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PONTO 1

EMPRESARIAL

Alienação fiduciária em garantia.

Autor de referência: Carlos Roberto Gonçalves

DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA.

1. Conceito. O art. 1.361, caput, do Código Civil conceitua a propriedade fiduciária nestes termos:
“Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de
garantia, transfere ao credor”.

Constitui-se mediante negócio jurídico de disposição condicional. Subordinado a uma condição


resolutiva, porque a propriedade fiduciária cessa em favor do alienante, uma vez verificado o implemento
da condição resolutiva, não exige nova declaração de vontade do adquirente ou do alienante, nem requer
a realização de qualquer novo ato. O alienante, que transferiu fiduciariamente a propriedade, readquire-a
pelo só pagamento da dívida.

A complexidade da vida moderna gerou a necessidade da criação de novos instrumentos de garantia, ao


lado daqueles de cunho tradicional. O penhor, exigindo, na maioria das vezes, a tradição da coisa apenhada,
dificulta as negociações mercantis. A hipoteca tem o seu campo de incidência bastante restrito, uma vez
limitada aos bens imóveis, navios e aviões. A anticrese, em razão dos inconvenientes que apresenta, caiu
em completo desuso entre nós.

Suprindo essas deficiências, a Lei de Mercado de Capitais (Lei n. 4.728/65, art. 66) introduziu no direito
brasileiro a “alienação fiduciária em garantia”, inspirada na fiducia cum creditore do direito romano, pela
qual o devedor transferia, por venda, bens seus ao credor, com a ressalva de recuperá-los se, dentro em
certo tempo, ou sob dada condição, efetuasse o pagamento da dívida.

O aludido direito conheceu também a fiducia cum amico, baseada na confiança e que permitia a uma pessoa
acautelar seus bens contra determinados riscos, alienando-o a um amigo, com ressalva de lhe serem
restituídos após passado o perigo.

O contrato de venda a crédito com reserva de domínio representava uma garantia somente para o
comerciante de bens móveis duráveis. Com a participação cada vez maior das financeiras nessa relação
jurídica, surgiu a necessidade de se dar maior garantia a essas intermediárias. O art. 66 da aludida Lei de
Mercado de Capitais foi modificado pelo Decreto-Lei n. 911/69, que passou a regular o referido instituto.
O CC/02 disciplinou-o, em linhas gerais, sob o título “Da propriedade fiduciária” (arts. 1.361 a 1.368),
permanecendo aplicáveis somente os dispositivos de ordem instrumental da referida legislação especial.

O mencionado Decreto-Lei n. 911/69, cujo art. 3º foi alterado pela Lei n. 10.931, de 2 de agosto de 2004,
aplica-se, com efeito, apenas, no que couber, às questões de natureza processual, estando revogado naquilo
que respeita ao direito material. Nessa linha, assevera JOEL DIAS FIGUEIRA JÚNIOR: “Em outros termos, o
Decreto-Lei 911/69 encontra-se derrogado pelo NCC, aplicando-se apenas, no que couber, para as questões
de ordem instrumental específica (valendo ressaltar que se trata de norma especial) em ação de busca e

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apreensão (arts. 3º, 4º e 5º). Ademais, não deixa qualquer dúvida a regra insculpida, a esse respeito, no art.
2.043 do NCC”.

Na propriedade fiduciária dá-se a transferência do domínio do bem móvel ao credor, denominado


fiduciário (em geral, uma financeira, que forneceu o numerário para a aquisição), em garantia do
pagamento, permanecendo o devedor (fiduciante) com a posse direta da coisa. O domínio e a posse indireta
passam ao credor, em garantia. Não se dá tradição real, mas sim ficta, pelo constituto possessório. O domínio
do credor é resolúvel, pois resolve-se automaticamente em favor do devedor alienante, sem necessidade
de outro ato, uma vez paga a última parcela da dívida.

A Súmula 6 do antigo Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo admite a legitimidade dos consórcios
para efetuar financiamentos mediante alienação fiduciária, malgrado o entendimento, sob a égide do
Decreto-Lei n. 911/69, de que o fiduciário deveria ser uma instituição financeira em sentido amplo ou outra
entidade à qual a lei previu a legitimação, tais como ente estatal ou paraestatal.

Todavia, com a inserção da propriedade fiduciária no Código Civil, afigura-se que a restrição de outrora
não pode mais ser acolhida, de tal sorte que qualquer pessoa física ou jurídica pode se colocar na condição
de fiduciário, a exemplo do que ocorre com a alienação fiduciária de imóveis instituída pela Lei n.
9.514/973.

No regime anterior admitia-se a alienação fiduciária de bens fungíveis, que não fossem consumíveis, ainda
que por destinação. A 2ª Seção do STJ, competente no tema, uniformizou, todavia, seu entendimento
proclamando a inadmissibilidade da alienação fiduciária de bens fungíveis e consumíveis (comerciáveis).

O novo Código Civil é incisivo nessa questão e restringe à coisa móvel infungível o objeto da propriedade
fiduciária. Infungível, segundo interpretação a contrario sensu do art. 85 do Código Civil, é o bem móvel
que não pode substituir-se por outro da mesma espécie, qualidade e quantidade.

Quanto ao bem que já integre o patrimônio do devedor, é pacífico que pode ser objeto de propriedade
fiduciária. Dispõe nesse sentido a Súmula 28 do STJ: “O contrato de alienação fiduciária em garantia pode
ter por objeto bem que já integrava o patrimônio do devedor”.

A propriedade fiduciária disciplinada no Código Civil de 2002 é um novo direito real de garantia, que tem
por objeto somente bens móveis infungíveis e alienáveis. A alienação fiduciária de bens imóveis continua
regulada pela Lei n. 9.514/97. O art. 22 da referida lei foi modificado pela Lei n. 11.481, de 31 de maio de
2007, tendo agora a seguinte redação:
“Art. 22. (...)
§ 1º A alienação fiduciária poderá ser contratada por pessoa física ou jurídica, não sendo privativa das
entidades que operam no SFI, podendo ter como objeto, além da propriedade plena:
I - bens enfitêuticos, hipótese em que será exigível o pagamento do laudêmio, se houver a consolidação do
domínio útil no fiduciário;
II - o direito de uso especial para fins de moradia;
III - o direito real de uso, desde que suscetível de alienação;
IV - a propriedade superficiária
§ 2º Os direitos de garantia instituídos nas hipóteses dos incisos III e IV do § 1º deste artigo ficam limitados
à duração da concessão ou direito de superfície, caso tenham sido transferidos por período determinado”.
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Dispõe o art. 1.368-A do Código Civil, acrescentado pela Lei n. 10.931/04: “As demais espécies de
propriedade fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se
aplicando as disposições deste Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial”.

