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A M E NS AGE M D E
EFÉSIOS
A Nova Sociedade de Deus
JOHN STOTT
A \ Um líM
A MENSAGEM D E EF ESI O S
si in m ISBN 85-208-0295-8
EDITORA
Respostas bíblicas para o
mundo hoje
A MENSAGEM DE EFÉSIOS
A Nova Sociedade
A BIBLIA fala h o je
A MENSAGEM DE
EFÉSIOS
A Nova Sociedade de Deus
JOHN STOTT
i U l
EDITORA
Traduzido do srcinal èm inglês
God’s New Society
InterVarsity Press, Inglaterra
Copyright © John R. W. Stott, 1979
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a permissão por escrito da
ABU Editora.
S427m
Stott, John R. W. Stott, 1921
A mensagem de Efésios: a nova sociedade de Deus / John R. W. Stott;
[tradução de Gordon Chown] 6.a ed. São Paulo: ABU Editora, 2001.
240p.; 21 cm. (A Bíblia fala hoje)
Tradução de: God’s new society: the message of Ephesians.
J.A. MOTYER
J. R.W. STOTT
Editores da série
Outros livros desta série:
I. Vida nova
1. Toda bên ção espir itual (1:314)
2. Uma ora ção po r conhec imen to (1:1523)
3. Ressurretos com Cri sto (2:110)
Nós que nos chamamos cristãos evangélicos afirmamos, com este epíte
to, que somos o pov o do evan gelho e que não ab rim os m ão do autên tico
evangel ho cristão. É um a reivindica ção ous ada , e às vezes certas pessoas
se ressent em com isso. A fim de man têla, temos necessidade de const an-
temente voltar às Escrituras, pois é somente nel as que a definição n or m a-
tiva do evangelho pode ser achada . Devemos confe ssar que mu itas das no s-
sas formulações das boas novas são defeituosas, quando medidas por este
padrão. Uma das nossas manifestações de miopia como evangélicos tem
sido
mar adim
salvinuir
açãoaindivi
imp ortâ nc ia
dual, semcentra l da igr
enfatizar eja. N ossanatendênc
a integração ia é proe cla-
com unidad dos
salvos. P roclam am os que Cristo m orreu po r nós “a fim de remirnos de
tod a iniqüidade” m ais do que para “pu rificar p ara si mesmo um povo e x-
clusivamente seu”.1Pensamos em nós mesmos mais como cristãos do que
como homens da igr eja , e noss a mensagem é mais boa s novas de um a nova
vida do que de uma nova sociedade.
Ninguém pode chegar ao fim de uma cuidadosa leitura da carta de
Paulo aos Efésios com um evangelho privatizado, po rqu e Efésios é o evan-
gelho da igreja. E xpõe o pro pósito eterno de Deus em cri ar, através de Jesus
Cristo, uma nova sociedade que se destaca num brilhante relevo contra
o pan o de fu nd o som brio do velho mundo. A nova sociedade de Deus é,
pois, caracterizada pela vida em lugar da morte, pela união e pela recon-
ciliação em lugar d a divisão e da alienação, pelos padrões sadios d a jus -
tiça em lugar d a corrup ção e da iniqüi dade, pelo am or e pela paz em lu-
gar do ód io e da contend a, e pelo conflito sem trégua com o m al em lu-
gar de uma convivência pacífica com ele.
Estaente.
fundam visãoAod mesmo
e um a comun
tempo, idade hu m anadrenovada
as realidades mee de
e desam or como ve pro
pecado em-
muitas igrejas contemporâneas são de provocar lágrimas, pois desonram
a Cristo, contradizem a natureza da igreja, e privam o testemunho cris-
tão da sua inte grida de. Mesmo assim, um número cada vez maior de cris-
tãos está procurando a renovação radical da igreja.
E da m ais alta im po rtân cia que a igreja seja de fato a nova socied a-
de de Deus , e que sej a vista como tal, pa ra a glória de Deus e a evange li-
zação do m undo. Efési os nos dá um estím ulo forte e f irme em direção ao
cumprimento desta visão.
Po r cerca de quase se is anos, ten ho estu da do o texto de Ef ésios, a b-
sorvendo a sua mensagem, sentindo o seu impacto e assimilando o seu
ideal. O que muito m e aju do u neste perío do foi fazer a exposiçã o da car-
ta a vários grupos e receber as suas reações. Comecei com a ativa e lon
gânim a congrega ção da Igreja A li Souls em Londres, d epois fiz con ferên-
cias em Nepal, na í nd ia, no Can ad á e no Méxi co, e em ju lh o de 1975 na
inesquecível Convenção C enten ária de Ke swick. N enhu m aud itór io é mais
alerta e críti co do que aquele que se com põe de estudantes. A chei, p or is-
so, especialmente proveitoso compartilhar com grupos de estudantes na
índ ia, nos Estados Unidos, na E uropa, na Austrália e na Am érica Lati-
na,
Instite ser
utodesafi adoos
d e Estud pela
de exposiç ãoUniversidade
Ve rão, na mais ap rofunde
dad a, exigida
Maryla nd, em 1976
EUA, pelo
e pela
Esco la de Ve rão do Regent Colle ge, Vanc ouver. Sou ex trem am ente grato
pelo estímulo intelectual e espiritual destas experiências.
També m agradeç o a vári os indivíduos qu e me prestaram assistência
pessoal de várias m aneiras na composição deste livro, especialmente a Roy
McC loughry, po r providenciar algu mas referênci as úteis, a M yra Chav e
Jones por ter li do um a parte do m anuscrit o, a To m Coop er po r tê lo li do
totalmente, e pelos com entário s de todos. Também a Francês W hitehead
e Vivienne Curry, pelo cansativo trabalho de decifrar meus rabiscos e
transformálos num belo manuscrito datilografado.
JOHN R. W. STOTT
Principais Abreviações e Bibliografia
Barth, Wall
Broken The Broken
sians, Wall:Barth
de Markus A Stu (1959.
dy o f the Epistle1960).
Collins, to the Ep he
1
INTRODUÇÃO À CARTA
Paulo,
vem emapó
Éfesstolo
o, ede
fié Cristo Jesus Je
is e m Cristo posur s:2
vo ntad e de
Graça Deus,
a vó aos esan
s outros tosdaque
paz vi
parte
de Deu s nosso Pai e do Sen ho r Jesus Cr isto.
Três ques tões intro du tór ias no s con fro nta m a o lermos est es dois ve r-
sículos iniciais da carta. Dizem respeito ao seu autor, aos seus destinatá-
rios e à sua mensagem.
O autor
nha sido breve (At 18:1921), a su a segunda visit a du rou três anos (At 19:1
— 20:1,31). Durante este período ele os ensinava sistematicamente, “pu-
blicamente e também de casa em casa” ; chegaram a conhecêlo bem, e na
sua despedid a final aos presbí teros da igreja, es tes demo nstr ara m su a afei-
ção através de abraços, pranto e beijos." É surpreendente, portanto, que
a carta aos Efésios não c onte nha sau dações pessoais tais com o as que ter-
minam as demais cartas de Paulo (na da m enos do que vint e e seis pessoas
são mencionadas pelo nome em Romanos 16). Ao invés disso, dirigese
aos leitores somente em termos genéricos, desejando paz aos “irmãos”
e graça a “to dos os que am am siceramente a nosso Senhor Jesus Cristo”
(6:2324). A lud e a si mesm o com o prisioneiro (3:1; 4:1; 6:20), mas não faz
nenhum com entário acerca d eles. C onclam aos a viver na un ião e na p u-
reza sexua l, mas nã o dá q ua lqu er sinal da existência de facçõe s ou de um
transgressor
mos gerais àmoral,
astúciatais como m(4:14),
dos mestres encionmas
a emnão
1 Corín tios. Refer
identifica esehe-
nenhuma em ter-
resia específic a como em Gá latas ou em C olossense s. Além disso , n ão dá
qualq uer indicaç ão de que el e os conhece pes soalmente. Pelo contrário ,
ele apenas diz que “ouviu” da sua fé e do seu amor, e que eles ouviram
do ministério dele (1:15; 3:24).
Este caráter impesso al da carta é certamente surpre endente. Mas nã o
há necessidade de deduzir daí q ue Pau lo n ão seja o s eu autor. Outras ex-
plicações são possíveis. Paulo pode ter se dirigido a um grupo de igrejas
asiáticas e não apenas à igreja de Éfeso, ou, conforme sugere Markus
Barth, “n ão à igre ja intei ra em Éfeso, mas somente aos membros de or i-
gem gentíli ca, pessoas que não conhecia pess oalmente, e que foram ba-
tizados ap ós a sua par tid a d aqu ela cidade” . 12
O segundo argum ento que é leva ntad o con tra a au toria pau lina de
Efési os é teoló gico. Qu an to a isto, os comentaristas ap on tam um a gran -
de variedade de aspectos difere ntes. Enfatizase, po r exemplo, q ue em E fé-
sios, em contraste com as cartas de Paulo de au tor ia incontroversa , o pa -
pel
nos de Cristo celestiais”
“lugares assume uma (u dimensão
ma exprescósmica; queque
são inéd ita a esfera
o corredecinco
interesse está
vez es),
em que o pera m as potestades e os poderes ; que o foco do interesse é a igre-
ja; que a justificação não é mencionada; que a reconciliação fica mais entre
os jud eu s e os gentios do q ue entre o pec ado r e Deu s; que a salvação é re-
tratad a não como um morrer com C risto mas, sim, somente como um res -
suscitar com ele; e que nã o há referênci a à segund a vinda de noss o Senhor.
No entanto, nenhum destes detalhes é mais de que uma pequena m udan-
ça de ê nfase. E temos de reconhecer que a teologia da ep ístola é essenc ial-
mente paulina. Até mesm o os que ne gam a a uto ria de Paulo reconhecem
11 Ver At 20:1738, especialm ente vs. 18,20,34 e 3638. 12 Barth, Ephesias, 1, págs. 34.
3
INTRODUÇÃO À CARTA
5
INTRODUÇÃO À CARTA
Ap óstolo Paulo, como tam bém o tem a da u nião entre jud eus e gent ios,
pela graça da obra reconciliadora de Deus por meio de Cristo, está de acor-
do com aquilo que ficamos sabendo em outros lugares sobre o apóstolo
aos gentios.
Não acredito que G. G. Findlay estivesse exagerando quando escre-
veu queaoser
futuro ceticonsiderado
cismo m odern
“umo asobre
das. ..a curiosidades
au toria paude
lina um
de Efés
a era ios vi rá
hiper crítnoi
ca”.21A ausência de qua lqu er altern ativa é corretam ente en fatiz ada p or
F. F. Bruce: “O homem que pôde escrever Efésios deve ter sido igual ao
apóstolo, senão superior a ele, em estatura mental e entendimento espi-
ritual ... E a história cristã não tem conhecimento algum de um segundo
Paulo deste calibre!’22
Depois deste breve panorama sobre alguns pontos de vista moder-
nos, é um alívio voltar ao texto: Paulo, apóstolo de C risto Je sus po r von
tade d e Deus. Paulo reinvindi ca para si o mesmo títu lo que Jes us dera aos
doze.23Historicamente, tan to no Antigo Testamento qua nto n o jud aísm o
rabínico, esta palavra designava alguém especial mente escolhid o, c ham ado
e envi ado par a ensinar com autoridade. Não tin ha se ofer ecido como vo-
lun tário p ara este minis tério, nem a igreja o nom eara. Pelo contrário, seu
apos tola do viera da von tade de Deus e da escolha e comissão de Jesus Cris-
to. Logo , se assim foi, com o eu, e muitos ou tros, cremos, devemos escu-
ta r a mensagem de Efésio s com a devida aten ção e hum ildade. Devemos
considerar o se u auto r nã o com o um indivíduo qualqu er que estej a ven-
tilando suas opiniões pessoais, nem como um mestre humano, dotado,
porém falível, nem mesmo como o m aior herói missionário da igreja. Ele
é “apó stolo de Cristo Jesus por vo ntade de De us” e, po rtan to, u m mestre
cuja au torid ade é preci samente a autorida de do pr ópr io Jesu s Crist o, em
cujo n om e e po r cuja inspiração es creve. Co mo disse Ch arles Hodge, em
mead os do século passado: “A Ep ístola rev elase com o sendo a ob ra do
Espírito Santo, tã o claramente q uan to as estrelas declaram que o s eu Cria -
dor é Deus!’24
Os destinatários
Na segunda parte do versículo 1, Paulo em prega vários term os para des-
crever os seus leitores.
Em primeiro lugar, são os santos. Não está usando esta palavra fa-
miliar pa ra referirse a algu ma elite espiritual d entro da congregaçã o, um a
minoria de cristãos excepcionalmente piedosos mas, sim, à totalidade do
povo de Deus. Eram chamados de “santos” por terem sido separados para
21 Findlay, pág. 4. 22 Bruce, págs. 1112. 23 Lc 6:1213. 24 Hodge, pág. xv.
6
efésios 1 : 1-2
7
INTRODUÇÃO À CARTA
8
efésios 1:1-2
3. A mensagem
O pon to central da ca rta é o que Deus f ez po r meio da obra histórica de
Jesus Cristo, e con tinu a fazend o atravé s do seu Es pírito hoje, a fim de edi
ficar a sua nova sociedade no meio da velha. Conta como Jesus Cristo
verteu o seu sangue numa morte sacrificial pelo pecado, depois ressusci-
tou
querdentre os mortos
concorrente pelosupremo
ao lugar po der detanto
De us,
no sendo exalquanto
universo tado acima de qu al-
na igreja.
Mais do que is so, nós que estam os “em Cris to”, organ icam ente unid os com
ele pela fé, compartilhamos pessoalmente destes grandes eventos. Fomos
ressusci tados da m orte espiritual , exaltados ao céu e ident ificados ali com
ele. Fomos reconciliados com Deus e uns com os outros. Como resulta-
do, m ediante C risto e em Cristo, somos na da menos do que a nova s ocie-
dade de Deus, a nova hum anid ade que ele está criando e que inc lui judeu s
e gentios em pé de igualdade. Somos a família de Deus Pai, o corpo de
Jesus Cristo, seu Filho, e o templo do Espírito Santo.
Logo, devemos mostrar, de modo claro e visível, mediante a nossa
vida, a realidade desta obra q ue Deus te m feito. P rimeiro, pela un idade
e diversidade da nossa vida em comum; em segundo lugar, pela pureza
e pelo am or em nosso co mpo rtam ente cotidiano; em ter ceiro lugar, pela
mútua subm issão e por um relacionamento am oroso no lar; e , finalm en-
te, por no ssa estabilidade n a lut a con tra as potestades e os poderes do mal.
Então, na plenitud e do tempo, o pro pósito de De us, ou se ja, a con sum a-
ção da nova
de Jesus sociedad e se dar á sob a a firma ção plena da soberania total
Cristo.
Com este tema em mente, podemos analisar a carta como segue:
9
INTRODUÇÃO À CARTA
esplendor, “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante... santa e sem
defeito” (5:27).
A atu alid ade desta mensagem é óbv ia. Karl Marx tam bém escreveu
acerca do “novo homem” e da “nova sociedade”. E milhões de pessoas
captaram a visão dele e estão se dedicando à sua realização. Marx, po-
rém,
mentevieconômicos.
a o problem aAhu“ mano e a solução
nova soci edade” em
seriatermos quasesem
a sociedade que excl usiva-
classes que
se seguiria após a rev olução, e o “ novo hom em ” em ergiria com o resu lta-
do da sua libert ação econômi ca.
Paulo ap resenta uma visão aind a mais grandiosa, p orque vê que o
ponto chave da questão é ainda mais profundo do que a injustiça da es-
tru tur a econômica, e então pro põe um a sol ução aind a mais radi cal. E s-
creve acerca de nada menos do que uma “nova criação”. Três vezes em-
prega palavras ligadas com a criação. Em Jesus Cristo, Deus está recriando
homens e mulheres “para boas obras”, formando uma nova humanida-
de única no lug ar d a divisão desastro sa entre jud eus e genti os, e nos re-
criando na sua pró pria im agem “em justiça e retidão procedent es da ver-
dad e”.13Assim, de aco rdo com o ensino de Paulo, o novo hom em e a no -
va sociedade são produtos da aç ão criad ora de Deus . A reestruturação eco-
nôm ica tem grande imp ortân cia, mas n ão pod e produz ir estas coisas. Elas
estão al ém da capaci dade, do pod er e da engenhosidade hum ana. Depen-
dem da ação divina do Criador.
munidEsta
ademensagem
de Deus , éda
de igreja, como
especial imp sendo a nova
ortâ ncia p aracriação
aqueleseque
a nova co- am,
s e cham
ou são chamados, de cristãos “evangélicos”. Por nosso temperamento e
por nossa tradição, tendem os a ser individualistas inflexíveis, e por vezes
pouco nos im portam os com a igreja. Aliás, muitos pensam que ser “evan-
gélico" é dar pouco valor à igreja.
Mas o verdadeiro e vangélico, que a pa rtir d a Bíblia constrói a s ua teo-
logia , forçosam ente terá aquele conceito e levado de i greja que a pr óp ria
Bíblia ensina . Hoje, mais do que nun ca, precisamos c apta r a vis ão bíbli-
ca da igreja. N o ocidente, a igreja está em declínio e precisa urge ntem en-
te de um a renov ação. M as qu al é a for ma de renovação que desejamos?
No m undo comunista, a igreja é sempre despojada de privilégios, freqüen-
temente perseguida, e às vezes forçada a ser um a igreja subterrânea. Es-
sa situação suscita a pergun ta bási ca: q ual é a razão de ser da igreja, sem
a qu al ela deixaria de se r igreja? E m várias r egiões do tercei ro m un do a
igreja está cr escendo rapid am ente e em alguns lugares sua taxa de cre sci-
mento é até mais rápida do que a do cresc iment o popu lacional. Mas que
tipo de igreja está surgindo e cre scendo? Precisamos ser corajosos em nosso
33 2:10,15; 4:24.
10
efésios 1:1-2
que stionam ento em relação à igreja nestas dive rsas situa ções: no m und o
livre, no m undo co munista e no te rceiro mundo. E encontrarem os respostas
para estas perguntas em Efésios, porque aqui temos as recomendações do
próprio Cristo para a sua igreja, a igreja pela qual certa vez se entregou
(5:25), a igreja a qual é o seu corpo, e até mesmo a sua plenitude (1:23).
Boa parteGraça
do apóstolo: d a mensagem de Efés
a vós outros iosda
e paz é antecip adaDeus
parte de na sanosso
uda ção
Paiinicial
e do
Senh or Jesus Crist o (v.2). É verdade que esta era a saudação costumeira
com que in iciava todas as sua s cartas, um a form a cristianizada das sa u-
dações hebraicas e grega s da época. Mesmo assim, podem os dizer c om
segura nça que nada do que s aiu da pen a de Paulo era , em qua lque r tem-
po, meramente convencional. Pelo contrário, estes dois substantivos são
especialmente apropriados no começo de Efésios: “graça” indica a ini-
ciativa salvado ra e gra tui ta de Deus, e “p az” indi ca o nível de vida em que
passamos a viver desde que ele reconciliou os pecadores consigo mesmo
e uns com os outros na sua nova comunidade.
“Graç a” e “p az”, po rtan to, são palavraschaves de Efésios. Em 6:15
as boa s novas são cham ada s de o evangelho da paz. Em 2:14 está es crito
que o próprio Jesus Cristo é a nossa pa z, porque fe z a paz pela sua cruz
(v. 15) e depois veio e evangel izou paz aos judeus e aos gentios (v. 17). Logo,
seu povo deve esforçar-se diligentemente po r preservar a un idade do Es
pírito no vínculo da p az (4:3). A “graça”, do outro lado, indica como e
por que Deuslivre
misericórdia tomou
e nãoa merecida.
iniciativa Éda“pela
reconciliação. A “graça”,
graça” que somos pois,
salvos, aliásé sua
pela “suprema riqueza da sua graça” (2:5,7,8), e é pela mesma graça que
recebemos dons pa ra o serviço (4:7; cf . 3:2,7). Por isso, s e dese jam os um
resumo sucinto das boas nov as que a carta anuncia, não pod eríam os achar
nada melhor do que esta: “paz pela graça”.
Finalmente, antes de dei xar a i ntrod uçã o à carta , n ão devemos dei-
xar desapercebido o elo vital entre o autor, os leitores e a mensagem. É
o pró prio Sen hor Jesus Cristo. Paulo, o autor, é ap ósto lo de C risto Jesu s,
os próprio s leitore s estão em Cristo J esus, e a bênç ão vem par a tod os eles
tanto da parte de De us Pa i quan to do Sen ho r Jesus Cris to, qu e estão co-
locados jun tos como sendo o único m anancial do qual fluem a graça e
a paz. Assim, o Senhor Jesus Cristo do mina a mente de Paulo e enche a
sua visã o. P arece que e le se sente compelid o a incluir Jesus Cristo em ca -
da frase que es creve, pelo meno s no com eço de sta carta. Pois é atravé s de
Jesus Cristo, e em Jesus Cristo, que a nova sociedade de Deus veio a existir.
11
I. Vida Nova
Efésios 1:3-2:10
1:3-14
1. Toda bênção espiritual
A seção inicial de Efésios (1:3 — 2:10), qu e descreve a nova vida qu e Deus
nos deu em Cristo, dividese naturalmente em duas partes, sendo a pri-
meira de louvor e a segunda de oração . No trecho dedicad o ao louvo r, P au-
lo bendi z a Deus por nos ter e le abenço ado com to da bên ção espiri tual
(1:3 14). No trecho dedicado à oração, Paulo pede que Deus abra nos-
sos olhos para com preendermo s a plenitude desta bênção (1:15— 2:10).
Neste capítulo nos ocuparemos com a expressão de louvor da parte do
apóstolo.
Bendito o D eus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem aben
çoad o co m toda sorte de bênçã o espiritual nas re giões celestias em Cris
to, 4assim com o n os escolheu nele antes da fu ndaç ão do mundo, para ser
mos san tos e irrepreensíveis perante el e; e em a m o r5nos predestinou p a
ra ele, para a adoção d e filh os , p o r m eio d e Jesus Cr isto, segu ndo o be
neplácito d e sua vontade , 6para louvor da glória de sua g raça, que ele nos
concedeu gratuitam ente no Am ad o, 1no qu al tem os a redenção, pelo seu
sangue, a rem issão d os pec ados, seg un do a riqu eza da sua g raça, %qu e
Deus derramou abundantemente sobre nós em toda sabedoria e prudên
cia, 9desv end and o-n os o mistério da sua vontade, s egu ndo o seu bene plá
cito q ue prop usera em Cristo, 10de fa ze r convergir ne le, na dispen sação
da ple nitu de do s tempos, todas as coisas, tanto as do céu com o as da te r
ra; u nele, digo, no qua lfo m o s tam bém fe ito s herança, predestinados se
gun do o pro pós ito daquele que fa z todas as coisas confo rm e o conselho
da sua vontade, 12a fim de serm os para lou vo r da sua g lória, nós, os que
de antemão esperamos em Cristo; l3em quem também vós, depois que
ouvi stes a pala vra da verdad e, o evangelho d a vossa sa lvação, ten do nele
étam bémhor
o pen crido, fo ste sherança
da vossa selados com
até aoo resgate
Santo E da
spírito
sua da promessa; em
pr opriedade, qual
14olou
vor da sua glória.
efésios 1:1-2
como
me a exagente divino,
pressão aplicaHodge:
de Charles a obra de“Estas
Cristobênçãos
no nosso
sãocoração. Confor-
espirituais não ape-
nas por pert encerem à alm a mas, si m, po r derivarem do E spírito Sant o,
cuja presença e influência são a grande bênção o utorg ada p or Cristo”. 8
É esta ref erênci a trin itar ian a que, em parte, levou al guns estudiosos
a comentar aquilo que chamam de o toque “litúrgico” do parágrafo. É
um a “grande bên ção”, escreve Marcus Ba rth, “um a exclamaç ão de l ou -
vor e oração, semelhante àquelas que são pronunciadas nas sinagogas e
1 Findlay, pág. 21. 2 Dale, pág. 40.
3 Arm itage Robin son , pág. 19. 4 He ndri ksen , pág. 72. 5 Simp son, pág. 24.
6 Mack ay, pág. 75. 7 Arm itage Rob inso n, pág. 19. 8 Ho dge, pág . 28.
13
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUAL
nos lares ju da ico s”, e “pode... ter vindo a P aulo da corrente viva da t ra -
dição cristã ora l, prova velmente litúrgica” .9 Algu ns co mentaristas foram
mais lo nge, e detec tar am no parágrafo um a estrutu ra trinitarian a como
aquela do Credo dos Apóstolos e do de Nicéia: o Pai elegendo (vs. 46),
o Filho re dim ind o (vs. 712) e o Esp írito sela nd o (vs. 1314), sen do q ue
cada estrofe
Em bora es teterm
planoinaseja
comporo demais arr em
estribilho umlouv
adinorhodapara
sua ser
glória (vs. 6,12,14).
p rovável, mes-
mo assim permanece óbvio o conteúdo trinitariano do parágrafo.
Primeira mente, Deus Pai é a font e ou srcem de tod a bênção de que
desfrutam os. Su a inicia tiva é expo sta d e m odo claro, pois ele mesm o é o
sujeito de qua se todo s os verbos princip ais nestes ve rsículos. É ele quem
nos tem abençoa do (v. 3), quem no s escol heu (v. 4) e nos predestinou.. .
para a adoção de filhos (v. 5), qu em nos concedeu gratuit amen te sua graça
(v. 6, literalmente “nos agraciou com sua graça”), até mesmo derramou
abundantemente sua graça sobre nós ( v. 8), qu e tamb ém “desven dou nos ”
sua vontade e se u propó sito que propusera em Cristo, de fazer convergir
nele... tod as as coisas (vs. 910). Além disso, faz, todas as coisas confor
me o consel ho da sua vontade (v. 11). Voltandonos dos verbos para os
substantivos, Paulo se refere, em sucessão rápida, ao amor e à graça de
Deus, à sua vontade, ao seu propó sito e ao seu plano. O pa rág rafo intei-
ro está repleto de Deus Pai, que nos deu o se u am or e derram ou sua g ra-
ça sobre nós, e que está desenvolvendo o seu plano eterno.
14
efésios 1:3-14
15
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUAL
toda bênção do Espírito Santo nos é dada pelo Pai, se estamos no Filho.
Nenhuma bênção nos é negada. Naturalmente, ainda temos de crescer para
a maturidade em Cristo, sermos transformados na sua imagem e explo-
rarmos as riquezas da nossa herança nele. Naturalmente, Deus pode
outorgarnos muitas outras experiências mais profundas e mais ricas de
si mesmo
da bênçãoao longo dojácaminho.
espiritual é nossa. Ou,Mesm o assiom,apóstolo
conforme se estamos em Cristo,
expressou em to -
Colossenses, nós recebem os “a vida com pleta , em u niã o com ele”.11
Tendo declarado o prin cípio ger al, P aulo pass a para os pormenores.
Quais são estas bênçãos com que Deus nos abençoou em Cristo? No res-
tante do parágrafo ele as desdobra. Têm relação com o passado (antes da
fundação do m undo, v. 4), com o presente (o que temos em C rist o ago -
ra, v. 7) e com o futuro ( a plenitud e dos tem pos, v. 10). A bênção passa-
da é a eleição, a bên çao presente é a adoção para sermos filhos de Deus,
e a futura , a unificação, qu an do to das as co isas estarão unidas sob Cri sto.
1. A bênção passada da eleição (vs. 4-6)
Paulo volta mentalmente para o passado, antes da fund açã o do m undo
(v. 4), antes da criação, antes de o t em po ter começado, para um a eter ni-
dade anterior, em que somente o pró prio Deus e xistia na perfeição do seu
ser.
Naquela eternidade antes da criação, Deus fez alguma coisa. Formou
um
(seupro pósito
Filho na suacomo
unigênito) ment ae. Este
nóspropósito dizis aa respe
( ele se propô ito ar
nos torn tanto Cristo
a ad
filh os ot i-
vos, e tam bém filhas, pois, nat uralm ente, a palav ra abra nge os dois se xos).
Notese bem a declaração: no s escol heu nele. A posição dos pronomes
é enfática: Deus colocou a nós e a Cristo ju nto s na sua ment e. Resolveu
tornarnos (mesmo quando ainda não existíamos) seus próprios filhos
através da o bra reden tora de Cristo (que ain da n ão f ora real izada). Foi um a
decisão e specíf ica, po rqu e o verbo escolheu (exelexato ) é outro aoristo.
Surgi u tam bém d o seu favor inteiramen te imere cido, visto que nos esco-
lheu para sermos santos e irrepreensíveis perante ele, o que mostra que
nós, quando ele, na sua mente, nos escolheu, éramos ímpios e culpados,
e que merecía mos, não a ad oçã o mas, sim, o julgame nto. Além dis so (Pau -
lo repete a mesm a verdade com palavras difere ntes) , em a m or12 nospre-
11 BLH, Cl 2:10; c f. também 1 Co 3:2 1 23 .12 ERC coloca a expressão “ em caridade ” imedia
tamente depois de “santos e irrepreensíveis diante dele”, porque entende que se refere ao amor
que Deus quer v er em nós. Deste modo, a santid ade é definida em termos de amor. E sta pode
muito bem ser a tradu ção co rreta, visto que as palavras “ em am or” ocorrem em mais cinco con -
textos de Efésios e, em cada caso, descrevem os cristãos (3:17; 4:2, 15, 16; 5:2). ERAB, no en-
tanto, liga as palavras ao verbo “nos p redestin ou” porq ue entende que se referem ao am or de
Deus, não aò nosso (a ssim também BLH). Eu pessoalmente favor eço esta interpretação, po r-
que parece que o contexto enfatiza o a mo r como a fonte, e não com o o resultado, da nossa eleição.
16
efésios 1:3-14
destinou para e le, para a adoção de filho s, por m eio de Jesus Cri sto, se
gun do o beneplácito d e sua vontade, para lo uv or da glóri a de sua g raça,
que ele nos concedeu gratuitamente no Amado (vs. 56).
Ora, to dos acham difícil a do utrin a da eleição. “Não fui eu quem es-
colheu a Deus?” alguém pergun ta, indig nado; e a isso devemo s respo n-
der: “Sim,
nidade Deusrealmente
escol heuescol
vocêheu, e livrement e,“Nã
primeiramente!’ maso som ente
fui eu queporq ue na eter-
me decidi por
Cristo?” pe rgun ta outra pessoa; e a isto devemo s responder: “ Sim, real-
mente o fe z, e livremente, mas somente por qu e Deus primeiram ente tinh a
decidido em seu favor!’
A E scritu ra nã o esclarece em lugar algum o mistério da elei ção, e de-
vemos ter cuidado com aqueles que procuram sistematizálo de modo de-
masiada mente precis o ou ríg ido. É pou co provável que descubram os um a
solução simples para um problema que tem frustrado, durante séculos,
as melhores mentes da cr istandade. Mas a qui n o texto, pelo menos, há três
verdades importantes para serem aceitas e lembradas:
a. A do utrin a da el eição é um a reve lação divina e não u ma especu lação
humana
Não foi inventada por Agostinho da Hipônia, nem por Calvino de Ge-
nebra. Pelo contrári o, é se m dúvida um a do utr ina bíblic a, e nenhum cris-
tão bíblico pode ignorála. Conforme o Antigo Testamento, Deus esco-
lheu Israeledentre
Con form o Novtoda s as naçõesel edoestá
o Testamento, m undo
form para
ando ser
umseu povounidade
a com especiain-
l. 13
ternacional para que seja seus santos (v. 1), seu povo santo e especial.14
Não devemos, portanto, rejeitar a idéia d a eleição como se fosse uma es-
tranha fantasia dos homens. Pelo contrário, devemos aceitála humilde-
mente (embora não a entenda mos completa mente) como um a verdade qu e
o própr io D eus revelou. Parece natu ral que, a esta altura, p rocuremo s aju da
da p arte de Calvino. Ele prego u sobre Efési os, de co meço a fim, no pú l-
pito da igreja de São Pedro, em Genebra, em quarenta e oito sermões, a
partir de 1? de maio de 1558. Aqui temos um dos seus comentários: “E m -
bora não possam os conceber, quer por argumentos quer pela razão, co-
mo Deus nos ele geu antes da criação d o mu ndo, mesmo assim o sab emos,
porque ele nolo declarou; e a nossa própria experiência testifica a nós mes-
mos, de m od o suficiente, q ua nd o estamos ilum inado s n a fé!’15
b. A do utrin a da el eição é um incen tivo à santi dade, e não um a desculpa
para o pecado
13 P. ex. “sereis a min ha p ropri eda de peculiar dentre to dos os povos” (Êx 19:46; cf. Dt 7 :6ss.;
Is 42:1 e 43:1).
14 Cf. 1 Pe 2:910. 15 Calvino, pág. 69.
17
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUAL
É ver dade que a dou trina nos dá um a forte certeza da segurança etern a,
visto que aquel e que nos es colheu e nos cham ou c ertamente nos gu ard a-
rá at é o fi m. Mas nossa segurança nã o p ode ser usad a pa ra desculpar o
pecado, e muito menos para encorajálo. Parece que algumas pessoas ima-
ginam um cristão falando p ara si mesmo em termos tais como estes: “Sou
mem bro do povo escolhid o de Deu s, salvo e seguro. Nã o há, p orta nto , ne-
cessidade al gum a de me preocu par com a santida de. Posso m e com por-
ta r como qu ero.” N o entanto, presunção tã o pavo rosa não acha ap oio na
verdadeira dou tri na da eleição. Pelo contrá rio, o inverso é a verdade. Paulo
escreve aqui que Deus nos escolheu em Cristo para que sejamos santos
e irrepr eensíveis per an te ele (v. 4). Irrepreensível (am õm os ) é a palavra
veterotestamentária par a um sacri fício imaculado. Sa nto s e irr epreensí
veis volta a ocorre r em 5:27 e em Colossenses 1:22, on de indica o n osso
estado fina l de perfeição. Mas o processo de santificaç ão com eça aqui e
agora. Ass im, longe de estimular o pecado, a d ou trina da elei ção o proí-
be e ao contrário, im põenos a necessidade de u m a vida santa, porque a
santidad e é o propósito da nossa ele ição. Em últim a anál ise, a ú nica ev i-
dência da eleição é um a vida santa. F. F. Bruce com enta com sabedoria:
“O a mor de Deus que nos predestina é recom endado mais po r aquel es que
levam vidas santas e semelhant es à d e Crist o, do que p or aqueles cujas ten-
tativa s de desemb araçar o mistério termin am em disputas sobre questõe s
irrele vantes de ló gica!’16
c. A doutrina da e leição é um estímu lo à hu mildade, não um m oti vo pa
ra o orgulho
Há quem pense que julgarse mem bro do povo escol hido de Deus é o pen -
samento mais arrogante que algué m po de aliment ar. E seria mesmo se ima -
ginásse mos qu e Deus nos ti vesse escolhido p or causa de algum mérito no s-
so! N ão há, porém , lugar algum pa ra o mérito na do utrin a bíblica da elei-
ção. M uito pelo contrário , Deus explic ou especifi camente ao povo de Is-
rael que
nem por ele
sernão o escolhera
maior por ser mais
ou po r ultrapass álas importante
de algum aque outras
forma, nações,
po rque is so não
era verdad e. P or que, então? Sim plesm ente po rqu e ele o am av a. 17A r a-
zão por que escolh eu o povo estava nele mesm o (se u am or) e nã o n aq ue -
le povo (o mérito). A m esm a verda de é muito enfa tizada em Efés ios. A
ênfase da totalidade do primeiro parágrafo recai sobre a graça de Deus,
o am or de Deus , a vontad e de Deu s, o pro pós ito de De us e a escolha de
Deus. Ele, pois, nos escolheu em Cristo (declara Paulo) antes da fu n d a
ção do m undo, que era antes de existi rmos, e muito mais, antes de pod er-
mos alegar termos qualquer mérito. Por isso “a eleição de Deus é livre,
16 Bruce, pág. 28. 17 Dt 7:78.
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efésios 1:3-14
19
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUA L
20
efésios 1:3-14
sentido de “ reunir as coisas” . A o utr a oco rrência deste verb o no Novo Tes-
tamento é em Romanos 13:9, onde todos os mandamentos da segunda
tábu a da lei “resumem se na sentença: ‘A marás a o teu próximo co mo a
ti mesmo”’
O contexto de Efésios 1 certam ente parece adaptar se me lhor ao sen-
tido de “ reu nir” do que ao de “resum ir”. Um pou co mais adiante, no ve r-
sículo 22, Pau lo vai afir mar q ue Deus “pôs tod as as coisas debaixo de seus
pés e, para ser o cabeça (kephale ) sobre todas as coisas, o deu à igreja”.
Aqui, pois, parece que Paulo está dizendo que “esta convergência para
Cristo acon tecerá com a subm issão do mun do a ele com o o C abeça ”.22
Cristo já é cabeça do seu corpo, a igreja, mas um dia toda s as cois as re-
conhece rão a sua autorid ade como cabeça. No tempo present e ainda há
discórdia no uni verso, mas n a plenitude do tem po esta c essa rá, e aquela
unidade pela qual ansiamos virá com o domínio de Jesus Cristo.
Esta perspectiva leva a um a pergu nta im portan te: quem e o que ser á
incluí do nesta unid ade fin al e neste domínio? Certo núm ero de teól ogos,
tanto antigos com o m odernos, têm se prendido à expr essão “ todas as coi-
sas” como base para a edificação de sonhos universalistas. Ou seja: es-
peculam que todos serão salvos no fim, que os que morrem impenitentes
serão um dia trazidos para o arrependim ento, e que até mesmo os dem ô-
nios serão finalmente redimidos, visto que, literalmente, “todas as coisas,
tanto as do céu como as da te rra” serão reunidas em uma u nidad e sob o
dom ínio salvífic o de Cri sto. Um dos mais eloqüentes defens ores contem -
porâneos do universalismo é Markus Barth. É verdade que, em um ou dois
trechos, parece negálo, dizendo que não devemos nos esquecer do ensi-
no de Cris to sobre o pec ado im perdo ável.23 Mesmo assim, a impressão
geral é clara. “A igreja... é o corpo de Cristo, que vive e que cresce. A igreja
inclui, por esta definição, virtualmente todos os que ainda são descren-
tes... Jesus Cristo não é apenas ‘cabeça da igreja’. Ele é igualmente... ca-
beça também de to do homem , quer este creia em Cristo, quer não!’24
Tratase simplesmente do fato de que nem todas as pessoas conhecem e
reconhecem a Cristo, conforme a igreja o faz. “Logo, podemos chamar
a igreja de os primeiros frutos, o começo, o exemplo, o sinal ou a mani-
festaçã o daqu ele dom ínio e louvor que serão conhecidos universalmente
e desfr utados conscientemente por to dos os homens. A igreja é apen as um a
instituição preliminar, tran sitó ria e s erviçal. Por enquan to, ela é a única
comunidade na terra que serve conscientemente a Jesus Cristo.”2'' Um
pouco mais à frente, quando comenta a parede da separação que Jesus
Cristo derru bou , declar a: “Nã o há parede entre a igreja e o m und o!” Mes-
22 DTNT I, pág. 682.
23 Barth, Broken Wall, pág. 255. 24 Ib id , pág. 110. 25 Ibid., pág. 139.
21
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUAL
22
efésios 1:3-14
criou e que su ste nta .27 Mais u ma vez parece que Pau lo está s e referindo
à renovação cósmica, à regeneração do universo, à libertação da criação
que geme, e sobre a qual já tin ha esc rito aos Romanos.2KO plano de Deus
é todas as coisas que foram criadas por Cristo e para Cristo, e que sub-
sistem em Cr isto,29 finalm ente serem un idas de baix o de Cristo ao se sub-
meterem á sua soberania, já que o Novo Testamento o declara “herdeiro
de todas as co isas”.30
Assim a BLH traduz o v. 10: “Este plano é unir...debaixo da autori-
dade de Cristo , tu do o que há no céu e na te rra ”, e J. B. L igh tfoo t escreve
acerca da “harmonia inteira do universo, que já não conterá elementos
estranhos e discordantes, mas no qual tod as as partes ach arão seu centro
e vínc ulo d e união em Cris to”.31
Na plenitude do tempo, as duas criações de Deus, todo o seu universo
eé oa sua igreja
cabeça por completo,
supremo das duas.serão unificadas sob o Cristo cósmico que
A esta altura, talvez seja sá bio fazer uma pau sa e considerar q uan to
Iodos nós precisamos desenvolver a perspectiva geral de Paulo. É bom lem-
brar que ele era um prisioneiro em Roma. Não, de fato, numa cela ou numa
masmorra mas, mesmo assim, sob prisão domiciliar e algemado a um sol-
dado romano. Apesar disso, embora seu pulso estivesse algemado e seu
corpo confina do, seu coração e sua mente habitavam a eternidade. O lhou
para trás ant es d a funda ção do mundo (v. 4) e para a frente, para a plen i
tude dos tem pos (v. 10), e apoderouse d o qu e temos ago ra (v. 7) e do q ue
devemos ser agora ( v. 4), à luz daqu elas d uas etern idades. Qua nto a nós,
quão bitolada é a nossa visão comparada com a dele, quão pequena é a
nossa mente, quão estreitos são os nossos horizontes! De modo tão fácil
e natural, deslizamos para u ma preocupação qualqu er, com nossos assun
linhos mesquinhos. Devemos, porém, ver o tempo à luz da eternidade, e
nossos atuais privilégios e obrigações à luz da nossa eleição no passado
e da nossa perfeição no futuro. Então, se compartilhássemos dá perspec
liva doleva
pois, apóstolo, tam bem
à adoração bém co mpartilh
como aríam
ao dever. A os dose
vida se transform
u louvor. Aaria
do em
utrinado-
a,
ração e bendiríamos a Deus constantemente por nos ter abençoado tão
ricamente em Cristo.
4. O alcance destas bênçãos (vs. 11-14)
Depois de descrever as bênçãos espirituais que Deus dá ao seu povo em
Cristo, Paulo acrescenta ma is um p arágrafo p ara enfatizar que as bênçãos
pertencem igualmente aos crentes judeus e gentios. A estrutura do pará-
27 Hb 1.23. 28 Rm 8 :18ss.; cf. Mt 19:28; 2 Pe 3:1013.
29 Cl 1:1617. 30 Hb 1:2. 31 Lightfoot, pág. 322.
23
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUAL
grafo to rn a claro este f ato: nele... nós (judeus) os que de antemã o espe
ramos em Cristo... fo m o s predestinados ... a fim de sermos para lo uvo r da
sua glór ia. Nele tamb ém vós (gentios)... tendo nel e também erido, fo s
tes sela dos com o Santo Espírito da promess a; o qual é o pe nh or da no s
sa herança... O apóstolo muda do pronome nós (ele mesmo, com os de-
mais
sa cre ntes
herança (najudeus)
qual osp dois tambémparticipam
ara grupos vós (seusigualmente).
leit ores gentios) e pa ra nos
Está dando
um a am ost ra prévi a do seu tem a da reconciliação entre judeus e gentios,
que desenvolverá na segunda parte do capítulo 2. Porém, com a repeti-
ção de nele e em quem (vs. 11, 13), enfatiza que é Cristo quem faz a re-
conciliação e que é mediante a união com Cristo que o povo de Deus é
um só. D aí o apóstolo c om pa rtilh a conosco três grandes ve rdad es sobre
o povo de Deus.
24
efésios 1:3 -14
la de “t radução frouxa e ten den cio sa”.34 Parece ma is provável que a p os-
sessão (como a heran ça) seja de Deus , e que m ais u ma vez se refir a ao seu
povo. Assim a BJ diz: “para a redenção do povo que ele adquiriu”. O ar-
gumento prin cipal p ara interp retála assi m é, mais um a vez, o fund o his-
tórico veterotestamentário. Pois o substantivo peripoiêsi.s (“posses são” ),
ou o seu
crição d eadjet ivoPor
Israel. cognato , ocorre
exemplo: freqüentemente
“Sereis a minh a pronaprie
LXdadXecomo umdentre
peculiar a des-
todos os povos”, e “O Senhor teu Deus te escolheu, para que lhe fosses
o seu povo pr óp rio ”.15Ce rtam ente esta fra seolog ia é reto mada no Novo
Testamento c om relação à igreja que C risto a dq uir iu p ara si mesm o.36
Coloc ando ju nta s esta s duas expre ssões gregas, com seu cl aro f un -
do histórico no An tigo Testamento , é difícil resistir à conclusão de que P au-
lo esteja alud ind o à igreja com o sendo a herança e possessão. Estas pa-
lavras antig am ente eram aplicada s exclus ivamente à nação de Isra el, mas
agor a são aplicadas de mo do novo a um pov o internacional cujo deno -
minador comum é todos os seus membros estarem “em Cristo”. Já que
o mesmo vocabulário é empregado para os dois povos, temos a indica-
ção da continuidade espiritual entre ambos.
Este e nsino, em bor a não seja tão óbvio em nosso text o, nã o deixa de
ser básico para o que Paulo está escrevendo neste parágrafo. O povo de
Deusdesão
são os santos
Deus (v. 14). de Deus (v.depois
Somente 1), é adisto
herança de Deus (v.é 11),
ser entendido, é a posses-
que estamos
prontos para fazer mais duas perguntas. Primeira: Como nos tornamos
o povo de Deus? E a segunda: Por que ele nos tornou seu povo? Paulo
responde à p rim eira referindose à von tade de Deus , e à segunda, referindo
se à sua glória. E declara cada uma destas verdades três vezes.
b. Som os o po vo de Deus pela vontad e de Deus
Com o ficam os sendo o povo de Deu s e a possessão de Deus? Não p ode
haver dúv ida qu an to à resposta de Pau lo. Foi pela von tade de Deu s. Ele
nos predestin ou p ara sermos seu s filhos segundo o beneplácito de sua von
tade (v. 5); desvendou a nós o mistério da sua vontade, seg undo o seu be
neplácito (v. 9); e ficamos sendo a herança de Deus segundo o prop ósito
daquel e qu e fa z todas as c oisas conform e o conselho da sua vontade (vs.
1112). A pa ssagem está rep leta de referências à vonta de ( thelèma ), ao be-
neplácito ( eudokia), e ao propósito (prothesis) de D eus, bem como ao pla -
no ou pro gram a em que es tes foram expressos. Pa ulo dificilmente po de -
34 Houlden, pág' 271. 35 Ver a versão da LXX de Êx 19:5; Dt 7:6 . Cf. Dt 14:2; 26:18; Is
43:21; Ml 3:17; etc.
