.Nele a coincidência entre sujeito e predicativo, permite inferir que o simples
fato de a mulher se amada a torna um ente completo, sem necessidade de nenhum atributo , de mais
nenhum adjetivo. .
Para alguns estudiosos, o poeta acima é precursor da poesia moderna, pois expressa a influência do mundo
urbano, com suas relações efêmeras e superficiais. Dele decorrem duas obras primas vinicianas. Uma delas
é “A mulher que passa”
A Mulher que passa
O poema “Balada das meninas de bicicleta” pertence à 2ª fase de Vinicius de Moraes. Quanto à
forma, destaca-se o uso de vocabulário simples e cotidiano e versos curtos. Quanto ao conteúdo,
pode-se apontar o tema do cotidiano, em que se descrevem simplesmente meninas andando de
bicicleta, e o erotismo com que esse mesmo fato é visto pelo eu lírico.
Neste poema, o eu lírico usa a metalinguagem para se referir ao próprio poema e ao papel do
poeta. Os dois trechos em que há metalinguagem estão em “Me prendem, com serem puras / em
redondilhas afins” e no sete versos finais do poema. No primeiro caso, o eu lírico comenta a
própria forma do poema, a redondilha maior, forma de sete sílabas poéticas, afirmando que são as
meninas que lhe inspiram a forma do poema. No segundo caso, o eu lírico define o poeta como
alguém triste e que persegue a beleza, afirmando mais uma vez que a beleza das meninas é que
inspiraram o poema.
GAROTA DE IPANEMA
Comentário-
Este poema vincula-se á tradição literária de cantar as belezas da pátria, firmada no Romantismo por
Gonçalves Dias – Canção do Exílio.Entretanto,como sempre fez no decorrer de sua obra poética, Vinícius
retoma a herança estética para imprimir nela uma marca própria.A estranha frase inicial-“A minha pátria é
como se não fosse”- em que falta o predicativo do sujeito, significa a recusa dos adjetivos altissonantes que
cristalizaram ao substantivo pátria. É como se ele defendesse a tese de que a pátria não tem os predicados
que costumam atribuir a ela, por isso a recusa das palavras e expressões, como “florão”,”ostenta” e
“lábaro”., presentes no Hino Nacional.Em vez disso, ele assume um tom de afetividade, com abundantes
diminutivos, tratando sua terra como uma criança, em um processo conhecido como “prosopopéia”,
personificação ou antropomorfização.Entretanto ,essa visão edulcorada não impede o poeta de enxergar os
problemas sociais.Confirma esse aspecto a referência á pátria “tão pobrinha”.Por isso, deve ser ressaltado,
que, apesar de pertencente á segunda fase poética de Vinícius, em “Pátria Minha” ele trouxe de volta o
hábito de sua fase inicial; A utilização de versos livres extensos.
Balada do Mangue
Analise do poema Balada do Mangue de Vinicius de
Moraes?
Vinicius de Moraes é
--------------------------------------…
Balada do Mangue
Comentário
Mangues lembram Recife. O eu poético faz uma referência metafórica da vida das prostitutas que se
embelezam inclusive mulatas pintam os cabelos de loiros para atrair rapazes. Há uma nítida comparação
das prostitutas com as flores venenosas chamadas no primeiro verso de "flores gonocócitas" uma alusão à
gonorréia. Isto pq, segundo o eu poético, tais mulheres eram transmissoras de doenças venéreas. Na última
linha de verso há uma crítica tb aos homens que as usam tb.
OBSERVE ÁS QUESTÕES RESOLVIDAS
O operário emocionado
O fragmento do poema “Operário em construção”, de Vinícius de Moraes, apresenta
( ) a consciência dos homens intelectuais sobre a importância do trabalho dos que empilham os
sociedade.
a) V – F – F – V
b) V – F – V – V
c) F – V – F – V
d) V – V – F – F
e) F – F – V – F
a) ele pertence à 1ª fase do poeta, com a presença de linguagem simples e forte erotismo.
b) ele pertence à 1ª fase do poeta, em que a mulher representa o pecado por provocar o
desejo no eu lírico.
c) ele pertence à 2ª fase do poeta, em que a mulher é vista de forma mais material e há a
consciência do pecado.
b) ela é descrita como motivação do pecado, mas, apesar disso, o eu lírico mantém-se alheio a
seus encantos.
c) ela é vista com naturalidade, e o desejo sexual não apresenta problema para o eu lírico.
d) ela representa o pecado e precisa ser eliminada para que o eu lírico encontre a paz.
A mulher na noite
a) Comente a que fase da obra de Vinicius de Moraes pertence esse poema e destaque duas
características dessa fase, uma quanto à forma e outra quanto ao conteúdo do poema.
O poema pertence à 1ª fase da obra do poeta. Quanto à forma, pode-se destacar os versos
longos e a linguagem abstrata e alegórica, sobretudo com vocabulário pertencente à
natureza. Quanto ao conteúdo, encontra-se nesse poema a angústia do eu lírico, dividido
entre o amor carnal e a sensação do pecado.
b) Neste poema, há uma metáfora do desejo amoroso. Explique essa metáfora e comente os
sentimentos do eu lírico que ela revela.
A metáfora do desejo amoroso está nos elementos da natureza, principalmente na
descrição do ato sexual, que é sentido como atividade dos animais, como em “os insetos
se ocultavam no meu ouvido” e “grandes reses lambiam-me o rosto”. O eu lírico revela
sentimentos de angústia a partir dessas metáforas e, por fim, associa o gozo sexual à
morte, “E não havia mais vida na minha frente”.
Soneto de véspera
Oxford, 1939
a) Comente o poema acima quanto à forma e ao conteúdo tendo em vista a obra poética de
Vinicius de Moraes.
A rosa de Hiroxima
Os sonetos
Ao escrever sonetos, Vinicius de Moraes soma-se à distinta lista de poetas que
versejaram em língua portuguesa, tais como Camões, Gregório de Matos, Bocage,
Antero de Quental, Olavo Bilac, entre outros, e que escolheram como forma de
expressão esta composição poética clássica.