A Lei n. 9.514/97, admite que as operações de financiamento imobiliário em geral sejam garantidas, dentre
outras formas, por cessão fiduciária de direitos creditórios decorrentes de contratos de alienação de
imóveis. O referido instituto teve a sua finalidade ampliada, na medida em que o § 3º do art. 66-B passou a
admitir a cessão fiduciária também de direitos sobre coisas móveis e títulos de crédito. A essa nova
espécie de cessão fiduciária aplicam-se as regras materiais e procedimentais previstas nos arts. 18 a 20 da
referida lei.

Nos casos de alienação ou cessão fiduciária previstas na Lei n. 4.728, de 1965, conforme a alteração
determinada pela Lei n. 10.931/04, salvo se disposto de forma contrária no contrato, a posse direta e
indireta do bem objeto da propriedade fiduciária ou do título representativo do direito ou do crédito é
sempre atribuída ao credor fiduciário (em geral, o banco), conferindo-lhe maior segurança para a
liquidação da garantia em caso de inadimplemento da obrigação principal.

2. Modos de constituição. A propriedade fiduciária é negócio jurídico formal. Para que possa constituir-
se juridicamente e tornar-se hábil a produzir seus efeitos no mundo jurídico, deve observar os requisitos
contidos no art. 1.361, § 1º, do Código Civil, que estatui:

“Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou
particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se
tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado
de registro”.

O contrato deve ter, portanto, a forma escrita, podendo o instrumento ser público ou particular, e conter:
a) o total da dívida, ou sua estimativa; b) o prazo, ou a época do pagamento; c) a taxa de juros, se houver;
d) a descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua identificação (CC,
art. 1.362).

A aquisição do domínio exige a tradição, que é ficta, na hipótese, como já dito. O formalismo do ato
completa-se com o registro do contrato no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou,
em se tratando de veículos, na repartição competente para o seu licenciamento, com anotação no
certificado de registro (CTB, art. 121), conferindo com isso existência legal à propriedade fiduciária e
gerando oponibilidade a terceiros.

Não andou bem o legislador ao permitir a substituição do registro da alienação fiduciária de veículos no
cartório de títulos e documentos pela anotação no certificado de registro. As atividades de registro devem
ser fiscalizadas pelo Poder Judiciário, não sendo de bom alvitre permitir a transferência pela mencionada
anotação em órgão sujeito a supervisão do Executivo. O correto seria determinar tal providência junto ao
órgão de licenciamento como adicional necessário, e não como alternativa.

Proclama a Súmula 92 do STJ: “A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no
Certificado de Registro do veículo automotor”.

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Decidiu a 1ª Turma do referido Tribunal que a exigência de registro em cartório do contrato de alienação
fiduciária não é requisito de validade do negócio jurídico. Para as partes signatárias, o acordo entre elas é
perfeito e plenamente válido, independentemente do registro, que, se ausente, traz como única
consequência a ineficácia do contrato perante o terceiro de boa-fé. Destacou o relator, Min. Luiz Fux, a
eficácia do registro no licenciamento do veículo, considerando-a maior do que a mera anotação no cartório
de títulos e documentos.

Preceitua o § 2º do aludido art. 1.361 que, “com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o
desdobramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa”. Por sua vez, aduz o § 3º: “A
propriedade superveniente, adquirida pelo devedor, torna eficaz, desde o arquivamento, a transferência
da propriedade fiduciária”. A referida aquisição se dá com o adimplemento do contrato em todos os seus
termos.

Antes de vencida a dívida, diz o art. 1.363 do Código Civil, “o devedor, a suas expensas e risco, pode usar a
coisa segundo sua destinação, sendo obrigado, como depositário: I - a empregar na guarda da coisa a
diligência exigida por sua natureza; II - a entregá-la ao credor, se a dívida não for paga no vencimento”.

O fiduciante pode, assim, fruir do bem livremente, respondendo sempre como depositário fiel, devendo,
por outro lado, entregá-lo ao credor em caso de inadimplemento.

O credor pode exigir outras garantias, como a fiança e o aval. Se o débito é saldado por terceiro, em geral o
avalista ou fiador, dá-se a sub-rogação “de pleno direito no crédito e na propriedade fiduciária” (CC, art.
1.368).

3. Direitos e obrigações do fiduciante. Os direitos e obrigações do fiduciante (devedor) resumem-se em:


a) ficar com a posse direta da coisa e o direito eventual de reaver a propriedade plena, com o pagamento
da dívida; b) purgar a mora, em caso de lhe ser movida ação de busca e apreensão; c) receber o saldo
apurado na venda do bem efetuada pelo fiduciário para satisfação de seu crédito; d) responder pelo
remanescente da dívida, se a garantia não se mostrar suficiente; e) não dispor do bem alienado, que
pertence ao fiduciário (nada impede que ceda o direito eventual de que é titular, consistente na expectativa
de vir a ser titular, independentemente da anuência do credor, levando a cessão a registro); f) entregar o
bem, em caso de inadimplemento de sua obrigação, sujeitando-se ao pagamento de perdas e danos, como
depositário infiel.

A recuperação da propriedade plena opera-se pela averbação da quitação do credor no cartório em que
registrado o contrato, que pode ser obtida, em caso de recusa, por meio da ação de consignação em
pagamento. A recusa do credor pode sujeitá-lo ao ressarcimento das perdas e danos, pois é curial que a
subsistência do direito real após a liquidação do débito acarreta prejuízo ao devedor, pelo qual o credor
responde.

4. Direitos e obrigações do fiduciário. A obrigação principal do credor fiduciário consiste em


proporcionar ao alienante o financiamento a que se obrigou, bem como em respeitar o direito ao uso
regular da coisa por parte deste. Deve, portanto, não molestar a posse direta do fiduciante e não se
apropriar da coisa alienada, uma vez que é defesa a cláusula comissória.

Se o devedor é inadimplente, fica o credor obrigado a vender o bem, aplicando o preço no pagamento de
seu crédito, acréscimos legais, contratuais e despesas, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor (CC, art.
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1.364). Para esse fim, pode ajuizar ação de busca e apreensão contra o devedor, a qual poderá ser
convertida em ação de depósito, caso o bem não seja encontrado.

*ATENÇÃO: Em 2014, foi modificada a redação do art. 4º do Dec.-Lei 911/69, não mais estando prevista a
conversão em ação de depósito, mas somente em ação executiva: Art. 4o “Se o bem alienado
fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, fica facultado ao credor requerer,
nos mesmos autos, a conversão do pedido de busca e apreensão em ação executiva, na forma prevista no
Capítulo II do Livro II do CPC.” (Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014)

Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da dívida e das despesas de cobrança,
“continuará o devedor obrigado pelo restante” (CC, art. 1.366). Por outro lado, preceitua o art. 1.367 do
novo diploma: “Aplica-se à propriedade fiduciária, no que couber, o disposto nos arts. 1.421, 1.425, 1.426,
1.427 e 1.436”.