36 Ver At 20:28; Tt 2:1 4 e 1 Pe 2:9.
25
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUAL
ria ser mais enfáti co ao dizer q ue, q uan do nos tornam os m embros da nova
comuni dad e de Deus, isso não se deveu ao acaso n em à no ssa escolha mas,
sim, à von tade e ao beneplácito soberano s do pró prio Deus. Este fo i o fator
decisivo, conforme o é em cada conversão.
Isto não significa, n o entan to, que estávamos inativos . Longe di sso.
Neste
te contexto,
à vontade em que
de Deus, a nossa
a nossa p rópriabilidade
responsa salvação
també atrib
ém éuída inteiramen-
mostrad a. Isto
porque (v. 13) primeiramente ouv im os a palavra da verdade ; depois te
mos crido nel e (Cristo), e assim fomos selados com o Santo Espírit o da
promessa. Que ninguém diga, portanto, que a doutrina da eleição pela
vontade e misericórdia soberanas de Deus, por misteriosa que seja, tor-
na desnece ssário a evangeli zação e a fé. Pelo contrário! É so mente p or c au-
sa da vontad e graciosa de Deus pa ra salvar que a eva ngelização tem q ua l-
qu er espera nça de sucess o e a fé se to rn a possí vel. A pre gação do evange-
lho é o meio qu e Deus estabeleceu para liv rar da ce gueira e da escravidão
aqueles que escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, e para os
libertar para crerem em Jesus, e assim fazer com que se concretize sua
vontade.37
E a certeza de que Deus está assi m ativo na v ida do seu povo é da da
pelo Espírito Santo, que nos versículos 13 e 14 recebe três designações: um a
promessa, um selo e um a garantia. P rim eiram ente ele é o Espírit o da pro
messa porque Deus prometeu, pelos profetas do An tigo Test amento e tam -
bém por
mete dáloJesus,
h ojeque
a todo oenviaria
aqu ele (o
qu que
e se fez no dia
arr epen dede Pentecostes)
e crê (o que ele erealm
Deusente
pro-
faz).38
Em segundo lugar, o Espírito Santo não é somente a promessa de
Deus, como também o selo de Deus . Um selo é um a m arca de possessão
e de autenticidade. O gado, e até mesm o os escravos, eram marcado s com
um selo pelos se us donos, a fim de indicar a quem pertenciam. Mas tais
selos eram exter nos, ao passo qu e o de Deus está no coraç ão. Deus colo -
ca o seu Espírito dentro do seu povo á fim de marcálo como sua
propriedade.39
37 Para uma exposição mais completa deste tema importante, ver O Evangelismo e a Sobera
nia de Deus, de J I. Packer (Edições Vida Nova, 1966).
38 Ver, P. ex., E z 36:27; Jl 2:28; Jo 14-16; Lc 24:49; A t 1:4-5; 2:33, 38-39; Gi 3:14, 16.
39 para o conceito de “sela r" ver Ez 9:4ss., e A p 7:4ss ,• 9:4. Para o Espírito S anto como a marca
distintiv a do cristão, ver 2 Co 1:21-22; Ef4: 30 . A partir do século II, alguns autores têm id en
tificado o s elo do Espírito com o batismo, parcialmente porq ue o ba tismo e o do m do Espírito
estão ligados no No vo Testamento, e parcialmente po r analogia com a circu ncisão que Paulo
chama de s elo (R m 4:11). Mas o batism o é um sinal ou selo externo e visível, ao passo que o
selo interno e invisí vel que Deus dá para marc ar o seu pov o com o sua própria possessão é a pre
sença do Espír ito no coração. Ver Rm 8:16.
26
efésios 1:3-14
27
TODA BÊNÇÃO ESPIRITUAL
Em bora P aulo esteja nat uralm ente pensa ndo nos seus leitores da Ásia, aos
quais está e screvendo, m esmo assim, no d ecorrer do prim eiro cap ítulo d a
sua carta, dirigese mais a Deus do que a e les. Com eça com um a grande
bênção (1:314) e continua com uma grande intercessão (1:1523). Efé-
sios 1está, na realidade, dividido nestas duas seções. Primeiro, bendiz a
Deus po r nos ter abenço ado em Cristo; depoi s, ora pedin do que Deus abra
nossos olhos
Para para
se ter umentendermos
a vida cristã splenamente esta
audável, ain da bênção.
hoje, é de vital im por tânc ia
seguir o exemplo d e Pau lo e man ter un idos o louvor e a oração. Muitos,
no entanto, não conseguem este equil íbrio . Alguns cristãos apenas oram
em favor de novas bênçãos espirituais, aparentemente ignorando o fato
de que Deu s já os abençoou em Cristo co m t od a bênção espirit ual. Ou-
tros dão tan ta ênfas e à indubitável verdade que em Cristo tu do já é deles,
que s e tor na m negligentes e não dem onstram von tade de conh ecer ou ex -
perim entar com maior profundidade seus privilégios cristãos. Ambos se
polarizam, desviandose do ensino das Escrituras, perdendo assim o equi-
líbrio espiritual.
29
UMA ORAÇ ÃO DE GRATIDÃO PELO CONHECIMENTO
O que Paulo faz em Efésios 1 e nos encor aja a fazer o mesmo, é con -
tinu ar lou vando a Deus, p orque em Cristo todas as bênçã os espirit uais
são noss as, e também con tinu ar orand o par a que conheçamos a plenitu-
de daqu ilo q ue ele nos deu. Se conservarm os jun tos o louvor e a oração,
as ações de graças e a petiçã o, isto nos aju da rá a m an ter o nosso equilí-
brio Con
espiritual.
tinua nd o no ssa comp araçã o das duas seções de Efésio s 1, outr o
aspecto nos cha ma a atenção: am bas são ess encial mente trinitarian as. Es-
tão dirigidas a Deus Pai: as ações de graças ao Deus e Pai de nosso Se
nhor Jesus Cristo (v. 3) e a intercessão ao Deus de nosso Senhor Jesus Cris
to (v. 17), que tam bém é cha mad o de “o Pai da glória ” ou “o glorio so Pa i”
(BV). Além disso, as du as se referem especificam ente à ob ra de Deus em
e atravé s de Cristo, porq ue, de um lado, nos tem abençoado... em Cristo
(v. 3) e, por outro, exerceu em Cristo um eficaz ato de poder quan do o res-
suscitou e o ent ron izo u (v. 20). E, em tercei ro lugar, as duas seções do ca -
pítulo aludem , ainda que indiretam ente, à obra do Espírito Santo, visto
que as bênçãos que outorga em C risto são espirituais (v. 3), e somente me-
diante um espírito (ou E spírito) de sabedo ria e d e revelação podem os che-
gar a conhecêlas ( v. 17). Não ac ho qu e discernir esta estr utu ra tr ini tar ian a
seja forçar o texto. A fé cristã e a vida cristã sã o fun dam entalm ente t ri -
nitari anas. Uma é a resposta à ou tra. O Pai nos trouxe bênçãos atr avés
do Filho e por meio do Espírito , p or iss o podem os nos ap roxim ar de le em
oração, também
O que levouatravés
Paulo do Filho
a orar e por de
a favor meio
seusdoleitores
Espíritofoi(cf. 2:18).
o que ouviu a
respeito de les. N o par ág raf o an ter io r escreveu em term os gerais que nó s,
isto é, ele e os dem ais cristão s judeu s, eram os que de antemão esper amos
em Cristo (v. 12) e que seus leitores, cris tãos gentio s, tinham ouvido a pa
lavra da verdade... e crido em Cr isto (v. 13). A gora to rna se m ais pessoal:
...eu, tendo ouv ido a f é qu e há ent re vós no S en ho r Jesus , e o a mor para
com todos os sa ntos . Embora pareça estranho, os melhores manuscritos
omitem “o am or ”. Sem estas palavras, “o Senho r Jesus” e “todos os san-
tos” são colocad os no mesm o plan o com o objeto d a fé dos ef ésios. Tão
estra nha é esta noçã o d a fé em cri stãos tan to q uan to em Cristo, e tão di-
ferente daq uilo que Pa ulo esc reveu em outros lugares, que temos um a es-
colha a fazer: ou seg uimos Markus B arth que traduz “ fé” po r “ fidelida-
de” ou “lealdade”, que é “algo semelhante ao amor”1e que pode ser di-
rigida tan to a Cris to, qu an to aos crist ãos; ou concluí mos, mesmo contra
a forte evid ência dos manu scritos, que a s pala vras “o am or ” foram real-
mente e scritas por Paulo, m as pro vavelmente omitidas po r um copista an -
tigo. Neste últim o caso, temos p ara a dupla: fé em Cristo e am or p ara com
1Barth, Ephesians , I, pág. 146.
30
efésios 1:15-23
seu povo, um paralelo exato em Colossenses 1:4. Todo cristão crê quan-
to am a. A fé e o am or são graças cristãs básicas, com o tam bém é a espe-
rança, o terceiro mem bro da tríade, mencionada no v. 12 e que volta a ocor -
rer no v. 18. É impossível estar em Cristo e não se achar atraído tanto a
ele na fé como ao seu povo em amor (a todos eles também, neste caso os
judeus e osouvido
Tendo gentiosfalar
semdadistinção).
fé e do amor cristãos que eles expressavam,
Paulo diz que não cessa de dar graças a Deus por eles (reconhecendoo
como o autor de ambas as qualidades), e depois intercede por eles. Por-
que a despeito da sua inc essant e gratidã o a Deus po r eles, a ind a não está
satisfeito. Qual é, então, o seu pedido? Não é que recebam uma “segun-
da bênção” mas, si m, que reconheçam tod a a ext ensão da bênção que já
receberam. Assim sendo, a essência da sua oração por eles é para saber-
des (v. 18). Embora suas outras orações registradas tenham um alcance
maior do que es ta, todas inclue m um a peti ção semelhant e, ou pelo “p o-
der para com preen der” (3 :8), ou pel o “conhecim ento da sua vontade, e m
toda a sabedoria e entendimento espiritual”2 ,ou pelo “pleno conhecim en-
to e toda a percepção”.3Devemos estar atentos a esta ênfase. Crescer no
conhecimento é indispensável para crescer na santidade. Na realidade, o
conhecimento e a sa ntidade estão ainda mais intimam ente vinculados do
que com o meio e fim. O conhecimento, em prol do qual P aulo ora, é me-
lhor expre sso pelo conceito hebrai co, pois acrescenta o con hec im ento da
experiê ncia ao conhecim ento do entendimento, e também enfatiza o ple
no conhecimento dele (v. 17), conhe cim ento pessoal d o pr óp rio Deus, co-
mo o contexto dentro do qual é para sab erm os q ua l é... (v. 18), ou seja:
para que cheguemos a conhecer verdades sobre ele. Não existe nenhum
conheci mento m aior do que o conheci mento do próp rio Deu s. Confo r-
me a express ão de Ado lphe M onod: “A filoso fia que toma o hom em por
seu centro diz conhece-te a ti m es mo ; somente a palavra inspirada que pr o-
cede de Deus tem conseguido dizer conhece a D eu s”4
Tal conhecimento é impossível sem a revelação. Paulo, portanto, ora
que Deus lhes conceda espírit o de sabedori a e de revelação no ple no co
nhecimento dele (v. 17). Embora o texto citado escreva espírito com a inicial
minúscula, é provável que a referência seja ao Espírito Santo, visto que
as Escrituras falam dele como sendo “o Esp írito d a verdade ”, o agente da
revelação, e o mestre do povo de De us. N ão se tr at a de pedir mos a Deus
que “dê” o própr io Es pírito àqueles que já o recebera m e que foram se
lados com ele (v. 13) mas, sim, que podemos e devemos orar a favor do
seu ministério de il uminação. É po r causa da sua confia nça neste minis-
tério do Espírito que Paulo pôde continuar sua oração: iluminados os
2 Cl 1:9. 3 Fp l : 9 . 4 Citado por Findla y, pág. 68.
31
UMA ORAÇÃO DE GRATIDÃO PELO CONHECIMENTO
frutamos
O prócomo
prio resultado do fato denos
Novo Testamento queconta
Deuso nosque
chamou.
é isto. É um a expecta-
tiva rica e variada. Deus, pois, nos cham ou “p ara serm os de Jesus C ris-
to” e “à com unh ão de... Jesus Cristo” .7C ham ouno s “ para sermos san-
tos” ou “ nos cha mou com sa nta vocação” , visto que aquele que nos ch a-
mou é santo e nos diz: “Sede santos, porq ue eu sou san to!’8Um a das ca-
racterísticas do povo “santo” ou especial de Deus é a libertação do jugo
da lei. Não devemos, por tant o, recair na escravidão, pois “ fomos cham ado s
à liber dade” .9O utra característica é a com unh ão har monio sa atra vés d as
barreiras das raças e das classes, porque “fomos chamados em um só cor-
po” para desfrutarm os da “paz de Cristo”, e devemos viver uma vida que
é “digna da vocaç ão a que fomos chamados... su porta ndo no s uns aos ou-
tros em am or ”. 10Ao mesmo tem po em que podem os d esfrutar de paz
dentro da comunidade cristã, forçosamente experimentamos oposição do
mundo descrente. Não devemos reagir com agressão, no entanto: “Por-
qua nto par a ist o mesm o (es te sofrim ento injusto e esta perse verança p a-
5 Rm 8:30. 6 Rm 10:12 — 13. 7 Rm 1:6; 1 Co 1:9.
8 Rm 1:7; 1 Co l : 2 ; 2 T m 1:9; 1 Pe 1: 15; cf. 1 Ts 4:7.
9 G1 5:1, 13. 10 Cl 3:15: Ef 4:1 —2:.
32
efésios 1:15-23
ciente) fostes cham ados, pois que tamb ém Cristo sofreu em voss o lugar,
deixand ovos exemplo pa ra seguirdes os s eus pass os!’11Além disso, s abe-
mos que a glór ia se en con tra após o sofrime nto. Deus, pois, tam bém nos
chamou “para o seu reino e glória” ou “à sua eterna glória em Cristo”.
É o que Paulo c ham a de “a soberan a vocação e m Cristo Jesus”, razão pela
qua l avança n a co rrid a cris tã em direção a o alvo. 12
Tudo isso estava na mente de Deus quando nos chamou. Chamou
nos para C risto e par a a santi dade, para a liberdade e par a a paz , p ara o
sofrimento e para a glória. Simplif ican do, tratas e de uma ch am ada p a-
ra um a vida t otalm ente nova e m que co nhecemos, am amo s, obedecemos
e serv imos a Cris to, desfruta mos d a com unh ão com ele e uns com os ou -
tros, e olham os além do nosso presen te sofrimen to p ara a glória que um
dia será revelada. E sta é a esperança do seu cha mam ento . Paulo ora que
nossos olhos sejam abertos para conhecêla.
2. A glória da herança de Deus
A segunda oração do apósto lo é para que saibamos qual a riquez a da gló
ria da sua herança nos santo s (v. 18b). A expressão grega, co mo tam bém
em português, pode significar ou a herança de Deus ou a nossa, ou sej a:
ou a heran ça que e le recebe ou a he rança que ele outorga. Algu ns com en-
taristas a entendem no p rimeiro sentido e dizem que se refere à herança
que Deus possui entre o seu povo. Ce rtam ente os autores do A ntig o Tes-
tam entoouensinavam
rança” de ,modo
“possessão” consistente
e no capítulo anterque
ioroacham
p ovo de
osDeu
um as era
refesua
rênci“he-
aa
esta verdade nos vs. 12 e 14. Mas a passagem correlata em Colossenses
1:12 sugere fortemente a out ra interpretação, a saber: q ue a “ heran ça de
Deus” referese àquilo que ele nos dará , pelo que de vemos dar graças ao
Pai “ que nos fez idôneos à pa rte que nos cabe da heranç a dos santos n a
luz”.
Neste caso, se o chamamento de De us ap on ta de vol ta para o come-
ço da nossa vida cris tã, a herança de De us apo nta par a a frente, p ara o seu
fim, para aquela herança final da qual o Espírito Santo é a garantia (v.
14) e que Pedro desc reve com o sendo “inco rrup tível, sem m ácula , im ar
cescível, res erv ada nos céus p ara vós ou tro s”. 13 Os filh os de Deus são,
pois, os herdeiros de Deus e, de fato, “coherdeiros com Cristo”,14e um
dia, pela sua graç a, a herança será nossa. E stá al ém d a nossa capacidad e
de imaginar como será. Portanto seremos sábios se não formos por de-
mais dogmáticos a respeito. Mesmo assim, certos aspectos foram revela-
dos n o Novo Test amento, e não erraremos se nos firm arm os neles. Somos
inform ados que hemos d e ver a Deus e a seu C risto, e que o ador arem os;
11 1 Pe 2:21 . 12 1 Ts 2:12; 1 Pe 5:10; Fp 3:14 . 13 1 Pe 1:4. 14 Rm 8:17.
33
UMA ORAÇÃO DE GRATIDÃO PELO CONHECIMENTO
que esta visão bendita será um a visão transfo rm ado ra, pois “qu and o ele
se manifestar, seremos semelhantes a ele ”, nã o somente n o c orp o com o
também no carát er; e que desfrutaremos de perfeita comu nhão uns co m
os outros. A h eranç a de Deus (a hera nça qu e ele nos dá) não será um a pe-
quen a festa pa rticu lar par a cada ind ivíduo mas, sim, em meio a muitos,
nos santoserar,
de enum aode
notodas
s juntarm os àquela
as nações, trib “grand e mu
os, povos lti dão que
e línguas, em ning uém
pé dia ntepo
do-
tro no e dia nte d o C orde iro”.15
Paulo não consider a que seja presunçoso pensarmo s acerca da n os-
sa herança celes tial ou até m esmo an tegoz ála com alegr ia e gratidão. Pelo
contrário, ele ora par a saberdes, a sua glória, de fato, a riqueza da glória
da sua herança
3. A grandeza do poder de Deus
Se o chamamento de Deus olh a pa ra trás, p ara o começo, e s e a herança
de Deus olha para a frente, para o fim, então, decerto, o poder de Deus
abrange o períod o interino, pois somente o se u pod er pod e cum prir a e x-
pectativa que pertence ao seu chamamento e nos trazer com segurança às
riquezas da glória da her ança final que nos dará no céu . P aulo está co n-
vencid o de que o po der de Deus é suficiente, e acu mula palavras p ara nos
convencer. Escr eve nã o so mente d o poder de De us, com o também da efi
cácia da for ça do seu po de r (v. 19), e ora para que saibamos a grandeza
dele, Com
realmente a grandeza
o chegaremo suprema
s a conhec dele, para
er a suprema com do
grandeza os pod
que cremos.
er de Deus ?
Porque el e deu um a de mons tração p ública na ressurreição e exalt ação de
Cristo (vs.2023). Paulo realm ente refer ese a três even tos sucessivos: pri-
meiro, ressuscitando-o dentre os mortos (v. 20a); em segundo lugar,
fazendo-o sentara sua direita nos lugares celestiais, m uito acima de qual-
quer concorrente (vs.20b , 21), E p ôs todas as c oisas debaixo do s seus pé s
(v. 22a); e, em tercei ro lugar, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu
à igreja, a qu al é o seu corpo... (v. 22b , 23). Estes três eventos são interli-
gados. É em fun ção da ressurreição de Cristo den tre os mo rtos e sua en
tron ização sobre o s poderes do mal que ele se to rn ou o cabeça da igrej a.
A ressurreição e a ascensão eram dem onstrações decisivas do p od er divi-
no. Pois se há dois poderes que o homem não pode controlar, mas que,
pelo contrário, sobre ele exercem domínio, são a morte e o mal. O homem
é mortal. N ão p ode evit ar a morte . O hom em está caí do. N ão p ode ven-
cer o mal. D eus em Cris to, porém , der roto u a m orte e o mal e, port anto ,
pode nos salvar de ambos.
15 Para o ensino neotestamentário acerca da nossa herança celestial, aludido aqui, ver Ap
22:3— 4:; 1 Jo 3:2; Fp 3:21 ; Ap 7:9; cf . At 20 :32.
34
efésios 1:15-23
fazer assim, cum priu a pro messa messiânica do s alm o 110:1: “Disse o Se-
nh or ao meu S enho r: A ssenta te à m inha direit a, até que eu pon ha os te us
inimigos de baixo dos teus pés! ’ Rem iniscências deste versí culo po dem ser
ach adas nã o somen te nas referê ncias à direita de Deus, e a Cristo levado
a sentar ali, como também na declaração posterio r que Deus col ocou to -
das as coisas “debaixo dos seus pés”, tornandoas, portanto, seu “esca
belo”. No salmo 110 são seus inimigos que ficam “debaixo dos seus pés”.
Parece seguro supor, portanto, que os “principados e potestades” acima
dos quais foi exaltado {tod o princip ado, ep otestade , epoder, e do mínio)
aqui não sejam anjos mas, sim, demônios, aqueles “dominadores deste
mu ndo tenebroso” ou as “ forças espirituais do m al” co ntra os quais Paulo
mais tarde nos conclam a a lutar ,18pois , sem dúvida, ain da n ão recon he-
ceram, de mo do def initivo, a vitó ria de Cris to. 19A expressão mais geral
que se segue, todo no me que se possa referir não s ó no presente s éculo,
mas também no vindouro (v. 21b), pode ser acrescentada a fim de tam-
bém incluir os anjos, bem como qualquer outro ser inteligente que se possa
conceber, sobre os quais Jesus reina com supremacia absoluta.
Qu e todas as coisas agora estão debaixo dos pés de Jesus é pro vavel -
mente tamb ém um a alusão a ou tra faceta do ensino b íblico. A dão, feito
à sem elhança de Deu s, receb eu o dom ínio sobre a terra e suas criaturas,
e não o perde u totalme nte qu and o caiu na desobediênc ia. Pelo contrári o,
o salmista, m editan do sobre o r egist ro da criação do hom em em Gênesi s
1, dirigese a Deus com as seguintes palavras: “Destelhe dom ínio sobre
as obras da tua mão, e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, to-
dos, e também os animais do campo; as aves do céu e os peixes do
mar..!’20Mesm o assim, o dom ínio d o hom em tem sido lim itado pela qu e-
da, e é corro mpido sempre que el e explora ou polui o ambiente, pois o ri-
ginalmente foi nom ead o pa ra ser o m ord om o res ponsá vel por el e. Desta
maneira, o pleno domínio que Deus pretendeu que o homem des frutas-
se, presentem ente é exercido apena s pelo hom em Cristo Jesus: “Ago ra, po-
rém, ainda não vemos todas as coisas a ele (isto é, ao homem) sujeitas,
vemos todavia.. . Jesus... coroado de glória e de honra ..!’21Jesus já d est ro-
nou a morte e um diâ este “último inimigo” será definitivamente
destr uído .22
c. Jesus Cristo como cabeça da igreja
Paulo ain da não acab ou de expl icar a exaltaçã o sober ana de Jesus. Escre-
veu sobre a re ssurreição de Jesus dentr e os morto s (v. 20) e sob re a entro
18 6:12; ver a discussão sobre a identidad e destes “ po deres ” .
19 1 Co 15:25; Hb 10:13. 20 Gn 1:27 —2:28 ; SI 8:6 — 8:.
21 Hb 2:5 —9 :. 22 H b2:1 4, 15; 1 Co 15:25—2:27.
36
efésios 1:15-23
nização acima de todo pri ncipad o (v. 21); agora, porém, passa a relatar
o significado de ste triu nfo dup lo para a igreja (v. 22). Esb oça esta ve rda-
de adicional com du as m agníficas ex pressões, sendo que am bas têm ca u-
sado muitos problemas aos com entaristas. A p rim eira é que Deus fe z Je -
sus “o cabeça sobre todas as coisas para a igreja, a qual é o seu corpo”
(vs.to2223a),
em e a segunda
das as coisa s (23b).éPaorfrase a pleneisitude
m ais difíc que daquele que a tud
estas cláusulas sejamo enche
, são
lão importantes que devemos dispender um pouco de tempo para
entendêlas.
A p rimeira fala de Je sus como cabeça, e lhe atribui uma soberania
que se estende sobre tod as as coisa s. “Tod as as coisas” são men cionada s
duas vezes no versículo 22, e, no contexto, abrange não somente o universo
material com o tam bém, e especial, todos os seres inteligentes, bons e maus,
angelicais e demon íacos, que o povoam. Cristo do mina sobre est e universo
e sobre estes seres. Visto que toda s as cois as foram postas debaixo de seus
pés por Deus, ele é então, o cabeça de todas as coisas. O “cabeça” e os
“pés”, o “sobre” e o “debaixo”, são obviamente complementares.
Mas Paulo vai além disso. Sua lição não é apenas que Deus fez de
Jesus cabeça sobre todas as coisas mas, sim, que o deu ( edõke) como
cabeça-sobre-todas-as-coi sas, à igreja, a qual é o se u cor po. Aquele, pois,
a quem Deus deu à igreja pa ra ser seu cabeça, já era cabeça do unive rso.
Logo, tanto o universo quanto a igreja têm em Jesus Cristo o mesmo
cabeça.
Outr a expres são enigmática, p ara cu ja tentativa de elucidação já se
gastaram rios de tinta de imp rensa é a últi ma: a plen itude daquele que a
tudo enche em todas as coisas. Todos os leitores de Efésios d evem ter con s-
ciência das três explicações alternativas principais destas palavras. No que
diz respeito à gramática e à linguagem, todas as três são possíveis, e to-
das as três têm seus defensores de distinção. A minha opção pela tercei-
ra, é po r razões de contexto e de ana log ia das Escr ituras, mais do q ue de
gramática e de vocabulário. O leitor, porém, deve chegar à sua própria
decisão.
A primeira explicação entende a frase como sendo uma descrição,
não da igreja (o corpo) mas, sim, de Cristo (o cabeça), isto é... a igreja,
a qual é o corpo daquele que é a plen itude daquele que a tudo enche e m
todas as coisas. Neste caso, P aulo está dizendo, nã o que a igrej a é a ple-
nitude de Cris to, m as que Cr isto é a plenitude de De us, o qual enche a C ris-
to assim como realmente enche todas as coisas. À primeira vista, esta é
uma in terpretação atraente. Ha rmo nizase no conte xto da supremacia d e
Cristo. Também
Deus “enche tem pe aralelos
os céus naseEscrituras,
a terra”22' pois dizse
em Colossenses nou tro
dizse que lugar que
a plenitu
22a Jr 23:24 ; cf. 1 Ts 8:27; SI 139:7.
37
UMA OR AÇÃO DE GRATIDÃO PELO CON HECIMENTO
23 1:19; 2:9.
48.ColossiansandPhilemon (Cambridge Unive rsity Press, 1957), pág. 168.
24 25 Caird, pág.
26 Hodge, pág . 88 . 27 Ef 4:10; Cl 1:16— 1:7. 28Mc6:43; cf. 8:20.
29 Mc 2:21; Mt 9:16. 30 1 Co 10:26. 31 Cl 1:19; 2:9.
38
efésios 1:15-23
39
UMA ORAÇÃO DE GRATIDÃO PELO CONHECIMENTO
40
efésios 1:15-23
tando estes dois quad ros em aposição, é na tura l esperar que os dois ilus-
trem pelo menos uma verdade semelhante, a saber: o governo de Cristo
sobre a sua igreja. A igreja é o seu corpo (ele a dirige); a igreja é sua ple
nitude (ele a enche). Além disso, os dois quad ros ensina m o du plo d om í-
nio de Cristo sobre o universo e sobre a igrej a. Se po r u m la do Deus deu
éCristo à igreja
enc hida p or com o cabeçasobretod
Cristo que tam bém encheasascoisas ( v. 22),
todas as coisas po23).
( v. r ouÉtroisto
a igreja
que
leva M arkus Barth a ir além e pro po r até mes mo u ma fusão das m etáfo-
ras. Ind ican do q ue as figuras do corpo e da plenitude vê m jun tas em Efé-
sios 4:1316 e em Colossenses 1:1819, bem como aqui, e que médicos
escritores, com o Hipó crates e Galeno, que viv eram apro xim adam ente no
tempo de Paulo, pensavam na cabeça ou no cérebro como sendo aquilo
que con trola e coo rdena as funções do corpo, assim o Dr. Ba rth resume
o entendimento de Paulo de que “a cabeça enche õ corpo com poderes
de movimen to e de perc epção, e as sim inspira o c orp o inteiro com a vida
e direção”.40
Conclusão
Já é hora de deixarmos as detalhadas questões com que tivemos de nos
envolver para considerarmos o alcance da oração de Pau lo a favor dos lei -
tores. Pa ra mim, um dos aspectos mais imp ressionantes é a ênfas e dad a
41
UMA ORAÇ ÃO DE GRATIDÃO PELO CONHECIMENTO
mente e pensam, mas de ixam pou co lugar par a a ilum inação do E spírito
Santo.
O apó stolo Paulo coloca as duas coi sas juntas. Primeiro ora que os
olhos dos seus leitores sejam abertos para o conhecimento do poder de
Deus. Depois, ensina qu e Deus já forneceu ev idência histórica do seu pod er
qu and o ressusci
objetivam ente emtou e exaltou
Jesus Cristo,aeJesus
agora. ilum
Po rtanto
ina, as
D eus rev mentes
nossas elou o sepelo
u pod
se eru
Espírito pa ra ente nderm os esta revel ação. Toda s as nossas cogitações são
imp rodutivas sem o Espírito d a verdade; mesm o assí.n, a ilum inação d a
parte dele n ão visa pouparnos do trabalho de usar a nossa mente. É pre-
cisamente quando meditamos sobre o que Deus tem feito em Cristo que
o Espírito abr irá os nossos olhos para compreend ermos suas i mplicações.
b. Con hecimen to e f é
Supõem alguns que a fé e a razão são inc ompatíve is. N ão é assim. As du as
nu nca estão em opos ição nas E scrituras, com o se tivéssemos que e scolher
um a dentre as duas. A fé vai alé m d a razão, mas baseiase ne la. O con he-
cimento é a escada atr avés da q ual a fé sobe mais al to, é o tram po lim de
onde pula mais longe.
Entã o, Paulo ora: “ pa ra sab erde s... qu al a supre ma grand eza do s eu
poder para com os que cremos... o qual exerceu ele em Cristo..!’ É vital
ver como Pau lo ju nta os verbo s “conhecer” e “crer ”. O mesmíssimo po -
der adanós.
vel ressPrim
urreieiro,
ção que Deus
devem osdem onstrou
conhecer emsu Cristo
a sua prem agora estázâ,
a grande disponí-
com o é
dem on strad a na ressurreição e na en tronizaç ão de Cristo e , depois , dev e-
mos tom ar posse del a experimental mente atra vés da fé . C ertamen te já so-
mos crentes . N oss a fé foi men cio na da nos versículos 1, 13 e 15. Mas a go -
ra o particípio presente pisteuontas (v. 19) enfatiz a a necessid ade de um
desenvol viment o co ntínuo da fé par a compreenderm os o pod er de Deus .
Assim sendo, o conhecim ento e a fé têm necessidade um do ou tro. A fé
não p ode cre scer sem um a base firme de conhec imen to e o conhecim en-
to é estéril se não produz a fé.
Qua nto sabemos acerca do p od er de Deu s, que ress uscitou Jesus den-
tre os m ortos e que lhe deu a vitóri a sobr e o mal? É verdade que o mes-
míssi mo poder de Deu s nos ress usci tou juntam ente com Jesus da m orte
espiritual, e nos entroniz ou com Jesus nos l ugares celestiais, conf orm e Pa u-
lo passará a m ostr ar em 2:1 10. Mas qu anto disto é teoria e qu an to é ex-
periência? Não é difícil pensar na nossa fraqueza humana: nossa língua
ou nosso gênio , nossa m alíci a, nossa cobi ça, no ssa concupiscênc ia, n os-
sos ciú mesade
sa capacid ou nosso orgulhE o.
de controle. Estas coi sas
precisamos sercertamen
humild estepar
estão além d a no
a reconhecer es s-
te
fato. “As palavras que o apó stolo empreg a aqu i são como m uitos trov ões
42
efésios 1:15-23
43
2:1-10
3. Ressurretos com Cristo
Muitas vez es me in dag o se as pessoas de bem e de reflexã o já se sentira m
mais perp lexas s obre3 situação do hom em do que nos dia s atuai s. N atu -
ralmente , c ada geração forçosamente tem visão ofuscad a dos seus pró -
prios problemas, porque está demasiadamente envolvida para fazer uma
anális e adequ ada. Mesmo assim, os meios d e comunicação nos capaci-
tam a entender a ext ensã o m undial da iniqüida de contem porânea, e é es-
ta que faz com que o cenário m odern o pareça tão escuro. É em parte a
escalada dos problemas econômicos (o c resc imento populacion al, a má
utilização dos recursos naturais, a inflação, o desemprego, a fome); em
parte o alastramento dos conflitos sociais (o racismo, o nacionalismo ex-
tremad o, a lu ta de classes, a desintegração d a vida fam iliar); e em parte
a ausência de orientação moral (o que leva à violência, à desonestidade
e à pro miscuidad e sexual). O hom em parece ser incap az de dirigir os se us
próprios negócios ou de criar uma sociedade ju sta, livre, hum anitária e
tranqüila. O próprio homem está fora dos eixos.
Dentro da realid ade somb ria do m und o atual, Efésios 2:1 10 destaca
se com marc an te relevâ ncia. J?auÍQ^primeiramente son da as pro fyn dez as
do pessimismo acerca do homem, e depois sobe às alturas do otimismo
acerca de Deus. É esta combinação do pessimismo com o otimismo, do
desespero com a fé , que se cons titu i no realism o revigorante da Bíblia. Por-
que o que Pa ulo faz nest a passagem é pin tar um contra ste vivi do entre o
que o homem é por natureza e^que pode vir a ser mediante a graça.
Ele vo s deu vida, estand o vós mo rtos nos vossos deli tos e pecados, 2nos
quais andastes outrora, se gun do o curso deste mun do, segun do o pr ínc i
pe da potesta de do ar, do espírito que agora atua nos filho s da desobe
diência; 3entre os qua is tam bém todo s nós and am os outr ora, s egu ndo as
incl inaç ões d a nossa ca rne, fa zen do a v ontade da carne e dos pensa men
tos; e éramo s po r natureza fi lh o s da ira, com o tam bém os demais. 4Mas
Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos
amou, 5e estando nós m orto s em no ssos delitos, nos deu vida ju nta m en
te com Cristo, —pela graça sois salvos, 6e juntamente com ele nos ressus
citou e nos fe z assentar nos lugar es celestiais em Cristo Jes us; 1pa ra m os
44
efésios 2:1-10
trar nos séculos vind ou ros a suprema riqueza da sua gr aça, em bon dad e
para conosco, em Cristo Jesus. 8Po rqu e pe la graç a sois sa lvos, media nte
a fé; e isto não vem de vós, é do m de D eu s;9não de ob ras, para qu e nin
guém se glo rie. l0Pois so m os feit ur a dele, criados em Cris to Jesus para
boas obras, as quai s D eu s de antem ão preparou para que andássemos
nelas.
É im porta nte colo car este parágra fo no seu contexto. Consideram os
anteriorm ente a oração de P aulo (1:15 23) no sentido de que os olhos in-
teriores dos se us le itore s fossem ilum inados pelo Espírito Santo a fim de
conhe cere m as c onseqüências d o ch ama mento de Deu s, a riqueza da h e-
rança que o s aguard a no céu e, acima de tudo, a suprema grandeza do p o-
der de Deus que já está disponível para eles. Deus deu uma dsmonstra
eção
aohistór ica su
exaltálo prema
sobre dest
todos osepoderes
po der aodoress
mal.uscMas
itardeu
Cristuma
o d demonstra-
e n ta os mortos
ção adicionai dele áo nos ressuscitar e exaltar juntamente com Cristo,
livrandonos, assim, d a escrav idão à morte e ao mal. Este parágrafo, po r-
tant o, realment e faz par te da o ração de Paulo para que e les ( e nós tam -
bém!) soubessem quão poderoso Deus realmente é. Suas primeiras pala-
vras enfatiza m este fato: “estando vós morto s..:’ Na frase e m grego não
há nenhum verbo que retrate a ação de Deus até o verículo 5 (“nos deu
vida jun tam en te com Cristo” ); nossas ve rsões o trazem par a o vers ículo
1 simples mente para aliviar o desaj eit àdo suspe nse d e es pera r tanto tem-
po por ele. De qualquer maneira, a seqüência do pensamento está clara:
“Jesus Cri sto estava morto, mas De us o ressuscitou e o exaltou. E vós tam-
bém estáveis mortos, mas Deus vos ressuscitou e exaltou com Cristo!’
1. O homem por natureza, ou a condição humana (vs.1-3)
Antes de olharmos detalhadamente esta descrição desalentadora da ra-
ça hu man a d istanc iada de De us, precis amos saber com cla reza que é um a
goroso de um lidad
ra, a persona atleta,e obrilha
utrante
, a de
mente
um alúcida
atri z de cinema.
um intelectual,
Devemos umdiazer
tercei-
que
tais pessoas , se Cristo nã o as salvou, estão mo rtas? Sim, de fa to, deve mos
dizer exatam ente is to, e o dizemos com segurança . Na esfer a que é de su-
prema im portância (que não é o corpo, nem a mente, nem a personalida-
de mas, sim, a alma), elas não têm vida. E podemos perceber o fato. Es-
tão cegas à glória de Jesus Cristo, e surdas à v oz do E spírito Santo. N ão
têm am or p or Deus, ne nhu ma consciênci a sensível da sua realidad e pes-
soal, nenhum impulso do seu espírito em direção a ele com exclamação,
“Aba, Pai”, nenhum anseio pela comunhão com o povo de Deus. Estão
1 Is 59:2.
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efésios 2:1-10
ção, a rejeição da verdade con hecida , e pen sam ento s malicio sos e vinga-
tivos. De fato, co nfor me a exposição de Paulo em Filipens es 3:3 -6, a carne
abrange to das as forma s de auto con fiança , até mesm o o orgulho dos an
tepassados, dos pais, d a raça, da relígíaõ”e da just iça. Sempre que o “eu”
levanta a sua te rrível cabeça contra Deus ou c õntra o hom em, eis aí a carne.
Conform e F. F. Bruce
mas respeitáveis cor retam
bem como nasente come nta,
atividades “pode do
infames manifestarse
pa gan ismo em do for-
sé-
culo I”.3E, por mais respeitável que seja a aparência externa (ou o disfar-
ce em público) que ele ado ta, o nosso eg ocentrismo inveter ado é um a es-
cravidão horrível.
Assim, pois, antes de Jesus Cristo nos libertar, estávamos sujeitos a
influências opressoras tanto internas como externas. Por fora estava o
mundo a (cultura secul ar pre valecente); po r den tro esta va a carne (nossa
natureza caída, profundamente ligada ao egocentrismo); e além desses
dois, o per and o ativamente atrav és des tas infl uências, havia aquele espí-
rito maligno, o diabo, o príncipe do reino das trevas, que nos mantinha
em cativeiro. N ão é que agora p ossamo s convenient emente trans ferir to -
da a culpa da nossa es cravi dão para o m undo, par a a carne e pa ra o d ia-
bo, sem aceitarmos pessoalm ente nenhuma responsabilidade. Pelo con-
trário, é significativo qu e, nest es versículos, “ vós” e “n ós” n ão são id en-
tificados com estas forças mas, sim, distinguidos delas, embora escravi-
zados por elas. Nós mesmos, no entanto, somos chamados d e filh o s da
desobediência (v. 2b),
nos tornado rebeldes, deou seja,consciente
modo “os súditose voluntário,
rebeldes decontra
Deus”.a Tínhamos
autori-
dade amorosa de Deus, e assim caímos sob o domínio de Satanás.
c. Estáva mo s condenados
Paulo ain da nã o term inou de descrever o nosso estado précris tão. Ele tem
mais um a verdade des agradável para nos co nta r acerca de nós mesmos.
Não somente estávamos mortos e escravizados, diz ele, mas também es-
távamos condenados: éramos p or natureza fil ho s da ira, com o tamb ém
os demais (v. 3b). N ão creio que h aja o ut ra expressão em Efésios que te-
nha provocad o mais reação hostil do que e sta. Alguns com entaristas fa -
zem poucas tentat ivas, ou m esmo nenhum a, p ara entend êla , e muito m e-
nos par a defend êla. Desconsideramna, até, com o sendo ins ustentável ho-
je. As causas dessa reação são três. Dizem respeito às palavras “ira”, “ fi-
lhos” e “ po r nature za”. Agora devemos considerar com cuidado o qu e Pau -
lo que r dizer com elas, e pro cu rar escla recer os malentendidos.
Primeiro, a ira de Deus . A ira de Deu s não é com o a do hom em. Não
é mau humor, co mo se ele pudesse perder as est ribeiras a q ualqu er m o-
3 Bruce, pág. 49.
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RESSURRETOS COM CRISTO
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efésios 2:1-10
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RESSURRETOS COM CRISTO
to, a morre r mas, s im, que “to dos pec aram ” em Adão e com ele. O A nt i-
go Test amento tem um forte sentido de soli dariedade d a raça hum ana. Fala
da geração se guinte com o estando j á “n os lom bos” da prese nte ge ração,
verdade e sta que, segundo se pode dizer, a genética mo derna sublinha. Pau -
lo es tá dizendo, poi s, que nã o po dem os fazer de Adã o o nosso b ode ex -
piatório
denação. N e culpálo porestamos
ós tam bém nosso pecado,
em Adãopor nossa
, pois podculpa e p orcom
e ser dito nossa
veracon-
ci-
dade que nele e com ele incorremos n a cu lpa e morrem os. Não é neste se n-
tido que pod em os ser descritos com o sendo p or natureza pecadores e su-
jeitos ao justo julgamento de Deus? A grande m aioria dos teólogos pro-
testantes sempre tem desejado (ao menos têm tentado) acrescentar que
acreditam q ue a graça de Deus e a expiação fei ta po r Cristo cobrem os anos
da in fância antes da idade d a responsabil idade, e aqu eles que estão den-
tro da trad ição refo rm ada têm dad o atenção à evidê ncia de que os fi lhos
com pai s crist ãos nasceram dentro d a aliança .7M as mesmo es tas qu ali-
ficações não alte ram os fat os do nosso pecado e da n ossa culpa herd ada,
ou do julga mento que mere cemos.
A m orte, a escravidão e a con denaç ão: estes são os t rês conceitos que
Paulo jun ta pa ra retratar nossa condiç ão hu m ana perdi da. É p or demai s
pessimista? Bem, devemos concordar (como ele teria feito) que esta não
é a verda de total acerca da raça hu mana. Nad a diz aqui acer ca da “ im a-
gem de Deus”, em que os seres humanos foram srcinalmente criados e
que
mente—cre
agora las timavel
ia nela mente
e fale da danredenção
n ossa ificada em
—term
aind a os
ret de
êm,um
ema bora
novacecria-
rta-
ção na imagem de Deus (v. 10 e 4:24). N ad a diz, tam po uco , dos d ifere n-
tes graus da depravação hum ana, embora tamb ém os tivesse aceito. A d ou -
trina bíblica da depravação total não significa então que todos os seres
hum anos estão igualm ente d epravado s, nem q ue ninguém é capaz de pra-
ticar qualq uer bem, mas, s im, que nenhu ma parte de qualq uer pessoa hu -
m an a (a mente , as emoções, a consciênci a, a vontade, etc.) perm aneceu
sem ser m aculad a pela queda. Mesmo assi m, a desp eito desta qualifica-
ção, que afirm a a continuad a dignid ade do homem por causa da image m
divina que não foi totalme nte perdida, o diagnóstico de Paulo pe rm ane -
ce válido. Fo ra de Cristo o hom em está mor to p or causa dos delitos e pe-
cados, escraviza do pelo m undo , pela carne e pelo diabo, e co nd en ado sob
a ira de Deus.
É po r não rec onh ecerem a gra vid ade da condição h um ana que tan -
tas pessoas buscam soluç ões com remédios super ficiais. A educação u ni-
versal é alta mente desejável. Assim tam bém são as leis justas ad minis trad as
com retidão. Ambas agradam a Deus que é o Criador e o justo Juiz de
7 Cf. 1 Co 7: 14.
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efésios 2:1-10
toda a humanidade. Mas nem a educação nem a legis lação podem salvar
os seres humanos da morte, do cativeiro ou da condenação espirituais.
Uma doen ça séria exige um r em édio sério. É evidente que is to não quer
dizer que nos de sintere ssar emos de um a educação melhor ou de um a so-
ciedade mais justa. Mas acrescentaremo s a estas coisas um a nova dimensão
que os nãlização.
a evange ocristãos nãopois
Deus, p odem co mun
, co nfio preender
os um ca .men
por sagem
iss o, não valorizam;
de bo as nova s
que oferece vida aos mortos, libertação aos cativos e perdão aos,
condenados.
2. O homem pela graça, ou a compaixão divina (4-10)
O versículo começa com uma conjunção adversativa. Mas Deus... E es-
tas duas palavra s contrapõem à condição desesperadora da hum anidad e
caída a iniciativa graciosa e a ação soberana de Deus. Éramos o objeto
da sua ira, mas Deus... p or causa do gra nde am or com que no s am ou te-
ve misericórdia de nós. Nós estávam os mo rtos, e os mo rtos nãqjsç ressus-
citam, mas Deus nos vivificou com Cristo. Éram os escravos, num a situ a-
ção de deson ra e incapacidade , ma s Deu s nos ressuscitou juntam ente com
Crist o e nos colo cou à sua próp ria mão direita , n um a posição de honra
c poder. Deus entã o agiu para inverter a nossa con dição no pecado. É es-
sencial manter unidas as duas partes deste contraste, ou seja: o que soa-
mos po r natu reza e o que som os pela graça , a condiçã o hu mana e a com
paixão
crit divina,
icados a ira de Deus
po r ficarem e o amente
m orbidam or d.c Deus.pados
preocu Os cristãos,
com o sepor vezes, são
u pecado e
com a sua c ulpa . A crítica não é justa q uan do estamos enfren tando fa-
tos acerca d e nós mesmo s (pois nun ca deixa de ser saudável enc arar fra n-
camente a r eali dade), mas som ente quan do deixamos de avanç ar pa ra a
glória que há na misericórdia e na graça de Deus.
