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A EDUCAÇÃO DAS MULHERES NO PENSAMENTO DA FEDERAÇÃO


BRASILEIRA PELO PROGRESSO FEMININO (1922-1931)

Nailda Marinho da Costa Bonato


Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

RESUMO

Para se pensar a educação feminina no presente se faz necessário ir ao passado visando compreender como
as mulheres e sua forma de inserção na instituição escolar e na sociedade foram se modificando ao longo do
tempo. Isso nos leva a buscar o lugar de sua própria participação nesse processo, tendo em vista a sua
história de luta política reivindicatória por direitos sociais e garantias individuais. Sobre a história do
movimento feminista brasileiro, sua relação com a trajetória de inserção das mulheres na sociedade e nesse
espaço oficial chamado Escola e seus reflexos nos dias de hoje pouco ou nada se tem. Neste sentido,
tomamos como objeto de estudo – “As concepções da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino sobre a
educação da mulher”. A pesquisa de caráter institucional, tem como objetivo analisar o ideário educativo
defendido pela Federação relativo à educação das mulheres, entendendo-a como expressão significativa do
movimento feminista brasileiro. Norteada por dois caminhos, porém não excludentes: a análise documental e
a pesquisa bibliográfica, a investigação, por um lado, tem como fonte o Fundo Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino contido no acervo do Arquivo Nacional; por outro, as obras de Raquel Soihet,
Guaracira Lopes Louro, Célia Regina Jardim Pinto, Rosa Maria Barbosa de Araújo, Joan Scott, Jacques Le
Goff, Ciro Flamarion Cardoso, entre outras. Com sede no Rio de Janeiro à época de sua fundação, então
capital do país, a Federação contava com um material de divulgação de suas idéias, principalmente na
capital, lócus privilegiado de manifestações sócio-políticas culturais, como meio das mulheres conquistarem
maiores garantias e direitos sociais e políticos. A entidade discutia, entre outros assuntos, a nacionalização
do ensino público, a educação doméstica, o ensino primário, profissional e comercial, a formação para o
magistério, o acesso ao ensino secundário e superior. Bertha Lutz, a sua mais conhecida representante,
realizou ações “impensáveis” para as mulheres do seu tempo, como por exemplo estudar em Paris,
formando-se em biologia na Sorbonne. Influenciada pelas lutas das mulheres européias e americanas iniciou
uma luta pelo sufrágio feminino entre nós, sendo esta a principal bandeira da Federação. Berta Lutz
transitava com certa liberdade pela elite política da cidade e do país; muitas vezes viajava para participar de
eventos como representante do poder oficial. Os documentos apontam à imensa rede de relações tecidas pela
entidade presidida por ela. Entre tantas outras, ocorria interlocução com a Pró-matre; com a Associação
Cristã Feminina; com diversas entidades internacionais feministas do tipo International Association of
University Women e com a Associação Pan-americana de Mulheres e sua presidente Carrie Chapman Catt,
também presidente da Aliança Internacional pelo Sufrágio Feminino; com a União Universitária Feminina;
com o governo Federal, do Distrito Federal e de outras unidades da federação; com a Diretoria de Instrução
Pública do Distrito Federal; com parlamentares, diretoras e professoras, médicos. A Federação organizou a
“1ª Conferência pelo Progresso Feminino”, em 1922, ano de sua fundação; e o “II Congresso Internacional
Feminista”, em 1931. Ambos aconteceram no Rio de Janeiro e mereceram uma enorme cobertura da
imprensa escrita, pelo que se pode observar nos recortes de jornais encontrados no acervo. Representações
do Ser feminino para as mulheres eram comumente reafirmadas pela Federação, embora esse pensamento
não fosse unânime entre as suas associadas. Na citada Conferência de 1922, na discussão sobre “Educação
Profissional” era trazida a seguinte fala do professor Aprígio Gonzaga no Conselho de Educação de São
Paulo: “A escola tem de encarar a mulher sob duas faces: a mulher casada e a mulher solteira. A missão
principal da mulher é de ser: “mãe de família, esposa, quando necessário for, trabalhadora ao lado do
homem, para se manter, sem dependências ou humilhações.” E pelas características de sua natureza: meiga,
paciente, dócil, maternal, afetiva, entre outras, a profissão de magistério para a infância, por exemplo, lhe era
adequada. O discurso ameno e reformista do grupo ligado a FBPF provocou alguns “rachas” no movimento
feminista que se constituía. Considerada pioneira das lutas feministas brasileira, sem dúvida que Bertha
Lutz, a mais ilustre representante da Federação desafiou o seu tempo, porém respaldada de certa forma pela
sua condição de elite intelectual e econômica, assim como suas companheiras da diretoria da Federação;
tendo isso ressonância no discurso construído sobre a educação das mulheres.
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TRABALHO COMPLETO