Mas não é só; o motivo de tal escolha diz muito, também, sobre a atitude do poeta
diante do fazer poético. O soneto, forma literária clássica fechada, é uma composição
de quatorze versos, dispostos em dois quartetos e dois tercetos, seguindo
variavelmente os seguintes esquemas de rima: abab / abab / ccd / ccd; abba / abba /
cde / cde ou abba / abba / cdc / dcd., sendo que o metro mais utilizado tem sido o
decassílabo (com acento na 4ª, 7ª e 10ª). Por encerrar o conceito fundamental do
poema, o último verso constitui o que chamamos de "fecho de ouro" ou a "chave de
ouro".
Tudo isso faz do soneto uma escolha formal lúcida para o poeta. Porque aí se observa
a clareza e a concisão de linguagem, de características clássicas. Com ela, o poeta
mantém a expressão de um lirismo controlado, ou seja, o sentimento e a emoção
líricos contêm-se nos limites do equilíbrio e da harmonia. O poeta procura atenuar os
impulsos do "eu", isto é, de sua subjetividade particular, em favor de uma visão
impessoal ou objetiva. Daí dizer que nos sonetos existe a luta de um "eu" que ama e
um "eu" que raciocina.
Soneto de separação
Comentário:
Este soneto, um dos mais populares de Vinícius, é quase todo composto num jogo
antitético, tais como: riso X pranto; calma X vento; triste X contente e próximo X
distante. O emprego dessa figura de linguagem, ao longo do poema, revela as
mudanças na relação amorosa que se processam de uma forma abrupta e inesperada.
O poeta utiliza um outro recurso, num belíssimo arranjo de antíteses, para acentuar o
dinamismo que caracteriza o poema: o emprego da forma verbal "Fez-se" e de sua
forma contrária "desfez". Esse dinamismo expresso no soneto revela, sob certo
aspecto, a própria inconstância na vida amorosa de Vinicius.
Resposta
Vinícius de Moraes, poeta modernista da Geração de 30, assinalava que sua obra
consistia em duas fases: a primeira, transcendental, freqüentemente mística, é
resultante de sua fase cristã; a segunda fase assinala a explosão de uma poesia mais
próxima do mundo material, com a difícil, mas consistente repulsa ao idealismo dos
primeiros anos. O tema principal desse momento foi o amor em suas múltiplas
manifestações: saudade, carência, desejo, paixão, espanto, separação.
Diferentemente da primeira fase, em que o escritor utilizava poemas longos, com
versos extensos, em linguagem abstrata e declamatória, nesta segunda fase, Vinícius,
embora aprecie o soneto e seu teor clássico, adere às idéias dos modernistas de 22,
sendo aberto a novas propostas e incorporando características de diversos estilos de
época ao seu texto, o que verificamos em “Soneto de separação” nas seguintes
alternativas:
a) ao longo do poema, está presente a oposição entre o passado e presente
(antíteses): “branco como a bruma” – (comparação) – (Barroco);
b) presença de aliterações: “branco”, “bruma” e de assonâncias: /e/ ; /o/, linguagem
vaga: “da calma fez-se o vento” (Simbolismo);
c) verifica-se a vertente romântica a partir do próprio título: “Soneto da separação” –
no texto, há descrições desse momento de intensa dor;
d) o poema está ligado à tradição clássica (Parnasianismo), uma vez que faz uso do
soneto, do verso decassílabo e apresenta sintaxe e vocabulário apurados;
e) são improcedentes no textos as características modernistas: a utilização de uma
linguagem coloquial, como foi dito acima, também não se verifica o humor na
mensagem, o eu-lírico demonstra dor em função da separação.
Resposta E
Soneto de fidelidade
Poética
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
Curiosidade
Na saída de um show em Portugal, diante de estudantes salazaristas que
protestavam contra ele na porta do teatro, Vinicius declama os versos de "Poética"
(De manhã escureço / De dia tardo / De tarde anoiteço / De noite ardo). Um dos
jovens tirou a capa do seu traje acadêmico e a colocou no chão para que Vinicius
pudesse passar sobre ela - ato imitado pelos outros estudantes e que, em Portugal, é
uma forma tradicional de homenagem acadêmica.
Elegia desesperada
(O DESESPERO DA PIEDADE)
Oxford, 1938
Comentário – Esse poema faz parte de Cinco Elegias que Vinicius de Moraes inseriu entre os textos da
1ª e da 2ª fase de sua poesia.Como obra de transição, apresenta uma mistura dos elementos dos dois
períodos poéticos.Da fase inicial,por exemplo,há o verso livre extenso que faz lembrar versículos
bíblicos. Há também o tom religioso, pois se trata de prece.Já da 2ª fase pode ser destacado o
estivesse em transe- e o prosaico, o cotidiano das cenas apresentadas, tão próximas do banal. Soma-se
a essas características o humor. Por fim, é preciso notar nessa elegia a solidariedade que o eu
poemático expressa, o que indica que abandonou sua fase narcisista e está se abrindo para o mundo, a
de fatos sugerindo uma idéia de totalidade que estará presente em um dos melhores poemas do autor:
“O dia da criação”.
no anticlímax da aurora!
ô joy for ever!
uer ar iú
murmura adormecida
É meu nome!...
Motionless I climb
the wa
t
e
r
Am I p a Spider?
Am I p a Mirror?
Am I s an X Ray?
rolled in a Romeo.
Vírus
Comentário- Produzido quando Vinícius esteve na Inglaterra a estudo (há um
sentimento de expatriado , largado no mundo), esse talvez seja o seu texto mais ousado ,
mais moderno e mais inventivo.- inventividade linguística
A manhã do morto
Vivo na imortalidade.
Operário em construção
Epígrafe
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E
disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto,
se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.
Em largo e no coração
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
A dimensão da poesia.
O fragmento do poema “Operário em construção”, de Vinícius de Moraes, apresenta
a) V – F – F – V
b) V – F – V – V
c) F – V – F – V
d) V – V – F – F
e) F – F – V – F
INTRODUÇÃO:
para viver, ela dirá que é pelo trabalho, na terra, nas fábricas, etc., isto é, nos
meios de produção.