Ag ora precisa mos in dag ar exatamente o que Deu s fez, e também por
que o fez.
N a realidade, ele u sa três verbos, que retomam o que Deus fez com
Cristo e , depois (pelo acréscimo do prefix o syn, “juntam ente com”), nos
ligam a Cr isto nestes eventos. Prim eiro, Deus nos deu vida juntamente com
Cristo (v. 5), depois ju n ta m e n te com ele nos ressuscitou (v. 6a) e, em ter-
ceiro lugar, nos fe z assent ar nos lugares cel estiais em Cris to Jesu s (v. 6b).
Estes verbos (“deu vida”, “ressuscitou” e “fez assentar”) referemse aos
,três eventos históricos sucessivos na carreira salvífica de Jesus, que nor-
ma lme nte são cham ado s de a res surrei ção, a ascensão e a exaltação. De-
claramos a nossa crença neles quando recitamos o Credo: “Ressuscitou
ao terceiro dia, subiu ao céu, e está sentadjxàjnão direita de Deus Pai”.
O que nos deixa atônitos, nó entanto, é que agora Paulo não está escre-
vendo a respe ito de Cristo, mas, sim, a respeito de nós. Está a firm and o,
não que D eus vivi ficou, ressuscit ou e exa ltou a Cristo, mas, sim, a ue nos
vivificou. nos ressuscitou e nos, exaltou com Cristo..
Este concei to da união entre o p ovo de Deus e Cristo é fundam ental
para o cristianismo do Novo Testamento. O que então constitui o aspec-
to distintivo dos membros da nova sociedade de Deus? Não apenas que
admirem e até mesmo a dor em a Jesus, ou qu e aceitem as dou trina s da igre -
ja, ou até mesmo que vivam dentro de certos padrões morais. Não! O que
os torn a disti ntiv o é a sua nova s olidariedade como um p o v o que está em
Cristol Em virtude da sua união com Cris to, real mente com partilharam
da sua ressurreição, ascensão e exaltação. Nos lugares celestiais, o m un-
do invi sível da rea lidade espiritual, em que os princ ipado s e as postest a
des operam (3:10; 6 : 12)e em que Cristo rein a suprem o (1:20 ), é que Deus
abençoo u o seu povo em C risto (1:3 ), e é ond e ele os fez assentar com Cris-
to (2:6). Se, pois, estamos assentados com Cristo nosJugares celestiais,
não pode haver dúvida sobre o que estamos sentado# em trõnps|>Além
disso, esta conversa da nossa identificação com Cristo na sua ressurrei-
ção e exaltação n ão é um item de misticismo c ristã o sem sentido. É o tes-
tem unho a um a expe riência viva, de que Cristo no s deu, p or um lado, um a
vida nova
por ele (comseu
e pelo um povo)
a consciência s ensível
e, por outro, um da re alidade
a vida de Deus
de vitória e um
(com am or
o mal ca-
da vez mais debaixo dos nossos p és). Estávam os morto s, mas lomos to r-
nados espiritu alm ente vi vos e alertas. Estávam os no cativ eiro, m as fom os
entronizados.
(Q_Por que D eus o f e z )
Paulo va i além de um a descriç ão da aç ão salvadora de Deu s; faznos com -
preender a sua motivação. Na realidade, a ênfase principal deste parágrafo
é que o que lev ou Deus a agir em nosso favor não foi algo em nós (algum
suposto mérito) mas, sim, algo nele mesmo (seu próprio favor que não
mere cíam os). Pa ulo reúne qu atro p alavras pa ra expressar a s srcens da
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efésios 2:1-10
Para reforça r esta declaraç ão p ositi va de que fom os salvos som ente
pela graça de Deus por meio da confiança errpCristo, Paulo acrescenta duas
negações que se equilibram : a pri meira é ^ istmnão vem de vó s, é do m de
Deus (v. 8b), a segunda é não de obras, para que ningué m se glorie. Al-
guns com entaristas t êm tom ado a palavra “isto” na prim eira negat iva co-
mo sendo uma referência à fé (i. é, “sois salvos mediante a fé, e até mes-
mo esta fé pela qual foste s salvos é dom de De us” ). Teologicament e, esta
é a verdade. Nunca devemos pensar na salvação como sendo um tipo de
transa ção entre Deu s e nós, ond e ele con tribu i com a graça e nós co nt ri-
buím os com a fé. Estávam os m ortos, e teríamos que ser vivificados p ara
poderm os crer. Não, os apóstolos claramente ensinam noutro lugar que
a fé salvadora também é dom gracioso de Deus.8Mesmo assim, Paulo
não está afirm and o este fat o aqui, po rque “isto” (touto) é neutro, a o passo
que “fé”rese
to” refe é umàsubstantivo
totalid ade feminino. Devemos,“pela
da frase anterior: portanto,
graçaentender
de Deusque
soi“is-
s pes-
soas que foram salvas mediante a fé, e a totalidade deste evento e desta
experiência é... o dom gratuito de Deus para vós”. Não se trata da vossa
realização ( isto não ve m d e vós) nem como recompensa por qu aisquer dos
vossos atos de reli gião ou de car idad e ( não de obras). Não havendo, en-
tão, lugar para o mér ito hum ano, também não h á luga r para a arrog ân-
cia hu mana. A salvação é dom de Deus, para que ninguém se glorie. Os
cristãos não se sentem bem com o orgulho, pois entendern a sua incon-
gruência. Não podemos empertigarnos no céu como pavões. O céu es-
tará cheio das façan has de Cristo e dos louvores de D eus. Realmente h a-
verá um a dem onstração no céu . N ão um a dem onstração de nós mes mos,
mas, sim, uma dem onstração d a inc omparável riqueza da graça, da m i-
sericórdia e da bondade de Deus por meio de Jesus Cristo.
Poderíamo s im aginar que Pau lo já ensinou sua liç ão e está pron to
para passar para outro tópico. Mas não, está decidido a não deixar o te-
ma até que o tenha expos to além de qualq uer poss ível malent endido. A s-
sim, acrescen
Pois so mos feitatu mais um criados
ra dele, a af irmem
aç ãoCristo
positiva,
Jesusdecisiva e glo
para boas riosaas(v.quais
ob ras, 10):
Deus de antemão preparou para que andássemos nelas. A pri meira pala -
vra na frase, na posi ção de ênfase, é autou, “dele”. Pau lo já decla rara que
a salvação não é nossa realização. Agora, não apenas declara o oposto,
ou seja, que é r ealização de Deus, mas va i além. Deixa pa ra trás qu alqu er
idéia de salvaç ão com o algo isolado, fora e à par te de nós mesmos. Está
preocupado conosco, com seres humanos vivos que estávamos mortos. O
que somos agora? Somos feitura de Deus ( poieêm a. “sua obra de arte,
sua obraprim a)9CA7fl<jas’ (ktisthentes) em Cristo Jesus. As duas palavras
8 P. ex. At 18:27; Fp 1:29. 9 Bruce, pág. 52.
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efésios 2:1-10
gregas falam de criação. Até esta altu ra, Paulo j á descreveu a salvação em
termos de um a ressur reiçã o dentre os mortos, um a libertação da escr avi-
dão e um salvamento da condenação. E cada uma destas descrições de-
clara que a obra é d e Deus , p orqu e os mo rtos não podem ressusci tar a s i
mesmos, nem as pessoas presas e con den adas p odem liber tar a si mesmas.
Mas agoraé expl
salvação a criaçana
ão,aaquestão sem deixar
nova criação a m ínimad sombra
. E a linguagem a criaçãode dúvicontra
é um da. A
senso a não ser que haja um Criador; a autocriação é uma contradição
patente de termos. “Vedes, pois”, escreve Calvino, “que esta palavra ‘criar’
é sufici ente par a calar a bo ca e remover o cacarejar de tod os que sé van-
gloriam de possuir qu alquer mérito. Pois qu and o assim fal am, presumem
que fora m seus pró pio s cria do res .” 10
Não é que permanecemos passivos e inertes. Alguns críticos têm pen-
sado assi m e sunõem au £aji oiitrina_ de Paulo da salva ção pela graca so-
mente nos enc oraj a a viver no pecado . »j5stão inteiram ente e ngana3 ^7Ã s
boas obras sãoTnHíspensáveis para a salvação — não cõmõ sua base ou
meio, mas, sim, como sua conseqüência e evidência. Não somos salvos
por causa de obras {vs. 89)~mas, sim , som os criado s em Cristo Jesus para
boas obras (v. 10), boas obras estas que Deus de antemão preparou, se-
gundo o seu desígnio, num a eternidade pas sada e par a as quais nos criou ,
a fim de que continuadamente andásse mos nelas.
Assi m term ina o parágrafo como começou, com o nosso andar hu-
man o, u ma expres
Antigamente são idiom
andávamos em ática
delit hebr
os epeaica para
cado a nossa
s nos quais m aneiranode svpren-
o diabo iver.
dera; agor a andam os nas boa s obras, conform e Deus eternamente plane-
jou que fizéssemos. O contraste é completo. É um contraste entre dois es-
tilos de vida (o mau e o bom) e, por trás deles, dois senhores (o diabo e
Deus). O qu e poder ia ter ocasionado semelhant e mudança ? Somente uma
nova criação pela graça e pelo poder de Deus. As expressõeschaves do
parágrafo são, decerto, M as Deus (v. 4) epela graça (vs. 5, 8).
Paulo n ão n utria ilusões a re speito da degradação d a raça hum ana.
Recus ouse a passar u ma dem ão de cal na situação, pois iss o po de ria le-
var a prop ostas de soluçõe s superficiais d e sua part e. P elo contrário, co-
meçou est e parágrafo com um retrato fie l do hom em na sua sujeição a tr ês
poderes terríveis: o pecado, a morte e a ira. Porém, recusouse a cair em
desespe ro por que acredita va em Deu s. É verdade que a única esperança
para os mortos aohase num a ressurreição. Mas, afinal, o Deus vivo é o
Deus da ressurreição. Mais ain da, ele é o Deus da criação. As dua s m etá -
foras indicam a necessidade ind ispensável da graça divina. A re ssurrei-
ção, pois, é da
significado dentre os mortos, e a criação é do nada. Este é o verdadeiro
salvação.
10 Calvino, pág. 162.
57
II. Uma Nova
EfésiosSociedade
2:11 — 3:21
2:11-22
4. Uma nova humanidade
“Alienação” é uma palavra popular na cultura contemporânea. Muitas
pessoas, especialmente jovens no assim chamado “m undo desenvolvido”,
estão desiludidas com “o sistema”; são adversárias da “tecnocracia”, hostis
ao sistema e se apresen tam co mo sendo “aliena das ”. Algum as dess as pes-
soas traba lham em favo r de reformas, o utras conspiram par a fazer r evo-
luções, e outras se isolam. Não se ajustam de maneira alguma ao status
quo prevalecente.
Foi Karl M arx quem p op ula rizo u a palavra, sendo que e le mesmo a
tirou
ção dod opro
teólogo alemão,
letariado em tLudwig Fe aluerbac
ermos de ienaçãoh. econômica
Marx entendia
. C aada
triste
trabsitua-
alh a-
do r coloca na su a habilidade técnica um a parte de si mesmo. Q ua ndo seu
em prega dor en tão vende o pro duto , ele é culpado, pelo menos em parte,
de alienar o trabalhador de si mesmo. Esta, segundo Marx, é a base da
luta de classes.
Hoje em dia, a palavra é usa da mais generali zadamente com respe i-
to à alienação do trabalhad or, não apen as de sua reali zação co m a dev i-
da recom pensa, m as també m do exe rcício do poder, especialmente na t o-
mada de decisões. Noutras palavras, o termo ficou sendo mais político
do que econômic o. A “alienação” é um pou co de desgosto com o que exi s-
te, e também um senso de incapacidade para mudálo. Este é um senti-
me nto gen eralizado no s países dem ocráticos do ocidente , e os cristãos se-
riam insensatos se não o levassem em conta.
Muito tempo antes de Feuerba ch e Marx, n o entanto, a Bíblia fala-
va da a lienação hum ana. Descreve duas o utras aliena ções , m ais pro fun -
das do que a alienação política e a econômica. Uma delas é a alienação
de
çãoDeu s, nosso
a nosso próxiCriad
mo. or,
Nade aa éoumais
tra alienação
desum anoé do
a deque
nósesmesmos emno
te colapso rela-
re-
lacionam ento fun dam ental entre os homens. É então que no s tornam os
efésios 2:11-22
estranhos nu m mund o em que deve ríamos sent irnos à vont ade, e fica mos
sendo estrangeiros ao invés de cidadãos.
A ca rta aos Efésios re ferese a essas duas f orm as de alienação. Real-
mente, Pau lo em prega a palavr a com re lação às dua s condições. O verbo
grego é apallotrioò e significa “desafeiçoar”, “excluir”, ou “alienar”. No
Novo Testamento ocorre somente nestes dois versículos de Efésios, ju n -
tamente com o paralelo a um deles em Colossenses:
Ora, esta dup la alienaçã o, ou m elhor , sua sub stituição pela reconci-
liação, é o tem a de Efésios 2 . N a prim eira m etad e do ca pítu lo (vs. 110)
os seres humanos são retratados como estando alienados de Deus. O verbo
não chega a ser usa do ali com o o é em 4:18, m as é isto se m dú vid a o que
signi fica qu and o os hom ens são retratado s como estan do “ mortos nos. ..
delitos e pecados” e “por natureza filhos da ira” (vs. 1, 3). No capítulo
anterior, já consideramos o significado destas frases.
Na segunda metade de Efésios 2 (vs. 1122), que é o nosso texto no
presente capítulo, os seres humanos são retratados como estando aliena-
dos uns dos outros. Em especial, os gentios são descritos como estando
“separado s da com unidad e de Israel” (v. 12). É qu ase imposs ível par a nós,
perto do fim do século XX, imaginarmonos de volta àqueles dias em que
a hum anidad e era profundam ente dividida ent re judeus e gen tios. A Bí-
blia começa com uma declaração clara d a unidade da raça hum ana. De-
pois da queda, no entanto, e depois do dilúvio, segue a história das ori-
gens da divisão e separação humana. Pode parecer que o próprio Deus
contri buiu p ara esse processo qu ando escolheu Is rael dentre as nações para
ser o seu povo santo ou “separado”. Devemos, no entanto, lembrar que,
ao chamar Abraão, Deus prometeu, através da posteridade de Abraão,
abe nçoa
esta r todas
naç ão as famílias
se torna da ra
sse luz pa teras
ra nações.1A
e que, ao escolher Israe
trag édia l, prIsrae
é que etendl se
ia que
es-
queceu da su a vocação , inter pre tou mal o se u privilé gio, achan dose o fa-
vorito de Deus , e acab ou desprezando, e até mesm o detestan do os pagãos,
tratan do os com o “cac ho rros ”. William Bar clay nos ajud a a sentir a a lie-
nação entr e as duas c omun idades, e a hostilidade profund am ente ar rai-
gada entre elas, especialmente do lado judaico. Ele escreve:
59
UMA NOV A HUM ANIDADE
inferno. Deus, diziam ele s, am a som ente a Isr ael dentre tod as as nações
que fez... Não era nem sequer lícito prestar ajuda a uma mãe gentia na
sua nece ssidade mais urge nte, p orqu e isto seri a apenas traz er ou tro g en-
tio para o mundo. Até a vinda de Cristo, os gentios eram um objeto de
desprezo para os judeus. A barreira entre eles era total. Se um rapaz ju-
deu s e casasse com um a m oça gentia, ou um a m oça jud ia se casasse com
um rap az ge ntio, era realiza do o enterr o simból ico da m oça ou do rapaz
judeu. Sem elhante contato com um gentio era equivalente à morte.” 2
De sta dup la alien ação ge ntia — de Deus e de Israe l, povo de Deus
— a assim chamada “parede de separação” (v. 14) era o símbolo perm a-
nente. Era um aspect o notá vel do magnífico templo edificado em Je ru -
salém po r Herodes, o Grande. O prédio do tem plo pro priam ente dito era
cons truído sobre um a pla taf orm a elevada. Ao redo r dele havia o pát io dos
sace rdote
lheres. s. Atrês
Estes leste havia
pátios o páostio
para de Israe lpara
sacerdotes, e, mais além, eopara
os leigos pátioas das
mu-m u-
lheres de Is rael, respectivamente — est avam todo s no mes mo nível do tem -
plo. Deste nível desciase por cinco degraus a uma plataform a murada,
no outro lad o do muro, havia um a desci da de mais de quatorze graus pa-
ra um a parede do o utro lado da qual est ava o pátio externo, ou o pátio
dos gent ios. E ste era um pátio espaç oso localizado ao redor do templo
e dos seus pátios internos . De qualq uer parte dele os gentio s pod iam olhar
para cima e ver o templo, mas não tin ham licença de aproximarse dele.
Eram imp edidos pela parede que o cercava, um a barreira de pedra de um
metro e meio de altura, na q ual estava m af ixadas, em int ervalos regula
res, notificações de adve rtência em gre go e em latim. A advertên cia nã o
era “os transgressores serão pun idos pela lei ” mas, sim, “os que ult rap as -
sarem a barreira serão mortos”.
O famoso h istoriad or jud aico Josefo de screve esta barreira nas sua s
duas obr as. Em Antigüidades escreve que o tem plo era “cercado p or um a
parede de pedra para form ar uma divisão, com um a inscrição que proi-
bia qualquer
deus, estrangeiro
é um pouco entrar sob
mais explícito. pena
Havia, de morte”.3Em
escreve Guerrasfeita
ele, “uma divisão dos J u
de pedra, inteiram ente ao redor, cuja altu ra era de três côvados. Su a cons-
truç ão era mu ito elega nte; sobre el a havia pil ares a distâncias iguais , d e-
claran do a lei da pureza, alguns com letras g regas, outro s com letras ro -
manas, alertando que “nenhum estrangeiro entrasse naquele santuário”.4
Durante os últimos cem anos, du as das notificações g regas foram des-
cobertas, uma em 1871 e outra em 1935. A primeira, à mostra no museu
de Ist ambu l, é um a tábu a de calcá rio branco, com a largura de quase um
metro . Seu texto é precisamente o se guinte: “Ne nhu m estrangeiro pod e-
2 Ba rcla y, pág . 125. 3 Antigüidades, X V11. .5 4 Guerras dos Jude us, V. 5. 2.
60
efésios 2:11 - 22
rá passar além da barreira e do recint o ao redor d o temp lo. Quem for acha -
do assim fazendo terá que c ulpar a si mesmo pela s ua m orte qu e se seguirá!’
Paulo conhecia bem o fato p or experiê ncia própr ia. Cerca de três anos an -
tes ele mes mo quase foi l inchado po r um a tur ba juda ica furiosa que pen-
sou ter el e levado um gen tio consigo par a d entro do templo, e é interes-
sante que este era um efésio, com nome de Trófimo.5
Esta, pois , é a situação histórica, social e cultura l de Efésios 2 . E m -
bora todos os seres humanos estivessem alienados de Deus p or causa do
pecado, os gentios também estavam alienados do povo de Deus. E pior
até mesmo do que esta dupla alienação (da qu al a parede do templo era
um símbol o) er a a “inimizade ” ou “hostilidade” ( echthra) ativa em que
ela irrom pia continu am ente — a inimizade ent re o hom em e Deu s, e a ini-
mizade entre os gentios e os judeus.
O grande tem a de Efés ios 2 é que Jesus C risto de struiu as du as ini -
miza des. A mbas estão m encionadas na segund a metade do capítul o, em -
bora na ordem inversa:
Lado a lado com a destru ição dessa s duas inimizade s, Jesus conse-
guiu criar , de fato, uma nova s ocie dade , u ma nova hum anidad e, em que
a aliena ção cedeu lugar à reconci liaçã o, e a hos tilidad e à paz. E esta no -
va união humana em Cristo é o penhor e uma antevisão daquela união
final sob a soberania de Cristo, que Paulo já predissera em 1:10.
Depois des ta introduçã o, que diz respei to ao seu pano de fund o e te-
ma, estamos prontos para estudar o texto propriamente dito:
61
UMA NOVA HUMANIDADE
(vs. 1922).
1. O retrato de uma humanidade alienada, ou o que éramos outrora (vs.
1 1 - 12)
Nos versículos 13, Paulo retratou a totalidade da raça hum ana (judeus
e gen tios igu alm ente ) no p eca do e na morte . A qui, nos versículos 11 e 12,
referese particularmente ao mundo gentio ou pagão antes de Cristo, àque-
les aos quais os jud eus (a circuncisão) chamavam, com desprezo, de in-
circuncisão. A circunci são naturalmen te fo i dad a po r Deus a Abraã o co-
mo o sinal ext erior dos membros do seu pov o da aliança. Mas tan to o ri-
to físico quan to a palavra tinham chegado a assumir um a im portância e xa
62
efésios 2:11-22
gerada. Os gentios e os jud eus se chama vam com umente com nomes ofe n-
sivos. Pau lo en fatiza est e fato aqui. Os gentios eram chamados de “a in
circuncis ão” p or aqueles que se intitulam “circuncisos, na carne, po r mãos
humanas”. É como se Paulo declarasse a insignificância de nomes e eti-
quetas , em com paraç ão com a realidade p or trás del es, e dan do a enten-
der que, po r trás “daquilo que é chamado a circuncisão que é feita na carne
por mãos humanas” há outro tipo, uma circuncisão do coração, espiri-
tual e não física, que era necessári a tanto aos judeu s como aos gent ios,
e disponível a todos eles.6
No versículo 12, ele deixa a questão das ofensas trocadas entre ju -
deus e gentios , e passa pa ra a realidade séria da alienação gentia. Em Ro-
manos, relacionou os pr ivilé gios judaic os (9 :35); aqui, apresen ta as in
capacitações gentias. Primeiro, estavam sem Cristo. A expressão é tanto
mais trágica
pirituais por que
de estar em no capítulo
Cristo, 1 eleeira
e na prim desdpaobra ra ascapítulo
rte do grandes2 bênçãos
explic oues-
co-
mo Deus nos deu vida, no s ressuscitou e nos fez ass enta r com Cristo. Mas
naquele tempo, isto é, dur an te tod o o per íodo antes de Cristo, os gentios
não estavam em Cristo nem com Cristo mas, sim, separados de Cristo,
nem sequer tinham a expectativa de um Messias vindouro.
A seg unda e a terceir a incap acitação dos gentios eram m uito seme-
lhantes entre si. Eram tanto separ ados da com unid ad e de Isra el quanto
estranhos às aliança s da promessa (a refer ência é prov avelmente à promessa
funda me ntal feita por Deus a Abraão). Israel era um a comunidade ou na-
ção debaixo de Deus, uma teocracia, e um povo da aliança ao qual o Se-
nhor se obrigara por um juramento solene. Assim, Deus vincularase a
esse povo, e reinava sobre e le. Os gentios, n o entanto, eram excluídos dessa
aliança e desse reino.
A q ua rta e quinta incapacitação dos ge ntios sã o declarad as de m o-
do rígido: não tendo e sperança, e sem D eus no m un do. Estavam sem es-
perança, porque, em bora Deus planejasse incluílos um dia, e assim pro-
metera,
los. e les nãosem
E estavam o sabiam
Deus e, portan) porque,
(atheoi to, não tin
emham
boraesperança paralara
Deus se reve sustentá
a tod a
a humanidade na natureza e, portanto, não a deixava sem um testemu-
nho, mesmo assim os gentios suprimiam a verdade que conheciam e
voltavamse à idolatria.7Não era exagero, portanto, descrever o mundo
antigo nãojudaico como sendo sem esperança e sem Deus . A er a de ou-
ro dos g regos já se passara; não tinham nenhum futuro prom issor para
esperar. Além disso, os deuses da Grécia e de Ro ma deixaram to talm en te
de satisfazer a fome dos corações hum anos. As pessoas eram atheoi, não
no sentido de que descriam (pelo contrário, tinham deuses em excesso),
6 Cf. Rm 2:2 829 ; Fp 3:3; Cl 2:1 11 3. 7 Ver At 14:15ss.; 17:22ss.; Rm l:18 ss.
63
UMA NOVA HUMANIDADE
mas, sim , no sent ido de que não tinha m qualqu er conhecim ento verda-
deiro de Deus tal qual ele dera a Israel,8e (por causa da rejeição do co-
nhecimento que tinham) nenhuma comunhão pessoal com ele.
Esta era, entã o, a te rrível situação do antigo m un do gen tio antes de
Cris to. E ra separ ado do Messias, d a teocracia e da a liança, d a esperança
e“sem
do pró prio sem
Cristo, Deus.estado,
N o resumo de William
sem amigos, sem H enriks en
esperança os genti
e sem os esta vam
Deus”.9Nu-
ma frase única de Paulo, estavam longe (13), aliena do s de Deus e do p o-
vo de Deus.
Nós mesmos, em nossos dias, antes de sermos cristãos, é necessário
acrescentar, estávamos exatamente nessa mesma situação desalentadora.
Estávamos alienados de Deus e do seu povo. Pior, havia em nosso cora-
ção a inimizade à qual Pa ulo se refere mais tarde, de m odo que nos rebe-
lávamos contra a a utorida de de Deus e conhecía mos p ouco o u n ad a acerca
da ver dadei ra comunidade hu mana. A situação não é a mesma no m un -
do atua l sem Crist o? Os homens ain da edificam muros de separação e di-
visão como o terrível muro de Berlim, e levantam cortinas invisíveis de
ferro ou de bambu, ou constroem barreiras de raça, de cor, de casta, de
tribo ou de c lasse. A tendência par a a discrim inação é um a característica
constante de tod a com unida de sem Crist o. Nós m esmos ti vemos ex periên-
cia dela. A gora, o apó stolo diz: Portanto, lembrai-vos (v. 11). Há algumas
coisas que as Escrituras nos mandam esquecer (tais como as injúrias de
outras pess ados
mos orden oas contra
a nos nós
lemb).rar
H á, porém,
e não umer
esquec a coi sa em
nunca. É particular queaso-
o que éramos n-
tes do am or de Deus se estender p ara baixo e nos alcançar. P ois somente
se nos lem brarmos d a nossa an tiga alienação (p or mais desagrad ável qu e
ela seja pa ra nós), poderem os nos lembrar , da grand eza da g raça que nos
perdoou e que está nos transform ando.
2. O retrato do Cristo que faz a paz, ou o que Jesus Cristo fez (v s. 13-1 8)
O paral elo en tre duas seções de Efésios 2 é óbvio. P rim eiro vem, em em
bos os casos, uma descrição da vida sem Cristo: mortos (vs. 13) e alie
nados (vs. 1112). Seguese, também em ambos os casos, os grandes ad
versativos: M as Deus (v. 4) e Mas agora (v. 13). A distinção principal é
que na segun da seçã o P aulo r essalta a e xperiência ge ntia. D uas vezes em -
prega o pronome enfático vós (hymeis ): “Lembrai vos de que ou tro ra vós...
estáveis separados... M as ago ra em C risto Jesus, vós... fostes aproximados!’
Esta, pois, em essência, é a diferença que Cristo fez: vós, que antes
estáveis lon ge, fos te s aproxim ados pelo sangue d e Cristo. Semelhante li n-
guagem em termos de distância (“longe ” e “ próximo”) não era incom um
8 Sl 147:20. 9 Hendrikse n, pág. 129.
64
efésios 2:11-22
65
UMA NOVA HUMANIDADE
mas, sim, espiritual (pela redenção por Cristo, que envolve a união entre
os judeus e os gentios, entre o homem e Deus e, finalmente, entre o céu
e a terra). A açã o inte gra do ra de Deus apare ce em três níveis: o prim eiro,
da mente; o segundo, da força; e o terceiro, do reino de Deus.
O apó stol o p assa a des envolver a descriç ão da o bra de Cristo, em ter-
mosé do
ele quesaele
a nos fezoequal
paz, de como
de ameleboosfez.
fe z O
um;que
e, ele fez derrubado
tendo Porque
está claro: a parede
da separ ação q ue estava no meio... (v. 14).Ele (autos ) é fortem ente enfá -
tico. É ele, C risto Jesus, que de rra mou o seu sangue n a cruz e que se ofe-
rece ao se u povo ho je pa ra ser uni do com ele ; é ele quem , p elo qu e fez no
passado e que agora oferece, é a nossa pa z, ou seja, é o pacific ado r entre
nós e Deus. O ambos de quem fe z um parece claramente significar os ju -
deus e os gentios , m as a reconciliação era mais am pla do que aqu ela po r-
que, confo rm e vimo s anteriormente, a pare de da separ ação qu e estava no
meio, que ele de rru bo u, simboliz ava a aliena ção gentia de Deus e nã o so-
mente de Israel.
Esta proclam ação que Paulo faz da de rru bad a da pare de por Jesus
Cristo é extremam ente notá vel. F aland o de mo do literal e históri co, a pa -
rede não foi der rub ada até as legiões romanas entrarem em Jerusalém, em
70 d.C. Portanto ainda estava em pé, ainda cercava o templo, enquanto
Paulo escr evia esta carta. M as em bo ra permanecesse materialm ente, es-
piritualmente já fora destruída em 30 d.C., aproximadamente, quando Je-
sus morre
estava em upé:
namas
cruz.jáCestava
onf ormanetiqu
a expressão de Arm
ad a, obsoleta, deitage
da taRobinson: “Aind
venci da, no quea
dizia respei to ao significado espiritual. O sinal ain da esta va lá: m as o que
significava, isso for a der ru bad o!’14
Voltamonos agora à ques tão de como Cristo o fez . O que fe z qua n-
do m orreu n a cruz, pa ra af asta r a inimizade entre o s jude us e os gent ios,
entre o homem e Deus? A resposta é dada nos versículos 15 e 16. Estão
carregados de teologia, e precisam ser esclarecidos.
Talvez a me lhor m anei ra de escl arecer a seqüência de pen sam ento do
ap ósto lo seja iso lar os três s ucessivos verbos prin cipa is que ele emprega:
aboliu... pa ra que do s dois criasse... e reconciliasse... Somo s informados
que aboliu a l ei de man dam entos a fim de criar uma, e um a só, nova hu -
manidade, e reconciliar com Deus as duas partes dela.
a. A abolição da lei dos mandamentos (v. 15a)
A prim eira afirma ção que Pau lo faz é que Cristo derrubo u a parede, a hos-
tilidade, quand o aboli u na sua car ne a lei dos m andam entos na fo rm a d e
ordenanças. À primeira vis ta, esta é uma declaração surpr eendent e, p ara
14 Armitage Robinson, pág. 60.
66
efésios 2:11-22
àoscircuncisão,
relacionamentos sociais.
e também A passagem
a “comida correlata
e bebida” em Colossenses
e regulamentos alude
acerca de
“dia de festa, ou lua no va, ou sába dos” (2:11, 1621); po rtan to parece pro -
vável que estes fossem os mand amentos, na form a de ordenanças, que P au-
lo tinha em mente aqui. Levantaram uma barreira séria entre os judeus
e os gentios, mas Jesus deixou de lado esta parte cerimonial. E o fez na
sua carne (dec erto um a referê ncia à sua m orte física), porque n a cruz cum -
priu todas as prefigurações do sistema cerimonial do A ntigo Testamento.
Pare ce provável, no entan to, que Pau lo esteja fazendo um a o utr a re-
ferência, em bora secundária, agora à le i moral, não à cerimonial. Jesus
certamente não aboliu a lei moral como um padrão de comportamento
(ainda está em vigor e é obrigatória para os seus seguidores); mas real-
mente a aboliu co mo ca minh o d a salva ção. S empre que a le i é vista a es-
ta luz, apres enta um a divisão. N ão conseguimos, pois, obedecêla, por mais
que tentemos. Separanos, po rtan to, de Deus, e uns dos outros. O p rópr io
Jesus, porém, obedeci a perfeitamente à le i na su a vida, e na sua m orte car-
regou sobre si as conseqüênc ias d a no ssa desobe diência. Tom ou sobre si
“a maldição
decem) a fim da
delei”
nos(olivrar
julgdela.
am ento quecon
16Ou, pa ira sobre
form e o aquel es em
paralelo queCa desobe-
olossen -
ses, Deus pode pe rdo ar toda s as nossas transgressões po rqu e “ tend o ca n-
celado o escri to de dívi da, que era con tra nós e que constava d e or de na n-
ças o qual nos era prejudicial, removeuo inteiramente, encravandoo na
cruz” (2:1 314). A aceitação com Deus agor a é através do C risto cruc ifi-
cado, exclusivamente, seja para judeus, seja para gentios. A lei era uma
barreira entre nós, mas a fé nos une, visto que todos nós devemos chegar
a Deus da m esma m aneira, através d e Cris to. E sta fô ra um a das ênfase s
principais de Paulo em Gálatas, a saber: que todos nós fomos colocados
15 Mt 5:17. 16 G1 3:10, 13.
67
UMA NOVA HUMANIDADE
68
efésios 2:11 - 22
para com Deus. Não se trata de ter sido somente um a rebeldia a nossa ati-
tude pa ra com ele; tratase tam bém de sua ira ter estado sobre n ós po r cau -
sa do n osso p eca do (v. 3). E so ment e por intermédio da cruz é que as duas
inimizade s ter minaram, porque qu and o Cristo carregou o noss o pecado
e o nosso julg amento n a cruz, Deus deixo u sua ira, e nó s, vendo o seu gran -
de amor,
zade. cessan mos
“Cristo a suaa morte
n ossa foi
rebeldia
morto. ”,Cristo matou
com enta Arm(liter
itage almente)
Robinson,a inim
“masi-
o mo rto tam bém m ato u”.19E, cessando a nossa rebeldia e tam bém a ira
de Deus por ela ocasionada, o resultado é a reconciliação.
Esta, pois, foi a realização da cruz de Cristo. Primeiro, aboliu a lei
(seus regulamentos c erimoniais e sua conde nação moral) com o instru men-
to de divisão entre os homens e Deus, e entre jud eus e gentios. Em segundo
lugar, criou um a, e um a só, nova hum anidad e das duas profun das divi -
sões anteriores, fazendo a paz entre elas. Em terceiro lugar, reconciliou
com Deu s est a nov a hum anidade unida, tendo m atado por intermédio da
cruz tod a a inimizade entre n ós. O Cristo cr ucifica do trouxe à exis tência,
desta maneira, n ada menos do que um a nov a raça hum ana, unid a consi-
go mesma e unida com o seu Criador.
Não se quer dizer com isto que a to talidade da raça hum ana esteja
agora u nid a e reconc iliada. Sabemos pela observação e pela experiên cia
que não é a ssim. E tam pou co P aulo est á alegando tal c oisa. H á mais um a
etapa na obra de Cristo que ele passa a mencionar. É que Cristo vindo,
evange
e que crilizou
ou upa
m za (v.
nova17).hum
Já fom os infofazendo
anidade, pazele
rm ados aq ue (v.é a15).
nossa
Masp az (v. ele
agora 14)
evangel izou pa z, pu blic and o as b oas novas da paz que fizera na cruz .20
Primeiro, realizoua; depois, anuncioua. E visto que a realização estava
na cruz, e como logicamente a p roclam ação deve vir após a reali zaçã o,
esta pregaçã o nã o pod e referirs e ao seu ministér io público. Deve referir
se, pelo contrário, aos seus aparecimentos após a ressurreição, em que a
primeira de todas as palavras que falou aos apóstolos foi: “Paz seja con
vosco! ”,21 e à sua pro clam ação do evang elho da paz p ara o m un do at ra -
vés dos apóstolos e através de gerações sub seqü entes de cris tãos .22 Hoje
Jesus Cristo ain da está pregand o a paz no m undo, através do s lábios dos
seus segu idore s. É verd adeiramen te um fato mar avilhoso que, sempre que
proclamamos a paz, é Cristo quem a proclama através de nós.
Além disso, estas boas novas foram d irigidas desd e o início aos que
estavam longe be m como perto, ou seja, aos gentios e judeus igualmen-
te: paz a vós outros que estáveis longe, epaz também aos que estavam per
to. E m uitos membros de cada com unidade a rece beram, e assim acharam
19 Armitage Robinson, pág. 65.
20 Cf. Is 52:7. 21 Jo 20:1921. 22 Cf. At 10:36; Ef 6:15.
69
UMA NOVA HUMANIDADE
se unido s com Deus e uns com os o utros. Porque, po r ele, a mbo s temo s
acesso ao Pai em um E spírito (v. 18). Em bora a reconc iliação seja um even-
to; o acesso é o relacion am ento cont ínu o ao qual ela leva. “Justificado s,
pois, madiante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Je-
sus Cristo; por interm édio de que m obtivemos igualm ente acesso. .!’23
Prosagõgeê (acesso ) fazcom
súdit os um a audiência pensar
o reinu ou
macom
corteoori ental , ondee então
imperador, é outorgada aos
são apre-
sentados a ele. O sabor da palavra permanece, mas a ênfase é alterada,
porque nosso acesso não é a um rei mas, sim, a um Pai, diante de quem
temos ousadia e acesso (3:12). E ao desfrutar deste livre acesso a Deus,
descobrimos que não temos qu alquer dificuldad e prática c om o mistéri o
da eterna Trindade. Nosso acesso, pois, é ao Pai , p o r ele (o Filh o q ue fez
a paz e a preg ou), e em ou por um Espír ito, o Espírito que regenera, sela
e habita em seu povo, qu e testifica com o n osso espírito que somo s filh os
de Deus, que nos socorre em n oss a fraqu eza e que nos ensina a orar, e que
nos une enquanto oramos. Somos, pois, ambos, judeus e gentios, mem-
bros da nova sociedade de Deus, e agora abordamos nosso Pai conjunta-
mente. Assim, a realização mais alta e plen a do Cristo p acif icad or é este
acesso trino do povo de De us, enqu anto po r ele e em um E spírito chega-
mos com confiança ao nosso Pai.
3. O retrato da nova sociedade de Deus, ou o que agora viemos a ser (vs.
19-22).
Assim , Paulo com eça o se u resumo. Exp licou passo a passo o que Cristo
tem feito para aproximar, de Deus e do seu povo, aqueles que anterior-
mente no m und o gentio e stavam longe. Cristo aboliu a lei dos man dam en-
tos, criou um a única nova hum anidad e no lugar das duas, reco nciliou am -
bas com Deus, e pregou a paz para aqueles que estavam perto e longe. A s
sim, qual é o resultado da realização de Cristo e da sua proclamação da
paz? É este: “vós” (os gentios) já não sois aqu ilo que ére is, estrangeiros
eperegrinos, “estrangeiros nem estranhos” (BLH), visitantes sem direi-
tos legais. Pelo contrário, vossa condição mudou dramaticamente. Ago-
ra “sois de casa” d e uma m aneira com o nun ca fostes antes. Ére is refugia-
dos; agora tendes um lar.
A fim de indica r a riquez a da sua nova posição, e de seus nov os pr i-
vilégios em Cristo, Paulo apela para três modelos familiares da igreja ,
que s e desenvolvem em m uitas o utras passagens das Escrituras. Retrata
a nova comunidade de judeus e gentios como sendo o reino de Deus, a
família de Deus e o templo de Deus.
23 Rm 5:12.
70
efésios 2:11 - 22
Deus,
to queescreve,
Paulo substituíra a t eocracia
o Império Romanonacional do Antig
encontrase o Testamento.
no auge E nq ua n-
do seu esplen-
dor. Não havia surgido, por enquanto, qualquer sinal do seu futuro de-
clínio, m uito m enos da sua queda . M esmo assim, Paulo vê este ou tro rei-
no, nem juda ico nem rom ano, m as, sim, interna ciona l e inter racial, co-
mo sendo algo mai s esplê ndido e dura dou ro do que qua lquer império ter-
restre.25E exulta po r ser um cid adã o desse reino m uito mais do q ue p or
sua cid ad an ia rom ana . Seus cidadã os são li vres e seguros. As palavras já
não sois estra ngeiros eperegrinos, mas concidadã os enfatiz am o contraste
entre a falta de raíz es de um a vida fora de Cristo e a estabilidade de fazer
parte da nova sociedade de Deus. “Já não vivemos com passaporte, mas,
sim... re alm ente tem os as nossa s certidões de na sci mento..:’26
b. A fa m íli a d e Deus ( v. 19b)
A m etáfo ra altera se e torna se mais íntima: sois da fam ília de Deus . Em
Cristo , jud eus e gentios são mais do que con cidadão s sob o governo di-
vino; vive m jun tos como filhos e m um a famíli a. Paulo acabava de e scre-
ver
qualno versícul
jude o ant eri
us e gentios or acerca
desfru do rnovo
tam po meioedeprivileg
Cristo iado acesso
(v. 18) ao rmente
e, anterio Pai, do
na carta, desenvo lvera o tem a das bênçãos da adoção n a fam ília de Deus
(1:5). De ntro em br eve, terá m ais pa ra dize r sobre a pate rnid ade arquetí
24 At 22:2529.
25 De mod o semelhante, e m 1 Co 10:32 Pau lo refer ese à “ igreja de Deus” como sendo uma
terceira comunidade, distinta dos “ju deus” bem còmo dos “ gregos” . Sem dúvida, foi com base
em textos como este s que Clemente da A lexandria distinguia os cristãos dos judeu s e dos gre-
gos, como
salvas send o aque les
” (Miscelâneas, VI.que
5), ado ram aque
ao passo Deus “ na tercei
a Carta ra form do
a Diógenes, a” século
e “ a raça única de
II, cham p cristãos
a os essoas
de “uma nova raça” (cap. 1).
26 LloydJones, God’s Way, pág. 302.
71
UMA NOVA HUMANIDADE
pica de Deus (3:1415) e sobre “um só Deus e Pai de to dos” (4:6). Aqui,
porém, sua ênfase parece recair mais sobre a fraternidade humana do que
sobre a paternidade de Deus. Os filhos do Pai, ultrapassando as barrei-
ras raciais, são introduzidos nesta vida fraterna. Irm ãos (no sentido de
“irm ãos e irm ãs” ) é a palavra m ais comum pa ra os cristãos no Novo T es-
tamento.
de apoio. Expressa um estreito
Philadelphia relacionamento
, “amor de afeição,
fraternal”, sempre deuma
deve ser cuidado e
caracte-
rística especial da nova sociedade de Deus.
c. O templo de Deus (vs. 20-22)
Pau lo ago ra chega ao seu terceir o quadro. Essencialmente, a igreja é um a
com un idad e de pe ssoas . Mesmo assim, assemelhase em vários aspect os
a um edif ício, e particularm ente a um templo. O tem plo em Jeru salém —
primeiro o de Salomão, depois o de Zorobabel, depois o de Herodes —
tinha sido, p or q uase mil anos, o po nto central da identid ade de Isr ael co-
mo povo de Deus. Agora havia um novo povo. Haveria então um novo
templo, confo rm e a alusão indireta de J esus? O novo p ovo não era u ma
nova nação, mas uma nova humanidade, interracial e de alcance mun-
dial. Um centro geograficamente localizado, portant o, n ão seria apr op ria-
do para ele. O que, pois, poderia ser seu templo, seu elemento de união?
Nestes versículos 2022, Paulo explana a sua visão do novo templo com
maiores deta lhes do que no utro trecho; val e a pena estudála com c uida-
do.
damÀento
m edid
e à apedra
que desen volve
ang ular do sua
ediffigura
ício, àdeestru
linguagem,
tura comele referese
o um todo, eaos fuas
un -
pedras individuais, sua coesão e seu crescimento, sua função presente e
(pelo menos implicitamente) seu destino futuro.
Primei ro, o fundamento. Na da é mais im portan te para qualquer edi-
fício do que um alicerce sólido e es tável. E a p ará bo la bem co nhecid a com
que Jesus term inou o serm ão da m onta nha , sobre os dois hom ens que e di
ficaram casas, ensina a necessida de da rocha. Em que rocha, pois, a igre-
ja é edificada? Paulo responde: edif iça dos sobre o fun da m en to dos após
tolos e profetas, send o ele mesmo, Crist o Jes us, a ped ra angular (v. 20).
Visto que tanto os apóstol os qu anto os prof etas era m grupos com um
papel pedagógico, parece claro que o que constitui o fundamento da igreja
nã o é a pessoa del es nem o seu ofício, mas, sim, a sua instruçã o. A lém d is-
so, dev emos pen sar nel es como sen do educad ores inspirados, órgãos d a
revelação divi na, po rtador es desta autoridade. Aqui, a palavra apóstolos
não é um term o genér ico para os missionári os ou os implantadores de igr e-
jas, ou bispos ou outros líderes da igreja. Pelo contrário, denota aquele
grupo pequeno e especial que Jesus escolheu, chamou e autorizou a en-
sinar em seu nome, e que foram testemunhas oculares da sua ressurrei-
ção, e que consistia nos Doze, mais Pau lo e Tiago, e talvez um ou dois ou -
72
efésios 2:11 - 22
73
UMA NOV A H UMANIDADE
74
efésios 2:11 - 22
ma Trindade cham a a no ssa atenção. Deus, poi s, hab ita no se u povo co-
mo seu templo no Senhor e no E spírit o, ou seja, através do seu Filho e
mediante o seu Espírito.
Quand o Paulo ditava esta sua carta, existia em Éfes o o m agnífi co tem -
plo de m árm ore de Artemis (“grande é Diana dos efésios”), uma das sete
maravil has do m undo antigo, e em cuj o sa ntu ário interior havia um a es-
tátu a da deus a. Ao mesmo tempo, havia em Jerusalém o t emplo judaico
edificado por H erodes, o G rande, cercado po r um a barreira contra os gen-
tios, e agora t ambém con tra Deus, cuja glória tinh a abrigado no seu san-
tuário interior durante séculos, mas, agora, revelada no Messias, procu-
rava extinguir. Dois templos, um pagão e outro judaico, projetados por
seus devotos como residê ncia divina, estavam vazios do Deus viv o. Pois
agora há um novo templo, um a habi taçã o de D eus no E spírito. É a sua
nova
mundo sociedade,
habita do.o seu povo bros
Os mem redimido espalhado
do povo por lar
s ão o seu todas
na as
ter partes do tam -
ra. Eles
bém serão o seu lar no céu. O edifício, pois, ainda não está completo. Cres
ce para santuário dedica do ao S enho r. Somente depois da cria ção do novo
céu e da nova terra é que a voz do tron o declara rá com ênfase definiti va:
“Eis o taber nác ulo de Deus com os hom ens ”.32
Conclusão
É maravilhoso olhar para trás e seguir a seqüência do ensino do apósto-
lo. Ele pin ta um a grand e tela com pinceladas fi rmes. Antes , co nfo rm e re-
lembra aos seus leitores gentios, estáveis alienados de Deus e do seu po-
vo. Cristo, porém, morre u p ara reconciliarvos com ambos. É po r isto que
já não sois os estrangeiros que éreis, mas, sim, o reino sobre o qual Deus
reina, a família que el e am a e o templo em que e le habita. De mod o mais
simples ainda : está veis alienado s, fostes reconciliados, e Cristo vos tr ou-
xe para casa.