Para se pensar a educação feminina no presente se faz necessário ir ao passado visando compreender
como as mulheres e sua forma de inserção na instituição escolar e na sociedade foram se modificando ao
longo do tempo. Isso nos leva a buscar o lugar de sua própria participação nesse processo, tendo em vista a
sua história de luta política reivindicatória por direitos sociais e políticos e garantias individuais. Sobre a
história do movimento feminista brasileiro, sua relação com a trajetória de inserção das mulheres na
sociedade e nesse espaço oficial chamado escola e seus reflexos nos dias de hoje pouco ou nada se tem, pelo
menos no campo da educação. Neste sentido, tomamos como objeto de estudo – “As concepções da
Federação Brasileira pelo Progresso Feminino sobre a educação da mulher”. A pesquisa de caráter
institucional, tem como objetivo analisar o ideário educativo defendido pela Federação relativo à educação
das mulheres, entendendo-a como expressão significativa do movimento feminista brasileiro.1A
documentação pesquisada2 nos permite tentar conhecer as normas instituídas às mulheres na sociedade
republicana, acatadas ou contestadas pela Federação. Com sede no Rio de Janeiro à época de sua fundação,
então capital do país, a Federação contava com um material de divulgação de suas idéias, principalmente na
capital, lócus privilegiado de manifestações sócio-políticas culturais. Criada por um grupo de mulheres de
classe média e de alta escolaridade, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino tinha como membros de
sua diretoria: Bertha Lutz; Stella Durval; Jeronyma Mesquita; Cassilda Martins; Esther Ferreira Vianna;
Evelina Arruda Pereira; Berenice Martins Prates.3

Bertha Maria Júlia Lutz4 de atuação e presença marcante como presidente daquela entidade,
realizou ações “impensáveis” para as mulheres do seu tempo, como por exemplo estudar em Paris,
formando-se em biologia na Sorbonne. Influenciada pelas lutas das mulheres européias e americanas iniciou
uma luta pelo sufrágio feminino entre nós, sendo esta a principal bandeira da Federação. Considerada
pioneira das lutas feministas brasileira, sem dúvida que Bertha Lutz, a mais ilustre representante da
Federação desafiou o seu tempo, porém respaldada de certa forma pela sua condição de elite intelectual e
econômica, assim como suas companheiras da diretoria da Federação; transitava com certa liberdade pela
elite política da cidade e do país, tendo isso ressonância no discurso construído sobre a educação das
mulheres.

Bertha Lutz nasceu em São Paulo–SP em 2 de agosto de 1894, filha da enfermeira inglesa Amy
Fowler e do médico-cientista Adolfo Lutz. Bióloga concursada é nomeada, em 1919, para alto cargo no
Museu Nacional. Sua trajetória se confunde com a própria trajetória da Federação. Após estudos na Europa,
de volta ao Brasil, em 1918, então com 24 anos, lutou intensamente pela emancipação feminina no sentido
de que fossem devidamente reconhecidos os direitos da mulher como pessoa humana e membro participante
da sociedade brasileira. Em 1919, juntamente com outras mulheres, criou a Liga para Emancipação
Intelectual da Mulher. A Liga seria o embrião da Federação criada em 1922, que se tornaria uma referência
do movimento feminista brasileiro na primeira metade do século XX, com destaque especial para a conquista
do sufrágio feminino alcançado em 1932.

A Liga passou a denominar-se Liga pelo Progresso Feminino. A adesão de mulheres de outros
estados às idéias da entidade, provocou a formação da Federação das Ligas pelo Progresso Feminino e em
1922, após a participação de Bertha Lutz como delegada oficial do Brasil na I Conferência Pan-Americana
de Mulheres, realizada em Baltimore, Estados Unidos, tornaria-se a Federação Brasileira pelo Progresso
Feminino. De volta ao Brasil Bertha Lutz organizou com outras mulheres a Conferência pelo Progresso

1
Sobre a pesquisa e suas fontes produzi um artigo para a revista Acervo do Arquivo Nacional. (No prelo)
2
A pesquisa tem como fonte o arquivo da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino contido no acervo do Arquivo
Nacional.
3
No Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade, biográfico e ilustrado, encontramos verbetes de algumas dessas
mulheres, a saber: Bertha Lutz (ver p. 106-112); Stella Durval (ver p. 502); Jeronyma Mesquita (ver p. 290-291); Evelina
Arruda Pereira (ver p. 214-215). Mantive os nomes grafados como aparecem no documento original. No Dicionário também
encontramos um verbete referente à Federação Brasileira pelo Progresso Feminino-FBPF (ver p. 217-225). SCHMAHER,
Schuma e BRAZIL, Érico Vital (Orgs.). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até atualidade biográfico e ilustrado. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.
4
Os dados aqui trazidos também foram retirados do curriculum vitae que se encontra no arquivo FBPF.
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Feminino, uma comemoração ao centenário da Independência. Evento realizado na Ordem dos Advogados
do Brasil, entre os dias 19 e 23 de dezembro, onde consolida-se a criação da Federação.

Também lhe é creditada a fundação da União Universitária Feminina em 1929, ano que ingressou no
curso de Direito, para poder participar plenamente da vida política, com autoridade; graduando-se neste
curso em 1933. Candidata-se pelo Partido Autonomista à Assembléia Nacional Constituinte não se elegendo.
Em carta aberta de 1934, epxõe os motivos de sua candidatura ao legislativo federal, não conseguindo
novamente ser eleita, porém alcançou a primeira suplência, assumindo o mandato de deputada federal em
julho de 1936, na vaga de Cândido Pessoa, que falecera. Embora a direção nacional da Federação mantivesse
boas relações com o governo Vargas, com a decretação do Estado Novo, em 1937, encerra-se a carreira de
Bertha Lutz como parlamentar e moderou-se a capacidade de mobilização da FBPF. Aos poucos ela foi se
afastando da entidade até deixar o cargo de presidente em 1942. Antes, participou ainda da fundação do Club
Soroptimista, que é um Club Rotariano Feminino, do Club de Senhoras do Rio de Janeiro, da Liga Eleitoral
Feminina