Ao analisar a relação entre os meios de produção e o trabalho, vemos que existe uma
ruptura entre essas duas realidades: de um lado os donos dos meios de produção
(donos do capital) e do outro lado, a maioria,que dispõe apenas de sua força de
trabalho (trabalhadores).Nas relações entre capital e trabalho, observa-se que os
donos do capital se enriquecem, ao passo que os trabalhadores dificilmente saem de
sua condição: simples trabalhadores.
de Moraes:
REFLEXÃO
1- Leitura do Poema
Por que o operário ia construindo tudo o que existe e não se dava conta
entre o valor e utilidade da cada coisa?
Por que o operário que sempre dizia sim, de repente começou a dizer
não?
pela mudança?
ao poema
Vinicius é um os maiores compositores brasileiros e um dos fundadores do movimento Bossa Nova. São dele estes versos:
“Olha que coisa mais linda
mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa”
“Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos seus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que é isso, meu Deus,
Que frio que me dá o encontro desse olhar”
Porém, muitos não sabem que ele também foi um grande poeta da Segunda Fase do Modernismo Brasileiro (1930 – 1945)
I – Um campeão de audiência nos anos 70.
Direito – Diplomata (20 anos)-Família de artistas-Amizade artistas de várias tendências-Aposentadoria compulsória em 1968-(55
anos)
Preocupado com a organização e publicações de sua obra Antologia Poética (1954) Prefácio (de Vinicius) Duas fases –
visão evolutiva:
- Cotidiano x soneto;
- PRIMEIRA FASE:
- A Experiência Mística=
- Tema – FIGURA FEMININA (idealizada – representa a carne, o pecado, a tentação, o desejo); possibilidade de salvação pelo
AMOR PLATÔNICO).
- Vocabulário religioso.
- Estrofes regulares
O olhar para trás de Vinicius de Moraes tem um quê de piedade ou de amor. Em seu poema, o infinito nada poderá contra ele
porque dele quer tudo. Tem um quê de Romantismo, marcada por uma retórica discursiva em que a mulher aparece como
tentação impura e o eu-lírico se apresenta confuso,perdido, ocupado, e a morte se impõe
Talvez da carne do homem prostrado se visse sair uma sombra igual à minha
Que amasse as andorinhas, os seios virgens, os perfumes e os lírios da terra
Talvez… mas todas as visões estariam também em minhas lágrimas boiando
E elas seriam como óleo santo e como pétalas se derramando sobre o nada.
(como o orvalho...
Beijam-me a face – irmã vestida de azul, por que estás triste?
Deu-te a vida a velar um passado também? (...) Rio de Janeiro, 1935
- Persiste a LUTA CONTRA A CARNE, mas já ocorre a ACEITAÇÃO DO PRÓRPIO DESEJO – a procura da mulher amada e encontram-
se, sem choque – a ESPIRITUALIDADE DIVINA e a MATERIALIDADE FEMININA – “E compreendi que só onde caba Deus cabia
Ariana”.
2) Cinco Elegias
- As 4 primeiras idealizadas de uma só vez (1937)
- 3º - ELEGIA DESESPERADA – O poeta dá ao seu canto um sentido coletivo ( é um pedido de “piedade” por todos e por ele mesmo
no fina: “ E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim”
(O DESESPERO DA PIEDADE)
- Tom religioso – associado ao cotidiano, ao humo (Elegia Ao Primeiro Amigo) – “Tende piedade dos homens úteis como dentistas”
- Permanece a obsessão da busca da amada – agora “erotizada”, dessacralizada (Soneto de agosto – mulher nua)
- Receita de mulher: “As muito feias que me perdoem/ Mas beleza é fundamental” [...] “Com olhos e nádegas. Nádegas é
importantíssimo”.
- Memorialismo
- O ato sexual: Soneto da devoção: “Essa mulher que se arremessa, fria/ E lúbrica aos meus braços, e nos de amor e nomes feios/
[...] Essa mulher é um mundo!/ Uma cadela/ Talvez... – mas na moldura de uma ama/ Nunca mulher nenhuma foi tão bela”
- Eu lírico como sujeito da ação - Amor... Aparece, agora, como uma celebração: plenitude acima do material e do espiritual.
- A experiência amorosa é válida por si mesma – apesar do desprezo, dos desencontros, dos azares, dos sofrimentos.. do fim do
amor.
- Dessacralização da religiosidade
(7) Natureza
- Curiosidade – incorpora aos textos qualidades pessoais, temáticas, estilística dos amigos homenageados.
- Presença de familiares
(9) Metalinguagem
- Degenerescência física
- Regularidade métrica
- Soneto da separação
- Soneto da fidelidade
Soneto de separação
Comentário:
Este soneto, um dos mais populares de Vinícius, é quase todo composto num jogo antitético, tais como: riso X pranto; calma X
vento; triste X contente e próximo X distante. O emprego dessa figura de linguagem, ao longo do poema, revela as mudanças na
relação amorosa que se processam de uma forma abrupta e inesperada. O poeta utiliza um outro recurso, num belíssimo arranjo
de antíteses, para acentuar o dinamismo que caracteriza o poema: o emprego da forma verbal "Fez-se" e de sua forma contrária
"desfez". Esse dinamismo expresso no soneto revela, sob certo aspecto, a própria inconstância na vida amorosa de Vinicius.
(13) O Riso
(15) Inovações
- Neologismos
- Experimentalismo
- Poema narrativo
c) Comparação
d) Metáforas
e) Personificação
f) Quiasmo – cruzamento de palavras em forma de X “ E rir meu riso e derramar meu pranto/ Ao seu pesar ou seu contentamento”
g) Anadiplose – repetição de expressões do final, no início do verso – “Todo o teu corpo diz que sim/ Teu corpo diz que sim / Diz
que sim...
Vinicius de Moraes também escreveu poesia social, ou seja, uma poesia engajada, preocupada com os problemas enfrentados
pela população. Um bom exemplo do envolvimento de Vinicius de Moraes nessa área é o poema Operário em Construção
(1956).
Nesse poema o escritor usa uma linguagem simples e direta, além de se mostrar solidário com essa classe oprimida. Através
de suas palavras o poeta tenta conscientizar os leitores.
OPERÁRIO EM CONTRUÇÃO
Vinicius de Moraes
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes nasceu no Rio de Janeiro em 19 de
termina com o poema ‘Ariana, a mulher’, editado em 1936. [...] [Na segunda fase] estão
mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos. [...] (Apud: MOISÉS, 1996, p.