Os dispositivos mencionados dizem respeito às disposições gerais dos direitos reais de garantia: penhor,
hipoteca e anticrese. Devem elas ser aplicadas à propriedade fiduciária “no que couber”, ou seja, naquilo
que mostra compatibilidade com o aludido instituto. Assim, por exemplo, o pagamento de uma ou mais
prestações da dívida não importa exoneração da correspondente garantia, ainda que esta compreenda
vários bens, salvo disposição expressa no título ou na aquisição, como prescreve o art. 1.421 do Código
Civil, que consagra o princípio da indivisibilidade da garantia.

5. Pacto comissório. O art. 1.365 do CC proíbe, declarando nula, a inserção, no contrato, de cláusula que
permita ao credor ficar com a coisa alienada em garantia, em caso de inadimplemento contratual (pacto
comissório). Se o devedor é inadimplente, cumpre-lhe promover as medidas judiciais mencionadas.

Mas o parágrafo único do aludido dispositivo preceitua que “o devedor pode, com a anuência do credor,
dar seu direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta”.

A proibição da estipulação de cláusula comissória nos direitos de garantia é tradicional. Sendo o devedor
inadimplente, não pode o credor ficar com a coisa dada em garantia, mesmo que seu crédito seja maior.
Incumbe-lhe promover as medidas legais para vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, e
aplicar o preço no pagamento de seu crédito, entregando o saldo, se houver, ao devedor (CC, art. 1.364),
como já foi dito.

A nulidade, que é ipso iure, atinge somente a cláusula comissória, permanecendo íntegro o restante da
avença.

6. Procedimento no caso de inadimplemento do contrato. Comprovada a mora do devedor, pode o


credor considerar vencidas todas as obrigações contratuais e ajuizar ação de busca e apreensão, obtendo
a liminar. A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento, mas deverá ser comprovada
mediante o protesto do título ou por carta registrada, expedida por intermédio do Cartório de Títulos e
Documentos, a critério do credor (art. 2º, § 2º, do Dec.-Lei n. 911/69).

Dispõe a Súmula 72 do STJ que “a comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem
alienado fiduciariamente”. Por sua vez, estabelece a Súmula 245 do aludido Sodalício que “a notificação
destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação do valor
do débito”.
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Cinco dias após executada a liminar, consolidar-se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do bem
no patrimônio do credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso, expedir novo
certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus
da propriedade fiduciária. No aludido prazo o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da dívida
pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe
será restituído livre do ônus. O devedor fiduciante apresentará resposta no prazo de 15 dias da execução
da liminar. A resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor se tenha utilizado da faculdade de
saldar a dívida segundo os valores apontados na inicial, caso entenda ter havido pagamento a maior e
desejar restituição (Dec.-Lei n. 911/69, art. 3º, §§ 1º a 4º, com a redação dada pela Lei n. 10.931/04).

A sentença, de que cabe apelação apenas no efeito devolutivo, em caso de procedência da ação (na
hipótese de improcedência, deve ser recebida em ambos os efeitos), não impedirá a venda extrajudicial do
bem. Na sentença que decretar a improcedência da ação de busca e apreensão, o juiz condenará o credor
fiduciário ao pagamento de multa, em favor do devedor fiduciante, equivalente a cinquenta por cento do
valor originalmente financiado, devidamente atualizado, caso o bem já tenha sido alienado. A mencionada
multa não exclui a responsabilidade do credor fiduciário por perdas e danos (Dec.-Lei n. 911/69, art. 3º, §§
5º a 7º, com a redação dada pela Lei n. 10.931/2004).

A venda pode ser extrajudicial ou judicial (CC, art. 1.364). Preferida esta, aplica-se o disposto nos arts. 1.113
a 1.119 do CPC.

Se o bem não for encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor poderá requerer a conversão
do pedido de busca e apreensão, nos mesmos autos, em ação de depósito, na forma prevista nos arts. 901
a 906 do CPC (Dec.-Lei n. 911/69, art. 4º).

O STJ, entretanto, não vinha admitindo a prisão do depositário, após a vigência da Constituição de 1998, ao
fundamento de que se trata de depósito atípico. O STF, por sua vez, no dia 3 de dezembro de 2008, por
maioria do Plenário, negou provimento ao RE 466.343-SP, oriundo de uma ação concernente a um contrato
de alienação fiduciária. A referida decisão pôs fim à prisão civil do depositário infiel, tanto nas hipóteses
de contratos, como os de depósito, de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil ou leasing, por
exemplo, como no caso do depositário judicial. Em consequência, o mesmo Tribunal revogou a Súmula 619,
que permitia a decretação da prisão deste último no próprio processo em que se constituiu o encargo,
independentemente da propositura da ação de depósito.

A tese majoritária atribuiu status supralegal, acima da legislação ordinária, aos tratados sobre Direitos
Humanos, embora situados em nível abaixo da Constituição. Por força da EC n. 45/2004, foi acrescentado
ao art. 5º da CF um novo parágrafo (§ 3º), que confere valor de emenda constitucional ao tratado que for
aprovado com quorum qualificado de três quintos dos votos de cada Casa Legislativa, em duas votações —
o que ainda não veio a ocorrer com nenhum tratado internacional.

Prevaleceu, no aludido julgamento da nossa Suprema Corte, o entendimento de que o direito à liberdade é
um dos direitos humanos fundamentais priorizados pela Constituição Federal, somente podendo ocorrer
a sua privação em casos excepcionalíssimos, como no da prisão por dívida alimentar. O Pacto de São José
da Costa Rica, ao qual o Brasil aderiu, proíbe, em seu art. 7º, n. 7, a prisão civil por dívida, excetuando
apenas o devedor voluntário de pensão alimentícia. O mesmo ocorre com outros tratados sobre direitos
humanos aos quais o Brasil também aderiu, como, verbi gratia, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
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Políticos, de 1966, patrocinado pela ONU, e a Declaração Americana dos Direitos da Pessoa Humana,
firmada em Bogotá em 1948.

De acordo com a Súmula 20 do extinto Primeiro Tribunal de Alçada Civil, o valor da coisa, para efeito da
mais adequada estimação do equivalente em dinheiro, “é o correspondente ao do débito contratual, isto é,
ao do saldo devedor em aberto”.

Se ocorrer a falência do devedor e a busca não tiver ainda sido efetivada, o credor fiduciário poderá
simplesmente formular pedido de restituição no juízo falimentar, não estando sujeito a habilitação (Lei n.
11.101, de 9-2-2005, que regula a recuperação e a falência do empresário e da sociedade empresária, arts.
49, § 3º, e 85).

Se, ao ser decretada a falência, a liminar de busca e apreensão já havia sido cumprida, a ação prosseguirá
até final, no juízo em que foi proposta, passando o administrador a representar o falido.