Estudar a educação feminina, dando enfoque para as concepções da Federação, não é apenas um
interesse focado na questão feminina, mas em toda a sociedade, devido a participação ativa da entidade, mais
precisamente nas décadas de 1920 e 1930, nas questões pertinentes à educação de mulheres e homens
daquela sociedade republicana. Entretanto, sendo as mulheres historicamente muitas vezes consideradas
intelectualmente inferiores aos homens, com justificativas até científicas5, é interessante conhecer e entender
seu pensamento, suas concepcões e suas lutas por sua inserção nesse espaço chamado escola; conhecer seus
interlocutores, tentar perceber até que ponto acataram, colaboraram, contestaram ou repudiaram as
representações instituídas ao ser feminino centradas na figura das mulheres.

É significativo quando nos deparamos com as palavras do professor Pontes de Miranda,


pronunciadas em uma Conferência na sede da Federação, em setembro de 1932. Para ele “O feminismo não
[era] um programma da mulher; [era] um programma social”.6 Sua fala merece várias reflexões que não
cabem nesse espaço. Porém destacamos que ao se pronunciar sobre a co-educação7, reafirma representações
sociais instituídas a um e a outro sexo:

As novas circunstancias da vida vão ensinar o homem a respeitar, na mulher, uma


personalidade moral autonoma e a consciência de tal autonomia fundará nova moralidade
nas relações entre homem e mulher. A prostituição, o adulterio e a mulher que se degredou a
condição masculina de querer sexualmente in genere, terão fatalmente, de rarear. A súbita do
nível social da mulher, a architectura da sua personalidade intellectual, moral e cívica,
deante da personalidade do homem, como dois arranha-céos, constituirá um dos caminhos
para a regeneração do século e a pedagogia será forcada a dividir-se em dois capítulos
principaes: a coeducação dos sexos, correspondente a sua igualdade, ao seu valor
quantitativo igual, aos seus mesmos direitos e garantias; e a exploração educacional das
virtudes especificas, permanentes, de cada sexo. As escolas de coeducação mostram que os
jovens não gostam dos ares da moça - rapaz e que as jovens não se interessam pêlos
effeminados. Há inimigos da coeducação, como Reddie, Stanley Hal e Forster, e há
enthusiastas exagerados. A verdadeira política educacional deve consistir na formula:
máximo de convivência com o mínimo de perda das qualidades especificas, para se obterem
a maior affirmação da personalidade do homem e da mulher e o maior respeito reciproco.

A Federação organizou a 1ª Conferência pelo Progresso Feminino, em 1922, ano de sua fundação; e
o II Congresso Internacional Feminista, em 19318. Esses eventos aconteceram no Rio de Janeiro e mereceram

5
Discuti essa questão em minha dissertação de mestrado, 1996.
6
As citações sem indicação têm como fonte os documentos do Fundo FBPF/AN. Mantive a escrita original dos documentos.
7
Essa questão também foi discutida na dissertação de mestrado.
8
Sinalizamos que a bibliografia sobre Bertha Lutz e a Federação se refere ao evento de 1922 como “1o Congresso
Internacional pelo Progresso Feminino”; aqui estamos usando a denominação “Conferência” tal como encontrada nos
originais do Arquivo da Federação. Entretanto, conforme os documentos em 1931 ocorre o “2º Congresso Internacional pelo
Progresso Feminino”
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uma enorme cobertura da imprensa escrita, pelo que se pode observar nos recortes de jornais encontrados no
acervo. Nas discussões percebe-se representações do Ser feminino para as mulheres eram comumente
reafirmadas pela Federação, embora esse pensamento não fosse unânime entre as suas associadas,
provocando, entre outros motivos, alguns “rachas”.

A 1ª Conferência pelo Progresso Feminino - 1922

Nesta Conferência, a delegação da Federação foi composta por senhoras da sociedade, profissionais
engenheiras civis e agrônomas, funcionárias públicas, professoras, entre outras. Teve como tese geral: “A
colaboração da Liga pelo Progresso Feminino na educação da mulher no bem social e aperfeiçoamentos
humanos”. Nesta Conferência a Liga se consolida como Federação.

Foram instituídas as seguintes Comissões: Educação e instrução, Legislação do trabalho, Assistência


às mães e a infância, Direitos civis e políticos, Carreiras e profissões apropriadas a serem franqueadas ao
sexo feminino, Relações Pan-Americanas e Paz. Nelas foram discutidos diversos assuntos, tais como: O
trabalho feminino nas fábricas: habitação, condução, horas de trabalho, salários, higiene; Sobre a educação
e instrução da mulher: nacionalização do ensino público, das escolas profissionais, da educação doméstica;
ensino primário, secundário e superior; Proteção da mulher grávida; Programa de proteção à infância; além
da palestra proferida pelo médico eugenista Renato Kehl, intitulada Como escolher um bom marido, entre
outros.