361) 1 Bacharelando em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), orientado pelo Prof.
Dr. Alexandre Huady Torres Guimarães.
Na sua estreia como poeta, Vinicius demonstrou forte apego ao passado lírico, num
cotidiano, dando margem a uma poesia de cunho amoroso, sensual, até mesmo, erótica. A partir
de então, a figura feminina incorporou-se como tema recorrente em sua poesia: “ela passa a ser
‘divina’, um ser superior, ‘de onde provêm e para onde convergem todas as formas elevadas de
existência’ [...].” (MOISÉS, 1980, p. 93) Exemplo profícuo deste erotismo encontra-se em
“Balada do Mangue”, poema presente em Poemas, sonetos e baladas (Apud: LYRA, 1983, p.
85-88)
[...]
[...]
exegese (1935), Ariana, a mulher (1936), Novos poemas (1938) e Cinco elegias (1943).
Tal fase é marcada pelo uso do verso livre de longa extensão. Carregados de melancolia,
seus primeiros versos corporificam a ânsia pelo transcendental, como num jorrar de
alcançar o sublime espiritual por meio da poesia, objetivo este que, posteriormente, se
cede lugar a uma poesia mais preocupada com a composição formal, desenvolvendo temas de
caráter mais prosaico, coloquial, ao mesmo tempo, um amor que deixa de ser
transcendental e principia num viés mais sensual. São deste período os sonetos
emblemáticos que se caracterizaram como parcela considerável de sua obra poética. Por
meio dos sonetos, e de outros poemas de estrutura fixa, ratifica-se a preocupação do Poeta em
afastar-se de uma linguagem prolixa, em detrimento do tom declamatório dos versos de longa
extensão da fase anterior. Aparecem, também, textos marcadamente calcados por um tom
humorístico, tais como “Poema enjoadinho” (Apud: MOISÉS, 1980, p. 42):
Filhos... Filhos?
Como sabê-lo?
[...]
Arquitetura é a palavra que norteia Vinicius de Moraes em sua segunda fase poética
que antes vivia “um contínuo de dor angustiante”, em O caminho para a distância
O poeta
Só tristeza e adeus
[...]
Sempre um juramento
Dele, eternamente.
certa preocupação social como poucas vezes fizera. Composto em redondilhas, faz lembrar os
autos medievais, ou, até mesmo, a literatura de cordel.
seu tempo por meio de composições e poemas como “Rosa de Hiroshima” e “Balada dos
Mortos dos Campos de Concentração” (Apud: LYRA, 1983, p. 97-99,110).
Conceição, cujo subtítulo “Tragédia Carioca” sintetiza seu conteúdo. Encenada tão somente por
atores negros, a peça rendeu inúmeros frutos, tendo sido aclamada pela crítica,a ponto de sofrer
uma adaptação para o cinema e tornar-se sucesso internacional nas mão do francês Marcel
Camus, intitulada Orfeu Negro. O mito de Orfeu foi adaptado para figurar no morro do Rio de
Janeiro, com trilha sonora do próprio Poeta ao lado de Antonio Carlos Jobim. Anos mais tarde,
num trabalho de Cacá Diegues, voltou às telas do cinema, sob o título de Orfeu.
Embebida de ritmo e musicalidade, tal poesia atinge o ápice quando se casa à Música
Popular Brasileira, através da Bossa Nova. Sozinho, ou ao lado de parceiros como Tom
Jobim, Baden Powell, Toquinho, Edu Lobo, entre outros, Vinicius marcou para sempre o
cenário musical brasileiro, por meio de canções que hoje fazem parte do imaginário
coletivo nacional. “Garota de Ipanema”, “Eu sei que vou te amar”, entre tantas outras
composições popularmente conhecidas e apreciadas por praticamente todas as esferas sócio-
culturais,revelam um Vinicius cada vez mais atento à sublimidade do cotidiano, do ameno, ao
valor inestimável inerente ao que é simples. É por meio da contribuição de Vinicius de Moraes
para com a MPB que os limites entre poesia e canção se esgarçam ainda mais. Penetrando em
sua atmosfera musical, também se descobre um Poeta associado a questões próprias da cultura
afro-brasileira como em “Canto de Ossanha”, “Meu Pai Oxalá”, “Zambi”, “Canto de Oxum”
etc.:
[...]
O velho Omulu
A to tô abalua yê
Jorge Amado- “Baiano, romântico e sensual”, mas era bem mais que isso.
Escritor brasileiro conhecido e respeitado no exterior. Autor dos romances que
fizeram e fazem sucesso intenso hoje, ainda. De sua cabeça nasceram:Pedro
Bala,Tieta,Gabriela,Quincas Berro d´água. Escreveu 25 romances, 2
biografias(Castro Alves- “AB de Castro Alves” e do líder comunista Luís Carlos
Prestes-”O Cavaleiro da Esperança”), histórias infantis, contos, novelas( A morte e
a morte de Quincas Berro d´água e poemas( A estrada é assim).
Jorge Amado narra histórias inesquecíveis, como Capitães da Areia, na qual aborda
temas extremamente importantes como a infância abandonada e meninos que se
criam nas ruas á mercê de sua própria sorte.
Cacau (1933)
Suor (1934)
Jubiabá (1935)
I. Os ásperos tempo
II. A agonia da noite
III. A luz e o túnel
Gabriela, cravo e canela (1958)
Análise da obra
Pedro Bala é o protagonista- filho de um grevista, atingido e morto por uma bala.
Não fora abandonado, o pai morrera em torno de um ideal e ele descobre que a
mãe , que era da cidade alta, de origem rica, tinha morrido seis meses antes do
pai.Os outros personagens são coadjuvantes.- simbólicos- metonímia.
A grande admiração de Jorge Amado pelos vagabundos ensejou o romance
Capitães da Areia. A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o
Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque
comercial de Salvador); onde os meninos circulavam na esperança de conseguirem
dinheiro e comida devido ao trânsito de pessoas que trabalhavam lá e passavam
por lá; no Corredor da Vitória área nobre de Salvador, local visado pelo grupo
porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana, como o comendador
mencionado no início da narrativa.