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ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA: REFLEXÕES SOBRE A (IN)SUFICIÊNCIA DO CENÁRIO
NORMATIVO E JURISPRUDENCIAL ATUAL – SENADO FEDERAL

1 INTRODUÇÃO
Impressiona a quantidade de negócios jurídicos cuja garantia repousa na propriedade fiduciária.
Não seria arriscado afirmar que esse fenômeno de utilização copiosa da alienação fiduciária em
garantia soa quase que como um réquiem dos tradicionais direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e
anticrese), empregados em pouquíssimos negócios na atualidade.
Em termos de vantagens ao credor, a alienação fiduciária em garantia é verdadeiro superlativo
em comparação a essas vetustas garantias reais. A excussão do crédito garantido pela propriedade
fiduciária é bem mais célere e segura, dada a sua imunização diante da vis atractiva do juízo de falência1
e a expedita via da execução extrajudicial.
Ocorre que a legislação atual, em alguns aspectos, manifesta algumas lacunas ou timidez
normativa, o que conduz o Poder Judiciário ao irrecusável mister de resolver, nos casos concretos, essas
insuficiências.
Debruçar-nos-emos sobre alguns desses aspectos no presente estudo, iniciando por uma visita
panorâmica do eficiente instituto da alienação fiduciária em garantia e desaguando em conclusões
relevantes à reflexão sobre a suficiência do quadro normativo atual. Em suma, enfatizar-se-ão três
aspectos: a notificação do devedor fiduciante previamente à venda extrajudicial do bem, as
consequências da demora na realização da venda extrajudicial e a penhorabilidade do direito de
reaquisição.
2 DO INSTITUTO DA ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA
2.1 ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA: ASPECTOS GERAIS
A alienação fiduciária em garantia consiste na transferência da propriedade do bem pertencente
ao devedor fiduciante ao credor fiduciário, sob a condição resolutiva consistente no adimplemento da
dívida.
Com a alienação fiduciária, o devedor perde a propriedade, e o credor – assumindo a propriedade
resolúvel do bem – passa a ser dono até que ocorra o evento futuro e incerto do pagamento integral da
dívida. Só remanesce ao devedor, além da posse direta sobre a coisa (por conta do constituto-
possessório previsto na legislação2), o direito de readquiri-la, caso a dívida garantida seja
integralmente paga. Trata-se do chamado direito de reaquisição do devedor fiduciário.

1 É que o credor fiduciário não se submete ao quadro geral de credores, por ter o direito de, antes do rateio coletivo da massa
falida, formular pedido de restituição para obter sozinho o bem alienado fiduciariamente, conforme se extrai da Lei de Falência,
Lei nº 11.101, de 2005 (arts. 49, 3º, e 85). A propósito, traga-se a lume este julgado do STJ: “RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO
JUDICIAL. CÉDULA DE CRÉDITO GARANTIDA POR CESSÃO FIDUCIÁRIA DE DIREITOS CREDITÓRIOS. NATUREZA JURÍDICA.
PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA. NÃO SUJEIÇÃO AO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. “TRAVA BANCÁRIA”. 1. A alienação
fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis, bem como de títulos de crédito, possuem a
natureza jurídica de propriedade fiduciária, não se sujeitando aos efeitos da recuperação judicial, nos termos do art. 49, § 3º, da
Lei nº 11.101/2005. 2. Recurso especial não provido.” (REsp 1202918/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 07/03/2013).
2 Constituto-possessório ou “cláusula constituti” é uma forma de tradição ficta da posse em razão da qual o possuidor pleno

passa a ter apenas a posse direta. É o que sucede, por exemplo, quando alguém vende um imóvel e estipula expressamente a
cláusula constituti a fim de que, logo com a celebração do contrato: (1) a posse já seja, por ficção, transmitida ao adquirente e
(2) o vendedor, que permanece ocupando a coisa de fato, passe a ter apenas a posse direta.
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Como destaca Melhim Namem Chalub e Afrânio Carlos Dantzger, o devedor fiduciante deixa de
ser proprietário para ser titular de um direito de reaquisição, sob condição suspensiva, e o de fruição da
posse direta e dos frutos do imóvel.
Os principais diplomas que versam sobre a matéria são a Lei nº 4.728/65 (art. 66-B), o Decreto-
Lei nº 911/69, o CC (arts. 1.361 e seguintes) – e a Lei nº 9.514/97.
A propósito de seus âmbitos de aplicação, é didática esta lição de FÁBIO ULHOA COELHO, in litteris:
Em suma, atualmente, apesar da diversidade dos diplomas legais, que sugerem
uma indesculpável falta de sistematicidade da matéria, não é difícil delinear o
regime jurídico da propriedade fiduciária. Qualquer que seja o seu objeto,
aplicam-se, como normas gerais, os arts. 1.361 a 1.368 do Código Civil. Recaindo
sobre imóveis, submete-se o instituto aos arts. 22 a 33 da Lei n. 9.514/97; quando
tiver por objeto bem móvel fungível ou direito creditório, incide o art. 66-B, §§
3º a 6º, da Lei n. 4.728/65.
A alienação fiduciária em garantia é o contrato bilateral que, quando é registrado no órgão
competente, constitui a propriedade fiduciária em favor do credor fiduciário. A propriedade fiduciária é
um direito real e, portanto, é oponível erga omnes, de maneira que o credor fiduciário (como seu titular)
pode reivindicar a coisa perante quem quer que seja.
Em regra, o órgão competente para o registro do contrato de alienação fiduciária é: (a) o Registro
de Títulos e Documentos, no caso de bens móveis em geral, consoante art. 1.361, § 1º, do NCC, e (b) o
Registro de Imóveis, se se tratar de bem imóvel, conforme art. 23 da Lei nº 9.514, de 1997.
No caso de veículos, o registro deverá ser feito no pertinente Departamento de Trânsito –
DETRAN (art. 1.361, § 1º, do CC). É verdade que há precedentes do STJ no sentido de que o registro no
Cartório de Registro de Títulos e Documentos prestar-se-ia apenas para conferir eficácia erga omnes
(contra terceiros) ao contrato de alienação fiduciária, conforme art. 129, item 5º, da Lei de Registros
Públicos – LRP3. Sucede que a Súmula nº 92 do STJ4, ainda invocada em precedentes do STJ5, garante
eficácia erga omnes (contra terceiros) da alienação fiduciária anotada no DETRAN, o que conduz à
conclusão de que o registro no Cartório de Registro de Títulos e Documentos é írrito diante do cadastro
do DETRAN.
Ilustra-se tal assertiva com este julgado do STJ:
“PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. VEÍCULO
AUTOMOTOR. ANOTAÇÃO NO CERTIFICADO DE REGISTRO DO VEÍCULO – CRV. DETRAN.
PUBLICIDADE. REGISTRO CARTORIAL PARA EXPEDIÇÃO DO DOCUMENTO DO VEÍCULO.