Presidida por Bertha Lutz, teve como delegada de honra Mrs. Carrie Chapman Catt, Presidente da
Aliança Internacional pelo Sufrágio Feminino e da Associação Pan-Americana de Mulheres (Fig.1 e 2).
Participaram também algumas Associações, entre elas a Liga de Professores, a Cruzada Nacional Contra a
Tuberculose, o Centro Social Feminino, a Cruz Vermelha, a Legião da Mulher Brasileira, a União dos
Empregados no Comércio. Representantes de vários estados da federação, como: Pernambuco, Paraíba,
Bahia e Sergipe, Pará, Santa Catarina, Amazonas, Espírito Santo e também do Distrito Federal. E diversos
colaboradores, entre eles senadores, deputados, médicos e advogados.
A Comissão de Educação e Instrução

A importância dada à Educação pelas congressistas foi significativa, pois ao tema se dedicou a
Comissão de Educação e Instrução. Essa foi composta por: Esther Pedreira de Mello, Benevenuta Ribeiro,
Diretora da Escola Profissional Feminina Rivadavia Correa, Maria Xaltrão Gaze, Diretora da Escola de
Aplicação, delegadas da Diretoria da Instrução Pública do Distrito Federal; Corina Barreiros, Maria Adelaide
Quintanilha e Brites Soares pela Federação; Carmem de Carvalho e Anna Borges Ferreira pela Liga do
Distrito Federal; Branca Canto de Mello pela Liga Paulista pelo Progresso Feminino; Carneiro Leão, Diretor
de Instrução Pública do Distrito Federal e os Deputados José Augusto e Tavares Cavalcante. Até o momento
podemos destacar as figuras de:
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Benevenuta Ribeiro Carneiro Monteiro nasceu em 26 de outubro de 1878 no município de
Uruguaiana no Rio Grande do Sul, filha de Severino Ribeiro Carneiro Monteiro e Maria Rachel Ribeiro
Carneiro Monteiro, neta pelo lado materno dos barões de São Borja. Seu avô, o marechal Bento Manoel
Ribeiro, foi um dos militares em destaque na guerra Farroupilha, em 1835. Benevenuta Ribeiro fez seus
estudos secundários no colégio de Religiosas São José, em São Leopoldo. Foi em 1911 nomeada datilógrafa
da Diretoria de Estatística no Ministério da Agricultura. Sobrinha do prefeito do Distrito Federal o marechal
Bento Ribeiro, foi chamada por ele para dirigir a Escola Profissional Rivadavia Correa. É na condição de
diretora dessa instituição de ensino profissional para o sexo feminino e delegada da Diretoria da Instrução
Pública do Distrito Federal que participa da Conferência.(Bonato, 2003, p.121)

Como delegada da Liga Paulista pelo Progresso Feminino Branca Canto de Mello apresentou na
Comissão um trabalho sobre a situação da instrução feminina em São Paulo. Poucas iam além dos cursos
secundários. Os cursos mais procurados pelas moças paulistas eram aqueles que as faziam ingressar logo de
imediato no mercado de trabalho, como os de caixa, datilógrafa e estenografia. Embora os cursos normais
também fossem procurados, problemas se colocavam : além dos baixos salários o não reconhecimento do
diploma entre os estados, impedindo que aquelas moças que não fossem absorvidas pelo mercado de
trabalho naquele estado procurassem empregos em outros estados. (Schumaher e Brazil, 2000, p. 114)

Antonio Carneiro Leão foi diretor da Diretoria de Instrução Pública do Distrito Federal no período de
1922-1926, nacionalista identificado com a crença no poder da Educação como meio capaz de vencer as
grandes mazelas sociais (o analfabetismo e as doenças que assolavam a cidade do Rio de Janeiro e o país) e
implementar as bases do novo: um novo país, uma nova cidade, um novo homem, uma nova educação.

Por essa estrutura da Comissão podemos observar a participação do poder público nas discussões e
decisões tomadas no Congresso pertinentes à educação juntamente com as representantes da sociedade Civil
( Federação). Nela colocavam-se preocupações com a educação escolar das mulheres, a formação para o
magistério primário e para o exercício das profissões do comércio e ofícios, a função doméstica e a
responsabilidade sobre a educação dos filhos e da formação de valores; o incentivo ao ensino doméstico nas
escolas femininas segundo o “os mais modernos modelos americanos e europeus” e o franqueamento das
escolas de nível secundário e superior às mulheres, como era o caso do Colégio Pedro II de ensino
secundário destinado exclusivamente aos meninos.

A história da educação das mulheres nos mostra que elas só aprendiam o “necessário”, principalmente
as artes domésticas, pois o importante era cuidar do lar, dos filhos e do marido. Esse ser mulher era
reforçado tanto na educação doméstica, quanto na educação escolar. Essa concepção de uma educação
oferecida às mulheres voltada para o papel social instituído à ela o de servir ao homem, cuidar do lar e dos
filhos, com raras exceções, é uma situação que vai persistir por longo tempo. Na Conferência de 1922, na
discussão sobre a “Educação Profissional” era trazida a seguinte fala do professor Aprígio Gonzaga no
Conselho de Educação de São Paulo: “A escola tem de encarar a mulher sob duas faces: a mulher casada e a
mulher solteira. A missão principal da mulher é de ser: “mãe de família, esposa, quando necessário for,
trabalhadora ao lado do homem, para se manter, sem dependências ou humilhações.” E pelas características
de sua natureza: meiga, paciente, dócil, maternal, afetiva, entre outras, a profissão de magistério para a
infância, por exemplo, lhe era adequada.