Seria difícil enxergar a grandeza desta visão. A nova sociedade que
Deus fez existir é na da menos do que um a nova criaç ão, um a nova raça
humana, cuja característica já não é a alienação mas, sim, a reconcilia-
ção, já n ão é a divisão e a ho stilid ade mas, sim, a un ião e a paz. Deus rei-
na sobre esta nova sociedade, amaa e vive nela.
Esta é a visão. Q uan do, porém, nos voltamos do ideal retrata do nas
Escrituras p ara as reali dades concretas experim entadas hoje n a igreja, a
histór ia é muito diferente e muito trágica. Porque, até mesmo nela, h á fre-
qüentem ente alienaçã o, de sunião e discór dia. E os cristãos leva ntam n o-
32 Ap 21:15.
75
UMA NOVA HUMANIDADE
vas barreiras no lugar das antigas que Cristo demoliu: ora um a barreira
de cor, ora o r acismo, o nac iona lism o ou o regional ismo, o ra as animosi
dades pessoais engendradas pelo orgulho, pelo preconceito, pelos ciúmes
e pelo es pírit o que não perd oa, ora um sist ema discrim inatório de castas
ou de classes, ora um clericalismo que separa os clérigos dos leig os como
se fos sem es pécies diferentes de se res hum ano s, e ora um deno minacio
nalismo que tran sform a as igre jas em se itas e contra diz a união e a un i-
versalidade da igreja de Cristo.
Estas coi sas s ão dup lam ente ofens ivas. Em p rim eiro l ugar, são uma
ofensa contra Jesus Cristo. C om o ousam os edificar pare des de separação
dentro d a sua com unidad e qua nd o ele as destruiu? Naturalm ente, há as
barreiras de língua e de cultura no mundo exterior, assim como os novos
convertidos s e sen tem mais à von tade entre seu s semelhantes, q ue falam
e se vestem e comem e bebem e se comportam da mesma maneira, con-
forme sempre têm fe ito. M as deliberadam ente per pe tua r estas barreiras,
sem da r q ualquer passo ativo para ven cêlas, de m odo a de monstrar a u ni-
dad e transcu ltural d a nova sociedade de Deus , é col ocarse co nt ra a obra
reconciliadora de Cristo e até mesmo procurar desfazêla.
O que é ofen sivo a Cr isto tam bém é ofensivo, em bora de mo do d ife-
rente, ao m undo. Im pede o m un do de cre r em Cristo . Deus pretende que
o seu povo seja um mo delo visual do ev angelho, a fim de dem ons trar dian te
dos olhos das pessoas as boas novas da reconcili ação. Mas qu al é o valor
de cam pan ha s evangelísticas se nã o p roduz em igrejas fiéis ao evange lho?
É simplesmente impos síve l, com qu alqu er m igalha de integridade cristã,
co nti nu ar a pro clam ar que Jesus, pela sua cruz , ab oliu as velhas d ivisões
e criou um a nova hum anidad e de amor, enquanto, ao m esmo tempo, es-
tive rmos contrad izendo a nossa mensage m com tolerância a barreiras ra-
ciais ou soc iais, o u quaisq uer outras, dentro da c om unhã o da n ossa igr e-
ja. Não estou dizendo que uma igreja deve ser perfeita antes de poder pre-
gar o evan gelho, mas estou dizendo que n ão pod e pregar o evange lho en-
76
efésios 2 : 11-22
ciliados que am am ao seu Pai e se am am uns aos outros, a hab itaçã o evi-
dente de Deus pel o seu Espírito. Somen te então o m un do crerá e m C ris-
to como P acificador. S om ente en tão é que Deus receber á a glória devida
ao seu nome.
3:1-13
5. O privilégio sem igual de Paulo
Por esta causa e u, Pau lo, o prisio neir o de Cristo Jes us, po r am or de vós,
gentios, 2se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de
Deus a m im confiada para vós o utros;3pois segundo uma revelação me
fo i dado conhecer o mistério conforme escrevi há pouco, resumidamen
te, Ape lo qual, q ua nd o lerdes, pod eis com pre end er o meu d iscer nim ento
no m istério de Cri sto, 5o qu al em o utras gera ções não fo i da do a conh e
cer
toloaos
s e fiprofetas,
lh os d os no
homEspírito,
ens, com6ao saber,
agora foqui erevelado
o s gentiaos seusco-herdeiros,
os são santos após
mem bros do m esm o corpo e co-parti cipant es da prom essa em Cris to Je
sus po r me io do evangelho.
1Do qual fu i constituído m inist ro con forme o do m da graça de De us,
a mi m concedida, seg undo a forç a operante do seu poder. 8A mim, o m e
no r de todos os santos, me fo i dada esta graça de pregar a os genti os o evan
gelho da s insond áveis riquezas de Cristo, 9e m anifestar qu al seja a dis
pensação do ministério, desde os séculos oculto em Deus, que criou to
das as coisas, ]()par a que, pela igreja, a m ultifo rm e sabedo ria d e Deu s se
torne conhecid a agora dos prin cipa dos e potes tad es nos lugares celestiais,
nsegun do o eterno prop ósito que est abeleceu em Crist o Jesus nosso Se
nhor, 12pe lo qua l tem os ou sadia e acesso com confiança, med ian te a fé
nele. 13Porta nto vos pe ço qu e não desfal eçais nas m inh as tribulações por
vós, po is nisso está a vossa glór ia.
78
efésios 3:1-13
79
O PRIVILÉGIO SEM IGUAL DE PAULO
rom peu a si mesmo, e nã o com eçou a or ar até o versículo 14. En treta nto ,
desenvolveu sua autodescrição a fim de enfatizar os privilégios ímpares
que Deus lhe outorg ara na concretização do seu propósito pa ra com os
gentios.
Duas vezes nestes versículos ele emprega a mesma expressão; de fa-
ato,graça
uma de
combinção
Deus a midêntica de palavras
im confiad a (vs 2 gregas, quesesão
e 7). E stá traduzidas
referind por privi-
o a dois
légios que Deus, num favor não merecido, lhe concedera.
O prim eiro foi um a revelação, como r esultad o d a qual viera a s aber
alguma coisa. Vejamos os versículos 23 se é que tendes ouv ido a respei
to... da graça de Deus a m im conf iada para vós outros; po is segu ndo um a
revelação m e fo i d ado conhecer o mistér io.
O segundo fo i um a certa c omissão, como resultado da qual ti nh a um a
responsabilidade para fazer conhecido algo a o utras pessoas: Deste evan
gelho fu i co nstituído m inistr o co nform e o do m da graça de Deus, a mim
conce dida, segund o a fo rç a operante do seu poder (vs. 7-8).
Está claro que es tes dois dons da graça divina, a reve lação e a com is-
são, o mistério revelado a ele e o ministério co nfiad o a ele, estavam estrei-
tam ente re lacion ado s entre s i. Pois , um a vez recebida a revel ação divina,
sabia que tinha a obrigação de tornar conhecido aquilo que lhe fora
revelado.
1. A revelação divina a Paulo, ou o mistério que lhe foi dado a conhecer
(vs. 1-6)
Três vezes neste curto pa rágra fo Paulo empreg a a pa lavra “mistério” : se
gund o um a revelação m e fo i d ado conhec er o mistér io (v. 3)...podeis co m
preender o meu discernimento no mistério de Cristo (v. 4) ...e man ifesta r
qua l seja a dispensação do mistério (v. 9). É uma palavra chave para a
nossa compreensão do pensamento de Paulo. Devemos reconhecer que
as palavras em portu guê s e em grego não significam a mesm a cois a. Em
português um “mistério” é algo obscuro, oculto, secreto, enigmático. O
que é “misterioso” é inexplicável, até mesmo imcompreensível. A pala-
vra grega mystèrion é diferente, no entanto. Em bo ra continue sendo um
“segredo” , já nã o está cuid ado sam ente gua rda do m as, sim, revelado. O ri-
ginalmente , a palavr a grega se referia a um a verdade em que alguém ti-
nha sido iniciado. Veio mesmo a ser usada para os ensinamentos secre-
tos das reli giões pagãs de mistéri o, ensinam entos este s que eram lim ita-
dos aos iniciados. No cristianismo, no entanto, não há “mistérios” eso-
téricos reservados para uma elite espiritual. Pelo contrário, os “mistérios”
cris
na, tãos sãoreveladas
foram ver dadespor
qu e, embe,ora
Deus est ejam, ag
portanto além
orada com em
pertenc preensão hu ente
abertam m a-
a toda a igreja. Mais simplesmente, mystèrion é um a verdade q ue esteve
80
efésios 3:113
ocul ta ao conhec imento ou entendi mento hum anos, mas que atualmen-
te está desvendada pela revelação de Deus.
Se é este o significado geral de “mistério” no Novo Testamento, qual
é o segredo aberto ou verdade revelada, especificamente, o qual em ou
tras geraçõ es não fo i dado a conhecer aos filh os dos homens, mas que ago
ra
quefode
i revelado
modo semaos seusPaulo
igual, santosacrescenta,
ap óstolos e prof etas
me fo , no Espírito
i dado conhecer? (v.
(v.5)3).e
Ele ch am a este mistério n o versículo 4, com o tam bém em Colos senses 4:3,
de o m istério de Cri sto. Assim, p arece claro qu e é um a verdade especial-
mente revelada, “da qual Cristo é tanto a fonte quanto a substância”.6
Paulo dec lara a natu reza exata do mistério com ênfase e clareza no versí-
culo 6. A saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesm o corpo
e co-partici pantes da promessa em Cristo Jesus p or m eio d o evangelho.
Assim, o misté rio diz respeit o a C risto e ao seu únic o povo, jud eu e gen -
tio. A fim de definilo com mais exatidão, Paulo reúne (e, em um caso,
cria) três ex pressões com postas e pa ralel as. Cada u ma tem o mesmo p re-
fixo syn, “jun tam en te com ”, e indica aquilo qu e os crentes gentios agora
têm e são, em co nju nto com os crentes jude us. Qu e expressões s ão estas?
Os gentios são “coherdeiros” ( synklêronoma ), “membros do mesmo cor-
po” (syssõma) e “coparticip antes” ( summetocha ) da p romessa. Estas trê s
palavras gregas incomuns, no entanto, precisam ser analisadas com aten-
ção. O que P aulo está declaran do é que os cri stãos, tan to gentios como
judeus,
do mesmo sãocorpo,
agorae herdeiros juntos
participantes da mesma
da mesma bênção,
promessa. mem
E este bros comuns
privilégio
com partilhado é tanto em Cristo Jesus (porque é desfrutado igualmente
por todos os crentes, tanto judeus como gentios, posto que estejam em
união com Cris to) e por meio do evangelho (pois a proclam ação do evan-
gelho inclui esta unidade e assim a torna disponível para todos os que
crêem).
Resumindo, podemos dizer que o mistério de Crist o é a união com -
pleta entre judeus e gentios, através d a união de ambos com Cristo. É es-
ta du pla união, com C risto e entre e les, que e ra a substância do mistério.
Deus o revelara especialmente a Paulo, conforme este escrevera resumi-
dam ente (v. 3) no cap ítulo anterior. Mas tam bém fora reve lado aos seus
(de Deus) santos apóstolos eprofetas, no Espírit o (v. 5) e, através destes,
“aos se us santos ” (Cl 1:26).7Agor a era, p ortan to, a possess ão comum da
igreja universal.
Era uma nova revelação. Porque em outras g erações não fo i dado a
6 Hendriksen, pág. 153.
7 Um exe mplo foi a revela ção espec ial ao apó stolo Ped ro do prop ósito de Deus de incluir os
gentios, conforme está registrada em At 10 e 11.
81
O PRIVILÉGIO SEM IGUAL DE PAULO
82
efésios 3:113
o menor de todos os santos (v. 8), ou “o membro mais vil do povo san-
to”.10É um a expressão mu ito m arcante. Toma o superlativo ( elachistos ,
“ínfim o” o u “mínim o”) e faz o que é imposs ível na lingüísti ca mas que
é possível na teologia; tra nf orm ao em com parativo ( elachisteros , “mais
mínimo” ou “m enor do que o mínim o”). Talvez estivesse delib eradam ente
jogando com o significado do seu nome. Seu sobrenome romano, “Pau
lus”, significa “ pequen o”, e a tradiçã o diz que era um hom em pequeno.
“Eu sou p eq ue no ”, talvez esteja di zendo, “ pequen o pelo nome , peq ueno
na estat ura, e mo ral e espirit ualmente m enor do que o mínimo de todos
os cristãos”. Ao afirmar isto, não está sendo hipócrita nem se afundan-
do em autodeprecia ção. E stá sendo s incero. Está profun dam ente conscien-
te tanto da sua pró pria indigni dade, pois “ nou tro tempo fôra blas femo,
perseguidor e insolente” contra Jesus Cristo,11como também da miseri-
córdia de m
que a sua Cristo quenão
odé stia transbordava
era fingidapara
ne com
m m ele.
órbidUma boanão
a é que indicação
o impedde ia de
aceit ar a respon sabilidad e de ser apóstolo. Pelo contrário, nesta mesm a
passagem ele em prega duas vezes o egõ “eu” apostólico autoconsciente
(3:1; 4: 1). Pau lo sabia com binar a hum ildade pess oal co m a au toridad e
apostólica. Na verdade, ao “minimizar a si mesmo, engrandecia o seu
ofício”.12
O m inistér io privilegiado de divulgar o evan gelho, co nfia do a ele pela
graça de Deus, é o que ele pas sa a desenv olver em três etapas:
a. Pregar aos gen tios o evangelho d as insondáveis riquezas de Cristo (v. 8)
Visto que o mistério que lhe fora revelado dizia respeito ao plano de Deus
de incorporar os gentios em Cristo, era lógico que o ministério que lhe
fora con fiad o se dirigisse primeiro e principa lm ente a eles. Foi comissio-
nado para pregar aos gentios. “Pregar” aqui é euangelizõ, “anunciar boas
novas”, porq ue estava bem consciente de que o seu evangelho era um a men-
sagem de boas novas grandiosas p ara os genti os. Co nsistia nas insondá
veis riqueza
outo rga àques de
les Cristo,
que v êmasariqueza s que Cristo
ele. P odemos ju lgapr ossu
quaisi em
sãosie stas
me sm o e que
riquezas
pela exposição de Paulo em Efésios 1e 2. São riquezas livremente dispo-
níveis por causa da cruz. Incluem a ressurreição da morte no pecado, a
entron ização vitorio sa com C risto nos luga res cel estiais, a reconciliação
com Deus, a incorporação com os crentes judeus na nova sociedade de
Deus, o fim da h ostilidad e e o começo da paz, o acess o ao Pai m ediante
Cristo e pelo Espíri to, o ingresso no reino e na família de Deus, sendo p arte
integrante da sua mora dia entre o s homens ; tu do isso representando apenas
um vislumbre de riquezas futuras, a sab er, das riquez as d a glória da he-
83
O PRIVILÉGIO SEM IGUAL DE PAULO
quais é pro clam ada (nas trevas da ignorância). O próp rio Jesus tinh a ca-
racterizad o a com issão de Paulo nestes termos, pois lh e disse que o esta-
va envian do aos gentios “p ara lhes abr ir os olhos e c onvert êlos das tre-
vas pa ra a luz, e da p otes tade de S atanás p ara De us”.13Pau lo n un ca se es-
queceu di sso. Sua pró pria conversão na estrada de Dam asco resultara do
85
O PRIVILÉGIO SEM IGUAL DE PAULO
c. Torn ando conhecida a sabedori a de Deus para os pod eres cósm icos (v.
10)
86
efésios 3:1-13
87
O PRIVILÉGIO SEM IGUAL DE PAULO
ro diz er que qua lqu er interp retaçã o de Efési os fica firm e ou cai pelo se u
trata men to deste versículo!’ Ele acredita que o p rop ósito de Deus é usar
a igreja não somente para informar “as potestades” mas, sim, até mes-
mo redimi-las, vist o que “até mesmo tais estruturas de poder e au tor ida -
de como o estado secular são capazes d e serem trazidas para a ha rm on ia
com o amor de Deu s”.20Mark us Bart h desenvolve este conceito de grand e
alcance da influência “cósmica” da igreja:
“As forças políticas e sociai s, cu lturais e religiosas , bem com o to das
as demais instituições, tradições, ma iorias e min orias, estão exposta s ao
testemunho dela.” Ditaduras e democracias, organismos que promovem
o racismo e os direitos civis, etc., etc., “todos estes, e outros poderes, re-
cebem um a o po rtun idad e sem i gual da parte de Deus : rece bem o privilé-
gio de ver no m eio deles o com eço de novos céus e nov a te rra”.21Está se
referindo
ralment e, ao papel hesita
sintome da igreja condiform
nte em e éarindic
scord ado no vers
de estudioso ículo
s deste 10. Nmas
c alibre atu -,
tendo apreciado a questão com cuida do, sinto me obrigado a m e pron un -
ciar sobre a questão: não creio que Pau lo est ivesse se referindo a est ru tu -
ras soc iais na terr a ao escrever sobre o s prin cipa dos e potestad es nos lu -
gares celestiais, nem que, seja qual for a identidade deles, quisesse que a
ma nifestação da m ultiform e sabed oria de Deus a e les fosse entendida co-
mo um a atividade redentora (ao in vés de uma atividade inf ormativa). M as
não falarei mais sobre o tópico aqui.
Fazendo um retr ospecto da exposi ção feit a por Paulo acerca do p ri-
vilégio espe cial que lhe fora da do pela graç a de Deu s, p ara ser apóstolo
aos gent ios, é op or tu no no tar os di versos meios e fases da com unica ção
de Deus. P rimeiro, to rno u conhecido ao p róp rio Paulo o mistério do se u
plano (e aos demais apóstolos e profetas, v. 5) pela revelação. Depois, co-
missionou Paulo (e outros) a pregar o evangelho a todas as pessoas em
todas as partes do mundo. E em ter ceiro lugar to rn ou conhecida a sua mu l-
tiform e sabedoria e o seu et erno propósito aos principad os e potest ades
através
na, poisdaasigreja em cre
boas nov scimen
as foram to. Este de
passadas é Deus
o círculo
pa radaPaulo,
comdeunica çãoe ou-
Paulo divi-
tros para to da a human idade, e da igrej a na terra de volt a pa ra o cé u, p a-
ra os princ ipad os cósmic os. Em cad a etapa, o meio de comunica ção altera
se. Foi por revelação direta que Deus desvendou o seu plano a Paulo. É
pela proclamação verbal do evangelho que a mensagem se espalha hoje,
e po r um mod elo visu al (a comu nidade cristã multicult ural) que finalmente
chega aos espect adores ange licais que não podem os ver. N ad a é mais ho n-
roso para o ev angelho, nad a indica melhor sua im po rtânc ia suprema, do
que est e progra m a par a sua co mu nicação univ ersal.
20 Caird, págs. 66 67. 21 Barth, Ephesians, /, pág. 365.
efésios 3:113
Conclusão
A principal lição desta prim eira metade de Efésio s 3 é a centralidad e bí-
blica da igreja. Algumas pessoas constroem um cristianismo que consis-
te inteiram ente em um relacionam ento pessoal com Jesus Cristo, e que,
virtual mente, n ad a tem a ve r com a igreja. Ou tros fazem com m á von ta-
de um a ização
a organ concessão
ecleàsiástica
fili ação à igrej
com a, mirrecup
o sendo as acrescentam que éjácom
eráve l. Ora, rejeitaram
preensí-
vel, até mesm o inevitável, que critiquem os m uitas das estrutu ras e tra di -
ções herdad as pela ig reja. Toda igreja, em tod o lu gar e a tod o tempo, pre -
cisa de refor ma e de renovação. Dev emos, no entanto , ter cau tela pa ra não
desprezarmos a igreja de Deus, e pa ra que n ão sejamos ceg os diante d a
sua ação na H istória. P odemos dizer com segurança que Deus não ab an -
donou a s ua igrej a, p or mais insatisfeito com e la que ele talvez esteja. A in-
da a está edificando e refinando. E se Deus não aban dono u, como é que
nós podemo s abando nála? Ela o cupa um lugar central no se u pla no. O
que, pois, esta passagem nos ensina acerca da centralidade bíblica da
igreja?
a. A igreja ocupa lugar central na História
O versículo 11, conforme vimos, alude ao eterno propó sito de Deus. É tam -
bém chamado de seu palno ou o pla no de m istério (v. 9). Somos infor-
mados de que est e é o plano ou pro pó sito de Deus , q ue foi concebido na
eternidade,não
gerações conservado oculto desde
fo i dado a conhecer aos os
filhséculos (v. 9), o (v.
o s dos homens qual5).emEleoutr as
agora
o estabel eceu em Cristo Jesus nosso Senhor, pr imeiram ente at ravés da sua
obra h istórica na salvaçã o e através da sua proclam ação subseqüente no
mundo. Qu al é este propósito eterno que está sendo desen volvido n a H is-
tória, est e plan o divino que pe rten ce tan to à H istória qu anto à eternid a-
de? Diz respe ito à i greja, à criação de um a nova hum anid ade reconcilia-
da em uniã o com Jesus Cristo. Este é o mistério, oculto du rante séculos,
mas agora revelado.
É este o nosso conceito d a História? Todos nós estudam os H istór ia
na esco la, e talvez a tenhamos achado (como eu achei ) que era abo m ina-
velmente enfad onh a. Talvez tivéssemos de deco rar listas de datas dos pre-
sidentes que governaram o país. Q ual, porém, é a razão de ser da H istó -
ria? Será que Henry Ford tinha razão quan do disse: “A história é bo ba -
gem”, duran te o seu proce sso por calúnia contra o jo rn al Chicago Tribu-
nel Será a H istó ria apenas u ma suces são alea tória de ev entos, cad a efei-
to com a su a causa, e cada cau sa com o seu efeito, sem re velar, no co n-
junto, qualquer padrão objetivo, antes parecendo ser mais como um a se-
qüência sem senti do de fat os? M arx tinha razão no seu mod o d ialé tico
89
O PRIVILÉGIO SEM IGUAL DE PAULO
“Será para mim, glória sem fim!’ As duas afirmações são verdadeiras.
Qu anto à primeira, o própr io ap óstolo P aulo pôd e escrever: “O F ilho de
Deus... me a mou e a si me sm o se entregou po r m im !’23 Qua nto ao assim
cham ado “cântico da g lória” , o evan gelho realmente promete glória pa-
ra os crentes no céu. M as isso está l onge de ser a plen itud e do evange lho.
Fica evidente em Efésios 3 que o evangelho integral diz respeito tanto a
Cris to quanto ao mistério de Cris to. As boa s novas das insondá veis riqu e-
zas pregadas po r Paulo é que Cristo mor reu e ressuscitou não som ente para
salvar pecadores tais como eu (emb ora não ten ha deixado de fazer i sso),
mas também p ara criar um a nova humanidade; não soment e par a nos re -
dimir do pecado mas t am bém p ara nos ado tar n a família de Deus ; não
somente para nos reconci liar com Deus , m as também pa ra nos reconci-
liar uns com o s outros. Po rtanto , a igreja é um a pa rte integrante do evan-
gelho. O evangelho é boas novas de u ma socieda de bem com o de u ma nova
vida.
c. A igreja é central na vida cristã
É digno de n ot a que Pau lo term ina esta seç ão com o a iniciou ( v. 1), a sa -
ber, com um a referência aos seus próprios sofrim entos na causa gentia.
Dirigelhes a seguinte exortação: Portanto vos pe ço que não desf aleçais
nas minha s t ribula ções por vós, po is nisto está a voss a glória (v. 13). Ora,
sofrimento e glória constantem ente estão ligados entre si no Novo Tes ta-
mento. Jesus di sse que en tra ria na su a glória a travé s do sofrimento, e que
seus seguidores teriam de palm ilhar o mesmo caminho. A qui, po rém, Pau-
lo escreve alg um a coisa diferente: os sofrim ento s dele tr arão glóri a a eles
(aos seus leitores gentios). Está sofrendo na prisão em prol deles, como
o camp eão deles, defen dend o firm emen te a inclusão deles na nova socie -
dade de Deus . Ele está tão convicto da srcem divina d a su a visã o que está
disposto a pagar qualquer preço para vêla tornarse realidade. É esta a
medida d a solic itude d e Pau lo p ara com a igreja.
Pode,
nal, era naturalm
o apó ente,gentios.
stolo aos ser argum
Tin entado que Paulo
ha recebid o u m aera umação
revel a exceção.
especi A
alfi-
e
uma comissão especial. Talvez fosse ele e ele só que tivesse de sofrer em
favor da igreja dos gentios . M as não, o princípio é apl icável a tod os os cris-
tãos. Se a igreja é central no prop ósit o de Deus , con for me se percebe tan to
na H istó ria como no evang elho, certamente tamb ém deve ser central pa -
ra as nos sas vi das. Com o pod emos trata r levianamente aquilo que Deus
leva tão a sério? Com o o usamos em pur rar par a a periferia aquilo que Deus
colocou no centro? Não, procuraremos tornarnos membros responsáveis
da igreja, ativo s em algum a manifestação local d a igreja univers al. Não
23 G1 2:20.
91
O PRIVILÉGIO SEM IGUAL DE PAULO
Um a das
bições do melhores maneirasode
crente é analisar descobrirdeassuasprincipais
conteúdo orações eansiedades e am
a intensidade -
com
que as faz. Todos nós ora mos acerca do q ue nos pre ocu pa e, evidentemente,
não nos impo rtam os com assuntos que não incluímos em nossas or ações.
A ora ção expres sa um desejo. P or exe mplo, qu and o Paulo o rou p ela sal-
vação dos se us co m patr iotas israeli tas, es creveu sobre a “b oa v ontade do
meu coração e a m inh a súplica a Deus a f avor de les”.1Co nfo rm e bem ex-
pressa certo hino: “A oração é o desejo sincero da alma, falado ou não
expressado!’
Certamente, é assim a segunda ora ção de P aulo em Efés ios, ond e abre
a sua alm a diante de Deus . Estava expl icando tanto a obr a de Cristo em
fazer a paz, que resultou na criação de um a nova s ociedade, qu an to seu
envolvimento pessoal nela, p or causa d a revela ção e da com issão esp eciais
que rec ebera. A gora, volta se da exposiç ão pa ra a inte rcessão. Ora par a
que o plan o m aravilhoso de Deus, que es tava explicando, seja ain da mais
plenamente cumprido na experiência dos seus leitores. A oração e a pre-
gação se mpre caminha m juntas. Assi m como Jesus regou com oração as
boas sementes do ensino que semeara no Cenáculo,2 assim também Pau-
1 Rm 10:1. 2 Jo 1317.
93
CONFIANÇA NO PODER DE DEUS
95
CONFIANÇA NO PODER DE DEUS
guir, qu e sejam arraig ado s e ali cerçados em amor, em terceiro lugar, que
conheçam o amor de Cristo em todas as suas dimensões, embora esteja
além do conhecim ento; e , finalmente, que sejam tomados de tod a a ple-
nitude de Deus.
96
efésios 3:1421
fundepois,
e, do s” (BLH).
a um a Ass
casa im,
bemPaulo osada.
edific compara a uma
Nos dois árvore
casos, a cau bem arraig ada
sa invisível da
estabilidade é a mesma: o amor. O am or há de ser o sol o em que a vida
deles deve rá ser plan tada ; o am or h á de ser o fun dam ento em que a vida
deles será edificada. Po deríam os dizer que o am or deles deve ser na p rá -
tic a de naturez a tanto radical como fu ndamental, pois estas pala vras em
português se referem a nossas raízes e aos nossos fundamentos.
16 CI 2:9.
17 Moule, Veni Creator, págs. 235 e 240. 18 Cf. 1:3, 17 e2:1 8.
97
CONFIANÇA NO PODER DE DEUS
c. Conhecer o am or de Cris to
Observamos que o apóstolo agora passa do no sso am or (em que de vemos
ser arraig ado s e alicerçados ) pa ra o a mor de Cristo (e ele ora no sentido
de que conheçamos esse amor). Ademais, Paulo reconhece que precisa-
mos de força e pode r, força pa ra am ar e pod er par a compreender o am or
de Cristo. Certamente, estas duas coisas não podem ser separadas, e é
am and o que em parte ficamos sabendo o signifi cado do am or de Cri sto.
Paulo o ra que poss amos compreender o am or de Cristo em suas pl e-
nas dimensões — qu al é a largura , e o com prime nto, e a altura, e a pro
fundidade desse amor. C om entaristas mo derno s nos advert em que não
sejamos dem asiadam ente literais em nossa interpretação, visto que o após-
tolo tal vez s e tenh a entregu e a um pouco de ret órica ou à hipérbole poé -
tica. A mim, porém, parece legítimo dizer que o amor de Cristo é sufi-
cientemente
mente os judeuslargo
e ospara abranger
gentios, a total
o tema destesidade d a hum
capítulos), anidade (especial-
suficientemente
comprido pa ra d urar p or to da a eternidade, sufic ientemente profundo para
alcançar o p ecado r mais degradado, e sufici entemente alto para leválo
ao céu. Ou, con form e a expres são d e Leslie Mitton, ach and o um par ale-
lo com Ro manos 8:3739: “O nde quer que s e vá, pa ra a frent e ou para
trás, subindo até às alturas ou descendo às profundezas, nada nos sepa-
rará do am or de Cristo. ” 19C om entaristas an tigos fo ram ain da m ais lo n-
ge. Viram estas dim ensões ilustr ada s n a cruz. A estac a vertical avançava
para dentro da terra e apontava p ara o céu, e o travessão sustinha os bra-
ços de Jesus, esticados como que para convidar o mundo inteiro e dar
lhe as boasvindas. A rmitag e Ro binso n cham a isto de “ fan tasia bo nita”.20
Talvez ele ten ha razão: é fantasioso; m esmo assim, o que af irm a sobre o
amor de Cristo é verdade.
Pa ulo acresce nta: teremos o pod er de com preend er es tas dimensõe s
do am or de Cristo somente com todos os santos . O crist ão isolado certa-
mente pod e conhecer algo do a mor de Jesus. Su a compreensão desse amor,
no entanto, daforçosamente
Precisase estará
totalidad e do povoli d emitada po r sua
Deus para exper aiênc
entender ia limitada.
totalidad e do
amor de Deus, todos os santos jun tos, jude us e gentios, homens e mulheres,
jovens e velhos, pretos e brancos, com toda sua diversidade e experiências.
Mesmo assim, emb ora com a nossa men te, possamos compreender
as dimensõ es do am or de Deus at é cer to ponto, n ão o podemos conhecer
em nossa experi ência. É po r demais lar go, comp rido, pro fun do e alto até
mesmo par a todo s os santos ent enderem. Excede tod o entendiment o. Pau-
lo já u sa ra esta idéia de “su prem o”, “que ex cede”, no que diz respeito ao
poder21 e à graça22 de Deus. Agora a em prega com respeito ao amor de
19 M itto n, pág . 134 . 20 A rm ita ge R ob in so n, pá g. 176. 21 1:19. 22 2: 7.
98
efésios 3:1421
Deus. O amor de Cristo é tão inescrutável quanto suas riquezas são in
sondáveis (v. 8). Sem dúvida passaremos a eternidade explorando as ri-
quezas inesgotr veis da graça e do amor de Cristo.
d. E nchidos d e toda a plen itude de Deus
Plenitude é um a palavra caracte rística de Efésio s, assim com o de C olo s-
senses. E m Coloss enses , P aulo nos diz que a pl enitud e de Deus h ab ita em
Cristo, mas que , em Cristo, nós tam bém chegamos à plen itud e.23Ao m es-
mo tempo, deixa claro em Efésios que ainda temos espaço para crescer
mais. C om o indiv íduo s, devemos con tin uar a nos enche r do Es pír ito ,24 e
a igreja, em bora já seja a plen itud e de Cristo ,25a ind a deve crescer nele até
atingir a plenitud e de Cristo.2 6 O “cresci mento na plenitude”, po rtan to,
é o tema d a q ua rta e últim a petição que Pau lo faz po r seus leitores da Ásia
Menor.
bem Elecomo
certo ora que sejam
este tomado
genitivo s deentendido.
deve ser toda a plenitude de Deu as.plenitu-
Se é objetivo, Não é
de de Deus é a abun dâ nc ia de graça que ele outo rga. Se é subjetivo , é a
plenitude que enche o próprio Deus; noutras palavras, a sua perfeição. Por
estonteante que seja o pensamento, a ú ltima alternativa parec e ser mais
provável, porque a preposição grega é eis, que indica que devemos ser
cheios não com a plenitude de Deus mas sim até ela, a plenitu de o u per-
feição d e Deus sendo o pad rão ou o nív el até o qual oram os pa ra sermos
enchidos. A aspiração é a mesma, em pri ncípio, daq uela que é sub enten -
dida nos m andam entos para sermos sant os como Deus é santo , e perfei-
tos com o é perfeito noss o P ai celes te.27
Sem elhante oração d ecerto de ve antever o nosso estado final de per-
feição quando, juntam ente, entrarm os na plenitud e do propó sito de De us
para nós, e ficarmos cheios até o limite, cheios até aquela plenitude de Deus
que os s eres hu mano s são capazes de receber sem d eixar em de pe rm an e-
cer hum anos . Outr a ma neira de express ar esta pe rspectiva é que seremos
com o C risto, que é o pro prósi to e a prom essa de D eus, 28 pois o pró pr io
Cristoé édiazer
dade plenitud e de remos
que a tingi De us.aAplenitude
ind a ou tra
do m aneirdoa de equal
amor, xpres sar esta
Paulo a cabver-
a-
ra de fal ar na sua oraç ão. E ntão será cum prida a oração do pró prio Je-
sus: “... a fim de que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles
esteja”.29
Ao dizermos que esta últim a petição de Pa ulo indica a perfeição ce-
lestial, nã o temos liberdade alguma pa ra evitar o desaf io que ela traz pa -
ra o momento presente. Deus, pois, espera que estejamos crescendo em
23 Cl. 1:19; 2:910. 24 5:18.
25 1:23 . 26 4:1316.
27 1 Pe 1:1516; Mt 5:48 . 28 Rm 8:29; 1 Jo 3:2. 29 Jo 17:26.
99
CONFIANÇA NO PODER DE DEUS
100
efésios 3 : 1 4 2 1
em nós, em nós indi vidualmente (sen do que C risto habita em nossos co-
rações pela fé) e em nós como povo (o lugar da habitação de Deus me-
diante o seu Espírito). É o poder da ressurreição, o poder que ressusci-
tou C risto den tre os mo rtos, que o entro nizo u nos lugares celestiais, e que
depois nos ressuscitou e nos entronizou ali com ele. É este o poder que
opera no cristão e na igreja.
A o ração de Paulo est á ligada com o cump rimen to da sua vis ão da
nova sociedade de Deus, a do amor. Pede que s eus mem bros sejam fo rta -
lecidos para am ar e pa ra conhecer o am or de Cristo, em bora est e exceda
todo entendimento. Mas, então, voltase do amor de Deus que ultrapas-
sa o conhe cimento pa ra o po der de De us que ultrap assa a imaginação, do
am or ilimitado p ara o pode r ilimitado. Está, pois, conven cido as sim co-
mo nós devemos ficar convenc idos , de que som ente o po de r divino pode
gerarAcresc
o amorenta
divino na algum
r mais sociedade divina.
a coisa não seria aprop riado, a não ser a do
xologia. A ele seja a glória, exclama Paulo, a este Deus com poder para
ressuscitar, ao Ú nico que po de fazer com que o sonh o se torn e realidade .
O po de r vem d a pa rte dele; a g lória deve ser da da a ele. A ele seja a gló -
ria, na igreja e em Cristo Jesus, no corpo e na cabeça , na comunidade
da paz e no Pacificador, por todas as gerações (na H istória) , para todo
o sempre (na eternidade), A m ém .
III. Novos padrões
Efésios 4:1-5:21
4:1-16
7. Unidade e diversidade na igreja
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de m odo digno
a vocaçã o a que fo stes chamados, 2com ioda hu milda de e mansidão, co m
longan imidade, sup ortand o-vos un s aos outros em a mor,3esforçando- vos
diligent emente p o r preser var a unidade do Espírito no vínculo da paz:
4H á somen te um cor po e um Esp írito, com o também fo stes chamados
nu ma só esperan ça da vossa vo cação; 5há u m s ó Senho r, um a só fé, um
só batismo; 6um s ó De us e Pai de tod os, o qu al é sobre todos , age por
meio de todos e est á em to dos.1E a graça fo i conc edida a ca da um de nós
segun do a prop orçã o do do m de Cri sto. 8Por isso diz:
102
efési o s 4:1-16
103
UNIDADE E DIVERSIDADE NA IGREJA
sendo caracterizada
gaminidade, po rmú
a tolerância cincotua
qualidades:
e o amor .aJáhumildad e, a mansidão,
o rou a Deus a lonar
pa ra sermos
raigados e alicerçados em amor (3:17); ago ra ap ela a nós no sentido de
vivermos um a vida de a mor. É aq ui que el e começa, e tam bém é aqui que
nós de vemos começar . H á pessoas em dem asia que começam com as es-
tru tur as (e estrutu ras de algum tipo são ind ispe nsáveis), m as o apóstolo
começa c om q ualidades morais. Certa mente, na busca d a unidad e cri s-
tã, se é que tem os de escolher, devemos dizer qu e o que é moral é mais im-
portante do que aquilo que é estrutural.
A humildade era mu ito desprezada no m und o antig o. Os gr egos nu n-
ca empregavam a palavra “humildade” ( tapeinotês ) num contexto de apro-
vação , m uito m enos de admiração. Pelo con trário, expressavam com ela
104
efésios 4:1-16
105
UNIDADE E DIVERSI DADE NA IGREJA
106
EFÉSIOS 4 :1 1 6
107
UNIDADE E DIVERSIDADE NA IGREJA
radas, em com pe tiçã o entre si”) . Somos um , pois é Deus quem assim diz,
e nas convenções e nos congress os interdeno minacio nais sentimo s a nos -
sa uniã o su bjac ent e em Crist o. M esmo assim, ex terna e visivi lmente per-
tencemos a igrejas diferentes e a tradições diferente s, algu mas das quais
nem seq uer estão em com unhão umas com as outr as, ao passo que ou -
tras seO próp
desg arraram
rio apóstopalorareconhe
longe doce cristi anismo
est a com bíblico.
binação paradoxal de união
e desunião. N esta m esm a passagem, em que a un ião indestrutível da igreja
é tão enfaticam ente declarada, a poss ibilidade da desun ião é tamb ém re-
conhecida. Co nsidere mos o ve rsículo 3, que por ora havíamo s deixado à
parte, e que nos exorta assim: esfor çando-vos diligentemente p o r pre ser
var a unidade do E spírit o n o vínc ulo da paz. Esta é um a exort ação mui-
to estranha. Em princípio Paulo des creve a união da igrej a como sendo
“a unidad e do Esp írito” (o que signi fica um a unidade que o Espírito S anto
cria), e depois argu menta que esta unidade é tão indestr utível qua nto o
próprio Deus. No mesmo contexto, porém, nos diz também que devemos
man têla! O qu e ele estaria qu erend o dize r? Q ue sentido faz conclam ar
nos a ma nter u m a coisa indest rutível , dizendo que cabe a nós mantêla
sendo es sa “a unid ade do E spírito” , que e le mesmo crio u, sendo, p orta n-
to, de se esperar que Deus é que deve ser pessoalmente responsável por
sua preservaçã o?
Parece haver um a só resposta possí vel a e stas perguntas, a saber: pre
servar a uni da de da igr eja deve significa r preserv ála vi sivelmen te. Aqu i
temos uma exortação apostólica no sentido de preservarmos em verda-
deiros relacionamentos concre tos de am or {no vínculo da paz , ou seja, pela
paz que nos reúne uns com os outros) aquela unidade que Deus criou e
que nem os hom ens nem os demônio s podem destruir . Devemos demo ns-
trar ao m und o que a unid ade que dizemos ex istir de modo indest rutí vel
nã o é a piad a um po uco triste que parece s er, mas, sim, um a realidade v er-
dadeira e gloriosa.
Talvez a analogia de um a fam ília hu m an a nos ajud e a compreender
mais claramente a nossa responsabilidade. Imaginaremos um casal, Sr.
e Sra. J oão da Silva, com seus três filhos , Tomé, R icard o e Ari. São um a
só famí lia; não há d úvida algum a qu anto a is so. O casamen to e a pater-
nid ade os uniram . N o decurso do tempo, porém , a família Si lva se desin-
tegra. O pai e a mãe brigam entre s i, sustentam u m a trégua inquieta por
alguns anos, tor nam se cad a vez mais distantes, e finalm ente se divorciam.
Os três moços tam bém b rigam , prim eiro com seus pais, e depois , uns com
os outros, e se separam. Tomé vai mo rar em Perna mb uco, Ricard o no Rio
Gran de do Sul e Ari, em R ond ônia. N ão se enco ntram , nem se escrevem,
nem se telefonam. Perdem to do o co nta to entre s i. Além disso, estão tão
resol utos no senti do de s e repudiarem uns aos outros, que chegam a m u-
108
efésios 4:1-16
da r seus nomes em cartório. Seria difícil im agin ar u ma fam ília que e xpe-
rim entou u m a desintegração mais desastrosa do que es ta? Todo s os rela-
cionamentos mútuos foram cortados.
Agora, im aginan do que fôsse mos primos d a família Silva, como rea-
giríamos? Daríamos de ombro, sorrindo com complacência, e murmu-
raríavocê
lia, mos:sabe?”
“Ah, bTeríamos
em, não imp
toda orta, aindAos
a razão. a con tinuam
olhos send calculo
de Deus, o um a só
quefamí-
aind a são um a só famíli a, indestr utivelmente. O Sr. e a Sra. J oã o da Sil-
va aind a são m arid o e mulher , e aind a são pais dos seus três fil hos, que
continuam sendo irmãos. N ad a mes mo, poi s, pode alterar a unid ade da
família que as circunst âncias do casam ento e do nascim ento impu seram
sobre ela. Aquiesceríamos, no entanto, com uma situação desta? Procu-
raríamo s desculpar ou subestimar a tragédia da sua desuni ão, ap elando
para a indestrutibilidade dos seus laços familiares? Não, tal coisa não sa-
tisfaria nem a nossa ment e, nem o nosso coração, nem a n ossa consciên-
cia. O que faríamo s, pois? Decerto , deveríamos procur ar se r pacific ado -
res. In staría mos com ele s no sentido de “preservar a unidad e da fam ília
no vínculo da pa z”, ou seja, d em onstrar a unid ade da sua família po r meio
do arrependimento e da reconciliação de uns com os outros.
Exatam ente da mesma maneira, o fato da unidad e indestr utível da
igreja não é desculpa al gum a pa ra concordar com a tragédia da sua de-
sunião atual. Pelo contrário, o apóstolo nos fala: esforçando-vos diligen
temente po r preservar a unidade do Espírito. O verbo grego para “esforçar
se” (spoudazontes ) é enfático. Significa que não devemos poupar esfor-
ço algum, e po r isso cabe bem a palavra ad icional “diligentemente” . Por
contr aste, a traduç ão da ERC, “proc urando gu ard ar”, ou da B J “p rocu -
ran do c onse rvar”, é fraca. Antes, sendo um pa rticíp io do pre sente, é um a
cham ada p ara a atividade con tínua e di ligente. M arkus B arth expre ssa o
sentido de mo do vivi do: “Dificilmente s e pod e traduz ir com exatidão a
urgência contida no verbo grego subjacente. Não somente pressa e pai-
xão, com o tamb ém u m esfor ço total do homem integral está em mira, en-
volvendo a su a vontade, o seu sentimento, a sua razão, a sua força física ,
e a sua atitu de total. O m odo imperati vo do particípio qu e se acha n o texto
grego e xclui a passividade, o quietismo, u ma atitu de de ‘vamos ve r com o
fica ’, ou um a diligência tem per ada por u ma veloci dade be m deliberada.
A inic iativ a é sua! Façao agora! Seja sincero! Você deve fazêlo! Estou
sen do sério! E sta s são as im plicaç ões do versículo 3 .” 14
Onde, me pergunto, esta dili gência em prol da u nidade po de ser acha -
da entre os cristãos eva ngélicos, atualmente? Trata se de um m and am en -
to apo stólico que, em gran de medida, somos culpad os de nã o considerar!
14 Barth, pág. 428.
109
UNIDADE E DIVERSIDADE NA IGREJA
Observem os prim eiro a igreja local, pois presumese que é a ela que
Pau lo se refere em primeiro lug ar. Algum as com unidades cristãs são m a-
culadas por rivalidades entre indivíduos ou grupos, agravadas durante
muitos anos. C om o podem os desculpar tais coisas? Devemos ser diligentes
em prol do amor, da un idade e da paz, e mais ati vos em procurá los.
Efési os, porém, conform e já vimos, pod e ter si do um a car ta cir cu-
lar d irigida a vár ias igrejas. Ta lvez até mesmo n a p ró pr ia cidad e de Éfeso
muitos cristãos se reuniam em vários diferentes laresigrejas. Sabemos, por
exemplo, que Á qüila e Priscila tinh am um a igr eja no seu lar q uan do m o-
rava m em Rom a (Rm 16:3 5), e proval mente tam bém qu and o se m ud a-
ram p ara Éfeso (At 18 :26). Então Paulo pode ter tido em mente a unida -
de entre as igrejas bem com o dentro delas. Sendo assi m, a sua pre oc up a-
ção se ap lica ria aos relacionam entos inteieclesi ásticos de hoje. Este não
épregados
o lugar para
paraentrar em detalhes
os vários tipos desobre os termos
relacionam técnicos
entos que são
existentes em-
entre as igre-
jas, tais quais a “comunhão aberta”, a “intercomunhão”, a “plena comu-
nhã o” e a “un ião orgânica” . H á lugar pa ra difere nças d e con vicção entr e
nós quanto à exata forma ou formas segundo as quais Deus deseja que
a unid ade cristã seja e xpre ssa. Todo s nós, porém , devemos desejar alg u-
ma expres são visível da un idad e cristã, tend o sempre em vista não sacri-
ficar verd ades c rist ãs fund am entais a fim de alcançá la. A unidad e cris-
tã tem a sua srcem em possuirmos um só Pai, um só Salvador, e um só
Espírit o que hab ita em nós. Nã o podemos, portanto, de modo algum, aca-
lentar um a unida de agr adável a De us se negarmo s a dou trin a da Trinda-
de ou se não tivermos chegado a conhecer Deus Pai através da obra re
concilado ra do seu Fil ho Jesus C risto e pelo poder do Espírito Santo. A
unidade cristã autên tica na verd ade, na vida e no a m or é muito mais im-
portante do que planos para “fusões” de um tipo estrutural, embora ideal-
mente as última s devam ser um a expre ssão visível da prim eira.