3 A propósito, traga-se a lume este julgado do STJ: “ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRATO DE ALIENAÇÃO
FIDUCIÁRIA DE VEÍCULO AUTOMOTOR. LICENCIAMENTO. INEXIGIBILIDADE DE REGISTRO CARTORIAL. 1. Conforme
pacificado pela Primeira Seção do STJ, o registro do contrato de alienação fiduciária em Cartório constitui mera garantia para
fins de oposição a terceiros, sendo ilegal a sua exigência como condição ao licenciamento de veículo (EREsp 278.993/SP, Rel.
Min. Teori Albino Zavascki, Dje 30.6.2010). 2. Recurso Especial provido.” (STJ, REsp 770.315/AL, 2ª Turma, Rel. Ministro Herman
Benjamin, DJe 16/09/2010).
4 Súmula nº 92/STJ: “A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no Certificado de Registro do veículo

automotor”.
5 Confira-se este julgado: “PROCESSO CIVIL – RECURSO ESPECIAL – AGRAVO REGIMENTAL – CONTRATO – ALIENAÇÃO

FIDUCIÁRIA – VEÍCULO AUTOMOTIVO – AUSÊNCIA DE ANOTAÇÃO NO DETRAN – INVALIDADE CONTRA TERCEIROS – SÚMULA
92/STJ – DIVERGÊNCIA NÃO DEMONSTRADA – SÚMULA 83/STJ – DESPROVIMENTO. 1. É entendimento sumulado desta Corte,
no sentido de que “a alienação fiduciária de veículos automotivos não tem validade contra terceiros se não anotada na repartição
própria (DETRAN)”. Entendimento da Súmula 92/STJ. Divergência não demonstrada. Incidência da Súmula 83/STJ. 2. Agravo
regimental desprovido.” (STJ, AgRg no REsp 492.813/MG, 4ª Turma, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, DJ 21/11/2005).
9
INEXIGIBILIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO VERSANDO TEMA INÉDITO. VIOLAÇÃO
DO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA.
1. O registro do contrato de alienação fiduciária no Cartório de Títulos e Documentos,
previsto no inciso 5º do art. 129 da Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73), não revela
condição para a transferência da propriedade do bem, senão, procedimento tendente a
emprestar publicidade e, a fortiori, efeito erga omnes ao ato translatício, evitando
prejuízos jurídicos ao terceiro de boa- fé. Precedente da Corte: REsp 770315/AL, 2ª
Turma, DJ 15.05.2006.
2. Deveras, consoante a ratio da Súmula nº 92 do Egrégio STJ, o registro no órgão de
licenciamento faz as vezes do arquivo no Cartório de Títulos e Documentos (RTD), por
isso que, mercê de a exigência de duplo registro revelar odiosa imposição, afronta o
princípio da razoabilidade, posto impor desnecessário bis in idem, máxime à luz da
interpretação autêntica levada a efeito pelo novel artigo 1.361 do Código Civil.
3. Sob esse enfoque, cumpre destacar a evolução jurisprudencial do Egrégio STJ até a
formulação do verbete nº 92, que propugnou pela eficácia do registro no licenciamento
do veículo, considerando-o mais eficaz do que a mera anotação no Cartório de Títulos e
Documentos (RTD). Destarte, o RGI é o único registro exigível para os imóveis, por isso
que lindeira à ausência de razoabilidade a exigência de que em relação aos bens móveis
seja mister duplo registro.
4. Deveras, é cediço na Corte que “A exigência de registro em Cartório do contrato de
alienação fiduciária não é requisito de validade do negócio jurídico. Para as partes
signatárias a avença é perfeita e plenamente válida, independentemente do registro que,
se ausente, traz como única conseqüência a ineficácia do contrato perante o terceiro de
boa-fé. Inteligência do art. 66, § 1º, da Lei nº 4.728/65, com a redação dada pelo Decreto-
Lei nº 911/69, e do art. 129, item 5º, da Lei nº 6.015/73. O Código Nacional de Trânsito
(Lei nº 9.503/97), ao disciplinar as regras de expedição dos Certificados de Registro de
Veículo (arts. 122 e 124), não prevê como peça obrigatória a ser apresentada o contrato
de alienação fiduciária registrado. Ao interpretar sistematicamente o dispositivo nos §§
1º e 10, do art. 66 da Lei nº 4.728/65, c/c os arts. 122 e 124 da Lei nº 9.503/97, e
prestigiando-se a ratio legis, impende concluir que, no caso de veículo automotor, basta
constar do Certificado de Registro a alienação fiduciária, uma vez que, desse modo, resta
plenamente atendido o requisito da publicidade.
5. Destarte, se a Lei não exige o prévio registro cartorial do contrato de alienação
fiduciária para a expedição de Certificado de Registro de Veículo, com anotação do
gravame, não há como compelir a autoridade do DETRAN a proceder como quer o
Recorrente.” (REsp 278.993/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ, DJ 16.12.2002); inegável que a
imposição registral também afronta o princípio da legalidade. (...)
6. In casu, o acórdão recorrido não só examinou a aplicação do art. 1361, § 1º, do Novo
Código Civil, como interpretou-o no sentido de que, em se tratando especificamente de
veículos automotores, a propriedade fiduciária constitui-se apenas com a anotação no
certificado de registro junto à repartição competente para o licenciamento, consoante se
infere de excerto do voto condutor dos embargos de declaração às fls. 1425/1430, litteris:
(...)
10. Recurso Especial desprovido.”
(STJ, REsp 686932/PR, 1ª Turma, Rel. Ministro Luiz Fux, DJe 10/04/2008)
2.2 DO PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL
A legislação garantiu uma via expedita, célere e eficaz para que o credor fiduciário, no caso de
inadimplência, execute a sua garantia para saldar a dívida.
No caso de inadimplência de dívida garantida por alienação fiduciária de bem móvel, bastará ao
credor fiduciário adotar as seguintes medidas, nesta ordem:
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1) Promover a notificação extrajudicial ou o protesto para permitir que o devedor fiduciante
purgue a mora e, assim, livre-se da medida drástica da perda da posse direta sobre o bem,
conforme art. 2º, § 2º, do Decreto-Lei nº 911/69, e orientação jurisprudencial do STJ6.
2) Manejar ação de busca e apreensão para retomar o bem, com o benefício de que a concessão
da liminar de busca e apreensão já autoriza a consolidação da propriedade e da posse plena
em favor do credor fiduciário após o transcurso do prazo de 5 dias sem que o devedor
fiduciante tenha pago o valor integral da dívida (com inclusão das prestações vincendas, em
razão do vencimento antecipado da obrigação). Consolidada a propriedade, caberá ao órgão
de registro competente (como o DETRAN, no caso de veículos) expedir novo certificado de
registro de propriedade em nome do credor ou de terceiro por ele indicado, livre do ônus da
propriedade fiduciária (art. 3º, § 1º, do Decreto-Lei nº 911/69). Ressalte-se que a ação de
busca e apreensão é dotada de notáveis mecanismos de celeridade e efetividade, como a
admissibilidade de liminar se comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º,
caput, do Decreto-Lei nº 911, de 1969) e a ausência de efeito suspensivo à eventual apelação
interposta contra a sentença (art. 3º, § 5º, do mesmo diploma).
3) Após retomar o bem, com a consolidação da propriedade e da posse plena, o credor fiduciário
poderá vender o bem a terceiros independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia
ou qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário
prevista no contrato (art. 2º, caput, do Decreto-Lei nº 911, de 1969). Como se vê, o credor
fiduciário não precisará recorrer à via judicial, usualmente morosa. A lei faculta-lhe o direito
de promover a venda a terceiros sem essas formalidades. O valor obtido com a venda será
empregado no adimplemento da dívida garantida e com o ressarcimento das despesas de
cobrança, de modo que o remanescente – se houver – será devolvido ao devedor fiduciante
(art. 2º, caput, do Decreto-Lei nº 911, de 1969, e art. 1.364 do NCC).
Saliente-se que a orientação jurisprudencial do STJ e dos tribunais locais7 caminha no sentido que
a venda extrajudicial do bem pelo credor fiduciário exige prévia comunicação do devedor fiduciante,
para permitir que este proteja seus interesses, mormente porque está sujeito a ser posteriormente
cobrado por eventual valor não satisfeito com a venda. O devedor fiduciante, portanto, tem o direito de
acompanhar o procedimento de venda extrajudicial do bem pelo credor fiduciário. Confira-se este
julgado do STJ:
“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA.
VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM ALIENADO. ACOMPANHAMENTO DO DEVEDOR.
NECESSIDADE. A venda extrajudicial do bem objeto de alienação fiduciária (art. 2º do
DL 911/69) deve ser comunicada ao devedor fiduciante, de modo a proporcionar-lhe a
defesa de seus interesses, especialmente ante a possibilidade de o credor vir a lhe cobrar
eventual saldo remanescente. Precedentes.” (STJ, AgRg no REsp 776.258/MG, 4ª Turma,
Rel. Ministro Fernando Gonçalves, DJ 24/09/2007)