Foram preocupações da “Comissão de Educação e Instrução”: se o ensino primário deveria ser


obrigatório e a partir de que idade a criança deveria receber a educação proporcionada pelo Estado; a co-
educação dos sexos; se as funções do magistério público primário deveriam ser privativas das mulheres e se
o casamento era incompatível com o exercício do magistério primário; a difusão do estudo da economia
doméstica com as suas aplicações à agricultura e a criação de escolas para mães de família onde se ensinasse
além da economia e prendas domésticas as noções essenciais de higiene e medicina infantil; se o ensino
profissional deveria ser obrigatório para as mulheres. A educação cívica não foi esquecida: a questão
discutida era se nas escolas domésticas e estabelecimentos profissionais feminino, deveria se ministrar o
ensino da Constituição e o Direito usual, visando desenvolver nas alunas a preocupação do bem público e
habilitando-as a desempenhar sua missão social. Quanto ao ensino secundário e superior a discussão
girava em torno da formação e a inserção das mulheres no mercado de trabalho; se deveria ser facultativo o
ingresso às mulheres em todos os cargos civis de ensino superior e secundário e se nos aludidos cursos
deveriam freqüentar as aulas e exercícios escolares juntamente com os rapazes ou haver seções especiais
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para elas; e, na hipótese do ensino simultâneo dos sexos, se haveria necessidade de providências
administrativas para resguardar a boa ordem e a disciplina; nos casos afirmativos, quais seriam elas?9

Para essa apresentação destaco o debate em torno do ofício do magistério primário. Havia a defesa
por parte de algumas mulheres à exclusividade da Escola Normal para mulheres, sendo outras contrárias a
essa proposição. Alegava-se que embora reconhecessem possuir a mulher “muito mais que o homem
sentimentos affectivos, paciência e astúcia pa. comprehender a alma da criança e educal-a, não se sinta
deslocada, ao sahir do seio da família pa. a escola”, havia a necessidade de rapazes no ensino primário
considerando que a instrução primária não era oferecida apenas nas capitais, onde a criança já tinha uma
vivência com a civilização, mas também nos sertões. Estes são locais onde a comunicação era muito mais
difícil sendo mais fácil aos homens “penetrar pa. civilisar” os filhos daqueles que viviam afastados da
civilização e em pleno analfabetismo. Está concepção deixa evidente que a árdua tarefa seria mais apropriada
aos homens do que as mulheres, pois estas foram consideradas seres frágeis pelas companheiras da
Federação; demonstra, ainda, a divisão entre a cidade e o campo no que se refere à escolarização da
população à época

Bastante forte também era o argumento de que seria mais adequado aos homens do que às mulheres
lecionarem nos cursos noturnos destinados ao operariado. Assim, seria importante que os homens fossem
preparados pela Escola Normal para esses encargos mais pesados do exercício do magistério, para que as
escolas não fossem ocupadas por pessoal sem formação e incompetente, diziam. Aqui revela a clássica
divisão histórica entre a clientela do ensino noturno, às classes menos favorecidas – no caso o operariado e a
do ensino diurno destinado às classes mais abastadas.

A questão que se colocava era a seguinte: ao concordarem em excluir o sexo masculino da Escola
Normal, não estariam contribuindo para a ruína desse nível de ensino naqueles estratos sociais mais
desfavorecidos. Pondera-se, ainda, que o rapaz que não dispõe de recursos para pagar a matrícula dos
Ginásios pode cursar a Escola Normal, em vez de se limitar apenas à instrução primária. Seria também
contraditório fechar as portas da Escola Normal aos homens, se a entrada das mulheres no Colégio Pedro II e
em outros cursos superiores era reivindicada naquele fórum de discussão. Durante o Império: “As escolas de
nível secundário particulares para meninas e a Escola Normal não se equiparavam, em nível acadêmico, ao
Colégio D. Pedro II, exclusivamente masculino” (Araújo, 1995, p.70). Entre nós enquanto os meninos
cursavam o ensino secundário, visando o acesso aos cursos superiores a maioria das moças cursavam a
Escola Normal destinada “a profissionalização e/ou ao preparo para o lar.” (Soihet, 2000, p.98)

O fato é que a conclusão final sobre a questão em discussão constante nos Anais da Conferência foi a
seguinte: “As funções do magistério público primário devem ser privativas das mulheres”.
A arte do magistério é quase uma continuação das tarefas educacionais da mãe dentro de
casa, habituada a ensinar e dar boa formação aos filhos. Ser professora, na opinião de grande
parte da sociedade, era ter a profissão ideal da mulher, que possuía “uma moral mais elevada
que o homem, é mais delicada e indulgente com as crianças, além de doce, carinhosa,
sentimental e paciente. (Araújo, 1995, p.79)

Corina Barreiros, delegada da Federação, tecendo algumas considerações sobre o trabalho, entende
que se as professoras deveriam iniciar suas carreiras profissionais só depois de uma boa prática profissional,
isso transformaria a escola em verdadeiras oficinas de trabalho risonho e repleto de de feliz êxito. “A mulher
deve, protanto, desenvolver o seu trabalho – obedecendo a um programa completo, afim de concorrer para o
bem estar do “Lar” e da “Sociedade”.