OBJETIVO DO ESCRITOR
Romance de denúncia- um alerta- um indício de que era preciso cuidar das
crianças do Brasil, que havia meninos abandonados, a própria sorte, que não
existia trapiche, só na Bahia-Salvador, mas também em outras cidades havia
Pedros, Professores,Joões, Doras- criaturas do mundo e suas dificuldades.
Jorge Amado não registra uma história de violência apenas. Impõe ao leitor uma
reflexão.O Brasil que ele registra pulsa. Os meninos capitães existem em outros
meninos de ruas nas grandes cidades brasileiras e nos mais longinquos recantos do
país:esquecidos, espancados, aleijados, formam um batalhão de seres que não
cobram providências para se transformarem em pintores, líderes, humanos, como
quaisquer outras criaturas do país.Mostra as brutais diferenças de classe e a má
distribuição de renda e os efeitos da a marginalidade-sistema social perverso.
Pedro Bala cada vez mais fascinado com as histórias de seu pai sindicalista, deixa
de ser líder do bando e passa a ser líder revolucionário comunista.Na época o
comunismo é considerado algo bom.
Tempo - A obra apresenta tempo cronológico demarcado pelos dias, meses, anos e
horas conforme exemplificam os fragmentos: "É aqui também que mora o chefe
dos Capitães da Areia, Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus 5
anos. Hoje tem 15 anos. Há dez anos que vagabundeia nas ruas da Bahia."
O tempo psicológico correspondente às lembranças e recordações constantes na
narrativa.No final do romance, as marcas da temporalidade se avolumam. “Depois
de terminada a greve” “Anos depois” “ E no dia em que ele fugiu...”
Foco Narrativo
Espaço-
As recorrências temáticas-
A Estrutura do romance-
A primeira parte em si, "Sob a lua, num velho trapiche abandonado" conta
algumas histórias quase independentes sobre alguns dos principais Capitães da
Areia (o grupo chegava a quase cem, morando num trapiche abandonado, mas
tinha líderes). Pedro Bala, o líder, tinha uma cicatriz no rosto, uma espécie de pai
para os garotos, mesmo sendo tão jovem quanto os outros, que depois descobre
ser filho de um líder sindical morto durante uma greve; Volta Seca, afilhado de
Lampião, que tem ódio das autoridades e o desejo de se tornar cangaceiro;
Professor, que lê e desenha vorazmente, sendo muito talentoso; Gato, que com
seu jeito malandro acaba conquistando uma prostituta, Dalva; Sem- Pernas, o
garoto coxo que serve de espião se fingindo de órfão desamparado (e numa das
casas que vai é bem acolhido, mas trai a família ainda assim, mesmo sem querer
fazê-lo de verdade); João Grande, o "negro bom" como diz Pedro Bala, segundo
em comando; Querido- de- Deus, um capoeirista amigo do grupo, que dá
algumas aulas de capoeira para Pedro Bala, João Grande e Gato; e Pirulito, que
tem grande fervor religioso.
A segunda parte, "Noite da Grande Paz, da Grande Paz dos teus olhos",
surge uma história de amor quando a menina Dora torna-se a primeira "Capitã da
Areia", e mesmo que inicialmente os garotos tentem tomá-la á força, ela se torna
como mãe e irmã para todos. Filha do bexiguento- Estevão e Margarida morrem
no lazareto de recaída do alastrim. Deixa dois órfãos: Dora de 13 para 14 anos e Zé
Fuinha com seis anos. Perambulavam pela cidade e foram achados por João Grande
e pelo Professor e levados para o trapiche. Dora, mãe- Dora se integra ao grupo e
passa a exerce as funções de mãe dos meninos.Professor e Pedro Bala se
apaixonam Dora e ela se apaixona por Pedro Bala.Dora, irmã e noiva-Veste calças
compridas e se junta ao bando e começa a mostrar serviço.Professor a olhava
sempr4e com olhos doces.Reformatório—durante um assalto a uma casa a polícia
prende Pedro,Dora e João Grande,Sem Pernas e Gato e estes não revelam nada
sobre o bando. Pedro Bala foi levado ao Reformatório e Dora para o orfanato.Sem
Pernas assume o bando até Pedro voltar.Sem Pernas manda uma corda a Pedro e
este foge do reformatório. Orfanato- Dora ficou um mês no orfanato.Professor,
João Grande Gato e Pedro buscam-na e ela ainda está com febre.Noite de
grande- Don Aninha faz uma prece para a febre desaparecer,mas não adianta. Ela
é olhada por todos como mãe , irmã, noiva e amada pelo Professor.Dora, esposa
–A febre continua.Dora diz a Pedro Bala que menstruou no orfanato e agora pode
ser dele.Eles se amam pela primeira vez na praia e ela morre, marcando o começo
do fim para os principais membros do grupo.
A terceira parte "Canção da Bahia, Canção da Liberdade"-Vocações- Professor
olha o trapiche como uma moldura sem quadro. vai nos mostrando a desintegração
dos líderes.O destino de cada um, como já foi comentado acima Tudo estava
vazio.Professor se despede para estudar no Rio.Promete que um dia irá retratar a
vida dos meninos: as desigualdades sociais,as barbaridades que fazem contra a
pobreza.Pirulito parou de furtar e foi vender jornais e carregar bagagens de
viajantes. O Padre José Pedro é chamado pelo arcebispo e ganha sua paróquia e
traz Pirulito para estudar.Mais tarde será o Irmão Francisco da Sagrada Família.