6Além das Súmulas nºs 72 (A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente) e
245 (A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação dispensa a indicação do valor do débito)
do STJ, pode-se citar este julgado, por ilustrativo: “EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL EM
RECURSO ESPECIAL. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. BUSCA E APREENSÃO. MORA. COMPROVAÇÃO. NOTIFICAÇÃO ENVIADA PARA
O ENDEREÇO DO DOMICÍLIO DO DEVEDOR. VALIDADE. “Na alienação fiduciária, comprova-se a mora do devedor pelo protesto
do título, se houver, ou pela notificação extrajudicial feita por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos, que é considerada
válida se entregue no endereço do domicílio do devedor, ainda que não seja entregue pessoalmente a ele” (REsp 810717/RS,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/08/2006). (STJ, EDcl no REsp 1016759/SP, 4ª Turma, Rel.
Ministro Luis Felipe Salomão, DJe 10/09/2012).
7 Por exemplo, cite-se este precedente do TJDFT: 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal,

2009.07.1.015937-6 ACJ (0015937-48.2009.8.07.0007 – Res. 65 – CNJ)/DF, Rel. Juiz Fernando Antonio Tavernard Lima, DJe
08/06/2010.
11
Com efeito, não há necessidade de que o bem seja previamente avaliado por oficial de justiça; mas
deve ser assegurado ao devedor o direito de acompanhar a alienação extrajudicial mediante sua
comunicação das condições do negócio da venda a ser realizada pelo credor fiduciário8.
Atente-se, ainda, que o credor fiduciário, após a consolidação da propriedade do bem, deve
promover-lhe a venda extrajudicial em prazo razoável, sob pena de arcar com a desvalorização do
veículo, lembrando-se do princípio do res perit dominum, ou seja, há de suportar as consequências de
sua desídia na venda do bem (jurisprudência do TJDFT).
Já no tocante à alienação fiduciária de imóvel, o credor fiduciário poderá, diante da
inadimplência do devedor fiduciante, valer-se do célere procedimento de execução extrajudicial previsto
nos arts. 26 e seguintes da Lei nº 9.514, de 1997, que trata do Sistema de Financiamento Imobiliário,
institui a alienação fiduciária de coisa imóvel e dá outras providências. Em resumo, haverá a
consolidação da propriedade no patrimônio do fiduciário mediante simples ato de averbação praticado
pelo oficial de registro de imóveis após o devedor persistir na inadimplência diante de sua notificação
para purgar a mora em 15 (quinze) dias. Consolidada a propriedade, o credor promoverá leilões
extrajudiciais do imóvel. Se dois leilões forem frustrados, o credor fiduciário livrar-se-á da obrigação de
alienar o bem, e a dívida será considerada extinta (art. 27, § 5º, da Lei nº 9.514, de 1997).
Não se encontra na legislação nem nos precedentes do STJ a necessidade ou não de o devedor ser
notificado previamente ao leilão. Todavia, o princípio do contraditório, o direito de propriedade e o dever
de transparência perante o devedor impõem essa notificação prévia, na linha do que o STJ já exige para
o caso de venda extrajudicial de bem móvel alienado fiduciariamente, conforme exposto mais acima.
2.3 DA PENHORABILIDADE DO DIREITO DE REAQUISIÇÃO DO DEVEDOR FIDUCIANTE
Recorde-se que, havendo a alienação fiduciária, o devedor fiduciante, além de permanecer com a
posse direta da coisa (salvo no caso de alienação fiduciária de móveis fungíveis, em que, em regra, a posse
plena fica com o credor, nos termos do art. 66-B, § 3º, da Lei nº 4.728, de 1965), detém o direito de
readquirir a coisa quando houver o adimplemento da dívida.
O devedor fiduciante não é mais dono da coisa, e sim o credor. Todavia, aquele possui um direito
sujeito a uma condição suspensiva: readquirir a propriedade do bem se a dívida for paga.
Esse direito de reaquisição possui expressão econômica e, por isso, pode ser objeto de relações
jurídico-obrigacionais, com as limitações legais.
Se, por exemplo, o devedor fiduciante quiser desvencilhar-se da sua dívida, transmitindo
onerosamente para um terceiro esse direito de reaquisição (como sucede no que popularmente se
designa de venda do ágio), será forçoso o consentimento do credor. Isso, porque a venda do ágio
envolveria uma assunção de dívida (ou cessão de débito), cuja eficácia reivindica a aquiescência do
credor, segundo o previsto no art. 299 do CC.
Ora, o direito de reaquisição, por ter expressão econômica, também pode ser objeto de constrição
judicial por dívidas do devedor fiduciante.
Mas, nesse caso, a penhora não atingirá propriamente a coisa (cuja propriedade é do credor
fiduciário), e sim o direito de reaquisição (que pertence ao devedor fiduciante).
De fato, eventual penhora da coisa (rectius, do direito real de propriedade da coisa) por dívida