3. A unidade cristã é enriquecida pela diversidade dos nossos dons
(vs.7-12)
O co ntra ste en tre os versícul os 6 e 7 é notável. O versíc ulo 6 m os tra Deus
como Pai de nós todos, que está sobr e todos, age por meio de todos e es-
tá em todos. O versí culo 7, poré m, com eça: E a graça fo i concedida a ca
da um de nós... Desta maneira, Paulo passa de “todos nós” para “cada
um de nós” e, assim, da unidade para a diversidade da igreja.
Ele est á, na realidade, qua lificand o o que ac aba de escrever sobre a
unidade d a igreja. Em bora ha ja um só cor po, um a só f é e um a só fam í-
lia, esta un idad e não dev e ser interpreta da erroneam ente como sendo um a
un iform idad e sem vida e sem cor. N ão de vemo s imag inar que cada cris-
tão seja um a réplica exa ta de todo s os demais, com o se tivé ssemos sido
110
efésios 4:116
111
UNIDADE E DIVERSIDADE NA IGREJA
112
efésios 4:1-16
com o Moisés rece beu a lei e a deu a Israel, assim tam bém Cris to recebeu
o Esp írito e o deu ao seu povo a fim de escrever a lei de Deus nos seus co -
rações e, através dos past ore s que no meou (v. 11), ensin arl he a verdade .
Todo este argumento é no sentido de “receber” e “dar” pertencerem in
dissoluvelmente um ao outro, conforme é ilustrado muito bem em Atos
2:33,
Deus,on de Pedro
tendo dissedono
recebido Paidia de Pen tecos
a promessa do te: “Exaltado,
Espírito pois, à destr
Santo, (Jesus) der- a de
ramou isto que vedes e ouvis”. Cristo somente poderia dar o dom que
recebera.
Depois da citação do Salm o 68:1 8, P aulo acrescenta entre par êntese s
que o fato de Cristo ter subido ao céu subentende que tamb ém havi a des
cido até às reg iões inferi ores da terra (v. 9). Por causa do contexto ime-
diato, que diz r espeit o aos dons que C risto deu à igreja após a ascensã o,
G. B. Caird faz ou tra sugestão: q ue sua “descida” fosse sua “volta no P en-
tecoste pa ra d ar o Esp írito à igreja ”.20Mas, po r m ais enge nh osa qu e se-
ja esta idéia, a interpretação natural das palavras sugere que sua descida
antecedeu sua su bida ao inv és de seguila. C ristãos prim itivos entend iam
que se trata va de um a referência à descida de Cristo até o had es.21A sso-
ciava m a expressão com 1 Pedr o 3:19 (“ foi e preg ou aos espírito s em p ri-
são”) , que interpretavam no sentido de e le des poj ar ou “f erir” o inferno.
Mas, seja qual for o s ignificado do text o em 1 Pedro, não h á nen hu ma re-
ferên cia óbvi a ao hades ou in fern o em Efési os 4:9. Calvino (seguido po r
com entarist as da Reforma ta is como Charle s Hodge) argum entou a pa r-
tir da expressão “subiu ao céu” em João 3:13 que “às regiões inferiores
da terra ” é um genitivo de aposição ou definição, que si mplesm ente sig -
nifica “a terra”, e que a descida de Cristo referese à sua encarnação. J.
B. Phillips em CIN entende a expressão da mesma forma, dizendo que
Cristo desceu “ da a ltura do Céu ao abism o deste m un do ”. Talvez, no en-
tanto, a referê ncia sej a ainda m ais ge ral, o u seja , que C risto des ceu pa ra
as profundezas da humilhação quando veio à terra. Ou, possivelmente,
a alusão seja à c ruz, e “à experiência das profun deza s ulter iores , as pró -
prias agonias do inferno”22 que Cristo suportou ali.
Semelhante interpretação se encaixaria muito bem com Filipenses
2:511, on de “e morte de cru z” descreve sua mais pro fu nd a hum ilhação,
que foi seguida por sua suprem a exa ltação, “ acima de tod o principado,
e potestade, e poder, e domínio, e de to do nom e que se possa referir ” c on -
forme Efésios 1:21, e aqui, acima de todo s os céus, para encher todas as
coisas (v. 10), ou “qu e agora subiu acim a dos Céus , p ara q ue todo o un i-
verso, de alto a baixo, pudesse conhecer a sua presença” (CIN). O que P au-
lo tem em mente, portanto, não é tanto a descida e a subida em termos
20 C ai rd , pág s. 7374. 21 A t. 2:25 ss. e Rm 10:7. 22 H en dr ik se n, pá g. 193.
1 13
UNIDADE E DIVERSI DADE NA IGREJA
espaciais mas, sim, a hum ilhaç ão e a exaltação, sen do que esta últim a tro u-
xe a Cris to a auto rida de e o poder unive rsais. Co mo resultado, Cristo o u-
torga à sua igreja, tanto o próprio Espírito para habitar nela quanto os
dons do Espírito para edifi cála ou lev ála à maturidade.
À luz dessa ênfase dada a Cristo, ascendido, exaltado, enchendo o
unive rso,charismata
sar nos regendo a i greja
como, osendo
uto rgaexclusivamente
nd o dons, seria“dons
um e do
rro Espírito”
evide nte epe n-
asso ciá los muito estr eitamente com o E spírito Santo o u com exper iên-
cias do Espírito Santo. Aqui, pois, são os dons de Cristo, ao passo que
em Ro man os 12 são os dons de Deus Pai . Sempre é enga noso sepa rar as
três Pessoas da Trinda de, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Es tão envol -
vidas, juntas, em todos os aspectos do bemestar da igreja.
b. O caráter do s don s espirituais é extrem am ente variado
Pa ulo diz especific am ente em 1 Coríntio s 12:4: “ Ora, os dons são diver-
sos!’ É im port ante lembrar este fato, pois muitas pessoas hoje têm u m con -
ceito muito restrito dos charismatas. Por exemplo, algumas pessoas fa-
lam e escrevem sobre os “nove dons do Espírito”, presumivelmente para
formar um paralelo nítido, porém artificial, com os nove aspectos do fruto
do Esp írito.23Outros parecem estar preocup ados, até mesmo obce cados,
com apenas três dos dons mais espetaculares (línguas, profecia e cura).
Na realidade, porém , as cinco listas dadas no Novo Testamento mencio-
nam, no seu
quais são conjunto,
muito pelo
simples, m aspectos
sem enos vintsensacionalistas
e dons distintos(tais
entrecomo
s i, alguns
“exer-dos
cer misericó rdia”, Rm 12:8). Além disso, cad a lista di verge consideravel-
mente das demais , e dá sua sel eção de dons de for ma aparentem ente alea-
tória. Este fato suge re não apenas que nen hu m a lis ta individual é com -
pleta em si m esma, como também que até mesmo todas as cinco juntas
não represent am o universo de todos os dons. Sem dúvida, há m uitos ou -
tros que não estão listados.
Em nosso tex to, P aulo seleciona apena s cinco par a sere m men ciona-
dos. Cristo (auto s, ele mesm o, é enfático, v. 11) concedeu uns para após
tolos, outros pa ra profetas, outro s para evangelistas, e ou tros pa ra pas
tores e mestres. A palavr a “apó stolo ” tem três signific ados principais no
Novo Testamento. Um a só vez parece que é aplicada a todo cristão indi-
vidual, q ua nd o Jesus di sse: “ O servo nã o é maio r do que s eu senhor, nem
o enviado (apostolos) m aio r d o q ue a que le qu e o en viou!’24Assim , tod o
cristã o é tan to um servo quanto u m apósto lo. O verbo apostello signifi-
ca enviar, e todos os crist ãos são envi ados ao mun do como em baixado-
res e testemun has de Crist o, p ara participarem da missão ap ostólica de
23 GI 5: 22 2 3. 24 Jo 13:16.
114
efésios 4:116
to da a igreja .25Porém este não p ode ser o significado neste trecho, pois
neste sentido to dos os cri stãos seriam apósto los, ao passo que Pau lo es-
creve que Cristo concedeu apenas “uns” para serem apóstolos.
Em segun do lugar, havia “apó stol os das igrejas”,26men sageiros en-
viad os por um a igr eja como missioná rios ou com algum a ou tra incum -
bência. E, em terceiro lugar, havia os “apóstolos de Cristo”, um grupo mui-
to p eque no e dist intivo, que consistia nos doze (inclu sive Matias, que subs-
tituiu Juda s), Paulo, Tia go, irmão do Senhor , e possiv elmente um ou dois
mais. Foram pessoal mente esc olhid os e auto rizad os po r Jesus, e tinh am
de ser testemunhas oculares do S enh or ressur reto .27Deve ser neste sentido
que Paulo está usando a palavra apóstolos aqui, pois colocaos em pri-
meiro lugar na sua lista, assim como faz também em 1 Coríntios 12:28
(“primeiramente apóstolos” ), e é assim que até ago ra te m u sado a p ala-
vra na sua cart a, referindos e a si mesmo (1: 1) e aos seu s colegas ap ós to -
los como sendo o fundamento da igreja e os meios da revelação (2:20;
3:26).
Não devemos hesitar, portanto, em dizer que neste sentido não há
apó stolo s hoje. Em 1975 Joh n N oble es creveu e pub licou u m livreto com
o título: Firs t Apostl es, Last Apostles. Nele, sua preocup ação é “desper-
tar m eus irm ãos cri stãos a procur arem apóstolos p ara m oldar a vida da
igreja e m nossos dias” , sendo que el es “u nirã o e desenca dea rão um exér-
cito sob a liderança de Deus que cum prirá seus propósitos neste s tempos
do fim ”. Seu modo de e ntende r a Histó ria é que qua nd o os apóstolos ori-
ginais mo rrerram , “deixaram um vazi o de autoridade, que fo i preenchi-
do pelos homens errados”, isto é, pelos bispos. Critica tanto o catolicis-
mo qu anto o protestantismo, aque le po r “investir auto rida de abso luta em
um só hom em ” e este por “da r a cada indivíduo o direi to de dom inar na
igrej a”. Certamente podemos conco rdar com ele que no curso da long a
e acide ntad a história da i greja tem havido m uitos abusos de auto ridade ,
mas ele perde na sua exposição as verdades vitalmente importantes: (1)
de que ressurreto,
tórico os apóstolosobviamente
src inais, como testemun
nã o pod has oculares
em ter sucessor do Cristo
algum, e (2) deh que
is-
a au to rid ad e deles é conservada hoje no Novo Tes tamento, qu e é, essen-
cialmente, a “sucessão apostólica”. Mas, uma vez que nos firmemos no
ponto de que não há hoje apóstolos de Cristo com um a autoridade com-
parável com a dos apóstolos Paulo, Pedro e João, é certam ente possível
arg um en tar que ha pessoas com ministérios apostó licos de um tipo dife-
rente, inc lusive a jurisdição episc opal, a o bra m ission ária pioneira, a im-
plantação de igrejas, a liderança itinerante etc.
25 Jo 17:18; 20:21.
26 2 Co 8:23; cf. Fp 2:25 . 27 At 1:21, 22; 10:4041; 1 Co 9:1; 15:8 9.
11 5
UNIDADE E DIVERSIDADE NA IGREJA
116
efésios 4:116
cess
amp ário p ara aento
lo suprim edificaç
de mesão dtres
a igrej
que atenha
de Deus em cad
m dons d a aparte
ger ação do que
de Deu s. Mum
es-
mo assim, fico pensand o que esta ne cessi dade nunca foi maio r do que em
noss os próprios dias. Em algumas áreas do terc eiro mundo, grandes m o-
vimentos popula res estão se realizan do. G randes números, em alguns casos
aldeia s e tribo s inteir as, estão aceitando a Cristo, e o ritm o do cresciment o
da igrej a está ultrap assan do a tax a do cres ciment o po pulacional. N o en-
tanto, est e fato em ocionante traz c onsi go tanto problemas qu anto peri-
gos. Os convertidos recémbatiza dos são nenês es pirituais. C om o tais, es-
tão inclinados a o pec ado e ao err o, e quase indefe sos con tra os falsos en-
sinos. Acima de tudo, necessitam de ensino com base n a Palavr a de Deus.
Em algumas situações, por incrível que pareça, os missionários estão pe-
dindo u m a m orató ria nas con verções. “P or misericórdia ”, oram a Deu s,
“não nos dê mai s nenhum , p orque não sabemos o que faz er co m os mi-
lhares que já tem os”. Às vezes recom endo a m eus amigos carism áticos,
alguns dos quais estão preocupados, segundo me parece, com dons me-
nos impo rtantes, p ara que s e lembrem das palavras de Paulo: “Procu rai,
com
dons zelo, os melho
de ensinar. É ores do ns”,3
ensino qu e1eedifica
para qu e considerem
a igreja. A maio rsenecessidade,
estes não são os
hoje,
é de mestres.
Outr a pe rgun ta im po rtan te é levantada p or este versículo (11). Nele
não há menção de bispos ou diáconos (aos quais é feita referência, por
exemplo, em Fp 1:1 e 1 Tm 3:1 ,12 ), e muito m enos d a ordem tríplice “bis-
pos, presbíteros e diáconos” que veio a ser desenvolvida no século II e que
é reconhecida de modo generali zado na cristanda de hoje. Com o dever ía-
mos explica r ess a om issão aqui? Tratase apen as de um a etap a anterior,
antes da situaçã o m ais des envolvida refletid a nas e pístolas pastorais? A l-
30 Cf. Jo 21:15 17; At 20:28; 1 P e 5 :2 . 31 1 Co 12:31.
118
efésios 4:116
do com esta traduçã o, Cristo teve em mente três propósitos distintos. Creio
que Arm itage Robinson foi o primeiro com entarista a insist ir que se tra -
ta de um erro. “A segu nda d estas clá usu las”, escreveu, “deve ser con side-
rada d epend ente d a prim eira, e não... co ord ena da com ela!’34 Noutras pa-
lavras, a prim eira vírgula (” a vírgula f atal”35), que “ nã o tem a utori da de
lingü ística mas, sim, indu bitável te ndê nci a eclesiológica” 36, deve ser ap a-
gada. Se for perm itida a sua p resenç a, estarem os diante de “um resulta-
do entristecedor”, pois “o versículo significará, então, que somente os mi-
nistros e speciais, e nã o tod os os santos, são cham ado s pa ra fazer ‘o tra -
balho do ministério’ e para cooperar na ‘edificação do corpo”’ Esta in-
terpre tação “tem um sab or aristocrático, ou seja : um sabor cleri cal e ecle-
siástico, d istingue en tre a (m assa dos) ‘san tos’ e a (classe sup erio r dos) o fi-
ciais da igreja”.37
120
efésios 4:116
122
efésios 4:116
dom, com o po de ser atin gid a com o um alvo? Provavelmente devamos r es-
ponder que, assim como a unidade precisa ser preservada visivelmente,
assim também precisa ser atingida plenamente. Há, pois, graus de uni-
dade, assim como h á graus de sant idade. E a unid ade à qual devemos che-
gar um dia é aquela unidade p lena que s erá possibilitada por u ma plena
fé no
de F ilho
mod de Deus
o eficaz e um ento
o argum plenodeconh
queecimento
a uni dad edele.
po deEsta expressã
crescer se moarefuta
fé ou
sem o conhecim ento cristãos. Pelo contrário, é exatamente na me dida em
que conhecemos o Filho de Deus e confiam os nele que cr escemos no t i-
po de unidade uns com os outros como ele deseja.
Esta unidade plena também é cham ada de a perfeita varonilidade.
Alguns interpretam esta exp ressão individualmente par a cad a cristão que
cresce na m atu rida de em Cristo , o que é certam ente um conceit o neotes
tamen tário. O contexto, porém , parece exigir que a entendam os co rp ora l-
mente. A igreja é retra tad a como sendo um único organismo, o co rpo de
Cristo, e deve crescer para a estatura adulta. De fato, Paulo já se referiu
a ela como sendo a nova hum anidad e que De us está cria ndo, o u com o sen-
do o nov o hom em (2:15). À unicida de e à novidade deste homem ele acres-
centa, agora, a maturidade. O novo homem deve chegar à perfeita varo
nilidade, que se rá na da menos do que a med ida da estatura da plen itude
de Cristo, a plenitude que o próprio Cristo possui e outorga.
Em bo ra pareça que e ste cresciment o para a m aturid ade seja um co n-
ceito corpo depende
claramente ral, descrevendo a igreja
da maturidade doscomo um a totalidade,
seus membros mesmo
individuais, con-assim
forme Pa ulo passa a dizer: para que não mais seja mos como meninos (v.
14). N atura lm ente devemo s ser se melhant es às crianças na sua hu m ilda-
de e inocê ncia ,41m as n ão n a su a ignorân cia nem n a sua instabil idade. As
crianças instáveis são como barquinhos num mar tempestuoso, inteira-
mente à mercê dos ventos e das ondas. Paulo pinta um quadro gráfico,
agitados de um lado para outro (Klydõnizomeno i, de Klydõn, “água tur-
bulenta” ou “ressaca”) que significa “jogados para cá e para lá pelas on-
das” (AG) e levados ao redor ( periphe rome noi ), que significa “rod opiand o
por ventos mutáveis”.42 Parece que Platão empregou esta últim a palavra
com referência aos piões, o que levou E. K. Simpson a rotular tais pes-
soas de “v entoinhas”. 43 A BL H capta a im agem de crianças nu m a tem -
pestade ao traduzir: “arrastados pelas ondas e empurrados por qualquer
vento”. Tais são os cristãos imaturos. Parece que nunca conhecem a sua
própria vontade nem chegam a convicções firmes. Pelo contrário, suas opi-
niõe s parecem ser as do últim o pre gador que ouv iram ou d o últim o liv ro
41 Mt 18:3; 1 Co 14:20.
42 Armi tage Robins on, pág. 183. 43 Simpson , pág. 97, no ta, e pág. 98.
123
UNIDADE E DIVERSI DADE NA IGREJ A
124
efésios 4:116
um a luta. O utro s cometem o erro oposto. Est ão resolut os, custe o que cus-
tar, a sus ten tar e dem onstra r o am or f raternal, m as, a fim de f azêlo, es-
tão dispo stos a sac rificar até mesmo as verdades centrais da r evelação. Es-
tas duas tend ências são antibíblicas e desequilibradas. A verdade se to r-
na ríspida se não for equili brada pel o amor; o am or tornase frouxidão
se
os não
dois for fo rtalecido
ju nto s, o qu e pela
nã o ve
deverdade. O apóstolo
ser d ifícil par a crenos
ntesexort aam
ch eios doanterm os
E spírito
Santo, visto q ue ele mesm o é o Espírito d a verdade, e o seu prim eiro fr u-
to é o amor.*6 N ão há ou tro rot eir o senão e ste par a che gar a um a unid a-
de cristã plenamente madura.
Conclusão
Aqui,pois , tem os a visão de Paulo pa ra a igrej a. A nova soc iedade d e Deus
deve demonstrar amor, unidade, diversidade, e uma maturidade sempre
crescente. E sta s sã o as caracterís ticas de uma vida digna da vocação a que
Deus nos chamou, e que o apóstolo nos roga a vivermos (v. 1).
Quan to m ais com partilharmos d a perspectiva de Paulo, mais profu n-
da ser á nossa insatisfação com o status quo eclesiástico. Alguns de nós
somos po r de m ais conser vador es, po r demais complac ente s, p or demai s
prontos a concordar com a situação presente e resistir a mudanças. Ou-
tros são p or dem ais radi cais, q uerendo desfazer totalmente a instit uição.
Devemos, pe lo c ontr ário , entende r mais claramente o tipo de nova soci e-
dade que Deus deseja que sua igreja seja. Então não ficaremos satisfei-
tos, nem com as coisa s como estão , nem com soluções parcia is mas, pelo
contrário, o rarem os e trabalharemos p ela r enovaç ão total da igre ja.
Alguns p roc ura m princi palmente a s estruturas de unid ade mas, se -
gun do parec e, não têm a m esma preocup ação n o sentido de que a igre ja
se torne u m a co munid ade verda deiramente solícita, m arcada pela humil-
dade, pela m ans idão , pela longani midade, pela paciê ncia e m su po rtar e
pelo amor. A preocupação principal de Paulo não é com estruturas; co-
meça e termina com o amor (vs. 2, 16).
Outros d ão muita ênf ase à unidade da igrej a como um conceito teo-
lógico claramente articulado na sua mente, mas, segundo parece, nada
vêem de anormal na desunião visível que contradiz a sua teologia.
Outros se satisf azem com um a uniform idade da vida e da liturgia da
igreja que é maç ante , enfado nha, sem cor, m on óto na e morta; nu nca ti-
veram um vis lum br e da variedade que Deus que r que ex ista, nem da d i-
versidade de ministér ios que deve enriquecer e vivificar sua filiação no cor-
po de Cristo.
46 P.ex. Jo 14:17; 15:26; 16:13; G1 5:22.
125
UNIDADE E DIVERSIDADE NA IGREJA
Isto, portanto, digo, e no Senhor testifico, que não mais andeis como tam
bém andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos,
lsobscur ecidos de entendime nto, alheio s à vida de Deus p o r causa da ig
norânci a em qu e vivem, p ela dureza dos seus cor ações, 19os quais, tendo-
se tornad o insensív eis, se entr egaram à dissoluç ão para, com avidez, co
meterem toda sorte de impurez a. 20M as não fo i assim que aprendestes a
Cristo, 21se é que de fa to o tendes o uvido, e nel e fo st es instruídos , segun
do
vosédea spojeis
verdadedoemvelho
Jes us,
hom22no
em,sequnti docorrompe
e se de que, qusegundo
an to aoastrato
concupassado,
piscên-
cias do engano, 23e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, 24e
vos revistais do n ovo h om em , criado s egu ndo Deus, em ju stiç a e re tidão
procedentes da verdade.
O que s e no ta de im ediato é a ênfase dad a pelo apósto lo ao fator intelec-
tual no modo de vida de todas as pessoas. Quando descreve os pagãos,
cham a a atenç ão à vaidade d os seus próprios pensamen tos, acrescenta que
estão obscur ecido s de entendim ento e atribui su a alienação de Deus à ig
norância em qu e viv em . Referese, portanto, às suas mentes vazias, ao seu
entendimen to obscure cido e à ignorância que têm, o que o s torn ou em-
pedernidos, licenciosos e im puros. Mas, em contraste com eles, os cren-
tes tinham aprendido a Cristo, tinhamno ouvido, tinham sido instruí
dos nele, tu do de acordo com a verdade que está em Jes us. Em contra ste
com as trevas e com a ignorância dos pagãos, Paulo coloca, portanto, a
verdade de Cristo que os cristãos tinham aprendido. As Escrituras dão
test emunho, sem vac ilação, do pod er da ignorânc ia e do erro p ara ca usa-
rem a corrup ção, e do po der da verdade para libertar, enobrec er e refinar.
a. A vida pa gã (vs. 1719).
Qua l é, porém, a srcem das t revas nas mentes pagãs, qua nd o o pró prio
Deus é luz, e está continuamente falando à humanidade através da sua
cria ção, e tanto o céu quan to a terra declaram a sua gl ória? É devida à du
reza do s seus corações, diz Paulo. A p alavra que emprega é põrõsis, e quan -
to à sua deri vação e história, Arm itage Robinson forn ece uma lon ga n o-
ta adicio nal. 1Põro s era “um tipo de m ármore” ou, em termos médi cos,
um “calo” ou um a “ form ação óssea n as jun tas ”. Logo, o verbo põroun
1 Armit age Robins on, págs . 264274.
128
efésios 4:175:4
seguilo.
dig nad o eCertamente
con do íd o Marcos 3:5 (onde
com a dureza Jesus
dos seu “olhandoosparece
s corações...”) ao redor,
sub in-
ente n-
der um a ob tusid ade delib erada . Voltando pa ra o nosso te xto em Efé sios,
a trad uç ão po de ria se r: “ suas mentes se torn ara m duras como pe dra”, e
poderseia até empregar a palavra “teim osos”. J. H. Houlden comenta:
“A im ora lida de pa gã é vis ta com o deliberad a e culpável..., o resultado da
sua de liber ada recusa à luz moral, qu e lhes é dispon ível no seu próp rio
pensamento e consciência!’3É verdade que no uso bíblico, o coração e a
mente não podem ser separados, visto que o coração inclui nossa capa-
cidade par a p en sar e entender. M esmo ass im, há um a distinção real en-
tre a ignorância e a dureza ou a teimosia.
. Se juntarmos as expressões de Paulo, notando cuidadosamente suas
conexões lógicas (especialmente po r causa de e pela , traduçõe s da prepo -
sição grega “dia”), parece que ele está retratando o terrível caminho do
mal, qu e com eça com um a rejeição obstinad a da verda de de Deus já co-
nhecida. E m prim eiro lugar ve m a dureza d os seus corações, depois, sua
ignorância, estando obscurecidos de enten dim ento, e depois, con seqüe n-
temente,
que, alheios àsevida
finalmente, de Deus,
tornaram visto queseDeus
insensíveis, se volta àcontra
entregaram eles, até
dissolução pa
ra, co m avidez, cometerem toda sorte de impureza. Nad a os refreia de sa-
tisfazer seu dese jo im undo. Deste modo, a dureza de coração le va prim ei-
ram ente às tre vas mentais, depois à i nsensibilidade da alma sob o ju lg a-
mento de Deu s e, finalmente, à vida desenfreada. Te ndo perdido tod a a
sensibil idade, a s pessoas perdem todo o autocontrole. É exatament e a se-
qüên cia que P au lo dese nvolve na p arte fina l de Romanos 1. Um a tabela
com parativa talvez ajude a dem onstrar es te fato:
2 Ib id., pág . 267. 3 Ho uld en, pág. 317.
129
UMA NOVA ROUPAGEM
Etapa 1: A obstinação
21 dade pelaconhec
“Tendo injustiça”
imen to d e dos seus coraçõe s”
Deus não o glorificaram co
mo Deus”
28 “Po r haverem despre zado o
conheci mento de Deu s”
Etapa 2: As trevas
Etapa 4: A temeridade
130
efésios 4:175:4
Estas são expr essões notáveis. “Trazem à men te o qua dro de um a es-
cola”4e referemse à instrução catequética que Paulo toma por certo, e
mesm o sabe, que rec eberam. Confo rm e a prim eira exp ressão, o próp rio
Cristo é a substâ ncia do ensin o cristão. Assim com o os evangel istas pre
gam a Cristo ,5 assim tamb ém seus ouvintes aprendem a Cristo, e o rece
bem, ou seja: uma tradição a respeito dele.6 Mas, que tipo de Cristo
aprendem? Não apenas o Verbo feito carne, o Deushomem sem igual, que
morreu, que ressuscitou e que reina. Mais do que isto. A implicação do
contexto é que também devemos pregar seu senhorio, o reino ou domí-
nio da justiça que ele inaug urou , e todas as exigências mo rais da nova vi-
da. O Cristo a quem os efésios tinham aprendido chamavaos para pa-
drões e valores totalmente em desacordo com sua vida pagão anterior.
Em segundo l ugar, Cristo, que é a substân cia do ensino (“apren des-
tes a C risto”) é ele mesmo o mestre (“ o tendes ouv ido”). Pau lo to m a p or
certo
ouv idoque,
a vatravés da vozLogo
oz de Cristo. dos seus mestres
, q uan cristãos,
do a instruç ãoeles realmente
m oral tinhames-
bíblica sadia
tá sendo dada, podese dizer que Cristo está ensinando sobre Cristo.
Em terce iro lugar, tinh am sido instruídos nele. Ou seja: Jesus Cris-
to, além de ser o ensinador e o ensino, também era o conteúdo, até mes-
mo o am biente em que o ensino era dado. Q ua nd o Jesus C risto é, ao mes-
mo tempo, o ass unto, o objeto e o ambiente da instru ção m oral que está
sendo d ada, podemos ter co nfianç a de que é verdade iramente cri stã. Por
4 Barth, Ephesians, II, pág. 504.
5 2 Co 4:5. 6 Cl 2:6.
131
UMA NOVA ROUPAGEM
132
efésios 4:175:4
1 33
UMA NOVA ROUPAGEM
la. Não, a nov a hum anid ade que assumimos é criação d e Deus, n ão n os-
sa. M esmo assi m, q ua nd o Deus nos cria de novo em Crist o, concord am os
inteiramen te com aquilo qu e ele fez. “D esp ojam os” n ossa velha vida, e
“nos reves timos” da n ova vida que el e criou, abra çand oa e dando lhe as
boasvindas com alegria. Numa palavra, a nova criação (aquilo que Deus
faz) emojunto
nece arrepes ndim
e nãoento
podem(aquilo
ser que nósdos.
separa fazemos pela graça d ele) perm a-
Tudo isso tin ha sido ensinado aos cristãos de Éfeso e do re stante da
Ásia. Tinham sido efici entemente fund am entad os na n atureza e nas con-
seqüência s da nova criação e da nova vid a. Fazia parte da verdade em Jesus
que tinham aprendido. Não somente tinham sido ensinados a despojar
o velho e a revestir-se do novo. J á o tinham feito. A realidad e ocorreu n a
ocasião d a conversão de les. Depois, o simbolism o pode ters e seguido na
ocasião do seu batismo, pois alguns batismos primitivos incluíam uma
inve stidura ceri monial com u m a veste bra nc a." Ag ora Paulo os recorda
do que aprenderam e fizeram.
Olha nd o de volta par a este versículos, p odem os talvez entend er mais
clara mente os do is sóli dos fundame ntos d outrin ários par a a santidade cris -
tã que Paulo lançou. São como du as ra ízes das quais a santidade brota
e cresce. Prim eiro, p assam os p ela experiência de um a nova criaç ão e, em
segundo luga r, com o conseqüência, recebemo s um a nova mente que cons-
tantem ente está sendo renova da. Além dis so, as duas estão organicamente
relacionadas entre s i. É a nossa nova criação qu e nos deu um a nova ment e;
e é a noss a nova mente que entende a n ossa nova criação e suas conseqüên -
cias. Visto ser e la um a nova criação con form e a sa nta imagem de Deu s,
envolveu para nós a tot al rejeição da nossa antig a con dição de caídos, e
o nosso reve stimento c om gratidã o d a nossa nova condi ção hu mana.
Por isso, P aulo continua , “deixan do a mentira, fal e cada um a ver-
dade ” (v. 25). Ou seja, por qu e realm ente vos despojastes do seu velho “eu”
de uma ve z po r todas, deveis agora lançar fora tod a a con duta que per-
tencia à vos sa velha vida . Vosso novo com po rtam en to deve estar com ple-
tamente consistente com o tipo de pessoa que vos tornastes. Conforme
já notamos, a metáfora (“despojarse” e “vestirse”) é tirada da maneira
de nos vestirmos. Agora pode ser mais desenvolvida.
O tipo de roupas que usamos depende do tipo d e pap el que est amos
desempenhando. Por exe mplo, qua ndo vamos a um casamento, usamos
um certo tipo de roupa: qu an do vam os a um enterro, usamos ou tro tipo.
Reconheço, naturalmente, que alguns jovens no ocidente usam “jeans”
em todas as ocasiões. Mesmo assim, o costume de adaptar o nosso mo-
do de vestir de acordo com a ocasião, aind a perman ece como um princí-
11 Cf. G1 3:27.
134
efésios 4:175:4
pio geral. As roupas de m uitas pessoas são determinadas, além disso, pelo
ofício. Os soldados e os marinheiros usam uniformes diferentes. Os ad-
vogados têm roupas especiais, pelo menos quando comparecem no tri-
bunal. Assim também alguns dos clérigos. Assim também os presos e os
condenados. Quando, porém, mudamos de papel, trocamos de roupa.
Quando os presos
(despojandose de são soltos edaassumindo
um papel custódia eoutro),
voltamtrocam
a ser homens livres
as roupas que
usam (tirando o uniform e da prisão e vest indo roupas comuns). De mo -
do semelhante, qu an do o so lda do deixa o exército e torna se um civi l, ti -
ra o un ifor me e vestese à paisan a. Ex atam ente assim, visto que po r um a
nova criação tiram os a velha hum anid ade e vestimos a nova, devemos tam -
bém deixar de lado os velhos padrões, e ad otar os novos. Nosso novo pa-
pel envolverá novas roupas, e nossa nova vida, um novo estilo ético de viver.
135
UMA NOVA ROUPAGEM
b. N ão perca a calm a mas , sim, tenha cert eza de que sua ira é ju st a (vs.
2627)
Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, 21nem deis
lugar ao diabo.
Irai-vos, e não pequeis é um eco do Salmo 4 :4. Parec e que esta form a de
palavras é um a expressão idiomática hebraica que permite, mas que res-
trin ge, a i ra, ao i nvés de ser realmente um a recom endaç ão dela . “Q ua n-
do estiver em irados, n ão p equ em ” (BV) seria um equivalente em nossa lin-
guagem. Mesmo
tã, e bem pou assim, os são
cos cristão versículo
os quereconhece
a sent emque
o u aexi stessam.
expre a ira que é cris-
Realm en-
te, qu an do deixamos de assim f azer, neg amos a Deus, prejud icam os a nós
mesmos, e encorajamos a divulgação do mal.
As Escrituras nos ensinam claramente que há dois tipos de ira: a ju st a
e a injusta . No ver sículo 31, a ira é um a das coisas desagr adávei s qu e de-
vemo s coloca r longe de nó s. D ecerto, a referência é à ira injusta. M as em
5:6 som os infor mado s sobre a ira d e Deus que virá sobre os desobed ien-
tes, e sabemos qu e a ira de Deus é just a. Justa ta mbém foi a ira de Je sus. 15
Deve, porta nto , haver um a ira bo a e verdadeira que o povo de Deus pode
13 Fi nd lay , pá g. 292. 14 M ac ka y, pá g. 213. 15 Mc 3:5 .
136
efésios 4:175:4
137
UMA NOVA ROUPAGEM
138
efésios 4:175:4
nas que refletem a nossa sem elhança com o C riador. Nosso Deus, poi s,
fala, e como ele, nós tamb ém falamos. A fala disting uenos da c riação ani-
mal. As vacas podem m ugir, os cachorr os latem, os asnos zurra m, os po r-
cos grun hem , os cordeiros balem, os leões rugem, os macacos guincham
e os pássaros cantam, mas somente os seres humanos sabem falar.
Po raq
“Torpe” isso não s aia da vossa boca nen hu ma palavra torpe, dize Paulo.
ui,é sapros, palavra q ue se emprega pa ra árvores podres frutos
podres.21Q uando é aplicada à conversa podre, podem os ter a certeza de
que, de algum a m aneira, preju dic a os ouv inte s. P elo contrário, devemos
empregar o no sso dom sem igual da fala de modo const ruti vo, para edi
ficação, ou seja, para sermos construtivos com as pessoas e não para
prejudicálas ou destruílas, conforme a oportunidade. En tão nos sas pa-
lavras transmitirão graça aos que o uvem .
Jesus ensinou a grande relevância da fala. Nossas palavras revelam
o que há em nosso coração, disse ele, e teremos de prestar contas no dia
do juízo de to da palavra frí vola que t enham os pro nun ciado .22Desta ma -
neira, Tiag o estava apenas re petind o o ensino do se u Mestre qu and o en-
fatizou o imenso pod er d a língua hu m an a pa ra o bem e para o m al.23 Se
somos ver dadeiram ente um a nova criação de Deu s, dese nvolveremos, in-
dubitavelmen te, novos pad rõe s de conversação. Ao inv és de ferir as pes-
soas com n ossas palavras, desejaremos us álas par a ajudar, encorajar, ani-
mar, co nsolar e estim ular tais pessoas. Eu, pessoalmen te, m uita s vezes te-
nho sido desaf iado pela fa la contrasta nte entre o sábio e o insensato e m
Provérbios 12:18: “Alguém há cuja tagarelice é como pontas de espada,
mas a língua dos sábios é medicina”.
Não é evidente por que Paulo agora introduz o Espírito Santo: E não
entrist eçais o Espírito de Deus, no qual fo st es selados para o dia da re
denção (v. 30). O apóstolo, porém, estava constantemente consciente de
que, por trás das ações dos seres humanos, personalidades invisíveis es-
tão presentes e ativas. Acaba de nos advertir no sentido de não darmos
opo rtu nid ad e ao diab o (v. 27); ago ra nos conclam a a não en tris tecer mos
o Espírito Santo. Fica evidente aqui que o Espírito Santo é plenamente
pessoal, pois lypeõ é causar tristeza, dor, ou aflição, e somente pessoas
podem sentir estas coisas. Mas o que entristece a ele? Visto que ele é o “Es-
pírito Santo”, sempre está entristec ido pela fa lta de santidad e, e sendo e le
“um só Espírito” (2:18; 4:4), a desunião também lhe causará t risteza. Na
verdade, qualq uer coisa incompát ivel com a pureza ou com a unidade da
igreja é incom pátivel com a sua próp ria nat urez a e, po rtanto, fereo. Po -
deríam os acrescentar que , p orqu e ele também é o “Espírito d a verdade ”,
atra vés de quem Deus falou, ele é entriste cido po r tod o o nosso abuso da
21 M t 7:1 7 18 e 12:33 . 22 M t 12: 33 37 . 23 Tg 3:112.
139
UMA NOV A ROUPAG EM
cór
ta r dia
queeelaefalsidade,
fique entrise retraise pa ramos
tecido, deve longnos
e deles.
retrairLogo,
pa ra se quisdele
longe erm os evi--
s tam
bém. Todo crente cheio do Espírito deseja darlhe prazer, e não dor.
e. Não sejam maldosos ou amargos mas, sim, bondosos e amorosos
(4:315:2)
Longe de vós todos a amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e
bem assim to da a malícia. 32Ante s sede u ns para c om os outros benignos,
compa ssivos, perdoando-vos un s aos outros, com o ta mb ém D eus em Cris
to vos perd oou .
5:1Sede, pois, imitado res de Deus, co mo fi lh o s amados; 2e an dai em
amor, com o tam bém Cris to vos amou, e se entr egou a si me sm o p o r nós,
com o ofer ta e sacr ifício a Deus em aroma suave.
Aqui h á u ma série inteira de se is atitudes e ações desagr adávei s qu e de -
vem ser lanç ada s longe de nós. A amargura (pi/cria) é um espírito azedo
e um a convers a azeda. P ouc a coisa é mais triste nas pessoas idosas do que
um po nto de vista negati vo e cínico sobre a vida. C itan do Aristóteles, Ar
mitage
se Robinson
rec usa o define como
a reconciliarse”.24 “um espírito
A cólera (thymosama
) ergurad o e ressentid
a ira ( orgê o que
) obviamente
são semelh antes entre s i, sendo que a primeira den ota um a fú ria apaixo -
nada, e a última, uma hostilidade mais firmada e sombria. A gritaria
(kraugê) descreve as pessoas que ficam excitadas, que erguem a voz nu-
ma altercação, e começam a gritar, até mesmo a berrar, umas contra as
outras, ao passo que as blasfêmias (blasphêmia ) referemse a fala r m al
dos outros, especial mente pelas c ostas , chegand o, assim, a difam álos e
até mesmo d estruir a sua reputaçã o. A sexta palavra é malícia (kakia ), ou
má vont ade, desej ando, e p rovavelmen te tam bém tram ando , o mal co n-
tra as pess oas. Alterna tivam ente, podese incluir os cinco v ícios anterio
24 Armitage Robinson, pág. 194.
140
efésios 4:175:4
esim comcio
sacrifí Cristo,
a Deusassem
im conosco, o am. orÉ,que
aroma suave po se sacrifica
rtanto, u m aa verdade é oferta
s i mesmomarcante
que o amor sacrificial para os outros fica sendo um sacrifício aceitável
a Deus.
É dign o de nota com o a ética de Paulo se centraliza e m Deus . É n a-
tural pa ra ele, ao promu lgar suas instr uções morais, menc ionar as três pe s-
soas da Trin dade . M andano s “im itar a Deus” , “aprender a C risto” e não
“entristecer o Espírito Santo”.
f. Não façam piadas acerca do sexo mas, sim, dêem graças po r ele (vs. 3 4)
Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas, ou cobiça, nem sequer se
no meie entre vó s, co mo conv ém a santos; 4nem conversação torp e, nem
palavras vãs, ou chocarrices, coisas essas inconvenientes, antes, pelo con
trário, ações de graça.
Ásia.
deradaE visto qu esaa da
um a deu deusa
fertgr ega Ártemis,
ilidade, “Duais
orgi as sex ian aeram
dos regularmente
Efésios ”, eraasso-
consi-
ciadas com a adoração dela.
O versí culo 4 vai mais lo nge: da im oralid ade p ara a vulgaridade. A
convers ação torp e, pois, significa a obscenidade, e tan to as palavras vãs
quan to as chocarrices prova velment e são u ma alu são às pia das grossei-
ras, a forma mais barata do humor. Todas as três expressões referemse
a um a me nte suja ex pressandose em convers a suja. E stas cois as, porém,
são inconvenient es. Antes, p elo contrá rio, diz Paulo, que haja ações de
graça. O contraste é notável e belo. Em si mesmo, dar graças não é um
substituto p ar a a vulgaridade, visto que esta última é essenc ialmen te ego -
cêntrica, ao p asso que aqu ela se centrali za em Deus. Mas talve z seja es ta
a lição que P aulo está ensinando: “Ao passo que a imp ureza sexu al e a co-
biça expressam um a visão de vida egoísta, as ações de graças são exata-
mente opostas e, portanto, o necessário antídoto; tratase do reconheci-
mento da gene rosid ade d e De us”.30 Pareceme prováv el, no enta nto , que
Paulo esteja colocando a vulgaridade e as açõ es de graça ainda m ais cla -
ramente
pagã e aem oposição
cristã. Semum a à ouostra,cristãos
dúvida, com o atitudes
têm umaalternati vas ao sexo:
má reputação a
por se-
rem negativos para com o sexo. Dr. Michel Fourcault, que desde 1970 é
catedrático em Histó ria dos Sistemas de Pensam ento no Collège de France,
está, segun do parece, escrev endo um a História da Sexualidade em seis vo-
lumes. Ex plicando sua obra no jorn al Le Monde em jan eir o de 1977, fa-
lou do “legado m ais intol eravelmente pesado d o cristianis mo, o sexo co-
mo pecad o”. E é verdade que alguns dos nossos antepa ssados da era vi-
29 Ver também 1 Co 5:101 1; 6:9 10 e Cl 3:5 pa ra ou tras passagens em que o apósto lo asso-
cia a cobiça com a imoralidade.
30 Houlden, pág. 324.
142
efésios 4:175:4
torian a chegaram perto desta identif icaçã o. Mas a razão po r que os cris -
tãos não devem gostar da grosseria, e d evem evitála, n ão é porqu e temos
um conceito distorcido do sexo, e ou po rqu e temos m edo o u vergonh a dele
mas, sim, porque temos dele um conceito alto e santo, sendo, no seu lu-
gar, cer to, a bo a dádiva de Deus, que não querem os ve r bara teada. Todas
as dádivas de Deus, inclusive o sexo, são assuntos para ações de graças,
e não para piadas. Fazer piadas a respeito delas forçosamente as degra-
dará; d ar graças a Deus por elas é o m odo de conservar o se u valor como
bênçãos de um Criador am oroso.
Conclusão
Qual é o tema que passou pela totalidade do capítulo 4 e transb ord ou p ara
o capítulo 5? Estes capítulos são um a convoca ção emocion ante para a un i-
dade e a pu
da experi reza cristã
ência da igreja; e sãoque
(aquilo m ais do que
somos), d ist o. Seu tem
a teologia a é (aqu
cristã a integiloração
que
cremos), e da ética crist ã (como nos comp ortam os). Enfatizam que a ex is-
tência , o pensa me nto e a ação nu nca dev em ser separados. Aq uilo que so-
mos, pois, dirige a forma como pensamos, e como pensamos determina
como agimos. Somos a nova sociedade de Deus, um povo que se despiu
da velh a vid a e vestiu a nova; é assim que ele f ez conosco . Devemos, p or-
tanto, relem brar este fato pela r enovação diária d a nossa ment e, lemb rando
como “aprendemos a Cristo... segundo é a verdade em Jesus”, e pensan-
do de m odo cristão acerca de nós mesmos e da no ssa nova pos ição. D e-
pois, devemos ativamente cultivar uma vida cristã. A santidade não é, pois,
um a condição na qual est amos flu tuand o à de riva. N ão somos espect a-
dores pas sivos de um a santificação que Deus opera em nós . Pelo con trá-
rio, devemo s deliberadam ente “ deixar” tod a a con dut a que é inco mpáti-
vel com a no ssa nova vida em Cristo, e “ revestirnos” de um estilo de vi-
da compatível com ela.
Duas palavras s e destacam, resumindo este tema. E m 4:1 Paulo nos
roga
evitara aviver
imoralidade digna convém
uma vida“como da chamaada de Deu
santos”. s, e eminfeliz
É muito 5: 3 nos
quema nda
a pa-
lavra “san tos” t enh a chegado a se r usada, senão p ara os he róis da i greja
que for am can onizad os, então pelo menos p ara pessoas excepcionais e fre-
qüentem ente excênt ricas que se destacam das demais pelo seu rosto páli-
do, pelo seu olh ar p ara o cé u e po r su a auréola invi sível. “Os sa nto s”, no
entanto , são tod os os que são de Deu s, que fo ram reconciliados a ele e uns
aos outros. P or isso, certos ti pos de com porta mento são “dig nos” ou “con-
vêm”, pois são apr op riad os pa ra quem somos, ao passo que cer tos outros
são “indignos“ ou “inconvenientes”, sendo inapropriados.