Canção de amor da Vitalina – Havia na cidade uma solteirona, Joana, rica, feia e
nervosa.Tinha 45 anos.Sem Pernas se aproxima dela e diz que é órfão.Ela
necessitada de sexo quer brincar um pouco com o menino, mas não cede a ele.Ele
com raiva rouba-lhe as jóias e cai fora.Mas mal sabe ela que Sem Pernas a desejou
de verdade. Como um trapezista de circo- Pedro Bala, João Grande e Barandão
disparam numa corrida e se livram da prisão, no assalto a casa Rui Barbosa.Mas o
Sem Pernas corre de um lado para outro , desesperado e se joga de costas no
espaço do elevador, como se fosse um trapezista de circo. Terminava assim a vida
de quem escolheu a liberdade á prisão .Neste momento, o narrador entra na
intimidade da personagem e capta seus pensamentos mais intensos “...nuca fora
amado pelo que era, menino abandonado, aleijado e triste.Os ataques ressoam
como clarins de guerra- Acontece uma greve e quando termina o estudante
Alberto continua a freqüentar o trapiche .Gato reaparece bem vestido.Dalva ficou
em Ilhéus amigada com um coronel.Pedro Bala passa o comando para Barandão e
vai cumprir o destino que seu pai deixou pela metade.Uma pátria e uma família-
Personagens
Personagens:
Pedro Bala: Negro, mais alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo,
músculos rígidos, tem 13 anos. Seu pai, um carroceiro gigantesco, morreu
atropelado por um caminhão, quando tentava desviar o cavalo para um lado da
rua. Após a morte de seu pai, João Grande não voltou mais ao morro onde morava,
pois estava atraído pela cidade da Bahia. Cidade essa que era negra, religiosa,
quase tão misteriosa como o verde mar. Com nove anos entrou no Capitães da
areia. Época em que o Caboclo ainda era o chefe. Cedo, se fez um dos chefes do
grupo e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam
para organizar os furtos. Ele não era chamado para as reuniões porque ele era
inteligente e sabia planejar os furtos, mas porque ele era temido, devido a sua
força muscular. Se fosse para pensar, até lhe doía a cabeça e os olhos ardiam. Os
olhos ardiam também quando viam alguém machucando menores.Então seus
músculos ficavam duros e ele estava disposto a qualquer briga. Ele era uma pessoa
boa e forte, por isso, quando chegava pequenino cheio de receio para o grupo, ele
era escolhido o protetor deles. O chefe dos capitães da areia era amigo de João
Grande não por sua força, mas porque Pedro o achava muito bom, até melhor que
eles. João Grande aprende capoeira com o Querido-de-Deus junto com Pedro Bala e
Gato. João Grande tem um grande pé, fuma e bebe cachaça. João Grande não sabe
ler. João Grande era chamado de Grande pelo professor, admirava o professor. O
professor achava João Grande um negro macho de verdade.
Dora: Morreu de uma febre muito forte, depois de se tornar esposa de Pedro Bala*.
Morreu como uma santa, pois havia sido boa. *Para ele, virara uma estrela.
Sem-Pernas: Morrera, jogando-se de um penhasco (elevador), depois de muito
correr fugindo da polícia após um roubo. Ele preferira morrer a se entregar.
Professor: Com seu dom de pintar, fora ao "Rio de Janeiro" tentar sucesso. Lá
com os quadros dos Capitães da Areia ficou famoso.
Boa-Vida: Era mais um malandro da cidade, que fazia sambas e cantava pelas
ruas, nas calçadas, nos bares, a "vagabundar".
Querido-de-Deus: Ensinava os meninos a lutar capoeira. Todos no trapiche o
admiravam. Era pescador.
Dalva: Era uma mulher de uns trinta e cinco anos, o corpo forte, rosto cheio de
sensualidade. Gato a desejou imediatamente.
Pirulito: Garoto magro e muito alto, olhos encovados e fundos. Tinha Hábito de
rezar.
Volta-Seca: Mulato sertanejo. Viera da caatinga. Tinha como ídolo o cangaceiro
Lampião.era afilhado deste.
O Gato: Candidato a malandro do bando, era elegante, gostava de se vestir bem.
Tinha um caso com a prostituta, Dalva, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas
vezes, não dormia no trapiche. Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os
outros, para as aventuras do dia.
João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente
temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai.
Enredo
Tendo como cenário as ruas e as areias das praias de Salvador, Capitães da Areia
trata da vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém
abandonado no cais do porto. Os motivos que as uniram eram os mais variados:
ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos e maus tratos recebidos
em casa.
Aproximadamente quarenta meninos de todas as cores, entre nove e dezesseis
anos, dormiam nas ruínas do velho trapiche. Tinham como líder Pedro Bala, rapaz
de quinze anos, loiro, com uma cicatriz no rosto. Generoso e valente, há dez anos
vagabundeava pelas ruas de Salvador, conhecendo cada palmo da cidade.
Durante o dia, maltrapilhos, sujos e esfomeados, mostravam-se para a sociedade,
perambulando pelas ruas, fumando pontas de cigarro, mendigando comida ou
praticando pequenos furtos para poder comer. Esse contato precoce com a dura
realidade da vida adulta fazia com que se tornassem agressivos e desbocados.
Além desses pequenos expedientes, os Capitães da Areia praticavam roubos
maiores, o que os tornou conhecidos, temidos e procurados pela polícia, que estava
em busca do esconderijo e do chefe dos capitães. Esses meninos se pegos, seriam
enviados para o Reformatório de Menores, visto pela sociedade como um
estabelecimento modelar para a criança em processo de regeneração, com
trabalho, comida ótima e direito a lazer. No entanto, esta não era a opinião dos
menores infratores. Sabendo que lá estariam sujeitos a todos os tipos de castigo,
preferiam as agruras das ruas e da areia à essa falsa instituição.
Um dia, Salvador foi assolada pela epidemia de varíola. Como os pobres não tinham
acesso à vacina, muitos morriam, isolados no lazareto. Almiro, o primeiro capitão a
ser infectado, ali morreu. Já Boa-Vida teve outra sorte; saiu de lá, andando. Dora e
o irmão, Zequinha, perderam os pais durante a epidemia. Ao saber que eram filhos
de bexiguentos, o povo fechava-lhes a porta na cara. Não tendo onde ficar, os dois
acabaram no trapiche, levados por João Grande e o Professor.
A confusão, causada pela presença de Dora no armazém, foi contornada por Pedro.
Os meninos aceitaram-na no grupo e, depois de algum tempo, vestida como um
deles, participava de todas as atividades e roubos do bando. Pedro Bala
considerava Dora mais que uma irmã; era sua noiva. Ele que não sabia o que era
amor, viu-se apaixonado; o que sentia era diferente dos encontros amorosos com
as negrinhas ou prostitutas no areal.
Os Capitães da Areia são heróicos, "Robin Hood"s que tiram dos ricos e guardam
para si (os pobres). O Comunismo é mostrado como algo bom. No geral, as
preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os
transforma em personagens únicos e corajosos.