8 A respeito do alegado, confira-se este julgado:


“Recurso especial. Processo Civil. Alienação Fiduciária. Venda extrajudicial do bem alienado por valor superior ao da avaliação
judicial. Condição não prevista em lei. A venda extrajudicial do bem objeto de alienação fiduciária não está condicionada à prévia
avaliação do mesmo por oficial de justiça, mas deverá o devedor ser previamente comunicado das condições da alienação para
que possa exercer a defesa de seus interesses.” (STJ, REsp 327291/RS, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, DJ 08/10/2001)
12
pessoal do devedor fiduciante implicaria um ato já reputado por ilícito pela legislação atual, pois a coisa
pertence ao credor fiduciário. Ora, conforme art. 591 do CPC, o devedor responde, para cumprimento de
suas obrigações, com todos os bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.
É por essa razão que, havendo a penhora do direito de reaquisição por dívida particular do
devedor fiduciante, será necessário que o juízo competente determine: (a) a notificação do credor
fiduciário, a fim de que este tome ciência de que, após o pagamento da dívida, a propriedade do bem será
restituída ao devedor fiduciante com a constrição judicial; e (b) a cientificação do órgão de registro
competente (no intuito de que este, quando vier a cancelar a alienação fiduciária, garanta a publicidade
da constrição judicial que pesa sobre o bem).
Destaque-se que a penhora do direito de reaquisição, em nada, impede o credor fiduciário de, no
caso de inadimplência, lançar mão das medidas destinadas à venda extrajudicial da coisa. Afinal de
contas, nessa hipótese, o que foi penhorado é o direito de reaquisição do devedor fiduciante, e não a
propriedade fiduciária do credor. Fato é que, havendo a penhora do direito de reaquisição, o credor
fiduciário, após realizar a venda extrajudicial da coisa, deverá entregar o saldo remanescente ao juízo, e
não ao devedor fiduciante.
É nessa esteira que singra a pacífica jurisprudência do STJ:
PROCESSUAL CIVIL. PENHORA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CONTRATO. DIREITOS.
POSSIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 655, XI, DO CPC. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E PROVIDO. “O bem alienado fiduciariamente, por não integrar o patrimônio
do devedor, não pode ser objeto de penhora. Nada impede, contudo, que os direitos do
devedor fiduciante oriundos do contrato sejam constritos.” (STJ, REsp 1171341/DF, 4ª
Turma, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe 14/12/2011)
Em igual diapasão retina este brilhante julgado do TJDFT:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PENHORA DE DIREITOS SOBRE VEÍCULO
FIDUCIARIAMENTE ALIENADO. POSSIBILIDADE, DEVENDO O CREDOR AGUARDAR
ULTIMADA A QUITAÇÃO DO VALOR OBJETO DO FINANCIAMENTO. Os direitos que o
devedor possui sobre o veículo financiado podem ser submetidos à penhora, aguardando
o credor sejam ultimados os pagamentos para cogitar do respectivo leilão.” (TJDFT,
Agravo de Instrumento nº 20110020034292AGI, Acórdão nº 614.647, 4ª Turma Cível,
Relator Desembargador Antoninho Lopes, julgamento em 5 de outubro de 2011)
No voto do Desembargador Relator nesse último precedente, foi observado, em relação à penhora
do direito de reaquisição, que a cientificação do agente financeiro e as anotações no DETRAN são
indispensáveis.
Perceba-se que esse é o figurino legal vigente. Qualquer decisão judicial em sentido contrário
violaria a lei e, portanto, mereceria reforma nas instâncias superiores do Poder Judiciário pelos meios de
impugnação cabíveis.
3 DA (IN)SUFICIÊNCIA DO ARCABOUÇO NORMATIVO ATUAL
Do apanhado teórico acima colhem-se três aspectos que convidam reflexões acerca da suficiência
ou não do cenário legislativo atual, a saber: a notificação do devedor fiduciante previamente à venda
extrajudicial do bem, as consequências da demora na realização da venda extrajudicial e a
penhorabilidade do direito de reaquisição.
3.1 DA NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR FIDUCIANTE PREVIAMENTE À VENDA EXTRAJUDICIAL
Não é explícita a legislação acerca da exigência de notificação do devedor fiduciante previamente
à venda extrajudicial da coisa móvel ou imóvel alienada fiduciariamente. Inexiste, igualmente, na
legislação a indicação do modo como essa comunicação deve ser feita.
13
Tais esclarecimentos normativos parecem ser convenientes, para dissipar a incerteza jurídica a
que estão submetidos os credores fiduciários e devedores fiduciantes.
A única segurança que eles podem, atualmente, ter é a de que, no caso de venda extrajudicial de
coisa móvel, a notificação prévia do devedor fiduciante é cogente, tendo em vista que a corte máxima em
matéria infraconstitucional, o STJ, pacificou esse entendimento.
O resto é mar, parafraseando Tom Jobim.
Não se visualizam julgados do STJ que estendam esse dever de comunicação prévia no caso de
leilão extrajudicial de coisa imóvel.
Igual ambiente de obscuridade jurisprudencial entreva os que pretendem saber qual é o modo
correto de realização dessa notificação prévia.
As partes, portanto, estão entregues à imprevisibilidade de uma futura consolidação
jurisprudencial, em virtude da omissão legal.
A nosso sentir, urge colmatar essa lacuna normativa. E, para tanto, erguem-se algumas reflexões.
Veste-se de razões o STJ quando garante ao devedor fiduciário o direito de ser comunicado acerca
da data e do local da realização do leilão extrajudicial do bem móvel alienado fiduciariamente. Afinal de
contas, ele tem o direito de fiscalizar esse procedimento expropriatório, para, por exemplo, impugnar
eventuais arrematações por preços irrisórios.
Esse dever de comunicação prévia não pode restringir-se aos casos de alienação fiduciária de bens
móveis, mas deve alcançar também os bens imóveis, dada a ausência de qualquer diferença substancial
entre ambos os casos com a capacidade de refutar os argumentos acima.
A legislação deve avançar para desvendar o modo de realização dessa notificação prévia.
O devedor fiduciante já está plenamente cientificado de que seu bem será leiloado a terceiros.
Recebeu notificação extrajudicial para purgar a mora, foi citado na ação de busca e apreensão (no caso
de bens móveis) e sofreu o despojamento da coisa (por conta da busca e apreensão do bem móvel ou por
força do desapossamento do imóvel).
O que o devedor não sabe é a data e hora do leilão extrajudicial.
Seria desarrazoado, nesse contexto, exigir uma comunicação extremamente formalista, seja
porque o devedor já está ciente da futura realização do leilão, seja em virtude de que o formalismo poderá
atrasar a alienação da coisa (com a provável desvalorização do bem pelo transcurso do tempo), seja em
razão de não ser adequado encarecer mais ainda o procedimento expropriatório.
Outra consideração é que o modo de realização dessa notificação não pode ser mais formal do que
se exigiu no início do itinerário de cobrança da dívida. Lembre-se que, antes da beneficiar-se com a
consolidação da propriedade, o credor fiduciário precisa promover a notificação extrajudicial (que
ocorre por meio de cartório) do devedor fiduciante. E tal comunicação – conforme justa orientação do
STJ no caso de alienação fiduciária de bens móveis – satisfaz-se com a entrega da notificação no domicílio
do devedor, ainda que não seja entregue pessoalmente a ele. Tal regra estende-se aos bens imóveis,
pois o art. 26, § 3º, da Lei nº 9.514, de 1997, contenta-se com a notificação por via postal com aviso de
recebimento.
Não se esqueça que, por um lado, essa comunicação deve ocorrer pela via mais célere e fácil
possível, sob pena de ameaçar a realização do leilão, que já está agendado. Por outro lado, não convém a
banalização dessa notificação, para não inviabilizar o direito do devedor fiduciante.
Assim, levando em conta os argumentos acima, parece-nos que o modo de execução da notificação