Conforme Araújo (1995), de acordo com o Censo do Rio de Janeiro de 1920, a mão-de-obra
feminina ocupada no Distrito Federal era:

OCUPAÇÕES / 1920 Masc.% Fem % Total %


Serviços domésticos 17,92 82,08 100,00
Magistério 18,80 81,20 100,00
Setor de Vestuário e Toilette 37,82 62,18 100,00
9
Hoje temos a polêmica em torno da Lei que separa vagões de trens para homens e mulheres
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Agricultura, Horticultura, Silvicultura, Floricultura 94,00 6,00 100,00
Comércio 96,69 3,31 100,00
Correios, Telégrafos, Telefones 68,08 31,92 100,00
Pessoas que vivem de renda 60,80 39,20 100,00

O quadro acima representa um grande avanço em relação a participação da mão-de-obra feminina se


comparado aos dados encontrados no Censo de 1906. Em 1920 constata-se a queda apenas no setor de
Agricultura, cuja participação foi reduzida quase pela metade, significando provavelmente um deslocamento
dessa mão-de-obra para outras áreas. O setor de Correios ainda não existia naquele primeiro Censo. Observa-
se no setor de magistério um crescimento de 68,93 (1906) para 81,20 (1920). Assim, em 1920, a participação
da mão-de-obra feminina nesse setor era de 81,20% contra 18,80 do masculino. Na Conferência constatou-se
que, embora outras profissões estivessem surgindo e ocupando a mão de obra feminina, “...as Escolas
Normaes [continuavam] a diplomar centenas de moças, annualmente.”

Num país de grandes dimensões como o nosso um problema se colocava: para as profissionais do
magistério primário: o diploma conferido pela Escola Normal só era válido no estado em que a professora se
formasse. Assim, a Conferência indicava “a conveniência de promoverem os Governos Estaduaes, accordo
com o Governo Federal para a validade dos diplomas de normalistas, desde que haja um programma
completo e uniforme, um regimento único para ser comprido de Norte a Sul do Brasil e uma fiscalisação
rigorosa por parte do Governo Federal.” Para a equiparação das escolas normais seria necessário apenas um
programa fundamental, comum, com linha gerais referentes aos programas, aos métodos, aos livros didáticos
orientadoras para serem seguidas pelas professoras, não tirando a liberdade de sua orientação profissional.
Acreditava-se que isso seria um grande auxílio para o combate ao analfabetismo, flagelo que assolava o país.

No Distrito Federal ministrar aulas particulares era uma prática das professoras. Porém, entrar no
serviço público era um desejo.

Uma das práticas mais comuns eram as aulas particulares, indo a professora à casa dos
alunos ou recebendo-os em sua casa, limitando-se assim o trabalho ao espaço doméstico. É
grande a procura feminina de emprego no ensino público, onde se pode ingressar por
concurso público ou por tráfico de influência. São numerosas as solicitações às autoridades
do governo, principalmente ao prefeito. Nesses pedidos, as candidatas não só expõem suas
qualificações, como suas dificuldades financeiras, sendo um forte argumento a falta de um
homem na família que sustente a casa. A mulher trabalha por necessidade, não por dever.
Uma viúva, por exemplo, pede ao prefeito uma vaga no magistério alegando que lecionava
antes e parou quando se casou. O marido morreu em um acidente de barco e ela precisava
retornar à sala de aula. (Araújo, 1995, p.80)

O trabalho da mulher na escola é válido por se constituir na extensão do trabalho do lar, própria para
educar as criancinhas. Porém, se a escolha profissional de algumas mulheres pelo magistério estava
articulada a estereótipos de feminilidade e a falta de opções, expressava também o desejo de realização
pessoal, pois como bem disse Araújo: “a tirava de casa para a rua”.

No que se refere a educação infantil Corina Barreiros propunha que enquanto não fosse “possível á
Escola Normal fornecer professoras nas condições especiais de dirigir estabelecimentos de educação infantil,
envie o Estado, para estudo e pratica, membros do magistério aos paizes onde tal serviço já se ache
organizado.” Conforme propagado na Conferência, nos países avançados as mulheres já estavam na direção
de escolas masculinas como, por exemplo, nos Estados Unidos.

Nas discussões travadas na Conferência percebe-se ainda uma nítida divisão em relação ao nível de
ensino que deveria ser proporcionado às diferentes mulheres de acordo com a classe social.10