IMPORTANTE....
Ficção e realidade
Roteiro de Leitura
Entretanto, se a temática á a mesma, no filme ela é elaborada de forma
diferente da de Jorge Amado em Capitães de areia. O enredo pode ser resumido da
seguinte maneira: o retrato nu e cru da vida de menores abandonados que fogem
de um reformatório e passam a viver com uma prostituta.
Capitães de areia, como se sabe, foi publicado pela primeira vez em 1937.
mais de meio século depois, o livro continua surpreendentemente atual. Basta dar
uma olhada na manchete dos jornais e revistas dos últimos anos, para se perceber
como o romance de Jorge Amado ainda mexe diretamente com muitos de nossos
fantasmas e nossas culpas. Por isso mesmo, é que nos comove e provoca reflexões
bastante sérias sobre o modelo econômico, a organização social e a consciência dos
cidadãos do Brasil. Em síntese, Capitães de areia é um dos poucos romances de
denuncia social, escritos com talento e amor, que põe o dedo numa das maiores
feridas de nosso país: a situação do menor abandonado.
a) No que diz respeito aos fatos narrados por Jorge Amado piorou ou melhorou
a condição do menor?
b) No que diz respeito ao comportamento das personagens e seu destino seria
possível pensar que as coisas se modificam para melhor ou para pior?
c) No que diz respeito ao interesse das autoridades pela criança abandonada,
mudou alguma coisa de 37 pra cá?
A resposta a essas três questões é desoladora, porque, baseando-nos em fatos,
verificamos que, tendo em vista o crescimento, o de desenvolvimento
econômico do país, as coisas, em vez de melhorarem, pioraram bastante. Para
ilustrar o que afirmamos, vamos nos servir de um fato ocorrido a opinião
publica e que ilustra muito bem a débâcle de uma sociedade alienada e de um
sistema econômico iníquo, injusto.
O massacre da Candelária
- Não mente pra gente seu safado! Sabemos que você é O Russo.
A continuação do massacre
Não muito longe da Candelária provavelmente os mesmos homens do
Chevette claro abordaram Wagner, Paulo e Gambazinho. Sob a ameaça de
armas, os meninos foram obrigados a entrar no bando de trás do carro. Um
dos homens, alto, forte, com um dente da frente quebrado, tirou o capuz e
disse que era da polícia. Foi a senha, para que mais uma cena de
brutalidade começasse: os três garotos foram espancados a socos e
pontapés.
Wagner escapou milagrosamente da segunda chacina, com uma bala
alojada na nuca, muito próxima da coluna cervical. E, assim, se tornou a
testemunha de uma noite de horrores, que aumentou o numero de vítimas
de cinco para sete. Horas depois, no hospital, com o rosto inchado e cheio
de hematomas, recordou-se penosamente dos fatos. Depois do
espancamento, um homem branco, franzino, sentara-se em cima dele e
apontara-lhe um revólver para a cabeça. Os outros homens, também
armados, interrogavam e ameaçavam Paulo e Gambazinho. Foi a última
coisa que Wagner pôde ver, pois um tiro fez que ele perdesse a consciência.
Água de bacalhau
E tudo acabou em águas de bacalhau, ou, utilizando uma expressão
mais em moda nos dias de hoje (haja vista o freqüente envolvimento de
nossos parlamentares em casos de corrupção), tudo acabou em pizza.
Escolheram-se alguns bodes expiatórios, para encobrir os verdadeiros
culpados pela chacina, remanejaram-se algumas autoridades policiais, e o
crime ficou impune. Mesmo que sete crianças, de doze a dezessete anos,
tivessem sido fuziladas à queima roupa, sem oportunidade alguma de
defesa.
Mas o pior de tudo (se é que pode dizer que haveria algo pior do que
tudo que aconteceu...) é que, globalmente, nada mudou na condição do
menor. Organizações assistenciais, na época, movimentaram-se, verbas
foram prometidas, mas as ruas continuam cheias de menores e mais
menores são, todos os dias, despejados nas ruas. Outros Russos, Caolhos,
Gambazinhos continuam a roubar, a matar, a cheirar cola, sem saber (ou
mesmo sabendo) que, à sombra, grupos de extermínio esperam a poeira da
opinião pública assentar, para dar continuidade à genial solução para a
questão do menos abandonado: a morte súbita, a tiros de revólver.
02- Jorge Amado monta o romance “Capitães da Areia ‘ através de quadros mais
ou menos independentes. Ainda, ao lado da narração, intercalam notícias de jornal,
bem como, reflexões poéticas- daí o nome de romance híbrido”.Outro aspecto
que chama a atenção no que diz respeito à estruturação da narrativa, é a
divisão em partes.
03-Por que o episódio, intitulado “As luzes do Carrossel”, indica que os Capitães,
apesar dos roubos, eram ainda crianças? Copie uma passagem que justifique sua
resposta..Quais personagens se relacionam diretamente com o Carrossel? O destino
final dessas personagens indica que “a sociedade” criou condições para que se
tornassem “cidadãos respeitáveis?” Justifique.
05- Por que o episódio “Família” talvez seja um dos mais consistentes de todo o
livro?Comente com o relacionamento com a figura de Sem Pernas.
07- Numa cena bastante poética, Jorge Amado mostra Pedro Bala seguindo nas
águas do rio o corpo de Dora, que irá simbolicamente se transformar numa estrela
do céu. Comente. Qual a função de Dora no romance? Explique.
08-O autor fecha o romance, retratando o destino de cada membro do
grupo.Comente.
Os Capitães da Areia eram muitos, mas o narrador destaca alguns. Quais são eles?
Qual a origem do apelido de cada um? Qual continuou na vida adulta, com as
mesmas “malandragens’ da época, em que convivia com os Capitães? Copie uma
passagem para justificar”.