Que ni nguém diga que a dou trina não importa ! A boa cond uta sur-
ge da b oa dou trina. É somente depois de termos en tendido clar amente
143
UMA NOVA ROUPAGEM
quem somos em Cristo, que crescerá dentro em nós o desejo de viver uma
vida digna da nossa vocação e conform e convém p ara o nosso caráter da
nova sociedade de Deus.
144
5:5-21
9. Mais incentivos à justiça
É um tan to a rb itrário sugerir que há um a divisão entre o versículo 4 e o
versículo 5 com o começo d e um novo parágrafo, j á q ue o mesmo tópico
de m ora lida de sexual está se ndo tr ata do nesses dois versículos. Apesar dis-
so, par ece qu e os vers ículos 3 e 4 per tencem aos exemplo s prát ico s da co n-
du ta ética da seç ão anterior, cada um man tendo u m equilíbrio de um a proi-
bição e de um mandam ento. Depois deles, em bora o versículo 5 continue
com o tem a do sexo, ficam os conscientes de que a ênfase alter ouse. P au -
lo ava nça, no tratame nto do com portam ento crist ão, de modelos par a a
motivação, e acrescenta quatro poderosos incentivos para o viver com
justiça.
Todos os empregadore s no comér cio e na ind ústria sabem d a imp or-
tân cia vita l dos i ncentivos. Com o os trabalhado res po dem ser persuadi-
dos a tra ba lhar mais e melhor , e assim aum entar a prod utividade ou as
vendas?
mais altos,Todos os tipos
condições de deserviço
estímulo sãoatraentes,
mais oferec idos na fo rmes,
bonificaçõ a de salários
férias, ins-
talações p ara a recr eação e a educação e , depoi s, boa s perspecti vas para
a apo sen tad ori a com um a pensão. Os me lhores incentivos, no entanto, n ão
são nem materiais nem egoístas. Os empregadores sábios procuram dar
ao seu quad ro de fun cionário s um intere sse maio r pelo emprego, mais le al-
dad e à firm a, e um a sensação de orgulho pelo que fabricam ou vende m.
Tudo isso dá testem unh o à natu reza dos hom ens e da s mulheres , feitos à
sem elhança de De us, os quais, além de um trabalh o, preci sam ter razões
para fazêlo, ter ideais para inspirálos, e ter um senso de realização cria-
do ra. Não é de admirar, n o entanto, que a pr óp ria Bíbli a que nos dá esta
do utr ina do hom em ocupase não somente com a obrigação mas também
com a motivação. A s pess oas sabem o que de vem fazer; com o po dem ser
motivad as a fazê lo? Aqui temos um aspecto da dou trina d a santificação
(ou seja, do processo de tornarse como Cristo) que é muito enfatizado
na Bíblia e muito negligenciado na igreja contemporânea.
O apóstolo estava argumentando que, porque somos a nova socie-
da de de Deus da
despojamos , devemos ad ota
velha vida e rnos
padreves
rões novo
timoss,da
e porqu
nova evida,
decisivame nos
nteusar
deve mos
rou pa s aprop riadas. A gora, acresc enta mais argumentos e m prol da san-
145
MAIS INCENTIVOS À JUSTIÇA
tidade. O prim eiro diz respe ito à certeza sole ne do julg am ento (vs. 57);
0 segundo, àq uilo que ch am a de “o fr uto d a luz” (v s. 814), isto é, as im -
plicações de serem pessoas que pertencem à luz; o terceiro, à natu reza da
sab edoria (vs. 1517); e o quarto, à plenitu de do Esp írito S anto (vs. 1821).
1. A certeza do julgamento (vs. 5-7)
Sabei, pois, isto: nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, q ue é idó
latra, tem herança na reino de C risto e de Deus. 6Ninguém vos engane
com palavras vãs; po rqu e p o r estas co isas vem a ira de Deus sobre os f i
lhos da desobediência. 1 Portant o, não sejais particip antes com eles.
146
efésios 5:521
a reconhecer a verd ade do julgam ento divino (Sabei, pois, isto); a gor a os
adverte contra as palavras vãs dos falsos mestres, que gostariam de
persuadilos de modo diferente. Nos seus dias os gnósticos argumentavam
que pecados no corpo podiam ser cometidos se m dan o pa ra a alma, e com
impunidade. Em nossos dias, há muitos enganadores no m undo, e até mes-
mo
den den tro da eigrque
ar todos, eja. Ensinam
todos que Deus
acabarão é po ao
chegando r demais bondoso par a con-
céu , independentemente
do seu com por tam ento n a terra. As palavras de ssas pessoas, no entanto,
são vãs, e seu ens ino, enganoso. O universalism o (isto é , a salvação final
universal) é um a mentira. A verdade é que p o r estas coisas (estas práti-
cas más, im puras, avarentas, idólatras) vem a ira de Deus sobre os filh o s
da desobediência. Esta últim a expr essão é um hebraís mo, j á presente em
2:2; significa, simplesmente, “os desobedientes”, aqueles que conhecem
a lei de Deus e deliberadamen te a de sobedecem. A ira de Deus rec ai so-
bre tais pessoas, a partir de agora, culm inando no dia do julg amento.2
Portanto, Paulo conclui, porqu e o reino de Deus é justo e a ira de Deus
sobrevirá aos injust os, não sejais particip antes com eles. Paulo não está
proib indo a existência de contatos ou de associação com tais pessoas. Se-
não, não poderíamos levarlhes as boas novas nem procurar refrear tais
pessoas dos seus maus caminhos. E teríamos de sair totalm ente do m un-
do, o qu e Cristo pro ibiu.3A palavra gr ega summetochoi referese à p ar -
ticipaç ão, nã o ape nas à as socia ção, com el es, e a proibição significa “não
vos torneis,
das suas pois coparticipantes
p ráticas, po is, confo rmedasLósuas ações” (BJ).
f oi advertido Se particip
em Sodom arm os
a, correre-
mos o risc o de participar d a sua cond enaç ão.
Seria fácil para os cristãos lerem apressadamente um parágrafo co-
mo este, sem p arar par a um a reflexão, sup on do que se aplica aos descren-
tes, e não a nós. Não é fat o que Paulo nos asse gurou na parte an terior d a
ca rta q ue temo s um a herança c elestial, e que o Espírito S anto den tro de
nós é a ga ran tia de Deu s, e até mesmo o antegoz o e primeir a sensação de la,
“até ao resgate d a sua pro prie dad e”,4 e que ele oro u que os nossos olhos
sejam abertos para ve rem “a riqueza da glória da sua herança” que um
dia será nossa? 5Sim, decerto falou as sim. Ao m esmo tempo, ele também
nos dirige esta advertência sobre perdermos o no sso direito ao reino de
Deus. Com o podem os conciliar estas coisas? Ap enas relem brando que a
certeza d a salvaç ão não é sin ônimo d a pres unção, nem um a desculpa para
ela. E se caí ssemos num a vida de imo ralidade e de co biça, n ão estaría
mos da nd o um a clara evidência de que so mos, afinal de co ntas , idólatra s,
e não ad or ad or es de Deus, pessoas desobedientes ao inv és de obedientes
2 Cf. Rm l:18ss.; Ef 4:1719.
3 Jo 17:15; 1 Co 5:9 10 . 4 1:1314. 5 1:18.
1 47
MAIS INCENTIVOS À JUSTIÇA
e, portanto, herde iros, não do céu, mas do inferno? O apóstolo nos d á uma
advertência solene. Faríamos bem em prestar atenção a ela.
2. O fruto da luz (vs. 8-14)
Pois outr ora é reis trevas, po rém agora sois luz no Senhor ; andai com o f i
lhoseda
ça, l uz 9(porque
verdade), o frdo
Apr ovan u tosempre
da lu zoconsist e em
q ue é ag toda laaobondade
radáve Senh or., ne ju
E st i
não
sejais cúm plice s nas obras infru tífera s das trevas; antes, poré m, reprovai-as.
12Po rque o q ue eles fa ze m em oculto, o só referir é vergonha. 13Mas to
das as coisas, qu an do reprovadas pe la luz, se torna m manifestas; po rq ue
tud o qu e se m an ifesta é luz. 14Pelo qu e diz:
148
efésios 5:5-21
149
MAIS INCENTIVOS À JUSTIÇA
vidão ao m al”. 10M as provav elme nte o significado seja “com prar to tal -
mente” e, neste caso, tirando o m aior proveito do tempo seria a melhor
tradução, sendo que “tem po” ( Kairos ) se refere a cada op ort un ida de que
passa.
Certam ente as pessoas sábias têm consciência de que o tem po é um
bem precioso.
posição, com Todos
sessentanósminutos
temos a por
mesma
horaquantidade de tempo
e vinte e quatro à nossa
horas dis-
por dia.
Nenhum de nós pode esticar o tempo. As pessoas sábias, porém, o em-
pregam com o maior proveito possível. Sabem que o tempo está passan-
do, e tam bém que os dia s são maus. Deste modo, agarr am cada o po rtu-
nidade fugaz enq uan to ain da podem . U ma vez tendo passado, até as pes-
soas mais sábias não p odem reavêla. Alguém coloco u um anúncio, cer-
ta vez, da seguin te forma: “PE RDID AS, on tem, nalg um lugar entre o na s-
cer e o pô r do sol, duas horas de ouro, cad a um a cravejada com sessenta
minutos de diamante. Nenhuma recompensa é oferecida, pois foramse
para sempre!’11Por contraste, Jonathan Edwards, o filósofoteólogo que
veio a ser o instrum ento de Deus no “ Gra nde D esperta mento” nos E sta-
dos Unidos em 17345, escreveu na septuagésima das suas famosas Re
soluções pouco an tes do seu vigésimo aniversário: “Resolvi do: nu nca per-
der um só mo mento de tem po m as, sim, tir ar proveito dele da m aneira mais
proveitosa que eu puder”. (Texto integral no jornal “Palavra da Fé” n? 5).
Era um hom em sábio, pois o primeiro sinal de sabedoria que Pa ulo d á aqui
é o uso disciplinado do tempo.
Em segundo lugar, pessoas sábias discernem a vontade de Deus. Têm
a certeza d e que, ao passo qu e a vontade p róp ria é insens atez, a sabed o-
ria pode ser achada na vontade de Deus e em nenhum outro lugar. Por
esta razão, não vos torneis insensatos , mas proc urai comp reen der qu al a
vont ade do Senh or (v. 17). O pró pr io Jesus orou: “Não se faça a min ha
vontade, e, sim, a tua” (Lc 22:42), e nos ensinou a orar: “Façase a tua
vontade, assim na terra como no céu”. Nada é mais importante na vida
do que descobrir e pr atic ar a von tade de Deus. A lém dis so, ao pro cu rar
descobrila, é essencia l distin gu ir entre a sua vonta de geral e a sua von ta-
de particular. A prim eira é assim cham ada porq ue diz respei to ao seu povo
em geral, e é a mesm a para tod os, ou sej a, tornarn os com o Cristo. A sua
vontade particul ar, n o entan to, que se estende às particularida des d a nossa
vida, é dif erente pa ra ca da um de nós, po r exemplo, q ua nto à carreira que
devemos s eguir, se devemos nos casar, e, se sim, com quem . Som ent e de-
pois desta distinção ter sido feita é que podem os considerar como p ode-
10 Armitage Robinson, pág. 201.
11 Horace Mann, citad o p or Ted W. Engstrom e Alex Mac kenzie em Administração do Tem
po (Editora Vida ), pág. 65.
151
MAIS INCENTIVOS À JUSTIÇA
Pau lo já disse aos seus lei tores que el es foram selados c om o E spíri-
to Santo, e que nã o dev em entristecer o Espírito Santo (1: 13; 4:30). A go -
ra lhe s orden a: Ench ei-vos do Espír ito. Nã o há m aior s egredo pa ra a san-
tidade do que se r replet o daquele cuja p róp ria nature za e nome são san tos.
Gram aticalmente falando, este parágrafo cons iste em doi s im pera-
tivos ( os mand am entos no sen tido de não ficar bêbado, e de ficar che io
do Espírito), seg uido s por q ua tro p articípios pr esentes (falando, can tan -
do,
nos,dando graças, e sujeitandose).
primeiramente, Teologicamente
o nosso dever cristão falando, apresenta
(evitar a bebedeira, mas pro-
curar a p lenitud e do Esp írito) e depois de screve quatr o conseqüências desta
condição espiritual, em termos de noss os relaci onamentos. “E star cheio
do E spírito” é um tópico muito discutido e deba tido hoje ; é imp ortante
para nós estudar cuidadosamente o ensino de Paulo.
O apóstolo começa fazendo uma certa comparação entr e a em bria-
guez e a plenitud e do E spírito Santo: Não vos embriagueis com vinho, diz,
...mas enchei-vos do E spírit o. E, de f ato, há um a semelhança superfic ial
entre as duas condiç ões. U m a pessoa que está bêbada, dizemos, está s ob
a influência do álco ol; e certamente um cristão cheio do Espírito está s ob
a influência e sob o po de r do Espírito Santo. M as aí term ina a com para -
ção e começa o contrast e. N aturalmente, no culto pa gão a Dioní sio, a em-
briaguez era considerada um meio para se obter a inspiração. Mas é um
séri o erro sup or q ue estar che io do Esp írit o de Jesus C rist o seja um tipo
de embriaguez espiritual em que perdemo s o controle de nós mesmos. Pelo
contrário, o autoc ontro le ( enkrateia ) é a qu alidade final m enciona da co-
mo
Espírito o fr untoãodo
send oSanto Espír os
perdem itoo em
contGálatas 5:2223.
role; nós Sob a Éinfluência
o ganhamos. do
verdade que
no d ia do Pentecoste alguns disseram que os discípulos che ios do Esp íri-
152
ef ési o s 5:521
to estavam bêbad os; “estão cheios de mosto ” (ERC). Estes eram u ma mi-
noria, n o entanto, descrit os po r Luca s como sendo outros. A m aioria não
pensava assim, mas ficou atônita a ouvir as poderosas obras de Deus sendo
anunciadas em suas próprias línguas. Parece que a minoria nem sequer
estava sendo sincera em atr ibu ir a em briaguez aos cristãos chei os do Es-
pírito. Lucas diz
pírito estava que “erroneamente
sendo estavam zombando deles, de com
interpretada modoescárnio”.1
que a obra2 do Es-
O prim eiro capítulo d a exposiç ão do Dr. M arty n Lloyd Jones de Efé-
sios 5:1 8 6 :9, Life in the Spirit in Marriage, H om e and Work, é chama-
do de “O Estímulo do Espírito”. Escrevendo como médico e como pas-
tor, ele faz um a com paraç ão e um útil con traste entre os dois est ados de
embriaguez. Diz: “O vinho — o álcool —... farmacologicamente falan-
do n ão é um estimulante, é um depressivo. Tome qualqu er livro de Far-
macolo gia e procu re a referênc ia de ‘álcoo l’, e verá que está sempre clas-
sificado entre os dep ressivos. N ão é um est im ulan te”.13Além disso , “de -
prim e primeira e principalm ente os centros mais altos de todos no cére-
bro... Controlam tudo quanto dá ao homem autocontrole, sabedoria, en-
tendimento, discr iminação, jul gamento, equi líbr io, e pod er para a qu ila-
tar tudo; noutras palavras, tud o q uan to le va o hom em a comportars e da
melhor e mais nob re ma neir a possível”.14O qu e o Esp írito Santo faz, po -
rém, é exatamente o oposto. “Se fosse possível colocar o Espírito Santo
num manu al de Farmacologia, eu o classificaria entre os estimulant es, po r-
que é a esta
estimula cateasgofaculdades...
todas ria que ele pertence.
a mente eRoealmen te eleoestim
intelecto... ula mesmo...
coração... ea
vontade..!’15
Considere agora como Paulo p inta o co ntras te. O resul tado da em -
briaguez, escreve ele, é a dissolução (asõtia ). As pessoa s que estão bê ba -
das entregamse a ações desenfreadas, dissolutas e descontroladas.
Com portamse como animais , até mes mo de maneira pior que os a nimai s.
Os result ados de estar chei o do E spírito Santo são totalm ente diferentes.
Se um excesso de álcool desumaniza, e tra nsform a um ser humano em fera,
a plenitude do Espírito Santo nos torn a mais humano s, pois nos tor na co-
mo Cristo.
O a pósto lo ago ra alista o s quatro resultados bené ficos de e star c heio
do Espírit o.
a. Co mu nhão : fa la ndo entre vós com salmo s... c om hin os e cânticos es
pirituais (v. 19a).
A referênci a diz respeit o à com un hão cristã, e a me nção de “salmos, hi-
12 Bruce, pág. 110.
13 LloydJones, Life in the Spirit, pág. 19.
153
MAIS INCENTIVOS À JUSTIÇA
154
efésios 5:521
da r graças a Deus por “tu do ” mesmo, inc lusive pelo mal óbv io. U ma no -
ção estranha está conquistand o po pula ridad e em alguns c írculos cris tãos
de que o gran de segr edo da liberdade e da v itória cristãs é o louvor in con -
dicional; que o ma rido deve louvar a Deus pelo adu ltério d a sua esposa
e a esposa, pe la embriaguez do marido, e que até m esmo as calamidad es
mais pavorosas
vor. Sem elhanted sugest
a vida ão
devam
é, naser motivos
m elhor d as phipóteses,
ara açõesum
de graça e de lou -
a meiaverdade
e, na pior, um a inse nsatez e até mesm o um a blasfêmia. Naturalm ente, os
filhos de De us aprendem a não discuti r com Deus nos mom entos de so-
frim ento mas, sim, a co nfia r nele e , na verda de, darlhe graças pela sua
am orosa providên cia mediante a qual ele pode fazer até mesmo o m al se r-
vir aos se us bons prop ósitos (cf. Rm 8:28). M as isto é louvar a Deus por
ser Deu s; n ão é louválo pelo mal. F azer a ssim seria r eagir de m od o in -
sensível à do r das pess oas (ao passo que as Escritura s nos ma nd am ch o-
rar com o que choram) e desculpar e at é mesmo e ncorajar o mal (ao pa s-
so que as Escrituras nos m an da m odiálo e resistir o diabo). O m al é um a
abom inação pa ra o Sen hor, e nã o podem os louvál o ou darlhe graças poi
aquilo que ele abomina.
Logo, o “tu do ” pelo qua l devemos dar graças a Deus d eve ser qu ali-
ficado pelo seu conte xto, a saber: a nosso Deus e Pai, em no me de nosso
Sen hor Jesus Cristo. N ossas ações de graça s devem ser po r tud o que é con -
sistente com a am oro sa pate rnid ade de Deus e com a reve lação de si mes-
mo
infoque
rm anos deu em
e dirige Jes us
a nossa Crist
devo ção.o. Quand
M ais um a vez, ache
o estamos do utrin
ios doa Esp
da trind ade -
írito San
to, damos graças a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus
Cristo.
d. Submissão: sujeit ando-vos uns aos outros no tem or de Cristo (v. 21)
Aqui temos mais um particípio presente ( hypotassomenoi: sujeitando-se ),
que de corre do m andam ento: enchei- vos d o Espírit o, como os t rês ante-
riores. À s vezes, um a pessoa que alega ter rece bido a p lenitude d o E spí-
rito Santo tornase agressiva, arrogante e impudente. O Espírito Santo,
porém, é um Espírito de humildade, e aqueles que recebem a sua pleni-
tud e sempre revel am a meiguice e a ma nsidã o de Cristo. U ma das suas ca-
racterísticas mais evidentes é que se submetem uns aos outros.
Além disso, submentem se a Cristo , porqu e sua submissão m útu a é
no tem or de Cri sto. A queles que estão verdadeiramente sujeitos a Jesus
Cristo não acham dificuldade em submeterse uns aos outros também.
Aliás, esta expressão no temo r de Cr isto é um testemunh o notáv el, con-
qu an toregu
gência indireto,
lar noà crença
AntigodeTesta
Paulomento
n a era
divind adeno
v iver de temo
Jes us,r de
vistDeus.
o q ueHa ex i-
á vá-
155
MAIS INCENTIVOS À JUSTIÇA
rias outras “cristianizações” do pen sam ento do Antigo Testa mento nes-
te capítulo. Por exemplo, o reino de Deus é o de Cristo (v. 5). Devemos
agrad ar a C risto e pro cu rar a sua vonta de, assi m como, antes de Cri sto,
as pessoas proc ura vam a vo nta de e o benep lácito de Deus (v s. 10, 17), e
ad or ar a Deus fica sendo ad or ar a C risto ( v. 19), já que nos tr ês últimos
versículos são os resultado osSenho
Este s mencionados sadiosrdaé um título epa
plenitud doraE Jesus.
spírito Santo. To dos
eles dizem respeito aos nossos relacionam entos. Se estive rmos cheios do
Espírito, ter emos um relacionam ento harm onioso com Deus (adorand oo
com a legria e com ações de graças ) e uns com os outros (f aland o uns com
os outros e nos subm etendo uns aos outros). Em resumo, os crent es cheios
do Espírito am am a Deus e amam uns aos outros, o que dific ilmente causa
surpresa, visto que o primeiro fruto do Espírito é o amor.
5:21-33
10. Maridos e Esposas
Paulo estava delineando os novos padrões que Deus espera da sua nova
socie dade, a igr eja, especialmente em term os de unid ade e de pureza. Es-
tas duas qualidades são i ndispensáveis pa ra u ma vida que é tan to digna
da vocaç ão quanto apr opriad a para a posição do pov o de Deu s. Ago ra
ele passa pa ra os novo s relacionam entos em q ue o novo povo de Deus ine-
vitavelmente s e encontr a e, ao fazer isso, concentrase, no re stante d a carta ,
em mais duas dimensões do viver cristão.
lar, jáAque
prim eiraíliadizdivina
fam respeito aosderelacionamen
deixa tos acei
ser um conceito práticos e srotineiro
tável s doa
e ela mesm
não se subdividir em família s hum ana s que re velem o am or de Deus. Qual
é o va lor de h aver paz na igreja s e não há paz no lar? A segunda dim en-
são diz respe ito ao inimigo que enfrentamos e , portanto , ao eq uipam en-
to que precisamos para a nossa guerra espiritual sem tréguas.
Estas duas responsabilidades (o lar e o traba lho de um lado, e o com-
bate espiritual do outro) são bem diferentes entre si. O marido e a espo-
sa, os pais e os filhos, os senhores e os servos são seres humanos visíveis
e tangíve is, a o pas so q ue os principados e potestades dis post os a batalh ar
contra nós são seres demoníacos, invisíveis e intangíveis. Mesmo assim,
se é que a no ssa fé de ve ter algum valor prá tico, ela deve estar à alt ura das
duas situações. Deve ensinarnos como com po rta r cristãmente no lar e no
serviço, e deve capac itarnos a lutar co ntr a o mal de tal m aneira q ue fi-
quem os em pé e nã o caiamos. Assim s endo, a har m on ia no lar e a estabi-
lidade na luta são os dois tópicos finais que o apóstolo aborda.
Os m arid os e as esposas, os pais e ós filhos, os senhores e os ser vos,
todos
disso, podiam serpares
estes três achados nas congregações
de relacionamen cristãs
tos são maispar
b ásicos antigas.
a a totaAlém
lidad e da
exist ência hum ana. Marku s B arth expres sa bem este fato ao sugerir q ue,
158
efésios 5:2133
no primeir o, vemos o ser hu mano com o “u m ser sexual (antes de Dr. Freu d
ou Dr. Kinsey terem abo rdado este fato)” ; no segundo, com o “um ser tem
poral (vinculado à gera ção à q ua l pertence)” ; e no terc eiro, com o “um ser
material e parte de uma estrutura econômica”, sendo que assim Paulo
antecipouse a Marx. “Este, pois, é o homem: um ser sexual, temporal e
materia
te l que,nas
envolvido sem exceção,destas
estruturas está entrês
reddimensões!’1Uma
ado e, confo rm e parece,
instruçãofi deta-
rm em en-
lha da e prá tica sobre a vida cristã na família e sobre a respons abilidade
cristã no que hoje e m dia cham am os de “e mprego” parece ter sido dada
pelos apóstolos desde o início. H á vários exemplos nas cartas de Paulo
e nas de Ped ro.2 Há u ma necessidade urgen te em nossos dias de um pla-
no semelhante de educação moral. Um a grande parcela do assim cham ado
“ensino da s antidade” enf atiza um relacionam ento pess oal com Jesus Cris-
to sem qualquer tentativa no sentido de indicar suas conseqüências em
termo s de relacionam ento com as pessoas com as quais con vivemos e tra -
balham os. Em contraste com tal santidade etérea, que engrandece as ex-
periências e reduz a ética ao mínimo, o apóstolo definiu o dever cristão
nas situações concretas da vida e do trabalho de todos os dias.
Lutero, no seu Catecismo, parece ter sido a p rim eira pesso a a referirse
a esta s listas como sendo Haustafeln, que significa literalmente “tabelas
do lar”, mas que é freqüentemente traduzido como “relação dos deveres
do lar” (cf. “Moral doméstica” — BJ). Em anos recentes os estudiosos
as têm com parad o com prece itos se melhan tes tanto na halakah judaica
(sua coletân ea de leis e tradições) qu ant o na literatur a gentia , especialmente
a dos estóicos. Que os judeus, os estóicos e os cristãos todos se preocu-
passem com o comportamente moral no lar não deve nos surpreender. Mas
a sem elhança entre suas Haustafeln às vezes tem sido exagerada.3Se os
apóstolos de Jesus tinham consciência de adap tarem qualqu er m atéria d e
srcens documentárias judaicas ou gentias, cristianizaram totalmente o
que tom ara m emprestado . Não há m elhor exe mplo disso do que o di scurso
de Paulo aos marido s e às esposa s em Ef ésios, que é basead o na do utr i-
na de Cristo e sua igreja.
1. Autoridade e submissão
A BJ talvez tenha razão em começar o novo parágrafo com o versículo
21: “Submeteivos uns ao s outros no temor de Cristo!’ Já vim os qu e o verbo
grego é na verdade um particípio (“su jeitandovos” ) com o bem trad uz a
21 Por ex . Broken
Bar th, Ef,5 :22 Wall,
6 :9 ; págs. 205207.
Cl 3 :18 Cf.2 também
4:1; Tt :l 1 0 e 1seu Ephesians
Pe 2:18 3:7. , II, pág. 755.
3 John Howard Yoder dá uma lista de oito “diferenças muito significativas” entre as Haus
tafeln estóicas e cristãs em The Politi cs o f Jesu s, págs. 170183.
159
MARIDOS E ESPOSAS
ERAB; é o mesmo tempo usado nas expressões “falando entre vós”, “en-
toando e louvando” (v. 19) e “dando graças” (v. 20); vimos também que
estes quat ro particípios depend em do m and am ento “encheivos do Espí-
rito ” (v. 18) e descrevem as conseq üên cias d a plenit ud e do E sp írito San -
to. M esmo assim, o partic ípio grego, às vezes, era usad o com o im per ati-
vo e, das
gida semesposas,
dúvid a,dos
a exigênc
filhos, eiados
da escravos.
subm issãoAlém
m útu a leva
disso, noàsrcinal
subm issão
não exi-
há verbo algum no versículo 22, porque a chamada à submissão no ver-
sículo 21 é para ser extendida no 22. Assim sendo, o versículo 21 é real-
mente um versí culo de transição, e form a um a pon te entre a s du as seçõ es
deste capítulo.
O q ue está fora de dúvid a é que os três parág rafos q ue se segu em são
dad os com o exe mplo s da sub missão cristã, e que a ênf ase, do com eço ao
fim, rec ai sobre a submis são. D este mo do, as mulheres são m encion adas
antes dos maridos, pa ra ser em instru ídas a serem submissas a eles (v. 22);
os filhos são mencio nados antes dos pais, e instruí dos a lhes obedecer (6 :1);
e os escravos são chamados antes dos seus senhores, e instruídos a obe
decer a eles (6:5).
Ora, até mesmo a noção de submis são à autorid ade está fora de mod a
hoje. E stá totalmente em desacordo com as atit udes con temp orâneas de
perm issividade e liberdade. Poucas questões despertam protestos tão ira-
dos do q ue fala r em “sujeição” . No ssa era é um a era de liberdade (não m e-
nos
algumpara
sabmulheres, criançasé eprof
or de disciplina trabalhadores),
und am ente eressentida
qualquerecoisa que tem
fortemente res is-
tida. Como os cristãos devem reagir a este estado de ânimo moderno?
Nossa reação inicial a estes movimentos de libertação, não hesito em
dizer (embor a venha a qu alificá la mais tarde), deve ser de boasvindas.
Devemos con cor dar qu e é verdade qu e as mulheres em muitas cultura s têm
sido ex plorad as, sendo trata das com o emp regadas no seu pró prio lar; que
os fil hos têm sido f reqüen tem ente reprimido s e silencia dos; e que tra ba-
lhadores m uitas v ezes têm sido tratad os com injustiça, recebendo salári os
inadequado s e condições impróprias p ara o trabal ho, e um a participação
insufic iente na to m ada de de cisões, sem men cionar as pavor osas injus ti-
ças e barbaridades da escravidão e do tráfico de escravos.
Nós que nos chamamos com o nome de Cristo devemos reconhecer
com vergonha que freqüentem ente temos co nsentido com o status quo e
assim aju dado a perpetuar algumas formas de opr essão hum ana, ao in-
vés de es tarmos n a vang uarda dos que procuram a transform ação social.
Nada nos parágrafos que vamos estudar é inconsistente com a verdadei-
ra
rio,liabertação
quem asdemulheres,
toda hu as
milhação, exploração
crianç as ou ad
e os trab alh opre
ore s ssão.
devem Pelo
a sucontr á-
a liber-
tação? N ão é a Je sus Cristo? É Jesus Cristo q ue tratava as mulheres com
160
h fési o s 5:2133
tores,
Devemospois colocar
agir assim
a “mna oral
exegese bíblica ”é solidam
doméstica uma açãoente
de dentro
desespero. Não! ou -
do arcab
ço da ca rta aos Ef ésios, em qu e Pau lo est ava descr even do a nova hu m a-
nidad e que Deus está crian do po r meio de Cris to. Estava enfatizando a
com pleta unidade, em Cristo, de pes soas de todas as culturas , especial-
mente de jude us e gentio s, ao passo que na s ua car ta para lela aos colos
senses acrescentou o escrav o e o livre (3:11) e, n um a ca rta a nterior, o h o-
mem e a mulh er (G1 3:28) . Podem os ter certeza abso luta de qu e na sua
“m oral domést ica” não passa agora a destruir a sua pr óp ria te se ao le-
van tar novas barreir as de sexo, de idade e de posição social na nova so -
ciedade de Deus em que elas foram abolidas. Devemos dar ao apóstolo
o crédito po r ter um p ouco de consistência de pensamento, e deixá lo e x-
plicar por si mesmo.
À luz do ensi no de Jesu s e dos se us apóstolos, podem os a firm ar con -
fian tem ente e repetir pelo m enos três verdades rel evantes: prim eiro, a dig
nidade da condição d a mulher, d a crian ça e do servo; em segundo lugar ,
a igualdade diante de Deus de todos os seres hum anos , indepen dem ente
de raça,
dos são de
fei posiçã
tos à suao,imagem;
de cla sse, edea cultura
unidade, deaisexo ou deprofund
nda mais idade, p aorq
de ue to -
todos
os crentes cristãos, como membros em comum da família de Deus e do
cor po de Cri sto. É som ente quan do estas verdades estão firm emente con-
servadas em primeir o plano na nossa ment e que esta mos prontos par a con -
siderar o ensino de Haustafeln (“ moral doméstica”) .
Não devemos pensar que a subm issão que Paulo recomenda às es-
posas, às crianças e aos servos seja outra palavra para inferioridade. Pe-
lo contrário, é im po rtante com preende r a diferença que Luter o e seus se-
guidores fazem corretam ente entre pesso as, de um lado, e se us papéis , d o
outro lado. Eis aqui uma das exposições que Lutero fez do tema: “Fre-
qüentemente tenho dito que dev emos fazer um a nítida distinção entre duas
161
MARIDOS E ESPOSAS
Mas, um a vez
tra pessoa. Faz que
co na scemos
m qu e um ,seja
Deusfilnos
ho,ado rn apai;
e outro e nos ve steque
com comum
o um
sejaa ou
se--
nhor, e ou tro, servo; um , príncip e, e outro, c id ad ão .” 4
Uma vez que percebe mos esta distinção, en tão aqueles que ocu pam
um a posição — sejam governa ntes, magistra dos, esposos, pais ou em pre-
gado res — têm um a certa autoridade, d ada por Deus, que esper am que
outra s pessoas reco nheçam . Os ma rido s e as esposas, os pais e os filhos,
os senhores e os servos têm d ignidade igual com o seres semelhan tes a Deus,
mas papéis diferen tes destinados po r Deus. C onf orm e J. H. Yoder expressa
de form a suci nta: “A igu aldade do valor não é a identidade do papel”.5
O marido, o pai e o senhor foram investidos de um a au toridad e à qual
outras pessoas devem submeterse.
Duas perguntas surg em im ediatamen te a res peit o desta autoridade:
De onde ela vem? E como deve ser exercida?
À prim eira pergunta, respondemos que vem de Deu s. O Deus da Bí-
blia é um Deus da ordem, e no seu ordenar da vida hum ana (por exem-
plo: no estado e na família) estabeleceu certos papéis de liderança ou au-
toridade. E visto que tal autoridade, embora seja exercida por seres hu-
manos, lhes é delegada po r Deus, outras pessoas são orden adas a submeter
se a ela de m odo consciencios o. As palavras gregas subentendem este fa-
to, pois no âmago de hypotassomai (“submeter se”) há taxis (“ordem”).
A submissão é o reconhecimento humilde da ordem divina da socieda-
de. É claramente ensinada na “m oral dom éstica ” de Paulo . M an da as es -
posas serem subm issas aos respectivos m aridos como ao Senhor (v. 22),
os filhos serem obedientes aos seus pais no Senhor (6:1), e os escravos se-
rem obed ientes aos seus senhores terrestres com o a Cris to (6:5). O u seja,
por trás do m arido, d o pai e do senhor devem discernir o próprio Senhor
que lh es deu a au torid ad e que têm. Então, se quiser em submeter se a Cr is-
to, sub meter seão a e les, visto que é a au to rid ad e de C risto que exer cem.
O mesm o é verdade no que diz r espeito à m útu a subm issão que se esperà
de todo o povo cris tão. É no tem or de Cr isto que devemos sujeitar nos uns
aos ou tros; é e ste mesm o C risto qu e tan to exe rce a autor ida de com o Se-
nhor quanto se humilhou como servo.
4 Da sua exposição de “ Bemaventurados os mansos ” (Mt 5:5), em TheSermon on theMount,
Luth er’s Works, vol. 21 (Concordia, 1956), pág. 21.
5 Yoder, pág. 177 riota23.
162
efésios 5:2133
Deve mos tom ar m uito cu idado para não exagerar es te ensino b íbli-
co acerca da autori dade. Não qu er dize r que a autor idad e dos maridos,
dos pais e dos senhores é ilim itada, ou que as esposas, os filhos e os tr a-
balhadores são obrigados a prestar obediência incondicional. Não! A sub-
missão exigi da é à au tor ida de de Deus delegada aos seres hu manos . Se,
portanto
ordenar o, que
elesDeus
abusam da auto
pro ibe ou a oridproibir
ade que Deus
o que Deuslhes
orddeu (por
ena), exemplo,
então o nossoao
dever já nã o é mais subm eternos conscientemente mas, sim, co nsciente-
mente recusarm onos a fazêlo. Sub meterm onos em tais circunstâncias,
pois, seria desobedecer a Deus. O princípio é claro: devemos nos subme-
ter até ao pon to em que a obediênci a à autorid ade h um ana envolva a de-
sobediência a Deus; naqu ele ponto, a “deso bediência c ivil” fica sendo o
nosso deve r crist ão. A fim de nos subm eter a D eus, de vemo s recusarnos
à submissão aos se res hu mano s. Co nform e a expre ssão de Pedro diante
do sinédrio: “Antes im po rta obedecer a Deu s do que aos hom ens” 6 Es-
ta é a exceção, porém . A reg ra geral na q ua l o N ovo Testamento insiste é
a humilde subm issão à auto ridad e estabe lecida por Deus.
À segunda pergunt a, a respe ito do uso d a autoridad e divina mente de-
legad a, re spondemos que n un ca deve ser usad a de m odo egoísta mas, sim ,
sempre em prol dos ou tro s pa ra c ujo benefício foi outo rgad a. Talvez o as-
pecto mais notável da “ moral dom éstica” é que em cada par de relacio-
nam ento s definem se deveres recíproco s. É verdade que as esposas deve m
ser submissas
res, e que estaao s m arido
exigên s, su
cia de os bm
filhos aos( pais
issão e os escravos
hypoíagia aos seus
) pressupõe umasenho-
auto-
ridade ( exousia ) nos m arid os, nos pais e nos sen hores. Ape sar disso, a p a-
lavra exousia não é usa da u m a só v ez na pass agem. Q uando Paulo des-
creve os deveres dos maridos, dos pais e dos senhores, em nenhum caso
é a aut ori da de que os m an da exercer. Pel o contrário , explíci ta ou im pli-
citament e, adverte os con tra o u so imp róprio da autoridade, proibe os de
explorar a su a posição, e os co ncla ma, ao invés disso, a lemb rarse das sua s
responsabilidades e dos d ireitos d a ou tra parte. Assim se ndo, os maridos
devem am ar as esposas e cu id ar delas, os pais não devem provocar os seus
filh os à ira, mas criálos de m od o justo, e os se nhores não devem am ea-
çar os seus servos, mas tratálos com justiça.
Tem parecid o necessário, antes de chegar ao texto propria mente di-
to que chamemos de “m ora l doméstica” , abrir de m odo geral o tópico da
submissão à autori dade. Resumindo: autoridade no uso bíbli co n ão é um
sinônimo de tirania. Todos aqueles que ocupam posições de autoridade
na sociedad e são responsáveis tan to dian te de Deus, que as confio u a eles,
qua nto à pessoa ou às pessoas por cujo benefíc io a rec eberam.
6 At 5:29.
163
MARIDOS E ESPOSAS
A23po
s mulheres sejam ésubmissas
rqu e o m arido a seus
o cabe ça da próprios
mul her, com o maridos
tam bém como
Crist oao
é oSenhor;
cabe
ça da igreja, sen do este m es mo salv ado r do corpo. 24Como, por ém, a igre
ja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sub
missas a seus maridos. 25Maridos, ama i vossas mulhe res, co mo tam bém
Cristo a mou a igreja, e a si m es mo se entrego u p o r ela, 26par a q ue a san-
tificasse, tendo- a pu rifica do p o r me io da lavage m de água pela pal avra,
21para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga,
nem coisa semelhant e, p or ém santa e sem defeito. 28Assim também os
maridos devem am ar as suas mulheres com o a seus próprio s corpos. Quem
ama a sua esp osa, a si m esm o se ama. 29Porque ninguém jam ais odiou
a sua pró pria car ne, antes a alim enta e dela c uida, com o tam bém Cris to
o fa z com a igreja; 30porq ue so mos me mb ros do seu c or po .31Eis p o r que
deixará o ho mem a seu p a i e a sua mãe , e se unirá à sua mulh er, e se tor
narão o s do is u ma só carne. 32Gra nde é este misté rio, mas eu me refir o
a Cristo e à igreja. 33Não obstante, vós, cada um de per si, t am bé m am e
a sua próp ria esposa c om o a si mesmo, e a esposa respei te a seu marido .
2. O dever das esposas (vs. 2224)
Duas razõe s são dadas, o u pelo menos subentendidas, pa ra a subm issão
da esposa ao marido. A prim eira é dedu zida d a criaç ão, e diz respe ito à
“chefia” ou “ posiç ão de cabeça” do m arid o sobre a sua esposa, ao passo
que a segund a é ded uzid a da redenção, e d iz respeito à “ posição de cabe-
ça” de Cristo sobre a igreja.
A s mulheres sejam submissas a seus próprios maridos, como ao Se
nhor; po rq ue o m arido é o cabeça da mul her... (vs. 2223a). A liderança
do marido n ão só é declarada como fato como também u sada como b a-
se da subm issão da sua espos a. Para u ma compreensão mais i ntegr al do
argum ento de Paulo , preci samos voltarn os pa ra outro s tre chos, especi al-
mente 1 Coríntios 11:312 e 1 Timóteo 2:1113. Nestas duas passagens,
ele volta à n arra tiva de G ênes is 2 e ressalta que a m ulh er foi feita depois
do homem, da parte do homem e para o homem. Acrescenta que o ho-
mem tam bém é nasci do d a mulh er, de mo do qu e o homem e a m ulher de-
pendem um do outro. Mesmo assim, sua ênfase recai sobre a ordem , so-
bre o modo e sobre o propósito da criação de Eva. E visto que é princi-
palm ente nestes fatos da criação que Paulo baseia o seu argumento para
164
efésios 5:2133
a liderança do m arido, o seu argumento tem vali dez perm anente e univ er-
sal, e nã o deve ser desconsiderado com o cu lturalm ente limitado. Os ele -
mentos culturais do seu ensino d evem ser achados nas apli caçõe s do pr in -
cípio, n a exig ência do “véu” certamente, e penso tam bém na exigênc ia do
“silêncio”. Mas a “liderança” do homem (e espec ialment e do m arido ) não
é uma aplicação
mental. culturalsmo,
Não é chauvini de um princípio;
é cri é o próprio
acioni smo. A nova princípio funda-
criação em C risto nos
liberta da d istorção dos relacionam entos entre os sexos causada pela que da
(por ex . G n 3:16), mas esta belec e a intenção o riginal d a criaç ão. Foi pa-
ra este “princ ípio” que o pró prio Jesus rem onto u (po r ex. Mt 19:46). C on-
firmou o ensino de Gênesis 1 e 2. Nós também devemos fazêlo. Aquilo
que a criação estabeleceu, nenh um a c ultura poder á dest ruir.
É po r esta razão tam bém que de vemos rejeit ar o argumento fácil de
que, já que a escravidão foi abolida, a subm issão d a esposa de ve ser, po r
analogia, abolida também. Se este fosse o caso, por que não completar
o trio e abolir a obediência da criança t ambém? Não! Os parale los são
inexatos! A escravidão é um a instituição desumanizante, sem qualq uer jus -
tificat iva bíbli ca. A liderança do marido, no entanto, está arraigad a na
criação.
Voltandose da reveleção bíblica para a experiência contemporânea,
os cris tãos con cord arão que a nossa s exualidade hum ana é parte integrant e
da nossa hum anidade. A masculinida de e a feminil idade represen tam um a
distinção p ro fu nda que é psicológica e tamb ém fisiológica. Naturalm ente,
os sexos são igua is diant e de Deu s, mas isto nã o significa que sejam idên-
ticos. O pr ópr io Deus criou o hom em à sua semelhança, masculino e fe-
minino. Desta maneira, ambos levam igualmente a sua imagem,7mas ca-
da um tam bém com plem enta o outro.8A pers pect iva bíblica é sustentar
sim ultan eam ente a ig ualdade e o complem ento dos s exos. “Parceria” é um a
boa palavra também, posto que se lem bra que a contribuição de cada um
não é idêntica mas, sim, distintiva. Logo, o homem achase a si mesmo
por ser homem, e a m ulher achase a si mesma ao ser mulher. A genuína
autod esco berta e autoreal ização nã o advé m de es forçarse pa ra ser ou -
tra pessoa e de imitar o sexo oposto.
Quais, pois, são as distintições que s e com plem entam nos dois sexos?
O ensino bíblico é que Deus deu ao homem (e especialmente ao homem
no relacionam ento do casamento) um a certa l ide ran ça, e qu e sua esposa
se achará a si m esm a e a se u ver dade iro papel dado por Deus , n ão em re -
belião ao seu m arido, ou contra a liderança dele, mas, sim, numa subm is-
são vo lun tária e ale gre.
O m od o m od ern o de entender a di feren ciaç ão sexual tende a confir-
7 Gn 1:2627 . 8 G n 2:1 82 4.
165
MARIDOS E ESPOSAS
mar este ensino bíblico. Esta, pelo menos, é a tese do sociólogo norte
americano, Pro fessor Ste ven Goldberg, n o seu li vro The Inevitabili ty o f
Patriarchy.9 Em bora seja um a resposta c onsci ente ao movimento feminis -
ta, declara que a sua abordagem é científ ica e não ideoló gica, pois baseia
o seu argu mento na evidência empírica. Nem se deve rejeitar o seu po nto
de
amvista como
ericana Dra.sendo masculino,
M argaret Mead pois a renomada
é citada na ca paantropóloga norte
do li vro, apoia ndo a sua
tese: “Todas as al egações tão le vian amente feitas acerca de socieda des re-
gidas po r mulheres são contra senso. N ão temos m otivo algum pa ra acre-
ditar que já tenh am existido!’
A prim eira parte do liv ro de le é um estudo an tropológ ico cu ja con-
clusão é expres sa da seguin te maneira: “E m t od a sociedade que já exis-
tiu encontramos o patriarcad o (os homens preenche m a p orcenta gem es-
magad ora das posi ções superi ores nas hierarquias políti cas e todas as de-
mais), a realização masc ulina (os hom ens chegam às pos ições de alto sta-
tus, seja m quais forem el as em qualqu er socie dade ) e o dom ínio m ascu-
lino (tanto os homens qua nto as mulheres sent em que o dom ínio nos en-
contro s e relacion am entos entre hom ens e mulheres res ide no ho me m, e
as expectativas sociais e sistemas de au to rid ad e refletem este fa to ).10
Esforça se p ara indicar que n ão está fazendo qu alquer julgam ento de va-
lores, nem m edin do as realizações, nem pronu nc iand o qu alqu er sexo “su-
perior” ou “inferior” ao outro; seu propósito é simplesmente demonstrar
queno
— o “patria
sentidorcad o”, oem
técnico “dom
queínio
emmasculino”
prega estese term
a “realizaçã
os — sãoo“três
mascurealida-
lina”
des universais”,1 1visto que “em ne nh um a sociedade, em qu alq uer lugar
ou em qu alqu er tempo, esta s realidades têm estado ausentes”.1 2
Pa ra o desenvolvi mento d a sua segun da tese, o D r. Goldberg passa
da antropologia pa ra a fis iologi a. A rgum enta que a evid ência antro po -
lógic a para o dom ínio m asculino que reuniu tem um a causa fisiológica.