O II Congresso Internacional Feminista – 1931

10
Discuti essa questão em minha tese de doutorado, 2003.
1377
O II Congresso Internacional Feminista só vai aocontecer nove anos depois, em 1931, e de novo no
Rio de Janeiro. Em uma reportagem do Diário Carioca - os eventos mereceram uma grande cobertura da
imprensa escrita -, encontra-se o registro fotográfico da mesa à visita das conferencistas ao Colégio Pedro II,
do momento do uso da palavra por parte da aluna Yvone Monteiro da Silva e da congressista Maria Rita
Soares de Andrade, delegada de Sergipe.11
Yvone Monteiro da Silva. Espaço escolar de âmbito federal, o Colégio Pedro II foi fundado em
1837. Destinado a abrigar, instruir e educar exclusivamente alunos do sexo masculino, esse estabelecimento
educativo representou por muito tempo o modelo de ensino secundário ministrado no país. O fato é que esse
nível de ensino era próprio para quem pretendia continuar os estudos, o que não era compatível com o papel
destinado às mulheres naquela sociedade oitocentista. A partir de 1882 vamos encontrar algumas poucas
matrículas de meninas no conceituado Colégio, porém em 1889 as alunas são transferidas para
estabelecimentos de ensino “próprios para o sexo feminino”, voltando aquela instituição educativa a ser
exclusivamente para o sexo masculino até 1926. Neste ano, em virtude de uma interpretação dada pelo
Diretor Geral do Departamento Nacional de Ensino a um dispositivo do decreto n. 16.782A, permitiu-se que
no Externato ingressasse uma aluna de nome Yvone Monteiro da Silva, iniciando seus estudos no ano
seguinte. Isso abriu precedente para outras matrículas. Então, naquele ano de 1927, encontramos
matriculadas no Externato 27 (vinte e sete) meninas e 717 (setecentos e dezessete) meninos. Assim, a entrada
de Yvone Monteiro da Silva naquela instituição renomada de ensino, representa uma vitória do movimento
feminista que reivindicava naquela Conferência de 1922 essa possibilidade para as mulheres - a de ocupar os
bancos escolares do Colégio Pedro II. 12

Maria Rita Soares de Andrade. Filha de Filomena Batista Soares e Manoel José Soares de Andrade,
nasceu em 3 de abril de 1904, em Aracaju - SE. Foi a única mulher de sua turma e a terceira a se formar no
estado da Bahia em Direto, em 1926, na Universidade Federal. Em Aracaju trabalhou na Procuradoria-Geral
de Sergipe. Destacou-se na luta em defesa dos direitos das mulheres. Uniu-se a Bertha Lutz e em 1931,
participando do II Congresso Internacional Feminista. Criou a seção sergipana da União Universitária
Feminina. Em 1938, mudou-se para o Rio de Janeiro, sendo secretária e consultora jurídica da FBPF.
Lecionou literatura no Colégio Pedro II e foi professora de processo civil na Faculdade Técnica de
Comércio. Foi a primeira mulher a integrar o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Em
1967 tornou-se a primeira juíza federal do Brasil.
A União Universitária Feminina, fundada em 1929, participou ativamente do II Congresso
Internacional Feminista, representada por Carmen Velasco Portinho (Capital Federal); Francisca Pragner
Fróes (Bahia); Maria Rita Soares de Andrade (Sergipe), identificada acima.

Carmen Velasco Portinho nasceu em Corumbá – MT, em 26 de janeiro de 1903, vindo logo para o
Rio de Janeiro. Entre outros feitos na luta pelos direitos das mulheres, junto com Bertha Lutz funda a União
Universitária Feminina. Na luta pelo direito ao sufrágio feminino, sobrevoou na década de vinte, junto com
outras mulheres, o Rio de Janeiro, lançando panfletos em defesa dessa causa. Defendia que a mulher ao se
casar não adotasse o sobrenome do marido, atitude que adotou. Considerava que essa era uma atitude de
resistência e independência. Em 1925, estando no último período do curso de engenharia na Escola
Politécnica da Universidade do Brasil, começou a lecionar no Colégio Pedro II, o que foi considerado um
escandâlo que mobilizou até o ministro da Justiça que quis tirá-la da cátedra. Permaneceu na instituição por
mais três anos quando pediu demissão. Lembramos o Colégio era exclusivo para alunos do sexo masculino.

Francisca Praguer Fróes. Filha de Francisca Barreto Praguer e do engenheiro de minas Henrique
Pragner, nasceu em 1872, em Cachoeira, na Bahia. Tinha como modelo da luta pela igualdade entre os sexos,
a sua própria mãe, dizia ela. Concluiu o curso de medicina em 1893, na Faculdade de Medicina da Bahia,
sendo uma das primeiras mulheres a se formar nessa área de conhecimento no Brasil. Lutou ativamente pela
conquista dos direitos femininos como membro da Federação Baiana pelo Progresso Feminino, vinculada à
FBPF. Em sua área profissional produziu várias obras e apresentou muitos trabablhos em Congressos como
Higiene e maternidade, no II Congresso Internacional Feminista.

11
Os dados que se seguem foram retirados do Dicionário Mulheres do Brasil, 2000 e de alguns documentos do arquivo FBPF
12
Aqui há também as contribuições da obra comemorativa do centenário do Colégio Pedro II, organizada por Luiz Gastão de
Escragnolle Dória (professor emérito). Memória histórica do Colégio Pedro II, de 1939. (Acervo FCRB).
1378
Foram ainda delegadas: Maria Luiza Doria Bittencourt; Elisa Imbuzeiro; Sylvia Bastos Tigre;
Nydia de Moura; destas últimas ainda não dispomos de dados.
Maria Luiza Doria Bittencourt. Filha de Isaura Dória Bittencourt e Luís de Lima Bittencourt,
nasceu em 1910, no estado da Banhia. Estudou no Colégio Pedro II e formou-se em Direito em 1931, pela
Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, onde conheceu Bertha Lutz. Ainda estudante foi
secretária da União Universitária Feminina e participou do Congresso Penal Penitenciário Brasileiro. Nesse
evento apresentou a tese “Reformatório de Mulheres Criminosas”, trabalho também apresentado em Praga,
no ano de 1930. Filiada a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino desde jovem, participava das
atividades promovidas pela entidade. Destacou-se no Congresso Internacional Feminista realizado no Rio de
Janeiro em 1931 e na II Conferência Nacional de Educação em 1932, expondo seu trabalho sobre o ensino
primário, onde propunha a regulamentação da divisão de competência entre a União e os estados. Em 1934,
numa lista tríplice, elegeu-se na Bahia como primeira suplente do deputado estadual Humberto Pacheco
Miranda, que foi afastado podendo ela assumir o cargo em 1935. Isso a tornou uma das nove primeiras
deputadas estaduais brasileiras, após a conquista do voto feminino. Estando no grupo responsável pela
elaboração do texto da Constituinte estadual, foi relatora dos capítulos referentes a educação e a ordem
econômica e social. Sua atuação parlamentar foi interrompida pelo golpe de Estado Novo que fechou o
Legislativo em novembro de 1937. Em seu último discurso como parlamentar no plenário da Assembléia
Legislativa do estado da Bahia, defendeu fervorosamente a democracia no país; embora tenha sido apoiada
pelo grupo de Juracy Magalhães, interventor na Bahia, à época de sua candidatura ao legislativo estadual.