12- Em Capitães da Areia temos a "cidade alta" como cenário principal. Pedro Bala
é o chefe de um grupo de jovens arruaceiros que roubam para sobreviver. Nunca
ninguém havia mencionado em literatura este bando de jovens que
engenhosamente desafia as autoridades, roubando a classe privilegiada e dividindo
o produto do roubo entre os seus camaradas subnutridos. Explique essa assertiva
13-Os personagens são em sua maioria masculinos, e dentre eles, Pedro Bala, cuja
agilidade sugerida pelo apelido, merece especial atenção - Sem Perna, Pirulito, O
Professor são os mais destacados: Ainda temos no grupo João Grande, Volta Seca,
Boa Vida muito bem configurados pelos seus apelidos baseados na aparência física.
Explique o porquê dos apelidos,
OBJETIVO DO ESCRITOR
Tempo - A obra apresenta tempo
cronológico demarcado pelos dias,
meses, anos e horas Redação”- A primeira parte em si,
Foco Narrativo "Sob a lua, num velho trapiche
abandonado" conta algumas histórias
A obra Capitães da Areia é quase independentes sobre alguns
narrada na terceira dos principais Capitães da Areia (o
pessoa,onisciente- sendo o autor, grupo chegava a quase cem, morando
Jorge Amado, também narrador num trapiche abandonado, mas tinha
expectador. Ele se comporta, durante líderes).
todo o desenvolvimento do tema, de
maneira indiferente, criando e O apogeu da primeira parte é dividido
narrando os acontecimentos sem se em quando os meninos se envolvem
envolver diretamente com eles. Capta com um carrossel mambembe que
a intensidade dramática daqueles que chegou à cidade, e exercendo sua
habitam o trapiche. A obra Capitães é meninez; e quando a varíola ataca a
poética, pois há transbordamento pela cidade, matando um deles, mesmo
descrição.Descreve com muita luz, com Padre José Pedro tentando ajudá-
som e cor cada acontecimento, cada los e se indo contra a lei por isso.
aspecto de viver dos meninos. Ainda,
-INTRODUÇÃO
Órfão de pai, criado com desvelo pela mãe (D. Glória), protegido do mundo
pelo círculo doméstico e familiar (tia Justina, tio Cosme, José Dias), Bentinho é
destinado à vida sacerdotal, em cumprimento a uma antiga promessa de sua mãe.
A vida do seminário, no entanto, não o atrai, já o namoro com Capitu, filha dos
vizinhos. Apesar de comprometido pela promessa, também D. Glória sofre com a
idéia de separar-se do filho único, interno no seminário. Por expediente de José
Dias, o agregado da família, Bentinho abandona o seminário e, em seu lugar,
ordena-se um escravo.
ORGANIZAÇÃO / ESTRUTURA
4) Assim, pois, até o capítulo XCVII, quando o narrador sai do seminário, "com
pouco mais de dezessete anos", focaliza-se, em câmera lenta, a infância e a
adolescência, dada necessidade do narrador traçar o perfil dos protagonistas da
estória (Bentinho e Capitu), revelando, desde as entranhas, o caráter e as
tendências de cada um: afinal, o adulto sempre se assenta no pilar da infância,
como insinua Dom Casmurro, no final da narrativa, ao referir-se a Capitu: "Se te
lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da
outra, como a fruta dentro da casca" (Cap. CXLVIII).
PERSONAGENS
Levado para o seminário para ser padre (promessa da mãe - D. Glória), quando
trava amizade com Escobar, Bentinho, com ajuda de José Dias, abandona a carreira
sacerdotal e ingressa na Faculdade de Direito, em São Paulo.
Formado aos vinte e um anos, ele é agora o Dr. Bento F. Santiago, bem posto
na vida, financeiramente rico (riqueza muito mais de herança do que de trabalho),
casado e feliz com Capitu, quando canta na ópera da vida um “duo terníssimo”.
D. Glória era, pois, unia boa senhora - uma santa, santíssima como diria o José
Dias.
Morando com D. Glória destacam-se na narrativa Tio Cosme, viúvo como ela, e
Prima Justina, igualmente viúva: “era a casa dos três viúvos”; além desses, pode
entrar aqui também o Padre Cabral, muito amigo de Tio Cosme, com quem ia jogar
à noite.
ESTILO DO AUTOR/LINGUAGEM
4) Ao longo das suas narrativas, Machado de Assis (ou o narrador que conduz a
estória), sempre gostou de estabelecer uni diálogo com o(a) leitor(a): conversa
com ele(a), dá-lhe conselhos, pondera e explica: “Mas eu creio que não, e tu
concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina...” (Cap. CXLVIII).
5) Outra coisa que chama e atenção são as suas personagens, quase sempre
bem situadas na vida, sem necessidade de trabalhar; aliás, o único trabalho que
fazem é serem personagens de Machado de Assis, como observou alguém. Por
outro lado, movem-se lenta e pausadamente, sendo quase sempre objeto de
observação e análise do autor: é gente muito mais de reflexão do que de ação.
ESTILO DE ÉPOCA
3) Por essa razão, a narrativa é lenta, pausada - anda bem devagar. Aliás, o
próprio Machado de Assis reconhece isso, ao declarar em passagem famosa de
Memórias póstumas de Brás Cubas que vale também para Dom Casmurro: “...o
livro anda devagar; tu (conversa com o leitor) amas a narração direta e nutrida, o
estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à
direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o
céu, escorregam e caem...”
Comentário "Analisatório" :
- Características
- Estilo: linguagem clara, precisa, enxuta. Explorações do aspecto
psicológico. Capítulo curtos, constantes digressões com finalidade explicativa
ou argumentativa, constantes interferência do narrador através de
comentários dirigidos ao leitor, geralmente com carga de ironia e
pessimismo. São constantes na obra a metalinguagem e o discurso
intertextual.
- Narrador: 1ª pessoa, Bento. Narrador problemático, não-confiável, que
simula buscar a verdade, quando já a tem de antemão.
- Cenário: Rio de Janeiro, à época do Segundo Império
Auto-análise de Bentinho;
Visão pessoal e íntima;
Reconstitui a vida para entendê-la;
Pseudo Autobiografia – não é a autobiografia de M. de Assis - uma
biografia fictícia;
Obra aberta, fictícia ao se dirigir ao leitor amigo;
Busca do tempo perdido - Narrador problemático, irônico, enganoso,
inseguro, paranóico;
Delírio de ciúmes;
Pessimismo irônico;
Questionamento da realidade absoluta;
Projeção da sua alma;
Bentinho age pela cabeça dos outros;