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pode ser similar à exigida pelo STJ nos casos de inscrição do nome do devedor em cadastros de
inadimplentes. Bastaria, assim, a expedição de carta, sem necessidade de aviso de recebimento. A
propósito, confira-se este julgado do STJ:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. DANOS MORAIS. INSCRIÇÃO EM
CADASTRO DE INADIMPLENTES. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. COMPROVAÇÃO. SÚMULA
404/STF. Para o cumprimento, pelos órgãos mantenedores de cadastros restritivos ao
crédito, da obrigação de notificação prévia ao consumidor acerca da inclusão de seu nome
no banco de dados (art. 43, § 2º, do CDC), basta a comprovação da postagem da aludida
comunicação, dirigida ao endereço fornecido pelo credor, sendo desnecessário o Aviso de
Recebimento (AR). Incidência da Súmula 404 do STJ9.” (STJ, AgRg no REsp 737.739/RJ, 3ª
Turma Rel. Ministro Vasco Della Giustina – Desembargador Convocado do TJ/RS, DJe
15/03/2010)
É de acrescer a isso que a expedição da missiva deverá ocorrer com, pelo menos, 15 dias de
antecedência, com vistas a garantir a entrega da comunicação antes da data do leilão extrajudicial.
E é sob essa diretriz que entendemos que eventual proposição legislativa sobre o caso deveria
estribar-se nas seguintes premissas:
a) Assiste ao devedor fiduciante o direito a ser notificado acerca do local e do horário da venda
extrajudicial.
b) As despesas com essa notificação devem ser suportadas pelo devedor fiduciante, mediante o
aumento do saldo da dívida.
c) A notificação poderá ocorrer mediante postagem, com antecedência de, no mínimo, quinze
dias, de carta sem necessidade de Aviso de Recebimento (AR) para o domicílio do devedor.
d) Será considerado como domicílio do devedor para efeito da alínea anterior o endereço
fornecido por este ao credor desde a celebração do contrato que originou a dívida em
execução. Essa regra acarreta o ônus de o devedor manter o seu endereço atualizado perante
o credor fiduciário e evita ardis destinados a provocar nulidade do leilão extrajudicial.
e) Se o devedor não tiver fornecido endereço ao credor, a comunicação poderá ocorrer mediante
edital publicado, por um dia e com, pelo menos, quinze dias de antecedência, em um dos
jornais de maior circulação no local ou em outra comarca de fácil acesso, se no local não
houver imprensa diária.
Enquanto não houver lei que esclareça isso, não vemos qualquer obstáculo a que o Poder
Judiciário solucione os casos concretos mediante a solução acima, com fundamento nos dispositivos e
princípios atualmente vigentes.
3.2 DAS CONSEQUÊNCIAS DA DEMORA NA REALIZAÇÃO DA VENDA EXTRAJUDICIAL
O segundo reside na possível carência legal sobre quem deve suportar os prejuízos pela
desvalorização da coisa em virtude da demora na exitosa venda extrajudicial da coisa.
O valor venal dos bens, especialmente os móveis, cai com o transcurso do tempo.
Se o credor não se comportou com desleixo na promoção da venda extrajudicial, essa depreciação
não pode lhe ser imputada.
A forma de identificar se houve ou não negligência do credor é atentar se ele atendeu ou não os

9Súmula nº 404/STJ: “É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a negativação
de seu nome em bancos de dados e cadastros”.
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prazos estabelecidos pela legislação para o leilão extrajudicial.
O problema é que o ordenamento jurídico atual só estipula prazos para o leilão extrajudicial de
bens imóveis, conforme se identifica no art. 27, caput e § 1º, da Lei nº 9.514/97. Nesse caso, o primeiro
leilão deve ocorrer em até 30 dias da consolidação da propriedade. Se frustrado, novo leilão terá de ser
efetuado na quinzena seguinte.
Não se encontra, porém, estipulação de prazo para a venda extrajudicial de bens móveis objeto
de alienação fiduciária em garantia, o que dificulta a apuração de responsabilidade do credor. O Decreto-
Lei nº 911, de 1969, guarda silêncio, o que não é devido.
Entendemos ser necessário o aprimoramento da legislação para adotar os prazos fixados para a
alienação fiduciária de bens imóveis para os casos de móveis.
E mais: o Decreto-Lei nº 911, de 1969, reivindica um dispositivo que – qual sucede com o art. 27,
§ 5º, da Lei nº 9.514, de 1997 – desobrigue o credor de insistir na venda extrajudicial se tiverem ocorrido
dois leilões inexitosos.
Na realidade, o Decreto-Lei nº 911, de 1969, roga por uma disciplina mais minuciosa de todo o
procedimento de venda extrajudicial, à semelhança do que sucede com a alienação fiduciária de imóveis.
3.3 DA PENHORABILIDADE DO DIREITO DE REAQUISIÇÃO
O último repousa na possibilidade de o direito de reaquisição ser penhorável.
A jurisprudência do STJ já é pacífica sobre esse tema, enunciando que o direito é penhorável por
dívida do devedor fiduciante, e não por dívidas do credor fiduciário.
A legislação também permite essa compreensão.
Seja como for, esse tema merece ser averbado no presente estudo para acentuar a saudável lareira
das reflexões.

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