A participação dessas mulheres no II Congresso Internacional Feminista foi bastante ativa.


Estruturado em Comissões, nele foram discutidos por elas os seguintes assuntos que por limitações de
espaço não iremos desenvolver, apenas sinalizar: Proteção às mães e a infância. Discute-se a proteção às
mulheres gestantes pobres; o papel social do serviço de Higiene e Infantil na primeira Idade, aconselhando-
se o aleitamento materno. Sobre a tese higiene e maternidade defendida por Francisca Praguer, chega-se a
seguinte conclusão: “Que se oriente todos os processos educativos de modo que, cada indivíduo, possa
corrigir ou remediar suas taras ou deformidades.” Elisa Alves do Valle Imbuzeiro propõe:
Que se incremente, que se organize, que se cultive, em todas as escolas, um curso
de Puericultura, a fim de ensinar o modo pratico de tratar a creança cercando-a de preceito
de hygiene e por conseqüência, acoberta-l-a das enfermidades de que é victima indefesa. É
exatamente isso que se deve fazer no cumprimento do mais sagrado dever de cada geração,
porque não podemos nos assistir com indifferença a hecatombe infantil de nossa pátria.

A preocupação com a saúde da população e consequentemente do tecido social é evidente , por isso
o direcionamento do olhar sobre as mulheres e sobre os mais pobres com suas mazelas, propondo-se ações
assistencialistas e higienistas. Algumas congressitas fizeram a seguinte defesa: “É obrigatório o serviço
social para a mulher nas instituições de protecção e assistência á infância, nas maternidades e hospitaes, a
partir da idade de 15 annos”, sendo contra o serviço militar feminino, pois “O serviço militar feminino é anti-
social” ao contrário do serviço social que “educa a mulher para a sua função de mãe e cidadã”, diz uma
delas.

A proteção aos “menores deliquentes” do país é trazida por uma ativista do Paraná, a professora
Martha da Silva Gomes. Propõe que os menores após classificação e seriação em grupos seletivos de acordo
com o sistema de testes psiquícos, psicológicos ou psicanalíticos, passem pelos testes pedagógicos e em
seguida “sejam conduzidos naturalmente aos reformatórios ou melhor Escolas Especiaes”.

A realidade dos “Vendores de jornaes menores de madrugada com doenças venéreas”, também não é
esquecida. Neste sentido, as congressitas solicita a criação de “A Casa do Pequeno Vendedor de Jornais”,
onde os mesmos viessem a receber além do agasalho e alimento, a instrução adequada. Seria criada uma
Escola Educacional para Pequenos Vendedores de Jornaes, sob o regime de internato para aqueles que não
tivessem família, escola cujo regulamento interno seria a lei que deveria orientar a vida dessas crianças.”
Elas deveriam usar uniformes que as distinguissem.

Observa-se que são questões sócio-educativas que atingia às mulheres de forma diferenciada. Nas
discussões de um e outro evento, algumas mulheres apareciam como causadoras das mazelas e outras se
apresentavam como salvadoras.
1379
O III Congresso Internacional Feminista vai acontecer de 01 a 06 de outubro 1936. No plano da
educação o Congresso vai entender que “no plano político de educação comum, desde o grau primário seja,
considerada a educação cívica com o desenvolvimento necessário a habilitação para o pleno exercício da
cidadania.”

Considerações finais

O movimento feminista da época, em sua primeira edição no Brasil, não deixa de ter seus méritos,
porém foi considerado posteriormente como elitista. Ainda é Araújo quem destaca que no Rio de Janeiro,
Distrito Federal, nas primeiras décadas do século XX, os ideais de emancipação feminina ressoam
influenciados pelos movimentos feministas europeu e americano. Na capital, “a produção cultural, o
comportamento social e a moda tentam seguir os modelos dos países considerados avançados”. (1996, p.72).
Verificamos essa indumentária através das imagens fotográficas das ativistas da Federação publicadas em
periódicos da época.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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presente. Bragança Paulista: EDUSF, 2002. (Coleção Estudos CDAPH. Série memória)
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FONTE
1380
ACERVO DO ARQUIVO NACIONAL. Fundo Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. 1902-1979.

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