As “três realidades universais” são a manifestação na sociedade de um
impulso m asculino bás ico (freqüe ntement e cham ado agressão, embora o
Dr. Goldberg prefira a “tendência ao domínio”) que, em si mesma, tem
srcem “neu roendocrinológica”. “N aquilo que te m de mais bá sico, a hi-
pótese no âmago da teoria aqui apresentada simplesmente declara que há
diferenças neuroend ocrinológicas entre os ho men s e as mulheres que for-
necem respostas masculinas e femininas diferentes diante do meio
ambiente e , portan to, u m dife rent e com porta mento m asculino e femini-
no”.13Não está neg and o que o no sso código genético sej a influenc iado
pelo nosso meio am biente e pela nossa educação, nem que há exceções in-
9 Publicado nos Estados Unidos em 1973 e na GrãBretanha por Maurice Temple Smith em 1977.
10 Op. cit.pág. 63. 11 Op. cit.pág. 60. 12 Op. cit. pág. 62. 13 Op. cit. pág. 121.
166
efési os 5:2133
167
MARIDOS E ESPOSAS
do. Era escra va dele... Tinh a inc apac idad e lega l idêntic a à d a escrav idão ,
sendo s ua posi ção d escr ita com o sen do ‘im becilitas’ , de ond e se deriva a
palavra que temos.” 16 É verdade que este não era o quadro completo.
Markus Barth procura equi libr ar a situação: “Havia, t ambém , um m o-
vimento con trário que prom ovia direit os igua is pa ra as mulheres” , e “pe-
ríodo s diferentes
ta difere ntes! ’ Quae nto
áreasa geográficas
Éfeso e s eusdifarredores,
erentes pro
“Odu ziamà gra
culto po nto
ndes m
de ãe
vi s-
e
o templo de Ártemis m arcava m esta cidade, m ais do que a ou tras, como
bastão e baluarte dos direitos femininos!’17Mesmo assim, a opressão das
mulheres p reva lecia no m und o anti go, e sua emanc ipação quase nem se-
quer com eçara . É co ntra est e escur o context o que o ensi no de Pau lo b ri-
lha com um a luz tão intensa . M esmo as sim, ainda temos de pergu ntar pre-
cisamente qual o sentido correto de “ser o cabeça” e de “submissão”.
Pa ra começar , estas palavras por si mesm as nã o estabel ecem formas
fixas de com portam ento m asculino e femi nino . Cu lturas dif erentes atr i-
buem tarefas diferentes aos homens e às mulheres, aos maridos e às es-
posas. No ocidente, por exemplo, é bem aceito que a esposa possa fazer
as compras, cozinhar e cuidar da limpeza, assi m como cuida das cr ian-
ças, alimentando as, dan do b an ho nelas e até mesmo troca nd o as fra ldas.
Em muitas partes da Á frica e da Ásia as mul heres também trabalham nos
camp os e carregam cargas pesad as nas suas cab eças. H oje em dia, no en-
tanto, e com razão, es tes háb itos são reconhecidos com o sendo cu lturais
e, portan
rados. to, e stão
Muitos casaissendo
estãoq aprendendo
uestio nad os e, em alguns
a partilhar entrecsiasos, têm sido alte-
os trabalhos
domésticos.
A fim de ente nder a natureza da supremaci a do m arido como “ca-
beça” na nova sociedade que Deus inaugurou, devemos olhar para Jesus
Crist o. Ele, pois, é o contexto em que P aulo emp rega e des envolve as pa -
lavras “ cabeça ” e “ submissão” . Em bora Pa ulo fun dam ente na c riação o
fato d a liderança do hom em, defineo com relação à supremacia de Cris to,
o redentor: porque o m arido é o cabeça da mulher, como também Cristo
é o cabeç a da ig reja, send o este me sm o salva dor do corpo (v. 23). Ora,
a posiçã o de C risto com o cab eça d a sua igreja já foi descrita em 4:15 16.
É de Cristo como cabeça que o corpo deriva a sua saúde e cresce para a
matur idade. Sua suprem acia ex pressa cuid ado mais do que con trole , res-
ponsabilidade mais do que domínio. Esta verdade é endossada pelo acrés-
cimo surpreendente das palavras: sendo este m esm o salvador do corpo.
O cabeça do corp o é o salvador do corpo; a caracterís tica da sua condi-
ção de cabeça não é tan to a de Senhor qu an to a de Sal vador.
16 Women in Antiquity (Pan, 1956), págs. 136, 138.
17 Barth, Ephesians, II, págs. 655662.
168
efés ios 5:21 3 3
169
MARIDOS E ESPOSAS
Podese ver que P aulo em prega cinco v erbos par a indic ar as etapas
que se desdobram d a dedicação de Cristo à sua noiva, a igreja: amou-a,
a si m esm o se entregou p o r ela, para que a sant ificasse, tendoa purific a
do, para a apresent ar a si m esm o. E sta declar ação é tão comp leta e com -
preensiva que alguns estudiosos pensam que talvez seja a citação de al-
gum a confissã
de Crist o p ara o,com
liturgia ou eja
sua igr h ino
de cristão primitiv
um a eterni dadeo.passad
Pareceaseguir
para u omcuidad
a eter -o
nidade futura. Certam ente a s palavras Cristo a mou a igreja, que ant ece-
dem o sacrifício de s i mesm o em prol dela , parecem relem brar a sua eter-
na preexistência em que amou o seu povo e resolveu vir salválo. Desse
modo, tendo am ado a igr eja, a si m esm o se ent reg ou po r ela. A refe rên-
cia, é lógico, diz respeito inicialmente à cruz.
Mas po r que Jesus Cristo ass im agiu? Q ual foi o propó sito do seu
sacrifício? Foi para q ue a santificasse, tendo-a purificado p o r meio da la
vage m de água pela palavra. Talvez haja uma alusão deliberada ao ba-
nho que a noiva tomav a imediatamente antes dos casamentos judaicos e
gregos. Os tem pos dos verbos suge rem que a purifica ção d a igreja ante-
cede a sua c onsagração ou santific ação. Na verdade, a p urificação pare-
ce refer irse à pur ificaç ão ou limp eza ini cial do pecad o e da cu lpa q ue re-
cebe mos qu and o nos arrependem os e cremos em Jes us. É acom pan had a
pela lavagem de água pe la pal avra . A “lavagem de água” é um a refer ên-
cia ao batism o, sem amb igüidade, a o passo que a referênc ia adicion al à
palavra indi que
cânica , mas ca que o batismo
precisa de umn a palavra
ão é ne explicatória
nhum a cerimônia mágica
pa ra def inir oou
seume-
s ig-
nifi cado, p ar a expre ssar as pr omessas d a p urificação e da nova vida no
Esp írito que ele s imboliza, e despe rtar a n ossa fé. É verdade que alguns
pensam que a palavra referese à confissã o de fé23 ou ao apelo p ar a um a
consciência limpa,24 da parte do candito, ao invés da pregação do evan-
gelho po r par te do ministro ou d a fórm ula de administração. Par ece, no
enta nto, mais natural tom ar água e palavra como sendo administradas
juntas para o candidato. Q uando, portan to, Calvino chegou a es te versí-
culo na sua sér ie exposit ória, inculcou cuidado “p ara qu e nã o separemos
os sacr amentos da P alavra e m qualq uer tem po”, pois “ter o sinal s em a
promessa a ele acrescentada não passa de algo frustrador e sem provei-
to”.25 Markus Ba rth argum enta, de modo encantador, que no contexto a
palavra da promessa não pode ser outra senão “Eu te am o”. Continua:
“O Messia s, co mo o no iv o,... diz esta ‘ pal avr a’ decis iva à su a noiva e , as-
sim, em particular e em público, de modo decente e legal, unese a ela,
e ela a e le.” 26 É u m a p alav ra solen e do am or segu ndo a alianç a.
22 Cf. At 22:1 6. 23 Rm 10:81 0, 13. 24 1 Pe 3:21.
25 Calvino, págs. 583584. 26 Barth, Ephesians, II, pág. 691.
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lego (“eu, porém, vos digo ”) que o pró pr io Jesus usou nas sei s antít eses
do sermã o d a m on tan ha .32É ap rop riad o p ara P aulo assi m proceder por -
que um mistério é um a verdade revelada, e o pro fu ndo m istério aqui, a
saber: a un ião da igreja com C risto, é muito semelhant e à união entre ju -
deus e gentios no corp o de Cristo, q ue lhe tinh a sido revela da, e da qu al
escreveu
como em um
sendo 3:16. Paulo
a bela vê, aportanto,
figur da u niãoodrelacionamento do casamento
a igrej a em Cristo e c om Cristo.
Quan do é aplicada a Cristo e à sua igr eja, aq uela um a só carn e é idêntica
com aquele novo homem de 2:15. Realmente, os três quadros da igreja
que Pau lo dese nvolve em Efési os — o corp o, o edifíci o e a no iva — enf a-
tizam, todo s eles, a realidade da sua unidad e po r causa da sua uniã o com
Cristo.
O versículo 33 é um resumo sucinto do ensino m ais completo que Pau -
lo estava dando aos maridos e às esposas: Vós, cada um de per si, tam
bém am e a sua própria esp osa com o a si mesmo, pois el e e ela s e to rn a-
ram um só, e a esposa respeite a seu m arido. É verdade que “respeitar”
é a tradução de phobêtai, que significa literalm ente “t emer”, mas este verbo
“po de expre ssar a em oção d o tem or em toda s as suas modificaçõe s e em
todos os seus graus, desde o simples respeito, passando pela reverência,
e cheg ando a té à adoração, de acord o com o seu objeto” .33O ap ósto lo co-
meçou com um par, amor e submissão. Term ina c om ou tro, amor e res
peito. Já vimos que o amo r que tem em mente para o m arido dese nvol -
ver é sacrificial e s erve ao p rop ósito de capacit ar a e sposa a torna rse o
que Deus preten de que ela seja. Deste modo, a submissão e o respeito que
pede da esposa expressa a resposta dela ao seu am or, e o desejo dela que
ele, também, fique sendo aquilo que Deus pretende que seja, na sua
liderança.
4.Resumo
Tratando em primeiro lugar do m arido, o que Paulo ressalt a não é a au -
torida de do
de, a auto m arido
ridad e delesobre a espoa em
é definid sa, mas o se de
t ermos u am or por elalidade
responsabi . N a realida-
am oro-
sa. P ara a n ossa me nte, a palavra “autorid ade” tem um sentido de pode r,
de do mínio e at é mesm o de opressão. R etratamos o marid o “au toritá rio”
como sen do um a figura dom inante que tom a todas as decisões sozi nho,
11 A tra duç ão latina de Jerônimo na Vulgat a é sacrameníum hoc magnum est. Empregava sa-
cramentum no seu sentido mais antigo de “mistério” que contin ha algum a verdade escondida
ou algum simbolismo sagrado, como em 1Tm 3:16. Não deu a entender, nem o texto grego en-
sina, qu e o casamento é um “sacramen to” no sentido que a teologia católica romana p osterio r-
menteolhe
entre atribue iu.
marido É “sacramenta
a esposa simboliza l” somente
a união no Cristo
entre sentidoe que Paulo pretende aqui, que a união
a igreja.
12 Ver Mt 5:22, 28, 32, 34, 39, 44. 33 Hodge, pág. 353.
14 LloydJones, Life in lhe Spirit, pág. 148.
173
MARIDOS E ESPOSAS
que emite ordens e que espera a obediência, que inibe e an iqu ila a espo-
sa, e que assim ev ita que ela cres ça até s er um a pessoa m ad ura ou reali-
zada. M as este não é, de m od o algum, o tip o de liderança, co mo cabeça
do casal, que o apó stolo está descrevendo, cujo model o é Jesus Cristo. Cer-
tamente, a “liderança” subentende certo grau de mando e de iniciativa,
como qua nd o C risto ve io corte jar e conq uistar a sua noi va. Mas, mais es -
pecificamente, subentende o sacrifício, darse a si mesmo por amor à ama-
da, com o qu an do Jesus s e sacrific ou pela su a noiva. Se a “lidera nça” sig -
nific a “ pod er” em qualquer sen tido, então é poder para cuidar e não pa-
ra oprimir , po der p ara servir, n ão pa ra dominar, po der p ara facilit ar a auto
realização, não par a fr ustrála ou destruíl a. E em tudo iss o, o padr ão do
am or d o m arid o deve ser a cruz de Cristo, na q ual o Senhor se sacrificou
até à morte em a mor abn egado pela sua no iva. O Dr. LloydJones tem uma
maneira notável de inculcar esta verdade. “Quan tos de nó s”, pergunta, “re-
conhecemos que sempre devemos pen sar n o estado con jugal em termos
da do utr in a da expi ação? É este nosso m odo costumeiro de pensar sobre
o casamento? ... O nde descobrim os o qu e os livros têm p ara dizer so bre
o casamento? E m qu e seção? N a da Étic a. Mas não é aí o lugar cer to. De-
vemos considerar o casamento em termos da d ou trina d a expiaçã o” 34
Quan to ao dever da esposa no relacionamento do casamento, fico sur -
preso ao ver quão im popular esta passagem é entre muitas mulheres.
Quan do é lida nu m casamento, e provoca um protesto femini no, fico per-
gu ntan do a mim mesmo quão cuidado sam ente foi lida e, em espec ial, se
foi lida no seu contexto total. Deixemme extender em detalhes cinco li-
ções que, segundo espero, demonstrarão não se tratar de um projeto de
opressão como m uitas pes soas pensam mas, sim, ser um atestado de ge-
nuína liberdade.
a. A exigência de submis são é u m exem plo específico do dever c ristão geral
Isto é , a in jun ção “as mulheres sejam sub missas” (v. 22) é pre ced ida pel a
exigênci a de que nos “sujeitem os uns aos o utro s” (v. 21). Se, po rta nto, é
o dever da esposa, com o esposa, subm eterse ao m arido, tam bém é o de-
ver do m arido, com o m emb ro d a nova soci edade de Deu s, submete rse à
esposa. A submissão m útu a é um a obrigação cristã uni versal. E m todas
as áreas da igreja cristã, inclusive em todo lar cristão, a submissão deve
ser mútu a. E o pró prio Jesus Cristo é o suprem o exempl o de humildade.
Ele esv aziou se da sua posiç ão e dos seu s direi tos, e humilho use p ara ser-
vir. D esta maneira, na nova ordem que fund ou, cham ou todo s os se us se-
guidores a anda rem nos seu s passos. “Ou trossim, n o trato de uns com o s
outro s, cingi vos tod os de hu mildade”.35 Não dev e a esposa até mesmo
34 LloydJones, Life in lhe Spirit, pág. 148.
35 1 P e5:5 . 36 Yoder, pág. 174.
174
efési os 5 :2133
175
MARIDOS E ESPOSAS
pela esposa, por que ela deve ficar relutante em submeterse a ele? E se
o marido deseja que ela assim faça, saberá que é somente por meio do
amor que ele conseguirá.
c. O marido deve amar com o Cristo am ou
A do m aridodeé submissão
doexigência mais d ifícilparece
ainda.difícil
N ão se à esposa?
trat a deAcho
ele “amque
ar”o com
que éa exi gi-
p ai-
xão rom ântica , sentimental e até mesmo agres siva que hoje freqüentemente
passa por amor genuíno. Ao invés disso, deve amála com o amor de Cristo.
Se a obrig ação do marido é repe tida três v ezes, assim tam bém é a exigê n-
cia no sentido de e le modelar a su a atitude e o seu com portam ento con -
form e os de Cristo. O m arid o é o cabeç a da esposa com o também Cristo
é o cabeça da igreja (v. 23); deve am ar a esposa com o também Cristo am ou
a igreja (v. 25); e deve alimentála e cuidar dela como também Cristo o
fa z com a igreja (v. 29). De sta maneira, sua liderança, seu am or e sua so-
licitude de vem as semelhars e aos de Cristo . O piná culo mais alto da exi-
gência é ating ido n o vers ículo 25, ond e é exortado a a m ar a esposa como
Cristo am ou a igreja, e a si m esm o se entregou p o r ela. Esta é a totalida-
de da abnegação. Dev e am ála com o que às v ezes é cham ado de “am or
do C alvário” . Nã o se pod e conce ber nenhum pad rão m ais a lto. O m ari-
do cristã o que, até mesm o parcialmente, cu mpre es te ideal prega o evan-
gelho se m sequer abr ir a boca, p orqu e as pessoas pode m ver nele aquela
qualidade de amor que levou Jesus Cristo à cruz.
d. O am or do marido, co mo o d e Cristo, s acrifi ca-se a fi m de se rvir
Consideramos anteriormente os cinco verbos dos versículos 25 e 26. Cristo
amou a igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la, santificá-la, e
finalmente apresentá-la a si mesm o com to do o seu esplendor e s em qu al-
quer defeit o. N ou tras palavras, seu am or e seu sacrifício pessoal nã o f o-
ram um a dem onstração fút il, m as ti nham um propósit o. E seu propósi-
to nã o era im por u m a identidade estranha sobr e a igr eja, m as liber tál a
das m anch as e rugas que estragam a sua bele za e dem onstrála n a sua ver -
dadeira glória. O m arido cristão dev e m ostrar u m a soli citude sem elhan-
te. S ua liderança nun ca de ve ser usad a para oprim ir a esposa. A nseia po r
vêla libertad a de tud o q ua nto estrag a sua identidade feminina ve rdadei-
ra, e cresc endo em direção à “gló ria”, à perfeição d a per sona lidade reali-
zada q ue será o destino final d e toda s as pessoa s que C risto r edime. Com
este propó sito, C risto entregouse a si mesmo. Com este propósito, tam -
bém, o m arido entregase em amor.
e. A subm issão da espos a é ma is um aspect o do a mo r
Já vimos que a essênc ia da instru ção de Paulo é “esposas, sejam submis
176
efési os 5 :2133
sas; m aridos, am ai”, e que estas palavras s ão diferentes entre si , visto que
reconh ecem a condição de cabeça que Deus deu ao marido. Quando , p o-
rém, procu ram os d efinir os dois verbo s, n ão é fácil distingu ir entre ele s.
O que significa ser s ubm isso ? É entregarse a alguém. O que significa
amar ? É entreg arse por alguém, assim com o C risto a si mesm o se entr e
gou
mesmpela igreja.
íssima coiDesta seja, da qusubmissão
sa, ou maneira, e amorístasão
ela entraga altru de dois aspectos
si mesm o quedaé
o fun dam ento de u m casam ento du rado uro que c resce.
Não se quer dizer que darse a si mesm o é fácil em qualquer tempo.
Receio ter pintado um q uadr o d a vida conjugal que é ma is rom ântico do
que realis ta. A ver dade é que to da a abnegação, em bo ra seja o cam inho
do serviço e o meio pa ra a autorealização, tam bém é doloro sa. De fato ,
parece que o am or e a d or são inseparáveis, especialmente em pecadores
como nós somos, vi sto que nossa condição de caídos não foi totalme nte
ap aga da p or nossa nova criação em Cr isto. N o casamento, há a dor do
ajustam ento, à medida em que o ve lho eu independente cede lugar pa ra
o novo nós interdep enden te. H á, tam bém, a dor da vulnerabil idade à me-
dida em que a aproximação entre os do is leva ao autodesmascaramento,
o autodesm ascaramento levand o ao conhecimento m útuo, e o conheci-
mento levando ao risco da rejeiç ão. Po r isso, os ma rido s e as esposas não
devem esperar a descoberta da ha rm on ia sem conflito. Dev em esfor çar
se para edificar um relacionamento de amor, de respeito e de verdade.
Entregarse
Se, pois, eu me e antrego,
alguémpoé deoser
reconhecimento d eodou
s omen te po rqu valortand to
a ou tra pessoa.
v alor à ou tra
pessoa que quero sacrificarme por causa dela pessoalmente, a fim de que
ela po ssa dese nvolver a sua persona lidade de fo rm a mais positi va. Ora,
perderse para que o outro possa acharse a si mesmo, esta é a essência
do evangelho de Cristo. É, também , a essência do relacionam ento n o ca -
sam ento, p orqu e à medida em que o marido am a a es posa, e a esposa se
submete ao m arido, cada um está procurando capacitar o outro a tornars e
ele mesmo, dentro do complemento harmonioso dos sexos.
177
6:1-9
11. Pais, filhos, senhores e servos
Filhos, obedecei a vossos pai s no Senhor, po is isto é justo . 2Hon ra a teu
pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), 3para que
te vá bem, e seja s de longa vida sobre a te rra. AE vós, pais, não provoqueis
vossos fi lh os à ira, mas criai-os na di sciplina e na admo estação d o Senh or.
Paulo p assa
ridos com asagora, naspara
esposas Haustafeln,
suasos dos pais com dos dev eres
os filhos. recíprocos
Assim dosé dig-
fazendo, m a-
no de no ta que el e pensa n a congregaçã o local c omo sendo um a “famíli a
igreja”, composta pelos dois sexos, com pessoas de todas as idades.
Dirigindose aos filhos neste parágrafo, bem co mo os pais de les, eviden-
temente esperava que famílias inteiras se reuniss em pa ra o culto público,
não somente para louvar a Deus mas também para ouvir a Palavra de
Deus. As Escrituras d o A ntigo Testament o e as cartas do ap óstolo seriam
lidas em vo z alta e expost as; e qu an do as Haustafeln apo stólicas fosse m
lida s, ficariam sabendo de seus próp rios deveres e dos demais m embros
da família. O fato de os filhos terem sido incluídos nas instruções, rece-
bendo um a seção dedicada a eles, é um indício da aceitação já universal
na igreja daquele que di ssera: “Deixai vir a mim os pequeninos, nã o os
embareceis, porque dos tais é o reino de Deus”1e, outra vez, “E quem re-
ceber um a criança, tal com o esta, em me u nome, a mim m e recebe!’2E ra
um a m uda nça da crueldade em pedernida que pr evalecia no império ro -
mano, em que as crianças não desejadas eram abandonadas, as fracas e
defo
radasrm
poadas eramcomo
r muitos sacrifi
umcadas, e atého
empecil mesmo
parcial,asporq
saudáveis
ue inibiera
amma con
promside-
is-
cuidade sexual e complicavam o divórcio fácil.
1. O dever dos filhos (vs. 1-3)
Filhos, obede cei a vo ssos pais... Aqui temos um outro exemplo da sub-
missão geral q ue, co nfo rm e 5 :21, se espera de tod os os mem bros d a nova
socied ade de Deus. D esta ve z, porém , a exigência é mais forte , a sabe r, a
obediência , já que as espos as nã o foram ord enada s a obedecer. A m eu ver,
'M c 10:14. 2 Mc 18:5.
178
efés i os 6 :19
179
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
a teu pa i e a tua mãe (que é o prim eiro m anda mento com promes sa) , p a
ra que te vá bem, e sejas de longa vida sob re a te rra (vs. 23). N esta c ita-
ção, Paulo livremente funde o text o grego de Êxodo 20:12 (“H on ra a teu
pai e a tua mãe, para que sejam longos os teus dias..”) e Deuteronômio
5:16 (“pa ra que te v á bem”). Sendo este o qu into dos de z man dam entos,
oe já que próximo,
nosso parece à prim
muitoseira vista que
cristãos diz respei
dividiram to ao nosso
o Decálogo dev ermeta-
em duas par a com
des desiguais, os quatro primeiros ma nda m ento s especificando o nos so
dever diante de Deus, e os outros seis, o nosso dever ao nosso próximo.
Os judeus, n o entanto, ensina vam regularm ente que cad a um a das duas
tábu as d a lei contém cinc o man dam ento s. A relevância deste arr an jo é que
coloca a ho nra aos nossos pais no âm bito do no sso de ver para com Deus.
E isto seguramente é corre to. É que du ran te a n ossa infância, pelo meno s,
os pais representam Deus diante de nós e são como que intermediários
tanto da au toridade q uanto do am or de Deu s. De vemos honrá-los, o u seja,
reconhecer a sua autorida de, da da p or Deus e , assim, prest arlhe s não so-
mente a noss a obediê ncia , como tam bém o nosso am or e o noss o respe i-
to. É porqu e a autorida de dos pais é autoridad e divinamente de legada qu e
a obediência r espeitosa aos pais era i nvest ida c om t ão grande im po rtân -
cia na vida d o povo da aliança de Deus . Moisé s foi ordena do a dizer a Is-
rael: “ santos ser eis, porq ue eu, o Senho r vosso Deus, sou sant o. Cad a um
respeitará a su a m ãe e a seu pai... Eu sou o S EN HOR vosso De us.” 6A re-
verência
verência para com oosSenh
pa ra com pai s orficou
comsen
o odo, po drtanto,
Deus parte
eles, abr ang integrante da ore-
end o ain da re-
lacionam ento especial com Deus na q ualida de de povo d e Deus. Daí a pe-
nalid ade extrem amen te severa (a pe na capital, de fato) que devia se r apli-
cada a qu alque r pessoa que amaldiçoasse se us pais e ao “filho contum az
e rebelde” q ue se recusasse a obedecerlhes, qu e desafias se a disc iplin a de
advertência dos pais, e que revelasse ser incorrigível.7
O apósto lo Paulo, no entant o, prefere reforç ar o m andam ento de Deus
com uma promessa e não com uma ameaça. Lembra a seus leitores que
o mand am ento no sen tido de ho nra r aos pai s é o primeiro m andam ento
com prom essa, e passa a cit ar a prom essa da prosperidade e da vida lon-
ga. E sta declaraç ão que parece ser tã o simples contém vários problemas.
Alguns comentaristas discordam de Paulo , e declaram que o quin to m an-
dam ento n ão é, na real idade, o primeiro que tem u ma promessa ligada a
ele, visto que o s egundo m anda mento tam bém tem um a promessa, a de
“misericó rdia até mil gerações” dos que am am e obedecem a Deu s. U ma
resposta sufici ente é que estas últimas palav ras “ são um a declaraçã o do
6 Lv 19:13. 7 L v2 0:9 ; Dt 21:182 1.
180
efésios 6:19
dávelDué inconcebível
as p erguntas sem uma sólida
práticas surgemvida
da familiar.
exigên cia de os filhos ob edece-
rem aos pa is. O m and am ento é incondici onal? E para quem é dirigido?
Muitos jo vens cristãos , que estã o ansiosos po r con form arem suas vi-
das com o ensino das E scrituras, ficam per plexos com a exigê ncia da o be-
diência. Dev em fazer absolutamente tud o qu an to os pais mand em que fa-
çam? O que aconte ce se eles conhecem a C risto, ao p asso qu e os pais, pe -
lo que sabem, permanecem incrédulos? Se os pais os proibem de seguir
a C risto o u de filiarse à com unid ade crist ã, estão ob rigados a obed ecer?
8 Bruce, pág. 121. 9 Bruce, pág. 121. 10 Mc 12:28.
11 Hendriks en, pág. 258. 12 Hodge, pág. 358. 13 Hunter, pág. 24.
181
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
Em respo sta a tais perguntas, que freqü entem ente são feit as com g rande
dor e ansie dade, ach o que preci so diz er que d uran te a m inorida de (e te-
nho mais p ar a dizer acerca disso mais tarde) a obediência ao s pais de ve
ser a norm a, e a desobediência a ra ra exceção.
Po r exemplo, supo nha mos que vo cê seja um jovem que, tendo sido
criado n um
agora ser l ar n ãocrist
batizado ão, ten
, mas seus paido
s orecente mente
proibem. chegado a Crist
Pessoalment o, deseja
e, eu não acon -
selharia você a agir em desafio aos desejos expressos dos seus pais. Até
mesmo o bati smo, em bora Jesus o tenh a ordenado, pode esperar até q ue
você ten ha m ais idade, e a lei do seu país lhe dê certa m edid a de indepe n-
dência. Se, por outro lado, seus pais lhe proibirem de adorar e seguir a
Cristo no seu coraç ão, a isto voc ê não deve obede cer. P ode ter sido exata-
mente um a situação tal como esta que Jes us teve em mente qua ndo ad-
vertiu sobre confli tos de fam ília e m que pais e filhos f icariam opostos uns
aos outros, e nossos ini migos estariam em nosso próp rio la r. Em tais cir-
cunstânci as, p or m ais dolorosas ou perigosas que seja m, a nossa lealda-
de a Cristo deve vir em primeiro lugar. Se am am os até mesm o nossos pais
mais do que a Cristo, ele disse, nã o so mo s digno s dele .14N ão é, nat ura l-
mente, que deva mos, em qualqu er ocas ião, pro cu rar conflitos na família
ou fomentálos. P elo contrário , todo s os s eguidores de Jesus são cham a-
dos pa ra ser pacificadores e , no que depe nde r de n ós, par a viv er em paz
com to do s. 15M esm o assim, às vezes as tensões e as r ixas não pod em ser
evitadas.
É bem verdade que, na passag em p aral ela de Colos senses , os filh os
são orde nado s a obede cer, aos pais em tud o.'6 Em Efésios, porém, estas
palavras são equilibradas pelo m andamento no sentido de obedecerlhes
no Senhor (6:1 ). E sta última instrução decert o altera a primeira. Os fi-
lhos não devem obedecer aos pais em absolutamente tudo sem exceção
mas, si m, em tudo que é compatív el com a sua lealdade fundam ental, ou
seja, ao Senhor Jesus Cristo.
E assim chegamos à segund a perg uta prática: quem são estes filhos
que devem obedecer aos pais? E qu and o cessam de ter esta condição? P au-
lo está s e dirigind o a crianças bem pequen as, e a menino s e meninas? Ou
inclui todo s os jove ns que ainda n ão se casaram e continuam no lar pa-
terno, embora agora sejam adultos que há muito tempo deixaram a in-
fância e a adole scência? N enhu ma resposta indivi dual pode ser dada a esta
pergunta, porque respostas diferentes teriam de ser dadas em culturas di-
ferentes. Na m aio ria dos países ocidentais a idad e em que os jovens che-
gam à m aioria tem sido reduzida de vinte e um p ara dezoito anos. Ag o-
ra, com a que la idade , já não são menores: recebe m o direito ao v oto, e es tão
14 Mt 10 :3439 . 15 Mt 5: 9; Rm 12:1 8. 16 Cl 3:20 .
182
efésios 6:19
183
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
está edifi cando nã o a subverte. H á um a con tinuid ade esse ncial entr e a ve-
lha e a nova ordem, en tre a criação srcinal e a nova criação em Cristo.
As famílias não foram a bolidas. Os homen s e as mulheres ain da se casam
e têm filhos. N o Senhor ain da h á m arido s e esposas, pais e f ilhos . O que
foi alterado tem relação com a devastação da queda. Porque a vida em
famíli a que Deus criou no iníc io e qu e pronu nciou com o sendo boa foi
estraga da pela rebeldi a e pelo egoísmo hum anos. Os relacionam entos se
desfizeram. A sociedade foi fracionada. O amor foi pervertido em con
cupiscência, e a au torid ade em opre ssão. Mas ag ora, no Senhor, m ediante
a sua obra reconcilia dora, a nova sociedade de Deus começou, co ntin ua n-
do a ve lha no âmbito d a vida f amil iar, m as descontínu a na sua q ualid a-
de. Agora, pois, todos os nossos rel acionamentos são transfo rm ado s exa-
tamente porque estão no Senhor . São purificados do egocentr ismo rui
noso, e cheios, ao invés disso, do amor e da paz de Cristo. Até mesmo a
obediênc ia aos pai s é transfo rm ada. Já n ão é um a conc ordância de mal
grado à a uto rida de dos pai s. Os filho s crist ãos aprendem a obedece r com
alegria, “pois fazêlo é gra to dia nte do S enhor”.18Lembram se da subm is-
são amorosa que o próprio Jesus, quando menino, dedicava aos seus
pais. 19Agora, este mesmo Jesus é Senhor e Salvador deles, e o criador da
nova o rdem, de modo que estão ansi osos po r fazer o que lhe agrada.
2. O dever dos pais (v. 4)
A in strução aos filhos no sentido de obe decer em aos pais pres supõe, con -
forme já vimos, o fato de os pais t erem autoridade. Ape sar dis so, qu an -
do Paulo delineia com o os pai s devem com porta rse p ara com os filhos,
não os conclam a a des envolver sua autoridade, mas sim a contêla .
O qua dro em que pin ta os pais com o educadores dos filhos, com a
tocontrole, m ansidão e paciência, está em m arcante contrast e com a nor ma
dos s eus próprios dias . “N a chefia da família rom ana... h avia o pater fa
mílias, que e xercia um a auto rida de sobe rana sobre todos os mem bros da
patriapote sta s
famílteia...
men no O caráterdoautocrático
direito d a mas tam bém no
pai em castigar, manifestavase não
seu iuo vitae necso-
is-
que”20 (matar os recémnascidos; o abandono dos filhinhos)... O pater
fa milia s tinh a pleno direit o de dispor dos filhos, como também dos e s-
cravos e obj etos ...21William Barcl ay acrescenta: “O pai ro mano ti nh a au -
torid ad e total sobre a sua família. Po der ia vendê la com o escrava, ou fa-
zer os mem bros traba lha r em seu s campos, pod eria tom ar a le i nas sua s
próprias mãos, pois a lei assim lhe facultava, e podia castigar como que-
18 Cl 3:20. 19 Lc 2:51.
20 Isto é, “ o dire ito da vida e da m orte” .
21 Do artigo Patria P otestas no Oxford Classical Dictionary (ed. de 1949), pág. 653.
184
efésios 6:19
gum, expl orados, m anipulados ou esmagados. “ O pai dom inante das no-
velas vitori anas”, escreve Sir Frederick C athe rwood, “que exer cia sua pró-
pria autoridade para seus próprios fins não tem o direito de reivindicar
a autorid ade cristã, ass im como o filho rebelde. U m está abu san do da a u-
toridade, o outro está zom ban do dela. A mbos estão er rad o!’24
Não
nida de op éressora
apenaspode
nas ser
novelas
vista,danoInglaterra da era exemplo
en tanto. Outro vitorianavem
quedea pater-
tem-
pos mais recentes nos Estados Unidos. A novela Giant, de Ed na Ferb er,
con ta a história de um texa no, Jor da n Bene dict. D ono de um rancho de
gado, com dois milhões e meio de alqueires, fica fu rioso p orq ue o seu fi
lhinh o Jordy, com trê s anos de idade, não se dá com cava los. Qua nd o o
men ino é mon tad o nu m deles, vestido com o un iform e completo de “cow
boy”, chora para descer. Seu pai fica irado. “Eu m ontava cavalo antes de
saber a ndar”, diz ele. “ Muito b em”, resp onde sua esposa, Le slie, “era muito
bonitinho, mas tratase de você. Aqui temos outra pessoa, que talvez não
goste de c avalos...” “Ele é um Ben edict” o pa i retru ca, “e vou fazer dele
um cavaleiro mesm o se tiver de amarrá-lo pa ra con seguir”. “Vo cê tem agi-
do com o se fosse Deus po r tan to tem po q ue pensa que dirige o mun do ”.
“Dirijo a p arte dele que é minh a”. “Jo rdy n ão é só seu. É seu e meu. E
nem seq uer só nosso. Ele é de si mesm o..!’25
Cad a cria nça dev e ter licença pa ra ser ela mesma. Os pais sábios re -
conhec em que nem toda s as respostas d e inconfo rm ism o da infân cia me-
recemqusere cha
tação as crimadas
anças de rebeldia.
descobr Pelo contrário,
em tanto s os li miteésmediante a experiqu men-
da sua liberdade an -
to a q ualidad e do am or dos seus pais. Além dis so, a fim de s e tornarem
adultas, devem desenvolver a independência, não porque resistam à au-
toridade dos pais mas, sim, porque precisam exercitar a sua própria
autoridade.
Paulo não fica sat isfe ito com a sua instruç ão negat iva aos pais no
senti do de não provocarem seu s filho s à ira . Com plemen taa com um a
exortação positi va: Criai- os na dis cipli na e na admoestação do Senh or.
O verbo ( ektrephõ ) significa literalmente “nutrir” ou “alimentar” e foi
usad o em 5:29 ace rca d os cuidados que damo s ao nosso própr io corpo .
Mas tamb ém é usado para a criação de f ilhos. A trad uçã o de Calvino é :
“S ejam aca len tad os com afeição..., tra tai deles com b ra nd ur a”,26 e a de
William Hendriksen: “Criaios com ternu ra”. 27 Aqui temos um a com-
preensão, séculos antes de a psicologia m oderna ter enfatizado a im por-
tân cia vital dos prim eiros anos d a vida, de que as crianças são criaturas
24 A Better Way (InterVarsity Press, 1975), pág. 59.
25 (Victor Gollancz, 1952), págs 285286.
26 Calvin o, pág. 622 . 27 Hendriksen, pág. 262.
186
efésios 6:19
187
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
mo... Que direito tem você de dizer ao seu filho que ele precisa de disci-
plina quando você obviamente está precisando dela também? O auto con-
trole, o co ntrole d o seu pró prio gênio, é um a cond ição prévia essen cial no
controle dos o utros!’34
Até este ponto, temos pensado principalmente n a discip lina das crian-
ças. A criação cristã das cr iança s, no en tanto, é mental bem com o m o-
ral. Incl ui a ins trução também. Certa mo da contem porânea pop ular é con-
clam ar os pais a se r totalm en te “isentos de or ienta ção ” e deixar os fil hos
acharem o seu próprio caminho. Paulo tem um conceito diferente. Cer-
tamente, alguns pais dão orientação em demasia, dominam demasiada-
mente, e assim inibem seus filhos de tomarem suas pr óprias decisões e cres-
cerem pa ra a m aturidad e. Temos de distinguir entre a educação verdadeir a
e a falsa. A falsa educação é a doutrinação em que os pais e os mestres
impõem
lado, a sua
é o est vontade
ímulo, em sobre
que paisa cri ança.res
e mest A edu
agemcação
com verda deira, do outro
o catalizadores e en-
corajam a criança a ter suas próprias respos tas. N ão pode m faze r assim
se deixa m a cria nça avan çar aos tropeços; devem ensin ar os valo res cris-
tãos da verdade e da b ondade , defe ndêlos, e recom endar a sua aceita ção,
mas ao m esmo tem po absterse de qual que r pressão, e muito mais de qu al-
quer coerção.
A disciplina e a instruçã o nas quais os pais de vem criar filhos, segun-
do Paulo escreve, são do Senhor. A lguns têm entendido que ist o signifi -
ca simplesmente instru ção e disciplina c ristãs (BL H), e que Pau lo está e s-
pecificando a educação cristã em contraste com um a educação secular.
Mas penso que signifique mais do que isso, ou seja, que por detrás dos
pais que ensinam e disciplinam seus filhos há o próprio Senhor. É ele que
é o Mestre supremo e o adm inistrado r da discipl ina. C ertam ente a preo-
cupação predominante dos pais não é apenas que seus filhos se subme-
tam à sua auto rid ad e mas, sim, que a travé s disso cheguem a conhecer o
Senhor e a obedec erlhe. H á m uito regozijo e ações de gr aças sempre que
osim,
ensino
natueralm
a disciplina de um larpela
ente, à aceitação cr istão le vam,
criança não artificialmente,
do ensino e da d isciplinamas,
do
próprio Senhor Jesus.
3. O dever dos servos (vs. 5-8)
Qu anto a vós outros , serv os, obedecei a vossos senhores segu ndo a car
ne com tem or e tremor, na sinceridad e do vosso cor ação, co mo a Cristo,
6não servindo à vista, co mo para agradar a homen s, mas com o servos de
Cristo, faz en do de co ração a vontade de D eu s;1servindo de boa vonta
34 Ibid., pág. 279. Sua exposição deste s qua tro versículos é feita em cinco capítulos, e ab ran -
ge as págs. 237302.
188
efésios 6:1-9
de, como ao Senhor, e não como a homens, 8certos de que cada um, se
fizer alguma coisa boa, receberá isto outra vez do Senhor, quer seja ser
vo, quer livre.
A escravidão parece ter sido universal no mundo antigo. Uma alta
porcentagem da população consistia em escravos. “Foi com putado que
no Im pério Ro mano havi a 60.000.000 de escravos.” 35Eles con sti tuíam a
força de trab alho , e incluíam n ão somente os empregad os domético s e os
trabalhad ores manuais, m as tamb ém pess oas cult as, tais como m édicos,
professores e adm inistradores. Os escravos podiam ser herdados ou com-
prados, ou adquiridos para saldar uma dívida, e os prisioneiros de guer-
ra geralmente tornavamse esc ravos. Ninguém questionav a ou desafiava
este estad o de coisas. “A inst ituiç ão d a escravidã o era um f ato d a vida eco-
nôm ica mediterrânea tão com pletamente ace ita como parte da estru tura
trabalh
ma ista daquelena temp
da escravidão o que não
antigüidade. se aceitação
Esta pode corretamente
do sistema falar deproble
da escravi-
dão sem questionála expl ica por que P latão, no seu plano d a vida vir -
tuosa retratado em República, não precisava m encion ar a clas se dos es -
cravos. Estav a sim plesm ente imp lícito .” 36
Par a nós qu e vivemos em paíse s em que a escravidão tem sido ab oli-
da po r lei há mais de um sécul o e meio, é d ifícil conceber com o a p osses-
são de um ser hum ano por outro p ode ter sido tolerad a des sa manei ra.
É até mais difícil compreender como os escravos podem ter sido consi-
derados mais como objetos do que como pessoas. Apesar de todo o seu
inte lecto e cultura, Arist ótele s nã o pod ia contem plar q ualque r amizade
entre o escravo e seu senhor, porque , disse ele: “U m escravo é um a ferr a-
menta viva, assim como uma ferramenta é um escravo inanimado”, em-
bora pudesse pelo menos reconhecer que “um escravo é uma espécie de
propriedade que tem alm a” 37
Esta desum anização dos escravos na mente pública era es pelhada n a
legisla ção rom an a antiga. “Legalmente eram ape nas bens mó veis sem di-
reitos, aos rom
“O estado quaisano
o seu senhoro problem
deixava po dia t rat ar discipli
a da v irtualmnaente
doscom o quisesse
es cravos !’38
na m ão
dos seus donos... O pater familias tin ha controle to tal dos es cravos que
pertenciam à sua família, o poder de castigar com açoites e com o confi
namento no ergastulum, e o direito da execução da pena d a m orte !’39Co-
189
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
191
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
Em bo ra os d everes dos e scravos e stejam d etalha dos com porm eno res, os
don os cr istãos de escr avos receb em ap enas três princípios, mas to do s eles
têm
era. implicações
Primeiro: dedeigual
longo
moalcance n a situaçã
do procedei para ocom
históric
eles.a do
Ouséculo I devocê
seja: se nossa
es-
pera recebe respeito, demonstre respeito; se espera receber serviço, preste
serviço. É um a aplicação da regra áurea. Seja com o for que os s enhores
esperam que seus escravos se comportem para com eles, devem se com-
portar para com os seus escravos da mesma maneira. Paulo não admite
nen hu ma supe riorida de privilegiada nos senhores , com o se eles mesmos
pudessem deixar de m ostrar a própria cortesia que desejam receber.
Em segundo lugar: deixan do as ameaças . Com o os pais não devem
provocar seus filhos, assim também os senhores não devem ameaçar os
seus servos. Q uer dizer que não deve m abu sar da s ua posiç ão de au to ri-
dade, fazendo ameaças de cas tigo. O castigo era aceito no Im pér io com o
a únic a m aneira de conserva r os es cravos s ob controle, e o cristianism o
não nega que, em algum as circunstân cias, o castig o é legítimo, e até mes-
mo neces sário. As ameaças , porém , são um a arm a que os pode rosos em -
punham contra os indefesos. E um relacionamento baseado em ameaças
não é um relacionamento hum ano, de modo algum. Por isso, Paulo proibiu
tal coisa.
Em terceiro lug ar, a razão p ara estas exigência s é que sabem q ue Je -
sus Cristo é Senh or tan to do escr avo como do senho r, e que para com ele
não há acepção de pessoas. Os senhores dos esc ravos estavam aco stum a-
dos a serem lisonjeados e bajulados, mas não deviam esperar (pois não
recebe riam) semelhant e favorit ismo discrim inatório da p arte do Senhor
Cris to. Assim sendo , os três princípios visava m re duzir a lacu na cu ltural
e social entre o escra vo e seu dono. Ao invés de consider ar o relac ionamento
com os seus escravos com o sendo o de um pro pr ietário pa ra com os seus
bens móveis, ou de um superior p ara com seus inferiores, o cristão devia
desenvolver um relacionam ento em que lhes dava igual tratam ento ao que
esper ava receber, devia renunciar à a rm a injus ta das ameaças , e relembrar
que ele e eles tinham em comum o mesmo senhor celestial e justo juiz.
5. A abolição da escravidão
O novo relacio nam ento que Jesus Cristo p ossib ilitou entre o e scravo e seu
senh or era algo novo e belo. É compreen sível, n o entanto , q ue mui tos crí-
ticos tenha muad
tão, inadeq acha.ado ser esta
O evang resposta
elho cristã
não ofer a es
ecia se mal,
nenh um a sem resolver
sol ução maisaradi-
ques-
cal da escra vidão senão um ajustamen to de relaciona mentos pess oais. A in-
192
efési os 6:1 9
eeram um g rup
politicam enteonão
insignificante noer algum.
tinha m p od Império. Suadis
Além relso,
igiãaoescrav
ain daidão
era ilí
eracita,
na -
quel e tempo um a pa rte indis pensável do sist ema d a soci edade romana.
Na m aioria das cidades havia muito mais escravos do que livres. Teria si-
do, no e ntanto , impossíve l abolir a escra vidão de um só golpe se m a com -
pleta desintegração da sociedade. Mesmo se os cristãos tivessem liberta-
do seus escravos, teriam condenado a maioria deles ao desemprego a à
penúria. Conform e expressa G. B. Caird: “A sociedade antiga estava eco-
nom icamente tão dependente da esc ravidão qu anto a soci edade de hoje
depende das m áqu inas, e se alguém propusesse a sua abolição seria con -
siderado um faná tico seme ando sedição”.43 A escravidão tin ha de ser to-
lerada por m ais um pouco de tempo (embo ra, sem d úvida, est e “p ouco ”
fosse muito tem po!) como um sintom a do que os c ristãos chamavam de
este presen te século maligno.
H á um a segun da razão po r que nã o achamos no Novo Te stame nto
expressões mais fortes de con den ação a este sistema. “A ausência n a a n-
tigüidade de qualq uer aver são p rofu nda à escravidã o como u m m al so-
cial e eco nômico pode ser exp licad a parc ialm ente ”, escreve W. L. Weste r
41 P o re x . Fp 2:7; Jo 13:1416. 42 P o re x . 1 Co 9:19; 2 Co 4:5. 43 Caird, pág. 216 .
1 93
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
194
efésios 6:19
ram tolerados po r tanto tempo, especia lmente nas colônias europé ias. Sua
abolição devia ter sido feita muitos séculos antes. E as melhores mentes
cristãs reconheceram este fato. Calvino, por exemplo, em meados do sé-
culo XVI, a tribu iu a escr avidão ao pecado srcinal. Deduziu que era “um a
coisa total mente con tra toda a ordem d a natureza” que seres hum anos “fei-
tos à imagem
a s em elhante de
op Deus” pudessem
rób rio ”.51 em qualquer tempo ser “submetidos
Em bora nã o possa mos defender a indolência ou a covardi a de mais
dois séculos cristãos que percebiam o mal social mas que deixavam de
erradicálo, podemo s, ao mesm o tempo, regozijarnos por que o eva nge-
lho com eçou imediatamente, até mesmo no sécu lo I, a debilitar ess a ins-
tituição. O evangelho acendeu um pavio que, depois de muito tempo, le-
vou à explosã o que a destruiu. E assim voltamos pa ra a ca rta aos Efésio s
e ao relaci onamento transfo rm ado entr e escravo e senhor que Pau lo des-
creveu. Três aspectos desse relacionamento transformado podem ser
mencionados.
O primeiro é a igualdade. Naturalmente, ninguém imaginaria que,
na c ultu ra o u dia nte d a lei, os senhores e os escravos fossem igua is. Cer-
tamente que não eram. Mesmo assim, eram iguais diante de Deus, por-
que tinham o mesmo S enhor e juiz, que não demonstrava parcial idade
alguma entre eles (v. 9). A lei romana ainda era discriminatória em cer-
tos aspec tos; a justiça celest ial não era as sim. Paulo relemb rou tan to os
escravos
co no quaqu an to osasenhores
l edificou sua d oudeste
trin afat
de o. Este, pois,
igualdade. Oseesra cravos
o alicerce teol
devia m ógi-
d ar
aos se us senhores te rrestres bom serviço com um a bo a vontade, co mo se
fosse par a o seu Senh or celestial , certos de qu e ele os recom pensaria e os
honraria. Os senhores não deviam ameaçar, antes deviam respeitar seus
escravos, certos de que tinh am o mesmo Senhor no céu. Log o, era o co-
nhecimento que tinha m do senhorio e do julgam ento de Jesus Cristo que
os tornou iguais. Se se lembrassem de que Jesus era igualmente Senhor
deles agora, e de que um d ia viria a ser juiz ta nto dos senhores com o dos
escravos, sua atitude uás para com os outros seria totalmente
transformada.
A segunda qualidade do seu relacionamento devia ser a justiça. O
que está implícit o aqui na i nstr ução gera l aos senhores: de igu al mod o pro
cede i para com eles (v. 9) está explícito em Colossen ses 4 :1: “ Senhores,
trata i aos servos com justiça e com eqüidade, certos de que também vós
tendes Senho r no céu.” E sta injunção de ve ter soado de form a pro fu nd a-
mente estranh a aos ouvidos dos p rimeir os que a ou viram. P orque em bo-
ra, com o já vimos, a le i rom ana estivesse se torna ndo paulatin am ente mais
51 Calvino, pág. 634.
195
PAIS, FILHOS, SENHORES E SERVOS
196
efésios 6:19
Cristo Je sus”.53 Repe tiu, en tão, este sentim ento n a car ta paralela a Efé-
sios: “... onde não pode haver... escravo, livre; porém Cristo é tudo e em
to do s”.54 Uma mensagem que u nia assim o s enh or e o e scravo com o ir-
mãos lan çava, po r isso mes mo, u m desafio rad ical a um a instituição que
os separava como pro prie tário e propriedade. Depois di sso, tratase ap e-
nas de uma
dentro ”.55 questão de tempo. “A escravidão seria abolida a partir de
53 G1 3:26, 28 . 54 Cl 3:11. 5S Hendriksen, pág. 263. Ver também o capítulo “ O Após-
tolo Paulo e a Lei Romana da Escravidão” de P. R. ColemanNorton em Sludies i n Rom òn
Economic and Social Hisiory (Princeton University Press, 1951), págs. 155177.
197
6 : 10-20
12. Principados e potestades
Quan to ao mais, sede forta lecid os no Sen hor e na for ça do seu pode r.
11 Revesti-vos de toda a arm adura de Deus, para poderdes ficar firm es
contra as ciladas do diabo; l2po rq ue a nossa luta não é contra o sangue
e a carne, e, sim, contra os prin cipa do s e potestade s, contra os d om ina
dores deste m un do tenebroso, contra as fo rç as espirituais do mal, nas re
giões celestes. 13Portanto, tom ai toda a armadura de Deus, para qu ep os -
sais resistir no dia mau, e, dep ois de terde s vencido tudo, pem an ece r ina
baláveis. XAEstai, pois, firm es, cing indo-vo s com a verdade, e vestin do-v os
da couraç a d a justiça. 15Calçai os pés co m a preparação do evangelho da
paz; 16embraçando sem pre o escudo da fé, com o qual podereis apagar
todo s os dardos inflam ados do mali gno. 17Tomai tamb ém o capace te da
salvação e a espada d o Espírit o, qu e é a pala vra d e Deus; 18com tod a ora
ção e súplica, orando em todo tem po n o Espír ito, e para isto com toda
perseverança e súplica
que m e seja dada, p o r da
no abrir todos
m inhosa santos, 19e também
boca , a palavr a, parapcom
o r mim ; para
intrepi
dez fa ze r conhecido o mistério d o evange lho, 20pe lo qu al sou em baixa
do r em cad eias, para qu e em Cristo eu seja ousa do para falar , com o me
cum pre fazê- lo.
Já por várias vezes em no sso estudo desta ca rta pudem os m aravil harnos
com a amplitude da compreensão de Paulo. Ele começou desdobrando
o propó sito de Deus, concedido num a eternidade antes da f und ação do
mundo, par a criar um a única nova raça hu m an a através da m orte e da r es-
surreição de C risto e, fin almente, unir a igreja inteira e to da a criação sob
a supremacia de Cri sto como cab eça. Enfatizo u que um a form a distinti-
va foi da da a este pla no divin o pela inclu são n a nova sociedade de Deus ,
em completa igualdade, de judeus e gentios. Os dias antigos da divisão
e da discriminação acabaram . Um a unidade com pletamente no va emer-
giu, onde, m ediante a uniã o com C risto, os jud eu s e os gentios sã o m em -
bros iguais do mesmo corpo e coparticipantes iguais da mesma promes-
sa. Desta tem
Salvador m aneira,
um sóagpovo,
ora um
e umsósóPaiEspírito
t em umtem
a sóumfamília, um só
só corpo. Messãosias
Estes
os fatos seguros do que Deus fez através de Cristo, e pelo Espírito formam
198
efésios 6:10-20
a base sobre a qual Paulo passou a fazer seu eloqüente apelo. Seus leito-
res devem viver u ma vid a que é digna do se u chama men to e própria para
sua posição de sociedade nova e reconciliada de Deus. Devem demons-
trar sua unid ade n a com unhã o cri stã, ao mesmo tempo em que se rego-
zijam n a diversidade dos se us dons e , tamb ém, dos seu s ministérios. De-
vem
versãodespojarse
e v iver umdea vida
toda de
a impureza
“justiç ado seuretid
e de comãoportam ento an
procedentes d terio r à con-.
a verdade”
E devem ap ren der a subm eterse u ns aos outros em todos os tipos de re-
lacionam entos doméstico s e as sim promover a h arm on ia nos seus lares.
A unidade, a diver sida de, a pureza e a har m on ia — estas o ap óst olo res-
saltou com o características principais da nova vida e da no va sociedade
em Cristo. Seria um belo ideal, um alvo obviamente desejável, e não tão
difícil de ser atingido.
Agora , porém , Paulo nos traz de vol ta para a terra e , assim, par a rea-
lidade s m ais du ras do que os sonhos. Recordanos da oposição. Po r bai-
xo das aparê ncias na supe rfície, está send o travada furiosam ente um a ba -
talh a espir itu al invisível. Ele apresentanos o diabo, (já men cion ado em
2:2 e 4:27) e cert os principados e potestades sob seu com ando. Não nos
fornece ne nh um a biografia do diabo, e nenhum a expl icação da srce m
das forças da s trevas. Adm ite a ex istência delas com o um t erren o com um
entre ele e se us leit ores. De q ualqu er m aneira, seu prop ósito nã o é satifa
zer a nossa curiosidad e mas, sim, advert irnos quan to à hostilidade des-
sas forçasElas,
ciedade? e ensinarn os a vencêlas.
então, farão O pdestruíla.
de tudo para lano de Deus é cria
Deus, r um a nova
mediante Je- so-
sus Cristo, qu ebr ou as paredes que dividem os seres hum ano s de raças di-
ferentes e de culturas diferentes, uns dos outros? Então, o diabo, através
dos seus emissários, se esforçará para reedificálas. Deus pretende que o
seu povo rec onciliad o e redim ido viv a ju nto em harm on ia e em pureza?
En tão os pod ere s do infern o espa lharão entre e les as sementes da discór-
dia e do p eca do. É co ntra est es podere s que somos ord enad os a guerr ear,
ou —par a ser mais éxato— lutar (v. 12). Es ta m etáf ora não é nec essar ia-
ment e incompatível co m a do soldado arm ado que Paulo passa a dese n-
volver, como se tivesse “trocado o cenário do campo de batalha para o
ginásio”.1Simplesmente quer enfatizar a realidade do nosso confronto
com os pode res d o m al, e a terrível realidade do com bate cor po a corpo.
A tran siçã o ab ru pta dos “lares pacífi cos e dias de saúde” dos pa rá -
grafos anteriore s pa ra a malícia hedionda das tram as diabólicas deste pa-
rágrafo no s d á um susto dolo roso que é, aliás, essencial. Todos nós go s-
taríamos d e pass ar a nossa vida e m tranqülida de impertubável , com os
nossos entes qu eridos em casa e na com unh ão do povo de De us. O cam i-
1Hendriksen, pág. 273.
199
PRINCIPADOS E POTESTADES
200
efésios 6:10-20
não possuem qu alquer princípio moral, nem código de hon ra, nem sen-
timentos mais nob res. Não recon hecem nenh um a Convenção d e Genebra
para restringir ou parcialm ente civilizar as armas de sua guerra. São to-
talmente inescrepulosos, e implacáveis na procura de seus desígnos
maldosos.
Emtendo
(v. 11), terceiro lugar,
declar adosão
n umastuto s. Pant
a ca rta aulo
eri escreve aqui
or qu e “b emdas ciladas
sabemos do ediabo
o qu está
procurando fazer”(BV) ou “conhecemos bem os planos dele” (BLH).9 G.
B. Caird ach a que ciladas “m enospr eza um po uco” como se Paulo “não
levasse o diab o a séri o”, e “n ão muito em h arm on ia com a m etáfora m i-
lita r de qu e aq ui ele se vale”. Sugere, em subst ituiçã o, que “ estratagemas
daria a necessár ia combinação de sagaci dade táti ca com engano engenho-
so”.10 Quan do o diabo se tra nf or m a em anjo de lu z, geralmente somos
ap anh ado s sem na da suspe itar. Isto porqu e raramente el e atac a desta for-
ma, prefe rind o sempre a s trevas à luz. É um lobo perigoso, mas tamb ém
entra no reba nho de Cristo disfar çado de ovelha. Po r vezes ruge com o leão,
mas m uito freqüentem ente é sutil como a serp ente.12Não devemos im a-
ginar, p ortan to, q ue a persegui ção aberta e a tentaçã o declarada pa ra pe-
carm os são as suas únicas armas, ou mesmo as mais comuns que el e tem.
Ele prefere seduzirnos par a entrarm os n um meiotermo, e assi m lograr
nos p ar a nos lev ar ao erro . É signi fica nte que esta mesm a palavra ciladas
é traduz ida pela ERAB em 4:14 como astúcia no caso dos falsos mestre s
com s uas oartimanhas.
Simpson, “Com “um
diabo desenvolve Guerra
o na dupla San tainfernal”.
política de B unyan”, escreve
Ou seja, “a E. K.
tática de intimidação alternase com a da insinuação no plano de cam-
panha de Satanás. Ele faz o papel do valentão bem como o do trapacei-
ro. A força e a fraude constituem a sua ofensi va principal contr a o arraial
dos santos; ele revez a os do is m éto do s!’13
As ciladas do diabo tom am muitas formas, mas o se u mai or êxito em
astú cia é q ua nd o ele consegue persua dir as pessoas de que el e não existe.
Negar a sua existência é expornos ainda às suas sutilezas. O Dr. Lloyd
Jones expres sa seu po nto de vista sobr e esta questão nos seguin tes termos:
“Est ou certo de que u ma das principai s causas das más condi ções da igre ja
de hoj e é o fato de que o diabo está sendo esquec ido. Tbdo é atr ibu ído a
nós m esmos; tod os nós temos chegado a ser po r demais psi cológicos em
nossas atitud es e em nossos pensamentos. Ignoram os este grande fa to ob-
jetivo, a existência do diabo, o adversário, o acusador, com seus dardos
in fla mad os !’14
9 2 Co 2:11 . 10 Ca ird, pág. 92. 11 2 C o 11:14.
12 1 Pe 5:8; Gn 3:1. 13 Simpson, págs. 144145.
14 LloydJones, Warfare, pág. 292.
202
efésios 6:10-20
203
PRINCIPADOS E POTEST ADES
2. Os principados e as potestades
Até esta altura, tenho tomado por certo que Paulo, com “principados e
potestades” referiuse a inteligências dem oníacas. H á um a teoria que es-
tá ca da ve z mais em m od a entre teólogos rec entes e contempo râneos, no
entanto, de que Paulo estaria al udindose mais a estruturas de pensamento
(à tradiçã o, à conv ençã o, à le i, à a utorid ade, e até mesm o à reli gião), es -
pecialmente conforme estão incorporadas no Estado e nas instituições.
Conq uan to um cer to número de teól ogos al emães tenham debatido est a
possibilidade na década de 1930, no mundo da língua inglesa tem sido uma
discussã o de após a guerra. Tornou se tão po pu lar que penso que é ne-
cessário prime iram ente seguir a srcem do seu desenvolv imento, e depois
sujeitál a a u m a crí tica.
Em 1952 foi lançad o o livr o de Gord on R upp, Principali ties an d Po-
wers ,15co msob
Escrevendo o subitítulo
o impacto “Studies
da Segundain the Ch ristia
Guerra n C onflict
Mundial, in H isto ry ”.
Rupp contras-
tou a "falta de cor agem” do hom em m oderno com a “confi ança exu ltante”
e “valentia” do s cristãos primitivos ao enfrentarem o mal, 16e atribu iu es-
ta últim a atitude à cert eza de les ace rca da vitória de Je sus sobre os prin-
cipados e potestades. Paulo, com esta expressão, emprestada do pensa-
men to apoca líptico jud aico poste rior, quis dizer “ forças cósmicas sobre -
naturais, uma vasta hierarquia de seres angelicais e demoníacos que ha-
bitavam as estrelas e... eram os árbitros d o destino hum ano”, escravizan-
do os homens “debai xo de um to talitarism o cósmico ”. 17O Dr. R upp, p o-
rém, passo u a aplica r o conceito “à gent e peq uen a” que e m toda s as eras
“se sentir am na da m ais do que j oguetes de grandes forç as h istóricas” , '8
ora n a Ida de M édia, ora na revo lução industrial, e agora no sécul o vinte
em que se sent em v ítimas de “grandes pressõe s econôm icas e sociológi-
cas”.19Co ncluiu: “N o deco rrer dos sécul os, os prin cip ado s e as potência s
têm assumido muitos disfarces. Aterrorizantes e mortíferos são eles, às
vezes se esp alh an do p ela terr a em algum de spo tism o gigantesco, às vezes
estreitados a um único impulso na mente de um só indivíduo. A luta pros-
segue, no entanto. Pa ra os cre ntes, h á a certeza de um conflito até o fim .
Há, poré m, tam bém a ga rantia d a vitór ia!’20O Dr. Rupp escreve mais co-
mo um historiador do que como um teólogo. Sem qualquer argumento
exegético, sim plesmente transfere a expre ssão “ princ ipad os e potesta des”
a forças econômicas, sociais e políticas.
No ano seguinte foi publicado o original em Holandês do monógrafo
de Hen drik Berkhof, Ch rist and the Po wers, depois de um a preleção fe i-
ta n a Alem anha, em 1950.Sua tradução para o inglês por Joh n How ard
15 Publicad o por Epworth. 16 Op. cit. , pág. 9. 17 Ib id., pág. 10.
18 Ib id. , pág. 11. 19 Ibid. , pág. 83 . 20 Ib id. , pág. 2.
204
efésios 6:10-20
205
PRINCIPADOS E POTESTADES
fens iva co ntr a elas a fim de “m anter. .. sua sedu ção e sua escravi zação a
um a b oa d istânc ia”.32E sta de claraçã o é a explicação de Efésios 3:10 e da
guerra defensiva de 6:1017 dada por Dr. Berkhof.
Uma terceira apr esentaç ão deste conceito das P otestades foi feita em
1954 po r G. B. C aird nu ma série de preleções no C ana dá, que fo ram pu -
blicadas em 1950 com o título Princi palit ies and Po wers, A Stu dy in Pau-
line Theology .33 É um estudo bíblico mais cuidadoso do que qualquer
um dos livros até agor a citados, em bora pessoalmente e u não possa ab or-
dar com qualqu er grau de confiança um a obra q ue não só s e refere a “ló-
gica falh a e à exegese igualmen te falha” de Paulo, com o tamb ém m encion a
“a insuficiê ncia dos argum entos espúrios de P aulo”. 34Afir man do na sua
introdu ção que “a idéi a de potest ades m undiais sini stras e sua subjuga
ção por Cristo é embutida no próprio sistema do pensamento de Pau-
cipalitNo
iescomentário
and Power s,sobre
o Dr.Efésios publicado
Caird parece vinte anos
mais disposto quePrin
depois de
a conceder
Pau lo esti vesse se refe rind o a “seres espiritu ais que presidem sobre todas
as formas e estruturas de poder operantes na vida corpórea dos ho-
mens”.39Na realidade, “os inimigos verdadeiros são as forças espirituais
que ficam po r detrás de tod as as instituições de g overno, e que controlam
as vidas dos homens e das n ações!’40
O único au tor que mencionare i pelo nome é o D r. M arkus Barth, cujo
32 Ibid.,
pág. 52. 33 Oxford Univ ersity Press. 34 Op. cit., págs. 2021.
g. viii. 35 Ibid., 36 Ibid ., págs. 2730 .
38 Ibid.,
pág. 101. 39 Caird, pág. 46.
206
efésios 6 : 10-20
livro The Broken Wall (A Stu dy o f the Epistle to the Ephesians) foi pu -
blicado em 1959, e cujos dois volumes m onumentais na série Anchor Bi-
ble surgiram em 1974. No primeiro livro, ele identifica os principados e
potestades “com referência a quatro aspectos do pensamento e da term i-
nol ogia de Paulo ”, a saber, o Esta do (a uto rida des políticas, judiciais, ecle
siáticas), a morte, a moral
clusive a escravidão. e a lei os
“Concluím ritual,
q ue ecom
as estruturas econômicas,
pri ncipa dos in-Paulo
e potestades
referese ao mun do de axiom as e princípios da po lítica e da rel igiã o, das
ciênci as econômicas e da sociedad e, d a mo ral e da biologia, da h istória
e da cul tura ”, e, po rtan to, “é da essênci a do evangelho incluir declarações
concernentes às situaç ões, do gm as e problem as políticos, so ciais, eco nô-
mico s, cu ltu rais e psicol ógi cos ”.41
Na sua obra posterio r em dois volumes, no entanto, fico com a níti-
da impressão de que o D r. Ba rth está disposto a conceder a Paulo um a
co ntinua da cren ça “mitológica” ou “supersti ciosa ” (segundo o m odo de
Barth encarar o assunto) nos poderes sobrenatur ais. Parece es tar procu -
rand o algum tipo de meiotermo inquieto entre as duas int erpretações. P or
isto ele diz: “P aulo d en ot a os seres angelic ais ou dem oníaco s que residem
nos céus” , em bora h aja u m a “associação direta entre estes princip ado s e
potestades celestes com as estruturas e as instituições da vida na terra”.42
Além disso, “os ‘principados e potes tade s’ são, ao mes mo tempo, en tidade s
espirituais intan gíveis e estr utu ras ou instituições concretas, históricas, so-
ciais M
o uinha
psíqu icas”
prim eira.43reação a esta t entativa d e reconstruç ão, da qual dei
qu atro exemplos, é de adm iraçã o po r sua engenhosida de. Os citados es-
tudiosos empregaram m uita perícia em sua determinação de faz er es sas
nã o muito claras refe rências de Paulo às potestades celestiais referi rem
se de m odo relevante às nossas presentes situaçõ es deste mundo. Daí o atr a-
tivo desta teoria, que certo núm ero de autore s de form ação evan gélica tam -
bém começaram a adotar. Mas daí, também, seu caráter suspeito. Alguns,
pois, estão reconhecendo com grande simplicidade os dois embaraços que
os levaram a abr açála. E m primeiro lug ar, di zem, a interpretaçã o trad i-
cional refle tia um a cosmovisão arcai ca, com an jos e demônios, não m uito
longe de fantasmas e espíritos das sessões mediúnicas. Em segundo lu-
gar, não p od ia achar no Novo Tes tamento alusão algum a a estruturas so-
ciais, sendo que est as se tor na ra m um a preocup ação m od erna de relevân-
cia. Então, de repente, um a nova teoria é pro po sta, teoria que solucion a
os doi s problemas simultaneamente. Perdemos o s demônios e ganh am os
41 Barth, Broken Wall, págs. 8283.
42 Barth, Ephesians, I, pág. 154.
43 Ib id., pág. 800.
207
PRINCIPADOS E POTESTADES
208
efésios 6:10-20
48 Pa ra a criação deles, ver Cl 1:16; sua queda é suben tendid a porque Cris to precisou conquistá
los; para
deles, Ef a3:10;
conquista
pa ra deles ver Ef 1:2022;
sua hostilidade, Cl 2:15;
E f 6:12 e pa Rm 8:38
ra sua e 1Pe3:22;
destruição para aprendizagem
final, 1 Co 15:24.
49 Por ex.Mt 26:53; Mc 12:25; Lc 15:10; 16:22.
50 Po r ex. Rm 8:38; 1 Co 4:9; 1 Tm 5:21; 1 Pe 1:12; 3:22; Hb 1:4 2:9; 12:1824.
209
PRINCIPADOS E POTESTADES
210
ef ési o s 6:10-20
Estai, pois, firm es... Esta qu ád rup la ênf ase da da à nec essi dade de “ ficar
firme” ou “resistir ” dem onstra que o apóstolo se preocupa com a est abi-
lidade cristã. Cristãos inst áveis que não têm os pés firmes em Cristo são
um a presa fá cil para o diabo. E cristãos que t remem como taqu aras e ca-
nas não pod em resistir ao ve nto qu and o os principados e as potes tades
começam a soprar.
fiquem firmes Paulo deseja
até mesm verasosciladas
o co ntra cristãos
d tão
o difortes
ab o (v.e estáveis
11) e até que
m esmo
no d ia m au , ou se ja: nu m tem po de pres são espe cial. P ara tal estabilida-
de, tan to de caráter com o n a crise, a ar m ad ura de Deus é essencial.
A expressão toda a armadura de Deus traduz a palavra gre ga pano-
plia, que é “a arm ad ura completa d e um soldado p esadamente arm ado ”
(AG) embo ra “os aspecto di vino, mais do que o caráter completo do equi-
pam ento, é que é enfatizado”.52A lição é que este equipamento é “feito
e fornecid o“ po r De us.53 No A ntig o Testamento, é o pró pr io Deus que é
retra tado co mo um guerreiro luta nd o pa ra vindicar o seu povo: “Vestiu
se de justiça, com o de um a couraça , e pôs o capacete da salvação na ca -
beça!’54Até hoje as armas e a armadura continuam sendo dele, mas agora
as co m pa rtilha conos co. Te mos de vestir a arm ad ura , pegar em armas, e
ir à guerra contra as potestades do mal.
Pau lo alista em det alhes as s eis peças principais do eq uipam ento do
soldado — o cinto, a couraça, as botas, o escudo, o capacete, e a espada
— e empregaas como ilustrações da verdade, da justiça, do evangelho da
paz,
luta codantra
fé, as
dapotesta
salvação e da
des. Palavra
P aulo estavdea bem
Deus,familiarizado
que nos equipam
com os emsolda-
nossa
dos rom anos. Enco ntravase com m uitos del es em suas v iagens, e qu an -
do ditava Efés ios, estav a acorr enta do a um deles, pelo pulso . Pau lo refere
se à su a cad eia no versícul o 20. E em bora fosse improvável que semelhan te
guarda usas se a plena arm adu ra de um so ldado da infantaria no cam po
da b atalh a, m esmo assim, vê lo de perto pode m uito bem terlhe desper-
tado a imaginação.
Em 1655, o ministro pur itan o Willia m G urna ll “pas tor d a igrej a de
Cristo em Lavenham, Suffolk” (conforme se identi ficav a a si mesmo), p u-
blicou o tratado The Chr istian in C omplete A rm ou r. Seu subtítu lo é tão
minucioso, que p ara lêlo é necess ário respitar fund o: A guerra dos san
tos contra o Diabo , em que é fe ito o desmascarament o daquele grande ini
mig o d e Deus e do seu povo, nas suas polít icas, no seu poder, na sede do
seu império , na sua maldade, e no desígni o princ ipa l que tem contra os
santos; em qu e é aberto um arsenal de on de o cri stão é supr ido com ar
mas espi ritua is para a batalha, ajudad o a vestir um a armad ura; ju nta men te
52 Armitage Robinson, pág. 132.
53 Hendriksen, pág. 272. 54 Is 59:17.
211
PRINCIPADOS E POTESTADES
com o resultado fe li z da guer ra inte ira. Na ded icató ria do l ivro aos s eus
paroquianos, referese a si próprio modestamente como ministro “pobre”
e “indigno” deles, e ao seu tratad o com o sendo apenas u m a “m igalha”
e um “pequeno presente” para eles. Apesar disso, a oitava edição, de 1821,
ocupa três tomos, 261 capítulos e 1.472 páginas, embora seja uma expo-
siçãoDeixemme
de apenas onze versículos.
fazêlos apreciar um pouco da espiritualidade de Gur
nall. A respeito dá ar m ad ur a de Deus , ele escreve: “N o céu, comp arece-
remos não com arm adu ra, mas vesti ndo roupa s de glóri a; aqui, porém,
elas (ou seja, as peça s de arm ad ura especificadas) de vem ser usada s no i-
te e dia. Devemos anda r, tra ba lh ar e do rm ir vesti dos com e las, senão, nã o
somos verdadeiros sold ado s de Cristo !’55Com es ta armad ura devemos fi-
car em pé e v igiar, e nu nca relaxar a nossa vigilânc ia, pois “o tem po em
que os santos dormem é o temp o em que Satanás v ai tentar; qu alquer m os-
ca ousa av enturar se a an da r num leão ad orm ecido” 56Co ntinua, citan-
do como exemplos Sansão (cujos cabelos foram cortados por Dalila en-
qu anto ele dorm ia), o re i Saul (cuja lança f oi fur tad a p or Davi enquanto
ele dormia), Noé (que, enquanto estava num sono ébrio, foi de alguma
maneira m altratad o pelo s eu filho) e Êutico (q ue dorm ia enq uan to Pa u-
lo pregava).
O Dr. M art yn LloydJo nes, já em nossos dias, escr eveu um a excelente
e am pla exposição dos mesmos onze versículos em dois v olumes, c ham ada
The Christian
ginas. H á vinteWarfare The Christian
e um caepítulos n o primSoldier ,57com
eiro volume um“as
sobre to tal
ci deladas
73 6do
pá -
diabo”, que de screvem alguns dos ataque s mais sutis do diabo ao povo de
Deus (e m três âmbitos: d a ment e, da exper iênci a, e da prática ou c on du -
ta) e que destacam co mo precisamos ficar de sob reaviso. Estas páginas
estão cheias de conselhos sábios de um pastor experimentado.
A prim eira peça com que de vemo s nos equipar, q ue Pau lo m encio-
na, é o cinto d a verda de: cingindo-vos com a verdade (v. 14). Usualm ente
feito de couro , o cint o do soldado pertencia mais à sua rou pa de baixo do
que à arm adu ra. Mesmo assi m, era essencial. P rendia a túnica, e também
segurava a espada . Ga rantia que não sofreri a impedimento algum ao m ar-
char. Ao afivelar o cinto, o soldado recebia uma sensação de força e de
con fian ça escondidas. Isso ain da hoje é verdade. “Ape rtar o cinto” pode
signi ficar não som ente um temp o de austeridade dura nte um a care stia d e
alimentos , co mo tam bém prepararse pa ra a ação, o que os antigos teriam
chamado de “cingir os lombos”.
55 Gurnall, I, pág. 67. 56 Ibid., pág. 330.
57 The Chris tian S oldier, A n Exposition o f Eph. 6:10-20 (Banner of Truth, 1977).
212
efésios 6:10-20
213
PRINCIPADOS E POTESTADES
215
PRINCIPADOS E POTESTADES
216
efésios 6 : 10-20
evangelho
to. São a a ermoad
escudo
ur a ded Deus,
a fé, o pois
capacete
é eleda salvaç
quem ão ece.
a forne a espa da doassim,
M esmo E sp íri-
é
nossa a responsabilidade de tomála, vestila, e empregála com con fiança
co ntra os poderes do m al. Além disso, dev emos ter a certez a de que fare-
mos uso de todos os equipam entos da arm adu ra, e que não deixa remo s
de lado ne nhu m deles. “N ossos inimigos estão de t odos os lados, e ass im
deve ser a n ossa a rm ad ura, à d ireita e à esq ue rda .” 79
74
75 Hodge,
Ap 1:16;págs.
2:12;387388.
19:15; cf. Is 11:4; Os 6:5.
76 Mt 10:1720. 77 Hb 4:12.
78 Simpson, pág. 151. 79 Gurnall, pág. 60.
217
PRINCIPADOS E POTESTADES
218
efésios 6:10-20
Foi a falta de obediência a esta ordem que levo u os apóstolos à sua d es-
lealdade desastrosa. U m fracasso semelhante le va a um a desleald ade se -
melhante hoj e. É median te a ora ção q ue esper amos no Senh or e renova-
mos as nossas forç as. Sem a oração somos m uito débeis e lassos para fi-
car firmes contra as forças do mal.
p ara també
sábioOrai m po
saber da suar pró
m im,pria
P aul o rog
neces ou (v.
sidade d e19). Elepara
força era sufic ientemcon
ficar firme ente-
tra o inimigo, e era tam bém suficientemente hum ilde para p edir q ue se us
amigos orassem com ele e por ele. As forças das qu ais precisava nã o eram
apenas p ara a sua con frontaçã o pessoa l com o diabo mas, sim, pa ra o se u
ministério evan gelístico pelo qual procurava libertar as pessoas do domí nio
do diabo. Esta tinha sido parte da sua comissã o srcin al quan do o Senhor
Jesus r essurreto o m an do u converter as pes soas “das tre vas par a a luz e
da p otestad e de Satanás par a D eus”.87 Daí o conflito espiritual d o q ual
tinha consciência. Além disso, não deixaria o campo de batalha, agora
que es tava sob prisão domicil iar, e impo ssibilitado de contin uar aq uelas
expedições militares . Não! Havia aqueles soldado s aos quais, um p or um ,
e cada um p or algumas horas alternadam ente el e ficava acorrentado ; e
havia ainda suas visi tas consta ntes ! Ainda p od ia testemu nhar a elas, e a s-
sim fazia. Deve ter havido outros indivíduos, além do escravo foragido
Onésimo, a quem levou a Cristo. Lucas cont a acerca de líderes jud eus que
vinham até el e no seu alojamen to, e que o ouvira m fazer um a exposiç ão
“desde qu
alguns am an hã até pers
e ficaram a tarde”
uad idoacerca do reino eLucas.8
s”, acrescentou acerca 8Deste
de Jes us. “Hou
modo, asve
la-
butas evangelísticas de Paulo continuavam. Durante “dois anos... recebia
a todos que o procuravam, pregan do o reino de Deus, e. .. o Senh or Jesus
Cristo ”. E o fez “com tod a a intrepidez, sem imped im ento algum ”.89
São essas últim as palavras que deve mos no tar especia lmente. Porq ue
“com tod a a intrepidez” tradu z a fra se grega “com tod a a parrêsia”. A
palavra originalmente denotava a liberdade democrática de expressão des-
fr uta da pelos cidadãos gregos. Depois ve io a significar “a sinceri dade, a
franqueza, a clareza da fala , que nad a escon de e não passa p or cima de
na da ”, jun tam en te com “a coragem, a confiança, a ousadia, o de stemor,
especialmente na presença de pe ssoas de alta posição ” (AG). E é precisa-
mente isto que Pa ulo solici ta aos ef ésios que orem p edind o que isso l he
seja concedido. É pela liberdade que anseia — não p ela liberdade do con
fin am ent o mas, sim, pela liberdad e para prega r o evangelho. Po r isso, em -
prega a palavra parrêsia duas vezes (primeiro como substantivo, depois,
com o verbo) n as expres sões no abrir da min ha boca... com intrepidez (v.
19) na pre gação do evangelho, e para que em Cristo eu seja ousado para
87 At 26:1 8 . 88 A t 28 :1 7, 232 4. 89A t28:3031.
219
PRINCIPADOS E POTESTADES
falar , com o me cum pre fazêlo (v. 20). Às boas novas que a nuncia ele ain da
as cham a de mistério, porqu e se tor no u con hecido apenas pela rev elação,
e se centrali za na un idade entre jud eus e gentios em Cristo ; e as duas qu a-
lidades principais que ele deseja que caracterizem sua pregação deste mis-
tério são palavra (v. 19) eintrepidez (vs. 1920).
A primeira
municação, destas duas
e a segunda, à suapalavras
coragem.parece r eferirse
Ele anseia à claobscurecer
por não reza da sua co-
cois a alguma com palavras i mprec isas, e po r não ocultar n ad a com um
meioterm o covarde. A clareza e a coragem perm anecem sendo du as das
característi cas mais cruc iais da pregaçã o cristã autêntica. É po rqu e rela-
cionam o conteúdo da m ensag em p regada com o estilo d a apresenta ção.
Alguns pregadores têm o dom do ensino lúcido, mas faltalhes nos ser-
mões conteúdo sól ido. A substância é diluída pelo medo. Ou tros são o u-
sados como le ões. Nã o temem a ninguém, e não omitem nada. Mas o que
dizem é só con fusã o e acaba m nã o esclarecendo nada. A clareza s em co-
ragem é com o a luz do so l no deserto: ba stant e luz, m as nad a que valha
a pen a olha r. A coragem sem clareza é com o um a bela paisagem à noit e:
mu itas coisa s pa ra ver, mas n en hu ma luz pa ra d esf rut ar essa visão. O que
é neces sári o nos púlpitos do m und o hoje é um a com binação de cla reza
e coragem, ou palavra e intrepidez. Paulo pediu que os efésios orassem
para que estas duas coisas lhe fossem dadas, pois as reconhecia como dá-
divas de Deu s. Devemos jun tarn os a eles em oraç ão em prol dos pa sto -
res e Isso
pregadores
tudo eradaem
igreja
prol contemporânea.
do evangelho pelo qual ele se tornara embai
xador em cadeias (v. 20). An terior mente n a ca rta Pau lo se design ara tan -
to “prisioneiro... por amor de vós, gentios” quanto “prisioneiro no Se-
nhor” (3:1; 4:1). Conseqüentemente, ele está dizendo que o evangelho,
o S enhor e o s gentios são trê s razõe s pa ra a sua prisão. Mesm o assim, es-
tas tr ês são um a só. As boa s novas que prega va eram a inclusão dos gen-
tios na nova socie dade, e fôra o Sen hor quem lhe con fiara a m ensag em.
Assim sen do, ao com unicála na sua plenitude, es tava sendo sim ultanea -
mente fiel ao próprio evangelho, ao Senhor que o revelara e aos gentios
que recebiam as bênção s desse e vangelho. S ua fid elid ade a estes tr ês lhes
custara a libe rdade. Era, então um p risioneiro po r causa de sses três fato-
res. Talvez ag ora às vezes foss e tent ad o a aceit ar um meiote rm o p ara ga -
ran tir a sua soltura. Isso porqu e “ser preso traz c onsig o a tentação n o sen-
tid o de curvarse dia nte do te mor ao ho mem ”.90 Mas se assim foi, P aulo
recebeu graça p ara resistir. “P aulo p ensa em s i mesmo com o sendo o em-
baixador de Jesus Cristo, devidam ente acreditado para representar o seu
Senhor na corte imperial em Ro ma!’91Co mo pod eria ter vergonh a do seu
90 Fo ulk es, pá g. 180. 91 Bruc e, pá g. 134.
220
efésios 6:10-20
Rei, ou ter medo de falar no nom e dele? Pelo con trário, orgulhava se de
ser o embaixa dor de Cris to, a ind a que es tivesse pass and o pela an om alia
de se r “em baixado r em cadeias”. É possí vel que até deliberadam ente te-
nh a feito um jog o de palavras com este paradoxo. Markus Barth es creve:
“O termo cadeia (alusis ) significa, entre outra s coisas, os ado rnos (de ouro)
usados
de alta ao redo rNas
posição. do pesco ço efestivas,
ocasiões nos pulsos po r damas ricas
os embaixadores ou potaisr homens
usavam cor-
rentes a fim de revelarem riqueza, poder e dignidade do governo que re-
presentavam. E Paulo, servindo a Cristo crucificado, consideraria as ca-
deias dolorosas de ferro que o prendiam como as insígn ias mais ap ro pri a-
das para a representação do seu Senhor !’92 O que mais preocupava Pau-
lo não era, no entan to, q ue os seus pulsos fossem libertos da s cadeias mas ,
sim, q ue a sua bo ca fosse abe rta em testemunho. Não qu e ele fosse liber-
tado, mas, sim, que o evangelho viesse a ser difundido livremente e sem
impedimento. É por isto, pois, que ele orou, e que pediu que os efésios
orass em também . Con tra esta ora ção, os principa dos e a s potestades não
teriam qualquer poder.
92 Barth, Ephesians, II, pág. 782.
221
6:21-24
Conclusão
E para qu e saibai s tamb ém a me u respeito, e o que faço, de tudo vos in
formará Tíquico, o irmão amado, e fiel ministro do Senhor. 22Foipara is
so que eu vo-lo enviei, par a q ue saibais a nos so respeito e el e conso le os
voss os corações.
23Paz sej a com os irmãos e a mor com fé, da par te de D eus Pai e do
Sen hor Jesu s Cristo. 24A graça seja com tod os os que am am sinceramen te
a nosso Sen ho r Jesus Cristo.
Paulo chega ao fim d a ca rta que estav a ditando. Talvez, a esta altura, to -
me a pe na da m ão do escri ba, e e screva um as frase s auten ticad oras com
a sua pr óp ria letra. C ertam ente fez isso na conclusão das cartas aos Gá
lata s, 1aos Te ssalonice nses,2 aos C orín tio s3 e aos Co lossen ses.4
A quem, pois, estava ditando? Provavelmente a Tíquico, que men-
ciona
cas nãago ra afetuosame
o somente diz que nte pelo nome. Tíquico
é proveniente era”,5como
“d a Ásia um nativo da Ásia.
também Lu-
o asso-
cia com Trófi mo, a quem mais ta rde c ham a de “o efés io”.6 Por isso, t al -
vez Tíquico fosse provenient e de Éfe so, tam bém . Paulo certam ente o e n-
viou par a lá durante a sua segunda prisão em Rom a,7e lendo entr e as li-
nhas das car tas aos Efésios e aos Colossens es, parece que Paulo tom a po r
certo que seus leitores já o conhecessem.
O que fica cl aro, te nh a sido Tíquico escriba de Paulo, ou não, é que
Paulo confia a carta a el e pa ra ser e ntregue, jun tam ente com a carta aos
Colossenses.8É evidente, então, que o apóstolo tem completa confiança
no seu co lega mais jovem. C ham ao de irmão amado, como também fie l
minist ro no Senh or (v. 21). Sua co nfianç a nele é nã o som ente p ar a en tre-
gar as cartas com segur ança, como também pa ra sup lementar sua men -
sagem com algum as notícias pessoai s. Diz que o está envia ndo, para que
saibai s tam bém a meu respeito, e o que fa ço \ de tud o vos informará (v.
21). Na realidade: Foi para isso qu e eu vo-lo enviei, para qu e saibais a nosso
respeito (v. 22). Assim, Paulo reitera três vezes a sua intenção de que Tí
1 GI 6:11. 2 2 Ts 3:17 . 31Co 16:21.4 C14:18 .
5 At 20:4. 6 At 21:29 . 7 2 Tm 4:12. 8 Cl 4:78.
222
efés i os 6 :212 4
quico colo que os leitores a p ar das notícias sobre ele mesmo. Este fato ex -
plica, sem dúvida, a ausência incomum no fim da carta de mensagens e
de saudações pessoais. Tíquico as levaria verbalmente.
Há, então, o utr a razão p ar a a visita de Tíquico a Éfeso e cidades c ir
cunvizinhas. Entre garia a carta, diria aos membro s das igrejas como Paulo
estava passa ndo e, além di sso, P aulo o estaria enviando par a que ele co n
sole o s vossos cor ações (v. 22). É to can te ver o desejo do apó sto lo no sen-
tid o de fo rja r elos pessoais mais fortes entre s i me sm o e estes cristão s da
Ásia. Su a expo siçã o d a nova socie dade de Deus nã o é mera teo ria teol ó-
gica; porque ele e eles também são membros dela. Assim sendo, deviam
apr ofu nd ar a com unhão uns com os outros, ao orarem uns pelos outros
(registrou dua s das suas o rações em pro l deles, nos ca pítu lo 1 e 3, antes
de pe dir as orações dele s pa ra si nos versícul os 19 e 20), po r m eio d a su a
car ta a ele s, e através de Tíquico que nã o som ente lhes tra ria in form ações
acerca de Paulo como tam bém proc uraria encoraj álo s. A oraçã o, a cor-
respond ência, e as visitas ain da são três principa is meios pel os quais os
cristã os e as igr ejas pod em enri quece rse mu tuam ente e ass im c ontribu ir
à edificação do corpo de Cristo.
Era costume no m und o antigo que correspo ndentes t erminass em suas
cartas co m um voto — usua lm ente um voto secu lar, aind a que os deu ses
foss em invoncados — pela saúde ou felicidade do lei tor. Paulo não viu
razão pa ra ab an do nar o costume como questão de p rinc ípio . M as as sim
como cristi anizou a saudação de abertura , tam bém agora cri stia niza o de-
sejo final. Realmente, o que escr eve é metad e desejo, met ade oração. As
bênçãos que deseja p ara os leitores viriam da parte de Deus Pa i e do Se
nhor Jesus Cristo. Que bênçãos seriam estas?
O prim eiro d esejooração de Paulo é e ste: Paz seja com os irmã os,
e amor com f é (v. 23). Paz é um a palavra caracterí stica des ta carta. Na se-
ção d ou trin ária n o começo e le explicou que Jesus Cristo “é a no ssa p az ”,
já que derrubou a parede d a separação e criou uma única nova hum ani-
dade, “fazendo a paz”, e que, “vindo, evangelizou a paz”.9Em conse-
qüência , n a seção ética que se seguiu, Pau lo os exortou a “preservar a un i-
dade do E spírito no vínculo da paz”, “suportandovos uns aos outro s em
am or ” (4:23 ), e a té mesmo: “andai em amor, como também Cristo vo s
am ou ” (5:2). A paz e o am or permanecem juntos , pois a paz é a reconci-
liação e o amo r é a sua fonte e a sua e fusão. Paulo pin ta um belo q uadro
da co m unh ão d a igrej a e do lar cristão permeados com o am or e a paz,
emb ora não seja p ossível em q ualquer tempo negociar um trata do de paz
com os principados e as potestades do mal. Quando acrescenta a amor
as palavras comfé , provavelmente estivesse pen san do n a fé como u ma ca-
9 2:1417.
223
CONCLUSÃO
racterística que já possuís sem, ao invés de algu ma ou tra que deseja sse que
lhes fos se dad a. A final, “a fé, já a tinham ; a oração de Paulo foi par a que
o am or fosse vin cula do co m ela ”.10
O segund o desejooraç ão de P aulo é e ste: A graça seja com todos os
que a ma m since ramente a nosso Senho r Jesus Cr isto. Com esta expres-
são, caracterizou os seu s leitores cristãos em termos do seu am or p or Cris-
to. As palavras aqui traduzid as p or sinceramente são literalmente “sem
corrupção” ( en aphtharsia). A m aioria dos com entarist as as entende co -
mo um a qualificação do am or que as pessoa s têm p or Cristo e , assim, co-
mo um a restrição sobre a graça de De us. N este caso, a oraçã o é que a graça
de Deu s acom pan he aquel es que amam a Cristo “com am or perene” ( BJ),
ou “com am or eterno” (BLH). Outros comen taristas não entendem que
semelha nte limitaç ão seja coerent e com a con clusão de Paulo. Sugerem,
graça raça,todos
fosse apara que amavam
a posição, a idade aouJesus Cristo,
o sexo. É umsem discriminação,
desejo, uma oração,seja
no qua l
sentido de os membros d a nova sociedade de Deus vi verem em har m on ia
como i rm ãos e irmãs n a família de De us, em paz e e m ha rm on ia com ele
e uns com os outros, juntam ente com o reconhecim ento de que somente
mediante a graça de Deus é que este sonho pode realizarse.
Tomo a li berd ade, po rtanto, ao term inar o nosso estudo desta carta
aos Efésios, de fazer minh as as palavras d e Paulo, e dirigilas a meus lei-
tores: “Paz seja com os irmãos e irmãs” e “a graça seja com todos”.
10 H en drik sen , pág . 396. 11 A rm itag e Ro bin so n, pá g. 138.
224